«O Corso Português no Estreito de Meca, 1500-1550», in Vértice, II Série, nº 77, Portugal no...

6
Alexandra Pehicia ..[...] Os Portugueses fechavam o caminho aos Mugulmenos, CatiVAndO-OS e deSpoiandO-OS, namente os testemunhos e apoderavam-se de todos os navios ,"*.:l*ff "t?#ff""':; d forgan (l). da nova realidade gue-. se rnstalou no oceano Indico poucos anos ap6s a chegada de Vasco da Gama ao porto de Calecut. E pot demais sabido que a reex- portagdo das especiarias e drogas orientais para o mercado europeu foi um dos objectivos que impulsionaram a expanslo maritima nacional em di- rec96o i India. Nd.o menos do domi- nio priblico 6 a pronta oposigio que os mouros de Meca, fundados nos seus pr6prios interesses comerciais, levanta- ram a esse prop6sito e a subsequente necessidade de os sribditos de D. Ma- nuel empregarem a forga para conquis- tar uma posigdo s6lida no cenS.rio maritimo-mercantil asi6tico. Nasceu, assim, a Guena da Pimenta, na qual se confudiam, de parte a parte, interes- ses ligados i, economi4 i politica e ao proselitismo religioso (3). Do lado portugu€s, uma vez asse- gurado o abastecimento de especiarias nos reinos indianos de Cochim e Cananor, impor[ava recolher dividen- dos financeiros, quebrando a concor- r€ncia movida pelo mar Roxo i rota do Cabo no escoamento para o Oci- dente e, por esse meio anemizar a eco- nomia do Imperio Mameluco, cujas principais fontes de rendimento eram proporcionadas por aquele trffico (a). Para tanto foi recuperada uma ideia que, nos s6culos xfi e xlv, encontrara v5rios cultores no seio da Cristandade, o bloqueio econ6mico aos infi6is, n6 O corso portugu6s no estreito de Meca (1500-1550) cujos resultados pr6ticos nunca tinham sido significativos, QUer devido ds consequ€ncias perniciosas que dele adviriam para os meios mercantis eu- ropeus, quer devido i incapacidade de fazer cumpir efectivamente as san- g6es (t). Por6m, no dealbar do s6culo XVI, mais do que nas sangdes decre- tadas pela criria romana, os portugue- ses ter-se-do inspirado nas concepgdes de Guilherme Adam, eue propusera o ass6dio ao estreito de Meca a partir da ilha de Socotor6 e a canalizagio da pimenta, por comerciantes genoveses, atrav6s do golfo P6rsico e do mar Negro (t). As nuances que foram in- troduzides pelos portugueses neste es- quema s6o manifestas. Note-se, no entanto, que o encerramento ad eterrunn do mar Vermelho nio estaria previsto na planificaEZo manuelina; antes man- ter-se-ia a sifuagEo apenas enquanto o poder maometano nd.o fosse desaloja- do do Egipto, ap6s o que a via, me- nos longa do que a do Cabo, seria restaurada (7). Se a estratlgia eleita foi o blo- queio, o corso, com toda a viol€ncia que lhe est6 associada, foi activado como seu instrrmento de ooncreizagtro, visto que um mero dispositivo de vigi- ldncia n6o ba.staria para produzir o de- sejado efeito dissuasor sobre a escapula. Por conseguinte, logo em 1500, foram prescritas d armada de Pedro Alvares Cabral a intercepgdo e a neutralizag6.o do r6fego pimenteiro para o mar Ver- melho que fosse detectado no Indi- co (8), inscrevendo-se nesse dmbito o c6lebre epis6dio do ataque, no porto de Calecut, i nau de Cochim que se supu- nha carregada de pimenta, mas que, na verdade, trarsportava elefantes (e). vEnftCE TTlMargo-Abril 1997

Transcript of «O Corso Português no Estreito de Meca, 1500-1550», in Vértice, II Série, nº 77, Portugal no...

Alexandra Pehicia

..[...] Os Portugueses fechavamo caminho aos Mugulmenos,CatiVAndO-OS e deSpoiandO-OS, namente os testemunhos

e apoderavam-se de todos os navios ,"*.:l*ff "t?#ff""':;d forgan (l). da nova realidade gue-. se

rnstalou no oceano Indicopoucos anos ap6s a chegada de Vascoda Gama ao porto de Calecut.

E pot demais sabido que a reex-portagdo das especiarias e drogasorientais para o mercado europeu foium dos objectivos que impulsionarama expanslo maritima nacional em di-rec96o i India. Nd.o menos do domi-nio priblico 6 a pronta oposigio que os

mouros de Meca, fundados nos seuspr6prios interesses comerciais, levanta-ram a esse prop6sito e a subsequentenecessidade de os sribditos de D. Ma-nuel empregarem a forga para conquis-tar uma posigdo s6lida no cenS.riomaritimo-mercantil asi6tico. Nasceu,assim, a Guena da Pimenta, na qualse confudiam, de parte a parte, interes-ses ligados i, economi4 i politica e ao

proselitismo religioso (3).

Do lado portugu€s, uma vez asse-

gurado o abastecimento de especiariasnos reinos indianos de Cochim e

Cananor, impor[ava recolher dividen-dos financeiros, quebrando a concor-r€ncia movida pelo mar Roxo i rotado Cabo no escoamento para o Oci-dente e, por esse meio anemizar a eco-nomia do Imperio Mameluco, cujasprincipais fontes de rendimento eramproporcionadas por aquele trffico (a).

Para tanto foi recuperada uma ideiaque, nos s6culos xfi e xlv, encontrarav5rios cultores no seio da Cristandade,o bloqueio econ6mico aos infi6is, n6

O corso portugu6sno estreito de Meca (1500-1550)

cujos resultados pr6ticos nunca tinhamsido significativos, QUer devido dsconsequ€ncias perniciosas que deleadviriam para os meios mercantis eu-ropeus, quer devido i incapacidade defazer cumpir efectivamente as san-g6es (t). Por6m, no dealbar do s6culoXVI, mais do que nas sangdes decre-tadas pela criria romana, os portugue-ses ter-se-do inspirado nas concepgdesde Guilherme Adam, eue propusera oass6dio ao estreito de Meca a partir dailha de Socotor6 e a canalizagio dapimenta, por comerciantes genoveses,atrav6s do golfo P6rsico e do marNegro (t). As nuances que foram in-troduzides pelos portugueses neste es-quema s6o manifestas. Note-se, noentanto, que o encerramento ad eterrunndo mar Vermelho nio estaria previstona planificaEZo manuelina; antes man-ter-se-ia a sifuagEo apenas enquanto opoder maometano nd.o fosse desaloja-do do Egipto, ap6s o que a via, me-nos longa do que a do Cabo, seriarestaurada (7).

Se a estratlgia eleita foi o blo-queio, o corso, com toda a viol€nciaque lhe est6 associada, foi activadocomo seu instrrmento de ooncreizagtro,visto que um mero dispositivo de vigi-ldncia n6o ba.staria para produzir o de-sejado efeito dissuasor sobre a escapula.

Por conseguinte, logo em 1500, foramprescritas d armada de Pedro AlvaresCabral a intercepgdo e a neutralizag6.odo r6fego pimenteiro para o mar Ver-melho que fosse detectado no Indi-co (8), inscrevendo-se nesse dmbito oc6lebre epis6dio do ataque, no porto de

Calecut, i nau de Cochim que se supu-nha carregada de pimenta, mas que, naverdade, trarsportava elefantes (e).

vEnftCE TTlMargo-Abril 1997

g

A legitimidade do recurso a este

tipo de ac7do era inquestion6vel emvirtude da multissecular contenda enfrecristios e mouros ('o). De resto, havia jduma ftadigao portuguesa de ataque ds

costas de Granada e da Berberia, queremontava d era de Trezentos e queacompanhou a empresa expansionistano Atl6ntico ats, lM\, altura em que se

realizou que as rapinas levadas a cabona cosla ocidental africana erarn preju-diciais ao desenvolvimento do tratocom os povos indigenas (rr).

O espirito de cruzada era, precisa-mente, uma das circustdncias que con-figurava boa parte dos assaltos perpe-gados por embarcagdes portuguesas noIndico Ocidental como feitos de corsoe nao de pirataria. Outra era, natural-mente, a promoglo directa que a Co-roafazia deles, com a ressalva de quelhe fosse solvido um quinto do esp6-lio apreendido (o remanescente erapartilhado pelos membros das equipa-gens consoante o posto hier6rquicoque cada homem ocupava a bordo (r2))

e de que a caga n6o fosse levada acabo de forma indiscriminada, isto 6,que n5.o recaisse sobre a navegag6oportadora de um passe portugu6s, ates-tando a condigao de ndo inimigo doEstado de ongem (rr).

A principio, nenhuma oportunida-de vSlida de efectuar presas deveria serenjeitada qualquer que fosse o ponto doOceano. Isso mesmo deixa entender oregimento de D. Francisco de Almeid4que continha instrug6es para a capturados navios de mouros que, eventual-mente, fossem encontrados no trajecroentre Quiloa e Sofala ('o). A Coroa,todavia, era impossivel subscrever os

saques que infligiam danos injustifica-dos d mercancia e ao relacionamentocom ouh'os Estados ('). E neste contex-to que se explica, por exemplo, a inter-digdo dirigida, em 1508, a Diogo Lopesde Sequeira de efectuar presas no de-curso da expedic5.o que lhe foi confia-da para a ciescoberta de Malaca, a me-nos oue elas visassem a retaliagZ.o de

uma .agress6o sofrida (r6)

Areas especificas havia que seafiguravam frentes reguiares de corso.definidas a nivei superior. em razdo C'e

serem t-ilhadas pelas carreiras comer-ciais muqulmanas que iarn desembocaino estreito de Meca (r7). Eram elas a

cosu cio Malabar. uma das principaisregi6es inciianas produtoras de especia-

rias, as 6.guas envolventes das ilhasMaldivas, que eram cruzadas pelasembarcag6es que levavam os produtosdo golfo de Bengala e da Insulindiapara o Levante, e, 6 claro, o espagocompreendido enre o cabo Guardafui,no extemo do Como ae Africa, e ocabo Fartaque, no litoral do Hadra-maute, que constituia a porta do Es-treito ('t). Na medida que aqui afluia a

totalidade do trato destinado aos por-tos do mar Vermelho e do BaixoEgipto, as autoridades lusas faziamincidir ali com especial energia a ac-tividade depredadora ('n). Tal 6, o qua-dro a que Duarte Barbosa alude quandoafirma que <[...] quantas naus v€m d.a

India e do reino de Cambaia e deChaul, Dabul, de Baticald, de todo oMalabar, de toda a costa de Bengala,de Ceilio e de Malaca e de Samatrae de Pegu, todas v4m demandar o ditocabo lde Guardafui) e daqui entrampara dentro com muitas mercadorias.[...] As quais naus os capitdes de El-Rei Nosso Senhor as v4m aqui esperarmesmo nesta paragem e as tomatn commuita riqueTa e com toda mercadoiaque levam, porquanto vdo contra defe-sa de El-Rei Nosso Senhorr, (2o).

***

Por tudo quanto fica exposto, re-sulta evidente que, de maneira a fa-zer valer os seus designios, o <<Estado

da india" procurava exercer um con-trolo eficaz sobre a zona em causa. AsemelhanEa do que sucedia no restodo Indico Ocidental e nas terras queo bordejavam, a presenga poftuguesaali tinha, pois, uma cardcter eminen-temente oficial, que dificilmente se

coadunaria com a exist€ncia de gru-pos organizados de levantados ou re-negados portu-queses (t'), agindo emsintonia nlo mais do que com os seus

interesses particulares (tt).Dai que nos permitamos discor-

dar cia assimilagdo, um pouco preci-pitacia, que 6, por vezes, feita dapritica portuguesa de tomadias a pira-

taria (23). Faz€mo-lo com a plenaconsciencia de qua-o tenue e a frontei-ra entre ambos os fen6menos e de

como ela 6. porianto, facilmentetransponivel, como atesta a condutacie v6rios individuos ao ser\rigo da

Coroa (?a). Ndo quer isto dtzer oue as

pillhagens grafuitas, ou seja, aquelasem que o m6bil determinante, sen5.o

o fnico, 6 o lucro, estivessem com-pletamente arredadas da boca do marVermelho, mas t5.o somente que oscasos verificados s5.o pontuais e al-guns deles mesmo dribios. De formanenhuma a sua dimensS.o 6 compar6-vel d das actividades dos aventureiroslusos nos mares e nos territ6rios aLeste do Cabo Comorim, onde a fi-xaglo portuguesa era, bastas vezes,de natureza informal e marginal (25).

Em 1503, a intervenE6o da arma-da de Vicente Sodr6 pautou-se, decer-to, por principios pouco onodoxos ouregulamenta-res. O capitZo tinha chega-do d India, no ano anterior, integradona esquadra naval liderada por Vascoda Gama e por este foi designado para16 permanecer, d cabega do primeirodestacamento militar permanente noOriente. Al6m do patrulhamento daslinhas maritimas do Malabar, seria suamisslo fundamental auxiliar o rei alia-do de Cochim na defesa ds agress6esdesferidas por Calecut ('u).

Ora, a caEa is naus de Mecaservia mais a conveni€ncia pessoalVicente Sodr6 e de muitos homens e,por isso, ele se dispds a partir para oesteito de Meca, ignorando os conse-lhos do feitor de Cochim e de ouftosportugueses que se tinham pronuncia-do pela passagem do Inverno na re-gilo e pelo aparelhamento para aguerra. Inteirado da ambiE[o e da von-tade do capit-ao, o rei de Cochirnachou por bem ndo o prender e elenZ.o se fez rogado (27). Deste modo, fi-cou um parceiro estrat6gico da Coroad rnerc€ dos inimigos e o descalabros6 n6.o foi total porque o soberano serefugiou na ilha de Vaipim, a qual,sendo sagrada para os hindris, ashostes de Calecut nao ousaram acome-ter. Salvou Francisco de Albuquerquea face portuguesa ao providencizu osnecess6rios socorros, no final do ano.

Vicente Sodr6, entretanto, subjugoudiversas embarcag6es, quer duranre a-

viagem. quer nas 6guas dc, Estreitc-cuja carga tornou a faEanha bastanterend6vel, sobretudo para o seu irmdoBr6s e, porvenfura, para si mesmo. H6.indicios claros de subtacgdo de merca_dorias e cie anotaE6es incompleta nclivro de receitas (,*). Logo, procedia_se). sonegagdo dos dreitos r6gios e enta_va-se na esfera da ilegalidade (2,r).

VERTICE 77llviarqo-Abrtl 199'7

Os irmios Sodre acabaram por ndousufruir dos seus ganhos, visto que,invernando a armada nas ilhas Criria-Mtiria" nio acataram atempadamente osavisos para que fugissem i tempestadeque fustigaya a zona no m€s de Maio.Naufragram, pois, as respectivas naus.

O ensejo de fazer fortuna ou de,no minimo, equilibrar a situagdo finan-ceira era um forte estimulo para a

nobreza ndo titulada que afluia aoOriente (30). Ndo seria de todo insen-sivel ao espirito cruzadistico em vogqat6 porque, como sucedera na 6pocamedieval, ele lhe facultava ..[...] ummeio de participar directamente nasgagas da salvagdo, sem ter de renun-ciar ao seu estado nem aos valoresque lhe eram pr6prios> (t'). Mas, a parda honra, o proveito era um ideal prGprio do grupo nobiliirquico (32) e ocabo Guardafui era um excelente localpara o satisfazer, ainda que em detri-mento do servigo d'el-rei.

Em consequ€ncia disso, ManuelTeles, oficial que acompanhou Tristioda Cunha na armada que, em 1507,constnriu uma fortaleza em Socotor6,entendeu por bem abandonar a esqua-dra antes da chegada d, ilha, sem pres-tar explicag6es a ningu6m, para sejuntar a seu pai na entrada do marVermelho, QUe di estava por causa deum temporal o ter separado das restan-tes naus ap6s a passagem do cabo daBoa Esperanga A acAdo n6o lhe valeunenhuma penalizagdo, apesar do visi-vel agastamento de Afonso de AIbu-querque, que ocupava o cargo decapitlio-mor da armada do Estreito (33).

O Terribil n6o agia em fungdoexpectativa do lucro quando entendiahaver oufias metas priorit6rias (to). Detado de um estrito sentido de lealda-de relativo ao monarca e de umaconcepgdo arreigada daquilo que maisconvinha i edificagdo do Estado daindia, ele abandonou a base de Socotor6 em prol da submissdo do reino de

Ormuz (35). Connrdo, nem no golfoP6rsico, o cabo Guardafiri cessou deatentar o pensamento de determinadoscapitfres (5), a,ponto de terem deban-dado para a India, deixando Albu-querque a bragos com uma situag[odeveras delicada (37). Reflectiu essaatitude qudo esquiva era alguma no-breza. i ideia de as empresas ligadasao dominio teritorial se sobreporemaos interesses do corso, particularmen-

te quando aquelas se arrastavam notempo. De algum modo, tarnb6m elester6o comprometido o sucesso da in-curslo feita sobre Ad6m em 1513,atendendo a que a manutengdo da pra-

Ea exigiria esforgos de defesa redobra-dos que, por arrastamento, implicariamuma menor atengdo i vigildncia mari-tima (38). O facto 6 que, sendo Ad6ma chave do dominio do acesso ao marVermelho, a conquista da cidade pelosportugueses retiraria i rapina maritimaboa parte do seu sentido.

Em jeito de contraponto a estesepis6dios, devemos assinalar, dentrodos limites do nosso conhecimento,que nunca uma embarcagio portadorade cafiaz portugu6s foi importunadapor oficiais da Coroa no perimetro doEstreito e do mar Vermelho. O casovivido, em 1533, por Diogo da Silvei-ra toca inclusive a raia do preciosismo-e do ins6lito. Andando ele em patru-lha, avistou uma nau, i qual fez sinalde amainar. Obedecido este, o capitiosubiu ao galelo de Silveira, exibindoum documento lavrado e a^ssinado porum portugu€s, prisioneiro em Jud6.Julgava o mowo que aquele anuira aoseu desejo de possuir uma esp,6cie deseguro que o protegesse dos fran-gues (te). Acontece que aquilo que eletinha em seu poder era um pedido,redigido em lingua portuguesa, paraque a nau fosse tomada sem contempla-g6es. Por6m, a fim de ndo defraudar a

confianga que o mouro depositava napalawa de um compatriota seu, Diogoda Silveira, sF nada lhe dar a enten-der, substituiu a catta por um salvoconduto v6lido (0).

De levantados, na plena acepgdodo termo, as noticias rareiam, semsombra de drivida, pelos motivos queacima apontimos. NIo obstante, em1525, Manuel Macedo capturou ostripulantes de uma caravela que, de-pois de terem assassinado o estran-geiro que os comandava, tinhamresovido homiziar-se e se dedicavama fazer roubos no cabo Guardafui. Atitulo de castigo, uns sofrerarn a mor-te e outros o degredo (o'). Dez anosdepois, em Al-Shihr (o'), na costa doHadramaute, acoutarzrm-se vfrios por-tugueses, dos quais a maiorfa tinha alichegado clandestinarnente, com a fi-nalidade de adquirir proventos mate-riais (43). Desinquietaram eles a regiioatrav6s de uma s6rie de excessos, que

incluiram depredag6es no mar e oafrontamento do soberano local. Oalcance das suas provocag6es foi talque suscitou a reacgd.o violenta dapopulaglo e ficou ameagado o relaci-onamento diplom6tico entre a ditacidade e o <Estado da indiu (a).

A feiglo incipiente des estruturasportuguesas que existiam no Orientenos in(cios de Quinhentos, em correla-gio com a fase de aprendizagem e

adaptagdo que ent6.o se atravessava,ditou a expedigdo do Reino das esqua-dras escaladas pata fazer cumprir oestangulamento do mar Vermelho. Apartir de 1503 e at6, 1508, forammandatados para esse efeito Ant6nio deSaldanha Francisco de Almeida, Afon-so de Albuquerque e Jorge Aguiar.

A Coroa, considerando a utilidadede se dispdr de uma base permanentenaquela 6rea, delegou em D. Francis-co de Almeida responsabilidade paraque este providenciasse a elevagZo deuma fortaleza no sitio que entendessemais conveniente (a5). Afinal, foramTristilo da Cunha e Afonso de Albu-querque que disso se encarregaram,em 1507, embora seguindo j6 directri-zes expressas da Coroa no sentido deque a ffiaestrutura fosse montada emSocotor6. Na escolha pesou, sobrema-neira, a posiglo geo-estrat6gica dailha- O seu abandono foi, no entanto,precoce (no ano de l5ll) ante aconstatagio dos escassos beneficiosoferecidos pela, ocupagio (6).

Gaspar da India, em missiva ende-regada ao Venilroso, apontou que ainstalagio de uma fortaleza na entra-da do mar Vermelho era o melhormeio de controlar o seu fluxo comer-cial (a?). Equivalia isto a dizsr, ipsisverbis, que Ad6m era o lugar que de-veria ser dominado. Albuquerquepartilhava desse ponto de vista (aE).

Contudo, o esforgo militar que desen-volveu em 1513, nio lhe permitiu subjugar a cidade (4e). Alies, nenhumoutro pornrgu€s se p6de vangloriardesse feito, malgrado as oporhrnidadessoberanas que Lopo Soares de Alber-garia e D. Paio de Noronha desperdi-garam, respectivamente, em l5l7 e

1548 C9. A execugdo do bloqueio es-tava, pois, exclusivamente dependente

VERTICE 77lMargoAbril 1997

das armadas que estacionavam nazona ou nas imediagdes dos portosexportadores de especiarias (5r).

A <mong6o das presas>> era inau-gurada nos primeiros meses do ano,geralmente enne finais de Janeiro e prin-cipios de Fevereiro f'), de modo a apro-veitar na singradura rumo ao Esneitoos ventos favor6veis de Nordest€, quenessa 6poca sopram no Indico (53).

Uma vez alcanqado o destino, a

t5.ctica corrente que era adoptada pe-los capit6es consistia em disp6r osnavios entre os cabos Guardafui eFartaque, tanto quanto possfvel, i vistauns dos outros. Era, assim, urdida umateia apertada, em cujas malhas se pre-tendil ag:urar o ftato isld.mico (54).

E um dado adquirido que, durantea primeira metade do s6culo xvl, osportugueses lograram interferir, comrelativo sucesso, no escoamento dasespeciarias pela rota do Irvante e dis-so se ressentiram os sult6es mamelucos,os otomanos, que desfonaram aquelesem 1517, e a repriblica de Veneza (ss).

Se tal sucedeu, pese embora um con-junto de factores que obstaram a umaefic6cia em toda a linha (s6), foi devi-do A superioridade t6cnica dos barcos e

da artilhada nacionais, que marcou in-delevelmente a hist6ria da guerra navalnos mares asi6ticos.

Os combates navais pouco diferi-am daqueles que tinham palco em ter-ra, na medida que assentavam emabordagens seguidas de luta corpo-a-corpo entre os membros das tripula-gdes envolvidas. Ao irromperem nooceano Indico, os portugueses trouxe-ram consigo novidades radicais queexplicam o grau de supremacia mari-tima por eles atingido: a conjugagdoda mobilidade, oferecida pela nave-gagdo d bolina, com o recurso a po-tentes armas de fogo que, sendocolocadas ao nivel do casco, provoca-vam a perda irremedi6vel da embarca-g5.o oponente ou, em altemativa, a sua

rendiglo face ao especfro da destrui-gdo (tt). Ao quadro esbogado, acresciao desenvolvimento rudimentar da arti-tharia no Oriente e a inexperiCncia nomanuseamento da mesma (58).

O corso 6 uma variante da guer-ra que se alimenta dos despojos dosvencidos e nio da sua aniquilagS.o,pelo que os portugueses que patrulha-vam as cercanias do cabo Guardafuilimitavam-se a usar os canh6es para

tentar dominar as presas e ndo paraas afundar (se). Ilustrativa dessa preo-cupagdo foi a atitude de Ant6nio deSaldanha e de Rui Lourengo Ravascoque, no ano de 1504, ao depararemcom tr6s naus de Cambaia <[...] ellesnom quiserdo abalroar com o receodo perigo do fogo, mas com tirosmeudos per cima lhe demrbando as

velas matarlo muyta gente, [...] e to-marlg as naos [...]" (uo).

A exibigeo do poder de fogo se-guia-se a fase da abordagem, condigdosine qua non para a consumagdo dosaque. Impunha-se entlo a neutraliza-

96o da oposigdo, muitas vezes tenaz,com que os mareantes mugulmanosbrindavam os assaltantes. Os relatosdestas situag6es primam pela sua rela-tiva abundAncia e pelo realismo dosfactos. Diogo do Couto descreveu oass6dio feito, em 1533, pelo galedo deVasco Pires de Sampaio a uma nauturca nos seguintes termos: <[...] ainvestio com todas as v6las, corffnetten-do a entrada com muito valor, e esfor-go, porque achou nos Mouros (queeram mais de duzentos) mui granderesistencia, havendo mortos, e feridosde ambas as partes; mas os n6ssosentdram a n6o a poder de golpes', e

no conv6s della se travou uma formo-sa batalha, ffi6 por firn do negocio osMouros foram rendidos [...] (u')r.

A derrota dos infi6is era sin6-nimo para eles de cativeiro (caso emque eram, sobretudo, destinados a

servir a bordo de embarcagdes portu-guesas (u')) ou de morte violenta (63).

No que toca ao esp6lio apreendido,reinava a variedade dos produtos, deque sdo exemplo os t€xteis de Cam-baia, dinheiro, cavalos e, naturalmen-te, pimenta (uo); quando nao eramincendiados, os pr6prios barcos inte-gravam o rol das presas (65). Este en-grossava ainda gragas ds incuJs6esque eram feitas em cidades portu6ri-as como Zeila, Barbora e Al-Shihr;isto claro, quando as previdentes po-,pulag6es nd.o as abandonavzun, calTe-gando os respectivos haveres, ao

terem noticia da proximidade das fro-tas do <<Estado da india" (66).

Na altura em que o Inverno se

abeirava, a regiio do Estreito eraabandonada, indo as armadas, habi-tualmente, passar a estaglo a Or-muz (67). A estadia no Reino eraaproveitada pua se fazer a venda dos

despojos, o que era de toda a conve-ni€ncia quando a saida de 16 nio erafeita directamente para a india: emAgosto abria novo periodo de caga,desta feita ao largo da costa de Cam-baia, da qual eram vitimas as nausque vinham do mar Vermelho em de-manda do Subcontinente (68).

A vista deste panorama se con-cluiu que o corso portugu€s servia,por um lado, interesses politico-estra-t6gicos e, por outro lado, interessesfinanceiros. Afastada que est6 qual-quer hip6tese de estimativa dos lucrosgerados pelas presas, devido a lacu-nas documentais (6e), resta-nos alvitrarque as quantias depositadas nasfeitorias deveriam ascender a montan-tes significativos, na medida que fo-ram aplicadas no provimento deesquadras navais e no pagzrmento deremunerag6es em atraso (70). Todavia,aquilo que a depredagdo maritimaocasionava eram receitas extraordin6-rias e a priori impossiveis de calcu-lar. Nessa condiEd.o, jamais poderiamter sido perspectivadas como nibricafundamental ao equilibrio da contabi-lidade do Estado da India.

Se assim ndo tivesse sido, a cri-se financeira teria emergido com umcarilcter flagrante quando, a partir demeados da centfria, em virtude doagigantamento da influ€ncia da Subli-me Porta no mar Vermelho (t'), osportugueses. se demitiram de todo oprotagonismo' naquela fuea (72). Acen-tuou-se entd.o notoriamente a tend6n-cia, que vinha sendo esboEada desdea dlcada de 30, de os navios lusosacorrerem ali mais devido is con-tig€ncias do contacto com a Eti6pia e

da espionagem aos otomanos do quepor causa da intercepglo do trdficodas especiarias e da expectativa daspresas. V

i)'-

Notas:

(') Cf. David Lopes, Extractos daHistiria da Conquista do ldmen pelosOtomanos, Lisboa, Imprensa Nacional,1892, p. 4O.

(2) Muhammad Kutb ad-Din 6 o au-tor d'O Livro do Relimpago do l6men...,obra que foi traduzida e editada porDavid Lopes. Yide supra.

(r) Vide Sanjay Subrahmanyam, OImpirio Asidtico PortuguAs, 1500-1700,s.1., Difel, s.d., pp. 77-85.

VERnCe 77lMarqo-Abril 1997

(a) Seria este um passo preliminar da

destruigd.o do mundo mugulmano. Estimu-lado pela aura messidnica que envolveu a

sua figura, D. Manuel assumiu-se comopaladino de uma nova cruzada que, segun-

do a expectativa da 6poca, culminaria embreve na vit6ria dehnitiva da Cnrz sobre oCrescente, na reconquista de Jerusal6m e

na elevagdo do monarca portuguOs ao titu-lo imperial. Vide Luis Filipe Thomaz,<L'Id6e Imp6riale Manueline>>, in LaDdcouverte, le Porrugal et l'Europe, Jeart

Aubin (ed.), Paris, Fundagdo CalousteGulbenkian, 1990, pp. 35-103.

(5) Vide ldem, Ibidem, pp. 53-54.(6) Vide [dem, <Do Cabo Espichel a

Macau: vicissitudes do corso portuguds>>,

in As Relagdes entre a India Portuguesa,a Asia do Sueste e o Extremo Oriente.Actas do VI Semindrio Internacional deHist6ria Indo-Portuguesa (Macau, 22 a26 de Outubro de I99I), Artur Teodorode Matos e Luis Filipe Thomaz (eds.),Macau-Lisboa, 1993, p. 551.

(?) Vide Idem, De Ceuta a Timor,s.I., Difel, 1994, pp. 19+195.

(8) Vide ldem, <Do Cabo Espichel a

Macau...>>, pp. 550-551.(') vide Jodo de Barros, Da Asia

(obra citada por d6cada, livro e capinrlo),Lisboa, Livraria Sam Carlos, l9J3,I, v, 6.

(r0) Vide Ana Maria Pereira Feneira,O essencial sobre o corso e a pirataria,s.1., Imprensa Nacional-Casa da Moeda,1985,pp.9e51.

(rr) Vide Luis Filipe Thomaz, Ibidem,pp. 544549 e Luis Filipe Oliveira, <Aexpanslo quatrocentista portuguesa: umprocesso de recomposigdo social da nobre-za>>, 1n Jornadas de Hist6ria Medieval

-1383-85 e a crise geral dos sdculos xtv e

xv. Actas, Lisboa, 1985, pp. 199-202.('t) A divisdo das presas ndo era en-

tendida como um direito inaliandvel da-queles que as obtinham, mas sim comouma expressdo da Er^ga r€gia, "[...] pos-to que nellas nam deuese aver partes portodos yrem a soldo [...]>. Vide Regimen-to de D. Francisco de Almeida, Lisboa, 5-III-1505, pub. in Cartas de Afonso deAlbuquerque Seguidas de Documentosque as Elucidam (doravante C.A.A.),Raymundo Ant6nio de Bulhdo Pato (dir.),tomo II, Lisboa, Academia Real das Ci6n-cias, 1898, pp. 325-326.

('') Vide Lui.s Filipe Thomaz, Ibidem, p.561 e <<L'Id6e knpedale Manueline>>, W.4T44.

(ra) Vide Regimento de D. Franciscode Almeida, Lisboa, 5-III-1505, pub. inC.A.A., tomo [I, p.286.

(rs) Vide Luis Filipe Thomaz, <<Do

Cabo Espichel a Macau...>>, pp. 556-557.(16) Vide Regimento de Diogo Lopes

de Sequeira, Lisboa, 13-II-1508, pub. inC.A.A., tomo II, p. 418.

(17) Sintomaticamente, as restrigdes

que recairam, em 1519, sobre o corso na-cional ndo abarcavzrm o fidfico de pimen-ta para o mar Vermelho. Vide Luis FilipeThomaz, <A Crise de 1565-1575 na His-t6ria do Estado da indiao, in MareLiberum, tr.o 9, O Estado da lndia e aProvtncia do Norte. Actas do VII Semind-rio Internacional de Hist1ria Indo-Portu-guesa, Goa,20 a 24 de Janeiro de 1994,CNCDP, Julho 1995, p. 490.

(r8) Vide, v. 9., Ferndo Lopes deCastanheda, Hist6ria do Descobrimento e

Conquista da india pelos Portugueses(obra citada por livro e capinrlo), Porto,Lello & Irm6o, 1979,II, i e Gaspar Cor-reia, Lendas da india ( obra citada portomo e p6gina), Porto, Lello & Irmlo,1975, I, p. 643; II, p. 359; IlI, p. 15.

(re) Atente-se em que a pirataria, pro-piciada pela navegagSo de cabotagemcondicionada pelos baixos e pelo regimede ventos, era uma pr6tica ancestral nomar Vermelho, da qual subsistem registosdesde o s6culo u a.c.. H6 ainda que refe-rir algum protagonismo crist6o, anterior iintromissSo portuguesa, nomeadamente, a

existOncia de corsdrios entre a comunida-de de Socotor6 e a expedigdo de corsoliderada, em ll82- I 183, pelo francoRenaud de Chdtillon, que acedeu ao marVermelho a partir do Mediterrdneo Orien-tal. Vide Sanjay Subrahmanyam, Ibidem,p. 20 e Jean Pagds-Andr6 Niedj 1ti-ndraires de Ia Mer Rouge. Antiquit4-Moyen Age, Paris, Comission Frangaised'Histoire Maritime, 1991, pp. 46,51-52.

e Cf. Drarte Barbos4 Liwo do que Viue Owiu no Oriente... , Luis de Albuquerrque(dir.), Lisbo4 Publicag6e-s Alf4 1989, p. 9.

(2r) Sobre o assunto veja-se MariaAugusta Lima Cnz, <<Exiles and Renegadesin Early Sixteenttr Cenurry Pornrguese Indio>,n The lrldion Economic and Social HbtoryReview, vol. )O([tr (3), 1988, p.249-24.

(t) A avaliar pelo exemplo de Ant6-nio Faleiro, ndo era de todo impossivei a

um individuo obter autorizagdo pata efec-tuar presas no cabo Guardafui. Por6m, as

arbitrariedades que ele cometeu no litoralda Ar6bia ter5o desaconselhado a conces-sdo de outras licengas. Vide Fem6o Lopesde Castanheda, Ibidem, VI, xxxv-xxxix.

(2r) Vide Vitorino Magalhdes Godi-nho, Os Descobrimentos e a EconomiaMundial, vol. III, Lisboa, Editorial Pre-senga, 1987, p. 104 e Joaquim Romero deMagalhaes, ,rOs r6gios protagonistas doPoder

- D. Manuel I>>, in Hist6ria dePortugal, Jos6 Mattoso (dir.), vol. III, NoAlvorecer da Modernidade ( 1480-1 620),Joaquim Romero de Magalh6es (coor.),s.1., Circulo de Leitores, 1993, p. 523.

fo) yiae Luls de Albuquerque, (<A Pira-taria no Indico em Meados do S6culo xvt>,in Estudos de Hist6ria, vol. V, Coimbra,Universidade Portuguesa, 197J, pp. 282-284.

('?s) Vide Luis Filipe Thomaz, .<Do

Cabo Espichel a Macau...>>, pp. 560-561.(26) Vide Gaspar Correia, Ibidem, I,

p. 343 e ss.

Ct) O relato de Jo6o de Barros a esterespeito merece-nos algumas reservas.Sustenta o cronista - Ibidem, I, i, 7 -que o corso na entrada do mar Vermelhofazia parte das incumb€ncias atribuidaspor Gama a Sodr6. Julgamos estranho quetenha sido para ali despedida uma frotana 6poca do Inverno quando nlo hd ne-nhuma noticia posterior de uma atitudesemelhante. Ndo sem relutincia, podemosaventurar a hip6tese de que os efeitos dosistema das mong6es eram ainda muitomal conhecidos dos portugueses. Todavia,isso ndo invalida que, apesar dos regi-mentos que lhes eram outorgados, os ofi-ciais da Coroa tinham que ter autonomiapara agir em consonAncia com as realida-des que se lhes deparavam, especialmentequando era sabido que a intercomuni-cagao com o Reino se realizava quase dedois em dois anos. Neste contexto, afigu-ra-se-nos que Barros foi condicionadopelo pendor oficioso da sua obra a dissi-mular um comportamento menos honrosopor parte de um capitdo portugu€s. Luisde Albuquerque abona a nossa posigdo aointerpretar a viagem de Sodr6 como resul-tado da sua pr6pria iniciativa, identifican-do, em pararelo, Ant6nio de Saldanhacomo responsdvel pela primeira miss5ooficial de patrulhamento do estreito deMeca - vide <Os Porn-rgueses, o mar Ver-melho e o estreito de Ormuz>r, in Portu-gal no Mundo, Luis de Albuquerque(dir.), vol. IV, Lisboa, Publicag6es AIfa,1989, pp. 216-217.

(28) Vide Carta de P€ro de Ataide a

El-rei, Mogambique, 20-II-1504, pub. inC.A.A., tomo [I, p.262.

(t') Cf. supra, nota 12.(30) Vide Joaquim Romero de Maga-

lhdes, <A Sociedade>>, in Hist6ria de Por-tugal, Jos6 Mattoso (dir.), vol. III, p. 503.

('') Cf. Andr6 Vauchez, A Espiri-tualidade da ldade Mddia Ocidental, Lis-boa, Editorial Estampa, 1995, p.73.

(r'?) Vide Armindo de Sousa, <<A

Socialidade (Estrunrras, Grupos e Motiva-g6es)>, in Hist6ria de Portugal, Jos6,

Mattoso (dir.), vol. II, A Monarquia Feu-dal (1096-1480), Jos6 Mattoso (coor.),s.1., Circulo de Leitores, 1993, p. 462.

(33) Vide Gaspar Correia, Ibidem, I,p.678, 684 e 798.

(to) Em 1508, quando retornava aSocotor6, vindo de Ormuz, o capitSo-morassaltou e queimou uma nau de Meca.Numa missiva a D. Manuel, datada de1512, assegurou que, por sua m6o, seriamacossadas todas as naus que demandassemo mar Vermelho. Durante a expedigao aomar Vermelho, promovida em 1513, tam-

9VER'|ICE 77lMargo-Abrll 1997

b6m foram executados, sob suas ordens,vdrias tomadias e destruigdes. Nao desde-

nhava, pois, fazer presas nas ocasi6es que

considerava adequadas. Vide ldem, Ibidem,I, p.872; Carta de Afonso de Albuquerquea el-rei, Cochim, 20-VIII-1512, pub. inC.A.A., tomo I, 1884, p. 77 e Carta deAfonso de Albuquerque a el-rei, Cananor,4-XII-1513, pub. rn lbidem, tomo I, 213,215, 211, 220, 222-223.

(rs) Vide Ferndo Lopes de Casta-nheda, Ibidem, II, liii.

(16) Vide Requerimento de AfonsoLopes da Costa, Manuel Teles, Franciscode T6vora e Ant6nio do Campo a Afon-so de Albuquerque, Ormuz, 8-XII-1507,pr.rb. in C.A.A., tomo III, 1903, p.286.

(r') Vide Carta de Afonso de Albu-querque ao vice-rei, Ormuz, 2-II-1508,pub. in C.A.A., tomo [, pp. 6-15.

(rB) Vide Vitor Luis Gaspar Rodri-gues, <<A apropriagdo das rotas comerci-ais no Indico pelos portugueses durante osdculo xvl)>, in Portugal no Mundo, vol.IV, p. 213 e Vitorino Magalhdes Godi-nho, Ibidem, vol. III, p. 108.

(re) Designagdo que, na Asia maritima,era um sin6nimo corrente de gente pornr-guesa. Vide Luis Filipe Thomaz, <<Fran-

gues)>, in Diciondrio de Hist6ria dosDescobrimentos Portugueses, Luis deAlbuquerque (dir.), Lisboa, Caminho, 1994.

1k1 vioe Diogo do Couto, Da Asia,IV, viii, 5.

Cr) Vide Jodo de BanG, Ibidem, m, lL 6.

C) As cr6nicas portuguesas referem-se-lhe pelo nome de Xael ou Xaer. A cidade foiassolada, com maior ou menor sucesso, porinrimeras investidas pornrguesas no decursodo s6culo xvt. Vide R. B. Serjeant, ThePortuguese off South the Arabian Coast,Beirute, Librairie du Liban, 1974.

(ot) Os soldados portugueses que servi-arn no Oriente debatiam-se com problemasde pagamento irregular dos soldos e trabalhosazonal, conjunnua que, aliada d ambig6o, os

incentivava d deserqdo. Vide C. R. Boxer, OImpdrio Maritimo PortuguAs, I 425- I 825,Lisboa, klig6es 70, 1992, pp.288-289.

(aa) Vide JoSo de Barros, Ibidem, fY,viii, 15.

(as) Vide Regimento de D. Franciscode Almeida, Lisboa, 5-III-1505, pub. inC.A.A, tomo I, p. 3ll-312.

(6) Vide Jos6 Pereira da Costa, Soco-tord e o Domtnio PortuguAs no Oriente,separata da Revista da Universidade deCoimbra, vol. XXIII, Coimbra, 1973.

f) Vide Carta de Gaspar Oa inOia a el-rei,

s.1., 15ffi (?), pub. n CAA., tcrno III, p. 195.

(+E) Vide Sumdrio das Cartas deAfonso de Albuquerque, pub. in C.A.A.,tomo [, p. 428.

(ae) Vide Carta de Afonso de Albu-querque a el-rei, Cananor, 4-XII-1513,pub. in C.A.A., tomo I, pp.2O5-213.

(il) Vide Jean-Loius Bacqud-GrammonV/Anne Kroell, Mamlouks, Ottomans etPortugais en Mer Rouge. L'Affaire deDjedda en 1517, Cairo, Institut Franqaisd'Arch6ologie Orientale, 1988 e Luis deAlbuquerque, Didio da Viagem de D. Al-varo de Casto ao Hadramaute, em 1548,separata da Revista da Universidade deCoimbra, vol. XXIII, Coimbra, 1972.

(5r) Cabe aqui lugar a um par€ntesiscujo propSsito 6 o de recordar que havia ex-pediqoes portuguesas que buscavam os aces-

sos maritimos ao lrvante por outros motivosal6m da caga ao trdfico inimigo, a saber, acomunicagao com os dominios cristSos doPreste Jodo, a informaElo sobre a condiEaodas forEas belicas muguimanas no seio domar Vermelho e a retaliagdo de ataques so-fridos por posiE6es nossas na India. Comoexemplos podemos citar a viagem de Diogot-opes Sequeira que, em 1520, levou at6, aoporto de Magu6 a primeira embaixada nacio-nal d Eti6pia (Coneia, Ib., A,, p. 780 e ss.);

a missdo atribuida, em 1538, a D. Femandode Lima para que se inteirasse das movimen-taE6es turcas e que permitiu descobrir a

investida que se projectava fazer contra Diunesse mesmo iulo (Couto, Ib.,V, ii, 6 e 8);e a campanha conduzida, em 1541, por D.Estevdo da Gama @laine Sanceau, .<Uma

Narrativa da Expedigao Pornrguesa de l54lao mar Roxo>>, in Sndia, n" 9, Janeiro 1962,pp. t99-Bg.

O exercicio do corso n6o estava ar-redado destas siruagoes. Pelo contr6rio,nlo raras vezes, era necesserio o recursoa esse g6nero de acgdo de forma a obte-rem-se noticias da regido, viveres ou pi-lotos experientes na navegaglo do marVermelho. Isto para n6o falar que o en-contro com navios mercantes e o respec-tivo acometimento jamais eram recusadossem uma justificag6o plausivel.

(s2) Vide, v. g., Gaspar Correia,Ibidem, II, p. 780 e Jodo de Barros,Ibidem,III, x, l.

Ct) A armada anual que saia da In-dia para Lisboa, beneficiando dos mesmosventos, era obrigada a zatpar nos riltimosdias de Dezembro ou no inicio de Janei-ro sob pena de n6o lhe ser possivel esca-par d arribada em Mogambique e aosdesastres por ela provocados.

(:r) Vide Jrno de Ban6, Ibiden" n, Dc 6.(5s) Vide Vitorino Magalhdes Godi-

nho, Ibidem, vol. III, p. 8l e ss. Contribu-tos recentes para o estudo da temdticaforam fomecidos pelas seguintes comuni-cag6es, apresentadas ao VIil Seminirio In-ternacional de Hist6ria Indo-Portuguesa

- A Carreira da india e as dos Estreitos,Angra do Heroismo, 7-ll de Junho de

1996: Ant6nio L6zaro, <<Notas em tornodas relagoes entre Portugal e Veneza noinicio do s6culo XVI" e Dejanirah Couto,<<Dans le sillage de Madim Si.illeyman

Pacha: quelques aspects du commerce enMer Rouge les ann6es 1538-41> (exempla-res policopiados).

(56) Atenta Vitorino Magalhdes Godi-nho em que havia fortes interesses portu-gueses sustentados pelo contrabando, osotomanos ndo aceitariam de 6nimo leveuma asfixia f€nea, era invi6vel negar sis-tematicamente cartazes a aliados, ndoeram controlados todos os centros asi6ti-cos de produgdo de especiarias e a

presenga portuguesa na boca do mar Ver-melho pecava por nao ser continua (acres-

centamos n6s que havia anos em quenehuma armada acorria 16 ou, pelo me-nos, as fontes coevas silenciam por com-pleto a sua existdncia). Vide VitorinoMagalhSes Godinho, Ibidem, vol. [II, pp.104 e 130 e Mito e Mercadoria, Utopiae Prdtica de Navegar, Sdculos XIII-XWil,Lisboa, Difel, 1990, pp. 42+425.

(5?) Vide Carlo M. Cipolla, Canhdes e

Velas na Primeira Fase da ExpansdoEuropeia (1400-1700l, Lisboa, Gradiva,1989, pp. J7,95-97,130-13l e Jodo PauloCosta, <A colonizagSo pornrguesa na loiur,in Portugal no Mundo, vol. fV, p. 172.

(sx) Vide David Lopes, Ibidem, p. 4O

e Vitorino Magalhdes Godinho, Os Des-cobrimentos e a Economia Mundial, vol.III, p. 96-91 e l0l.

(t') O desrespeito pela ordem deamainar podia, contudo, acarretar umafundamento imediato, como se deduz doprocedimento da armada de Ant6nioMiranda de Azevedo, em 1528. VideJoao de Banos, Ibidem, IV, ii, 10.

(60) Vide Gaspar Correia, Ibidem, I,p. 417.

(6r) Vide Diogo do Couto, Ibidem,IV, viii, 5.

(62) Vide, v. g., Gaspar Correia,Ibidem, III, p. 93 e 443.

(6r) Vide, v. g.,Idem, Ibifum,fr,p.t79.(6a) Vide, v. g., Idem, Ibidem, lI, p.

344 e Fernao Lopes de Castanheda,Ibidem,IV, xxxvi; VI, xciv.

f) Vide, v. g., C-outc, Ibidem" [V, viii, 10.

(6) Vide, v. 9., Gaspar Correia, Ibidem,Itr, pp. 441-442 e FemSo Lopes de Casta-nheda, Ibidem, fV, xxxvi e VIII, lxviii.

(67) Vide, v. g., Idem, Ibidem, V[I, lix.(63) Vide, V. 8., Gaspar Correia,

Ibidem, II, p. 565 e III, pp. 93-95.(6e) Vide Luis Filipe Thomaz, <<Do

Cabo Espichel a Macau...r', pp. 555-556.(?(') Vide Gaspar Correia, Ibidem,ll,

p. 570 e III, p. 443 e Diogo do Couto,Ibidem, IV, viii, 9.

(7r) Sobre a expansdo turca no sdculoxvr veja-se Ashim Das Gupta e M. N.Pearson (eds.), India and the IndianOcean, 1500-1800, Calcut6, OxfordUniversity Press, 1987, pp. 28-31.

(72) Vide Luis Filipe Thomaz, <<A

Crise de 1565-1575...> pp. 483-484.

10 VERTICE 77lMargo-Abril 1997