Opinio de difficultatibus contra doctrinam fratris Thome. Edizione critica
UM ESTUDO SOBRE A CRITICA SOCIOLOGICA
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UM ESTUDO SOBRE A CRÍTICA MARXISTA E SOCIOLÓGICANayara Paredes dos Santos1
“[...] Pensar a literatura como umfenômeno diretamente ligado à vida social. Emoutras palavras, a literatura não é um fenômenoindependente, nem a obra literária é criadaapenas a partir da vontade e da “inspiração” doartista. Ela é criada dentro de um contexto; numadeterminada língua, dentro de um determinado paíse numa determinada época, onde se pensa de certamaneira; portanto, ela carrega em si as marcasdesse contexto. [...]” (SILVA (2009) In: In:BONNICI, Thomas; ZOLIN, Lúcia Osana (org). TeoriaLiterária: abordagens históricas e tendênciascontemporâneas. 3ª ed. Maringá: Eduem, 2009, p.177)
De acordo com SILVA (2009), a crítica sociológica
“procura ver o fenômeno da literatura como parte de um
contexto maior: uma sociedade, uma cultura” (p.177), pensando
na literatura como um fenômeno ligado à vida social, na qual
uma obra não é criada apenas pela vontade do artista, mas sim
dentro de um contexto que o influencia em seu caráter social
coletivo. A autora cita o exemplo de Graciliano Ramos em sua
obra: Memórias do cárcere, na qual a crítica sociológica não vai
tomar a obra como um depoimento pessoal do autor sobre sua
prisão e opressão durante o Estado Novo de Vargas, e por isso
classifica-lo como bom porque o autor é bom, mas vai analisar
a obra como o relato simbólico de todos os que sofreram esta
1 Acadêmica do segundo ano da graduação de Letras Português-Espanhol. Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). Dourados –2013.
opressão, até mesmo dos que não foram presos, em uma denúncia
da realidade vivida por aquela sociedade, naquele dado
momento, naquele contexto histórico, não se importando com o
fato de a obra ser uma autobiografia, mas sim com a ponte
estilística que a obra faz com a realidade de opressão e
violência vividas na época.
Para a crítica sociológica este é o papel da
literatura: denunciar a realidade vivida pela sociedade.
SILVA (2009) cita: “Barberis (1996) diz que o papel da
crítica sociológica é, justamente, fazer com que cada leitor
comece a observar o mundo que nos cerca e perceba, aos
poucos, que os nossos hábitos, crenças e valores não surgiram
“naturalmente”, nem são eternos. A partir daí, começamos a
entender que muito daquilo que nós julgamos “verdade
absoluta” não é bem assim; (...) Ao percebermos o quanto
nossa própria consciência de mundo é manipulada por ideias
que não são “verdades”, mas apenas convenções arbitrárias,
nós nos tornamos mais fortes e aptos a agir positivamente no
mundo em que vivemos. [...]” (p. 178).
Segundo a autora, alguns teóricos afirmam que crítica
sociológica e a crítica marxista são a mesma coisa, outros
separam as duas completamente, afirmando que a crítica
marxista faz parte da sociológica.
Para melhor compreensão da crítica sociológica é
necessário uma breve explanação sobre marxismo, sociologia e
seus principais pensadores, como o objetivo deste estudo não
é o aprofundamento destes temas, serão dadas algumas
definições do senso comum.
A LITERATURA E O MARXISMO
Karl Marx e Friedrich Engels realizaram um complexo
exercício de reflexão da condição humana e das relações de
poder que atravessam as sociedades em 1848, e destas
reflexões surgem os fundamentos do marxismo, também conhecido
como socialismo científico. Através do materialismo
histórico2 eles afirmam que as sociedades se relacionam
através da distribuição dos bens de produção entre seus
integrantes. Desta forma essa distribuição define as classes
sociais, assim como a cultura, política, costumes, enfim,
tudo o que envolve a sociedade. Para estes pensadores, o
materialismo dialético3 alimenta as transformações históricas
a medida que um sistema econômico expõe seus problemas e
contradições. Desta forma, os homens passam a refletir e a
lutar por adequações às novas demandas. Com estas reflexões2 Abordagem metodológica ao estudo da sociedade, da economia e da
história, procurando as causas de desenvolvimentos e mudanças nasociedade humana nos meios pelos quais os seres humanos produzemcoletivamente as necessidades da vida. As classes sociais e a relaçãoentre elas, além das estruturas políticas e formas de pensar de uma dadasociedade, seriam fundamentadas em sua atividade econômica. (Wikipédia,disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Materialismo_hist%C3%B3rico)
3 Materialismo dialético é uma concepção filosófica que defende queo ambiente, o organismo e fenômenos físicos tanto modelam os animais e osseres humanos, sua sociedade e sua cultura quanto são modelados por eles.Ou seja, que a matéria está em uma relação dialética com o psicológico esocial. Se opõe ao idealismo, que acredita que o ambiente e a sociedadecom base no mundo das ideias, como criações divinas seguindo as vontadesdas divindades ou por outra força sobrenatural. (Wikipédia, disponível emhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Materialismo_dial%C3%A9tico)
Marx e Engels chegaram à conclusão de que a história das
sociedades humanas se dá por meio da luta de classes, e que o
fim destas classes seria a superação total dos sistemas
opressores, e que todo este processo deveria ser conduzido
pelos trabalhadores em uma revolução que os colocaria à
frente do Estado, em uma “ditadura do proletariado” que teria
a função de assumir os meios de produção e distribuir
igualmente as riquezas, colocando um fim nas noções de Estado
e de propriedade. (Rainer Sousa4. Marxismo. Disponível em
http://www.brasilescola.com/sociologia/conceitos-
marxismo.htm)
LOPES afirma que o pensamento marxista encontra bases
no mundo ocidental quando retira o caráter espiritual das
explicações da realidade social, fomentando assim uma
reflexão crítica e prática da sociedade, o que culminaria em
pensamentos inquietantes e atitudes revolucionárias. “Assim,
segundo este pensador, nenhuma formação social pode
permanecer imutável apesar de ideologicamente ela se nos
afigurar como algo natural (que o mesmo é pensá-la como algo
necessário) e atemporal (leia-se: à margem das leis da
história). Todas as formações sociais afinal, configuradas
pela estrutura económica (ou seja, as forças produtivas e as
relações de produção) e pelas as ideologias, as
representações políticas e jurídicas constitutivas da
superestrutura, são passíveis de sofrerem uma transformação
radical a partir do momento em que as forças produtivas e as
relações de produção se contradigam entre si” (LOPES).4 Graduado em história
Levando este conceito para a literatura, temos a retomada de
SILVA (2009) quando afirma que o papel da crítica sociológica
é, através da arte, despertar essa consciência crítica da
realidade.
Segundo LOPES, a crítica literária marxista sofreu
várias fases, porém ele destaca dois momentos: um primeiro em
que Marx e Engels dão o tom na crítica marxista ao analisarem
manifestações artísticas sob a ótica de denúncia e crítica
social. O autor fala sobre a denúncia de Engels sobre a
pretensa autonomia do artista, dizendo ser ele um efeito
específico de um estágio do desenvolvimento histórico. Apesar
de não haver uma unificação sobre a literatura, os dois
filósofos fundadores do marxismo acreditaram que a partir
daquele momento era possível explicar as obras pelas
condições econômicas e sociais:
“[...] a crítica marxista atédeterminado momento não se limitará a interpretare a apreciar as obras de acordo com a formaçãosocial onde são produzidas e consumidas; impor-se-á também a si própria a tarefa suasiva deapontar percursos futuros pelos quais aliteratura poderá enveredar [...]” (LOPES)
O segundo momento veio com o filósofo húngaro György
Lukács: “O seu discurso denunciava os vícios ideológicos de
que enfermava a literatura burguesa. Louvou o realismo e
apontou as baterias para o modernismo, que na poesia e na
filosofia negaria a historicidade do ser humano e sublinharia
a sua existência abstracta. Não é difícil ver até que ponto o
seu argumento retoma, em parte, a crítica de Marx a Hegel e a
Feuerbach. Mas Lukács, apesar das pressões do discurso
oficial, manteve um posicionamento crítico (na acepção
filosófica do termo) relativamente ao próprio marxismo”
(LOPES)
Para afunilar este vasto leque da crítica
sociológica, citarei quatro autores e suas principais
contribuições e pensamentos sobre o tema:
MARX E ENGELS – CRÍTICA MARXISTA
Karl Heinrich Marx, nasceu em Tréveris no dia 5 de
maio de 1818 e faleceu em Londres, em 14 de março de 1883.
Foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da
doutrina comunista moderna, que atuou como economista,
filósofo, historiador, teórico político e jornalista. O
pensamento de Marx influencia várias áreas, especialmente
Filosofia, Geografia, História, Direito, Sociologia,
Literatura, Pedagogia, Ciência Política, Antropologia,
Economia e Teologia. (Wikipédia. Disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx)
Ao herdar a filosofia alemã, baseando-se na densidade
de Aristóteles e de diversos teóricos, criticando filósofos
como Hegel, em parceria com Engels, Marx fundou a maior
corrente crítica contra a sociedade capitalista: o marxismo.
EAGLETON (1976) afirma que, ao contrário de muitos
pensadores da época, Marx sempre foi íntimo do mundo
literário, sendo escritor de poesia lírica na adolescência,
atreveu-se também aos escritos sobre drama e um pequeno
romance cômico. “[...]Os seus conhecimentos de literatura, de
Sófocles ao romance espanhol, de Lucrécio à ficção inglesa de
cordel, eram de uma amplitude desconcertante; o círculo
operário alemão que fundou em Bruxelas dedicava uma noite
todas as semanas à discussão das artes [...]” (p. 13-4)
Friedrich Engels, nasceu em Barmen, no dia 28 de
novembro de 1820 e faleceu em Londres, em 5 de agosto de
1895. Foi um teórico revolucionário alemão que junto com Karl
Marx fundou o chamado socialismo científico ou marxismo. Ele
foi coautor de diversas obras com Marx, sendo que a mais
conhecida é o Manifesto Comunista. Também ajudou a publicar,
após a morte de Marx, os dois últimos volumes de O Capital,
principal obra de seu amigo e colaborador. Grande companheiro
de Karl Marx, escreveu livros de profunda análise social.
Entre dezembro de 1847 à janeiro de 1848, junto com Marx,
escreve o Manifesto do Partido Comunista, onde faz uma breve
apresentação de uma nova concepção de história, afirmando
que: “A história da humanidade é a história da luta de
classes”. (Wikipédia. Disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Engels)
Engels começou a escrever cedo, e comungava com Marx
a sensibilidade às questões literárias e conceitos estéticos.
EAGLETON (1976) diz que a ambos ficou tarefa bem maior do que
comentar sobre a arte e a literatura, embora tenham deixado
alguns textos e fragmentos com alusões brilhantes sobre o
tema, que deram origem a chamada sociologia da literatura:
“[...] A sociologia da literatura ocupa-se fundamentalmente
com o que poderíamos chamar os meios de produção,
distribuição e troca da literatura numa sociedade determinada
– como se publicam livros, a composição social de seus
autores e leitores, níveis de alfabetização, as determinantes
sociais do «gosto». Examina também textos literários do ponto
de vista de sua relevância «sociológica», fazendo incursões a
obras literárias para extrair delas temas de interesses para
o historiador das sociedades. [...]”. (p.14-5)
EAGLETON (1976) porém enfatiza que, embora o marxismo
tenha originado a sociologia da leitura, ela não é a crítica
marxista literária: “A crítica marxista não é uma simples
«sociologia da literatura» que se preocupe em saber como se
publicam romances e se estes mencionam ou não a classe
operária. O seu objetivo é uma explicação mais cabal da obra
literária. [...]” (p.15). Muito embora a questão histórica
esteja profundamente ligada à produção literária, e que
muitos tenham tentado antes analisar uma obra pelo seu
contexto histórico, a crítica marxista vai por outro viés: “A
originalidade da crítica marxista consiste, por conseguinte,
não na abordagem histórica da literatura, mas na compreensão
revolucionária da própria história.” (p.15).
LUKÁCS – CRÍTICA MARXISTA/SOCIOLÓGICA
György Lukács ou Georg Lukács nasceu em Budapeste, no
dia 13 de abril de 1885 e faleceu na mesma cidade em 5 de
junho de 1971. Foi um filósofo húngaro de grande importância
no cenário intelectual do século XX. Segundo Lucien Goldmann,
Lukács refez, em sua acidentada trajetória, o percurso da
filosofia clássica alemã: inicialmente um crítico
influenciado por Kant, depois o encontro com Hegel e
finalmente, a adesão ao marxismo. Seu nome completo era Georg
Bernhard Lukács von Szegedin em alemão ou Szegedi Lukács
György Bernát em húngaro. (Wikipédia. Disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gy% C3%B6rgy_Luk%C3%A1cs).
SILVA (2009) relata que Lukács fez um paralelo entre
o desenvolvimento de certas formas literárias e o
desenvolvimento do capitalismo. Em sua juventude escreveu
Teoria do Romance (1920), na qual analisou o épico do homem
grego e o romance do homem medieval. Percebeu que o homem
grego acreditavam em um mundo harmonioso, sem a necessidade
de uma religião oficial por sentirem-se seguros no mundo.
Quando a cultura judaico-cristã influenciou a passagem para o
mundo ocidental, o homem tornou-se medieval, cheio de
angústias e sem encontrar sentido para a vida. Partindo desta
ideia ele analisou os três gêneros: épico, lírico e
dramático, mostrando a relação que esta produções tiveram com
a mentalidade da sociedade que originou cada um deles.
Enfatizou também que os heróis da epopeia e do romance são
bem diferenciados: o herói da epopeia tem seus mundos
interior e exterior harmonicamente criado e orientado pelos
deuses; já o herói do romance tem um conflito entre esses
mundos, no qual ele se engaja em um trajeto individual de
autoconhecimento.
EAGLETON (1976) afirma que estes conceitos de epopeia
e romance correspondem ao perído pré-marxista de Lukács: “Na
obra sua de juventude, pré-marxista, A Teoria do Romance
(1920), Lukács segue Hegel na concepção do romance como a
«epopeia burguesa», mas uma epopeia que, diferentemente de
sua congénere clássica, revela o desenraizamento e alienação
do homem na sociedade moderna.” (p.42). Mesmo tornando-se
marxista mais tarde, ainda é possível observar traços
hegelianos em suas obras.
Quando marxista “[...] Lukács considerou a arte como
um modo peculiar de manifestação do reflexo da realidade,
negando-a enquanto expressão de uma psicologia de classe ou
biografismo [...]” (RIBEIRO, 2011, p.11). A autora ainda
afirma que Lukács era desfavorável as artes naturalistas por
estarem carregadas de uma representação fotografada da
realidade, criticando também as artes de vanguarda “ou por
falsear a forma, no caso do expressionismo, ou por subestimar
o conteúdo, no caso do formalismo” (p.12). Esta hostilidade
maior à vanguarda é pela defesa de que as causas sociais do
comportamento humano não devem ser substituídas por
psicologismos e que cabe ao romance fazer o resgate da
“totalidade perdida”, sendo que os vanguardistas criavam um
abismo entre o indivíduo e o mundo exterior.
BAKHTIN – CRÍTICA SOCIOLÓGICA
Mikhail Mikhailovich Bakhtin nasceu em 17 de novembro
de 1895, Orel e faleceu em 06 de março de 1975, em Moscou.
Foi um filósofo e pensador russo, teórico da cultura europeia
e as artes. Bakhtin foi um verdadeiro pesquisador da
linguagem humana, Seus escritos, em uma variedade de
assuntos, inspiraram trabalhos de estudiosos em um número de
diferentes tradições (o marxismo, a semiótica,
estruturalismo, a crítica religiosa) e em disciplinas tão
diversas como a crítica literária, história, filosofia,
antropologia e psicologia. Embora Bakhtin fosse ativo nos
debates sobre estética e literatura que tiveram lugar na
União Soviética na década de 1920, sua posição de destaque
não se tornou bem conhecida até que ele foi redescoberto por
estudiosos russos na década de 1960. É criador de uma nova
teoria sobre o romance europeu, incluindo o conceito de
polifonia em uma obra literária. Explorando os princípios
artísticos do romance, François Rabelais, Bakhtin desenvolveu
a teoria de uma cultura universal de humor popular. Ele é
dono de conceitos literários como polifonia e cultura cômica,
cronótopo, carnavalização e menippea (um eufemismo em relação
à linha principal e levando o desenvolvimento do romance
europeu no "grande momento"). Bakhtin é autor de diversas
obras sobre questões teóricas gerais, o estilo e a teoria de
gêneros do discurso. Ele é o líder intelectual de estudos
científicos e filosóficos desenvolvidos por um grupo de
estudiosos russos, que ficou conhecido como o ‘Círculo de
Bakhtin’. (Wikipédia. Disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mikhail_Bakhtin).
Durante o ‘boom’ de correntes teóricas que procuravam
definir o que é literatura e como ela deve ser analisada, os
formalistas russos atacaram com discursos inflamados os
contemporâneos marxistas, guiando seus estudos por Saussure e
pela vanguarda dos futuristas (já criticadas por Lukács). O
que mais legitimou este movimento foi o princípio da
objetividade e cientificidade da literatura. Este privilégio
todo fez com que o estruturalismo perdurasse com força até as
décadas de sessenta e setenta, abafando a crítica marxista e
sociológica. Mas por esta altura o Formalismo já apresentava
os sinais de cansaço e Bakhtin atacou afirmando que com este
movimento, a dimensão social da língua havia sido relegada
para segundo plano. “Bakhtin privilegiaria justamente essa
dimensão no seu estudo do romance russo oitocentista.
Descobriu nas obras de Dostoievsky e Pushkin uma
caleidoscópica variedade de vozes, de múltiplas realizações
da língua, que, ao ultrapassarem os preceitos estilísticos
que espartilham outros géneros literários, revelam a
impossibilidade de representação da língua como unidade
acabada e perfeita. Tal como todas as formações sociais, está
sujeita a mutações constantes e é simultaneamente, nas mãos
do povo, espaço de conflito e de interacção, de contradicção
e de contestação. Esta teoria do romance, baseada no carácter
“polifónico” da língua em acção, fugindo a qualquer
apropriação ideológica, terá sido igualmente alvo de
desconfiança por parte do Estado monolítico e totalitário de
Estaline. O próprio Bakhtin teria que esperar pela década de
sessenta para se reencontrar com o seu público.” (LOPES).
SILVA (2009) primeiro define os principais conceitos
de Bakhtin para que se possa ver sua ligação com a crítica
sociológica e marxista: “O dialogismo parte do princípio
linguístico segundo o qual todo ato de linguagem leva em
conta a presença, ainda que invisível, de alguém para quem se
fala ou escreve. [...] e também prevê, ou imagina prever a(s)
possível(eis) reação(ões) deste ouvinte/leitor. [...] Bakhtin
(1984) diz que, se esquecermos essa relação dialógica, o
significado do ato de linguagem desaparece, pois todo o
significado depende de uma relação entre quem emite e quem
recebe. [...]” (p.181). E essa relação só teria algum sentido
dentro de um contexto no qual o falante se encontra, ou seja,
o conteúdo deste diálogo teria que ter uma visão de mundo
forçosamente com um contexto sócio-histórico, no qual o
leitor/receptor aceitaria ou não de acordo com sua visão de
mundo particular. Esse processo não é individual, mas envolve
toda uma coletividade de vozes que dialogam entre sim.
Dentro dessa relação dialógica na obra literária, há
o monólogos, “ou seja, constroem romances nos quais todas as
personagens e acontecimentos reforçam o ponto de vista do
narrador, de modo que todos as contradições, brigas, opiniões
diferentes, etc., parecem apenas estágios diferentes uma
evolução, do ponto de vista do narrador.” (SILVA, 2009, p.
181). E há a polifonia: “Já os autores polifônicos são
autores que, ao colocarem falas nas bocas dos personagens,
criam a possibilidade de que elas discordem totalmente dos
valores, visão de mundo e ideologia do narrador. A voz do
narrador torna-se apenas uma entre muitas, e o desafio deste
tipo de autor é, como na música, harmonizar as vozes
diferentes num todo coerente.” (SILVA, 2009, p.181). E a
autora afirma que, para Bakhtin, o conhecimento deve ser
dialógico e polifônico.
O conceito de Bakhtin sobre a carnavalização é outro
ponto abordado por SILVA (2009), que investiga a cultura
popular, principalmente das épocas medieval e renascentista.
“A literatura dessa corrente é joco-séria, satírica,
dialógica, pois o avesso pressupõe o direito, [..]. Na
carnavalização há uma inversão nos valores da vida cotidiana,
numa espécie de libertação coletiva, e o poder é
ridicularizado, vítima de uma espécie de “vingança’ por parte
do povo. [...] A carnavalização então acontece quando um
texto literário, de alguma forma, apresenta o chamado “mundo
às avessas”, ou seja, uma inversão crítica e/ou satírica das
formas tradicionais do poder estabelecido e da organização
sócio-política da sociedade. [...]” (p.183). Afirmando a
seguir que a carnavalização e o dialogismo não são conceitos
muito distantes: “[...] Através da carnavalização, a
literatura nos mostra a Alteridade, que é todo e qualquer
modo de pensar, sentir e ver o mundo que não seja exatamente
igual ao nosso. O “eu” se constrói exatamente numa relação de
oposição/complementaridade com o Outro. Enxergar o ponto de
vista do Outro é uma forma de Diálogo. [...]” (p.183). Mas
esse “enxergar” o outro não é harmônico, é todo um processo
de descoberta em que há o estranhamento e a consciência do
ridículo, tanto no outro, quanto em nós: conhecer o outro é
conhecer a nós mesmos.
SILVA (2009) segue com o conceito de cronótopo de
Bakthin. Primeiro ela nos define como um conceito abstrato de
tempo e espaço, no qual os dois são as duas faces da mesma
moeda: “Quando se observa como a relação tempo/espaço foi
criada dentro de um determinado texto, pode-se perceber que
essa relação espaço/tempo vai ser fundamental para mostrar
que tipo de texto é esse. [...]” (p.184).
Na visão de Bakhtin, cronótopo é: “uma unidade de
análise narrativa, uma figura de tempo/espaço típica de
certas tramas (plots) historicamente dadas. Nesse nível, o
cronótopo seria um tipo de estrutura recorrente, muito pouco
diferente daquilo que os formalistas russos chamavam de
mecanismo (device)” (BAKHTIN, 1984, p.110 In: SILVA, 2009, p.
184).
CÂNDIDO - CRÍTICA SOCIOLÓGICA
Antônio Candido de Mello e Souza nasceu no Rio de
Janeiro em 24 de julho de 1918 e atualmente está na casa dos
95 anos. É um sociólogo, literato e professor universitário
brasileiro. Estudioso da literatura brasileira e estrangeira,
possui uma obra crítica extensa, respeitada nas principais
universidades do Brasil. À atividade de crítico literário
soma-se a atividade acadêmica, como professor da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo. É professor-emérito da USP e da UNESP, e doutor
honoris causa da Unicamp. (Wikipedia. Disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant
%C3%B4nio_Candido_de_Mello_e_Souza).
O autor estudou mais profundamente a crítica
literária e escreveu o livro Literatura e Sociedade, no qual
faz um estudo aprofundado sobre a crítica sociológica, e é
nesta obra que será baseada esta parte do estudo. Já no
primeiro capítulo, em uma tentativa de esclarecimento, ele
fala sobre como essa relação entra a obra e seu contexto
social vem sido tratada:
“Nada mais importante para chamar aatenção sobre uma verdade do que exagerá-la. Mastambém, nada mais perigoso, porque um dia vem areação indispensável e a relega injustamente paraa categoria do erro, até que se efetue a operaçãodifícil de chegar a um ponto de vista objetivo,sem desfigurá-la de um lado nem de outro. É o quetem ocorrido com o estudo da relação entre a obrae o seu condicionamento social, que a certaaltura do século passado chegou a ser vista comochave para compreendê-la, depois foi rebaixadacomo falha de visão, — e talvez só agora comece aser proposta nos devidos termos [...]” (CÂNDIDO,2006, p.13).
O vínculo entre obra e ambiente vem recebendo mais
atenção pela análise estética das obras. “Sabemos, ainda, que
o externo (no caso, o social) importa, não como causa, nem
como significado, mas como elemento que desempenha um certo
papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto,
interno.” (CÂNDIDO, 2006, p.14).
Segundo o autor, o diferencial no momento atual para
a crítica sociológica é que os autores atuais colocam os
fatores externos não mais como enquadramento ou matéria
registrada, mas como agentes da estrutura, o que possibilita
um alinhamento com os fatores estéticos do texto, procurando
um sentido maior, tecendo todos os elementos do texto em
busca de uma análise mais concreta. Ele também afirma que o
externo se torna interno dentro de um texto à medida em que
ele é entrelaçado na visão de mundo dos personagens e do
narrador, e a crítica deixa de ser sociológica para se tornar
apenas crítica.
O autor define algumas modalidades “mais comuns de
estudos de tipo sociológico em literatura, feitos conforme
critérios mais ou menos tradicionais e oscilando entre a
sociologia, a história e a crítica de conteúdo” (CÂNDIDO,
2006, p.18). O primeiro seria o método tradicional de
relacionar uma literatura, um período, um gênero com as
condições sociais, mas que pode ser decepcionante ao abrir
interpretações que caiam nas causas deterministas e isoladas
de analisarem a obra. A segunda modalidade seria a mais
simples e comum: analisar até que nível uma obra espelha ou
representa a sociedade, mas que peca ao representar muito
mais uma sociologia elementar do que uma crítica propriamente
dita. “[...] o terceiro é apenas sociologia, e muito mais
coerente, consistindo no estudo da relação entre a obra e o
público, — isto é, o seu destino, a sua aceitação, a ação
recíproca de ambos [...]” (CÂNDIDO, 2006, p.20). A quarta
modalidade está ainda dentro da sociologia, mas na parte que
estuda a função do escritor e sua posição com a natureza e a
produção na organização da sociedade, e desta surge a quinta
modalidade: que investiga a função política das obras e dos
autores com intuito ideológico marcado. “Lembremos,
finalmente, um sexto tipo, voltado para a investigação
hipotética das origens, seja da literatura em geral, seja de
determinados gêneros[...]” (CÂNDIDO, 2006, p.21).
Ao explanar sobre literatura e sociedade, o autor
afirma que há duas formas tradicionais: a primeira que
consiste em estudar em que medida a arte é expressão da
sociedade, e a segunda é em que medida essa arte está
interessada nos problemas sociais.
O autor também se interessa pelo fator comunicativo
da arte, retomando assim as questões postas por Bakhtin sobre
o dialogismo: “[...] sociologicamente, a arte é um sistema
simbólico de comunicação interhumana, e como tal interessa ao
sociólogo. Ora, todo processo de comunicação pressupõe um
comunicante, no caso o artista; um comunicado, ou seja, a
obra; um comunicando, que é o público a que se dirige; [...]”
(CÂNDIDO, 2006, p.31)
SILVA (2009) afirma que Cândido deixa claro que a
crítica sociológica deve ser aberta, levando em conta
elementos que enriquecem o texto, como as possibilidades
políticas, psicológicas, sociológicas, etc. Ele também
estudou a influência da obra na sociedade, e da sociedade na
obra, em uma relação dialógica em que o autor se identifica e
se modifica através da obra.
Outro conceito que Cândido aborda é o de arte de
agregação e arte de segregação, na qual a primeira está
preocupada em manter uma linha tradicional, sem muitas
inovações para não causar estranhamento no público leitor,
mudando apenas alguns detalhes, mas mantendo a ideologia.
Enquanto a segunda quer mudar totalmente o conjunto de
símbolos, a ideologia, com a intenção de provocar o
estranhamento para reflexão do sujeito, quebrando as
expectativas que os leitores já carregam internalizadas.
PROBLEMAS DA CRÍTICA SOCIOLÓGICA
SILVA (2009) faz um parecer sobre os problemas que as
análises se obras sob a ótica sociológica pode trazer.
Cândido por várias vezes usa em seu livro Literatura e
Sociedade o termo “perigoso afirmar que” em sinal de cautela
sobre o tema, que é, digamos, bem complexo e abre um leque de
interpretações.
“O próprio Candido aponta bem para o maior problema
da crítica sociológica: é a tendência que alguns críticos,
especialmente da linha marxista, adquirem de se prender
demais aos aspectos sociológicos. [...]” (SILVA, 2009,
p.187). Desta forma os críticos possuem um a visão mais
limitada e incompreensiva dos diversos fenômenos literários.
E finaliza dizendo que, independentemente da preferência, o
crítico não deve se fechar para as outras tendências.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- SILVA, Marisa Corrêa. Crítica sociológica. In: BONNICI,
Thomas; ZOLIN, Lúcia Osana (org). Teoria Literária:
abordagens históricas e tendências contemporâneas. 3ª ed.
Maringá: Eduem, 2009, p. 177-188.
- LOPES, António. Crítica Marxista. Artigo eletrônico postado
no site E-Dicionário de Termos Literários, por Carlos Ceia.
Disponível em http://www.edtl.com.pt/index.php?
option=com_mtree&task=viewlink&link_id=861&Itemid=2. Aceso
em 24 de julho de 2013, às 13h30.
- EAGLETON, Terry. Marxismo e crítica literária. Porto:
Afrontamentos, 1976. 111p.
- CÂNDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade. 9º ed. Rio de
Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006. 199 p.