O Plano do Exílio Seniano

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1 O Plano do Exílio Seniano.” in Project “Ler Jorge de Sena” Universidade Federal do Rio de Janeiro. (24 pp.) (2011) http://www.letras.ufrj.br/lerjorgedesena/port/ressonancias/estudos/texto.php?id=3 44 (to emigrate) is the same as to correct the plan made by the One Above and to tell him:'You put me over here. Well, I'm going over there because I have the chance. Miguel Delibe, Diario de un Emigrante apud Ilie, 1980, 65. Tendo em mente que este trabalho apenas aponta os caminhos possíveis de uma análise a que não é possível proceder aqui, observaremos de um ponto de vista teórico as características desse plano antifatalista, duma rebelião inerente contra o destino que a poesia de Jorge de Sena comporta. Vejamos assim as categorias propostas por Paul Tabori em The Anatomy of Exile (1972) para depois proceder a algumas sugestões de abordagem à obra de Jorge de Sena. Paul Tabori apresenta uma categorização essencialmente histórica, legal e política, se bem que também nos forneça algumas contribuições para um ponto de vista filológico e filosófico. Divide a sua análise em duas grandes épocas: da antiguidade pré- cristã até ao fim do século XIX e refere-se a algumas situações particularmente ilustrativas do século XX, não esquecendo, em quaisquer dos seus momentos de análise, a diferença essencial entre expatriados e exilados e a atitude dos países de acolhimento face a ambos. Partindo do pressuposto que o país de acolhimento sempre ganha dividendos, tarde ou cedo, do seu papel de anfitrião, parte para o problema da assimilação versus a recusa absoluta do presente do exílio por parte do exilado. Atitude essa, que,

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O Plano do Exílio Seniano.” in Project “Ler Jorge de Sena” Universidade Federal do Rio de Janeiro. (24 pp.) (2011) http://www.letras.ufrj.br/lerjorgedesena/port/ressonancias/estudos/texto.php?id=344

(to emigrate) is the same as to correct the plan made by the One Above and to tell him:'You put me over here. Well, I'm going over there because I have the chance.

Miguel Delibe, Diario de un Emigrante apud Ilie, 1980, 65.

Tendo em mente que este trabalho apenas aponta os caminhos possíveis de uma

análise a que não é possível proceder aqui, observaremos de um ponto de vista teórico as

características desse plano antifatalista, duma rebelião inerente contra o destino que a

poesia de Jorge de Sena comporta. Vejamos assim as categorias propostas por Paul

Tabori em The Anatomy of Exile (1972) para depois proceder a algumas sugestões de

abordagem à obra de Jorge de Sena.

Paul Tabori apresenta uma categorização essencialmente histórica, legal e

política, se bem que também nos forneça algumas contribuições para um ponto de vista

filológico e filosófico. Divide a sua análise em duas grandes épocas: da antiguidade pré-

cristã até ao fim do século XIX e refere-se a algumas situações particularmente

ilustrativas do século XX, não esquecendo, em quaisquer dos seus momentos de análise,

a diferença essencial entre expatriados e exilados e a atitude dos países de acolhimento

face a ambos. Partindo do pressuposto que o país de acolhimento sempre ganha

dividendos, tarde ou cedo, do seu papel de anfitrião, parte para o problema da assimilação

versus a recusa absoluta do presente do exílio por parte do exilado. Atitude essa, que,

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curiosamente para o nosso estudo seniano, ele considera como tendo o seu ponto alto no

salmo 136 de David, que justamente Sena utiliza como fonte de inspiração para “Super

Flumina Babylonys” e onde, de alguma maneira, será lícito apreender uma compreensão

de tipo biográfico de Luís de Camões, mas também, de forma oblíqua, do próprio Sena.

Mas deixemos este ponto, que Jorge Fazenda Lourenço em A Poesia de Jorge de Sena:

Testemunho, Metamorfose, Peregrinação (1998) e Francisco Cota Fagundes no ensaio

inédito “Do Sofrimento à Apoteose: Uma Proposta de Leitura de Algumas Obras Poéticas e

de Ficção de Jorge de Sena” (2000) já tiveram oportunidade de referir. O que aqui se

pretende reforçar é exactamente a ideia que o próprio Tabori avança de que “quite a few

have sung this song, drawing from the wellsprings of the past, their national identity”

(1972, 18).

No primeiro capítulo, “The Semantics of Exile”, Tabori oferece-nos uma

distinção já conhecida entre “exilado”, “expatriado”, “refugiado” e “emigrante”, sendo

que os três primeiros termos se prendem com conotações de tipo político e ético e ao

voluntarismo do acto ou não. O último estará relacionado com razões mais directamente

económicas. De facto, o autor vai ao ponto de nos fornecer definições legais de quaisquer

dos termos. Interessa-nos, particularmente, a ideia recorrente de que estas categorias não

são estanques, ou seja, de que se pode mudar de categorias, o que permite uma

aproximação mais cuidada ao caso de Jorge de Sena. Curiosa ainda é a divisão material e

psicológica de cinco categorias de exílio, tal como são propostas por um perito de saúde

mental das Nações Unidas:

1. persons who were uprooted by forces from outside, against their will

[...]. The characteristics of this group, who have lived mainly in camps for years, include great apathy and deep mistrust.

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2. people who left their countries to avoid persecution [...]. For them

integration is almost spontaneous.

3. a percentage of persons who left their country mainly because of personal and irrational considerations. The attempt to escape from a certain place in the belief that by moving the conflicts of the past might be solved.

4. the fourth group has been mainly motivated by economic factors.

5. the expellees who were forced out of their country because of the mere fact of their belonging to an unwanted group. In contrast to all other groups, no active decision is involved here, and consequently one finds a strong feeling of homesickness. Integration is sometimes not desired. (Dr. H. Strotzka, “Report to the European Seminar on the Economic and Social Aspects of Refugee Integration”, Sigtuna, Sweden, 1960 apud TABORI, 1972, 29.)

Assim, o autor estabelece, de certo modo, aquelas que ele considera como sendo

as definições essenciais do exílio enquanto categoria da ordem da semântica. A estas

juntam-se depois problemas psicológicos específicos oriundos de uma identidade que o

indivíduo exilado vê em constante mutação.

Em relação a uma psicologia do exílio o autor começa por nos remeter para o

exílio edénico e depois para o exílio interno – no mesmo sentido que Andrew Gurr lhe

emprestará quase dez anos depois (1981), isto é, um exilado dentro do seu próprio país.

Fala-nos, também, dentro desta última categoria, do exílio temporal, ou seja do facto do

exilado se sentir preso a um passado inalterável que muito embora seja a sua maior fonte

de inspiração, corre o risco de lhe “tiranizar” o presente – ponto que Andrew Gurr

também desenvolverá. Finalmente, o autor levanta ainda a questão de quando é que o

exilado deixa de o ser: “when he gives up the intention of returning?” (1972, 34). E a

partir daqui já podemos colocar o exemplo individual de Jorge de Sena.

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As definições de exílio passarão todas elas a um estado de dinamismo e alteração

em que dificilmente se consegue manter uma verdade permanente em relação a algo tão

intimamente sujeito às variações dos casos individuais. Comecemos por chamar a

atenção para a questão da identidade do exilado que, segundo Tabori, está em constante

mutação. Já não será a primeira vez que se insinua que Sena é uma personalidade cuja

evolução sofre apenas ligeiras inflexões ao longo do tempo. Resta no entanto anotá-lo.

Veja-se assim “Regresso” datado de 1945 (in Poesia I, 1988a, 199-200) e “O Douro preso

em Barragens” (in Poesia III, 1989, 171-72) de 1971. De onde ou para onde regressava o

poeta em 1945, ainda longe de uma ideia de exílio pátrio? Aparentemente para a “casa

onde nasci, cujos degraus não conheço / hoje, nem conhecerei nunca [...]”. Que casa é

esta num poema que caracterizamos como pertencendo essencialmente à ordem do exílio

na linguagem e do exílio interior1? O seu próprio eu? O poema continua numa imagística

onírica em que o momento do acordar corresponde ao momento da fala e à consequente

ideia de regresso a si próprio. É a verbalização que lhe permite o regresso de um espaço

interior de um exílio onde “nunca mais, nunca mais a treva acabará.” “O Douro preso em

Barragens” é o primeiro poema escrito depois do seu regresso a Portugal, 12 anos

passados de exílio nas Américas. Um poema classificado entre os de exílio pátrio, interno

e interior. Ou seja, podemos criar aqui a ponte de um exílio interior consubstanciado na

imagem de uma casa desconhecida, em trevas, e que após um regresso efectivo à pátria

conhece a sua contraparte na descrição do rio, preso entre as margens, os barcos e o

tempo, e onde a escuridão de uma casa que apenas se entrevê entre o luar, as luzes dos

1 Para uma compreensão do significado pleno destas categorias segundo o esquema da autora veja-se o ensaio intitulado “Para uma tentativa de compartimentalização dos exílios senianos”, Paula Gândara, apresentado no Colóquio Internacional , Isto Tudo que Rodeia Jorge de Sena, University of Massachusetts at Amherst.

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automóveis e o breve acender de um fósforo encontra a sua contraparte na mesma

escuridão de um verde rio “Tão verde ora de névoa surda” “Que rio se era escuro e já de

verdes águas”. Uma água que envolve o poeta na mesma mansidão mais ou menos

ameaçadora de uma casa desconhecida. Uma água onde o tempo não passa, repetindo a

mesma treva de há 12 anos atrás. A descrição, que evoca a necessidade do olhar e de

ultrapassar a escuridão é ainda um momento de inactividade, uma pausa comparável ao

sonho, onde o poeta, alheado dos dias, não reconhece um outro tempo, mas apenas o

mesmo “desmaio das coisas” (1988a, 200) em que a brisa morre e “não barqueiros

remam” (1989, 172), porque não em direcção a um outro exílio primordial, para sempre

preso entre as águas de um rio que nem na morte oferece a chegada necessária? Não há

regresso possível, por isso Sena jamais deixará de ser o exilado que sempre foi.

E Paul Tabori conclui:

The conflicting demands of establishing a clear dividing line and of accepting the undoubted fact of refugee, emigrant, immigrant, and expatriate blending together into the same or similar categories show the deep dichotomy, the search for a stable identity, that is an integral part of exile itself. (1972, 37).

Concluímos nós que essa busca por uma identidade mais ou menos estável não

ultrapassou nunca o carácter dessas águas presas num tempo e num país onde o poeta não

cabia. E onde a busca é o único movimento. Mas uma busca que acima de tudo se

centrava no domínio interior. É que refugiado, emigrante, imigrante, exilado e expatriado

juntam-se a uma outra categoria, despersonalizado, no sentido que esta palavra pode ter

ao evocar as experiências poéticas de um Rimbaud, e que nos serve para acentuar o

carácter profundamente dicotómico desta realidade.

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Como síntese, Paul Tabori deixa-nos as seguintes ideias: 1. Um exilado é alguém que é obrigado a deixar a sua pátria, quaisquer que sejam as

razões, por motivos de tipo voluntário ou não.

2. O estatuto do exilado é dinâmico: ou seja há uma alteração a nível psicológico e

material quer no que diz respeito aos seus sentimentos para com a pátria quer com o

processo de assimilação no país de acolhimento.

3. A contribuição do exilado para com o seu novo país será tanto mais válida quanto

maiores forem as suas ligações à sua identidade, nacional e espiritual.

4. A determinação do exilado de regressar à sua terra natal esmorece com o passar dos

tempos.

5. Por profundo que seja o seu processo de assimilação cultural o exilado retém o

interesse pela pátria.

6. É natural que a influência do exilado se faça sentir mais profundamente no país de

acolhimento do que na sua pátria.

De alguma maneira, Jorge de Sena passou por tudo isto: emigrante, por motivos

económicos, auto-exilado por motivos políticos, exilado internamente, no seu próprio

país ainda antes de partir. Retendo uma profunda ligação à pátria que se apercebe não

apenas na utilização da língua-mãe na sua produção literária – facto que indica

claramente que Jorge de Sena continuava a dirigir-se a um público português – mas

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também nas preocupações íntimas do autor: a sua tristeza quase permanente por não se

sentir suficientemente querido em Portugal, e que se pode constatar não só na leitura da

sua correspondência, mas também das várias entrevistas que deu, tal como se pode

apreender na abordagem temática de muitos dos seus poemas. É paradigmático o caso de

"Em Creta com o Minotauro". Não é aceitável que a sua participação nas actividades que

abraça no país de acolhimento tenham sido alguma vez mais importantes do que o seu

estatuto de poeta e escritor que se centram no país de origem. Porque se é impossível

negar a importância social e política da actividade educacional que o ocupava no Brasil e

nos Estados Unidos é igualmente impossível deixar de constatar a imensidão da sua

produção literária e o interesse de que é objecto. Quanto à perda da vontade de voltar a

Portugal, crê-se que nunca existiu. Ele sempre terá sonhado com o regresso, mas será

igualmente verdade que Sena tinha plena consciência da impossibilidade de voltar.

Mesmo após o 25 de Abril, as suas palavras deixam-nos o desejo de voltar e

paralelamente dizem sempre da dificuldade que tal retorno acarretaria. Doente, com nove

filhos, e com uma escrita que se ligava profundamente a uma situação de exílio, o retorno

seria provavelmente não só a criação de uma situação economicamente insustentável

como a perda da “manutenção” de um espaço de exílio que os seus poemas, ainda

escritos em Portugal, já deixavam transparecer, mas que depois de uma volta de livre e

espontânea vontade já não seriam de esperar.

Mas vejamos um pouco mais detalhadamente as ideias de Andrew Gurr, em

Writers in Exile, The Identity of Home in Modern Literature (1981).

Andrew Gurr apresenta-nos a noção de exílio criativo, defendendo que a criação

se processa essencialmente através de uma energia despoletada por um movimento do

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escritor que, das comunidades pequenas, de onde é originário, parte para as grandes

cidades, onde se instala. Será este um tipo particular do escritor moderno, que se centra

numa escrita de prosa de ficção realista já que as suas preocupações são, primeiro, de

índole social, e só depois, filosóficas e culturais, sendo ainda que “their alienation is not

only psychological and economic in the Freudian and Marxist meanings of the word but

also physical – a geographical removal from their origins” (Gurr, 1981, 7). É dentro deste

quadro que o escritor tende a procurar a sua identidade social e pessoal, princípio e fim

da arte moderna. Andrew Gurr chega ao extremo de utilizar os termos “colónia” e

“metrópole”, precisamente por considerar aplicáveis as implicações políticas e

sociológicas de ambas as palavras, concluindo que o escritor moderno se exila da colónia

para a metrópole e que é nesse processo que se constrói a “home-based identity” – ou

seja, é o exílio que possibilita a conceptualização do “lar”. Prossegue Andrew Gurr que

este processo é o mais nefasto possível para a liberdade do artista. O passado, que se

confirma como a fonte de criação da sua identidade é também a sua história, que Freud

considera como uma neurose: “a traumatic experience which needs the therapy of self-

analysis and understanding before the mind can free itself from its neurosis and emerge

into the clear, sane light of day” (Gurr, 1981, 10). É esta terapia que a escrita deve

proporcionar ao artista de molde a que ele se possa libertar da sua própria procura de

identidade – no entanto, a separação do passado do presente, que implica a separação da

noção de tempo e de espaço, provocará nos escritores precisamente uma noção de “lar”

que se centra nesses mesmo conceitos: “the home is set in the past, in memories of

childhood, as a recherche for the temps perdu, the home of memory, which is the only

basis for a sense of identity which the exiled writer can maintain” (Gurr, 1981, 11).

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Avançando de seguida com a noção de exílio interno, em que o exilado não terá

abandonado as suas raízes, acaba por afirmar que “In varying degrees the normal role for

the modern creative writer is to be an exile” (Gurr, 1981, 13). A extirpação,

“deracination”, é um pré-requisito para a criatividade.

Temos assim um exílio criativo em que a própria criatividade acaba por ser posta

em causa pela própria condição que a origina, “a commitment to create a fresh sense of

identity through the record of home” (Gurr, 1981, 15). Por outro lado, este pressuposto,

implica que a maior fonte de inspiração do escritor, ou uma das maiores, seja a sua

própria memória, remetendo tal facto para os princípios filosóficos subjacentes ao

Existencialismo.

De seguida, e considerando que existem graus de exílio tal como existem graus de

liberdade, apresenta-nos a distinção entre expatriados e exilados tal como foi proposta

por Mary McCarthy (1971), ou seja, os exilados são-no por força e por razões de índole

política, enquanto os expatriados são-no de livre vontade. Os exilados tendem a

permanecer numa grande cidade enquanto os expatriados migram de cidade em cidade, e

continuando com aquilo que o autor sintetiza numa simplificação demasiado geral, os

expatriados serão essencialmente poetas enquanto os exilados comunicam através de

prosa de ficção realista, um mais interessado em expor um psiquismo interior, o outro em

granjear uma audiência que não alcançará – sendo o exílio uma imposição política e

querendo o exilado alcançar a pátria que se viu forçado a deixar para trás é decorrente

que as mesmas forças políticas impedirão a publicação das suas obras!

“There is another principle which exiles find quite as compulsive as the need to

claim the universality of their local experience. This is the essentially static nature of the

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fictionalized home” (Gurr, 1981, 22). Um princípio que se aplica a ambos os casos;

enquanto o expatriado procura reconstituir uma história cultural o exilado procura recriar

a sua história pessoal, ambos apoiando-se num passado de natureza estática, baseado em

retrospectivas da memória − uma retrospectiva que apesar de tudo ainda poderia ser

entendida num sentido positivo se se considerasse que ela implica uma perspectiva

distanciada e consequentemente mais precisa, delineada, clara, longe de qualquer tipo de

sentimentalismo. Concluindo, porém, o escritor queda-se dividido entre a distância da

pátria, que lhe permitiu criar a sua própria individualidade, e a memória dessa pátria que,

estática, não se compadece com a evolução necessária à sua libertação absoluta.

Mas ainda resta a palavra, “an essentially dangerous piece of equipment with

which to forge an identity” (Gurr, 1981, 91). Gurr fala-nos brevemente do instrumento de

trabalho do escritor, a propósito de V.S. Naipaul. Sendo a palavra uma forma possível de

fuga da realidade quando conducente a uma fantasia escapista ela carrega uma

perigosidade latente: “The words which are the exiled writer’s only weapon are aimed

outwards to create that ironic awareness of the world’s complexities which is all that

freedom of exile allows him” (Gurr, 1981, 91). E será esta a direcção que a palavra do

escritor exilado deveria tomar sempre, mas, paradoxalmente, aquilo que o artista vê lá

fora e aquilo que ele descreve será sempre a sua própria imagem reflectida no espelho, a

sua alienação reflectida em cada canto.

Andrew Gurr conclui, finalmente, que sendo a indiferença a pose do exilado mais

comum (por razões de exigência de uma universalidade da escrita, para evitar a nostalgia

e o sentimentalismo e como uma arma de defesa contra a dor da situação, em si) e mais

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caracteristicamente paradoxal, já que implica a perda e o desejo de voltar à pátria, ela é

também o sinal mais óbvio da liberdade absoluta adquirida pelo exilado

it signals freedom from all attachments but the self-created identity of home .[...] Like exile itself is both traumatic and liberating, a compulsion and a freedom, which traps the writer into solitude and defends him against the distractions of the world. That is the paradox within whose bounds the artist works out the term of his exile. (Gurr, 1981, 146).

Qual seria então o quadro de Jorge de Sena dentro desta perspectiva? Um autor

que nos brinda com poesia e prosa de ficção de cariz realista curiosamente parece

imediatamente subverter as categorias estabelecidas, já não se podendo “catalogar” como

um exilado. Não são as forças políticas que provocam directamente a saída de Jorge de

Sena do país, ou seja, ele não é expulso de Portugal (muito embora, mais tarde, lhe venha

a ser interdita a entrada no país) apesar de sabermos que são motivos de ordem política,

entre outros, que o levam a abandonar o país. Ora, ele continua a dedicar-se ao género

que, segundo Gurr, é o alvo preferencial dos exilados por oposição aos expatriados que se

dedicariam preferencialmente à poesia. É verdade que é de poesia que aqui, por questões

de ordem prática, nos ocupamos essencialmente, mas não se pode ignorar a apetência do

autor pelos outros géneros, onde se incluem obras de ficção como Os Grão-Capitães

(1982b), Antigas e Novas Andanças do Demónio (1982a) e mesmo Sinais de Fogo

(1988c). O que talvez se possa considerar é um percurso em muito semelhante ao que

Andrew Gurr encontra em Katherine Mansfield, ou seja, a passagem de um estatuto de

expatriado para um estatuto de exilado, o que nos permitiria a manutenção das categorias

avançadas pelo autor, inclusivé no que toca ao próprio percurso físico-geográfico de

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Jorge de Sena. De facto, na terminologia de Andrew Gurr, um expatriado caminha de

cidade em cidade. Ora Jorge de Sena não só se fixa primeiro no Brasil como depois, ao

chegar aos Estados Unidos, se desloca de Madison para a Califórnia, isto para não se

mencionar o desejo expresso pelo autor, em datas anteriores à sua saída de Portugal, de ir

viver para Inglaterra. Aliás, esta ideia do refúgio exílico na cidade é algo que Gilda

Santos indicia em “Nome: Jorge de Sena. Profissão: Exilado” (1997). Teremos então um

expatriado que passa à condição de exilado e que no seu percurso tenta construir não só

uma história cultural como a sua própria “história” pessoal – um percurso perfeitamente

compatível com a noção de testemunho que Jorge de Sena sempre defendeu para a sua

própria obra e cuja oportunidade Jorge Fazenda Lourenço já pode expor (1988). Poemas

como “Quem muito viu” e “Em Creta com o Minotauro” são poemas que denotam clara e

respectivamente a criação de uma “história” pessoal e de uma “pátria” por ele mesmo

criada. O mesmo se poderá dizer do conceito avançado por Francisco Cota Fagundes em

alguns dos ensaios de Metamorfoses do Amor (1999) quanto ao carácter biográfico de

grande número de peças literárias de Jorge de Sena que se confunde com o postulado por

Gurr quanto à necessidade do expatriado construir a sua história pessoal através da

escrita. Mesmo a indiferença como qualidade de escrita enquanto forma de evitar

posições confessionalistas é algo que o próprio Sena teve oportunidade de defender no

célebre prefácio a Poesia I (1988a). Quanto à questão da distância da pátria e do

dinamismo ou não que Jorge de Sena empresta à imagem da mesma é algo que, dada a

complexidade do assunto, gostaríamos de retomar mais tarde quando nos referirmos ao

exílio interior, ainda segundo a terminologia de Andrew Gurr e não de Paul Ilie, a quem

já tivemos ensejo de nos referir.

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Questão ainda de importância fulcral e que se mantém em aberto estará

relacionada com a “therapy of self-analysis and understanding” (Gurr, 1981, 10) que a

escrita deverá proporcionar de molde a que o seu autor se possa finalmente libertar das

imposições causadas pelas razões que motivaram a sua criatividade em primeiro lugar, ou

seja, resta-nos saber até que ponto Jorge de Sena se terá libertado da sua própria

alienação.

Quase vinte anos depois de Tabori ter sistematizado de forma coerente as várias

perspectivas do exílio, Bettina Knapp centrar-se-á nas noções de um exílio exotérico –

factual e exterior – e esotérico – empírico e interior, sendo este último algo que ela

considera como uma situação quase fulcral para a produção literária, aproveitando o

ensejo para estabelecer uma análise de um processo de escrita a partir do interior do

sujeito escritor. Ou seja, Bettina parte para um trabalho de natureza essencialmente

psicológica, fazendo uma ligação aos estudos jungianos e terminando com a noção

negativa que etimologicamente “alienação” representa :

Like God’s self-imposed exile, contraction, or retreat into absoluteness, and return into his depths, the writer’s movement is inward. After his exile into his hidden, impersonal, and unfathomable depths during the precreative period, he liberates himself from outwardly entanglements, thus activating, like God during his withdrawal into himself, the creative process. […] To retreat into the transpersonal inner recesses of the psyche, defined by C. G. Jung, as the collective unconscious [...] is to penetrate a world inacessible for the most part to conscious understanding (1991, 13).

É destes pressupostos que partirá para uma explicação do processo de

individuação de Jung que, a ser realizado plenamente pelo escritor, culminará numa

escrita em que os arquétipos se poderão ligar à condição existencial do leitor. Depois da

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aplicação prática dos seus pressupostos à análise da obra de dez autores, Bettina Knapp

conclui:

Transmuting the explosive factors living inchoate within their psyches into words permitted these individuals to objectify chaos by projecting it outside of themselves. […] Archetypal exile may be viewed as a code; the written work as the decoder of the message. The images projected by the archetype [...] could be likened to palimpsests [...], the various levels of the mind become visible in multiple ways in the written work (1991, 23).

Um trabalho de análise a que gostaríamos de dar continuidade nos textos senianos

de forma a comprovar claramente o que aqui expomos, mas que terá de ser efectuado

noutra ocasião.

Observe-se agora a obra de Sante Matteo, Textual Exile, The Reader in Sterne

and Foscolo, (1985) que nos interessa apenas na medida em que abre perspectivas de

trabalho menos óbvias no que diz respeito a um estudo dos possíveis exílios a encontrar

na obra de Jorge de Sena, nomeadamente o exílio do leitor e o exílio temporal. Note-se,

no entanto, que desde já nos parece possível deturpar o exílio do leitor tal como Sante

Matteo o apresenta. Ou seja, o autor fala-nos de uma perspectiva que se centra na

concepção de Genette, Frye, Jauss, Eco e Iser, ou seja, em concepções viradas para o

estruturalismo e para a estética da recepção. Esta perspectiva é contraposta a teorias de

estudo centradas no autor, teorias baseadas em factos de carácter mais ou menos

biográfico. E se não é novo que o autor determina o leitor e que o leitor é responsável por

grande parte do significado atribuível ao texto, o que nos interessa a nós é até que ponto

está o texto de Jorge de Sena virado para um leitor real ou para um leitor abstracto

construído quase que em absoluto pelo próprio autor ao longo das suas inúmeras

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introduções e prefácios que apontam os caminhos de leitura possíveis e inclusivé

destroiem outras que o Autor considera inapropriadas ao seu texto. Acabamos por ficar

com a questão do exílio do leitor, não perante a obra em si mesma, mas perante o autor

dela. Ou seja, o leitor real corre o risco de se sentir semanticamente alienado face ao

texto. O que nos leva a outra questão que se prende de forma irrevogável com a primeira:

é o leitor a quem se dirige, ou o leitor na obra de Sena, uma construção temporal? Ou

existe apenas num tempo sonhado de comunhão física com a pátria que na realidade

nunca se consubstancia? Que situação se vive afinal nos textos senianos, de cooperação

entre autor e leitor, de coerção entre os dois? Uma mistura de ambas? Ou será ainda que

nenhuma destas é verificável sendo que o leitor construído por Sena seja uma construção

ideal, e portanto exilada do espaço e do tempo reais?

Insofar as the text, or, to be more precise, the collection of words of which the text is comprised, is produced with a certain reader in mind, that reader plays a constructive role in shaping that collection of words. This does not mean that the empirical reader who shows up at the picnic (i.e. who picks up the text and reads it) is necessarily the same as the imagined reader who is implicitly involved in the production of it. In fact the two readers may be radically different, one a hot-dog lover, the other a hamburger lover. The picnic can still take place; but someone will probably be eating hamburgers on hot-dog buns.

Though author and reader try to anticipate and complement each other’s role by trying to share the same information through commonly shared codes, it is also possible that one or the other depart from the conventionally established codes, thereby obstructing the communication of information between them (1985, 32).

O que parece que acontece com Sena é exactamente o oposto, ou seja, para que

nunca se corra o risco de comer hambúrgueres em pão de cachorro quente, e passe-se a

americanização da metáfora, o Autor explicita exactamente qual é a comida que ele

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pretende que se coma e com que acompanhamentos... o que, de facto, deixa muito pouco

espaço de manobra à construção de sentido por parte do leitor. E nesse caso, perguntamo-

-nos, onde é que está o papel do leitor, onde é que está o leitor, senão exilado numa

construção mental seniana, em que ou a entidade leitora se conforma exactamente ao

perfil proposto ou o texto corre o risco de perder a sua autoria no sentido mais literal do

termo.

Nos posfácios, prefácios e notas aos seus poemas Jorge de Sena aproxima-se de

uma análise possível de alguns aspectos da sua obra. Ressalte-se especificamente os

textos preambulares aos Os Grãos-Capitães, que por razões de economia textual nos

abstemos de citar mas que levantam acuidadamente a outra questão, ou seja, a do exílio

temporal desse leitor:

More “artistic” texts tend to be written as much against conventions and expectations as in compliance with them [...] which would explain why so many ‘classics’ were not well received, or were “misunderstood”, during their own time (1985, 35).

Esta perspectiva poderia explicar parte da situação, ou seja, que Sena, estando

consciente desse lapso temporal entre a obra e o seu leitor, procurasse ultrapassá-lo

através de um excesso de indicação de caminhos por onde o leitor haveria de seguir, não

lhe dando qualquer oportunidade de criar ou escolher o seu próprio caminho na

imensidade de leituras possíveis de um texto. É este o leitor modelo de Eco, uma entidade

textual, cuja competência é inscrita e prescrita pelo próprio texto. Ora já que ler um texto

não é apenas reconhecer o seu significado mas a pluralidade de significados que ele possa

ter, uma leitura guiada desta forma pode, de algum modo, auto-invalidá-la. Por outro

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lado, a criação de um leitor desta natureza pressupõe um texto de algum modo acusatório

da sociedade incapaz de o produzir bem como fútil em si mesmo, pois que o protesto não

poderá ser apreendido por esse leitor inexistente. Ou dito de outro modo, a ausência da

pátria que nega a Jorge de Sena a existência de um público leitor é a condição da própria

futilidade do discurso, no sentido em que é a falta que postula o excesso de indicações da

escrita do autor que nem por isso, ou que precisamente por isso, se torna ilegível, já que

não permite a existência de um público diverso e secular mas de um leitor modelo,

exemplar e atemporal.

E passemos a Michael Ugarte, em Shifting Ground, Spanish Civil War Exile

Literature, (1989):

one might designate exile as the unknown quantity of X; it is an unidentified person, one who has been something but is no longer, a hypothetical being or thing, something which has no tangible existence, a quantity whose specific value is unascertainable, unreachable through mathematical calculation or linguistic definition. It is the signature of one whose identity has been stripped, whose very existence is, for one political reason or another, no longer verifiable with a name (1989, 3).

A aproximação escolhida pelo autor começa de imediato por colocar o exílio

muito próximo de uma definição impossível, como se se localizasse num lugar de

ausência. No entanto, o exílio possui dimensões sincrónicas e diacrónicas, sendo uma

experiência tanto pessoal como colectiva aberta ao reconhecimento de estruturas

semelhantes quer ao nível de comportamento do sujeito exilado quer ao nível literário. E

aqui situa-se o exílio tanto ao nível de um fenómeno, portanto de uma coisa que pode ser

a literatura − que aliás, o autor considera como sendo sempre um espaço de exílio − e de

uma pessoa, o autor, exilado em si, exilado no seu país, exilado fora dele. Conclui-se,

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porém: “the victims [of exile] share an uncontrollable need to write, to recall, to testify.

[…] But the very absence of a listener […] seems to kindle the exile’s fiery need to

speak, to make use of a disappearing language.” (1989, 4; negrito nosso). Os traços da

linguagem em vias de extinção não nos são dados, para já – é aliás o objectivo do autor

procurá-los ao longo do seu trabalho − mas o exílio assim enformando um sujeito remete-

nos de imediato ao sujeito da nossa análise quando no prefácio de Poesia I nos apresenta

a sua concepção de poesia. Segundo Jorge de Sena, poesia é confissão transfigurada e

testemunho:

o “testemunho” é, na sua expectação, na sua discrição, na sua vigilância, a mais alta forma de transformação do mundo, porque nele, com ele e através dele, que é antes demais linguagem, se processa a remodelação dos esquemas feitos [...]. Como um processo testemunhal sempre entendi a poesia, cuja melhor arte consistirá em dar expressão ao que o mundo (o dentro e o fora) nos vai revelando [...]. Testemunhar do que, em nós e através de nós, se transforma, e por isso ser capaz de compreender tudo, de reconhecer a função positiva ou negativa (mas função) de tudo, e de sofrer na consciência ou nos afectos tudo [...] (1988a, 26).

Seleccionámos propositadamenta parte da definição proposta pelo autor. Não nos

interessa estudar aquilo que exactamente o autor entende por testemunho ao longo da sua

obra − trabalho já realizado por Jorge Fazenda Lourenço e que já tivemos oportunidade

de referir − mas sim ligar esta definição à de Michael Ugarte. Assim, para este, a

literatura é sempre literatura do exílio, e exílio e exilado implicam sempre a noção de

testemunho; que por seu lado, Sena liga indissociavelmente à poesia que como linguagem

caracterizada pela ambiguidade é o espaço ideal para ligar o exterior ao interior (o mundo

de dentro e de fora, que Sena refere na entrevista televisa a Frederick G. Williams)

compreensivel e afectivamente. Ficamos com a poesia como linguagem testemunhal que

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é por outro lado condição absoluta do exílio e com a mesma forma de linguagem como

um espaço de transição entre o dentro e o fora, espaço esse que mais uma vez se pode

ligar à situação do exilado. O exilado permanentemente entre o país que o acolhe e o país

que deixou, o exílio permanentemente entre o fenómeno e a pessoa, sempre na margem

de alguma coisa, sempre numa posição limítrofe entre dois espaços, dois tempos, ou, para

o crítico, entre duas áreas de estudo (ver Ugarte, 1989, 7). E se no caso de Michael

Ugarte ele prefere considerar essa segunda área como sendo a da política − lugar efectivo

de um exílio primário − nós preferimos considerar essa segunda área como a da

psicologia e psicanálise. Disciplinas essenciais à ligação do dentro e do fora e que nos

permitirão entender esse espaço de fronteira que a poesia pode, depois de entendida na

sua função explicativa, finalmente representar; e que Sena reclama como fundamental

para uma posterior transformação do mundo que faz do poema uma actividade

revolucionária. Nas palavras de Sena a poesia “é também, nas relações do poeta com o

que transforma em poesia, e com o acto de transformar e com a própria transformação

efectuada − o poema −, uma actividade revolucionária.” (1988a, 25-26) E que revolução

maior poderá ser essa senão a do refazimento da(s) fronteira(s) dos leitores perante a

poesia?

Mas voltemos a Ugarte e à questão dos padrões de escrita exílica, que acaba

finalmente por considerar como sendo a propensidade para o testemunho e autobiografia

com todas as suas implícitas manifestações problemáticas: “moral discourse, obsession

with memory, displacement of the subject, and marginality” (1989, 31) a par com as

estruturas próprias de cada autor. Naturalmente, isto resulta numa incapacidade de ligar o

tempo e o espaço cronologicamente. Uma situação que mais uma vez facilmente se

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entende em Sena e na confissão transfigurada que, nele, a poesia também é: mas “tenho

para mim [...] que ao tempo só escapamos com alguma dignidade, na medida em que,

sem subserviência, o tornamos co-responsável dos nossos escritos” (1988a, 27).

Resta-nos referir Lewis Nkosi e Home and Exile, (1983) cuja primeira edição data

de 1965. Nkosi lida com a realidade particular do exílio dos negros sul-africanos, e a

propósito diz-nos:

People loved quickly, they lived fitfully; so profligate were they with emotion, so wasteful with their vitality, that it was very often difficult for them to pause and reflect on the passing scene. This I think partly explains why so many black South African writers have concentrated on the journalistic prose, more often on the short story but rarely on the long reflective novel. It is not so much the intense suffering (though this helped a great deal) which makes it impossible for black writers to produce long and complex works of literary genius as it is the very absorbing, violent and immediate nature of experience which impinges, upon individual life. (1983, 12).

Este trecho interessa-nos na medida em que Jorge de Sena escreve um único

longo romance, Sinais de Fogo, e porque já tivemos oportunidade de comparar a sua

escrita à escrita jornalística na análise que fizemos a Inglaterra Revisitada (Gândara,

1992) e, ainda, porque Jorge de Sena não se conforma nunca com uma visão moderada

do seu próprio estatuto. Quase que podemos atrever-nos a comparar a violência da sua

experiência interna de exilado àquela da condição específica dos escritores negros da

África do Sul. As palavras que Nkosi utiliza para nos descrever a sua chegada a Nova

Iorque pela primeira vez poderiam ter sido ditas por Sena:

there went up to my throat an insane, childish cry which demanded of this land that it should enfold me, love me more dearly than all the others, as though I deserved any special attention. Wasn’t I one of those who had been hurt more than most people, and didn’t I therefore deserve more

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affection than anyone else? But I had also assumed, automatically, a guarded stance [...] and because I thought America expected every visitor from the smaller countries to pay homage to all this gadgetry – certainly to its magnificent technology – it suddenly became important to refuse to oblige (1983, 53).

Ou melhor, foram ditas por Jorge de Sena em Sequências (1980a) sem dúvida de

outro modo, e já analisadas por nós num trabalho intitulado “Jorge de Sena, ou Para o

Exílio na Palavra” (in Santos, 1999) Da mesma maneira que já foi analisada essa faceta

infantil, esse mundo infantil em que tantas vezes Jorge de Sena se constrói, por Francisco

Cota Fagundes no seu trabalho inédito sobre a representação da infância e da criança na

poesia de Jorge de Sena, “O Impulso Distópico na Poesia de Jorge de Sena, Textos,

Contextos e Intertextos” (2001).

E metade fica por dizer neste texto essencialmente teórico que mais não faz do

que indiciar caminhos de análise.

Bibliografia consultada: Corpus Primário 1978 ʺ″Fui sempre um exilado mesmo antes de sair de Portugalʺ″ in

Diário Popular, supl. Letras e Artes. 27 Abr. i+. 1980a Sequências. Lisboa, Moraes Edit. 1980b ʺ″Ser-se Imigrante e Comoʺ″ in Gávea-Brown, 1,1, Jan-Jun.

Providence, R.I. 7-17. 1982a Antigas e Novas Andanças do Demónio,(Contos). Lisboa, Círculo

de Leitores. (1978). 1982b Os Grão-Capitães, uma Sequência de Contos. Mécia de Sena,

ed..Lisboa, Ed.70. (1976).

22

1988a Poesia I. Mécia de Sena, ed.. Lisboa, Ed.70. (1961).

1988b Poesia II. Mécia de Sena, ed.. Lisboa, Ed.70. (1978). 1988c Sinais de Fogo, (Romance). Mécia de Sena, ed.. Lisboa, Ed.70.

(1979). 1989 Poesia III. Mécia de Sena, ed.. Lisboa, Ed.70. (1978). Bibliografia secundária: Carlos, Luís F.A. 1983 ʺ″A Escrita da Emigração e a Emigração da Escrita na Poesia de

Jorge de Senaʺ″ in Nova Renascença, 3.11.:248-56. Eagleton, Terry 1970 Exiles and Emigres, Studies in Modern Literature. New York,

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1999 Metamorfoses do Amor: Estudos sobre a Ficção Breve de Jorge

de Sena, Lisboa, Ed. Salamandra. 2001 “O Impulso Distópico na Poesia de Jorge de Sena, Textos,

Contextos e Intertextos”, ensaio inédito apresentado no Colóqui Internacional sobre Jorge de Sena, “Isto Tudo que Rodeia Jorge de Sena” na University of Massachusetts at Amherst.

Fagundes, Francisco Cota e Paula Gândara (org.) 2000 Para Emergir Nascemos, Estudos em Rememoração de Jorge de

Sena, Lisboa, Ed. Salamandra. Fazenda Lourenço, Jorge 1987 O Essencial sobre Jorge de Sena. Lisboa, I.N.C.M.. 1988 A Poesia de Jorge de Sena: Testemunho, Metamorfose, Peregrinação. Paris, Centre Culturel Calouste Gulbenkian.

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Gândara, Paula 1992 Inglaterra Revisitada, do Encantamento do Escritor à Palavra do

Homem, Tese de Mestrada apresentada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, inédito.

1998 “Os Lugares Que Não Conheço, da Linguagem e do Leitor em

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