NPO Classe "Viana do Castelo": O Navio Patrulha do séc XXI

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30. Miguel Bessa Pacheco* e Luís Sousa Pereira** I NPO CLASSE 'vIANA DO CASTELO" O NAVIO PATRULHA DO SÉCULO XXI I ...... '5J;... l .. a P360 1.INTRODUÇÃO Em 30 de Dezembro de 2010 foi aumentado ao efectivo da Marinha, o navio de patrulha oceânica (NPO) NRP "Viana do Castelo". Está previsto que este seja o primeiro de uma série de oito navios, dos quais dois serão versóes modificadas com capacidades específicas para actuar em situações de combate à poluição marinha e balizagem. Este artigo descreve o comexCQ e as especiflcaçães que levaram à materialização desta classe de navios e apre- senta algumas das suas características e sistemas mais relevantes. No sentido de melhor esclarecer o leitor sobre a forma como estes navios respondem às necessidades da acção do Estado no mar, começaremos por visitar a lógica conceptual que permite identificar quais as funções e taref.1s da Marinha, as quais estão na génese do conceito de Duplo Uso. Debruçar-nos-emos depois sobre a forma como são identificados e definidos os requisitos operacionais de meios navais, particularizando para os navios da classe "Viana do Castelo". 2. MISSÃO, FUNÇÕES E DUPLO USO DA MARINHA De uma forma sucinta, pode-se dizer que a Marinha tem como missão contribuir para garantir que Portugal usa o mar no seu interesse. Esta missão é decomposta em três funções fundamentais, a defesa militar e apoio à polírica externa (que se insere no âmbito da acção milicar), a segurança e autoridade do Estado, e o desenvolvimento económico, científico e cultural (que se inserem no âmbito da acção não militar). A capacidade da Marinha actuar quer no plano da acção militar, quer ao nível da acção não militar, consubstancia a sua narureza de Duplo Uso. As tarefas de natureza militar configuram a actuação da Marinha como Armada, destinando-se a influenciar os acontecimentos no mar, e a partir do mar, através de operações expedicionárias e assim garantir a defesa dos interesses nacionais. As acções de natureza não militar materializam a actuação da Marinha como Guarda Costeira, destinando-se a afirmar as responsabilidades públicas nos espaços marítimos nacionais através da

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30.

Miguel Bessa Pacheco* e Luís Sousa Pereira**

I NPO CLASSE 'vIANA DO CASTELO"O NAVIO PATRULHA DO SÉCULO XXI I

......'5J;...l .. a

P360 •

1.INTRODUÇÃO

Em 30 de Dezembro de 2010 foi aumentado ao efectivoda Marinha, o navio de patrulha oceânica (NPO) NRP"Viana do Castelo". Está previsto que este seja o primeiro

de uma série de oito navios, dos quais dois serão versóesmodificadas com capacidades específicas para actuar em

situações de combate à poluição marinha e balizagem.Este artigo descreve o comexCQ e as especiflcaçães que

levaram à materialização desta classe de navios e apre­senta algumas das suas características e sistemas mais

relevantes.

No sentido de melhor esclarecer o leitor sobre a formacomo estes navios respondem às necessidades da acção

do Estado no mar, começaremos por visitar a lógica

conceptual que permite identificar quais as funções etaref.1s da Marinha, as quais estão na génese do conceitode Duplo Uso. Debruçar-nos-emos depois sobre a

forma como são identificados e definidos os requisitosoperacionais de meios navais, particularizando para osnavios da classe "Viana do Castelo".

2. MISSÃO, FUNÇÕES E DUPLO USO DA MARINHA

De uma forma sucinta, pode-se dizer que a Marinha tem

como missão contribuir para garantir que Portugal usa omar no seu interesse. Esta missão é decomposta em três

funções fundamentais, a defesa militar e apoio à políricaexterna (que se insere no âmbito da acção milicar), asegurança e autoridade do Estado, e o desenvolvimento

económico, científico e cultural (que se inserem no

âmbito da acção não militar). A capacidade da Marinhaactuar quer no plano da acção militar, quer ao nívelda acção não militar, consubstancia a sua narureza de

Duplo Uso.As tarefas de natureza militar configuram a actuação daMarinha como Armada, destinando-se a influenciar os

acontecimentos no mar, e a partir do mar, através de

operações expedicionárias e assim garantir a defesa dosinteresses nacionais. As acções de natureza não militarmaterializam a actuação da Marinha como Guarda

Costeira, destinando-se a afirmar as responsabilidadespúblicas nos espaços marítimos nacionais através da

realização de acções jurisdicionais e assim garantir a

segurança e o exercício da autoridade do Estado no mar(autoridade marítima).Tais responsabilidades e âmbitos de acção radicam na

criação da própria Marinha, ainda no SéculoXIl, duranteo estabelecimento da nacionalidade. Sabendo o Rei D.

Afonso Henriques que andava uma esquadra de galés"mouriscas" a interceptar as comunicaçáes marítimas

com Lisboa, encarregou o célebre Cavaleiro D. FuasRoupinho de as expulsar "das CoStas do Reino"l. Na sua

primeira campanha de mar, D. Fuas Roupinho detectouas galés dos mouros ao largo do cabo Espichei e tomou­

-as em Julho de 1180. Ainda no mesmo ano largou parauma segunda campanha de fiscalização e, náo tendoavistado nenhuma galé mourisca, seguiu atê Ceuta onde

atacou e apresou diversos navios estrangeiros. A primeiracampanha insere-se claramente no âmbito de acção deuma Guarda Costeira, enquanto a segunda, com o seu

carácter combatente e de projecção de poder, pode serentendida no âmbito de acçáo enquanto Armada.

Os exemplos e respectivos registos históricos do duplouso da Marinha, ao longo dos tempos, sáo diversos. No

reinado de O. Manuel (1495-1521) e com maior inci­dência no reinado de O. João III (1521-1557) foramorganizadas diversas armadas, cobrindo áreas distintas,

cujas missões passavam: pela preservação do monopóliocomercial marítimo português (mare cÚ1usum), atacando

navios estrangeiros com pretensões comerciais sobre as

novas terras; pela garantia da segurança da navegação delongo curso, protegendo as frotas comerciais de ataquesde piraras e corsários; pela realização de descobrimen­

toS e conquistas, explorando o desconhecido marítimo,estabelecendo entreposcos comerciais e dominando lo­cais estratégicos; pelo sa.lvamemo e socorro de feitorias e

fones ultramarinos, especialmente em situações de blo­

queio terrestre por forças estrangeiras.Já em 1736, o Rei O. João V cria formalmente a Secre­taria de Estado dos Assumos da Marinha e Domínios

Ultramarino, atribuindo à Marinha competências deacção com carácter militar e náo milirar. O duplo usoda instituição é mais uma vez reforçado com o estabele-

Quimela. Ignado da Cosra (1839). iinll4C da MarinhaPonugun,o-. Tomo I. Academia R.eal das Sciencias. pp 11 12.

2 Barbosa, Maria el ai. Fonus RrpatriatÚn, AnlJtafôrS dr históriacolonial, Rt,ftrtndais para prsquisa, fndius Jq cl1tdÚJgo daCapit4nia dr Prnlambuco. Pp 32-37. Edilora Universitária. Brasil.

Seggrança 31.efesa

cimento do processo de selecção, em 1802, dos indiví­duos para realizar as funções de patráo-mor (mais tardedesignado por capitão do porto) entre os oficiais da Ar­mada. O exercício deste cargo implicava especialmente

o policiamento dos portos e a designação do local defundeamento dos navioy.

Mais recentemente, a Lei Orgânica da Marinha4,

publicada em 2009, manrém, explkitando em sedepreambular, O paradigma de duplo uso. Assim,

Portugal desde a sua origem evitou a proliferação deMarinhas, diferenciadas por funções, para garantir aacção do Estado no Mar, privilegiando, deste modo,

uma lógica de economia de esforço e de escala, bemcomo O desenvolvimento de sinergias, por partilha de

conhecimentos e recursos.

3. DEFINiÇÃO DE REQUISITOS OPERACIONAIS

A definição dos requisitos operacionais de uma unidadenaval tem em consideração diversos factores e critérios,especialmente do âmbito geopolítico, económico e

funcional.O enquadramento e a análise da situação geopolítica emilitar são realizados ao mais alto nível no aparelho do

Estado, dando origem à identificação, caracterização eactualizaçáo das missóes e funçóes dos ramos das Forças

Armadas. Estes, identificam entáo quais as capacidadesde que devem dispor e que meios (instrumentos) reú­

nem as valências mais adequadas para materializar taiscapacidades. Na sequência deste processo, a Marinhaavalia com frequência as necessidades de reequjpamento

face às novas missões e ao desgaste dos meios ao serviço.

Neste particular, é estimado em trinta anos o tempo devida útil de um navio militar (por obsolescência dos sis­

temas e fadiga do material).No plano funcional assume particular relevância a defi­

nição da área geográfica (onde) e das principais tarefasque se impóem realizar (o quê), dado que ambas as vari­áveis condicionam fortemente as especificações técnicas

(como e com o quê) que vão nortear a construçáo dasdiferentes unidades navais.

3 João Pedro d'Amorim (1842). Dimonario tk Marinha. Lisboa,Imprensa Nacional. pp 83.

4 Decreto-Lei nO 233 de 15 de Selembro de 2009.

32.

Por último, é preciso terem conta a realidade económico­

-financeira do país, e sua previsão de curto, médio e

longo prazo, dado que os projectos de construção navalcarecem de investimentos significativos e os custos de

operação e manutençáo das unidades podem ascendera duas vezes o investimento inicial, prolongando-se ao

longo do respectivo ciclo de vida (trinta anos).Em suma, qualquer projecto terá de se subordinar

aos critérios de adequabilidade (cumpre o propósito),exequibilidade (existem recursos e o saber) e

aceitabilidade (o custo-benefício justifica a opção), nãosendo os meios militares, em especial os meios navais,

excepção.

3.1. Evolução político-militar

Até à queda do Muro de Berlim, em 1989, e consequente

desintegração da antiga União Soviética, a guerra anti~

~submarinaerauma preocupação permanente da NATO,e consequentemente dos seus membros, face ao poderiosubmarino soviético. A partir dos inícios dos anos

90, a Rússia iniciou um processo de democratização,recuperação económica e aproximação aos ideaisocidentais, descurando a manutenção e abatendo

grande pane do seu arsenal militar. A ameaça submarina

diminuiu significativamente para o mundo ocidentalmas as potencialidades deste tipo de ameaça levou a

manter nos países membros da NATO uma determinadacapacidade de resposta. POrtugal, dispondo, na altura, deum conjunto bastante robusto de navios com capacidades

anti-submarinas (sete fragatas e quatro corvetas), tiroupartido daquele contexto, reconvertendo as corvetas em

navios de patrulha oceânica (que mantiveram, contudo,a sua designação original), o que permitiu reduzir

substancialmente as guarnições e os custos de operação.De facto, as corvetas já desempenhavam tarefas no

âmbito da vigilância e da fiscalização marítima, peseembora tivessem - no contexto considerado - alguma

capacidade militar. A possibilidade de reconfiguraçãodos navios insere-se numa lógica de gestão eficiente dos

recursos e de reavaliação das respostas face aos desafios eàs tarefas atribuídas. Todavia, porque a arma submarina

é extremamente letal, e porque o País se mantémempenhado em garantir alguma capacidade de acçãoautónoma, a Marinha dispõe também, em linha com os

seus aliados, de uma componente naval mínima para a

projecção de podere para assegurar os seus compromissosinternacionais (constituída por unidades do tipo fragata

e por submarinos, a que se juntará, no futuro, um naviopolivalente logístico I de assalto anfíbi05).

O ataque às torres gémeas em Nova Iorque em 2001determinou o início de uma revolução nos assuntosmilitares. O terrorismo internacional, pela assimetria

de acção e com base em organizações sem fronteirasfisicamente definidas, veio lançar uma névoa sobre a

linha de separação entre os conceiros de defesa externae segurança interna, obrigando os países a redefinirem

alguns aspectos de actuação das suas forças e dos meios

necessários. A título de exemplo aponta-se a utilidade dosnavios com valências na guerra anti-aérea no controlodo espaço aéreo, tarefa que, em determinadas situações,

pode complementar e robustecer as capacidades (civis)residentes em terra.

Mesmo com a recente morte de Bin Laden, o principalmentor do terrorismo internacional, este é um processo

que não parece ainda ter um fim à vista, ao que,noutro plano, acresce o recrudescimento da pirataria

marítima no oceano Índico, numa das principais rotasmarÍtimas do petróleo, e a decorrente necessidade deassegurar a segurança e a autoridade no mar, tarefa

que releva a importância das Marinhas e o imperativo

destas disporem de meios em quantidade e qualidadepara combater tais ameaças. Como as "Marinhas não seimprovisam" a análise da situação e da missão constitui

um pilar fundamental para prover os Estados com asferramentas necessárias à sua estrarégia marítima.

3.2. Espaços marítimos de actuação da Marinha

A actuação da Marinha enquanto Armada não tem

necessariamente limites geográficos, uma vez que adefesa dos interesses nacionais se realiza para além dos

limites das águas de soberania ou jurisdição nacional6•

A actuação da Marinha no âmbito da autoridademarítima, na sua acção como guarda costeira,

desenvolve-se essencialmenre nos espaços marítimossob soberania, jurisdição ou responsabilidade nacionais.

Designaçót:s que ill.lS(:f;lffi a Rcx.ibi]idlde de emprego segundo oconccilo de duplo uso.

6 Lri Drginía n" l-BI2OO9 de 7 de Julho de 2009 da Assembleiada RqJública. Diârioda &pública n" 138, pp 4541--4550. ui iÚ

oq". N-n-J.

Estes espaços incluem as águas interiores (fluviais emarítimas - interiores à linha de base), o mar territOrial

(espaço entre a linha de base e as 12 milhas náuticas7),

a zona contígua (das 12 às 24 milhas náuticas), a zonaeconómica exclusiva (das] 2 às 200 milhas náuticas) e

a plataforma continental (solo e subsolo marinho das

12 às 200 milhas náuticas, a que acrescerá a extensãode plataforma continental reclamada por Portugal juntOdas ações Unidas, em Maio de 2009). Para além destes

espaços, POrtugal tem responsabilidades relatiyamemeà busca e salvamento marítimo (SAR), numa área no

Atlântico narre com cerca de 6 milhões de km2 (63 vezesa área do território nacional).

Figura' - Espaços marítimos sob responsabilidade. soberania e/

ou jurisdição nacional.

Para além da vastidão geográfica dos espaços em causa,

é relevante, para a determinação das característicasdos meios navais, a climatOlogia meteorológica e

oceanográfica das áreas de operação. De facto, sendofácil entender que as alterações meteorológicas afectamsignificativamente o estado do mar e impóem restrições

à operação de determinados meios, já não é facilmenteapreensível para o cidadão comum como as características

de temperatura das áreas de operação são determinantespara, por exemplo, o dimensionamento e a configuração

das instalações propulsoras. atenta a forma como adicotomia (ou a falta dela) calor-frio afecta o rendimento

dos sistemas mecânicos e electrónicos (normalmente comsistemas de refrigeração que funcionam a água salgada).

7 I millu n:.iutiCl = 1852 metros.

Semlran~O'.:' 33.e esa

3.3. Os processos de uansformafáa da Marinha

A guerra do Ultramar levou a Marinha a estabelecer

um plano de reequipamento militar durante os anos 60

do Século XX. Este plano incluiu a construção de '10corvetas (também vulgarmente designadas por fragaraspequenas) das classes "João Coutinho" (6) e "Baptistade Andrade" (4) e 10 patrulhas da classe "Cacine", cujas

missões incluíam o exercício de soberania, presença

naval. patrulha, escolra e fiscalização do mar e rios ul­rramarinos. Esres navios foram aumentados ao efecrivo

entre os finais dos anos 60 e 1973. Concomitantemente,as corvetas da classe "Baprisra de Andrade" parricipavam

em exercícios navais onde praticavam as diferentes mo­dalidades da guerra no mar (anti-submarina, anri-su­

perfície e anti-aérea), constituindo parte integrante dascapacidades militares da Marinha. Todavia, como antesjá referido, o fim da guerra fria teve um impacte directo

nos requisitos de operação da esquadra, o que levou aMarinha a um plano de simplificação das capacidades

combatentes daquelas corvetas, reconfigurando tambémas respectivas guarnições para um perfil de missão que

privilegiou a actuação não militar. No entanto, os na­vios continuaram a respeirar um conjumo específico depadrões de prontidão, em particular nas áreas da defesa

própria (ship prouetion), organização para a abordagem(boarding), reabasrecimento do mar (RAS), comando e

controlo (C2) e sobrevivência no mar (combate a aci­dentes/incidentes internos) que lhes permire, ainda as­

sim, integrar uma força naval. Esta lógica, que opera­cionaliza o conceito de Duplo Uso, seria, naturalmente,

determinante para o desenho e definição dos requisitosoperacionais dos NPO.

Desde meados da primeira década do século XXI, atentoo estado de obsolescência do material e os elevados cus­

tOS de manutenção, corvetas e patrulhas começaram aser abatidos ao efectivo, alguns já com cerca de 40 anos

de serviços prestados ao país. Não tendo sido especifica­mente desenhados para o mar agitado do Atlântico nor­te, alguns viriam a mesmo a apresentar danos estruturais

decorrentes do seu uso intensivo. À data deste artigo aMarinha já só conta com 6 corvetas e 3 patrulhas daclasse "Cacine", A referência de planeamento para o

desenho dos requisitos operacionais dos NPO radica,

assim, quer no conjunto de tarefas a realizar, quer numaexperiência com anos de operação, uma vez. que o prin-

34.

eipal objectivo desta nova classe de navios é substituir as

corvetas, cujos prazos de fim de vida foram já largamen­

te ultrapassados.

Figura 2 • Corveta João Coutinho' ao largo de Sesimbra (2009/,

3.4. Requisitos operacionais dos navios da classeleViana do Castelo"Face ao que antecede 05 NPO foram pensados no

sentido de apresentarem um elevado grau de automação,

podendo operar com uma guarniçáo de número reduzido.

As suas dimensões, onde abundam espaços vazios para a

utilização multi-modal, permitem adaptar os navios àsnecessidades de cada tarefa, podendo ser empregues em

apoio à desminagem, embarcando um descacamemo de

mergulhares, AUlOnomous Underwarn- Vthicks (AUV)

e o respectivo sistema C2; no embarque de unidadesde fuz.ileiros, explorando a sua capacida5!> excedentáriade alojamento; no apoio à protecção civil, recorrendo àsignificativa capacidade de transporte para bens de ajuda

humanitária. etc.

aturalmente que as missócs de pacrulha. vigilância e

salvamento marítimo no espaço Estratégico de Interesse

Nacional Permanente (EEINrs) assumiram um

papel relevante na configuração de patrulha oceânico

(armamento reduzido e maior capacidade de manobra.

colocação de meios na água e apoio diverso), até porque

8 EEINP ~ definido na Resolução do Conselho de Ministrosn"6/2003 de 20 de Janeiro. cobre, na componente marítima, os espaçossob responsabilidade nacional, a ZEE, O mar territorial e o que resultardo processo de extensão da plataforma continental.

resulram num navio mais simples e menos dispendioso de

operar e de manter.

Recorde~~. no entanto, que o seu emprego em tarefas de

interdição e de controlo dos espaços costeiros, impõe que

~ garantam valências ao nível da precisão da navegação,

da defesa própria e do C2 (onde se inclui a capacidade para

construir e manter um panorama táctico de superfície),

desideratos que se atingem através de uma abordagem

que envolve quer a automação e a integração de sistemas

orgânicos, quer a modularidade das configuraçáes (que

incluem equipas especializadas de pessoal), como antes se

referiu.

3.4.1. Missões a realizarNo âmbito da defesa militat e apoio à política externa, os

NPO deverão colaborar na vigilância e na patrulha das

águas territoriais e de áreas focais, o que inclui, mas não

se resume, ao garante da liberdade de utilizaçáo das águas

e dos portOS nacionais e ao controlo dos acessos. Deverão

ainda executar acções de apoio à instrução e ao treino de

mar, garantir o transporte de forças militares de reduzida

dimensão e efectuar lançamento de minas.

No âmbiro da sef)-!ranca e aurocidade do Estado, os

navios assegurarão a patrulha, a vigilância e a fiscaliz.açáo,

próprias do exercício da autoridade marítima, nos

espaços marítimos sob soberania e jurisdição nacional.

Contribuiráo, assim, para a compilação do panorama

marítimo nos espaços de interesse nacional. para a

assistência a pessoas e embarcações em perigo (busca e

salvamento marítimo). para a monitorizaçáo ambiental

e para o combate a ilícitos de poluição marítima.

Participarão, quando necessário. no socorro e na assistência

em situações de catástrofe, calamidade ou acidente,

na satisfação das necessidades básicas e na melhoria

da qualidade de vida das populações, e cooperarão nas

acções decorrentes da promulgação do estado de sítio e de

emergência, conforme o dispostO na lei.

No âmbiro do desenvolvimento econÓmico. científico e

~, os navios deverão apoiar, proteger e controlar

actividades económicas, científicas e culturais ligadas ao

mar, ao leito e ao subsolo marinho.

3.4.2. Área de operaçãoO âmbito geo-espacial de actuaçáo definido para esta

classe de navios foi, primariamenre. o EEI P. Este

espaço é, hoje, limitado exteriormente pela união da

zona económica exclusiva, demarcada relativamente ao

continente e aos arquipélagos da Madeira e Açores, coma área SAR, coincidente com a "região de informação de

voo" (Flight Informiltion Region - FIR), que se estende

quase até à latitude de Cabo. No futuro próximo,no decurso da reclamação nacional de extensão da

plataforma continental, este espaço de interesse será,com certeza, ampliado, uma vez que Portugal terá

direitos soberanos sobre o subsolo e sobre os respectivosrecursos, vivos e não vivos.Atentas a dimensão e as características extremamente

exigentes da área de operação, a necessidade de garantir

boas qualidades náuticas, um bom comportamentono mar (desempenho), condições de habitabilidadeadequadas e ergonomia nos espaços operacionais, foram

condições para a definição dos requisitos operacionaisdos navios, sendo determinantes para lhes conferiruma capacidade de permanência prolongada no mar.

Tais características resultam, assim, na possibilidade

dos NPO manterem a operação continuada por longosperíodos de tempo, mesmo quando afastados das suasbases de apoio, o que vem resultar em benefício do seu

potencial emprego em força naval, sem constituir umaumento de custos ao nível do desenho básico.

4. PROOUTO FINAL

De acordo com Lopes Moreirac;l, os requisitos de

habitabilidade e área de operações moldaram, de modosignificativo, a dimensão e forma do casco do navio,

que passou assim a ser maior do que o estritamentenecessário para acomodar os sistemas, equipamentose guarnição. Para responder aos requisitos de bom

comportamento no mar, o navio tem um casco compontalc;l elevado, borda falsa no castelo, bolbo de proa,

estabilizadores activos, robaletes e um patilhão dedimensão significativa.Os NPO da classe "Viana do Castelo" têm as seguintes

características principais: comprimento entre perpendi­

culares 83 metros; boca máxima 13 metros; calado 3,7metros; deslocamento carregado de 1870 tof).eladas; um

convés de voo, onde pode aterrar um helicóptero até5400 kg; e 2 embarcações semi-rígidas.

Segl!rança 35.eíesa

Figura 3 - Vista longitudinal do NRP "Viana do Castelo"

Foi dada prioridade de localização, o mais proxlmo

possível de meio navio, aos espaços operacionais,habitacionais e de lazer. Esta é a zona de bordo sujeita a

menores acelerações decorrentes do balanço longitudinal(caturrar) , tornando-se, por isso, a mais confortável para

as pessoas. A habitabilidade do navio é de um padrãosuperior ao verificado nos restantes navios da Marinha:as áreas são mais generosas, os níveis de ruído inferiores,

a privacidade nos alojamentos e casas de banho maior.

O casco e as superstruturas estão subdivididos por cincopavimentos, dez anteparas estanques e quatro zonasL.A.9, de modo a garantir uma grande compartimentação

interior, o que aumenta a capacidade de sobrevivência,

e facilita o combate, a incêndios, alagamentos ouproblemas estruturais graves.

Quanto à instalação propulsora, o navio está equipadocom dois motores diesel de 3900 kW e dois motores

eléctricos de 300 kW, acoplados a duas linhas deveios com hélices de passo variável. Para permitir uma

elevada capacidade de manobra em espaços reduzidos,especialmente nas manobras de atracação e largada, o

navio está dotado com um motor impulsor de proacom 250 kW de potência. Para além do aumemo de

segurança, que proporciona ao comandante do navionas manobras de maior risco, esta valência é, por si

só, relevante na racionalização dos CUStoS de operação,uma vez que diminui significativamente a necessidadede recorrer a rebocadores para auxiliar as manobras em

porto.Para a produção de energia, o navio possui 4 grupos

e1ecrrogéneos de 362 kW cada, separados por doiscompartimentos diferentes e com ligação a dois quadros

eléctricos principais distintos. A configuração dos sistemas

9 L.A. - Limitaçáo de avarias.

36.

e a localização diferenciada tem como objectivo garantira redundância em caso de avaria/incidente que torne

inoperante um dos espaços. Este é, aliás, o grande moteda arquitectura do navio: redundância, automatização e

integração de sistemas.

Nesta óptica, o NRP "Viana do Castelo" está equipado

com um sistema de gestão da plataforma que efectuaa monitorização, comando e controlo dos sistemas de

propulsão, produção e distribuição de energia, limitação de

avarias e sistemas auxiliares. A navegar, o navio é rotalmeme

controlado e monitorizado a partir da ponte de comando.Para além dos postos ocupados na ponte (2 nas consolas

de propulsão e energia, 1 na manobra, 1 na vigia, 1 nanavegação e 1 oficial de quarto), apenas dois dementos

estão destacados a fazer rondas periódicas pelo navio. NoentantO, a capacidade de comando e controlo da plataforma

não é exclusiva dos postos na ponte de comando. Existemno navio locais~chave onde, em emergência, se podemactuar ou controlar diversos sistemas de bordo, seja através

de consolas do sistema de gestão da plataforma ou em

comando de acção local.No que concerne aos sistemas de navegação, o navio dispõede dois radares de navegação com capacidades ARPA,

pilmo automático e ECDIS (Elecrronic Chart Display andInformation System) que funcionam de forma integrada.Tem também instalado um sistema electra-óptico e um

gravador digital de dados de navegação, especialmente

adequados a acções de busca e salvamento marítimo, e àrecolha de prova em acções de fiscalização.Os sistemas de comunicações, sejam internos ou

externos, são geridos através de um sistema integradode comunicações (SIC) de fabrico nacional (EID) de

última geração. O navio dispõe também de um sistemade gestão da informação (desenvolvido pela EDISOFT),

constituído por uma rede informática que permite aintegração do sistema de gestão da plataforma, do sistema

integrado de comunicações, do sistema integrado denavegação e de outros sistemas a ser instalados.Já no plano da defesa ambiental, o navio está dotado de

uma série de equipamentos que lhe permitem cumprircom a convenção MARPOL. O sistema de bordo

permite realizar o tratamento de resíduos, a separaçãodos lixos (com possibilidade de armazenamento em

paiol refrigerado) e a separaçáo de águas oleosas. Apenas

são lançados ao mar detritos orgânicos triturados e águalimpa.

No que se refere ao armamento, está previsto que os"Viana do Castelo" venham a dispor de uma peça Oto

Melara de 30 mm, pese embora, e até que o processo

de aquisição esteja concluído, os navios estejamtemporariamente equipados com uma peça Bofors de

40 mm, à proa. Existem ainda quatro pontos de fixação,nas asas da ponte e no convés de voo, para metralhadoras

ligeiras HK2I, e um sistema amovível na tolda para olançamento de minas MK55.

A guarnição é de 38 militares (5 oficiais, 8 sargentos e25 praças), podendo embarcar até mais 29 elementos(tipicamente 4 oficiais, 4 sargentos e 21 praças) e sendo

ainda possível, em espaços pré-preparados, instalar

equipamentos que permitem alojar até 35 militares emnúmero extra.Os NPO deverão ser capazes de atingir e manter, deforma sustentada, uma velocidade de vinte (20) nós,

possuindo uma auconomia em víveres para 30 dias e

em combusrível para cerca de 5000 milhas, consideradapara uma velocidade de 15 nós. O navio tem uma

capacidade de produção de água potável na ordem das 8toneladas por dia.

5. CONCLUSÕES

Para conduzir a sua missáo a Marinha necessita de

dispor dos meios adequados para operacionalizar umconjunto equilibrado de capacidades, condição essencial

para que possa desempenhar um leque alargado defunções e tarefas, sejam no plano da acção militar,sejam no contexto da actuação não militar. Todavia, as

variáveis que devem ser consideradas para identificar edefinir os requisitos operacionais dos meios, radicam

na relação entre a necessidade de, ao nível operacional,dispor de determinadas valências para cumprir a missão

e a envolvente externa (espaço de operações, conjunturageopolítica, realidade económica, etc.). Assim sendo,

qualquer projecto de construção de navios (que contribuipara a edificação de uma ou mais capacidades do Sistema

de Forças) está obrigatoriamente subordinado a critériosde adequabilidade, aceitabilidade e exequibilidade.

No plano operacional o paradigma do Duplo Usoconstitui simultaneamente um motor da transformação

e um quesito a atingir, pelo que é um vectot muitorelevante na determinação das capacidades dos navios da

Marinha e da forma como esres são empregues. Tra[a~se,

por isso. de um factor chave de planeamento que orienta

o processo de decisão e condiciona as opções, ou seja, os

produtos finais.Os NPO da classe "Viana do Castelo" sáo um caso

paradigmático na Marinha. por terem sido pensadospara garantirem a relevância e a capacidade de acção noseio das suas 3 funções, dando assim substância marerial

ao conceito de Duplo Uso a que se ajude. De referirque o faCtO dos navios estarem a ser construidos nosestaleiros navais de Viana do Castelo constitui um bom

exemplo de como as necessidades da Marinha podemalimentar o tecido produtivo nacional, contribuindo

directamente para o conhecimento, a sustentação

do emprego e a criação de valor. Existe assim umarelação entre as necessidades de edificar e manter acomponente operacional do Sistema de Forças Naval e o

desenvolvimento económico, o que reforça a ideia antes

expressa.O NRP "Viana do Castelo" encontra-se numa fase

de aprontamento para, em breve. passar a integrar

o dispositivo naval. As características estruturais donavio, a automatização de processos e a integração desisremas elevaram, individualmente e no seu conjunto,

os padrões da Marinha em diversas áreas, sendo já umareferência internacional.

Trarando·se de um projecto novo, existiram algunsproblemas que levaram ao atraso, de vários anos, na

entrega do primeiro navio. Todavia, espera-se agora quea construção e entrega dos restantes sere navios possamdecorrer de forma mais célere, permitindo fechar um

ciclo de vida da Marinha, com o abate ao efectivo datotalidade das corvetas das classes "João Coutinho" e

"Baptista de Andrade".

" Capitão-de-fragara. Licenciado em ciências militares navais, especiali­

z.ado em hidrografia e engenheiro hidrógrafo.

""úpitio-de-mar-e-guerra. Lieenci:ldo em ciências militares navais, es·

pecializ.ado cm comunicaçoo c diplomado com °curso superior naval

de guerra.

REFERÊNCIAS

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