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II Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pósgraduação em Arquitetura e Urbanismo Teorias e práticas na Arquitetura e na Cidade Contemporâneas Complexidade, Mobilidade, Memória e Sustentabilidade Natal, 18 a 21 de setembro de 2012 1 Os mestres artífices em Minas Gerais: um panorama das técnicas construtivas tradicionais Master craftsmen in Minas Gerais: an overview of tradicional construction techniques Maestros artesanos en Minas Gerais: una introducción a las técnicas tradicionales de construcción 1 Guilherme Maciel ARAÚJO Arquiteto e Urbanista; Centro Universitário Izabela Hendrix; [email protected]. 2 Bernardo Nogueira CAPUTE Arquiteto e Urbanista; Centro Universitário Izabela Hendrix; [email protected] 3 Maria Raquel Alves FERREIRA Arquiteto e Urbanista; [email protected] 4 Paulo Henrique ALONSO Arquiteto e Urbanista; [email protected] RESUMO O presente trabalho apresenta uma análise dos resultados do projeto “Mestres Artífices Subprojeto Minas Gerais”, pesquisa para identificação de mestres artífices detentores de saberes construtivos tradicionais e registro das técnicas existentes no Estado de Minas Gerais. O “Mestres Artífices” foi um projeto idealizado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) com execução pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), por meio da Escola de Arquitetura. O objetivo do projeto foi identificar Mestres conhecedores das técnicas tradicionais de construção civil, bem como documentar as próprias técnicas e ofícios. Procurouse, por meio de entrevistas dirigidas, identificar os mestres, sua trajetória de vida, processo de aprendizado profissional, condições de exercício do ofício, vinculação do trabalho ao universo simbólico e religioso, técnicas, materiais e ferramentas de trabalho. Como resultado da pesquisa podemos apontar um total de 122 questionários digitalizados. O material final inclui: banco de imagens com retratos dos mestres, técnicas e instrumentos tradicionais; mapas de sítios; filmagens das técnicas tradicionais feitas pelos mestres; gravações em áudio das entrevistas ; cadastro de mestres artífices da arquitetura tradicional em Minas Gerais; cadastro suplementar de oficiais artífices da arquitetura tradicional em Minas Gerais; caderno de memória; glossário de termos. Como resultado do INRC, podese apontar ainda as 42 ficas de identificação de ofício, três fichas de identificação de sítios e quatro fichas de identificação de localidade. PALAVRASCHAVE: mestres artífices; técnicas construtivas tradicionais; Minas Gerais.

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 Os  mestres  artífices  em  Minas  Gerais:  um  panorama  das  técnicas  

construtivas  tradicionais    

Master  craftsmen  in  Minas  Gerais:  an  overview  of  tradicional  construction  techniques  

Maestros  artesanos  en  Minas  Gerais:  una  introducción  a  las  técnicas  tradicionales  de  construcción

 

1  Guilherme  Maciel  ARAÚJO

Arquiteto  e  Urbanista;  Centro  Universitário  Izabela  Hendrix;  [email protected].        

2  Bernardo  Nogueira  CAPUTE

Arquiteto  e  Urbanista;  Centro  Universitário  Izabela  Hendrix;  [email protected]    

3  Maria  Raquel  Alves  FERREIRA

Arquiteto  e  Urbanista;  [email protected]    

4  Paulo  Henrique  ALONSO

Arquiteto  e  Urbanista;  [email protected]      

RESUMO    O  presente   trabalho  apresenta  uma  análise  dos   resultados  do  projeto    “Mestres  Artífices   -­‐  Subprojeto  Minas   Gerais”,   pesquisa   para   identificação   de   mestres   artífices   detentores   de   saberes   construtivos  tradicionais  e  registro  das  técnicas  existentes  no  Estado  de  Minas  Gerais.  O  “Mestres  Artífices”  foi  um  projeto  idealizado  pelo  IPHAN  (Instituto  do  Patrimônio  Histórico  e  Artístico  Nacional)  com  execução  pela  UFMG  (Universidade  Federal  de  Minas  Gerais),  por  meio  da  Escola  de  Arquitetura.  O  objetivo  do  projeto  foi   identificar   Mestres   conhecedores   das   técnicas   tradicionais   de   construção   civil,   bem   como  documentar  as  próprias  técnicas  e  ofícios.  Procurou-­‐se,  por  meio  de  entrevistas  dirigidas,  identificar  os  mestres,  sua  trajetória  de  vida,  processo  de  aprendizado  profissional,  condições  de  exercício  do  ofício,  vinculação  do  trabalho  ao  universo  simbólico  e  religioso,  técnicas,  materiais  e  ferramentas  de  trabalho.  Como  resultado  da  pesquisa  podemos  apontar  um  total  de  122  questionários  digitalizados. O  material  final  inclui:  banco  de  imagens  com  retratos  dos  mestres,  técnicas  e  instrumentos  tradicionais;  mapas  de  sítios;   filmagens   das   técnicas   tradicionais   feitas   pelos   mestres;   gravações   em   áudio   das   entrevistas   ;  cadastro   de   mestres   artífices   da   arquitetura   tradicional   em   Minas   Gerais;   cadastro   suplementar   de  oficiais  artífices  da  arquitetura  tradicional  em  Minas  Gerais;  caderno  de  memória;  glossário  de  termos.  Como   resultado   do   INRC,   pode-­‐se   apontar   ainda   as   42   ficas   de   identificação   de   ofício,   três   fichas   de  identificação  de  sítios  e  quatro  fichas  de  identificação  de  localidade.    PALAVRAS-­‐CHAVE:  mestres  artífices;  técnicas  construtivas  tradicionais;  Minas  Gerais.  

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   ABSTRACT    This  paper  presents  an  analysis  of  the  results  of  the  "Master  Craftsmen  -­‐  Activity  Minas  Gerais",  search  for   the   identification   of  master   craftsmen  holders   of   traditional   knowledge   of   construction   techniques  and  registration  in  the  State  of  Minas  Gerais.  The  "Master  Craftsmen"  was  a  project  conceived  by  IPHAN  (Institute  for  National  Artistic  and  Historical  Heritage)  running  from  UFMG  (Federal  University  of  Minas  Gerais),  through  the  School  of  Architecture.  The  project  goal  was  to  identify  knowledgeable  Masters  of  the  traditional  techniques  of  construction,  and  document  the  proper  techniques  and  crafts.  Was  sought  through   interviews   aimed   to   identify   the   teachers,   their   life   trajectory,   the   learning   process   training,  procedures   for   exercising   the   office,   work   to   link   the   symbolic   universe   and   religious   techniques,  materials  and  tools.  As  a  result  of  research  we  can  point  to  a  total  of  122  questionnaires  scanned.  KEY-­‐WORDS:  master  craftsmen,  traditional  building  techniques,  Minas  Gerais.      RESUMEN:  Este   artículo   presenta   un   análisis   de   los   resultados   de   los   "Maestros   Artesanos   -­‐   Actividad   de  Minas  Gerais",  de   la  búsqueda  para   la   identificación  de   los  maestros  artesanos  poseedores  del   conocimiento  tradicional   de   las   técnicas   de   construcción   y   registro   en   el   Estado   de   Minas   Gerais.   Los   "Maestros  Artesanos"   fue   un   proyecto   concebido   por   el   IPHAN   (Instituto   del   Patrimonio   Histórico   y   Artístico  Nacional)  que  se  ejecuta  de   la  UFMG  (Universidad  Federal  de  Minas  Gerais),  a   través  de   la  Escuela  de  Arquitectura.  El  objetivo  del  proyecto  fue  identificar  Maestros  conocedores  de  las  técnicas  tradicionales  de  construcción,  y  documentar  las  técnicas  apropiadas  y  la  artesanía.  Se  solicitó  a  través  de  entrevistas  orientadas   a   identificar   a   los   maestros,   su   trayectoria   de   vida,   el   proceso   de   aprendizaje,   formación  procedimientos  para  el  ejercicio  del  cargo,  trabajan  para  unir  el  universo  simbólico  y  técnicas  religiosas,  materiales   y   herramientas.   Como   resultado   de   la   investigación   que   puede   apuntar   a   un   total   de   122  cuestionarios  analizados..  PALABRAS-­‐CLAVE  maestros  artesanos,  técnicas  de  construcción  tradicionales,  Minas  Gerais.  

1  INTRODUÇÃO  

Conforme  afirma  um  célebre  geógrafo  brasileiro,  “a  paisagem  é  o  conjunto  de  formas  que,  num  dado  momento,  exprimem  as  heranças  que  representam  as  sucessivas  relações  localizadas  entre  homem  e  natureza”  (SANTOS,  2002).  Assim,  a  paisagem  se  manifestaria  como  um  conjunto  de  objetos  concretos,  um  conjunto  transtemporal,  uma  construção  transversal  formada  pela  junção  de  objetos  passados  e  presentes.  Ao  contrário  do  espaço,  que  constituiria  numa  situação  única,  sempre  presente.  Assim,  a  paisagem  seria  um  “sistema  material”,  relativamente  mutável;  enquanto  o  espaço  seria  um  “sistema  de  valores”,  permanentemente  mutável.  A  paisagem  se  manifestaria  através  das  formas  criadas  em  diferentes  momentos  históricos,  constituindo  uma  espécie  de  palimpsesto,  onde,  mediante  acumulações  e  substituições,  as  ações  das  diferentes  gerações  se  sobreporiam.  Ou  seja,  a  paisagem  seria  um  tipo  de  pergaminho  ou  papiro  cujo  texto  haveria  sido  raspado,  dando  lugar  a  outro.  

Este  seu  caráter  de  palimpsesto  seria  o  que  transformaria  a  paisagem  num  valioso  instrumento  que  nos  permitiria  rever  as  etapas  do  passado,  sem  perder  a  perspectiva  de  conjunto.  Dentro  desta  revisão  é  que  nos  seria  permitido  “retomar  a  história  que  esses  fragmentos  de  idades  diferentes  representam  juntamente  com  a  história  tal  como  a  sociedade  a  escreveu  de  momento  em  momento”.  Olhando  desta  forma,  reconstituiríamos  “a  história  pretérita  da  

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paisagem”.  Se  por  um  lado  a  observando  conseguimos  esta  reconstituição,  por  outro,  só  entenderemos  sua  função  se  a  confrontarmos  com  a  sociedade  atual  e  suas  necessidades.  Assim,  a  paisagem  seria  a  “história  congelada”,  mas  participante  da  “história  viva”.  As  suas  formas,  seus  elementos  naturais  e  materiais,  é  que  se  realizam,  no  espaço,  as  funções  sociais.  

Assim,  sob  este  ponto  de  vista,  foi  que  procuramos  observar  as  paisagens  que  caracterizam  os  sítios  nos  quais  esta  pesquisa  se  delineou  no  Estado  de  Minas  Gerais.  Nesses  sítios,  sua  paisagem,  como  sabemos,  se  modificou  e  se  modifica,  através  das  relações  localizadas  entre  o  homem  e  a  natureza,  o  homem  e  os  objetos,  e  entre  o  homem  e  o  próprio  homem.  Seria  aquela  paisagem  constituída  por  elementos  naturais  e  artificiais  que,  tocada  pela  ação  e  pelo  trabalho  do  homem,  tornou-­‐se  um  “espaço  humano  em  perspectiva”.  Aquele  espaço  humano  sobre  o  qual  se  projeta  aquele  “conjunto  das  práticas,  das  técnicas,  dos  símbolos  e  dos  valores  que  se  devem  transmitir  às  novas  gerações  para  garantir  a  reprodução  de  um  estado  de  coexistência  social”  (BOSI,  1995),  que,  homogeneamente  cultural,  distingue  um  determinado  grupo  social  de  outro.  Assim,  a  pesquisa  de  identificação  e  documentação  das  técnicas  construtivas  desenvolveu-­‐se  em  três  sítios  que  foram  inventariados,  ou  seja,  a  Região  das  Minas  e  Região  do  Vale  do  Jequitinhonha  e  São  Thomé  das  Letras,  no  Estado  de  Minas  Gerais.  Tal  delimitação  justificou-­‐se  pelo  fato  de  que  esses  sítios  se  constituíam  claramente  como  áreas  cultural,  histórica  e  geograficamente  homogêneas,  assim  como  suas  subdivisões  guardavam  características  de  semelhança  e  peculiaridades.  Buscou-­‐se  assim,  tecer  um  fio  condutor  sob  o  qual  pudéssemos  ler,  através  da  paisagem,  a  formação  daqueles  sítios,  compreendendo  os  elementos  que  distinguem  histórica  e  culturalmente  aqueles  grupos  sociais.  

2.  A  REGIÃO  DAS  MINAS  

Pode-­‐se  observar  na  porção  central  do  Estado  de  Minas  Gerais,  um  sítio  que  nesta  pesquisa  denominou-­‐se  como  Região  das  Minas,  cujo  centro  geográfico  é  a  capital  do  Estado,  Belo  Horizonte,  e  que  tem  como  fator  importante  em  seu  processo  de  formação  a  significativa  relação  entre  os  elementos  naturais  e  culturais.  Esse  sítio  é  conhecido  como  uma  das  regiões  mais  ricas  do  Estado,  congregando  cidades  altamente  povoadas,  caracterizando-­‐se  por  seus  municípios  tipicamente  urbanos  e,  em  sua  maioria,  bastante  desenvolvidos  nos  seus  mais  diferentes  aspectos.  

Num  breve  olhar  sobre  a  área  central  do  Estado  de  Minas  Gerais,  pode-­‐se  notar  que  esta  tem  como  elemento  marcante  paisagem  natural,  com  os  rios  e  morros.  O  relevo  é  em  sua  maior  parte  montanhoso  e  marcado  pela  presença  da  Serra  do  Espinhaço,  formada  por  uma  cadeia  de  montanhas  que  segue  em  direção  ao  norte.  Considerando  ainda  estes  elementos,  existem  importantes  picos  e  serras  que  conformam  o  maciço  do  Espinhaço  e  se  destacam  na  paisagem  em  todo  o  sítio,  e  muitas  vezes  dos  próprios  municípios  ali  presentes,  que  são  principalmente:  Serra  São  José  no  município  de  Tiradentes;  pico  do  Itacolomi,  em  Ouro  Preto;  Serra  do  Caraça,  em  Barão  de  Cocais  e  em  Santa  Bárbara  e  Serra  do  Curral  em  Belo  Horizonte.  Assim,  muitas  vezes  em  função  de  sua  imponência,  estes  elementos  contribuíram  significativamente  para  dar  a  feição  daquelas  paisagens  e  para  orientar  os  homens  nas  escolhas  dos  locais  de  fixação.  Assim,  além  disso,  esses  elementos  também  contribuíram  é  claro  para  a  formação  da  paisagem  cultural  do  sítio,  onde,  em  meio  àqueles,  surgiram  os  pequenos  povoados  que,  por  

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sua  vez,  se  constituíram  em  cidades  portadoras  de  uma  cultura  que  guardam  características  da  região.  

Por  detrás  destas  formações  montanhosas  é  que  podemos  dizer  que  este  sítio  surgiu  e  se  caracterizou  socialmente  e  culturalmente.  O  processo  de  ocupação  e  povoamento  da  região  das  Minas  pelos  colonizadores  se  fez  efetivamente  somente  a  partir  das  expedições  para  descoberta  de  ouro  e  metais  preciosos  no  início  do  século  XVIII,  através  das  incursões  que  paulistas  e  outros  forasteiros  fizeram  por  esta  região,  vindos  principalmente  de  São  Paulo.  A  primeira  grande  expedição,  incentivada  pela  Coroa  Portuguesa,  foi  em  1674,  de  Fernão  Dias  Paes  que,  segundo  alguns  historiadores,  deixaram  marcas  no  território  como  o  chamado  “caminho  velho”  e,  com  a  descoberta  de  ouro  e  metais  preciosos  e  grande  afluxo  de  imigrantes  exploradores,  propiciaram  o  surgimento  de  pequenos  arraiais  que  mais  tarde  se  configuraram  como  vilas  e,  posteriormente,  como  comarcas.  Boa  parte  dos  historiadores  descreve  que  as  primeiras  descobertas  de  ouro  se  deram  na  região  da  atual  cidade  de  Ouro  Preto,  no  córrego  Tripuí,  ainda  no  final  do  século  XVII  e  foi,  a  partir  desta  descoberta,  que  começou  a  corrida  pela  busca  desses  metais  nas  Minas  e,  conseqüentemente,  o  povoamento  e  ocupação  da  região  por  outros  povos.  A  atividade  mineradora  (ouro  e  pedras  preciosas)  atingiu  o  auge  de  produção  na  primeira  metade  do  século  XVIII  proporcionando  o  surgimento  de  lugares  e  uma  rede  desses  lugares  que  sobreviveram  e  se  desenvolveram  em  função  da  mineração.    

Segundo  Sylvio  de  Vasconcellos  (1968),  nas  Minas,  com  exceção  de  Mariana  e  Diamantina,  que  teve  certo  controle  da  Coroa  Portuguesa,  a  urbanização  é  determinada  pela  mineração,  consolidando-­‐se  através  do  comércio,  tendendo  a  conformação  centrípeta  do  grupamento  humano,  com  trecho  urbano  compacto.  Os  povoados  se  formam,  num  primeiro  momento,  através  dos  acampamentos  de  uma  sociedade  pouco  diferenciada,  com  moradias  precárias,  muitas  vezes  cobertas  somente  de  sapé  e  uma  pequena  capela  que  aglutina  os  primeiros  aventureiros,  instáveis,  à  procura  de  fortuna,  e  dinâmicos  no  comportamento.  Os  povoados  se  desenvolvem  e  se  elevam  a  vilas.  O  comércio  obtém  alta  lucratividade  e  o  aglomerado  humano  passa  a  não  ser  mais  nivelado  em  um  grupo  social  unitário.  Surgem  novas  necessidades  e  com  elas  novos  profissionais:  ferreiros,  carapinas,  alvanéus,  alfaiates,  seleiros,  entalhadores,  que  vão  contribuir,  dentre  outras  coisas,  para  dar  feição  àquela  paisagem  construída.  

Dessa  forma  as  Minas  vão  sendo  ocupadas  por  povos  de  origens  diversas  e  multiculturais,  conformando  uma  sociedade  basicamente  urbana,  que  enfrenta  toda  sorte  de  adversidades:  a  convivência  com  povos  diferentes;  terrenos  íngremes,  montanhosos,  desconhecidos,  de  difícil  locomoção  e  instalação;  luta  constante  contra  as  restrições  impostas  pela  Coroa  Portuguesa;  luta  contra  os  próprios  pares  na  busca  pelo  ouro  e  metais  preciosos,  ao  mesmo  tempo  em  que  precisam  se  organizar  para  sobreviverem.  Segundo  alguns  autores,  foram  essas  condições  que  fizeram  surgir  nas  Minas  uma  sociedade  irrequieta,  dinâmica,  rebelde,  democrática  e  de  alguma  forma  organizada,  diferente  da  que  se  fez  anteriormente  no  ciclo  da  cana-­‐de-­‐açúcar,  que  era  relativamente  estável,  paternalista  e  conservadora  na  manutenção  dos  privilégios.  

Com  o  declínio  da  atividade  mineradora  no  final  do  século  XVIII  e  início  do  século  XIX  o  governo  português  incentiva  a  exploração  de  novos  territórios  com  a  abertura  das  regiões  anteriormente  proibidas.  As  Minas  sofrem  por  todo  o  século  XIX,  grande  processo  de  decadência  econômica:  se  antes,  na  primeira  metade  do  século  XVIII,  está  no  auge  do  seu  desenvolvimento  propiciado  pela  atividade  mineradora,  posteriormente,  no  século  XIX,  já  com  essa  atividade  exaurida,  através  dos  meios  que  se  tinha  para  explorá-­‐la,  a  região  não  consegue  

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o  mesmo  desenvolvimento  com  a  pecuária  e  agricultura,  tendo  em  vista  a  natureza  do  seu  solo,  pouco  propício  a  essas  atividades.  No  entanto,  pouco  a  pouco,  durante  o  século  XIX  algumas  novas  iniciativas  foram  sendo  feitas  no  que  diz  respeito  á  atividade  mineradora,  dessa  vez  quanto  à  descoberta  e  utilização  do  ferro,  mineral  também  abundante  nas  terras  de  Minas.  Verifica-­‐se  a  criação  em  toda  a  região  de  algumas  fábricas  de  ferro.  Em  1876  a  criação  da  Escola  de  Minas,  em  Ouro  Preto,  é  interpretada  como  um  marco  do  que  seria  a  nova  vocação  das  Minas,  consolidada  no  decorrer  do  século  XX,  Estas  atividades  econômicas  impactariam  consideravelmente  na  formação  de  profissionais  especializados  em  determinados  ofícios.  

Seria  ainda  interessante  notar  que  aquela  interpenetração  mútua  entre  os  fatores  naturais  e  culturais  daria  origem  a  uma  paisagem  construída  de  grande  significado  para  a  vida  dos  moradores  das  Minas.  Neste  contexto,  destaca-­‐se  conjunto  arquitetônico  e  paisagístico  do  Santuário  de  Nossa  Senhora  da  Piedade  no  município  de  Caeté.  Santuário  religioso,  fundado  no  século  XVIII,  situado  no  alto  da  serra  da  Piedade,  de  onde  se  descortina  paisagem  montanhosa;  o  conjunto  arquitetônico  e  paisagístico  do  Colégio  do  Caraça  no  município  de  Catas  Altas.  Este  conjunto  tem  suas  origens  ligadas  à  ação  devocional  da  Capitania  de  Minas  no  século  XVIII  e  que  se  transforma,  no  século  XIX  em  centro  de  formação  educacional  da  província;  o  conjunto  arquitetônico,  paisagístico  e  escultórico  do  Santuário  de  Bom  Jesus  de  Matozinhos  no  município  de  Congonhas,  que  teve  sua  construção  iniciada  em  1757,  por  iniciativa  do  imigrante  português  Feliciano  Mendes  como  agradecimento  de  graça  alcançada.  O  conjunto  é  composto  por  templo,  um  grande  adro  ornamentado  por  conjunto  de  doze  profetas  esculpidos  em  pedra-­‐sabão  e  capelas  que  abrigam  imagens,  e  hoje  é  bastante  conhecido  pelos  trabalhos  artísticos  de  Antônio  Francisco  Lisboa,  o  Aleijadinho,  Francisco  Xavier  Carneiro  e  Manuel  da  Costa  Athaíde.  

Nota-­‐se  ainda  como  resultado  daquela  interação,  a  existência  dos  conjuntos  urbanos,  muitas  vezes  resultantes  daquele  processo  que,  como  afirma  um  conhecido  historiador,  “não  chega  a  contradizer  o  quadro  natural,  e  sua  silhueta  se  enlaça  na  linha  da  paisagem”  (HOLANDA,  2003).  Neste  contexto,  nota-­‐se  o  conjunto  arquitetônico  e  urbanístico  da  cidade  de  Mariana  e  de  Ouro,  compostos  por  edificações  remanescentes  do  período  colonial,  construído,  principalmente,  no  século  XVIII  onde  se  destacam  Casa  de  Câmara  e  Cadeia,  igrejas  em  estilo  barroco  ou  rococó  e  casario  entre  um  e  dois  pavimentos  construídos  em  pau-­‐a-­‐pique,  adobe  ou  taipa  com  coberturas  em  telhas  cerâmicas  e  relação  entre  cheios  e  vazados  que  obedecem  a  uma  mesma  proporção  em  todas  as  edificações;  e  seu  traçado  urbano  com  as  ruas  principais,  em  sua  maioria,  acompanhando  o  desenho  dos  morros  e  córregos,  entrecortado  de  becos,  travessas  e  ladeiras  com  chafarizes  e  pontes  de  cantaria,  resultado  da  interligação  entre  os  antigos  núcleos  esparsos  do  início  da  mineração  aurífera.  Seria  importante  entender  tais  elementos  construídos  como  evidências  claras  da  presença  e  da  ação  daquela  sociedade  complexa  naquela  região,  com  seus  saberes  e  ofícios.  

Por  outro  lado,  seria  interessante  notar  também  que  a  preservação  desta  paisagem  só  foi  pensada  na  década  de  1930,  quando  as  primeiras  iniciativas  de  preservação  do  Patrimônio  Cultural  no  Brasil  se  voltam  para  as  cidades  mineiras  formadas  no  início  do  ciclo  da  mineração:  em  1933,  Ouro  Preto  é  decretada  pelo  Governo  Federal  como  Monumento  Nacional;  em  1938,  São  João  Del  Rei,  Serro,  Ouro  Preto,  Tiradentes,  Mariana  têm  o  seu  Conjunto  Arquitetônico  e  Urbanístico  tombados  com  inscrição  no  Livro  das  Belas  Artes,  pelo  recém  criado,  naquela  época,  Serviço  Nacional  do  Patrimônio  Histórico  e  Artístico  Nacional  (SPHAN).  E,  na  década  de  1980,  três  dessas  cidades  mineradoras,  ou  parte  delas,  são  eleitas  Patrimônio  Cultural  da  

                                                                     II  Encontro  da  Associação  Nacional  de  Pesquisa  

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Humanidade  pela  UNESCO:  Ouro  Preto  em  1981;  o  Santuário  de  Bom  Jesus  na  cidade  de  Congonhas,  em  1985;  e  o  centro  histórico  da  cidade  de  Diamantina,  em  1989,  este  último  já  fora  do  sítio  das  Minas.  

No  entanto,  nota-­‐se  que  esta  atuação  institucional  dos  órgãos  de  preservação  do  patrimônio  cultural  foi  um  importante  fator,  além  de  outros,  para  se  compreender  esta  área  enquanto  uma  unidade  de  análise.  Assim,  quanto  a  esta  delimitação,  existem  no  sítio  quatro  localidades  que  se  caracterizaram  ou  pela  ação  institucional  daqueles  órgãos;  ou  pela  presença  do  turismo  como  fomentador  de  restaurações  no  patrimônio  edificado  e,  conseqüentemente,  pela  demanda  por  profissionais  das  técnicas  construtivas  tradicionais;  ou  pela  atuação  de  profissionais  em  lugares  de  ocupação  mais  recente,  que  atendem  com  muita  freqüência  aos  órgãos  de  preservação,  oferecendo  seu  conhecimento  das  técnicas  construtivas  tradicionais.  Seria  importante  notar  que,  de  alguma  forma,  todos  esses  fatores  estão  relacionados  à  atuação  daqueles  órgãos.  

Dessa  forma,  têm-­‐se  a  localidade  de  Ouro  Preto,  Mariana  e  adjacências  onde  se  verificou  que  a  existência  de  ofícios  e  técnicas  construtivas  tradicionais  se  deve,  principalmente,  à  ação  daqueles  órgãos,  os  quais  promovem  constantemente  cursos  e  atividades  no  sentido  de  manter  os  ofícios  sempre  existentes  e  onde,  principalmente,  se  faz  muito  presente  a  atuação  do  órgão  de  preservação  federal,  o  Instituto  de  Patrimônio  Histórico  e  Artístico  Nacional  e,  nos  últimos  anos,  o  Programa  Monumenta.  Além  desses  há  a  Fundação  de  Artes  de  Ouro  Preto  e  a  Universidade  Federal  de  Ouro  Preto,  que  também  são  protagonistas  na  oferta  constante  de  cursos  de  formação  profissional.  Em  contraposição,  na  localidade  de  Sabará  e  adjacências,  verificou-­‐se  a  ausência  dessas  instituições  presentes  em  Ouro  Preto  e  Mariana,  percebendo-­‐se,  assim,  certo  desestímulo  à  manutenção  dos  ofícios  e  das  técnicas  construtivas  tradicionais.  Tal  fato,  contribuiria,  a  nosso  ver,  também  para  a  formação  de  uma  certa  paisagem  esquecida.  

Podemos  identificar  a  localidade  de  São  João  Del  Rei,  Tiradentes  e  adjacências  está  fortemente  marcada  pela  atividade  turística.  Nesta  localidade,  principalmente,  devido  à  grande  afluência  de  turismo  que  a  cidade  de  Tiradentes  vem  experimentando  nos  últimos  anos,  tem  propiciado  a  restauração  e  manutenção  de  grande  parte  do  patrimônio  edificado  o  que,  conseqüentemente,  tem-­‐se  revertido  em  demanda  por  profissionais  com  conhecimento  de  técnicas  construtivas  tradicionais.  

E  por  fim,  a  localidade  constituída  por  Belo  Horizonte,  Contagem  e  Nova  Lima,  cuja  ocupação  é  mais  recente  em  relação  às  outras  localidades,  os  profissionais  atendem  com  freqüência  às  demandas  dos  órgãos  de  preservação  não  somente  na  localidade,  mas  em  todo  o  sítio  e  até  mesmo  fora  dele.  Aqui  foram  constatados  profissionais  de  nível  superior,  cuja  obtenção  do  saber  do  ofício,  diferentemente  das  outras  localidades,  está  menos  ligados  à  tradição  e  seus  meios  de  transmissão.    

No  sítio  como  um  todo  foram  encontrados  mestres  e  oficiais  que  executam  os  mais  diferentes  ofícios,  que  contribuíram  para  conformar  a  sua  própria  paisagem  cultural  e  de  suas  diferentes  localidades.  Os  ofícios  identificados  e  documentados  foram:  ofício  de  carpinteiro  e  marceneiro,  estucador,  forjador  artístico,  fundidor,  marmoraria,  pintor,  canteiro,  esteireiro,  ferreiro,  pedreiro,  oleiro,  calceteiro.  

Muitos  destes  ofícios,  diferentemente  de  outros  tempos,  hoje  lidam  constantemente  com  fatores  importantes  como  as  transformações  tecnológicas,  legislativas,  dentre  outras,  como  é  o  caso  da  Carpintaria.  Nesta  atividade,  por  exemplo,  algumas  espécies  de  madeira  

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tradicionalmente  usadas  nas  edificações  do  século  XVIII  e  XIX,  como  o  mogno  e  o  jacarandá,  pelo  fato  de  entrarem  em  processo  de  extinção,  ficaram  proibidas  de  serem  extraídas  e  madeiras  antes  consideradas  de  qualidade  inferior,  como  o  cedro,  passaram  a  ser  mais  utilizadas.  Por  outro  lado,  neste  contexto,  pode-­‐se  notar  que,  com  o  processo  de  industrialização  e  produção  em  série,  os  elementos  construtivos,  que  anteriormente  apresentavam  uma  diferenciação  e  uma  complexidade  formal,  tornaram-­‐se  plasticamente  homogêneos.  Na  época  atual,  o  uso  das  técnicas  tradicionais  destina-­‐se,  na  Região  das  Minas,  basicamente  a  obras  de  restauração  ou  à  confecção  de  elementos  diferenciados  para  edificações  novas.  

Conforme  aponta  relato  feito  pelos  próprios  pesquisadores,  neste  sitio  “foram  encontrados  profissionais  que  trabalham  na  restauração  de  edificações  históricas  da  época  do  início  da  construção  da  capital.”  A  aplicação  de  trabalhos  bastante  elaborados  (em  ferro,  como  as  escadarias  das  antigas  secretarias,  feitas  sob  encomenda  na  Alemanha  e  aqui  montadas,  em  estuque,  tanto  externo  como  nas  fachadas)  fez  com  que  os  profissionais  contratados  atualmente  para  as  restaurações  nestes  edifícios  soubessem  tanto  quanto  seus  predecessores,  observando  e  aprendendo  o  saber  fazer  até  mesmo  na  própria  obra  original.”  

Nota-­‐se  no  sítio  esta  clara  relação  de  transmissão  do  conhecimento,  o  qual  se  dá  prioritariamente  pela  relação  mestre  /  aprendiz.  No  universo  pesquisado,  “somente  23%  deles  tiveram  uma  formação  acadêmica,  técnica  ou  de  nível  superior.”  Ainda  dentre  os  profissionais  identificados,  notou-­‐se  a  presença  de  alguns  com  tradição  familiar  no  ofício  ou  ainda  com  aprendizado  na  Europa.  

Interessante  notar,  novamente  o  papel  da  atuação  institucional  no  desenvolvimento  dos  ofícios.  Em  primeiro  lugar,  sabe-­‐se  que  “assim  como  o  traçado  urbano,  as  relações  sociais,  econômicas  e  culturais  de  Ouro  Preto  sempre  foram  condicionadas  pela  atividade  mineradora.  No  século  XVIII,  era  a  mineração  do  ouro  e  no  século  XX,  do  minério  de  ferro  e  da  bauxita.  Outra  matéria  prima  em  abundância  são  as  pedras,  quartzito  e  pedra  sabão,  utilizados  na  cantaria.”  Neste  mesmo  contexto,  como  afirma  a  equipe  de  pesquisa,  com  a  transformação  da  região  em  pólo  siderúrgico,  houve  a  necessidade  de  formação  de  mão  de  obra  qualificada,  o  que  ocorreu  através  da  implantação  de  cursos  técnicos  oferecidos  por  várias  instituições.  

Segundo  relatos  da  equipe  de  pesquisa,  “em  Ouro  Preto,  destaca-­‐se  a  atividade  da  cantaria  que  foi  retomada  praticamente  a  partir  do  trabalho  de  Mestre  Juca.  Os  discípulos  de  Mestre  Juca  têm  um  modo  próprio  de  trabalhar,  sentados  na  pedra  e  segurando-­‐a.  Com  uma  das  mãos  seguram  a  ferramenta  e  com  a  outra  sentem  a  pedra.  Aqui,  nos  chamou  a  atenção  o  uso  da  pedra  na  técnica  construtiva  tradicional.  

 

3.  O  VALE  DO  JEQUITINHONHA  

Continuando  nossa  caminhada  agora  ao  longo  da  porção  nordeste  do  Estado  de  Minas  Gerais  pode-­‐se  notar  a  existência  de  uma  região  conhecida  como  Vale  do  Jequitinhonha,  cujo  rio  de  mesmo  nome,  é  o  seu  principal  elemento  articulador,  que  percorre  todo  o  seu  território.  Assim,  como  na  Região  das  Minas,  nota-­‐se  que  o  sítio  tem  sua  paisagem  marcada  pela  presença  dos  rios.  O  Rio  Jequitinhonha,  com  nascentes  na  Serra  do  Espinhaço,  nos  municípios  de  Serro  e  Diamantina,  percorre  toda  a  área  desenvolvendo-­‐se  no  sentido  nordeste  e  desaguando  no  Oceano  Atlântico,  no  Estado  da  Bahia.  O  Rio  Araçuaí  é  outro  importante  rio  do  

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sítio,  que,  afluente  do  rio  Jequitinhonha,  nasce  nas  proximidades  do  município  de  Diamantina,  percorre  o  sítio  em  sentido  nordeste,  paralelamente  ao  Rio  Jequitinhonha,  onde  deságua  no  município  de  Araçuaí.  Esses  rios  foram  os  grandes  responsáveis  pelo  povoamento  local,  onde  as  populações  se  instalavam  para  o  garimpo  de  diamante.  O  relevo  é  caracterizado  pela  serra  do  Espinhaço,  os  planaltos  e  a  depressão  do  Jequitinhonha,  cobertos  em  sua  maioria  pela  mata  atlântica.    

A  região  é  marcada  pela  pouca  povoação  e  pela  existência  de  municípios  tipicamente  rurais  e  pouco  desenvolvidos.  A  população  se  envolve  principalmente  em  atividades  dede  agricultura,  pecuária,  silvicultura  e  exploração  florestal.  Interessante  notar  que  alguns  mestres  encontrados  nesta  região  têm  como  ocupação  também  a  atividade  agropecuária,  ocorrendo  principalmente  em  pequenas  propriedades  rurais.  Nos  períodos  de  colheita,  por  exemplo,  esta  população  desloca-­‐se  de  seus  lugares  de  origem  para  exercer  atividades  que  complementem  a  sua  renda  e  garantam  a  sua  sobrevivência.  

O  processo  de  ocupação  e  povoamento  da  região  do  Vale  do  Jequitinhonha  se  fez  efetivamente  a  partir  das  descobertas  de  ouro  e  metais  preciosos  no  início  do  século  XVIII,  assim  como  aconteceu  na  região  das  Minas  Gerais.  Por  volta  de  1720,  descobriu-­‐se  diamante  na  região  do  Tijuco,  atual  cidade  de  Diamantina,  o  que  fez  com  que  a  corrida  pela  busca  de  metais  preciosos  se  estendesse  também,  além  da  região  central  do  Estado  de  Minas  Gerais,  para  aquela  região,  correspondendo  principalmente  às  atuais  cidades  de  Diamantina,  Serro  e  Minas  Novas.  Alguns  historiadores  relatam  que,  ainda  no  século  XVIII,  já  havia  também  uma  ocupação  ligada  à  atividade  agropecuária  de  subsistência,  que  muitas  vezes,  auxiliando  no  abastecimento  da  atividade  mineradora,  vinha  se  firmando  aos  poucos  nas  margens  do  rio  Jequitinhonha,  mais  próxima  à  foz  e  ao  Estado  da  Bahia,  apesar  das  restrições  impostas  pela  Coroa  Portuguesa.  Cabe  notar  que,  nesta  porção  do  Vale  do  Jequitinhonha,  próxima  à  foz,  desenvolve-­‐se,  mesmo  que  de  forma  incipiente  as  atividades  mais  antigas  ligadas  à  economia  baiana  –  pecuária,  agricultura  e  extrativismo  –  haja  vista  a  influência  que  a  Capitania  da  Bahia  exercia  sobre  a  região  pela  facilidade  de  acesso  através  do  vale  do  Rio  Jequitinhonha.  

Dessa  forma  a  atividade  mineradora  fez  surgir  dos  primeiros  acampamentos,  as  primeiras  vilas  e  a  comarca  da  região.  Em  1714,  foi  instalada  a  Vila  do  Príncipe  do  Serro  Frio,  atual  cidade  de  Serro,  que  em  1720  é  elevada  a  Comarca.  Em  1729,  instala-­‐se  a  Vila  do  Bom  Sucesso  do  Fanado  de  Minas  Novas,  com  vinculação  jurídica  à  comarca  de  Serro  Frio,  mas  com  vinculação  administrativa,  militar  e  eclesiástica  à  Capitania  da  Bahia  até  1957.  Naquela  época  havia  na  região  intenso  controle  da  Coroa  Portuguesa  quanto  à  ocupação,  trânsito  e  exploração  dos  metais  preciosos,  com  vistas  a  não  perder  arrecadação  de  impostos,  uma  vez  que  era  fácil  o  acesso  de  exploradores  através  do  Rio  Jequitinhonha,  entre  a  área  mineradora  e  a  Bahia.  Com  a  decadência  da  atividade  mineradora,  em  meados  do  século  XVIII,  a  ocupação  se  expande  ao  longo  do  Rio  Jequitinhonha  em  direção  à  Capitania  da  Bahia,  onde  o  governo  Português  instala  alguns  postos  militares,  com  o  objetivo  de  melhorar  a  fiscalização  da  região,  que  se  supunha  diamantífera,  e  de  civilizar  índios.  Apesar  da  decadência,  surgiam  freqüentes  surtos  de  descobertas  de  ouro  e  pedras  preciosas  na  região,  o  que  despertava  desconfianças  da  Coroa.  A  atividade  agrária  que,  até  então,  se  mostrava  incipiente,  se  desenvolve.  A  região  de  Minas  Novas  até  a  cidade  de  Jequitinhonha  passa  a  produzir  algodão,  inclusive  para  exportação,  sendo  uma  atividade  lucrativa  até  aproximadamente  o  início  do  século  XX.    

No  início  do  século  XX  até  aproximadamente  1970,  é  formado  um  contingente  populacional  ligado,  principalmente,  à  agricultura  e  criação  de  animais,  constituindo  um  grupo  de  pequenos  

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produtores  que  através  das  relações  entre  si,  formam  uma  sociedade  de  proprietários,  posseiros,  parceiros  e  agregados.  Na  segunda  metade  do  século  XX,  por  iniciativa  do  Estado,  são  criadas,  sem  sucesso,  algumas  agências  e  órgãos  visando  o  desenvolvimento  da  região,  como  CODEVALE  –  Comissão  de  Desenvolvimento  do  Vale  do  Jequitinhonha  e  GEVALE  –  Grupo  Executivo  de  Coordenação  de  Ações  dos  órgãos  e  entidades  dos  governos  estadual  e  federal  do  Vale  do  Jequitinhonha.  Em  1972,  as  chapadas  são  classificadas  como  áreas  de  terras  devolutas  e  são  incorporadas  por  empresas  estatais  e  privadas,  que  implantam  projetos  agrícolas,  como  a  monocultura  do  eucalipto,  com  incentivo  do  Estado,  para  atender  siderurgia,  produção  de  papel  e  celulose.  Esta  iniciativa  levou  segundo  alguns  autores,  à  ruptura  entre  a  fauna,  flora  e  recursos  hídricos  da  região.    

Seria  ainda  interessante  notar  que  aquele  encontro  entre  os  fatores  naturais  e  culturais  daria  origem  a  uma  paisagem  construída  de  grande  significado  para  a  vida  dos  moradores  da  região.  Seria  importante  também  aqui  compreender  que  tais  elementos  construídos  são  evidências  da  presença  e  da  ação  daquela  sociedade  no  local.  Como  resultado  também  deste  processo,  caracteriza  a  paisagem  do  vale  a  existência  de  conjuntos  arquitetônicos  e  urbanísticos,  como  o  da  cidade  de  Diamantina.  Este  acervo  arquitetônico  e  urbanístico  remonta  do  período  colonial,  no  início  do  século  XVIII,  com  a  exploração  de  ouro  e  diamantes  na  região,  e  se  consolidou  até  meados  do  século  XIX.    O  centro  urbano  apresenta  configuração  de  padrão  irregular,  com  arruamentos  transversais  à  encosta,  marcados  por  ruas  paralelas  com  pequenas  variações  de  abertura  ou  desvio  de  alguns  becos  e  ruas  estreitas.  A  cidade  conta  com  monumentos  significativos  dos  séculos  XVIII,  XIX  e  XX,  destacando-­‐se  a  arquitetura  religiosa.  A  arquitetura  civil  é  uma  referência  especial,  com  ausência  de  casas  térreas,  ficando  em  destaque  o  conjunto  de  sobrados.  Os  tipos  mais  comuns  de  partido  são  os  de  implantação  transversal  às  ruas,  em  lotes  estreitos  e  em  terrenos  que  se  desenvolvem  paralelamente  às  mesmas  contando  frequentemente  com  pátios  internos.  Já  o  sistema  construtivo,  desperta  mais  atenção  pela  ausência  de  trabalhos  de  cantaria.  

Além  deste  significativo  marco  paisagístico,  pode-­‐s  notar  também  a  existência  do  conjunto  arquitetônico  e  urbanístico  da  cidade  de  Serro,  que  remonta,  presumivelmente,  à  metade  do  século  XVIII,  resultado  do  povoamento  em  busca  do  ouro  nas  margens  dos  ribeirões  e  encostas  dos  morros.  Destaca-­‐se  a  arquitetura  religiosa  e  civil,  homogênea,  típica  do  período  colonial;  e  do  sobradão  na  cidade  de  Minas  Novas.  Construção  de  grandes  dimensões,  pouco  usuais  para  uma  estrutura  em  madeira  e  taipa,  é  formada  por  um  único  bloco  em  quatro  pavimentos,  que  aparece  como  um  interessante  exemplar  da  arquitetura  popular  do  seu  período.  

Nesse  sítio  foram  encontrados  mestres  e  oficiais  que  executam  os  mais  diferentes  ofícios,  que  contribuíram  para  conformar  a  sua  própria  paisagem  cultural.  Os  ofícios  identificados  e  documentados  foram:  ofício  de  carpinteiro  e  marceneiro,  canteiro,  ferreiro,  oleiro,  adobeiro,  taipeiro,  pintor,  ladrilheiro,  esteireiro.  Muitos  destes  também  com  transformações  que  impactaram  significativamente  o  desenvolvimento  de  suas  atividades.  Assim,  na  região  de  Minas  Novas  e  Diamantina,  foram  vistos  ferreiros  que  substituíram  os  tradicionais  foles  utilizados  na  forja,  para  atiçar  fogo  ao  carvão,  por  motores  movidos  a  energia  elétrica.  Em  Araçuaí,  a  equipe  notou  que  o  ferreiro  visitado  substituiu  o  fole  por  uma  espécie  de  ventilador  manual  que  funciona  através  de  uma  manivela  comandada  pelo  mesmo.  

A  equipe  de  pesquisa  percebeu  a  homogeneidade  do  sítio.  Em  relato  afirma  que,  “apesar  das  diferenças  físico-­‐geográficas,  socioeconômicas  e  históricas  das  três  subdivisões  do  Vale  do  Jequitinhonha,  o  mesmo  não  acontece  em  relação  às  técnicas  construtivas.  Uma  ou  outra  

                                                                     II  Encontro  da  Associação  Nacional  de  Pesquisa  

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variação  foi  notada  no  modo  de  executar  o  ofício,  mas  por  opção  do  artífice  e  não  por  região.”  Nota-­‐se  ainda  que  a  ação  institucional,  pequena  mas  presente,  e  seus  efeitos,  onde,  por  exemplo,  os  carpinteiros  de  Diamantina  e  do  Serro,  devido  à  presença  de  escritórios  do  IPHAN  e  à  qualidade  e  quantidade  de  edificações  de  interesses  cultural,  apresentam  uma  maior  intimidade  com  as  diversas  técnicas  tradicionais.    

Isso  pode  ser  claramente  notado  no  que  diz  respeito,  por  exemplo,  à  produção  de  adobe.  Este  apresenta  “algumas  variações  na  fabricação  da  massa  utilizada  podendo  esta  apresentar,  ou  não,  o  capim  meloso  que,  segundo  os  artífices,  garante  uma  maior  consistência  do  material.  Por  outro  lado,  alguns  artífices  afirmaram  que  a  ausência  do  capim  meloso  acelera  o  processo  de  secagem  do  adobe.”  Assim,  nota-­‐se  que  a  escolha  pelas  etapas  da  atividade  nos  pareceu  bastante  pessoal.  

Conforme  aponta  um  relato  feito  pela  equipe  de  pesquisa,  nota-­‐se  no  sitio  “a  diferença  da  produção  de  tijolos  de  adobe  no  Médio  Jequitinhonha,  no  Serro  e  em  Diamantina.  Nesta  última,  apesar  da  localização  no  Vale  do  Jequitinhonha,  a  produção  de  tijolos  de  adobe  se  faz  mais  escassa  devido  à  qualidade  do  solo  mais  rochoso.”  É  interessante  notar  que  a  arquitetura  de  terra  vai  predominar  no  Vale  do  Jequitinhonha,  onde  esta  ainda  pode  ser  vista  como  estando  claramente  inserida  no  cotidiano  dos  moradores.  Assim,  nota-­‐se  na  região  do  Vale  do  Jequitinhonha,  principalmente,  a  presença  da  técnica  construtiva  tradicional  viva.  Aqui,  nesta  região,  foi  interessante  perceber  o  marcante  uso  do  barro  na  construção  civil.  

Neste  mesmo  sentido,  notou-­‐se  também  durante  o  trabalho  de  campo  o  claro  processo  de  “industrialização”  pelo  qual  passaram  alguns  ofícios  e  suas  oficinas,  ou  seja,  seus  locais  de  execução  da  atividade.  “Em  alguns  casos,  a  equipe  de  campo  percebeu  que  “o  método  artesanal  foi  substituído  pela  a  adaptação  de  algumas  máquinas  como  no  caso  de  uma  tupia  e  de  um  desengrosso  em  duas  marcenarias,  respectivamente  em  Diamantina,  para  a  produção  de  cimalhas.  Nos  municípios  de  Araçuaí  e  Almenara  foi  notada  a  utilização  de  cimento  na  mistura  para  a  produção  de  ladrilhos  hidráulicos  e  pisos  cerâmicos  queimados  utilizados  em  obras  de  restauro.”  

No  Baixo  Jequitinhonha,  nos  chamou  a  atenção  a  existência  de  um  ofício  ligado  à  produção  arquitetônica  eclética  da  segunda  metade  do  século  XIX  e  da  primeira  metade  do  século  XX.  Neste  caso,  a  equipe  observou  “a  presença  de  ofícios  ligados  às  construções  deste  período,  com  destaque  para  a  produção  de  ladrilho  hidráulico  e  serralheria  artística.”  Por  outro  lado,  foram  identificados  ofícios  ligados  à  presença  indígena  na  região  como  a  produção  do  forro  de  taquara,  a  cobertura  em  folhas  de  coqueiro  e  o  uso  da  mistura,  utilizada  como  pintura,  feita  com  barro  branco,  conhecida  como  tabatinga.  Como  afirmam  os  pesquisadores,  esta  mistura  é  feita  de  água,  goma  de  mandioca  e,  em  alguns  casos,  leite.  

Por  fim,  segundo  a  equipe  de  pesquisa,  “a  execução,  ou  não,  das  atividades  durante  o  ano  está  ligada  principalmente  a  fatores  socioeconômicos  –  migração  para  o  interior  do  estado  de  São  Paulo  durante  os  meses  destinados  ao  corte  da  cana  –;  fatores  climáticos  –  período  das  chuvas  e  mudança  da  lua  –  e;  fatores  culturais  –  festas  populares  e  religiosas.”  

 

4.  SÃO  TOMÉ  DAS  LETRAS  

Localizada  ao  sul  do  Estado  de  Minas  Gerais,  outra  região  que  nos  chamou  a  atenção  na  pesquisa  foi  a  de  São  Tomé  das  Letras.  Destacam-­‐se  em  sua  paisagem  as  formações  naturais,  

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como  a  conhecida  Serra  de  São  Thomé  das  Letras.  Da  mesma  forma,  nos  chama  a  atenção  a  Serra  de  Cantagalo,  que  aparece  também  como  um  elemento  marcante  em  sua  paisagem.  Em  especial,  essas  duas  serras  conformam  um  vale  em  meio  ao  qual  se  desenvolveram  algumas  cidades  da  região.  

Neste  mesmo  meio  natural,  marca  também  a  paisagem  da  região  a  presença  dos  grandes  e  importantes  rios,  o  Grande  e  o  Verde,  além  de  outros  pequenos  ribeirões,  como  o  Caí,  o  Peixe,  o  Cantagalo  e  o  Vermelho,  que  deságuam  ambos  no  rio  Verde.  Certamente,  considerando-­‐se  este  meio  natural  caracterizado  pelas  serras,  cobertas  por  densa  vegetação,  e  rios,  nos  chamam  a  também  a  atenção  a  grande  quantidade  de  nascentes  ali  existentes.  Pode-­‐se  perceber  assim  na  paisagem  a  diversas  formações  rochosas  distribuídas  em  todo  o  seu  território,  que  resultam  em  cachoeiras  e  grutas,  bons  atrativos  para  turistas,  mas  que  estão  envolvidas  também  pelas  atividades  mineradoras.  É  claro  que,  em  meio  à  exuberância  de  suas  matas,  existem  ainda  áreas  onde  a  vegetação  é  escassa,  coincidindo  com  atividades  antrópicas  como  agropecuária  e  mineração.  

Se  por  um  lado  notamos  o  papel  das  formações  rochosas  na  formação  da  paisagem  natural,  também  notamos  seu  papel  na  formação  da  paisagem  construída,  através,  principalmente,  de  sua  exploração  pela  mineração.  É  das  formações  rochosas  especificamente  que  são  extraídas  pedras  ornamentais  quartzito  São  Thomé,  em  que  se  ancora  grande  parte  da  economia  local,  mas  que  tem  trazido  profundas  degradações  ao  ambienta  natural  do  sítio.  Há  predominância  dos  quartzitos  de  coloração  branca,  amarela  e  rosa,  denominados  comercialmente  de  Pedra  São  Tomé  Branco,  Amarelo  e  Róseo.  Os  quartzitos  brancos  predominam  nas  explorações,  os  amarelos  correspondem  aos  níveis  superiores  das  jazidas,  mais  susceptíveis  aos  processos  de  alteração  devido  à  percolação  de  águas  meteóricas  e  os  Róseos  ocorrem  nas  extremidades  da  frente  de  lavra.  Desde  as  primeiras  ocupações  do  município,  verifica-­‐se  a  utilização  das  pedras  quartzito  em  sua  arquitetura  vernácula.  

O  município  possui  ainda  um  grande  acervo  arqueológico  representado  por  inscrições  rupestres  espalhadas  no  seu  território,  no  entanto,  muito  degradado,  cujo  valor  parece  não  ser  conhecido  ou  é  desprezado.  Além  dos  sítios  arqueológicos  com  inscrições,  existem  relatos  de  moradores  do  município  que  afirmam  ter  encontrado  objetos  de  pedra,  bastões  e  cabeças  de  machadinhas.    

A  ocupação  da  região  foi  também  bastante  característica,  onde,  diante  da  povoação  do  sudeste  brasileiro,  o  município  de  São  Thomé  das  Letras  se  fez  notável  pela  sua  localização  ao  sul  da  Capitania  de  Minas  Gerais,  cuja  comarca  do  período  colonial  pertencia  à  do  Rio  das  Mortes,  uma  das  três  primeiras  existentes  na  capitania.  A  posição  estratégica  dessa  região  foi  reforçada  pela  política  de  integração  da  região  centro-­‐sul  que  visava,  em  seus  objetivos  econômicos,  garantir  a  produção  e  o  abastecimento  da  Corte  no  Rio  de  Janeiro.  Foi  nesse  contexto  que  surgiu  o  núcleo  urbano  de  São  Thomé  das  Letras,  próximo  ao  núcleo  de  Baependi,  com  seus  primeiros  relatos  datados  de  1770  com  a  ereção  de  uma  capela  que,  posteriormente,  em  1785  foi  substituída  pela  atual  Matriz.  No  entorno  desta  igreja,  foram  construídas  as  primeiras  residências,  e  delimitado  o  primeiro  traçado  das  ruas  com  o  eixo  principal  no  sentido  sudoeste-­‐nordeste,  que  ligava  a  Igreja  Matriz  com  a  Igreja  Nossa  Senhora  do  Rosário,  localizada  ao  nordeste  do  novo  núcleo  urbano.  Até  1897,  foram  abertas  novas  ruas,  e  o  número  de  edificações  aumentou.  O  traçado  das  ruas  e  o  desenho  original  das  quadras  foram  preservados,  ou  seja,  novas  edificações  e  ruas  foram  apenas  adicionadas  à  malha  original.  

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A  formação  sócio-­‐econômica  do  município  está  estreitamente  ligada  à  extração  das  rochas  de  quartzito,  a  denominada  pedra  de  São  Thomé  e  que  pode  ser  definida  em  cinco  estágios.  O  primeiro  deles  é  compreendido  pela  retirada  dos  primeiros  fragmentos  de  rocha,  utilizados  pelos  colonizadores  para  construir  seus  templos  e  suas  moradas  até  o  final  do  século  XIX,  quando  as  lajes  do  quartzito  já  estavam  circulando  pela  região  que  faz  o  entorno  da  serra.  O  segundo  vai  do  final  do  século  XIX  até  o  início  da  década  de  1940,  quando  é  iniciada,  no  alto  da  serra,  a  “indústria  da  pedra”,  termo  utilizado  pelos  próprios  mineradores.  O  terceiro  estágio  está  entre  as  décadas  de  1940  e  1970,  época  em  que  provavelmente  a  utilização  de  explosivos  foi  incorporada  ao  método  de  lavra;  o  quarto  vai  de  1970  até  a  década  de  1990,  inicia-­‐se  a  atuação  do  poder  público  sobre  a  mineração  e  os  agentes  fiscalizadores  que  passam  a  controlar  a  extração  dos  quartzitos  em  função  da  degradação  ambiental  gerada  pela  atividade.  O  último  estágio  é  o  compreendido  pela  incorporação  de  medidas  que  visavam  satisfazer  as  exigências  dos  órgãos  fiscalizadores  do  meio  ambiente  como  maneira  de  garantir  a  permanência  da  atividade  mineradora  no  alto  da  Serra  de  São  Thomé  das  Letras.  

Seria  ainda  interessante  notar  também  nesta  região  que  aquele  encontro  entre  os  fatores  naturais  e  culturais  dera  origem  a  uma  paisagem  construída  bastante  peculiar,  composta  por  elementos  construídos,  evidências  da  ação  daquela  sociedade  sobre  o  meio  natural.  Assim,  nesse  contexto,  nota-­‐se  a  existência  de  uma  paisagem  formada  pela  fusão  dos  elementos  naturais  e  construídos,  como  o  conjunto  arquitetônico  e  urbanístico  de  São  Thomé  das  Letras  e  Matriz  de  São  Thomé  das  Letras  que  remontam  à  segunda  metade  do  século  XVIII.    Além  deste  destaca-­‐se  também  o  conjunto  arquitetônico  e  urbanístico  da  Capela  de  Nossa  Senhora  do  Rosário  que  remontam  à  segunda  metade  do  século  XVIII.    

Nesse  mesmo  sítio  foram  encontrados  mestres  e  oficiais  que  executam  os  mais  diferentes  ofícios,  que  contribuíram  para  conformar  a  esta  paisagem,  como  o  ofício  de  canteiro.  Os  ofícios  identificados  e  documentados  foram  os  ofícios  de  canteiro  e  taipeiro.  No  sitio  de  São  Thomé  das  letras  nos  chama  a  atenção  o  predomínio  do  uso  da  cantaria  como  principal  técnica  construtiva  utilizada  pelos  mestres  e  desenvolvida  segundo  características  bastante  particulares.  

Na  cidade  de  Antonio  Carlos,  chamou-­‐nos  a  atenção  a  entrevista  com  um  pintor  italiano,  especializado  em  afresco  e  com  um  pedreiro  que  trabalha  com  a  pedra,  que  executa  principalmente  muros  e  paredes  de  pedra  seca  ou  argamassada.  O  pintor  desenvolve  outras  técnicas  de  pintura  e  alguns  trabalhos  artesanais,  além  do  ofício  de  canteiro;  faz  de  tudo  um  pouco  e  possui  habilidades  que  vão  desde  pintura,  escultura,  jardinagem,  trabalhar  com  a  madeira,  fazer  adobe  e  crochê.  A  cidade  não  comporta  os  dois  ofícios  citados,  fazendo  com  que  os  oficiais  desempenhem  outras  atividades  para  sobreviverem.  

Em  São  Tomé  das  Letras  foram  também  entrevistados  os  denominados  pedreiros  de  pedra.  Todos  apresentam  parentesco  e  estão  ligados  à  história  da  cidade  e  das  construções  em  pedra.  Em  suas  falas  mostraram,  sem  exceção,  a  influência  dos  antepassados,  a  profunda  ligação  com  a  natureza  e  a  intimidade  com  a  pedra.    Utilizam  a  mesma  técnica,  com  suas  peculiaridades  trabalham  a  pedra  e  o  modo  de  fazer  é  que  tornam  suas  marcas  registradas.  Ao  olhar  para  uma  construção  sabem  identificar  seu  construtor.  Um  entrevistado  afirmou:  “...  queria  domar  a  pedra.  Comecei  a  domar  e  estou  aprendendo  até  hoje.  Às  vezes,  acredito  que  ela  doma  a  gente”.  E  cantou  Milton  Nascimento:  “No  meio  do  meu  caminho  sempre  haverá  uma  pedra,  plantarei  a  minha  casa  numa  cidade  de  pedra”.  

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Os  entrevistados  relataram  com  orgulho  o  que  sabem  fazer  e  com  tristeza,  por  parte  de  alguns,  a  situação  em  que  estes  têm  que  abandonar  as  construções  e  ir  trabalhar  nas  pedreiras  para  sobreviverem.    Apesar  do  predomínio  da  construção  em  pedra,  foi  encontrado  também  um  Senhor  de  80  anos  que  construiu  muito  com  pau-­‐a-­‐pique  na  região.  

Por  fim,  podemos  perceber  que  a  região  é  caracterizada  por  seus  municípios  serem  ainda  tipicamente  rurais  e  pouco  povoados,  mas  bem  desenvolvidos.  O  turismo  é  uma  atividade  econômica  importante  do  município,  cujos  principais  atrativos  são  a  história  e  arquitetura  peculiar,  com  edificações  civis  e  religiosas  erguidas  em  pedra,  as  belezas  naturais  que  exibem  quedas  d’água,  grutas,  cavernas  e  paredões,  e  também  pelo  misticismo.  Entretanto,  uma  das  maiores  fontes  de  renda  do  município  ainda  é  a  extração  do  quartzito  que  data  desde  o  início  da  ocupação  do  arraial.  Essa  atividade  de  mineração  tem  se  firmado  como  uma  das  principais  fontes  de  trabalho  da  população  local  e  tem  sido  feita  sem  planejamento,  o  que  tem  prejudicado  a  atividade  turística,  já  que  as  paisagens  natural  e  urbana  estão  sendo  comprometidas  pela  mesma.  

 

5.  ORIGEM  DAS  TÉCNICAS  E  PARTICULARIDADES  LOCAIS  

Os  centros  urbanos  surgidos  na  época  do  Brasil  colonial  foram  implantados  a  partir  de  regras  bem  definidas  pelos  administradores  portugueses,  advindas  das  Cartas  Régias,  em  relação  a  alinhamento,  traçado  das  ruas,  configuração  dos  lotes  e  das  edificações.  Em  Minas  Gerais,  as  edificações  foram  construídas  por  mestres  europeus  altamente  especializados  em  seus  ofícios,  num  trabalho  conjunto  com  a  primeira  geração  de  artífices  mineiros,  utilizando  a  matéria  prima  local  e  aperfeiçoando  as  técnicas  por  eles  conhecidas  de  acordo  com  as  necessidades  encontradas  em  terras  brasileiras,  construído  a  chamada  arquitetura  colonial  mineira.    

Na  época  atual,  a  restauração  e  a  manutenção  deste  contexto  urbano  também  demandam  mestres  especializados,  orgulhosos  por  saber  reproduzir  e  conservar  as  técnicas  tradicionais.  A  prática  e  transmissão  destas  técnicas  estão  vinculadas  às  obras  de  restauração,  muitas  delas  impulsionadas  pelos  órgãos  governamentais,  como  IPHAN  e  IEPHA.    

O  IEPHA,  cuja  estrutura  administrativa  está  instalada  em  Belo  Horizonte,  foi  criado  na  década  de  1970.  Nesta  mesma  década  seriam  organizadas  as  sedes  regionais  do  IPHAN,  entre  elas  a  Superintendência  de  Belo  Horizonte.  Na  década  de  1980  foram  instituídos  os  escritórios  locais  do  IPHAN  nas  cidades  históricas  e  criada  a  Equipe  de  Obras  Urgentes  de  Ouro  Preto,  que  daria  início  à  organização  destas  equipes  também  em  Diamantina,  Serro,  Tiradentes  e  São  João  Del  Rei.  Nesta  época,  devido  a  problemas  ambientais  e  urbanísticos  que  atingiram  a  cidade  de  Ouro  Preto,  como  adensamento  desordenado,  desmoronamentos  por  ocupação  de  áreas  de  risco  geológico  e  chuvas  torrenciais,  efeitos  negativos  do  tráfego  pesado,  a  Prefeitura  Municipal  e  o  IPHAN  firmaram  um  convênio  para  realizar  um  projeto  abrangente  de  gestão.  A  criação  da  Equipe  de  Obras  consiste  em  uma  das  peças  desta  ação,  através  da  qual  foram  realizadas  em  Ouro  Preto  cerca  de  400  intervenções  de  restauração  arquitetônica,  onde  foram  recuperadas  cerca  de  150  residências  e  três  igrejas,  conforme  informações  da  publicação  As  Equipes  de  Obras  do  IPHAN  em  Minas  Gerais,  MINC/  IPHAN  (2009).    

Apesar  de  alguns  profissionais  mais  velhos  deterem  o  conhecimento  das  técnicas  tradicionais,  a  maior  parte  dos  trabalhadores  que  ingressaram  nesta  época  no  IPHAN  detinha  conhecimento  específico  em  suas  áreas  de  atuação,  porém,  nunca  tinha  trabalhado  em  obras  

                                                                     II  Encontro  da  Associação  Nacional  de  Pesquisa  

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de  restauração,  e  assim,  passaram  por  algum  curso  de  formação  com  técnicos  do  Instituto,  como  arquitetos  e  restauradores.  O  aprendizado,  desta  forma,  veio  com  a  prática  no  cotidiano  de  cada  obra.    

As  técnicas  construtivas  tradicionais  encontradas  nos  sítios  escolhidos  em  Minas  Gerais,  com  exceção  da  capital  Belo  Horizonte,  são  aquelas  utilizadas  na  construção  das  edificações  no  século  XVIII,  técnicas  artesanais  originárias  da  cultura  portuguesa.  Estas  edificações  apresentavam  estrutura  autônoma  com  pilares  e  vigas  em  madeira,  unidos  por  encaixes,  sem  parafusos,  vedadas  com  alvenaria  de  terra  (adobe,  taipa  e  painéis  de  pau-­‐a-­‐pique),  rebocados  com  argamassa  de  areia  e  cal,  recebendo  pintura  a  base  de  cal.  A  maioria  das  casas  não  possuía  afastamentos  frontais  e  laterais,  e  apresentava  telhados  em  duas  águas,  estruturados  por  tesouras  de  madeira,  sendo  que  o  encontro  entre  a  inclinação  das  águas  e  o  plano  horizontal  do  beiral  era  obtido  por  uma  curvatura  conhecida  como  contrafeito.  Os  beirais  eram  feitos  por  uma  linha  contínua  de  caibros  horizontais,  conhecidos  como  cachorros,  que  apresentavam  acabamento  tipo  peito  de  pomba  nas  extremidades.  Os  telhados  recebiam  proteção  das  telhas  de  barro  curvas.  A  vedação  dos  vãos  de  portas  e  janelas  era  feito  com  esquadrias  de  madeira,  com  folhas  cegas  tipo  calha,  algumas  com  guilhotinas  de  caixilho  na  face  externa,  equipadas  com  aldrabas,  dobradiças  e  fechaduras  em  ferro  forjado.  A  pintura  das  madeiras  era  feita  com  tinta  a  óleo  com  pigmentos  naturais.  Como  a  composição  arquitetônica  das  edificações  seguia  padrões  bem  definidos,  que  geravam  uma  estética  homogênea,  a  diferenciação  vinha  do  uso  de  adornos  e  acabamentos.  Assim,  as  casas  mais  abastadas  eram  dotadas  de  balcões  sacados  ou  entalados,  guarnecidos  por  parapeito  em  gradil  de  ferro  ou  balaústres  em  madeira  ou  pedra  sabão,  apresentavam  ainda  adornos  como  cimalhas  nos  beirais  e  sobrevergas  nas  portas  e  janelas,  também  em  madeira  ou  cantaria.  Em  relação  aos  ambientes  internos,  as  casas  mais  modestas  apresentavam  piso  em  chão  de  terra  batida  e  forro  em  esteira,  e  as  mais  opulentas,  piso  em  assoalho  de  madeira  e  forro  em  tábuas  tipo  saia  e  camisa,  ou  ainda  artesoados,  arrematados  com  cimalha.  

Em  Belo  Horizonte  e  cidades  da  região  metropolitana  como  Contagem  e  Nova  Lima,  foram  encontrados  profissionais  que  trabalham  na  restauração  de  edificações  históricas  contemporâneas  da  construção  da  nova  capital,  inaugurada  em  1897,  marco  emblemático  da  política  republicana.  Foram  contratados  profissionais  europeus  especializados  nos  diversos  ofícios  voltados  para  o  estilo  neoclássico,  e  posteriormente,  de  estilo  eclético  europeu.  As  duas  influências  possuem  elementos  arquitetônicos  com  alto  grau  de  elaboração  e  adornos,  exigindo  a  atuação  de  profissionais  qualificados.  Soluções  construtivas  e  decorativas  mais  complexas  começaram  a  ser  utilizadas,  como  a  marcação  das  fachadas  por  colunatas  e  frontões,  vãos  em  arco  pleno;  as  portas,  ao  invés  de  bandeiras  com  vidro,  utilizavam  grades  de  ferro  forjado  com  desenhos  e  a  data  da  construção  na  parte  central;  os  quadros  das  portas  e  janelas  começaram  a  ser  feitos  em  estuque.  Os  interiores  também  começaram  a  ser  mais  luxuosos,  com  piso  em  xadrez  de  mármore,  escadarias  em  ferro,  portas  almofadadas,  paredes  muito  altas,  divididas  em  painéis,  às  vezes  cobertas  com  papel  decorativo;  arrematadas  com  rodapés  em  madeira  e  sancas  em  gesso  no  topo.  Os  forros  apresentavam  a  área  central  marcada  por  lustre  com  adornos  em  auto-­‐relevo  de  estuque,  como  rosáceas  e  folhas  de  acanto.    

Nas  cidades  inventariadas,  percebe-­‐se  que  a  transmissão  dos  conhecimentos  se  deu  tanto  através  do  vínculo  familiar  e  do  vínculo  mestre-­‐aprendiz  no  meio  profissional,  como  também  através  de  cursos  de  formação,  como  o  SENAI  (Barão  de  Cocais,  Belo  Horizonte,  Contagem,  

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Mariana,  Ouro  Preto,  Sabará,  Santa  Luzia,  São  João  Del  Rei  e  Diamantina),  ou  ainda  através  de  cursos  de  extensão  oferecidos  pela  Universidade  Federal  de  Ouro  preto,  ou  da  FAOP  (Fundação  de  Artes  de  Ouro  Preto),  que  também  atua  em  Congonhas  do  Campo.  Ou  ainda  através  de  programas  do  Governo  Federal,  como  o  Programa  Monumenta,  que  realizou  cursos  de  capacitação  na  cidade  de  Ouro  Preto  e  Minas  Novas  ministrados  por  mestres  da  própria  cidade  e  ainda  por  profissionais  vindos  da  Região  Metropolitana  de  Belo  Horizonte  e  que  atuam  em  várias  localidades.  Empresas  especializadas  em  restauração  de  Belo  Horizonte,  como  a  Walter  Coscarelli  Ltda.,  também  tiveram  um  papel  importante  na  formação  de  mão  de  obra  local,  que  passou  a  atuar  em  cidades  históricas  não  só  nas  proximidades  da  região  metropolitana,  mas  também  na  região  de  Diamantina  e  Serro.    

Por  outro  lado,  nas  cidades  onde  os  órgãos  patrimoniais  atuam  de  forma  menos  efetiva,  por  exemplo,  onde  não  foram  instalados  os  Escritórios  Técnicos  do  IPHAN,  que  possibilitaria  uma  fiscalização  mais  sistemática  das  obras  realizadas  em  edificações  protegidas  legalmente,  ou  em  cidades  onde  a  atividade  turística  ainda  não  se  delineou  como  um  setor  de  grande  monta  para  a  economia  local,  a  permanência  e  a  difusão  das  técnicas  tradicionais  tornam-­‐se  raras,  sendo  que  a  alternativa  encontrada  pelos  profissionais  destas  localidades  consiste  em  trabalhar  em  outras  cidades  onde  há  demanda  para  estes  serviços,  ou  até  mesmo  mudar  para  um  ramo  de  atividade  mais  rendoso.  

As  técnicas  tradicionais,  de  modo  geral,  são  executadas  atualmente  da  mesma  maneira  como  surgiram  na  Região  Central  de  Minas  Gerais,  utilizando  praticamente  as  mesmas  matérias  primas  e  os  mesmos  modos  de  fazer.  Contudo,  com  o  crescimento  e  adensamento  dos  centros  urbanos,  a  partir  da  metade  do  século  XX,  o  ritmo  do  mercado  tornou-­‐se  mais  dinâmico,  regido  pela  necessidade  de  produzir  em  maior  quantidade  e  de  maneira  mais  rápida.  As  inovações  tecnológicas  ocorreram  com  a  mecanização  dos  processos  produtivos,  com  a  substituição  de  ferramentas  manuais  usadas  de  forma  artesanal  por  ferramentas  e  equipamentos  elétricos.  A  aquisição  de  produtos  industrializados  tornou-­‐se  mais  acessível  aos  profissionais  da  construção  civil.  

A  preocupação  em  preservar  o  meio  ambiente,  que  delineou  o  pensamento  das  ciências  econômicas  a  partir  dos  anos  setenta,  consolidando-­‐se  em  protocolos  e  legislações  nos  anos  noventa,  também  repercutiu  nos  serviços  pertinentes  à  construção  civil,  desde  a  etapa  de  extração  da  matéria  prima  até  a  própria  execução.  Na  carpintaria,  por  exemplo,  algumas  espécies  de  madeira  encontradas  na  região  e  tradicionalmente  usadas  nas  edificações  do  século  XVIII  e  XIX,  como  o  mogno  e  o  jacarandá,  pelo  fato  de  entrarem  em  processo  de  extinção,  ficaram  proibidas  de  serem  extraídas,  e  madeiras  antes  consideradas  de  qualidade  inferior,  como  o  cedro,  passaram  a  ser  mais  utilizadas,  sendo  trazidas  da  Região  Norte  do  Brasil.    

Uma  mesma  técnica  apresenta  peculiaridades  no  modo  de  fazer,  de  acordo  com  a  região  onde  é  realizada.  Esta  diferença  pode  ser  notada  até  mesmo  nas  equipes  de  obras  do  IPHAN.  Segundo  o  Superintendente  de  Minas  Gerais,  Leonardo  Barreto,  a  equipe  de  obras  de  Tiradentes  é  mais  voltada  para  o  trabalho  artesanal  (nas  alvenarias  de  terra  e  na  carpintaria),  enquanto  que  em  Diamantina,  a  equipe  busca  maior  produtividade,  experimentando  novos  materiais  e  técnicas.    

No  Vale  do  Jequitinhonha,  a  região  que  é  nacionalmente  conhecida  pela  pobreza  e  pela  cultura,  surpreende  positivamente  pela  solidariedade  existente  entre  as  pessoas  e  pela  

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disposição  para  o  trabalho  e  para  a  subsistência.  Lá  se  planta  o  que  se  come,  se  cria  o  animal  de  cuja  carne  se  come,  com  o  barro  se  faz  o  tijolo  e  a  telha  para  se  construir  a  casa,  se  retira  a  madeira  no  mato  para  a  fabricação  de  portas,  janelas,  estruturas  de  telhados,  currais  e  carros  de  boi.  

 

6.  CONCLUSÃO  

Sobre  o  processo  de  intervir  ou  transformar  paisagens,  Marchand  (2003)  atenta  para  o  reconhecimento  do  pensamento  humano,  da  técnica  e  do  conhecimento  como  produtores  ou  transformadores  dessas  paisagens.  Ele  destaca  a  importância  do  processo  sobre  o  produto  porque  sem  o  conhecimento  que  produz,  usa,  ou  mesmo  rejeita  uma  coisa,  a  mesma  por  si  só  perde  o  seu  significado.  Sob  o  olhar  da  antropologia,  o  autor  ressalta  a  importância  das  pessoas  –  produtores  e  usuários  –  como  geradores  de  conhecimento  sobre  a  produção  de  artefatos,  arquitetura  e  paisagens.  Para  ele,  a  memória  cultural  está  incorporada  nestas  práticas  e  não  nos  produtos,  e  por  meio  de  uma  estrutura  fornecida  pela  antropologia,  o  significado  histórico,  social  e  cultural  dos  conceitos  do  ambiente  construído  –  espaço,  lugar  e  arquitetura  –  podem  ser  avaliados  criticamente.  

Na  Região  Central,  os  ofícios  tradicionais  mais  representativos  são  aqueles  cuja  matéria-­‐prima  compõe  a  paisagem  dos  lugares,  como  a  formação  geológica  da  Serra  do  Espinhaço,  rica  em  formações  rochosas  e  outros  minerais;  assim  como  a  vegetação  de  transição  entre  Cerrado,  Mata  atlântica  e  Campos  Rupestres.  

A  cantaria,  peculiar  em  Ouro  Preto,  Mariana  e  Congonhas  do  Campo,  construiu  a  paisagem  das  cidades  históricas  da  Região  das  Minas  no  período  colonial,  a  partir  das  pedras  de  quartzito  retiradas  das  serras  que  emolduram  seu  entorno.  A  técnica  erigiu  ainda  o  sítio  histórico  de  São  João  Del  Rei,  cuja  paisagem  urbana  apresenta  as  pedras  de  quartzito  e  gnaisse  encontradas  nas  serras  circundantes.    

Os  metais  também  são  abundantes  na  formação  geológica  da  Região  Central,  reconhecido  na  história  do  Brasil  colonial  como  fonte  de  riquezas  da  produção  aurífera.  O  minério  de  ferro,  utilizado  nas  minas  setecentistas,  ainda  consiste  em  um  dos  mais  importantes  setores  da  economia  do  Estado,  inclusive  na  área  de  exportação.  Os  ofícios  ligados  ao  ferro,  como  fundição  e  ferraria,  são  atividades  características  da  região.  

O  solo  da  Região  Central  é  de  melhor  qualidade  para  os  ofícios  a  ele  ligado  na  Região  do  Campo  das  Vertentes  e  dali  seguindo  em  direção  à  localidade  de  Sabará,  onde  são  encontradas  olarias  que  produzem  lajotas  de  piso  e  telhas  artesanais,  assim  como  produtores  de  tijolos  de  adobe.    

A  vegetação  da  Região  Central,  em  suas  áreas  mais  caracterizadas  pelo  cerrado,  onde  se  encontram  espécies  como  a  candeia  e  a  goiabeira,  fornecem  madeira  de  troncos  finos,  usados  no  pau-­‐a-­‐pique  e  em  forros  de  estuque  de  barro.  As  taquaras,  também  encontradas  na  mata  da  região,  são  usadas  nestas  técnicas,  assim  como  na  confecção  de  forros  de  esteira.  

As  cidades  da  Região  Central  inventariadas  nesta  pesquisa  denotam  a  questão  das  transformações  tecnológicas,  arquitetônicas  e  urbanísticas  ocorridas  com  o  desenvolvimento  industrial,  assim  como  as  mudanças  políticas  no  país,  desde  a  passagem  do  colonialismo  para  o  império  e  depois  para  a  república,  onde  houve  a  transferência  da  capital  de  Minas  Gerais  de  

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Ouro  Preto  para  Belo  Horizonte.  A  região  contempla  desde  a  arquitetura  colonial  ao  suntuoso  estilo  neoclássico  e  posteriormente  eclético  da  nova  capital,  centro  econômico  e  administrativo  de  Minas.    

A  valorização  e  manutenção  das  tipologias  arquitetônicas  pelos  órgãos  de  preservação  tiveram  como  conseqüência  a  continuidade  ou  a  retomada  das  técnicas  construtivas  vinculadas  a  determinados  estilos,  para  que  pudessem  ser  aplicados  nas  obras  de  restauração.  A  valorização  da  estética  e  da  história  também  ocorre  na  área  do  turismo  cultural,  ampliando  o  uso  das  técnicas  tradicionais  além  da  restauração  para  novas  construções  em  estilo  artesanal,  como  pousadas,  restaurantes,  entre  outras  edificações  de  apoio  à  infraestrutura  turística.  

No  Vale  do  Jequitinhonha,  a  transmissão  de  pai  para  filho  desses  saberes  acontece  pela  necessidade  socioeconômica  que  caracteriza  a  região.  Os  mestres,  quando  crianças,  já  aprendem  o  ofício  para  que  possam  ajudar  os  pais  nas  atividades  domésticas  e  profissionais.  A  palavra  patrimônio  –  herança  do  pai  –  pode,  nesse  caso,  ser  caracterizado  por  esta  transmissão  de  saber  fazer.  Porém,  na  maioria  dos  casos,  essa  transmissão  está  sendo  interrompida  pelo  desinteresse  dos  herdeiros  em  exercerem  atividades  árduas  que  não  exigem  qualquer  tipo  de  estudo.  Muitos  preferem  seguir  nos  estudos,  beneficiados  por  programas  sociais  criados  em  nível  federal.  Alguns  mestres  acham  que  o  estudo  só  valerá  a  pena  para  os  filhos  se  a  remuneração  for  melhor  do  que  a  que  sempre  tiveram  durante  a  vida.  Muitos  lamentam  o  fato  de  as  crianças  e  jovens  não  poderem  trabalhar,  atualmente,  por  questões  legais,  pois  foi  nessa  fase  da  vida  que  eles  aprenderam  o  ofício.  

Em  relação  às  técnicas  e  aos  ofícios,  chama  a  atenção  a  diferença  da  produção  de  tijolos  de  adobe  no  Médio  Jequitinhonha,  no  Serro  e  em  Diamantina.  Nesta  última,  apesar  da  localização  no  Vale  do  Jequitinhonha,  a  produção  de  tijolos  de  adobe  se  faz  mais  escassa  devido  à  qualidade  do  solo  mais  rochoso.  

Vale  destacar,  o  processo  de  “industrialização”  pelo  qual  passaram  alguns  ofícios  e  suas  oficinas.  Em  alguns  casos,  o  método  artesanal  foi  substituído  pela  a  adaptação  de  algumas  máquinas  como  no  caso  de  uma  tupia  e  de  um  desengrosso  em  uma  marcenaria  em  Diamantina,  para  a  produção  de  cimalhas.  Nos  municípios  de  Araçuaí  e  Almenara  foi  notada  a  utilização  de  cimento  na  mistura  para  a  produção  de  ladrilhos  hidráulicos  e  pisos  cerâmicos  queimados  utilizados  em  obras  de  restauro.  Em  Minas  Novas  e  Diamantina,  foram  visitados  ferreiros  que  substituíram  os  tradicionais  foles  utilizados  na  forja,  para  atiçar  fogo  ao  carvão,  por  motores  movidos  a  energia  elétrica.  Em  Araçuaí,  o  ferreiro  visitado  substituiu  o  fole  por  uma  espécie  de  ventilador  manual  que  funciona  através  de  uma  manivela  comandada  por  ele  mesmo.  

Os  carpinteiros  de  Diamantina  e  do  Serro,  devido  à  presença  de  escritórios  do  principal  órgão  de  proteção  do  patrimônio  do  país  –  IPHAN  –  e  à  qualidade  e  quantidade  de  edificações  de  interesses  cultural,  apresentam  uma  maior  intimidade  com  as  diversas  técnicas  empregadas  no  passado.  

A  produção  de  adobe  de  adobe  também  apresenta  algumas  variações  na  fabricação  na  massa  utilizada  podendo  esta  apresentar,  ou  não,  o  capim  meloso  que,  segundo  os  artífices,  garante  uma  maior  consistência  do  material.  Por  outro  lado,  alguns  artífices  afirmaram  que  a  ausência  do  capim  meloso  acelera  o  processo  de  secagem  do  adobe.  

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No  Baixo  Jequitinhonha,  o  estilo  arquitetônico  predominante  é  o  eclético,  com  edificações  da  segunda  metade  do  século  XIX  e  da  primeira  metade  do  século  XX.  Neste  caso,  observou-­‐se  a  presença  de  ofícios  ligados  às  construções  deste  período,  com  destaque  para  a  produção  de  ladrilho  hidráulico  e  serralheria  artística.  

Foram  identificados  também,  ofícios  ligados  à  presença  indígena  na  região  como  o  forro  de  taquara,  a  cobertura  em  folhas  de  coqueiro  e  o  uso  da  mistura,  utilizada  como  pintura,  feita  com  barro  branco  –  tabatinga  –,  água,  goma  de  mandioca  e,  em  alguns  casos,  o  leite.  

Então,  como  conclusão  do  trabalho  de  campo  no  Vale  do  Jequitinhonha,  pode-­‐se  afirmar  que,  apesar  das  diferenças  físico-­‐geográficas,  socioeconômicas  e  históricas  das  três  subdivisões  (Alto,  Médio  e  Baixo),  o  mesmo  não  acontece  em  relação  às  técnicas  construtivas.  Uma  ou  outra  variação  foi  notada  no  modo  de  executar  o  ofício,  mas  por  opção  do  artífice  e  não  pela  região.  

7.  REFERÊNCIAS  

ANDRADE,  Francisco  Eduardo  de.  A  invenção  das  Minas  Gerais.  Belo  Horizonte:  Autêntica  Editora,  Editora  PUC  Minas,  2008.  

ANDRADE,  Mário  de.  Mário  de  Andrade:  cartas  de  trabalho:  correspondência  com  Rodrigo  Mello  Franco  de  Andrade,  1936-­‐1945.  Brasília:  Secretaria  do  Patrimônio  Histórico  e  Artístico  Nacional:  Fundação  Pró-­‐Memória,  1981.  

ÁVILA,  Affonso.  Resíduos  seiscentistas  em  Minas:  textos  do  século  do  ouro  e  as  projeções  do  mundo  barroco.Belo  Horizonte:  Centro  de  Estudos  Mineiros,  1967.  2v.    

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