PERCEPÇÕES DE SEGURANÇA REGIONAL NO ÂMBITO DA UNASUL: O CONSELHO DE DEFESA SUL-AMERICANO

25
220 CApÍtuLo 11. perCepçõeS De SeGurAnçA reGionAL no ÂmBito DA unASuL: o ConSeLHo De DeFeSA SuL-AmeriCAno HÉCTOR LUíS SAINT PIERRE DIEGO LOPES DA SILVA D o ponto de vista institucional, a sub-região da América do Sul se articula em relação às ameaças e percepções de segurança no âm- bito do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS). Ainda nos seus primeiros anos de vida, o organismo está sujeito a ingentes esforços polí - ticos pela sua consolidação e fortalecimento. Não obstante esses impulsos, a iniciativa sul-americana de ainda incipiente institucionalização padece do pouco interesse de alguns países e é objeto de iniciativas extrarregionais que intentam evitar uma posição sul-americana coerente e única nos debates de outros foros internacionais. Alguns analistas apontam elementos considera- dos como forças centrífugas sobre o intento integracionista sul-americano. A percepção norte-americana de que essa integração poderia dificultar o exer- cício da sua hegemonia na região talvez seja a principal. Outros elementos seriam também a formação da Aliança Bolivariana (ALBA) e a Aliança do Pacífico. Todavia, consideramos que ambas, de clara diferença ideológica, não chegam a comprometer os avanços conseguidos dentro da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL), especialmente do CDS. Embora a ALBA tenha uma nítida orientação ideológica e uma vocação para a Defesa, seus membros, que por sua vez são também membros do CDS, não colocam em risco a existência deste nem sequer provocam uma fissura na sua estrutura. Se bem a Aliança do Pacífico tenha um perfil basicamente comercial e eco- nômico, alguns analistas apontam esta associação como a principal iniciativa norte-americana para fraturar a formação de um bloco sul-americano.

Transcript of PERCEPÇÕES DE SEGURANÇA REGIONAL NO ÂMBITO DA UNASUL: O CONSELHO DE DEFESA SUL-AMERICANO

220

CApÍtuLo 11. perCepçõeS De SeGurAnçA reGionAL no ÂmBito DA unASuL: o

ConSeLHo De DeFeSA SuL-AmeriCAno

HÉCTOR LUíS SAINT PIERREDIEGO LOPES DA SILVA

Do ponto de vista institucional, a sub-região da América do Sul se articula em relação às ameaças e percepções de segurança no âm-bito do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS). Ainda nos seus

primeiros anos de vida, o organismo está sujeito a ingentes esforços polí-ticos pela sua consolidação e fortalecimento. Não obstante esses impulsos, a iniciativa sul-americana de ainda incipiente institucionalização padece do pouco interesse de alguns países e é objeto de iniciativas extrarregionais que intentam evitar uma posição sul-americana coerente e única nos debates de outros foros internacionais. Alguns analistas apontam elementos considera-dos como forças centrífugas sobre o intento integracionista sul-americano. A percepção norte-americana de que essa integração poderia dificultar o exer-cício da sua hegemonia na região talvez seja a principal. Outros elementos seriam também a formação da Aliança Bolivariana (ALBA) e a Aliança do Pacífico. Todavia, consideramos que ambas, de clara diferença ideológica, não chegam a comprometer os avanços conseguidos dentro da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL), especialmente do CDS. Embora a ALBA tenha uma nítida orientação ideológica e uma vocação para a Defesa, seus membros, que por sua vez são também membros do CDS, não colocam em risco a existência deste nem sequer provocam uma fissura na sua estrutura. Se bem a Aliança do Pacífico tenha um perfil basicamente comercial e eco-nômico, alguns analistas apontam esta associação como a principal iniciativa norte-americana para fraturar a formação de um bloco sul-americano.

221

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

Como vértice de uma das forças centrípetas, a presidenta Michele Bachelet lançou durante sua campanha para a presidência do Chile em 2013, seu programa de governo para o quadriênio seguinte. No eixo de Defesa, afirmava que:

Durante o período 2014-2018, a política de Defesa Nacional terá como objetivo principal de mediano e longo prazo, gerar uma Comunidade de Segurança na América do Sul que garanta a paz e elimine definitivamente a ameaça da guerra, sendo o Conselho de Defesa da UNASUR a instituição para avançar nesta matéria.1

O compromisso firmado em trabalhar para a conformação de uma Comunidade de Segurança no âmbito do Conselho de Defesa Sul-America-no surpreendeu parte do setor acadêmico e político. Um dos motivos que talvez explique esse desconcerto é o período de relativo imobilismo pelo que está passando essa organização e que alguns consideram ser o tramo final de sua breve existência. Com efeito, não obstante alguns avanços em várias matérias e o inequívoco êxito na resolução de vários conflitos na região2, a atividade do CDS pautou-se em base do voluntarismo presiden-cial e se caracterizou pela baixa institucionalidade, que o deixa à mercê do humor dos governos da região. Mas, apesar disso, o CDS conseguiu certo grau de legitimação entre os países da região para se constituir em um re-conhecido foro para debater as questões relativas à Defesa.

Não obstante ser um órgão relativamente novo, o CDS já é percebi-do como um foro legítimo para a concertação das políticas de defesa dos países sul-americanos. Estabelecido em 2008, o organismo é definido como uma “instância de consulta, cooperação e coordenação em matéria de defesa em harmonia com as disposições do Tratado Constitutivo da UNASUL em seus artigos 3º letra s, 5º e 6º”3. Seus objetivos principais são: I) consolidar a América do Sul como zona de Paz, base para a es-tabilidade democrática e o desenvolvimento integral dos povos e como contribuição à paz mundial; II) construir uma identidade sul-americana em matéria de defesa; e III) gerar consensos para fortalecer a cooperação regional em matéria de defesa.

O Chile, assim como a própria Bachelet e o seu Ministro da De-fesa, Goñi, teve uma intensa participação na construção desse foro. O Grupo de Trabalho encarregado de elaborar o plano de implementação

222

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

da proposta inicial foi formado por determinação de Michele Bachelet, que na época acumulava as posições de Presidenta do Chile e Presidenta Pró-Tempore da UNASUL. A coordenação do Grupo de Trabalho ficou a cargo do Subsecretário de Guerra do Ministério de Defesa Nacional do Chile, Gonzalo Garcia Pino. A partir de seu estabelecimento, quatro reu-niões foram realizadas em Santiago para que a arquitetura institucional do Conselho de Defesa Sul-Americano fosse discutida.

Ademais dos três objetivos principais, o CDS estabelece mais onze objetivos específicos. Dentre eles, um dos mais desafiadores é o item “d)” que se refere ao avanço de uma visão compartilhada a respeito das tarefas da defesa, promoção do diálogo e cooperação preferente com outros países da América Latina e Caribe. Desde as conversas iniciais sobre a construção do CDS, as divergências sobre o papel das Forças Armadas e as ameaças à sub-região foram as mais expressivas. Acerca da primeira, o governo co-lombiano marcou diversas vezes seu posicionamento a favor da atuação das FA no âmbito interno e exigiu dos outros países da região uma manifes-tação de rechaço aos grupos armados não ligados ao Estado. O posiciona-mento colombiano era até certo ponto justificado face ao conflito interno que vivencia contra às FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colôm-bia) e outros grupos paramilitares que operam dentro do seu território. Em contrapartida, as delegações da Venezuela e da Bolívia opuseram-se, argumentando que o CDS não deveria normatizar com base em eventos conjunturais. Por tal motivo, e com a mediação do presidente brasileiro Lula da Silva, chegaram a uma fórmula de consenso pela qual todos os países aceitaram que fosse incluída no Estatuto do CDS o compromisso de “reconhecer as Forças Armadas consagradas constitucionalmente pelos Es-tados Membros como únicas instituições encarregadas da defesa nacional”.

Assim, desde seu nascedouro, o CDS teve que lidar no centro dos debates com uma força centrípeta em torno da normatização do em-prego das FA e, concomitantemente, de uma definição substancial de “Defesa”, já que o conteúdo semântico desta não foi delimitado nem compartilhado. Embora representativa de um dos extremos da gama de alternativas do emprego da instituição militar, a posição colombiana não era a única. Na verdade, a postura da Colômbia no CDS, como a dos outros países que compõem o organismo, representou basicamente uma extensão de suas definições políticas internas e não a procura de uma posição comum. No caso da Colômbia, a Defesa e a Segurança são trata-

223

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

das juntamente ao fazerem parte de uma política única. Com efeito, por meio da Política Integral de Segurança e Defesa para a Prosperidade, de 2011, a Colômbia identifica quatro fatores de risco que justificariam, para serem combatidos, o emprego das Forças Armadas: os grupos arma-dos à margem da lei, os delitos contra os cidadãos, as ameaças externas e os desastres naturais. Por sua vez o Peru, que também alega combater forças paramilitares dentro do seu território, apresenta uma perspectiva similar. Neste país entende-se por “Defesa” o “conjunto de medidas, previsões e ações que o Estado gera, adota e executa de forma integral e permanente [e que] se desenvolve nos âmbitos externo e interno”4. Em 2012, o Peru criou a região militar do VRAE (Valle de los Ríos Apumaric y Ene) com o objetivo de adensar a presença do Estado (em realidade das FA) na região central do país e combater os grupos armados que atuam nessa parte do Peru. As operações são realizadas pelas Forças Armadas em conjunto com as Forças Policiais.

Em outro extremo da gama de posições sobre a semântica de “De-fesa” e do emprego das FA - definindo de maneira mais drástica a se-paração entre “Defesa” e “Segurança Pública” e, concomitantemente, regulando com maior detalhe as situações de emprego das Forças - está a Argentina. Este país definiu e normatizou por lei constitucional a “De-fesa” e a “Segurança”, legislando também sobre a “Inteligência Interior”. Desse modo, posicionou-se de maneira oposta à permissividade colom-biana no que concerne à atuação das Forças Armadas. A Ley de Defensa Na-cional argentina, de 05 de maio de 1988, define no artigo segundo:

A defesa nacional é a integração e a ação coordenada de todas as forças da Nação para a solução daqueles conflitos que requerem o emprego das Forças Armadas, em forma dissuasiva ou efetiva para enfrentar as agressões de origem externa. Tem por finalidade garantir de modo permanente a soberania e a independência da nação argentina, sua integridade territorial e capacidade de autodeterminação; proteger a vida e a liberdade de seus habitantes5.

Como resultado de um processo de redemocratização conduzido pelas forças políticas civis, depois do fracasso econômico do sanguinário governo militar que reprimiu furiosamente a sociedade argentina e a posterior derrota de suas FA frente a um inimigo convencional, as

224

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

definições da subordinação militar e da condução política da Defesa foram pautadas politicamente no marco constitucional. Assim, as FA argentinas foram orientadas exclusivamente para dissuadir e enfrentar ameaças externas, definindo a fronteira de atuação das mesmas de modo nítido e claro. Com essas definições, suas FA ficaram impedidas de serem empregadas internamente, assim como também foram proibidas por lei de realizar inteligência interior.

A óbvia contraposição entre, por um lado, as definições colombiana/peruana e, por outro, a argentina, assim como o leque de posições que se estendem entre ambos os extremos, ilustra o desafio de negociação política auto-imposto pelo CDS na articulação dessas definições em uma mesma instituição que pretende uma identidade estratégica sub-regional. A falta de nitidez no limite do emprego das FA para resolver questões de ordem interna, como crime organizado, tráfico de drogas, pessoas e armas, “ter-rorismo”, controle de movimentos sociais, normalmente não resulta de uma dificuldade para definir competências, mas política. Em alguns casos responde à premência de resolver problemas que poderiam comprometer o desempenho eleitoral do governo e, em outros, a pressões externas ao país e muitas vezes à região. Com efeito, a maioria daqueles problemas internos citados acima requer para sua solução medidas cujos resultados só aparecerão no médio e longo prazo, porque exige medidas socioeduca-tivas, ou de reforma do sistema judicial e/ou policial, ou outras medidas que superam o prazo do horizonte político (limitado a quatro anos do período eleitoral) e por tanto fora do propósito do governo de se reeleger ou definir o sucessor. Sendo que o que influencia a eleição é o índice de percepção social da violência e não os índices da violência propriamente ditos; influenciar os formadores de opinião e colocar as FA na rua resolve. O emprego das FA contra a maioria dos problemas internos às fronteiras nacionais não resolve nenhum deles, mas as classes médias, que formam a opinião pública e modelam o voto, sentem-se mais seguras com os uni-formizados nas ruas, incidindo nos índices de percepção de insegurança de maneira rápida e cosmética. Por outro lado, a falta de nitidez no emprego das FA para as questões internas pode ser provocada por pressões externas inclusive à sub-região. A decisão do emprego de FA na ordem interna corresponde a um imperativo para o continente defendido pelos Estados Unidos desde a reunião de Williansburg em 1995. A aproximação das po-líticas de emprego das FA com a posição norte-americana é normalmente

225

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

recompensada pela concessão de linhas de financiamento para compras de armamentos, educação e treinamento militar, suporte para operações de paz, combate às drogas e contraterrorismo.

Colômbia e Peru, justamente por enfrentarem grupos armados em seu território categorizados, segundo as autoridades desses países, como grupos “terroristas” financiados pelo tráfico internacional de drogas ile-gais, acabam alinhando suas políticas de Defesa às exigências de emprego da força ditadas pela política norte-americana para a região. Não quere-mos dizer com isso que no ambiente internacional não possam existir políticas desinteressadas, altruístas, solidárias como queria Ernesto Che Guevara6, mas em geral, na política internacional, como diria Carl Sch-mitt, “o protego ergo obrigo é o cogito ergo sum do Estado”.7

Justamente Colômbia e Peru, cujas políticas de defesa estão mais próximas do lineamento norte-americano para o hemisfério, também são os países da região que resultam ser os maiores beneficiados dos fi-nanciamentos norte-americanos no setor militar. Para constatar essa pre-ferência creditícia, mostramos o quadro a seguir que compila as cifras recebidas e a receber pelos países da América do Sul no período 2009-2014. Nele pode se observar a disparidade entre as quantias recebidas por esses dois países e o resto da sub-região.

Ajuda militar e policial fornecida pelos EUA 2009-2014 em US$

2009 2010 2011 2012 2013 2014 TOTAL

Argentina 2.926.987 4.183.327 1.347.750 2.931.750 2.931.750 2.543.750 16.865.314

Bolívia 22.639.640 18.613.454 18.242.600 8.621.600 7.991.600 5.674.600 81.783.494

Brasil 3.672.536 3.312.558 3.159.833 5.654.833 5.832.333 3.021.833 24.653.926

Chile 19.040.419 3.673.947 2.622.046 4.945.046 4.945.046 4.900.046 40.126.550

Colômbia 441.505.261 434.177.248 336.830.537 280.454.537 279.465.805 257.678.917 2.030.112.305

Equador 33.317.540 16.224.256 17.533.155 19.070.155 19.170.155 14.849.155 120.164.416

Guiana 1.257.849 2.500.812 411.000 364.000 364.000 325.000 5.222.661

Paraguai 2.229.041 4.026.092 3.220.726 7.364.726 7.489.726 6.676.726 31.007.037

Peru 84.830.341 59.950.769 51.679.628 44.205.225 43.565.693 41.428.758 325.660.414

Suriname 1.792.139 1.651.429 755.295 746.295 746.295 732.295 6.423.748

Uruguai 1.214.388 3.031.941 1.301.737 1.233.737 1.233.737 1.144.737 9.160.277

Venezuela 636.660 329.000 501.500 508.500 508.500 508.500 2.992.660

Fonte: JUST THE FACTS. ‘Grant U.S aid listed by country, all programs, entire region, 2009–14’. Disponível em <http://justf.org/All_Grants_Country>. Acesso em 15 de fev. de 2014.

226

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

Os principais programas de financiamento mantidos pelo go-verno dos Estados Unidos para a América Latina se referem, na sua maioria, ao combate ao tráfico de drogas. O International Narcotics Control Law and Enforcement apresenta as maiores cifras transferi-das, muito embora os valores transferidos tenham diminuído nos úl-timos anos. Em 2009, o montante concedido para América Latina era de US$ 703.981.000, em contraste com o orçamento aprovado pelo Congresso norte-americano para o ano de 2014 de US$ 317.294.2718. Nesse valor, são incluídos salários, benefícios, subsídios e treinamen-to de pessoal norte-americano e local para o combate ao narcotráfico. Além disso, sistemas organizacionais, ferramentas para fiscalização e controle, bem como outros custos para planejamento do programa, implementação, monitoramento e avaliação também são incluídos. O programa Section 1004 Counter-drug Assistance é o segundo na hierarquia orçamentária para a América Latina. O mecanismo per-mite que os Estados Unidos forneçam treinamento militar a forças policiais estrangeiras com o propósito aludido de combater o nar-cotráfico. As linhas de auxílio prestadas são: manutenção, reparo e aprimoramento dos equipamentos; transporte de suprimentos e de pessoal norte-americano e estrangeiro; estabelecimentos e operação de bases para treinamento e operação; treinamento de pessoal estran-geiro para manutenção da lei; detecção e monitoramento; construção de bloqueios para evitar o tráfico de drogas nas fronteiras dos Estados Unidos; redes de comunicação; serviços linguísticos e de inteligência; e reconhecimento aéreo e de terreno9.

O alinhamento político associado ao recebimento dessas verbas fica mais evidente ao analisarmos a atuação internacional dos países da América do Sul receptores da ajuda norte-americana. Uma forma de constar o apelo do auxílio financeiro norte-americano para con-seguir o apoio dos receptores em votações de foros internacionais consiste em analisar a tabela a seguir que ilustra a porcentagem de votos coincidentes entre os países da sub-região e os Estados Unidos em votações consideradas importantes por esse último10. Vemos que em relação ao Peru e Colômbia, a convergência aumentou significati-vamente ao longo dos anos, o que indicaria uma maior aproximação política com os EUA.

227

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

Porcentagem de convergência em votações importantes na ONU entre EUA e América do Sul

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Argentina 41,7% 45,5% 37,5% 44,4% 41,7% 50% 40% 60% 58,3% 57,1% 42,9%

Bolívia 35,7% 50% 40% 40% 22,2% 16,7% 0% 30% 33,3% 14,3% 0%

Brasil 38,5% 38,5% 25% 22,2% 20% 30% 12,5% 37,5% 33,3% 33,3% 28,6%

Chile 35,7% 58,3% 40% 40% 33,3% 46,2% 33,3% 58,3% 53,8% 50% 37,5%

Colômbia 38,5% 41,7% 25% 25% 0% 20% 16,7% 60% 50% 83,3% 75%

Equador 35,7% 50% 25% 40% 33,3% 22,2% 10% 25% 30% 0% 0%

Guiana 33,3% 33,3% 22,2% 22,2% 0% 22,2% 12,5% 40% 45,5% 33,3% 16,7%

Paraguai 38,5% 50% 40% 40% 38,5% 55,6% 30% 50% 50% 50% 50%

Peru 38,5% 60% 57,1% 57,1% 50% 60% 44,4% 75% 66,7% 80% 60%

Suriname 0% 27,3% 22,2% 22,2% 0% 14,3% 0% 33,3% 42,9% 50% 16,7%

Uruguai 38,5% 50% 42,9% 37,5% 40% 50% 37,5% 66,7% 60% 25% 33,3%

Venezuela 33,3% 38,5% 11,1% 10% 0% 7,7% 0% 18,2% 16,7% 11,1% 0%

Fonte: Elaboração própria com base nos relatórios Voting Practices in the United Nations dos anos em questão. Disponível em: <http://www.state.gov/p/io/rls/rpt/>. Acesso em: 15 de fev. de 2014.

Ao passo que as posições políticas de Colômbia e Peru se apro-ximam das expectativas dos EUA para a América do Sul, a Venezuela representa a posição do outro extremo do arco político sub-regional. O governo venezuelano tentou influenciar as definições políticas do CDS com seu posicionamento anti-imperialista. Ainda nas reuniões iniciais nas que se deliberou sobre a formulação do Estatuto do Conselho, em meio às discussões sobre as ameaças comuns à América do Sul, a delega-ção venezuelana propôs o seguinte trecho:

Condenar as ameaças e ações em matéria de defesa que pairem sobre a convivência pacífica de nossos povos e seus sistemas democráticos de governo e rechaçar a presença ou ação de grupos armados ilegais e a IV Frota, que possam exercer ou propiciar violência, seja qual for sua origem11.

O excerto apresentado ilustra sua percepção de ameaça fortemente marcada pela presença norte-americana no Atlântico, percepção também compartilhada pelo governo brasileiro. A IV Frota, criada pelo governo dos EUA com o objetivo de proteger a região do poderio bélico naval na-zista tinha sido desativada em 1950. Entretanto ela foi formalmente reati-vada em julho de 2008, causando receio em alguns governos da região12.

228

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

De todo modo, a proposta venezuelana não foi acordada por todos e de-pois de calorosamente debatida acabou sendo excluída da redação final.

O Brasil, assim como o Chile, mantém até certa medida um para-lelo entre os preceitos do CDS e seus documentos de Defesa nacional, mostrando a importância concedida ao mesmo em suas definições polí-ticas. Na Estratégia Nacional de Defesa, tanto na versão de 2008 quanto na de 2012, é feita menção ao CDS e à sua importância para o diálogo em matéria de defesa. No Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN), de 2012, onde o cenário sul-americano é analisado, pondera-se a importância das instituições regionais para a segurança nacional e a cooperação militar.

Na América do Sul, delineia-se uma clara tendência de cooperação em matéria de defesa. Essa tendência tem sido constantemente reforçada desde a criação da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) e, especialmente, de seu Conselho de Defesa (CDS). Vê-se surgir na América do Sul uma “comunidade de segurança”, motivada pelo fato de os países vizinhos compartilharem experiências históricas comuns, desafios de desenvolvimento semelhantes e regimes democráticos, que facilitam a compreensão recíproca e propiciam uma acomodação pacífica dos diversos interesses nacionais13.

Assim como o documento de campanha de Bachelet, o LBDN men-ciona a criação de uma Comunidade de Segurança, o que pode ser enten-dido como uma percepção de ambos os governos de que se pode ir além do CDS em termos de defesa cooperativa sub-regional. Entretanto, à revelia do discurso cooperativo manifesto no LBDN, a Estratégia Nacional de De-fesa coloca certa contradição com relação à ideia de uma comunidade de segurança e de cooperação regional em defesa. Com efeito, na diretriz 9 desse documento, lê-se como uma das suas propostas “adensar a presença de unidades da Marinha, do Exército, e da Força Aérea nas fronteiras”. A orientação integra o esforço da Política de Defesa brasileira em incrementar seu poder dissuasório. Ao propor reforçar a presença militar nas fronteiras para aumentar a segurança nacional esse documento manifesta implicita-mente a percepção dos formuladores de que a ameaça pode estar do outro lado da fronteira, isto é, que ela pode vir do vizinho. Mas todos os seus vizinhos fazem parte da UNASUL e do CDS, é com eles que o LBDN ma-nifesta desejo de constituir uma “comunidade de segurança” regional, e é

229

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

com eles que se propõe cooperar na defesa. Assim, entretanto, cria-se um paradoxo no qual ao passo em que com o mesmo país se busca a coopera-ção, dissuade-se: onde se coopera, não se dissuade.

Aliás, da citada diretriz 9 decorre outra questão: a quem o Brasil pretende dissuadir com o adensamento de tropas nas suas fronteiras? Acreditamos que a resposta a essa questão define o direcionamento do investimento em meios militares. Os documentos de Defesa brasileiros são vagos em relação à definição de ameaças. Ao discorrer sobre as Hipó-teses de Emprego das Forças Armadas, a END define:

Entende-se por “hipótese de emprego” a antevisão de possível emprego das Forças Armadas em determinada situação/situações ou área/áreas de interesse estratégico para a defesa nacional. É formulada considerando-se a indeterminação de ameaças ao País14.

Em outro trecho, complementa:

Os ambientes apontados na Estratégia Nacional de Defesa não permitem vislumbrar ameaças militares concretas e definidas, representadas por forças antagônicas de países potencialmente inimigos ou de outros agentes não estatais. Devido à incerteza das ameaças ao Estado Brasileiro, o preparo das Forças Armadas deve ser orientado para atuar no cumprimento de variadas missões, em diferentes áreas e cenários, para respaldar a ação política do Estado. As hipóteses de emprego são provenientes da associação das principais tendências de evolução das conjunturas nacional e internacional com as orientações político-estratégicas do País15.

Essa indefinição impacta diretamente na execução dos gastos em de-fesa, pois, de acordo com o artigo 12 da Lei Complementar 97, que dispõe sobre as normas gerais para organização, preparo e emprego das FFAA, o or-çamento do Ministério da Defesa deve contemplar as prioridades estabeleci-das pela END. Como não há uma ameaça claramente definida e, ainda assim, há um aumento do orçamento para a defesa ou simples disponibilidade de verba, corre-se o risco de se cair na sedução da “compra de oportunidade”, seja para aproveitar o dinheiro disponível ou alguma oferta apetecível, com possíveis consequências nefastas para a estratégia nacional, já que não é nem a política nem a estratégia que definem os meios de emprego, mas são as

230

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

caraterísticas e especificidades das compras que posteriormente exigem trei-namento também específico e uma doutrina pertinente, o que acaba impac-tando a estratégia e questionando a política de Defesa.

Apesar de ter tentado iniciar um esforço na identificação de ame-aças comuns à América do Sul sob a coordenação da Venezuela, o CDS logo percebeu as dificuldades dessa tarefa em uma sub-região com di-ferentes realidades, tão desigual e heterogênea desde vários pontos de vista. Essas diferenças e heterogeneidades da região sul-americana con-dicionaram as diferentes percepções dos países membros e não permiti-ram que uma definição nitidamente clara e operacionalmente útil fosse balizada. Os governos sul-americanos preferiram não avançar nesse sen-tido e recorrer a definições vagas e demasiadamente amplas, tal qual o conceito de “segurança multidimensional”. Em razão da emergência do que se convencionou chamar “novas ameaças” — crime transnacional, terrorismo, ataques cibernéticos, instabilidade política, etc.– os Estados, de acordo com o conceito, deveriam preparar novos tipos de resposta. A abordagem ganhou ensejo a partir do Consenso de Miami e da Declara-ção sobre Segurança das Américas. Essa última declara:

Nossa nova concepção da segurança no Hemisfério é de alcance multidimensional, inclui as ameaças tradicionais e as novas ameaças, preocupações e outros desafios à segurança dos Estados do Hemisfério, incorpora as prioridades de cada Estado, contribui para a consolidação da paz, para o desenvolvimento integral e para a justiça social e baseia-se em valores democráticos, no respeito, promoção e defesa dos direitos humanos, na solidariedade, na cooperação e no respeito à soberania nacional16.

Posteriormente, na IV Conferência de Ministros de Defesa das Américas, o conceito é reforçado:

A segurança é uma condição multidimensional do desenvolvimento e progresso de nossa nação. A segurança é fortalecida quando aprofundamos sua dimensão humana. As condições de segurança humana melhoram mediante o pleno respeito à dignidade, aos direitos humanos e às liberdades fundamentais dos indivíduos, sob o Estado de direito, bem como por meio da promoção do desenvolvimento econômico e social, da educação e da luta contra a pobreza, a doença e a fome. A segurança é essencial para

231

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

criar oportunidades econômicas e sociais para todos e gerar um ambiente favorável para atrair, reter e empregar produtivamente os investimentos e o comércio necessários para criar fontes de trabalho e realizar as aspirações sociais do Hemisfério. A pobreza extrema e a exclusão social de amplos setores da população, também afetam a estabilidade e a democracia, erodindo a coesão social e minando a segurança dos Estados17.

O Conselho de Defesa Sul-Americano abdicou dessa abordagem

generalista, marcando um posicionamento comum em relação às dis-cussões que vinham sendo desenvolvidas no âmbito hemisférico sob o comando norte-americano. Não há em nenhum documento do foro sul-americano menção à segurança multidimensional. Analisamos deti-damente o conceito de “multidimensionalidade” em outro lugar18, onde concluímos que esse termo, como enfoque ou adjetivo geral da seguran-ça é heuristicamente infértil, analiticamente inadequado e operacional-mente perigoso. Esta última caraterística é enfatizada porque, adotado acriticamente e incorporado às visões de países ante suas ameaças, cujas debilidades institucionais lhes oferecem apenas as FA como único ins-trumento confiável, acaba securitizando a agenda social e militarizando a segurança. Há um vazio de significado nesse conceito que “nada diz sobre tudo”. Ao passo que as fontes de ameaças são múltiplas, também são diversos os mecanismos institucionais com os que conta o Estado para seu enfrentamento. Assim, se as ameaças podem ser políticas, so-ciais, econômicas, climáticas, etc., o Estado conta também com respos-tas “multifacetadas”, como indicou o embaixador Patiño Mayer. O que queria dizer Mayer é que as respostas adequadas para aqueles desafios deveriam partir dos Ministérios de Economia, de Desenvolvimento So-cial, de Justiça, de Meio Ambiente, etc. Ele se esforçava por enfatizar que a resposta militar deve ser limitada àquelas ameaças que exijam uma resposta armada, tentando evitar o emprego das FA em outros ambientes que não os específicos.

A militarização como única resposta estatal para todos os desafios parece ser uma alternativa tentadora ao governante que precisa de resul-tados imediatos para melhorar os índices de aceitação popular e garantir sua reeleição ou que lhe permita fazer seu herdeiro. Uma vez nas ruas, as Forças Armadas proporcionam ao cidadão uma sensação de segurança que não necessariamente corresponde à solução da ameaça que provoca sua

232

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

insegurança. Com efeito, as FA não estão preparadas, nem treinadas, nem armadas, nem contam com doutrina específica nem sistema de inteligência que lhe permita operar com eficácia sobre o tipo de ameaças internas que intranquilizam a sociedade e tornam impopular o governo. Ainda naquele artigo apontamos a origem do conceito de “multidimensionalidade”, ne-fasto para a organização da Defesa e da Segurança, mas funcional a outros interesses: “ele foi sendo introduzido nas declarações hemisféricas da área de segurança paulatinamente e sob pressão política de quem conta com a força para decidir sobre as ambiguidades conceituais”.

A Argentina, por sua vez, também levou em conta a existência do CDS assim como o seu compromisso institucional com ele nos seus documentos de Defesa. No Libro Blanco de la Defensa de 2010, o governo expressa o seguinte entendimento:

Nesse sentido, em um mundo crescentemente interrelacionado, a Argentina concebe sua defesa na dupla dimensão de autônoma, por um lado, e cooperativa, por outro. Isso implica que seu desenho de forças e suas capacidades não ofensivas se vinculam e complementam com seus compromissos multilaterais. Com esse espírito, e no marco da União de Nações Sul-Americanas (UNASUR), a Argentina participou de modo ativo no processo de criação do Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS).

De fato, o país é um dos membros mais participativos no CDS, demonstrando seu engajamento desde o início. O gráfico a seguir mostra a porcentagem de atividades assumidas por cada país nos Planos de Ação até hoje formulados.

Elaboração própria baseada nos Planos de Ação do Conselho de Defesa Sul Americano. Disponível em: <http://www.ceedcds.org.ar/Espanol/03-Planes_de_Trabajo/03-01-Planes-de-Trabajo.html>. Acesso em: 05 de fev. de 2014.

O próximo gráfico ilustra a evolução dessa participação em cada país. Nele, é possível observar como alguns países, dentre eles o Brasil, assumiram mais atividades no CDS com o passar dos anos. A Argentina não demonstrou um aumento na participação tão expressivo quanto se ob-servou no Peru. Entretanto, apresentou uma participação mais consistente.

233

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

Por sua vez, o expressivo aumento no engajamento do Peru nas atividades do CDS deve ser acreditado à conjuntura pela qual teve que assumir, se-guindo a ordem estabelecida, a Presidência Pro-Tempore da instituição.

Elaboração própria baseada nos Planos de Ação do Conselho de Defesa Sul Americano. Disponível em: <http://www.ceedcds.org.ar/Espanol/03-Planes_de_Trabajo/03-01-Planes-de-Trabajo.html>. Acesso em: 05 de fev. de 2014.

Outro aspecto que pode ser contemplado ao analisar a partici-pação dos países nas atividades do CDS é a importância da encomenda, muito embora essa importância possa responder à ordem subjetiva da análise. Todavia, e a nosso entender, duas das atividades mais signifi-cativas desenvolvidas até o momento pelo CDS foram coordenadas pela Argentina, a saber: a criação do Centro de Estudos Estratégicos de Defesa (CEED/CDS) e o Registro de Gastos de Defesa Sul Americano.

O estatuto do Centro de Estudos Estratégicos de Defesa, de março de 2009, define como objetivos da instituição:

a) Contribuir, mediante análises permanentes, na identificação de desafios, fatores de risco e ameaças, oportunidades e cenários relevantes para a defesa e a segurança regional e mundial, tanto no presente quanto no mediano e longo prazo; b) Promover a construção de uma

234

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

visão compartilhada que possibilite a abordagem comum em matéria de defesa e segurança regional, dos desafios, fatores de risco e ameaças, oportunidades e cenários previamente identificados, conforme os princípios e objetivos expostos no Tratado Constitutivo da UNASUL e no Estatuto do CDS; c) Contribuir na identificação de enfoques conceituais e lineamentos básicos comuns que permitam a articulação de políticas em termo de defesa e segurança regional19.

Os objetivos aos que se propõe atender o CEED/UNASUL são basi-camente insumos para as tomadas de decisão política dos governos que compõem o CDS e definições conceituais que exigem a articulação polí-tica dos representantes nacionais no CEED. A natureza dessas atividades requer para sua realização a concorrência da expertise acadêmica e de ar-ticulação política, ambas caraterísticas encontradas na cada vez mais con-solidada comunidade civil da Defesa sul-americana. Todavia, não obstan-te a relevância das metas colocadas e do perfil específico da representação que poderia assumir a tarefa da sua realização, uma análise sociológica pormenorizada do perfil da representação nacional junto ao CEED per-mite inferir que foram outros os critérios que balizaram a escolha dos mesmos. Até fevereiro de 2014, o organismo contou com o apoio para os trabalhos do mesmo com vinte e quatro delegados nacionais, sendo que seis desses compõem o corpo de especialistas atualmente.

Não obstante os atuais diretor (argentino) e o vice-diretor (equato-riano) sejam civis, do total de vagas para as delegações, somente quatro foram ocupadas por civis. As vinte remanescentes foram, ou são, ocupa-das por oficiais das FA que se encontram na Argentina para realizar outras missões e são aproveitados pelos seus ministérios para ocupar a vaga da representação desse país no CEED. A maioria dos militares que compõem o CEED/CDS são oficiais destacados pelos Ministérios de Defesa dos seus países para atuarem na função de adido militar na Embaixada do seu país na Argentina ou para realizar o Curso de Estado Maior ou intercâmbio militar ou qualquer outra missão especificamente militar na Argentina. Obviamente, a decisão sobre o perfil do representante é da alçada da soberania dos respectivos países. Pode ser que essa decisão obedeça a critérios de economia (aproveitar a presença do oficial militar em Buenos Aires), pode se argumentar a falta de especialistas civis em Defesa e Segu-rança em alguns países, que pode representar a manifestação da falta de

235

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

interesse de alguns países no destino do CEED/CDS, mas também pode significar que os militares de alguns países gozem de autonomia nas de-cisões políticas que envolvem a Defesa.

Os únicos países sul-americanos a enviar representação civil ao CEED/CDS são Argentina e Chile, todas as outras representações estão constituídas exclusivamente por militares em atividade. Perguntamo--nos se a particular configuração sociológica do organismo não explicará em parte a morosidade dos trabalhos realizados pelo CEED/CDS; até que ponto a formação específica militar, ajustada ao princípio da soberania e à desconfiança, permitirá reflexionar e decidir sobre medidas que apon-tem à cooperação em Defesa; assim como também, como essa formação incidirá no direcionamento na construção de conceitos e enfoques co-muns em matéria de defesa e segurança. O que podemos constatar até o momento é que CEED/CDS não mostrou uma abertura significativa para que civis compusessem sua junta de especialistas, como imaginávamos que faria, como tampouco funcionou como articulação entre o CEED/CDS e os centros de reflexão acadêmicos civis dos países do CDS, o que teria, por um lado, aumentado o universo de expertos e a capacidade de estudos e análises e, por outro, teria funcionado como estímulo para a geração de massa crítica acadêmica. Acreditamos que a composição so-ciológica do CEED/CDS e o seu isolamento da comunidade acadêmica da defesa sul-americana acabaram comprometendo o potencial do orga-nismo para se constituir em um foro de discussão e em incentivador da participação civil nos assuntos de defesa e segurança regional.

A segunda das atividades mais importantes realizadas pelo CEED/CDS e presidida pela representação argentina foi a implementação do Registro de Gastos de Defesa Sul Americano20. Como fruto de um tra-balho iniciado em 2009 e coordenado pela Argentina, o CEED/CDS apresentou em Quito, no dia 10 de maio de 2012, um relatório no qual se apresentavam as cifras dos gastos orçamentários direcionadas à Defesa durante o período de 2006 a 2010. Segundo o documento, o acumulado dos gastos sul-americanos ocasionados por esse rubro che-gou a um total de US$ 126 bilhões, com uma média anual de US$ 25 bilhões e uma variação média de 18%. Desagregando essas cifras por cada país, nota-se que o orçamento brasileiro perfaz quase metade do total, chegando a 43% dos gastos totais em Defesa na região. O gráfico a seguir mostra a evolução dos gastos.

236

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

Fonte: elaboração própria com base no Registro de Gastos de Defesa Sul-Americano. Disponível em:<http://www.ceedcds.org.ar/Portugues/09-Downloads/PORT-Metodologia_Comun.pdf>. Acesso em: 10 de fev. de 2014.

No que concerne à parcela dos gastos em defesa em relação ao PIB, é possível identificar o nível de prioridade fiscal que é atribuído ao setor Defesa dentro do orçamento nacional total. De um modo geral, a média regional do gasto total de defesa como porcentagem do PIB manteve-se estável, variando entre 0,9% em 2006 e 0,93% em 2010. Entretanto, quando são considerados caso a caso é possível observar que, durante o período contemplado pelo Registro, alguns países expandiram o espaço que o orçamento de defesa ocupava no total das contas públicas nacio-nais de maneira significativa. O caso mais expressivo é o equatoriano, que em 2006 dedicava 1,79% para a Defesa do seu orçamento nacional, mas para o registro de 2010 o reservado para esse setor já atingia os 2,74% do orçamento total.

No componente Gastos de Defesa por Objeto, no qual se registram os rubros para os quais foram aplicados os recursos atribuídos à Defesa, o documento apresenta informações bastante esclarecedoras para entender a eficiência dos gastos militares na região e sobre como essas cifras são utili-zadas. Os gráficos do Registro indicam a enorme disparidade entre o mon-tante destinado à pesquisa na área de defesa vis-à-vis os gastos realizados com Pessoal. O primeiro recebeu em média entre 2006-2010, 0,5% do

237

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

total destinado à defesa, ao passo que os gastos com pagamento de pessoal atingiram 58,7%21, sendo que nesses dados não constam os gastos previ-denciários. Em relação à incidência do gasto total em pessoal sobre o gasto total de defesa na região, apesar do Registro colocar essa informação em bilhões de dólares, convertemos as cifras em porcentagem, o que permite visualizar mais claramente se a parcela dedicada ao pagamento de Pessoal aumentou ou diminui no período em questão. Apesar de ainda continu-ar alta, a parte do orçamento dedicado à Pessoal decresceu. Em 2006, a porcentagem era de 62,77%; e em 2007, de 57,94%; diminuindo para 55,92% em 2008. No ano de 2009 a porcentagem subiu para 58,44%; caindo em 2010 para 57,71%.

A partir de uma análise mais atenta da metodologia desenvolvida no âmbito do CEED para medição dos gastos militares, chamamos a atenção para algumas idiossincrasias do mecanismo. Preliminarmente, destacamos a influência que a experiência em medição padronizada de gastos militares levada a cabo entre Argentina e Chile teve no desenho do instrumento. Com efeito, esses dois países, que foram responsabilizados pelo CDS para desenvolver o registro multilateral de gastos de defesa, imprimiram em sua arquitetura a expertise adquirida na construção da metodologia bilateral de medição de gastos de defesa empregada por eles entre 1999 e 200122. Duas características dessa experiência foram repassadas ao mecanismo do CDS. A primeira delas refere-se à maneira como as cifras de Ajuda Militar Externa são contabilizadas. Ao passo que, por exemplo, o Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI) contabiliza os gastos em ajuda militar nas contas do país doador23, o Registro de Gastos de Defesa Sul-Americano os imputa ao país receptor. Isso reflete uma preocupação com a condição periférica na qual os países da região se encontram no sistema internacio-nal. A elaboração de um desenho metodológico que perceba tal posição é sem dúvida uma mostra do esmero com o qual o mecanismo foi pensa-do. Outro fator significativo na metodologia herdado do mecanismo entre Argentina e Chile é a inclusão de uma categoria de relatório relativa ao financiamento extraorçamentário24. A realocação de recursos para a defesa de áreas não relacionadas é uma variável importante no estudo da dinâmica dos gastos militares sul-americanos. Uma análise fiel desse cenário não es-taria completa se fosse displicente em relação a esse tipo de financiamento.

A iniciativa de instauração de um mecanismo de transparência em gastos militares na América do Sul foi bem sucedida enquanto medida

238

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

de construção da confiança. Entretanto, seu sucesso deve-se menos ao seu resultado – o Registro de Gastos de Defesa Sul Americano – e mais ao próprio processo de sua construção. Ao longo das negociações, todos os países da região procuraram encontrar um ponto de convergência no qual concordaram em compartilhar informações relativas aos seus orçamentos de defesa. De fato, seu estabelecimento é um marco, porém sobressai-se muito mais na dimensão simbólica do que prática.

Muito embora esse Registro de Gastos em Defesa para a Região não seja perfeito, ele constitui inequivocamente um instrumento de cons-trução e consolidação da confiança, colocando a América do Sul como a primeira região a apresentar um instrumento dessa natureza. Analisando suas informações é possível desconstruir a ideia de corridas armamentis-tas na região. Por outro lado, um estudo mais detido das compras mostra que em quase todos os casos referem-se à recuperação e à moderniza-ção de material obsoleto. Como podemos observar na figura a seguir, a maioria das transferências de armamentos para a América do Sul foi realizada durante as décadas de 1970 e 1980, tornando os inventários bélicos, em sua maioria, defasados atualmente.

Fonte: Elaboração própria de acordo com a Base de dados sobre transferência de armamentos do SIPRI. Disponível em: <http://portal.sipri.org/publications/pages/transfer/splash>. Acesso em: 11 de fev. de 201425.

239

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

O documento, por outro lado, permite ver ainda que as compras, se não representam um risco à estabilidade regional, tampouco apresentam a direção para uma cooperação em defesa regional e para a construção de uma “comunidade regional de defesa”. Cada compra obedece a inte-resses nacionais sem procurar um desenho complementar de compras. Isso pode ser constatado nas recentes compras de aviões pelos países da região encarregados a diferentes fornecedores, perdendo a oportunidade de realizar um planejamento cooperativo e racional da compra.

No entanto, consideramos que a região, com todas as suas dificul-dades, tem avançado na construção da confiança e que, embora a preca-riedade institucional da UNASUL e do seu CDS, tem conseguido operar com rapidez e eficácia nas crises que se apresentaram na região, como a interna à Bolívia, na região de Pando; o ataque por forças colombianas à região da Angostura em território equatoriano e o intento norte-ameri-cano de utilizar as bases militares na Colômbia. Hoje pode se disser que, embora a região não esteja imune a crises e conflitos, há mecanismos ins-titucionais que permitem certa prevenção diplomática e agir com rapidez para resolver as controvérsias dentro da sub-região.

Assim, com poucos anos de vida, baixa institucionalidade e excepcio-nal voluntarismo, o CDS depara-se com forças centrífugas e centrípetas que tornam seu presente complexo e o seu futuro incerto. Todavia, a formação de uma integração sul-americana não é de per si um indício de autonomia de-cisória regional ou de aumento da soberania regional, pelo contrário, como afirma Vivian Frias em termos da época da Guerra Fria, a integração “pode se concretar para afiançar o subdesenvolvimento e a dependência colonial, ou pode se realizar para superar o atraso e se liberar da opressão imperialista”26 e isso, acreditamos, dependerá, entre outras coisas, do posicionamento polí-tico da sociedade sul-americana e dos seus líderes políticos.

Héctor Luís Saint Pierre - Pesquisador Pq 2 do CNPq. Professor Titular de Seguran-ça Internacional da Universidade Estadual Paulista (Unesp/ Franca). Professor e coor-denador da área “Paz, Defesa e Segurança” do Programa Interinstitucional (UNESP/Unicamp/PUC-SP) de Pós-graduação em Relações Internacionais “San Tiago Dan-tas”. Coordenador do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança (GEDES). Coordena-dor do Projeto Red Nacional de Estudios Estratégicos. Conta para sua pesquisa com apoio financeiro da FAPESP.Diego Lopes da Silva - Doutorando em Relações Internacionais pelo Programa de PPGRI Santiago Dantas (UNESP-UNICAMP-PUC/SP). É pesquisador do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional desde 2008.

240

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

(1)CHILE DE TODOS. Programa de Gobierno Michele Bachelet 2014-2018. Disponível em

<http://michellebachelet.cl/programa/>. Acesso em: 20 de janeiro de 2014.

(2)Como o interno à Bolívia, na meia lua de Pando, o ataque colombiano ao acampamento de

Reyes na Angostura, o intento norte-americano por se instalar em bases militares colombianas,

(3) CDS. Estatuto del Consejo de Defensa Suramericano. 11 de diciembre de 2008, Santiago,

Chile. Disponível em: <http://www.unasursg.org/inicio/documentos/consejos/consejo-de-

defensa-suramericano>: Acesso em: 11 de fev. de 2014

(4) PERU. Libro Blanco de la Defensa Nacional, 2005. p. 62. Disponível em <http://www.

mindef.gob.pe/vercontenido.php?archivo=menu/libroblanco/index.htm>. Acesso em 17 de

dezembro de 2013.

(5) ARGENTINA. Ley de Defensa Nacional, nº 23.554, 05 de maio de 1988.

(6) GUEVARA, E. “La tarea consiste en fijar los precios que permitan el desarrollo” Ver também,

“Si la Alianza para el Progreso fracasa”. In: Obras Completas. Buenos Aires: Ed. Legasa, 1996

(7) SCHMITT, C. El concepto de lo político. Buenos Aires: Folios Ediciones, 1984. A cita é da

pág. 48 dessa edição.

(8) JUST THE FACTS. U.S. Aid from International Narcotics Control and Law Enforcement,

Entire Region, 2009-2014. Disponível em: <http://justf.org/Program?program=International_

Narcotics_Control_and_Law_Enforcement>. Acesso em: 17 de fev. de 2014..

(9) ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. US Departament of State. Description of programs. Disponível

em <http://www.state.gov/t/pm/rls/rpt/fmtrpt/2006/74680.htm>. Acesso em: 17 de fev. de 2014.

(10) Esse conjunto de votações é explicitado no documento Voting Practices in the United

Nations de cada ano. Entretanto, os critérios de diferenciação da importância das votações não

são discutidos.

(11) Idem.

(12) CARTA CAPITAL. EUA reativam IV Frota e preocupam dirigentes da AL. Disponível

em: <http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/EUA-reativam-IV-Frota-e-

preocupam-dirigentes-da-AL/6/14205>. Acesso em: 03 de fev. de 2014.

(13) BRASIL. Ministério da defesa. Livro Branco da Defesa Nacional, 2012. p. 29.

(14) BRASIL. Ministério da defesa. Estratégia nacional de defesa, 2012. p. 28.

(15) BRASIL. Ministério da defesa. Estratégia nacional de defesa, 2012. p. 29-30.

(16) ORGANIzAçÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Declaração sobre Segurança nas Américas,

México, 2003. Art. 2. Disponível em:

<http://www.oas.org/documents/por/DeclaracionSecurity_102803.asp>. Acesso 11 de fev.

de 2014.

(17) ORGANIzAçÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. VI Conference of Ministers of Defense of

the Americas. 2004. Disponível em: <http://www.oas.org/csh/english/docministerials.asp>.

Acesso em: 11 de fev. de 2014.

241

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

(18) SAINT PIERRE, Héctor Luis. “Defesa” ou “segurança”? “Reflexões em torno de conceitos e

ideologias”. In: SAINT PIERRE, Héctor Luis; MEI, Eduardo (Org.) Paz e guerra: defesa e segurança entre

as nações. São Paulo: Unesp, 2013.

(19) CENTRO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS. Estatuto do Centro de Estudos Estratégicos de

Defesa do Conselho de Defesa Sul Americano. Disponível em: <http://www.ceedcds.org.ar/

Portugues/09-Downloads/PORT-ESTATUTO_CEED_FINAL.pdf> Acesso em: 11 de fev. de 2014.

(20) CENTRO DE ESTUDOS ESTRATEGICOS DE DEFESA. Informe final Diseño de una Metodologia

Común de Medición de Gastos de Defensa. Disponível em: <http://www.ceedcds.org.ar/

Portugues/09-Downloads/PORT-Metodologia_Comun.pdf>. Acesso em: 14 de fev. de 2014.

(21) Operações receberam 23,5% e investimentos 17,3%.

(22) Entre 1999-2001, Argentina e Chile participaram de um exercício de medição padronizada

de gastos militares com o auxílio da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL)

(23) Na definição de gasto militar do SIPRI, gasto em defesa é todo fluxo de capital investido

nas Forças Armadas (incluem-se as Operações de Paz); Ministério de Defesa ou outras agências

governamentais encarregadas de assuntos de defesa; Forças Paramilitares, quando treinadas

e equipadas para operações militares; atividades militares espaciais; pessoal militar e civil;

operações e manutenção; aquisições; pesquisa e desenvolvimento militar; e ajuda militar (despesa

computada nos cálculos do país doador). ECONOMIC COMISSION FOR LATIN AMERICA AND

CARIBBEAN. Methodology for the comparison of military expenditures. Santiago: Office of the Executive

Secretary, 2005. p. 22.

(24) O financiamento extraorçamentário é caracterizado por desembolsos realizados no setor

militar de receitas advindas de outras fontes que não o orçamento regular do Estado destinado à

Defesa, como, por exemplo, atividades comerciais das Forças Armadas. Essa prática iniciou-se nos

períodos nos quais os militares assumiram um papel protagônico, irrompendo prepotentemente

no cenário político nacional para sequestrar o poder de decisão das mãos dos civis. Uma das

fontes de recursos para tal prática é a carga impositiva sobre a extração de recursos naturais. Países

como Chile, Peru, Venezuela e Equador possuem, ou já possuíram, mecanismos que direcionam

parte das receitas da extração de recursos naturais para a Defesa. No caso chileno, por exemplo,

tal vínculo foi estabelecido pela Lei Reservada do Cobre, de 1958.

(25) Para medir as transferências de armamentos internacionais, o SIPRI desenvolveu a unidade

de medida TIV (Trend Indicator Value). “A TIV é baseada nos custos unitários de produção

conhecidos de um conjunto de armas e destina-se a representar a transferência de recursos

militares, ao invés do valor financeiro da transferência. Armas que não têm o custo de produção

conhecidos são comparadas com armas nucleares baseadas em: tamanho e as características de

desempenho (peso, velocidade, alcance e carga útil); tipo de eletrônica, arranjos de carga ou

descarga, motor, rodas, faixas ou armamento e materiais; e no ano em que a arma foi produzida.

Uma arma que já foi utilizada por outro país tem o valor atribuído de 40 por cento do total de

242

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

seu valor caso fosse nova. Uma arma já utilizada, porém, que foi significativamente remodelada

ou modificada pelo fornecedor antes da entrega recebe um valor de 66 por cento de seu valor

original”. Para mais informações da metodologia, acessar <http://www.sipri.org/databases/

armstransfers/background>. Acesso em: 11 de fev. de 2014. (Tradução nossa)

(26) FRIAS, Vivian. Imperialismo y Geopolítica en America Latina. Montevideo: Talleres Gráficos C.I.S.A.,

1967. p. 376.

Referências bibliográficas

ARGENTINA. Ley de Defensa Nacional, nº 23.554, 05 de maio de 1988.ARGENTINA. Ministerio de la defensa. Libro blanco de la defensa, 2010.BRASIL. Ministério da defesa. Livro Branco da Defesa Nacional, 2012.______. Ministério da defesa. Estratégia nacional de defesa, 2012.CARTA CAPITAL. EUA reativam IV Frota e preocupam dirigentes da AL. Disponível em <http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacio-nal/EUA-reativam-IV-Frota-e-preocupam-dirigentes-da-AL/6/14205>. Acesso em: fevereiro de 2014.CDS. Estatuto del Consejo de Defensa Suramericano. 11 de diciembre de 2008, Santiago, Chile. Disponível em: <http://www.unasursg.org/inicio/do-cumentos/consejos/consejo-de-defensa-suramericano>. Acesso em: 11 de fevereiro de 2014.CENTRO DE ESTUDOS ESTRATEGICOS DE DEFESA. Informe final Diseño de una Metodologia Común de Medición de Gastos de Defensa. Disponível em: <http://www.ceedcds.org.ar/Portugues/09-Downloads/PORT-Metodologia_Comun.pdf>. Acesso em: 10 de fevereiro de 2014.______. Plan de Acción del Consejo de Defesa Suramericano 2009. Disponível em: <http://www.ceedcds.org.ar/Espanol/03-Planes_de_Trabajo/03-01--Planes-de-Trabajo.html>. Acesso em: 05 de fevereiro de 2014.______. Plan de Acción del Consejo de Defesa Suramericano 2010-2011. Dis-ponível em: <http://www.ceedcds.org.ar/Espanol/03-Planes_de_Trabajo/03-01-Planes-de-Trabajo.html>. Acesso em: 05 de fevereiro de 2014.______. Plan de Acción del Consejo de Defesa Suramericano 2012. Disponível em: <http://www.ceedcds.org.ar/Espanol/03-Planes_de_Trabajo/03-01--Planes-de-Trabajo.html>. Acesso em: 05 de fevereiro de 2014.CENTRO DE ESTUDOS ESTRATEGICOS DE DEFESA. Plan de Acción del Consejo de Defesa Suramericano 2013. Disponível em: <http://www.ceedcds.org.ar/

243

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

Espanol/03-Planes_de_Trabajo/03-01-Planes-de-Trabajo.html>. Aces-so em: 05 de fevereiro de 2014.______. Estatuto do Centro de Estudos Estratégicos de Defesa do Conselho de Defesa Sul Americano. Disponível em: <http://www.ceedcds.org.ar/Portugues/09--Downloads/PORT-ESTATUTO_CEED_FINAL.pdf> Acesso em 11 de fe-vereiro de 2014.CHILE. Ministerio de Defensa Nacional de Chile. El Consejo de Defensa Surame-ricano: crónicas de su gestación. Santiago de Chile, Julio de 2009. Dispo-nível em: <http://www.resdal.org/csd/gestacion-del-csd-libro-chile.pdf> Acesso em 02 de fevereiro de 2014.ECONOMIC COMISSION FOR LATIN AMERICA AND CARIBBEAN. Me-thodology for the comparison of military expenditures. Santiago: Office of the Exe-cutive Secretary, 2005. ESTADOS UNIDOS DA AMERICA. US Departament of State. Descrip-tion of programs. Disponível em <http://www.state.gov/t/pm/rls/rpt/fmtrpt/2006/74680.htm>. Acesso em: 17 de fevereiro de 2014.______. US Departament of State. Foreign Military Financing. Disponível em: <http://www.state.gov/t/pm/65531.htm>. Acesso em: 17 de feverei-ro de 2014.______. Voting Practices in the United Nations. Disponível em: <http://www.state.gov/p/io/rls/rpt/>. Acesso em 15 de fevereiro de 2014.FRIAS, Vivian. Imperialismo y Geopolítica en America Latina. Montevideo: Talle-res Gráficos C.I.S.A., 1967. GUEVARA, E. La tarea consiste en fijar los precios que permitan el desarrollo. In: Obras Completas. Buenos Aires: Ed. Legasa, 1996.______. Si la Alianza para el Progreso fracasa. In: Obras Completas. Buenos Aires: Ed. Legasa, 1996.JUST THE FACTS. U.S. Aid from International Narcotics Control and Law Enfor-cement, Entire Region, 2009-2014. Disponível em: <http://justf.org/Program?program=International_Narcotics_Control_and_Law_Enforce-ment>. Acesso em: 17 de fevereiro de 2014.ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Declaração so-bre Segurança nas Américas, México, 2003. Art. 2. Disponível em: <http://www.oas.org/documents/por/DeclaracionSecurity_102803.asp>. Acesso 11 de fevereiro de 2014.______. VI Conference of Ministers of Defense of the Americas. Decla-ration of Quito, 2004. Disponível em: http://www.oas.org/csh/english/

244

TerriTorialidades e enTrecruzamenTos geopolíTicos na américa laTina

docministerials.asp Acesso em 11 de fevereiro de 2014.PERU. Libro Blanco de la Defensa Nacional, 2005. Disponível em: <http://www.mindef.gob.pe/vercontenido.php?archivo=menu/libro-blanco/index.htm>. Acesso em: 17 de fevereiro de 2014.PROGRAMA de Gobierno Michele Bachelet 2014-2018. Disponível em: <http://michellebachelet.cl/programa/>. Acesso em: 07 de feverei-ro de 2014.SAINT PIERRE, Héctor Luis. “Defesa” ou “segurança”? Reflexões em torno de conceitos e ideologias. In: ______; MEI, Eduardo (org.). Paz e guerra: defesa e segurança entre as nações. São Paulo: Unesp, 2013.SCHMITT C. El concepto de lo político. Buenos Aires: Folios Ediciones, 1984.SIPRI. Military Expenditure database. Disponível em: <http://portal.sipri.org/publications/pages/expenditures/splash-expenditures>. Acesso em: 14 de fevereiro de 2014.______. Arms tranfers database. Disponível em: <http://portal.sipri.org/pu-blications/pages/transfer/splash>. Acesso em: 14 de fevereiro de 2014.