Post on 06-Feb-2023
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
UMA DISCUSSÃO A RESPEITO DOS BENEFÍCIOS
ECONÔMICOS DA GESTÃO AMBIENTAL
Helena Mendonça Faria
ORIENTADOR: Prof. Dr. Rogério José da Silva
CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. Edson de Oliveira Pamplona
Programa de Pós graduação em Engenharia de Produção-
Escola Federal de Engenharia de Itajubá
Av. BPS, 1303- Bairro Pinheirinho- 37500-000 Itajubá MG
SUMÁRIO:
AGRADECIMENTOS
1- INTRODUÇÃO
2- OBJETIVOS
3- METODOLOGIA
4- A QUESTÃO AMBIENTAL
5- NORMAS E LEIS AMBIENTAIS BRASILEIRAS
6- GESTÃO AMBIENTAL
7- ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E MEIO AMBIENTE
8- ECONOMIA E MEIO AMBIENTE
9- VALORAÇÃO AMBIENTAL
10- CONTABILIDADE AMBIENTAL
11- MÉTODOS DE AVALIAÇÃO ECONÔMICA DO MEIO AMBIENTE
12- ALGUNS PEQUENOS ESTUDOS DE CASO
13- CONCLUSÃO
14- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
1- INTRODUÇÃO:
Sabe-se que a gestão ambiental vem ganhando um espaço
crescente no meio empresarial. O desenvolvimento da consciência
ecológica em diferentes camadas e setores da sociedade mundial
acaba por envolver também o setor empresarial. Naturalmente não
se pode afirmar que todos os setores empresariais já se encontram
conscientizados da importância da gestão responsável dos
recursos naturais. Entretanto, segundo Wladmir Netto Ungaretti:
existem indicativos de que tem crescido o nível de preocupação
com as questões ambientais no setor empresarial brasileiro, porém
a incorporação da variável ambiental por parte de alguns setores
industriais ainda se limita às exigências dos sistemas de
fiscalização do poder público. A introdução da variável ambiental
na gestão empresarial tem estado sujeita ainda à muitos fatores
de ordem política e conjuntural. Segundo este mesmo autor as
contradições geradas pelos inúmeros desníveis da sociedade
brasileira, bem como a imposta inserção no processo de
globalização, fazem da variável ambiental um fator determinante
em alguns setores, mas em outros não.”( UNGARETTI, W. N. 1.998,
p. 34.). Isto significa que alguns setores empresariais tem
motivos mais determinantes para realizarem investimentos em
gestão ambiental. Pode-se afirmar que a maior parte das empresas
instaladas no Brasil e ligadas ao mercado internacional tem como
demanda competitiva ou até mesmo de sobrevivência a adoção de
algum tipo de gestão ambiental. E por terem razões mercadológicas
mais fortes para investirem em gestão ambiental acabam sendo
pioneiras. Esta afirmação pode ser mais uma vez confirmada pela
afirmação de UNGARETTI. Este autor afirmou que foi possível
realizar uma constatação em seu trabalho: “os setores
empresariais com melhor desempenho ambiental são aqueles
submetidos, por razões de mercado, às exigências do processo de
internacionalização da economia. Importadores pressionados por
consumidores pressionam as empresas nacionais.” ( UNGARETTI, W.
N. 1.998, p. 34.).
Uma vez que existem fatores conjunturais, macroeconômicos e
políticos que determinam a adoção de Sistemas de Gestão
Ambiental- seja de que espécie for- pelo segmento empresarial, a
mudança destes fatores interfere no número de empresas que
investem em gestão ambiental. Mas, ainda que alguns setores não
estejam atentos às demandas do mercado a tendência de maiores
investimentos por parte do setor empresarial em gestão ambiental
é dada pela própria conscientização crescente por parte de
consumidores, governos, empresas, organizações não
governamentais, ou seja por parte da sociedade a respeito da
questão ambiental.
Muitas vezes os investimentos em gestão ambiental são
direcionados por fatores competitivos, mas existem fatores
diversos que determinam a realização de investimento em gestão
ambiental por parte das empresas, dependendo de sua realidade.
O setor empresarial brasileiro despertou para importância e
necessidade de produzir adequando-se a preservação ambiental,
quando: a) Houve a criação de normas internacionais para a
mensuração da qualidade ambiental, aliada à grande concorrência
internacional exigindo a adequação ambiental das empresas
multinacionais e de empresas exportadoras; b) Ocorreu uma
modificação na legislação ambiental, tornando-se esta mais
restritiva, ao mesmo tempo, em que iniciou-se uma intensificação
da fiscalização; c) Tornou-se visível o grande mercado vinculado
à proteção ambiental incluindo oportunidades de negócios como:
produtos e equipamentos antipoluentes, equipamentos ligados a
energias renováveis, equipamentos de saneamento básico, produtos
rurais ligados à agricultura orgânica, setores que exportam para
o primeiro mundo, reciclagem de materiais industriais e resíduos
sólidos, etc.(FARIA, H. M. 1.998)
Sabe-se que os investimentos em gestão ambiental são
crescentes e que Sistemas de Gestão Ambiental são cada vez mais
adotados por empresas nacionais e multinacionais. O número de
empresas que já implantaram sistema de Gestão Ambiental no Brasil
gira em torno de 140 empresas certificadas pela Norma ISO14000
até setembro de 1.999. Existe então na realidade um macro
investimento em gestão ambiental. Estes investimentos crescentes
podem ser explicados por vários fatores, entre os quais podemos
citar: maior conscientização da sociedade exigindo uma postura
responsável do setor produtivo; legislação mais restritiva;
competitividade; novas oportunidades com a abertura de “mercados
verdes”. Na verdade o desenvolvimento da questão ambiental e da
conscientização das pessoas a respeito da escassez de recursos
naturais leva a uma maior preocupação com as questões ambientais.
Assim, empresários e até mesmo investidores que antes viam a
gestão ambiental como mais um fator de aumento de custos do
processo produtivo, se deparam com vantagens competitivas e
oportunidades econômicas de uma gestão responsável dos recursos
naturais. Neste trabalho pretende-se esclarecer como detectar as
vantagens econômico -financeiras oferecidas pelos investimentos
em gestão ambiental. Esta tarefa não se constitui em um caminho
fácil a percorrer.
Modelos econômicos, métodos e princípios contábeis tem sido
desenvolvidos para que se possa realizar uma análise econômica do
meio ambiente, porém são ainda pouco empregados, mesmo quando se
tem uma urgência em utilizá-los, quando existe a consciência de
que o desenvolvimento econômico deve ser ‘sustentável’. A
contabilidade nacional, a economia, a administração são campos de
pesquisa que ainda caminham no sentido de incorporar a variável
ambiental em seus estudos.
Os argumentos apresentados a seguir por Henrique Rattnerilustram a crescente interpenetração da questão ambiental emdiversos campos profissionais e científicos:
“ Os economistas defendem a análise de custo-benefício, taxa de desconto,preços reais (referentes aos custos de recuperação por danos ambientais),auditoria ambiental, eventualmente, uma nova metodologia para as contasnacionais. Os sociólogos insistem na necessidade de se consultar e pesquisar asopções sociais, questionando-se sobre a disposição da sociedade em pagar pelaproteção e conservação de determinados recursos naturais ou pela instalação dedepósitos de lixo que representam riscos à saúde. Cientistas e tecnólogosreivindicam maiores verbas para a pesquisa e desenvolvimento de ciênciasbásicas e de tecnologias de ponta, tentando seguir os padrões e copiar ou repetiros projetos de cientistas dos países desenvolvido. Constituem juntamente com oshomens de negócio, um lobby forte para a transferência de tecnologias( equipamentos, investimentos, etc.)dos países desenvolvidos para os países emdesenvolvimento. Um número crescente de companhias e executivos começa a
ver as questões ambientais como um campo novo e interessante deinvestimentos, ao menos por razões de marketing e de imagem perante opúblico. Os banqueiros e os conglomerados financeiros percebem oportunidadespara lucros imensos advindos das preocupações ambientais e das transaçõesinternacionais, através da transferência de dotações de conversão das dívidasexternas de proteção ao meio ambiente. (RATTNER, H. 1.994.)
Alguns estudos a respeito do “desenvolvimento sustentável”
esbarram nas concepções de sociedade e de estado atuais e alguns
autores ressaltam que os problemas ambientais enfrentados por
toda a sociedade tem como causa os modelos políticos e de
estrutura de poder vigentes que são excludentes, deixando grande
parte da população em condições muito baixas, para não dizer
insustentáveis de vida. Rattner ressalta que as soluções para os
problemas ambientais são simples e não necessitam do
desenvolvimento de novas tecnologias, as existentes dariam conta
das demandas atuais, ficando assim a responsabilidade de tomadas
de decisões a respeito do desenvolvimento sustentável mais
determinantemente uma questão de decisões políticas e sociais
conjuntas ( RATTNER, H. 1.994). Assim a busca de um
desenvolvimento sustentável passa por reformulações maiores do
que apenas mudanças de modelos de gestão, mudanças de sistemas
contábeis e métodos de avaliação econômica, ainda que estes sejam
imprescindíveis para se viabilizar um determinado projeto. Só
será possível realizar tal mudança com uma mudança de consciência
social e política. Este fato não rouba a importância do
desenvolvimento atual de tais pesquisas uma vez que a sociedade
não muda bruscamente, mas sim atravessando períodos de transição.
Portanto ainda que o investimento por parte do setor privado em
ações ambientalmente corretas não traga soluções para graves
problemas sociais enfrentados principalmente em países em
desenvolvimento como o Brasil, estas ações geram aspectos
positivos para a sociedade, pelo menos no sentido da não
continuidade de ações altamente destrutivas quanto ao aspecto
ambiental.
A maior preocupação ambiental visualizada em nosso presente
é conseqüência de problemas concretos enfrentados pela sociedade
tanto no passado quanto no presente. Os níveis de consumo atual
não são considerados sustentáveis. No atual momento a natureza dá
sinais evidentes de exaustão como os chamados problemas globais:
Efeito estufa que exerce influência negativa no clima do planeta,
escassez de água, extinção de espécies causando desequilíbrio,
escassez de alimentos e energia, etc. Mesmos sem as estatísticas
pode-se detectar as mudanças pelas quais a sociedade passa
observando a vida cotidiana, as cidades, a escassez de espaços
naturais a população pobre crescente.
A situação atual do nível de conservação dos recursos
naturais e previsões para o futuro próximo não são positivas.
Organizações como a ONU já afirmaram diversas vezes números a
este respeito. Pode-se citar por exemplo dados relacionados às
reservas de água do Planeta: “Dentro de 25 anos, aproximadamente,
um terço da população mundial enfrentará graves desabastecimentos
de água informou a Organização das Nações Unidas “(HOULDER, V.
março de 1.999). Mudanças são necessárias para que estas previsões
não se efetuem. Ainda que as mudanças envolvam toda a sociedade o
setor produtivo tem em suas mãos grandes responsabilidades, que
com a maior conscientização dos consumidores serão cada vez mais
exigidas deste setor seja através de leis ou de mecanismos do
próprio mercado. Torna-se claro que a mudança de consciência é
necessária para que as sociedades atuais atinjam um
desenvolvimento sustentável e grande responsabilidade a respeito
deste desenvolvimento se encontra nas mãos do setor produtivo.
Para as empresas que estão iniciando a inclusão da variável
ambiental em suas atividades, através da Gestão Ambiental por
motivos diversos persistem algumas dúvidas. Este trabalho
pretende responder à algumas indagações referentes à gestão
ambiental. Entre as quais pode-se citar: A gestão ambiental traz
resultados econômicos positivos aos empresários que nela
investem? Como os resultados dos investimentos em gestão
ambiental podem ser mensurados? A partir de estudos relativos a
valoração da variável ambiental e da realização de pequenos
estudos de caso pretende-se elucidar melhor esta questão ainda
que não se tenha a pretensão de se esgotar este assunto, uma vez
que todas as áreas de conhecimento atuais tem como demanda
incluir em suas pesquisas preocupações com a manutenção dos
estoques de recursos naturais devido as previsões a respeito da
escassez para o futuro.
2- OBJETIVOS:
Este trabalho tem como objetivo principal discutir a respeito
dos benefícios econômicos trazidos pela gestão ambiental. Faz-se
necessário esclarecer que não é objetivo principal deste trabalho
discutir a relevância da opção das empresas por adotarem Sistemas
de Gestão Ambiental, uma vez que se considera que esta opção seja
socialmente determinada- quando se trata por exemplo da
observância da legislação pertinente ao meio ambiente- ou mesmo
determinada pelo mercado- quando se trata por exemplo de se visar
algum tipo de vantagem competitiva. Entretanto esta discussão
estará presente no desenvolvimento deste trabalho pontuando todos
os capítulos.
Podem ser citados também alguns objetivos secundários porém
fundamentais no sentido de trazer esclarecimentos essenciais ao
objetivo principal. Entre estes podemos citar:
1- Dissertar a respeito dos conceitos referentes à economia e
contabilidade ambiental;
2- Oferecer uma visão inicial dos métodos existentes de valoração
ambiental;
3- Discutir os principais aspectos da gestão ambiental, tais como
sua caracterização e formas de implantação.
Torna-se necessário esclarecer que estes objetivos secundários
apresentados acima fazem parte de teorias e conceitos novos
nestas áreas de estudo portanto não se pretende apresentar um
trabalho aprofundado destes mesmos conceitos e sim aspectos que
sejam relevantes ao objetivo principal deste trabalho.
4- A QUESTÃO AMBIENTAL
O estudo do tema ambiental tem como aspecto fundamental a
interdisciplinaridade. Muito ainda se caminha no sentido de se
tratar a questão ambiental de forma adequada. Entretanto: “ as
evidências empíricas já acumuladas sobre os impactos ecológicos
das ações humanas parecem colocar em xeque as formas usuais de
gestão das relações sociedade-natureza.” (VIEIRA, P. F. e WEBER,
J. –org, 1.997). Em outras palavras os impactos ecológicos na
vida quotidiana das sociedades têm sido grandes, afetando a
qualidade de vida das pessoas e colocando uma interrogação nos
modelos de desenvolvimento social e econômico adotado pelas
mesmas. Para ilustrar estas afirmações é interessante observar
uma citação da comissão mundial para o meio ambiente e
desenvolvimento: “ ... na década de 70, o número de pessoas
atingidas por catástrofes ‘naturais’ a cada ano dobrou em
relação à década de 60. As catástrofes mais diretamente ligadas à
má administração do meio ambiente e do desenvolvimento- secas e
inundações- foram as que afetaram o maior número de pessoas e as
que se intensificaram mais drasticamente em termos de vítimas.
Cerca 18,5 milhões de pessoas sofreram anualmente os efeitos da
seca nos anos 60; 24,4 milhões, nos anos 70. Houve 5,2 milhões de
vítimas de inundações por ano na década de 60; 15,4 milhões nos
anos 70. .... Ainda não há dados definitivos para os anos 80.
Mas, só na África, 35 milhões de pessoas foram atingidas pela
seca, na Índia dezenas de milhões sofreram os efeitos de uma seca
mais bem administrada portanto menos divulgada. Inundações
assolaram os Andes e o Himalaia desflorestados com um vigor
sempre crescente. Ao que parece, essa tendência sinistra dos anos
80 se transformará numa crise que deverá durar toda a década de
90” ( Nosso futuro Comum, 2O ed. 1.991). Números não faltam para
que se identifique crises ambientais, assim as nações através de
organismos internacionais como a ONU, além de organizações não
governamentais têm iniciado um movimento em direção a uma nova
forma de desenvolvimento que considere o aspecto ambiental, as
reservas de recursos naturais.
Pesquisadores afirmam que “ a Terra entrou em um período de
mudanças hidrográficas, climáticas e biológicas que difere dos
episódios anteriores de mudança global, no sentido de que esta
tem uma origem humana.... ´ (STERN, P. C. ; YOUNG, O. R. e
DRUCKMAN – org.- 1.993). Existem outros períodos de mudanças
climáticas na história do planeta Terra, entretanto não tinham
como causa a ação humana. Estes mesmos pesquisadores afirmam
também que “ as mudanças globais que se agigantam no horizonte
são o caso em questão. A destruição da camada de ozônio atribuída
ao acúmulo de clorofluorcarbonos (CFCs) na estratosfera é um
efeito colateral não pretendido, proveniente das atividades
industriais humanas. O aumento do dióxido de carbono atmosférico,
uma tendência que se tem acelerado desde o começo da revolução
industrial, é motivado pelo crescente uso de combustíveis fosseis
e pela eliminação das florestas. E a perda da diversidade
biológica é um subproduto das várias atividades humanas inclusive
da derrubada de florestas tropicais úmidas para fins agrícolas “
(STERN, P. C. ; YOUNG, O. R. e DRUCKMAN – org.- 1.993). Todos
estas mudanças tem impactos negativos para a vida humana.
Não se pode ignorar as discussões e ações referentes a
questão ambiental presentes no momento atual da humanidade. Estas
ações são atuais, uma vez que assumem um destaque maior não
observado na história recente da humanidade. Uma das
característica mais importante dos problemas ambientais
enfrentados pela sociedade atual é o fato de estes problemas têm
como agente e sofredor da ação ou seja causa e efeito o próprio
homem. Os pesquisadores STERN, YONG e DRUCKMAN afirmam que: os
sistemas humanos e os sistemas ambientais encontram-se em dois
pontos: onde as ações humanas proximamente causam mudança
ambiental, ou seja, onde elas alteram diretamente aspectos do
meio ambiente, e onde as mudanças ambientais afetam diretamente
aquilo que os seres humanos valorizam (STERN, P. C. ; YOUNG, O.
R. e DRUCKMAN – org.- 1.993). Quando se percebe as influências
das ações humanas nas mudanças ambientais do planeta, por outro
lado também pode-se observar contra-ações ou reações no sentido
de se controlar estas mudanças. ‘ Por exemplo, depois que as
pessoas aprenderam que os CFCs que se elevam para a estratosfera
destruiriam a camada de ozônio lá existente e ameaçariam a saúde
humana, fizeram esforços para diminuir o uso industrial ou
comercial destes produtos químicos.” (STERN, P. C. ; YOUNG, O. R.
e DRUCKMAN – org.- 1.993). Estas reações humanas que podem
alterar o curso das mudanças ambientais globais são instrumentos
para se diminuir ou eliminar as conseqüências negativas que tais
mudanças já trouxeram ou podem trazer para a saúde e qualidade de
vida das populações.
Desde a conferência de Estocolmo em 1972, onde, pela
primeira vez foram discutidas amplamente, em fórum internacional,
as questões ambientais apresentam papel gradualmente mais
abrangente, perante as nações. A partir deste evento
disseminaram-se: previsões de aumento de consumo de energia e
recursos naturais no mundo e o esgotamento destes mesmos
recursos. “Cerca de 25% da população mundial consome 75% da
energia primária, 75% dos metais e 60% dos alimentos, produzidos
no mundo, com vantagem dos países industrializados sobre os não
industrializados, verificando-se ao mesmo tempo um crescimento da
pobreza; escassez de recursos naturais essenciais para atividades
humanas, como a água; e a crise urbana.” (SEBRAE/96)
Todas estas constatações e previsões levaram a uma nova
abordagem da questão ambiental, que se torna mais presente na
vida dos cidadãos.
A necessidade de conciliar desenvolvimento econômico e
preservação ambiental, duas questões que antes eram tratadas
separadamente, levam a formação do conceito de desenvolvimento
sustentável, que surge como alternativa para a comunidade
internacional, e ganha notoriedade a partir do relatório “Nosso
Futuro Comum” da Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, em
1987(SEBRAE, 1996).
A consciência de que é necessário tratar com racionalidade
os recursos naturais, uma vez que estes podem se esgotar,
mobiliza a sociedade no sentido de se organizar para que o
desenvolvimento econômico não seja predatório, seja sim,
sustentável.
Em 1987, foi convocada pela Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente
e Desenvolvimento, a Conferência das Nações Unidas para o meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD), que aconteceu em 1992, no Rio de Janeiro.
Esta conferência contou com a participação de órgãos
governamentais internacionais, e teve a participação paralela de
setores independentes da sociedade como Organizações não
Governamentais ( ONGs) agregados no chamado Fórum Global. Esta
conferência produziu os documentos: “Carta da Terra”, com 27
princípios básicos e a “ Agenda 21”, um amplo programa com a
finalidade de dar efeito prático aos princípios aprovados durante
a mesma.
No Brasil a evolução da “Questão Ambiental” iniciou-se com
um caráter preservacionista, na década de 60. Em Estocolmo, em
1972, o governo Brasileiro foi o principal organizador do bloco
de países em desenvolvimento que tinham uma posição de
resistência ao reconhecimento da problemática ambiental,
considerando mais importante o crescimento econômico. É definido
então, que a problemática ambiental deve se ater ao controle de
poluição e preservação de algumas amostras de ecossistemas
naturais. (VIOLA E LEIS,1.990)
Com a crescente preocupação interna- através de entidades
ambientalistas - e externa, para que o Brasil apagasse a imagem
negativa de 1972, a problemática ambiental toma rumos mais amplos
na sociedade brasileira, formando um movimento que envolve o
Estado, a comunidade e finalmente, no final da década 80 e
durante os anos 90, o setor empresarial.
O setor empresarial passou a exercer papel importante no
sentido de orientar investimentos e a gestão de processos
produtivos, segundo critérios de proteção e uso adequado do meio
ambiente.
Diante deste contexto, é indiscutível que a questão
ambiental exerce papel importante no mercado, na sociedade,
influencia governos, consumidores e o setor empresarial.
Ainda que se tenha um caminho longo a percorrer para que se
chegue a uma forma sustentável de desenvolvimento e os problemas
alertados pelos pesquisadores sejam considerados uma urgência
dado o nível de destruição apresentados para os recursos
naturais, os primeiros passos vêm sendo dado e o setor
empresarial é um importante segmento para que estas ações se
concretizem.
5- NORMAS E LEIS AMBIENTAIS BRASILEIRAS:
5.1- ASPECTOS IMPORTANTES DA LEGISLAÇÃO
AMBIENTAL BRASILEIRA:
A legislação brasileira oferece normas e leis relativas à
conservação e gerenciamento dos recursos naturais. Estabelece
responsabilidade civil, penal e administrativas para os
responsáveis por danos ao meio ambiente. Está também incluída
nesta legislação a forma de organização dos órgão gestores do
meio ambiente sejam eles fiscalizadores ou consultivos e
deliberativos.
A partir da constituição de 1988, passou a existir no Brasil
instrumentos jurídicos para qualquer cidadão inferir no processo
de degradação ambiental, confirmando a tendência à maior
regulamentação ambiental para o funcionamento das empresas. A
constituição dedica o capítulo VI ao meio ambiente e no artigo
170, condiciona a ordem econômica, entre outros princípios, ao da
defesa do meio ambiente. ( SEBRAE/ 96). As constituições
estaduais também dedicam capítulos ao tema ambiental e remetem
para a legislação ordinária que regulamenta essas disposições
constitucionais. ( VALLE, C. E., 1.995). Segue-se a seguinte hierarquia
na legislação brasileira, em ordem decrescente: Constituição;
Lei; Lei Ordinária e Decreto. Sendo que este último deve estar
relacionado à uma lei determinada regulamentando-a.
Através da lei 6.938 de 1981, o poder público dispõe de
instrumentos para assegurar o direito ao meio ambiente
equilibrado, tais como: avaliação do impacto ambiental, o
licenciamento ambiental e a revisão de atividades efetivas ou
potencialmente poluidoras, o zoneamento ambiental e a
fiscalização. Esta lei dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá
outras providências. O decreto que a regulamenta é o de n º
99.274 de 1.990.
A nova Lei de crimes ambientais, sancionada em 12 de
fevereiro de 1998, pelo presidente da República, responsabiliza
pelos crimes contra o meio ambiente a pessoa jurídica e a pessoa
física responsável. Propõe penalidades mais severas; variando de
penas restritivas de direitos para a pessoa jurídica, tais como:
I- Suspensão parcial ou total de atividades, II interdição
temporária de estabelecimento, obra ou atividade, III.- proibição
de contratar com o poder público, bem como dele obter subsídios,
subvenções ou doações; à multas e detenção, para a pessoa física
responsável. Esta nova lei porém teve que esperar cerca de um ano
para ser regulamentada pelo Decreto n º 3.179, de 21 de setembro
de 1.999. Este decreto dispõe sobre a especificação das sanções
aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e
dá outras providências. Entre outras coisas define o valor de
multas e sua correção monetária e tipo de multa a ser imposto
como sanção em cada infração. Como por exemplo em seu art. 2 º ,
define que as infrações administrativas são punidas com:
advertência; multa simples; multa diária.
Houve um desenvolvimento significativo de legislação ambiental
brasileira. Na história desta evolução cita-se como importantes
marcos a constituição de 1.988, a Lei 6.938 de 31 de agosto de
1.981. Considera-se também um importante marco no desenvolvimento
da legislação brasileira relativa ao meio ambiente a Lei n º
9.605 ou a Lei de crimes ambientais, sancionada em 12 de
fevereiro de 1998. Esta Lei sistematizou adequadamente, numa só
ordenação, as normas de direito penal ambiental, possibilitando o
seu conhecimento e a sua execução pelos entes estatais. ( SALES,
M. 1.999). Ou seja, expondo a responsabilidade e penalidades para
atos em desfavor do meio ambiente, esta lei ainda estabeleceu
penas e multas tanto para pessoa jurídica quanto para pessoa
física responsável pela degradação ambiental estabelecida em seu
escopo.
Esta Legislação vem evoluindo à medida em que a sociedade se
torna mais complexa e exige instrumento legais eficazes para
regê-la em diferentes esferas. Ivan Lira de Carvalho afirma que
variadas e incertas são as razões da inserção na constituição
federal de 1.988 de artigos preocupados em compatibilizar a
atividade privada produtiva com a preservação ambiental e
menciona como provável fatores pressões de Organizações Não
Governamentais comprometidas com as questões ambientais e a
migração de indústrias mais poluentes para países do terceiro
mundo, uma vez que os países mais desenvolvidos tendem à não mais
aceitar estas indústrias. Afirma ainda que: “qualquer que tenham
sido o motivo que deu razão à inserção, na Constituição Federal,
de normas atinentes ao meio ambiente- direta ou indiretamente-, o
certo é que elas existem, estão em pleno vigor e desafiam uma
correta aplicação, para que atinjam os fins perseguidos.”
(CARVALHO, I. L de. 2000).
A legislação atual têm aspectos importantes a serem
observados, entre eles o da responsabilidade por danos
ambientais. Um princípio importante presente nos domínios do
Direito Ambiental é o princípio do poluidor- pagador que impõe ao
poluidor o dever de arcar com as despesas de prevenção, reparação
e repressão da poluição, estabelecendo que o causador da poluição
ou da degradação dos recursos naturais deve ser o responsável
principal pelas conseqüências de sua ação. Este princípio ocorre
independente de ter o causador do dano culpa” (CARVALHO, I. L de.
2000). “O Diploma legal básico para o tratamento do dano
ambiental no Brasil é a Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente, n º 6.938/81, cujo art. 14, § 1 º, reza que ‘o poluidor é
obrigado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos
causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade .’”
( KRELL, A.. J. 2.000). É ainda importante observar que os danos
ambientais podem estar acompanhados de danos pessoais e
patrimoniais. “No Brasil de hoje o dano ambiental, raramente é
alegado perante o Judiciário como prejuízo próprio, meramente
individual de determinado cidadão, ressarcível somente com os
meios do processo civil clássico.(...) o objeto lesado é a face
da propriedade privada ou a saúde individual do bem comum meio
ambiente. Nessas ações privadas a responsabilidade do poluidor é
objetiva, ou seja ele deve ser responsabilizado independentemente
da existência de culpa. Por exemplo, a propriedade rural do
fazendeiro F foi invadida por seu inimigo P que tocou fogo numa
área remanescente de Mata Atlântica e despejou veneno no açude
matando a fauna aquática. F pode abrir uma ação civil comum
contra P, exigindo indenização pelo dano material que ele sofreu
( valor comercial da madeira e dos peixes , mais danos morais).
Além disso, é possível a propositura de uma Ação civil Pública
para ressarcir o dano ambiental causado à coletividade pelo
comportamento de P ( queima da floresta, deterioração do recurso
hídrico). No caso em que o agente poluidor fosse o próprio F,
para poder construir no seu terreno, por capricho ou negligência,
a Ação Civil Pública se dirigiria contra ele mesmo em virtude que
F não é dono do valor ambiental dos ecossistemas existentes no
seu terreno sendo este bem ambiental difuso, pertencendo à toda
coletividade.” ( KRELL, A.. J. 2.000). Isto faz com que a
reparação seja inevitável, sendo que se identifica no sistema
jurídico nacional uma bifurcação do dano ambiental: de uma lado
o dano público contra o meio ambiente, de natureza difusa,
atingindo um número indefinido de pessoas, sempre devendo ser
cobrado por Ação Civil Pública ou Ação Popular e sendo a
indenização dirigida a um fundo; no outro lado, o dano ambiental
privado, que dá ensejo à indenização dirigida à recomposição do
patrimônio individual das vítimas. ( KRELL, A.. J. 2.000). Este
princípio está expresso na Lei da Política Ambiental -Lei 6.938
de 1.981- onde considera em seu art. 14, § 1 º ‘ Sem obstar a
aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor
obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar
ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros,
afetados por sua atividade. (CARVALHO, I. L de. 2000). Este
princípio permanece: Ainda que a ( KRELL, A.. J. 2.000). tenha
sido revogada pela Lei 9.605/98, continua em vigor o art. 14 do
diploma antigo. Patente está, portanto que a responsabilidade
objetiva para questões ambientais permanece hígida. (CARVALHO, I.
L de. 2000).
Outro aspecto importante e polêmico da atual legislação
ambiental brasileira é o da responsabilidade penal da pessoa
jurídica por danos ambientais. Esta não estava presente na Lei
6.938 , Lei da Política Ambiental, de 1.981, que assim definia em
seu art. 3 º inc. IV:
“ o poluidor , vale dizer toda pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,responsável direta ou indiretamente por atividade causadora de degradaçãoambiental. Todavia, a pessoa jurídica não pode, ainda ser objeto de imputaçãopenal, eis que a falta de lei que discipline a matéria, regulamentando a forma doprocesso e impondo sanções.
Portanto, o poluidor deve ser pessoa física que realize
atividade causadora de degradação ambiental”, segundo a lei
anterior, citada acima. (CARVALHO, I. L de. 2000). Entretanto
esta responsabilidade esta presente na Lei 9.605/98.
Muitos juristas defendem a tese de que a culpabilidade seja
inadequada para às pessoas coletivas ou jurídica, ainda hoje,
porém Ivan Lira Carvalho afirma que “por maior que seja a nossa
defesa da tese da inadequação da teoria da culpabilidade às
pessoas coletivas, não nos é dado negar que a ordem
constitucional tutelar do meio ambiente, na norma de conteúdo
penal estampada no art. 225, § 3 º, da Carta Política, optou pela
aplicação de sanções administrativas e penais às pessoas
jurídicas. Demais disso a Lei 9.605, de 12-02-98 espanca qualquer
dúvida quanto a essa opção do legislado em seu art. 3º. afirma
que
“as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente,conforme disposto nesta lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisãode seu representante legal e contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse oubenefício da sua entidade. (...) Parágrafo único. A responsabilidade das pessoasjurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes domesmo fato.” (CARVALHO, I. L de. 2000).Assim se comprova que a responsabilidade penal da pessoa
jurídica perante a crimes ambientais está claramente observada na
Lei 9.605/98 , lei de crimes ambientais, mesmo havendo polêmicas
a respeito da possibilidade de pessoa jurídica ser
responsabilizada criminalmente e responder a processo penal.
Outro aspecto que deve ser considerado a respeito da atual
legislação ambiental brasileira diz respeito a sua
regulamentação. Observamos que a Lei anterior básica para a
política nacional de meio ambiente- Lei 6.938 de 31 de agosto de
1.981- teve uma demora considerável para ter sua regulamentação
efetivada pelo Decreto n º 99.274 de 1.990. Já a Lei de crimes
ambientais - Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1.998- diminuiu
este tempo sendo regulamentada em um período menor, pelo Decreto
3.179, de 21 de Setembro de 1.999. Existem muitas críticas ainda
com respeito à demora pela regulamentação de leis, porém há que
se considerar que houve um progresso frente ao atraso que sofreu
a regulamentação da Lei anterior. A regulamentação estabelece
detalhes da Lei como por exemplo o valor da multas a serem
cobradas por determinado dano ambiental e se constitui
instrumento essencial para efetivação de uma Lei, no atual
sistema judiciário brasileiro.
A Lei de crimes ambientais - Lei 9.605/98- recebe ainda
críticas, ainda que sejam considerados seus aspectos positivos
tais como: o reconhecimento de que o meio ambiente precisa ser
protegido juridicamente e não apenas por instrumentos
administrativos e civis ( como o licenciamento ambiental, a
reparação de danos, presentes na lei anterior); sistematização e
modernização dos tipos penais referentes ao assunto e correção e
imperfeições da Lei anterior, como, por exemplo, considerar uma
simples contravenção a derrubada de dez mil hectares de
florestas, por exemplo . Estes aspectos positivos constantes na
reportagem “Lei ambiental nasce torta segundo juristas” da
Revista IFORMA, de jan./ 2000 revela que não são faces únicas
desta Lei. Neste artigo são citadas críticas tais como: o fato
de que mesmo antes de sua promulgação esta lei sofreu muitos
vetos, especialmente advindos de grupos de interesses econômicos
representados no congresso nacional e ainda se refere a
imprecisões técnicas da Lei, conceitos vagos e violações a
Constituição. Cita também a polêmica gerada pela responsabilidade
penal da pessoa jurídica . Ainda como aspecto positivos da Lei
cita-se depoimentos de ambientalistas que afirmam que a situação
precária do ambiente pede uma legislação mais rigorosa e que a
nova Lei têm em muito ajudado.
É necessário ressaltar que imperfeições são visíveis tanto na
forma da legislação quanto em seu mecanismo de aplicação, que
representa os interesses conflitantes de grupos que formam a
sociedade brasileira atual. Entretanto a motivação para criação e
melhora da legislação é um fator concreto que deve ser estimulado
se houver interesse em se construir um futuro sustentável. Para
ilustrar esta conclusão foi tomada a liberdade de referenciar
citação uma citação Maurice Strong na obra de Carlos Gomes de
Carvalho ( 1.991):
Não há possibilidade de o mundo se unir por meio de uma ideologia comum ou deum supergoverno. A única esperança prática é de que reagirá agora a um interessecomum por sua própria sobrevivência, ao conhecimento da interdependênciaessencial de seus povos e à consciência de que uma ação cooperativa pode ampliarseus horizontes e enriquecer a vida de todos os povos.
Maurice Strong
5.2- ESTRUTURA DO SISTEMA NACIONAL DE MEIO
AMBIENTE:
É importante também esclarecer a estruturação e mecanismos
estatais pelos quais as leis são definidas fiscalizadas e
difundidas. A Lei 6.938 de 1.981 define a estrutura do Sistema
Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA - que reúne, na estrutura do
Ministério do Meio Ambienta, o Conselho Nacional do Meio Ambiente
–CONAMA-, como órgão consultivo e normativo, e o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA ), órgão executor da política federal do meio ambiente.
( VALLE, C. E., 1.995).
Os estados possuem estruturas aproximadamente equivalentes ao
nível federal. Estas são “coordenadas por uma secretaria estadual
que se ocupa do tema ambiental, e dispõe de seu conselho estadual
de meio ambiente e sua agência estadual de controle da poluição,
algumas delas constituídas como fundações, outras como empresas
públicas. As atividades de licenciamento e controle ambiental são
de atribuição dos estados e são exercidas por seus respectivos
órgãos ambientais.” ( VALLE, C. E., 1.995). No estado de Minas
Geraes, por exemplo, a Fundação Estadual do Meio Ambiente – FEAM-
é pessoa jurídica de direito público, dotada de autonomia
administrativa e financeira, vinculada à Secretaria de Estado de
Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável- SEMAD, integra, no
âmbito estadual, o Sistema Nacional do Meio Ambiente- SISNAMA-
como órgão executivo, ao lado do Instituto Estadual de Florestas-
IEF- e do Instituto Mineiro de Gestão das águas- IGAM. A FEAM
atua em nome do Conselho Estadual de Política Ambiental- COPAM.
Entre suas competências mais importantes podem ser citadas : a)
pesquisa, monitoramento e diagnóstico da poluição ambiental;
b) desenvolvimento de estudo, pesquisas, normas, padrões, bem
como prestação de serviços técnicos destinados a prevenir,
corrigir a poluição ou degradação ambiental;
c) desenvolvimento de atividades educativas, informativas junto à
sociedade;
d) apoio aos municípios na implantação e no desenvolvimento de
sistemas de gestão ambiental destinados a prevenir e corrigir a
degradação ambiental;
e) fiscalização do cumprimento da legislação de controle da
poluição ou da degradação ambiental, podendo aplicar penalidades.
Pode-se ilustrar melhor a estrutura do Sistema Nacional de
Meio Ambiente – SISNAMA- com seus órgãos deliberativos
( Conselhos) e Executivos ( Fundações ou empresas públicas) nos
níveis Federal e Estadual pela figura abaixo, utilizando como
exemplo o estado de Minas Geraes:
SISNAMAÓRGÃOS NÍVEL FEDERAL NÍVEL ESTADUAL
GERENCIADORES OU
COORDENADORES
Ministério do Meio
Ambiente
Secretaria Estadual de
Meio AmbienteCONSULTIVOS E
DELIBERATIVOS
CONAMA ( Conselho
Nacional de Meio
Ambiente)
COPAM (Conselho Estadual
de Política Ambiental)
EXECUTIVOS IBAMA (Instituto
Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis)
FEAM (Fundação Estadual
do Meio Ambiente)
Tabela 6.0: Esquema simplificado da representação organizacional do
Sistema Nacional do Meio Ambiente
É importante observar que esta figura é uma forma simplificada
de se ilustrar a estrutura do SISNAMA, regulamentada pelo Decreto
n º 99.274, de 6 de junho de 1.990. Este decreto prevê ainda em
seu artigo 3 º a existência de órgãos Seccionais federais e
estaduais que tenham atividades associadas à proteção da
qualidade ambiental ou aquelas de disciplinamento do uso de
recursos ambientais, ou execução de programas e projetos e
controle e fiscalização de atividades capazes de provocar
degradação ambiental. Neste caso, para o exemplo de Minas Geraes
pode-se citar o Instituto Estadual de Florestas- IEF- e do
Instituto Mineiro de Gestão das águas- IGAM. Ainda é necessário
esclarecer que existem diferenças entre estados e os órgão
Seccionais podem ser entidades da Administração Pública Federal
Direta e Indireta e as fundações instituídas pelo poder público.
Em nível municipal existem também órgãos que se incumbem pelo
cumprimento das Legislações de nível federal e estadual,
exercendo suas funções de controle ambiental. ( VALLE, C. E.,
1.995) Os municípios também possuem leis relativas à conservação
ambiental. Normalmente os órgão municipais assim caracterizados
são os CODEMAs ( Conselhos Municipais de Meio Ambiente) que
normalmente têm caráter deliberativo e consultivo.
5.3- EMPRESA E LEGISLAÇÃO AMBIENTALPara as empresas existem especificidades importantes a serem
consideradas na legislação ambiental brasileira, entre estas as
já discutidas acima: o princípio do poluidor-pagador e a
responsabilidade penal da pessoa jurídica frente ao dano
ambiental. De uma maneira mais simplificada Cyro Yer do Valle
resume assim o princípio do poluidor-pagador: ‘”Aquele que gera
um resíduo ou causa um impacto nocivo sobre o meio ambiente deve
arcar com os custos de sua correção- é o princípio de ‘quem polui
paga’; a responsabilidade por danos causados ao meio ambiente é
objetiva e não subjetiva. (...) isto significa que uma empresa
que cause um dano ao meio ambiente é responsável pelo mesmo
independentemente de comprovação da culpa ser sua ou de terceiros
( um funcionário ou um fornecedor, por exemplo), pela simples
existência de nexo causal entre o prejuízo e sua atividade;”
( VALLE, C. E., 1.995). A responsabilidade penal da pessoa
jurídica frente ao dano ambiental, constante da Lei 9.605/98,
alvo de polêmicas já discutida acima também é um fator
importante. Outros fatores podem ser citados também como
importantes na relação empresa/ legislação ambiental. Entre estes
o fato de que o gerador de resíduo responde pelo mesmo
indefinidamente, mesmo que esse resíduo seja transferido de
local, mudado de mãos ou depositário, ou de forma, mantendo suas
características nocivas; a necessidade de obtenção de Licença
para construção, e funcionamento de um estabelecimento
empresarial. ( VALLE, C. E., 1.995).
No setor industrial, segundo Cyro eyer do Valle “a legislação
ambiental procura controlar os problemas de contaminação do meio
ambiente a partir de três abordagens: a) a regulamentação dos
locais de produção, visando controlar, na origem , a geração e
disposição de resíduos) A regulamentação dos produtos,
estabelecendo limites para emissões, restringindo o uso de certos
materiais perigosos na fabricação etc. c) A regulamentação das
condições ambientais de forma abrangente, limitando, em casos
extremos, certas atividades que possam atuar de forma crítica em
desfavor de uma área ou região. ( VALLE, C. E., 1.995). De forma
mais simples as formas de controle da poluição contidas em lei
abrangem: controle das fontes geradoras; controle dos produtos,
controle das conseqüências. Complementam as leis básicas
direcionadoras da política ambiental - Lei 9.605/98 e Lei
6.938/81 - já apresentadas anteriormente, as resoluções do
CONAMA e normas técnicas da ABNT (Associação brasileira de normas
técnicas). Entre outras coisas, estas normas definem níveis
limites de emissões de poluentes no ar ou na água; além de
estabelecerem classificação de resíduos, estabelecimento de
métodos de análise e de amostragem e padronização de símbolos de
risco para identificar resíduos transportados ou armazenados.
O licenciamento ambiental definido pela Lei 6.938 de 1981
constitui-se importante requisito legal para o setor industrial.
Segundo esta lei aquelas atividades cujo potencial poluidor não é
considerado desprezível (segundo critérios estabelecidos pelos
órgãos estaduais responsáveis) são objeto de Licença Ambiental,
fornecida pelos órgãos estaduais do meio ambiente ou pelo IBAMA (
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente). A resolução do CONAMA n º
237, de 19 de dezembro de 1.997 estabelece em seu art. 2 º
parágrafo 1º os empreendimentos e atividades sujeitas ao
licenciamento ambiental.
As Licenças são de três tipos:
1)Licença Prévia- autorização para desenvolver o projeto do
empreendimento de acordo com as exigências ambientais;
2)Licença de instalação - requerida após a aprovação do projeto,
serve para construção do empreendimento segundo este mesmo
projeto;
3)Licença de Operação - autorização para iniciar as atividades.
Para alguns empreendimentos de maior impacto sobre o meio
ambiente são exigidos: EIA (Estudo de Impacto Ambiental) e RIMA (
Relatório de Impacto Ambiental). ‘Normalmente se detecta a
necessidade de se realizar o EIA e RIMA quando a empresa solicita
sua licença de instalação.” ( VALLE, C. E., 1.995).
O licenciamento de atividades industriais é previsto por
lei, entretanto muitos empreendimentos se encontram sem esta
regulamentação, especialmente aqueles que são estabelecimentos
antigos e se situam em cidades ou regiões onde a fiscalização é
pouco incisiva. Normalmente estes empreendimentos despertam para
a necessidade de estar em dia coma legislação quando ocorre
reclamações ou alguma demanda por parte de clientes, órgão
governamental, ou comunidade próxima.
Muitas vezes a postura do empreendedor por temor de multas e
complicação para o andamento de suas atividades o leva a não
buscar uma aproximação junto aos órgãos ambientais. É importante
observar que se trata de obrigação do órgão responsável pelo
fornecimento de Licença Ambiental o auxílio ao empreendedor para
sua adequação à legislação.
Quando se pensa sob a ótica empresarial não são apenas
multas e penalidades que a lei determina, mas também incentivos.
As empresas podem obter vantagens e incentivos se realizarem
ações para a proteção ambiental. A Lei 6.938 de 1981 pontua que:
“O Poder Executivo incentivara atividades voltadas para a
proteção ambiental” que incluem pesquisas de processos
tecnológicos destinados a reduzir a degradação ambiental, a
instalação de equipamentos antipoluidores e outras iniciativas
que propiciem a racionalização do uso dos recursos naturais.
( Sebrae, 96)
Todas estas exigências legais são indispensáveis ao
funcionamento de uma empresa, principalmente as Licenças, sem as
quais suas atividades podem ser impedidas.
Os custos para adequação às normas existem e são
inevitáveis. “Dentro de um sistema de Gestão Ambiental é bom
lembrar que o atendimento aos requisitos legais tem um custo
( custo de conformidade). Que tende a aumentar a proporção que
estes requisitos se tornam mais restritivos. Além disso, se a
empresa não tiver um sistema implementado os custos tendem a
crescer por diversos fatores como ênfase nas ações emergenciais,
pouco aproveitamento dos recursos humanos, etc.” (SEBRAE/GAZETA
MERCANTIL, 1.996)
Fica claro o risco que correm as empresas se resistirem em
dar atenção devida à questão da Gestão Ambiental. Isto pode ser
ilustrado com exemplo real de três empresas que trataram a
questão ambiental, especialmente os investimentos nesta questão,
de forma bem diferente, obtendo resultados também diversos. Este
exemplos foram extraídos do artigo “ Fica barato poluir: três
estórias” de Maria Suely Moreira (1997). Dentre as três empresas
a primeira nada investiu, a segunda manteve-se em conformidade
com a legislação e a terceira implantou um sistema de gestão
ambiental integrado, objetivando, entre outras coisas a
certificação pela norma ISO 14000. A terceira obteve
reconhecimento público e redução de custos. A Segunda não obteve
vantagens visíveis, mas evitou gastos pela não conformidade
legal, e a primeira está as voltas com um processo judicial
movido pela comunidade que pode implicar em um gasto considerável
em multas.
A maneira como adequar os investimentos em gestão ambiental
na empresa faz parte de sua estratégia, e tal estratégia, para
ser eficiente deve estar atenta às mudanças de mercado e da
sociedade. As empresa que tomaram um maior cuidado em observar a
legislação e além disso estiveram atentas às mudanças, obtiveram
melhores resultados.
6- GESTÃO AMBIENTAL:
Sabe-se que são crescentes as exigências sofridas pelas
empresas especialmente as indústrias em relação a uma postura
responsável quanto a questão ambiental. Discutiu-se a respeito
destas exigências em todos os capítulos anteriores deste trabalho
e também em sua introdução. Empresas são pressionadas por
organizações não governamentais, órgão reguladores e
fiscalisadores do governo através da legislação existente, e até
mesmo pelo mercado que incluem as entidades financiadoras como
bancos e seguradoras e também pelos próprios consumidores.
CAJAZEIRA,J. M. ( 1.998) afirma que:
“ As preocupações globais em relação às questões ecológicas foram transferidaspara as indústrias sob as mais diversas formas de pressão: Financeiras ( bancose outras instituições financeiras evitam investimentos em negócios com perfilambiental conturbado), Seguros ( diversas seguradoras só aceitam apólicescontra danos ambientais em negócios de comprovada competência em gestãodo meio ambiente), Legislação ( crescente aumento das restrições aos efluentesindustriais pelas agências ambientais), todavia a pressão dos consumidores,notadamente em países mais desenvolvidos, reflete uma autêntica paranóia porprodutos ambientalmente corretos e de certa forma estabeleceu uma suposta‘consciência verde’ ao redor do mundo, se bem que, muitas vezes, estaconsciência é galgada em fatos irreais e incorretos.” ( CAJAZEIRA, JorgeEmanuel R. 1.998)
Não se pode afirmar que a consciência ambiental é um fato
galgado em fatos irreais como afirma o autor acima citado, uma
vez que existem dados confiáveis a este respeito, teorias como o
efeito estufa são diariamente comprovadas por meteorologistas e
cientistas renomados, e outros problemas globais também são
insistentemente alertados por organismos de confiança
internacional como a ONU ( Organização das Nações Unidas ), além
de que não se precisa sair de casa para observar a qualidade do
ar nas grandes cidades e outros problemas ambientais urbanos.
Talvez o autor tenha se referido a ações como a de entidades que
lutam pela preservação de espécies, considerada como um exagero
para certos grupos, mas que tem respaldo em pesquisas
aprofundadas como a de Barbieri ( 1.998) a respeito da
Biodiversidade. Ou talvez também tenha se referido aos mecanismos
de guerra por mercados incluindo as chamadas barreiras não
alfandegárias para que se reserve mercados para determinados
produtos ou empresas. Todos estes fatos não são aqui
desconsiderados, no entanto trata-se de uma discussão a respeito
de políticas de desenvolvimento o que não é objetivo deste
trabalho.
Realmente a posição pró-ativa de industriais em relação a
questão ambiental é um fato recente. Entretanto é recente também
o impacto causado pela atividade industrial humana no meio
ambiente global. Paul de Baker afirma que: “ A empresa que até há
um século era insignificante em relação à natureza, portanto
irresponsável, tornou-se força dominante” ( BAKER, P. de. 1.995).
Este mesmo autor esclarece que a postura do empresário ou
executivo não se pode figurar entre defender ou se colocar em
antagonismo àqueles que realizam movimentos em defesa do meio
ambiente. Afirma que não se trata de defender ou atacar os
recursos naturais e sim gerenciá-los. “A gestão empresarial do
meio ambiente não é de jeito nenhum a conseqüência de uma vontade
de dominar, destruir ou antagonizar. (...) Trata-se da
conseqüência lógica da responsabilidade coletiva econômica que é
atualmente a de todos os atores e intervenientes no equilíbrio do
planeta.” Ainda afirma também que um dos principais problemas
para resolução de impasses ambientais está no não diálogo entre
estes atores. Exemplifica com uma discussão a respeito de energia
entre uma empresa energética e ambientalistas ( BAKER, P de.
1.995), abaixo reproduzida:
“ Um exemplo: EDF ( Electricé de France): a energia nuclear é a menos poluidora de todas asenergias de massa! Ecologista: Hiroshima! EDF: O controle pacífico do setor nuclear assegura à humanidade uma fonte deenergia inesgotável.Ecologista: Three-Miles-Islandas!EDF: Os procedimentos de controle que utilizamos são tão bons que excluem apossibilidade de qualquer tipo de acidente.Ecologista: Chernobyl!EDF: A gestão responsável é a melhor garantia contra qualquer tipo dedescontrole.Ecologista: Osirak!EDF: ( irritado) O que vocês querem finalmente? Voltar a idade da Pedra?Ecologista: Queremos uma energia limpa!EDF: a energia nuclear é a menos poluidora de todas as energias de massa!Ecologista: Hiroshima!” ( BAKER, P. de 1.995, p. 7).
Conclui-se que existe uma mudança na maneira de empresários
e industrias enxergarem a questão ambiental e que estes problemas
ambientais globais, não se caracterizam como responsabilidade
isolada de algum setor, e sim de todos setores da sociedade.
Autores como Denis Donaire ( 1.995 ) e Ciro Eyer do Valle
( 1.995) concordam que a influência da questão ambiental no mundo
dos empreendimentos é inegável e que as empresas que se aterem a
esta realidade podem não só deixar de perder econômica e
estrategicamente como aproveitar inúmeras oportunidades. Não se
ignora as dificuldades de se incluir em qualquer organização
conceitos novos como os envolvidos na gestão ambiental, porém
também não se pode ignorar as pressões impostas pela sociedade e
mercado. Muitas são as interpretações para as mudanças nas
organizações com relação a inclusão da variável ambiental,
entretanto a maior parte afirma que existe uma influência
determinante e crescente desta variável em todos os tipos de
organizações. A figura 6.0 abaixo ilustra a visão de VALLE, C. E.
(1.995) a respeito ponto aqui discutido:
CONSCIÊNCIA
AMBIENTAL
ABORDAGEMCONVENCIONAL
A- Assegurar lucro transferindo ineficiência para opreço do produto.
B- Descartar os resíduos da maneiramais fácil e econômica.
C- Protelar investimentos em proteção ambiental.
D- Cumprir a Lei no
ABORDAGEM CONSCIENTE
A- Assegurar lucro controlando custos eeliminando ou reduzindo perdas, fugas e ineficiências.
B- Valorizar os resíduos e maximizara reciclagem; destinar corretamente os resíduos não recuperáveis.
C- Investir em melhoriado processo e qualidade total ( incluindo a Qualidade
LUCRO
RESÍDUOS
INVESTIMENTOSSS
Figura 6.0: Mudanças na Empresa através da conscientizaçãoAmbiental. Fonte: Adaptação da Figura 4.0 de (VALLE, C E. 1.995,
p.17)
A nova visão a respeito das questões ambientais pelo setorempresarial ainda se inicia e algumas empresas são pioneirasnesta mudanças. A nova visão a respeito do meio ambiente leva aver o Meio Ambiente como oportunidade e não como um problema,define na figura acima Cyro Eyer do Valle ( 1.995). Isso faz comque benefícios sejam observados onde só se via despesas,processos judiciais, etc. Denis Donaire ( 1.995) afirma queexistem benefícios estratégicos e econômicos advindos daimplantação de Gestão ambiental. Ainda que exista dificuldadepara se estimá-los especialmente quanto a questão financeiraestes podem ser detectados. A figura 6.1 abaixo mostra quais sãoestes benefícios na visão deste autor.
BENEFÍCIOS ECONÔMICOS
Economia de custos:- Economias devido à redução do consumo de água, energia e
outros insumos.- Economias devidos à reciclagem, venda e aproveitamento de
LEGISLACÃO
MEIO AMBIENTE
resíduos e diminuição de efluentes.- Redução de multas e penalidades por poluição.
Incremento de receitas:- Aumento da contribuição marginal de ‘produtos verdes’ que
podem ser vendidos a preços mais altos.- Aumento da participação no mercado devido a inovação dos
produtos e menos concorrência.- Linhas de novos produtos para novos mercados.- Aumento da demanda para produtos que contribuam para a
diminuição da poluição.
BENEFÍCIOS ESTRATÉGICOS
- Melhoria da imagem institucional.- Renovação do ‘portifólio’ de produtos.- Aumento da produtividade.- Alto comprometimento do pessoal.- Melhoria nas relações de trabalho.- Melhoria e criatividade para novos desafios.- Melhoria das relações com órgãos governamentais, comunidade e
grupos ambientalistas.- Acesso assegurado ao mercado externo.- Melhor adequação aos padrões ambientais.
figura 6.1: Benefícios da Gestão Ambiental. Fonte: ( DONAIRE, D.1.995, p. 59)
Vê-se a adoção da variável ambiental em variados temas
relacionados a administração de empresas como por exemplo ao
planejamento estratégico, ao gerenciamento da produção, ao
marketing e também à administração financeira. Pode-se aqui citar
alguns autores que abordam estes temas: TODESCAT, E. R.
( 1.998) ; FURTADO, J. S. ( 1.998); DONAIRE, D. BAKER, P. de.
( 1.995); INMAN, R. A. ( 1.999) e outros. Eliane R. Todescat
( 1.998) concorda que, as pressões para que as empresas se
atentem as questões ambientais são inegáveis e ainda firma que a
variável ambiental deve fazer parte do planejamento estratégico
das empresas, reconhecendo suas interfaces com a competitividade.
Assim empreendimentos dos mais variados tipos e segmentos buscam
formas de gerir os recursos ambientais que utilizam.
6.1-GESTÃO AMBIENTAL: FORMAS DE IMPLANTAÇÃO
Uma das maneiras mais usuais de se iniciar uma gestão
voltada para o meio ambiente tem sido a implantação de Sistema de
Gestão Ambiental (SGA) com vistas a certificação segundo as
normas internacionais ISO 14000, especialmente a ISO 14001 que
trata da Gestão Ambiental. No Brasil já são __________________
empresas certificadas por esta norma. Entretanto existem outras
maneiras de uma empresa estabelecer um gerenciamento dos recursos
naturais por ela utilizados. Pode-se certificar por selos verdes
ou outras normas os produtos fabricados; ou pode-se também adotar
outros modelos de gerenciamento ambiental que não visem
especificamente a certificação pelas normas internacionais ISO
14000 como o modelo de gerenciamento ambiental denominado
Produção limpa ou Produção ( Mais) Limpa proposto pela UNEP
( United Nations Environmental Program) ( FURTADO, J. S. 1.998).;
ou ainda estabelecer princípios gerenciais adequados à realidade
da organização como por exemplo apenas para se atender a
legislação existente no país. Qualquer uma das formas de gestão
adotadas pela organização pode trazer-lhe benefícios. Uma empresa
cuja realidade não permite grandes investimentos em gestão
ambiental pode começar fazendo adaptações em seus sistemas
produtivos no sentido de se tornar coerente com a legislação mais
exigente que se configura na atualidade ou por exemplo
certificar seu produto para garantir um mercado específico.
Existem críticas relativas à contribuição efetiva das
certificações pelas Normas ISO14000 para a garantia de um
desenvolvimento realmente sustentável. Há que se lembrar que os
problemas ambientais representam um déficit do homem com relação
ao meio ambiente e suas ações para se recuperar esta deficiência
requerem urgência pois muitas vezes o que está destruído não pode
mais ser recuperado. Também há que se lembrar que as mudanças
organizacionais no sentido de se incluir a variável ambiental em
práticas gerenciais também é recente. Portanto as críticas são
perfeitamente bem vindas em um sistema ainda em formação e em
mudanças sociais e econômicas correntes. Existem porém variadas
formas de se iniciar uma gestão responsável do meio ambiente,
como considera o autor abaixo citado.
“Independentemente das Normas, as empresas poderão aprimorar ascaracterísticas ambientais de seus bens e serviços através da adoção dosprincípios da ‘responsabilidade continuada do produtor’( responsabilidadeobjetiva) , dos acordos setoriais voluntários, dos sistemas de ‘Eco-management’ emais recentemente, do modelo de gestão industrial, segundo os princípios da‘Produção Limpa’.” ( FURTADO, J. S. 1.998)
As normas ISO14000 foram estabelecidas quando se colocou a
necessidade de se estabelecer um controle e acompanhamento das
atividades industriais quanto a proteção ambiental. A ISO (
International Organization for Standardization), organização
internacional já com grande prestígio relativo ao acompanhamento
de assuntos relativos a qualidade, com o sucesso das normas da
série ISO 9000, se constitui como grande responsável pela
realização e desenvolvimento destas normas. Porém a história das
certificações ambientais começa um pouco anteriormente, com o
desenvolvimento da norma britânica BS 7750 que tratava do
gerenciamento ambiental visando atender as exigências daquele
país. Certamente as motivações para se estabelecer a vigências de
tais normas tiveram origem na maior preocupação ambiental das
nações evidenciadas nos grandes encontros promovidos pela
cooperação internacional como a Rio 92 ou ECO 92, e também pelo
interesse de grupos econômicos que detectaram as mudanças
refletidas nas organizações. Assim define João S. Furtado essas
motivações para divulgação e desenvolvimento das normas ISO14000:
“O maior passo , nas relações entre indústria e ambiente, está representadopela criação da série ISO14000. Sua origem está ligada a discussões na Rodadado Uruguai no âmbito do GATT ( Acordo Geral de Transporte e Tarifas),patrocinado pela OIC ( Organização Internacional do Comércio) e das resoluçõesda Rio Cúpula da Terra, em 1.992. A série é composta de mais de 10 normas, dasquais a ISO14001 foi a primeira a ser consolidada, para a criação do Sistema deGestão Ambiental. ( FURTADO, J. S. 1.998)
A série de normas ISO14000 estabelece diretrizes para gestão
ambiental e ainda que existam as normas relativas aos produtos
como a ISO14040, que trata da avaliação do ciclo de vida do
produto, sua grande divulgação e maior número de empresas
certificadas especialmente no Brasil ainda são relativos ao
gerenciamento ambiental ou as normas ISO14001.
“ Com o intuito de uniformizar as ações que deveriam se encaixar em uma novaótica de proteção ao meio ambiente, a ISO- International Organization forStandardization (Organização Internacional para a Normalização)- decidiu criarum sistema de normas que convencionou designar pelo código ISO 14000. Estanova série de normas trata basicamente da gestão ambiental e não deve serconfundida com um conjunto de normas técnicas” ( VALLE, C. E. 1.995)
A ultima frase do autor acima citado remete à necessidade de
se esclarecer que as normas estabelecem procedimentos a serem
seguidos para se gerir melhor os recurso e resíduos industriais,
entretanto são os organismos reguladores nacionais que
estabelecem as normas técnicas a serem seguidas para produtos,
emissões, etc.
As críticas relativas a implantação dos sistemas de gestão
ambiental se referem ao fato de que a gestão pode se comprometer
a fazer determinadas modificações que já são consideradas tardias
em relação aos problemas ambientais enfrentados. Além disso
“atuar nos limites da sustentabilidade é mais difícil, pois
dependerá da disponibilidade de tecnologias apropriadas, consenso
social e novo sistema de valores baseado em critérios de
qualidade que sejam ambientalmente sustentáveis, socialmente
aceitáveis e culturalmente valorizados.” ( FURTADO, J. S. 1.998).
É certo que muito ainda se deve evoluir para que as indústrias
atinjam um nível de atividade totalmente compatível com o nível
de exigências quanto a questão ambiental. E esta evolução não é
uma prerrogativa apenas das empresas mas também de governos,
cidades, etc. Outra crítica ao Sistema de Gestão ambiental,
resultante da ISO14000 é que este:
“poderá tornar-se mais um sistema administrativo ( burocrático) do quetecnologicamente efetivo. Espera-se que outras normas da Série contribuam parainovações e iniciativas pró-ativas e desenvolvimento sustentável, em particular aISO14020/24 ( Rotulagem Ambiental), ISO14031 (Avaliação de DesempenhoAmbiental) e ISO14040/43 (Avaliação do ciclo de vida).”
O sistema produtivo baseado no chamada Produção limpa ou
Produção ( Mais) Limpa proposto pela UNEP ( United Nations
Environmental Program) e também defendido por organizações
ambientalistas e vários centros de Pesquisa e Desenvolvimento se
constitui como um sistema cujas metas são mais audaciosas que
aquelas propostas pelos Sistemas de Gestão Ambiental para a
certificação ISO14000. Entre estas metas pode-se citar prevenção
de resíduos na fonte, a economia de água e energia, a exploração
sustentável de fontes de matéria prima e o uso de outros
indicadores ambientais para a indústria. Estabelece-se
compromisso de precaução visão holistica do produto e do processo
( avaliação do ciclo de vida) e controle democrático (acesso
público a infomações sobre riscos ambientais de processos e
produtos). A diferença entre Produção Limpa e Produção (mais)
Limpa está no fato de se considerar as dificuldades de conceber o
sistema de produção absolutamente isento de riscos e resíduos,
objetivo da Produção Limpa. ( FURTADO, J. S. 1.998).
Como um princípio básico de gestão é realizar aquilo que
mais se compatibiliza com a realidade da organização, fica a
critério da empresa a escolha do Sistema de Gestão Ambiental a
ser implantado. Seja qual for a forma de implantação escolhida
pela empresa para realizar um gestão ambiental seu objetivo
maior é se colocar frente a clientes e sociedade como uma empresa
comprometida com os anseios do desenvolvimento sustentável. Sendo
assim deve buscar objetivos como redução de geração de resíduos e
efluentes prejudiciais , produtos e processo menos poluentes,
etc. E ainda se comprometer com um processo de melhoria contínua
deste sistema de gestão. Nada impede também que a empresa se
beneficie das vantagens oferecidas pelo gerenciamento ambiental
adequado a sua realidade financeira e estratégica, seja qual for
sua forma de implantação.
“O objetivo maior das Normas e demais instrumentos é melhorar as condiçõesambientais e promover o desenvolvimento sustentável, a fim de proteger emelhorar a geração atual e não comprometer as oportunidades de escolha dasgerações futuras. Para isso, será necessário que a sociedade modifique a culturaatual de consumo e os setores de bens e serviços alterem os sistemas, modelos epadrões de produção. Entretanto, a reorientação dos processos produtivosdependerá da aceitação de paradigmas novos e alteração dos que modelaram ocapitalismo atual, em seus diferentes subtipos e nuanças.” ( FURTADO, J.S. 1.998)
7- ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E MEIO
AMBIENTE:
Considera-se que a Gestão Ambiental em empresas brasileiras,
especialmente dentro do seguimento industrial seja uma questão
estratégica. LOVINS at. Alli afirmam que algumas mudanças simples
na maneira de gerenciar os negócios incluindo a variável
ambiental como fator a ser considerado em todos projetos e
tomadas de decisões, pode trazer benefícios para acionistas de
hoje e também para as gerações futuras. ( LOVINS, Amory B; LOVINS,
L. Hunter e HAWKEN, Paul., May- June 1.999) . A mudança
principal para estes autores consiste em se considerar uma nova
categoria de capital- o Capital Natural. A consideração desta
nova categoria de capital consiste em uma tarefa inevitável para
a análise de empreendimentos, devido a atual situação de escassez
dos recursos naturais necessários ao processo produtivo e ao
desenvolvimento econômico. Assim estes mesmos autores consideram
que tal mudança nas praticas empresarias incluiria alguns passos
importantes tais como: a) o aumento acentuado da produtividade
dos recursos naturais, uma vez que atualmente apresentam baixa
produtividade com altos níveis de refugo; b) Mudanças nos
modelos de produção incluindo as considerações a respeito do meio
ambiente mudando o conceito a respeito de refugos; c) mudanças na
modo de solução de problemas levando em consideração a satisfação
dos clientes mas também a manutenção de serviços e a qualidade
ambiental; d) Reinvestir em Capital Natural. Ainda afirmam que a
redução de resíduos e a mudanças nos modos de produção que possam
destruir as reservas de recursos naturais se constituem numa das
melhores oportunidade de negócios. Textualmente: “ Reducing the
wasteful and destructive flow of resources represents a major
business opportunity.” ( LOVINS, Amory B. et all., May- June
1.999). Isto significa que de maneira geral a gestão de negócios
passa por um novo paradigma: o da responsabilidade ambiental.
Entretanto estas mudanças determinadas pelos mercados ou pela
sociedade trazem consigo grandes oportunidades.
Relacionando mais diretamente a administração financeira a
uma nova visão empresarial que envolve a gestão ambiental se
considera que as decisões de se realizar ações favoráveis ao meio
ambiente dentro de cada empresa esta relacionada a uma demanda da
própria empresa. Esta demanda pode estar ligada `a aspectos de
mercado, de legislação e de produção (manejo de recursos). `A
cada um destes aspectos podem ser relacionados em uma avaliação
econômica ou monetária , um custo e/ou benefício. Se a demanda
que leva a empresa a investir em meio ambiente for a questão de
exigências legais, esta empresa está visando um benefício ou está
evitando um custo. Por exemplo, o não sofrimento de multas por
danos ambientais pode significar um benefício. Enquanto que, não
investir em gestão ambiental pode acarretar uma multa, ou seja,
um custo.
Se a demanda for por razões de produção ou manejo de
recursos, da mesma forma a empresa terá a ele associado um custo
ou benefício. Por exemplo a adoção de um sistema de gestão
ambiental pode levar a maior economia de matéria prima e insumos
para produção, caracterizado como um benefício. Por outro lado a
falta de cuidado com a produção em seus aspectos ambientais pode
esbarrar na questão do não atendimento à legislação e assim gerar
um custo, por multas ou despesas para adequação à especificações
legais- investimentos tardios para reparar erros. Cyro Eyer do
Valle esclarece que a poluição industrial, por exemplo, é uma
forma de desperdício e um indício da ineficiência dos processos
produtivos até agora utilizados. Resíduos industriais
representam, na maioria dos casos, perdas de matérias-primas e
insumos. (VALLE, C. E. do., 1.995)
Se a demanda for por razões de mercado teremos um leque
considerável de exemplos de benéficos e custos associados. Neste
caso podemos citar como benefícios: obtenção de novos mercados,
mais exigentes; vantagens competitivas frente `a concorrentes;
lançamento de novos produtos; vantagens associadas à melhora da
imagem da empresa no mercado; vantagens associadas a qualidade
dos produtos oferecidos ao cliente; vantagens associadas à
confiabilidade do cliente; etc. Podemos citar como custos do não
investimento em práticas ambientalmente corretas: a perda de
mercados mais exigentes, especialmente o mercado externo; perdas
em concorrências; custos associados à uma depreciação da imagem
junto ao cliente; perdas em qualidade de produtos; etc.
De certa maneira as demandas que levam uma empresa privada a
investir em meio ambiente estão associadas ao mercado, uma vez
que seu objetivo é a obtenção de maior rentabilidade de aplicação
de capital. Aqui realiza-se uma separação para tornar mais claro
que benefícios e custos associados à gestão ambiental podem estar
ligados à exigências já bem estabelecidas pela sociedade, como o
caso de atendimento `a legislação ou também associados
especificamente à produção como, por exemplo a melhora no
aproveitamento de insumos nos processos ou aumento de custo de
processos para atendimentos legais.
As mudanças apontadas por vários autores quanto a adoção da
preocupação ambiental ou da variável ambiental nas avaliações e
estratégias de negócios levam a considerar que é crescente a
responsabilidade das empresas frente a esta questão. Forest L.
Reinhardt afirma que empresários podem e devem olhar os
investimentos em meio ambiente – gestão ambiental, produtos
ambientalmente corretos, etc.- de uma maneira positiva, ou da
mesma maneira que analisam outros investimentos , esperando que
lhe forneçam retornos positivos e baixos riscos.
“...The right police depends on the circumstances confronting the company andthe strategy it has chosen. (...) That’s why managers should look at environmentalproblems as business issues. They should look at environmental investments forthe same reasons they make other investments: because they expect them todeliver positive returns or to reduce risks” (REINHARDT, Forest L. July-August,1.999)
Fica claro então que é viável executar uma análise do tipo
custo/benefício de questões que envolvam a variável ambiental em
projetos ou sistemas de gestão empresariais. Assim se conclui que
a variável ambiental ou mesmo a gestão ambiental pode ser
analisada de maneira semelhante a outros investimentos, ainda que
considerações importantes referentes a forma de valoração de
recursos naturais e sua caracterização por outros campos do
conhecimento tais como o Direito- que classifica os recursos
naturais como bens difusos e pertencente a coletividade- e da
Economia e Contabilidade, devam ser sempre evidenciados. A
variável ambiental então se configura como uma nova integrante
dos métodos de avaliação econômica e da administração financeira
que demanda por algumas mudanças e considerações que permitam sua
inclusão nestes métodos. Esta questão será melhor discutidas nos
capítulos posteriores e na conclusão deste trabalho. De qualquer
forma a Administração Financeira tem como demanda incluir em seus
estudos a variável ambiental e estudos recentes, entre os quais
os de REINHARDT, F. L. (1.999) e de LOVINS, A. B. et all. (1.999)
mostram que esta inclusão é viável e necessária.
7.1- “OPORTUNIDADES VERDES” :Uma vez que se considera a possibilidade de analisar
investimentos em gestão ambiental, produtos ambientalmente
corretos ou outros projetos nos quais estejam incluída a variável
ambiental, surge de antemão um fator importante a ser considerado
neste tipo de análise: a oportunidade. E associado a este fator
o custo de oportunidade ou seja o custo de não se investir em
projetos rentáveis.
Quando se analisa economicamente um projeto o objetivo
principal desta análise é verificar qual é a rentabilidade
resultante do investimento neste projeto, além do risco associado
ao mesmo, para que se possa ter um bom instrumento de tomada de
decisão. A análise econômica da gestão ambiental ou análises que
considerem a variável ambiental podem ser realizadas da mesma
forma, desde que sejam consideradas suas particularidades, sem as
quais reduzem se as chances de êxito.
Quando se coloca uma discussão a respeito de gestão
econômica ou financeira de uma organização, existe um ponto
importante a ser considerado, especialmente quando se trata de
novos investimentos: a questão do custo de oportunidade. Por
definição Custo de oportunidade é aquele que nos obriga a
sacrificar um benefício, ao contrário do que normalmente se
imagina quando se pensa em custos, ou seja aquele que nos obriga
a realizar um desembolso efetivo (ROSS, S et alli., 1.998).
Deixar de investir em práticas ambientalmente favoráveis pode
levar a um sacrifício de benefício futuro, ou presente. Se existe
o custo de oportunidade é porque a oportunidade existe.
Juntamente com as exigências e atribuições de
responsabilidades que a sociedade estabelece para as empresas,
através de suas leis, são oferecidas oportunidades. A gestão
eficiente sabe detectar oportunidades para investimentos
rentáveis, onde parece haver apenas exigências e despesas.
Observa-se que é crescente, no Brasil a preocupação com a questão
ambiental. Existe um número crescente de empresas que estão
obtendo certificações internacionais para seus produtos e/ou
Sistemas de Gestão Ambiental. Esta preocupação atinge o
seguimento empresarial por vários motivos. Para cada um destes
motivos existem exemplos de experiências reais. Pode ser
apresentado aqui alguns destes motivos e para cada um destes, um
exemplo real de práticas empresariais que os confirme.
1) A legislação brasileira tornou-se mais rigorosa nos últimos
anos, culminando na lei de crimes ambientais: Lei n. 9.605/98,
sancionada em 12 de fevereiro de 1.998. Apenas como um exemplo
pode-se apresentar a polêmica gerada pela comercialização da soja
transgênica: nos Estados Unidos, país que aceita o consumo de
transgênicos, quase 54% das lavouras de soja plantada já é
constituida de espécie transgênica (AP/ DOW JONES- 08 de março de
1.999). Por outro lado, no Brasil, país cuja legislação federal e
de alguns estados não permite o cultivo e comercialização de
transgênicos, agricultores da Região Sul do país beneficiam-se do
mercado aberto para a soja orgânica, como os da Europa e do
Japão, cujos consumidores não aceitam transgênicos.. (MANCINI,
C., 3 a 9 de maio de 1.999)
2) Existem seguimentos econômicos, especialmente aqueles ligados
ao comércio exterior que sofrem exigências crescentes de
concorrentes e consumidores. Como um exemplo apresenta-se o caso
da empresa Baoba, do ramo de tecelagem, a qual obteve mercado
garantido no exterior e espera dobrar seu faturamento, após a
obtenção do selo verde para seus produtos, atendendo exigência de
seus clientes. (GRACIANO, S., 1.999)
3) O aperfeiçoamento do processo produtivo incluindo as
exigências legais e preocupações ambientais pode tornar-se menos
oneroso, obtendo-se redução de gastos com matéria prima e
desperdícios. Neste caso apresenta-se a experiência abaixo
descrita:
A Companhia Cervejaria Brama que fatura US$ 15 milhões por ano com a vendade resíduos industriais. De 2,3 milhões de toneladas de subprodutos descartadaspor suas 28 unidades todos os anos, 94% são vendidas a pesqueiros, pecuaristas,olarias e indústrias alimentícias.... Além de buscar um destino mais nobre paraseus resíduos, a Brahma tem trabalhado para que a geração de descartesdiminua. Seu programa de controle de desperdícios permitiu economizar 9milhões de metros cúbicos anuais de água, 65 milhões de Quilowatt-hora deenergia, 17 mil toneladas de óleo combustível e 46 mil toneladas de matérias-primas. Desde 1.996, quando a operação foi implantada, deixaram de serquebradas 23 milhões de garrafas ( 10 mil toneladas/ano).” (SHARF, R.,1.999.)
4)A maior preocupação com o meio ambiente traz oportunidades de
novos negócios ligados ao turismo, empresas de despoluição,
educação, marketing e reciclagem. Dentre todas estas
oportunidades pode se dar uma amostra do mercado real para estes
novos negócios, através do exemplo da reciclagem do alumínio no
Brasil. O Brasil bateu o recorde nacional de reciclagem de latas
de alumínio em 1.998. O índice de reciclagem de latas de alumínio
alcançou 65%, segundo dados da Associação Brasileira de Alumínio
( Abal). O número alcançado é ainda mais significativo porque
superou a taxa de reciclagem dos Estados Unidos (da ordem de
63%), país que tem mais de 30 anos de experiência neste negócio.(
MADUREIRA, D. 1.999)
É importante esclarecer que um único motivo pode ser
determinante na adoção de práticas ambientais responsáveis, em
algum caso isolado, para um setor empresarial ou uma empresa, mas
é a maior conscientização social do verdadeiro valor do meio
ambiente que leva à um resultado efetivo. As demandas das
empresas divergem das demandas sociais, mas a atual precariedade
de recursos naturais e previsões ainda mais pessimistas para o
futuro levam à uma junção destas demandas. Um estudo da Fundação
Getúlio Vargas mostra experiências bem sucedidas da parceria
entre empresas, organizações sociais e governo, na busca de uma
gestão econômica que leve a um desenvolvimento sustentado, cujos
primeiros resultados parecem animadores.” (LOPES, I. V. et alli
(org.), 1.998)
Os motivos apresentados acima, como fatores isolados ou
conjuntos, levam empresários a investirem em gestão ambiental,
adotando práticas favoráveis a preservação ambiental. Tem-se que,
muitas vezes estes investimento não são baixos, como no caso de
adequação para certificações pela ISO 14000 em empresas de grande
porte ou em empresas que nunca se preocuparam com esta questão.
7.1.1 ALGUMAS EXPERIÊNCIAS BEM SUCEDIDAS:
Gustav Berle realizou um estudo prático, nos Estados Unidos
identificando detalhadamente as oportunidades de negócios ligadas
à preservação ambiental. Ele associou a cada desequilíbrio
ambiental boas oportunidades de negócios: “Como transformar
riscos ecológicos em oportunidade de negócios; oportunidades
financeiras nas leis de proteção ao meio ambiente; descobertas
ecológicas que são lucro garantido; como criar riqueza a partir
do lixo; como explorar produtos verdes” ( BERLE, G., 1.992). No
Brasil, ainda que tenhamos uma realidade muito distinta dos
países desenvolvidos, temos uma série de oportunidades ligadas à
Gestão Ambiental que nos mostram caminhos alternativos para um
crescimento econômico sem destruição dos recursos naturais.
As controvérsias relativas a possibilidade de se realizar
crescimento econômico com preservação ambiental existem em função
de que até a pouco tempo não havia uma preocupação com os
recursos naturais. Gerir melhor o meio ambiente é hoje em dia, um
desafio para empresas brasileiras, mas chegará um momento em que
se terá alcançado melhores níveis de conscientização e esta
prática será comum, e não um diferencial. Estas são previsões
otimistas para o futuro, mas se pensarmos no passado,
imaginaríamos, a tempos atrás, que empresas altamente poluidoras
se preocupariam, algum dia, com a questão ambiental? Hoje isto
está se tornando uma realidade. Há poucos anos ninguém diria que
a Mobil Oil Company, a AT&T, a First Brands ( Glad), a Waste
Managment ou mesmo a Associação de fabricantes de Produtos
Químicos dos EUA investiriam centenas de dólares na promoção de
questões ambientais. No Brasil, apenas agora as maiores
companhias passam a dirigir investimentos para a área ecológica.”
(BERLE, G., 1.992)
Uma pesquisa realizada pela fundação Getúlio Vargas com
apoio do Banco Mundial expôs 11 estudos de caso a respeito de
algumas abordagens inovadoras na gestão dos recursos naturais
desenvolvidas no Brasil, em nível estadual. Os casos analisados
contaram com alguns exemplos de iniciativa do setor privado; de
Organizações Não Governamentais.(ONGs), além daqueles
incentivados pelo setor público e alguns que se caracterizaram
pela parceria entre setores. Os autores afirmam que esta adesão
expontânea do setor privado vem de estímulos do próprio mercado.(
LOPES, I. V. et al., 1.998). Os casos analisados que se
caracterizaram pela responsabilidade da iniciativa privada,
tiveram motivações de mercado e são exemplos de aproveitamento de
“oportunidades verdes”. Vale a pena falarmos sobre os resultados
destes estudos de caso:
1) Plantio Direto no Cerrado e no Sul do país: A degradação
das áreas agrícolas faz com que as áreas não degradadas aumentem
o seu custo de oportunidade. Além disto os agricultores buscam
alternativas com menor risco, devido ao seu comportamento
característico de aversão ao risco. Estes dois fatores levaram à
adesão do plantio direto por parte de alguns agricultores do
cerrado e do sul do país. No caso analisado observa-se que:
simulações feitas em duas fazendas do Cerrado brasileiro, uma adotando oPlantio Direto , a partir de dados financeiros de 20 anos sobre investimentos,preços locais, custos diretos e indiretos de produção, comprovam as vantagenseconômicas, percebidas pelo produtor que utiliza o Plantio Direto sobre aquelesque utilizam o plantio convencional moderno(com uso intensivo de agrotóxios emáquinas). Taxa internas de retorno bem superiores, valores presentes líquidospositivos e bem mais elevados e folha de pagamento menos onerosa, devido aomaquinário especial exigido. Além das vantagens econômicas, outras nãoaquilatadas, como o aumento na qualidade gerencial da propriedade e oaumento na capacidade de retenção de água, comprovam a superioridade doPlantio Direto. (LOPES, I. V. 1.998, p. xiii)2) Outro caso analisado pelos autores foi o da empresa
produtora de Papel e celulose, Klabin.: Para dar respostas `a
pressão de produtos favoráveis ao ambiente esta empresa decidiu,
a partir da década de 70 ampliar suas áreas preservadas e
cultivar uma imagem junto ao mercado internacional. Através da
adoção de práticas ambientalmente responsáveis tais como a
reserva de espaço em suas terras para áreas de preservação a
empresa não observou perdas significativas de receita, pelo
contrário, garantiu espaço em um mercado mais exigente, com a
obtenção de certificados de sua produção de madeira com práticas
ambientalmente corretas. ( LOPES, I. V. 1.998. p. xvi)
3) O terceiro caso de iniciativa privada analisado no estudo
foram os Sistemas Agrossilviculturais: o cacau-cabruca, na Bahia
e a bracatinga, no Paraná. Estes sistemas consistem na rotação de
culturas agrícolas e silvestres garantindo preservação ambiental
e retornos econômicos.
No caso da cabruca, em momentos de recuperação das cotações do cacau , amata contendo esta planta é desbastada e o cacaueiro floresce, retomanto a suaprodução; em momentos de queda, a exploração se retrai, e a mata volta acrescer. Quanto a Bracatinga sua presença está associadas `as terras marginaisdas propriedades agrícolas situadas ao redor da Região metropolitana deCuritiba no Paraná. Os terrenos declivosos e de baixa fertilidade apresentam umcusto de oportunidade muito baixo, o que favorece o plantio de um sistemaconsorciado com uma árvore nativa da região, adaptada e rústica. Osbracatingais são utilizados como poupança verde, cortados durante a entresafraagrícola, servindo como um complemento de renda para a família. (LOPES, I. V.1.998. p. xv)
Nestes três casos apresentados acima observa-se
oportunidades de negócios aliadas à preservação ambiental. As
motivações para tal aliança estão no próprio mercado. Ainda são
poucas estas experiências, mas empresas inovadoras já vem
adotando práticas conscientes pensando no avanço futuro do valor
que o meio ambiente assume para a sociedade. Assim pode-se citar
alguns exemplos de empresas que descobriram oportunidades de
negócios em um trato mais consciente dos recursos naturais.
Apresenta-se a seguir alguns exemplos selecionados para
diferentes campos do gerenciamento de recursos naturais.
As oportunidades relacionadas a gestão ambiental e produtos
ecologicamente corretos são muitas, pode-se formar uma uma grande
lista de exemplos. Apresenta-se nas figuras que seguem, figuras
7.0, 7.1, 7.2, 7.3 e 7.4, oportunidades de negócios separadas por
atividades, uma pequena amostra destas possibilidades, algumas já
colocadas em prática.
RECICLAGEM:
A reciclagem constitui-se em um mercado que oferece inúmerasoportunidades, algumas empresas mais antigas já souberam aproveitar estenegócio rentável, crescendo junto com a consciência ambiental. Este é o casoda empresa valki plásticos e máquinas , com sede em Louveira no estado de SãoPaulo, que fatura R$ 2,4 milhões anuais reciclando sucatas. Há 30 anos nosegmento de reciclagem negocia sobras de carpetes, cintos de segurança, isopore outros plásticos, que vão para a sede da empresa, com 25 funcionários ondesão reciclados em média 150 toneladas de plástico por mês. ( RIBEIRO, S. marçode 1.999)
Entre os reciclados o maior sucesso nacional até agora é o alumíniobatendo recordes de reciclagem como o recorde nacional de 63 % deaproveitamento para reciclagem em 1.998. Mas a partir desta experiênciapositiva outros materiais vão sendo introduzidos por empresas que tem comoprincipal atividade reciclar, obtendo um bom desempenho econômico. Um exemploé a empresa Reciclar Indústria e Comércio que acaba de inaugurar sua primeiraunidade de reciclagem de latas de alumínio na capital mineira com capacidadepara reciclar 150 toneladas O diretor técnico e sócio-proprietário da Reciclar, revela que o lucro líquido da empresa gira em torno de 10% do valor portonelada de alumínio reciclado no mercado interno. A unidade de reciclagem delatas de alumínio é apenas a primeira parte de um projeto muito mais ousado daReciclar . O objetivo é instalar uma indústria de reciclagem mais ampla capazde aproveitar os diversos tipos de rejeitos industrias. ( ALMEIDA, R. R. de, 14de abril de 1.999)
A reciclagem aparece como uma boa oportunidade de se ganhar novosmercados além de contribuir para a melhora da imagem das empresas. Os sistemasde gestão ambiental, que buscam melhorar o aproveitamento de recursos-energia, matéria-prima, diminuição de resíduos, etc.- têm conseguidoresultados internos satisfatórios. No sentido de valorizar e aproveitar melhoros recursos naturais disponíveis, surgem novas oportunidades de mercado paraas empresas que apostam na reciclagem como è o caso da Tetra Pak . A empresaque é a única fabricante de embalagens longa vida no Brasil e produzanualmente 3,2 bilhões de unidades, organizou com apoio da comunidade e deprefeituras juntamente com quatro empresas do setor de papel reciclado, oreaproveitamento de cerca de quinhentas (500) toneladas de embalagens de longavida transformadas em papel higiênico, papelão ondulado e até solas de sapato.A iniciativa melhorou a imagem da empresa, forneceu matéria-prima abundante ebarata para as empresas de reciclagem e trouxe benefícios para a comunidadelocal. (Scharf, 1998).
As previsão futuras de oportunidades de novos negócios relacionados areciclagem crescem e o poder público promete incentivá-los, reduzindo a cargatributária dos reciclados, criando linhas de crédito específicas e fomentando
cooperativas de catadores de lixo. Um programa neste sentido esta sendodesenvolvido com a coordenação do Ministério do Desenvolvimento, da Indústriae do Comércio. A proposta se centraliza na criação do Plano Brasileiro deReciclagem, que dará apoio através de incentivo na criação de cooperativassetoriais e bolsas de resíduos além da revisão da questão dos tributos sobreos reciclados. Através da criação deste programa oportunidades de negócios seampliarão e também será favorecida a criação de emprego estimados peloministério em 300 mil novos empregos atingindo uma média de 1 milhão deprofissionais envolvidos. (SHARF, R. 31 de março de 1.999) São encontradosinúmeros exemplos diversificados de aproveitamento de papel , papelão,plástico, vidro, etc. As opções dependem de criatividade e do envolvimento dacomunidade. Existe uma grande gama de oportunidades de negócios relacionados àreciclagem, sendo estas aqui apresentadas apenas um amostra.
Figura 7.0- “Oportunidades verdes” : Reciclagem.
ÁGUA: As previsões de duração da água, este recurso essencial a vida humana,
não são nada otimistas: Dentro de 25 anos, aproximadamente, um terço da
população mundial enfrentará graves desabastecimentos de água informou a
Organização das Nações Unidas (HOULDER, V. março de 1.999).] Não se trata
mais de uma questão de opção, se hoje estamos falando de meio ambiente e
gestão ambiental é por que isto realmente é necessário. As empresas situadas
no Brasil enfrentam este compromisso, uma vez que em nosso país as previsões
são menos desanimadoras. Quando se discute a questão da valoração do meio
ambiente em outro tópico deste trabalho, verifica-se que os recursos naturais
não são facilmente valorados por pesquisadores e comunidades. Alguns recursos
por definição legal pertencem `as comunidades, são públicos, como é o caso dos
recursos hídricos e do subsolo no Brasil. Empresas privadas podem ter
concessões para explorar os serviços de abastecimento destes recursos e também
podem utilizá-lo em seus processos produtivos.
Mesmo assim as oportunidades de exploração deste recurso são evidentes
proporcionando mercados rentáveis que podem ser exterminados no futuro se não
tiverem um gestão consciente. Estes mercados geram brigas judiciais como o
exemplo das engarrafadoras de água mineral que estão abrindo várias frentes na
justiça contra a produção da chamada água adicionada de sais, alegando que
deve se especificar que não se trata de água mineral. O esforço é para manter
um mercado estimado em mais de R$ 600 milhões anuais. (LARANJEIRA, F. e ALVES,
U., janeiro de 1.999). Neste caso observamos o valor comercial assumido pelo
recurso natural água e observamos também que não serão poucas as polêmicas a
respeito de sua exploração.
As oportunidades de negócios relacionadas a exploração dos recursos
hídricos quando se pensa não em sua exploração, mas em sua recuperação são
também evidentes e alguns exemplos podem ser citados cujas experiências
comprovam esta afirmação: a oito anos atrás a Cetesb divulgou uma lista das
empresas que mais poluíam o Rio Tietê em São Paulo. Observa-se que neste caso
as empresas tiveram que realizar investimentos em gestão adequada do meio
ambiente por pressões legais, e muitas tiveram perdas por causa da imagem
negativa da apresentação de um ranking de empresas mais poluidoras, muitas
delas autuadas pela Cetesb. Para se adequarem a legislação estas empresas
tiveram de investir alto . Foram gastos US$ 3,5 milhões, sendo US$ 1,5 milhão
financiado pelo Banco Mundial. Hoje tem sistemas de tratamento adequado de
seus efluentes. Quem lucrou com estes investimentos forçados foram os
fabricantes e consultores de sistemas de tratamento de efluentes industriais.
(SHARF, R. e CHADE, J. maio de 1.999)
A utilização correta de recursos hídricos passa a ser imprescindível
dado os perigos de sua escassez futura. Empresas que se conscientizarem desta
afirmação terão oportunidades de se protegerem de multas, protegerem suas
imagens no mercado, e além disso realizarem bons negócios.
NOVAS TECNOLOGIAS:
As oportunidade comerciais ligadas ao desenvolvimento de novas
tecnologias denominadas limpas são intensificadas com a crescente
conscientização ambiental. Podemos citar setores como o de energia que contam
com grande número de tecnologias mais limpas como energia eólica e solar e
mesmo a hidrelétrica realizada de forma consciente, além do gaz natural que
assume grande proporção de negócios atualmente no Brasil com a construção e
ampliações previstas para o gazoduto Brasil- Bolívia. Por ser um tipo de
energia de custos relativamente menores em comparação à energia elétrica, o
gás natural representa um importante diferencial em competitividade ( OTONI,
L. maio de 1.999).
As mais diversas áreas tem desenvolvido tecnologias que garantem
impactos positivos para o meio ambiente. Destas podemos exemplificar:
- O caminhão FH12 Globetrotter, desenvolvido pela Volvo e lançado no mercado
europeu em 1.994, acumulando 10 prêmios e sendo considerado o caminhão com
maior índice de tecnologia embarcada do mundo. Entre suas vantagens estão:
redução da emissão de poluentes, economia de combustível, menor custo de
manutenção e maior segurança na estrada ( FANTIN, E. março de 1.999).
- O carro solar desenvolvido pela Universidade de São Paulo, um veículo que
serve de laboratório tecnológico, uma pesquisa básica segundo os pesquisadores
(KNAPP, L. ,abril de 1.999)..
Poder-se-ia realizar um estudo somente a respeito de novas tecnologias
que contribuem para o desenvolvimento e seriam verificadas inúmeras
oportunidades de negócios, sendo alguns somente possíveis no futuro e outros
já possíveis de serem implantados no presente. É necessário esclarecer que a
confiança somente na tecnologia para resolver os problemas ambientais é
perigosa, pois nosso nível de incerteza em relação à capacidade que temos de
desenvolvê-las e o tempo que levaríamos para fazê-lo, talvez não seja o
suficiente uma vez que já estamos em déficit com o meio ambiente e temo
previsões de escassez de recursos naturais em um prazo muito reduzido. “Do
nosso alto nível de incerteza sobre esta questão é irracional apostar na
capacidade da tecnologia para remover as limitações de recursos
naturais”( CONSTANZA, R. 1.994). Mas este fato não exclui a possibilidade de
se obter sucesso comercial com tecnologias ambientalmente corretas, exatamente
por ainda existir uma demanda futura que tende a se ampliar neste sentido.
Figura 7.2- “Oportunidades Verdes”: Novas Tecnologias
VANTAGENS COMPETITIVAS A PARTIR DA IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS DE GESTÃOAMBIENTAL:
As exigências do mercado consumidor crescem, impulsionando as empresas ase adequarem a um novo padrão de qualidade para seus produtos e serviços.Especialistas apontam para o gerenciamento ambiental uma trajetória semelhanteao do gerenciamento da qualidade. As normas para obtenção de certificado deQualidade reconhecidas internacionalmente na área ambiental, comprovam estatendência, como as da série ISO 14.000 da Organização internacional dePadronização ( International Standard Organization- ISO) e as normas e “selosverdes” que a antecederam nos mercados internacionais como“ Blue Angel” naAlemanha, o “Green Seal” nos Estados Unidos, o “Enviroment Choice” no Canadá,os “ Eco Mark” na Coréia do Sul e Índia, e a norma britânica “ BS-7750” de1.994.
Muitas empresas que antes viam o investimento na questão ambiental comomedidas que aumentavam o custo da produção, descobriram que a chamada GestãoAmbiental reduz custos e pode tornar a fábrica mais eficiente. Em média um bomprograma de Gestão Ambiental paga-se sozinho em um prazo de dez à quinzemeses. Com o programa a empresa economiza água, energia e matéria-prima (LEON,1998). Tem-se alguns exemplos de retorno de investimento e redução decustos a partir da implantação de SGAs (Sistemas de Gestão Ambiental) asempresas:- Bahia Sul- Produtora de Papel em Mucuri- BA, foi a primeira a obtercertificação ISO 14.000 no Brasil. Atuando em setor altamente poluente,investiu um milhão de dólares no projeto de implantação do SGA, levando trêsanos para implantá-lo. A economia anual após a Certificação chega a novecentose vinte mil dólares.- OPP- Química, produtora de resinas poliolefínicas, certificou quatro unidadesem 1996 e em todas obteve ganhos suficientes para compensar o investimento decerca de dois milhões de dólares, economizando água, energia, vapor e perda dematéria-prima (LEON, 1998).- COPESUL( Companhia Petroquímica do Sul), em processo de certificação em 1.998,considera que o Sistema de Gestão Ambiental proporciona: capacidade deoperação a baixos custos e com altos rendimentos operacionais, avaliadoprincipalmente pelo menor consumo energético e de matéria-prima, comreciclagem e produção maximizada de seus principais produtos- o eteno e opropeno. (BACH, 1998)
As vantagens competitivas são o fator principal que leva as empresas ainvestirem em Sistemas de Gestão Ambiental. Entre estas vantagens podem sercitadas: redução de custos ; possibilidade de conquistar mercados restritos,economia de recursos pertinentes a indenizações por responsabilidade civil,mais facilidade para obtenção de financiamentos junto a organismosinternacionais de crédito como o Banco Mundial, BID (Banco Interamericano deDesenvolvimento) e o BNDES (Banco Internacional de Desenvolvimento Social) eatendimento a legislação inerentes ao meio ambiente.( HOJDA, 1998)- A Alpargatas- Santista Têxtil- unidade de Americana- SP, obteve a certificação pelaimplantação de Sistema de Gestão Ambiental segundo os requisitos da norma ISO
14001, em dezembro de 1.997. Os trabalhos para a certificação demoraram cercade dois anos. Foram investidos um milhão de dólares (US$ 1.000.000) duranteeste processo e estima-se investimentos em torno de seiscentos mil para asmelhorias constantes exigidas pelo sistema. Os dirigentes da empresa afirmamque os investimentos retornam gerando vantagens competitivas, além de prepararas empresas para as exigências cada vez maiores das Leis ambientais.- A CESG (Centro de Excelência para Sistemas de Gestão), é a primeira empresa do ramo deprestação de serviços a obter a norma de conformidade com a ISO 14001. Aempresa acredita que os investimentos para se obter este tipo de certificaçãoé considerável, mas de retorno garantido- A CENIBRA (Celulose Nipo- Brasileira), localizada em Minas Gerais, foi recomendadapara receber a certificação pela norma ISO 14001, em outubro de 1.997. Duranteo processo de implantação investiu cerca de seiscentos e cinqüenta mil dólares(US$ 650.000) . A empresa afirma que a adoção de práticas ambientalmentecorretas levará a uma contínua redução de custos no processo produtivo.- A WOLKSWAGEM do Brasil- unidade de São Carlos recebeu a certificação deconformidade com a norma ISO 14001, em março de 1.998. Foi planejada desde suaconcepção para atender todos os requisitos da legislação ambiental brasileira.Os responsáveis afirmam que o Sistema de Gestão Integrado tem retornogarantido não só no aspecto financeiro como no de qualidade de vida. A fábricade São Carlos reduziu custos em consumo de água, energia e combustível. (MEIOAMBIENTE INDUSTRIAL, 1.998)
O número de empresas certificadas por normas internacionais no Brasilainda é pequeno. Os resultados positivos no sentido de atingir redução decustos através de Sistemas de Gestão ambiental são consideráveis e asvantagens competitivas adquiridas por este restrito grupo não podem serdesprezadas, pois estas representam estratégias pioneiras em um setor que,tudo indica tende a crescer no Brasil.
Figura 7.3- “Oportunidades Verdes”: Vantagens competitivas na
implantação de SGA
NOVOS MERCADOS:
Além dos setores apresentados até agora neste trabalhos tem-se inúmeras
perspectivas de crescimentos em setores relacionados á atividades que têm como
finalidade uma gestão mais correta dos recursos ambientais. Assim acrescenta-
se aqui algumas destas atividades. No Brasil, a visão dos dirigentes de
empresas tende a mudar na medida em que ocorrem mudanças das normas nacionais,
competitividade internacional e a valorização do meio ambiente difundidas por
grande parte da sociedade incluindo os consumidores. Em conseqüência os
negócios relacionados à atividades e produtos que visam preservar o meio
ambiente, está em expansão. As melhores perspectivas estão no setor de
equipamentos para tratamento de água e esgoto ( cerca de 5,4 bilhões
financiados pelo BID, entre 95 e 99, estão destinados a despoluição de corpos
d’água como os rios Tietê e Guaíba, a Bahia de Guanabara e outros).
O mercado de equipamentos e serviços de despoluição também expandem-se
juntamente com o ajuste ambiental empreendido por indústrias exportadoras e em
função da disponibilidade de um financiamento do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Social) destinado a proteção ambiental. Cresce também a
demanda por equipamentos e serviços de consultoria ambiental.
Indústrias de cosméticos e Ecoturismo são setores que despontam no
Brasil, além do setor imobiliário (com crescente exigência de qualidade
ambiental), e até o setor de meios de comunicação com uma atuação inédita no
Brasil. ( SEBRAE, 1996)
No mercado financeiro, Seguradoras e Bancos começam a
perceber que o componente ambiental pode lhes render altos dividendos. No
Brasil em 1.995 foi criado o Protocolo Verde. Assinado pelos bancos criando-se
a obrigação de se avaliar o impacto ambiental dos negócios antes de financiá-
los ou patrociná-los. (Santos, 1.998)
8- ECONOMIA E MEIO AMBIENTE:Pesquisadores, especialmente economistas, tem se esforçado
em oferecer conceitos que subsidiem métodos e técnicas que
garantam uma avaliação econômica do meio ambiente. Desde que
cientistas, pesquisadores, lideranças governamentais,
ambientalistas, enfim a sociedade introduziu em suas discussões
sobre desenvolvimento o tema ambiental, economistas e estudiosos
têm desenvolvido estudos no sentido de esclarecer como os
recursos naturais devem ser contabilizados, que valores devemos
atribuir a esses recursos. Para May e Motta existe uma
consciência de que nosso sistema global-ecológico encontra-se
ameaçado e também uma consciência crescente de que os conceitos
econômicos e ecológicos tradicionais não são satisfatórios para
lidarem com estes problemas.” (MAY, P. H. e MOTTA, R. S. (org.), 1994).
Forma-se então uma agenda de trabalho e pesquisa onde estes temas
são abordados. Como esta agenda está ainda em formação existem
polêmicas e diferenciadas abordagens deste tema. Estas abordagens
podem ser sintetizadas pela visão de Marques e Comune, na qual:
“algumas correntes de economistas têm procurado desenvolver conceitos,métodos e técnicas que objetivam calcular os valores econômicos detidos pelomeio ambiente. Destacam-se : a economia do meio ambiente e dos recursosnaturais, que repousa nos fundamentos da teoria neoclássica; a economiaecológica que se apoia nas leis da termodinâmica e procura valorar os recursosecológicos com base nos fluxos de energia líquida dos ecossistemas e finalmente,a economia institucionalista que procura abordar a questão em termos doscustos de transação incorridos pelos elementos ( instituições, comunidades,agências, públicos em geral) do ecossistema na busca de uma determinadaqualidade ambiental. . Os conceitos de valoração ambiental orientados pelateoria neoclássica são até o momento, o de maior amplitude de aplicação e uso.”(MARQUES, J. F. e COMUNE, A. E., )
É possível valorar e quantificar os recursos ambientais?
Técnicas e conceitos são disseminados para se chegar a um
aperfeiçoamento deste questionamento. Ao longo da história alguns
pesquisadores vem desenvolvendo estes estudos e em nossos dias a
ligação entre economia e meio ambiente se torna uma premissa
básica para as pesquisas, uma vez que para dar conta dos níveis
cada vez mais baixos de recursos naturais e preocupações
levantadas para o futuro próximo esta ligação se formou com um
paradigma a ser ultrapassado por variados campos do conhecimento,
entre os quais a economia se configura como um dos mais
importantes.
Historicamente, esses estudos vêm ganhando espaço e o texto
abaixo mostra de maneira sintética a evolução de conceitos que
unem o campo da Economia ao da Ecologia:
“ A economia ambiental surgiu na década de 50 e 60 como um ramo da ciênciaeconômica, nos Estados Unidos. A teoria econômica para economia dodesenvolvimento e o meio ambiente foi desenvolvida nos últimos 20 anos porvários economistas, como Baumol e Oates, ...que atualizaram as contribuiçõeshistóricas que foram realizadas desde o início do século, como o conceito deeconomias externas , por Marshall, o conceito de poluição como externalidadedesenvolvido por Arthur Pigou, na década de 20; os estudos analíticos sobre adepreciação das reservas de carvão e metal como recursos exauríveis, por Gray( 1994) e Hotteling (1931) e também a análise acerca dos limites do crescimento ea consciência de que o crescimento econômico não traz somente bem-estar, masque a industrialização afetou a qualidade de vida das pessoas, preocupaçõeslevantados por John Stuart Mill em 1900.” (BORGER, F. G. In VEIGA, JE. da (org.) , 1.998).A agenda de estudo para a economia ambiental apenas se
inicia na medida em que o tema ambiental envolve conceitos amplos
que ainda não dispõem de um arcabouço institucionalizado para
fomentar de forma organizada estas discussões. Apesar destas
dificuldades existirem, torna-se premente a necessidade de serem
superadas, de alguma forma, ainda que não seja a forma a ideal
imaginada. Comune e Motta destacam o atual estágio das pesquisas
que envolvem conceitos econômicos e ecológicos :
“ A utilização do conceito de meio ambiente num sentido amplo somente podeser feita através de uma análise interdisciplinar e multidisciplinar. No entanto, ateoria (ou modelo) global, que possibilite analisar todas as interações dosfenômenos do meio ambiente, ainda não se encontra plenamentedesenvolvida. ... Na falta de uma teoria global são empregadas abordagensdualistas do tipo econômico ecológicas que, mesmo não sendo totalmenteadequadas permite a realização de aplicações práticas bastante úteis noassunto. ( COMUNE, A. E. In MAY, P. H. e MOTTA, R. S. (org.),1994)
BENAKOUCHE e CRUZ apresentam uma abordagem sintética do
relacionamento entre economia e meio ambiente para mostrar que é
difícil, para não dizer impossível, proteger o meio ambiente sem
o uso de instrumentos econômicos. Afirmam ainda que o meio
ambiente sempre foi considerados nos estudo econômicos, porém de
uma maneira subordinada, considerando os recursos naturais como
fornecedores do campo econômico. ( BENAKOUCHE, R. CRUZ, R. S.
1.994). A atual mudança de paradigma frente a importância
crescente dos recursos naturais pela conscientização social a
este respeito, leva a uma nova abordagem dos conceitos
ambientais pela economia. Segundo os autores acima citados a
economia apresentava uma ligação conflitiva com o campo do meio
ambiente, o que não impede que se dê uma integração entre estes
campos. Estes autores observam que: “ o meio ambiente sempre foi
considerado no pensamento econômico desde os primórdios da
Economia, podendo-se afirmar que a relação entre a Economia e o
Meio Ambiente é conflitiva, mas que é perfeitamente factível
conceber sua integração.”(BENAKOUCHE, R. CRUZ, R. S. 1.994).
Esclarecem que houve um desenvolvimento da inserção dos
conceitos ambientais no pensamento econômico que em sua inicial
consolidação como ciência a Economia era considera autônoma em
relação aos campos do meio ambiente e do social. Afirmam também
que esta idéia se difundiu e chegou a considerar o campo
econômico como determinante em relação aos demais. Com os
problemas ambientais globais enfrentados pelas sociedades esta
idéia é reavaliada e inicia uma nova forma de se relacionar Meio
Ambiente e Economia. Textualmente assim consideram os autores:
a análise econômica focaliza-se fundamentalmente nos mecanismos demercado e que isso faz com que somente os fenômenos de produção e deconsumo de bens e serviços sejam considerados partes do campo econômico. Aciência econômica é considerada autônoma em relação aos campos do MeioAmbiente e do Social, desde a elevação da Economia á categoria de ciência -obras dos economistas clássicos, notadamente as de A. Smith e D. Ricardo.Estabeleceu-se uma distinção entre o campo econômico e os demais, mascontinuou-se considerando que a natureza fornece seus elementos ao campoeconômico. Com o advento da escola de pensamento econômico marginalista,dita também neoclássica, passou-se a privilegiar, ou até mesmo a considerardeterminante, o campo econômico em relação aos demais. Com as ameaçasglobais (efeito estufa, buraco na camada de ozônio, desmatamento das florestas,chuvas ácidas, etc.) e os problemas ambientais urbanos (poluição, barulho, etc.)tornou-se urgente analisar os problemas ambientais do ponto de vistaeconômico. Com efeito, a economia Ambiental da última década preocupou-seem propor conceitos no sentido de lhes fornecer apoio para proteger o MeioAmbiente. Essa interpretação constitui hoje uma das maiores preocupações doseconomistas. ( BENAKOUCHE, R. CRUZ, R. S. 1.994, ps. 91, 92,93)
John Gowdy e Sabine O’Hara no capítulo 7 de ‘Economic theory
for environmentalists’ descrevem a evolução das teorias
econômicas até os dias atuais, relatando a determinação destas
teorias aos processos políticos, sociais e históricos, informa de
que maneira a economia neoclássica adquiriu relevância e
supremacia originando os métodos de avaliação microeconômica hoje
conhecidos e largamente utilizados. Mostra também as tragetórias
das teorias econômicas desde a teoria clássica de Adam Smith e
David Ricardo passando pelo surgimento da economia marginalista
ou neoclássica até a teoria Keynesiana surgida depois da grande
depressão na década de 30, nos Estados Unidos, chegando às
concepções atuais. A partir desta análise estes autores afirmam
que a partir de alguns acontecimentos mais expressivos, tais como
a crise do petróleo nos anos 70 e acidentes ecológicos marcantes,
as teorias econômicas foram influenciadas pelos acontecimentos
evidentes relativos ao novo paradigma de escassez de recursos
naturais, o que influencia diretamente conceitos econômicos
especialmente o de crescimento. Concluem que em nossos dias todas
estas teorias já existentes desde as mais ortodóxicas até as mais
alternativas como a pós-keyniana e a markcista coexistem e são
influenciadas por este novo conceito, surgindo os conceitos da
Economia ambiental que vê os processos econômicos embutidos nos
processos biofísicos do planeta. A economia ambiental, ainda em
formação apresenta elementos de outras teorias que a precederam
bem como de elementos de outras áreas de conhecimento como a
biologia e a ecologia.( GOWDY, J. e O’HARA, S. 1.995). Estes
autores enfatizam que as respostas dadas pela economia
neoclássica dominante nos dias atuais no mundo ocidental não é
suficiente para se resolver os problemas de escassez de recursos,
mudanças globais do clima, efeito estufa, etc. É necessário
interdisciplinaridade e soluções conjuntas que envolvem demandas
políticas, gerenciais, etc. A figura (figura 8.0) abaixo,
extraída do livro acima citado, mostra a visão destes autores na
qual os sistemas ( Econômico, Social, político , biofísico) não
só devem estar interligados como embutido dentro das questões
referentes ao mundo biofísico ou ao meio ambiente.
Figura 8.0: “Valoração Contextual”: Fonte ( GOWDY, J. e O’HARA,
S. 1.995, p.175)
Outros autores vêem a inter-relação entre os sistemas
ambientais e humanos de outra forma, estabelecendo-se entre estes
sistemas uma relação de trocas com “imputes” e “outputs”. A visão
Environment
Human Activity
Economic Activity
Market
de Gowdy e O’Hara apresentada acima e na figura 8.0 critica a
visão da economia neoclássica que em seu desenvolvimento
apresenta o conceito de otimização e de concorrência perfeita, o
que não reflete a realidade, desconsiderando os elementos sociais
e ambientais (GOWDY, J. e O’HARA, S. 1.995). Uma vez que
coexistem teorias econômicas diferentes, desenvolvidas ao longo
da história dos países capitalistas ocidentais, e ao mesmo tempo
a questão ambiental não pode mais ser ignorada, cria-se modelos
de inclusão da variável ambiental nestas varias teorias como já
afirmado acima.
Neste trabalho será utilizado como subsídio o modelo
econômico proposto por W. Leontieff, prêmio nobel de economia ,
explicitado no trabalho de Benakouche, R. e Cruz, R. S. (1.995).
A figura 8.1 abaixo ilustra os princípios básicos deste modelo.
Este modelo possibilita a chamada análise sócio-técnica. A
utilização deste modelo se justifica pelo fato de que os métodos
a serem utilizados nesta trabalho tem como subsídio elementos da
Economia Neoclássica, que em grande parte forneceu elementos para
a análise micro-econômica, entre os quais os estudos de
engenharia econcômica, objeto final deste trabalho. Ainda que
existam críticas como as de Gowdy e O’Hara (1.995) a respeito
destes métodos por estarem subordinados a elementos da Economia
Marginalista ou Neoclássica, alguns autores como Benakoche e Cruz
( 1.995) afirmam que em nível microeconômico estes métodos podem
ser eficazes na integração Economia e Meio Ambiente e que a
economia neoclássica pode oferecer elementos que facilitem
decisões dos campos político-gerenciais.
Figura 8.1-Análise Sócio-técnica do Meio Ambiente. Fonte:
(Benakouche, R e Cruz, R.S. 1.995,p.93).
Não se desconsidera aqui o fato de que o desenvolvimento
econômico e o equilíbrio ambiental do planeta se constituem em
uma questão maior, estabelecendo-se que as discussões a respeito
de sistemas e políticas de desenvolvimentos sejam sempre
repensadas. Dado os níveis alarmantes das condições ambientais do
planeta a forma de desenvolvimento econômico e político social
deve ser repensada como defende Gowdy e O’Hara (1.995).
Entretanto esta discussão não se configura como objeto deste
trabalho.
Observando-se todas estas novas proposições para o
relacionamento entre Economia e Meio Ambiente constata-se que
existe uma convergência no sentido de se valorizar as intenções e
tentativas de valoração dos recursos naturais, uma vez que as
preocupações ecológicas são fundamentadas em fatos inegáveis, já
disseminados e comprovados pela ciência e adotados como
exigências crescentes pela sociedade. É necessário esclarecer que
Econômico
Ambiental
Social
se estes níveis de exigências ainda não são tão grandes no
Brasil, por ainda possuir questões sociais e econômicas sérias a
serem resolvidas, estas ligações podem se configurar em uma nova
forma de visualização do desenvolvimento econômico e social que
inclui a variável ambiental. Vale ainda esclarecer que em um país
em desenvolvimento uma questão não exclui outra, uma vez que o
tratamento adequado do Meio Ambiente reflete diretamente na
qualidade de vida das pessoas para não dizer na própria
sustentação da vida humana. Aprende-se pelos alertas de
ecologistas e cientistas que esta questão devem ser tratadas com
atenção, se não se intenciona enfrentar problemas futuros muito
mais graves. Além disto, se o desenvolvimento for orientado por
um caminho sustentado pode-se estabelecer um forma pioneira de
crescimento econômico não seguindo os mesmos erros cometidos
pelos países desenvolvidos, que adiaram a preocupação com o meio
ambiente até o limite onde este não pode ser mais desconsiderado.
No Brasil pode-se adotar desde já uma consciência de crescimento
ambientalmente saudável. Para as empresas que aqui estão, isto
não significa apenas exigências e encargos, ainda que estes
possam existir, mas também, oportunidades.
9- VALORAÇÃO AMBIENTAL:
Uma discussão importante surge quando é colocada a intenção
de se realizar uma avaliação econômica de ações que envolvem o
meio ambiente. Esta discussão passa pelas seguintes indagações:
que valor assume o Meio ambiente para a sociedade atual? É
possível valorar ou cifrar os recursos naturais? Como podemos
fazê-lo ? A necessidade de se realizar esta tarefa: valoração do
meio ambiente, já ficou clara. Barde e Pearce afirmam que como as
políticas ambientais estão ganhando mais importância e
sofisticação, dia a dia, há uma necessidade de maior
desenvolvimento das bases econômicas para estas políticas. Em
particular, para a valoração monetária do meio ambiente. Afirmam
também que progressos tem sido feito no desenvolvimento de
metodologias para valoração econômica de custos e benefícios
ambientais. (BARDE, J. P. and PEARCE, D. W., 1.995).
A questão da valoração do meio ambiente e sua
contabilização é um desafio que passa pela polêmica de responder
à três perguntas iniciais: a) Que valor assume o Meio ambiente
para a sociedade atual? b) É possível valorar ou cifrar os
recursos naturais? c) Como podemos fazê-lo? A primeira pergunta é
respondida na medida em que a sociedade exige maior
responsabilidade de empresas, governantes, enfim, de si mesma. em
favor da proteção ambiental. Ou seja, o valor que o Meio Ambiente
assume para a sociedade atual é crescente, exigindo cuidados e
responsabilidades. A resposta para as duas últimas perguntas não
estão prontas e pesquisas são realizadas no sentido de se avançar
neste campo de conhecimento. Apresenta-se aqui alguns pontos
polêmicos que demandam por respostas, que são respondidas por
propostas. Mas, para que se respondam a estas perguntas na
realidade e na prática das organizações, existe o desafio de
aplicação destas propostas.
Em primeiro lugar, em períodos anteriores de nossa história
de sociedades capitalistas, não se precisava preocupar com os
recursos naturais, pois acreditava-se que estes eram abundantes e
não se sofreria escassez nenhuma. Portanto também não havia a
necessidade de se atribuir um valor aos recursos naturais. Para
Benakouche e Cruz, pode-se sintetizar essa discussão da Economia
ambiental assim:
“ recentemente, o Meio Ambiente assumia apenas dois valores: zero ou infinito.Só que atribuir um valor zero aos recursos naturais consiste, em última instância,em afirmar que não têm preço. Se assim for, eles são duplamente gratuitos. Deum lado, eles são usados na produção de bens e serviços, mas não entram nacontabilidade econômica porque são considerados bens gratuitos, por seremdom da natureza; de outro, não são mensurados por serem bens protegidos oupatrimoniais. Consequentemente, passa-se a custear o Meio Ambiente,atribuindo-lhe um preço ( BENAKOUCHE e CRUZ, 1.995, p. 88). Quando se sabe que os recursos naturais podem ficar escassos
ou mesmo se acabar para gerações futuras não muito distantes, não
se pode afirmar que o crescimento econômico se dá sem a
necessidade de se avaliar os danos e benefícios ambientais. Ou
seja, não se pode mais atribuir um valor zero ou infinito aos
recursos naturais.
Então, que valor atribuir aos recursos naturais? O meio
ambiente ao desempenhar funções imprescindíveis à vida humana
apresenta, valor econômico positivo mesmo que não refletido
diretamente pelo funcionamento do mercado, não sendo, portanto
correto tratá-lo como se tivesse valor zero. Assumindo um valor
zero para o meio ambiente corre-se o risco de uso excessivo ou
até mesmo de sua completa degradação. ( MARQUES, J. F. e COMUNE,
A. E. ).
Para dar início ao esclarecimento destas questões, deve-se
observar um dos pontos mais polêmicos que envolvem conceitos
contábeis e metodológicos. Pode-se começar pela questão da
natureza dos bens ou recursos naturais. Os recursos naturais são
bens pertencentes a toda comunidade, mas são também utilizados
por organizações privadas, e assim passam a fazer parte do
processo produtivo e contribuir para seu funcionamento. Por
exemplo, a água utilizada para a produção de uma determinada
indústria é um recurso natural, portanto um bem público, porém
também é um insumo de produção portanto um bem privado, enquanto
passa pelo processo produtivo e quando se transforma em um
produto comercial. A utilização da água enquanto produto não é
cobrada, paga-se apenas pelo serviço de abastecimento para que
este recurso natural esteja disponível de forma mais confortável
possível. Esta afirmação é verdadeira legalmente como discutido
no capítulo referente a normas e leis ambientais, na página 16,
os recursos naturais são considerados bens difusos pertencentes à
coletividade, entretanto estes bens também podem fazer parte de
uma propriedade particular. Na definição de Benakouceh e Cruz:
“ bens ou mercadorias são objetos suscetíveis de serem produzidos,reproduzidos e comercializados. Esses bens são ordenados em três classes: a dosbens mercantis, a dos bens não mercantis e a dos bens coletivos. ... A natureza
dos bens naturais impede que sejam colocados em uma destas classes. Istoporque alguns bens (lagos, florestas, rios) podem ser considerados mercantis porserem utilizados e utilizáveis como tais, embora eles tenham característicaspróprias. Outros ( água, ar...) não podem ser classificados desse modo. Alémdisso, eles não tem preço, fora de seu custo de transformação em bensdestinados a satisfazer necessidades humanas; são em geral, abundantes eapropriados de modo destrutivo.( BENAKOUCHE E CRUZ, 1.995, p.183).Conceitos, métodos e técnicas de contabilização existem e
são propostos para se solucionar esta questão da natureza dos
recursos naturais, que se caracteriza como central:
“ O problema central para a avaliação de bens e serviços ambientais é de queestes não tem preço porque não fazem parte do processo de compra e venda dosindivíduos. Não se compra ar puro, biodiversidade, qualidade da água, mas asociedade extrai, processa e consome os recursos naturais , ou seja, a economiae o meio ambiente estão interligados.” ... “ A economia ambiental estabelece umaponte entre a economia e a ecologia internalizando os custos e os benefíciosproporcionados pelo meio ambiente, para uma melhor alocação dos recursosdisponíveis e para mostrar que o meio ambiente é importante tanto na análiseeconômica de investimentos (nível microeconômico) e planejamento das políticaspúblicas (nível macroeconômico) quanto no processo de tomada de decisõeseconômicas ( BORGER, F. G. In VEIGA, J E. da (org.) , 1.998). A valoração ambiental não é uma questão fechada, e também
não pode ser considerada a única maneira de se fazer a sociedade
se responsabilizar pelos danos ambientais. Existes
responsabilidades que já nos são impostas por leis. A valoração
ambiental é um subsídio para uma proposta de se repassar para as
organizações responsabilidades pelo futuro do meio ambiente
global, introduzindo esta responsabilidade em mecanismos
políticos e de mercado. Os métodos de avaliação econômica do meio
ambiente são ainda pouco aplicados, mas isto não significa que
sua aplicação não seja necessária, pelo contrário, ela responde
por uma emergência social, em se tratar com responsabilidade os
recursos naturais.
Existem diferentes correntes de pensamento e conceitos que
procuram esclarecer a questão de estabelecer critérios para se
valorar os recursos naturais e ainda que existam pontos polêmicos
e algumas questões onde mais estudos são necessários algumas
teorias já se foram fomuladas a este respeito. Também é
necessário lembrar que a maior parte destas teorias convergem no
sentido de achar importante a valoração dos bens e funções ou
serviços ambientais. No item posterior essas formas e conceitos
de valoração serão melhor esclarecidos.
9.1- CONCEITOS E FORMAS DE VALORAÇÃO:
Obaserva-se que variadas são as formas de se atribuir valor
aos recursos naturais ou aos ecossistemas ( bens ou funções
ambientais. Na figura 9.0 abaixo verifica-se uma abordagem de
três grandes formas de se realizar esta tarefa na concepção de
PEARCE & TURNER (1.991), explicitada no trabalho de MATTOS, K. M
da C. (1.998). “ Existem três relações dos valores ambientais
adotados pela política e ética nas sociedades industrializadas:
valores expressos via preferências individuais; valores de
preferência pública; e valores do ecossistema físico funcional”
MATTOS, K. M da C. (1.998).
ValoresAmbientais
Preferências particularesdos indivíduos
Preferênciaspúblicas
Sistem as e processosfísicos
Valores fixados e medidosem term os de boa vontade
para pagar e ser com pensado
Normas forçadaspela pressão
coletiva, através deleis e regulam entações
Valores não preferenciais medidos em ciências naturais
Relações dos Valores AmbientaisFonte: PEARCE & TURNER (1991)
Figura 9.0- Relações de Valores Ambientais. Fonte: (MATTOS, K. M.
da C., 1.998)
Esta figura 9.0 apresentada acima mostra a visão do autor
das formas como a sociedade atribui valor aos bens ou funções
ambientais. Outras abordagens também são possíveis e geralmente
estão ligadas à correntes de pensamento econômico ou a grupos de
estudiosos desta questão. Estas abordagens, como estão ainda em
formação apresentam alguns conceitos semelhantes outros não e
métodos diversos para cumprir a tarefa de se atribuir valor aos
bens ambientais. Estas abordagens relacionadas à teorias
econômicas serão aqui discutidas e os conceitos e métodos de
valoração ambiental serão discutidos nos itens subsequentes deste
capítulo.
Existem variadas maneiras de se chegar a uma valoração dos
recursos naturais, entretanto estas maneiras não estão livres de
críticas e evoluções em seus conceitos. Os métodos de avaliação
dos recursos naturais enfrentam algumas dificuldades, uma vez que
a natureza dos bens ambientais tem diferentes interpretações.
Essas interpretações são resultantes de correntes econômicas ou
de diferentes escolas de pensamento econômico que apresentam
visões e métodos diferenciados que conferem também abordagens
diversificadas da valoração ambiental. Entretanto, é necessário
esclarecer que existem pontos comuns entre alguns métodos já
mais consolidados e além disso como a união da economia e da
ecologia como campo de estudo também é recente pode-se considerar
que novos métodos vem sendo sugeridos e também que aqueles já
consolidados vem sendo aperfeiçoados. As formas já consolidadas
de valoração ambiental que se ligam a correntes de pensamento
econômico diferenciadas, são apresentados na figura 9.1 abaixo
baseada no texto de MARQUES, J. F e COMUNE, A.C. e com alguns
elementos do texto de PEARCE, J.P. E BARDE (1.995).
VISÕES ECONÔMICAS E MODOS DE VALORAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
Corrente dePensamentoEconômico
Formas e interpretações do conceito de valoreconômico do meio ambiente
EconomiaEcológica
- defende a incorporação dos bens e serviços ambientais àcontabilidade nacional e para se chegar a esta incorporação a elaboração de um completo sistema de valoração econômica dos recursos ambientais;
- considera que é possível atribuir valor econômico a estética ambiental, à vida humana e aos benefícios ecológicos, ainda que de forma indireta e que inconscientemente diariamente lhes é dado este valor;
- Ainda que considere necessária a valoração econômica domeio ambiente tece críticas aos princípios em que esta se assenta, apoiada nos conceitos da teoria neoclássica;
- Utiliza como método o que se convencionou chamar de método de base biofísica ou de análise de energia;
- Abandona as hipóteses do princípio da soberania do consumidor e das preferências e apoia-se em esquemas que privilegiam os insumos de energia direta ou indireta, necessários a produção e manutenção, ao longodo tempo dos serviços ambientais.
Economia doMeio Ambiente (
baseada emconceitos da
economiaNeoclássica)
- desenvolveu e aprofundou não só conceitos e métodos paraa valoração do meio ambiente, como derivou importantes instrumentos de política ( Imposto pigouviano, licenças para poluir, subsídios, taxas, regulamentos e padrões fixados para o gerenciamento ambiental;- mais atualmente desenvolve a operacionalização dos
conceitos de produção máxima sustentável e padrões mínimos de segurança para se atingir determinada qualidade ambiental e sustentabilidade dos recursos naturais;
- através do trabalho conjunto com ecólogos os conceitos de valor de existência e de valor de opção foram incorporados pela Economia do Meio Ambiente.
Discussõesentre
Economistas(predominanteme
nte detendência
- Os economistas de tendência neoclássica, linha predominante na investigação do tema valoração ambiental, fazem referência ao mercado visando estabelecer valores para os recursos ambientais, mesmo na situação em que não exista mercado para os referidosbens;
- Os ecólogos , embora aceitando os valores desta forma
neoclássica) eEcológos
estimados, fazem referência explícita a valores intangíveis, tais como os valores globais que um ecossistema presta ao planeta;
- Existe uma proposta derivada do entendimento entre economistas e ecólogos que contempla, basicamente valores referentes aos ecossistemas e seu papel como provedor de bens e serviços, através de três conceitos:valor I- abrange todos os bens e serviços ambientais transacionados diretamente pelo mercado(valor = preço de mercado do bem); valor II- bens que não são transacionados no mercado, não têm preço, seua valores são determinados através de um mecanismo político de negociações e acordo; e valor III- intangíveis e de difícil valoração (florestas tropicais, equilíblio atmosférico,valor inerente aos sistemas naturais, etc.).
EconomiaInstitucionalis
ta
- afirmam que os recursos naturais (ar, água, fauna, flora, etc.) não podem ser mensurados em termos monetários
- Critica conceitos da Economia do Meio Ambiente (de tendência neoclássica) como: a dimensão de conceito de preferência individual, o princípio de maximização da utilidade. Acredita que estes conceitos não são adequados e os considera reducionistas como base para tomada de decisão em questões irreversíveis como o equilíbrio e a manutenção dos recursos naturais para asgerações futuras. (BARDE. J. P. e PEARCE, D. W., 1.995)
Figura 9.1- Correntes de Pensamento econômico e formas de interpretação davaloração ambiental. Fonte: figura adaptada do texto de MARQUES, J. F e
COMUNE, A.C.9.1.1 CONCEITOS DE VALOR:
Observa-se pela figura 9.1 mostrada acima que existem
variadas abordagens para a questão da valoração ambiental
associadas à correntes de pensamento econômico. Estas abordagens
trazem conceitos importantes e que considera-se indispensável que
sejam esclarecidos neste trabalho. Assim apresenta-se a seguir
alguns destes conceitos, que ainda que tenham origem em teorias
diferenciadas como acima explicitado são extremamente relevantes
para a proposta final deste trabalho.
Abaixo são apresentados estes conceitos de acordo com
algumas correntes de estudo da economia que investigam a questão
ambiental:
A economia ambiental, baseada predominantemente nos estudos
de economistas de tendência neoclássica contribuiu no sentido de
fornecer consistência às concepções sobre o valor econômico do
meio ambiente, permitindo sua operacionalização. “A atual
literatura econômica ambiental distingue três valores que compõem
o valor econômico total do ambiente, obtido a partir da seguinte
expressão” ( MARQUES, J. F e COMUNE, A.E).:
Valor Econômico do Ambiente = Valor de Uso + Valor de Opção +
Valor de Existência
Onde se tem as seguintes definições para cada um destes valores:
Valor de Uso: refere-se ao benefício obtido a partir da
utilização efetiva do ambiente de forma direta ou indireta. Os
valores de uso referem-se ao uso efetivo ou potencial que o
recurso pode prover. Os valores de uso direto ou indireto estão
associados com as possibilidades presentes do uso dos recursos e
são de mais fácil compreensão e entendimento.
Citando como exemplo uma floresta tropical seu valor de uso direto poderia serexpresso ou calculado em função da exploração da madeira, de produtos não-lenhosos, caça pesca, produtos genéticos, medicinais, hábitat humano, etc. Osvalores de uso indireto poderiam incluir a proteção das bacias hidrográficas, aregularização do clima e todas as demais funções ecológicas exercidas pelasflorestas tropicais (MARQUES, J. F e COMUNE, A.E, p. 29).
Valor de Opção é definido como a obtenção de um benefício
ambiental potencial- expressão das preferências e da disposição
de pagar pela preservação ou manutenção daquele recurso ambiental
contra possibilidade de uso presente. O valor de opção refere-se
ao valor da disponibilidade do recurso para uso direto ou
indireto no futuro. No exemplo da floresta tropical o valor de
opção seria o preço ou o custo com o qual as pessoas estariam
dispostas a pagar pela sua preservação, para que ela não fosse
usada intencionando um uso futuro.
Valor de Existência pode ser entendido como valor que os
indivíduos conferem a certos serviços ambientais, como espécies
em extinção ou raras, santuários ecológicos ou algum ecossistema
raro ou único mesmo quando não há intenção de apreciá-los ou usá-
los de alguma forma. Nesse sentido a biodiversidade, por exemplo
é entendida como um objeto de valor intrínseco, como uma herança
deixada para outros ou como fruto de uma responsabilidade moral.
Os valores intrínsecos não estão associados nem ao uso presente
do recurso e nem com as possibilidades de uso futuro. No exemplo
da floresta tropical o valor a que a sociedade estaria disposta a
pagar para preservá-la independentemente de Ter intenção de
utilizar seus recursos no futuro, pelo simples fato que considera
sua existência importante.
Estes conceitos foram sendo desenvolvidos ao longo do tempo
de estudo da Economia Ambiental que tiveram algumas fases
distintas. “ O desenvolvimento do conceito sobre valoração ambiental iniciou-se
por distinguir entre os valores de uso e valores de não-uso. Posteriormente os valores
de não uso se dividiram em valor de opção e valor de existência.” (MARQUES, J. F e
COMUNE, A.E, p. 29). Os conceitos de Valor de existência e de
Valor de Opção geram ainda algumas discussões sendo que alguns
autores afiirmam que possam existir motivos que justifiquem o
Valor de existência como os motivos de herança de doação de
simpatia de responsabilidade ambiental e de inter-relação
ambiental. Ao contrário de outros como Pearce & Turner ( 1.990)
que “assumem enfaticamente que o valor de existência é um valor
colocado nos bens e serviços ambientais que não está associado,
de forma alguma com qualquer uso do mesmo, seja no presente, seja
no futuro. Esta polêmica gera algumas dificuldades de delimitação
dos conceitos de Valor de existência e de Valor de Opção.
O valor econômico total do meio ambiente é revelado pelas
preferências individuais das pessoas. Não se considera que esta
seja uma tarefa fácil de se realizar, na maior parte das vezes
tendo de ser feita através da consulta direta às populações
envolvidas através de pesquisas como a realizada por HOPKIINSON,
P. G NASH, C. A. e SHEEHY, N ( 1.992) a respeito de como as
pessoas dariam valor a aspectos ambientais e sociais no
planejamento de construção de uma rodovia. Existem críticas a
respeito destes métodos relativas ao fato de que existe uma
dificuldade, uma perda na veracidade de fatos quando se levanta
as preferências individuais transformando sua soma em
preferências sociais, que podem ser conflitantes. Esta é uma das
críticas apresentadas por GOWDY, J. e O’HARA, S. ( 1.995) aos
métodos e conceitos baseados na Economia Ambiental que tem como
predominantes economistas de tendência neoclássica. Entretanto
como afirmados anteriormente por MARQUES, J. F e COMUNE, A.E,
estes são os métodos e conceitos que tiveram e ainda tem
apresentado grande desenvolvimento no sentido de serem
operacionalizados e oferecerem conceitos consistentes quanto à
valoração de bens ou funções ambientais.
Para a Economia Ecológica, que tem como base métodos
biofísicos ou baseados nas trocas de energia, a valoração de bens
ou funções ambientais tem de contemplar três aspectos:
- Valor de Uso imediatos e suas formas comerciais ou potenciais cujos valoresfinanceiros possam ser apurados.
- Valor de Opção de uso imediato ou a possibilidade contrária de economizar obem para uso futuro ou mesmo o não-uso.
- Valor que o bem ou função tem como capital do próprio ecossistema cujaextração ou manejo determina perda de qualidade ou redução do ecossistema.”( MELLO, R. de., 1.997)
Renato MELLO ( 1.997) afirma que as medidas do ambiente comuns podemtomar formas diversas sendo “expressas em unidades financeiras, podem assumirformas de fluxos energéticos, podem ser expressas em quantidade do próprio bemmedido, e ainda assumir formas vagas e pouco definidas em descrições desentimentos.” Afirma também que como forma econômica devem ser consideradoscomo valor pela sua escassez, pela sua utilidade para uso ou posse, ou como tendoalguma importância social por cuja manutenção deva existir um pagamento.
Observa-se que conceitos como o de valor de uso e de opção e de existência
são praticamente os mesmos dos apresentados com base na Economia
Ambiental. Observa-se também que existem semelhanças de conceitos
por que as teorias formuladas para se entender as relações
economia e meio ambiente ainda não estão totalmente definidas,
como observado no início deste capítulo. Assim algumas definições
podem ser realmente iguais como conseqüência de estudos
realizados por diversas correntes de economistas juntamente com
ecólogos. Existem porém outros conceitos que integram a visão da
Economia Ecológica e algumas outras abordagens que podem ser
citados como medidas de valoração econômica dos ecossistemas.
Segundo Renato MELLO ( 1.997) estes conceitos podem ser
classificados em cinco grupos ( 5 ):
1- Preços que compreende:1.1-Preços de Mercado ou os valores monetários dos bens e funções ambientais.Estes bens já se encontram valorados no mercado e contemplam a questão daescassez e do domínio tecnológico do uso do bem ou serviço assim como ademanda de um mercado já estruturado. Podem ser exemplo destes os mineraiscomercializáveis. Para que se realize um determinação do preço dos bensambientais são usadas as medidas, que podem ser tomadas em valorescorrentes monetários que a sociedade determinou como valor aceitável, pelosmecanismos de mercado e de representações políticas ou de grupos. 1.2- Disposição de Pagar e Disposição de Aceitar: São preços ou medidasobtidos em pesquisa direta com o público, quando são questionados osinteresses em termos financeiros despertados pelo meio Ambiente. São assimdefinidasDisposições a pagar: é o valor econômico que o indivíduo aceita pagar pormelhoria ou preservação do bem ou serviço ambiental;Disposição de aceitar: É o valor econômico de compensação financeira para umindivíduo pela diminuição ou perda de qualidade ou valor ambiental; 1.3 Intensidade Energética: preço definido em termos entrópicos, que mede aintensidade energética que flui pelo ecossistema. Baseadas nos princípios datermodinâmica. Sendo que o primeiro é a Lei da conservação da energia em umsistema fechado e o segundo é a entropia do sistema ou a passagem oumudança de forma de energia dentro de um sistema. 2- A produtividade: As medidas que relacionam níveis de produtividade nosecossistemas procuram diferenciais e relações entre capitais empregados erendimentos de produção. Os diferencias se caracterizam por se formar duassituações no ecossistemas e compará-las em termos de produtividade, capitalinvestido ou economizado e produtividade.3- Ecossistema como capital Os ecossistemas são considerados como bens decapital. Esta abordagem gera muitas críticas, principalmente no que se refere aofato de que as sociedades tendem a atribuir um valor ao ecossistema ou bemambiental mais baixo do que o necessário para sua conservação ou manutenção,gerando perdas de capital para a sociedade e ganhos privados Dentro destacategoria que considera os bens ambientais como capital tem-se:
3.1- Capital Natural que é definido quando um bem ou função ambiental quetenha valores de uso ou consumo e possa participar do mercado com preçodefinido. Tem se como exemplo de bens evidentes solo, plantas e com evidênciamais difusa paisagens, esgotamento de reservas minerais.3.2- Valor Líquido ambiental. A capacidade do Capital Natural de gerar funçãoeconômica pode ser medida pelo valor líquido ambiental, que é a quantidadedeste capital por unidade da função gerada. 3.3- Valor de contribuição ambiental é o valor de cada subsistema que sejaparte do Capital Natural, se este componente ou função gera benefícios deordem econômica à sociedade. A quantificação do valor é feita de acordo com aimportância do subsistema em termos de preços de mercado acrescido de seupapel na manutenção e existência do ecossistema.3.4- Valor intrínseco ambiental para a manutenção e existência doecossistema ocorrem processos e são exercidas funções em componentes desubsistemas, que quando alterados provocam efeitos sinergéticos cujosresultados podem ser o aumento ou diminuição do capital natural, ou aindanova ordem constitutiva do ecossistema que a sociedade considere comoalteração de valor. Este é o valor intrínseco do bem ou função ambiental.3.5- Valor Cultural Ambiental- Entre os bens culturais modernos está a novarelação entre homens e natureza, considerando-se como bens ambientais nãoapenas as reservas e parques , mas ampliando-se os valores do mundo físico eorgânico a condição de participantes dos universos epirituais individuais ecoletivos. Estes valores têm dinâmica semelhantes àquelas das artes epatrimônios históricos.
4- Valores Incertos: À medida que vai se afastando do comércio e do mercadovai se tornando imprecisa a valoração econômica de qualquer bem. Em setratando do meio ambiente esta valoração fica por vezes assim incerta. Existemporém alguns mecanismos que possibilitam a mensuração destes ValoresIncertos. Estes mecanismos são abaixo apresentados:4.1- Preços Hedônicos: representam um valor associado ao hedonismo ou àcultura do prazer que envolve funções como o turismo e o lazer. Pode-se citarcomo um exemplo o valor do morro do Pão de Açúcar para a Cidade do Rio deJaneiro. Observa-se que o preço de imóveis, por exemplo situados próximos aeste tipo de recurso natural belo é maior do que o de e outros situados em locaisexistem uma situação ambiental depreciativa. A mensuração desse tipo de valoré feita pela chamada valoração contigente em que se estabelecem ‘disposição apagar ou ‘disposição a aceitar’. Além disso esta valoração de bens sem valordefinido de mercado se mistura com a opção de uso futuro preservando o bem,com a opção altruista ou filantrópica de legar o bem a outros ( valor de Opção) e
com o valor da satisfação pessoal de manter a existência do ecossistema ouespécie ( Valor de Existência) . Tudo isto implicando em custos financeiros.4.2- Custo de Viagem: Caso o ecossistema seja atração de turismo, lazer ouassociado a uso lúdico, podem ser medidas as despesas que o indivíduo sedispõe a realizar para deslocamento até o local no usufruto do lazer. Podemtambém ser avaliadas todas as receitas oriundas da atividade ligada aoecossistema e ter uma medida de valor do mesmo pelas quantias despendidas.5- Valores dos ecossistemas no tempo: Os valores que os ecossistemas erecursos naturais assumem variam muito fortemente no tempo. A escassez deelementos ou restrição na utilização de funções encarece o recurso e em algunscasos determina posse e preço quando o recurso era de domínio público. Ocorretambém a melhoria do bem ou função pelo manejo, quando há investimentovisando incrementos ou restrições em funções, ou mesmo na determinação dereserva do ecossistema. A própria terra já foi devoluta no Brasil, chegandomesmo a existir incentivos à posse na região amazônica. As medidas abaixorelacionam a variável tempo com as demais medidas descritas anteriormente.5.1-Despesas preventivas. São os gastos que o usuário de recurso natural ouecossitema tem de realizar em virtude de utilização anterior que retirou valor ouqualidade das propriedades do capital natural.5.2- Custos atualizados. Os valores que o recurso natural vai assumindo notempo e os valores monetizados que os investimentos, custos e retornos obtidosassumem podem ser atualizados a valores presentes ou distribuídos ao longo dotempo com mecanismos da matemática financeira.5.3 Taxas de desconto no tempo: Para executar atualizações é necessáriosdefinir as taxas que corrigem os valores. Uma taxa positiva indica ser maisvantagem usar o recurso natural hoje, sendo que as taxas negativas indicamvalor maior do bem no futuro. (obs. na maior parte das vezes as taxas exigidaspelo mercado não são compatíveis com o manejo sustentado de ecossistemas. OBanco Mundial exigia taxas de retorno mínimas de 10% ao ano para seusinvestimentos, mas atualmente as taxas são mais moderadas quando envolvemecossistemas produtivos.)5.4 Valor de opção de não-uso. Para que as taxas de desconto de recursosnaturais sejam negativas há que se pagar valores com o fim da reserva desterecurso. O não-uso do Capital natural implica em custos que seriam entãoconsiderados como investimentos. ( MELLO, R. 1.997)
9.2 MÉTODOS DE VALORAÇÃO AMBIENTAL
Foram apresentados até agora conceitos e teorias econômicas
a respeito da questão da valoração dos recursos naturais- bens ou
funções ambientais. A seguir apresenta-se os métodos para se
realizar uma avaliação monetária ou econômica do meio ambiente.
Não se pretende aqui dissertar e analisar todos estes métodos
existentes, mas sim dar uma idéia geral dos tipos de métodos mais
usados e tecer alguma consideração sobre estes.
De maneira geral os métodos assim como os conceitos de
valoração ambiental estão subordinados à teorias econômicas como
visto anteriormente. Assim pode-se dizer que estes métodos foram
criados no sentido de se dar conta de valores que não estão
representados no mercado.
“ O valor econômico total do meio ambiente não pode ser revelados pelasrelações de mercado e na ausência deste, algumas técnicas foram desenvolvidasno sentido de se encontrar valores apropriados aos bens e serviços oferecidospelo ambiente natural, objetivando subsidiar a adoção de medidas e aformulação de políticas.”
Procura-se então através dos métodos de valoração estimar
valores econômicos para o meio ambiente. Para BENAKOUCHE, R. e
CRUZ. R. S. (1.995) existem certamente uma multiplicidade e
variedade de enfoques que visam oferecer conceitos e instrumentos
que possam esclarecer como incorporar a variável ambiental nas
análises econômicas, uma vez que estas estão tradicionalmente
centradas em mecanismos de mercado, que consideram os bens apenas
em seus momentos de produção e consumo, deixando de considerar
resíduos e suas consequencias ambientais. Assim tem-se como
destaques dentre estes enfoques os modelos input-output, a avaliação
energética, a contabilidade ambiental, etc.
Alguns autores classificam as formas ou métodos de
incorporação da variável ambiental às análises econômicas.
MARQUES, J. F e COMUNE, A.E afirmam que os métodos de valoração
ambiental são classificados de diversas formas, tendo como
critério básico a relação entre o ativo ambiental e o mercado,
porém, em termos gerais, a divisão não foge às seguintes
características:
a) métodos que se utilizam de informações de mercado, obtidas direta ouindiretamente, e os mais empregados nas questões ambientais, são:apreçamento hedônico ou valor de propriedade, salários e despesas comprodutos semelhantes ou substitutos;
b) métodos que se baseiam no estado das preferências, que na ausência demercado, é averiguado através de questionários ou das contribuições financeirasindividuais ou institucionais feitas aos órgãos responsáveis pela preservaçãoambiental;
c) métodos que procuram identificar as alterações na qualidade ambiental, devidoaos danos observados no ambiente natural ou construído pelo homem e naprópria saúde humana; são chamados de dose-resposta. MARQUES, J. F eCOMUNE, A.E
Segundo MARQUES, J. F e COMUNE, A.E e também segundo MATTOS,
K. M da C.(1.998) que expôs a classificação de MERICO (1.996) os
métodos de valoração ambiental também podem ser classificados em
diretos e indiretos. Sendo que para MERICO (1996) estes assumem a
seguinte definição:
métodos diretos: podem estar diretamente relacionados aos preços de mercado ouprodutividade, e são baseados nas relações físicas que descrevem causa e efeito;métodos indiretos: são aplicados quando um impacto ambiental, um determinadoelemento do ecossistema, ou mesmo todo um ecossistema não pode ser valorado,mesmo que indiretamente, pelo comportamento do mercado. (MATTOS, K. M daC. 1.998)
Para MARQUES, J. F e COMUNE, A.E os métodos diretos são
usados com maior freqüência para estimar valores de bens e
serviços ambientais pertencentes aos grupo a) e b) de sua
classificação citada acima. Estes métodos baseiam-se em
informações de mercados já existentes ou hipoteticamente criados
e dentre estes pode-se citar os métodos: valoração contingencial, custo
de viagem e mercado substituto ou preço hedônico. Já os métodos indiretos
se referem ao grupo c) de sua classificação. Estes métodos são
chamados de indiretos porque seus procedimentos diferem no
sentido de não procurarem medir o estado das preferências
diretamente. Estes métodos procuram relacionar primeiramente a
alteração ambiental e algum efeito na saúde do homem ou nos
ecossistemas naturais ou construídos pelo homem. Posteriormente
aplica-se algum outro método que pode ser o do custo de reposição, da
produção sacrificada, da redução da produtividade, dentre outros. Através
destes métodos obtêm-se os valores econômicos dos efeitos
observados. (MARQUES, J. F e COMUNE, A.E) Estes métodos indiretos
são aqueles embasados em estudos de impacto ambiental ou de danos
ambientais.
Como exemplos dos métodos citados até agora pode-se
mencionar os seguintes estudos:
1) a avaliação de agroecossistemas de cana-de açúcar,
considerando as implicações ambientais e o uso de recursos
naturais como fatores de produção, realizada por Renato Mello
(MELLO, R. 1.997). Este estudo utiliza como modelo o método de
input-output para internalizar custos e benefícios ambientais como
fatores de produção. Utiliza também o método biofísico ou de
análise da Energia, transformando as entradas e saídas em medidas
energéticas.
2) avaliação de sistemas de abastecimento de água utilizando
métodos de engenharia econômica, como o realizado por Benakouche
e Cruz( BENAKOUCHE e CRUZ, 1.995). Este estudo se caracteriza
por utilizar o modelo input-output ou modelo insumo-produto, para
internalizar os custos e benefícios ambientais, que
caracteriza como análise sócio técnica estudada primeiramente por
economista como W. Leiontieff, prêmio nobel de Economia.
Entretanto diferentemente do estudo apresentado por Renato
Mello, transforma os valores ambientais em valores monetários
e posteriormente analisa os resultados de um investimento
utilizando instrumento da Engenharia Econômica de análise de
investimento como Taxas de Desconto ou TIR, Valor Presente,
etc.
3) análise para estimar os benefícios do Programa de Saneamento
Ambiental da Bacia do Guarapiranga em São Paulo, realizado por
Fernanda Gabriela Borger (1.998) aplicando a Técnica de Avaliação
Contingente- TAC- que consiste em medir os benefícios por meio de
um processo de entrevistas com os beneficiários, deduzindo,
através de um questionário, sua máxima disposição a pagar.
4) A propostas de um método para avaliação de danos ambientais,
com objetivo de auxiliar na mensuração da indenização por
danos ambientais realizado por Luiz César Ribas. (RIBAS,
1.996). Este método se caracteriza como um método indiretos de
mensuração.
Como foi visto até agora existem muitos métodos para se
valorar os recursos naturais ou bens e funções ambientais. Estes
métodos também podem receber algumas classificações como por
exemplo, métodos diretos e indiretos. A seguir serão mostrado
alguns destes métodos e suas peculiaridades. Seria impossível
aqui apresentá-los todos com riquesa de detalhes e este também
não se constitui objetivo principal deste trabalho. Entretanto,
serão apresentados alguns destes métodos e seus princípios
gerais. É necessário esclarecer que estes métodos podem se
misturar originando outros ou então podem ser usados em conjunto,
como o exemplo dos estudos realizados por RIBAS, L. C. (1.996),
BENAKOUCHE, R. e CRUZ, R. S. (1.995) e MELLO, R. 1.997, acima.
9.2.1- METODOS BIOFÍSICOS, OU BASEADOS NO VALOR
ENERGÉTICO:
Estes método é baseado nas leis da termodinâmica e
considera que se possa estabelecer um sistema fechado que inclui
a relação do meio ambiente – Sistema Ambiental- com o Sistema
Econômico. Existem estudos que aprofundaram a aplicação deste
método como o exemplo já citado ‘Custos Ambientais de Agroecossistemas da
cana-de-açúcar’ de Renato MELLO (1.997). Considera-se que existem
também críticas referentes à sua aplicação: “Estes métodos embora
detenham certo grau de importância, não são de uso geral em uma
sociedade que toma decisões em valores monetários, derivados de
decisões individuais” ( MARQUES, J. F. e COMUNE, A.E.). Esta
afirmação referência o fato de que este métodos pode estar mais
adaptado a certos tipos de análise como por exemplo a análise de
processos produtivos. Primeiramente se realiza a transformação de
todos os fatores do Sistema Fechado em Energia- no exemplo citado
os fatores de produção incluindo até mesmo o trabalho humano- ,
para posteriormente analisar economicamente este processo. Ë
importante lembrar que certamente métodos tem seu desempenho
relacionado a boa adaptação à realidade que se pretende analisar.
Assim este método apresenta aspectos positivos se bem adaptado ao
projeto ou sistema produtivo que pretenda analisar. De maneira
geral os princípios deste método pode ser bem representado pela
figura 9.2 abaixo que tem como base as observações de MATTOS, K.
M. da C. (1.998)
TIETENBERG (1994) acredita que se o meio ambiente puder ser definido deuma maneira geral, a sua relação com o sistema econômico pode serconsiderada como um sistema fechado (Figura 1), ou seja, nenhum insumo érecebido de fora do sistema e nenhuma produção é transferida para fora dosistema. Embora se receba a energia proveniente do Sol, o sistema pode sertratado como um sistema fechado, pois a quantia de trocas com a atmosfera emtorno do planeta é desprezível. Esse tratamento como um sistema fechado temuma implicação importante, que é resumida pela primeira lei da termodinâmica- uma lei que declara que a energia e a matéria não podem ser criadas nemdestruídas. A lei implica que o material do meio ambiente usado no sistemaeconômico é acumulado neste ou volta à natureza como refugo.
A relação do ser humano com o meio ambiente é condicionada através dasegunda lei da termodinâmica - conhecida como entropia. De acordo comMERICO (1996), “a energia total do universo permanece constante e a entropiado universo continuamente tende ao máximo”, sendo que a entropia é aquantidade de energia que não é mais capaz de realizar trabalho. A entropia é amedida do grau de desordem do Universo. Esta desordem pode ser revertida porum processo chamado sintropia, que é o processo de criação da vida,particularmente a fotossíntese. (MATTOS, K. M. da C., 1.998)
O Sistema Econômico e o Meio AmbienteFonte: TIETENBERG (1994)
Figura 9.2 ‘O sistema Econômico e o Meio Ambiente’ Fonte:TIETENBERG (1994) (MATTOS, K. M da C. , 1.998)
Como não é proposta deste trabalho apresentar um
detalhamento maior dos métodos de valoração ambiental existentes,
apenas se apresenta a base teórica de suporte do métodos
Biofísicos ou baseados nas trocas de energia, segundo as leis da
termodinâmica. Espera-se que a idéia original deste modelo tenha
sido suficientemente esclarecida pela figura acima
9.2.2- TÉCNICA DE AVALIAÇÃO CONTINGENTE
A metodologia da Técnica de Avaliação Contigente utiliza-se
de pesquisa de campo para estimar os benefícios e custos dos bens
ou funções ambientais. Esta é uma grande diferenciação em relação
a outros métodos que geralmente utilizam preços relacionados ao
comportamento dos consumidores em mercados recorrentes. A citação
apresentada abaixo esclarece a definição de Técnica de Avaliação
Contingente:
“A Técnica de Avaliação Contingente- TAC- consiste em medir osbenefícios por meio de um processo de entrevistas com osbeneficiários, deduzindo, através de um questionário, suamáxima disposição a pagar pelo projeto, e vem sendoutilizada por mais de 20 anos, sendo adotada por agentesfinanceiros internacionais como o BIRD e o BID em diversosestudos de viabilidade econômica de projetos” (BORGER, F. G.1.998). Este método tem como base o questionário a ser aplicado
objetivando estabelecer valores a serem custeados como
disponibilidade de pagar, pela preservação de um determinado bem
ou função ambiental. Aqui verifica-se o conceito de valor de não
uso, traduzido pela disposição de pagar por um projeto de
preservação ambiental. Segundo BORGER, F. G. (1.998) para que o
questionário a ser aplicado no processo de entrevistas tenha
sucesso, uma vez que é a base desta metodologia, devem existir
algumas condições, tais como: a familiaridade do entrevistado com
os benefícios que geram o projeto, a explicitação de um
instrumento de pagamento conhecido ou aceitável pelo entrevistado
e a fixação do montante a pagar.
Como todos os métodos de valoração ambiental a Técnica de
Avaliação Contingente deve estar adaptada ao objeto ou projeto a ser
analisado. Ë apontado como vantagem desta Técnica de Avaliação
Contingente projetos onde existe maior complexidade como àqueles
destinados a fomentar políticas públicas, de ordem
macroeconômica. No estudo de BORGER, F. G. (1.998) aplica-se esta
técnica para se estimar os benefícios de um programa de
saneamento ambiental para região da Bacia do Guarapiranga, na
grande São Paulo, região que é de extrema importância para o
abastecimento da metrópole e que atualmente apresenta problemas
sérios de poluição e degradação ambiental. A autora afirma que
mesmo este tipo de técnica não elimina as características da
avaliação econômica que trabalha em um cenário onde existem
incertezas, uma vez que até mesmo as preferências podem mudar ao
longo do tempo. Outro aspecto importante se refere a existência
de preferências conflitantes e a necessidade de se dimensionar
adequadamente a distribuição de custos e benefícios entre os
atores da comunidade analisada.
9.2.3- MODELO INPUT-OUTPUT OU INSUMO-PRODUTO:
Um do modelos mais utilizados para valoração ambiental e
internalização de valores ambientais nos processos produtivos é o
modelos IMPUT- OUTPUT, ou modelo INSUMO-PRODUTO interpretação
denominada por BENADOUCHE, R. e CRUZ. R. S. (1.995) de análise
sócio-técnica, tendo como base estudos de W. Leontieff. Este
enfoque consiste em integrar os campos econômico e social com o
meio ambiente. Define-se um projeto de investimento como sendo
“um conjunto sistemático de informações que servem de base para a
tomada de decisão relativa à alocação de recursos. Quando a
variável ambiental faz parte deste conjuntos de informações o
referido projeto é definido como sendo um projeto ambiental”
(BENADOUCHE, R. e CRUZ. R. S. , 1.995).
No modelo insumo-produto, a variável ambiental pode ser
integrada ao sistema econômico como insumo ou seja, como fator de
produção. Normalmente se considera o processo produtivo com
entradas de insumos e saídas de produtos, entretanto não se
considera fatores ambientais, tais como os resíduos gerados neste
processo. Pode-se considerar então um comportamento linear da
economia – que não é real- formando um fluxo de correlação entre
os elementos Capital (K) que permite obter uma produção (P), via
um Recurso (R), em que uma parte é destinada aos bens de consumo
(C), que geram utilidade e portanto bem estar.
Entretanto, esta relação exposta acima não considera que no
processo de produção são gerados resíduos (W) que podem voltar ao
meio ambiente ou serem inseridos novamente ao processo produtivo
através da reciclagem. A relação mais correta então seria
considerar o comportamento não linear da economia representado
pela figura 9.3 abaixo:
Figura 9.3: “ Relações de Produção considerando um comportamentonão linear da Economia. Fonte: adaptação de (BENADOUCHE, R. e
CRUZ. R. S. , 1.995, p.103).Dos recursos naturais ( RN0, da Produção (P) e do Consumo (C), gera-seresíduos (W) sendo que, apenas uma pequena quantidade é reciclada nosistema natural ( r) e retorna ao sistema econômico na forma de recurso.A outra parte, que não pode ser reciclada, é despejada no meio ambiente,como elemento poluidor (BENADOUCHE, R. e CRUZ. R. S. ,1.995).
RN
P
C
W
Meio
r
Observa-se que mesmo considerando a variável ambiental como
insumo corre-se o risco de não se fazer uma análise correta uma vez que
se desconsidera os resíduos gerados no processo. Isso acontece porque
normalmente se analisa no processo produtivo os bens apenas em seus
momentos de produção e consumo. Ignorando-se o resíduo, entende-se que
este não faz parte do campo econômico, o que não é verdade hoje “não
somente por que o ‘lixo’ é um bom negócio, mas também que ele é um
problema econômico e deve ser tratado como tal” (BENADOUCHE, R. e
CRUZ. R. S. , 1.995).
Apresentou-se aqui de forma bem simplificada a maneira pela
qual o modelo insumo-produto integra a variável ambiental. É
necessário acrescentar que esta análise é feita através de uma
matriz de insumo-produto, estabelecendo relações entre setores
produtivos e o meio ambiente. Ainda que se apresente limitações o
modelo insumo-produto permite a integração da variável ambiental no
sistema econômico, podendo ser utilizado posteriormente, métodos
de avaliação econômica como Valor Presente Líquido ou Taxa
Interna de Retorno.
Foram apresentados alguns métodos de valoração ambiental e suas
características gerais. Ainda que cada um possua limitaçãoes e demande
por maior número de aplicações, sua importância é reconhecida.
Como os bens e serviços proporcionados pela natureza e as funções geraisdos ecossistemas não podem ser comprados ou vendidos em nenhum mercado,se for deixado que a alocação seja feita pelo livre mercado, a tendência será deexaurir, estressar ou romper o equilíbrio do ambiente natural. Sendo que asprincipais conseqüências da inexistência de mercados para os recursos naturaissão sua alocação ineficiente e as exterioridades negativas. (MATTOS, K. M.da C. 1.998)
#################################
10- CONTABILIDADE AMBIENTALA valoração ambiental e sua insersão em mecanismos de contabilização
passa pelo desafio de ser internalizada através da contabilização tanto em
nível macroeconômico quanto em nível microeconômico. Motta esclarece que uma
vez que a falta de recursos naturais ameaça o padrão de crescimento observado
pela sociedade, torna-se imprescindível incentivar o estabelecimento de novos
preços relativos aos recursos naturais e serviços ambientais. (MOTTA, R. S.
“Contabilidade Ambiental, Teoria, metodologia e estudos de Caso no Brasil”,
IPEA, Rio de Janeiro, 1.995). Este é o desafio a ser perseguido.
Em nível macro econômico isto ainda não ocorre, pois não existe uma
contabilização em nível nacional do chamado ‘Capital Natural’. Motta aponta
como um importante índice de sustentabilidade, em nível macroeconômico, o
nível de consumo de capital natural. Se não são atribuídos valores ao uso do
meio ambiente pelo mercado, estes não se revelam nos custos de produção e
consumo, e não são imputados nas Contas Nacionais. Ou seja, as medidas de
renda não refletem os custos ambientais associados a produção e consumo. Como
a preocupação fundamental está centrada na produção, a degradação/exaustão dos
recursos naturais só é considerada como ganho à economia; nenhuma perda é
imputada. Quanto mais utilizamos os recursos naturais maior é a produção, não
se considera a escassez futura. Este mesmo autor afirma ainda que: é possível
definir uma medida de renda sustentável como aquela em que o consumo (ou
depreciação) do capital natural é considerado. Afirma também que esta tarefa
não é fácil, mas um desafio a ser enfrentado, pois sua mensurabilidade se
constitui uma etapa controvertida. Entretanto este desafio deve ser
ultrapassado para que a Contabilidade Ambiental seja um bom instrumento para
políticas públicas ambientais.” (MOTTA, R. S., 1.995). Pode-se então entender
que quando obtem-se algum dado macroeconômico, como por exemplo o PIB
( Produto Interno Bruto) não estão aí considerados as perdas e impactos
ambientais, ou seja, não está explicita uma consideração a respeito da
possibilidade de estarem um estado de escassez para se continuar um processo
de crescimento econômico. Existe então um desafio a ser perseguido por
pesquisadores e instituições governamentais no sentido de se sanar esta
demanda, cujo a empreitada se inicia pelos pesquisadores.
Da mesma forma, em nível microeconômico, o desafio da valoração e
contabilização ambiental está proposto. Existem alguns métodos propostos para
se internalizar os custos ambientais em nível microeconômico. A contabilização
destes valores ainda não é efetuada. Ainda têm-se poucos exemplos a esse
respeito, dentre estes podemos citar avaliação de agroecossistemas de cana-de
açúcar, considerando as implicações ambientais e o uso de recursos naturais
como fatores de produção, realizada por Renato Mello (MELLO, R. 1.997).
Existem ainda avaliações realizadas por pesquisadores utilizando métodos
diferenciados, mas que se prestam `a uma avaliação microeconômica, entre os
quais podemos citar os mais diversos, tais como: a avaliação de sistemas de
abastecimento de água utilizando métodos de engenharia econômica, como o
realizado por Benakouche e Cruz ( BENAKOUCHE e CRUZ, 1.995); análise para
estimar os benefícios do Programa de Saneamento Ambiental da Bacia do
Guarapiranga em São Paulo, realizado por Fernanda Gabriela Borger (BORGER,
1.998), aplicando a técnica de avaliação contingente; A propostas de um método
para avaliação de danos ambientais, com objetivo de auxiliar na mensuração da
indenização por danos ambientais realizado por Luiz César Ribas. (RIBAS,
1.996). Da mesma forma que em nível macroeconômico, em nível microeconômico a
introdução da valoração ambiental está em sua fase inicial e se caracteriza
como um desafio para empresas públicas e privadas.
Observamos que as demanda por pesquisas que esclarecerão a maneira de se
contabilizar os recursos naturais é grande, e que só pesquisas não bastam, uma
vez que se estas não forem aplicáveis, perderam seus objetivos. Se assumirmos
a postura de um crescimento sustentável, a aplicação de contabilização e
métodos de avaliação econômica dos recursos naturais é uma demanda
imprescindível, que aos poucos pode sair de meios acadêmicos e tomar seu lugar
em mecanismos em organizações públicas e privadas.
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1- CONCEITOS IMPORTANTES:
Para tratar a gestão ambiental dentro de empresas e relacionar esta com
a gestão financeira da mesma, torna-se necessário obter informações
importantes que se relacionam com estes dois tipos de gestão. Assim, pretende-
se abordar, neste trabalho conceitos considerados importantes, sem os quais
poder-se-ia estar executando uma análise superficial e consequentemente estar-
se-ia mais sujeito a cometer equívocos. Ainda que a intenção não seja esgotar
estes conceitos, mesmo porque estes são recentes em nosso campo de pesquisa,
torna-se importante elucidá-los, uma vez que o intento deste trabalho é
questionar a respeito de resultados econômicos da Gestão Ambiental em empresas
brasileiras. Assim são destacados conceitos da Administração financeira, da
Contabilidade e da Economia, bem como esclarecimentos a respeito do
aparecimento da questão ambiental como um fator importante a ser discutido
pela sociedade e os aspectos legais da gestão ambiental atual, a fim de que
este estudo possa ser melhor elucidado.