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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SUSTENTABILIDADE LETÍCIA YUMI MARQUES Licenciamento ambiental como instrumento para conservação da biodiversidade e bem- estar animal: estudo sobre o atropelamento de animais na Estrada-Parque Carlos Botelho (SP-139) São Paulo 2022

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ARTES, CIÊNCIAS E HUMANIDADES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SUSTENTABILIDADE

LETÍCIA YUMI MARQUES

Licenciamento ambiental como instrumento para conservação da biodiversidade e bem-

estar animal: estudo sobre o atropelamento de animais na Estrada-Parque Carlos

Botelho (SP-139)

São Paulo

2022

LETÍCIA YUMI MARQUES

Licenciamento ambiental como instrumento para conservação da biodiversidade e bem-

estar animal: estudo sobre o atropelamento de animais na Estrada-Parque Carlos

Botelho (SP-139)

Versão corrigida

Dissertação apresentada à Escola de Artes,

Ciências e Humanidades da Universidade de

São Paulo para obtenção do título de Mestre em

Ciências pelo Programa de Pós-graduação em

Sustentabilidade.

Área de Concentração:

Gestão Ambiental

Orientador:

Prof. Dr. Paulo Santos de Almeida

São Paulo

2022

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Nome: MARQUES, Letícia Yumi

Título: Licenciamento ambiental como instrumento para conservação da biodiversidade e bem-

estar animal: estudo sobre o atropelamento de animais na Estrada-Parque Carlos Botelho

(SP-139)

Dissertação apresentada à Escola de Artes,

Ciências e Humanidades da Universidade de

São Paulo para obtenção do título de Mestre em

Ciências pelo Programa de Pós-graduação em

Sustentabilidade.

Área de Concentração:

Gestão Ambiental

Aprovado em: ___ / ___ / _____

Banca Examinadora

Prof. Dr. ____________________ Instituição: __________________

Julgamento: ____________________ Assinatura: __________________

Prof. Dr. ____________________ Instituição: __________________

Julgamento: ____________________ Assinatura: __________________

Prof. Dr. ____________________ Instituição: __________________

Julgamento: ____________________ Assinatura: _________________

Para Baleia.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Paulo Santos de Almeida, aos professores,

professoras, colegas, amigos e amigas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da

Universidade de São Paulo – EACH-USP pela convivência e aprendizado, em especial a

Amanda dos Santos Souza Camilo e Jéssica Marques pelos debates e trocas de ideias que me

permitiram enxergar a complexa relação da nossa sociedade com a natureza também sob outros

olhares, os das diferenças e contraposições, tão importantes para amadurecimento das nossas

próprias opiniões e tão necessários para nos trazer para o lado de fora das bolhas que, muitas

vezes, nos levam à perigosa e falsa sensação de estarmos sempre certos.

Ofereço sinceros agradecimentos também ao Departamento Estadual de Estradas de

Rodagem do Estado de São Paulo (DER), responsável pela gestão da Estrada-Parque Carlos

Botelho, nas pessoas de Milton Magalhães Costa, Chefe de Gabinete da Superintendência, que

deferiu o requerimento de vistas aos documentos relativos ao licenciamento ambiental do

empreendimento, e de Karina Mencarini, da Coordenadoria de Meio Ambiente, que, apesar das

dificuldades e do rodízio de servidores durante a pandemia de Covid-19, separou, escaneou e

encaminhou, por e-mail, os documentos levantados, e que me acompanharia na visita de campo

ao Parque Carlos Botelho, que não pôde se realizar também em função da pandemia.

Muito obrigada ao KLA Advogados, na pessoa do sócio Paulo Augusto do Prado, pelo

apoio à realização desta pesquisa e por seus constantes e sinceros esforços para

desenvolvimento e valorização das pessoas do Time KLA e pelas admiráveis e concretas

iniciativas de inclusão e diversidade.

Por fim, não poderia deixar de agradecer aos amigos e amigas, que deixo de nominar

para não cometer a falha de esquecer nenhum nome, mas que encorajaram a realização desta

pesquisa com dicas, materiais de leitura e palavras de incentivo e entusiasmo à causa dos

animais não-humanos.

RESUMO

MARQUES, Letícia Yumi. Licenciamento ambiental como instrumento para

conservação da biodiversidade e bem-estar animal: estudo sobre o atropelamento de animais

na Estrada-Parque Carlos Botelho (SP-139). 2022. Número total de 94f. Dissertação (Mestrado

em Ciências) – Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo, São

Paulo, 2022. Versão Corrigida.

Em 2019, o número de atropelamento de animais em estradas e rodovias brasileiras

chegou à casa dos 475 milhões de ocorrências, com expressiva concentração na Região Sudeste

do Brasil (CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS EM ECOLOGIA DE ESTRADAS, 2019).

O atropelamento de animais é um dos impactos negativos da construção e operação de estradas

e rodovias, que, em sua implantação, promovem a fragmentação da paisagem e a perda de

habitat, considerados alguns dos principais fatores que levam à perda da biodiversidade

(WILSON et al., 2016). O controle dos impactos ambientais adversos da implantação e

operação de estradas e rodovias é realizado pelo órgão competente dentro do processo de

licenciamento ambiental, em que se busca, com subsídio em estudos técnicos, estabelecer

medidas de mitigação e compensação desses impactos, inclusive nos animais. Este trabalho

teve como objetivo analisar a adequação e eficácia do licenciamento ambiental de estradas e

rodovias para a conservação da biodiversidade e do bem-estar animal a partir de um estudo de

caso único sobre a Estrada-Parque Carlos Botelho (SP-139), localizada em área de Mata

Atlântica e cuja área de influência direta abriga espécies endêmicas e ameaçadas de extinção.

Em razão das restrições relacionadas à pandemia de Covid-19, os dados coletados para análise

ficaram restritos a estudos e relatórios elaborados pelo Departamento Estadual de Estradas de

Rodagem para o licenciamento ambiental da Estrada-Parque Carlos Botelho (SP-139), dados

fornecidos pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo a respeito da avaliação

preliminar dos primeiros dados de atendimento à Decisão de Diretoria n.º 141/2018/I, de 14 de

agosto de 2018 (dispõe sobre os critérios para a destinação de animais mortos em rodovias) e

da legislação federal e estadual pertinente. Os dados foram analisados a partir do método

indutivo. O trabalho concluiu, com base no universo de dados analisados, que o licenciamento

ambiental da Estrada-Parque Carlos Botelho (SP-139) tem se mostrado adequado e eficaz para

conservação da biodiversidade, mas é inadequado e ineficaz para o bem-estar animal.

Palavras-chave: licenciamento ambiental; São Paulo; conservação da biodiversidade;

sustentabilidade; bem-estar animal; ecologia de estradas.

ABSTRACT

MARQUES, Letícia Yumi. Environmental licensing as instrument for biodiversity

conservation and animal welfare: study on the run over of animals in Carlos Botelho

Parkway. 2022. 93p. Dissertation (Master of Science) – School of Arts, Sciences and

Humanities, University of São Paulo, São Paulo, 2022. Original version.

In 2019, the rate of animal’s mortality due to collision with vehicles on Brazilian roads

and highways reached 475 million occurrences, mainly in the Southeastern Region (CENTRO

BRASILEIRO DE ESTUDOS EM ECOLOGIA DE ESTRADAS, 2019). Collisions with

vehicles are some of the negative impacts of the construction and operation of roads and

highways that cause fragmentation of the landscape and loss of habitat during its

implementation process. The fragmentation of the landscape and the loss of habitat are

considered some of the main factors that lead to the loss of biodiversity (WILSON et al., 2016).

The control of adverse environmental impacts from the implementation and operation of roads

and highways is carried out by the environmental authority within the licensing process, which

intent to establish mitigation and compensation measures for adverse impacts on animals based

on technical studies. This study aimed to analyze the suitability and efficiency of the

environmental licensing of roads and highways to the conservation of biodiversity and animal

welfare through a single case study on the Carlos Botelho Parkway, which is located in Atlantic

Forest area that harbors endemic and endangered species. Due to restrictions related to the

pandemics, the data collected consisted only in studies and reports drafted by parkway

concessionairefor the environmental licensing process of the Carlos Botelho Parkway, data

provided by the environmental agency on the preliminary assessment on the compliance of

2018 regulation on dead animals in state roads and state and federal applicable legislation. The

data were analyzed by the inductive reasoning method. This work has concluded that

environmental licensing has been suitable and efficient for biodiversity conservation and

unsuitable and inefficient for animal welfare.

Keywords: environmental licensing; biodiversity conservation; sustainability; animal

welfare; road ecology.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Espécies de animais identificadas no monitoramento de fauna vs. espécies

identificadas no Plano de Manejo do PECB ....................................................... 55

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Símbolos utilizados na pesquisa de senciência animal de Medjdell et al. .............. 30

Figura 2 – Experimento com cavalos ....................................................................................... 31

Figura 3 – Limites Planetários .................................................................................................. 41

Figura 4 – Cubo de Bateson ..................................................................................................... 44

Figura 5 – Localização do PECB ............................................................................................. 46

Figura 6 – Brachyteles arachnoides (muriqui-do-sul). ............................................................ 47

Figura 7 – Fatores de alta pressão no PECB ............................................................................ 48

Figura 8 – Retigráfico das medidas mitigadoras da EPCB (parte 1) ........................................ 61

Figura 9 – Retigráfico das medidas mitigadoras da EPCB (parte 2) ........................................ 62

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Atores do licenciamento ambiental da EPCB ........................................................ 18

Quadro 2 – Pesquisa documental junto a órgãos públicos ...................................................... 19

Quadro 3 – Marco legal aplicável ao atropelamento de fauna ................................................. 20

Quadro 4 – Definição de termos ............................................................................................... 21

Quadro 5 – Diferenças entre a tutela dos animais no Direito Ambiental e no Direito

Animal.. ................................................................................................................. 25

Quadro 6 – Classificação de animais do PECB no Inventário de Fauna Paulista de 2018 ...... 28

Quadro 7 – Cinco Liberdades Animais .................................................................................... 32

Quadro 8 – Conceitos das licenças ambientais ......................................................................... 34

Quadro 9 – Natureza jurídica da licença ambiental .................................................................. 35

Quadro 10 – Exigências normativas sobre manejo de fauna no licenciamento ambiental....... 39

Quadro 11 – Licenças ambientais da EPCB ............................................................................. 50

Quadro 12 – Condicionantes relacionadas ao manejo de animais da Licença Prévia n.

2.175.. .................................................................................................................... 50

Quadro 13 – Condicionantes relacionadas ao manejo de animais da Licença de Instalação

n. 2.239 .................................................................................................................. 51

Quadro 14 – Principais pontos do Relatório Final do Programa de Afugentamento e

Resgate de Fauna – Janeiro/2014 – Setembro/2015 do DER ................................ 52

Quadro 15 – Principais pontos do Relatório de Atendimento das Exigências Técnicas da

Licença de Instalação n. 2.239/2013 e Solicitação da Licença de Operação da

Rodovia SP-139 ..................................................................................................... 53

Quadro 16 – Principais pontos do documento Monitoramento e Mitigação de Fauna

Silvestre do DER ................................................................................................... 54

Quadro 17 – Condicionantes relacionadas ao manejo de animais da Licença de Operação a

Título Precário n. 2.301 ......................................................................................... 56

Quadro 18 – Principais pontos do documento Programas de Monitoramento de Fauna da

Rodovia Nequinho Fogaça (SP-139) do DER ....................................................... 57

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade

CBEE Centro Brasileiro de Ecologia de Estradas

CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo

CONSEMA Conselho Estadual do Meio Ambiente

DER Departamento de Estradas de Rodagem

EIA/RIMA Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental

EPCB Estrada-Parque Carlos Botelho (SP-139)

FF Fundação Florestal

Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

MMA Ministério do Meio Ambiente

PECB Parque Estadual Carlos Botelho

PNMA Política Nacional do Meio Ambiente

SIMA Secretaria de Estado de Infraestrutura e Meio Ambiente

SMA Secretaria de Estado de Meio Ambiente

STF Supremo Tribunal Federal

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 12

2 OBJETIVOS......................................................................................................... 14

2.1 Objetivo geral....................................................................................................... 14

2.2 Objetivos específicos............................................................................................ 14

3 METODOLOGIA................................................................................................ 16

3.1 Objeto de estudo................................................................................................... 17

3.2 Levantamento dos atores envolvidos no licenciamento ambiental da EPCB. 17

3.3 Procedimento de coleta de dados........................................................................ 18

3.4 Definição dos termos............................................................................................ 21

4 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................... 23

4.1 Regime jurídico aplicável aos animais............................................................... 23

4.1.1 A proteção dos animais no Brasil........................................................................... 23

4.1.2 A proteção dos animais no Estado de São Paulo................................................... 27

4.1.3 A senciência como fundamento da vedação ao tratamento cruel aplicável ao

licenciamento ambiental da EPCB......................................................................... 30

4.2 Regime jurídico aplicável ao licenciamento ambiental..................................... 34

4.2.1 O licenciamento ambiental no Brasil..................................................................... 34

4.2.2 O licenciamento ambiental no Estado de São Paulo.............................................. 37

4.3 Sustentabilidade e conservação da biodiversidade........................................... 40

4.3.1 Causas da perda de biodiversidade relacionadas à EPCB...................................... 40

4.3.2 Conservacionismo e bem-estar animal aplicados à EPCB..................................... 43

5 RESULTADOS..................................................................................................... 46

5.1 Principais características do PECB.................................................................... 46

5.2 Licenciamento ambiental da EPCB.................................................................... 49

6 DISCUSSÃO......................................................................................................... 63

6.1 O regime jurídico aplicável aos animais aplicável à EPCB.............................. 63

6.2 Resultados das medidas de conservação e bem-estar animal executadas na

EPCB..................................................................... ............................................... 63

6.3 Críticas ao manejo de animais no licenciamento ambiental da EPCB........... 65

7 CONCLUSÃO...................................................................................................... 67

REFERÊNCIAS................................................................................................... 69

ANEXO A – LICENÇA PRÉVIA N. 2.175........................................................ 81

ANEXO B – LICENÇA DE INSTALAÇÃO N. 2.175...................................... 85

ANEXO C – LICENÇA DE OPERAÇÃO A TÍTULO PRECÁRIO N.

2.301....................................................................................................................... 89

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1 INTRODUÇÃO

No Brasil, ocorrem cerca de 475 milhões de atropelamentos de animais não-humanos

por ano (CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS EM ECOLOGIA DE ESTRADAS, 2019)

em empreendimentos lineares, cuja implantação resulta na fragmentação da paisagem a partir

de modificações no meio ambiente biótico e físico (D’AGOSTO, 2015). O atropelamento em

estradas e rodovias ocorre quando os animais transitam pelos fragmentos em busca de comida

e de locais adequados para a procriação. Para Wilson et al. (2016), a perda de habitat decorrente

da fragmentação de paisagens é a causa primária da perda de biodiversidade no mundo.

Além dos impactos negativos para o equilíbrio ecossistêmico e a conservação da

biodiversidade, o atropelamento de fauna, quando não leva a óbito, provoca mutilações e

ferimentos em animais, de forma que se deve atentar também para critérios de bem-estar animal,

a fim de se garantir a proteção dos animais contra maus-tratos.

Fraser (2010) considera as ciências da conservação da biodiversidade e bem-estar

animal campos de pesquisa multidisciplinar, que tratam de preocupações sociais sobre os

animais. Todavia, a legislação ambiental brasileira aplicável ao licenciamento ambiental de

empreendimentos lineares não conjuga conservação da biodiversidade e bem-estar animal,

preocupando-se somente com o equilíbrio ecossistêmico. Medidas para o bem-estar animal são

integradas ao licenciamento ambiental por discricionariedade do órgão ambiental licenciador

no âmbito das condicionantes das licenças ambientais.

O licenciamento ambiental é reconhecido pela legislação brasileira como um

instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) (BRASIL, 1981) – ou seja, é um

dos instrumentos definidos pelo legislador ao Estado para que persiga o objetivo estabelecido

pela lei programática1: a “preservação, melhoria e recuperação” do meio ambiente, essencial à

sadia qualidade de vida, assegurando-se também condições de desenvolvimento

socioeconômico (BRASIL, 1981, art. 1º). É por meio do licenciamento ambiental que se

executam as políticas públicas definidas na PNMA.

Esses objetivos definidos pela PNMA em relação à proteção ambiental e ao equilíbrio

ecossistêmico não distam muito daqueles relacionados à sustentabilidade ambiental, que Robert

Goodland (1995) descreve como um conceito que se preocupa em aprimorar o bem-estar

humano, protegendo as fontes de matéria-prima utilizadas para suprir as necessidades humanas

1 Normas programáticas são aquelas que contêm diretrizes para atuação do Poder Público com vistas a concretizar, no futuro, objetivos que, em geral, correspondem à implementação ou melhoria de serviços ou conservação de bens de relevante interesse público, como o meio ambiente.

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ao mesmo tempo em que busca assegurar que esses recursos não sejam exauridos e que

mantenham funcionais os sistemas ecológicos que dão suporte à vida na Terra. Assim, embora

seja um instrumento jurídico, o licenciamento ambiental também pode ser entendido como um

instrumento para a sustentabilidade, inclusive no que concerne à conservação da biodiversidade

afetada por empreendimentos lineares.

O licenciamento ambiental também possui potencial para instrumentalizar a proteção

animal, que, embora não esteja definida explicitamente em nenhuma política pública, tem

fundamento constitucional (BRASIL, 1988). Dessa forma, ainda que no âmbito das

condicionantes nas licenças ambientais, o licenciamento ambiental pode ser um importante

instrumento para o bem-estar animal.

Para avaliar a eficácia do licenciamento ambiental como instrumento para a

conservação da biodiversidade e bem-estar animal, a pesquisa se propõe a analisar se ele é

adequado para gerir impactos em animais decorrentes da operação de estradas e rodovias, que

afetam os ecossistemas que atravessam e podem causar ferimentos em animais. Em outras

palavras, a pergunta que esta pesquisa busca responder é: o licenciamento ambiental de estradas

e rodovias é adequado para garantir a proteção dos animais impactados do ponto de vista da

conservação da biodiversidade e do bem-estar animal?

Para responder ao problema de pesquisa, considera-se essencial que o

empreendimento linear esteja localizado em área verde conservada, onde haja animais,

especialmente silvestres, em abundância. Ainda, considerando que o maior número de

atropelamentos de animais está na Região Sudeste do Brasil (CENTRO BRASILEIRO DE

ESTUDOS EM ECOLOGIA DE ESTRADAS, 2019), em função da quantidade de carros, e

que a Mata Atlântica é um dos biomas prioritários para conservação em todo o mundo (MYERS

et al., 2000), optou-se pelo estudo da SP-139 - Estrada-Parque Carlos Botelho (EPCB), no

Estado de São Paulo, que atende a todos os critérios considerados relevantes para a pesquisa: é

um empreendimento linear que corta uma unidade de conservação de mesmo nome (e, portanto,

apresenta importante concentração de animais silvestres) em área de remanescente de Mata

Atlântica, prioritário para conservação, e está localizada na região brasileira que concentra o

maior número de atropelamento de animais.

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2 OBJETIVOS

O objetivo da pesquisa, segundo Marconi e Lakatos, deve ser determinado a fim de que

o pesquisador saiba o que vai procurar e o que pretende alcançar (2016, p. 140). Para responder

ao problema de pesquisa, considera-se essencial que o empreendimento linear esteja localizado

em área verde conservada, onde haja fauna abundante e endêmica. Ainda, considerando que o

maior número de atropelamentos de animais está na Região Sudeste do Brasil (CENTRO

BRASILEIRO DE ESTUDOS EM ECOLOGIA DE ESTRADAS, 2019), em função da

quantidade de carros, e que a Mata Atlântica é um dos biomas prioritários para conservação em

todo o mundo (MYERS et al., 2000), optou-se, como já mencionado na seção anterior, pelo

estudo de caso da EPCB, que atende a todos os critérios considerados relevantes para a

pesquisa: é um empreendimento linear que corta uma unidade de conservação de mesmo nome

(e, portanto, apresenta concentração de animais) fazendo a ligação com o Vale do Ribeira,

principal área de remanescente de Mata Atlântica.

2.1 Objetivo geral

Tendo em vista o que se expressou anteriormente, o objetivo geral desta pesquisa é

“analisar o regime jurídico aplicável aos animais no âmbito do licenciamento ambiental da

Estrada-Parque Carlos Botelho (SP-139) para diagnosticar e avaliar sistematicamente as

exigências feitas no âmbito do licenciamento ambiental para o manejo de fauna, a fim de

determinar se são adequadas para garantir a sua proteção, bem-estar e se estão adequadas

para promover a conservação da biodiversidade”.

2.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos compreendem (i) identificar, nas licenças ambientais

concedidas pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER) paulista para a EPCB, as

condicionantes relacionadas ao manejo de animais e relacioná-las com os dados sobre

atropelamento de animais no local, a fim de constatar e avaliar sistematicamente o seu grau de

eficácia; (ii) relacionar as condicionantes elaboradas pelo órgão ambiental nas licenças

ambientais da EPCB com os apontamentos de estudos técnicos sobre os animais impactados

pelo empreendimento, com a finalidade de estabelecer se as exigências feitas pelo órgão

ambiental são coerentes com os dados técnicos e adequadas para cumprimento da legislação

15

ambiental aplicável à conservação da biodiversidade; (iii) analisar e avaliar sistematicamente

os dados resultantes do levantamento sobre o grau de eficiência das condicionantes das licenças

ambientais da EPCB; e (iv) analisar e avaliar sistematicamente os dados resultantes da relação

estabelecida entre as condicionantes elaboradas pelo órgão ambiental nas licenças ambientais

da EPCB com os apontamentos de estudos técnicos sobre os animais impactados pelo

empreendimento, a fim de determinar se são adequados para a sua proteção.

16

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa utilizou a metodologia do estudo de caso, de caso único (GIL, 2002),

complementada pelo método indutivo (MARCONI; LAKATOS, 2016). A etapa de coleta de

dados previa visita de campo no Parque Estadual Carlos Botelho (PECB) e na EPCB e a

consulta dos processos administrativos relacionados ao licenciamento ambiental da EPCB na

Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB). Essas etapas não puderam ser

realizadas porque, em razão do estado de calamidade pública decorrente da pandemia da Covid-

19, declarada pelo Decreto Estadual n. 64.879, de 20 de março de 2020 (SÃO PAULO, 2020),

tanto o PECB quanto a CETESB estiveram fechados ao público durante o período de

levantamento de dados para esta pesquisa. Na CETESB, as vistas dos processos eram liberadas,

mediante agendamento, somente às partes e seus advogados, de modo que também não foi

possível, no período designado para levantamento de dados, acessar os autos dos processos

administrativos relativos ao licenciamento ambiental da EPCB.

O estado de calamidade pública e as medidas de restrição sanitária que impediram as

visitas de campo e impuseram o fechamento do atendimento ao público na CETESB

perduraram por prazo ainda maior, o que levou à necessidade de adaptações à metodologia de

pesquisa e às fontes para coleta de dados.

A metodologia foi ajustada para contar somente com os dados documentais obtidos

junto ao DER, que são parciais. Em outras palavras, os documentos obtidos junto ao DER são

recortes do processo de licenciamento ambiental e refletem unicamente a visão do DER

enquanto gestor da EPCB sobre os resultados indicados. É importante salientar que não foi

possível obter dados detalhados sobre a avaliação da CETESB sobre os documentos

encaminhados pelo DER, uma vez que não foi possível obter acesso à integra dos autos. Dessa

forma, não foi possível identificar se os dados apresentados pelo DER foram validados pela

CETESB.

Apesar de parciais, os dados coletados permitiram identificar as condicionantes

relacionadas ao manejo de animais e relacioná-las com dados sobre atropelamento de animais

no local.

A pesquisa recorreu também à revisão da literatura jurídica e de sustentabilidade

(voltada à conservação da biodiversidade e às causas de perda da biodiversidade), a fim de

reunir referencial teórico para as análises dos dados coletados sobre o estudo de caso, em

especial para identificação dos impactos causados sobre os animais, a adequação das

condicionantes determinadas para mitigá-los ou compensá-los e para a análise crítica a respeito

17

da eficácia dessas condicionantes. A revisão da literatura compreendeu a leitura e o fichamento

de textos. As fichas foram confeccionadas em papel e continham os argumentos favoráveis e

contrários à hipótese de trabalho, além de citações relevantes (GIL, 2002).

3.1 Objeto de estudo

O objetivo geral desta pesquisa é a análise do regime jurídico aplicável aos animais no

âmbito do licenciamento ambiental da EPCB para diagnosticar e avaliar sistematicamente as

exigências relacionadas ao manejo de animais no seu próprio licenciamento ambiental, a fim

de determinar se são adequadas para garantir a sua proteção e se estão adequadas à legislação e

à sustentabilidade.

A EPCB foi escolhida como estudo de caso, do tipo único, porque está localizada em

São Paulo, que é o estado com maior número de ocorrências de atropelamento de animais

(CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS EM ECOLOGIA DE ESTRADAS, 2019), e no

bioma Mata Atlântica, que é um dos biomas prioritários para conservação em todo o mundo

(MYERS et al., 2000) e que abriga cerca de oito mil espécies endêmicas (TABARELLI et al.,

2005), incluindo o Brachyteles arachnoides (muriqui-do-sul), em declínio populacional – o

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) estima que existam

apenas mil e trezentos indivíduos (TALEBI et al., 2015).

De acordo com esse mesmo levantamento do ICMBio (TALEBI et al., 2015), as causas

dessa diminuição populacional, que levaram a espécie a ser classificada como “Em Perigo

(EN)”, estão associadas à fragmentação parcial ou completa de seu habitat, decorrente,

principalmente, da expansão de atividades agropecuárias e da malha rodoviária, especialmente

no Estado de São Paulo. Nesse contexto, a expansão e a operação de estradas e rodovias no

bioma Mata Atlântica têm potencial para colaborar negativamente com a conservação da

biodiversidade e proteção dos animais, que estão sujeitos a atropelamentos. O licenciamento

ambiental é o instrumento de política pública mais adequado para promover esses objetivos da

PNMA.

3.2 Levantamento dos atores envolvidos no licenciamento ambiental da EPCB

Para planejar a pesquisa e a coleta de dados, foram inicialmente mapeados os atores

envolvidos no licenciamento ambiental da EPCB, conforme indicado no quadro 1.

18

Quadro 1 – Atores do licenciamento ambiental da EPCB

Ator Descrição

CETESB

Criada em 1968 pelo Decreto Estadual n. 50.079 (SÃO PAULO, 1968) sob a denominação de Centro Tecnológico de Saneamento Básico com a finalidade de realizar exames laboratoriais e pesquisas na área de engenharia sanitária. Antes vinculada à Secretaria de Saúde, passou à pasta de meio ambiente a medida em que incorporava mais funções, sobretudo a fiscalização de atividades potencialmente poluidoras, por força da Lei Estadual n. 997, de 1976 (SÃO PAULO, 1976b). Em 2009, a Lei Estadual 13.542 (SÃO PAULO, 2009) transformou a entidade em agência e alterou a sua denominação para Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Atualmente, a CETESB é o órgão executor do Sistema Estadual de Administração da Qualidade Ambiental, Proteção, Controle e Desenvolvimento do Meio Ambiente e Uso Adequado dos Recursos Naturais – SEAQUA e possui, dentre outras atribuições, a fiscalização e o licenciamento ambiental de empreendimentos potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais. É a agência licenciadora da EPCB.

DER

Criado pelo Decreto Estadual n. 6.529-02, de 1934 (SÃO PAULO, 1934). Tem por finalidade administrar o sistema rodoviário estadual e as integrações com rodovias municipais e federais e outros modais de transporte. É o responsável pela implantação e gestão da EPCB.

Fundação

Florestal

Criada pela Lei Estadual n. 5.208, de 1986 (SÃO PAULO, 1986) para conservação e manejo das florestas estaduais. A partir de 2006, com a criação do Sistema Estadual de Florestas pelo Decreto Estadual n. 51.453 (SÃO PAULO, 2006), passou a ser o gestor das unidades de conservação do Estado de São Paulo. É o gestor do PECB, onde está inserida a EPCB.

PECB

O PECB é uma unidade de conservação de proteção integral, criada pelo Decreto Estadual n. 19.499, de 10 de setembro de 1982 (SÃO PAULO, 1982) e gerida pela Fundação Florestal, com cerca de 37 mil hectares em região de Mata Atlântica. Ao lado de outras cinco unidades de conservação (Parque Ecológico Capão Bonito, Parque Turístico Alto Ribeira, Intervales, Estação Ecológica Xituê e Área de Proteção Ambiental da Serra do Mar) compõe o Mosaico de Paranapiacaba.

EPCB

A EPCB está localizada entre os municípios de Sete Barras e São Miguel Arcanjo, na região sudeste de São Paulo. Foi inicialmente construída em 1942, como via não-pavimentada de mão-simples e era denominada Rodovia Nequinho Fogaça. Seu trajeto é sinuoso e sem acostamento, mas permite acesso a paisagens de beleza cênica e cultural, incluindo 8 pontes históricas. Serve de ligação entre o Vale do Ribeira e o Alto Paranapanema, cortando o PECB e, por conta dessa característica, foi submetida a um processo de pavimentação ecológica iniciado em 2012 e concluído em 2015, quando passou a ter a denominação atual e se tornou uma estrada-parque.

Fonte: Letícia Yumi Marques, 2022.

3.3 Procedimento de coleta de dados

Como as pesquisas de campo no PECB, na EPCB e na CETESB não puderam ser

realizadas em razão da pandemia, as visitas em campo precisaram ser excluídas da metodologia

de pesquisa, que passou a adotar unicamente pesquisas documentais via internet, já que o acesso

a bibliotecas também ficou prejudicado. Na internet, a pesquisa documental foi realizada por

19

meio dos sites de busca Google Schoolar, ResearchGate, Elsevier, Science, Nature e banco de

teses da Universidade de São Paulo e da Universidade de Brasília.

Também foram realizados contatos, via e-mail, com o DER, Fundação Florestal e

CETESB, que disponibilizaram os documentos e informações sobre a EPCB e o PECB

indicados no quadro 2.

Quadro 2 – Pesquisa documental junto a órgãos públicos

DER

Licença Ambiental Prévia n. 2175/2012; Licença Ambiental de Instalação n. 2239/2013; Relatório de atendimento das exigências técnicas da Licença de Instalação n.

2239/2013 e solicitação da Licença Ambiental de Operação da Rodovia SP-139, municípios de São Miguel Arcanjo, Sete Barras e Capão Bonito (SP);

Licença de Operação a Título Precário n. 2301/2015; Relatório Final do Programa de Afugentamento e Resgate de Fauna – Janeiro/2014

a Setembro/2015; Monitoramento e Mitigação de Fauna Silvestre – Outubro/2015; Programas de Monitoramento de Fauna da Rodovia Nequinho Fogaça (SP-139) –

Março/2019; e Diagrama de Mitigação para Fauna – Rod. SP-139.

Fundação Florestal

Decreto-SP n. 53.146, de 20 de junho de 2008 (Define os parâmetros para implantação, gestão e operação de estadas no interior de unidades de conservação de proteção integral no Estado de São Paulo); e

Portaria SUP/DER-75, de 19-11-2015 (Dispõe sobre a circulação de veículos na SP 139).

CETESB Apresentação sobre Avaliação preliminar dos primeiros dados de atendimento à DD

141/18 (Dispõe sobre a aprovação dos critérios para a destinação de animais mortos em rodovias)

Fonte: Letícia Yumi Marques, 2022.

A pesquisa documental relativa ao levantamento de leis federais, estaduais e atos

infralegais utilizou a ferramenta RC Ambiental, que consiste em um banco de dados com mais

de 67 mil normas ambientais e que conta com atualização diária. O RC Ambiental é uma

ferramenta de contratação privada, online, acessível por meio de login e senha do usuário e

permite buscas a partir de palavras-chave, número do ato, período de publicação, órgão ou

agência, além do status (vigência ou revogação). Com o auxílio da ferramenta, foram

identificados os principais atos legais e infralegais aplicáveis ao manejo de animais e ao

licenciamento ambiental da EPCB, conforme indicado no quadro 3.

20

Quadro 3 – Marco legal aplicável ao atropelamento de fauna

Legislação Objeto

Lei Complementar n. 140/2011

Regulamenta o parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal e fixa normas para o exercício da competência comum para proteção do meio ambiente.

Lei Federal n. 6.938/1981 Institui a Política Nacional do Meio Ambiente.

Lei Federal n. 9.605/1998 Lei de Crimes e Infrações Ambientais.

Lei Federal n. 9.985/2000 Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.

Decreto Federal n° 4.340/2002 Regulamenta a Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.

Decreto Federal n. 6.514/2008 Regulamenta a Lei de Crimes e Infrações Ambientais.

Lei Estadual nº 6.884/1962 Dispõe sobre os parques e florestas estaduais, monumentos naturais.

Lei Estadual n. 997/1976 Dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente.

Lei Estadual n. 9.509/1997 Dispõe sobre a Política Estadual do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação

Decreto Estadual n° 8.468/1976 Aprova o Regulamento da Lei n° 997, de 31 de maio de 1976, que dispõe sobre a Prevenção e o Controle da Poluição do Meio Ambiente.

Decreto Estadual n. 19.499/1982 Cria o Parque Estadual Carlos Botelho.

Decreto Estadual n. 53.146/2008 Define os parâmetros para a implantação, gestão e operação de estradas no interior de Unidades de Conservação.

Decreto Estadual n° 63.853/2018

Declara as espécies da fauna silvestre no Estado de São Paulo regionalmente extintas, as ameaçadas de extinção, as quase ameaçadas e as com dados insuficientes para avaliação, e dá providências correlatas

Decreto Estadual n° 47.400/2002

Regulamenta dispositivos da Lei Estadual n° 9.509, de 20 de março de 1997, referentes ao licenciamento ambiental, estabelece prazos de validade para cada modalidade de licenciamento ambiental e condições para sua renovação(...).

Resolução SMA 53/2006 Regimento Interno do programa de Proteção à Fauna do Estado de São Paulo.

Resolução SMA 73/2008

Estabelece os procedimentos para o licenciamento ambiental das atividades de manejo de fauna silvestre, nativa e exótica, no Estado de São Paulo e dá providências correlatas.

21

Resolução SMA 22/2010a Dispõe sobre a operacionalização e execução da licença ambiental

Resolução SIMA 124/2021 Dispõe sobre os procedimentos preparatórios para a ampliação do Parque Estadual Carlos Botelho, no Município de Sete Barras/ SP

Deliberação CONSEMA n. 50/2008 Aprova o Plano de Manejo do Parque Estadual Carlos Botelho

Decisão de Diretoria – DD CETESB n. 167-C/2015

Procedimento para elaboração de laudos de fauna silvestre para fins de licenciamento ambiental.

Decisão de Diretoria – DD CETESB n. 141-I/2018

Destinação de animais mortos em rodovias.

Fonte: Letícia Yumi Marques, 2022.

3.4 Definição dos termos

Para Marconi e Lakatos (2016), a definição de termos é importante para evitar

interpretações errôneas, direcionando o conceito de forma clara e objetiva para a interpretação

pretendida pelo pesquisador. Especialmente em pesquisas na área da sustentabilidade, onde a

multidisciplinariedade é regra, a definição dos termos contribui para a redução de ambiguidades

que possam decorrer dos significados diferentes que um mesmo termo possa ter em diferentes

áreas do saber. Os termos definidos a seguir são aqueles que podem gerar ambiguidade ou são

muito específicos de uma área do conhecimento, conforme relacionados no quadro 4.

Quadro 4 – Definição de termos

Termo Definição

Direito Animal, Direito dos Animais e

Direitos Animais

Embora as expressões sejam semelhantes e sejam frequentemente empregadas como sinônimas, possuem significados diferentes. O termo “Direito Animal” é a tradução do termo inglês Animal Law e concerne ao ramo autônomo do direito positivo, derivado do Direito Ambiental, que trata da relação entre seres humanos e animais não-humanos (SANTANA; OLIVEIRA, 2019). Por sua vez, a expressão “Direito dos Animais” diz respeito a um movimento que busca proteger os animais não-humanos de práticas cruéis e de maus-tratos, de forma a garantir a sua proteção (RIBEIRO, 2020). Finalmente, o termo “Direitos Animais” tem origem na expressão inglesa Animal Rights, frequentemente relacionada à Declaração Universal dos Direitos dos Animais, estabelecida na Bélgica, em 1978, e que busca atribuir direitos subjetivos a animais não-humanos (SANTANA; OLIVEIRA, 2019).

Estrada-Parque

Não há na legislação um conceito unificado para Estrada-Parque, que é instituída ou regulada por normas infralegais em diversos estados brasileiros. A definição apresentada pelo Dicionário de Direito Ambiental (KRIEGER et.al., 2008, p. 133) é “Estrada sob administração pública, de alto valor panorâmico, cultural, educativo e recreativo”. No inglês

22

“parkway”, o conceito se refere a rodovias e às áreas protegidas adjacentes a elas (LEE, 1996). As estradas-parques estão, geralmente, no interior de unidades de conservação onde devem servir como corredor de integração entre paisagens cênicas e culturais.

Hotspots

Em ecologia, hotspots podem significar sítios biológicos ou de biodiversidade relevantes (LINDENMAYER; FISCHER, 2006, p. 247). No entanto, especificamente em ecologia de estradas, o termo hotspot designa os trechos mais importantes de atropelamento – ou seja, os pontos ao longo de empreendimento lineares com maior probabilidade de ocorrência de atropelamentos em travessia de animais (SANTOS, R., 2017). Os hotspots são identificados em estudos técnicos, inclusive o EIA/RIMA, e determinar a sua localização é essencial para o estabelecimento de medidas de mitigação (para evitar atropelamentos e colisões com animais) tais como redutores de velocidade, placas de sinalização e passagens de fauna. A identificação de hotspots deve ser realizada adequadamente para evitar desperdícios de recursos; no entanto, esses pontos podem mudar em razão da resposta do comportamento dos animais diante de novos fatores antrópicos, como a instalação de fábricas ou plantações ao longo dos empreendimentos lineares. Daí a necessidade de constante monitoramento para que as medidas de mitigação sejam efetivas e do controle da ocupação antrópica nas áreas adjacentes a estradas e rodovias.

Hot moments

Em ecologia de estradas, os hot moments designam padrões temporais com maior probabilidade de atropelamento de fauna em empreendimento lineares (SANTOS, R., 2017). Assim como os hotspots, os hot-moments são identificados através de estudos técnicos e são importantes para o estabelecimento de medidas mitigadoras com o intuito de reduzir atropelamentos. Estão relacionados ao comportamento do animal, que se movimenta entre os fragmentos de paisagem em busca de alimento, lugares seguros e lugares apropriados para reprodução.

Fauna

A PNMA (BRASIL, 1981) define fauna como recurso ambiental e emprega o termo na designação de atividades econômicas que utilizam o recurso ambiental fauna. A Lei Federal n. 9.605/1998 – Lei de Crimes e Infrações Ambientais (BRASIL, 1998a) define fauna silvestre como os espécimes pertencentes às espécies nativas, inclusive em rota de migração, que tenham seu ciclo de vida em todo ou em parte em território ou águas sob jurisdição brasileira. No entanto, a mesma A Lei Federal n. 9.605/1998 (BRASIL, 1998a) emprega o termo “animais” a se referir tanto a animais domésticos e silvestres, ao dispor sobre a proibição de maus-tratos. O uso do termo “animais” ou sua forma singular “animal” denota a senciência animal, que justifica o impedimento legal de atos de crueldade. Dessa maneira, a legislação brasileira atribui ao termo “fauna” o significado de recurso ambiental e, ao termo “animais”, o significado de indivíduo senciente. Ao optar pelo uso do termo “animais” ou “animal” neste trabalho, escolho tratar os animais como seres sencientes e não como recursos ambientais.

Fonte: Letícia Yumi Marques, 2022.

23

4 REFERENCIAL TEÓRICO

4.1 Regime jurídico aplicável aos animais

4.1.1 A proteção dos animais no Brasil

No Direito Animal, o fundamento para proteção jurídica dos animais está contido na

vedação de tratamento cruel do art. 225, §1º, VII da Constituição Federal (BRASIL, 1988), que

determina a proteção da “(...) fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem

em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a

crueldade”. A vedação ao tratamento cruel implica no reconhecimento da senciência animal, na

medida em que pressupõe a capacidade de sentir emoções negativas como dor, medo,

ansiedade, estresse e angústia.

Embora a tutela dos animais pelo Direito Ambiental compartilhe do mesmo fundamento

constitucional, ou seja, o art. 225, §1º, VII da Constituição Federal (BRASIL, 1988), os seus

vieses de proteção são distintos.

Em um primeiro momento, que vem desde o advento do Direito Ambiental - ele mesmo

um ramo recente do Direito, com os primeiros trabalhos surgidos na década de 1970

(MARQUES, 2021) – entendeu-se que ficava a seu cargo a proteção dos animais, especialmente

porque essa noção era reforçada pelo crime tipificado no artigo 32 da Lei 9.605, de 12 de

fevereiro de 1998 – Lei de Crimes e Infrações Ambientais (BRASIL, 1998a). Todavia, essa

proteção passa a ser, cada vez mais, atribuída a um novíssimo ramo do Direito, o Direito

Animal.

Para Luciano Rocha Santana e Thiago Pires Oliveira (2019), o Direito Animal pode ser

definido como “a ciência que estuda a relação jurídica dos seres humanos com os animais”. A

doutrina jurídica animalista (ATAÍDE JR., 2018) considera que a autonomia do Direito Animal

surgiu com o julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), do caso da vaquejada

(BRASIL, 2016). Todavia Paulo de Bessa Antunes entende que a proteção aos animais é

anterior a essa data:

Fato é que o Decreto n. 4.645, de 10 de junho de 1934, já estipulava diversas

normas de proteção aos animais, com a importante e esquecida inovação de

atribuir ao Ministério Público a defesa dos animais (ANTUNES, 2017, p. 70).

24

Todavia, a senciência, tão importante no Direito Animal, não demanda do Direito

Ambiental uma resposta jurídica específica. Nesse sentido, Vicente de Paula Ataíde Jr. (2018)

aponta que, no Direito Ambiental, a tutela a fauna tem por objetivo assegurar a manutenção do

meio ambiente ecologicamente equilibrado, ou seja, do seu papel dos animais dentro do

ecossistema, sem considerá-los, individualmente, como seres de valor intrínseco.

Édis Milaré (2015, p. 555) reforça a noção do animal como recurso natural ao sustentar

que a importância da fauna está relacionada aos “serviços” que presta ao homem, dentre eles a

manutenção da biodiversidade e do equilíbrio dos ecossistemas. Paulo Affonso Leme Machado

(2016, p. 967) sustenta, de forma semelhante, que a fauna silvestre deve ser entendida como

bem público, de forma a obrigar o Estado a proteger os animais com o intuito de resguardar o

equilíbrio ecossistêmico: “Não foi pela vontade de aumentar o seu patrimônio que a União

procurou tornar-se proprietária da fauna silvestre; razões de proteção do equilíbrio ecológico

ditaram essa transformação da lei brasileira”. Assim, para esses autores, o fundamento da

proibição da crueldade prevista na Constituição Federal é o resguardo da vida do animal para

que bem desempenhe seu papel no ecossistema.

Paulo de Bessa Antunes (2017, p. 80) sustenta, no Direito Ambiental, análise mais

aderente ao valor intrínseco dos animais, em que argumenta pela alteração do status jurídico

dos animais, considerados bens semoventes na legislação vigente:

Entretanto, a constitucionalização da proteção aos animais, sobretudo a

proibição a maus tratos, em meu ponto de vista, indica que há necessidade de

uma alteração do status jurídico ostentado pelos animais que, efetivamente,

não podem ser classificados como res, sendo razoável a adoção, por exemplo,

do modelo alemão que coloca o animal em posição intermediária entre

persona e res. A modificação sugerida, na minha opinião, assegura um status

civil mais compatível com a dignidade constitucional atribuída aos animais.

Ingo Wolfgang Sarlet e Tiago Fensterseifer (2014, 2017, 2019) também sustentam

argumentos favoráveis à elevação do status jurídico dos animais para sujeitos de direito.

O quadro 5 sintetiza as diferenças da tutela dos animais pelo Direito Ambiental e pelo

Direito Animal:

25

Quadro 5 – Diferenças entre a tutela dos animais no Direito Ambiental e no Direito Animal

Área do Direito Fundamento constitucional

Objeto da proteção jurídica

Direito Ambiental Art. 225, caput c/c §1º, VII,

CF/88 e

Proteção da fauna enquanto recurso natural e parte do equilíbrio ecossistêmico para garantia

da sadia qualidade de vida.

Direito Animal Art. 225, §1º, VII, CF/88 Vedação à crueldade e maus-tratos a animais

não-humanos. Fonte: Letícia Yumi Marques, 2022.

Os animais possuem dupla tutela sob a legislação brasileira: são protegidos como

recurso natural e em função do seu papel no equilíbrio ecológico pelo Direito Ambiental e como

seres sencientes, de valor intrínseco, pelo Direito Animal contra tratamento cruel e maus-tratos.

A dupla tutela ressalta a necessidade de análise multidisciplinar dos casos envolvendo animais

também no Direito, pois as tutelas devem ser complementares, jamais excludentes. Sobre o

conflito entre os direitos ambiental e animal, Kristen Stilt (2021), que sustenta a equivalência

desses campos do Direito, aponta que eles estão interligados porque, afinal, animais humanos

e não-humanos coexistem no mesmo meio ambiente.

No âmbito infraconstitucional, o Decreto n. 24.645, de 1934 (BRASIL, 1935) é

considerado a primeira norma de proteção animal brasileira. Para o período em que foi editado,

foi considerado inovador (SARLET; MACHADO; FENSTERSEIFER, 2015). A norma,

revogada desde 1991, listava 31 atos que configurariam maus-tratos (provocar ferimento ou

mutilação, açoite, abandono, expor a trabalho excessivo, não dar morte rápida etc.) e impunha

ao infrator sanção pecuniária e pena de prisão de dois a quinze dias. Também dispunha que

todos os animais existentes no país seriam tutelados pelo Estado e que competia ao Ministério

Público, como substituto legal, representá-los em juízo. A norma não tratava da natureza

jurídica dos animais, embora, no Código Civil vigente à época (BRASIL, 1917), os animais

fossem considerados coisas ou bens semoventes. Mais tarde, em 1967, a Lei Federal n. 5.197

(BRASIL, 1967) ratificou o status jurídico dos animais como propriedades pertencentes ao

Estado.

No plano legislativo, os animais permanecem com status jurídico de bens2. No entanto,

o reconhecimento dos animais como seres sencientes de valor intrínseco já conta com decisões

favoráveis no STF.

2 Em 07.08.2019, o Senado Federal aprovou o Projeto de Lei n. 27/2018 (BRASIL, 2018a), que atribui aos animais natureza jurídica sui generis, classificando-os como sujeitos de direito despersonificados e garantindo-lhes tutela jurisdicional em caso de violação de seus direitos. O projeto foi recebido na Câmara dos Deputados sob o n.

26

Em 1998 e 2011 respectivamente, o STF julgou as primeiras ações sobre a questão

animal: o caso “Farra do Boi”, relativo ao Recurso Extraordinário n. 153.531 (BRASIL, 1997);

e o caso “Briga de Galo”, relativo à Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 1.856 (BRASIL,

2011b). Nesses casos, embora a decisão tenha sido no sentido de reconhecer a

inconstitucionalidade de leis e práticas cruéis, a proteção animal ainda tinha por fundamento a

integridade da fauna para manutenção do equilíbrio ecológico.

O reconhecimento da senciência animal e seu valor intrínseco pelo STF tem sua origem

no caso “Vaquejada”, relativo à Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 4.983 (BRASIL, 2016,

p. 18), conforme trecho a seguir.

A vedação da crueldade contra animais na Constituição Federal deve ser

considerada uma norma autônoma, de modo que sua proteção não se dê

unicamente em razão de uma função ecológica ou preservacionista, e a fim de

que os animais não sejam reduzidos à mera condição de elementos do meio

ambiente. Só assim reconheceremos a essa vedação o valor eminentemente

moral que o constituinte lhe conferiu ao propô-la em benefício dos animais

sencientes

Posteriormente, em 2019, quando foi julgado o Recurso Extraordinário n. 494.601

(BRASIL, 2019b), o STF, ao considerar constitucional a prática de sacrifício de animais em

religiões de matriz africana, ponderou que o maltrato ou tratamento cruel se caracteriza pelo

sofrimento prolongado e não pelo abate em si, concluindo que a prática religiosa não contraria

as disposições constitucionais. Em 2021, por ocasião do julgamento da Ação Direta de

Inconstitucionalidade n. 5.995 (BRASIL, 2021d), o STF ponderou que os animais gozam de

proteção constitucional contra tratamento cruel, cuja exceção é o uso em experimentos

científicos para produção de drogas, medicamentos, alimentos e imunobiológicos, regulado

pela Lei Federal n. 11.794, de 8 de outubro de 2008 – Lei Arouca (BRASIL, 2008).

A jurisdição da tutela dos animais no Direito brasileiro é benestarista, ou seja, considera

aceitável o uso de animais não-humanos para seus propósitos, ainda que para finalidades

específicas, em contraposição ao posicionamento abolicionista, que se volta favoravelmente à

6.054/2019 (BRASIL, 2019a) em novembro do mesmo ano. Em 2021, após regular tramitação, foi retirado da pauta de votação da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável em 8 de julho pela presidente da Comissão, Deputada Carla Zambelli. Em 1º de dezembro de 2021, a deputada apresentou o Projeto de Lei 4.249/2021 (BRASIL, 2021b), que reforça a vedação ao tratamento cruel de animais, mas sem reconhecê-los como sujeitos de direito e passa a permitir, expressamente, seu uso em manifestações culturais, além da prática da agropecuária e de pesquisa científica.

27

eliminação ou considerável redução do uso de animais não-humanos para as atividades

humanas (FRANCIONE; GARNER, 2010).

Kristen Stilt (2021) aponta que a constituição brasileira é uma das poucas que aborda

algum tipo de proteção animal, ao lado das constituições da Suíça, Índia, Eslovênia, Alemanha,

Luxemburgo, Áustria, Egito e Rússia – em todas, segundo a autora, são empregados termos

como “bem-estar animal”, “dignidade animal”, “proteção animal” e “crueldade contra animais”

– mas nenhuma referência a direitos de animais não-humanos.

A formulação de leis e de políticas públicas segue também o viés benestarista, embora

tenha sido possível identificar, em 2020, produção legislativa tendente a aumentar a proteção

dos animais não-humanos (MARQUES, 2020a). Não há, em âmbito federal, legislação

específica sobre manejo de animais no licenciamento ambiental.

4.1.2 A proteção dos animais no Estado de São Paulo

Assim como a constituição brasileira, a Constituição do Estado de São Paulo (SÃO

PAULO, 1989) dispõe sobre a proteção da fauna, com vedação a tratamento cruel e proibição

da caça3, também em razão da sua função ecológica.

Em 1991, sem mencionar senciência ou reconhecimento de direitos animais, o Estado

proibiu, por meio da Lei Estadual n. 7.407 (SÃO PAULO, 1991), a realização de torneios de

tiro ao alvo com sacrifício de animais.

Em 2005, foi instituído, por meio da Lei Estadual n. 11.977 (SÃO PAULO, 2005) o

Código de Proteção aos Animais do Estado. Seus principais pontos são a proibição de caça

profissional ou amadora ou esportiva em todo território estadual; a vedação da promoção de

rinhas de animais, sua utilização em espetáculos circenses e em provas de rodeio que envolvam

o uso de instrumentos para provocar comportamento não-natural da espécie; regulamentação

do uso de animais em pesquisas científicas; e inventário da fauna regional, com publicação, a

cada quatro anos, da lista de espécies ameaçadas de extinção.

O inventário de fauna mais recente é de 2018, objeto do Decreto Estadual n. 63.853

(SÃO PAULO, 2018b). Segundo o decreto, a fauna do Estado de São Paulo é classificada em

seis categorias: regionalmente extinta (RE), relativa a espécie extinta em uma região e sobre

3 Em 21/06/2021, o STF julgou parcialmente procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 350 (BRASIL, 2021c) para atribuir interpretação conforme ao artigo 204 da Constituição do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 1989) para esclarecer, com relação à proibição de caça, que se excluem dessa vedação o controle de espécies invasoras e a coleta para fins científicos.

28

a qual não restam dúvidas de que o último indivíduo morreu; criticamente em perigo (CR),

relativa a espécies com risco “extremamente alto” de extinção na natureza em futuro próximo;

em perigo (EN), relativa a espécies com risco “muito alto” de extinção na natureza; vulnerável

(VU), relativa a espécies com alto risco de extinção em médio prazo; quase ameaçada (NT)

relativa a espécies que, embora não tenham sido classificadas nas categorias anteriores, estão

próximas de integrá-las em breve; e dados insuficientes (DD), relativa a espécies sobre as quais

as informações disponíveis são insuficientes para classificação (SÃO PAULO, 2018b).

A classificação adotada pelo Estado de São Paulo adota as diretrizes da União

Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).

O quadro 6 indica a classificação do inventário de fauna de 2018 para as espécies

consideradas em destaque pelo Plano de Manejo do PECB (SÃO PAULO, 2008a).

Quadro 6 – Classificação de animais do PECB no Inventário de Fauna Paulista de 2018

Espécie Nome popular Classificação.

Brachyteles arachnoides muriqui-do-sul Em perigo (EN)

Panthera onca onça pintada Criticamente em perigo (CR)

Tapirus terrestres anta Em perigo (EN)

Tayassu pecari queixada Em perigo (EN)

Aburria jacutinga jacutinga Criticamente em perigo (CR)

Fonte: SÃO PAULO, 2018b.

Também são proibidos, no Estado, o experimento e testes em animais de produtos de

cosméticos, por meio da Lei Estadual n. 15.316, de 2014 (SÃO PAULO, 2014a) e a criação de

animais para extração de peles, pela Lei Estadual n. 15.566, de 2014 (SÃO PAULO, 2014b).

No âmbito judicial, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo reconheceu, em 2015,

o animal como ser senciente e sujeito de direitos em ação de separação na qual se concedeu a

guarda compartilhada de um cão, de nome Rody, a cada um dos litigantes, em vez de dispor

sobre a tutela do animal no regime de partilha de bens (SÃO PAULO, 2015)4. Ao decidir pela

guarda em vez da partilha, o tribunal também reconheceu o vínculo de afeto entre Rody e seus

4 A qualificação do processo, incluindo o número dos autos e nomes das partes, é mantida em segredo de justiça por determinação legal do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015) porque versa sobre “casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes”. Apenas o voto foi divulgado pela assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

29

tutores e a chamada “família multiespécie”, na qual os animais são tidos como membros da

família, como se destaca no trecho abaixo.

Como senciente, afastado da convivência que estabeleceu, deve merecer igual

e adequada consideração e nessa linha entendo deve ser reconhecido o direito

da agravante, desde logo, de ter o animal em sua companhia com a atribuição

da guarda alternada. O acolhimento da sua pretensão atende aos interesses

essencialmente da agravante, mas tutela, também, de forma reflexa, os

interesses dignos de consideração do próprio animal. (SÃO PAULO, 2015, p.

11)

No tocante ao manejo de animais no licenciamento ambiental, o Estado de São Paulo

conta com normas infralegais específicas, que estipulam os períodos em que devem ocorrer o

levantamento da fauna em fragmento de vegetação nativa, em que tenha havido supressão para

fins de implantação ou operação de empreendimento – Resolução SMA n. 22, de 2010 (SÃO

PAULO, 2010a); o procedimento para feitura de laudos de fauna silvestre para fins de

licenciamento ambiental – Decisão de Diretoria CETESB n. 167-C, de 2015 (COMPANHIA

AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2015); e a destinação de animais mortos em

rodovias - Decisão de Diretoria CETESB n. 141-I, de 2018 (COMPANHIA AMBIENTAL DO

ESTADO DE SÃO PAULO, 2018). O Plano de Manejo do PECB (SÃO PAULO, 2008a)

também traz recomendações específicas para manejo de fauna no PECB.

Mais recentemente, em julho de 2021, a soltura, comércio, armazenagem e transporte

de fogos de artificio ruidosos, que afetam a saúde dos animais, foram proibidos em todo o estado

(SÃO PAULO, 2021a).

A tutela dos animais no Estado de São Paulo também segue o viés benestarista, embora

o Estado tenha iniciativas mais consistentes e pragmáticas para conservação da biodiversidade,

como o inventário de fauna quadrienal, e para promoção do bem-estar animal, como a proibição

de uso de animais em testes para produção de cosméticos e a proibição de soltura de fogos de

artifício ruidosos.

30

4.1.3 A senciência como fundamento da vedação ao tratamento cruel aplicável ao licenciamento

ambiental da EPCB

Na legislação brasileira, a vedação ao tratamento cruel tem por fundamento a presunção

de que animais são sencientes, ou seja, sentem dor, medo, ansiedade, angústia e que, por essas

razões, impor-lhes sofrimento é uma conduta reprovável.

Charlotte Blattner (2019) argumenta que, em muitos países, as leis protegem os animais

em decorrência da sua senciência e que o seu reconhecimento jurídico anula tentativas de negar

proteção aos animais, especialmente quando eles não têm utilidade econômica ou não são tão

atraentes. Proctor, Carder e Cornish (2013) sustentam que a demonstração objetiva da

senciência animal é a chave para mudanças positivas na relação com os animais não-humanos

e para o seu bem-estar. Por isso, a comprovação da senciência é importante para legitimar a sua

proteção jurídica, inclusive como fundamento da vedação ao tratamento cruel na Constituição

do Brasil (BRASIL, 1988).

A senciência tem comprovação científica. Mejdell et al. (2016) conduziram uma

pesquisa em que ensinaram 23 espécimes de Equus ferus caballus (cavalo doméstico) a usar

símbolos para expressar suas preferências sobre o uso ou não de cobertores. Durante duas

semanas, eram mostrados aos animais símbolos que significavam manter o cobertor, retirar o

cobertor ou colocar o cobertor. Os símbolos estavam estampados em placas de madeira de

35x35 cm, conforme a figura 1. O símbolo da esquerda significava “colocar cobertor”; o do

centro, “sem mudanças”, ou seja, permanecer como está; e o da direita, “tirar cobertor”.

Figura 1 – Símbolos utilizados na pesquisa de senciência animal de Mejdell et al.

Fonte: Mejdell et al. (2016)

A pesquisa concluiu que, com velocidades de aprendizagem diferentes, todos os 23

cavalos obtiveram sucesso no treinamento e aprenderam a usar os símbolos para se comunicar,

associando cada um deles à sua própria percepção de bem-estar (calor, frio etc.). O experimento

foi fotografado e gravado em vídeo (Figura 2).

31

Figura 2 – Experimento com cavalos

Fonte: Mejdell et al. (2016)

A senciência denota a capacidade de sentir dor e emoções como estresse, angústia e

medo. Por isso, está relacionada a critérios de aferição do bem-estar dos animais não-humanos.

Broom e Molento (2004) sustentam que a avaliação do bem-estar de um animal deve

levar em conta as necessidades fisiológicas e psíquicas (felicidade, capacidade de adaptação e

antecipação de eventos, sofrimento, dor, ansiedade, medo, tédio, estresse, etc.) de um animal

individual, sem incluir aquilo que lhe pode ser provido pelo humano. Essas variáveis podem

ser objetivamente aferidas por meio de avaliações físicas e exames clínicos, como um teste de

cortisol para aferição de níveis de estresse. Os autores reconhecem a falta de métodos para

avaliação dos sentimentos dos animais, dado que são subjetivos, mas defendem mais pesquisas

nessa área e que “evidências sobre sentimentos devem ser consideradas, pois são importantes

na avaliação do bem-estar” (BROOM; MOLENTO, 2004, p. 7). Os aspectos emocionais do

animal podem ser aferidos por meio de avaliações comportamentais,

Entende-se que são sencientes os animais vertebrados, que possuem sistema nervoso

central, já que é a existência do sistema nervoso que confere ao animal a capacidade de

organizar comportamentos a partir de estímulos externos, originalmente ligadas ao reflexo, mas

que, com o processo de evolução, permitiram aprendizado e sentimentos (GRINDE, 2013).

Existem discussões sobre a existência de senciência em animais com sistema nervoso central

pouco desenvolvido ou em invertebrados, o que, segundo Smith (1991), deve levar à revisão da

senciência em invertebrados, ainda que se trate de uma questão de difícil solução, pois a simples

resposta a estímulos externos, como fugir de um predador, pode ser considerada instinto e não

necessariamente senciência. Proctor, Carder e Cornish (2013) sustentam que é frequente, na

literatura, a associação de emoções humanas a animais não-humanos, sem que muita pesquisa

sobre o que os animais sencientes efetivamente sentem tenham sido feitas. Elas alertam para a

necessidade de aprofundamento dessas pesquisas, pois a definição da senciência é ponto central

32

para as discussões sobre bem-estar animal. Mais recentemente, Marshall (2021) aponta que

existem “fortes evidências científicas” sobre a senciência em animais invertebrados. Para o

Conselho Federal de Medicina Veterinária (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA

VETERINÁRIA, 2018b), são sencientes e, portanto, beneficiários das regras de bem-estar, os

animais vertebrados.

O critério mais comum para aferir o bem-estar animal são as Cinco Liberdades, que

foram definidas no Reino Unido, em 1979, no Farm Animal Welfare Council que, por sua vez,

foi criado após a publicação, em 1965, do livro Animal Machines, de Rachel Carson, que

denunciava as péssimas condições dos animais de produção, destinados a abate, naquele país.

As cinco liberdades estão sintetizadas no quadro 7, a partir de definições do Conselho Federal

de Medicina Veterinária (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA, 2018a).

Quadro 7 – Cinco Liberdades Animais

Liberdade nutricional

Acesso do animal a comida e água em quantidade, qualidade e frequência adequadas. Dietas inadequadas que levem a desequilíbrio nutricional são consideradas violação à liberdade nutricional.

Liberdade de dor e doença

Qualidade da saúde física, inclusive na prevenção a zoonoses e vacinação. Animais obesos, desnutridos ou desidratados representam violação à liberdade de dor e doença.

Liberdade de desconforto

Abrigo em ambiente com temperatura e superfícies confortáveis para a espécie. Animais em recintos pequenos, como gaiolas, representam violação à liberdade de desconforto.

Liberdade para expressar o comportamento natural

Ambiente que não impeça o animal de exercer o comportamento natural da espécie, como, por exemplo, viveiros com medidas e densidade populacional adequadas para que o animal nade, voe ou corra, conforme característica da espécie. Animais que não tenham estímulos para exercer o seu comportamento natural representam violação à liberdade para expressar seu comportamento natural.

Liberdade de medo e estresse

Ausência de sentimentos negativos, que provoquem sofrimento. Um animal que vive encarcerado em ambiente inadequado e possa desenvolver estresse crônico representa violação à liberdade de medo e estresse.

Fonte: CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA, 2018a.

O atropelamento de animais na EPCB pode provocar dor e representar violação à

liberdade de dor e doença. A mesma situação, ou seja, o atropelamento, também pode

configurar maus-tratos.

Não existe, na legislação ambiental ou animal, conceito jurídico para maus-tratos. A Lei

Federal n. 9.605, de 1998, limita-se a determinar que “Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir

ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos” pode implicar

33

em pena de detenção de três meses a um ano e multa (BRASIL, 1998a)5. Como mencionado na

seção 4.1.1, o STF, no julgamento Recurso Extraordinário n. 494.601 (BRASIL, 2019b),

ponderou que o maltrato ou tratamento cruel se caracteriza pelo sofrimento prolongado.

Em âmbito infralegal, portanto sem força de lei, o Conselho Federal de Medicina

Veterinária (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA, 2018b) conceituou

maus-tratos como “qualquer ato, direto ou indireto, comissivo ou omissivo, que

intencionalmente ou por negligência, imperícia ou imprudência provoque dor ou sofrimento

desnecessários aos animais” e, crueldade, como “qualquer ato intencional que provoque dor ou

sofrimento desnecessários nos animais, bem como intencionalmente impetrar maus-tratos

continuamente aos animais”. Também estipulou que a prática da eutanásia, por meio que

garanta morte sem dor e sofrimento, não constitui maus-tratos.

Em vista dos conceitos do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CONSELHO

FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA, 2018b), o atropelamento de animais na EPCB,

ainda que de índole culposa, ou seja, sem intenção, pode configurar maus-tratos; bem como

falhas ou omissões no manejo de animais pelo DER ou até mesmo falhas ou omissões na

definição de condicionantes para mitigar os impactos do empreendimento linear, pela CETESB,

no licenciamento ambiental da EPCB.

O atropelamento pode, em muitos casos, resultar em mutilações e sofrimento

prolongado, de forma a configurar, concomitantemente, possíveis crime e infração ambientais.

Por essas razões, embora a definição de condicionantes no licenciamento ambiental de estradas

e rodovias tenha por finalidade primária a conservação da biodiversidade, é importante, em

decorrência das normas de proteção animal, que busque também assegurar o bem-estar dos

animais como indivíduos sencientes e evitar ocorrências de maus-tratos.

5 Para juristas da área penal, a inobservância das Cinco Liberdades não necessariamente caracteriza o crime de maus-tratos previsto na Lei Federal n. 9.605/1998 (BRASIL, 1998a) porque não há conceito legal que o defina e, em razão do princípio Nullum crimen, nulla poena sine lege, a conduta criminosa deve estar previamente estabelecida em lei.

34

4.2 Regime jurídico aplicável ao licenciamento ambiental

4.2.1 O licenciamento ambiental no Brasil

O licenciamento ambiental é um instrumento da PNMA e se aplica a “atividades efetiva

ou potencialmente poluidoras” (BRASIL, 1981, art. 9º, IV) – ou seja, atividades que possam

gerar impactos negativos na qualidade do meio ambiente. A expressão “licenciamento

ambiental” designa o processo ou procedimento administrativo pelo qual o órgão ou agência

competente concede ao empreendedor as licenças ambientais para sua atividade.

No modelo tradicional, chamado de trifásico, o licenciamento ambiental compreende a

concessão de três licenças sucessivas: licença prévia, licença de instalação e licença de

operação. Alguns estados instituíram outras modalidades de licença, como a “licença de

operação corretiva” que, em São Paulo, foi concedida a empreendimentos instalados antes da

PNMA. Há também as chamadas “licença única” e “licença simplificada”, destinadas a

empreendimentos de baixo impacto ambiental. Cada licença corresponde a uma fase do

empreendimento, conforme descrito no quadro 8.

Quadro 8 – Conceitos das licenças ambientais

Licença Prévia

Valida a viabilidade do projeto do empreendimento, aprova a sua localização, estabelece os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidas para obtenção da licença seguinte. Deve ser requerida pelo empreendedor na fase de concepção do empreendimento, antes da realização de qualquer obra.

Licença de Instalação

Após avaliação do cumprimento das medidas estabelecidas na licença prévia, a licença de instalação autoriza a implantação do empreendimento – ou seja, a sua construção – em conformidade com o projeto apresentado na fase anterior. Também define condicionantes para condução da implementação.

Licença de Operação

Após avaliação do cumprimento das medidas estabelecidas nas licenças anteriores, autoriza a operação do empreendimento, desde que observadas as condicionantes estipuladas pelo órgão ou agência para compensação e/ou mitigação dos impactos ambientais.

Fonte: Letícia Yumi Marques, 2022.

Não há consenso, entre os estudiosos do Direito, sobre a natureza jurídica da licença

ambiental, ou seja, sobre qual é a sua essência e o regime jurídico que ela atrai. Essa definição

é importante para determinar se as condicionantes de uma licença podem ser alteradas durante

a sua vigência ou até mesmo se ela pode ser suspensa a qualquer tempo, independentemente de

o empreendedor ser previamente ouvido pelo órgão ambiental. O quadro 9 sintetiza as

35

diferentes visões sobre a natureza jurídica da licença ambiental dos principais juristas da

matéria:

Quadro 9 – Natureza jurídica da licença ambiental

Paulo Affonso Leme Machado (2016)

A licença ambiental tem natureza jurídica de autorização, ato precário, que pode ser revogado por razões de conveniência e oportunidade da Administração Pública, visto que, se licença fosse, teria definitividade e não precisaria ser periodicamente renovada. O termo “licença”, portanto, é empregado de forma inadequada e não-técnica.

Édis Milaré (2015)

A licença ambiental é deveras uma licença, mas um novo tipo que congrega características da licença administrativa “tradicional” e dos atos de autorização e decorre da aplicação dos princípios e postulados do Direito Ambiental a conceitos do Direito Administrativo. Entende que a licença ambiental é estável, apesar de ter prazo de validade; não pode ser suspensa ou revogada por mera discricionariedade e está sujeita à revisão e suspensão em função do interesse público ou ilegalidades supervenientes.

Paulo de Bessa Antunes (2020)

A licença ambiental não é uma licença do Direito Administrativo, ou seja, não constitui direito adquirido do licenciado, na qualidade de direito público subjetivo, visto que pode ser revogada ou alterada, porém mediante processo administrativo que assegure ao licenciado o exercício do contraditório e ampla defesa. Por essas características, também não pode ser reduzida à condição de mera autorização, ato precário, de livre concessão e revogação pela Administração Pública. A licença ambiental tem natureza jurídica especial ou sui generis, diversa das licenças administrativas e que não constitui mera autorização.

Fonte: Letícia Yumi Marques, 2022.

Independentemente da terminologia, o que se extrai de todos esses conceitos é que a

licença ambiental, ainda que seja inapropriadamente chamada de licença, de fato pode ser

revogada, suspensa ou alterada pelo órgão ambiental, tal como os atos autorizativos. Essas

alterações, porém, devem ser precedidas de processo administrativo que garanta ao

empreendedor o exercício dos seus direitos de contraditório e ampla defesa. A impossibilidade

de revogação, suspensão ou alteração da licença ambiental pelo órgão competente sem a

manifestação do empreendedor destoa das características atribuídas às autorizações. Por essas

razões, a licença ambiental realmente se apresenta como uma licença especial ou sui generis,

que agrega características próprias.

A possibilidade de alteração das licenças ambientais é uma prerrogativa do órgão

ambiental licenciador, no exercício da sua discricionariedade técnica. Segundo Milaré (2015) a

discricionariedade técnica é o “exame técnico apropriado” atribuído à autoridade ambiental e

que ocorre majoritariamente nas análises e interpretações dos estudos ambientais necessários

para determinar os impactos positivos e negativos do empreendimento ou atividade a serem

licenciados. Isso significa que a autoridade ambiental, a seu critério, mas sempre de forma

36

motivada, pode requerer a complementação de estudos ambientais, caso os considere

insuficientes. Também pode, diante de dados técnicos supervenientes, alterar as condicionantes

de uma licença ambiental. Afinal, a lei, a que está vinculada a autoridade ambiental, não

predetermina que condicionantes devem ser estipuladas para cada tipo de atividade ou

empreendimento, cabendo à autoridade ambiental, no uso da sua discricionariedade técnica,

determiná-las de acordo com seu melhor entendimento e sempre de forma motivada. Para que

sejam legítimas, é importante que as análises no campo da discricionariedade técnica sejam

realizadas por servidor habilitado a realizá-las.

Para fins do licenciamento ambiental da EPCB, a possibilidade de alteração das licenças

ambientais, especialmente em razão de dados técnicos supervenientes, é relevante para os casos

em que as passagens de fauna, implementadas pelo DER para manejo dos animais, caiam em

desuso e levem à necessidade de implementação de novas passagens de fauna.

Quanto aos estudos ambientais, Milaré (2015) esclarece que são espécies do gênero

Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) e incluem modelos de diferentes abrangências, como

o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) e o Relatório

Ambiental Preliminar (RAP), dentre outros, que são exigidos em função do porte e do potencial

poluidor do empreendimento. Os estudos ambientais são, geralmente, prévios, ou seja, devem

ser realizados antes da implantação do empreendimento e devem compreender o conteúdo

estipulado pelo órgão competente no Termo de Referência, que contém as diretrizes para sua

realização pelo empreendedor. A finalidade dos estudos ambientais é identificar os possíveis

impactos negativos decorrentes de um empreendimento ou atividade para subsidiar a

formulação de medidas mitigadoras ou compensatórias nas licenças ambientais.

A exigência do licenciamento ambiental e de estudo de avaliação de impacto ambiental

para subsidiá-lo surgiu com a PNMA em 1981 (BRASIL, 1981a). Empreendimentos e

atividades implementados antes dessa exigência ou que foram implementados à revelia da lei

devem se adequar por meio do chamado licenciamento ambiental corretivo, que, por ser

posterior à implementação do empreendimento, não conserva a sua finalidade preventiva. Não

há, na legislação federal ambiental, disposições sobre o licenciamento ambiental corretivo6.

Segundo Talden Farias (2019), ainda que implantados sem licença ambiental, os

empreendimentos passíveis de regularização devem ser submetidos ao licenciamento ambiental

corretivo.

6 Pretende-se, por meio do Projeto de Lei n. 3.729/04 (BRASIL, 2004), que visa instituir a Lei Geral do Licenciamento Ambiental, que esse tipo de licenciamento seja disciplinado e que ocorra por meio da modalidade de “adesão”, também chamada de “autolicenciamento”.

37

A competência para realizar o licenciamento ambiental é, no Brasil, comum entre os

entes federativos e é disciplinada pela Lei Complementar n. 140, de 2011 (BRASIL, 2011a).

De acordo com essas regras, o licenciamento ambiental da EPCB compete à CETESB.

Como instrumento da PNMA, a finalidade do licenciamento ambiental não se restringe

a conceder ao empreendedor um documento oficial que legitime a operação da atividade ou

empreendimento. Para além disso, o licenciamento ambiental é o instrumento que viabiliza a

execução das políticas públicas ambientais, nelas inseridas a conservação do meio ambiente e

dos recursos naturais, desenvolvimento socioeconômico, controle de atividades poluidoras etc.

(BRASIL, 1981a). Com isso, entendo que o licenciamento ambiental também se constitui em

instrumento para proteção e bem-estar animal, uma vez que os animais, enquanto fauna, são

recursos naturais que, em sua dimensão individual, recebem, da Constituição Federal (BRASIL,

1988), proteção contra tratamento cruel.

4.2.2 O licenciamento ambiental no Estado de São Paulo

A implantação da Rodovia Nequinho Fogaça – SP 139, cujo trecho dentro do PECB

recebeu o nome de EPCB, ocorreu antes da PNMA, na década de 1940, ou seja, antes da

exigência legal de licenciamento ambiental e avaliação de impacto ambiental. Até mesmo a Lei

Estadual n. 2.869, de 4 de junho de 1981 (SÃO PAULO, 1981), que atribuiu à SP-139 a

denominação de “Nequinho Fogaça” entre os municípios de São Miguel Arcanjo e Sete Barras,

é anterior à PNMA. Vale ressaltar também que, embora estivesse vigente desde a década de

1970, o Decreto Estadual n. 8.468, de 1976 (SÃO PAULO, 1976a) não dispunha sobre o

licenciamento ambiental para implantação ou construção de empreendimentos lineares. Esses

dados indicam que pode não ter havido avaliação de impacto ambiental prévia à implantação

da SP-139. Também não foram identificados, no banco de dados online da CETESB,

documentos ou informações sobre licenças corretivas atribuídas a esse empreendimento, para

regularização da sua construção.

Embora a Lei Estadual n. 997, de 1976 (SÃO PAULO, 1976b) e seu decreto

regulamentador, o Decreto Estadual n. 8.468, de 1976 (SÃO PAULO, 1976a) já dispusessem

sobre licenças de funcionamento para algumas atividades capazes de gerar degradação

ambiental, foi somente em 1997, por meio da Lei Estadual n. 9.509, que o licenciamento

ambiental tal como concebido na PNMA foi instituído no estado.

A Lei Estadual n. 9.509, de 1997 (SÃO PAULO, 1997) trata sobre a Política Estadual

de Meio Ambiente e indica como seus instrumentos as licenças prévia, de instalação e de

38

operação, a serem obtidas, quando aplicável, mediante apresentação de estudos ambientais e de

forma prévia à construção e operação do empreendimento ou atividade. O Decreto Estadual n.

47.400, de 2002 (SÃO PAULO, 2002) indica a CETESB como órgão licenciador e detalha

preços, prazos de validade e renovação e descomissionamento. Nenhuma dessas normas prevê

o licenciamento ambiental corretivo e não foi possível confirmar, no universo de dados

coletados para esta pesquisa, se a EPCB foi ou não submetida a licenciamento ambiental

corretivo.

Foi somente em 2008, com o advento do Decreto Estadual n. 53.146 (SÃO PAULO,

2008b), que a questão da ausência de licenciamento ambiental para estradas no interior de

unidades de conservação foi tratada. Assim, foi determinado que a duplicação de estradas já

existentes deveria ser objeto das licenças ambientais pertinentes, com a devida avaliação de

impactos ambientais. Além disso, para cada trecho de operação, seu operador, público ou

privado, deveria estruturar um Plano de Implementação e um Plano de Gestão e Operação, cujo

conteúdo deve dispor sobre medidas para prevenção, mitigação e correção de impactos

ambientais, incluindo traçado, contenção de encostas e taludes, pavimentação, redutores de

velocidade, ciclovias, mirantes naturais, pontos de parada, ocupação de faixa de domínio

(mirantes), guaritas e passagens de fauna.

Como a EPCB corta o PECB, os planos de implementação e de gestão e operação

elaborados pelo DER devem estar alinhados com o Plano de Manejo da unidade de

conservação, cabendo ao seu gestor manifestar-se de forma conclusiva sobre eles (SÃO

PAULO, 2008a).

Conforme será visto na seção 5, o DER, enquanto gestor da EPCB, possui licenças

ambientais válidas, não para a implantação da estrada em si (visto que implantada antes da

exigência de licenciamento ambiental e, possivelmente, não foi submetida a licenciamento

ambiental corretivo), mas para a atividade de pavimentação e implantação do sistema de

drenagem que permitiram que o trecho da Rodovia Nequinho Fogaça – SP 139 que corta o

PECB se tornasse uma estrada-parque.

Especificamente com relação ao licenciamento ambiental de empreendimentos lineares

como a EPCB, a CETESB dispõe de normas que tratam sobre os procedimentos para elaboração

de laudos de fauna e sobre a destinação de animais mortos em rodovias. Suas principais

determinações com reflexos no licenciamento ambiental da EPCB encontram-se sintetizadas

no quadro 10.

39

Quadro 10 – Exigências normativas sobre manejo de fauna no licenciamento ambiental

DD CETESB 167-C/1015

exigência de estudo de fauna silvestre nativa quando houver supressão de vegetação primária e secundária em áreas urbanas e rurais;

no curso do licenciamento ambiental, devem ser apresentados à CETESB estudos sobre mamíferos, répteis, aves e anfíbios; e, quando houver interferência em meio aquático, estudo sobre ictiofauna;

lista de espécies identificadas com base em dados primários – nomes científico e popular;

caracterização do uso e ocupação do solo no entorno da área do empreendimento;

identificação pormenorizada contendo rota, área dormitório, de alimentação e nidificação para espécies ameaçadas de extinção;

avaliação de possíveis impactos à fauna e sugestão de medidas mitigadoras e compensatórias;

em caso de ocorrência de espécies domésticas ou exóticas; apresentação de plano de controle;

em caso de instalação de barreiras intransponíveis para a fauna, apresentação de medidas de conectividade entre os fragmentos e recursos hídricos (passagens de fauna) com croqui de localização;

em caso de necessidade de coleta, apanha, captura ou manipulação de animais silvestres, obtenção de Autorização para Manejo de Fauna in situ junto ao Departamento de Fauna Silvestre da Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais – CBRN.

DD CETESB 141-I/2018

responsabilidade pelo manejo e remoção de animais mortos é do operador do empreendimento;

entrega, à CETESB, de relatórios semestrais com registros de acidentes envolvendo o atropelamento de animais, com descrição do local e entorno e informações sobre destinação dos animais mortos;

obtenção de Autorização para Manejo de Fauna in situ para manejo de animais mortos, feridos ou saudáveis;

destinação final ambientalmente adequada de animais mortos, considerados “resíduos sólidos de baixo risco biológico à saúde humana e ao meio ambiente” em até 24 horas após o evento morte (enterramento, aterro sanitário, tratamento térmico ou outros locais licenciados);

enterramento de animais mortos em faixa de domínio, em local distante pelo menos 100 metros de áreas de preservação permanente e com cobertura de, no mínimo, 60 centímetros, salvo em áreas urbanas;

destinação de animais mortos a aterros sanitários ou outros locais devidamente licenciados;

a destinação dos animais mortos em unidades de conservação ou estradas-parque será definida pelo gestor da unidade.

Fonte: Letícia Yumi Marques, 2022.

40

Os animais mortos são tratados, pela legislação paulista, do ponto de vista sanitário e

seu potencial para transmissão de zoonoses. As normas que dispõem o manejo de fauna são

conservacionistas, ou seja, não exigem critérios de bem-estar animal.

Também é possível identificar que, para a CETESB, a análise do manejo de animais se

dá em estudos específicos, apartados da Avaliação de Impactos Ambientais, o que faz com que

eles sejam exigidos mesmo quando o potencial poluidor da atividade ou empreendimento é

baixo e não requer estudos ambientais. As licenças ambientais que o DER obteve para

pavimentação e implantação de sistema de drenagem na EPCB seguem esse padrão.

4.3 Sustentabilidade e conservação da biodiversidade

4.3.1 Causas da perda de biodiversidade relacionadas à EPCB

A perda de fauna silvestre, também chamada de defaunação, é um tema diretamente

relacionado ao equilíbrio dos ecossistemas e à qualidade da vida na Terra. Estima-se que o

número de espécies perdidas cresce a uma taxa de dez mil por ano e pode corresponder a 50%

do número de animais de todo planeta (MATEUS et al., 2018).

A defaunação já ocorreu outras cinco vezes ao longo das eras geológicas, a exemplo da

extinção dos dinossauros há 65 milhões de anos. No entanto, na era geológica atual, o

antropoceno, o processo de perda de espécies ocorre pela sexta vez e é decorrente das ações

humanas em escalas global e local (MATEUS et al., 2018), especialmente após 1945, quando

houve a intensificação das ações antrópicas.

No Brasil, segundo a Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de

Extinção do Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2014), existem 1.173 espécies de fauna

ameaçadas de extinção, incluindo 310 peixes continentais, 233 aves, 233 invertebrados

terrestres, 110 mamíferos, 98 peixes marinhos, 80 répteis, 66 invertebrados aquáticos e 41

anfíbios. A Lista Nacional Oficial indica o grau de risco de extinção, de acordo com a seguinte

classificação: Extintas na Natureza (EW), Criticamente em Perigo (CR), Em Perigo (EN) e

Vulnerável (VU). Das 1.173 espécies que integram a lista, 318 estão criticamente em perigo e

o Pauxi mitu (mutum-do-nordeste) já está extinto na natureza.

Além disso, oito espécies estão reconhecidas, oficialmente, como extintas: Noronhomys

vespuccii (rato-de-noronha), Numenius borealis (maçarico-esquimó), Glaucidium mooreorum

(caburé-de-pernambuco), Anodorhynchus glaucus (arara-azul-pequena), Philydor novaesi

(limpa-folha-do-nordeste), Cichlocolaptes mazarbarnetti (gritador-do-nordeste), Sturnella

41

defilippii (peito-vermelho-grande) e Phrynomedusa fimbriata (perereca-verde-de-fímbria). O

maçarico-esquimó, a arara-azul-pequena e o peito-vermelho-grande estão extintas no Brasil,

mas ainda podem ser encontradas em outros países (BRASIL, 2014).

A perda de biodiversidade é um dos limites planetários que já foi ultrapassado pela

humanidade (ROCKSTRÖM et al., 2009). Esses limites correspondem, segundo os autores, a

níveis de perturbação antrópica no planeta Terra cientificamente definidos. A partir dos limites

planetários, é possível estimar os recursos naturais disponíveis no planeta e os impactos

negativos provocados nesses limites em decorrência das atividades humanas. A figura a seguir

ilustra os nove limites planetários (crise climática, acidificação dos oceanos, ciclos do fósforo

e nitrogênio, consumo de água doce, desmatamento e alterações de uso do solo, perda de

biodiversidade, poluição atmosférica e poluição química). Na cor verde, estão os níveis

considerados seguros e, na cor vermelha, os níveis considerados já ultrapassados pelos autores

(Figura 3).

Figura 3 – Limites Planetários

Fonte: ROCKSTRÖM et al., 2009.

Dentre as causas para a perda de espécies, estão a destruição de habitats, espécies

invasoras, poluição e caça e pesca descontroladas; porém, a principal delas é a destruição de

42

habitat decorrente de ações antrópicas (FRANCO, 2013). Como exemplo, pode-se citar a

fragmentação de paisagens ocasionada pela implantação de grandes áreas de pastagens,

agricultura convencional ou extrativismo descontrolados; instalação de empreendimentos

minerários e hidrelétricas, expansão urbana e da malha viária. Para Wilson et al. (2016), a perda

de habitat decorrente da fragmentação de paisagens é a causa primária da perda de

biodiversidade no mundo.

Os empreendimentos lineares, tais como estradas, rodovias e ferrovias, provocam a

fragmentação de paisagens porque, na sua fase de construção, implicam em modificações no

meio ambiente biótico e físico, sendo a intervenção mais significativa o desmatamento da

cobertura vegetal (D’AGOSTO, 2015, p. 46). Essas modificações são negativas para a

conservação da biodiversidade e levam, ao final da cadeia de eventos, a impactos como o

atropelamento dos animais que se transitam entre os fragmentos em busca de recursos

necessários às espécies, tais como alimento, abrigo e condições adequadas para reprodução. O

impacto das estruturas lineares na paisagem é objeto de estudo de um novo campo científico,

denominado ecologia de estradas (ABRA, 2012).

Ao tratar sobre ecologia de estradas, Forman et al. (2003) argumentam que os

transportes são o “coração” da sociedade, já que unem pessoas em diferentes regiões e escoam

riquezas. Como a implantação de estradas e rodovias resulta em degradação ambiental, os

autores afirmam que a proteção ambiental deve ser considerada pelos tomadores de decisão em

políticas públicas relacionadas ao transporte.

No caso da EPCB, sua implantação, quando da conversão do trecho da Rodovia

Nequinho Fogaça dentro do PECB em estrada-parque, seguiu em parte as diretrizes de proteção

ambiental e animal. Uma resolução conjunta da Secretaria de Meio Ambiente com a Secretaria

de Transportes (SÃO PAULO, 2010b), celebrada com acompanhamento do Ministério Público

do Estado de São Paulo, dispôs especificamente sobre a execução dos Planos de

Implementação, de Gestão e Operação da Rodovia Nequinho Fogaça – SP 139. A resolução se

aplica somente ao trecho da rodovia localizado dentro do PECB, que recebeu o nome de EPCB,

e determina que os planos contemplem: (i) medidas mitigadoras para proteção da fauna e sua

travessia; e (ii) sinalização educativa sobre presença de animais silvestres, redução de

velocidade e riscos de atropelamento de animais, proibição de caça e de extração vegetal. Todas

essas medidas ficaram a cargo do DER.

A Resolução SMA/ST n. 6/2010 (SÃO PAULO, 2010b) contempla medidas de boas

práticas para prevenir atropelamentos de fauna, mas não prevê diretrizes de bem-estar animal

43

como, por exemplo, a criação de um centro para atendimento de animais feridos ou atropelados

ou de animais domésticos abandonados dentro do PECB.

4.3.2 Conservacionismo e bem-estar animal aplicados à EPCB

Os conceitos de conservação da biodiversidade ou conservacionismo e de bem-estar

animal lidam ambos com os animais, mas com olhares diferentes. Fraser (2010) considera as

ciências da conservação da biodiversidade e bem-estar animal campos de pesquisa

multidisciplinar, que tratam de preocupações sociais sobre os animais. O autor explica que,

enquanto a conservação da biodiversidade está focada em animais silvestres em nível de

populações, sistemas ecológicos e lida com ameaças à integridade ecológica, o bem-estar

animal se concentra em indivíduos e grupos e lida com ameaças à saúde e à qualidade de vida

dos animais. Já Harrop (2013) afirma que, enquanto a conservação da biodiversidade busca

preservar espécies para manutenção da diversidade e prevenir sua extinção, o bem-estar busca

a proteção de animais individuais do sofrimento, a despeito do seu status de conservação.

As diferenças, a despeito das semelhanças, parecem ter separado os cientistas desses

campos ao longo dos anos, desde 1960 (FRASER, 2010). Isto porque, por muito tempo, se

entendeu que a conservação da biodiversidade, ainda que, em alguns casos, expusessem alguns

animais a situações desagradáveis (reprodução em cativeiro, por exemplo), deveria prevalecer

sobre questões de bem-estar animal porque sua finalidade, muitas vezes ligada a programas

para evitar extinção de espécies, justificava esses episódios, por mais indesejados que fossem.

Esse cenário, porém, passou a mudar entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000.

McMahon et al. (2012) pontuam que, cada vez mais, pesquisadores que lidam com

animais selvagens no campo da conservação da biodiversidade enfrentam dificuldades na

oposição de grupos ligados ao bem-estar animal. Harrop (2013) confirma que o interesse pelo

bem-estar animal está se espalhando pelo mundo com a criação de organizações não-

governamentais com atuação global, dedicadas à causa animal. Sekar e Shiller (2020) defendem

que critérios de bem-estar animal devam passar a ser considerados em ações conservacionistas,

uma vez que as evidências científicas têm comprovado a senciência animal e isso não pode ser

mais ignorado no escopo da conservação da biodiversidade.

Fraser (2010) pontua que, apesar de verem o animal por lentes diferentes, tanto o

conservacionismo quanto o bem-estar animal estão interligados porque os mesmos impactos

antrópicos que ameaçam a biodiversidade causam sofrimento aos animais, como, por exemplo,

práticas de agricultura inadequadas, poluição, expansão urbana e transportes, como é o caso da

44

EPCB. O autor sustenta que os métodos de uma ciência do bem-estar animal podem ser

importantes para o conservacionismo e vice-versa. Para solucionar o conflito entre conservação

e bem-estar animal, McMahon et al. (2012) sugerem a aplicação do Bateson Cube ou Cubo de

Bateson. O cubo de Bateson é um modelo de análise de custo-benefício para pesquisas com

animais desenvolvido por Patrick Bateson em 1986. O cubo de Bateson avalia a pesquisa

proposta por três critérios: (i) o grau de sofrimento que será imposto aos animais; (ii) a

relevância da pesquisa; e (iii) os prováveis benefícios da pesquisa. Segundo esses critérios, uma

pesquisa aceitável seria aquela em que o sofrimento animal fosse pequeno e os benefícios da

pesquisa e sua relevância, altos (MCMAHON et al., 2012) (Figura 4).

Figura 4 – Cubo de Bateson

Fonte: McMahon et al. (2012)

O Cubo de Bateson é um modelo essencialmente antropocêntrico, já que propõe

relacionar o bem-estar animal a variáveis que interessam somente aos seres humanos – a

relevância da pesquisa para os seres humanos e os benefícios da pesquisa para os seres

humanos. Além disso, a busca por um ponto aceitável entre as três variáveis sugere que não

seria possível conciliar bem-estar animal com as pesquisas necessárias para o conservacionismo

e que, de alguma forma, a preocupação com o sofrimento dos animais pode ser um obstáculo

às pesquisas científicas.

Sekar e Shiller (2020) apontam as seguintes sugestões para conciliação dos interesses

do conservacionismo e do bem-estar animal: (i) criação consensual de princípios; (ii)

construção de bases científicas para boas práticas; e (iii) criação de instituições conselheiras,

que busquem o aprimoramento dessas boas práticas. Tais medidas seriam construídas em

conjunto por ativistas e especialistas nas áreas privada e governamental.

É possível conciliar conservacionismo e bem-estar animal, considerando que as causas

45

de ameaça à conservação da biodiversidade e de sofrimento animal têm a mesma origem, como

propõe Fraser (2010): os impactos negativos resultantes das atividades humanas. Um exemplo

dessa conciliação é o tratamento dado aos espécimes de Sus scrofa (javali), espécie invasora e

nociva aos animais silvestres nativos, resgatados pela empresa Vale S.A. na Zona de

Autossalvamento da Mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais, Estado de Minas Gerais: os

animais, que deveriam ser abatidos segundo regras do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e

dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), foram dessensibilizados – ou seja, anestesiados, e

abatidos por método indolor aplicado por médico veterinário (MARQUES, 2020b)7. A medida

resguardou a conservação da fauna silvestre local ao mesmo tempo em que adotou critérios de

bem-estar animal para não expor os espécimes a sofrimento prolongado.

Da mesma forma, critérios e métodos de bem-estar animal podem ser aplicados no

manejo de animais impactados negativamente pela EPCB, que podem ser estipulados no âmbito

da discricionariedade técnica da CETESB, ainda que não haja política pública específica para

animais impactados por empreendimentos lineares no Estado de São Paulo. Para isso, é

importante que haja o reconhecimento da senciência animal e seu bem-estar como um dos

elementos da tomada de decisão informada de agentes políticos (SEKAR; SHILLER, 2020).

7 Esse artigo recebeu a menção honrosa no II Prêmio Tobias Barreto de Direito Animal do VII Congresso Mundial de Bioética e Direito Animal da UFBA/UFMT.

46

5 RESULTADOS

5.1 Principais características do PECB

Segundo o seu Plano de Manejo (FUNDAÇÃO FLORESTAL; INSTITUTO

FLORESTAL, 2008), o PECB é uma unidade de conservação de proteção integral, criada pelo

Decreto Estadual n. 19.499, de 10 de setembro de 1982 (SÃO PAULO, 1982) e gerida pela

Fundação Florestal. Encontra-se a 204 km de distância da capital, São Paulo, no bioma Mata

Atlântica, e possui cerca de 37 mil hectares (ou 376,4 km²) distribuídos entre os municípios de

São Miguel Arcanjo, Sete Barras e Capão Bonito, na região sudeste do Estado de São Paulo. A

localização do PECB está representada na figura 5.

Figura 5 – Localização do PECB

Fonte: FUNDAÇÃO FLORESTAL; INSTITUTO FLORESTAL, 2008.

A finalidade de unidades de conservação de proteção integral como o PECB é a

preservação da natureza. Nelas, admitem-se somente o uso indireto dos recursos naturais

(BRASIL, 2000). São unidades de conservação com alto grau de proteção e restrição de uso,

condições relevantes para proteção da biodiversidade existente no local. O PECB integra área

classificada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

(UNESCO) como Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e como Sítio do Patrimônio Mundial

47

Natural, além de ser considerado uma área de ocorrência de espécies endêmicas raras, como o

Brachyteles arachnoides (muriqui-do-sul), ilustrado na figura 6.

Figura 6 – Brachyteles arachnoides (muriqui-do-sul).

Fonte: TALEBI et al., 2020.

O Brachyteles arachnoides (muriqui-do-sul) é considerado o maior primata não-

humano das Américas e chega a medir 0,60 m. Pertence à fauna nativa brasileira e é encontrado

apenas na Serra do Mar. A espécie vive aproximadamente 32 anos (cada fêmea gera até 2

filhotes por gestação) e, segundo dados da WWF Brasil (SANTOS, D., 2020), restam somente

mil e duzentos indivíduos. De acordo com o Inventário de Fauna Paulista mais recente, de 2018

(SÃO PAULO, 2018b), encontra-se em perigo de extinção.

No PECB habitam 110 espécies de plantas vasculares, das quais 39 estão ameaçadas de

extinção; 70 anfíbios, dos quais quatro espécies estão ameaçadas de extinção; e 110 espécies de

mamíferos, 20 delas ameaçadas de extinção, incluindo, além do Brachyteles arachnoides

(muriqui-do-sul), a Panthera onca (onça-pintada) e a Tapirus terrestres (anta). Existem também

342 espécies de aves, sendo 29 delas ameaçadas de extinção, incluindo a Aburria jacutinga

(jacutinga). Por essa razão, o Plano de Manejo do PECB (FUNDAÇÃO FLORESTAL;

INSTITUTO FLORESTAL, 2008) demonstra especial preocupação com a conservação das

espécies ameaçadas, principalmente o Brachyteles arachnoides (muriqui-do-sul), diretamente

afetado pela EPCB, que pode funcionar como barreira para sua locomoção.

O plano de manejo é definido pela Lei Federal n. 9.985, de 2000, que instituiu o Sistema

Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (BRASIL, 2000) como um documento

técnico com os objetivos da unidade de conservação, a delimitação do seu zoneamento e o

manejo dos recursos naturais. Nesse sentido, cabe ao plano de manejo, dentre outros pontos,

realizar um inventário das espécies animais que habitam a área e identificar fatores de pressão,

48

que podem gerar impactos negativos, a fim de subsidiar as regras de uso da unidade e de manejo.

No caso da EPCB, foram identificados os seguintes pontos de pressão: perda e fragmentação

de habitat, caça, espécies exóticas, extração ilegal de palmito, bambu, linhas de transmissão de

energia elétrica, turismo, contaminação da água e a Rodovia Nequinho Fogaça (SP-139). Foram

classificados como fatores de alta pressão negativa a Rodovia Nequinho Fogaça (SP-139) e as

linhas de transmissão, representadas na figura 7.

Figura 7 – Fatores de alta pressão no PECB

Fonte: FUNDAÇÃO FLORESTAL; INSTITUTO FLORESTAL, 2008.

Quando o Plano de Manejo do PECB foi elaborado, em 2008, (FUNDAÇÃO

FLORESTAL; INSTITUTO FLORESTAL, 2008), o trecho de 33 km da Rodovia Nequinho

Fogaça (SP-139) que atravessa o parque já estava sob gestão do DER, mas ainda não havia sido

convertido em estrada-parque. Assim, o plano de manejo incluída, dentre as medidas para

controle desse ponto de alta pressão, o monitoramento constante da rodovia e tratativas com o

DER para implementação de obras de pavimentação e contenção de áreas de encosta sujeitas a

deslizamento.

As obras para implementação da EPCB foram iniciadas em 2012 e, com isso, as medidas

requeridas pelo Plano de Manejo do PECB (FUNDAÇÃO FLORESTAL; INSTITUTO

FLORESTAL, 2008) passaram a ser realizadas no âmbito do licenciamento ambiental, que,

inclusive, contou com gestão participativa junto à CETESB, da qual participou ativamente a

Fundação Florestal.

49

5.2 Licenciamento ambiental da EPCB

A EPCB é o nome dado ao trecho de 33 km da Rodovia Nequinho Fogaça (SP-139) que

cruza o PECB. A rodovia foi construída na década de 1940, quando o licenciamento ambiental

não era exigido. Dessa forma, sua implementação não foi precedida de estudos ambientais ou

de licenciamento ambiental.

Com o advento do Decreto Estadual n. 53.146/2008 (SÃO PAULO, 2008b), que trata

da “implantação, gestão e operação de estradas no interior de unidades de conservação”, os

operadores desses empreendimentos passaram a se submeter ao licenciamento ambiental.

Assim, para executar as obras necessárias para conversão do trecho de 33 m da Rodovia

Nequinho Fogaça (SP-139) na EPCB, o DER, precisou elaborar e apresentar um Relatório de

Avaliação Preliminar (RAP) juntamente com o pedido da licença prévia, que é a primeira

licença do licenciamento trifásico8. Uma estrada-parque pode ser conceituada como um parque

linear, que atravessa unidades de conservação ou áreas de relevante interesse ambiental,

servindo como vetor de fomento da proteção da natureza e de atividades culturais e de lazer.

O licenciamento ambiental foi realizado pela CETESB e regido pela Resolução

SMA/ST 06/2010 (SÃO PAULO, 2010b), firmado entre a Secretaria de Estado de Meio

Ambiente e a Secretaria de Estado de Transportes. Nos termos da resolução, o licenciamento

foi conduzido por um grupo de gestão, responsável pelos planos de implantação e operação da

obra e integrado por representantes da Fundação Florestal, DER, CETESB, Secretaria de Estado

de Transportes e Secretaria de Estado de Meio Ambiente e da construtora. Os parâmetros de

implantação seguiram o Decreto Estadual n. 53.146/2008 (SÃO PAULO, 2008b).

O RAP, segundo definição da CETESB (COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO

DE SÃO PAULO, 2014), se constitui em estudo técnico, elaborado por equipe multidisciplinar,

que se destina à análise da viabilidade ambiental do empreendimento e à identificação dos seus

possíveis impactos no meio ambiente.

Não foi possível obter acesso ao RAP do DER, porém, segundo as diretrizes da CETESB

para avaliação de impacto ambiental de rodovias, o RAP não contempla estudos de fauna

(COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2014), de forma que os

relatórios sobre manejo e monitoramento de fauna são solicitados pela CETESB ao

empreendedor no âmbito das condicionantes das licenças ambientais. As licenças prévia, de

instalação e operação concedidas pela CETESB ao DER estão indicadas no quadro 11.

8 Processo de licenciamento ambiental nº 19/2012.

50

Quadro 11 – Licenças ambientais da EPCB

Licença Expedição Validade Objeto

Licença Prévia n. 2175

09.11.2012 09.11.2017 Pavimentação e implantação de sistema de drenagem na Rodovia Nequinho Fogaça (SP-139) do km 45 + 292 ao km 78 + 300.

Licença de Instalação n. 2239

18.10.2013 18.10.2019 Pavimentação e implantação de sistema de drenagem na Rodovia Nequinho Fogaça (SP-139) do km 45 + 292 ao km 78 + 300.

Licença de Operação Precária n. 2301

19.11.2015 19.02.2016 Pavimentação e implantação de sistema de drenagem na Rodovia Nequinho Fogaça (SP-139) do km 45 + 292 ao km 78 + 300.

Fonte: Letícia Yumi Marques, 2022.

Cada licença ambiental contém condicionantes, que são exigências que devem ser

atendidas como requisito para obtenção da licença posterior.

Embora não tenha sido possível obter acesso ao Plano de Implementação ou ao RAP

feitos pelo DER, que embasou as condicionantes da Licença Prévia n. 2.175, foi possível

identificar nessa licença as condicionantes relacionadas ao manejo de animais para obtenção da

Licença de Instalação n. 2.239, conforme sintetizadas no quadro 12.

Quadro 12 – Condicionantes relacionadas ao manejo de animais da Licença Prévia n. 2.175

Número da condicionante

Providências

# 2

Incluir, no Programa de Controle Ambiental das Obras, subprograma de cuidados especiais com o PECB, contemplando instruções para controle de impactos à fauna durante as obras, com acompanhamento de profissional habilitado em manejo de fauna e previsão de instalação e adequação das passagens de fauna.

#11

Apresentar detalhamento do Programa de Afugentamento e Resgate de Fauna, contemplando cronograma de supressão de vegetação fora da época de reprodução das espécies e instalação de centro de triagem veterinário e destinação dos animais feridos e mortos.

#15 Apresentar Programa de Educação Ambiental, alinhado com os programas desenvolvidos pelo PECB, incluindo palestras sobre proibição da caça e captura de animais silvestres.

#17 Obter e apresentar, antes do início das obras, as autorizações para manejo de fauna junto ao Departamento de Fauna da Secretaria do Meio Ambiente.

#21

Apresentar, bimestralmente, relatórios de acompanhamento de Afugentamento e Resgate de Fauna que contenha descrição de atividades realizadas, registros fotográficos, lista dos indivíduos identificados e respectivas espécies, local de captura com coordenada GPS e destino do animal e locais de soltura.

Fonte: Letícia Yumi Marques, 2022.

51

Não foi possível obter acesso aos relatórios e estudos exigidos na Licença Prévia n.

2.175 como requisito para obtenção da Licença de Instalação n. 2.239, tampouco o parecer da

CETESB que versa sobre a análise técnica dos relatórios apresentados9. No entanto, a sua

emissão indica que as exigências anteriores foram, ao menos, minimamente atendidas uma vez

que, no licenciamento ambiental trifásico, a licença subsequente só pode ser emitida mediante

comprovação do atendimento das condicionantes da licença anterior. Por sua vez, a Licença de

Instalação n. 2.239 apresenta condicionantes que propõem a continuidade das atividades de

manejo de fauna como requisito para obtenção da licença subsequente. As condicionantes

relacionadas a manejo de animais da Licença de Instalação n. 2.239 estão indicadas no quadro

13.

Quadro 13 – Condicionantes relacionadas ao manejo de animais da Licença de Instalação n.

2.239

Número da condicionante

Providências

#10 Apresentar autorizações de manejo de fauna emitidas pelo Departamento de Fauna da Secretaria do Meio Ambiente antes da supressão de vegetação.

#11 Apresentar relatórios das campanhas de monitoramento de fauna previstas no Programa de Monitoramento de Fauna, incluindo indicação de potenciais pontos de cruzamento da rodovia para fauna arborícola.

#12 Apresentar relatórios bimestrais do Programa de Afugentamento e Resgate de Fauna com registros fotográficos, lista dos indivíduos identificados e respectivas espécies, local de captura com coordenada GPS e destino do animal e locais de soltura.

#13 Apresentar detalhamento da Medida Ambiental de Previsão de Instalação e Adequação de Passagens de Fauna, incluindo passagens aéreas para fauna arborícola e redutores de velocidade.

#19 Contemplar, no Plano de Operação da Rodovia Nequinho Fogaça (SP-139), Programa de Monitoramento de Fauna, Programa de Monitoramento da Ocorrência de Atropelamento de Fauna e Eficiência das Medidas Mitigadoras.

Fonte: Pesquisa da Autora, 2022.

Foi possível obter acesso ao Relatório Final do Programa de Afugentamento e Resgate

de Fauna – Janeiro/2014 – Setembro/2015 (DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE

RODAGEM, 2015a), elaborado para atendimento da condicionante de número 12 da Licença

de Instalação n. 2.239. Os principais pontos do Relatório Final estão sintetizados no quadro 14.

9 Parecer Técnico n. 475/13/IE.

52

Quadro 14 – Principais pontos do Relatório Final do Programa de Afugentamento e Resgate

de Fauna – Janeiro/2014 – Setembro/2015 do DER

Fonte: DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM, 2015a.

10 A área suprimida equivale a 7,942% da área autorizada para supressão, que foi de 42. 351,1m2 (DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM, 2015a).

Inst

alaç

ões Instalação de Centro de Triagem – Base de Atendimento de Animais

Silvestres no núcleo Sede do PECB, com salas de atendimento e internação equipadas, além de veículo para transporte de animais resgatados e que necessitem de atendimento veterinário emergencial no local da ocorrência (unidade de atendimento móvel);

Ed

ucaç

ão A

mbi

enta

l

Sinalização temporária com placas para redução de velocidade (20km/h) em trechos sensíveis, identificados pelos profissionais de manejo;

Treinamento dos colaboradores sobre cuidados a serem seguidos durante a obra para evitar impactos negativos nos animais, incluindo condutas a serem tomadas em caso de acidentes com animais selvagens e domésticos e legislação aplicável à fauna silvestre;

Treinamento dos profissionais do Programa de Afugentamento e Resgate de Fauna com técnicas para contenção de mamíferos, aves, répteis; métodos de transporte dos animais e cuidados sanitários;

Programa de educação ambiental, incluindo temas sobre conservação de fauna, para alunos de 4 escolas municipais de ensino fundamental nos municípios de São Miguel Arcanjo e Sete Barras;

Man

ejo

Afugentamento de animais antes da execução das atividades de supressão de vegetação10 com uma hora de antecedência e toque de buzina por 10 minutos, para evitar acidentes com os animais;

No período de janeiro de 2014 a setembro de 2015, foram resgatados 15 animais da fauna nativa (3 moluscos terrestres, 3 anfíbios, 7 répteis, 1 ave e 1 mamífero). Destes, 4 vieram a óbito e 4 receberam atendimento emergencial. Os demais foram realocados em pontos de soltura pré-determinados;

Celebração de convênio com o Zoológico Municipal de Sorocaba “Quinzinho de Barros” para encaminhamento dos animais feridos ou com patologias graves que, após reabilitados, foram considerados incapacitados de voltar à natureza;

No período de janeiro de 2014 a setembro de 2015, foram registrados 66 atropelamentos, na maioria, répteis. Os cadáveres foram encaminhados a instituição conveniada. Os meses de novembro e dezembro apresentaram maior ocorrência de atropelamentos;

Monitoramento

Registros a partir de visualizações diretas e armadilhas fotográficas, com método com suporte em literatura. Maior registro de mamíferos (215 ocorrências), seguido de répteis (100), anfíbios (52), aves (47) e moluscos (31) e maior registro de ocorrência nos meses de janeiro a dezembro, atribuído a mudanças microclimáticas relacionadas com o verão (maiores temperaturas e mais chuvas);

53

Posteriormente, o DER preparou o Relatório de Atendimento das Exigências Técnicas

da Licença de Instalação n. 2.239/2013 e Solicitação da Licença de Operação da Rodovia SP-

139 (DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM, 2015b), com a finalidade de

demonstrar o efetivo cumprimento das condicionantes da Licença de Instalação n. 2.239/2013,

requisito para obtenção da licença de operação subsequente.

Os principais pontos do Relatório referentes ao manejo de animais relacionados às

condicionantes 10, 11, 12, 13 e 19 da Licença de Instalação n. 2.239/2013, estão sintetizados

no quadro 15.

Quadro 15 – Principais pontos do Relatório de Atendimento das Exigências Técnicas da

Licença de Instalação n. 2.239/2013 e Solicitação da Licença de Operação da Rodovia SP-139

Condicionante da Licença de Instalação n. 2.239/2013

Providências Atendimento

#10

Apresentar autorizações de manejo de fauna emitidas pelo Departamento de Fauna da Secretaria do Meio Ambiente antes da supressão de vegetação.

Apresentação das seguintes autorizações emitidas pelo Departamento de Fauna: Autorização n. 28/2014; Autorização n. 46/2014; Renovação da Autorização n. 46/2014.

#11

Apresentar relatórios das campanhas de monitoramento de fauna previstas no Programa de Monitoramento de Fauna, incluindo indicação de potenciais pontos de cruzamento da rodovia para fauna arborícola.

Condicionante reportada como atendida. O conteúdo foi apresentado no documento Monitoramento e Mitigação de Fauna Silvestre (DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM, 2015c), tratado adiante.

#12

Apresentar relatórios bimestrais do Programa de Afugentamento e Resgate de Fauna com registros fotográficos, lista dos indivíduos identificados e respectivas espécies, local de captura com coordenada GPS e destino do animal e locais de soltura.

Apresentada lista com os relatórios bimestrais protocolados na CETESB em 26.02.2014; 23.05.2014; 18.09.2014; 09.02.2015; e 13.05.2015 (foi elaborado um relatório conclusivo apresentado no Anexo IV do relatório, que não foi disponibilizado pelo DER)

#13

Apresentar detalhamento da Medida Ambiental de Previsão de Instalação e Adequação de Passagens de Fauna, incluindo passagens aéreas para fauna arborícola e redutores de velocidade.

Condicionante reportada como atendida. O conteúdo foi apresentado no documento Monitoramento e Mitigação de Fauna Silvestre (DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM, 2015c), tratado adiante.

#19

Contemplar, no Plano de Operação da Rodovia Nequinho Fogaça (SP-139), Programa de Monitoramento de Fauna, Programa de Monitoramento da

Condicionante reportada como atendida. O conteúdo foi apresentado no Anexo X do relatório, que não foi disponibilizado pelo DER.

54

Ocorrência de Atropelamento de Fauna e Eficiência das Medidas Mitigadoras.

Fonte: DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM, 2015b.

Os dados a respeito do monitoramento e das medidas de mitigação dos impactos nos

animais, requeridos nas condicionantes 11 e 13 da Licença de Instalação n. 2.239/2013, estão

contidos no documento Monitoramento e Mitigação de Fauna Silvestre (DEPARTAMENTO

DE ESTRADAS DE RODAGEM, 2015c), cujos principais pontos estão sintetizados no quadro

16.

Quadro 16 – Principais pontos do documento Monitoramento e Mitigação de Fauna Silvestre

do DER

Monitoramento

Registros fotográficos realizados em período noturno e diurno, com consulta à literatura, além de procura ativa, que consiste na busca de espécies em locais propícios, com uso de lanternas e gravadores, nos períodos diurno, crepuscular e noturno; Monitoramento de herpetofauna11 na área de instalação e operação do empreendimento identificou 18 espécies de anfíbios e 21 espécies de répteis, todas classificadas no status de conservação “LC: espécie não ameaçada de extinção”; Monitoramento de mamíferos na área de instalação e operação do empreendimento identificou 23 espécies, com status de conservação que variam de espécies não ameaçadas, vulneráveis, em perigo, ameaçadas de extinção e criticamente ameaçadas de extinção. Foram identificadas duas espécies exóticas: Lepus europaeus (lebre-europeia) e Canis lupus familiaris (cão doméstico); Monitoramento de avifauna na área de instalação e operação do empreendimento, restrito a registros de espécies de médio e grande porte avistadas na rodovia. Foram identificadas seis espécies, com status de conservação que variam de espécies não ameaçadas, vulneráveis, quase ameaçadas, ameaçadas de extinção e criticamente ameaçadas de extinção; Dentre as espécies registradas, destaque para Panthera onca (onça-pintada); Tapirus terrestris (anta) e Brachyteles arachnoides (muriqui), classificadas como espécies com risco elevado de extinção. Por esta razão, a morte de um único indivíduo é uma perda significativa para a sua população; Conclusões do monitoramento: (i) a variedade de mamíferos identificada está subestimada porque registros fotográficos de dois ou mais espécimes contam como um único registro; (ii) foram identificados os pontos de travessia de animais, porém não é possível afirmar que não haja travessia de animais nos pontos da rodovia em que o monitoramento não registrou ocorrências; (iii) os resultados do monitoramento podem não corresponder ao cenário normal de tráfego na rodovia porque, nesse período, ela estava fechada para obras.

11 Grupo de anfíbios e répteis (SÃO PAULO, 2015c).

55

Medidas de mitigação

Limitadores eletrônicos de velocidade em dez pontos, escolhidos em função da presença de mamíferos de médio e grande porte, presença de espécies ameaçadas de extinção e locais sensíveis a atropelamentos, onde o condutor pode desenvolver maior velocidade; Passagens aéreas de fauna em 16 pontos, escolhidos em função da presença de primatas (Brachyteles arachnoides/muriqui e Sapajus nigritus/macaco-prego) e da presença de árvores frutíferas, cujos frutos servem de alimento para os animais, incluindo espécies ameaçadas de extinção; Instalação de lombofaixas para redução de velocidade em 15 pontos, escolhidos em função do seu interesse turístico (quiosques e riachos) e áreas de estacionamento; Instalação de passagens inferiores de fauna, dos tipos ponte e galeria, em 12 pontos, localizados em cursos d’água. A utilização de alambrados, geralmente empregada nesses tipos de passagem para direcionamento da fauna, não foi adotada porque constatou-se que esse método poderia encurralar o animal na rodovia, que eles utilizam para deslocamento de grandes distâncias, conforme constatado no monitoramento.

Fonte: Letícia Yumi Marques, 2022.

O documento Monitoramento e Mitigação de Fauna Silvestre (DEPARTAMENTO DE

ESTRADAS DE RODAGEM, 2015c) destaca que as medidas mitigadoras sugeridas são

preventivas, pois, sendo a EPCB a primeira estrada-parque de São Paulo, não há precedentes

para referências sobre a eficácia operacional dessas medidas. Além disso, indica também que

há discrepância entre as espécies identificadas no monitoramento e aquelas indicadas no Plano

de Manejo do PECB, conforme tabela 1.

Tabela 1 – Espécies de animais identificadas no monitoramento de fauna

vs. espécies identificadas no Plano de Manejo do PECB

Espécies Plano de Manejo do PECB Monitoramento de fauna

Anfíbios 70 18

Répteis 31 21

Mamíferos 62 23

Aves 342 6

Exóticas 0 1

Fonte: Letícia Yumi Marques, 2022.

O número de espécies identificadas no monitoramento de fauna é inferior àquele

indicado no Plano de Manejo porque o monitoramento foi realizado somente na área de

influência direta da EPCB e por um determinado período (DEPARTAMENTO DE

ESTRADAS DE RODAGEM, 2015c). Assim, o monitoramento de fauna identificou 25,71%

56

das espécies de anfíbios, 67,74% das espécies de répteis, 37,09% das espécies de mamíferos,

1,75% das espécies de aves e uma espécie exótica, a Canis lupus familiaris (cão doméstico),

que não estava indicada no Plano de Manejo do PECB.

Após a entrega do documento Monitoramento e Mitigação de Fauna Silvestre, em

outubro de 2015, a CETESB outorgou ao DER a Licença de Operação a Título Precário n.

2.301.

A licença de operação a título precário, diferente da licença ambiental regular, não

concede ao seu titular um direito público subjetivo. A precariedade da licença indica que,

juridicamente, trata-se de um ato sujeito a revogação por mera liberalidade do Poder Público

que a concedeu, de acordo com critérios de conveniência e oportunidade (chamados de

“discricionariedade”) da Administração Pública (MELLO, 2006). Na prática, isso significa que

a Licença de Operação a Título Precário n. 2.301 pode ser revogada pelo Poder Público a

qualquer tempo, independentemente de processo administrativo com contraditório e ampla

defesa. A Licença de Operação a Título Precário n. 2.301 venceu em 19.02.2016, mas, segundo

informações do DER, a CETESB ainda não teria emitido uma licença de operação definitiva.

O documento Programas de Monitoramento de Fauna da Rodovia Nequinho Fogaça (SP-139)

(DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM, 2019), elaborado para demonstrar o

atendimento das condicionantes da Licença de Operação a Título Precário n. 2.301, indica que

a licença não havia sido renovada, nem mesmo a título precário, pelo menos até março de 2019,

quando o documento foi elaborado12. Pareceres Técnicos13 emitidos pela CETESB após

19.02.2016 e referenciadas no documento indicam que, apesar do vencimento expresso, a

Licença de Operação a Título Precário n. 2.301 continuou em vigência.

As principais condicionantes relacionadas ao manejo de animais da Licença de

Operação a Título Precário n. 2.301 estão listadas no quadro 17.

Quadro 17 – Condicionantes relacionadas ao manejo de animais da Licença de Operação a

Título Precário n. 2.301

Número da condicionante

Providências

#2 Apresentar relatório fotográfico comprovando a indicação dos pontos que receberão as placas de sinalização.

12 A pesquisa na base de dados de licenças ambientais da CETESB por licenças ambientais concedidas ao DER para a EPCB não retorna resultados com licenças válidas até 14.01.2022. 13 Parecer Técnico n. 265/17/IE, de 18.07.2017 e Parecer Técnico 409/18/IE, de 22.11.2018.

57

#4 Apresentar informações detalhadas do Programa de Monitoramento e Resgate da Fauna, contendo, inclusive, formas de busca, de registro, destinação da fauna resgatada e carcaças.

#5 Apresentar informações detalhadas do Programa de Monitoramento de Passagens aéreas de Fauna, com avaliação da eficiência das estruturas instaladas, necessidade de realocação, reestruturação e novos pontos.

#6 Apresentar informações detalhadas do Programa de Monitoramento de Passagens Inferiores de Fauna, com avaliação da necessidade de cercas direcionadoras junto às passagens.

#7

Apresentar relatório com dados de atropelamento de fauna, com listagem dos indivíduos identificados por espécie e gênero, localização da ocorrência e avaliação dos pontos críticos, e ações provisórias até efetiva implantação do Programa de Monitoramento do Atropelamento e Resgate de Fauna.

#8 Apresentar Autorização para Manejo e Resgate de Fauna concedida pelo Departamento de Fauna da Secretaria do Meio Ambiente.

#14 Apresentar detalhamento das medidas de salvaguarda da fauna no período crepuscular.

Fonte: Letícia Yumi Marques, 2022.

Em 2019, o DER apresentou à CETESB o documento Programas de Monitoramento

de Fauna da Rodovia Nequinho Fogaça (SP-139) (DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE

RODAGEM, 2019), que consiste no relatório final dos programas de monitoramento de fauna

exigidos na Licença de Operação a Título Precário n. 2.301. Seus principais apontamentos

encontram-se sintetizadas no quadro 18.

Quadro 18 – Principais pontos do documento Programas de Monitoramento de Fauna da

Rodovia Nequinho Fogaça (SP-139) do DER

Programa de Monitoramento de Atropelamento e Resgate de Fauna

Cerca de 44% das espécies identificadas são endêmicas.

Grande diversidade faunística na área de influência da EPCB.

O registro de ocorrências de atropelamento e o enterramento das carcaças foi realizado de acordo com as normas da CETESB (SÃO PAULO, 2018) e registrados no Formulário para Registro de Atropelamento de Espécimes da Fauna definido pelo Ibama (INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS, 2013). O enterramento das carcaças ocorreu com anuência do órgão gestor do PECB, distante de áreas de preservação permanente.

Em todo o período, apenas um animal morto (Mazama bororo, veado-vermelho) teve sua carcaça encaminhada a uma instituição de pesquisa científica, o Núcleo de Pesquisa e Conservação de Cervídeos da Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, campus Jaboticabal. O encaminhamento à instituição científica se deu de acordo com as normas da CETESB (COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2018) e será priorizado pelo DER, quando aplicável.

58

Os animais feridos que fossem eventualmente localizados no decorrer do monitoramento seriam encaminhados ao Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros, por meio de instrumento de convênio com o DER. Porém, nenhum animal ferido foi avistado nas campanhas de monitoramento.

Foram registrados, nas quatro campanhas de monitoramentos do DER no período de maio de 2016 e fevereiro de 2019, 17 atropelamentos, predominantemente da herpetofauna, especialmente serpentes. Houve seis ocorrências de atropelamento de mamíferos de pequeno porte e nenhuma de aves. No mesmo período, foram registrados, nos monitoramentos da gestão do PECB, 63 atropelamentos, sendo 33 répteis, 19 mamíferos, sete aves e quatro anfíbios. O total de animais atropelados no período é de 80 indivíduos.

Verificou-se baixa taxa de atropelamento na EPCB.

Programa de Monitoramento das Passagens Inferiores de

Fauna

Monitoramento noturno realizado em quatro campanhas por meio de armadilhas fotográficas instaladas em 16 pontos da EPCB resultou na identificação de oito espécies. Outras 34 espécies foram identificadas a partir do método de observação direta.

Dentre as espécies identificadas no monitoramento noturno, sete ameaçadas de extinção, como Leopardus pardalis (jaguatirica); Tapirus terrestris (anta); Mazama bororo (veado-vermelho) e Puma concolor (onça-parda). A espécie exótica Canis lupus familiaris (cão doméstico) também foi registrada.

Dados demonstram intensa utilização da EPCB, inclusive pelas espécies Leopardus pardalis (jaguatirica); Tapirus terrestris (anta); Mazama bororo (veado-vermelho) e Puma concolor (onça-parda), ameaçadas de extinção.

Foram identificados deslocamentos longitudinais e transversais ao longo do trecho monitorado, importantes para as medidas de mitigação dos impactos ambientais e que indicam a desnecessidade de cercas direcionadoras junto às passagens de fauna. Ao invés de trazer benefícios, a instalação das cercas direcionadoras poderia obstruir rotas de fuga da pista e aumentar as chances de atropelamentos. Animais vinham utilizando as passagens para travessia sob a pista mesmo sem as cercas direcionadoras.

A espécie mais avistada foi a Tapirus terrestris (anta).

Os monitoramentos não identificaram carcaças ou vestígios de animais mortos no entorno das passagens inferiores de fauna.

Programa de Monitoramento das Passagens

Aéreas de Fauna

Carcaças de Sapajus nigritus (macaco-prego) foram encontrados em locais distantes das passagens, indicando que elas precisam ser reposicionadas.

Até a redação do documento, o monitoramento detalhado das passagens aéreas de fauna não havia sido iniciado.

Fonte: Letícia Yumi Marques, 2022.

Os dados relativos ao percentual de espécies endêmicas monitoradas e à grande

diversidade faunística identificada na área de influência da EPCB indicam que o PECB é uma

59

área relevante para a conservação da biodiversidade, o que aumenta a importância da

efetividade das medidas mitigadoras. Segundo o documento, apesar de o monitoramento das

passagens aéreas ainda não ter sido iniciado, a totalidade das medidas mitigadoras existentes é

considerada “adequada para minimizar o efeito da operação da rodovia sobre a fauna que ocorre

na sua área de influência” (DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM, 2019).

O documento Programas de Monitoramento de Fauna da Rodovia Nequinho Fogaça

(SP-139) (DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM, 2019) reporta a existência

das seguintes medidas mitigadoras: fechamento do noturno da EPCB, que seria a medida mais

importante; grande quantidade de passagens de fauna inferiores e aéreas (ainda que sua eficácia

não tenha sido aferida); baixos limites de velocidade máxima permitida; grande número de

redutores de velocidade; e sinalização adequada. Recomenda, no entanto, a instalação de

radares de velocidade em função de duas constatações: animais usam a pista para travessia no

período de funcionamento da EPCB, ou seja, durante o dia; e desobediência dos limites de

velocidade pelos usuários. O posicionamento das medidas mitigadoras na EPCB pode ser

observado nas figuras 8 e 9.

Apesar de não apresentar os dados que embasaram a afirmação, o documento

Programas de Monitoramento de Fauna da Rodovia Nequinho Fogaça (SP-139)

(DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM, 2019) indica que houve baixa na taxa

de atropelamento na EPCB. No entanto, de e maneira geral, os dados fornecidos pela CETESB

(COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2020) indicam o número de

atropelamentos de fauna caiu 32,6% no Estado de São Paulo desde a entrada em vigor da

Decisão de Diretoria n. 141/2018/I (COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO

PAULO, 2018) em 2018. Uma redução do número de atropelamentos de animais na EPCB

também foi constatada no estudo de Alves (2021).

Por outro lado, é importante destacar que o documento Programas de Monitoramento

de Fauna da Rodovia Nequinho Fogaça (SP-139) (DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE

RODAGEM, 2019) não apresentou dados ou informações sobre a totalidade dos animais

resgatados no período do monitoramento, que foi de maio de 2016 a fevereiro de 2019. Além

disso, todos os estudos elaborados pelo DER que foram acessados e apresentados em arquivos

digitais individuais, destacados do processo de licenciamento ambiental. Como não foi

possível, em razão das restrições decorrentes da pandemia de Covid-19, ter acesso à íntegra do

processo de licenciamento ambiental da EPCB na CETESB, não foi possível identificar qual

foi a avaliação que o órgão licenciador fez sobre esses estudos, se concordou com eles ou se

houve ressalvas ou pedidos de informações complementares.

60

Figura 8 – Retigráfico das medidas mitigadoras da EPCB (parte 1)

Fonte: DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM, 2019.

61

Figura 9 – Retigráfico das medidas mitigadoras da EPCB (parte 2)

Fonte: DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM, 2019.

62

Em todo território estadual, a Canis lupus familiaris (cão doméstico) é a espécie com

maior ocorrência de atropelamentos (43,46%) e, dentre as espécies ameaçadas de extinção, a

ocorrência de atropelamentos é baixa e não chega a 1%. O total de indivíduos atropelados no

período foi de 8.368. Dentre os animais silvestres, a maioria das ocorrências de atropelamento

ocorreu em áreas de plantio de cana de açúcar e, dentre os domésticos, em área urbana. Em

94,56% das ocorrências, os animais vieram à óbito e a destinação final de suas carcaças, em

grande maioria, ocorreu pelo método de enterramento.

O documento Programas de Monitoramento de Fauna da Rodovia Nequinho Fogaça

(SP-139) (DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM, 2019) afirma sobre a EPCB,

que, “por pertencer ao mosaico de uma Unidade de Conservação integrante do contínuo

ecológico de Paranapiacaba, sua paisagem não sofre grandes variações quanto ao uso e

ocupação de solo”. Isso significa que não há, ao longo da EPCB, ocupação antrópica regular ou

irregular que possa resultar na circulação de animais domésticos no local. Assim, é possível que

os indivíduos de Canis lupus familiaris registrados nos monitoramentos na EPCB tenham sido

abandonados no local. A origem ou razões para presença da espécie exótica Canis lupus

familiaris na área de influência direta da EPCB, dentro de uma unidade de conservação, não foi

abordada em nenhum dos documentos sobre manejo de fauna produzidos pelo DER; tampouco

a CETESB solicitou o detalhamento desses dados.

Das 29 condicionantes da Licença de Operação a Título Precário n. 2301, sete dizem

respeito ao manejo de animais, o que corresponde a 24.14% das exigências para operação da

EPCB. Embora os estudos tenham identificados animais de companhia (Canis lupus familiaris

- cão doméstico) no interior do PECB, nenhuma das condicionantes dispôs sobre as

providencias a serem tomadas com esses animais após o seu resgate, tampouco medidas para

evitar que esses animais exóticos ingressem no interior da unidade de conservação, de modo

que as finalidades de proteção ambiental e bem-estar animal não estão adequadamente

contempladas no licenciamento ambiental da EPCB.

63

6 DISCUSSÃO

6.1 O regime jurídico aplicável aos animais aplicável à EPCB

A legislação brasileira, embora não promova, de forma explícita, a adequada

correlação entre normas de Direito Ambiental e Animal, deixa claro que os animais devem ser

protegidos, tanto no papel que desempenham como partes de ecossistemas que devem ser

preservados, quanto em sua dimensão individual, em razão da sua senciência. Os Direitos

Ambiental e Animal seguem paralelos, sem conexão dos seus pontos comuns no que concerne

aos animais e a conservação da biodiversidade. Isso representa um quadro legislativo segregado

e complexo para tutela dos animais nessas duas dimensões nos âmbitos federal e estadual, o

que, na prática, faz com que a dupla tutela dos animais não seja óbvia, mas resulte de esforços

interpretativos sujeitos ao crivo do Poder Judiciário e dos órgãos ambientais. Os animais estão

sujeitos a um cenário de insegurança jurídica muito grande. Quanto mais um direito precisa ser

explicado, menores são as chances de se tornar eficaz.

Em São Paulo, onde o Tribunal de Justiça e leis esparsas já reconhecem a senciência

animal e existe um arcabouço protetivo arrojado (proibição de caça, proibição de fogos de

artifício ruidosos etc.), as normas de proteção ambiental e animal também não estão integradas.

É possível que, com o reconhecimento dos animais como sujeitos de direito despersonalizados,

sui generis, como propõe Antunes (2017), a conjugação da dupla tutela dos animais se torne

eficaz. Como votou o Ministro Luís Barroso por ocasião do julgamento da Ação Direta de

Inconstitucionalidade n. 5.995, o homem precisa lidar com mais esta

ferida narcísica da condição humana: não somos o centro do universo desde

Copérnico, pertencemos ao reino animal desde Darwin, não mandamos nem

na nossa plena consciência plena desde Freud e talvez tenhamos que

reconhecer, em breve, a titularidade de direitos por animais (BRASIL, 2021d,

p. 67).

6.2 Resultados das medidas de conservação e bem-estar animal executadas na EPCB

Entre os cientistas, esses dois campos de pesquisa (conservação da biodiversidade e

bem-estar animal) também evoluíram separados (FRASER, 2010) até que, com a comprovação

científica da senciência animal (MEJDELL et al., 2016), o bem-estar animal não pode mais ser

64

ignorado nos processos de tomada de decisão dos agentes políticos (SEKAR; SHILLER, 2020),

o que, em termos de execução de políticas públicas, deve incluir o licenciamento ambiental de

empreendimentos e atividades com potencial impacto negativo nos animais, incluindo a EPCB.

O referencial teórico demonstrou que, na legislação geral sobre licenciamento

ambiental, não há disposições específicas sobre controle dos impactos sobre os animais. Em

São Paulo, os impactos sobre animais são controlados no âmbito das condicionantes das

licenças ambientais, pelas quais se requerem estudos e relatórios de monitoramento já que não

precisam ser contemplados no RAP. A esse respeito, Abra et al (2019) também reforçam a

necessidade de aprimoramento da legislação aplicável, para a finalidade de reduzir

atropelamentos de animais silvestres e domésticos.

É importante registrar que os dados a respeito do atropelamento de animais, em especial

de mamíferos, indicam tendência de aumento no número de ocorrências no período de 2009 a

2014 (ABRA et al, 2021).

No entanto, no caso específico da EPCB, os resultados dos estudos do DER, em especial

o documento Programas de Monitoramento de Fauna da Rodovia Nequinho Fogaça (SP-139)

(DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM, 2019) indicam a eficácia das

passagens inferiores de fauna e redução do número de atropelamentos. Esses dados são, de

forma indireta, corroborados pela avaliação preliminar realizada em 2020 pela CETESB

(COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2020) a respeito do

atendimento à Decisão de Diretoria n. 141/2018/I (COMPANHIA AMBIENTAL DO

ESTADO DE SÃO PAULO, 2018), e indicam redução no número de atropelamentos no

território paulista. Vale lembrar que os dados coletados por Alves (2021) também são

específicos sobre o atropelamento de animais na EPCB e indicam, mais uma vez, redução de

ocorrências.

Com isso, é preciso ressaltar que os dados sobre a redução de atropelamento de animais

na EPCB dizem respeito a um universo de dados parcial e com estudos ainda preliminares sobre

a aplicação da Decisão de Diretoria n. 141/2018/I (COMPANHIA AMBIENTAL DO

ESTADO DE SÃO PAULO, 2018) e podem indicar a eficácia do licenciamento ambiental para

conservação da biodiversidade unicamente na EPCB, conforme recorte proposto por este estudo

de caso único.

Uma vez que a análise dos dados sobre a legislação aplicável ao licenciamento

ambiental nos âmbitos federal e estadual demonstram lacunas importantes para prevenção de

atropelamentos de animais em empreendimentos lineares, é razoável assumir que esse cenário

de redução não se estenda às demais estradas e rodovias no estado de São Paulo, na medida em

65

que o marco legal aplicável ao licenciamento ambiental precisa de aprimoramento no tocante

ao manejo de animais.

A legislação precisa de aprimoramento a fim de que haja, nas esferas federal e estadual,

previsão sobre manejo de animais no licenciamento ambiental, exigência de licenciamento

ambiental corretivo para empreendimentos lineares implementados antes da PNMA e previsão

para inclusão da vertente animal e da biodiversidade nos estudos ambientais menos complexos,

como o RAP.

Relativamente às medidas para proteção dos animais em sua dimensão individual, como

seres sencientes, são inexistentes e em desconformidade com a legislação animal. Nenhuma das

condicionantes da Licença Ambiental de Operação a Título Precário n. 2.301 dispôs sobre

diretrizes de bem-estar animal para os animais resgatados, silvestres ou domésticos, feridos ou

não. De fato, houve instalação de hospital veterinário e alocação de veículos de resgate, mas

nada se previu sobre a reabilitação dos animais resgatados e como devem ser acomodados e

alimentados durante esse processo. Existe previsão para encaminhamento a instituições

conveniadas, como zoológicos, mas nada de dispôs ou se demonstrou sobre os critérios para

seleção dessas instituições e avaliação da adequação das medidas de bem-estar que oferecem

aos animais.

6.3 Críticas ao manejo de animais no licenciamento ambiental da EPCB

O documento Programas de Monitoramento de Fauna da Rodovia Nequinho Fogaça

(SP-139) (DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM, 2019) também não traz

informações sobre o manejo de animais domésticos encontrados na área de influência direita

da EPCB, como o Canis lupus familiaris. Tanto as condicionantes da CETESB quanto os

relatórios do DER se preocuparam somente com a conservação da biodiversidade,

negligenciando o bem-estar dos animais.

Relativamente às ocorrências da espécie exótica Canis lupus familiaris na área de

influência direita da EPCB, é possível entender que decorrem de abandono porque, se não

houve alteração de uso do solo nessa área, não há atividade antrópica capaz de atrair animais

domésticos, como moradias e comércios. O abandono de animais em rodovias tem sido tão

frequente que motivou o Projeto de Lei n. 1.465, de 2021 (BRASIL, 2021a), que pretende

66

obrigar “as concessionárias de rodovia a instalar placas de advertência sobre a prática do crime

de abandono de animais”.

Como as condicionantes das licenças ambientais podem ser modificadas, não é

necessário que a CETESB aguarde a sanção do Projeto de Lei n. 1.465 (BRASIL, 2021a) para

dispor sobre medidas para prevenção e repressão do abandono de animais, determinando a

instalação de placas educativas, de advertência, de câmeras e o envio das imagens de

ocorrências de abandono para as autoridades policiais.

Medidas para resguardo de animais domésticos abandonados também podem ser

adotadas, a exemplo das ações executadas pela mineradora Vale S.A. no âmbito do Termo de

Compromisso que firmou com Coordenadoria Estadual de Defesa da Fauna do Ministério

Público de Minas Gerais em abril de 2019 para proteção dos animais resgatados após o

rompimento da barragem do Fundão, em Brumadinho, e que compreendem o resgate,

tratamento veterinário, vacinação, vermifugação, castração e encaminhamento para adoção

responsável mediante termo de guarda responsável (MARQUES, 2020b).

Como a legislação brasileira é falha em explicitar a interligação entre as normas

ambientais e animais (que tenho chamado de dupla tutela dos animais não-humanos no Direito),

exigi-la dos órgãos licenciadores é um desafio porque seus servidores se pautam pelo Princípio

da Legalidade e não tomam nenhuma ação que não esteja expressamente prevista em lei. Como

disse, quanto mais se precisa explicar um direito, menores são as chances de que se torne

efetivo. Para que a dupla tutela dos animais tenha sucesso, é importante que a legislação preveja

expressamente que os instrumentos de política pública, incluído o licenciamento ambiental,

considerem as normas de conservação da biodiversidade e bem-estar animal no processo de

tomada de decisão que subsidia a concessão e fiscalização das licenças.

67

7 CONCLUSÃO

O referencial teórico indica que há insegurança jurídica e uma certa resistência entre

cientistas na conciliação da conservação da biodiversidade e do bem-estar animal. No entanto,

a jurisprudência do STF caminha no sentido de reconhecer a senciência animal e recentes

pesquisas científicas reforçam que as ações para conservação da biodiversidade não podem

mais ignorar o bem-estar animal.

A proteção dos animais no seu papel como partes do equilíbrio ecossistêmico e como

indivíduos sencientes também deve acompanhar a tendência demonstrada pelo referencial

teórico e ser considerada nos processos de tomada de decisão de agentes públicos, inclusive na

análise de laudos, estudos e relatórios e na formulação e fiscalização de condicionantes de

licenças ambientais pela CETESB.

Os dados que subsidiaram esta pesquisa foram parciais em razão das restrições para

enfrentamento da pandemia de Covi-19 durante o período de coleta de dados, mas permitiram

identificar as condicionantes relativas a manejo animal nas licenças ambientais. No entanto, as

conclusões dos relatórios do DER, embora coincidentes com os dados da CETESB

(COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2020) e Alves (2021) sobre

redução de atropelamentos a partir da vigência da Decisão de Diretoria n. 141/2018/I

(COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2018), são divergentes dos

dados de outras pesquisas recentes (ABRA et al, 2021) e não podem ser aplicados fora do

escopo deste estudo de caso – ou seja, referem-se unicamente à EPCB e podem não refletir a

realidade das demais estradas e rodovias no estado de São Paulo.

Com isso, para fins deste estudo de caso e ponderando sobre a necessidade de

aperfeiçoamento do arcabouço legal, é possível concluir que o licenciamento ambiental da

EPCB atendeu a legislação ambiental e, ao menos, minimamente adequado para conservação

da biodiversidade e proteção dos animais dentro do equilíbrio ecossistêmico.

Ressalvas devem ser feitas sobre a necessidade de possível realocação das passagens de

fauna aéreas em razão da ocorrência de atropelamentos de indivíduos de Sapajus nigritus

(macaco-prego) em locais distantes das passagens aéreas instaladas.

Relativamente ao bem-estar e proteção dos animais individualmente considerados como

seres senciente, os dados indicam que o licenciamento ambiental da EPCB tem se mostrado

inadequado para garantia do bem-estar e proteção dos animais como indivíduos sencientes.

Embora não haja determinações expressas nesse sentido aplicáveis ao licenciamento ambiental

da EPCB, a natureza jurídica da licença ambiental permite que suas condicionantes sejam

68

alteradas, no escopo da discricionariedade técnica do agente ambiental, para prever medidas

para resgate, tratamento veterinário, vacinação, vermifugação, castração e encaminhamento

para adoção responsável mediante termo de guarda responsável. Dessa forma, a ausência de

normas expressas não exime o órgão ambiental do dever de proteger os animais previsto na

Constituição Federal (BRASIL, 1988) e, portanto, considerar o bem-estar animal no âmbito do

licenciamento ambiental da EPCB.

A alteração da natureza jurídica dos animais para “sujeitos de direito despersonalizados”

como propõe Antunes (2017) pode ser favorável para a execução integrada das políticas

públicas para proteção ambiental e animal no licenciamento ambiental de empreendimentos

lineares como a EPCB.

69

REFERÊNCIAS14

ABRA, Fernanda Delborgo. Monitoramento e avaliação das passagens de fauna presentes na rodovia SP-225 no município de Brotas, São Paulo. 2012. 79f. Dissertação (Mestrado em Ecologia) – Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. ABRA, F. et al. Pay or prevent? Human safety, costs to society and legal perspectives on animal-vehicle collisions in São Paulo state, Brazil. Plos One. Valência, 14. 2019. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0215152. Acesso em 11.04.2022. ABRA, F. et al. An estimate of wild mammal roadkill in São Paulo state, Brazil. Heliyon Journal. Londres, 7. 2021. DOI: https://doi.org/10.1016/j.heliyon.2021.e06015. Acesso em: 11.04.2022. ALVES, Francisco de Assis. Avaliação dos impactos da Rodovia Nequinho Fogaça (SP-139) São Paulo, sobre os animais silvestres do Parque Estadual Carlos Botelho (PECB). 2021. 115f. Dissertação (Mestrado em Animais Silvestres) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu, 2021. ANTUNES, Paulo de Bessa. Breve apresentação da proteção aos animais no direito brasileiro. In: PURVIN, Guilherme (org.). Direito ambiental e proteção dos animais. São Paulo: Letras Jurídicas, 2017. p. 67-81. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2020. ATAÍDE JUNIOR., Vicente de Paula. Introdução ao direito animal brasileiro. Revista Brasileira de Direito Animal, Salvador, v. 13, n. 3, p. 48-78, 2018. DOI: https://doi.org/10.9771/rbda.v13i3.28768. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/RBDA/article/view/28768. Acesso em: 29 jan. 2022. BLATTNER, Charlotte E. The recognition of animal sentience by the law. Journal of Animal Ethics, Champaign, v. 9, n. 2, p. 121–36, 2019. DOI: https://doi.org/10.5406/janimalethics.9.2.0121. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/10.5406/janimalethics.9.2.0121. Acesso em: 25 dez. 2021. BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 1.465, de 2021. Obriga as concessionárias de rodovia a instalar placas de advertência sobre a prática do crime de abandono de animais. Brasília: Câmara dos Deputados, 2021a. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2278555. Acesso em: 29 jan. 2022. BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 3.729, de 2004. Dispõe sobre o licenciamento ambiental, regulamenta o inciso IV do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, e dá outras providências. Brasília: Câmara dos Deputados, 2004. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=257161. Acesso em: 29 jan. 2022.

14De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6023:2018 Versão Corrigida 2:2020.

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eles qualificados como inocente manifestação cultural, de caráter meramente folclórico [...]. Relator: Min. Celso de Mello, 26 de maio de 2011b. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628634. Acesso em: 29 jan. 2022. BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Pleno). Ação Direta de Inconstitucionalidade 4983. [...] A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais, incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da observância do disposto no inciso VII do artigo 225 da Carta Federal, o qual veda prática que acabe por submeter os animais à crueldade. Discrepa da norma constitucional a denominada vaquejada. Relator: Min. Marco Aurélio, 6 de outubro de 2016. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=12798874. Acesso em: 29 jan. 2022. BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Pleno). Ação Direta de Inconstitucionalidade 5995. [...] 2. Lei nº 7.814, de 15 de dezembro de 2017, do Estado do Rio de Janeiro, que dispõe sobre a proibição, no Estado, da utilização de animais para desenvolvimento, experimento e teste de produtos cosméticos, higiene pessoal, perfumes, limpeza e seus componentes. [...] 4. Usurpação de competência da União. Limitações a comercialização dos produtos derivados dessas atividades no Estado do Rio de Janeiro. Restrição ao mercado interestadual. Alegação de ofensa aos artigo 22, VIII e 24, VI da Constituição Federal [...]. Relator: Min. Gilmar Mendes, 27 de maio de 2021d. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=757819360. Acesso em: 29 jan. 2022. BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Pleno). Recurso Extraordinário 494601/RS. [...] 5. A proteção específica dos cultos de religiões de matriz africana é compatível com o princípio da igualdade, uma vez que sua estigmatização, fruto de um preconceito estrutural, está a merecer especial atenção do Estado. 6. Tese fixada: “É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana” [...]. Relator: Min. Marco Aurélio, 28 de março de 2019b. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=751390246. Acesso em: 29 jan. 2022. BROOM, D. M.; MOLENTO, C. F. M. Bem-estar animal: conceito e questões relacionadas. Archives of Veterinary Science, Curitiba, v. 9, n. 2, 2004. DOI: http://dx.doi.org/10.5380/avs.v9i2.4057. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/veterinary/article/view/4057. Acesso em: 22 dez. 2021. CENTRO BRASILEIRO DE ESTUDOS EM ECOLOGIA DE ESTRADAS. Atropelômetro. Sistema Urubu. [S. l., s. n.], 2019. Disponível em: https://sistemaurubu.com.br/dados/. Acesso em: 16 out. 2019. COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Decisão de Diretoria nº 217/2014/I, de 6 de agosto de 2014. São Paulo: CETESB, 2014. Disponível em: https://cetesb.sp.gov.br/wp-content/uploads/2014/12/DD-217-14.pdf. Acesso em: 29 jan. 2022. COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. Decisão de Diretoria n. 167-C/2015, de 13 de julho de 2015. São Paulo: CETESB, 2015. Disponível em:

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renovação [...]. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 112, n. 232, p. 10-11, 5 dez. 2002. SÃO PAULO. Decreto nº 50.079, de 24 de julho de 1968. Dispõe sobre a constituição do Centro Tecnológico de Saneamento Básico, prevista na Lei Estadual n. 10.107, de 8 de maio de 1968. Diário Oficial do Estado de São Paulo, São Paulo, ano 78, n. 138, p. 5-6, 25 jul. 1968. SÃO PAULO. Decreto nº 51.453, de 29 de dezembro de 2006. Cria o Sistema Estadual de Florestas – SIEFLOR. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 116, n. 247, p. 37-38, 30 dez. 2006. SÃO PAULO. Decreto nº 53.146, de 20 de junho de 2008. Define os parâmetros para a implantação, gestão e operação de estradas no interior de unidades de conservação. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 118, n. 114, p. 1, 21 jun. 2008b. SÃO PAULO. Decreto nº 63.504, de 18 de junho de 2018. Institui a Política e o Sistema Estadual de Defesa de Animais Domésticos. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 128, n. 111, p. 1-3, 19 jun. 2018a. SÃO PAULO. Decreto nº 63.853, de 27 de novembro de 2018. Declara as espécies da fauna silvestre no Estado de São Paulo regionalmente extintas, as ameaçadas de extinção, as quase ameaçadas e as com dados insuficientes para avaliação, e dá providências correlatas. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 128, n. 221, p. 1-11, 29 nov. 2018b. SÃO PAULO. Decreto nº 64.879, de 20 de março de 2020. Reconhece o estado de calamidade pública, decorrente da pandemia do COVID-19, que atinge o Estado de São Paulo, e dá providências correlatas. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 130, n. 56, p. 1, 21 mar. 2020. SÃO PAULO. Lei nº 997, de 31 de maio de 1976. Dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente. Diário Oficial do Estado de São Paulo, São Paulo, ano 86, n. 102, p. 1-2, 1 jun. 1976b. SÃO PAULO. Lei nº 2.869, de 4 de junho de 1981. Dá a denominação de "Nequinho Fogaça" ao trecho da Rodovia SP-139 que liga os Municípios de São Miguel Arcanjo e Sete Barras. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 91, n. 105, p. 2, 5 jun. 1981. SÃO PAULO. Lei nº 5.208, de 1 de julho de 1986. Autoriza o Poder Executivo a instituir a Fundação denominada “Fundação para a Conservação e Produção Florestal do Estado de São Paulo”. Diário Oficial do Estado de São Paulo, São Paulo, ano 96, n. 123, p. 1, 2 jul. 1986. SÃO PAULO. Lei nº 6.884, de 29 de agosto de 1962. Dispõe sobre os parques e florestas estaduais e monumentos naturais. Diário Oficial do Estado de São Paulo, São Paulo, ano 72, n. 194, p. 2-3, 30 ago. 1962. SÃO PAULO. Lei nº 7.407, de 8 de julho de 1991. Proíbe a realização de torneios de tiro ao alvo, com sacrifício de aves ou animais. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 101, n. 126, p. 4, 9 jul. 1991.

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SÃO PAULO. Lei nº 9.509, de 20 de março de 1997. Dispõe sobre a Política Estadual do Meio Ambiente, seus afins e mecanismos de formulação e aplicação. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 107, n. 55, p. 1-3, 21 mar. 1997. SÃO PAULO. Lei nº 11.977, de 25 de agosto de 2005. Institui o Código de Proteção aos Animais do Estado e dá outras providências. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 15, n. 162, p. 3-4, 26 ago. 2005. SÃO PAULO. Lei nº 13.542, de 8 de maio de 2009. Altera a denominação da CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental e dá nova redação aos artigos 2º e 10 da Lei n. 118, de 29 de junho de 1973. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 119, n. 85, p. 1, 9 maio 2009. SÃO PAULO. Lei nº 15.316, de 23 de janeiro de 2014. Proíbe a utilização de animais para desenvolvimento, experimento e teste de produtos cosméticos e de higiene pessoal, perfumes e seus componentes e dá outras providências. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 124, n. 16, p. 1, 24 jan. 2014a. SÃO PAULO. Lei nº 15.566, de 28 de outubro de 2014. Dispõe sobre a proibição da criação ou manutenção de animais para extração de peles no Estado e dá outras providências. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 124, n. 205, p. 1, 29 out. 2014b. SÃO PAULO. Lei nº 17.389, de 28 de julho de 2021. Dispõe sobre a queima, a soltura, a comercialização, o armazenamento e o transporte de fogos de artifício de estampido no Estado de São Paulo e dá outras providências. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 131, n. 145, p. 1, 29 jul. 2021a. SÃO PAULO. Secretaria de Estado de Infraestrutura e Meio Ambiente. Resolução SIMA nº 124, de 19 de novembro de 2021. Dispõe sobre os procedimentos preparatórios para ampliação do Parque Estadual Carlos Botelho. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 131, n. 222, p. 73-76, 23 nov. 2021b. SÃO PAULO. Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Resolução SMA nº 22, de 30 de março de 2010. Dispõe sobre a operacionalização e execução da licença ambiental. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 120, n. 60, p. 103, 31 mar. 2010a. SÃO PAULO. Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Resolução SMA nº 49, de 28 de maio de 2014. Dispõe sobre os procedimentos para licenciamento ambiental com avaliação de impacto ambiental, no âmbito da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 124, n. 99, p. 51, 29 maio 2014c. SÃO PAULO. Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Resolução SMA nº 53, de 18 de dezembro de 2006. Regimento interno do programa de proteção à fauna do Estado de São Paulo. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 116, n. 239, p. 35, 19 dez. 2006. SÃO PAULO. Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Resolução SMA nº 73, de 3 de outubro de 2008. Estabelece os procedimentos para o licenciamento ambiental das atividades de manejo

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de fauna silvestre, nativa e exótica, no Estado de São Paulo e dá providências correlatas. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 118, n. 187, p. 47, 3 out. 2008c. SÃO PAULO. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Secretaria de Estado de Transportes. Resolução Conjunta SMA/ST nº 006, de 16 de setembro de 2010. Dispõe sobre a implementação dos Planos e de Gestão e Operação da Rodovia SP-139 – Nequinho Fogaça. Diário Oficial do Estado de São Paulo: seção 1, São Paulo, ano 120, n. 180, p. 50-51, 22 set. 2010b. SÃO PAULO. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Voto 20626 no Agravo de Instrumento de número indisponível. Relator: Des. Carlos Alberto Garbi, 2015. São Paulo, 2015. Processo judicial em segredo de justiça. Disponível em: https://www.tjsp.jus.br/SecaoDireitoPrivado/Noticias/Noticia?codigoNoticia=28379. Acesso em: 29 jan. 2022. SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Direito ambiental: introdução, fundamentos e teoria geral. São Paulo: Saraiva, 2014. SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Direito constitucional ambiental. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. STJ, a dimensão ecológica da dignidade e direitos do animal não humano. Consultor Jurídico, São Paulo, 10 maio 2019. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-mai-10/direitos-fundamentais-stj-dimensao-ecologica-dignidade-direitos-animal-nao-humano#sdfootnote2sym. Acesso em: 2 set. 2020. SARLET, Ingo Wolfgang; MACHADO, Paulo Affonso Leme; FENSTERSEIFER, Tiago. Constituição e legislação ambiental comentadas. São Paulo: Saraiva, 2015. SEKAR, Nitin; SHILLER, Derek. Engage with animal welfare in conservation. Science, Washington, D.C., v. 369, n. 6504, p. 629-630, ago. 2020. DOI: https://doi.org/10.1126/science.aba7271. Disponível em: https://www.science.org/doi/10.1126/science.aba7271. Acesso em: 29 jan. 2022. SMITH, Jane A. A question of pain in invertebrates. ILAR Journal, [s. l.], v. 33, n. 1-2, p. 25-31, 1991. DOI: https://doi.org/10.1093/ilar.33.1-2.25. Disponível em: https://academic.oup.com/ilarjournal/article/33/1-2/25/737400. Acesso em: 27 dez. 2021. STILT, Kristen. Rights of nature, rights of animals. Harvard Law Review, Cambridge, v. 134, n. 5, p. 276-285, mar. 2021. Disponível em: https://harvardlawreview.org/2021/03/rights-of-nature-rights-of-animals/. Acesso em: 23 dez. 2021. TABARELLI, Marcelo et al. Desafios e oportunidades para a conservação da biodiversidade na Mata Atlântica brasileira. Megadiversidade, Brasil, v. 1, n. 1, p. 132-138, jul. 2005. TALEBI, Mauricio et al. Avaliação do Risco de Extinção de Brachyteles arachnoides no Brasil. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Brasília, 2015. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/lista-de-especies/7172-mamiferos-brachyteles-arachnoides-muriqui-do-sul. Acesso em: 27 maio 2020.

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ANEXO A – LICENÇA PRÉVIA N. 2.175

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ANEXO B – LICENÇA DE INSTALAÇÃO N. 2.175

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ANEXO C – LICENÇA DE OPERAÇÃO A TÍTULO PRECÁRIO N. 2.301

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