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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7 de setembro de 2013
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Análise dos Shows Musicais como Produto de Entretenimento
e Ferramenta de Comunicação1
Rafael Chagas LINS2
Dra. Janaina de Holanda Costa CALAZANS3
Universidade Católica de Pernambuco, Recife, PE
RESUMO
Este artigo pretende analisar o show musical, objeto de estudo, sob a perspectiva de dois
focos: o primeiro, como um produto de mercado comercializável, atendendo
necessidades específicas do público consumidor, e o segundo, como uma arena da
comunicação, funcionando como uma mídia para as marcas. Como produto, a atividade
do show foi destrinchada nos níveis de produto sugeridos por Phillip Kotler (2000) e
algumas características particulares foram identificadas, como, por exemplo, a
possibilidade de, em um mesmo show, existirem vários tipos e níveis de produto e
serviço relacionados a ele. Já como arena da comunicação, foi analisada a tendência das
empresas em utilizarem-se da associação de ideias que o show viabiliza junto ao público
com fins institucionais ou não.
PALAVRAS-CHAVE: show; arena da comunicação; show business; patrocínio;
eventos.
Introdução
Do ponto de vista corporativo, os eventos fazem parte do mix de comunicação
junto às atividades de Relações Públicas, Publicidade e Jornalismo, sendo uma peça
relevante nas estratégias de resolução dos problemas de comunicação das empresas
(GIÁCOMO, 1993). Andrade (1999) ratifica essa definição ao dizer que evento é o
“conjunto de ações definidas previamente, gerando um acontecimento” e que podem ser
apresentados nas mais variadas formas – da pura disseminação de conhecimento (como
as aulas ministradas pelos professores, por exemplo), até aqueles que mobilizam
milhares de pessoas em um mesmo espaço físico.
As definições são tão variadas que podemos dividi-las por áreas de
conhecimento. Para o mercado turístico, o evento tem como uma de suas principais
vantagens competitivas a falta de sazonalidade para sua realização, já que a atração dos
visitantes ao local em que são realizados é motivada pelo objetivo maior da viagem: o
evento em si (ANDRADE, 1999). Para compreender com mais clareza, basta analisar o
1 Trabalho para apresentação no DT02 Publicidade e Propaganda do XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da
Comunicação realizado de 4 a 7 de setembro de 2013. 2 Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda pela UNICAP, email: rafaelchagaslins@yahoo.com.br 3 Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda
da UNICAP, email: janaina.calazans@gmail.com
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conceito tangibilizador de eventos formulado por Andrade (1999), que diz que “os
eventos constituem parte significativa na composição do produto turístico, atendendo
intrinsecamente às exigências de mercado em matéria de entretenimento, lazer,
conhecimento, descanso e tantas outras motivações” – ou seja, eventos atraem turistas.
Para a Comunicação Social, os estudos mais aprofundados sobre os eventos
ainda se limitam ao curso de Relações Públicas – e, mesmo que o tema seja abordado
quase que exclusivamente nessa habilitação específica da Comunicação, ainda existem
várias distorções e disparidades relacionadas ao que é o evento e como trabalhar com
ele. Giácomo (1993), desconstruindo e reconstruindo os conceitos para “evento”,
definiu a ação como “acontecimento previamente planejado, a ocorrer num mesmo
tempo e lugar, como forma de minimizar esforços de comunicação, objetivando o
engajamento de pessoas a uma idéia ou ação”.
É perceptível que, tanto para o turismo, como para as relações públicas, o evento
ainda é visto como um meio e não como um fim. Ele é estudado como uma maneira
capaz de atingir os resultados de um objetivo maior – mas ainda não é visto como esse
objetivo maior, que precisa de estratégias para atingir resultados satisfatórios. Assim
como os shows.
O show como tipo de evento
A definição de show, em estudos acadêmicos, ainda é muito difusa, pelo fato de
não existirem muitos autores que o tenha como foco de estudo. Ele simplesmente
aparece inserido nas produções, como se, intuitiva e empiricamente, os leitores já
compreendessem o show como um tipo de evento.
Andrade (1999) não cita os shows como uma característica temática
diferenciada, de acordo com os parâmetros de classificação presentes no livro Manual
de Eventos. Todavia, através de comparações e inferências, é possível chegar a um
possível consenso. De acordo com Andrade (1999), o show pode ser considerado uma
exposição, se analisado pelo seu tema. As habilidades técnicas dos cantores que estão se
apresentando no palco estão sendo exibidas para um público pagante ou não que está
disposto a ver essas habilidades ao vivo. É possível concluir, também, que o show é
mais uma das subcategorias relacionadas ao conteúdo programático de um evento que
possui como objetivo os temas de natureza cultural ou de lazer, equiparando-se, por
exemplo, às mostras de arte e as vernissages (GIÁCOMO, 1993).
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Quanto à sua abrangência e porte, os shows podem seguir as mesmas
classificações sugeridas por Andrade (1999) e Allen (2008) – esse último, responsável
pela classificação dos eventos em festivais, eventos esportivos e eventos empresariais,
quando categorizados de acordo com o objetivo, e em megaeventos, eventos de marca,
eventos de grande porte e eventos locais ou comunitários, quando categorizados de
acordo com o porte do evento.
Seguindo a lógica das classificações dos autores supracitados, o Live8 Festival,
realizado no dia 2 de julho de 2005, pode ser utilizado como exemplo para indicar que
um show pode ser considerado um tipo de evento. Seu objetivo era angariar fundos para
as organizações beneficentes ONE e Comic Relief e chamar a atenção dos países que
formam parte do G8 para o problema global da pobreza. Foram realizados,
simultaneamente, dez shows em dez cidades diferentes ao redor do mundo. Além do
público presente fisicamente nos eventos, o restante do planeta dispunha da
possibilidade de assistir os shows ao vivo, através da Internet e de alguns canais de
televisão. Os shows aconteceram no Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Estados
Unidos, Canadá, Japão, Rússia e África do Sul. Artistas como REM, U2, Andrea
Bocelli, Shakira, Bjork, McFly, Green Day e outros fizeram parte do line-up
(programação) do festival4. De acordo com a organização do evento, aproximadamente
três bilhões de pessoas fizeram parte, de alguma forma, do festival. Com shows
acontecendo em quatro continentes diferentes, e sendo assistidos por todos os seis,
podemos classificar o Live8, seguindo as diretrizes de Andrade (1999), como uma
exposição mundial como um festival do porte de um megaevento (ALLEN, 2008).
Por mais que seja possível enquadrar os shows nessas classificações, ainda
assim, elas não conseguem transmitir o que é um show de fato. As pessoas vão aos
shows, pagam por seus ingressos, dispõem-se a sair do conforto de suas casas, com o
único desejo de se divertir. Melo Neto (2001), utilizando-se das palavras do escritor e
historiador Joel Rufino, define diversão como “sair de si. Saindo de si, você se coloca
na pele do outro e, dessa maneira, vive a vida, a experiência, a aventura do outro.
Divertir é o exercício da alteridade” (RUFINO apud MELO NETO, 2000). Shows
representam muito bem essa afirmação. Momentos de excitação e histeria são figuras
constantes nesse tipo de evento. Este exercício de alteridade, comentado por Rufino
(2000), pode ser exemplificado pelos fãs dos artistas que comparecem aos shows. A
4 Dados e informações retiradas do site oficial do Live8. Disponível em: http://www.live8live.com
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identificação entre as pessoas “pertencentes” a um mesmo grupo de fãs gera uma
unidade entre eles – muitas vezes refletida até no vestuário e no comportamento dessas
pessoas. Para o público consumidor de shows, “a diversão é (...) um fator de compra”
(Melo Neto, 2001). É ela a grande responsável por fazer uma pessoa optar por um show
em detrimento de outro.
Para Melo Neto (2001), um evento deve ser visto como um espaço de
entretenimento, e, para isso, deve-se criar um conjunto de atrações que tenha a
capacidade de atrair os mais diversos públicos. Shows são puro entretenimento e suas
atrações são o grande motor para a venda. Apesar de não escrever diretamente para os
empresários do ramo do entretenimento, Melo Neto (2001) diz que “a sinergia
diversão/entretenimento e negócios é cada vez maior e mais necessária para as empresas
que desejam vender mais e conquistar mais clientes”. Se as empresas em geral já estão
utilizando a arena dos eventos para ampliar os pontos de contato com o seu público-
alvo, os promotores de shows precisam, mais do que nunca, saber como estreitar essa
relação entre entretenimento e negócio – afinal, são eles os responsáveis por colocar o
público-alvo desejado pelas empresas no seu principal produto.
O show é um produto e deve ser tratado como tal
Segundo Hoyle Jr. (2008) são três os “Es” que norteiam o marketing de eventos:
entretenimento, emoção e empresa. Os três pontos, juntos, formam um poderoso
complexo para o sucesso do evento. A empresa precisa estimular a presença do público.
Por sua vez, o entretenimento e a emoção são itens essenciais para motivar as pessoas a
saírem de suas casas e irem aos espetáculos.
Estar presente em um show onde algum artista se apresentará ao vivo é o
principal diferencial competitivo quando seu teórico concorrente é o mesmo show
gravado em DVD. E a partir do momento em que se contrapõe um show ao vivo a um
DVD, como foi feito há pouco, torna-se clara a característica mercadológica dessa
modalidade de evento. O show deve ser analisado e compreendido como um produto
que pode e deve ser vendido a seu público-alvo de forma coerente e objetiva.
Se comparado a um produto, Kotler (2000) define produto como “algo que pode
ser oferecido a um mercado para satisfazer uma necessidade ou desejo”, e que pode ser
um bem físico, um serviço, uma experiência, eventos, pessoas, lugares, propriedades,
organizações, informações e ideias. Os shows, de forma geral, são os produtos
disponíveis no mercado para saciar o desejo de diversão de grupos específicos.
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Os produtos possuem cinco níveis onde, a cada evolução, por assim dizer, o
valor para o cliente é ampliado e passa a ser percebido de outra forma, aumentando o
seu valor agregado (KOTLER, 2000). O primeiro nível é o benefício central, que é “o
serviço ou benefício fundamental que o cliente está realmente comprando” (KOTLER,
2000). No caso dos shows, o cliente que adquire um ingresso está buscando
entretenimento – esse é o desejo fundamental que deverá ser saciado pelo produto-
show. O segundo nível é o do produto básico, que é a “materialização” do benefício
central para que ele exista. A contratação das atrações, do espaço a ser realizado e de
sua estrutura básica de som e iluminação são essenciais para a realização de qualquer
show, independentemente do seu porte. O terceiro nível é o do produto esperado, que é
composto por “uma série de atributos e condições que os compradores normalmente
esperam ao comprá-lo” (KOTLER, 2000). Ao comparecer a um show, o cliente espera
que as músicas mais conhecidas dos artistas que estão se apresentando sejam
executadas, que o som esteja em boas condições de audição, que a iluminação esteja em
perfeito estado e que exista uma infraestrutura básica para alimentação e higiene. O
quarto nível é onde, hoje, a concorrência nos mais variados mercados de fato acontece –
o nível do produto ampliado (KOTLER, 2000). O show, nesse nível, deve exceder as
expectativas do consumidor. Por exemplo, a contratação de outras atrações para compor
o evento junto à atração principal, o local onde o show será realizado estar decorado
especificamente para a ocasião, espaços de convivência e descanso do público presente
(lounges), distribuição de brindes, sistema de alimentação e bebidas all inclusive5,
megaestruturas de som e iluminação, visita ao camarim dos artistas etc. O quinto nível
de produto é o produto potencial, “que abrange todos os aumentos e transformações a
que o produto deve ser submetido no futuro” (KOTLER, 2000). Por exemplo, a
realização de um show onde o público poderia escolher, previamente, as músicas que
serão executadas pelos artistas em questão.
A tendência recente no mercado de shows é a variedade de preços e setores para
cada evento específico. Cada setor disponibilizado possui preços – e níveis de produtos
– diferentes. Esses tipos de ingressos variam em decorrência do tamanho do espaço
onde o show será realizado. As duas apresentações realizadas pelo ex-Beatle Paul
McCartney, nos dias 21 e 22 de abril de 2012, no Estádio José do Rego Maciel (o
Estádio do Arruda), no Recife, serão utilizadas como exemplo. Existiram cinco tipos de
5 Esse sistema consiste na consumação de alimentos e/ou bebidas sem custo adicional para o cliente.
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ingresso para os dois dias: Arquibancada Superior, Arquibancada Inferior/Gramado,
Cadeiras, Pista Premium e o Hot Sound Package. Os preços de cada tipo/setor eram de
R$ 160,00, R$ 260,00, R$ 340,00, R$ 600,00 e U$ 1.400,00, respectivamente.
Os setores estavam distribuídos no Estádio do Arruda, de acordo com a Figura 1.
A única observação vai para o Hot Sound Package: as pessoas que adquiriram esse tipo
de ingresso tinham direito, automaticamente, a receber um ingresso para a Pista
Premium, além de ter permissão para assistir a passagem de som do artista, entrar pela
“Área VIP” antes da abertura oficial dos portões, receber crachás diferenciados, ganhar
alguns produtos oficiais do merchandising da turnê e serem recepcionados por membros
do staff de Paul McCartney6.
Figura 1: Mapa de setores do show de Paul McCartney em Recife
Fonte: http://www.zetks.com/EventDetail.aspx?idEvent=141. Acessado em 09 de abril de 2012, às 21:50.
Uma pesquisa de opinião daria um diagnóstico mais abalizado sobre as seguintes
afirmações, mas, empiricamente, pode-se concluir que existiram três níveis de produto
nesse show. Os ingressos para a Arquibanca Superior e para a Arquibancada
Inferior/Gramado estariam no nível do produto básico. As pessoas que adquiriram esse
tipo de ingresso queriam apenas estar presente no evento e assistir ao vivo a
apresentação do cantor. No nível do produto esperado estariam os ingressos para as
Cadeiras e Pista Premium. O público presente nesses setores pretendia assistir o show
de forma um pouco mais confortável (principalmente no caso das Cadeiras) e o mais
próximo possível do palco, obtendo, assim, uma melhor visão da apresentação e do
artista. O Hot Sound Package corresponde ao nível do produto ampliado, já que se
preocupa em encantar o cliente, oferecendo-lhe alguns diferenciais exclusivos. Kumar
(2004), professor de Marketing e diretor do Aditya V. Birla India Centre, da London
6 Preços e informações retirados do site da Zetks, empresa responsável pela venda dos ingressos do show de Paul
McCartney em Recife e Florianópolis.
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Business School, chama de “solução” a passagem de nível do produto esperado para o
ampliado no mercado business-to-business. Por mais que a discussão apresentada por
ele se dê no ambiente empresarial, é possível traçar um paralelo com o comportamento
do consumidor comum.
Obviamente, as pessoas preferem soluções, em vez de produtos – mas
nem todos estão dispostos a pagar por isso. A diferença crítica entre
necessidades (...) e demandas do consumidor é que estas são
necessidades pelas quais os consumidores são capazes – e têm o
desejo – de pagar. Como prover soluções requer customização e,
portanto, sai caro, a empresa que aspira oferecer o serviço ao mercado
deverá ser meticulosa ao definir qual cliente de valor poderá comprar
sua solução (KUMAR, 2004).
Kotler (2000) ratifica essa afirmação ao dizer que cada ampliação de produto
agrega um custo adicional. Os ingressos para o Hot Sound Package foram vendidos,
exclusivamente, através do site americano Etix – essa é a razão do valor desse setor ser
em dólar – e eles foram divulgados, basicamente, entre o mailing de fãs registrado no
site oficial do cantor. Foram os fãs mais aficionados e/ou de maior poder aquisitivo que
se disponibilizaram a pagar uma quantia tão diferenciada para este tipo de ingresso – e
seriam eles que deveriam ser atingidos por uma comunicação segmentada e específica.
A variedade de ingressos dentro de um show faz com que um mesmo produto (o
show em si) possua um mix de produtos (setores do show) dentro dele mesmo. Esse
mix, porém, possui apenas uma linha de produto – o ingresso –, o que caracteriza uma
abrangência de mix pequena. A extensão do mix vai variar de show para show, podendo
ser grande ou pequena. No Brasil, a profundidade de um ingresso de um show
normalmente é igual a dois, já que são disponibilizados para venda o valor original do
ingresso, comumente chamado de “inteira”, e o valor com 50% de desconto, a “meia-
entrada” (benefício garantido para algumas camadas da população, como estudantes e
idosos). A consistência do mix é forte, levando-se em consideração que todos os
produtos fazem parte de um mesmo produto-mãe, o próprio show.
A seguir, duas tabelas estão ilustrando exemplos de mix de produto: a primeira,
utilizando os ingressos dos shows de Paul McCartney em Recife e a segunda, utilizando
os ingressos do festival Abril Pro Rock 20 Anos, realizado durante os dias 20 a 22 de
abril de 2012 no Chevrolet Hall em Olinda. As tabelas servem para exemplificar o
tamanho e as múltiplas possibilidades de um mix de produtos de shows de grande porte.
Tabela 1: Mix de produtos do show de Paul McCartney em Recife
Abrangência do Mix de Produtos
Paul McCartney
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Extensão da
linha de
produtos
21 de abril 22 de abril
Arquibancada Superior Inteira
Arquibancada Superior Inteira
Meia-entrada Meia-entrada
Arquibancada
Inferior/Gramado
Inteira Arquibancada
Inferior/Gramado
Inteira
Meia-entrada Meia-entrada
Cadeiras Inteira
Cadeiras Inteira
Meia-entrada Meia-entrada
Pista Premium Inteira
Pista Premium Inteira
Meia-entrada Meia-entrada
Hot Sound Package Preço Único Hot Sound Package Preço Único
Fonte: Tabela organizada pelo autor
Tabela 2: Mix de produtos do Abril Pro Rock 20 Anos
Abrangência do Mix de Produtos
Abril Pro Rock 20 Anos7
20 de abril 21 de abril 22 de abril
Extensão da
linha de
produtos
Pista
Inteira
Pista
Inteira
Pista
Inteira
Meia-entrada Meia-entrada Meia-entrada
Social Social
Camarote
1º Piso
Camarote
1º Piso
Camarote
1º Piso
2º Piso 2º Piso 2º Piso
3º Piso 3º Piso 3º Piso
Fonte: Tabela organizada pelo autor
Quanto à sua classificação, os produtos podem ser categorizados de acordo com
sua durabilidade e tangibilidade e através dos hábitos de compra do consumidor, no
caso dos bens de consumo (KOTLER, 2000). Kotler (2000) divide os produtos em bens
não-duráveis (bens tangíveis que possuem como principal característica a alta
frequência de compra e pequena utilização/consumação), bens duráveis (bens tangíveis
que são usados por um período de tempo mais extenso) e serviços, que são “produtos
intangíveis, inseparáveis, variáveis e perecíveis” (KOTLER, 2000) – é o caso do show.
A única “tangibilização” do show está atrelada ao ingresso que é emitido para o
consumidor e que funciona como garantia de acesso ao local do evento, mas o ingresso
não traduz nem materializa a apresentação do artista. O show em si acontece uma única
vez, por mais que existam duas ou mais apresentações no mesmo dia e local. Afinal,
quem o comanda é um ser humano que possui variações de humor, temperamento. Essa
é a razão pela qual Kotler (2000) diz que os serviços “normalmente exigem mais
controle de qualidade, credibilidade de fornecedores e adaptabilidade”.
Quanto à classificação dos bens de consumo, Kotler (2000) os divide em quatro
categorias: bens de conveniência (alta frequência de compra, com características
imediatistas e sem esforço), bens de compra comparada (o consumidor desse tipo de
bem realiza pesquisas e comparações antes de efetivar a compra), bens não-procurados
7 Informações referentes ao Abril Pro Rock retiradas do site da Ingresso Rápido, empresa responsável pela venda dos
ingressos do evento pela Internet.
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(bens que não são conhecidos ou não são procurados até existir uma verdadeira
necessidade para o consumidor) e bens de especialidade, que são “bens com
características singulares ou identificação de marca pelos quais um número suficiente de
compradores está disposto a fazer um esforço extra de compra” (KOTLER, 2000). Os
shows podem ser classificados como bens de especialidade, já que o que define a
compra ou não de um ingresso é a afinidade que o consumidor tem com a atração
principal em questão. A compra de um setor mais caro em detrimento de um setor mais
barato pode envolver uma compra mais bem planejada, já que pode causar um impacto
considerável no orçamento do cliente.
O show como arena da comunicação
A Publicidade passa por um rápido período de transição, distanciando-se cada
vez mais do que era no século XX (GRACIOSO, 2008). Essas mudanças foram
antecipadas pelo sociólogo francês, Gérard Lagneau.
Profissionalmente, o publicitário encontrará sua autonomia quando
tiver deixado inteiramente de ser um intermediário, parasita do
anunciante, que por sua vez parasita o veículo. Socialmente, a
mensagem informativa se tornará um meio de comunicação quando
puser interlocutores uns diante dos outros, em lugar de se dirigir a
todo mundo de um modo geral. Os veículos que dispomos são capazes
de ultrapassar sua transitividade atual para reencontrar a reciprocidade
do diálogo conservando ao mesmo tempo seu caráter coletivo?
(LAGNEAU apud GIÁCOMO, 1981)
A dúvida de Lagneau (1981), registrada em seu livro já foi respondida por vários
autores e profissionais da Comunicação Social – e a resposta deles é “não”. Gracioso
(2008), por exemplo, deixa claro que manter a comunicação institucional nas áreas
comuns da Publicidade pode até estimular a venda de produtos e continuar sendo
importante para o processo como um todo, mas não cria fidelização, paixão à marca. Ele
chega a afirmar que, no século XXI, a propaganda tradicional não será mais o fator
decisivo de compra. Para atingir um maior grau de afinidade com o consumidor, surgem
as novas arenas da comunicação com o mercado: propaganda tradicional, varejo visto
como centro de difusão da marca, mundo da moda e do entretenimento, grandes eventos
promocionais, mundo do esporte, Internet/varejo digital e telemarketing e outras formas
de venda direta. A proposta das arenas é constituir uma comunicação multidisciplinar e
integrada, alterando, assim, o diálogo comum e unilateral entre emissor e receptor. A
ideia é gerar interação e experiência com o consumidor (GRACIOSO, 2008).
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Os eventos, como já citado anteriormente, são pontos de contato entre marca e
consumidor de extrema importância para a comunicação contemporânea. Eles
funcionam como verdadeiras mídias, se analisarmos o conceito básico delas:
A Mídia é absolutamente parte integrante do processo mercadológico
e podemos dizer que, se a Propaganda é uma função de Marketing, a
Mídia, por sua vez, é função de Propaganda. (A Mídia) situa-se no
ponto terminal da entrega da mensagem ao consumidor-alvo de uma
marca (DIAS (Org.), BENETTI, 1989).
Os eventos esportivos movimentam patrocínios milionários; feiras e congressos
são promovidos e patrocinados cem por cento por empresas de interesse comum ao
tema; megashows acontecem todo o tempo, gerando milhares de empregos diretos e
indiretos, estimulando o turismo regional e até internacional. Esses são apenas alguns
exemplos que ratificam o evento como mídia. Em todos eles existe uma intenção clara
em se atingir um público-alvo de interesse para alguma empresa em questão.
As arenas da comunicação podem ser conceituadas como “espaços ou territórios
temáticos que privilegiam a interação e experiências de contato entre grupos de
interesse e marca” (GRACIOSO (Org.), GALLUCCI, 2008) e elas “materializam-se
pela linguagem do entretenimento e do espetáculo” (GRACIOSO, 2007). Os shows
estão inseridos na arena do mundo da moda e do entretenimento.
A moda e o entretenimento compartilham da mesma categorização pelo fato de
ambos serem espetáculos. Não há grandes diferenças entre o glamour das top models
internacionais com os cantores mundialmente conhecidos que conseguem lotar estádios
de futebol (GRACIOSO, 2008). A “espetacularização”, ou seja, transformar coisas
comuns em verdadeiros objetos de desejo é uma característica muito forte da sociedade
pós-moderna: “o espetáculo é obra da imaginação e seu objetivo principal é fazer-nos
sonhar e fugir por um momento da realidade árida que nos cerca” (GRACIOSO, 2008).
Não é à toa, portanto, que muitas vezes o termo “show” é utilizado como
sinônimo para espetáculo ou algo muito bom ou grandioso. Shows atraem as massas
através da música e da arte, gerando uma identificação única com o público presente. A
relação artista/público é puramente persuasiva. Um exemplo simples para ilustrar a
afirmação anterior: um cantor de axé pede para o público agitar os braços de um lado
para o outro. Quase que imediatamente o público reage, realizando a ação comandada
pelo cantor. Essas reações durante um show é apenas uma pequena demonstração dessa
relação persuasiva quando comparada às modas ditadas pelas bandas (o estilo colorido
da banda paulista Restart e que foi seguido à risca pelos fãs) ou pela enorme quantidade
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de CDs vendidos de um artista depois de ter uma música como trilha sonora de
telenovelas, por exemplo. O ápice da persuasão entre o artista e seus fãs acontece
justamente nos shows, já que é o momento do contato “direto” entre ídolo e público.
Ora, a publicidade é essencialmente persuasiva. Por conta disso, Gracioso (2008)
chega a afirmar que a propaganda também é uma forma de espetáculo. Era de se
esperar, então, que os shows começassem a ser utilizados como mensagem publicitária.
Caminhamos para um universo em que, cada vez mais, as pessoas
fazem a escolha da mídia que desejam. Elas não querem mais sentar
para assistir a um filme e serem interrompidas por uma propaganda
que não tem nada a ver com o objetivo delas naquele momento. Isso
interrompe e incomoda. Nesse cenário, o entretenimento é um forte
aliado (CAVALCANTI apud GRACIOSO (Org.), MARCELINO,
2008)
Além de estar em um momento oportuno para a inserção da mensagem
publicitária, como explicado acima por Luca Cavalcanti, diretor dos canais digitais do
Bradesco, a utilização de uma marca em um show adquire outra vantagem significativa,
a personalidade em questão:
Na verdade, além do efeito lúdico, a associação da nossa marca a um
espetáculo tem outro efeito decisivo: ela ganha o endosso das estrelas
do show, sejam elas jogadores de futebol ou guitarristas de música
pop. (GRACIOSO, 2008).
É assim que um ciclo continua e se estabelece: artista influencia público; artista
associa-se às marcas como parte das novas arenas da comunicação com o mercado;
público consome os produtos relacionados ao artista; artista influencia público.
“O show vende. (...) É o show como veículo de chegar à razão pela via do
coração. (...) A razão orienta, mas a emoção movimenta” (GRACIOSO (Org.),
MEGIDO, 2008). Muitas empresas estão lidando com o patrocínio de shows como
prática comum em suas ações de marketing, já que ele consegue efetivar essa relação
afetiva entre artista/marca com o seu público consumidor. No mercado dos espetáculos
musicais, porém, não são apenas os artistas que são patrocinados. Festas, festivais e até
os espaços para os eventos são patrocinados por empresas que querem uma
aproximação com o público. De acordo com a Lei Rouanet, a lei federal mais conhecida
em relação ao incentivo à cultura, patrocínio é a:
Transferência gratuita, em caráter definitivo, à pessoa física ou
jurídica de natureza cultural com ou sem fins lucrativos, de numerário
para a realização de projetos culturais com finalidade promocional e
institucional de publicidade. (Lei n. 8.313, de 22/12/99)
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A seguir, é possível analisar uma tabela criada pelos autores deste artigo para
identificar tipos de produto do mercado de shows e seus respectivos patrocinadores (foi
levado em consideração apenas as iniciativas privadas).
Tabela 4: Lista de empresas envolvidas com produtos do mercado de shows.
Tipo de Produto Patrocinadores
Paul McCartney Artista Hewlett-Packard8
Restart no Chevrolet Hall (PE)
(18 de maio de 2011) Show Coca-Cola9
Roxette
(10 a 18 de maio de 2012) Turnê TAM e SKY Live10
Abril Pro Rock 20 Anos Festival Petrobrás, Copergás, Pitú e Bis11
Rock In Rio 2013 Festival Itaú, Heineken, Club Social e Trident12
Chevrolet Hall (PE) Casa de Shows General Motors, Devassa, Coca-Cola,
Johnnie Walker, Lojas Renner e Eletroshopping13 Fonte: Tabela organizada pelos autores
Mais de 25% dos patrocinadores, de acordo com a tabela acima, está inserida no
ramo das bebidas. Esses patrocínios normalmente estão ligados aos shows por terem
retorno imediato do seu investimento. É quase que obrigatória a venda exclusiva dos
produtos do patrocinador no local do evento. Outros patrocinadores, como é o caso da
Petrobrás, no Abril Pro Rock, e da General Motors, no Chevrolet Hall, provavelmente
estão utilizando o mercado do show como uma arena para executar suas estratégias de
comunicação institucional.
As marcas que as empresas carregam em seus portfólios, apesar de serem
intangíveis, tornaram-se seus bens mais importantes, superando até as fábricas e
estoques (KUMAR, 2004). Fortificá-las e posicioná-las na mente do consumidor é
essencial para a sua sobrevivência. O patrocínio entra aí como uma excelente
ferramenta para a comunicação institucional da empresa, conferindo: maior
conhecimento da marca, publicidade gratuita, aumento do nível de lealdade dos
funcionários, entre outros (REIS, 2009).
Enquanto o patrocínio faz com que a popularidade das marcas seja ampliada e o
relacionamento com o cliente seja mais direto, alguns shows e festivais tornam-se tão
8 Informação retirada do site oficial do cantor. Disponível em: http://www.paulmccartney.com 9 Informações obtidas com o Departamento de Marketing do Chevrolet Hall em Recife. 10 Informações obtidas com a Divisão de Shows Internacionais da T4F. 11 Informações retiradas do site oficial do Abril Pro Rock. Disponível em: http://abrilprorock.info 12 Informações retiradas do site oficial do Rock In Rio. Disponível em: http://www.rockinrio.com.br 13 Informações retiradas do site oficial do Chevrolet Hall em Recife. Disponível em: http://www.
chevrolethallpe.com.br
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populares ao ponto de adquirirem respeito e alta fidelidade por parte do público. Esses
eventos chamam a atenção dos formadores de opinião e de vários mercados não
diretamente relacionados com o mercado de shows e acabam evoluindo para
verdadeiras marcas. Por exemplo, o Rock In Rio e a Volkswagen, em 2011, firmaram
uma parceria que resultou na fabricação de 5.600 carros dos modelos Fox e Gol em uma
série limitada que homenageava o festival14. Vários produtos oficiais de merchandising
com a marca do Rock In Rio – nenhum artista foi mencionado nesses produtos – foram
vendidos através de grandes sites de e-commerce, como o Submarino, e de quiosques
montados em shoppings do Rio de Janeiro.
Os exemplos do Rock In Rio evidenciam a enorme capacidade mercadológica
dos shows. Um mesmo negócio pode ser considerado produto e mídia simultaneamente,
gerando resultados financeiros imediatos e retorno institucional a médio e longo prazo
tanto para o próprio evento como para as marcas ali envolvidas.
Considerações finais
Estudar o show e suas especificidades é um trabalho teórico que não possui
teoria especializada. Os eventos, base de estudo para cursos como Turismo e Relações
Públicas, possuem uma vastidão de literatura, mas nada voltado exclusivamente para
essa atividade comercial tão presente no cotidiano da sociedade atual.
A prática entra aí como a principal fonte de referência para o estudo. Estar em
contato com profissionais da área foi de extrema importância para a conclusão deste
projeto. Todos os autores utilizados serviram como forma de embasamento teórico para
justificar e analisar o que já se está fazendo no mercado. As classificações e conceitos
apresentados no início do artigo serviram para contextualizar a atividade do show
artístico como parte integrante do universo dos eventos – ainda que fosse praticamente
ignorado pelos estudiosos.
Com a ideia clara de que o show é um evento, tornou-se possível analisa-lo sob
duas óticas: o show como produto de entretenimento e o show como veículo midiático.
O show como produto é caracterizado por ser um serviço, já que oferece produtos
intangíveis, e por ter, dentro de si, vários níveis de produto. Além dos ingressos, uma
série de produtos e serviços paralelos aos shows também podem ser criados: a venda de
bilhetes pela internet, CDs e DVDs com gravações ao vivo, merchandising oficial
14 Informações retiradas do site da revista Auto Esporte. Disponível em: http://revistaautoesporte. globo.com
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(peças de vestuário, chaveiros, bonés, cadernos, copos etc), as bebidas e os alimentos
oferecidos ao público presente (todas as embalagens de pipoca, pão de queijo e alguns
outros alimentos vendidos dentro da arena do Cirque du Soleil, estampavam a marca do
evento, por exemplo) e tantos outros itens que tem como objetivo maior aumentar a
receita final.
Já o show como veículo midiático é caracterizado pelo fenômeno das novas
arenas da comunicação, tema amplamente estudado pelo Prof. Francisco Gracioso, ex-
presidente da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). As arenas apontadas
como novos rumos da comunicação moderna são: propaganda tradicional, varejo visto
como centro de difusão da marca, mundo da moda e do entretenimento, grandes eventos
promocionais, mundo do esporte, Internet/varejo digital e venda direta. No mundo da
moda e do entretenimento, já existe a preocupação publicitária de se utilizar dos shows
de forma coerente com o objetivo de comunicação que quer ser atingido pela empresa.
Porém, essa visão também é externa ao show. Nas arenas, o show é visto como uma
mídia publicitária que outras marcas podem “parasitar” para vender seus produtos.
Apesar de externa, essa caracterização de mídia que é dada ao show faz com que um
valor maior seja agregado ao produto e que ele seja percebido pelo consumidor de
forma diferente. Isso gera uma percepção de marca também para o evento, não só para
os patrocinadores ali envolvidos. Um show patrocinado pela marca de cervejas
Heineken, por exemplo, vai automaticamente criar um posicionamento, uma ideia do
tipo de público, do tipo de atração e do local que esse show acontecerá. O mesmo
evento patrocinado pela Brahma Fresh, continuando a linha de raciocínio, já passaria
outra imagem à festa. A associação de ideias e imagens acontece para todas as partes
envolvidas.
Os operadores, proprietários, diretores e administradores das empresas
produtoras desses eventos, devem se atentar a essas informações. A fidelização do
público é, hoje, um dos maiores “privilégios” que uma empresa pode ter. Ter um
público fiel significa garantir vendas constantes. É necessário que esse público seja
encantado e surpreendido, sempre que possível. A partir do momento que ele se torna
fiel, o trabalho de venda de ingressos e de produtos e serviços periféricos se torna até
mais natural – basta observar o caso do Rock In Rio.
Referências
Abril Pro Rock. Disponível em: abrilprorock.info. Acessado em: 21 de abril de 2012, às 17:00.
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Manaus, AM – 4 a 7 de setembro de 2013
15
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