Os governos da Frente Ampla: mudanças históricas no Uruguai

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Observatório Político Sul-Americano Instituto de Estudos Sociais e Políticos

Universidade do Estado do Rio de Janeiro IESP/UERJ http://www.opsa.com.br

Os governos da Frente Ampla: mudanças históricas no Uruguai1

Observador On-Line (v.8, n.04, 2013)

ISSN 1809-7588

Guilherme Simões Reis

Pesquisador Opsa

A Frente Ampla está em seu segundo governo consecutivo no Uruguai e,

segundo todas as pesquisas, é amplamente favorita nas eleições presidenciais que

serão realizadas no próximo ano. Isso não é pouco, se for levado em conta que

todos os presidentes do país até então, desde 1836 (e o país se tornou

independente em 1825!), à exceção da ditadura militar, pertenceram a um dos dois

partidos tradicionais, o Partido Nacional ou “blanco” e, principalmente, o Partido

Colorado.

Desde que essa frente de partidos e grupos de esquerda ou “progressistas” se

formou em 1971, no entanto, ela transformou a política uruguaia.2 Foi a principal

força de resistência contra a ditadura iniciada em 1973 e, com a redemocratização,

ela se rearticulou e cresceu continuamente, desmontando o bipartidarismo até

conseguir conquistar a Presidência da República elegendo Tabaré Vázquez no

primeiro turno em 2004 e conquistando a maioria das cadeiras nas duas câmaras

do Legislativo. Em 2009, perdeu votos, mas ainda assim foi o partido mais apoiado,

com 47,9% dos votos, e elegeu José “Pepe” Mujica presidente no segundo turno.

Quando Vázquez começou a ofuscar a liderança de Líber Seregni na Frente

Ampla, lançou-se candidato a presidente em 1994, e essa eleição marcou

1 Artigo apresentado na mesa "Los gobiernos de izquierda en América del Sur: balance de una década de

experiencias", organizada pelo OPSA no Congresso Latino-Americano de Ciência Política de 2013,

realizado em Bogotá

2 Para mais detalhes sobre os aspectos descritos brevemente nesta introdução e na seção subseqüente,

ver Reis (2011).

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definitivamente o fim do bipartidarismo, dando origem a um “multipartidarismo

bipolar” (Yaffé, 2005): ocorreu quase um empate tríplice, com 32,35% para o

Partido Colorado, 31,21% para o Partido Nacional e 30,61% para a Frente Ampla.

Em 1999, Vázquez foi o mais votado e chegou ao segundo turno, quando perdeu

para o colorado Jorge Batlle, que recebeu o apoio do Partido Nacional. Em 2004, foi

eleito. Em todos os três pleitos formou chapa com o moderado Rodolfo Nin Novoa,

um dissidente blanco.

A Frente Ampla já governava desde 1990 a capital Montevidéu, quando o

próprio Vázquez foi eleito intendente (prefeito). Com o seu crescimento e a saída

de quadros progressistas dos dois partidos tradicionais para a coalizão de esquerda,

o Partido Nacional e o Partido Colorado passaram a colaborar mais um com o outro

e convergiram ideologicamente em torno da agenda neoliberal, tornando-se cada

vez mais indiferenciados para o eleitorado. A política uruguaia passou

definitivamente a se configurar como uma polarização entre a Frente Ampla na

esquerda e os partidos tradicionais na direita.

O governo Vázquez, em linhas gerais, representou uma guinada para a

esquerda da política uruguaia. O Partido Colorado havia tido, no passado,

participação importante numa agenda progressista e no estabelecimento de um

Estado de bem-estar social no país; era o projeto battlista. Entretanto, nos anos

1990 o partido avançou fortemente na agenda neoliberal da mesma forma que os

rivais blancos. A Frente Ampla passou a ser, portanto, o único lema a defender

políticas de esquerda.

Dentro da Frente Ampla, no entanto, há várias frações ou setores com

posições que vão do centro até a extrema esquerda. Entender quem são é

fundamental para compreender os limites intrapartidários para o avanço da Frente

Ampla para a esquerda tanto sob Vázquez como com Mujica como presidente, e as

diferenças entre os dois mandatos.

As peças do tabuleiro

Vázquez é um político de centro-esquerda, o que pode ser entendido como o

centro da Frente Ampla. Era filiado ao Partido Socialista (PS), um dos principais

integrantes históricos da coalizão, mas nunca foi um membro orgânico da

agremiação. Ganhou popularidade tanto dentro do PS como de toda a Frente Ampla

pelo fato de ter vencido a eleição municipal de Montevidéu, rompendo a hegemonia

colorada na capital.

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Quando se tornou o líder, enfrentando Líber Seregni, principal nome da Frente

ampla desde 1971, Tabaré Vázquez buscou uma ampliação das alianças com

setores centristas, moderados, à sua direita. Conseguiu apoio para integrá-los à

coalizão contra a vontade de Líber Seregni, que então cedeu a candidatura à

Presidência para Vázquez em 1994. Sempre aliado de Seregni, defendendo o

purismo de esquerda, estava Danilo Astori, um político que, como ele, não fazia

parte de nenhuma fração. Havia sido o seu vice nas eleições presidenciais

anteriores e era tido como o seu sucessor natural como líder da Frente Ampla.

Apesar da derrota, Astori continuou forte: fundou um setor, o Assembleia Uruguai,

que foi o mais votado naquela eleição. O Partido Comunista (PCU), que era a maior

fração, entrou em crise com divisões internas após a queda do muro e perdeu

quase 80% dos seus votos.

Nas eleições de 1999, Astori e Vázquez se enfrentaram em eleições internas

para decidir quem seria o candidato presidencial, com expressiva vitória do último

por 82% a 18%. Os dois inverteram os papéis. Se antes Astori era defensor do

purismo na Frente Ampla, passou a ser o símbolo da moderação, com bom trânsito

entre o empresariado e tranquilo diálogo com os partidos de oposição. O moderado

Tabaré Vázquez, por sua vez, encarnou um discurso ferrenho de oposição aos

governos neoliberais.

Em 2004, a única novidade não foi a vitória de Vázquez no primeiro turno da

eleição presidencial. Além desse evento, merece destaque o fato de que outro

grupo se tornou o maior dentro da Frente Ampla: o Movimento de Participação

Popular, que continua na mesma posição até hoje. O MPP entrou na Frente Ampla

apenas em 1989, após a saída de setores mais centristas da coalizão que se

opunham a ele, e era composto por membros do grupo guerrilheiro Movimento de

Libertação Nacional (MLN-Tupamaros), que abdicou da luta armada e teve seus

principais dirigentes libertos da prisão com a reabertura democrática. São do MPP,

entre outros líderes de destaque, o presidente Mujica e a senadora e atual

primeira-dama Lucía Topolansky. Assim como os comunistas, o MPP faz parte da

esquerda da Frente Ampla.

O governo Vázquez, portanto, se opunha aos neoliberais e representava uma

guinada à esquerda, mas precisava se equilibrar entre os grupos mais centristas,

com destaque para a Assembleia Uruguai, liderada por Astori, e os setores mais à

esquerda, como os comunistas, em parte os socialistas e, principalmente, o MPP,

que era a corrente mais votada da Frente Ampla.

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O governo Tabaré Vázquez: contradições

Vázquez não era um refém dessas disputas e tinha habilidade para negociar

com todos os grupos. É o político mais popular do Uruguai e não é fortemente

associado a nenhuma fração, pois não apenas não era um socialista histórico como

ainda se desfiliou do PS para ser um candidato representativo de toda a coalizão.

Para conquistar o eleitorado de centro, fundamental para vencer a eleição no

primeiro turno, Mujica anunciou Astori como seu ministro da economia. Depois de

eleito, montou um gabinete representativo de toda a Frente Ampla, com grandes

lideranças de vários setores sendo nomeados ministros ou subsecretários. O MPP

ganhou dois ministérios, o do Trabalho, com a nomeação de Eduardo Bonomi, e o

da Pecuária, Agricultura e Pesca, assumido pelo principal líder tupamaro, Pepe

Mujica. Uma marca desse primeiro gabinete foi a presença de três mulheres, um

recorde no país até então; o número aumentaria para quatro em 2007, com a

substituição do socialista José Díaz pela colega de facção Daisy Tourné no Ministério

do Interior.

Vázquez pretendeu, entre 2006 e 2007, em paralelo ao Mercosul, assinar um

tratado de livre comércio (TLC) com os Estados Unidos, não o concretizando porque

os dois países não concordaram quanto aos termos do contrato. A Frente Ampla se

dividiu naquela situação. Enquanto Astori, sua fração Assembleia Uruguai, o então

vice-presidente Nin Novoa e a sua Aliança Progressista, e mais alguns ministros

apoiaram a negociação do TLC, fizeram oposição interna o PCU, a maior parte do

MPP e um setor do PS (Chasquetti, 2007).

O governo Tabaré Vázquez acabou assinando apenas um tratado de

comércio e investimento (acuerdo marco de comercio y inversión – TIFA) em abril

de 2007. Foi uma derrota de Astori, maior defensor do TLC dentro do governo (a

oposição também era favorável). Se, por um lado, a pressão brasileira e argentina

provavelmente foi o elemento mais determinante para a desistência de Vázquez,

pois existia até o risco de expulsão do Uruguai do Mercosul, por outro a

necessidade de o presidente não desagradar à esquerda da Frente Ampla não pode

ser menosprezada. Entre os maiores expoentes estavam o ministro das Relações

Exteriores e presidente do PS, Reynaldo Gargano, e os senadores Alberto Courier

(Espaço 609, ligado ao MPP) e Eduardo Lorier (PCU), os três grupos mais à

esquerda dentro da FA.

Em junho de 2013, o Escritório do Representante Comercial dos Estados

Unidos (USTR) insinuou que o Uruguai seria um candidato a negociar um acordo de

tipo TLC com os EUA, e Astori afirmou que declarações de Mujica na Cúpula do

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Mercosul indicariam que ele não se oporia a tal caminho. A Comissão de Programa

da Frente Ampla, no entanto, prontamente elaborou documento dizendo que o

melhor seria recusar qualquer oportunidade de acordo de livre comércio com os

EUA e investir em blocos como o Mercosul e a Aliança do Pacífico. O documento

afirma que um TLC seria destrutivo para a indústria nacional, com consequências

sobre o emprego, o comércio exterior e o produto bruto, “o que dificilmente se

pode recuperar por meio de um incremento da venda de bens primários para o

resto do mundo –, e que a forma como esse acordo se deu com o Peru e foi

proposto para a Colômbia seria “incompatível com as necessidades e objetivos de

desenvolvimento nacional” do Uruguai.

A quase assinatura do TLC não foi o único passo errático do presidente

Tabaré Vázquez do ponto de vista de uma agenda da esquerda. Em novembro de

2008, Vázquez vetou a lei de descriminalização do aborto apesar de ela ter sido

aprovada no Parlamento com o apoio da maioria da bancada da própria Frente

Ampla: foi aprovada com 17 votos a 13 (todos os favoráveis foram da Frente

Ampla) no Senado e 49 a 48 na Câmara de Deputados. A estimativa é a de que 33

mil abortos clandestinos são realizados por ano no país. (El País, 13/11/2008).

O governo Tabaré Vázquez: avanços

O governo da Frente Ampla, a despeito dessas contradições, representou uma

ruptura com o modelo neoliberal adotado pelos partidos tradicionais e assumiu a

missão de reconstruir o Estado de bem-estar, em parte desmontado nos anos

1990. Manteve a preocupação com a estabilidade econômica, mas promoveu ações

para fortalecer os trabalhadores, bem como para combater a miséria. Entre 2005 e

2012, reduziu a pobreza de 40% para 13%, a indigência de 5% para 0,5% e o

desemprego de 17% para 7% (La República, 19/11/2012). Pesquisa do Barómetro

de las Américas de 2010 apontava o país como o segundo em toda a América

Latina com maior proporção da população sendo beneficiada por ajuda mensal em

dinheiro ou produtos, com 30,7%, localizado atrás apenas dos 60,4% da Bolívia

sob a administração do Movimento para o Socialismo do presidente Evo Morales (El

País, 11/12/2011). O governo frente-amplista conseguiu crescimento econômico

com redução do desemprego: 5,4% em dezembro de 2010, o nível mais baixo pelo

menos desde 1988 (La República, 04/02/2011).

No governo Vázquez, implementou-se lei de proteção à atividade sindical, a

jornada de trabalho de 8 horas foi estendida ao campo, e convocaram-se os

Conselhos de Salários e a negociação coletiva por ramo de atividade, tal como

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queria a central sindical PIT-CNT, possibilitando a recuperação salarial perdida

durante o governo colorado neoliberal de Jorge Batlle (La República, 26/02/2010).

A Lei de Conselhos de Salários – que estabelecia negociações centralizadas

tripartites entre sindicatos, câmaras empresariais e representantes do governo, à

moda sueca de arbitragem pública pacífica dos conflitos, de 1943, nunca foi

derrubada, mas os Conselhos de Salários deixaram de ser convocados durante a

ditadura. Depois, em 1985, o presidente colorado Julio Sanguinetti convocou os

Conselhos, mas sem seguir exatamente a lei que os regulamentava. Com a

exacerbação do neoliberalismo3, o presidente blanco Luis Alberto Lacalle

simplesmente resolveu deixar de convocá-los e o período de desregulamentação e

enfraquecimento dos trabalhadores durou por toda a década. Com a derrota do

projeto neoliberal para a esquerda, os Conselhos voltaram a ser convocados com

Tabaré Vázquez em 2005 (La República, 02/05/2005).

A mudança nas relações trabalhistas a partir do retorno da convocação dos

Conselhos de Salários, que culminaram em acordos coletivos em 85% dos casos em

2006, teve como resultados naquele ano o aumento de 10,4% nos salários e de

11,5% nas rendas familiares, além de uma redução do desemprego para 10%, a

qual era, até então, a taxa mais baixa desde 1988. Realizou-se também uma

reforma tributária que mudou drasticamente o sistema de tributação no país,

criando-se o Imposto de Renda das Pessoas Físicas, o qual, uma cobrança direta,

tem impacto progressivo e era uma bandeira histórica da esquerda uruguaia

(Chasquetti, 2007). Houve grande polarização no governo, dividido entre o

ministério da Economia, sempre tentando manter a carga tributária para as

atividades empresariais a mais baixa possível, e os segmentos mais à esquerda,

que queriam sobretaxar o capital para financiar políticas redistributivas e a

atividade estatal em geral.

Nesse primeiro mandato, ampliou-se o orçamento da educação para 4,5% do

PIB e se implementou o Plano Ceibal.4 O programa oferece um laptop para todas as

crianças desde a sexta série da educação básica na rede pública de ensino, além de

fornecer treinamento e conexão à internet para os professores. O programa, que

representava 5% do orçamento para a educação e um custo de 260 dólares

3 O neoliberalismo, no entanto, não chegou a ser tão agressivo como na maioria dos países da região,

em parte pela grande capacidade da Frente Ampla e do PIT-CNT de convocarem plebiscitos populares

contra as medidas dos governos naquele período.

4 A sigla significa Conectividade Educativa de Informática Básica para a Aprendizagem em Linha mas é

um acrônimo que se refere à plantação de corticeiras (Erythrina crista-galli), a árvore nacional do país,

que é chamada de “ceibo” em espanhol.

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estadunidenses por criança, atingiu, entre 2008 e 2009, 362 mil alunos e 18 mil

professores. Como as crianças podiam levar os computadores para casa, também

muitas famílias tiveram pela primeira vez acesso à Internet. A intenção de realizar

investimento em capital humano por toda a vida, tal como defendida por Esping-

Andersen (1985), fica evidenciada nas palavras do próprio Vázquez (2009):

Nosso objetivo é claro: incrementando a

conectividade e reduzindo a disparidade digital,

temos a intenção de ocupar o lugar de um dos

líderes da tecnologia da informação (TI) no

hemisfério. [O Plano Ceibal] combina a

distribuição de computadores com um programa

para treinar os professores nos conhecimentos

necessários para usar a TI com o máximo

benefício. Não apenas se orienta para criar um

ambiente propício para a TI dentro da sala de

aula, mas também fora dela: espera-se que os

alunos levem os laptops para casa, para que os

computadores possam ser compartilhados com os

familiares.

Vale acrescentar, em relação às políticas de educação, que em março de

2007 começou a ser implementado pelo Ministério de Desenvolvimento Social

(MIDES) o programa “En el país de Varela: yo, sí puedo”, que visa à erradicação do

analfabetismo por meio da alfabetização de maiores de 18 anos. O próprio MIDES foi

criado no governo Vázquez. Foi esse novo ministério que implementou em 2005 o

Plano Emergência – ou Plano de Atenção Nacional à Emergência Social (PANES) –,

com previsão de duração de dois anos, cujo componente central era a Renda

Cidadã, a qual beneficiou 337 mil pessoas e 77 mil lares de baixa renda,

melhorando ainda a situação da saúde pública e da moradia (El País, 11/12/2011).

Saneada a grave situação social encontrada pela Frente Ampla quando

assumiu o poder, avançou-se no programa de desenvolvimento e justiça social com

a substituição do Plano de Emergência, em 2008, pelo Plano de Eqüidade, que

implicava transferências voltadas para beneficiar crianças e adolescentes, pensões

para idosos e cartões de débito para pessoas em situação de risco. Estes cartões,

chamados Uruguai Social, envolvem um gasto anual de cerca de 300 milhões de

dólares e beneficiam 71 mil famílias, que podem gastar o dinheiro com alimentos,

bebidas não alcoólicas e produtos de higiene pessoal, e seu valor varia de acordo

com o número de pessoas e o grau de precariedade (El País, 11/12/2011).

Como parte do Plano de Eqüidade, foi criado também o programa Uruguai

Trabalha, voltado para desempregados há mais de dois anos em situação de

vulnerabilidade econômica, os quais são designados para realizar tarefas

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comunitárias e recebem benefícios de seguridade social, assistência sanitária e uma

ajuda de custo, além de participarem de programas educativos semanais, para

melhorar a capacidade de leitura, usar computadores e aprender algum ofício. O

programa substitui o antigo Trabalho por Uruguai, que durava apenas seis meses e

foi instituído no âmbito do Plano de Emergência. Em 2008, 3.218 pessoas

participaram do Uruguai Trabalha, inclusive contribuindo para a recuperação de

edifícios públicos (MIDES, 2008). O número de beneficiados por ano continua na

casa dos 3 mil. Trata-se de programa semelhante a uma das medidas que

Pochmann (2001, p. 129) recomendava que Brasil adotasse para reduzir o

desemprego:

São exemplos de atividades com potencial de

desenvolvimento, no âmbito do serviço social, os

programas de trabalho de utilidade coletiva, uma

espécie de regime mínimo de emprego urbano

como forma de geração de renda para aqueles

que se encontram excluídos do mercado de

trabalho por muito tempo (e que têm dificuldade

de obter um novo emprego) e para aqueles que

disputam seus primeiros empregos (sem quase

nenhuma experiência anterior).

Outro programa do governo voltado para o emprego, mas vinculado ao

Ministério do Trabalho e não ao MIDES, é o Programa Objetivo Emprego, no qual

estão inscritas 10 mil pessoas, sendo três quartos delas mulheres e 30% indivíduos

acima de 45 anos. O programa realiza a intermediação entre a empresa e os

interessados, fazendo uma pré-seleção de candidatos e coordenando as entrevistas.

Em relação ao Plano Eqüidade, são fornecidos outros benefícios, como bolsas de

estudo para adolescentes e pensões por velhice e invalidez.

Na questão dos direitos humanos, o governo Vázquez impulsionou as

investigações sobre os desaparecidos da ditadura, mas foi contra qualquer revisão

da lei da caducidade, que, aprovada em 1986, foi referendada por voto popular em

1989, que declara prescritos de punição os delitos cometidos por militares e

policiais no âmbito do regime autoritário até 1985. Desde seu primeiro ano, foram

encontrados restos mortais de desaparecidos durante a ditadura. Alguns militares

que cometeram crimes durante o regime autoritário foram processados, o mesmo

acontecendo com o ex-ditador Juan María Bordaberry (Chasquetti, 2007).

Tabaré Vázquez é médico oncologista e as políticas de saúde – a despeito da

sua postura intransigente em relação ao aborto – também tiveram destaque em

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seu mandato presidencial. Ele realizou reforma do sistema de saúde apoiada pela

Organização Mundial da Saúde (OMS), com a criação do Fundo Nacional de Saúde e

do Sistema Nacional Integrado de Saúde (SNIS), e a descentralização da

Administração dos Serviços de Saúde do Estado (ASSE), e também adotou medidas

antitabagistas, como a proibição do fumo em lugares públicos fechados e uma série

de restrições à publicidade do cigarro. Além disso, foi criada a Operação Milagre,

um convênio com Cuba para a realização de operações gratuitas de catarata na ilha

caribenha ou em Montevidéu por médicos cubanos. O convênio prosseguiu no

governo Mujica e foi renovado em 2013, totalizando, entre 2008 e 2011, 41 mil

cirurgias em geral, sendo 27 mil delas especificamente de cataratas (El País,

16/09/2012; La República, 29/06/2013).

O governo Pepe Mujica: a divisão interna

Desde o primeiro mandato da Frente Ampla no poder, os três nomes mais

populares, segundo todas as pesquisas, e de maior destaque da política uruguaia

são Vázquez, Mujica e Astori. Como são proibidas no Uruguai reeleições

consecutivas, Astori e Mujica se destacavam como favoritos para a candidatura

frente-amplista nas eleições de 2009, e se enfrentariam em novas primárias.

Mujica recebeu em 2008 a indicação interna da Frente Ampla para ser o

candidato à Presidência. Seguindo o exemplo de Vázquez de associar seu cargo

mais à Frente Ampla do que à fração, Mujica saiu do MPP para ser o “candidato de

todos os frente-amplistas”. Ainda assim, foi permitido que Astori lançasse sua pré-

candidatura nas primárias de 2009: o ex-tupamaro venceu com 53,8% dos votos,

contra 41,0% de Astori e 8,5% do independente Marcos Carámbula.

O governo Mujica aprofundou as conquistas do antecessor. Incorporou ainda a

aprovação de leis com importante impacto simbólico, ousadia que, somada à forte

identificação do mandatário com um setor específico da esquerda da Frente Ampla,

impuseram que tais transformações nem sempre fossem pacíficas. Se, por ser um

moderado e pretender manter a influência sobre toda a Frente Ampla, Tabaré

Vázquez deu passos importantes, mas não no sentido de ter um governo socialista,

isso não é facilmente afirmável para Mujica, que é de facto o líder do maior grupo

da coalizão, situado na esquerda dela, e busca forçar o avanço tanto quanto as

resistências internas permitam.

A Frente Ampla historicamente teve como líder uma figura situada acima das

frações – primeiro Líber Seregni, depois Tabaré Vázquez –, de modo que a

presença de Pepe Mujica na Presidência da República não é de todo pacífica dentro

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da coalizão. Mujica procurou, ao se desligar de sua corrente em 2008, passar, como

o antecessor, a imagem de “presidente de todos os uruguaios”. Entretanto,

enquanto Vázquez nunca foi uma referência no PS e, quando se tornou relevante

por sua posição como intendente de Montevidéu, conquistou a liderança da Frente

Ampla como um todo, sem maior identificação com seu partido original, o caso de

Mujica é totalmente diferente: ele é indissociável do MPP. Trata-se da principal

liderança histórica da maior fração da Frente Ampla, e foi candidato sob forte

oposição interna dos setores mais pragmáticos. A escolha de Danilo Astori,

derrotado nas primárias, para vice, equilibrou uma situação que poderia ser

insustentável para a sobrevivência da coalizão, além de facilitar o diálogo com os

empresários, mas não tornou a Frente Ampla imune às discussões, por vezes

travadas abertamente via mídia.

A diferença pode ser ilustrada pelo ocorrido em maio de 2012, quando Mujica

exonerou o ministro do Turismo, Héctor Lescano, e o diretor da estatal de energia

elétrica UTE, Gustavo Rey, ambos ligados a Astori. O evento redundou em uma

crise do governo com o campo centrista. O senador Rafael Michelini afirmou

explicitamente que, se “insistir neste caminho errático, o presidente fagocitará sua

maioria parlamentar”. Mujica observou que, quando Tabaré Vázquez era o

presidente, não enfrentou as mesmas críticas quando demitiu vários ministros de

uma só vez (El País, 3 a 6/06/2012). Apesar de confrontar a oposição com

frequência, Mujica evita se desgastar internamente, afirmando que, na Frente

Ampla, há um “vasto setor socializante” e outro composto por membros “apenas

progressistas”.

Os grupos mais centristas da Frente Ampla – Assembleia Uruguai, Aliança

Progressista, Novo Espaço e Bandeiras de Líber – formaram em 2009 a Frente Líber

Seregni (FLS), para apoiar Astori, e depois lançaram uma lista única ao Senado. A

FLS tenta contrabalançar o peso do MPP, cuja bancada, sozinha, conta com seis

senadores e 25 deputados, enquanto que todos da FLS somados representam cinco

senadores e 10 deputados (El País, 15/02/2011).

Astori reiteradamente defende mudança nas regras de seleção para os órgãos

internos da Frente Ampla – o Plenário Nacional, com funções de deliberação, e a

Mesa Política, que é executiva – com o argumento de que é preciso democratizar

esses processos e aproximar o partido das preferências da população. Na verdade,

essa reivindicação, travestida de justiça, que encontra eco entre todos os setores

moderados, advoga em causa própria. Os dois organismos têm seus membros

eleitos a cada cinco anos – dois anos antes das eleições nacionais – em pleitos

internos em que todos os filiados podem votar. A questão central do desconforto de

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Astori é que metade dos cargos é preenchida por representantes das frações da

Frente Ampla, e a outra metade por representantes das bases (isto é, das

coordenadoras zonais de Montevidéu e dos plenários departamentais do restante do

país). Como os grupos mais à esquerda são mais militantes, têm muito maior

representatividade nas bases, de modo que conseguem uma sobrerrepresentação

no Plenário Nacional em comparação com sua representação nas eleições nacionais,

nas quais a Frente Ampla recebe votos também de não militantes,

proporcionalmente mais simpáticos às frações mais centristas. O MPP, o PCU e o PS

não apenas são os grupos que mais à esquerda dentro da Frente Ampla como

também são aqueles com maior militância nas bases (Yaffé, 2005; Chasquetti,

2007).

A disputa entre “astoristas” e “mujiquistas” existe também dentro do Partido

Socialista. A chamada ala “ortodoxa” ou garganista (assim chamada devido ao

antigo líder Reinaldo Gargano, falecido recentemente) tem como grande expoente o

ministro do Desenvolvimento Social (o já mencionado MIDES), Daniel Olesker, e se

alinha aos grupos mais à esquerda. Já a ala “renovadora”, alinhada à equipe

econômica, tem maioria do Comitê Central do PS (conseguiu, em 2011, 46 das 51

cadeiras!) e do Executivo do PS, além da maioria dos legisladores socialistas.

Fazem parte desse grupo figuras proeminentes, como o secretário geral do PS, Yerú

Pardiñas; a presidente da Frente Ampla, Mónica Xavier; a deputada e ex-ministra

Daisy Tourné; e o ex-secretário geral do PS Eduardo Fernández. Economistas dessa

corrente têm participação na Nova Agenda Progressista (NAP), grupo que prepara

conteúdos para o programa do próximo governo da Frente Ampla, isto é, de Tabaré

Vázquez.

Mujica interferiu na disputa ao nomear Alejandro Antonelli, próximo ao

ministro Olesker, para subsecretário de economia. Isso gerou reação irada de Daisy

Tourné, que escreveu na rede interna do partido ofensas a Mujica, que acabaram

vazando. A desunião do PS se mostrou também quando Mónica Xavier tentou

contornar uma decisão da coalizão e manter simultaneamente os cargos de

presidente da FA e de senadora: os ortodoxos nada fizeram para apoiá-la e ela foi

pressionada a renunciar ao Senado; além disso, o garganista Roberto Conde

renunciou a um cargo no Executivo para assumir como suplente e não deixar a

cadeira para os renovadores.

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O governo Pepe Mujica: a dificuldade para o passo à frente

A divisão dentro da coalizão é clara. A Frente Ampla passou por grande

debate sobre reforma tributária, em que principalmente o PCU – o mais radical – e

o próprio MPP, mas também parte do PS e da Vertente Artiguista, além da central

sindical PIT-CNT5, criticaram duramente o governo, exigindo transformações mais

agudas, tais como maior isenção fiscal exclusiva para as famílias de menor renda,

aumento do imposto sobre atividades econômicas (IRAE), maior taxação sobre

setores mais lucrativos do agronegócio como o dos exportadores de soja, uma

mudança no teto e no piso do imposto de renda (IRPF), e aumento no imposto ao

cheque e ao capital especulativo. O vice-presidente Danilo Astori, ministro da

Economia no governo Vázquez e líder dos grupos moderados da coalizão, os quais

continuam no controle da política econômica, defende que não haja uma mudança

grande no sistema tributário para não comprometer a arrecadação e afugentar

investimentos, e considera que se trata de “oportunismo tributário” querer

“castigar” os setores lucrativos com impostos (El Pais, 17/02/2011).

Apesar da divisão interna, o governo Mujica enviou em abril de 2013 para o

Congresso um projeto de imposto sobre as grandes propriedades rurais, cujos

recursos seriam utilizados para a manutenção das estradas.6 Há, assim, a

preocupação de repassar para o capital, e não para o trabalho, os custos do

investimento em infraestrutura, apesar do entrave representado pela lógica liberal

com que atua a facção astorista.

O fato de o Ministério da Economia estar nas mãos da Frente Líber Seregni de

Danilo Astori, adotando políticas ortodoxas e atuando o máximo possível como ator

de veto para uma redistribuição mais radical, gera insatisfação nos setores à

esquerda na coalizão. O PCU apoiou o MPP nos processos eleitorais de 2008 e 2009,

contribuindo para a eleição de Pepe Mujica, mas as duas agremiações não mantêm

a coalizão desde as eleições municipais de 2010 (El País, 25/03/2010). Entre as

frações mais relevantes da Frente Ampla, o PCU é aquela que se apresenta como a

mais crítica em relação ao governo, especialmente em relação à política econômica,

que é controlada pela FLS. O secretário-geral do PCU, Eduardo Lorier, realizou

muitas críticas pela imprensa, e disse que, se soubesse que os economistas que

5 A corrente Articulação da central PIT-CNT, próxima ao vice-presidente Astori, tem apoiado o governo, mas houve choques com os sindicatos em que há maior presença de dirigentes do PCU, do MPP e de setores da esquerda que não integram a Frente Ampla (El País, 27/02/2011). 6 Tal projeto acabou por ser considerado inconstitucional. Agradeço a Pedro Narbondo pela informação.

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estiveram com Pepe Mujica na campanha eleitoral, de visão mais próxima à dos

comunistas, estariam fora do ministério e que a equipe econômica seria dominada

por astoristas, o PCU não o teria apoiado contra Astori.

Há, no entanto, diferenças claras em reação à gestão de Tabaré Vázquez. Faz

parte do projeto atual de mudança da correlação de forças entre capital e trabalho

da Frente Ampla, ou ao menos do setor MPP, o fomento à autogestão das

empresas. O governo Mujica criou em 2010 o Fundo para o Desenvolvimento

(FONDES), para apoiar empreendimentos com a participação dos trabalhadores na

direção e no capital das empresas, e é administrado pela secretaria de Orçamento e

pelos ministérios da Indústria e da Economia. Mujica incentivou que essa fosse a

solução dada para a empresa de aviação Pluna, que faliu, e para a indústria têxtil

Paylana, que foi comprada em leilão pelo Banco da República, estatal. Com isso,

Mujica justamente se diferencia dos partidos social-democratas dos países de

capitalismo avançado, conforme a crítica que Fritz Scharpf (1991, p. 270) faz a

eles:

Se os social-democratas e os sindicatos tivessem

lutado tão firmemente para mudar a distribuição

da propriedade e da riqueza como fizeram para

aumentar os salários dos trabalhadores e o

tamanho do governo, poderíamos usar hoje os

descritores “capital” e “trabalho” como categorias

neutras para descrever tipos de renda funcional

em vez de usá-los como descrições de classes

sociais.

Em agosto de 2012, o governo divulgou os números das suas conquistas a

partir de março 2010, com o intuito de melhorar seus níveis de aprovação. O

Uruguai mantém crescimento superior a 4% preservando os equilíbrios

macroeconômicos apesar da crise mundial. Em relação ao mercado de trabalho,

foram criados 80 mil novos postos, sendo que a redução do desemprego foi de 35

mil e que 45 mil pessoas ingressaram pela primeira vez na população

economicamente ativa. Na educação, houve aumento de 6,8% dos jovens menores

de 18 anos que terminam o ensino médio básico, e está sendo criada a

Universidade Tecnológica, no interior. Superou os 400 milhões de dólares o gasto

em obras de infraestrutura, incluindo a eletrificação rural, e foi promovida a

diversificação da matriz energética. Foi criado o Programa de Soluções

Habitacionais para mulheres que estão saindo de uma situação de violência

doméstica (La República, 26/08/12).

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Faz parte das prioridades do governo também o avanço em questões fora do

âmbito estritamente econômico. Mujica enviou ao parlamento projeto para

descriminalizar a produção e venda de maconha, foi aprovada em abril de 2013 a

legalização de casamentos homossexuais, e em outubro de 2012 o Uruguai se

tornou o primeiro país da América do Sul a descriminalizar o aborto – apesar de

Vázquez, o provável próximo presidente do país, a ser eleito em 2014, ser contrário

e já ter declarado que pretende convocar um referendo sobre a questão.

Limites internos da Frente Ampla a maior radicalização à esquerda

O principal entrave para um avanço socialista no governo da Frente Ampla,

portanto, não são os partidos tradicionais, mas as contradições da própria coalizão

de governo. Desde a eleição de 1999 a Frente Ampla é o partido mais votado e

obtém mais cadeiras no parlamento (Câmara de Senadores e Câmara de

Representantes) do que qualquer dos partidos “tradicionais”, o Nacional e o

Colorado. Como não se pode votar para qualquer das câmaras legislativas em um

partido diferente do candidato a presidente, e Tabaré Vázquez venceu a eleição de

2004 no primeiro turno, a Frente Ampla atingiu a maioria parlamentar absoluta em

ambas as câmaras naquela ocasião. Em 2009, a Frente Ampla elegeu maioria

simples nas duas casas – na eleição presidencial, Mujica venceu o primeiro turno,

mas só se elegeu no segundo. Com bancada inferior a 50%, a coalizão sofreu

derrotas quando seus senadores ou deputados não votaram todos de forma

disciplinada – como ocorreu na votação do projeto de anulação da Lei da

Caducidade, pela qual crimes de violação dos direitos humanos cometidos durante

a ditadura estão prescritos.

O tema militar é justamente aquele em que o MPP apresenta postura mais

conservadora, acompanhando grupos da direita frente-amplista (como os

vinculados a Astori e ao ex-vice-presidente Nin Novoa), em contraste com seu

progressismo em outras questões, econômicas e de direitos civis ou pós-materiais,

quando aparece mais próximo às posições do PCU, que é um rival histórico no

campo da esquerda uruguaia mas com quem formou alianças internamente nos

últimos anos.

Foi graças ao não voto de um deputado do MPP, Víctor Semproni, que o

projeto de reinterpretação da Lei da Caducidade, o qual, na prática, tornaria o seu

funcionamento nulo, não foi aprovado na Câmara de Representantes, em maio de

2011. A aprovação da lei interpretativa permitiria a reabertura de todos os casos de

violações de direitos humanos cometidos entre 1973 e 1985, durante a ditadura.

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Outros deputados haviam manifestado contrariedade em aprovar a legislação,

declarando que votavam a favor apenas por fidelidade partidária, e a maioria deles

era também do MPP e, mais especificamente, do MLN-Tupamaros, a exemplo do

próprio Semproni. Quando o projeto foi aprovado por margem mínima no Senado,

Fernández Huidobro, que também se opunha à lei interpretativa, votou a favor por

disciplina partidária, mas surpreendeu a todos ao anunciar sua renúncia à cadeira

de senador após votar.

Apesar de Constanza Moreira, próxima ao MPP, ter desafiado Tabaré

Vázquez para uma disputa de primárias, ninguém duvida de que o ex-presidente

será novamente o candidato em 2014. As pesquisas apontam para vitória,

provavelmente no primeiro turno. A tendência, portanto, é a de maior moderação

nas políticas do governo do que têm sido vistas com Mujica. A força com que o MPP

e a FLS sairão a partir do resultado das urnas, no entanto, será fundamental para

definir o quanto Tabaré Vázquez terá de liberdade para atuar de acordo com suas

preferências políticas pessoais.

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