Post on 28-Apr-2023
ALUBRAT – CAMPINAS e FACULDADES SPEI
PÓS GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA TRASPESSOAL
TURMA V - 2013-15
MÓDULO 18
EMERGENCIA ESPIRITUAL E PSICOSE
Cláudio Hideyo Assato
outubro 2014
1. Descreva a diferença entre psicose e emergência
espiritual.
Para caracterizarmos a diferença entre Psicoses e
Emergências Espirituais creio ser importante
contextualizar os fatos e a compreensão das atuais
definições. Assim ao longo da história da humanidade, as
alterações de comportamento receberam diversas abordagens
e tratamentos de acordo com cada época e cada contexto, o
que a caracteriza como fenômeno social interpretado das
formas mais diversas.
A história nos revela que a sociedade já compreendeu
tais altercações de diferentes maneiras. Desde alguém sem
qualquer razão (o louco) ou até o inverso. Então a doença
neste contexto era ligada a forças sobrenaturais do bem e
do mal. Assim, o “louco” foi visto como um possuído pelo
demônio, por espíritos ou simplesmente descartados; desta
forma, o tratamento se deu por meio de exorcismos sob a
responsabilidade da Igreja Católica; somente no século
XIX que a Medicina toma a “loucura” como uma doença e
para dar conta do tratamento desta nova doença, uma nova
especialidade é criada pela Medicina; primeiro a
neurologia e em seguida a psiquiatria, com o intuito de
cuidar das doenças mentais.
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É importante termos esta compreensão para entender
como o enfoque das Emergências Espirituais aparecem no
meio psiquiátrico e diferencia-la das Psicoses; pois há
diferentes psicopatologias descritas no meio
psiquiátrico, ressaltando os sintomas psicóticos que
podem ser esquizofreniformes ou podem apresentar
características psicóticas dentro de outro diagnóstico
(como os quadros depressivos com características
psicóticas, os quadros bipolares com sintomas psicóticos,
as psicoses induzidas) entre outros.
Para melhor critério e classificação cito o CID-10
(referência no Brasil) e também o DSM 5 onde fica claro
os critérios diagnósticos pensando na fenonomenologia das
Psicoses.
A Classificação Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde (também conhecida como Classificação
Internacional de Doenças – CID-10) é publicada pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) e visa padronizar a
codificação de doenças e outros problemas relacionados à
saúde. A CID-10 fornece códigos relativos à classificação
de doenças e de uma grande variedade de sinais, sintomas,
aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais e
causas externas para ferimentos ou doenças. A cada estado
de saúde é atribuída uma categoria única à qual
corresponde um código CID-10.
O DSM, Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Disorders) é um manual para profissionais da área
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da saúde mental que lista diferentes categorias de
transtornos mentais e critérios para diagnosticá-los, de
acordo com a American Psychiatric Association – APA. É
usado ao redor do mundo por clínicos e pesquisadores bem
como por companhias de seguro, indústria farmacêutica e
parlamentos políticos. Existem cinco revisões para o DSM
desde sua primeira publicação em 1952. A maior revisão
foi a quarta DSM-4 publicada em 1994, apesar de uma
“revisão textual” ter sido produzida em 2000. O DSM-5
(anteriormente conhecido como DSM-V) foi publicado em 18
de maio de 2013 e é a versão atual do manual. Deste modo
será evidente que existe uma linguagem para descrição dos
fenômenos psicóticos. Ha intensa pesquisa na descrição e
tratamento delas , sabe-se a evolução do quadro,
prognósticos e tratamentos.
Por outro lado a questão da Emergência Espiritual
ainda não ha um consenso, pois agrupa alguns conjuntos de
sinais e sintomas que o próprio nome engloba questões
emergências como urgências e questões que emergem do
sujeito naquele momento, recordando o que são as
emergências espirituais segundo Groff , que as definiu
como estágios de crise e de uma transformação psicológica
profunda que envolve todo ser da pessoa, (transformação
esta que toma a forma não comum de consciência e envolvem
emoções internas, alterações sensoriais, pensamentos
incomuns e varias manifestações físicas). Em um conceito
mais comum, a emergência espiritual pode ser entendida
como um amadurecimento de uma pessoa uma maior saúde
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emocional e psicossomática, maior liberdade de escolhas e
uma sensação de ligação profunda com outras pessoas, com
a natureza e o cosmos. Uma parte importante é o despertar
da dimensão espiritual da vida e no esquema universal das
coisas.
Em um segundo momento, para melhor compreensão dos
diagnósticos diferencias, será importante entender, a
priori, alguns conceitos básicos de psicopatologia como
alucinações e ilusões e também deveremos compreender o
que são os delírios e as alterações de pensamento. Desta
forma ficara mais simples de compreender e caracterizar a
s Psicoses e diferencia-las de uma Emergência
Espiritual .
Uma boa anamnese e uma avaliação do estado mental
será possível observar a alucinação que é a percepção
real de um objeto inexistente, ou seja, são percepções
sem um estímulo externo; o individuo ira relatar que a
percepção é real, tendo em vista a convicção inabalável
que a pessoa manifesta em relação ao objeto alucinado,
portanto, será real para a pessoa que está alucinando.
Então sendo a percepção da Alucinação de origem interna,
emancipada de todas variáveis que podem acompanhar os
estímulos ambientais (iluminação, acuidade sensorial,
etc.), um objeto alucinado muitas vezes é percebido mais
nitidamente que os objetos reais de fato. Tudo que pode
ser percebido pode também ser alucinado e isso ocorre,
imaginativamente, com maior liberdade de associações de
formas e objetos. Na Alucinação, por exemplo, um leão
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pode aparecer de asas, ou um caracol que cavalga um
ouriço. O indivíduo que alucina pode ter percebido,
isoladamente, cada umas das formas e, mentalmente,
combinado umas com as outras. As alucinações podem
manifestar-se também através de qualquer um dos cinco
sentidos, sendo as mais freqüentes as auditivas e
visuais. O fenômeno alucinatório se diferencia da ilusão
no que tange à existência de estímulo externo já que na
alucinação não há estímulo e na ilusão o estímulo é
percebido de forma deformada, ou em uma simplificação a
ilusão é um “engano” dos sentidos.
O fenômeno alucinatório tem conotação muito mais
mórbida que a ilusão, sendo normalmente associado ao
estado Psicótico que ultrapassam a simplicidade de um
engano dos sentidos; o que na Emergência Espiritual tem
outras descrições e características. Na alucinação o
envolvimento psíquico é muito mais contundente que nos
estados necessários à ilusão, todavia nem todas as
convicções falsas podem ser consideradas delírios. Se
estiver relacionada, por exemplo, com falta de cultura ou
conhecimentos podemos falar em ignorância. As convicções
filosóficas ou religiosas também não podem ser
consideradas delírios, ainda que algumas pessoas elas
sejam erradas. Neste caso nos casos das Emergências
Espirituais será considerado todo o antecedente e
histórico prévio do individuo , suas crenças e valores,
os quais poderão estar envolvidos diretamente na crise da
Emergência espiritual.
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O pensamento constitui a base da nossa atividade
psicológica, que orienta e integra as representações
(imagens) e os outros dados elaborados pelo conhecimento
(idéias) em juízos e conceitos, os quais podem ser
concretos ou abstratos.
No delírio, os mecanismos associativos do indivíduo
fogem da realidade e da lógica, podendo levar o mesmo a
formar juízos e raciocínios anormais e originando
porventura alucinações, percepções delirantes ou ideias
delirantes. Apresentam-se como características gerais dos
delírios a sua resistência e irredutibilidade perante a
lógica e a experiência; a sua tendência crescente e
difusão por toda a consciência, tornando-se o centro de
toda a vivência do indivíduo; a falta de auto-consciência
do doente relativamente à perturbação. Assim, a idéia ou
tema delirante é a realidade privada do doente e que o
separa da comunidade onde a realidade dos indivíduos sãos
é a sua percepção sociocultural e situacional dos pontos
comuns e em acordo.
A partir do entendimento das alucinações poderemos
pensar do que se trata as psicoses, que são distúrbios
psiquiátricos graves onde a pessoa perde contato com a
realidade, emite juízos falsos (delírios), podendo também
apresentar alucinações (ter percepções irreais quanto a
audição, visão, tato), distúrbios de conduta levando à
impossibilidade de convívio social, além de outras formas
bizarras de comportamento.
O termo Psicose é empregado para se referir à perda
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do juízo da realidade e a um comprometimento do
funcionamento mental, social e pessoal, normalmente
levando a um prejuízo no desempenho das tarefas e papéis
habituais.
As Psicoses podem ter várias origens, como:
lesões cerebrais,
tumores cerebrais,
esquizofrenia,
SPAs (substancias psicoativas),
infecções,
distúrbios metabólicos,
entre outras comorbidades.
Na CID-10 os Transtornos Psicóticos são
classificados como (F20-F29). Este agrupamento reúne a
esquizofrenia, a categoria mais importante deste grupo de
transtornos, o transtorno esquizotípico e os transtornos
delirantes persistentes e um grupo maior de transtornos
psicóticos agudos e transitórios.
Os transtornos esquizoafetivos foram mantidos nesta
seção, ainda que sua natureza permaneça controversa.
Historicamente o termo "esquizofrenia" foi criado em 1911
pelo psiquiatra suíço Eugem Bleuler com o significado de
mente dividida. Ao propor esse termo, Bleuler quis
ressaltar a dissociação que às vezes o paciente percebia
entre si mesmo e a pessoa que ocupa seu corpo.
As esquizofrenias podem ser classificadas em:
Esquizofrenia paranóide
Esquizofrenia Hebefrenica
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Esquizofrenia Catatonica
Esquizofrenia Simples e
Esquizofrenia residual
Esquizofrenia Paranóide: Este tipo de é o mais comum
e também o que responde melhor ao tratamento. Diz-se, por
causa disso, que tem prognóstico melhor. O paciente que
sofre esta condição pode pensar que o mundo inteiro o
persegue, que as pessoas falam mal dele, têm inveja,
ridicularizam-no, pensam mal dele, elas têm intenções de
fazer-lhe mal, de prejudicá-lo, de matá-lo, etc. Trata-se
dos delírios de perseguição. Não é raro que este tipo de
paciente tenha também delírios de grandeza, idéias além
de suas possibilidades: "Eu sou o melhor cantor do mundo.
Nada me supera. Nem Frank Sinatra é melhor". Esses
pensamentos podem vir acompanhados de alucinações,
aparição de pessoas mortas, diabos, deuses, alienígenas e
outros elementos sobrenaturais. Algumas vezes esses
pacientes chegam a ter idéias religiosas e/o políticas,
proclamando-se salvadores da terra ou da raça humana.
A esquizofrenia hebefrênica: Neste grupo se incluem
os pacientes que têm problemas de concentração, pouca
coerência de pensamento, pobreza do raciocínio, discurso
infantil. Às vezes, fazem comentários fora do contexto e
se desviam totalmente do tema da conversação. Expressam
uma falta de emoção ou emoções pouco apropriadas, rindo-
se a gargalhadas em ocasiões solenes, rompendo a chorar
por nenhuma razão em particular, etc. Neste grupo também
é freqüente a aparição de delírios (crenças falsas), por
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exemplo que o vento move na direção que eles querem, que
se comunicam com outras pessoas por telepatia, etc.
A esquizofrenia catatônica: É o tipo menos freqüente
de esquizofrenia. Apresenta como característica
transtornos psicomotores, tornando difícil ou impossível
ao paciente mover-se. Talvez passe horas sentado na mesma
posição. A falta da fala também é freqüente neste grupo,
assim como alguma atividade física sem propósito.
A esquizofrenia simples: Também é pouco freqüente.
Aparece lentamente, normalmente começa na adolescência
com emoções irregulares ou pouco apropriadas, pode ser
seguida de um paulatino isolamento social, perda de
amigos, poucas relações reais com a família e mudança de
caráter, passando de sociável a anti-social e terminando
em depressão. Nesta forma da esquizofrenia não se
observam muitos surtos agudos.
A esquizofrenia residual: Este termo é usado para se
referir a uma esquizofrenia que já tem muitos anos e com
muitas seqüelas. O prejuízo que existe na personalidade
desses pacientes já não depende mais dos surtos agudos.
Na Esquizofrenia assim cronificada podem predominar
sintomas como o isolamento social, o comportamento
excêntrico, emoções pouco apropriadas e pensamentos
ilógicos.
Apesar desta classificação, é bom destacar que os
pacientes esquizofrênicos nem sempre se encaixam
perfeitamente numa de estas categorias. Também existem
pacientes que não se podem classificar em nenhum de os
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grupos mencionados.
A estes pacientes se pode dar o diagnóstico de
Esquizofrenia Indiferenciada.
Outra patologia a ser diferenciada são os quadros de
alterações do humor e podem ser caracterizados como
Transtorno Afetivo Bipolar que leva este nome por causa
da alternância de dois estados emocionais básicos: a
alegria e a tristeza.
Assim como acontece nas doenças físicas, que muitas
vezes representam excesso ou falta de algum elemento
normalmente presente no corpo, muitas doenças da mente
também representam alterações para mais ou para menos de
aspectos emocionais comuns. O equivalente doentio da
alegria recebe o nome de mania e o da tristeza,
depressão.
Estes equivalentes doentios dos aspectos emocionais
constituem o que se denomina polos. Como são dois,
entende-se o termo bipolar. O estado de bipolaridade é
característico do chamado transtorno afetivo bipolar, e é
caracterizado pela alternância de fases de tristeza e
alegria doentias, conhecidas respectivamente como
depressão e mania, de onde vem o antigo nome de Psicose
Maníaco Depressiva.
Diferente do que ocorre nas situações normais,
estas alternâncias não acontecem em resposta a estímulos
externos que explicariam os estados emocionais. Em alguns
casos, essas alternâncias podem ocorrer no mesmo dia ou
na mesma hora.
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As conseqüências decorrem em grande parte da
inconstância emocional. Mesmo quando o quadro clínico não
é dos mais graves, torna-se difícil para a pessoa ter
segurança de que, dentro de algum tempo estará bem para
cumprir um compromisso assumido. Uma situação não rara
relacionada à perda da crítica ou capacidade de
julgamento é uma tendência aos gastos exagerados (que
podem levar o patrimônio de uma família ou empresa à
ruína). Outro aspecto que pode dificultar o
relacionamento com uma pessoa no estado positivo ou de
euforia é a tendência da pessoa apresentar sentimentos de
grandiosidade e a incapacidade de aceitar limites. Ou se
achar com poderes espirituais ou dons sobrenaturais.
No polo oposto, da depressão, a tendência é a visão
negativa do rotineiro, a auto recriminação, a autoestima
rebaixada, levando até mesmo a ideias de auto eliminação
(suicídio).
Algumas pessoas com transtorno bipolar apresentam
hipomania. Durante os episódios de hipomania, a pessoa
pode apresentar um aumento de energia e níveis de
atividade que não são tão intensos como na mania ou ele
ou ela podem apresentar episódios que duram menos de uma
semana e não necessitam atenção em unidades de urgência.
Uma pessoa durante um episódio hipomaníaco pode se sentir
muito bem, ser altamente produtiva e funcionar bem. Esta
pessoa pode não sentir que há algo errado mesmo quando
sua família e amigos notam que estas mudanças de humor
podem ser um transtorno bipolar. Sem o tratamento
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adequado, entretanto, pessoas com hipomania podem
desenvolver quadros graves de mania e depressão.
Durante um episódio ou estado misto, os sintomas
frequentemente incluem agitação, sono perturbado, grandes
mudanças no apetite e pensamentos suicidas. Pessoas em
estado misto podem sentir-se muito tristes ou sem
esperança e ao mesmo tempo extremamente energizadas.
Algumas vezes, uma pessoa com episódios graves de
mania ou depressão apresenta sintomas psicóticos também,
como alucinações e delírios. Os sintomas psicóticos
tendem a refletir o estado extreme de humor da pessoa.
Por exemplo, sintomas psicóticos em uma pessoa durante o
episódio maníaco podem incluir a crença de que ele ou ela
é uma pessoa famosa, tem muito dinheiro ou poderes
especiais. Da mesma maneira, alguém durante um episódio
depressivo grave pode acreditar que está falida ou que
cometeu um crime muito grave.
Como resultado, portadores de transtorno bipolar com
sintomas psicóticos podem ser erroneamente diagnosticados
como tendo esquizofrenia, outro transtorno mental grave
ligado a delírios e alucinações. E neste caso estamos
ressaltando a importância do diagnostico para compreensão
de uma emergência espiritual.
Outro diagnostico diferencia importante seria o
Transtorno do Humor Induzido por Substância que é uma perturbação
proeminente e persistente do humor, considerada como
devido aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância
psicoativa SPA (droga de abuso, medicamento, outros
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tratamentos somáticos). Dependendo da natureza da
substância e do contexto no qual os sintomas ocorrem a
perturbação pode envolver humor depressivo ou acentuada
diminuição do interesse ou prazer, ou humor elevado,
expansivo ou irritável; podem apresentar características
esquizofreniformes ou não.
Embora a apresentação clínica da perturbação do
humor possa lembrar a de um Episódio Depressivo Maior,
Episódio Maníaco, Misto ou Hipomaníaco, não são
satisfeitos todos os critérios para um desses episódios.
Os sintomas devem causar sofrimento clinicamente
significativo ou prejuízo no funcionamento social ou
ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo. Em alguns casos, o indivíduo pode ainda ser
capaz de funcionar, mas apenas com um esforço
acentuadamente aumentado.
Portanto, os quadros psicóticos são bem descritos e
estruturados do ponto de vista de classificações e
sintomas, além de varias pesquisas em termo de sua
fisopatogenia. Por outro lado as Emergências Espirituais
ha uma descrição do ponto de vista do fenômeno. Alguns
autores descrevem a partir de suas próprias experiências
e associam a explicações associadas ao percurso
individual, a um processo de expansão de consciência e o
melhor prognostico apos a experiência do fenômeno. Assim
algumas descrições podem ser agrupadas e descritas como
já vimos ser um estado que pode ser assustador e
extremamente difícil, mas possui um imenso potencial de
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cura e transformação. A evolução pode ser dolorida,
exige muita energia, força, e coragem para seguir
adiante, resistindo as forças do ego que deseja manter a
aparente paz e tranqüilidade das coisas. Não ha
descrições fisiopatológicas portanto a pessoa que está
passando por este momento evolutivo necessita de
orientação e cuidados especializados de um profissional
preparado para lidar com a situação, que possa a auxiliar
a passar por um processo de forma que gere o máximo de
crescimento possível. E para tal é muito importante
conhecer quais os possíveis fatores que podem ter
desencadeado a emergência espiritual:
- Causa física: Uma doença, acidente, operação,
esforço físico extremo ou insônia prolongada. Também
devido a uma experiência sexual de muita intensidade;
Mulheres podem ser após o parto, um aborto espontâneo ou
provocado; ou algum evento estressante para ela.
- Causa Emocional: Perda de um filho ou parente
próximo, fim de um relacionamento amoroso ou divórcio,
assim como uma sucessão de fracassos, como demissão e
perda de propriedade entre outros.
- Em pessoas predispostas o desencadeador pode ser
uma experiência com substâncias psicoativas ou uma sessão
de psicoterapia experimental.
- Práticas Espirituais: Este parece ser um dos
principais fatores desencadeantes da emergência
espiritual, como a meditação, ativação de experiências
espirituais, prática do zen, meditação budista Vipassana,
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ioga Kundalini, exercícios sufis, ou através da oração e
contemplação cristã. Estes eventos estão diretamente
relacionado aos valores, a cultura e na crença da pessoa.
As emergências espirituais se manifestam de formas
distintas em cada indivíduo, mas é possível definir
certas formas principais de emergência espiritual
descrita por autores e pesquisadores do tema, pois estas
são dotadas de características específicas que as
distinguem umas das outras. É comum a sobreposição e
combinação de diferentes tipos de emergência espiritual.
As formas mais importantes de "emergência
espiritual" são:
A Crise Xamânica
O xamanismo é a mais antiga religião e arte curativa
da humanidade. A Crise Xamânica geralmente está associada
com o surgimento de doenças desconhecidas (geralmente de
cunho neurológico ou psiquiátrico), que levam a uma total
inconsciência (estado de coma) ou a sofrimentos físicos e
psicológicos intensos. Nesse estado surgem sonhos
repletos de mensagens, premonições, visões de morte,
jornadas ao mundo inferior, experiências de morte e
renascimento, aniquilação pessoal que envolve um encontro
de forças de decadência e destruição que por fim levam a
reconstituição física. Então, de forma inexplicável, se
desperta curado. A doença torna-se, assim, um veículo
para um plano mais elevado de consciência, em que o xamã
percebe que a energia dele é muito maior do que ele
próprio percebia e, aliando sua experiência ao
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conhecimento sagrado recém-adquirido, passa a realizar
curas e mudanças no mundo físico. A crise xamânica
reflete o mais alto chamado para as culturas nativas e
nela está sua natureza curadora e benevolente.
Vimos exemplos em que americanos, europeus,
australianos e asiáticos de hoje passaram por episódios
bastante semelhantes a uma crise xamânica. Além dos
elementos de tortura física e emocional, de morte e de
renascimento, esses estados envolvem experiências de
ligação com animais, plantas e forças elementais da
natureza. As pessoas que passaram por essas crises também
manifestam tendências espontâneas de criação de rituais
idênticos aos praticados por xamãs de várias culturas.
O Despertar da Kundalini
A kundaliní (termo sânscrito que pode ser traduzido
como serpentine ou enrroscada) é uma forma de energia
cósmica latente no corpo humano, concentrada na base da
coluna vertebral, na região dos órgãos genitais. As
manifestações dessa forma de crise são encontradas na
literatura védica hindu. Pode ser ativada pela meditação,
por exercícios específicos, pela intervenção de um mestre
espiritual que tenha a sua kundaliní desperta e,
raramente, por razões desconhecidas.
Quando despertada, a Kundalini é conduzida pelo
sistema nervoso central até ao cérebro, despertando e
ativando os canais do "corpo sutil" (ou centros de
energia). A medida que sobe, ela abre os centros de
energia psíquica, os chakras. A abertura dos chakras é um
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importante evento pois há mudanças na consciência e na
mente. Com o despertar da kundaliní ocorre também o
desenvolvimento da inteligência criativa, maior
expressividade, estados espandidos de consciência e
aprimoramento das faculdades supramentais. Uma
reorganização das nossas prioridades e afetos assim como
a percepção qualitativa das nossas experiências se
modifica com o despertar da Kundalini.
Os indícios mais extremos do despertar da Kundalini
são manifestações físicas e psicológicas chamadas kriyas.
As principais manifestações do despertar da Kundalini
são:
(1) Sensações poderosas de calor e energia subindo ao
longo da espinha, associadas com tremores violentos,
espasmos e movimentos serpeantes;
(2) Fortes ondas de emoções aparentemente imotivadas,
tais como, ansiedade, raiva, tristeza, enlevo jubiloso ou
extático, riso ou choro involuntários, sensações
orgásticas, estados de indescritível paz e tranqüilidade,
depressão, ansiedade e agitação relacionada com sensação
de insanidade ou morte;
(3) Comportamentos involuntários e freqüentemente
incontroláveis. O indivíduo pode assumir espontaneamente
posições de Yôga (ásanas) e gestos com as mãos (mudrás).
Vocalizações de mantras (cânticos) ou canções, falar em
línguas estranhas ou emitir sons vocais desconhecidos ou
animalescos;
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(4) Visões de símbolos geométricos, de luzes brilhantes e
radiantes, complexas visões de seres arquétipos, tais
como santos, divindades, demônios e seres mitológicos
(5) Percepção de fenômenos acústicos que parecem vir do
interior e que incluem uma variedade de sons;
(6) Experiências que remetem lembranças de vidas
passadas.
Episódios de Consciência Unitiva ("Experiências
Culminantes")
Nos estados pertinentes a esse grupo, ocorre a
dissolução das estruturas egóicas fronteiras pessoais,
surgindo a sensação de unidade com o outro, com a
natureza ou com todo o universo. As propriedades de tempo
e de espaço são transcendidas e a pessoa pode vivenciar a
natureza do infinito ou da eternidade. As emoções
associadas com esses estados variam de sensação de
felicidade, grande prazer, paz e serenidade.
Abraham Maslow, que estudou essas experiências em
centenas de pessoas, deu-lhes o nome de "experiências
culminantes". As experiências culminantes geralmente
trazem um refinamento da consciência mediante o mundo e a
expressão plena espontânea de habilidades e potenciais
(auto-realização).
Renovação Psicológica por meio do Retorno ao Centro
A experiência de quem passa por um processo de
retorno ao centro são tão anormais que facilmente se
diagnostica como sendo uma séria enfermidade que afeta o
funcionalidade do cérebro.
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A psique dessas pessoas parece um colossal campo de
batalha, onde é travado um combate entre forças duais;
forças do bem e as forças do mal, ou entre as forças da
Luz e as das Trevas. Temas de morte - o assassinato, o
ritual, o sacrifício, o martírio e o pós-vida.
Recriam eventos fantásticos com magnitudes cósmicas.
Seus estados visionários tendem a levá-las ao passado,
reconstruindo a sua própria história e a história da
humanidade, dirigindo-se para a criação do mundo e para o
estado paradisíaco ideal original, lutando por perfeição
e tentando corrigir as coisas erradas do passado.
Depois deste período de caótica perturbação, as
experiências vão se tornando cada vez mais agradáveis,
dirigindo-se para uma resolução. O processo costuma
culminar na experiência do "casamento sagrado", seja com
um parceiro arquetípico imaginário ou projetado numa
pessoa real idealizada (aspectos masculinos e femininos
entrendo em equilíbrio).
Nos estados visionários, o Self manifesta-se como uma
fonte de luz de beleza sobrenatural, como pedras
preciosas, pérolas, jóias radiantes e outras variações
simbólicas semelhantes.
Quase sempre existe uma construção que eleva a
pessoa a uma exaltada condição humana, ou a um estado
superior à condição humana... um grande líder, um
salvador do mundo ou até mesmo o Senhor do Universo. Isso
costuma estar ligado a profundo renascimento espiritual e
a morte da morte.
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Quando da complementação e da integração, o
indivíduo em geral concebe um futuro ideal; um novo mundo
governado eticamente, com justiça e amor. Com a redução
da intensidade do processo, a pessoa percebe que todo o
drama era uma transformação psicológica limitada
basicamente ao mundo interior do protagonista principal.
O resultado positivo desses episódios e os seus
ricos vínculos com símbolos arquetípicos da história
antiga o tornam livre de uma caótica disfunção cerebral.
A Crise de Abertura Psíquica
No decorrer de emergências espirituais de todos os
tipos, é comum o aguçamento das capacidades intuitivas e
a presença de fenômenos "paranormais". Porém, em alguns
casos, a precognição, a telepatia ou a clarividência
ficam intensos e perturbadores que domina o quadro e
constitui um grande problema para quem vive a emergência
espiritual e para os demais que convivem com o indivíduo.
Na abertura psíquica, são freqüentes as experiências
de saída do corpo (consciência desloca-se do corpo) A
pessoa pode relatar que se observou a certa distância ou
testemunhar o que está acontecendo a quilômetros de
distância. A viagem fora do corpo é comum em situações de
proximidade da morte.
Capacidades telepáticas podem ocorrer por
apresentarem maior sensibilidade aos processos dos outros
durante a emergência espiritual. A précognição correta de
situações futuras e a clarividência de eventos remotos
podem ocorrer.
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Em experiências consideradas "mediúnicas", tem-se a
sensação de perda da identidade e consecutiva adoção de
outra identidade, traduzida por mudanças na linguagem
corporal, dos sentimentos e até dos processos mentais. O
súbito aparecimento de uma nova identidade pode ser
assustador.
Sincronicidades (“coincidências” entre o mundo
interior e fenômenos do mundo exterior) são
particularmente comuns nessas crises.
Experiências com vidas passadas
Dentre o mais dramático e coloridos episódios que
ocorrem em estados de consciência incomuns estão as
experiências com vidas passadas. Nessas experiências as
emoções e sensações físicas são extremamente intensas e,
retratam com ricos detalhes pessoas, circunstâncias e
ambientes históricos. Seu aspecto mais notável é um
sentido de lembrança pessoal e de revivescência de algo
que já se viveu antes. Essa experiência é compreendida
como uma situação vivida anteriormente, de outra vida,
que necessita ser completado (carma=ação incompleta).
Existem várias formas de lidar com esses conteúdos
que emergem a consciência, basicamente eles precisam ser
compreendidos, expressarem sentido de explicação e serem
incluídos ou conciliados com as nossas crenças e valores
da vida atual.
Pode ser uma experiência que oferece, por si, muitas
explicações como dificuldades de relacionamento, medos
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irreais, aversões e atrações, problemas psicossomáticos
obscuros, surgimento súbito de sensações corporais,
visões intensas ou emoções sem sabermos o significado,
pois essas experiências não estão totalmente conscientes
para se tornarem manifesta, por isso elas percebem, mas
desconhecem o significado ou a causa.
Esses padrões de comportamentos precisam ser
compreendidos e completados, como que se a partir da
experiência, a pessoa não precisasse mais ter esse
padrão, ele não vale mais para essa vida (completando o
carma).
Obtidas as explicações, compreendidas nas suas
funções do aqui agora é momento de conciliá-las com
crenças e valores tradicionais da civilização ocidental.
Trabalho considerado desafiador.
O autor observa que quando o indivíduo passa por
essa poderosa experiência, há um alívio ou eliminação
completa de dores psicossomáticas agudas, depressão,
fobias, asma psicogênica, enxaqueca entre outros.
Comunicações com espíritos-guia e "canalização"
Podemos ter como experiência, uma relação pessoal
com um “ser” dito desencarnado, dotado de extraordinária
sabedoria, que assume a posição de mestre, de guia, de
protetor. Esse “ser” pode se manifestar através da forma
humana, ou uma fonte radiante de luz ou deixar sentir sua
presença. Sua comunicação direta é através do pensamento,
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há casos em que essa comunicação é feita de forma verbal
ou através de outro processo extrasensorial.
A principal razão, por que essas experiências podem
desencadear uma séria crise é a natureza e a qualidade
confiável dessa canalização de assuntos que o receptor
jamais esteve exposto. Neste caso, é uma prova inegável
da existência de realidades espirituais que pode levar a
uma confusão filosófica que tinham uma visão científica
convencional.
Outra fonte de problema desta relação é o indivíduo
acreditar que, por haver essa comunicação com seres de
elevada sabedoria, acreditar que foi escolhido para
desempenhar uma especial missão e se identificar,
ocorrendo a inflação do seu ego.
Experiências de proximidade da morte
Nas experiências de proximidade da morte, pessoas
que foram consideradas clinicamente mortas, mas que
recuperaram a consciência, contaram suas histórias para
Raymond Moody que colheu 150 relatos de pessoas que
viveram essa mesma experiência.
Dentre os relatos, Moody observou que havia uma
semelhança das situações vividas, muitos descreveram ter
visto seu próprio corpo, como se a sua consciência
flutuasse livremente sobre a cena, de poder ter uma
revisão de toda a vida de forma vívida e condensada que
dura alguns segundos. Outros descreveram a visualização
de um túnel de luz e, de um encontro com um ser de imenso
amor, onde receberam uma lição sobre a existência e as
24
leis universais tendo a oportunidade de examinar seu
próprio passado, podendo ter uma nova chance para viver
uma vida mais congruente e determinada compatível com os
princípios que aprendeu.
Essas experiências com a morte podem levar a
experiência de emergência, por causar alterações nas
crenças sobre a realidade, levando a pessoa a viver uma
aventura visionária que despedaça a realidade conhecida.
Experiências de contatos próximos com OVNIs
Carl Gustav Jung dedicou um estudo especial ao
problema dos “discos voadores”, referindo que esses
fenômenos poderiam ser produto de visões arquetípicas do
inconsciente coletivo da humanidade.
Há relatos de visões de luzes de natureza estranha,
raptos que incluem exames físicos e experiências
científicas, considerados torturas inimagináveis.
A emergência ocorre, pois essas pessoas acreditam
que possam ter atraído o interesse de seres superiores e
muito mais evoluídos que a humanidade por que, devem
possuir algum dote especial. Como ocorre na canalização e
comunicação com espíritos guias há uma inflação do ego.
Estados de possessão
As pessoas que passam por essa experiência sentem
que sua psique e seu corpo foram invadidos por algo de
fora de sua personalidade, algo perturbador, demoníaco e
hostil. O problema pode se manifestar como uma séria
psicopatologia, envolvendo um comportamento anti-social e
até criminoso (depressão suicida; a agressão assassina;
25
autodestruição; impulsos sexuais promíscuos ou
desviantes; uso excessivo de álcool e drogas).
É possível identificar na psicoterapia quando há uma
possessão, quando o indivíduo apresenta algumas
características como: rosto contraído, olhos com
expressão selvagem, mãos e o corpo produzem estranhas
contorções, a voz pode alterar-se. Para esse estado, é
feito um trabalho como o exorcismo na sessão, com um
terapeuta apto para dominar tal situação e para que seja
realizado com benefício para o indivíduo.
A emergência espiritual é um estado relatado que
pode ser assustador e extremamente difícil, por outro
lado possui um imenso potencial de cura e transformação;
a evolução é dolorida, exige muita energia, força, e
coragem para seguir adiante, resistindo as forças do ego
que deseja manter a aparente paz e tranqüilidade.
2. Tendo em vista o texto “Psicose”, o que Saldanha nos
diz a respeito de psicose, êxtase místico e
emergência espiritual ?
Segundo Saldanha, do livro “ A psicoterapia
Transpessoal” refere a Psicose como um estado de
consciência, a qual possui sua própria linguagem e que
devemos percebe-la numa extensão mais ampla. Relata
também que o nível de sensibilidade do individuo
psicótico será intenso e que muitas vezes este incorpora
patologias de outros membros da família ou ate da
sociedade em que ele vive. ( acaba expressando sintomas e
26
emoções que não são deles). Descreve também que nestes
casos ha possibilidades de percepções paranormais e ou
extra-sensoriais. Neste caso estes indivíduos seriam
chamados de místicos, iluminados ( no oriente), santos,
médiuns ou mestre ( no ocidente) em diferentes tradições.
Relata também algumas diferenças sutis descrevendo que,
muitas vezes, este individuo considerado iluminado como
manifestação da consciência cósmica, será vivenciado de
forma temerosa sendo acompanhado por sentimentos de
persecutoriedade e medos avassaladores (ego frágil lê
desestruturado do psicótico). O psicótico não permite
delinear o eu do outro, seu mundo interno e o externo.
Na questão do Êxtase Místico descreve o individuo que
tem plena consciência de estar vivenciando o seu
sofrimento, suas angustias pessoais, ou estar vivenciando
a angustia do outro, o flagelo da humanidade. Ha um
discernimento e ao mesmo tempo um sentimento de
beatitude, sentido do sagrado incorporado em suas
experiências, sem busca de ganho ou aprovação pessoal.
(no caso do psicótico, este será extremamente dependente
de aprovação e reconhecimento do outro, e ao mesmo tempo
desconfiado deste reconhecimento).
Os individuais que relatam vivencias de experiência
cósmica, usualmente conseguem delimitar bem o eu e o
outro, seu mundo interno e o externo. Trasmutam a energia
do medo, na forca da coragem e no poder do amor,
desenvolvem um ego forte ou estruturado, mas também abrem
mão deste ego, vivenciando níveis de expansão de
27
consciência que são experiências de dissolução do ego,
será a vivencia da unidade cósmica. Eles tem o ego mas
perdem-no circunstancialmente . (o psicótico vive a perda
de algo que não chegou a existir para ele e entra em
profundo estado confusional).
J. campbell, afirmou que místico e psicótico seriam
como se estivessem no mar infinito da mente humana,
contudo o místico sabe nadar, o psicótico não. A
Emergência espiritual o individuo sabe o que será
possível nadar , mas ainda esta aprendendo e por isso
sente grande medo as vezes.
Na plena consciência, sombra e luz fazem parte de um
continum.; as polaridades são integradas em perfeita
sinergia. Ha então a emergência de uma grande forca e bem
aventurança.
Na Emergência Espiritual fica evidenciado as angustias
existenciais do individuo, onde apresenta sintomas
similares ao quadro psicótico, mas que são vivenciados de
transição entre a psique materialista, reducionista e o
despertar da própria natureza transpessoal do individuo.
Ha um alento, uma perspectiva melhor em relação a
psicose.
3. Resenhar a oficina transcrita de David Lukoff:
“Emergência espiritual e problemas espirituais”
Na oficina “Emergencia Espiritual e problemas
espirituais” David Lukoff lembrou que Freud dizia ser a
religião um sistema de ilusões, desejos, juntamente com
28
uma negação da realidade, como dificilmente se vê em
outro contexto, mas que também traz uma sensação imensa
de bem estar, bem-aventurança.
Citou Skinner dizendo que em seus seiscentos artigos e
quinze livros, nunca pronunciou sobre religião, mas em
seu romance "Walden II", há um personagem que diz que
religião é uma ficção explicativa e que oração é um
comportamento supersticioso reforçado por um reforço
intermitente; ou seja, há a possibilidade de um pedido
feito durante uma prece ser aleatoriamente respondido e
que dentro de uma abordagem cognitiva-comportamental,
pode-se dizer que o que existem são metas, objetivos e
intenções mas jamais a existência de figuras de devoção
ou crenças como Santa Klaus, fadas e outros. Citou que no
"New England Journal of Medicine" de junho/2002, foi
publicado um artigo intitulado "Religious Activities?" o
qual trazia a preocupação com as amplas generalizações
que vem sendo feitas sobre bases limitadas a respeito das
questões referentes à religiosidade das pessoas. Em
função disso questiona-se se os médicos devem discutir
com seus pacientes sobre suas preocupações espirituais.
Lembrou que S. Peck diz que a negligência sobre as
questões da espiritualidade gerou cinco amplas falhas:
1) Erros de diagnóstico ;
2) Erros de tratamento ;
3) Aumento da má reputação dos psiquiatras ;
4) Pesquisas e teorias inadequadas ;
5) Limitação no próprio desenvolvimento pessoal dos
29
psiquiatras .
Em 1990 David Lukoff começou a trabalhar também na
mudança dessa mentalidade, a abrir o campo da saúde
mental para as questões da espiritualidade.
Desse trabalho surge no DSM IV (Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais – 4ª edição , da
Associação Psiquiátrica Americana) a categoria
diagnóstica Problema Espiritual ou Religioso (Emergência
Espiritual).
De acordo com o DSM-IV, a categoria Z71.8 Problema
Religioso ou Espiritual [V62.89] deve ser usada quando o
foco de atenção é um problema religioso ou espiritual.
Exemplos incluem: experiências negativas que implicam
perda ou questionamento da fé, problemas associados com
conversão a uma nova religião, questionamento acerca dos
valores espirituais que podem não estar necessariamente
relacionados com uma igreja organizada ou instituição
religiosa (American Psychiatric Association, 1996).
A definição de «problemas espirituais» no DSM-IV inclui
o questionamento de valores espirituais, não
necessariamente relacionados com uma igreja organizada ou
instituição religiosa, bem como o inesperado e estranheza
da própria experiência (e.g., experiências místicas,
experiências de quase-morte, experiências meditativas,
etc.). Para algumas pessoas, pode envolver o
questionamento do seu inteiro modo de vida, o propósito
de viver e a fonte de desígnio.
Há pequenas variáveis entre os problemas considerados
30
religiosos e os problemas espirituais. Os problemas
religiosos que se enquadram na categoria acima citada do
DSM-IV são:
Problemas Religiosos :
1) Perda ou questionamento da fé;
2) Mudança de filiação e de práticas religiosas
(incluindo conversão);
3) Associação a novos cultos e movimentos religiosos;
4) Problemas espirituais (que serão melhor esclarecidos
a seguir);
5) Em casos de doença ou grandes perdas, as pessoas
perdem sua fé ou ao contrário, acabam por tê-la
fortalecida.
A presença de um ou mais dos problemas acima geraria um
diagnóstico de Depressão dentro de uma abordagem
psiquiátrica clássica, porém hoje, o diagnóstico deveria
ser de "Perda de Fé" e sua terapia deveria incidir sobre
este ponto: a perda da fé. Entao comentou que nos EUA há
muitas religiões e que aquelas que são pequenas quanto ao
número de seguidores, em geral, acabam por isolar muito
seus fiéis, facilitando certos tipos de problemas
psíquicos e religiosos. Portanto, este é um tipo de
problema cada vez mais comum e ao qual precisamos estar
atentos.
Listou quais são os tipos de problemas espirituais:
Tipos de Problemas Espirituais :
1) Perda, questionamento ou mudança de valores
espirituais;
31
2) Experiências místicas/aberturas psíquicas;
3) Despertar da Kundalini;
4) Experiências de possessão;
5) Crises xamânicas/Abduções por OVNIs (UFOs);
6) Experiências de EQM (Experiências de Quase Morte);
7) Experiência "visionária" – considerar como
experiência momentânea de visão e que é positiva para a
pessoa;
8) Doenças graves ou terminais.
Ressaltou que 80% das religiões do planeta crê em
possessões, que 1% da população norte-americana relata
ter sido vítima de abdução e 15% relata ter visto OVNIs.
Citou Barkley ao comparar escritos de místicos e
esquizofrênicos :
1) Sensação de ser transportado de uma realidade normal
para uma nova realidade;
2) Comunhão com o Divino;
3) Perda do Self-object que é a sensação de não estar
limitado ao seu corpo;
4) Sensação noética – nova percepção da realidade;
5) Sensação distorcida do tempo;
6) Mudanças perceptuais;
7) Alucinações;
8) Ampliação de Consciência. Como se vê é difícil
diferenciar entre ambos, místicos e esquizofrênicos.
A fim de ilustrar, usou frase de Ed Podvoll sobre
doença mental e experiência religiosa: "Há concordância geral entre os que a tiveram (experiência religiosa) que as
verdades religiosas são compreendidas, as verdades religiosas que são as dos padres dos
32
desertos e dos mestres".
E ainda mais outra frase de um capelão de um hospital
psiquiátrico sobre a genuína experiência espiritual: "Eu achei suas histórias tão genuínas, bem acreditáveis. Suas experiências do Divino e do
espiritual são saudáveis e trazem vida ".
Citou porcentagens conforme mostrou Gallup Poll, a
experiência das pessoas com alguma "presença" (no sentido
de Ser espiritual) ou com Deus, vem aumentando ao longo
do tempo:
1973 – 27% de relatos;
1986 – 42% de relatos;
1994 – 54% de relatos.
4. Descreva um caso real ou hipotético e apresente
conduta para inicio de acompanhamento na AIT.
Apresentar e justificar os recursos da AIT indicados
para o caso e apresente encaminhamentos se houver
necessidade.
Segue um relato parcial de um paciente (descreverei
somente os sintomas pertinentes a esta questão, nao
enfocarei a anamnese, nem o exame psíquico e tao pouco o
história pregressa da questão atual).
Jovem de 25 anos com quadro de alteração de humor, que passou a
questionar a sua vida e existência, sua família e hábitos. Deixou o emprego e
a faculdade. Mudou os seus hábitos rotineiros e em seguida passou a
acreditar em sentir espíritos na sua casa , os quais os guiavam em sua rotina,
justificando as alterações de comportamento.
33
Este foi o motivo central que fez com que o paciente
fosse levado por familiares a uma avaliação. As
alterações de humor ou mudanças de comportamento são
sintomas relativamente comuns que fazem com que as
pessoas procurarem ajuda. E neste caso, será importante
um olhar atento para questões psicopatológicas e as
questões intrínsecas do ser. Sabe-se há séculos que
muitos episódios dramáticos e difíceis podem ocorrer
durante a prática "espiritual" e que o caminho para a
"iluminação" pode ser doloroso e tempestuoso (S. Grof &
C. Grof, 1995).
Esta "loucura santa" ou "loucura divina", é conhecida e
apreciada por várias tradições espirituais, pois é vista
como uma forma de intoxicação pelo divino que proporciona
habilidades extraordinárias e instrução espiritual. No
sofrimento do paciente havia um discurso , místico –
religioso associado. Estas "emergências espirituais"
podem ser definidas como estágios críticos e
experimentalmente difíceis de uma transformação
psicológica profunda, que envolve todo o ser da pessoa.
Tomam a forma de estados incomuns de consciência e
envolvem emoções intensas, visões e outras alterações
sensoriais, pensamentos incomuns, assim como várias
manifestações físicas (C. Grof & S. Grof, 1994).
Em casos comuns, os conflitos ocorrem entre os impulsos
"normais", entre estes e o "eu" consciente, ou entre a
pessoa e o mundo exterior (em particular com as pessoas
próximas, como os pais, o parceiro ou os filhos).
34
Contudo, os conflitos podem ocorrer também entre algum
aspecto da personalidade e as tendências e aspirações
progressivas e emergentes de caráter moral, religioso,
humanitário ou espiritual. E, não é difícil determinar a
sua presença uma vez que se reconheçam a sua validade e a
sua realidade, em vez de descartá-las como meras
fantasias ou sublimações (Assagioli, 1997).
Diante desta situação, os diagnósticos diferenciais e a
avaliação das queixas e sintomas serão importantes, visto
que os componentes mais problemáticos e alarmantes
comumente enfrentados pelas pessoas em emergência
espiritual são:
sentimentos de medo,
sensação de solidão,
experiências de loucura e
preocupação com a morte.
Esses episódios giram em torno de assuntos
espirituais, incluem: sequências de morte e renascimento
psicológico,
experiências que parecem memórias de vidas
passadas,
sensações de união com o universo,
encontro com diversos seres mitológicos e
outros temas semelhantes.
A estranha qualidade desses conceitos e a intensidade
com que uma pessoa os apresenta pode induzir colegas,
amigos e membros da família a afastarem-se, e a sensação
de solidão, já presente, aumenta. Os seus interesses e
35
valores podem mudar, e a pessoa talvez não queira mais
participar de certas atividades. O súbito interesse por
orar, cantar, meditar ou por qualquer sistema esotérico
(por exemplo a Astrologia ou a Alquimia) parecerá
estranho à família e aos amigos, podendo aumentar a sua
necessidade de afastamento (C. Grof & S. Grof, 1994).
Em suma, o desenvolvimento espiritual é uma longa e
árdua jornada, uma aventura por estranhas terras plenas
de surpresas, de alegrias e de beleza, de dificuldades e
até de perigos. Envolve o despertar de potencialidades
até então adormecidas, a elevação da consciência a novos
domínios, uma drástica transmutação dos elementos
"normais" da personalidade e um funcionamento no âmbito
de uma nova dimensão interior. De uma maneira geral, a
emergência de tendências espirituais pode ser considerada
o resultado de pontos decisivos do desenvolvimento, do
"crescimento" da pessoa (Assagioli, 1997).
Diante destas características num acompanhamento na AIT
será importante reconhecer o cenário para caracterizarmos
o eixo experiencial da pessoal e melhor prognostico num
eixo evolutivo. Aplicando as sete etapas sera possível,
neste caso investigar o que entendemos por "emergência
espiritual" que é, obviamente, um jogo de palavras,
referindo-se à crise ou "emergência", que se pode unir à
transformação e à ideia de "emersão", e sugerindo a
grande oportunidade que essas experiências podem oferecer
para o crescimento pessoal e para o desenvolvimento de
novos níveis de consciência (C. Grof & S. Grof, 1994).
36
Entao ha critérios de distinção entre uma perturbação
mental e uma emergência espiritual. Polónio (1997)
destaca que: "o diagnóstico das doenças psiquiátricas
está ainda sobrecarregado de preconceitos que levam a
reações emocionais prejudiciais aos doentes, à família e
à sociedade".
De acordo com Crombach (citado por Simões, 1992), seriam
somente patológicos os estados modificados de
consciência, que ocorressem sem ser desejados
(espontâneos) e quando:
1. Surgem como forma vivencial dominante, na vida
quotidiana;
2. Se evitam soluções adequadas à vida quotidiana;
3. Na situação da sua vivência, não há ou existem poucas
subestruturas cognitivas ou sociais para lidar com o
evento.
Lukoff et al. (1996), sugeriram usar bons indicadores de
prognóstico para ajudar a distinguir entre uma
psicopatologia e experiências espirituais autênticas. Os
critérios que foram usados para identificar os indivíduos
que estavam a atravessar uma emergência espiritual que
tinha traços psicóticos incluem:
1. Bom funcionamento antes do episódio psicótico;
2. Início agudo de sintomas durante um período de 3 meses
ou menos;
3. Houve estressores precipitantes do episódio psicótico;
4. Existe uma atitude exploratória positiva em relação à
experiência.
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Os indivíduos que se encontram nestes critérios para
uma emergência espiritual devem ser tratados com
psicoterapia transpessoal, a hospitalização deve ser
evitada e a medicação deve ser reduzida ao mínimo (Lukoff
et al., 1996).
Esta posição alternativa a uma psicopatologia
taxonômica clássica, encontra-se ainda em estádio
rudimentar e o seu desenvolvimento está dependente de
fatores sociais (moda, aceitação geral, etc.) e
transculturais, ou seja, a difusão de estados modificados
de consciência na cultura ocidental, de valores e
experiências já aceites por outras sociedades (Simões,
1996).
Em suma, os estados modificados de consciência não
são patológicos em si mesmos, isto é, decorrem de um
contexto, freqüentemente mágico, religioso ou curativo,
sendo integrados na cultura que os propicia (Simões,
1997).
De qualquer modo sera importante avaliar e
caracterizar tais mudanças de comportamento para melhor
entendimento e contextualização do quadro.
Além disso, os estados modificados de consciência
têm geralmente a duração de minutos ou horas, o que os
diferencia da maioria das doenças psiquiátricas (Simões,
1996).
Contudo, os estados visionários perderam o seu
caráter de valioso complemento dos estados de consciência
comuns, sendo tomados por distorções patológicas da
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atividade mental (S. Grof & C. Grof, 1995).
Cada caso deve ser estudado com um olhar crítico e
abertura de espírito, tendo na devida consideração todas
as alternativas.
Portanto, mesmo com a proposital breve descrição do
caso quis ressaltar a inicial conduta na AIT que seria a
escuta, o reconhecimento da dor e questionamentos do
paciente. Ouvir a família e suas considerações. Verificar
possíveis psicopatologias e fazer seus respectivos
diagnósticos diferenciais. Então validando as observações
e dando continência as experiências e visão do paciente
aplicar as sete etapas da AIT para um melhor prognostico
visto todas as discussões salientadas .
PROTOCOLO DE ENTREGA DE TRABALHO
TURMA V 2013-15
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