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II Encontro da Associação Nacional de Pesquisa
e Pós-‐graduação em Arquitetura e Urbanismo
Teorias e práticas na Arquitetura e na Cidade Contemporâneas Complexidade, Mobilidade, Memória e Sustentabilidade
Natal, 18 a 21 de setembro de 2012
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Os mestres artífices em Minas Gerais: um panorama das técnicas
construtivas tradicionais
Master craftsmen in Minas Gerais: an overview of tradicional construction techniques
Maestros artesanos en Minas Gerais: una introducción a las técnicas tradicionales de construcción
1 Guilherme Maciel ARAÚJO
Arquiteto e Urbanista; Centro Universitário Izabela Hendrix; [email protected].
2 Bernardo Nogueira CAPUTE
Arquiteto e Urbanista; Centro Universitário Izabela Hendrix; [email protected]
3 Maria Raquel Alves FERREIRA
Arquiteto e Urbanista; [email protected]
4 Paulo Henrique ALONSO
Arquiteto e Urbanista; [email protected]
RESUMO O presente trabalho apresenta uma análise dos resultados do projeto “Mestres Artífices -‐ Subprojeto Minas Gerais”, pesquisa para identificação de mestres artífices detentores de saberes construtivos tradicionais e registro das técnicas existentes no Estado de Minas Gerais. O “Mestres Artífices” foi um projeto idealizado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) com execução pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), por meio da Escola de Arquitetura. O objetivo do projeto foi identificar Mestres conhecedores das técnicas tradicionais de construção civil, bem como documentar as próprias técnicas e ofícios. Procurou-‐se, por meio de entrevistas dirigidas, identificar os mestres, sua trajetória de vida, processo de aprendizado profissional, condições de exercício do ofício, vinculação do trabalho ao universo simbólico e religioso, técnicas, materiais e ferramentas de trabalho. Como resultado da pesquisa podemos apontar um total de 122 questionários digitalizados. O material final inclui: banco de imagens com retratos dos mestres, técnicas e instrumentos tradicionais; mapas de sítios; filmagens das técnicas tradicionais feitas pelos mestres; gravações em áudio das entrevistas ; cadastro de mestres artífices da arquitetura tradicional em Minas Gerais; cadastro suplementar de oficiais artífices da arquitetura tradicional em Minas Gerais; caderno de memória; glossário de termos. Como resultado do INRC, pode-‐se apontar ainda as 42 ficas de identificação de ofício, três fichas de identificação de sítios e quatro fichas de identificação de localidade. PALAVRAS-‐CHAVE: mestres artífices; técnicas construtivas tradicionais; Minas Gerais.
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ABSTRACT This paper presents an analysis of the results of the "Master Craftsmen -‐ Activity Minas Gerais", search for the identification of master craftsmen holders of traditional knowledge of construction techniques and registration in the State of Minas Gerais. The "Master Craftsmen" was a project conceived by IPHAN (Institute for National Artistic and Historical Heritage) running from UFMG (Federal University of Minas Gerais), through the School of Architecture. The project goal was to identify knowledgeable Masters of the traditional techniques of construction, and document the proper techniques and crafts. Was sought through interviews aimed to identify the teachers, their life trajectory, the learning process training, procedures for exercising the office, work to link the symbolic universe and religious techniques, materials and tools. As a result of research we can point to a total of 122 questionnaires scanned. KEY-‐WORDS: master craftsmen, traditional building techniques, Minas Gerais. RESUMEN: Este artículo presenta un análisis de los resultados de los "Maestros Artesanos -‐ Actividad de Minas Gerais", de la búsqueda para la identificación de los maestros artesanos poseedores del conocimiento tradicional de las técnicas de construcción y registro en el Estado de Minas Gerais. Los "Maestros Artesanos" fue un proyecto concebido por el IPHAN (Instituto del Patrimonio Histórico y Artístico Nacional) que se ejecuta de la UFMG (Universidad Federal de Minas Gerais), a través de la Escuela de Arquitectura. El objetivo del proyecto fue identificar Maestros conocedores de las técnicas tradicionales de construcción, y documentar las técnicas apropiadas y la artesanía. Se solicitó a través de entrevistas orientadas a identificar a los maestros, su trayectoria de vida, el proceso de aprendizaje, formación procedimientos para el ejercicio del cargo, trabajan para unir el universo simbólico y técnicas religiosas, materiales y herramientas. Como resultado de la investigación que puede apuntar a un total de 122 cuestionarios analizados.. PALABRAS-‐CLAVE maestros artesanos, técnicas de construcción tradicionales, Minas Gerais.
1 INTRODUÇÃO
Conforme afirma um célebre geógrafo brasileiro, “a paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza” (SANTOS, 2002). Assim, a paisagem se manifestaria como um conjunto de objetos concretos, um conjunto transtemporal, uma construção transversal formada pela junção de objetos passados e presentes. Ao contrário do espaço, que constituiria numa situação única, sempre presente. Assim, a paisagem seria um “sistema material”, relativamente mutável; enquanto o espaço seria um “sistema de valores”, permanentemente mutável. A paisagem se manifestaria através das formas criadas em diferentes momentos históricos, constituindo uma espécie de palimpsesto, onde, mediante acumulações e substituições, as ações das diferentes gerações se sobreporiam. Ou seja, a paisagem seria um tipo de pergaminho ou papiro cujo texto haveria sido raspado, dando lugar a outro.
Este seu caráter de palimpsesto seria o que transformaria a paisagem num valioso instrumento que nos permitiria rever as etapas do passado, sem perder a perspectiva de conjunto. Dentro desta revisão é que nos seria permitido “retomar a história que esses fragmentos de idades diferentes representam juntamente com a história tal como a sociedade a escreveu de momento em momento”. Olhando desta forma, reconstituiríamos “a história pretérita da
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paisagem”. Se por um lado a observando conseguimos esta reconstituição, por outro, só entenderemos sua função se a confrontarmos com a sociedade atual e suas necessidades. Assim, a paisagem seria a “história congelada”, mas participante da “história viva”. As suas formas, seus elementos naturais e materiais, é que se realizam, no espaço, as funções sociais.
Assim, sob este ponto de vista, foi que procuramos observar as paisagens que caracterizam os sítios nos quais esta pesquisa se delineou no Estado de Minas Gerais. Nesses sítios, sua paisagem, como sabemos, se modificou e se modifica, através das relações localizadas entre o homem e a natureza, o homem e os objetos, e entre o homem e o próprio homem. Seria aquela paisagem constituída por elementos naturais e artificiais que, tocada pela ação e pelo trabalho do homem, tornou-‐se um “espaço humano em perspectiva”. Aquele espaço humano sobre o qual se projeta aquele “conjunto das práticas, das técnicas, dos símbolos e dos valores que se devem transmitir às novas gerações para garantir a reprodução de um estado de coexistência social” (BOSI, 1995), que, homogeneamente cultural, distingue um determinado grupo social de outro. Assim, a pesquisa de identificação e documentação das técnicas construtivas desenvolveu-‐se em três sítios que foram inventariados, ou seja, a Região das Minas e Região do Vale do Jequitinhonha e São Thomé das Letras, no Estado de Minas Gerais. Tal delimitação justificou-‐se pelo fato de que esses sítios se constituíam claramente como áreas cultural, histórica e geograficamente homogêneas, assim como suas subdivisões guardavam características de semelhança e peculiaridades. Buscou-‐se assim, tecer um fio condutor sob o qual pudéssemos ler, através da paisagem, a formação daqueles sítios, compreendendo os elementos que distinguem histórica e culturalmente aqueles grupos sociais.
2. A REGIÃO DAS MINAS
Pode-‐se observar na porção central do Estado de Minas Gerais, um sítio que nesta pesquisa denominou-‐se como Região das Minas, cujo centro geográfico é a capital do Estado, Belo Horizonte, e que tem como fator importante em seu processo de formação a significativa relação entre os elementos naturais e culturais. Esse sítio é conhecido como uma das regiões mais ricas do Estado, congregando cidades altamente povoadas, caracterizando-‐se por seus municípios tipicamente urbanos e, em sua maioria, bastante desenvolvidos nos seus mais diferentes aspectos.
Num breve olhar sobre a área central do Estado de Minas Gerais, pode-‐se notar que esta tem como elemento marcante paisagem natural, com os rios e morros. O relevo é em sua maior parte montanhoso e marcado pela presença da Serra do Espinhaço, formada por uma cadeia de montanhas que segue em direção ao norte. Considerando ainda estes elementos, existem importantes picos e serras que conformam o maciço do Espinhaço e se destacam na paisagem em todo o sítio, e muitas vezes dos próprios municípios ali presentes, que são principalmente: Serra São José no município de Tiradentes; pico do Itacolomi, em Ouro Preto; Serra do Caraça, em Barão de Cocais e em Santa Bárbara e Serra do Curral em Belo Horizonte. Assim, muitas vezes em função de sua imponência, estes elementos contribuíram significativamente para dar a feição daquelas paisagens e para orientar os homens nas escolhas dos locais de fixação. Assim, além disso, esses elementos também contribuíram é claro para a formação da paisagem cultural do sítio, onde, em meio àqueles, surgiram os pequenos povoados que, por
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sua vez, se constituíram em cidades portadoras de uma cultura que guardam características da região.
Por detrás destas formações montanhosas é que podemos dizer que este sítio surgiu e se caracterizou socialmente e culturalmente. O processo de ocupação e povoamento da região das Minas pelos colonizadores se fez efetivamente somente a partir das expedições para descoberta de ouro e metais preciosos no início do século XVIII, através das incursões que paulistas e outros forasteiros fizeram por esta região, vindos principalmente de São Paulo. A primeira grande expedição, incentivada pela Coroa Portuguesa, foi em 1674, de Fernão Dias Paes que, segundo alguns historiadores, deixaram marcas no território como o chamado “caminho velho” e, com a descoberta de ouro e metais preciosos e grande afluxo de imigrantes exploradores, propiciaram o surgimento de pequenos arraiais que mais tarde se configuraram como vilas e, posteriormente, como comarcas. Boa parte dos historiadores descreve que as primeiras descobertas de ouro se deram na região da atual cidade de Ouro Preto, no córrego Tripuí, ainda no final do século XVII e foi, a partir desta descoberta, que começou a corrida pela busca desses metais nas Minas e, conseqüentemente, o povoamento e ocupação da região por outros povos. A atividade mineradora (ouro e pedras preciosas) atingiu o auge de produção na primeira metade do século XVIII proporcionando o surgimento de lugares e uma rede desses lugares que sobreviveram e se desenvolveram em função da mineração.
Segundo Sylvio de Vasconcellos (1968), nas Minas, com exceção de Mariana e Diamantina, que teve certo controle da Coroa Portuguesa, a urbanização é determinada pela mineração, consolidando-‐se através do comércio, tendendo a conformação centrípeta do grupamento humano, com trecho urbano compacto. Os povoados se formam, num primeiro momento, através dos acampamentos de uma sociedade pouco diferenciada, com moradias precárias, muitas vezes cobertas somente de sapé e uma pequena capela que aglutina os primeiros aventureiros, instáveis, à procura de fortuna, e dinâmicos no comportamento. Os povoados se desenvolvem e se elevam a vilas. O comércio obtém alta lucratividade e o aglomerado humano passa a não ser mais nivelado em um grupo social unitário. Surgem novas necessidades e com elas novos profissionais: ferreiros, carapinas, alvanéus, alfaiates, seleiros, entalhadores, que vão contribuir, dentre outras coisas, para dar feição àquela paisagem construída.
Dessa forma as Minas vão sendo ocupadas por povos de origens diversas e multiculturais, conformando uma sociedade basicamente urbana, que enfrenta toda sorte de adversidades: a convivência com povos diferentes; terrenos íngremes, montanhosos, desconhecidos, de difícil locomoção e instalação; luta constante contra as restrições impostas pela Coroa Portuguesa; luta contra os próprios pares na busca pelo ouro e metais preciosos, ao mesmo tempo em que precisam se organizar para sobreviverem. Segundo alguns autores, foram essas condições que fizeram surgir nas Minas uma sociedade irrequieta, dinâmica, rebelde, democrática e de alguma forma organizada, diferente da que se fez anteriormente no ciclo da cana-‐de-‐açúcar, que era relativamente estável, paternalista e conservadora na manutenção dos privilégios.
Com o declínio da atividade mineradora no final do século XVIII e início do século XIX o governo português incentiva a exploração de novos territórios com a abertura das regiões anteriormente proibidas. As Minas sofrem por todo o século XIX, grande processo de decadência econômica: se antes, na primeira metade do século XVIII, está no auge do seu desenvolvimento propiciado pela atividade mineradora, posteriormente, no século XIX, já com essa atividade exaurida, através dos meios que se tinha para explorá-‐la, a região não consegue
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o mesmo desenvolvimento com a pecuária e agricultura, tendo em vista a natureza do seu solo, pouco propício a essas atividades. No entanto, pouco a pouco, durante o século XIX algumas novas iniciativas foram sendo feitas no que diz respeito á atividade mineradora, dessa vez quanto à descoberta e utilização do ferro, mineral também abundante nas terras de Minas. Verifica-‐se a criação em toda a região de algumas fábricas de ferro. Em 1876 a criação da Escola de Minas, em Ouro Preto, é interpretada como um marco do que seria a nova vocação das Minas, consolidada no decorrer do século XX, Estas atividades econômicas impactariam consideravelmente na formação de profissionais especializados em determinados ofícios.
Seria ainda interessante notar que aquela interpenetração mútua entre os fatores naturais e culturais daria origem a uma paisagem construída de grande significado para a vida dos moradores das Minas. Neste contexto, destaca-‐se conjunto arquitetônico e paisagístico do Santuário de Nossa Senhora da Piedade no município de Caeté. Santuário religioso, fundado no século XVIII, situado no alto da serra da Piedade, de onde se descortina paisagem montanhosa; o conjunto arquitetônico e paisagístico do Colégio do Caraça no município de Catas Altas. Este conjunto tem suas origens ligadas à ação devocional da Capitania de Minas no século XVIII e que se transforma, no século XIX em centro de formação educacional da província; o conjunto arquitetônico, paisagístico e escultórico do Santuário de Bom Jesus de Matozinhos no município de Congonhas, que teve sua construção iniciada em 1757, por iniciativa do imigrante português Feliciano Mendes como agradecimento de graça alcançada. O conjunto é composto por templo, um grande adro ornamentado por conjunto de doze profetas esculpidos em pedra-‐sabão e capelas que abrigam imagens, e hoje é bastante conhecido pelos trabalhos artísticos de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, Francisco Xavier Carneiro e Manuel da Costa Athaíde.
Nota-‐se ainda como resultado daquela interação, a existência dos conjuntos urbanos, muitas vezes resultantes daquele processo que, como afirma um conhecido historiador, “não chega a contradizer o quadro natural, e sua silhueta se enlaça na linha da paisagem” (HOLANDA, 2003). Neste contexto, nota-‐se o conjunto arquitetônico e urbanístico da cidade de Mariana e de Ouro, compostos por edificações remanescentes do período colonial, construído, principalmente, no século XVIII onde se destacam Casa de Câmara e Cadeia, igrejas em estilo barroco ou rococó e casario entre um e dois pavimentos construídos em pau-‐a-‐pique, adobe ou taipa com coberturas em telhas cerâmicas e relação entre cheios e vazados que obedecem a uma mesma proporção em todas as edificações; e seu traçado urbano com as ruas principais, em sua maioria, acompanhando o desenho dos morros e córregos, entrecortado de becos, travessas e ladeiras com chafarizes e pontes de cantaria, resultado da interligação entre os antigos núcleos esparsos do início da mineração aurífera. Seria importante entender tais elementos construídos como evidências claras da presença e da ação daquela sociedade complexa naquela região, com seus saberes e ofícios.
Por outro lado, seria interessante notar também que a preservação desta paisagem só foi pensada na década de 1930, quando as primeiras iniciativas de preservação do Patrimônio Cultural no Brasil se voltam para as cidades mineiras formadas no início do ciclo da mineração: em 1933, Ouro Preto é decretada pelo Governo Federal como Monumento Nacional; em 1938, São João Del Rei, Serro, Ouro Preto, Tiradentes, Mariana têm o seu Conjunto Arquitetônico e Urbanístico tombados com inscrição no Livro das Belas Artes, pelo recém criado, naquela época, Serviço Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). E, na década de 1980, três dessas cidades mineradoras, ou parte delas, são eleitas Patrimônio Cultural da
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Humanidade pela UNESCO: Ouro Preto em 1981; o Santuário de Bom Jesus na cidade de Congonhas, em 1985; e o centro histórico da cidade de Diamantina, em 1989, este último já fora do sítio das Minas.
No entanto, nota-‐se que esta atuação institucional dos órgãos de preservação do patrimônio cultural foi um importante fator, além de outros, para se compreender esta área enquanto uma unidade de análise. Assim, quanto a esta delimitação, existem no sítio quatro localidades que se caracterizaram ou pela ação institucional daqueles órgãos; ou pela presença do turismo como fomentador de restaurações no patrimônio edificado e, conseqüentemente, pela demanda por profissionais das técnicas construtivas tradicionais; ou pela atuação de profissionais em lugares de ocupação mais recente, que atendem com muita freqüência aos órgãos de preservação, oferecendo seu conhecimento das técnicas construtivas tradicionais. Seria importante notar que, de alguma forma, todos esses fatores estão relacionados à atuação daqueles órgãos.
Dessa forma, têm-‐se a localidade de Ouro Preto, Mariana e adjacências onde se verificou que a existência de ofícios e técnicas construtivas tradicionais se deve, principalmente, à ação daqueles órgãos, os quais promovem constantemente cursos e atividades no sentido de manter os ofícios sempre existentes e onde, principalmente, se faz muito presente a atuação do órgão de preservação federal, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e, nos últimos anos, o Programa Monumenta. Além desses há a Fundação de Artes de Ouro Preto e a Universidade Federal de Ouro Preto, que também são protagonistas na oferta constante de cursos de formação profissional. Em contraposição, na localidade de Sabará e adjacências, verificou-‐se a ausência dessas instituições presentes em Ouro Preto e Mariana, percebendo-‐se, assim, certo desestímulo à manutenção dos ofícios e das técnicas construtivas tradicionais. Tal fato, contribuiria, a nosso ver, também para a formação de uma certa paisagem esquecida.
Podemos identificar a localidade de São João Del Rei, Tiradentes e adjacências está fortemente marcada pela atividade turística. Nesta localidade, principalmente, devido à grande afluência de turismo que a cidade de Tiradentes vem experimentando nos últimos anos, tem propiciado a restauração e manutenção de grande parte do patrimônio edificado o que, conseqüentemente, tem-‐se revertido em demanda por profissionais com conhecimento de técnicas construtivas tradicionais.
E por fim, a localidade constituída por Belo Horizonte, Contagem e Nova Lima, cuja ocupação é mais recente em relação às outras localidades, os profissionais atendem com freqüência às demandas dos órgãos de preservação não somente na localidade, mas em todo o sítio e até mesmo fora dele. Aqui foram constatados profissionais de nível superior, cuja obtenção do saber do ofício, diferentemente das outras localidades, está menos ligados à tradição e seus meios de transmissão.
No sítio como um todo foram encontrados mestres e oficiais que executam os mais diferentes ofícios, que contribuíram para conformar a sua própria paisagem cultural e de suas diferentes localidades. Os ofícios identificados e documentados foram: ofício de carpinteiro e marceneiro, estucador, forjador artístico, fundidor, marmoraria, pintor, canteiro, esteireiro, ferreiro, pedreiro, oleiro, calceteiro.
Muitos destes ofícios, diferentemente de outros tempos, hoje lidam constantemente com fatores importantes como as transformações tecnológicas, legislativas, dentre outras, como é o caso da Carpintaria. Nesta atividade, por exemplo, algumas espécies de madeira
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tradicionalmente usadas nas edificações do século XVIII e XIX, como o mogno e o jacarandá, pelo fato de entrarem em processo de extinção, ficaram proibidas de serem extraídas e madeiras antes consideradas de qualidade inferior, como o cedro, passaram a ser mais utilizadas. Por outro lado, neste contexto, pode-‐se notar que, com o processo de industrialização e produção em série, os elementos construtivos, que anteriormente apresentavam uma diferenciação e uma complexidade formal, tornaram-‐se plasticamente homogêneos. Na época atual, o uso das técnicas tradicionais destina-‐se, na Região das Minas, basicamente a obras de restauração ou à confecção de elementos diferenciados para edificações novas.
Conforme aponta relato feito pelos próprios pesquisadores, neste sitio “foram encontrados profissionais que trabalham na restauração de edificações históricas da época do início da construção da capital.” A aplicação de trabalhos bastante elaborados (em ferro, como as escadarias das antigas secretarias, feitas sob encomenda na Alemanha e aqui montadas, em estuque, tanto externo como nas fachadas) fez com que os profissionais contratados atualmente para as restaurações nestes edifícios soubessem tanto quanto seus predecessores, observando e aprendendo o saber fazer até mesmo na própria obra original.”
Nota-‐se no sítio esta clara relação de transmissão do conhecimento, o qual se dá prioritariamente pela relação mestre / aprendiz. No universo pesquisado, “somente 23% deles tiveram uma formação acadêmica, técnica ou de nível superior.” Ainda dentre os profissionais identificados, notou-‐se a presença de alguns com tradição familiar no ofício ou ainda com aprendizado na Europa.
Interessante notar, novamente o papel da atuação institucional no desenvolvimento dos ofícios. Em primeiro lugar, sabe-‐se que “assim como o traçado urbano, as relações sociais, econômicas e culturais de Ouro Preto sempre foram condicionadas pela atividade mineradora. No século XVIII, era a mineração do ouro e no século XX, do minério de ferro e da bauxita. Outra matéria prima em abundância são as pedras, quartzito e pedra sabão, utilizados na cantaria.” Neste mesmo contexto, como afirma a equipe de pesquisa, com a transformação da região em pólo siderúrgico, houve a necessidade de formação de mão de obra qualificada, o que ocorreu através da implantação de cursos técnicos oferecidos por várias instituições.
Segundo relatos da equipe de pesquisa, “em Ouro Preto, destaca-‐se a atividade da cantaria que foi retomada praticamente a partir do trabalho de Mestre Juca. Os discípulos de Mestre Juca têm um modo próprio de trabalhar, sentados na pedra e segurando-‐a. Com uma das mãos seguram a ferramenta e com a outra sentem a pedra. Aqui, nos chamou a atenção o uso da pedra na técnica construtiva tradicional.
3. O VALE DO JEQUITINHONHA
Continuando nossa caminhada agora ao longo da porção nordeste do Estado de Minas Gerais pode-‐se notar a existência de uma região conhecida como Vale do Jequitinhonha, cujo rio de mesmo nome, é o seu principal elemento articulador, que percorre todo o seu território. Assim, como na Região das Minas, nota-‐se que o sítio tem sua paisagem marcada pela presença dos rios. O Rio Jequitinhonha, com nascentes na Serra do Espinhaço, nos municípios de Serro e Diamantina, percorre toda a área desenvolvendo-‐se no sentido nordeste e desaguando no Oceano Atlântico, no Estado da Bahia. O Rio Araçuaí é outro importante rio do
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sítio, que, afluente do rio Jequitinhonha, nasce nas proximidades do município de Diamantina, percorre o sítio em sentido nordeste, paralelamente ao Rio Jequitinhonha, onde deságua no município de Araçuaí. Esses rios foram os grandes responsáveis pelo povoamento local, onde as populações se instalavam para o garimpo de diamante. O relevo é caracterizado pela serra do Espinhaço, os planaltos e a depressão do Jequitinhonha, cobertos em sua maioria pela mata atlântica.
A região é marcada pela pouca povoação e pela existência de municípios tipicamente rurais e pouco desenvolvidos. A população se envolve principalmente em atividades dede agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal. Interessante notar que alguns mestres encontrados nesta região têm como ocupação também a atividade agropecuária, ocorrendo principalmente em pequenas propriedades rurais. Nos períodos de colheita, por exemplo, esta população desloca-‐se de seus lugares de origem para exercer atividades que complementem a sua renda e garantam a sua sobrevivência.
O processo de ocupação e povoamento da região do Vale do Jequitinhonha se fez efetivamente a partir das descobertas de ouro e metais preciosos no início do século XVIII, assim como aconteceu na região das Minas Gerais. Por volta de 1720, descobriu-‐se diamante na região do Tijuco, atual cidade de Diamantina, o que fez com que a corrida pela busca de metais preciosos se estendesse também, além da região central do Estado de Minas Gerais, para aquela região, correspondendo principalmente às atuais cidades de Diamantina, Serro e Minas Novas. Alguns historiadores relatam que, ainda no século XVIII, já havia também uma ocupação ligada à atividade agropecuária de subsistência, que muitas vezes, auxiliando no abastecimento da atividade mineradora, vinha se firmando aos poucos nas margens do rio Jequitinhonha, mais próxima à foz e ao Estado da Bahia, apesar das restrições impostas pela Coroa Portuguesa. Cabe notar que, nesta porção do Vale do Jequitinhonha, próxima à foz, desenvolve-‐se, mesmo que de forma incipiente as atividades mais antigas ligadas à economia baiana – pecuária, agricultura e extrativismo – haja vista a influência que a Capitania da Bahia exercia sobre a região pela facilidade de acesso através do vale do Rio Jequitinhonha.
Dessa forma a atividade mineradora fez surgir dos primeiros acampamentos, as primeiras vilas e a comarca da região. Em 1714, foi instalada a Vila do Príncipe do Serro Frio, atual cidade de Serro, que em 1720 é elevada a Comarca. Em 1729, instala-‐se a Vila do Bom Sucesso do Fanado de Minas Novas, com vinculação jurídica à comarca de Serro Frio, mas com vinculação administrativa, militar e eclesiástica à Capitania da Bahia até 1957. Naquela época havia na região intenso controle da Coroa Portuguesa quanto à ocupação, trânsito e exploração dos metais preciosos, com vistas a não perder arrecadação de impostos, uma vez que era fácil o acesso de exploradores através do Rio Jequitinhonha, entre a área mineradora e a Bahia. Com a decadência da atividade mineradora, em meados do século XVIII, a ocupação se expande ao longo do Rio Jequitinhonha em direção à Capitania da Bahia, onde o governo Português instala alguns postos militares, com o objetivo de melhorar a fiscalização da região, que se supunha diamantífera, e de civilizar índios. Apesar da decadência, surgiam freqüentes surtos de descobertas de ouro e pedras preciosas na região, o que despertava desconfianças da Coroa. A atividade agrária que, até então, se mostrava incipiente, se desenvolve. A região de Minas Novas até a cidade de Jequitinhonha passa a produzir algodão, inclusive para exportação, sendo uma atividade lucrativa até aproximadamente o início do século XX.
No início do século XX até aproximadamente 1970, é formado um contingente populacional ligado, principalmente, à agricultura e criação de animais, constituindo um grupo de pequenos
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produtores que através das relações entre si, formam uma sociedade de proprietários, posseiros, parceiros e agregados. Na segunda metade do século XX, por iniciativa do Estado, são criadas, sem sucesso, algumas agências e órgãos visando o desenvolvimento da região, como CODEVALE – Comissão de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha e GEVALE – Grupo Executivo de Coordenação de Ações dos órgãos e entidades dos governos estadual e federal do Vale do Jequitinhonha. Em 1972, as chapadas são classificadas como áreas de terras devolutas e são incorporadas por empresas estatais e privadas, que implantam projetos agrícolas, como a monocultura do eucalipto, com incentivo do Estado, para atender siderurgia, produção de papel e celulose. Esta iniciativa levou segundo alguns autores, à ruptura entre a fauna, flora e recursos hídricos da região.
Seria ainda interessante notar que aquele encontro entre os fatores naturais e culturais daria origem a uma paisagem construída de grande significado para a vida dos moradores da região. Seria importante também aqui compreender que tais elementos construídos são evidências da presença e da ação daquela sociedade no local. Como resultado também deste processo, caracteriza a paisagem do vale a existência de conjuntos arquitetônicos e urbanísticos, como o da cidade de Diamantina. Este acervo arquitetônico e urbanístico remonta do período colonial, no início do século XVIII, com a exploração de ouro e diamantes na região, e se consolidou até meados do século XIX. O centro urbano apresenta configuração de padrão irregular, com arruamentos transversais à encosta, marcados por ruas paralelas com pequenas variações de abertura ou desvio de alguns becos e ruas estreitas. A cidade conta com monumentos significativos dos séculos XVIII, XIX e XX, destacando-‐se a arquitetura religiosa. A arquitetura civil é uma referência especial, com ausência de casas térreas, ficando em destaque o conjunto de sobrados. Os tipos mais comuns de partido são os de implantação transversal às ruas, em lotes estreitos e em terrenos que se desenvolvem paralelamente às mesmas contando frequentemente com pátios internos. Já o sistema construtivo, desperta mais atenção pela ausência de trabalhos de cantaria.
Além deste significativo marco paisagístico, pode-‐s notar também a existência do conjunto arquitetônico e urbanístico da cidade de Serro, que remonta, presumivelmente, à metade do século XVIII, resultado do povoamento em busca do ouro nas margens dos ribeirões e encostas dos morros. Destaca-‐se a arquitetura religiosa e civil, homogênea, típica do período colonial; e do sobradão na cidade de Minas Novas. Construção de grandes dimensões, pouco usuais para uma estrutura em madeira e taipa, é formada por um único bloco em quatro pavimentos, que aparece como um interessante exemplar da arquitetura popular do seu período.
Nesse sítio foram encontrados mestres e oficiais que executam os mais diferentes ofícios, que contribuíram para conformar a sua própria paisagem cultural. Os ofícios identificados e documentados foram: ofício de carpinteiro e marceneiro, canteiro, ferreiro, oleiro, adobeiro, taipeiro, pintor, ladrilheiro, esteireiro. Muitos destes também com transformações que impactaram significativamente o desenvolvimento de suas atividades. Assim, na região de Minas Novas e Diamantina, foram vistos ferreiros que substituíram os tradicionais foles utilizados na forja, para atiçar fogo ao carvão, por motores movidos a energia elétrica. Em Araçuaí, a equipe notou que o ferreiro visitado substituiu o fole por uma espécie de ventilador manual que funciona através de uma manivela comandada pelo mesmo.
A equipe de pesquisa percebeu a homogeneidade do sítio. Em relato afirma que, “apesar das diferenças físico-‐geográficas, socioeconômicas e históricas das três subdivisões do Vale do Jequitinhonha, o mesmo não acontece em relação às técnicas construtivas. Uma ou outra
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variação foi notada no modo de executar o ofício, mas por opção do artífice e não por região.” Nota-‐se ainda que a ação institucional, pequena mas presente, e seus efeitos, onde, por exemplo, os carpinteiros de Diamantina e do Serro, devido à presença de escritórios do IPHAN e à qualidade e quantidade de edificações de interesses cultural, apresentam uma maior intimidade com as diversas técnicas tradicionais.
Isso pode ser claramente notado no que diz respeito, por exemplo, à produção de adobe. Este apresenta “algumas variações na fabricação da massa utilizada podendo esta apresentar, ou não, o capim meloso que, segundo os artífices, garante uma maior consistência do material. Por outro lado, alguns artífices afirmaram que a ausência do capim meloso acelera o processo de secagem do adobe.” Assim, nota-‐se que a escolha pelas etapas da atividade nos pareceu bastante pessoal.
Conforme aponta um relato feito pela equipe de pesquisa, nota-‐se no sitio “a diferença da produção de tijolos de adobe no Médio Jequitinhonha, no Serro e em Diamantina. Nesta última, apesar da localização no Vale do Jequitinhonha, a produção de tijolos de adobe se faz mais escassa devido à qualidade do solo mais rochoso.” É interessante notar que a arquitetura de terra vai predominar no Vale do Jequitinhonha, onde esta ainda pode ser vista como estando claramente inserida no cotidiano dos moradores. Assim, nota-‐se na região do Vale do Jequitinhonha, principalmente, a presença da técnica construtiva tradicional viva. Aqui, nesta região, foi interessante perceber o marcante uso do barro na construção civil.
Neste mesmo sentido, notou-‐se também durante o trabalho de campo o claro processo de “industrialização” pelo qual passaram alguns ofícios e suas oficinas, ou seja, seus locais de execução da atividade. “Em alguns casos, a equipe de campo percebeu que “o método artesanal foi substituído pela a adaptação de algumas máquinas como no caso de uma tupia e de um desengrosso em duas marcenarias, respectivamente em Diamantina, para a produção de cimalhas. Nos municípios de Araçuaí e Almenara foi notada a utilização de cimento na mistura para a produção de ladrilhos hidráulicos e pisos cerâmicos queimados utilizados em obras de restauro.”
No Baixo Jequitinhonha, nos chamou a atenção a existência de um ofício ligado à produção arquitetônica eclética da segunda metade do século XIX e da primeira metade do século XX. Neste caso, a equipe observou “a presença de ofícios ligados às construções deste período, com destaque para a produção de ladrilho hidráulico e serralheria artística.” Por outro lado, foram identificados ofícios ligados à presença indígena na região como a produção do forro de taquara, a cobertura em folhas de coqueiro e o uso da mistura, utilizada como pintura, feita com barro branco, conhecida como tabatinga. Como afirmam os pesquisadores, esta mistura é feita de água, goma de mandioca e, em alguns casos, leite.
Por fim, segundo a equipe de pesquisa, “a execução, ou não, das atividades durante o ano está ligada principalmente a fatores socioeconômicos – migração para o interior do estado de São Paulo durante os meses destinados ao corte da cana –; fatores climáticos – período das chuvas e mudança da lua – e; fatores culturais – festas populares e religiosas.”
4. SÃO TOMÉ DAS LETRAS
Localizada ao sul do Estado de Minas Gerais, outra região que nos chamou a atenção na pesquisa foi a de São Tomé das Letras. Destacam-‐se em sua paisagem as formações naturais,
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como a conhecida Serra de São Thomé das Letras. Da mesma forma, nos chama a atenção a Serra de Cantagalo, que aparece também como um elemento marcante em sua paisagem. Em especial, essas duas serras conformam um vale em meio ao qual se desenvolveram algumas cidades da região.
Neste mesmo meio natural, marca também a paisagem da região a presença dos grandes e importantes rios, o Grande e o Verde, além de outros pequenos ribeirões, como o Caí, o Peixe, o Cantagalo e o Vermelho, que deságuam ambos no rio Verde. Certamente, considerando-‐se este meio natural caracterizado pelas serras, cobertas por densa vegetação, e rios, nos chamam a também a atenção a grande quantidade de nascentes ali existentes. Pode-‐se perceber assim na paisagem a diversas formações rochosas distribuídas em todo o seu território, que resultam em cachoeiras e grutas, bons atrativos para turistas, mas que estão envolvidas também pelas atividades mineradoras. É claro que, em meio à exuberância de suas matas, existem ainda áreas onde a vegetação é escassa, coincidindo com atividades antrópicas como agropecuária e mineração.
Se por um lado notamos o papel das formações rochosas na formação da paisagem natural, também notamos seu papel na formação da paisagem construída, através, principalmente, de sua exploração pela mineração. É das formações rochosas especificamente que são extraídas pedras ornamentais quartzito São Thomé, em que se ancora grande parte da economia local, mas que tem trazido profundas degradações ao ambienta natural do sítio. Há predominância dos quartzitos de coloração branca, amarela e rosa, denominados comercialmente de Pedra São Tomé Branco, Amarelo e Róseo. Os quartzitos brancos predominam nas explorações, os amarelos correspondem aos níveis superiores das jazidas, mais susceptíveis aos processos de alteração devido à percolação de águas meteóricas e os Róseos ocorrem nas extremidades da frente de lavra. Desde as primeiras ocupações do município, verifica-‐se a utilização das pedras quartzito em sua arquitetura vernácula.
O município possui ainda um grande acervo arqueológico representado por inscrições rupestres espalhadas no seu território, no entanto, muito degradado, cujo valor parece não ser conhecido ou é desprezado. Além dos sítios arqueológicos com inscrições, existem relatos de moradores do município que afirmam ter encontrado objetos de pedra, bastões e cabeças de machadinhas.
A ocupação da região foi também bastante característica, onde, diante da povoação do sudeste brasileiro, o município de São Thomé das Letras se fez notável pela sua localização ao sul da Capitania de Minas Gerais, cuja comarca do período colonial pertencia à do Rio das Mortes, uma das três primeiras existentes na capitania. A posição estratégica dessa região foi reforçada pela política de integração da região centro-‐sul que visava, em seus objetivos econômicos, garantir a produção e o abastecimento da Corte no Rio de Janeiro. Foi nesse contexto que surgiu o núcleo urbano de São Thomé das Letras, próximo ao núcleo de Baependi, com seus primeiros relatos datados de 1770 com a ereção de uma capela que, posteriormente, em 1785 foi substituída pela atual Matriz. No entorno desta igreja, foram construídas as primeiras residências, e delimitado o primeiro traçado das ruas com o eixo principal no sentido sudoeste-‐nordeste, que ligava a Igreja Matriz com a Igreja Nossa Senhora do Rosário, localizada ao nordeste do novo núcleo urbano. Até 1897, foram abertas novas ruas, e o número de edificações aumentou. O traçado das ruas e o desenho original das quadras foram preservados, ou seja, novas edificações e ruas foram apenas adicionadas à malha original.
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A formação sócio-‐econômica do município está estreitamente ligada à extração das rochas de quartzito, a denominada pedra de São Thomé e que pode ser definida em cinco estágios. O primeiro deles é compreendido pela retirada dos primeiros fragmentos de rocha, utilizados pelos colonizadores para construir seus templos e suas moradas até o final do século XIX, quando as lajes do quartzito já estavam circulando pela região que faz o entorno da serra. O segundo vai do final do século XIX até o início da década de 1940, quando é iniciada, no alto da serra, a “indústria da pedra”, termo utilizado pelos próprios mineradores. O terceiro estágio está entre as décadas de 1940 e 1970, época em que provavelmente a utilização de explosivos foi incorporada ao método de lavra; o quarto vai de 1970 até a década de 1990, inicia-‐se a atuação do poder público sobre a mineração e os agentes fiscalizadores que passam a controlar a extração dos quartzitos em função da degradação ambiental gerada pela atividade. O último estágio é o compreendido pela incorporação de medidas que visavam satisfazer as exigências dos órgãos fiscalizadores do meio ambiente como maneira de garantir a permanência da atividade mineradora no alto da Serra de São Thomé das Letras.
Seria ainda interessante notar também nesta região que aquele encontro entre os fatores naturais e culturais dera origem a uma paisagem construída bastante peculiar, composta por elementos construídos, evidências da ação daquela sociedade sobre o meio natural. Assim, nesse contexto, nota-‐se a existência de uma paisagem formada pela fusão dos elementos naturais e construídos, como o conjunto arquitetônico e urbanístico de São Thomé das Letras e Matriz de São Thomé das Letras que remontam à segunda metade do século XVIII. Além deste destaca-‐se também o conjunto arquitetônico e urbanístico da Capela de Nossa Senhora do Rosário que remontam à segunda metade do século XVIII.
Nesse mesmo sítio foram encontrados mestres e oficiais que executam os mais diferentes ofícios, que contribuíram para conformar a esta paisagem, como o ofício de canteiro. Os ofícios identificados e documentados foram os ofícios de canteiro e taipeiro. No sitio de São Thomé das letras nos chama a atenção o predomínio do uso da cantaria como principal técnica construtiva utilizada pelos mestres e desenvolvida segundo características bastante particulares.
Na cidade de Antonio Carlos, chamou-‐nos a atenção a entrevista com um pintor italiano, especializado em afresco e com um pedreiro que trabalha com a pedra, que executa principalmente muros e paredes de pedra seca ou argamassada. O pintor desenvolve outras técnicas de pintura e alguns trabalhos artesanais, além do ofício de canteiro; faz de tudo um pouco e possui habilidades que vão desde pintura, escultura, jardinagem, trabalhar com a madeira, fazer adobe e crochê. A cidade não comporta os dois ofícios citados, fazendo com que os oficiais desempenhem outras atividades para sobreviverem.
Em São Tomé das Letras foram também entrevistados os denominados pedreiros de pedra. Todos apresentam parentesco e estão ligados à história da cidade e das construções em pedra. Em suas falas mostraram, sem exceção, a influência dos antepassados, a profunda ligação com a natureza e a intimidade com a pedra. Utilizam a mesma técnica, com suas peculiaridades trabalham a pedra e o modo de fazer é que tornam suas marcas registradas. Ao olhar para uma construção sabem identificar seu construtor. Um entrevistado afirmou: “... queria domar a pedra. Comecei a domar e estou aprendendo até hoje. Às vezes, acredito que ela doma a gente”. E cantou Milton Nascimento: “No meio do meu caminho sempre haverá uma pedra, plantarei a minha casa numa cidade de pedra”.
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Os entrevistados relataram com orgulho o que sabem fazer e com tristeza, por parte de alguns, a situação em que estes têm que abandonar as construções e ir trabalhar nas pedreiras para sobreviverem. Apesar do predomínio da construção em pedra, foi encontrado também um Senhor de 80 anos que construiu muito com pau-‐a-‐pique na região.
Por fim, podemos perceber que a região é caracterizada por seus municípios serem ainda tipicamente rurais e pouco povoados, mas bem desenvolvidos. O turismo é uma atividade econômica importante do município, cujos principais atrativos são a história e arquitetura peculiar, com edificações civis e religiosas erguidas em pedra, as belezas naturais que exibem quedas d’água, grutas, cavernas e paredões, e também pelo misticismo. Entretanto, uma das maiores fontes de renda do município ainda é a extração do quartzito que data desde o início da ocupação do arraial. Essa atividade de mineração tem se firmado como uma das principais fontes de trabalho da população local e tem sido feita sem planejamento, o que tem prejudicado a atividade turística, já que as paisagens natural e urbana estão sendo comprometidas pela mesma.
5. ORIGEM DAS TÉCNICAS E PARTICULARIDADES LOCAIS
Os centros urbanos surgidos na época do Brasil colonial foram implantados a partir de regras bem definidas pelos administradores portugueses, advindas das Cartas Régias, em relação a alinhamento, traçado das ruas, configuração dos lotes e das edificações. Em Minas Gerais, as edificações foram construídas por mestres europeus altamente especializados em seus ofícios, num trabalho conjunto com a primeira geração de artífices mineiros, utilizando a matéria prima local e aperfeiçoando as técnicas por eles conhecidas de acordo com as necessidades encontradas em terras brasileiras, construído a chamada arquitetura colonial mineira.
Na época atual, a restauração e a manutenção deste contexto urbano também demandam mestres especializados, orgulhosos por saber reproduzir e conservar as técnicas tradicionais. A prática e transmissão destas técnicas estão vinculadas às obras de restauração, muitas delas impulsionadas pelos órgãos governamentais, como IPHAN e IEPHA.
O IEPHA, cuja estrutura administrativa está instalada em Belo Horizonte, foi criado na década de 1970. Nesta mesma década seriam organizadas as sedes regionais do IPHAN, entre elas a Superintendência de Belo Horizonte. Na década de 1980 foram instituídos os escritórios locais do IPHAN nas cidades históricas e criada a Equipe de Obras Urgentes de Ouro Preto, que daria início à organização destas equipes também em Diamantina, Serro, Tiradentes e São João Del Rei. Nesta época, devido a problemas ambientais e urbanísticos que atingiram a cidade de Ouro Preto, como adensamento desordenado, desmoronamentos por ocupação de áreas de risco geológico e chuvas torrenciais, efeitos negativos do tráfego pesado, a Prefeitura Municipal e o IPHAN firmaram um convênio para realizar um projeto abrangente de gestão. A criação da Equipe de Obras consiste em uma das peças desta ação, através da qual foram realizadas em Ouro Preto cerca de 400 intervenções de restauração arquitetônica, onde foram recuperadas cerca de 150 residências e três igrejas, conforme informações da publicação As Equipes de Obras do IPHAN em Minas Gerais, MINC/ IPHAN (2009).
Apesar de alguns profissionais mais velhos deterem o conhecimento das técnicas tradicionais, a maior parte dos trabalhadores que ingressaram nesta época no IPHAN detinha conhecimento específico em suas áreas de atuação, porém, nunca tinha trabalhado em obras
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de restauração, e assim, passaram por algum curso de formação com técnicos do Instituto, como arquitetos e restauradores. O aprendizado, desta forma, veio com a prática no cotidiano de cada obra.
As técnicas construtivas tradicionais encontradas nos sítios escolhidos em Minas Gerais, com exceção da capital Belo Horizonte, são aquelas utilizadas na construção das edificações no século XVIII, técnicas artesanais originárias da cultura portuguesa. Estas edificações apresentavam estrutura autônoma com pilares e vigas em madeira, unidos por encaixes, sem parafusos, vedadas com alvenaria de terra (adobe, taipa e painéis de pau-‐a-‐pique), rebocados com argamassa de areia e cal, recebendo pintura a base de cal. A maioria das casas não possuía afastamentos frontais e laterais, e apresentava telhados em duas águas, estruturados por tesouras de madeira, sendo que o encontro entre a inclinação das águas e o plano horizontal do beiral era obtido por uma curvatura conhecida como contrafeito. Os beirais eram feitos por uma linha contínua de caibros horizontais, conhecidos como cachorros, que apresentavam acabamento tipo peito de pomba nas extremidades. Os telhados recebiam proteção das telhas de barro curvas. A vedação dos vãos de portas e janelas era feito com esquadrias de madeira, com folhas cegas tipo calha, algumas com guilhotinas de caixilho na face externa, equipadas com aldrabas, dobradiças e fechaduras em ferro forjado. A pintura das madeiras era feita com tinta a óleo com pigmentos naturais. Como a composição arquitetônica das edificações seguia padrões bem definidos, que geravam uma estética homogênea, a diferenciação vinha do uso de adornos e acabamentos. Assim, as casas mais abastadas eram dotadas de balcões sacados ou entalados, guarnecidos por parapeito em gradil de ferro ou balaústres em madeira ou pedra sabão, apresentavam ainda adornos como cimalhas nos beirais e sobrevergas nas portas e janelas, também em madeira ou cantaria. Em relação aos ambientes internos, as casas mais modestas apresentavam piso em chão de terra batida e forro em esteira, e as mais opulentas, piso em assoalho de madeira e forro em tábuas tipo saia e camisa, ou ainda artesoados, arrematados com cimalha.
Em Belo Horizonte e cidades da região metropolitana como Contagem e Nova Lima, foram encontrados profissionais que trabalham na restauração de edificações históricas contemporâneas da construção da nova capital, inaugurada em 1897, marco emblemático da política republicana. Foram contratados profissionais europeus especializados nos diversos ofícios voltados para o estilo neoclássico, e posteriormente, de estilo eclético europeu. As duas influências possuem elementos arquitetônicos com alto grau de elaboração e adornos, exigindo a atuação de profissionais qualificados. Soluções construtivas e decorativas mais complexas começaram a ser utilizadas, como a marcação das fachadas por colunatas e frontões, vãos em arco pleno; as portas, ao invés de bandeiras com vidro, utilizavam grades de ferro forjado com desenhos e a data da construção na parte central; os quadros das portas e janelas começaram a ser feitos em estuque. Os interiores também começaram a ser mais luxuosos, com piso em xadrez de mármore, escadarias em ferro, portas almofadadas, paredes muito altas, divididas em painéis, às vezes cobertas com papel decorativo; arrematadas com rodapés em madeira e sancas em gesso no topo. Os forros apresentavam a área central marcada por lustre com adornos em auto-‐relevo de estuque, como rosáceas e folhas de acanto.
Nas cidades inventariadas, percebe-‐se que a transmissão dos conhecimentos se deu tanto através do vínculo familiar e do vínculo mestre-‐aprendiz no meio profissional, como também através de cursos de formação, como o SENAI (Barão de Cocais, Belo Horizonte, Contagem,
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Mariana, Ouro Preto, Sabará, Santa Luzia, São João Del Rei e Diamantina), ou ainda através de cursos de extensão oferecidos pela Universidade Federal de Ouro preto, ou da FAOP (Fundação de Artes de Ouro Preto), que também atua em Congonhas do Campo. Ou ainda através de programas do Governo Federal, como o Programa Monumenta, que realizou cursos de capacitação na cidade de Ouro Preto e Minas Novas ministrados por mestres da própria cidade e ainda por profissionais vindos da Região Metropolitana de Belo Horizonte e que atuam em várias localidades. Empresas especializadas em restauração de Belo Horizonte, como a Walter Coscarelli Ltda., também tiveram um papel importante na formação de mão de obra local, que passou a atuar em cidades históricas não só nas proximidades da região metropolitana, mas também na região de Diamantina e Serro.
Por outro lado, nas cidades onde os órgãos patrimoniais atuam de forma menos efetiva, por exemplo, onde não foram instalados os Escritórios Técnicos do IPHAN, que possibilitaria uma fiscalização mais sistemática das obras realizadas em edificações protegidas legalmente, ou em cidades onde a atividade turística ainda não se delineou como um setor de grande monta para a economia local, a permanência e a difusão das técnicas tradicionais tornam-‐se raras, sendo que a alternativa encontrada pelos profissionais destas localidades consiste em trabalhar em outras cidades onde há demanda para estes serviços, ou até mesmo mudar para um ramo de atividade mais rendoso.
As técnicas tradicionais, de modo geral, são executadas atualmente da mesma maneira como surgiram na Região Central de Minas Gerais, utilizando praticamente as mesmas matérias primas e os mesmos modos de fazer. Contudo, com o crescimento e adensamento dos centros urbanos, a partir da metade do século XX, o ritmo do mercado tornou-‐se mais dinâmico, regido pela necessidade de produzir em maior quantidade e de maneira mais rápida. As inovações tecnológicas ocorreram com a mecanização dos processos produtivos, com a substituição de ferramentas manuais usadas de forma artesanal por ferramentas e equipamentos elétricos. A aquisição de produtos industrializados tornou-‐se mais acessível aos profissionais da construção civil.
A preocupação em preservar o meio ambiente, que delineou o pensamento das ciências econômicas a partir dos anos setenta, consolidando-‐se em protocolos e legislações nos anos noventa, também repercutiu nos serviços pertinentes à construção civil, desde a etapa de extração da matéria prima até a própria execução. Na carpintaria, por exemplo, algumas espécies de madeira encontradas na região e tradicionalmente usadas nas edificações do século XVIII e XIX, como o mogno e o jacarandá, pelo fato de entrarem em processo de extinção, ficaram proibidas de serem extraídas, e madeiras antes consideradas de qualidade inferior, como o cedro, passaram a ser mais utilizadas, sendo trazidas da Região Norte do Brasil.
Uma mesma técnica apresenta peculiaridades no modo de fazer, de acordo com a região onde é realizada. Esta diferença pode ser notada até mesmo nas equipes de obras do IPHAN. Segundo o Superintendente de Minas Gerais, Leonardo Barreto, a equipe de obras de Tiradentes é mais voltada para o trabalho artesanal (nas alvenarias de terra e na carpintaria), enquanto que em Diamantina, a equipe busca maior produtividade, experimentando novos materiais e técnicas.
No Vale do Jequitinhonha, a região que é nacionalmente conhecida pela pobreza e pela cultura, surpreende positivamente pela solidariedade existente entre as pessoas e pela
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disposição para o trabalho e para a subsistência. Lá se planta o que se come, se cria o animal de cuja carne se come, com o barro se faz o tijolo e a telha para se construir a casa, se retira a madeira no mato para a fabricação de portas, janelas, estruturas de telhados, currais e carros de boi.
6. CONCLUSÃO
Sobre o processo de intervir ou transformar paisagens, Marchand (2003) atenta para o reconhecimento do pensamento humano, da técnica e do conhecimento como produtores ou transformadores dessas paisagens. Ele destaca a importância do processo sobre o produto porque sem o conhecimento que produz, usa, ou mesmo rejeita uma coisa, a mesma por si só perde o seu significado. Sob o olhar da antropologia, o autor ressalta a importância das pessoas – produtores e usuários – como geradores de conhecimento sobre a produção de artefatos, arquitetura e paisagens. Para ele, a memória cultural está incorporada nestas práticas e não nos produtos, e por meio de uma estrutura fornecida pela antropologia, o significado histórico, social e cultural dos conceitos do ambiente construído – espaço, lugar e arquitetura – podem ser avaliados criticamente.
Na Região Central, os ofícios tradicionais mais representativos são aqueles cuja matéria-‐prima compõe a paisagem dos lugares, como a formação geológica da Serra do Espinhaço, rica em formações rochosas e outros minerais; assim como a vegetação de transição entre Cerrado, Mata atlântica e Campos Rupestres.
A cantaria, peculiar em Ouro Preto, Mariana e Congonhas do Campo, construiu a paisagem das cidades históricas da Região das Minas no período colonial, a partir das pedras de quartzito retiradas das serras que emolduram seu entorno. A técnica erigiu ainda o sítio histórico de São João Del Rei, cuja paisagem urbana apresenta as pedras de quartzito e gnaisse encontradas nas serras circundantes.
Os metais também são abundantes na formação geológica da Região Central, reconhecido na história do Brasil colonial como fonte de riquezas da produção aurífera. O minério de ferro, utilizado nas minas setecentistas, ainda consiste em um dos mais importantes setores da economia do Estado, inclusive na área de exportação. Os ofícios ligados ao ferro, como fundição e ferraria, são atividades características da região.
O solo da Região Central é de melhor qualidade para os ofícios a ele ligado na Região do Campo das Vertentes e dali seguindo em direção à localidade de Sabará, onde são encontradas olarias que produzem lajotas de piso e telhas artesanais, assim como produtores de tijolos de adobe.
A vegetação da Região Central, em suas áreas mais caracterizadas pelo cerrado, onde se encontram espécies como a candeia e a goiabeira, fornecem madeira de troncos finos, usados no pau-‐a-‐pique e em forros de estuque de barro. As taquaras, também encontradas na mata da região, são usadas nestas técnicas, assim como na confecção de forros de esteira.
As cidades da Região Central inventariadas nesta pesquisa denotam a questão das transformações tecnológicas, arquitetônicas e urbanísticas ocorridas com o desenvolvimento industrial, assim como as mudanças políticas no país, desde a passagem do colonialismo para o império e depois para a república, onde houve a transferência da capital de Minas Gerais de
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Ouro Preto para Belo Horizonte. A região contempla desde a arquitetura colonial ao suntuoso estilo neoclássico e posteriormente eclético da nova capital, centro econômico e administrativo de Minas.
A valorização e manutenção das tipologias arquitetônicas pelos órgãos de preservação tiveram como conseqüência a continuidade ou a retomada das técnicas construtivas vinculadas a determinados estilos, para que pudessem ser aplicados nas obras de restauração. A valorização da estética e da história também ocorre na área do turismo cultural, ampliando o uso das técnicas tradicionais além da restauração para novas construções em estilo artesanal, como pousadas, restaurantes, entre outras edificações de apoio à infraestrutura turística.
No Vale do Jequitinhonha, a transmissão de pai para filho desses saberes acontece pela necessidade socioeconômica que caracteriza a região. Os mestres, quando crianças, já aprendem o ofício para que possam ajudar os pais nas atividades domésticas e profissionais. A palavra patrimônio – herança do pai – pode, nesse caso, ser caracterizado por esta transmissão de saber fazer. Porém, na maioria dos casos, essa transmissão está sendo interrompida pelo desinteresse dos herdeiros em exercerem atividades árduas que não exigem qualquer tipo de estudo. Muitos preferem seguir nos estudos, beneficiados por programas sociais criados em nível federal. Alguns mestres acham que o estudo só valerá a pena para os filhos se a remuneração for melhor do que a que sempre tiveram durante a vida. Muitos lamentam o fato de as crianças e jovens não poderem trabalhar, atualmente, por questões legais, pois foi nessa fase da vida que eles aprenderam o ofício.
Em relação às técnicas e aos ofícios, chama a atenção a diferença da produção de tijolos de adobe no Médio Jequitinhonha, no Serro e em Diamantina. Nesta última, apesar da localização no Vale do Jequitinhonha, a produção de tijolos de adobe se faz mais escassa devido à qualidade do solo mais rochoso.
Vale destacar, o processo de “industrialização” pelo qual passaram alguns ofícios e suas oficinas. Em alguns casos, o método artesanal foi substituído pela a adaptação de algumas máquinas como no caso de uma tupia e de um desengrosso em uma marcenaria em Diamantina, para a produção de cimalhas. Nos municípios de Araçuaí e Almenara foi notada a utilização de cimento na mistura para a produção de ladrilhos hidráulicos e pisos cerâmicos queimados utilizados em obras de restauro. Em Minas Novas e Diamantina, foram visitados ferreiros que substituíram os tradicionais foles utilizados na forja, para atiçar fogo ao carvão, por motores movidos a energia elétrica. Em Araçuaí, o ferreiro visitado substituiu o fole por uma espécie de ventilador manual que funciona através de uma manivela comandada por ele mesmo.
Os carpinteiros de Diamantina e do Serro, devido à presença de escritórios do principal órgão de proteção do patrimônio do país – IPHAN – e à qualidade e quantidade de edificações de interesses cultural, apresentam uma maior intimidade com as diversas técnicas empregadas no passado.
A produção de adobe de adobe também apresenta algumas variações na fabricação na massa utilizada podendo esta apresentar, ou não, o capim meloso que, segundo os artífices, garante uma maior consistência do material. Por outro lado, alguns artífices afirmaram que a ausência do capim meloso acelera o processo de secagem do adobe.
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No Baixo Jequitinhonha, o estilo arquitetônico predominante é o eclético, com edificações da segunda metade do século XIX e da primeira metade do século XX. Neste caso, observou-‐se a presença de ofícios ligados às construções deste período, com destaque para a produção de ladrilho hidráulico e serralheria artística.
Foram identificados também, ofícios ligados à presença indígena na região como o forro de taquara, a cobertura em folhas de coqueiro e o uso da mistura, utilizada como pintura, feita com barro branco – tabatinga –, água, goma de mandioca e, em alguns casos, o leite.
Então, como conclusão do trabalho de campo no Vale do Jequitinhonha, pode-‐se afirmar que, apesar das diferenças físico-‐geográficas, socioeconômicas e históricas das três subdivisões (Alto, Médio e Baixo), o mesmo não acontece em relação às técnicas construtivas. Uma ou outra variação foi notada no modo de executar o ofício, mas por opção do artífice e não pela região.
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