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ISSN 2358-1905 REF João Pessoa Vol. II nº 1 outubro 2014 ii
REF – Revista Eletrônica da FAESNE Publicação Semestral da FAESNE/ENSINE Faculdades
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Editores
Carlos Castro, Faculdade de Ensino Superior do Nordeste - FAESNE, Brasil Elídio Vanzella, Faculdade de Ensino Superior do Nordeste - FAESNE, Brasil
Corpo Editorial Científico
Adriana Brambilla, Universidade Federal da Paraíba - UFPB, Brasil Antonio Augusto Albuquerque Vaz, Instituto de Ensino Superior da Paraíba, Brasil Eliabe Afonso, Faculdade de Ensino Superior do Nordeste – FAESNE, Brasil João Agnaldo do Nascimento - UFPB, Brasil. Luiz Gonzaga Firmino Junior, Faculdade Internacional da Paraíba, Brasil Maria Marta Araújo Leal de Oliveira, Faculdade Maurício de Nassau, Brasil Maura Maldonato, Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ. Brasil Mitchell Figueiredo de Azevedo - FPB. Patrícia Morais de Azevedo - UPFB, Brasil. Petrônio Borges da Silva - Estácio de Sá. Rodrigo Nobréga, Faculdade de Ensino Superior do Nordeste – FAESNE, Brasil Suelem Pinto, Faculdade Internacional da Paraíba, Brasil.
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Publicação Semestral da FAESNE/ENSINE Faculdades FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DO NORDESTE
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EDITORIAL
O volume II da REF – Revista Eletrônica da FAESNE é motivo de
orgulho, satisfação e fruto de um trabalho das diversas pessoas que
compõe a instituição, desde diretores, professores, alunos e funcionários,
cuja necessidade alicerçou-se na difusão do conhecimento acadêmico e
científico.
A edição de uma revista científica busca não apenas prover aos
seus leitores de informações a respeito de princípios e métodos
científicos, mas, principalmente, retiram do anonimato aqueles que se
dedicam ao conhecimento e a transmissão dos saberes necessários a
formação de cidadãos. Focada na área de Ciências Sociais Aplicadas, a
REF, é uma revista eletrônica, de periodicidade semestral, disponível a
toda comunidade científica, nacional e internacional.
Carlos Castro / Elídio Vanzella Editores
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ISSN: 2358-1905 REF João Pessoa Vol. II nº 1 outubro 2014
SUMÁRIO
1. Código mundial de ética do turismo: as responsabilidades da atividade turística. Elídio Vanzella, Adriana Brambilla.
154-167
2. Administração de riscos: um estudo sobre a quebra de patente do automóvel. Elídio Vanzella, Petrônio Borges da Silva.
168-178
3. O processo da aquisição da leitura e escrita no mundo contemporâneo. Juliana Maia Tavares, Petrônio Borges da Silva.
179-191
4. A aprendizagem organizacional e sua importância no processo de desenvolvimento das competências gerenciais. Dayana Priscilla Soares Jesus, Elídio Vanzella.
192-205
5. Frota própria ou terceirizada: qual a melhor opção para entrega de mercadorias. Petrônio Borges da Silva, Elídio Vanzella, Juliana Maia Tavares.
206-219
6. Desing thinking e suas contribuições no campo da administração e dos
contextos organizacionais. Marcelle Chaves Sodré, Rômulo C. de Oliveira.
220-240
7. Resíduos eletroeletrônicos: uma análise sobre o descarte dos resíduos eletroeletrônicos numa instituição de ensino superior na Paraíba. Adriana Souza Nascimento, Rômulo C. de Oliveira.
241-254
8. A relação entre a leitura e as dificuldades acadêmicas dos alunos de administração de empresas de uma instituição de ensino superior no estado da paraíba
Michelly Leôncio Chaves, Carlos José Figueirêdo de Castro
256 - 271
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ARTIGO
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CÓDIGO MUNDIAL DE ÉTICA DO TURISMO: AS RESPONSABILIDADES DA ATIVIDADE TURÍSTICA
Me. Elídio Vanzella Me. Adriana Brambilla
Resumo A atividade turística vista como um fator de rápido crescimento econômico, também apresenta
impactos negativos. O turismo como atividade econômica traz benefícios, mas também se
deve ter consciência que pode gerar poluição. Neste sentido, o Código Mundial de Ética do
Turismo vem contribuir para que essas consequências possam ser minimizadas. A ética está
relacionada ao comportamento humano e às relações entre as pessoas. Assim, neste artigo
serão apresentados inicialmente os conceitos de turismo e ética, e como objetivo a
apresentação e discussão dos dez princípios destacados no código de ética. A metodologia
utilizada foi a pesquisa bibliográfica, procurando identificar considerações sobre o tema,
analisando e discutindo os aportes científicos. O Código de Ética deve ser resultado de uma
adesão voluntária dos atores sendo considerado um orientador de princípios. No caso do
turismo torna-se imprescindível a adoção de um Código, pois a atividade é caracterizada pelo
movimento constante de pessoas, de regiões e nações diferentes, com legislações e
costumes distintos. O Código deixa claro que a atividade turística tem impactos positivos e
negativos e que visa o lucro, mas que pode obter esse lucro respeitando o ser humano. Sendo
assim, pode-se observar que o Código de Ética do Turismo cumpre seu papel, pois foi
elaborado de acordo com a realidade do turismo e com a participação dos que atuam na
atividade turística. Em seus dez artigos o Código abrange todos os envolvidos, ou seja,
turistas, comunidade, iniciativa privada, governo e trabalhadores.
Palavras-Chave: ética, turismo, código.
Abstract.
Tourist activity seen as a factor of rapid economic growth also has negative impacts. Tourism
as an economic activity brings benefits, but we should be aware that it can cause problems. In
this sense, the Global Code of Ethics for Tourism contributes to these effects can be
minimized. Ethics is related to human behavior and relationships between people. Thus, this
article will be initially presented the concepts of ethics and tourism, and the objective of
presentation and discussion of the ten principles outlined in the code of ethics. The
methodology used was the literature research, seeking to identify thoughts on the subject,
analyzing and discussing the scientific contributions. The Code of Ethics must be the result of
voluntary membership of actors being considered a guiding principle. In the case of tourism it
is essential to adopt a code because the activity is characterized by the constant movement of
people, from different regions and nations with different laws and customs. The Code makes
clear that tourism has positive and negative impacts and for-profit, but we can get that profit
respecting human beings. Thus, it may be noted that the Code of Ethics for Tourism fulfills its
role, because it was prepared in accordance with the reality of tourism and with the
participation of those who work in tourism. In its ten articles are covered all the code involved,
ie, tourists, community, private sector, and government and workers.
Keywords: ethics, tourism code.
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Introdução
A atividade turística, muitas vezes vista como um fator de rápido
crescimento econômico e como a saída para localidades com baixos índices de
desenvolvimento, também apresenta impactos negativos nas áreas em que ocorre. O
turismo como atividade econômica traz benefícios para a sociedade como geração de
empregos, renda, entre outros, mas também se deve ter consciência que pode gerar
poluição, depredação da natureza, aumento do custo de vida, entre outros. Neste
sentido, o Código Mundial de Ética do Turismo vem contribuir para que essas
consequências possam ser minimizadas ou mesmo evitadas.
A ética está relacionada ao comportamento humano e às relações entre as
pessoas, por isso a importância de um Código de ética para o turismo, considerando
que a atividade turística é caracterizada pelo movimento de pessoas, dos mais
distantes pontos, de diversas culturas e de países com diferentes leis e costumes.
Assim, neste artigo serão apresentados inicialmente os conceitos de turismo e ética,
e como objetivo a apresentação e discussão dos dez princípios destacados no código
de ética, e ressaltando-se que o código foi elaborado a partir de vários documentos,
entre eles a Declaração Universal dos Direitos do Homem, o Pacto Internacional
relativo aos direitos civis e políticos, a Convenção sobre a proteção do patrimônio
cultural e natural mundial, entre outros que versam sobre a liberdade, os direitos das
pessoas, a proibição da exploração humana, a proteção do meio-ambiente e a
valorização da cultura.
Turismo e turistas
O Turismo apresenta inúmeras definições, dentre elas pode-se destacar a
proposta pela Organização Mundial do Turismo (OMT), que entende que o turismo
inclui as atividades de deslocamento e permanência em locais fora de seu ambiente
de residência, por período inferior a um ano consecutivo, por razões de lazer, negócio
ou outros propósitos. (OMT; 1994)
Nas definições de turismo pode-se observar certa discussão sobre o termo, fato
corroborado por Theobald (2002) que afirma que evidentemente, existe certa
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confusão e controvérsia a respeito das definições de viagens e turismo. Isto é
observado em definições com a de Ignarra (2002) que define o turismo como o estudo
do homem longe de seu local de residência, da indústria que satisfaz suas
necessidades, e dos impactos que ambos, ele e a indústria, geram sobre os ambientes
físico, econômico e sociocultural da área receptora. Em contrapartida, Cooper et
al(2001) simplifica afirmando que o turismo é uma experiência essencialmente
humana, desfrutada, esperada e lembrada por muitos como um dos momentos mais
importantes de sua vida. O turismo ainda pode ser compreendido pelos seus efeitos
multiplicadores quando se pensa em todos os setores que movimenta. Neste sentido
Andrade (1995) explica que o turismo é o complexo de atividades e serviços
relacionados aos deslocamentos, transportes, alojamentos, alimentação, circulação
de produtos típicos, atividades relacionadas a movimentos culturais, visitas, lazer e
entretenimento.
Ao se falar em turismo, obviamente não se pode deixar de mencionar o seu sujeito
principal, o turista que ao deslocar-se de sua residência para conhecer ou visitar outra cidade,
região, ou país, pelos mais variados objetivos, terá contato com costumes, culturas,
paisagens, muitas vezes, diferentes do que está acostumado.
Em 1954 a Organização das Nações Unidas (ONU) classificava turista como:
Toda pessoa, sem distinção de raça, sexo, língua e religião, que
ingresse no território de uma localidade diversa daquela em que
tem residência habitual e nele permaneça pelo prazo mínimo de
24 horas e máximo de seis meses, no transcorrer de um período
de 12 meses, com finalidade de turismo, recreio, esporte, saúde,
motivos familiares, estudos, peregrinações religiosas ou
negócios, mas sem propósito de imigração. (IGNARRA, 2002,
p.25)
O turista, segundo o Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR), pode ser definido
como aquele que se desloca para fora de seu local de residência permanente, por mais de 24
horas, realizando pernoite, por motivo outro que não o de fixar residência ou exercer atividade
remunerada, realizando gastos de qualquer espécie com renda auferida fora do local visitado.
(EMBRATUR, 2005)
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Ética e turismo
Do ponto de vista da filosofia segundo Cotrim (1992) a ética se preocupa com
a felicidade do ser humano, com o seu comportamento.
Irving (1998), afirma que a palavra ética tem origem no grego êthos e éthos,
onde o primeiro termo, êthos, lhe dá o significado de casa, moradia, aproximando-se
da contemporânea caracterização de conduta, modo de ser, como uma qualidade
intrínseca do homem. O segundo termo, éthos teria voltado aos costumes, hábitos e
qualidades que o homem vem adquirindo ao longo de sua vida.
Pode-se de forma geral compreender a ética como a responsabilidade, a
preocupação com o coletivo. Ética é a ciência do ser humano. Examina os valores do
agir, tendo por indicadores o bem em relação ao mal (RONCONI; 2004) A ética assim
tem como objetivo o bem comum.
Para a indústria turística a aplicação dos princípios de ética individual
associados à ética social é uma questão de sobrevivência para todos os ramos de
atividades envolvidas. (AGNOL, 2010). Isto fica claro nas definições sobre turismo e
turistas, uma vez que se percebe a abrangência da atividade e sua característica de
inter- relacionamento humano.
No turismo a interação humana, a relação entre turistas e atores locais é
intensa e pode gerar tanto efeitos benéficos como situações de conflitos. O respeito,
a preocupação com o bem estar do próximo, a compreensão das diferenças, são
essenciais para o bom desempenho da atividade turística. É evidente que estas
questões devem guiar o comportamento humano, são indispensáveis em qualquer
relação, mas no turismo ganham destaque pelo contato direto, pela intervenção do
turista no modo de vida do pólo receptor, pelas culturas que se encontram e que não
devem ser sobrepostas, mas valorizadas.
Segundo o Agnol (2010) a ética deve estar presente em qualquer atividade
humana. Sendo assim, podemos compreender porque ao se falar em ética sempre
existe a relação com a responsabilidade social. A responsabilidade social está
diretamente ligada à preocupação com a sociedade em geral, e não exclusivamente
com os consumidores de uma organização. Uma empresa socialmente responsável
analisa os efeitos de suas atividades na comunidade e no meio-ambiente
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De acordo com Tavares e Oliveira (2009) a responsabilidade social tem como
premissa o reconhecimento e a integração às operações das empresas, das
preocupações sociais e ambientais, ainda segundo os autores, como a
responsabilidade social está centrada em parâmetros morais e éticos, no contexto
organizacional todas as práticas voltadas para a responsabilidade social devem estar
interligadas de forma harmônica com a ética empresarial da organização em questão.
Os promotores da atividade turística adotam as premissas da responsabilidade
social uma vez que não querem ser vistos como meramente preocupados com o
progresso econômico, mas também com o bem estar sócio-cultural. Neste sentido,
pode-se citar como exemplo o turismo comunitário que vem sendo amplamente
debatido, por entidades públicas e privadas, como forma de garantir a
responsabilidade social nas localidades.
De acordo com Agnol (2010), a responsabilidade social das empresas
ligadas ao turismo pode ser aplicada nos ambientes interno e externo como o autor
descreve:
um ambiente interno, composto por todos os recursos humanos envolvidos, o capital financeiro aplicado e os sistemas gerenciais dos negócios; e um outro ambiente externo, composto por todas a forças e relações externas as organizações produtivas envolvidas na atividade turística que diretamente acabam influenciando o negócio.
Tachizawa citado por Tavares e Oliveira (2009) afirma que um dos grandes
desafios que a humanidade irá deparar-se neste milênio será o de fazer com que as
forças que atuam no mercado protejam e melhorem a qualidade do ambiente, com a
ajuda de padrões baseados no desempenho e uso criterioso de instrumentos
econômicos, num quadro harmonioso de regulamentação. É neste cenário que se
insere o debate sobre o Código de Ética e suas contribuições.
O Código de ética é um instrumento que busca a realização dos princípios,
visão e missão da empresa, ou seja, o código de ética pode ser compreendido como
um orientador dos princípios que uma organização, pessoa, setor de atividade deve
seguir. A criação de um código de ética deve ser resultado de reflexão dos envolvidos
considerando a área de atuação, os objetivos e os impactos da atividade. Deve ser
redigido de forma clara para que possa ser compreendido por todos, evitando termos
extremamente complexos pouco conhecidos. Entre os inúmeros tópicos abordados
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no código de ética, tem-se: conflitos de interesse, transparência nas comunicações
internas e com os públicos externos da organização, comportamento e
relacionamento organizacional.
O código de ética pode abranger as relações internas, como por exemplo, o
ambiente organizacional, o respeito aos funcionários, o comportamento dos
ocupantes de cargos de chefia, as relações entre empresa e parceiros: fornecedores,
comissões, recebimentos de presentes, prêmios, relacionamento com os
consumidores: propaganda, questões de saúde e segurança com a utilização de um
produto e com a sociedade de forma geral: poluição e exploração sexual.
Os principais resultados alcançados com a adoção de um Código de Ética são:
fortalecimento da imagem institucional, clima organizacional favorável, apoio na
solução de conflitos e transparência nas ações.
Muitas organizações têm adotado códigos de ética, sejam instituições públicas,
privadas, categorias profissionais, entre outras, assim vale destacar como exemplo no
caso do turismo o Código de ética do bacharel em Turismo:
O trabalho do Bacharel em Turismo deve ser orientado pelas
premissas e princípios inerentes ao modelo de turismo
sustentável. Sua atuação, nos mais diversos campos
profissionais, deve considerar, necessariamente, o
aproveitamento racional dos recursos naturais e culturais nos
processos de planejamento, produção e consumo dos produtos
turísticos, tanto no contexto do turismo convencional quanto nos
outros segmentos específicos do turismo. (ABBTur; 1999)
Código de ética no turismo:
A Organização Mundial do Turismo no dia 1o de outubro de 1999 instituiu o
Código Mundial de Ética do Turismo.
ARTIGO 1º: Contribuição do turismo para a compreensão e respeito mútuo entre
homens e sociedades.
De forma geral este primeiro artigo trata da relação humana, o respeito às
diferenças culturais, religiosas e morais. Destaca a relação bilateral entre turistas e
comunidade receptora. De acordo com Brambilla (2010) é fundamental a participação
da comunidade receptora no processo turístico, incentivando uma avaliação crítica
sobre a atividade.
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O artigo aborda ainda a responsabilidade das autoridades públicas sobre a
segurança dos turistas. Além disso, ressalta que os turistas devem respeitar o local
visitado, sejam os monumentos, os meios naturais assim como os costumes locais.
ARTIGO 2º: O turismo, vetor de desenvolvimento individual e coletivo.
Este artigo mostra o turismo não só como uma atividade de lazer, de fuga da
rotina, mas como um meio de crescimento pessoal e social. Neste artigo estimula-se
o turismo de estudo, cultural e de intercâmbio, além de combater o turismo sexual:
A exploração dos seres humanos sob todas as suas formas,
nomeadamente sexual, e especialmente no caso das crianças,
vai contra os objetivos fundamentais do turismo e constitui a sua
própria negação; a esse título e em conformidade com o direito
internacional, ela deve ser rigorosamente combatida com a
cooperação de todos os Estados envolvidos e sancionada sem
concessões pelas legislações nacionais, quer dos países
visitados, quer dos de origem dos atores desses atos, mesmo
quando estes são executados no estrangeiro.
ARTIGO 3º: O turismo, fator de desenvolvimento sustentável.
O meio-ambiente tem destaque neste artigo:
O conjunto dos atores do desenvolvimento turístico tem o dever
de salvaguardar o ambiente e os recursos naturais, na
perspectiva de um crescimento econômico é, contínuo e
sustentável, capaz de satisfazer equitativamente as
necessidades e as aspirações das gerações presentes e futuras.
Destaca-se o ecoturismo como uma forma de promover a proteção do meio-
ambiente e Brambilla (2010) afirma que muitas vezes o turismo massificado pode
trazer grandes impactos sócio-ambientais.
ARTIGO 4º: O turismo, utilizador do patrimônio cultural da humanidade e
contribuindo para o seu enriquecimento.
O patrimônio cultural, as tradições do destino turístico recebem atenção neste
artigo, uma vez que:
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As políticas e atividades turísticas são desenvolvidas no respeito
pelo patrimônio artístico, arqueológico e cultural, competindo-
lhes a sua preservação e transmissão às gerações futuras; um
cuidado especial deve ser concedido à preservação e
valorização dos monumentos, santuários e museus, bem como
de locais históricos e arqueológicos, quando estejam em grande
parte abertos à freqüência turística; deve ser encorajado o
acesso do público aos bens e monumentos culturais privados,
no respeito pelos direitos dos seus proprietários, bem como aos
edifícios religiosos, sem prejudicar as necessidades do culto.
Um importante ponto é que os recursos obtidos com as visitas a esses locais
devem ser revertidos para a sua manutenção, revitalização, enfim a sua
preservação.
ARTIGO 5º: O turismo, atividade benéfica para os países e comunidades
de acolhimento.
O presente artigo trata da importância das comunidades receptoras no
planejamento da atividade turística, uma vez que esta atividade irá impactar
diretamente no modo de vida local.
A participação da comunidade, através do turismo comunitário, tem papel
fundamental, pois quando se envolve os moradores, estes passam a se sentir
valorizados. Brambilla (2010) sugere ações de sensibilização da comunidade,
considerando que esta é uma das formas mais adequadas para conscientizar os
moradores sobre o seu papel de ser atuante nas decisões de ordem pública e/ou
privada que envolva o turismo. A autora ainda explica que se deve entender a
necessidade da participação ativa das comunidades na atividade turística. Deve-se
estimular que a comunidade participe junto com o Governo e a iniciativa privada, do
processo decisório, assegurando que o desenvolvimento turístico se processe de
forma sustentável (BRAMBILLA, 2010).
Outro ponto é o papel do trade turístico:
Os profissionais do turismo, nomeadamente os investidores,
devem, no quadro da regulamentação estabelecida pelas
autoridades públicas, proceder a estudos de impacto dos seus
projetos de desenvolvimento no ambiente e meios naturais;
devem de igual forma prestar, com a maior transparência e
objetividade requerida, as informações quanto aos seus futuros
programas e aos impactos previstos, abrindo-se ao diálogo
nessas matérias com as populações interessadas.
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ARTIGO 6º: Obrigações dos atores do desenvolvimento turístico.
Pode-se observar a preocupação com o papel dos profissionais que atuam na
atividade turística, como já mencionada no artigo anterior, mas que neste é mais
abrangente, pois afirma que:
Os atores profissionais do turismo têm por obrigação fornecer
aos turistas uma informação objetiva e sincera sobre os
destinos, sobre as condições de viagem, de acolhimento e de
estada; asseguram a transparência perfeita das cláusulas dos
contatos propostos aos seus clientes, quer em matéria da
natureza, preço e qualidade das prestações que se
comprometem fornecer, quer das contrapartidas financeiras que
lhes incumbem em caso de ruptura unilateral por sua parte dos
referidos contratos;
E ainda acrescenta:
Os profissionais do turismo, quando isso depender de si,
preocupam-se, em cooperação com as autoridades públicas,
pela segurança, prevenção de acidentes, proteção sanitária e
higiene alimentar dos que aos seus serviços recorrem; zelam
pela existência de sistemas de seguro e assistência apropriados;
aceitam a obrigação de prestar contas, segundo as modalidades
previstas nas regulamentações nacionais, e, se necessário,
pagar uma indenização equitativa no caso de desrespeito pelas
suas obrigações contratuais;
O artigo não se limita ao papel dos profissionais, mas também escreve sobre o
papel do Governo e sua responsabilidade:
Os governos têm o direito - e o dever - especialmente em caso
de crise, de informar os seus viajantes das condições difíceis,
mesmo dos perigos que podem encontrar por ocasião das suas
deslocações ao estrangeiro; incumbe-lhes, no entanto, fornecer
tais informações sem prejudicar de forma injustificada ou
exagerada a indústria turística dos países de acolhimento e os
interesses dos seus próprios operadores; o conteúdo de
eventuais avisos deve assim ser previamente discutido com as
autoridades dos países de acolhimento e os profissionais
interessados; as recomendações formuladas serão estritamente
proporcionais à gravidade das situações e limitadas às zonas
geográficas onde a insegurança estiver provada devendo ser
aligeiradas ou anuladas logo que o retorno à normalidade o
permitir;
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O artigo discute ainda o papel da imprensa como responsável em fornecer
informações honestas sobre a situação do destino turístico e mais uma vez o Código
se refere ao turismo sexual quando afirma que: a imprensa não deve de forma alguma
incentivar o turismo sexual.
ARTIGO 7º: Direito ao turismo.
Neste artigo discute-se o direito de todos ao turismo, com referência ao turismo
social. De acordo com o Ministério do Turismo (MTUR, 2010), o turismo social é a
forma de conduzir e praticar a atividade turística promovendo a igualdade de
oportunidades, a equidade, a solidariedade e o exercício da cidadania na perspectiva
da inclusão.
O turismo social objetiva possibilitar que todas as pessoas tenham acesso ao
turismo, independentemente da classe social, ou seja, o turismo não é visto como um
produto de luxo, mas como um direito de todos.
ARTIGO 8º: Liberdade das deslocações turísticas.
Este artigo versa sobre o artigo 13 da Declaração Universal dos Direitos do
Homem:
1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua
residência no interior de um Estado.
2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra,
incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.
3.
ARTIGO 9º: Direito dos trabalhadores e dos empresários da indústria turística.
Este artigo aborda tanto os direitos dos trabalhadores formais como dos
autônomos, prestadores de serviços, muito comuns na atividade turística devido à sua
sazonalidade, como dos empreendedores, ressaltando os pequenos e médios
empresários. Soares (2002) realizou um estudo sobre a relação entre turismo e
trabalho informal, apresentando fatores que podem contribuir para a melhoria das
condições de trabalho no turismo. Entre elas: apoiar a criação de empresas turísticas
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locais; conciliar os interesses de seus agentes e orientar o investimento de capitais
externos.
ARTIGO 10º: Aplicação dos princípios do Código Mundial de Ética do Turismo.
Como todo Código de Ética é fundamental a adesão de todos os envolvidos, os
atores públicos e privados do desenvolvimento turístico cooperam na aplicação dos
presentes princípios e devem zelar pelo controlo da sua efetivação.
Metodologia
A metodologia utilizada para o desenvolvimento do presente artigo foi a
pesquisa bibliográfica em autores conceituados no assunto, procurando identificar
considerações sobre o tema abordado para a busca de resolução do problema por
meio de referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo os aportes
científicos. A pesquisa bibliográfica subsidia o conhecimento sobre o que foi
pesquisado e trabalhado, explicando como e sob que perspectiva o assunto é tratado
na literatura científica. A pesquisa bibliográfica, explica Salomon (2004), fundamenta-
se em conhecimentos proporcionados pela biblioteconomia e documentação, entre
outras ciências e técnicas empregadas de forma metódica envolvendo a identificação,
localização e obtenção da informação, fichamento e redação do trabalho científico.
Para elaborar e documentar um trabalho de pesquisa científica é necessário
que a busca por informações bibliográficas seja planejada, sendo assim, Salomon
(2004), orienta para dividir a pesquisa em três fases, onde a primeira fase é da
preparação da pesquisa, nela a informação é localizada e identificada. Durante a
seleção das fontes de informação o pesquisador deverá buscar toda a informação
disponível na literatura científica de interesse, em artigos de periódicos, relatórios
técnicos, anais de congressos, teses, dissertações, entre outras, seja em meio
impresso ou eletrônico. A segunda fase é a de realização e compreende a realização
do fichamento do documento obtido que será selecionado para a elaboração da
redação do trabalho científico, por meio da confecção de fichas de leitura (ECO, 2003).
Por último, a fase da comunicação, que segundo El-Guindy (2004), é a coroação do
trabalho de investigação científica, e ao mesmo tempo, o momento de maior
realização do pesquisador, pois e nessa etapa que ocorre a redação do trabalho
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científico por meio do material identificado e organizado conforme os propósitos da
pesquisa.
Considerações Finais
Como exposto anteriormente, o Código de Ética deve se adequar à atividade
desenvolvida e ser resultado de uma adesão voluntária dos atores. Um Código de
Ética tem como objetivo evitar e apoiar a solução de conflitos, sendo considerado um
orientador de princípios.
No caso do turismo torna-se imprescindível a adoção de um Código, pois a
atividade é caracterizada pelo movimento constante de pessoas, de regiões e nações
diferentes, com legislações e costumes distintos. Além disso, como toda atividade
econômica gera impactos no local onde se desenvolve.
Os principais resultados alcançados com a adoção desse Código são:
fortalecimento da imagem das organizações turísticas, apoio na solução de conflitos,
manutenção dos atrativos naturais e culturais e bem estar coletivo.
Um dos itens a ser destacado no Código é a questão do respeito mútuo, onde
os visitantes, que trazem lucros para as localidades, devem ser bem recebidos e
assistidos pela comunidade, pelo trade e pelo Governo, e ao mesmo tempo devem
respeitar os costumes e tradições locais, as áreas de visitação e a cultura do pólo
receptor.
O Código deixa claro que a atividade turística tem impactos positivos e
negativos e que visa o lucro, mas que pode obter esse lucro respeitando o ser
humano, e inclusive estimula esse lucro, através da perpetuação da atividade quando
se preocupa com a preservação do meio ambiente natural e cultural. Uma das
contribuições deste Código é estimular o desenvolvimento do turismo através do
desenvolvimento da comunidade, das empresas e dos trabalhadores.
Sendo assim, pode-se observar que o Código de Ética do Turismo cumpre seu
papel, pois foi elaborado de acordo com a realidade do turismo e com a participação
dos que atuam na atividade turística. Em seus dez artigos o Código abrange todos os
envolvidos, ou seja, turistas, comunidade, iniciativa privada, governo e trabalhadores.
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ADMINISTRAÇÃO DE RISCOS: UM ESTUDO SOBRE A QUEBRA DE PATENTE DO AUTOMÓVEL
Elídio Vanzella Petrônio Borges da Silva
Resumo Após batalha travada nos tribunais a patente do automóvel, que pertencia a George Baldwin Selden, foi, por decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, revogada e Henry Ford expandiu sua fábrica e criou o sistema de produção em massa. Assim, através deste momento na história das organizações, este trabalho objetiva apresentar o papel do administrador no processo decisório, aceitando assumir riscos, de forma racional e planejada como forma de assegurar a competitividade e o sucesso das organizações. A proteção comercial gerada pelas primeiras patentes respeitava um principio de territorialidade que se mantém até os nossos dias. Nos Estados Unidos, no ano de 1790, surge o primeiro projeto de lei que trata da propriedade industrial, e é reconhecido o direito de se obter lucro com uma invenção. Em 1895, George Baldwin Selden obteve o registro, nos Estados Unidos, da patente do automóvel, mas em 10 de janeiro de 1911 a quebra da patente do automóvel representou uma oportunidade de investimento para muitos fabricantes de automóveis e investidores. A metodologia utilizada para o desenvolvimento do presente artigo foi a pesquisa bibliográfica. O administrador deve ser um tomador de decisões e, portanto, estar apto a assumir riscos, desde que de forma planejada. Henry Ford percebeu que o automóvel deveria ser um produto acessível, e não um símbolo de status, ele foi o primeiro a perceber o potencial do mercado americano e para explorar ao máximo criou o sistema de produção em massa, reduzindo custos e os preços do automóvel, o que por consequência fez a demanda crescer, tornando o Ford T um sucesso. Palavras-chave: administração, riscos, Henry Ford.
Astract
After battle in the patent courts of the car, which belonged to George Baldwin Selden, was, by the United States Supreme Court decision, revoked and Henry Ford expanded its plant and created the system of mass production. Thus, through this moment in the history of the organizations, this study presents the role of the administrator in decision making, accepting take risks in a rational and planned manner in order to ensure the competitiveness and success of organizations. According to historical accounts, the first law in the world of patents is to Venice. In the United States, in the year 1790, the first bill that deals with industrial property arises, and the right to profit from an invention is recognized. In 1895, George Baldwin Selden obtained registration in the United States, the patent of the automobile, but on January 10, 1911 to break the patent of the car represented an investment opportunity for many automakers and investors. The methodology used for the development of this article was the literature search. The administrator must be a decision maker and therefore be able to take risks, since in a planned manner. Henry Ford realized that the car should be an affordable product, not a status symbol, he was the first to realize the potential of the American market and to fully exploit created the system of mass production, reducing costs and prices of car , which consequently did grow demand, making the Model T successful. Keywords: administration, risks, Henry Ford.
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Introdução
O ano era o de 1911 e após longa batalha travada nos tribunais a patente do
automóvel, que pertencia a George Baldwin Selden, foi, por decisão da Suprema
Corte dos Estados Unidos, revogada tornando-se o desfecho final da batalha iniciada
quando a ALAM (Association of Licensed Automobile Manufacturers) negou a licença
para a fabricação de automóveis a Henry Ford. Naquele momento, sem opção e por
não concordar com o projeto descrito na patente do automóvel, o senhor Henry Ford
procurou a justiça e, por oito anos, manteve-se firme em sua convicção tomando
medidas administrativas para contornar as adversidades, até que finalmente a sua luta
teve desfecho favorável. A revogação da patente do automóvel beneficiou a Ford e a
outros 218 fabricantes da época, com isso o automóvel pode fazer sua história,
transformado a sociedade até os dias atuais.
Em função das condições criadas pela quebra da patente do automóvel, Henry
Ford expandiu sua fábrica e criou o sistema de produção em massa, desencadeando,
por consequência, uma mudança radical na sociedade, pois à medida que o
automóvel tornava-se acessível a mais pessoas, novos hábitos começaram a fazer
parte da vida da população. Viajar pelo simples prazer de dirigir por novas estradas,
conhecer lugares e principalmente a partir daquele momento quem vivia no campo
podia ir para a cidade e deslocar-se para outros lugares com maior facilidade, rapidez
e conforto. Assim, através deste momento na história das organizações, este trabalho
objetiva apresentar o papel do administrador no processo decisório, aceitando assumir
riscos, de forma racional e planejada como forma de assegurar a competitividade e o
sucesso das organizações.
Referencial Teórico
Henry Ford foi um homem que mais do que produzir automóveis fez uma
revolução no sistema de produção em massa. Ele nasceu em 30 de julho de 1863,
na cidade de Springwells, aproximadamente 10 milhas a sudoeste de Detroit, Estado
do Michigan nos Estados Unidos. Seu pai, William Ford, nasceu na Irlanda, e foi para
os Estados Unidos em 1847 já sua mãe Mary Litigot era descendente de holandeses
e nasceu nos Estados Unidos e morreu quando Henry Ford que era o mais velho dos
seis filhos tinha 12 anos de idade. Henry Ford frequentou escolas rurais até os 15
anos e durante esse período, trabalhava na fazenda depois do horário escolar, mas
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Ford considerava os ofícios da fazenda desinteressantes (GILENO, 2008). O
desinteresse de Ford pela vida de fazendeiro fica evidente em uma passagem de seu
livro "My Life and Work" de 1922, ao descrever como ficou encantado quando aos 12
anos em uma viagem de carroça com seu pai viu o primeiro motor em uma estrada
cerca de oito milhas fora de Detroit. “Lembro-me do motor como se eu o tivesse visto
ainda ontem, pois foi o primeiro veículo que não era puxado por cavalos que eu tinha
visto” (FORD, 1922).
Era um motor destinado principalmente para a transmissão de força para
máquinas de debulha e serrarias e era simplesmente um motor portátil com caldeira
montado sobre rodas com um tanque de água atrás e à direita a carroça com carvão.
Ele já tinha visto esses motores puxados por cavalos, mas aquele era especial, era
um motor fabricado por Nichols, Shepard & Company of Battle Creek. O motor estava
colocado sobre a caldeira e a direção era feita por um homem na plataforma, atrás da
caldeira. Quando o motor parou para deixar passar a carroça de cavalos de seu pai,
ele aproveitou para conversar com o engenheiro que ficou feliz de explicar todo o
funcionamento do equipamento. Esse evento foi o início que o fez sonhar em construir
uma máquina que iria viajar nas estradas.
Henry Ford enfrentou muitas dificuldades em sua jornada ao sucesso, primeiro
seu pai o desencorajava no seu desejo de ser engenheiro, a vontade de seu pai era
que ele se dedicasse a fazenda, talvez por isso ele tenha, aos 16 anos, fugido de casa
e caminhado até Detroit para começar a trabalhar em uma oficina mecânica, pra
depois seguir seu destino como empreendedor.
Patente - Histórico e Definição
De acordo com relatos históricos a primeira lei de patentes do mundo foi a de
Veneza, pois considera-se que a primeira lei de patentes do mundo foi promulgada
em 1474 em Veneza, onde se propunha como princípios básicos a novidade a
aplicação industrial, a validade local e temporal, a proteção com exclusividade, a
licença de exploração e a penalidades aos copiadores não autorizados (INPI,2014).
As primeiras patentes já embutiam a noção de proteção até hoje em vigor. Veneza,
por exemplo, vivia do comércio, de comprar e de vender, então havia leis que
protegiam quem levasse uma nova arte para lá. Era uma questão econômica (INPI,
2014). A proteção comercial gerada pelas primeiras patentes respeitava um principio
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de territorialidade que se mantém até os nossos dias e quando a Inglaterra assumiu a
dianteira do processo industrial, nos anos 1600, os governantes já haviam aprendido
que a patente tinha muito valor (INPI, 2014). Em 1791, a França criou a sua Lei de
Patentes e tal acontecimento sinalizou para o mundo que havia uniformidade de
interpretação na definição de uma patente: um título de propriedade temporário
outorgado pelo Estado, e amparado pela Justiça, que autorizava o inventor ou autor a
impedir terceiros, sem sua prévia autorização, de executar quaisquer atos relativos á
matéria protegida, tal como fabricação, comercialização ou importação (INPI, 2014).
O Brasil está entre os primeiros países do mundo a criar uma lei que definia
regras de proteção intelectual. O quarto, depois de Inglaterra, Estados Unidos e
França. O Alvará de 28 de abril de 1809, de Dom João VI, estabelecia princípios para
pedidos de patentes (INPI, 2014). Nos Estados Unidos, no ano de 1790, surge o
primeiro projeto de lei que trata da propriedade industrial, é nesse projeto que é
reconhecido o direito de se obter lucro com uma invenção. A lei americana, inspirada
na inglesa, gerou patentes em escala industrial e desde então, toda patente passou a
ter obrigatoriamente a suficiência descritiva, o que até hoje é exigido (INPI, 2014).
Assim no dia 31 de julho de 1790 Samuel Hopkins, um inventor de Vermont tornou-se
a primeira pessoa nos Estados Unidos a ser concedida uma patente. Em 1895,
George Baldwin Selden obteve o registro, nos Estados Unidos, da patente do
automóvel. Nesse contexto, temos que uma patente é, de acordo com a definição do
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) um título de propriedade temporária
sobre uma invenção ou modelo de utilidade, outorgados pelo Estado aos inventores
ou autores ou outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras de direitos sobre a
criação. Em contrapartida, o inventor se obriga a revelar detalhadamente todo o
conteúdo técnico da matéria protegida pela patente. Durante o prazo de vigência da
patente, o titular tem o direito de excluir terceiros, sem sua prévia autorização, de atos
relativos à matéria protegida, tais como fabricação, comercialização, importação, uso,
venda, etc (INPI, 2014).
O caso Ford versus Selden.
George Selden era um advogado especializado no registro de patentes, em
1895 teve reconhecida como sua a invenção do automóvel, embora 10 anos antes
Gotlieb Daimler já tivesse construído um automóvel. Segundo historiadores, Selden
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apenas fez um projeto no papel e requereu sua patente em 08 de maio de 1879, sem
ter construído um carro ou um protótipo (MEDITSCH, 2007). Ainda, segundo o autor,
o pedido de patente feito por Selden incluía não só o motor, mas seu uso em um carro
de quatro rodas e em 05 de novembro de 1895 a patente foi concedida sob o registro
E.U. 549.160.
E no exato momento da história em que a indústria automobilística estava
dando seus primeiros passos e George B. Selden, que nunca tinha produzido um
automóvel, possuía a patente que cobria qualquer carro movido a derivados de
petróleo e era um negócio que começava a se mostrar lucrativo. Anos depois, Henry
Ford, em seu livro My life and work reconheceu que a forma e os métodos que Selden
usou foram legais, mas expressou seu descontentamento com aquela situação.
Esta aplicação foi mantida viva no Escritório de Patentes, por
métodos que são perfeitamente legais, até 1895, quando a
patente foi concedida. Em 1879, quando o pedido foi arquivado,
o automóvel era praticamente desconhecido para o público em
geral, mas na época que a patente foi emitida todo mundo estava
familiarizado com autopropulsão de veículos, e a maioria dos
homens, incluindo eu, que vinha há anos trabalhando no motor
propulsão, fomos surpreendidos ao saber que o que tínhamos
feito possível foi objeto de um pedido de anos antes, embora a
recorrente mantivesse sua ideia apenas como uma ideia. Ele
não tinha feito nada para colocá-lo em prática (FORD, 1922).
Em 1899 George Selden vendeu seus direitos de patente para William C.
Whitney, que propõe fabricação electric-powered táxis como o Electric Vehicle
Company, EVC, por um royalty de US $ 15 por carro, com um pagamento mínimo
anual de US $ 5.000. Whitney e Selden, em seguida, trabalharam em conjunto para
recolher royalties de outros fabricantes de automóveis. Ele foi inicialmente bem
sucedido, recebendo um royalty de 0,75% sobre todos os carros vendidos pela ALAM-
Associação dos Fabricantes de Automóveis Licenciados (MEDITSCH, 2007).
A ALAM foi uma organização formada para desafiar o contencioso da indústria
automobilística por George B. Selden e a Electric Vehicle Company. Em última
análise, a organização aproveitou-se do seu poder e se tornou o maior aliado de
Selden. Em troca de taxas de royalties favoráveis, o grupo ganhou o poder de litigar
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e excluir outros fabricantes de licenciamento, tornando o grupo mais poderoso da
nascente indústria automotiva (MEDITSCH, 2007).
Tudo ia muito bem até que a associação, alegando ser necessária experiência
comprovada, apenas uma armadilha para fechar o mercado, rejeitou o pedido de
licença de Henry Ford. Assim começou uma batalha jurídica que resultou em uma
mudança radical para a história da indústria automobilística e da produção em massa.
O caminho não foi fácil, afirmou Ford. Nós fomos atormentados por um grande naipe
interpostos contra a empresa para tentar forçar-nos em sintonia com uma associação
de fabricantes de automóveis, que estavam operando sob o falso princípio de que há
só um mercado limitado para automóveis e que um monopólio de mercado é essencial
(FORD, 1922).
Em 15 de setembro de 1909, Ford sofreu uma derrota no tribunal que assim
descreveu: A ação se arrastou. E veio o golpe de 15 de setembro de 1909, quando o
juiz Hough apresentou parecer no Tribunal Distrital dos Estados Unidos contra nós. A
Associação imediatamente começou a anunciar, alertando os potenciais compradores
contra os nossos carros. Eles haviam feito a mesma coisa em 1903, no início do
processo, quando se pensou que eu poderia ser posto fora do negócio. Eu
simplesmente sabia que nós estávamos certos, mas era um golpe considerável a
primeira decisão contra nós (FORD, 1922).
O jornal de New York Times publicou no dia seguinte a decisão do juiz com a
manchete “Toda a indústria afetada” e Ford reagiu porque a ALAM imediatamente
começou a anunciar a derrota de Ford e que o comprador de um carro Ford seria
processado, como Ford descreve em seu livro “que um homem ao comprar um carro
Ford poderia muito bem estar comprando um bilhete para a cadeia”. Henry Ford
respondeu com um anúncio de quatro páginas nos principais jornais de todo os
Estados Unidos, onde declarava sua confiança na vitória e concluía garantindo a todos
os compradores de automóveis da Ford que seriam protegidos pela Ford Motor com
um total de US$ 12.000.000,00 em recursos, os compradores só precisavam pedir o
vínculo com a empresa, era uma forma de estabelecer a necessária confiança. A
atitude empresa obteve sucesso junto aos consumidores e como desfecho da situação
foram vendidos mais de dezoito mil carros, quase o dobro da produção do ano
anterior, e função da confiança percebida menos de cinquenta pessoas pediram os
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títulos. Naquele momento crítico Ford administrará a situação e manteve sua empresa
em crescimento.
Uma batalha havia sido perdida, mas não a guerra; Henry Ford recorreu, e em
10 de janeiro de 1911 ganhou o caso com base em um argumento de que o motor
usado nos automóveis não foi baseado no motor George Brayton, que Selden tinha
melhorado, mas com o motor Otto que era diferente. Henry Ford havia enfrenta um
grande risco e se consagrado vitorioso, mas muito mais que uma vitória de Ford a
quebra da patente do automóvel que pertencia a Selden representou uma
oportunidade de investimento para muitos fabricantes de automóveis e investidores.
Administração de riscos
Segundo Maximiano (2000) administração significa, em primeiro lugar, ação.
Administração é um processo de tomar decisões e realizar ações que compreende
quatro processos principais interligados: planejamento, organização, execução e
controle. E foi isso que Ford fez a frente de sua empresa mesmo em momentos
adversos como o que a justiça julgou a favor de manter a patente do automóvel. O
futuro, naquele instante, parecia muito difícil, mas Ford estava bem assessorado por
advogados competentes e avaliou bem o risco da situação, assim recorreu da decisão.
Administração de acordo com Montana e Charnov (2003) é Ato de trabalhar
com e por intermédio de outras pessoas para realizar os objetivos das organizações,
bem como de seus membros. Henry Ford foi um empresário que entendeu e praticou
em sua organização o princípio de que homens não são apenas um elemento junto a
uma máquina ou equipamento, contrariando o pensamento da época, defendeu a
ideia de que os trabalhadores deveriam ter tempo para coisas pessoais e
remuneração satisfatória, foi assim que ele causou espanto em sua época ao
aumentar o pagamento de seus funcionários de US$ 2,40 por dia, valor praticado pela
maioria das empresas, para US$ 5,00 por dia e ainda reduziu a jornada de trabalho
de 9 horas por dia na semana de 6 dias para 8 horas por dia na semana de 6 dias.
Essa ação foi publicada em 6 de janeiro de 1914 no jornal New York Times com uma
manchete de espanto.
Ford fez uma revolução no mercado consumidor ao tornar seus empregados
potenciais consumidores dos automóveis que ele fabricava. O risco dessa estratégia
foi grande e foi duramente criticada na época, mas o tempo se encarregou de mostrar
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quem estava certo. No mundo dos negócios o risco é um fator inevitável, contudo
entender a que tipo de risco a empresa está sujeita e planejar para minimizá-lo é uma
atividade essencial para um bom gestor. Uma empresa pode estar sujeita a riscos
como mercado, planos de governos, mudanças de legislações, em função da
atividade, da relação com seus empregados, da relação com mercado ou clientes
entre outros e o domínio do risco é a ideia revolucionária que define a fronteira entre
os tempos modernos e o passado. Trata-se da noção de que o futuro é mais do que
um capricho dos deuses e de que homens e mulheres não são passivos ante a
natureza, até os seres humanos descobrirem como transpor essa fronteira, o futuro
era um espelho do passado ou o domínio obscuro de oráculos e adivinhos que
detinham o monopólio sobre o conhecimento dos eventos previstos (BERNSTEIN,
1997).
O risco é inevitável, então não há como eliminá-lo, contudo tende-se a inferir
que as definições de risco enfocam as chances dos resultados sob uma ótica de perda
ou prejuízo, contudo os resultados imprevistos ou inesperados podem ter impacto
tanto positivo como negativo. Essa ideia é reforçada por Goulart (2003), o risco existe
quando há probabilidade de experimentar retornos diferentes do que se espera. Nesse
sentido, há risco tanto de ocorrência de resultados inferiores quanto de ocorrência de
resultados superiores ao esperado.
A dificuldade dos dias atuais é que tem se observado que os riscos tornaram-
se sistêmicos e globalizados, assim calcular os riscos tornou-se uma tarefa cada vez
mais difícil. Então a noção de risco está intimamente ligada com a modernidade e com
a ideia de probabilidade. Douglas (1992) considera que risco é a maneira moderna
de avaliar o perigo em termos de probabilidade, num contexto de incerteza e afirma,
ainda, que a noção moderna de risco emerge no século XVII no contexto dos jogos
de azar, sendo incorporada no século XVIII no seguro marítimo e no século XIX, na
economia. Para Bernstein (1997) a capacidade de administrar o risco e, com ele, a
vontade de correr riscos e de fazer opções ousadas, portanto, são elementos-chave
da energia que impulsiona o sistema econômico.
Uma empresa ao nascer já o faz sob a ameaça do risco inerente a sua atividade
e saber como administrar o risco e suas consequências pode significar a diferença
entre sobrevivência ou não.
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Metodologia
A metodologia utilizada para o desenvolvimento do presente artigo foi a
pesquisa bibliográfica em autores conceituados no assunto, procurando identificar
considerações sobre o tema abordado para a busca de resolução do problema por
meio de referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo os aportes
científicos. A pesquisa bibliográfica subsidia o conhecimento sobre o que foi
pesquisado e trabalhado, explicando como e sob que perspectiva o assunto é tratado
na literatura científica. A pesquisa bibliográfica, explica Salomon (2004), fundamenta-
se em conhecimentos proporcionados pela biblioteconomia e documentação, entre
outras ciências e técnicas empregadas de forma metódica envolvendo a identificação,
localização e obtenção da informação, fichamento e redação do trabalho científico.
Para elaborar e documentar um trabalho de pesquisa científica é necessário
que a busca por informações bibliográficas seja planejada, sendo assim, Salomon
(2004), orienta para dividir a pesquisa em três fases, onde a primeira fase é da
preparação da pesquisa, nela a informação é localizada e identificada. Durante a
seleção das fontes de informação o pesquisador deverá buscar toda a informação
disponível na literatura científica de interesse, em artigos de periódicos, relatórios
técnicos, anais de congressos, teses, dissertações, entre outras, seja em meio
impresso ou eletrônico. A segunda fase é a de realização e compreende a realização
do fichamento do documento obtido que será selecionado para a elaboração da
redação do trabalho científico, por meio da confecção de fichas de leitura (ECO, 2003).
Por último, a fase da comunicação, que segundo El-Guindy (2004), é a coroação do
trabalho de investigação científica, e ao mesmo tempo, o momento de maior
realização do pesquisador, pois e nessa etapa que ocorre a redação do trabalho
científico por meio do material identificado e organizado conforme os propósitos da
pesquisa.
Considerações finais
O administrador deve, entre seus papéis, ser um tomador de decisões e,
portanto, estar apto a assumir riscos, desde que de forma planejada. Na verdade, uma
das qualidades essenciais ao administrador é ser proativo, que pode ser resumido
como a capacidade de antever cenários e assim, buscar oportunidades no mercado,
tomando decisões e assumindo riscos. Henry Ford percebeu que o automóvel deveria
ser um produto acessível, e não um símbolo de status e poder de ascensão social, ele
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foi o primeiro a perceber o potencial do mercado americano e para explorar ao máximo
criou o sistema de produção em massa, reduzindo custos e os preços do automóvel,
o que por consequência fez a demanda crescer cada vez mais, tornando o Ford T o
automóvel com maior quantidade produzida por muitos anos, sendo ultrapassado
apenas em 1972 pelo Fusca da Volkswagen (MORES, 2002). E apenas como
exercício de imaginação, podemos pensar como seria o mundo nos dias atuais caso
Ford não tivesse obtido êxito em sua luta nos tribunais para quebra da patente do
automóvel. Henry Ford não poderia produzir o Ford T, pois a licença de fabricação
para sua fábrica havia sido negada pela ALAM, então impedido de produzir teria ainda
que pagar os valores referentes ao direito de patente de cada automóvel até então
produzidos e não existindo o Ford T, milhões de pessoas continuariam com seus
hábitos isolados, pois também não haveria o desenvolvimento das estradas e novos
hábitos como viajar de automóvel com a família nas férias ou pelo simples prazer de
ir até um lugar novo. Em linguagem figurativa, sem Ford e seu Modelo T o mundo
continuaria com lugares, que na geografia são vizinhos, distantes e quase isolados
por falta de facilidade de acesso e oportunidade de encontrar-se. A indústria
automobilística, por exemplo, poderia não ter tido o crescimento que conhecemos
hoje, sendo uma grande fonte de receita e empregos.
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O PROCESSO DA AQUISIÇÃO DA LEITURA E ESCRITA NO MUNDO
CONTEMPORÂNEO
Juliana Maia Tavares
Petrônio Borges da Silva
Resumo:
O artigo a ser apresentado tem como tema central a aquisição da leitura e escrita no mundo contemporâneo, suas implicações e os fatores benéficos para os educandos do ponto de vista técnico e prático com vistas na melhoria da qualidade de vida das pessoas e manutenção da cidadania. Por essa razão se faz necessário uma análise criteriosa dos elementos teóricos utilizados para apoiar o estudo sobre processo de letramento no cotidiano escolar. Palavra Chave: Leitura e Escrita; Leitura, Escrita.
Abstract:
The paper to be presented is focused on the acquisition of reading and writing in the contemporary world, its implications and the beneficial factors to learners from a technical and practical perspective with a view to improving the quality of life and maintenance of citizenship. For this reason it is necessary a careful analysis of the theoretical elements used to support the study of the literacy process in everyday school life. Keyword: Reading and Writing.
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Introdução:
O mundo contemporâneo tem passado por mudanças radicais nos últimos
anos. No contexto da globalização, tem-se observado a utilização cada vez mais
frequente de novas tecnologias em todos os campos do conhecimento. Através da
cibe cultura, se conseguiu o efeito da globalização, possibilitando em alguns casos a
troca de experiências e informações nos mais longínquos pontos do mundo. Em
contrapartida, esta evolução não foi suficientemente utilizada no âmbito da educação
formal no primeiro ano do ensino fundamental com fins pedagógicos, para alavancar
o processo de alfabetização nas escolas públicas, salvo exceções.
Pesquisas no campo da saúde, tecnologia, educação e outros vêm tomando
proporção nunca antes esperada, com isso crescem os benefícios de quem dela
utiliza. Novos pesquisadores no campo da neurociência vêm ocupando um lugar de
destaque com suas pesquisas sobre o cérebro humano trazendo conceito mais
holístico sobre o tema.
Na concepção Antônio Damásio a máquina humana apresenta uma mudança
de paradigma, atingindo o ponto mais alto de sua evolução. O homem é compreendido
em sua existência biológica, sentindo, pensando e agindo, dessa forma corpo, razão,
e emoção fazem parte de um conjunto insolúvel, dando ideia de completude humana,
caracterizando um novo sujeito completamente diferente do modelo dito ideal
preconizado na década de 20 em plena revolução industrial onde a máxima de
Descartes era “Penso, logo Existo”.
Nos moldes atuais da educação brasileira, as políticas públicas enquanto
proposta de educação se depara com situações de defasagem com professores
desestimulados e, em alguns casos, desatualizados, não muito incomuns até sem
formação adequada.
A falta de recursos e de condições de trabalho de forma satisfatória é outro fator
agravante, que vem modificar qualificativamente o quadro da educação brasileira.
Neste sentido, observamos mudanças drásticas no contexto social, onde o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) tem em suas mensurações os parâmetros
educacionais como indicador de desenvolvimento de um povo.
Nenhuma sociedade conseguirá apresentar um bom desenvolvimento no
âmbito social, econômico e principalmente humanístico se não conseguir
principalmente a redução das diferenças entre classes, ou seja, se não houver um
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aprofundamento de suas estruturas básicas, que nada mais é do que a educação de
qualidade.
A problemática enfatizada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s)
evidencia que a capacidade de ler, escrever e principalmente interpretar, não está
sendo bem sucedida, haja vista, problemas encontrados na maioria das escolas
públicas. A escolha por este estudo foi estimulada pela necessidade de conhecer as
implicações no decorrer do processo de aquisição da leitura e escrita nas salas do
primeiro ano do ensino fundamental das escolas públicas.
Em virtude dos aspectos destacados anteriormente, realizamos um
levantamento bibliográfico com objetivo de conhecer os desafios de alfabetizar
crianças do primeiro ano do ensino fundamental.
Desenvolvimento Textual
O Desafio da Leitura e da Escrita
Existe uma questão que temos obrigação de pautar, que é o desafio à leitura e
a escrita. A leitura aliada ao conhecimento, bem como a escrita não é um saber, porém
uma prática. Então ler pode ser entendido como decifrar o escrito, isto é, compreender
o que as letras e outros sinais gráficos representam.
A leitura é o alicerce da aprendizagem escolar, não descartando é claro, a
escrita que é “depois da fala, um dos primeiros instrumentos do processo de
comunicação e expressão” (ABUD,1987).
Há anos, o ensino da leitura destinava-se apenas na decifração dos símbolos
sem que esses tivessem significação para os educandos, ou seja, eles não
conseguiam aplicar o que haviam lido em sua vida prática.
A maioria das crianças recebem os primeiros estímulos de leitura e escrita pelo
processo silábico, muitas vezes descontextualizado e distante de sua vida prática,
dessa forma acabam sem compreenderem o que leem. Com base no exposto, o
ensino da leitura torna-se difícil de ser realizado com eficácia, cabendo ao professor
reverter este quadro para que as crianças possam além de ler as palavras possam ler
o mundo em seu sentido mais amplo, atuar como cidadãos.
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Conceituando a Leitura:
Leitura, em sentido amplo, é o mesmo que “concepção, conceito, ideia”. Já num
sentido restrito, significa “a construção de um aparato teórico e metodológico de
aproximação de um texto”. A leitura também é conceituada como uma atribuição de
significado às imagens gráficas, ou seja, envolve a decodificação dos símbolos
gráficos (grafemas-letras) e a associação interiorizada dos componentes auditivos
(fonemas-sons), que se lhes sobrepõem e lhes conferem um significado.
A leitura é uma conexão entre a linguagem falada e as formas escritas da
linguagem, isto é, uma tradução das letras impressas em equivalentes sonoros e em
significados. Trata-se de um processo cognitivo, em que ao mesmo tempo em que se
lê e se dá um duplo reconhecimento, um auditivo e outro significativo ou semântico
(FONSECA, 1995).
Para a criança aprender a ler, necessita decodificar as letras impressas,
utilizando um processo cognitivo que permite traduzi-las em termos de significações
linguísticas. A leitura é uma interpretação significativa dos símbolos verbais. Para
compreendermos a multiplicidade das aptidões é necessário que se tenha uma correta
resposta aos sinais da linguagem, que são representados por símbolos gráficos.
Salienta-se que, apenas os símbolos gráficos sem interpretação não têm sentido.
Uma observação cuidadosa do processo de leitura nos leva a perceber que são
necessárias várias fases de aprendizagem. As primeiras põem em destaque a
assimilação de um código auditivo, já à segunda refere-se a uma transferência de
aptidões, entre as auditivas e as visuais, através da decodificação de símbolos
gráficos. Desta forma, o estímulo visual deve ser considerado como uma unidade
gráfica em sequência, isto é, como uma palavra que, ao mesmo tempo, em nível de
cérebro se dá uma associação significativa entre o estímulo visual e o componente
auditivo complementar. Portanto, a relação entre o fonema (aspecto auditivo) e o
grafema (aspecto visual), além de uma sequência espacial específica, apresenta-se
também numa sequência temporal que dá sentido e significado da palavra.
Aprender a ler é formar uma comunicação mais eficaz, mais ampla e de mais
penetração. A leitura ajuda a se por em contato com o mundo. Pela leitura o ser
humano cresce individual e socialmente. “Aprender a ler é, antes de mais nada,
aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação
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mecânica de palavras mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e
realidade”, (FREIRE, 1990).
Conceituando a Escrita:
A escrita é um instrumento essencial para a expressão do pensamento e do
sentimento. Em sua aprendizagem a criança precisa da orientação do educador, para
desde o princípio adquirir bons hábitos, formando habilidades e atitudes básicas
favoráveis.
A escrita é uma maneira convencional e universal de se representar a fala.
Contudo, se faz necessário aprendermos a grafá-la, graças à necessidade de
utilização das letras associadas aos seus sons específicos.
Em casos específicos, as crianças podem ser ensinadas individualmente e/ou
coletivamente de acordo com suas necessidades, a fim de receber assistência
diferenciada do educador. O educador deverá analisar cuidadosamente a produção
escrita dos educandos, sobretudo no seu processo inicial, dessa forma favorecendo
novos investimentos no que diz respeito interatividade durante o processo de
aquisição da leitura e escrita.
Todo o ensino deve ser bem planejado e todas as atividades avaliadas,
principalmente pela complexidade das tarefas, o que, induz a objetividade. É comum
observarmos na rede pública de ensino as crianças ingressarem na escola
diretamente no primeiro ano do ensino fundamental, quando o contato com a leitura e
a escrita ainda não foi realizado de maneira convencional, podendo ocorrer também
o estimulo gráfico, nas propagandas, rótulos, embalagens, nos meios de comunicação
das formas mais variadas, entre outros, favorecendo o conhecimento de letras e sons
por parte dos educandos.
Implicações no processo de aquisição da leitura e escrita
Vários fatores podem interferir ou não no processo da leitura e escrita, Rollnn
(1998), em seu livro “A Caminho da Leitura”, evidencia alguns fatores básicos, tais
como, o estado físico, a interação do indivíduo com o meio social e principalmente a
afetividade dispensada a este.
No que diz respeito ao estado físico do indivíduo, observa-se que a
aprendizagem é mais efetiva quando os alunos se encontram em situação favorável
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de saúde, principalmente quando se refere à condição nutricional, índice de
verminose, fadiga, problema de visão, audição, entre outras.
O meio em que o educando este inserido é outro fator integrante no processo
de estimulação, favorecendo e até desmotivando o acesso do mesmo na vida escolar
e ao seu desempenho.
Na contextualização atual, muitas escolas estão localizadas em periferias,
locais de risco social cabe ao educador observar com atenção os sinais do
comportamento do educando, pois se percebe que os indivíduos com problemas de
modo geral, quer seja na saúde ou em sua vida particular, familiar ou social, tendem
responder negativamente ao estimulo da leitura e da escrita e ao andamento escolar.
Tentativa de Melhoria na Qualidade da Educação:
Na tentativa de avançar no tocante a educação, o MEC vem lançando esforços
e construiu o referencial curricular objetivando dar unidade ao currículo nacional, criou
programas que possam fomentar a ideia da diminuição da violência pela cultura da
paz, outros programas ligados a saúde, esporte e lazer. Encontra-se disponível para
os docentes nas unidades escolares o Referencial para Educação Infantil (RECNEI)
e Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (PCN).
A violência é um dos entraves que temos obrigação de pautar nas vidas das
crianças que estudam nas escolas públicas de ensino fundamental, este tipo de
comportamento é comum em alguns ambientes frequentados pelos educandos, seja
no seio da família, na comunidade, ou até mesmo no espaço escolar. Neste sentido é
fundamental importância a promoção de atividades de cunho educacional ou cultural
para ser repensado tanto os hábitos quanto das atitudes da cultura de paz. Além
destes obstáculos existem aqueles apoiados em perturbações do desenvolvimento
humano, em domínios gerais quer neurológico; sensorial; físico, etc., embora em
menor incidência.
Embora possam aparecer alguns obstáculos, no processo da aprendizagem,
cabe ao educador incrementar a dinâmica pedagógica utilizada, embasado
principalmente, na criatividade, paciência e persistência, procurando com isso a busca
pelo despertar do talento e das potencialidades individuais, o que nos reverte ao
prazer do aprender. O importante no início do processo é que o aluno tenha no
educador um mediador, o que facilitará no processo de ensino e aprendizagem, sendo
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este um dos conceitos mais amplos segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN’s).
Caracterização do Processo de Letramento:
Alguns teóricos do campo da educação se preocuparam em formalizar uma
fase da vida da criança em que as mesmas já tivessem prontas cognitivamente para
mergulhar no mundo maravilhoso da leitura e da escrita, sendo caracterizada a idade
de seis anos (CHAVES, 2001).
É comum considerarmos o período universitário, como sendo o mais importante
na vida estudantil, em contrapartida alguns psicólogos em pesquisas aprofundados
sobre o desenvolvimento humano em relação a aprendizagem, revelam que do
nascimento aos seis anos de vida é a fase mais importante, pois, é exatamente nesse
período que se forma a inteligência, que é o grande instrumento do homem.
A partir do nascimento, a criança começa no trabalho de aprendizagem,
passando a assumir uma personalidade, e adaptando-se a um ambiente. Segundo
Chaves (2001) a criança “Edifica sua mente, pedaço a pedaço, consegue construir a
memória, a faculdade de compreender, a de raciocinar. Ei-la enfim no seu sexto ano
de idade”. O período no qual age nela a mente capaz de absorver. Em nenhuma outra
idade da vida se tem maior necessidade de ajuda, daí em diante vai se criar a
possibilidade do aperfeiçoamento.
Observa-se assim, que a nova Lei de Diretrizes e Bases que regulamenta a
Educação Brasileira (LDB), na qual a Educação Infantil, recebe destaque inexistente
nas legislações anteriores, impôs-se a necessidade de que regulamentações em
âmbito nacional, estadual e municipal sejam estabelecidas e cumpridas, de modo a
garantir padrões básicos de qualidade no atendimento a instituições que atendem a
faixa etária de zero aos seis anos de idade.
É notável o avanço da educação no âmbito nacional, buscando produzir uma
educação de base qualitativa, para que posteriormente sejam minimizados problemas
encontrados na atualidade, bem como dificuldades no processo da leitura e da escrita
mencionados anteriormente.
Segundo os PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) tendo em vista com
grande clareza as dificuldades de “alfabetizar”, ou seja, ensinar os educandos a ler e
escrever, tarefa realizada de forma geral nas escolas públicas inicialmente no primeiro
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ano do ensino fundamental podendo se estender até o quinto ano, evidencia-se
apontando a necessidade da reestruturação do ensino da língua portuguesa, de forma
que garanta a aprendizagem da leitura e da escrita.
Na medida que conseguimos visualizar falhas enquanto proposta de educação,
consequentemente se faz necessário buscar novos recursos para avançaremos, visto
que os documentos oficiais se propõem a sugerir caminhados rumo a superação.
É necessário que se evidencie o objetivo de aprender a ler e a escrever contida
no PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) espera-se que os educandos adquiram
progressivamente uma competência em relação à linguagem, que lhes possibilite
resolver problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens culturais e alcançar a
participação plena no mundo letrado.
A Importância do Lúdico no Processo de Letramento:
O lúdico pode ser considerado como uma das principais formas de expressão,
haja vista, que ele possibilita meios de promover a investigação e possibilita condições
de aprendizagem entre as pessoas e o mundo em um contexto educacional. O
estímulo do desenvolvimento da imaginação, através de aspectos cognitivos favorece
o desabrochar dos desejos, conflitos e vivências mais íntimas das crianças. Com este
pensamento, e através da necessidade de dinamizar as atividades realizadas em sala
de aula, foi necessário se pensar em uma forma que garantisse o aprendizado do
conhecimento científico produzido nas escolas, a fim de estimular os aspectos
cognitivos dos educandos e proporcionando acima de tudo, o prazer de aprender.
Segundo Piaget (1988), a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades
intelectuais da criança, sendo por isso, indispensáveis à prática educativa, em
contrapartida, Vygotsky (1998) afirma que o desenvolvimento ocorre ao longo de toda
vida e que as funções psicológicas superiores são construídas ao longo dela.
Vygotsky (1989) não estabelece fases para explicar o desenvolvimento, pois para ele
o sujeito nem é passivo e nem ativo, sendo portanto interativo.
Vygotsky tem em seu pensamento que o desenvolvimento intelectual, no
primeiro momento da criança se dá através do processo de faz-de-conta. Já Piaget,
atribui este desenvolvimento aos jogos simbólicos. Contudo, Oliveira (1993), vai mais
a fundo, observando que existe uma correspondência entre ambos pensadores, pois,
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a aquisição do conhecimento se dá de duas formas, onde a primeira denominada real,
diz respeito aos conhecimentos já adquiridos, ou seja, é o conhecimento que a pessoa
já traz consigo. A segunda zona é por ele determinada como zona proximal, e está só
é atingida através do auxílio de outras pessoas.
Vygotsky (1989) na sua visão sócio/histórica nos revela que a brincadeira e o
jogo, é uma atividade específica da infância, em que a criança recria a realidade
usando sistemas simbólicos. Esta é uma atividade social no contexto cultural e social.
“As maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições
que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade”, (Vygotsky,
1998).
Santos (1997), afirma que o lúdico é uma necessidade do ser humano em
qualquer idade, portanto, não deve ser vista apenas como diversão. O
desenvolvimento do aspecto lúdico favorece a aprendizagem, além de favorecer no
desenvolvimento dos aspectos pessoais, sociais e culturais. Ao lúdico, ainda pode ser
atribuída a colaboração para se obter uma boa saúde mental, preparando para um
estado interior fértil e facilitando nos processos de socialização, comunicação,
expressão e acima de tudo da construção do conhecimento.
Normalmente o lúdico é motivador e criativo, sendo portanto, apontado como
um objeto facilitador no desenvolvimento das atividades, além de flexível e coerente
quando da necessidade de mudanças e/ou adaptações de acordo com as
necessidades educacionais estabelecidas em um momento oportuno. Dentro deste
contexto observa-se que o lúdico é um instrumento motivador no processo ensino
aprendizagem devendo ser inserido no cotidiano escolar, viabilizando assim as
atividades e tornando-as mais prazerosas.
A possibilidade de utilizar oficinas de construção com materiais pedagógicos,
jogos, música, brincadeiras diversas, pesquisas em suas diversas amplitudes, estudo
do meio em que vivemos e/ou observamos, faz do lúdico uma forma de resgate da
autoestima, principalmente pelo prazer de aprender.
Para se trabalhar bem com atividades lúdicas, se faz necessário um bom
planejamento, de modo que as vivências estejam vinculadas à realidade do público
alvo. Neste sentido, não é inoportuno afirmarmos que durante a execução das
atividades deve-se provocar desafios, estimular as participações coletivas, e
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consequentemente buscar encaminhamentos e soluções para as mais variadas
situações existentes.
No entanto, existem educadores que se preocupam em ensinar as regras do
jogo (visão metodológica), delimitando assim o papel de cada participante e tendo
como consequência a obediência total das regras deste. O educador agindo desta
forma está contribuindo para transformar o educando em um mero componente do
jogo, consequentemente não contribuindo para que ocorra a ampliação do
desenvolvimento das suas capacidades.
Santos (1998), nos revela a importância de fazer com que ocorra a interação
do “jogador” com o jogo”, onde este indivíduo deverá participar de forma plena das
discussões, das regras, das possibilidades do jogo e da sua própria participação
enquanto conjunto. Desta forma, acredita-se que com esta interação Jogo x Jogador,
teremos um grande avanço no processo educacional da criança, pois este deixará de
ser apenas um mero “jogador” e passará a expressar suas críticas e sugestões,
condição básica, para que este passe a ser um indivíduo determinado.
“A criança que não brinca, não se aventura em algo novo, desconhecido. Se,
ao contrário, é capaz de brincar, de fantasiar, de sonhar, está revelando ter aceito o
desafio do crescimento, a possibilidade de errar, de tentar e arriscar para progredir e
evoluir” (Lebovici & Diatkine, 1985).
Contudo, o educador é quem precisa rever o seu papel no processo, não
esquecendo que, a expressão do educando deve ser respeitada em sua totalidade.
Com esta condição implantada, o educador assumirá o papel de agente
sistematizador dos conhecimentos.
Considerações Finais:
Assim como surgiu um novo conceito de sociedade contemporânea, nasce
também uma nova demanda do ponto prático nas escolas, principalmente no fazer
pedagógico. Que inspiram novas pesquisas no campo da educação e adjacências
com foco na teoria sem perder de vista as raízes do meio empírico, que geram a
temática como suporte teórico.
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A existência de muitos estudos específicos sobre o objeto de pesquisa “a
aquisição da leitura e da escrita”, acrescentou de forma satisfatória na construção do
artigo em questão.
Sendo o ser humano um ser social e político, e vivendo em uma sociedade
excludente, onde o “saber” ler e escrever é fundamental para a sua inserção, este
modo de aprimoramento do conhecimento por meio da aquisição da leitura e escrita
é de fundamental importância para a vida mais plena do cidadão, contudo os novos
processos têm logrado êxito de forma satisfatória, mesmo com todos os contratempos
que a educação brasileira vem passando.
Observamos que para ocorrer o proposto pelo trabalho, é necessário um
conjunto de ações, que favoreçam o envolvimento de todos os componentes da
comunidade escolar, para que só assim consiga-se de fato, ampliar o crescimento
pessoal e intelectual dos educandos, com foco na qualidade de vida a partir das novas
aquisições.
O grande desafio da comunidade escolar, dos pesquisadores, autores e
pensadores da educação é traçar novas diretrizes educacionais que a sociedade
contemporânea precisa para maximizar os talentos inatos dos seres humanos que
fazem parte do processo.
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A APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL E SUA IMPORTÂNCIA NO
PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DAS COMPETÊNCIAS
GERENCIAIS
Dayana Priscilla Soares Jesus
Elídio Vanzella
RESUMO
O presente estudo tem como desígnio a contribuição para o campo das pesquisas relativas às competências gerenciais e como seu desenvolvimento está relacionado à gestão do conhecimento e consequentemente à aprendizagem organizacional. Para tanto, fez-se uma pesquisa bibliográfica para apresentar alguns conceitos que pairam sobre as organizações que aprendem e sobre a própria aprendizagem organizacional, definindo os níveis de aprendizagem e relacionando às novas perspectivas que lastreiam o desenvolvimento das competências gerenciais, influenciadas pelo comportamento organizacional. Pode-se inferir que há um grande caminho a ser percorrido e desafios a serem enfrentados no que se refere à estruturação de ações de desenvolvimento pessoal que viabilizem o desenvolvimento de competências e proporcionem um aprendizado contínuo do indivíduo e da organização.
Palavras-chaves: gestão de competências, aprendizagem organizacional,
conhecimento.
ABSTRACT
The present study is a contribution to the field of the investigation of managerial skills and how their development is related to knowledge management and organizational learning as a result the design. For that, we did a literature search to present some concepts that hover over learning organizations and organizational learning on their own, defining levels of learning and relating to new perspectives underlying the development of managerial skills, influenced by organizational behavior. Can infer that there is a great path to follow and challenges to be faced in relation to the structuring of actions that enable personal development skills development and provide a continuous learning of the individual and the organization.
KeyWords: management skills, organizational learning, knowledge.
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INTRODUÇÃO
As organizações têm mudado a forma de gerir pessoas. Nas décadas recentes
é possível observar que houve uma mudança no perfil de profissionais requeridos
pelas organizações, que passou de um perfil obediente e disciplinado para um
autônomo e empreendedor. Conforme o pensamento de Dutra (2001), o impacto disso
na gestão de pessoas foi o deslocamento do foco por meio do controle, movimento
inspirado pelos modelos taylorista e fordista, para um foco no desenvolvimento mútuo
entre as pessoas e as organizações. Ainda segundo o autor, as pessoas atualmente
são consideradas depositárias do patrimônio intelectual da empresa, bem como da
capacidade de agilidade de resposta da organização aos estímulos do ambiente e,
ainda, da capacidade de visualização e exploração de oportunidades de negócios
(DUTRA, 2001, p. 26).
A aprendizagem pode ser vista como uma saída para os problemas enfrentados pelas
organizações, especialmente quanto àquelas que desejam a mudança organizacional
a fim de se alcançar um resultado estratégico e onde se busca desenvolver a
capacidade de aprender continuamente a partir das experiências organizacionais e
traduzir esses conhecimentos em práticas que contribuam para um melhor
desempenho, alavancando a vantagem competitiva. Para tanto, a aprendizagem
organizacional tem como pressuposto o desenvolvimento de estratégias e
procedimentos a serem continuamente construídos para se atingir melhores
resultados, contando com a participação efetiva das pessoas no processo de
aquisição e disseminação de conhecimento. É nesse contexto que o conhecimento
organizacional deve ser gerenciado de forma a fortalecer as competências
organizacionais e propiciar maior desenvolvimento do capital humano. De acordo com
o pensamento de Fleury e Oliveira Jr. (2001), as organizações estão tomando
consciência de que a extensão, profundidade e escopo do conhecimento e das
habilidades organizacionais impulsionam de forma crescente suas chances de
competitividade no mercado e nesse sentido, este trabalho tem como objetivo discutir,
sob a luz de autores no assunto, a aprendizagem organizacional e sua importância no
processo de desenvolvimento das competências gerenciais.
Referencial Teórico
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A aprendizagem organizacional: conceitos e vertentes
Nos últimos tempos a literatura a respeito da aprendizagem organizacional vem
avançando não apenas pela quantidade de publicações como também pelo fato de
este tema ser relacionado com várias outras áreas do conhecimento. A partir dos anos
1980 os conceitos de aprendizagem organizacional (organizational learning) e
organizações de aprendizagem (learning organizational) foram mais enfatizados na
literatura e, segundo Garrat (apud RUAS, 2005), suas práticas e princípios estão
inseridos em várias perspectivas da Administração, como estratégia, cultura,
estrutura, competência, entre outros. Ruas (2005) leciona que a expressão
“organizações de aprendizagem” ou “organizações que aprendem” é bem menos
utilizada do que nos anos 80 e 90, em virtude de poucas organizações terem
conseguido chegar a este estado e que a expressão “aprendizagem organizacional” é
adotada hoje como uma forma de se referir às duas abordagens (EASTERBY-SMITH
apud RUAS, 2005).
Na tentativa de tecer alguns conceitos, cabe comentar que, Morais (1998)
acredita que a learning organization surge como uma nova opção em tecnologia
gerencial com a pretensão de prover as constantes mudanças organizacionais,
evidenciada como um novo estilo de administração: a administração por
aprendizagem.
Já para Senge (1990), as learning organizations são organizações nas quais
as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar os resultados que
realmente desejam, onde surgem novos e elevados padrões de raciocínio, onde a
aspiração coletiva é liberada e onde as pessoas aprendem continuamente a aprender
em grupo. Para este autor, o aprendizado individual não é garantia do aprendizado da
organização, embora não havendo o aprendizado individual o aprendizado
organizacional torna-se ineficaz ou inexistente.
Não se pretendendo, neste momento, aprofundar as discussões que pairam
sobre as semelhanças e diferenças entre a Aprendizagem Organizacional (AO) e as
Organizações que Aprendem, vale salientar que as duas vertentes tratam o mesmo
fenômeno a partir de óticas e interesses distintos. De acordo com Tsang (apud
BASTOS, 2002), a primeira vertente - aprendizagem organizacional (AO) - demonstra
interesse pela descrição de como a organização aprende, ou seja, enfatiza as
habilidades e processos de construção e utilização do conhecimento, que
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proporcionarão a reflexão sobre as possibilidades concretas de ocorrer aprendizagem.
A segunda vertente - organizações que aprendem (OA) - contrariamente, foca na ação
e no ajuste de ferramentas metodológicas específicas, que permitem identificar,
promover e avaliar a qualidade dos processos de aprendizagem, que servirão de base
para a normatização e prescrição do que uma organização deve fazer para aprender
(BASTOS, 2002,).
Diante de ampla gama de conceitos existentes na literatura sobre a AO, Ruas
e seus colaboradores (2005) buscaram caracterizar, a partir de uma perspectiva
empírica, consistentemente a aprendizagem organizacional como sendo um processo
contínuo de apropriação e geração de novos conhecimentos nos níveis individual,
grupal e organizacional, envolvendo todas as formas de aprendizagem – formais e
informais – no contexto organizacional, alicerçado em uma dinâmica de reflexão e
ação sobre as situações-problema e voltado para o desenvolvimento de competências
gerenciais (RUAS, 2005).
Não somente pela revisão da literatura, mas também pela definição
supracitada, é possível compreender que a AO desenvolveu-se a partir dos conceitos
da aprendizagem individual (que considera vários outros aspectos inerentes à
natureza humana e como este indivíduo integra-se ao ambiente) e que a
aprendizagem organizacional em si não se trata meramente da coletividade de
processos de aprendizagem individuais, mas envolve também todo o contexto
organizacional, a cultura, os sistemas e estruturas, e também o ambiente de mercado
e o setor de atuação da organização. A respeito disso, Ruas et al (2005) afirmam que
quando uma organização está disposta a aprender, dedica-se a melhorar o contexto
de aprendizagem e de forma estratégica fortalece a competência da organização a
fim de facilitar a criação de conhecimento e inovação.
Respaldando este pensamento, apresenta-se a aprendizagem organizacional
em três níveis, conforme a figura a seguir:
Figura 01 – Níveis da Aprendizagem Organizacional.
Fonte: CROSSAN, M. M., LANE H. W.; WHITE. R.E.
Nível Individual
(Intuição e
interpretação)
Nível de Grupo
(integração)
Nível Organizacional
(Institucionalização)
Aprendizagem
Organizacional
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Crossan, Lane e Wheite (1999) em seu artigo publicado na Academy of
Management Review, explicam que a aprendizagem organizacional compreende três
níveis, o individual, o grupal e o organizacional, e quatro processos sinérgicos, a
intuição, a interpretação, a integração, e a institucionalização, que “amarram a
estrutura” e interligam os três níveis de aprendizagem.
No nível individual, os processos da intuição e da interpretação se sobressaem,
o primeiro relaciona-se ao pré-consciente, apoiado em pressentimento. O segundo é
a própria expressão através das palavras, ações e uma percepção crítica, sobre si
próprio e os demais. No nível de grupo, o processo que se destaca é a integração, o
qual permite um entendimento compartilhado entre os envolvidos, utilizando como
ferramenta principal o diálogo. Já no nível da organização, a institucionalização é o
processo que garante o cumprimento das ações de forma rotineira, respaldando a
aprendizagem nos níveis anteriores.
A aprendizagem organizacional e sua relação com a gestão do conhecimento
Essencial para exercer o domínio do cargo, a aprendizagem contínua em uma
organização competitiva deve ser de responsabilidade de cada membro, que,
especializado, agrega valor à discussão num processo de aprendizagem coletiva.
Dubrin (2003) aponta que, para que uma organização de aprendizagem transforme o
conhecimento em ação, é necessário uma mudança no comportamento
organizacional e a que experimentação, de forma sistemática, é uma abordagem pela
qual a empresa procura novas oportunidades e aprendizagem. Percebe-se a partir
daí, que, quanto mais eficaz for a aprendizagem mais ela impulsionará a empresa e
evitará problemas substanciais. O autor pensa ainda que a capacidade de
aprendizagem é demonstrada apenas se as ideias impactarem ou acrescentarem
valor, por um longo tempo para os stakeholders da empresa. Uma consequência de
uma organização que leva a sério seus processos de aprendizagem é que a gestão
do conhecimento é mais eficaz, uma vez que propicia a transmissão sistemática de
informações, facilita o processo de inovação e gera vantagem competitiva. Isso se
justifica pelo fato de o capital intelectual ser um recurso que permite a sobrevivência
e a vantagem competitiva.
Visando entender a relação entre a aprendizagem organizacional e a gestão do
conhecimento, Antonello (2005) preceitua que estes são conceitos paralelos e
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recorrem um ao outro na tentativa de explicar suas definições e práticas. O
entendimento da AO e a conexão com a gestão do conhecimento organizacional ainda
não está esclarecida, especialmente porque, as teorias sobre AO não contemplam o
desenvolvimento do conhecimento como fator determinante para a aprendizagem. O
conhecimento atualmente é considerado o principal ativo da estratégia que uma
organização possui e é função desta administrar esse ativo com vistas a otimização
do desempenho organizacional. Sob esse aspecto, Grant (apud OLIVEIRA JR, 2001)
conceitua que a emergente visão baseada no conhecimento não é ainda uma teoria
da empresa na medida em que trata o conhecimento como o recurso da empresa mais
importante estrategicamente, é um desenvolvimento a partir da visão da empresa
baseada em recursos. Ao mesmo tempo, o conhecimento é central para várias
tradições de pesquisas distintas entre si, notavelmente aprendizagem organizacional,
administração da tecnologia e cognição empresarial (GRANT, 1996).
A abordagem baseada no conhecimento é fortemente influenciada por essas
pesquisas que revelam que a teoria em aprendizagem organizacional dá considerável
atenção ao modo como as organizações aprendem, mas não dão muita importância
para o fato de que organizações “já sabem” bastante (KOGUT E ZANDER apud,
OLIVEIRA JR, 2001). Apesar disso, a compreensão de aprendizagem como o
processo que muda o estado do conhecimento de um indivíduo ou organização
tornam ambas as abordagens inseparáveis. Desta forma, uma organização deve ser
vista como um estoque de conhecimento disponibilizado para a aplicação e
coordenação das ações nela mesma. O que define o sucesso da estratégia é a
eficiência nesse processo de transformação de conhecimento no plano das ideias
para o plano das ações. Essa visão da organização como agente de criação e
transformação do conhecimento remonta à necessidade de uma teoria mais
abrangente, que permeie as abordagens do conhecimento individual e do
conhecimento coletivo visando o desempenho esperado pelos estrategistas.
Sobre isto, Sanchez e Heene (apud OLIVEIRA JR, 2001) concordam que os
objetivos acerca dessas definições devem explicar que o conhecimento de forma
estratégico deve ser engessado ou absoluto, mas existe também na forma de crenças
e pode ser reaprendido. Os autores também afirmam que esse conhecimento é
originado na mente de cada indivíduo componente da organização e que esta pode
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possuir várias formas de conhecimento que podem ser compreendidas por mais de
um indivíduo.
Conforme Drucker (apud OLIVEIRA JR, 2001) conceituou, o conhecimento
pode ser considerado como a informação capaz de transformar algo ou alguém a fim
de realizar ações ou em função de capacitar o indivíduo ou instituição para agir de
maneira diferente ou, pelo menos mais eficiente. Desta forma, os processos de
aprendizagem devem ser orientados para o desenvolvimento de competências e a
aprendizagem pode ser vista como a movimentação do conhecimento e de suas
transformações no ambiente de trabalho ou fora dele. Antonello (2005) enfatiza que a
aprendizagem é descrita como um processo onde os conceitos se formam através da
experiência e continuamente são modificados por ela. Assim sendo, os
conhecimentos resultam e estão continuamente a ser testados pela experiência do
aprendiz. A aprendizagem é um processo contínuo alimentado pela experiência, o que
implica interação entre o aprendiz e o meio que o envolve.
Novas perspectivas sobre o desenvolvimento de competências
As pesquisas sobre competências datam das últimas décadas do século
passado e segundo Fleury (2002), os pesquisadores americanos McClelland (1973),
Boyatzis (1980), Spencer e Spencer (1993), Mirabile (1997) e Mc Langan (1997),
através de seus estudos, pensaram em competência como sendo o conjunto de
conhecimentos, habilidades e atitudes, ou seja, o conjunto de capacidades humanas,
que justificam uma alta performance, acreditando-se que as melhores performances
estão fundamentadas na inteligência e na personalidade das pessoas. É possível
perceber a partir desta definição que a competência é vista como um estoque de
recursos que o indivíduo detém e que esta visão americana importa-se em alinhar as
competências às necessidades estabelecidas pelos cargos existentes nas
organizações (FLEURY, 2002).
No Brasil, novas perspectivas vêm enriquecendo conceitual e empiricamente a
discussão sobre o tema e autores como Dutra (2001), Ruas (2000) e Fleury e Fleury
(2000), acreditam que a competência não se limita apenas ao estoque de
conhecimentos mantido por um indivíduo, nem está diretamente atrelado à tarefa, ao
cargo. Ao contrário, competência tem sido atribuída à inteligência prática de situações
que, fazendo uso dos conhecimentos adquiridos, tem a capacidade de transformar
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situações complexas. Refere-se ainda à capacidade de a pessoa ir além do que foi
prescrito, tomar iniciativas e ser capaz de compreender novas situações as quais o
trabalho pode se submeter, além de ser reconhecida por isso (ZARIFIAN apud
FELURY, 2002).
As competências podem ser estudadas sob a ótica das pessoas, enquanto sua
formação e desenvolvimento, e das organizações, estando relacionadas a conceitos
como estratégia, competitividade e inovação (core competence). O foco deste trabalho
são as competências gerenciais, portanto, as pessoas, não se pretendendo, neste
momento, analisar as competências organizacionais. Entretanto há uma relação direta
entre a formação desses gestores e a estratégia definida pela empresa, portanto, a
aglutinação desses dois grupos de competências alinhada à noção de entrega
promove o desenvolvimento sustentável da organização a partir das habilidades e do
conhecimento gerado pela troca de informações. Neste sentido, Bittencourt e Barbosa
(2004) explicam que as competências pessoais conduzem à necessidade crescente
de formar e valorizar o profissional para oferecer respostas às exigências da
organização através de uma postura inovadora, flexível e estruturada contribuindo
para o seu desenvolvimento. Embasando o pensamento desses autores, Ruas (2002)
considera que as competências individuais – as quais incluem as competências
gerenciais – são de enorme relevância, pois constituem as oportunidades de
desenvolvimento em todos os níveis, uma vez que é a partir delas que se atingem as
dimensões organizacional e funcional.
Nesta linha, Quinn (2003) aponta que considerar apenas o conhecimento é
insuficiente para tornar o líder gerencial eficaz; a complexidade comportamental está
relacionada ao desempenho gerencial, bem como ao seu carisma e à possibilidade
de promover melhorias nos processos da organização. Fleury (2002) argumenta que
a competência do indivíduo não deve se reduzir a um conhecimento específico, mas
deve ser tratada como um conjunto de aprendizagens sociais, formada por relações
pessoais, formação educacional e experiência profissional, amparadas pela rede de
conhecimento no qual o indivíduo está inserido. Pode-se inferir, então, que
competências são sempre contextualizadas e implicam mobilização, integração e
transferência de conhecimentos, recursos e habilidades, segundo a autora, que ao
definir competência descreveu como sendo um saber agir responsável e reconhecido
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que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que
agregue valor econômico à organização e valor social ao indivíduo (FLEURY, 2002).
Comungando do mesmo pensamento, no que se refere à abrangência do
conceito de competência, Zarifian (2008) propõe três conceitos de competência, a
partir de seus estudos. O primeiro deles diz respeito ao que muda fundamentalmente
na organização do trabalho, a competência é o ‘tomar iniciativa’ e o ‘assumir
responsabilidade’ do indivíduo diante de situações profissionais com as quais se
depara (ZARIFIAN, 2008). Tem-se que o comportamento em uma determinada
situação não pode ser prescritível, já que é perfeitamente possível construir
referenciais de competências tendo como base diversas situações. O segundo
conceito definido pelo autor gira em torno da dinâmica de aprendizagem, essencial no
processo de desenvolvimento de uma competência, onde a competência é um
entendimento prático de situações que se apoia em conhecimentos adquiridos e os
transforma na medida em que aumenta a diversidade das situações (ZARIFIAN,
2008). Na terceira e última definição, o autor acredita que a competência é a faculdade
de mobilizar redes de atores em torno das mesmas situações, é a faculdade de fazer
com que esses atores compartilhem as implicações de suas ações, é fazê-los assumir
áreas de corresponsabilidade (ZARIFIAN, 2008).
Baseando-se nessas novas perspectivas relacionadas às definições de
competências, faz-se necessário mencionar as contribuições de Boterf (apud
BITENCOURT, 2001), que se fundamentam na mobilização e articulação, e a de
Sandberg (apud BITENCOURT, 2001), fundamentada na interação. As abordagens
desses autores não estão restritas apenas na definição dos atributos de competências
– que são os conceitos-, como a maior parte das abordagens desenvolvidas sobre o
tema, mas sim na sua aplicação - as práticas. De acordo com o pensamento de
Sandberg (apud BITENCOURT, 2001), o desenvolvimento de competências deve ser
compreendido com base nas práticas organizacionais, focalizando sua análise no
enriquecimento de experiências e vivências. A ótica, então, refere-se não apenas aos
aspectos que constituem as competências (conhecimentos, habilidades e atitudes),
mas também a como as competências são desenvolvidas. Conforme o autor, o
desenvolvimento desse conjunto de conhecimentos e habilidades envolve a mudança
na compreensão do trabalho. Assim, as competências se desenvolvem por meio da
interação entre as pessoas no próprio ambiente em que trabalham, proporcionando
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complementaridade entre os indivíduos, não se limitando à criação de um perfil padrão
de gestor, muito menos um rol de características prontas a serem apresentadas, mas
se traduzem em práticas gerenciais complementares ou em ações gerenciais
articuladas (consolidação de competências coletivas).
Senge (2008), respaldado no desenvolvimento das cinco disciplinas, trata a
questão da competência indiretamente. Desta forma, o domínio pessoal pode ser
entendido como uma necessidade de desenvolver as pessoas tendo como base
estritamente o autoconhecimento. Já os modelos mentais relacionam-se à reflexão
em ação, em que se questionam as práticas observadas nas rotinas de trabalho,
objetivando agregar valor às atividades da empresa a partir de uma postura mais
crítica e criativa. O aprendizado em equipe reflete a importância da interação como
um processo de desenvolvimento de competências coletivas e individuais, bem como
o desenvolvimento da visão comum. O raciocínio sistêmico, por conseguinte,
vislumbra a importância da visão processual em contraste à visão de eventos baseada
em treinamentos formais para o desenvolvimento e formação de gestores.
Portanto, tomando por referência inicial o pensamento dos autores citados,
infere-se que a aprendizagem organizacional e a gestão de competências são temas
que se complementam, visto que para que a aprendizagem organizacional aconteça
é preciso pensar nas competências das pessoas, já que é por meio destas que as
organizações aprendem. Paralelamente, pode-se dizer que o desenvolvimento de
competências se dá através de um processo de aprendizagem continuamente
melhorado.
METODOLOGIA
Este trabalho é uma pesquisa, que conforme assevera Minayo (1993), é
atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma
atitude e uma prática teórica de constante busca que define um processo
intrinsecamente inacabado e permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva
da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e
dados. Pesquisa é a construção de conhecimento original de acordo com certas
exigências científicas. Para que o estudo seja considerado científico deve-se
obedecer aos critérios de coerência, consistência, originalidade e objetivação. É
desejável que uma pesquisa científica preencha como requisitos, a existência de uma
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pergunta que se deseja responder, a elaboração de um conjunto de passos que
permitam chegar à resposta e a indicação do grau de confiabilidade na resposta obtida
(GOLDEMBERG, 1999).
A metodologia utilizada para o desenvolvimento do presente artigo foi a
pesquisa bibliográfica que procurou, em autores no assunto, identificar considerações
sobre o tema abordado para a busca de resolução do problema por meio de
referenciais teóricos publicados, analisando e discutindo os aportes científicos. A
pesquisa bibliográfica subsidia o conhecimento sobre o que foi pesquisado e
trabalhado, explicando como e sob que perspectiva o assunto é tratado na literatura
científica. A pesquisa bibliográfica, explica Salomon (2004), fundamenta-se em
conhecimentos proporcionados pela biblioteconomia e documentação, entre outras
ciências e técnicas empregadas de forma metódica envolvendo a identificação,
localização e obtenção da informação, fichamento e redação do trabalho científico.
Para elaborar e documentar um trabalho de pesquisa científica é necessário que a
busca por informações bibliográficas seja planejada, sendo assim, Salomon (2004),
orienta para dividir a pesquisa em três fases, onde a primeira fase é da preparação da
pesquisa, nela a informação é localizada e identificada. Durante a seleção das fontes
de informação o pesquisador deverá buscar toda a informação disponível na literatura
científica de interesse, em artigos de periódicos, relatórios técnicos, anais de
congressos, teses, dissertações, entre outras, seja em meio impresso ou eletrônico.
A segunda fase é a de realização e compreende a realização do fichamento do
documento obtido que será selecionado para a elaboração da redação do trabalho
científico, por meio da confecção de fichas de leitura (ECO, 2003). Por último, a fase
da comunicação, que segundo El-Guindy (2004), é a coroação do trabalho de
investigação científica, e ao mesmo tempo, o momento de maior realização do
pesquisador, pois e nessa etapa que ocorre a redação do trabalho científico por meio
do material identificado e organizado conforme os propósitos da pesquisa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em se tratando do comportamento organizacional, aprendizado se refere a
mudanças de comportamento que ocorrem como resultado de experiências. O
aprendizado ocorre somente quando ocorrem mudanças no comportamento.
Mudanças nas atitudes ou crenças ou um conhecimento geral que não resultem em
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alterações no comportamento não são consideradas aprendizado. O verdadeiro
aprendizado corresponde á adaptação às circunstâncias, e isto deve ser refletido no
comportamento.
Por meio do aprendizado individual, os funcionários adquirem o conhecimento
e as competências dos quais fazem uso para desempenhar seu trabalho dentro das
organizações. O aprendizado individual contribui para o suprimento do capital humano
da organização, e fornece a base para o aprendizado organizacional, sendo ambos,
essenciais para que as organizações obtenham uma vantagem competitiva.
Neste sentido, a aprendizagem deve ser encarada em termos de processo e
não de resultados. Os conhecimentos não são estruturas fixas e imutáveis. Pelo
contrário, são elaborados e reelaborados através da experiência. A aprendizagem é
descrita como um processo onde os conceitos se formam através da experiência e
continuamente são modificados por ela. Assim sendo, os conhecimentos resultam e
estão continuamente a ser testados pela experiência do aprendiz. A aprendizagem é
um processo contínuo alimentado pela experiência, o que implica interação entre o
aprendiz e o meio que o envolve.
REFERÊNCIAS
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FROTA PRÓPRIA OU TERCEIRIZADA: QUAL A MELHOR OPÇÃO
PARA ENTREGA DE MERCADORIAS.
Petrônio Borges da Silva
Elídio Vanzella
Juliana Maia Tavares
RESUMO:
Atualmente as empresas operam em um sistema muito complexo e incrivelmente competitivo. Portanto, elas estão buscando a diferenciação e o estabelecimento de vantagens competitivas em relação aos seus concorrentes. Para alcançar esses objetivos, cada uma tenta encontrar o seu próprio caminho; porém, entre muitas delas, um ponto comum pode ser observado: a opção pela aplicação da logística, que deve ser entendida como o gerenciamento estratégico dos fluxos de materiais e das informações correlatas para levar, de forma eficiente e eficaz, os produtos de uma origem a um destino.A globalização, a mudança no comportamento dos consumidores, a redução do ciclo de vida dos produtos e o enfraquecimento das marcas exigem que as organizações adquiram e desenvolvam novas competências para conquistar e manter clientes. Ampliam-se as dimensões da competitividade, a qual deixa de ser regional para ser global. A concorrência passa a acontecer entre cadeias produtivas e não mais entre empresas isoladas. Nesse contexto, as vantagens e diferenciais competitivos são cada vez mais efêmeros. Rapidez e flexibilidade deixam de ser apenas um discurso e tornam-se obrigatórias.
PALAVRA CHAVE: Transportes, Frota própria, Terceirização, Logística.
ABSTRACT:
Companies currently operating in a very complex and incredibly competitive. Therefore, they are seeking differentiation and the establishment of competitive advantages over its competitors. To achieve these goals, each one tries to find his own way, but many of them, a common point can be seen an option for the application of logistics, which must be understood as the strategic management of material flows and related information to move efficiently and effectively, the products from a source to a destination. Globalization, changing consumer behavior, reducing the life cycle of products and the weakening of brands require organizations to acquire and develop new skills for getting and keeping customers. Expand the dimensions of competitiveness, which ceases to be regional to global. The competition is happening between supply chains rather than between individual firms. In this context, the competitive advantages are increasingly ephemeral. Speed and flexibility are not merely a discourse and become mandatory.
KEY WORDS: Transport, Own fleet, Outsourcing, Logistics.
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INTRODUÇÃO:
O Impacto da gestão de custo na logística de transportes para a tomada de
decisão: Logística de transporte próprio ou terceirizado, qual a melhor opção?
Devido ao desconhecimento ou a insistência de centros de custos nas empresas,
torna-se presente a indagação sobre o impacto da logística de transportes sobre os
custos totais da empresa e sua colocação frente ao mercado. Terceirização ou gestão
própria? Quais fatores deverão ser observados para a correta tomada de decisão?
Muito se fala a respeito da logística como sendo, atualmente, a responsável pelo
sucesso ou insucesso das organizações. Porém, o que se pode perceber no mercado
é que muito pouco se sabe sobre as atividades logísticas e como as mesmas devem
ser definidas nas organizações. É importante então evitar que situações de modismo
acabem por influenciar o uso errado da palavra e, o que seria muito pior, de suas
técnicas e atividades. Mas, afinal, o que é realmente a logística?
A Logística é a área da administração que cuida do transporte e armazenamento
das mercadorias. Logística, é o conjunto de Planejamento, Operação e Controle do
Fluxo de Materiais, Mercadorias, Serviços e Informações da Empresa, integrando e
racionalizando as funções sistêmicas desde a produção até a entrega, assegurando
vantagens competitivas na cadeia de abastecimento e consequentemente satisfação
dos clientes.
As novas exigências para a atividade logística no Brasil e no mundo passam pelo
maior controle e identificação de oportunidades de redução de custos, redução nos
prazos de entrega e aumento da qualidade no cumprimento do prazo, disponibilidade
constante dos produtos, programação das entregas, facilidade na gestão dos pedidos
e flexibilização da fabricação, análises de longo prazo com incrementos em inovação
tecnológica, novas metodologias de custeio, novas ferramentas para redefinição de
processos e adequação dos negócios (Exemplo: Resposta Eficiente ao Consumidor -
Efficient Consumer Response), entre outros.
Este artigo destina-se ao estudo dos custos relacionado ao transporte rodoviário
de mercadorias. A gestão de transportes enquadra-se em um dos maiores desafios
das empresas atuais. A logística integrada é um fenômeno crescente que demanda
por produtos e serviços no menor tempo possível, nas últimas duas décadas, as
empresas nunca tiveram tanto interesse na área da logística, afim de, evitarem
desperdício de recurso e tempo.
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REFERENCIAL TEÓRICO
Segundo Fleury, Wanke e Figueiredo (2000 p. 267), o frete costuma absorver
aproximadamente 60% dos gastos logístico. Por isso, existe um grande interesse das
empresas em minimizar tais custos no setor de transportes, pois sabem que
representam cerca de 20% do custo total. Tanto a nível nacional como no caso do
estado da Paraíba, o transporte rodoviário é o principal meio de movimentação de
produtos. O transporte rodoviário tem um custo que representa cerca de 12,5%
(FIGUEIREDO, FLEURY E WANKE, 2006) do PIB nacional.
As empresas que utilizam de transportes rodoviários para entrega de mercadorias,
sempre almejam saber qual o menor custo entre frota própria e a terceirizada. Muitas
dessas empresas terceirizam acreditando ser a melhor opção para minimizar seus
custos. Outras preferem ter propriedade da frota apostando na qualidade do serviço
de distribuição.
Segundo Fleury (2004), existe muitos prestadores de serviços de transportes no
mercado, como operadores logísticos e transportes autônomos, com custo atrativo.
Ballou (2001) o transporte é elemento mais importante nos custos logísticos para a
maioria das empresas. Ainda segundo este autor, a movimentação de frete absorve
em um e dois terços dos custos logísticos.
Considera-se o transporte como o principal elemento logístico tanto pelo custo
altíssimo que as empresas precisam ter, como pela qualidade ligada ao nível de
serviço. Gerenciá-lo significa tomar decisões estratégicas, normalmente de longo
prazo e com características estruturais. E operacionais de curto prazo que
relacionadas a tarefas do dia-a-dia.
Para tomar a decisão de propriedade ou terceirização da frota, é necessário avaliar
qual a principal atividade da empresa. Levando em consideração o frete primário que
está ilustrado na figura 1 que segue abaixo (expedição das mercadorias das fabricas
aos clientes e CDV’s) e o secundário (é a transferência de mercadoria para
consumidor final, o cliente). Devem-se avaliar cada caso separadamente. Sabe-se
que cada empresa atua em ramos diferentes uma das outras. Uma fábrica que precisa
escoar sua produção deve avaliar seus custos com transportes detalhadamente.
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Figura 1 – Frete Primário e Secundário
A redução de custos em transportes rodoviários faz parte da redução de custos na
cadeia de suprimentos. Formas de redução de custos de transporte rodoviário são
mostradas por alguns autores. Várias práticas de gestão são adotadas, bem como,
várias formas de operação, para que se obtenha redução de custos significativos. Um
ponto bastante discutido é a adoção de frota própria ou não. Este assunto impacta
diretamente em qualquer trabalho de redução de custos em transportes rodoviários e
muitas empresas passam por momentos de escolha entre terceirizar ou ter uma frota
própria.
De acordo com Fleury (2006), o processo decisório da terceirização de frotas das
organizações deve considerar, além do custo e da qualidade do serviço, a
rentabilidade financeira das alternativas para a realização da atividade. A grande
ênfase dada, atualmente, pelas empresas, principalmente as de grande porte, na
rentabilidade sobre os investimentos dos acionistas, tem sido um dos principais
fatores a influenciar as empresas na direção de utilizar terceiros nas suas operações
de transporte/frotas. Como a rentabilidade sobre investimentos é o resultado do lucro
sobre os investimentos do acionista, a maneira mais rápida de aumentar a
rentabilidade é reduzir os investimentos dos acionistas. Desta forma, um dos possíveis
argumentos, a ser devidamente comprovado pelos interessados, para a organização
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decidir sobre a terceirização de frota de veículos leves, é que a utilização de ativos de
empresas especializadas em terceirização de frota implicaria num maior percentual
de retorno de capital que o obtido na operação com frota própria de veículos leves.
Marques (2006) escreveu sobre decisão da propriedade das frotas. Enfatizou que
fatores de custo, qualidade do serviço e rentabilidade devem ser considerados
determinantes para suportar a decisão de terceirizar a frota, ressaltando que é
aconselhável realizar uma avaliação dos impactos financeiros. Ele também afirma que
existem outras variáveis importantes para tomar a decisão sobre a
propriedade/terceirização da frota, tais como: tamanho da operação, competência
gerencial interna, competência e competitividade do setor, volumes de investimentos
e outros. De acordo com Pedriali (2004), a discussão sobre terceirização no Brasil
vem ganhando importância à medida que as empresas, preocupadas com redução de
custos, vêm reestudando seus processos na tentativa de transformar custos fixos em
custos variáveis.
Segundo Nazário e Abrahão (2006), cada vez mais o processo de terceirização é
considerado como uma alternativa estratégica para as empresas que desejam maior
flexibilidade operacional, ao mesmo tempo em que buscam reduzir custos e oferecer
serviços e produtos customizados. Neste ponto, há a necessidade de
desenvolvimento de estudos de terceirização de frota de veículos leves e pesados,
por parte das empresas, como um processo que busca uma solução de economia e
produtividade para as organizações.
Na tomada de decisão de terceirizar ou não, devem-se avaliar cada caso
separadamente, pois as empresas têm características diferentes no ramo em que
atuam. Os parâmetros que devem ser considerados no assunto discutido neste artigo
são:
1. Custos variáveis.
2. Custos fixos.
3. Localização e distância da empresa, fábrica, CDV’s e CDD’s.
4. O nível de serviço da frota própria e a terceirizada.
5. Frota própria x contratada.
Um modelo de custo de transporte é composto por vários custos que vão desde
custos operacionais, como, por exemplo, a aquisição de combustível, até os custos
administrativos. Estes custos são divididos em custos variáveis (do ponto de vista de
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transporte, são proporcionais à distância percorridas) e fixos (independentes ao
deslocamento).
A seguir estão listados os custos considerados como variáveis seguidas das
fórmulas acompanhadas das descrições dos parâmetros com as respectivas unidades
entre parênteses, apresentados em Lima (2005), os custos que são considerados
como fixos e variáveis estão apresentados na tabela abaixo.
Tabela 1 – Custos fixos e varáveis
Custo Fixos Mensais Custos Variáveis Pela Distância
Remuneração do Capital Combustível
IPVA, Seguro Obrigatório e Taxa de Licenciamento.
Pneus
Salário do Motorista Lubrificantes
Seguro do Veículo Manutenção e Peças
Custos Administrativos Lavagem e Lubrificação
Outros Custos e Taxas -
Fonte: Lima (2005)
Observação Todos estes custos apresentam a unidade R$/km.
1. Custos variáveis
a) Combustível: depende do preço do combustível e do rendimento do
veículo.
𝑪 𝒄𝒐𝒎 = 𝑷𝒄𝒐𝒎𝒃
𝒓𝒆𝒏𝒅
Onde Pcomb é o preço do combustível por litro (R$/L) e rend é o rendimento do
veículo (km/L);
b) Pneus: depende do preço de aquisição de pneus novos, da recapagem e
da sua vida útil.
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𝑪𝒑𝒏𝒆𝒖𝒔 = 𝑵𝒑 (𝑷𝒖𝒏𝒊𝒕 + 𝑵𝒓 + 𝑷𝒓𝒆𝒄𝒂𝒑)
𝑽𝒖𝒕𝒊𝒍
Onde NP é número de pneus (pneu), Punit é custo unitário do pneu novo (R$/pneu),
NR é o número de pneus recapados (pneu), Precap é o preço da recapagem (R$/pneu)
e Vutil é a vida útil do pneu (km);
c) Óleo (cárter, câmbio, diferencial entre outros): depende do preço do
óleo, da capacidade do tanque e do intervalo de trocas.
𝑪ó𝒍𝒆𝒐 =𝑷𝒐𝒍 𝒙 𝑪𝒕𝒂𝒏𝒒𝒖𝒆
∆𝑺𝒕𝒓𝒐𝒄𝒂
Onde P ol é o preço do óleo (R$/L), C tanque é a capacidade do tanque do veículo
(L), ΔS troca é o intervalo de troca de óleo (km);
d) Manutenção e peças: é dado pelo preço da manutenção e pelo intervalo em
que ela é feita.
𝑪𝒎𝒂𝒏𝒖𝒕 = 𝑷𝒎𝒂𝒏𝒖𝒕
∆𝑺𝒎𝒂𝒏𝒖𝒕
Onde P manut é o preço da manutenção que engloba o valor do serviço e da
substituição de peças (R$), e ΔS manut é o intervalo em que as manutenções são feitas
(km);
e) Lavagem e lubrificação: dependem do preço destas e do intervalo em que
são realizadas.
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𝑪𝑳𝑳 = 𝑷𝒍𝒍
∆𝑺𝒍𝒍
Onde P LL é o preço da lavagem e da lubrificação (R$) e ΔS LL é o intervalo em
que elas são feiras (km).
A seguir listam-se os custos considerados como fixos seguidos das descrições e
fórmulas acompanhadas das descrições dos parâmetros, com as respectivas
unidades entre parênteses. Todos estes custos apresentam a unidade R$/mês.
2. Custos fixos
a) Remuneração do capital: é o custo de oportunidade da empresa, ou seja, é o
dinheiro que está deixando de ganhar com um projeto ou investimento no mercado
financeiro mediante a imobilização de capital na compra de um ativo. Segundo Ehrlich;
Moraes (2005) devem-se trazer a valor presente o valor residual do veículo, caso ele
exista, no ano em que ele seria vendido utilizando a taxa de oportunidade da empresa
e subtrair do custo de aquisição do veículo. Em seguida, deve-se calcular o custo
mensal em equivalente uniforme utilizando o período de tempo como sendo a vida útil
do veículo.
𝑪𝑹𝑪 = [𝑷𝒂𝒒 − 𝑷𝒓
(𝟏+𝒊)𝒏] x
𝒊 (𝟏+𝒊)𝒏
(𝟏+𝒊)𝒏−𝟏
Onde P aq é o valor de aquisição do veículo (R$), P r é o valor residual do veículo
(R$), n é o tempo de vida útil determinado pela empresa (mês) e i é a taxa de
oportunidade mensal da empresa (% a.m.).
b) Impostos e Taxas: o IPVA (imposto sobre a propriedade de veículos
automotores), o seguro obrigatório (DPVAT - seguros de danos pessoais causados
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por veículos automotores) e a taxa de licenciamento do veículo são taxas estaduais
anuais. A fórmula converte o valor de anual para mensal.
𝑪(𝑰𝑷𝑽𝑨+𝑺𝑶+𝑻𝑳) = 𝑷(𝑰𝑷𝑽𝑨+𝑺𝑶+𝑻𝑳)𝒂𝒏𝒖𝒂𝒍
𝟏𝟐
Onde C (IPVA+SO+TL) anual é o valor anual pago de IPVA, seguro obrigatório e taxa de
licenciamento dos veículos (R$/ano).
c) Custo de pessoal: engloba salários, encargos, benefícios e horas-extras.
𝑪𝑷𝑬𝑺 = ( 𝑪𝒔𝒂𝒍 𝒉⁄ 𝒙 𝑵𝒉 𝒕𝒖𝒓𝒏𝒐⁄ 𝒙 𝑵𝒕𝒖𝒓𝒏𝒐 𝒎ê𝒔⁄ ) 𝒙 (𝟏 + 𝑵𝒆𝒏𝒄) + 𝑪𝒃𝒆𝒏𝒆𝒇
Onde C sal/h é o quanto o motorista recebe por hora (R$/h), N h/turno é o número de
horas que compõem um turno (h/turno), N turno/mês é o número de turnos contidos em
um mês (turno/mês), N enc é a soma dos encargos referentes ao salário do motorista
(%) e C benef são os benefícios que ele recebe (plano de saúde, vale-refeição entre
outros) (R$/mês).
d) Custos administrativos: são os custos indiretos em relação aos veículos.
𝑪𝑨𝑫𝑴 = 𝑪𝑨𝑫𝑴 𝒂𝒏𝒖𝒂𝒍
𝟏𝟐
Onde C ADM anual é a somatória de todos os custos administrativos anuais
decorrentes da gestão de cada veículo (R$/ano). Esta é dividida por 12 para converter
em custo mensal.
e) Seguro dos veículos: inclui seguro contra colisão, incêndio e roubo do veículo.
Este valor é mensal e depende do tipo de veículo e da seguradora (R$/mês).
f) Outros custos e taxas: aqueles que não se enquadram nos itens citados
anteriormente.
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𝑪𝑶𝑼𝑻𝑹𝑶𝑺 = 𝑪𝑶𝑼𝑻𝑹𝑶𝑺 𝒂𝒏𝒖𝒂𝒍
𝟏𝟐
Onde C OUTROS anual é a somatória de todos outros custos e taxas que venham a
incorrer sobre a frota própria que não estejam englobados em nenhum dos itens acima
(R$/ano). A fórmula apenas ajusta de custo anual para custo mensal.
Por último, o modelo de custeio é dado pela fórmula a seguir, onde os custos
variáveis são multiplicados pela distância percorrida em cada rota e os custos fixos
pelo tempo demandado pela rota, que consiste no tempo de viagem e no tempo
demandado nas paradas:
𝑪𝑹𝑶𝑻𝑨 = ∆𝑺 𝒙 𝑪𝑽 𝒙 ∆𝑻 𝒙 𝑪𝑭
Onde ΔS é a distâncias entre a origem e o destino, em km. CV soma de todos os
custos variáveis divididos pela distância total percorrida, em R$/km. ΔT é o tempo de
operação que é composto por: ΔT = ΔTv + ΔTp , onde ΔTv é o tempo em viagem e
ΔTp é o tempo parado, em h.
CF é a soma de todos os custos fixos dividido pelo tempo total, em R$/h.
4. Localização e distância da empresa, fábrica, CDD e CDV.
Para Graeml (2002, p.7) “o conceito de acessibilidade é uma evolução do
conceito de localização física, em que mais importante que as distâncias envolvidas
são a infraestrutura existente para agilizar os processos produtivos e logísticos”. É
sempre importante avaliar a distância de uma entrega de mercadoria, tendo em vista,
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a infraestrutura do percurso a ser feito. Com isso, devem-se analisar os custos dessa
viagem com veículos próprios versos veículos terceirizados.
4. O nível de serviço da frota própria e a terceirizada.
Poderíamos citar definições diferenciadas para Nível de Serviço, porém
escolhemos a de Ronald H. Ballou, que diz: “Nível de serviço logístico é a qualidade
com que o fluxo de bens e serviços é gerenciado”, “é o tempo necessário para se
entregar um pedido ao cliente”. Ainda assim, de acordo com Ronald H. Ballou, outra
forma de se conceituar o nível de serviço seria como este sendo o somatório das
atividades relacionadas com a transação do produto divididas em elementos pré-
transação, transação e pós-transação.
5. Frotas próprias x contratada.
A primeira e grande decisão a ser tomada é se o serviço de transporte na
empresa deve ser próprio ou contratado. Esta decisão é complexa e deve ser
precedida de estudos especializados de viabilidade técnica e econômico-financeira,
além de fatores políticos estratégicos. Hoje as empresas buscam concentrar-se em
sua verdadeira vocação, terceirizando atividades não fundamentais. Segundo
QUEIROZ (1992), a terceirização dá maior flexibilidade e agilidade às empresas, além
de favorecer a uma gestão menos verticalizada. Estas empresas, após identificarem
as áreas de interesse estratégico, ou seja, as atividades fim mantêm sob sua gestão
o que é escopo do seu negócio e propõem terceirização para atividade-meio, ou seja,
as ações de suporte. Em estudo especial apresentado pela revista Suma Econômica
(1993) sobre Terceirização de Frota, foram explicitadas as vantagens e desvantagens
da sistemática. Segue tabela abaixo:
Tabela 2 – Vantagens e desvantagens de frota terceirizada
VANTAGENS DESVANTAGENS
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Focalização no negócio da empresa.
Risco na escolha do prestador de serviço.
Enxugamento da estrutura administrativa.
Dificuldade em adaptar os recursos ao seu uso específico.
Liberação do capital de giro. Responder por obrigações trabalhistas, caso a prestadora de serviço deixe de cumprir.
Flexibilidade e agilidade no serviço.
Perda de agilidade na tomada de decisões sobre o uso de recurso que não lhe pertence.
Custos preestabelecidos.
Fonte: Suma Econômica (1993)
No caso do transporte, vale ressaltar alguns fatores de caráter operacional que
também influenciam a decisão de possuir ou contratar. São eles:
Característica do serviço - Há serviços que usam veículos na forma como são
colocados no mercado, outros que necessitam de veículos adaptados, o que
caracteriza um veículo de uso "dedicado". Este último, quando preparado, fica limitado
ao uso exclusivo de um tipo de serviço.
A intensidade de uso do veículo - Em função da atividade, o veículo pode ser
de uso:
a) Contínuo (para atender a serviços de caráter permanente, como é o caso
do plantão);
b) Intermitente (apoio aos serviços administrativos, inspeção técnica etc);
c) Temporário (suporte aos serviços de demandas sazonais, como projetos e
execução de obras).
d) Disponibilidade do mercado de locação - Nem sempre a região dispõe das
alternativas desejadas, ou seja, veículos adequadamente preparados e/ou
empresas em número suficiente que possam caracterizar competitividade
em preço e qualidade.
Normalmente, algumas empresas adotam um sistema mix para a composição
de frota, ou seja, utilizam veículos contratados e veículos próprios. Para dar apoio a
atividades permanentes que necessitam de veículos pesados (caminhões) e
equipamentos especiais, normalmente utiliza-se frota própria. Para as demais
atividades que necessitam de veículos leves (utilitários, automóveis, etc), utiliza-se
frota contratada. Muitas vezes, ao se contratar serviços para as áreas fim, a parcela
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de transporte já está embutida no custo da tarifa cobrada, pois o veículo é parte
integrante do serviço.
Cabe à gerência de transporte realizar o estudo de avaliação comparativa entre
o custo mensal dos serviços contratados e o investimento que seria necessário para
adquirir e manter uma frota própria equivalente. Torna-se, portanto, extremamente
importante o estabelecimento de indicadores capazes de embasar os estudos de
viabilidade econômica que possa orientar a decisão sobre este tema.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O setor logístico é um dos mais procurados no ramo de entregas de mercadorias.
Sendo assim, entende-se que existe uma maior tendência à terceirização deste ramo,
devido ao alto custo com investimento em maquinário (veículos), pessoal qualificado
e todo um processo trabalhoso para fazer tudo funcionar com qualidade suficiente
para um bom atendimento desde o fornecedor ao consumidor final. Nem toda empresa
está disposta a ratear seus investimentos em tal setor, preferindo canalizar seus
esforços em setores de produção por exemplo. Algumas transportadoras também
preferem locar veículos para aumentar a sua frota e a competitividade.
É muito difícil para as empresas avaliarem esses custos dentro de suas
instalações. Com esse propósito, o presente artigo ajudará àqueles que desejam
entender onde realmente há necessidade de investimento dentro da sua empresa, a
fim de terem uma maior rentabilidade e uma prestação de serviço satisfatória para o
setor de entrega de mercadoria.
REFERÊNCIAS:
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FLEURY, Paulo Fernando; WANKE, Peter; FIGUEIREDO, Kleber Fossati: Centro de estudos em logística. Logística empresarial: a perspectiva brasileira. organização. São Paulo: Atlas, 2000. FLEURY, P. F. Gestão Estratégica de Transporte. Rio de Janeiro; CEL-Coppead/UFRJ. Disponível em: http//www.centrodelogistica.com.br/new/os-public.htm. Acesso em 03 out. 2014. GRAEML. A. R. Consideração Sobre a Localização Empresarial e Sobre sua Relevância na Era da Internet. Anais do XXII ENEGEP (Encontro Nacional de Engenharia de Produção). Curitiba, 2002. LIMA, M. P. O Custeio do Transporte Rodoviário. Coppead. Centro de Estudo em Logística, 2003, Disponível em: http//www.cel.coppead.ufrj.br/fr-custeio.htm. Acesso em 15 jul. 2014. MARQUES, V. Utilizando o TMS (Transportation Management System), Para uma Gestão Eficaz de Transportes. Rio de Janeiro. CEL-Coppead/UFRJ Disponível em: http//www.centrodelogistica.com.br/new/os-public.htm. Acesso em 03 out. 2014. NAZÁRIO, P. E ABRAHÃO, F. RFI Como Ferramenta de Planejamento e Controle. Atlas. São Paulo, 2003. NETO, F. F. A Logística Como Estratégia Para a Obtenção de Vantagem Competitiva. Santa Catarina, 2010. PEDRIALI, M. C. Business Process Outsourcing: Uma Importante Ferramenta Estratégica da Terceirização. Porto Seguro, BA. 2004. QUEIROZ, C. A. R. Manual de Terceirização. São Paulo: STS, 1992. ROMAO, F. C. E PINTO, M. A. C. A Importação da Indústria de Terceirização de Frota Para Geração de Valor em Negócios. V Congresso Nacional de Excelência em Gestão. Rio de Janeiro, 2009.
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DESING THINKING E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO CAMPO DA
ADMINISTRAÇÃO E DOS CONTEXTOS ORGANIZACIONAIS
Marcelle Chaves Sodré
Rômulo C. de Oliveira
RESUMO
A padronização constante entre os produtos ofertados tornou a inovação e a flexibilidade dos processos produtivos um dos principais desafios empresariais. Para o alcance destes, as organizações tem utilizado o design como um instrumento de competitividade capaz de agregar valor percebido e entregá-lo ao cliente. Mas como tem se dado essa relação entre design e gestão? O artigo busca demonstrar as características e a parceria que temas como design thinking, gestão de design e o próprio design têm fomentado dentro do campo da administração e dos contextos organizacionais. Por meio de uma pesquisa exploratória e bibliográfica entende-se a tamanha importância comercial e social que o design representa e o quanto a metodologia do design thinking contribui com uma nova perspectiva sobre inovação e criatividade interdisciplinar dentro das empresas.
Palavras-chave: Desing, Administração, Criatividade.
ABSTRACT
The constant standardization among products offered has made innovation and flexibility of production processes a key business challenges. To achieve these, organizations have used design as a tool for competitiveness can add perceived value and deliver it to the customer. But as has been given this relationship between design and management? The article seeks to demonstrate the features and the partnership that topics such as design thinking, design management and the design itself have fostered within the field of management and organizational contexts. Through a literature search and exploratory means the commercial and social importance such that the design is and how the methodology of design thinking contributes a new perspective on interdisciplinary innovation and creativity within companies.
Keywords: Desing, Management, Creativity.
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INTRODUÇÃO
A fabricação de produtos cada vez melhor e mais rápida, dificultando ao
consumidor a diferenciação entre eles, gera uma acirrada concorrência e exige mais
que qualidade e preço como fator distintivo no mercado. Diante disso, as empresas
precisam se diferenciar para sobreviverem, isto é, se a diferenciação tiver sucesso,
ela trará atenção, que se também tiver sucesso, trará aceitação. E, se houver
aceitação, haverá futuro. Assim se diferenciar tornou-se obrigação (BEZERRA, 2011).
Uma das maneiras para alcançar essa diferenciação no cenário
contemporâneo é por meio do uso estratégico do design, o qual possibilita agregar
valor e oferecer propostas inovadoras ao mercado. Considerando um estudo
apontado por Franzato (2011) sobre as empresas que se destacam pela sua
capacidade de reverter a inovação em resultados financeiros positivos, evidenciou-se
que estas empresas consideram justamente o design com um dos principais
instrumentos para alcançar a inovação. Os processos de inovação pelo design
sobrepõem-se ao desenvolvimento tradicional de produtos, já que visam um ponto de
vista inédito, alternativo ou futuro para a atuação da empresa.
“Inovação é a implementação de uma nova (para a empresa) solução visando
melhorar sua posição competitiva, seu desempenho ou seu Know-how
(conhecimento)”, (HANSON, NITZCHE, 2006, p.4). No Brasil, a conhecida Lei da
Inovação Nº. 10.973/04, no artigo 2º e inciso IV, define inovação como a “introdução
de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em
novos produtos, processos ou serviços”. A verdade é que a inovação tem sido
considerada a melhor forma das empresas converterem mudanças em oportunidades
e como afirma Serafim (2008), o grau de inovação das empresas tem sido um dos
principais fatores de sua competitividade no mercado.
No entanto vale ressaltar que a inovação pode ocorrer de duas formas: de
maneira radical, quando esta rompe com parâmetros pré-existentes e introduz um
novo conceito, comportamento ou um processo produtivo inteiramente novo ou pode
ocorrer de maneira incremental, isto é, quando acrescenta uma nova dimensão a algo
já existente. Para tornar mais claro, a criação do computador possibilitou algo nunca
experimentado antes, facilitando, agilizando e ampliando a capacidade de
armazenamento e processamento de dados por todo o mundo, enquanto que os
notebooks ou tablets são versões aperfeiçoadas da proposta original. Assim, se
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inovações visam melhorar a competitividade, o design como estratégia de marketing
passa a ser uma escolha sensata, tirando diversos produtos da situação de
commodities e os levando para um novo patamar no mercado. E é assim que “a Apple
consegue transformar objetos atualmente cotidianos, como computadores e celulares,
em objetos de desejo”, afirmam Hanson e Nitzche (2006).
Nessa nova importância dada ao design é necessário abstrair a antiga
perspectiva que o colocava apenas como uma atividade de projeção centrada na
estrutura, no estético e na aparência. O Design passa a ser visto como uma atividade
criativa que busca enfatizar as qualidades multidisciplinares seja dos objetos, dos
serviços, dos processos ou dos seus sistemas. De acordo com o Conselho
Internacional das Sociedades de Design Industrial (ICSID, 2013), o design é o fator
central da humanização nas inovações tecnológicas, capaz de melhorar a qualidade
social, cultural, econômica e ambiental da vida. E se alguém dúvida de toda essa
contribuição dada pelo design basta verificar a tamanha importância econômica que
ele teve durante a história, inclusive desde sua polêmica repercussão durante a
Revolução Industrial.
Agora os processos de inovação dirigida pelo design reconsideram a posição
deste nas organizações, que ultrapassa os níveis meramente operacionais
relacionados ao desenvolvimento de novos produtos, para subir até os níveis
estratégicos das empresas, tornando-o fator agregador dos processos e mudanças
nas organizações, as quais o inserem em seus diferentes níveis de atividades.
Empresas como a Philips, Sony, Nike e Apple são exemplos de organizações inovadoras não só na tecnologia que desenvolvem, mas também na importância que dão ao design [...] Para essas e muitas outras empresas o design faz parte do desenvolvimento do produto, chegando a ser em muitos casos, o produto. Tome-se o caso da Nike: um escritório de design e tecnologia de calçados com renome mundial, que não possui uma única fábrica, deixando bem claro qual o seu foco: pesquisa e desenvolvimento. (HANSON, NITZCHE, 2006).
É nesse atual cenário, onde a inovação se torna prerrogativa para o
desenvolvimento das empresas e o design, uma ferramenta de competitividade, que
esta pesquisa tem como objetivo esclarecer como a administração vem incorporando
essa parceria entre a gestão e o design, e quais as contribuições que o Design
Thinking pode oferecer a essa relação. Para isso foi realizado uma pesquisa
exploratória e bibliográfica, abordando as conceituações, características e discussão
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dos temas Design Thinking, gestão de design e a própria contribuição do design como
instrumento de inovação no contexto organizacional.
A IMPORTÂNCIA DO DESIGN
Muito embora tenha reconquistado seu espaço e agora em um patamar ainda
mais valoroso no mercado do século XXI, o design situa-se historicamente bem antes
disso, ele está impregnado na habilidade artesã projetada na antiguidade, porém com
a Revolução Industrial sua essência foi posta à prova diante da emergente
padronização da reprodução em série e a compreensão desse fato histórico auxilia no
entendimento dos valores básicos do design, “valores estes que as organizações
atualmente querem integrar em seus sistemas gerenciais” (DERMACHI, FORNASIER,
MARTINS, 2011).
A produção em massa imposta pela Revolução Industrial no século XVIII focava
o diferencial do objeto pelo processo de fabricação inovador e não mais a sua forma.
A beleza e a arte davam lugar a quantidade e a padronização. Essa mecanização
levou críticos como o inglês John Ruskin a levantar movimentos contra a falta de
qualidade, de arte e de estética nos processos produtivos, vício que marginalizava o
trabalhador, desqualificando-o sistematicamente e levando-o a uma participação
apenas pontual na fabricação do produto. Ruskin afirmava que “o problema do design
residia não no estilo dos objetos, mas no bem estar do trabalhador”, esclarece Denis
(2000, p. 71 apud DERMACHI, FORNASIER, MARTINS, 2011). Afinal, é nesse
período que verificamos a mecanização das atividades produtivas dos operários,
levando-os a atividades repetitivas, cansativas, sem nenhum estímulo intelectual,
desvalorizados profissionalmente e treinados à base do tempo e dos movimentos
(CHIAVENATO, 2003).
Já no século XIX, o designer e escritor Williams Morris, seguidor do
pensamento de Ruskin, fundou o movimento Arts and Crafts, que se opunha à
industrialização e primava pela qualidade ao invés da quantidade. Em diferentes
países, novas manifestações também surgiam e foram imortalizadas pelo senso
artístico e artesanal denominada de L’Art Nouveau, inclusive caracterizada pela busca
da combinação da forma, função e decoração, predominando linhas ondulantes e
ornamentação floral. Todavia a força econômica que comandava a industrialização
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naquela época foi mais forte, argumentando-se que a produção artesanal era
dispendiosa e que a máquina emancipava a mente moderna, diminuindo o trabalho
pesado dos operários e possibilitando o florescer de uma cultura democrática. Assim,
a L’Art Nouveau não resistiu e deu lugar a denominada Art Déco, um movimento
modernista, voltado para associações geométricas, sobreposições e mecanicismo,
facilitando a produção em massa e a intensa comercialização. (DERMACHI,
FORNASIER, MARTINS, 2011).
Só a partir do século XX foi possível verificar movimentos que unissem a arte e
a indústria. Em 1907, uma associação de artistas, artesãos e industriais, chamada
Deutscher Werkbund, decidiu criar estilos mais simples voltados à produção industrial
de qualidade. Deste movimento se formalizou o profissional de design e este primeiro
título é dado a Peter Behrens, justamente um dos membros da Werkbund e
responsável pelo projeto arquitetônico da fábrica e pelo projeto gráfico da imagem
visual, dos catálogos e mostruários da marca de eletrodomésticos alemã Allgemeinen
Elektricitats Gesellschft. Já em 1919, na Alemanha, a escola pioneira em design foi
fundada. A chamada Bauhaus defendia a ideia de que a forma é definida pela função
e esse ponto de vista acreditava que aquilo que é projetado de maneira funcional,
acaba tendo a forma agradável, atraindo as pessoas. Esse tipo de pensamento
acorrentou a criatividade radical dos profissionais de design, que se concentravam
mais em inovações incrementais, limitados pela obediência à estrutura interna. Até
que a partir da década de 1980, a dinâmica dos mercados, a realidade crescente da
globalização e os avanços tecnológicos desvalorizaram o dogma funcionalista que
predominava no design industrial e enfatizaram o efeito competitivo que o ornamento
ao produto pode proporcionar as empresas. Posicionando a partir de então o design
como um serviço profissional de criação e desenvolvimento de conceitos e
especificações que otimizam a função, o valor e a aparência dos produtos e sistemas,
beneficiando mutualmente o usuário e a manufatura, acrescenta MOZOTA (2003).
Desde então o design é visto como um processo, portanto precisa ser
gerenciado e o profissional de design assume novamente um caráter social, fazendo
com que a inovação seja vantajosa para todos que dela queiram se beneficiar.
Constituindo, dessa maneira, o design como “uma das ferramentas mais poderosas
para a geração de benefícios para a indústria, tendo assim um papel fundamental na
inovação como forma de desenvolvimento de novas soluções, geração de valor
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percebido e diferencial competitivo para as empresas”, esclarece Dziobczenski et al.
(2011). Destarte, Sodré (2010) acrescenta que o valor percebido é inerente ao
produto, ele é percebido pelos clientes e não tem como ser determinado objetivamente
por parte do vendedor. Caso o cliente sinta dificuldade em inferir este valor, ele
utilizará indicadores como reputação da marca e embalagem. No mais, o design
insere-se ultimamente na economia do conhecimento, onde o que importa é o
conceito, o projeto, a inteligência agregada a um produto ou serviço, corrobora
Hanson e Nitzsche (2006).
GESTÃO DE DESIGN
A partir dessa necessidade de identificar as maneiras pelas quais o design pode
contribuir para o valor estratégico de uma organização é que também se enfatizou o
benefício do seu gerenciamento, dando ênfase a gestão de design. Essa gestão nada
mais é do que o uso de técnicas de gestão empresarial para reduzir custos e
maximizar a competitividade da empresa por meio da utilização do design como
instrumento de sua estratégia empresarial. Segundo o Design Management Institute
(2011 apud CASAS, 2012), a gestão de design procura estabelecer “uma ligação entre
design, inovação, tecnologia, gestão e consumidores para proporcionar vantagem
competitiva através da tríade de fatores: econômicos, socioculturais e ambientais”. A
gestão de design demonstra como o design pode positivamente contribuir para a
organização de diferentes maneiras e em todos os seus níveis seja operacional, tático
ou estratégico, conclui Demarchi, Fornasier e Martins (2011).
A gestão de design em nível operacional contempla o design em produtos
físicos e tangíveis. É a gestão de agendas, projetos e possibilidades que chegam até
o cliente. É o primeiro passo de implementação do design em um ambiente
organizacional. Enquanto que no nível tático, o design torna-se uma função ou
departamento e passa a ser utilizado taticamente para auxiliar no alcance das metas
organizacionais e já no nível estratégico, o design faz parte da identidade corporativa,
ele representa a visão, valores e crenças da organização. Sua utilização faz parte das
estratégias competitivas da empresa e da sua própria imagem no mercado. Para
Santos (2000), as empresas que adotam a gestão de design em nível estratégico tem
mais chance de ocupar as maiores e melhores fatias do mercado.
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Dessa maneira, a gestão de design é uma evolução dos modelos de gestão,
onde o modelo taylorista, hierárquico e metódico evolui para um modelo
organizacional flexível orientado para o cliente, a qualidade total e uma gestão
baseada em projetos, todos relacionados ao design. Para Mozota (2003), a gestão de
design tem dois objetivos maiores: criar parceria entre designers e gestores,
familiarizando os conhecimentos e o perfil profissional de um com o outro e
desenvolver métodos de integração do design no próprio ambiente corporativo. Casas
(2012) aborda que a natureza do setor (comercial ou industrial), a natureza do produto
(bens ou serviços), o dinamismo do mercado ou o nível de inovação tecnológica são
algumas das variáveis que determinam o grau de necessidade e aplicação da gestão
de design em uma organização. Outra característica apontada pelo autor é que o
tamanho da organização também caracteriza a atuação da gestão de design, pois em
empresas pequenas esta gestão fica quase sempre a cargo do proprietário ou gerente
geral. Em empresas de médio porte geralmente esta atividade é delegada a algum
departamento clássico como o marketing e na maioria das vezes é apenas nas
grandes corporações que o design ocupa um departamento independente, com
gestores em tempo integral.
Martins (2004) aproveitam e descrevem os benefícios que a gestão de design
em nível estratégico proporciona:
Benefícios econômicos: aumenta o potencial de competição da indústria pela
inovação e pela qualidade.
Benefícios empresariais: altera a cultura organizacional provendo o status de
empresa inovadora pelo estilo de gestão.
Benefícios ao produto: estimula as iniciativas para o desenvolvimento de
novos produtos.
Benefícios à imagem: valoriza o posicionamento da empresa no mercado e
sua imagem junto aos stakeholders. Além de otimizar a identificação dos seus
produtos.
Benefícios ao consumidor interno/externo: o valor positivo da imagem, do
produto e da marca fidelizam os clientes, melhoram o ambiente de trabalho e
corrobora para a melhoria da qualidade de vida.
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No entanto, para alcançar resultados positivos, a gestão de design deve ser
introduzida de maneira gradativa, responsável e deliberada, como explica Mozota
(2003):
Gradativa: o design deve ser integrado na organização por meio de uma série
de projetos sucessivos, ou seja, na forma de estágios, levando todos da
empresa à compreensão dos seus benefícios.
Responsável: mesmo começando com um único projeto, a integração do
design requer o apoio dos gestores mais experientes para demonstrar o caráter
estratégico do design e que é possível gerenciá-lo.
Deliberada: o design deve ser gerenciado em todos os níveis, inclusive deve
haver a comunicação integrada entre os responsáveis pelo design e a alta
administração.
O Núcleo de Gestão de Design da Universidade Federal de Santa Catarina
desenvolveu o Modelo de Gestão Estratégica de Design, que é composto por três
dimensões: competitividade, diferenciação e sustentabilidade. Assim a empresa que
visa implementar uma gestão de design a nível estratégico precisa otimizar os
recursos utilizados, como critério de sustentabilidade, buscar um melhor
posicionamento da organização no mercado, o que equivale a sua competitividade e
oferecer diferenciais de valor aos seus clientes, a diferenciação de mercado. De
maneira cíclica, a empresa precisa focar na sustentabilidade com competitividade,
essa competitividade como diferenciação e essa diferenciação na sustentabilidade.
(DEMARCHI, 2011).
Figura 1: Modelo de Gestão Estratégica de Design
Fonte: (MERINO E., MERINO G. e SILVA, 2008 apud DEMARCHI,
2011, p. 137)
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Contudo o gerenciamento de design em nível estratégico e na esfera
profissional ainda se apresenta como um elemento novo, crescendo com o
reconhecimento da necessidade de se definir mais criteriosamente uma interação
efetiva entre o design e as demais áreas corporativas. Agora o design atua como um
interlocutor das diversas fases do processo de desenvolvimento de produtos e nessas
condições, tais projetos requerem gestores com maior desenvoltura para administrar
as incertezas do projeto, a necessidade de inovação e a motivação da equipe,
esclarece Souza e Toledo (2001). O gestor de design precisa possuir em seu perfil
características como: (I) ter ampla visão das estratégias da empresa, o contexto que
ela atua e o perfil dos seus consumidores; (II) ser capaz de perceber e oferecer
justamente aquilo que supra as necessidades e os desejos dos consumidores e (III)
preocupar-se com os resultados e consequências do design de uma maneira ampla,
não se restringindo apenas ao critério estético, acrescenta Philips (2008 apud Casas,
2012).
A verdade é que as organizações, em sua grande maioria, aplicam suas
inovações concentradamente na criação de produtos devido à ânsia de identificar
mercados novos ou mal atingidos e acabam dessa forma desconsiderando que a
inovação exige integração e interação, ou seja, também precisa fazer parte da
administração para que ocorra de forma plena. Com isso impedem o desenvolvimento
de uma gestão e de uma cultura de design, principais responsáveis por viabilizar um
processo de inovação constante, de acordo com Demarchi (2011). Especificamente
no Brasil, a situação é pior, pois ainda ocorre resistência à utilização do design e à
contratação dos designers nas empresas, até mesmo para desenvolver aspectos
estéticos do produto, o que inclusive já é ultrapassado no exterior. E quando um gestor
de design brasileiro é inserido na organização continua atuando apenas de forma
operacional em vez de agir com estratégias, distanciando ainda mais a cultura de
design do ambiente empresarial brasileiro, é o que afirma Demarchi, Fornasier e
Martins (2011). Entretanto iniciativas tentam atualizar esse cenário e valorizar a
cultura de design, como é caso do Projeto Excelência na Gestão de Unidades de
Design, promovido pela Associação Brasileira de Instituições de Pesquisa
Tecnológica e o Programa Brasileiro de Design, criado em 1995, com o objetivo de
inserir e aprimorar a gestão de design nos setores produtivos aponta Casas (2012).
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DESING THINKING
Ademais, todo modelo de gestão se aperfeiçoa e a gestão de design tem
recebido nos últimos tempos um novo suporte por meio da metodologia denominada
Design Thinking, que é uma “forma de pensamento criativo que atua através da natural
capacidade humana de materializar ideias”, de acordo com Nitzsche (2010, p. 125).
Para o autor, o design é usado por todos que planejam ações dirigidas a fim de
transformar situações existentes em outras preferidas, ou seja, é torna tangível uma
intenção de transformação. Em sua concepção, a compreensão das necessidades
dos clientes e suas soluções muitas vezes já estão elaboradas na mente das pessoas,
necessitando apenas de um processo de materialização, de tornar tangível um
pensamento ainda intangível. Existe na verdade a necessidade de uma nova forma
de pensar, de se organizar e acreditar que todos, designers ou não, são capazes de
contribuir para a construção de soluções benéficas tanto para o mercado quanto para
a sociedade e o Design Thinking vem fomentar justamente esse pensamento.
O Design Thinking valoriza não só a contribuição que o design oferece, mas
principalmente os benefícios que a maneira de pensar como um profissional de design
ou designer também oferece. Esses profissionais são capacitados a aguçar de
maneira perspicaz o poder de compreensão das necessidades e suas melhores
soluções através da observação holística do problema, não limitados em tentativas e,
assim que possível, “tangibilizar” suas ideias por meio de protótipos que auxiliam
rapidamente no aperfeiçoamento das soluções pensadas. O que o Design Thinking
objetiva é justamente promover essa maneira de pensar a todos os profissionais de
uma organização, crendo que todos são capazes de contribuir significativamente com
seus conhecimentos específicos e de forma interdisciplinar alcançar as soluções mais
criativas, integrando o ponto de vista humano ao tecnológico e economicamente
viável. Para Brown (2010), o Design Thinking agrupa as habilidades e características
que os designers possuem e colocam essas competências nas mãos de pessoas que
talvez nunca tenham pensado em si mesmas como designers, consequentemente
aplicando tais competências a uma variedade muito mais ampla de problemas.
Somos todos designers. Quando transformamos casas em lares, espaços em lugares, objetos em pertences. Mesmo que isso pareça trivial e superficial, a essência do design está presente: um conjunto de escolhas, algumas melhores que outras e talvez
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nenhuma plenamente satisfatória. Avaliar e escolher a melhor alternativa. Assim podemos resumir o ato de projetar (NORMAN, 2006 apud DZIOBCZENSKI, 2011).
Demarchi (2011) aborda a definição para Design Thinking de maneira bem
compreensiva. A autora ressalta que o dicionário distingue o termo Thinking de três
formas: thinking of (pensar em), thinking about (pensar sobre) e thinking through
(pensar por meio de), mas o Design Thinking aproveita e considera todas as três
definições. Sendo assim, as empresas estão mais familiarizadas com as duas
primeiras definições, onde elas pensam em design quando definem seus produtos e
serviços (thinking of) e pensam sobre design quando consideram ou deliberam sobre
algum assunto deste envolvendo outros, como uma ferramenta para o marketing
(thinking about). Contudo o Desing Thinking vai além da gestão estratégica do design,
justamente porque também quer que se pense por meio do design, isto é, pensar
como designers (thinking through), o que envolve a habilidade de visualizar problemas
e soluções rapidamente, considerando o fator humano e a construção de estratégias
de negócio baseada nos métodos de pesquisa e criatividade dos designers. Para
Brown (2008) pensar como um designer pode transformar a maneira de desenvolver
produtos, serviços, processos e até mesmo estratégias.
O Design Thinking é uma abordagem para problemas complexos focada no uso da criatividade e da empatia, e que incentiva a participação de usuários finais na criação de soluções que já nascem mais adaptadas e, por isso, possuem maiores índices de adoção e maior potencial de serem catapultadas ao patamar de inovação. A importância do Design Thinking na alavancagem de inovações pode ser explicada através do entendimento dos fatores que compõem na prática uma inovação. (PINHEIRO, 2010)
O Design Thinking, segundo Balem et al. (2011), é uma ferramenta de
raciocínio abdutivo, a lógica abdutiva busca explicações para o singular, para os fatos
surpreendentes que não se encaixam em modelos teóricos conhecidos. Valida-se
como uma abordagem colaborativa, onde todo o processo está baseado na ideia de
criar oportunidades e soluções (pensamento divergente) para somente depois
começar a trabalhar na escolha das melhores soluções (pensamento convergente).
Já Kiss (2010, p. 1) esclarece que o Design Thinking é essencialmente um processo
de inovação centrado “em aspectos humanos, cujos métodos como observação,
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colaboração, conhecimento, visualização, prototipagem e análises incitam a inovação
e delineiam as estratégias empresariais promovendo assim, a decisão sobre o que
deve ser produzido”.
Casas (2012) apresenta duas correntes de pensamento sobre o histórico do
Design Thinking, onde a primeira acredita que este é um conceito do século XXI e que
vem se desenvolvendo lentamente ao longo da última década, influenciados pelo livro
“Arte da Inovação”, do autor Tom Kelley, lançado em 2001. Enquanto a segunda
corrente não considera que o Design Thinking seja um novo conceito, nem mesmo
uma nova prática, mas que sempre existiu desde que há design, o que ocorreu foi
uma evolução à medida que os designers buscavam sistematizar e generalizar o que
faziam por necessidade e complexidade do próprio cenário de atuação. Outrossim,
não se pode negar que uma contribuição para esta área foi dada principalmente
quando a IDEO, um dos principais escritórios de design dos Estados Unidos, resolveu
sintetizar seus métodos de trabalho e difundir essa metodologia, que a partir de então
foi definitivamente acolhida pelo meio acadêmico e profissional.
Já Brown (2008) relembra que Thomas Edison criou a lâmpada elétrica e, em
seguida, envolveu toda uma indústria em torno dela. O inventor foi capaz de imaginar
como as pessoas gostariam de usar o que ele criou e também afirmou: “quem quer
ter uma boa ideia, tenha antes uma porção de ideias”. Assim, para o autor, a
abordagem de Thomas Edison foi um dos primeiros exemplos de Design Thinking, ou
seja, uma metodologia que impregna todo o espectro de inovação, com um design
voltado para o ser humano, onde a inovação é alimentada pela observação e
compreensão profunda do que as pessoas querem e precisam em suas vidas ou o
que elas gostam ou não gostam sobre a maneira como os produtos são feitos,
embalados ou comercializados.
Cardoso e Dermarchi (2012) ressalta que o Design Thinking se caracteriza por
ser um trabalho interdisciplinar, onde um grupo heterogêneo apropria-se das ideias
coletivas e todos são responsáveis por elas. Por exemplo, é comum ver designers
trabalhando com engenheiros, administradores, psicólogos, professores, sociólogos e
de forma integrada todos pensando sobre o problema e em conjunto tentando
encontrar a melhor solução. Isto não pode ser confundido com uma abordagem
multidisciplinar, alerta a autora, que neste caso também é representado por um grupo
heterogêneo, porém cada um defendendo sua própria especialidade.
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O Design Thinking apresenta cinco aspectos-chave de acordo com Lockwood
(2006 apud DEMARCHI, 2011), sendo eles:
I. É necessário adquirir um profundo entendimento do consumidor por meio de
pesquisa de campo. Isso envolve observação e métodos etnográficos que
busquem compreender os insights dos consumidores e descobrir necessidades
desarticuladas.
II. O segundo aspecto é a colaboração com o usuário na formação de grupos
multidisciplinares, mas que trabalham de maneira interdisciplinar.
III. Ser capaz de acelerar o aprendizado por meio da visualização,
experimentação e criação de protótipos rápidos.
IV. O quarto aspecto é ligado ao último, centrado na habilidade do design
thinker de gerar visualizações de conceitos.
V. O último aspecto é a importância de integrar a análise de negócio durante
todo o processo e não apenas no final, o que neste caso limitaria a criatividade.
No que diz respeito ao processo no Design Thinking, para Brown (2008), ele é
melhor descrito metaforicamente como um sistema de espaços em vez de uma série
de etapas ordenadas e pré-definidas. Sendo esses espaços denominados Inspiração,
Ideação e Implementação, onde a razão para essa natureza interativa ao invés de
linear é o fato de o Design Thinking ser fundamentalmente um processo exploratório,
que visa descobertas inesperadas ao longo da metodologia. Na inspiração, é coletado
o máximo de informações possíveis para auxiliar na solução do problema ou da
oportunidade desejada; na ideação, as informações coletadas geram ideias que são
testadas e que podem conduzir a solução e na implementação, as melhores ideias
são desenvolvidas em um plano de ação para comercialização.
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Figura 2: Processo do Design Thinking
Fonte: Adaptado de Brown (2008)
As principais ferramentas do design thinker ou do profissional que pratica o
Design Thinking são a observação, a imaginação e a configuração. Demarchi (2011)
esclarece que a observação é utilizada para perceber coisas que passam
despercebidas por outros e deve ser feita no habitat natural dos indivíduos ou do
problema a ser resolvido. A imaginação é aguçada e transforma-se em uma poderosa
ferramenta que precisa ser testada e a configuração representa a última ferramenta
que é responsável pelo resultado final desejado. Para Borwn (2008), o Design
Thinking não é uma exclusividade para os qualificados em escolas de design, muito
pelo contrário, a maioria das pessoas embora não tenham nenhum tipo de treinamento
em design, possuem uma aptidão natural para pensar por meio do design. Segundo
o autor a crescente complexidade de produtos, serviço e experiências substitui o mito
do gênio criativo solitário por uma realidade interdisciplinar do colaborador entusiasta
e algumas das características desse tipo de pensadores são:
Empatia: conseguem visualizar o mundo a partir de múltiplas perspectivas,
seja ela do cliente, do consumidor, dos colegas, da empresa e imaginar as
soluções desejáveis para satisfazer as necessidades explícitas ou latentes do
problema ou oportunidade a resolver.
Pensamento integrativo: não utilizam apenas um processo analítico, a forma
de pensar é abdutiva, integradora, para buscar as melhores alternativas
existentes.
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Otimismo: não há desânimo ou limite, não importa as restrições do problema,
acredita-se que pelo menos uma solução potencial é melhor do que as
alternativas existentes.
Experimentalismo: explora as restrições do projeto de forma criativa que
emanam novas direções, inovações significativas e não apenas ajustes
incrementais.
Kurlo (2010 apud FRANZATO, 2011) associa ao Design Thinking três tipos de
capacidade: ver, prover e fazer ver. A capacidade de “ver” está na fase da pesquisa,
onde é determinante observar de maneira reflexiva a realidade, principalmente a partir
de experiências vivenciadas. Já a capacidade de “prover” está na fase de análise e
requer abstrair as observações operadas, projetá-las em realidades alternativas ou
futuras para obter uma “antecipação crítica”. No caso da capacidade “fazer ver”, que
está na fase de síntese, é necessário tornar visualmente experimentáveis as previsões
ou ideias escolhidas. Isso é o que Brown (2008) chama de prototipagem e alerta que
este processo não tem que ser complexo e caro, mas na verdade deve demandar
apenas a quantidade de tempo, esforço e investimentos necessários para gerar
informações úteis e desenvolver uma ideia. De acordo com o autor, o objetivo da
prototipagem não é ser um projeto finalizado e sim, uma maneira de aprender sobre
os pontos fortes e fracos da ideia e identificar novas direções que o protótipo pode
tomar. Não obstante, Franzato (2011) acrescenta mais uma capacidade associada ao
Design Thinking que é o “fazer”. Ligada à fase de realização do projeto, tal capacidade
refere-se à competência de levar a experimentação à concretização efetiva do
processo de inovação dirigida pelo design.
Os principais diferenciais do Desing Thinking é o foco na percepção das
necessidades, desejos e escolhas do cliente final, o desenvolvimento interdisciplinar
dos projetos a partir da formação de um grupo multidisciplinar, com colaboração
inclusive dos próprios clientes em muito dos casos, o uso irrestrito da intuição e da
experiência e a experimentação pela prototipagem para validar as inovações. Já o seu
principal atributo é a criatividade, afirma Cohan (2008 apud DEMARCHI, 2011, p.132)
e essa criatividade é gerada da seguinte maneira:
A criatividade é gerada pela intersecção de especialização, motivação e habilidades do pensamento criativo. A especialização é obtida por meio da junção da habilidade mais o
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conhecimento, portanto, ela é impregnada de conhecimento explícito e tácito. A motivação é provida do ambiente por meio da cultura, logo, a motivação é baseada no conhecimento implícito. O terceiro componente são as habilidades do pensamento criativo, que são providos pelas ferramentas e processos, sendo o conhecimento objetivo gerado para auxiliar a criação. Só a partir do cruzamento dos três é que surge a criatividade (DEMARCHI; FORNASIER; MARTINS, 2012).
Por isso, os autores afirmam que a criatividade só flui se fundamentada em
conhecimentos explícitos, implícitos, tácitos e objetivos do individuo, devendo aquele
que visa à criatividade gerenciar a inter-relação desses conhecimentos distintos.
Consequentemente conclui-se que o desenvolvimento do Design Thinking baseia-se
essencialmente na gestão do conhecimento.
Brown (2009) atentamente ressalta que todo projeto de design tem suas
restrições e que para alcançar a inovação pelo Design Thinking, essas restrições
também precisam ser consideradas. Assim todo projeto para ser válido deve buscar
de maneira equilibrada três critérios: a praticabilidade, projetar algo que seja
funcionalmente possível em um futuro próximo; a viabilidade, projetar algo que se
adeque ao modelo de negócios da organização e a desejabilidade, projetar algo que
realmente faça sentido para as pessoas e desperte o interesse. Em outra obra, Brown
(2008) explica como fazer para que o Design Thinking contribua fortemente na busca
pela inovação em uma organização: tudo começa envolvendo o Desing Thinking
desde o início do processo, antes de qualquer direção ser definida. Em seguida
também é necessário adotar uma abordagem centrada no ser humano, considerando
o comportamento, necessidades e desejos das pessoas. Criar uma expectativa de
experimentação e prototipagem rápida, encorajando as equipes a inventarem um
protótipo na primeira semana. Buscar ajuda externa, aberto a co-criação. Não
restringir ideias e projetos devido a ciclos orçamentários complicados. Acreditar no
potencial de que qualquer pessoa pode pensar por meio do design e esperar o
desenvolvimento desse processo de forma cíclica, jamais o limitando a um processo
linear, metódico e é justamente romper com esse modelo unidimensional de pensar
que se torna o grande desafio do Design Thinking.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
“O Design Thinking existe e não é só praticado por designers. Qualquer
profissional com uma mente aberta pode pensar-agir-tangibilizar e participar de um
processo de inovação”, (HANSON; NITZSCHE, 2006, p. 12). Contudo, esses autores
afirmam que a maioria das pessoas se entende com um pensamento através de uma
elaboração racional, preferindo o julgamento e o comportamento rotineiro como
métodos de pensar por oferecerem um risco pequeno. As pessoas sentem dificuldade
em conceber a existência de um jeito diferente de pensar, que envolva um
pensamento inteiro, holístico. Elas ainda não despertaram para a necessidade e valor
do Design Thinking, não porque sejam cúmplices do método tradicional, mas
simplesmente por não saberem que existe outra forma de pensar. Por isso, os autores
ressaltam a importância dessas pessoas entenderem a proposta de valor do design.
Além disso, a dificuldade não está só nas pessoas, pois as empresas embora
cobrem inovação, elas não criam uma cultura de inovação e com certeza esse é um
dos grandes motivos que as tornam frágeis diante das exigências do mercado. A
realidade é que as empresas tentam buscar inovação, mas ao mesmo tempo a
restringe quando limitam suas criações a se adequar aos negócios já existentes, o
que reduz a criatividade e frutifica apenas ideias incrementais previsíveis e fáceis de
serem copiadas pela concorrência, sendo assim tão poucas as que realmente
impregnam ruptura, inovação com o que ainda não foi visto (DZIOBCZENSKI et al,
2011). Afinal, o Design Thinking é um processo criativo baseado na construção de
ideias, ele elimina o medo de falhar e encoraja a máxima absorção e participação dos
indivíduos no processo de resolução de problemas, porém é sabido que nem todas as
empresas sabem lidar ou tolerar o direito ao erro, embora seja algo tão propício em
um momento de criação, completa Ilipinar et al. (2008 apud DEMARCHI, 2011).
Há verdade é que o design foi reconhecido como uma essencial ferramenta
para a inovação e esta, como critério relevante para os negócios no mercado atual.
Não menos importante, encontrou-se no design thinking a metodologia que faltava
para fomentar essa necessidade de criação, impregnando em sua dinâmica uma visão
mais humanística do design, reaproximando justamente o design da sua função social,
valorizando os processos colaborativos e flexíveis. Para que assim as empresas
sejam capazes de corresponder a uma sociedade e consumidores mais exigentes,
conscientes e autores do seu próprio consumo. Dessa maneira, se Peter (2003 apud
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HANSON; NITZSCHE, 2006) cita que “há quinze anos, as empresas competiam por
preço. Agora é qualidade. Amanhã será design”, arrisco afirmar que esse amanhã já
chegou, transformando o design em peça estratégica dos negócios, sendo agregador
de valor e diferencial competitivo no mercado contemporâneo.
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RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS: UMA ANÁLISE SOBRE O
DESCARTE NUMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR NA PARAÍBA
Adriana Souza Nascimento Rômulo C de Oliveira
RESUMO A indústria de eletroeletrônicos no Brasil tem apresentado, durante anos, um grande crescimento no número de vendas de artigos. O aumento acelerado do consumo destes equipamentos vem acarretando em um novo problema ambiental: o manejo e controle dos volumes de aparatos e componentes eletrônicos obsoletos conhecidos como resíduos de equipamentos eletrônicos. A logística reversa passa a ser uma mudança cultural e abrangente em gestão de resíduos sólidos, sendo contextualizada pela lei que institui o plano nacional de resíduos sólidos como um instrumento de desenvolvimento, econômico, ambiental e social. Os resultados apresentados nesse trabalho são decorrentes de uma pesquisa empírica com dados primários coletados em campo. Como seu propósito foi o de identificar e propor medidas a serem tomadas para tornar ambientalmente sustentável o processo de consumo, geração e destinação dos resíduos sólidos eletrônicos dentro de uma instituição de ensino superior, a metodologia referente ao estudo de caso, foi escolhida. A partir de informações relevantes, visitas as áreas externas e internas, almoxarifados, relatos de funcionários, entre outros foi possível informar e sensibilizar a comunidade acadêmica sobre a devida importância da coleta e destinação final do lixo eletrônico; além de designar a mesma como sendo ponto de coleta de lixo eletrônico oficial no estado da Paraíba. Palavras-chave: Sustentabilidade, resíduos, logística, lixo eletroeletrônicos.
ABSTRACT
The electronics industry in Brazil has shown, for years, a large increase in the number of sales of articles. The rapid increase in consumption of these devices is resulting in a new environmental problem: the management and control of devices and volumes of obsolete electronic components known as waste electronic equipment. The reverse logistics becomes a cultural and comprehensive change in solid waste management, being contextualized by the law establishing the national plan of solid waste as a tool for development, economic, environmental and social. the results presented in this study are derived from an empirical study with primary data collected in the field. As its purpose was to identify and propose measures to be taken to make the process environmentally sustainable consumption, generation and disposal of electronic waste solids within an institution of higher learning, the methodology related to the case study, was chosen. From relevant information, requests the external and internal areas, warehouses, reports of officials, among others could inform and educate the academic community about the importance of proper collection and disposal of electronic waste; addition to designating the same as official collection point for electronic waste in the state of Paraíba.
Keywords: Sustainability, waste, logistics, electronics waste.
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Introdução
Desde 2010, o Brasil tem uma Política Nacional de Resíduos Sólidos, a PNRS.
Essa política estabelece prazo até 2020 para que o país tenha toda a estrutura
necessária para dar uma destinação adequada a qualquer resíduo sólido (o que
antigamente se chamava de lixo). Para chegar lá, no entanto, será preciso agir nas
áreas política, econômica, ambiental, cultural e social, com metas e prazos definidos
(SEBRAE, 2012).
Com o crescimento da população mundial, aliada a segunda revolução
industrial e outros acontecimentos, aumentou consideravelmente a circulação de
mercadorias e produção industrial. Foi a partir de então, que começou a ser
implementada à logística no âmbito empresarial. Porém, foi somente durante a
década de 90 que o interesse surgiu de fato nas organizações empresariais, quando
os profissionais de logística reconheceram o aspecto vital que o gerenciamento
logístico pode ter para a obtenção da vantagem competitiva (BERTAGLIA, 2003).
O tema “resíduos sólidos” mostra condições favoráveis de formulação de
políticas públicas que venham a promover mudanças nos hábitos dos cidadãos,
estabelecendo vínculos entre a atividade humana e o meio ambiente. Entretanto é um
desafio ambiental urbano e da logística reversa possibilitar ações que permitam a
população rever seu comportamento em relação aos recursos naturais e a sua
sobrevivência e desenvolvimento.
A aprovação da Lei n° 12.305/2010 (Lei da Logística Reversa) trouxe um
grande alívio para a sociedade, pois obriga o poder público, as iniciativas privadas e
a sociedade a participarem do processo de logística reversa, sendo os fabricantes ou
importadores, responsáveis pela destinação ecologicamente correta dos resíduos
sólidos. A má gestão do lixo se evidencia pela ausência e/ou ineficiência da
infraestrutura existente no país, sendo claro o mau direcionamento de recursos
financeiros para estudos de soluções eficazes e a carência de pessoas capacitadas
no setor. Com isso, infere-se a importância da realização de uma análise sobre os
processos e resultados da gestão socioambiental do território, englobando as relações
sociais, econômicas, de políticas públicas e de qualidade ambiental.
Tendo as universidades e faculdades, públicas ou privadas, como líderes em
termos de ensino, pesquisa e desenvolvimento; Direcionando o ensino à formação de
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cidadãos capacitados para a tomada de decisão no futuro, atribui-se então a elas a
responsabilidade de educar para a criação de uma cultura sustentável, com o objetivo
de encorajar a população a se envolver na educação, investigação, formação de
políticas e troca de informação sobre os fatores que influenciam no desenvolvimento
rumo ao futuro sustentável.
Referencial teórico
Logística reversa
Há poucos anos, a logística reversa não era vista com bons olhos pelas
organizações. Muitas delas ainda estão descobrindo quais os ganhos e benefícios que
se pode obter nos seus processos logísticos e analisando as vantagens competitivas
que podem adquirir ao utilizar esse distinto segmento.
No entanto, a preocupação da maioria das empresas é mostrar para a
população suas benfeitorias em prol da conservação do meio ambiente, devido à
grande competitividade existente no mercado atual. Ao aderir a programas
sustentáveis e transparecer ser ecologicamente correto é uma esplêndida vantagem
aos olhos do consumidor, por isso, implementar programas da logística reversa como
reduzir, reutilizar e reciclar para evitar desperdícios em procedimentos com produtos
tangíveis e intangíveis valoriza e pode preceder de uma boa imagem corporativa.
(SRISVASTAVA, 2007).
Ao longo dos anos a definição do termo logística reversa passou por
transformações, sendo a definição inicial como um simples fluxo em direção contrária,
atravessando a ênfase exagerada nas questões ambientais e retornando aos pilares
originais do conceito, considerado relativamente novo. (CHAVES & ALCANTARA,
2010).
A logística reversa passa a ser uma mudança cultural e abrangente em gestão
de resíduos sólidos, sendo contextualizada pela lei que institui o Plano Nacional de
Resíduos Sólidos como um instrumento de desenvolvimento econômico e social
caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a
viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para
reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação
final ambientalmente adequada. (Lei n° 12.305/2010).
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Entretanto, desde a década de 90 surgiram diversas definições sobre logística
reversa. Para Rogers e Tibben Lembke (1998, p.2), Logística Reversa é o processo
de planejamento, implementação e controle do fluxo da matéria prima de maneira
eficiente e com baixo custo e de informações relacionadas, desde o ponto de
consumo, até o ponto de origem, a fim de recuperar o valor ou o descarte de forma
apropriada.
Já para Leite (2010), a logística reversa pode ser compreendida sob duas
perspectivas: a estratégica e a operacional, as quais a torna mais holística nas
preocupações em eliminar ou utilizar os inibidores das cadeias reversas. Ainda afirma
que o retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de origem, por meio
de canais de distribuição reversos, torna-se uma ferramenta competitiva e
diferenciada. A seguir a representação de uma cadeia produtiva na logística reversa.
FIGURA 1 - Cadeia produtiva na logística reversa.
Fonte: Abdi (2012).
De fato, este tipo de logística tem sido vista como uma oportunidade de
mercado, uma continuidade de projetos de empresas e/ou organizações; Logo, esse
processo tem trazido grandes retornos para as empresas, sejam eles sociais ou
econômicos (CSCMP, 2007).
É importante reconhecer que a logística reversa só começa quando um
consumidor de fato descarta o seu equipamento eletroeletrônico, esteja esse em
condições de uso ou não, tenha o equipamento passado pela fase de reuso ou não
(ABDI, 2012).
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Resíduos eletroeletrônicos
A indústria de eletroeletrônicos no Brasil tem apresentado, durante anos, um
grande crescimento no número de vendas de artigos. O aumento acelerado do
consumo destes equipamentos vem acarretando em um novo problema ambiental: O
manejo e controle dos volumes de aparatos e componentes eletrônicos obsoletos
conhecidos como resíduos de equipamentos eletrônicos.
O termo e-lixo engloba uma série de produtos eletroeletrônicos. De maneira
geral, pertencem a essa categoria: componentes e periféricos de computadores,
monitores e televisores, assim como aparelhos celulares e videogames. As três
principais categorias de geradores de lixo eletrônico são: os usuários do processo
(fabricantes), os usuários de varejo (famílias e pequenas empresas) e usuários em
massa (grandes empresas, instituições de ensino, governos, etc.) (SEPIN, 2012).
Segundo Abdi (2012, p.21) qualquer nação que se esforça para sustentar um
crescimento continuado da economia precisa estar atenta à questão dos REEE, cujo
volume tende a continuar aumentando ao longo dos anos. No caso do Brasil, que
busca se posicionar como uma potência com especial interesse em questões sociais
e ambientais, esse tema é ainda mais premente.
O mercado eletrônico brasileiro é considerado o quinto maior no mundo depois
da China, EUA, Japão e Rússia. Vários estados do Brasil iniciaram iniciativas sobre a
temática. O ano de 2011, o país estimava em produzir cerca de 6,5 kg / ano / habitante
de lixo eletrônico, e a projeção para 2015 chegará a 8 kg / ano / hab. (SEPIN, 2012).
Pesquisas destacaram o Brasil, juntamente com o México e Senegal, como
sendo os maiores geradores de lixo eletrônico per capita, a partir de computadores do
que os outros países pesquisados.
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FIGURA 2 – Lixo eletrônico gerado a partir de computadores
Fonte: Sepin (2012).
Estes tipos de rejeitos, naturalmente, não devem ser descartados em bota-foras
ou lixões a céu aberto, devido ao elevado risco de contaminação. Estudos apontam
que a presença de metais pesados associada ao ambiente com baixo pH e longo
tempo de exposição indicam que nem os aterros sanitários são adequados à
deposição de rejeitos de REEE (ABDI, 2012).
Substâncias como chumbo, cádmio, arsênio, mercúrio, bifenilas policloradas
(PCBs), éter difenil polibromados entre outras substâncias tóxicas estão presentes,
que, se descartados como lixo comum, podem contaminar o solo e a água, além de
serem acumulados nos organismos dos animais e do homem causando diversos
problemas de saúde.
Substâncias presentes nos resíduos eletroeletrônicos embora a composição
dos resíduos eletroeletrônicos dependa de cada equipamento que o compõe, ela pode
ser dividida em seis categorias (Crowe et al., 2003):
a) Ferro e aço, usado em gabinetes e molduras;
b) Metais não ferrosos, principalmente cobre usado em cabos e alumínio;
c) Vidros, usados nas telas e mostradores;
d) Plásticos, usados em gabinetes, revestimentos de cabos e circuito
impresso;
e) Dispositivos eletrônicos montados em circuito impresso;
f) Outros (borracha, madeira, cerâmica, etc.).
Com relação às substâncias tóxicas presentes nos REEs, algumas das mais
relevantes e seus efeitos à saúde podem ser vistas no quadro a seguir.
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FIGURA 3 - Exemplo de substâncias tóxicas presentes nos
REE’s. Fonte: EMPA (2012).
Entre os metais encontrados no REE (Resíduo Eletro Eletrônico), alguns são
valiosos, como o ouro, paládio, platina e prata, oriundos de placas de circuito impresso
presente em computadores pessoais e telefones celulares (LEE et al., 2007).
Desta forma, deve-se evitar que esse material seja destinado para lixões e
aterros sanitários, e estimular a reciclagem dos mesmos ou a correta destinação
(ROMAN, 2007).
Resíduos sólidos nas universidades
A Constituição brasileira definiu em 1988 que a gestão de resíduos sólidos é uma
responsabilidade do governo local. A Lei nacional de resíduos sólidos, que estabelece a
política brasileira, em 2010 exige que todos os grandes produtores (municípios e empresas
de grande e médio porte) elaborem e implementem seus planos de gerenciamento de
resíduos sólidos (BARROS, 2012).
Segundo Tauchen e Brandli (2006), faculdades e universidades podem ser
comparadas com pequenos núcleos urbanos, uma vez que envolvem diversas
atividades de ensino, pesquisa, extensão e atividades referentes à sua operação,
como restaurantes e locais de convivência. Como consequência destas atividades há
geração de resíduos sólidos e efluentes líquidos. Há também alguns resíduos que
podem ser classificados como industriais e como resíduos de serviços de saúde.
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Observa-se que a responsabilidade das universidades no adequado
gerenciamento de seus resíduos, tendo em vista a minimização dos impactos no meio
ambiente e na saúde pública, passa pela sensibilização dos professores, alunos e
funcionários envolvidos diretamente na geração desses resíduos, e de seus diversos
setores administrativos que podem ter relação com a questão (FURIAM e GÜNTHER,
2006).
Logo, estes aspectos deixam evidente que as Instituições de Ensino Superior
(IES) devem combater os impactos ambientais gerados, para servirem de exemplo no
cumprimento da legislação, saindo do campo teórico para a prática (TAUCHEN e
BRANDLI, 2006).
Metodologia
Os resultados apresentados nesse trabalho são decorrentes de uma pesquisa
empírica com dados primários coletados em campo. Como seu propósito foi o de
identificar e propor medidas a serem tomadas para tornar ambientalmente sustentável
o processo de consumo, geração e destinação dos resíduos sólidos eletrônicos dentro
de uma instituição de ensino superior, este trabalho pode ser classificado como um
estudo de caso.
A pesquisa classifica-se quanto aos fins, como pesquisa exploratória e quanto
aos meios, bibliográfica, construída através do recurso e metodologia da bibliometria,
para compor o cerne dessa revisão teórica. Segundo Miguel (2010, p. 129), o estudo
de caso é um trabalho de caráter empírico que investiga um dado fenômeno dentro
de um contexto real contemporâneo por meio de análise aprofundada de um ou mais
objetos de análise.
Roesch (1999, p. 155), afirma que o estudo de caso, analisa de forma holística
e mais completa possível a unidade social estudada como um todo seja um indivíduo,
uma família, uma instituição ou uma comunidade, com o objetivo de compreendê-los
em seus próprios termos.
O objeto de estudo consistiu-se em uma Instituição de ensino superior
localizado no estado da Paraíba; As etapas da pesquisa foram os seguintes:
Levantamento dos tipos e locais de geração de resíduos eletroeletrônicos na
instituição; Diagnóstico das condições operacionais dos sistemas de coleta e
destinação final desses resíduos a partir de observações locais; Definição de um
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ponto de coleta/coletor apropriado na instituição e estabelecimento de parceria -
iniciativa privada - para a coleta do resíduo eletroeletrônico na IES (Instituição de
ensino superior).
Resultados e discussões
Segundo Sepin (2012), envolver todas as partes interessadas constui-se em
um fator chave de sucesso para o desenvolvimento de uma política local e/ou nacional
sobre o lixo eletrônico, por isso a pesquisa uniu o corpo docente, discente, além de
grupos externos à instituição, constituindo-se desde o levantamento de dados até o
controle e monitoramento dos resultados.
A pesquisa iniciou-se com a visita na área externa da instituição: pátio. Durante
o trabalho de registro das fontes geradoras de lixo na instituição, foi percebido que
não há separação do lixo eletrônico. Evidenciou-se então, a existência de alguns
coletores de coleta seletiva, ambos, com suas devidas identificações.
FIGURA 4 – Coletores tradicionais na IES.
Na IES em questão, observou-se que inúmeros eram os resíduos
eletroeletrônicos que seguiam sem destinação, empilhados de maneira errônea, e que
muitos, dentre todo o arcabouço da comunidade acadêmica, dispensava o material
junto ao lixo da coleta comum, pelo fato de não existir local designado para este fim.
Nas instalações internas da IES, verificou-se que nas salas de aula foram
encontradas latas de refrigerantes, sacos, copos descartáveis e papéis, logo foi
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percebido, que ainda o lixo gerado em sala de aula é mínimo. Igualmente, nas
coordenações o mesmo se repetiu: resíduos sólidos sem dificuldade para uma futura
separação.
Daher et al. (2003) consideram que a logística reversa diz respeito às atividades
de coletar, desmontar e processar produtos, materiais ou peças após seu uso, para
assegurar uma recuperação sustentável. Tratar o resíduo eletrônico de forma
ambientalmente correta é fazer com que estes não influenciem em riscos ou danos á
saúde humana. O que não foi pecerbido, nas partes externas da IES, designadas de
almoxarifado. Materiais tóxicos e danosos à saúde foram encontrados empilhados em
estado de deterioração.
Ao conversar com alguns funcionários todos foram enfáticos em confirmar que
o lixo eletrônico gerado pelos seus departamentos eram enviados ao NTI (Núcleo de
Tecnologia e Informática); Afirmaram que não havia lixo eletrônico e que todo o
material trazido da instituição eram acondicionados no lixo normal, procurou-se então
explicações sobre o relato.
FIGURA 5 - Armazenamento inadequado do REE.
Segundo relato de um funcionário, “o lixo era enviado para uma espécie de sala
e logo após, queimado em um campo na própria faculdade sem nenhuma separação
ou cuidado”, fator este, que se pode confirmar na figura 6 abaixo.
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FIGURA 6 – Resíduos eletrônicos incinerados.
Apesar de ainda se verificar tendência à inércia, mudanças compulsórias nos
procedimentos formais e burocráticos estão sendo implementadas, o que aponta para
mudanças significativas nos próximos anos (BARROS, 2012).
Idealmente, só chegam a esse ponto uma vez esgotado todas as possibilidades
de reparo, atualização ou reuso. A etapa final do ciclo do lixo eletrônico é talvez a mais
difícil de lidar, algumas empresas se provem do método de incineração, porém
anteriormente, os equipamentos passam por procedimentos em que todas as peças
que contêm substâncias tóxicas são previamente retiradas.
Oliveira et al. (2010) ressalta que a maioria dos equipamento eletroeletrônicos
vai para lixões ou aterros sanitários como resíduos urbanos comuns, por falta de
políticas e leis que determinem o descarte e tratamento ideais para esses resíduos e
por falta de incentivo para a prática da reciclagem. Desta forma, o lixo eletrônico é
duplamente nocivo ao meio ambiente, na produção e no descarte.
Já Silva (2010) destaca que a preocupação ambiental em relação à disposição
inadequada do lixo eletrônico ocorre devido à liberação de substâncias tóxicas que
podem causar sérios impactos à natureza. Quando despejados no lixo comum, as
substâncias químicas presentes nos componentes eletrônicos, como mercúrio,
cádmio, arsênio, cobre, chumbo e alumínio, entre outras, penetram no solo e nos
lençóis freáticos.
Vale enfatizar que a instituição de ensino superior onde foi realizada a
pesquisa, já continha um plano de coleta seletiva, porém, não possuía relacionado a
eletroeletrônicos.
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Notadamente, a partir das informações relevantes, como as visitas as áreas
externas e internas, almoxarifados, relatos de funcionários, entre outros; Os
procedimentos adotados já seguiram para a etapa seguinte: informar e sensibilizar a
comunidade acadêmica sobre a devida importância da coleta e destinação final do lixo
eletrônico. Além de enfatizar a importância de uma destinação correta e informá-los
que a mesma se tornaria local oficial de coleta de lixo eletrônico no estado da Paraíba,
dispondo de coletor e papa pilhas.
Visto a proporção da pesquisa, iniciaram-se parcerias com empresas privadas,
que foram de grande valia e contribuição para o desenvolvimento e continuidade do
estudo presente; Empresas estas, que forneceram elaboração de material publicitário,
além de confecção de placas explicativas que direcionaram toda a população
acadêmica ao encontro do coletor de Lixo eletrônico.
FIGURA 7 – Detalhe do coletor.
Notadamente os equipamentos de telecomunicações, têm um ciclo de
obsolescência mais curto. Em outras palavras, devido à introdução de novas
tecnologias ou à indisponibilidade de peças de reposição, eles são substituídos - e,
portanto descartados - mais rapidamente (ABDI, 2012).
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FIGURA 8 – Ponto de Coleta oficial na PB.
Os caminhos para a sustentabilidade não são tão fáceis de trilhar. Para agir
sustentavelmente é preciso pensar sustentavelmente e, para tanto, se faz necessária
a mudança de consciência na hora de explorar os recursos naturais. Qualquer nação
que se esforça para sustentar um crescimento continuado da economia precisa estar
atenta à questão dos Resíduos Eletrônicos, cujo volume tende a continuar
aumentando ao longo dos anos. No caso do Brasil, que busca se posicionar como
uma potência com especial interesse em questões sociais e ambientais, esse tema é
ainda mais premente. (ABDI, 2012).
Considerações Finais
A logística reversa é uma maneira de ambas as partes ganharem; A sociedade
ganha com benefícios voltada para elas, questões como: qualidade de vida,
preservação, respeito. As empresas com: credibilidade, conhecimento, redução de
custos, visão futura, ganhos em longo prazo, fortalecimento da marca entre outros
fatores; Passará a ter uma relação harmônica entre os fatores sociais, econômicos e
ambientais.
A proposta deste trabalho foi enfatizar os benefícios do desenvolvimento da
Logística Reversa, em uma instituição de ensino superior, implementar e revelar sua
importância para toda a comunidade acadêmica.
Acredita-se que os principais objetivos e desafios foram concretizados;
Constantemente, a comunidade se mostrou receptiva e atenta ás questões
abordadas, logo as mesmas foram sensibilizadas, diante de que a logística reversa
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tem como foco a redução da poluição, do meio ambiente e os desperdícios de insumos
assim como a reutilização e reciclagem dos produtos.
A pesquisa revelou que muitos estudantes e até mesmo docentes de fato, ainda
não tinham conhecimento sobre tal tema, porém com este trabalho houve uma
melhora significativa na logística da coleta dos resíduos eletrônicos, tanto da própria
instituição, quanto de resíduos provenientes de toda população integrante da área
acadêmica.
O projeto vale ser multiplicado, além de contribuir positivamente para a logística
da instituição sensibilizou cada individuo a respeito das questões ambientais
colaborando, sobretudo com o desenvolvimento sustentável das gerações presentes
e futuras.
A partir dos fatos observados, verificou-se que é viável a gestão do lixo
eletrônico por meio de diferentes ações realizadas em uma instituição de ensino
superior, pois estas ações oportunizarão aos alunos, professores e comunidade,
assumir uma postura responsável quanto ao uso das tecnologias, com relação à
proteção da saúde e do meio ambiente, e também com o reuso para fins sociais.
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A RELAÇÃO ENTRE A LEITURA E AS DIFICULDADES ACADÊMICAS DOS ALUNOS DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR NO ESTADO DA PARAÍBA
Michelly Leôncio Chaves Me. Carlos José Figueirêdo de Castro
Resumo
O presente labor busca colher evidências a respeito da relação entre a leitura e as dificuldades acadêmicas dos alunos de um curso de Administração de Empresas de uma IES. A leitura nos leva ao conhecimento, através de livros, revistas, jornais e qualquer outra forma de texto escrito. Mas para chegar ao conhecimento de fato, temos que passar por algumas etapas e atender outras necessidades além da simples leitura de um texto. Ao ler um texto é necessário que haja interpretação do que está sendo dito através de palavras e a decodificação do que está implícito chegando-se a um entendimento sobre o que foi lido tendo a capacidade de formar uma opinião própria. Isto é fundamental quando se está fazendo um curso superior, pois é através da leitura que se obtém o conhecimento necessário para o crescimento acadêmico. Para tanto, aplicou-se através de questionários estruturado uma pesquisa a três turmas do curso de Administração, sendo duas do primeiro período e uma do segundo e quarto períodos. Os resultados demonstraram um altíssimo percentual de alunos não leitores tornando a vida acadêmica muito difícil, uma vez que falta capacidade de expressar corretamente e transmitir na forma escrita o que se pensa. Mais de 80% desses mesmos alunos habitualmente leem jornais e revistas, mas não tem ou não demonstrou na pesquisa o gosto por ler livros. Sendo assim, tornam-se apenas bem informados, mas continuam com o vocabulário pobre e sem variação. Ainda segundo essa pesquisa, os alunos revelaram que leem pouco por serem ocupados, principalmente com os estudos acadêmicos, apesar do incentivo por parte dos professores. Essa falta de leitura afeta de forma negativa as três turmas estudadas o que é observado a partir de redações, resumos e outros trabalhos exigidos pelos professores, com a falta de um vocabulário mais rico e elaborado na hora de produzir textos, acarretando em palavras repetitivas por falta de sinônimos ou por não saber como substituir as frases dando sentido e coesão ao texto. Conclui-se que a escrita, sem a leitura fica muito difícil de existir, pois a escrita depende diretamente da leitura para a sua existência um subsidiando o outro. A incumbência é do educador de promover a leitura entre seus alunos conscientizando-os em sala de aula sobre sua importância não só no âmbito escolar, mas também na vida social, pois quem mais lê, melhor escreve e melhor fala. Esse hábito tem que ser levado pela vida, pois em muitas áreas profissionais a leitura e a escrita são de fundamental importância. Um profissional que se dedica a leitura terá um olhar mais crítico e um maior entendimento sobre o que o rodeia, pois estará sempre se atualizando e inteirado sobre o que acontece tanto no trabalho como na vida social. Palavras Chaves: Leitura; conhecimento; dificuldade; interpretação; escrita.
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Abstract
This work seeks to collect evidence about the relationship between reading and academic difficulties of students in a course in Business Administration from an HEI. Reading leads to knowledge through books, magazines, newspapers and any other form of written text. But to come to the knowledge of fact, we have to go through some steps and meet other needs beyond simply reading a text. When reading a text it is necessary that the interpretation of what is being said through words and decoding than is implied by reaching an understanding of what was read with the ability to form your own opinion. This is critical when doing a degree, because it is through reading that one gets the knowledge necessary for academic growth. Therefore, we applied through structured research questionnaires to three classes in the course of Directors, two of the first period and the second and fourth periods. The results showed a very high percentage of students not making readers academic life very difficult, since they lack the ability to properly express and communicate in written form what you think. Over 80 % of these same students regularly read newspapers and magazines, but it has not shown in the research or the taste for reading books. Thus, only become knowledgeable but continue with poor vocabulary and without variation. Still according to this survey, students indicated that they read just because they are busy, mainly with academic studies, despite encouragement from teachers. This lack of reading affects negatively the three groups studied what is observed from essays, summaries, and other work required by the teachers, the lack of a richer vocabulary and prepared in time to produce texts, resulting in repetitive words by lack of synonyms or not knowing how to replace the phrases giving meaning and cohesion to the text. It is concluded that the written without reading becomes very difficult to exist, because writing to reading is directly dependent on the existence one supporting the other. The task of the educator is to promote reading among their students making them aware classroom about its importance not only in schools but also in social life, for who else reads, writes better and better speech. This habit has to be taken for life, because in many areas of professional reading and writing are essential. A professional who is dedicated to reading will have a more critical eye and a greater understanding of what surrounds you, for you are always updating and acquainted about what happens both at work and in social life.
Key Words: Reading; understanding; difficulty; interpretation; writing.
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1. INTRODUÇÃO
A leitura tem inquestionável importância para o aprendizado do aluno no
processo educacional, mas tem importante função também no meio político, social,
econômico e cultural. A leitura leva o aluno ao caminho do conhecimento, aumentando
o seu poder crítico. Apesar disso, a educação básica tem encontrado grandes
dificuldades e até mesmo o fracasso na formação de leitores efetivos.
Um bom leitor tem melhor desempenho nas disciplinas por ter a capacidade
de retirar informações essenciais dos textos, e conseguir compreender e interpretar
com maior facilidade, conseguindo uma melhor interpretação, ele ganha destaque em
qualquer área, não se restringindo ou delimitando a língua portuguesa. A interpretação
que um leitor faz de um texto se dá, a partir do objetivo que o levou a ler. Assim,
quando um mesmo texto é lido por duas pessoas com objetivos diferentes pode-se
chegar a resultados distintos.
Ao chegar ao nível superior espera-se certo domínio da língua portuguesa por
parte dos alunos, quando isso não acontece, culpa-se o ensino fundamental. Será que
a atribuição dessa responsabilidade está correta? Na maioria dos casos a culpa de
uma gramática mal desenvolvida e um vocabulário pobre está associada á falta de
leitura. A pouca, ou nenhuma, leitura influencia diretamente na forma como se fala e
escreve, na hora de fazer um resumo, uma resenha, uma redação ou qualquer outro
tipo de produção de texto. Influencia também na interpretação de questões de
exercícios, muitas vezes levando a uma resposta inexata por não conseguir uma boa
interpretação do enunciado. Mas porque a maioria dos alunos não tem prazer em ler
e não conseguem desenvolver o hábito da leitura? A que está relacionado o gosto
pela leitura?
Nessa pesquisa, iremos abordar a questão levando em conta a falta de tempo
e a necessidade da leitura para um melhor desempenho no curso, descobrir como
aumentar o incentivo pela leitura e o que fazer para criar o hábito de estar sempre
lendo. A partir desse trabalho de pesquisa, serão analisadas formas e técnicas que,
espera-se, venham a contribuir para o aumento do interesse na leitura, averiguando
as necessidades que cada um tem em desenvolver o hábito de ler para um melhor
desempenho na hora de falar, escrever, interpretar e desenvolver trabalhos científicos
com o mínimo de dificuldade possível.
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Comprovadamente, quanto mais se lê, melhor se fala e se escreve, e quando
se trata de um administrador, não é apenas necessário, mas se tornam fundamentais
a facilidade na leitura e a boa interpretação do que se está lendo. Os alunos de um
curso de Administração de Empresas estão constantemente necessitando do uso da
leitura e da interpretação para que assim possam desenvolver trabalhos curriculares
exigidos pelos professores onde tem que seguir regras indispensáveis para que se
tornem válidos e possam satisfazer as normas. O aluno tem que ser induzido á leitura
para que adquira novos conhecimentos. É importante, os professores ensinarem a
leitura dando fundamentos pedagógicos, não só sobre sua disciplina, mas também
sobre o hábito da leitura. Um aluno leitor é muito mais articulado no falar e se expressa
com muito mais segurança, por que ele não apenas fala, ele se comunica e tem plena
ciência de tudo o que o rodeia.
Para Castro (2013) estudos demonstram que jovens com dificuldade de
aprendizagem são propensos a abandonar os estudos. Porém com o passar do tempo
a busca por uma maior estabilidade financeira faz com que esse mesmos jovens,
agora numa idade adulta, retomem seus estudos, porém apresentando a mesma
dificuldade que apresentavam quando crianças. E isto se sente em sala de aula de
forma latente e massiva. O que se observa é que a criança quando adulta continuará
a apresentar os mesmos problemas de aprendizado e isso deve ser refletido de forma
criteriosa.
Problema
Diante do exposto questiona-se:
“A falta de leitura afeta o desempenho acadêmico dos alunos de um curso de
Administração de Empresas em uma Instituição de Ensino Superior?”
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Objetivo Geral:
Compreender as dificuldades encontradas pelos alunos no ato de ler.
Objetivos Específicos:
Analisar como a leitura afeta o desenvolvimento acadêmico.
Analisar se os problemas relacionados a falta de leitura são de natureza social
ou provenientes de distúrbios
Propor formas de auxílio na estimulação da leitura.
2. MARCO TEÓRICO
A falta de leitura na vida acadêmica interfere de forma direta e negativa na vida
acadêmica dos alunos. Todas as formas de estudo envolvem a leitura, logo um aluno
que não possua o hábito da leitura será prejudicado na execução de certas tarefas e
certamente não alcançará o nível almejado e terá o desempenho reduzido. Um aluno
leitor será muito mais eficiente e ágil na criação de textos e formação de opiniões,
uma vez que um aluno leitor é um formador de opiniões nato. A vida acadêmica fica
seriamente comprometida com a falta da leitura, pois através da leitura se chaga ao
conhecimento. A leitura nos introduz no centro da informação tornando mais fácil a
absorção e interpretação do texto. Quando um aluno se dedica a leitura, ele tem muito
mais chances de compreender o que está sendo aplicado em sala de aula, porque a
leitura fornece um aumento significativo de informação que oralmente, talvez seja
mais complexo de explicar. Mas há certas dificuldades encontradas na hora de realizar
essa leitura eficiente que nos leva de fato ao conhecimento efetivo, sendo necessário
ás vezes uma investigação minuciosa por parte dos educadores quanto a falta de
hábito para ler.
Smith (2001) afirma que sair de casa e ingressar no mundo mais amplo da
faculdade ou de uma profissão pode ser difícil e estressante para qualquer pessoa
jovem, e não nos surpreende que às vezes seja ainda mais difícil para o adulto com
dificuldades de aprendizagem realizar com sucesso essa transição. Os estudos
revelam que adultos jovens com dificuldades de aprendizagem geralmente têm
menores expectativas para o futuro do que seus companheiros típicos. Os indivíduos
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com sérias deficiências de linguagem, déficits de atenção e/ou hiperatividade
normalmente enfrentam os maiores riscos para baixas conquistas educacionais e
subempregos. Ainda assim, muitas pessoas jovens com dificuldades de
aprendizagem realmente conseguem ser bem sucedidas em empregos difíceis e em
instituições de aprendizagem superior. Estudos sobre esses adultos produtivos
revelam um número de fatores que parecem relacionar-se com um desempenho
efetivamente bom. Entre os mais importantes estão: Autoconsciência, Uma forte ética
profissional, Uma personalidade positiva, uma rede de apoio efetiva, uma experiência
escolar positiva
“A maioria das definições concorda que alunos com incapacidade de
aprendizagem têm pelo menos inteligência média, mas têm significativos problemas
acadêmicos e desempenho significativamente mais baixo do que seria esperado”
(WOOLFOLK, 1996, p. 137).
O gosto pela leitura é observado nas pessoas desde a infância, assim como a
falta desse hábito também. O estímulo começa nos primeiros anos quando a criança
aprende a ler, recebendo os estímulos certos, ela cria o hábito da leitura. Em alguns
casos, porém, observa-se o grande desinteresse da criança em estar lendo, seja um
livro, revistas em quadrinhos, informativos ou qualquer outro tipo de leitura. Essa falta
de interesse deve ser investigada pelos pais e professores no início da vida acadêmica
do aluno, pois pode ser proveniente de diversas causas, que não seja apenas preguiça
ou falta de vontade de praticar a leitura. A falta de gosto por ler pode derivar de
problemas na aprendizagem, se a criança acha muito difícil aprender ler, ela pode
associar essa dificuldade ao gosto e acabar por não se interessar pela leitura, ou pode
ainda ser proveniente de distúrbios que afetam tanto a leitura como a escrita e
dificultam a aprendizagem da criança, como a dislexia. A dislexia, que é o mais popular
distúrbio de aprendizagem, pode ser diagnosticada ou detectada ainda criança com
alguns testes específicos, para que a criança receba um tratamento especial e possa
desenvolver suas habilidades como uma criança normal.
A dislexia é um transtorno genético e hereditário que afeta a escrita e a leitura,
sendo muitas vezes confundida com preguiça ou falta de interesse por parte do aluno,
podendo se tornar um problema grave se não for descoberto e dado o tratamento
adequado ainda criança. Na vida adulta, a dislexia afeta de maneira intensiva, por que
geralmente não houve tratamento na infância, trazendo todas as dificuldades para a
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vida adulta, e torna-se bem mais difícil tratar um adulto com dislexia do que uma
criança. O adulto disléxico pode apresentar uma leitura mais lenta assim como a
escrita com letras trocadas e também uma grande dificuldade em compreender os
textos lidos, sendo necessário que leia várias vezes o mesmo texto para que chegue
a compreensão ou que outra pessoa leia para ele para que assim possa compreender.
O adulto disléxico não desenvolve o hábito de ler por não compreender e isso acarreta
outro problema que é um vocabulário escasso e pobre.
Quando não identificado esse distúrbio, o adulto levará essa dificuldade para a
vida acadêmica e profissional dificultando o seu desenvolvimento e dificultando na hora
de escolher que carreira seguir.
Para avaliar uma pessoa e diagnosticar este distúrbio, há uma equipe de
profissionais que realizam esta tarefa. Esta equipe geralmente é composta por
pediatras, psicólogos, assistentes sociais, ás vezes, enfermeiras, terapeutas e
professores. Há também psicólogos particulares que trabalham juntamente com o
pediatra na busca de um diagnóstico e do tratamento adequado.
Segundo Mark Selikowitz, em Dislexia e outras dificuldades de aprendizagem,
essa avaliação é feita em quatro etapas:
Coleta de informação sobre a criança (anamnese).
Exame (avaliação) da criança.
Explicação do resultado aos pais.
Recomendação de um plano de tratamento adequado.
Com base nas informações obtidas, a criança, com o apoio dos pais deve
procurar seguir as estratégias do tratamento para que a dislexia não interfira em seu
desenvolvimento. Ao observar os sinais de dificuldades da criança, há uma série de
causas de deficiência de aprendizagem que podem ser excluídas antes do diagnóstico
de dificuldades específicas. Essas causas podem derivar de falhas genéticas, má
formação ou diversos outros fatores. Nesses casos o estímulo para ler é fundamental
para que a falta de leitura não se torne mais um problema na quando ingressar na
vida acadêmica.
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O ato de ler envolve um pouco mais de interação e atenção por parte do leitor,
já que não basta ler, tem também que compreender e interpretar o que sendo lido. É
a leitura que nos leva ao caminho do conhecimento, através de livros, revistas, jornais
e muitas outras necessidades, que não se resume apenas a simples leitura de um
texto. Quando um texto é lido, é necessário que haja uma tradução de sentido, a
interpretação da linguagem e entender tudo o que está contido no texto de forma
implícita e chegar a um entendimento sobre o que foi lido formando a própria opinião.
“É fundamental que o leitor possa ir elaborando critérios próprios para selecionar os
textos que lê, assim como para avalia-los e criticá-los.” (SOLÉ, 1998, p.97)
Para Leaver (1998), os estudantes muitas vezes não são o que aparentam ser.
Analisar a individualidade, tratar cada aluno como único dentro do contexto
educacional ao qual está inserido, conhecer o histórico educacional e avaliar as reais
condições de aprendizado é fundamental para o desenvolvimento da disciplina.
Sabemos que a tarefa não é fácil e o caminho a percorrer é árduo e longo, porém,
educar vai muito mais além do que as salas de aulas (CASTRO, 2013)
Para Andrade (2009), o processo de aprendizagem pode ser definido como o
modo como os seres adquirem novos conhecimentos, desenvolvem competências e
mudam o seu comportamento, sendo, assim, um processo complexo.
Levando em consideração que toda aprendizagem está ligada às experiências vividas, para que haja um melhor entendimento se faz necessário a partir dos conhecimentos prévios . Ao fazer um paralelo entre o novo e o que já se sabe, com uma boa intervenção do professor, o aluno construirá um conhecimento mais sólido e significativo para sua vida (QUEIROZ, 2012, p7).
Assim, toda interpretação, produção e leitura de texto sofre a influencia de textos
anteriormente lidos. Usa-se um texto como base para a elaboração de outro por isso
possivelmente encontrará textos parecidos ou que haja uma conexão entre dois textos
distintos, pois eles conversam entre si. Para chegar a importância da escrita tem que
haver um entendimento de o que é na verdade a leitura, pois só escreve bem, quem
lê e interpreta o que está sendo lido.
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3. METODOLOGIA
3.1 Características da Pesquisa Desenho
O foco das análises foram três turmas do curso de administração de empresas
da ENSINE Faculdades, situada na cidade de João Pessoa, Estado da Paraíba. A
escolha deu-se em virtude do autor ser aluno da instituição e da coordenação ter se
prontificado a abrir as portas da escola, ademais ter interesse também no resultado
da pesquisa. A pesquisa ocorreu no mês de outubro de 2013.
O objeto de pesquisa que será utilizado é o misto, ou seja, é qualitativo porque
faremos uma descrição da realidade e tentaremos compreender o que acontece, e por
sua vez também é quantitativo porque, faremos uma análise de frequência estatística
dos dados, representando-os através de gráficos.
Frise-se que “A meta da investigação mista não é substituir a investigação
quantitativa nem a investigação qualitativa, senão utilizar as potencialidades de ambos
os tipos de indagação combinando-as e tratando de minimizar suas deficiências
potenciais” (SAMPIERI, COLLADO, & LUCIO, 2010, p. 544).
Para tanto, aplicou-se através de questionários estruturado uma pesquisa a três
turmas do curso de Administração, sendo duas do primeiro período e uma do segundo
e quarto períodos. O paradigma será o interpretativo e não pretenderá fazer
generalizações a partir do objeto estudado.
3.2 Local da Pesquisa
A pesquisa foi realizada na ENSINE faculdades situada em João Pessoa,
capital da Paraíba.
João Pessoa foi fundada em 5 de agosto de 1585 com o nome de Nossa
Senhora das Neves, a santa do dia em que foi firmada a aliança com os Tabajaras,
João Pessoa já nasceu com o status de cidade, jamais vivendo a condição de vila.
Com o passar do tempo, foi recebendo várias denominações: Filipeia de Nossa
Senhora das Neves, em 1588, homenageando o rei Filipe II de Espanha, quando da
União Ibérica, período em que o Reino de Portugal foi incorporado à coroa espanhola.
Durante a ocupação holandesa, entre 1634 e 1654, designou-se Frederikstadt (Cidade
de Frederico ou Frederica), em homenagem ao Deus de Orange, Frederico Henrique.
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Com a reconquista portuguesa, passou a chamar-se Cidade da Parahyba. Por
conta de uma visita temporária de D. Pedro II à cidade em fins de 1859, recebeu
provisoriamente o título de Imperial Cidade.
Sua denominação atual, João Pessoa, é uma homenagem ao político
paraibano João Pessoa, assassinado em 1930 na cidade do Recife, quando era
presidente do estado e concorria, como candidato a vice-presidente, na chapa de
Getúlio Vargas. O fato causou grande comoção popular, sendo praticamente o
estopim da Revolução de 30, embora se discuta se realmente houve motivação
política no ato, que foi executado por João Duarte Dantas, cujo escritório fora invadido
por tropas governamentais, tendo sido suas cartas amorosas a professora Anayde
Beiriz trazidas a público.
A Assembleia Legislativa Estadual aprovou a mudança do nome da capital em
4 de setembro de 1930.
3.3 População e Amostra
Com frequência as pesquisas científicas são realizadas por meio de estudo
dos elementos que compõem uma amostra extraída da população a qual se pretende
analisar. O conceito de população é intuitivo: trata-se de qualquer conjunto de
informação que tenha entre si uma característica comum que delimite os elementos
pertencentes a ela. Amostra é subconjunto de elementos pertencentes a uma
população. Foram escolhidos 60 alunos aleatoriamente das três turmas em questão.
4. RESULTADOS:
Analisando os gráficos abaixo podemos concluir que esse ainda é um longo
caminho a percorrer. Esses gráficos são o resultado da pesquisa realizada nessas
turmas de Administração de Empresas.
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Apesar de a maior parte dos alunos afirmar que gosta de leitura, no gráfico a
seguir, metade desses alunos demonstram que não possuem o hábito de ler livros.
No gráfico a seguir, percebe- que há uma grande variação sobre o tempo
decorrido desde que o último livro foi lido.
17%
45%
31%
7%
Gosta de Leitura?
Gosto Muito Gosto Gosto Pouco Não Gosto
24%
33%15%
28%
Último livro lido foi há:
Menos de um ano Menos de um mês Mais de um ano Não sei
49%51%
Lê Livros?
Sim Não
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A maioria dos alunos lê apenas por dever escolar, deixando de lado o prazer pela
leitura.
Alguns alunos não leem apenas por não acharem a leitura uma atividade
interessante.
Alguns alunos declararam que não leem nenhum livro.
10%
21%
0%
0%37%
32%
Por qual razão não lê?
Preço do livro
Dificuldade em compreender os livros
Dificuldade em ler
Os meus amigos não leem
Prefiro outras atividades
Pouco interesse nos livros
33%
0%
0%
67%
Quantos livros lê por mês?
1 a 2
3 a 5
mais de 5
Não sei
35%
36%
29%
Por qual razão lê?
por gosto Dever escolar Outra razão
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Aqui temos uma base de quanto tempo é dedicado á leitura por esses alunos,
nota-se que é um tempo relativamente baixo, tendo em vista que cursam
Administração de empresas e necessitam de leitura para estar por dentro das
atividades me sala de aula, e é requisitado o conhecimento de muitos livros.
A maioria dos livros que estão sendo lidos no momento é de natureza técnica,
ou seja, que são necessários ao curso.
Apesar do pouco interesse em leitura de livros, eles revelam grande interesse
pela leitura de revistas e jornais como podemos observar.
33%
31%
5%
0%
0%
0%
31%
Tempo dedicado a leitura por semana
30 min ou menos
De 30m min a 2 h
De 2 a 3 h
De 5 a 5 h
De 6 a 7 h
De 10 a 14 h
Não sei
45%
55%
Está lendo algum livro no momento?
Sim
Não
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A compra de livros é muitas vezes vetada pelo alto preço, assim torna-se mais
um fator agravante na formação do hábito de ler.
Apesar do grande incentivo por parte dos professores, ainda se está longe de
alcançar toda a massa de alunos tornando-os leitores eficientes.
Os jornais e revistas ganham muito espaço na preferência dos leitores por serem
rápidos e de fácil interpretação
82%
18%
Lê jornais/revistas?
Sim
Não
27%
73%
Costuma comprar livros?
Sim
Não
32%
47%
12%9% 0%
Seus professores incentivam a leitura?
Muitas vezes Algumas vezes Poucas vezes Raramente Nunca
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5. CONCLUSÃO
Conclui-se á partir da pesquisa realizada que o número de alunos não leitores
é bastante elevado e revelou que mais da metade dos alunos não possui o hábito de
ler livros por falta de interesse, falta de tempo ou apenas preferem outras atividades.
São poucos os alunos que se interessam por leitura de livros e se dispõem a dedicar
um pouco mais de trinta minutos semanais para a leitura de um bom livro, seja por
dever escolar ou pelo prazer de ler. Foi feito um questionário com doze questões de
múltiplas escolhas e aplicado a turmas de dois turnos, chegando-se a conclusão que
a leitura precisa ainda de muito incentivo e estímulo, não só nas faculdades, mas tem
que partir desde a infância, para que se chegue a idade adulta já cultivando esse
hábito que só tem a acrescentar.
Para que haja um aumento nesse percentual de alunos que apreciam a leitura,
e fazem isso por prazer e não apenas por obrigação é preciso enviar o estímulo certo
tanto em sala de aula como em casa pelos pais e mestres. Esses estímulos serão
responsáveis por fazer com que a criança leve ou não o hábito da leitura para a vida
adulta, tanto no lado profissional como na vida acadêmica. Esses estímulos podem vir
de casa, quando uma mãe ou um pai leem para o filho e ensina a importância disso
em sua vida, seja na hora de dormir ou durante uma hora por dia, mas o ideal é esse
seja um hábito criado desde a infância. Outra forma de estimular a leitura é procurar
conhecer os gostos da criança para que procure adequar esses gostos a livros. Alguns
desenhos e jogos derivam de livros, e essa é uma boa chance de introduzir a leitura
no dia a dia da criança.
Algumas estratégias podem ser feitas para que haja o incentivo á leitura, tais
como: criação de ambientes próprios para leitura; implantar uma biblioteca feita com
4% 16%
26%12%
25%
17%
Opções de leitura
Drama/Policial Quadrinhos/Comédia jornal/Revista
Artigos/ Esportivo Científico/Técnico Auto Ajuda/ Bíblico
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a ajuda dos alunos e ter alas criadas de acordo com os interesses dos mesmos;
criação de murais onde os possam expor o que escrevem como forma de incentivo
para a produção de textos e que haja uma forma de reconhecimento pela exposição
feita; projetos de leitura, como a criação de escritores juvenis e exposição desses
trabalhos; criação de murais para expor o que é notícia, como um jornal semanal;
conscientização da importância da leitura na vida social e acadêmica destacando
como será importante o hábito tanto na escola como na vida profissional; um clube de
leitura também é uma boa ideia, pois reúne amigos de um mesmo grupo com os
mesmos gostos e torna mais fácil que eles se adaptem a ideia de estar lendo
constantemente.
6. RECOMENDAÇÕES
A leitura é de fundamental importância para o corpo docente e tem que ser levado em
conta que, se hoje eles não possuem nenhum hábito ou gosto por leitura, é porque
esse estímulo não foi dado no momento certo e nem da forma certa. Mas mesmo
depois de adultos, esse estímulo tem que ser dado, para que pelo menos durante o
período acadêmico haja um maior interesse pela leitura. Algumas iniciativas podem
ser tomadas dentro das próprias instituições, para que os alunos se sintam impelidos
a ler e ainda a incentivar seus colegas a estar lendo e se interessando cada vez mais
por leitura. As medidas iniciais podem ser implantadas contando com a ajuda dos
próprios alunos.
Implementação de um dia de Biblioteca e um escritor local poderia ser
convidado para conversar sobre a importância da leitura na vida acadêmica;
Estimular a leitura através de metas, podendo começar com dois livros por
trimestre pertinentes a disciplina e podendo haver algum reconhecimento por
parte do professor em forma de pontuação;
Incentivar a doação de livros para bibliotecas ou diretamente a pessoas;
Criação de grupos de leitura em voz alta dentro das próprias salas de aula.
Arrecadação de livros para outras instituições de ensino;
E há ainda diversas outras formas de incentivo que podem ser tomadas pela
instituição, como a liberação da biblioteca para a visitação de não alunos, assim
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poderão ser feitos convites para que conheçam e frequentem a biblioteca
podendo tornar isso um hábito. Alunos da instituição podem se reunir
periodicamente para ler para crianças que ainda não saber ler. Pode ser
desenvolvido um dia de leitura em orfanatos que pode ocorrer a cada quinze
dias ou de acordo com o proposto entre alunos e direção do orfanato, assim
estará sendo feito o incentivo a leitura para os dois lados.
BIBLIOGRAFIA
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