Os Senhores de Avintes na Idade Média
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Comunicação ao 18º Fórum Avintense – 2007
Os Senhores de Avintes na Idade Média
séc. X – XV.
Por: Paulo Costa
Conhecer quem foram os senhores de Avintes, desde Gondesendo
Eriz, ou como conhecemos D. Gundesindo, mostrou-se um desafio assaz
complexo, sobretudo pela escassez de provas documentais inequívocas.
Avintes nunca foi cabeça de linhagem. Isto é, o seu nome não serviu
para identificar as famílias de Ricos Homens que dominaram a cena
socio-política medieval, tais como Marnel, Sousa, Soverosas, Maia,
Briteiros, etc. Estas famílias tomaram os apelidos das terras onde
possuíam a sede dos seus senhorios.
Esta investigação teve por antecedente outra que efectuei para o
período moderno, século XVII e XVIII1, há mais de 10 anos, onde pude
determinar a sucessão dos senhores de Avintes até aos primeiros
condes e que descriminei em quadro que repito em anexo.
A obra memorialista de Osório Gondim2, a monografia de
Filomena Amaral3, o dicionário coreográfico de Pinho Leal4, o de
Américo Costa5 e a enciclopédia Portuguesa Brasileira6, foram na altura
os passos iniciais em tentar descobrir as pistas por onde se
Licenciado em Ciências Históricas; Vice-presidente da AUDIENTIS – Centro de Documentação e
Investigação em História Local, CRL 1 COSTA, Paulo Jorge Cardoso de Sousa e, Os Espaços de Vivência no Vale Inferior do Febros nos
séculos XVII e XVIII, Vila Nova de Gaia, E/A – policopiada, 1996/2006. 2 GONDIM, Inocêncio Osório Lopes, Avintes e as Suas Antiguidades, Avintes, Junta de Freguesia de
Avintes, S/D 3 AMARAL, Ana Filomena Leite, Avintes. Na margem esquerda do Douro, Avintes, Junta de Freguesia
de Avintes, 1993 4 LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho, Portugal Antigo e Moderno Diccionario
Geographico, Estatístico, Chorographico, Heraldico, Archeologico, Histórico, Biografico e
Etymologico., 2º Vol, Lisboa, Livraria Editorial de Mattos Moreira & cª., 1880 5 “Avintes”, COSTA, Américo, Diccionario Chorographico de Portugal Continental e Insular, 2º Vol.,
Porto, Livraria Civilização, 1930. 6 “Avintes”, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, 3º Vol, Lisboa – Rio de Janeiro, Editorial
Enciclopédia, Lda, S/D.
desenvolveria a investigação. Depois a investigação envolveu outras
obras de autores coevos, saliento Frei Leão de S. Tomás7, Felgueiras
Gayo8 e frei António Assunção Meireles9. João Pedro Ribeiro pelos
apontamentos que retirou do mosteiro de Santo Tirso também foi uma
fonte extremamente importante10.
Quando tracei o mapa de quem eram os proprietários deste
território e comecei a consultar os seus livros de Tombo e
contabilidades, fui pouco a pouco levantando o véu sobre qual seria a
realidade anterior a este período. Fui percebendo que a grande família
dos Almeidas, os condes de Avintes, ganharam o senhorio por
casamento, primeiro nos finais do século XVI, e depois em meados do
século XVII, e nunca a haviam possuído de avoenga.
Nos alvores do século XVI, 1505, foi senhor, já não da Honra, mas
do Couto de Avintes, Fernão Brandão Pereira, filho secundogénito do
Contador-mor da alfândega do Porto João Brandão, e que nesse ano se
casou com Isabel de Pina, a filha do cronista do reino Rui de Pina,
ascendendo assim à corte. Lá seria camareiro do infante filho de D.
Manuel, D. Fernando. Este cavaleiro da ordem de Santiago, fidalgo da
casa real, nesse ano de 1505 contratava um prazo de três vidas de três
gerações com o Mosteiro de Santo Tirso da Quinta de Avintes e seus
casais e do condado do pescado. A partir dessa data passou a ostentar,
por cima do portal da capela de São Brás a sua pedra de Armas, dos
Brandões e dos Pereiras. Sucedeu-lhe seu filho Diogo Brandão, e depois
sua filha Isabel Brandoa, que casou com D. Francisco de Almeida. A ela
sucedeu D. João de Almeida, capitão na índia, conselheiro do rei Filipe
III, que renovou o prazo com o Mosteiro em 1613. A D. João de Almeida
sucedeu a sua filha que veio a casar com o primo D. Luís de Almeida, o
fidalgo que adquiriu o título por mercê régia de 1664 de 1º conde de
7 S. TOMÁS, Frei Leão de, Benedicta Lusitana, Tomo 2º, Coimbra, Impresso na officina da
Universidade, 1651 8 GAYO, Manuel José da Costa Felgueiras, Nobiliário de Famílias de Portugal, 12 Vol., Braga, Edição
de Carvalho Basto, 1989 9 MEIRELES, Frei António da Assunção, Memórias do Mosteiro de Pombeiro, Lisboa, Academia
Portuguesa de História, 1942 10
CRUZ, António, Breve estudo dos manuscritos de João Pedro Ribeiro, Coimbra, Universidade de
Coimbra, 1938
Mas para a Idade Média, quem foram os senhores que
governaram a Honra de Avintes?
Ao recolher elementos para a investigação anterior, fui juntando
pistas soltas sobre alguns fidalgos que possuíram esta honra. O
primeiro foi Gil Vasques, citado na inquirição de 1258; outra foi D.
Constança Gil doadora da quinta de Avintes ao Mosteiro de Santo Tirso
em 1300; outro foi D. Gonçalo Anes de Briteiros em 1341, que possuía
a honra de Avintes que havia sido de Gil Vasques. Depois só voltei a ter
referências indirectas a nomes de fidalgos de alta estirpe no século XV.
O primeiro é Fernão Coutinho, citado no documento de prazo que o
mosteiro de Santo Tirso fez em 1452 a Fernão Vaz, escudeiro daquele,
do condado da pescaria. Este Fernão Coutinho só é referenciado porque
o Fernão Vaz é seu escudeiro e não relacionado directamente com
Avintes, pelo menos aparentemente. O outro é Diogo Soares de
Albergaria, que é citado no livro o Mostrador Velho de Santo Tirso11, por
ter emitido uma sentença em 1481, relacionada com as jeiras que a
quinta de Avintes tinha direito e este é apresentado como senhor de
Avintes.
Há 4 anos dispus-me a reiniciar esta investigação com as pistas
que havia recolhido. Explorei-as melhor. O que procurava era sobretudo
saber qual a relação que aquelas pessoas tinham umas com as outras?
Qual o parentesco? Isto é, será que há parentesco? Que tipo de honra
Avintes era: familiar ou de benfeitoria? Explico melhor, se os senhores a
possuíam por herança ou dote ou se o rei ou outro senhor a outorgava
como beneficio a alguém de condição social nobre? Qual o papel do rei e
qual a extensão da sua autoridade em Avintes?
Comecei por seguir a investigação pelas duas pistas concretas
que possuía e que me permitiam balizar temporalmente, Gil Vasques,
no século XIII e Gonçalo Anes de Briteiros para a 1ª metade do século
XIV. Ao prosseguir por esta via fui recolhendo novos documentos com
informações mais profundas e concretas que possibilitaram conhecer
inequivocamente e sucessivamente quem foram os senhores de Avintes
11
ADP, Mosteiro de Santo Tirso, livro nº 2735
e a sua sucessão. Um primeiro resultado da investigação, embora
bastante lacunar e cujas conclusões não foram correctas, foi o artigo
que apresentei na revista Caminho Novo de 200412. O resultado
definitivo, pelo menos nos dados recolhidos e devidamente examinados,
foi apresentado no congresso internacional de História na Universidade
do Minho em Dezembro de 2005, cujas actas se encontram no prelo.
A comunicação teve por título Um Senhorio Nobre na Idade Média
Portuguesa13 em que apresento a sucessão completa dos senhores de
Avintes desde Gil Vasques de Soverosa e o seu papel socio-político no
contexto da época até Gonçalo Anes de Briteiros. Este período da nossa
história foi bastante conflituoso, pois marcou a ascensão do poder do
monarca e o processo de centralização régio que colidiu com as forças
da alta nobreza. Por essa investigação pôde entender quão importante
era o senhorio de Avintes. Possuí-lo, concedia aos seus senhores bons
argumentos políticos e económicos, face ao rei e aos outros senhores14.
E Avintes em dois tempos foi determinante. Primeiro no conflito
interno que pôs fim ao reinado de D. Sancho II. O Alferes-mor do rei era
D. Martim Gil de Soverosa, filho de Gil Vasques que ocupou cargos
curiais importantes quer neste reinado quer no anterior. Como
primogénito, sucedeu a seu pai como senhor de Avintes, cabendo a seus
irmãos parte na herança. Na batalha, que as crónicas chamam de lide
de Gaia ou do Porto, em Julho de 1245, onde os partidários do conde de
Bolonha D. Afonso, irmão do rei, defrontam o exército régio comandado
por D. Martim Gil, este sai vencedor e entre os mortos está meio-tio do
rei e do conde, Rodrigo Sanches, sepultado em Grijó. Dizem também as
crónicas que essa refrega, não foi uma batalha, mas um duelo entre
Martim Gil de Soverosa e Rodrigo Sanches, a propósito de actos
levianos de D. Rodrigo sobre uma irmã de Martim Gil15. O facto é que
12
COSTA, Paulo Jorge Cardoso de Sousa e, “O senhorio de Avintes na Idade Média – 1ª parte”, in
Caminho Novo – Revista Cultural do Clube Recreativo Avintense, Avintes, 2004, pp. 7-15. 13
COSTA, Paulo Jorge Cardoso de Sousa e, Um Senhorio Nobre na Idade Média Portuguesa,
Comunicação apresentada no I CONGRESSO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA: Territórios, culturas
e poderes, UNIVERSIDADE DO MINHO, Braga, 2005 14
Todo o suporte documental sobre o que aqui afirmo está no artigo citado na nota anterior. 15
COSTA, António Domingues Sousa, O Mosteiro de São Salvador de Grijó, Grijó, Edição da
fabriqueira da igreja paroquial de Grijó, 1993, pp.181-184 – nota 217
Avintes e a sua anexa Seixezelo eram senhoriadas por Martim Gil e
vizinhas do possível local do embate, quer tenha sido em Gaia, quer
tenha sido no Porto, o que favoreceu as armas de Martim Gil, pois
contava com bastantes vassalos e combatia na própria terra.
O segundo momento, quando do reforço do poder régio
empreendido por D. Dinis. Nesta ocasião era senhor de Avintes, Martim
Gil de Sousa, 2º Conde de Barcelos, por casamento com Violante
Sanches, filha de João Afonso de Albuquerque, neto de Martim Gil de
Soverosa. Martim Gil de Sousa sucedeu no senhorio de Avintes a sua
tia Constança Gil. Nesta ocasião, e a propósito das suspeitas que o rei
pretendia beneficiar o filho bastardo Afonso Sanches, em vez do
primogénito D. Afonso, Martim Gil de Sousa tinha ainda outras razões
que o opunham a Afonso Sanches. Ambos eram cunhados e Afonso
Sanches não escondia a ambição de sonegar o senhorio de Albuquerque
e o castelo de Zagala ao cunhado. Martim Gil de Sousa ocupava ainda o
cargo de mordomo do príncipe infante D. Afonso. O seu papel é
importante para defender os interesses legítimos do seu senhor e os
seus, contra o rei e o seu bastardo preferido. O resultado desta
contenda em que interveio a rainha santa Dona Isabel, foi um empate, o
conde perdeu o seu património na Estremadura Castelhana de
Albuquerque e Zagala, mas o infante conservou a sua herança ao trono.
O bastardo infante D. Afonso Sanches refugiou-se nos seus novos
domínios em Castela.
Avintes, por indicação testamentária expressa de D. Martim Gil de
Sousa, 2º conde de Barcelos, passou para Martim Anes de Briteiros, seu
primo e co-irmão e também descendente de Gil Vasques de Soverosa.
No entanto, a sua descendência não frutificou16 e foi seu irmão Gonçalo
Anes de Briteiros que lhe sucedeu em diversos senhorios, provenientes
de diversas heranças entre eles, Avintes, Oliveira do Douro, Sobrosa,
Atei, Cerva, Vila Marim, Gestaçô e Amarante por exemplo. Teve 4 filhos,
16
VENTURA, Leontina e OLIVEIRA, António Resende de, “Os Briteiros (séculos XII – XIV).
Trajectória social e política”, in Revista Portuguesa de História, Coimbra, FLUC, t. XXX (1995), pp. 71-
102.
mas só as filhas sobreviveram. Destacamos D. Margarida de Sousa que
herdará do pai o senhorio de Avintes.
O período anterior a Gil Vasques, isto é, quem foram os seus
ascendentes e por onde veio a sua herança, tentei ensaiar uma
procedência no artigo do Caminho Novo, cujos elementos eram pouco
consistentes e hipotéticos. Também como sucedeu a continuidade de
Gonçalo Anes, ensaiei no artigo do congresso em Braga com os
elementos que dispunha, também pouco consistentes. Vencer essas
dúvidas foram o desafio que me propus e que agora compartilho
convosco e publicamente, e é o presente ponto de partida para este
artigo.
Recorrendo às genealogias como apoio17, documentos originais18,
livros de linhagens19 e aos trabalhos do Doutor José Mattoso20 pude
estabelecer uma sucessão mais exacta das deficiências que apontei.
Dividimos a sucessão dos senhores de Avintes em 3 partes: a
primeira desde Gondesendo Eriz até Vasco Fernandes, pai de Gil
Vasques, do século X até ao século XII, a segunda parte de Vasco
Fernandes até Gonçalo Anes de Briteiros, do século XII até ao século
XIV, e a terceira parte do século XIV ao fim do seguinte, até ao reinado
de D. João II, quando a honra de Avintes fica definitivamente sem
17
GAYO, Manuel José da Costa Felgueiras, Nobiliário de Famílias de Portugal, 12 Vol., Braga, Edição
de Carvalho Basto, 1989 18
Corpus Codicum Latinorum et Portugalensium. Porto, 1891,
MATTOSO, José, KRUS, Luis, ANDRADE, Amélia, A Terra de Santa Maria no século XIII.
Problemas e documentos, Santa Maria da Feira, Edição da Comissão de Vigilância do Castelo de Santa
Maria da Feira, 1993, pp. 245-246 – No apêndice documental documento 85 (Arquivo Nacional Torre
do Tombo – ANTT, Inquirição D. Dinis, 1.4, fls 1 – 4v.) – Inquirição no julgado de Gaia de 1288, sobre
Avintes “… que foy de don Gil Vasquez … que onrra esta quintaa…”.
Chancelarias Portuguesas. D. Afonso IV, 3º Vol. (1340-1344), Lisboa, I.N.I.C -Centro de Estudos
História, Universidade Nova de Lisboa, 1992 19
Portugaliae Monumenta Histórica Scriptores. Nova Série., MATTOSO, José e PIEL, Joseph (Edição
Critica), 2 vols., Lisboa, Academia Portuguesa de História, 1980; esta edição é composta no 1º vol. Pelos
livros Velho (PMH. LV) e do Deão (PMH. LD); no 2º volume em 2 tomos está o Livro de Linhagens do
Conde D. Pedro (PMH. LL.) 20
MATTOSO, José, A Nobreza Medieval Portuguesa. A família e o Poder, Lisboa, Editorial Estampa, 4ª
edição, 1994.
MATTOSO, José, Portugal Medieval novas interpretações, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda,
2ª edição, 1992.
MATTOSO, José, Ricos-Homens, Infanções e Cavaleiros – a nobreza medieval portuguesa nos séculos
XI e XII, Lisboa, Guimarães Editores, 2ª edição, 1985
MATTOSO, José, Identificação de um país. Ensaio sobre as origens de Portugal 1096-1325. Vol. Iº –
Oposição, Vol. IIº – Composição, Lisboa, Referência/Editorial Estampa, 5ª edição, 1995
senhor conhecido e se faz a transição para Fernão Brandão Pereira.
Transição que já na época suscitou dúvidas ao Mosteiro de Santo Tirso
sobre como se havia processado e quanto à legitimidade ao senhorio de
Avintes. Infelizmente essas incógnitas de altura mantêm-se presentes
pelo menos quanto ao estado da investigação actual. Tentar explicar o
modo como se processou essa transição pertence ao campo da
suposição e da especulação. Esperemos que com o decorrer das
investigações possamos em breve esclarecer este facto. A verdade é que
Fernão Brandão Pereira não pertencia à linhagem dos anteriores
senhores, nem tão pouco era aparentado com eles. Como se tornou
senhor de Avintes e Seixezelo? Este não é o tema desta comunicação e
voltaremos em breve com um artigo exclusivo a este assunto.
Dadas as características deste encontro, não entraremos em
detalhes heurísticos nem em problemáticas sobre alguns aspectos que
suscitam alguma celeuma. Deixo esses pormenores para um artigo mais
profundo. Vou limitar a enunciar em quadro quem foram os senhores,
seguindo uma breve explicação sobre como é que sucederam. Só o
período que vai de Vasco Fernandes a Gonçalo Anes de Briteiros é que
já foi suficientemente explanado no artigo apresentado no congresso de
Braga21. Aqui unicamente se reproduz o quadro genealógico.
21
COSTA, Paulo Jorge Cardoso de Sousa e, Um Senhorio Nobre na Idade Média Portuguesa,
Comunicação apresentada no I CONGRESSO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA: Territórios, culturas
e poderes, UNIVERSIDADE DO MINHO, Braga, 2005
Os Senhores de Avintes
1ª Parte: De Gondesendo Eriz a Elvira
Fernandes de Marnel, mãe do Conde D. Gonçalo
Mendes de Sousa
Gondesendo Eriz
(filho do conde Ero
Fernandes)
Soeiro
Gondesendes
cc. Inderquina Pala Tia do Rei Ramiro II
Gondesendo
Soares
Honorico
Gondesendes
Châmoa
Honoriques
cc. Gonçalo Viegas
de Marnel
Paio Gonçalves
Honorico Gonçalves
Fernando Gonçalves
Senhor de Santa Maria
Ero Gonçalves
Urraca
Gonçalves
Urraca Gonçalves de Marnel
Elvira Fernandes de Marnel
Senhora de Pedroso
cc. Fernando Afonso de Toledo
Afilhado de D. Afonso VI, rei de Leão
cc. Mendo Viegas de Sousa
(Conde)
Gonçalo Mendes de Sousa
(conde) – Senhor da Terra de Sousa,
Basto e Panóias
Mordomo de D. Afonso Henriques
Outros descendentes seguem no quadro
seguinte
O doc. 12 do Diplomatae e Chartae, do Portugaliae Monumenta
Histórica, conhecido por escritura de D. Gundesindo, é a certidão de
nascimento de Avintes. Sobre a data do documento se celebrou e pode-
se ainda celebrar 1100 anos desta localidade22. No entanto, a Avintes de
há 1100 anos era maior que a actual. Provavelmente a villae Abientis
incorporaria área das actuais localidades de Avintes, Oliveira do Douro,
Vilar de Andorinho, Pedroso, Olival e Seixezelo. Porque assim afirmo?
Porque, ao desvendar a descendência de Gondesendo Eriz fui
confrontado do facto de com o passar dos séculos os seus herdeiros
legarem partes significativas do património às instituições eclesiásticas
de seu patrocínio. A maior evidência é ao consultar as inquirições de D.
Dinis, de 1288, as localidades de Oliveira do Douro, governada por
descendentes de Elvira Vasques de Soverosa23, Avintes, por filhos de Gil
Vasques, sobretudo sua nora Constança Gil24, e Seixezelo por Martim
Anes, neto de Gil Vasques de Soverosa, e filhos de Constança Gil e de
João Gil de Soverosa, e que fora de Alda Vasques de Soverosa25, e estes
3 eram netos do conde D. Gonçalo Mendes de Sousa, cuja a mãe, Elvira
Fernandes, havia recebido a carta de Couto para o seu mosteiro de
Pedroso26. E geograficamente Pedroso situa-se entre Avintes e Seixezelo.
E estas duas localidades sempre estiveram unidas na Honra de Avintes
facto que vem da antiga presúria do pai de Gondesendo Eriz, Ero
Fernandes.
22
Acerca da data do documento há duas versões: uma a que está na transcrição do documento que é 897,
e outra que José Mattoso defende e foi avançada pelo insigne medievalista espanhol Sanchez Albarnoz
que é 947. No entanto, medievalistas portugueses acham que o documento está truncado, e o X seria
aspado que valeria 30, atirando a data para 927, que é mais consensual com o contexto político que o
documento descreve, sobretudo por Ramiro (futuro Ramiro II), sobrinho da mulher de Gondesendo Eriz,
Enderquina Pala, ser ainda príncipe. 23
Na transcrição que José Matoso e outros fazem desta inquirição, o transcritor escreve “Crara Vasques”
(MATTOSO, José, KRUS, Luis, ANDRADE, Amélia, A Terra de Santa Maria no século XIII.
Problemas e documentos, p. 243); no Corpus Codicum Latinorum et Portugalensium – Diplomata,
Chartae et Inquisitiones, Vol I, Porto, Tipografia Portuense, 1891, 176 – transcrição do século XVIII,
com origem no mesmo documento, as inquirições de D. Dinis, o transcritor escreve Elvira Vasques. 24
A Terra de Santa Maria, p. 245 e 246, Corpus Codicum, p. 177. 25
A Terra de Santa Maria, p. 247, Corpus Codicum, p. 177. 26
AZEVEDO, Rui Pinto de (org. de), Documentos Medievais Portugueses. Documentos Régios. Vol. Iº,
Lisboa, Academia Portuguesa de História, 1958, Doc. 93, pp. 116-117
Gondesendo Eriz herdou a presúria de seu pai o conde Ero
Fernandes a sul do rio Douro, que se estenderia até ao rio Vouga, senão
mesmo até ao Mondego. Pelo menos os seus descendentes doam
propriedades situadas entre estes rios. De Ero Fernandes descendem
também os senhores de Marnel27. Outro irmão de Gondesendo Eriz é
Egas Eriz “Iala”, de onde descendem os senhores de Marnel28.
Ambos os ramos da família irão se cruzar de novo quando
Châmoa Honoriques casa com Gonçalo Viegas do Marnel.
Sucede a Gondesendo Eriz, seu filho Soeiro Gondesendes. Não
vou falar das outras filhas, Froila, Ermesinda e Ausenda para não me
alongar muito. Foi por Ausenda não ter filhos que se fundou o Mosteiro
de Santa Marinha na Vilae Avintes. E no território dessa propriedade
existe ainda o hagiotopónimo Santa Marinha, que é a padroeira de
Seixezelo. Provavelmente seria lá que fosse fundado esse mosteiro, mais
tarde transladado e refundado sob o monte Pedroso e alterado o santo
padroeiro para S. Pedro e S. Paulo. Esta conjectura é uma hipótese
sustentada com o argumento que a família patronal de ambos os
cenóbios era a mesma família, e que na área geográfica que
historicamente sempre foi de Avintes, Seixezelo estava dependente:
administrativamente de Avintes e religiosamente de Pedroso.
A Soeiro Gondesendes sucede o filho Gondesendo Soares que
viveu no século X. Sucedeu-lhe o filho Honorico Gondesendes, que é
considerado o fundador oficial do Mosteiro de Pedroso e que
provavelmente tenha destacado da Vilae de Avintes a Vilar29. E que
Andorini ou Andorinho, provenha de Honorico, cujos descendentes
partilharam a vilar. Porque o senhorio da presúria caberia a sua filha
Châmoa Honoriques que o receberia em dote do seu casamento com o
seu familiar Gonçalo Viegas de Marnel30.
27
Micro topónimo da freguesia de Lamas do Vouga, concelho de Águeda. No cabeço do Vouga, em
Marnel, existe vestígios arqueológicos romanos e medievais. Esta linhagem vai adoptar como apelido o
nome desta localidade, a partir do século XI. Ver: http://sweet.ua.pt/~lsl/talabriga/talabriga-index.html. 28
MATOSO, José, “As famílias condais portucalenses dos séculos X e XI”, in A Nobreza Medieval
Portuguesa. A família e o Poder, Lisboa, Editorial Estampa, 4ª edição, 1994, pp. 130 e 231 29
Vilar significa pequena vilae, pequena propriedade senhorial. 30
José Mattoso diz mesmo que ambos possuíam propriedades nas mesmas localidades, o que significaria
partilhas de heranças anteriores.
O vilar do século XI era territorialmente diferente da hodierna.
Chamava-se Vilar de Febros e englobaria a encosta sobranceira ao
Febros de Avintes (lugar de Quintã, Soutulho e parte ribeirinha de
Areias até Campos) que já no século XII pertenciam ao mosteiro de
Pedroso e estendia-se pelo cume do Monte Grande até à Cancela da
Serpente. A honra de Lijó (Eclesiole) é exemplo de uma fracção da
herança de outro ramo da família e que se constituí-o em propriedade
independente.
Deste casamento nasceram diversos filhos, mas a herança teve de
ser partilhada e só o melhor posicionado político e socialmente herdou o
senhorio de Avintes. O contexto político assim obrigaria. A família
Marnel havia tido bastante protagonismo durante o período dos condes
de Coimbra vassalo do poder muçulmano. E quando Fernando Magno
reconquistaria definitivamente Coimbra, esta família ficou numa
situação pouco confortável face ao novo poder. Paio Gonçalves de
Marnel fica com os bens situados junto ao Vouga; Honorico Gonçalves
tem no seu quinhão terras em Seixezelo; Fernando Gonçalves é senhor
de Santa Maria e terá uma filha que será a primeira mulher de Mendo
Viegas de Sousa. Ero Gonçalves é outro filho que recebe a sua parte na
herança. Por fim Urraca Gonçalves vai casar com o afilhado do rei
Afonso VI de Leão, Fernando Afonso de Toledo. Diz o livro de linhagens
que este Fernando era mouro que o rei adoptou e foi seu padrinho de
baptismo31. Um casamento com um membro da família real ajudaria a
recuperar o prestígio abalado e reposicionar-se dentro do novo contexto
político. O Senhorio de Avintes foi um bom dote. Deste casamento
nasceu Elvira Fernandes, que casaria em segundas núpcias com o
marido da falecida prima, Teresa Fernandes de Marnel, Mendo Viegas
de Sousa, importante herdeiro da poderosa família dos Sousas, cuja
origem vinha de um cavaleiro que havia acompanhado Fernando Magno
na conquista de Coimbra em 106432.
31
Livro Linhagens Conde D. Pedro, Vol. IIº, Tomo 2, tt. 43, pp. 9-10 32
Mattoso, José, “A nobreza rural portuense nos se´culo XI e XII”, in A Nobreza Medieval Portuguesa.
A família e o Poder, Lisboa, Editorial Estampa, 4ª edição, 1994, pp. 231
Elvira Fernandes pela sua fidelidade a D. Afonso Henriques vai
conseguir que o seu mosteiro receba carta de couto em 1128. E o couto
do mosteiro de Pedroso está no coração do seu senhorio. Avintes,
Seixezelo e Oliveira do Douro serão herdados pelo seu filho o conde D.
Gonçalo de Sousa, mordomo do nosso primeiro rei e seu companheiro
de batalhas. E que casa, em primeiras núpcias, com a neta do aio Egas
Moniz de Ribadouro, Dórdia Viegas. Tem 2 filhas, a condessa D. Elvira
Gonçalves da Faia e Teresa Gonçalves que casa com Vasco Fernandes
de Soverosa, descendente do conde de Sobrado na Galiza, e cujo apelido
advém da localidade de S. Pedro de Soverosa, junto a Atei, que
actualmente não resta vestígios.
Vasco Fernandes herda o ofício do sogro, o mordomado durante o
reinado de D. Afonso Henriques e depois seu filho D. Sancho I, até
falecer em 1185. Sucedeu o filho de D. Gonçalo de Sousa e do seu
segundo matrimónio, o conde D. Mendo Sousão. No entanto, Vasco
Fernandes recebeu um avultado dote que legará aos filhos: Martim
Vasques, alferes de D. Sancho I (falecido em 1197 em Plasencia,
Extremadura Espanhola), Gil Vasques, Fronteiro do Entre Douro e
Minho, Mordomo de D. Sancho II, Senhor da Terra de Sousa e de Basto,
Elvira Vasques e Alda Vasques. Com atrás havia dito, cada um
receberia um quinhão na partilha do senhorio de Avintes: Gil Vasques,
o melhor quinhão, a Honra de Avintes, Elvira, o couto de Oliveira (que
só englobava a zona da igreja e toda a margem do Febros, deixando de
fora Guiães – depois Sardão - Gervide e Quebrantões), a Alda Vasques,
a honra de Seixezelo, governada em comunhão com seu irmão Gil
Vasques.
2ª Parte: De Elvira Fernandes de Marnel a
Gonçalo Anes de Briteiros
D. Egas Gomes
D. Mendo Viegas de Sousa
cc. Goinha Mendes da Maia
cc.
D. Elvira
Fernandes
Marnel
Senhor de Pedroso
D. Gonçalo de
Sousa
(conde)
Soeiro Mendes O grosso
Gontinha Mendes Châmoa Mendes Mor Mendes dos Sousões
cc. Dordia Viegas
Condessa D. Elvira da Faia
Teresa
Gonçalves
cc.
D. Vasco Fernandes de
Soverosa
Mordomo de D. Afonso e D.
Sancho
Martim Vasques de Soverosa
Morto em Plasencia 1197 Gil Vasques de Soverosa
Iº
Senhor de Avintes
Elvira Vasques de
Soverosa
Senhor de Oliveira do Douro
Alda Vasques de
Soverosa
Senhor de Seixezelo
A genealogia de Gil Vasques de Soverosa
D. Gil
Vasques Iº
cc. Maria Aires de
Fornelos
D. Fernão Gil D. Martim Gil D. Teresa Gil
cc. Maria Gonçalves
Giroa
cc. D. Sancha Gil
D. Vasco Gil D. Henrique Gil
D. Sancha Gil
D. Dórdia Gil
D. Gonçalo Gil
D. João Gil
cc. Rei de Leão
cc. D.
Constança Gil
D. Martim
Anes Tio
cc. Inês Fernandes de Castro
D. Teresa Martins
cc. Rodrigo Eanes
D. João Afonso
de Albuquerque
1º Conde de
Barcelos
cc. Froilhe
Fernandes
Martim Vasques
D. Gil Vasques Soverosa II
Sancha Vasques
Aldonça Vasques
cc. D. Teresa Sanches
D. Violante
Sanches
D. Teresa Martins
cc. Afonso Sanches Filho de D. Dinis
D. João Afonso
de Albuquerque
4º conde de
Barcelos
A genealogia de Gonçalo Anes de Briteiros
D. Gil
Vasques de
Soverosa II
cc. Aldonça Anes
Martim Gil Guiomar Gil Marquesa Gil
cc. D. João
Rodrigues de
Briteiros
D. Martim
Annes de
Briteiros
D. Gonçalo
Annes de
Briteiros
cc. D. Branca Lourenço
Martim Annes Violante Ponço
cc. Maria Afonso
cc. Rodrigo Afonso
(sobrinho do rei D. Dinis)
Alvaro Gonçalves
Diogo Gonçalves
D. Sancha Gonçalves
D. Margarida
de Sousa
D. Aldonça Anes de Briteiros
(abadessa de Arouca)
Vasco Martns de Sousa
Martim Afonso de Sousa
cc. Rui Vasques Ribeiro
A Sucessão na Honra de Avintes
Vasco Fernandes – séc. XII
Gil Vasques de Soverosa (filho do anterior) – séc. XII até 1250
João Gil de Soverosa (filho do anterior) – séc. XIII
Constança Gil (mulher do anterior) – séc. XIII até 1300
D. Martim Gil de Sousa, 2º Conde de Barcelos
Herdeiro por parte da tia e de sua mulher Violante Sanches
Martim Anes de Briteiros (primo do anterior e herdeiro de Gil Vasques)
– de 1318 até 1340
Gonçalo Anes de Briteiros (irmão de) – até 1350
Martim Anes Tio, o Peco (filho do anterior) – séc. XIII até 1290
s.g.
Podemos verificar que as armas do Conde de Barcelos incorporam a flor-de-lis
dos Soverosas, tal como é apresentado no selo de D. Constança Gil, mulher de João Gil
de Soverosa, tio-avô do dito 1º conde.
Selo de D. Constança Gil, mulher de D. João Gil de Soverosa, filho de Gil Vasques de
Soverosa (Fonte: Ribeiro, João Pedro,
“Dissertações cronológicas …”, Vol. 1, Coimbra, Impressa da Universidade,
1810, p. 126).
Armas de D. João Afonso Telles e Albuquerque, 1º Conde de Barcelos, bisneto de Gil Vasques de
Soverosa (Fonte:
www.genealogia.netopia.pt/familias/soverosa
Túmulo em Pombeiro).
3ª Parte: De Gonçalo Anes de Briteiros até ao
fim do século XV.
D. Margarida de
Sousa
(herdeira)
Teresa Rodrigues
Ribeiro
cc. Rui Vasques Ribeiro Senhor
D. Brites de
Sousa
(herdeira)
cc. D. Henrique Manuel (conde de
Seia), Senhor
Branca de
Vilhena
(herdeira)
cc. Fernão Vasques
da Cunha – 2º c.
Faleceu em Tânger
Violante Manuel
cc. Rui Vasques Coutinho
1º Casamento, senhor
Maria da Cunha
Beatriz de
Vilhena
Testamenteira e
herdeira
Margarida de
Vilhena
cc. Fernão Coutinho
Marechal do
Afonso V
Sr. Basto, Maia,
Montelongo,
Avintes
cc. Diogo Soares de
Albergaria
Senhor
Pedro da Cunha
Por volta da década de 50 do século XIV, falecia Gonçalo Anes de
Briteiros. Ocupou o cargo de Fronteiro de Entre-Douro-e-Minho e
destacou-se nas guerras com Castela durante o reinado de D. Pedro I.
Sucedeu-lhe as filhas pelas quais foi dividido a herança. A D.
Margarida de Sousa coube a quinta de Avintes e o senhorio da Honra foi
provavelmente exercido pelo seu marido Rui Vasques Ribeiro.
O documento que nos permitiu observar isto está na Memória de
Pombeiro33, que frei Assunção Meireles transcreve e interpreta para
esclarecer aspectos pouco claros apresentados pelos linhagistas, porque
o documento expõe aspectos da família de D. Margarida de Sousa, seus
irmãos, parentes, filhos e país, importantes para esclarecer hesitações
dos genealogistas.
Para a nossa investigação trouxe-nos mais informações,
sobretudo por se referir à quinta de Avintes. O documento é a
nomeação de testamenteiro de D. Margarida de Sousa o abade de
Pombeiro.
Os genealogistas do século XVI e posteriores não são claros
quanto à descendência de D. Margarida de Sousa. Do seu casamento
com Rui Vasques Ribeiro atribuem uma filha Teresa Rodrigues Ribeiro,
de onde descendem os Vasconcelos. A outra filha D. Brites de Sousa,
dizem, nomeadamente Felgueiras Gayo34, citando Afonso Lopes de
Haro, que era neta de Martim Afonso Chichorro.
A Memória de Pombeiro diz-nos ainda que de verdade D.
Margarida de Sousa teve uma filha, D. Brites de Sousa que havia
casado com o conde D. Henrique Manuel, Senhor de Seia e Sintra e que
no momento da feitura do testamento se encontrava ausente em
Castela, provavelmente em consequência da crise dinástica de 1383-85.
Em documento apenso ao testamento dessa fidalga, D. Branca de
Vilhena, sua neta e seu primeiro marido, Rui Vasques Coutinho,
33
MEIRELES, frei Assunção, Memória de Pombeiro, p. 31 34
GAYO, Felgueiras, Nobiliário das Famílias de Portugal, Vol VI, p. 46 – cita também a história
genealógica da casa real que dá D. Brites de Sousa como descendente da casa real, o que pela memória de
Pombeiro se prova como falsa essa informação.
compram as quintas de Avintes, no termo de Gaia, a de Demande, de
Mansores, de Figueiredo em terra de Lafões e o lugar que tinha em
Condeixa, por 130.000 libras, nos inícios do século XV, para que se
cumpram as obras pias instituídas por sua avó.
D. Branca e seu primeiro marido, Rui Vasques Coutinho,
sucedem assim a sua avó. Deste casamento nasceu D. Margarida de
Vilhena e D. Brites de Vilhena. A última será designada sua
testamenteira e sua herdeira35. Após enviuvar, contraiu novo
matrimónio com Fernão Vaz da Cunha, que faleceu no desastre de
Tânger em 1437. Teve uma filha Maria da Cunha. Deste segundo
casamento, diz no seu testamento que foi coagida por «… medo e prema
que de Fernam Vaaz avia como meu marido e senhor que era e como
soube que era morto logo revogey todallas cousas que em seu tempo
fizera …»36. Entende-se que não fora um casamento feliz e que ele a
obrigou a fazer coisas contra sua vontade. No próprio testamento D.
Branca tem desconfianças acerca do genro Fernão Coutinho, que casou
com a filha Maria da Cunha. Talvez isso explique a sua especial atenção
a D. Beatriz de Vilhena e a nomeie sua testamenteira e herdeira.
Vejamos então como se processou a sucessão. D. Branca deve ter
falecido por volta de 1438, data do seu testamento. Sua filha D. Beatriz
é casada com Diogo Soares de Albergaria, criado do rei D. João I e aio
do futuro D. João II. A outra sua filha, do segundo matrimónio, Maria
da Cunha, estava casada com Fernão Coutinho, marechal de D. Afonso
V.
Tanto Diogo Soares de Albergaria como Fernão Coutinho
aparecem-nos relacionados com Avintes. O primeiro surge citado por
haver dado sentença sobre uma questão de foro cível relativo às jeiras a
que a quinta de Avintes devia receber37. O segundo, por um seu
vassalo, Fernão Vasques, escudeiro, ter o condado da pescaria de
35
FREITAS, Judite Gonçalves de, “Tombo da Capela de D. Branca de Vilhena (1499)”, in Penafiel –
Boletim Municipal de Cultura, 3ª SR – nº6/7, 1991/92, pp. 205-208 36
Idem, ibidem, p. 207 37
ADP, Mosteiro de Santo Tirso, livro nº 2735, fl. 7
Avintes38 e ter sido nomeado em 1451 para o cargo de coudel-mor39 nos
julgados de Porto Carreiro, Montelongo, Maia e Honra de Avintes, terras
que Fernão Coutinho era Senhor40, por mercê de D. Afonso V.
Ambos viveram no mesmo período. Eram familiares por afinidade,
cunhados. Mas, enquanto um exerceu efectivamente a tutela no
senhorio, porque a mulher era herdeira da mãe. Fernão Coutinho
influenciava a administração da honra por intervenção dos seus agentes
e vassalos.
Quer Beatriz de Vilhena, quer seu marido Diogo Soares de
Albergaria, reuniram bastantes honrarias e beneficiaram bastante os
seus vassalos com ofícios atribuídos pelo rei. No entanto, o seu
casamento não frutificou e morreram deixando os seus bens para um
convento que fundaram em Santar41, terra que Diogo Soares de
Albergaria era senhor por herança de seu pai, Fernão Gonçalves de
Santar42.
Com D. Beatriz de Vilhena e Diogo Soares de Albergaria extingue-
se a linhagem dos descendentes de Gondesendo Eriz. Do século X até
ao século XV, durante 500 anos este senhorio esteve ininterruptamente
na mão da mesma família.
Curiosamente a sucessão do senhorio de Avintes fez-se quase sempre,
salvo algumas excepções, por via feminina e normalmente como dote de
casamento, ficando o marido como Senhor, aliás como definia a lei
sálica. A mulher só podia exercer a autoridade senhorial por ausência
ou falecimento do marido. Esta curiosidade vai-se manter até que D.
Isabel Castro casa com o primo Luís de Almeida, nascendo o “Condado”
de Avintes, com a atribuição do título de conde em 1664.
38
ADP Santo Tirso, Lv 149, fl. 70 v. 39
INTT Chanc Afonso V, Lv 11 fl. 21v-22 40
INTT Chanc. D. Duarte I, lv. 1 fl. 158 – documento de 1438/04/16 Fernão Coutinho, filho (como
sinónimo de genro) de Fernão Vasques da Cunha, Rico-Homem, criado de D. João I, recebe por doação
do rei D. Duarte os senhorios das localidades de Celorico de Basto, Borba, Guinhões, Vale de Bouro,
Monte Longo, Porto Carreiro, Maia, e outras. 41
INTT Mosteiro de S. Marcos – Em 1473 foi anexado a este convento, o convento de Nossa Senhora da
Piedade da ordem de S. Jerónimo, em Santar, fundado e dotado por Diogo Soares de Albergaria e Beatriz
de Vilhena. 42
INTT Chanc. D. Duarte I, Lv. 1 (fls: 49,95,97,98) Lv. 3 (fls. 4, 17, 76)
Outra curiosidade é o valor que o senhorio de Avintes sempre
representou para dotar uma filha que empreendesse um bom
casamento. O senhorio de Avintes trazia mais prestigio e poder a quem
o possuísse, engrandecendo de importância o acordo que se selava.
Observamos que todo o património era dividido pelos filhos e os
melhores, os que conferiam autoridade jurisdicional, militar e fiscal
cabiam ao que estivesse melhor posicionado socialmente.
ADP, Mosteiro de Santo Tirso, livro nº 2735, fl. 7 – Excerto.
INTT Chanc. Afonso V, Lv. 11 fl. 21v-22
ADP Santo Tirso, Lv 149, fl 70 v.