Testemunhos da pratica da Bruxaria em Alcácer do Sal, no reinado de D. João V: As irmas Salemas e...
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Editorial
xmos sócios, amigos e leitores é com enorme prazer e com grande orgulho que a direcção da EADPA publica mais uma edição do nosso bole�m cultural “ O NEPTUNO “.
Recorde-se que a ADPA tem como objec�vo a valorização da iden�dade cultural de um povo, contribuindo para o desenvolvimento do concelho de Alcácer do Sal, divulgando e defendendo o seu património histórico, arqueológico, edificado, etnográfico, natural e paisagís�co através da inves�gação/divulgação e denunciando e condenando todos os que contribuem para a sua destruição. A recuperação do nosso passado é urgente e necessário para o nosso futuro.Nesta edição a ADPA tem como objec�vo divulgar as suas ac�vidades e passeios culturais através do seu bole�m e facebook; con�nuar a publicar ar�gos sobre o concelho de Alcácer do Sal.
NEPTUNO
Associação de defesa do Património cultural de Alcácer do Sal - ADPA
Junho/Julho/Agosto 2015 Nº18
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Edição: Associação de defesa do Património Cultural de Alcácer do SalRua João Alves Sá Branco7580-161 Alcácer do SalE-mail: [email protected]
Redacção: Duarte Soares, Fernando Jerónimo, João Vaquinhas, Rui Damião, Rui Araujo, Ligia Vaquinhas, José Grilo, João Emidio, Rita Balona
Colaboração: Raquel Gaspar, António Carvalho, Rita Balona, João Faria† , Fernando Jerónimo
Reprografia:
Tiragem: 300 exemplares
Depósito Legal: 217297/04
Distribuição Gratuita
Letras Efémer
Letras Efémeras Sociedade Gráfica Unipessoal, Ldat . 265 623 293 * t lm 968 331 872 * [email protected]
Associação de defesa do Património cultural de Alcácer do Sal - ADPA
2
Ajude-nos a proteger e a divulgar o nosso Património.Faça-se sócio através do nosso e-mail ou Facebook.
O Velho Senhor do Tempo
velhinho Relógio da Torre, que outrora Oinformava o tempo, do tempo que
muito ou pouco os Alcacerenses
dispunham para os seus afazeres diários.Este Velhinho Senhor, que é do tempo em que o
tempo dos mais idosos, se orientava pelo sol,
marcou várias gerações, com seu ritmo sonoro,
informando a tempo e horas, as vinte e quatro
do dia.E neste ciclo do tempo, ar�fices qualificados,
prestaram-lhe finos cuidados; ajustes na
engrenagem e corda dada a preceito, tarefa
levada a peito por homens de muito amor, para
que o Velho Senhor, se man�vesse perfeito.Dis�nto na pontualidade, o Nobre Senhor
ritmava os períodos laborais, de salineiros,
mondinas, pescadores, metalúrgicos, operários
fabris e funcionários públicos. Ele que foi
presta�vo e esforçado, diária e
ininterruptamente, servindo a Monarquia,
Republica e Democracia, já mais vê reconhecido
o seu valor e importância, muito por vontade
daqueles que a seus pés, e bem à mercê da sua
atenta observação, o vão enjeitando, porque não
se iden�ficam com a sua historia e a deste
concelho.Apesar de não ter sido colhido de surpresa com o
gesto negligente dos Senhores Soberanos,
lamenta que os filhos do concelho, aqueles a
quem se dedicou a tempo inteiro, sejam
permissivos e tolerantes, com aqueles que o
pretendem silenciar para sempre.
Associação de defesa do Património cultural de Alcácer do Sal - ADPA
Olhos do PovoRe�rado do Bole�m “O Neptuno” nº1 de 2004
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Os golfinhos de Salacia
Autor: Raquel Gaspar. Ocean Alive educação criativa marinha. [email protected]
uem viu os golfinhos pela úl�ma vez em QAlcácer? Eis uma história que nos conta a lenda da cidade de Alcácer e a sua relação
com os golfinhos do Sado.Há muitos séculos atrás, 100 ou 200 anos antes do ano em que se diz Cristo ter nascido, morava aqui, em
Ketovion (assim se chamava Alcácer do Sal durante
a ocupação celta), um homem de cabelos duros e
encrespados, olhos claros, peito rijo e as mãos
esfoliadas. Trabalhava nos barcos que levavam o
sal e o peixe do estuário do Sado. Não me recordo
do nome dele mas sei que escondia na sua bolsa de
couro uma moeda. Um dia, apaixonado pela
beleza de uma ninfa perfumada de maresia,
inclinou-se na borda da barca para ver a sua
imagem imersa na tona da água... Nesse momento
assustou-o um chuveiro de go�culas de ar quente
vindo do espiráculo de um golfinho que por ali
passava, em bando. O susto acordou-o da sua
miragem mas o impulso, fez cair a moeda para fora
de bordo. A moeda foi arrastada pelas correntes da
enchente e adormeceu no leito junto da margem
do estuário, perto de Abul. Anos mais tarde, um século antes de Cristo nascer,
Ketovion era já uma cidade romanizada. Certo
anoitecer aconteceu algo que se tornara
na lenda fundadora desta cidade. Ao lusco fusco do nevoeiro anoitecido, Ketovion fora alvo de um terrível ataque de piratas bárbaros. Qual praga marí�ma que se alastra com as correntes, estes piratas, navegaram de barco vindos do Norte de África, atacando, povoado após povoado, a costa Portuguesa. Ao avistar a encosta da Serra da Arrábida esmoronada sobre o mar, viraram para dentro do estuário. Primeiro atacaram Cetóbriga (Setúbal). Não regalados, navegaram estuário adentro. Seguiram o rasto dos barcos que vinham de Gadir (Cádiz) em direcção a Ketovion, carregados de cheiro a salga de peixe. Quando os bárbaros se aproximaram, ouviram das frestas de uma taberna não muito longe do castelo, as cantorias dos guardas da cidade embriagadas no meio do rubro do vinho. Esbanjavam ali a sua jorna, pelo deleite da ilusão que lhes trazia o decote decotado, o volume e o cheiro vindo dos seios, e o sorriso nas maças do rosto das serventes escravas... E nisto, sem que se apercebessem, o ardor do vinho transformara-se em fogo verdadeiro. Ketovion começara a arder. Ketovion ficou em cinzas. Foi roubada, estripada e o seu povo morto e esmorraçado. Os que ficaram e que conseguiram erguer-se evocaram a Salacia, a ninfa das águas salgadas, um cas�go p a r a t a i s h o m e n s t ã o d e s t r u i d o r e s . Este sussurro sofrido chegou-lhe aos ouvidos através do assobio dos muitos golfinhos que ali viviam e isto testemunharam. Então, Salacia l e va n t o u a s á g u a s d o m a r, t o r n o u - a s avassaladoras, matou os barcos e aprisionou no mar os tesouros roubados. Agradecido, o povo ergueu uma ermita em nome desta deusa. Pompeu Magnos, o ditador romano que dominava aqui, comovido com esta senda, deu o nome da deusa a esta terra denominando-a de URBS IMPERATORIA SALACIA.
*Imagem 1 - Roaz capturado no Sado ás portas de Alcácer, anos 50.
Moeda de Ketovioncom golfinhos; inwww.portugalromano.com
*Imagem 1
Associação de defesa do Património cultural de Alcácer do Sal - ADPA
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Se Salacia era uma importante urbe ligada aos recursos marinhos, �nha com certeza golfinhos às suas portas. As pistas para a minha tese estavam nas moedas cunhadas em Salacia. Tive de esperar muitos, muitos dias para as poder ver ao vivo. Mas numa manhã de Dezembro fui com o meu filho João até às catacumbas do departamento de arqueologia da CM de Alcácer. Ali encontrei-me com as ditas moedas. Na minha mão �nha a moeda daquele homem de Ketovian. Ainda ensonada, limpei-lhe a lama e vi: Hércules (Melkart), o rei dos mares para os fenícios, e na outra face, dois golfinhos. Em cima da mesa da secretária da jovem arqueóloga Rita Balona e do seu colega Fernando Jerónimo estavam mais duas moedas. Eram moedas da época romana. Ainda cheiravam ao vinho novo, talvez �vessem ficado perdidas dentro de uma caneca que rebolara encosta abaixo e também no estuário �vesse ficado escondida. Coisa que não parecia irreal ao arqueólogo António Carvalho também parte da equipa. Nestas moedas estava cunhado Neptuno (o deus dos mares greco-la�no) com o seu tridente e na outra face, haviam também dois golfinhos. Para mim, tudo ba�a certo. Para mim, �nha achado o colo que suportava a minha tese. Mas porque seria que os golfinhos eram usados como símbolos na numismá�ca cunhada em Ketovion e Salacia?
sta resposta veio de longe. Como sabem, Ehoje com um simples email conseguimos
chegar a quem queremos, num tempo que
pode ser apenas um instante. E foi por intermédio
de um amigo zoológo marinho espanhol, que por
sinal estuda lesmas-do-mar, que encontrei a
arqueóloga Elena Moreno Pulido. Olhem a minha
sorte: �nha conseguido chegar a alguém cuja tese
de doutoramento, a inda fesquinha, era
precisamente a numesmá�ca na costa ocidental
da península ibérica. Numa mensagem que parecia ter sido redigida
com letras redondinhas, a Doutora Helena
explicou-me:Como las pesquerías y saladeros eran el principal
motor de la economía de la region (…) muchas de
las cecas (talleres monetarios) del área acuñaran
moneda con alusiones pesqueras en sus reversos.
Así, por ejemplo, tenemos los dos atunes
acuñados en Gadir (Cadiz), mo�vo que copiarían
cecas como Seks (Almuñécar, Granada) o Salacia
(Alcacer do Sal). (…) Esto es un fenómeno común
en la An�güedad, donde cecas afines comercial y
étnicamente escogen los mo�vos iconográficos
empleados por la amonedación pres�giada, es
decir, la más fuerte de la región. (…) Igualmente, se
incluirían otros mo�vos pesquero marí�mos como
es el caso del del�n. Si bien la pesca de los mismos
está a�es�guada por fuentes clásicas y por algunos
(escasos) restos arqueológicos, el origen del uso de
los delfines en la moneda hispana hay que buscarla
en Grecia. (…)Na mitologia grega, os golfinhos eram um símbolo
muito querido que acompanhava determinados
deuses. Por exemplo, o deus Taras, herói fundador
de Tarento, situada na costa italiana, filho de
Poseidon e de Sa�ria) cavalga um golfinho; a ninfa
Arethusa divindade marinha feminina fundadora
de Siracusa, cidade da Cecília, foi representada ao
lado de golfinhos. Conta a lenda que um dia
Arethusa banhou-se no rio e o deus rio enamorou-
se dela. Como esta ninfa era consagrada a Artemis,
que era uma deusa virgem, ela transformou-a
Moeda romana de salacia com
golfinhos; www.portugalromano.comin
stava no outro dia a passear por Alcácer Equando encontrei, dentro da Igreja do Espirito Santo a Doutora Marisol Ferreira
do Departamento de arqueologia da CM de Alcácer do Sal. Expliquei-lhe que defendo a tese que outrora os golfinhos eram abundantes no estuário. Se Ácala (Tróia) era a maior (senão das mais importantes) fábrica de salga e conserva de peixe do império romano, tamanha deveria ser a riqueza do estuário do Sado em vida marinha.
Associação de defesa do Património cultural de Alcácer do Sal - ADPA
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numa corrente para assim fugir ao deus rio. Com a ajuda dos golfinhos Arethusa navegou pelo Mediterrâneo e chegou à ilha Secília onde se transformou num manancial de água, dando origem à cidade de Siracusa. A cunhagem dos golfinhos (e atuns) associados aos deuses marinhos nas moedas das cidades costeiras celebrava assim a grande fonte de riqueza que representava o mar para estas cidades e a relação dos golfinhos com os deuses conferia-lhes o símbolo de protecção e de bom agoiro. Por exemplo, os pescadores, homens muito super�ciosos, viam os golfinhos como animais protegidos pelos deuses, como animais auxiliares da pesca (Mora Serrano 2011), que os levavam a descobrir as rotas de migração e os cardumes de atuns e outras importantes pescarias. Esta relação com os golfinhos deveria ter por base a vivência d o s p e s c a d o r e s c o m o s g o l fi n h o s q u e acompanhavam as embarcações e as saudavam de volta ao porto (Moreno Pulido 2011). Pois terá sido assim também em Alcácer do Sal.
té há poucos anos atrás, talvez até aos Aanos 60, os roazes do Sado viviam nas águas de Alcácer e subiam o estuário até
St. Margarida do Sado. Não sei quantos eram, mas certamente muito menos que na época de Salacia ou de Ketovian, quando o rio era mais fundo, mais largo e mais rico. Como animais marinhos de grande porte que são, os golfinhos comem entre 10 a 20kg de presas por dia, estes mamíferos marinhos só se encontram em águas abastadas de vida marinha. O rio Sado tem hoje o estuário mais rico do nosso país, para o qual contribuem os
enclaves rochosos da costa da Arrábida e os fundos profundos do canhão de Setúbal, ricos em nutrientes. Apesar disso, já há muitos anos que não vemos os golfinhos em frente à cidade de Alcácer. Mas o que vos venho aqui dizer, é que ainda hoje vivem os úl�mos golfinhos que aqui es�veram, há uns anos atrás. Sou bióloga marinha. Quando comecei a monitorizar a população de roazes do Sado, em 1994, a população �nha apenas 32 animais (hoje tem 27). Nessa altura a população estava dividida em dois grupos. Um grupo que �nha preferência pelo mar.
Quase sempre os encontrava escondidos nos
meandros do traçado do rio, a caçar nas águas
pardacentas do interior do estuário. Neste grupo
estuarino haviam 7 golfinhos: o Rocha, a Tubarão,
o Peter Pan, o Dorminhoco, a Purpúrea, o
Unicórnio e o Tripé. Às vezes juntava-se-lhes o Asa,
o golfinho lendário desta população, que já voou
suspenso a um helicóptero para ser salvo. Destes
7, para além do Asa, apenas os úl�mos dois, o
Unicórnio e o Tripé, e um filho da Purpúrea, estão
vivos. Estes são os úl�mos golfinhos guardiões da
rota de Alcácer do Sal. Têm cerca de quarenta
anos, idade muito próxima do l imite da
longevidade de um roaz (50 anos). A úl�ma vez
que os vi em romaria para o interior do estuário,
levavam Guilhas, o filho de Púrpura que tem quase
16 anos, como se es�vessem a ensinar-lhe o
caminho que conduzia a Salacia. Guilhas não sabe,
mas esse foi o úl�mo caminho que a sua mãe
Purpúrea fez, pois foi no leito do estuário, perto de
Alcácer onde esta foi encontrada morta.
Unicórnio
Os últimos raozes do Sado Guardiões da rotade Alcácer do Sal
Tripé
Guilhas Asa
Os últimos raozes do Sado Guardiões da rotade Alcácer do Sal
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úrpurea era uma das golfinhas mais lindas Pda população de roazes do Sado.
Era esbelta, �nha a tez cinzento muito claro e um olhar rasgado. Se fosse uma ninfa, imagino que teria cabelo ruivo rebelde, pele cor de leite, sardenta e selvagem. Imagino também porque Purpúrea foi morrer junto a Alcácer, já que os golfinhos têm uma ligação muito especial com Salacia. Conta a lenda que Salacia foi a ninfa que Neptuno escolheu para casar. Mas essa não era a sua vontade. Salacia revoltou-se e escondeu-se no mar. Então Neptuno, como era o Rei dos mares, enviou todos os animais marinhos à sua procura. Um após outro, todos chegavam das suas buscas sem a encontrar. Apenas os golfinhos, com os seus cantos melodiosos, conseguiram convence-la e leva-la a esposar Neptuno. E é por isso que eu imagino que Purpúrea voltou a Salacia. Talvez ela fosse descendente dos golfinhos que prestavam vassalagem a Salacia. Talvez Purpurea quisesse deixar junto da ermida fundadora da cidade, a oferta do seu corpo e da semente que estava dentro de si. Purpúrea morreu grávida, �nha no seu ventre um feto em desenvolvimento. Tinha que vos contar esta história. Para que também vocês sejam guardiãos da rota de Salacia. Para pedir-vos que façam o que podem no vosso dia a dia, para que um dia o estuário recupere a sua riqueza marinha e os golfinhos destas moedas possam voltar a ter vida em frente a Alcácer.
autora agradece o apoio e o carinho dos
Aarqueólogos do Departamento de
Arqueologia da Câmara Municipal de
Alcácer, a Lucas Cervera por ter feito a ponte com
os arqueólogos da sua Universidade em Cadiz, o
professor Dario Casasola e em par�cular, o grande
apoio da arqueóloga Elena Moreno Pulido.
Literatura referida:
Moreno Pulido, E. 2011. Representaciones
zoomórficas en la moneda an�guadel Círculo del Estrecho. In: Los animales en la
historia y en la cultura. Editores:Arturo Morgado García e José Joaquín Rodríguez
Moreno. Universidade de cadiz. Páginas 69- 80.
Serrano, B.M. 2010. Apuntes sobre la iconogra�a
de las monedasde *Beuipo-(Salacia) (Alcácer do
Sal, Setúbal). Universidade de Málaga. In: Lucius
Cornelius Bocchus Escritor Lusitano da Idade de
Prata da Literatura La�na. Editores: João Luís
Cardoso e Mar�n Almagro-Gorbea. Colóquio
Internacional de Tróia.
Purpúrea, a "golfinha" fêmea que veiomorrer a Salacia
Imagem de Salacia, ruínas de Herculano (Itália)
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EXPOSIÇÃO “TABERNAS DO SUL”
ealizou-se no passado dia 5 de Setembro de R2014 na Biblioteca Municipal de Alcácer do
Sal a exposição de fotografia a preto e
branco, pertença da Câmara Municipal de Beja
“Tabernas do Sul” de João Galamba de Oliveira.
Composta por 10 fotografias e recriando o espirito da
taberna com materiais etnográficos cedidos por
alguns sócios e amigos da ADPA, esta exposição
retrata a tradição vinícola do Alentejo, pátria das
tabernas, o convívio depois de mais um dia de
trabalho, um copo de vinho, um pedaço de pão,
linguiça e queijo e uma moda a deliciar o ouvido.
Esta inicia�va foi promovida pela ADPA- associação de
defesa do património cultural de Alcácer do Sal em
colaboração com a camara municipal e esteve
patente ao público até 26 de Setembro, e contou com
a actuação do grupo feminino cantares do Xarrama.
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Testemunhos da prá�ca da Bruxaria
em Alcácer do Sal, no reinado de D.
João V:As irmãs Salemas e os Azulejos da
Igreja de San�ago António Rafael Carvalho
Introdução
ma igreja, dentro de um variado leque de
Uinterpretações, pode em larga medida
ser compreendida como o espaço em
que se manifesta Deus. Nesse espaço sagrado, o
crente com a ajuda e orientação espiritual de um
sacerdote sente que está em comunhão com o
sagrado. O seu interior possui uma linguagem
arquitetónica e iconográfica concebida em
contextos culturais diferenciados, mas com um fio
condutor, que em última análise convida o crente a
antever o “Mistério da Vida” e a rezar para o seu
projeto pessoal de salvação, perante um sociedade
envolvente que insiste em se manter distante, fria,
seguindo orientações macro económicas e politicas
que nos agridem, nestes dias complicados que
temos pela frente.
A riqueza iconográfica que cada um de nós
testemunha nas paredes laterias de cada templo
tinha uma função que remonta á Idade Média.
Nesse tempo, numa sociedade fortemente
desigualitária, em que a maior parte da população
servia para trabalhar, pagar impostos e servir de
carne para canhão, segundo orientações politicas
que não compreendia ou desconhecia, poucos
tinham o privilégio de ir para a escola. Face a uma
massa analfabeta de tementes a Deus, a sua
mensagem para não cair em saco roto tinha que se
servir de um conteúdo mais concreto que o crente
pudesse entender. Era essa a função dos programas
iconográficos que preenchiam o interior dos
templos cristão, num aparente horror ao vazio e
fazendo uso de uma didática mensagem de
ensinamento.
Face ao exposto, que importância terá tido a
representação iconográfica do demónio a tentar o
apóstolo Santiago, tal como nos chegou até hoje em
alguns azulejos existentes no interior desta igreja
alcacerense?
Antes de podermos responder a esta
questão, achamos oportuno determinar se a prática
da bruxaria seria usual em Alcácer do Sal?
Estamos perante um tema sensível que
rosava a intimidade de cada um e que possuía uma
carga de ilegalidade e heresia que convidava a
quem a praticasse mantivesse essas práticas na
obscuridade e na calada da noite. Quem fosse
descoberto e não fosse pessoa de cor, tinha a certeza
de que o seu fim seria o castigo e devassa pública.
Em casos julgados mais sérios, culminava a sua
purificação pelo fogo da Inquisição, que no caso de
Alcácer como vila inserida na jurisdição do
Tribunal da Inquisição de Lisboa, essa sentença era
executada e consumada no Terreiro do Paço, em
Lisboa.
Fig 1 – Uma
representação de
um Auto de Fé no
Terreiro do Paço,
Lisboa, em meados
do século XVII
2
3
1
Associação de defesa do Património cultural de Alcácer do Sal - ADPA
9
Face ao exposto, tendo em conta a
documentação a que tivemos acesso, estamos
convictos de que terão existido vários tipos de
bruxaria que seriam praticadas no Termo de
Alcácer do Sal. Um deles, de âmbito mais restrito
em termos raciais, era usado no seio da comunidade
escrava que vivia ao longo da Ribeira do Sado. A
outra, de carater mais urbano era exercido às
escondidas na vila e a ela socorriam as elites
alcacerenses, em busca de soluções nada canónicas
para problemas de saúde, amores, políticos ou
financeiros. É nesta tipologia de bruxaria que
podemos enquadrar as práticas das irmãs Salemas.
Passamos pois ao testemunho documental que
selecionamos para este trabalho.
Não temos a pretensão de poder responder a esta questão. O presente contributo deve ser entendido como uma janela de investigação, no qual apontamos uma hipótese de trabalho. Nela defendemos que este episódio de bruxaria terá tido a sua influência na escolha dos motivos iconográficos executados por encomenda para a igreja de santiago. De notar que este templo começa a funcionar nessa altura como sede da freguesia urbana de Santiago de Alcácer, polo central de todos os crentes, que nasciam, que se casavam e que morriam.
2
3 Os agentes da Inquisição tinham conhecimento de que a magia negra era praticada pelos escravos que vinham ou eram descendentes das levas que tinham sido capturadas em Africa. Contudo alicerçado numa normativa onde poderemos detetar tiques de racismo e de superioridade moral, essas práticas eram consideradas de mal menor e coisas de batuques, sempre subalternas ao poder da fé em cristo. As pessoas de cor, escravas ou não, só eram perseguidos pela Inquisição quando essa magia era colocada ao serviço de pessoas cristãs inseridas nas elites da época.
1 Membro da ADPA. Gabinete de Arqueologia, Património e M u s e u s d o M u n i c í p i o d e A l c á c e r d o S a l . [email protected]
englobando a Corte Real, alguns Conventos e a Vila
de Alcácer do Sal. De todos os intervenientes
acusados da prática da bruxaria, ou que buscavam
soluções nessas práticas, só uma pessoa conseguiu
fugir para Espanha, como iremos ver. Apesar de ter
sido resolvido com bastante descrição pelo rei D.
João V, foi posteriormente comentado e objecto de
relato em alguns estudos. Por questão de
metodologia, decidimos transcrever na íntegra um
desses relatos. O seu autor foi o Vigário da Cartuxa
D. Bernardo de Santa Maria. O texto que utilizamos
foi publicado em 1849: 213 a 218. Pelo seu
interesse, decidimos transcreve-lo na totalidade,
dado que só assim podemos entender o que
efetivamente terá acontecido à 291 anos atrás, nesse
remonto ano do século XVIII:
O Relato dos Acontecimentos
episódio de feitiçaria que selecionamos
Opara este estudo aconteceu em 1724 e
desenrolou-se por um espaço geográfico
que se estendeu desde Lisboa até Alcácer do Sal,
4
5
6
“Documento 8º.
Additamento à = Vida e Feitos do Padre
Bartholomeu Lourenço de Gusmão = Diabrura
em forma, em que se descobrio quererem dar
feitiços a ELRei D. João V, como se vê do
mesmo papel; o qual caso se descobrio em
Setembro de 1724
Entre outros ver; - Actas das sessões da Academia Real das Sciencias (1849), Tomo I, DANTAS, Júlio (1917) O Amor em Portugal no século XVIII. e TAUNAY, Afonso de Escragnolle (1942) Bartolomeu de Gusmão, Inventor do Aeróstato: A vida e a obra. Página 355 e seguintes
4
5 Segundo relato escrito pelo Vigário da Cartuxa D. Bernardo de Santa Maria. O documento foi transcrito décadas mais tarde, em 1797, por Fr. Vicente Salgado, ex-Geral e Chronista da Congregação da Terceira Ordem neste Convento de Nossa Senhora de Jesus de Lisboa, que os publicou nas Actas das Sessões da Real Academia das Sciencias, em 1849.
6 Sempre fiel á versão publicada no século XIX, procuramos sempre que possível atualizar o português, para tornar a sua leitura mais inteligível.
Associação de defesa do Património cultural de Alcácer do Sal - ADPA
10
ra Juiz de Fóra d´Aldeiagallega Jeronimo
Ede cetem, filho do Desembargador João
de Cetem, aposentado na Relação do
Porto. Nas vizinhanças desta Vila havia uma quinta
de certa mulher, que algumas vezes escrevia ao Juiz
de Fóra sobre dependências do fabrico dela.
Passou esta mulher, no mês de setembro do referido
ano, áquela vila em companhia de outras quatro, e
de um homem, e vendo-as o Juiz de Fóra, que bem
conhecia a sua vida folgazona, convidou-as a
jantar em sua casa, cumprimento, que aceitarão de
boa mente; e no entanto que a mesa se preparava,
fazendo-lhe novidade aquela comitiva, quis saber a
causa da jornada. Disseram-lhe que aquela
menina, apontando para uma que era mais bizarra,
e mais moça, estava em resolução de ser freira, e
passava a Setúbal a ver o convento, e se lhe não
agradasse, passaria a Alcácer do sal, onde havia
outro em que se podia recolher; para o que pedirão
ao juiz de Fora lhes mandasse embarcar três seges;
e depois de jantar se embarcarão nelas, e forão
seguindo a sua derrota, ficando com ele de
voltarem à mesma Vila de Aldeiagalega, passados
três, ou quatro dias.
Não vierão, e quando o juiz de Fóra já
reparava na tardança, por se terem passado mais
de oito dias, soube que estava na quinta a dita
fulana, de que tinha conhecimento; buscou-a, e
perguntando-lhe pelas companheiras, e pela
novidade de a ver naquele sitio, quando a supunha
em outra parte: disse que as companheiras tinham
passado para lisboa pela estrada de coina, e que
ela por se não querer meter em embrulhadas, se
tinha apartado delas. Cresceu a curiosidade no
Ministro, e foi investigando a matéria que fora
causa para se desunirem; até que a mulher, a
muitos rogos do juiz, pedindo no caso muito
segredo, disse: que aquela jornada se fazia para
consultar duas célebres feiticeiras, que havia em
Alcácer do Sal, chamadas as salemas, mulheres
pardas, e o negócio todo era enfeitiçarem a El rei
para que deixasse D. Paula de Odivelas,
permitisse, que a amiga do Infante D. Francisco
fosse ao mesmo Convento, aonde a não deixavam
ir; e tomasse amores com uma Freira, ou Secular
(que nisto não estou certo), que era irmã de outra
com quem tratava o grande Padre Bartolomeu
Lourenço; e que dizendo as mulatas que para esta
boa obra erão necessárias algumas coisas que
houvessem tido com o corpo de El rei contato físico,
voltarão as companheiras a explicar-lhe o seu
interesse, e descobrir-lhe para os seus intentosmelhor via, que poderia declarar, se fosse bem
aceito o seu projeto, pedindo juntamente um sumo
segredo, necessário à importância da matéria.
Partiu a mulher para Lisboa, e logo depois, em
outro barco, o Juiz de Fóra, e como não tinha logo
ádito para falar a El Rei, e a matéria pedia toda a
presa, buscou João Marques Bacalhau, que tinha a
entrada mais franca, e deu-lhe parte do negócio:
ficou o homem aturdido, e segurando-se de tudo
quanto o Juiz de Fóra referira, foi ao Paço, donde
veio pelas onze horas da noite, e achou em casa o
Ministro esperando, mas já com outras notícias;
porque no meio tempo que o Bacalhau se demorou
no paço, foi o Juiz de Fóra a casa da mulher que
descobrira a diabrura, fingindo o não deixava
descansar o cuidado de saber se poderia ter lugar o
seu adiantamento, e soube dela, que no dia antes
dela partir da sua quinta, tinham passado as
7
8
Associação de defesa do Património cultural de Alcácer do Sal - ADPA
11
as mulheres para Alcácer.
7 Atual cidade do Montijo8 Tratava-se do padre Bartolomeu de Gusmão que no século XVIII recebeu a alcunha do Voador, por ter inventado um, método para voar, o que na altura provocou escândalo e motivou a perseguição da Inquisição.
Como o negócio tinha mudado de sistema,
voltou logo o Bacalhau ao paço, e determinou el
rei, que pelas seis horas da manhã do outro dia se
achasse em casa do Cardial da Cunha o bacalhau,
e o juiz de Fóra. Quando foram, mandou-os entrar
o Cardial para a Casa do Conselho Geral, onde já
estava Nuno da Silva Teles, que disse ao Juiz de
Fóra, que como ele sabia inquirir testemunhas, era
o melhor diretor para o próprio depoimento: depôs
todo o facto que tenho narrado, e dali mesmo foi
mandado o bacalhau buscar a mulher que
descobrira o enredo, a qual contestando
inteiramente com o Juiz de Fora, foi mandada a sua
casa, que era nas varandas do Terreiro do Paço; e
aos dois Ministros se passarão ordens pelo Santo
Oficio para serem presas as mulheres.
Deu também El rei todas as ordens para que
as mulheres se buscassem pelos referidos
Ministros, até à raia de Castela, ordenando a todos
os Governadores, e Justiças, obedecessem aos dois
Ministros, tudo por Decretos firmados do seu
punho; e mandou entregar-lhe oitenta moedas, e
que partissem logo em um Escaler da Ribeira, que
estava pronto.
Chegarão a Coina, e tirando […], se
passarão por ali três mulheres, vierão a saber por
um Comissário do Santo Oficio, que umas
mulheres tinham ali chegado, porém que vinha um
Clérigo na sua companhia.
Passarão a Setúbal, e no caminho disse o Bacalhau
ao Juiz de Fóra, que se o Clérigo era o Padre
Bartolomeu Lourenço, haveria novidade grande.
Deram parte do caso ao Juiz de Fóra de Setúbal,
que era o meu amigo Diogo Cotrim, que já estava
despachado para o Porto; e havendo noticia que as
mulheres passarão já desacompanhadas do
Clérigo, deu ordem ao juiz de Fóra para se
registarem os barcos que viessem de Alcácer, e foi
acompanhando na diligência aos dois Ministros.
Chegando à Vila deram parte ao Juiz de Fóra,
também meu amigo, Valério Galvão de Quadros, e
logo souberam, que as mulheres estavam na terra.
Prenderam-se, e o homem que as acompanhava, e
também as duas salemas feiticeiras, sem saberem
umas das outras, e assim mesmo foram levadas
para casa de Familiares, quem se recomendou as
não deixassem falar a pessoa alguma. Perguntada
a principal do rancho pelo Clérigo companheiro,
disse que era o Padre Bartolomeu Lourenço, e
buscada se lhe achou ao peito um escritinho com
caracteres imperceptiveis, e á outra uma chavinha
de prata em um cordão encarnado, que dizia era de
um escritoriozinho que tinha em Lisboa; mas
buscando-se o fato, achou-se em uma condeça um
cadeado em que se servia a tal chave, e abrindo-a
com curiosidade, pelo recato com que se guardava
a chavinha, preza a tiracol no forro do vestido,
acharam-se dentro peitos de perdizes, e de galinhas
abocanhadas, bocados de marmelada meio
comidos, uma atadura e almofadinha com sangue,
quarenta moedas em ouro, e muitas boas joias, que
serão para dar ás salemas, e no fundo de um
alforge um caco com esterco humano já seco.
Chegarão ao Santo Ofício uma quarta-feira
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pelo meio dia, e passando-se logo ordem para ser
prezo o Padre Bartolomeu, pelas duas horas da
tarde fugiu, mas depois foi prezo, e não há muitos
tempos que morreu: e mandando-se, quando ele
desapareceu, fazer sequestro a sua casa, pelo
Bacalhau, achou, entre os poucos trastes, que
tinha, aberto sobre uma mesa, e cotada em varias
partes, o Alcorão de Maomé.
E s t a s m u l h e re s f o r ã o c a s t i g a d a s
particularmente, e duas mulatas mais que vierão de
Odivelas, uma das quais está servindo hoje a quem
devia ter dela todo o aborrecimento.
Tudo isto me contou na Hopedaria deste
Convento o mesmo Minsitro Jeronimo de Cetem,
que merecendo por este singular um adiantamento
de suma distinção, lhe pagarão só com a Correição
de Viana, e hoje se acha sem servir. Em 30 de Julho
de 1736.
É esta notícia dada e escrita pelo Vigário da
Cartuxa D. Bernardo de Santa Maria.
Todos estes papeis forão copiados de um
livro antigo escrito naquele tempo, por isso leva
algumas letras dobradas, quando são longas, e os
acabei de copiar hoje 21 de setembro de 1797 = Fr.
Vicente Salgado, ex-Geral e Chronista da
congregação de Terceira Ordem neste Convento de
Nossa senhora de Jesus de Lisboa = Fr. Vicente
Salgado.
Gravura da passarola inventada pelo Padre Bartolomeu de
Gusmão, que �nha uma ligação forte com as irmãs Salemas que
viviam em Alcácer do Sal
Quem eram as bruxas Salemas e que �pos de fei�çaria pra�cavam?
s prát icas de fe i t içar ia de uma
Adeterminada região são reflexos da sua
evolução histórica. Alcácer sempre se
caraterizou por ser um território de chegada e de
partida, de ideias e de crenças. A presença de
escravos de origem africana, documentado desde
meados do século XVI é outro elemento
documental a ter em conta quando se analisa esta
questão, se o tema de investigação incidir no
Período Moderno.
Não nos podemos esquecer que a escravatura
como instituição inserida numa sociedade de
produção pré-Industrial tem um dos seus expoentes
máximos durante o Período Romano, cuja
expressão no território alcacerense é fortíssima. É
certo que o Cristianismo vai-se impondo no
decurso da Antiguidade Tardia e que o Islão que
chega no século VIII, pouco contributo irá fazer
para abolir a escravatura, dado que essa
desigualdade era entendida como um desígnio
insondado da vontade de Deus. Seja como for, com
altos e baixos, a prática da escravatura em Alcácer,
em larga escala, que remontar à conquista romana
de meados do século II antes de Cristo, só será
oficialmente abolida no século XVIII, mas
tornando-se irreversível no século XIX. Quanto às
irmãs Salemas, sabemos que á altura dos
acontecimentos, viviam em Alcácer, onde ao
espirito da época, exerciam a sua atividade ilegal no
ramo da magia. As fontes testemunham que existia
uma ligação entre elas e o Padre Bartolomeu de
Gusmão, em moldes que desconhecemos. Um dos
autores consultados, Bordalo, escreveu no
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no século XIX para a revista Panorama, uma
história muito romanceada sobre este padre e as
irmãs Salemas cuja veracidade histórica não
podemos até este momento confirmar ou refutar. O
referido texto deve ser lido com reservas se o
objetivo for a verdade histórica, contudo pelo
aspeto pitoresco que a história tem, passamos a
citar com as devidas ressalvas.
Segundo Bordalo, as irmãs Salemas tinham
nascido no Brasil na cidade de Santos, recebendo
uma delas o nome de Aurélia e a outra de Tomásia.
O apelido Salema veio do primeiro senhor que
tiveram. Por peripécias que o autor não explica, as
duas irmãs vieram a ficar prisioneiras em Argel dos
corsários, ficando aí a viver como escravas.
Posteriormente embarcadas num barco corsário,
onde uma delas vai ser violada, o referido barco vai
ser apressado pela armada da Ordem de Malta e
conduzido a essa ilha, pelo que libertas, as irmãs
Salemas ficam a viver na ilha em situação que o
autor não nos elucida.
A sua adoção pelo padre Bartolomeu só
aconteceu quando este efetuou uma viagem de
balão desde a serra da Arrábida até ao mar das
Baleares, sendo salvo por pouco por um barco em
trânsito para Malta. Aí Bartolomeu sentindo pena
das duas irmãs Salemas as adota com o
consentimento da Ordem de Malta, ficando a viver
na ilha por algum tempo.
A sua vinda para Portugal acontecerá após a
ocorrência de problemas familiares, indo-se
refugiar para a casa e quinta que tinha em Alcácer
do Sal. Quando voltou a sair do reino por causa da
perseguição que a Inquisição lhe fazia, cedeu a sua
propriedade alcacerense às irmãs Salemas, em data
próxima de 1714. Estas para sobreviverem
passaram a trabalhar no ramo da bruxaria,
servindo-se para isso com a fama de mágico e
feiticeiro que o padre Bartolomeu tinha entre o
povo de Alcácer a tal ponto que em dada altura a
população pensou em deitar fogo á casa aonde
viviam as duas bruxas. Segundo o referido Bordalo,
as Salemas eram muito instruídas para a época e
tinham fama de sábias graças aos ensinamentos que
tinham recebido do padre Bartolomeu, falando
sempre que podiam de astronomia e davam
concelhos sobre as melhores praticas para a
agricultura. Com o passar do tempo enveredaram
para a medicina popular, sendo reconhecido que
tinham mais sucesso a curar pessoas que os
médicos da vila. Para evitar problemas com as
autoridades e com a Inquisição, as pessoas
começavam a consultar as Salemas às escondidas e
a horas mortas da noite. Contudo a sua fama já tinha
chegado a Lisboa, como tivemos ocasião de ver.
Para concluir este ponto e de forma a
estabelecer uma hipotética ponte entre elas e o rei
D. João V, importa referir que este era
profundamente religioso, tendo mandado construir
o Convento de Mafra e que um dos passatempos
que tinha, consistia em acompanhar de perto a ação
da Inquisição na repressão das heresias, assistindo
ao longo do seu reinado a um total de 28 Autos-de-
Fé Públicos.
Temos testemunhos de que estando o rei
doente, preste a fazer uma sangria, insistiu mesmo
assim a estar presente na assistência de um Auto-
de-Fé. Face ao exposto é provável que o episódio
ocorrido em Alcácer lhe tenha deixado marcas no
foro intimo, que naturalmente as fontes pouco ou
nada dizem.
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Face ao expos to é p rováve l que a
representação de demónios nos painéis de azulejos
da igreja de Santiago de Alcácer que identificamos
à pouco tempo, tenha servido como mensagem
profilática de que perante a luta entre o bem e o mal,
quem triunfa é sempre o Deus, procurando deste
modo passa r uma mensagem que fosse
interiorizada pela população alcacerense para que
esta não tivesse duvidas. Se bem que especulativo,
ficamos com a sensação que a prática da magia
estaria bastante enraizada pela população,
especialmente aquela que habitava em âmbito rural
ou estivesse mais próxima da comunidade escrava
de origem africana.
A Igreja de San�ago
totalidade dos investigadores que se tem
Adebruçado sobre a história deste imóvel
religioso, sugerem que a razão que está
por detrás do seu novo programa arquitetónico ter-
se–á prendido com a vontade do rei D. João V em
construir uma igreja à sua imagem, dando deste
modo dignidade à cidade que tinha servido de
primeira sede do ramo português da Ordem de
Santiago, pouco depois da conquista cristã de 1217.
A segunda razão apontada teria a ver com a
necessidade de albergar o número crescente de fiéis
desta freguesia, que já não tinham espaço adequado
na antiga ermida de Santiago, dado que esta igreja
tinha assumido anos antes a sede da paróquia com o
mesmo nome, em substituição da antiga sede na
igreja de Nossa Senhora da Consolação que em
virtude da nova geografia eclesiástica alcacerense
vai ser anexada á freguesia de Nossa Senhora do
Castelo.
Durante décadas, tínhamos assistido na
produção historiográfica alcacerense que esta
igreja teria sido uma obra de raiz de D. João V. Em
2006 provamos que não seria assim, contudo ainda
não possuímos elementos seguros referentes á sua
fundação. Sabemos contudo que já existiria algures
em meados do século XVII, antes de assumir a sede
da Paroquia Urbana de Santiago.
Face aos novos dados, nomeadamente à
questão das bruxas Salemas e aos painéis de
azulejos com alusões ao demónio no interior da
igreja, admitimos que a razão que está por detrás do
arrojado programa arquitectónico Joanino desta
igreja Paroquial, onde sobressai a imponência da
sua fachada sobranceira ao rio, seja a resposta que o
soberano quis perpetuar na paisagem urbana de
Alcácer, que deveria ser lida como um farol a avisar
que na urbe alcacerense o vencedor “ad eterno” é
Cristo Ressuscitado, perante um espaço rural que
insiste em se manter distante em termos espirituais
cristãos, emerso em prát icas pontuais e
clandestinas de magia.
Os Painéis de Azulejos
Interior da Igreja de San�ago de Alcácer do Sal. A meia altura,
num painel de azulejos, é visível a representação de uma cena
com três demónios a tentarem um homem santo.
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Pormenor do referido painel, no seio da vida do apóstolo San�ago. Painel de azulejo do lado direito, mostrando um dos diabos
arrependido.
Bibliografia
BORDALO, F. M. (1855) – O Voador, Parte II. In, O Panorama: Semanario de Litteratura e instrução, Vol. 12, Lisboa, p. 293-294.
DANTAS, Júlio (1917) - O Amor em Portugal no século XVIII
TAUNAY, Afonso de Escragnolle (1942) - Bartolomeu de Gusmão, Inventor do Aeróstato: A vida e a obra.
SALGADO, Fr. Vicente (1849) – Additamento à = Vida e Feitos do Padre Bartholomeu Lourenço de Gusmão = Diabrura em forma, em que se descobrio quererem dar feitiços a ELRei D. João V, como se vê do mesmo papel; o qual caso se descobrio em Setembro de 1724. In, Actas das Sessões da Real Academia das Sciencias, Tomo I, Lisboa, p. 214-218
Imagem do exorcismo do diabo, fazendo-se o sinal da cruz. Porta de
acesso ao Coro-alto e ao sino.
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Passeio cultural a Lisboa e Sesimbra
ADPA realizou no dia 1 de Março de 2015, Aum passeio cultural a Lisboa e Sesimbra, iniciando a nossa visita pelas 11h00 ao
Museu Nacional de Arqueologia com visita guiada acompanhada por uma técnica credenciada, onde visitamos a exposição “O TEMPO RESGATADO AO MAR”. Esta exposição deu-nos a conhecer a história da arqueologia náu�ca e subaquá�ca em Portugal nos úl�mos anos, incluída no programa do 120º aniversário da fundação do Museu Nacional em 1893.
Depois de um demorado almoço em Sesimbra visitamos o Castelo acompanhado por um técnico da câmara municipal de Sesimbra onde se destacou a igreja da nossa senhora da consolação, a alcáçova, a torre de menagem, a torre poente e a casa da vereação onde se encontra um pequeno mas muito interessante núcleo interpreta�vo.Finalizamos a nossa visita com um passeio ao Cabo Espichel onde disfrutamos da sua beleza natural.
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O EROTISMO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA
esde muito cedo que o ero�smo, a nudez e a Dsexualidade estão vincados na história da
Humanidade. Desde das estatuetas “vénus”
da pré-história, passando pelos “bacanais” do mundo
romano até ao tempo do “fruto proibido” da Idade
Média, o ero�smo marcou o quo�diano, as artes, a
literatura e a mentalidade das várias civilizações.
Mas é no mundo Greco-Romano que o ero�smo ganha
uma maior importância e que se revela de forma
explícita a vários níveis, principalmente na decoração
de objectos de uso quo�diano e em pinturas murais. A
sexualidade na An�guidade clássica está repleta de
curiosidades e de regras muito dis�ntas das do “novo
mundo moderno”, como veremos de seguida.
O ero�smo greco-romano estava fortemente ligado à
sua mitologia e era bastante comum cultos e festas
dedicadas aos deuses. Um desses cultos era o “Culto à
Virgindade”, dedicado à deusa Artemisa. Dizia-se que a
perda da virgindade das mulheres era vista como uma
morte lenta, logo a mulher �nha de se manter virgem
até ao casamento.
Rita Balona
Vaso grego com motivo erótico – necrópole Sr. Dos Mártires, Alcácer
do Sal
Comuns também eram as festas dedicadas a Baco (deus
romano) ou Dionísio (deus grego), inspiradas na
loucura, no álcool e no êxtase. Homens e mulheres
bebiam sem medida e entregavam-se aos prazeres da
carne. Curiosamente, apenas na época romana foi
aceite relações nestas festas de homens com homens.
A homossexualidade nesta altura não era objecto de
escândalos, pelo contrário, era bastante aceite na
sociedade. Por exemplo, Caio Júlio César era conhecido
por ser "esposa de todos os homens e marido de todas
as mulheres".
As relações entre homens e jovens adolescentes eram
conhecidas por “pederas�a” e surgiu como uma
tradição aristocrá�ca, educa�va e de formação moral.
Os gregos valorizavam a homossexualidade como um
elemento cultural fundamental. A “pederas�a” era o
que denominava o sexo entre jovens de 15 aos 18 anos
c o m u m a d u l t o c o m m a i s d e 3 0 a n o s . A
homossexualidade masculina foi também uma chave
essencial no entretenimento das tropas e legionários.
Os gregos admiravam a beleza, tanto das mulheres
como dos homens, mas a destes era a mais venerada.
Um corpo bem definido de um jovem era considerado
algo muito perto da “perfeição”, tanto que o sexo e o
amor entre homens eram vistos como algo excepcional
enquanto o contacto heterossexual estava focado na
procriação.
A declaração homossexual era popular tanto nos
homens como nas mulheres. O termo “Lesbianismo”
surgiu do nome de uma ilha situada no mar Egeu
chamada Lesbos. Nela vivia a poe�sa Safo que escrevia
sobre a sua admiração, atracção e amor platónico pelas
mulheres que eram suas alunas. Falava também nas
relações e rituais eró�cos entre as mulheres da ilha.
Mas pouco se sabe acerca da relação homossexual
entre mulheres mas sabe-se que ela exis�a, pois muitos
são os registos ar�s�cos com mulheres em ambientes
eró�cos.
Exis�a também uma lei que dizia que os homens
podiam ter relações fora do casamento, tanto com
homens como com mulheres mas o mesmo não era
permi�do ás mulheres, que apenas poderiam ser infiéis
ao marido com outras mulheres.
*
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Muito pra�cada era então a Pros�tuição, uma
ac�vidade vulgar e muito exercida nas grandes cidades.
Era aceite por todos os níveis sociais, tendo até um
papel muito importante no crescimento económico de
algumas cidades. Exis�am vários �pos de pros�tutas:
as “pornai”, as independentes, as “heteras” e as
sagradas. Enquanto as “pornai” �nham de pagar
impostos e trabalhavam com proxenetas, as heteras e
independentes �nham direito à educação e sabiam
falar de vários temas. Maquilhavam-se e ves�am-se
com roupa de qualidade e administravam os seus bens
sozinhas.
“…temos as heteras para o prazer, as criadas para
sa�sfazer as nossas necessidades corporais e as
esposas para nos darem filhos…”
A pros�tuição masculina também exis�a, des�nada à
clientela feminina, mas rapidamente se tornou
maioritariamente numa ac�vidade homossexual. A
clientela mais popular eram homens adultos que
procuravam jovens adolescentes para saciar os seus
desejos. Os pros�tutos eram jovens, fisicamente
habilitados que com o aparecimento da barba se
tornavam ac�vos nestas prá�cas sexuais.
Conjunto de lucernas romanas com mo�vos eró�cos – colecção Alcácer
do Sal
Tão interessante como a mentalidade eró�ca desta
civilização, são os registos que nos deixaram na arte e
literatura. Alcácer do Sal, an�ga Salacia, não foi
excepção e possui alguns objectos de carácter eró�co
que nos deixa memórias desses tempos em que “..o
sexo seduzia os mortais e os imortais..”
BILBLIOGRAFIAREVISTA HISTORIA, “Ero�smo ao sabor dos tempos”, nº
66,2004, série III.
MCGINN, Thomas A. J. , “THE ECONOMY OF
PROSTITUTION IN THE ROMAN WORLD”, 2007, The
University of Michigan Press.
BLANSHARD, Alastair J. L., “Sex Vice and Love from
An�quity to Modernity”, 2010, Wiley-Blackwell.
* Membro ADPA, Arqueóloga do Gabinete de Arqueologia da CMAS.
Apoio
Câmara Municipal de Alcácer do Sal
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HOMENAGEM AO CANTE ALENTEJANO
o dia 25 de Abril a ADPA, com o apoio da NCâmara Municipal de Alcácer do Sal
promoveu um evento dedicado ao Cante
Alentejano. Tratando-se de uma a�vidade premiada
pela UNESCO como património imaterial da
Humanidade, a ADPA achou mais que merecido
homenagear estes homens e mulheres que dão a voz
por uma cultura tão especial do Alentejo.
Foram convidados três grupos de cantares que
alegraram a cidade durante a manhã e que culminou
com um espetáculo no Largo dos Açougues. Os grupos
convidados foram os “Mineiros de Aljustrel”, “os
Rurais” de Figueira dos Cavaleiros (Ferreira do
Alentejo) e os “Moços d'Aldêa” da Cabeça Gorda (Beja).
O dia iniciou-se pelas 9 da manhã no hastear da
bandeira junto ao edi�cio da Câmara Municipal onde
os grupos cantaram uma moda e seguiram pelas ruas
da baixa até ao posto de Turismo, onde animaram os
comerciantes e os habitantes alcacerenses. Foram á
zona do Castelo onde visitaram a Cripta Arqueológica,
para conhecerem um pouco da nossa história.
Seguiu-se um almoço de convívio na Herdade da
Barrosinha e depois um concerto dado por cada grupo
no Largo dos Açougues que contou com muita
aderência por parte da população. A ADPA marcou a
sua presença abrindo o quiosque do largo onde
promoveu o evento, a associação, a cidade de Alcácer e
expôs e vendeu ar�gos ligados ao património.
O dia terminou com uma prova de vinhos á
“desgarrada” na Herdade da Barrosinha onde os
grupos conheceram a adega da Barrosinha e se
despediram com muita alegria.
A ADPA agradece o apoio da CMAS, da Herdade da
Barrosinha e de todos aqueles que ajudaram para que
esta inicia�va fosse um sucesso. Obrigado a todos!
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O CANTE ALENTEJANO
Cante Alentejano é um género musical Otradicional do Alentejo, Portugal. O cante nunca foi a única expressão de música
tradicional no Alentejo, sendo aliás mais próprio do Baixo Alentejo que do Alto.
O cante alentejano era uma manifestação informal, espontânea que acontecia no campo. Marca um movimento lento, o ritmo, a cadência do trabalho à jorna, nomeadamente das colheitas que mais caracterizavam a agricultura alentejana - a ceifa, a monda e a apanha de azeitona.
Na sua origem o cante alentejano era prá�ca não só dos homens como das mulheres, ambos trabalhavam no campo, ambos protagonizavam essa prá�ca cultural. Com o declínio da economia tradicional agrícola, com a passagem do cante do campo para as tabernas e, a par�r dos anos 30, quando se cons�tuem os primeiros grupos corais formais, s i l e n c i a m - s e a s m u l h e re s q u e até e ntã o desempenhavam um papel tão importante como os homens no cante alentejano.
Na sua forma original, as modas �nham como temas principais O TRABALHO, A CONTEMPLAÇÃO, A NOSTALGIA, O AMOR e A VIDA. Mais do que reivindicar melhores formas de vida, o cante servia para se purgarem as dificuldades. Com o declínio da economia agrícola e depois da revolução de 1974, os grupos corais introduziram nos seus reportórios novos temas, alguns inspirados nos acontecimentos polí�cos da época, mais reivindica�vos, não deixando, porém, de cantar as an�gas modas do cancioneiro popular.
A 27 de Novembro de 2014, durante a reunião do Comité em Paris, a UNESCO considerou o Cante Alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade.
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Santuário do Senhor dos Már�res
Revitalizar as festas em honra do Bom Jesus
Dar Vida ao monumento
João Carlos Faria*†
Um breve olhar sobre o Santuário do Senhor dos Már�res. Inicialmente uma ermida de romagem foi mais tarde Capela da Ordem de San�ago para albergar os restos mortais dos Mestres daquela ordem.
ora da urbe, fica o santuário an�gamente Fdenominado de Senhor dos Már�res. Cons�tui um conjunto de construções
iniciadas no séc. XIII na altura da reconquista, engrandecidas no séc. XIV, e transformadas desde o séc. XVI em diante.A igreja propriamente dita, compõe-se de um corpo rectangular, prolongado para a nascente por uma capela-mor igualmente rectangular, e para poente por um alpendre quadrado, sobre o qual se estabeleceu o coro por meados do séc. XVI. Das capelas anexas existentes do lado direito, resta somente uma, por sinal o elemento que guarda carácter mais an�quado. As capelas mencionadas, como portadas da banda do Evangelho, conservam-se quase integralmente. No santuário central nada relembra a an�ga construção. A capela-mor foi modificada no séc. XVIII e enriquecida então como uma tribuna de madeira que fez obliterar o primi�vo altar-mor, que entre 1513 e 1514 fora forrado de azulejos.No lugar onde hoje se levanta a torre esteve an�gamente, segundo as Visitações de 1513 e 1560, a capela ins�tuída e fundada por Mar�m Gomes de Leitão.Ainda do lado direito da igreja encontra-se, ni�damente separada do corpo central, uma capela que pode talvez iden�ficar-se com “a do tesouro”, mencionada na Visitação de D.Jorge. Como um pequeno santuário independente, a capelinha da direita compõe-se de um corpo e de
uma capela-mor, ambas abobadadas, a primeira
sobre duas nervuras em diagonal, e a segunda
em berço quadrado. Um arco de cruzeiro, de
duas frentes e com arestas chanfradas, assenta
sobre colunas de capitéis lavrados de folhagens
de pouco relevo, do �po gó�co primário. De uma
banda e de outra abrem-se na parede arcosolias
de arcos igualmente aguçados e biselados. Do
lado esquerdo do corpo exis�u em tempos uma
comunicação para a igreja de que se vêem duas
arcadas; do lado direito cava-se o vão de uma
janela entaipada. Exteriormente, a cimalha
assenta, tanto no corpo como na capela-mor, em
modilhões desordenados mas caracterís�cos do
séc. XII e XIII. Junto à ombreira esquerda da
igrejinha dos Már�res abre-se a porta que
estabelece comunicação para a ”Capela dos
Mestres”.O fundador da capela foi o Mestre D. Garcia
Peres, em 1233, conforme inscrição existente na
capela, comemora�va da sua benfeitoria. Esta
capela octogonal, é coberta por um belo terraço
rebordado de cantaria para onde se sobe por
uma escada de caracol cujo fundo foi cortado
pela passagem que mais tarde se estabeleceu
para a capela.Dizem-nos an�gas Visitações que exis�a mais na
igreja dos Már�res, da banda do Evangelho,
outra capela abobadada com entrada exclusiva
pelo templo, a qual era denominada de “Maria
de Resende”. Conserva-se essa capela mandada
edificar, no fim do primeiro terço do séc. XV, por
Maria Resende, viúva do Comendador de
San�ago, Diogo Pereira, para nele colocar o
monumento sepulcral do seu marido.O portal da Capela Maria de Resende apresenta
uma composição perfeita, que lembra a dos
arcos das capelas radiantes da charola da Sé de
Lisboa.A festa em honra do Bom Jesus dos Már�res,
vulgarmente conhecida como “Festa dos
Malteses”**
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As festas em honra do Bom Jesus dos Már�res, realizavam-se neste local de Alcácer do Sal durante o mês de Setembro, possuindo desde sempre um carácter religioso/profano. O programa mais an�go destas festas de que possuímos registo acha-se guardado nos fundos documentais da biblioteca municipal de Alcácer do Sal, datando o mesmo do ano de 1906.Nele se dá conta que nos dias 8,9,10 de Setembro de 1906 Alcácer assis�u a um deslumbrante arraial com iluminações à veneziana, fogo de ar�ficio, subida de cum aeróstato, tudo isto acompanhado pela distribuição de duas medalhas de mérito (desconhece-se a quem?),rifas de queijadas de Sintra, bazar, corridas de burros e outras surpresas. Neste programa das festas de 1906 faz-se igualmente referência à Filarmónica Amizade Visconde de Alcácer que abrilhantou todas estas fes�vidades, sendo regente Caetano Nunes.Analisando pormenorizadamente o programa se constata também que a fes�vidade religiosa incluía missa vocal e instrumental sendo a mesma pregada pelo reverendo José Lopes Manso cujos dotes oratórios eram «ansiosamente ouvidos».Seguidamente �nha lugar a procissão, arrematação de bandeiras e fogaças. O ul�mo dia era essencialmente dedicado às corridas de burros, havendo prémios para os concorrentes que mais «exo�camente se apresentavam tanto nos seus vestuários como nos aparelhos dos jumentos».Á medida que o tempo ia passando, o programa, como é natural, sofreu algumas transformações mas basicamente a vertente religiosa/profana não foi alterada.A �tulo de exemplo, refira-se que do programa das festas em honra do Bom Jesus dos Már�res datado de 1938 (colecção par�cular), salvo raras excepções este con�nuou seguindo a mesma orientação, havendo igualmente missa, pelo reverendo Mário de Carvalho, procissão, fogo de ar�ficio.
Neste programa, se dá conta que o concerto musical foi abrilhantado pela Filarmónica Progresso Matos Galamba, sendo maestro Alfredo Reis de Carvalho. Como novidade, salienta-se a introdução de quermesse e cervejaria. De igual forma as corridas de burros foram subs�tuídas por corridas de bicicletas (circuito de Alcácer com 6 voltas e 3 prémios).Destaque-se também o aparecimento pela primeira vez de cavalhadas com os «melhores cavaleiros da região».Com o decorrer dos tempos a tradição foi desaparecendo perdendo-se na nossa memória os anos em que tal inicia�va não se repete.Recordamos, já lá vão mais de uma dezena de anos, uma inicia�va conjunta levada a efeito pela então Escola Preparatória de Alcácer do Sal, Câmara Municipal e Irmandade do Senhor dos Már�res no sen�do de voltar a recuperar esta tradição. A fes�vidade foi bem sucedida, correu bem, durou um dia.A ADPA – Associação de Defesa do Património Cultural de Alcácer do Sal, tem neste momento como objec�vo principal fazer renascer esta monumental fes�vidade trabalhando neste momento em verdadeiro espirito de equipa com a Irmandade do Senhor dos Már�res e outras ins�tuições locais.Afinal de contas…,trata-se apenas de revitalizar as festas em honra do Bom Jesus dos Már�res, dando vida ao monumento.
*Sócio fundador da ADPA. Mestre em Arqueologia.
Conservador de Museus.
**Maltês: Individuo vadio. Vagabundo.
Este artigo foi retirado do Boletim “o Neptuno”
nº2 de 2004, onde em Setembro de 2005 se
realizou pela ultima vez a Festa em Honra do Bom
Jesus dos Mártires.
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CURIOSIDADE…
O Anão da Torrinha…
ara quem não sabe, exis�a um anão no sí�o da Torrinha nos anos 50. Chamava-se Isidro PVicente e faleceu em 1959. Quase ninguém se lembra dele mas há quem diga que era o “olheiro” da propriedade. Mais uma curiosidade desta terra cheia de surpresas…
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