saude mental

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FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE CAMPOS GERAIS CURSO DE ENFERMAGEM HUMANIZAÇÃO NA ASSISTÊNCIA DA SAÚDE AOS PORTADORES DE DOENÇAS MENTAIS PELOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM E SUA EQUIPE, NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE-PSF DAMARES DO CARMO CASTRO Campos Gerais - MG 2008

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FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE CAMPOS GERAIS

CURSO DE ENFERMAGEM

HUMANIZAÇÃO NA ASSISTÊNCIA DA SAÚDE AOS PORTADORES DE DOENÇAS MENTAIS

PELOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM E SUA EQUIPE, NAS UNIDADES BÁSICAS DE

SAÚDE-PSF

DAMARES DO CARMO CASTRO

Campos Gerais - MG

2008

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE CAMPOS GERAIS

CURSO DE ENFERMAGEM

HUMANIZAÇÃO NA ASSISTÊNCIA DA SAÚDE AOS PORTADORES DE DOENÇAS MENTAIS

PELOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM E SUA EQUIPE, NAS UNIDADES BÁSICAS DE

SAÚDE-PSF

DAMARES DO CARMO CASTRO

Monografia apresentada ao Curso de Enfermagem da

Faculdade de Ciências da Saúde de Campos Gerais para

obtenção do grau de Bacharel em Enfermagem.

Orientador: Prof. Emanuel Georgiton de Abreu.

Campos Gerais - MG

2008

FICHA CATALOGRÁFICA

Catalogação na Publicação Biblioteca Doralice Jorge

Faculdade de Ciências da Saúde de Campos Gerais / FACICA

Castro, Damares do Carmo Humanização da assistência da saúde aos portadores de

doenças mentais pelos profissionais de enfermagem e sua equipe, nas Unidades Básicas de Saúde -PSF. Damares do Carmo Castro – Campos Gerais: FACICA. Curso Bacharelado em Enfermagem, 2008. 60 f

Orientador: Emanuel Georgiton de Abreu

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciências da Saúde de Campos Gerais / FACICA. Área de Concentração: Ética em Enfermagem, 2008.

Referências bibliográficas: f. 57-60.

1. Doente mental. 2. Humanização. 3. Enfermagem. 4. PSF.

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE CAMPOS GERAIS

CURSO DE ENFERMAGEM

HUMANIZAÇÃO NA ASSISTÊNCIA DA SAÚDE AOS PORTADORES DE DOENÇAS MENTAIS

PELOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM E SUA EQUIPE, NAS UNIDADES BÁSICAS DE

SAÚDE-PSF

Monografia apresentada por DAMARES DO CARMO

CASTRO aprovada em _____/_____/ 2008 pela banca

examinadora constituída pelos professores:

_____________________________ ________________________________

Profº. Emanuel Georgiton de Abreu Profª:Amanda Vaz Tostes M Campos

Orientador 1ª Examinadora

______________________________

Profº. Nurred Feres Mamud

2ª Examinador

Campos Gerais - MG

2008

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Dedico

Aos meus amados pais, sem cujo apoio nada seria possível. E, talvez, eu nem mesmo

tivesse iniciado essa caminhada. Obrigado por terem me ensinado que não podemos julgar as

fraquezas das pessoas pela capacidade que temos de enfrentar o mundo e por me amar de

forma incondicional. A vocês, também, dedico a minha vitória.

Aos pacientes psiquiátricos, que com sua forma de ver a vida me ensinaram que o

“diferente” não está naquele que vemos e sim naquele que enxerga dessa forma.

Para todos os que continuam acreditando na possibilidade de transformar a realidade, a

fim de auxiliar aqueles que encontram se em uma “existência-sofrimento”.

AGRADECIMENTOS

A todas as pessoas que contribuíram direta e indiretamente para realização deste

estudo, os meus mais sinceros agradecimentos.

E m especial...

Agradeço Deus, pelo dom maravilhoso da vida e pela oportunidade de aprender,

evoluir e crescer.

Aos meus Pais e familiares por terem compreendido minhas ausências; às vezes em

momentos tão importantes e, acreditarem em mim! Obrigado pelo carinho e compreensão!

Ao meu orientador prof Emanuel Georgigton de Abreu, por dedicar a mim seu tempo

e sua paciência; pelas idéias, criticas e sugestões em todas etapas deste estudo. Sua valiosa,

competente e objetiva orientação foi responsável por me fazer acreditar que este estudo era

possível. A você meu muito obrigado e carinho também!

A minha amiga solidária e professora Amanda Miarelli, com quem dividi minhas

inquietações iniciais sobre a temática dessa pesquisa.

A todos os meus amigos: Maria Micaela, Ângela, Kelly Coelho, Luciene, Tatiana

Bonfá, Luciane de Souza, que durante todo esse percurso me ajudaram e incentivaram com

seu apoio e energia, para que eu pudesse prosseguir sempre e, também pelos vários momentos

de alegria.

RESUMO

CASTRO, Damares do Carmo. Humanização da assistência da saúde aos portadores de doenças mentais pelos profissionais de enfermagem e sua equipe, nas Unidades Básicas de Saúde -PSF Orientador: Prof. Emanuel Georgiton de Abreu. Campos Gerais: FACICA, 2008. Monografia (Conclusão do Curso de Enfermagem).

Buscou-se discutir sobre a importância da humanização e da qualidade na assistência da equipe de saúde dos PSF, aos pacientes portadores de transtornos mentais ou doenças mentais, com enfoque no preparo deste profissional para uma correta atuação frente a estes paciente. Fala-se muito em humanização e qualidade de vida do doente mental, mas pode-se pensar que muitas famílias e muitos profissionais não estão preparados para auxiliar esses doentes a resgatarem seus direitos, sua cidadania. Humanização é uma expressão de difícil conceituação, tendo em vista seu caráter subjetivo, complexo e multidimensional. A temática humanização do atendimento em saúde mostra-se relevante no contexto atual, uma vez que a constituição de um atendimento calcado em princípios como a integralidade da assistência, a eqüidade, a participação social do usuário, dentre outros, demanda a revisão das práticas cotidianas, com ênfase na criação de espaços de trabalho menos alienantes que valorizem a dignidade do trabalhador e do usuário. Na possibilidade de resgate do humano, naquilo que lhe é próprio, é que pode residir a intenção de humanizar o fazer em saúde. Para que o paciente seja reintegrado à comunidade é necessário ter apoio de um profissional qualificado. A enfermagem e sua equipe estão aptas a prestar esse atendimento e o PSF assume um importante papel na inclusão do paciente na comunidade. Acredita-se, que o enfermeiro e sua equipe, por interagirem diretamente com o paciente, precisam estar atentos à dinâmica da doença do paciente de forma a prestar este atendimento mais humanizado, podendo utilizar-se da comunicação para conseguir estabelecer um relacionamento efetivo com o paciente, pois, a prática de enfermagem envolve necessariamente uma relação interpessoal. Uma prática de saúde humanizada deve tomar em consideração o contexto em que vive o usuário, assim como as situações de onde surgem os diversos problemas de saúde de uma comunidade. Portanto, o enfermeiro e sua equipe nas Unidades Básicas de Saúde são essenciais no tratamento do paciente doente mental, pois este, antes de ser um doente mental, é um ser humano digno de respeito e tratamento humanizado. Portanto, é importante combinar a sensibilidade ao conhecimento teórico, com a finalidade de oferecer uma assistência de enfermagem planejada e estruturada, visando à orientação aos familiares a respeito do que ocorre e estimulando a expressão dos seus sentimentos. Para concretizar tais objetivos foi realizada uma leitura exploratória, seletiva e interpretativa de textos impressos em livros, revistas e periódicos, além de teses, dissertações e artigos científicos publicados na Internet, nos últimos dez anos, e catalogados nos bancos de dados digitais da MEDLINE, CAPES, USP (Dedalus), Unicamp (Sistema Rau-Tau) e nos arquivos de Neuro-Psiquiatria da Scientific Electronic Library Online (Scielo Brasil) e BIREME/LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde). Chegou-se à conclusão que é importante o reconhecimento, pelo profissional de enfermagem, do sofrimento que a doença mental acarreta sendo um fenômeno existencial significativo e subjetivo cuja abordagem exige a compreensão de um quadro de valores, crenças e expectativas, contribuindo assim para a humanização dos cuidados, numa intervenção de respeito, incutindo esperança e auto estima, levando ao resgate da cidadania.

Palavras-Chave: Assistência de Enfermagem; Doente mental. Humanização. Bioética.

ABSTRACT

CASTRO, Damares do Carmo. Humanization in the assistance of the health: an approach in the paper of the teams of the Basic units of Health of the PSF, next to the carriers of insanities. Orientador: Emanuel Georgiton de Abreu. Campos Gerais: FACICA, 2008. Monografia (Conclusão do Curso de Enfermagem). It sought argue on the humanization importance and of the quality in the health team assistance of PSF, to the patient bearers of mental upsets or mental diseases, with focus in the prepare of this professional for a correct performance front to these patient. Humanization is a difficult conceituation expression, having in mind your subjective character, complex and multidimensional. It talks a lot in life humanization and quality of the mental patient, but can think many families and many professional are not ready to assist these sick rescue her your rights, its citizenship. The assistance thematic humanization in health it shows important in the current context, once the constitution of an assistance smashed in principles as the assistance completeness, the justness, the user's social participation, among another, demand the revision of the everyday practices, with emphasis in the spaces creation of less alienating working than valorize worker's dignity and of the user. In the human ransom possibility, therein that is you own, is just that can reside the intention of humanizing do it in health. So that the patient is reintegrated to the community is necessary to have support from a capable professional. For nursing is apt to render that assistance e the PSF assumes an important role in the inclusion of the patient in the community. It is given credit, that the nurse and its team, for interacting directly with the patient, need to be intent to the dynamics of the illness of the patient of form to more give this humanized attendance, being able to use itself of the communication to obtain to establish an effective relationship with the patient, therefore, the practical one of nursing involves an interpersonal relation necessarily. Practical one of humanized health must take in consideration the context where the user lives, as well as the situations of where the diverse problems of health of a community appear. Therefore, the nurse and its team in the Basic Units of Health are essential in the treatment of the mental sick patient, therefore this, before being a mental sick person, is a worthy human being of respect and humanizado treatment. Therefore, it is important to combine sensitivity to the theoretical knowledge, with the purpose to offer an assistance of planned and structuralized nursing, aiming at to the orientation to the familiar ones regarding what it occurs and stimulating the expression of its feelings. To formalize such goals was accomplished an exploratory, selective and interpretative reading of printed texts in books, magazines and periodic, besides thesis, dissertations and scientific goods published in the Internet, in the last ten years, and cataloged in MEDLINE's digital databases, CAPES, Usp (Dedalus), Unicamp (System Rau-Tau) and in the files of Neuro-psychiatry of Scientific Electronic Library Online (Scielo Brazil) and BIREME/LILACS (Latin-American Literature and of the Caribbean in Health Sciences). It arrived to the conclusion that is important the recognition, by the nursing professional, of the suffering that the mental disease carries being a significant existential and subjective phenomenon whose approach demands the comprehension of a values picture, beliefs and expectations, contributing thus for the cares humanization, in a respect intervention, incutily hope and auto esteem, carrying to the citizenship ransom.

Key-words: Nursing assistance; mental sick person. . Humanization. Bioethic.

LISTA DE ABREVIATURAS

CAPS Centro de Atenção Psicossocial

CFM Conselho Federal de Medicina

CNSP Conselho Nacional de Saúde Pública

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

MS Ministério da Saúde

MTSM Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental

NAPS Núcleo de Atenção Psicossocial

OMS Organização Mundial de Saúde

ONU Organização das Nações Unidas

PNHAH Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar

PSF Programa de Saúde da Família

SUS Sistema Único de Saúde

TRHA Técnicas de Reprodução Humana Assistida

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------------------------- 07

1.1 OBJETIVOS ------------------------------------------------------------------------------------- 12

1.2 JUSTIFICATIVA -------------------------------------------------------------------------------- 12

2 REVISÃO DE LITERATURA ---------------------------------------------------------------- 18

2.3 A DOENÇA MENTAL – LOUCURA ------------------------------------------------------- 18

2.4 A REFORMA PSIQUIÁTRICA EM ANDAMENTO ------------------------------------- 21

2.5 BIOÉTICA --------------------------------------------------------------------------------------- 27

2.5.1 Princípios da Bioética ------------------------------------------------------------------------- 28

2.5.2 Avanços éticos em relação ao doente mental: princípio da autonomia ----------------- 32

2.6 O PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO ------------------------------------------------------- 35

2.7 PAPEL DA ENFERMAGEM NA HUMANIZAÇÃO DO PACIENTE DOENTE MENTAL ----------------------------------------------------------------------------------------- 38

3 MATERIAL E MÉTODOS -------------------------------------------------------------------- 49

4 DISCUSSÃO ------------------------------------------------------------------------------------- 51

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ------------------------------------------------------------------ 55

REFERÊNCIAS ---------------------------------------------------------------------------------------- 57

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1 INTRODUÇÃO

Em dezembro de 2001, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou a campanha

“cuidar sim, excluir não”, devido a episódios como maus tratos a pacientes internados em

hospitais psiquiátricos e más condições de tais instituições, que ainda têm sido noticiadas pela

mídia com bastante freqüência. Esta campanha fez parte do processo de humanização dos

cuidados do Sistema de Saúde Mental, que tem como ponto de partida procedimentos tais

como “Portas abertas, grades cerradas e nada de camisa de força ou eletrochoque”

Este processo de mudança no tratamento do doente mental faz parte do programa

Humanidade, anunciado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela

Assembléia da ONU (Organização das Nações Unidas), em 1948 (JORNAL DA UNICAMP,

2003).

Desde o final dos anos 70, o atendimento em saúde mental no Brasil vinha passando

por transformações importantes, apesar dos retrocessos sofridos ao longo do período em

função da política neoliberal do 'Estado-mínimo', adotada pelos governos brasileiros até

então. Assim, temos conquistado novos espaços em substituição ao aparato manicomial e

alicerçado a atenção em práticas que visam não só desmistificar a loucura, resgatando a

complexidade do fenômeno, mas também denunciar concepções naturalistas que têm

historicamente 'justificado' o asilamento, a medicalização e a sua patologização

(DIMENSTEIN, 2007).

No entanto, cabe ressaltar que até a década de 80, o modelo de assistência à saúde no

país era centrado no atendimento curativo, especializado, individual, tendo como principal

espaço para as ações de saúde, o hospital. Além disso, não se constituía como direito de todos.

A partir do movimento da reforma sanitária, nos anos 80, começa a se delinear um novo

8

projeto de saúde que passa a valorizá-la como direito de todo cidadão a ser garantido pelo

Estado, envolvendo princípios como a eqüidade do atendimento, a integralidade da atenção e

a participação social do usuário.

Este movimento de humanização começa com as propostas de reforma Psiquiátrica,

que segundo Motta (2006), é um conjunto de iniciativas públicas, resultantes de pressões

societárias, que procuram enfrentar o desafio de construção de um modelo assistencial

dirigido aos portadores de sofrimento mental que seja capaz de romper com o formato

tradicional das instituições psiquiátricas que preconizam a exclusão social da loucura e o

expurgo cultural da desrazão. Paulatinamente, a reforma psiquiátrica significou uma ênfase

crescente na estruturação de serviços de saúde mental “extra-muros”, ou seja, fora dos

hospitais psiquiátricos.

Segundo Motta (2006), a reforma psiquiátrica em curso no Brasil, objetivou reverter

perversas características do modelo assistencial em saúde mental ainda dominante:

segregação social, cronificação e agravamento dos quadros patológicos, autoritarismo no trato

com os usuários, entre outras. Ela gerou serviços e normalizações de modo a garantir os

direitos dos portadores de sofrimento mental e otimizar a assistência psicoterapêutica,

evitando internações desnecessárias e gerando atenção local. Objetivou ainda, a reinserção

social, e o não afastamento dos portadores de sofrimento mental do convívio comunitário,

social e familiar.

Nascimento e Braga (2004) relataram que a principal proposta reformista brasileira,

na área de saúde mental, concretiza-se no Projeto de Lei 3.657/89, do deputado Paulo

Delgado (PT/ MG), o qual propunha regulamentação dos direitos do doente mental em

relação ao tratamento e indicava a extinção progressiva dos manicômios públicos e privados e

sua substituição por recursos extra-hospitalar. Esse Projeto de Lei traz elementos que

contribuem para superar o modelo vigente, tendo por base à implantação de uma rede de

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serviços extra-hospitalares que atenda a alguns preceitos, destacando-se: atenção

interdisciplinar, proibição da construção de novos hospitais psiquiátricos ou contratação de

mais leitos; inserir leitos e criar unidades psiquiátricas em hospitais gerais; criar Centro de

Atenção Psicossocial (CAPS), Núcleo de Atenção Psicossocial (NAPS), pensão protegida,

lares abrigados; integrar a saúde mental a estratégias ou programas de saúde, movimentos

sociais e instituições.

A reforma psiquiátrica atualizou a dimensão da individualidade, tanto na sua dimensão

jurídico-política, cuja expressão máxima é a noção de cidadão, como na idéia de produção e

cultivo da singularidade (REINALDO, 2004).

A Reforma Psiquiátrica para Campos e Barros (2000) contemplou vários aspectos, não

se restringindo à formulação de políticas de saúde mental e sua tradução na transformação dos

dispositivos assistenciais. Nessa direção, as propostas de Reforma Psiquiátrica estavam

afinadas com um novo olhar sobre as partes constitutivas do processo de trabalho dos

profissionais de saúde; qual seja, que fosse ampliado o objeto de trabalho para além da

dimensão biológica da doença mental, com a finalidade de resgatar a singularidade dos

indivíduos. Pode-se afirmar, então, que a Reforma Psiquiátrica atualizou a dimensão de

individualidade, tanto na sua dimensão jurídico política, cuja expressão máxima é a noção de

cidadão, quanto à idéia de produção e cultivo da singularidade.

Desse modo, ao longo desses anos, a temática humanização vem se constituindo, no

contexto de saúde, desde uma perspectiva caritativa até a preocupação atual com a

valorização de saúde como direito do cidadão.

Entretanto, revisitando a história dos saberes e práticas psiquiátricas e comparando-os

ao que observamos atualmente, percebemos que ainda há muito a fazer.

Acredita-se que deve-se observar atentamente as mudanças ocorridas nos últimos anos

na clínica psiquiátrica, analisando-as com um olhar crítico, humano e principalmente ético,

10

apropriando-nos das questões que a Bioética, seus princípios e características nos oferecem

para que possamos pensar nos novos e velhos desafios que enfrentamos e ainda enfrentaremos

para a construção de uma ética do cuidar em psiquiatria.

Assim, apesar das transformações, dos serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico,

ainda nesses espaços se depara com conceitos e práticas oriundas do modelo de assistência

anterior. Isto é, a assistência vem sendo construída, mas há que ser pautada também pela

flexibilidade e o compromisso dos profissionais atuantes nesse significativo processo de

mudanças.

Considerando que o Programa de Saúde da Família (PSF) é uma importante

estratégia nessa dinâmica mutativa, e desde a ultima década vem se solidificando no cenário

das políticas de saúde do país, a rede de assistência vem sendo ampliada, os municípios tem

sido chamados a responsabilizarem-se pela sua respectiva população. Porém no que diz

respeito à assistência em saúde mental, nas ultimas décadas o país vem tentando superar o

modelo de assistência à pessoa com sofrimento psíquico, que era centrado nos hospitais

psiquiátricos, incentivando a criação de serviço extra hospitalares, como CAPS (centro de

atenção psicossocial), os lares abrigados, as residências terapêuticas, as oficinas terapêuticas,

os hospitais-dia, Programa de Saúde da Família (PSF), visitas domiciliárias, assistência

Domiciliária e centros de cuidados paliativos, que representam esforços de mudança de

modelo e de organização dos serviços de saúde (ALVES et al., 2007).

Nesse sentido, em abril de 2001 foi aprovada a lei 10.216, que dispõe sobre a proteção

e os direitos as pessoas com sofrimento psíquico, redirecionando o modelo assistencial em

saúde. Em maio de 2003 foi lançado pelo Ministério da Saúde o programa de volta para casa,

que visa estimular a ressocialização dos egressos de longas internações, sendo, em julho desse

mesmo ano, aprovada a lei 10.708, que institui o auxilio Reabilitação psicossocial para essas

pessoas (MURTA, 2007).

11

Todo exposto vem reforçar a importância do PSF, nessa rede de serviços alternativos

de assistência, já que esse programa facilita a proximidade e a parceria serviço-comunidade, e

tem de ser sensível as necessidades advindas das experiências subjetivas, possibilitando

vínculos e abrindo espaço para a melhoria da assistência. São trabalhadas as questões de

prevenção, promoção e recuperação, considerando os singulares contextos.

O cotidiano nesse serviço possibilita perceber a importância da atuação dos

profissionais na assistência a pessoa em sofrimento psíquico na comunidade onde vivem, a

proximidade das equipes de atenção básica com as famílias e a comunidade representa um

recurso estratégico para o enfrentamento de situações relacionadas ao sofrimento psíquico e

ao uso abusivo de álcool e drogas (BRASIL, 2001).

Guedes Júnior e Guimarães (2007) enfatizam que qualquer tentativa de tratar o

indivíduo longe de sua família é inútil para ele. A principal medida para a promoção e o

tratamento da saúde mental deve ser planejada dentro do contesto familiar, pois quando uma

pessoa apresenta transtorno mental, não apenas ela sofre, mas, também, toda a sua família,

sendo assim ambas precisam de atenção.

A unidade de PSF esta inserida no primeiro nível de ações em saúde, atenção básica

deve estar vinculada a rede de serviços, de forma que garanta a assistência integral aos

indivíduos e famílias cadastrados, devendo, portanto, atender a todas as necessidades,

contemplando tanto a saúde física ,como a mental das pessoas que residem na região de

abrangência do PSF (BRASIL, 2001).

Como diretriz para a política de saúde mental, o Ministério da Saúde prevê, além da

redução dos leitos psiquiátricos, expansão da rede assistência extra hospitalar e qualificação

dos profissionais que atuam nesses serviços, a inclusão de ações de saúde mental, na rede de

atenção básica (BRASIL, 2001). Essa atenção seria, então, prestada pelas unidades básicas de

saúde, uma vez que, o processo de desinstitucionalização prevê que as pessoas acometidas

12

pelo sofrimento psíquico estejam (ou passem a estar) na comunidade a que pertencem. Isso

evidencia a importância do PSF nesse modelo de assistência, exigindo o envolvimento de

todos os profissionais que nele atuam, pois o vínculo com a população possibilita o

conhecimento da realidade de cada cidadão e sua família, em prol da melhoria da assistência

a ser prestada .

A proposta desse trabalho é desenvolver uma breve reflexão em torno de algumas

questões que vêm sendo amplamente discutidas no campo da saúde e que se configuram como

desafios para gestores e profissionais ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.

Trata-se do debate a respeito da qualidade e humanização das ações de saúde, dentre as quais

se inserem aquelas consideradas específicas em saúde mental.

1.1 OBJETIVOS

Discutir sobre a importância da humanização e da qualidade na assistência da equipe

de saúde dos PSF, aos pacientes portadores de transtornos mentais ou doenças mentais, com

enfoque no preparo do enfermeiro e sua equipe, para uma correta atuação frente a estes

pacientes.

1.2 JUSTIFICATIVA

Fala-se muito em humanização e qualidade de vida do doente mental, mas pode-se

13

pensar que muitas famílias e muitos profissionais não estão preparados para auxiliar esses

doentes a resgatarem seus direitos, sua cidadania.

Humanização é uma expressão de difícil conceituação, tendo em vista seu caráter

subjetivo, complexo e multidimensional e tem sido tratado freqüentemente pela mídia: são

episódios como maus tratos a pacientes internados em hospitais psiquiátricos e más condições

de tais instituições. Os hospitais psiquiátricos, na sua maioria, têm se caracterizado pelo

desrespeito aos clientes, pois isolam o paciente do seu meio social e familiar, além de ser

oferecido aos familiares, pouco apoio para que possam ter condições de cooperar no processo

terapêutico.

Os Direitos Humanos pressupõem que as pessoas não devem ter preconceito ou

qualquer tipo de discriminação. Quando se trata de alguém acometido por uma doença ou

distúrbio, subentende-se que essa afirmação é ainda mais reforçada. A luta antimanicomial é

caracterizada pela defesa de tratamentos mais eficientes, que possibilitem a reinserção do

indivíduo com distúrbio psíquico na sociedade e permitam a manutenção de seus vínculos

pessoais, valorizando sua experiência de vida.

A temática humanização do atendimento em saúde mostra-se relevante no contexto

atual, uma vez que a constituição de um atendimento calcado em princípios como a

integralidade da assistência, a eqüidade, a participação social do usuário, dentre outros,

demanda a revisão das práticas cotidianas, com ênfase na criação de espaços de trabalho

menos alienantes que valorizem a dignidade do trabalhador e do usuário. Na possibilidade de

resgate do humano, naquilo que lhe é próprio, é que pode residir a intenção de humanizar o

fazer em saúde.

Para que o paciente seja reintegrado à comunidade é necessário ter apoio de um

profissional qualificado. A enfermagem e sua equipe está apta a prestar esse atendimento. É

importante o reconhecimento, pelo profissional de enfermagem, do sofrimento que a doença

14

mental acarreta sendo um fenômeno existencial significativo e subjetivo cuja abordagem

exige a compreensão de um quadro de valores, crenças e expectativas, contribuindo assim

para a humanização dos cuidados, numa intervenção de respeito, incutindo esperança e auto

estima, levando ao resgate da cidadania.

O resgate da cidadania está diretamente ligado às ações de incentivo ao respeito pela

pessoa que sofre e que adoece. A modificação das instituições para tratar a pessoa doente

somente ocorrerá se a sociedade em geral estiver engajada nos conceitos e propostas de

humanização do atendimento. Isto implica em atenção voltada para a promoção, prevenção,

recuperação da saúde e reabilitação do indivíduo.

Acredita-se, que o enfermeiro e sua equipe, por interagirem diretamente com o

paciente, precisam estar atentos à dinâmica da doença do paciente de forma a prestar este

atendimento mais humanizado, podendo utilizar-se da comunicação para conseguir

estabelecer um relacionamento efetivo com o paciente, pois, a prática de enfermagem envolve

necessariamente uma relação interpessoal (SPAGNUOLO e PEREIRA, 2007). Segundo

Dimenstein (2007), uma prática de saúde humanizada deve tomar em consideração o contexto

em que vive o usuário, assim como as situações de onde surgem os diversos problemas de

saúde de uma comunidade. Portanto, é importante combinar a sensibilidade ao conhecimento

teórico, com a finalidade de oferecer uma assistência de enfermagem planejada e estruturada,

visando à orientação aos familiares a respeito do que ocorre e estimulando a expressão dos

seus sentimentos.

A Reforma na Psiquiatria ainda está acontecendo no Brasil e estamos participando

deste processo histórico, que exige mudanças sociais profundas e de longo prazo. É de

extrema importância se haver com as tentativas já efetivadas para melhorar a política de saúde

mental no país. Conhecendo a História, podemos traçar novos rumos para o tratamento em

saúde mental, buscando trazer para a sociedade o respeito ao portador de sofrimento mental,

15

resgatando a cidadania e a dignidade dessas pessoas.

Vale lembrar que a atenção básica em saúde caracteriza-se por ações individuais e

coletivas de promoção e proteção à saúde, de prevenção de doenças, de diagnóstico de

problemas de saúde, de tratamento, de reabilitação e de manutenção da saúde. Estas ações

constituem fases da assistência à saúde e são desenvolvidas com enfoque multiprofissional,

através de atribuições privativas ou compartilhadas entre os integrantes da equipe de saúde

(ACEA, 2007).

A saúde da família como estratégia prioritária de operacionalização da implantação

da Atenção Básica é colocada como um mecanismo no processo de reorganização dos

sistemas municipais de saúde, com garantia de financiamento específico para sua consecução

(ARAÚJO; AMORIM, 2004, p. 14-15).

A Saúde da Família é entendida como uma estratégia de reorientação do modelo

assistencial, operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em

unidades básicas de saúde. Estas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um

número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada. As equipes

atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e

agravos mais freqüentes, e na manutenção da saúde desta comunidade. A responsabilidade

pelo acompanhamento das famílias coloca para as equipes saúde da família a necessidade de

ultrapassar os limites classicamente definidos para a atenção básica no Brasil, especialmente

no contexto do SUS (BRASIL, 1998).

O Programa de Saúde da Família é uma proposta do Ministério da Saúde para

implantação e implementação do Sistema Único de Saúde e vem sendo apresentado

institucionalmente como alternativa para mudança de modelo assistencial (BRASIL, 1998).

Completam Ciampone e Peduzzi (2000) que nele, o trabalho de equipe está proposto como

uma das prerrogativas estratégicas para a mudança do atual modelo de assistência em saúde.

16

Em estudo realizado sobre o trabalho de equipe no Programa saúde da Família,

Fortuna et al. (2005) apresentam o questionamento sobre o que é trabalhar em equipe, em

saúde da família? Só o fato de existir um conjunto de trabalhadores contratados para o PSF e

atuando numa mesma área, aparentemente com um objetivo comum, temos o

desenvolvimento do trabalho em equipe? Não necessariamente. Ali ocorre trabalho,

acontecem relações que, às vezes, são difíceis de se compreender, e que podem deixar os

trabalhadores e usuários muito longe daquilo que pretendem realizar no PSF, como, por

exemplo, mudar o jeito de se trabalhar em saúde.

Assim, consideram a equipe como um processo de relações a serem

permanentemente "olhadas", pelos próprios trabalhadores e com múltiplas possibilidades de

significados. Assim, o trabalho em equipe vai se constituindo, gestando-se no seu fazer de

todo dia, e precisa ser analisado, pois passa por movimentos de dificuldades, de paralisação,

de satisfação, enfim, é também um processo de idas e vindas em diversas direções.

Para tanto, Fortuna (1999) considera o trabalho de Equipe em Saúde como uma rede

de relações entre pessoas, rede de relações de poderes, saberes, afetos, interesses e desejos,

onde é possível identificar processos grupais. Assim, trabalhar em equipe eqüivale a se

relacionar, notadamente, esses processos parecem intensificados pelo próprio objeto de

trabalho da equipe, que, no caso, é a família que compõe uma outra grupalidade.

Neste cenário, para alcançar os objetivos do Programa Saúde da Família (PSF), o

trabalho em equipe se torna pressuposto para a integralidade das ações de saúde requerendo a

construção de projeto assistencial comum para atender com qualidade as necessidades dos

usuários, reconhecendo que os indivíduos não escolhem arbitrariamente viver ou trabalhar

juntos, mas formam novo agrupamento diante de cada situação que se apresenta com todas as

suas representações e vivências anteriores.

Uma reflexão em torno de questões a respeito da qualidade e humanização das ações

17

de saúde, dentre as quais se inserem aquelas consideradas específicas em saúde mental, se

configura como um desafio para gestores e profissionais ligados ao Sistema Único de Saúde

(SUS) no Brasil.

18

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 DOENÇA MENTAL - LOUCURA

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como “um estado de completo

bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de afecção ou doença”. O que é dito

ser um direito de todos e dever do estado, algo que não é efetivado totalmente na pratica. Em

relação a mental é algo que diz respeito ao espírito, ou seja, forma de pensamento conturbado

ou sadio (SILVA, 2007).

O termo “doença mental” ou “transtorno mental” engloba uma série de condições que

afetam a mente. Doença mental provoca sintomas como desconforto emocional, distúrbio de

conduta e enfraquecimento mental da pessoa (MURTA, 2007, p.293).

Um doente não se resume à doença, antes é um ser humano digno de atenção e

respeito (COSTA et al., 2007)

Já o conceito atual de loucura, de acordo com Pessotti (1994), remete a um estado

individual de perda da razão ou do controle emocional, independentemente dos significados

sociais ou políticos atribuídos ao louco, pois tais significados variam ao longo das épocas, de

acordo com cada cultura.

Na Antiguidade Clássica, a loucura fazia parte do cenário e linguagem comuns. Não

tinha um significado médico ou especificamente psicológico. Nas obras de Homero, por

exemplo, a loucura era considerada obra dos deuses, que interferiam sobre o pensamento e

ação dos homens levando-os a se comportar de maneira bizarra. Já na Idade Média a loucura

era identificada com a possessão diabólica. Nessas épocas, porém, o louco estava inserido na

19

sociedade, gozando de certa liberdade (MOTTA, 2006).

A partir do século XVI, empreendeu-se, na Europa, medidas públicas de repressão à

mendicância e à ociosidade, o que incluía muitos dos loucos que viviam vagando pelas ruas.

Tais repressões eram constituídas por surras de chicote, colares de ferro asfixiando o pescoço,

marcação no corpo com ferro em brasa e até morte, entre outras. As primeiras instituições

criadas, as Casas de Correção e Hospitais Gerais destinavam-se a “limpar” as cidades. Elas

mantinham presos os loucos, os ladrões, os leprosos, e não tinham qualquer função curativa.

Nestes locais, os loucos estavam à mercê de todo tipo de tortura (RESENDE, 1987, p.25).

O mesmo acontecia no Brasil. Segundo Reinaldo (2004) sob a justificativa de ser um

perigo para a sociedade, não só o louco, mas também o bêbado, o vadio e o mendigo, que se

configuravam como pessoas que pertenciam aos segmentos pobres e miseráveis da população

urbana, foram banidos.

Segundo Resende (1987), um primeiro movimento de reforma em psiquiatria ocorreu

no século XVIII, com Pinel, médico psiquiatra que propôs a separação dos loucos para que

recebessem cuidado psiquiátrico sistemático. Em 1790, na França, surgiu uma Lei que previa

a criação de grandes hospitais destinados à internação exclusiva de insensatos. Neste

momento, a ordem médica passa a penetrar nas instituições de internamento na Europa,

tomando para si o tema da loucura e dando a ela um caráter patológico.

Pinel defendia o fim das purgações e sangrias e desenvolveu o chamado tratamento

moral. Este tratamento consistia na busca pelo resgate do sentimento de auto-respeito e

dignidade do paciente. No século XIX este movimento perdeu força porque houve um

aumento considerável nas populações dos hospitais psiquiátricos. Este aumento populacional

nos hospitais psiquiátricos ocorria de modo sistemático neste período. Como se vê, as

expressões reforma e psiquiatria andam juntas desde o próprio nascimento da psiquiatria.

Foram os reformadores da revolução francesa que delegaram a Pinel a tarefa de humanizar e

20

dar um sentido terapêutico aos hospitais gerais, onde os loucos encontravam-se recolhidos

junto com outros marginalizados da sociedade urbana e industrial nascente. O destino da

psiquiatria, no entanto, não estaria marcado pela sintonia com os direitos humanos (MOTTA,

2006).

Motta (2006), relatou que, no Brasil, o surgimento das instituições psiquiátricas

ocorreu em circunstâncias muito similares àquelas da Europa, alguns séculos antes. Ou seja,

os loucos eram enclausurados juntamente com vagabundos e ladrões para ordenar e “limpar”

as cidades nascentes (Rio de Janeiro e São Paulo). O primeiro hospício do Brasil foi

inaugurado em 1852, pelo Imperador Dom Pedro II e recebeu o seu nome. Este hospício

representava claramente o intuito das instituições psiquiátricas brasileiras: reprimir, ao invés

de curar ou tratar. Nesse momento, o saber médico ainda estava fora dos hospícios.

Segundo este mesmo autor, no princípio do governo republicano, a questão da loucura

adquire maior atenção por parte do Estado, os hospícios se constituem lugares de produção de

conhecimento e formação de especialistas, e sua administração é feita por médicos. São

criadas as primeiras colônias de alienados no país, destinadas a receber os casos agudos,

recuperá-los através do trabalho agrícola e devolvê-los à comunidade como um cidadão “útil”.

Mas, a re-inserção desse pacientes na sociedade não é bem sucedida, o doente mental não era

eficiente o bastante para o trabalho e não se recuperava com as internações.

Neste contexto, sobressai a história do asilo de alienados construído no final do século

XIX, em São Paulo, o Juquery, um novo modelo de asilo defendido por Franco de Rocha,

destinado a “curar” seus pacientes através do trabalho agrícola e do tratamento moral, tendo o

trabalho como forma de “moralizar” os internos (CUNHA, 1986).

Nas décadas de 1920 e 1930 a psiquiatria estava ligada a práticas preventivistas e às

idéias de eugenia, tendo como público-alvo o operariado das grandes cidades. As teorias da

eugenia estavam imbuídas de um forte conteúdo racista, biológico, darwinista, que justificava

21

a necessidade de controle social por parte dos especialistas uma vez que existiam raças

inferiores, degeneradas, que tinham tendências hereditárias para desenvolver doenças e

prejudicar a ordem social (CUNHA, 1986, p.46).

Em 1950, a OMS (Organização Mundial de Saúde) fez uma recomendação aos países,

principalmente aos países em desenvolvimento, que investissem em ações de saúde mental,

uma vez que o alto custo do tratamento das doenças mentais prejudicava o processo

produtivo, na medida em que mobilizava grande soma de recursos.

O Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), é criado na década de 1960, e o

Estado passa a comprar os serviços psiquiátricos dos setores privados e a expandir os serviços

de internação. O auge deste modelo privatizante, foi a década de 1970, onde o número de

internados nos hospitais psiquiátricos aumentou vertiginosamente (MOTTA, 2006).

Neste contexto de valorização da saúde privada e abandono da saúde pública, em fins

da década de 1970 se deu o início do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil.

2.2 A REFORMA PSIQUIÁTRICA EM ANDAMENTO

Historicamente, a política de saúde mental se apresentou com ações direcionadas para

o atendimento no âmbito hospitalar, práticas de confinamento e exclusão social, além da

hegemonia dos saberes e práticas centradas na figura do médico. Neste sentido, a assistência

ao doente mental apresentava-se centrada nos hospitais psiquiátricos, cujos modelos de

atenção restringiam-se à internação e medicação dos sintomas demonstrados pelo doente

mental, excluindo-o dos vínculos, das interações e de tudo o que se configura como elemento

e produto de seu conhecimento. Dessa forma, até poucas décadas atrás, uma única expressão

22

descreve a assistência praticada pela psiquiatria brasileira: exclusão. As crescentes denúncias

da prática asilar, a violência e o abandono a que eram submetidos os doentes mentais, fizeram

surgir propostas de intervenção nos manicômios, visando à democratização e à humanização

do atendimento. Assim, tem início o processo da “Reforma Psiquiátrica” (SILVA, 2006).

Nas décadas de 1970, 1980 e 1990 foram realizados diversos congressos de Psiquiatria

e Saúde Mental no país, determinantes nos caminhos percorridos pelos profissionais de saúde

mental na construção da Reforma Psiquiátrica.

Em 1971, o INPS elaborou a Declaração de Princípios da Saúde Mental, que definia a

saúde mental como “direito e parte integrante do ciclo saúde/doença, passível de ser atingida,

também pela educação e preconiza o preventivismo, os serviços extra-hospitalares, a pesquisa

e a cobertura universal para as diversas faixas etárias.”

Em 1973, é aprovado o Manual de Serviço para Assistência Psiquiátrica da

Previdência, considerado como uma primeira iniciativa de racionalização da assistência em

saúde mental, no qual é proposto o tratamento ambulatorial, a orientação familiar, o hospital-

dia, as técnicas ressocializantes, entre outras propostas.

A Reforma Psiquiátrica no Brasil teve seu marco inicial com o surgimento do MTSM

(Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental), em 1978, cujo objetivo era constituir um

espaço de luta contra o modelo institucional, como um lócus para se debater e encaminhar

propostas de transformação da assistência psiquiátrica. Este movimento criticou duramente as

péssimas condições de vida dos doentes mentais internados nos hospitais públicos e as

difíceis condições de trabalho dos profissionais em saúde mental (MOTTA, 2006).

Dois grandes eventos, o I Encontro Nacional de Trabalhadores em Saúde Mental e o

III Congresso Mineiro de Psiquiatria, considerados o ápice do crescimento do movimento, são

realizados em 1979.

A crise da Previdência Social e da Assistência em saúde mental vem marcar o início

23

dos anos 1980. Tais crises, são decorrentes da política privatizante que constituiu em uma

“indústria de internações”

Em 1983 é implantado um Programa de Reorientação Psiquiátrica que visava

reformular a assistência psiquiátrica n Brasil, o Conselho Nacional de Saúde Pública, que

ficou mais conhecido como “CONASP Saúde Mental”. A partir daí, as instituições privadas

passam a receber incentivo financeiro, buscando acabar com a “indústria privada de

internamento” e investindo no setor público, na capacitação de recursos humanos, no trabalho

multidisciplinar, na rede extra-hospitalar.

A I Conferência Nacional em Saúde Mental, realizada no ano de 1987, juntamente

com II Congresso Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental, marcam o início da luta pela

“desintitucionalização” e o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, respectivamente. A I

Conferência Nacional em Saúde Mental teve como recomendações o combate à

psiquiatrização social através de práticas alternativas, a participação da comunidade na

elaboração e implementação de políticas públicas e o reconhecimento pelo Estado da

participação da população no processo decisório. Também foi importante o incentivo para

investimentos na área extra-hospitalar (CHAMMA e FORSELLA, 1999).

Motta (2006) define a desinstitucionalização como um progressivo processo de

retirada dos doentes mentais dos manicômios, com vistas à sua reinserção social e à

construção de modalidades de assistência extra-hospitalares. Estas propostas estão aliadas às

idéias de tratamento, e não mero enclausuramento do louco. Vieram acompanhadas do

fortalecimento de um modelo clínico e psicossocial que preconizava a re-inserção do louco na

sociedade, como um cidadão que tem direito a ter qualidade de vida, apesar da sua doença.

Guedes Júnior e Guimarães (2007) relataram que a a desinstitucionalização procura

preservar a subjetividade do cliente, sua história de vida, suas relações interpessoais,

estabelecendo formas de tratamento em serviços abertos, criativos e maleáveis que atendam

24

individualmente às suas necessidades e que o sustente no seu meio social, assim o PSF passa

a ser responsável pela assistência assegurando melhoria na qualidade de vida do portador de

transtorno mental.

A valorização do doente/usuário do serviço de saúde como sujeito de direitos, capaz

de exercer sua autonomia, é abordada a partir da década de 90 aos dias atuais, revelando uma

idéia de humanização distinta da lógica da caridade, anteriormente mencionada,

compreendendo-a como a possibilidade de dar condições para que o usuário seja participante.

Partilhar das decisões é um caminho para implementar o princípio ético da autonomia dos

indivíduos e da coletividade (SILVA, 2006).

No Brasil, as políticas de saúde mental sempre foram de grande interesse, mas alguns

setores da sociedade ainda têm praticado formas de exclusão sistemáticas. Foram realizadas

diversas reformas psiquiátricas, sendo que a atual iniciou-se a partir de denúncias na mídia

sobre o tratamento inadequado dado aos doentes internados em hospitais psiquiátricos,

salientando-se as más condições de vida nas instituições, a superlotação e o número

insuficiente de profissionais.

A Reforma Psiquiátrica instituída pela Lei Federal nº 10.216/2001, trouxe a proposta

de transformar o modelo assistencial de Saúde Mental vigente a partir da construção de um

novo estatuto social para pessoas portadoras de transtornos mentais, respeitando os princípios

fundamentais de cidadania (MURTA, 2007).

Murta (2007, p. 289) relatou que tal iniciativa

não pretendeu acabar com o tratamento clínico das doenças mentais, mas eliminar a prática de intervenção como forma de exclusão social dos indivíduos com distúrbios mentais. O velho modelo manicomial deu lugar à criação de uma rede de serviços territoriais de atenção psicossocial e de base comunitária. Nessa nova e mais humanitária linha de cuidado, os usuários dos serviços passaram a ter à sua disposição equipes multidisciplinares para acompanhamento terapêutico. Ganharam o status de agentes do próprio tratamento e conquistaram o direito de se organizar em associações que podem firmar convênio com serviços comunitários diversos e, assim, promover a inserção social e integração cultural e econômica de seus membros.

25

Esta Lei refere que a pessoa em sofrimento mental deverá ser assistida por uma rede

de atenção em saúde mental, em vários níveis de complexidade, abrangendo desde os serviços

especializados até a inclusão de ações em programas de saúde geral. Desse modo, os serviços

de atenção primária, como o Programa de Saúde da Família (PSF), constituem bases

importantes dessa rede, tornando-se a porta de entrada para o sistema de saúde. Hoje, constitui

um elo mais próximo à Unidade de Saúde, à família e comunidade (NASCIMENTO e

BRAGA, 2004).

A política nacional de saúde mental, instituída pela Lei Federal nº 10.216/2001, tem

como fundamento a desospitalização, com ampliação da rede ambulatorial e fortalecimento

das iniciativas municipais e estaduais que viabilizam a criação de equipamentos intensivos

com ensejo nas ações de reabilitações psicossocial dos pacientes, através das implementações

dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e dos Núcleos de Assistência Psicossocial

(NAPS).

Segundo Silva (2007), o CAPS é um lugar de referência e tratamento para pessoas que

sofrem de transtornos mentais, psicoses e neuroses graves que a severidade justifique sua

permanência no quadro de cuidado intensivo comunitário, personalizado e promotor da vida.

Seu objetivo é oferecer atendimento a população de sua área de abrangência com

acompanhamento clínico e reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer,

exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Isto significa

que caso a pessoa não possa ser beneficiada pelo trabalho oferecido pelo CAPS, ela deverá ser

encaminhada para outro serviço de saúde mais adequado para a sua necessidade e se caso a

pessoa está isolada sem condições de ter acesso ao serviço deverá ser atendida por um

profissional da equipe do CAPS em casa.

Segundo Salles e Barros (2006), os pressupostos da Reabilitação Psicossocial são: a

construção de uma nova forma de vida autônoma, inserida na sociedade; o processo de

26

restituição do poder contratual do usuário, que se desenvolve nos cenários casa (habitação),

mercado e trabalho, considerados espaços de troca; e a referência a micro e macro variáveis

do contexto social que determinam resultados para a Reabilitação Psicossocial.

O fundamento de cotidiano relaciona-se com os pressupostos de Reabilitação

Psicossocial, quando este afirma que o portador de transtorno mental pode construir uma vida

na sociedade, articulada com as diferentes esferas sociais, sem perder sua particularidade.

Neste cenário o conceito de cidadania, é uma palavra-chave fundamental, na medida

em que percorre os níveis anteriores e que, devido a natureza do estatuto de alienação mental,

ao louco é subtraída a possibilidade de inscrição no mundo da cidadania, no espaço da cidade

no mundo dos direitos (SILVA, 2007).

A assistência em Saúde Mental é um direito de todo cidadão independente de sua

situação social, familiar e racial, e essa assistência não poderá em hipótese alguma justificar a

violação de quaisquer direitos de cidadania. Todo usuário tem direito a liberdade, dignidade

de ser tratado e ouvido como ser humano com direito civis, políticos e sociais garantidos pela

Constituição do país (SILVA, 2007).

Há que se ressaltar que todos os seres humanos são vulneráveis e precisam de

proteção. Na verdade, as culturas e as estruturas sociais e políticas foram desenvolvidas

justamente para combater a vulnerabilidade e a exploração. As diferenças entre tradições

culturais ou sociais parecem refletir prioridades em termos de riscos percebidos e da proteção

preferida contra a vulnerabilidade. Ciência e ética não precisam e não devem ser consideradas

antagônicas, pelo contrário, necessitam e iluminam-se reciprocamente, daí o advento da

Bioética (PESSINI et al., 2006).

27

2.3 BIOÉTICA

Segundo Reinaldo (2004) Bioética “se refere aos assuntos/problemas do dia-a-dia na

área da vida. Problemas com a interdição de “pseudocasas” de repouso para idosos que

abrigam doentes mentais, pesquisas com pacientes psiquiátricos sem que eles saibam o que

está acontecendo, ou sem que a família tenha realmente claro o que irá ser feito, terapia de

eletrochoque sem a autorização do paciente ou de seus familiares, contenções físicas e

químicas indiscriminadas, cirurgias psiquiátricas realizadas sem fiscalização e/ou controle”.

São todas questões do dia-a-dia da psiquiatria.

Para Pessini et al (2006)

A bioética constitui uma área do conhecimento pluralista, multi e interdisciplinar, que vai de encontro às transformações sociais e tecno-científicas do mundo contemporâneo. Ancorada em diferentes campos do saber, agrega enorme contribuição às ciências da vida, da saúde e do meio ambiente. Além disso, galgada em raízes históricas, cresce em função da fluidez e da flexibilidade do conhecimento. Outrossim, são fatores sinérgicos deste processo, a mudança positiva da percepção da sociedade e da comunidade científica frente à importância da Bioética que respalda questões que angustiam o cotidiano do ser humano, além de valorizar a qualidade de vida da população (p.369).

A Bioética como ética da vida, com seus princípios universais e norteadores da

atividade humana, vem permitir que o progresso da ciência seja almejado pela sociedade. A

dignidade humana constará sempre como interesse prevalente.

Segundo Costa et al. (2007), a Bioética tem sido atualmente uma importante referência

para se avaliar a ética em relacionamentos profissionais e institucionais que envolvam pessoas

doentes. Tal contribuição da Bioética se tornou particularmente importante pelo fato de se

ressaltar a necessidade do respeito à autonomia dos sujeitos, como condição para a ética dos

relacionamentos.

28

2.3.1 Princípios da Bioética

Os princípios fundamentais da bioética surgiram em 1978, pela voz da Comissão

norte-americana para a proteção dos sujeitos humanos na pesquisa biomédica e

comportamental. Os princípios eram três: o da Autonomia da pessoa (conexa com sua

dignidade), o da Beneficência (maximizar o bem do outro supõe minimizar o mal) e o da

Justiça, que convém mais chamar o princípio da Equidade (LEPARGNEUR, 2004). Isto não

implica dizer que não existam outros valores. Todos os demais valores podem expressar-se

tornando a trindade bioética como ponto de partida de referência, em seus desdobramentos.

Alguns autores acrescentam ainda o princípio da qualidade de vida e a alteridade. A

Bioética religiosa indica a sacralidade, a natureza da vida humana, os meios ordinários de

garantir a saúde e a vida (DAURY, 2003).

A própria Resolução 1.358/92, do Conselho Federal de Medicina (CFM), que

disciplina o uso das TRHA (Técnicas de Reprodução Humana Assistida) no Brasil, consagrou

em especial o princípio da beneficência, na medida em que considera essas técnicas um

remédio eficaz contra a infertilidade humana e as doenças geneticamente transmissíveis

ligadas ao sexo.

Estes princípios não cobrem a solução de toda pendência que se apresenta no quadro

da bioética; por exemplo, existe uma regra de honestidade intelectual na publicação das

pesquisas próprias (dever geral de honestidade diante da verdade e da justiça), de não-

apropriação indevida das descobertas do vizinho. De modo geral, é reconhecida válida a

sentença “o que não é científico não é ético” (o inverso não tem o mesmo rigor). Outros

deveres sociais, como a não-discriminação entre pacientes, resultam da moral geral, cuja

regência poderia ser lembrada como um quarto princípio.

29

Dos três princípios enunciados, o primeiro – que domina a bioética – está como que

limitado pelo segundo, ao passo que o terceiro opera a junção da bioética com a moral social

geral. As razões da valorização do paciente, ontem muito passivo, mudo e dócil, encontram-

se:

1) na reação às experimentações iníquas dos nazistas, que trataram seres

humanos como gado destinado ao matadouro ou como ratos em

laboratórios;

2) no crescente poder tecnológico sobre o corpo e a mente, cujos resultados

podem ultrapassar mais facilmente qualquer desejo implícito do paciente

desumanizado, e que permite frequentemente uma escolha entre várias

terapias possíveis, em que o gosto do paciente pode intervir;

3) no desejo de saber de crescente parte do público desperto na sua

personalidade de cidadãos co-responsáveis, pela ação conjugada de melhor

instrução e da expansão da mídia;

4) no individualismo mais consciente, mobilizado e não atrofiado pelo

associacionismo moderno;

5) na perda da total confiança que se dedicava outrora ao médico da família,

curador ímpar dotado de um saber ao limiar do mágico, dono de indiscutido

prestígio.

Existe um outro motivo pela exaltação do novo poder decisório do doente, motivo

muito forte nos Estados Unidos, mas inexistente no Brasil: evitar a pesada responsabilidade

civil e penal em que incorre o médico, máxime o cirurgião e o obstetra, por qualquer erro ou

falha que venha a ocorrer, despertando o interesse de um ou outro destes advogados que

percorrem incansavelmente, nos Estados Unidos, os corredores de hospitais e os velórios

(LEPARGNEUR, 2004).

30

O princípio da autonomia do doente pode tornar-se terrível arma contra seu próprio

bem, porque a decisão vale geralmente conforme de esclarecimento e informação do sujeito

que decide. Ou seja, para um grupo crescente de doentes, o médico tratante não é mais a única

fonte de informação substanciosa de que dispõe o doente para julgar o próprio doente, sua

incultura e sua freqüente regressão etária não o habilitam precisamente à perfeita objetividade.

Pior ainda: a responsabilização do doente leva logicamente o médico a revelar, de

chofre e sem restrição, um diagnóstico talvez pesadíssimo, a falar numa terapia nada atraente

e a não ocultar um prognóstico assustador. O resultado normal seria não apenas solapar ainda

mais as condições emotivas de uma escolha racional e adaptada, mas piorar repentinamente a

situação patológica, dificultando ainda mais o êxito de qualquer processo terapêutico. Em tal

ação, o médico pode não agir em prol do paciente: daí a limitação que oferece discretamente o

segundo princípio.

Portanto, a conclusão é óbvia: nenhum princípio esclarece sozinho uma orientação

ética. O problema do agir moral, em situações delicadas é, pelo contrário, o da escolha entre

princípios que aconselham vias diversas e, amiúde, opostas. Estamos, já, longe da

problemática simplista de obedecer ou não a um princípio que monopoliza o dever. O trabalho

de discernimento corresponde àquilo que outrora se chamava casuística (complementada pela

operação da virtude de prudência).

A autonomia exprime a dignidade da pessoa porque franqueia sua liberdade auto-

controlada e responsável.

A noção de consentimento esclarecido que garante a autonomia do paciente é a pedra

angular de toda a ética médica ocidental (nem que seja pro forma, o paciente tem de

concordar com os juízos do médico; ou, senão, ser muito motivado a ter força de vontade).

(LEPARGNEUR, 2004).

O consentimento do paciente supõe uma proposição de decisão, portanto, um médico

31

que compromete sua responsabilidade numa recomendação, em função, de um lado, da patologia, de outro, do conhecimento que tem das opções do paciente que com ele se relaciona. Esta proposição é aquela que o médico julga mais conveniente para este doente; o médico, portanto, deseja vê-la aceita e não se recusa, por isso, a entabular uma verdadeira negociação (LEPARGNEUR, 2004, p. 73).

Cabe ao médico, ou à sua equipe, avaliar o que convém recolher da manifestação da

autonomia atual do paciente. Em situação de urgência, o questionamento é quase pontual: o

doente, informado segundo suas capacidades, quer ou não quer, determinado tratamento?

O princípio da autonomia justifica-se como princípio democrático, no qual a vontade e

o consentimento livres do indivíduo devem constar como fatores preponderantes, visto que

tais elementos ligam-se diretamente ao princípio da dignidade humana.

O princípio da beneficência demonstra ser, em seus imperativos, de extrema

importância na delimitação de padrões de conduta. Fundado nas máximas non nocere e

bonum facere, engloba um outro princípio, o da não maleficência (primum non nocere), o de

não impingir a alguém qualquer dano. Tal princípio põe em pauta uma série de indicativos

que devem ser levados em consideração nas práticas ligadas à biociência. O princípio da

beneficência sugere, em sentido mais amplo, que seria bom beneficiar as pessoas que têm

necessidade; seria bom, por exemplo, que os médicos proporcionassem assistência à saúde de

pacientes indigentes. No entanto, essas questões não são de simples aplicação, visto que a

medicina, em sentido estrito, constitui-se em uma profissão e, como tal, devem levar-se em

conta as várias implicações que daí advêm (DAURY, 2003).

As máximas deste princípio são: fazer o bem, não causar dano, cuidar da saúde,

favorecer a qualidade de vida, manter o sigilo médico. Constitui-se no mais antigo critério da

ética médica.

O princípio da beneficência deve servir como horizonte para uma normatização

jurídica, a fim de que possa ser compreendido em situações específicas, preceituando e

assegurando os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da

pesquisa, aos médicos e pacientes, bem como ao Estado (DAURY, 2003).

32

O princípio da Justiça, no campo da Bioética, indica a obrigação de se garantir uma

distribuição justa, eqüitativa e universal dos bens e serviços (dos benefícios) de saúde. Liga-se

ao contexto da cidadania, implicando uma atitude positiva do Estado, no que se refere ao

direito à saúde. Este princípio coloca-se ao lado do princípio da beneficência, uma vez que

ambos apontam para o bem entre as pessoas.

Da tríade dos princípios que devem informar a prática no campo das ciências da vida,

o da justiça destaca-se como sendo o mais elevado, visto que envolve valores que devem ser

respeitados pelo conjunto da sociedade.

2.3.2 Avanços éticos em relação ao doente mental: princípio da autonomia

A evolução da psiquiatria indica que cada modalidade terapêutica proposta, a cada

atitude definida diante da loucura, esteve sempre subjacente uma representação de doença

mental, como expressão das suas interpretações que circulam no imaginário.

O processo que se denomina reforma psiquiátrica visa, antes de tudo, transformar as

relações da sociedade com a loucura. Mais do que descobrir soluções, passa por uma mudança

paradigmática na educação e na concepção necessária para aceitarmos que, diante daquilo que

é oferecido pelas práticas de saúde, o sujeito possa ter autonomia para aceitar ou não as

possibilidades que lhe são apresentadas (REINALDO, 2004, p.289).

Ser autônomo, continua a autora, é ter o direito de autodeterminar-se e de,

simultaneamente, suportar que o outro faça o mesmo. Portanto, autonomia não existe sem o

senso de reciprocidade.

O princípio da autonomia é um dos pilares da Bioética. Sua relevância para a cultura

33

atual é indiscutível, visto que este princípio relaciona-se com a causa ética da emancipação do

sujeito em direção à sua autodeterminação, causa essa que, em última instância, diz respeito à

afirmação da cidadania.

De acordo com Costa et al. (2007), o respeito a um indivíduo autônomo acontece

quando se reconhecem as capacidades e as perspectivas pessoais, incluindo o direito de ele

examinar e fazer escolhas, para tomar atitudes baseadas em suas convicções e valores

pessoais. Neste sentido, a autonomia é uma decisão racional, expresse ou não a preferência, a

autonomia é uma decisão que exprime a preferência, seja ou não racional. A este princípio

fica associado o consentimento informado no contexto da consulta profissional.

O respeito pela autonomia da pessoa conjuga-se com o princípio da dignidade da

natureza humana. Existem pessoas, porém, que, de forma transitória ou permanente, tem sua

autonomia reduzida, como no caso as crianças, os doentes mentais entre outros.

O doente mental tem sua autonomia reduzida, mas esta deve ser respeitada. É muito

fácil dizer que os profissionais da saúde só podem administrar a liberdade e direitos do

paciente respeitando sua totalidade. Este respeito à totalidade do doente mental no ambiente

psiquiátrico por vezes não pode ser praticado em toda sua extensão (COSTA et al. 2007).

De fato, a autonomia exprime a dignidade da pessoa, porque franqueia sua liberdade

autocontrolada e responsável, mas, ao mesmo tempo, pode tornar-se terrível arma contra o

próprio bem do paciente, pois a decisão geralmente vale, conforme o grau de esclarecimento e

informação do sujeito que decide, e é motivada essencialmente pelo medo, ou seja, pela

emotividade. Essa noção de consentimento esclarecido, que garante a autonomia do doente, é

a pedra angular de toda a ética (COSTA et al. 2007).

O relatório final da III Conferência Nacional de Saúde Mental, em seu capítulo V,

quando se reporta aos direitos e à cidadania dos doentes mentais, ressalta que devem ser

priorizadas no âmbito da assistência em saúde mental política que fomentem a autonomia dos

34

doentes, incentivando deste modo o exercício da cidadania plena, no lugar de iniciativas

tutelares (BRASIL, 2001, p.121).

Além disso, contempla o direito à educação e inclusão social, cultura e lazer, medidas

de apoio e de atenção a grupos específicos, direitos civis e sociais, mudanças na legislação

civil e penal com especial atenção para os processos de interdição, presunção de

periculosidade e discriminação quando se referem ao portador de transtorno mental como

sendo “loucos de todo gênero” (BRASIL, 2001, p.128).

Discute ainda a situação dos usuários privados de sua liberdade, principalmente no que

se refere àqueles condenados a viver em manicômios judiciários: trata da proteção e dos

direitos assegurados pela legislação e de que eles sejam cumpridos, direito ao benefício social,

ao exercício e à defesa dos direitos sociais mais básicos, como, por exemplo, o direito a

usarem suas próprias roupas e objetos pessoais durante a internação hospitalar (BRASIL,

2001).

Portanto, é uma proposta progressista, que demonstra o desejo de mudança e que

utiliza o princípio à autonomia e respeito à cidadania, adicionado à humanidade, todos meios

para garantir que as constantes denúncias de desrespeito, discriminação em diversos níveis,

preconceitos e maus-tratos explícitos e velados a usuários dos serviços de saúde mental, em

especial àqueles internados em hospital psiquiátrico, tornem-se apenas fatos históricos da

psiquiatria, relembrados para nos alertar do perigo de simplificarmos o sujeito reduzindo-o a

um conjunto de sinais e sintomas.

Quando se fala de doente mental, o respeito pela autonomia nos diversos graus é um

aspecto que se pode considerar um dever ético para com estes indivíduos vulneráveis que

sofrem de incapacidade e não se adaptam aos padrões que se tem por "normais". Os doentes

mentais não podem ser simplesmente consumidores de cuidados e medicamentos, o doente é

co-responsável pelo seu tratamento (COSTA et al. 2007).

35

Neste sentido, acredita-se que doente mental internado não necessita apenas ser visto e

examinado, é um doente que precisa ser ouvido e compreendido na sua linguagem muitas

vezes incompreensível. Sabe-se que a linguagem do doente com suas máscaras e defesas

esconde seu sofrimento.

Portanto, uma das metas primordiais do profissional da saúde mental deveria ser a

promoção da autonomia do doente mental, garantindo-lhe, assim, um tratamento digno e

humano (COSTA et al., 2007).

2.4 O PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO

A humanização é um processo complexo, demorado e amplo ao qual se oferece

resistência, pois envolve mudanças de comportamento que podem se permeadas pelos

sentimentos de ansiedade e medo. Entretanto, se não for um processo singular, não será de

humanização. Cada trabalhador, cada equipe, cada instituição deverá ter seu processo singular

de humanização. (BECK et al. 2007).

Segundo Silva (2006), a temática humanização envolve questões amplas que vão desde

a operacionalização de um projeto político de saúde calcado em valores como a cidadania, o

compromisso social e a saúde como qualidade de vida, passando pela revisão das práticas de

gestão tradicionais até os microespaços de atuação profissional nos quais saberes, poderes e

relações interpessoais se fazem presentes. Assim, é necessário compreender a humanização

como temática complexa que permeia o fazer de distintos sujeitos.

Conforme o Ministério da Saúde (BRASIL, 2000), humanizar é garantir à palavra a

sua dignidade ética, ou em outros termos, o sofrimento, a dor e prazer expressos pelos sujeitos

36

em palavras que necessitam ser reconhecidas pelo outro.

Para Bedin et al. (2004),

humanizar, caracteriza-se em colocar a cabeça e o coração na tarefa a ser desenvolvida, entregar-se de maneira sincera e leal ao outro e saber ouvir com ciência e paciência as palavras e os silêncios. O relacionamento e o contato direto fazem crescer, e é neste momento de troca, que humanizo, porque assim posso me reconhecer e me identificar como gente, como ser humano.

Beck et al (2007), destacou a importância do trabalhador como elemento fundamental

para a humanização do atendimento, devendo ser avaliada esta resposta e se necessário

implementadas ações de investimento em termos de número suficiente de pessoal, salários e

condições de trabalho adequadas, bem como a realização de atividades educativas que

permitam o desenvolvimento das competências para o cuidado.

Simões et al. (2007) salientaram que o Sistema Único de Saúde (SUS) carrega em suas

entranhas os princípios e diretrizes daquilo que poderia ser a grande política de humanização

da assistência à saúde no país, garantindo acesso universal, gratuito e integral, retirando o

caráter de mendicância e transformando a saúde em direito. Segundo estes autores, os

princípios doutrinários e organizativos do SUS são, eles próprios, parte de um discurso que

iguala saúde a condições de vida. É um processo de lutas - princípio doutrinário e

organizativo - por imposições de sentidos. A Humanização entra nessa esteira discursiva,

reforçando os conceitos de universalização, eqüidade, integralidade, regionalização e

hierarquização, descentralização, comando único e participação popular. Os princípios

doutrinários - universalização, eqüidade e integralidade -, bem como os princípios

organizativos - regionalização e hierarquização, descentralização, comando único e

participação popular - fazem parte do que é possível ver e falar; são parte de um conjunto de

regras em que o conceito de saúde é tomado pelos conceitos de sistema e unicidade.

Contudo, estes autores salientaram que as filas enormes, inúmeras e cotidianas nas

portas dos serviços de saúde, as inúmeras falhas na organização do atendimento, como as

37

longas esperas e adiamentos de consultas e exames, a deficiência de instalações e

equipamentos, a despersonalização, a falta de privacidade, a aglomeração, a falta de preparo

psicológico e de informação, bem como a falta de ética por parte de alguns profissionais,

mostram a distância da proposta humanizadora do SUS e a realidade de saúde no país.

Em 2001 foi criado pelo Ministério da Saúde o Programa Nacional de Humanização

da Assistência Hospitalar (PNHAH), que propôs mudanças nos padrões de assistência aos

usuários no ambiente hospitalar.

Segundo Feijó (2006), o PNHAH surgiu da preocupação com a humanização no

contexto hospitalar, a fim de minimizar as ansiedades e angústias produzidas nos pacientes,

para que se possa alcançar o objetivo principal de recuperar a saúde total do mesmo.

Em 2003, com a nova gestão do Ministério da Saúde, foi iniciada uma proposta que

expandisse a humanização para além do ambiente hospitalar: a Política Nacional de

Humanização do SUS – HumanizaSUS.

De acordo com Bernardes e Guareschi (2007), o conceito de humanização é entendido,

pela Política Nacional, como o "aumento do grau de co-responsabilidade na produção de

saúde e de sujeitos; mudança na cultura da atenção dos usuários e da gestão dos processos de

trabalho", e fundamenta-se "na troca e construção de saberes, no diálogo entre profissionais,

no trabalho em equipe, na consideração às necessidades, nos desejos e interesses dos

diferentes atores do campo da saúde".

A proposta do HumanizaSUS sustenta-se nas proposições do SUS de que saúde é um

direito de todos e um dever do Estado, em que se lida com a defesa da vida por meio do

direito à saúde. Trata-se de uma política, e não de um programa, pois o intuito não é apenas

"tecnologizar" os sistemas de saúde, mas modificar o modo de compreensão dos princípios

que norteiam a concepção de saúde estabelecida constitucionalmente como uma questão

plural (BERNARDES e GUARESCHI, 2007).

38

No caso dos serviços que prestam atenção básica, o HumanizaSUS propõe-se à

elaboração de projetos terapêuticos individuais e coletivos para os usuários e sua rede social,

formas de acolhimento e inclusão de clientela, práticas que incentivem a diminuição do

consumo de medicação, fortalecimento das relações entre as equipes de saúde, os usuários,

além do estabelecimento de ambiente acolhedor (SIMÕES et al. 2007).

2.5 O PAPEL DA ENFERMAGEM NA HUMANIZAÇÃO DO PACIENTE DOENTE

MENTAL

Segundo Guedes Júnior e Guimarães (2007), a implantação do Sistema Único de

Saúde (SUS), impõe mudanças no modelo assistencial de saúde mental, redimensionando a

Reforma Psiquiátrica no Brasil. Com o passar dos anos o PSF passa a ser responsável pela

assistência assegurando melhoria na qualidade de vida do portador de transtorno mental.

Estes autores relataram que, um recurso que se coloca como possibilidade estratégica

de ampliação da Rede Básica de Atenção Psicossocial é a articulação da saúde mental com o

Programa de Saúde da Família, dando capacidade resolutiva também ao PSF. Os Centros de

Atenção Psicossocial (CAPS) e/ou Núcleo de Atenção Psicossocial (NAPS), devem funcionar

como estruturas de referência para as equipes de Saúde da Família e para o atendimento da

rede básica, na qual a equipe de saúde mental destes centros de referência devem oferecer

suporte para atender, supervisionar e acompanhar as equipes do Programa de Saúde da

Família.

As equipes do PSF, segundo estes mesmos autores, devem assumir o

acompanhamento daqueles portadores de sofrimento mental em que o grau de complexidade

39

do problema apresentado pelo paciente e dos recursos necessários para seu cuidado sejam

menores, por exemplo: neuróticos que não apresentem sintomas graves, psicóticos

estabilizados, e outros.

A assistência do enfermeiro em saúde mental pode ser elaborada a partir da

implementação do processo de enfermagem. Neste contexto, o cuidado de enfermagem

envolve manejos e técnicas que levam em conta a intenção de proporcionar sentimentos de

segurança ao paciente com a finalidade de que este desenvolva um relacionamento satisfatório

com o enfermeiro, tornando-o uma pessoa significativa para o paciente e que tenha a

finalidade de ajudá-lo na alteração dos aspectos patológicos de sua personalidade (GUEDES

JÚNIOR e GUIMARÃES, 2007).

A enfermagem é uma profissão que se desenvolveu através dos séculos, mantendo

uma estreita relação com a história da civilização. Neste contexto, tem um papel

preponderante por ser uma profissão que busca promover o bem estar do ser humano,

considerando sua liberdade, unicidade e dignidade, atuando na promoção da saúde, prevenção

de enfermidades, no transcurso de doenças e agravos, nas incapacidades e no processo de

morrer (BEDIN et al., 2004).

O Código de Ética dos profissionais de enfermagem, por meio da Resolução nº. 311,

de 2007, caput, estabelece que,

o profissional da enfermagem respeita a vida a dignidade e os direitos da pessoa humana, em todo seu ciclo vital, a discriminação de qualquer natureza, assegura ao cliente uma assistência de enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência, cumpre e faz cumprir os preceitos éticos e legais da profissão, exercendo a enfermagem com justiça, competência, responsabilidade e honestidade (COFEN, 2007).

Com o avanço científico, tecnológico e a modernização de procedimentos, vinculados

à necessidade de se estabelecer controle, o enfermeiro passou a assumir cada vez mais

encargos administrativos, afastando-se gradualmente do cuidado ao paciente, surgindo com

isso a necessidade de resgatar os valores humanísticos da assistência de enfermagem.

40

Os enfermeiros, bem como suas equipes, devem prestar atendimento aos clientes de

todas as diversidades multiculturais (várias culturas) de uma forma integral, não fazendo

julgamentos pessoais. O cuidado não pode ser reduzido ou, simplesmente negado pelo fato do

enfermeiro acreditar que o cliente não está sendo cooperativo, está sendo mal-educado ou que

não vale a pena prestar o atendimento, assim infligindo seus preceitos éticos e deixando de

fazer uma assistência de enfermagem humanizada.

De acordo com Beck et al. (2007) ao buscar humanizar os serviços é preciso

considerar que muitos aspectos ligados às falhas no atendimento, como longas esperas, filas,

ausência de regulamentos, falhas na estrutura física, entre outras, são tidas como precursoras

de sofisticações "desumanizantes", exigindo, portanto, atenção dos gestores.

Simões et al. (2007) ressaltaram, também, que a busca pela humanização da

assistência implica em algumas medidas tais como a diminuição das filas, informações

adequadas, local apropriado para os pacientes e para os familiares, as quais estão

contempladas nas falas dos sujeitos investigados.

Para prestar uma assistência de enfermagem humanizada é necessário ter

conhecimentos de leis, resoluções, decretos que reagem ao exercício profissional de

enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem (FONTINELE JÚNIOR, 2002), bem como

o cuidado de si.

Beck et al. (2007) ressaltaram que as atividades que exigem maior investimento de

energia são aquelas relacionadas ao cuidado. Sendo assim, é fundamental que se estabeleça

um vínculo afetivo entre trabalhador e usuário a fim de promover o cuidado do outro,

devendo-se atentar também para as condições em que o cuidado é realizado. Por meio da

escuta ativa e empatia, o trabalhador mostra ao outro que o compreende e através da aceitação

o valoriza de forma compreensiva e não apenas suas idéias; através da confiança possibilita a

tomada de consciência das próprias emoções e do manejo adequado; e com a conduta de

41

ausência de julgamentos evita o julgamento negativo o qual desencadeia atitudes inadequadas

e, freqüentemente, a não adesão ao tratamento.

Bedin et al. (2004) salientaram que

o cuidado humanístico não é rejeição aos aspectos técnicos, tão pouco aos aspectos científicos, o que se pretende ao revelar o cuidado é enfatizar a característica do processo interativo e de fruição de energia criativa, emocional e intuitiva, que compõe o lado artístico além do aspecto moral.

Assim, Chamma e Forsella (1999) relataram que a história da enfermagem psiquiátrica

nos mostra que, apesar das rápidas transformações sócio-econômicas e culturais ocorridas

através dos tempos, a prática da assistência vem, ainda que timidamente, acompanhando os

movimentos que estão acontecendo na área. Sendo assim, começamos a perceber uma

assistência que assegure ao paciente sua privacidade e respeite seus valores culturais,

econômicos e religiosos.

Murta (2007, p.292), em texto que trata da Reforma Psiquiárica relatou que esta

Nasceu com o objetivo de superar o estigma, a institucionalização e a cronificação dos doentes mentais. Para isso, é necessária a humanização do atendimento ao psicótico, a territorialização dos dispositivos de atenção e a construção de alternativas diversificadas de atenção. As práticas assistenciais devem potencializar a subjetividade, a auto-estima, a autonomia e a cidadania, e devem superar a relação de tutela e a institucionalização.

Nessa linha de raciocínio e de concepção, o papel do enfermeiro, hoje, é entendido

como o de um agente terapêutico e a base dessa terapia é o relacionamento com o paciente e a

compreensão do seu comportamento. O objetivo da Enfermagem Psiquiátrica não é, pois, o

diagnóstico clínico ou a intervenção medicamentosa, mas o compromisso com a qualidade de

vida cotidiana do indivíduo em sofrimento psíquico (MURTA, 2007).

O enfermeiro então, deve ser preparado para atuar em novos modelos de atenção,

assumindo novas tarefas e adequando-se às mudanças advindas da Política de Saúde Mental

vigente no País, conforme determina a Lei 10.216/2001:

42

O cuidado oferecido deve respeitar e acolher a diferença do psicótico, o qual deve ser percebido como um sujeito humano, e não como um sintoma a ser debelado. Além disso, o exercício da ousadia, da criatividade e da alegria deve estar sempre associado à atividade terapêutica.

Para Kantorski et al. (2006), o ato de cuidar é um processo que compreende uma série

de conceitos, práticas e visões de mundo em que estão envolvidas as nossas atitudes, o modo

de como olhamos e tratamos alguém, nossa disposição pessoal para interagir com o outro, o

respeito para com ele. Cuidar é uma atividade complexa, que se identifica, da mesma forma,

com nossa natureza complexa.

Segundo Feijó (2006), o ato de cuidar refere-se a uma postura que contempla a

aceitação, autenticidade, consideração, proteção, responsabilidade, preocupação, valorização,

respeito, expressão de pensamentos e sentimentos, entre outras formas de realizar o cuidado.

O cuidar compreende “comportamentos e ações que envolvem conhecimentos, valores,

habilidades e atitudes, empreendidas no sentido de favorecer as potencialidades das pessoas

para manter ou melhorar a condição humana no processo de viver e morrer”. Logo, o cuidado

sofre a influência da educação histórica da enfermagem pelo fato de representar o pilar que

fornece o sustento ao exercício profissional do cuidado humano através do currículo da

formação acadêmica.

Entendemos que as diferentes formas de se entender o cuidado interfere na vida

prática da profissão de enfermagem. O cuidado é nossa maior responsabilidade para/com o

outro, principalmente nos momentos de sofrimento. Entretanto, é no estado de sofrimento em

que se evidenciam as diferentes dificuldades/possibilidades de se promover o cuidado, entre

elas os instrumentos necessários tanto para o preparo pessoal como para o preparo

profissional do enfermeiro. É tarefa do enfermeiro trabalhar nesse contexto de cuidado

permeado por relações interpessoais e a busca da saúde mental do paciente (KANTORSKI et

al. 2006).

43

Saúde mental não é apenas o contrário de doença mental. Em seu conceito mais

profundo está implícito o respeito à dignidade humana. Isso significa uma vida sem

preconceitos, sem discriminações e sem violência em qualquer nível (CHAMMA e

FORSELLA, 1999).

O cuidado em saúde mental tem sua tônica no relacionamento afetivo-emocional com

alguém que se encontra, na maioria das vezes, longe de uma comunicação efetiva com o

outro, situado em uma realidade só sua difícil de ser manejada, entendida e interpretada. O

relacionamento interpessoal estabelecido consiste em um pré-requisito, que é a dedicação de

ambas as partes (profissional e paciente), sendo um desafio permanente para os envolvidos na

experiência. (KANTORSKI et al. 2006).

Quanto a este quesito, Beck et al. (2007) salientaram que a comunicação e o

relacionamento humano devem ser valorizados e empregados como um instrumento básico na

assistência, podendo se constituir em elementos indicativos para a avaliação em saúde nas

dimensões de processo e resultado.

Os profissionais que atuam na saúde mental devem procurar ter um envolvimento e

um comprometimento com seu trabalho, buscando realização profissional pautada nos

princípios e valores da ética e da bioética (COSTA et al., 2007).

Segundo Costa et al. (2007), a ética em clínica psiquiatria tem que ser dialogada com

os diferentes modelos existentes na área. O doente mental, apesar das suas limitações, é

sempre sujeito de potencialidades, consciência, liberdade e responsabilidade em

desenvolvimento. E mesmo que limitado, mantém a sua vocação e destino transcendente

como fonte de ética. De fato, o cuidado nasce de um interesse, de uma responsabilidade, de

uma preocupação, de uma relação, de um afeto, o qual, em geral, implicitamente inclui o

maternar e o educar, que, por sua vez, implica na ajuda a crescer.

A humanização do cuidado é obtida pelo estabelecimento de relações amigáveis com a

44

clientela e, não, pelas transformações nos conteúdos das práticas. Uma relação enfermeiro-

paciente dá confiabilidade ao paciente. Ela possibilita que o enfermeiro planeje, implemente e

avalie o cuidado junto com ele, não apenas para ele. Para estabelecer uma relação efetiva o

enfermeiro tem de ganhar a confiança do paciente. Um paciente que se sinta seguro e

respeitado tem maior probabilidade de fornecer informações corretas para avaliação e aderir

ao tratamento. Para promover confiança, o enfermeiro deve demonstrar sempre sensibilidade

e uma consideração positiva pelo paciente (GUEDES JÚNIOR e GUIMARÃES, 2007).

Portanto, o cuidado respeitoso consiste em escutar a voz daqueles que sofrem, escutar

essa voz que clama não é fácil; não se entende o que o outro diz, o que ele sente. O cuidado

respeitoso acontece quando, mesmo sem entender, se coloca no lugar daquele que sofre. Para

escutar o outro, antes se tem que escutar a si mesmo.

Segundo Lunardi et al. (2004) o cuidado de si constitui-se em condição de parar

quando for necessário, de ter espaço para atingir um nível de reflexão sobre a sua própria

vida, permitir pensar sobre a sua condição de consciência, para que não se perca a motivação

pelo trabalho e que se possa preservar a si mesmo durante suas atividades profissionais. Para

que a equipe de enfermagem possa reconhecer o cliente como um ser humano que precisa ser

cuidado, antes disso necessita cuidar-se de si e reconhecer-se enquanto ser humano, que

possui limitações, potencialidades e dificuldades.

O enfermeiro deve empregar o processo de enfermagem no cuidado preventivo

primário capacitando e supervisionando as equipes de saúde da família no cuidado ao

portador de transtorno mental dentro dos princípios da reforma psiquiátrica e do PSF,

proporcionando um cuidado direto aos envolvidos no tratamento. Junto à família e ao paciente

o enfermeiro realiza a orientação sobre cuidado pessoal e independência, tratando no conceito

de integralidade auxiliar na resolução de problemas, de modo a facilitar as atividades

cotidianas. A comunicação enfermeiro-paciente deve ser de maneira terapêutica,

45

estabelecendo relações interpessoais efetivas, visando ajudar sempre os envolvidos a

examinar comportamentos problemáticos e a testar alternativas para ter maior facilidade com

o transtorno mental, ensinando medidas de saúde e repassando informações a respeito do

transtorno específico e de tratamentos recomendados, e mantendo um ambiente seguro para

que os envolvidos adquiram confiança no tratamento (GUEDES JÚNIOR e GUIMARÃES,

2007).

O processo de enfermagem no cuidado secundário focaliza a redução ou eliminação

dos efeitos do transtorno mental que incluem a visita domiciliar, triagem, exame físico e

mental completo dando ênfase também aos outros problemas de saúde dos pacientes.

Conhecer a história pregressa do paciente explorando sentimentos, as causas e os métodos de

suicídios para poder prevenir o ato suicida de forma adequada restabelecendo junto ao

paciente um senso de valor próprio, dando confiança para enfrentar o cotidiano, ajudando os

envolvidos sobre como proceder nas intervenções de crises, ficando atenta a essas

necessidades em situações conflitantes.

O cuidado preventivo terciário implica em reduzir ao máximo os efeitos residuais do

transtorno a longo prazo, que incluem os programas de reabilitação, como os Centros de

Convivência, treinamento vocacional junto à equipe multidiciplinar, ações de saúde mental

junto à comunidade expondo o valor do paciente, integrando a saúde mental nas diversas

atividades de grupos oferecidas pelo PSF (caminhadas, ginástica terapêutica, salas de espera,

oficinas comunitárias, hortas comunitárias, cooperativas), procurando articulações com as

diversas formas de organizações populares (associações de bairro, grupos de auto-ajuda),

buscando construir novos espaços de reabilitação psicossocial (GUEDES JÚNIOR e

GUIMARÃES, 2007)

Quando o grau de complexidade extrapola as possibilidades dos profissionais não

especializados, o caso deve ser encaminhado para a unidade básica mais próxima que

46

disponha de profissionais de Saúde Mental.

O enfermeiro também deve ser capacitado a conduzir a comunidade e a família de

forma que estas incluam o paciente de transtorno mental em diversas formas de organizações

populares, construindo novos espaços de reabilitação psicossocial, fazendo com que ele se

sinta valorizado pela comunidade (NASCIMENTO e BRAGA, 2004).

Reconhecer e promover a humanização, à luz de considerações éticas, demanda um

esforço para rever, principalmente, atitudes e comportamentos dos profissionais envolvidos

direta ou indiretamente no cuidado do cliente, o que também está enraizado no Código de

Ética dos Profissionais de Enfermagem, evidenciando e pressupondo a imposição de valores e

não o seu questionamento (BACKES et al. 2006).

A humanização requer a implementação de um processo interdisciplinar reflexivo

acerca dos princípios e valores que reagem a pratica de diferentes profissionais de saúde em

busca da sua dimensão ética (BACKES, LUNARDI e LUNARDI FILHO, 2005).

Uma prestação de serviços em saúde comprometida com a humanização transcende

questões relacionadas apenas à expressão de sorrisos, alegria e “aceitação incondicional do

cliente”. A razão e o sentido de uma intervenção humanizada trarão em seu cerne uma nova

visão de instituição de cuidados. Sua definição será a de um espaço de convivência que

acolhe, cuida e possibilita a utilização de diversos recursos, enfatizando um projeto de

invenção social e não se focalizando na doença. O ser humano não nasce quando adoece. Para

o profissional de saúde, certamente conhecer o caminho percorrido pela doença tem seu valor.

No entanto, o valor do trabalho de quem cuida está na possibilidade de estabelecer um

encontro com quem o procura (SOUZA, SILVA e FERNANDES, 2006).

A implementação de um cuidado humanizado, no entanto, mais do que o cumprimento

de uma prescrição moral, pautada na obediência ao que deve ser, associada ao risco da

punição frente a transgressões, necessita fundamentar-se na ética (SOUZA, SILVA e

47

FERNANDES, 2006).

Deve-se ressaltar que humanização implica também investir no trabalhador para que

ele tenha condições de prestar atendimento humanizado (SIMÕES et al. 2007).

Para Murta (2007), o enfermeiro está cada vez mais atuante e consciente de seu novo

papel e tem condição de explorar diversas modalidades terapêuticas no desempenho de sua

atividade profissional. Ele está habilitado para pôr em prática alternativas de atenção ao

doente para que este mantenha o exercício de sua autonomia e cidadania, ou mesmo para

reabilitá-lo.

Quando se fala da autonomia na assistência de enfermagem em saúde mental, a ênfase

está no pressuposto de que o doente mental seja um ser único, com as suas peculiaridades e

potencialidades de crescimento por meio de um relacionamento de ajuda. Assim, o respeito à

autonomia é um princípio que procura estabelecer entre as pessoas que estas sejam tratadas

como seres autônomos, e para aqueles que têm sua autonomia reduzida, como no caso dos

doentes mentais, estes sejam tratados e protegidos de forma especial, sejam cuidados

respeitosamente (COSTA et al. 2007).

De acordo com Silva (2006), a humanização dos serviços de saúde implica em

transformação do próprio modo como se concebe o usuário do serviço - de objeto passivo ao

sujeito, de necessitado de atos de caridade àquele que exerce o direito de ser usuário de um

serviço que garanta ações técnica, política e eticamente seguras, prestadas por trabalhadores

responsáveis. Enfim, essa transformação refere-se a um posicionamento político que enfoca a

saúde em uma dimensão ampliada, relacionada às condições de vida inseridas em um

contexto sociopolítico e econômico.

No processo de humanização do atendimento em saúde/enfermagem é fundamental a

participação do trabalhador como sujeito que, sendo também humano, pode ser capaz de

atitudes humanas e "desumanas" construídas nas relações com o outro no cotidiano. Nesse

48

contexto, é fundamental não perder de vista a reflexão e o senso crítico que nos auxiliem no

questionamento de nossas ações, no sentido de desenvolver a solidariedade e o compromisso

(SILVA, 2006).

Assim, um planejamento sobre a atividade a ser realizada deve ser muito bem

estruturado, sempre considerando ambiente e recursos materiais e humanos a serem

utilizados. Qualquer atividade proposta deve ser pertinente à realidade do local escolhido e

devem agradar, sobretudo, aos pacientes, e não apenas ao enfermeiro, o qual deve adotar uma

postura democrática e deixar o paciente escolher as atividades que deseje e necessite realizar.

O enfermeiro deve sempre repensar sua prática e suas atitudes, avaliando constantemente o

que está sendo feito e proposto. De nada adianta utilizar uma alternativa de atuação que não

faça sentido ao usuário (MURTA, 2007, p. 293).

49

3 MATERIAL E MÉTODOS

Na elaboração deste trabalho foi realizada uma leitura exploratória, seletiva e

interpretativa de textos impressos em livros, revistas e periódicos, além de teses, dissertações

e artigos científicos publicados na Internet, nos últimos dez anos, e catalogados nos bancos de

dados digitais da MEDLINE, CAPES, USP (Dedalus), Unicamp (Sistema Rau-Tau) e nos

arquivos de Neuro-Psiquiatria da Scientific Electronic Library Online (SciELO Brasil) e

BIREME/LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde).

Quando se utilizou os descritores humanização/saúde/enfermagem, foram encontrados

81 artigos; para os descritores humanização, enfermagem e PSF, encontrou-se 23 artigos, nos

seguintes periódicos consultados: Acta Paulista de Enfermagem, Cogitare Enfermagem,

Revista Baiana de Enfermagem, Revista Brasileira de Enfermagem, Revista da Escola de

Enfermagem da Universidade de São Paulo, Revista Eletrônica de Enfermagem, Revista

Latino-Americana de Enfermagem, Revista Paulista de Enfermagem, Texto e Contexto

Enfermagem. Nessa busca inicial foram considerados o título e o resumo do artigo para

seleção ampla de possíveis trabalhos de interesse.

Após o levantamento bibliográfico, realizou-se a leitura exploratória do material

encontrado. Com essa leitura, pôde-se obter uma visão global do material, considerando-o de

interesse ou não à pesquisa. Em seguida, efetuou-se a leitura seletiva, a qual permitiu

determinar qual material bibliográfico realmente era de interesse desta pesquisa, que seriam

os artigos que abordassem a humanização do atendimento em saúde e/ou enfermagem.

Finalmente, foram delimitados os textos a serem interpretados em um total de 33

artigos que abordam a humanização do atendimento em saúde/enfermagem, nos seguintes

periódicos e livros: Revista Eletrônica de Enfermagem (2 artigos), Revista Latino-Americana

50

de Enfermagem (2 artigos), Texto e Contexto Enfermagem (2 artigos); Revista da Escola de

Enfermagem da USP (2 artigos), O Mundo da Saúde (2 artigos), Cogitare Enfermagem (1

artigo), Ciência Saúde Coletiva (1 artigo), Rev. Psicol. Cienc. Prof. (1 artigo), Revista

BioEthikos (1 artigo), Revista Meio Amb. Saúde (1 artigo), 6 teses (Chamma e Forsella,

2007; Dimenstein, 2007; Feijó, 2006; Motta, 2006; Silva, 2006, Souza et al., 2006) e 7 livros

(Daury, 2003; Fontinelle Júnior, 2002; Lepargneur, 2004; Pessoti, 1995; Resende, 1987,

Silva, 2007).

51

4 DISCUSSÃO

Nossa sociedade convive diariamente com a classificação de tudo que nos é

apresentado. Com relação à saúde, há uma polarização entre o que seria normal e o que seria

patológico. Isso se deve ao fato da incorporação do saber médico nas práticas em saúde,

advindas com o modelo econômico capitalista (MOTTA, 2006). As concepções sobre loucura

que permeiam o nosso cotidiano foram tão incorporadas pelo imaginário social que hoje

distinguir o normal do patológico se tornou uma prática cultural (MURTA, 2007).

No entanto, o quadro da loucura começa, aos poucos, a ser discutido por movimentos

sociais e reformistas, principalmente o MTSM (Movimento dos Trabalhadores em Saúde

Mental), que apontam para a re-significação do louco, a conseqüente destituição do

tratamento moral de Pinel e a reforma do modelo asilar, com a construção de espaços sociais

ampliados, em que a família, a comunidade e o próprio indivíduo considerado doente,

pudessem conviver juntos e participar do plano/projeto terapêutico. É a busca de uma

assistência humanizada ao doente mental. (PESSOTTI, 1994).

O PSF constitui-se em uma estratégia de mudança e reordenamento do modelo

assistencial no Brasil. Um pilar essencial na construção desse novo modelo de atenção à saúde

é a humanização. A proposta do PSF objetiva criar vínculos entre os profissionais e usuários

através da co-responsabilização na resolução dos problemas de saúde. No entanto, apenas

18,2% dos artigos analisados correlacionavam o tema PSF e humanização. Além disso, por

priorizar ações de promoção, proteção e recuperação de saúde dos indivíduos e da família de

forma integral e contínua, o PSF vem ganhando espaço e relevância em todo o Brasil,

tornando-se indiscutivelmente importante estratégia de reordenação do modelo assistencial.

Essa estratégia vem não só melhorando o acesso da população ao sistema de saúde, como tem

52

proporcionado considerável melhora na qualidade do atendimento oferecido.

O termo humanização tem sido utilizado com diferentes significados e entendimentos

no campo da atenção à saúde. Percebe-se que houve preocupação de todos os autores nesse

sentido, sendo que 100% deles procuraram definir e conceituar esse termo.

A humanização da saúde pressupõe considerar a essência do ser, o respeito da

individualidade e a necessidade da construção de um espaço concreto nas instituições de

saúde que legitime o humano das pessoas envolvidas. O pressuposto subjacente em todo

processo de atendimento humanizado é o de facilitar a pessoa vulnerabilizada a enfrentar

positivamente seus desafios (SIMÕES et al. 2007).

Em saúde mental, a humanização do atendimento vem sendo uma estratégia proposta

pela reforma psiquiátrica, como um compromisso ético dos profissionais de saúde

(CHAMMA e FORSELLA, 1999).

Bedin et al. (2004). referem que a “humanização deve fazer parte da filosofia de

enfermagem. O ambiente físico, os recursos materiais e tecnológicos não são mais

significativos do que a essência humana. Esta sim irá conduzir o pensamento e as ações do

enfermeiro e sua equipe, tornando-os capazes de criticar e construir uma realidade mais

humana”.

No entanto, Beck et al. (2007) salientam que o ambiente de trabalho deve favorecer o

equilíbrio físico e emocional dos usuários, bem como representar um espaço que venha ao

encontro da prestação de uma assistência de qualidade pelos trabalhadores. Entretanto ainda é

comum, em grande parte das instituições de saúde, a falta de materiais em quantidade e

qualidade suficiente para a prestação de um cuidado adequado. A imprevisibilidade quanto

aos recursos materiais e equipamentos para o adequado cuidado de enfermagem, além de

dificultar o planejamento das ações, por vezes expõe o usuário ao improviso e risco e o

trabalhador a situações constrangedoras (BECK et al. 2007), bem como desmotiva o

53

profissional para uma mudança de atuação (SIMÕES et al. 2007).

Simões et al. (2007) salientaram ainda que a humanização das instituições de saúde

passa pela humanização da sociedade como um todo. Não se pode esquecer que uma

sociedade violenta, iníqua e excludente interfere no contexto das instituições de saúde. Na

atenção básica, principalmente, o contexto no qual a pessoa está inserida interfere diretamente

nas ações de saúde. Dessa forma, o enfoque da humanização para esse tipo de assistência

deveria ser ainda mais criterioso. Seria preciso proporcionar, antes de tudo, porém,

oportunidades para que os usuários e profissionais pudessem existir e viver dignamente.

Portanto, as Unidades Básicas de Saúde da Família (UBASF) devem estar preparadas

para garantir uma assistência de qualidade, adequada as demandas da comunidade, incluindo

as referentes à saúde mental (NASCIMENTO e BRAGA, 2004). Neste contexto, o enfermeiro

de PSF deve estar preparado para o atendimento básico de saúde ao portador de transtorno

mental, reduzindo os danos aos envolvidos e uma possível hospitalização do paciente. Para

isso, dentro das possibilidades de articulação e desenvolvimento de ações conjuntas, deve ser

criada uma equipe volante de saúde mental por parte dos serviços substitutivos, para o

desenvolvimento das ações junto à equipe saúde da família enfatizando essa capacitação

como investimento para equipe e ampliar o potencial do enfermeiro em saúde mental

(GUEDES JÚNIOR e GUIMARÃES, 2007).

Assim, o profissional de enfermagem ganhará novos desafios, desempenhando um

papel importante no sentido de participar na consolidação do novo modelo de atendimento

psiquiátrico, e assim aumentar os laços sociais de apoio ao usuário (CHAMMA e

FORSELLA, 1999).

No entanto, esta humanização na instituição de saúde mental, como espaço ético,

requer o fomento de relações profissionais saudáveis, de respeito pelo diferente, além do

reconhecimento dos limites profissionais (COSTA et al. 2007).

54

O deslocamento do doente mental do lugar de incapaz, desacreditado e excluído para o

lugar de inclusão social não ocorre pela simples mudança de espaço físico. É na articulação

dos detalhes do cotidiano, na maneira de agir e lidar com os objetos, espaço e tempo que se

imprime a particularidade no mundo compartilhado. É esta apropriação que irá ordenar para o

sujeito a realidade compartilhada, possibilitando a inclusão na sociedade (SALLES e

BARROS, 2006). Inclusão aliada ao respeito à autonomia do paciente, sendo este um dos

princípios da bioética, que procura estabelecer que estas sejam tratadas como seres

autônomos. Quando aqui se fala de bioética como prática de atendimento, deve-se ter em

conta que ela é interdisciplinar, possui uma abordagem necessariamente pluralista imposta

pela diversidade das sociedades (COSTA et al. 2007).

Na busca pela humanização, é necessário constituir um sistema de saúde que se paute

em valores como a eqüidade e a integralidade da atenção, vislumbrando o trabalhador de

saúde e o paciente e seus familiares como cidadãos. Este universo deve focalizar-se no

diálogo, no respeito e na solidariedade para todos os envolvidos na assistência (BECK et al.

2007; BEDIN et al. 2004; FONTINELE JÚNIOR, 2002).

O PSF mostra-se como um importante instrumento nessa rede de atenção, uma vez que

tem por objetivo assistir as famílias, procurando ver à pessoa como um todo, dentro do

contexto familiar, responsabilizando-se pela promoção da saúde, proporcionando-lhe os

devidos atendimento e encaminhamentos, quando necessários. Este enfoque da demanda em

saúde mental é de suma relevância para a concretização de um novo modelo de atenção em

saúde mental. Sendo este um momento de construção e reconstrução, a qual a saúde mental e

a doença mental sejam discutidas e identificadas por esses profissionais de saúde não apenas

nas unidades especializadas, mas também nos serviços comunitários (GUEDES JÚNIOR e

GUIMARÃES, 2007).

55

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do que foi até então exposto, percebemos a importância dos trabalhadores na

humanização do atendimento.

Todavia, estarão os trabalhadores da saúde em condições de garantir um atendimento

humanizado, tendo em vista que, quase sempre, são submetidos a processos de trabalhos

mecanizados que os limitam na possibilidade de se transformarem em pessoas mais críticas e

sensíveis, bem como se encontram fragilizados no conviver contínuo com a dor, o sofrimento,

a morte e a miséria?

Este estudo mostra a necessidade de investir no trabalhador para a construção de uma

assistência humana, considerando, inclusive, as condições adversas de trabalho apontadas

como fatores "desumanizantes", tais como baixos salários, número insuficiente de pessoal,

sobrecarga de atividades, jornada dupla/tripla de trabalho.

Sugere-se maiores investimentos do governo para a melhoria dessas condições

adversas e para dar subsídios para que o trabalhador se desenvolva, a partir da educação

continuada. Os conhecimentos sobre a natureza humana e o desenvolvimento de atitudes de

valorização do homem são fundamentais para a humanização, sendo prioritário que os

currículos incluam conteúdos relativos aos aspectos psicológicos, sociológicos e

antropológicos na área da saúde.

Humanizar a relação com o doente realmente exige que o trabalhador valorize a

afetividade e a sensibilidade como elementos necessários ao cuidar. Porém, tal relação supõe

o encontro entre sujeitos que compartilham saberes, poder e experiências vividas, implicando

em transformações políticas, administrativas e subjetivas, sem esquecer dos recursos materiais

e do ambiente que devem favorecer este processo.

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Dessa forma, o PSF é um campo fértil para a concretização deste encontro, da nova

forma de pensar/fazer saúde e trabalhar a saúde mental na comunidade.

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