Silves (Xelb) – Uma Cidade do Gharb al-Andalus. O Núcleo Urbano

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TRABALHOS DE ARQUEOLOGIA 44 Rosa Varela Gomes Silves (Xelb), uma cidade do Gharb Al-Andalus: o núcleo urbano

Transcript of Silves (Xelb) – Uma Cidade do Gharb al-Andalus. O Núcleo Urbano

T R A B A L H O S D E A R Q U E O L O G I A 4 4

R o s a V a r e l a G o m e s

Silves (Xelb),uma cidade do Gharb Al-Andalus:o núcleo urbano

TRABALHOS DE ARQUEOLOGIA; 44

COORDENAÇÃO EDITORIALAntónio Marques de Faria

DESIGN GRÁFICOwww.tvmdesigners.pt

PRÉ-IMPRESSÃO E IMPRESSÃOEuropress, Editores e Distribuidores de Publicações, Lda.

TIRAGEM300 exemplares

Depósito Legal237 851/06

ISSN 0871-2581

ISBN 972-8662-27-0

Instituto Português de ArqueologiaLISBOA2006

PATROCÍNIOSFundação para a Ciência e a TecnologiaFundação Calouste GulbenkianCâmara Municipal de Albufeira

O Instituto Português de Arqueologia respeita os originais dos textos quelhe são enviados pelos autores, não sendo, assim, responsável pelasopiniões expressas nos mesmos, bem como por eventuais plágios, cópiasou quaisquer outros elementos que de alguma forma possam prejudicarterceiros. Salvo indicação em contrário, o copyright dos desenhos pertencem a RosaVarela Gomes.

ÍNDICE

CAPÍTULO 1 – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNAE A TORRE ALBARRÃ ANEXA

1.1. Muralhas da medina 7

1.1.1. Reconhecimento 7

1.1.2. Atribuição cronológica 26

1.2. Poço-cisterna 29

1.2.1. Identificação 29

1.2.2. Intervenção arqueológica 29

1.2.2.1. Camada 1 31

1.2.2.2. Camada 2 31

1.2.2.3. Camada 3 31

1.2.3. Arquitectura e espólio 33

1.2.3.1. Materiais 39

1.2.4. Cronologia e integração cultural 40

1.2.4.1. Arquitectura 40

1.2.4.2. Espólio 43

1.2.5. Catálogo dos materiais 44

1.2.5.1. Osso 44

1.2.5.2. Pedra 45

1.2.5.3. Metal 46

1.2.5.4. Cerâmica 47

1.3. Torre albarrã (Silv.2) 55

1.3.1. Descoberta 55

1.3.2. Escavação 56

1.3.3. Estruturas, estratigrafia e espólios 56

1.3.3.1. Camada 1 58

1.3.3.2. Camada 2 58

1.3.3.3. Camada 3 64

1.3.3.4. Camada 4 60

1.3.3.5. Camada 5. Lado oriental 70

1.3.3.6. Camada 5. Lado ocidental 73

1.3.3.7. Camada 6 79

1.3.3.8. Camadas 7 e 8 80

1.3.3.9. Integração cultural 81

1.3.4. Síntese 83

1.3.5. Catálogo 85

1.3.5.1. SILV. 2 – Lado oriental 85

1.3.5.2. SILV. 2 – Lado ocidental 101

1.3.5.3. Subcamada 6B 109

1.3.5.4. Subcamada 6C 109

CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

2.1. Salão Paroquial 113

2.1.1. Introdução e metodologia 113

2.1.2. Sector 1 – Estruturas, estratigrafia e espólios 117

2.1.2.1. Camada 1 117

2.1.2.2. Camada 2 118

2.1.2.3. Camada 3 119

2.1.2.4. Sepultura 1 123

2.1.3. Sector 2 – Estruturas, estratigrafia e espólios 127

2.1.3.1. Camada 1 127

2.1.3.2. Camada 2 129

2.1.3.3. Camada 3 129

2.1.4. Rua da Porta do Sol 134

2.1.5. Contexto e interpretação 136

2.1.6.Catálogo dos materiais 139

2.1.6.1. Osso e pedra 139

2.1.6.2. Vidro e metal 140

2.1.6.3. Cerâmica 140

2.2. Residência Paroquial 144

2.2.1. Introdução 144

2.2.2 Metodologia 144

2.2.3.Estruturas, estratigrafia e espólios 145

2.2.3.1. Camada 1 145

2.2.3.2. Camada 2 147

2.2.3.3. Camada 3 147

2.2.4.Espólios 149

2.2.4.1. Interior da casa 150

2.2.4.2. Exterior da casa 155

2.2.4.3. Estruturas subterrâneas 163

2.2.5. Integração cultural 176

2.2.6.Catálogo 180

2.2.6.1. Cerâmicas da camada 2 (ocupação cristã) 180

2.2.6.2. Espólios da camada 3 187

2.2.7.Síntese 221

BIBLIOGRAFIA 222

Capítulo I

“Des simples bourgs aux métropoles, onaperçoit bien sûr tous les degrés d´une hiérarchied´ailleurs complexe, puisqu´elle ne tient pascompte seulement du chiffre de la population, del’activité économique du capital accumulé, maisaussi de l´histoire, du cadre monumental, duprestige, du rôle politique et administratif-qui fixeles élites-de la vie intellectuelle, et d´un je ne saisquoi qui fait qu´une ville est plus ville qu’uneautre”.

AYMARD, 1977, p. 185, 189

ÍNDICE

CAPÍTULO 1 – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNAE A TORRE ALBARRÃ ANEXA

1.1. Muralhas da medina 7

1.1.1. Reconhecimento 7

1.1.2. Atribuição cronológica 26

1.2. Poço-cisterna 29

1.2.1. Identificação 29

1.2.2. Intervenção arqueológica 29

1.2.2.1. Camada 1 31

1.2.2.2. Camada 2 31

1.2.2.3. Camada 3 31

1.2.3. Arquitectura e espólio 33

1.2.3.1. Materiais 39

1.2.4. Cronologia e integração cultural 40

1.2.4.1. Arquitectura 40

1.2.4.2. Espólio 43

1.2.5. Catálogo dos materiais 44

1.2.5.1. Osso 44

1.2.5.2. Pedra 45

1.2.5.3. Metal 46

1.2.5.4. Cerâmica 47

1.3. Torre albarrã (Silv.2) 55

1.3.1. Descoberta 55

1.3.2. Escavação 56

1.3.3. Estruturas, estratigrafia e espólios 56

1.3.3.1. Camada 1 58

1.3.3.2. Camada 2 58

1.3.3.3. Camada 3 64

1.3.3.4. Camada 4 60

1.3.3.5. Camada 5. Lado oriental 70

1.3.3.6. Camada 5. Lado ocidental 73

1.3.3.7. Camada 6 79

1.3.3.8. Camadas 7 e 8 80

1.3.3.9. Integração cultural 81

1.3.4. Síntese 83

1.3.5. Catálogo 85

1.3.5.1. SILV. 2 – Lado oriental 85

1.3.5.2. SILV. 2 – Lado ocidental 101

1.3.5.3. Subcamada 6B 109

1.3.5.4. Subcamada 6C 109

CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

2.1. Salão Paroquial 113

2.1.1. Introdução e metodologia 113

2.1.2. Sector 1 – Estruturas, estratigrafia e espólios 117

2.1.2.1. Camada 1 117

2.1.2.2. Camada 2 118

2.1.2.3. Camada 3 119

2.1.2.4. Sepultura 1 123

2.1.3. Sector 2 – Estruturas, estratigrafia e espólios 127

2.1.3.1. Camada 1 127

2.1.3.2. Camada 2 129

2.1.3.3. Camada 3 129

2.1.4. Rua da Porta do Sol 134

2.1.5. Contexto e interpretação 136

2.1.6.Catálogo dos materiais 139

2.1.6.1. Osso e pedra 139

2.1.6.2. Vidro e metal 140

2.1.6.3. Cerâmica 140

2.2. Residência Paroquial 144

2.2.1. Introdução 144

2.2.2 Metodologia 144

2.2.3.Estruturas, estratigrafia e espólios 145

2.2.3.1. Camada 1 145

2.2.3.2. Camada 2 147

2.2.3.3. Camada 3 147

2.2.4.Espólios 149

2.2.4.1. Interior da casa 150

2.2.4.2. Exterior da casa 155

2.2.4.3. Estruturas subterrâneas 163

2.2.5. Integração cultural 176

2.2.6.Catálogo 180

2.2.6.1. Cerâmicas da camada 2 (ocupação cristã) 180

2.2.6.2. Espólios da camada 3 187

2.2.7.Síntese 221

BIBLIOGRAFIA 222

Capítulo I

“Des simples bourgs aux métropoles, onaperçoit bien sûr tous les degrés d´une hiérarchied´ailleurs complexe, puisqu´elle ne tient pascompte seulement du chiffre de la population, del’activité économique du capital accumulé, maisaussi de l´histoire, du cadre monumental, duprestige, du rôle politique et administratif-qui fixeles élites-de la vie intellectuelle, et d´un je ne saisquoi qui fait qu´une ville est plus ville qu’uneautre”.

AYMARD, 1977, p. 185, 189

As muralhas da medina, o poço-cisternae a torre albarrã anexa

1.1. Muralhas da medina

1.1.1. Reconhecimento

Apesar do forte dispositivo defensivo que cercava a medina de Silves se encontrar, aindahoje, relativamente bem conservado e delimitando, como é natural, o denominado centrohistórico da cidade, nunca foi objecto de estudo, mesmo apesar das referências que fazemjustiça à sua monumentalidade e importância histórica (Pavón Maldonado, 1993, p. 56, 57;Pimenta, 1982, p. 166).

Apenas Garcia Domingues fez uma breve descrição das torres e muralhas ali existen-tes, em comunicação cujo texto se conserva inédito (Domingues, 1981, p. 21).

Ao longo dos séculos aquelas construções têm sido danificadas pela acção dos agentesmeteóricos, por fortes terramotos, mas também pela negligência humana, demolindoimportantes sectores, tendo em vista o alargamento ou a construção de acessos, como a edi-ficação de espaços públicos ou privados.

Entre as principais obras que conduziram à destruição de significativos troços dasmuralhas da medina da antiga Xelb, contam-se as processadas no século XIX, designada-

7CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1..1 – Planta da medina, com localização da muralha, das torres islâmicas e do poço-cisterna.

mente aquando da abertura ou alargamento da rua do Castelo, responsável pela destruiçãodos restos da porta voltada a nascente, ou do Sol, momento em que se encontrou a notabi-líssima lápide que assinalava a edificação almoada daquele dispositivo defensivo.

Outro dano irreparável foi a destruição, de cerca de 40 m, do sector da muralha damedina voltada a sul e da quase totalidade de uma torre a ela adossada, durante a edificaçãodo actual edifício da Câmara Municipal.

Parte dos banhos públicos, que o texto do Livro do Almoxarifado ali situa e que se encon-travam adossados ao interior daquele sector da muralha foram, também, demolidos tendo aparte conservada sofrido profundas alterações (Domingues, Leal e Moreno, 1984). Namesma altura foi derrubado outro sector da muralha da medina, na extremidade sul da zonavoltada a poente, perto do ponto onde aquela inflecte para nascente e onde, segundo a tra-dição oral, parece ter existido porta cuja cronologia não nos foi possível precisar. Ali passahoje a rua Bernardo Marques e a porta referida encontra-se representada em vista de Silves,publicada por J. B. da Silva Lopes, de 1844.

Ainda nos finais do século dezanove terá sido parcialmente demolida a torre albarrãsituada a nascente da Porta da Medina, hoje junto ao Museu Municipal de Arqueologia ecompletamente restaurada, após intervenção arqueológica relatada neste mesmo capítulo(cf. Cap. 1.3).

Já na centúria passada foram arrasados os restos da torre poligonal que defendia adenominada Porta da Azóia, situada no topo norte do sector poente das muralhas da medi-na e fazendo parte da couraça

Apesar das perdas assinaladas, nos últimos 20 anos foi não só possível obstar a diver-sos atentados contra tão significativos testemunhos do nosso património histórico-militar,como se procedeu, pontualmente, à conservação e restauro de alguns sectores das muralhasda medina, por vezes seguindo critérios diversos e nem sempre com o mesmo êxito.

Aquando do restauro das muralhas e torres do Castelo foi também intervencionadosector, voltado a norte, com 60 m de extensão das muralhas da medina.

Nos anos oitenta da passada centúria, consolidaram-se algumas torres, de pedra e taipa,daquele mesmo sector assim como do lado poente, sob responsabilidade da Direcção-Geraldos Edifícios e Monumentos Nacionais.

A torre albarrã, localizada junto ao Museu Municipal de Arqueologia, foi restaurada numaprimeira fase nos anos oitenta e outra na seguinte década tendo-se, ainda na mesma altura,recuperado o sector da muralha anexa, sob responsabilidade do Arqt. Mário Varela Gomes.

Parece-nos importante referir que outros critérios bem diferentes dos actuais conduzi-ram a que durante a Idade Média, possivelmente no reinado de D. João I, tenha sido res-taurada e adaptada, de modo a albergar a administração municipal, a grande torre albarrãque defendia a Porta da Medina, assim como parte da muralha a ela anexa.

Ali se encontram diversas pedras sigladas, com marcas idênticas a outras detectadas noCastelo e na Sé, claramente pertencentes a campanhas de obras do Período MedievalPortuguês, quiçá de D. João I. De facto, carta daquele rei, datada de 28 de Julho de 1404, diri-gida a Gil Martins, seu corregedor no Reino do Algarve, refere tais obras do seguinte modo:“de beer E mandar em obras dos muros e torres e em a barreira dessa çidade” (Iria, 1990, p. 16).

Importa, ainda, mencionar que sobre a porta existente na edificação que aproveita atorre da Porta da Medina se encontra pedra de armas, da 2.a Dinastia mas anterior ao reina-do de D. Afonso V.

A medina ocupava área com forma subtrapezoidal que se estendia nas encostas nas-cente, sul e poente da elevação actualmente coroada pelo Castelo e desde a sua parte maisalta até meia encosta, entre as cotas com 52 m e 18 m, no sentido norte sul, evidenciando

8SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

fortíssimo declive, tal como pode ser constatado por quem, ainda hoje, nela se movimenta.Ela media 300 m de comprimento máximo, no sentido norte-sul, e 320 m de largura, no sen-tido perpendicular ao referido. Todavia, dada a irregularidade da forma do seu perímetro,ocupava área com cerca de 6,5 ha, sendo cercada por altas muralhas, de pedra e taipa, pro-vidas de torres adossadas e albarrãs que passaremos a descrever, a partir da Porta da Medinae no sentido dos ponteiros do relógio (Fig. 1).

TORRE 1 (PORTA DA MEDINA, DA ALMEDINA OU DE LOULÉ)Monumental torre albarrã, situada ao centro do sector sul da muralha da medina.Defendia porta, possivelmente a principal entrada na medina e de onde partia rua, a actu-al rua da Sé, que passava junto àquele templo e conduzia à entrada na alcáçova; provavel-mente à primitiva, conforme tivemos oportunidade de propor, ali também confluindo aactual rua da Porta da Azóia, continuada pela rua do Saco (Gomes, 2003, p. 141-142).Esta torre apresenta planta de forma quadrangular, medindo 12 metros de lado e pri-mitivamente era ligada à muralha por dois passadiços, assentes sobre arcos de volta per-feita. Actualmente mede 14,30 m de altura máxima (Figs. 1.2, 1.3).Foi construída com blocos, bem aparelhados, de arenito vermelho. É possível que reu-tilize, para arranque dos passadiços, dois torreões adossados que defenderiam a portaali existente. Contudo, ela encontra-se referida no relato do cruzado anónimo que par-ticipou, em 1189, na conquista da cidade, denominando-a alvierana, ou albarrã, e tendo,portanto, aspecto próximo do que hoje apresenta (Pimenta, 1982, p. 166).O acesso ao interior da medina, além de protegido por esta forte torre avançada, conta-va com três portas, uma de cada um dos lados, sob os arcos dos passadiços, e outra novão existente na muralha, que nesta zona apresenta maior espessura (cerca de 4 m).Aquela última, ainda no século XIX, durante a guerra civil entre liberais e absolutistas,era encerrada à noite com forte portão de madeira.O espaço entre a torre albarrã e a muralha, lateralmente limitado pelos passadiços,constituía átrio descoberto, com planta de forma trapezoidal, onde seria fácil abater, apartir do adarve ou dos passadiços, quem ali se introduzisse.A torre albarrã encontra-se afastada da muralha cerca de 6 m, os vãos sob os passadi-ços medem 2,60 m de largura, enquanto a porta da muralha mede 2,50 m de largurano paramento exterior e 2,70 m no paramento interior.É possível que no interior desta torre, sob o nível do pavimento ali visível, existisseminstalações que pudessem albergar a guarnição encarregada de defender esta impor-tantíssima entrada na medina (Gomes, 2003, p. 142).O aspecto actual da construção que temos vindo a descrever deve-se ao restauro antesaludido e conforme denunciam os elementos construtivos siglados, sobretudo nocunhal do lado sudeste, apesar de evidenciar a construção da sua base em socalcoscomo é próprio das edificações islâmicas, de modo a criar maior estabilidade (Fig. 1.5).Àquele mesmo momento deve corresponder a construção sobreposta aos dois passadi-ços e que também ocupa o vão do átrio, criando as instalações utilizadas como edifícioda Câmara Municipal. Este sofreu remodelações ulteriores, conferindo-se maior monu-mentalidade aos vãos existentes, que mostram cantarias ao estilo dos séculos XVII-XVIIIe que, de igual modo, se identifica nas coberturas com telhados de quatro águas. De uma daquelas janelas de sacada, voltadas para poente, assistiu D. Sebastião a toura-da, durante a sua estada em Silves, no ano de 1574.Ainda aos finais do século XVI, ou já à centúria seguinte, pode ser atribuído o Passo daPaixão de Cristo, inscrito no paramento poente desta torre, ali se reconhecendo espécie

9CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

10SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.2 – Porta da Medina ou Porta de Loulé (torre 1). Vista de sudoeste (R IV/81-20).

FIG. 1.3 – Porta da Medina (torre 1). Vista de noroeste.

11CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.6 – Porta da Medina (torre 1). Arco do passadiço do lado nascente (R III/99-14).

FIG.1.4 – Porta da Medina (torre 1). Aspecto da entrada do ladonascente (R III/99-12).

FIG. 1.5 – Porta da Medina (torre 1). Aspecto do paramento dolado nascente, com reconstrução cristã, mostrando siglas (R III/99-11).

de edícula com a representação, em relevo, dos instrumentos utilizados naquele sacri-fício (Fig. 1.7).No século XIX alargaram-se, cortando os cunhais, o vão correspondente ao passadiçodo lado poente e o que se abre na muralha.A partir da Porta da Almedina existia, na direcção de poente, pano de muralha comcerca de 50 m de comprimento e que atingia uma segunda torre albarrã (torre 2).Adossado ao paramento interior deste sector da muralha existiriam os grandes banhospúblicos da cidade muçulmana.

TORRE 2Tratava-se de torre albarrã, hoje muito danificada e camuflada por edificações ulterio-res. Mostrava planta com forma rectangular e foi construída em taipa, tendo os cunhaise, possivelmente, os alicerces de pedra.Apresentava 7,30 m de altura e mediria cerca de 8 m de lado.A muralha prolonga-se 25 m para poente até encontrar a torre seguinte (torre 3).

TORRE 3Trata-se de torre rectangular adossada, presentemente incorporada nas traseiras dehabitação actual, medindo 3 m de frente.A muralha inflectia para norte, tendo sido destruída aquando da construção, no século pas-sado, do novo edifício da Câmara e da abertura de rua para acesso àquele (rua pintorBernardo Marques). Ali existiu a porta já anteriormente mencionada, registada nas gravu-ras com vistas de Silves, publicadas em 1842 e 1844 (Gomes, 2002, p. 25, Figs. 1.6 e 1.7).

12SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.7 – Porta da Medina (torre 1). Passo da Paixão, inscrito no paramento do lado poente (R III/99-13).

TORRE 4Trata-se de torre albarrã cuja ligação ao pano de muralha foi, em parte, refeita.Apresentava planta com forma subquadrangular, medindo 5 m de lado e 13,70 m dealtura máxima. Foi erguida em taipa, pervivendo alguns orifícios dos taipais, tendo abase sido restaurada, no lado sul, com cimento, embora mostre, ainda, parte doscunhais de pedra (Figs. 1.8, 1.9). Subsiste sector do passeio da ronda e as guardas do passadiço que o ligariam à torre(Fig. 1.10). Sob o passadiço observa-se porta aberta na muralha que, segundo nos infor-maram, comunicava com matadouro ali existente. Este terá sido desactivado e destruí-do com a construção da Câmara Municipal. Embora no exterior a porta referida integrepano de muralha restaurado, no interior nota-se a marcação de arco correspondente apostigo de aspecto medieval.A partir desta torre o pano de muralha desenvolve-se durante 53 m até encontrar a torreseguinte.

13CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.8 – Torre 4. Vista de poente (R III/99-18).

14SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.9 – Muralha da medina. Sector construído em pedra e taipa, junto à torre 4. Vista de sudeste (R III/99-16).

FIG. 1.10 – Torre 4. Aspecto da muralha e do passadiço de acesso, visto de nascente (R III/99-22).

15CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.11 – Torre 6. Aspecto de sudoeste (R III/99-21).

FIG. 1.12 – Torre 5. Aspecto de poente (R III/99-20).

TORRE 5É uma torre albarrã que poderá aproveitar torre rectangular adossada preexistente, com14,40 m de altura máxima e planta quadrangular, medindo cerca de 6 m de lado. Trata--se de construção de arenito vermelho, coroada por ameias, oferecendo restos de rebo-co muçulmano (Fig. 1.12).O pano de muralha mede, neste sector, 7,10 m de altura e prossegue, com a orientaçãodo anterior, durante 38 m até encontrar a torre seguinte. Junto à base mostra quatrocontrafortes rectangulares e foi, recentemente, restaurada.

TORRE 6Torre albarrã, cuja ligação à muralha se realizava através de passadiço, medindo 9,20 mde altura. Tem planta com forma quadrangular, medindo 8 m de lado e 14,20 m de altu-ra máxima. Foi construída em pedra, tendo sido em parte refeita. Dispõe, ainda, de mata-cão no passadiço (Fig. 1.11).A muralha prossegue durante 32,65 m, até zona onde terá sido arrasada, ao nível dosalicerces, inflectindo para norte e mostrando alturas que variam apenas entre 2,70 m e3,20 m. Ali encontrava-se nova torre (torre 7).

TORRE 7 – (TORRE DA AZÓIA)Torre poligonal, cujos alicerces foram postos a descoberto nos anos cinquenta da pas-sada centúria, durante a edificação de prédio.Existe descrição, no relato da conquista de Silves sob o comando de D. Paio PeresCorreia, em meados do século XIII, onde se refere “...que os mouros fizeram muyto porcobrar a porta e se meterem sob a Torre da Zoya, que os defendesse, porque he bem sayda e temarcos por fora...” . Esta torre encontra-se representada, embora de diferente maneira, emgravuras datadas de 1842 e de 1844, representando vistas da cidade antiga (Gomes,2002, p. 25; Tarouca, 1952, p. 270).A muralha retomaria o seu percurso, na direcção de nordeste, até encontrar nova torre(torre 8).

TORRE 8Trata-se de torre rectangular, adossada, medindo 4 m de largura e 5,40 m de altura.Construída em pedra, bem aparelhada, e taipa, encontra-se rodeada por habitações eestá relativamente bem conservada. O pano de muralha que liga esta torre à seguinte, disposto na direcção sudoeste-nordes-te, foi, de igual modo, edificado em pedra e mede 74 m de comprimento por 5,40 m dealtura (Fig. 1.13).

TORRE 9Torre albarrã, presentemente sem passadiço. Mostra planta com forma rectangular, medin-do 6,16 m de frente, 3,27 m de lado e 9,30 m de altura. Encontra-se afastada 0,70 m da muralha e mostra socalco, na base, com 1 m de altura.Trata-se de construção em taipa, tendo os cunhais e a base edificados em pedra (Fig.1.14).Em frente a esta torre existiria largo muro, de época muçulmana, pertencente a possí-vel sistema de defesa, por sectores, que ligaria a muralha a barbacã. A muralha neste troço apresenta, actualmente, 3 m de altura e continua para nordeste,durante 23 m, ao encontro de torre adossada (torre 10).

16SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

17CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.13 – Torre 8. Aspecto de norte (R II/99-3).

FIG. 1.14 – Sector norte da muralha da medina, observando-se restos das torres 9, 10, 11 e 12 (R II/99-0).

O pano de muralha referido mostra base de pedra, com socalco, presentemente cober-to por terra mas semelhante ao visível na torre 9, sendo a parte superior construída emtaipa (Fig. 1.15). Esta, relativamente bem conservada, mantém as juntas e os orifícioscorrespondentes aos taipais, alguns dos quais tapados por massa de cal e areia.Também com aquela massa, de cor branca, foram marcados os contornos de quadrilá-teros, em relevo, sugerindo, a quem observa a fortificação ao longe, as juntas de cons-trução em pedra.A simulação mencionada servia, ainda, para cobrir as juntas entre os blocos de taipa, demodo a impedir a penetração das águas pluviais, o principal inimigo daquelas edifica-ções (Fig. 1.16).

TORRE 10É uma torre adossada, com planta rectangular, medindo 4 m de frente, 5,20 m de ladoe 10,10 m de altura. A muralha atinge, neste sector, 7,60 m de altura.Foi construída em pedra e taipa, possivelmente semelhante à anteriormente descrita,mas descaracterizada devido a péssimo restauro.O tramo de muralha que liga esta torre com a seguinte mede 23 m e é semelhante ao troçoanteriormente referido. Mostra, no entanto, restauros subactuais de pedra (Fig. 1.18).

TORRE 11Torre albarrã, muito danificada, com planta de forma quadrangular e não dispondo jáde passadiço. Mede 4,68 m de lado e 8,30 m de altura. Encontra-se afastada 4,42 m dopano de muralha, que se desenvolve durante 54,25 m até atingir a torre seguinte.A muralha foi erguida com pedra e tem 3,80 m de altura. Tal como a torre, foi restau-rada, tendo sido refeita a base com aparelho de pedra e a parte superior de taipa.

TORRE 12Torre albarrã, com planta subquadrangular, medindo 5,10 m nos lados norte e sul e5,30 m nos lados nascente e poente. Encontra-se a 5,50 m do pano de muralha e mede12 m de altura.Tal como as torres anteriormente descritas, já não dispõe de passadiço (Fig. 1.20).Foi erguida totalmente em taipa, pervivendo os orifícios dos taipais, e vestígios demassa de cal que os cobria. É possível que os alicerces sejam de pedra.A partir desta torre a muralha inflecte para nascente, prosseguindo até encontrar novatorre a 50 m. Mede 4,20 m de altura.

TORRE 13Torre albarrã com planta rectangular, medindo 5 m de frente, 4 m de lado e 13,80 m dealtura. Os alicerces e parte dos cunhais foram construídos em pedra, sendo as restanteszonas de taipa. Dispõe, ainda, de longo passadiço, recentemente restaurado (Fig. 1.21).A muralha prossegue na direcção de nascente, durante 5,20 m até à torre 4 da alcáçova.A muralha da medina prossegue a partir da torre 10 da alcáçova, na direcção de sudo-este, durante 40 m, inflectindo depois para sul, onde foi interrompida aquando do alar-gamento, em 1874, da rua do Castelo. Neste sector teria existido a denominada Porta doSol, documentada por belíssima lápide comemorativa da sua construção em 1227, emexposição no Museu Municipal de Faro. Julgamos ter pertencido a esta porta a torre quea seguir se refere (Figs. 1.23-1.25).

18SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

19CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.15 – Torre 9. Aspecto de nordeste (R II/99-8).

FIG. 1.16 – Paramento exterior da muralha da medina, de taipa, situado entre as torres 9 e 10. Vista de nascente (R II/99-5).

20SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.17 – Sector da muralha do lado norte da medina, observando-se as torres 10 e 9. Vista de nordeste (R II/99-7).

FIG. 1.18 – Aspecto da base do paramento exterior da muralha da medina entre as torres 10 e 11 (R II/99-11).

21CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.21 – Torre 13. Vista de poente.

FIG. 1.19 – Torre 9. Aspecto do cunhal de pedra (R II/99-6). FIG. 1.20 – Torre 12. Vista de poente (R II/99-10).

22SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.22 – Torre 13. Vista de nascente (R IV/87-39).

23CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.23 – Localização da Porta do Sol e das torres 14 e 15.

FIG. 1.24 – Torre 14. Aspecto dos alicerces, vistos de sul (R IV/87-41).

24SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

Em nome de Deus, o Clemente,

o Misericordioso. Abençoe Deus

a Muhammad e a sua família.

Ordenou a construção desta torre

o emir [...filho de... Abu Yu] suf, filho

de califa, emir dos crentes, Abu Ya’ kub,

filho do califa, emir dos crentes,

Abu Muhammad ’Abd

al-Mu’ min Ibn´ Ali – que Deus aceite

as suas boas obras e lhe perdoe as más!

E isto, no mês de ramada--n o respeitável

do ano 624.

(Seg. Borges, 1998, p. 220)

FIG. 1.25 – Lápide comemorativa da construção da torre 14.

TORRE 14Torre demolida quase até ao nível dos alicerces, foi edificada em pedra e media 10,70 mde comprimento por 5,10 m de largura. Ainda é identificável na gravura inglesa dos iní-cios do século XIX e em fotografia de finais daquela mesma centúria.Neste local foram encontrados fragmentos de cerâmica com cronologia situada nosséculos X-XI (Fig. 1.26). Entre eles conta-se o fundo, contendo o pé, baixo e anelar, detaça, com decoração de cor castanha escura, mostrando motivo de carácter epigráfico.Trata-se de exemplar similar a outros obtidos na camada 4 da alcáçova (Gomes, 2003,p. 422-424). Outro fragmento, contendo porção da parede de taça, oferece ambas super-fícies esmaltadas de cor amarela, decoradas nas cores verde e castanha, característicadas produções tunisinas, com cronologia idêntica à mencionada.A partir desta torre a muralha deveria dirigir-se para sudoeste, em direcção à torre 15 oudo mirante.

25CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.26 – Fragmentos de cerâmica encontrados junto da torre 14.

TORRE 15Também conhecida como mirante. Encontra-se adossada à muralha e mostra, actual-mente, contorno semicircular, medindo 6 m de diâmetro e 5 m de altura. Foi parcial-mente restaurada.O pano de muralha prossegue no sentido sudoeste, medindo 5 m de altura. Apresenta lon-gos sectores edificados com pedra, assim como restos de taipa, mantendo-se relativa-mente bem conservado. Prossegue na direcção de poente até à torre seguinte (torre 16).

TORRE 16Trata-se de torre rectangular, adossada, edificada em pedra. Encontra-se, presentemen-te, integrada em quintal de habitação. Dali parte, na direcção de poente, tramo de mura-lha ao encontro da torre 17.

TORRE 17Trata-se de torre albarrã, edificada em pedra e taipa, com planta de forma quadrangu-lar, medindo 6,20 m de lado. Foi parcialmente demolida no século XIX e a sua destru-ição total encontrava-se em curso em 1979. Os resultados da escavação arqueológica aque ali procedemos constam deste volume. Mede, presentemente, 13 m de altura, apóso restauro a que foi submetida.A muralha continua para poente incorporada entre várias habitações, atingindo, a 28 m,a denominada Porta da Almedina (torre 1).

1.1.2. Atribuição cronológica

Das quatro grandes portas de entrada na medina de Silves sabemos, através de testemu-nhos orais, gráficos ou arqueológicos, que três delas remontavam ao Período Islâmico.Contudo, apenas uma pervive, a denominada Porta da Medina, onde reconhecemos, pelomenos, duas fases construtivas. A mais antiga seria constituída por entrada ladeada por duastorres rectangulares adossadas (Fig. 1.27-A) e a outra com grande torre de planta rectangularavançada, ligada às torres referidas e à muralha, através de dois passadiços. Este novo disposi-tivo defensivo, mais complexo, permitia não só a melhor protecção do pano de muralha próxi-mo, como dissimular a entrada que protegia, tornando mais difícil o acesso ao interior da medi-na, dado que dispunha de três entradas e de um átrio, controlado tanto a partir dos passadiços,como da própria torre e da muralha (Fig. 1.27-B). Esta teria também guarnição residente, capazde melhor controlar as entradas e saídas na medina, como resistir aos possíveis intrusos.

Conforme referimos, trata-se de construção já existente em 1189, aquando da primeiraconquista cristã da cidade, tendo sido descrita, com certa admiração, pelo cruzado que par-ticipou naquele evento, do seguinte modo “… e tinha huma entrada coberta para Almedina, desorte que della se podia ver o que se passava de fora dos muros da Almedina e os que acommettes-sem os muros de revéz podessem ser offendidos da torre, e da parte oposta, e esta chamava-seAlvierana…” (Pimenta, 1982, p. 166). Este texto ilustra, de modo claro, o reconhecimento donovo conceito defensivo que aquela torre introduzia na estratégia militar da época. É possí-vel que outras torres albarrãs, que defendem tanto a muralha de medina como a da alcáço-va, já existissem àquela data, embora desempenhassem papel defensivo menos importanteque a torre da Porta da Medina. Esta tornou-se verdadeiro símbolo da cidade de Silves, peloque, ulteriormente à sua conquista definitiva, foi reutilizada, ali se erguendo o edifício daCâmara Municipal.

26SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

27CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.27 – Torre 1. Planta com possível evolução (A e B) e comparação com a porta conhecida como Arco do Repouso, em Faro(C), e a porta, dita de S. Gonçalo, de Lagos (D).

Portas de entrada direitas, defendidas por torres adossadas, constituíram modelo muitodivulgado no Próximo Oriente, com antecedentes que remontam aos Períodos Romano eBizantino, mas que perviveram. No Cairo, ainda em 1087, se edificou porta de entradasegundo aquele modelo (Wise, 1978, p. 190, 191; Zozaya, 1984, p. 641).

Na Península Ibérica, a principal porta de ingresso no castelo de Mérida, datada por ins-crição como de 835, constitui a mais antiga porta de entrada direita, defendida por duas tor-res laterais, adossadas, devidamente documentada, visto que a denominada Porta deAlcântara, em Toledo, seria algo ulterior (Wise, 1978, p. 190, 191; Zozaya, 1984, p. 639, Figs.2-3-9, 11; Lévi-Provençal e Torres Balbás, 1982, p. 634; Delgado Valero, 1999, p. 54, 55).

No presente caso de Silves, é provável que à entrada direita defendida por duas torres, cor-respondesse o pano de muralha que ali se encontra, talvez reforçado durante o Período Almoada.

A intervenção arqueológica realizada anteriormente à construção do Museu Municipalde Arqueologia, no pátio anexo ao poço-cisterna (Silv. 3), mostrou sucessão de muralhas,onde a primeira assenta em estrato contendo materiais do século VIII ou dos inícios do sécu-lo IX e pertence ao mesmo nível de ocupação que integrava silo contendo fragmentos decerâmica e carvões, cujo contexto arqueológico foi datado, por 14C, em 891 cal AD (ICEN--202) (Gomes e Gomes, 1992, p. 289). Uma segunda muralha terá sido erguida nos finaisdo século IX, ou nos inícios do século X, e uma terceira no Período Almorávida, sendo pos-sivelmente contemporânea da primeira fase de edificação da Porta da Medina.

Aquela seria contemporânea da denominada porta do Arco do Repouso, em Faro (Fig.1.27-C) e da porta de S. Gonçalo, em Lagos (Fig. 1.27-D). Ambas teriam tido entradas direi-tas, com torres laterais, adossadas no caso de Faro e a que, tal como em Silves, se terão asso-ciado as torres avançadas e os respectivos passadiços.

A construção da principal porta da medina de Silves pode ter-se realizado após 1091,aquando da instalação da administração almorávida, que sabemos terem dado, no al--Andalus, especial importância à edificação e restauro de estruturas defensivas, tanto dasalcáçovas como para protecção dos núcleos urbanos, conforme já antes aludimos (Gomes,2003, p. 140-146), devendo-se as alterações ulteriores, aos Almoadas, em data anterior a 1189(Acién Almansa, 1995, p. 38).

O importante relato de Ibn Idari Al-Marrakuxi, na “Crónica Bayan Al-Mugrib”, conta-nosque o famoso general almoada Ibn Timselit, ao dirigir a reconstrução das muralhas de Beja,em 1174 e depois da saída dos Portugueses em 1173 após a efémera conquista de Giraldo SemPavor, recorreu, por duas vezes, a Silves, onde foi recrutar operários especializados e ferra-mentas. Este facto parece demonstrar que naquela altura, ali se procedia ou tinham há poucosido executadas grandes obras militares, certamente erguendo ou reforçando muralhas, e tal-vez construindo as torres albarrãs da medina e o poço-cisterna tratado no presente capítulo,perante a crescente pressão do avanço cristão (Huici de Miranda, 1953, p. 20).

Poderão auferir da cronologia atribuída à primeira fase de construção da Porta daMedina de Silves as cinco torres rectangulares adossadas, pouco salientes, que defendemdiversos sectores das muralhas daquele centro urbano e, conforme mencionámos, constitu-em estruturas defensivas com antecedentes omíadas (Gomes, 2003, p. 140-146).

A torre 15 é a única com planta de forma semicircular existente nos dispositivos defen-sivos de Silves, tanto da medina como da alcáçova. Trata-se de torre semelhante às existen-tes na Aljafería de Saragoça, cuja construção se terá iniciado após 1065, durante as PrimeirasTaifas (Montaner Frutos, 1998, p. 51; Borrás Gualis, 1995, p. 86). Aquela torre pode indicardiferente estrutura defensiva, talvez relacionável com uma das muralhas detectadas no pátioanexo ao poço-cisterna e que antes referimos (Gomes e Gomes, 1992, p. 287-295; Gomes,2002, p. 109, 111).

28SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

As torres albarrãs (Gomes, 2003, p. 142), que integram a defesa da medina, devem tersido erguidas aquando da remodelação da nova porta principal ou ulteriores, do períodoapós a reconquista da cidade pelos Almoadas em 1191, momento em que sabemos se teremefectuado grandes obras defensivas na alcáçova e, certamente, na medina, como denunciaa lápide de fundação da Porta do Sol.

1.2. Poço-cisterna

1.2.1. Identificação

Em Dezembro de 1979 fomos alertados, pelo Sr. José Luís Cabrita, da existência deantiga galeria, aberta no subsolo da adega que utilizava o piso térreo de um prédio, dos finaisdo século XIX, situado na rua da Porta de Loulé.

Aquele edifício tinha sido, recentemente, adquirido pela Câmara Municipal com aintenção de ali instalar uma cantina para o seu pessoal.

Em visita que propositadamente efectuámos ao local constatámos, na companhia deCaetano Beirão e Mário Varela Gomes, que se tratava do troço de galeria, ao qual se desciapor estreita abertura rasgada no piso da adega e que tinha servido de esconderijo aos seusantigos proprietários. Verificámos a grande antiguidade da construção, como a necessidadede ali se procederem a escavações arqueológicas, tendo em vista o seu completo reconheci-mento e a sua caracterização cronológica e funcional.

O poço-cisterna foi implantado bem próximo da denominada Porta da Medina eencontra-se adossado ao interior da muralha que cercava o tecido urbano da cidademedieval. Um sector desta muralha servia de parede ao edifício onde identificámos opoço-cisterna.

Com o apoio da Câmara Municipal de Silves, de que era então presidente o Dr. RuiMorais, e da sua vereadora do pelouro da cultura, a Sr.a D. Josefa Cabrita, iniciámos os tra-balhos de escavação ainda em 1979, tendo os mesmos continuado em Abril e Maio de 1980,Janeiro de 1981 e Agosto de 1983. Nestes, também colaboraram, além dos arqueólogos refe-ridos, José Luís de Matos, tal como funcionários camarários, estudantes e alguns voluntári-os, que assim mostraram o seu grande interesse pelo passado da cidade.

Sucessivas campanhas de escavações, devidamente autorizadas pelo IPPC mas inteira-mente subsidiadas pela Câmara Municipal de Silves, contando com o apoio dos seus presi-dentes, José Francisco Viseu e José Correia Viola, puseram a descoberto esta importanteconstrução, hoje Monumento Nacional e integrada no espaço do Museu Municipal deArqueologia de Silves. O seu restauro e musealização, da autoria do Arqt.o Mário VarelaGomes, mereceu, em 1991, o Prémio Nacional de Defesa do Património Imóvel, instituídopelo IPPAR.

1.2.2. Intervenção arqueológica

Iniciámos os trabalhos no local em epígrafe com a limpeza da galeria referida, verifi-cando-se que se desenvolvia em degraus, tanto no sentido ascendente como descendente.Logo nos primeiros dias localizámos duas janelas que abriam para amplo espaço interiorque depois, a partir da escavação do solo da adega, identificámos como um grande poço(Fig. 1.28).

29CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

30SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.28 – Planta e corte do poço-cisterna.

Tendo em vista uma melhor percepção desta construção, optámos por proceder à suaescavação arqueológica em área, pelo que foi implantada quadrícula, medindo 2 m de ladosobre a totalidade do solo da adega. Depois de devidamente desenhados, levantámos os ladri-lhos que cobriam todo aquele compartimento, assim como a massa, de cal e areia, utilizadapara nivelar o solo e fixá-los, sob a qual verificámos a existência das seguintes camadasarqueológicas:

1.2.2.1. Camada 1Constituída por nível de terras, de cor vermelha acinzentada (5YR 4/2), situado sob a

massa utilizada para assentar pavimento de ladrilhos de cerâmica, mostrando espessurasque variavam entre 0,10 m e 0,20 m.

Ofereceu algum espólio arqueológico, em particular dos séculos XVIII e XIX.

1.2.2.2. Camada 2Formada por nível de terras, de cor castanha algo avermelhada (5YR 4/3), com cerca de

0,30 m de potência. Continha algumas pedras afeiçoadas pertencentes, possivelmente, aanteriores edificações. Entre os materiais ali recuperados contam-se fragmentos de pratos ede taças, com as superfícies esmaltadas de cor branca, alguns decorados na cor azul de cobal-to, e decoração de “aranhões”, que indica cronologia situada no século XVII.

1.2.2.3. Camada 3Correspondia a nível de terras, de cor vermelha escura (10R 4/4), com cerca de 0,10 m

de espessura, situado à mesma cota do bocal do poço-cisterna, posto entretanto à vista. Sobreele assentava um dos pilares que ajudaram a suportar o primeiro piso da casa ali construí-da, nos finais do século XIX (Fig. 1.29).

Em seguida procedemos à escavação do poço-cisterna. A escadaria envolvente foi sendodesentulhada, por tramos, enquanto que o poço central foi explorado através de quadrantese de níveis artificiais, com 0,10 m de espessura. Estes cuidados tinham em vista a, possível,diferenciação de materiais e a obtenção de corte onde se pudesse reconhecer estratigrafia eevolução cronológica (Fig. 1.30).

Todavia, verificámos, após a escavação de um dos quadrantes, que embora se tivessemregistado pequenos sub-níveis e diferentes cores de terras, o espólio recuperado nas cama-das superiores colava como o das inferiores. Este facto permitiu concluir, em função doespólio recuperado, nomeadamente de cerâmicas e numismas, sendo os mais recentescunhados no reinado de D. Sebastião (1557-1578), que aquele monumento teria sido entu-lhado, pelo menos em grande parte, nos finais do século XVI.

A escavação do poço-cisterna não foi, ainda, concluída. A cerca de 18 m de profundida-de surgiu-nos água e um metro abaixo restos de madeira, que pensámos pertencerem a fil-tro. Tornou-se, por isso, necessário esgotar a água, através de bomba, de modo a podermoslimpar e reconhecer aquela possível estrutura. Em tal tarefa contámos com a colaboração doDr. Francisco Alves, actualmente director do Centro Nacional de Arqueologia Náutica eSubaquática, despistando-se a existência de qualquer estrutura de madeira, sugerida pelapresença de pedaços de tábuas e barrotes que ali formavam com terras, massa compacta,embalando cerâmicas e outros materiais.

Estava, assim, descoberto o poço-cisterna, cuja tipologia construtiva e os dados arqueo-lógicos disponíveis, permitiram classificar como notável obra almoada, da segunda metadedo século XII (Gomes e Gomes, 1992, p. 289).

31CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

32SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.29 – Aspecto do poço-cisterna, durante a escavação (R I/80- 17).

FIG. 1.30 – Aspecto do poço-cisterna, durante a escavação (R I/80- 3).

1.2.3. Arquitectura e espólio

A edificação de que nos propusemos tratar foi construída com aparelho, cuidado e regu-lar, de arenito da região, conhecido como “grés vermelho de Silves”, ligado com terra. É cons-tituída por um grande poço com secção circular, medindo 2,45 m de diâmetro interno na bocae com mais de 18 m de profundidade (Fig. 1.31).

A sua escavação não atingiu, ainda, o fundo e as paredes que delimitam o poço têm1,50 m de espessura na base e 0,90 m no topo.

O espaço central é rodeado, até aos 13 m de profundidade, por galeria em forma de espi-ral irregular, com o tecto abobadado e piso em escada (Figs. 1.33, 1.34). Esta mede 1,20 m delargura e 2,60 m de altura média e termina em porta que abre para o poço. As abóbadasapresentam tramos segmentados, de perfil semicircular (Figs. 1.35-1.38). Três janelas, tam-bém com abóbadas de perfil semicircular, fazem a ligação entre a galeria e o poço, permi-tindo o acesso à água, consoante os diferentes níveis de enchimento, tal como o seu melhorarejamento.

A primeira janela, a maior, quase que se situava frente à terceira e a meio do primeiro lancede escadas, enquanto a segunda ocupa o espaço intermédio, abrindo-se no primeiro terço dosegundo lance da escadaria (Figs. 1.39, 1.40). Esta é coberta por três tramos de abóbadas queacompanham a descida. No terceiro lance existe a terceira janela, a mais comprida, e a escadariapassa a inflectir para o interior do poço, onde termina. A escadaria consta de 58 degraus, com0,20 m de altura, inclinados para o interior do poço central a partir do segundo lance de escadas.

Os blocos utilizados no aparelho desta edificação, talhados em “grés de Silves”, confor-me referimos, apresentam medidas nem sempre regulares, mas onde encontramos ele-

33CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.31 – Aspecto do poço-cisterna, durante a escavação.

34SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.32 – Aspecto da sondagem efectuada no exterior da escadaria de acesso ao poço-cisterna.

FIG. 1.33 – Aspecto do poço-cisterna e da escadaria de acesso (RV/88-9).

35CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.34 – Aspecto do poço-cisterna e da escadaria de acesso (RV/88-24).

FIG. 1.35 – Poço-cisterna. Abóbadas da galeria envolvente (R VII/79-32).

FIG. 1.36 – Poço-cisterna. Aspecto de um dos tramos dagaleria envolvente (R X/79-30).

36SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.37 – Poço-cisterna. Pormenor de arco da abóbada da galeria envolvente (R VII/79-33).

FIG. 1.38 – Poço-cisterna. Aspecto do arco de uma das janelas de comunicação entre a galeria e o poço (R VII/79-36).

37CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.39 – Levantamento do alçado do paramento do lado esquerdo do primeio tramo da galeria envolvente, antes e depois dorestauro efectuado.

38SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.40 – Alçado do lado esquerdo do segundo tramo da galeria envolvente.

FIG. 1.41 – Poço-cisterna. Fragmento de queimador, com superfície esmaltada de cor verde.

mentos com aproximadamente 0,45 m de comprimento, ou seja correspondendo a um cúbi-to comum árabe (Bermejo, 1976, p. 342; Jomard, 1822, p. 671).

No ponto de arranque das abóbadas, a cerca de 2 m do piso, reconhece-se fiada de blo-cos estreitos, um pouco salientes, que constituiriam friso.

Tanto as abóbadas que cobrem a escadaria, como os arcos das janelas e da porta, quedão acesso ao interior do poço, estão construídos com blocos em forma de cunha.

Todas as paredes e tectos parece terem sido rebocados, com argamassa de cal e areia,sendo caiados e em alguns pontos pintados de cor vermelha, como mostrava pequena áreaque subsistia na escadaria.

Esta construção foi, em parte, escavada no substrato rochoso, constituído por calcáriose margas, do complexo margo-carbonatado de Silves, datado do Hetangiano-TriásicoSuperior, e é servida por nível freático que faz restabelecer a altura das águas à cota aproxi-mada dos 14 m, contados a partir da boca. A sua edificação destruiu outras estruturas defen-sivas anteriores à muralha almoada, as mais recuadas aparentemente do início do PeríodoOmíada e de que se conservavam testemunhos a nascente. A escavação da área envolventee, sobretudo, da zona que medeia entre a boca do poço e a muralha almoada evidenciou apresença de silos, que escavámos, e de estratos arqueológicos. Os mais antigos oferecerammateriais tardo-romanos ou visigótico-bizantinos, onde se inclui fragmento de terra sigillataclara D estampada, reconhecendo-se os restos de motivo zoomórfico (Agnus Dei) conformeanteriormente referimos, e “mínimo” ilegível, de meados do século IV ou do século V(Gomes, 2002, p. 109).

É, contudo, interessante mencionarmos que a muralha almoada, à qual o poço se ados-sa interiormente, oferece naquela zona maior espessura, certamente para melhor suportaras tensões por ele provocadas, constituindo sistema estático em que também se inclui a torreavançada, ou albarrã, já citada. Esta era ligada à muralha por passadiço sobre arco, receben-do, assim, a descarga dos esforços existentes como se tratasse de sistema do tipo arco botan-te e contraforte.

As três estruturas, erguidas sem dúvida num mesmo momento, funcionariam comoum todo coeso, tanto em termos construtivos como arquitectónicos e, até, estratégicos.

Não detectámos restos de qualquer sistema para elevação da água do poço-cisterna,tanto no seu interior como em seu redor, nem, tão pouco, fragmentos de alcatruzes quesempre assinalam a presença de noras.

1.2.3.1. MateriaisSó estudámos o espólio procedente do interior do poço-cisterna e que, pelas condições

de jazida, forma ou temática decorativa, pudemos considerar como sendo muçulmanos. Dado que aquela estrutura foi entulhada nos finais do século XVI, a esmagadora maio-

ria do acervo ali exumado pertencia àquele centúria e, em menor número, ao século XV,sendo mais raras as peças atribuídas aos séculos anteriores.

Identificámos botão (SILV. 1- 164), que aproveita a extremidade distal de presa de javali,placa rectangular, de osso, pertencente a possível caixa ou arqueta (SILV. 1- 166), e fragmentode alfinete decorado, com motivos geométricos (SILV. 1- 168).

Ali exumámos fragmento de estela (SILV. 1- 242), de arenito vermelho, com restos deinscrição, muçulmana, realizada através de picotagem, assim como balas de funda e de cata-pulta (SILV. 1- 51, 52, 53, 54, 56, 57, 235, 236, 237, 238, 239). Também recuperámos fragmen-to de lucerna (SILV. 1-52), de cobre/bronze, dourada, contendo quatro lóbulos de um total deoito, mostrando abertura circular na face superior e o exterior do fundo decorado com estre-la de oito pontas, em relevo.

39CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

Contámos catorze fragmentos de cerâmica. Um deles (SILV. 1-118) foi descoberto sobo patamar de acesso à escadaria que envolve o poço e outro (SILV. 1-128) nos interstícios dosdegraus do segundo lance das escadarias. Os restantes foram exumados no interior do poço,conjuntamente com outro espólio medieval e moderno.

Fragmentos de talhas, com superfícies esmaltadas e decoração estampilhada, mostrammotivos antropomórficos, como uma “mão de Fátima” (SILV. 1-121); zoomórficos, como doisfelinos que intercalam com motivos fitomórficos e geométricos, (SILV. 1-117), matrizes decarácter arquitectónico, também registadas em queimador de essências (SILV. 1- 120; SILV. 1-128), tal como elementos geométricos e fitomórficos (SILV. 1-122; SILV. 1-118; SILV. 1-127).Porções de taças esmaltadas, de cor branca (SILV. 1-126), apresentam pequenas estampilhasgeométricas. Um pedaço de taça vidrada exibe impressões, no interior de cartela circular, emforma de bolbo (SILV. 1-123). Outros fragmentos de talhas, produzidas com pastas e superfí-cies claras, também oferecem motivos estampilhados (SILV. 1-124; SILV. 1-125; SILV. 1-129).

1.2.4. Cronologia e integração cultural

1.2.4.1. ArquitecturaO monumento que descrevemos não é mencionado no “Livro do Almoxarifado de Silves”,

elaborado em meados do século XV, embora, como assinalámos, tenha sido entulhado, ape-nas, nos finais do século XVI e esteja implantado em zona urbana à época pertença da Coroa.De facto, naquele documento são descritas várias propriedades da rua da Porta de Loulé, ados-sadas ao interior da muralha, que eram, sobretudo, habitadas por judeus ou cristãos-novos, eque conduzia, ainda segundo o mesmo texto, à judiaria da cidade. No entanto, na “História doReino do Algarve”, escrita por Henrique Fernandes Sarrão, em 1609, menciona-se uma “mina,que tem a boca em ua torre de muro da cerca da cidade, junto da porta dela, que vai ao rio baixodo chao, e sai no pego de mafoma, chamado assim porque (segundo se consta) nele se afogou o reidessa cidade, que tinha esse nome, quando os cristãos a tomaram. Leva a mina, no solo, na calçadaaté dar naquele pego, e na entrada tem um portal de pedraria, e por esta mina iam os Mouros bus-car água ao rio, para seu serviço” (Guerreiro e Magalhães, 1983, p. 153).

Registam-se no texto transcrito aspectos lendários, que a lógica e os dados desmentem,como a morte de Ibn-Al-Mahfut, o último governador muçulmano da cidade, junto ao Arade(Gomes, 2002, p. 150, 151). Contudo, as referências à calçada e ao portal de pedra da entra-da, assim como a que respeita à sua localização, ajustam-se às do poço-cisterna.

Igualmente, a função daquela construção, que era a de abastecer água a parte da cida-de, é confirmada, restando em aberto se esta era, apenas, a recolhida nos eirados e telhadosvizinhos, provinda de nascente e do nível freático ali existente ou se haveria algum comple-xo sistema que enchesse o enorme reservatório, conservando o líquido tão necessário nosperíodos de prolongada estiagem.

A água armazenada no poço-cisterna serviria não só para a alimentação e para a higienequotidiana, dos habitantes desta zona da cidade, como poderia abastecer os banhos públicos,ou hammam, que o “Livro do Almoxarifado” ainda recorda, ali bem perto, com a denominaçãode “chaos que em outro tempo foram banhos” (Domingues, Leal e Moreno, 1984, p. 13, 30).

Não conhecemos paralelos, tanto em Portugal como na Espanha, para esta obra. O tipo deaparelho nela empregue, semelhante ao identificado na alcáçova, e o facto de ter sido constru-ída contemporaneamente com a muralha e a torre albarrã que lhe ficam próximas, permitedatá-la no período de dominação almoada de Silves, provavelmente pertencente à campanha deobras que ergueu a grande torre da Porta da Medina ou de Loulé, situada não muito longe.

40SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

41CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.42 – Planta (A) e corte (B) da entrada na galeria do poço-cisterna, a partir do chão da adega existente sobre aquele.

42SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.43 – Planta da galeria envolvente do poço-cisterna.

A sua construção terá destruído testemunhos de três dispositivos defensivos anterioresà muralha almoada, estruturas de habitações, pavimentos e silos, de que ainda, se encontra-ram alguns restos (Gomes e Gomes, 1992, p. 287-289; Gomes, 2002, p. 109).

Em termos de referências arquitectónicas existe, em Tuna al Gabal, a sul do Cairo, pos-sível protótipo, de Época Romana, para o monumento de Silves.

Aquele foi construído em tijolo e integra um bem complexo conjunto de obras hidráu-licas. Ressalta, como principal paralelo entre os dois monumentos, a galeria, com a escada-ria abobadada, em espiral, coberta por abóbadas de tramos, com volta perfeita e comuni-cando, por janelas, com o interior do poço (Schioler, 1973, p. 141-145).

No exemplar egípcio a escadaria conduz até 14 m de profundidade e em Silves até 13 m,não atingindo, em ambos, o fundo.

1.2.4.2. EspólioA placa rectangular, de osso, pode ter pertencido a caixa, arqueta ou a outro pequeno

móvel, sendo semelhante a exemplares recuperados na camada 3 da alcáçova (Gomes, 2003,p. 399-401).

O fragmento de lucerna metálica (SILV. 1-58), com corpo polilobulado constitui peça deinfluência oriental, conhecendo-se artefactos, com a mesma função e configuração estrelarnos níveis correspondentes ao início da ocupação muçulmana de Susa, presentemente emexposição no Museu do Louvre (ref. M A O S 162; M A O S 163). No entanto, o exemplar deSilves é bem mais elaborado, devendo ser contemporâneo das cerâmicas muçulmanas quecom ele recuperámos.

Os fragmentos de cerâmica exumados, decorados por estampilhagem, e, em particular, osdois que recolhemos sob o patamar de acesso à escadaria do poço-cisterna (SILV. 1-118; SILV.1-128), devem ser datados no Período Almoada, conforme paralelos com espécimes semelhan-tes encontrados nas escavações da alcáçova (Gomes e Gomes, 1986, p. 132, 133).

A “mão de Fátima”, o único motivo de carácter antropomórfico reconhecido nas cerâ-micas com decoração estampilhada, assumia, nas grandes talhas onde era impresso, valorprofiláctico, protegendo não só a própria água ali armazenada como os habitantes da casaonde tais recipientes eram colocados. Os cinco dedos estendidos recordavam, aos fiéis, oscinco mandamentos do Islão e os três dedos maiores a grafia do nome Allah, que, unidospela mão, representariam a presença do poder divino e assumiam a categoria de verdadeirahierofania (Gomes, 1988, p. 170).

A representação de motivos zoomórficos é rara no mundo muçulmano, sendo esta asegunda matriz, com tal tema, recuperada em Silves (Gomes, 2003, p. 252, 255). A figura dofragmento do poço-cisterna (SILV. 1-117) parece corresponder a um leão, sendo esta espéciede felinos a mais frequentemente representada no mundo islâmico.

A figuração do leão pode ser interpretada como símbolo do Poder, Sabedoria e, também,de Justiça. Trata-se de simbologia com antecedentes recuados e que, ainda, pervive, conformeparece indicar a passagem: “Ali, genro de Maomé, glorificado pelos xiitas, é o leão de Alá”, peloque a bandeira do Irão mostra um leão coroado (Chevalier e Gheerbrant, 1997, p. 401).

As cerâmicas estampilhadas com os característicos arcos polilobulados, reproduzin-do aspectos arquitectónicos, são conhecidas, a partir dos séculos XI-XII, na Qal’a dos BanuHammad, de onde provém matriz com aquele motivo, similar e a outras de Jerez de LaFrontera e do Museu de Huelva, ou em talhas classificadas como almoadas, de Córdova ede Sevilha (Pavón Maldonado, 1981, p. 37, 40, Fig. 17-C; Santos Jener, 1948-49, p. 255, est.LXXXIV-4; Fernández e Porres, 1982, p. 467, Fig. 4-1, 2, 3, 4). Um fragmento de bocal depoço, decorado com estampilhas representando motivos arquitectónicos e entrançados,

43CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

foi datado, em Belyounech, perto de Ceuta, nos finais do século XII (Cardenal, 1980, p. 243-246).

São abundantes as decorações estampilhadas, representando arcos polilobulados, asso-ciados a linhas incisas, de modo a sugerirem arcarias e conforme mencionámos anterior-mente (Gomes, 2003, p. 171).

Outros dos temas identificados, de larga sobrevivência mas cujo uso, na forma estam-pilhada, se deve aos Almoadas, é a teoria de losangos geminados. Este preenche, por vezes,bandas muito largas, como as detectadas na alcáçova de Silves, sobre o bordo e o gargalo detalha (Q18/C2-10).

Além dos fragmentos mencionados, com cronologias entre os séculos XII-XIII, contem-porâneas ou ulteriores à data de construção do poço-cisterna, recuperámos outro conjunto defragmentos pertencentes a talhas. Estas foram fabricadas com pastas mal depuradas, tendoduas delas cordões, em relevo, e pequenas estampilhas também circulares, de várias dimen-sões, impressas sem ordem aparente, oferecendo características comuns às produções mudé-jares que atingem o século XIV. Existem bons paralelos para as peças mencionadas, tanto emfragmentos como em talhas completas de Toledo, Sevilha ou de Córdova, onde, por vezes,também se associam os cordões em relevo, as incisões, as dedadas e a estampilhagem(Herrero Escudero, 1943, p. 148, Fig. 17-4; Fernández e Porres, 1982, p. 467; Santos Jener,1948-1949, p. 31, 232, Figs. 99, 100; Aguado Villalba, 1983, est. XXX-B). É próprio destemomento (séculos XIII-XIV) a decadência dos processos técnicos de fabrico das peças estam-pilhadas apresentando pastas mal depuradas e pouco compactas, tendo as superfícies incom-pletamente alisadas. As estampilhas utilizadas mostram motivos muito simples, quase sem-pre geométricos, aplicadas em recipientes raramente vidrados, tentando preencher, desorde-nadamente, o vazio das superfícies, perdendo-se a qualidade, o refinado gosto ornamental, osentido do ritmo e o equilíbrio estético dos exemplares dos períodos precedentes.

1.2.5. Catálogo dos materiais

1.2.5.1. Osso

SILV. 1-164 - BOTÃOExtremidade distal de grande presa de javali, serrada, polida e com perfuração cilíndri-ca a meio. Mede 0,060 m de comprimento, 0,017 m de maior largura e 0,015 m deespessura máxima (volume proximal).

SILV. 1-166 - PLACA DECORATIVACom forma subparalelepipédica. Mede 0,068 m de comprimento, 0,020 m de largurae 0,002 m de espessura máxima.

SILV. 1-168 - ALFINETE DE CABEÇAFragmento de forma subparalelepipédica, contendo a extremidade proximal apontada edecorada por denteado. As faces maiores oferecem decoração constituída por dois con-juntos de quatro círculos incisos, tendo ponto central, dispostos em cruz, e por outro cír-culo isolado junto ao topo, acima de perfuração cilíndrica. Nas faces menores reconhe-cem-se dois círculos idênticos aos anteriores.Mede 0,046 m de comprimento, 0,009 m de maior largura (na extremidade proximal)e 0,004 m de espessura máxima.

44SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

1.2.5.2. Pedra

SILV. 1-242 - ESTELAFragmento, talhado em arenito vermelho, com secção sub-rectangular, apresentandoambas faces alisadas. De um dos lados foi gravada, através de ponteado, inscrição.Mede 0,158 m de comprimento, 0,166 m de largura e 0,062 m de espessura.

SILV. 1-238. BALA DE FUNDADe calcário. Oferece forma esférica. Mede 0,036 m de diâmetro máximo.

SILV. 1-53 - BALA DE FUNDADe arenito vermelho. Oferece forma esférica. Mede 0,030 m de diâmetro máximo.

SILV. 1-237 - BALA DE FUNDADe arenito vermelho. Oferece forma subesférica. Mede 0,022 m de diâmetro máximo.

SILV. 1-57 - BALA DE FUNDADe arenito vermelho. Oferece forma esférica. Mede 0,018 m de diâmetro máximo.

SILV. 1-56 - BALA DE FUNDADe arenito vermelho. Oferece forma esférica. Mede 0,036 m de diâmetro máximo.

SILV. 1-52 - BALA DE FUNDA OU DE CATAPULTADe arenito vermelho. Oferece forma esférica achatada. Mede 0,048 m de diâmetromáximo.

SILV. 1-54 - FRAGMENTO DE BALA DE FUNDA OU DE CATAPULTADe calcário. Oferecia forma esférica. Mede 0,068 m de diâmetro máximo.

SILV. 1-239 - BALA DE FUNDA OU DE CATAPULTADe arenito vermelho. Oferece forma subesférica. Mede 0,072 m de diâmetro máximo.

SILV. 1 -51 - BALA DE CATAPULTADe arenito vermelho. Oferece forma subesférica. Mede 0,104 m de diâmetro máximo.

45CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.44 – Poço-cisterna. Artefactos, de osso, islâmicos.

SILV.1–164 SILV.1–166 SILV.1–168

SILV. 1 -235 - FRAGMENTO DE BALA DE CATAPULTADe arenito vermelho. Oferecia forma subesférica. Mede 0,104 m de diâmetro máximo.

1.2.5.3. Metal

SILV. 1-58 - LUCERNADe cobre/bronze. Fragmento com a superfície exterior dourada. Oferecia forma de pris-ma octogonal, com oito lóbulos. A superfície superior mostra abertura circular, com0,046 m de diâmetro, emoldurada por bordo de perfil semicircular, decorado compequenas incisões, fazendo lembrar corda. O reverso encontrava-se decorado comestrela de oito pontas, realizada em relevo. Restos de segmentos de pequenas espiraisde arame, igualmente dourados, decoram os espaços limitados pelas pontas da estrelae pelas arestas dos lóbulos. Media 0,090 m de diâmetro máximo e 0,015 m de altura.

46SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.45 – Poço-cisterna. Fragmento de lápide epigrafada.

SILV.1-242

SILV.1-238 SILV.1-53 SILV.1-237 SILV.1-57

SILV.1-239

SILV.1-52

SILV.1-56

SILV.1-54

SILV.1-236

SILV.1-51

SILV.1-235

47CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.46 – Poço-cisterna. Balas de funda e de catapulta.

48SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.47 – Poço-cisterna. Lucerna, de cobre/bronze.

SILV.1-58

1.2.5.4. Cerâmica1.2.5.4.1. Cerâmica, com pasta de cor clara, esmaltada de cor branca.

SILV. 1-126- TAÇA POSSIVELMENTE CARENADAFragmento correspondendo a porção do pé, alto e anelar. Foi fabricada com pasta homo-génea e compacta, contendo elementos, não plásticos, de grão finíssimo. O núcleo dasparedes é de cor castanha clara, algo avermelhada (7.5YR 7/6). As superfícies, bem ali-sadas, apresentam esmalte, de cor branca pérola. Tanto a base como a parede interior dopé não foram esmaltadas, oferecendo, apenas, pequenos escorridos de óxido. Uma linha,em relevo, na superfície exterior, marca o início do pé e outras duas, incisas, indicam aseparação entre a parte interna do pé e o fundo. Na superfície interior reconhecem-se restos de cartela incisa, em forma de coroa circu-lar, que demarcava o fundo e se encontrava decorada por pequenas impressões circula-res. Estas estampilhas medem 0,012 m de diâmetro e mostram motivo floral, muitoestilizado, representado por cinco pequenos raios em relevo.Media 0,085 m de diâmetro no pé e a espessura média nas paredes é de 0,010 m.

1.2.5.4.2. Cerâmicas, com pastas de cores claras ou de cor vermelha, esmaltadas de cor verde.

SILV. 1-240 - TAÇA CARENADAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Este é espessado no interiore extrovertido, tem a parte superior plana e lábio de secção semicircular. Foi fabricadacom pasta muito homogénea e compacta, contendo elementos, não plásticos, de grãofiníssimo. O núcleo das paredes é cor-de-laranja (2.5YR 5/8) e as superfícies mostramesmalte de cor verde. Media 0,292 m de diâmetro no bordo e a espessura média dasparedes é de 0,004 m.

SILV. 1-117- TALHAFragmento correspondendo a porção da parede. Foi fabricada com pasta pouco homo-génea mas compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, degrão fino a médio. O núcleo das paredes é de cor bege amarelada (2.5Y 8/4). A super-fície interna apresenta cor semelhante à do núcleo. A superfície externa mostra esmal-te, de cor verde, em tons turquesa e esmeralda, e oferece restos de três faixas horizon-tais decoradas com impressões de grandes matrizes. Estas faixas encontram-se separa-das por cadeias, também horizontais, de pequenos círculos geminados e por bandasdecoradas com traços, curtos e oblíquos, realizados com rolete. A cada uma destas ban-das sobrepõe-se profundo traço inciso, ligeiramente ondulado. Não podemos reconhe-cer qual o motivo da matriz que decorou a faixa da parte superior deste fragmento, queoferece esmalte espesso de cor verde escura ou esmeralda. A faixa situada abaixo daque-la, de cor turquesa, encontra-se decorada com matriz mostrando dupla espiral. Estaapresenta forma rectangular, mede 0,025 m x 0,042 m e foi impressa na horizontal.A faixa inferior, a mais larga, encontra-se esmaltada de cor verde esmeralda e mostra asimpressões geminadas de dois zoomorfos afrontados. São possíveis representaçõesestilizadas de felinos, com pescoços longos e as cabeças erguidas voltadas para trás. Ascaudas encontram-se levantadas e as extremidades estão enroladas em elegante voluta.Uma das patas dianteiras aparece ligeiramente levantada. Estas duas figuras, de corposvolumosos e de aspecto heráldico, foram obtidas através da impressão de matrizes dife-

49CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

rentes, de forma rectangular e dispostas na vertical, medindo cada uma 0,030 m x0,040 m. A espessura média das paredes é de 0,018 m.

SILV. 1-122- TALHAFragmento correspondendo a porção da parede. Foi fabricada com pasta poucohomogénea mas compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos e quartzo-sos, de grão fino a médio e, alguns, grosseiros. O núcleo das paredes é de cor begeacinzentada (5Y 8/2). A supefície interna, afagada, mostra engobe de cor bege rosa-da (7.5YR 8/2). A superfície externa apresenta esmalte, espesso, de cor verde esme-ralda, e restos de decoração impressa. Reconhecem-se três losangos geminados eunidos pelos vértices, de faixa decorativa horizontal, realizados com matriz quemedia cerca de 0,025 m x 0,020 m. Esta matriz oferece, ao centro, grande losangocujos lados, em relevo, se prolongam até aos vértices do rectângulo em que se ins-creve e que formam, de cada lado, dois meios losangos. O losango central contémdois outros inscritos. Cada meio losango encerra, igualmente, meios losangos repre-sentados com os lados em relevo. Nos espaços entre o losango central e os dois meioslosangos laterais encontram-se inscritos pequenos triângulos em relevo. A espessu-ra média das paredes é de 0,016 m.

SILV. 1-120- TALHAFragmento correspondendo a porção da parede. Foi fabricada com pasta homogénea ecompacta, contendo elementos não plásticos, micáceos e quartzosos, de grão fino amédio e, alguns, grosseiros. O núcleo das paredes é de cor bege amarelada (2.5Y 7/4). A superfície interna, bem afagada, apresenta cor semelhante à do núcleo. A superfícieexterna oferece esmalte, espesso, de cor verde esmeralda e, na metade inferior, restos dedecoração estampilhada, onde se reconhecem duas impressões, geminadas, represen-tando arcos polilobulados. A espessura média das paredes é de 0,018 m.

SILV. 1-241- BOCAL DE POÇOFragmento correspondendo a porção da base, com canto. Mostrava forma de prismahexagonal. Foi fabricado com pasta pouco homogénea mas compacta, contendo ele-mentos não plásticos, micáceos e quartzosos,de grão fino a médio e, alguns, grosseiros.O núcleo das paredes é de cor castanha rosada (5YR 6/4). Ambas superfícies mostramcamada de revestimento de pasta melhor depurada, sendo a interior coberta por engo-be de cor bege amarelada (2.5Y 7/4), e a exterior por esmalte, não muito espesso, de corverde intensa, actualmente pouco aderente e mal conservado. A espessura média dasparedes é de 0,010 m.

SILV. 1-128- QUEIMADOR DE ESSÊNCIAS E PERFUMES SÓLIDOSFragmento correspondendo a porção do bordo, com forma de prisma hexagonal. Foifabricado com pasta pouco homogénea mas compacta, contendo elementos não plásti-cos, quartzosos e micáceos, de grão médio a grosseiro. O núcleo das paredes é de corrosada amarelada (7.5YR 6/6) e as superfícies são de cor castanha alaranjada (2.5YR6/6). A interna, bem afagada, apresenta esmalte espesso, de cor verde esmeralda, eencontra-se decorada com impressões. A superfície externa foi mal regularizada e mos-tra engobe de cor bege amarelada (2.5Y 8/4). O fragmento contém cerca de metade daparede de um dos seis lados da peça. Apresenta bordo plano, com 0,025 m de largura, enele se reconhecem restos de um arco, aberto na superfície da parede interior e, na exte-

50SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

rior, três impressões que constituem teoria de arcos, polilobulados, completados por tra-ços incisos, verticais e profundos. Sobre os arcos detectam-se, ainda, impressões queparecem representar corda, ou entrançado, ajudando a reproduzir motivo arquitectural,

51CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.48 – Poço-cisterna. Cerâmicas esmaltadas.

SILV.1-117

SILV.1-122

SILV.1-123

SILV.1-120

SILV.1-126

SILV.1-241

SILV.1-121

SILV.1-118

SILV.1-119

52SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.49 – Poço-cisterna. Fragmento de cerâmica esmaltada e de outras produzidas com pastas claras.

SILV.1-240

SILV.1-124

SILV.1-129 SILV.1-125

SILV.1-127

muito característico na decoração da cerâmica almoada. Observam-se, sobre o bordo, res-tos de três impressões figurando, aparentemente, motivos leteriformes. Media 0,400 mde diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,020 m.

SILV. 1-118, 119- TALHADois fragmentos correspondendo a porção da parede. Foi fabricada com pasta homo-génea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grãofino. O núcleo das paredes é de cor bege (2.5Y 7/2), a superfície exterior encontra-seesmaltada, de cor verde, na metade superior e sendo apenas engobada, de cor bege(2.5Y 8/2), na restante. A área superior foi decorada com traço ondulado inciso e faixadecorada, por estampilhagem, com teoria de quadrados, com os lados em relevo e uni-dos pelos vértices. Abaixo desta faixa encontra-se uma outra não decorada, limitada porcordão e coberta por esmalte da cor referida. Na superfície não esmaltada reconhece-sebanda impressa com matriz de forma rectangular. Estas estampilhadas inscrevem-seentre dois cordões horizontais, pouco salientes, e sobrepõem-se, em parte, a estes.Os cordões foram decorados com traços oblíquos, finos e curtos, possivelmente reali-zados com rolete. A matriz das impressões é constituída por quatro quadrados, com oslados e um ponto central em relevo, unidos pelos vértices. A espessura média das pare-des é de 0,008 m.

SILV. 1-121-TALHAFragmento correspondendo a porção da parede. Foi fabricada com pasta pouco homo-génea mas compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, degrão grosseiro. O núcleo das paredes é de cor bege amarelada (5YR 3/3). A superfície exte-rior oferece esmalte, de cor verde esmeralda, e os restos de faixa estampilhada inscrita emcartela. A matriz utilizada mostra mão estilizada “a mão de Fátima”, acompanhada pormotivo fitomórfico. A espessura média das paredes é de 0,010 m.

1.2.5.4.3. Cerâmica com pasta clara e as superfícies vidradas.

SILV. 1-123- TAÇAFragmento correspondendo a porção da parede. Foi fabricada com pasta muito homo-génea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grãofiníssimo a fino. O núcleo das paredes é de cor castanha avermelhada (5YR 5/6). Ambassuperfícies apresentam vidrado, de cor castanha melada (5YR 5/6). Na superfície interiorreconhecem-se três pequenas impressões inscritas em cartela, com forma de coroa circu-lar, com 0,015 m de largura e que demarcaria o interior do fundo da peça. As estampilhasoferecem forma de gota ou de bolbo, e são constituídas por zona nuclear rodeada por doistraços concêntricos. A espessura média das paredes é de 0,006 m.

1.2.5.4.4. Cerâmicas com pastas e superfícies claras

SILV. 1-124- TALHAFragmento correspondendo a porção da parede. Foi fabricada com pasta pouco homo-génea mas compacta, contendo elementos não plásticos, feldspáticos, quartzosos emicáceos, de grão médio a grosseiro. O núcleo das paredes é de cor cinzenta (5YR 6/2).A superfície interna, bem regularizada, oferece engobe de cor bege alaranjado (5YR7/6). A superfície externa, melhor afagada, mostra engobe de tom mais escuro que a

53CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

interna (2.5YR 6/8), tal como numerosas impressões, aparentemente distribuídas semordem e efectuadas com, pelo menos, quatro matrizes diferentes. Apenas se identifi-cam duas estampilhas completas, ambas de forma circular e oferecendo motivos floraisestilizados, medindo uma 0,030 m de diâmetro e a outra 0,012 m. Uma terceira estam-pilha, incompleta, apresenta restos de dois triângulos. A espessura média das paredesé de 0,016 m.

SILV. 1-129- TALHAFragmento correspondendo a porção da parede. Foi fabricada com pasta poucohomogénea mas compacta, contendo elementos não plásticos, feldspáticos, quartzo-sos e micáceos, de grão médio a grosseiro. O núcleo das paredes é de cor castanhaclara (5YR 6/6). As superfícies, regularizadas, oferecem engobe de cor castanha claraalaranjada (10R 5/6). A superfície externa mostra restos de dois cordões, horizontais,com 0,012 m de largura, decorados pelas impressões ligeiras de dedos, afastadoscerca de 0,060 m. Na parte superior do fragmento, sobrepondo um destes cordões,reconhece-se resto de estampilha, com forma circular e medindo 0,030 m de diâme-tro, representando motivo floral estilizado. A espessura média das paredes é de0,024 m.

SILV. 1-125 - TALHAFragmento correspondendo a porção da parede. Foi fabricada com pasta pouco homo-génea e não muito compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, de grãogrosseiro e alguns, muito grossos, com 0,006 m de comprimento. O núcleo das pare-des é de cor bege amarelada (2.5Y 8/4). Ambas superfícies aparentam cor semelhanteà do núcleo. A superfície interna foi, apenas, regularizada enquanto a externa terá sidoafagada. A superfície exterior encontra-se decorada por cordão arqueado, em relevo, epor três impressões circulares completas e os restos de duas outras. A impressão maiormede 0,018 m de diâmetro e é constituída por semicírculo e dois círculos concêntricos.O círculo maior oferece pequenos raios. A estampilha menor mede 0,010 m de diâ-metro e apresenta apenas dois círculos separados cerca de 0,001 m. A espessura médiadas paredes é de 0,016 m.

SILV. 1-127- SUPORTE DE TALHAFragmento correspondendo a porção do corpo e do pé. Foi fabricado com pasta poucohomogénea mas compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos,de grão médio a grosseiro. O núcleo das paredes é de cor castanha clara avermelhada(5YR 6/6). A parte inferior do pé e a sua superfície interna oferecem engobe de cor begeamarelada (2.5Y 8/4), sendo a superfície externa de cor cinzenta clara (2.5Y 7/2).Mostra a base do pé extrovertida, com perfil recto, mas de arestas boleadas. Oferece,junto ao arranque da parte superior, decoração constituída por motivos florais estiliza-dos, sob a qual se observa canelura. A decoração referida foi impressa com matrizrectangular, medindo cerca de 0,030 m de comprimento e que, devido à fractura dapeça, não pudemos identificar convenientemente. Media 0,250 m de diâmetro e aespessura média das paredes é de 0,017 m.

54SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

1.3. Torre albarrã (Silv. 2)

1.3.1. Descoberta

Quando em finais de 1979 se iniciou a construção da sede da Caixa de Crédito AgrícolaMútuo de Silves, em terreno situado junto a um pano da muralha da medina, a cerca de 30m, a nascente, da denominada Porta da Almedina ou de Loulé, começaram a ser destruídos,a martelo pneumático, os restos de uma torre albarrã. Estes, encontravam-se integrados noquintal existente nas traseiras de casa ali localizada, que apresentava frente voltada para aactual rua Dr. Francisco Vieira.

A torre referida, que media cerca de 6 m de frente na base e atingia apenas 6,00 m dealtura no seu ponto mais elevado, tinha servido de anexo à casa onde se encontrava o poço--cisterna, para o que foi aberta uma porta na muralha, permitindo a comunicação entre aadega ali existente e aquele espaço. De facto, a destruição da torre, que ainda se observa emfotografia dos finais do século XIX, parece dever-se aos primeiros proprietários da casa refe-rida, adossada intra-muros à muralha, no momento de edificação daquela. Foi então demo-lida a sua metade poente, até ao nível do piso térreo da adega mencionada, enquanto naoutra metade, a nascente, a demolição fez-se mais profundamente, até à cota do terreno quelhe ficava próximo, e que constituía as traseiras das casas ali existentes, sendo o espaço obti-do utilizado como horta.

Este monumento era visível, como mencionámos, ainda bem conservado, em fotogra-fia que mostra vista da cidade, anterior a 1874, data em que foi aberta a rua do Castelo, tendoem vista a mudança do cemitério que se encontrava nas traseiras da Sé. O edifício da actual

55CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.50 – Localização da torre albarrã anexa ao Museu Municipal de Arqueologia (torre 17).

Câmara Municipal não tinha, ainda, sido construído e naquele registo observa-se, a todo ocomprimento e muito bem conservado, importante sector de muralha da medina com duasoutras torres, antes da apropriação dos terrenos anexos e do seu preenchimento por cons-truções modernas que hoje o encobrem quase por completo.

Na altura da nossa primeira visita ao local, a torre albarrã encontrava-se bastante des-truída e muito afectada pela demolição que a nossa intervenção fez parar.

Foi possível salvar os restos desta torre graças à então vereadora do Pelouro da Cultura,da Câmara Municipal de Silves, D. Josefa Cabrita, que impediu o prosseguimento da obra,embargando-a. Ao saudoso Doutor Caetano Beirão e ao Arqt.o Mário Varela Gomes ficam adever-se as diligências que tornaram possível a compra do terreno, pelo Ministério dasFinanças e a conservação daquele importante testemunho da arquitectura islâmica. O segun-do arqueólogo mencionado foi responsável pela recuperação daquele monumento, financia-da pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e Câmara Municipal deSilves, obra que vicissitudes várias fizeram que se concluísse apenas em 1996.

A escavação deste sítio realizou-se durante os meses de Dezembro e Janeiro, respectiva-mente de 1979 e 1980, sendo tais trabalhos, devidamente autorizados pelo IPPC. Esta inter-venção contou, apenas, com o apoio financeiro da autarquia e nela colaboraram os arqueólo-gos acima referidos, tendo o registo gráfico ficado a cargo do desenhador Mário de Sousa.

1.3.2. Escavação

Depois da limpeza dos restos provocados pela demolição referida, a intervenção arqueo-lógica, tendo em vista uma melhor caracterização da construção, a determinação de sua rela-ção com a muralha e a ocupação humana do local, tanto anterior como ulterior à sua cons-trução, impunha que se investigasse os terrenos em redor. Assim, procedemos a escavaçõesde ambos os lados da torre, a oriente e a ocidente, dado que frente à mesma as obras de cons-trução civil mencionadas tinham atingido o substrato.

Considerámos, devido às condicionantes antes indicadas, a existência de dois sectores,a que corresponderam respectivamente, na marcação dos materiais os símbolos OR. e OC.,tratados individualmente, mas de modo a permitir, tanto quanto possível, a sua compreen-são conjunta. Limitámo-nos, dados os poucos meios disponíveis, a limpar e acertar os cor-tes ali deixados pela obra em curso, identificando-se a sequência estratigráfica existente. Fez-se o seu levantamento gráfico e fotográfico e estudámos 2437 fragmentos de cerâmica, assimcomo outros materiais arqueológicos.

1.3.3. Estruturas, estratigrafia e espólios

Os testemunhos da torre albarrã mostravam que aquela tinha sido edificada com a basee os cunhais em blocos, bem aparelhados, de arenito vermelho, com comprimentos que vari-avam entre 0,25 m e 0,40 m, sendo a restante construção em taipa, bem amassada, de corcastanha. Os paramentos, medindo 6,20 m de lado, apresentavam, ainda, alguns dos orifí-cios de sustentação dos taipais, com forma rectangular, medindo 0,12 m x 0,16 m de secção.Assentava em base com duplo ressalto, conforme indica o aparelho conservado de pedra, nolado ocidental. A torre estaria ligada à muralha através de passadiço, de que se conservava oarranque, podendo, eventualmente, ter tido mata-cão, semelhante aos que existiam emoutras torres albarrãs da medina e na porta de entrada no Castelo.

56SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

57CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.51 – Torre albarrã. Alçado e sucessão estratigráfica identificada.

FIG. 1.52 – Torre albarrã. Aspecto de sudoeste, observando-se os níveis em que aquela assenta.

Durante os trabalhos arqueológicos verificámos que tinha sido aberta uma vala, para aimplantação dos alicerces desta torre, atingindo o substrato rochoso no lado norte e assen-tando em nível de terras, com 0,35 m de potência, no lado sul. Este corresponde à frentedaquele dispositivo defensivo e ali reconhecemos quatro finos estratos arqueológicos queentregaram algumas cerâmicas muçulmanas (C 6 e C 7) (Figs. 1.51-1.53).

A sucessão estratigráfica identificada, a partir dos níveis superiores para os mais anti-gos é a que, a seguir, se descreve.

1.3.3.1. Camada 1Reconhecível, apenas, no lado oriental, apresentava cerca de 0,80 m de espessura,

sendo constituída por terras de cor castanha escura, algo avermelhada (2.5YR 4/2), ricas emmateriais orgânicos. Corresponde à utilização daquele espaço, como horta.

Assentava sobre solo de terra batida, de cor clara, que pertence à parte superior dacamada seguinte. Ofereceu materiais datáveis dos séculos XIX-XX.

1.3.3.2. Camada 2 Foi, igualmente, detectada no lado oriental. Era formada por materiais provenientes do

derrube da torre, datável dos finais do século XIX ou seja da época da remodelação da casajá referida. Media cerca de 1,20 m de potência e mostrava terras de cor vermelha acastanha-da (2.5YR 4/4). Apresentava, na base, entulhamento com pedras aparelhadas e grandespedaços de taipa provenientes da demolição da torre. Este nível sobrepunha pavimento tos-camente lajeado que se apoiava em muro com 2 m de altura e cuja base assentava na cama-da que cobria o substrato rochoso (C 7).

58SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.53 – Torre albarrã. Pormenor da primeira fiada de pedras, sobre nível contendo material arqueológico.

59CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.54 – Torre albarrã. Materiais da camada 2 (Oc.).

SILV.2-OC./C2

60SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG.1.55 – Torre albarrã. Materiais da camada 2 (Or.).

SILV.2-OR./C2

61CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.56 – Torre albarrã. Materiais da camada 2 (Or.).

SILV.2-OR./C2

62SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.57 – Torre albarrã. Materiais da camada 2 (Or.).

SILV.2-OR./C2

Aquele muro situava-se a cerca de 1 m, para nascente, da torre albarrã e encostava otopo norte a zona de terras que apresentavam, ainda, camadas arqueológicas estratigra-fadas.

Tanto entre a face nascente da torre e o muro, como do lado oposto, notavam-se pro-fundos remeximentos, não só provocados pela implantação daquela estrutura, como devi-do à época relativamente moderna em que foi construída e que atribuímos ao século XIX.

Entre os materiais exumados contam-se fragmentos de cântaros muçulmanos, umdeles contendo porção do bordo. O gargalo teria duas asas, opostas e sobrelevadas, e esta-va decorado, exteriormente, com linhas pintadas de cor negra. Da mesma época seria umfragmento de tampa com pega em botão.

Ali exumámos, ainda, cerâmicas dos séculos XV-XVI, como pedaços de frigideiras ede taças, com as superfícies cor-de-laranja e vermelha, em certos casos providas de duasasas, opostas, assim como fragmentos de potes com o mesmo tratamento (Figs. 1.54--1.57). Um fragmento de pote contém porção do fundo, com carena algo acusada, assen-tando em pé baixo e anelar, oferecendo a superfície interior esmaltada de cor branca e aexterior de cor verde, com o fundo em reserva. Um fragmento de taça, esmaltada de corbranca, mostra porção do fundo, com o interior decorado de cor azul de cobalto, e a super-fície exterior ornamentada com motivo fitomórfico de cor dourada. Também exumámosparte de almofariz, com a superfície exterior e parte da interior esmaltadas de cor azulclara, sendo o fundo de cor vermelha, semelhante à cor do núcleo.

No lado ocidental da torre observámos grande quantidade de terras soltas, de cor cas-tanha (2.5YR 4/2), por vezes acinzentada (10R 4/2), resultando da remoção mecânica dascamadas arqueológicas, tendo em vista a terraplanagem do local. Ali recolhemos maiorita-riamente espólio medieval.

Integrava aquele grande bala de catapulta, talhada em arenito vermelho, que poderáter sido usada, em 1189, durante a primeira conquista da cidade, altura em que, segundo acrónica daquele evento e algumas evidências arqueológicas, se utilizaram máquinas deguerra daquele tipo (Pimenta, 1982, p. 171, 172).

Recolhemos, entre outras cerâmicas, ladrilho com forma quadrangular, vidrado nasuperfície superior, de cor amarela de antimónio, medindo 0,08 m por 0,088 m. Esteencontra paralelos em exemplares que subsistem no pavimento do deambulatório da absi-dal da abadia de Santa Maria de Alcobaça, atribuídos ao século XIII e com as mesmasdimensões do de Silves (Simões, 1990, p. 48, 49, ests I-V).

Entre os fragmentos de recipientes destacam-se os pertencentes a pratos e a escudelas,com as superfícies esmaltadas de cor branca, de tipo conventual, com certos exemplaresdecorados na cor azul de cobalto, dos séculos XV-XVI. Também identificámos fragmentosde frigideiras e de panelas, daquela mesma época, com as superfícies interiores vidradas decor castanha melada. Exumámos, ainda, pedaços de taças, de jarras e de púcaros, algunsdecorados com aplicações de pedrinhas, de quartzo leitoso, possivelmente produzidos nasoficinas alto-alentejanas, durante os séculos XVI e XVII.

Ali encontrámos, de igual modo, marcas de jogo com as superfícies vidradas, de corcastanha (melada) ou de cor verde, assim como pequena pedra de amolar. Estas peças, dadaa sua funcionalidade em diferentes épocas, são de difícil atribuição cronológica.

63CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

1.3.3.3. Camada 3 Foi somente identificada no lado oriental da torre. Era constituída por terras, de cor

avermelhada (10R 4/6), com cerca de 0,40 m de potência.Ofereceu 938 fragmentos de cerâmicas muçulmanas, cujo estudo, em relação às pastas e tra-

tamento das superfícies, permitiu organizar os grupos, ou classes, apresentados no Quadro 1.I.

QUADRO 1.ITorre albarrã. Cerâmicas da camada 3 (SILV. 2 – OR./ C3).

Pastas e sup Vermelhas Claras Vermelhas TOTAISvidradas

Tipos FormasLoiça de mesa taças – 7 22 29

– 0,75% 2,35% 3,10%

púcaros – 9 168 177– 0,96% 17.91% 18,87%

jarros/jarras 2 26 94 1220,22% 2,77% 10,02% 13,01%

bule – 1 – 1– 0,11% – 0,11%

Loiça de cozinha alguidares – 11 20 31– 1,17% 2,13% 3,30%

panelas 6 – 206 2120,65% – 21,96% 22,61%

Loiça de cantil – – 4 4armazenamento – – 0,43% 0,43%

cântaros – 5 79 84– 0,53% 8,42% 8,95%

potes – 3 10 13– 0,32% 1,06% 1,38%

talhas – 6 4 10– 0,64% 0,43% 1,07%

base de talha – 1 – 1– 0,11% – 0,11%

tampas – – 37 37– – 3,94% 3,94%

Contentores lamparinas 1 – 1 2de fogo 0,11% – 0,11% 0,22%

fogareiros – – 23 23– – 2,45% 2,45%

Actividade marcas de jogo 3 – – 3lúdica 0,32% – – 0,32%

Cerâmica alcatruz – – 1 1industrial – – 0,11% 0,11%

não identificadas vasilhas 2 186 – 1880,19% 19,83% – 20,02%

TOTAIS 14 255 669 9381,49% 27,19% 71,32% 100%

1.3.3.3.1. Cerâmicas – pastas e tratamento das superfícies1) 14 fragmentos (1,49%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas, con-tendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão finíssimo a médio.O núcleo das paredes é cor-de-laranja, de cor vermelha ou rosada (2.5YR 5/6; 2.5YR 5/8;2.5YR 6/6; 2.5YR 6/8; 5YR 6/8; 5YR 7/6). Ambas superfícies, ou somente uma delas,apresentam vidrado, aderente e brilhante, de cor castanha melada. As superfícies emreserva mostram tom algo mais escuro que o da cor do núcleo.

2) 255 dos exemplares (27,19%) foram produzidos com pastas homogéneas e compa-ctas, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e feldspáticos, de grãomuito fino a médio e, alguns, quase imperceptíveis.O núcleo das paredes é de cor branca, bege, rosada ou cinzenta clara (10R 6/3; 2.5YR6/4; 5YR 8/1; 5YR 8/2; 5YR 8/4; 5YR 7/3; 5YR 7/6; 5YR 6/4; 7.5YR 8/4; 10YR 8/4; 10YR7/1; 10YR 6/2). As superfícies mostram cor semelhante à do núcleo, podendo ser algomais clara ou mais escura.

64SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

65CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

0 1 0 0 2 0 0 3 0 0 4 0 0 5 0 0 6 0 0 7 0 0

Vermelhas vidra.

Claras

Vermelhas

Cerâmicas da camada 3 (SILV. 2-OR/C3) – pastas e tratamentos da superfície

0 5 0 1 0 0 1 5 0 2 0 0 2 5 0

Taças

Púcaros

Jarros/jarras

Bule

Alguidares

Panelas

Cantis

Cântaros

Potes

Talhas

Base de talha

Tampas

Lamparinas

Fogareiros

Marcas de jogo

Alcatruz

Vasilhas

Cerâmicas da camada 3 (SILV. 2-OR/C3) – formas

3) 669 fragmentos (71,32%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas,contendo elementos não plásticos, micáceos e feldspáticos, de grão fino a médio, assimcomo quartzosos e calcários, de grão médio e, alguns, grosseiros.O núcleo das paredes é cor-de-laranja, de cor vermelha, castanha ou cinzenta (10YR 4/1;10R 4/8; 10R 5/8; 2.5YR 4/8; 2.5YR 5/0; 2.5YR 5/8; 2.5YR 6/8; 5YR 6/4; 5YR 7/6; 10YR7/2). As paredes e as superfícies mostram cor semelhante à do núcleo ou algo mais escu-ra. Alguns exemplares oferecem decoração, pintada ou incisa, em uma das superfícies.

1.3.3.3.2. Formas e decorações1.3.3.3.2.1. Cerâmicas, com pastas de cor vermelha, vidradasRecolhemos fragmentos de jarros ou jarras, de panelas, de uma lamparina e marcas de jogo.Dois fragmentos pertenceram a jarros ou jarras (0,22%). Um contém porção do bordo

(0,11%), com lábio de secção semicircular, e o outro corresponde a parte de asa.Seis fragmentos de paredes pertenceram a panelas (0,65%), mostrando, apenas, a

superfície interior vidrada.Um fragmento corresponde a base de lamparina (0,11%).Identificámos três marcas de jogo (0,32%).Dois fragmentos são porções de fundos de vasilhas não identificadas (0,19%).

1.3.3.3.2.2. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (branca, bege, rosada ou cinzenta clara)Os fragmentos recolhidos pertenceram a taças, púcaros, jarros ou jarras, a um bule, a

alguidares, cântaros, potes, talhas e à base de uma talha.Sete fragmentos correspondem a porções de taças (0,75%). Dois contêm pequena parte

do bordo (0,21%), com lábio de secção semicircular, três pertenceram a paredes (0,32%) edois a fundos (0,22%). Quatro dos fragmentos (0,43%) apresentam, em ambas superfícies,aguada de tom mais claro que o da cor do núcleo e um (0,11%) oferece decoração pintada,de cor castanha, na superfície interior.

Os fragmentos de púcaros totalizaram nove (0,96%). Seis (0,64%) daqueles são peda-ços de paredes e três de asas (0,32%). Três dos exemplares (0,32%) oferecem, em ambassuperfícies, aguada de tom mais escuro que o da cor do núcleo e, igual número, de tom maisclaro, exibindo dois (0,21%) decoração pintada, na superfície exterior, de cor vermelha,enquanto que um (0,11%) mostra ornamentação de cor negra.

Os fragmentos de jarros ou jarras somaram 26 (2,77%). Destes, dois contêm pequenaporção do bordo (0,21%), 20 são partes de paredes (2,13%) e quatro correspondem a asas(0,43%). Daquelas peças, 23 (2,45%) apresentam aguada de tom mais claro que o da cor donúcleo e, apenas, duas (0,21%) mostram tom mais escuro. Oferecem decoração pintada, nasuperfície exterior, sete dos exemplares (0,74%), sendo em dois de cor vermelha (0,21%) eem cinco de cor negra (0,53%).

Identificámos fragmento de bule (0,11%), contendo porção do bordo. Este mostra aguada detom mais claro que o da cor do núcleo e decoração pintada, na superfície exterior, de cor negra.

Os fragmentos de alguidares totalizaram 11 (1,17%). Oito daqueles apresentam peque-na porção de bordo (0,85%), extrovertido e com lábio de secção semicircular; um contémporção de parede (0,11%) e dois de fundos (0,21%). Todos eles apresentam, em ambas super-fícies, aguada de tom mais claro que o da cor do núcleo. Um dos bordos oferece (0,11%) res-tos de decoração, pintada, de cor branca.

Os fragmentos de cântaros são cinco (0,53%). Um contém porção da parede (0,11%) equatro são asas (0,42%). Apresentam aguada, em ambas superfícies, de cor mais clara que

66SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

a do núcleo e dois exemplares mostram, na superfície exterior, decoração, pintada, de corvermelha (0,21%).

Os potes encontram-se representados por três fragmentos (0,32%), contendo porção dobordo. Um exemplar (0,11%) apresenta aguada, em ambas superfícies, de tom mais escuroque o da cor do núcleo. Todos eles oferecem decoração, pintada, de cor castanha.

Os fragmentos de talhas detectados são seis (0,64%). Cinco daqueles contêm porção daparede (0,42%) e um parte da base (0,11%). Três mostram aguada, em ambas superfícies, decor mais clara que a do núcleo (0,32%).

Um fragmento (0,11%) de base de talha (SILV. 2-OR./C3-5) contém porção do corpo, dobordo e da base. Oferece decoração estampilhada na superfície exterior.

Dadas as suas pequenas dimensões, 186 dos fragmentos recolhidos (19,83%) não per-mitiram identificação formal. 157 daqueles (16,74%) correspondem a porções de paredes e 29a fundos (3,09%). Dois fragmentos apresentam aguada, em ambas superfícies, de tom maisescuro que o da cor do núcleo (0,21%) e treze (1,38%) têm aquele tratamento, apenas, nasuperfície exterior. Mostram aguada, em ambas superfícies, de tom mais claro que o da cordo núcleo, 39 (4,16%) exemplares e, somente, um (0,11%) na superfície exterior. Apresentamdecoração pintada na superfície exterior, de cor negra, doze fragmentos (1,28%).

1.3.3.3.2.3. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (vermelha, cor-de-laranja, castanha ou cinzenta)Os fragmentos que recolhemos pertenceram a taças, púcaros, jarros ou jarras, alguida-

res, panelas, cântaros, potes, talhas, cantis, tampas, a uma lamparina, a fogareiros e a umalcatruz.

Os fragmentos de taças somaram 22 (2,35%). Todos contêm porção do bordo (SILV. 2-OR./C3-6; SILV. 2-OR./C3-7; SILV. 2-OR./C3-8). 20 apresentam lábio com secção semicir-cular e três (0,32%) oferecem bordo espessado, interior e exteriormente, com lábio de sec-ção sub-rectangular ou algo amendoado. Os diâmetros nos bordos variam entre 0,176 m e0,348 m. Apresentam decoração pintada de cor branca, sobre o bordo, oito dos exemplares(0,85%); em treze na superfície interior (1,39%) e, apenas, em um na exterior (0,11%).

Os fragmentos de púcaros totalizaram 168 (17,91%). Destes, quatro (0,43%) apresen-tam porção do bordo, mostrando todos restos de decoração pintada, de cor branca.Pertenceram a paredes de púcaros 164 fragmentos (17,48%), mostrando todos restos dedecoração pintada, de cor branca, na superfície exterior.

Os fragmentos de jarros ou jarras somaram 94 (10,02%). Destes, 34 contêm porção dobordo (3,65%), 11 (1,17%) pertenceram a paredes, 15 são fundos (1,60%) e 34 são porções deasas (3,65%). Mostram aguada em ambas superfícies, de cor mais escura que a do núcleo,doze exemplares (1,28%) e, igual número, de tom mais claro. Oferecem decoração pintadade cor branca, na superfície exterior, 60 fragmentos (6,39%).

20 fragmentos pertenceram a alguidares (2,13%) (SILV. 2-OR./C3-1; SILV. 2-OR./C3-2;SILV. 2-OR./C3-3; SILV. 2-OR./C3-4). 16 daqueles contêm porção do bordo (1,70%), três da pare-de (0,32%) e, apenas, um do fundo (0,11%). Mostram aguada de tom mais escuro que o da cordo núcleo três exemplares (0,32%) e dois (0,21%) têm tom mais claro. Apresentam a superfícieinterior brunida oito fragmentos (0,85%) e um a exterior (0,11%). Oferecem decoração, incisa,três fragmentos, sendo em um na superfície interior (0,11%) e em dois na exterior (0,21%).

Os fragmentos de panelas totalizaram 206 (21,96%). Destes, apenas um (0,11%) apre-senta porção do corpo, do bordo e asa (SILV. 2-OR./C3-9). Os restantes pertenceram a pare-des, mostrando ambas superfícies com brilho metálico em seis dos exemplares (0,64%).200 fragmentos (21,32%) oferecem decoração, incisa, na superfície exterior.

67CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

Os cântaros encontram-se representados por 79 fragmentos (8,42%). Destes, nove contémpequena porção do bordo (0,96%) e os restantes 70 pertenceram a paredes (7,46%). Todos osexemplares apresentam decoração pintada, de cor branca, sobre o bordo ou na superfície exterior.

Os fragmentos de potes somaram dez (1,06%). Seis daqueles (0,64%) mostram agua-da, em ambas superfícies, de cor mais escura que a do núcleo. Um fragmento oferece deco-ração pintada, de cor branca (0,11%), e outro ornamentação, incisa, na superfície exterior.

Atribuímos a cantis quatro dos fragmentos (0,43%). Dois (0,22%) dos exemplares reve-laram aguada, na superfície exterior, de tom mais escuro que o da cor do núcleo, e um(0,11%) mostra aguada, em ambas superfícies, de tom mais claro que o da cor do núcleo.

Os fragmentos de talhas são quatro (0,43%), contendo porção do bordo. Apenas umdaqueles exemplares (0,11%) exibe aguada, em ambas superfícies, de tom mais claro que oda cor do núcleo, enquanto outro, oferece decoração pintada, de cor branca, sobre o bordo.

37 fragmentos pertenceram a tampas (3,94%). Destes, 36 têm porção do bordo (3,83%) e orestante dispõe, apenas, de parte do fundo. Apresentam aguada em ambas superfícies, de tommais escuro que o da cor do núcleo, oito exemplares (0,85%). Detectou-se aguada semelhante,mas somente na superfície interior, em dois fragmentos (0,21%) e em igual número na exteri-or. Oito exemplares oferecem decoração pintada, de cor branca, na superfície exterior (0,85%).

Um fragmento de lamparina contém porção do fundo (0,11%).Identificaram-se 23 fragmentos de fogareiros (2,45%). Destes, um conserva porção do

bordo (0,11%), 20 pertenceram a paredes (2,13%) e dois a fundos (0,21%). Apresentam deco-ração pintada de cor branca, na superfície exterior, dois fragmentos (0,21%), enquanto um(0,11%) exibe ornamentação incisa.

Recuperámos fragmento de alcatruz, contendo porção do fundo (0,11%).

1.3.3.3.3. CronologiaO fragmento de base de talha (SILV. 2-OR/C3-5), com decoração estampilhada na

superfície exterior, oferece forma e temática decorativa registada nos níveis almoadas daalcáçova de Silves. Naquele último local recuperámos fragmentos de taças carenadas(Q23/C2-3; Q19/C2/U1-6), semelhantes aos exemplares exumados junto à torre (SILV. 2-OR/C3- 6). É, pois, possível que se trate de espólio relacionado com a presença de comuni-dades magrebinas, almorávidas e almoadas.

1.3.3.4. Camada 4Reconhecível apenas no sector do lado oriental, era formada por terras de cor castanha,

algo amarelada (10YR 5/3), com potência que variava entre 0,30 m e 0,40 m. Ofereceu abun-dantes fragmentos de estuque e somente 20 fragmentos de cerâmica. O estudo destes, em rela-ção às pastas e tratamento das superfícies, permitiu identificar os grupos, ou classes, presentesno Quadro 1.II.

QUADRO 1.IITorre albarrã. Cerâmicas da camada 4 (SILV. 2 – OR./C4).

Pastas e sup Claras Vermelhas TOTAIS

Tipos FormasLoiça de mesa jarros/jarras – 13 13

– 65,00% 65,00%

Loiça de cântaros 2 – 2armazenamento 10.00% – 10,00%

não identificadas vasilhas 5 – 525,00% – 25,00%

TOTAIS 7 13 2035,00% 65,00% 100%

68SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

1.3.3.4.1. Cerâmicas – pastas e tratamento das superfícies1) Sete fragmentos (35%) foram produzidos com pastas homogéneas e compactas, con-tendo abundantes elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e nódulos de barrocozido, de grão fino a médio, assim como calcários, de grão médio e, alguns, grosseiros.O núcleo das paredes é de cor rosada, bege ou cinzenta clara (5YR 7/4; 7.5YR 7/4; 2.5YR6/8; 10YR 7/3; 10YR 7/1). As superfícies apresentam tom mais claro que o de cor donúcleo, mostram cor rosada, quando o núcleo tem cor cinzenta ou, em certos casos,bege. Todos os fragmentos oferecem decoração pintada, na superfície exterior, de corcinzenta escura a negra.

2) 13 fragmentos (65%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas, con-tendo elementos não plásticos, micáceos, quartzosos, feldspáticos e calcários, de grãofino e, alguns, de grão médio.O núcleo das paredes é cor-de-laranja, rosada ou cinzenta (2.5YR 4/8; 2.5YR 5/8; 2.5YR6/6; 5YR 4/1) e as superfícies apresentam tom algo mais escuro que o da cor do núcleo.Todos os exemplares oferecem, na superfície exterior, decoração pintada de cor branca.

1.3.3.4.2. Formas e decorações1.3.3.4.2.1. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (cor-de-rosa, bege ou cinzenta clara)Reconheceram-se dois fragmentos pertencentes a cântaros (10%), contendo porção da

parede. Em um dos exemplares (SILV. 2-OR/C4-2) a decoração é constituída por dois moti-vos distintos, separados por três linhas horizontais. Assim, observa-se, na parte superior,séries de três pequenos traços, agrupados, formando linhas irregulares e, no lado oposto,parte de motivo com carácter geométrico.

Pertenceram a vasilhas de difícil identificação formal cinco fragmentos (25%). Umdaqueles (SILV. 2-OR./C4-3) oferece decoração formada por pequenos traços, incisos, sobreo rebordo e, ainda, por pintura, de cor negra, constituída por dois grupos de pequenas linhasno rebordo junto ao gargalo. Sob este existe cartela delimitada por seis linhas, três de cadalado, sendo o interior preenchido por grupos de três traços tendo, na parte superior, váriospontos, dispostos em série, formando no conjunto possível motivo fitomórfico.

1.3.3.4.2.2. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (cor-de-laranja, rosada ou cinzenta)Possuímos, apenas, treze fragmentos pertencentes a jarros e a jarras.Dispomos de dois fragmentos de jarros, contendo porção do gargalo (SILV. 2-OR./C4-

4; SILV. 2-OR./C4-5) (10%). Um daqueles oferece decoração, na superfície exterior, consti-tuída por quatro linhas incisas, horizontais, sobre as quais mostra ornamentação pintada, decor branca, formada por elemento ramiforme que intercala com linhas verticais. O outroapresenta motivos losangulares, concêntricos, naquela mesma cor, separados no interior porlinha vertical e dispostos em banda. Estariam inseridos em cartela de que resta uma daslinhas.

Podem tanto ter pertencido a jarros como a jarras, 11 fragmentos (55%). Destes, somen-te um (5%) (SILV. 2-OR/C4-1) apresenta bordo, enquanto os restantes dez (50%) contêmporção de paredes. O exemplar representado graficamente, oferece decoração constituídapor pequenos traços, dispostos em série, sobre o bordo, duas linhas, no gargalo, uma sob obordo e outra antes do início do corpo. O espaço disponível foi preenchido com traços, ver-ticais, agrupados dois a dois e dispostos em série.

69CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

1.3.3.4.3. CronologiaOs fragmentos de cerâmica recuperados nesta camada são escassos. No entanto, a deco-

ração registada em fragmento de cântaro (SILV. 2-OR/C4- 2) assemelha-se à que vimos, pin-tada de cor branca, sobre cântaro recuperado na camada 3 do Castelo (Q84/C3- 1), datada noPeríodo Almorávida-Almoada.

1.3.3.5. Camada 5. Lado orientalFoi reconhecida em ambos os lados da torre. Mostrava terras de cor castanha escura

(10R 4/3) a castanha avermelhada (5YR 4/3), compactas e com potência que variava entre0,35 m e 0,50 m.

No lado ocidental da torre observou-se a vala aberta nesta camada para edificaçãodaquela.

Entregou cerâmicas, ossos, conchas, pequenos objectos metálicos e carvões. No ladoocidental, junto à torre, recolhemos fragmentos de cerâmica esmaltada, com decoração nascores verde e castanha, de manganês, normalmente atribuídos a produções do PeríodoCalifal.

Exumámos, no lado oriental da torre, 75 fragmentos de cerâmicas, cujo estudo, em rela-ção às pastas e tratamento das superfícies, permitiu verificar a existência dos grupos, ou clas-ses, presentes no quadro 1.III.

QUADRO 1.IIITorre albarrã. Cerâmicas da camada 5/ lado oriental (SILV. 2/OR./C5).

Pastas e sup Cl. esm. Vermelhas Claras Claras Vermelhas TOTAISdec. verd. vidradas cor. sec.

Tipos Formas cast. parcialLoiça de mesa taças 61 3 – 1 2 67

80,82% 4,11% – 1,37% 2,74% 89,04%

jarros/jarras 2 – – 1 – 32,74% – – 1,37% – 4,11%

garrafa – – – 1 – 1– – – 1,37% – 1,37%

Loiça de cozinha tampa – – – – 1 1– – – – 1,37% 1,37%

Contentor lucerna – – 1 – – 1de fogo – – 1,37% – – 1,37%

não identificadas vasilhas – – – 2 – 2– – – 2,74% – 2,74%

TOTAIS 63 3 1 5 3 7583,56% 4,11% 1,37% 6,85% 4,11% 100%

1.3.3.5.1. Cerâmicas – pastas e tratamento das superfícies1) 64 fragmentos (84,93%) foram fabricados com pastas muito homogéneas e com-pactas, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão finíssimo afino.O núcleo das paredes é de cor branca, rosada ou bege (2.5YR 6/8; 5YR 7/3; 5YR 7/4;5YR 7/6; 5YR 8/3; 7.5YR 7/4; 7.5YR 8/4; 7.5YR 8/6; 10YR 8/2; 2.5Y 8/2; 5Y 8/1; 5Y8/2). As superfícies exteriores oferecem esmalte, aderente e com algum brilho, de corbranca, tendo em seis dos exemplares tom algo esverdeado (8,22%) e em quatro ligei-ramente amarelado (5,48%). A superfície interior oferece esmalte, de cor branca, em50 dos exemplares (66,35%), sendo nos restantes fragmentos de tom algo acastanha-do, com decoração policroma, em tons de verde água e castanho a negro de manganês.Esta é constituída por motivos de carácter geométrico, fitomórfico, zoomórfico, pseu-do-epigráficos ou, apenas, com manchas de cor verde e linhas, escorridas, de cor negrade manganês. Por vezes associam-se mais de um daqueles temas.

70SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

2) Três fragmentos (4,11%) foram fabricados com pastas muito homogéneas e com-pactas, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários, de grão finoe, alguns, de grão médio.O núcleo das paredes é cor-de-laranja, de cor branca ou cinzenta clara (2.5YR 4/8;2.5Y 8/2; 2.5Y 7/2). As paredes são da cor do núcleo ou de cor rosada (5YR 8/4;2.5YR 6/8). As superfícies mostram vidrado, aderente e brilhante, de cor castanha(melada).

3) Um fragmento (1,37%) foi fabricado com pasta muito homogénea e compacta, con-tendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino.O núcleo das paredes é de cor branca (2.5Y 8/2) e as superfícies mostram tom maisescuro que o da cor do núcleo, assim como decoração de corda seca parcial

4) Cinco fragmentos (6,85%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas,contendo elementos não plásticos, micáceos, feldspáticos, quartzosos, calcários e nódu-los de barro cozido, de grão fino e, alguns, de grão médio. O núcleo das paredes é de cor branca, rosada ou cinzenta clara (7.5YR 8/0; 7.5YR 8/4;5YR 7/4; 10YR 7/1) e as paredes apresentam tom semelhante ao da cor do núcleo, corrosada ou cor rosada ligeiramente amarelada (7.5Y 7/4; 5YR 7/6). Podem mostrar aguada em ambas superfícies, de tom mais claro que o da cor donúcleo.

5) Contaram-se, apenas, três fragmentos (4,11%), produzidos com pastas homogénease compactas, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino, e,alguns, de grão médio.O núcleo das paredes é cor-de-laranja ou de cor vermelha (2.5YR 5/8; 2.5YR 5/6; 10R5/8) e as superfícies apresentam tom algo mais escuro que o da cor do núcleo ou agua-da de cor cinzenta avermelhada.

1.3.3.5.2. Formas e decorações1.3.3.5.2.1. Cerâmicas, com pastas de cores claras, esmaltadas e decoradas nas cores verde e castanha (policromas)Identificámos fragmentos de taças e de jarros ou jarras.As taças constituem a forma mais numerosa, contando com 62 dos fragmentos

(82,19%). Apresentavam todas forma hemisférica ou hemisférica achatada (SILV. 2-OR./C5-1; SILV. 2-OR./C5-2; SILV. 2-OR./C5-4; SILV. 2-OR/C5-5; SILV. 2-OR./C5-19; SILV. 2-OR./C5-20). Oito fragmentos contêm porção do bordo (10,96%), em dois dos quais (2,74%)é espessado e demarcado no exterior por incisão, com lábio de secção semicircular. Os outros seis exemplares (8,22%) mostram bordo alto, com lábio de secção semicircular.Oferecem diâmetros que variam entre 0,188 m e 0,257 m. Possuímos, também, 33 fragmen-tos contendo porção de paredes (43,83%); 18 pertencentes a fundos planos (23,28%) e trêsque assentavam em pé baixo e anelar (4,11%).

As taças oferecem, no interior do fundo, os seguintes motivos decorativos: palmetas,inseridas em elemento geométrico de forma triangular, ladeadas por linhas, escorridas, decor negra. Esta cor foi utilizada para delimitar o motivo principal preenchido, em um doslados, por cor verde água, tal como o motivo geométrico. Em outro exemplar, uma flor, cujointerior das pétalas foi deixado em reserva, encontra-se inserida em losango, tendo os can-tos de cor verde escura e o interior de cor verde água.

71CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

Um motivo zoomórfico de que subsiste parte da cabeça, o pescoço, porção do corpo eduas pernas, possivelmente um quadrúpede, foi representado sobre fundo de cor verdeágua. Apresenta o corpo de cor branca, sendo contornado de cor negra de manganês, cortambém utilizada para marcar duas linhas, entre o pescoço e o início do corpo, assim comoem ponteado disperso sobre o corpo. O animal encontra-se voltado para o lado esquerdo,ladeado por três segmentos de bandas circulares, sendo duas de cor branca, preenchidas porponteado de cor negra, que intercalam com banda de cor verde.

Também reconhecemos provável ornamentação de carácter epigráfico, um motivofitomórfico, delimitado de cor negra e com o interior preenchido por manchas de corverde água, e, em outro fragmento, semicírculo de cor negra, coberto por mancha de corverde água.

Os fragmentos de jarros ou de jarras são dois (2,74%) e mostram porção das paredes.Um exemplar apresenta dois cabos, sinusoidais e entrelaçados, o “cordão da felicidade”, dis-postos a partir de banda horizontal, ladeada por uma ou duas linhas, espessas, de cor negraou verde água (SILV. 2-OR/C5-3). O segundo fragmento teria, além do cordão, possível bolbode lótus, mostrando a mesma técnica decorativa (SILV. 2-OR/C5-21).

1.3.3.5.2.2. Cerâmicas, com pastas de cor vermelha e superfícies vidradasIdentificaram-se, apenas, três fragmentos de taças (SILV. 2-OR./C5-6; SILV. 2-OR./

C5-7; SILV. 2 -OR./C5-8), contendo dois deles (2,74%) porção do bordo e o terceiro parte dofundo. Este é plano.

As superfícies interiores oferecem decoração, de cor castanha escura de manganês,constituída por palmetas e linhas escorridas.

1.3.3.5.2.3. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (branca, rosada ou cinzenta clara)Foi possível identificar fragmentos pertencentes a taça, a garrafa e a jarros ou jarras.Um fragmento de taça hemisférica (SILV. 2-OR./C5-15) contém porção do corpo e do

bordo (1,37%). Oferece, na superfície interior, decoração, cor-de-laranja, constituída por qua-driculado inserido em cartela, delimitada por dois traços largos. Uma cartela, em reserva, foipintada obliquamente em relação à antes referida.

Um fragmento de garrafa (1,37%) contém porção do bordo, trilobulado (SILV. 2-OR./C5-9), do gargalo e do início do corpo. A superfície exterior oferece decoração pintada,de cor castanha escura, constituída por banda sobre o bordo, a partir da qual se dispõem, deambos lados, duas cartelas, delimitadas por dois traços largos, com o interior preenchido porondulado irregular.

Um outro fragmento tanto pode ter pertencido a um jarro como a uma jarra (SILV. 2-OR./C5-11) (1,37%). Contém porção da parede e o arranque da extremidade inferior da asa.Mostra decoração, na superfície exterior, constituída por cartela, delimitada por duas linhas.O interior da cartela foi preenchido por ponteado irregular.

Os fragmentos de recipientes cuja forma não foi possível identificar (SILV. 2-OR./C5-10; SILV. 2-OR./C5-12), são dois (2,74%). As superfícies exteriores oferecem decoração pin-tada, cor-de-laranja, constituída por duas linhas onduladas inseridas em cartela, delimitadapor quatro traços, horizontais, dois de cada lado, ou ornamentação, de cor negra, formadapor linha sobre a pega que se encontra ladeada por motivos geométricos. Estes incluem, deum dos lados, ovais irregulares, preenchidas por ponteado, observando-se, no lado oposto,linha vertical rodeada por pseudo-asteriscos.

72SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

1.3.3.5.2.4. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (cor-de-laranja ou vermelha)Foi possível identificar fragmentos de taças e de uma tampa.Dois dos fragmentos pertenceram a taças carenadas, contendo porção do bordo e da

parede (2,74%). Os diâmetros variam entre 0,244 m e 0,256 m. Oferecem decoração pinta-da, no interior do fundo e sobre o tratamento brunido, de cor branca, constituída por trêslinhas, irregulares e paralelas.

Um fragmento de tampa (1,37%) de que se conservou, apenas, a pega em botão, oferecedecoração pintada, de cor branca. Esta é constituída por motivo cruciforme e os quadrantespor ele determinados mostram pseudo-asteriscos e, junto da aresta, pequeníssimos traços.

1.3.3.5.3. CronologiaAs cerâmicas com as superfícies esmaltadas e decoradas nas cores verde e castanha,

constituem o conjunto mais numeroso. Utilizam técnica ornamental recorrente no al--Andalus durante todo o século X e, quiçá, nos inícios da centúria seguinte. Os exemplaresobtidos com decoração policroma encontram paralelos nos diferentes arqueossítios investi-gados em Silves. Assim, um dos fragmentos de fundo de taça (SILV. 2-OR/C5-18), ofere-cendo círculos concêntricos com pontos de cor negra, assemelha-se a peça obtida na cama-da 5 da alcáçova (Q38/C5-1); a figura zoomórfica, representada no fundo de taça é, também,similar à patente em fragmento encontrado na Zona da Arrochela (Q5/E15/C2-27) (Gomes,1998, p. 47, 48). Ali exumámos, ainda, fragmento de taça (Q5/E15/C2-33) afim de espécimenda torre albarrã (SILV. 2-OR/C5-19) (Gomes, 1998, p. 47, 48). Trata-se, por certo, de produ-ções com a mesma atribuição cronológica, ou seja, do Período Califal.

A representação de cordão entrelaçado, disposto na vertical, registado sobre a superfí-cie exterior de jarros ou de jarras (SILV. 2-OR/C5-3 e 21) seria tema comum no Sul daPenínsula, tendo sido figurado, horizontalmente, sobre a superfície exterior de cântaro recu-perado em Medinat-az-Zahra e atribuído ao século X (Rosselló Bordoy, 1996, p. 109), comona vertical, no denominado jarro das lebres, de Medinat Elvira, considerado como dos sécu-los IX-X (Martínez Caviró, 1991, p. 40, 41, Fig. 17).

A decoração pintada, cor-de-laranja, constituída por reticulado no interior do fundo detaça (SILV. 2-OR/C5-15) foi, de igual modo, registada no pátio anexo ao poço-cisterna (SILV.3-Q37/C3), em peças atribuídas aos séculos VIII-IX (Gomes, 1995, p. 27, 30).

A forma do bordo da garrafa da camada 5 (SILV. 2-OR/C5-9) é semelhante à do bordode peças análogas, cujas superfícies foram esmaltadas de cor branca, sendo decoradas nascores verde e castanha, atribuídas ao século X (Martínez Caviró, 1991, p. 36, 37, 38, Figs. 8,11, 12). Trata-se de forma de bordo presente, por ora, apenas, nesta centúria.

A decoração de corda seca parcial visível em lucerna, quase completa (SILV. 2-OR/C5-22),deste arqueossítio, tem antecedentes no Castelo de Silves que remontam ao século IX (Gomes,2003, p. 461, 463), prolongando-se a utilização daquela técnica ornamental pelas centúriasseguintes.

Em função dos paralelos apresentados, é possível que este nível correspondesse a ocu-pação dos séculos IX-X, talvez alcançando os inícios da centúria seguinte.

1.3.3.6. Camada 5. Lado ocidentalNo lado ocidental da torre exumámos 1384 fragmentos de cerâmicas, cujo estudo em

relação às pastas e tratamento das superfícies permitiu determinar os grupos, ou classes,presentes no quadro 1.IV.

73CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

QUADRO 1.IVTorre albarrã. Cerâmicas da camada 5/ lado ocidental (SILV. 2 – OC./C5).

Pastas e sup Cl. esm. Corda Vermelhas Claras Vermelhas TOTAISdec. verd. seca vidradas

Tipos Formas cast. parcialLoiça de mesa taças 40 – 140 12 19 211

2,89% – 10,12% 0,87% 1,37% 15,25%

púcaros – – – 1 24 25– – – 0,07% 1,73% 1,80%

jarros/jarras 1 3 5 23 12 440,07% 0,22% 0,36% 1,66% 0,87% 3,18%

bule – – – 1 – 1– – – 0,07% – 0,07%

garrafa – – – 1 – 1– – – 0,07% – 0,07%

Loiça de cozinha alguidares – – – 5 8 13– – – 0,36% 0,58% 0,94%

frigideiras – – – – 5 5– – – – 0,36% 0,36%

panelas – – – – 33 33– – – – 2,38% 2,38%

Loiça de cântaros – – – 21 58 79armazenamento – – – 1,52% 4,19% 5,71%

potes – – – 27 11 38– – – 1,95% 0,79% 2,74%

talhas – – – 3 – 3– – – 0,22% – 0,22%

tampas – – – 7 26 33– – – 0,50% 1,88% 2,38%

Contentores lucerna – – – 1 – 1de fogo – – – 0,07% – 0,07%

queimador – – 1 – – 1de essências – – 0,07% – – 0,07%

não identificadas vasilhas – – 110 160 626 896– – 7,95% 11,56% 45,24% 64,75%

TOTAIS 41 3 256 262 822 13842,96% 0,22% 18,50% 18,93% 59,39% 100%

1.3.3.6.1. Cerâmicas – pastas e tratamento das superfícies1) 41 fragmentos (2,96%) foram fabricados com pastas muito homogéneas e compactas,contendo elementos, não plásticos, de grão finíssimo. O núcleo das paredes é de cor branca, rosada ou bege clara (5YR 8/2; 5YR 7/4; 7.5YR8/2; 10YR 8/2; 10YR 8/3). Ambas superfícies apresentam esmalte, bem fixado, de corbranca, bege clara ou branca, algo esverdeada. A superfície interior oferece decoração,de cor verde e negra de manganês.

2) Três fragmentos (0,22%) foram produzidos com pastas muito homogéneas e com-pactas, contendo elementos não plásticos de grão finíssimo, assim como calcários enódulos de barro cozido, de grão fino. O núcleo das paredes é de cor branca ou bege clara (10YR 8/2; 10YR 8/3; 7.5YR 7/4) eas superfícies apresentam tom semelhante ao da cor do núcleo ou algo mais claro. A superfície exterior oferece decoração de corda-seca parcial.

3) 256 fragmentos (18,50%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas,contendo elementos não plásticos, micáceos e feldspáticos, de grão finíssimo a fino,assim como quartzosos e calcários, de grão fino a médio. O núcleo das paredes é de cor branca, bege, cor-de-laranja, vermelha ou cinzenta (5Y 8/2; 7.5YR 8/2; 10YR 6/3; 10YR 7/3; 10YR 8/3; 10R 5/8; 2.5YR 4/8; 2.5YR 5/8; 5Y7/2) e as superfícies oferecem vidrado, aderente e brilhante, de cor castanha melada oualgo esverdeada.

74SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

75CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

Cerâmicas da camada 5 (SILV. 2-OC/C5) – pastas e tratamentos da superfície

0 1 0 0 2 0 0 3 0 0 4 0 0 5 0 0 6 0 0 7 0 0 8 0 0 9 0 0

Cl. es. dec. ver. cast.

Corda seca parc.

Verm. vidra.

Claras

Vermelhas

0 1 0 0 2 0 0 3 0 0 4 0 0 5 0 0 6 0 0 7 0 0 8 0 0 9 0 0

Taças

Púcaros

Jarros/jarras

Bule

Garrafa

Alguidares

Frigideiras

Panelas

Cântaros

Potes

Talhas

Tampas

Lucerna

Queimador de essências

Vasilhas

Cerâmicas da camada 5 (SILV. 2-OC/C5) – formas

4) 262 fragmentos (18,93%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas,contendo elementos não plásticos de grão finíssimo, assim como quartzosos, calcáriose nódulos de barro cozido, de grão fino a médio.O núcleo das paredes é de cor rosada, rosada algo amarelada, rosada acastanhada oucinzenta clara (5YR 6/4; 5YR 6/6; 5YR 7/4; 5YR 7/6; 5YR 8/4; 7.5YR 6/0; 7.5YR 7/4;7.5YR 8/4; 7.5YR 8/6). As superfícies mostram tom semelhante ou algo mais claro queo da cor do núcleo e, em certos casos, oferecem aguada de tom mais claro ou algo maisescuro que aquele.

5) 822 fragmentos (59,39%) foram produzidos com pastas homogéneas e compactas,contendo elementos não plásticos, micáceos e feldspáticos, de grão fino a médio, assimcomo quartzosos e calcários, de grão médio e, alguns, grosseiros.O núcleo das paredes é cor-de-laranja, de cor vermelha, castanha ou cinzenta (10YR 5/8;10R 6/6; 10R 6/8; 2.5YR 4/8; 2.5YR 5/6; 2.5YR 5/8; 2.5YR 6/4; 2.5YR 6/6; 5YR 3/1;5YR 5/1) e as superfícies mostram tom semelhante ao da cor do núcleo, algo mais claroou mais escuro que aquele.

1.3.3.6.2. Formas e decorações1.3.3.6.2.1. Cerâmicas, com pastas claras, esmaltadas de cor branca e decoradas nas cores verde e castanha (policromas)Entre os fragmentos recolhidos, foi possível identificar porções de taças e de um jarro

ou jarra.Os fragmentos de taças totalizaram 40 (2,89%) (SILV. 2-OC./C5-9; SILV. 2-OC./

C5-10). Somente dois daqueles (0,14%) mostram porção do bordo, com diâmetros que vari-am entre 0,210 m e 0,280 m, tendo igual número corpo com forma hemisférica achatada.Uma destas (0,07%) apresenta bordo, extrovertido, com lábio algo biselado, e outra (0,07%)tem bordo espessado e demarcado, no exterior, por incisão, com lábio de secção semicircu-lar. Um dos fragmentos fez parte de fundo plano (0,07%) e 37 de paredes (2,68%). As super-fícies interiores oferecem decoração, de cor verde e negra de manganês, com carácter geo-métrico.

Um fragmento (0,07%) tanto pode ter pertencido a jarro como a jarra (SILV. 2-OC./C5-21). Oferece decoração do mesmo tipo das taças, mas nas paredes exteriores, e o bordomostra lábio com secção semicircular.

1.3.3.6.2.2. Cerâmicas com pastas claras e decoração de corda-seca parcial.Os três fragmentos exumados pertenceram a jarro ou jarra (SILV. 2-OC/C5-19), con-

servando-se porção do corpo, do gargalo e uma parte do filtro. Este apresenta, na superfícieexterior, decoração com carácter geométrico, de cor verde e negra de óxido de manganês, tal-vez do tipo dos “cordões da felicidade”.

1.3.3.6.2.3. Cerâmicas, com pastas vermelhas, vidradasOs fragmentos que recolhemos fizeram parte de taças, jarros ou jarras e de queimador

de essências. Os fragmentos de taças (SILV. 2-OC./C5-1; SILV. 2-OC./C5-2; SILV. 2-OC./C5-3; SILV.

2-OC./C5-4; SILV. 2-OC./C5-5; SILV. 2-OC./C5-6; SILV. 2-OC./C5-7; SILV. 2-OC./C5-8;SILV. 2-OC./C5-18) totalizaram 140 (10,12%), apresentando formas hemisféricas ou carena-das, com diâmetros que variam entre 0,117 m e 0,224 m. Assentavam em fundos planos 23exemplares (1,66%) e quatro (0,29%) em pé, baixo e anelar.

76SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

Pertenceriam a taças carenadas seis dos fragmentos (0,43%) e dez a taças hemisféricasachatadas (0,72%), não tendo as restantes permitido identificação. 86 (6,22%) das peçasreferidas mostram bordo ligeiramente extrovertido, com lábio de secção semicircular, sendoem nove (0,65%) demarcado, no exterior e interiormente, tendo lábio com secção semicir-cular. Oferecem lábio algo biselado quinze fragmentos (1,08%) e sete (0,50%) patenteiambordo espessado e demarcado, no exterior, por incisão, com lábio algo biselado. Os restan-tes exemplares têm bordo de secção semicircular.

As superfícies apresentam vidrado, aderente e brilhante, sendo em dois exemplares(0,14%) de cor castanha, algo amarelada, em quatro (0,29%) algo esverdeada, mostrando osrestantes tom castanho melado. Destes, nove (0,65%) oferecem decoração de cor castanhaescura, constituída por pontos sobre o bordo, linhas escorridas na superfície interior, semi-círculos ou possíveis palmetas. Um fragmento (0,07%) foi vidrado de cor verde.

Dispomos de cinco pequenos fragmentos de jarras ou jarros, contendo porção dobordo (0,36%).

Um fragmento (0,07%) exibe decoração constituída por flor, modelada, com botão centralladeado por cinco pétalas e poderia pertencer a queimador de essências (SILV. 2-OC./ C5-20).

Os fragmentos de paredes, correspondendo a recipientes de difícil identificação formal,totalizaram 110 (7,95%).

1.3.3.6.2.4. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (bege, rosada ou cinzenta clara).Estas peças encontravam-se muito fracturadas. Foi possível, no entanto, identificar taças,

um púcaro, jarros ou jarras, um bule, alguidares, cântaros, potes, talhas, tampas e uma lucerna. Doze fragmentos pertenceram a taças (0,87%). Destes, oito apresentam pequena por-

ção do bordo (0,58%), com lábio de secção semicircular, enquanto três mostram porção dofundo (0,22%), plano, e um da parede (0,07%). Oferecem aguada, em ambas superfícies, detom mais claro que o da cor do núcleo sete exemplares (0,50%) e um (0,07%) exibe decora-ção pintada, de cor vermelha, na superfície interior.

Um fragmento de púcaro (0,07%), contendo porção do corpo e o arranque do fundo, ofere-ce restos de decoração pintada, de cor castanha escura, na superfície exterior (SILV. 2-OC/C5-13).

23 fragmentos pertenceram a jarros ou jarras (1,66%) (SILV. 2-OC./C5-11). Destes, deza-nove apresentam porção do bordo (1,38%), sendo em três (0,22%) inclinado, com lábio algobiselado. Os restantes mostram bordo com lábio de secção semicircular. Dois (0,14%) dosfragmentos contêm porção da parede e igual número de asas. Nove dos exemplares referidos(0,65%) revelam aguada em ambas superfícies de tom mais claro que o da cor do núcleo, esete (0,51%) de tom mais escuro. Um dos fragmentos oferece decoração pintada, na superfí-cie exterior, cor-de-laranja (0,07%), outro de cor negra e três de cor vermelha (0,22%).

Um fragmento de bule contém porção do bico (0,07%).Cinco fragmentos, pertenceram a alguidares (0,36%), correspondendo a porção do bordo.

Destes um (0,07%) mostra aguada, em ambas superfícies, de tom mais claro que o da cor donúcleo.

21 fragmentos fizeram parte de cântaros (1,52%). Destes, apenas um (0,07%) conservaporção da asa, pertencendo os restantes a paredes. Três exemplares mostram aguada, de cormais escura que a do núcleo, em ambas superfícies (0,22%).

27 fragmentos fizeram parte de potes (1,95%). Destes, um (0,07%) integra porção daasa e os restantes de paredes. Três fragmentos oferecem restos de pintura, na superfícieexterior, de cor negra (0,22%).

Três fragmentos, contendo porção de parede, pertenceram a talhas (0,22%).

77CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

Reconheceu-se fragmento de lucerna, conservando porção do bordo (0,07%).Foram contados sete fragmentos de tampas, apresentando porção do bordo (0,50%).Pertenceram a peças com forma não determinada, 160 fragmentos (11,56%). Destes,

um oferece decoração pintada, cor-de-laranja (0,07%), dois de cor castanha escura (0,14%) edezoito de cor negra (1,30%), na superfície exterior.

1.3.3.6.2.5. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (cor-de-laranja, vermelha, castanha ou cinzenta)Foi possível identificar fragmentos de taças, púcaros, jarros ou jarras, alguidares, frigi-

deiras, panelas, cântaros, potes e de tampas. Os fragmentos de taças são dezanove (1,37%) (SILV. 2-OC./C5-15), contendo porção do

corpo e do bordo. Destes, oito (0,58%) teriam corpo carenado, mostrando bordo alto, comlábio de secção semicircular e ambas superfícies brunidas. Pertenceram a paredes quatrofragmentos (0,29%) e sete (0,50%) a fundos. Têm decoração pintada, de cor branca, dezfragmentos (0,72%), sendo em sete na superfície interior (0,50%) e em três sobre o bordo(0,22%). Cinco exemplares apresentam decoração brunida na superfície interior (0,36%).

24 exemplares pertenceram a púcaros (1,73%). Destes, cinco (0,36%) contêm porção dobordo, dezasseis (1,15%) das paredes e três (0,22%) das asas. As paredes mostram decoraçãopintada, de cor branca, na superfície exterior.

Os fragmentos de jarros ou jarras somaram doze (0,87%) (SILV. 2-OC./C5-14). Quatrodaqueles (0,30%) exibem porção do bordo, um (0,07%) do gargalo, o início do corpo e umaasa, enquanto sete (0,50%) são asas. Dois fragmentos oferecem decoração pintada, de corbranca, na superfície exterior (0,14%).

Os fragmentos de alguidares somaram oito (0,58%), integrando todos porção do bordo(SILV. 2-OC./C5-17). Destes, um (0,07%) mostra aguada de tom mais claro que o da cor donúcleo e outro apresenta a superfície interior brunida.

Cinco fragmentos fizeram parte de frigideiras (0,36%) (SILV. 2-OC./C5-16), mostran-do todos bordo introvertido e espessado no exterior, com lábio aplanado superiormente.Assentavam em fundo plano. À superfície interior foi dada aguada, de tom mais claro que oda cor das paredes tendo, também, sido brunida. Em seis fragmentos (0,29%) detectam-sevestígios de intensa utilização ao fogo.

Os fragmentos de panelas somaram 33 (2,38%). Destes, sete conservam porção dobordo (0,50%), 21 do fundo (1,51%), algo côncavo, e cinco de asas (0,37%).

Pertenceram a cântaros 58 fragmentos (4,19%). Seis mostram pequena porção dobordo (0,43%), 41 das paredes (2,96%) e 11 das asas (0,80%). 27 (1,95%) dos exemplaresreferidos oferecem decoração pintada, de cor branca, na superfície exterior.

Identificaram-se 11 fragmentos de potes (0,79%), contendo porção do bordo. Apresentamaguada, em ambas superfícies, mais escura que o tom da cor do núcleo, cinco (0,36%) fra-gmentos e dois (0,14%) exibem decoração pintada, de cor branca, na superfície exterior.

Os fragmentos de tampas são 26 (1,88%). Destes, 25 têm, somente, porção do bordo(1,81%) e um da parede (0,07%).

Contabilizámos, também, 626 fragmentos (45,24%) que, dadas as pequenas dimensõ-es, não permitiram identificação formal.

1.3.3.6.3. ParalelosOs dois fragmentos de taças que oferecem as superfícies esmaltadas de cor branca e

decoração, nas cores verde e castanha (SILV. 2-OC/C5-9; SILV. 2-OC/C5-10), são formal-mente similares a exemplares obtidos na camada 5 da alcáçova (Q34/C5-1; Q3/C5-8) onde, de

78SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

igual modo, se registaram pingos e linhas escorridas sobre o bordo (Gomes, 1998, p. 44, 45;Gomes, 2003, p. 448, 449).

Os fragmentos de taças com as superfícies vidradas de cor castanha clara e decoração, decor castanha escura, constituída por palmetas (SILV. 2-OC/C5-4; SILV. 2-OC/C5-5), mostramornamentação afim à registada na superfície exterior de jarra e no fundo de taças proceden-tes da Zona da Arrochela (AR.Q5/E15/C2-11; (AR.Q15/E15/C2-5) (Gomes, 1998, p. 52, 54).

Dispomos de fragmento pertencente a queimador (SILV. 2-OC/C5-20), contendopequena porção do bordo e aberturas nas paredes, que pode constituir variante de exemplarcalifal. Queimador com tal atribuição diferencia-se, no entanto, do encontrado em Silves porapresentar corpo esférico (Martínez Caviró, 1991, p. 45, Fig. 24).

1.3.3.7. Camada 6A camada 6 foi reconhecida de ambos lados da torre albarrã, como sob aquela. Ali era

claramente constituída por três níveis ou subcamadas (C 6A, C 6B e C 6C), formados porterras compactas de cor castanha, a castanha rosada, com potência que variava entre 0,45 me 0,60 m e que, a seguir, se descrevem.

Subcamada 6 ASobre ela assentava a primeira fiada de alvenaria de pedra da torre albarrã. Era consti-

tuída por terras, com potência média medindo cerca de 0,05 m, de cor castanha rosada (10R5/6), contendo muita argamassa de cal.

Recolhemos, no lado oriental, apenas, um fragmento, muito rolado, de vasilha com onúcleo e as superfícies cor-de-laranja, assim como fragmento de vértebra de ovino-caprino.No lado ocidental exumámos somente três fragmentos de cerâmica, produzidas com pastasde cor vermelha, mostrando pequenas dimensões e aspecto rolado.

Subcamada 6 BEra formada por terras, mais compactas que as da subcamada anterior, de cor castanha

avermelhada (10R 4/8), com espessura variável entre 0,22 m e 0,26 m.Ofereceu onze fragmentos de cerâmica, fabricados com pastas homogéneas e compa-

ctas, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino e, alguns, cal-cários de grão médio.

O núcleo das paredes é cor-de-laranja, rosado, vermelho, vermelho acastanhado ou cin-zento (2.5YR 5/8; 2.5YR 6/8; 2.5YR 4/0; 10R 5/8; 10R 5/4). As superfícies apresentam tomalgo mais escuro que o da cor do núcleo, embora quando o núcleo é de cor cinzenta, as pare-des e superfícies são cor-de-laranja ou vermelhas.

Três dos fragmentos recuperados pertenciam a frigideiras, três outros a cântaros ecinco a talhas.

Um dos fragmentos de frigideira (SILV. 2- C 6B-2) mostra porção do bordo e da pare-de, carenada, e os restantes contêm parte do fundo. Estes são planos e em um reconhece-sedecoração, brunida e pintada de cor branca, na superfície interior.

Um dos fragmentos de cântaro (SILV. 2- C 6B-1) contém porção do bordo e os restan-tes conservam porção do fundo. Este é plano.

Os cinco fragmentos de talhas apresentam pequenas dimensões.

Subcamada 6 CConstituída por terras de cor castanha acinzentada (10R 4/2), oferecia potência com-

preendida entre 0,04 m e 0,08 m. Entregou um dente superior direito (M2) de ovino-capri-

79CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

no e cinco fragmentos de cerâmica. Estas foram fabricadas com pastas muito homogénease compactas, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários, de grãofiníssimo a fino. Um dos fragmentos mostra núcleo de cor rosada (2.5YR 6/6) e a superfí-cie exterior exibe decoração pintada, de cor cinzenta escura a negra.

O núcleo das paredes das restantes cerâmicas é de cor vermelha, cor-de-laranja, cin-zenta ou castanha avermelhada, algo acinzentada (10R 5/8; 10R 4/8; 2.5YR 4/0; 2.5YR 4/6;5YR 4/2). As superfícies apresentam tom algo mais escuro que o da cor do núcleo mas, nocaso deste ser de cor cinzenta aquelas são cor-de-laranja.

Foi possível identificar as formas que a seguir se referem.Fragmento de frigideira, contendo porção do fundo, com forma plana (SILV. 2-C 6C-1).

Oferece a superfície interior brunida e pintada de cor branca.Dois fragmentos de púcaros, contendo porção das paredes. Um mostra, na superfície

exterior, restos de decoração pintada, de cor branca, e o outro, aguada de cor negra e pintu-ra de cor branca.

Dispomos, ainda, de fragmentos de cântaro (SILV. 2/OC./C6-1), de taça, com decora-ção pintada, de cor branca (SILV. 2-OC/C6C-3) e de panela (SILV. 2-OC/C6C-2).

Um fragmento pertenceu à parede de recipiente mas, dadas as suas pequenas dimen-sões, é de difícil identificação formal.

1.3.3.7.1. ParalelosAlguns dos fragmentos de cerâmica recuperados sob a torre albarrã (camada 6) encon-

tram paralelos em exemplares exumados tanto na alcáçova como no pátio anexo ao poço-cis-terna (SILV. 3). Assim, o fragmento de cântaro, contendo porção do bordo (SILV. 2-C6B-1), ésemelhante a outro recolhido na camada 8 da alcáçova (Q3/C8-30). Deste local provém, tam-bém, fragmento de frigideira (Q3/C8-48), com duas asas opostas, idêntica a outra recupera-da no local acima referido (SILV. 3 Q3/C3), auferindo ambas de cronologia situada nos sécu-los VIII-IX e sendo formalmente similares ao exemplar encontrado nesta camada (SILV. 2- C 6B-2) (Gomes, 1995, p. 24, 26).

Na subcamada seguinte (C 6C), obtivemos fragmento do fundo de frigideira (SILV. 2-C 6C-1), que pode corresponder a modelo mais simples, não possuindo asas, conforme severifica em relação a vários fragmentos provenientes da camada 8 do Castelo e, em particu-lar, a um dos exemplares (Q3/C8-8).

O fragmento de taça (SILV. 2-OC/C6C-3), mostrando perfil completo e decoração, nasuperfície interior, constituída por semicírculos com ponto central, que intercalam com séri-es de duas a três linhas, paralelas, dispostas na vertical, segue modelo registado nos doisarqueossítios já mencionados, isto é, na alcáçova e no pátio anexo ao poço-cisterna (SILV. 3).A ornamentação referida encontra-se tanto no exterior de púcaros (Q3/C8-53; SILV. 3Q37/C3), como no interior de taças (SILV. 3 Q36/C4; SILV. 3 Q30/C3; SILV. 3 Q41/C3- silo),sendo ambas formas datadas nos séculos VIII-IX, cronologia confirmada por datações abso-lutas de radiocarbono, obtidas para aqueles arqueossítios (Gomes, 1995, p. 22, 30).

1.3.3.8. Camadas 7 e 8Camada 7Constituída por terras argilosas, de cor castanha avermelhada (10R 4/6), assentes no

substrato rochoso e arqueologicamente estéreis.

Camada 8Corresponde ao substrato rochoso, constituído por margas e calcários conquíferos.

80SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

1.3.3.9. Integração culturalAs torres albarrãs, capazes de proporcionarem a melhor defesa dos panos de muralha,

constituem importante índice cronológico pois são, segundo H. Terrasse (1954, p. 24) eTorres Balbás (1942, p. 219), inovação da responsabilidade almoada. Tais dispositivos defen-sivos terão sido utilizados, pela primeira vez, na alcáçova de Badajoz, construída entre 1169e 1170, e, também, na medina de Cáceres em data próxima daquela.

Ambas fortificações referidas foram mandadas erguer pelo califa, almoada, Abu Ya’qubYusuf, que reinou de 1163 a 1184. Ulteriormente, utilizaram-se torres albarrãs nas alcáçovas deMérida, Talavera de la Reina, Caracuel e em Escalona, entre outras fortificações. Recordemosque o relato do cruzado, que participou na conquista de Silves em 1189, menciona a existência,tanto da couraça como de uma torre albarrã (alvierana) (Pimenta, 1982, p. 166), possivelmen-te a grande torre que defendia a Porta da Medina. Todavia, é provável que a construção da torrealbarrã agora estudada pertença a período anterior àquela data e tenha integrado a mesmacampanha de obras que proporcionaram melhores condições de defesa à medina.

As camadas arqueológicas reconhecidas de ambos lados e sob a torre, assim como oespólio nelas exumado, podem elucidar-nos um pouco mais sobre a sua cronologia.

Assim, conforme verificámos, aquela construção assenta em nível próximo do substra-to rochoso, onde o terreno seria mais firme, mas sob ela encontrámos materiais claramentedatáveis nos séculos VIII-IX. Por outro lado, a camada 5, reconhecida em ambos lados datorre, evidenciava, sobretudo no lado poente, ter sido perfurada tendo em vista a construçãodos seus alicerces. Esta camada entregou abundantes cerâmicas do século X ou dos iníciosda centúria seguinte, pelo que a torre em questão será contemporânea destes ou ulterior.Podemos, portanto, concluir que ela foi certamente edificada em data posterior ao século X.

As restantes camadas arqueológicas reconhecidas, de ambos lados da torre, não corres-pondem ao resultado de diferentes ocupações humanas daquele espaço, mas antes à acu-mulação de detritos, em grande parte subsequentes à sua edificação contendo, sobretudo,materiais relativos à fase final da permanência islâmica em Silves.

A análise global de todos os fragmentos de cerâmica obtidos, em função das pastas e dotratamento das superfícies, (Cf. quadro 1.V), permite verificar que as cerâmicas com pastase superfícies vermelhas constituem a percentagem mais elevada, 62,66%, estando presen-tes em todas as camadas, sendo aliás em duas delas (SILV. 2-/C6 e SILV. 2-/C6B) os únicosfragmentos obtidos. Somente em uma das camadas (SILV. 2-OR/C5) as cerâmicas com pas-tas e superfícies vermelhas somaram percentagem reduzida (0,12%), sendo os fragmentosmais abundantes, deste loci, formados por exemplares com pastas claras, superfícies esmal-tadas de cor branca e decoração nas cores verde e castanha, constituindo 2,59%.

O segundo conjunto mais numeroso integra fragmentos com pastas e superfícies decores claras, totalizando 21,75%, a que se seguem os que mostram as pastas vermelhas etendo as superfícies vidradas 11,20%. O conjunto menos representado é constituído por fra-gmentos com decoração de corda seca parcial (0,16%).

Observa-se que as cerâmicas possuindo ornamentação mais elaborada, como as peçasque mostram as superfícies com decoração nas cores verde e castanha, ou de corda seca par-cial, foram reconhecidas na mesma camada, em ambos lados da torre.

Neste local foi possível identificar, recuperadas em quatro camadas distintas, as seguin-tes formas: taças, púcaros, jarros ou jarras, bules, alguidares, frigideiras, panelas, cantis, cân-taros, potes, tampas, talhas, base de talha, lucerna, lamparina, queimador de essências, foga-reiro e marca de jogo. No entanto, atingem percentagem elevada (45,02%), os restos de vasi-lhas cujas pequenas dimensões dos fragmentos existentes, não permitiram identificação for-mal (Cf. quadro 1.VI).

81CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

QUADRO 1.VDistribuição das cerâmicas, em função das pastas e do tratamento das superfícies, pelascamadas reconhecidas OR/OC.

Pastas e sup Cl. es. Cl. cor. Vermelhas Claras Vermelhas TOTAISbr. de. v. seca vidradas

OR/OC-Camadas cast. parc.SILV. 2 – OR/C3 – – 14 255 669 938

– – 0,58% 10,46% 27,45% 38,49%

SILV. 2 – OR/C4 – – – 7 13 20– – – 0,29% 0,53% 0,82%

SILV. 2 – OR/C5 63 1 3 5 3 752,59% 0,04% 0,12% 0,21% 0,12% 3,08%

SILV. 2 – OC/C5 41 3 256 262 822 13841,68% 0,12% 10,50% 10,75% 33,74% 56,79%

SILV. 2 – C6A – – – – 4 4– – – – 0,16% 0,16%

SILV. 2 – C6B – – – – 11 11– – – – 0,45% 0,45%

SILV. 2 – C6C – – – 1 4 5– – – 0,04% 0,17% 0,21%

TOTAIS 104 4 273 530 1526 24374,27% 0,16% 11,20% 21,75% 62,62% 100%

QUADRO 1.VIDistribuição das formas das cerâmicas pelas camadas reconhecidas OR./OC.

OR/OC. Camadas SILV. 2 – SILV. 2 – SILV. 2 – SILV. 2 – SILV. 2 – SILV. 2 – SILV. 2 – TOTAISOC/C3 OR/C4 OR/C5 OC/C5 C6A C6B C6C

Tipos FormasLoiça de mesa taças 29 – 67 211 – – 1 308

1,19% – 2,75% 8,66% – – 0,04% 12,64%

púcaros 177 – – 25 – – – 2027,26% – – 1,03% – – – 8,29%

jarros/jarras 122 13 4 44 – – – 1835,01% 0,53% 0,16% 1,81% – – – 7,51%

bules 1 – – 1 – – – 20,04% – – 0,04% – – – 0,08%

Loiça de cozinha alguidares 31 – – 13 – – – 441,28% – – 0,53% – – – 1,81%

frigideiras – – – 5 – 3 1 9– – – 0,21% – 0,12% 0,04% 0,37%

panelas 212 – – 33 – – 1 2468,70% – – 1,35% – – 0,04% 10,09%

Loiça de cantis 4 – – – – – – 4armazenamento 0,16% – – – – – – 0,16%

cântaros 84 2 – 79 – 3 1 1693,45% 0,08% – 3,25% – 0,12% 0,04% 6,94%

potes 13 – – 38 – – – 510,54% – – 1,56% – – – 2,10%

tampas 37 – 1 33 – – – 711,52% – 0,04% 1,35% – – – 2,91%

talhas 10 – – 3 – 5 – 180,41% – – 0,12% – 0,21% – 0,74%

base de talha 1 – – – – – – 10,04% – – – – – – 0,04%

Contentores lucerna/ 2 – 1 1 – – – 4de fogo lamparina 0,08% – 0,04% 0,04% – – – 0,16%

queimador – – – 1 – – – 1de essências – – – 0,04% – – – 0,04%

fogareiro 23 – – – – – – 230,94% – – – – – – 0,94%

Actividade marca de jogo 3 – – – – – – 3lúdica 0,12% – – – – – – 0,12%

Cerâmica alcatruz 1 – – – – – – 1industrial 0,04% – – – – – – 0,04%

n/ identificadas vasilhas 188 5 2 897 4 – 1 10977,72% 0,21% 0,08% 36,81% 0,16% – 0,04% 45,02%

TOTAL 938 20 75 1384 4 11 5 243738,50% 0,82% 3,07% 56,80% 0,16% 0,45% 0,20% 100%

82SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

Na camada 3, correspondendo ao lado oriental, identificámos maior número de formas,muito embora não correspondesse ao estrato contendo o maior número de fragmentos.

Em relação aos tipos de loiça recolhida verifica-se que a de mesa constitui o conjuntomais numeroso. As taças e os jarros, ou jarras, são as formas presentes em maior número decamadas, constituindo, no entanto, aquela primeira a percentagem mais elevada (12,64%). As panelas somaram 10,09%, sendo a segunda forma melhor representada e as jarras, ou jar-ros, 7,51%. Os fragmentos com percentagens reduzidas (0,04%), pertenceram a peças comapenas um exemplar, como a base de talha, o queimador de essências e o alcatruz.

1.3.4. Síntese

Em função do que anteriormente referimos, concluímos que os principais dispositivosobservados pelo cruzado, aquando da primeira conquista da cidade em 1189, e, em particular,a Porta da Medina, tivessem sido construídos no período que medeia entre 1173 e aquela data.

É bem possível que Ibn Timselit, estratega e arquitecto militar, tenha, sido responsávelpela reestruturação dos dispositivos defensivos de Silves e autor tanto das primeiras torresalbarrãs como do poço-cisterna. O projecto deste reproduz a construção romana de Tuna alGabal, no Egipto, que o mesmo deve ter observado.

83CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.58 – Poço-cisterna, muralha e torre albarrã. Planta e corte esquemáticos.

Para além da notável solução estática que o poço-cisterna, a muralha e a torre albarrãpróxima documentam, aquela obra denota a importância da água, tanto nos períodos de pazcomo durante os longos cercos que se previam, inscrevendo-se, assim, nas preocupações deíndole social, com reflexo no equipamento urbano, e nas estratégias defensivas da época.

1.3.5. Catálogo

1.3.5.1. SILV. 2 -Lado oriental1.3.5.1.1. Camada 3 1.3.5.1.1.1. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (branca, bege, rosada ou cinzenta clara)

SILV. 2-OR./C3-5- BASE DE TALHAFragmento correspondendo a porção do corpo, do bordo e da base. Tanto o bordo comoa base são extrovertidos, com lábio de secção sub-rectangular. Teria, a cerca de 0,036 mabaixo do bordo, a superfície onde assentaria o fundo da talha. Restos de cordão verti-cal indicam a localização do bico vertedor. Foi fabricada com pasta homogénea e com-pacta, contendo abundantes elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assimcomo quartzosos e nódulos de barro cozido, de grão médio e, alguns, grosseiros.O núcleo das paredes é de cor amarela muito clara (5Y 8/3) e ambas superfícies apre-sentam aguada de cor bege clara (10YR 7/4). A superfície exterior exibe decoração,estampilhada, constituída por duas faixas. A matriz utilizada na faixa superior, dispos-ta em duas linhas paralelas, oferece forma rectangular e mostra, ao centro, losango,com motivo estrelar no interior, rodeado por dois triângulos contendo elementos den-tados. A faixa inferior, delimitada por dois cordões, sobrepostos por traços incisos oblí-quos e em série, apresenta matriz rectangular, com séries de losangos, concêntricos,tendo pequeno quadrado ao centro. Media 0,270 m de diâmetro no bordo, 0,276 m dediâmetro na base e a espessura média das paredes é de 0,017 m.

1.3.5.1.1.2. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (vermelha, cor-de-laranja ou cinzenta)

SILV. 2-OR./C3-8- TAÇA COM CARENA ALTAFragmento correspondendo a porção do corpo, do bordo e ao início do fundo. Este seriaplano. Mostra bordo vertical, espessado e demarcado, no exterior, por ligeira canelura.O lábio tem secção sub-rectangular. Foi fabricada com pasta homogénea e compacta,contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos e cal-cários de grão médio e, alguns, grosseiros. O núcleo das paredes é cor-de-laranja (2.5YR5/8) e as superfícies mostram tom algo mais escuro que o da cor daquele. Oferece deco-ração pintada, de cor branca, constituída por linha, sobre o bordo, e cartela, no interior,delimitada por quatro linhas, duas de cada lado, subdividida interiormente por traçosduplos em, possivelmente, doze métopas trapezoidais. Ao centro de algumas das méto-pas observam-se pseudo-asteriscos ou aspas, alternando com outras em reserva. Media0,176 m de diâmetro no bordo, 0,084 m de diâmetro no fundo e a espessura média dasparedes é de 0,005 m.

84SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

SILV. 2-OR./C3-6- TAÇA CARENADAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Este é alto, ligeiramenteespessado, tem a superfície superior plana e encontra-se demarcado, no exterior, porcanelura larga. O lábio é em bisel. Oferece carena baixa e teria fundo convexo. Foi fabri-cada com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos,de grão fino, assim como quartzosos e calcários, de grão médio e, alguns, grosseiros. O núcleo das paredes é cor-de-laranja (2.5YR 5/8) e as superfícies mostram tom algomais escuro que o da cor do núcleo, apresentando manchas de cor cinzenta escura anegra, devido a intensa utilização ao fogo. Exibe sobre o bordo incisão, pouco profun-da, e três traços, paralelos, pintados de cor branca. Media 0,276 m de diâmetro nobordo e a espessura média das paredes é de 0,007 m.

85CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. IV.59 – Torre albarrã. Cerâmicas da camada 3. Taças (Or.).

8

6

7

SILV. 2-OR./C3-7- TAÇA HEMISFÉRICA ACHATADAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Este é espessado, com a partesuperior plana e tem lábio com secção semicircular. Foi fabricada com pasta homogé-nea e compacta, contendo elementos, não plásticos, quartzosos e micáceos, de grãofino, assim como calcários, de grão fino a médio. O núcleo das paredes é cor-de-laran-ja (2.5YR 5/8) e as superfícies mostram tom algo mais escuro que o da cor daquele. A parte superior do bordo e a superfície interior foram brunidas, exibindo, ainda, deco-ração pintada, de cor branca, constituída por três manchas, em forma de aspa, sobre obordo e igual número de linhas, paralelas àquele, na parede interior. Media 0,348 m dediâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,008 m.

SILV. 2-OR./C3-1- ALGUIDARFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Este é espessado, interna eexternamente, algo extrovertido, e tem lábio com secção semicircular. Foi fabricado compasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino,assim como calcários e quartzosos, de grão médio. O núcleo das paredes é de cor ver-melha (10R 5/8) e ambas superfícies mostram tom mais escuro que o da cor daquele. A superfície exterior foi alisada, embora a interior e o bordo tivessem sido brunidos.Oferece, ainda, a parte superior do bordo pintada de cor branca. Media 0,316 m de diâ-metro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,007 m.

SILV. 2-OR./C3-2- ALGUIDARFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Este é extrovertido, com a partesuperior aplanada e tem lábio com secção semicircular. Foi fabricado com pasta homogé-nea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos e feldspáticos, de grão fino amédio, assim como quartzosos, de grão fino a grosseiro. O núcleo das paredes é de cor cin-zenta (2.5YR 5/0) e as superfícies são de cor vermelha (2.5YR 4/6). A superfície interiormostra aguada, de cor castanha avermelhada (2.5YR 4/2). Ambas oferecem decoração inci-sa, constituída por linhas onduladas, executadas, possivelmente, com pente de dentes finos.Media 0,368 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,012 m.

SILV. 2-OR./C3-3- ALGUIDARFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Este é espessado e extro-vertido, com lábio de secção semicircular. Foi fabricado com pasta homogénea e com-pacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como feldspá-ticos, quartzosos e calcários, de grão fino a médio. O núcleo das paredes é de cor cin-zenta acastanhada (10YR 6/2) e as superfícies são de cor rosada (2.5YR 6/8), encon-trando-se a exterior alisada e a interior brunida. Media 0,524 m de diâmetro no bordoe a espessura média das paredes é de 0,013 m.

SILV. 2-OR./C3-4- ALGUIDARFragmento correspondendo a porção do corpo, do bordo e do fundo, com forma plana.Mostra bordo espessado exteriormente, com lábio de secção semicircular. Foi fabricadocom pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos emicáceos, de grão fino a médio, assim como calcários de grão médio. O núcleo dasparedes é de cor cinzenta clara (10YR 7/2), as superfícies são cor-de-laranja (2.5YR 5/8),apresentando aguada de tom algo mais claro que aquelas. A superfície exterior foi ali-sada, enquanto a interior e o bordo se encontram muito bem brunidos.

86SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

Media 0,588 m de diâmetro no bordo, 0,432 m de diâmetro no fundo e a espessuramédia das paredes é de 0,007 m.

SILV. 2-OR./C3-9- PANELAFragmento correspondendo a porção do corpo, do bordo e a uma asa. Mostrava formaesférica achatada, com bordo vertical, ligeiramente espessado no exterior, e lábio desecção semicircular. A asa, de secção oval, apresenta a extremidade superior fixada aobordo e a inferior a meio do corpo. Foi fabricada com pasta homogénea e compacta,contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos e cal-cários, de grão médio. O núcleo das paredes é de cor vermelha (10R 4/6) e a superfície

87CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.60 – Torre albarrã. Cerâmicas da camada 3. Alguidares e panelas (Or.).

SILV.2-OR./C3

1

2

3

4

9

interior mostra tom semelhante à da cor daquele. A superfície exterior apresenta agua-da, de cor cinzenta escura, e manchas, de cor negra, devidas a intensa utilização aofogo. Oferece linha pintada, de cor branca, sobre o bordo. Media 0,136 m de diâmetrono bordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

1.3.5.1.2. Camada 41.3.5.1.2.1. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (rosada, bege ou cinzenta clara)

SILV. 2-OR./C4-2- CÂNTAROFragmento correspondendo a porção da parede do corpo. Foi fabricado com pastahomogénea e compacta, contendo abundantes elementos não plásticos, quartzosos,micáceos e calcários, de grão fino a médio. O núcleo das paredes é de cor cinzentamuito clara (10YR 7/1) e as superfícies são de cor rosada (5YR 7/4). Ambas apresentamaguada de cor rosada (7.5YR 7/4). A superfície exterior oferece decoração pintada, decor negra, constituída por dois motivos distintos, ao que julgamos integrados em car-telas, separados por linha horizontal. O motivo superior é formado por séries de trêspequenos traços verticais. O motivo da zona inferior, de que dispomos de pequenaparte, parece ter carácter geométrico. A espessura média das paredes é de 0,005 m.

SILV. 2-OR./C4-3- CÂNTAROFragmento correspondendo a porção da parede do corpo, com o arranque do bordo.Este era demarcado por rebordo, cuja aresta apresenta pequenas impressões oblíquas. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo abundantes elementos nãoplásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino, assim como calcários e nódulos de barrocozido, de grão médio, e alguns, grosseiros. O núcleo das paredes é de cor bege clara(10YR 7/3) e as superfícies são de cor rosada (2.5YR 6/8). A superfície interior mostracor com tom algo mais claro que o da cor das paredes. À superfície exterior foi dadaaguada de tom semelhante ao da cor do núcleo. Esta oferece decoração formada pelospequenos traços incisos, acima referidos, tal como por pintura, de cor negra, constituí-da por dois grupos de três linhas horizontais, sob o bordo, três outras a meio do corpoe entre aquelas exibia teoria de grupos de três traços verticais, acompanhados, no toposuperior, por pequenos pontos, representando, o conjunto possível motivo fitomórfico.Media 0,152 m de diâmetro no início do gargalo e a espessura média das paredes é de0,006 m.

1.3.5.1.2.2. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (vermelha, cor-de-laranja, rosada ou cinzenta)

SILV. 2-OR./C4-1- JARRAFragmento correspondendo a porção do bordo e ao início do corpo. Mostra bordo ver-tical, espessado exteriormente, com lábio de secção triangular ou em bisel. Foi fabri-cada com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos,de grão fino, assim como quartzosos e calcários, de grão fino e, alguns, de grão médio.O núcleo das paredes é cor-de-laranja (2.5YR 4/8) e a superfície interior apresenta tomalgo mais escuro que o da cor daquele. À superfície exterior foi dada aguada, de corcinzenta (5YR 4/1), oferecendo decoração pintada, de cor branca. Esta é constituída porpequenos traços, dispostos em série, sobre o bordo, tal como por três linhas horizon-

88SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

89CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.61 – Torre albarrã. Cerâmicas da camada 3. Base de talha (Or.).

FIG. 1.62 – Torre albarrã. Cerâmicas da camada 4 (Or.).

SILV.2-OR./C4

25

3

4

1

SILV.2-OR./C3-5

tais, uma sob o bordo, outra no início do corpo e a terceira a meio daquele. Sobre aparte superior do corpo observam-se traços verticais, agrupados dois a dois, e dispos-tos em série. Media 0,102 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes éde 0,003 m.

SILV. 2-OR./C4-4- JARROFragmento correspondendo a porção do gargalo. Foi fabricado com pasta homogéneae compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim comofeldspáticos, quartzosos e calcários, de grão fino e, alguns, de grão médio. O núcleodas paredes é cor-de-laranja (2.5YR 5/8) e a superfície interior apresenta tom algomais escuro que o daquele. À superfície exterior foi dada aguada, de cor cinzentaescura, oferecendo decoração pintada, de cor branca. Esta é constituída por motivoslosangulares, concêntricos, separados no interior por linha vertical, sendo dispos-tos em banda. Estariam inseridos em cartela de que resta parte da linha inferior.Media 0,076 m de diâmetro máximo no gargalo e a espessura média das paredes éde 0,006 m.

SILV. 2-OR./C4-5- JARROFragmento correspondendo a porção do gargalo. Foi fabricado com pasta homogénea ecompacta, contendo elementos não plásticos, micáceos e calcários, de grão fino, assimcomo quartzosos, com grão médio e, alguns, grosseiros. O núcleo das paredes é de corrosada (2.5YR 6/6) e a superfície interior oferece tom algo mais escuro que o da cordaquele. À superfície exterior foi dada aguada, de tom algo mais claro, mostrandoquatro linhas incisas horizontais, sobre as quais foi aplicada decoração pintada, decor branca. Esta é constituída por motivo ramiforme, formado por sucessão de tra-ços em aspa, que intercalava com séries de linhas verticais. Media 0,080 m de diâ-metro no gargalo e a espessura média das paredes é de 0,005 m.

1.3.5.1.3. Camada 51.3.5.1.3.1. Cerâmicas, com pastas claras, esmaltadas e decoradas nas cores verde e castanha (policromas).

SILV. 2/OR./C5-1- TAÇA HEMISFÉRICAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Teria corpo de formahemisférica achatada. Mostra bordo espessado, demarcado no exterior por canelura,com lábio de secção semicircular. Foi fabricada com pasta muito homogénea e com-pacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão finíssimo, assim comoquartzosos e feldspáticos, de grão fino e, alguns, de grão médio. O núcleo das pare-des é de cor branca (5Y 8/1). Ambas superfícies apresentavam esmalte, sendo na exte-rior aderente e brilhante, de cor branca mas algo esverdeada, e na interior aderentee com pouco brilho, da mesma cor, mas ligeiramente acastanhada. No interior ofe-rece decoração pintada, constituída por palmeta, inserida em elemento geométricode forma triangular, ladeada por linhas escorridas de cor negra. A mesma cor foi uti-lizada para delimitar o motivo principal, preenchido, em um dos lados, de cor verdeágua, cor também utilizada no motivo geométrico. Media 0,240 m de diâmetro nobordo e a espessura média das paredes é de 0,006 m.

90SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

SILV. 2-OR./C5-4- TAÇA HEMISFÉRICAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Teria forma hemisférica acha-tada. Mostra bordo com lábio de secção semicircular. Foi fabricada com pasta muitohomogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino,assim como quartzosos e nódulos de barro cozido, de grão fino e, alguns, de grão médio.O núcleo das paredes é de cor rosada (2.5YR 6/8). Ambas superfícies apresentam esmal-te, sendo na exterior aderente e com algum brilho, de cor branca algo esverdeada, e nainterior aderente e brilhante, mas ligeiramente mais claro. No exterior oferece decoraçãopintada, constituída por semicírculo, de cor negra, preenchido por cor verde água. Media0,257 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,006 m.

SILV. 2-OR./C5-19- TAÇA HEMISFÉRICAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Este tem lábio com secçãosemicircular. Foi fabricada com pasta muito homogénea e compacta, contendo ele-mentos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino. O núcleo dasparedes é de cor bege muito clara (10YR 8/3). Ambas superfícies oferecem esmalte,aderente mas já sem brilho, de cor branca. Mostra decoração pintada junto ao bordo,constituída por motivo pseudoepigráfico, de cor negra, preenchido com manchas decor verde água. Media 0,282 m de diâmetro no bordo e a espessura média das pare-des é de 0,005 m. Apresenta concreções, devidas às condições de jazida.

SILV. 2-OR./C5-2-TAÇA HEMISFÉRICAFragmento correspondendo a porção da parede. Oferecia forma hemisférica achatada. Foi fabricada com pasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos,quartzosos, feldspáticos e nódulos de barro cozido, de grão fino e, alguns, de grão médio.O núcleo das paredes é de cor branca (2.5Y 8/2) e ambas superfícies apresentam esmalte,sendo na exterior aderente e muito brilhante, com estalamentos, de tom amarelo de anti-mónio, e na interior de tom bege claro. Oferece decoração pintada, no interior, constituídapor flor, inserida em losango. Os contornos são de cor negra, o interior das pétalas foi dei-xado em reserva e a superfície em redor da flor tem cor verde água. A espessura média dasparedes é de 0,004 m. Esta peça mostra orifício, com cerca de 0,003 m de diâmetro, quetem, no interior, fragmento de chumbo, pertencente a “gato” utilizado para unir fractura.

SILV. 2-OR./C5-5- TAÇA HEMISFÉRICA ACHATADAFragmento correspondendo a porção da parede do corpo e do fundo, com forma plana. Foi fabricada com pasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plás-ticos, micáceos, de grão finíssimo, assim como quartzosos, feldspáticos e calcários, degrão fino e, alguns, médios. O núcleo das paredes é de cor rosada (5YR 8/3). Ambassuperfícies apresentam esmalte, sendo, na exterior, aderente e brilhante, de cor bran-ca algo esverdeada, e, na interior, aderente e com algum brilho, de tom algo mais acas-tanhado. Aquela última oferece decoração pintada, possivelmente banda que envolve-ria motivo central, com carácter fitomórfico, delimitado de cor negra, tendo o interiorpreenchido por cor verde água. Media 0,113 m de diâmetro no fundo e a espessuramédia das paredes é de 0,005 m.

SILV. 2-OR./C5-14- TAÇAFragmento correspondendo a porção do fundo, com pé baixo e em anel. Foi fabricadacom pasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzo-

91CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

92SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.63 – Torre albarrã. Cerâmicas da camada 5. Taças com decoração policroma (Or.).

SILV.2-OR./C5

1

4

19

2

sos, micáceos e nódulos de barro cozido, de grão fino. O núcleo das paredes é de corbranca (10YR 8/2). A superfície exterior oferece vidrado, aderente e brilhante, de coramarelada de antimónio. A superfície interior mostra esmalte, aderente mas já sembrilho, de cor bege clara, e decoração, possivelmente, de carácter epigráfico, de cornegra de manganês. Media 0,094 m de diâmetro no pé e a espessura média das pare-des é de 0,005 m.

SILV. 2-OR./C5-20- TAÇAFragmento correspondendo a porção do pé, baixo e em anel. Foi fabricada com pastahomogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e cal-cários, de grão fino. O núcleo das paredes é de cor cinzenta clara (10YR 7/1). A superfí-cie exterior mostra esmalte, aderente e muito brilhante, de cor amarela de antimónio. A superfície interior apresenta esmalte, aderente mas já sem brilho, de cor branca, comdecoração pintada nas cores verde e negra, de manganês. Esta é constituída por bolbosde lótus que em um exemplar tem o interior preenchido por retícula, sendo ladeado pordois outros contendo motivos circulares. Esta peça apresentaria oito figurações de bolbosno interior do fundo. Media 0,098 m de diâmetro no pé e a espessura média das pare-des é de 0,004 m.

SILV. 2-OR/C5-18- TAÇAFragmento correspondendo a porção do fundo, com forma plana. Foi fabricada compasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos emicáceos, de grão fino e, alguns, calcários, de grão médio. O núcleo das paredes é decor rosada (5YR 8/4). A superfície exterior oferece vidrado, aderente e brilhante, de coramarela de antimónio. A interior mostra decoração esmaltada policroma, em tons deverde água, negro de manganês e branco. A figura central seria constituída por motivozoomórfico, de que subsiste parte do focinho, do corpo e duas pernas. Apresenta ocorpo de cor branca, contornado de cor negra de manganês, cor utilizada em duaslinhas, sobre o pescoço, assim como no ponteado existente no corpo. O fundo é de corverde água. O animal encontra-se ladeado por três círculos, sendo dois de cor branca,preenchidos por ponteado de cor negra, que intercalam com outro preenchido de corverde. A espessura média das paredes é de 0,006 m.

SILV. 2-OR/C5-21- JARRO OU JARRAFragmento correspondendo a porção da parede. Foi fabricado com pasta muito homo-génea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grãofino, assim como nódulos de barro cozido, de grão médio. O núcleo das paredes é decor branca (5Y 8/1). A superfície interior é daquela mesma cor e a exterior ofereceesmalte, aderente mas pouco brilhante, de cor branca algo esverdeada. Esta mostradecoração policroma, de cor verde água e negra de manganês, constituída por cordãoentrelaçado disposto na vertical, ladeado por duas bandas de cor verde, contornadas decor negra. Exibe, ainda, restos de possível flor de lótus, utilizando a mesma técnica ecores. A espessura média das paredes é de 0,005 m.

SILV. 2-OR./C5-3- JARRO OU JARRAFragmento correspondendo a porção da parede do corpo. Foi fabricado com pastamuito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micá-ceos, de grão fino e, alguns, nódulos de barro cozido, de grão médio. O núcleo das pare-

93CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

94SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.64 – Torre albarrã. Cerâmicas da camada 5. Taças com decoração policroma (Or.).

5

14

20

18

SILV.2-OR./C5

des é de cor branca (5Y 8/2) e as superfícies são de cor vermelha rosada (5YR 8/4).Ambas superfícies apresentam esmalte, sendo pouco aderente e com algum brilho, nainterior, onde mostra tom amarelo-esverdeado, e na exterior, aderente e brilhante, decor branca ligeiramente acastanhada. Esta última superfície oferece decoração pintada,constituída por dois cabos sinusoidais entrelaçados, “o cordão da felicidade”, dispostosa partir de banda horizontal, sendo paralelas a linha, espessa, de cor negra, possivel-mente formando cartela. O motivo central foi delimitado de cor negra, e preenchido nacor verde água. A espessura média das paredes é de 0,004 m.

1.3.5.1.3.2. Cerâmicas, com pastas de cores claras ou vermelha, vidradas

SILV. 2-OR./C5-6- TAÇAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Este é sub-vertical, ligeira-mente espessado e tem lábio com secção semicircular. Foi fabricada com pasta muitohomogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, degrão fino e, alguns, calcários de grão médio.O núcleo das paredes é de cor acinzentadaclara (2.5Y 7/2) e as superfícies são de cor rosada (2.5YR 6/8). Ambas superfícies apre-sentam vidrado, aderente e brilhante, de cor castanha (melada), com manchas esverdea-das. A interior oferece decoração, de cor castanha escura, formada por parte de palmeta.Media 0,186 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,005 m.

SILV. 2-OR./C5-7- TAÇAFragmento correspondendo a porção do fundo, com forma plana, e ao arranque daparede. Foi fabricada com pasta muito homogénea e compacta, contendo elementosnão plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino. O núcleo das paredes é cor-de-laran-ja (2.5YR 4/8). Ambas superfícies apresentam vidrado, sendo mais aderente e brilhan-te na interior do que na exterior. Oferece, na superfície interior, parte de palmeta e oinício de outra, ambas de cor castanha escura. Media 0,144 m de diâmetro no fundo ea espessura média das paredes é de 0,005 m.

SILV. 2-OR./C5-8- TAÇA HEMISFÉRICAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. O corpo tinha forma hemis-férica, algo carenada. Mostra bordo espessado exteriormente, com lábio em bisel. Foifabricada com pasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos,quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino. O núcleo das paredes é de cor branca(2.5Y 8/2) e as superfícies são de cor rosada (5YR 8/4). Ambas superfícies apresentamvidrado, aderente e brilhante, de cor castanha (melada). A superfície interior oferecedecoração, de cor castanha escura, constituída por linha escorrida, quase horizontal,associada a outra disposta obliquamente.Media 0,223 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,005 m.

1.3.5.1.3.3. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (branca, rosada ou cinzenta clara)

SILV. 2-OR./C5-15- TAÇA HEMISFÉRICA, MUITO ACHATADAFragmento correspondendo a porção do corpo, do bordo e ao arranque do fundo.Mostra bordo ligeiramente espessado no interior, com lábio biselado. Foi fabricada compasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos, cal-

95CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

cários e nódulos de barro cozido, de grão fino e, alguns, de grão médio. O núcleo das pare-des é de cor cinzenta clara (10YR 7/1) e as superfícies são cor-de-rosa amarelada (5YR7/6). Ambas superfícies oferecem aguada de cor rosa acinzentada, com tom claro.Oferece no interior decoração pintada, cor-de-laranja, constituída por reticulado inseri-do em cartela, delimitada por dois traços largos. Uma cartela, em reserva, foi pintadaobliquamente em relação à que inicialmente referimos. Media 0,242 m de diâmetro nobordo e a espessura média das paredes é de 0,005 m.

SILV. 2-OR./C5-9-GARRAFAFragmento correspondendo ao gargalo, ao bordo e ao início do corpo. Mostra gargalo alto ebordo trilobulado, com lábio de secção semicircular. Na ligação do gargalo com o corpo apre-senta restos do filtro. Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendo elementosnão plásticos, micáceos, de grão finíssimo, assim como quartzosos e calcários, de grão fino amédio. O núcleo das paredes é de cor rosada (7.5YR 8/4) e ambas superfícies apresentamtom semelhante ao da cor daquele. A superfície exterior oferece decoração pintada, de cor cas-tanha escura, constituída por linha sobre o bordo, a partir da qual se dispõem, de um e dooutro lado da peça, duas cartelas, delimitadas por dois traços largos e sub-verticais. O interi-or daquelas foi preenchido por ondulado, irregular, acompanhado por séries de pequenos tra-ços. Media 0,060 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

SILV. 2-OR./C5-11- JARRO OU JARRAFragmento correspondendo a porção da parede, do corpo e ao arranque da extremida-de inferior de uma asa. Foi fabricado com pasta muito homogénea e compacta, contendoelementos não plásticos, micáceos e feldspáticos, de grão fino e, alguns, nódulos de barrocozido de grão médio. O núcleo das paredes é de cor rosada (7.5YR 8/4). A superfície inte-rior apresenta tom algo mais claro que o da cor daquele. À superfície exterior foi aplica-da aguada de cor cinzenta muito clara (7.5YR 7/0). Esta oferece decoração pintada, de cornegra, constituída por cartela delimitada por linhas horizontais, uma na parte superior eduas na inferior, sendo o interior preenchido por pequenos traços, oblíquos, e ponteadoirregular. A espessura média da parede é de 0,004 m.

SILV. 2-OR./C5-12- CÂNTAROFragmento correspondendo a porção da parede do corpo. Foi fabricado com pastamuito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grãofiníssimo, assim como calcários e quartzosos, de grão fino. O núcleo das paredes é decor rosada (5YR 7/4). A superfície interior tem tom semelhante à da cor daquele e àexterior foi dada aguada de cor bege clara (10YR 8/3). Esta oferece decoração pintada,cor-de-laranja, constituída por duas linhas onduladas horizontais, rodeadas de cadalado, por duas outras rectas. A espessura média das paredes é de 0,004 m.

SILV. 2-OR./C5-10- JARRAFragmento correspondendo a porção da parede e a uma pega. Esta apresenta perfilsemicircular. Foi fabricada com pasta muito homogénea e compacta, contendo ele-mentos não plásticos, micáceos, de grão finíssimo, assim como feldspáticos e quartzo-sos, finos e, alguns, nódulos de barro cozido de grão médio. O núcleo das paredes é decor branca (7.5YR 8/0) e as superfícies são de cor rosada (7.5YR 7/4). Estas oferecemaguada, de tom algo mais claro que o da cor das paredes. A superfície exterior apresentadecoração pintada, de cor negra, constituída por linha sobre a pega. Esta está ladeada,

96SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

por motivos geométricos diferentes. Em um dos lados observam-se faixas ovais preen-chidas por ponteado e, no lado oposto, linha vertical rodeada por pseudo-asteriscos. A espessura média das paredes é de 0,005 m.

97CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

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SILV.2-OR./C5

FIG. 1.65 – Torre albarrã. Cerâmicas da camada 5, policromas e vidradas, com decoração de cor castanha escura e negra (Or.).

98SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.66 – Torre albarrã. Cerâmicas da camada 5, fabricadas com pastas claras (Or.).

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SILV.2-OR./C5

1.3.5.1.3.4. Cerâmica com pasta de cor clara e decoração de corda seca parcial

SILV. 2-OR./C5-22- LUCERNAQuase completa, faltando-lhe, apenas, parte do bico. Mostra corpo de foram hemisféricaachatada, bordo alto, com lábio de perfil semicircular. A asa, com perfil subcircular e sec-ção oval, tem a extremidade superior fixada ao gargalo e a inferior ao reservatório. O bico élargo e seria longo. Foi fabricada com pasta muito homogénea e compacta, contendo ele-mentos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino. O núcleo das paredes é de corbranca (2.5Y 8/2). As superfícies apresentam tom algo mais escuro que o da cor do núcleo.Oferece, sobre o reservatório, decoração de corda seca parcial, constituída por duas linhaspintadas, de cor negra de manganês, entre o gargalo e o reservatório, assim como por teo-ria de elementos semicirculares, na parte superior. Aqueles são formados por dois traçosparalelos, de cor negra, sendo o espaço entre eles preenchido com vidrado, espesso, de corcastanha clara, algo esverdeada. Mede 0,040 m de diâmetro no bordo, 0,071 m de diâme-tro no reservatório, 0,081 m de altura total e a espessura média das paredes é de 0,005 m.

1.3.5.1.3.5. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (vermelha ou cor-de-laranja)

SILV. 2-OR./C5-16- TAÇA CARENADAFragmento correspondendo a porção do corpo, do bordo e ao arranque do fundo.Mostra bordo alto e sub-vertical, com lábio de secção semicircular. Tinha forma hemis-férica, muito achatada, com carena a meia altura. Foi fabricada com pasta homogéneae compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim comoquartzosos e calcários finos e, alguns, de grão médio. O núcleo das paredes é cor-de-laranja (2.5YR 5/8) e ambas superfícies apresentam tom algo mais escuro que o da cordaquele. A superfície interior foi brunida e oferece decoração pintada, de cor branca,constituída por três linhas, irregulares e paralelas, no fundo. Media 0,244 m de diâ-metro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,006 m.

SILV. 2-OR./C5-17-TAÇA HEMISFÉRICAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Este é extrovertido, demarca-do exteriormente por canelura larga, e tem lábio com secção semicircular a biselada.Oferecia forma sub-hemisférica e carenada. Foi fabricada com pasta homogénea e com-pacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, quartzosos e calcários, de grão finoe, alguns, de grão médio. O núcleo das paredes é de cor vermelha (2.5YR 5/6) e as super-fícies apresentam tom algo mais escuro que a cor daquele, assim como manchas, de corcinzenta a negra, devido a intensa utilização ao fogo. Media 0,256 m de diâmetro nobordo e a espessura média das paredes é de 0,006 m.

SILV. 2-OR./C5-13- TAMPAFragmento correspondendo a pega, em botão. Esta mostra forma subcilíndrica. Foi fabricadacom pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos ecalcários, de grão fino. O núcleo das paredes é de cor vermelha (10R 5/8) e as superfícies apre-sentam aguada de cor cinzenta avermelhada (10R 4/1). A parte superior oferece decoração pin-tada, de cor branca, constituída por motivo cruciforme, delimitado por linhas paralelas, defi-nindo quadrantes, em cujo interior se observam aspas. Em volta, junto ao bordo, mostra suces-são de pequenos traços. O diâmetro da pega mede 0,034 m e a sua altura é de 0,023 m.

99CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

100SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.67 – Torre albarrã. Cerâmicas da camada 5, fabricadas com pastas de cor vermelha e de corda seca parcial (Or.).

SILV.2-OR./C5

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1.3.5.2. SILV. 2 – Lado ocidental 1.3.5.2.1. Camada 51.3.5.2.1.1. Cerâmicas, com pastas de cores claras, esmaltadas e decoradas nas cores verde e castanha (policromas).

SILV. 2-OC./C5- 21- JARRO OU JARRAFragmento correspondendo a porção do bordo, alto, com lábio de secção semicircular.Foi fabricado com pasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plás-ticos, micáceos, de grão finíssimo, assim como calcários e nódulos de barro cozido, degrão fino e, alguns, de grão médio. O núcleo das paredes é de cor bege clara (10YR 8/3).As superfícies apresentam esmalte, aderente mas pouco brilhante, de cor branca, algoesverdeada. Oferece decoração, na superfície interior, constituída por linhas escorridas,de cor negra de manganês, preenchidas por cor verde. Na superfície exterior foram,apenas, pintados pequenos semicírculos de cor negra. Media 0,154 m de diâmetro nobordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

SILV. 2-OC./C5- 9- TAÇA HEMISFÉRICA ACHATADAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Mostra bordo extrovertido,demarcado no exterior por canelura, com lábio de secção semicircular, algo biselada.Foi fabricada com pasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plás-ticos, quartzosos, micáceos e feldspáticos, de grão fino. O núcleo das paredes é de corrosada (5YR 7/4). Ambas superfícies apresentam esmalte, pouco aderente e quase sembrilho, de tom algo amarelado na exterior e, aderente, embora pouco brilhante, de tombege claro, na interior. Esta oferece decoração pintada, constituída por linha, irregular,junto ao bordo e por quatro linhas, verticais e paralelas entre si, de cor negra, de man-ganês, preenchidas com manchas de cor verde clara, desenhando possível motivo fito-mórfico. Media 0,280 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de0,005 m.

SILV. 2-OC./C5-10- TAÇA HEMISFÉRICAFragmento correspondendo a porção do bordo e da parede. Teria corpo de forma hemis-férica achatada, algo carenado na parte superior. Mostra bordo espessado e demarcado, noexterior, por canelura, com lábio de secção semicircular. Foi fabricada com pasta homo-génea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e feldspáticos,de grão finíssimo e, alguns, nódulos de barro cozido de grão médio. O núcleo das paredesé de cor bege clara (10YR 8/3). Ambas superfícies apresentam esmalte, de cor branca etom amarelado claro, sendo na exterior muito aderente e brilhante, mas sem brilho nainterior. Esta oferece decoração pintada, constituída por manchas de forma semicircular,situadas junto ao bordo, algumas escorridas no interior da peça, assim como restos de trêslinhas, de cor castanha algo esverdeada, preenchidas com cor verde clara. Media 0,210 mde diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

1.3.5.2.1.2. Cerâmica com pasta de cor clara e decoração de corda seca parcial

SILV. 2-OC./C5-19- JARRO OU JARRAFragmento correspondendo a porção do gargalo e ao arranque do filtro. Foi fabricadocom pasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, degrão finíssimo, assim como calcários e nódulos de barro cozido, de grão fino. O núcleo das

101CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

paredes é de cor bege muito clara, quase branca (10YR 8/2). As superfícies apresentamtom semelhante ao da cor do núcleo. A superfície exterior oferece decoração, de corda secaparcial, constituída por linha ondulada, possivelmente formando cabo, de cor negra demanganês, preenchido por ponteado e delimitado por manchas de vidrado de cor verde.Aquele motivo estaria inserido em cartela com cor negra, de manganês. A espessuramédia das paredes é de 0,003 m.

102SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.68 – Torre albarrã. Cerâmicas da camada 5 (Oc.), policromas, de corda seca parcial e vidrada.

SILV.2-OC./C5

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1.3.5.2.1.3. Cerâmicas, com pastas de cores claras ou vermelhas, vidradas

SILV. 2-OC./C5-20- QUEIMADOR DE ESSÊNCIASFragmento correspondendo a porção do bordo e ao início do corpo. Mostra bordo comlábio de secção semicircular. O corpo seria poligonal e calado. Foi fabricada com pastahomogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão finíssimoe, alguns, quartzosos e calcários, de grão médio. O núcleo das paredes é de cor cinzen-ta (2.5YR 4/0), as superfícies são cor-de-laranja (2.5YR 5/8) e oferecem esmalte ade-rente e muito brilhante, de cor castanha escura. Apresenta decoração plástica, constitu-ída por flor, com botão central, ladeado por cinco pétalas. Media 0,046 m de diâmetrono bordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

SILV. 2-OC./C5-18- TAÇA TRONCOCÓNICAFragmento correspondendo a porção do corpo, do bordo e ao início do fundo. Mostrabordo extrovertido, com lábio de secção semicircular. Foi fabricada com pasta muitohomogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão finíssi-mo, assim como calcários e nódulos de barro cozido, de grão fino e, alguns, de grãomédio. O núcleo das paredes é de cor bege clara (10YR 8/3). As superfícies oferecemvidrado, aderente e brilhante, de cor verde água. Apresenta, no interior, entre a paredee o início do fundo, duas linhas, incisas, paralelas e horizontais. Media 0,117 m de diâ-metro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

SILV. 2-OC./C5-1- TAÇA HEMISFÉRICA ACHATADAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Mostra bordo ligeiramenteespessado, com lábio de secção semicircular, algo biselado. Foi fabricada com pastamuito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micá-ceos, de grão finíssimo. O núcleo das paredes é de cor bege clara (10YR 6/3) e as super-fícies oferecem cor semelhante mas de tom mais claro (10YR 8/3). Ambas apresentamvidrado, aderente e brilhante, de cor castanha melada, algo amarelada, tendo tom umpouco mais claro na interior. Sobre o bordo oferece três pontos de cor castanha escura,de manganês. Media 0,179 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes éde 0,004 m.

SILV. 2-OC./C5-2- TAÇA CARENADAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Teria corpo com formahemisférica, muito achatada e carenada. Mostra bordo, espessado interiormente, comlábio algo biselado. Foi fabricada com pasta muito homogénea e compacta, contendoelementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão finíssimo. O núcleo das pare-des é de cor branca (5Y 8/2). Ambas superfícies apresentam vidrado, aderente e bri-lhante, de cor castanha melada, algo esverdeada. Sobre o bordo oferece dois pontos eparte de um outro, de cor castanha escura de manganês. Media 0,209 m de diâmetrono bordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

SILV. 2-OC./C5-3- TAÇA TRONCOCÓNICAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. O corpo teria forma hemisféri-ca achatada ou troncocónica. Mostra bordo extrovertido com lábio de secção semicircular.Foi fabricada com pasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plás-ticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos e feldspáticos, de grão médio.

103CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

O núcleo das paredes é de cor vermelha (2.5YR 4/8). Ambas superfícies apresentamvidrado, aderente e brilhante, de cor castanha melada. A superfície interior oferece deco-ração, de cor castanha escura, de manganês, constituída por palmeta. Media 0,204 m dediâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

SILV. 2-OC./C5- 4- TAÇA HEMISFÉRICA ACHATADAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Mostra bordo espessado exte-riormente, com lábio de secção semicircular. Foi fabricada com pasta homogénea e com-pacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino, assim comocalcários de grão médio. O núcleo das paredes é de cor branca (5Y 8/2), as superfícies sãode cor rosada (7.5YR 8/6) e apresentam vidrado, aderente e brilhante, de cor castanhamelada. Ambas superfícies oferecem decoração, de cor castanha escura de manganês. Nainterior exibe linhas escorridas, irregulares, dispostas obliquamente e formando palmeta.Na superfície exterior mostra, apenas, duas linhas escorridas e um ponto. Media 0,224 mde diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

SILV. 2-OC./C5-5- TAÇA HEMISFÉRICA ACHATADAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Mostra bordo espessado,extrovertido e com lábio de secção semicircular. Foi fabricada com pasta muito homo-génea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão finíssimo,assim como quartzosos e feldspáticos, de grão fino e, alguns, de grão médio. O núcleodas paredes é de cor vermelha amarelada (5YR 6/6). Ambas superfícies apresentamvidrado, aderente e brilhante, de cor castanha melada e oferecem decoração, de cor cas-tanha escura de manganês. Na superfície interior aquela é constituída por linhas, irre-gulares, formando palmeta. Na superfície exterior observa-se mancha, daquela mesmacor. Media 0,228 de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,005 m.

SILV. 2-OC./C5-6- TAÇA HEMISFÉRICA ACHATADAFragmento correspondendo a porção do corpo, do bordo e do fundo. Mostra bordo ligeira-mente demarcado, no exterior, por canelura e lábio com secção semicircular. Foi fabricadacom pasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos efeldspáticos, de grão fino, assim como calcários, de grão médio e, alguns, quartzosos de grãomédio a grosseiro. O núcleo das paredes é de cor cinzenta clara (5Y 7/2) e as superfícies sãode cor rosada (7.5YR 8/4), oferecendo vidrado, aderente e brilhante, de cor castanha mela-da, algo esverdeada. Apresenta linha sobre o bordo, de cor castanha escura de manganês.Media 0,272 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,005 m.

SILV. 2-OC./C5-7- TAÇA CARENADAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Teria corpo de forma bitron-cocónica, carenada, com bordo vertical. Este é espessado e demarcado, no exterior, porcanelura, oferecendo lábio com secção semicircular a biselada. Foi fabricada com pastamuito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micá-ceos e feldspáticos, de grão fino. O núcleo das paredes é de cor vermelha (10R 5/8). Assuperfícies apresentam vidrado, aderente e brilhante, de cor castanha melada. Oferecedecoração, em ambas superfícies, de cor castanha escura, de manganês, constituída nasuperfície interior por duas linhas curvas concêntricas, escorridas, e na exterior, ape-nas, por pequena linha igualmente escorrida. Media 0,189 m de diâmetro no bordo e aespessura média das paredes é de 0,005 m.

104SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

105CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.69 – Torre albarrã. Cerâmicas da camada 5 (Oc.), vidradas, algumas com decoração de cor castanha e negra.

SILV.2-OC./C5

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SILV. 2-OC./C5-8- TAÇA CARENADAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Teria corpo de forma bitron-cocónica carenada, com bordo vertical. Este é espessado, tem a parte superior plana e édemarcado, no exterior, por canelura, oferecendo lábio com secção semicircular. Foifabricada com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáce-os, de grão finíssimo, assim como quartzosos e calcários de grão fino. O núcleo das pare-des é cor-de-laranja (2.5YR 5/8). As superfícies apresentam vidrado, aderente e brilhan-te, de cor castanha melada. Oferece decoração na superfície interior, de cor castanhaescura de manganês, constituída por restos de três linhas irregulares. Media 0,188 m dediâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,005 m.

1.3.5.2.1.4. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (bege, rosada ou cinzenta clara)

SILV. 2-OC./C5-11- JARRO OU JARRAFragmento correspondendo a porção do corpo, do gargalo e do bordo. Mostrariacorpo de forma subesférica, assente em fundo plano ou ligeiramente convexo. O gar-galo, alto, tinha forma troncocilíndrica e o bordo, inclinado para o interior, tem lábioem bisel. Foi fabricado com pasta muito homogénea e compacta, contendo elemen-tos não plásticos, micáceos, de grão finíssimo, assim como quartzosos, de grão fino,e nódulos de barro cozido, de grão fino a médio. O núcleo das paredes é de cor rosa-da (5YR 8/4) e ambas superfícies apresentam aguada de tom mais claro que o da cordo núcleo (7.5YR 8/4). A superfície exterior mostra duas linhas incisas, pouco pro-fundas, uma junto ao bordo e outra sensivelmente a meio do gargalo. Oferece deco-ração pintada, cor-de-laranja, constituída por cinco bandas, horizontais, encontran-do-se três sobre o gargalo, uma na separação deste com o corpo e a última no iníciodaquele. Um espaço em reserva, sob o bordo e entre duas daquelas bandas, foi pre-enchido por reticulado, cor-de-laranja, e um outro, no início do bojo, por séries delinhas, muito finas, dispostas obliquamente, naquela mesma cor. Media 0,102 m dediâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

SILV. 2-OC./C5-12- GARRAFAFragmento correspondendo a porção do corpo e ao arranque do gargalo. O corpo mostravaforma esférica achatada. Foi fabricada com pasta muito homogénea e compacta, contendoelementos não plásticos, micáceos, feldspáticos e quartzosos, de grão fino e, alguns, calcá-rios, de grão médio. O núcleo das paredes é de cor cinzenta clara (5YR 7/1) e as superfíciesapresentam cor rosada (5YR 8/4). A superfície interior encontra-se mal alisada e a exterioroferece decoração pintada, cor-de-laranja, constituída por duas linhas, dispostas na vertical,a partir do início do gargalo, preenchidas por pontos irregulares. Media 0,076 m de diâ-metro máximo no corpo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

SILV. 2-OC./C5-13- PÚCAROFragmento correspondendo a porção da parede, do corpo e ao arranque do fundo. Foifabricado com pasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos,micáceos e feldspáticos, de grão fino, assim como alguns, quartzosos e calcários, degrão médio. O núcleo das paredes é de cor rosada (5YR 8/4) e ambas superfícies apre-sentam aguada de cor bege clara (7.5YR 8/4). A superfície exterior oferece decoração pin-tada, de cor castanha escura, constituída por dois motivos distintos, separados por cane-

106SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

107CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

FIG. 1.70 – Torre albarrã. Cerâmicas da camada 5 (Oc.), com pastas claras e vermelhas.

SILV.2-OC./C5

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lura e, também, por banda daquela mesma cor. O tema da parte superior é formado porsemicírculos, talvez dispostos em linha, pintados com traço fino e prenchidos por sériesde pontos. No exterior, outros pontos de forma oval e maiores que os mencionados, pro-longam-se até à banda antes referida. Sob ela notam-se, ainda, restos de três linhas ver-ticais. A espessura média das paredes é de 0,004 m.

1.3.5.2.1.5. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (vermelha, cor-de-laranja, castanha ou cinzenta)

SILV. 2-OC./C5-14- JARRO OU JARRAFragmento correspondendo a porção do corpo e ao arranque do gargalo e de uma asa.Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo abundantes elementos nãoplásticos, micáceos e feldspáticos, de grão fino, assim como quartzosos e calcários degrão médio. O núcleo das paredes é de cor cinzenta (2.5YR 4/0) e as superfícies são decor vermelha (2.5YR 5/6). A superfície exterior oferece manchas de cor cinzenta devidas,possivelmente, a alterações no ambiente de cozedura, tal como duas incisões, pouco pro-fundas, uma na separação entre o gargalo e o corpo e outra no início daquele. Exibe,ainda, decoração pintada, de cor branca, constituída por quatro linhas horizontais, agru-padas duas a duas, que se sobrepõem às incisões referidas e definem cartela preenchidapor traços, verticais e finos, da cor referida. Media 0,146 de diâmetro máximo no corpoe a espessura média das paredes é de 0,004 m.

SILV. 2-OC./C5-15- TAÇA CARENADAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Teria corpo de forma bitron-cocónica ou carenada. Mostra bordo, ligeiramente espessado, com lábio de secçãosemicircular. Foi fabricada com pasta muito homogénea e compacta, contendo ele-mentos não plásticos, quartzosos, micáceos e feldspáticos, de grão fino. O núcleo dasparedes é de cor vermelha (10R 5/8) e ambas superfícies apresentam cor semelhanteàquele, tendo sido brunidas. Media 0,244 m de diâmetro no bordo e a espessura médiadas paredes é de 0,005 m.

SILV. 2-OC./C5-16- ALGUIDARFragmento correspondendo a porção do corpo, do bordo e do fundo, com forma plana.Teria corpo troncocónico. Mostra bordo espessado, tanto no interior como no exterior,aplanado superiormente e com lábio de secção semicircular. Foi fabricado com pastahomogénea e compacta, contendo abundantes elementos não plásticos, micáceos efeldspáticos, de grão fino, assim como quartzosos, de grão médio a grosseiro. O núcleodas paredes é de cor cinzenta clara (10YR 6/2) e as superfícies são de cor vermelha (10R5/6). A superfície exterior, alisada, mostra marcas deixadas pelos dedos do oleiro,enquanto à interior foi dada aguada, de tom algo mais claro que o da cor das superfíci-es, tendo sido, tal como a parte superior do bordo, brunida. Apresenta, junto ao fundo,mancha de cor cinzenta escura devida, possivelmente, à sua utilização ao fogo. Media0,306 m de diâmetro no bordo, 0,214 m de diâmetro no fundo, 0,067 m de altura e aespessura média das paredes é de 0,008 m.

108SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

SILV. 2-OC./C5-17- ALGUIDARFragmento correspondendo a porção do corpo, do bordo e do fundo, com forma plana.O corpo seria de forma hemisférica achatada, algo carenada. Mostra bordo extrovertido,com lábio de secção subrectangular. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta,contendo elementos não plásticos, micáceos e feldspáticos, de grão fino a médio, assimcomo quartzosos, de grão médio a grosseiro. O núcleo das paredes é de cor cinzenta, algoavermelhada (10R 5/1) e as superfícies são cor-de-laranja (10YR 5/8). A superfície interi-or foi muito bem brunida e a exterior, apenas, alisada. Media 0,298 m de diâmetro nobordo, 0,104 m de diâmetro no fundo, 0,078 m de altura e a espessura média das pare-des é de 0,008 m.

1.3.5.3. Subcamada 6B1.3.5.3.1. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (rosada ou vermelha)

SILV. 2-C6B-1- CÂNTAROFragmento correspondendo a porção do bordo e ao início do gargalo. Mostra bordoextrovertido, aplanado superiormente, com lábio de secção semicircular. Foi fabricadocom pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, de grão finíssi-mo a fino. O núcleo das paredes é de cor rosada (2.5YR 6/8) e ambas superfícies apre-sentam tom algo mais escuro que o da cor daquele. Media 0,108 m de diâmetro nobordo e a espessura média das paredes é de 0,007 m. Mostra, em ambas superfícies,abundantes concreções e restos de cal.

SILV. 2-C6B-2- FRIGIDEIRAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Mostra bordo espessado,com lábio de secção semicircular. Foi fabricada com pasta homogénea e compacta,contendo elementos não plásticos, de grão finíssimo, micáceos, assim como quartzo-sos e calcários, de grão fino. O núcleo das paredes é de cor vermelha (10R 5/8). Ambassuperfícies mostram tom algo mais escuro que o da cor do núcleo e oferecem man-chas, de cor cinzenta escura a negra, devidas a intensa utilização ao fogo. A superfícieexterior apresenta três linhas, incisas, uma sob o bordo e as outras junto ao arranquedo fundo. Media 0,252 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de0,005 m.

1.3.5.4. Subcamada 6C1.3.5.4.1. Cerâmica com pasta e superfícies de cores claras (bege ou cor-de-rosa)

SILV. 2-OC./C6C-1- CÂNTAROFragmento correspondendo a porção do gargalo e do bordo. Este encontra-se demarca-do, no exterior, por incisão e tem lábio com secção semicircular. Foi fabricado com pastamuito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, calcários efeldspáticos, de grão fino, assim como quartzosos, de grão fino a médio. O núcleo dasparedes é de cor rosada (2.5YR 6/6) e as superfícies apresentam aguada de cor bege clara(7.5YR 7/4). A superfície exterior oferece decoração pintada, de cor cinzenta escura anegra, constituída por pinceladas, subverticais e irregulares, algumas dispostas a partirdo bordo. Media 0,111 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de0,004 m.

109CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

110SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 1.71 – Torre albarrã. Cerâmicas da camada 6, com pastas claras e vermelhas.

SILV.2-OC./C6C

3

2

1

C6C-1

C6B-2

C6B-1

SILV.2

1.3.5.4.2. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (vermelha ou cor-de-laranja)

SILV. 2-OC./C6C-2- PANELAFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Este é vertical, espessado noexterior, e tem lábio de secção semicircular. O corpo seria subesférico, com fundo planoou ligeiramente convexo. Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendo ele-mentos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino a médio. O núcleodas paredes é de cor vermelha (2.5Y R4/6) e as superfícies apresentam aguada, de corcinzenta (5YR 5/1), com ligeiro brilho metalizado. A superfície exterior oferece canelura,pouco profunda, no início do corpo e mostra manchas, devido a intensa utilização aofogo, de cor cinzenta escura a negra. Media 0,128 m de diâmetro no bordo e a espessu-ra média das paredes é de 0,005 m.

SILV. 2-OC./C6C-3- TAÇA CARENADAFragmento correspondendo a porção do corpo, do bordo e ao arranque do fundo, comforma plana. O corpo oferecia carena a meia altura. Mostra bordo alto, ligeiramenteinclinado para o exterior, com lábio de secção semicircular. Foi fabricada com pastahomogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e cal-cários, de grão fino. O núcleo das paredes é cor-de-laranja (10R 5/8) e as superfíciesapresentam tom algo mais escuro que o da cor do núcleo. A superfície interior, bruni-da, oferece decoração pintada, de cor branca, constituída por teoria de semicírculos,com ponto central, que intercalam com séries de duas ou três linhas, paralelas. Media0,167 m de diâmetro no bordo, 0,112 m de diâmetro no fundo, 0,037 m de altura e aespessura média das paredes é de 0,004 m.

SILV. 2-C6C-1- FRIGIDEIRAFragmento correspondendo a porção do fundo, com forma plana. Foi fabricada compasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáce-os, de grão fino, assim como calcários, de grão fino a médio. O núcleo das paredes é decor cinzenta (2.5YR 4/0). As paredes e as superfícies são cor-de-laranja (2.5YR5/8) e aexterior mostra mancha devida à utilização ao fogo. A superfície interior oferece linhasbrunidas em redor do fundo e, ainda, mancha pintada, de cor branca, pertencente amotivo decorativo em parte desaparecido. Media 0,168 m de diâmetro no fundo e aespessura média das paredes é de 0,006 m.

111CAPÍTULO I – AS MURALHAS DA MEDINA, O POÇO-CISTERNA E A TORRE ALBARRÃ ANEXA

Capítulo 2

Zona a sul da Sé

2.1. Salão Paroquial

2.1.1. Introdução e metodologia

A construção de um novo Salão Paroquial tornou necessária, dada a sua localizaçãona área urbana correspondente ao centro histórico de Silves e na zona de edificação con-dicionada a sul da Sé, a intervenção arqueológica cujos resultados se apresentam. Esta foi-nos solicitada pelo Sr. Padre Ferro, responsável pela Fábrica da Igreja Paroquial deSilves, proprietária da obra, e pelo GTL local, autor do projecto da edificação acima refe-rida (Fig. 2.1.).

Efectuámos aqueles trabalhos durante os meses de Junho, Julho e Dezembro de 1992,contando com a colaboração, como assistente de arqueólogo, da Dr.a Maria Mulize Ferreira,sendo a última campanha de escavações co-dirigida pelo Arq. Mário Varela Gomes.

A realização desta escavação, devidamente autorizada pelo IPPAR, contou com o supor-te financeiro daquela Instituição, da Paróquia de Silves, assim como com o apoio logísticoda Câmara Municipal de Silves, através do Museu Municipal de Arqueologia e da suaOficina de Restauro.

A área a ser intervencionada apresentava duas zonas, separadas por grande diferençade cotas (cerca de 4 m), e, por isso, considerámo-la como subdividida em dois sectores dis-tintos. O mais alto (sector 1) era ocupado por antigo edifício, talvez remontando ao séculoXVI, mas recuperado nos anos quarenta, aquando das obras na Sé, com frente para a rua doCastelo e fazendo esquina com a rua da Porta do Sol, enquanto o mais baixo (sector 2) cor-respondia a quintal situado a sul, nas traseiras da residência paroquial. Ambas áreas foramreticuladas, a partir de quadrícula medindo 2 m de lado, orientada segundo a direcção dospontos cardeais. Os seus quadrados foram numerados por ordem alfabética no sector 1 e, porordem numérica, no sector 2 (Figs. 2.2 e 2.3.).

Como a nova construção não iria descer abaixo da cota do piso existente no sector 1,optámos, devido à escassez de meios e de tempo, por proceder à exploração de três quadra-dos consecutivos, que permitiriam leitura transversal das possíveis ocupações daquele local(Qs M, N e O). Todavia, devido a termos identificado um enterramento e efectuado-se a suaescavação integral, também intervencionámos o quadrado R.

Idênticos motivos conduziram a que tivéssemos explorado apenas uma parte dos qua-drados do sector 2 (Qs 1, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 11, 12, 13, 14 e 16).

O levantamento desenhado foi cotado, a partir de um ponto 0=00 convencional, situa-do na soleira da entrada da casa ali existente, e consta de plantas, cortes e alçados. As terrasremovidas foram integralmente crivadas e o espólio exumado, depois de lavado e colado, foimarcado com o nome da estação, quadrado e camada de proveniência (ex.: SAL. P.QR/C3).O estudo dos materiais realizou-se em função da sua distribuição espacial e das camadas queintegrava.

As cerâmicas constituem o principal e mais numeroso conjunto de artefactos recupe-rados, nos dois sectores, somando 1408 fragmentos.

113CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

114SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.1 – Localização das áreas intervencionadas na denominada zona a sul da Sé. A- Salão Paroquial; B- Residência Paroquial.

115CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

FIG. 2.2 – Planta geral e cortes da área intervencionada no Salão Paroquial.

116SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.3 – Salão Paroquial. Marcação da área intervencionada.

FIG. 2.4 – Salão Paroquial. Planta das estruturas identificadas no sector 2.

2.1.2. Sector 1 – Estruturas, estratigrafia e espólios

2.1.2.1. Camada 1Corresponde ao estrato existente sob os ladrilhos, que pavimentavam a casa referida. É constituída por terras, pouco compactas, de cor castanha escura (2.5YR 3/4), contendo

abundantes pedras, assim como fragmentos de cerâmica medieval e, também, algumas sub-actuais. Mostrava evidentes perturbações e media cerca de 0,60 m de potência média.

Ali exumámos fragmentos de ladrilhos, rectangulares, e um dedal de cobre (QR/C1).Também recuperámos, sob o referido pavimento (QN/C1), fragmento de placa, de arenito

117CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

FIG. 2.5 – Salão Paroquial. Elementos arquitectónicos recuperados na camada 1.

QN/C1

QN/C1

vermelho, com restos de abertura e moldura subcircular, correspondente a óculo, com poli-cromia (nas cores vermelha, cinzenta, preta e dourada), que oferece gravada, em cincolinhas, a seguinte inscrição: CAPELA/DONO/ME DE/ IHS/1577.

Encontrava-se com a face voltada para o solo, o que terá permitido a sua melhor conser-vação, denunciando reutilização propositada. Próximo (QN/C1) recolheu-se fragmento deoutro elemento arquitectónico de calcário, possivelmente a base de coluna adossada (Fig. 2.5).

O elemento arquitectónico epigrafado deverá ter pertencido a capela quinhentista daSé, hoje desaparecida, devido ao terramoto de 1755, que muito afectou aquele templo, ou àsobras de reintegração na traça primitiva, ali efectuadas, nos anos quarenta, pela Direcção--Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.

2.1.2.2. Camada 2Era formada por terras mais compactas que as da camada anterior, com cor castanha e

em algumas zonas de cor castanha acinzentada (2.5YR 4/4; 10R 3/1), medindo cerca de 0,40m de potência média. Continha raros fragmentos de cerâmica e, ainda, fivela e argola debronze, assim como dois pregos de ferro. Exumámos, também, seis numismas. Destes,cinco provêm do QM/C2, e apenas um do QO/C2, sendo o mais antigo um dinheiro, debulhão, cunhado no reinado de D. Sancho II (1223-1248). Apresenta no anverso, escudo, aocentro, com dois pontos, rodeado por círculo e a legenda REX SANCIVS, muito danificada(Fig. 2.6). No reverso observa-se cruz floreada, cortando a legenda PO-RT-VG-AL, cantona-da por duas estrelas e dois pontos. Na orla, apresenta restos de círculo de pontos (Gomes,2001, p. 74).

Um dinheiro de bulhão, foi cunhado no reinado de D. Afonso III (1248-1279) e mostra,ao centro do anverso, cruz equilateral, cantonada por duas estrelas e dois crescentes, rodea-

118SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.6 – Numismas exumados nas camadas 2 e 3.

QM/C2

QM/C2

QM/C2

D. SANCHO II(1223-1248)

D. AFONSO III(1248-1279)

D. DINIS(1279-1325)

D. PEDRO I(1357-1367)

QR/C3

QM/C2QO/C2

QM CR

da por círculo e pela legenda ALFONSV RX, muito deteriorada. No reverso observam-secinco quinas, dispostas em cruz, cada uma com cinco pontos no interior, cortando a legen-da PO-RT-VG-AL, muito danificada (Gomes, 2001, p. 76).

Três dinheiros, de bulhão, cunhados no reinado de D. Dinis (1279-1325) (dois doQM/C2 e um do QO/C2), são muito semelhantes entre si, encontrando-se um em melhorestado de conservação. Este oferece, no anverso, cruz equilateral, cantonada por duas estre-las e dois crescentes, rodeada por gráfila circular e a legenda D REX PORTVGAL. No rever-so reconhece-se, ao centro, as cinco quinas, cada uma contendo cinco pontos, cortando alegenda AL-GA-RB-II, muito apagada (Gomes, 2001, p. 77).

Recuperámos, de igual modo, um dinheiro de bulhão, cunhado no reinado de D. Pedro I(1357-1367), que oferece, no anverso, cruz equilateral, cantonada por dois pontos e dois cres-centes, rodeada por gráfila circular e a legenda P REX PORTUGL. O reverso apresenta, nocampo, as cinco quinas, cada uma contendo cinco arruelas, cortando a legenda AL-GA-RB-II(Gomes, 2001, p. 80).

O espólio recolhido nesta camada pôde ser atribuído à I Dinastia.

2.1.2.3. Camada 3Era constituída por terras compactas, de cor castanha algo avermelhada (10R 4/4). Os

materiais ali exumados, nitidamente almoadas, pertenceriam a habitação, com jardiminterior, de que subsistiu, somente, parte do passeador, em lajes de arenito vermelho, ede uma cisterna, reconhecida num sector do QO/C3. A potência média desta camada erade 0,40 m.

Na camada que temos vindo a mencionar recuperámos materiais muçulmanos, em par-ticular nos quadrados M, O e R. No entanto, verificámos que o espólio exumado, encontra-va-se muito fracturado. No quadrado N exumámos marca de jogo de arenito vermelho(QN/C3-3), tal como duas peças, paralelepipédicas, de osso, que poderão constituir elemen-tos de jogo, semelhantes aos procedentes do Castelo de Silves (Gomes, 2003, p. 159).

2.1.2.3.1. Quadrados M, O e ROfereceram um dado, de osso, com forma cúbica, medindo 0,008 m de lado (QM/C3-1),

escória de ferro, assim como quinhentos e onze fragmentos de peças de cerâmica cujo estudoestatístico, em relação às pastas com que foram fabricadas, assim como às formas e tratamen-to das superfícies, se encontra expresso nos Quadros 2.I. e 2.II.

Também se descobriram fragmentos de ossos de ovi-caprinos, três valvas de berbigão(Cerastoderma edule) e uma de ostra (Ostrea edulis),

QUADRO 2.ISector 1. Cerâmicas da camada 3 – pastas e tratamento das superfícies.

Pastas e sup. Claras Claras Claras Cl./ver. Claras Vermelhas TOTAISesmalt. esmalt. corda vidradas

Quadrad. branco verde seca

QM/C3 16 28 – 2 68 32 1463,128% 5,48% – 0,392% 13,30% 6,26% 28,56%

QO/C3 4 – 3 – 14 2 230,782% – 0,59% – 2,74% 0,39% 4,502%

QR/C3 – – – 6 26 310 342– – – 1,178% 5,09% 60,67% 66,938%

TOTAL 20 28 3 8 108 344 5113,91% 5,48% 0,59% 1,57% 21,13% 67,32% 100%

119CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

QUADRO 2.IISector 1. Cerâmicas da camada 3 – formas.

Quadr. QM/C3 QO/C3 QR/C3 TOTAISTipos FormasLoiça de mesa taças 28 9 6 43

5,48% 1,76% 1,17% 8,41%

púcaros 59 – 19 7811,55% – 3,71% 15,26%

jarros/jarras 18 14 31 633,52% 2,74% 6,06% 12,32%

tampas de fecho 2 – – 2hermético 0,40% – – 0,40%

Loiça de cozinha alguidares 3 – 2 50,58% – 0,40% 0,98%

panelas 9 – 281 2901,76% – 54,98% 56,74%

tampas – – 2 2– – 0,40% 0,40%

Loiça de cântaro – – 1 1armazenamento – – 0,20% 0,20%

Actividade marcas de jogo 2 – – 2lúdica 0,40% – – 0,40%

não identificadas vasilhas 25 – – 254,89% – – 4,89%

TOTAIS 146 23 342 51128,58% 4,50% 66,92% 100%

2.1.2.3.1,1. Cerâmicas – pastas e tratamento das superfícies1) 20 fragmentos (3,91%) foram fabricados com pastas muito homogéneas e compactas,contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino e,alguns, nódulos de barro cozido de grão médio.O núcleo das paredes é de cor branca, bege clara, cinzenta clara, rosada ou rosada acas-tanhada (2.5Y 8/2; 5YR 7/4; 5YR 6/4; 7.5YR 7/4; 7.5YR 7/2). As superfícies apresentamesmalte, aderente mas sem brilho, com concreções de cor branca.

2) 28 fragmentos (19,18%) foram produzidos com pastas muito homogéneas e compac-tas, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino. O núcleo das paredes é de cor bege clara ou rosada (10YR 8/3; 7.5YR 8/4; 5YR 8/3).Uma ou ambas superfícies mostram esmalte, aderente e com algum brilho, em tons deverde.

3) Três fragmentos oferecem pastas muito homogéneas e compactas, contendo ele-mentos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino.O núcleo das paredes é de cor rosada ou bege clara (5YR 7/4; 10YR 8/4). Uma dassuperfícies mostra restos de decoração, muito deteriorada, do tipo corda seca.

4) Oito fragmentos (1,57%) evidenciam pastas homogéneas e compactas, contendo ele-mentos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino e alguns, poucos, nódulos debarro cozido de grão médio.O núcleo das paredes é de cor rosada ou vermelha (10R 6/6; 10R 6/8; 10R 5/6; 7.5YR7/4; 5YR 8/4). As superfícies exibem vidrado, aderente e brilhante, de cor castanhamelada, algo esverdeada.

5) 108 fragmentos (21,13%) foram realizados com pastas muito homogéneas e compac-tas, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos, calcários, assim comoalguns nódulos de barro cozido, de grão médio.

120SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

121CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

0 5 0 1 0 0 1 5 0 2 0 0 2 5 0 3 0 0 3 5 0

Claras esmalt. verde

Claras corda seca

Cl./ver. vidradas

Claras

Vermelhas

Claras esmalt. branco

SAL. P. (sector 1) – Cerâmicas da camada 3 – pastas e tratamento das superfícies

SAL. P. (sector 1) – Cerâmicas da camada 3 – formas

0 5 0 1 0 0 1 5 0 2 0 0 2 5 0 3 0 0

Taças

Púcaros

Jarros/jarras

Tampas de fecho hermético

Alguidares

Panelas

Tampas

Cântaro

Marcas de jogo

Vasilhas

O núcleo das paredes é de cor branca rosada, rosada algo amarelada ou cinzenta clara(5YR 8/4; 5YR 7/1; 2.5Y 8/2; 7.5YR 8/6; 7.5YR 7/4; 5YR 7/4). As superfícies oferecemcor semelhante à do núcleo ou aguada de tom algo mais claro. No caso do núcleo serde cor cinzenta clara, tanto as paredes como as superfícies são rosadas.

6) 344 fragmentos (67,32%) correspondem a pastas homogéneas e compactas, conten-do elementos não plásticos, micáceos, quartzosos e calcários, de grão fino e, alguns, degrão médio.O núcleo das paredes é cor-de-laranja, de cor vermelha, castanha avermelhada, cinzen-ta escura, algo avermelhada ou negra (2.5YR 5/8; 2.5YR 4/4; 2.5YR 6/8; 2.5YR 2,5/0;10R 5/8; 10R 4/8; 10R 3/1; 10R 5/6). As superfícies oferecem cor semelhante à donúcleo, podendo, certos exemplares, apresentar aguada de cor cinzenta escura a negra.

2.1.2.3.1.2. Formas e decorações2.1.2.3.1.2.1. Cerâmicas com pastas de cores claras, esmaltadas de cor brancaPossuímos, apenas, fragmentos de taças. Destes, nove com pequenas dimensões, contêm

porção do bordo (1,76%), com lábio de secção semicircular. Os restantes pertenceram a paredes.

2.1.2.3.1.2.2. Cerâmicas com pastas de cores claras, esmaltadas de cor verdeRecuperámos fragmentos de taças, de jarros ou jarras e de tampas com fecho hermético.Os fragmentos de taças são oito (1,56%). Destes, quatro contêm porção do bordo

(0,78%), sendo em um caso (0,20%) espessado exteriormente e mostrando os restanteslábio com secção semicircular. Três exemplares pertenceram a paredes (0,58%), tendo umpequena porção do pé, que seria alto e em anel (0,20%).

Os fragmentos de jarros ou jarras somaram dezoito (3,52%), todos eles contendo por-ção de paredes. Somente um (0,20%) mostra a superfície interior no mesmo tom do núcleo,oferecendo os restantes esmalte, de cor verde clara naquela superfície. Um exemplar apre-senta porção da asa (0,20%).

Dois fragmentos de tampas (0,40%), com fecho hermético, exibem a superfície exterioresmaltada.

2.1.2.3.1.2.3. Cerâmicas com pastas de cores claras e decoração de corda secaRecolhemos dois fragmentos de taças (0,40%) e um de jarro ou jarra.Um fragmento de taça corresponde a porção da parede e o outro ao pé, alto e em anel.

O que subsiste da ornamentação, possivelmente de carácter geométrico, foi executado nascores branca, verde e negra.

O pequeno fragmento de jarro, ou jarra, mostra bordo e sector da parede.

2.1.2.3.1.2.4. Cerâmicas com pastas de cor rosada e vidradasDispomos, somente, de dois fragmentos de taças (0,40%), contendo um exemplar porção

do pé alto, em anel, e outro da parede. Os restantes pertenceram a paredes de jarros ou jarras.

2.1.2.3.1.2.5. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (branca, rosada, rosada algo amarelada ou cinzenta clara)Recolhemos fragmento de uma taça, de púcaros, jarros, alguidares, assim como de

outros recipientes, de difícil identificação.Conserva-se, apenas, pequeno pedaço pertencente ao fundo de taça, com restos de deco-

ração pintada cor-de-laranja.

122SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

Os fragmentos de púcaros somaram 42 (8,21%). Destes, três (0,59%) apresentam por-ção do bordo, tendo dois deles decoração pintada de cor negra e um de cor vermelha. Entreos 35 fragmentos de paredes (6,84%), quatro (0,78%) oferecem pintura de cor vermelha eseis (1,17%) de cor negra. Identificaram-se quatro fragmentos de asas (0,78%), mostrandoum pintura de cor vermelha e outro de cor negra.

Dispomos de 38 fragmentos (7,43%), que tanto podem ter pertencido a jarros como ajarras. Destes, cinco contêm porção do bordo (0,97%), 26 de paredes (5,08%), três de asas(0,59%) e quatro de fundos planos (0,79%).

Dois fragmentos de alguidares (0,40%) contêm porção do bordo, com forma extrover-tida, tendo ambos a superfície interior brunida.

25 fragmentos fizeram parte de vasilhas diversas (4,89%), embora as suas pequenasdimensões dificultem a respectiva identificação formal. Um deles (0,20%) pertenceu afundo plano e os restantes a paredes.

2.1.2.3.1.2.6. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (cor-de-laranja, vermelha, castanha avermelhada, cinzenta ou negra).Exumámos fragmentos de taças, de púcaros, alguidares, panelas, tampas, de cântaro e

marcas de jogo.Os fragmentos de taças são dez, de pequenas dimensões (1,95%), contendo porção do

bordo, com lábio de secção semicircular.Os fragmentos de púcaros somaram 36 (7,04%). Destes, oito muito pequenos, conser-

vam porção do bordo (1,56%), tendo um deles decoração pintada de cor branca. 22 exem-plares (4,30%) pertenceram a paredes, exibindo um aguada de cor negra e pintura de corbranca. Cinco fragmentos de asas (0,98%) mostram pintura de cor branca, tal como um per-tencente a fundo.

Dois fragmentos integraram alguidares (1,37%). Um deles contém porção do bordo,extrovertido, e o outro parte do fundo. Ambos apresentam a superfície interior brunida.

Fizeram parte de panelas 291 fragmentos (56,94%). 14 mostram porção do bordo(2,74%), 260 pertenceram a paredes (50,88%), cinco a asas (0,98%) e 12 a fundos (2,34%).

Duas marcas de jogo (0,40%) oferecem contorno subcircular.

2.1.2.4. Sepultura 1A cerca de 1 m de profundidade do solo actual, e na área correspondente aos quadrados

M e R, detectou-se um esqueleto humano, inumado com sinais de ritualização (Figs. 2.7 e 2.8).Verificámos tratar-se de sepultura constituída por fossa, de planta rectangular, escavada emestratos muito remexidos (C1 e C2) que assentavam em nível arqueológico almoada (C3).

O esqueleto encontrava-se colocado em decubitus dorsal, na direcção nascente-poente,com a cabeça voltada para aquele último sentido. Esta mostrava ligeira inclinação para nortee a cintura escapular apresentava, de igual modo, certo desvio em relação ao eixo da colunavertebral. Tal facto pode dever-se à diferente posição dos braços; o direito estendido ao longodo corpo, sendo a mão ligeiramente sobreposta pela bacia, enquanto o braço esquerdo, esta-va dobrado em ângulo recto, repousando a mão sobre a zona ventral.

A mão direita foi fechada, guardando dinheiro, cunhado no reinado de D. Afonso III(1248-1279), e a esquerda estava aberta.

As pernas encontravam-se estendidas, ligeiramente afastadas, e os pés tinham as extre-midades voltadas para fora.

Para além do numisma referido, não foi detectado outro espólio claramente associadoao esqueleto nem, tão pouco, restos de qualquer estrutura que o protegesse, mesmo cons-

123CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

truída em material perecível, como os esquifes de madeira de que sempre se identificam ospregos. Tais observações fazem-nos deduzir que o corpo terá sido depositado apenas envol-vido numa mortalha, mas onde nem sequer se utilizaram alfinetes, como acontece em enter-ramentos congéneres, tendo, possivelmente, sido enfaixado.

Nas terras que cobriam o esqueleto, sobre a perna esquerda, recolheu-se fragmento decaçoila ou tacho (QR/S.1-1), de cerâmica, que teria forma troncocónica e bordo bífido, talvezpara receber tampa de fecho hermético, medindo 0,185 m de diâmetro. Na mesma camadafoi encontrado fragmento de panela (QR/S.1-2).

Conforme mencionámos, o esqueleto continha na mão direita um dinheiro, de bulhão,muito deteriorado, cunhado no reinado de D. Afonso III (1248-1279). Este mede 0,019 m dediâmetro máximo. No anverso oferece cruz equilateral, cantonada por duas estrelas e doiscrescentes, rodeada por círculo de pontos e pela legenda ALFONSV RX. No reverso obser-vam-se cinco quinas dispostas em cruz, cada uma com cinco pontos, cortando a legenda PO-RT-VG-AL (muito deteriorada).

A proximidade desta inumação em relação ao edifício da Sé, cuja primeira construçãoé atribuída ao século XIII, conduz a aceitarmos tratar-se da antiga necrópole cristã anexaàquele edifício.

Aliás, o cemitério da cidade manteve-se naquela zona até aos finais do século XIX,momento em que foi edificado o actual.

124SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.7 – Salão Paroquial. Aspecto do espólio osteológico humanoencontrado in situ (sep.1) (RI/93- 1).

FIG. 2.8 – Salão Paroquial. Esqueleto humano in situ (sep.1).

125CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

FIG. 2.9 – Salão Paroquial. Espólio que integrava a sepultura 1.

FIG. 2.10 – Fragmento de estela discóide encontrada na rua do Castelo a 10 m da sepultura 1 do Salão Paroquial.

QR/S1 QR/S1-1

QR/S1-2

126SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.11 – Planta das estruturas exumadas no Salão Paroquial, na rua do Castelo e na rua da Porta do Sol.

O estudo do esqueleto, efectuado pelos anatomo-patologistas Professor A. SantinhoCunha e Dr.a M. da Graça Moura, permitiu verificar tratar-se de indivíduo do sexo masculino,com idade compreendida entre os 18 e os 21 anos, de estatura elevada para a época (1,69 m)e muito provavelmente de raça eurocaucasiana.

Em virtude das hipoplasias ambientais generalizadas do esmalte, deverá ter havido defi-ciente alimentação na infância e puberdade. Dada a existência de criba orbitalis, deveria sofrerde anemia ferropriva, possível causa de morte (Cunha, Gomes, Gomes e Moura, 1996, pp. 177-182).

Aquele estudo conduziu, de igual modo, à identificação da profissão do indivíduo quedeveria trabalhar diariamente e desde a infância, sentado em cadeira baixa (provocandosaliências dos calcâneos) e, talvez como sapateiro, dadas as lesões da coluna cervical e dosdentes anteriores esquerdos.

Ulteriormente foi encontrada, durante o arranjo do pavimento da rua junto ao local danossa intervenção, estela discóide, de arenito vermelho, decorada com as representações deuma tesoura e uma sola, de um dos lados, e de cruz ancoriforme do outro. Este monólito,assinalaria a sepultura acima referida, corroborando o estudo antropológico do esqueletocujas patologias indicavam tratar-se de sapateiro. A confirmação deste tipo de actividadeatravés da descoberta da estela discóide referida é tanto mais importante dado que o esque-leto guardava, na mão direita, dinheiro, cunhado no reinado de D. Afonso III, isto é demeados do século XIII, e que não só permite a atribuição cronológica da estela assinalada,como poderá certificar a data de abandono do espaço habitacional muçulmano sobrepostopela necrópole cristã (Fig. 2.10).

Obtivemos, ulteriormente, datação por radiocarbono (ICEN-1163), realizada a partir deamostra do espólio osteológico, que indica cronologia situada no século XIII, com os seguin-tes intervalos: para 1 sigma, 1174-1280 cal DC e para 2 sigma, 1046-1099 cal AD e 1153-1293cal AD, confirmando-se, assim, a atribuição oferecida pelo numisma.

Na camada que temos vindo a mencionar recuperámos materiais muçulmanos, em par-ticular nos quadrados M, O e R. No entanto, verificámos que aquele espólio se encontravamuito fracturado. No quadrado N exumámos, marca de jogo de arenito vermelho (QN/C3-3). Neste mesmo quadrado recolhemos duas peças, paralelepipédicas, de osso, que, eventu-almente, poderão pertencer a marcas de jogo (Gomes, 2003, p. 159).

2.1.3. Sector 2 – Estruturas, estratigrafia e espólios

2.1.3.1. Camada 1Era constituída por terras de cor castanha escura (5YR 3/3), com abundante matéria

orgânica, e potência variável, entre 0,20 m a 0,40 m. Continha fragmentos de cerâmicasmodernas e medievais, nomeadamente com as superfícies meladas, algumas oferecendodecoração com óxido de manganês, de cor castanha escura, quase negra.

Mostrava, sensivelmente a meio do limite do lado norte, restos de cisterna com plantasub-rectangular, parcialmente incorporada na parede de contenção de terras que limitavaeste sector, penetrando no sector 1 (QO).

Aquela estrutura era escavada no substrato rochoso, tendo as paredes rebocadas commassa de areia e cal. Media 2,90 m de comprimento, 1,70 m de largura e teria cerca de3,82 m de altura máxima. Apresentava depressão no canto direito do Q16, com formacilíndrica e cerca de 0,40 m de diâmetro, correspondendo à caldeira, destinado à limpeza(Fig. 2.12 ).

127CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

Esta cisterna, muçulmana, era idêntica a outras, comuns aos jardins das habitações dosséculos XII-XIII e até anteriores, e, nomeadamente, a algumas descobertas em Silves. De facto, o local onde ela se encontra corresponderia a área do jardim, de casa almoada,cujos testemunhos do passeador ainda identificámos no sector 1. Ulteriormente terá sidoreadaptada a novas funções, por certo aquando da terraplanagem processada nas traseiras daactual residência paroquial, tendo em vista a constituição do jardim ali existente. Em termosde construção seria semelhante a outra, da mesma época mas maior, identificada próximoda Cisterna dos Cães, no Castelo de Silves (Gomes, 2003, p. 31).

Recolhemos, nesta camada, meio real (Q1/C1) e real de dez soldos (Q8/C1), amboscunhados, em Lisboa, no reinado de D. João I (1383-1433).

128SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.12 – Planta e cortes da cisterna identificada nos Qs O e 16 do Salão Paroquial.

2.1.3.2. Camada 2 Era formada por terras de cor castanha mais clara que a da camada anterior (5YR 5/3),

apresentava 0,20 m de potência média e integrava importante estrutura, em parte utilizadacomo alicerce na edificação da actual residência paroquial. Aquela era constituída por restosde dois muros, um medindo cerca de 8 m de comprimento e outro, sensivelmente perpendi-cular a meio daquele, com 1,05 m de extensão (Fig. 2.11). Estas duas paredes foram construí-das com pedras de pequenas dimensões, ligadas por argamassa muito compacta, compostapor areia, cal e pedra miúda. Pelo tipo de construção e materiais que a elas encontrámos asso-ciados, nomeadamente escudelas esmaltadas de cor branca, dos séculos XV-XVI, poderão terpertencido à antiga residência episcopal ou dos cónegos de Sé de Silves que, segundo a tradi-ção, residiram naquele mesmo local.

2.1.3.3. Camada 3Era constituída por terras de cor castanha, algo amarelada (10YR 5/4), muito compactas,

assentes sobre o substrato rochoso e tendo 0,20 m a 0,40 m de potência. Sob as estruturas referidas, na camada anterior, existiam restos de muros que repou-

savam directamente no substrato rochoso (Fig. 2.4).Dois troços de muros, medindo cerca de 0,25 m de largura, situados nos quadrados 3 e

4, formavam canto, em ângulo recto e muito danificado, de compartimento. Outro muro situ-ava-se nos quadrados 11, 12 e 13. Apresentava cerca de 2 m de comprimento e media 0,50 mde largura.

Os materiais recolhidos, associados aos restos de estruturas referidos indicam tratar-sede fragmentos de espaços habitacionais muçulmanos.

Realizámos o estudo dos materiais exumados para cada quadrado escavado.

2.1.3.3.1. Quadrados 5, 6, 11, 12, 13, 14, 16 e 19Exumámos fragmento de agulha de roca (Q11/C3-2), de osso, marca de jogo, de areni-

to vermelho, bala de funda, de calcário (Q14/C3- 1), fuso de roca (Q11/C3-4), de cobre/bron-ze, e asa de recipiente de vidro, (Q12/C3- 1).

Recolhemos 897 fragmentos de cerâmica cujo estudo estatístico, em relação às pastas,formas e tratamento das superfícies, permitiu identificar os grupos, ou classes, indicadosnos Quadros 2.III. e 2.IV.

QUADRO 2.IIISector 2. Cerâmicas da camada 3 – pastas e tratamento de superfícies.

Pastas e sup Claras Claras Claras Claras Vermelhas TOTAISesmalt. esmalt. vidradas

Quadrados branco ver. cast.Q5/C3 – – – 18 – 18

– – – 2,01% – 2,01%

Q6/C3 6 – – 23 246 2750,67% – – 2,56% 27,42% 30,65%

Q11/C3 – 3 – 47 44 94– 0,33% – 5,24% 4,91% 10,48%

Q12/C3 2 – – 27 71 1000,22% – – 3,01% 7,92% 11,15%

Q13/C3 – – – 18 177 195– – – 2,01% 19,73% 21,74%

Q14/C3 – – – 16 95 111– – – 1,79% 10,60% 12,39%

Q16/C3 – – 3 21 72 96– – 0,33% 2,34% 8,02% 10,69%

Q19/C3 6 2 – – – 80,67% 0,22% – – – 0,89%

TOTAIS 14 5 3 170 705 8971,56% 0,55% 0,33% 18,96% 78,60% 100%

129CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

QUADRO 2.IVSector 2. Cerâmicas da camada 3 – formas.

Quad. Q5/C3 Q6/C3 Q11/C3 Q12/C3 Q13/C3 Q14/C3 Q16/C3 Q19/C3 TOTAISFormas

Loiça de mesa taças – 7 1 13 5 2 3 2 33– 0,78% 0,11% 1,44% 0,56% 0,22% 0,34% 0,22% 3,67%

púcaros – 24 – – 23 11 13 – 71– 2,68% – – 2,56% 1,22% 1,46% – 7,92%

jarros/jarras 18 23 45 41 1 16 19 6 1692,00% 2,56% 5,02% 4,57% 0,11% 1,79% 2,12% 0,68% 18,85%

tampa, fecho – 1 – – – – – – 1hermético – 0,11% – – – – – – 0,11%

Loiça de cozinha alguidares – – 2 5 – 1 4 – 12– – 0,22% 0,56% – 0,11% 0,44% – 1,33%

frigideiras – – 2 – – – 4 – 6– – 0,22% – – – 0,44% – 0,66%

panelas – – 33 – – 74 39 – 146– – 3,68% – – 8,25% 4,36% – 16,29%

Loiça de cantil – – – – – – 1 – 1armazenamento – – – – – – 0,11% – 0,11%

cântaros – 32 9 12 2 7 11 – 73– 3,56% 1,01% 1,34% 0,22% 0,79% 1,22% – 8,14%

talhas – – 2 – – – 2 – 4– – 0,22% – – – 0,22% – 0,44%

Contentor lucernas – 1 – – – – – – 1de fogo – 0,11% – – – – – – 0,11%

n/ identificadas vasilhas – 187 – 29 164 – – – 380– 20,85% – 3,23% 18,29% – – – 42,37%

TOTAL 18 275 94 100 195 111 96 8 8972,00% 30,65% 10,48% 11,14% 21,74% 12,38% 10,71% 0,90% 100%

2.1.3.3.1.1. Cerâmicas – pastas e tratamento das superfícies1) 14 fragmentos (1,56%) foram fabricados com pastas muito homogéneas e compactas,contendo elementos não plásticos, micáceos, quartzosos, calcários e nódulos de barrocozido, de grão fino.O núcleo das paredes é cor de rosa, de cor acastanhada ou bege clara (5YR 6/4; 5YR 7/4;10YR 8/3). As superfícies apresentam esmalte, aderente mas sem brilho, de cor branca.Um fragmento mostra a superfície exterior de cor verde e a interior branca.

2) Cinco fragmentos (0,55%) foram produzidos com pastas muito homogéneas e com-pactas, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e nódulos de barrocozido, de grão fino. O núcleo das paredes é de cor bege clara ou rosada (10YR 8/3; 5YR 8/4). A superfícieexterior mostra vidrado, aderente mas sem brilho, de cor branca. A superfície interiorfoi esmaltada, oferecendo restos de decoração nas cores verde e castanha.

3) Três fragmentos (0,33%) correspondem a com pastas homogéneas e compactas, con-tendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino e, alguns, calcáriosde grão fino a médio.O núcleo das paredes é de cor branca ou rosada (10R 6/6; 2.5YR 6/8; 2.5Y 8/2). Assuperfícies mostram vidrado, aderente e com algum brilho, de cor castanha melada.

4) 170 fragmentos (18,96%) foram realizados com pastas muito homogéneas e com-pactas, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzo-sos e calcários, de grão fino a médio.O núcleo das paredes é cor de rosa, cinzenta clara ou de cor branca (5YR 7/3; 5YR 8/3; 5YR8/1; 10YR 8/3; 10 YR 8/1; 7.5YR 8/4; 7.5YR 8/0; 7.5YR 7/4). As superfícies oferecem corsemelhante à do núcleo mas, no caso deste ser de cor branca as superfícies são rosadas.

130SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

131CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

SAL. P. (sector 2) – Cerâmicas da camada 3 – pastas e tratamento das superfícies

0 1 0 0 2 0 0 3 0 0 4 0 0 5 0 0 6 0 0 7 0 0 8 0 0

Claras esmalt. branco

Claras esmalt. ver. cast.

Claras vidradas

Claras

Vermelhas

SAL. P. (sector 2) – Cerâmicas da camada 3 – formas

0 5 0 1 0 0 1 5 0 2 0 0 2 5 0 3 0 0 3 5 0 4 0 0

Taças

Púcaros

Jarros/jarras

Tampa fecho hermét.

Alguid.

Frigid.

Panelas

Cantil

Cântaros

Talhas

Lucernas

Vasilhas

5) 705 fragmentos (78,60%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas,contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos e cal-cários, de grão fino a médio.O núcleo das paredes é cor-de-laranja, de cor vermelha ou cinzenta (2.5YR 4/6; 2.5YR5/8; 2.5YR 4/0; 10R 5/6; 10R 5/8; 10R 5/1). As superfícies apresentam a mesma cor donúcleo. No caso deste ser de cor cinzenta aquelas são de cor vermelha.

2.1.3.3.1.2. Formas e decorações2.1.3.3.1.2.1. Cerâmicas, com pastas claras, esmaltadas de cor brancaIdentificámos fragmentos de taças, jarros ou jarras, de tampa com fecho hermético e de

lucerna.Os fragmentos de taças são oito (1,12%), contendo dois deles porção do bordo (0,22%),

tendo os restantes três pertencido a paredes. Um dos fragmentos mostra bordo alto(Q12/C3-1), com lábio de secção semicircular. Observa-se, ainda, que as superfícies ofere-cem esmalte, aderente mas pouco brilhante, de cor branca, algo amarelada e apresentamconcreções devidas, possivelmente, às condições de jazida.

Dois dos fragmentos, podendo ter feito parte de jarros ou jarras (0,22%), conservamporção do fundo, tendo um deles pé baixo e anelar.

Pequeno fragmento (0,11%) de tampa, com fecho hermético, mostrava a superfícieinterior esmaltada de cor branca e a exterior de cor verde, tal como restos de decoraçãoincisa.

Também reconhecemos fragmento de lucerna (0,36%) com porção do bordo.

2.1.3.3.1.2.2. Cerâmicas com pastas de cores claras, esmaltadas de cor branca e decoradas nas cores verde e castanha (policromas)Descobrimos, apenas, fragmentos de taça e de jarros ou jarras.Três fragmentos de taças (0,33%). Dois deles correspondem a parte de parede e o ter-

ceiro a porção do fundo.Dois fragmentos (2,13%) tanto podem ter pertencido a jarros como a jarras, um com

porção da parede e outro da asa (Q11/C3-1). Esta mostra secção oval e dupla pega em botão.

2.1.3.3.1.2.3. Cerâmicas, com pastas de cores claras, vidradasDispomos de dois fragmentos de taças, um contendo porção do bordo (Q16/C3-2),

espessado e demarcado por incisão no exterior, com lábio de secção semicircular.Apresenta, sobre o bordo, manchas de vidrado de tom algo mais escuro que o das superfí-cies. O segundo fragmento (Q16/C3-1) mostra porção do fundo. A superfície interior ofe-rece decoração, de cor negra de manganês, constituída por parte de semicírculo com linhacentral.

2.1.3.3.1.2.4. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (cinzenta clara rosada ou branca)Os fragmentos recolhidos podem ter pertencido a taças, púcaros, jarros ou a jarras, a

alguidares, cântaros e a talhas. Os fragmentos de taças são dois (0,22%), contendo ambos os porção do bordo, com

lábio de secção semicircular. Um oferece pintura de cor negra e outro de cor vermelha.Um fragmento de púcaro (0,11%) (Q14/C3-3) mostra porção do gargalo e o início do corpo.

A superfície exterior oferece decoração pintada, de cor vermelha acastanhada, constituída porteoria de losangos, com ponto central, inseridos em cartela, delimitada por duas linhas. O espa-

132SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

ço entre aqueles motivos, com forma triangular, foi preenchido com ponteado executado compincel fino. Sobre aquela faixa e apenas em uma das extremidades do fragmento, subsiste partede semicírculo integrando ponteado.

141 fragmentos (15,73%) tanto podem ter pertencido a jarros como a jarras. Destes, 20 contêm porção do bordo (2,23%) , com restos de decoração pintada de cor vermelha emonze e de cor negra em oito. 108 exemplares correspondem a paredes (12,05%), tendo 13fragmentos decoração pintada de cor negra e dezasseis de cor vermelha. Seis fragmentos deasas (0,66%) mostram pintura de cor vermelha. Também se reconheceram sete fragmentosde fundos (0,79%), com forma plana.

Três fragmentos, contendo porção de bordo, extrovertido, pertenceram a alguidares(0,33%).

Quatro fragmentos de talhas (0,44%), contêm porção da parede, oferecendo umdeles decoração estampilhada, onde se reconhece parte de motivo, possivelmente, fito-mórfico.

Também se exumaram dezassete fragmentos de vasilhas (1,91%), de difícil identifica-ção formal. Destes, 15 (1,69%) pertenceram a paredes, em três dos quais se reconhece deco-ração pintada, de cor vermelha e em um de cor negra. Três daqueles mostram a superfíciecom cor cinzenta e pintura de cor negra. Identificaram-se, ainda, pequeno fragmento de asa(0,11%) e outro de fundo plano (0,11%).

2.1.3.3.1.2.5. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores vermelhas (vermelha, cor-de-laranja ou cinzenta)Reconhecemos fragmentos de taças, púcaros, de jarro ou jarra, de alguidares, panelas,

frigideiras, cantil e de cântaros.Os fragmentos de taças, com pequenas dimensões, são dezanove (2,12%). 15 daqueles

contêm porção do bordo (1,90%), com lábio algo espessado no interior em dois casos e tendonos restantes secção semicircular. Um deles mostra restos de decoração pintada, de corbranca. Dois fragmentos pertenceram a fundos planos (0,22%) .

Os fragmentos de púcaros somaram 70 (7,81%). Destes, onze pertenceram a bordos(1,22%) e um deles (0,11%) (Q14/C3-1) contém porção do bordo e do gargalo. Mostra bordoalto, com lábio de secção semicircular. A superfície exterior oferece decoração pintada e inci-sa. Esta é constituída por duas linhas situadas sob o bordo, sobre as quais foram pintadasduas bandas, de cor branca, similares a duas outras existentes na extremidade inferior doexemplar. 49 fragmentos (5,47%) pertenceram a paredes, tendo nove destes pintura de corbranca. Registámos, ainda, três fundos (0,33%) e sete asas (0,79%).

Os fragmentos de jarros ou jarras somaram 20 (2,22%). Destes, dez contêm porção dobordo (1,11%), apresentando três pintura de cor branca. Seis exemplares são porções de pare-des (0,67%), exibindo três decoração pintada de cor branca. Três pedaços pertenceram a asas(0,33%) mostrando, apenas, uma aguada de cor negra e pintura de cor branca. Um fragmen-to fez parte de fundo (1%).

Os restos de alguidares são nove (1%), pertencendo a bordos, extrovertidos, todos coma superfície interior brunida e decoração pintada, de cor branca.

As porções de panelas totalizaram 146 (16,28%). Destas, 13 contêm porção do bordo(1,44%), pertencendo 110 (12,26%) a paredes. Também se identificaram sete sectores de asas(0,79%) e 16 de fundos (1,79%), com vestígios de utilização ao fogo.

Os fragmentos de frigideiras são seis (0,66%), contendo dois (0,22%) parte do bordo.Os restantes são porções de fundos.

Um fragmento de gargalo pertenceu a cantil (0,11%).

133CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

Os testemunhos de cântaros são 71 (7,92%). Destes, 52 pertenceram a paredes(5,81%), apresentando um aguada de cor negra e pintura de cor branca, 13 fizeram parte deasas (1,45%), tendo três deles pintura de cor branca, e seis a fundos (0,66%).

Um fragmento de parede de cântaro (Q14/C3-2) oferece, na superfície exterior, deco-ração incisa, executada a pente, formando motivo ondulado entre duas séries de linhashorizontais.

363 fragmentos (40,48%) fizeram parte de vasilhas de difícil identificação formal.Destes, sete com pequenas dimensões contêm porção do bordo (0,78%) e os restantes deparedes (39,70%).

2.1.4. Rua da Porta do Sol

Ulteriormente à escavação do Salão Paroquial, trabalhos de regularização e de pavi-mentação das ruas do Castelo e da Porta do Sol, permitiram-nos, em Dezembro de 1993 eJaneiro de 1994, realizar duas sondagens tendo em vista tentar identificar estruturas soter-radas que ali pudessem existir.

Verificámos que a estratigrafia era semelhante à identificada no sector 2 e ao longo darua da Porta do Sol, quase ao seu centro, foram postos a descoberto restos de paredes e dealicerces, com 11 m de comprimento, pertencentes a grande construção, talvez à antiga resi-dência paroquial ou episcopal. De facto, ainda ali se conservavam duas soleiras de portal,com 2 m de largura, onde funcionaram os gonzos dos dois batentes da porta. As dimen-sões e o talhe daqueles elementos arquitectónicos são característicos dos séculos XV e XVI(Fig. 2.11.).

A norte daquela primeira sondagem e da construção referida, identificou-se a sua con-tinuação, constituída por alicerce erguido na direcção do anterior, mas que dobrava, emângulo recto, para nascente, ou seja formando canto. Sob esta construção descobriram-serestos de outra, que se desenvolvia para este-nordeste e depois oferecia inflexão de 1350. O tipo de aparelho utilizado é característico do Período Almoada e podia, por isso, tratar-sede vestígios de estrutura habitacional ou de, possível, muralha daquela época a que estavamassociados alguns fragmentos de cerâmica muçulmana, assim como restos de fauna.Descobrimos, também, sob a última estrutura que referimos, dois outros troços de muros,muito danificados.

Num amontoado de pedras, talvez para ali arrastadas aquando da regularização daárea junto à parede sul da Sé, na sequência das obras efectuadas neste templo nos anosquarenta, encontrou-se estela discóide, talhada em arenito vermelho, que mostrava, emuma das faces, quadrifólio e, na oposta, as representações de tesoura e de sola de sapato.Trata-se, muito provavelmente, do monumento que assinalava a sepultura encontradadurante a escavação no sector 1, do Salão Paroquial, que se situa a menos de 10 m de dis-tância.

Aquele monumento pertence a série de estelas congéneres identificadas na mesmazona, designadamente à que exibe representação de arado, encontrada próxima do local deachado da anteriormente referida (Fig. 2.13.).

134SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

135CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

FIG. 2.13 – Estelas discóides encontradas a sul da Sé de Silves.

2.1.5. Contexto e interpretação

Identificámos durante a intervenção arqueológica no sector 1, espaço habitacional deque pusemos à vista pequena área correspondente ao jardim, com cisterna e passeadorenvolvente.

Aquele terá, possivelmente, sido utilizado até à conquista definitiva da cidade, pelosPortugueses, altura em que foi abandonado e tendo a zona sido subsequentemente ocupadacomo necrópole. Esta foi devidamente documentada não só através da sepultura referida, aque estaria associado estela discóide, como com o aparecimento de cinco outras estelas recu-peradas nas proximidades e depositadas no Museu Municipal de Arqueologia de Silves(Gomes, 1995, p. 41).

O espólio exumado na camada 3 deste sector indica estreita relação com as actividadesquotidianas do espaço habitacional muçulmano identificado, nomeadamente as cerâmicasde mesa e de cozinha, as mais numerosas, mas também com actividades lúdicas, atestadaspela presença de um dado e de marcas de jogo.

Diferenciam-se, em termos técnicos e formais, dos restantes fragmentos de cerâmica,encontrados muito fracturados, fragmento contendo porção do bordo, bífido, e da parede, detacho (QR/S,1-1), assim como parte de panela (QR/S,1-2), oferecendo perfil quase completo.Ambos apresentam pasta e tratamento das superfícies algo semelhantes, com paralelos emexemplares encontrados na camada 2 da Residência Paroquial (cf. Cap. 2.2). A forma docorpo e do bordo do tacho são similares a peças provenientes do último nível de ocupação daalcáçova de Silves (Gomes, 1988, pp. 277, 278). Trata-se de peças produzidas na segundametade do século XIII, que integraram o ritual funerário correspondendo à utilização dazona como necrópole.

A cisterna reconhecida nos quadrados O e 16 é o único elemento arquitectónicocomum aos dois sectores intervencionados neste arqueossítio. Aquele depósito de água,escavado no solo, seria, como é normal, subterrâneo o que indica que no sector 2 o nível deterras existentes no Q16 seria bem mais elevado, do que aquele com que deparámos, e sem

136SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.14 – Corte interpretativo das estruturas e das estratigrafias identificadas no Salão Paroquial.

correspondência com as restantes estruturas ali postas à vista, devendo estas pertencerem aocupação mais antiga do local (Fig. 2.14).

Os materiais e, em particular, a cerâmica recuperada no sector 2, embora muito fra-gmentada, permitem alguns paralelos, nomeadamente para os dois pedaços de púcaros(Q14/C3-1; Q14/C3-3). Um deles oferece decoração constituída por motivos geométricos, pre-enchidos por ponteado, como a que se regista em tambor, recuperado na camada 8 da alcá-çova ( Gomes, 2003, p. 490) e possuindo cronologia situada no século VIII ou nos iníciosdo IX. Os dois púcaros referidos têm, também, semelhanças com os “jarritos” exumados nodenominado alfar antiguo de San Nicolás, de Múrcia, atribuídos ao século X (NavarroPalazón, 1990, p. 38, 39). Aquelas cronologias, na qual integramos os dois fragmentos per-tencentes a taças que mostram decoração nas cores verde e castanha, correspondem a vestí-gios da ocupação do local compreendidos entre os séculos VIII e X.

QUADRO 2.VSalão Paroquial. Distribuição das cerâmicas, nos dois sectores, em função das pastas e dotratamento das superfícies.

Pastas e sup Claras Claras Claras Cl. es. br. Claras Claras Vermelhas TOTAISesmalt. esmalt. corda dec. verde vermelhas

Sect. 1/Sect. 2 branco verde seca cast. vidradasQM/C3 16 28 – – 2 68 32 146

1,14% 1,99% – – 0,14% 4,83% 2,27% 10,37%

QO/C3 4 – 3 – – 14 2 230,28% – 0,21% – – 0,99% 0,14% 1,62%

QR/C3 – – – – 6 26 310 342– – – – 0,43% 1,85% 22,00% 24,28%

Q5/C3 – – – – – 18 – 18– – – – – 1,28% – 1,28%

Q6/C3 6 – – – – 23 246 2750,43% – – – – 1,63% 17,50% 19,56%

Q11/C3 – 3 – – – 47 44 94– 0,21% – – – 3,34% 3,13% 6,68%

Q12/C3 2 – – – – 27 71 1000,14% – – – – 1,92 5,04% 7,10%

Q13/C3 – – – – – 18 177 195– – – – – 1,28% 12,60% 13,88%

Q14/C3 – – – – – 16 95 111– – – – – 1,14% 6,75% 7,89%

Q16/C3 – – – – 3 21 72 96– – – – 0,21% 1,49% 5,11% 6,81%

Q19/C3 6 – – 2 – – – 80,43% – – 0,10% – – – 0,53%

TOTAL 34 31 3 2 11 278 1049 10482,42% 2,20% 0,21% 0,10% 0,78% 19,75% 74,54% 100%

A análise global das cerâmicas recuperadas nos dois sectores, elaborada a partir dosdados estatísticos, indica que os fragmentos fabricados com pastas de cores vermelhas cons-tituem o grupo mais numeroso, totalizando 74,54% e a que corresponde, também, maiordiversidade formal (cf. Quadro 2.V). No entanto, não foram exumados fragmentos destegrupo em dois dos quadrados investigados, predominando, em particular, na camada 3 dosquadrados R e 6 .

Os fragmentos de loiça produzida com pastas de cores claras, somaram 19,75%, não seencontrando representados apenas em um dos quadrados. Também não mostram lequediversificado de formas.

Os fragmentos com as superfícies esmaltadas de cor branca ou verde atingem percen-tagem mais elevada no sector 1, totalizando em ambos, somente 4,61%. O mesmo pode serobservado em relação a exemplares que apresentam as superfícies vidradas, que somaram,apenas, 0,78% e correspondem a menor número que os testemunhos com as superfíciesesmaltadas.

137CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

QUADRO 2.VISalão Paroquial. Distribuição das formas das cerâmicas nos dois sectores.

Localização QM/C3 QO/C3 QR/C3 Q5/C3 Q6/C3 Q11/C3 Q12/C3 Q13/C3 Q14/C3 Q16/C3 Q19/C3 TOTAISTipos Formas

Loiça de taças 28 9 6 – 7 1 13 5 2 3 2 76mesa 1,99% 0,64% 0,43% – 0,50% 0,07% 0,92% 0,36% 0,10% 0,21% 0,14% 5,36%

púcaros 59 – 19 – 24 45 – 23 11 13 – 1944,19% – 1,35% – 1,70% 3,20% – 1,63% 0,80% 0,92% – 13,79

jarros/jarras 18 14 31 18 23 – 41 1 16 19 6 1871,28% 0,99% 2,20% 1,30% 1,63% – 2,91% 0,07% 1,10% 1,35% 0,43% 13,28%

Loiça de alguidares 3 – 1 – – 2 5 – 1 4 – 16

cozinha 0,21% – 0,07% – – 0,14% 0,36% – 0,10% 0,28% – 1,16%

frigideiras – – – – – 2 – – – 4 – 6

– – – – – 0,14% – – – 0,28% – 0,42%

panelas 9 – 281 – – 33 – – 74 39 – 436

0,64% – 20% – – 2,34% – – 5,30% 2,77% – 31,05%

tacho – – 1 – – – – – – – – 1– – 0,07% – – – – – – – – 0,07%

Loiça de cantil – – – – – – – – – 1 – 1armazen. – – – – – – – – – 0,07% – 0,07%

cântaros – – 1 – 32 9 12 2 7 11 – 74– – 0,07% – 2,27% 0,64% 0,85% 0,14% 0,50% 0,78% – 5,25%

tampas 2 – 2 – 1 – – – – – – 50,14% – 0,14% – 0,07% – – – – – – 0,35%

talhas – – – – – 2 – – – 2 – 4– – – – – 0,14% – – – 0,14% – 0,28%

Contentores lucerna – – – – 1 – – – – – – 1de fogo – – – – 0,07% – – – – – – 0,07%

Actividade marcas 2 – – – – – – – – – – 2lúdica de jogos 0,14% – – – – – – – – – – 0,14%

não identif. vasilhas 25 – – – 187 – 29 164 – – – 405n/ ident. 1,78% – – – 13,30% – 2,06% 11,60% – – – 28,74%

TOTAL 146 23 342 18 275 94 100 195 111 96 8 140810,37% 1,63% 24,33% 1,30% 19,54% 6,67% 7,10% 13,80% 7,90% 6,80% 0,57% 100%

A percentagem mais reduzida é constituída por fragmentos que mostram as superfí-cies esmaltadas, com decoração nas cores verde e castanha ou de corda seca, respectiva-mente 0,10% e 0,21%.

No que respeita à morfologia das peças foi possível identificar fragmentos de taças,púcaros, jarros ou jarras, alguidares, frigideiras, panelas, tacho, cantil, cântaros, tampas,talhas, lucerna e marcas de jogo. Verifica-se, no quadro 2.VI, que percentagem significa-tiva (28,74%), não permitiu identificação formal.

Entre os fragmentos recuperados observa-se que a panela constitui a forma melhorrepresentada (31,05%), embora não esteja presente em seis quadrados, encontrando-se,em maior quantidade, nos quadrados R e 14 (camada 3).

Os fragmentos de taças, (5,36%), ou de jarros e jarras (13,26%), apresentavam maiordistribuição, pois apenas não foram reconhecidos em um quadrado.

Os púcaros ofereceram percentagem alta (13,79%), correspondendo à terceira formamelhor representada e só não se encontram presentes em três quadrados.

Formas como o tacho, cantil e lucerna, constituem exemplares únicos, alcançando,por isso, cada um deles percentagens diminutas (0,07%).

Certas formas como as panelas, cântaros e talhas, disporiam de tampas, embora atotalidade dos exemplares exumados seja reduzida (0,35%).

O quadrado 16/C3 é aquele no qual se verificou maior diversidade formal de peças decerâmica.

138SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

No QR/C3, a presença de grande número de fragmentos fabricados com pastas ver-melhas, pertencentes a loiça de cozinha, designadamente a panelas pode indicar zonadedicada à confecção de alimentos e relacionada com habitação muçulmana.

No caso das estruturas identificadas no sector 1 pertencerem à fase final da ocupaçãomuçulmana, conforme indicam os paralelos referidos, existiria forte desnível nesta área,quiçá plataforma ou terraço, capaz de ter conferido imagem peculiar à Silves islâmica.Recordo que, embora com as devidas distâncias, Medinat-az-Zahra apresentava organiza-ção do espaço urbano em terraços, relacionada com o poder político, administrativo e reli-gioso (Gomes, 1993, p. 31).

A presença, no local em apreço, de grande diferença de cotas e forte muro, mais oumenos aparente mas na continuação do que pervive no Sítio da Mata (Gomes, 1999, p. 1577), no lado poente da cidade, relacionado com uma ordem de muralhas ou com apossível organização em terraços da cidade, serão hipóteses a considerar.

A zona da cidade situada imediatamente a sul da Sé sofreu ao longo dos séculos pro-fundas transformações, devidas às sucessivas destruições provocadas por sismos e cor-respondentes campanhas de obras naquele templo, algumas documentadas, mas, ainda,devido às diferentes formas de utilização do espaço urbano. Assim, às vivendas muçul-manas que ali foram sendo erguidas, talvez desde os séculos VIII-IX e que perviveram atéao século XIII, com a edificação da Sé a zona foi, pelos menos parcialmente ocupada, logona segunda metade do século XIII, pela necrópole correspondente àquele templo. É pos-sível que, no mesmo momento ou, ulteriormente, ali também tivesse sido erguido, emárea situada mais a sul, o Paço Episcopal.

2.1.6. Catálogo dos materiais

2.1.6.1. Osso e pedra

QN/C3-1-MARCA DE JOGODe osso, mostra forma paralelepipédica e secção quadrangular. Oferece linha incisa emuma das extremidades e, na oposta, parte de rebordo afeiçoado que delimita saliência per-tencente à continuação da peça ou indicando zona para encaixe. Mede 0,027 m de com-primento e 0,008 m de lado.

QN/C3-2- MARCA DE JOGODe osso, mostra forma paralelepipédica e secção quadrangular. Oferece, em ambas extre-midades, rebordo afeiçoado que delimita saliências pertencentes à continuação da peçaou zona para encaixe. Mede 0,022 m de comprimento e 0,008 m de lado.

QM/C3-1- DADODe osso, mostra forma cúbica, oferecendo em todas as faces marcação de pontos, de uma seis, através de orifícios, alguns conservando restos de pintura, de cor negra. Mede0,008 m de lado.

Q11/C3-1- AGULHA DE ROCADe osso, oferecia forma sub-triangular, com secção oval achatada. Mostra, na extremidadeproximal, orifício circular, com 0,002 m de diâmetro, assim como três pequenos orifíciosdispostos em linha vertical. Mede 0,030 m de comprimento e 0,008 m de largura máxima.

139CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

QN/C3- MARCA DE JOGODe arenito vermelho. Oferece contorno circular. Mede 0,028 m de diâmetro e 0,009 mde maior espessura.

Q14/C3-1- BALA DE FUNDADe calcário. Oferece forma esférica achatada. Mede 0,025 m de diâmetro máximo.

2.1.6.2 Vidro e metal

Q12/ C3-1- ASADe vidro, de cor esverdeada. Oferece decoração, galonada. Mede 0,055 m de altura e0,012 m de espessura máxima.

Q11/C3-4- FUSO DE ROCADe cobre/bronze. A extremidade distal encontra-se encurvada. Mede 0,127 m de com-primento e 0,006 m de diâmetro máximo.

Q11/C3-3- MARCA DE JOGODe arenito vermelho. Oferece contorno circular. Mede 0,025 m de diâmetro e 0,008 mde maior espessura.

2.1.6.3. Cerâmica2.1.6.3.1. Cerâmica com pasta de cor clara, esmaltada de cor branca.

Q12/C3-1- TAÇA HEMISFÉRICAFragmento correspondendo a porção do bordo e da parede. Mostra bordo com lábio desecção semicircular. Foi fabricada com pasta muito homogénea e compacta, contendoelementos não plásticos, micáceos, calcários e nódulos de barro cozido, de grão fino.O núcleo das paredes é de cor rosa amarelada (5YR 7/6). Ambas superfícies apresentamesmalte, aderente mas pouco brilhante, de cor branca amarelada. Media 0,168 m de diâ-metro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m. As superfícies apresen-tam concreções devido às condições de jazida.

2.1.6.3.2. Cerâmica, com pasta de cor clara, esmaltada de cor verde

Q11/C3-1- JARRO OU JARRAFragmento correspondendo a porção da asa. Esta mostra secção oval e duas aplicaçõesem botão. Foi fabricado com pasta muito homogénea e compacta, contendo elementosnão plásticos, micáceos e calcários, de grão fino. O núcleo das paredes é de cor cinzen-ta clara (10YR 6/1). As superfícies apresentam esmalte, aderente e com algum brilho,de cor verde. Mede 0,026 m na secção máxima.

2.1.6.3.3. Cerâmicas, com pastas de cores claras, vidradas

Q16/C3-1- TAÇAFragmento correspondendo a porção do fundo. Foi fabricada com pasta muito homogé-nea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e feldspáticos,de grão finíssimo a fino. O núcleo das paredes é de cor rosada (2.5YR 6/8). Ambas

140SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

141CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

QN/C3-1

QN/C3-2

QM/C3-1

QN/C3-3

Q11/C3-2

Q14/C3-2

Q12/C3-1

Q11/C3-4

Q11/C3-3

FIG. 2.15 – Salão Paroquial. Espólio da camada 3.

superfícies apresentam vidrado, aderente e brilhante, de cor castanha melada. A super-fície interior oferece decoração, de cor negra de manganês, constituída por sector desemicírculo com linha central. A espessura média das paredes é de 0,005 m.

Q16/C3-2- TAÇA HEMISFÉRICAFragmento correspondendo a porção do bordo e da parede. Mostra bordo espessado eextrovertido, demarcado no exterior por incisão. O lábio oferece secção semicircular.Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos,quartzosos e micáceos, de grão fino. O núcleo das paredes é de cor branca (2.5YR 8/2).Ambas superfícies apresentam vidrado, aderente e com algum brilho, de cor algo esver-deada. Exibe, sobre o bordo, manchas daquela mesma cor, mas de tom mais escuro.Media 0,146 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,006 m.A superfície interior mostra concreções devido às condições de jazida.

2.1.6.3.4. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (cor-de-rosa ou cinzenta clara)

Q14/C3-3- PÚCAROFragmento correspondendo a porção do gargalo e ao início do corpo. Teria forma subci-líndrica. Foi fabricado com pasta muito homogénea e compacta, contendo elementosnão plásticos, micáceos e calcários, de grão fino. O núcleo das paredes é de cor rosada(5YR 7/4). Ambas superfícies apresentam aguada de tom algo mais claro que o da cor donúcleo. A superfície exterior oferece decoração pintada, de cor vermelha acastanhada,constituída por teoria de losangos com ponto central, inseridos em cartela, delimitadapor duas linhas. O espaço disponível entre aqueles motivos, com forma triangular, foipreenchido com ponteado muito fino. Acima daquela faixa, em uma das extremidadesdo fragmento, subsiste parte de semicírculo, preenchido por ponteado. Media 0,084 mde diâmetro máximo no gargalo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

2.1.6.3.5. Cerâmicas com pastas e superfícies vermelhas (de cor vermelha, cor-de-laranja ou cinzenta)

Q14/C3-1- PÚCARO SUBCILÍNDRICOFragmento correspondendo a porção do corpo e do bordo. Este é vertical, alto, demar-cado no exterior por duas incisões e tem lábio com secção semicircular. Foi fabricadocom pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, degrão fino, assim como quartzosos e calcários de grão fino a médio. O núcleo das pare-des é de cor vermelha (10R 5/6). As superfícies mostram cor semelhante à do núcleo ea exterior oferece decoração pintada e incisa. Esta é constituída por duas linhas incisassob o bordo, sobre as quais foram pintadas duas linhas, de cor branca, similares a duasoutras existentes junto ao fundo. Media 0,084 m de diâmetro no bordo e a espessuramédia das paredes é de 0,005 m.

QR/S1-1- TACHOFragmento correspondendo a porção do bordo e da parede. Mostra bordo bífido demar-cado por incisão no exterior, com lábio de secção semicircular. Teria forma troncocónica.Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos,micáceos, de grão fino, assim como quartzosos e calcários, de grão médio. O núcleo das

142SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

143CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

FIG. 2.16 – Salão Paroquial. Sector 2. Espólio cerâmico da camada 3.

Q12/C3-1

Q14/C3-2Q16/C3-1Q11/C3-1

Q16/C3-2

Q14/C3-3Q14/C3-1

paredes é de cor vermelha (10R 5/8). Ambas superfícies apresentam aguada de tommais escuro que o da cor do núcleo. Media 0,186 m de diâmetro no bordo e a espessu-ra média das paredes é de 0,006 m. Esta peça foi recolhida sobre a perna esquerda doesqueleto humano pertencente à sepultura 1 da necrópole da Sé (século XIII).

QR/S1-2- PANELAFragmento correspondendo a porção do corpo, do bordo e a parte do fundo. Tem corpode forma globular e assentaria em fundo convexo. Mostra bordo alto e vertical, com lábiode secção semicircular. Apresenta parte de uma asa, com secção oval plano-convexa, queteria perfil semicircular. Esta arranca do bordo e tinha a extremidade inferior fixada ameio do corpo. Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendo elementosnão plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos e calcários, de grão médio.O núcleo das paredes é cor-de-laranja (2.5YR 5/8) e ambas superfícies apresentam agua-da de tom algo mais escuro que o da cor daquele. Oferece, sob o bordo, seis linhas for-mando canelado e evidenciando o colo. Media 0,122 m de diâmetro no bordo, 0,158 mde altura, 0,104 m de diâmetro no fundo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

Q14/C3-2- CÂNTAROFragmento correspondendo a porção da parede. Foi fabricado com pasta homogénea ecompacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino a médio. Tanto onúcleo das paredes como as superfícies são cor-de-laranja (2.5YR 5/8). A superfícieexterior oferece decoração incisa, executada com pente, formando ondulado, e duasséries de linhas horizontais, dispostas uma de cada lado daquele primeiro motivo. A espessura média da parede é de 0,005 m.

2.2. Residência Paroquial

2.2.1. Introdução

A construção de uma residência de religiosas e de casa mortuária, a sul da Sé, nasequência espacial do Salão Paroquial, tornou necessária a realização desta intervenção.A área explorada oferece frente voltada para a rua do Castelo.

Os trabalhos, devidamente autorizados pelo IPPAR, efectuaram-se durante os meses deSetembro e Outubro de 1994, sendo continuados em Janeiro do ano seguinte. Contaramcom o apoio financeiro daquele Instituto, da Paróquia de Silves e, em particular, da CâmaraMunicipal de Silves. Esta cedeu trabalhadores e apoio logístico, através do Museu Municipalde Arqueologia e da sua Oficina de Restauro.

2.2.2. Metodologia

Dividimos a área a escavar, segundo quadrícula, com 2 m de lado, cujos lados foramorientados no sentido dos pontos cardeais. A marcação dos quadrados efectuou-se sobre oterreno devidamente limpo, de vegetação e de restos de construções, subactuais, ali existen-tes, sendo numerados sequencialmente conforme o avanço dos trabalhos (Fig. 2.17).

Procedemos à escavação de 33 quadrados, abrangendo área com 132 m2 e correspon-dendo à totalidade da zona a edificar, através de camadas arqueológicas, tendo registado-se,

144SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

através do desenho e fotografia, todas as estruturas reconhecidas, assim como os materiaisencontrados in situ. A altimetria dispõe de cotas absolutas, ligadas à rede geodésica nacional.

Crivámos, apenas, as terras que integravam os níveis de ocupação reconhecidos. As cerâ-micas, depois de lavadas e coladas, foram marcadas com o nome da estação, quadrado, cama-da e número de ordem (ex: Res.P.Q30/C2-1).

Também procedemos a sondagem, a sul da zona referida, situada a seis metros do Q34,em local onde seria construída uma garagem, verificando-se que não existiam estruturasarqueológicas até aos dois metros de profundidade; nível onde recuperámos faca, de ferro ecom cabo de osso, que integrava ocupação islâmica do século XIII (SEC. 2-1). Não prossegui-mos com a intervenção neste sector visto os alicerces da garagem não atingirem tal profundi-dade, como devido à escassez de meios disponíveis, registando-se importante desnível entre aocupação do século XIII deste local e aquela onde realizámos a escavação em extensão.

2.2.3. Estruturas, estratigrafia e espólios

2.2.3.1. Camada 1 Corresponde à ocupação moderna e subactual deste sítio. Era constituída por terras,

pouco compactas, com potência média que variava entre 0,35 m e 0,50 m, de cor castanhaescura (2.5YR 3/4).

Integrava parte de dois muros, um, no quadrado 1, com 1 m de comprimento e 0,58 mde largura, e o outro, nos quadrados 20 e 24, com 2,54 m de comprimento total, embora emcerca 1,50 m de extensão só conservasse uma fiada de pedras, em um dos lados. Apresentava0,86 m de largura máxima.

145CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

FIG. 2.17 – Residência Paroquial. Quadrícula e área intervencionada.

146SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.18 – Residência Paroquial. Espólio das camadas 1 e 2 .

Q18/C2

Q1/C1

Q1/C1

Q6/C1

Q18/C1

Q14/C1

Q14/C1

Q27/C1

Q9/C1

D. AFONSO III (1248-1279)

D. DINIS (1279-1325)

D. AFONSO IV (1325-1357)

D. AFONSO V (1438-1481)

Pertenciam a esta mesma camada restos de duas canalizações, uma reconhecida nos qua-drados 2 e 6, com 2,20 m de comprimento e 0,56 m de largura máxima. Reaproveitava, pos-sivelmente, a estrutura subterrânea 1, encontrada entre os quadrados 5 e 10, que poderá ter sidoutilizada como fossa séptica. Outra canalização, de traçado quase semicircular, passava pelosquadrados 7 e 12, medindo 2,40 m de comprimento e 0,60 m de largura. Estava incorporadaem muro com 2,80 m de comprimento e 1,10 m de largura. Ofereceu materiais recentes ealguns dos séculos XV a XVII. Entre o espólio obtido (Fig 2.18.) conta-se pintadeira, de bronze(Res.P.Q6/C1), duas balas (Res.P.Q1/C1), de ferro, tal como cinco numismas cunhados nos rei-nados de D. Dinis (Res.P.Q18/C1), D. Afonso IV (Res.P.Q14/ C1) e D. Afonso V (Res.P.Q9/C1;Res.P.Q14/C1; Res.P.Q27/C1) (Gomes, 2001, pp. 76, 77, 79, 125).

2.2.3.2. Camada 2Testemunha a ocupação medieval portuguesa deste local. Era formada por terras muito

compactas, com potência que variava entre 0,50 m e 0,70 m, de cor castanha avermelhada etom escuro (2.5YR 4/4).

Integrava restos de estruturas habitacionais muçulmanas, possivelmente adaptadas anovas funções.

Verificámos, entre as cerâmicas, a existência de peças com fabrico e formas distintasdas utilizadas pelas populações muçulmanas, embora com afinidades em termos de pastase vidrados. Assim, a esta ocupação já cristã, pertenceram taças (Res.P.Q26/C2-1), jarros(Res.P.Q22/C2-1; Res.P.Q22/C2-2; Res.P. Q26/C2-3), um pote (Res.P.Q26/C2-2), bilhas(Res.P.Q14/C2-2), panelas (Res. P.Q14/C2-1) e pesos de rede (Res.P.Q28/C2-1; Res.P.Q27/C2-1), assim como fragmentos de talha (Res.P.Q21/C2-1).

Algumas daquelas cerâmicas apresentam a superfície exterior decorada por incisões,pouco profundas, formando canelado. Este espólio pode corresponder a ocupação da segun-da metade do século XIII ou dos inícios da centúria seguinte, atribuição confirmada pelo apa-recimento, no interior de pote, de dinheiro cunhado no reinado de D. Afonso III (1248--1279) ou dos fragmentos da talha, cuja decoração, em relevo, deixa atribuí-la àquele período.

Dado o interesse deste espólio efectuámos a descrição das peças mais significativas, demodo a caracterizá-las e a permitir verificar diferenças e semelhanças, em relação a exem-plares funcionalmente afins mas de Época Islâmica.

2.2.3.3. Camada 3Denuncia ocupação muçulmana do local. Integrava terras compactas, com potência que

variava entre 0,10 m e 0,25 m, de cor castanha acinzentada (10YR 5/2). Assentava directa-mente no substrato rochoso e na zona sul tinha sido profundamente revolvida (Fig. 2.19.).

Identificámos parte de estrutura habitacional, que integrava os quadrados 8, 9, 13, 14, 17,18, 21, 22, 25, 26, 27, 28 e 29, tal como parte de duas estreitas vias, perpendiculares entre si,uma no lado norte e outra a nascente da área explorada.

A habitação, pequena vivenda ocupando cerca de 80 m2, era construída em taipa, tendoos alicerces de pedra. Tinha entrada voltada a leste, protegida por porta com um batente, queabriria para seu interior, conforme indicava a marcação da ombreira, no interior da qual fun-cionava o gonzo. A soleira desta porta, com 0,80 m de largura, estava sobrelevada em relaçãoao piso da rua, cerca de 0,30 m, e o acesso efectuava-se através de degrau, situado 0,16 m abai-xo da soleira e 0,14 m acima do nível da rua (Fig. 2.20).

Sob o degrau referido e, junto ao muro da casa, corria conduta, escavada no solo e emparte revestida por lajes, com secção rectangular, medindo 0,36 m de largura e 0,18 m de altu-ra média, que foi, ulteriormente, entulhada com terras e pedras. Este esgoto servia as instala-

147CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

148SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.19 – Residência Paroquial. Planta geral.

FIG. 2.20 – Residência Paroquial. Cortes das estruturas reconhecidas.

ções sanitárias da casa, situadas à direita da entrada e a cota superior. O acentuado desníveldo terreno nesta zona, ajudava ao melhor saneamento da conduta de esgoto subterrâneo.

Frente à porta de entrada na casa observaram-se restos de área lajeada e, ao lado esquer-do, pequena bancada de pedra.

O ingresso fazia-se através de pequeno vestíbulo, que dava acesso a compartimento dedimensões reduzidas, situado a sul, ao pátio interior com jardim, a poente, e às instalaçõessanitárias, sobrelevadas e localizadas a norte.

As instalações sanitárias eram constituídas por compartimento de forma rectangular, quecomunicava com outro, paralelo e cujo chão era coberto por ladrilhos de cerâmica, medindo0,30 m x 0,20 m, onde se situava a latrina. Os despejos saíam pela canalização antes referida.

O pátio interior apresentava planta com forma subquadrangular, medindo 2,80 m demaior comprimento e 2,70 m de largura. A parede que o definia, no lado sul desapareceuquase totalmente. Apresentava jardim com passeador envolvente de que perviveram, no ladopoente, algumas lajes de arenito vermelho. É possível que o jardim tivesse sido desactivadoapenas em Época Cristã, sendo então revestido com massa de cal, areia e contendo fragmen-tos de cerâmicas muçulmanas.

A partir do pátio tinha-se acesso a dois compartimentos, um situado a sul e outro anorte, através de degrau com 0,10 m de altura. Aquele último corresponderia, possivelmen-te, a quarto, com 3,30 m de comprimento e cerca de 1,80 m de largura.

Os compartimentos a sul encontravam-se quase desaparecidos, devido a arranjos moder-nos do local e à forte inclinação do mesmo.

Como não recolhemos qualquer fragmento de telha, no interior ou no exterior desta casa,pensamos que teria tido cobertura em terraço.

No exterior, do lado poente, reconheceu-se o arranque de uma escada, de que subsis-tem dois degraus separados 0,26 m, e que pode ter pertencido a outro espaço habitacionaladossado ao descrito, dando acesso a terraço ou a piso superior.

Identificámos, ainda, quatro estruturas subterrâneas que serão estudadas individualmente.

2.2.4. Espólios

Recolhemos, sobre o substrato, fragmento de terra sigillata, com aspecto rolado (Res.P.Q13/C3).

O estudo do material muçulmano recuperado neste arqueossítio foi realizado em funçãoda sua localização, no interior ou no exterior da estrutura habitacional identificada. Assim, oespólio proveniente do interior da casa foi analisado globalmente e encontrava-se sobre osubstrato rochoso ou integrando os pavimentos, de massa de cal e areia, pertencentes à ocu-pação medieval portuguesa.

Resolvemos não estudar os materiais separadamente para cada um dos compartimentosidentificados, dado termos verificado, em relação à cerâmica, que fragmentos exumados perten-centes a uma mesma peça, se encontravam dispersos. No entanto, a descrição das peças no catá-logo, representadas graficamente, foi efectuada em função da camada e da quadrícula de proce-dência, método também utilizado em relação ao espólio provindo do exterior da casa. Não con-siderámos os materiais provenientes dos quadrados 1, 5, 10, 15, 19 e 23, dado situarem-se juntoa muro subactual, cuja construção destruiu a sequência arqueológica misturando os espóliosmedievais com os de Idade Moderna e Contemporânea. Todavia, e, talvez por isso, exumámosentre aqueles primeiros, sobre o substrato rochoso, anel (Res.P.Q19/C3-1), de prata, com engas-te, e grande fragmento do corpo de talha decorada por estampilhagem (Res.P.Q23/C3-1).

149CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

2.2.4.1. Interior da casaExumámos um direme de prata (Res.P.Q22/C3), assim como espólio de ferro e bronze.

São de ferro dois pequenos fragmentos pertencentes, possivelmente, a facas, uma argola,arame enrolado e, ainda, doze pregos. Também ali recuperámos lucerna de latão ou cobre(Res.P.Q14/C3-1), fragmento de cota de malha, de bronze (Q22/C3-5) bala, esférica, de calcário(Res.P.Q14/C3-3), assim como restos osteológicos pertencentes a ovino-caprinos.

As cerâmicas encontradas no interior da habitação (Qs 8, 9, 13, 14, 17, 18, 21, 22, 25, 26, 27,28 e 29) apresentam, em ambas as superfícies, concreções devidas às condições de jazida, e tota-lizaram 2180 fragmentos. O estudo estatístico deste material, em relação às pastas, formas e tra-tamento das superfícies, permitiu identificar os grupos, ou classes, indicados no quadro 2.VII.

QUADRO 2.VIIResidência Paroquial. Cerâmicas do interior da casa.

Pastas e sup Claras Claras Claras Claras Claras Vermelhas TOTAISesmalt. esmalt. esmalt. vermelhas

Tipos Formas branco verde castanho vidradasLoiça de mesa taças 5 – 1 84 6 14 110

0,23% – 0,05% 3,85% 0,27% 0,64% 4,94%

púcaros – – – – 18 41 59– – – – 0,82% 1,89% 2,71%

jarros/jarras – – – 7 196 25 228– – – 0,32% 9,02% 1,15% 10,49%

garrafas – – – – 59 – 59– – – – 2,71% – 2,71%

Loiça de cozinha alguidares – – – – 11 18 29– – – – 0,50% 0,83% 1,33%

frigideiras – – – – – 14 14– – – – – 0,64% 0,64%

panelas – – – 15 – 1233 1248– – – 0,69% – 56,56% 57,25%

tampas – – – – 1 2 3– – – – 0,04% 0,09% 0,13%

loiça de cantis – – – – 1 1 2armazenamento – – – – 0,04% 0,04% 0,08%

cântaros – – – – 141 262 403– – – – 6,46% 12,02% 18,48%

talhas – 4 – – 10 2 16– 0,18% – – 0,46% 0,09% 0,73%

contentores lucernas – – – 1 7 – 8de fogo – – – 0,05% 0,32% – 0,37%

actividade marca de jogo – – – – – 1 1lúdica – – – – – 0,04% 0,04%

TOTAIS 5 4 1 107 450 1613 21800,23% 0,18% 0,05% 4,91% 20,64% 73,99% 100%

2.2.4.1.1. Cerâmicas – pastas e tratamento das superfícies1) Cinco fragmentos (0,23%) foram fabricados com pastas muito homogéneas e com-pactas, contendo elementos, não plásticos, quartzosos, micáceos, calcários e nódulos debarro cozido, de grão fino. O núcleo das paredes é de cor rosada ou bege clara (5YR 7/4;5YR 7/6; 5YR 6/4; 10YR 8/3). As superfícies apresentam esmalte de cor branca, que emum fragmento é aderente e brilhante, e em dois aderente mas sem brilho e sendo, nosrestantes, pouco aderente e sem brilho.

2) Quatro fragmentos (0,18%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas,contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos, cal-cários e nódulos de barro cozido, de grão médio a grosseiro. O núcleo das paredes é decor bege clara, castanha clara ou rosada (10YR 8/3; 7.5YR 6/4; 7.5YR 8/4). Quando onúcleo tem cor bege as paredes são rosadas (5YR 8/4). A superfície interior apresentacor semelhante à do núcleo, ou algo mais escura, e a exterior mostra esmalte, aderentemas pouco brilhante, de cor verde.

150SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

151CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

Residência Paroquial – Cerâmicas do interior da casa – pastas e tratamento das superfícies

Residência Paroquial – Cerâmicas do interior da casa – formas

0 2 0 0 4 0 0 6 0 0 8 0 0 1000 1200 1400 1600 1800

Claras esmalt. branco

Claras esmalt. verde

Claras esmalt. casta.

Claras verme. vidra.

Claras

Vermelhas

0 2 0 0 4 0 0 6 0 0 8 0 0 1000 1200 1400

Taças

Púcaros

Jarros/jarras

Garrafas

Alguidares

Frigideiras

Panelas

Tampas

Cantis

Cântaros

Talhas

Lucernas

Marca de jogo

3) Recuperámos fragmento (0,05%) fabricado com pasta homogénea e compacta, con-tendo elementos não plásticos, quartzosos, calcários e micáceos, de grão fino. O núcleodas paredes é de cor rosada (5YR 7/4). A superfície interior, o bordo e pequena parte da super-fície exterior, apresentam esmalte, aderente e brilhante, de cor castanha escura. A restantesuperfície exterior mostra vidrado, aderente e brilhante, de cor castanha melada.

4) 107 fragmentos (4,91%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas, con-tendo elementos não plásticos, micáceos, de grão finíssimo a fino, assim como quartzo-sos, calcários e nódulos de barro cozido, de grão fino a médio. O núcleo das paredes é decor branca, rosada, rosada amarelada, vermelha acastanhada, vermelha, cor-de-laranja,cinzenta clara, cinzenta acastanhada ou castanha clara, algo avermelhada (10YR 8/2;7.5YR 7/6; 2.5YR 6/6; 2.5YR 5/4; 2.5YR 4/8; 2.5YR 5/8; 2.5YR 4/6; 10YR 7/2; 7.5YR 6/2;7.5YR 8/4; 5YR 6/4; 2.5YR6/6; 10YR 6/2; 2.5Y 8/2; 2.5YR 4/2; 10YR 5/2; 10R5/6; 10R4/6; 10R 5/8; 7.5YR 7/4; 10YR 6/1). Uma ou ambas as superfícies apresentam vidrado,aderente e brilhante, de cor castanha (melada) podendo, em certos casos, oferecer man-chas de tom algo esverdeado.

5) 450 fragmentos (20,64%) foram fabricados com pastas muito homogéneas e com-pactas, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão finíssimo, assim comoquartzosos, calcários e alguns nódulos de barro cozido, de grão médio. No entanto, emcertas formas, como no caso das talhas, observam-se elementos de grão grosseiro.O núcleo das paredes é de cor branca, rosada, bege, algo amarelada ou cinzenta (10YR8/3; 10YR 8/2; 5YR7/4; 7.5YR 7/4; 5Y 8/2; 2.5Y8/2; 5YR 7/6; 5YR 6/6; 5YR 8/1;5YR 7/1;7.5YR 8/4; 10YR 7/2; 5 YR 8/3; 5YR 7/3; 2.5Y 7/2; 10YR 6/3; 10YR 7/3; 7.5YR 8/2; 2.5Y6/0; 7,5 YR 6/2; 7.5YR 7/0; 10YR 7/1; 10YR 6/1; 10YR 6/4; 5YR 6/4; 5Y 8/3; 2.5Y 7/0;5YR 8/4; 2.5YR 5/0). As superfícies apresentam cor semelhante à do núcleo ou algomais clara.

6) 1613 fragmentos (73,99%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas, con-tendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como calcários e quartzososde grão médio e, alguns, de grão grosseiro. O núcleo das paredes é cor-de-laranja, de corcastanha, vermelha ou cinzenta (2.5YR 5/8; 2.5YR 4/4; 10R 4/8; 2.5YR 4/0; 2.5YR 4/8;10R 5/6; 10R 5/1; 5YR 7/1; 2.5YR 4/1; 2.5YR 3/0; 10R 5/8; 10R 4/6; 2.5YR 5/0; 10YR 7/1;10YR 6/2; 5YR 4/1; 5YR 4/3; 10R 4/2; 10R 4/4). As superfícies mostram cor semelhanteà do núcleo e alguns exemplares apresentam aguada, de cor cinzenta escura a negra.

2.2.4.1.2.Formas e decorações2.2.4.1.2.1. Cerâmicas, com pastas claras, esmaltadas de cor brancaExumámos somente fragmentos de taças. Apenas um deles (0,046%) contém porção

do bordo (Res.P.Q22/C3-4), com lábio de secção semicircular e medindo 0,208 m de diâ-metro. Outro fragmento apresenta parte da parede e três pertenceram a fundos (0,14%) comporção do pé, alto e em anel.

2.2.4.1.2.2. Cerâmicas, com pastas claras, esmaltadas de cor verdeDispomos de quatro fragmentos (0,18%), pertencentes a talhas. Três fragmentos

(0,14%) mostram porção do bordo, com lábio plano. Oferecem apenas manchas de esmalte,com cor verde, na superfície exterior (Res.P.Q22/C3-2). Uma das peças apresenta, naquelemesmo lado, quatro linhas incisas, pouco profundas, formando canelado (Res.P.Q22/C3-1).

152SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

2.2.4.1.2.3. Cerâmica, com pasta clara, esmaltada de cor castanhaIdentificámos fragmento, contendo porção do bordo e da parede, pertencente a taça care-

nada (Res.P.Q8/C3-1). Mostra bordo, algo inclinado e demarcado por incisão no exterior, comlábio de secção semicircular.

2.2.4.1.2.4. Cerâmicas, com pastas de cores claras ou vermelha, vidradasRecolhemos fragmentos de taças, de jarros ou jarras, de panelas e de uma lucerna.Os fragmentos de taças somaram 84 (3,85%). Destes, quatro (0,18%) mostram carena

acusada. 20 fragmentos (0,90%) contêm porção do bordo, sendo este introvertido em dois ecom lábio de secção semicircular (0,08%) (Res.P.Q18/C3-1; Res.P.Q21/C3-1). Pertenceram ataças com forma troncocónica, e dupla carena, assentando em fundo ligeiramente convexo.Quatro outros (0,18%) mostram bordo espessado exteriormente, com lábio de secção semi-circular e três (0,14%) têm bordo espessado, demarcado por incisão no exterior, e lábio comsecção semicircular. Os restantes onze fragmentos (0,46%) apresentam lábio com secçãosemicircular. Os diâmetros dos bordos variam entre 0,140 m e 0,180 m. Somente três frag-mentos, contendo porção do bordo (0,14%), oferecem decoração, de cor castanha escura. 54 fragmentos pertenceram a paredes (2,47%), exibindo dois (0,09%) decoração, constituídapor cordão. Dez fragmentos de paredes (0,46%) mostram decoração formada por linhas, irre-gulares e escorridas, de cor castanha escura, na superfície interior. Dez outros contêm porçãodo fundo (0,46%), assentando seis (0,27%) em pé, alto e anelar. Apenas quatro (0,18%)daqueles apresentam restos de decoração, do mesmo tipo e tom referidos.

Possuímos sete fragmentos (0,32%) que, dadas as dimensões, tanto podem ter pertencido ajarros como a jarras. Destes, um mostra parte do gargalo (0,04%). Três dos exemplares contêmporção de paredes (0,14%), um apresenta parte do pé, em anel (0,04%), e dois são asas (0,09%).

Os fragmentos de panelas totalizaram 14 (0,64%). Destes, apenas um apresenta porçãodo bordo (0,05%) (Res.P.Q9/C3-2), inclinado e demarcado no exterior por incisão, com lábioalgo biselado. A superfície exterior oferece decoração constituída por linhas incisas, dispos-tas em série, formando canelado. Doze fragmentos pertenceram a paredes (0,55%) e umcontém porção do fundo (0,05%). Os fragmentos de paredes e fundos oferecem, somente,vidrado na superfície interior.

Exumámos um fragmento de lucerna (0,05%), contendo porção do reservatório e da pega.

2.2.4.1.2.5. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (branca, bege ou rosada)Identificámos fragmentos de taças, de púcaros, de jarros ou jarras, de garrafas, de algui-

dares, de uma tampa, de um cantil, assim como de cântaros, talhas e lucernas.Os fragmentos de taças são seis (0,27%), pertencendo um a forma sub-hemisférica

(Res.P.Q25/C3-2). Cinco exemplares (0,22%) contêm porção do bordo, sendo em dois deles(0,09%) espessado interiormente e com lábio algo biselado. Um deles (0,04%), representa-do graficamente, é ligeiramente extrovertido sendo aplanado superiormente e tem lábio algobiselado. Os restantes fragmentos apresentam lábio com secção semicircular. Os diâmetrosdos bordos destes recipientes variavam entre 0,180 m e 0,230 m. Apenas um fragmento(0,04%) pertenceu a parede de taça.

Os fragmentos de púcaros somaram 18 (0,82%). Destes, todos contêm porção das paredes,que em dois exemplares (0,09%) mostram decoração pintada, de cor vermelha. Somente umexemplar contém porção do corpo (0,04%), todo o fundo e a extremidade inferior das duas asas,que seriam opostas (Res. P.Q25/C3-3). Oferece decoração pintada, de cor castanha escura, nasuperfície exterior. Esta é constituída por motivo com dois cabos entrelaçados, possível “cordãoda felicidade”, inserido em cartela, delimitada por duas linhas horizontais, uma de cada lado.

153CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

Os fragmentos de jarros ou de jarras totalizaram 196 (9,02%). Destes, 30 mostram por-ção do bordo (1,37%), que em sete (0,32%) apresentam decoração pintada, de cor negra, e emoito (0,36%) de cor vermelha. 139 fragmentos pertenceram a paredes (6,45%), 36 dos quais(1,65%) oferecem restos de decoração pintada, de cor negra, e 65 (2,98%), de cor vermelha.27 fragmentos pertenceram a asas (1,24%), cinco (0,23%) dos quais exibindo restos decora-ção, de cor negra, e oito (0,37%) de cor vermelha.

59 fragmentos contêm porção de parede de garrafas (2,71%). Estas teriam corpo deforma globular. Um deles (Res.P.Q25/C3-1) oferece decoração pintada, de cor vermelha, comdois círculos concêntricos.

Os fragmentos de alguidares somaram 11 (0,50%). Destes, oito contêm porção do bordo(0,36%), espessado no exterior ou extrovertido (Res.P.Q17/C3-1; Res. P.Q17/C3-2; Res.P.Q17/C3-3). Um exemplar apresenta, na superfície exterior, as marcas dos dedos do oleiro e sobre o bordovárias linhas, incisas, dispostas na diagonal. Dois outros mostram a superfície interior brunida.Três fragmentos fizeram parte de fundos (0,13%), um dos quais (0,04%) apresenta a superfícieinterior brunida e um outro exibe restos de decoração, pintada, de cor vermelha.

Recolheu-se fragmento de cantil (0,04%), contendo parte da parede.Os fragmentos de cântaros somaram 141 (6,46%). Destes, um contém parte do bordo

(0,04%) e 119 pertenceram a paredes (5,45%). 21 destes (0,96%) apresentam, na superfícieexterior, decoração canelada. Dez (0,46%) têm, ainda, decoração pintada, de cor negra, e,apenas, um (0,04%) mostra ornamentação de cor vermelha. Quatro fragmentos fizeramparte de fundos (0,18%) e 17 de asas (0,78%), que em três casos (0,13%) oferecem decoraçãopintada, de cor vermelha.

Os fragmentos de talhas são dez (0,46%). Destes, dois mostram porção do bordo(0,09%), extrovertido e com lábio plano, enquanto seis pertenceram a paredes (0,27%), umdos quais com cordão digitado na superfície exterior. Dois fizeram parte de fundos (0,09%),com forma plana.

Recolheu-se fragmento de tampa com fecho hermético (0,04%). Identificaram-se sete fragmentos de lucernas (0,32%). Destes, quatro mostram parte do

reservatório (0,18%), contendo um a extremidade inferior da asa (0,04%) e três outros por-ção do bico (0,14%).

2.2.4.1.2.6. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (cor-de-laranja, vermelha, castanha avermelhada ou cinzenta)Dispomos de fragmentos de taças, púcaros, jarros ou jarras, alguidares, panelas, tam-

pas, de um cantil, de cântaros, talhas e de uma marca de jogo.Contámos 14 fragmentos de taças (0,64%). Destes, três contêm porção do bordo

(0,14%), em dois dos quais (0,09%) espessado, interiormente, com lábio algo biselado e emum outro (0,05%) com secção semicircular. Dois exemplares pertenceram a paredes(0,09%) e nove a fundos (0,41%), com forma plana.

Os fragmentos de púcaros somaram 41 (1,89%). Destes, cinco contêm porção do bordo(0,23%) que um (0,04%) oferece decoração pintada, de cor branca, sobre aguada de cor cin-zenta. Dez exemplares (0,46%) são porções de paredes, cinco (0,23%) dos quais exibemdecoração pintada de cor branca. 25 fragmentos fizeram parte de asas (1,15%), tendo dois(0,09%) pintura, de cor branca e um (0,05%) apresenta a extremidade inferior e parte dofundo, com forma plana.

25 fragmentos puderam ser atribuídos a jarros ou a jarras (1,15%). Destes, seis (0,28%)mostram porção do bordo, três dos quais (0,14%) apresentam decoração pintada de cor bran-ca. Sete exemplares pertenceram a paredes (0,32%), todas com ornamentação pintada de cor

154SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

branca, em três casos (0,14%) sobre aguada de cor negra. Nove fragmentos contêm parte deasas (0,41%), tendo três deles (0,14%) pintura de cor branca. Três fragmentos pertencerama fundos (0,14%), com forma plana.

Os fragmentos de alguidares totalizaram 18 (0,83%). Destes, dez mostram porção dobordo (0,46%), extrovertido, dois (0,09%) dos quais com a superfície interior brunida. Umfragmento de parede (0,05%) exibe o tratamento antes referido. Sete exemplares fizeramparte de fundos (0,32%), tendo seis (0,27%) a superfície interior brunida.

Os fragmentos de frigideiras são 14 (0,64%). Destes, dez contêm porção do bordo(0,45%), três dos quais (0,13%) oferecem decoração pintada, de cor branca, e quatro fizeramparte de fundos (0,19%).

Os fragmentos de panelas somaram 1233 (56,56%). Destes, 96 contêm porção do bordo(4,40%) (Res.P.Q17/C3-5; Res.P. Q22/C3-3; Res.P.Q27/C3-1), dez dos quais (0,46%) apresen-tam bordo baixo, com lábio de secção semicircular. Um (0,05%) oferece bordo espessado edemarcado, no exterior, por incisão, com lábio algo biselado. Um outro tem bordo espessadono interior. Os restantes fragmentos mostram lábio com secção semicircular. 15 fragmentos(0,68%) oferecem decoração pintada, de cor branca, em seis (0,27%) dos quais aplicada sobreaguada de cor cinzenta escura a negra. 972 dos exemplares correspondem a porções de pare-des (44,59%), 48 das quais (2,20%) com decoração pintada, de cor branca, sendo em 14(0,64%) sobre aguada de cor negra. 100 fragmentos contêm porção de asas (4,59%), mostran-do dez (0,46%) decoração pintada, de cor branca, sendo em três (0,14%) sobre aguada de corcinzenta escura. 65 exemplares fizeram parte de fundos (2,98%), com forma algo convexa.

Registámos dois fragmentos de tampas (0,09%), contendo porção do bordo.Dispomos de fragmento de cantil (0,04%), conservando porção do bordo, do gargalo e

parte do corpo (Res.P.Q9/C3-1). Mostra bordo inclinado exteriormente, com lábio de secçãosemicircular.

Os fragmentos de cântaros somaram 262 (12,02%). Destes, três mostram porção dobordo (0,14%) (Res.P. Q17/C3-4), que em dois casos (0,09%) é extrovertido e aplanado supe-riormente, com lábio de secção sub-rectangular. Três outros apresentam decoração pintada,de cor branca, sobre aguada de cor cinzenta escura. O fragmento representado graficamen-te oferece decoração formada por linha incisa e, ainda, por três linhas, irregulares, sob obordo. 219 fragmentos pertenceram a paredes (10,05%), mostrando 33 (1,51%) decoraçãopintada, de cor branca, sendo em dezoito (0,83%) sobre aguada de cor cinzenta a negra. 30fragmentos pertenceram a asas (1,37%) exibindo cinco (0,23%) pintura de cor branca. Dezfragmentos contêm parte do fundo (0,45%).

Os fragmentos de talhas são dois (0,09%), ambos contendo porção da parede.Recolhemos uma marca de jogo (0,04%).

2.2.4.2. Exterior da casaAs cerâmicas muçulmanas exumadas no exterior do espaço habitacional, corresponden-

do à camada 3, totalizaram 4412 fragmentos, distribuídos pelos quadrados 6, 7, 11, 12, 16, 20,24 e 33.

A inventariação dos materiais no exterior do espaço habitacional realizou-se em funçãodos quadrados onde foram recolhidos.

2.2.4.2.1. Quadrados 6, 7, 11, 12, 16, 20, 23, 24 e 33Exumámos uma ferradura de ferro (Res.P.Q33/C3-1) e recolhemos 4412 fragmentos de

cerâmica. O estudo estatístico em relação às pastas, formas e tratamento das superfícies, per-mitiu diferenciar os grupos, ou classes, indicados nos Quadros 2.VIII. e 2.IX.

155CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

QUADRO 2.VIIICerâmicas da camada 3 – pastas e tratamento de superfícies.

Pastas e sup. Claras Claras Claras Cl./ver. Claras Vermelhas TOTAISesmalt. esmalt. esm. br. vidradas

Quadrad. branco verde ver. cast.

Q6/C3 – – – – 3 2 5– – – – 0,06% 0,04% 0,10%

Q7/C3 4 – – 1 78 272 3550,10% – – 0,02% 1,77% 6,17% 8,06%

Q11/C3 5 – – 36 500 1501 20420,12% – – 0,82% 11,33% 34,02% 46,29%

Q12/C3 2 – – – 22 55 790,04% – – – 0,50% 1,25% 1,79%

Q16/C3 2 – – 20 541 1016 15790,04% – – 0,46% 12,25% 23,03% 35,78%

Q20/C3 – – – – 61 88 149– – – – 1,39% 2,00% 3,39%

Q23/C3 – 1 – – – – 1– 0,03% – – – – 0,03%

Q24/C3 – 2 2 29 40 112 185– 0,04% 0,04% 0,66% 0,91% 2,54% 4,19%

Q33/C3 – 2 – 2 4 9 17– 0,04% – 0,04% 0,09% 0,20% 0,37%

TOTAL 13 5 2 88 1249 3055 44120,30% 0,11% 0,04% 2,00% 28,30% 69,25% 100%

QUADRO 2.IXCerâmicas da camada 3 – formas.

Quad. Q6/C3 Q7/C3 Q11/C3 Q12/C3 Q16/C3 Q20/C3 Q23/C3 Q24/C3 Q33/C3 TOTAIS

FormasLoiça de mesa taças – 19 89 2 84 1 – 29 3 277

– 0,43% 2,01% 0,04% 1,91% 0,02% – 0,66% 0,06% 5,13%

púcaros – 23 34 3 1 – – 8 – 69– 0,53% 0,78% 0,06% 0,02% – – 0,19% – 1,58%

jarros/ 1 61 391 22 415 47 – 31 – 968jarras 0,02% 1,39% 8,87% 0,50% 9,40% 1,07% – 0,71% – 21,96%

bule – – 1 – – – – – – 1– – 0,02% – – – – – – 0,02%

garrafa – – 1 – – – – – – 1– – 0,02% – – – – – – 0,02%

Loiça de cozinha alguidares 1 8 38 – 18 – – 2 1 680,02% 0,19% 0,87% – 0,41% – – 0,04% 0,02% 1,55%

frigideiras – – 13 – – – – – 13– – 0,30% – – – – – 0,30%

panelas 1 143 999 34 617 57 – 85 4 19400,02% 3,24% 22,64% 0,78% 14,00% 1,30% – 1,93% 0,08% 43,99%

tampas – – 4 – 1 – – – – 5– – 0,09% – 0,02% – – – – 0,11%

Loiça de cantis – – – – 1 – – – – 1armazenamento – – – – 0,02% – – – – 0,02%

infusa 1 – – – – – – – – 10,02% – – – – – – – – 0,02%

cântaros – 99 453 16 409 41 – 24 8 1050– 2,24% 10,27% 0,37% 9,27% 0,94% – 0,54% 0,17% 23,80%

potes 1 – – – 1 – – – – 20,02% – – – 0,02% – – – – 0,04%

talhas – 2 14 2 2 2 1 3 1 27– 0,04% 0,31% 0,04% 0,04% 0,04% 0,03% 0,06% 0,02% 0,58%

Contentores lucernas/ – – 4 – 5 – – 2 – 11de fogo lamparinas – – 0,09% – 0,11% – – 0,04% – 0,24%

fogareiros – – 1 – 1 – – – – 2– – 0,02% – 0,02% – – – – 0,04%

Actividade marcas – – – – 2 1 – 1 – 4lúdica de jogo – – – – 0,04% 0,02% – 0,02% – 0,08%

Actividade manilha – – – – 1 – – – – 1industrial – – – – 0,02% – – – – 0,02%

não vasilhas – – – – 21 – – – – 21identificadas – – – – 0,48% – – – – 0,48%

TOTAIS 5 355 2042 79 1579 149 1 185 17 44120,10% 8,06% 46,29% 1,79% 35,78% 3,39% 0,03% 4,19% 0,37% 100%

156SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

157CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

Residência Paroquial – Cerâmicas do exterior da casa – pastas e tratamento das superfícies

Residência Paroquial – Cerâmicas do exterior da casa – formas

0 5 0 0 1000 1500 2000 2500 3000 3500

Claras esmalt. branco

Claras esmalt. verde

Claras esm. br. ver. cast.

Cl./Verm. vidrad.

Claras

Vermelhas

0 2 0 0 4 0 0 6 0 0 8 0 0 1000 1200 1400 1600 1800 2000

Taças

Púcaros

Jarros/jarras

Bule

Garrafa

Alguid.

Frigid.

Panelas

Tampas

Cantis

Infusa

Cântar.

Potes

Talhas

Lucrs/lampar.

Fogar.

Marcas de jogo

Manilha

Vasilhas

2.2.4.2.1.1. Cerâmicas – pastas e tratamento das superfícies1) Treze fragmentos (0,30%) foram fabricados com pastas muito homogéneas e com-pactas, contendo elementos, não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino. O núcleo das paredes é de cor rosada, bege, cinzenta clara ou rosada algo acinzentada(5YR 8/3; 5YR 7/1; 5YR 8/4; 7.5YR 8/4; 10YR 8/3; 7.5YR 8/2; 7.5YR 7/2). Uma ou ambassuperfícies apresentam esmalte, aderente mas já sem brilho, de cor branca.

2) Cinco fragmentos (0,11%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas, con-tendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos, calcáriose nódulos de barro cozido, de grão fino e, alguns, de grão médio a grosseiro. O núcleo das paredes é de cor branca rosada (5YR 7/6; 2.5YR 6/6; 2.5YR 8/2; 5YR 7/3).Uma ou ambas superfícies apresentam esmalte, aderente mas já sem brilho, de corverde.

3) Dois fragmentos (0,04%) foram fabricados com pastas muito homogéneas e com-pactas, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e feldspáticos, de grãofino. O núcleo das paredes é de cor rosada, algo acastanhada (2.5YR 6/4; 7.5YR 8/4). Assuperfícies apresentam esmalte, aderente mas sem brilho, de cor branca com restos dedecoração nas cores verde e castanha, de manganês.

4) 88 fragmentos (2,00%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas, con-tendo elementos, não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos e calcá-rios, de grão fino a médio. O núcleo das paredes é cor-de-laranja, de cor rosada, rosada acastanhada, vermelha, ver-melha acastanhada, cinzenta clara ou castanha acinzentada (10R 5/6; 10R 5/8; 10R 5/4;2.5YR 6/2; 5YR 7/4; 5YR 6/4; 5YR 6/2; 2.5YR 5/8). Uma ou ambas superfícies apre-sentam vidrado, aderente e brilhante, de cor castanha melada, amarelada ou algo esver-deada.

5) 1249 fragmentos (28,30%) foram fabricados com pastas muito homogéneas e com-pactas, contendo elementos, não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quart-zosos, calcários e nódulos de barro cozido, de grão fino e, alguns, de grão médio.O núcleo das paredes é de cor branca, rosada ou cinzenta clara (2.5Y 7/2; 2.5Y 8/0; 2.5Y8/2: 7.5YR 7/4; 7.5YR 8/4; 7.5YR 8/0; 5YR 7/1; 5YR 7/4; 5YR 7/6; 5YR 8/2; 5YR 8/3;5YR 8/4; 10YR 7/2; 10YR 8/1; 10YR 8/2; 10YR 8/3; 2.5YR 5/0). As paredes e as super-fícies oferecem cor semelhante à do núcleo, mas no caso do núcleo ser de cor cinzentaas paredes são rosadas.

6) 3055 fragmentos (69,25%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas,contendo elementos, não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos, cal-cários e nódulos de barro cozido, de grão médio e, alguns, de grão grosseiro.O núcleo das paredes é cor-de-laranja, de cor vermelha ou cinzenta (2.5YR 4/8; 2.5YR5/8; 10R 5/1; 10R 4/6; 10R 4/8; 10R 5/6; 10R 5/8; 5YR 5/1; 2.5YR 4/0; 2.5YR 3/0). Assuperfícies oferecem cor semelhante à do núcleo, algo mais escura, ou apresentam agua-da de cor cinzenta escura.

158SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

2.2.4.2.1.2. Formas e decorações2.2.4.2.1.2.1. Cerâmicas, com pastas claras, esmaltadas de cor brancaIdentificámos fragmentos de taças e de jarros ou jarras.Os fragmentos de taças são doze (0,28%), cinco deles contendo porção do bordo

(0,12%), com lábio de secção semicircular. Os restantes fragmentos pertenceram a paredes.Possuímos, apenas, fragmento de jarro ou jarra (0,02%), contendo porção do gargalo e

mostrando a superfície exterior esmaltada.

2.2.4.2.1.2.2. Cerâmicas, com pastas claras, esmaltadas de cor verdeIdentificámos fragmento de taça, outro de jarro ou jarra e alguns de talhas.O fragmento de taça contém pequena porção do pé, em anel (0,02%).O fragmento (0,02%) pertencente à parede de jarro ou jarra, mostra a superfície exte-

rior esmaltada, de cor verde, e a interior esmaltada de cor branca.Os restantes fragmentos fizeram parte de talhas. Um deles oferece decoração efectua-

da com duas matrizes diferentes, separadas por incisão. Uma das matrizes representa moti-vo fitomórfico e a outra possível elemento geométrico. Outro dos exemplares contém partedo gargalo, demarcado por incisão. Dispomos de fragmento de talha (Res.P.Q23/C3-1), cor-respondendo ao início do gargalo e a parte do corpo. A superfície exterior oferece aguada decor clara e esmalte, de cor verde, apresentando decoração incisa e estampilhada. Esta é cons-tituída por duas bandas, separadas por incisões largas e profundas e por cordão, marcadopor traços verticais. Um dos motivos estampilhados é de carácter arquitectónico, sendo pre-enchido, com motivo fitomórfico, enquanto o outro oferece elemento fitomórfico, muitoestilizado, e mostra três pequenas cartelas contendo elemento espinhado.

2.2.4.2.1.2.3.Cerâmicas, com pastas claras, esmaltadas de cor branca e com decoração nas cores verde e castanha (policromas)Exumámos dois fragmentos, com porção de bordo, de taças. Ambos apresentam aspecto

muito rolado.

2.2.4.2.1.2.4. Cerâmicas, com pastas de cor vermelha, vidradasExumámos fragmentos de taças, de jarros ou jarras, de tampa, de panelas, de lucerna e

de lamparinas.Os fragmentos de taças são 65 (1,48%). Destes, 19 mostram porção do bordo (0,43%) que

em um (0,02%) é introvertido (Res.P.Q11/C3-18) e em outro extrovertido. Todos os bordosapresentam lábio com secção semicircular. Seis (0,13%) oferecem decoração, constituída pormanchas escorridas, de cor castanha escura. O exemplar representado graficamente apresentaporção do bordo e da parede. Mostra forma troncocónica, com dupla carena. A superfície exte-rior oferece série de cordões dispostos na vertical entre as carenas. 40 exemplares correspon-dem a porções de paredes (0,92%), oito dos quais (0,18%) mostram decoração semelhante àobservada nos bordos. Seis fragmentos pertenceram a fundos (0,13%) que teriam pé em anel.

Os fragmentos de jarros ou jarras totalizaram sete, todos com pequenas dimensões(0,16%). Destes, cinco contêm porção da parede (0,12%) que em um mostra o arranque daasa. Dois outros (0,02%) apresentam parte do fundo, com porção do pé, em anel. Estas peçasoferecem, apenas, a superfície exterior vidrada.

Recolheu-se fragmento de tampa com fecho hermético (0,02%).Os fragmentos de panelas somaram onze (0,25%). Destes, apenas um (Res. P. Q7/C3-2)

contém porção do bordo e da parede. Aquela apresentava forma globular achatada, com duasasas opostas. O bordo é baixo, com lábio de secção sub-rectangular. Oito contêm parte da pare-

159CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

de (0,19%) e dois do fundo (1,08%), com forma plana. Todos os exemplares mostram, ape-nas, vidrado na superfície interior.

Três fragmentos de lamparinas (0,07%), contendo dois deles porção da base e outro oinício do corpo.

Um fragmento de lucerna conserva parte do reservatório (0,02%).

2.2.4.2.1.2.5. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (branca, rosada, bege ou cinzenta clara)Dispomos de fragmentos de taças, jarros ou jarras, alguidares, panelas, de uma garrafa,

assim como de infusa, de cantil, de cântaros, potes, talhas, lucernas, de tampa e marcas de jogo.Os fragmentos de taças somaram 53 (1,21%). Destes, 35 (0,80%) contêm porção do

bordo, tendo nove (0,20%) decoração pintada de cor vermelha. Um deles (Res.P.Q11/C3-2)pertence a taça, com forma sub-hemisférica, contendo porção do bordo, da parede e dofundo. Mostra bordo introvertido, com lábio algo biselado e assenta em fundo plano. A deco-ração é constituída por possível laço, pintado na superfície interior, ladeado por pontos emanchas e, ainda, por parte de semicírculo delimitando o fundo. Outro fragmento perten-ceu a taça carenada (Res.P.Q11/C3-14), com bordo alto e lábio de secção sub-rectangular, algobiselado. Assentava em fundo plano. Um dos fragmentos representado graficamente(Res.P.Q16/C3-5) correspondia a forma sub-hemisférica, assente em fundo plano. O bordo,espessado no interior, oferece lábio em bisel.

Três fragmentos de paredes (0,06%) mostram pintura de cor vermelha. 15 outros per-tenceram a fundos (0,35%), planos, com pintura de cor vermelha.

Um fragmento (0,02%) de jarro (Res.P.Q11/C3-5) contém porção do bordo, do gargalo,do corpo, uma asa e parte do fundo. Mostra bordo, ligeiramente extrovertido, com lábio desecção semicircular. A asa tem a extremidade superior fixada ao bordo e a inferior assentano início do corpo. O fundo é plano. A superfície exterior oferece decoração pintada, cor-de-laranja, constituída por dois grupos com três bandas, onduladas e horizontais, dispostos umno gargalo e o outro no início do corpo. Sobre a asa mostra, também, três linhas horizontais.

Os fragmentos de jarros ou jarras somaram 913 (20,69%). Destes, 90 (2,03%) contêmporção do bordo, tendo 13 (0,29%) decoração pintada de cor negra e 27 (0,60%) de cor ver-melha. Um fragmento (Res.P.Q6/C3-1) mostra porção do bordo, alto e vertical, com lábio desecção semicircular. Oferece, na superfície exterior, decoração pintada, de cor castanha, for-mada por linha sobre o lábio e duas outras, uma de cada lado, que delimitariam cartela, noinício do gargalo, preenchida com motivo ondulado. A totalidade do bordo apresenta peque-nas incisões, executadas a pente, mostrando linha, também incisa, na separação entre o bordoe o gargalo.

Um dos bordos oferece decoração pintada, de cor negra (Res.P.Q7/C3-3), constituídapor cinco linhas, paralelas e horizontais, encontrando-se uma sobre o bordo, outra abaixodaquele, a terceira na separação entre o gargalo e o corpo da peça e as restantes junto à extre-midade inferior da asa. O espaço disponível entre as três últimas linhas referidas encontra--se preenchido com traços, irregulares, dispostos em série. Foi, ainda, pintada linha sobre aasa. 671 fragmentos pertenceram a paredes (15,20%), mostrando 71 (1,60%) pintura de corvermelha e 52 (1,17%) de cor negra. 38 fragmentos são porções de asas (0,87%), dez dasquais (0,22%) com pintura de cor vermelha e oito (0,08%) de cor negra. 114 exemplares cor-respondem a porções de fundos (2,59%), com forma plana, tendo cinco (0,11%) o início daparede, com vestígios de pintura de cor vermelha.

Os fragmentos de alguidares são oito (0,19%). Destes, três apresentam porção do bordoe da parede (0,07%) e um deles, início do fundo (Res.P.Q11/C3-7).

160SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

Este mostra bordo espessado no exterior, com lábio de secção semicircular. Assentariaem fundo plano e a superfície interior encontra-se brunida. Quatro exemplares pertencerama paredes (0,10%), tendo um deles a superfície interior brunida e um fundo plano (0,02%).

Dois fragmentos (0,04%) de panelas (Res.P.Q11/C3-3), contêm porção do bordo, daparede e uma asa. O bordo é espessado no exterior e demarcado por incisão no interior,com lábio algo biselado. A superfície exterior oferece decoração, incisa e pintada, de corvermelha escura. Esta é constituída por linha incisa em redor do bordo, e por três linhas,digitadas e irregulares, sobre corpo, assim como por três outras sobre a asa. As incisões,pouco profundas, foram realizadas a partir da extremidade superior da asa e formamcanelado.

Um fragmento pertencente a panela (Res. P. Q6/C3-2) oferece decoração, na superfícieexterior, pintada e incisa. Esta era constituída por várias linhas, horizontais, no corpo dapeça, formando canelado e, ainda, por três linhas, digitadas, cor-de-laranja.

Dispomos, de igual modo, do fragmento de infusa (Res.P. Q6/C3-4), mostrando, nocorpo, decoração pintada, cor-de-laranja de tom acastanhado, com motivos distribuídos porquatro bandas. Destas, a primeira mostra quadriculado, a segunda, ziguezagues, dispostosna vertical, espaçadamente, a terceira ondulado, separado por ponteado irregular, enquantoa última representaria, possivelmente, círculo com ponteado no interior e sendo separado,no exterior, por ziguezague, disposto na vertical.

Um fragmento de tampa (possivelmente de tajine) (0,02%) (Res.P.Q11/C3-13), contémporção do bordo, extrovertido e demarcado por incisão, com lábio de secção semicircular.Apresenta parte de orifício circular na parede.

Identificou-se fragmento de garrafa (0,02%) (Res.P.Q11/C3-1), contendo porção dobordo, do gargalo e uma asa. O bordo encontra-se demarcado, no exterior, por incisão larga,e o lábio é algo biselado. A asa mostra três caneluras, longitudinais, pouco profundas.

Um fragmento de cantil (0,06 %) (Res.P.Q16/C3-2) contém porção do bordo, do gar-galo, o início do corpo e a extremidade superior da asa. Mostra bordo alto e amendoado, comlábio de secção semicircular. O gargalo é pequeno e nele foi fixada a extremidade superiorde uma asa, sobrelevada e de secção oval.

Os fragmentos de cântaros somaram 242 (5,49%). Destes, um contém porção do bordo(0,02%), com o arranque da extremidade superior da asa. 220 fragmentos pertenceram aparedes (5%), exibindo dezassete (0,38%) decoração pintada, de cor vermelha, e cinco(0,11%) de cor negra. (Res.P.Q16/C3-4), constituída por cartela rectangular, disposta na ver-tical, preenchida por dois círculos completos e parte de um outro, daquela mesma cor. Umdos fragmentos mostra pintura de cor rosada algo amarelada (Res.P.Q16/C3-6), constituídapor pequenos traços, irregulares, dispostos em série e tendo, em um dos lados, duas linhashorizontais. 58 fragmentos de paredes (1,31%) têm, na superfície exterior, decoração incisa,formando canelado. 16 fragmentos contêm porção de asas (0,36%), tendo cinco decoraçãopintada, de cor vermelha e um de cor negra.

Um fragmento de pote (0,02%), corresponde a porção do bordo e a parte do corpo(Res.P. Q16/C3-3). Mostrava forma globular e o bordo, extrovertido, tem lábio algo biseladocom secção sub-rectangular. Oferece decoração constituída, por três linhas, verticais, digita-das e por possível motivo fitomórfico.

Possuímos seis fragmentos de lucernas (0,14%), conservando parte do bico dois delese os restantes do reservatório.

Dois fragmentos (0,04%) de talhas, contêm porção da parede.Três marcas de jogo (0,06%) foram realizadas a partir de telhas e mostram contorno

subcircular.

161CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

14 fragmentos pertenceram a vasilhas, de difícil identificação formal (0,32%). Destes,doze fizeram parte de paredes (0,27%), oferecendo três decoração pintada, sendo em dois decor negra e em um de cor vermelha. Também recolhemos fragmento de asa e de fundo.

2.2.4.2.1.2.6. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (cor-de-laranja, vermelha ou cinzenta)Recolhemos fragmentos de taças, púcaros, jarros ou jarras, de um bule, de alguidares,

frigideiras, panelas, tampas, cântaros, de pote, de talhas, assim como de lucerna, de foga-reiro, uma marca de jogo e restos de manilha.

Os fragmentos de taças são 94 (2,14%). Destes, 54 contêm porção do bordo (1,23%), oitodos quais (0,18%) exibem decoração pintada, de cor branca. Uma das taças mostra bordoextrovertido (Res.P.Q11/C3-17) e duas outras bordo espessado interiormente (Res.P.Q11/C3-15; Res.P.Q11/C3-16), oferecendo ambas decoração pintada, de cor branca, constituída pormanchas, espaçadas, sobre o bordo. Todos os fragmentos de bordos apresentam lábio bisela-do. A decoração é constituída por manchas sobre o bordo, assim como sobre as superfícies dointerior e exterior das peças. 19 fragmentos correspondem a porções de paredes (0,43%),tendo uma (0,02%) pintura de cor branca. 21 fragmentos fizeram parte de fundos (0,48%).

Os fragmentos de púcaros somaram 69 (1,57%). Destes, sete (0,24%) pertenceram abordos, um dos quais (0,02%) mostra o arranque de asa e dois outros pintura de cor bran-ca, sendo em um sobre aguada de cor negra. Um deles (Res.P.Q7/C3-1) apresenta corpo glo-bular e bordo, alto e extrovertido, com lábio de secção semicircular. Oferece, na superfícieexterior, decoração pintada, de cor branca, constituída por linha sobre o bordo e outra, escor-rida, na superfície exterior. Outro fragmento (Res.P.Q11/C3-4) contém porção do gargalo,todo o corpo, o fundo e a extremidade inferior de asa. Um terceiro fragmento (0,02%)(Res.P. Q16/C3-1), contém porção do gargalo, da parede, todo o fundo e o negativo do arran-que de uma asa. Teria corpo globular, ligeiramente achatado, com duas carenas, uma entreo gargalo e o corpo e outra antecedendo o fundo. Este seria plano. A superfície exterior exi-bia decoração pintada, de cor branca, constituída por linha horizontal, disposta entre o gar-galo e a carena, a partir da qual foram pintados traços, algo oblíquos, e em série.

35 fragmentos fizeram parte de paredes de púcaros (0,80%), mostrando seis deles (0,13%)aguada de cor negra e decoração pintada de cor branca. 23 exemplares são asas (0,52%) tendouma delas (0,02%) aguada de cor negra e pintura de cor branca. Quatro fragmentos perten-ceram a fundos (0,09%), de forma plana.

Os fragmentos de jarros ou jarras somaram 45 (1,02%). Destes, dez (0,22 %) mostramporção do bordo, com restos de decoração pintada de cor branca. Um dos bordos oferece formabífida, tendo o lábio algo biselado (Res.P.Q11/C3-10). 23 exemplares pertenceram a paredes(0,53%), mostrando sete (0,16 %) pintura de cor branca, sendo em três (0,06%) sobre aguadade cor negra. Onze fragmentos (0,25%) fizeram parte de asas, tendo dois deles (0,04%) agua-da de cor negra e pintura de cor branca. Um fragmento (0,02%) contém porção do fundo.

Um fragmento de bule (0,02%), corresponde a porção do bico, com decoração pintadade cor branca.

Os fragmentos de alguidares somaram 58 (1,31%). Destes, 25 (0,57%) apresentam por-ção do bordo, sendo em um espessado no exterior, com lábio aplanado superiormente e embisel. Esta peça assenta em fundo plano (Res.P.Q11/C3-8). Oferece a superfície interior bru-nida e com decoração pintada, de cor branca, de que se conserva parte de reticulado. Os res-tantes fragmentos mostram porção do bordo, extrovertido, tendo quatro decoração pintada,de cor branca. Em um deles (Res.P.Q11/C3-9) o bordo é espessado e extrovertido com lábiode secção sub-rectangular, demarcado no exterior por canelura. A decoração é constituída

162SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

por parte de três semicírculos secantes pertencentes, possivelmente, a motivo fitomórfico.Em dois fragmentos a pintura foi executada sobre aguada de cor negra. Outro exemplar(Res.P.Q6/C3-5) mostra bordo espessado interiormente e tem lábio algo biselado. 14 exem-plares correspondem a porções de paredes (0,31%) e dezanove a parte de fundos (0,43%),com forma plana.

Os fragmentos de frigideiras somaram 13 (0,30%). Destes, seis contêm porção de pare-des (0,14%) e sete de fundos (0,16%), com forma plana.

Os fragmentos de panelas totalizaram 1927 (43,69%). Destes, 77 (1,75%) contêm por-ção do bordo, tendo dois o gargalo e início do corpo (Res.P.Q11/C3-11; Res.P.Q11/C3-12).Estes mostram bordo extrovertido, com lábio de secção semicircular. Um deles apresenta,no início do corpo, duas caneluras, pouco profundas, e o outro exibe, sobre o bordo, decora-ção pintada de cor branca. 13 dos bordos (0,29%) oferecem restos de decoração pintada, decor branca, sendo em quatro (0,09%) sobre aguada de cor negra. Quatro daqueles foramfabricados ao torno lento. 1663 fragmentos pertenceram a paredes (37,70%), mostrando 66(1,49%) decoração pintada de cor branca, sendo em 21 (0,47%) sobre aguada de cor negra.58 fragmentos fizeram parte de asas (1,31%), tendo um decoração pintada de cor branca. 129exemplares pertenceram a fundos (2,93%).

818 fragmentos fizeram parte de cântaros (8,54%). Destes, três mostram pequena por-ção do bordo (0,06%), 676 contêm porção de paredes (15,32%), exibindo 42 (0,82%) deco-ração pintada de cor branca, sendo em 11 (0,21%) sobre aguada de cor cinzenta escura. 88exemplares são asas (2,00%), tendo 24 (0,54%) restos de pintura de cor branca, em sete(0,15%) dos quais sobre aguada de cor cinzenta escura. 51 fragmentos pertenceram a fundos(1,16%).

Encontrámos fragmento de pote (Res.P. Q6/C3-3), contendo porção do bordo e do gar-galo. O bordo é alto e extrovertido, com lábio de secção semicircular, mas algo aplanadosuperiormente. A superfície exterior oferece duas linhas, incisas, que demarcam cordão.

Os fragmentos de talhas somaram 22 (0,50%). Destes, sete contêm porção do bordo(0,16%), extrovertido (Res.P.Q11/C3-6), e doze pertenceram a paredes (0,28%), tendo dois(0,04%) deles parte de cordão digitado. Três fragmentos fizeram parte de fundos (0,06%),com forma plana.

Um fragmento de lucerna (0,02%) contém porção do bico.Dois fragmentos de fogareiros (0,04%) contêm parte da fornalha.Exumaram-se fragmentos de tampas (0,06%), correspondendo dois (0,04%) a porção

do bordo e um a pega, em botão.Identificou-se fragmento de parede de manilha (0,02%).Uma marca de jogo (0,02%) foi elaborada a partir de fragmento de fundo de panela.

Mostra contorno subcircular.

2.2.4.3. Estruturas subterrâneasRecuperámos, ainda, fragmentos de cerâmicas no interior das três estruturas subterrâ-

neas identificadas nos quadrados 5 (E1), 7 (E2) (ver cortes IJ e GH), e 16 (E3). Estes materiaisforam estudados separadamente, considerando-se aquelas estruturas como loci (Fig. 2.21.).

2.2.4.3.1. Estrutura 1 (Q5)Foi aberta no substrato rochoso e apresenta forma subcilíndrica, com fundo plano e

cantos arredondados. Mede 2,16 m de profundidade máxima, 1,86 m de maior diâmetro, e1,40 m de diâmetro no fundo.

Reconhecemos as duas camadas a seguir descritas.

163CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

164SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.21 – Residência Paroquial. Cortes das estruturas E1 e E2 e fragmento de lucerna encontrada na camada 2 da primeira.

2.2.4.3.1.1. Camada 1Preenchia a parte superior desta estrutura e apresentava potência média medindo cerca

de 0,50 m.Mostrava constituição e espólio semelhantes aos reconhecidos na camada 1 deste

arqueossítio, dado que a zona se encontrava muito remexida.

2.2.4.3.1.2. Camada 2 Era constituída por terras de cor castanha acinzentada, por vezes algo esverdeadas

(2.5Y 4/2), que preenchiam os seus volumes mesial e superior. No interior exumámos 67fragmentos de cerâmica, cujo estudo estatístico permitiu identificar os grupos, ou classes,assinalados no quadro 2.X.

QUADRO 2.XResidência Paroquial. Cerâmicas da E1/C2.

Pastas e sup Vermelhas Branca Claras Vermelhas TOTAISvidradas corda seca

Tipos Formas parcialLoiça de mesa taças 5 – – – 5

7,46% – – – 7,46%

jarros/jarras – – 15 – 15– – 22,39% – 22,39%

Loiça de cozinha alguidares – – – 2 2– – – 2,98% 2,98%

panelas – – – 38 38– – – 56,72% 56,72%

Loiça de cântaros – – – 6 6armazenamento – – – 8,96% 8,96%

Contentor lucerna – 1 – – 1de fogo – 1,49% – – 1,49%

TOTAIS 5 1 15 46 677,46% 1,49% 22,39% 68,66% 100%

2.2.4.3.1.2.1. Cerâmicas – pastas e tratamento das superfícies1) Cinco fragmentos (7,46%) foram fabricados com pastas muito homogéneas e com-pactas, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e nódulos de barrocozido, de grão fino.O núcleo das paredes é de cor rosada, cinzenta ou vermelha (5YR 7/4; 5YR 6/1; 10R 5/8).Ambas superfícies oferecem vidrado, aderente e brilhante, de cor castanha melada.

2) Um fragmento (1,49%) foi fabricado com pasta muito homogénea e compacta, con-tendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino. Tanto o núcleocomo as superfícies das paredes são de cor branca (2.5Y 8/2).

3) 15 fragmentos (22,39%) foram fabricados com pastas muito homogéneas e compactas,contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino, assim como cal-cários e nódulos de barro cozido, de grão fino a médio.O núcleo das paredes é de cor branca, de cor bege clara, cinzenta clara ou rosada (10YR7/3; 10YR 7/2; 5YR 7/4). As superfícies são da mesma cor do núcleo.

4) 46 fragmentos (68,66%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas,contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino ealguns, de grão médio.O núcleo das paredes é cor-de-laranja, de cor vermelha, castanha ou cinzenta (2.5YR 5/8;2.5YR 4/8; 10R 4/8; 10R 5/4). As superfícies apresentam cor semelhante à do núcleo ou

165CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

aguada de cor mais escura. No caso do núcleo mostrar cor cinzenta as paredes e super-fícies são cor-de-laranja.

2.2.4.3.1.2.2 Formas e decorações2.2.4.3.1.2.2.1. Cerâmicas, com pastas de cor vermelha, vidradas Identificámos, apenas, fragmentos de taças. Destes, um mostra porção de bordo

(1,49%), três pertenceram a paredes (4,48%), tendo um deles decoração pintada de cornegra, e um outro fez parte de fundo (1,49%), com forma plana.

2.2.4.3.1.2.2.2. Cerâmica, com pasta clara e decoração de corda seca parcialDispomos de fragmento de lucerna, contendo parte do reservatório (Res. P. Q5/E1/C2-

1). Este oferece, na parte superior, decoração de corda seca parcial, constituída por motivogeométrico, pintado de cor verde escura, preenchido com vidrado naquela mesma cor.

2.2.4.3.1.2.2.3. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (branca, bege, rosada ou cinzenta clara).Reconhecemos fragmentos que tanto podem pertencer a jarros como a jarras. Destes,

13 contêm porção de paredes (19,41%), dois dos quais (2,98%) com decoração pintada de corvermelha e em um (1,49%) de cor negra. Um fragmento contém porção de fundo (1,49%) eoutro de asa (1,49%) que mostra decoração pintada de cor vermelha.

2.2.4.3.1.2.2.4. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (cor-de-laranja, vermelha, castanha ou cinzenta)Exumámos fragmentos de alguidares, de panelas e de cântaros.Os fragmentos de alguidares são dois (2,98%), contendo um porção do bordo (1,49%),

com pintura de cor branca e o outro parte do fundo.Os fragmentos de panelas totalizaram 38 (56,72%). Destes, um contém porção do

bordo (1,49%), um pertenceu a asa (1,49%) e, um outro a fundo (1,49%). 35 fragmentosfizeram parte de paredes (52,25%), três dos quais (4,47%) exibem decoração pintada de corbranca.

Os fragmentos de cântaros somaram seis (8,96%), contendo todos porção de paredes.Destes, três (4,48%) mostram decoração pintada de cor branca.

2.2.4.3.2. Estrutura 2 (Q7)Foi, em grande parte, escavada no substrato rochoso e apresentava forma subcilíndri-

ca, com fundo plano e cantos arredondados. Media 3,38 m de profundidade, 0,80 m de diâ-metro na boca e 0,86 m de diâmetro no fundo.

Identificámos as cinco camadas arqueológicas a seguir descritas.

2.2.4.3.2.1. Camada 1Foi reconhecida na parte superior e apresentava potência média de 0,80 m.

Correspondia a terras com constituição e cor semelhantes às identificadas na primeira cama-da deste arqueossítio, devido a motivos idênticos aos assinalados para a estrutura 1.

2.2.4.3.2.2. Camada 2Era formada por terras, com potência média de cerca de 1 m, de cor esverdeada (5Y 5/3),

contendo alguns fragmentos de cerâmica, com aspecto muito rolado, pertencentes, possi-velmente, às Idades Média e Moderna.

166SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

2.2.4.3.2.3. Camada 3Mostrava terras com potência média que atingia 0,80 m, de cor cinzenta acastanhada (5YR

4/2). Continha um fragmento de escória de vidro, quatro restos osteológicos, pertencentes a ovino--caprinos, e 88 fragmentos de cerâmica, cujo estudo estatístico em relação às pastas, formas e tra-tamento das superfícies, permitiu identificar os grupos, ou classes, assinalados no quadro 2.XI.

QUADRO 2.XIResidência Paroquial. Cerâmicas da E2/C2.

Pastas e sup Cl. br. esm. Vermelhas Claras Vermelhas TOTAISdec. verde vidradas

Tipos Formas cast.Loiça de mesa taças 1 1 – – 2

1,14% 1,14% – – 2,28%

púcaros – – – 7 7– – – 7,96% 7,96%

jarros/jarras – 2 15 – 17– 2,26% 17,04% – 19,30%

bules – – – 4 4– – – 4,54% 4,54%

Loiça de cozinha alguidar – – – 1 1– – – 1,13% 1,13%

frigideiras – – – 3 3– – – 3,40% 3,40%

panelas – – – 35 35– – – 39,79% 39,79%

Loiça de cântaros – – 5 13 18armazenamento – – 5,69% 14,78% 20,47%

tampas – – – 1 1– – – 1,13% 1,13%

TOTAIS 1 3 20 64 881,14% 3,40% 22,73% 72,73% 100%

2.2.4.3.2.3.1. Cerâmicas – pastas e tratamento das superfícies1) Recolhemos, apenas, um fragmento (1,14%) fabricado com pasta muito homogéneae compacta, contendo elementos não plásticos quartzosos, micáceos e nódulos de barrocozido, de grão fino e, alguns, de grão médio.O núcleo das paredes é de cor rosada (5YR 7/4) e a superfície exterior apresenta vidra-do, aderente e brilhante, de cor castanha algo esverdeada. A superfície interior, esmal-tada, oferece decoração nas cores verde e castanha, de manganês.

2) Três fragmentos (3,40%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas,contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino.O núcleo das paredes é de cor vermelha ou cinzenta (10R 5/8; 2.5YR 6/0). As superfí-cies apresentam vidrado, aderente e brilhante, de cor castanha melada.

3) 20 fragmentos (22,73%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas, con-tendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino, assim como calcá-rios de grão médio.O núcleo das paredes é de cor bege clara, branca ou rosada (10YR 8/3; 10 YR 8/2; 7.5YR7/4). As superfícies apresentam cor semelhante à do núcleo.

4) 64 fragmentos (72,73%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas, con-tendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino, assim como,alguns, calcários e nódulos de barro cozido, de grão médio.O núcleo das paredes é cor-de-laranja ou de cor vermelha (2.5YR 4/8; 2.5YR 5/8; 10R5/8; 10R 4/8). As superfícies oferecem cor semelhante à do núcleo ou aguada de corcinzenta escura a negra.

167CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

168SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

2.2.4.3.2.3.2. Formas e decorações2.2.4.3.2.3.2.1. Cerâmica, com pasta clara, esmaltada de cor branca e com decoração nas cores verde e castanha (policromas)Dispomos, de fragmento de taça, contendo porção do bordo, com lábio de secção semi-

circular. A superfície interior, esmaltada de cor branca, oferece decoração de cor verde água,representando palmeta.

2.2.4.3.2.3.2.2. Cerâmicas, com pastas de cor vermelha, vidradas Identificámos fragmento de taça carenada e dois de jarros ou jarras.O fragmento de taça (1,14%) contém porção do bordo, introvertido e com lábio de sec-

ção semicircular. Exibe decoração, na superfície exterior, constituída por cordões verticais.Dois fragmentos de paredes pertenceram a jarros ou a jarras (2,26%).

2.2.4.3.2.3.2.3. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (bege, branca ou rosada)Dispomos de fragmentos de jarros ou de jarras e de cântaros.Os fragmentos de jarros ou jarras somaram 15 (17,04%). Destes, dois contêm porção do

bordo (2,27%), tendo um (1,14%) decoração pintada de cor negra. 12 exemplares pertencerama paredes (13,63%), apresentando um (1,14%) decoração pintada de cor negra. Um daquelesfragmentos (1,14%) mostra decoração mais elaborada, na parte superior de cor castanha e nainferior cor-de-laranja. Um fragmento (1,14%) do fundo contém porção do pé, em anel.

Os fragmentos de cântaros são cinco (5,69%). Oferecem, na superfície exterior, decoraçãopintada de cor negra. Destes, quatro mostram porção de parede (4,55%) e um de asa (1,14%).

2.2.4.3.2.3.2.4. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (cor-de-laranja ou vermelha)Identificámos fragmentos de púcaros, bules, de um alguidar, de frigideiras, panelas,

cântaros e de tampa.Sete fragmentos pertenceram a púcaros (7,96%). Destes, possuímos um com porção do

bordo (1,14%) e seis de paredes (6,82%).Os fragmentos de bules somaram quatro (4,54%), todos contendo porção do bordo,

com lábio de secção semicircular. Dois deles (2,27%) exibem, na superfície exterior, decora-ção, canelada.

Um fragmento de alguidar mostra fundo plano (1,13%).Os fragmentos de frigideiras são três (3,40%), contendo todos eles parte do fundo, com

vestígios de utilização ao fogo.Os fragmentos de panelas totalizaram 35 (39,79%). Destes, dois contêm porção do bordo

(2,28%), 30 das paredes (34,10%), dos quais três (3,41%) mostram decoração pintada de cor bran-ca, sobre aguada de cor negra. Três outros pertenceram a fundos (3,41%), com forma plana.

Os fragmentos de cântaros são 13 (14,78%). Destes, oito (9,09%) apresentam porção deparedes, três deles (3,40%) com decoração pintada de cor branca, sendo em um (1,13%) sobreaguada de cor negra. Cinco fragmentos pertenceram a asas (5,69%).

Um fragmento de tampa (1,13%), mostra fecho hermético.

2.2.4.3.2.4. Camada 4Preenchia grande parte desta estrutura e assentava a cerca de 0,78 m do fundo. Mostrava ter-

ras, pouco compactas, de cor amarela clara (5Y 7/3). Recolheram-se restos osteológicos, perten-centes a ovino-caprinos, duas valvas de berbigão (Cerastoderma edule), uma valva de ostra (Ostrea

edulis) e outra de vieira (Pecten maximus), bloco aparelhado, de arenito vermelho, mostrando onegativo de gonzo, fragmento de pequena jarra de vidro, assim como cossoiro de osso (Res.P.Q7/E2/C4-A) e 336 fragmentos de cerâmica, cujo estudo, em relação às pastas, formas e tratamentodas superfícies, permitiu identificar os grupos, ou classes, assinalados no quadro 2.XII.

QUADRO 2.XIIResidência Paroquial. Cerâmicas da E2/C4.

Pastas e sup Claras/vermelhas Claras Vermelhas TOTAISvidradas

Tipos FormasLoiça de mesa taças 13 – 6 19

3,87% – 1,78% 5,65%

púcaros – – 30 30– – 8,94% 8,94%

jarros/jarras – 37 102 139– 11,03% 30,37% 41,40%

bule – – 1 1– – 0,29% 0,29%

Loiça de cozinha alguidares – – 5 5– – 5,69% 5,69%

frigideiras – – 8 8– – 2,38% 2,38%

panelas 4 – 69 731,18% – 20,55% 21,73%

Loiça de cântaros – 1 51 52armazenamento – 0,29% 15,18% 15,47%

talhas – 3 – 3– 0,89% – 0,89%

tampas – 2 3 5– 0,59% 0,89% 1,48%

não identificadas vasilha – – 1 1– – 0,29% 0,29%

TOTAIS 17 43 276 3365,05% 12,80% 82,15% 100%

2.2.4.3.2.4.1. Cerâmicas-pastas e tratamento das superfícies1) Dezassete fragmentos (5,05%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas,contendo elementos não plásticos, micáceos e calcários, de grão fino e, alguns nódulosde barro cozido, de grão médio.O núcleo das paredes é cor-de-laranja, de cor vermelha amarelada, branca algo rosadaou rosada (2.5YR 4/8; 2.5YR 6/6; 5YR 7/4; 5YR 8/2; 5YR 8/3; 5YR 8/4). As superfíciesapresentam vidrado, aderente e brilhante, de cor castanha melada e, em nove exempla-res (2,67%), com tom amarelado.

2) 43 fragmentos (12,80%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas, con-tendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino, assim como calcá-rios e nódulos de barro cozido, de grão fino e, alguns, de grão médio.O núcleo das paredes é de cor cinzenta clara ou branca (10YR 7/2; 10YR 8/2; 5Y 8/2) eas superfícies oferecem cor semelhante ou algo mais escura que a do núcleo.

3) 276 fragmentos (82,15%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas,contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos e cal-cários, de grão fino a médio.O núcleo das paredes é cor-de-laranja, de cor vermelha, vermelha acastanhada ou cin-zenta escura (2.5YR 4/8; 2.5YR 5/8; 2.5YR 4/0; 10R 4/8; 10R 5/8; 10R 5/4). As superfí-cies apresentam cor semelhante ou algo mais escura que a do núcleo, assim como agua-da de cor cinzenta escura a negra. No caso do núcleo ser de cor cinzenta aquelas sãocor-de-laranja.

169CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

170SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

0 5 0 1 0 0 1 5 0 2 0 0 2 5 0 3 0 0

Clara/Verm. vidrad.

Claras

Vermelhas

0 2 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0 1 2 0 1 4 0

Taças

Púcaros

Jarros/jarras

Bule

Alguidares

Frigideiras

Panelas

Cântaros

Talhas

Tampas

Vasilha

Residência Paroquial – Cerâmicas da E2/C4 – pastas e tratamento das superfícies

Residência Paroquial – Cerâmicas da E2/C4 – formas

2.2.4.3.2.4.2 Formas e decorações2.2.4.3.2.4.2.1. Cerâmicas, com pastas de cores claras ou vermelha, vidradasRecolhemos fragmentos de taças e de panelas.Os fragmentos de taças são 13 (3,87%). Destes, três (0,89%) contêm porção do bordo,

pertencendo a peças com corpo de forma sub-hemisférica. Mostram bordo espessado no inte-rior, com lábio biselado (Res.P.Q7/E2/C4-5; Res.P.Q7/E2/C4-4; Res.P.Q7/E2/C4-3). Seteexemplares pertenceram a paredes (2,08%), tendo quatro (1,19%) o arranque da extremidadeinferior da asa e três (0,89%) decoração, escorrida, de cor castanha escura. Recuperámos,também, três fragmentos contendo porção do fundo (0,90%), com forma plana.

Os fragmentos de panelas somaram quatro (1,18%). Destes, um (0,30%) mostra porçãodo bordo, notando-se o negativo correspondente à fixação da asa. Os outros três exemplaressão porções de paredes (0,88%) mostrando, apenas, o interior vidrado.

2.2.4.3.2.4.2.2. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (branca, rosada ou cinzenta clara)Dispomos de fragmentos de jarros ou jarras, de um cântaro, de talhas e de tampas.Os fragmentos de jarros ou jarras somaram 37 (11,03%). Destes, três contêm porção do

bordo (0,89%), com decoração pintada de cor negra. 32 são pedaços de paredes (9,55%), doisdos quais (0,59%) com decoração pintada de cor negra e um (0,29%) de cor vermelha.Dispomos de exemplar pertencente a jarra (Res.P. Q7/E2/C4-6) que conserva a totalidade docorpo, com forma globular e assente em pé, baixo, anelar. Apresenta o arranque da extremi-dade inferior de duas asas opostas. A parede correspondente ao início do corpo, foi boleadatendo esta peça, por isso, sido reutilizada depois de ter perdido o gargalo. A superfície exte-rior oferece decoração pintada, de cor branca, constituída por cartela delimitada por trêslinhas, uma no início do corpo e duas outras a meio daquele e junto ao arranque da extremi-dade inferior das asas. No interior da cartela observam-se pequenos traços, verticais, dispos-tos em série. Dois fragmentos contêm porção do fundo (0,59%).

Um fragmento de asa de cântaro (0,29%), oferece decoração, pintada, de cor negra.Três fragmentos de talhas (0,89%), contendo porção da parede. Uma delas

(Res.P.Q7/E2/C4-1) exibe decoração estampilhada e incisa, constituída por cordão, com inci-são ao centro, disposto sensivelmente a meio. Mostra dois tipos de matrizes, ambas circula-res, representando uma círculos concêntricos e a outra estrela com ponto central, inseridaem círculo e rodeada por série de pontos.

Dois fragmentos de tampas (0,59%) conservam porção do bordo, tendo sido, uma delas,fabricada ao torno lento.

2.2.4.3.2.4.2.3. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (cor-de-laranja, vermelha ou cinzenta)Possuímos fragmentos de taças, púcaros, jarros ou jarras, de um bule, de alguidares,

frigideiras, panelas, cântaros e de tampas.Os fragmentos de taças somaram seis (1,78%), pertencendo todos a peças carenadas,

embora cinco (1,49%) tenham tido carena simples e uma (0,29%) carena acusada. Um deles(Res.P.Q7/E2/C4-2) mostra porção do bordo, da parede, do fundo e o arranque de uma asa.Apresenta bordo extrovertido, com lábio de secção semicircular e assenta em fundo plano.A superfície interior oferece decoração pintada, de cor branca, constituída por linha, irregu-lar, em redor do bordo e, possivelmente, por pseudo-asterisco, no interior do fundo, ladea-do por traços, irregulares, ondulados. No interior do fundo reconhecem-se, ainda, as marcasdos dedos deixados pelo oleiro, aquando da formação da peça. Dispomos de fragmento

171CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

(Res.P.Q7/E2/C4-7) contendo bordo, vertical, com lábio de secção semicircular, algo apla-nado superiormente e outro apresentando bordo extrovertido, com lábio de secção semicir-cular, aplanado superiormente (Res.P.Q7/E2/C4-8). Os restantes mostram bordo, espessa-do, com lábio algo biselado.

Os fragmentos de púcaros são 30 (8,94%). Destes, oito (2,38%) oferecem porção dobordo, com decoração pintada de cor branca, sendo em dois deles (0,59%) sobre aguada decor negra. 15 exemplares pertenceram a paredes (4,48%), tendo nove (2,68%) ornamentaçãopintada de cor branca, e mostrando quatro (1,19%) aquela decoração sobre aguada de cornegra. Três fragmentos são porções de asas (0,89%) tendo um pintura de cor branca. Quatrodos exemplares fizeram parte de fundos (1,19%), com forma plana.

Um fragmento de bule (0,29%), contém porção do bordo, do corpo e o bico. Mostravacorpo globular, com bordo alto e vertical, algo espessado no exterior e com lábio de secção embisel (Res.P.Q7/E2/C4-10). Conserva bico com forma subcilíndrica. A superfície exteriorapresenta aguada de cor cinzenta escura a negra e decoração pintada, de cor branca, consti-tuída por uma linha sobre o bordo, outra entre o gargalo e o início do corpo que, com outrasduas situadas sob a extremidade inferior do bico, definem cartela. Esta encontra-se preenchi-da, junto ao elemento vertedor, por pequenos traços, oblíquos, dispostos em série.

Um fragmento de jarra (0,29%), contém quase todo o corpo, assentando em pé anelar.Os fragmentos de jarros ou jarras somaram 101 (30,08%). Destes, apenas 12 possuem

parte do bordo (3,57%), tendo seis (1,78%) decoração pintada de cor branca, em três dosquais (0,89%) sobre aguada de cor cinzenta escura. 74 exemplares são porções de paredes(22,05%), tendo dez (2,97%) decoração pintada de cor branca, em quatro dos quais (1,18%)sobre aguada de cor negra. Cinco fragmentos fizeram parte de asas (1,48%), exibindo agua-da de cor negra e pintura de cor branca. Dez fragmentos contêm porção de fundos (2,98%),com forma plana.

Os fragmentos de alguidares são cinco (1,48%). Destes, dois conservam porção do bordo(0,59%), algo extrovertido ou espessado e extrovertido, com lábio de secção semicircular ecom a superfície interior brunida (Res.P.Q7/E2/C4-11).

Dois outros pertenceram a paredes (0,59%) e um a fundo (0,30%), que mostra a super-fície interior brunida.

Os fragmentos de frigideiras somaram oito (2,38%). Destes, seis (1,78%) contêm por-ção do bordo, com lábio de secção semicircular, e tem parte da asa. Quatro fragmentos(1,18%) oferecem decoração pintada, de cor branca, junto ao bordo. Dois fragmentos per-tenceram a fundos (0,60%), com forma plana, apresentando vestígios de intensa utilizaçãoao fogo.

Os fragmentos de panelas são 69 (20,55%). Destes, seis (1,78%) pertenceram a bordos,tendo um deles (0,29%) decoração pintada de cor branca. 55 mostram porção de paredes(16,39%) tendo um decoração pintada, de cor branca, e outro pintura daquela mesma cormas sobre aguada de cor negra. Oito fragmentos pertenceram a fundos (2,38%) e mostramvestígios de utilização ao fogo.

Os fragmentos de cântaros somaram 51 (15,18%). Destes, dois (0,59%) contêm porçãodo bordo, com decoração pintada de cor branca sobre aguada de cor negra. 46 exemplarescorrespondem a porções de paredes (13,71%), tendo 25 (7,45%) pintura de cor branca, em 13(3,87%) dos quais sobre aguada de cor negra. Também se identificaram fragmento de asa(0,29%) e dois de fundos (0,59%), com forma plana.

Os fragmentos de tampas são três (0,89%), tendo dois (0,59%) parte do bordo e um apega, em botão. Somente um deles (0,30%) mostra pintura de cor branca.

Um fragmento de asa de vasilha, indeterminada (0,29%), oferece pega em botão.

172SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

2.2.4.3.2.5. Camada 5 Era constituída por fino nível de terras, com potência máxima medindo cerca de

0,10 m, preenchendo o fundo desta estrutura. Mostrava cor amarela acastanhada (2.5Y6/4) e ofereceu, apenas, uma panela quase completa (Res.P.Q7/ E2/C5-1). Esta apresen-ta forma globular, achatada, com carena algo acusada. O bordo é alto, com secção sub-triangular, demarcado por incisão larga no exterior, e tem lábio com secção semicircu-lar. Duas asas, opostas, de secção subtriangular, tinham a extremidade superior fixadasob carena e a inferior repousava a meio do corpo. Assenta em fundo plano. A superfí-cie exterior mostra aguada, de cor cinzenta escura, com decoração pintada, de cor bran-ca, de que subsiste linha escorrida sobre o bordo. Oferece, ainda, canelura a meio dovolume do corpo.

2.2.4.3.3. Estrutura 3 (Q16)Apresentava forma subparalelepipédica, tendo sido escavada no substrato rochoso.

O fundo era plano e os cantos arredondados. Foi identificada sob a camada 2 reconhecidano exterior da habitação anteriormente descrita. Verificámos ser preenchida por uma únicacamada arqueológica (C1).

Media 1,48 m de comprimento, 0,82 m de largura e tinha cerca de 0,32 m de profun-didade máxima.

2.2.4.3.3.1. Camada 1Preenchia a totalidade desta estrutura, sendo constituída por terras de cor castanha

avermelhada (5YR 4/3). No seu interior exumámos 178 fragmentos de cerâmica, cujo estu-do, em relação às pastas, formas e tratamento das superfícies, permitiu identificar os gru-pos, ou classes, assinalados no quadro 2.XIII.

QUADRO 2.XIIIResidência Paroquial. Cerâmicas da E3/C1.

Pastas e sup Vermelhas Claras Vermelhas TOTAISvidradas

Tipos Formas

Loiça de mesa taças 8 1 7 164,49% 0,56% 3,94% 8,99%

jarros/jarras – 12 17 29– 6,75% 9,55% 16,30%

Loiça de cozinha panelas 2 – 84 861,12% – 47,19% 48,31%

Loiça de cântaros – 20 27 47armazenamento – 11,23% 15,17% 26,40%

TOTAIS 10 33 135 1785,61% 18,54% 75,85% 100%

2.2.4.3.3.1.1. Cerâmicas – pastas e tratamento das superfícies1) Dez fragmentos (5,61%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas, con-tendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino, assimcomo nódulos de barro cozido de grão médio a grosseiro.O núcleo das paredes é de cor rosada ou vermelha (5YR 7/6; 10R 5/8; 10R6/6) e assuperfícies oferecem vidrado, aderente e brilhante, de cor castanha.

2) 33 fragmentos (18,54%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas, con-tendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino, assim como calcá-rios e nódulos de barro cozido, de grão médio.

173CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

174SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

Residência Paroquial – Cerâmicas da E3/C1 – pastas e tratamento das superfícies

Residência Paroquial – Cerâmicas da E3/C1 – formas

0 2 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0 1 2 0 1 4 0

Verme. vidra.

Claras

Vermelhas

0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 0

Taças

Jarros/jarras

Panelas

Cântaros

O núcleo das paredes é de cor branca, bege clara, rosada ou cinzenta clara (2.5Y 8/2;10YR 7/2; 10YR 7/1; 5YR 7/4) e as superfícies oferecem cor semelhante, algo mais claraou mais escura. No caso do núcleo ser de cor cinzenta as paredes são rosadas.

3) 135 fragmentos (75,85%) foram fabricados com pastas homogéneas e compactas, con-tendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos e calcá-rios, de grão médio.O núcleo das paredes é cor-de-laranja, de cor vermelha ou cinzenta (2.5YR 5/8; 2.5YR4/8; 2.5YR 4/0; 10R 4/6). As paredes e superfícies têm cores semelhantes às dos núcle-os, mesmo quando estes apresentam cor cinzenta.

2.2.4.3.3.1.2 Formas e decorações2.2.4.3.3.1.2.1. Cerâmicas, com pastas vermelhas, vidradasIdentificámos fragmentos de taças e de panelas.Os fragmentos de taças somaram oito (4,49%). Destes, três mostram parte do bordo

(1,68%), com lábio de secção semicircular, e cinco são porções de paredes (2,81%).Os fragmentos de panelas são dois (1,12%), contendo ambos parte de parede, vidrada,

apenas, na superfície interior.

2.2.4.3.3.1.2.2. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (branca, bege, rosada ou cinzenta clara)Dispomos de fragmentos de taça, de jarros ou jarras e de cântaros.Um fragmento de taça (0,56%), contém pequena porção do bordo, alto, com lábio de

secção semicircular.Os fragmentos de jarros ou jarras são dez (5,63%). Destes, um mostra porção do bordo

(0,56%), com decoração pintada de cor negra, e a extremidade superior da asa. Dez fragmentoscorrespondem a porções de paredes (5,63%), tendo um (0,56%) decoração pintada de cor negrae três (1,68%) de cor vermelha. Um fragmento contém parte do fundo (0,56%).

Os fragmentos de cântaros somaram 20 (11,23%). Destes, 19 são porções de paredes(10,67%), tendo cinco (2,80%) decoração pintada de cor negra e nove (5,05%) de cor verme-lha. Um fragmento pertenceu a fundo (0,56%).

2.2.4.3.3.1.2.3. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (cor-de-laranja, vermelha ou cinzenta)Exumámos fragmentos de taças, jarros ou jarras, de panelas e de cântaros.Os fragmentos de taças totalizaram sete (3,94%). Destes, cinco mostram parte do bordo

(2,82%), tendo três (1,69%) decoração pintada de cor branca. Um fragmento contém porçãodo fundo (0,56%) e um outro de parede (0,56%), com carena acusada.

Os fragmentos de jarros ou jarras são dezassete (9,55%). Destes, dois mostram parte dobordo (1,12%), tendo um (0,56%) decoração pintada de cor branca. 12 exemplares são por-ções de paredes (6,75%) e três contêm parte do fundo (1,68%).

Os fragmentos de panelas são 84 (47,19%). Destes, oito apresentam porção do bordo(4,49%), tendo dois (1,12%) decoração pintada de cor branca. 64 exemplares pertenceram aparedes (35,97%), tendo três (1,68%) decoração pintada de cor branca. Também identificá-mos uma asa (0,56%) e 11 pedaços contendo porção do fundo (6,17%).

Os fragmentos de cântaros totalizaram 27 (15,17%). Destes, 22 (12,37%) contêm partedas paredes, mostrando quatro (2,24%) aguada de cor negra e pintura de cor branca. Trêsfragmentos (1,68%) são porções de asas, tendo uma (0,56%) pintura de cor branca. Doisfragmentos correspondem a pedaços de fundos (1,12%).

175CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

2.2.5. Integração cultural

Detectámos durante esta intervenção arqueológica, restos de uma habitação, localizadano cruzamento de duas vias. A entrada na habitação descrita realizava-se a partir de rua,situada a cerca de 6 m da actual rua do Castelo, demonstrando alterações em relação à redeviária presentemente ali existente. Estas ficaram a dever-se tanto à forte dinâmica da ocupa-ção da zona, como à proximidade de uma das portas de entrada na medina, a Porta do Sol e,ulteriormente, à existência da Sé.

Os restos da vivenda postos a descoberto indicam tratar-se de construção semelhante,tanto nos processos de edificação, onde se usou alvenaria de pedra e de taipa, como na cons-tituição e articulação dos seus espaços, a muitas outras encontradas em bairros pobres dediversas medinas ou, até, no interior de fortificações do al-Andalus (Fig. 2.22). A distribuiçãodos espaços em torno de um pátio central, com passeador e, no caso em apreço, com minús-culo jardim, é comum a toda a região referida, nomeadamente em habitações dos séculos XIIe XIII (Fig. 2.23). Como exemplo podemos referir as casas postas à vista durante as escava-ções arqueológicas realizadas na cidade almoada de Saltés, onde encontramos, estreitos para-lelos para a casa identificada neste arqueossítio de Silves (Bazzana, 1995, p. 144).

176SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.22 – Perspectiva das estruturas correspondentes a casa identificada na Residência Paroquial.

A reutilização daquele espaço, em tempos subsequentes à conquista cristã de Silves,documentada sobretudo pela presença de cerâmicas e de numismas, daquele período, teráprovocado as alterações registadas e, em particular, a anulação do jardim, como possivel-mente das instalações sanitárias. Estas, embora muito danificadas, apresentavam ladrilhossemelhantes aos que identificámos nas instalações sanitárias da Casa A da alcáçova, datadana primeira metade do século XIII (Gomes, 2003, p. 68).

As duas estruturas subterrâneas mais profundas localizavam-se a cerca de 2 m uma daoutra. Apresentavam forma semelhante, sugerindo, dada a cor das terras que continham,terem sido utilizadas como fossas sépticas. Por isso, encontravam-se no exterior das habita-ções e, nomeadamente, em relação à vivenda identificada, correspondendo aquele espaço arua. Assim, melhor se confirma a implantação daquela casa junto ao cruzamento de duasartérias, com traçado diferente das actualmente existentes nas proximidades.

Uma das fossas (estrutura 2) deve indicar a presença de outra habitação, situada a norteda que escavámos.

O elevado número de cerâmicas islâmicas, totalizando 4402 fragmentos, a que podemossomar os 835 obtidos no interior das estruturas subterrâneas, correspondendo muitas delas apeças completas, encontradas no exterior da habitação e quase todas da mesma época, condu-

177CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

FIG. 2.23 – Reconstituição gráfica da casa identificada na Residência Paroquial.

zem a sugerirmos que, no início da ocupação cristã daquele espaço, terá sido realizada a limpe-za do mesmo, correspondendo grande parte de tal acervo a essa acção. No entanto, subsistiramno interior da casa algumas cerâmicas que jaziam sob os últimos pavimentos, conforme verifi-cámos durante a escavação. Recordemos que no interior da casa existiam, cerâmicas de produ-ção cristã, dos séculos XIII-XIV, que se encontravam melhor conservadas.

As cerâmicas recuperadas, tanto no interior como no exterior da casa e ainda no interi-or das estruturas subterrâneas, sustentam paralelos com peças de outros arqueossítios deSilves e, nomeadamente, com os materiais procedentes quer da Alcáçova (Gomes, 2003)quer da Zona da Arrochela (Gomes, 1999).

O espólio mais antigo recuperado neste local corresponde a cerâmicas fabricadas compastas claras, oferecendo superfícies esmaltadas, com decoração nas cores de verde e casta-nha (policromas), mas mostrando aspecto rolado. Foram encontradas no interior da estru-tura subterrânea 2 e na camada 3 que assentava no substrato rochoso (Q24/C3).

Tanto as formas como as técnicas de fabrico e decorativas daquelas cerâmicas, indicamtratarem-se de produções claramente atribuíveis ao século X. Dispomos de dois fragmentospertencentes a panela e a infusa (Res.P.Q6/C3-4 e Res.P.Q11/C3-3) que mostram semelhançasformais e ornamentais com exemplares recuperados no arqueossítio da Arrochela (Q1/E4/C2-17; Q1/E4/C2-21), cuja cronologia não ultrapassa o século XI. Não descobrimos outras cerâ-micas claramente deste tipo no interior ou no exterior da habitação assinalada e, também, nãoverificámos a existência de estruturas que, de alguma forma, pudessem pertencer a espaçohabitacional daquela época e, portanto, anterior ao definido, que assentava, em parte, no subs-trato rochoso. As cerâmicas que referimos encontravam-se, pois, descontextualizadas.

Observámos, em relação às cerâmicas encontradas no interior da casa, que a loiça decozinha é, de facto, mais numerosa, sendo a panela a forma mais abundante. Segue-se, emtermos percentuais, a loiça de armazenamento, onde o cântaro constituiu a forma reconhe-cida em maior número. Em terceiro lugar surgem os fragmentos pertencentes a loiça demesa, sendo mais numerosos os de jarros ou jarras e, depois os de taças. Também se regis-taram contentores de fogo e, apenas, uma marca de jogo.

Os fragmentos com uma ou ambas superfícies esmaltadas somaram somente dez, eviden-ciando raridade e contexto económico-social pobre, o que corresponde à arquitectura da própriacasa. De facto, a grande maioria dos exemplares exumados pertencem a cerâmicas comuns,mostrando pastas e superfícies de cores vermelhas. Também ali existiam fragmentos de gran-des talhas, fabricadas com pastas mal depuradas, tendo a superfície exterior decorada através deestampilhagem. Estas peças são recorrentes em contextos arqueológicos, tanto da alcáçova comode outros pontos da medina de Silves, que tanto antecedem a primeira conquista cristã da cida-de (1189) como após a reconquista muçulmana da mesma. Os fragmentos de taças com duplacarena e as superfícies vidradas de cor castanha melada, exibindo cordões verticais ou oblíquos,na superfície exterior (Res.P.Q18/C3-1; Res.P.Q21/C3-1), são comuns nos ambientes culturaisreferidos, a partir dos finais do século XII e na primeira metade da centúria seguinte.

As cerâmicas correspondentes à ocupação cristã da casa denotam influência ou,mesmo, origem setentrional, tendo sido produzidas com pastas pouco depuradas, de cor ver-melha ou castanha, mostrando paredes espessas, sendo algumas montadas ao torno lento eevidenciando ausência de decoração.

A análise dos 7418 fragmentos de cerâmica muçulmana, perspectivada em função daspastas e do tratamento das superfícies, registadas no quadro 2.XIV. indicam-nos que osexemplares com pastas e superfícies de cor vermelha constituem a percentagem mais ele-vada, (72,07%), só não se tendo registado fragmentos deste tipo em um dos quadrados(Q23/C3).

178SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

Os exemplares fabricados com pastas de cores claras enformam o segundo conjuntomais numeroso (24,40%), e só não foram encontrados em dois quadrados.

QUADRO 2.XIVResidência Paroquial. Distribuição das cerâmicas, nos loci investigados, em função daspastas e do tratamento das superfícies.

Pastas e sup Claras Cla. esm. Claras Claras Claras Bra. de. Claras Vermelhas TOTAISesmalt. bra. dec. esmalt. esmalt. vermelhas corda seca

Loci branco ver. cast. verde castanho vidradas parcialInterior da casa 5 – 4 1 107 – 450 1613 2180

0,07% – 0,04% 0,01% 1,44% – 6,07% 21,75% 29,39%

Q6/C3 – – – – – – 3 2 5– – – – – – 0,04% 0,03% 0,07%

Q7/C3 4 – – – 1 – 78 272 3550,04% – – – 0,01% – 1,05% 3,67% 4,79%

Q11/C3 5 – – – 36 – 500 1501 20420,07% – – – 0,49% – 6,74% 20,24% 27,53%

Q12/C3 2 – – – – – 22 55 790,03% – – – – – 0,30% 0,74% 1,06%

Q16/C3 2 – – – 20 – 541 1172 17350,03% – – – 0,27% – 7,29% 15,80% 23,39%

Q20/C3 – – – – – – 61 88 149– – – – – – 0,82% 1,18% 2,01%

Q23/C3 – – 1 – – – – – 1– – 0,01% – – – – – 0,01%

Q24/C3 – 2 2 – 29 2 40 112 185– 0,03% 0,03% – 0,39% 0,03% 0,54% 1,51% 2,49%

Q33/C3 2 – – – 2 – 4 9 170,03% – – – 0,03% – 0,04% 0,12% 0,23%

E1/C2 – – – – 5 – 15 46 67– – – – 0,07% – 0,20% 0,62% 0,90%

E2/C3 – 1 – – 3 1 20 64 88– 0,01% – – 0,04% 0,01% 0,27% 0,86% 1,18%

E2/C4 – – – – 17 – 43 276 336– – – – 0,23% – 0,58% 3,72% 4,53%

E2/C5 – – – – – – – 1 1– – – – – – – 0,01% 0,01%

E3/C1 – – – – 10 – 33 135 178– – – – 0,13% – 0,45% 1,82% 2,41%

TOTAIS 20 3 7 1 230 1 1810 5346 74180,27% 0,04% 0,10% 0,01% 3,10% 0,01% 24,40% 72,07% 100%

Ao terceiro conjunto, bem menor que os anteriores, correspondem fragmentos compastas e superfícies de cores claras ou vermelhas, apresentando uma das superfícies vidra-das (3,10%).

Os fragmentos possuindo as superfícies esmaltadas, fabricados com pastas claras,encontram-se em minoria. Entre estes os que apresentam as superfícies esmaltadas de corbranca totalizam apenas (0,27%), sendo conhecido somente um fragmento com a superfí-cie esmaltada de cor castanha (0,01%) e outro com a superfície decorada através de cordaseca parcial (0,01%).

A análise formal dos fragmentos recuperados permitiu o reconhecimento de taças,púcaros, jarros ou jarras, bules, garrafas, alguidares, frigideiras, panelas, tampas, cantis,infusa, cântaros, potes, talhas, lucernas, lamparinas, fogareiros, marcas de jogo e manilha,conforme se observa no Quadro 2.XV.

Destes a panela constitui a forma mais numerosa (48,22%), seguida do cântaro,(21,25%), sendo os jarros ou jarras a terceira forma melhor representada em termos percen-tuais (18,82%) e as taças a quarta (5,11%). A manilha e a infusa alcançam percentagens dimi-nutas (0,01%).

As panelas são as formas que registámos em maior número de loci e os cântaros, embo-ra atingissem percentagem elevada, não foram registados em três locais, o mesmo aconte-cendo com as taças.

179CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

2.2.6. Catálogo

2.2.6.1. Cerâmicas da camada 2 (ocupação cristã)2.2.6.1.1. Cerâmicas, com pasta de cor vermelha, vidrada

RES.P.Q22/C2-1 - JARRO Quase completo, faltando-lhe parte da asa, tal como fragmentos do bordo e do corpo.Este oferece forma globular, assente em fundo achatado. O bordo é alto, com lábio desecção semicircular. A asa teria perfil semicircular e secção oval. A sua extremidadesuperior arrancava do bordo e a inferior assentava a meio do corpo da peça. Foi fabri-cado com pasta homogénea e compacta, contendo abundantes elementos não plásticos,micáceos, de grão fino, assim como quartzosos e calcários, de grão médio e, alguns,grosseiros. O núcleo das paredes é de cor vermelha (10R 5/8) e tanto a superfície inte-rior como parte da exterior apresentam vidrado, aderente e com algum brilho, de cor

180SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

QUADRO 2.XVResidência Paroquial. Distribuição das formas nos loci investigados.

Loci Interior Q6/C3 Q7/C3 Q11/C3 Q12/C3 Q16/C3 Q20/C3 Q23/C3 Q24/C3 Q33/C3 E1/C2 E2/C3 E2/C4 E2/C5 E3/C1 TOTAISda casa

Tipos Formas

Loiça de taças 110 – 19 89 2 84 1 – 29 3 5 2 19 – 16 379de mesa 1,48% – 0,26% 1,21% 0,03% 1,13% 0,01% – 0,39% 0,04% 0,06% 0,03% 0,26% – 0,22% 5,11%

púcaros 59 – 23 34 3 1 – – 8 – – 7 30 – – 1650,79% – 0,31% 0,46% 0,04% 0,01% – – 0,11% – – 0,09% 0,41% – – 2,22%

jarros/ 228 1 61 391 22 415 47 – 31 – 15 17 139 – 29 1395jarras 3,07% 0,01% 0,82% 5,27% 0,30% 5,61% 0,64% – 0,42% – 0,20% 0,23% 1,88% – 0,40% 18,82%

bules – – – 1 – – – – – – – 4 1 – – 6– – – 0,01% – – – – – – – 0,05% 0,01% – – 0,08%

garrafas 59 – – 1 – – – – – – – – – – – 600,79% – – 0,01% – – – – – – – – – – – 0,81%

Loiça de alguidares 29 1 8 38 – 18 – – 2 1 2 1 5 – – 105cozinha 0,39% 0,01% 0,11% 0,51% – 0,25% – – 0,03% 0,01% 0,03% 0,01% 0,06% – – 1,42%

frigideiras 14 – – 13 – – – – – – – 3 8 – – 380,19% – – 0,18% – – – – – – – 0,04% 0,11% – – 0,51%

panelas 1248 1 143 999 34 773 57 – 85 4 38 35 73 1 86 357716,83% 0,01% 1,93% 13,47% 0,45% 10,42% 0,77% – 1,14% 0,05% 0,051% 0,48% 0,98% 0,01% 1,16% 48,22%

tampas 3 – – 4 – 1 – – – – – 1 5 – – 140,04% – – 0,05% – 0,01% – – – – – 0,01% 0,06% – – 0,19%

Loiça de cantis 2 – – – – 1 – – – – – – – – – 3armazen. 0,03% – – – – 0,01% – – – – – – – – – 0,04%

infusa – 1 – – – – – – – – – – – – – 1– 0,01% – – – – – – – – – – – – – 0,01%

cântaros 403 – 99 453 16 409 41 – 24 8 6 18 52 – 47 15765,44% – 1,33% 6,51% 0,21% 5,51% 0,55% – 0,32% 0,11% 0,08% 0,25% 0,71% – 0,63% 21,25%

potes – 1 – – – 1 – – – – – – – – – 2– 0,01% – – – 0,01% – – – – – – – – – 0,03%

talhas 16 – 2 14 2 2 2 1 3 1 – – 3 – – 460,22% – 0,03% 0,19% 0,03% 0,03% 0,03% 0,01% 0,04% 0,01% – – 0,04% – – 0,62%

Conten. lucerna/ 8 – – 4 – 5 – – 2 – 1 – – – – 20de fogo lamparinas 0,11% – – 0,05% – 0,06% – – 0,03% – 0,01% – – – – 0,27%

fogareiros – – – 1 – 1 – – – – – – – – – 2– – – 0,01% – 0,01% – – – – – – – – – 0,03%

Activid. marca 1 – – – – 2 1 – 1 – 1 – – – – 5lúdica de jogo 0,01% – – – – 0,03% 0,01% – 0,01% – 0,01% – – – – 0,06%

Activid. manilha – – – – – 1 – – – – – – – – – 1industrial – – – – – 0,01% – – – – – – – – – 0,01%

não vasilhas – – – – – 21 – – – – – – 1 – – 22identif. – – – – – 0,29% – – – – – – 0,01% – – 0,30%

TOTAIS 2180 5 355 2042 79 1735 149 1 185 17 67 88 336 1 178 741829,39% 0,06% 4,79% 27,53% 1,06% 23,39% 2,01% 0,01% 2,49% 0,23% 0,90% 1,19% 4,53% 0,01% 2,41% 100%

castanha melada. As zonas em reserva mostram tom algo mais claro que o da cor donúcleo. Oferece decoração incisa constituída por três linhas sob o bordo, outra assina-lando o início do colo e quatro outras na separação do colo com o corpo. Mede 0,180 mde altura, 0,094 m de diâmetro exterior no bordo, 0,100 m de diâmetro no fundo e aespessura média das paredes é de 0,004 m.

2.2.6.1.2. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (rosada)

RES.P.Q14/C2-2 - GARRAFAQuase completa, faltando-lhe parte do bordo, da parede e uma asa. Mostra corpo glo-bular, gargalo muito estreito e alto, assentando em pé baixo e anelar. O bordo é alto etem lábio com secção semicircular. Duas asas opostas, com perfil em ângulo fechado esecção oval, têm a extremidade superior fixada a meio do gargalo e a inferior acima domeio do corpo. Foi fabricada com pasta muito homogénea e compacta, contendo ele-mentos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino. O núcleo das paredes é decor rosada, algo amarelada (7.5YR 8/4) e a superfície interior exibe tom semelhante àda cor do núcleo. A superfície exterior mostra aguada de cor branca (10YR 8/2) e ofe-rece, a meio do corpo, várias linhas incisas, pouco profundas, formando canelado e,ainda, decoração digitada de cor castanha. Mede 0,264 m de altura, 0,038 m de diâ-metro exterior no bordo, 0,182 m de diâmetro máximo, 0,070 m de diâmetro no pé ea espessura média das paredes é de 0,005 m.

RES.P.Q28/C2-1 - PESO DE REDEApresenta forma ovóide, com orifício longitudinal, ao centro. Foi fabricado com pastahomogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos de grão fino,assim como quartzosos e calcários de grão médio e, alguns, grosseiros. O núcleo dasparedes é de cor rosada (2.5YR 6/8) e as superfícies apresentam tom algo mais escuroe acastanhado. Mede 0,080 m de altura e 0,045 m de diâmetro máximo. O orifício tem0,005 m de diâmetro máximo. Mostra vestígios de ter sido muito utilizado, apresen-tando fracturas antigas.

RES.P.Q27/C2-1 - PESO DE REDEApresenta forma bitroncocónica, com orifício, longitudinal, ao centro. Foi fabricadocom pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, degrão fino, assim como quartzosos, calcários e nódulos de barro cozido, de grão fino amédio. O núcleo das paredes é de cor rosada (2.5YR 6/6) e as superfícies mostram coralgo mais acastanhada que a do núcleo, com manchas de cor acinzentada escura.Mede 0,079 m de altura e 0,049 m de diâmetro máximo. O orifício tem 0,005 m dediâmetro médio. Mostra vestígios de ter sido muito utilizado.

2.2.6.1.3. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (cor-de-laranja ou vermelha).

RES.P.Q,26/C2-1 - TAÇA COM CARENA ACUSADA E BORDO POLILOBULADOQuase completa. Mostra forma bitroncocónica e assenta em pé alto e maciço. O bordo éalgo extrovertido e tem lábio com secção semicircular. Foi fabricada com pasta muitohomogénea e compacta, contendo abundantes elementos não plásticos, micáceos, de grãofino, assim como quartzosos, calcários e nódulos de barro cozido, de grão fino a médio. O

181CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

182SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.24 – Cerâmicas da camada 2 (ocupação cristã).

Q22/C2-1

Q14/C2-2

núcleo das paredes é cor-de-laranja (2.5YR 5/8). As superfícies mostram cor semelhante àdo núcleo mas, em cerca de metade da peça, observam-se manchas de cor cinzenta devi-das, possivelmente, às condições de jazida. Mede 0,053 m de altura, 0,137 m de diâmetrono bordo, 0,046 m de diâmetro no pé e a espessura média das paredes é de 0,003 m.

RES.P.Q26/C2-2 - POTEQuase completo, faltando-lhe, apenas, parte do bordo. Oferece forma globular alonga-da, bordo alto e algo extrovertido. Assenta em base côncava, formando ligeiro pé, baixoe em anel. Foi fabricado com pasta homogénea, contendo abundantes elementos nãoplásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos, calcários e nódulos de barrocozido, de grão fino a médio. O núcleo das paredes é cor-de-laranja (2.5YR 5/8) e assuperfícies apresentam tom algo mais escuro que o da cor daquele. A superfície exteri-or oferece várias linhas paralelas e horizontais, pouco profundas, formando canelado.Mede, actualmente, 0,185 m de altura, 0,127 m de diâmetro máximo no corpo, 0,082m de diâmetro no fundo e a espessura média das paredes é de 0,006 m. No interiordesta peça recolhemos dinheiro cunhado no reinado de D. Afonso III.

RES.P.Q26/C2-3 - JARROQuase completo, mostra corpo com forma ovóide, bordo subcilíndrico, alto, com lábio desecção semicircular e bico. Uma asa, com perfil quase em ângulo recto e secção oval, tema extremidade superior fixada ao bordo e a inferior, com a marca dos dedos do oleiro,assente a meio do corpo. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo abun-dantes elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos e calcári-os, de grão médio e, alguns, grosseiros. O núcleo das paredes é de cor vermelha (10R 5/8).As superfícies apresentam cor semelhante à do núcleo, com manchas de cor cinzentaescura. Mostra linha, incisa, entre o gargalo e o corpo. Media 0,138 m de diâmetro nobordo, 0,178 m de diâmetro no corpo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

RES.P.Q22/C2-2 - INFUSAQuase completa, faltando-lhe parte do bordo, que seria extrovertido. Oferece corpo deforma ovóide, gargalo alto e assenta em fundo plano. Uma asa, cujo perfil quase fazângulo recto, mostra a extremidade superior fixada sob o bordo e a inferior a meio docorpo. Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendo abundantes elementosnão plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos e calcários, de grão médioe, alguns, grosseiros. O núcleo das paredes é de cor vermelha (10R 5/8) e as superfíciesapresentam cor semelhante à do núcleo, embora com manchas de cor cinzenta escura.Oferece linha incisa no início do corpo e estreito cordão demarca o bordo. Mede, actual-mente, 0,260 m de altura, 0,164 m de diâmetro máximo no corpo, 0,092 m de diâme-tro no fundo e a espessura média das paredes é de 0,006 m.

RES.P.Q14/C2-1 - PANELAQuase completa, falta-lhe porção do bordo, da parede e a extremidade superior de umadas asas. Mostra corpo globular, achatado, e assenta em fundo convexo. Apresentabordo vertical baixo, com lábio de secção sub-rectangular, demarcado por incisão. Duasasas opostas, de perfil hemisférico e secção oval, tinham a extremidade superior fixadano início do corpo a inferior a meio daquele. Foi fabricada com pasta homogénea e com-pacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos,de grão médio e, alguns, de grão grosseiro. O núcleo das paredes é de cor vermelha (10R

183CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

5/6) e a superfície interior oferece tom semelhante ao da cor do núcleo. A superfície exteri-or apresenta aguada de cor negra. Mostra, entre a extremidade inferior da asa e o início dofundo, várias linhas formando ligeiro canelado. Media 0,144 m de altura, 0,136 m de diâ-metro no bordo, 0,210 m de diâmetro no corpo, 0,128 m de diâmetro no fundo e a espes-sura média das paredes é de 0,004 m.

184SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.25 – Cerâmicas da camada 2 e numisma encontrado dentro de um dos recipientes (ocupação cristã).

Q26/C2-1

Q26/C2-2

Q27/C2-1 Q28/C2-1

D. AFONSO III(1248-1279)

185CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

FIG. 2.26 – Cerâmica da camada 2 (ocupação cristã).

Q26/C2-3

186SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.27 – Cerâmicas da camada 2 (ocupação cristã).

Q22/C2-2

Q14/C2-1

RES.P.Q21/C2-1 - TALHAFragmento correspondendo a porção da parede. Foi fabricada com pasta homogénea ecompacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quart-zosos e calcários, de grão médio e, alguns, grosseiros. O núcleo das paredes é de corvermelha (10R 5/8). A superfície interior apresenta manchas de cor cinzenta escura epossíveis vestígios de aguada que também cobria toda a superfície exterior. Esta ofere-ce duas cartelas limitadas por cordões. Na primeira cartela, a melhor conservada, reco-nhece-se cordão ondulado a que se juntaram no interior dos vértices curtos cordões ver-ticais. Todos os cordões estão preenchidos por incisões, paralelas entre si, formandocanelado. A segunda cartela, de que subsiste pequena parte, oferece motivo semelhan-te ao que decora a primeira, embora os cordões estejam rodeados por pequenas linhasincisas, em ziguezague e dispostas na vertical ou na horizontal, com traçado muito irre-gular. A espessura média das paredes é de 0,024 m.

2.2.6.2. Espólios da camada 32.2.6.2.1. Interior da casa2.2.6.2.1.1. Cerâmica, com pasta de cor clara, esmaltada de cor branca

RES.P.Q22/C3-4 - TAÇA CARENADAFragmento correspondendo a porção do bordo e da parede. Mostra bordo alto, comlábio de secção semicircular. Teria forma sub-hemisférica. Foi fabricada com pastamuito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáce-os e nódulos de barro cozido, de grão fino. O núcleo das paredes é cor de rosa amare-lada (5YR 7/6) e as superfícies apresentam esmalte, aderente mas já sem brilho, de corbranca. Media 0,208 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de0,004 m. Ambas superfícies apresentam concreções, devidas às condições de jazida.

187CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

FIG. 2.28 – Cerâmica cristã da camada 2 (ocupação cristã).

Q21/C2-1

2.2.6.2.1.2. Cerâmicas, com pastas de cores claras, esmaltadas de cor verde

RES.P.Q22/C3-1 - TALHAFragmento correspondendo a porção do bordo e da parede. Mostra bordo espessado eextrovertido, com lábio de secção sub-rectangular. Foi fabricada com pasta homogéneae compacta, contendo abundantes elementos não plásticos, micáceos, de grão fino,assim como quartzosos, calcários e nódulos de barro cozido, de grão fino a médio e,alguns, grosseiros. O núcleo das paredes é de cor castanha clara (7.5YR 6/4). As pare-des são cor-de-rosa, algo amarelada (5YR7/6), e as superfícies apresentam aguada decor branca (10YR 8/2). A superfície exterior exibe quatro caneluras, pouco profundas,e sobre o bordo observa-se pingo de esmalte com cor verde. Media 0,290 m de diâme-tro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,012 m. Ambas as superfícies apre-sentam concreções devidas, possivelmente, às condições de jazida.

RES.P.Q22/C3-2 - TALHAFragmento correspondendo a porção do bordo e da parede. Mostra bordo espessado eextrovertido, com lábio de secção sub-rectangular. Foi fabricada com pasta homogénea ecompacta, contendo elementos não plásticos, micáceos e calcários, de grão fino, assimcomo quartzosos e nódulos de barro cozido, de grão médio e, alguns, grosseiros. O núcleodas paredes é de cor rosada (7.5YR 8/4) e a superfície interior apresenta tom algo maisescuro que o da cor daquele. No bordo e na superfície exterior foi dada aguada, de tomalgo mais claro que o da cor do núcleo, e sob o bordo notam-se manchas de esmalte decor verde. Media 0,320 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de0,011 m. Ambas superfícies apresentam concreções devidas, possivelmente, às condiçõesde jazida.

2.2.6.2.1.3. Cerâmica, com pasta de cor clara, esmaltada de cor castanha

RES.P.Q8/C3-1 - TAÇA CARENADAFragmento correspondendo a porção do bordo e da parede. Teria forma sub-hemisféri-ca, com bordo algo extrovertido e demarcado por incisão no exterior. O lábio tem secçãosemicircular. Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendo elementos nãoplásticos, quartzosos, calcários e micáceos, de grão fino. O núcleo das paredes é de corrosada (5YR7/4). A superfície interior, o bordo e pequena parte da superfície exterior,apresentam esmalte, aderente e brilhante, de cor castanha escura. A restante superfícieexterior mostra vidrado, aderente e brilhante, de cor castanha melada. Media 0,170 m dediâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,005 m. Apresenta algumas,poucas, concreções em ambas as superfícies. Conserva, ainda, parte de orifício circularpertencente, possivelmente, a gato que uniria duas partes fracturadas.

2.2.6.2.1.4. Cerâmicas, com pastas de cor vermelha, vidradas

RES.P.Q21/C3-1 - TAÇA COM DUPLA CARENA E CORDÕESFragmento correspondendo a porção do bordo, da parede e do fundo. Mostra bordo intro-vertido, fazendo carena, com lábio de secção semicircular. Apresentava forma troncocóni-ca, com carena acusada na ligação do corpo com o fundo. Este seria ligeiramente convexo.Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quart-zosos, micáceos e calcários, de grão fino e, alguns, nódulos de barro cozido de grão médio.

188SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

189CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

FIG. 2.29 – Cerâmicas, com pastas claras, esmaltadas de cor branca e decoradas nas cores verde e castanha (policromas).

Q22/C3-4

Q22/C3-1

Q22/C3-2

Q8/C3-1

O núcleo das paredes é de cor vermelha (10R 5/8). As superfícies apresentam vidrado, ade-rente e brilhante, de cor castanha melada. A superfície exterior oferece cordões dispostos,na vertical, entre as duas carenas. Media 0,140 m de diâmetro no bordo, 0,100 m de diâ-metro no fundo, 0,044 m de altura e a espessura média das paredes é de 0,005 m.

RES.P.Q18/C3-1 - TAÇA COM DUPLA CARENA E CORDÕESFragmento correspondendo a porção do bordo e da parede. Mostra bordo, introvertidoe fazendo carena, com lábio de secção semicircular. Apresentava forma troncocónica eteria carena acusada na ligação do corpo com o fundo. Este seria ligeiramente convexo.Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos,quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino e, alguns, nódulos de barro cozido, degrão médio a grosseiro. O núcleo das paredes é de cor vermelha (10R 5/6). As superfí-cies apresentam vidrado, aderente e brilhante, de cor castanha melada. A superfícieexterior oferece teoria de cordões dispostos, na vertical, entre as duas carenas. Media0,170 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

190SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.30 – Cerâmicas, com pastas de cor vermelha, vidradas.

Q21/C3-1

Q18/C3-1

Q9/C3-2

RES.P.Q9/C3-2 - PANELAFragmento correspondendo a porção do bordo e da parede. Mostrava forma globular,com bordo introvertido e demarcado no exterior por incisão, tendo lábio biselado. Foifabricada com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micá-ceos, de grão fino, assim como quartzosos e calcários, de grão médio e, alguns, gros-seiros. O núcleo das paredes é de cor vermelha (10R 4/6). Ambas superfícies apresentamvidrado, aderente e brilhante, de cor castanha. A superfície exterior oferece, a cerca de0,010 m abaixo do bordo, conjunto de linhas paralelas e horizontais, formando canelado.Media 0,100 m de diâmetro no bordo, 0,155 m de diâmetro máximo no corpo e a espes-sura média das paredes é de 0,004 m.

2.2.6.2.1.5. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (branca, bege ou rosada)

RES.P.Q25/C3-2 - TAÇA SUB-HEMISFÉRICAFragmento correspondendo a porção do bordo e da parede. Mostra bordo ligeiramenteextrovertido, aplanado superiormente, com lábio algo biselado. Foi fabricada com pastamuito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáce-os e calcários, de grão fino e, alguns, de grão médio. O núcleo das paredes é de cor cin-zenta (2.5YR 5/0). As paredes são cor de rosa, algo amarelada (5YR 7/6), e as superfícies ofe-recem aguada de tom mais escuro que o da cor daquelas. Media 0,230 m de diâmetro exte-rior no bordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

RES.P.Q25/C3-3 -PÚCAROFragmento correspondendo a porção do corpo, com fundo plano e a extremidade inferi-or das duas asas. Mostrava forma subcilíndrica e duas asas opostas, que assentavam juntoao fundo. Foi fabricado com pasta muito homogénea e compacta, contendo elementosnão plásticos, quartzosos, micáceos, calcários e nódulos de barro cozido, de grão fino amédio. O núcleo das paredes é de cor cinzenta clara (5YR 7/1). As paredes e a superfícieinterior são de cor vermelha, algo alaranjada (5YR 7/6). A superfície exterior apresentaaguada de tom mais claro que o da cor das paredes, oferecendo, ainda, decoração pinta-da, de cor castanha escura. Esta é constituída por motivo entrelaçado, com dois cabos, pos-sível “cordão da felicidade”, inserido em cartela delimitada por duas linhas horizontais.Media 0,072 m de diâmetro no fundo e a espessura média das paredes é de 0,003 m.

RES.P.Q25/C3-1 - GARRAFAFragmento correspondendo a porção da parede. Teria forma globular. Foi fabricadacom pasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzo-sos, micáceos e calcários, de grão fino. O núcleo das paredes é de cor cinzenta clara(7.5YR 7/0). As paredes e a superfície interior são de cor rosada (10R 6/6). A superfí-cie exterior apresenta aguada, de tom algo mais claro que o da cor das paredes e ofere-ce, ainda, decoração pintada, de cor vermelha. Esta é constituída por dois círculos, con-cêntricos, e parte de um outro. É possível que a decoração fosse formada por teoria decírculos concêntricos. A espessura média das paredes é de 0,007 m.

RES.P.Q17/C3-1 - ALGUIDARFragmento correspondendo a porção do bordo e da parede. Mostrava forma troncocó-nica e bordo espessado, exteriormente, com lábio de secção semicircular. Foi fabricadocom pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos,

191CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

micáceos e calcários, de grão fino, assim como nódulos de barro cozido, de grão médioe, alguns, grosseiros. O núcleo das paredes é de cor bege clara (10YR 6/4). As superfí-cies apresentam cor semelhante à do núcleo. A superfície interior foi brunida. Sobre obordo mostra impressão de corda. Media 0,524 m de diâmetro exterior no bordo e aespessura média das paredes é de 0,010 m. As superfícies apresentam concreções devi-das, possivelmente, às condições de jazida.

RES.P.Q17/C3-2 - ALGUIDARFragmento correspondendo a porção do bordo e da parede. Mostrava forma troncocóni-ca e bordo, espessado e extrovertido, demarcado no interior por ligeiro rebordo, comlábio de secção semicircular. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendoabundantes elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos, cal-cários e nódulos de barro cozido, de grão médio. O núcleo das paredes é de cor rosada(7.5YR 7/4). As paredes são de cor rosada, algo amarelada (5YR 7/6), e as superfíciesapresentam aguada, de cor mais clara que a do núcleo. A superfície exterior mostra amarca dos dedos do oleiro e, sobre o bordo, apresenta, ainda, impressão de corda. Media0,564 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,012 m.

RES.P.Q17/C3-3 - ALGUIDARFragmento correspondendo a porção do bordo e da parede. Mostrava forma troncocóni-ca e bordo espessado, exteriormente, com lábio de secção amendoada. Foi fabricado compasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos,micáceos e calcários, de grão fino e, alguns, de grão médio. O núcleo das paredes é decor rosada (5YR 7/4) e as superfícies apresentam tom algo mais escuro que o da cor donúcleo. Tanto a superfície interior como o bordo foram brunidos. Media 0,580 m de diâ-metro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,012 m. As superfícies apresen-tam concreções devidas, possivelmente, às condições de jazida.

2.2.6.2.1.6. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (cor-de-laranja, vermelha, castanha avermelhada ou cinzenta)

RES.P.Q27/C3-1 - PANELAFragmento correspondendo a porção do bordo e ao início do corpo. Este teria formagobular e o bordo é vertical, com lábio de secção semicircular. Tanto o lábio como a basedo bordo encontram-se demarcados por finas linhas incisas. Foi fabricada com pastahomogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, calcários emicáceos, de grão fino a médio. O núcleo das paredes é de cor cinzenta clara (10YR 7/1).As paredes e as superfícies são de cor vermelha (10R 5/6). Ambas as superfícies mos-tram manchas de cor cinzenta escura a negra, devidas a intensa utilização ao fogo.Media 0,140 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,003 m.As superfícies apresentam concreções devidas, possivelmente, às condições de jazida.

RES.P.Q22/C3-3 - PANELAFragmento correspondendo a porção do bordo e ao início do corpo. Teria forma globulare bordo vertical, espessado e demarcado no exterior por incisão, com lábio algo biselado.Foi fabricada com pasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plásti-cos, quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino. O núcleo das paredes é de cor ver-melha (10R 5/8). A superfície interior apresenta cor semelhante à do núcleo, enquanto

192SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

193CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

FIG. 2.31 – Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras.

Q25/C3-2

Q25/C3-3

Q25/C3-1

Q17/C3-1

Q17/C3-2

Q17/C3-3

194SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.32 – Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha.

Q27/C3-1

Q22/C3-3

Q17/C3-5

Q9/C3-1

Q17/C3-4

a exterior e o bordo mostram aguada de cor cinzenta escura. Oferece restos de decora-ção, pintada, de cor branca sobre o bordo. No início do corpo observa-se linha incisa.Media 0,144 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.Ambas superfícies apresentam concreções devidas, possivelmente, às condições de jazida.

RES.P.Q17/C3-5 - PANELAFragmento correspondendo a porção do bordo e ao início do corpo. Mostra forma glo-bular e bordo, vertical e alto, com rebordo exterior, tendo lábio de secção semicircular.Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos,micáceos, de grão finíssimo, assim como quartzosos de grão médio. O núcleo das pare-des é cor-de-laranja (2.5YR 5/8) e as superfícies apresentam tom algo mais escuro queo da cor daquele. A superfície exterior mostra canelura, larga mas pouco profunda, queassinala o início do corpo. Media 0,112 m de diâmetro no bordo e a espessura médiadas paredes é de 0,004 m.

RES.P.Q9/C3-1- CANTILFragmento correspondendo ao bordo, gargalo e início do corpo. O gargalo tem formatroncocónica e o bordo, ligeiramente extrovertido, mostra lábio com secção semicircular.Foi fabricado com pasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plás-ticos, quartzosos, micáceos, calcários e nódulos de barro cozido, de grão fino. O núcleodas paredes é cor-de-laranja (2.5YR 5/8) e as superfícies apresentam tom algo maisescuro que o da cor daquele. Media 0,037 m de altura no gargalo, 0,042 m de diâme-tro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,005 m. Ambas superfícies apre-sentam concreções devidas, possivelmente, às condições de jazida.

RES.P.Q17/C3-4- CÂNTAROFragmento correspondendo a porção do bordo e do gargalo. Mostra gargalo troncocó-nico e bordo vertical destacado. O lábio está demarcado por canelura, na superfície exte-rior, e tem secção semicircular, embora com a parte superior aplanada. Foi fabricadocom pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, degrão fino, assim como quartzosos e calcários, de grão fino a médio. O núcleo das pare-des é de cor cinzenta escura (2.5YR 4/0) e as superfícies apresentam tom algo maisescuro. A superfície exterior oferece decoração pintada de cor branca. Esta é constituí-da por linha sobre o lábio e conjunto de três outras, horizontais e irregulares, sob obordo. Mostra, abaixo da pintura referida, canelura larga. Media 0,116 m de diâmetrono bordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

2.2.6.2.2. Exterior da casa 2.2.6.2.2.1. Cerâmica, com pasta de cor vermelha, esmaltada de cor verde

RES.P.Q23/C3-1 - TALHAFragmento correspondendo ao início do gargalo e a parte do corpo. Oferecia corpo deforma ovóide. Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendo elementosnão plásticos, quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino, assim como nódulos debarro cozido, de grão fino a médio. O núcleo das paredes é de cor rosada (5YR 7/3) e asuperfície interior apresenta cor semelhante à daquele. A superfície exterior mostraaguada de tom mais claro (7.5YR 8/4) que a da cor referida. Junto ao gargalo exibeesmalte de cor verde e, sob ele, decoração incisa e estampilhada. Esta é constituída por

195CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

duas bandas, separadas por incisões largas e profundas, que superiormente formamcordão marcado por traços verticais. Um dos motivos estampilhados é de carácterarquitectónico e representa arco ultrapassado, preenchido por elemento fitomórfico.O outro exibe motivo fitomórfico, no interior de forma polilobulada. Observam-se,também, três linhas preenchidas por motivos espinhados, produzidos com rolete,muito irregulares, uma no início do corpo, outra sob a última banda estampilhada e aterceira antecedendo a penúltima linha incisa. Media 0,506 m de diâmetro máximo,no corpo, e a espessura média das paredes é de 0,012 m.

196SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.33 – Talha esmaltada de cor verde.

Q23/C3-1

2.2.6.2.2.2. Cerâmicas com pasta de cor vermelha, vidradas

RES.P.Q11/C3-18 - TAÇA COM DUPLA CARENA E CORDÕESFragmento correspondendo a porção do bordo e do corpo. Mostrava forma troncocóni-ca, com carena acusada na ligação do corpo com o fundo. Este seria ligeiramente conve-xo. Apresentava bordo introvertido e fazendo carena, com lábio de secção semicircular.Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos,quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino. O núcleo das paredes é de cor vermelha(2.5YR 4/6). Ambas superfícies apresentam vidrado, aderente e brilhante, de cor casta-nha (melada). A superfície exterior oferece série de cordões dispostos na vertical. Media0,248 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,005 m.

RES.P.Q7/C3-2 - PANELAFragmento correspondendo a porção do bordo e do corpo, com negativo da extremidadesuperior de asa. Apresentava forma globular achatada, com duas asas opostas. Mostrabordo vertical e baixo, com parede ligeiramente convexa e lábio de secção semicircular. Foifabricada com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quart-zosos, micáceos e calcários, de grão fino e, alguns, de grão médio. O núcleo das pare-des é cor-de-laranja (2.5YR 5/8). A superfície interior e parte da exterior apresentamvidrado, aderente e brilhante, de cor castanha melada. A restante superfície exterior ofe-rece tom algo mais acastanhado que o da cor do núcleo. Media 0,114 m de diâmetro nobordo e a espessura média das paredes é de 0,003 m.

2.2.6.2.2.3. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (branca, rosada, bege ou cinzenta clara)

RES.P.Q16/C3-5 - TAÇAFragmento correspondendo a porção do bordo, do corpo e do fundo. Mostrava forma sub-hemisférica, assente em fundo plano. O bordo, espessado no interior, oferece lábio em bisel. Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos,quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino e, alguns, de grão médio a grosseiro.O núcleo das paredes é de cor rosada (7.5YR 7/4) e as superfícies apresentam aguadade tom algo mais claro que o da cor daquele.Media 0,210 m de diâmetro no bordo, 0,104 m de diâmetro no fundo, 0,042 m de altu-ra e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

RES.P.Q11/C3-2 - TAÇAFragmento correspondendo a porção do bordo, corpo e do fundo. Mostrava forma sub-hemisférica, com fundo plano. O bordo é oblíquo, com lábio biselado. Foi fabricadacom pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos,micáceos e calcários, de grão fino e, alguns, de grão médio. O núcleo das paredes é decor cinzenta (2.5YR 5/0) e as superfícies são de cor rosada (5YR 7/4). A superfície inte-rior oferece decoração pintada, de cor vermelha (10R 5/6), constituída por possível laço,ladeado por pontos e manchas, e por círculo delimitando o fundo. Media 0,258 m dediâmetro no bordo, 0,176 m de diâmetro no fundo, 0,046 m de altura e a espessuramédia nas paredes é de 0,004 m. Ambas superfícies apresentam concreções devidas, pos-sivelmente, às condições de jazida.

197CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

198SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.34 – Cerâmicas, com pastas de cor vermelha, vidradas e cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras.

Q11/C3-18

Q7/C3-2

Q16/C3-5

Q11/C3-2

RES.P.Q11/C3-14 - TAÇA CARENADAFragmento correspondendo a porção do bordo, do corpo e do fundo. Mostrava formabitroncocónica, assente em fundo plano. O bordo é vertical e alto, com lábio de secçãosub-rectangular, algo biselado. Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, con-tendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos, calcários e nódulos de barro cozi-do, de grão fino e, alguns, de grão médio. O núcleo das paredes é de cor rosada (7.5YR7/4). As paredes e as superfícies apresentam, também, cor rosada (5YR 7/6), mas algodiferente da do núcleo. Media 0,179 m de diâmetro no bordo, 0,108 m de diâmetro nofundo, 0,042 m de altura e a espessura média das paredes é de 0,005 m.

RES.P.Q11/C3-5 - JARROFragmento correspondendo a porção do bordo, do corpo, com uma asa e a parte do fundo.Mostra corpo globular achatado, assente em fundo plano. O gargalo é alto, subcilíndrico,com as paredes algo convexas e o bordo, extrovertido, tem lábio de secção semicircular. A asa apresenta perfil quase em ângulo recto, com a extremidade superior fixada ao bordo,embora sobrelevada, assentando a inferior no início do corpo. Foi fabricado com pastamuito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos ecalcários, de grão fino. O núcleo das paredes é cor-de-rosa, algo amarelada (5YR7/6). Assuperfícies exibem aguada de cor algo mais clara que a do núcleo. A superfície exterioroferece decoração, pintada, cor-de-laranja. Esta é constituída por dois grupos de três ban-das, onduladas e horizontais, dispostas no gargalo e no início do corpo. Sobre a asa apre-senta, também, três linhas horizontais. Media 0,108 m de diâmetro no bordo, 0,110 m dediâmetro no fundo, 0,146 m de altura e a espessura média das paredes é de 0,004 m.Mostra algumas concreções devidas, possivelmente, às condições de jazida.

RES.P.Q6/C3-1 - JARRO OU JARRAFragmento correspondendo a porção do bordo e ao início do gargalo. Mostra gargalotroncocónico e bordo alto, vertical, com lábio de secção semicircular. Foi fabricado compasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos emicáceos, de grão fino e, alguns, calcários de grão médio. O núcleo das paredes é cor derosa com tom algo amarelado (5YR 7/8). Ambas superfícies apresentam aguada de tommais claro que o da cor do núcleo. A superfície exterior oferece decoração pintada, de corcastanha, constituída por linha sobre o lábio e duas outras, delimitando cartela, no iníciodo gargalo, entre as quais se observa motivo ondulado. A superfície exterior do bordo foipreenchida por incisões finas e pouco profundas, executadas a pente, mostrando cane-lura na separação entre o bordo e o gargalo. Media 0,050 m de diâmetro no bordo e aespessura média das paredes é de 0,003 m.

RES.P.Q7/C3-3 - JARRO OU JARRAFragmento correspondendo a porção do bordo e do corpo, com uma asa. O corpo apre-sentava forma globular achatado e a asa, com perfil semicircular e secção oval, tem aextremidade superior fixada ao bordo e a inferior assente a meio do corpo. Mostrabordo alto, ligeiramente extrovertido, demarcado, no exterior, por incisão, com lábio desecção sub-rectangular. Foi fabricado com pasta muito homogénea e compacta, con-tendo elementos não plásticos, micáceos, quartzosos e calcários, de grão fino e, alguns,de grão médio a grosseiro. O núcleo das paredes é de cor rosada (7.5YR 8/4). Ambassuperfícies mostram cor algo mais escura que a do núcleo. A superfície exterior ofere-ce decoração pintada, de cor negra, constituída por cinco linhas, paralelas e horizontais,

199CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

200SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.35 – Cerâmicas, com pastas e superfícies de cores claras.

Q11/C3-14

Q11/C3-5

Q6/C3-1

Q7/C3-3

sendo uma sobre o bordo, outra sob este, uma outra na separação entre o gargalo e ocorpo da peça e as restantes junto à extremidade inferior da asa. O espaço disponívelentre as três últimas linhas referidas foi preenchido com pequenos traços verticais, irre-gulares e dispostos em série, daquela mesma cor. Foi, ainda, pintada linha, de cornegra, sobre a asa. Media 0,152 m de diâmetro no bordo e a espessura média das pare-des é de 0,005 m.

201CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

FIG. 2.36 – Cerâmicas, com pastas e superfícies de cores claras.

Q11/C3-1

Q11/C3-7

RES.P.Q11/C3-1 - GARRAFAFragmento correspondendo a porção do bordo, do gargalo e a uma asa. O gargalo é alto,com forma subcilíndrica e o bordo, demarcado no exterior por canelura, tem lábio embisel. A asa, com perfil em ângulo fechado e secção subtriangular, tem a extremidadesuperior fixada a meio do gargalo e a inferior assentava no corpo. Foi fabricada com pastamuito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceose calcários, de grão fino. Tanto o núcleo como ambas superfícies das paredes são de corbranca (2.5Y 8/0). A asa mostra três caneluras, longitudinais, pouco profundas. Media0,050 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,005 m.

202SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.37 – Cerâmicas, com pastas e superfícies de cores claras.

Q11/C3-3

Q6/C3-2

Q16/C3-3

RES.P.Q11/C3-7 - ALGUIDARFragmento correspondendo a porção do bordo, do corpo e ao início do fundo. Mostravaforma troncocónica com fundo plano. O bordo, espessado no exterior, tem lábio de secçãosemicircular. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo elementos nãoplásticos, quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino e, alguns, de grão médio. O núcleo

203CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

FIG. 2.38 – Cerâmica com pasta e superfície de cor clara, com decoração pintada cor-de- laranja.

Q6/C3-4

das paredes é de cor rosada (5YR 7/4) e as superfícies apresentam aguada, de cor algo maisclara que aquela. A superfície interior encontra-se brunida. Media, 0,560 m de diâmetroexterior no bordo, 0,268 m de diâmetro no fundo, 0,100 m de altura e espessura médiadas paredes é de 0,010 m. Ambas superfícies apresentam concreções devidas, possivel-mente, às condições de jazida.

RES.P.Q11/C3-3 - PANELAFragmento correspondendo a porção do bordo, do corpo e a uma asa. Mostrava corpo glo-bular e duas asas opostas. O bordo, espessado, é demarcado por canelura no interior, e temlábio biselado. A asa oferece perfil sub-semicircular e secção oval; arranca do início do corpoe assenta abaixo da meia-altura daquele. Foi fabricada com pasta muito homogénea e com-pacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino, assim comocalcários e nódulos de arenito vermelho, de grão médio. O núcleo das paredes é de cor rosa-da (5YR 7/6). As superfícies apresentam aguada de cor algo mais clara que a do núcleo. A superfície exterior exibe caneluras digitadas e decoração, pintada, de cor vermelha escu-ra (10R 5/4). Esta é constituída por linha, em redor do bordo e por conjunto de três traçosverticais, digitados e irregulares, sobre o corpo, assim como por três outros sobre a asa. As caneluras, pouco profundas, foram realizadas a partir da extremidade superior da asa.Media 0,116 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,005 m.

RES.P.Q6/C3-2 - PANELAFragmento correspondendo a porção do bordo e do corpo. Mostrava forma globular ebordo, espessado e extrovertido, com lábio biselado. Foi fabricada com pasta muito homo-génea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários, degrão fino. O núcleo das paredes é de cor rosada (10R 6/6) e as superfícies apresentamaguada daquela mesma cor, mas de tom diferente (5YR 7/4). A superfície exterior ofere-ce caneluras e decoração pintada. Esta é constituída por conjunto de três linhas digitadas,horizontais, cor-de-laranja. As caneluras ocupam o corpo da peça. Media 0,130 m de diâ-metro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m. Apresenta concreções emanchas, de cor cinzenta, devidas às condições de jazida.

RES.P.Q16/C3-3 - POTEFragmento correspondendo a porção do bordo e a parte do corpo. Mostrava forma globu-lar e bordo, extrovertido, com lábio algo biselado, de secção sub-rectangular. Foi fabricadocom pasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos,micáceos e calcários, de grão fino a médio. O núcleo das paredes é de cor cinzenta (7.5YR7/0) e as paredes são de cor rosada (5YR 8/4). Oferece decoração pintada, de cor vermelha(10R 5/6), constituída por parte de conjunto com três linhas digitadas, verticais, e restos depossível motivo fitomórfico. Com a mesma cor foi, também, pintada linha sobre o lábio.Media 0,110 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.Apresenta concreções e manchas, de cor cinzenta, devidas às condições de jazida.

RES.P.Q6/C3-4 - INFUSAFragmento correspondendo a porção do corpo, com o arranque do gargalo. Oferecia formaovóide e uma asa, de que se conserva o negativo da extremidade inferior junto a botãohemisférico. Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendo elementos nãoplásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino, assim como calcários, de grão médio e,alguns, grosseiros. O núcleo das paredes é de cor cinzenta clara acastanhada (10YR 6/2).

204SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

A superfície interior mostra cor semelhante à do núcleo e a exterior cor rosada (5YR 7/4).Esta oferece decoração pintada, cor-de-laranja, de tom acastanhado, de que restam quatrobandas separadas por três linhas largas. A primeira banda foi preenchida por reticulado; asegunda com linhas em ziguezague, verticais e dispostas espaçadamente; a terceira pormotivo ondulado, formado por ss deitados e separados por ponteado irregular; por fim aúltima banda mostra restos de motivo, circular, rodeado por ponteado e ziguezague, dis-posto na vertical. A espessura média das paredes é de 0,008 m.

205CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

FIG. 2.39 – Cerâmicas, com pastas e superfícies de cores claras.

Q16/C3-2

Q16/C3-6

Q16/C3-4

Q11/C3-13

RES.P.Q16/C3-2 - CANTILFragmento correspondendo a porção do bordo, do gargalo e ao início do corpo, conservan-do a extremidade superior de uma asa. Mostra bordo vertical, com lábio de secção semicir-cular, assente em gargalo estrangulado. Uma asa, sobrelevada e de secção oval, arrancavado gargalo. Foi fabricado com pasta muito homogénea e compacta, contendo elementosnão plásticos, quartzosos, micáceos e nódulos de barro cozido, de grão fino. O núcleo dasparedes é de cor branca (2.5Y 8/2) e as superfícies mostram cor algo mais escura que aque-la. Media 0,068 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,005 m.

RES.P.Q16/C3-6 -CÂNTAROFragmento correspondendo a porção da parede. Foi fabricado com pasta muito homo-génea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários,de grão finíssimo a fino. O núcleo das paredes é cor-de-rosa (2.5YR 6/6) e ambas assuperfícies apresentam aguada de cor bege (10YR 8/3). A superfície exterior oferecedecoração pintada, cor de rosa, algo amarelada (7.5YR 6/6). Esta é constituída porpequenos traços, irregulares, dispostos em série tendo, em um dos lados, duas linhasparalelas, algo arqueadas. A espessura média das paredes é de 0,006 m.

RES.P.Q16/C3-4 - CÂNTAROFragmento correspondendo a porção da parede. Foi fabricado com pasta homogénea ecompacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários, de grãofino e, alguns, de grão médio. O núcleo das paredes é de cor cinzenta clara (7.5YR 7/0).As paredes são cor-de-rosa amarelada (7.5YR 8/6). A superfície exterior oferece decora-ção pintada, de cor negra, constituída por faixa horizontal, delimitada por duas linhaslargas, onde se inscreveu cartela rectangular, preenchida por dois círculos daquelamesma cor. A espessura média das paredes é de 0,005 m.

RES.P.Q11/C3-13 - TAMPA (DE TAJINE)Fragmento correspondendo a porção do bordo e do corpo. Este mostrava forma sub-hemisférica. O bordo, extrovertido e demarcado no exterior por canelura, tem lábio de sec-ção semicircular. Foi fabricada com pasta muito homogénea e compacta, contendo ele-mentos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários, de grão finíssimo a fino. Tanto onúcleo como ambas superfícies das paredes são de cor branca (2.5Y 8/2). Apresenta partede orifício circular na parede. Media 0,200 m de diâmetro no bordo e a espessura médiadas paredes é de 0,010 m. O orifício na parede tem 0,010 m de diâmetro.

2.2.6.2.2.4. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (cor-de-laranja, vermelha ou cinzenta)

RES.P.Q11/C3-15 - TAÇAFragmento correspondendo a porção do bordo e do corpo. Mostrava forma sub-hemisfé-rica. O bordo, algo espessado interiormente, tem lábio biselado. Foi fabricada com pastahomogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcá-rios, de grão fino e, alguns, de grão médio. O núcleo das paredes é cor-de-laranja (2.5YR5/8) e ambas superfícies apresentam cor algo mais escura que aquela. Oferece, sobre obordo, decoração pintada, de cor branca, constituída por manchas espaçadas e irregulares.O fundo encontra-se demarcado, na parede exterior, por linha incisa, algo ondulante.Media 0,184 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,005 m.

206SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

RES.P.Q11/C3-16 - TAÇAFragmento correspondendo a porção do bordo e do corpo. Mostrava forma sub-hemis-férica com fundo plano. O bordo, espessado interiormente, tem lábio biselado. Foifabricada com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quart-zosos, micáceos e calcários, de grão fino e, alguns, de grão médio. O núcleo das pare-des é de cor vermelha (10R 5/8) e as superfícies apresentam cor algo mais escura queaquela. Oferece decoração pintada, de cor branca, constituída por manchas sobre obordo, assim como por outras nas superfícies, interior e exterior, das paredes. Media0,214 m de diâmetro exterior no bordo, 0,108 m de diâmetro no fundo, 0,059 m dealtura e a espessura média das paredes é de 0,005 m.

RES.P.Q11/C3-17 - TAÇAFragmento correspondendo a porção do bordo e do corpo. Mostrava forma troncocó-nica, com fundo plano. O bordo é extrovertido e o lábio biselado. Foi fabricada compasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos,calcários e nódulos de barro cozido, de grão fino e, alguns, de grão médio. O núcleo dasparedes é de cor vermelha (10R 5/8) e as superfícies apresentam cor algo mais escuraque aquela. Media 0,200 m de diâmetro exterior no bordo, 0,148 m de diâmetro nofundo, 0,027 m de altura e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

RES.P.Q16/C3-1 - PÚCARO COM DUPLA CARENAFragmento correspondendo a porção do gargalo e do corpo, com o negativo do arran-que de asa. Teria corpo bitroncocónico, com duas carenas, uma entre o gargalo e ocorpo e outra na ligação com o fundo. Este era plano. Foi fabricado com pasta homo-génea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino e, alguns,quartzosos e calcários, de grão médio. O núcleo das paredes é de cor cinzenta (2.5YR 4/0)e as superfícies são de cor vermelha (2.5YR 5/6), apresentando aguada de cor semelhante àdo núcleo. A superfície exterior mostra restos de decoração pintada, de cor branca, consti-tuída por linha entre o gargalo e a carena, a partir da qual foram pintadas outras linhas, algooblíquas, dispostas em série. Media 0,044 m de diâmetro no fundo e a espessura médiadas paredes é de 0,004 m.

RES.P.Q11/C3-4- PÚCAROFragmento correspondendo a porção do corpo e do fundo, com a extremidade inferiorda asa. Mostra corpo de forma troncocónica, com fundo plano. Uma asa arrancaria dobordo e assentava no fundo. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, conten-do elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino e, alguns, degrão médio. O núcleo das paredes é cor-de-laranja (2.5YR 6/8) e as superfícies apre-sentam a mesma cor, mas de tom algo mais escuro. Media 0,063 m de diâmetro nocorpo, 0,052 m de diâmetro no fundo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.Ambas superfícies mostram concreções devidas, possivelmente, às condições de jazida.

RES.P.Q7/C3-1- PÚCAROFragmento correspondendo a porção do bordo e a parte do corpo, com o arranque deasa. Mostrava corpo globular e bordo, alto e extrovertido, com lábio de secção semicir-cular. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásti-cos, micáceos, de grão fino, assim como calcários e quartzosos, de grão médio e, alguns,grosseiros. O núcleo das paredes é de cor cinzenta (2.5YR 4/0) e as paredes são de cor

207CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

rosada (2.5YR 6/6). Ambas superfícies apresentam aguada, de cor castanha escura anegra. Oferece decoração pintada, de cor branca, constituída por linha sobre o bordo eoutra, escorrida, na superfície exterior. Media 0,088 m de diâmetro no bordo, cerca de0,075 m de altura e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

RES.P.Q11/C3-10- JARROFragmento, correspondendo a porção do bordo e do gargalo. Mostra bordo, extrovertidoe bífido, com lábio algo biselado. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, con-tendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino e, alguns,

208SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.40 – Cerâmicas, com pastas e superfícies de cor vermelha.

Q11/C3-15

Q11/C3-16

Q11/C3-17

Q7/C3-1Q11/C3-4Q16/C3-1

de grão médio. O núcleo das paredes é cor-de-laranja (2.5YR 5/8) e ambas superfíciesmostram a mesma cor, mas de tom algo mais escuro. Media 0,116 m de diâmetro nobordo e a espessura média das paredes é de 0,004 m.

RES. P. Q16/C3-7- ALGUIDARFragmento correspondendo a porção do bordo e do corpo. Este mostrava forma tronco-cónica, assente em fundo plano. O bordo é espessado e extrovertido, com lábio de secçãosemicircular, tendo a parte superior plana. Foi fabricado com pasta homogénea e com-pacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosose, alguns, calcários de grão médio. O núcleo das paredes é cor-de-laranja (2.5YR5/8) eambas superfícies mostram cor semelhante àquela. A superfície exterior oferece, naextremidade inferior do fragmento, linha incisa semicircular. Media 0,264 m de diâme-tro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,014 m.

RES.P.Q6/C3-5- ALGUIDARFragmento correspondendo a porção do bordo. Este é espessado interiormente e temlábio algo biselado. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo elemen-tos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino a médio e, alguns,nódulos de barro cozido, de grão grosseiro. O núcleo das paredes é de cor vermelha(10R 5/8) e as superfícies oferecem cor semelhante àquela. Media 0,476 m de diâme-tro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,016 m.

RES.P.Q11/C3-8- ALGUIDARFragmento correspondendo a porção do bordo, da parede e ao início do fundo.Mostrava forma troncocónica, assente em fundo plano. O bordo, espessado no exterior,tem lábio aplanado superiormente e em bisel. Foi fabricado com pasta homogénea ecompacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quart-zosos e calcários, de grão fino a médio. O núcleo das paredes é de cor cinzenta aver-melhada (10R 5/1). As paredes são de cor vermelha (10R 5/8) e ambas superfícies apre-sentam aguada de cor algo mais escura que aquelas. A superfície interior foi brunida eoferece decoração pintada, de cor branca, constituída por reticulado. Media 0,536 m dediâmetro no bordo, 0,298 m de diâmetro no fundo, 0,080 m de altura e a espessuramédia das paredes é de 0,010 m. Ambas superfícies apresentam algumas concreçõesdevidas, possivelmente, às condições de jazida.

RES.P.Q11/C3-9- ALGUIDARFragmento correspondendo a porção do bordo. Este é espessado e extrovertido, comlábio de secção sub-rectangular, demarcado no exterior por canelura. Foi fabricadocom pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, degrão fino, assim como quartzosos, calcários e nódulos de barro cozido de grão médio.O núcleo das paredes é cor-de-laranja (2.5YR 5/8) e ambas superfícies apresentamaguada de tom algo mais escuro que o da cor daquele. A superfície interior oferecedecoração brunida e pintada. Esta é constituída por parte de três semicírculos secan-tes, pintados de cor branca, pertencentes, possivelmente, a motivo fitomórfico. Media0,600 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,010 m. Ambassuperfícies apresentam algumas concreções devidas, possivelmente, às condições dejazida.

209CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

210SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

Q11/C3-10

Q16/C3-7

Q6/C3-5

Q11/C3-8

Q11/C3-9

FIG. 2.41 – Cerâmicas, com pastas e superfícies de cor vermelha.

RES.P.Q11/C3-11- PANELAFragmento correspondendo a porção do bordo e ao início do corpo. Mostra bordo, extro-vertido, com lábio de secção semicircular. Foi fabricada com pasta homogénea e com-pacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzo-sos, calcários e nódulos de barro cozido, de grão médio. O núcleo das paredes é cor-de--laranja (2.5YR 5/8). A superfície interior mostra cor algo mais escura que a do núcleo

211CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

FIG. 2.42 – Cerâmicas, com pastas e superfícies de cor vermelha.

Q11/C3-11

Q11/C3-12

Q6/C3-3

Q11/C3-6

e a exterior apresenta aguada de cor cinzenta avermelhada (10R 5/1). Oferece, no iníciodo corpo, duas caneluras pouco profundas. Media 0,136 m de diâmetro no bordo e aespessura média das paredes é de 0,005 m.

RES.P.Q11/C3-12- PANELAFragmento correspondendo a porção do bordo e ao início do corpo. Mostra bordo, extro-vertido, com lábio de secção semicircular. Foi fabricada com pasta homogénea e com-pacta, contendo abundantes elementos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários,de grão fino e, alguns, de grão médio a grosseiro. O núcleo das paredes é de cor ver-melha (10R 4/6) e ambas superfícies mostram cor semelhante àquela. Apresenta, sobreo bordo, decoração pintada de cor branca. Media 0,160 m de diâmetro no bordo e aespessura média das paredes é de 0,005 m.

RES.P.Q6/C3-3- POTE Fragmento correspondendo a porção do bordo e do gargalo. O bordo era alto e extrover-tido, com lábio de secção semicircular, algo aplanado superiormente. Foi fabricado compasta homogénea e compacta, contendo abundantes elementos não plásticos, micáce-os, de grão fino, assim como quartzosos e calcários de grão médio. O núcleo das pare-des é de cor negra (2.5YR 3/0). A superfície interior mostra cor semelhante à do núcleoe a exterior cor castanha avermelhada (2.5YR 4/2). Esta oferece duas caneluras hori-zontais. Media 0,194 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de0,008 m.

RES.P.Q11/C3-6- TALHAFragmento correspondendo a porção do bordo. Este é extrovertido e tem lábio comsecção semicircular. Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendo abun-dantes elementos não plásticos, quartzosos, micáceos, calcários e nódulos de arenitovermelho, de grão fino a médio, assim como, alguns, grosseiros. O núcleo das pare-des é de cor vermelha (2.5YR 5/6) e as superfícies oferecem cor algo mais escura queaquela. Media 0,360 m de diâmetro exterior no bordo e a espessura média das pare-des é de 0,020 m. Ambas superfícies apresentam concreções, devidas às condições dejazida.

2.2.6.2.3. Estruturas subterrâneas2.2.6.2.3.1. Estrutura 1 – Camada 22.2.6.2.3.1.1. Cerâmica com pasta de cor clara e decoração de corda seca parcial

RES.P.Q5/E1/C2-1 LUCERNAFragmento contendo porção do reservatório, o arranque do gargalo e da extremidadeinferior da asa. Assenta em base plana. Foi fabricada com pasta muito homogénea ecompacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, de grão fino. O núcleo das paredes é de cor branca (2.5Y 8/2) e as superfícies mostram cor seme-lhante. A superfície exterior oferece decoração constituída por cartela delimitada porduas linhas pintadas, uma de cada lado, tendo no interior motivo geométrico, de corverde escura, preenchido com vidrado, espesso, daquela mesma cor. Media 0,079 m dediâmetro no fundo e a espessura média nas paredes é de 0,006 m.

212SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

2.2.6.2.3.2. Estrutura 2 – Camada 42.2.6.2.3.2.1. Cerâmicas, com pastas de cores claras, vidradas

RES.P.Q7/E2/C4-3- TAÇAFragmento correspondendo a porção do bordo e do corpo. Oferecia forma sub-hemis-férica. O bordo é ligeiramente espessado, no interior, e o lábio algo biselado. Foi fabri-cada com pasta muito homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos,quartzosos, micáceos e calcários, de grão fino, assim como nódulos de barro cozido, degrão fino e, alguns, de grão médio. O núcleo das paredes é de cor rosada (5YR 8/3) eambas superfícies apresentam vidrado, aderente e brilhante, de cor castanha melada.Oferece, na superfície interior, decoração, de cor castanha escura, de óxido de manga-nês, constituída por duas linhas curvas, irregulares e escorridas, que se cruzam sob obordo. Media 0,250 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de0,005 m. Apresenta concreções devidas às condições de jazida.

RES.P.Q7/E2/C4-4- TAÇA CARENADAFragmento correspondendo a porção do bordo e do corpo. Mostrava forma sub-hemis-férica. O bordo, algo espessado no interior, tem lábio biselado. Foi fabricada com pastahomogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, degrão fino, assim como calcários, de grão fino a médio. O núcleo das paredes é de corrosada (5YR 8/4) e as superfícies apresentam vidrado, aderente e brilhante, de cor cas-tanha melada. Oferece, na superfície interior, decoração, de cor castanha escura, cons-tituída por duas linhas, escorridas, irregulares. Media 0,240 m de diâmetro no bordo ea espessura média das paredes é de 0,005 m. Apresenta concreções, devidas às condi-ções de jazida.

RES.P.Q7/E2/C4-5- TAÇAFragmento correspondendo a porção do bordo e do corpo. Mostrava forma sub-hemis-férica. O bordo, algo espessado no interior, tem lábio biselado. Foi fabricada com pastahomogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, de grão fino,assim como quartzosos e calcários de grão fino e, alguns, de grão médio. O núcleo dasparedes é de cor rosada (2.5YR 6/6), com manchas algo acinzentadas. As superfíciesapresentam vidrado, aderente e brilhante, de cor castanha melada, com manchas detom esverdeado. Media 0,240 m de diâmetro no bordo e a espessura média das pare-des é de 0,005 m. Apresenta concreções, devidas às condições de jazida.

2.2.6.2.3.2.2. Cerâmicas com pastas e superfícies de cores claras (rosada ou cinzenta clara)

RES.P.Q7/E2/C4-6- JARRAConserva-se a totalidade do corpo. Este oferece forma globular e assenta em pé, baixo eanelar. Apresenta o arranque da extremidade inferior de duas asas opostas. A paredecorrespondente ao início do corpo foi boleada tendo, por isso, sido reutilizada depois deter perdido o gargalo. Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendo ele-mentos não plásticos, quartzosos, micáceos e calcários, de grão finíssimo a fino. O núcleo das paredes é de cor rosada (5YR 7/4) e as superfícies exibem aguada de coralgo mais escura que aquela. A superfície exterior oferece decoração pintada, de corbranca, constituída por cartela delimitada por três linhas, uma no início do corpo e duas

213CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

outras a meio daquele e junto ao arranque da extremidade inferior das asas. No interi-or da cartela observam-se pequenos traços, verticais, dispostos em série. Media 0,107 mde diâmetro máximo, no corpo, 0,076 m de altura e a espessura média das paredes éde 0,003 m. Ambas superfícies mostram concreções, devidas às condições de jazida.

214SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.43 – Cerâmicas, com pastas de cores claras, vidradas.

Q7/E2/C4-3

Q7/E2/C4-4

Q7/E2/C4-5

RES.P.Q7/E2/C4-1-TALHAFragmento correspondendo a porção da parede. Foi fabricada com pasta homogénea ecompacta, contendo abundantes elementos não plásticos, micáceos, de grão fino, assimcomo quartzosos, calcários e feldspáticos de grão médio. O núcleo das paredes é de cor cin-zenta clara (10YR 7/2). A parede exterior é de cor rosada (5YR 7/4), tendo a interior cor algomais escura e acastanhada (5YR 6/4). A superfície exterior oferece decoração estampilha-da e incisa. Esta é constituída por cordão, com incisão ao centro, disposto sensivelmente ameio do fragmento, observando-se dois tipos de matrizes circulares. Uma delas mostra cír-culos com ponto central e a outra estrela de seis pontas, com ponto central, inserida emcírculo e rodeada por série de pontos. A espessura média das paredes é de 0,018 m.

2.2.6.2.3.2.3. Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha (vermelha ou cinzenta)

RES.P.Q7/E2/C4-2- TAÇAFragmento correspondendo a porção do bordo e do corpo. Oferecia forma troncocónica,assente em fundo plano. O bordo é extrovertido, com lábio de secção semicircular.Tinha, pelo menos, uma asa, que ligaria o bordo ao fundo. Foi fabricada com pasta muitohomogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos e micáceos, degrão fino, assim como calcários de grão fino a médio. O núcleo das paredes é de cor ver-melha (10R 5/8) e as superfícies apresentam aguada de cor cinzenta (2.5YR 6/0). A superfície interior oferece decoração pintada, de cor branca, constituída por linha, irre-gular, em redor do bordo e, possível, pseudo-asterisco, no interior do fundo, ladeado portraços, irregulares, ondulados. Ainda se reconhecem, no interior do fundo, as marcas dosdedos deixadas pelo oleiro, aquando da formação da peça. Media 0,174 m de diâmetroexterior no bordo, 0,009 m de diâmetro no fundo, 0,053 m de altura e a espessura médiadas paredes é de 0,005 m. Apresenta muitas concreções e estalamentos devidos, possi-velmente, às condições de jazida.

RES.P.Q7/E2/C4-7- TAÇA CARENADAFragmento correspondendo a porção do bordo e da parede. Mostrava forma bitronco-cónica, bordo vertical, com lábio de secção semicircular, algo aplanado superiormente.Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos,quartzosos e micáceos, de grão fino e, alguns, de grão médio. O núcleo das paredes éde cor vermelha (2.5YR 5/6) e as superfícies apresentam cor semelhante àquela. Media0,222 m de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,006 m. Ambassuperfícies apresentam concreções, devidas às condições de jazida.

RES.P.Q7/E2/C4-8- TAÇA CARENADAFragmento correspondendo a porção do bordo e do corpo. Mostrava forma bitroncocó-nica, assente em fundo plano. O bordo, extrovertido, tem lábio de secção semicircular,aplanado superiormente. Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendoelementos não plásticos, calcários e quartzosos, de grão fino a médio e, alguns, gros-seiros. O núcleo das paredes é de cor vermelha (10R 4/8) e ambas superfícies apre-sentam aguada de cor castanha escura a negra, com vestígios de intensa utilização aofogo. Media 0,260 m de diâmetro no bordo, 0,072 m de altura e a espessura média dasparedes é de 0,006 m. As superfícies apresentam concreções, devidas às condições dejazida.

215CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

RES.P.Q7/E2/C4- 9- TAÇA COM CARENA ACUSADAFragmento correspondendo a porção do bordo e do corpo. Mostrava forma bitroncocó-nica. O bordo, espessado, tem lábio algo biselado.Foi fabricada com pasta homogéneae compacta, contendo elementos não plásticos, quatzosos, calcários e nódulos de barrocozido, de grão fino a médio.O núcleo das paredes é de cor vermelha (10R 5/8) e assuperfícies exibem aguada de cor algo mais escura que aquela. Media 0,262 m de diâ-metro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,005 m. Ambas superfícies mos-tram concreções, devidas às condições de jazida.

216SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.44 – Cerâmicas, com pastas e superfícies de cores claras ou vermelha.

Q7/E2/C4-1Q7/E2/C4-6

Q7/E2/C4-2

RES.P.Q7/E2/C4-10- BULEFragmento correspondendo a porção do bordo e do corpo. Mostrava corpo globular, combordo alto e vertical, algo espessado no exterior e com lábio em bisel. Conserva bico comforma subcilíndrica. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo elemen-tos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos e calcários, de grãomédio. O núcleo das paredes é de cor rosada (2.5YR 6/8) e a superfície interior mostra coralgo mais escura que aquela. A superfície exterior oferece aguada, de cor cinzenta escura

217CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

FIG. 2.45 – Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha.

Q7/E2/C4-7

Q7/E2/C4-8

Q7/E2/C4-9

Q7/E2/C4-10

a negra, exibindo decoração pintada, de cor branca, constituída por linha sobre o bordo,outra entre o gargalo e o início do corpo que, com outras duas, sob a extremidade inferi-or do bico definem cartela. Esta encontra-se preenchida, junto ao elemento vertedor, porpequenos traços, oblíquos, dispostos em série. Media 0,130 m de diâmetro no bordo e aespessura média das paredes é de 0,003 m. A peça mostra concreções devidas, possivel-mente, às condições de jazida.

RES.P.Q7/E2/C4-11-ALGUIDARFragmento correspondendo a porção do bordo. Mostrava forma troncocónica e o bordoé espessado e extrovertido, com lábio de secção semicircular, demarcado no exterior porcanelura. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo elementos nãoplásticos, quartzosos e calcários, de grão médio. O núcleo das paredes é de cor verme-lha (10R 5/6) e as superfícies oferecem cor semelhante àquela, embora a superfícieinterior se encontre brunida. Media 0,548 m de diâmetro no bordo e a espessura médiadas paredes é de 0,012 m. Mostra concreções devidas às condições de jazida. Apresentaorifício resultante de um gato.

218SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.46 – Cerâmicas com pastas e superfícies de cor vermelha.

Q7/E2/C4-11

Q7/E2/C5-1

2.2.6.2.3.3. Camada 5

RES.P.Q7/E2/C5-1- PANELAQuase completa, apresenta forma globular, achatada, com carena acusada sob o bordoe assenta em fundo plano. Falta-lhe, apenas, parte de uma asa e alguns fragmentos dobordo e do corpo. O bordo é vertical e alto, com perfil subtriangular e lábio de secçãosemicircular. Teria duas asas, opostas, com perfil quase em ângulo recto e secção sub-triangular. A extremidade superior daquelas arrancava da carena e a inferior fixava-se ameia altura do corpo. Foi fabricada com pasta homogénea e compacta, contendo ele-mentos não plásticos, micáceos, de grão fino, assim como quartzosos e calcários, degrão médio. O núcleo das paredes é de cor cinzenta (2.5YR 5/0) e as paredes são de corvermelha (2.5YR 5/6). A superfície interior apresenta cor algo mais escura que a donúcleo e a exterior mostra aguada, de cor cinzenta escura, com manchas de cor negra,devidas a intensa utilização ao fogo. Exibia decoração pintada, de cor branca, de quesubsiste linha, escorrida, sobre o bordo. Oferece ainda, canelura a meio do volume docorpo. Mede 0,113 m de altura, 0,100 m de diâmetro no bordo, 0,065 m de diâmetrono fundo e a espessura média das paredes é de 0,003 m. Apresenta algumas concreçõ-es de cor amarela acastanhada (2.5Y 6/4) devidas às condições de jazida.

2.2.6.2.4. Pedra, osso e metal

RES.P.Q14/C3-3- BALA DE FUNDADe calcário, com forma sub-esférica. Mede 0,026 m de maior diâmetro.

RES.P.Q7/E2/C4-12- COSSOIRODe osso, com forma troncocónica. Mede 0,180 m de maior diâmetro e o orifício centraltem 0,004 m de diâmetro.

RES.P.Q22/C3- DIREME QUADRADODe prata, almoada. Mede o,o15 m de lado.

RES. P.Q19/C3-1- ANELDe prata. Conserva o aro e o engaste onde se fixaria pedra já desaparecida. Mede 0,020 mde diâmetro no aro.

RES.P.Q14/C3-1- LUCERNADe latão, dispondo do reservatório e de parte do bico. Do lado oposto àquele mostraresto de pega. Mede 0,074 m de maior comprimento, 0,022 m de altura e 0,058 m dediâmetro no fundo. A espessura das paredes é de 0,002 m.

RES.P.Q33/C3-1- FERRADURADe ferro, com secção sub-rectangular. Mede 0,136 m de comprimento e 0,008 m deespessura.

SEC,2-1- FACADe ferro, quase completa. Mostra cabo de osso. Mede 0,176 m de comprimento e0,010 m de diâmetro no cabo.

219CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

Q22/C3-5- FRAGMENTO DE COTA DE MALHADe bronze, constituída por séries de argolas entrelaçadas. As argolas medem 0,006 mde maior diâmetro.

220SILVES (XELB) – UMA CIDADE DO GHARB AL-ANDALUS: O NÚCLEO URBANO

FIG. 2.47 – Objectos metálicos, de osso e de pedra.

Q22/C3

Q14/C3-1

Q7/E2/C4-12Q19/C3-1

Q14/C3-3

Q33/C3-1

SEC.2-1

FIG. 2.48 – Fragmento de cota de malha (Q22/C3-A).

Q22/C3-5

2.2.7. Síntese

A intervenção arqueológica realizada na Zona a Sul da actual Sé e que incluí doisarqueossítios, designados por Salão Paroquial e Residência Paroquial, permitiu uma melhorcompreensão desta área do núcleo urbano. Assim, constatámos, desde logo, acentuado des-nível registado em ambos os sectores investigados, o que pode indicar organização do núcleourbano muçulmano em terraços, adaptando-se, afinal, à topografia acidentada do terreno.

Verificámos que os mais antigos materiais muçulmanos exumados datam do PeríodoOmíada, embora os mais numerosos e melhor conservados pertençam, como é aliás lógico,à última ocupação islâmica do local, ou seja à primeira metade do século XIII. A esta per-manência correspondem os vestígios de dois espaços habitacionais que, embora fragmenta-dos, se organizavam em torno de pátio central, com passeador, dispondo um deles (SalãoParoquial) mesmo de cisterna. Tratar-se-iam de vivendas, com dimensões distintas, sendo acorrespondente à da Residência Paroquial bem menor, embora servida por pátio e casa debanho. Ela representa pequena unidade habitacional urbana, de família com meios econó-micos limitados e talvez pouco extensa, situando-se, em termos arquitectónicos, na extre-midade de larga banda de variantes, em cuja posição oposta se encontra a Casa A do Castelo.

Pudemos verificar que, a partir de meados do século XIII ou seja em período subse-quente à reconquista cristã, se realizaram profundas alterações na estrutura urbana destesector da cidade. De facto, o espaço habitacional muçulmano, identificado no SalãoParoquial, terá sido abandonado, ali se instalando a necrópole cristã, junto da Sé.

No sector nascente, na Residência Paroquial, o pequeno espaço habitacional terá pervi-vido, quiçá com diferentes ocupantes, durante período contemporâneo do enterramentoidentificado na área do Salão Paroquial. No entanto, aquela ocupação parece não ter sidolonga, apesar de não observarmos vestígios do prolongamento da necrópole referida.

As escavações efectuadas permitiram, também, reconhecer profundas alterações entrea rede viária islâmica e a actual.

221CAPÍTULO 2 – ZONA A SUL DA SÉ

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