Mudanças no estilo de vida e fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis e...

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Rev. Nutr., Campinas, 22(2):245-255, mar./abr., 2009 Revista de Nutrição ORIGINAL | ORIGINAL 1 Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Educação Física. Av. Fernando Correa da Costa, s/n., Campus Ginásio de Esportes, 78060-900, Cuiabá, MT, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: C.A. FEET. E-mail: <[email protected]>. 2 Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Departamento de Clínica Médica, Laboratório de Espectrometria de Massa, Divisão de Nutrologia. Ribeirão Preto, SP, Brasil. Mudanças no estilo de vida e fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis e sistema imune de mulheres sedentárias Lifestyle changes and risk factors for non-communicable chronic diseases and immune system of sedentary women Carlos Alexandre FETT 1 Waléria Christiane Rezende FETT 1,2 Gilberto João PADOVAN 2 Julio Sergio MARCHINI 2 R E S U M O Objetivo Observar os efeitos de dois meses de um programa de reeducação de hábitos sobre variáveis do sistema imunológico e de risco para doenças crônicas não transmissíveis e as associações destas entre si e com a composição corporal. Métodos Cinqüenta mulheres sedentárias, com idade de 36 anos (DP=10), e índice de massa corporal de 31kg/m 2 (DP=12) participaram do estudo. Foram avaliados a composição corporal (antropometria e bioimpedancia), o hemograma, o perfil lipídico, as concentrações plasmáticas das vitaminas A, C, betacaroteno, do zinco, do ácido úrico e da glicemia. O treinamento consistia de circuito de peso ou caminhada por 1h, três vezes por semana no primeiro mês e 1h, quatro vezes por semana no segundo mês, mais reeducação alimentar. Resultados A gordura corporal, as concentrações plasmáticas do ácido úrico, do colesterol total e da lipoproteína de alta densidade foram significativamente reduzidas. Os triglicérides, a lipoproteína de baixa densidade e as variáveis do sistema imunológico não foram alterados. O zinco não foi associado a qualquer variável. Os glóbulos brancos, os linfócitos, as plaquetas e a vitamina C foram positivamente associados à gordura corporal e negativamente, quando divididos pela massa corporal (kg). O colesterol total e a lipoproteína de baixa densidade divididos pela concentração de vitamina A e do betacaroteno foram negativamente correlacionados à gordura corporal. A vitamina C teve a maior correlação com outros fatores bioquímicos de risco. Nutri7.pmd 24/4/2009, 09:05 245

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Rev. Nutr., Campinas, 22(2):245-255, mar./abr., 2009 Revista de Nutrição

ORIGINAL | ORIGINAL

1 Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Educação Física. Av. Fernando Correa da Costa, s/n., Campus Ginásio deEsportes, 78060-900, Cuiabá, MT, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: C.A. FEET. E-mail: <[email protected]>.

2 Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Departamento de Clínica Médica, Laboratório deEspectrometria de Massa, Divisão de Nutrologia. Ribeirão Preto, SP, Brasil.

Mudanças no estilo de vida e fatores derisco para doenças crônicas não transmissíveise sistema imune de mulheres sedentárias

Lifestyle changes and risk factors for non-communicable

chronic diseases and immune system of sedentary women

Carlos Alexandre FETT1

Waléria Christiane Rezende FETT1,2

Gilberto João PADOVAN2

Julio Sergio MARCHINI2

R E S U M O

Objetivo

Observar os efeitos de dois meses de um programa de reeducação de hábitos sobre variáveis do sistemaimunológico e de risco para doenças crônicas não transmissíveis e as associações destas entre si e com acomposição corporal.

Métodos

Cinqüenta mulheres sedentárias, com idade de 36 anos (DP=10), e índice de massa corporal de 31kg/m2

(DP=12) participaram do estudo. Foram avaliados a composição corporal (antropometria e bioimpedancia), ohemograma, o perfil lipídico, as concentrações plasmáticas das vitaminas A, C, betacaroteno, do zinco, doácido úrico e da glicemia. O treinamento consistia de circuito de peso ou caminhada por 1h, três vezes porsemana no primeiro mês e 1h, quatro vezes por semana no segundo mês, mais reeducação alimentar.

Resultados

A gordura corporal, as concentrações plasmáticas do ácido úrico, do colesterol total e da lipoproteína de altadensidade foram significativamente reduzidas. Os triglicérides, a lipoproteína de baixa densidade e as variáveisdo sistema imunológico não foram alterados. O zinco não foi associado a qualquer variável. Os glóbulosbrancos, os linfócitos, as plaquetas e a vitamina C foram positivamente associados à gordura corporal enegativamente, quando divididos pela massa corporal (kg). O colesterol total e a lipoproteína de baixa densidadedivididos pela concentração de vitamina A e do betacaroteno foram negativamente correlacionados à gorduracorporal. A vitamina C teve a maior correlação com outros fatores bioquímicos de risco.

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Conclusão

Houve redução dos fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis, mas, não nos marcadores dosistema imunológico. O aumento da gordura corporal foi associado negativamente aos marcadores do sistemaimunológico e das vitaminas.

Termos de indexação: Composição corporal. Leucócitos. Vitaminas. Zinco.

A B S T R A C T

Objective

The objective of this study was to observe the effects of two months of a lifestyle-changing program on theimmune system and risk of non-communicable chronic diseases and how they associate with each other andwith body composition.

Methods

Fifty women aged 36 years (SD=10) with a mean body mass index of 31kg/m2 (SD=12) participated in thisstudy. The following data were investigated: body composition (by anthropometry and bioimpedance), completeblood count, lipid profile, plasma concentrations of vitamins A and C, beta-carotene, zinc, uric acid andglucose. The program consisted of circuit weight training or walking for 1 hour, three times per week duringthe first month and for 1 hour, four times per week during the second month and changes to their eatinghabits.

Results

There was a significant reduction in body fat and plasma concentrations of uric acid, total cholesterol andhigh-density lipoprotein. Triglycerides, low density lipoprotein and immune system variables remainedunchanged. Zinc was not associated with any variable. The leukocytes, lymphocytes, platelets and vitamin Cwere positively associated with body fat and negatively associated when divided by body mass (kg). Totalcholesterol and low-density lipoprotein divided by vitamin A and beta-carotene concentrations had a negativecorrelation with body fat. Vitamin C correlated the most with other biochemical risk factors.

Conclusion

The risk factors for non-communicable chronic diseases reduced, but immune system markers remainedunchanged. Increased body fat was negatively associated with immune system markers and vitamins.

Indexing terms: Body. Leukocytes. Vitamins. Zinc.

I N T R O D U Ç Ã O

Existem em torno de 800 milhões deindivíduos mal nutridos em todo o mundo, espe-cialmente mulheres e crianças. As vitaminas, osminerais e os elementos traços são principalmentedepletados do organismo devido à poluição domeio ambiente pela ação do homem. Elementostóxicos como chumbo, arsênico, mercúrio e outrosmetais pesados entram na cadeia alimentar ereduzem os estoques orgânicos, principalmenteos das vitaminas A e C, e dos minerais ferro, iodo,cálcio, ácido fólico e zinco (Zn), decrescendo aatividade imunológica1.

O bom funcionamento do sistema imu-nológico é dependente de vários nutrientes e entre

eles estão alguns micronutrientes que têm papelchave no organismo. Sua deficiência leva aoaumento do estresse oxidativo e à depressão do

sistema imunológico2. Várias condições, como oaumento da gordura corporal e o excesso de ativi-dade física, podem expor o organismo ao aumento

do estresse oxidativo3,4. Entretanto, o processoadaptativo ao estímulo causado pela atividadefísica crônica aumenta as enzimas antioxidantes

reduzindo os efeitos das lesões causadas pelosradicais livres3.

A inflamação crônica indicada por umaalta contagem dos glóbulos brancos está associadaa fatores de risco presentes na obesidade, nodiabetes tipo 2 e na síndrome metabólica5. Os

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triglicérides e a glicose estão positivamente asso-ciadas aos glóbulos brancos5; já o aumento docolesterol total, da lipoproteína de baixa densidade(LDL), dos triglicérides e a redução da lipoproteínade alta densidade (HDL), estão associados à piorado sistema antioxidante. Por exemplo, a ateros-clerose é um processo que sofre influência dainteração entre lipídios e antioxidantes. A ateros-clerose não depende apenas do aumento da LDL,mas sim de que esta seja oxidada e catabolizadapelos macrófagos levando à formação de célulasespumosas (foam cells), sendo este o primeiropasso para lesão na aterogênese, tendo efeitoscitotóxicos e quimiotáticos6. Existem vários meca-nismos de proteção para a formação dos radicaislivres que podem oxidar a LDL, particularmenteas enzimas antioxidantes endógenas, as vitaminasantioxidantes e outros antioxidantes dietéticos2,4.

O zinco é um micronutriente envolvido nasvias metabólicas da síntese de proteínas, nometabolismo dos carboidratos, dos lipídios e dosácidos nucléicos. Está relacionado à melhora dasensibilidade à insulina e à redução da gorduracorporal, podendo assim favorecer tanto aos obe-sos quanto aos diabéticos do tipo 2. Os obesostêm demonstrado aportes reduzidos deste minerale quando repostos por suplementação apresentammelhora da sensibilidade à insulina. A deficiênciade Zn em indivíduos obesos, quando comparadaa indivíduos normais, estava associada também àdeficiência da glutationa peroxidase dos eritrócitos,da superóxido dismutase e da cobre-zinco, preju-dicando o status antioxidante, que talvez, tenhamimplicações no desenvolvimento da obesidade, dodiabetes tipo 2 e das doenças cardiovasculares4.

A atividade física per se aumenta a pro-dução de radicais livres e, embora o sistema an-tioxidante endógeno seja adaptado ao exercíciocrônico3, atividades aeróbias de longa duração sãoassociadas ao catabolismo das gorduras e parecem

necessitar de maior aporte exógeno de vitaminasantioxidantes, como o betacaroteno, as vitaminasC e E, para evitar a exacerbação do estresse oxi-

dativo7. Por outro lado, normalmente é recomen-dado que obesos façam atividades físicas aeróbias

para a redução da gordura corporal8. Ainda, érelatado que indivíduos obesos apresentam defi-ciência destas vitaminas antioxidantes e, asso-ciados ao exercício físico, poderiam aumentar aperoxidação lipidica9. Nesse sentido, obesos se-guindo esta orientação, poderiam expor o sistemaimunológico a uma reação inflamatória crô-nica2,3,5,6.

Portanto, os objetivos deste estudo foramverificar em mulheres adultas sedentárias: 1) osefeitos de um programa de reeducação de hábitos(exercício físico e dieta), sobre variáveis diretas eindiretas do sistema imunológico; 2) a influênciadeste programa sobre a composição corporal e osmarcadores bioquímicos sangüíneos de risco paradoenças crônicas não transmissíveis (DCNT); e,3) as associações entre os marcadores do sistemaimunológico, da gordura corporal e dos marca-dores de risco para DCNT.

M É T O D O S

Foram distribuídos cartazes na Universidadede São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto,convidando mulheres interessadas em participardo presente estudo. O cartaz continha, informa-ções para orientar sobre o cálculo do índice demassa corporal (IMC, kg/m2), explicitando sernecessário ter IMC>20, o telefone para contatocom a equipe, o local e o horário da primeirareunião com as interessadas. Entraram em contatocom a equipe 110 mulheres; 72 preenchiam oscritérios de inclusão e 50 mulheres sedentárias(menos de duas sessões semanais de atividadefísica formal no último semestre) entre 18 e 55anos (média=36 anos, desvio-padrão=10), comíndice de massa corporal de 23 a 57kg/m2

(IMC=31kg/m2, desvio-padrão=12), concluíramtodos os exames e os testes propostos. Este largoespectro do IMC foi para observar sua influênciasobre as variáveis bioquímicas estudadas. Ahipótese era que seu aumento estaria positi-vamente correlacionado à piora dos marcadoresdo sistema imunológico e que poderiam sermelhorados com a redução do peso corporal. A

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amplitude da idade também foi grande, a fim deverificar se com seu avanço haveria comprome-timento de variáveis do sistema imunológico.

O exame clínico foi realizado por médicoda equipe de Nutrologia do Departamento de

Clínica Médica da Faculdade de Medicina deRibeirão Preto da Universidade de São Paulo(FMRPUSP). As voluntárias assinaram documento

de consentimento livre e esclarecido aprovadopelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospitaldas Clínicas da FMRPUSP (HCFMRPUSP; processo

HCRP nº 5317/2002).

Foram excluídas as mulheres que apre-sentavam histórico de doenças metabólicas, alémda obesidade em si, as fumantes, as etilistas(>15g equivalentes de etanol/dia); as usuárias demedicamentos como betas bloqueadores e drogassimpatomiméticas.

A massa corporal (kg) foi obtida utilizando--se uma balança de plataforma, da marca Filizola®

Eletrônica ID 1500 (São Paulo: SP, Brasil), comprecisão de 0,1kg e a estatura com uma barrametálica graduada com precisão de 0,5cm.

Para a medida da espessura das pregas

cutâneas foi utilizado um adipômetro da marcaLange® (Beta Technology INC; Santa Cruz: CA,EUA), com pressão constante de 10g/mm2 na

superfície de contato, precisão de 1mm e escalade 0-65mm. O valor anotado foi a média de trêsmedidas consecutivas. As pregas cutâneas men-

suradas foram: tríceps, supra-ilíaca e coxa. A densi-dade corporal foi estimada a partir das medidasdas pregas cutâneas corrigidas pela idade e então

convertida para percentual de gordura corporal8.

Foi medida a circunferência do abdômensobre a cicatriz umbilical, paralelamente ao solo,com uma fita metálica, inextensível e flexível.

A composição corporal também foi esti-

mada pela bioimpedância (Quantum BIA-101Q®,Serial n Q 1559; RJL Systems, Inc. Clinton: MI, EUA),utilizando a fórmula validada por Segal et al.10:

MMbia = 0,0011E2 – 0,021R + 0,232P – 0,0681 = 14,595,

sendo: MMbia = massa magra obtida pela bioim-

pedância em kg; E = Estatura em m; R = Resistên-cia em Ω; P = Peso em kg; I = Idade em anos.

O sangue foi coletado seguindo a rotinade atendimento dos pacientes obesos doHCFMRPUSP, em tubo roxo contendo EDTA erealizado o hemograma completo. Os triglicérides,HDL e colesterol total foram dosados por métodosenzimáticos seguindo as orientações dos manuaisdos cartuchos de reagentes Flex (Flex® ReagentCartridge, Dade Behring Inc, 2001, 2002, e 2003,respectivamente). A LDL foi calculada a partir daseguinte fórmula: LDL = CT – HDL – Tg/5. A gli-cemia foi dosada pela adaptação do método daHexokinase-glicose-6-fosfato. As vitaminas A, Ce o betacaroteno foram dosados no laboratóriode nutrição, do HCFMRPUSP e seguiram as orien-tações do Manual de Procedimentos Técnicos11.

O zinco foi dosado no Laboratório de Es-pectrometria de Massa da FMRPUSP, pelo métodode absorção atômica, usando o modo chama comacetileno super puro, fluxo de dois L/min docomburente e o ar sintético de oito L/min, comspray time de sete segundos, tempo de integraçãode cinco segundos, usando-se, uma curva padrão,com as seguintes concentrações expressas emmg/L: 0,0; 0,05; 0,10; 0,20; 0,40; condiçõesda lâmpada: wave lenght = 213,9nm; slidtwidth = 0,7nm; corrente = 8mA.

As voluntárias foram distribuídasaleatoriamente em um treinamento em circuitoou caminhada, equalizados na intensidade pelafreqüência cardíaca (65-75% da máxima), trêsvezes por semana no primeiro mês e quatro vezespor semana no segundo mês. O protocolo de treina-mento em circuito era composto por 15 estaçõesde exercícios resistidos, feitos em um salão comum tatame, com 30 segundos de duração por es-tação, intercalados com 30 segundos de ca-minhada. O grupo caminhada realizava somenteesta atividade de forma contínua. As sessões eramcompostas de 10 minutos de aquecimento, 40minutos de parte principal da aula e 10 minutosde volta à calma.

Todas as participantes foram orientadasquanto à reeducação alimentar e à mudança de

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estilo de vida, em reuniões realizadas semanal-mente com a seguinte equipe: uma médica, umanutricionista e dois profissionais de educação física.

A fim de verificar a associação do programade reeducação de hábitos a outras variáveis e estasentre si, os grupos foram tratados como um só.Os resultados estão apresentados sob forma demédia e desvio-padrão. Devido à perda devoluntárias, o conjunto de dados iniciais (M1), foicomparado ao conjunto de dados finais (M2) doestudo, pelo teste t não pareado. A associaçãoentre duas variáveis foi obtida pela correlaçãolinear de Pearson. Todas as conclusões estatísticasforam realizadas considerando-se o nível de 5%de significância com intervalo de confiança de95%.

R E S U L T A D O S

Todas as medidas da gordura corporal,concentrações plasmáticas do ácido úrico, do

colesterol total e do HDL foram significantementereduzidas. Os triglicérides apenas tenderam àredução. O LDL e todas as variáveis diretas ouindiretamente ligadas ao sistema imunológico nãoforam alterados pelos dois meses de programação,nem mesmo quando corrigidos pela massacorporal (kg) (Tabela 1).

Para verificar a classificação de diferentesvariáveis nos dois momentos foram comparadasas médias do M1 e do M2 com os valores decorte de referência (deficiência, normalidade,excesso), que aparecem entre parênteses.

No M1 as voluntárias eram classificadascomo obesas (IMC>30 kg/m2) e no M2 comosobrepeso (IMC=25-29,9kg/m2)12. Quanto àcircunferência do abdômen elas eram classificadasno M1 como zona de risco (>88cm); houve redu-ção significante desta variável, mas continuaramclassificadas como zona de risco no M213. A porcen-tagem de gordura estimada pelos dois métodostambém foi reduzida significantemente, mas

Tabela 1. Perfil de mulheres adultas sedentárias antes (M1) e depois (M2) de dois meses de um programa de reeducação de hábitos.

Ribeirão Preto (SP), 2007.

Índice de massa corporal (IMC, kg/m2)

Circunferência do abdômen (cm)

Gordura corporal % (bioimpedância)

Gordura corporal % (antropometria)

Glóbulos brancos (x103/mm3)

Linfócitos (%)

Plaquetas (x103/mm3)

Ácido úrico (mg/dL)

Colesterol total (mg/dL)

Triglicérides (mg/dL)

LDL (mg/dL)

HDL (mg/dL)

Glicemia (mg/dL)

Zinco (mg/dL)

Vitamina A (µg/dL)

Vitamina C (mg/dL)

Betacaroteno (µg/dL)

CT/HDL

Zn/kg

Glóbulos brancos/kg

Linfócitos/kg

031,000

103,000

040,000

042,000

007,000

022,000

269,000

005,0>>

184,000

105,000

107,000

055,000

093,000

000,37>

049,000

000,38>

194,000

003,500

000,005

081,000

026,000

06,00

14,00

06,00

06,00

01,8>

5,0

44,00

1,00

29,00

52,00

27,00

12,00

10,00

0,02

14,00

0,06

62,00

0,92

0

25,00

05,00

49

50

45

50

22

22

22

49

48

48

48

48

46

34

27

27

27

48

34

49

47

Variáveis/momentosM DP

nM1

29,00

99,00

037,000

036,000

006,8>>

022,000

281,000

004,5>0

179,000

087,000

105,000

052,000

089,000

000,43>

050,000

000,36>

170,000

003,500

000,006

091,000

028,000

06,00

16,00

05,00

06,00

01,70

05,00

56,00

01,00

27,00

35,00

18,00

11,00

06,00

00,03

18,00

00,05

46,00

86,00

00,00

23,00

05,00

27

27

15

27

22

22

22

22

22

22

19

19

22

25

5

5

5

19

23

26

22

M DPn

M2

>0,0001

>0,0001

>0,0001

>0,0002

>0,0500

>0,0500

>0,0500

>0,0094

>0,0193

>0,0640

>0,0500

>0,0187

>0,0500

>0,0500

>0,0500

>0,0500

>0,0500

>0,0500

>0,0500

>0,0500

>0,0500

p

Teste t não pareado. Valores expressos em média e desvio-padrão.

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permaneceu dentro da faixa considerada comoexcesso de gordura (>23% para mulheres)8 (Tabe-la 1).

Os glóbulos brancos (5.000 a 10.000/mm3)e as plaquetas (150.000 a 350.000/mm3) estavamdentro dos valores de normalidade, mas os linfó-citos (25 a 33%) estavam abaixo dos valores denormalidade11, em ambos os momentos (Tabe-la 1).

O ácido úrico (2,4 a 7,0mg/dL), o colesteroltotal (<200mg/dL), a LDL (<130mg/dL), ostriglicérides (<200mg/dL), o HDL (≥35mg/dL) e aglicemia (70,0 a 110,0mg/dL), foram reduzidossignificantemente; estavam no M1 em valoresconsiderados desejáveis e permaneceram assimno M211 (Tabela 1).

No M1 a vitamina A estava próxima aosvalores considerados aumentados (≥50µg/dL)11;a vitamina C era considerada deficiente(<0,4mg/dL)14; o betacaroteno (≥100µg/dL)11 e ozinco (≥0,1mg/dL)15 estavam com os valores consi-derados aumentados; todas permaneceram semalterações no M2 (Tabela 1).

Foi feita a correlação linear de Pearson doIMC, da circunferência do abdômen, da porcen-tagem de gordura pela bioimpedância e pelaantropometria e da idade a variáveis ligadas diretaou indiretamente ao sistema imunológico. As

concentrações plasmáticas de zinco, das vitaminasA, do betacaroteno, das plaquetas, das razõesZn/kg, colesterol total/Zn, LDL/Zn, HDL/Zn,triglicérides/Zn, colesterol total/Vitamina ALDL/Vitamina A, HDL/Vitamina A, triglicérides/Vitamina A, colesterol total/Vitamina C, LDL/Vita-mina C, triglicérides/Vitamina C, HDL/betaca-roteno, triglicérides/betacaroteno e linfócitos/kgnão foram correlacionadas a medida alguma dagordura corporal (P>0,05). As correlações destetópico que tiveram alguma significância estão naTabela 2.

Vários fatores bioquímicos foram correla-cionados entre si. Os glóbulos brancos correla-

cionaram-se a um fator, os linfócitos a três, avitamina C a cinco, o ácido úrico a dois, a vitaminaA a dois, o betacaroteno a dois, o colesterol total

a seis, entretanto, três destes são fatores ligadosdiretamente aos lipídios circulantes, sendo espe-rado que fossem correlacionados; o HDL a três,

os triglicérides a cinco, entretanto, três destes sãofatores ligados diretamente aos lipídios circu-lantes, sendo esperado que fossem correlaciona-

dos; a fração CT/HDL a seis, entretanto, três destessão fatores ligados diretamente aos lipídios circu-lantes, sendo esperado que fossem correlaciona-

dos; os linfócitos/kg foram correlacionados a umfator bioquímico (Tabela 3).

Tabela 2.Associação entre variáveis relacionadas à gordura corporal e marcadores bioquímicos sanguíneos e várias razões de

mulheres adultas sedentárias. Ribeirão Preto (SP), 2007.

Glóbulos brancos (x103/mm3)

Glóbulos brancos/kg

Linfócitos (%)

Plaquetas (x103/mm3)

Plaquetas/kg

Vitamina C (mg/dL)

Vitamina C/kg

Vitamina A/kg

Betacaroteno/kg

CT/betacaroteno

LDL/betacaroteno

0,52; 0,27†

-0,28; 0,08*

0,53; 0,28‡

>0,05

-0,41; 0,17[%0,48; 0,23*

-0,51; 0,26*

-0,50; 0,24*

-0,52; 0,27*

>0,05

>0,05

0,47; ,22€Β-0,30; ,10*

0,53; ,28‡

>,05

-0.39; 16[%0,41; ,17*

-0,50; ,25*

-0,45; ,20*

-0,50; ,25*

0,42; ,18*

0,48; ,23*

0,25; 0,06

-0,38; 0,14*

0,29; 0,09*

0,40; 0,16[%

>0,05

>0,05

-0,57; 0,32[%

-0,45; 0,20*

-0,57; 0,32[%

0,44; 0,19*

0,45; 0,20*

-0,31; 0,10*

>0,05

>0,05

>0,05

>0,05

>0,05

>0,05

0,51; 0,26*

>0,05

>0,05

>0,05

Variáveis IMC (kg/m2) CAb (cm)

>0,05

-,44; 0,19[%

,37; 0,14*

>0,05

-,33; 11*

>0,05

-0,44; 0,20*

>0,05

>0,05

>0,05

>0,05

%G Bia %G Bia Idade (anos)

Correlação linear de Pearson (r; r2); n=48; para dosagens de vitaminas, n=27. *=p<0,05; [%=p<0,005; †=p<0,0005; ‡=p<0,0001;

IMC: índice de massa corporal; CAb: circunferência do abdômen; %G Bia: porcentagem de gordura calculada pela bioimpedância10; %G Antro:porcentagem de gordura calculada pela antropometria8.

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D I S C U S S Ã O

O presente estudo demonstrou que doismeses de um programa de reeducação de hábitos,incluindo exercício físico e orientação nutricional,reduziram vários fatores de risco relacionados adoenças metabólicas, sendo que a composiçãocorporal e o perfil lipídico foram positivamentemodificados. Entretanto, as variáveis associadasdireta ou indiretamente ao sistema imunológiconão foram afetadas pela redução do peso corporale pelo exercício físico.

A exacerbação da oxidação das gorduraspelo exercício físico pode deprimir o sistema imu-nológico3. No caso do presente estudo, as ativi-dades visavam ao aumento da oxidação dasgorduras e estas mulheres apresentavam defi-ciência de vitamina C e linfócitos no momentoinicial, podendo expô-las a depressão do sistemaimunológico, o que não foi observado. Por outrolado, as outras variáveis do sistema imunológico,vitaminas e zinco estavam em concentrações nor-mais e não foram impactadas pelo programa dereeducação de hábitos. Ainda, a exacerbação naprodução de radicais livres é evidente em indiví-duos com treinamento de alto volume e inten-

sidade7. O fato de a atividade física praticada estarem um nível moderado e haver a contribuição da

reeducação alimentar, com orientação para oaumento do consumo de fibras, frutas e verduras16,podem ter contribuído para manter o status do

sistema imunológico.

Quanto às associações, vários marcadoresbioquímicos sanguíneos correlacionavam-se entresi, mas sem muita consistência e, de forma geral,

as medidas da gordura corporal afetavam nega-tivamente as variáveis associadas ao sistemaimunológico. Das medidas da gordura corporal a

que mais se associou negativamente às variáveisdo sistema imunológico foi a circunferência doabdômen, seguida pelo percentual da gordura

corporal estimado pela antropometria e pelo IMC.Já, o percentual de gordura estimado pela bioim-pedância não teve correlação com a maioria das

variáveis comparadas. Outros autores, tambémobservaram que as medidas antropométricas erammelhor associadas ao risco de desenvolver ateros-

clerose, do que as medidas da bioimpedância e,como aqui, observaram que a circunferência doabdômen era a que apresentava maior asso-

ciação17.

Tabela 3. Associação entre vários fatores bioquímicos sanguíneos de mulheres adultas sedentárias. Ribeirão Preto (SP), 2007.

L

P

Zn

VA

VC

βAU

CT

LDL

HDL

Tg

F

Gl

GB/kg

L/kg

0,56‡

0,33*

0,39*

-

-

0,66†

0,30*

0,35*

-

-

0,70†

0,62¥

0,53¥

0,45*

0,59¥

0,41*

0,42*

0,32*

0,38*

0,44¥

Correlação linear de Pearson (r); n=48; para as dosagens de vitaminas o n=27. Estatística: ‡p>0,05; *=p<0,05; ¥=p<0,005; †=p<0,0005. V:variáveis; GB: glóbulos brancos; P: plaquetas (x103/mm3); L: linfócitos (%); VA: vitamina A e β: betacaroteno (µg/dL); Zn: Zinco; VC: vitamina C;AU: ácido úrico; CT: colesterol total; LDL: lipoproteína de baixa densidade; HDL: lipoproteína de alta densidade; Tg: triglicérides; Gl: glicose(mg/dL); F: fração CT/HDL.

V GB L P Zn VA VC β AU CT LDL HDL Tg

0,89†

0,36*

0,49†

0,66†

-0,30*

-0,77†

-0,31*

0,54†

0,31*

F

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Tem sido demonstrado que a suplemen-tação de antioxidantes pode reduzir o estresseoxidativo18. No presente estudo, embora não tenhahavido o uso de suplementos, a vitamina C foi aque maior número de correlações positivas tevecom outras variáveis bioquímicas, reforçando suaimportância como imunomoduladora. Esta vita-mina e os leucócitos rapidamente declinamdurante as infecções e o estresse. Outros obser-varam que o aumento da concentração plasmáticade vitamina C era associado à melhora dos com-ponentes do sistema imunológico, tais como, aatividade antimicrobiana e das células naturalkiller, a proliferação de linfócitos e a quimiotaxia19.A vitamina C e os linfócitos destas mulheres esta-vam em concentrações consideradas deficientes,o que poderia contribuir para piora das defesasimunológicas e da neutralização da produção deradicais livres. Isto pode ser devido ao fato demuitas delas no início do estudo fazerem uso deuma dieta do tipo cafeteria, consumindo poucosvegetais, e, portanto, possibilitando o déficit devitamina C, não ocorrendo o mesmo com asvitaminas lipossolúveis, mais disponíveis neste tipode dieta. Ainda, a vitamina C foi associada positi-vamente aos glóbulos brancos, aos linfócitos e aoslinfócitos/kg, sugerindo ser importante na modu-lação do sistema imunológico destas mulheres.

Por outro lado, a vitamina C e os glóbulosbrancos foram positivamente correlacionados àsvariáveis da gordura corporal, sugerindo em umaprimeira leitura, estarem mais disponíveis com oaumento da obesidade. Entretanto, quando corri-gidos pelo peso corporal, apresentaram correlaçãosignificantemente inversa aos marcadores dagordura corporal, sugerindo que o aumento degordura neste grupo era prejudicial ao sistema imu-nológico, corroborando o encontrado por outrospesquisadores4. Ainda, indivíduos asmáticosapresentaram níveis mais baixos de vitamina C ede linfócitos plasmáticos, quando comparados aosindivíduos normais14, sugerindo que ambos estãoassociados e a diminuição da vitamina C prejudicao sistema imunológico. Por outro lado, não foiobservada melhora do perfil lipídico e da sensi-bilidade à insulina, em obesos suplementados com

1g de vitamina C ao dia, por quatro semanas20,sugerindo neste caso, outras interações alémdestas. Estas controvérsias podem ser explicadaspor se tratarem de diferentes populações e hábitosde vida que contribuem com fatores de confusãopara as análises.

O betacaroteno e a vitamina A, quandocorrigidos para massa corporal, também foramnegativamente associados à gordura corporal.Estas vitaminas estavam associadas à maioria doslipídios circulantes, o que é justificado por seremlipossolúveis. Concordando com estas observa-ções, foi verificado em mulheres que as concen-trações de betacaroteno sérico eram positivamenteassociadas à concentração sérica de colesterol, àingestão de fibras, à ingestão de betacaroteno enegativamente associadas ao fumo e a todas asmedidas de obesidade16. Benabdeslam et al.21

observaram que as concentrações do retinol, doalfacaroteno e do betacaroteno, em especial desteúltimo, eram todas reduzidas em pacientes comfibrose cística, comparadas ao controle e que essespacientes estavam mais expostos ao estresseoxidativo, estimado por biomarcadores da peroxi-dação lipídica. Portanto, parece que no presenteestudo, estas vitaminas estavam proporcional-mente reduzidas em relação ao aumento dagordura corporal, o que poderia contribuir para oaumento do estresse oxidativo.

Foi demonstrado que os níveis das vitami-nas A, E, C e de ácido úrico têm influência limitada,mas significante na proteção do DNA22, e que avitamina A, E e o selênio são negativamente rela-cionados ao estresse oxidativo e aos problemasde saúde2. Não foi avaliado diretamente o estresseoxidativo, portanto, não é possível fazer esta corre-lação no presente estudo. Todavia, as contagensde glóbulos brancos, de linfócitos e de linfó-citos/kg, foram positivamente correlacionadas àconcentração plasmática de vitamina C. Isto sugereinfluência positiva deste micronutriente sobre osistema imunológico. Entretanto, as outras vita-minas e o zinco não apresentaram esta asso-ciação, corroborando a observação de Foksinkiet al.22, de que os níveis destes micronutrientesflutuam em relação ao sistema imunológico.

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Ainda, o aumento da contagem de glóbulosbrancos é associado a inflamações crônicas, típicasda obesidade, e este aumento está positivamenteassociado às concentrações de triglicérides e deglicose5. Mas, no presente estudo, estas asso-ciações não foram observadas, possivelmente pelofato de os glóbulos brancos se encontrarem emvalores considerados normais.

Por outro lado, o presente estudo observouque os linfócitos foram associados também aoácido úrico e aos triglicérides. O ácido úrico temfunção antioxidante, mas quando aumentado éconsiderado um fator de risco para DCNT23. Talvezpor causa destas características o ácido úrico foiassociado à vitamina C e ao betacaroteno, mastambém ao colesterol total e ao LDL, constituindo,nestes dois últimos casos, um fator de risco paraDCNT. Diabéticos tipo 1 fumantes, quando suple-mentados com ácido úrico (1000mg/d) e vitaminaC (1000mg/d), tinham suas funções endoteliaisreestabelecidas24, sugerindo que, pelo menos, atécerto nível, o ácido úrico é necessário como antioxi-dante.

Têm sido encontrados valores de zinco maisbaixos em indivíduos obesos do que em eutróficose esta concentração é inversa ao grau de obesi-dade25. Todavia, não foi observado este resultadono presente estudo, sendo que o zinco não secorrelacionou à variável alguma da gordura corpo-ral. Pode ser que o fato de nenhuma voluntáriater apresentado deficiência deste mineral, sendoa média inicial e final entre três e quatro vezes ovalor considerado normal15, tenha afetado a po-tência estatística.

Também não foi observada relação algumado zinco com outros fatores de risco bioquímicossanguíneos. Outros autores também não observa-ram a relação deste mineral com o perfil lipídico26.Estudos ecológicos têm investigado a ingestão dezinco ou o seu status orgânico e a incidência dedoenças coronarianas e revelam um padrão nãoconsistente. As observações conflitantes podemser explicadas pelas diferenças na extensão dasdoenças cardiovasculares, nos sítios da aterogê-nese ou por fatores de confusão27.

A contagem das plaquetas foi significan-temente associada ao percentual de gorduraestimado pela antropometria, mas não às outrasvariáveis da gordura corporal, sugerindo frágilcorrelação. A atividade plaquetária está associadaao desenvolvimento das placas de ateroma28. Foiobservado que a atividade plaquetária não estavarelacionada ao peso corporal e não apresentavacorrelação com o excesso de gordura corporaltotal, mas estava significantemente associada àobesidade abdominal28. Não foi medida a atividadeplaquetária, mas o número de plaquetas não foicorrelacionado à circunferência do abdômen nopresente estudo. Entretanto, quando corrigidaspelo peso corporal as plaquetas foram negativa-mente correlacionadas a três variáveis da gorduracorporal, sugerindo que quanto mais gordura cor-poral nestas mulheres, menor proporção de pla-quetas. Talvez, mais importante do que a conta-gem total seja a ativação das plaquetas por hormô-nios que estão aumentados na obesidade, comoa leptina, que estimula a agregação e a adesãoplaquetária29. Todavia, não foi comparada estarelação no presente estudo, pois não foi dosada aleptina e ainda, a contagem das plaquetas destasmulheres estava dentro dos valores de norma-lidade.

O perfil lipídico apresenta associação nega-tiva ao sistema antioxidante6. Portanto, para ava-liar a proporcionalidade de antioxidantes emrelação ao perfil lipídico e ao sistema imunológico,no presente estudo, foram divididas as concen-trações de lipídios circulantes, glóbulos brancos elinfócitos pelas concentrações de vitaminas e zinco.A correlação entre a maioria destes resultados eas variáveis da gordura corporal não demonstrouassociação. Possivelmente o fato de terem valoresde normais a elevados para a maioria das vita-minas e do zinco, contribuiu para este resultado.Entretanto, as relações CT/betacaroteno eLDL/betacaroteno foram positivamente correla-cionadas a duas das medidas de gordura corporal,sugerindo que quanto maior a gordura corporal,menor a quantidade de betacaroteno proporcionalaos valores de CT e LDL. Moor de Burgos et al.9

observaram que indivíduos obesos têm deficiência

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de vitaminas antioxidantes, o que corrobora, aomenos em parte, a observação do presente estudoem relação à concentração plasmática de vitami-na C e quanto à proporcionalidade de betacaro-teno aos lipídios circulantes.

Em uma primeira análise dos dados desteestudo, parece que o avanço da idade reduziu aconcentração de glóbulos brancos. As alteraçõessociais que ocorrem com a idade podem causarestresse emocional e desregular o sistema imuno-lógico do idoso. Pode haver prejuízo na atividadedos linfócitos com várias conseqüências negativaspara o sistema imunológico30. Entretanto, quandoos glóbulos brancos foram corrigidos pelo pesocorporal, a associação positiva com a idade desa-pareceu e a concentração de linfócitos não foiassociada à idade, porém, não se mediu a suaatividade. Parece que no caso destas mulheres, agordura corporal foi mais importante para deter-minar a associação ao sistema imunológico doque a idade. Ainda, elas não eram idosas, mo-mento em que a depressão do sistema imunoló-gico se torna mais evidente.

C O N C L U S Ã O

Em suma, dois meses de um programa dereeducação de hábitos parecem ter reduzido osfatores de risco associados às DCNT, mas nãointerferiram nos marcadores do sistema imuno-lógico destas mulheres. Todavia, o aumento dagordura corporal foi positivamente associado àpiora dos marcadores do sistema imunológico, dasvitaminas e do perfil lipídico, sugerindo que podeser necessária atenção com o aporte de antioxi-dantes em indivíduos obesos que iniciem a práticade atividades físicas. Futuros estudos com grupocontrole ao exercício físico, maior número de vo-luntários e um processo inflamatório crônico bemestabelecido, poderá auxiliar a esclarecer estasinterações.

C O L A B O R A Ç Ã O

C.A. FETT escreveu o projeto e a versão finaldo manuscrito. W.C.R. FETT foi responsável pela apli-

cação dos protocolos de avaliação, de atividade física,pela coordenação das reuniões semanais sobre reedu-cação de hábitos e pela análise estatística. J.G.PADOVANI foi responsável pela dosagem do zinco,pela análise dos métodos de laboratório e pela revisãoda versão final do manuscrito. J.S. MARCHINI orientoue corrigiu desde o projeto até a versão final do manus-

crito.

R E F E R Ê N C I A S

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Recebido em: 10/5/5007Versão final reapresentada em: 24/6/2008Aprovado em: 18/8/2008

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