Os “subalternos” e os projetos de democracia popular nas organizações da sociedade civil...
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Semiedu 2010Educação, Formação de Professores e suas Dimensões Sócio-
Históricas: Desafios e Perspectivas21 a 24 de novembro
GT 11 – Movimentos Sociais e Educação
Os “subalternos” e os projetos de democracia popular nas
organizações da sociedade civil brasileira: a formação de
sujeitos político-pedagógicos em Nova Iguaçu/ Baixada
Fluminense
Leonardo de Abreu VoigtGraduando de bacharelado e licenciatura em Ciências Sociais na
Universidade Federal Fluminense, membro do Núcleo de estudos e
pesquisas em Filosofia, Política e Educação (Nufipe/FE) e do
Observatório Fundiário Fluminense (OBFF/ICHF)
Michel SerpaGraduando em Pedagogia na Universidade Federal Fluminense, membro do
núcleo de estudos e pesquisas em Filosofia, Política e Educação
(Nufipe/FE)
Resumo
Tendo como base de referência o projeto de pesquisa em
andamento “A construção da democracia popular nas
organizações da sociedade civil da Baixada Fluminense”, sob
orientação dos professores Giovanni Semeraro e Percival
Tavares, buscamos aproximar as experiências vividas tanto
pela Federação das Associações de Moradores de Nova Iguaçu
(MAB), o qual começa a se delinear na primeira metade da
década de 70 e a ganhar força com o abrandamento gradual da
repressão da ditadura militar (1964-1985), especialmente
após 1978, como pelo Sindicato Estadual dos Profissionais
da Educação (SEPE), surgido legalmente como sindicato
apenas após a Constituição Federal de 1988, começando a
tomar forma a partir da Sociedade Estadual dos Professores
do Rio de Janeiro (SEP/RJ), fundada em 1977, também em Nova
Iguaçu, com as contribuições teóricas de Antonio Gramsci
acerca do conceito de “subalternidade”, onde buscamos
caracterizar esses movimentos, divulgar e explicitar
algumas de suas mobilizações, inciativas e estratégias
programáticas de ação mais contundentes, através das quais
os “subalternos”, como nos ajudará a conceituar Simionato
(2009), se sublevaram e lograram avanços significativos
tanto no que concerne demandas específicas, ganhos
materiais em infraestrutura e equipamentos urbanos como no
sentido da formação de novos sujeitos sociais político-
pedagógicos, dedicados à construção de um projeto de
sociedade aberto à participação de todos. Contudo, cabe
também ressaltar que apesar do notável histórico de
mobilizações demonstrado através da bibliografia trabalhada
bem como pelos relatos cedidos por integrantes das
organizações observadas, contamos hoje com um difícil
quadro de mobilização, porém, atuante, foco de contínuas
cooptações e armadilhas por parte dos quadros burocráticos
estatais, partidos políticos em geral, assim como
representantes da classe dominante em diversos campos de
atuação.
Palavras Chave: Filosofia, Política, Democracia, Educação
Introdução
No sentido de identificar os nexos entre as
trajetórias e transformações de importantes modelos de
organizações populares desenvolvidos nas regiões da Baixada
Fluminense e, especificamente, em Nova Iguaçu, bem como o
surgimento e o perfil de novos sujeitos políticos engajados
a estas organizações a partir dos anos 60/70 e ao longo do
processo de democratização levado a cabo no Brasil a partir
dos anos 80, com as contribuições teóricas de Antonio
Gramsci acerca do conceito de “subalternidade”, buscamos
recuperar a história político-pedagógica desses movimentos
populares, visando delinear a evolução política destas
organizações da sociedade civil na luta pela democratização
dos processos decisórios em sua região.
Nova Iguaçu – História e Números
Tendo o território geográfico e político de Nova
Iguaçu como palco dessas expressivas mobilizações
históricas ora apresentadas, nos cabe situar esta região
apontando algumas significativas transformações vividas
pela mesma desde suas origens até a atualidade.
Localizando-se aproximadamente a 32 quilômetros ao
norte da cidade do Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense,
Nova Iguaçu, antiga Vila de Iguassú, possui 1.344 km²
quando da sua fundação em 1833.
Como nos informa Silva (2004), trata-se de uma região
caracterizada ao longo de sua história pela deficiência
infra-estrutural, populações carentes e abandono do poder
público, passando de zona intermediária nos períodos
colonial e imperial, especialmente de escoamento de café,
para uma zona de passagem rápida a partir do assoreamento
de seus rios e a construção das ferrovias por Mauá, no ano
de 1854 em diante.
Se em 1833 a antiga Vila de Iguassú possuía 1.344km²,
já em 2000, segundo IBGE, o município de Nova Iguaçu fica
reduzido a 524 km² em decorrência das consecutivas
emancipações ocorridas na Baixada Fluminense durante todo o
século 20, começando por Duque de Caxias (1944), tendo em
seguida São João de Meriti (1947), Nilópolis (1947),
Belford Roxo (1993), Japeri (1993), Queimados (1993), Nova
Iguaçu (1993) e, finalmente, Mesquita (2000).
No que tange seu contingente populacional, segundo
Silva (2004) e dados do IBGE, entre 1929 e 1940, sua
população quadruplica: de 33.396 salta para 140.606. Em
1950 é de 145.649 habitantes; em 1960 é de 359.364 e em
1970 é de 727.140. Se em 1950 sua população rural
corresponde a 46,60% do total, em 1980 se vê reduzida a
0,29%. Finalizando, apesar de tudo, com um inchamento
urbano mais lento, Nova Iguaçu transforma-se então, segundo
o último censo demográfico (2000), na sétima cidade do País
com 1.094.805 habitantes.
E é nesse enorme aglomerado urbano, em geral composto
de mão-de-obra não qualificada disposta a vender sua força
de trabalho na grande metrópole sedenta por estes tipos de
serviços a baixos custos, que começa a se manifestar nos
inícios dos anos 60 uma crescente insatisfação popular
expressa no voto mais a esquerda, na mobilização camponesa
das ocupações de terras e na “revolta popular” (Alves, 2003
apud Silva, 2004).
Os Subalternos
E a esses sujeitos em condição, no mínimo, degradante,
imposta através do regime de manipulação hierárquica e
desigual do poder e da produção, Antonio Gramsci chamará de
“subalternos”, alternativa teórica essa que faz fugir da
armadilha lógica imposta pelo suposto “messianismo”
proletário-operário presente em grande medida na teoria
marxista positivista, abarcando todo um conjunto de
categorias em um recorte classista que antes se via
impossibilitado pela idéia da “ditadura do proletariado”.
(MARX, s/d)
Como nos ensina Simionato (2009), apesar do conceito
de subalternidade já aparecer nos escritos pré-carcerários
do autor, somente nos Cadernos do Cárcere este ganha um
significado ampliado, “demarcando seus nexos dialéticos com
o Estado, a sociedade civil, a hegemonia, a ideologia, a
cultura, e a filosofia da práxis.”. Ao invés de isolar os
trabalhadores fabris, em geral, de todos os explorados do
sistema capitalista, o conceito de subalternidade exige uma
série de mediações, como continua a autora, “[...], tais
como suas relações com o “desenvolvimento das
transformações econômicas”; sua “adesão ativa ou passiva às
formações políticas dominantes”; as lutas travadas a fim de
“influir sobre os programas dessas formações para impor
reivindicações próprias”; a formação de “novos partidos dos
grupos dominantes, para manter o consenso e o controle dos
grupos sociais subalternos; a caracterização das
reivindicações dos grupos subalternos e “as formas que
afirmam a autonomia”(GRAMSCI, 2002, p.140 apud SIMIONATO,
2009, p. 42).
Em última análise, como conceitua Simionato de forma
sucinta, “A categoria “subalterno” e o conceito de
“subalternidade” têm sido utilizados, contemporaneamente,
na análise de fenômenos sociopolíticos e culturais,
normalmente para descrever as condições de vida de grupos e
camadas de classe em situações de exploração ou destituídos
dos meios suficientes para uma vida digna.”(SIMIONATO,
2009, p. 42). Contudo, a autora afirma ainda que ao tratar
das classes subalternas não poderíamos parar por aí:
“Trata-se de recuperar os processos de dominação presentes
na sociedade, desvendando “as operações político-culturais
da hegemonia que escondem, suprimem, cancelam ou
marginalizam a história dos subalternos” (BUTTIGIEG, 1999,
p. 30 apud SIMIONATO, 2009, p. 42).
E seguindo esses passos, analisamos mais
detalhadamente as mobilizações urbanas levadas a cabo pelos
sujeitos políticos coletivos investigados no presente
trabalho.
Mobilizações Urbanas
Desde 1945 nota-se a existência de tentativas isoladas
de organizar a população de Nova Iguaçu pela obtenção de
serviços urbanos, contudo, somente por volta de 1950 é que
se formam as primeiras associações de bairro. Os movimentos
gerados por essas primeiras associações – Associações Pró-
Melhoramentos de Bairro e Centros Pró-Melhoramentos de
Bairros – se expandem entre os anos de 1958 e 1964, anos
finais do que se convencionou chamar de ‘populismo’,
chegando a ser realizado em 1960 o I Congresso do Movimento
Amigos de Bairros de Nova Iguaçu, pressionando o poder do
Estado e obtendo, inclusive, algumas concessões junto à
prefeitura, sob a liderança do PCB (Partido Comunista do
Brasil), antes de sua subdivisão em 1962(Silva, 2004).
Após decreto do Ato Institucional nº 5 (AI – 5) de
1968, a eficácia da repressão militar reduz esse movimento
a reivindicações isoladas, desarticulando a coordenação
entre os bairros. Como resposta e alternativa as
perspectivas mobilizatórias e reivindicativas da comunidade
nesse momento, temos a priorização, por parte da Diocese de
Nova Iguaçu, na pessoa de D. Adriano Hipólito, das
Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s), acabando por exercer
um papel subsidiário importantíssimo frente a carência de
movimentos sociais, a falta de espaço e a repressão.
Sujeitos Políticos Coletivos de Nova Iguaçu – MAB e SEPE
Em meio a esse contexto sócio-político observamos o
surgimento dos dois movimentos sociais tomados como objeto
de pesquisa. O Movimento Amigos de Bairros de Nova Iguaçu
(MAB), o qual começa a se delinear na primeira metade da
década de 70 e a ganhar força com o abrandamento gradual da
repressão, especialmente após 1978; e o Sindicato Estadual
dos Profissionais da Educação (SEPE), este que, desde o
final de 1976, havia começado um movimento de professores
de História, Geografia e Ciências Sociais contra as
tentativas de implantação da disciplina “Estudos Sociais”
nas redes de ensino, tendo como sua associação de origem a
Sociedade Estadual de Professores do Rio de Janeiro
(SEP/RJ), fundada em 1977.
Movimento Amigos de Bairros de Nova Iguaçu (MAB)
Péssimas condições de vida da população associadas à
intervenção da Cáritas Diocesana de Nova Iguaçu e seus
agentes na assistência ambulatorial, aos agentes de
pastorais de uma diocese progressista, intelectuais de
esquerda, líderes das lutas pré-64, bem como a presença de
novos militantes nos bairros vão favorecer o surgimento e
desenvolvimento desse movimento urbano.
Após quase duas décadas de controle bem articulado
pelo Estado, setores sociais locais começam a se
insubordinar contra o aparato de dominação montado pelo
regime militar com o intuito de esfacelar as oposições
montadas pela comunidade e instalar aliados a frente de
cargos burocráticos clientelistas e dos mecanismos ilegais
de obtenção de recursos (Silva, 2004).
Nesse momento, somando-se o apoio de alguns poucos
políticos do MDBi e o da Igreja, principalmente, a entrada
de novos personagens na cena política do movimento através
do seu trabalho de conscientização e de apoio a organização
popular, as declarações públicas de D. Adriano Hipólito
contra políticos da região, a organização de moradores num
crescendo em associações para pressionar o prefeito por
melhorias, a realização de prestação de contas e audiências
públicas por pressão da população, a manifestação de
vereadores, deputados e populares a favor de eleições
diretas, entre outras, faz com que, no entanto, o fantasma
da repressão militar, como nos conta Silva (2004), se
radicalize em práticas de terrorismo e ilegalidade, na
tentativa de segurar a mobilização popular que ganhava
força na época.
Em 22 de setembro de 1976, D. Adriano Hipólito é
seqüestrado por um grupo paramilitar e torturado na Vila
Militar; três igrejas de Nova Iguaçu amanhecem pichadas
contra o “bispo comunista” em 3 de novembro de 1979; uma
bomba explode em dezembro de 1979 sob o altar da Catedral e
i O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) foi um partido políticobrasileiro que abrigou os opositores do Regime Militar de 1964 ante opoderio governista da Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Organizadoem fins de 1965 e fundado no ano seguinte, o partido se caracterizoupor sua multiplicidade ideológica graças sobretudo aos embates entreos "autênticos" e "moderados" quanto aos rumos a seguir noenfrentamento ao poder militar. Inicialmente raquítico em seudesempenho eleitoral, experimentou grande crescimento no governode Ernesto Geisel obrigando os militares a extinguirem obipartidarismo e assim surgiu o Partido do Movimento DemocráticoBrasileiro em 1980. (Wikipedia, a enciclopédia livre. Acessado em01/10/2009)
em 1981 ocorrem casos de espancamento, violações de
correspondência e visitas com interrogatórios estranhos
atingindo lideranças populares de bairros e da Igreja
Católica.(Silva, 2004)
Contudo, seguindo o quadro da conjuntura nacional em
que os movimentos sociais começam a se reorganizar, as
associações de bairros se tornam o principal instrumento de
organização na Baixada Fluminense, juntamente com os CEB´s,
onde destacamos as atuações do MAB, do Movimento de União
de Bairros de Duque de Caxias (MUB) e da Associação de
Bairros e Moradores de São João de Meriti (ABM), no final
dos anos 70 e no começo dos anos 80.
Desse momento em diante, além de lutar para que seja
mantida a audiência pública junto aos Executivos Municipais
que se sucedem, o MAB atua, principalmente, nos Movimentos
dos Conjuntos Habitacionaisii e dos Transportesiii; nas lutas
pelo Saneamento Básicoiv, pela Saúdev e pela Educaçãovi; no
impeachment do Prefeito Paulo Leonevii; na participação nos
conselhos comunitários e municipais entre outros; na Câmara
itinerante e nas Audiências Públicas para elaborar a Lei deii Inícios de 1979. Sem dúvida luta por serviços urbanos de maiordimensão na história de Nova Iguaçu (Silva, 2003).
iii Única luta a merecer destaque em 1982 (ib).
iv Principal problema identificado pela maioria das associações demoradores da baixada fluminense desde 1984 (ib).
v Pauta de lutas desde 1980 (ib).
vi Papel preponderante do SEPE, principalmente nos anos 80 (ib).
vii A partir de 1985, o combate a corrupção municipal torna-se aprincipal luta do MAB (ib).
Diretrizes Orçamentárias, em 2003; na luta pela conclusão
das obras de instalação do CEFET (Centro Federal de
Educação Tecnológica) de Nova Iguaçu e na luta recente por
uma universidade pública na área (Silva, 2004).
De 1992 em diante o MAB praticamente inexiste enquanto
força política no município, abrindo espaço para que o
Partido Democrático Trabalhista (PDT), estando melhor
articulado, interviesse de forma clientelística junto as
Associações de Moradores, enquanto tínhamos as outras
forças trabalhando desarticuladas e sem um norte comum.
Contudo, ao observarmos a entrevista realizada com
Maria de Lourdes em 27/10/2008, diretora de políticas
sociais do movimento à época, percebe-se uma visão crítica
dessas práticas clientelistas, tanto nas relações com o
poder público como nas próprias relações internas do MAB:
“[...] ... porque as vezes, como eu acabei de falar, a
população acha que a associação tem que ser ... é ...
assistencialista, né? Dar alguma coisa, ou cesta básica ou
alguma coisa para eles participarem, e a gente tem uma luta
muito grande para mostrar pro povo que convive conosco lá
no bairro que o papel não é esse, nós temos outras coisas a
[...] praticar, como seja, é... exigir até que é nosso
direito como cidadão a participação que, [...] por exemplo,
na lei, né? Na LDO (Lei das Diretrizes Orçamentárias), na
PPA (Plano Plurianual), enfim, a gente tem que estar lá na
câmara participando, dizendo para os vereadores o que é que
nós queremos, entendeu?” (entrevista Maria de Lourdes,
27/10/2008)
Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de
Janeiro (SEPE/RJ)
O SEPE, assim como o MAB, é uma das inúmeras
organizações políticas que surgem no final dos anos
setenta, ainda no período da ditadura militar, quando esta
já dava sinais de esgotamento. Como já vimos, surgida
legalmente como sindicato apenas após a Constituição
Federal de 1988, começa a tomar forma a partir da Sociedade
Estadual dos Professores do Rio de Janeiro (SEP/RJ),
fundada em 1977, como nos conta Emílio Araújo:”O SEPE surge
de organizações remanescentes de professores, ou seja,
organizações de caráter associativo, recreativo, etc., que
não tinham caráter sindical. Organizações politizadas nesse
processo, ou seja, organizações que foram assumidas por
lideranças do partido comunista, lideranças do PMDB
(Partido do Movimento Democrático Brasileiro)viii,
lideranças de outras organizações de esquerda, inclusive no
enfrentamento com militantes de organizações de extrema
esquerda, como da Convergência Socialista, ou da Democracia
Socialista, entre outras. [...] E que por força desse
viii O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) é o maiorpartido político brasileiro, apesar de não ter elegido nenhumPresidente da República através do voto direto. Fundado em 1980,possui uma orientação política centrista e é sucessor do MovimentoDemocrático Brasileiro, legenda de oposição ao Regime Militar de 1964.O PMDB é o partido político brasileiro que possui o maior número defiliados, bem como de prefeitos, vereadores e governadores de estados,além de ter a maior representação no Congresso Nacional. Seu códigoeleitoral é o 15.(Wikipedia, a enciclopédia livre. Acessado em01/10/2009)
processo tanto de reconstrução ou de reorganização dessas
associações, dando a elas um caráter mais político e,
conseqüentemente, mais sindical de enfrentamento, também
levou a uma disputa, que era uma disputa pelo poder dessas
organizações, pelo direcionamento que elas teriam. E foram
organizações que, desde o primeiro momento, tiveram uma
associação muito forte, refiro-me aqui especificamente ao
SEPE, com o que era a trajetória do MDB. O PMDB vai existir
a partir de 1982 com a reforma partidária. E portanto são
as organizações de esquerda mais fortes, em particular o
PCB (Partido Comunista Brasileiro)ix, ele e seus militantes
que estavam na clandestinidade, e militavam dentro do MDB.
E o SEPE, ele surge nesse contexto. É evidente que também,
como é uma organização que surge com a contestação muito
forte à burocracia sindical getulista, ao controle do
Estado sobre as organizações sindicais, também tem como
marca a reivindicação da independência em relação ao
Estado, da crítica e questionamento ao imposto sindical, à
obrigatoriedade de contribuição sindical, etc.”
Segundo Alvarenga e Quintanilha (1991, 1997 apud
Najjar, 2004), nesse universo de professores em processo de
organização, dois grupos distintos podiam ser
identificados: um de professores com vasta experiênciaix O Partido Comunista Brasileiro (PCB) é um partido político brasileiro de esquerda, ideologicamente baseado em Karl Marx e Friedrich Engels; e de organização baseada nas teorias de Lênin. E seusímbolo, segundo seus estatutos, "é uma foice e um martelo, cruzados, simbolizando a aliança operário-camponesa, sob os quais está escrita alegenda "Partido Comunista Brasileiro". Também conhecido como Partidão, seu número eleitoral é o 21.(Wikipedia, a enciclopédia livre. Acessadoem 01/10/2009)
profissional que se mobilizavam especialmente em função das
condições precárias de trabalho a que estavam submetidosx;
e outro de jovens professores, recém-saídos da universidade
e que já tinham uma história de vinculação com o também
renascente movimento estudantil, possuindo estes últimos
uma formação, em geral, de esquerda e visavam
principalmente discutir questões políticas mais gerais, em
busca de uma democratização mais radical da sociedade
brasileira.
Apesar do receio de vários desses professores com
relação à institucionalização do movimento e uma possível
burocratização da organização, esta acaba sendo fundada em
meados de 77, em assembléia com cerca de 150 participantes
na Casa do Estudante Universitário, contando com a grande
maioria dos participantes oriundos dos municípios de Rio de
Janeiro, Niterói e Campos. Em 1978 começa suas atividades
realmente, lançando uma campanha salarial com passeatas e
várias manifestações, demandando um aumento salarial de 65%
para esses profissionais(Najjar, 2004).
Daí em diante o movimento segue uma ascendente: 800
participantes no I Encontro Estadual de Professores do
SEP/RJ em 1978; 1000 pessoas em assembléia realizada no
auditório da Associação Brasileira de Imprensa em março de
1979xi culminando com a assembléia do dia 11 de março dox Um dado importante a ser salientado segundo Najjar é o fato da unificação recente do estado do Rio de Janeiro, o que trazia enormes problemas para o funcionalismo(Najjar, 2004)
xi Assembléia em que é organizada pauta de reivindicações ao Governo Faria Lima em contagem regressiva para seu término.
mesmo ano, em Niterói, onde se encontraram cerca de 5.000
participantes, começando então uma greve por tempo
indeterminado, apesar de pressões e tentativas de cooptação
(promessa de uma sede para a entidade) levadas a cabo pelo
governo durante a primeira greve de professores no estado
após o golpe militar de 1964.
Tal medida faz com que o governador em função, Chagas
Freitas, se comprometa publicamente a atender as
reivindicações do movimento apelando para que fosse
encerrada a greve, pedido este que é atendido pela
categoria na assembléia de 25 de março.
Em junho do mesmo ano temos ainda a fusão do SEP/RJ
com outras duas entidades de professores existentes no Rio
de Janeiro: a União dos Professores do Rio de Janeiro
(UPRJ) e a Associação dos Professores do Estado do Rio de
Janeiro (APERJ), fazendo surgir desta o Centro Estadual de
Professores do Rio de Janeiro (CEP/RJ), valendo lembrar,
ainda, que desse processo não participaram nem o Sindicato
dos Professores (SINPRO) e nem a União dos Professores
Primários do Estado do Rio de Janeiro (UPPE).
Tendo o Governador Chagas Freitas não cumprido a
promessa de acatar as reivindicações do movimento, um pouco
depois da supracitada fusão uma nova greve se instala em
agosto de 1979, não contando, contudo, com o mesmo
potencial de mobilização da anterior. Somando-se a isso,
temos que a reação do governo estadual foi muito mais dura,
prendendo membros da diretoria e se articulando com o
governo federal no sentido de inviabilizar a existência
legal da própria entidade, o que veio a se materializar
através do Decreto nº 8.383 que previa a cassação do
registro civil do CEP e proibia suas atividades. Assim,
depois de 22 dias de greve o movimento foi encerrado
(Najjar, 2004).
Apesar da ilegalidade atribuída pelo Estado, o CEP
continua a funcionar normalmente, não obstante, realizando
em novembro de 1979 suas eleições para a diretoria da
entidade, pondo em movimento 10.000 dos cerca de 12.000
associados.
Em agosto de 1980 temos a realização do II Encontro
Estadual do CEP, palco de organização do que seria, entre
os meses de setembro e novembro desse mesmo ano, a greve de
professoras conveniadas da zona rural, contando com a
participação de cerca de 5.000 professoras. A vitória nesta
greve deu grande visibilidade ao CEP/RJ nos municípios do
interior, sendo as professoras efetivadas e seus salários
quadruplicados, contribuindo assim para o fortalecimento da
entidade em todo estado do Rio de Janeiro.
Em junho de 1981 acontece o III Encontro Estadual de
Professores e em dezembro desse mesmo ano é realizada
assembléia extraordinária, contando com a participação de
130 professores, que, principalmente, deliberou pela
filiação do CEP/RJ a Confederação dos Professores do Brasil
(CPB; entidade que futuramente vem a se chamar Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE), contando
ainda nas reivindicações com a pauta de eleições diretas
para diretores de escola, esta que passa a se tornar
recorrente no movimento.
Com a eleição de Brizola para o Governo do Estado em
1983, junto da grande expectativa de mudança,
particularmente, na área da educação, tanto pela sua
atuação como governador do Rio Grande do Sul como pelo teor
da sua campanha, são retirados os entraves jurídicos
existentes desde 1979 e o CEP/RJ volta a legalidade. Esse
movimento permite um grande impulso à entidade, que em 1984
já possuía 32 núcleos, em cerca da metade dos municípios do
estado.
Somando-se a cooptação de vários elementos do
movimento, muito devido ao carisma de Darcy Ribeiro, que
então desenvolvia o projeto dos CIEP´s, junto ao caráter
marcadamente populista do governo Brizola, as relações com
o CEP/RJ começam a se deteriorar, chegando a ser de franca
hostilidade, culminando com mais um período de greve, este
iniciado em 31 de março de 1986, a primeira no governo de
Brizola, contando com uma mobilização massiva da categoria.
20.000 professores, reunidos no Maracanãzinho, paralisam
praticamente toda a rede de ensino.
Em 1987 ocorre o III Congresso do CEP/RJ. Como conta
Najjar (2004), o congresso é a instância máxima de
deliberação na estrutura dessa entidade, se situando acima
das Conferências Estaduais, das Assembléias Gerais, do
Conselho Deliberativo e da Diretoria, sendo as decisões
nele tomadas só passíveis de mudança em outro Congresso.
Nestes Congressos as questões políticas, educacionais e
organizativas são discutidas por delegados especialmente
eleitos nas escolas para esse fim, e são neles que se
expressam com maior intensidade as diversas concepções que
compõem o interior do movimento.
Em 11 de julho de 1988 mais uma greve, esta e suas
manifestações são acompanhadas fortemente de aparatos
policiais, que em diversos momentos vem a fazer uso de
violência contra os grevistas. Entre 24 e 26 de junho, em
meio à greve, é realizado Congresso Extraordinário, que
dentre outras coisas, mudou o nome da entidade de Centro
Estadual de Professores do Rio de Janeiro (CEP/RJ) para
Centro Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de
Janeiro (CEPE/RJ), sacramentando no nome as mudanças
ocorridas na base de sustentação da entidade.
Em função da nova Constituição Federal, de 12 de
novembro desse mesmo ano, estende-se o direito de
sindicalização aos funcionários públicos, passando o
CEPE/RJ a se tornar oficialmente um sindicato, mudando seu
nome para SEPE/RJ (Sindicato Estadual dos Profissionais da
Educação do Rio de Janeiro), nome esse que se mantém até
hoje.
Já em agosto de 1992 temos o I Congresso de Educação e
Unificação, onde se dá a incorporação da Associação dos
Supervisores Educacionais do Rio de Janeiro (ASSERJ) e da
Associação de Orientadores Educacionais do Estado do Rio de
Janeiro (AOERJ), fazendo com que essa entidade passasse a
representar todos os diferentes profissionais de educação
do estado.
Todavia, histórica é a luta levada adiante durante o
governo Altamir Gomes, aprofundada em 1996, com uma greve
de cerca de 8 meses de duração por conta de 7 meses de
salários atrasados dos profissionais da educação do
Município, vivendo uma grave crise administrativo-
financeira. Nesse momento, o espólio dos professores chega
ao ponto de sequer disporem de dinheiro para se deslocarem
para seus locais de trabalho. Visando solucionar a situação
da carga horária das aulas na rede municipal de ensino
acarretada pela paralisação, o prefeito Nelson Bornier, que
assume em 1997, dispõe sobre o Sistema de Avaliação Especial dos
alunos da rede municipal para o ano de 1996: “devido à
greve geral dos professores ficam automaticamente aprovados
todos os alunos (...) regularmente matriculados na rede
municipal” (Decreto 5.785, Atos Oficiais JH 02/01/1997 apud
Najjar, 2004)
Atualmente, em pleno governo Lindberg Farias (mesmo
com a saída do mesmo para disputa pelo senado), luta por
legislação que efetive os processos de eleição de diretores
das escolas e creches da rede municipal de Nova Iguaçu,
tendo sua primeira eleição desse tipo realizada em 1987 e
seu novo imbróglio jurídico para tais eleições a partir do
governo Rosinha Garotinho (2003 – 2007).
Conclusão
À guisa de conclusão, apesar do notável histórico de
mobilizações demonstrado através da bibliografia trabalhada
bem como pelos relatos cedidos pelos sujeitos políticos,
hoje encontramos um difícil quadro de mobilização, porém,
atuante, foco de contínuas cooptações e armadilhas por
parte dos quadros burocráticos estatais, partidos políticos
em geral, assim como representantes da classe dominante em
diversos campos de atuação.
Referências Bibliográficas
GRAMSCI, A., Cadernos do Cárcere, 6 vols., Civilização
Brasileira, Rio de Janeiro, 2006.
MARX, K. – ENGELS, F., Manifesto do Partido
Comunista. In: Karl Marx e Freidrich Engels: Obras
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