Menires do Alentejo Central (Vol. 1)

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2Manuel Calado

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ÍNDICE

Agradecimentos....................................................................................................................................8Resumo...................................................................................................................................................10Abstract...............................................................................................................................................11Apresentação do Plano da obra......................................................................................................12Capítulo 1: Introdução........................................................................................................................141. Introdução.......................................................................................................................................15Capítulo 2: Delimitação cronológico-cultural do tema e caracterização da área de estudo....192. 1. Âmbito cronológico..................................................................................................................202.2. Âmbito geográfico....................................................................................................................20Capítulo 3: Considerações teóricas e m etodológicas................................................................303.1. Os pressupostos teóricos.........................................................................................................313.2.Metodologia.................................................................................................................................333.2.1. Ostrabalhos de campo...........................................................................................................333.2.2. O registo e a apresentação dos dados gerais...................................................................353.2.3. O registo e a apresentação dos dados relativos aos menires.........................................42 Capítulo 4: História da investigação em Portugal.........................................................................454. História da investigação em Portugal.........................................................................................464.1. Os menires..................................................................................................................................464.1.1. As descobertas.......................................................................................................................464.1.2. As interpretações.......................................................................................................484.1.3. Cronologia.................................................................................................................514.2. O contexto arqueológico: sepulturas, povoados e arte rupestre..................................54Capítulo 5 : As escavações.................................................................................................................585.1.Introdução.......................................................................................................................595.2. O recinto de Vale Maria do Meio..................................................................................605.2.1. A escavação: estruturas e estratigrafia.....................................................................605.2.2. Os materiais..............................................................................................................625.2.3. O monumento e a paisagem......................................................................................645.3. O menir do Monte do Tojal............................................................................................655.3.1. Listagem das Unidades Estratigráficas.....................................................................685.3.2. Listagem dos materiais................................................................................................685.3.3. Avaliação dos resultados.............................................................................................695.4. O recinto do Tojal..........................................................................................................725.4.1. Listagem das Unidades Estratigráficas.......................................................................735.4.2. Listagem dos materiais (registos individuais).............................................................735.4.3. Avaliação dos resultados.............................................................................................735.5. Vale d’El Rei..................................................................................................................765.5.1. A história do monumento e a escavação.....................................................................765.5.2. Estratigrafia.................................................................................................................785.5.3. Listagem de materiais.................................................................................................845.5.4. Comentários................................................................................................................886. S. Sebastião.......................................................................................................................895.6.1. Os antecedentes...........................................................................................................89

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5.6.1. A escavação.................................................................................................................905.6.1. Listagem das Unidades Estratigráficas.......................................................................905.6.2. Avaliação dos resultados.............................................................................................926.6. Síntese dos resultados das escavações..........................................................................100Capítulo 6: Caracterização morfológica dos menires do Alentejo Central....................1026.Caracterização morfológica dos menires do Alentejo Central..........................1036.1. Aspectos preliminares...................................................................................................................1036.1.1. Matéria-prima, forma e dimensões............................................................................1076.2. Decoração.....................................................................................................................1226.2.1. O báculo....................................................................................................................1256.2.2. A Lua e o Quadrilátero..............................................................................................1306.2.3. A Serpente.................................................................................................................1336.2.4. Os Círculos................................................................................................................1356.2.5. Síntese.......................................................................................................................136 Capítulo 7: Os contextos arqueológicos.......................................................................................1257. O contexto arqueológico.................................................................................................1407.1. Menires e conjuntos de menires................................................................................1407.1.1. Os recintos...................................................................................................................1407.1.2. Relações espaciais entre recintos...........................................................................1517.1.3. Recintos e menires isolados..................................................................1527.1.4. Os pares de menires............................................................................................1527.1.5. Os alinhamentos..................................................................................................1537.1.6. Os menires isolados..............................................................................1537.2. Menires e monumentos funerários...................................................................1537.3. Menires e vestígios de habitat...............................................................................1557.4. Menires e arte rupestre.....................................................................................1577.5. Menires e monumentos .naturais.............................................................................165 Capítulo 8: Os contextos paisagísticos...................................................................................1748. Os contextos paisagísticos..............................................................................................1758.1. Geologia....................................................................................................................1768.2. Topografia.................................................................................................................1778.3. Hidrografia...........................................................................................................183 Capítulo 9: Dados e hipóteses para uma leitura cronológica.....................1869. Dados e hipóteses para um aleitura cronológica...................................1869.1. Os dados do Alentejo Central...................................................................................1869.1.1. A Idade do Ferro....................................................................................................1869.1.2. A Idade do Bronze................................................................................................1909.1.3. Neolítico final/Calcolítico......................................................................................1909.1.4. Neolítico antigo/médio...........................................................................................1919.2. Povoados, antas e menires, nas áreas limítrofes.......................................................1959.3. Os dados de outras áreas...........................................................................................1969.4. Síntese e propostas....................................................................................................198 Capítulo 10: Os menires da Península Ibérica................................................................................20510.1. Introdução..................................................................................................................20610.2. Algarve.......................................................................................................................20610.3. Noroeste Peninsular -Centro/Norte de Portugal e Galiza.........................................210

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10.4. Cornija Cantábrica e Pirinéus Ocidentais(Astúrias, Palencia, Cantábria, Burgos e País Basco)................................................................21210.5. Catalunha..................................................................................................................21610.6. Outros........................................................................................................................21810.7. Síntese........................................................................................................................220Capítulo 11: Outras áreas da fachada atlântica..............................................................................22211. Outras áreas da fachada atlântica..................................................................................22311.1. Vendeia......................................................................................................................22311.2. Bretanha..................................................................................................................22611.3. Ilhas Britânicas.......................................................................................................23011.4. Síntese........................................................................................................................234Capítulo 12:Interpretações.............................................................................................................23812.1. Introdução..................................................................................................................23912.2. Os menires: significados e funções............................................................................23912.3. Os primeiros construtores de menires........................................................................24313: Para concluir................................................................................................................22814: Bibliografia...................................................................................................................23115. Anexos.........................................................................................................................27715.1 Mapas........................................................................................................................27815.2. Fotografias................................................................................................................28715.3. Estampas de materiais..............................................................................................307

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AGRADECIMENTOS

Muitas pessoas, directa ou indirectamente, contribuíram para a construção deste trabalho; a todos ficaexpresso o meu sincero agradecimento.Em primeiro lugar, ao Professor Doutor Victor S. Gonçalves, que aceitou orientá-lo e o ajudou a chegar abom termo; mais do que esta tese, devo-lhe, desde os bons tempos da Vidigueira, um apoio eacompanhamente permanentes, uma enorme abertura de espírito.Um agradecimento, por muitas e boas razões, aos meus colegas do Centro de Arqueologia da Universidadede Lisboa, UNIARQ, sempre presentes e disponíveis e cujos padrões de qualidade foram um dos melhoresestímulos para esta empreitada.À Dra. Leonor Rocha, ao Dr. Rui Mataloto, ao Dr. Artur Rocha e à Dra. Alexandra Hemming, colegas quecolaboraram activa e entusiasticamente em várias fases deste projecto que, por diversas razões, se cruzoucom os seus.Aos Professores Victor Hurtado e Leonardo Garcia, queridos amigos e vizinhos, pela troca de ideiasverdadeiramente transfronteiriça. Pelas mesmas razões e por outras, aos Professores Primitiva Bueno e RodrigoBalbínAo Pedro Alvim, ao Rafael Henriques e aos Professores Marciano da Silva e Michael Hoskin, porque meajudaram a tirar os olhos dos cacos e pedras e a olhar os horizontes mais distantes.Ao Professor Alexandre Araújo que me orientou, sem falhas, nalguns problemas geológicos e tectónicos.Várias instituições, de diversas formas, contribuíram para que este trabalho fosse possível.Em primeiro lugar, a Universidade de Lisboa e, dentro desta, o Departamento de História, onde, desde queaqui cheguei, beneficiei dos conhecimentos ou apenas da amizade de Professores excepcionais, num ambientede genuína excelência académica.O Instituto Português de Arqueologia, que aprovou e apoiou financeiramente o projecto MAC-Menires doAlentejo Central, tal como autorizou e aprovou os relatórios das escavações efectuadas, e merece umreconhecimento especial, pelo papel desempenhado, desde a sua criação, na qualificação da Arqueologiaportuguesa.O Instituto Geográfico do Exército, que forneceu a cartografia digital utilizada.A Fundação Eugénio de Almeida, instituição de quem fui bolseiro em 2002 e 2003, e que, para além disso,apoiou as prospecções arqueológicas nas Herdades de que é proprietária e financiou a organização de umColóquio Internacional sobre Megalitismo e Arte Rupestre cujos efeitos colaterais não deixam de pesar nestetrabalho, nem na valorização do património cultural alentejano; um agradecimento muito especial à Dra. Mariado Céu Ramos. A Câmara Municipal de Évora e, em particular, o seu Presidente e Vereador da Cultura, o Dr. José Ernesto deOliveira que, em época de vacas magras, não deixou de apostar na Cultura e no Património. Ainda na CâmaraMunicipal de Évora, devo agradecer o entusiasmo do Prof. Luis Carmelo, do Dr. Rui Arimateia e do Dr.Panagiotis Sarantopoulos, a quem, de diversas formas, muito deve o património cultural eborense; por razõesmenos institucionais, um agradecimento caloroso ao grande fotógrafo José Manuel Rodrigues, ao Dr. FranciscoBilou e ao Dr. João Santos.A Câmara Municipal de Mora e, em particular o Sr. Matos, Presidente da Junta de Freguesia de Pavia, quederam apoio moral e material para a escavação e restauro do recinto do Vale d’El Rei.As Câmaras Municipais de Redondo e Vila Viçosa, que apoiaram a realização da respectivas CartasArqueológicas e, no primeiro caso, também custeou a publicação dos resultados.A Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz, que apoiou o desenho dos menires do Xarez.A Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, que apoiou logisticamente as prospecções no concelho e a

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escavação e restauro do menir do Tojal.A Junta de Freguesia de S. Sebastião, que apoiou a escavação dos menires de S. Sebastião.O Mac Donald Institute e o Institute of Archaeology da Universidade de Cambridge, e, em particular, o Dr.Chris Scarre, que me acolheu e orientou na pesquisa bibliográfica.O Laboratoire d’Archéologie da Universidade de Rennes e, em especial, os colegas e amigos Grégor Marchande Luc Laporte, que me acolheram e orientaram na pesquisa bibliográfica.O Instituto Arqueológico Alemão de Madrid, que me abriu as portas e as estantes da sua excelente biblioteca.O Museo Arqueológico de Badajoz, na pessoa do seu director, Dr. Guillermo Kurtz, vizinho e amigo, peladisponibilidade e apoio.Os meus alunos, que não sendo uma instituição fazem parte dela; é impossível nomeá-los a todos, tantos osque, nestes últimos anos participaram nas escavações e prospecções, ao Sol e à chuva.Por último, mais do que agradecimento, uma permanente gratidão, aos meus filhos e aos meus pais, porquesão o melhor que tenho e por quem, quando me faltam, arranjo forças para lutar.Aos construtores de menires.Ao Alentejo.

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RESUMO

Palavras-chave:Menires; Megalitismo; Neolitização

Com base no estudo dos menires alentejanos, aqui analisados, sobretudo, numa perspectiva simbólica eespacial, e tendo em conta os dados disponíveis, de natureza cronológica, são reavaliados os modelos maiscorrentes sobre o processo de neolitização no Alentejo Central.

A deficiente contextualização arqueológica dos monumentos megalíticos, sobretudo em termos de vestígiosde habitat, quase sempre muito discretos e exigindo metodologias específicas, foi ultrapassada por umextenso programa de prospecções arqueológicas, cujos resultados permitiram, por um lado, umconhecimento aprofundado da paisagem regional e, por outro, estabelecer relações, de ordem espacial, quesão uma das base essenciais deste trabalho. A associação reiterada entre os menires e o povoamento doNeolítico antigo/médio e entre este e a presença de grandes afloramentos graníticos foram, neste aspecto,duas das observações mais fecundas.

A própria avaliação comparativa dos menires da região, no seu conjunto, permitiu definir áreasrelativamente coesas, tipificar monumentos e observar presenças e ausências entre elas.

O enquadramento genérico dos menires do Alentejo Central nas realidades peninsulares e de outras áreasda Europa atlântica, que teve como principal objectivo o estabelecimento de semelhanças e diferenças,permitiu identificar, em relação à Bretanha, fortes evidências de contactos culturais, omissos, de um modogeral, na comparação com as outras áreas.

As relações entre os menires e a paisagem revelaram-se, apesar do carácter truncado dos monumentos,particularmente coerentes. Os festos (e os rios), os relevos destacados no horizonte, as formas locais doterreno, os limites geológicos e os principais eventos astronómicos foram, certamente, integrados nasestratégias de implantação de grande parte dos menires regionais.

A constatação de que alguns recintos megalíticos apresentam plantas em forma de ferradura, para além desugerir paralelos com a Bretanha, remete para o universo simbólico dos concheiros do Tejo/Sado e alargamo leque das analogias entre estes e os primeiros neolíticos do Alentejo Central.

Em conclusão, os menires alentejanos permitem encarar a neolitização da região como obra dos últimoscaçadores-recolectores complexos dos estuários limítrofes, no contexto da adopção do modo de vidaneolítico. O carácter circunscrito dos menires alentejanos e, em particular, dos recintos, seria umaconsequência da própria especificidade daquelas comunidades mesolíticas, no contexto peninsular.

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ABSTRACT

Key-words:Menhirs; Megaliths; Neolitisation

Based on the study of the alentejan menhirs, here analysed mostly in a symbolic and spatial perspective, andcounting with the available chronological data, are reapreciated the most current models about theneolitisation process in the Central Alentejo.

The deficient archaeological contextualisation of the megalithic monuments, mostly in terms of settlementsites – often very discreet and appealing for specific methodologies, has been overcome by an extensiveprogram of archaeological field walking, whose results have allowed, on one hand, a deepened knowledgeof the regional landscape and, on the other hand, to establish spatial relationships which are one of theessential basis of this work. The repeated association between menhirs and the ancient Neolithic settlementsites and between these and the big granite outcrops were, in this aspect, two of the more fruitfulobservations.

The comparative evaluation of the regional menhirs, in the whole, allowed the definition of relativelyconsistent areas, to typify monuments and observe some presences and absences among them.

The generic framing of the menhirs of Central Alentejo in the iberian context, and beyond, which aimed toestablish similarities and differences, allowed the identification strong evidences of cultural contacts withBrittany, not supported by the comparision with the other areas.

The relationships between the menhirs and the landscape, showed to be, in spite of the truncated characterof the monuments, particularly coherent. The ridges (and the rivers), the outstanding features on the horizon,the local shapes of the terrains, the geological frontiers and the main astronomical events, have certainlybeen integrated in the implantation strategies of the most of the menhirs of the region.

The assessment that certain alentejan megalithic enclosures display horseshoe shaped plans, not onlysuggested strong parallels with Brittany, but also points to the symbolic universe of the shell middens of Tejo/Sado and enlarge the array of analogies between them and the first Neolithic settlers of Central Alentejo.

In conclusion, the menhirs of Central Alentejo allow us to face the neolitisation of the region, as anachievement of the last hunter-gatherers of the neighbouring estuaries, in the context of the adoption of theNeolithic lifestyle. The circumscribed character of the alentejan menhirs and, particularly, the megalithicenclosures, would be a consequence of the very specificity of those Mesolithic communities, in the Iberiancontext.

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APRESENTAÇÃO DO PLANO DA OBRA

A divisão em três volumes, ditada por aspectos práticos relacionados com a dimensão do trabalho, materializa,de forma aparentemente inversa, as duas fases fundamentais por que passou a investigação: o Volume 1corresponde à análise e interpretação dos dados, enquanto os Volume 2 e 3 apresentam, sob a forma delistagens, a informação reunida sobre os menires do Alentejo Central e sobre os respectivos contextosarqueológicos, e que serviu de base à construção do Volume 1.Na verdade, a investigação partiu de uma análise e de uma interpretação dos dados disponíveis, no início doprojecto, para o trabalho de campo (prospecção e escavação) que, como se esperava, foi alterando a imageminicial, suscitando novas análises e interpretações.O Volume 1 pode ser dividido em quatro blocos fundamentais.No primeiro, que compreende os Capítulos 1 a 4, equacionam-se as problemáticas (Capítulo 1), define-se otempo e o espaço (Capítulo 2), explicitam-se paradigmas e metodologias (Capítulo 3) e esboça-se, nosaspectos tidos como mais pertinentes, a história da investigação sobre o tema (Capítulo 4).No segundo ponto, que reúne os Capítulos 5 a 11, apresentam-se e analisam-se os dados obtidos nasescavações de cinco monumentos (Capítulo 5) que constituem um ponto prévio à caracterização e análise dosmenires, no que diz respeito à matéria-prima, forma, dimensões e decoração (Capítulo 6); analisam-se, deseguida as diversas formas de associação espacial dos menires entre si e em relação às diferentes categoriasde sítios listados (Capítulo 7), as relações com as paisagens físicas, em que se destaca a geologia, a topografiae a hidrografia, por serem os aspectos mais relevantes e estáveis, (Capítulo 8); apresentam-se e avaliam-seos dados de natureza cronológica disponíveis, numa sequência regressiva (Capítulo 9) e, por último, apresentam-se e relacionam-se com os dados do Alentejo Central, os menires da Península Ibérica (Capítulo 10) e outrosgrupos da fachada atlântica europeia (Capítulo 11).O terceiro bloco, que abarca os Capítulos 12 e 13, trata da discussão dos significados e funções dos menires,no contexto específico do Alentejo Central (Capítulo 12) e das implicações da leitura proposta nos modelosde neolitização do Sudoeste peninsular (Capítulo 13); o Capítulo final, procura traçar, em linhas gerais asprincipais conclusões e perspectivas de investigação futura (Capítulo 14). A bibliografia (Capítulo 15), encerraeste bloco.Por fim, o Volume 1 incorpora, como Anexos, elementos gráficos complementares, nomeadamente os Mapastemáticos, em que foram cartografados aspectos relacionados com os menires e com os respectivos contextosarqueológicos ou paisagísticos, as Fotografias dos povoados e as Estampas dos materiais que pretendemdocumentar questões abordadas no texto.No Volume 2, apresentam-se, sob a forma de fichas descritivas, os menires do Alentejo Central.

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O Volume 3 completa a base de dados de referência, integrando, de uma forma mais resumida, os restantesmonumentos e sítios; separadamente, apresenta-se, no final deste volume, a listagem dos sítios de arte rupestredo Alqueva.

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Capítulo 1: Introdução

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1. IntroduçãoOs menires alentejanos são, ainda hoje, um tema relativamente omisso, no contexto dos estudos sobre a

monumentalidade megalítica europeia. Esta lacuna é perfeitamente compreensível, se nos lembrarmos que amaioria dos monumentos maisinteressantes (pelas dimensões,complexidade e estado deconservação) só começou a serconhecida há cerca de trêsdécadas, enquanto, nas grandesregiões megalíticas da Europaatlântica, os monumentos maisconhecidos o são, pelo menos,desde o século XVIII, ou mesmoantes (Cassen et al. 2000; Burl,1979; 1993; 1999).

Sintomaticamente, quando publicou as primeiras notícias sobre os menires algarvios, Estácio da Veigatinha apenas conhecimento de três casos, todos duvidosos, em Portugal (em Vila Velha de Ródão – Fratel,Monte Fidalgo e Ribeira de Alcafala), embora, ao mesmo tempo, revelasse estar bem informado sobre arealidade francesa, onde estariam, já nessa altura “contados mil seiscentos e trinta e oito menires, distribuídospor oito departamentos, sendo o maior d’entre todos o de Locmariaquer, no Morbihan” (Veiga, 1891, I, 88).

Esta décalage deve-se, em parte, ao acaso. Ainda hoje, extensas áreas do nosso território permanecemvirgens, em termos de prospecção arqueológica intencional, e não são muitos os menires cuja descobertaytenha sido fortuita.

Por outro lado, estes monumentos sempre foram considerados, pelos estudiosos do megalitismo, maisproblemáticos do que os dólmens, quanto ao potencial informativo global e, em parte por isso mesmo, muitomais difíceis de “arrumar” em termos cronológicos e funcionais; de facto, a ausência quase sistemática demobiliário claramente associado aos menires , assim como a desproprção numérivca destes monumentos emrelação aos restantes monumentos megalíticos, foram, naturalmente, factores de desinteresse pelo respectivoestudo arqueológico.

No caso alentejano, outra das razões da descoberta tardia dos menires é o facto de, na sua maioria, seencontrarem tombados, dificultando, por isso, a respectiva identificação e de, por norma, serem constituídospor blocos sem qualquer afeiçoamento aparente, sendo facilmente confundidos com ocorrências naturais,relativamente abundantes nas paisagens graníticas da região.

Um fenómeno que há que ter em conta no estudo destes monumentos e que se relaciona com a aparenteinvisibilidade dos mesmos, é a pressão exercida pelas novas tecnologias agrícolas a partir de meados doséculo vinte, traduzida numa destruição silenciosa e descontrolada, problema veementemente denunciado

Fig. 1.1 - Gravura dos inícios do sec. XVII, representando um recinto circular (Rollright Stones, Oxfordshire) (seg. Burl, 1999: 13)

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pelos pioneiros do estudo do megalitismo alentejano ( Pina, 1971: 160, 161; Gonçalves, 1975: 242).Noutras áreas megalíticas europeias, porém, os menires têm recebido tanto do público, como dos

investigadores e dos poderes oficiais, uma atenção e um interesse muito mais efectivos.Em Portugal, apesar de um certo pessimismo sobre a possibilidade de descodificação do fenómeno

menírico, não deixa de ser revelador do fascínio que estes monumentos exercem, o facto de, nos últimosanos, terem sido publicadas várias obras sobre megalitismo e até sobre pré-história geral, história da arte eantropologia, em cujos conteúdos os menires são um tema muito minoritário, mas, mesmo assim, foram

escolhidos para ilustrar as respectivas capas (Gonçalves, 1992; Fitas, 1997; Gonçalves, 1999; Gonçalves,2000; Cardoso, 2002; Pereira, 2004).

Em contrapartida, curiosamente, no artigo em que, como veremos, foi dado a conhecer o primeiro menira Sul do Tejo, no último quartel do século XIX (Pereira, 1880: 253), apesar de uma parte importante versarsobre o menir e de o autor ter consciência da raridade da descoberta, o texto aparece ilustrado apenas comgravuras de antas (Fig. 4.1).

Infelizmente, muita da atracção que o megalitismo exerce sobre o grande público radica numa literaturafantasiosa que, em contraponto dos esforços e avanços da arqueologia, obscurece os menires e os dólmensentre cerimónias druídicas, visitas de extraterrestres e teorias afins.

Compete-nos, enquanto pré-historiadores, não perder de vista o que sabemos (e o que julgamos saber)sobre os contextos ideológicos, sociais, económicos ou ambientais em que os menires foram “inventados” eusados, e sem os quais muitos disparates podem, aparentemente, fazer sentido.

Como já tive oportunidade de defender noutros lugares, estou convencido de que os dados disponíveispermitem encarar os menires como a primeira manifestação do fenómeno megalítico, no Alentejo Central(Calado, 1999; 2002), e de que é no próprio processo de neolitização das últimas comunidades de caçadores-recolectores do Tejo-Sado que essa inovação ganha sentido.

Esta perspectiva, reforçada por indícios de diversas ordens, surgidos sobretudo na última década, implicauma certa ruptura com a tradição da investigação portuguesa, em que o Mesolítico, o Neolítico Antigo e o

Fig. 1.2 - Capas de algumas publicações recentes, reflectindo o interesse pelo tema dos menires.

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Megalitismo se constituíram como compartimentos relativamente estanques e em que, sobretudo, o primeiro eo último dos elementos deste trinómio seriam totalmente independentes; estes universos paralelos não são,evidentemente, exclusivos da realidade arqueológica portuguesa (Thomas, 1991b).

Sendo claro que a neolitização do Alentejo Central deve ser, quase por definição, integrada na correnteque, de Oriente para Ocidente, atingiu todo o Mediterrâneo e as costas ocidentais da Península Ibérica, aperspectiva em que, à partida, me coloco, exige uma focagem adicional que, de alguma forma, integre, namesma trama de relações, alguns pontos-chave da fachada atlântica europeia.

Efectivamente, se, quer o estudo das últimas sociedades de caçadores-recolectores e, em particular, asque enterraram os seus mortos nos concheiros, quer o estudo do megalitismo têm sido, tradicionalmente,relacionados com o espaço geográfico da europa atlântica (Roche, 1960; Jorge, 1982; Arnaud, 1987; 1993;Gonçalves, 1996), a verdade é que, no mapa da neolitização do nosso território, os olhares se voltamexclusivamente para o mundo mediterrânico.

O estudo dos menires do Alentejo Central exige uma superação destes esquemas unidireccionais e aintegração, num mesmo modelo interpretativo, de realidades que só artificialmente se poderão tratar emseparado. É de regra, entre nós, que os estudos sobre Mesolítico e Neolítico antigo se concentrem emquestões do foro económico e tecnológico; temas como o sagrado, a monumentalidade ou o simbólico seriam,pelos vistos, um exclusivo das sociedades que, a partir do Neolítico médio, construíram antas, fizeram placasde xisto ou até, no limite, sistemas de muralhas simbólicas. Pelo meio, ou ao lado, os estudos de arte rupestreque, em princípio, poderiam funcionar como elo de ligação, constituem, entre nós, um universo aparentementeautista e divorciado de tudo o resto.

As cronologias relativamente baixas em que ocorreram, na Grã-Bretanha, na Irlanda ou na Escandinávia,os primeiros avanços neolitizadores, pareciam, só por si, explicar a coincidência entre a construção dosprimeiros monumentos (nomeadamente megalíticos) e o Neolítico antigo, nessas áreas; pelo contrário, querno eixo reno-danubiano, quer no mediterrânico, a construção de monumentos sempre pareceu desfasada emrelação à adopção do modo de vida camponês. O megalitismo, concebido, por norma, apenas na vertentefunerária, seria, na melhor das hipóteses, o resultado tardio de um processo lento, de consolidação da economiade produção e nunca um dos ingredientes básicos associados à transição mesolítico-neolítico.

O Sul de Portugal e a Bretanha parecem, no entanto, constituir exemplos precoces, no mundo europeu,da emergência, mais ou menos simultânea, do Neolítico e da monumentalidade, representada pela erecçãodos menires mais antigos (Calado, 2002; Cassen, 2000; David Calado et al., 2004).

É claro que poderíamos sempre procurar um imponderável germe oriental nos dados que têm surgido, nosúltimos anos, relativos às grandes estelas decoradas, em contexto económico de caça e recolecção, de que sedestaca o sítio anatólico de Göbekli Tepe (Cauvin, 2000; Verhoeven, 2002); porém, as dificuldades óbviasimpostas pela distância (cronológica e espacial) e a ausência de pontos intermédios, inviabilizam ou, pelomenos, relativizam, a valorização destes antecedentes.

A informação actualmente disponível sobre os menires e que constitui o cerne deste trabalho, sendoparcelar e permitindo, em muitos casos, múltiplas leituras, obriga, mesmo assim, a uma revisão conceptual

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que extravasa, largamente, o próprio tema. Procurei, por um lado, apresentar e criticar a base de dadosreunida, mas explorar, com a contenção indispensável, as respectivas consequências.

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Capítulo 2: Delimitação cronológico-cultural do tema ecaracterização da área de estudo

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2. 1. Âmbito cronológicoEm termos cronológicos, os dados reunidos no volume 2 e, sobretudo, no volume 3, abarcam o

período compreendido entre os meados do VI e os finais do III milénios antes da nossa era, que corresponde,de um modo geral, ao aparecimento e amadurecimento das primeiras sociedades camponesas e das primeirassociedades agro-metalúrgicas, no Sul da Península Ibérica.

Quanto ao limite mais recente, esta opção foi condicionada pela própria definição do conceito de menir,tal como tem vindo a ser tradicionalmente considerado pela investigação pré-histórica, no ocidente peninsular(Gonçalves e Sousa, 2000: 14); na verdade, quase por convenção tácita, os menires têm sido integrados naCultura Megalítica regional, como um fenómeno mais ou menos paralelo aos monumentos megalíticos funeráriose estes, não ultrapassam, por norma, o final do Calcolítico.

É claro que hoje sabemos bem que a utilização de monólitos morfologicamente análogos aos menires pré-históricos, extravasa largamente esse limite, pelo que se torna necessário admitir algumas zonas de sombra,para cujo esclarecimento espero, até certo ponto, contribuir.

Menos consensual, é, naturalmente, o limite mais antigo. Na verdade, depois de uma fase simplificadorae inocente em que, com base em argumentos mal escorados, se aceitava, para os menires em geral, umacronologia tardo-neolítica, surgiram, há pouco mais de uma década, as primeiras objecções e propostasalternativas. Curiosamente, perdida a fé num modelo que parecia, teoricamente, bastante sólido, o pessimismoinstalou-se e os menires revelaram-se um tema muito mais complexo do que parecia e que importava repensar.

O embrião deste trabalho foi, efectivamente, gerado pela ruptura desse esquema cronologico-cultural,que imperou desde meados dos anos setenta; a possibilidade de os menires terem começado a ser erguidosantes dos monumentos megalíticos funerários, implica uma história totalmente diferente na sequência evolutivado megalitismo regional e um retrato muito inovador da personalidade cultural das sociedades do Neolíticoantigo/médio (Calado, 1990; 2002d); o tema ganhou, entretanto, consistência e amplitude com a confirmaçãoda sobrevivência (ou reminiscência) dos menires até à Idade do Ferro (Rocha, 1997, 1999, 2000).

A questão fundamental, e aquela sobre a qual me quero debruçar mais detidamente, é, no entanto, a dagénese dos menires, a qual, provavelmente, se confunde com a própria génese do Megalitismo, em sentidolato, no Alentejo Central. Interessa-me determinar a época e os actores e confrontar o que sobre elesjulgamos saber, com a informação recentemente reunida. O exercício obriga, desde logo, a uma revisão dosmodelos com os quais, com base noutros dados e, sobretudo, em dados de outra natureza, se tem procuradoexplicar a neolitização do ocidente peninsular.

2.2. Âmbito geográficoEm termos geográficos, os limites parecem relativamente nítidos; mesmo assim, é necessário algum artifício,

uma vez que existem sempre zonas periféricas ou de transição. Na verdade, a cartografia dos menires centroalentejanos define, só por si, uma paisagem bastante coesa, mais ou menos coincidente com o território dodistrito de Évora, a Oeste do Guadiana; dentro deste espaço geográfico, é ainda possível agrupar os monumentosem cinco áreas megalíticas, relativamente homogéneas do ponto de vista paisagístico e separadas umas dasoutras por descontinuidades mais ou menos marcadas:

21Menires do Alentejo Central

Fig. 2.1 - Mapa de enquadramento da área de estudo na Península Ibérica

Fig. 2.2 - Limites da área de estudo e dos concelhos

22Manuel Calado

Fig. 2.3 - Mapa hipsométrico do enquadramento da área de estudo.

Fig. 2.4 - Modelo digital de terreno do enquadramento da área de estudo.

23Menires do Alentejo Central

Fig. 2.5 - Mapa dos principais acidentes orohidrográficos do enquadramento da área de estudo.

Fig. 2.6 - Mapa de distribuição do total dos registos (sítios e monumentos).

24Manuel Calado

Fig. 2.8 - Distribuição dos recintos megalíticos, no Alentejo Central; 1: Fontaínhas; 2: Vale d’El Rei; 3: Cuncos; 4:Sideral; 5: Casas de Baixo; 6: Tojal; 7: Almendres; 8: Portela de Mogos; 9: Vale Maria do Meio; 10: Perdigões; 11: Monte da

Ribeira; 12: Xarez. Os círculos indicam os principais grupos propostos.

Fig. 2.7 - Mapa de distribuição dos menires no Alentejo Central.

25Menires do Alentejo Central

1. Área de Évora.Corresponde a uma concentração muito significativa de monumentos, num território relativamente pouco

extenso, com cerca de 15 Km de diâmetro, a Oeste da cidade de Évora; fora deste núcleo central, que incluios três maiores recintos megalíticos da Península Ibérica - Almendres (nº 1), Portela de Mogos (nº 4) e ValeMaria do Meio (nº 2) - e alguns menires de grandes dimensões - Monte dos Almendres (nº 32), S. Sebastião(nº 8), Oliveirinha (nº 27), Mauriz (nº 38), Veladas (nº 36), Vale de Rodrigo (nº 46), localizam-se algunsmenires avulsos, ainda no concelho de Évora e, um pouco para Norte, nos concelhos de Montemor-o-Novoe Arraiolos.Trata-se, sobretudo, de uma área granítica que corresponde, em termos gerais, a terrenos poucoondulados, intercalada de relevos de gnaisse, nas cabeceiras superiores das bacias do Tejo, do Sado e doGuadiana.

2. Área de Reguengos de Monsaraz.Corresponde, basicamente, aos terrenos de rochas granitóides do concelho de Reguengos de Monsaraz.

Os menires organizam-se, aparentemente, em dois sub-grupos: um deles, a Oeste, com dois (ou três) recintose alguns menires isolados, que parece formar uma mancha mais ou menos contínua, na parte Norte do concelho,enquanto o recinto do Xarez (nº 6) aparece relativamente isolado, a ESE dessa área, junto ao Guadiana.Existem ainda alguns menires isolados, dispersos pelo concelho.

3. Área de Pavia.Os menires e os recintos dispersam-se, nesta área, ao longo de uma faixa, de direcção genericamente E-

W, que compreende manchas de gnaisses, granitos e terrenos detríticos. É possível, igualmente, subdividireste grupo em duas unidades, atendendo à distância e às diferenças que os separam: a oriente dos limites daárea megalítica funerária de Pavia, sobre terrenos terciários, localiza-se, relativamente isolado, o recinto dasFontaínhas (nº 10); o outro núcleo, centrado no recinto de Vale d’El Rei (nº 15), integra ainda o menir daCaeira, alguns monólitos duvidosos e os menires relacionados com a necrópole da Tera (nº 14). O menir daGonçala (nº 58) surge deslocado em relação a um ou outro núcleo.

4.Área de CuncosCompreende um conjunto restrito de monumentos, aparentemente organizados em torno do recinto de

Cuncos (nº 7). Trata-se de terrenos de rochas metamórficas, junto aos limites com os tonalitos. Relaciona-sedirectamente com o festo Tejo-Sado.

5. Área do Tojal.Compreende um par de recintos - Tojal (nº 5) e Casas de Baixo (nº 12) - e um menir isolado - Monte do

Tojal (nº 57) - inseridos num contexto monumental muito diversificado, com um conjunto de sepulturasmegalíticas e submegalíticas. Os monumentos ocupam duas pequenas manchas detríticas, rodeadas deafloramentos de rochas granitóides.

26Manuel Calado

Para além destas cinco áreas, onde podemos, aparentemente, rastrear alguns possíveis indicadores deidentidades micro-regionais, existem alguns monólitos dispersos, sempre em articulação com as prováveisfontes de matéria-prima (rochas graníticas ou granitóides) de que se destaca o pequeno conjunto de menires(alguns deles duvidosos) da área do Redondo.

A análise sumária da distribuição dos menires no Alentejo Central permitiria, à partida, definir uma área deestudo mais restrita, excluindo, por exemplo, o concelhos de Estremoz, Borba, Vila Viçosa, Alandroal, Vianado Alentejo e Vendas Novas (Fig. 2.2).

No entanto, o território do actual distrito de Évora, a Oeste do Guadiana (que configura uma área deestudo com cerca de 7100 Km 2), apresenta uma clara unidade geográfica, aferida historicamente pela própriacentralidade natural da cidade de Évora; as raízes deste território remontam, pelo menos, até à época romanae decorrem de uma lógica espacial cujos fundamentos parecem adequar-se razoavelmente ao fenómenomenírico regional. Pretendi, por outro lado, confrontar, numa realidade paisagística bem definida, as presençase ausências de menires. Na verdade, a escassez deste tipo de monumentos na região da serra d’Ossa (Calado,2001a), onde, por diversas razões, as prospecções têm sido, nos últimos anos, particularmente intensas,constituiu uma das questões fundamentais no arranque deste projecto.

Para a caracterização fisiográfica do Alentejo Central, utilizei principalmente os dados sintetizados nosmapas do Atlas do Ambiente (Comissão Nacional do Ambiente), na escala de 1:1 000 000, e as respectivasNotícias Explicativas, a par de outros trabalhos de carácter geográfico, assentes igualmente em cartografia depequena escala (Daveau, 1977: 92, 96; 1985:29, 30; Ferreira, 1981: 18, 20); a imagem resultante beneficiouainda, em alguns aspectos, do conhecimento directo do território, como resultado indirecto do trabalho deprospecção.

Trata-se de uma área que, em termos geomorfológicos, se integra, quase na totalidade, no MaciçoAntigo e, dentro deste, na zona de Ossa-Morena. É atravessada pela chamada falha da Messejana, ou falhado Alentejo, a grande fractura geológica que percorre no sentido SW-NE, todo o Alentejo, prolongando-se,a partir de Campo Maior, pelo território de Espanha (onde é conhecida como falha “de Plasencia”).

No Alentejo Central, o relevo apresenta-se frequentemente muito movimentado (declives entre os 8% eos 35%) nas manchas de rochas metamórficas do complexo xisto-grauváquico, que predomina na região daserra d’Ossa e na serra de Portel; nestes contextos, os recursos aquíferos subterrâneos são muito limitados(com produtividades inferiores a 50 m3-dia/Km2) e os solos com fraco potencial de uso agrícola (classes De E).

Nas áreas de granitos/quatzodioritos/granodioritos/tonalitos e outras rochas magmáticas afins, o relevo énormalmente muito mais suave (declives geralmente inferiores a 4%) e, embora o aquífero subterrâneo sejaigualmente pouco significativo (produtividades inferiores a 50 m3/dia/Km2), os solos são, por regra, maisaptos para a actividade agrícola (dominam as classes B e C); esta paisagem, que constitui, por assim dizer, onúcleo central do Alentejo Central, é determinante na distribuição do megalitismo regional .

Dentro deste grupo, os granitos propriamente ditos aparecem bem representados, estendendo-se, numa

27Menires do Alentejo Central

linha quase contínua, de S. Geraldo (Montemor-o-Novo) por Santana do Campo (Arraiolos) até Pavia (Mora).De um modo geral, dentro das rochas magmáticas, as áreas graníticas aparecem-nos particularmentedesfavorecidas em termos de capacidade de uso dos solos (dominam actualmente as classes D e E - uso nãoagrícola), característica que podemos relacionar com os declives mais acentuados e com uma maiorpedregosidade dos terrenos.

As rochas carbonatadas, por sua vez, definem áreas de relevo ocasionalmente vigoroso (nos rebordos doMaciço Calcário de Estremoz, por exemplo, os declives atingem os 35%), com assinaláveis recursos aquíferossubterrâneos (produtividades entre os 250 e os 300 m3-dia/Km2) e com boas manchas de terras agrícolas,potenciadas pela abundância de água e pela presença de solos argilosos que resultam da alteração dos calcários(terra rossa). Note-se, porém, a ocorrência significativa de extensas áreas com solos muito pedregosos, semqualquer viabilidade para uso agrícola, nomeadamente nas zonas centrais do Maciço Calcário de Estremoz,de substrato dolomítico.

A mancha de terrenos detríticos, correspondente às bordas das bacias terciárias do Tejo e do Sado,abrange boa parte dos concelhos de Montemor-o-Novo e Mora, e quase a totalidade do concelho de VendasNovas. Trata-se de áreas de relevo geralmente pouco acidentado, com fortes limitações em termos decapacidade de uso dos solos, no caso das formações oligocénicas, e em que a rede hidrográfica, densamentehierarquizada, abriu vales de fundo aplanado, preenchidos com aluviões, geralmente aptos para agricultura deregadio; os interflúvios são actualmente terrenos de montado, em que é notório, com raras excepções, o

Fig. 2.9 - Cartografia geológica simplificada do Alentejo Central e localização dos menires.

28Manuel Calado

escasso potencial agrícola (classes D, E e, apenas pontualmente, C).Apesar da importante produtividade actual dos recursos aquíferos subterrâneos que, no troço inferior das

bacias atinge valores superiores a 400 m3 (dia/km2), a elevada profundidade a que se encontra uma boa partedos lençóis freáticos deve ser tomada em consideração, no contexto das épocas que nos interessam. Sãoainda de assinalar as manchas detríticas paleogénicas, algumas das quais intimamente relacionadas com a falhada Messejana. Estas áreas, aparecem como oásis de solos agricultáveis (classes B e C), considerando sobretudoo “deserto” de terrenos xistosos em que se inserem.

Em termos hidrográficos, o Alentejo Central partilha as três principais bacias do Sul do País, que convergemnum ponto localizado algures entre Évora e Arraiolos.

Cursos de água e festos representam, para os tempos pré-históricos e até recentemente, os principaiselementos da rede viária natural da região, que, como veremos, desempenha um papel aparentemente fulcralna distribuição dos principais recintos megalíticos alentejanos.

O Guadiana, cujo leito se encaixa profundamente nos xistos (pontualmente também nos quartzodioritos)é, na verdade, o grande acidente hidrográfico do Alentejo Central, uma vez que o contacto com as outrasbacias é feito apenas através dos troços superiores de alguns dos respectivos afluentes.

Climaticamente, verifica-se, nesta região, uma diminuição progressiva da pluviosidade a par de um aumentoda insolação (com valores médios anuais que atingem as 3000-3100 horas), da radiação solar (que atinge as165 kcal/m2) e das amplitudes térmicas, à medida que, a partir do Oeste, nos aproximamos do Guadiana.Estas elevadas amplitudes térmicas resultam sobretudo da ocorrência de estios “muitíssimo quentes” (mais de33o C, 137 dias, ou mais, com máximo superior a 25o C) (Daveau, 1985: 47, 52).

Orlando Ribeiro observou que “no vale do Guadiana, que é durante o Estio uma fornalha que nenhumvento refresca, as plantas crestam-se com o ar ardente e seco” (Ribeiro, 1987: 107). De entre as causas quepermitem explicar esta conjuntura destaca-se o maciço da serra d’Ossa, que intercepta os ventos húmidos doNoroeste e desencadeia localmente chuvas “orográficas”, sendo, por isso, responsável por uma diminuiçãoda pluviosidade na parte Leste da região; a bacia do Guadiana, por outro lado, é “caminho fácil das influênciasclimáticas continentais”, oriundas dos planaltos da Meseta Sul (Daveau, 1985: 29).

Note-se, em todo o caso que, mesmo mantendo reservas que se impõem sobre a extrapolação dosdados climáticos actuais para épocas para as quais não existem ainda reconstituições paleo-ambientaissuficientes, como é o caso do Alentejo Central, a estabilidade dos principais factores climáticos envolvidos(topografia, continentalidade e direcção dos ventos dominantes) permite admitir que, mesmo com valoresabsolutos distintos, as relações fundamentais se tenham conservado basicamente idênticas.

Em termos ecológicos, as áreas de cotas superiores (Maciços de Elvas, Estremoz, serra d’Ossa eMonfurado), apresentam características fitoclimáticas submediterrâneas, com a presença do zambujeiro (Oleaeuropaea,var. sylvestris), do Pinheiro bravo (Pinus pinaster, var. atlantica), do pinheiro manso (Pinuspinea), do carvalho cerquinho (Quercus faginea) e do sobreiro (Quercus suber).

Nas áreas com cotas mais baixas (com um limite em torno dos 350 m), distingue-se uma zona de tipoibero-mediterrâneo que coincide com a bacia do Guadiana e uma zona de transição que reúne característicasibero-mediterrâneas e submediterrâneas e corresponde aos troços superiores das bacias do Tejo e do Sado.

29Menires do Alentejo Central

Na bacia do Guadiana, as espécies autofíticas dominantes são o zambujeiro e o sobreiro, enquanto nazona de transição, a par da ausência do carvalho cerquinho e dos pinheiros, encontramos as mesmas espéciesque nas anteriores e ainda o zimbro vermelho (Juniperus oxycedrus).

Quanto aos recursos mineiros, de que apenas interessam, no âmbito deste trabalho, as mineralizaçõescupríferas, o Alentejo Central não parece constituir uma região particularmente rica. Destacam-se, no entanto,algumas ocorrências na serra de Monfurado, na serra de Portel e, em especial, na região da serra d’Ossa(Ferreira e Viana, 1956: 528; Carta Mineira de Portugal, 1960; Allan, 1965; Ferreira, 1970:99; Perdigão,1971, 1974; Gonçalves, 1974, 1988; Castro, 1985: 82-84; Domergue, 1987:518).

Outra das matérias-primas cuja presença é altamente pertinente, o anfibolito, encontra-se bem representadana região, em afloramentos que permitiam uma exploração superficial que não parfece ter deixado rastos.

O sílex e outras rochas siliciosas, utilizadas pelo menos desde o Neolítico antigo, ocorrem, sob a forma depequenos seixos rolados, nas cascalheiras quaternárias do Guadiana, embora para as indústrias laminares, osílex fosse certamente proveniente de áreas exteriores ao Alentejo Central; o uso do material do Guadianaparece, em geral, ter sido sobretudo de âmbito local.

Também o quartzito ocorre, na região, exclusivamente nas cascalheiras do Guadiana; a distribuição dosachados avulsos de seixos talhados neste material, demonstram essa proveniência e uma irradiação, com umcerto gradiente, de Leste para Oeste (mapa 8).

30Manuel Calado

Capítulo 3: Considerações teóricas e metodológicas

31Menires do Alentejo Central

3.1. Os pressupostos teóricosProcurei, neste trabalho, tomar em consideração e conjugar as diversas propostas teóricas que, nas

últimas décadas, se têm vindo a confrontar no pensamento arqueológico contemporâneo. Postos de lado oscasos mais exacerbados e radicais de cada corrente, estamos hoje em condições de reconhecer em todas elascontributos críticos positivos e avanços metodológicos que podem enriquecer cumulativa ou alternativamentea investigação arqueológica (Alarcão, 1996; Gallay, 1986). Efectivamente, os anos noventa do século passadoviram surgir tentativas de síntese ou de conciliação que implicam quer o reconhecimento dos pontos fracos edos becos sem saída de alguns paradigmas, quer das propostas mais fecundas que cada um deles gerou(Bradley, 1993; Kohl, 1993; Bell, 1994; Renfrew, 1994a, 1994b; Zubrow, 1994; Shanks e Hodder, 1995;Hodder, 1999).

Na tradição europeia continental e da própria escola onde me integro, adoptei uma valorização básica dotrabalho de campo, da recolha e análise dos dados, consciente, apesar de tudo, da insuficiência das velhascrenças positivistas: não basta, efectivamente, acumular evidências e estas raramente falam por si.

Trata-se, antes de mais, de uma perspectiva integralmente arqueológica, daquelas que nascem, crescem ese reproduzem nos Departamentos de História da nossa tradição cultural. Não procurei, por coerência e poropção, travestir este trabalho de superficiais matizes antropológicos. Evitei, por norma, fundamentarinterpretações em paralelos etnográficos (ou mesmo estudos etno-arqueológicos), embora não deixe de referirautores que se abalançaram nesses terrenos ou de invocar, eu próprio, um ou outro exemplo. É certo que omeu tema de estudo (por ser tão transversal no tempo e no espaço) se presta a exercícios desse tipo; noentanto, prefiro, mesmo que sem muita rigidez, tratá-lo num contexto cultural concreto.

É, pois, numa abordagem muito mais histórica do que neo-arqueológica que este trabalho se tece: ascronologias, por muito instáveis que ainda sejam, são, a par das especificidades geográficas, as referênciasfundamentais em que se procura dar sentido aos cacos e pedras que, não constituindo um fim em si mesmos,são, por definição, uma das principais matérias-primas arqueológicas.

Por formação humanista (e, em parte, por defeito) tenho horror aos números e gráficos, sobretudo quandoeles não fazem mais do que dar roupagem científica àquilo que, por outros meios, já sabíamos ou acreditávamos(Djindjain, 1991: 28); mesmo assim, procurei, modestamente, alguma quantificação dos dados e, das análisesefectuadas, apresentar aqui as mais significativas. Em contrapartida, tenho fascínio pelos mapas e pela relaçãoentre os homens e as paisagens que, em diversas escalas, eles nos permitem visualizar; sou, talvez, nestepormenor, influenciado pela antiga simbiose entre História e Geografia e, indirectamente, pela obra do grandeMestre da minha Universidade que foi Orlando Ribeiro.

A Nova Arqueologia e os seus contributos, pelo menos nas versões mais mitigadas que hoje subsistem,emergem, aqui e ali, de uma forma estruturante, em algumas opções metodológicas. De facto, a tese que aquise defende partiu de um modelo, construído indutivamente, de que resultaram hipóteses testadas por novasinvestigações. E, como seria de esperar, nesse percurso, foram surgindo outras versões e alternativas, comoresultado das novas evidências entretanto avaliadas.

É verdade também que, alertado para o carácter redutor do método hipotético-dedutivo, não recusei

32Manuel Calado

interpretações aparentemente menos escoradas, na expectativa de reavaliações e reformulações inevitáveis. Aarqueologia e a história têm, em suma, como destino, oscilar entre a arte e a ciência, num processo em que aintuição e o teste, a razão e a emoção não são antinomias exclusivas (Gonçalves, 2004: 181). Trata-se, não oesqueçamos, do fenómeno humano como objecto e como sujeito.

Os menires impõem, pela sua própria natureza, a formulação de questões de ordem simbólica e ideológica:nem por isso estarão ausentes deste trabalho algumas reflexões sobre os contextos económicos e tecnológicosque lhes subjazem. Sem partilhar as perspectivas funcionalistas que fizeram furor nos anos sessenta e setenta,procurarei integrar, na medida do possível, o fenómeno e as sociedades que lhe deram origem nas circunstânciasecológicas e demográficas concretas que, mesmo que não tenham sido sempre as causas da mudança são,certamente, elementos a ponderar.

A perspectiva fenomenológica (Ingold, 1993; Tiley, 1994; Bradley, 1998; Cooney, 2000; Scarre, 2002)na relação dos menires com as paisagens, é certamente uma das mais fecundas: são monumentos que, partindode uma determinada percepção das paisagens naturais, lhes acrescentaram significados e condicionaram aleitura.

As questões mais complexas colocam-se, naturalmente, com os recintos megalíticos. Numa escala crescente,importa interpretar, em primeiro lugar, a escolha da própria região, atendendo à concentração peculiar derecintos no Alentejo Central; em seguida, a escolha dos locais, no âmbito da paisagem regional e, por último,a implantação, a forma e a decoração dos monumentos. Na verdade, estes aspectos são abordados, pelaordem inversa, nos capítulos 6, 7 e 8.

A condicionar uma análise deste tipo, como qualquer outra de carácter interpretativo, colocam-se, àcabeça, os problemas cronológicos.

Desde logo, e apesar de partilharem, em maior ou menor grau, um certo número de características comuns,os recintos megalíticos não foram concerteza construídos todos ao mesmo tempo; por outro lado, meniresisolados, monumentos funerários, arte rupestre e povoados implicam, por definição, sincronias e diacroniasem relação aos recintos que, na exacta medida em que os dados o vão permitindo, tendem a revelar-se maiscomplexas.

As cronologias são, portanto, dentro de limites ainda estreitos, abordadas, neste trabalho, cruzando omaior número possível de dados e indícios: associações espaciais, datações radiocarbónicas, artefactos,paralelos; por outro lado, devido ao carácter localizado dos monumentos cujas especificidades apelam paraexplicações muito contextualizadas, poderia afirmar-se que, para além dos menires, é o próprio AlentejoCentral, numa perspectiva paisagística, que constitui o tema deste trabalho.

A paisagem, concebível como área de captação de rescursos ou como território político, não é excluídanesta aproximação; no entanto, a natureza eminentemente simbólica dos menires obriga a uma leitura simbólicadas paisagens que eles requalificaram. Difícil, se não impossível, será destrinçar, na visão do mundo dosconstrutores de menires, esses diferentes níveis de relação.

Os menires representam um novo capítulo na história da arte europeia; efectivamente, é no domínio docomportamento simbólico e cognitivo, que se colocam as questões mais pertinentes e, de certo modo, os

33Menires do Alentejo Central

menires são indissociáveis de um estudo contextual da arte rupestre. Trata-se, evidentemente, “das áreas docomportamento que, ao fim e ao cabo, nos tornam distintivamente humanos e nos separam mais claramentedos animais” (Scarre,1994: 75).

3.2. Metodologia3.2.1. Os trabalhos de campoUma base de dados constitui o terceiro volume deste trabalho; nela, procurei, desde o início, reunir a

informação disponível na bibliografia, genericamente atribuível ao Neolítico e ao Calcolítico, no âmbito daárea de estudo definida. No capítulo seguinte será feita referência, na perspectiva da história da investigação,às principais fontes utilizadas.

Os dados novos que, por muito que nos custe, são o contributo mais sólido num exercício desta natureza,resultaram principalmente de um programa extensivo de prospecções arqueológicas; em boa medida, aeficácia das abordagens macro-espaciais, de ordem paisagística ou territorial, depende fundamentalmente daconsistência dos dados proporcionados pela prospecção de superfície.

Apesar das óbvias limitações que afectam a informação arqueológica de natureza exclusivamente superficial,nomeadamente a falta de estratigrafias, de cronologias absolutas e de dados paleoeconómicos directos, aprospecção é o único método que permite ultrapassar o estudo casuístico dos sítios arqueológicos; estesdeixam de ser vistos como ilhas e, naturalmente, adquirem significados distintos, conforme os contextos emque se inserem, tal como os artefactos que, podendo ser estudados isoladamente, ganham novos sentidos, seintegrados em contextos estratigráficos. Por outras palavras, os “sítios ganham sentido em virtude das suasrelações com outros sítios e com aspectos físicos da paisagem social pré-existente.” (Preucel , 1999: 170) .

De resto, como sabemos, o carácter parcelar da informação de superfície é extensivo a todas as áreas dainvestigação arqueológica, e não só. Os modelos e as interpretações que podemos e devemos produzirassentam, quase todos, em informação muito truncada e, quase por rotina, encontramos na literaturaarqueológica, esse reconhecimento; prospecção, escavação, estudo de artefactos são, entre outras, áreasfundamentais da investigação arqueológica cujas diferenças exigem metodologias próprias e que, em boaverdade, correspondem a escalas de análise distintas e complementares e, cada uma por si, produz resultadosespecíficos, aptos a responder a questões de diversas ordens.

No âmbito deste trabalho, em que se procura valorizar a contextualização regional dos menires centro-alentejanos, a prospecção de superfície foi, desde o início, definida como prioritária.

Muitas das prospecções que efectuei ou dirigi, no Alentejo Central, sobretudo a partir de 1990, inseriram-se em projectos sectoriais, de alcance diacrónico, nomeadamente a elaboração de Cartas Arqueológicasmunicipais (Calado, 1993a; Calado e Mataloto, 2001; e.p.), Inventários Arqueológicos inseridos nos PlanosDirectores Municipais (Calado, 1992; 2003a), Estudos de Impacte Arqueológico (Calado, 1995c; Calado eMataloto, 1999; Calado, 2002b) ou simples levantamentos arqueológicos de propriedades privadas (Gonçalveset al, 1992; Calado, 2001c); outras, enquadraram-se num projecto de investigação académica, concluído em1995, dirigido especificamente para o estudo do povoamento neolítico e calcolítico na região da serra d’Ossa

34Manuel Calado

(Calado, 1995a; 2001a); por último, desde 1997, novas prospecções foram efectuadas no contexto doprojecto MAC (Menires do Alentejo Central), com o apoio do Instituto Português de Arqueologia. Estaúltima fase, que decorreu em paralelo com alguns dos projectos acima mencionados, foi particularmenteorientada para a colmatação de lacunas de prospecção, em áreas que, por diversas razões, não tinham aindasido contempladas.

Tratou-se, na generalidade, de prospecções selectivas, cujos resultados podem, até certo ponto, constituiruma amostragem informal do potencial efectivo da área de estudo (Calado, 2001a). Embora tivessem sidousadas sistematicamente as técnicas clássicas de prospecção “de gabinete”, nomeadamente a análise cartográfica(toponímica, topográfica, geológica e mineira, pedológica, etc.) e aerofotográfica, e, no terreno, a recolha deinformação oral, a verdade é que a grande maioria dos sítios inéditos foi identificada com base na observaçãodirecta e programada do terreno.

Num balanço global, verifica-se que o único tema em que, na minha área de estudo, as prospecções nãoalteraram significativamente a informação de partida, foram as sepulturas megalíticas. O universo funerário,conectável, mais ou menos directamente, com os menires foi, mesmo assim, consideravelmente acrescentado,em particular no que diz respeito às sepulturas que designei como submegalíticas, aquelas que, por serem maisdiscretas e frágeis, escaparam mais frequentemente aos inventários clássicos que tiveram como objecto omegalitismo regional (Leisner e Leisner, 1956; 1959).

A arte rupestre, até há pouco irrelevante no Alentejo Central, veio abrir um capítulo inesperado cujaconjugação com a problemática dos menires, por enquanto apenas esboçada (Calado, 2004), aguarda oestudo detalhado das gravuras e a respectiva publicação.

Foi, no entanto, no âmbito do povoamento neolítico e calcolítico que a estratégia adoptada produziufrutos mais abundantes e diversificados: de uma base de dados irrisória, há quinze anos, passámos para umadensidade notável de sítios de habitat de que se destacam, pela novidade e, como defendo, pela concordânciaespacial com as principais concentrações de menires, os que são enquadráveis no Neolítico antigo/médio(Calado, 1995a; 1995-96; Diniz e Calado, 1997).

Quanto aos menires propriamente ditos, as prospecções sistemáticas permitiram acrescentar dois novosrecintos megalíticos e um bom número de menires isolados ou agrupados em conjuntos, dos quais, em parte,já tive oportunidade de publicar referências mais ou menos circunstanciadas (Calado e Sarantopoulos, 1996;Calado, 1997a; 2000b; 2003b).

Embora sem relevância directa para o tema em estudo, destacaria ainda os efeitos colaterais traduzidos naabertura de “dossiers” em matérias (épocas ou tipos de sítios) sobre as quais se registavam, anteriormente,vazios mal compreendidos, como foi, por exemplo, o caso da I Idade do Ferro (Calado e Mataloto, 1999;Calado, 2002b; Mataloto, 2004) ou que eram totalmente ignorados, como foi o caso dos chamados recintosciclópicos (Calado, 1994-1995). Foram, igualmente, acrescentadas e sistematizadas, as listagens referentesao Bronze final (Calado e Rocha, 1996-1997) e à Idade do Ferro (Calado e Rocha, 1997), no AlentejoCentral.

A natureza dos dados obtidos em prospecção, acarreta, como referi, várias limitações de difícil ultrapassagem.

35Menires do Alentejo Central

Os problemas tafonómicos que afectam, nesta como noutras regiões mediterrânicas, as estratigrafiasneolíticas e os respectivos conteúdos, são também, infelizmente, responsáveis pelo insucesso na obtenção dedados paleoeconómicos directos ou de cronologias absolutas, dados que apenas as escavações arqueológicasmodernas poderiam, em princípio, obter (Calado, 2000b; 2003b); o mesmo se pode, aliás, afirmar, porexemplo, a propósito das questões micro-espaciais relacionadas com as estruturas de habitat (Diniz, 2004).

No contexto deste trabalho, focado prioritariamente nas mais antigas sociedades camponesas da região,também não foi possível avaliar as questões relacionadas com a perenidade dos sítios de habitat: é provávelque, de entre os 845 sítios registados, exista uma ampla variedade de situações, desde os mais efémeros,pelas mais diversas razões, até aos mais duradouros.

À primeira vista, um critério aceitável para ultrapassar tal indefinição poderia ser o da quantidade demateriais recolhidos e da dimensão da área de dispersão dos mesmos. No entanto, a experiência ensina-nosque a escassez de evidências superficiais esconde, muitas vezes drasticamente, as realidades enterradas.

Dado que a lista apresentada não inclui, em princípio, vestígios anteriores ao Neolítico, a classificação deum determinado sítio como sendo de habitat depende, fundamentalmente, da presença de cerâmica. A dúvidamais pertinente, de entre o universo em análise, diz sobretudo respeito aos sítios sem cerâmica, em queocorrem artefactos supostamente de uso habitacional, como são, por exemplo, os dormentes de mós manuais.Esta situação verificou-se repetidamente na área de Pavia, em que, por outro lado, existem indícios de que aconservação das cerâmicas é problemática.

A possibilidade de alguns sítios com cerâmica representarem os restos visíveis de estruturas funerárias,não pode, em última análise, ser descartada, embora, por diversas razões, tal não se aplique, concerteza, àmaioria dos casos em apreço.

Na verdade, a classificação de um sítio como monumento funerário implicou a existência (em rarosexemplares, apenas com base na bibliografia ou na informação oral) de estruturas pétreas ou tumulares, peloque as lacunas que certamente existem serão, principalmente, por defeito. De facto, estão excluídas douniverso funerário registado, modalidades sem monumentalidade aparente que, suspeita-se, corresponderiamàs práticas funerárias das mais antigas sociedades neolíticas da região; por ora, o único sítio deste tipo, pareceser, apesar de algumas reticências entretanto surgidas (Soares, 1995), a gruta do Escoural (Santos, 1971;Araújo et al., 1993; Araújo e Lejeune, 1995).

Por último, é possível que alguns dos vestígios que habitualmente interpretamos como habitacionais,correspondam a instalações de natureza ritual, mesmo que não funerária; porém, com os dados disponíveis,apenas os monumentos e a arte rupestre podem, pacificamente, inscrever-se nesta categoria.

As muitas questões que a prospecção deixa, inevitavelmente, por resolver, levaram-me, desde o iníciodeste projecto, a delinear um programa de escavações, cujas metodologias específicas serão apresentadas nocapítulo 5.

3.2.2. O registo e apresentação dos dados geraisOs dados provenientes das prospecções e das recolhas bibliográficas foram registados numa Base de

36Manuel Calado

Dados informatizada (Access e Excel), em que se consideraram os seguintes campos:

1. Número de inventárioAtribuído sequencialmente, primeiro aos recintos megalíticos e conjuntos de menires, em seguida aos

menires isolados (uns e outros ordenados em função do respectivo peso estimado) e, por fim, a todos osrestantes sítios, ordenados alfabeticamente dentro das folhas da Carta Militar de Portugal, na escala 1:25000,que, por sua vez, foram também ordenadas sequencialmente.

2. DesignaçãoFoi, por norma geral, utilizado o topónimo cartográfico mais próximo (na folha da CMP 1: 25000),

excepto nos sítios recolhidos da bibliografia, em que se manteve, na medida do possível, a designação usadana fonte mais antiga. Como é também habitual, sempre que existem vários sítios referidos pelo mesmotopónimo, foram individualizados pela adição de números sequenciais (Ex. Almendres 1, Almendres 2).Para evitar duplicações e lacunas, foram alterados os números sequenciais de alguns sítios publicados, porforma a que, dentro de cada folha da CMP, não existam sítios com designações idênticas.

3. TipoCom base nos critérios mais ou menos habituais na classificação dos dados de superfície, a informação

reunida foi integrada nas seguintes categorias:

3.1. Achado avulsoComo é habitual, foi atribuída esta classificação aos sítios cujas evidências se resumem a um ou alguns

artefactos dispersos e mal contextualizáveis de que se excluem, por regra, as cerâmicas. Trata-se,provavelmente, na sua maioria, de evidências de tipo off-site, que traduzem actividades pontuais relacionadascom habitats localizados alhures, em áreas mais ou menos próximas, reveladoras em última análise, dasáreas de captação de recursos e das linhas de circulação nos territórios. Outros, porém, e deparei váriasvezes com esta situação, correspondem à ponta de “icebergs”, que, com melhores condições de visibilidadedo terreno, se revelam como verdadeiros sítios de habitat. Um ou outro caso poderia, também, teoricamente,corresponder, como refri a propósito dos habitats, a materiais provenientes de estruturas funerárias destruídas(lâminas de sílex, pontas de seta, ou machados de gume intacto, por exemplo). A informação que os achadosavulsos proporcionam é, em função da natureza dos mesmos, muito problemática; permitem, no entanto,avaliar, em conjunção com a restante informação disponível, aspectos gerais relativos à distribuição dopovoamento, no tempo e no espaço.

3.2. Povoado abertoCorresponde a sítios de habitat implantados em áreas pouco declivosas, logo sem defensabilidade natural,

e geralmente em solos com elevado potencial agrícola relativo. Uma boa parte deles - de acordo com os

37Menires do Alentejo Central

dados praticamente inéditos das escavações que dirigi no Alqueva, em três povoados abertos - Juromenha 1(nº876), Malhada das Mimosas 1 (nº882) e Águas Frias (nº1465), todos com escassa evidência de superfície(Calado, 2002b), assim como das escavações no povoado dos Perdigões (nº2053) (Lago et al., 1998) -devem corresponder a povoados com fossos. Este tipo de estruturas, que só nos últimos anos se tornoupatente na região, encontra inúmeros paralelos, alguns deles já clássicos, em outros sectores do Sudoestepeninsular (Fernandez e Oliva, 1986; Cruz-Auñon et al., 1992; Martin de la Cruz e Miranda, 1988; HurtadoPerez, 1995a; Soares, 1994), sendo, por outro lado, recorrente em muitas outras áreas europeias (Darvill eThomas, 2001; Whittle, 1995).

Conhecem-se, para além disso, dois casos em que povoados abertos revelaram, de uma forma algoinsuspeitada, vestígios de sistemas de muralhas: o Monte da Ponte (nº1854), em Évora (Kalb e Höck, 1997),e o Monte Novo dos Albardeiros (nº2383), em Reguengos de Monsaraz (Gonçalves, 1988-1989), situaçãoque se repete no povoado de San Blas, na margem espanhola do Alqueva (Hurtado Perez, 2002).

3.3. Povoado de alturaForam assim classificados os sítios implantados em locais com evidente defensabilidade natural, no topo

de colinas ou de esporões. Muitos deles podem encerrar estruturas de tipo defensivo, como as escavaçõesdemonstraram no caso do Porto das Carretas (Mourão) (Silva e Soares, 2002), já fora do âmbito destetrabalho, ou no do povoado de S. Pedro (nº1452) e, aparentemente no do S. Gens (nº770) (Redondo)(Calado, 1995a; 2001a; Rui Mataloto, informação pessoal); outros, mesmo sem terem sido escavados, sãofortemente suspeitos de encerrarem sistemas defensivos, atendendo à existência, mais ou menos explícita, deevidências microtopográficas.

Sabemos, hoje, também, que nem todos os povoados de altura, mesmo os que classificamos genericamentecomo calcolíticos (e que, constituem a esmagadora maioria), são fortificados. Esse fenómeno foi perfeitamenteilustrado no Porto das Carretas, onde, por cima das ruínas arrasadas das muralhas do Calcolítico pleno, foramconstruídas cabanas com cerâmica campaniforme associada (Silva e Soares, 2002); essa fase sem fortificaçõesfoi também bem documentada no povoado de Miguens 3 (nº2112) (Alandroal) (Calado, 2002b) e, de umaforma menos inequívoca, no povoado de S. Gens (nº1451) (Alandroal) (Calado, 1993a, Calado, 2002).

3.4. Povoado “megalítico” abertoEste tipo foi definido com base na avaliação dos dados obtidos nos últimos anos, em que se tornou

notória, na região, uma localização preferencial junto de afloramentos destacados, em áreas de relevo poucopronunciado, de vestígios de habitat neolítico e calcolítico e, mais raramente, posterior. Trata-se, em todos oscasos, de terrenos de substrato granitóide, em que os afloramentos, devido sobretudoa fenómenos de erosãodiferencial, se organizam em “ilhas”, separadas por espaços mais ou menos libertos de blocos naturais. Adesignação “megalítico” alude, em sentido directo, aos referidos afloramentos, formados por amontoados deblocos que evocam as arquitecturas megalíticas e, de uma forma menos denotativa, ao facto de se tratar, comoadiante procurarei demonstrar, dos povoados dos presumíveis construtores e utentes dos primeiros monumentos

38Manuel Calado

megalíticos da região.

3.5. Povoado “megalítico” de alturaTrata-se de povoados, de que foram identificados escassos exemplares, que diferem dos anteriores por

se localizarem em locais com algum comando sobre a paisagem envolvente.

3.6. AntaO termo, muito generalizado no Sul do país, tem sido frequentemente usado tanto para referir os

monumentos de maiores dimensões, como as pequenas sepulturas, que outros designam como proto-megalíticas(Leisner e Leisner, 1956; 1959).

Neste trabalho, os monumentos funerários neolíticos e calcolíticos foram, de uma forma simplificada,divididos em dois tipos fundamentais, seguindo, aliás, uma prática com fortes tradições na investigação peninsulare não só: é certo que, como em todas as classificações, existem zonas de indefinição e que, por outro lado,subdivisões mais complexas teriam sido possíveis. A opção prende-se, sobretudo, com a dificuldade de, comos dados disponíveis, classificar, com mais detalhe, uma boa parte dos monumentos; por outro lado, tomei emconsideração um modelo teórico, aparentemente aplicável noutros contextos do megalitismo funerário europeu,em que, mais do que a geometria da planta dos monumentos, se valoriza o modo como se presume quefuncionaram (Barrett, 1988; Bradley, 1998: 62; Cooney, 2000: 16), permitindo ou não o acesso dos vivos aoespaço funerário. Esta linha de separação implica igualmente, na maioria dos casos, que umas (fechadas)correspondam geralmente a enterramentos individuais, enquanto as outras (abertas), contenham, por norma,múltiplas tumulações. Para além destes dois tipos básicos, foram igualmente consideradas as sepulturas defalsa cúpula (tholoi) e as mamoas.

O termo anta foi reservado exclusivamente para os monumentos cujo alçado comportaria, presumivelmente,o acesso repetido. Incluem-se neste tipo tanto os monumentos com corredor, como os que, pelo menosactualmente, não aparentam possuí-lo.

3.7. Sepultura submegalíticaTrata-se estruturas funerárias cuja escala, sobretudo em termos de alçado, as distingue do grupo anterior.

A designação proposta atende apenas aos aspectos dimensionais, sem implicar, portanto, nenhuma posiçãocronológica (Le Roux, 2000: 212). Mesmo que, como vários autores têm vindo a defender, a maioria destesmonumentos seja efectivamente mais antiga (Silva e Soares, 1983; Silva e Soares, 2000; Cardoso et al.,2000), a magreza dos dados provenientes de escavações modernas (e não só), recomenda, por ora, umaclassificação suficientemente aberta para integrar igualmente monumentos que, segundo alguns dadosprovenientes de regiões contíguas (Bueno, 1994; Oliveira, 1998; 2000b), serão provavelmente mais recentes.

3.8. MamoaTrata-se de restos de construções tumulares, mais ou menos bem conservadas, que não aparentam estruturas

39Menires do Alentejo Central

pétreas, quer por, efectivamente, estas nunca tenham existido, quer por terem sido retiradas, quer ainda por seencontrarem, eventualmente, soterradas.

3.9. TholosAs sepulturas de falsa cúpula, ou tholoi, por serem geralmente de difícil detecção, estão certamente

subrepresentadas. Incluiram-se apenas os exemplares razoavelmente bem identificados, quase todos objectode intervenções arqueológicas.

3.10. Pedra com covinhasForam incluídos nesta categoria os painéis decorados com covinhas, associados às quais surgem,

ocasionalmente, sulcos de diversas morfologias mas, em nehum caso, identificáveis com motivos reconhecíveis.Os suportes podem ser constituídos por afloramentos ou por blocos soltos. As antas ou os menires comcovinhas não são incluídos nesta categoria.

3.11. Rocha com gravurasForam inseridas neste tipo, todos as restantes manifestações de arte rupestre, à excepção do Complexo

de Arte Rupeste do Alqueva que, atendendo à natureza dos dados disponíveis, é apresentado, no final doVolume 3, numa tabela autónoma.

3.12. Monumento naturalEsta categoria integra uma selecção de algumas formações rochosas mais proeminentes, na paisagem

regional e que, de uma forma ou de outra, podem ter algum tipo de relação com o objecto deste trabalho.Em alguns casos, trata-se de geomonumentos que a investigação arqueológica tem vindo a associar ao

ambiente das verdadeiras arquitecturas megalíticas (Correia, 1921; Gonçalves, 1970, 1972, 1975; Santos,1974; Oliveira e Oliveira, 1998; Gomes, 1994; Gomes, 2002), apesar do “aviso à navegação” avançadoprudentemente pelos arqueólogos/geólogos dos Serviços Geológicos de Portugal que expressamente evitaramlistar “algumas formações geológicas indicadas erradamente como menires e cromlechs” (Ferreira e Leitão,1983: 182).

Noutros, os critérios de escolha assentaram em associações espaciais sugestivas, em que os afloramentosdestacados se localizam nas proximidades de sítios de habitat neolíticos ou de menires. Procurei, com esteconjunto, a que se poderiam juntar outros exemplares, reunir uma amostra diversificada que ilustre o eventualpapel destes elementos da paisagem natural na estrutura das paisagens culturais megalíticas.

4. CronologiaCom base nos critérios correntes na atribuição cronológica dos dados de superfície (basicamente presenças

e ausências de determinados tipos de artefactos), a informação reunida foi integrada em categorias mais oumenos abertas, conforme a qualidade/quantidade da informação disponível.

40Manuel Calado

4.1. Neolítico antigo/médioEste patamar cronológico pretende incluir, sem, por enquanto, as diferenciar, as evidências que

correspondem, por definição, às primeiras sociedades neolíticas, já instaladas, na região, por volta de 5000a.C. e prolonga-se até meados do IV milénio a.C, altura em que surgiram modelos económicos, sociais ementais muito distintos, a que correspondem, arqueologicamente, novas formas de implantação na paisageme novos tipos de estruturas e artefactos.

Os elementos de diagnóstico disponíveis foram, na sua maior parte, constituídos pela presença de cerâmicascom decoração (impressa, incisa ou plástica) e por lamelas ou micrólitos (mapa 5) ; escasseiam a pedrapolida, as mós e os percutores e, por outro lado, o sílex atinge, frequentemente, percentagens elevadas dentrodas amostras recolhidas.

4.2. Neolítico finalEsta classificação cronológica foi reservada para os sítios (ou, nos casos escavados, as fases) de habitat

em que dominam as cerâmicas carenadas e onde não foram recolhidos bordos espessados. Ocorrem,geralmente, associadas a cerâmica mamilada. Os sítios conhecidos apresentam todos uma notória escassez deartefactos, à superfície, embora os poucos que foram escavados, todos com estruturas negativas, se tenhamrevelado, surpreendentemente, muito bem conservados.

4.3. Neolítico final/CalcolíticoForam incluídos nesta categoria os sítios de habitat em que as formas carenadas estão bem representadas,

mas em que existem igualmente os bordos espessados.

4.4. CalcolíticoOs elementos de diagnóstico que estiveram na base desta categoria, são, no que respeita aos sítios de

habitat, sobretudo os bordos espessados, geralmente acompanhados de pesos de tear (crescentes e placas),barro de cabanas, pedra polida, mós, percutores ou xisto jaspóide; são muito raros e, quase todos provenientesde escavações recentes, os elementos que permitem uma melhor definição cronológica, nomeadamente osque remetem para o final do Calcolítico, como são as cerâmicas campaniformes ou as pontas de tipo Palmela.Também os tholoi foram genericamente incluídos nesta categoria.

4.5.Neolítico/CalcolíticoContempla todos os sítios para os quais não existem elementos fiáveis para um diagnóstico mais

circunstanciado, nomeadamente a maioria dos monumentos funerários e dos achados avulsos e muitos dossítios de habitat.

41Menires do Alentejo Central

5. CoordenadasAs coordenadas dos sítios são apresentadas na Base de Dados geral, em dois campos, correspondendo

o primeiro, ao Meridiano e, o segundo, ao Paralelo. Trata-se de coordenadas Militares (GAUSS), uma vezque a cartografia de base utilizada foi a cartografia digital fornecida pelo Instituto Geográfico do Exército, naescala 1: 250.000. O Programa SIG que permitiu a cartografia automática foi o MapInfo 7.0. As coordenadas,expressas em metros, foram directamente calculadas a partir das folhas 1: 25000 da CMP, nos casos dascartas mais antigas, em que o único sistema de coordenadas rectangulares expresso é o sistema GAUSS, ouconvertidas através do Utilitário “Transformação de Coordenadas” disponibilizado no site do IGEOE (InstitutoGeográfico do Exército), nos casos em que a cartografia militar apresenta expressas as Coordenadasrectangulares UTM (Sistema europeu, 1950) ou em que as mesmas foram obtidas através de GPS.

6. CMPNúmero da Folha da Carta Militar de Portugal.

7. Rigor cartográficoÉ indicada a base cartográfica em que os dados foram publicados ou registados, nos casos em que os

estes foram cartografados pelos métodos tradicionais; estão nesta situação todos os dados recolhidos dabibliografia e uma parte dos dados inéditos.

Nos restantes, quer sejam sítios inéditos quer sejam sítios relocalizados, as coordenadas foram obtidoscom GPS, tendo sido, para este efeito, usado um aparelho de bolso (Garmin, GPS III Plus). Nos sítios queocupam áreas mais extensas, as coordenadas referem-se, como é habitual, a um ponto central.

Para além dos casos em que terá havido erro humano na localização cartográfica dos sítios e que sópodem ser identificados mediante uma revisão no terreno, o rigor cartográfico varia, por definição, em funçãoda escala da base cartográfica utilizada: os erros de localização serão, à partida, mais acentuados nas situaçõesem que foi utilizada cartografia de pequena escala, no caso presente, a escala 1: 100000 - muitas das antaslistadas pelos Leisner (Leisner e Leisner, 1951; 1956; 1959) - ou 1: 50000 - sobretudo as antas inéditasregistadas nas várias Cartas Geológicas - e menos importantes, nos casos, que correspondem à generalidadedos trabalhos mais recentes, em que os dados foram cartografados em extractos de folhas da CMP 1: 25000(Calado, 1993a; 1993c; 1995c; 2001b; 2003a; Calado e Mataloto, 1999; Calado e Mataloto, 2001;Calado e Mataloto, e.p.; Lima, 1992; Mascarenhas, 1995), ou em que foram publicadas as coordenadasobtidas nesse tipo de base cartográfica (Calado, 1995a; Calado, 2001a; Rocha, 1996; 1999; Silva, 1996;1999; Oliveira, 2001). Nesta última situação, teria sido possível distinguir entre as coordenadas apresentadascom arredondamentos diferentes. O rigor ressente-se mais nos casos em que o arredondamento é feito aos100m (Silva, 1996; 1999) ou aos 50 m (Calado, 1995a; Calado, 2001a; Rocha, 1996; 1999). Nos dadosinéditos apresentados neste trabalho, exceptuando os que foram localizados com GPS, reduziu-se oarredondamento para 25 m.

42Manuel Calado

8. ConcelhoEste campo foi preenchido com base nos limites concelhios patentes na CMP 1: 25000 e na cartografia

dos sítios, sendo de admitir alguns erros decorrentes quer de inexactidões contidas na CMP, no que dizrespeito aos limites dos concelhos (algumas delas detectadas e corrigidas), quer dos eventuais erros decartografia.

9. BibliografiaForam registadas, de forma sintética, as principais fontes bibliográficas utilizadas.

10. MateriaisEste campo, refere-se, por norma, apenas aos achados avulsos e aos povoados. Foram discriminados os

principais elementos de diagnóstico cronológico e cultural, tendo em conta que se trata, na esmagadora maioria,de sítios que não foram objecto de escavações arqueológicas nem, na maioria dos casos, do estudo quantitativodos dados de superfície.

No que diz respeito aos sítios escavados, é apresentado, no capítulo 5, uma listagem dos materiais exumadose os desenhos de alguns dos mais significativos.

São apresentados, ainda, em anexo (Capítulo 15.3), os desenhos de materiais, provenientes de recolhasde superfície, em alguns dos sítios de habitat mencionados no texto.

3.2.3. O registo e apresentação dos dados relativos aos meniresDada a especificidade deste trabalho, foi dado um tratamento especial aos menires, em termos de ficha

descritiva (Volume 2). Para além dos campos atrás enunciados, em que foram seguidos preceitos idênticosaos da Base de Dados geral, foram ainda preenchidos os seguintes:

a) Dimensões e formaAs dimensões consideradas foram basicamente aquelas que, por convenção tácita, têm sido utilizadas

pela maioria dos autores, nomeadamente:-C1: Comprimento mensurável, acima do solo (em metros).-C2: Comprimento total; no caso dos menires exentos, trata-se do comprimento real; no caso dos menires

implantados ou fracturados é, geralmente, o comprimento estimado, considerando que, nos menires implantadosa parte enterrada corresponde a 20% do total (em metros).

-L: Largura máxima (em metros).-E: Espessura, medida por um plano perpendicular à Largura máxima (em metros).-P: Peso estimado (em toneladas). Este valor foi calculado de acordo com a seguinte fórmula: P=(C2 x L

x E x Factor de forma x densidade). Os Factores de forma utilizados foram obtidos adaptando os valorescalculados a partir dos volumes dos sólidos regulares, de que resultou a seguinte tabela: menires ovóides=0,52;

43Menires do Alentejo Central

menires cilíndricos=0,65; menires prismáticos=0,76 (Fig. 3.1). Os valores usados para as densidade, foram os seguintes:Granito=2,65; Xisto=2,65; Calcário e Arenito=1,8.

-IAL: Índice de alongamento; corresponde à razão Comprimento (C2)/Largura (L);-IAC: Índice de achatamento; corresponde à razão Largura (L)/Espessura (E).-Forma: As formas consideradas foram, dentro do possível, aquelas que têm sido mais frequentemente

usadas para a descrição dos menires. Foram classificados como Ovóides os menires arredondados cujalargura e/ou espessura diminuem sensivelmente do meio para as extremidades; os menires Cilíndricos sãomenires arredondados cuja largura se mantém constante, na área mesial, na extensão de, pelo menos, umterço do comprimento total do bloco; os menires Prismáticos são blocos de secção transversal geralmentequadrangular ou triangular, em que predominam as arestas angulosas.

b)Contexto Arqueológico: Foram referidas as realidades arqueológicas consideradas mais pertinentespara o enquadramento arqueológico do monumento.

c)Contexto Paisagístico: Foram considerados aspectos como a exposição do terreno em que o monumentose localiza ou o respectivo enquadramento geológico e, eventualmente, outras características da paisagemconsiderados relevantes, nomeadamente de carácter topográfico ou hidrográfico.

Os monumentos foram ordenados em função do peso estimado, dentro das seguintes categorias:1. Recintos e conjuntos2. Menires isolados3. Monumentos desaparecidos4. Monumentos naturais

Fig. 3.1 - Esquema dos factores utilizados para o cálculo do volume dos menires.

44Manuel Calado

A ficha de cada um destes sítios foi acompanhada, sempre que houve condições para tal, pelo desenhodos menires individuais, compreendendo uma vista principal (a face mais regular ou, de alguma forma, commais informação arqueológica) e uma secção transversal, desenhada por um plano considerado maisrepresentativo. Os desenhos, executados na escala 1: 20 e apresentados na escala 1: 40, foram tratadosdigitalmente em Adobe Photoshop e Adobe Illustrator. As decorações foram desenhadas com base naobservação directa e com o apoio de imagens nocturnas, obtidas com luz rasante.

Nos casos em que existiam desenhos publicados, estes foram adaptados graficamente e foi-lhesacrescentada, quando dela careciam, a secção transversal. Também as dimensões dos menires, quandodisponíveis na bibliografia, foram aqui reproduzidas, com uma ou outra adaptação pontual. As medidas inéditasforam obtidas por meio de um pied-de-coulisse especial, com 2 m x 1 m, em alumínio, feito especificamentepara este propósito.

Paralelamente, cada ficha foi acompanhada por uma ou mais imagens fotográficas.Nos cinco sítios que, no contexto deste projecto, foram objecto de escavações/sondagens, é apresentada

documentação gráfica complementar, no capítulo 5.Em termos cartográficos, para além dos mapas de enquadramento geográfico apresentados no capítulo 2,

são reunidos em anexo, no capítulo 15.1, os mapas temáticos, de carácter analítico, e, ao longo do texto,foram incorporados mapas temáticos em áreas ampliadas.

Os mapas foram construídos sobre uma base cartográfica digital, na escala 1: 250000, disponibilizadapelo Instituto Geográfico do Exército e os dados foram cartografados, a partir de uma base de dados emExcel, com Map Info 7.0. A análise e construção de mapas sectoriais foi feita com o auxílio do Map Info ProViewer 7.0.

45Menires do Alentejo Central

Capítulo 4: História da investigação em Portugal

46Manuel Calado

4. História da investigação em Portugal 4.1. Os menires 4.1.1. As descobertas

A mais antiga referência aos menires, no Alentejo Central, deve-se a Gabriel Pereira (Pereira, 1880), queinterpretou como tal um monólito, conhecido localmente como o Padrão do Mouro.

Trata-se efectivamente de um menir de secção transversal achatada, “a recordar a lâmina de um punhalgigante” (Pereira, 1880: 254) - o menir de Vale de Besteiros (nº 39) - que teria sido demolido por camponeses,pouco antes da visita de reconhecimento efectuada pelo arqueólogo eborense.

O monumento relaciona-seigualmente com uma tradição, deorigem renascentista, transcritapelo padre Julião SarmentoGuião, no Dicionário Geográfico(Memórias Paroquiais de 1758)na Memória 204, referente àFreguesia de S. Bento dePomares: “na herdade doGarducho se acha hum vale a quedão o titulo de besteyros e no altodo mesmo vale para a parte doSul distante trezentos paçospouco mais ou menos se achahum pedrão hé tradição levantaraViriato em memória de huma dasvitórias que alcançou o mesmoViriato contra os romanos nomesmo vale de besteyros no simodo dito vale se acha huma fontemanacial de todo o anno de agoaexcelente.” (Guião, 1758)

Tudo indica que terá sido opróprio André de Resende quem, provavelmente partindo de uma interpretação imaginativa do Padrão doMouro e empenhado na construção de uma “história” apologética de Évora, fixou o episódio das “Guerraslusitanas” em S. Bento dos Pomares, inventando, para reforçar o “facto”, uma lápide nada convincente(Encarnação, 1991: 197-198).

Gabriel Pereira que, aparentemente, desconhecia a história da pretensa relação entre o menir e Viriato,estava, no entanto, consciente de que este tipo de megálito era “vulgar noutras partes” mas, ao mesmo tempo,convencido de que era “excepcional no ocidente da península, único representante dessa espécie” (Pereira,

Fig. 4.1 - Ilustração que acompanhava a notícia da descoberta do primeiro menir alentejano (seg. Pereira, 1880: 253).

47Menires do Alentejo Central

1880: 255); na verdade, por essa altura, conhecia-se já, a Norte do Tejo, uma escassa meia dúzia de menires(Ferreira, 1864; Costa, 1868; Vilela, 1876; Silva, 1877). A Sul do Tejo, só em 1891 viriam a ser publicadosos primeiros menires do Algarve, os do Monte de Roma, Monte Branco e Cumeada (Veiga, 1891).

Apesar do interesse de Gabriel Pereira por um tema que, em Portugal, era, nessa altura, ainda praticamenteinédito, o Padrão do Mouro caiu, entretanto, no esquecimento; foi redescoberto e novamente publicado, porPaulo Lima (Lima, 1992), embora sem qualquer tipo de descrição ou referência bibliográfica.

Entretanto, acabou por ser só com Georg Leisner, nos anos quarenta do século vinte (Leisner, 1944), queo tema, ainda que de forma indirecta, voltou a receber alguma atenção. De facto, os arqueólogos alemães,Georg e Vera Leisner, apesar de terem feito um registo bastante exaustivo dos monumentos megalíticos funeráriosalentejanos, passaram literalmente ao lado dos menires e recintos megalíticos. As excepções são constituídaspelo menir associado ao sepulcro de Vale de Rodrigo (nº 46) e pelo recinto de Vale d’El Rei (nº 15), em Pavia,ao qual os descobridores não dedicaram nenhuma atenção especial (Leisner e Leisner, 1956). Publicaram-nocom uma nota breve, juntamente com outros recintos de duvidosa cronologia pré-histórica e com umlevantamento sumário e deficiente. Curiosamente, também este monumento foi esquecido, redescoberto epublicado com outro nome, cerca de duas décadas mais tarde (Zbyszewski et al, 1977).

O casal Leisner publicou também um hipotético (mas improvável) recinto megalítico, de dimensõesdesmesuradas, hoje destruído por trabalhos agrícolas, na área da Tourega, Évora (Leisner e Leisner, 1956).

Ainda nos anos quarenta e cinquenta do século vinte, Manuel Heleno descobriu e anotou, nos seus cadernosde campo, pelo menos mais dois menires: um no interior de uma anta (a anta do Arneiro dos Pinhais, hojedesaparecida), e um outro, junto à povoação de S.Geraldo (nº 67), segundo informação de L. Rocha, quetem vindo a estudar os cadernos inéditos de M. Heleno.

Finalmente, nos anos 60-70, os menires tornaram-se um tema grande da arqueologia pré-histórica alentejana:Henrique Leonor Pina, em Évora e José Pires Gonçalves, em Reguengos de Monsaraz, ambos arqueólogosamadores, descobriram e deram à estampa a maior parte dos mais importantes recintos megalíticos da PenínsulaIbérica: Almendres (nº 1), Portela de Mogos (nº 4) e Xarez (nº 6); descobriram e publicaram ainda um bomnúmero de menires isolados ou recintos de menor entidade, nomeadamente os menires do Outeiro (nº 29), daBelhoa (nº 44), dos Perdigões (nº 13) e das Vidigueiras (nº 56), em Reguengos de Monsaraz, ou os meniresdo Monte dos Almendres (nº 32), de Vale de Cardos (nº 35), da Casbarra 1 (nº 31), da Correia (nº 41), daOliveirinha (nº 27) e das Veladas (nº 36), em Évora. (Pina, 1969, 1971, 1976;Gonçalves, 1970, 1972, 1975).

Quintino Lopes, que integrou com Leonor Pina e Galopim de Carvalho o chamado “Grupo do Hospital”,descobriu, por seu turno, o recinto do Monte da Ribeira (nº 9) (Gonçalves, 1970; Pina, 1971).

Já na década de oitenta do século passado, Pires Gonçalves (Gonçalves, 1981) localizou e publicou osmenires da Pedra Longa (nº 16) e Mário Varela Gomes escavou esses menires, assim como o recinto megalíticode Cuncos (nº 7), que publicou juntamente com referências ao menir da Courela das Casas Novas (nº 48), aomenir do Sideral (nº 42) e aos restos do recinto megalítico das Casa de Baixo (nº 12) (Gomes, 1986).

Nos finais da década, M.V. Gomes escavou o recinto dos Almendres (Gomes, 2002) e Colin Burgess, noâmbito de um projecto de prospecção arqueológica, localizou e publicou os menires de S. Sebastião (nº 8)

48Manuel Calado

(Burgess, 1987: 40).A década de noventa voltou a trazer novidades sobre os menires centro-alentejanos. Foi descoberto e

escavado o recinto de Vale Maria do Meio (nº 2) (Calado e Sarantopoulos, 1996; Calado, 1999) e escavadoo recinto da Portela de Mogos (nº4) (Gomes, 1997); foi ainda descoberto e sondado o recinto do Tojal (nº5),escavado o menir do Monte do Tojal (nº57) (Calado, 2003b) e os menires de S. Sebastião, trabalhos cujosresultados integram o presente estudo. Foram, por outro lado, efectuadas várias campanhas de prospecções,de que resultou um número significativo de novos menires, a maior parte dos quais permanecem inéditos eforam inseridos na base de dados apresentada no segundo volume deste trabalho.

4.1.2. As interpretações As primeiras tentativas de interpretação dos significados e das funções dos menires coincidem, até certoponto, com o nascimento do próprio megalitismo; porém, mais do que os monumentos funerários, os meniresmantêm, ainda hoje, nesse aspecto, uma elevada margem de incerteza. A bibliografia arqueológica portuguesa reflectiu, como seria de esperar, as interpretações surgidas nasáreas megalíticas europeias em que, por diversas razões, os menires chamaram mais precocemente a atençãodos estudiosos.

Gabriel Pereira, no texto em que fez referência a menir de Vale de Besteiros (nº 39), discorreu genericamentesobre os padrões e marcos delimitadores de territórios, sublinhando que estes se implantavam “antigamentecom grande solenidade e formalidades”, “com testemunhas e cerimónias simbólicas” (Pereira, 1880: 254).Trata-se, como veremos, de uma linha interpretativa bastante actual, em que se cruza uma função pragmáticacom um contexto eminentemente simbólico e ritual.

Na década seguinte, tendo em mente, sobretudo, os menires do Algarve, Estácio da Veiga, defendeuigualmente a função de “demarcação de um determinado território”, acrescentando, como alternativa, apossibilidade de que tivessem tido um propósito memorialista “representando um feito memorável ou umaconsagração de piedosa lembrança” (Veiga, 1891, IV: 235).

Sobre os alinhamentos e recintos, o mesmo autor sugeriu, remetendo para as ideias correntes na Europada época, que seriam “campos de reunião pública, em que se tratavam os assuntos mais graves e se procediaà eleição dos chefes (...) ou em que se praticavam solenidades religiosas” (Veiga, 1891, I: 89).

Uma outra versão da função memorialista dos menires fundamenta-se num texto clássico e, nesse aspecto,apresenta um interesse peculiar: “diz Aristóteles (...) que iberos ou hispanos elevavam em volta do túmulotantos monólitos como os inimigos mortos pelo indivíduo nele sepultado. É importantíssima esta passagem porser a mais antiga referência aos menhires e cromeleques (IV século A. C.) e por indicar o motivo de erecçãode alguns, pelo menos. Os grandes alinhamentos comemorariam grandes batalhas.” Alves, 1934: 557-558

Por outro lado, a evidência proporcionada pelo menir de Luzim (Penafiel), um dos primeiros identificadosem Portugal e localizado a poucos metros de uma mamoa, sugeriu, que “embora o significado exacto dosmenhires não esteja estabelecido com absoluta precisão, parece haver uma certa relação entre estes monumentosmegalíticos e práticas rituais funerárias” (Aguiar e Júnior, 1940: 6).

49Menires do Alentejo Central

Na verdade, nos casos em que se localizam nas imediações de sepulturas megalíticas, os menires foramgeralmente interpretados, de uma forma mais ou menos axiomática, como marcos indicadores (Ferreira,1864; Jorge, 1977; Silva e Silva, 1994; Almeida, 1979: 14; Bénéteau, 2000; Cassen et al., 2000); foiprecisamente essa a proposta avançada para o menir centro-alentejano de Vale de Rodrigo, numa época emque, aparentemente, não se conheciam, na região, menires claramente independentes das antas (Leisner,1944).

Porém, a maior parte das propostas posteriores aos anos sessenta do século vinte, em que se procurou jácontextualizar os menires no universo ideológico das primeiras sociedades camponesas, fixou sobretudo odiscurso no suposto carácter fálico dos monólitos, remetendo-os para rituais de fecundidade/fertilidade(Gonçalves, 1970; Zbyszewski et al, 1977). H.L. Pina constitui, neste aspecto, uma excepção notável: apesarde alinhar, em várias passagens, com a interpretação dominante, oscila, frequentemente, entre esta e oantropomorfismo que, por sua vez, lhe sugere “o culto de antepassados ou de divindades” (Pina, 1971: 159)

Outros autores nacionais, na década de setenta, preferiram contornar a questão, limitando-se a apresentarlistas e descrições (Vicente e Martins, 1979), enquanto C. A. Brochado de Almeida, para além dos rituais defertilidade, avançou um leque de outras possibilidades nomeadamente: “locais de descanso para a alma dosmortos” ,“para-raios” ,“calendário solar” , interrogando-se ainda se “seriam ídolos aos quais se prestariamculto e sacrifícios (...)?” ou, recuperando a proposta de Estácio da Veiga, se “recordarão factos importantes,tratados, alianças, feitos de guerra?” (Almeida, 1979: 14).

Paralelamente, a influência da literatura arqueoastronómica inglesa, particularmente os trabalhos deAlexander Thom, G. Hawkins e Fred Hoyl, fez-se sentir, sem grandes consequências imediatas, a partir dosanos setenta; a equipa dos Serviços Geológicos de Portugal, por exemplo, apesar de não ter arriscado qualqueranálise arqueoastronómica, sublinhou a necessidade de se “rever todos os monumentos megalíticos nãofunerários, começando por um levantamento topográfico suficientemente preciso, para permitir um estudocuidadoso das suas características e da sua orientação.” (Zbyszewski et al, 1977: 68); efectivamente, nessemesmo trabalho, os autores apresentaram, com um rigor aceitável, as plantas dos recintos megalíticos dasFontaínhas e do Vale d’El Rei (que designaram como Monte das Figueiras).

Poucos anos depois, Marciano da Silva apresentou, pela primeira vez, em 1980, um trabalho concretocom observações e propostas sobre as orientações astronómicas do recinto dos Almendres e do menir doMonte dos Almendres, trabalho que só viria a ser publicado vinte anos depois (Silva, 2000). Nesta análise,privilegiou-se a orientação solar dos monumentos, particularmente em função do equinócio e do solstício,embora sugerindo já a possibilidade das orientações lunares.

Em meados dos anos oitenta, Mário Varela Gomes tentou também aplicar ao recinto megalítico de Cuncosum modelo interpretativo de base arqueoastronómica (Gomes, 1986). O esquema proposto, nesse artigo,apresenta, porém, duas fortes limitações: por um lado, as supostas orientações, determinadas a partir dasposições relativas dos menires na estrutura do monumento, são altamente discutíveis, uma vez que todos osmonólitos se encontravam tombados e não foram claramente identificados os respectivos alvéolos; por outrolado, as linhas traçadas entre o recinto e outros monumentos (menir da Courela da Casa Nova e do Sideral)

50Manuel Calado

ou acidentes naturais (indicated foresights), nas proximidades do recinto, e às quais o autor atribuíu significadosastronómicos, não podem ser consideradas pelo facto de o recinto ter sido, nesse trabalho, erroneamentecartografado.

Muito recentemente, foram publicadas novas observações de carácter arqueoastronómico, nas quais asorientações lunares ganharam um relevo especial (Silva e Calado, 2003; Silva e Calado, 2004; Alvim, 2004).Trata-se de trabalhos em que as orientações astronómicas são encaradas como o resultado da valorizaçãosimbólica e ritual de certos eventos celestes que e serão comentados, com mais algum detalhe, no capítulo 8.

A obra de Mircea Eliade (Eliade, s.d.; 1974; 1978), historiador das religiões que viveu alguns anos emPortugal, inspirou algumas das leituras em uso sobre significados e funcionalidades simbólicas dos menires.Nessa óptica, os menires

1- teriam funções de axis mundi, ligando o Céu, a Terra e o mundo subterrâneo;2- teriam feito parte de rituais de fundação e consagração, transformando o Caos em Cosmos;3- teriam feito parte de rituais hierogâmicos, enquanto elementos de carácter celeste, fecundando a terra;4- representariam a “essência do universo” (imago mundi) (Gomes, 1979, 1997; Jorge, 1977; 1990).A esta leitura estritamente religiosa, M.V. Gomes acrescentou entretanto uma dimensão ideológica e social:

“os menires isolados ou estruturados são artefactos ideotécnicos conotados com a actividade religiosa(maioritariamente propiciatória destacando-se, por isso, o falimorfismo de grande número dos monólitos) cujaideologia seria, afinal, o maior meio de coesão social” (Gomes, 1986: 15); esta vertente tinha, aliás, sidoavançada, anos antes, por Brochado de Almeida, num artigo em que sublinhou a “importância” da “suafunção sociológica”, defendendo que “só uma sociedade com o sentido da unidade e da coesão pode aspirara concretizar projectos” dessa dimensão (Almeida, 1979: 15).

Mais tarde, M.V. Gomes introduziu, no seu discurso, a função territorial: “verdadeiros axis-mundi,capazes de organizar o espaço, em termos físicos e psicológicos, estruturando o território como “lugarescentrais”, sendo conotados com a fecundidade em geral e ligados às observações e previsões astrais” (Gomes,1994: 339). Noutro texto posterior, sobre o recinto dos Almendres, este foi visto como “ símbolo daautoridade político-religiosa, no seio de populações de economia agro-pastoril e semi-nómadas que habitaramaquela região” (Gomes, 1997: 32)

A vinculação dos menires às questões territoriais tem sido, talvez, uma das opiniões mais consensuais. V.Gonçalves, por exemplo, afirmou que “os menires marcam efectivamente territórios e a sua visibilidade eimpacto simbólico são componentes indispensáveis do processo da sua construção” (Gonçalves, 1999: 58);o mesmo autor, num texto anterior, admitiu outras funcionalidades eventualmente sobrepostas: “culto dafecundidade”, “sinais de orientação na paisagem”, “santuários” e “lugares de observação astronómica”(Gonçalves, 1992).

O carácter antropomórfico dos menires tem sido particularmente defendido por Primitiva Bueno e RodrigoBalbín no contexto dos estudos sobre a arte megalítica ibérica (Bueno-Ramírez, 1990; Balbín-Behrmann eBueno-Ramírez, 1993; Bueno-Ramírez e Balbín-Behrmann, 1996); num trabalho sobre o menir do Monte daRibeira, com V.S. Gonçalves, afirmou-se que “o tema principal é claramente antropomórfico. Pela sua própria

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forma, o menir constitui uma referência à imagem humana” (Gonçalves, Balbín-Behrmann e Bueno-Ramírez,1997: 246), e que esta grafia básica “se entrelaça com as mudanças ideológicas e sociais propiciadas peloestabelecimento dos modos de vida neolíticos” (Gonçalves, Balbín-Behrmann e Bueno-Ramírez, 1997: 247).

Noutro trabalho, apresentado na mesma reunião científica que o anterior, M. V. Gomes defendeu igualmenteo antropomorfismo de alguns menires, aludindo em particular às chamadas estátuas-menires; sugeriu, paraalém disso, que “o falimorfismo de certos monólitos contém clara alusão antropomórfica, reproduzindo algunsnaturalisticamente a glande, com recorte semelhante ao da cabeça humana” (Gomes, 1997: 256).

Também, na mesma ocasião, eu próprio escrevi que “o papel central dos motivos antropomórficos (que,nos menires, se configuraria, em geral, na própria forma do suporte) continua a aparecer-nos como uma daslinhas de força da Arte Megalítica: o Homem torna-se a medida de todas as coisas.” (Calado, 1997: 296)

Parece-me, aliás, pertinente, recordar a observação de Giot, em defesa do carácter antropomórfico dosmenires: “ a sua aparência no horizonte dá, à distância, a impressão de figuras humanas. A ilusão antropomórficaé confirmada por numerosas lendas populares sobre soldados petrificados, dançarinos ou festas de casamento”,não deixando de admitir que os “rituais de fertilidade sugerem outras semelhanças óbvias” (Giot, 1988: 320,321)

Nos últimos anos, reflectindo o impacto dos trabalhos de Ian Hodder, Christopher Tiley, Julian Thomas,Richard Bradley, entre outros, (Hodder, 1990; Tiley, 1996; Thomas, 1991; Bradley, 1993) os menirescomeçaram a ser interpretados, no contexto de uma nova leitura sobre o Neolítico, como formas dedomesticação do espaço (Jorge, 1999; Gomes, 2002), conceito que, até certo ponto, se pode aproximar danoção eliadiana de cosmização do caos; nesta perspectiva, os menires fariam parte de um fenómeno maisamplo de emergência da monumentalidade que, em momentos e lugares diversos, marcaria a mentalidadeneolítica e, talvez sobretudo, de comunidades em vias de neolitização.

4.1.3. A cronologiaAté aos anos setenta do século passado, a posição cronológica dos menires foi, por absoluta falta de

dados, negligenciada; dessa situação resultou m modelo vago, em que menires e antas eram consideradoscomo facetas do mesmo fenómeno cultural, sem que tenha havido sequer qualquer tentativa de atribuição dosmenires a uma das duas grandes fases que, já desde os trabalhos de Manuel Heleno, se desenhavam para osmonumentos funerários.

Estácio da Veiga, por exemplo, manifestou dúvidas sobre a cronologia dos menires de Silves e S. Bartolomeude Messines “cujo lavor ornamental parece excluí-los do período neolítico” (Veiga, 1891, I, 89).

Curiosamente, foi com base numa análise comparativa superficial dos motivos iconográficos patentes nummenir do recinto dos Almendres (menir 57), que Leonor Pina arriscou, pela primeira vez, um enquadramentocronológico (deixando no ar a hipótese de as gravuras serem posteriores à construção do monumento), porvolta dos inícios do III milénio a. C. (Pina, 1971: 154-155).

O carácter tardio dos menires, dentro da sequência megalítica, foi retomado, alguns anos depois, poroutros autores (Gomes, Monteiro e Serrão, 1978), com base sobretudo no pressuposto de que o menir de

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Vale de Rodrigo 1 (nº 46) seria contemporâneo do dólmen de falsa cúpula, em cuja mamoa se insere, e de queessa suposta contemporaneidade seria aplicável à generalidade dos menires.

A sugestão inicial foi entretanto consolidada e desenvolvida num modelo de cariz normativo, em que aconstrução dos menires era considerada obra das populações do Neolítico final, as mesmas que construíramos grandes dolmens de corredor; os menires ou, pelo menos alguns, teriam sido destruídos ou reformuladospela chegada de populações calcolíticas, de origem exterior à região (Monteiro e Gomes, 1978; 1994; 2002;Gomes, Gomes e Santos, 1993).

Essa cronologia, apesar de assentar em evidências extremamente discutíveis e ignorar outras que acontrariavam (Almeida e Ferreira, 1971), não foi, curiosamente, objecto de qualquer reserva por parte dacomunidade científica, uma vez que parecia inserir-se, sem contradições, nas leituras de base marxista, muitoem voga nos anos setenta e oitenta, e conjugar-se com as datas atribuídas aos monumentos, aparentementesimilares, de outras áreas europeias.

Na verdade, os autores da proposta, numa primeira fase, tiveram o cuidado de sublinhar as incertezasainda subsistentes, como se pode apreciar no seguinte excerto: “No Alentejo, (...) pode-se concluir, com aprudência aconselhada pela escassez e insuficiência dos dados, que os menires se associam ao complexocultural megalítico numa fase evolucionada deste, constituindo uma das suas expressões culturais durante oNeolítico Final e o Calcolítico Inicial.” (Monteiro e Gomes, 1979: 365, 366)

Passados alguns anos, porém, aquilo que a princípio era uma mera hipótese de trabalho, tornou-se umaverdade indiscutível: “o Cromeleque de Cuncos constitui um raro testemunho, da ideologia, da superstruturareligiosa e da capacidade técnica das comunidades agro-pastoris, seminómadas, que, no Neolítico final –Calcolítico inicial, em torno aos finais do IV milénio, e na primeira metade do III milénio A.C. (...), frequentaramaquele local do Alto Alentejo.” (Gomes, 1986)

No mesmo sentido, a propósito dos menires e “cromeleques”, escrevia-se que “a colectividade, durantea primeira metade do III milénio a.C., ainda investia prioritariamente o seu esforço na construção de grandesmonumentos funerários ou religiosos, que eram um precioso elemento aglutinador do tecido social” (Jorge,1990: 122).

Em 1990, surgiu a primeira brecha nesta leitura cronológica, assente numa releitura crítica dos dadosdisponíveis e despoletada pela descoberta de dois povoados do Neolítico antigo/médio, nas imediações dorecinto dos Almendres (Gomes, 1989: 264; Calado, 1990); a par dos dados que, por essa altura, começavama subverter as sequências cronológicas bretãs, foi recuperada a interpretação, avançada pelos escavadoresda Anta da Granja de S. Pedro (Almeida e Ferreira, 1971), para quem o monumento funerário teria sidoconstruído sobre dois menires pré-existentes.

De uma forma ainda esboçada e cautelosa, propunha-se, basicamente, que “os menires poderiamrepresentar os primeiros momentos da ocupação da região pelas gentes megalíticas” e sugeria-se já que aNeolitização do Alentejo teria sido “ um movimento de desbravamento de florestas, partindo do litoral para ointerior” (Calado, 1990: 24), sem que, no entanto, se tivesse procurado especificar esses presumidos focos

53Menires do Alentejo Central

de origem.Em 1993, escrevia que “os menires corresponderiam a uma fase de penetração num território virgem,

onde havia que estabelecer bases, abrir caminhos, prospectar recursos” (Calado, 1993b: 299).A identificação dos eventuais responsáveis pela neolitização do Alentejo interior foi, pouco depois assumida,

num texto de 1995, entretanto publicado, nos seguintes termos: “O abandono dos concheiros e o eventualcolapso do modelo económico em que estes floresceram, poderiam estar na origem da instalação dasrespectivas populações no interior alentejano, no limiar dos territórios tradicionalmente explorados com ummodelo económico de largo espectro” (Calado, 2001a: 127).

Este reposicionamento cronológico foi um dos alicerces do modelo interpretativo sobre o qual assenta opresente estudo; nos últimos anos, o trabalho de campo desenvolvido no Alentejo Central (escavações eprospecções), trouxe novos elementos que, contrastados com evidências de outras áreas megalíticas, serãomais à frente apresentados e discutidos em detalhe.

Convém, finalmente, acrescentar que M.V. Gomes reformulou, nos últimos anos (Gomes, 1994; 1996;2000b; 2002) a sua proposta cronológica, mantendo uma sequência de base evolucionista, em que osmenires de pequenas dimensões, como os do Xarez (nº6) (Reguengos de Monsaraz) e do Vale d’El Rei(nº15) (Pavia), seriam mais antigos que os menires grandes, e em que é sugerido algum paralelismo cronológicoe conceptual entre os primeiros e as sepulturas submegalíticas e, por outro lado, entre os segundos e as antas.

A perspectiva cronológica adoptada tem, evidentemente, consequências interpretativas e o autor, referindo-se aos menires que considera mais antigos, afirma que “integram o mesmo contexto outras construções proto-megalíticas, mas com função funerária ou seja, utilizando elementos pétreos de pequenas dimensões e, portanto,demarcando o espaço, ou construindo o território, se preferirmos, embora não se reconheça evidentenecessidade de monumentalizar a paisagem, conforme acontecerá em tempos ulteriores.” (Gomes, 2002:157).

Estas questões serão discutidas, no capítulo 9, em conjugação com a apresentação dos dados de naturezacronológica directa ou indirecta, actualmente disponíveis.

4.2. O contexto arqueológico: sepulturas, povoados e arte rupestreNo Alentejo Central, como nas outras áreas megalíticas do território nacional, as antas começaram a ser

inventariadas na sequência da criação da Real Academia de História setecentista (Pina, 1733).Este impulso inicial teve um desenvolvimento importante, na segunda metade do século dezanove, tendo,

nessa altura, sido dada a conhecer uma série de novos monumentos (Pereira, 1875; 1880; Simões, 1878;Silva, 1878; Nogueira, 1887; Espanca, 1894; Vasconcellos, 1894, 1898; Cartaillac, 1878, 1886), muitos dosquais entretanto danificados ou destruídos.

Já no século vinte, Vergílio Correia levou a cabo o primeiro projecto sistemático, em Portugal, de estudodo megalitismo funerário, num quadro regional (Correia, 1921).

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Quanto ao trabalho de Manuel Heleno (Machado, 1964), cujo mérito tem sido justamente posto emcausa por ter permanecido praticamente todo inédito, só em breve, com a análise e consequente publicaçãodos cadernos de campo, poderemos efectivamente começar a avaliar o respectivo alcance.

Foram, finalmente, os incansáveis arqueólogos alemães Georg e Vera Leisner quem reuniu, ampliou epublicou, de forma exemplar, a base de dados de referência para o conhecimento do megalitismo dolménicocentro-alentejano (Leisner, 1944; Leisner, 1948, 1949; Leisner e Leisner, 1956, 1959).

Posteriormente, houve significativas ampliações da informação coligida pelos investigadores alemães, comoresultado das novas metodologias de prospecção arqueológica, menos dependentes da informação oral;destacam-se os resultados obtidos nas áreas de Pavia (Rocha, 1999) e Redondo (Calado e Mataloto, 2001),em que o número de antas inéditas foi da ordem dos 30 %, e ainda Alandroal (Calado, 1993), Portel (Lima,1992) Arraiolos (Silva e Perdigão, 1998), Montemor-o-Novo (Oliveira, 2001; Calado, 2003b), Évora(Burgess, 1987).

Para além das prospecções, os anos noventa trouxeram, sobretudo no concelho de Reguengos de Monsaraz,importantes avanços que resultaram da escavação, com métodos modernos, de um conjunto de monumentosmegalíticos, de diversas tipologias (Gonçalves, 1992, 1995, 1999, 2002; 2003; Gonçalves e Sousa, 1997,1999; Gomes, 1997; Correia, 2002).

Quanto aos povoados neolíticos e calcolíticos, para além de só terem começado a ser reconhecidosmuito tardiamente, apenas numa mão cheia de casos foram objecto de sondagens ou escavações.

O primeiro a ser publicado foi, provavelmente, o Castelo Velho (nº 1398), no concelho de Alandroal,onde J.L. Vasconcellos reconheceu apenas a ocupação pré-romana, relacionando-o com o santuário deEndovélico, embora o sítio tivesse sido também ocupado no Bronze final, em época islâmica e calcolítica(Vasconcelos, 1895; Calado, 1993a).

Na verdade, coube a Vergílio Correia a identificação, em Pavia, dos primeiros povoados pré-históricosda região. O Castelo de Pavia (nº148) e o povoado de Brissos (nº285, 286) foram, tanto quanto sei, osprimeiros a ser reconhecidos como tal (Correia, 1921).

Décadas mais tarde, foi a vez do Castelo do Giraldo (nº1600) , nos arredores de Évora (Paço e Ventura,1961), povoado que foi também objecto de trabalhos de escavação, tendo apresentado vestígios de ocupaçãocalcolítica, mas também de épocas posteriores; os materiais exumados, deficientemente publicados, tal comoos contextos de recolha, encontram-se depositados no Museu de Évora.

Em 1963, a descoberta acidental da gruta do Escoural (nº 57), cuja ocupação paleolítica ofuscou aimportância dos vestígios neolíticos e calcolíticos (respectivamente, no interior e no exterior da gruta) veiocolocar, no mapa da pré-história regional, mais um povoado calcolítico e, sobretudo, aquele que foi, durantemais um quarto de século, o único sítio do Neolítico antigo interior (Santos, 1964, 1971, 1985; Gomes,Gomes e Santos, 1983).

A natureza da ocupação neolítica da gruta do Escoural, sobretudo das fases mais antigas, a quecorrespondem nomeadamente as cerâmicas cardiais e impressas, permanece mal esclarecida. A revisãocrítica dos dados antigos e a realização de novos trabalhos (Araújo e Lejeune, 1995) permitiram apenasatestar, com relativa segurança, o uso funerário, no Neolítico final.

55Menires do Alentejo Central

Em 1970, foram dados a conhecer, acompanhados da publicação de alguns materiais de superfície, doisoutros povoados calcolíticos, Velhacos (nº1772 ) e Santa Susana (nº1770), ambos no concelho de Redondo(Ventura, 1970; Calado e Mataloto, 2001) e, no ano seguinte, os povoados de Famão (nº460) e Aboboreira(nº455), em Vila Viçosa (Arnaud, 1971).

Em meados dos anos oitenta, C.T. Silva e J. Soares, no âmbito das primeiras prospecções sistemáticas naárea do Regolfo do Alqueva, descobriram e, num caso ou outro, sondaram, alguns povoados pré-históricosnos concelhos de Alandroal, Reguengos de Monsaraz e Portel, sendo de destacar a identificação dos primeirospovoados abertos do Neolítico antigo centro-alentejano (Soares e Silva, 1992). Pouco depois eram igualmenteidentificados, em Évora, dois povoados dessa época, espacialmente conectados com o recinto dos Almendrese com o menir do Monte dos Almendres (Gomes, 1989: 264).

A partir dos finais da década de oitenta, no início daquilo a que V. S.Gonçalves definiu, para a área deReguengos de Monsaraz, como a fase “das novas perspectivas de pesquisa” (Gonçalves, 1999: 149), foidescoberto, escavado e publicado um conjunto de novos sítios do Neolítico final e Calcolítico, nomeadamenteo Monte Novo dos Albardeiros (nº2252), a Torre do Esporão 3 (nº2410) e o Marco dos Albardeiros(nº2348) (Gonçalves, 1988-89, 1989, 1990-91), e identificados novos locais de habitat, como resultado deuma campanha de prospecções centrada na Herdade do Esporão (Gonçalves et al., 1992).

Foi também nos finais dos anos oitenta e inícios dos noventa que, em Évora e Montemor-o-Novo, foilevado a cabo um programas de prospecções arqueológicas, direccionado para o estudo da área envolventedo recinto dos Almendres (Burgess, 1987), de que resultaram alguns novos povoados pré-históricos.

Finalmente, a partir dos anos noventa, o número de povoados neolíticos e calcolíticos, conhecidos noAlentejo Central, disparou para valores antes insuspeitáveis; esses dados foram publicados, na sua maioria,nos inventários já referidos (Lima, 1992; Calado, 1993a, 1995; Silva e Perdigão, 1998; Silva, 1999; Caladoe Mataloto, 2001) ou integram a base de dados apresentada no segundo volume deste trabalho.

O conhecimento sobre o povoamento neolítico e calcolítico do Alentejo Central foi, nestes últimos anos,incrementado por escavações em sítios de diversas épocas e tipos; destacam-se os casos da Valada do Mato(nº1119), em Évora, (Diniz e Calado, 1997; Diniz, 2000; Diniz, 2003b) e do Xarez 12 (nº2139), em Reguengosde Monsaraz, (Gonçalves, 1999, 2002a), com ocupação do Neolítico antigo, no primeiro caso, e Neolíticoantigo e final, no segundo. No contexto de intervenções de salvamento (Alqueva e A6) foram ainda feitascurtas campanhas de escavação em outros sítios do Neolítico antigo/médio, nomeadamente Patalim (nº 66),em Évora (Diniz 2003c) , Xarez de Cima 4 (nº 2166), Fonte dos Sapateiros (nº2105) e Carraça 1 e 2(nº2276), em Reguengos de Monsaraz (Gonçalves, 2002a).

Com datas da segunda metade do IV milénio a. C., destacam-se também as escavações no povoadocom fossos de Juromenha 1 (nº878), no Alandroal; neste mesmo concelho, foram ainda escavados ospovoados das Águas Frias (nº1467) e Malhada das Mimosas 1 (nº884), ambos com ocupações do Neolíticofinal e Calcolítico inicial (Calado, 2002b).

Um quarto povoado com fossos, o dos Perdigões (nº 13), com uma ocupação que parece arrancar noNeolítico final e se prolonga por todo o III milénio a. C., foi escavado nos arredores de Reguengos de

56Manuel Calado

Monsaraz (Lago et al., 1998), tendo, antes disso, sido objecto de uma breve sondagem inédita, ainda nosfinais dos anos oitenta (Gomes, 1989: 259). Trata-se do mais extenso povoado pré-histórico conhecido naregião, com cerca de 15 ha de área cercada por duas linhas de fossos, eventualmente reforçados por muralhasde pedra e com uma necrópole adjacente.

Finalmente, foram também escavados ou sondados alguns povoados calcolíticos, nomeadamente, noconcelho do Alandroal, o povoado de Miguens 3 (nº2114) (Calado, 2002), com cabanas de pedra circularese ocupação da segunda metade do III milénio a. C, com cerâmica campaniforme de tipo internacional, e opovoado de S. Gens (nº1453), com abundantes vestígios de metalurgia do cobre e cerâmica campaniformeinternacional e incisa; no concelho de Évora foram efectuadas sondagens no povoado calcolítico do Monte daPonte (nº1856) (Kalb e Höck, 1997), com muralhas de pedra, cuja cronologia ainda se encontra por esclarecer,mas que se integra provavelmente no Calcolítico pleno.

Outro tema, globalmente relacionável com os menires, que conheceu recentes desenvolvimentos notáveis,foi o da arte rupestre. De facto, até 2001, eram praticamente desconhecidos, no Alentejo Central, vestígios dearte rupestre holocénica, com a excepção das covinhas, que ocorrem em afloramentose blocos soltos dediversas origens geológicas ou em monumentos megalíticos, de todos os tipos.

Para além das covinhas, conheciam-se, desde o princípio do século, dois rochedos graníticos comcruciformes, no concelho de Arraiolos - a Pedra das Taliscas (nº377) e a Pedra das Gamelas(nº376) -(Correia, 1921) e um outro foi dado a conhecer, há cerca de 25 anos, no concelho de Mora - o Penedo dasAlmoinhas (nº378) - o qual inclui igualmente motivos antropomórficos (Zbyszewski et al., 1978).

No topo do cabeço que encerra a gruta do Escoural, tinham sido também observados, em 1963, algunspainéis com covinhas, mas só quase duas décadas depois se identificaram outros temas mais complexos,nomeadamente bucrâneos e um possível arado (Santos, Gomes e Monteiro, 1981: 212, 213).

Mais recentemente, foram descobertos alguns casos isolados de cruciformes, associados ou não a covinhas,nos concelhos de Arraiolos e Redondo, (Calado, 1995; Calado e Mataloto, 2001) e, ainda inédito,umafloramento com motivos circulares, num afloramento de granito, nos arredores de Évora (Porro, nº 93).

Constrastando com esta imagem extremamente modesta, descobriu-se, em 2001, um importante complexode arte rupestre, na área da barragem do Alqueva, com a maior parte das gravuras identificadas integráveis emcronologias epipaleolíticas, neolíticas e calcolíticas, localizadas sobretudo em rochas do leito do próprioGuadiana e dispersas ao longo de cerca de 60 Km do curso deste rio (Calado, 2001b; 2004; Baptista, 2002;Collado, 2004).

É certo que já desde os anos setenta se conheciam gravuras no vale do Guadiana, na área do Pulo doLobo, em Mértola (Baptista e Martins, 1978), aparentadas estilisticamente, tal como a maioria das que foramlocalizadas no Alqueva, com as descobertas, no início dos anos setenta, no vale do Tejo;numa perspectiva deconjunto, tudo indica que as gravuras do Guadiana baixo alentejano (Mértola e Serpa) são uma irradiação apartirdo polo localizado no Molino Manzanès/Casa da Moinhola.

57Menires do Alentejo Central

58Manuel Calado

Capítulo 5: As escavações

59Menires do Alentejo Central

5.1.IntroduçãoA escavação de menires não constitui, em geral, um trabalho muito compensador. A ausência ou, pelo

menos, a escassez de artefactos associados a este tipo de monumentos, tem sido, como referi, um dos motivosmais imediatos de algum desinteresse dos investigadores. As próprias datações radiocarbónicas, de uso quaseuniversal, são dificilmente aplicáveis aos menires, uma vez que as associações entre estes e os materiaisorgânicos passíveis de datação podem ser, e têm sido, justamente questionadas; efectivamente, qualquermaterial recolhido, por exemplo, no interior dos alvéolos de implantação dos monólitos pode, teoricamente,ser muito anterior à abertura dos mesmos.

Em contrapartida, o carácter por vezes muito monumental dos menires e recintos e o facto de, em Portugal,a maioria dos monólitos se encontrar tombada, têm constituído um estímulo para a realização de escavações,cujo objectivo mais imediato é a obtenção de dados que permitam o restauro dos monumentos.

No que respeita aos exemplares a seguir apresentados, esta vertente de valorização patrimonial nãoesteve ausente e, em três dos casos, os trabalhos culminaram mesmo com a anastilose dos menires. Noentanto, os critérios que presidiram à selecção dos sítios a intervencionar foram, prioritariamente, de ordemcientífica; procurei, por um lado, estudar sítios de diferentes tipos (recintos megalíticos morfologicamentedistintos, par de menires e menir isolado) e que, ao mesmo tempo, se distribuíssem de uma forma equilibradano território do Alentejo Central (um recinto e um par de menires, no concelho de Évora, um recinto e ummenir no concelho de Montemor-o-Novo e um recinto em Pavia).

Em termos de metodologia geral, foi importante ter em conta a escassez de artefactos observada naescavação dos Almendres, no final dos anos oitenta; esse aspecto exigiu a utilização de métodos de escavaçãoparticularmente minuciosos, incluindo a crivagem sistemática das terras. Essa opção permitiu reunir, em todosos sítios escavados, um conjunto diminuto, mas nem por isso menos significativo, de artefactos associados aosmonumentos.

Foram detectados, por outro lado, problemas tafonómicos comuns a todos os sítios: mesmo quando osalvéolos dos menires se conservaram total ou parcialmente, o certo é que em nenhum caso sobreviveramestratigrafias positivas.Os materiais provêm, pois exclusivamente, ou quase, da camada superficial, afectadapor fenómenos naturais e antrópicos de várias origens.

Para além destes cinco sítios megalíticos, foram, nos últimos anos, efectuadas escavações, mais ou menosextensas, nos recintos dos Almendres (nº 1) (Gomes, 1997b; 2002), Portela de Mogos (nº 4) (Gomes,1997a), Cuncos (nº 7) (Gomes, 1986) e Xarez (nº 6) (Gomes, 2000b), nos menires de Pedra Longa (nº 16)(Gomes, 1989), Barrocal (nº 28) e Vidigueiras (nº 56) (Gomes, 1997d) e ainda no complexo megalítico daTera (nº 14) (Rocha, 1997, 1999, 2000), todos eles no contexto geográfico do Alentejo Central. Além destes,foram igualmente intervencionados, nos últimos anos, alguns menires isolados e um conjunto de menires(interpretado como recinto), no distrito de Portalegre (Oliveira, 1985; 1997; 1998; Oliveira e Oliveira, 1998;Albergaria e Lago, 1995).

60Manuel Calado

5.2. O recinto de Vale Maria do Meio5.2.1. A escavação: estruturas e estratigrafia.O recinto megalítico de Vale Maria do Meio (nº2) foi descoberto em 1993 e foi prospectada a área

envolvente em 1994; as escavações decorreram no Verão de 1995, tendo, desde essa data, sido objecto devárias publicações (Calado e Sarantopoulos, 1996; Calado, 1997a; Calado, 2000b).

Antes da escavação, os menires foram numerados de 1 a 33, tendo, no decorrer dos trabalhos, sidodescoberto o menir 34.

A maior parte dos monólitos (24) encontrava-se intacta, embora tombada, com maior ou menor inclinação,conservando a base ainda parcialmente implantada no respectivo alvéolo; dos restantes, os menires 12 e 8estavam fracturados (tendo, entretanto, sido satisfatoriamente restaurados), enquanto dos menires 7 e 12,restava apenas a extremidade proximal, embora ainda in situ. Os sete restantes (4, 5, 16, 20, 21 e 24)correspondem, mais propriamente, a fragmentos de menires de que não foi possível recuperar conexões, nemestruturas de implantação. Finalmente, nos casos dos menires 1, 13, 14 e 15, apesar de, aparentemente, seencontrarem todos (com a eventual excepção do primeiro) muito próximos da sua posição original e de seconservarem todos intactos, não foi possível detectar vestígios convincentes das respectivas estruturas deimplantação.

A escavação abrangeu uma área de mais de trezentos metros quadrados, dividida em oito sectores definidosem torno dos menires e duas sanjas perpendiculares, atravessando longitudinal e transversalmente toda a área

Fig. 5.1 - Numeração dos menires e implantação dos Sectores escavados(seg. Calado, 2000b: 176, corrigida).

61Menires do Alentejo Central

Fig. 5.2 - Planta das estruturas de implantação, com sobreposição da planta dos

menires antes da escavação (seg. Calado, 2000b: 177, corrigida).

do recinto.Para além dos próprios menires e das respectivas estruturas de implantação, a estratigrafia resumiu-se à

camada [1], constituída por terra de cor castanha clara e de matriz mais ou menos argilosa; esta UnidadeEstratigráfica revelou-se bastante homogénea em toda a área intervencionada, correspondendo ao horizonteafectado pelas lavouras.

Sob esta camada definiu-se o substrato geológico, na maior parte de teor argiloso, correspondendocertamente ao resultado de processos pedogénicos naturais, anteriores à construção e utilização do monumento,e relacionados com a alteração dos gnaisses subjacentes.

Em vários pontos da área escavada foi possível detectar sulcos de arado no substrato geológico, mais oumenos paralelos às curvas de nível, o que implica que qualquer estratigrafia arqueológica positiva tenha sidoinevitavelmente perturbada por acções pós-deposicionais; na verdade, a observação dos alvéolos de sustentaçãodos menires (em muitos dos quais, reduzidos a uma ligeira depressão, a coroa de sustentação se limitava a umanel de pedras, assente próximo da base do alvéolo) e a sua relação topográfica com a superfície actual doterreno, levam-nos a concluir que não só não se conservaram eventuais estratos de ocupação do monumento,como o próprio solo de ocupação contemporâneo da construção do recinto sofreu fenómenos erosivos, emdiversas escalas.

Concretamente, esses fenómenos erosivos tiveram um efeito muito mais profundo na área central e orientaldo recinto; na extremidade ocidental, onde se localiza a maior concentração de menires, esses efeitos foram

62Manuel Calado

muito paliados, graças, aparentemente, ao obstáculooferecido pelos monólitos à acção erosiva do arado eao facto de o declive ser, aí, ligeiramente menosacentuado.

Note-se que, ao que tudo indica (foram registadosabundantes vestígios romanos, nas imediações,nomeadamente vários pesos de lagar), a área foiintensamente agricultada desde, pelo menos, o iníciodos tempos históricos, até aos nossos dias.

Curiosamente, a própria destruição intencional domonumento remonta, no mínimo, a eesa época, uma vez quea mutilação de vários menires, dos quais foram deixados, in

Fig. 5.4 - Os menires do lado Oeste, após orestauro.

loco, as extremidades proximais e distais, sugere a utilizaçãodas partes mesiais dos monólitos para produção de silhares.Esta hipótese viu-se reforçada pela descoberta daextremidade distal de um menir, num habitat romano dasimediações (cerca de 2 Km a NE do recinto de Vale Mariado Meio).

Foram registadas as estruturas negativas (alvéolos deimplantação dos menires e os respectivos conteúdos (coroasde sustentação e terras de colmatação) de 21 menires (2, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 17, 18, 19, 23, 25, 26, 27, 28,30, 31, 32, 33 e 34). Os alvéolos melhor conservados apresentam um perfil dissimétrico característico,acentuadamente rampado de um dos lados (quase todos, o lado Sul) e abrupto, do outro. A coroa pétrea éinexistente, ou muito rudimentar, no lado mais abrupto e muito robusta no lado oposto. Observou-se igualmente,em todos os casos bem conservados, que os menires tombaram sempre para os lados rampados. Estamoscertamente perante técnicas de erecção dos menires muito padronizadas, com paralelos, aliás, em outrasregiões megalíticas europeias ( Richards e Whitby, 1997: 239; Beneteau, 2000: 222).

A coincidência da orientação dos lados rampados dos alvéolos, parece indicar a direcção de onde seriamprovenientes os respectivos monólitos; de facto, no quadrante a Sul do recinto de Vale Maria do Meio existemnotáveis afloramentos de granito, a cerca de 300 m, enquanto os tonalitos, com afloramentos menos conspícuosafloram, por seu turno, a Norte do recinto, a uma distância sensivelmente idêntica.

5.2.2. Os materiaisTendo em conta a relativa extensão da área escavada, os materiais recolhidos foram muito escassos.

Saliente-se que, à excepção da camada superficial (de onde, aliás, proveio a maioria do material e que foiapenas crivada por amostragem) as restantes (os enchimentos dos alvéolos) foram integralmente crivadas.

Fig. 5.3 - Os menires 9, 10, 11 e 12, tombados para Sul.

63Menires do Alentejo Central

Fig. 5.6 - Materiais líticos da escavação do recinto de Vale Maria do Meio (seg. Calado, 2000b: 174).

Fig. 5.5 - Planta das estruturas de implantação identificadas e localização dos materiais recolhidos. (seg.

Calado, 2000b: 178, corrigido).

64Manuel Calado

.

De entre o espólio destaca-se um fragmento de mó manual de vaivém, em granito, recolhido, juntamentecom algumas pedras, sob o menir 15 e certamente inserido no interior do alvéolo original; na estrutura deimplantação do menir 7, reduzida apenas à parte inferior, identificou-se também um fragmento mesial de uminstrumento de pedra polida, de secção arredondada e corpo picotado; infelizmente, este artefacto foi saqueadopor clandestinos, durante a escavação do alvéolo.

Se exceptuarmos alguns fragmentos de cerâmica muito rolados, em relação aos quais não se pode excluira hipótese de uma cronologia pré-histórica e alguns artefactos genericamente recentes, o resto do espólioconsistiu num conjunto muito diminuto , em relação ao volume de terras escavado, constituído por restos detalhe (alguns com córtex) e artefactos líticos de sílex, de que se destaca uma ponta de flecha transversal, detipo “Montclus” (Fig. 5.6, nº8).

5.2.3.O monumento e a paisagemA escavação confirmou, em boa

parte, a planta aparente do monumento.Trata-se de um recinto alongadosegundo um eixo mais ou menosperpendicular às curvas de nível, comcerca de 37 m de comprimento por 25m de largura.

A orientação do eixo maior ésensivelmente W-E, se considerarmos osmenires mais oriental (menir 25) eocidental (menir 12) do conjunto, embora a linha de menires que conforma o lado Sul, muito rectilínea, sugiraum certo desvio para Norte. Na verdade, conforme já foi sugerido (Silva e Calado, 2004) é possível queexistam duas fases de construção independentes, com um recinto em forma de ferradura, num primeiro momento,e uma adição/remodelação, constituída pelo referido troço rectilíneo, o qual inflecte quase 90º em relação àcurva suave desenhada pelos menires 1, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 (Fig. 7.2). Este “alinhamento” parece orientado emfunção da direcção do nascer da Lua, na Pausa Menor.

O monumento apresenta, no lado ocidental, uma notável concentração de monólitos, quase todos dedimensões destacadas, situados junto ao topo de uma elevação muito suave; o resto do conjunto estende-sena vertente exposta a Nascente, acompanhando a linha do declive.

O menir de maiores dimensões (menir 11) centra-se mais ou menos no lado ocidental, constituindo, como menir 17 e, de uma forma menos clara, com o menir 18, um conjunto independente do perímetro domonumento e indiscutivelmente inserido no interior do recinto.

A planta fechada desta estrutura, inicialmente implícita na interpretação avançada (Calado, 2000b), emconsonância com as leituras em voga (Gomes, 1986; 1989; 1994b; 1997a; 1997b), não me parece hojeaceitável. De facto, como veremos, a descoberta do recinto do Tojal (Montemor-o-Novo) veio permitir-me

Fig. 5.7 - Vista geral do recinto após o restauro.

65Menires do Alentejo Central

repensar este tema e, com base numa revisão dos dados disponíveis, avançar uma leitura alternativa (Capítulo7).

Vale Maria do Meio (nº2) localiza-se, curiosamente, a pouco mais de 1 Km de um outro recinto comcaracterísticas muito semelhantes, o recinto da Portela de Mogos (nº4). Esta proximidade flagrante, que, aliás,se repete noutros casos da região, levou Pedro Alvim a considerá-los um “par de recintos” (Alvim, 2004),conceito aparentemente operativo, que estabelece um certo paralelismo com os pares de menires (Burl,1993). Por outro lado, os dois recintos alinham-se, num esquema de intervisibilidades parciais, com o menirda Casbarra 1 (nº31) e o menir do Mauriz (nº38), ambos monólitos de boas dimensões. Sobre as possíveisimplicações arqueoastronómicas deste alinhamento, que foi já, parcialmente, objecto de duas breves referências(Calado e Rocha, 1996; Silva e Calado, 2004), tratarei no capítulo 8.

Em termos paisagísticos, o monumento de Vale Maria do Meio insere-se na fronteira entre paisagensdiferentes, em termos topográficos e geológicos: os terrenos graníticos, relativamente dobrados e sem vocaçãoagrícola, que se estendem para Sul e Sudeste e onde se encontra uma grande concentração de vestígios dehabitat do Neolítico antigo/médio (mapa 3), os terrenos muito aplanados, de tonalitos, que se estendem paraNorte e Nascente e que correspondem à maioria das paisagens dolménicas (e também agrícolas) da região eainda os terrenos de gnaisse/migmatito que dão corpo aos relevos mais destacados das faldas orientais daserra de Monfurado, onde se localizam os recintos dos Almendres (nº1), da Portela de Mogos e os menires deS. Sebastião (nº8).

Também em termos hidrográficos, a localização do monumento pode ser descrita como uma situação defronteira, uma vez que o Vale Maria do Meio se implanta a cerca de 500 m do festo Tejo-Sado.

5.3. O menir do Monte do TojalO menir do Monte do Tojal (Calado, 2003) (nº57) foi descoberto pelo signatário, nos finais de 1999, no

âmbito de um programa de prospecções de superfície na área do concelho de Montemor-o-Novo.Trata-se de um monólito de granito, com cerca de 2, 35 m de comprimento e cerca de 1,00 m de diâmetro

máximo, na área mesial. Aquando da descoberta, o menir encontrava-se tombado, em posição inclinada, coma base enterrada e o topo ligeiramente acima da superfície do solo. Esta posição constituía, desde logo, umindício claro de que a base do menir se encontrava in situ, aspecto que a escavação confirmou plenamente.

No topo, e apenas na superfície virada para cima, ostentava um conjunto de covinhas de diversas dimensõesque, ao que tudo leva a crer, foram executadas já com o monólito tombado, situação reconhecida num númerorazoável de menires da região, nomeadamente o de Vale de Cardos, o menir central (menir 1) do recinto doXarez (nº6) ou o menir 1 dos Perdigões (nº13).

Em termos de implantação, o menir do Monte do Tojal localiza-se junto ao topo de uma vertente expostaa Nascente, num terreno com uma cobertura de depósitos de idade terciária, de matriz argilosa; trata-se daextremidade meridional de uma elevação dominante, que emerge por entre terrenos enquadrados porafloramentos graníticos, e em cuja extremidade Norte se localiza o recinto megalítico do Tojal; este, foi igualmenteobjecto de uma pequena intervenção de valorização e diagnóstico.

66Manuel Calado

Fig. 5.8 - Implantação do menir do Monte do Tojal.

67Menires do Alentejo Central

Fig. 5.9 - Plantas sequenciais da escavação do menir do Monte do Tojal.

68Manuel Calado

Os trabalhos de escavação decorreram em Abril de 2000 e tiveram como objectivo a obtenção de dadossobre a morfologia e as estruturas de implantação do menir, para além de eventuais informações de naturezacontextual.

A 22 de Junho, como corolário dos trabalhos de escavação, procedeu-se à reimplantação do menir norespectivo alvéolo

No início dos trabalhos, foi implantada uma quadrícula com 8 m2 (4m x 2m) centrada no menir e,posteriormente, referenciada no levantamento topográfico efectuado; com o desenrolar dos trabalhos, optou-se por reduzir a área a intervencionar, pelo que, para além da escavação do enchimento do alvéolo, foramapenas escavados os 2 m2 da extremidade meridional da área inicialmente aberta.

A escavação e o registo dos materiais foram feitos por Unidades Estratigráficas e todas as terras retiradasda escavação foram crivadas, tendo sido prestada uma atenção particular aos sedimentos provenientes dointerior do alvéolo.

5.3.1. Listagem das Unidades Estratigráficas[0] - Camada de terra castanha clara, pouco compacta, com alguns seixos de quartzo, mais ou menos

rolados;[1] - Camada de terra castanha, compacta, com alguns seixos de quartzo, mais ou menos rolados;[2] Estrutura constituída maioritariamente por blocos de granito e alguns blocos de quartzo, de pequena e

média dimensão, que preenchem os limites do alvéolo (U.E. 5) ; não foi desmontada;[3] – Bolsa de terra castanha escura que constitui o enchimento do alvéolo (U.E. 5); não continha materiais

arqueológicos;[4] – Camada de terra castanha ligeiramente avermelhada, com pequenos blocos de quartzo, mais ou

menos rolado, que assentava no substrato geológico e onde foi parcialmente escavado o alvéolo [5];[5] – Estrutura negativa com cerca de 1, 40 m de diâmetro máximo e secção E-W assimétrica, de perfil

mais abrupto no lado E.

5.3.2. Listagem dos materiaisNº U.E. Tipo Fabrico/Material Data Obs.1 1 Bordo Manual 19.04.002 1 Lamela Sílex 19.04.003 1 Lamela Sílex 19.04.004 0 Lamela Sílex 18.04.005 0 Resto de talhe Sílex 18.04.006 0 Buril diedro Sílex 18.04.007 1 Bordo Manual 18.04.008 4 Fundo Manual 22.04.009 4 Bordo Manual 21.04.0010 4 Lasca Sílex 23.04.0011 4 Resto de talhe Sílex 23.04.00

5.3.3. Avaliação dos resultados

69Menires do Alentejo Central

De entre os resultados obtidos na escavação do menir do Tojal, destaca-se, em primeiro lugar, aconfirmação, sem qualquer margem para dúvidas, do respectivo local de implantação, assim como adeterminação das dimensões, forma e estruturas de fixação do monólito.

Apesar de escassos, os artefactos recolhidos fornecem alguma informação pertinente sobre a cronologiado monumento. Os fragmentos cerâmicos são, infelizmente, pouco expressivos: consistem num pequenoconjunto de peças lisas, com bordos simples. Porém, os artefactos de sílex, sobretudo o buril diedro e aslamelas, indicam uma presença, no local, de grupos neolíticos, genericamente enquadráveis no Neolítico antigo/médio.

Na verdade, a escavação de menires e recintos megalíticos centro-alentejanos tem vindo a revelar apresença sistemática de indústrias micro-laminares, a par de uma ausência ou escassez de cerâmicas, o quesugere uma utilização não habitacional desses sítios arqueológicos.

Outro aspecto a registar, pela negativa, foi a ausência de materiais embalados nas terras do enchimento doalvéolo [3], o que pode implicar uma anterioridade da implantação do menir em relação à deposição dosmateriais nas terras que o envolvem.

Fig. 5.10 - Materiais líticos e bordos cerâmios do menir do Monte do Tojal

(seg. Calado, 2003: 366).

70Manuel Calado

Fig. 5.12 - O Menir do Tojal durante a escavação do alvéolo

Fig. 5.11 - O Menir do Tojal antes do início dos trabalhos

71Menires do Alentejo Central

Fig. 5.13 - O menir do Tojal, após a escavação e restauro

Fig. 5.14 - Detalhe das covinhas no topo do menir

72Manuel Calado

5.4. O recinto do TojalO recinto megalítico do Tojal (nº5) foi descoberto, nos finais de 1999, juntamente com o menir do Monte

do Tojal (nº57).Trata-se de um conjunto de 17 menires, de dimensões variáveis, tombados junto ao topo de uma vertente

exposta a Leste, com um declive excepcionalmente acentuado, em relação aos restantes recintos do mesmotipo, conhecidos no Alentejo Central.

Na altura da descoberta, os menires jaziam envoltos em vegetação arbustiva muito densa, atendendo aque o terreno, por ser muito declivoso, não era habitualmente cultivado; efectivamente, de início, só foramreferenciados 16 monólitos, tendo o 17º sido encontrado na sequência da limpeza do terreno.

Os menires distribuem-se em ferradura, com o lado aberto virado a Nascente, e, como referi, foi combase nesta evidência (e numa revisão crítica da restante informação disponível) que reconsiderei a interpretaçãotradicional que considerava os recintos alentejanos como monumentos de planta fechada; de facto, as lacunas(sistemáticas) verificadas no lado oriental dos restantes “cromeleques” da região (Almendres, Portela deMogos, Vale Maria do Meio, Cuncos, Fontaínhas, Vale d’El Rei) permitem levantar a hipótese de ter sidoessa, com algumas variações, a forma matricial da planta destes monumentos.

Outra das características comuns aos grandes recintos megalíticos alentejanos, e igualmente verificada noTojal (Menir 15), é a presença devários menires de maioresdimensões, centrados no ladoocidental do conjunto,apresentando, por norma, o maiorde todos, uma posição ligeiramentedesfasada, para Norte, em relaçãoao eixo maior do monumento.

Os trabalhos efectuados nãopassaram pela remoção dequalquer menir, pelo que nãopodemos afirmar, com segurança,a inexistência de monólitosdecorados; no menir 15, na faceexposta, foi, em todo o caso,identificada uma gravura de épocahistórica – um conjunto de 5triângulos dispostos em cruz, temaque se repete num dos esteios de uma anta, localizada a meia distância entre o recinto e o menir do Tojal –e que devem corresponder a símbolos identificadores de propriedade.

A campanha efectuada no recinto do Tojal consistiu, quase exclusivamente, na limpeza da vegetaçãoarbustiva (e de algumas árvores de menor porte) que infestava o local, ocultando, total ou parcialmente, amaioria dos menires.

Fig. 5.15 - O menir “central” do recinto (menir 15).

73Menires do Alentejo Central

Procedeu-se igualmente à remoção, por meios mecânicos, dos líquenes que recobriam grande parte dassuperfícies expostas dos monólitos.

Fizeram-se, por último, duas pequenas sondagens com 2,25 m2 e 1,5 m2, em torno, respectivamente, dosmenires 15 e 16; pretendeu-se, basicamente, confirmar ou infirmar a existência de estruturas de implantaçãoconservadas.

As sondagens foram efectuadas por Unidades Estratigráficas.

5.4.1. Listagem das Unidades Estratigráficas[0] – Camada de terra castanha muito escura, humosa, contendo alguns materiais de época romana.

Sondagem 1 – Menir 15[1] – Camada de terra castanha clara, identificada apenas na metade ocidental da sondagem, contendo

alguns materiais de época romana/medieval.[2] – Bolsa de terra castanha avermelhada que preenche uma depressão [5], junto à base do menir 15.[3] – Terra muito avermelhada, sem materiais arqueológicos, que parece corresponder ao substrato

geológico; foi sondada, até à base do menir, no quadrante NE da sondagem.[4] – Bolsa de terra castanha escura, com materiais romanos/medievais.[5] – Depressão que pode corresponder aos restos, muito afectados, do alvéolo do menir 15.Sondagem 2 – Menir 16[1] – Camada de terra castanha alaranjada, com alguns materiais romanos/medievais e pré-históricos

(sílex).[2] – Bolsa de terra castanha clara, pouco espessa; sem materiais.[3] – Conjunto de blocos de quartzo e granito de dimensões pequenas e médias, que podem corresponder

aos restos da coroa de sustentação do menir 16.

5.4.2. Listagem dos materiais (registos individuais)Nº Sondagem U.E. Tipo Fabrico/Material Data1 2 1 Bordo extrovertido Roda 27.04.002 2 1 Bordo Roda 27.04.003 2 1 Lasca Sílex 28.04.004 2 1 Resto de talhe Sílex 28.04.005 1 0 Lamela (?) Sílex 29.04.00

5.4.3. Avaliação dos resultadosOs trabalhos realizados, apesar de escassos, permitiram melhorar significativamente a imagem disponível

sobre este sítio arqueológico.Importantes foram, sem dúvida, os trabalhos de limpeza da vegetação que, para além de terem permitido

identificar mais um monólito, revelaram a planta do conjunto, tornando possível o respectivo levantamento

74Manuel Calado

Fig. 5.16 - Plantas da escavação do menir 15 (UE 0 e UE 1)

75Menires do Alentejo Central

Fig. 5.17 - Plantas da escavação do provável alvéolo do menir 15 (UE 2, 3 e 4) e UE 5.

76Manuel Calado

topográfico.Pelo contrário, as duas sondagens foram escassamente conclusivas: a avaliar pela amostra intervencionada,

as estruturas de implantação não parecem encontrar-se em bom estado de conservação; provavelmenteterão sido afectados pela ocupação romana/medieval detectada no local, sendo que o declive acentuado, sópor si, favoreceu certamente os processos erosivos.

Em boa verdade, as sondagens foram demasiado contidas para que se possam extrapolar os resultadospara o conjunto do recinto; no entanto, sabemos que na escavação do recinto de Cuncos, também emMontemor-o-Novo, não se encontrou nenhuma das estruturas de implantação dos menires.

Por outro lado, é praticamente garantido que, pelo menos, o menir 2 conserva ainda as referidas estruturas,atendendo a que se encontra numa posição inclinada, com a base enterrada.

Em última análise, nos menires 15 e 16 e, em particular, no primeiro deles, só poderíamos resolver aquestão, deslocando os menires, uma vez que é muito natural que os próprios monólitos tenham “protegido”o que eventualmente reste das estruturas de implantação. Por razões orçamentais, tal não foi, por enquanto,viável.

Outro aspecto a referir prende-se com o facto de que, mesmo que as estruturas de implantação se tenhamdeteriorado, o recinto apresenta uma planta sem anomalias notórias, o que implica que os menires seconservaram muito próximo do local onde um dia se ergueram.

De entre os materiais romanos/medievais não se recolheram indicadores de cronologias finas: a maioria doespólio dessa época é constituído por fragmentos de imbrex, espessos, e alguma cerâmica comum; recolheu-se ainda um bordo extrovertido que aponta para uma presença da Idade do Ferro de que não se detectou, naárea do recinto, mais nenhum indício.

No entanto, merece ser igualmente mencionada um fragmento de dormente de mó de sela, a cerca de 200m para Sul do recinto do Tojal.

Por fim, e apesar de muito escassos, parece ser muito significativa a presença de restos de talhe e artefactosde sílex, situação que encontra paralelo em todos os recintos intervencionados recentemente no AlentejoCentral e também, de uma forma mais expressiva do que aqui, no menir do Tojal.

5.5. Vale d’El Rei5.5.1. A história do monumento e a escavaçãoO recinto megalítico de Vale d’El Rei (nº15), também conhecido por cromeleque do Monte das Figueiras

foi, pela primeira vez, dado a conhecer, nos anos cinquenta do século vinte, pelos arqueólogos alemães,Georg e Vera Leisner (1956).

O trabalho dos Leisner incidiu, como se sabe, quase exclusivamente sobre o estudo das sepulturasmegalíticas, pelo que a referência ao recinto de Vale d’El Rei constitui uma excepção, relegada, aliás, parauma espécie de apêndice, onde foram reunidos monumentos de diversas índoles (tanto em termos morfológicoscomo cronológicos) tendo, como denominador comum, um certo “ar” megalítico.

Embora, no texto, o recinto tenha merecido apenas uma breve menção, os autores entenderam por bem

77Menires do Alentejo Central

incluir no trabalho, para além de uma planta poucorigorosa, uma excelente fotografia do local.

De resto, essa referência passou de tal formadespercebida que, nos anos setenta, a equipa dosserviços Geológicos de Portugal voltou a“descobrir” o monumento, rebaptizado, desta vez,como cromeleque do Monte das Figueiras(Zbyszewski et al., 1977). Esta equipa publicoutambém algumas fotografias e uma nova plantado recinto, agora de forma suficientementerigorosa.

Apesar de o monumento ser conhecido e,até certo ponto, protegido pela família Mexia,proprietária da Herdade, em finais dos anossetenta, um rendeiro procedeu, de moto proprio,à desmontagem e amontoamento dos dozemenires que o constituíam, com a finalidade delibertar o terreno e facilitar as lavouras.

Os objectivos da escavação centraram-se naobtenção de artefactos e, eventualmente,ecofactos que permitissem contextualizar omonumento, assim como das evidênciasestruturais necessárias para a subsequenterecuperação da sua forma original.

As plantas e as fotografias do recinto deVale d’El Rei, antes de ter sido desmantelado,constituíram o ponto de partida para asdecisões sobre onde escavar; tive, para alémdo material publicado, acesso a algumas fotosdo arquivo pessoal dos proprietários daherdade.

Através de recolha de informação oral, foipossível, antes da escavação, concluir que ostrabalhos agrícolas, posteriores à destruiçãodo recinto, tinham sido apenas muitosuperficiais, sendo, por isso, muito pouco provável que os alvéolos dos menires tivessem sido seriamenteafectados; por outro lado, parti do princípio de que, por razões práticas (economia de meios), pelo menos um

Fig. 5.20 - Aspecto do local, após a retirada dos menires e antes do início da escavação.

Fig. 5.18 - Família do proprietário, no recinto de Vale d’El Rei (anos 60).

Fig. 5.19 - O amontoado de menires, antes do início dostrabalhos (seg. Rocha, 1999: 225)

78Manuel Calado

dos menires não deveria ter sido arrancado e de que os restantes teriam sido acumulados por cima dele.Observando o amontoado de menires, havia efectivamente um que parecia ilustrar essa suposição: era o únicoque aparecia inclinado e, aparentemente, com a base semi-enterrada, pelo que só restava identificá-lo, naplanta, entre os doze que originalmente integravam o monumento.

Foi o facto de um dos informadores se recordar da existência, antes da destruição, de um arbusto(murteira) que ainda existe actualmente junto do menir inclinado, que permitiu, com relativa segurança, resolvera questão. De facto, as fotografias antigas onde o arbusto aparecia visível, levaram-me a identificá-lo como omenir 7 (da numeração proposta por Zbyszewski et al., 1977).

Procurei, com base na planta publicada pelos investigadores dos Serviços Geológicos de Portugal, implantaruma malha de escavação e, dentro dela, definir as áreas a escavar, em função da posição aproximada quedeveriam ocupar os alvéolos dos menires.

Foi, assim, possível rentabilizar os limitados meios disponíveis e efectuar uma escavação meticulosa, comcrivagem integral das terras escavadas, o que permitiu reunir um pequeno conjunto coerente de artefactos,provavelmente relacionáveis com a utilização do monumento.

A área da escavação foi concebida de forma flexível, tendo sido alargada ou encurtada em função dosresultados obtidos e foi feita, sempre que possível, na ordem inversa da deposição das unidades estratigráficas.

5.5.2. Estratigrafia[0] – Camada superficial, composta por terra castanha clara, com seixos rolados de quartzo, revolvida

pelas lavouras. Assenta, em toda a área do monumento, no substrato geológico ou no topo das coroas dosmenires (e, em metade dos casos, também nos restos das bases dos menires).

[1] – Menir de granito, intacto, de forma ovóide achatada, com 1.33 m de comprimento, por 0.62 deespessura máxima e 0.48 m de espessura mínima.

[2] – Menir de granito, com a base, cónica achatada, fracturada in situ; forma geral ovóide achatada,com 1. 58 m de comprimento total, por 0.77 m de espessura máxima e 0.58 m de espessura mínima.

[3] – Menir de granito com uma pequena extremidade da base, fracturada in situ e associada a umconjunto de fragmentos em conexão; forma geral ovóide achatada, com 1. 02 m de comprimento total, por0.66 m de espessura máxima e 0.42 m de espessura mínima.

[4] – Menir de granito, intacto, de forma ovóide achatada, com 1.77 m de comprimento, por 1.02 m deespessura máxima e 0.67 m de espessura mínima.

[5] – Pequeno menir de granito, com restos da extremidade da base, cónica achatada, fracturados in situ.Mede 0.78 m de comprimento, por 0.60 m de espessura máxima e 0.48 m de espessura mínima

[6] – Menir de granito, intacto, de forma ovóide achatada , com 1. 02 m de comprimento total, por 0.66m de espessura máxima e 0.40 m de espessura mínima.

[7] – Menir de granito, intacto, de forma ovóide achatada, com 1.61 m de comprimento, por 0.89 m deespessura máxima e 0.70 m de espessura mínima.

[8] – Menir de granito, com a base, cónica achatada, fracturada in situ; encontra-se severamente fracturado,

79Menires do Alentejo Central

Fig. 5.23 - Parte do alvéolo e da coroa do menir 4. Fig. 5.24 - Alvéolo, coroa e fragmento do menir 4.

Fig. 5.22 - Alvéolo e coroa do menir 2.

Fig. 5.21 - Base do menir 2, in situ, e parte da respectiva coroa de sustentação.

80Manuel Calado

longitudinal e transversalmente, pelo que a forma geral, aparentemente ovóide achatada, é difícil de avaliar e,por isso, as medidas apresentadas são meramente aproximativas; cerca de 1. 00 m de comprimento total, por0.75 m de espessura máxima e 0.50 m de espessura mínima.

[9] – Menir de granito, intacto, de forma ovóide ligeiramente achatada, com 1.27 m de comprimento, por0.74 m de espessura máxima e 0.62 m de espessura mínima.

[10] – Menir de granito, com a base, cónica achatada, fracturada in situ; forma geral ovóide achatada,com 1. 28 m de comprimento total, por 0.58 m de espessura máxima e 0.40 m de espessura mínima.

[11] – Menir de granito, fracturado, de forma ovóide muito achatada, com 1.55 m de comprimento total,por 0.69 m de espessura máxima e 0.36 m de espessura mínima.

[12] – Menir de granito, intacto, de forma ovóide achatada, com 1.46 m de comprimento, por 0.74 deespessura máxima e 0.46 m de espessura mínima

[13] – Enchimento do alvéolo do menir 1, após a remoção do mesmo; trata-se de terra castanha clara,com alguns seixos de quartzo rolados, dificilmente destrinçável da camada superficial.

[13 b] – Base do enchimento do alvéolo do menir 1, constituída por uma delgada camada de terraargilosa, castanha avermelhada, mais compacta e correspondendo eventualmente ao topo do próprio substratogeológico.

[15] – Coroa de sustentação do menir 1, constituída por escassas pedras de granito, no lado oeste doalvéolo, e terra de coloração castanha clara.

[16] – Alvéolo do menir 1; depressão alongada com cerca de 0.90 m x 0.80 m e cerca de 0.20 m deprofundidade.

[17] – Enchimento do alvéolo do menir 2, constituído por terra de textura pouco compacta, de corcastanha clara, análoga à camada superficial.

[18] – Coroa do menir 2; estrutura muito compacta, com pedras de granito de grande e médio calibre,sobretudo no lado Sul.

[19] – Alvéolo do menir 2; depressão alongada com cerca de 0.90 m x 0.75 m e cerca de 0.45 m deprofundidade.

[20] – Enchimento do alvéolo do menir 3, constituído por terra de textura pouco compacta, de corcastanha clara, análoga à camada superficial.

[20 b] – Enchimento da base do alvéolo do menir 3, constituído por um estrato pouco espesso, compacto,com muitos seixos e eventualmente resultante da alteração do substrato geológico.

[21] – Alvéolo do menir 3; depressão alongada com cerca de 0.75 m x 0.70 m e cerca de 0.37 m deprofundidade.

[22] – Coroa do menir 3, constituída por escassas pedras de granito de dimensão média.[23] – Enchimento do alvéolo do menir 4 constituído por terra de textura pouco compacta, de cor

castanha acinzentada.

[23 b] – Enchimento da base do alvéolo do menir 4, constituído por um estrato muito compacto, de cor

81Menires do Alentejo Central

Fig. 5.25 - Aspecto da área escavada, no final dos trabalhos; 1: lado Sul; 2: ladoNorte.

21

82Manuel Calado

avermelhada, com muitos seixos e semelhante à terra que envolve as pedras da coroa de sustentação.

[24] – Coroa do menir 4; estrutura muito compacta, com pedras de granito de grande e médio calibre,concentrada no quadrante NW do alvéolo.

[25] – Alvéolo do menir 4; depressão alongada, com uma acentuada dissimetria E-W; mede cerca de1.35 m x 1.20 m e cerca de 0.50 m de profundidade.

[26] – Enchimento do alvéolo do menir 5, constituído por terra de textura pouco compacta, de corcastanha clara, análoga à camada superficial.

[27] – Coroa do menir 5, constituída por apenas uma pedra in situ (e por mais algumas deslocadas),todas de granito de dimensão média e pequena.

[28] – Alvéolo do menir 5; ligeira depressão subcircular, com cerca de 0.60 m x 0.50 m e cerca de 0. 15m de profundidade.

[29] – Enchimento do alvéolo do menir 6, constituído por terra de textura pouco compacta, de corcastanha clara, análoga à camada superficial.

[29 b] – Base do enchimento do menir 6, constituída por uma delgada camada de terra castanha,compacta.

[30] – Coroa do menir 6, constituída por pedras de granito e quartzo, de dimensão média, concentradasno lado NW do alvéolo.

[31] – Alvéolo do menir 6; depressão alongada com cerca de 0.85 m x 0.75 m e cerca de 0.22 m deprofundidade.

[32] – Enchimento do alvéolo do menir 7, constituído por terra compacta, de cor castanha clara, comalguns seixos de quartzo.

[33] – Coroa do menir 7, formada por uma carapaça de pedras de granito de média dimensão,concentrada no lado NW do alvéolo, e embalada em terra castanha clara.

[34] – Alvéolo do menir 7; depressão subcircular com cerca de 1.25 m x 1.20 m e cerca de 0.30 m deprofundidade.

[35] – Enchimento do alvéolo do menir 8, constituído por terra compacta, de cor castanha clara, comalguns seixos de quartzo.

[36] – Coroa do menir 8, constituída por pedras de granito e quartzo, de dimensão pequena e média,dispersas em volta da base do menir.

[37] – Alvéolo do menir 8; depressão alongada com cerca de 0.90 m x 0.80 m e cerca de 0.25 m deprofundidade.

[38] – Enchimento da [39], constituído por terra de cor cinzenta, solta, com alguns seixos de quartzo.[38 b] – Enchimento do alvéolo do menir 9, constituído por terra pouco compacta, de cor castanha mais

escura que o substrato, com alguns seixos de quartzo.[39] – Estrutura negativa entre o menir 9 e o menir 10; de forma alongada, pouco profunda, com cerca

de 0.60 m, por 0.75 m, com uma profundidade máxima conservada de cerca de 0.15 m.

83Menires do Alentejo Central

[40] – Enchimento do alvéolo do menir 10, composto por terra castanha amarelada e seixos de quartzo,análoga à que envolve as pedras da coroa.

[41] – Coroa do menir 10, formada por uma carapaça de pedras de granito de média dimensão,concentrada no lado W do alvéolo, e embalada em terra castanha amarelada.

[42] – Alvéolo do menir 10; depressão alongada com cerca de 0.75 m x 0.70 m e cerca de 0.37 m deprofundidade.

[43] – Enchimento do alvéolo do menir 11, constituído por terra relativamente solta, de cor castanhaacinzentada, com alguns seixos de quartzo.

[43 b] – Enchimento da base do alvéolo do menir 11, constituído por terra compacta, de cor castanhaamarelada, com alguns seixos de quartzo, semelhante à que embala as pedras da coroa.

[44] – Coroa do menir 11, formada por uma carapaça de pedras de granito de média dimensão, concentradano lado E do alvéolo, e embalada em terra castanha amarelada.

[45] – Alvéolo do menir 11; depressão ligeiramente alongada com cerca de 0.77 m x 0.70 m e cerca de0.37 m de profundidade.

[46] – Enchimento da [47] constituído por terra compacta, de cor castanha avermelhada, com algunsseixos de quartzo.

[47] – Depressão larga e pouco profunda, eventualmente de natureza geológica, localizada a Norte domenir 12, e recortada pelo alvéolo deste menir [51] e pela U.E. [54]. Mede cerca de 1.30 m x 1.10 m, porcerca de 0.20 m de profundidade máxima.

[48] – Alvéolo do menir 9; depressão alongada com cerca de 1.00 m x 0.85 m e cerca de 0.50 m deprofundidade máxima (limite apenas conservado, no lado N; o lado Sul e E foi afectado pela U.E. [39]).

[49] – Coroa do menir 9, formada por uma carapaça de pedras de granito de grande e média dimensão,concentrada no lado N do alvéolo, e embalada em terra castanha.

[51] – Alvéolo do menir 12; depressão subcircular, com cerca de 0.85 m x 0.80 m e cerca de 0.30 m deprofundidade máxima

[52] – Enchimento do alvéolo do menir 12, constituído por terra compacta, de cor castanha avermelhada,com alguns seixos de quartzo.

[53] – Coroa do menir 12; carapaça de pedras de granito de pequena e média dimensão, a toda a voltado alvéolo, excepto o lado W, e embalada em terra castanha avermelhada.

[54] – Pequena depressão alongada, de secção afunilada, entre o menir 11 e o menir 12, correspondentecertamente ao negativo de uma raíz carbonizada.

[55] – Enchimento da [54], constituído por terra muito escura, com abundantes micro-carvões.

O substrato geológico é constituído por depósitos terciários, com seixos de quartzo pouco rolados,embalados numa matriz mais ou menos argilosa, nem sempre fácil de distinguir dos depósitos de origemantrópica.

84Manuel Calado

5.5.3. Listagem de materiaisNº UE Tipo Material Fabrico Data Observações1 0 Lasca sílex 13.08.20012 Resto de talhe sílex 15.08.2001 x = 11976.776; y = -85463.231; z = 168.338; com córtex

3 20 Ponta de seta (?) xisto silicioso 21.08.2001 retocada4 0 Lasca sílex 20.08.20015 Raspador sílex 13.08.20016 0 Lasca sílex 14.08.20017 0 Lamela sílex 15.08.2001 retocada8 0 Lasca sílex 15.08.20019 0 Furador sílex 15.08.200110 Carena cerâmica manual 15.08.2001 x = 11976.807; y = -85464.306; z = 168.34711 0 Carena (?) cerâmica manual 15.08.2001 x = 11978.111; y = -85466.534; z = 168.40212 0 Parede cerâmica manual 13.08.200113 Carena cerâmica manual 21.08.2001 x = 11979.420; y = -85466.842; z = 168.41014 29 Lasca quartzo 22.08.200115 29 Lasca quartzo 22.08.200116 29 Furador (?) quartzo 22.08.200117 13 Lasca quartzo 21.08.200118 13 Lasca quartzo 21.08.200119 13 Lasca quartzo 21.08.200120 13 Lasca quartzo 21.08.200121 29b Lasca quartzo 23.08.200122 38 Parede cerâmica manual (?) 23.08.200123 38 Parede cerâmica manual (?) 23.08.200124 23 Lasca quartzo 22.08.200125 23 Furador quartzo 22.08.200126 23 Lasca quartzo 22.08.200127 23 Lasca quartzo 22.08.200128 23 Lasca quartzo 22.08.200129 23 Furador quartzo 22.08.200130 23 Lasca quartzo 22.08.200131 23 Lasca quartzo 22.08.200132 23 Lasca quartzo 22.08.200133 23 Lasca quartzo 22.08.200134 23 Furador quartzo 22.08.200135 32 Furador quartzo 22.08.200136 32 Lasca quartzo 22.08.200137 32 Lasca quartzo 22.08.200138 32 Lasca quartzo 22.08.200139 46 Lasca quartzo 21.08.200140 46 Lasca quartzo 21.08.200141 46 Lasca quartzo 21.08.200142 46 Lasca quartzo 21.08.200143 46 Lasca quartzo hialino 21.08.200144 Parede cerâmica manual 20.08.2001 x = 11985.170; y = -85461.846; z = 168.33545 38 Lasca quartzo 21.08.2001Nº UE Tipo Material Fabrico Data Observações46 38 Lasca quartzo 21.08.200147 23 Lasca quartzo 21.08.2001

85Menires do Alentejo Central

48 43 Lasca quartzo 22.08.200149 43 Lasca quartzo 22.08.200150 43 Lasca quartzo 22.08.200151 43 Lasca quartzo 22.08.200152 43 Lasca quartzo 22.08.200153 0 Parede cerâmica manual 20.08.200154 0 Parede cerâmica manual 20.08.200155 0 Parede cerâmica manual 20.08.200156 0 Parede cerâmica manual 17.08.200157 0 Parede cerâmica manual 17.08.200158 0 Parede cerâmica manual 17.08.200159 0 Parede cerâmica manual 17.08.200160 0 Parede cerâmica manual 17.08.200161 0 Parede cerâmica manual 14.08.200162 0 Parede cerâmica manual 21.08.200163 0 Parede cerâmica manual 21.08.200164 0 Parede cerâmica manual 17.08.200165 0 Parede cerâmica manual 17.08.200166 0? Parede cerâmica manual 14.08.2001 x = 11979.499; y = 85466.546; z = 168.45567 0? Parede cerâmica manual x = 11979.748; y = 85466.962; z = 168.48968 0 Arranque de asa cerâmica manual (?) 15.08.200169 0 Parede cerâmica manual 15.08.200170 0 Parede cerâmica manual 15.08.200171 0 Parede cerâmica manual 15.08.200172 0 Lasca quartzo 13.08.200173 0 Núcleo quartzo hialino 13.08.2001 exausto74 0 Lasca rocha siliciosa 17.08.200175 0 Lasca rocha siliciosa 17.08.200176 0 Lasca quartzo 17.08.200177 0 Lasca quartzo 17.08.200178 0 Lasca quartzo 17.08.200179 0 Lasca quartzo hialino 20.08.200180 0 Lasca quartzo 20.08.200181 0 Lasca quartzo 20.08.200182 0 Lasca quartzo hialino 17.08.200183 0 Lasca quartzito 17.08.2001 com córtex84 0 Lasca quartzo 17.08.200185 0 Lasca quartzo 17.08.200186 0 Lasca quartzo 17.08.200187 0 Lasca quartzo 17.08.200188 0 Lasca quartzo hialino 17.08.200189 0 Lasca quartzo 17.08.200190 0 Lasca quartzito 14/15.08.200191 0 Lasca retocada quartzito 14/15.08.2001 com córtex92 0 Lasca quartzo 14/15.08.200193 0 Lasca quartzo 14/15.08.200194 0 Lasca quartzo 14/15.08.200195 0 Furador quartzo 14/15.08.2001

5.5.4. ComentáriosVale d’El Rei (nº15) destaca-se, no conjunto dos recintos do Alentejo Central, pelo facto de ser o único

cuja planta se conservou integralmente até aos nossos dias (mesmo tendo sofrido, extemporaneamente, as

86Manuel Calado

2

Fig. 5.26 - 1: Planta do recinto e levantamento topográfico da área envolvente; 2: planta da área escavada, com alocalização dos menires, antes do desmantelamento (seg. Zbiszewski et al., 1977).

1

87Menires do Alentejo Central

Fig. 5.28 - Planta geral dos alvéolos, no final dos trabalhos.

Fig. 5.27 - Planta das estruturas de implantação dos menires.

88Manuel Calado

agressões acima referidas). Os outros monumentos da região apresentam lacunas difíceis de colmatar(resultantes, em geral, de amputações antigas) para além de graus de complexidade formal totalmente distintosdeste.Como já referi, os restantes “cromeleques” alentejanos foram, logo desde a descoberta dos Almendres (nº1),interpretados como recintos fechados (ovais ou circulares), sendo as lacunas, sistematicamente observadasno lado nascente, lidas como o resultado de amputações; no entanto, a integridade da planta em ferradura doVale d’El Rei nunca foi posta em causa, nem seria lógico fazê-lo, atendendo ao grau de conservação doconjunto.

As dimensões são outro detalhe que afasta o sítio de Vale d’El Rei da maioria dos seus congéneres, numaescala regional. De facto, não temos qualquer informação fidedigna sobre as verdadeiras dimensões de algunsdos recintos mal conservados e/ou que nunca foram objecto de escavação, como são os casos do Monte daRibeira (nº9) (Reguengos de Monsaraz), do Alminho (Ponte de Sôr) ou do Torrão (Elvas), todos eles pequenose, segundo creio, periféricos em relação ao “núcleo duro” dos arredores de Évora.

Esse carácter periférico pode, aliás, ajudar a explicar as dimensões e a pureza formal do Vale d’El Rei erelaciona-se, eventualmente, com a escassez de vestígios de povoamento do Neolítico antigo, na área dePavia, em contraste com o que se verifica na área de Évora.

Outro aspecto, muito sui generis, deste monumento diz respeito ao padrão de implantação; a escolha dolocal obedeceu, sem dúvida, a uma lógica diferente daquela que subjaz aos recintos de Évora e Montemor-o-Novo, por exemplo. Nota-se, em todo o caso, um ajustamento muito cuidadoso ao terreno (Fig.5.26, 1) euma orientação equinocial muito clara.

Recorde-se, finalmente, que o recinto de Vale d’El Rei se enquadra numa área restrita de grande riquezamegalítica, com monumentos funerários (sepulturas protomegalíticas e antas de várias dimensões) pré-históricos,assim como com um monumento, sem qualquer paralelo conhecido, constituído por um alinhamento de menirese um tumulus funerário, com menires, que também foi recentemente escavado e datado da 1ª Idade do Ferro(Rocha, 1999).

A escavação do recintode Vale d’El Rei permitiu obter dados suficientes para, na sequência da colagem/restauro dos monólitos, se poder avançar com o processo de restauro do monumento: foram localizados eescavados todos os alvéolos dos doze menires e foi igualmente possível reunir grande parte dos fragmentos deseis menires fracturados, todos eles com troços da base ainda enterrados in situ; destes, o pior conservado éo menir 8 que, por se encontrar demasiado amputado, não foi passível de restauro.

Os dados de carácter cronológico são escassos e limitam-se a um conjunto de artefactos líticos e cerâmicosque apontam, sobretudo para o Neolítico final (cerâmica carenada, ponta de seta); a relativa abundância desílex sugere, em todo o caso, uma maior antiguidade, possibilidade que é também sugerida pela presença deuma lamela; destaca-se o facto de não terem sido recolhidos quaisquer artefactos dentro dos alvéolos intactosdos menires, à semelhança dos resultados obtidos nos outros recintos megalíticos estudados, nos últimosanos, na região; os materiais provêm exclusivamente das terras exteriores aos alvéolos, pelo que devem serinterpretados como correspondendo à utilização do monumento e não, necessariamente, à sua construção.

89Menires do Alentejo Central

Em todo o caso, e em consonância com os resultados obtidos em monumentos análogos, confirma-se ocarácter não habitacional dos recintos, com base na quantidade e no padrão dos conjuntos artefactuais, emcontraste com o que parece ocorrer, com carácter mais ou menos sistemático, nos menires algarvios.

5. 6. S. Sebastião5.6.1. Os antecedentesA decisão de escavar os menires de S. Sebastião ficou a dever-se, desde logo, à referência (Burgess,

1987: 40) de que, no local, teria sido recolhida cerâmica com decoração impressa, informação compatívelcom um pequeno conjunto cerâmico, depositado na C.M. Évora, com a indicação “S. Sebastião”, embora ascircunstâncias da obtenção deste material nunca tenham sido convenientemente esclarecidas.

A ideia transmitida por Colin Burgess foi a de que esses materiais seriam provenientes de uma violaçãorecente, cujos intervenientes não foram, nessa publicação, identificados.

Note-se que, ao contrário do que ocorre no Barlavento Algarvio, a presença de cerâmica do Neolíticoantigo, directamente associada a menires, não se encontra documentada na informação disponível sobre amaioria dos recintos megalíticos alentejanos, escavados nos últimos anos – Almendres, Vale Maria do Meio,Cuncos e Tojal. As únicas excepções provêm das escavações do recinto do Xarez (Gomes, 2000b: 104,105) em que foram recolhidos apenas dois fragmentos cerâmicos decorados com impressões e do da Portelade Mogos, que foram objecto de uma muito breve referência (Gomes, 2002: ). Assim sendo, era importanteconfirmar a eventual presença de cerâmicas decoradas associadas aos menires de S. Sebastião.

Por outro lado, a localização do monumento, era também, à partida, um estímulo importante: de facto,parecia certamente significativo o facto de a implantação dos menires de S. Sebastião ser análoga à dosrecintos megalíticos dos Almendres e da Portela de Mogos (localizados na mesma paisagem, à vista de S.Sebastião), no que respeita à topografia, à hidrografia, à geologia e à orientação; em contrapartida, o Menir 1é claramente anómalo, em termos morfológicos, se o compararmos com os menires dos referidos recintos;para além disso, tanto na Bretanha, como na Grã-Bretanha, a maior parte dos pares de menires conhecidosapresentam, tal como sucede com os menires de S. Sebastião, um notório dimorfismo (Burl, 1993: 181, 182).

Trata-se de dois menires tombados, mantendo ambos a extremidade proximal enterrada obliquamente;distam cerca de 7 m um do outro e são ambos feitos em rochas granitóides, aparentemente os quartzodioritos,rochas cujas manchas mais próximas ocorrem a cerca de 2 Km, em cotas mais baixas, enquanto o cabeço deS. Sebastião é geologicamente constituído por gnaisses/migmatitos.

O Menir 1, fracturado transversalmente em duas partes, tombadas em conexão, e sem a extremidadedistal, tem uma forma cilindróide muito regular e alongada, enquanto o Menir 2, a que falta uma lascalongitudinal no lado E da face exposta, tem uma forma ovóide, característica de grande parte dos menires daregião, as conhecidas “pedras-talhas”.

5.6.2.A escavaçãoA escavação incidiu inicialmente sobre duas áreas delimitadas em torno da base de cada um dos menires,

90Manuel Calado

com 16 m2 cada, inseridas numa quadrícula com 11m x 4m.A escavação foi efectuada por Unidades Estratigráficas e, no decorrer dos trabalhos, foi aberto, como

estava previsto, um “corredor”, com 1 m de largo, estabelecendo a ligação entre os dois quadrados de 4 x 4m inicialmente abertos; neste alargamento, no entanto, não foi possível desmontar mais do que as duas camadassuperficiais [0] e [1], por falta de tempo; pelo mesmo motivo, e atendendo à complexidade inesperada dosvestígios detectados, foi reduzida, após a retirada das camadas superficiais, a área de escavação, junto aoMenir 2, para cerca de 50%.

As terras foram integralmente crivadas, método que permitiu recolher um conjunto pequeno, mas significativode lamelas e restos de talhe, em sílex.

No final da escavação e uma vez que os trabalhos efectuados não confirmaram a presença de cerâmicacom decoração impressa, procurei indagar as circunstâncias em que teriam sido obtidos os materiais,supostamente provenientes da violação ocorrida em 1987; essa tarefa não se revelou fácil, uma vez que osintervenientes eram muito jovens na altura e, decorridos 13 anos, ninguém parecia recordar-se do episódio;depois de uma série de pistas e de tentativas infrutíferas, foi graças ao Dr. Rui Arimateia, da Câmara Municipalde Évora, que entrei em contacto com um dos elementos desse grupo, o Sr. António Melgão, natural de S.Sebastião e residente actualmente em Valverde. A descrição bastante minuciosa que me fez da violaçãoefectuada junto ao Menir 1e dos materiais recolhidos, sugere que as cerâmicas impressas observadas porColin Burgess, deverão ser provenientes de outro local, que ainda não foi possível localizar, na freguesia de S.Sebastião da Giesteira.

5.6.3. Listagem das Unidades Estratigráficas[0] – Camada de terra castanha escura, solta e muito orgânica.[1] – Camada de terra castanha ligeiramente acinzentada, mais compacta que a U.E. [0], constituindo,aparentemente um diferente horizonte pedológico dentro da camada arqueológica superficial.[2] – Camada de terra avermelhada, argilosa, com materiais pré-históricos e romanos.[3] – Concentração de blocos de pedra, embalados em terra castanha escura, muito solta, a SW do menir 1.O topo desta U.E. apresenta cotas com valores superiores às da restante área intervencionada junto ao Menir1.[4] – Camada de terra castanha escura, acinzentada, que preenche uma estrutura negativa em torno do Menir1 e embala materiais pré-históricos e romanos; foi deixado por escavar um testemunho a E do Menir 1.[5] – Amontoado de pedras e terra vegetal, com muitas raízes, que cobria a base do Menir 2 e preenchia umadepressão junto à base desse monólito.[6] – Bolsa de terra castanha escura que preenchia uma depressão pouco profunda, ovalada; continha escassosmateriais pré-históricos.[7] – Estrutura negativa, natural ou artificial, com cerca de 0.60 m x 0.40 m, colmatada pela U.E. [6].[8] – Estrutura negativa escavada em torno da base do Menir 1, de forma aparentemente alongada, com cerca

91Menires do Alentejo Central

de 2 m de comprimento e cuja largura não foi totalmente desvendada; esta fossa parece ter esvaziadoparcialmente, no lado W, o alvéolo do Menir 1 e deve ter sido aberta com a finalidade de derrubar o referidomonólito. Preenchida pela U.E. [4].[9] – Bolsa pouco espessa de terra muito escura, sem materiais arqueológicos, subjacente à U.E. [3][10] - Bolsa pouco espessa de terra muito escura, sem materiais arqueológicos, subjacente à U.E. [3] eparalela à U.E. [9]; ambas devem corresponder à mesma realidade.[11] – Camada de terra castanha clara que preenche, aparentemente, a parte não perturbada do alvéolo.[12] – Concentração de blocos de gneiss, embaladas na U.E. [2]. Podem corresponder a restos de estruturasdesmanteladas.[13] – Anel de blocos de calibre grande e médio que circunda a base do menir 2.[14] – Camada de terra avermelhada, com materiais pré-históricos e romanos, assenta no substrato geológico.Foi identificada na área do Menir 2 e deve ser equivalente à U.E. [2], designação atribuída a uma realidadesemelhante, na área do Menir 1.[15] – Restos da coroa de sustentação do Menir 1, embalada na U.E. [11].[16] – Estrutura negativa, escalonada em dois degraus, que corresponde ao alvéolo do Menir 1; foi parcialmenteesvaziada em época romana.[17] – Camada de terra castanha acinzentada que colmatou a parte do alvéolo U.E. 16 esvaziada em épocaromana.[18] – Camada de terra avermelhada no canto NE da área aberta em torno do Menir 2; deve ser equivalenteàs U.E.s [2 e 14]. Continha materiais pré-históricos e romanos.[19] – Camada de terra castanha, com pedras de pequeno calibre e escassos materiais romanos e pré-históricos que se depositou na superfície do alvéolo do Menir 2, provavelmente na sequência do abate domonólito.[20] – Camada de terra avermelhada, com algumas manchas escuras que colmatava a fossa [22] aberta juntoà base do Menir 1; continha materiais pré-históricos e romanos.[21] – Camada de terra avermelhada, com algumas lentículas mais escuras, que preenche uma depressão,natural ou artificial, parcialmente definida a E da base do Menir 1, nas coordenadas x= 102-104; y= 100-102.Esta realidade prolonga-se para Sul da área escavada.[22] –Fossa adjacente ao alvéolo do Menir 2; deve ter sido aberta, em época romana, eventualmente com afinalidade de derrubar o referido monólito.[23] – Conjunto de pedras, na base da U.E. 16 e parcialmente envoltas pela U.E. [17], que devem correspondera restos mais ou menos perturbados da coroa de sustentação do Menir 1.[24] – Camada de terra castanha escura, muito compacta e contendo pequenas pedras, na base do enchimentoda U.E. [16]. Sem materiais arqueológicos.[25] – Camada de terra castanha clara, compacta, encostada ao limite N da U.E. [16], que parece correspondera um resto do enchimento pré-histórico do alvéolo, pelo que seria equivalente à [11].[26] – Bolsa de terra castanha acinzentada, com algumas pequenas pedras, que preenche parte do fundo da

92Manuel Calado

U.E. [22]; continha alguns materiais romanos e pré-históricos.[27] – Estrutura negativa que corresponde à parte conservada do alvéolo de implantação do Menir 2; este, foirecortado pela fossa U.E. [22].

5.6.4. Avaliação dos resultadosA intervenção efectuada nos menires de S.Sebastião produziu alguns contributos interessantes para o

estudo do megalitismo regional.Por um lado, ficou razoavelmente excluída a possibilidade de a cerâmica com decoração impressa, referida

na bibliografia, assim como os materiais em depósito na Câmara Municipal de Évora, serem provenientes dosítio de S. Sebastião 1: apesar de limitada, aintervenção foi suficientemente extensa e ametodologia da escavação (com crivagem integral)suficientemente minuciosa; além disso, ainformação prestada pelo Sr. António Melgão foiigualmente peremptória, nesse aspecto.

Em contrapartida, foi identificada umaocupação do sítio, em época romana, que ainformação disponível não contemplava; aausência de estruturas de habitat pode,teoricamente, explicar-se pela posiçãodescentrada dos menires (e da escavação) em relação ao topo do cabeço, onde eventualmente se localizariamas supostas construções: este aspecto, pode explicar igualmente a escassez de cerâmica de construção detectadana escavação, uma vez que a maioria dos materiais recolhidos são fragmentos de cerâmica comum (tambémalguma terra sigillata e cerâmica de paredes finas).

Trata-se, na verdade, de um dos casos raros em que podemos datar o derrube dos menires: os materiaisromanos provêm dos sedimentos que colmataram as fossas abertas à volta da base de cada um dos monólitos;essas fossas, de diâmetros muito superiores aos dos alvéolos dos menires, foram certamente abertas com osmenires ainda erectos e estão directamente relacionadas com o derrube dos mesmos.

As marcas de corte longitudinais, visíveis nos dois menires, indicam tentativas falhadas de debitagem dosblocos. No Menir 1, no entanto, as duas tentativas de cortes transversais tiveram êxito, embora apenas tenhasido utilizada a extremidade distal; a parte mesial, talvez por ter falhado uma tentativa de corte longitudinal, foiabandonada no local.

As marcas de corte, presumivelmente contemporâneas do colapso dos menires, sugerem, como é óbvio,uma intervenção oportunista, com o objectivo de aproveitar a matéria-prima dos blocos, fenómeno que estábem estabelecido noutros monumentos da região. Não podemos excluir, no entanto, a possibilidade de outrasmotivações, nomeadamente a clássica caça ao tesouro ou mesmo motivações de ordem religiosa, atendendoa que o local não corresponde aos padrões de implantação da generalidade dos sítios romanos e que, por

Cerâm ica manual: registos individuais

50%

33%

10%

6% 1%

BordoCarenaBordo pequeno esféricoBordo taça carenadaOutros

Fig. 5.29 - Representação gráfica dos diversos

tipos de cerâmicas recolhidas.

93Menires do Alentejo Central

Fig. 5..30 - Cerâmicas da Idade do Bronze,da escavação dos menires de S. Sebastião

94Manuel Calado

Fig. 5.31 - Cerâmicas da Idade do Bronze, provenientes daescavação dos menires de S. Sebastião

95Menires do Alentejo Central

hipótese, se pode vir a revelar, ele próprio, um santuário.Foi também identificada uma importante ocupação do sítio, nos inícios da Idade do Bronze; trata-se, ao

que parece, de uma presença de tipo ritual ou funerário, atendendo à morfologia das peças cerâmicasabundantemente recolhidas: todas de pequenas dimensões (pequenos esféricos e taças carenadas, na maiorparte, excluem liminarmente uma função de carácter doméstico. A mesma conclusão resulta da análise doestado de conservação das cerâmicas deste conjunto que, apesar da perturbação, em época romana, daseventuais estratigrafias pré e proto-históricas (em todas as áreas intervencionadas, foram recolhidos materiaisromanos até ao substrato geológico), se apresentam relativamente pouco fragmentadas, tendo, muitas delas,permitido reconstrução gráfica integral.

Finalmente, foi confirmada uma ocupação mais antiga, atribuível ao Neolítico antigo/médio ou mesmo aoMesolítico), atestada pela recolha de restos de talhe de sílex e duas lamelas (uma de dorso abatido), igualmentede sílex (Estampa 20, 6-11) ; trata-se de mais um elemento, sem dúvida limitado, a somar aos que têm sidosistematicamente recolhidos nas escavações de quase todos os sítios com menires, escavados, nos últimosanos, no Sul do país e que, com as devidas precauções, é legítimo relacionar com a eventual fundação domonumento.

Ficaram, ainda assim, por resolver algumas das questões que se tinham colocado à partida, assim comooutras abertas com base nos resultados obtidos.

Não foi possível, por exemplo, esclarecer cabalmente, atendendo às dimensões limitadas da área escavada,se estamos efectivamente em presença de um verdadeiro par de menires ou apenas do que resta de um recintomegalítico (ou mesmo de um alinhamento), apesar de a hipótese do par de menires ter ganho alguma consistênciae de se tratar de um fenómeno largamente documentado em outras áreas da Europa atlântica (Burl, 1993: 18;Giot, 1988: 322); em contrapartida, tem sido igualmente observado, em muitos casos, o desaparecimento dosmenires de menores dimensões que faziam parte de conjuntos de que restam, hoje em dia, apenas os monólitosdemasiado grandes e que, por isso, levantavam problemas técnicos de difícil resolução (Béneteau, 2000; LeRoux, 1999).

Também não foi possível caracterizar funcionalmente, de forma inequívoca, a ocupação da Idade doBronze, devido às perturbações pós-deposicionais provocadas pela ocupação romana do sítio; a abertura deum sistema de sondagens em áreas diferentes criteriosamente seleccionadas, poderia, teoricamente, esclarecer,no futuro, esta questão.

Por falta de tempo e de meios técnicos, não foi ainda possível escavar o que resta do enchimento pré-histórico do alvéolo do Menir 1, U.E. [11]; este, aparentemente, encontra-se parcialmente preservado,juntamente com com o que sobrou da respectiva coroa de implantação; porém, para levar a cabo esta operação,haveria que deslocar o monólito da sua posição actual. Também no caso do Menir 2, haveria que escavar oespaço à volta da respectiva extremidade proximal o que, pelo menos do lado Norte, só será possível removendoo monólito.

Apesar dos muitos aspectos que ficam em aberto, importa desde já salientar que os menires de S. Sebastiãoconstituem, em vários aspectos, um monumento excepcional: o Menir 2 é, sem dúvida, o mais volumoso de

96Manuel Calado

Fig. 5.32 - Fossa de violação do menir 1, em fase deescavação

Fig. 5.33 - Fossa de violação, alvéolo e restos da coroa de sustentação, no final dos trabalhos.

97Menires do Alentejo Central

Fig. 5.35 - Perfis estratigráficos da área domenir 2

Fig. 5.34 - Perfis estratigráficos da área domenir 1

98Manuel Calado

Fig. 5.36 - Vista geral dos trabalhos de escavação.

99Menires do Alentejo Central

Fig. 5.39 - O menir 2, no final da escavação.

Fig. 5.38 - O menir 1, no final daescavação

Fig. 5.37 - O menir 1, no início da escavação da fossade violação

100Manuel Calado

todos os que estão inventariados no Alentejo Central, enquanto o Menir 1 devia ser igualmente, quandointacto, um menir de comprimento apreciável; para além disso, localizam-se na cota mais alta, em relação atodos os menires da região, e a uma distância considerável das fontes de matéria prima mais próximas.

Tendo em conta as relações espaciais, parece evidente que os menires de S. Sebastião fazem parteintegrante de um conjunto de monumentos excepcionais, de que se destacam os “cromeleques” dos Almendres(nº 1) e da Portela de Mogos (nº 4), todos localizados nos cabeços mais destacados da extremidade orientalda serra de Monfurado, sobre terrenos de gnaisses e implantados junto ao topo de vertentes expostas aNascente.

5.7. Síntese dos resultados das escavaçõesOs resultados do conjunto das escavações realizadas devem, naturalmente, ser cruzados e confrontados

com a informação obtidas noutras escavações e, de um modo mais geral, sobre os menires e os respectivoscontextos.

Tratando-se de uma realidade complexa, com notória variabilidade inter e intrarregional, é natural queuma parte da informação obtida reforce o carácter único de cada sítio, com um projecto próprio e umahistória exclusiva. Por outro lado, existe, certamente, um fundo comum e laços de parentesco generalizáveis,em diversos graus e qualidades.

De entre os resultados específicos destas escavações convém desde já destacar:1. a ocorrência, em número sempre muito limitado, de artefactos líticos, em sílex, nomeadamente lamelas,

buris, furadores, raspadeiras e outros, que denunciam um momento antigo dentro da sequência neolíticaregional. Em contraponto, note-se a ausência ou a escassez relativa de cerâmicas, com consequências certamenteno tipo de utilização reservada aos monumentos;

2. a ausência de materiais dentro dos alvéolos dos menires; a ocorrência de fragmentos de mós e machadosde secção circular, integrados nas estruturas de menires, constitui a única, mas muito significativa, excepção.

3. a reocupação/reutilização de alguns sítios com menires. Essas reutilizações não parecem ter sido nemsistemáticas, nem simultâneas;

4. a presença recorrente de alvéolos assimétricos, com um lado rampado, preenchido por uma coroa desustentação reforçada. Este detalhe permite, inclusive, conjecturar sobre as áreas de origem eventual dosblocos. Esta observação foi feita, recentemente, também a propósito dos menires da Vendeia (Beneteau,2000: 217-223) (Fig. 5.39);

5. de uma forma geral, em termos de perspectivas futuras, no estudo dos menires, é de sublinhar o factode, nos sítios escavados, ter sido possível recuperar informação sobre a posição original da maior parte dosmonólitos. Os aspectos, ainda mal balizados, relacionados com as plantas dos recintos, poderão, no futuro,vir a ser esclarecidos através da escavação de recintos como o Tojal, as Fontaínhas, o Monte da Ribeira, oSideral ou as Casas de Baixo, para além dos Perdigões, onde os fenómenos sedimentares foram mais complexose as estratigrafias prometem resultados mais consistentes.

Por outro lado, é importante, logo que possível, testar métodos de datação alternativos, nomeadamente a

101Menires do Alentejo Central

OSL, que, mesmo que necessite ainda de algumacontenção, parece constituir uma esperança indiscutívelpara o estudo dos menires.

Fig. 5.40 - Proposta de reconstituição do método de erecção e fixação dos menires

(seg. Beneteau, 2000: 222, adaptado.

102Manuel Calado

Capítulo 6: Caracterização morfológica dos menires doAlentejo Central

103Menires do Alentejo Central

6. Caracterização morfológica dos menires do Alentejo Central6.1. Aspectos preliminaresAntes de avançar com uma caracterização dos menires do Alentejo

Central, parece-me útil discutir algumas das questões relacionadas coma própria identificação genérica dos menires.

Deixando as questões da atribuição cronologico-cultural para ocapítulo 9, ficamos, mesmo assim, com um problema epistemológicofundamental: como distinguir um bloco natural alongado, de formameniróide (considerando as diferentes morfologias conhecidas), de umverdadeiro menir, isto é, um bloco natural alongado, na maioria dasvezes, como veremos, sem qualquer afeiçoamento, mas que, por razõesde ordem simbólica/ritual, foi transportado e implantado em posiçãovertical?

O problema agrava-se, no caso dos menires alentejanos, pelo factode serem muito raros, ou mesmo inexistentes, os que sobreviveramerectos até aos nossos dias; na verdade, alguns dos que se encontramactualmente implantados são efectivamente muito duvidosos, como é ocaso dos menires da Lucena (nº 26), da Furada (nº 24), da Chaminé(nº 76) ou os menires 1 e 3 do Vale d’El Rei 2 (nº22).

Para além destes em que, por não ter sido possível determinar-lhesoutras funcionalidades, me parece preferível, por ora, incluí-los, mesmose com reservas, na lista dos menires, excluí, à partida, um númeroelevado de blocos alongados, cravados ao alto, por se tratar de:

a) blocos, cujas dimensões raras vezes ultrapassam os 2 m,implantados em época mais ou menos recente, com a finalidade deservirem de reforço/apoio a vedações (Fig. 6.1, 6.2); esta situação,aparentemente unívoca, pode no entanto complicar-se nos casos emque verdadeiros menires foram (re)utilizados, em época recente, comfinalidade idêntica, como aconteceu, por exemplo, na Portela de Mogos(nº 4). Outra realidade relativamente frequente, na região, e que podeperturbar o megalitista distraído, diz respeito aos alinhamentos de blocos,de boas dimensões, que correspondem, efectivamente, aos “alicerces”de antigos muros de taipa, ou de pedra seca (Fig. 6.3).

b) Menires decorativos, isto é, blocos meniróides usados para

Fig. 6.1 - Suporte de vedação, no

concelho de Castelo de Vide.

Fig. 6.2 - Suporte de vedação, no

concelho de Montemor-o-Novo.

Fig. 6.3 - “Alinhamento” do Trambolho

(Évora): restos de muro antigo.

104Manuel Calado

decorar rotundas, jardins, entradas de quintas, etc. Esta moda, inócua na maioria dos casos, pode, no entanto,criar algumas confusões, tanto mais que não são demasiado raros os casos em que verdadeiros meniresserviram para fazer menires falsos; a reimplantação de verdadeiros menires na “pars urbana” de propriedadesagrícolas verificou-se, recentemente, com o menir do Monte da Ribeira (nº 40) que, na sequência do achamento,devido a trabalhos agrícolas, foi erecto junto ao Monte da Herdade, situação que, graças à intervenção doCentro de Arqueologia da Universidade de Lisboa e da empresa J.M. da Fonseca foi, entretanto, alterada eo menir encontra-se, actualmente, depositado nas instalações da empresa vinícola, em Reguengos de Monsaraz..

Também os menires do Monte das Flores (nº23) foram, em data recente, retirados do local onde foramdescobertos; o menir 1, exibe-se, actualmente, no relvado fronteiro ao palacete do Monte.

É bastante provável que uma história semelhante tenha ocorridocom os menires do Monte da Tera (nº 74), da Courela da CasaNova (nº 48) e da Sousa (nº 64), embora, atendendo aos contextosarqueológicos, seja igualmente possível que, nos dois primeiros, osMontes sejam posteriores à implantação dos menires.

A usurpação de menires de sítios arqueológicos conhecidos foi,por outro lado, recentemente atestada, nos arredores de Évora: umdos menires do recinto da Portela de Mogos (o menir 41) tinha sidoretirado e reimplantado junto ao Monte de Vale Maria do Meio,situação que entretanto foi regularizada (por intervenção da CâmaraMunicipal de Évora) com a redeposição do menir na área do recintode origem; infelizmente, perdeu-se, no processo, a informação sobrea localizção anterior do menir.

A divulgação turística dos menires de Évora e uma certasensibilidade desenvolvida, graças a isso, pala população local, deuorigem a dois episódios anedóticos ocorridos recentemente no próprioaro da cidade: numa obra particular, o proprietário decidiuornamentar o relvado de uma oficina com umbloco sugestivamente meniróide, desenterradodurante os trabalhos de escavação de umacave (Fig. 6.4); a observação do bloco poucodepois de ter sido extraído, permitiu confirmaro carácter natural do mesmo. Três outrossupostos menires foram desenterrados naabertura de uma vala para infraestruturas, juntoao bairro do Frei Aleixo (Fig. 6.5); neste caso,foram os operários que, conscientes de queestavam perante blocos naturais (trata-se de nódulos extraídos da massa rochosa) decidiram, ao implantá-los

Fig. 6.4 - Pseudo-menir do Modelo(Évora).

Fig. 6.5 - Pseudo-menires do FreiAleixo.

105Menires do Alentejo Central

Fig. 6.8 - Rotunda “megalítica” emPortimão.

Fig. 6.9 - Rotunda “megalítica” no aeroportode Lisboa

Fig. 6.7 - Arranjo urbanístico com falsos menires,

na aldeia do Escoural (Montemor-o-Novo)

Fig. 6.6 - Bloco decorativo na entrada do Monte

das Veladas (Évora).

num local bem visível, para chamar a atenção dos transeuntes.Convém acrescentar que, nos dois exemplos referidos, se tratade locais muito expostos, adjacentes a vias de grandecirculação.

Estes pseudo-menires ilustram, aliás, dois dos critérios quepermitiram excluir alguns dos casos mais duvidosos: aobservação do grau de frescura das superfícies (que, em ambosos casos, indicava claramente uma extracção recente) e ainformação oral que permitiu reconstruir o processo deextracção e identificar o contexto geológico dos blocos.

A morfologia, só por si, é um fraco indicador paraidentificar, como tal, um menir, excepto no que diz respeitoaos grandes menires cilíndricos, cuja forma dificilmente poderiaser encontrada, sem afeiçoamento, na natureza.

Na verdade, os recintos megalíticos identificados,monumentos cuja classificação dentro da família dos meniresneolíticos não pode suscitar actualmente qualquer tipo dereservas, revelam-nos um amplo leque de formas e dimensões,sendo alguns dos menires tão irregulares, em termos de padrãomorfológico, que, encontrados fora do contexto, dificilmenteseriam classificados como tal (Fig. 6.15 e 6.16).

Todos os sítios que classifiquei como recintos, mesmo osque se apresentam actualmente desmantelados ou muitoamputados, se impõem como indiscutíveis monumentosmegalíticos; efectivamente, mesmo que outros indicadores nãoestejam presentes (e geralmente estão), o próprio número demonólitos meniróides exentos, reunidos no mesmo espaço,dificilmente poderia admitr interpretações alternativas.

No entanto, existem outros critérios que permitemreconhecer, com alguma segurança, um menir: um dos maisrecorrentes é a descontextualização geológica dos monólitos.Esta característica, cujo significado cultural parece evidente,está presente também noutros territórios megalíticos europeus(Ruiz et al., 1993; Molinero, 2000; Bénéteau, 2000; Tarrús,2002) e, felizmente, em muitos dos monumentos alentejanos.

Por outro lado, apesar de, na actualidade, a maioria dosmenires não permanecer erecta, alguns deles, mesmo

106Manuel Calado

tombados, apresentam uma ligeira inclinação, mantendo a extremidade proximal parcialmente enterrada. Trata-se de menires que tombaram gradualmente, num processo que, em última análise, se prende com a morfologiadas estruturas de implantação. Este fenómeno, só por si, permitiu identificar, sem margem para dúvidas, algunsmenires que, de outra forma, as poderiam suscitar, como foi, entre outros, o caso do menir isolado do Montedo Tojal (nº 57), entretanto escavado e reimplantado, ou do menir 2 de S. Sebastião, cuja forma e dimensões,por serem pouco comuns, não convenceram os descobridores (Burgess, 1987: 40) .

Também a exposição dos locais de implantação, por norma abertos a nascente, apesar de não dever, sópor si, um critério definitivo, permite reforçar, na maioria dos casos, uma classificação que, naturalmente, sedeve sobretudo basear em algum dos outros aspectos referidos.

Foram reavaliados e eliminados, da lista dos menires, alguns exemplares referenciados na bibliografia.Estão nestas circunstâncias o “recinto” da Madre de Deus, em Pavia (Rocha, 1999: 128), os “menires” daAresa e do S. Bento, em Portel (Lima, 1992: 47, 55); foram eliminados outros por serem demasiado vagasas informações disponíveis e por não terem sido relocalizados, como aconteceu com o da Herdade daComenda, o da Herdade dos Pretos ou o do Vidigal, em Montemor-o-Novo (Gomes, 1996: 8, 13).

Evitei igualmente incluir monólitos mais ou menos meniróides, cujas dimensões e localização aconselhama classificação como marcos miliários anepígrafos (Bilou, 2000).

Os monumentos incluídos na listagem queacompanha este trabalho foram ainda, cruzando eponderando, de uma forma subjectiva, os váriosindícios disponíveis, organizados em três categorais,tendo em conta a fiabilidade da respectivaclassificação: menires Seguros (1), Prováveis (2) eDuvidosos (3).

Fig. 6.10 - Classificação dos menires do Alentejo Central,com base nos critérios de fiabilidade.

107Menires do Alentejo Central

6.1.1. Matéria-prima, forma e dimensõesNuma primeira abordagem específica, podemos

classificar os sítios com menires em três categorias:recintos megalíticos, conjuntos e menires isolados.Se, em relação ao primeiro grupo, a maioria nãosuscita grandes dúvidas, apesar de dois ou trêscasos menos claros, a categoria “conjuntos” englobaprecisamente as situações que, por ora, nãopermitem aproximações mais detalhadas; de facto,podem corresponder aos restos muito maltratadosde verdadeiros recintos ou, pelo contrário,representar outras modalidades, porventura dediferentes tipos, de que, por ora, não temos, na região, nenhuma confirmação credível.

Os menires isolados, que, à primeira vista, representam uma categoria bem definida, podem, eles própriosnão ser mais do que os últimos testemunhos de realidades mais complexas.

A matéria-prima dos menires centro-alentejanos é, praticamente sem excepções, constituída por rochasmagmáticas granitóides, nomeadamente granitos, quartzodioritos, granodioritos e, sobretudo, tonalitos, umtipo largamente maioritário no Maciço de Évora (Cardoso et al., 2000: 40).

Na verdade, apenas um caso, atípico a todos os títulos, constitui excepção a esta regra: trata-se do menirda Casa da Moinhola (nº 50), um possível menir de xisto, inédito, descoberto no leito do Guadiana.

A distância entre as fontes de matéria-prima e o local dos monumentos é, hoje em dia, muito difícil deestabelecer com precisão; efectivamente, dado que os menires são, por norma, na região, blocos seleccionadosde entre os afloramentos naturais, sem que tenha havido necessidade de extracção a partir de massas demaiores dimensões, não existem verdadeiras pedreiras ou “cicatrizes” que possam denunciar o local de origemdos blocos. A complexificar a questão, há que considerar ainda que, ao longo dos tempos, muitos afloramentos(tal como os próprios menires e antas, aliás) foram certamente utilizados como material de construção; aatestar este facto, conhecem-se inúmeros vestígios, nomeadamente os negativos dos blocos extraídos, asescombreiras ou as recorrentes marcas de cunha, de que as mais fáceis de observar são, naturalmente,aquelas que correspondem a tentativas de corte falhadas.

Para além destas limitações, os estudos aprofundados sobre a origem das matérias-primas dos monumentosmegalíticos só são, efectivamente, viáveis, em áreas muito circunscritas, uma vez que exigem prospecçãogeológica e análise petrográfica detalhada, como as que foram levadas a cabo, na região de Évora, por W.Dehn, P. Kalb e W. Vortisch (Dehn et al., 1991; Kalb, 1996; Vortisch, 1999), na área de Vale de Rodrigo, oupor J. Cardoso e A. Carvalhosa, no recinto da Portela de Mogos (nº) (Cardoso et al, 2000b).

O estudo petrográfico dos monumentos de Vale de Rodrigo (quatro antas e um menir) permitiu concluirque os blocos devem ser provenientes de diversas manchas de rochas granitóides ( tonalitos, granitos egranodioritos), disponíveis na área envolvente, num raio de cerca de 8 Km; os monumentos, por seu turno,implantam-se em terrenos de gnaisse (Kalb, 1996: 683). O menir de Vale de Rodrigo (nº 46), assim como um

Menires por tipo de sítio

79%

8%

13%

Recintos

Conjuntos

Menires isolados

Fig. 6.11 - Representação gráfica da distribuição dos menirespor tipo de sítio (1,2)

108Manuel Calado

dos esteios do tholos megalítico, teriam mesmo sido transportados de uma distância não inferior a 10 Km.Esta constatação, à primeira vista surpreendente, foi interpretada como um artifício ritual para representar, naarquitectura do monumento, a paisagem que o rodeava: o conjunto de Vale de Rodrigo seria, através desseprocesso, visto como o centro simbólico de um determinado território.

Trata-se certamente de uma possibilidade a reter, sugerida igualmente para outras regiões megalíticaseuropeias (Patton, 1991; Bradley, 1998c) e que se pode relacionar com a ideia de que os monumentos eram,prioritariamente, marcadores territoriais, destinados a criar âncoras na paisagem, em sociedades ainda muitopouco estabilizadas (Renfrew, 1976).

A intencionalidade da escolha dos locais de origem dos blocos é sugestiva, mas difícil de comprovar: naverdade, parece-me que não bastava haver, em determinada área, o tipo de rocha teoricamente adequado,uma vez que a forma e as dimensões dos blocos disponíveis, à superfície, eram, seguramente, uma condicionantefundamental. A distância maior percorrida pelos blocos de maiores dimensões, como é o caso do menir deVale de Rodrigo, enquanto os pequenos monumentos, na mesma área, “estão construídos com blocos dasproximidades e apenas de um tipo de material” (Kalb, 1996: 683), reforça a hipótese de a escolha dos locaisde origem dos blocos se dever, em primeiro lugar, à disponibilidade de afloramentos apropriados.

Esta hipótese foi, aliás, avançada pela própria Philine Kalb, a propósito de dois monumentos megalíticospeninsulares que integram blocos oriundos de distâncias bastante superiores às que foram propostas para omenir de Vale de Rodrigo 1 (nº43), designadamente Carapito 1 e Matarrubilla (17 e 20 Km, respectivamente).

No caso de Vale de Rodrigo, se a escolha dos locais de origem dos blocos pretendesse, como foi defendido,representar simbolicamente um território, é óbvio que só seriam representadas as áreas onde existisse amatéria-prima adequada, ficando omissas as restantes. Trata-se, em todo o caso, de um modelo cujaaplicabilidade à generalidade dos monumentos megalíticos alentejanos, parece deveras problemática.

Por outro lado, convém, desde já, esclarecer que o tipo de blocos e, até certo ponto, a forma de os obter,são diferentes nas antas e nos menires.

No que diz respeito às antas (Vortisch, 1999; Gouletquer, 2000; Scarre, 2004), os esteios são geralmentelajes achatadas, extraídas a partir de diaclases, com as faces expostas (na natureza e nos monumentos) maisarredondadas e as faces de extracção, viradas para o interior dos monumentos, aplanadas ou mesmoligeiramente côncavas.

Estes blocos, relativamente solidários com o batólito, exigiam algum trabalho de extracção, mediante autilização provável de alavancas, entalhes, cunhas e processos crio-térmicos, de que se encontramocasionalmente alguns vestígios nos restos de afloramentos.

109Menires do Alentejo Central

Os menires, na sua maioria, são blocos que, na natureza, se encontravam praticamente exentos e cujasformas oblongas e arredondadas, frequentemente com uma ou mais faces planas ou plano-convexas, resultamde fenómenos puramente geológicos (diaclase, como resultado de acções mecânicas tardi-cinemáticas, edisjunção esferoidal), que são, por sua vez, condicionados pela micro-estrutura das próprias rochas (Cardosoet al., 2000; Servelles, 2002: 102). Em alguns casos menos frequentes, como acontece com o menir doMonte da Ribeira (nº 29), são notórios, numa das faces, os efeitos de uma meteorização significativa(weathering) que, teoricamente, tanto podem ser anteriores como posteriores à sua utilização como megálitos,mas que certamente correspondem a uma fase em que os blocos estiveram tombados.

Infelizmente, não existem estudos específicos sobre os efeitos dos processos de meteorização das rochasque constituem os menires da região; esses fenómenos dependem, naturalmente, de aspectos específicos,como são a resistência do material ou as próprias condições ambientais. Dominique Selliers estudoudetalhadamente as microformas resultantes desses processos num dos conhecidos alinhamentos de Carnac, ode Kerlescan (Selliers, 1991) e identificou algumas evidências que, na sua opinião, deveriam corresponder afenómenos posteriores à erecção dos menires: trata-se sobretudo de microformas que ocorrem nas extremidadesdistais dos monólitos; as mais significativas seriam, porém, anteriores à construção dos monumentos.

A observação dos afloramentos naturais da área envolvente dorecinto de Vale Maria do Meio (nº2) e a comparação dos resultadoscom as microformas de alteração das superfícies dos menires desserecinto sugerem, em todos os casos, uma anterioridade em relação àconstrução do monumento. Num caso particular, o do menir 18, umafissura longitudinal no topo do monólito foi aproveitada como limite dolado direito do trapézio, esculpido em baixo-relevo, e outra parecemarcar o limite da curva do báculo, também em baixo-relevo,representado no lado direito.

Por outro lado, os estigmas patentes nas extremidades distais dealguns menires do Vale Maria do Meio (Fig.6.12) implicam,provavelmente, que esses blocos se encontravam, na Natureza, já emposição vertical ou oblíqua. Efectivamente, a análise dos afloramentosainda intactos nos arredores do recinto, tanto na mancha granítica, aSul, como na mancha tonalítica, a Norte, revelou a presença de muitosblocos com desenvolvimento vertical (Fig. 6.13).

Os resultados dos estudos geo-arqueológicos realizados no recintoda Portela de Mogos e, em menor grau, em Vale de Rodrigo,constituem uma amostra fundamental para uma melhor caracterizaçãotécnica e económica do processo de construção dos menires da região. No entanto, esse estudo apresentaalgumas conclusões que foram, no essencial, inquinadas por um erro de cartografia, uma vez que o monumentose localiza, efectivamente, cerca de 1Km a WSW do local onde foi cartografado (Cardoso et al., 2000: 46).

Fig. 6.12 - Marcas de erosão no topo domenir 27 do recinto de Vale Maria do

Meio.

110Manuel Calado

Na verdade, a identificação rigorosa dos diferentes tipos de rochas presentes na arquitectura do monumentopermite concluir, sem margem para dúvidas, que o mesmo foi intencionalmente construído num local em quenão existia (nem ali, nem nas proximidades imediatas) nenhuma dessas rochas e não que “ foram (...) asadequadas características mineralógico-estruturais das rochas tonalíticas, a par da sua abundância no própriolocal de implantação do cromeleque que explicam o seu aproveitamento predominante na confecção dosmenires” (Cardoso et al., 2000: 40.

Os tonalitos/trondjemitos são o tipo de rocha melhor representado na Portela de Mogos (93%), o que,em termos de transporte, implica uma distância mínima de cerca de 500 m, atendendo à cartografia geológicapublicada (Carvalhosa, 1998); nesta, porém, observa-se uma ligeira discrepância em relação à “carta geológicada área envolvente” apresentada no estudo sobre a Portela de Mogos (Cardoso et al., 2000: 46); efectivamente,duas pequenas manchas, referidas, neste trabalho, como granitos e localizadas em redor do monumento, adistâncias da ordem dos 200-300 m, são representadas, na folha 36-C da Carta Geológica de Portugal,como tonalitos, ficando, portanto, algumas dúvidas sobre a eventual proveniência do único monólito de granitoregistado; segundo os autores, este poderia ser proveniente da grande mancha de granitos porfiróides quedista cerca de 1,5 Km. Um outro menir, de diorito, pode, teoricamente, ser proveniente da área mais próximaem que este material ocorre, a cerca de 700m.

Uma confusão semelhante parece ter ocorrido com o recinto de Cuncos, cujo escavador escreveu, apropósito da origem dos menires, que “os monólitos que constituem o Cromeleque de Cuncos podem serprovenientes de um afloramento existente no cabeço em que o monumento está instalado” (Gomes, 1996:11); efectivamente, tanto a Carta Geológica, como a observação do terreno permitem concluir que o monumentoestá claramente implantado sobre terrenos de gnaisse e nenhum dos menires é feito desse material.

No recinto de Vale Maria do Meio (nº 2) (Fig. 6.14), a análise macroscópica dos blocos permitiu classificar

Fig. 6.13 - Afloramentos, com desenvolvimento vertical,nos arredores de Vale Maria do Meio.

111Menires do Alentejo Central

Vale Maria do Meio: matéria-prima

76%

24%

Granito

Tonalito

Fig. 6.14 - Representação gráfica das matérias-primasidentificadas no recinto de Vale Maria do Meio

a matéria-prima da maioria deles como granitos (o menir26, com algumas dúvidas) e apenas seis (menires 5, 9,12, 16, 22 e 28) como tonalitos, para além de outrosdois, também com algumas dúvidas (menires 21 e 29). Oresultado é, em todo o caso, esclarecedor: a relação entreos granitos e os tonalitos é inversa da que se verifica naPortela de Mogos, o que implica uma utilização oportunistado material adequado, disponível nas imediações.

Na verdade, a maioria dos recintos megalíticosalentejanos encontra-se implantada sobre substratos nãogranitóides, quer sejam as rochas gnaissicas/migmatíticas,como nos exemplos da Portela de Mogos (nº 4),Almendres (n º 1), Vale Maria do Meio ou Cuncos (nº7), ou as rochas detríticas de idade terciária, comoacontece com as Fontaínhas (nº 11), Vale d’El Rei (nº15) ou Tojal (nº 5).

Em Reguengos de Monsaraz, pelo contrário, osrecintos localizam-se todos em terrenos granitóides(tonalitos, granodioritos, quartzodioritos); o Xarez (nº 6)e o Monte da Ribeira (nº 9) aparecem bem centradosnessas manchas geológicas, enquanto os Perdigões (nº13) e a Capela (nº 87) se implantam na transição entre osgranodioritos e os gabro-dioritos.

Em relação aos menires isolados, parece ter havidouma maior flexibilidade de padrões, embora, mais uma vez,a maior parte dos de maiores dimensões tenha sidotransportada para fora da seu contexto geológico original.

Quanto à forma, verifica-se que, entre os menires doAlentejo Central, predominam largamente as formasovóides (67%), com secções transversais em que um lado,pelo menos, apresenta um achatamento muito acentuado.As formas arredondadas, em que se incluem também ascilíndricas, perfazem, por seu turno, um total de 88% detodos os menires inventariados. De entre as formasprismáticas, maioritariamente paralelipipédicas, poderíamosainda distinguir as que ocorrem nos recintos, de arestasmais ou menos boleadas, e outras, que surgem em diversos

Fig. 6.15 - Menir de forma irregular, no recinto dos

Almendres.

Fig. 6.16 - Menir de forma irregular recinto

do Xerez.

112Manuel Calado

Fig. 6.18 - Representação gráfica da distribuição, em função da forma, dos menires isolados e integrados em conjuntos.

Formas dos menires (menires isolados e conjuntos)

34%

33%

33%

OvóidesCilíndricosPrismáticos

Fig. 6.17 - Representação gráfica da distribuição, em funçãoda forma, dos menires que integram os recintos mrgalíticos

Formas dos menires (recintos)

75%

14%

11%

OvóidesCilíndricosPrismáticos

contextos, com arestas mais angulosas.Na esmagadora maioria dos casos, a

variabilidade morfológica resulta, como referi, daselecção de blocos naturais, sem qualquer tipo deafeiçoamento; esta selecção não parece, aliás, tersido demasiado exigente, quanto à regularidade dasformas ou às dimensões (Fig. 6.15, 6.16).

Nos recintos, as formas ovóides representamcerca de 75 % dos menires conservados; porém,nos restantes tipos de monumentos, as formasprismáticas (se contabilizarmos o alinhamento daTera), aparecem com valores percentuaisequivalentes às formas ovóides e às formascilíndricas.

Apesar de se tratar, quase sempre, de blocosnão trabalhados, existem alguns menires cujasformas dificilmente poderiam resultarexclusivamente de fenómenos naturais: trata-sesobretudo dos grandes monólitos cilindróides, deperfis muito regulares, com índices de alongamentosuperiores a 4 (a média nos Almendres, onde nãoexistem menires desse tipo, é de 1,96, enquanto ovalor máximo não ultrapassa 2,95) e, eventualmente, das estelas-menires, em forma de lâmina de punhal; emambos os casos, aliás muito raros, estamos em presença de blocos que podem ter sido objecto de umtrabalho, mais ou menos importante, de regularização. Esta, a ter efectivamente existido, incidiu sempre sobreblocos com formas não muito diferentes daquelas que iriam apresentar no resultado final. O desbaste dovolume inicial incidiria sobretudo nas arestas e, eventualmente, sobre as faces laterais, sendo, logicamente,conservada a espessura original.

Contudo, no caso do Alentejo Central, a maior parte dos menires seria, sem grande esforço, obtida, àsuperfície, a partir dos thors e caos de blocos arredondados que caracterizam, ainda hoje, as paisagensgraníticas da região.

Observações análogas têm, aliás, sido feitas a propósito de outros territórios megalíticos europeus (LeRoux, 1999; Giot,1988: 320; Burl, 1993: 6; Selliers, 1991; Servelles, 2002), sendo, em muitos casos, igualmenteválidas para construções funerárias (Scarre, 2004).

A forma supostamente fálica de alguns menires, nomeadamente quando parecem ter marcada a glandepeniana, é rara no Alentejo Central; o menir do Outeiro (nº29), em Reguengos de Monsaraz, é, de todos,aquele que, atendendo à forma geral, melhor encaixaria nesse estereótipo, apesar de não apresentar o referido

113Menires do Alentejo Central

Fig. 6.19 - Menir do Alminho: pormenor dosulco que afecta tranversalmente

a face virada para baixo.

Comprimento dos menires (1,2,3)

41%

50%

6% 3%

PequenosMédiosGrandesMuito grandes

Fig. 6.20 - Representação gráfica da distribuição dos comprimentos dos menires (todos os registos).

pormenor anatómico, mas sim, supostamente, o meato (Gonçalves,1972: 496) O pequeno menir da Bota (nº81), possuindo,aparentemente, demarcada a glande, não tem uma forma geralsuficientemente sugestiva. Na verdade, atendendo a que o sulco quelhe confere o curioso aspecto fálico não afecta todo perímetro domenir, pode tratar-se, muito provavelmente, de tentativas dedebitagem mal sucedidas, tanto mais que marcas análogas ocorremigualmente no menir do Aldeão (nº60) e, fora da minha área de estudo,no menir grande do Alminho (Fig. 6.19); nestes dois casos, os sulcosaparecem, respectivamente, nas áreas proximal e mesial.

A questão do falimorfismo versus antropomorfismo, já acimaabordada sem qualquer discussão, será objecto de consideraçõesmais circunstanciadas, no capítulo 12.

No que diz respeito aos grandes menires ovóides, os exemplaresque ocorrem isolados ou apareados têm quase sempre maiorregularidade morfológica do que os que integram os recintos, nãosendo de excluir a possibilidade de um ou outro, como o da Casbarra1 (nº 31) e o menir 1 da Pedra Longa (nº 16), terbeneficiado de algum afeiçoamento; estes meniressão exclusivos da área de Évora. Os cilíndricosgrandes e muito grandes, sempre em númeromuito escasso, distribuem-se pelas áreas de Évora,Pavia, Cuncos e Reguengos de Monsaraz.

Ainda em termos globais, e atendendo aofacto de outros possíveis candidatos deencontrarem truncados - menir 1 de S. Sebastião(nº 8) e menir 1 dos Perdigões (nº 13) - destacam-se, quanto ao comprimento, o menir do Barrocal(nº 28), com 5, 4 m e que teria, pelo menos, mais0,3 m, na extremidade distal, e o menir do Outeiro(nº 29), com 5,6 m. Porém, no que respeita ao peso, o exemplar mais significativo é o menir 2 de S. Sebastião,com cerca de 12 toneladas estimadas.

É, claramente, entre os menires isolados que encontramos os menires de maiores dimensões, nomeadamenteno que diz respeito ao comprimento e ao peso; em contrapartida, é nos recintos que se registam os valoresmínimos. Este último aspecto pode, teoricamente, resultar de uma distorção induzida pelos critérios de registo.

No entanto, do ponto de vista monumental, é de supor que os menires pequenos só fariam, eventualmente,sentido, se integrados num conjunto; nesse caso, a monumentalidade seria sempre garantida pelos menires de

114Manuel Calado

maior envergadura e, em última análise, pela totalidade dosmenires.

No limite inferior da escala, destacam-se algunsmonólitos, no recinto do Xarez (nº 6), com comprimentospróximas de 0, 5 m e pesos que não atingem uma centenade quilos - valores que encontramos igualmente no recintodo Torrão, no distrito de Portalegre (Fig. 6.22); convémreferir que o processo de restauro do Xarez pode terintroduzido algum ruído, actualmente impossível decontrolar. Se considerarmos apenas os recintos,verificamos que, no total, a percentagem de menirespequenos aumenta (63%), em relação aos menires médios(34%), e que os menires grandes e muito grandes sãoapenas residuais (3%).

No que diz respeito aos três recintos da área de Évora,estão absolutamente ausentes os menires com mais de 4,5 m (muito grandes) e, no caso dos Almendres, apenasse registam menires médios e pequenos.

Dos restantes, apenas o possível recinto do Sideral(nº 10), monumento muito pouco convencional e,certamente, muito mal conservado, integra um menir(menir 5) com mais de 4,5 m; porém, há que considerarainda a possibilidade de o menir 1 dos Perdigões (nº 13) (com 3, 75 m) e menir 1 do Xarez (nº 6) (com 4,25m), ambos amputados, poderem ter atingido valores próximos dos do Sideral. São, também eles próprios,monumentos problemáticos, pelo que se torna, com os dados disponíveis, impossível avaliar que outrasdiferenças acompanhariam estes menires de dimensões menos comuns; permanece, obviamente, a possibilidadede os grandes menires, cilíndricos ou ovóides alongados, que acompanham esses supostos recintos,corresponderem a episódios construtivos anteriores ou posteriores aos monumentos compósitos em que seinserem.

Os recintos do Tojal (nº 5), de Cuncos (nº 7), das Fontaínhas (nº 11) e das Casas de Baixo (nº 12),diferencialmente conservados, têm todos um menir de dimensões destacadas, que poderíamos, com algumapropriedade, designar como “menir central”; apresentam, todos eles, proporções semelhantes aos da área deÉvora, embora em escala mais ou menos reduzida, reflectindo, aliás, as dimensões das plantas dos própriosrecintos.

O recinto do Vale d’El Rei (nº 15), em Pavia, que aparentemente se conservava intacto, não tempropriamente um menir central, embora o menir 4, com cerca de 1, 85 m de comprimento, pudesseeventualmente ter desempenhado um papel semelhante.

1

Comprimento dos menires (recintos)

63%

34%

2%1%

PequenosMédiosGrandesMuito grandes

Fig. 6.21 - Representação gráfica da distribuição dosmenires que integram os recintos,

em função do comprimento.

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5

Comprimento (m)

Larg

ura

(m)

Xerez

Torrão

Fig. 6.22 - Gráfico de dispersão das dimensões dos menires(C, L) dos recintos do Xarez e do Torrão

(Elvas)

115Menires do Alentejo Central

Comprimento dos menires (Almendres)

33%

67%

PequenosMédios

Compr iment o dos menires ( Vale Mar ia do Meio)

40%

56%

4%

Pequenos

Médios

Grandes

Comprimento dos menires (Portela de Mogos)

43%

54%

3%

PequenosMédiosGrandes

Comprimento dos menires (Tojal)

29%

71%

PequenosMédios

Comprimento dos menires (Xarez)

85%

13%2%

PequenosMédiosGrandes

Comprimento dos menires (Monte da Ribeira)

58%

42%

PequenosMédios

Comprimento dos menires (Fontaínhas)

20%

70%

10%

PequenosMédiosGrandes

Comprimento menires (Casas de Baixo)

33%

67%

PequenosMédios

Comprimento dos menires (Cuncos)

55%

45% PequenosMédios

Comprimento dos menires (Vale d'El Rei)

64%

36%

PequenosMédios

Comprimento dos menires (Perdigões)

20%

60%

20%

PequenosMédiosMuito grandes

Fig. 6.23 - Gráficos comparativos dos diferentes tipos de menires, em função do comprimento, nos recintos megalíticos alentejanos.

Comprimento dos menires (Sideral)

74%

13%

13%

PequenosMédiosMuito grandes

A análise comparativa dos gráficos de dispersão das dimensões dos menires (Comprimento, Largura eEspessura), tomando os dos Almendres como termo de comparação, revela padrões muito semelhantesentre os vários recintos, embora com uma certa variabilidade. As diferenças mais sensíveis dizem respeitoaos menires isolados, que se destacam sobretudo no que diz respeito ao comprimento e ao índice dealongamento; em relação aos recintos, o contraste é bastante notório em relação ao recinto do Xarez, emque, como se viu, muitos dos menires apresentam dimensões realmente diminutas. O recinto de Vale d’ElRei apresenta igualmente valores muito reduzidos.

Nestes último caso, porém, as proporções mantêm-se relativamente homogéneas, conforme se podeverificar comparando as distribuições dos índices de alongamento (IAL) e de achatamento (IAC) (Fig.

116Manuel Calado

Almendres

Vale Maria do Meio

Fig. 6.24 - Menires dos recintos da área de Évora

Portela de Mogos

117Menires do Alentejo Central

Xarez

Monte da Ribeira

Tojal

Fontaínhas Cuncos Casas de Baixo

Vale d’El Rei

Fig. 6.25 - Menires dos recintos melhor conservados, fora da área de Évora.

118Manuel Calado

Cilíndricos

Ovóides

“Lâminas de punhal”

Fig. 6.26 - Menires isolados e apareados: principais grupos morfológicos(1: Caeira; 2: menir 1 de S. Sebastião;3: Vale de Cardos; 4: Velada; 5: Almerndres 2; 6: Menir 2 da Pedra Longa; 7: Outeiro; 8: Oliveirinha; 9: Sideral; 10: Fonte do Abade;11: menir 1 da Pedra Longa; 12: Aldeão; 13: Alto da Cruz; 14: Sobreira; 15: Casbarra 1;16: Azinhal; 17: Monte do Tojal; 18: Esbarrondadoiro; 19: Casas 1; 20: Patalim; 21: Barrocal;22: Monte da Ribeira; 23: Belhoa; 24: Vidigueiras; 25: Monte dos Almendres; 26: Vale de Rodrigo;27: Vale de Besteiros; 28: Fazendas; 29: Fragosa).

Ovóides alongados

119Menires do Alentejo Central

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

Com prim e nto (m )

Larg

ura

(m)

A lmendres

Xerez

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

1,60

0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00

Comprimento (m)

Larg

ura

(m)

AlmendresVale d'El Rei

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0

Comprimento (m)

Larg

ura

(m)

Almendres

Menires isolados

Fig. 6.27 - Gráficos comparativos das dimensões (C, L) de menires e recintos do Alentejo Central,em função do recinto dos Almendres.

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

1,60

0,00 1,00 2,00 3,00 4,00

Comprimento (m)

Larg

ura

(m)

AlmendresVale Maria do Meio

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

1,60

0,00 1,00 2,00 3,00

Comprimento (m)

Larg

ura

(m)

AlmendresTojal

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

1,60

0,00 1,00 2,00 3,00

Comprimento (m)

Larg

ura

(m)

Alm endres

Monte da Ribeira

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

1,60

0,00 2,00 4,00 6,00

Com prim ento (m )

Larg

ura

(m)

Alm endresPorte la de Mogos

120Manuel Calado

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

1,60

0,00 0,50 1,00 1,50 2,00

Largura (m)

Espe

ssur

a (m

AlmendresVale Maria do Meio

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

0,00 0,50 1,00 1,50 2,00

Largura (m)

Espe

ssur

a (m

AlmendresPortela de Mogos

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

0,00 0,50 1,00 1,50

Largura (m)

Espe

ssur

a (m

AlmendresTojal

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

0,00 0,50 1,00 1,50

Largura (m)

Espe

ssur

a (m

AlmendresXarez

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

0,00 0,50 1,00 1,50

Largura (m)

Espe

ssur

a (m

AlmendresMonte da Ribeira

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

0,00 0,50 1,00 1,50

Largura (m)

Espe

ssur

a (m

AlmendresVale d'El Rei

Fig. 6.28 - Gráficos comparativos das dimensões (L, E) de menires e recintos do Alentejo Central,em função do recinto dos Almendres.

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

0,00 0,50 1,00 1,50 2,00

Largura (m)

Espe

ssur

a (m

AlmendresMenires isolados

121Menires do Alentejo Central

0,00

0,501,00

1,50

2,00

2,503,00

3,50

0,00 1,00 2,00 3,00 4,00

Alongamento

Ade

lgaç

amen

to

Almendres

Vale Maria do Meio

0,00

0,501,00

1,50

2,00

2,503,00

3,50

0,00 1,00 2,00 3,00 4,00

Alongamento

Ade

lgaç

amen

to

Almendres

Portela de Mogos

0,00

0,501,00

1,50

2,00

2,503,00

3,50

0,00 1,00 2,00 3,00 4,00

Alongamento

Ade

lgaç

amen

to

Almendres

Tojal

0,00

0,501,00

1,50

2,00

2,503,00

3,50

0,00 2,00 4,00 6,00

Alongamento

Ade

lgaç

amen

to

Almendres

Xarez

0,00

0,501,00

1,50

2,00

2,503,00

3,50

0,00 1,00 2,00 3,00 4,00

Alongamento

Ade

lgaç

amen

to

Almendres

Monte da Ribeira

0,00

0,501,00

1,50

2,00

2,503,00

3,50

0,00 1,00 2,00 3,00 4,00

Alongamento

Ade

lgaç

amen

to

Almendres

Vale d'El Rei

0,00

0,501,00

1,50

2,00

2,503,00

3,50

0,00 2,00 4,00 6,00 8,00

Alongamento

Ade

lgaç

amen

to

Almendres

Menires isolados

Fig. 6.29 - Gráficos comparativos dos índices de alongamento e de adelgaçamento de menires e recintos do Alentejo Central, em função do recinto dos Almendres.

122Manuel Calado

6.29). Note-se que, se considerarmos, como defendo, que

a grande maioria dos menires são blocos naturais, éprovável que as diferenças observadas remetamprincipalmente para os fenómenos geológicos que deramorigem aos diferentes tipos de rocha utilizados localmente;o agenciamento humano circunscrevia-se,presumivelmente, à decisão sobre o tamanho (e peso)dos menires, enquanto as formas seriam, certamente,objecto de uma selecção em função do material disponívelnum raio que, como vimos, não deveria exceder os 10Km. Num certo sentido, adaptando a proposta de P.Kalb, poderíamos considerar que o monumentoespelhava, não tanto os territórios que o rodeavam, mascertos aspectos da geologia da área denvolvente.

Por outro lado, em termos gerais, é de esperar que,nos recintos mais amputados, se verifique umenviesamento nas dimensões dos menires. Com efeito,os menires de maiores dimensões resistiriam, em princípio, melhor às depredações, sendo, sobretudo, osmenires de tamanho mais manipulável, os que foram abatidos. Isso mesmo foi claramente observado norecinto de Vale Maria do Meio (nº 2) (Calado, 2000b: 173), em que sobreviveram apenas as extremidades devários menires pequenos, cujas porções mesiais terão sido, segundo parece, transformadas em silhares. Estetipo de conservação diferencial dos menires aplica-se, aparentemente, ao recinto das Fontaínhas (nº 11) e, emmenor grau, ao de Cuncos (nº 7), em que parecem ter sobrevivido exclusivamente ou quase, apenas osmenires mais volumosos.

Nos alinhamentos da Vendeia, no SW francês, foi igualmente confirmado um fenómeno análogo (Beneteau,2000); numa escala muito diferente, e em contexto neolítico, foi o que aconteceu com o menir de Locmariaquer:de um alinhamento de 19 menires, aparentemente de dimensões escalonadas, sobreviveu apenas, in loco, omaior de todos (Fig. 6.30).

6.2. DecoraçãoSe excluirmos as covinhas e um ou outro caso mais duvidoso, os menires alentejanos decorados (24

exemplares) representam apenas cerca de 6% do total de monólitos individuais registados (403 exemplares);a maior parte (19 exemplares) ocorre nos três maiores recintos megalíticos da região, enquanto os restantessão exclusivamente menires isolados, de tipo “lâmina de punhal”, restritos às áreas de Évora e Reguengos deMonsaraz. Nas áreas de Pavia, Cuncos e Tojal, todos os menires são, ou parecem ser, anicónicos, tal comoacontece com todos os grandes menires isolados, de formas cilíndricas ou ovóides, patentes nas áreas de

Fig. 6.30 - Menir tombado de Locmariaquer e fossas de implantação dos menires que completavam

o alinhamento (seg. Giot et al., 1998: 287, adaptado).

123Menires do Alentejo Central

6. 32 - Distribuição dos menires decorados (excepto covinhas).

Fig. 6.31 - Principais tipos de motivos gravados nos menires do AlentejoCentral.

124Manuel Calado

Évora e Reguengos de Monsaraz.É claro que existe a possibilidade de estarmos perante uma realidade distorcida (atendendo a que a

pintura ou a gravura fina poderiam ter sido as técnicas mais generalizadas); de facto, se assim fosse, osmotivos gravados ou pintados teriam desaparecido ou exigiriam, para ser identificados, uma abordagemmuito específica.

A decoração conhecida foi, quase sempre, executada em baixo-relevo, embora existam ainda outrassoluções técnicas, mais raras e cujos motivos são mais difíceis de identificar, de forma inequívoca.

Por norma, os motivos foram gravados nas superfícies mais aplanadas e regulares, as quais, na maiorparte dos casos, correspondem aos planos de diaclase, menos afectadas pela disjunção esferoidal (Le Roux,2003: 373). A ideia, defendida por M. Varela Gomes, de que se tratava de superfícies artificialmente rebaixadas,com a finalidade de receberem os motivos gravados (Gomes, 1997c: 269), não me parece resistir a umaobservação cuidadosa de alguns menires decorados, como o menir 18 de Vale Maria do Meio ou o menires25 e 33 Portela de Mogos, em que, claramente, não houve desbaste do bloco original, para além do mínimonecessário para a execução do baixo-relevo; naqueles menires, entre outros, são bem visíveis os bordos dassuperfícies desbastadas.

Note-se que a utilização de blocos com faces naturalmente aplanadas foi igualmente observada em muitosmenires, aparentemente anicónicos, que integram os recintos alentejanos, e é igualmente muito recorrentenoutros conjuntos de menires da fachada atlântica europeia (Sellier, 1991; Beneteau, 2000).

Apesar de serem relativamente pouco abundantes, os menires decorados alentejanos apresentam, aindaassim, uma certa variedade de motivos e, sobretudo, de modos de organização dos mesmos.

O tema mais repetido e com maior dispersão geográfica é, sem dúvida, o do báculo (9 menires combáculos e 19 exemplares, no total, nas áreas de Évora e Reguengos de Monsaraz), sempre representado embaixo-relevo e, por norma, numa posição de destaque na superfície do menir. Também em baixo-relevo elogo a seguir ao báculo, em termos de frequência relativa, surge o crescente lunar, associado a uma figuratrapezoidal ou rectangular e, em muitos casos, a dois pequenos círculos dispostos de um e de outro lado dessafigura, formando um jogo gráfico com óbvias sugestões antropomórficas.

As linhas onduladas ou serpentiformes são outro dos temas presentes, com vários exemplares, naiconografia dos menires alentejanos; trata-se, sobretudo, de linhas múltiplas que (ao contrário das antas, ondeocorrem também, frequentemente, na horizontal) se desenvolvem sempre na vertical. Por último, são dereferir alguns círculos simples, fechados ou abertos, círculos com covinhas (cup and ring), um círculo radiado(sol) e dois círculos abertos, cada um com dois segmentos de recta paralelos (menir 64 do recinto dosAlmendres). Para além destes, existem ainda outros motivos que, por serem de difícil leitura, exigem algumasreservas e recomendam, por agora, um tratamento menos circunstanciado.

Na verdade, parece existir uma certa “hierarquia das grafias”, distinguindo, originalmente, os “motivosrealizados de uma tal maneira que são quase invisíveis ao olho, enquanto outros realizados sobre o mesmosuporte podem ser facilmente apreciados” (Bueno e Balbín, 2002: 614, 615).

O trabalho de identificação destes temas ocultos está quase todo por fazer e as características físicas dos

125Menires do Alentejo Central

granitos não ajudam certamente nessa tarefa. Por esta razão, há que assumir algum grau de incerteza nosdesenhos publicados, inevitável nos suportes mais friáveis e sujeitos a agressões externas mais violentas e, poroutro lado, não esquecer que, se efectivamente, a pintura tiver sido usada na decoração dos menires, estamosperante uma amostra muito truncada das iconografias que completavam in illo tempore a mensagem dosmonumentos.

Teoricamente, os motivos mais frequentes e mais conspícuos (em função da técnica utilizada ou da posiçãoque ocupam no suporte), terão desempenhado um papel de relevo no sistema ideológico intrinsecamenteassociado aos menires. Os outros, por serem raros ou demasiado discretos, terão, nesta ordem de ideias, umpapel secundário, podendo implicar, nalguns casos, acrescentos posteriores e, por isso, relacionáveis comoutros contextos, mas implicando, ao mesmo tempo, alguma continuidade nos discursos simbólicos.

6.2.1. O báculoA importância do báculo na iconografia (e na ideologia) dos construtores de menires é indiscutível; na

verdade, esse estatuto parece ter sobrevivido no objecto móvel, fortemente estilizado, que acompanhoualguns enterramentos megalíticos na região alentejana e áreas limítrofes.

Outro aspecto que torna o báculo um símbolo fundamental para a descodificação do ambiente mentalem que foi forjado o fenómeno do megalitismo não-funerário, é o facto de este tema ser igualmente recorrentenos menires do ocidente francês e, em particular, da Bretanha, onde, na maioria dos casos, foi igualmentegravado em baixo-relevo.

O báculo, por ter, aparentemente, perdurado em diferentes contextos culturais, mantendo-se vivopraticamernte até aos nossos dias, pareceria, à primeira vista, fácil de interpretar. Efectivamente, a denominaçãoque vingou na bibliografia arqueológica portuguesa, remete,automaticamente, para o báculo episcopal, cujo significadoradica, metaforicamente, no cajado dos pastores.

Esta abordagem é, possivelmente, a que mais segeneralizou por ser certamente a mais óbvia, tanto mais que,ainda hoje, é possível encontrar, entre os pastores de ovi-caprinos, um instrumento semelhante (Gonçalves, 1992: 97;Calado, 2002: 29) (Fig. 6.33). Segundo Charles-Tanguy LeRoux, “on y voit un symbole d’autorité dérivé de l’houlettedu berger, signification qui s’est perpétuée jusqu’à nos joursà travers la crosse épiscopale” (Le Roux, 1995: 15); a mesmalógica foi adoptada por Serge Cassen e Jean L’Helgouac’hque admitem uma inspiração do símbolo num objectoconcreto da vida quotidiana “auxiliaire du berger chargé dela conduite et de la sauvegarde du troupeau. Ainsi le symbolede la crosse dans la réligion chrétienne, emblème hierarchique

Fig. 6.33 - Pastor alentejano, com cajado curvo.(Foto de José M. Rodrigues)

126Manuel Calado

du pouvoir réligieux des évèques et des abbés, s’appuie-t-il sur cette notion de pasteur, bien affirmée dans leNouveau Testament” (Cassen e L’Helgouac’h, 1992). Note-se, desde já que, num trabalho mais recente(Cassen et al., 2000), um destes autores adoptou uma outra via interpretativa que terei, mais adiante,oportunidade de comentar.

Na verdade, têm sido muito diversas as interpretações propostas; mesmo assim, pode afirmar-se que amaioria assume uma certa relação genética entre o símbolo neolítico e o báculo que, com ligeiras variantes,reemergiu em culturas tão distintas como a egípcia faraónica, a grega, a romana ou a cristã.

Esta relação aparente, cuja verosimilhança é perfeitamente aceitável, não implica, evidentemente, que osímbolo tenha mantido, nas várias circunstâncias referidas, o mesmo significado.

O báculo parece ser, na sua origem, indissociável da “invenção” do próprio megalitismo e, neste sentido,as implicações do símbolo deveriam obrigatoriamente ser distintas, nesta fase genesíaca, de todas as adaptaçõese reinterpretações posteriores,em sociedades seguramente muito diferentes.

Um dos aspectos em que quase todos os autores concordam, mesmo que tacitamente, diz respeito à ideiade que o báculo representa um instrumento ou uma arma, isto é, um objecto que, de uma forma ou de outra,funcionaria como uma extensão do braço humano, remetendo para um contexto iconográfico de forte expressãoantropomórfica.

No que diz respeito aos protótipos funcionais, uma parte das propostas avançadas teve em mente, não osbáculos gravados nos menires (descobertos, como vimos, tardiamente) mas tão-só os objectos móveis, dafamília das placas de xisto, que integram alguns mobiliários funerários megalíticos do Sudoeste peninsular. Éeste o caso das propostas de Manuel Heleno (Heleno, 1942: 462) , Georg e Vera Leisner (Leisner e Leisner,1951: 138) ou O. Veiga Ferreira (Ferreira, 1985: 89). Todos estes autores, mesmo reconhecendo algumasfragilidades nessa leitura, procuraram explicar o báculo como uma evolução estilizada do machado encabado,símbolo com fortes repercussões noutras áreas da europa neolítica e que teria uma certa correspondênciacom as enxós encabadas calcolíticas ou com a forte presença da pedra polida nos espólios fúnebres.

Esta hipótese, lançada por M. Heleno (1942: 462) apoiava-se num exemplar da Lapa da Galinha (Alcanena),cuja forma em ângulo recto, sugere efectivamente um machado encabado e que seria o arranque de umaevolução estilística que culminaria nos exemplares mais recurvados e, logo, mais afastados do modelo funcional.

O. Veiga Ferreira que, num trabalho específico sobre os báculos, acabou por aderir à tese de ManuelHeleno (a quem, aliás, dirigiu algumas críticas póstumas muito violentas), concluindo que os báculos poderiam“estar ligados ao culto do machado encabado” (Ferreira, 1985: 89), tinha escrito anteriormente, numa obraem parceria com Manuel Leitão, que “...parecem ter o valor de símbolos de autoridade (...) e não demachados ou foices, ou alabardas.” (Ferreira e Leitão, 1983: 179). Quanto ao protótipo que teria dadoorigem ao símbolo, esses autores sugerem, com base na interpretação do báculo da Anta da Herdade dasAntas, que se trate de um artefacto compósito; nesse belíssimo exemplar, destacam a existência de “uma pegacom ressalto anterior na sua extremidade, para o instrumento não deslizar e cair da mão do seu utente, quandoimpulsionado de cima para baixo num movimento de machete”, assim como “o gume serrilhado e o bordocortante, possivelmente constituído por enxertos de sílex.” (Ferreira e Leitão, 1983: 179).

127Menires do Alentejo Central

Fig. 6.35 - Bloco decorado de Vale de Rodrigo 2 (seg.Larsson, 2001)

Victor S. Gonçalves, refuta, de forma taxativa, o modelo evolucionista de Heleno, com o argumento (jáesboçado por G. e V. Leisner de que os exemplares da “variante em 7”, eram casos isolados, correspondendoa quase totalidade dos báculos conhecidos à “variante em 9” , “sendo muito improvável, talvez mesmo absurda,a sua associação a machados encabados” (Gonçalves, 1992: 93. Este autor, admitindo que, no caso dosexemplares em ângulo recto, se podia tratar da representação de machados encabados, propõe igualmente ocajado de pastor, como referente funcional do objecto simbólico ou do símbolo gravado. Quanto ao significado,recordando que “o peixe não significava , para os cristãos primitivos, a indicação de uma venda de pescado”,afirma que “o báculo do pastoré mais que um instrumento,torna-se frequentemente numsímbolo de riqueza econsequentemente de poder”.(Gonçalves, 1992: 93).

Nesta ordem de ideias, araridade relativa dos báculosde xisto, quando comparadoscom as placas, e a distribuiçãoespacial dos mesmos noterritório de Reguengos deMonsaraz, levaram este autor a questionar se não “corresponderiam assim a chefaturas, distribuídas em funçãode espaços territoriais bem delimitados?” (Ibidem).

A escavação da anta 2 de Vale de Rodrigo permitiu a descoberta de um bloco de granito decorado,tombado no interior da câmara. Esse bloco, para o qual se propôs uma funcionalidade absolutamente inédita- servir de pedra de fecho da câmara, expondo o ladodecorado na fachada do monumento - tem, entre outrosmotivos, um possível báculo (Fig. 6.35) que odescobridor interpreta como machado e compara,mesmo assim, aos símbolos gravados nos menires daregião (Larsson, 2001: 38).

Esta aparente confusão interpretativa, entremachados e cajados, talvez seja mais emic do que etic:nuns casos, o símbolo aproxima-se mais da imagemdo machado encabado, sempre que, como em Vale deRodrigo (nº 1688) ou no Monte dos Almendres (nº32),a curvatura é pouco acentuada, ou do cajado, nosoutros casos; uma fórmula, aparentemente sincrética,de representar essa ambiguidade, é a que encontramos

Fig. 6.34 - Exemplo do uso contemporâneo do báculo como símbolo de poder.

128Manuel Calado

plasmada nos machados-báculos bretões.Outra proposta recente, também baseada exclusivamente na análise dos báculos de xisto, sugere que o

protótipo funcional seria, efectivamente, uma arma de arremesso, de tipo maça, comparável aos “boomrangs”australianos (Brandherm, 1995).

Brandherm admite que, para além de armas de combate pessoal, pudessem ter servido igualmente comoarmas de caça, embora desvalorize esta possível função, argumentando que “ como instrumento exclusivamentede caça seria difícil tornar-se num símbolo de ‘status’ elevado nas sociedades da antiga europa do quarto eterceiro milénio, sociedades nas quais a caça muito provavelmente ainda não se tinha transformado numpassatempo desportivo de algumas pessoas privilegiadas” (Brandherm, 1995: 92).

O casal Leisner, cuja preferência, embora cautelosa, pela tese do machado, já foi acima referida, achou,por outro lado, que “a comparação com o bumerang (...), também não” era “convincente” (Leisner e Leisner,1951: 138).

No entanto, esta hipótese, recuperada primeiramente num trabalho colectivo (Bailloud et al, 1995) foiretomada, em força, em trabalhos mais recentes (Cassen et al., 2000; Cassen e Vaquero Lastres, 2004), comargumentos e uma visão de conjunto muito elaborados.

Subjacente a esta linha interpretativa que, no que respeita à identificação dos báculos como símbolosinspirados numa arma de arremesso, não é propriamente original, está a proposta de vinculação dos menires(e da iconografia que lhes está associada) ao mundo dos últimos caçadores-recolectores mesolíticos.

Trata-se, metaforicamente, de uma arma de arremesso contra uma certa mainstream que tende a identificaro megalitismo como um fenómeno decorrente da implementação ou do desenvolvimento da economia agro-pastoril e em que a monumentalidade, megalítica ou outra, é vista como parte integrante de um conjunto deinovações especificamente neolíticas.

É certo que a própria atribuição da génese do megalitismo às últimas comunidades mesolíticas, nãosendo completamente inusitada (Bradley, 1993, 1997), exige dados de que, aparentemente, não dispomos eque, em boa verdade, Serge Cassen sugere a atribuição dos monumentos com báculos a uma fase de transiçãoentre os últimos caçadores-recolectores e os primeiros neolíticos, embora com um papel particularmenteactivo para os primeiros (Cassen et al., 2000: 550.

No entanto, ao contrário da proposta de Brandherm (1995), a arma de arremesso seria aqui basicamenteuma arma de caça miúda, destinada nomeadamente à captura de lagomorfos; à primeira vista, esta funçãoparece insuficientemente relevante para justificar a figuração do báculo lado a lado com animais de grandeporte, potencialmente perigosos, como o cachalote ou os cornúpetos ou mesmo com um símbolo tão fecundona Europa neolítica como foi o do machado.

Na verdade, creio que as grandes estelas bretãs reunem símbolos que poderão, eventualmente, seratribuídos ao mundo dos caçadores-recolectores, com outros que reflectem as inovações com que, na segundametade do VI milénio a.C, eles entraram em contacto e que, de uma forma ou de outra, lhes condicionaram astrajectórias. Nesse sentido, quer a representação de animais, quer a representação, relativamente poucofrequente nas estelas, de arcos e flechas, parecem evocar o mundo dos caçadores-recolectores; o machado

129Menires do Alentejo Central

e o báculo, especialmente por aparecerem associados no contexto de suportes excepcionais, poderiam, porseu turno, referir-se, respectivamente, à pastorícia (de ovi-caprinos) e à agricultura/desflorestação. Adomesticação dos animais e a domesticação das plantas.

No entanto, é verdade que alguns báculos, sobretudo os menos recurvados, se afastam da forma típica docajado pastoril e a possibilidade de o artefacto ter sido adaptado a partir de uma arma curva pré-existentenão parece totalmente inverosímil.

Num painel com pinturas rupestres de Medbo (Barfendalen, Bohuslan, Suécia) atribuíveis ao Mesolíticoescandinavo, a par de antropomorfos e representações de animais selvagens, aparece, relativamente centradona parede vertical de um rochedo, o que parece ser a representação de um báculo (Tilley, 1996: 49). Note-seque as dificuldades inerentes à datação da arte rupestre e as datas tardias do Mesolítico escandinavo nãopermitem definir, neste caso, a antiguidade relativa, face aos báculos dos menires alentejanos ou bretões. São,por outro lado, bem conhecidas as “importações” de itens neolíticos, no Mesolítico escandinavo, duranteséculos, sem alterações sensíveis nos padrões económicos dessas sociedades.

Na perspectiva em que me coloco, admitindo que o cajado surgiu, ab ovo, como intrumento de pastores,com funções muito específicas (ajudar a capturar os animais individualmente, para ordenha, tosquia ou outrosfins), nada obsta a que passasse igualmente a ser utilizado, pelos mesmos pastores, como arma de caça

oportunista.A tese do boomerang assenta, fundamentalmente, no cruzamento de dados etnográficos de proveniências

muito diversificadas (Austrália, África, América), de dados históricos e iconográficos (relativamente ambíguos)do mundo clássico e de alguns escassos dados iconográficos europeus, embora a proposta tenha, aparentemente,

Fig. 6.36 - Painel decorado de Medbo (Bohusla, Suécia, de temática mesolítica,com um possível báculo na área central (seg. (Tilley, 1996: 49).

130Manuel Calado

surgido de uma leitura peculiar da temática expressa nas grandes estelas decoradas bretãs e, em particular, daestela de Gavrinis/Table des Marchands (Cassen e Vaquero-Lastres, 2003; Cassen e Vaquero-Lastres, 2004).

Nessa leitura, para sublinhar a interpretação do báculo como arma de caça e, por isso, associável aoambiente económico/ideológico dos caçadores-recolectores, o próprio machado foi desvinculado dos contextosneolíticos ou neolitizantes em que, por norma, se insere e considerado um “objecto simbólico, tão próximo dasingularidade e da raridade dos animais figurados, como afastado da ferramenta pletórica dos agricultores”(Cassen et al., 2000: 651).

No extremo oposto, em termos interpretativos, refira-se ainda a proposta recente de I. Thorpe que,assumindo, sem discussão, que os báculos bretões seriam símbolos “da celebração da introdução da agriculturana área” (Thorpe, 1999: 60) aceita, como igualmente viáveis, duas leituras muito distintas, mas complementares:o báculo tanto poderia referir-se, de acordo com a opinião mais generalizada, à criação de ovelhas, comorepresentar uma espiga de cereal e ter, portanto, conotações agrícolas.Esta última interpretação tem, elaprópria, uma história já longa, com base nos báculos, quase todos com a haste muito aberta, patentes naestela/esteio de cabeceira da Table des Marchands (Cassen et al., 2000: 608).

Recorde-se, para terminar, que o báculo ocorre, esporadicamente, como um elemento decorativo, emrecipientes cerâmicos neolíticos, tanto na Bretanha como no Alentejo (Cassen e L’Helgouac’h, 1992). Trata-se, pelo menos no Alentejo, de prováveis evidências da continuidade do símbolo, cuja longevidade se presta,naturalmente, a alguns equívocos cronológicos.

6.2.2. A Lua e o Quadrilátero Nos menires alentejanos, estes dois motivos aparecem quase sempre associados e, apesar de algumas

ligeiras variações, em termos de formas e de dimensões, apresentam sempre a mesma posição relativa, com ocrescente por baixo do quadrilátero e ambos numa posição de destaque. A mesma associação pode sertambém observada na face posterior da estela de cabeceira da Table des Marchands, na Bretanha (Fig. 11.9)(Boujot e Casse, 1997: 220; Cassen et al., 2000: 296); em contrapartida, um outro menir bretão, o deKermaillard (Fig. 11.10) (Briard, 1990: 5), apresenta os dois símbolos lado a lado. Não se conhecem, noAlentejo, exemplares em que o quadrilátero apareça separadamente, como acontece em alguns menires bretões(Fig. 11.8) (Shee, 1981; Cassen et al., 2000: 291, 294; Lecerf, 1999: 78) ou no caso, excepcional a todos ostítulos, de Stonehenge (Burl, 1999) e ainda em monumentos peninsulares mais tardios (Bueno e Balbín,1997).

A distribuição geográfica da associação Lua/Quadrilátero é muito mais restrita que a dos báculos; defacto, só foi, até agora, identificada nos três grandes recintos de Évora: Almendres, Portela de Mogos e ValeMaria do Meio e, à excepção do menir 18, no último destes recintos, esses símbolos são, aparentemente,sempre acompanhados por dois pequenos círculos, dispostos um de cada lado do quadrilátero.

De uma forma geral, em todos os casos, a disposição dos diferentes motivos entre si e em relação aopróprio suporte, evoca claramente a figura humana. Segundo Mário Varela Gomes (Gomes, 1997c; 2002b),responsável pela interpretação e pelo desenho dos menires decorados dos Almendres (nº 1) e da Portela de

131Menires do Alentejo Central

Mogos (nº 4), os círculos e o quadrilátero seriam, respectivamente, representações dos olhos e do nariz dopersonagem; o crescente lunar, por sua vez, representaria um colar. A reforçar o carácter antropomórfico doconjunto, foram ainda identificados alguns detalhes anatómicos (seios) ou de indumentária (cinto), perfeitamenteintegráveis no contexto, mas cuja existência efectiva, atendendo ao grau de conservação das superfíciesdecoradas dos menires, me parece discutível.

Note-se que, nestes menires, o crescente poderia igualmente, ser visto como a figuração da boca, tantomais que o quadrilátero pode ser interpretado como o nariz. Esta possibilidade que, nunca foi equacionada emrelação às estátuas-menires de Évora, foi, no entanto sugerida, por Vergílio Correia, com base na análise doídolo cilíndrico da Folha das Barradas (Correia, 1921: 89) .

No menir 18 do recinto de Vale Maria do Meio (nº 2), o aspecto antropomórfico pode, eventualmente, tersido sugerido por um arranjo diferente: os dois báculos dispostos simetricamente poderiam substituir graficamenteos círculos que, nos restantes, são interpretados como a representação dos olhos (Vol. 2, fig. 21).

Seja como for, o antropomorfismo do conjunto não implica que cada um dos elementos não tenha, por sisó, um significado específico. Tudo leva a crer que, nos menires de Évora, tenham sido usados símbolos comvida própria, articulados em jogos gráficos que lhes atribuem novas dimensões simbólicas.

O crescente lunar aparece, nos menires de Évora, igualmente associado a outros motivos, embora, nessescasos, a forma seja menos explícita. Um deles, é o domenir 17 da Portela de Mogos, um monólito esguio eanguloso, com uma iconografia, em que se incluemnomeadamente figurações antropomórficas, bastantedistinta da dos restantes menires decorados desse mesmorecinto; o outro é o menir 57 dos Almendres (Fig. 6.37),com um conjunto de báculos e com um crescente, doqual foram publicadas fotografias, feitas após tratamentobicromático (Gomes, 1989: 257; Bueno e Balbín, 1995:371), e que, num trabalho mais recente, foi interpretadotambém como báculo (Gomes, 1994b: 337).

Existe ainda um conjunto de motivos em arco decírculo, presentes nos menires de Évora e de Reguengos,assim como noutros contextos (Bueno e Balbín, 1997:fig. 18) que podem, por hipótese, ser representaçõeslunares, embora se afastem do inconfundível rigor gráfico dos crescentes, em baixo-relevo, que ocorremassociados aos quadriláteros.

A importância simbólica dos astros e, dentro destes, do Sol e da Lua, evidenciada pelas relações espaciaisentre os monumentos e a paisagem, parece ter-se materializado igualmente em iconografias específicas,recorrentes, em posições de destaque nas superfícies dos menires.

O círculo, cujo significado, por se tratar de uma forma demasiado universal, é sempre difícil de balizar,

Fig. 6.37 - Lua e báculo, em baixo-relevo, no menir 57 do recinto dos Almendes.

132Manuel Calado

poderia, neste contexto, corresponder também a representações astrais e, atendendo à presença do crescente,eventualmente solares.

A interpretação do crescente, nessas figurações antropomórficas, como objecto de adorno (colar), é umaboa possibilidade que remete, sobretudo, para paralelos mais tardios, na região e fora dela (Bueno, 1995;Kinnes, 1995;Marinis, 1995; Bueno e Balbín, 1998; Gonçalves, 2004: 170).

No entanto, na referida estela-menir/esteio de cabeceira da Table des Marchands, elementos análogosapresentam um arranjo de tal forma distinto, que as interpretações avançadas não aludem sequer à possívelfiguração antropomórfica do conjunto. De facto, o crescente foi interpretado como uma evocação do mundosubterrâneo e o quadrilátero, como uma representação da terra; neste caso particular, o quadrilátero é encimadopor dois semi-círculos que, por sua vez, foram interpretados como uma figuração do Céu; existem ainda doispequenos semi-círculos que, nas bordas da estela, enquadram os outros motivos e que foram interpretadoscomo representações astrais (o Sol ou a Lua) (Boujot e Cassen, 1997: 220).

Não deixa de ser curioso que, nesta leitura (em que se procurou um paralelo com a decoração de um vasodo monumento funerário de Lannec er Gadouer) se interpretem como figurações astrais dois motivos poucoexplícitos e se omita o sentido mais óbvio do crescente.

Numa perspectiva semelhante, baseada na história comparada das religiões, propôs-se uma certa ligaçãoentre conceitos como lua-chuva-fertilidade-mulher-serpente-morte-regeneração periódica, como um fundocomum que “surge com frequência nas sociedades agrícolas” (Jorge, 1990: 222).

O crescente é, evidentemente, a forma mais inequívoca de representar a Lua; no entanto, admitindo apossibilidade de os mesmos símbolos gráficos representarem, polissemicamente, realidades distintas, mesmoque, de algum modo, relacionáveis, o crescente poderia remotamente remeter para as plantas em ferraduraque encontramos nos recintos alentejanos ou ambos reproduzirem um conceito comum. Ascorrespondênciasformais entre alguns símbolos básicos da arte rupestre esquemática e plantas de estruturas arquitectónicas,sempre muito hipotéticas e criticáveis (Bradley, 1997: 51), não deixam, mesmo assim, de suscitar algumareflexão (Zuchner, 1989; Arcà, 1995; Avner e Avner, 1995).

O carácter ambíguo de alguns destes símbolos, parece observar-se, por exemplo, no menir 57 dosAlmendres, em que, como se viu, o crescente se confunde com a extremidade curva dos báculos, ou no menir17 da Portela de Mogos, em que o possível crescente se aproxima graficamente de um motivo interpretadocomo corniforme, cujos paralelos bretões são muito idênticos (Fig. 11.18).

Esta ambiguidade permite compreender melhor a interpretação avançada por um autor bretão, para quemas lúnulas são também uma variante do símbolo cornudo (Lecornec, 1996: 128).

Quanto ao quadrilátero que, nos exemplares melhor conservados, assume normalmente a forma de umtrapézio, com a base para cima, o significado é, aparentemente, mais difícil de estabelecer. A forma quadrangular(e, sobretudo, trapezoidal) poderia, atendendo ao contexto, remeter para o simbolismo do machado, fazendo,como acontece frequentemente nos exemplares bretões, contraponto com as representações dos báculos.

Por outro lado, a forma trapezoidal (e, por vezes rectangular), com dimensões muito semelhantes às domotivo representado nos menires de Évora, é característica de um artefacto simbólico muito específico do

133Menires do Alentejo Central

Alentejo Central: as placas de xisto decoradas que ocorrem, em contextos funerários do Neolítico final eCalcolítico, onde, por vezes, têm como contraponto, precisamente os báculos de xisto.

A associação do báculo com uma forma rectangular, em baixo-relevo, que foi interpretada como paleta,surge também no menir de Navalcán (Bueno e Balbín, 1995: 375,376) e figuras quadrangulares incisas surgem,como referi, esporadicamente também em esteios de sepulturas megalíticas, nomeadamente nas da Granja deToniñuelo, Soto e Alberite (Bueno e Balbín, 1997: 115).

Para ampliar o leque das ambiguidades, note-se que, no caso específico das placas de xisto, a forma dosuporte parece assumir igualmente carácter antropomórfico, reforçado, nalguns casos de forma muito explícita,pela decoração (olhos, braços) ou por detalhes anatómicos recortados (ombros, braços, olhos) (Gonçalves,2003c; 2004a).

Convém ter em mente que o trapézio tem também, tal como os semi-círculos, correspondência em formasarquitectónicas neolíticas; tanto as casas longas como muitos dos grandes monumentos tumulares da EuropaCentral e Ocidental, apresentam plantas trapezoidais e a analogia formal com a forma do machado é, aliás,uma observação antiga (Cassen et al., 2000: 607), retomada em trabalhos recentes (Patton, 1991; Tilley,1996a).A forma trapezoidal está igualmente latente, nos alinhamentos de menires, organizados em leque, demuitos monumentos bretões e britânicos.

Em contrapartida, ignoramos quase tudo sobre as plantas das cabanas neolíticas peninsulares; num contextoum pouco mais antigo, a única excepção, funcionalmente muito mal compreendida, é a fossa trapezoidal quesobrepõe o recinto de postes dispostos em semi-círculo, no concheiro mesolítico da Moita do Sebastião(Roche, 1972); a aparente raridade desta estrutura deve, como se sabe, ser matizada pela escassez deescavações modernas, em área aberta, tanto nos sítios mesolíticos como nos neolíticos antigos.

6.2.3. A SerpenteTrata-se de um dos símbolos mais universais, de entre os que estão presentes nos menires alentejanos.

Recorrente na arte rupestre de ar livre, nomeadamente no complexo rupeste do Guadiana, é igualmente umtema central na arte megalítica peninsular (Shee, 1981).

A interpretação das linhas ondulantes que, nos menires, se orientam sempre na vertical, não é pacífica(Bueno e Balbín, 1995): alguns autores propõem que se trate, efectivamente, da representação da serpente,animal que integra, muitas iconografias e mitologias, um pouco por todo o lado (Clottes e Lewis Williams,1998: 28; 94; Dowson, 1998: 79; Jolly, 1998: 259; Whitley, 1998: 16,17), podendo implicar ou não umacerta ofiolatria; as dúvidas resultam, naturalmente, do facto de, na maioria dos casos, não serem perceptíveiscaracteres anatómicos inequívocos.

As implicações simbólicas da serpente são culturalmente determinadas: uma das leituras possíveis e, decerto modo, aquela que cristalizou na tradição cristã, é a que identifica a serpente com o mundo subterrâneo,com conotações mais ou menos tenebrosas (Boujot e Cassen, 1997).

Num texto recente, a propósito de um menir em que foi identificado um grande serpentiforme vertical, foisugerido que “o facto de as serpentes serem gravadas como se subissem a partir da terra (i.e. movendo-se

134Manuel Calado

verticalmente para cima desde a base da pedra) ecoa o carácter ctónico frequentemente atribuído às serpentesnas mitologias documentadas” (Scarre e Raux, 2000: 758).

Dentro deste campo semântico, outro sentido possível remete para o mundo dos mortos e para conceitosde morte/renascimento que o megalitismo funerário pressupõe (Bueno e Balbín, 1995).

Aparentemente noutro extremo, David Calado, num estudo sobre os menires do Algarve, interpreta aslinhas ondulantes como representações de ondas, tendo como referente o próprio mar, com o qual os monólitosmantêm uma relação de proximidade relativa (D.Calado, 2000a).

A associação entre este símbolo e a água - as ondas, a chuva ou os rios - conta igualmente com interessantesparalelos etnográficos (Dowson, 1998).

No Alqueva, os serpentiformes estão bemrepresentados nos três principais núcleos de gravuras- Molino Manzanès, Casa da Moinhola (Fig. 6.38)e Retorta - por outro lado, sugerindo analogiasformais, numa outra escala, o complexo rupestreconcentra-se claramente junto das curvas maisacentuadas do Guadiana (Calado, 2004), pelo quenão deixa de ser sugestiva a possibilidade de ossímbolos aludirem, ou aludirem também, ao cursoserpenteante do rio.

Nada obsta, no entanto, a que a serpente e a água fossemidentificadas pelo mesmo símbolo e que, numa baseanalógica, uma e outra fossem tidas como manifestações deuma mesma realidade. Sabe-se, por exemplo, que entre osaborígenes australianos “o movimento da serpente ancestralcriou os meandros dos cursos de água” (Tilley, 1994: 40) ea própria linguagem corrente refere metaforicamente o cursoserpenteante dos rios ou os movimentos ondulantes dasserpentes.

A escavação do povoado tardo-neolítico das ÁguasFrias (Calado e Rocha, 2004) revelou um sistema de fossossinuosos, semelhantes aos que, em Papa Uvas (Martin de laCruz, 1985, 1986) e em Juromenha 1 (Calado, 2002b),tinham sido apenas muito parcialmente observados; umdeles, o fosso mais interior, cuja extremidade Sul foiintegralmente escavada, apresenta uma curiosa efuncionalmente incompreensível, redução progressiva dasdimensões (largura e profundidade) o que, aliado à formaondulante, sugere a representação de uma cauda de serpente.

Fig. 6.39 - Distribuição das gravuras picotadas ao longo do Guadiana, na área do Alqueva.

Fig. 6.38 - Rocha 10 da Moinhola (Alqueva), comserpentiformes, associados a antropomorfos e círculos

(seg. Baptista, 2002: 162).

135Menires do Alentejo Central

Reduzindo mais a escala, note-se que é muitosugestiva a presença, em dois povoados com fossossinuosos, Juromenha 1 e Papa Uvas (Martin de laCruz, 1985, 1986), de cerâmicas decoradas comserpentiformes.

Recentemente, num estudo específico sobre o temada serpente na pré-história peninsular, Primitiva Buenoe Rodrigo Balbín observaram uma frequenteassociação entre as representações mais convincentesda serpente e os temas antropomórficos que, nosmenires, são expressos pelo próprio suporte (Bueno eBalbín, 2002).

É difícil, neste contexto, resistir a comparaçõesculturalmente transversais; recorde-se, por exemplo,o símbolo da medicina ocidental, atributo de Esculápio,em que se reúne a serpente e o cajado ou a serpenteKundalini da fisiologia/filosofia oriental.

6.2.4. O CírculoJá fiz acima referência às possíveis

conotações astronómicas (nomeadamentesolares) dos círculos que surgem, com diversasvariantes, nos menires alentejanos.

A representação solar mais indiscutível é ado menir da Belhoa, enquanto o círculo gravadona extremidade superior do menir 17 da Portelade Mogos (nº 4), também muito sugestivo,aparece duplicado pelo antropomorfo com solque lhe subjaz; também os três círculos do menir58 dos Almendres (nº 1) já foram interpretados como representações solares (Gomes, 1989: 264) e poderíamos,certamente com algum risco, sugerir um significado semelhante para os pequenos círculos interpretados comorepresentações oculares nas chamadas “estátuas- menires”. Essa ambiguidade de sentidos verifica-se, aliás,claramente, na síntese olhos-Sol que ocorre, por exemplo, nas placas de xisto alentejanas (Gonçalves, 2004:169-170).

No entanto, é muito provável que, na arte megalítica peninsular, o círculo tenha também outros referentes.Trata-se, mais uma vez, de uma forma básica, relativamente universal, apta, em termos iconográficos, pararepresentar realidades e conceitos muito diversos.

Fig. 6.41 - Motivo serpentiforme, em fragmentocerâmico de Juromenha 1.

Fig. 6.40 - Planta dos fossos do povoado das Águas Frias(Alandroal) (seg. Calado e Rocha, 2004)

136Manuel Calado

É curioso que, na arte paleolítica europeia, dominada pelas figurações, mais ou menos naturalistas, deanimais de grande porte, mas em que os temas geométricos não são raros, o círculo esteja praticamenteausente. Em contrapartida, no complexo rupestre do Alqueva, como noutros contextos pós-glaciares, oscírculos, isolados ou inseridos em grafias mais complexas, ultrapassam com grande margem, os restantestemas (Calado, 2004; Collado, 2004).

Fosse qual fosse o significado que assumia, podemos certamente relacionar este símbolo com as profundasmudanças que acompanharam o processo de neolitização, entre as quais se destaca uma marcada tendênciapara a sedentarização: é possível que o espaço linear do caçador-recolector nómada (Nash, 2000: 5) se tenhagraficamente transformado no espaço centrado, circular, concêntrico, do sedentário. No entanto, é poucoprovável que as implicações simbólicas dos círculos se esgotem nas leituras de carácter topográfico que, emalguns contextos genericamente contemporâneos, parecem fazer sentido e a que já fiz referência.

Um caso particularmente interessante, é o dos círculos com covinha central, do menir do Monte daRibeira (nº 40), em Reguengos de Monsaraz. A raridade deste tema, na região, contrasta com a sua frequêncianoutras regiões megalíticas mais setentrionais, com um particular destaque para as Ilhas Britânicas, ondeocorre também em menires (Burl, 1999), sugerindo, apesar da universalidade do tema, contactos de longocurso, em que o Noroeste da Península poderia ter funcionado como estação intermédia. A posição secundária,em relação ao báculo, com o qual contrastam em termos técnicos (o báculo é em baixo-relevo) e a ausênciade paralelos nos outros menires da região, podem, eventualmente, implicar o carácter tardio destas gravuras.

As covinhas poderiam, como grafemas autónomos, pertencer, eventualmente, à mesma categoria simbólicaque os próprios círculos e remeter igualmente para as conotações astronómicas, representando eventualmenteestrelas (Belmonte, 2003: 82-85), ou mesmo, mais especificamente, o próprio Sol (Bueno e Balbín, 2003:421). No entanto, as covinhas conhecidas nos menires alentejanos parecem geralmente tardias (Calado,1997b; Gomes, 2002), uma vez que ocorrem, com bastante regularidade, apenas ao longo das faces expostasdos monólitos tombados, situação igualmente observada na Bretanha, embora de uma forma aparentementemenos sistemática (Le Goffic, 1997: 363).

Nos Almendres (nº1) e na Portela de Mogos (nº4), as covinhas ocorrem muito pontualmente e nãoparecem articuladas com as restantes gravuras, enquanto no Vale Maria do Meio(nº2) não foi identificadonenhum monólito com covinhas; este motivo está também, aparentemente, ausentes nos recintos do Tojal (nº5), Cuncos (nº 7), Sideral (nº 10) e Fontaínhas (nº 11).

6.2.5. SínteseAs gravuras dos menires alentejanos inserem-se numa tradição gráfica e num fundo cultural com raízes

que, segundo parece (Bueno e Balbín, 2002; Collado, 2004) remontam, sem esforço, ao epipaleolítico e,numa perspectiva mais abrangente, ao próprio paleolítico superior; no entanto, alguns elementos parecemretratar, simultaneamente, uma ruptura profunda.

O carácter artificial da implantação dos suportes e o investimento que esta operação implicava, são umainovação fundamental que condicionou, decerto, a lógica dos temas representados. À especificidade cronológicae cultural dos menires corresponde, naturalmente, uma iconografia peculiar.

137Menires do Alentejo Central

Sem pretender reduzir o potencial simbólico dos temas representados, com significados que, como vimos,se adivinham complexos, a esquemas estritamente descritivos, nem, por outro lado, entrar em terrenosinterpretativos demasiado arriscados, creio que podemos hierarquizar a temática dos menires alentejanos emdois grandes blocos: as referências antropomórficas e as astronómicas.

Ambos remetem directamente para a transição Mesolítico-Neolítico, no sentido mais amplo possível. Asedentarização, a territorialização e a domesticação são as palavras-chave de um processo que, em termoseconómicos e sociais, não está ainda bem compreendido, mas que, em vários registos, se pode conjugar coma simbólica global dos menires.

Se, nas orientações astronómicas dos monumentos, encontramos uma boa materialização das ideias queos símbolos astrais, numa duplicação aparente, evocam, elas próprias parecem inserir-se num “projecto” que,para além da domesticação do espaço, procurava igualmente domesticar o tempo. Por outro lado, a descobertado “calendário cósmico” proporcionada pela observação dos movimentos do Sol e da Lua, no horizonte, énecessariamente uma consequência da sedentarização.

Dentro das representações antropomórficas a que os menires, pela primeira vez, deram corpo, em grandeescala e a três dimensões, o báculo dá-nos informações sobre quem eram e o que proclamavam os construtoresde menires; trata-se, segundo creio, de uma indicação de carácter económico, mas cujo alcance simbólico éindiscutível.

Segundo J. Cauvin (1999: 195), “o desejo humano de dominação dos animais”, explicaria, só por si, aadopção da pastorícia, mais do que as supostas vantagens de ordem económica; no entanto, com ou semvantagens na relação quantitativa entre o investimento e o retorno (Sahlins, 1983), é bem possível que apastorícia, certamente complementada pela caça e pela recolecção, tenha sido a base de subsistência dosconstrutores de menires alentejanos.

A exibição “alto e bom som” do símbolo da pastorícia (de ovi-caprinos), como um atributo dos personagensfigurados, implica, eventualmente, num cenário de disputa, que os destinatários da mensagem seriam os gruposque não se identificavam, eles próprios, com a pastorícia e esses corresponderiam, por exclusão de partes, àsúltimas sociedades mesolíticas. A agricultura detinha ainda, segundo tudo leva a crer, um estatuto pouco maisdo que simbólico.

De entre os motivos mais sugestivos, os serpentiformes parecem constituir o grupo menos inovador. Apossibilidade, que me parece lógica, de o rio ter constituído um dos referentes materiais deste símbolo,remete para uma origem paleolítica do conceito.Na verdade, a escolha das curvas do rio ou, pelo menos, damais acentuada delas, foi certamente obra dos primeiros “artistas” que frequentaram o Molino Manzanès(Collado, 2004). É curioso o facto de a serpente ser abundante na arte megalítica dolménica peninsular,sobretudo porque, no Alentejo Central, esta modalidade é praticamente inexistente; destacam-se, neste contextode aparente pobreza, os possíveis serpentiformes da Anta Grande do Zambujeiro (nº3) (Rocha, 2004) .

O carácter ambíguo dos símbolos, que, algumas vezes, está na origem dos desacordos interpretativosentre os investigadores, não parece ter sido acidental; trata-se, ou pelo menos parece tratar-se, de efeitos queforam intencionalmente explorados, de forma gráfica e talvez também conceptual.

138Manuel Calado

Na verdade, por serem formas muito básicas, estes símbolos prestam-se a leituras polissémicas que, hojeem dia, perdidos os contextos em que foram inventados, não é fácil descodificar.

O machado e o báculo, o báculo e a lua, o machado e a figura humana, a lua e o corno, o olho e o Sol, sãoalguns dos binómios que, como se viu, não deixam de causar uma certa perplexidade.

Fig. 6.42 - Jogos gráficos com símbolos elementares,em dois logotipos recentes (2004).

139Menires do Alentejo Central

Capítulo 7: Os contextos arqueológicos

140Manuel Calado

7. O contexto arqueológico

7.1. Menires e conjuntos de meniresEm termos operativos, existe alguma ambiguidade no conceito de menir: se, por um lado, um menir

isolado é, só por si, um monumento completo, por outro, num alinhamento ou num recinto, o menir pode serlido como apenas um elemento do conjunto, análogo, de certa forma, ao esteio de uma anta.

Foi, aliás, com base nestes considerandos que, no volume 2, separei os menires em dois grandes grupos:monumentos compósitos - recintos e conjuntos -, por um lado, e menires isolados, por outro.

Tendo escolhido como unidade de análise o menir, importa agora avaliar as diferentes formas deassociação dos menires entre si e em relação a outros elementos da “paisagem megalítica”.

Monumentos compósitos e menires isolados foram, por sua vez, hierarquizadadas em função do pesototal estimado, tendo em conta que, com algumas correcções, esse valor deve ser directamente proporcionalao esforço investido e à própria monumentalidade dos sítios.

No Alentejo Central, em que uma parte importante dos monumentos compósitos se encontra seriamenteafectada, conhecem-se actualmente exemplares de algumas das principais modalidades conhecidas nasrestantes regiões megalíticas da Europa atlântica, enquanto outras parecem estar definitivamente ausentes.

Em boa verdade, apenas podemos garantir, de forma inequívoca, a existência de recintos e meniresisolados e, com menos segurança, de pares de menires. Quanto aos alinhamentos, conhece-se apenas ocaso da Tera que, em última análise, tem muito pouco a ver com a maior parte dos alinhamentos curtos oulongos, simples ou complexos, relativamenteabundantes noutras áreas europeias.

7.1.1. Os recintosOs recintos megalíticos,

tradicionalmente também conhecidos porcromeleques, são, certamente, amodalidade mais monumental e aquela que,na região, parece ter desempenhado umpapel central na articulação dos restantesmenires e conjuntos de menires.

Como se viu (capítulo 5.2.), as plantasda maioria destes recintos, nos casos emque os respectivos estados de conservaçãoo permitem avaliar, apresentam formas dehemiciclo ou ferradura, abertasgenericamente a Nascente. Esta morfologia,que não é exclusiva do megalitismoalentejano (capítulo 11.2.2), apresenta aqui

Fig. 7.1 - Plantas de recintos megalíticos do Alentejo Central

141Menires do Alentejo Central

Fig. 7.2 - Proposta de faseamento da planta do recinto de ValeMaria do Meio. A linha recta, do lado Sul, (azul), seria um

acrescento à ferradura (castanho).

uma complexidade completamente original: para além dos menires que, com alguma irregularidade, definemos circuitos dos recintos, temos evidências incontestáveis da existência de menires no interior e, provavelmenteno exterior, dessa linha mais ou menos imaginária. Esta aparente desordem na implantação dos monólitos,traduzida naquilo que parece, à primeira vista, uma falta de rigor geométrico é particularmente visível norecinto dos Almendres(nº 1). De facto, os menires não descrevem uma linha contínua e bem definida, como éde norma na generalidade dos recintos megalíticos europeus, quer estes tenham plantas fechadas (a maioria),quer tenham plantas abertas.

Este aspecto levou Mário Varela Gomes a propor, para o caso concreto dos Almendres que é, claramente,o mais complexo de todos, a existência de duas ou três linhas paralelas de menires (Gomes, 2002), descrevendofiguras geométricas regulares (círculo e elipse) solução que, a meu ver, é demasiado forçada; isto porque, porum lado, deixa de fora um número demasiado elevado de menires cuja localização não pode ser posta emdúvida e, por outro, pressupõe outros tantos de que não foram encontrados quaisquer vestígios.

Na verdade, creio que é mais razoável, com base na informação disponível, aceitar que os construtoresdos recintos não tiveram a preocupação de obter uma figura geométrica pura; os menires teriam, pelo contrário,sido dispostos ao longo de uma linha mais ou menos pré-definida, em forma de ferradura, mas em que acolocação de cada menir, em concreto, admitiria alguma flexibilidade; é possível que essa operação não fossealeatória, embora, no estado actual dos nossos conhecimentos não me pareça possível definir os critérios aque terá eventualmente obedecido. Convém recordar que, embora os vários monumentos pareçam seguir umplano básico comum, a verdade é que existem diferenças claras, entre todos eles, no que diz respeito quer àsdimensões dos recintos, quer às dimensões, formas, decorações e posições relativas dos monólitos.

As diferenças observadas entre os vários recintos devem-se, muito provavelmente, também a remodelaçõese acrescentos, numa dinâmica em que cadasítio parece ter uma história própria, a partirde um protótipo comum, concretizado, emcada caso, de uma forma “personalizada”. Osdois recintos alentejanos em que, para já,parece existir mais do que uma faseconstrutiva, tendo implicado alteraçõessubstantivas na fisionomia do espaço ritual, sãoo dos Almendres (nº 1) e o de Vale Maria doMeio (nº 2); pelo contrário, o do Vale d’El-Rei (nº 15), é, pelos mesmos critérios,certamente monofásico, em termosconstrutivos. Quanto aos restantes, ou nãodispomos de informações mínimas para avaliaras respectivas plantas originais, comoacontece com todos aqueles que classifiquei

142Manuel Calado

Fig. 7.3 - Sobreposição das plantas do Tojal (vermelho) e

dos Almendres (preto)

como indeterminados, ou possuíam, muito provavelmente, plantas complexas (com menires no interior e,eventualmente, no exterior do circuito), e, na minha opinião, provavelmente em forma de ferradura.

A generalização da planta em ferradura, como modelo para a interpretação dos recintos alentejanos,comporta alguns riscos que só o desenvolvimento da investigação pode esclarecer; de momento, a comparaçãodas plantas publicadas, nos casos melhor conservados, permitem indiscutivelmente essa leitura.

Na verdade, apesar de o Vale d’El Rei ter sido, efectivamente, o primeiro dos recintos megalíticos publicadosna região (Leisner e Leisner, 1956), e de apresentar uma inequívoca planta em ferradura, este aspecto foisempre ignorado ou considerado excepcional, quando se tratou de interpretar as plantas dos restantes recintos.

Para além deste esquecimento, é também um facto que, por diversas razões (dimensões, estado deconservação, história da investigação), a planta do recinto dos Almendres, aparentemente fechada, acaboutambém por ofuscar a leitura dos restantes recintos alentejanos. No entanto, se se admitir, como desde semprese admitiu, embora com perspectivas diferentes (Pina, 1971; Gomes, 2002), que o actual recinto dos Almendresé o resultado cumulativo de mais do que uma fase construtiva, torna-se possível discernir, na parte superior dorecinto, a planta em ferradura, coincidente, em termos de forma, proporções e de disposição cénica, com ada maioria dos outros recintos alentejanos; veja-se, por exemplo, se ajustarmos as escalas, acoincidência quase perfeita com a planta do recintodo Tojal (até na posição dos respectivos “menirescentrais”) (Fig. 7.3). Esta imagem permite-nos, aliás, recuperar aproposta original avançada por H.L.Pina (Pina,1972) de que a parte inferior (oriental) do recintodos Almendres constituía uma espécie deantecâmara de acesso, acrescentada ao recintoprincipal. Na verdade, talvez se possa consideraressa parte como uma segunda planta em ferradurairregular, integrando, no seu lado ocidental, os menires de maiores dimensões que, nas leitura tradicionais,permitiriam “fechar” a ferradura do recinto ocidental e interpretá-lo como uma elipse (menires 22,26,44,45).

Sendo bastante provável que as plantas da maior parte dos recintos alentejanos sejam variações de ummesmo projecto arquitectónico baseado no arco de ferradura, com mais ou menos complexificações, umadas questões fundamentais que se nos colocam é, naturalmente, a da origem deste modelo que, como veremos(Capítulo 6), é relativamente comum na Bretanha (Scarre, 1998b) e apresenta ainda algumas sequelas nasIlhas Britânicas (Burl, 1999).

As semelhanças entre alguns recintos em ferradura bretões e alentejanos são bastante sugestivas, implicando,na minha perspectiva, contactos entre as duas áreas que, nos capítulos seguintes serão mais amplamentecomentados.

Em contrapartida, uma das principais diferenças entre as duas áreas reside, como acima referi, no facto

143Menires do Alentejo Central

Fig. 7.4 - Planta composta das estruturas eenterramentos da Moita do Sebastião (Seg. Arnaud,

adaptado)

de os grandes monumentos alentejanos apresentarem plantas mais complexas, enquanto, na Bretanha, setrata de circuitos simples, sem menires fora ou dentro de uma linha contínua, em forma de ferradura ou de arcode círculo e que, neste aspecto, se aproximam mais da aparência do recinto de Vale d’El-Rei (nº 15).

Apesar das reservas a que uma tal comparação nos deve obrigar, creio que os paralelos formais maispróximos (no espaço e, eventualmente, no tempo), para as plantas em ferradura dos recintos alentejanos, seencontram nos concheiros do Tejo e do Sado.

A escavação do concheiro mesolítico da Moita do Sebastião, no estuário do Tejo (Roche, 1960: 92),revelou os restos de uma estrutura formada por cerca de 70 buracos de poste, com uma planta em arco decírculo, aberta a Sul, a qual foi considerada uma das“mais bem conservadas estruturas habitacionais doMesolítico até agora conhecidas a nível europeu”(Arnaud, 1987: 53). Apesar de o escavador a terinterpretado como os restos de uma cabana (Roche,1960: 99), a verdade é que existem vários aspectosque permitem pensar em funções e, eventualmente,morfologia alternativas. As dimensões da estruturanão parecem facilmente compatíveis com a existênciade uma cobertura, o que levou J. Arnaud areinterpretá-la como um “quebra-vento” que serviriaapenas de protecção em relação aos ventosdominantes (Arnaud, 1987: 53). Resta ainda aquestão da acumulação de buracos de poste, que severifica principalmente no lado ocidental da estruturae que chega a dar à “parede”, deste lado, uma“espessura” de cerca de 2 m, sendo pouco plausívela proposta de Jean Roche de que se trataria doresultado de restauros e substituições de postes dasuposta cabana (Roche, 1960: 99); além disso,parece incontornável uma certa contemporaneidadee articulação entre os buracos de poste (e,obviamente, dos postes que estes contiveram) e os enterramentos, os quais, de uma forma igualmente irregular,parecem prolongar os “braços” da estrutura.

Nada obsta, à partida, a que se considere a estrutura como um espaço de carácter ritual, relacionado, dealguma forma, com as próprias sepulturas: o conjunto poderia, logo à partida, ou por acrescentos sucessivos,ter desenhado um padrão em ferradura, mas com postes lado a lado, de forma aparentemente anárquica,criando uma cenografia semelhante àquela que se pode observar na parte ocidental do recinto dos Almendres.

A utilização simbólica da forma em ferradura nos rituais funerários está, aliás, bem patente no Vale do

144Manuel Calado

Fig. 7.5 - Planta dos enterramentos de Vale dasRomeiras (Seg. Arnaud, adaptado)

Fig. 7.6 - Planta dos enterramentos doconcheiro de Skateholm II (Seg. Larsson,

1990)

Sado.Com efeito, o concheiro de Vale de Romeiras, nas

proximidades do Cabeço do Pez, foi, ao que parece,integralmente escavado e, numa área muito contida decerca de 30 m 2 , foram descobertos os restos mortaisde 25 indivíduos, dispostos em arco de círculo, destavez aberto a SE, e intercalados com blocos deconcreções calcárias (Arnaud, 1999).

A estabelecer um nexo cronológico entre os doissítios, estão as datações radiocarbónicas que, tanto naMoita do Sebastião como no Vale de Romeiras apontampara momentos que são, em ambos os casos, dos maisantigos no Mesolítico dos respectivos estuários, caindoambas dentro da primeira metade do VI milénio a.C.

A disposição das sepulturas em arco de ferraduraparece observar-se igualmente no concheiro mesolíticoescandinavo de Skateholm II, com uma abertura muitocanónica, a SE, uma notável concentração no ladoocidental e uma implantação numa encosta exposta aSul (Larsson, 1990); note-se que, nesta necrópole, pelomenos um dos enterramentos, a Sepultura 20, eraassinalada por um grande poste de madeira.

De uma forma menos explícita, os enterramentos doconcheiro de Bogebakken, na Dinamarca (Tiley, 1996:38,39), concentram-se numa encosta exposta a Sudestee poderiam teoricamente apresentar uma disposiçãosemelhante. Note-se que, neste caso, se definiu uma áreade habitat a jusante da necrópole. Estamos, em todo ocaso, perante realidades mais tardias, emboramanifestamente conservadoras; as eventuaisconvergências com o Tejo/Sado implicariam acontinuidade de práticas rituais a partir de um fundocomum de que os enterramentos em concheiros, só porsi, já seriam um bom testemunho.

Em Téviec, cuja planta parece pouco organizada, osescavadores anotaram que “na origem, o habitat-necrópolede Téviec apresentava-se com o aspecto de uma série de

145Menires do Alentejo Central

‘cairns’ sobreelevados marcando a localização das sepulturas” ((Péquart et al., 1937: 25), o que sugere queestas necrópoles, por muito que estivessem imbricadas no espaço habitacional, terão funcionado comoverdadeiros monumentos, visíveis na paisagem.

É um facto que os estudos sobre o Mesolítico, foram muito marcados, nas últimas décadas, pela agendada Nova Arqueologia. Depois de uma fase primordial, em que os enterramentos atraíram toda a atenção, noâmbito da antropologia física, mas igualmente do ritual funerário, os aspectos rituais foram relegados parasegundo plano, ou mesmo totalmente ignorados, a favor de perspectivas mais ou menos funcionalistas,circunscritas aos domínios tecnológicos, económicos, demográficos ou ecológicos.

É também certo que os concheiros do Tejo e do Sado constituem um manancial de informação preciosa,sobre diversos aspectos da vida quotidiana das populações que os produziram; no entanto, subsistem muitasdúvidas sobre a forma como foram “construídos” e utilizados, tanto mais que os vestígios inequívocos dehabitat praticamente não existem, enquanto a utilização dos amontoados de restos de cozinha (e não só), nosespaços funerários, está sobejamente atestada.

É possível que os povoados propriamente ditos fossem constituídos, não exactamente por cabanas, maspor tendas - o que tornaria mais compreensível a invisibilidade arqueológica das verdadeiras estruturas dehabitat – e, por outro lado, que as acumulações de detritos domésticos, eventualmente organizadas de formaintencional e culturalmente determinada, se localizassem junto dos povoados (Tilley, 1996), mas nãonecessariamente sobrepostas ou infrapostas, como implicitamente se tende a admitir.

A estruturação dos enterramentos em arco de círculo, no caso de Vale de Romeiras, ou articulados comum arco de círculo definido por postes de madeira, como na Moita do Sebastião, podem servir de pistas oude pretextos para uma discussão sobre o significado funcional dos recintos megalíticos, o que procurareiaprofundar, dentro do possível, no capítulo 12.

Por enquanto, são raros os concheiros extensivamente escavados, pelo que, com o avançar da investigação,é de esperar a descoberta de outros paralelos e, eventualmente, outras modalidades de organização formal doespaço funerário mesolítico; note-se, aliás, que na escavação do concheiro das Poças de S. Bento, no vale doSado, foram detectadas “algumas estruturas, que podem ser interpretadas como buracos de poste” embora“as áreas até agora escavadas” não sejam “suficientemente amplas para permitirem detectar qualquer padrãobem definido” (Arnaud, 1999: 29).

A eventual relação, de carácter genético ou não, entre os menires e os postes de madeira, é praticamenteum topos na literatura arqueológica e etnográfica (Giot et al., 1998: 512; Burl, 1999: 85-97; Cassen et al.,2000: 196; 198; 345; Bradley, 2002: 97). Na verdade, existem casos bem definidos (e outros nem tanto), emque estruturas rituais construídas com postes de madeira parecem preceder ou acompanhar o aparecimentode verdadeiros menires, como são, por exemplo, os de Stonehenge ou dos alinhamentos de Saint-Just. Noprimeiro caso, as escavações levadas a cabo, junto ao monumento, no local onde tem funcionado, nos últimosanos, o parque de estacionamento para os visitantes, permitiram descobrir estruturas compostas por buracosde poste, de cronologia mesolítica, cuja relação com o monumento posterior é discutível, mas sugestiva (Clealet al., 1995). No caso de Saint-Just, no contexto de uma sequência muito complexa revelada por escavações

146Manuel Calado

Fig. 7.7 - Proposta de faseamento do monumento funerário de Lannec er Gadouer (fases 4 -7) (seg. Cassen et al., 2000: 345).

em área, verificou-se que os menires eram apenas a parte visível de um conjunto de realidades em que,segundo o escavador, se incluiriam postes de madeira (Le Roux, 1999: 215).

Um caso particualrmente interessante é o do monumento de Lannec er Gadouer, em Erdeven, Bretanha,em que, na sequência de uma ocupação mesolítica do sítio, terá sido construído um semi-círculo de postes demadeira que viria, noutra fase, a ser substituído por uma estrutura funerária com esteios de pedra, sendo todoo conjunto coberto por um tumulus de planta trapezoidal (Cassen et al, 2000: 344-346).

Em Itália, no complexo de Aosta, um alinhamento de postes precedeu e, aparentemente, condicionou aorientação e a própria localização dos alinhamentos de menires (Mezzena, 1998).

As gravuras em baixo-relevo que ocorrem quase exclusivamente nos menires e, sobretudo, nos daBretanha, do Alentejo e do Algarve, poderiam ser réplicas em pedra, de técnicas eventualmente desenvolvidas,numa primeira fase, no trabalho da madeira. Recordemos que, nos estuários do Tejo e do Sado, não existiamatéria-prima para a construção de monumentos megalíticos, pelo que, não seria de estranhar o uso damadeira, como o substituto mais viável.

147Menires do Alentejo Central

Por outro lado, a ideia de uma filiação mesolítica para o megalitismo atlântico também não é, ela própria,nada original; na verdade, vários autores têm sugerido uma génese das sepulturas megalíticas bretãs (aquelasque, por enquanto, detêm, à escala europeia, o recorde de antiguidade) em algumas das sepulturas mesolíticas,com estrutura pétrea, de Téviec (Sherratt, 1990; Scarre, 1992; Thorpe, 1996).

Também as mamoas que, melhor ou pior conservadas, constituem uma constante na maior parte dosmonumentos funerários neolíticos (megalíticos ou não), têm sido relacionadas com os amontoados de restosde cozinha e terra que cobriam as necrópoles mesolíticas (Sherratt, 1995: 247).

Note-se também que a utilização de terra transportada a partir dos povoados para os locais de enterramento,apesar de surpreendente, parece ser uma prática que se conservou, entre nós, até à Idade do Bronze (Silva eSoares, 1981: 159).

Finalmente, tem ganho terreno, nos últimos anos, a ideia de que algumas sociedades do final do Mesolítico,com estruturas sociais complexas, como seriam, por definição, as dos concheiros do Tejo e do Sado, teriam,no contexto de um forte incremento da territorialidade e da sedentarização, e baseadas numa economia bemsucedida, de largo espectro, iniciado comportamentos, na esfera do simbólico, que podem ter incluído,eventualmente, a construção de monumentos (Bradley, 1993).

A mesma argumentação, baseada na assunção de que a complexidade social não é, necessariamente, umderivado da economia neolítica, foi recentemente, aplicada a datas mais antigas, epipaleolíticas, ou, no mínimo,do Mesolítico inicial, para explicar o aparecimento dos menires, ainda no VII milénio a.C. (Calado et al.,2004).

A propósito das plantas dos recintos alentejanos, escrevi recentemente que “a forma de ferradura, ou desemi-círculo, corresponde a uma disposição básica do habitat humano, aplicada em tendas e abrigos desde opaleolítico e até mesmo na maneira com um grupo humano se dispõe à volta de uma fogueira (Binford, 1991)”(Calado, 2004). Trata-se, além disso, de uma geometria apropriada à cenografia de alguns actos sociais epolíticos, como demonstram os nossos hemiciclosparlamentares...

Na verdade, no contexto do megalitismofunerário, as sepulturas abertas, em forma deferradura, de que as antas de corredor parecemser um desenvolvimento conceptual earquitectónico, poderiam, de certa forma, terrecuperado preceitos mais antigos.

Fora da região e de uma forma transversal,poderíamos trazer também à colação os recintossemi-circulares dos povoados com fossos dasTavoliere, com finalidades basicamentehabitacionais, os “C-compounds”, ou estruturasrituais como os “Heel Shaped Cairns” escoceses,ou mesmo os monumentos, à primeira vistaanálogos, conhecidos no Norte de África(Milburn, 1976).

Note-se que, à excepção dos “C-Fig. 7.8 - Recinto ritual, em forma de ferradura orientada a ESE,

dos índios Keres (Novo México)(seg. Snead e Preucel, 1999: 183, adaptado).

148Manuel Calado

Fig. 7.10 - Propostas de reconstituição de recintos do Alentejo Central. 1: Almendres; 2: Portela de Mogos; 3: Vale Mariado Meio; 4: Cuncos; 5: Vale d’El Rei; 6: Fontaínhas (seg. Gomes, 2002: fig. 163).

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compounds” italianos, os outros apresentam,com marcada regularidade, orientações aNascente/Sul, situação que voltamos aencontrar em contextos etnográficosinsuspeitos de contactos com as realidadesaqui em estudo, como é o caso dos altaresem forma de ferradura dos Kere, no NovoMéxico (Fig. 7.8) (Snead e Preucel, 1999:183), ou das arquitecturas elementares dosBamangwato e dos Basarwa, no Botswana(Fig. 7.9); estas últimas foram, aliás, jácomparadas às estruturas da Moita doSebastião (Fewster, 1999:194).

A planta em ferradura dos recintos alentejanos carece, na maior parte dos casos, de confirmaçõesindiscutíveis, tanto mais que, como se viu, alguns monumentos sofreram acrescentos e/ou alterações estruturais.No entanto, as reconstituições dos recintos como monumentos fechados, de plantas circulares, ovais ouelípticas, são, na minha opinião, um tanto forçadas e, provavelmente, influenciadas pelo facto de “as formasmais comuns das plantas dos cromeleques europeus” serem “o círculo e a elipse” (Gomes, 2002: 168); opróprio recinto do Vale d’El Rei (nº 15) foi interpretado como tendo “planta em forma de elipse assimétrica,”

Fig. 7.9 - Recinto em forma de ferradura, dos Bamangwato, no Botswana

(seg. Fewster, 1999: 183).

149Menires do Alentejo Central

apesar de se admitir a possibilidade alternativa de ter tido “ inicialmente planta em forma de ferradura (Gomes,2002: 170).

Para além das plantas em forma de ferradura, abertas a Nascente, os recintos alentejanos, apresentam,quase todos, outras características comuns, em termos das respectivas estruturas internas, nomeadamente:

1. a maior monumentalidade nas cotas mais altas (no lado ocidental). Esta particularidade, que, comoveremos, tem uma certa analogia com a disposição dos menires nos alinhamentos de Carnac e em Stonehenge,não se verifica, no entanto, no recinto paviense de Vale d’El Rei;

2. a existência de um menir “central”, de maiores dimensões, anicónico, geralmente acompanhado poroutros monólitos, no interior do recinto, aspecto em que também o monumento do Vale d’El Rei é,manifestamente, uma excepção. O menir central ocorre sempre no lado ocidental do recinto, quase semprecom um ligeiro desvio para Norte. Uma nota final para o recinto do Xarez (nº 6), cuja forma quadrangular nãopode, tanto quanto sabemos, ser aceite sem profundas reservas. Os argumentos aduzidos por Mário VarelaGomes em defesa da reconstituição produzida por Pires Gonçalves, são claramente insuficientes (Gomes,2000b). Na verdade, o único alvéolo sobre cuja identificação parece não restarem dúvidas é o do menircentral; todo o resto foi baseado em observações certamente cuidadosas, mas insuficientemente escoradasem dados objectivos.

É verdade que a forma quadrangular tem alguns rarosparalelos noutros contextos megalíticos europeus e que, porisso, não é legítimo afastar rotundamente essa possibilidade;note-se, porém, que um dos paralelos invocados, o dorecinto de Crucuno, teria, segundo parece (Le Roux, 1999:217), sofrido um restauro abusivo, e, em vez de umrectângulo regular, teria provavelmente, uma formatrapezoidal irregular..

Quanto ao Xarez, apenas com base nos factosconhecidos, seria sempre arriscado tomar como genuína umatal reconstituição, tanto mais que os dois lados paralelos eequidistantes, em relação ao menir central, em que PiresGonçalves se terá baseado (Gomes, 2000b: 26, 28) poderiam ser os restos dos braços de uma planta emferradura.

É curioso o facto de o conjunto de pequenos menires (Xarez 2, nº 25), referenciados por Pires Gonçalves,a escassas centenas de metros do recinto do Xarez, terem gravados como temas únicos, embora comligeiras variantes, o círculo e a ferradura. A forma dos menires não é concordante com o padrão dos menirespré-históricos do Alentejo Central ou, para fazer uma comparação mais próxima, dos do recinto do Xarez(nº 6). Morfologicamente, poderiam, com mais verosimilhança, aproximar-se das fórmulas utilizadas nanecrópole da Tera e remeterem para um fenómeno tardio, eventualmente sidérico; não faltam, na áreaenvolvente, os sítios do Bronze Final e da I Idade do Ferro, nem sequer temos razão para duvidar do

Fig. 7.11 - Planta de Crucuno, anterior ao restauro (seg. Le Roux, 1999: 217)

150Manuel Calado

interesse que, nessa época, terão suscitado os monumentos megalíticos, como se pode comprovar, a poucosquilómetros, com o caso da Belhoa (Gomes, 1997a), uma necrópole sidérica, de incineração, descobertajunto de uma anta e de um magnífico menir decorado.

Os círculo e as ferraduras do Xarez 2 (nº 25), gravados em sulcos profundos, tampouco se aproximamgraficamente das outras gravuras conhecidas, em menires, apesar de se tratar de temas (sobretudo o círculo)bastante recorrentes.

151Menires do Alentejo Central

7.1.2. Relações espaciais entre recintosA escolha dos locais de implantação de alguns recintos megalíticos parece ter sido feita em função de

outros monumentos pré-existentes; embora seja conveniente, nesta matéria, manter, pelo menos por enquanto,uma atitude prudente, tudo leva a crer que a distribuição dos menires (e das antas) não constitui um palimpsesto,em que os novos textos ignoram tudo sobre os anteriores, fazendo deles tábua rasa. Atendendo ao facto dealguns recintos e menires se terem mantido erectos até praticamente aos nossos dias - Courela dasCasasNovas (nº 48), Vale d’El-Rei (nº 15), Vale de Besteiros (nº 39) ou mesmo S. Sebastião (nº 8) - e que, pelomenos alguns outros, parecem ter sido utilizados até à Idade do Ferro, a acumulação de novos monumentosmegalíticos terá funcionado no contexto de uma monumentalização consciente das paisagens, de acordo comos diferentes tempos e modos de ocupação dos territórios.

O conceito de par de recintos, proposto por Pedro Alvim para a área de Évora/Montemor-o-Novo(Alvim, 2004) exigiria, se aplicado ao resto do Alentejo Central, alguma flexibilidade; em todo o caso, éevidente que casos como Portela de Mogos/Vale Maria do Meio, Cuncos/Sideral, ou Tojal/Casas de Baixo,deixam supor uma relação de qualquer tipo que não pode, em princípio, ser acidental.

É verdade que as “geminações” de recintos podem ter assumido formas muito diversas, tanto mais que,como já vimos, não existem dois monumentos iguais.

No caso específico da Portela de Mogos (nº 4) e do Vale Maria do Meio (nº 2), localizados a pouco maisde 1 Km um do outro, é de sublinhar o facto de o prolongamento para Este, da linha formada pelos doisrecintos, passar pelo menir da Casbarra 1 (nº 31) e pelo menir do Mauriz (nº 38), dois dos maiores meniresisolados desta área, e de essa linha poder ter, eventualmente, um significado astronómico, (Calado e Rocha,1996; Silva e Calado, 2004), possibilidade a que voltarei a fazer referência, no capítulo 8.

No mesmo círculo geográfico, o recinto dos Almendres (nº 1) assume, também nesta matéria, foros deexcepcionalidade, uma vez que não se conhece, nas suas proximidades imediatas, nenhum outro recintomegalítico.

Já em Pavia, onde existem dois recintos megalíticos, Fontaínhas (nº 11) e Vale d’El Rei (nº 15), as distânciasentre eles são muito superiores àquelas que separam os restantes pares de recintos, embora, não sendointervisíveis, pareçam demarcar um território bastante coerente.

Por outro lado, em Reguengos de Monsaraz existem relações muito sugestivas, em termos de proximidade,contacto visual e, eventualmente, relação com a paisagem, nos recintos muito mal conhecidos dos Perdigões(nº 13), Monte da Ribeira (nº 9) e Capela (nº 87), enquanto o monumento do Xarez (nº 6) aparece desgarradodentro do área megalítica de Reguengos. Na verdade, se dermos crédito à possibilidade de alinhamentos, debase arqueoastronómica, entre monumentos não intervisíveis (Giot, 1988: 322), o Xarez poderia, conformejá tive ocasião de anotar (Calado e Rocha, 1996), constituir, com os Almendres, um par de recintos muito suigeneris.

152Manuel Calado

7.1.3. Recintos e menires isoladosPara além destas relações, aparentemente não aleatórias entre alguns recintos megalíticos, existem também

algumas situações em que os menires isolados parecem associados espacialmente a recintos megalíticos.Um exemplo, já clássico, em que um grande menir isolado pode ser (e tem sido) relacionado com um

recinto megalítico, é precisamente o do menir do Monte dos Almendres (nº 32), que estabelece um alinhamentosolsticial com o recinto dos Almendres (nº 1) (da Silva, 2000: 115; Alvim, 1996-1977: 16).

No caso do Tojal (nº 5)/Casas de Baixo (nº 12), a articulação entre os dois recintos, seja ela de quenatureza for, é fortemente sublinhada pela interposição, exactamente na mesma linha, do menir do Monte doTojal (nº 57) (Calado, 2003b). A orientação do conjunto não se enquadra nos azimutes astronómicosreconhecidos; no entanto, o alinhamento observado ajusta-se, de uma forma bastante clara à orientação dorelevo, aspecto que, como veremos, se aplica também aos monumentos da Herdade da Tera, em Pavia -Monte da Tera (nº 74), Tera (nº 14) e Vale d’El Rei (nº 15).

Em Montemor-o-Novo, o conjunto formado pelo recinto de Cuncos (nº 7), pelo menir das Casas Novas(nº 48) e pelo menir do Sideral (nº 42) foi igualmente considerado significativo e foi-lhe mesmo atribuída umaimplicação arqueoastronómica (Gomes, 1986); descartada, como se viu, essa interpretação, permanece ofacto de que estes três monumentos, a que há que somar o menir da Sobreira e o recinto do Sideral, para alémdos dois menires do Monte do Álamo (nº 18) (estes, um pouco mais afastados), formam um cluster muitodefinido, em que, numa base diversa da que foi anteriormente ensaiada, talvez seja legível uma sequência,conjugando a estrutura da paisagem terrestre e, pelo menos, um evento celeste importante. Num primeiromomento, teríamos o menir do Sideral, instalado em função do festo e do relevo (trata-se do ponto maisdestacado, topograficamente, num raio visual muito extenso); marcada, deste modo, a área, teríamos, deseguida, o recinto de Cuncos, orientado pelo cabeço de Montemor-o-Novo, alinhado a 100 º, e, finalmente,a posição destes dois, teria sido utilizada para a implantação dos restantes.

Também em Pavia, o grande menir cilíndrico da Caeira (nº30) parece estabelecer uma associaçãoespacial significativa com os recinto de Vale d’El-Rei, o mais próximo, e o das Fontaínhas (nº 11), a umadistância já considerável. Na verdade, os três monumentos materializam, à semelhança da maioria dos restantesconjuntos, uma relação genericamente equinocial, com o habitual desvio para Sul. Embora os dados sejammuito escassos, A seqeência cronológica mais plausível, seria, de Oeste para Leste, Fontaínhas, Vale d’El Reie Caeira.

7.1.4. Os pares de meniresA confirmação do menir 2 de S. Sebastião (as primeiras referências só consideraram o menir 1 como

indiscutível) (Burgess, 1987: 40) abriu caminho à identificação de uma modalidade, de que havia já algunsraros indícios, mas que nunca tinham chamado a atenção dos investigadores: os pares de menires.

Trata-se de monumentos muito frequentes nas Ilhas Britânicas e, um pouco menos, também na Bretanha,cuja característica mais notável é o dimorfismo acentuado entre os dois monólitos (Burl, 1993: 181-202); esteaspecto é muito notório no par de S. Sebastião, em que o menir 1 é cilíndrico, de silhueta esguia, e, em

153Menires do Alentejo Central

contrapartida, o menir 2 é ovóide e muito volumoso.Convém recordar que, sem intervenções arqueológicas específicas, é sempre possível que os pares de

menires sejam apenas o que resta de arranjos mais complexos; por isso, é sempre com algumas reservas quese poderiam incluir os menires do Monte do Álamo (nº18) ou da Pedra Longa (nº 16) dentro desta categoria,embora também nestes dois casos, os menires que os compõem sejam morfologicamente diferenciados.

Os pares de menires da Lucena e da Abaneja (hoje desaparecido) são certamente monumentos de outranatureza. As formas angulosas, as dimensões modestas e o facto de serem blocos muito semelhantes entre si,exigem outras explicações (e, eventualmente, segundo creio, outras cronologias) que, só a escavação poderia,com sorte, vir a sustentar. O “par” do Monte das Flores (nº 23), proveniente de um local onde, à superfície,existem indícios de uma necrópole da Idade do Ferro, deve, por comparação com o monumento paviense daTera (nº 14), ser o que resta de um monumento funerário previsivelmente mais complexo.

7.1.5. Os alinhamentosO único alinhamento inequívoco, no Alentejo Central, é, efectivamente, o do monumento da Tera, cuja

cronologia sidérica é, actualmente, um dado inquestionável. No entanto, é possível que os três menires do Carrascal (nº 17), no Redondo, sejam também eles parte

de um alinhamento destruído; na verdade, os monólitos formam uma linha bastante credível, embora só umdeles (menir 3) pareça estar in situ. É igualmente sugestivo o facto de a linha que definem apontar para o cumemais alto da serra d’Ossa, o do S. Gens, cuja silhueta se recorta no horizonte, a Norte do Carrascal.

7.1.6. Os menires isoladosOs menires isolados constituem, como se compreende, o conjunto mais heterogéneo e mais difícil de

avaliar. Extrapolando as óbvias lacunas presumíveis em boa parte dos recintos, é praticamente certo quemuitos menires isolados desapareceram sem deixar rasto.

As relações entre menires isolados resumem-se, quase todas, a uma articulação, aparentemente difusa,com áreas geográficas discretas. As eventuais relações “programadas” entre os menires isolados, se existiram,não foram, por enquanto, tornadas perceptíveis.

7.2. Menires e monumentos funeráriosEm termos muito gerais, é possível afirmar que, no Alentejo Central, existe uma certa coincidência entre as

áreas com menires e as principais manchas de megalitismo funerário, tanto mais que umas e outras se relacionamintimamente, como veremos, com a distribuição das rochas granitóides na região (Fig. 7.12).

Nesta escala, não deixa de ser notável a coincidência entre a grande mancha dolménica alentejana e adistribuição dos menires e recintos; uma certa coincidência verifica-se, aliás, também noutras áreas peninsulares.Porém, numa escala mais detalhada, esta imagem revela-se, pelo menos em alguns casos mais significativos,bastante enganadora.

Em Évora, os três grandes recintos megalíticos e muitos dos menires que com eles se podem relacionarespacialmente - S. Sebastião (nº 8), Monte dos Almendres (nº 32), Vale de Cardos (nº 35), Veladas (nº 36),

154Manuel Calado

Azinhal (nº 33), Esbarrondadouro (nº 53),Casbarra (nº 31), Mauriz (nº 38) - parecemdemarcar um território onde, como veremos,se concentram os povoados mais antigos eonde são raras as evidências de megalitismofunerário (Fig. 7.13), apesar de estas estaremmuito bem representadas nas áreasimediatamente adjacentes.

Em Reguengos de Monsaraz, sãosobretudo o recinto do Xarez (nº 6)(Fig.7.14) e, em menor grau, o dos Perdigões(nº 13) que aparecem bastante isolados emrelação às principais concentrações de antas.

Os recintos de Cuncos (nº 7) e Sideral(nº10) e os menires que os rodeiam (Fig.7.15), ocupam o centro de um territóriovirtualmente vazio de megalitismo funerário,com uma única excepção que confirma aregra, a anta da Sobreira, monumento muitoespecial por integrar, aparentemente, umgrande menir na sua construção.

O mesmo se passa, segundo parece,com o recinto das Fontaínhas (nº 11), na áreade Pavia (Fig. 7.16).

No entanto, no núcleo montemorense doTojal (nº 5) ou, em Pavia, na área de Valed’El-Rei (nº 15), o panorama diferesubstancialmente: nos dois casos,existem monumentos funerários, dediferentes tipos, nas áreasenvolventes dos recintos, sugerindofenómenos de monumentalizaçãocumulativa das paisagens.

Existem, por outro lado, algunsindícios que apontam para autilização ou a reutilização de meniresna construção de antas.

Trata-se, em quase todos os

Fig. 7.13 - Monumentos funerários na área envolvente dos recintosde Évora;1: Almendres; 2: Vale Maria do Meio; 3: Portela de Mogos.

Fig. 7.14 - Monumentos funerários na área envolvente do recinto do Xarez.

Fig. 7.12 - Distribuição das sepulturas megalíticas, na PenínsulaIbérica (seg. Oliveira, 1997: 57)

155Menires do Alentejo Central

Fig. 7.16 - Monumentos funerários na área envolvente do recinto dasFontaínhas.

casos, de blocos que, apenas por razõesmorfológicas se podem classificar comomenires.

O mais interessante, por ser o maisseguro, é o do menir de Vale de Rodrigo 1(nº 46), hoje ligeiramente deslocado, masque deveria originalmente estar implantadojunto à entrada do corredor do monumentofunerário, encaixando, por isso,perfeitamente, no clássico conceito de menirindicador; menos canónicos, em termosmorfológicos, os menires da Correia (nº 41),o “menir” 6 e, de forma menos óbvia, o“menir” 7 da Anta do Zambujeiro (nº 3),parecem inserir-se igualmente nestacategoria.

Note-se que, na Bretanha, junto àentrada do corredor do dolmen das PierresPlates ergue-se também um monólitoparalelipipédico.

Todos os outros casos correspondem amonólitos, mais ou menos meniróides,inseridos, como esteios da câmara, naspróprias estruturas das antas, como acontececom a anta da Sobreira, em que o possívelmenir se conserva intacto, ou com as antas do Escoural (nº 54) ou da Mitra 2 (nº 55), em que os monólitossuspeitos se apresentam ambos amputados e reutilizados no lado norte da estrutura.

Um outro grupo, menos sugestivo, é constituído por antas com monólitos esguios que funcionam comopilares, como se observa na anta do Zambujeiro (menires 1 a 5) e na das Cabeças (nº 64), com inúmerosparalelos, fora da presente área de estudo.

7.3. Menires e vestígios de habitatA contextualização arqueológica dos menires do Alentejo Central, indispensável para uma leitura integrada

dos monumentos, foi, desde a raíz, uma das prioridades deste trabalho e aquela que, na prática, exigiu maiorinvestimento de tempo e recursos; na verdade, os cerca de 2500 sítios listados, para além de representaremum manancial que, neste trabalho, fica longe de ser esgotado, fazem, para já, da região, uma das melhorconhecidas, no que diz respeito sobretudo à cartografia dos vestígios de habitat das primeiras sociedades

Fig. 7.15 - Monumentos funerários na área envolvente do recinto deCuncos.

156Manuel Calado

camponesas.Convém recordar que, ao elevado volume de dados de natureza superficial cuja informação, em muitos

casos, é de “baixa intensidade”, se juntam os resultados de escavações de emergência (a maioria) e uma ououtra integrada em projectos de longo curso.

Penso que tentar compreender aspectos como as dinâmicas do povoamento das sociedades neolíticas,apenas através dos vestígios de habitat, omitindo o capítulo da monumentalidade megalítica, equivale a estudaro Egipto sem fazer referência às pirâmides ou a sociedade medieval sem contemplar as catedrais. Mutatismutandi, o estudo dos monumentos exige uma avaliação, obviamente ponderada, dos vestígios arqueológicosque, apesar de serem, por norma, muito mais discretos, são o reflexo dos comportamentos e das opções, emdiversos domínios, dos respectivos construtores e utentes.

A distribuição dos menires alentejanos apresenta uma concentração sem paralelos numa área relativamentecompacta (Mapa 2), com cerca de 15 Km de diâmetro, localizada a Oeste de Évora, onde, em termosregionais, ocorre igualmente a maior densidade de sítios de habitat com cerâmicas decoradas e/ou indústriasmicro-laminares (Estampas 1-15; 18; 20, nº1,2,3,5; 21; 22; 23, nº1; 24), atribuíveis ao Neolítico antigo/médio (Mapas 3 e 5). De entre estes, destaca-se, de várias formas, mas sobretudo por ter sido recentementeobjecto de um estudo aprofundado, o povoado da Valada do Mato (nº1119) (Diniz, 2004).

Na verdade, se alargarmos ao resto da área de estudo a comparação entre a intensidade da fenómenomenírico (sobretudo se avaliada em função do peso dos monólitos) e a intensidade do povoamento atribuívelao Neolítico antigo/médio, verifica-se igualmente uma clara correlação entre as duas manchas, destacando-se, a seguir a Évora, a área megalítica de Reguengos de Monsaraz.

Por outro lado, na lista relativamente extensa de sítios de habitat que, por ausência de dados mais específicos,atribuí genericamente ao Neolítico/Calcolítico, é natural que uma boa parte se venha igualmente a poder

Fig. 7.17 - Povoados do Neolítico antigo, na área de Évora.

157Menires do Alentejo Central

atribuir ao Neolítico antigo/médio; efectivamente, aqueles sítios, geralmente com escassos materiais de superfície,apresentam, a Oeste de Évora - e também na área de Reguengos(Estampa 19; 23, nº2) - uma maior frequênciade artefactos ou restos de talhe em sílex (Mapa 6), material que, só por si, parece ser um indicador deantiguidade na sequência neolítica regional.

Mesmo os achados avulsos reforçam esta imagem global, ocorrendo, com mais frequência, nas áreasmais ricas em menires, os artefactos e os restos de talhe de sílex (Mapa 11), e com menos intensidade relativa,os percutores ou a pedra polida (Mapas 9 e 10).

É igualmente notável, pela negativa, a escassez de sítios de habitat do Neolítico final ou do Calcolítico, nasáreas onde ocorrem, por um lado, as maiores concentrações de menires e, por outro, as manchas maissignificativas de vestígios de habitat do Neolítico antigo/médio. Esta ausência é particularmente notória na“Baixa do Xarez” ou no triângulo Almendres/Portela de Mogos/Évora.

Fora destes dois principais núcleos de menires alentejanos, a presença de vestígios de povoamento doNeolítico antigo/médio está relativamente bem definida, junto ao recinto de Cuncos (Fonseca, 1987: 179),enquanto nas áreas do Tojal (Estampas 16 e 17) ou de Pavia (Calado, 2001: 230, nº14) essas evidências,embora existam, são muito pouco expressivas.

Se, em termos gerais, a imagem resultante é relativamente clara, continua a ser muito difícil tentar estabelecervínculos entre monumentos e povoados concretos. As relações de proximidade entre os recintos de Cuncos(nº 7), dos Almendres (nº 1), do Vale Maria do Meio (nº 2), dos Perdigões (nº 13), ou até mesmo do Xarez(nº 6), e os povoado adjacentes ou, pelo menos, localizados nas proximidades imediatas, são certamentesugestivas; seria, porém, necessário, dispor de cronologias finas que, infelizmente, não existem.

Em todo o caso, parece lógico, atendendo aos recursos humanos necessários para a construção dosmenires e, sobretudo, dos recintos, que esta fosse obra de comunidades dispersas por vários povoados enão apenas dos habitantes de um qualquer povoado individual; a ideia de uma congregação de esforçosintercomunitários, com laços que a construção dos monumentos reforçaria, foi igualmente proposta nocontexto de outros monumentos neolíticos europeus (Edmonds, 1999).

Apesar de um ou outro caso menos explícito, como é o caso dos Perdigões (nº 13) e eventualmente daPedra Longa (nº 16), não podemos falar de coincidência espacial entre os menires e os povoados; pelocontrário, a imagem que se impõe é a de que, em termos gerais, os presumíveis povoados dos construtores eutilizadores dos monumentos se localizam nas proximidades mas não nos próprios locais de implantaçãodesses mesmos monumentos.

Neste aspecto, os menires alentejanos diferem substancialmente do padrão observado no Algarve ocidental,em que se chegou a falar de “povoados com menires” (Gomes e Cabrita, 1993; David Calado, 2000b; DavidCalado et al., 2004) embora a eventual discrepância cronológica entre uns e outros possa matizar esta leitura.

7.4. Menires e arte rupestreAté à descoberta recente do complexo rupestre do Alqueva, eram raras e, à primeira vista, irrelevantes

para os objectivos deste trabalho, as manifestações de arte rupestre no Alentejo Central, exceptuando, até

158Manuel Calado

1

2

3

4

5 6

Fig. 7.18 - Painéis com cruciformes; 1: Penedo da Almoinha (seg. Zbiszewski et al, 1977: 41); 2, e 4: Pedra das Gamelas (seg.Correia, 1921: 103, 104); 5, 6: Pedra da Talisca (seg. Correia, 1921: 106).

159Menires do Alentejo Central

1

2

Fig. 7.19 - Rochedos com cruciformes; 1: Pedra das Taliscas(seg. Correia, 1921: La. XXVIII, 1); 2: Pedra das Gamelas.

160Manuel Calado

2

1

Fig. 7.20 - Rochedos com cruciformes; 1: Penedo das Almoinhas; 2: Pedra da Loba.

161Menires do Alentejo Central

certo ponto, as pedras com covinhas.No entanto, a maior parte das covinhas são, aparentemente, tardias em relação aos menires e ocorrem

praticamente em todos os contextos geológicos, nomeadamente nos xistos onde, como veremos, estãoausentes, por regra, os menires e os povoados do Neolítico antigo. Na verdade é a partir do Neolítico final e,sobretudo, do Calcolítico que as covinhas surgem, embora com pouca frequência, em contextos mais oumenos controláveis, nomeadamente povoados e sepulturas.

A escavação, actualmente em curso, do povoado de S. Pedro (nº1452), no Redondo, permitiu contabilizarum número elevado de blocos soltos decorados com covinhas, inseridos ou não nas construções, (Rui Mataloto,inf. pessoal).

Por outro lado, é notória a ausência de covinhas, no território balizado pelos recintos dos Almendres(nº1), Vale Maria do Meio (nº2) e Portela de Mogos (nº 4), enquanto nos territórios adjacentes, onde selocaliza a maioria das antas da região, esse tipo de gravuras surge com alguma pujança (Calado e Bairinhas,1994).

Os painéis com cruciformes, que constituem um grupo temática e espacialmente muito coeso, a que seacrescentou recentemente a Pedra da Loba (nº374), no concelho de Arraiolos (descoberta pelo Dr. FranciscoBilou), balizam uma área quase sem menires - exceptua-se o menir do Alto da Cruz ( nº 71), nem monumentosfunerários, localizada entre as grandes áreas megalíticas de Pavia, a Nordeste, e de Arraiolos/Évora, a Sudoeste.

Esta discrepância notória em relação à distribuição espacial das antas e dos menires poderia ter, desdelogo, implicações cronológicas; no entanto, a contenção geográfica dos cruciformes pode, alternativamente,corresponder a especificidades culturais de âmbito localizado; numa escala maior, não deixa de ser sugestivaa proximidade em relação a um núcleo algo desgarrado do grupo de Évora, de povoados do Neolítico antigo/médio, de que se destaca o povoado da Pedra da Moura (nº375), com cerâmica cardial. Esta associação, sese viesse a comprovar, implicaria alguma sincronia com os menires, num contexto eventualmente diferenciadodo resto da região.

Os afloramentos onde foram gravados, sempre em paredes verticais, os motivos cruciformes, correspondemtodos a “monumentos naturais” relativamente destacados da envolvência geológica, com morfologias vagamentezoomórficas; os cruciformes surgem associados a outras variantes de antropomorfos esquemáticos,estilisticamente muito distintos dos que se conhecem, em número razoável, no complexo do Alqueva (Baptista,2002; Calado, 2004; Collado, 2004).

Quanto aos painéis do santuário exterior da gruta do Escoural (Santos, Gomes e Monteiro, 1981), localizadamuito póximo da área de maior concentração de menires (e, sobretudo, do par de menires de S.Sebastião)tudo aponta para uma cronologia tardo-neolítica ou calcolítica; seja como for, o suporte, o contexto arqueológicoe os próprios temas tornam-no uma ocorrência única na região; essa peculiaridade relaciona-se, provavelmente,com a própria gruta que estaria, nessa altura, inacessível e é a única ocorrência cársica conhecida no AlentejoCentral.

De facto, a gruta do Escoural, apesar da reocupação neolítica, esteve total ou parcialmente abandonada(pelo menos no interior) durante um largo período de tempo. Coloca-se aqui, naturalmente, a questão de, até

162Manuel Calado

Fig. 7.22 - Localização da Gruta do Escoural,no contexto dos menires do Alentejo Central.

Fig. 7.21 - Painéis do santuário exterior do Escoural(seg.Gomes et al., 1993: 107).

163Menires do Alentejo Central

que ponto e de que forma, o antigosantuário paleolítico, mesmo oculto, seteria mantido na memória dos primeirosreutilizadores do espaço da gruta e se teria,numa fase final, vindo a plasmar nosantuário exterior.

Efectivamente, segundo Tim Ingold, “apaisagem é constituída como um registoduradouro - e testemunho - das vidas etrabalhos das gerações passadas quemoraram nela, e ao fazê-lo, deixaramqualquer coisa de si próprios” (Ingold,1993: 152).

Por último, apesar de ser cedo paraum balanço circunstanciado sobre aseventuais relações entre os menires e a arterupestre do Alqueva - tanto mais que não foram ainda publicados os resultados dos estudos de pormenor,sobre os motivos e a respectiva distribuição espacial – avancei, num artigo recente (Calado, 2004) algumasreflexões possíveis sobre o tema, numa escala de análise ampla, em termos espaciais e cronológicos. A comparação global entre a arte rupestre do Alqueva e a arte megalítica dos menires alentejanos, feitasobretudo em termos dos respectivos contextos paisagísticos, mas considerando igualmente os suportes, astécnicas e os motivos, revelou um conjunto de diferenças, certamente significativas, entre os dois fenómenos.Recorde-se que, noutras perspectivas, a arte rupestre de ar livre e a arte magalítica têm vindo a ser consideradasindissociáveis, genericamente contemporâneas e, até certo ponto, como duas manifestações, integradas nummesmo fundo cultural comum e partilhando, no essencial, as mesmas regras iconográficas e simbólicas.

Na verdade, os menires e arte rupestre do Guadiana inserem-se, claramente, na grande família dasmanifestações artísticas e simbólicas que, desde o Paleolítico Superior, se desenvolveram, em vários círculosespecíficos, mas em que se pode, a priori, postular um continuum demográfico e cultural.

Os dados actualmente disponíveis sobre o povoamento pré-histórico no Alentejo Central, ainda queténues no que diz respeito ao Paleolítico superior e ao Epipaleolítico, apenas sugerem o abandono da regiãono Mesolítico final, num período que, em última análise, foi relativamente curto e em que as populações sefixaram em áreas contíguas. No quadro que a seguir se apresenta, são listadas as principais diferenças; elas não implicam, porém, quenão existam igualmente pontos de contacto, alguns dos quais foram referidos já no capítulo 6.

Fig. 7.23 - Relações macro-espaciais entre os menires, osconcheiros e os santuários rupestres do Tejo e do Guadiana

(seg. Calado, 2004).

164Manuel Calado

Arte Rupestre MeniresAs cotas mais baixas As cotas mais altasRio FestoHúmido SecoXisto GranitoHorizontal VerticalPicotado Baixo-relevoCírculos e antropomorfos Báculos e crescentesContinuidade RupturaNatural ArtificialOculto ExpostoSem paralelos na Bretanha Com paralelos na Bretanha

As diferenças observadas podem, de alguma forma, relacionar-se com o hiato demográfico que pareceter afectado a região durante o Mesolítico final (Araújo, 2003b); é certo que a ausência de provas não é aprova da ausência, mas a hipótese do esvaziamento mesolítico da região, que se presume em benefício daformação dos concheiros estuarinos do Tejo e do Sado, para além de lógico, beneficia dos resultados negativosdas prospecções e sondagens intensivas levadas a cabo, no contexto dos trabalhos arqueológicos do Alqueva,por uma equipa experiente que, em contrapartida, registou e escavou um sítio epipaleolítico (Almeida et al.,2002; Almeida et al., 1999). Convém recordar que, em função dos padrões expectáveis, a ter havido ocupaçõesmesolíticas no Alentejo Central, seria junto ao Guadiana a área mais provável; no entanto, foi esta a área maisintensamente estudada nos últimos anos e os resultados não parecem deixar demasiada margem para dúvidas.

Porém, alguma permanece: a escavação do extraordinário povoado do Neolítico antigo do Xarez 12 (nº2139), (Gonçalves, 2002a), localizado na margem direita do Guadiana, revelou uma indústria lítica muito rica,de carácter micro-laminar e geométrico, que levou o escavadora admitir ser “possível a existência de uma ocupação mais antiga”(Gonçalves, 2002a: 103).

Por outro lado, as prospecções que efectuei, na região,permitiram identificar dois novos sítios com indústrias líticas cujascaracterísticas parecem indiciar igualmente uma origem mesolítica:o sítio do Barrocalinho 17 (nº1990, foto 1-3), em Reguengos deMonsaraz, e o Alto de S. Bento (nº1698, Foto 4), em Évora.No primeiro caso, a par de algumas escassas cerâmicas lisas -uma com decoração plástica (Estampa 23, 2) - recolheu-se uminteressante conjunto de artefactos micro-laminares, de quedestacam dois trapézios assimétricos, de truncaturas côncavas,em rochas siliciosas de provável origem regional (Estampa 19);no segundo, para além de lamelas, recolheu-se um triângulo, numcontexto em que as cerâmicas decoradas também parecem

Fig. 7.24 - Trapézios do Barrocalinho 17 (Reguengos de Monsaraz).

165Menires do Alentejo Central

ausentes (Estampa 18, 1-26) .É claro que podemos estar perante sobrevivências técnicas, relacionadas com práticas económicas atávicas,

em comunidades de caçadores-recolectores recentemente neolitizadas ou mesmo em vias de neolitização.O hipotético abandono da região (num processo que teria, na generalidade, afectado os territórios do

interior) seria o resultado das alterações climáticas do período atlântico, traduzidas directamente numa“densificação da floresta” (Araújo, 2003: 111) e, por isso, em piores condições de transitabilidade. Num talcenário, é aceitável uma interrupção ou uma redução drástica do uso dos santuários rupestres do interior pelaspopulações do Mesolítico final; isso poderia explicar a ausência, nesses santuários, dos símbolos que certamenteterão surgido, no seio das últimas comunidades de caçadores-recolectores, na eminência das profundasmudanças que o modo de vida neolítico acabou por introduzir.

Essa fase implica, teoricamente, um ambiente de tensões e rupturas e, por isso mesmo, propício aoaparecimento de novos símbolos e novas práticas rituais. Convém não esquecer que as condições geológicasdos estuários não eram propícias ao desenvolvimento da arte rupestre; neste cenário, a madeira pode terdesempenhado um papel de substituto natural dos suportes clássicos da arte rupestre.

7.5. Menires e monumentos naturaisConforme já referi, no capítulo 3, verifica-se, com alguma expressão na bibliografia arqueológica portuguesa,

uma certa tendência para confundir menires e afloramentos naturais, sobretudo quando estes apresentamformas mais ou menos meniróides.

Num trabalho académico recente, centrado no recinto dos Almendres (nº 1), foi expressamente defendidoque “alguns penedos naturais, integrados em contextos, tanto arqueológicos como etnográficos, demonstrandoterem sido associados a rituais de fertilidade e a outras práticas mágico-religiosas, talvez com origens pré-históricas, sejam classificados como menires” (Gomes, 2002: 154).

Também Jorge de Oliveira, em vários trabalhos sobre o megalitismo no distrito de Portalegre, classificoucomo menires três monumentos naturais: Porra del Burro, Pombais e Sete. Para os dois primeiros, este autordefendeu uma situação mista: tratar-se-ia de afloramentos naturais, embora afeiçoados pela mão humana; noterceiro caso, “a configuração natural do afloramento, dispensou grande investimento de talhe” (Oliveira eOliveira, 1999-2000: 158).

Na minha opinião, o próprio afeiçoamento do “menir” da Porra del Burro ou do “menir” dos Pombais,poderia ser questionado; trata-se de afloramentos cujas formas caprichosas são relativamente frequentes eque resultam normalmente da acção de fenómenos exclusivamente naturais, como, aliás, é reconhecido emrelação à Rocha dos Namorados (nº96) e à Pedra Alçada (nº94).

Com ou sem afeiçoamento, geralmente difícil de confirmar nos granitos, não creio que os afloramentosnaturais se devam confundir com os menires. Uma das diferenças tem a ver com a óbvia anterioridade de unsem relação a outros: os primeiros, como elementos proeminentes da paisagem natural, foram provavelmenteusados, muito antes da erecção dos menires, como referências espaciais e, eventualmente, simbólicas.

O carácter mais inovador dos menires e, de certa forma, também dos outros tipos de monumentos, cujo

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arranque acompanhou, de perto, a neolitização da Europa atlântica, é precisamente o facto de sereminequivocamente obra humana e de traduzirem um esforço colectivo extraordinário que era, suponho, um dosingredientes mais importantes do processo.

Na erecção dos menires parecem manifestar-se, de forma simbólica, as ideias-chave daquela que, tendosido certamente uma revolução económica e tecnológica, o foi também no âmbito da estrutura social eideológica; estava em causa, entre outros aspectos, a redefinição do papel do Homem face à Natureza (Barnatt,1998: 96; Guilaine e Zammit, 1998: 124), exigida pelo confronto entre o modo de vida tradicional, representadopelos caçadores-recolectores, e as profundas inovações introduzidas pela pastorícia e pela agricultura.

A instalação, no Alentejo Central, de uma economia neolítica, por muito incipiente que fosse, tinha,necessariamente, que passar, pelo menos numa fase inicial, por uma domesticação drástica das paisagens (euma concomitante apropriação dos territórios); tratava-se, no mínimo, de desbravar áreas de cultivo e depastoreio, instalar povoados e abrir caminhos numa paisagem densa e, durante vários séculos, desabitada(Araújo, 2003).

É precisamente, segundo creio, este ambiente de intenso investimento laboral, que permite enquadrar oextraordinário esforço colectivo necessário à construção dos monumentos megalíticos, tarefa para a qual nãose vislumbram, com facilidade, nem antecedentes óbvios, nem motivações de ordem económica.

É de supor que estivessem em causa, eventualmente, mecanismos sociais de tipo competitivo, jogos depoder, como consequência dos confrontos e rupturas que seriam de esperar em sociedades cujas basestradicionais estavam em vias de contestação e desagregação.

Os construtores de menires eram, por definição, os adeptos da mudança. Vistos nesta perspectiva, os rochedos naturais e os menires representam, aparentemente, conceitos

antagónicos, mesmo que, à primeira vista, sejam morfologicamente muito semelhantes.A relação fundamental entre uns e outros deve ter sido, no entanto, de carácter genético (Cassen et al.,

2000; Scarre, 2002d); efectivamente, os próprios blocos que, ao serem transportados e erigidos, setransformavam em menires, existiam já nas paisagens naturais e é possível que, ainda nessa condição,carregassem significados específicos, eventualmente relacionados com as funções que se lhes vieram a destinar.

Por outro lado, a sacralização dos acidentes naturais mais importantes, entre os quais se inscrevem osafloramentos rochosos mais eminentes, está perfeitamente atestada em inúmeras ocorrências arqueológicas(Fig. 7.19 e 7.20) e etnográficas (Fig. 7.28), quer em termos genericamente rituais, quer em contextos funerários.É, sobretudo, nas sociedades com maior mobilidade, com são, por regra, os caçadores-recolectores, que osmarcadores naturais das paisagens ganham importância acrescida (Taçon 1994: 126; Barnatt, 1998: 98;Cooney, 1998: 110; Ouzman, 1998: 39; Nash, 2000: 5; Swartz, 2000: 160; Alves, 2002: 61; Bergh, 2002:139; Cummings, 2002: 107).

Não é raro, antes pelo contrário, que os “santuários” de arte rupestre correspondam também a lugarescom grandes afloramentos naturais: o Buraco da Pala, El Pedroso, Peña Tú, são alguns dos mais conhecidosno ocidente peninsular, embora se trate indiscutivelmente de um fenómeno de alcance geográfico quase planetário(Klassen, 1998: 69).

167Menires do Alentejo Central

Fig. 7.25 - Monumentos naturais meniróides; 1: Peramanca (Evora); 2: Barrocal (Évora); 3: Sete (Monforte).

1

2

3

168Manuel Calado

No Alentejo Central, as mesmas paisagens graníticas que foram o cenário privilegiado do fenómenomegalítico, são, por outro lado, muito ricas em afloramentos naturais sugestivos. Blocos alongados, alguns

dispostos na vertical, caos de blocos, “recintos” naturais ou alinhamentos são, efectivamente, característicasrecorrentes da paisagem geológica, mesmo descontando as amputações a que, desde época megalítica atéontem à tarde, ela tem estado sujeita.

De uma forma relativamente intuitiva, herdeira das perspectivas românticas sobre a Natureza e a Paisagem,Vergílio Correia classificou, na área de Pavia, alguns afloramentos graníticos mais notáveis, em particularaqueles em que julgou ver algum agenciamento pré-histórico, como santuários ou “lugares de religião” (Correia,1921: 97); as escavações que conduziu num desses sítios - a Pedra da Moura (nº269; fig. 7.26) - e quepermitiram recolher alguns artefactos neolíticos, convenceram-no da justeza da sua interpretação.

Merece destaque a observação desse autor, a propósito de outro suposto santuário natural, os Barroqueiros

Fig. 7.26 - Pedra da Moura (Pavia, Mora) (seg. Rocha, 1999: 221).

169Menires do Alentejo Central

1 3

2

4

Fig. 7.27 - 1-3: formações de aspecto meniróide do lapiás de Negrais (Granja dos Serrões);4: vista parcial, do lado Norte.

170Manuel Calado

de Oliveira; nas suas palavras “outro motivo (...) que seguramente provocou e facilitou a consagração daspenhas foi o aspecto de uma delas, a maior (...); corroída, fortemente escavada na parte inferior das suas facesNorte e Sul, parece um gigantesco cogumelo ou a carapaça de um tatú descomunal” (Correia, 1921: 99). Asemelhança deste afloramento com a Rocha dos Namorados (nº96) ou com a Porra del Burro é assinalável.

Também noutros contextos geológicos, em áreas não muito afastadas, a atracção provocada por acidentesnaturais monumentais, a partir do Neolítico antigo (ou talvez antes) contitui motivo de reflexão sobre osambientes paisagísticos e mentais de onde emergiu o megalitismo. Um dos exemplares mais curiosos é o queresta do lapiás de Negrais, um verdadeiro campo de menires naturais, ordenados em função do declive doterreno, com o blocos maiores nas cotas mais altas. O eventual papel inspirador deste santuário natural -eventualmente conhecido e frequentado pelas populações dos concheiros (Roche, 1972: 57) - na concepçãodos primeiros recintos megtalíticos alentejanos, é uma hipótese a considerar; também na área da serra da Lua,poderíamos destacar um outro caso muito sugestivo, o “cromeleque” da Barreira (Fig. 10.10 e 10.11), comoum geomonumento capaz de suscitar réplicas megalíticas.

A valorização simbólica dos grandes blocos naturais, de aspecto mais ou menos rude parece, por outrolado, ser uma característica específica recorrente do megalitismo (Scarre, 2002d; 2004). O facto de a maioriaesmagadora dos monumentos megalíticos (e, em particular, os menires alentejanos) serem feitos de blocosnaturais, sem qualquer afeiçoamento, revela uma síntese curiosa entre duas atitudes aparentemente contraditórias:por um lado, criaram-se espaços claramente culturais, rompendo, em locais bem escolhidos, a estruturanatural da paisagem e, por outro, usaram-se elementos que, nesta ordem de ideias, remetem para valorestradicionais (Bergh, 2002; Bradley, 1998).

Isto significa, provavelmente, que a verdadeira inovação, aquela que implica efectivamente uma ruptura defundo, foi o próprio acto de, com elementos já fortemente carregados de significados, reorganizar o espaço,impondo-lhe novas valências e sentidos. Alterando a terra.

Não surpreende, pois, que, na região, as relações de proximidade entre afloramentos notáveis e meniresnão sejam particularmente sugestivas: os monumentos tendem a localizar-se em áreas libertas de competidoresnaturais. Por outro lado, como veremos, nem todas as áreas graníticas, mesmo com afloramentos notáveis -como é o caso da Pedra Alçada (nº94) - têm menires.

Em termos de proximidade física, o caso mais interessante é provavelmente o do recinto de Vale Mariado Meio (nº 2): com efeito, a escassas centenas de metros deste recinto, localiza-se uma área com grandesafloramentos (de onde se presume, aliás, que seja oriunda a maioria dos menires); trata-se de imponentesformações graníticas, de estrutura orientada, compostas maioritariamente por blocos alongados, dispostos navertical, cujas dimensões decrescem notóriamente no sentido do declive do terreno.

Merece igualmente referência o curioso afloramento antropomórfico dos Macedos (nº 97), muito próximodo menir do Monte dos Almendres (nº 32) e em articulação visual com o recinto dos Almendres (nº 1).

Também junto ao menir do Mauriz (nº 38), a uma escassa dezena de metros, localiza-se um afloramentonatural, de dimensões modestas, o qual, num certo ângulo, se assemelha a um verdadeiro menir erecto (Volume2, fig. 117, 4).

171Menires do Alentejo Central

Porém, um dos resultados mais recorrentes das prospecções de superfície levadas a cabo, nos últimosanos, na região, foi, efectivamente, a associação espacial quase sistemática entre os afloramentos mais destacadosna paisagem e os vestígios de povoamento do Neolítico antigo (Calado, 1995a; 1997a; 2000a; 2001a;2002d; Soares e Silva, 1992; Gonçalves, 2002a). As sobreposições espaciais entre estes e os menires, numaescala ampla, justificam alguns comentários.

A implantação de povoados do Neolítico antigo junto de grandes afloramentos graníticos tem sido igualmenteatestada, nos últimos anos, noutras áreas do ocidente peninsular, nomeadamente no povoado do Prazo(Sanches, 2002: 194; Monteiro-Rodrigues, 2000; 2002) e no povoado de S. Pedro de Canaferrim (Simões,1996; 1999; 2003), entre outros.

A articulação micro-espacial entre as estruturas de habitat e os afloramentos não está ainda bem esclarecida.Há casos em que as cabanas se terão adossado aos blocos, preenchendo os intervalos entre eles; noutros,tudo indica que os povoados se instalaram em clareiras de maiores ou menores dimensões, delimitadas pelosafloramentos, ou nos espaços devolutos em volta dos mesmos.

O carácter funcional desta opção é uma questão em aberto: a escavação do povoado do Prazo sugeriu, apropósito das lareiras e empedrados postos a descoberto que “a sua disposição mais ou menos periférica agrandes afloramentos graníticos leva a supor que eles terão sido usados como ponto de apoio de outrasestruturas, provavelmente de madeira, as quais definiriam abrigos ou cabanas” (Monteiro-Rodrigues, 2000:

Fig. 7.28 - Gravura representando uma aldeia kiaka, instalada junto a um inselberg granítico (seg. Lima, 1988: capa).

172Manuel Calado

163).Numa notícia muito preliminar sobre o povoado do Xarez 12 (nº2137), em Reguengos de Monsaraz, o

responsável pelas escavações aponta o facto de os fornos cerâmicos estarem “protegidos por um conjuntode grandes afloramentos” (Gonçalves, 2002a: 103; 2003: 92), aspecto que dificilmente se pode aplicar aosfornos da Carraça 1 (Gonçalves, 2002: 101).

No entanto, fosse qual fosse a forma como os espaços de habitat se articulavam estruturalmente com osafloramentos, tirando eventualmente partido das condições oferecidas nos diferentes casos, parece claro quea escolha dos locais deve ter obedecido mais a razões de ordem simbólica do que pragmática.

No centro de Angola, entre os Kiaka, os grandes afloramentos graníticos serviram tanto para recolher oscrânios de personagens importantes, escondidos em abrigos formados por caos de blocos, em locais de difícilacesso, como para estabelecer a residência dos chefes. O rei kiaka habitava um “inselberg formado porgrandes pedras que pesam, provavelmente, várias toneladas, afastadas umas das outras, criando, assim,clareiras ou recintos, onde os Kiaka construiram cabanas e que servem, igualmente, de pátios interiores”(Lima, 1992: 115); as cabanas não se adossam, neste caso, aos afloramentos.

Num trabalho recente, explorei algumas das questões em torno dos menires e afloramentos naturais, nocontexto particular do Alentejo Central (Calado, 2002). Em síntese, defendi a possibilidade de uma valorizaçãoritual desses “menires naturais” pelas comunidades mesolíticas do Tejo/Sado que, em fase de neolitização,terão instalado, junto deles, os primeiros povoados da região. Paralelamente, os afloramentos terão funcionadocomo um dos elementos de continuidade, enraizando, no imaginário mítico das sociedades mesolíticas, odiscurso inovador que foi a erecção dos primeiros menires.

Esta leitura inscreve-se numa perspectiva assumidamente indigenista, não apenas no que diz respeito àforma como foi recebido o pacote neolítico, mas também como foram interpretadas as ideias que oacompanhavam.

A vertente ideológica do pacote neolítico, que não tenho dúvidas em considerar de origem oriental (talcomo as ovelhas e os cereais) depararam, na fachada atlântica, com sociedades relativamente complexas,cuja complexidade não parece ter sido apenas de ordem social ou económica: o mundo funerário revela –aparentemente mais do que estamos habituados a pensar – comportamentos rituais complexos, a que certamentecorrespondia uma estrutura ideológica elaborada.

Os menires seriam, assim, uma síntese entre crenças difíceis de extirpar, fortemente articuladas com ummodo de vida bem sucedido, e a revolução profunda que o vento leste foi fazendo chegar, a partir de meadosdo VI milénio a. C.

A criação de novos sistemas de crenças, tendo como base outros anteriores, não nos é, de todo, estranha:sem precisar de recuar muito, as três grandes religiões do mundo ocidental têm, como sabemos, tanto deruptura, como de continuidade.

A invenção dos menires seguiu certamente o padrão habitual da inventividade humana: a partir de ideias ouobjectos pré-existentes, acrescenta-se algo, altera-se um detalhe e o resultado é a criação de qualquer coisaque antes não existia. Neste caso, e porque os menires, como, de resto, a arte rupestre, são formas de

173Menires do Alentejo Central

comunicação de mensagens, penso que poderíamos falar na utilização de ideias antigas, partilhadas pelosdestinatários, para fazer passar uma mensagem inovadora.

Uma avaliação recente sobre o megalitismo no país de Gales e a relação deste com afloramentos naturais,sugere que “as origens conceptuais da monumentalidade” se poderiam encontrar no Mesolítico e que osmonumentos parecem ter sido “cuidadosamente instalados numa paisagem já preenchida com sítios simbólicose importantes” (Cummings, 2002: 107). Tratar-se-ia, segundo a autora, “de uma apropriação do passadomítico pelos vivos” (ibidem: 119).

A relação espacial entre os estuários e o Alentejo Central poderia, como veremos no Capítulo seguinte,ter proporcionado uma relação deste tipo.

174Manuel Calado

Capítulo 8: Os contextos paisagísticos

175Menires do Alentejo Central

8. Os contextos paisagísticosNo capítulo 3 foi feita, em traços gerais, a caracterização fisiográfica da área de estudo. No entanto, a

contextualização paisagística dos menires tem que passar, necessariamente, pelo cruzamento dos dados dageografia física com a informação arqueológica disponível, analisada em diversas escalas.

Trata-se, desde logo, de procurar, no território físico, as paisagens invisíveis de que os monumentosmegalíticos são, hoje em dia, os vestígios mais palpáveis.

À escala local, os menires e, sobretudo, os recintos, constituíram, indiscutívelmente, importantes intervençõesna “arquitectura” da paisagem natural; as próprias orientações astronómicas, exigindo alguma visibilidade nasdirecções mais significativas, sugerem a existência de clareiras, mais ou menos amplas, em redor dosmonumentos.

Por outro lado, a lógica da distribuição e da implantação dos monumentos, supõe, numa escala maisalargada, um conhecimento prévio da região e uma eventual valorização simbólica de certos elementospaisagísticos fundamentais.

Aceitemos, sem discussão, que o Alentejo Central tinha sido abandonado, no início do Atlântico, nocontexto da litoralização das comunidades humanas, cujos últimos vestígios estão, pelo que parece,documentados, na região, junto ao Guadiana (Almeida et al., 1999; 2002; Collado, 2004).

Para os habitantes dos concheiros, instalados, durante séculos, numa paisagem dominada pela água, comuma economia muito dependente dos recursos aquáticos e com rituais em que as próprias conchasdesempenharam, aparentemente, um papel importante, o Alentejo Central (e, em particular, a área de Évora)seria, provavelmente, visto como uma região inóspita, selvagem, face aos espaços habitados, explorados e,de certa forma, domesticados, que constituiriam, em termos de subsistência, as suas áreas de captação derecursos.

A transitabilidade natural e a contiguidade, garantiam, no entanto, ao Alentejo Central, um estatutoprivilegiado na geografia dos concheiros, com incidências mais prováveis na estruturação simbólica daspaisagens (Knapp e Ashmore,1999: 8), do que na vida económica; neste aspecto, sendo certo que os mesolíticosexploravam os recursos cinegéticos dos respectivos hinterlands, não parece que os habituais territórios decaça se estendessem, de forma quotidiana, até ao Alentejo Central.

Trata-se, desde logo, de um território relativamente equidistante e igualmente acessível, em relação aosdois estuários. Nestes aspectos, a região surge como uma fronteira e, eventualmente, uma espécie de terra deninguém, entre os territórios do Tejo e do Sado.

As diferenças, de várias ordens (Arnaud, 1987), e a própria separação territorial, entre os concheiros doTejo e do Sado, permitem interpretar o Alentejo Central, antes da instalação dos primeiros povoados, comoum palco natural de interacções entre os habitantes dos dois estuários.

Os grandes penedos naturais das paisagens graníticas alentejanas que se vieram a tornar, no Neolíticoantigo, os nós principais da rede de povoamento neolítico regional (Fotos 1 a 38; mapa 7), e que, comovimos, podem ter sido os modelos que inspiraram a construção dos primeiros menires, entraram provavelmenteno universo simbólico das comunidades mesolíticas, tal como as principais linhas de transitabilidade naturalque, no território do Tejo/Sado, ligam o litoral e o interior e que condicionaram a própria percepção daspaisagens.

Essas formações geológicas, cujo suposto papel, na génese do megalitismo, tem vindo a ser reforçadopor algumas contribuições recentes (Tilley, 1996b; Cummings, 2002; Scarre, 2004) - e que ultrapassa,obviamente, os meros condicionalismos geológicos - são, a par da ausência de água, um dos elementos queimplicam um contraste absoluto com os territórios estuarinos, de solos arenosos e sem afloramentos de qualquertipo. Também em termos topográficos, o interior, relativamente acidentado, contrasta com os estuários, compaisagens muito mais monótonas; a articulação dos menires com os pontos mais altos da região revela-se,tanto na própria localização de alguns dos mais importantes monumentos - Almendres (nº 1) e S. Sebastião(nº

176Manuel Calado

8), como na escolha dos pontos destacados no horizonte, usados como back-sights nas orientaçõesastronómicas (Evoramonte, S.Gens, Monsaraz, Montemor-o-Novo).

Por outro lado, o Alentejo Central, de onde poderão, pelo menos em parte, ter sido originárias as populaçõesdos concheiros, seria, também por isso, um território carregado de significados e, eventualmente, conotadocom a terra dos antepassados. O antigo santuário do Guadiana, acessível a partir da área de Evora - que, emtermos viários, era uma verdadeira plataforma giratória - e o próprio santuário do Escoural, poderão igualmente,cada um a seu modo, ter desempenhado um papel na fixação dessa referência.

O povoamento neolítico do interior alentejano não parece corresponder, no entanto, a um avanço contínuo,a partir dos estuários (ou do litoral): o vazio arqueológico entre o Alentejo Central e as áreas dos concheirospode, efectivamente, corresponder também ao padrão observado noutras áreas europeias, em que, entremesolíticos e neolíticos, se criaram espaços fronteiriços, desocupados, formando “uma espécie de no man’sland de 20 a 30 quilómetros de largura” (Guilaine e Zammit, 2001: 128).

Convém referir que, com os dados actualmente disponíveis, a lacuna em causa não parece ser apenasum vazio da investigação. É certo que podemos e devemos invocar razões de ordem mesológica, uma vez queas areias e cascalheiras terciárias só seriam atraentes junto aos estuários; porém, os eventuais confrontos entreos “partidos” em disputa, poderão ter aconselhado uma fronteira física entre os dois lados da fronteiracultural.

Em princípio, as relações paisagísticas entre os territórios estuarinos e o Alentejo Central , serão semprerelevantes para o entendimento do processo que conduziu à neolitização, relativamente precoce, desta área;os construtores dos primeiros povoados neolíticos, quer fossem indígenas quer colonos, teriam semprecoexistido com os últimos mesolíticos do Tejo/Sado e quase inevitavelmente interagido com eles.

8.1. GeologiaA relação de proximidade entre os menires e as manchas de rochas granitóides, no Alentejo Central, já

antes foi referida, a propósito das questões da matéria-prima dos menires e da eventual relação entre estes eos monumentos naturais.

Também já fiz menção, como um dos critérios mais seguros para a identificação dos menires, àdescontextualização geológica que afecta um bom número de monumentos (mapa 15); esta deslocação dosblocos pode ter implicado vários quilómetros, como no caso de Vale de Rodrigo (nº 46) ou do S. Sebastião(nº 8), ou escassas centenas ou mesmo dezenas de metros, como parecem ser os casos do Tojal (nº 5) ou doVale d’El Rei (nº 15).

Outra situação muito recorrente é a dos menires que se implantam ainda em terrenos graníticos mas juntoaos limites da mancha geológica; estão neste caso, por exemplo, o menir de Vale de Besteiros (nº 39), osmenires do Carrascal (nº 17) ou os da Cegonheira (nº 20). Esta situação de fronteira, num contexto culturalem que se prestava, certamente, uma atenção especial à geologia, não pode deixar de ser altamente significativa(Taçon, 1999: 41) , tendo sido, igualmente observada num conjunto de menires e “menires” naturais dodistrito de Portalegre, implantados em linha, junto ao contacto entre os xistos e os granitos (Oliveira, 1998;Oliveira e Oliveira, 1999-2000).

Em contrapartida, é notória a ausência de menires nos terrenos xistosos, muito bem representados naregião e onde se localizam, aliás, alguns núcleos muito interessantes de antas e sepulturas sub-megalíticas(Leisner e Leisner, 1955; Calado, 1993a; 1994; Calado e Mataloto, 2001a), para além do próprio santuáriorupestre do Alqueva (Calado, 2004); com efeito, a única excepção, é o menir da Moinhola que, nesse comonoutros aspectos, destoa fortemente do conjunto dos menires da região, podendo, na verdade, relacionar-secom os povoados da I Idade do Ferro estudados nas proximidades (Casa da Moinhola, Moinho Novo deBaixo, Espinhaço de Cão) (Calado, 2002b); esta possibilidade, certamente difícil de confirmar, ajustar-se-iacertamente melhor à forma angulosa do monólito. Note-se que o menir da Moinhola se localiza num vau

177Menires do Alentejo Central

natural, entre a margem e a ilha que separa um braço do Guadiana do curso principal do rio.Também nos terrenos calcários, maioritariamente integrados na grande mancha de calcários cristalinos e

dolomíticos que constitui a extremidade Nordeste da presente área de estudo, os menires estão completamenteausentes , embora, neste caso, o megalitismo funerário seja igualmente muito raro. A presença de vestígios dehabitat, com cronologias que arrancam no Neolítico antigo (Calado, 1995-1996) e continuam, sem aparenteshiatos, até ao Calcolítico final (Calado, 2001a), tornam ainda mais incompreensíveis estes vazios; podemos,eventualmente, invocar problemas tafonómicos, relacionados com a intensa exploração a que os mármorestêm sido sujeitos desde, pelo menos, a época romana, quer para uso directo, quer para o fabrico de cal.

Seja como for, apesar de, em termos estritamente tecnológicos, tanto os xistos como os calcários poderemfornecer matéria-prima viável (recorde-se que, noutras áreas europeias, nomeadamente na Bretanha, não sãoraros os menires de xisto ou de calcário) o certo é que no Alentejo Central (como, aliás, noutras áreaslimítrofes), parece terem funcionado regras mais estritas; na região, os menires são, quase por definição,inseparáveis das paisagens graníticas.

O mesmo se passa, como se viu, com os povoados do Neolítico antigo que, com raríssimas excepções,são igualmente exclusivos das áreas graníticas ou, pelo menos, das imediações destas.

No entanto, os povoados do Neolítico antigo, tal como os menires, repartem-se de forma muito irregularnas próprias manchas graníticas da região, pelo que devemos concluir que os afloramentos graníticos são umacondição necessária, mas não suficiente, para a presença de uns e outros.

As condicionantes meramente técnicas impostas pela presença/ausência de matéria-prima adequadaaplicam-se, por exemplo, às áreas onde não existem afloramentos rochosos, de qualquer tipo, disponíveis auma distância razoável.

No entanto, a exclusão de umas rochas a favor de outras, parece ultrapassar as verdadeiras limitaçõestécnicas e apelar a explicações de ordem cultural.

As formas arredondadas dos geomonumentos graníticos, em contraste com as formas angulosas dasrochas xistosas (neste aspecto, os calcários são, mais uma vez, um caso à parte) poderiam inserir-se numfundo “iconográfico” mais amplo, cujas primeiras manifestações arrancaram, segundo parece, no Epipaleolítico,época em que a arte rupestre terá começado a privilegiar os motivos arredondados - zoomorfos e,eventualmente, antropomorfos (Collado, 2004).

8.2. TopografiaÀ escala do sítio, as regras topográficas que ditaram a implantação dos menires e dos recintos megalíticos

parecem relativamente flexíveis: mesmo nos monumentos que, por diversos motivos, integramos sem hesitaçãono mesmo patamar cronologico-cultural, encontramos alguns implantados em altura, como os Almendres (nº1), a Portela de Mogos (nº 4) ou o S. Sebastião (nº 8), enquanto outros são, pelo contrário, monumentos deplanície ou de vale, como o Vale Maria do Meio (nº 2), o Mauriz (nº 38), ou o recinto do Xarez (nº 6).

No entanto, em todos eles, sob diversas formas, os locais de implantação apresentam inequívocasexposições a Nascente, com prováveis implicações arqueoastronómicas. Recorde-se que, reforçando aorientação do terreno, os próprios recintos se orientam para Nascente.

Clive Ruggles, um dos renovadores mais consistentes da arqueoastronomia actual, defende que “as visõesdo mundo não ocidentais não separam a terra do céu; a astronomia é uma parte integral de todas as cosmologiasindígenas, e isto significa que é pouco avisado estudar as paisagens sagradas isoladamente em relação ao céu”(Ruggles, 1998: 208).

Na verdade, é difícil, em qualquer estudo sobre megalitismo, contornar o problema das orientaçõesastronómicas; a arqueoastronomia megalítica, apesar das relações tradicionalmente conturbadas com o discursoarqueológico dominante e da necessidade sentida, sobretudo a partir dos anos oitenta, de uma certa reorientaçãometodológica, tem vindo a ocupar (ou a recuperar) um lugar de algum relevo na descodificação dos sistemas

178Manuel Calado

simbólicos e rituais das sociedades pré-históricas (Heggie, 1981a; 1981b; Aparicio et al., 1993; Iwaniszewki,1994; Ruggles,1999; Barnatt, 2001: 98; Bradley, 2002b).

No entanto, persiste, da parte dos arqueólogos, um certo distanciamento, sobretudo nos casos em quemanifestamente a arqueoastronomia “tem estado divorciada do estudo das sociedades neolíticas como tais”(Giot, 1998: 324). Tendo, tal como Giot, a Bretanha megalítica como referência, mas pensando em termosmais gerais, C.-T. Le Roux, embora aceite algumas orientações astronómicas concretas e destaque algumasregularidades, manifesta-se prudente sobretudo em relação às orientações estelares, chamando também aatenção para as dificuldades emergentes do estado de conservação dos monumentos e das paisagens (LeRoux, 1993).

Efectivamente, tem sido no domínio das orientações azimutais mais elementares, envolvendo apenas o Sole a Lua, que a adesão dos pré-historiadores tem sido mais incondicional. Trata-se, nesta perspectiva, demonumentos construídos de acordo com observações que não exigiam, de forma alguma, conhecimentoscientíficos elaborados; de resto, os próprios astros e os eventos celestes seriam certamente percebidos nocontexto de uma rede de significados de carácter mágico-religioso, articulada com o significado específicodos próprios monumentos.

Como seria de esperar, os dados e as interpretações referentes às orientações astronómicas dos meniresresumem-se, nos textos arqueológicos, a apêndices ou comentários breves, e este trabalho não será, nesteaspecto, excepção.

As excepções, por enquanto as únicas, são, para não fugir à regra, da responsabilidade de não arqueólogos(Alvim, 1996-1997; 2004; da Silva, 2000; da Silva e Calado, 2004). Trata-se, basicamente, nos primeirostextos, dos resultados da análise da estrutura interna do monumento dos Almendres e das putativas implicaçõesarqueoastronómicas da mesma, tipo de abordagem que receio enfermar de algumas fragilidades conceptuaise metodológicas: a mais importante resulta do facto de uma parte importante do monumento ter sido restaurada,sem controle arqueológico e sem registo, pelo proprietário. Nos textos mais recentes, ambos os autoresanalisaram sobretudo as localizações dos monumentos em função uns dos outros e, sobretudo, de relevosdestacados no horizonte e as implicações astronómicas dessas posições relativas.

Os resultados confirmam, sem margem razoável para dúvidas, a frequência das orientações astronómicassolares e, sobretudo, lunares, dos principais monumentos avaliados: foram, apenas, testadas as orientaçõesbásicas em função dos nascentes ou ocasos solares, nos solstícios e nos equinócios, e das pausas maior emenor da Lua.

Marciano da Silva, para além de ter testado, no terreno, alguns destes alinhamentos fundamentais, avançourecentemente uma hipótese explicativa para as orientações das antas alentejanas, aplicável igualmente aalgumas orientações recorrentes nos menires (da Silva, 2004; da Silva e Calado, 2004).

Basicamente, essa proposta assenta na coincidência notável entre o leque de orientações observadas nosmonumentos e um evento celeste de grande potencial simbólico, como era certamente o nascer da primeiraLua-Cheia depois do Equinócio – aque o autor chamou de Lua dePrimavera (da Silva, 2004). Asorientações verdadeiramenteequinociais são raras e, muitoprovavelmente, não foramintencionais; segundo C. Ruggles,esse tipo de orientação astronómica“não encontra suporte em nenhumestudo sistemático da evidência degrupos regionais de monumentos”(Ruggles, 1998: 204). Fig. 8.1 - Nascer do Sol sobre a colina de Monsaraz, visto a partir dos Perdigões,

dois dias antes do Equinócio (seg. da Silva, 2000: 127).

179Menires do Alentejo Central

Na verdade, para observar osSolstícios ou as pausas lunares,basta anotar diariamente asposições do nascer ou do por dosastros, no horizonte; o Equinócio,pelo contrário, não pode sercontrolado pelo mesmo processo:são necessários cálculos, ainda quepara nós, relativamentesimples,para determinar o evento.

A observação da Lua dePrimavera, seria, portanto, ummétodo de observação ecelebração do Equinócio e,precisamente por ocorrer em datasvariáveis, permite explicar aoscilação das orientações dosmonumentos, dentro de um arco quese centra nos 105º e que raríssimasvezes é inferior a 90º.

Num estudo arqueosastronómicosobre as antas de Valencia de Alcántara,na bacia do Tejo, em que uma parte seorienta para zimutes inferiores a 90º,chegou-se a uma conclusão muitosemelhante, embora com base na LuaCheia de Outono (Belmonte eBelmonte, 2000).

No Alentejo Central, são vários osmonumentos ou conjuntos de monumentos meníricos cujas disposições sugerem, de alguma forma, orientaçõesazimutais em função da Lua de Primavera.

Destaca-se, sobretudo porque implica um conjunto de monumentos de primeira categoria, o alinhamentoformado pelos recintos da Portela de Mogos (nº 4), do Vale Maria do Meio (nº 2) e pelos menires da

Fig. 8.2 - Nascer do Sol sobre Evoramonte, no Solstício de Verão,visto a partir da Portela de Mogos (seg. da Silva e Calado, 2003: 87).

Fig. 8.3 - Histogramas dos azimutes de 110 Luas de Primavera e de antas do SW peninsular, incluindo as do Alentejo Central (seg. da Silva, 2004).

Fig. 8.4 - Alinhamento de recintos e menires, a Noroeste de Évora.

180Manuel Calado

Fig. 8.5 - Alinhamento dos recintos e menires da área do Tojal.

Casbarra 1 (nº 31) e do Mauriz (nº 38). Abstraindo da vegetação actual e assumindo a existência de clareirasem torno dos monumentos, teríamos os dois primeiros intervisíveis, assim como o primeiro e o terceiro. Omenir da Casbarra 1 estabelece, por sua vez a ligação visual entre a Portela de Mogos que se destaca, nohorizonte ocidental, e o Mauriz que aparece enquadrado por uma entalhe no horizonte mais próximo. Estalinha está orientada aos 101º.

Os recintos e menires de Pavia, por sua vez, distribuem-se ao longo de uma banda genericamente WNW-ESSE; se considerarmos apenas os dois recintos pré-históricos podemos mesmo falar numa orientação emtorno dos 106º.

O recinto de Cuncos, cuja implantação é bastante canónica, com um declive relativamente acentuado,orientado a Nascente, encontra-se alinhado, a 100º, com o cabeço do castelo de Montemor-o-Novo que sedestaca, de forma imponente, no horizonte oriental.

Os recintos do Monte da Ribeira (nº 9) e dos Perdigões (nº 13) estão, por sua vez, equinocialmenteapontados ao cabeço de Monsaraz, num ângulo que dependeria, naturalmente da parte do cabeço que seriausada como mira.

Fora do âmbito geográfico deste trabalho, mas com ele certamente relacionado, podemos ainda mencionaro recinto desmantelado do Alminho, no distrito de Portalegre, de onde, na direcção dos 100 º, a intersecçãodo horizonte longínquo com o horizonte mais próximo pode ter definido um eixo de observação.

Menos credível, devido à distância envolvida, é o alinhamento, orientado aos 105º e definido pelos recintosdos Almendres (nº 1) e do Xarez (nº 6). Por outro lado, contribui para dar alguma credibilidade a esta linha,o facto de ela incluir ainda a Anta Grande do Zambujeiro (nº 3) e o povoado dos Perdigões (nº 13) (Silva etal., 1998), dois sítios que, à escala regional e cada um dentro do seu género, dispensam certamente adjectivos.

É claro que não é possível generalizar a todos os recintos, conjuntos ou menires isolados estas ou outrasorientações de base astronómica: mesmo que originalmente todos tivessem sido implantados em função decritérios desse género, a verdade é que os monumentos actualmente conhecidos não passam de uma amostramais ou menos amputada do universo original e nem todos os nexos, infelizmente, se mantiveram.

Além disso, não é certo que os monumentos tenham sido todos, ou tenham sido apenas, orientados emfunção de eventos celestes: conhecem-se bastantes casos em que, aparentemente, os monumentos foramconjugados com a estrutura da paisagem envolvente, sem que tenham sido identificadas orientações de carácterastronómico. As linhas definidas pelos monumentos da área do Tojal (Fig. 8.5) ou de Cuncos (Fig. 8.6), talcomo o alinhamento da Tera, parecem ilustrar essa alternativa.

Uma relação preferencial com aspectos oro-hidrográficos foi defendida, a propósito de Stonehenge, porT. Darvill que sugeriu a articulação domonumento com “uma cosmologiaterrestre baseada na paisagem mais doque nos céus e talvez originalmentederivada de mitos e lendas dos antigoscaçadores-recolectores que primeiroocuparam a área” (Darvill, 1997: 181).

Porém, a articulação dosmonumentos com os eventos celestesmais espectaculares e fáceis de observar,através da interposição de determinadospontos destacados no horizonte, pareceter sido bastante frequente nasestratégias de implantação dos meniresalentejanos.

181Menires do Alentejo Central

Pedro Alvim, num trabalho circunscrito à área da serra de Monfurado (Alvim, 2004), defendeu que oselementos da paisagem terrestre fariam parte de uma rede de significados que conjugava, num mesmo sistemaespacial, as linhas do céu (os astros) e da terra (festos e horizonte).

Partindo da relação evidente entre a distribuição dos menires (e, sobretudo, dos recintos) e as principaislinhas de festo que intersectam a região (Calado, 1990; 1997; 2000), o autor verificou que estas linhascoincidem, de uma forma bastante coerente, com algumas direcções astronómicas elementares. Na suaopinião, os construtores do recinto dos Almendres (nº 1) tiraram partido desta coincidência, amplificando, “àescala dos limites da visibilidade a monumentalidade do sítio” (Alvim, 2004: 9,10).

A leitura proposta por Pedro Alvim sugere,naturalmente, um primado da paisagem (e de umconhecimento circunstanciado da mesma) nadeterminação dos diferentes locais de implantação dosmonumentos. Na prática, esta perspectiva atribui ao parde menires de S. Sebastião um certo papel de pivot, apartir do qual, por prolongamento dos dois troços dofesto que nele convergem, teria sido determinada aposição do conjunto do Tojal (nº 5)/Casas de Baixo (nº12) ou do recinto dos Almendres (nº 1). Esta funçãocentral ou genesíaca do monumento de S. Sebastião émuito sugestiva, sobretudo se tivermos em conta que omenir 2 de S. Sebastião é o mais pesado de todos osmenires alentejanos e que o monumento se localiza nacota mais alta em relação a todos os restantes.

Por outro lado, a possibilidade de algunsmonumentos terem sido intencionalmente implantadosno prolongamento das principais linhas de festo, poderiaeventualmente aplicar-se, com alguma propriedade, aosmenires isolados que continuam, para Noroeste, o

Fig. 8.7 - Orientações internas dos menires dosAlmendres incluindo a orientação solsticial que seprolonga para o menir do Monte dos Almendres

(seg. Alvim, 1996-1997: 16).

Fig. 8.6 - Alinhamento dos recintos e menires da área de Cuncos.

182Manuel Calado

Fig. 8.9 - Projecções dos troços do festo principal, a partir dos menires de S. Sebastião (seg. Alvim, 2004).

Fig. 8.8 - Esquema das relações entre os monumentos, os festos e as orientações lunares e solares (seg. Alvim, 2004).

183Menires do Alentejo Central

segmento definido pelo festoSado/Guadiana, a partir do únicoponto em que os três festosprincipais (e, com eles, as baciasdo Tejo, Sado e Guadiana) seencontram (Fig. 8.10, 1). Naverdade, com alguma imaginação,poderíamos ainda ver, nos meniresde Reguengos de Monsaraz, oprolongamento dessa mesmalinha, na direcção inversa(Fig.8,10, 2), e, nos monumentosde Pavia, o prolongamento,também para Noroeste, do festoTejo-Sado, a partir do ponto de inflexão localizado em Evoramonte (Fig.8.10, 3).

Para além destas relações aparentes, entre os monumentos e a trama estrutural da região, há ainda aconsiderar a importância dos principais relevos no horizonte; destaca-se, de entre estes, o perfil da serrad’Ossa e, em particular o detalhe mais imponente, visto a partir do quadrante ocidental, que é o cabeço deEvoramonte.

É óbvio que a serra d’Ossa, sendo exterior aos territórios em que foram construídos menires, foi integradana estrutura simbólica dos monumentos; na verdade, a serra d’Ossa representa, no contexto geográfico doAlentejo Central, o principal acidente orográfico, cujo potencial simbólico, numa região de horizontes abertos,é perfeitamente compreensível.

À escala local, os aspectos topográficos da paisagem parecem ter sido igualmente determinantes naescolha dos locais de implantação dos monumentos: os da área de Cuncos e do Tojal (Fig. 8.5 e 8.6) configuram,pelo que parece, uma disposição relativa dos elementos que os compõem, claramente condicionada pelatopografia local.

8.3. HidrografiaComo acabamos de verificar, a rede hidrográfica parece ter desempenhado um papel fundamental nas

implantação paisagística dos menires alentejanos, em particular dos de Évora e Montemor-o-Novo e, de ummodo diferente, dos de Reguengos de Monsaraz ou Pavia.

Os festos, tal como os cursos de água com os quais se relacionam, constituem caminhos naturais porexcelência e foram, certamente, usados como tal pelos construtores dos menires da região. Neste sentido, aárea de Évora, onde, segundo parece, se concentra o principal foco de menires alentejanos e a maiorconcentração de povoamento do Neolítico antigo, corresponde, efectivamente, a uma situação peculiar: éneste território que convergem os festos principais dos três grandes rios do Sudoeste peninsular, o que implicauma clara centralidade geográfica, baseada em condições de transitabilidade privilegiadas.

De certo modo, pode afirmar-se que, nesta mesopotâmia definida pelo Tejo, o Sado e o Guadiana,todos os caminhos naturais vão dar a Évora. Numa escala mais detalhada, verifica-se que, nesta área, amaioria dos monumentos que aqui nos interessam se relacionam, directa ou indirectamente, com as bacias doTejo e do Sado.

Numa outra perspectiva, relacionada com os recursos hídricos, é importante anotar o facto de a área deÉvora carecer de cursos de água significativos: com efeito, este território é drenado por uma rede hidrográficaincipiente que só vai ganhando corpo à medida que se afasta dele e se aproxima dos antigos limites dosestuários do Tejo e do Sado. Trata-se, efectivamente, de uma área de nascentes, as cabeceiras dos regatos

Fig. 8.10 - Projecções de troços de festos, eventualmente relacionadas com localizações de menires.

184Manuel Calado

que alimentam os afluentes dos referidos rios.Este divórcio entre monumentos e cursos de água é menos evidente fora da área Évora-Montemor-o-

Novo. De facto, nas restantes áreas em que ocorrem recintos megalíticos e que, com base em critériosquantitativos e geográficos, podemos considerar periféricas, as relações com os festos são igualmente a norma,embora se trate sempre de festos secundários, sugerindo adaptações a realidades locais de um modelo cujagénese pode, por hipótese, ter sido eborense.

Note-se, por outro lado, que, em Reguengos de Monzaraz, os menires não manifestam nenhumaproximidade preferencial pelo Guadiana, sendo, ainda assim, o enigmático recinto do Xarez (nº 6) a excepçãomais notável. Quanto aos restantes recintos, sobretudo o dos Perdigões, mas também, de forma mais atenuada,os do Monte da Ribeira (nº 9) ou da Capela (nº87) - tal como os menires isolados mais importantes -implantam-se sobre ou perto das linhas de festo que separam o Degebe, o Álamo e o Azevel, e, em todo ocaso, em posições muito interiores em relação ao Guadiana.

Em Pavia, os principais monumentos parecem também relacionados com linhas de transitabilidade naturalconsubstanciadas pelos festos secundários.

Esta preferência pelos festos não deve apenas ser lida numa óptica funcionalista: as implicações simbólicasdessas linhas de fronteira entre bacias hidrográficas, os “meios-mundos” da toponímia popular (Alvim, 2004),pesaram provavelmente mais do que a função hodológica, que certamente também tinham, na escolha doslocais de implantação dos monumentos.

185Menires do Alentejo Central

Capítulo 9. O Tempo: dados e hipóteses para uma leituracronológica

186Manuel Calado

9. O tempo: dados e hipóteses para uma leitura cronológicaSão muito raros, quando existem, os dados que permitam datar, de forma inequívoca, estes tipo de

monumentos; na verdade, o problema não é exclusivo dos menires e afecta uma série de outros aspectos daarqueologia pré-histórica: sem contar com a arte rupestre de ar livre que, pela sua própria natureza, é tambémquase sempre muito difícil de datar, assistimos hoje em dia a sérias discussões e desacordos a propósito dascronologias (sobretudo de fundação) dos monumentos funerários que são, apesar de tudo, muito maisadequados à obtenção de datas absolutas.

Não dispomos, por enquanto, de datações radiocarbónicas para os menires do Alentejo Central; foram,em todo o caso, publicadas, recentemente, três datações de termoluminescência (TL), efectuadas a partir defragmentos cerâmicos do recinto dos Almendres (nº 1); porém, o desvio elevadíssimo a que estas datasestão sujeitas e a fraca contextualização das amostras, inviabilizam qualquer tipo de utilização das mesmas(Gomes, 2002: 125), para além de uma vaga indicação sobre o período de utilização/frequentação dorecinto.

Mesmo assim, as escavações realizadas, nas últimas duas décadas, em vários tipos de monumentosmeníricos centro-alentejanos, forneceram elementos de índole cronológica que, não sendo suficientementeseguros para arrumar de vez a questão, contribuíram, em diferentes graus, para uma aproximação melhorfundamentada; paralelamente, um investimento muito direccionado, em termos de prospecção regional, permitiu,pela primeira vez, o estabelecimento de pautas espaciais, cujas implicações cronológicas vieram reforçar abase de dados disponível.

Por fim, o cruzamento desta com a informação referente a outras áreas com as quais se podem,legitimamente, numa perspectiva histórica, admitir afinidades, permitiu, com alguma coerência, construir oesboço cronológico a seguir apresentado.

9.1. Os dados do Alentejo Central9.1.1. A Idade do Ferro

No Alentejo Central, o monumento menírico cuja cronologia parece, actualmente, melhor estabelecida éo alinhamento da Tera (nº 14), em Pavia (Rocha, 1996, 1997, 1999, 2000a, 2000b, 2003). Trata-se, aliás,do único alinhamento bem documentado na Península Ibérica, aspecto que, desde logo, lhe permitiu atribuiralgum carácter excepcional; mesmo assim,quando foi descoberto, foi, naturalmente,considerado um monumento pré-histórico,aparentado com os que, por essa altura, já eramconhecidos na área de Pavia, com destaque parao recinto de Vale d’El Rei (nº 15), a menos de 2Km de distância.

No entanto, a subsequente escavação doalinhamento e, sobretudo, do conjunto de meniresque jaziam amontoados a cerca de 100m,permitiu, sem margem para dúvidas, concluir queestamos em presença de um complexo funerárioda I Idade do Ferro.

A necrópole propriamente dita, de ondeseriam certamente provenientes os meniresamontoados, é constituída por um cairn, ondeforam, até agora, em escavação, descobertosmais dois monólitos) e várias urnas cinerárias,

Fig. 9.1 - Alinhamento da Tera, em fase de escavação (seg. Rocha, 1997).

187Menires do Alentejo Central

Fig. 9.2 - Planta das estruturas do alinhamento da Tera (seg. Rocha, 1999: 67).

Fig. 9.3 - Planta geral dos menires da Tera (alinhamento enecrópole) (levantamento de Pedro Alvim)

acompanhadas de oferendas(contas de colar e anforiscos depasta vítrea, objectos metálicos ecerâmica).

A surpresa deste contextocronológico-cultural resultou, antesde mais, da ausência virtual deparalelos, embora, em boaverdade, pouco se saiba ainda hojesobre as necrópoles e os rituaisfunerários da I Idade do Ferro, noAlentejo Central. Teoricamente, étambém possível que doisconjuntos de menires publicados,nos últimos anos, em regiões nãomuito afastadas - o de S. Cristóvão(Resende) (Silva, 1997) e o deFregenal de la Sierra (Berrocal-Rangel, 1991) - sejam igualmentemonumentos tardios,eventualmente sidéricos.

Curiosamente, o paralelo maissugestivo para o complexo da Teraocorre num contexto geográfico ecultural dificilmente relacionávelcom o Alentejo Central: trata-se do sítio deFossa, nos Abbruzzi, em Itália. Esta necrópolede inumação, datada também da I Idade doFerro, de carácter orientalizante, é compostapor monumentos constituídos igualmente por umalinhamento, cujos menires, tal como na Tera,apresentam alturas decrescentes, na direcçãodo cairn funerário, o qual aparece claramentedelimitado por um círculo de menires (Cosentinoet al., 2003).

Uma das várias questões que o sítio da Teralevanta, na perspectiva que aqui nos interessa,é a da relação entre este monumento e orelevante contexto megalítico pré-históricopatente na área envolvente: a hipótese de setratar de menires pré-históricos reutilizados naconstrução da necrópole proto-histórica, nãoparece sustentável, atendendo à morfologiamuito sui generis dos monólitos: de facto, osmenires da Tera são muito mais esguios eangulosos que os dos recintos de Vale d’El Rei(nº 15) (Fig. 9.5) ou das Fontaínhas (nº 11),

188Manuel Calado

Fig. 9.4 - Menires descobertos na escavação, junto aos prováveis limites do “cairn” (seg.Rocha,).

A

B

Fig. 9.5 - Os menires do recinto de Vale d’El Rei (A) e da necrópole da Tera (B).

ambos presumivelmente pré-históricos.No entanto, se parece aceitável que o monumento da Tera seja integralmente de feitura sidérica, e não

tenha havido reutilização de monólitos mais antigos, não deixa de fazer sentido a hipótese de o conjunto se ter,de alguma forma, inspirado nos monumentos neolíticos que certamente não passaram despercebidos na época,uma vez que se mantiveram intactos, ou quase, até aos nossos dias.

Num estudo recente sobre as paisagens míticas da Idade do Ferro britânica, o autor propõe que osmonumentos neolíticos “continuaram como um elemento significante na paisagem” (Barrett, 1999: 258) e que“ a natureza dos monumentos e os depósitos associados são entendidos como a representação da organizaçãode uma sociedade antiga” (Ibidem: 262).

Também Richard Bradley, numa obra muito recente, apontou vários exemplos, no Norte de França e nasIlhas Britânicas, em que necrópoles ou santuários da Idade do Ferro sobrepoem, de formas que excluem a

189Menires do Alentejo Central

Fig. 9.7 - Espólio da necrópoleda Belhoa (seg. Gomes, 1997a)

Fig. 9.6 - Povoamento do Bronze Final, no Alentejo Central(seg. Mataloto, 2003: Est. 65) e localização da necrópole da Tera.

simples coincidência,estruturas rituais maisantigas (Bradley, 2003:130-146)

Convém sublinhar, poroutro lado, que, em Pavia,os dados disponíveis nãosuportam uma eventualcontinuidade, semrupturas, desde oNeolítico até à Idade doFerro; na verdade, nessaárea, apesar deintensamente prospectada(Calado, 1995; Calado,2001a; Calado e Rocha,1996; 1996-1997; 1997;Rocha, 1996; Rocha,1999) existe um vazioabsoluto de evidências depovoamento, entre o Calcolítico e a Idade do Ferro, sugerindo um abandono da área durante, pelo menos, ummilénio; a confirmar-se esta situação, os menires da Tera seriam, no máximo, uma reinterpretação, no domíniodos rituais funerários, de um fenómeno bem presente fisicamente, mas cujo significado original deveria, nessaaltura, estar completamente perdido ou, no mínimo, transfigurado. Note-se que, em termos de orientação,enquanto, nos recintos pavienses, se observam os cânones habituais (estão orientados genericamente a Nascente),o alinhamento da Tera é, nesse domínio, completamente anómalo (322º-142º). Verifica-se, no entanto, umaboa coincidência entre a orientação do alinhamento (e do conjunto alinhamento/necrópole) e a orientação dorelevo.

A valorização de monumentos megalíticos pré-históricos, em contextosfunerários da Idade do Ferro, teve, há poucos anos, uma confirmação bastantesugestiva, no Alentejo Central: a escavação de uma anta muito destruída (antada Belhoa, em Monsaraz), de que apenas restava um esteio, no local, levou àdescoberta de uma necrópole da Idade do Ferro, nas imediações (Gomes,1997). De facto, os materiais da Idade do Ferro dispersam-se, à superfície,até junto do famoso menir da Belhoa (localizado a uns escassos 200 m),sugerindo que, de alguma forma, o menir e o esteio da anta teriam sido“reutilizados” na estrutura ritual do cemitério.

A presença de vestígios da Idade do Ferro, em estreita articulação espacialcom menires, foi igualmente observada na área do recinto do Tojal: a brevesondagem efectuada no local, junto aos menires 15 e 16 (ver capítulo 5.2.),permitiu recolher alguns artefactos, de entre os quais um bordo extrovertido, de provável cronologia sidéricae, a meia distância entre este recinto e o menir do Monte do Tojal, à superfície, foi observado um fragmento dedormente de mó “de sela” . Por outro lado, no sítio da Quinta do Gato 8 (nº), também nas imediações dorecinto, foi recolhido, em prospecção de superfície, um bordo extrovertido, com asa “de cesto”, característicodos conjuntos cerâmicos da I Idade do Ferro regional (Estampa 16, 6) (Calado, 2003.

No recinto megalítico da Portela de Mogos (nº 4), o responsável pela escavação refere, também sem as

190Manuel Calado

discriminar, a presença de cerâmicas da Idade do Ferro (Gomes, 1997a: 38); neste caso, como no do recintodo Tojal (nº 5) não foi possível esclarecer se se trata ou não de utilização funerária.

Por outro lado, a revisão, no contexto deste trabalho, dos menires do Monte das Flores (nº23), nosarredores de Évora (Oliveira e Sarantopoulos, 1994), permitiu, na área envolvente do local onde os doismonólitos tinham sido descobertos, identificar indícios da presençade uma necrópole da Idade do Ferro, nomeadamente cerâmicas euma concentração de blocos de pequenas dimensões, análogosaos que integram o cairn funerário da Tera.

Finalmente, um outro caso em que se poderia conjecturar umacronologia da Idade do Ferro, é o do menir da Casa da Moinhola(nº 50); este menir, muito heterodoxo em termos de matéria-prima(xisto) e de implantação (jaz em pleno leito do Guadiana), localiza-se nas imediações de um povoado da I Idade do Ferro, a Casa daMoinhola 2 (Calado, 2002b); no entanto, convém observar que,no mesmo contexto geográfico, a escassas dezenas de metros, existeum significativo conjunto de gravuras pré-históricas, constituídosobretudo por antropomorfos em painéis horizontais.

Num balanço global, a título provisório, pode concluir-se queos menires da Idade do Ferro, nas diversas modalidades possíveis,não parecem ter sido um fenómeno muito expressivo, no AlentejoCentral.

9.1.2. A Idade do BronzePara a Idade do Bronze, porém, os dados são ainda mais raros. As escavações efectuadas recentemente

no par de menires de S. Sebastião (nº 8) (Capítulo 5.6) e no recinto da Portela de Mogos (Gomes, 1997a),permitiram identificar ocupações, certamente de carácter ritual e, eventualmente, funerário, traduzidas napresença de um elevado número de peças de cerâmica, tipologicamente atribuíveis ao Bronze antigo/médio.

Note-se que a utilização funerária de monumentos mais antigos que, aparentemente, não foram originalmenteconcebidos para uma tal finalidade, é um fenómeno reconhecido noutras áreas megalíticas europeias (vercapítulo 11) e que, mais à frente, comentarei com mais pormenor.

9.1.3. Neolítico final/CalcolíticoNa região, existem também vários casos em que, associados aos menires, foram recolhidos materiais

atribuíveis ao Neolítico final ou ao Calcolítico.No presumível recinto dos Perdigões (nº 13) (Gomes, 1994), a escavação do menir 4 (referido, na obra

citada, como menir 5), permitiu registar, para além de uma lareira e de fragmentos de cerâmica calcolítica, umaestrutura pétrea, de planta quadrangular, “formada por um muro baixo, totalmente pavimentada com pequenaslajes de xisto”, constituindo, segundo o escavador, uma reestruturação posterior à erecção do menir (Gomes,1994: 327).

No concelho de Montemor-o-Novo, Mário Varela Gomes, Rosa Varela Gomes e Manuel Farinha dosSantos, efectuaram sondagens, nos inícios dos anos oitenta do século passado, junto dos menires da PedraLonga (nº 16), tendo obtido um conjunto artefactual, aparentemente homogéneo, atribuível ao Neolítico final.

No recinto de Cuncos (nº 7), também em Montemor-o-Novo, a escavação não permitiu obter “espóliosignificativo”, mas o responsável pelos trabalhos refere, num primeiro texto, a recolha, por Gil Miguéis Andrade“em prospecções de superfície e quando do plantio da actual vinha”, de “abundante material atribuído aoNeolítico final-Calcolítico inicial” (Gomes, 1986: 15); anos mais tarde, num texto em que, pela primeira vez, o

Fig. 9.8 - Implantação do menir da Moinhola.

Leito do rio

191Menires do Alentejo Central

mesmo autor admitiu uma cronologia mais antiga paraalguns menires, esclarece-se que, afinal, de entre o materialrecolhido por Gil Miguéis Andrade na área adjacente aorecinto de Cuncos, havia também “cerâmicas almagradas,incisas e impressas” e, pelos vistos, também lamelas(Gomes, 1994: 327).

Também a escavação do recinto de Vale d’El Rei (nº15), em Pavia, forneceu apenas materiais quegenericamente se poderão inserir no Neolítico final,nomeadamente duas carenas e um possível fragmento deponta de seta, em xisto jaspóide, para além de escassosartefactos e restos de talhe de sílex e, sobretudo, dequartzo, pouco eficazes como elementos de diagnósticocronológico (Capítulo 5.5).

É claro que, em nenhum dos casos conhecidos, osdados atestam a erecção dos menires no Neolítico finalou no Calcolítico, embora tal não se possa excluirliminarmente; na verdade, em todos eles, os materiaisreferidos provêm de áreas exteriores aos alvéolos dosmenires, pelo que podem corresponder, efectivamente, afases de utilização do monumento.

A ausência sistemática de materiais no interior dos alvéolos sugere, naturalmente, a inexistência, nosrespectivos locais de implantação, de ocupações anteriores à construção dos monumentos. As únicas excepções,que eu saiba, são, neste aspecto, pouco conclusivas: trata-se de um fragmento de dormente de mó manual eum fragmento de machado de pedra polida, de secção transversal arredondada, inseridos (supõe-se queintencionalmente) nas coroas de sustentação de dois menires, no recinto megalítico de Vale Maria do Meio (nº2), tal como aconteceu, aliás, no recinto da Portela de Mogos (nº 4), com dois artefactos de pedra polida(machado e enxó) também inseridos nas coroas de sustentação de dois menires (Gomes, 1997a: 38).

9.1.4. Neolítico antigo/médioPara além dos casos referidos, em que, exceptuando o alinhamento da Tera (nº 14), todos parecem

implicar cronologias relacionadas com as épocas, mais ou menos longas e, provavelmente, descontínuas, emque os sítios foram frequentados (mesmo que de formas distintas daquelas para as quais os monumentosforam concebidos), existem alguns artefactos que, por se repetirem de uma forma mais sistemática e porimplicarem cronologias mais antigas, podem ser considerados contemporâneos da fundação ou das primeirasutilizações dos menires alentejanos.

De entre eles, são sobretudo as indústrias líticas de feição microlaminar que, nos últimos anos, se têmvindo a encontrar reiteradamente associadas aos menires e recintos megalíticos da região.

Trata-se de um fenómeno que tinha sido repetidamente observado também no contexto dos meniresalgarvios (Gomes, 1996; David Calado, 2000a; 2000b), se bem que neste último caso, ocorram igualmente,em muitos casos, as cerâmicas decoradas, atribuíveis ao Neolítico antigo.

Nos Almendres, a escavação, levada a cabo há cerca de quinze anos, foi muito avara em termos artefactuais:para além de dois fragmentos ~de cerâmica decorada, recolheram-se restos de duas lâminas de sílex e umcrescente do mesmo material. Mais uma vez, segundo o responsável pela escavação, estes materiais indicam“com fortes probabilidades, tratar-se de indústria do Neolítico antigo ou dos inícios do Neolítico médio”(Gomes, 2002: 126-128).

Fig. 9.9 - Estruturas do menir 4 dos Perdigões (seg. Gomes, 1994: 329)

192Manuel Calado

Fig. 9.10 - Materiais líticos do recinto do Xarez (seg. Gomes, 2000: 101)

Fig. 9.11 - Cerâmicas do recinto do Xarez (seg. Gomes, 2000: 105)

Também no recinto de Vale Maria do Meio (nº 2) (Calado, 1997a; 2000b), foi recolhido, em escavação,um espólio constituído quase exclusivamente por restos de talhe, lascas e uma lamela de sílex, para além deuma flecha transversal, de tipo Montclus (Gouraud e Marchand, 1999:18), com truncaturas não secantes,de comprimentos e obliquidades idênticas, sobre suporte lamelar, e apresentando retoques inversos abruptose retoque directos invasores. Trata-se de um tipo de artefacto praticamente inédito em Portugal, de querecolhi, na região de Évora, dois outros exemplares em prospecções de superfície, nos povoados da Valadado Mato (nº 1119) e do Penedo do Ouro 1 (nº 1220) (Estampa 20, 1 e 2 ) e que genericamente apontampara o Neolítico antigo ou mesmo para o Mesolítico. A ausência de cerâmicas manuais, num contexto, comofoi o do Vale Maria do Meio, em que as terras foram integralmente crivadas, é, sem dúvida um dos aspectosa reter, com implicações que, sendo eventualmente também cronológicas, serão sobretudo de ordem funcional.

No recinto do Xarez (nº 6), recolheu-se um trapézio, lamelas e outros artefactos de pedra lascada, emsílex, para além de dois fragmentos de cerâmica impressa(Gomes, 2000b); note-se que, na região, o Xarez é umdos raros sítios com menires (os outros são os recintosdos Almendres e da Portela de Mogos) onde também foramrecolhidas, em escavação, cerâmicas impressas. Estesmateriais foram interpretados pelo escavador comoindicando uma cronologia “dos finais do Neolítico antigoou dos inícios do Neolítico médio” (Gomes, 2000b: 108),precisão que, com base na amostra disponível, me parecemanifestamente exagerada.

Na escavação do menir do Tojal (nº 5), em que ovolume de terras removidas foi diminuto, foram recolhidosrestos de talhe, um buril e lamelas de sílex, para além dealguns fragmentos de cerâmica manual lisa, entre os quaistrês bordos simples. Em termos cronológicos, os materiaislíticos apontam, em traços gerais, para o Neolítico antigo/médio, proposta que as cerâmicas, por serem muitoincaracterísticas, não contrariam nem confirmam.

No par de menires de S. Sebastião (nº 8), para alémdas cerâmicas atribuíveis à Idade do Bronze, há quedestacar os materiais líticos, constituídos por restos detalhe, lascas e lamelas (uma de bordo abatido) de sílex,tipologicamente integráveis no Neolítico antigo/médio,mas que tampouco destoariam num contexto Mesolítico.

Na Portela de Mogos (nº 4), cujos dadospermanecem, na sua maioria, inéditos, sabemos apenasque, para além das evidências de ocupações proto-históricas, foram igualmente recolhidos materiaiscalcolíticos e “fragmentos de cerâmicas atribuíveis a faseevolucionada do Neolítico antigo ou já do Neolíticomédio”; em termos de indústrias líticas, o autor faz umareferência vaga a “pequenos artefactos de pedra lascada”(Gomes, 1997a: 38) cuja tipologia desconhecemos,embora, pelos exemplos que tenho vindo a apontar, sejade supor a presença de indústrias micro-laminares.

193Menires do Alentejo Central

Ainda que de uma forma indirecta, no que diz respeito à datação dos menires, a escavação do povoadoda Valada do Mato (nº 1119) (Diniz, 2004), permitiu obter, nos últimos anos, um conjunto de dadosfundamentais para a discussão do povoamento do Neolítico antigo no Alentejo Central e, em particular, naárea de Évora, onde, de facto, se ubica a maior densidade de menires da Península Ibérica.

Foi possível obter cinco datas radiocarbónicas que, genericamente, confirmaram as cronologias expectáveisa partir da análise dos dados da cultura material. Na verdade, por razões que se prendem com o tipo dasamostras e com a fiabilidade dos métodos de datação utilizados, apenas uma dessas datas foi consideradautilizável, sem reservas (Diniz, 2004: 268-270); trata-se de uma datação feita sobre carvões, de espécie nãoidentificada, provenientes de uma estrutura pétrea, a U.E. 5, que forneceu uma data, calibrada a 2σ, de 5040-4790 cal BC. As restantes datações, feitas sobre ossos queimados, apresentam valores mais elevados, quearrancam do segundo quartel do VI milénio cal BC.

Atendendo à estratigrafia, aquela data foi interpretada como “o momento terminal da ocupação da estruturapétrea U.E. 5” (Diniz, 2004: 270), o que, naturalmente, supõe datas mais antigas para a génese do povoado.

Paralelamente, as escavações, nos arredores do recinto megalítico do Xarez (nº 6), de três sítios comocupação do Neolítico antigo - a Fonte dos Sapateiros (nº2103 ), o Xarez 4 (nº 2164) e o Xarez 12 (nº2137)(Gonçalves, 2002a) - apesar de ainda se encontrarem em fase de estudo e de não se conhecerem, porenquanto, datações radiocarbónicas, parecem fornecer um contexto muito coerente com os escassos indíciosrecolhidos na escavação do recinto.

Na verdade, como se viu, os artefactos atribuíveis ao Neolítico antigo/médio e que, por serem os maisantigos, são conotáveis com a fase de construção e de utilização inicial dos monumentos, são sempre muitoescassos, inclusivamente nos casos em que foram escavadas áreas consideráveis, aspecto que importacertamente ponderar a propósito do respectivo significado funcional.

Perante esta realidade, não espanta que, na maior parte dos casos, não tenha sido possível recolher, nasprospecções de superfície, qualquer tipo de indicador cronológico.

Uma das excepções é o recinto dos Almendres (nº 1), onde, em recolhas de superfície, surgiram,recentemente, novos artefactos de sílex, nomeadamente lamelas (Estampa 18, 27-37), o que naturalmenteveio reforçar o conjunto muito modesto, obtido na escavação. Note-se que, nos Almendres, as condições devisibilidade do solo são habitualmente muito boas, uma vez que a presença constante dos visitantes nãopermite o crescimento da vegetação herbácea, no local (criando, infelizmente, problemas erosivos muitoseveros).

Para além dos Almendres, foram recolhidas algumas lascas e restos de talhe de sílex, junto do menir doMauriz (nº 38) e do recinto das Fontaínhas (nº 11); embora o valor destes achados, como elementos dediagnóstico cronológico, seja muito limitado, a própria presença de sílex, sem outros materiais, sugere cronologiasaltas na sequência pré-histórica da região.

Porém, o principal contributo das prospecções de superfície, no Alentejo Central, para a resolução dasquestões relacionadas com a cronologia dos menires, prende-se com a definição dos contextos arqueológicos,de tipo macro-espacial, em que estes se enquadram.

Efectivamente, a proximidade espacial entre um qualquer monumento singular e, por exemplo, um povoadode uma determinada época, não implica, automaticamente, uma relação de contemporaneidade entre ambos.Essa relação ganha, no entanto, plausibilidade e consistência se o fenómeno se repetir de uma forma sistemática.

Na verdade, descontando as lacunas que inevitavelmente existem, se analisarmos os dados reunidos parao Alentejo Central, no seu conjunto, podemos observar uma nítida sobreposição entre as áreas de maiordensidade de monumentos meníricos e aquelas em que se concentra a maior parte dos vestígios de habitat doNeolítico antigo/médio. Concretamente, as densidades de uns e outros são mais elevadas no território a Oestede Évora e, em segundo lugar, na planície de Reguengos de Monsaraz e perdem expressão, de formadirectamente proporcional, nas área de Montemor-o-Novo e de Pavia; nas restantes áreas, tanto os menires,

194Manuel Calado

Habitats Calcolítico por concelho

25%

21%

10%

9%

9%

7%

6%

5%5% 3%

Évora

Redondo

Arraiolos

Alandroal

Reguengos deMonsarazBorba

Vila Viçosa

Mora

Antas por concelho

23%

21%

15%

15%

14%

6%3% 2%1%

ÉvoraReguengos de Monsaraz

Arraiolos

Montemor-o-NovoMora

RedondoEstremoz

Portel

Outros

Menires por concelho

50%

21%

14%

10%3% 2%

ÉvoraReguengos de MonsarazMontemor-o-NovoMoraRedondoOutros

Habitats Neolítico antigo/médio por concelho

62%19%

7%

4%4% 2% 2%

Évora

Reguengos deMonsarazMontemor-o-Novo

Redondo

Arraiolos

Mora

Outros

Fig. 9.12 - Representação gráfica da distribuição de monumentos e sítios, por concelho.

como os sítios do Neolítico antigo, são meramente vestigiais.Em contrapartida, os habitats mais tardios, do Neolítico final e Calcolítico, cuja distribuição apresenta um

padrão muito mais ubíquo, dificilmente se poderão relacionar com as principais manchas de menires alentejanos.A título de exemplo, estes povoados existem de forma muito significativa, nos concelhos de Borba, VilaViçosa ou Alandroal, onde, até à data, não se conhecem quaisquer menires - à excepção do da Casa daMoinhola (nº 50).

Para além da distribuição dos povoados em que a informação proporcionada pelos materiais de superfíciepermitiu, minimamente, os respectivos enquadramentos cronológicos, é possível igualmente, rastrear, nossítios menos bem definidos, integrados, de uma forma mais aberta, no Neolítico/Calcolítico, assim como nosachados avulsos, distribuições diferenciadas de alguns indicadores cronológicos, em função da presença/ausência de menires.

Note-se que, por exemplo, o sílex, sempre muito abundante nos espólios do Neolítico antigo/médio daregião (Diniz e Calado, 1998; Gonçalves, 2002a; Diniz, 2004), ocorre, sistematicamente, em percentagensmuito diminutas nos povoados do Neolítico final/Calcolítico (Calado, 2001a; 2002b; 2002c; Gonçalves eSousa, 2000); pelo contrário, os percutores, atingem percentagens relativamente elevadas nos povoados maisrecentes, enquanto, por norma, escasseiam nos mais antigos.

Com base nestas observações, parece significativa a relação positiva entre as áreas com maior presençade sílex e menires e a relação negativa entre a distribuição destes e dos percutores.

Numa escala mais aproximada, podemos aduzir outro tipo de relação negativa, visível sobretudo na áreade Évora: trata-se de uma exclusão bastante nítida entre menires e antas, situação bem referenciada noutrasáreas da fachada atlântica (Capítulo 11) e, com menor nitidez, também em Reguengos e Pavia.

Um outro aspecto a ter em conta, no que diz respeito à cronologia dos menires mais antigos, relaciona-secom as descobertas revolucionárias que, na Bretanha, a partir dos anos 80, permitiram identificar, nasarquitecturas funerárias megalíticas, um fenómeno quase sistemático de reutilização de menires decorados;com efeito, começaram igualmente a dar frutos, no Alentejo Central. Efectivamente, nos últimos tempos, têm

195Menires do Alentejo Central

vindo a ser identificados alguns prováveis menires usados ou reutilizados nas estruturas de antas (Calado,Alvim e Henriques, n.p.). É certo que as implicações cronológicas deste facto são ainda muito vagas, tantomais que as cronologias das referidas arquitecturas funerárias não estão ainda suficientemente esclarecidas.

Por último, as gravuras que reforçam a simbologia dos monumentos, apesar de, em vários aspectos,remeterem para um fundo ideológico comum ao megalitismo funerário e à própria arte rupestre de ar livre,apresentam, nos menires alentejanos (e bretões), temáticas e técnicas muito sui generis, sem paralelos nosoutros tipos de suportes (Calado, 2004). O baixo-relevo ou o falso baixo-relevo, por exemplo, consideradospor E. Shee como técnicas tardias (Shee, 1981), são hoje vistos como um claro indicador de antiguidade(Bueno e Balbín, 2002: 617). De resto, na óptica, até certo ponto, independente, da arte megalítica “os seustemas e técnicas têm antecedentes muito mais antigos, sob a forma de estátuas, estelas ou menires, porexemplo na Bretanha (...) ou na Península Ibérica” (Bueno e Balbín, 2002: 615).

9.2. Povoados, antas e menires, nas áreas limítrofesNas áreas que estão, mais ou menos directamente, em contacto com o Alentejo Central, os menires são

relativamente escassos, tal como os povoados do Neolítico antigo; em contrapartida, as antas e os povoadosdo Neolítico final e Calcolítico estão, em algumas delas, relativamente bem representados.

A Norte, no distrito de Portalegre, cujos menires (sobretudo os mais monumentais) sugerem, como veremos,estreitas relações com os do Alentejo Central, conhecem-se, por enquanto, apenas raras evidências depovoamento do Neolítico antigo/médio (Martins et al., 1999; Deus, 2002), reflectindo, aparentemente, afraca densidade relativa de menires (Oliveira, 1998; Oliveira e Oliveira, 1999-2000); por outro lado, a presençade povoados do Neolítico final/Calcolítico surge, com alguma força, em sectores onde foram efectuadasprospecções recentes (Boaventura, 2001; Martins et al., 1999; Deus, 2002), e onde, concomitantemente, asantas estão muito melhor representadas que os menires.

Para além desta imagem geral, muito coerente com as observações efectuadas mais a Sul, destaca-se adatação radiocarbónica obtida a partir de carvões recolhidos no alvéolo do menir da Meada, o mais compridoda Península Ibérica; trata-se de uma data estatisticamente idêntica àquela que, na Valada do Mato (nº1119),corresponde, aparentemente, a um dos momentos finais do povoado: 5010-4810 cal BC, para um intervalode confiança de 2 sigmas (Oliveira, 1997: 234).

Fig. 9.13 - Povoamento do Nerolítico Final e Calcolítico, na região da serra de Ossa (seg. Caldo, 2001: 248).

196Manuel Calado

Fig. 9.16 - Sepultura junto ao recinto doTorrão (Elvas).

Fig. 9.15 - Sepultura do Monte do Cabeça (Pontede Sor).

Recorde-se que o menir da Meada possui, em termos morfológicos,bons paralelos no Alentejo Central, como o menir 1 de S. Sebastião (nº 8)ou o menir 1 dos Perdigões (nº 13), entre outros, e que a implantação,próxima do topo de uma vertente exposta a Leste remete, claramente, parao padrão dominante nos recintos e nos grandes menires isolados da área deÉvora.

No distrito de Beja, a Sul da serra do Mendro, os menires são aindamais raros, resumindo-se a dois exemplares, cujas morfologias, dimensõese implantações os aproximam igualmente dos menires do Alentejo Central(Mantas et al., 1986; Lopes et al., 1997: 34-36). O Neolítico antigo/médioestá igualmente mal representado nesta área: no povoado da Foz do Enxoé(Soares, 1992; Diniz, 1995), que dista cerca de 2,5 Km do menir da Aldeiados Testudos, foram recolhidas algumas cerâmicas decoradas, inseridas numcontexto do Neolítico final, e, na Toca da Galiana (Soares, 1992), em frenteà Sala nº1 (Gonçalves, 1989c), recolhi um fragmento de cerâmica decoradacom ungulações, associada a lascas e restos de talhe de sílex. As sepulturasmegalíticas estão melhor representadas que os menires e, paralelamente,conhece-se igualmente um número razoável de povoados do Neolítico final-Calcolítico (Gonçalves, 1989b; 1989c; Lopes et al.,1997).

Na margem esquerda do Guadiana, no territórioimediatamente a Leste da presente área de estudo,conhecem-se apenas dois sítios, de escassa entidade,atribuíveis ao Neolítico antigo/médio: a Fábrica daCelulose e a Quinta da Fidalga (Soares e Silva, 1992;Silva e Soares, 2002). Note-se que, apesar da“fronteira” natural que o rio, até certo ponto,representa, ambos se localizam junto ao Guadiana, emfrente da baixa do Xarez, área com a qual, de algummodo, se podem contextualizar; em todo o caso, paraLeste, não se conhecem menires, nem outros povoadosdo Neolítico antigo/médio.

Tal como no Alentejo Central, também nas áreaslimítrofes têm sido detectados alguns menires inseridosna estrutura de construções funerárias; neste âmbito,merecem um destaque particular os possíveis meniresinseridos em sepulturas submegalíticas, monumentosque, apesar das dúvidas que legitimamente persistem,são considerados, por alguns autores, os mais antigos(Cardoso et al., 1995; 2000a; Calado, 2003b; Silva eSoares, 1983; 2000). Trata-se da sepultura do Montedo Cabeço, em Ponte de Sor, localizada nasimediações do recinto do Alminho (Martins et al., 1999)e, também no distrito de Portalegre, e em relaçãoestreita com o outro recinto megalítico conhecido nestedistrito, o do Torrão, uma pequena estrutura funerária

Fig. 9.14 - Menir do Mau Cabrão(Vidigueira)

197Menires do Alentejo Central

em cuja construção foram utilizados blocos meniróides (Silva e Albergaria, 2001), eventualmente provenientesdo recinto desmantelado.

9.3. Os dados de outras áreas Noutras áreas mais afastadas, mas espacialmente relacionáveis com o Alentejo Central, é igualmente

possível determinar uma relação sugestiva entre a presença de menires e de povoados do Neolítico antigo/médio.

O Algarve é, neste aspecto, o paralelo mais esclarecedor: na metade oriental da região, praticamente nãoexistem os menires, nem os povoados do Neolítico antigo/médio, enquanto, pelo contrário, na parte ocidental,o Barlavento algarvio, existem uns e outros, em número bastante elevado.

As datas surpreendentemente antigas, obtidas pelo método da OSL, apontando para um patamarcronológico demasiado amplo e anterior ao VI milénio a.C., não podem, por enquanto, ser levadas à letra;aceitá-las, sem reservas, implicaria uma revisão demasiado profunda do próprio enquadramento cultural dosmenires algarvios (Calado et al., 2003; 2004) e colocaria sérias dificuldades a uma comparação com osdados mais antigos que, com muitas resistências, começam a ser aceites noutras áreas.

No entanto, mesmo que essas datações sejam revistas em baixa, é possível que os menires algarviossejam efectivamente muito antigos, havendo, seguramente, alguns indícios que apontam nessa direcção. Particularmente importante, neste contexto geográfico, é a datação de uma estrutura de combustão juntoda base do menir do Padrão, considerada de carácter ritual, que aponta para meados do VI milénio aC.

Por outro lado, a presença de vestígios de habitat do Neolítico antigo, nomeadamente cerâmicas decoradase estruturas de combustão, em estreita associação espacial com os menires (Gomes et al., 1978; Gomes eCabrita, 1993; Gomes, 1996: 155; Calado, 2000a; 2000b), destoa claramente do padrão observado nosmenires alentejanos e, em boa verdade, na esmagadora maioria dos menires europeus; a separação sistemáticaentre monumentos e habitats sugere, naturalmente, uma utilização exclusivamente ritual dos monumentos, peloque, no Algarve, poderíamos estar perante uma reutilização, como povoados, de sítios originalmente concebidospara outras funções. Isto se se tratar, efectivamente, depovoados...

Uma certa relação entre os menires algarvios ealentejanos é, no entanto, sugerida pelos motivosgravados no menir actualmente exposto no Museu deSilves (Fig. 9.17 e 10.8), um dos exemplares algarviosmais notáveis; este menir apresenta uma decoraçãoclaramente inserida nos padrões regionais, a queparecem ter-se acrescentado, posteriormente, doisobjectos de tipo báculo (com pouca curvatura) queremetem para a iconografia alentejana (Gomes, 1996).

No Alentejo Litoral, foram obtidos novos dados,ainda inéditos, que parecem constituir a primeiraevidência estratigráfica para a antiguidade dos meniresportugueses: de facto, a reescavação de Vale Pincel 1,em Sines, permitiu identificar um pequeno monólito, sobuma lareira do Neolítico antigo, cuja cronologia antiga(neolítica ou anterior) parece incontestável (C.T. Silva, informação pessoal). Note-se, aliás, que outros pequenosmonólitos meniróides foram igualmente identificados na escavação.

Se se confirmarem as datas obtidas em Vale Pincel 1, as quais, uma vez calibradas, rondam os meados doVI milénio a.C., podemos estar em presença de restos de um monumento construído ainda na primeira metade

Fig. 9.17 - Báculos do menir exposto no Museu deSilves.

198Manuel Calado

desse milénio, eventualmente contemporâneo das estruturas funerárias, de planta em ferradura, de Vale dasRomeiras e da Moita do Sebastião. As dimensões dos monólitos remetem, em todo o caso, para realidadesque, por muito que pareçam desempenhar já um papel ritual, carecem ainda de verdadeira monumentalidadee, nesse aspecto, não são, efectivamente, comparáveis aos monumentos que constituem o objecto desteestudo.

Note-se que, no mesmo contexto paisagístico, foi identificado, numa cota superior ao(s) povoado(s)neolítico(s) de Vale Pincel 1 e 2, um povoado calcolítico, Monte Novo, com um recinto (supostamente defensivo)interpretado como a reutilização de um conjunto de menires (Gomes, 1989: 262). No entanto, uma observaçãoatenta do local e da envolvente geológica, não permitem, sem fortes reservas, manter uma tal leitura (Fig.9.18).

Em relação às restantes áreas meníricas peninsulares,que serão, aliás, objecto de uma caracterização genérica,no capítulo 6, é difícil, no estado actual dos nossosconhecimentos, avançar com dados cronológicos seguros.De uma maneira geral e atendendo sobretudo às propostaspublicadas, estaríamos, na maioria dos casos, perantemonumentos tardios, em comparação com o panorama queparece delinear-se no Alentejo e Algarve; a única excepçãoaparente, em relação à qual, por ser um caso isolado, sãopreciso cuidados redobrados, localiza-se na Cantábria(Serna, 1997).

Na Bretanha, apesar da longa história da investigaçãosobre o tema (Cassen et al., 2000) e da monumentalidadeexcepcional de alguns monumentos, os menires carecem,em geral, de elementos cronológicos seguros; mesmo assim,como veremos, existem indícios que permitem enquadraralguns deles em datas à volta de 5000 a.C., ou mesmoanteriores (Le Roux, 1999; Cassen et al., 2000 ;L’Helgouac’h et al., 2001; Patton, 1993; Thorpe, 1996;Giot et al., 1998; Bueno e Balbín, 2002: 615).

As fortes analogias entre os menires e recintos bretões(sobretudo do Morbihan) e alentejanos, deixando em abertoa possibilidade de uma maior antiguidade num ou noutrogrupo, reforçam, em todo o caso, a proposta de uma génesecontemporânea do processo de transição Mesolítico-Neolítico.

9.4. Síntese e propostasAs cronologias propostas, com base em dados ainda muito fragmentários, não podem, nem pretendem,

ser aplicadas indiscriminadamente a todos os monólitos listados no Volume 2. Recordo aqui a opinião prudenteexpressa por V. Gonçalves, perante um tipo de monumentos cujas variantes (morfológicas, tipológicas e,necessariamente, cronológicas e culturais) precisam ainda de ser cabalmente esclarecidas: “ a atribuição firmedos menires a uma ‘cultura’, ou mesmo a uma dada faixa diacrónica, é objectivamente impossível, tal comoimpossível é considerá-los em bloco como uma única realidade” (Gonçalves, 1992:).

Como já fiz notar, as cronologias antigas para os primeiros menires alentejanos (ou algarvios) têm sidodifíceis de integrar nos modelos correntes, tanto para a neolitização como para o megalitismo; os principais

Fig. 9.18 - Dois aspectos do recinto do MonteNovo.

199Menires do Alentejo Central

obstáculos teóricos são “uma densidade populacional relativamente baixa; um modo de vida baseado naexploração extensiva de territórios (com uma grande mobilidade residencial), que, em princípio, não está deacordo com os princípios sociais e simbólicos que presidem à primeira marcação monumental da paisagem”(Jorge, 1999: 25).

No mesmo registo, compreendem-se igualmente as resistências dos que interpretam o megalitismo comoa “superestrutura ideológica ao serviço da consolidação da formação social de tipo segmentário” (Soares,1996: 48).

Para João Cardoso que, numa síntese recente, exprimiu o mesmo tipo de reservas “tal significa que,embora possível, ainda não se pode atribuir com segurança, com base nos argumentos aduzidos, a cronologiado fenómeno menírico como remontando ao Neolítico antigo Evolucionado” acrescentando, no entanto, quenão se pode negar que, “especialmente os pequenos bétilos (...) como os encontrados no povoado de ValePincel I (escavações de J. Soares e C. Tavares da Silva) sejam efectivamente de tal época” (Cardoso, 2002:229).

Para além das dificuldades relacionadas com o suposto patamar social e económico atingido pelascomunidades do Neolítico antigo, existem sérias reservas de carácter metodológico, que derivam da inexistênciade métodos de datação directa dos menires e do risco de as datações absolutas obtidas sobre materiaisorgânicos (ou outros) se referirem a realidades anteriores aos monólitos em cujo contexto aparente foramrecolhidos (Gomes, 1994; Oliveira, 1997; Zilhão, 1998).

No entanto, os modelos podem e devem ser adaptados face às novas evidências e, por muito frágeis quesejam os dados disponíveis, é com eles que temos que ir construindo e reconstruindo as leituras possíveis.

A presença de indústrias líticas ou cerâmicas, atribuíveis tipologicamente, ao Neolítico antigo/médio, acabapor ser, objectivamente, a “prova” mais directa da antiguidade de alguns menires alentejanos. Na verdade, senão houvesse outras evidências, poderíamos sempre argumentar com a possibilidade de os monumentosterem sido construídos em locais onde permaneciam os vestígios de ocupações anteriores; essa situação temvindo, aliás, a verificar-se, com alguma regularidade, em relação aos monumentos megalíticos funerários, emvários quadrantes da Europa megalítica (Boujot et al., 1998; Bueno et al., 1999; 2002; Cooney, 2000: 30;0’Sullivan, 2002; Correia, 2002).

Porém, essa possibilidade teórica dificilmente se conjuga com o facto de, no Alentejo Central, os referidosartefactos serem recorrentes (e, muitas vezes, os únicos) em todos os sítios com menires, escavados a partirdos anos noventa; por outro lado, se fossem anteriores aos menires, seria natural que alguns desses artefactosocorressem no interior dos alvéolos, o que, até à data, nunca se verificou, nas várias dezenas de alvélosescavados.

Por outro lado, mesmo que só uma parte dos menires tivesse, efectivamente, sido erguida no Neolíticoantigo, isso bastaria para que as ilacções fundamentais sobre a neolitização e a origem do megalitismo regionalfossem idênticas.

Recorde-se que a cronologia relativa dos menires alentejanos, que se começou a desenhar, no início dadécada de noventa (Calado, 1990), assentava, num primeiro momento, nos seguintes argumentos:

1. a descoberta de dois povoados do Neolítico antigo/médio, nas proximidades imediatas do recinto dosAlmendres e do menir do Monte dos Almendres;

2. a associação recorrente, no Algarve ocidental, entre menires e povoamento do Neolítico antigo;3. as semelhanças iconográficas entre os temas dos menires alentejanos e os do Morbihan, e a cronologia

recuada sugerida pela reutilização destes últimos nas arquitecturas funerárias;4. a observação estratigráfica, atestada pelos escavadores da anta da Granja de S. Pedro, de que os

menires tinham precedido a mamoa.5. a valortização do carácter elementar da arquitectura menírica, em comparação com a complexidade

estrutural das grandessepulturas megalíticas.

200Manuel Calado

As prospecções na área envolvente do Vale Maria do Meio (nº2), iniciadas em 1992/1993 e concluídasem 1995, durante a escavação do recinto, revelaram, entretanto, a intensidade do povoamento do Neolíticoantigo, no contexto geográfico dos três grandes recintos de Évora.

A somar às evidências acumuladas, surgiram, na primeira metade dos anos noventa, as datas dos meniresdo Padrão e da Meada.

A partir de 1995, começaram a ser recolhidos, em escavação, sistematicamente associados aos menires,os materiais líticos (e, residualmente cerâmicos) tipologicamente enquadráveis no Neolítico antigo/médio.

É reconfortante observar, por exemplo, que se considerarmos, numa perspectiva hipotético-dedutiva, opotencial preditivo do modelo cronológico que foi sendo escorado nestas evidências sucessivas, era de esperarque:

1. a prospecção da área envolvente do recinto do Xarez (nº 6) confirmassem uma ocupação intensa, noNeolítico antigo/médio;

2. a escavação do recinto identificasse a presença de materiais atribuíveis genericamente a essa época.3. a escavação dos povoados confirmasse uma presença significativa de comunidades dessa época, na

área.Na verdade, embora não tenham sido especificamente desenhadas para testar essas hipóteses, as

investigações desenvolvidas, a partir de 1998, nessa micro-paisagem que á a Baixa do Xarez, confirmaram,uma por uma, todas as previsões.

A reavaliação das plantas dos recintos e a valorização da planta em ferradura permitiram, por seu turno,sustentar paralelos em relação às estruturas rituais mesolíticas, com implicações cronológicas imediatas.

A constatação da antiguidade relativa dos menires, em geral, e a atribuição da maior parte deles aoNeolítico antigo/médio, são apenas, como na maior parte das questões científicas, o despoletar de um sem-número de outros problemas cronológicos. Algumas das considerações que se seguem, mais do fornecerrespostas de que por ora carecemos, pretendem lançar pistas, entre outras que seriam possíveis e que, noestado actual da questão, importa ponderar.

A forma e dimensões dos menires, tal como as plantas dos conjuntos, parecem ter, pelo menos até certoponto, implicações cronológicas. Com efeito, tomando como referência o Alentejo Central e, dentro destaregião, os monumentos que foram escavados e para os quais se possuem informações de teor cronológico,podemos afirmar que, nos menires atribuíveis ao Neolítico antigo, são raras as formas angulosas, dominandolargamente os perfis arredondados e bojudos (variando entre as formas ovóides e as cilindróides, quasesempre um pouco achatadas). Pelo contrário, os menires da 1ª Idade do Ferro, bem representados pelomonumento da Tera, apresentam formas muito mais angulosas e esguias; note-se que os monumentos da Tera(nº 14) e do Vale d’El Rei (nº 15), se localizam a menos de 2 Km um do outro, estando, portanto, sujeitos aosmesmos condicionalismos, em termos de matéria-prima.

Nesta mesma ordem de ideias, não deixa de ser curioso que, na Bretanha, os famosos alinhamentos deCarnac que são, ao que parece, relativamente tardios, na sequência regional (Sherratt, 1998), apresentemmaioritariamente formas irregulares e angulosas - tal como, por exemplo, acontece com os alinhamentos deMonteneuf (Lecerf, 1999) - enquanto que os grandes menires-estelas se aproximam morfologicamente dosmenires neolíticos alentejanos.

Como se sabe (Calado, 2002b), existem outras semelhanças notáveis entre os menires alentejanos ebretões, apenas evidentes entre os que, numa e noutra área, são, aparentemente, dos mais antigos.

Na verdade, essa analogia verifica-se, entre outros aspectos, na planta dos recintos: trata-se, com efeito,das duas únicas áreas meníricas europeias em que os recintos apresentam, recorrentemente, plantas “emferradura” (Fig. 7.1; 7.2; 11.7). Na Grã-Bretanha e Irlanda, pelo contrário, existem centenas de recintosmegalíticos, praticamente todos de planta fechada e, todos eles, aparentemente mais tardios (Burl, 1979,1999).

201Menires do Alentejo Central

Com tudo isto, em síntese, podemos concluir – provisoriamente – que os indícios cronológicos, directose indirectos, de que dispomos permitem, com alguma segurança, considerar, pelo menos, duas épocas deconstrução de menires, no Alentejo Central: uma, a mais antiga, a que pertence a maior parte dos monumentosregistados, que corresponde, grosso modo, à fase de instalação, na região, das primeiras comunidades neolíticas;a outra, a que pertence um número muito restrito de monumentos, que poderíamos designar como epi-megalítica e que corresponde cronológica e culturalmente à I Idade do Ferro. O carácter orientalizante destafase, bem patente nalguns aspectos da cultura material, deve ter revestido, aqui, um acentuado matiz local,embora, ecoando, eventualmente, realidades exteriores à região.

A raridade do monumento da Tera, remete igualmente para a posição claramente marginal que o monumentoapresenta, tendo em conta a distribuição conhecida do povoamento proto-histórico da região (Calado eRocha, 1996-1997; 1997).

Pelo meio, no Neolítico final/Calcolítico e na Idade do Bronze, não é certo que tenha havido erecção denovos menires; houve, isso sim, utilizações e reutilizações dos monumentos mais antigos; por outro lado, oconceito parece ter sobrevivido, pontualmente, no contexto da construção de monumentos megalíticosfunerários, como pode ser o caso dos monólitos esguios, usados como pilares na arquitectura da Anta doZambujeiro (nº 3) ou da Anta das Cabeças (nº 64) ou das próprias estelas, pouco frequentes, que ocorremjunto à entrada de alguns deles - Zambujeiro (nº 3), Correia (nº 41) e, no distrito de Portalegre, Saragonheiros(Fig. 9.19).

No grupo mais recente, para além domonumento da Tera e, com menos certezas, dodo Monte das Flores (nº 23), poderíamos, emfunção da morfologia dos menires, incluir,eventualmente, monólitos mais duvidosos, comoos da Lucena (nº 26), da Abaneja (nº 88), daChaminé (nº 76), da Bota (nº 81), do Carrascal(nº 17) ou do Xarez 2 (nº 25).

No grupo mais antigo, podem incluir-se todosos recintos, todos os menires grandes (3m-4,5m)e muito grandes (>4,5m), todos os meniresdecorados e, com menos segurança, muitos dosmenires de dimensões médias (1,5m-3m), deformas arredondadas.

Considerando apenas os recintos megalíticos,e atendendo às cronologias dos contextoshabitacionais identificados, os monumentos da áreade Évora parecem ser os mais antigos da sequência neolítica; pesam, igualmente, nesta hipótese, a manifestacentralidade geográfica desta área, em função das redes de caminhos naturais que estruturam a região e, porisso também, um vínculo especial com os estuários do Tejo e do Sado.

Tendo em conta as densidades diferenciais de vestígios do Neolítico antigo (e a própria presença decerâmica cardial), Reguengos de Monsaraz corresponderia a uma progressão, a partir de Évora, ainda numafase antiga, enquanto os restantes núcleos - Cuncos , Tojal e Pavia - seriam todos mais tardios (Fig. 9. 20).

Esta sequência sugere uma instalação, em força, dos primeiros grupos neolíticos alentejanos numa áreanuclear, a partir da qual, em etapas sucessivas, numa lógica de enxameamento (Gonçalves, 1989b),os territóriosperiféricos se neolitizam e megalitizam .

A hipótese de uma colonização em ilhas de povoamento, concentrando efectivos demográficos em áreasseleccionadas, restritas, baseia-se, por um lado, nas evidências da distribuição dos próprios vestígios de

Fig. 9.19 - Monólito tombado junto à entrada do corredor da anta dos Saragonheiros.

202Manuel Calado

habitat da fase inicial e, por outro, da distribuição dos recintos megalíticos; no entanto, se considerarmos asdificuldades logísticas necessárias à “domesticação” de uma paisagem densamente florestada e à própriaconstrução de monumentos altamente exigentes, em termos de mão de obra, é óbvio que um povoamentoconcentrado, traduzido numa capacidade laboral acrescida, baseada eventualmente num sistema de cooperaçãoe entreajuda, seria muito mais eficaz do que uma colonização dispersa em pequenos núcleos isolados. Aocupação extensiva das paisagens regionais, em redes contínuas, sem grandes espaços vazios entre os sítiosde habitat é, aparentemente, um fenómeno muito mais recente, visível a partir do Neolítico final e, de umaforma inequívoca, a partir do Calcolítico (mapas 6-11).

Por outro lado, a hierarquização cronológica das diferentes áreas fundamenta-se igualmente numa notóriaintensidade diferencial, em termos da presença de vestígios de habitat do Neolítico antigo e das dimensões ecomplexidade dos recintos.

Uma anterioridade da área de Reguengos de Monsaraz, em relação aos outros núcleos periféricos, justifica-se, antes de mais, pela posição igualmente privilegiada deste território, no contexto do Alentejo Central: porum lado, pela relação com o Guadiana (e com o santuário rupestre do Alqueva) e, por outro, pela presençadas incontornáveis paisagens graníticas. Os indícios desta aparente anterioridade encontram-se, nesta perspectiva,nos vestígios de habitat do Neolítico antigo, concentrados, na sua maior parte, nas proximidades do recinto doXarez (nº 6) (Calado e Mataloto, 1999; Gonçalves, 2002a) e na presença de vários menires decorados que,à excepção da área de Évora,não foram até agoraidentificados nos restantesnúcleos. Uma alternativa aesta leitura, passaria, com osdados disponíveis, por umainstalação virtualmentesimultânea em Évora eReguengos de Monsaraz, emque as diferenças, em vez dedécalages temporais,traduzissem, efectivamente,personalidades culturaisdistintas ou em vias dediferenciação.

De uma forma geral,entre os recintos e os meniresisolados, a imagem disponívelfavorece uma anterioridadedos primeiros; esta hipótese,que pode não sergeneralizável, baseia-seprincipalmente nosalinhamentos astronómicosidentificados, os quais,atendendo à orientação dos recintos e à exposição dos locais em que recintos e menires se implantam, parecemter sido projectados de Oeste para Leste. Nesta situação, teríamos, por exemplo, o menir do Monte dosAlmendres (nº 32) (e, eventualmente, o de Vale de Cardos), projectados em função dos Almendres (nº 1), ouos menires da Casbarra 1 (nº 31) e do Mauriz (nº 38), projectados em função dos recintos da Portela deMogos (nº 4) e do Vale Maria do Meio (nº 2).

Fig. 9.20 - Proposta de sequência evolutiva da neolitização do AlentejoCentral.

203Menires do Alentejo Central

A montante desta possível sequência, poderíamos ainda admitir, por hipótese, uma fase inicial, em queteria sido feita uma primeira marcação da paisagem, através da implantação de grandes menires isolados e, sónum segundo momento, e apenas em alguns casos, se teriam construído os recintos. Nesta variante, os menires“centrais”, de formas ovóides, todos anicónicos, seriam contemporâneos de alguns dos grandes meniresisolados, ou associados em pares, com morfologia análoga, de que se destaca o menir 2 de S. Sebastião.

Neste quadro hipotético, os grandes menires cilíndricos poderiam ser genericamente mais recentes que osmenires ovóides de tipo “pedra talha” e teriam desempenhado, eventualmente, essa mesma função de marcaçãoinicial em paisagens só ocupadas numa segunda ou mesmo terceira vaga.

Note-se que, exceptuando o menir 1 de S. Sebastião (nº 8) (que poderia, aliás, ter sido acrescentadonuma fase mais recente) e o do Mauriz (nº 38), que ocupa a extremidade do alinhamento que se inicia naPortela de Mogos (nº 4) e pode, por isso, ser o também o mais recente, essa modalidade está ausente da áreade Évora. Pelo contrário, os grandes menires da Meada e do Patalou, no distrito de Portalegre (Oliveira eOliveira, 1999-2000), são de formas cilíndricas e localizam-se em territórios onde o Neolítico antigo aindanão foi identificado, até agora, de forma convincente. O menir da Caeira (nº 30), em Pavia, ou o menir 1 dosPerdigões (nº 13) e o menir 1 do Xarez (nº 6), poderiam também testemunhar o dito processo.

Os problemas cronológicos não se esgotam, evidentemente, nas cronologias relativas acima esboçadas;mesmo que fosse possível, e estamos longe de consegui-lo, ordenar sequencialmente os monumentos, ficariamainda por resolver as questões relacionadas com a duração do fenómeno. Os monumentos mais antigospodem, na minha opinião, ser atribuídos, sem grandes riscos, à segunda metade do VI milénio a.C., nasequência da colonização neolítica da região; quanto aos mais recentes – mesmo considerando apenas osrecintos – creio que, por agora, é demasiado arriscado propor um limite, embora seja razoável que a maiorparte tenha sido construída num lapso relativamente curto, de algumas gerações, com um limite superior quenão deve ultrapassar os meados do V milénio a.C.

Um dos cenários possíveis, no quadro do modelo de neolitização regional esboçado no capítulo 12, seriaa construção de menires desde a fundação dos primeiros povoados neolíticos, até à extinção das últimascomunidades mesolíticas dos estuários. A construção de cada grupo intraregional corresponderia à instalação,em momentos diferentes, de novos colonos neolíticos, oriundos dos núcleos mais antigos ou do próprioesvaziamento progressivo dos concheiros.

De momento, é preciso dar tempo ao tempo.

204Manuel Calado

205Menires do Alentejo Central

Capítulo 10: Os menires da Península Ibérica

206Manuel Calado

10.1. IntroduçãoApenas com base na distribuição espacial dos dados actualmente disponíveis, é possível integrar os menires

ibéricos em cinco grandes regiões, comcaracterísticas mais ou menos coerentes, embora,naturalmente, passíveis de subdivisões internas, porcritérios geográficos, tipológicos e/ou cronológicos:o Algarve (sobretudo o Algarve Ocidental), oAlentejo (com uma concentração muito particularno Alentejo Central), o Noroeste Peninsular (Centroe Norte de Portugal e Galiza), a Cornija Cantábricae os Pirinéus Ocidentais (Astúrias, Cantábria,Palencia, Burgos e País Basco) e a Catalunha.

Para além de não ser exauativa, a cartografiaapresentada não tem em conta, entre outrosaspectos, as dimensões dos diversos tipos demonumentos meníricos; na verdade, se,por exemplo, na Catalunha, cada pontodo mapa corresponde a um menirisolado, no Alentejo Central, o recintodo Almendres, cartografado como umúnico ponto, integra quase uma centenade menires.

É verdade que a informaçãodisponível é muito desigual, para asdiferentes áreas; faltam, em geral,datações radiocarbónicas que, mesmosendo discutíveis, sê-lo-ão muito menosà medida que as séries se avolumem;faltam ainda, embora vão surgindo aquie ali, materiais associados provenientesde escavações rigorosas; faltam estudosespaciais, contextos arqueológicos;faltam mesmo, em alguns casos, dadosdescritivos básicos, como são as formas, as dimensões, as matérias-primas; estas lacunas limitam, à partida,as possibilidades de comparação entre as diferentes regiões.

A base de dados reunida permite, contudo, concluir, desde já, que, por muito que progrida a descobertade novos monumentos, alterando uma imagem global certamente parcelar, é no Sul de Portugal (AlentejoCentral e Algarve Ocidental) que existem as maiores concentrações de menires da Península Ibérica,considerando aspectos como as dimensões e a quantidade dos menires, ou as dimensões e a complexidadedos monumentos compósitos.

10.2. AlgarveOs menires do Algarve constituem um conjunto fortemente individualizado, no contexto da Europa atlântica:

destacam-se, sobretudo, no que diz respeito à morfologia, à decoração e aos contextos arqueológicos comque a maioria se relaciona espacialmente.

Mesmo assim e apesar de terem, desde cedo, contado com algum destaque na bibliografia arqueológicanacional, não foi, até hoje, publicada um corpus suficientemente informado sobre os menires algarvios, no seu

Fig. 10.2 - Menires e recintos da Península Ibérica

Fig. 10.1 - Distribuição dos menires na Península Ibérica.

207Menires do Alentejo Central

Fig. 10.3 - Menir do conjunto dos Amantes

Fig. 10.4 - Menir 1 do Padrão

Em termos geográficos, estes menires apresentam uma notável concentração no extremo ocidental doAlgarve (nos concelhos de Vila do Bispo, Lagos, Portimão, Lagoa e Silves) e uma rarefacção progressiva,para oriente. Os menires referenciados perfazem um total de 259, distribuídos por cerca de 80 sítios; destes,efectivamente, apenas o conjunto do Lavajo (Cardoso, 2003), se localiza no Algarve oriental, já no concelhode Alcoutim.

Os menires do Lavajo, para além dodesgarramento geográfico em relação ao grossodos menires algarvios, diferenciam-se delestambém em termos de matéria-prima edecoração.

Trata-se de um menir mais ou menos intactoe dois outros possíveis menires amputados(Lavajo I) e de um possível conjunto de estelas(Lavajo II) que foram objecto de escavaçõesrecentes.

A matéria-prima, certamente relacionada como substrato geológico da área, foi uma rochametamórfica (o grauvaque) aspecto muito rarono panorama dos menires do Sul de Portugal; noentanto, com alguma frequência, observam-seblocos de grauvaque relativamente compactos ede perfis arredondados, adequados “a priori” para serem transformados em menires.

A decoração, muito distinta daquela quecaracteriza habitualmente os menires algarvios,apresenta, mesmo assim, alguns elementosdesse universo gráfico, nomeadamente uma claraorganização longitudinal do campo iconográficoe a presença de um símbolo, interpretado comorepresentação vulvar, constituído por “uma elipseinteriormente septada ao longo do eixo maior”(Cardoso, 2003: 64). Na verdade, e como seria,até certo ponto, de esperar, é possível identificarna decoração dos menires do Lavajo I, algumasreminiscências da temática e da organizaçãográfica de alguns menires decorados alentejanos,nomeadamente os círculos (com ou sem covinhano interior) ou as “ferraduras”.

No sítio de Lavajo II, os escavadoresconcluíram tratar-se de um alinhamento de quatroestelas-menires, anicónicas, actualmente muitoafectadas e em relação ao qual, atendendo àausência reconhecida de paralelos (Cardoso, 2003: 65), é preferível manter, por ora, algumas reservas.

A matéria-prima (com apenas duas excepções - menos de 1%) é constituída por rochas sedimentaresprovenientes do substrato geológico regional: em primeiro lugar, o calcário, seguido pelo arenito, sendo que,muitas vezes, existe discordância entre a matéria-prima e o substrato local, implicando, como sucede noutrasáreas, algum esforço de transporte e uma intencionalidade na escolha do local de implantação que transcende

208Manuel Calado

Fig. 10.5 - Menir do Lavajo I (seg. Cardoso, 2002: 230).

Fig. 10.6 - Menir com serpentiforme, da Caramujeira (seg. Cardoso, 2002: 228).

209Menires do Alentejo Central

obviamente esse tipo de condicionantes técnicas. Os menires algarvios correspondem geralmente a

formas arredondadas, nomeadamente ovóides, ousubcilíndricas, muitas vezes com a extremidade distaldemarcada, embora existam igualmente os menires deformas menos regulares e até mesmo angulosas. A maioriados monólitos parece ter sido objecto de afeiçoamento,operação relativamente facilitada pela escassa dureza dosmateriais utilizados e certamente muito menos frequente nasrestantes áreas peninsulares.

A decoração, pouco variada, mas muito frequente,afecta, segundo Mário Varela Gomes (Gomes, 1997: 161), mais de50% dos menires; em geral, repete esquemas gráficos/simbólicosgeométricos em que os menos originais são certamente os conjuntosde linhas paralelas ondulantes, longitudinais, com diversas ressonânciasna arte megalítica atlântica (Bueno e Balbín, 1995). Dominam, deresto, os motivos geométricos, eventualmente simbólicos, organizadosquase sempre ao longo de linhas longitudinais e, à primeira vista, semparalelos imediatos nos restantes sistemas iconográficos do megalitismoeuropeu.

Nos últimos anos, foram apresentados alguns dados novos e,concomitantemente, um modelo interpretativo (David Calado, 2000a;200b; Calado et al., 2003; 2004), em que os símbolos gravados nosmenires algarvios são interpretados, na sua maioria, como símbolossexuais que representariam uma estrutura social emergente, de carácterlinhagístico que, sendo coerente com os dados algarvios, dificilmentese poderia aplicar às outras áreas em que ocorrem menires decorados.

Muitos dos menires isolados e, sobretudo, dos conjuntos demenires, ocorrem associados a vestígios de habitat neolíticos - e, muitasvezes, mais antigos (Gomes, 1996; Bicho et al., 2000) - aspectoque, como referi, constitui um dos traços mais originais dos meniresalgarvios (David Calado, 2000a, b; David Calado et al., 2003). Éverdade que a natureza dessa associação e as próprias cronologiasenvolvidas constituem, ainda, um problema em aberto. Naverdade, a segregação repetidamente observada, noutras regiõesmegalíticas europeias, entre menires e sítios de habitat, sugereuma certa diacronia entre uns e outros, em que, teoricamente,os menires deveriam ser anteriores.

Por outro lado, contrariando uma ideia feita muitogeneralizada e, aparentemente, válida em algumas áreasmegalíticas peninsulares (Ruiz et al., 1993; Serna Gonzalez, 1997;Tarrùs, 2000), os menires do Algarve ocidental ocupam territóriosvirtualmente vazios de megalitismo funerário. Esse aspecto temsido igualmente aparente na distribuição das principais manchasde menires do Alentejo Central (Calado, 2000a; 2002).

A questão da relação funcional e cronológica entre os meniresFig. 10.9 - Proposta de reconstituição da planta

do possível recinto do Monte dos Amantes (seg. Gomes, 1996: 165).

Fig. 10.7 - Menir da Pedra Escorregadia.

Fig. 10.8 - Menir depositado no Museu de Silves.

210Manuel Calado

e os materiais que, por norma, lhes estão espacial, ou mesmo estratigraficamente, associados deve, porenquanto, permanecer em aberto, uma vez que os poucos dados disponíveis são, até certo ponto, discordantes.

A maioria dos menires conhecidos no Algarve, tal como acontece, aliás, um pouco por todo o lado,encontra-se tombada (apenas cinco foram descobertos erectos) (Gomes, 1997: 157); para além disso, osconjuntos identificados, que se presume poderem corresponder, na maior parte dos casos, a recintosdesmantelados, apresentam um tal grau de desarticulação que, até hoje, mesmo nos sítios que foram objectode escavações, não foi possível reconstituir minimamente as respectivas plantas originais (Fig. 10.19).

Na verdade, não foram, até hoje desenhados projectos de escavação que permitam recuperar a informação,que potencialmente existe (Gomes, 1996; Calado et al., 2004), sobre as plantas dos monumentos compósitosalgarvios.

Em termos paisagísticos, os menires evidenciam uma preferência pelos terrenos mais ou menos aplanados,com cobertura arenosa, localizados não longe da linha de costa, tal como os grandes menires-estelas doMorbihan; em contrapartida, na serra algarvia, estão totalmente ausentes.

Recorde-se que, há uns anos, foram obtidas duas datações radiocarbónicas de uma lareira, junto ao menirdo Pedrão (Vila do Bispo), com valores calibrados do terceiro quartel do VI milénio a. C.. O escavadorrefere que “a camada arqueológica a que correspondia a ocupação datada pelo 14C cobria as fossas deimplantação dos dois menires” (Gomes, 1994b: 331), o que evidentemente implicaria alguma anterioridade domonumento em relação às datas obtidas.

Esta prioridade dos menires em relação aos povoados com cerâmicas impressas foi, aparentemente,confirmada, mais recentemente, por novas datas para um dos menires da Quinta da Queimada, cuja inesperadaantiguidade, no entanto, se revela, no mínimo, surpreendente e de problemática interpretação.

O método de datação utilizado (OSL-Optical Stimulated Luminescence), tido, pelos autores da escavação,como fiável, incidiu sobre os cristais de quartzo capturados no alvéolo do monólito e deu, como limite maisrecente uma data do último quartel do VII milénio A.C. (Calado et al., 2004). A aceitação, sem reservas,destas datas tão recuadas, implica uma revisão profunda dos modelos correntes sobre o aparecimento damonumentalidade megalítica europeia. Recusá-las liminarmente, seria, a meu ver, igualmente temerário, tendoem conta as enormes limitações da informação disponível.

Por outro lado, a aceitação da antiguidade relativa destas datas, tal como se deduzia já das observaçõesa propósito do menir do Padrão, excluiria de vez uma verdadeira contemporaneidade entre povoados neolíticose menires: os povoados seriam posteriores aos menires e corresponderiam mesmo a uma alteração profunda,em relação ao modo como os monumentos teriam originalmente sido concebidos.

Não se conhecem, no Algarve, pelo menos por enquanto, menires da Idade do Ferro. A continuidade dofenómeno para além do Neolítico restringe-se à reutilização de menires numa sepultura submegalítica e numtholos (Gomes, 1994c, 1996), e de um menir como estela funerária, da Idade do Bronze (Gomes, 1994a).

10.3. Noroeste PeninsularCentro/Norte de Portugal e GalizaO Centro e Norte de Portugal, assim como a Galiza, apresentam uma baixa densidade de menires, sendo

a amostra disponível praticamente só constituída por menires isolados. Na verdade, os únicos casos de recintosmegalíticos conhecidos, nesta área, correspondem a realidades muito atípicas, mal conhecidas e de cronologiae funcionalidades indeterminadas.

Refiro-me aos “circos líticos” galegos (Maciñeira, 1929; Ramil, 1997), de A Mourela (As Pontes); Praodas Chantas (O Valadouro) e O Freixo (As Pontes), em relação aos quais, as descrições disponíveis nãopermitem considerá-los como verdaeiros monumentos megalíticos nem, provavelmente, como monumentosminimamente aparentados.

Mais a Sul, os dois recintos de S. Cristóvão (Resende), atendendo aos resultados até à data publicados,

211Menires do Alentejo Central

podem efectivamente corresponder a necrópoles da Idade do Ferro, com base em algumas analogias com omonumento do Monte da Tera (Silva, 2003); seja como for, a morfologia dos blocos e a disposição dosconjuntos não se integra, com facilidade, em nenhuma das categorias de monumentos meníricos conhecidos,pelo que se aguardam novos dados sobre a matéria.

Já na bacia do Tejo, o “monumento” do Coutoda Espanhola foi publicado inicialmente como umrecinto megalítico, com muitas reservas (Henriqueset al., 1993); no entanto, uma síntese recente, daautoria de um dos subscritores dessa primeira notíciae de outras referências posteriores, omite-o (Cardoso,2002). Efectivamente, as dimensões e característicasdeste recinto evocam uma série de estruturas decarácter agro-pastoril de época indeterminada,eventualmente histórica, de que se conhecem diversosmodelos, no Alentejo Central (Burgess, 1987; Caladoe Mataloto, 2001).

Falta também confirmar o carácter megalítico dorecinto da Fonte Fundeira, constituído por algunsmonólitos estruturados em torno de um afloramentorochoso (Henriques,1974). Tal como nos recintosdurienses, trata-se de uma questões em aberto, emrelação à qual importa manter alguma prudência.

Outro caso muito duvidoso é o do suposto recintoda Barreira (Sintra, Portugal), (Vicente e Andrade,1973), onde uma observação atenta da geologia locale da área envolvente, aconselha a reconsiderar os“menires” como simples afloramentos naturais,embora, na verdade, extremamente sugestivos; amesma leitura é igualmente válida, aliás, para os“menires” da Fonte de Anços e, aparentemente,também para o alinhamento de Caneças (Pereira,2004).

A estela-menir da Caparrosa é, nesta área, umdos casos mais intrigantes, atendendo aos motivosgravados que dificilmente se inserem nas outrasiconografias conhecidas. Por outro lado, apossibilidade de o menir fazer parte de umalinhamento, não parece muito sustentável: ospequenos blocos que se alinham junto ao monólitopodem corresponder aos restos de um muroadossado a ele (Gomes e Monteiro, 1974-1977).

Quanto aos menires isolados, geralmente menosduvidosos, têm sempre como suporte os granitos ourochas granitóides e, com frequência, relacionam-seespacialmente com monumentos megalíticosfunerários. Fig. 10.12 - Anta e menires da Granja de S. Pedro

(seg. Almeida e Ferreira, 1971: est. 1, adaptado).

Fig. 10.10 - Menires naturais da Barreira (Odrinhas, Sintra).

Fig. 10.11 - Menir natural da Barreira (Odrinhas, Sintra).

212Manuel Calado

Nesta área, não dispomos, em geral, de qualquer tipo de evidênciascronológicas, excepto em dois casos particularmente interessantes. O primeiroé o da Anta da Granja de S. Pedro (Idanha-a-Nova), onde foram descobertosdois menires soterrados pela mamoa do monumento funerário (Almeida eFerreira, 1971), pelo que, obviamente, terão que ser mais antigos do que ele;note-se, porém, que as observações efectuadas pelos escavadores têm sido,sistematicamente, desvalorizadas; na verdade, a serem correctas, teríamos,na Granja de S. Pedro, uma situação semelhante àquela que, mais que umavez, foi observada na Bretanha (Cassen et al., 2000).

O outro caso, certamente mais invulgar, é o do curioso menir das Cegonhas(Cardoso et al., 1995), que é na verdade um dormente de mó manual pré-histórica, reutilizado como menir; foi descoberto in situ e a escavação permitiuidentificar as respectivas estruturas de implantação.Este exemplar remete, aliás,para o fenómeno, muito frequente, de inclusão de fragmentos de mós emconstruções megalíticas.

Em termos de dimensões, os menires do Noroeste peninsular (em sentidoamplo) apresentam dimensões moderadas, tendo, os maiores, comprimentosna ordem dos 3 m. A maior parte é anicónica, e os escassos motivosreconhecidos são normalmente os cruciformes, motivos de difícil atribuiçãocronológica e cultural que ocorrem igualmente nos menires da Cantábria ePirinéus ocidentais. O menir de Gargantans (Fig. 10.13) (Bueno e Balbín, 1996: 43, 45), na Galiza, decoradocom um serpentiforme vertical, surge como um caso isolado e, de certo modo, atípico.

O balanço, provisório por certo, da informação disponível, sugere uma escassa intensidade global dofenómeno menírico, inversamente proporcional à do megalitismo funerário, à da arte magalítica e mesmo à daarte rupestre de ar livre. Mais sugestiva, certamente, parece a relação entre os menires e a presença, igualmenteescassa, de vestígios de habitat do Neolítico antigo, apesar das previsíveis lacunas da investigação, num temaque só recentemente começou a emergir, nesta área (Valera, 1998; Otero e Fabregas, 2000;Monteiro-Rodrigues, 2000; 2002; Sanches, 2000; 2003).

10. 4. Cornija Cantábrica e Pirinéus Ocidentais (Astúrias, Palencia, Cantábria, Burgos e PaísBasco)

O Norte da Península, entre as Astúrias e Navarra, apresenta um número relativamente elevado de menirese recintos com menires, com uma gradação notória de Oeste para Leste, tratando-se, numa perspectivaglobal, de um fenómeno “de corte oriental mais que atlântico” (Ruiz, Diez e Lopez, 1993).

Na verdade, a forte densidade aparente dos menires e recintos do País Basco, observável na cartografiaapresentada, precisa de ser relativizada: a maioria esmagadora dos chamados cromlechs (ou ainda, embasco, baraltz) tem pouco ou nada a ver com os recintos megalíticos (também referidos com o mesmo termobretão) da Europa atlântica: trata-se, pelo menos na sua maioria, de monumentos funerários proto-históricos(sobretudo da Idade do Ferro), que, muitas vezes, nem sequer incorporam verdadeiros menires (Blot, 1977,1984, 1988, 1998; Altuna et al., 1990;Vegas, 2001).

Em todo o caso, existem no País Basco bastantes menires isolados cuja funcionalidade, ainda que nalgunscasos possa estar eventualmente relacionada com os baraltz, é certamente diversa e cujas dimensões sedestacam normalmente dos pequenos monólitos que integram os referidos recintos. Merece, nesse sentido,uma referência especial o menir de Mugarriaundi, com cerca de 5,40 m (Peñalver, 1990).

Mais para ocidente, sobretudo na Cantábria, mas com um número considerável também mais a Sul, naProvíncia de Burgos, existem muitos menires isolados, a par de uma quantidade menos significativa de recintos

Fig. 10.13 - Menir de Gargantans(Bueno e Balbín, 1996: 43).

213Menires do Alentejo Central

Fig. 10.15 - Menires da Cantábria (segundo Ruiz et al., 1993,adaptado).

Fig. 10.14 - Menires do País Basco (segundo Altuna et al., 2000, adaptado).

214Manuel Calado

Menir C1 C2 L E P IAL IAC Forma MaterialAitzpikoarri 2,55 3,06 0,90 0,35 1,32 3,40 2,57 Prismático ArenitoAlitzia 2,50 0,80 0,70 2,13 3,13 1,14 Prismático CalcárioAlto Gurieso 2,67 0,80 0,30 0,88 3,34 2,67 Prismático ArenitoArluze 1,35 1,62 1,75 0,30 1,29 0,93 5,83 Prismático CalcárioArriatara Ugarane I 2,12 0,92 0,30 0,80 2,30 3,07 Prismático ArenitoArriatara Ugarane II 2,70 0,90 0,40 1,33 3,00 2,25 Prismático ArenitoAtauru Gañe 2,35 1,45 0,40 2,07 1,62 3,63 Prismático CalcárioCabañal 1,65 0,65 0,35 0,51 2,54 1,86 Prismático ArenitoCuquiello 1,82 0,55 0,45 0,62 3,31 1,22 Prismático ArenitoEl Cabezudo 3,85 4,85 1,20 0,40 3,54 4,04 3,00 Prismático CalcárioEl Cañon 2,55 3,68 1,10 0,45 2,49 3,35 2,44 Prismático ArenitoEl Peñuco 2,75 4,00 1,05 0,46 2,64 3,81 2,28 Prismático ArenitoEquiriñao 2,13 0,38 0,20 0,22 5,61 1,90 Prismático ArenitoHitón 2,70 0,60 0,40 0,89 4,50 1,50 Prismático ArenitoIgaratza III 3,40 1,50 0,20 1,55 2,27 7,50 Prismático CalcárioIlso de Anguia 2,57 3,08 0,80 0,35 1,18 3,86 2,29 Prismático ArenitoIlso de Cerdigo 1,00 0,28 0,16 0,06 3,57 1,75 Prismático ArenitoIlso de Hayas 3,20 1,07 0,70 3,28 2,99 1,53 Prismático ArenitoIlso de la Herrera 1,36 0,31 0,31 0,18 4,39 1,00 Prismático ArenitoIlso de Linares 1,50 1,80 0,80 0,70 1,38 2,25 1,14 Prismático ArenitoIlso de Lodos 1,85 0,76 0,60 0,84 2,43 1,27 Cilíndrico CalcárioIlso de Mello 1,50 1,80 1,00 0,60 1,48 1,80 1,67 Prismático ArenitoIlso de Perutxote 1,15 1,38 0,98 0,30 0,56 1,41 3,27 Prismático ArenitoIlso Grande 1,87 2,24 0,72 0,45 0,99 3,12 1,60 Prismático ArenitoIrazustako Lepoa 3,16 1,80 0,22 1,71 1,76 8,18 Prismático ArenitoJentillarri 1,95 1,00 0,35 0,93 1,95 2,86 Prismático ArenitoKapitarte 1,15 1,38 0,90 0,30 0,57 1,53 3,00 Prismático CalcárioLa Cuadra 2,35 0,96 0,40 1,23 2,45 2,40 Prismático ArenitoLa Llaneda 3,78 1,10 0,32 1,82 3,44 3,44 Prismático ArenitoLa Matorra I 1,60 1,92 0,50 0,50 0,66 3,84 1,00 Prismático ArenitoLa Matorra II 1,80 2,20 0,95 0,40 1,14 2,32 2,38 Prismático ArenitoLa Puentecilla 1,80 2,35 0,90 0,29 0,84 2,61 3,10 Prismático ArenitoLangagorri 1,10 1,32 0,90 0,30 0,49 1,47 3,00 Prismático ArenitoMongarrido 3,10 0,90 0,40 1,53 3,44 2,25 Prismático ArenitoMugarriluze 2,13 2,56 1,65 0,27 1,56 1,55 6,11 Prismático ArenitoMugarriaundi 5,40 1,00 0,45 3,32 5,40 2,22 Prismático ArenitoPagozarrieta 3,85 1,00 0,15 0,79 3,85 6,67 Prismático ArenitoPedresites 3,00 0,90 0,80 2,95 3,33 1,13 Prismático ArenitoPeñahincá 2,00 0,70 0,52 1,00 2,86 1,35 Prismático ArenitoPeñahincada 2,20 3,00 0,70 0,50 1,44 4,29 1,40 Prismático ArenitoSaltarri 3,15 0,60 0,30 0,86 5,25 2,00 Prismático CalcárioSupitaitz 2,45 0,75 0,60 1,51 3,27 1,25 Prismático ArenitoTxoritokieta 1,95 2,34 0,95 0,25 0,76 2,46 3,80 Prismático ArenitoUsobelartza 1,45 1,74 0,75 0,45 0,80 2,32 1,67 Prismático ArenitoZorrotzarri 1,35 2,10 0,60 0,25 0,43 3,50 2,40 Prismático Arenito

Fig. 10.17 - Dimensões, forma e matéria-prima de menires isolados do País Basco e Cantábria.

215Menires do Alentejo Central

megalíticos; alguns destes, localizados na Cantábria oriental,parecem integrar-se ainda na família dos cromlechs bascos,como sugerem os casos de Maya, Piruquito, El Henal, Biroleo1 e 2 e Arriatara Ugarane, este último escavado e, com basenos artefactos líticos recuperados, atribuído ao Bronze final(Diez e Ruiz, 1993).

Contudo, existem outras situações muito distintas, deque se destaca o recinto de Sejos (Fig. 10.16), constituídopor cinco monólitos de arenito local, dois deles decoradoscom iconografias que, segundo os escavadores, remetem paracronologias calcolíticas e funcionalidade eventualmente ritual;a escavação permitiu, igualmente, neste caso, reunir algunsartefactos, nomeadamente um elemento de mó manual, umartefacto de pedra polida, um polidor e lascas de sílex poucocaracterísticas (Bueno et al., 1985).

A atribuição cronológica proposta é, aliás, coerente comoutra obtida no recinto dePeña Oviedo (Fig. 10.18),(Diaz, Diez e Robles, 1991)centrada nos inícios do IIImilénio a.C., onde serecolheram, também, algunsartefactos microlíticos eescassa cerâmica.

Uma nota especial parao recinto da Corona deCampóo (Fig. 10.18), cujasdimensões e formaaparentemente aberta, pareceindicar uma realidadediferente ((Diaz, Diez eRobles, 1991).

Tal como nos Pirinéus ocidentais, alguns menires cantábricos atingem dimensões notáveis, próximas ousuperiores a 3 m (Gutierrez Morillo, s.d.); um deles, o menir de El Cabezudo, tem um comprimento total de 4,85 m (Montes Barquín, s.d.).

Para os menires isolados, em geral, por falta de outro tipo de dados, as cronologias propostas assentam,quase invariavelmente, na premissa de que os menires são contemporâneos das sepulturas megalíticas; estaleitura é, em muitos casos (mas não todos) favorecida pela frequente proximidade espacial entre menires edolmens (Peñalver, 1990: 428; Ruiz et al., 1993: 59; Teyra Mayolini, 1994), situação em que os menires sãologicamente interpretados como marcos indicadores (Serna Gonzalez, 1997). É verdade que algumasescavações e recolhas de superfície têm igualmente contribuído para reforçar essa sincronia genérica, fornecendoalguns artefactos líticos pré-históricos (lascas, raspadeiras e lâminas de sílex), em associação espacial com osmonólitos (Peñalver, 1990: 432, 433); na escavação do Ilso de Hayas, porém, os materiais líticos, de feiçãomicrolaminar, sugerem “os momentos iniciais do Neolítico”, em que se manteriam alguns aspectos técnicos detradição epipaleolítica (Serna Gonzalez, 1997: 202).

Uma datação radiocarbónica muito recuada, feita sobre carvões recolhidos próximo da base do menir, foi

Fig. 10.18- Plantas de recintos cantábricos (seg. Diaz et al.,1991, adaptado).

Fig. 10.16 - O conjunto de Sejos (Bueno et al.1995: 89).

216Manuel Calado

Fig. 10.19 - Menires da Catalunha (segundo Tarrùs, 2000, adaptado)

considerada, naturalmente, anómala, e interpretada como indiciando “o início de umas ocupações habitacionaisque poderiam ser sincrónicas com as que oferecem sítios de concheiros” (Srna Gonzalez, 1997: 204).

As prováveis fontes de matéria-prima localizam-se sempre nas proximidades imediatas (0-2 Km), havendocasos em que menires de arenito se localizam sobre terrenos calcários e outros, sempre pouco frequentes, emque ocorre a situação inversa (Ruiz et al., 1993: 58).

Na verdade, o arenito foi o material mais usado, seguido dos calcários.Exceptuando o caso de Sejos (Bueno et al., 1985) e um ou outro elemento desgarrado, como o menhir de

Aitzpikoarri, em que aparece gravada a “silhueta de um pássaro” (Ruiz et al., 1993: 58), a decoração maisrecorrente dos menires desta área é constituída por motivos cruciformes (Diez e Ruiz, 1993: 49; Ruiz et al.,1993: 58; Peñalver, 1990: 422); note-se que a cronologia pré-histórica dos cruciformes tem sido, com frequência,posta em causa, com base em alguns casos conhecidos de clara inspiração cristã, embora se trate igualmentede um tema bem representado na Arte Esquemática ibérica.

Em termos morfológicos, os menires apresentam, geralmente, perfis muito angulosos, de secçõesrectangulares, sobre os quais não parece ter havido, por norma, nenhum trabalho de regularização: a formados monólitos relaciona-se, portanto, com as características da matéria-prima disponível, implicando “umprocesso de selecção da rocha base” (Ruiz et al., 1993: 58); Xavier Peñalver observou, a esse respeito, queo arenito, devido às suas componentes mineralógicas (nomeadamente as micas), possui características físicasque o “tornam apto” para produzir “grandes lajes planas”, enquanto os calcários se apresentam, por seu turno,“em grandes bancos estratificados”, onde a erosão lhes pode conferir um aspecto arredondado (Peñalver,1990: 414).

Em termos paisagísticos, está bem definida uma preferência por pontos relativamente elevados (cumes,lombas, portelas), em áreas predominantemente montanhosas; existem, no entanto, alguns menires localizadosigualmente em fundos de vale, sobretudo nas áreas de relevo mais suave (Peñalver, 1990: 36, 411; Ruiz et al.,1993: 59; Serna Gonzalez, 1997: 199).

10.5. CatalunhaA metade setentrional da Catalunha é também relativamente fértil em monumentos meníricos (Tarrús,

2002), sendo alguns de dimensões apreciáveis.A matéria-prima mais frequente é o granito e outras rochas granitóides, embora existam igualmente menires

de rochas metamórficas (xisto e gnaisse); todos provêm teoricamente de fontes de matéria-prima disponívelno contexto imediato, dentro de um raio de 500 m (Tarrùs, 2000).

217Menires do Alentejo Central

Menir C1 C2 L E P IAL IAC Forma Material Camp de la Matalena 3 3,60 1,90 0,90 10,60 1,89 2,11 Cilíndrico granito

Casa Cremada I 2,4 2,88 1,05 0,35 1,46 2,74 3,00 Ovóide gneiss Els Estanys I 2,1 2,52 1,25 0,55 2,39 2,02 2,27 Ovóide granito Els Estanys II 2 2,60 0,60 0,30 0,81 4,33 2,00 Cilíndrico granito Menhir dels Palaus 2,5 3,20 0,80 0,40 1,76 4,00 2,00 Cilíndrico granito Pedra Dreta d’Agullana 2,6 3,12 1,30 0,60 4,90 2,40 2,17 Prismáticogranito Pedra Dreta de Cervera 2,8 3,90 0,75 0,35 2,06 5,20 2,14 Prismáticoxisto Pedra Dreta de Maçanet de Cabrenys 2 2,40 0,70 0,40 0,93 3,43 1,75 Ovóide granito Pedra Dreta de Riutort 3 4,00 0,70 0,50 2,41 5,71 1,40 Cilíndrico gneiss Pedra Dreta de Sant Salvador 2,9 3,48 0,90 0,30 1,62 3,87 3,00 Cilíndrico xisto Pedra Dreta de Villartoli 1,95 0,80 0,50 1,57 2,44 1,60 Prismáticogranito Pedra Dreta del Mas Roqué 2,5 3,60 0,76 0,55 2,59 4,74 1,38 Cilíndrico xisto Pedra Gentil 3,45 1,70 0,45 4,55 2,03 3,78 Cilíndrico granito Pedra Gentil II 1,17 1,70 0,75 0,49 0,86 2,27 1,53 Ovóide granito Quer Afumat I 2,40 1,30 0,75 3,22 1,85 1,73 Ovóide granito

Rocs Blancs 1,4 3,45 0,90 0,65 3,48 3,83 1,38 Cilíndrico granito

Fig. 10.20 - Dimensões, forma e matéria-prima dos menires da Catalunha

Não se conhecem recintos megalíticos, pelo menos no sentido habitual da expressão; no entanto, J. Tarrús(2002) escavou, no Alt Empordà, o menir de Els Estanys I, em volta do qual foi registado um recinto constituídopor um “ túmulo de terra, semi-circular, adossado” ao menir, pelo lado sudoeste, e por “um muro de pedraseca, ligeiramente semi-circular também”, pelo lado oposto; paralelo ao muro, pelo lado externo, uma depressãosemi-circular com buracos de poste (Tarrús, 2002: 680-682). A cronologia pré-histórica desta estrutura pareceindiscutível, atendendo sobretudo a que, na escavação, foram recolhidas cerâmicas manuais, lisas e de bordossimples e um fragmento de lâmina de sílex. Apesar do carácter relativamente incaracterístico dos artefactosreferidos, o escavador sugere uma cronologia dentro do Neolítico médio regional, proposta que assente naausência de determinados artefactos e na proximidade espacial com o dólmen de Els Estanys II) (Tarrús,2002: 683).

No entanto, a comparação global da distribuição dos vestígios de habitat do Neolítico médio (Martín,1991a, 1991b) e da distribuição dos menires, parece demonstrar um desfasamento geográfico significativoentre os dois fenómenos; esta discrepância pode, em todo o caso, corresponder a problemas de investigaçãorelacionados com a detecção dos habitats de ar livre, uma vez que a maioria dos sítios cartografadoscorrespondem a ocupações em gruta.

O interesse dos menires catalães e dos resultados do aprofundamento futuro do respectivo estudo, nocontexto da Península Ibérica, prende-se com o carácter mediterrânico desta região e a possibilidade devínculos a outras áreas meníricas que, por serem alheias (resta ver até que ponto) às correntes atlânticas,foram excluídas deste trabalho.

Sem esquecer os menires tardios das Baleares, sistematicamente associados às taulas, conhecem-se, noMediterrâneo, outros conjuntos de menires, recintos e, sobretudo, alinhamentos cujas cronologias oscilam,em grande parte, entre o Calcolítico e a Idade do Ferro, mas onde têm surgido, ultimamente algumas dataçõesmais antigas. Um dos exemplos mais pertinentes são os resultados das escavações recentes nos menirescorsos de Renaghju, em que a fase construtiva mais antiga remonta, ao que parece, a meados do V milénioa.C, embora se tenha datado, no mesmo local, uma ocupação, supostamente sem meniresr, atribuível aoNeolítico antigo da Córsega, com uma data, obtida a partir de carvões de uma lareira, da primeira metade do

218Manuel Calado

VI milénio a.C. (D’Anna et al., 2000). Num outro texto, sobre osmenires do Sartenais, deixa-se no ar a possibilidade, de “a origemdestes monumentos” poder ser “mais antiga do que se pensava esituar-se no Neolítico Medio, como em Renaghju (D’Anna eLeandri, 2000: 131).

10.6. OutrosPara além destas cinco áreas que, genericamente, possuem

alguma coerência geográfica e arqueológica existe, na PenínsulaIbérica, um conjunto de casos, aparentemente pontuais, quase todosdescobertos a partir dos inícios dos anos 90 do século passado ecujo isolamento pode, por hipótese, corresponder a lacunas dainvestigação.

O menir da Sierra de la Tercia, na Província de Murcia(Ayala et al., 2000) é um monólito de calcário, com cerca de 4m de comprido, em cuja base foram recolhidos materiaisarqueológicos de tipologia genericamente neolítica (pontas deseta, lâminas de sílex e instrumentos de pedra polida);desconhece-se o significado cultural dessa associação, tantomais que se trata de um fenómeno sem paralelos conhecidos,na Península Ibérica. Os dados publicados, embora poucoexplícitos, parecem evocar um depósito votivo.

Mais próximos de nós, conhecem-se alguns menires naSierra de Huelva (Dominguez et al., 1996), em parte aindainéditos (Leonardo Garcia, com. pessoal), para além de umpequeno conjunto publicado no início dos anos 90 (Berrocal,1991). Trata-se de monólitos para os quais, mais uma vez,não se conhecem dados cronológico-culturais relevantes e que,por analogia com realidades mais ocidentais, têm sido consideradosgenericamente neolíticos ou calcolíticos; os menires del Rábano eo da Palanca del Moro (Fig. 10.21), ambos decorados comcovinhas, apresentam morfologia e dimensões que, a priori, sugeremessa suposta sincronia. Os menires de Fregenal de la Sierra, dedimensões muito modestas, permitem talvez uma outra leitura,atendendo a que o sítio se localiza em aparente articulação espacialcom o povoado da Idade do Ferro de Cantamiento de Pepina(Berrocal, 1991).

Há ainda a acrescentar os menires de La Cerca (Fig. 10.22),na Alta Extremadura (Jímenez, 2000), cuja particularidade resideno facto de ostentarem gravuras incisas, em zig-zag, repetindo ummotivo comum na arte megalítica dolménica, mas pouco ou nadarepresentado nos restantes menires da Península Ibérica (onde osmotivos serpentiformes, menos angulosos, são, efectivamente, muitomais frequentes).

Fig. 10.22 - Menires de La Cerca (seg. Jímenez,1999: 384, 385, 387).

Fig. 10.23 - Vista lateral da estátua-menir deNavalcán (seg. Bueno et al., 1999: 57).

Fig. 10.21 - Menires del Rabano (1) e de laPalanca del Moro (2), na serra de Huelva

(seg. Dominguez et al., 1996)

219Menires do Alentejo Central

Também na Extremadura, destacam-se os menires (ou estátuas-menires) implantados no interior dosmonumentos funerários de Navalcán e de Guadalperal, na Província de Toledo, numa área em que se conhecemtambém os menires isolados de Guadyerbas e de La Laguna del Conejo (Bueno et al., 1999). A peça maisinteressante de Navalcán apresenta gravuras que se aproximam da temática (báculo, figura quadrangular,serpentiforme) e da técnica (baixo-relevo) documentadas nos menires do Alentejo Central e da Bretanha,aspecto que levou os descobridores a afirmar que “as representações megalíticas, os seus temas e técnicas,têm antecedentes muito mais antigos, sob a forma de estátuas, estelas ou menires” (Bueno e Balbín, 2002:615). Efectivamente, as semelhanças apontadas podem indicar uma permanência pontual de um fundoiconográfico anterior ou, em alternativa, corresponde à reutilização de menires em contexto arquitectónicofunerário, fenómeno perfeitamente atestado na Bretanha (L’Helgouach, 1983; Le Roux, 1984a; L’Helgouach,1996; Cassen et al., 2000) e de que, no Alentejo Central, foram também ultimamente observados algunsindícios (Calado, Alvim e Henriques, n.p.).

Finalmente, para fechar o círculo dos menires peninsulares, aquele que é, certamente, o conjunto maispróximo, espacial e culturamente, dos menires do Alentejo Central: os monumentos do distrito de Portalegre(Oliveira, 1985; 1997;1998; Martins et al., 1999; Oliveira e Oliveira, 1999-2000; Silva e Albergaria, 200;Lopez-Romero, 2004).Por enquanto, conhecem-se nesta área, apenas dois recintos megalíticos e cerca deuma dúzia de menires isolados.

O recinto do Alminho (Fig. 10.24), em Ponte de Sor (Martinset al., 1999), actualmente muito destruído, apresentacaracterísticas (forma e dimensões dos menires, implantação eexposição) que remetem, sem grandes ambiguidades, para osrecintos complexos em forma de ferradura, como o de Cuncos,Fontaínhas, Casas de Baixo ou Tojal e localiza-se num contextoarqueológico que, significativamente, tem alguns indícios queremetem para uma fase antiga do Neolítico regional (Martins etal., 1999; Deus, 2002).

O recinto do Torrão (Fig. 10.25) (Albergaria e Silva, 1995;Silva e Albergaria, 2001), destaca-se dos restantes monumentosalentejanos, em dois aspectos particulares: as dimensões muitodiminutas dos menires (para os quais não foi possível recuperara disposição original, mas que, em termos do local deimplantação, parecem corresponder aos padrões maisfrequentes), assim como os vestígios associados; de facto, anexoaos menires, foi identificado um povoado de fossos, decronologia aparentemente calcolítica, o qual, curiosamente, nãoocupou a parte superior do cerro, onde se dispersam actualmenteos monólitos. Por outro lado, foi identificada, a pouca distânciado sítio, numa rechã, uma sepultura submegalítica, em cujaestrutura parecem ter sido reutilizados menires.

No nordeste do distrito, localiza-se um conjunto muitointeressante de menires isolados, de que vale a pena destacar,sobretudo, os três mais monumentais: o da Meada, o do Pataloue o do Carvalhal (Fig. 10.26, 10.27 e 10.28) (Oliveira e Oliveira,1999-2000).

O menir da Meada é, certamente, o mais longo da Península Ibérica e talvez o mais pesado; é um menir deforma cilindróide e localiza-se perto do topo de uma encosta exposta a Este; uma data obtida a partir de

Fig. 10.25 - Aspecto do recinto do Torrão,com o fosso calcolítico em primeiro plano.

Fig. 10.24 - Vista geral do recinto do Alminho.

220Manuel Calado

carvões retirados do fundo do alvéolo, aponta, como seviu, para um momento avançado do Neolítico antigoregional (Oliveira, 1997: 234).

O de Patalou, de menores dimensões, é um menirperfeitamente integrável, em termos morfológicos, nacategoria dos grandes menires cilíndricos (ou ovóidesalongados) do Alentejo Central, com uma implantaçãotambém dentro das normas mais frequentes nesta últimaárea.

Pelo contrário, o menir do Carvalhal, de forma muitoachatada e silhueta mitriforme, apresenta umaimplantação/exposição um tanto ambígua e não tem,morfologicamente falando, paralelos óbvios no AlentejoCentral, nem que se saiba, noutra área peninsular, seexcluirmos os menires bascos que, sendo frequentementeachatados, têm silhuetas mais quadrangulares, deacentuada angulosidade.

Todos os restantes menires do Noroeste do distritode Portalegre, tendo em conta las dimensões, formas,implantações e contextos, são de difícil classificação;acrescentaria, no entanto, ao conjunto acima referido, o menirdel Cabezo, em Alcántara, no lado español do mesmo territórionatural. Trata-se, ao que parece, de um grande menir cilíndrico(Bueno, 2000: 47).

O granito foi a matéria-prima sistematicamente utilizada,embora muitos apareçam geologicamente descontextualizados:os do Noroeste, parecem relacionar-se positivamente com a6fronteira geológica entre xisto e granitos (Oliveira, 1998); alémdisso parecem alinhar-se, como muitos do Alentejo Central, comorientação geral concordante com a da Lua de Primavera (Silvae Calado, 2004).

Para além de algumas covinhas e uma ou outra suspeita,não se conhecem, efectivamente, menires decorados, nestaárea.

10.7. SínteseNo que diz respeito às dimensões dos menires individuais,

as diferenças entre o Alentejo Central e as outras áreaspeninsulares são pouco significativas; no entanto, seconsiderarmos os monumentos no seu todo, é evidente quenão existe, em nenhuma outra área da Península, nenhummonumento que se compare, em termos do esforço investido,com os recintos complexos da área de Évora.

Quanto às diferenças observadas, em termosmorfológicos, entre os menires das diversas áreas peninsulares,a maior parte delas pode eventualmente explicar-se pelasespecificidades das matérias-primas disponíveis,

Fig. 10.27 - Menir de Patalou.

Fig. 10.28 - Menires de Portalegre: 1- Carvalhal ; 2-Água da Cuba (seg. Oliveira, 1998, adaptados).

1

2

1Fig. 10.26 - Menir da Meada.(1, seg. Oliveira, 1997: 237)

221Menires do Alentejo Central

nomeadamente o elevado índice de achatamento dos menires bascos, comparados com os do Alentejo Central,ou as semelhanças entre estes e o menires catalães.

Em termos iconográficos, é igualmente notória a singularidade dos menires do Alentejo Central: nasrestantes áreas - exceptuando o Algarve - a decoração não existe, ou é muito rara ou, no caso dos cruciformescantábricos ou bascos, de complicada atribuição cronológica.

No que diz respeito às orientações, quer em função de eventos astronómicos, quer de característicasfisiográficas do terreno, ou de ambas, que foram observadas nos menires alentejanos, não dispomos deestudos específicos sobre as restantes áreas, embora seja de supor a existência de padrões semelhantes.

Em relação ao Algarve, as diferenças esbatem-se, em alguns aspectos fundamentais, como é a decoraçãoou os contextos arqueológicos associados ; porém, permanecem igualmente muitas interrogações,nomeadamente de carácter tafonómico e contextual, que dificultam as comparações entre as duas áreas.

Provisoriamente, enquanto se aguardam dados mais eloquentes, os menires algarvios parecem ser os maisantigos; note-se, no entanto, que é difícil encontrar nos menires do Alentejo Central, elementos que indiquemuma filiação directa, apesar da proximidade geográfica relativa: os símbolos gravados nos menires de ambasregiões têm personalidades próprias, mas mesmo assim remetem para um ambiente cultural comum . Restaavaliar o papel do factor tempo nas convergências óbvias e naturais entre os menires do Sul de Portugal.

Atendendo à intensidade relativa do fenómeno menírico no Alentejo Central, é provável que os rarosmenires que têm vindo a ser descobertos na Extremadura espanhola correspondam a uma penetração, paraLeste, através do caminho natural que é o festo Tejo-Guadiana, no caso dos da província de Cáceres, edescendo e cruzando o Guadiana, nos da serra de Huelva; nesta perspectiva, os menires do distrito dePortalegre constituiriam uma escala intermédia (em termos geográficos, mas também em relação às intensidadesrelativas) entre o Alentejo Central e a Alta Extremadura.

Em contrapartida, o Norte de Espanha ou a Catalunha dificilmente encaixariam nesta leitura: as distânciase as diferenças sugerem realidades culturais sem relações directas, embora, eventualmente aparentadas.

222Manuel Calado

Capítulo 11: Outras áreas da fachada atlântica

223Menires do Alentejo Central

11. Outras áreas da fachada atlântica11.1. VendeiaUm estudo monográfico recente (Béneteau, 2000), centrado num conjunto megalítico com forte

personalidade, localizado no Sul da Vendeia, fornece-nos uma série de dados e de propostas, úteis comocontraponto extrapeninsular para um enquadramento mais amplo dos menires alentejanos. Na verdade, seassumirmos alguns pontos comuns entre os menires alentejanos e bretões, a Vendeia poderia, teoricamente,corresponder a um passo intermédio, em termos geográficos, entre ambas as regiões.

O tipo de monumento menírico mais característico desta área do Centro-Oeste francês, é o alinhamentocurto, constituído por 3 a 7 menires alinhados de acordo com “cânones arquitecturais” bem definidos: em“cortejo”, em “frontispício” e “com satélite” (Béneteau, 2000: 172, 173), de acordo com a posição relativados monólitos de diferentes dimensões, de que se destaca sempre um menir “gigante”. Trata-se de modelosespecíficos ausentes da Península Ibérica - se deixarmos de lado algumas casos menos claros - envolvendomonólitos de dimensões muito monumentais, que chegam a atingir, como acontece com o menir grande domonumento de Champ de César, valores da ordem dos 6, 90 m de altura, acima do solo, com um pesoestimado rondando as 80 toneladas.

Para além destes alinhamentos curtos, existe, nesta região, um número significativo de menires isolados,alguns de dimensões muito mais modestas, de que se destaca um bom número cujas formas, em que houve,geralmente, algum ligeiro agenciamento, sugerem silhuetas antropomórficas.

Existe igualmente um certo número de menires, de pequenas dimensões, que parecem relacionar-se commonumentos megalíticos funerários: uns localizam-se nas imediações dos dolmens e outros foram mesmoincluídos no interior das arquitecturas funerárias; num único caso que foi, aliás, objecto de escavação, um par

Fig. 11.1 - Menires que integram os alinhamentos curtos da Vendeia. A: Champ de César; B: La Pierre (Beneteau, 2000: 174, 182)

AB

224Manuel Calado

de menires surgiu inserido no interior de um fosso circular, com evidências de uso funerário, em épocacampaniforme (o recinto de Terriers) (Béneteau et al., 1993).

Menir C1 C2 L E P IAL IACBeauchêne 1 3,65 4,38 1,78 1,21 16,25 2,46 1,47Beauchêne 3 3,88 4,66 3,56 1,37 39,11 1,31 2,60Beauchêne 4 4,86 5,83 2,26 1,13 25,65 2,58 2,00Beauchêne 5 4,86 1,62 1,13 15,32 3,00 1,43Beauchêne 6 4,05 4,86 1,62 1,13 15,32 3,00 1,43Beaulieu 2 4,30 5,16 3,90 2,60 90,13 1,32 1,50Beaulieu 3 2,50 1,70 1,10 8,05 1,47 1,55Bois de Fourgon G1-1 2,10 1,25 0,65 2,94 1,68 1,92Bois de Fourgon G1-2 1,92 1,25 0,70 2,89 1,54 1,79Bois de Fourgon G1-3 2,40 2,88 1,60 1,20 9,52 1,80 1,33Bois de Fourgon G1-4 6,00 7,20 3,40 2,00 84,33 2,12 1,70Bois de Fourgon G2-1 2,88 1,75 0,68 5,90 1,65 2,57Bois de Fourgon G2-2 3,81 2,30 0,78 11,77 1,66 2,95Bois de Fourgon G2-3 6,10 2,60 1,20 32,78 2,35 2,17Bois de Fourgon G2-4 4,15 2,85 0,90 18,34 1,46 3,17Bois de Fourgon G2-5 2,50 1,80 0,70 5,43 1,39 2,57Bois de Fourgon G3-1 2,70 3,24 2,70 1,15 17,33 1,20 2,35Bois de Fourgon G3-2 2,20 1,50 1,55 8,81 1,47 0,97Bois de Fourgon G3-3 1,80 2,16 1,65 1,45 8,90 1,31 1,14Bois de Fourgon G3-4 0,45 0,54 0,85 0,65 0,51 0,64 1,31Bois de la Garde 3,50 3,15 1,90 36,08 1,11 1,66Camp de César 1 6,90 8,28 2,80 2,10 83,86 2,96 1,33Camp de César 2 4,45 5,34 2,26 1,62 33,68 2,36 1,40Camp de César 3 4,20 5,04 2,90 1,13 28,45 1,74 2,57La Boilière 1 3,70 4,44 2,10 1,15 18,47 2,11 1,83La Boilière 2 1,80 0,95 0,50 1,47 1,89 1,90La Chenillée 4,40 5,28 2,90 1,20 31,65 1,82 2,42La Garnerie 1 5,20 6,24 2,80 2,40 72,23 2,23 1,17La Pierre 1 2,25 3,15 1,80 1,10 10,74 1,75 1,64La Pierre 2 5,20 6,24 2,70 1,50 43,53 2,31 1,80La Pierre 3 2,05 3,12 2,10 1,15 12,98 1,49 1,83La Pierre qui vire 1 4,00 4,80 2,90 1,30 31,17 1,66 2,23La Pierre qui vire 2 2,90 3,48 2,00 0,65 7,79 1,74 3,08La Rainière 1 4,20 5,04 3,30 1,75 50,14 1,53 1,89La Rainière 2 3,30 3,96 3,10 1,30 27,49 1,28 2,38Le Grand Plessis 5,30 2,65 1,70 41,13 2,00 1,56Le Plessis 1 5,70 7,00 2,30 1,90 52,69 3,04 1,21Le Plessis 2 3,80 4,56 2,35 1,70 31,38 1,94 1,38Les Franches Boisières 4 1,60 0,80 0,75 1,65 2,00 1,07Les Jaunières 3,00 3,60 1,60 1,40 13,89 2,25 1,14Puy Durand 1 2,54 2,54 1,00 11,11 1,00 2,54Puy Durand 2 3,90 4,68 4,80 1,90 73,52 0,98 2,53

Fig. 11.2 - Dimensões dos menires da Vendeia (Seg. Beneteau, 2000)

G. Béneteau, à margem do estudo específico sobre os alinhamentos de menires do Sul da Vendeia, traçou-nos um quadro geral bastante circunstanciado sobre os menires conhecidos entre a margem esquerda da fozdo Loire, no Pays de Retz, e o rio Lay, que delimita, pelo lado Sul, a Vendeia.

225Menires do Alentejo Central

Fig. 11.3 - Gravuras setecentistas representando menires da Vendée (seg. Beneteau, 2000: 287, 288).

Trata-se de uma árearepartida por diferentes paisagensmegalíticas, com realidadesfisiográficas (nomeadamente emtermos dos substratosgeológicos) bastantediferenciadas, mas unidas poruma importante via natural detrânsito, ao longo da planícielitoral (L’Helgouach et al., 2001:31). É interessante observar que,em toda esta vasta área, não seconhecem recintos megalíticos,monumentos que, pelo contrário, são relativamente frequentes no Sul da Bretanha; estão igualmente ausentesos grandes complexos megalíticos que são a imagem de marca do megalitismo do Golfo do Morbihan.

As distribuições espaciais dos menires e das sepulturas de corredor apresentam aqui algumas discrepânciasbem vincadas; note-se que os alinhamentos curtos já referidos, concentrados na região de Avrillé (Sul daVendeia), ocupam uma área onde aqueles monumentos funerários estão ausentes; o mesmo se passa, aliás,junto ao estuário do Loire, no plateau de Corsept-Chauvé, nas Mauges e no Choletais (no Sudoeste doMaine-et-Loire e Norte da Vendeia), enquanto em Pornic-Le Clion temos a situação inversa (L’Helgouach etal., 2001; Cassen et al., 2000: 198).

Em geral, pode afirmar-se que os menires desta área são um fenómeno de forte expressão litoral, querpela existência de maiores concentrações de menires “de forma nitidamente mais ‘organizada’ na franja costeira”,quer pelas dimensões do menires que, nas áreas mais afastadas da costa, raras vezes ultrapassam os 3 m dealtura (Beneteau, 2000: 29).

Para além de um ou outro conjunto amputado, que teoricamente podem corresponder a monumentosmais complexos, os menires aparecem, tal como no Sul da Vendeia, quase sempre agrupados em alinhamentoscurtos, mais ou menos destruídos, ou surgem como menires isolados.

As matérias-primas utilizadas variaram em função dos recursos disponíveis nas imediações dos monumentos:aparecem documentados os granitos, os gnaisses, os arenitos, os calcários e o quartzo. Parece sobressair, noconjunto, “o pragamatismo das populações que se limitaram à rocha local” Beneteau, 2000: 30); no entanto,existe, pelo menos um caso, o do menir de de La Tonelle, feito de uma rocha granitóide cujas jazidas maispróximas se encontram na ilha de Yeu, a cerca de 25 Km, em linha recta; mesmo considerando que a ilhaparece ter estado ligada ao continente, na época da construção do menir, e admitindo a existência, actualmentesubmersa, de afloramentos daquela rocha, a uma distância menor, trata-se, sem dúvida de um caso que destoado padrão geral.

A morfologia dos menires parece, mais uma vez, depender da morfologia dos blocos naturais disponíveis,sendo raros e de alcance muito limitado, os casos em que houve afeiçoamento; destaca-se notoriamente,sobretudo quando comparamos com os menires da Península ibérica, a robustez de muitos dos meniresgigantes, traduzida numericamente por índices de alongamento e de adelgaçamento reduzidos; trata-se demenires muito volumosos que, mesmo sem se destacarem demasiado, em termos de altura, ultrapassamlargamente a tonelagem dos menires peninsulares mais pesados; em contrapartida, comparada com a Bretanha,que constitui o prolongamento, para Norte, da área analisada por Gérard Béneteau, esta fica claramente aperder, quanto à volumetria dos menires mais imponentes.

Em termos de implantação na paisagem, predominam as posições dominantes, embora existam excepçõesa este padrão. Algumas dessas excepções beneficiam, aliás, da possibilidade teórica de serem aproximativamente

226Manuel Calado

Fig. 11.4 - Estelas-meniresde Locqmariaquer.

datadas, com base na cronologia das oscilações do nível do mar. As cronologias são ainda, para a generalidade dos casos, um problema complexo, a exigir dados em que

os menires são, por norma, muito avaros. Sobre esta matéria, dispomos, por ora, de mais interrogações doque conclusões; Gérard Béneteau arrisca, para os monumentos que, apesar de tudo, são melhores conhecidos,na região, os referidos alinhamentos curtos, uma “relação com os ‘movimentos culturais’ que modificamestruturalmente a sociedade neolítica, no decurso do período de transição entre o Neolítico médio e o Neolíticorecente” (Béneteau, 2000: 284). Esta cronologia foi, entretanto criticada, com base nos dados recentementepublicados sobre o Alentejo e Algarve ocidental, e na já referida exclusão territorial entre os alinhamentos e assepulturas de corredor da Vendée (Cassen et al., 2000: 198).

11.2. BretanhaNa Bretanha, e, em particular, no Sul da Bretanha, encontramos a maior

concentração de menires da Europa e, eventualmente, do mundo; para alémdisso, de entre os milhares de monólitos sobreviventes, existem alguns dos maioresblocos de pedra alguma vez transportados e erectos pelo Homem.

No Golfo do Morbihan, destacam-se os alinhamentos de Carnac e o menirde Locqmariaquer que são, certamente, os exemplos mais impressionantes;porém, o fenómeno atingiu igualmente picos notáveis na Finisterra (alinhamentoscomo o de Lagatjar e menires gigantes como os de Kergadiou ou de Kerloas);trata-se, nos dois casos, de áreas muito próximas do litoral, embora existamtambém algumas manifestações complexas no interior do maciço armoricano,de que o exemplo mais famoso, por ter sido objecto de trabalhos extensos (LeRoux et al., 1989), é o dos alinhamentos de Saint Just , na Ile-et-Vilaine.

A diversidade litológica das matérias-primas condicionou, obviamente, amorfologia (e a dimensão) dos menires bretões.

As estelas-menires decoradas que foram, na sua maioria, reutilizadas emmonumentos funerários, são quase todas de ortognaisse. Trata-se de uma rochagranitóide, em cujos afloramentos foram identificadas duas variantes: uma deuorigem aos “blocos mais ou menos fusiformes”, como o de Locmariaquer, comcerca de 20 m de comprimento; a outra, com estrutura mais orientada, deuorigem a blocos de tendência tabular, como é o caso da estela decorada quecobre a sepultura do Mané-Rutual (Le Roux, 1997: 9).

A maior parte dos menires bretões é feita de granito, muitos deles com formasmuito irregulares que denunciam, sem margem para dúvidas, o carácterinteiramente natural da forma dos monólitos (Sellier, 1991; Le Roux, 1999a). Asformas irregulares, mas com perfis mais angulosos, são particularmente características dos menires de quartzofiloniano, frequentes nos terrenos metamórficos do interior da Bretanha.

Também no interior, são conhecidos alguns menires em xisto, quartzito e em arenito (Giot, 1988: 320),sendo os primeiros constituídos geralmente por lajes muito achatadas, como as que se podem observar, porexemplo, nos alinhamentos de Monteneuf (Lecerf, 1999).

Apesar das dimensões impressionantes dos grandes menires da Bretanha (o Grande Menir Quebrado deLocmariaquer ocupa, em todo o caso, um lugar à parte, uma vez que aquele que se segue no ranking tinha,quando inteiro, um comprimento de “apenas” cerca de 14 m (trata-se do menir reutilizado na Table desMarchand, em Er-Grah e em Gavrinis), “apenas meia dúzia de outros monólitos bretões ultrapassa os 7 m esem dúvida mais uma dúzia acusariam mais de 5m” (Le Roux, 1999a: 213); a somar aos grandes menires,erectos ou tombados, mas que permanecem no local original de implantação, haveria que contabilizar ainda os

227Menires do Alentejo Central

Fig. 11.6 - Litografia oitocentista representandoos alinhamentos de Carnac (seg. Giot et al., 1998: 549).

Fig. 11.5 - Mapa da distribuição, na Bretanha, de conjuntos de menires (seg. Le Roux, 2003: 379).

228Manuel Calado

Fig. 11.7 - Os recintos de Er-Lannic (seg.Gouezin, 1998: 6, 7, adaptado)

fragmentos dispersos, reutilizados em monumentos mais recentes que, nos últimos anos, se têm vindo a identificarno Morbihan (Briard, 1990: 29, 30; Giot et al., 1998: 283-Giot, 1988). A par destes monumentos, conhece-se igualmente cerca de uma dezena de recintos megalíticos com plantas em ferradura ou quadrangulares. Ocaso melhor conservado é o de Er-Lannic, com dois recintos em ferradura, escalonados em função da topografiado local, ficando, actualmente, o recinto Sul totalmente submerso, e o recinto Norte, parcialmente.

As plantas dos dois recintos, tal como as dimensões dos menires que os constituem, são muito distintas:enquanto o recinto Norte, tem uma planta sub-quadrangular e os menires se encostam lado a lado, o recintoSul tem uma planta em ferradura e os menires sãoespaçados; além disso, os menires do recinto Sulapresentam dimensões muito superiores.

As escavações no recinto Norte - o único sobre oqual existem indícios cronológicos - apontam para datas,em função dos materiais recolhidos, de meados do Vmilénio a. C. O recinto Sul, como tudo leva a crer, deveser mais antigo; a construção de um novo recinto ficaria,naturalmente, a dever-se à subida do nível da água domar.

A própria ocupação que as escavações revelaram,com um abundante conjunto de cerâmica de tipoCastelic (a mesma que, em Locmariaquer marca umaocupação anterior aos monumentos funerários), podeser posterior (quanto?) ao monumento.

Em todo o caso, a comparação com as plantas dosrecintos alentejanos, revela semelhanças muito maioresentre estes e o recinto Sul de Er-Lannic.

Alguns dos recintos do Morbihan parecem, por outro lado, ter constituído os focos a partir dos quaisforam estruturados os vários troços de alinhamentos (Le Roux, 1999a: 221, 222; Sherratt, 2001: 121).

A associação dos menires com as estruturas funerárias é, no geral, ambígua. De facto, e esta observaçãopesou certamente nas cronologias tardias que, tradicionalmente, eram admitidas, existem casos em que osmenires são certamente posteriores a essas estruturas (ou, no mínimo, contemporâneos), enquanto noutros,os menires as antecedem (Lecornec, 1994, 1997); de facto, numa listagem não exaustiva, coligida recentemente,foram contabilizados 49 blocos com gravuras, alegadamente colocados em posição secundária, em diversoscontextos funerários (Cassen et al., 2000: 199).

No que diz respeito às relações entre os menires bretões e a paisagem, C.-T. Le Roux chamou a atençãopara a gradação observada, nos grandes alinhamentos, em que os menires de maior volumetria ocupam ascotas mais altas e em que, progressivamente, as dimensões dos monólitos diminuem no sentido do declive,solução que aquele autor atribui a uma intenção de distorcer a perspectiva (Le Roux, 1999a: 222; 2003);esta característica, assim como a implantação dos recintos junto ao topo de elevações, “embora nunca mesmono topo” (Giot, 1988: 321) são dispositivos cénicos que, como se viu, estão bem documentados, por exemplo,nos recintos alentejanos; o mesmo autor observou igualmente, a propósito dos menires isolados, que estes,com frequência, se encontram implantados no alinhamento de vales, facilitando a visualização de e para omonumento.

Os estudos, nem sempre muito consistentes, sobre a arqueoastronomia dos menires bretões, remonta aoséculo XIX. Os excessos, muitas vezes delirantes, criaram, aqui como nas Ilhas britânicas, potentes anti-corpos no meio arqueológico, ainda hoje oscilando entre o cepticismo absoluto e um interesse muito limitado(Giot et al., 1998).

229Menires do Alentejo Central

Fig. 11.9 - Decoração do reverso da estela/esteio de cabeceira da Table des Marchand

(seg. Cassen et al, 2000: 296)

Fig. 11.10 - Quadrilátero e crescente do menirde Kermaillard

(Segundo Briard, 1990: 5, adaptado)

Fig. 11.8 - Principais motivos decorativos dos menires bretões (segundo Lecerf, 1999: 86)

Salienta-se, em todo o caso, o aparecimento, a partir dosanos setenta, de hipóteses baseadas nos alinhamentos lunares,como resultado dos trabalhos desenvolvidos na Bretanha, porAlexander Thom, centrados nos grandes alinhamentos doMorbihan (Thom e Thom, 1978). Note-se que as escavaçõesefectuadas, recentemente, no conjunto de Locmariaquer,revelaram que o grande menir quebrado fazia parte de umalinhamento de 19 menires (Fig. 6.30), valor que parece reflectiro ciclo das pausas lunares (18, 6 anos).

A decoração patente nas grandes estelas-menires da Bretanhaconsiste, sobretudo, em motivos figurativos, em que se destacamo báculo e o machado e um outro motivo, tradicionalmentedesignado como machado-charrua e que deve, maisprovavelmente, representar um cetáceo (Cassen e Vaquero,2000; 2003; 2004; Whittle, 2000); atendendo aos paralelosobserváveis nos menires do Alentejo Central, são particularmente interessantesdois outros símbolos que aparecem associados (embora nem sempre da mesmamaneira): o crescente e o quadrilátero. Existem ainda figurações mais raras,como é o caso dos herbívoros cornudos (eventualmente caprídeo e bovídeo),entre outras (Lecerf, 1999: 86; Giot et al., 1998: 289-301). A técnica maisfrequente é o baixo-relevo (Patton, 1993: 90, 91), seguida da gravura porpicotagem.

Como já referi, foram precisamente estas estelas que, depois de fracturadas,na sua maioria - e, por vezes, invertidas ou posicionadas com a decoraçãooculta - foram reutilizadas na construção de monumentos funerários.

A descoberta deste fenómeno implicou, entre outros aspectos, uma revisãoda posição cronológica das estelas-menires: um primeiro modelo explicativo,em que se procurava manter, sem grandes danos, o status quocronológico, sugeria que se tratava de “ídolos” que tinham sido erigidospara, acto contínuo, serem abatidos e inseridos na construção dasnecrópoles (L’Helgouac’h, 1983).O carácter intencional da destruiçãoda maior parte das grandes estelas de ortognaisse tem sido contestado,com base em diversas evidências, sendo, em alternativa, aparentementemais aceitável a destruição acidental devida à actividade sísmica(Cassen et al., 2000: 200-202).

A anterioridade genérica dos menires e, em particular destesmenires, em relação ao megalitismo funerário é, no entanto, uma ideiaque, apesar de não abundarem evidências conclusivas, tem vindo aganhar terreno, na última década, entre os megalitistas bretões (Giotet al., 1998; Cassen et al., 2000); nesta região, os menires parecem,efectivamente, constituir “a primeira expressão do monumentalismo”(Le Roux, 2003: 373).

Na verdade, a questão complica-se, sobretudo, por haver algumassepulturas megalíticas com datações radiocarbónicas muito altas,como, por exemplo, Barnenez (Giot, 1987) ou Bougon (Mohen eScarre, 2002: 101), dentro da primeira metade do V milénio a.C..

230Manuel Calado

Estas datas, ainda muito isoladas e, em todo o caso, provenientes de monumentos de notável complexidade elongevidade, têm suscitado algumas reservas (Boujot e Cassen, 1993; 1998); no entanto, mesmo que seconsiderem válidas, essas datas serão sempre posteriores às cronologias atribuíveis a alguns dos meniresbretões (Patton, 1993: 87; Scarre, 1998: 61; Le Roux, 1999: 214; ; Cassen et al., 2000: 197).

No limite, propôs-se mesmo, recentemente, que os temas inscritos nos grandes menires-estelas do Morbihanseriam “figurações próprias do mundo dos últimos caçadores-recolectores-pescadores do litoral” ou, de umaforma menos afirmativa , que “estas estelas seriam a obra das últimas sociedades ‘mesolíticas’, ou neolitizadasde fresco” (Cassen et a., 2000: 203).

A possibilidade da atribuição dos primeiros monumentos megalíticos bretões a uma fase mesolítica játinha, aliás, sido sugerida por Jean L’Helgouach, com base na descoberta de uma indústria microlítica sob omonumento de Dissignac, no estuário do Loire (L’Helgouach, 1976); esta hipótese foi, no entanto, rejeitada,com base numa releitura tafonómica da estratigrafia (Thorpe, 1996); na verdade, a maioria dos autoresprefere discernir naqueles primeiros menires e, em particular, nos símbolos que eles exibem, a celebração domodo de vida neolítico (Bradley, 1989; Patton, 1993; Thorpe, 1996; Calado, 2002).

Com os dados disponíveis, parece bastante viável a construção dos primeiros menires bretões algures nasegunda metade do VI milénio a.C. ou, nas leituras mais cautelosas, nos meados do V milénio a. C.; um talenquadramento implica uma certa contemporaneidade com o processo de neolitização da Bretanha, elepróprio deficientemente datado e compreendido (Scarre, 1992; Giot et al., 1998; Laporte, 2001; Marchand,2003).

Nesse contexto, há muito que se propôs uma relação directa entre as exuberantes manifestações megalíticase as sociedades mesolíticas do Sul da Bretanha, conhecidas sobretudo a partir do estudo dos cemitérios/concheiros de Téviec e Hoedic (Péquart et al., 1937; Péquart e Péquart, 1954), e que, comparadas com asde outras regiões, “teriam povoados maiores e mais permanentes e um maior grau de diferenciação social”(Patton, 1993: 64).

A ideia de que os monumentos teriam sido uma resposta dos grupos neolíticos, num cenário de pressãodemográfica e de conflito pelo controle dos recursos, foi avançada por Colin Renfrew, ainda nos anos setentado século vinte (Renfrew, 1976). Depois disso, vários autores têm defendido um papel mais activo dosmesolíticos bretões na génese do megalitismo funerário, atendendo à utilização de estruturas pétreas nosenterramentos dos famosos concheiros bretões (Sherratt, 1990; Scarre, 1992; Whittle, 1995).

Seja como for, a erecção de menires não se extiguiu nesse impulso inicial: um frenesim construtivo parecereflectir-se nos grandes alinhamentos de Carnac que, aparentemente, terão sido obra das comunidades doNeolítico final, algures no IV milénio a.C..

Por outro lado, o menir de Kerloas, o maior actualmente erecto, na Finisterra, incluía materiais da Idadedo Bronze no alvéolo de implantação (Giot et al., 1998: 517), havendo ainda um ou outro caso de meniresreutilizados na Idade do Bronze (Briard, 1989: 35; Lecerf, 1999: 72). Finalmente, na Idade do Ferro, foramerigidas estelas, muito afeiçoadas, cuja realação genética com os menires neolíticos, permanece meramentehipotética.

11.3. Ilhas BritânicasNa Grã-Bretanha e Irlanda, os menires ocorrem em número muito elevado e, para além dos monólitos

isolados, existem diversos tipos de monumentos compósitos, desde os pares de menires, até aos grandesrecintos megalíticos (alguns deles, com as recumbent stones), passando pelos alinhamentos curtos e longos,pelas avenidas e por associações complexas com sistemas de fosso e talude ou mesmo com monumentosmegalíticos funerários (Burl, 1979, 1993, 1999; Malone, 2001; Cooney, 2000) (Fig. 11.12, 11.13, 11.14).

As cronologias tardias, por comparação com outras realidades continentais, para o arranque da neolitizaçãonas Ilhas Britânicas, colocam estes monumentos à margem da génese do megalitismo da Europa atlântica, pelo

231Menires do Alentejo Central

menos numa perspectiva histórica. Na verdade, tanto o clássico “pacote neolítico” como os mais antigosmonumentos (incluindo aqui o megalitismo) acabam por chegar àsIlhas a partir do Continente, o que, evidentemente, não exclui,antes pelo contrário, o desenvolvimento de muitos aspectosoriginais.

No que diz respeito aos menires, a maior parte insere-se emrecintos circulares (ou sub-circulares), um tipo de monumentosque, tal como as avenidas ou as recumbent stones, estávirtualmente ausente no continente, onde os recintos são quasetodos (quando existem dados para este tipo de avaliação) deformas abertas, em semi-círculo ou ferradura. Em contrapartida,os casos conhecidos de recintos em ferradura, na Grã-Bretanha eIrlanda, são raríssimos e diferem, em muitos aspectos, dos seuscongéneres continentais; o mais conhecido é, obviamente, o recintocircular de Stonehenge, no Sul da Inglaterra, que engloba duasestruturas em forma de ferradura. Trata-se, efectivamente, de umrecinto muito complexo, inicialmente constituído por um circuito d efosso e talude, ao qual se foram acrescentando novos detalhes; A .Burl inclina-se fortemente para uma origem bretã dos construtores d ocelebérrimo monumento inglês, com base não só nessas plantas, aparentemente estranhas às Ilhas Britânicas,mas também em alguns motivos gravados nos menires de Stonehenge, com paralelos mais ou menos óbviosno megalitismo bretão, e ainda numa série de paralelos artefactuais ( Burl, 1999: 152-167).

Todos os restantes casos de plantas em ferradura, nas Ilhas Britânicas, se inserem no interior de monumentosmais complexos, alguns deles de madeira ou de terra; estácontabilizada cerca de uma dúzia e, mesmo assim, algunsdeleslevantam sérias dúvidas; note-se que, por outro lado, seconhecem cerca de 1300 recintos circulares, de planta fechada,noReino Unido e na Irlanda (Burl, 1999: 155).

Os trilitos (uma forma de organizar os menires que éexclusiva de Stonehenge), para além da planta em forma deferradura, apresentam, em alçado, outra característicareconhecível em monumentos bretões e alentejanos: a alturadecrescente dos monólitos, de Oeste para Leste (Burl, 1999:152).

Em termos de matéria-prima existe uma grandediversidade: granitos, doleritos, quartzos, arenitos, xistos e atélavas vulcânicas foram usadas para a construção demonumentos meníricos. As distâncias entre os monumentos eas presumíveis fontes de matérias-primas são geralmente poucoexpressivas. Stonehenge constitui um caso àparte: as bluestones (doleritos) teriam, segundo alguns autores (Atkinson,1979: 105), sido transportadas de uma distância de centenasde quilómetros (variável de acordo com os trajectospropostos), uma vez que os afloramentos mais próximos seencontram nos Montes Preseli, no Sudoeste do País de Gales.No entanto, não existe unanimidade sobre este ponto: A. Burl,por exemplo, rejeita a possibilidade de uma tal empresa,

Fig. 11.11 - Stonehenge, numagravura do século XVII(seg. Burl, 1999: 144).

Fig. 11.12- Recintos circulares, nasIlhas Britânicas (seg. Burl, 1979: 13).

232Manuel Calado

Fig. 11.13 - Cartografia de diferentes tipos de menires agrupados, nas Ilhas Britânicas e Bretanha (seg. Burl, 1993).

233Menires do Alentejo Central

Fig. 11.14 - Cartografia de diferentes tipos de menires agrupados, nas Ilhas Britânicas e Bretanha (seg. Burl, 1993).

234Manuel Calado

Fig. 11.15 - Gravuras no menir exterior dorecinto de Long Meg and Her Daughters

defendendo antes que os referidos menires seriam blocos erráticos obtidos na própria planície de Salisbúria,onde actualmente, pelo menos, não parecem existir (Burl, 1999: 123).

As dimensões e as formas dos menires irlandeses e britânicos são muito variadas: desde recintos cujoselementos afloram cerca de um metro ou menos, acima do solo, atéblocos com dezenas de toneladas de peso e alturas da ordem doscinco metros; em termos morfológicos, a matéria-prima parece ser amaior responsável pela diversidade, existindo blocos de formas muitoregulares, cilíndricas ou ovóides, mas também menires extremamenteirregulares e angulosos.

A maior parte dos menires das Ilhas Britânicas não são decorados;no Sul, Stonehenge representa, também neste aspecto, uma excepção:para além de armas (adaga e machados), ostenta uma (ou talvez várias)figura rectangular e um possível báculo, no menir 57, temas que, comoreferi, têm sido relacionados com outros análogos da vizinha Bretanha(Burl, 1999: 162-167).

Nas áreas mais setentrionais, a decoração surge com algumafrequência, embora quase sempre limitada às covinhas, muitas vezescom um ou mais anéis concêntricos e às espirais (Fig. 11.15).

A cronologia dos menires britânicos e irlandeses dificilmente, comos dados disponíveis, recua além dos inícios do IV milénio a.C.,prolongando-se, como fenómeno global, até, pelo menos, a Idade doFerro (Burl, 1999; Bradley, 2004).

Também as opções paisagísticas são enormemente variadas; emgeral, parece haver uma exclusão, nos sítios seleccionados para aconstrução dos monumentos, dos afloramentos rochosos que lhespoderiam obscurecer a visibilidade. Num caso ou outro, parece, noentanto, haver um certo “diálogo” entre os menires e formaçõesrochosas visíveis nas proximidades (Burl, 1999: 72-77).

11.4. SínteseConsiderados no seu conjunto, os menires da Europa Ocidental correspondem certamente a momentos

e movimentos diferentes, embora seja possível rastrear um fundo comum, que subentende a existência de“fortes continuidades em vez de rupturas assinaláveis” (Bueno e Balbín, 2002: 639), nas diversas expressõesartísticas que se escalonam entre o epipaleolítico e, pelo menos, a Idade do Bronze.

Porém, a análise do fenómeno, nessa escala, permite inventariar semelhanças e diferenças que escondemcertamente sincronias e diacronias, mas também formas distintas de materializar as mesmas ideias e soluçõesadaptativas diversas, em função de sociedades diferentes, paisagens e recursos diferenciados.

Um aspecto a reter, desde já, é uma persistente conexão aparente entre os menires e os contextos funerários,perfeitamente confirmada em muitos dos menires mais tardios, como são os de Pavia, ou os dos cromelechspirenaicos.No Norte de Marrocos, o grande recinto funerário de Mzorah (Mavor, 1976; Jean-Pierre Daugas,comunicação pessoal), poderia eventualmente relacionar-se com esse megalitismo funerário extemporâneo.

Em todo os caso, os menires mais antigos e, em particular, os do Alentejo e do Algarve exigem, por ora,explicações alternativas. Por outro lado, a vinculação cronológica e cultural dos menires isolados aos monumentosfunerários que, muitas vezes, ocorrem nas suas imediações, não passa, na maior parte dos casos, de umaconjectura; é óbvio que, mesmo que exista uma relação, é possível concebê-la em termos de anterioridadedos menires em relação aos dolmens, ou vice-versa.

235Menires do Alentejo Central

0,0

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0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0

Comprimento (m)

Larg

ura

(m)

Alentejo Central

Catalunha

País Basco

Vendée

Fig. 11.17 - Comparação gráfica das dimensões (C e L),dos menires do Alentejo Central, Catalunha,

Pais Basco e Vendeia.

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1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0

Indice de adelgaçamento

Indi

ce d

e al

onga

men

t

Alentejo Central

Catalunha

País Basco

Vendée

Fig. 11.18 - Comparação gráfica das formas (IAC,IAL) dos menires do Alentejo Central, Catalunha,

Pais Basco e Vendeia.

As histórias longas de alguns destes conjuntos(Serna Gonzalez, 1997) permitem, no entanto,propor vínculos diacrónicos em que,eventualmente, os menires correspondam às fasesmais antigas da monumentalização dos lugares eos usos funerários surjam como uma consequênciadas respectivas sacralizações. Com as devidasreservas, poderíamos invocar o costume medievalde sepultar os mortos em chão sagrado, no interiorou nas imediações das igrejas, o que não as torna,só por isso, monumentos funerários, nemestritamente contemporâneas dos enterramentos.

Note-se que, nalguns casos, como no dos járeferidos menires da Córsega, apenas as fases maisrecentes são claramente funerárias (D’Anna et al. 2000;D’Anna e Leandri, 2000); uma sequência semelhantevislumbra-se, por exemplo, no conjunto de Locmariaquer,em que o alinhamento dos menires parece preceder osmonumentos funerários de Er-Grah e da Table desMarchand.

Na verdade, essa mudança semântica, poderiaeventualmente aplicar-se a todos os casos em que sesuspeita da reutilização de menires em monumentosfunerários.

Convém, no entanto, evitar generalizaçõesprecipitadas: efectivamente, alguns monumentos tardios,como Stonehenge ou os alinhamentos de Carnac,dificilmente poderiam ser interpretados como monumentos funerários, embora não se possa excluir liminarmentealgum tipo de relação com eventuais cultos dos antepassados.

Creio que, nestes dois exemplos maiores do megalitismo europeu, os monumentos devem sercontextualizados nas paisagens culturais em que se inserem, onde, num e noutro caso, não faltam múltiplasevidências de monumentos funerários.

As evidentes descontinuidades entre as diversas áreas atrás comentadas, não são só geográficas: sãocronológicas e culturais, em proporções que, naturalmente,constituem um desafio para futuros aprofundamentos damatéria. É, por outro lado, necessário e urgente que, nasdiversas áreas megalíticas, se reunam e contrastem osdados sobre os contextos (paisagísticos e arqueológicos)em que os menires ocorrem. Povoados, necrópoles, arterupestre e monumentos são, nesta óptica, apenas as váriasfacetas da mesma questão.

Por agora, a imagem global sugere uma certa sincroniaentre a Bretanha, particularmente o Morbihan, e o Sul dePortugal, áreas em que o aparecimento dos meniresparece coincidir com a chegada dos primeiros impulsosneolitizadores.

0,0010,0020,0030,0040,0050,0060,0070,0080,0090,00

100,00

Peso

(Ton

elad

as)

1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73 79 85 91

Menires

VendéeAlmendres

Fig. 11.16 - Comparação gráfica dos menires dos Almendres e da Vendeia, em função do peso.

236Manuel Calado

As semelhanças entre os menires alentejanos e bretões (sobretudo os do Morbihan) têm vindo a ganharpeso, nos últimos anos, à medida que uns e outros vão sendo melhor estudados (Calado, 2002d; Cassen etal., 2000; Bueno e Balbín, 2002) e se conhecem melhor as realidades geograficamente intermédias.

Os aspectos mais apelativos são-nos proporcionados pela arte megalítica: báculos, crescentes equadriláteros, executados em baixo-relevo, em menires-estelas (ou em estátuas-menires), não podem ,razoavelmente, ser explicados por fenómenos de convergência.

Também os recintos em forma de ferradura, cujas plantas, orientações e implantações são, na Bretanha,basicamente idênticas às dos monumentos alentejanos, seriam, só por si, suficientes para atestar algum tipo decontacto entre as duas áreas.

Num grau menos explícito, por não serem exclusivas do Alentejo e da Bretanha, existem outras analogiasque importa sublinhar como, por exemplo, as formas arredondadas dos menires e as reutilizações destes emmonumentos funerários.

Por último, em termos contextuais, são os concheiros mesolíticos que melhor permitem estabelecer asinevitáveis conexões; além disso, embora os dados sobre o povoamento neolítico bretão sejam ainda poucoconsistentes, há indícios de uma penetração - em todo o caso, melhor caracterizada a Sul do Loire - dacerâmica cardial, com afinidades directas nas costas mediterrânicas do Sul de França. Existem, por outrolado, boas razões para admitir a chegada à Bretanha, de influências, mais ou menos diluídas, das culturasneolíticas oriundas do eixo reno-danubiano, através da Bacia parisiense (Cassen, 1993; Cassen et al., 1998b).

O peso relativo desses dois fluxos é uma das questões mais polarizadoras na investigação actual sobre oNeolítico bretão; visto do Alentejo, o problema parece merecer uma solução salomónica: se admitirmoscontactos tão longínquos como os menires parecem implicar, seria de esperar interacções e fluxos com asdiferentes culturas que prosperavam, nos finais do VI milénio a.C., no quadro da Europa ocidental. Naverdade, existem indícios, talvez mais recorrentes do que os especialistas de uma ou de outra área geralmenteadmitem, de contactos entre as duas grandes tradições do Neolítico antigo da Europa ocidental (Guilaine eManen, 1995). A presença, em latitudes superiores, de tradições cerâmicas relacionáveis com o mundo cardial,como a de La Hoguette ou a do Limbourg, há muito que sugere fronteiras de geometria variável, ao longo deum eixo litoral particularmente permeável.

Seja como for, com os menires significativamente ausentes quer no mundo cardial, quer na Europa loéssica,e com um Mesolítico final indiscutivelmente pujante, em pontos-chave da fachada atlântica, é natural que seprocure uma explicação indigenista para a origem do fenómeno menírico.

Por outro lado, as principais diferenças entre os menires peninsulares e bretões, considerando apenasaqueles que, em ambas as regiões, parecem ser os mais antigos, são, antes de mais, diferenças de escala.Apesar de representarem apenas uma pequena minoria, no número muito elevado de menires bretões (tambémele incomparável com o de qualquer área peninsular), os grandes monólitos do Morbihan, sobretudo,representam um fenómeno muito peculiar, explicável certamente, por diversos factores que determinaram umpercurso histórico muito original; dentro deles, pesa concerteza um conjunto de características de ordemmesológica e económica, mas também geoestratégica (Giot et al., 1998).

A título de exemplo, embora seja certamente, um exemplo extremo, anote-se que só o peso estimado doGrand Menhir de Locmariaquer (280 toneladas) é muito superior à soma do peso estimado de todos osmenires dos Almendres (175 toneladas) (Fig.11.19).

Esta diferença de escala, ainda que de uma forma mais atenuada, reflecte-se também nos menires daVendeia (Fig. 11.16).

As cronologias muito avançadas, admitidas para os menires das Ilhas Britânicas, em paralelo com oatraso mais geral da própria neolitização nesta área, sugerem, em conjunção com considerandos de ordemgeográfica, uma certa inspiração nos menires bretões; esta explicação, por outro lado, é quase automática,quando se consideram os menires da Vendeia.

237Menires do Alentejo Central

Na Península Ibérica, à excepção do Sudoeste, são mais as interrogações que as respostas; no entanto,vários indicadores sugerem cronologias avançadas para a maior parte dos menires.

As implantações, tardias ou não, dos primeiros menires nos Pirinéus poderiam, também por critériosgeográficos, apontar para uma origem directa, ou indirectamente, bretã; o Norte de Portugal e a Galiza, assimcomo, eventualmente, a Cantábria ocidental, poderiam, por idênticos critérios, corresponder a influências,embora certamente muito diluídas ou transformadas, com origem no Sudoeste peninsular.

É fundamental, nestes exercícios comparativos, ter em mente as descontinuidades geográficas, relativamentebem vincadas, e as eventuais descontinuidades cronológicasenvolvidas.

O facto, bastante provável, de que, mesmo excluindo os fenómenos epi-megalíticos que se prolongaramaté à Idade do Ferro, estejamos perante uma longa diacronia, de dois ou três milénios, implica que seja, porenquanto, prematuro tratar os menires europeus, ou mesmo peninsulares. como um todo.

Pelo contrário, é fundamental individualizar e caracterizar áreas geográficas e culturais bem definidas econtrastá-las com os respectivos contextos arqueológicos e paisagísticos, trabalho que, na maior parte dasáreas, está todo por fazer.

É curioso que na Bretanha ou no Sul de Inglaterra, provavelmente devido à ofuscação produzida, nocurso normal da investigação arqueológica, pelos monumentos excepcionais, os dados sobre o povoamentosão, de um modo geral, muito irrisórios (Bruck, 1999; Giot et al, 1998).

Fig. 11.19 - Comparação entre o recintos dos Almendres e o grande menir de Locqmariaquer.

238Manuel Calado

Capítulo 12: Interpretações

239Menires do Alentejo Central

12. 1. IntroduçãoNo capítulo 4, procurei traçar uma panorâmica sintética da evolução do pensamento arqueológico, em

Portugal, no que diz respeito às propostas de interpretação funcional dos menires.Um dos problemas de muitas dessas propostas (efectivamente, a maioria delas) reside na própria indefinição

cronológica e cultural do tema. Hoje não restam dúvidas de que, por exemplo, a funcionalidade dos meniresmais antigos, cujo carácter não sepulcral parece incontestável, se deve diferenciar bastante da dos menires daIdade do Ferro que, pelo menos no alinhamento da Tera, aparecem claramente imbricados na estrutura físicada necrópole.

Entre uns e outros, algumas utilizações e reutilizações de menires pré-existentes parecem inserir-se numfundo ideológico comum, mas testemunhar, ao mesmo tempo, uma evolução semântica que, certamente,reproduz outras mudanças em curso.

Os significados e as funções dos menires alentejanos mudaram, certamente, entre o Neolítico e a Idadedo Ferro, sendo necessário interpretar os diferentes monumentos dentro dos respectivos contextos culturais;no entanto, os dados disponíveis indicam que a maior parte dos menires e, sobretudo, os monumentos maisimportantes, parecem inserir-se no mesmo patamar cronológico - a transição Mesolítico-Neolítico -,constituindo, nesse processo, um elemento inovador que, uma vez inscrito nas paisagens, inspirou certamentea erecção dos raros exemplares erguidos, posteriormente, na região.

De uma forma ou de outra, os menires tardios são epifenómenos; na mesma categoria entram, até certoponto, as estátuas e estelas (Bueno, 1995) que, entre o Calcolítico e o final da Idade do Bronze, definem, noocidente peninsular, geografias algo distintas, mas sobrepostas, deixando, curiosamente, de fora, o AlentejoCentral. O carácter tardio da maior parte delas é evidenciado pelas representações de armas metálicas (punhaise alabardas, sobretudo) que, até à chegada do domínio romano, se tornaram um dos adereços fundamentaisda estatuária.

Noutras áreas europeias e com cronologias igualmente avançadas, surgiram diversos grupos de estátuas-menires, algumas com iconografias (como é o caso dos crescentes e dos báculos) que denunciam uma provávelinspiração nos menires bretões (Kinnes, 1995; D’Anna et al., 1995); no conjunto, pode afirmar-se que asestátuas-menires se “desenvolveram a partir de menires simples, dentro da tradição megalítica geral” (Barfield,1995: 13).

Também os esteios antropomórficos das antas, os betilos, os ídolos cilíndricos ou as placas de xisto,constituem, de certa forma, sucedâneos de um ambiente iconográfico inaugurado, tanto quanto parece, pelosmenires, e em que a representação tridimensional da figura humana, fortemente estilizada, tem um relevoparticular.

12.2. Os menires: significados e funçõesOs menires, nas suas diversas modalidades, são símbolos e, neste sentido, que creio ser o mais básico,

constituem, tal como a arte rupestre, uma modalidade de linguagem gráfica. Trata-se, em última análise, de

240Manuel Calado

formas de registo e comunicação de informação.A durabilidade da pedra e o potencial metafórico dessa qualidade, não foram concerteza estranhos ao

megalitismo, como não o foram à arte rupestre. Se nesta, como muitos autores admitem, o suporte tem umsignificado em si mesmo que as gravuras acentuam ou acrescentam (Alves, 2002; Bradley, 1997), no casodos menires anicónicos, o suporte é ele próprio o símbolo.

O considerável esforço exigido para a construção dos monumentos é revelador da importância dasmensagens que se pretendia transmitir. Neste aspecto, em comparação com a arte rupestre, cuja feitura podiaser obra de “artistas” individuais, os menires traduziam certamente ideias, que podemos considerar de interessecolectivo e que envolviam e responsabilizavam toda a comunidade que os erigiu.

Comparativamente, poderia mesmo afirmar-se que, enquanto muitos santuários rupestres, por seremvirtualmente invisíveis, são como um segredo que se sussurra, os menires, pelo contrário, parecem mais umdiscurso que se proclama.

Os menires começam por ser símbolos antropomórficos: efectivamente, de entre os vários significadosque lhes têm sido atribuídos e que, em muitos casos, se podem sobrepor, aquele que, no contexto da transiçãoMesolítico/Neolítico, parece mais adequado, é o da representação da figura humana (Bueno e Balbín, 1996;2002; Vazquez, 1997; Beneteau, 2000: 300).

Na verdade, no contexto da arte neolítica europeia, os símbolos antropomórficos, para além de assumiremuma enorme variedade formal, são os mais recorrentes e transversais; na própria área de origem da RevoluçãoNeolítica, o Próximo Oriente, o aparecimento da figura humana acompanha, ou antecede imediatamente, asprimeiras experiências de domesticação de cereais, em sociedades em que a sedentarização e a complexificaçãosocial davam os primeiros passos (Cauvin, 1999a; 1999b).

A representação extremamente simplificada da figura humana que, na maior parte dos casos nem sequerimplicou qualquer transformação do “suporte”, coloca, por outro lado, os menires na linha dos desenvolvimentosconceptuais que subjazem à arte esquemática peninsular.

Os menires alentejanos, em particular, exprimem, de uma forma muito minimalista, mas eficaz, a anatomiado corpo humano: a extremidade distal arredondada, sugerindo a cabeça, o achatamento característico damaior parte deles, que permite, quase sempre, definir uma face e a própria altura dos menires, cuja variabilidadepouco se afasta, por excesso ou por defeito, da altura do corpo humano. Em média, os menires dos trêsgrandes recintos de Évora, apresentam comprimentos da ordem dos 1, 71 m, nos Almendres (nº1), 1, 73 m,no Vale Maria do Meio (nº2) e 1, 74 m, na Portela de Mogos (nº4), valores que se aproximam dos que seriamexpectáveis para as populações que os conceberam.

A organização dos motivos, nos menires decorados da área de Evora, reforça, como se viu, a mensagemantropomórfica; a própria localização de báculos, quer se trate de cajados ou armas, remete, também ela,para o antropomorfismo dos suportes.

Por outro lado, as diferenças de tamanho (nomeadamente aquelas que se verificam entre os menires quecompõem os recintos megalíticos), podem ser entendidas como a expressão dos diferentes estatutos dasentidades evocadas, implicando, metaforicamente, uma provável estratificação social (Béneteau, 2000: 280;

241Menires do Alentejo Central

Cassen et al., 2000), em sociedades que, no entanto, a tradição considera geralmente igualitárias.Convém salientar que, dentro deste esquema interpretativo, os menires, sendo antropomórficos, não se

referiam necessariamente a indivíduos concretos, nomeadamente aos construtores dos monumentos, embora,de uma maneira ou outra, os representassem; é possível que, pelo contrário, aludissem a antepassados,personagens míticos, heróis fundadores ou divindades e, por extensão, como preferem outros autores, possamrelacionar-se com a emergência de linhagens, num ambiente de forte coesão social, que monumentos destaordem de grandeza parecem exigir.

Em segundo lugar, as eventuais conotações funerárias dos menires, difíceis de comprovar com base naevidência empírica, são, mesmo assim, sugeridas pelas realidades que, a montante e a jusante, se lhes podem,de algum modo, aparentar. As estruturas em forma de ferradura, indiscutivelmente funerárias, dos concheirosmesolíticos, poderão estar na origem directa dos recintos megalíticos; por outro lado, as sepulturas megalíticasque incluem, nalguns casos, verdadeiros menires na sua estrutura arquitectónica, e cujos esteios, algunsdecorados, têm igualmente vindo a ser interpretados como alusões antropomórficas (Bueno e Balbín, 2002:606, 628), são, de certo modo, um desenvolvimento desse primeiro megalitismo.

Por último, as referidas estátuas e estelas que são, possivelmente, os herdeiros mais directos dos menires,parecem igualmente aludir, sempre que se lhes conhecem os contextos, ao mundo dos antepassados.

Num certo sentido, pode afirmar-se que a própria arte rupestre participou, a par da arte megalítica, numprograma de progressiva ancestralização das paisagens (Keates, 2000) que, no Alentejo Central, os meniresparecem iniciar, dando, eventualmente, continuidade a práticas rituais mais antigas.

Note-se que, curiosamente, não se conhecem ainda as estruturas ou os rituais funerários correspondentesaos povoados do Neolítico antigo do Alentejo Central e que, também por isso, convém manter em aberto apossibilidade de os recintos terem desempenhado algum papel (de onde parece excluir-se, liminarmente, emtodo o caso, o de lugares de enterramento) nos rituais funerários (ou, pelo menos, no culto dos antepassados)dos seus construtores.

A ligação dos menires ao mundo dos mortos, não lhes esgotaria, naturalmente, as implicações simbólicase, sobretudo, as funções; a invocação e exibição (Beneteau, 2000: 284) dos antepassados (reais ou míticos),através da construção de monumentos, pode ser uma forma de legitimar apropriações territoriais, revelando,assim, competição, aberta ou latente, com outros grupos, no contexto de um processo de territorialização,próprio do modo de vida neolítico. Num sentido mais geral, “o culto dos antepassados refere-se aos rituaisque proporcionam acesso contínuo aos mortos no além. Os antepassados neste sentido continuam a estarcomprometidos nos assuntos dos seus descendentes, como participantes nas relações sociais, políticas eeconómicas” (Buikstra e Charles, 1999: 204).

Os autores de inspiração materialista tendem a relacionar a construção dos mais antigos monumentoscom o aparecimento de estratificação social, em articulação com as alterações na base económica; estaríamos,de algum modo, perante afirmações do poder político de elites emergentes, numa fase em que alguns pretendemsituar a origem das desigualdades e relacionar estas, de uma forma mais ou menos directa, com a acumulaçãode excedentes (Testart, 1982; Calado et al., 2004).

242Manuel Calado

Chris Scarre, argumentando contra esta leitura, afirma que “na medida em que uma resposta emocionalperante a morte é uma característica humana inata, abordagens centradas na questão do poder, devem serconsideradas desumanizadoras” (Scarre, 1998: 183).

Por outro lado, dentro da linha estruturalista defendida, entre outros, por Ian Hodder e Julian Thomas, atransição Mesolítico/Neolítico pode ser entendida no contexto de uma valorização do doméstico face aoselvagem, em diversos planos (Hodder, 1990; Thomas, 1991a; Barnatt, 2001). Os monumentos e, dentrodesta categoria, os menires, seriam, não só uma forma de domesticação das paisagens – traduzida igualmentena implantação de povoados, abertura de caminhos, desflorestação de campos de pasto e de cultivo - mas,sobretudo, de domesticação dos próprios lugares sagrados.

Richard Bradley caracteriza essas mudanças como “ um corte radical”, das populações em vias deneolitização “com o que tinham conhecido antes”; esses grupos estariam “mudando as suas atitudes para coma natureza e o selvagem, domesticando plantas e animais” e, ao construirem monumentos, “mudando a suapercepção global dos lugares” (Bradley, 1993: 17).

De uma forma mais específica, machados e báculos, por sua vez, parecem simbolizar a domesticação danatureza vegetal e animal, respectivamente; nesse sentido, o predomínio dos báculos na iconografia dos meniresalentejanos, em detrimento dos machados que, na Bretanha, têm muito maior relevância aparente, encaixainteiramente nos dados paleoeconómicos obtidos na escavações (ou antes, na ausência deles) (Gonçalves,2002a; 2003; Diniz, 2004) e na relação dos menires e povoados neolíticos antigos da área de Évora, com acapacidade de uso dos solos dessa mesma área (Diniz, 2004).

As orientações astronómicas, seriam, ainda nesta óptica, formas de “domesticação” dos astros - o Sol ea Lua - e do tempo, através da associação dos monumentos aos principais eventos celestes cíclicos, observáveisno horizonte; trata-se, provavelmente, de relações de poder em que o objecto, mais do que os outros homens,é o mundo natural, sendo que “o papel das representações humanas procura exprimir esta nova relação coma natureza” (Balbin e Bueno, 2002: 630).

A domesticação da natureza, conjugando aspectos económicos, sociais e ideológicos, implicou a construção“de uma imagem de vencedor sobre um meio ambiente durante muito tempo suportado” , sendo legítimoquerstionar “como, com efeito, a partir do momento em que se domine o mundo vegetal, animal e mineral,conceber as relações com a sua própria espécie?” (Guilaine e Zammit, 2001: 124).

Na verdade, os menires serão, para além de símbolos do poder dos antepassados, manifestações dopoder de quem os contruíu, quer consideremos a comunidade como um todo, quer apenas as eventuais elitesque teriam dirigido os trabalhos e tomado as decisões.

Num outro nível, os menires parecem proclamar o poder de uma nova ideologia, em fase de afirmação,alicerçada numa valorização do trabalho colectivo; esta tipo de organização laboral, era certamente indispensável,como etapa prévia, à instalação, num território economicamente difícil, de uma economia de base neolítica.

O contexto ideológico acima esboçado não esgota o potencial simbólico dos menires; os símbolos têmvida própria e são capazes de gerar analogias que, sem a sua mediação, seriam menos óbvias.

É, por exemplo, perfeitamente possível que as evocações fálicas dos menires, tenham tido, aos olhos dos

243Menires do Alentejo Central

construtores de menires, uma leitura semelhante à que os arqueólogos modernos fizeram. Mesmo sem tersido, se é que não foi, concebido como um símbolo fálico, o menir faz um contraponto muito sugestivo com asimbologia uterina que, bem ou mal, se pode igualmente reconhecer nas antas (Giot et al., 1998). Descontandoas eventuais questões de ordem psicanalítica, não é muito óbvia a associação automática entre os cultos dafecundidade ou da fertilidade e as preocupações específicas das sociedades agro-pastoris; a fecundidade e afertilidade, tal como a sazonalidade dos recursos (calendários económicos), são igualmente questões do dia adia dos caçadores-recolectores.

A sexualidade como fonte de símbolos parece, em todo o caso, bem documentada na arte paleolítica,mesmo que não se aceite, na íntegra, o esquema estruturalista de André Leroi-Gourhan (Gourhan, 1983: 91);por outro lado, as recentes revisões sobre o significado de alguns temas gravados nas estelas do Morbihan,recuperaram, de certo modo, a ideia da sexualização dos símbolos (Cassen et al., 2000), tal como os trabalhosde David Calado, sobre a iconografia dos menires algarvios (Calado, 2000a), na linha de antigas propostas deVictor S. Gonçalves, em que este autor chamou a atenção para “o sincretismo entre o princípio masculino efeminino” de alguns deles (Gonçalves, 1992: 214).

Os recintos (e eventualmente também os menires isolados) eram, supostamente, reconhecidos e utilizadoscomo lugares sagrados, onde provavelmente seriam celebrados rituais e cerimónias públicas: as orientaçõesastronómicas dão-nos, a este respeito, algumas indicações sobre os calendários que, presumivelmente, regiamesses acontecimentos.

As plantas em ferradura dos recintos que, como referi, parecem aludir a formas elementares da organizaçãodo espaço humano, e que, possivelmente se inspiraram em modelos mesolíticos, simbolizavam, eventualmente,a casa dos mortos, significado que nas arquitecturas dolménicas se parece consolidar.

A inspiração de monumentos funerários neolíticos nas arquitecturas domésticas é, desde meados do séculovinte, uma ideia enraizada na pré-história europeia, com base, sobretudo na semelhança formal entre asestruturas habitacionais, de planta trapezoidal, características do neolítico da Europa central e os túmuloslongos de morfologia análoga (Cassen et al., 1998: 66).

A s plantas em ferradura das sepulturas submegalíticas, orientadas por preceitos idênticos aos que seobservam nos recintos, são, elas próprias, mais simbólicas do que funcionais, uma vez que, apesar da aberturaa nascente, os defuntos eram depositados, tal como nas cistas, a partir do topo.

A aparente sequência evolutiva em que as antas de corredor curto antecedem as de corredor longo,reforçada por dados recente (Gonçalves, 2003: 224), sugere, por sua vez, a permanência, ao longo do IV-IIImilénios a.C. de um núcleo irredutível de ideias, esboçadas ou presentes, desde os alvores do Neolítico. Naverdade, são elas que dão ao megalitismo, nas suas diversas facetas, uma unidade que está muito para alémde um certo ar de família que, a priori, justificou a inclusão de antas e menires na mesma categoria genérica.

12.3. Os primeiros construtores de meniresA informação cronológica disponível (Capítulo 9) permite atribuir os primeiros menires alentejanos ao

Neolítico antigo e, dentro deste, possivelmente a uma fase inicial; alguns indícios sugerem mesmo fortes relações

244Manuel Calado

com as sociedades do Mesolítico final, em concreto as sociedades de pescadores-caçadores-recolectoresdos concheiros do Tejo e do Sado.

Posto isto, torna-se indispensável revisitar, numa nova perspectiva, os principais modelos em debate,relativos à transição Neolítico/Mesolítico, no ocidente peninsular, e as implicações dessas propostas na realidadeespecífica do Alentejo Central.

O panorama resume-se ao velho dilema entre o modelo colonialista, com raízes profundas no pensamentoarqueológico de meados do século vinte, e o modelo indigenista, numa forma mitigada, em que se assumemprocessos de difusão cultural, por mecanismos de contacto entre comunidades mais ou menos contíguas, umavez que as propostas de neolitização autóctone, independente dos contributos oriundos do Mediterrâneooriental, apesar de algumas reincidências (David Calado et al., 2004), não parecem resistir à revisão doscontextos em que as datas mais antigas foram obtidas (Fortea e Martí, 1984-1985; Zilhão, 1992; 1998).

Nos últimos anos, o avanço da investigação tem demonstrado, em várias frentes, a complexidade dasquestões relativas à transição Mesolítico-Neolítico, no território português, e suscitado correcções ou adaptaçõesàs formulações iniciais daqueles modelos (Sanches, 1997; 2000; Valera, 1998; Calado, 2002d; Bicho et al.,2000; Bicho et al., 2002; Carvalho, 2002; Monteiro-Rodrigues, 2000; 2002; 2003; Diniz, 2004). Trata-se,em todos os casos citados, de propostas decorrentes de estudos regionais, condicionadas, portanto, pordados que correspondem, provavelmente, a situações históricas distintas e cujo contributo não se pode,automaticamente, generalizar.

Ao contrário do que seria de esperar, atendendo aos dados que, nos últimos anos, têm vindo a lume, estãopraticamente ausentes, nos diversos modelos e variantes, as questões relacionadas com aspectos rituais esimbólicos, nomeadamente as que se referem à construção de monumentos, considerada, sem qualquerdiscussão, um fenómeno mais tardio.

A situação parece remeter, com as devidas adaptações, para a observação irónica de Richard Bradley deque “na literatura, no seu conjunto, agricultores de sucesso têm relações sociais uns com os outros, enquantoos caçadores-recolectores têm relações ecológicas com avelãs” Bradley, 1994: 11). Entre nós, efectivamente,Mesolítico e Neolítico antigo partilham, por convenção que nem a arte rupestre, funcionando num verdadeirouniverso paralelo, consegue diluir, uma estranha ausência de dimensão simbólica.

Por outro lado, está igualmente omissa, em praticamente todas as propostas, a possibilidade de contactos,no contexto da neolitização do Ocidente peninsular, em alternativa das habituais rotas mediterrânicas.

É interessante observar que os fundamentos de indigenistas e colonialistas (Soares e Silva, 1979; Silva eSoares, 1981; Silva, 1989; Soares, 1992; Soares; 1995; Silva, 1997; Soares e Silva, 2003; Zilhão, 1992;1993; 1995; 1998; 2000; 2001) tiveram, como pontos de partida, objectos de estudo totalmente diferentes:Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares, que foram os principais promotores do modelo indigenista,construíram-no com base nas prospecções e escavações desenvolvidas na Costa Sudoeste, sobretudo nopovoado de Vale Pincel 1, nos anos setenta do século passado; em contrapartida, João Zilhão forjou o seumodelo de difusão démica, que serve de referência às restantes variantes entretanto surgidas, com base nosdados da Estremadura e, mais exactamente, da escavação da Gruta do Caldeirão, obtidos maioritariamente

245Menires do Alentejo Central

na segunda metade da década seguinte.A discussão, por vezes acalorada, que os promotores destes dois modelos têm vindo a travar, em defesa,

entre outros aspectos, da maior antiguidade dos respectivos sítios (ou conjuntos de sítios) de referência,remete, aparentemente, para os laços afectivos que tendem a estabelecer-se entre os investigadores e os seusobjectos de estudo; fora disso, a disjuntiva entre indigenismo e colonialismo, que tem sido um lugar comum namaior parte das regiões neolíticas europeias, mesmo naquelas em que a investigação de campo reuniu dosesconsideráveis de informação pertinente (Dennel, 1985; Whittle, 1995; Thorpe, 1996; Tilly, 1996; Pluciennik,1998; Zvelebil, 1998; Arias et al., 2000; Barnett, 2000; Cooney, 2000; Zvelebil e Lillie, 2000; Marchand,2003), está provavelmente longe de ser resolvida. Os dados disponíveis permitem várias leituras alternativase houve certamente uma multiplicidade de situações que não facilitam a vida aos modelos demasiadoabrangentes.

A adopção de uma ou outra destas propostas depende, em primeiro lugar, das preferências teóricas decada um e, em segundo lugar, das contingências da informação disponível que constitui, em cada momento, o“estado da arte”.

Dentro destas, interessa-me em particular a proposta, recentemente apresentada por Mariana Diniz(Diniz, 2004), que partiu do estudo de uma realidade concreta – o povoado do Neolítico antigo da Valada doMato – para uma reflexão sobre a neolitização do Alentejo interior.

M. Diniz, mesmo aceitando, no essencial, as premissas teóricas da difusão démica, reclamou, para oAlentejo Central, o estatuto de enclave neolítico – estatuto que, nas propostas de J. Zilhão, mesmo nas suasformulações mais recentes, seria exclusivo da Estremadura e eventualmente, do Algarve. Foi igualmentequestionado o carácter retardatário da neolitização do interior peninsular, que decorria tanto do modelocolonialista, como do modelo indigenista, e que os elementos cronológicos disponíveis para a Valada do Mato(Diniz, 2004: 269-270), permitem, até certo ponto, contrariar.

Note-se que a antiguidade da neolitização regional era, na verdade, um dado adquirido desde a publicaçãoda cerâmicas cardiais da Gruta do Escoural, há mais de trinta anos (Santos, 1971); novos trabalhos na grutaconfirmaram essa realidade, sugerindo uma ocupação exclusivamente cardial, no interior da cavidade, e outrasó com cerâmicas impressas, eventualmente restrita à área da entrada, a que se teria seguido uma terceirafase, no Neolítico final, novamente no interior da cavidade e, aparentemente, no santuário exterior. Esta últimaparece ser a única em que foi atestado o uso funerário (Araújo e Lejeune, 1995: 75).

A continuidade de ocupação do velho santuário - que, apesaar do Coa, continua a ser a única gruta comarte paleolítica, no território português - a partir do Neolítico antigo, não surpreende, uma vez que seconhecem hoje outras evidências de neolitização precoce da região e de uma continuidade, sem hiatos, pelasfases seguintes.

A questão mais importante coloca-se em relação à existência ou não de um nexo de qualquer tipo entre areocupação neolítica do santuário e as ocupações anteriores; a esta questão, no entanto, os dados disponíveisnão permitiram fornecer nenhuma resposta cabal: por um lado, não foi datada a camada estagmítica que selaos níveis paleolíticos (Ibidem: 41) e, por outro, foi escavada uma camada, estratigraficamente diferenciada

246Manuel Calado

“correspondendo a um eventual nível de transição entre os estratos superiores com cerâmica e os inferioresonde predominam os artefactos em quartzo”, onde foram recolhidos “alguns artefactos talhados em sílex(lascas incaracterísticas)” (Ibidem: 27).

Dito de outro modo, sendo relativamente fácil compreender o abandono do santuário durante o “êxodo”do Mesolítico final, é também possível admitir algum tipo de frequentação, mesmo que esporádica, por partedas populações epipaleolíticas que, sabemo-lo hoje, frequentaram o interior alentejano; os vestígios podemestar “camuflados” nos níveis perturbados do interior da gruta ou, em função do tipo de uso do sítio, não seterem sequer depositado. Em todo o caso, a ocupação paleolítica parece estender-se até ao Magdalenense.

Se admitirmos que, mesmo sem uso directo, o santuário rupestre se possa ter conservado no mapa mentaldos descendentes dos seus fundadores e primeiros utilizadores, estamos, naturalmente a privilegiar umaperspectiva indigenista. Como alternativa que me parece um pouco menos viável, os portadores das cerâmicascardiais podiam ser colonos recém-chegados à região (vindos da Andaluzia ou de Valência) e, certamentenuma fase inicial, ter redescoberto a gruta - de acesso muito discreto - e reutilizado o santuário dos presumíveisantepassados dos indígenas.

Por outro lado, o estudo detalhado dos artefactos líticos da Valada do Mato (nº 1119) permitiu detectarsintomas inequívocos de alguma identificação cultural com o substrato indígena; essa inesperada promiscuidade,na óptica de um colonialismo puro e duro, foi interpretada com o resultado da absorção, pelos grupos exógenosrecém-chegados, assumidos como integralmente neolíticos, de elementos da cultura material mesolítica (Diniz,2004: 354), na linha interpretativa preconizada, para o Oeste francês, por Grégor Marchand (Marchand,2003).

Esse fenómeno, designado como aculturação passiva, e integrável num processo mais amplo de “fusãodiferencial”, poderia, de acordo com a referida proposta, ser explicável como um resultado de eventuais“fluxos de mulheres que partem de grupos de caçadores-recolectores para ingressarem nos grupos deprodutores” (Diniz, 2004: 343).

Arqueologicamente, a aculturação passiva das comunidades neolíticas implica que tenha existido uma faseinicial, por enquanto não detectada na Valada do Mato nem nos outros sítios reconhecidos na região, anteriorà absorção dos elementos mesolíticos e em que, por isso, as ditas analogias tecnológicas ainda não estariampresentes; pelo contrário, uma primeira análise dos dados da escavação do Xarez 12, em Reguengos deMonsaraz, sugeriu uma eventual fase mesolítica, estratigraficamente não confirmada ou, em alternativa, umNeolítico antigo que, desde o início, incorpora artefactos de tradição indígena (Gonçalves, 1999; 2002a).

Seja como for, atendendo às relações espaciais privilegiadas, entre os territórios dos concheiros mesolíticosdo Tejo e do Sado e a Valada do Mato (que, na verdade, é apenas um ponto numa rede de povoamentoparticularmente densa), assim como às cronologias aceites para uns e outros, seria sempre de esperar algumainteracção entre ambos os lados da fronteira cultural.

No entanto, a chegada, ao Alentejo Central, de colonos neolíticos oriundos de áreas relativamentelongínquas, como são a região valenciana ou a Andaluzia oriental, sendo uma possibilidade, não é concertezaa única, nem, na minha opinião, aquela que melhor se ajusta aos dados disponíveis.

O modelo da onda de avanço, em que se concebia um movimento colonizador lento e paulatino, de Leste

247Menires do Alentejo Central

para Oeste (Ammerman e Cavalli-Sforza, 1984),foi, recentemente, posto em causa, noMediterrâneo ocidental, com base na revisão dasdatações publicadas (Zilhão, 2001). De facto, ocurto lapso de tempo (não superior a 200 anos)decorrido entre a instalação das primeirascomunidades neolíticas no Norte de Itália ou noSul de França e no Ocidente peninsular, exigiu,para que o modelo de difusão démica se pudessemanter, o conceito de colonização neolítica delonga distância, por via marítima, traduzido naformação, nos territórios de acolhimento, deverdadeiros enclaves neolíticos. Estranhos numaterra estranha.

Porém, esse tipo de mobilidade, envolvendo a deslocação de grupos de colonos neolíticos, para locaisdistantes, é, certamente, questionável, tanto mais que é possível conceber alternativas mais “económicas” paraexplicar os dados arqueográficos.

O paralelismo entre a colonização neolítica do Mediterrâneo ocidental e a colonização das ilhas do Pacífico,com o qual, em última análise, se pretende justificar o modelo (Zilhão, 2001) esquece, a meu ver, osparticularismos geográficos que separam os dois fenómenos; refiro-me, nomeadamente, ao facto de, nosespaços que separam os supostos enclaves neolíticos peninsulares, haver certamente territórios disponíveis,mais próximos e implicando, portanto, uma ruptura menos traumática com as raízes e um custo logístico muitoinferior.

Desde logo, não se afiguram fáceis de entender, as próprias motivações para a partida, estando,evidentemente, fora de causa as habituais explicações de ordem processual -pressão demográfica/escassezde recursos. Toda a orla mediterrânica tinha, em direcção ao interior, possibilidades de expansão (que, aindano Neolítico antigo, se tornou efectiva) praticamente ilimitadas.

A verdade é que os próprios “enclaves” cardiais, não se localizam propriamente no litoral, ao contrário doque seria de supor para quem, por hipótese, tivesse vindo de barco. O carácter relativamente interior doCaldeirão ou até da Cabranosa e, sobretudo, o da Gruta do Escoural, são, neste quadro, elementos a ponderar.

Por outro lado, se aceitarmos a origem valenciana ou andaluza desses grupos, importa também questionarcomo foram escolhidos os locais de destino e porquê. Tratava-se, note-se, de uma odisseia sem regresso e,ao mesmo tempo, de colónias sem “metrópole”.

A instalação em territórios desabitados e, segundo parece (Araújo, 2003), densamente florestados, exigiria,da parte desses pequenos grupos pioneiros, um esforço enorme de desbravamento das terras para fins agrícolase pastoris, tanto maior quanto a distância em relação aos povoados de proveniência implicava um corteradical com a rectaguarda logística. Note-se que, no que diz respeito ao Alentejo Central, em particular, as

Fig. 12.1 - Distribuição dos sítios do Neolítico antigo,

do Mediterrâneo ocidental, com datas consioderadas

fiáveis (seg. Zilhão, 1999).

248Manuel Calado

características geológicas, pedológicas, hidrológicas e, de um modogeral, paisagísticas, eram certamente muito distintas das que ossupostos colonos conheceriam em Valência ou na Andaluzia, obrigandoa um esforço adicional de reconhecimento e adaptação.

Nestas condições, a retoma de uma actividade agro-pastorilnormal, tendo como termo de comparação os padrões praticadosnos povoados de origem, demoraria sempre um certo tempo, duranteo qual a qualidade de vida dos grupos seria obrigatoriamente afectada.

Efectivamente, embora fosse possível o transporte, em barcosrudimentares (provavelmernte canoas monóxilas), de algumas cabeçasde gado, a verdade é que o tempo necessário para refazer, nosterritórios colonizados, um rebanho economicamente rentável, seria,certamente, de vários anos.

Por outro lado, a partir das regiões valenciana ou andaluza, épossível, teoricamente, conceber rotas terrestres que tivessempermitido, aos putativos colonos, atingir o Alentejo Central ou mesmo(porque não?) a própria Estremadura. Mais uma vez, o obstáculo imposto pelas paisagens fechadas, que seadmite terem acompanhado o óptimo climático atlântico,não favorece, porém, esta hipótese, pelo menos numafase inicial do processo.

A criação de novos povoados, no contexto domodelo clássico da onda de avanço, não comportava,naturalmente, nenhuma das dificuldades apontadas, umavez que as novas instalações se implantariam emterritórios adjacentes aos povoados-mãe, beneficiando,certamente, em fase de arranque, dessa proximidade.

As causas geralmente admitidas para um talmovimento, inscrevem-se num registo funcionalista que,verdadeiro ou não, não suscita, a priori, grandesobjecções: o esgotamento dos solos (ou apenas umaredução da produtividade dos mesmos), como resultadode uma suposta agricultura de queimadas, ou,alternativamente, mecanismos de fissão, como formade regulação das tensões sociais; uma e outra supõem,em todo o caso, um significativo crescimentodemográfico.

No entanto, um impulso expansionista, de índoleFig. 12.3 - Principais correntes de difusão dos sistemas

técnicos neolíticos (seg. Marchand, 2001: 117).

Fig. 12.2 - Distribuição do povoamento do Mesolítico final, no Centro-Sul

de Portugal (seg. Araújo, 2003: 103).

249Menires do Alentejo Central

eventualmente religiosa/ideológica (Cauvin, 314-317), não pode, obviamente, ser excluído.Os argumentos invocados por J. Zilhão (e parcialmente adaptados por M. Diniz), em defesa do modelo

colonialista, assentam sobretudo nos seguintes aspectos:1- ausência de substratos indígenas nos territórios “colonizados” (reproduzindo, aparentemente, embora

numa escala diferente, uma das características do Neolítico antigo da Europa central;2- diferenças significativas nas técnicas de talhe, entre o Neolítico antigo e o Mesolítico;3- semelhanças estilísticas entre as formas e decorações das cerâmicas e certos objectos de adorno do

Neolítico antigo da Estremadura (e do Alentejo Central) e das presumidas regiões de origem;4- escassos indícios de neolitização in situ das comunidades mesolíticas locais.A este modelo de neolitização, tal como tem sido defendido, subjaz uma desvalorização radical do papel

das populações indígenas, as quais, nesta perspectiva, teriam aderido passivamente às inovações oriundas doMediterrâneo oriental, apenas depois de pressionadas pelos grupos exógenos instalados nas vizinhanças.Ignora-se um aspecto, muito caro aos indigenistas, que é a profunda transformação que se adivinha nassociedades mesolíticas mais complexas (Zvelebil, 1998: 25; Zvelebil e Dolukhanov, 1991: 238), no sentido daneolitização, e a própria história das sociedades mesolíticas europeias, dos seus contactos e influências.

Por outro lado, o modelo indigenista, tal como tem sido esboçado, concebeu apenas mecanismos deneolitização in situ, nos quais os concheiros do Tejo/Sado não teriam estado substancialmente envolvidos;esta marginalização voluntária em relação às mudanças que iam alastrando, à sua volta, seria, de acordo comessa leitura, o resultado de condições ambientais particularmente ricas e, portanto, propícias a um certoconservadorismo, com paralelos noutras áreas da fachada atlântica europeia e não só.

O destino dessas comunidades, cujos vestígios revelam uma forte personalidade cultural, seria, a médioprazo, uma estranha extinção sem descendência.

Nessa mesma leitura, pensada a partir da área de Sines, a neolitização do interior teria sido feita a partirdos primeiros povoados neolíticos litorais, de substrato mesolítico, e seria, por natureza, um fenómenosecundário e “evolucionado”, o que dificilmente se enquadra nas cronologias relativamente antigas (directas eindirectas), tanto da Estremadura como do Alentejo Central.

Esse avanço para o interior, carece, além disso, de uma trama geográfica credível, no que diz respeito àprópria paisagem e aos dados arqueológicos que pudessem fazer a ponte. Carece também, pelo menos porenquanto, de motivações razoáveis: não creio concebível que o crescimento demográfico a partir de unsescassos núcleos populacionais instalados no litoral, fosse suficiente para justificar o enxameamento, tantomais que a tendência, no Neolítico antigo, parece ser de concentração do povoamento em áreas restritas.

Um crescimento demográfico optimista, num povoado como Vale Pincel, teria alimentado, em váriosséculos, para além do seu próprio crescimento, a fundação de povoados interiores, como o da Salema; maspara que, em meados do VI milénio, essa expansão tivesse chegado à área de Évora ou de Reguengos,pujante como parece ter chegado, não se afigura suficiente; em paralelo, haveria sempre que encontrar umdestino para o povo dos concheiros, cuja extinção ou mesmo diluição, em termos étnicos, parece poucoprovável.

250Manuel Calado

A aparente velocidade excessiva com que a neolitização avançou, no Mediterrâneo ocidental afectoutambém, em menor grau, a ideia de uma difusãopercolativa, implicando, em vez das relações lentasde vizinho a vizinho, relações de longa distância.

Na verdade, o cerne da questão parece-meconsistir na mobilidade e nos prováveis contactosinter-regionais desenvolvidos pelas populações decaçadores-recolectores do Mesolítico final.

Desde logo, a economia destas populaçõesera, por definição, muito mais apta para suportardeslocações de longo curso. A pesca, a caça e arecolecção poderiam alimentar indefinidamente umgrupo de caçadores-recolectores que, em viagem,não precisava de alterar radicalmente os seusmodos de subsistência.

Acresce, ainda, o facto fundamental de se tratarde populações cujas aptidões náuticas estariam,em princípio, tanto ou mais desenvolvidas eexercitadas do que as das populações neolitizadas,suas contemporâneas (Patton, 1995: 21). Aslocalizações dos concheiros, nunca longe dasmargens dos estuários, e alguns indícios de pescade alto mar são, a este respeito, bastanteeloquentes.

As comunidades mariscadoras poderiam, semgrandes dificuldades técnicas, ter estabelecidolaços de vários tipos, inclusivé de carácter genético,com populações já neolitizadas ou em vias deneolitização, nas costas andaluzas e valencianas.É, aliás, bastante plausível que essas relações sejamanteriores à chegada do pacote neolítico (que inclui,para além da pedra polida, da cerâmica, dos ovi-caprinos e dos cereais, uma nova ideologia) aoterritório peninsular (Martí Oliver e Juan-Cabanilles, 1997: 244, 245; Kunst e Rojo, 1999: 262-263).

A navegação e as interacções culturais que ela teria suscitado entre grupos mesolíticos e neolíticosgeograficamente separados, tem tido, nos últimos anos (e não só) muitos defensores (Bradley, 1997;L’Helgouac’h, 1995; Patton, 1995: 21;Cooney, 2000: 7; Courtin, 2000: 22), embora sob perspectivas

Fig. 12.5 - Zonas de interacção na Europa atlântica;A: Neolítico antigo; B: Neolítico final (seg. Bradley, 1997: 24, adaptado).

Fig. 12.4 - Cartografia do avanço da agricultura primitiva e dos cemitérios mesolíticos (seg. Bradley, 1993: 14).

251Menires do Alentejo Central

cronológica e culturais distintas; efectivamente, para além de uma navegação de cabotagem, com trajectosmais ou menos longos, existem também indícios seguros de alguma navegação de alto mar: a colonização deChipre, por grupos do PPNB, a qual teve lugar antes dos inícios do VII milénio a.C. (Cauvin, 1999b), ou,noutro contexto geográfico e cronológico e em menor grau, a neolitização das Ilhas Britânicas, comprovam,sem margem para dúvidas, esse fenómeno.

As semelhanças (em termos de tecnologias líticas e, sobretudo, em termos de rituais funerários) entre osconcheiros do Tejo/Sado e os do Golfo do Morbihan (aparentemente, sem escalas intermédias), apesar deterem merecido um ou outro comentário ligeiro, em estudos especificamente dedicados ao Mesolítico português(Roche, 1960; Arnaud, 1987), e mesmo estudos comparativos, no domínio tecnológico (Marchand, 2001b,2001c), não foram, até à data, suficientemente exploradas, quanto às suas possíveis implicações no processode neolitização da fachada atlântica.

Por outro lado, as analogias flagrantes entre os menires da Bretanha e do Alentejo, também elas semparalelos convincentes pelo meio, sugerem contactos directos, por via marítima. Esses contactos, a teremrealmente ocorrido, seriam, naturalmente, mais lógicos entre as respectivas populações mesolíticas do queentre o Morbihan e o interior alentejano (Calado, 2002).

Como alternativa ao modelo de difusão démica e, sobretudo, à versão mais radical dos enclaves neolíticos,os dados disponíveis para a neolitização do Alentejo Central podem, com vantagem, ser interpretados comoo resultado do dinamismo das últimas sociedades de caçadores-recolectores dos estuários do Tejo e doSado. A singularidade dos menires alentejanos, exige um contexto singular.

Essas sociedades, em vias desedentarização e de complexificaçãosocial, desde, pelo menos, a primeirametade do VI milénio, teriam, nestaperspectiva, estabelecido fluxos deinformação em duas direcções: uma,pela fachada atlântica, focadaparticularmente no Sul da Bretanha ea outra, pela via mediterrânica,estendendo-se, pelo menos, até àregião de Valência (Fig. 12.6; 12.7).

As relações entre os concheirosdo Tejo/Sado e a região valenciana,são sugeridas, por exemplo, poranalogias tecnológicas entre asindústrias dos estuários portuguesese as de níveis mesolíticos da Cuevade la Cocina, próxima de Valência

Fig. 12.6 - Proposta de contactos litorais de longa distância,na transição Mesolítico Neolítico da Europa ocidental.

252Manuel Calado

(Aparício, 1989: 215).A presença, mesmo que rara, da

cerâmica e a ausência de faunasdomésticas (à excepção do cão), nosconcheiros, implicam, por um lado, queos seus autores não ignoravam,certamente, as inovações chegadas doLeste e, por outro, que, perante elas,manifestavam um elevadoconservadorismo, pelo menos emtermos económicos.

Na verdade, as pautas culturaisneolíticas devem ter gerado, sobretudonas comunidades mais complexas,como seriam as dos concheiros doTejo/Sado, atitudes de adesão e derejeição, traduzidas em conflitos eclivagens internas, cuja ultrapassagempassaria, eventualmente, pela saída dospartidários da mudança e pelainstalação destes em áreas devolutas,na periferia dos territórios tradicionais(Ammerman, 2002: 19). Trata-se, emúltima análise, dos mesmos fenómenosde fissão que, curiosamente, forampropostos como causas possíveis paraas improváveis colonizações marítimas de longa distância (Zilhão, 2001: 14185).

No entanto, parece mais difícil descortinar eventuais causas para a fissão nas sociedades neolíticas do queem sociedades confrontadas com umaprofunda revolução cultural.

Os colonizadores do Alentejo Central teriam, nesta óptica, transportado consigo, a partir dos territóriosdos estuários, alguns aspectos da cultura material mesolítica e, simultaneamente, os elementos essenciais daeconomia e da ideologia neolíticas, importados a partir de focos intermédios do Mediterrâneo ocidental. Osmenires seriam inovações inspiradas, por um lado, em práticas rituais ancestrais e, por outro, na ideologiaveiculada pelo próprio pacote neolítico.

Note-se que a miscigenação cultural observada na Valada do Mato (nº1119), em que, a par de artefactoslíticos e técnicas de talhe, oriundos do fundo cultural autóctone, existem cerâmicas e objectos de adorno, comanalogias em áreas relativamente remotas, a ser explicada por fluxos de mulheres entre grupos diferentes,

Fig. 12.7 - Proposta esquemática das principais relações interregionais envolvidas na neolitização/megalitização do Alentejo Central.

253Menires do Alentejo Central

deveria ter-se feito em sentido inverso àquele que foi recentemente sugerido (Diniz, 2004): de facto, parecepouco provável que as mulheres tivessem levado consigo técnicas e tipos de artefactos “ligados à caça e àguerra” (Marchand, 2003: 193) que, em princípio, correspondem a actividades masculinas. Já as cerâmicasou os objectos de adorno parecem mais consentâneos com a aquisição, por grupos de caçadores-recolectores,de mulheres oriundas de comunidades já neolitizadas.

Outro aspecto em que se pode questionar o sentido da aculturação que a cultura material do Neolíticoantigo centro-alentejano evidencia, diz respeito à “natural absorção, dos outros grupos por parte do sistemade maior complexidade social” (Diniz, 2004: 347); de facto, é difícil imaginar nos hipotéticos pioneiros recém-chegados, em número reduzido, a um ecossistema mal conhecido e, portanto, mal dominado, uma complexidadesocial maior do que aquela que, em geral, se reconhece nas populações dos concheiros mesolíticos, instalados,havia vários séculos, num território particularmente favorável, e com índices de sedentarização que os rituaisfunerários deixam facilmente entrever. Note-se que, segundo M. Zvelebil, as “sociedades de caçadores-recolectores, em algumas partes da Europa, desenvolveram estruturas sociais e estratégias de gestão dosrecursos, análogas em complexidade e talvez mesmo produtividade às dos agricultores neolíticos” (Zvelebil,1998: 25).

Por outro lado, um tal cenário explicaria satisfatoriamente algumas das especificidades do Neolíticoantigo do Alentejo Central, como são, por exemplo, os dispositivos rituais com planta em forma de ferradura,para os quais não se conhecem paralelos na Andaluzia ou na região valenciana e que, num contexto deruptura e de inovação em relação ao modo de vida mesolítico, representariam, talvez mais do que as indústriaslíticas, um importante elemento de continuidade cultural.

É certo que a disponibilidade do pacote neolítico deve ter desencadeado outros tipos de respostas, porparte de outras comunidades de caçadores-recolectores locais: num dos extremos do leque, podemos suporuma situação como a que, aparentemente, caracterizou a neolitização da Escandinávia, em que os indígenas,mesmo absorvendo alguns itens do pacote neolítico, resistiram durante largos séculos aos ventos de mudança;no outro extremo, os grupos, eventualmente os menos bem sucedidos, ou que dispunham de menos recursos,agrupados em sociedades mais simples, cuja adesão pode ter sido fácil e sem traumas internos.

A instalação de povoados neolíticos, um pouco por todo o interior da Península, em datas quase tãoantigas como as do litoral, exige uma participação activa da população mesolítica que, por essa altura, seextingue como tal. Mesmo com um crescimento demográfico elevado, as colónias de neolíticos puros dificilmentepoderiam ter desempenhado um papel de relevo nos efectivos demográficos envolvidos no processo.

Para além do Alentejo Central onde, num percurso que pode ter demorado séculos, terão “desaguado”as populações dos concheiros do Tejo/Sado, são admissíveis outros fenómenos “de colonização interna”, apartir das mesmas ou, eventualmente, de outras bases mesolíticas.

Quanto ao móbil das eventuais expedições mesolíticas de longa distância, é muito difícil atribuir-lhefundamentos economicistas.

Trata-se de empreendimentos que, possivelmente, envolviam apenas os segmentos mais jovens dascomunidades mesolíticas e que poderiam, por isso, ser explicáveis como simples manifestações do espírito de

254Manuel Calado

aventura, ou, atendendo ao grau de dificuldade da operação, como eventuais rituais de iniciação. A aquisiçãode mulheres seria, como tem sido proposto, um dos objectivos mais pragmáticos e que melhor explicariam aneolitização subsequente das sociedades de caçadores-recolectores, ou parte delas; a existência demecanismos de circulação de objectos raros, com valor simbólico, pode igualmente justificar as analogiascom as cerâmicas ou os objectos de adorno de outras áreas distantes (Godelier, 1996).

Chris Scarre defendeu, num texto recente, a peregrinação como um dos mecanismos responsáveis pelacirculação de ideias e artefactos, nas sociedades pré-históricas (Scarre, 2001); trata-se, por definição, deviagens de ida e volta, presentes em sociedades muito diversas, por vezes com funções terapêuticas, cujosfundamentos religiosos incluem, por norma, a visita a lugares sagrados (Barnatt, 2001: 96). A valorizaçãosocial dos indivíduos que participam em tais viagens tem resonâncias em contextos que nos são relativamentepróximos.

Perante a questão da receptividade das sociedades mesolíticas às inovações neolíticas, as posições deindigenistas e colonialistas não diferem muito: todos concordamos que, uma vez exposto, durante um tempomais ou menos longo, ao contágio, o mundo mesolítico se desmoronou.

Como se deu o contágio e o desmoronamento, é o que está em discussão.A existência de uma rede de contactos entre comunidades mesolíticas distantes, tornaria virtualmente

instantânea a propagação do pacote neolítico, a partir do momento em que uma delas se neolitizasse. As diferenças cronológicas no processo de mudança, com um claro gradiente de Leste para Oeste,

sugerem um tempo de maturação, diferente de umas comunidades para outras, em que as novidades estiveramdisponíveis mas não foram adoptadas (Zvelebil e Rowley-Conwy, 1986). A ruptura expectável nas sociedadesmesolíticas, corresponde, naturalmente, à fase de substituição, e é nesse contexto, que se pode adivinharpotencialmente tenso, que os mecanismos de fissão poderão ter dado origem ao (re)povoamento do AlentejoCentral.

A construção dos menires sugere uma sociedade coesa, motivada, empenhada em exibir as suiascapacidades, num ambiente de ruptura e inovação e num território que pretende tornar seu e domesticar.

Tem-se escrito muito, nos últimos anos, sobre as diferenças de fundo entre os modo de vida mesolítico eneolítico. Para além das importantes clivagens, em termos de quotidiano, entre as economias de caça erecolecção e as chamadas economias produtoras, implicando a introdução de novos artefactos (de que omachado e o báculo são emblemas privilegiados e onde a cerâmica desempenha igualmente um papel práticoe simbólico importante), surgem novos hábitos alimentares (sobretudo o cereal e o leite), novos conceitos deorganização social e laboral e uma nova relação com a Natureza; estas mudanças foram, necessariamente,traduzidas numa estrutura simbólica renovada.

O cruzamento de dados seleccionados da literatura etnográfica, com algumas projecções, na pré-história,de velhas questões com que se debate a civilização ocidental, contribuiu para a construção de uma imagem debom selvagem, com que os homens do Mesolítico têm sido retratados.

Porém, não é certo que os concheiros tenham sido o Paraíso terrestre e o comunismo primitivo pode terque recuar até ao Neanderthal, mas admite-se, nessas sociedades, um modo de vida e um sistema de crençasmais conservacionista, menos empreendedor do que a proposta revolucionária que acabou por se impor.

Um dos aspectos que caracterizam, muitas vezes, as sociedades de caçadores-recolectores, mesmo asmais prósperas, ou, sobretudo, essas, parece ser o desenvolvimemto de mecanismos de nivelação social,através de limitações à acumulação de riquezas (Zvelebil, 1998: 6; Godelier, 1996).

A intensidade do processo de neolitização do Alentejo Central, evidenciada na construção de um conjuntode monumentos, único à escala peninsular, é directamente proporcional à complexidade relativa do Mesolítico

255Menires do Alentejo Central

do Tejo/Sado. Concheiros funerários e menires, no Tejo/Sado e no Morbihan, correspondem, provavelmente,a binómios paralelos, os elementos mais visíveis de uma sociedade em vias de mudança.

Trata-se, a confirmar-se esta proposta, não propriamente de uma neolitização instantânea, mas de umasubstituição instantânea. O grupo que ontem era ainda mesolítico, hoje, recém instalado num mundo todo porfazer, traz consigo um projecto que o torna profundamente neolítico. Neste sentido, pode falar-se, com algumapropriedade, de uma verdadeira Revolução Neolítica.

Procura-se, em última análise, encontrar um caminho intermédio entre a quietude do modelo evolucionistae a exaltação épica dos “pioneiros” orientais.

12. 4. As sequelasA maior parte dos menires europeus parece corresponder a fases avançadas da instalação das sociedades

camponesas, mesmo atendendo aos ritmos diferentes em que isso aconteceu, nas diversas áreas; esseretardamento está bem confirmado nos diversos grupos de estátuas-menires que predominam na Europamediterrânica (D’Anna, 2002) e é também a norma nos menires, geralmente anicónicos, das Ilhas britânicas(Burl, 1999), assim como, aparentemente, nos escassos exemplares escandinavos (Larsson, 2004).

Do mesmo modo, mesmo na Bretanha ou na Península Ibérica, uma boa parte dos menires foi provavelmenteerguida entre o Neolítico final e a Idade do Ferro.

Estamos, antes de mais, perante o fenómeno da longevidade dos símbolos de que o báculo talvez seja oexemplo mais paradigmático; por outro lado, é pouco provável que os significados e funções dos primeirosmonumentos se tenham mantido inalterados, uma vez que os contextos mudaram profundamente.

De certo modo, a permanência dos mesmos símbolos religiosos durante largas centenas ou mesmo milharesde anos, atravessando barreiras culturais, étnicas, linguísticas e outras, é-nos perfeitamente familiar. No limite,os menires inauguraram uma prática, a da representação tridimensional da figura humana, em escala natural(em muitos casos, maior que a natural), a que a estatuária continuou e continua a dar actualidade.

A quantidade (e a variedade) assinalável de monumentos meníricos, nas Ilhas Britânicas, e a ampladispersão no território, implicam, por um lado, uma larga diacronia e, por outro, remetem para épocas em queextensas áreas do território se encontravam já ocupadas por sociedades agro-pastoris.

A realidade do Alentejo Central parece ser muito diversa. É claro que houve menires tardios (pelo menosna Idade do Ferro) e é seguro que alguns dos menires neolíticos se mantiveram (ou voltaram a estar) em uso,até épocas proto-históricas, como demonstram os casos de S. Sebastião (nº 8) ou da Belhoa (nº 44). Noentanto, a construção de menires parece ter-se concentrado num patamar cronológico relativamente estreito,aspecto que se deduz da variabilidade relativamente reduzida dos monumentos, da escassa quantidade globale da própria contenção geográfica. Por razões que importa averiguar, enquanto noutras áreas da Europacontinuam a erguer-se menires, porventura mesmo com mais intensidade, no Alentejo Central (tal como noAlgarve e, aparentemente, na Vendeia (Beneteau, 2000: 301), o impulso inicial parece ter esmorecido, comum ou outro avivamento pontual.

Na Bretanha, pelo contrário, assistiu-se a uma fase inicial de grandiosidade única que se desenvolveu sobnovos formatos, mas igualmente notáveis.

256Manuel Calado

No Sudoeste peninsular, os menires foram provavelmente substituídos, em termos rituais e simbólicos,pelos monumentos megalíticos funerários e pelos seus conteúdos; estas construções reproduzem, porventuranuma escala ampliada, as dificuldades técnicas envolvidas na construção dos menires, e parecem darcontinuidade a algumas das funções sociais que lhes costumam ser imputadas: marcação e domesticação daspaisagens, exaltação de elites, demonstração de capacidade laboral, entre outras.

A antropomorfização dos símbolos a que, supostamente, subjaz uma visão antropocêntrica do mundo,continua , sob novas formas, na cultura dolménica: as placas de xisto que provavelmente nasceram no AlentejoCentral e daqui irradiaram, parecem ter herdado um certo protagonismo regional, num processo em que oantigo santuário do Guadiana pode ter tido, desta vez, um papel central.

Os báculos de xisto são, por outro lado, um dos elos de ligação mais sugestivos, entre os menires e asantas e, na minha opinião, uma das causas de alguma confusão cronológica entre uns e outros.

Na verdade, creio que o báculo de xisto representa a continuidade do símbolo gravado nos menires,agora graficamente mais estilizado e, por isso, mais distante do objecto funcional que funcionou como referente.A decoração dos artefactos votivos, em que predominam as soluções angulosas, afasta-se claramente doscânones estéticos patentes nos menires (ou das cerâmicas do Neolítico antigo) e o próprio suporte - o xistolaminar - evoca paisagens onde os menires estão ausentes.

Os dados, ainda inéditos, das escavações no povoado das Águas Frias(nº1465), apontam, sem margempara dúvida, para a existência de um centro produtor de placas de xisto, o único até agora identificado, pelomenos com uma tal exuberância de dados: efectivamente, foram recolhidas largas dezenasde placas de xisto,em todas as fases de fabrico, excepto produtos acabados (Fig. 12.9). A posição geográfica do sítio, comcronologias relativas da segunda metade do IV milénio a.C., aponta fortementepara uma relação, de ordemeventualmente ritual, entre o fabrico de placas de xisto e a proximidade dos núcleos mais importantes dosantuário rupestre do Alqueva (Fig. 12.10).

Na verdade, as mesmas bancadas de xisto do leito do Guadiana em que foram feitas as gravuras doAlqueva (Fig. 12.8), poderiam ter fornecido a matéria-prima - com implicações simbólicas fáceis de suspeitar- das placas de xisto fabricadas no povoado; por outro lado, a escavação, já referida, de dois outros povoadosde fossos, artefactual e estruturalmente análogos às Águas Frias - Juromenha 1 (nº876) e Malhada das Mimosas1 (nº882), onde não foi recolhida uma única placas de xisto, sugere, efectivamente, uma especialização daquelepovoado, a que não deve ser alheia a proximidade privilegiada com o antigo santuário rupestre.

Neste contexto, é curioso e, por ora, difícil de explicar, o vazio quase absoluto de antas nas proximidadesdas Águas Frias (Fig. 12.11).

Os próprios círculos radiados (os olhos de sol) que constituem um dos elementos mais figurativos dagramática decorativa das placas de xisto - e das cerâmicas do Neolítico final/Calcolítico - podem ser reflexosda continuidade do mesmo símbolo que, de uma forma muito explícita no caso da Belhoa, domina o campoiconográfico do menir (Gonçalves, 1992: 218). A confirmação das orientações astronómicas dos menirestorna, naturalmente, mais plausível a origem antiga deste símbolo e a sua permanência em contextos posteriores.

Outro dos elementos que poderá, de alguma forma, implicar a continuidade, no Neolítico final/Calcolítico

257Menires do Alentejo Central

do Sul peninsular, de símbolosque surgiram, pela primeira vez,nos menires, são as lúnulas que,como artefacto votivo ougravadas nos chamados ídoloscilíndricos, ocorrem, comalguma frequência, nasnecrópoles do Maciço Calcárioestremenho.

As mudanças, a nívelregional, entre o Neolíticoantigo/médio e o Neolítico final/calcolítico são muito sensíveis evão muito para além dasubstituição dos menires pelasantas: os grandes povoados de fossos, inseridosnum movimento que englobou todo o SWpeninsular e instalados finalmente em solos deelevado potencial agrícola, sugerem um plenodesenvolvimento do modo de vida neolítico.

A presença pontual de cerâmicas de tradiçãoantiga, nomeadamente cerâmicas impressas, emalguns dos povoados de fossos escavados, comoacontece em Juromenha 1, ainda inédito, em LaPijotilla (Hurtado, 1984) ou no povoado do TESP3 (Gonçalves, 1990-1991), aponta para umafiliação indígena dos fundadores dos mais antigosdesses povoados. A continuação de alguns deles(os maiores) ao longo de todo o calcolítico, a pardo aparecimento dos pequenos povoados commuralhas de pedra, com culturas materiaisvirtualmente indestrinçáveis, não me parece apoiara tese dos invasores calcolíticos, metalurgistas eiconoclastas que teriam trazido consigo novasdivindades, traduzidas iconograficamente nossímbolos solares (Gomes, 2002).

Fig. 12.8 - Aspecto das bancadas de xisto, na área da Casa da Moinhola(Foto RafaelHenriques).

Fig. 12.9 - Águas Frias: esboços de placas e placasinacabadas.

258Manuel Calado

A óbvia interacção que certamente existiu ao longo das costas do mediterrâneo, no terceiro milénio a.C.,traduzida, entre outros aspectos, na construção de muralhas e bastiões, desde Chalandriani até ao Zambujal,é provavelmente anterior: um dos fossos do povoado das Águas Frias (Fig. 6.40), colmatado no neolíticofinal, apresenta uma planta curiosamente semelhante à das muralhas calcolíticas...

As próprias comparações entre as placas de xisto e as paletas egípcias pré-dinásticas, ou entre os báculos

Fig. 12.11 - O povoado das Águas Frias e o megalitismo funerário do Alentejo Central.

Fig. 12.10 - O povoado das Águas Frias e as manifestações de arte rupestre, no Alentejo Central.

259Menires do Alentejo Central

e motivos gravados nas ditas paletas (Leisner e Leisner, 1951: 129-138), hoje caídas em desuso, poderiamganhar um novo alcance se assumirmos uma corrente mediterrânica, nos dois sentidos, liberta dasobrigatoriedade do ex oriente lux.

O alastramento das redes de povoamento, para fora das paisagens graníticas do Alentejo Central,afectou primeiro os melhores solos agrícolas, até aí ainda devolutos - numa data ainda incerta, masprovavelmente por volta de 4000 a.C. - e, a partir dos inícios do terceiro milénio, um pouco para todo olado.

Em boa parte deste processo não deve estar ausente um factor clássico das abordagens funcionalistas:o crescimento demográfico. Em paralelo, et pour cause, uma acentuada complexificação social e sériosindícios de competição intercomunitária, marcam certamente uma nova era. Os velhos menires, nesta fase,estão moribundos e muitos deles mesmo enterrados.

Nos recintos dos Almendres, de Vale Maria do Meio ou do Xarez, apesar da monumentalidadeexcepcional de cada um, não ficaram traços que sustentem qualquer tipo de continuidade de uso e, nosnovos territórios para onde enxameou, a partir do Neolítico final, o povoamento pré-histórico da região, nãoparecem ter sido construídos novos monumentos meníricos.

260Manuel Calado

Capítulo 13: Para concluir

261Menires do Alentejo Central

O que sabemos ou julgamos saber sobre os menires do Alentejo Central e as sociedades que elesrepresentam, continua a assentar numa base factual muito limitada e heterogénea. Neste cenário, que,previsivelmente não se alterará nos tempos mais próximos, é legítimo e salutar conceber soluções diferenciadase tê-las em conta na avaliação dos novos dados e na própria gestão da investigação futura. Fechar os olhos apossibilidades alternativas, nesta fase, por muito coerente que seja cada uma das propostas, acarreta, certamente,riscos desnecessários e pode fazer-nos chegar, de forma perversa, a becos sem saída. Significa isto que éimportante manter em aberto avenidas interpretativas distintas (e mesmo contraditórias).

As limitações dos dados disponíveis exigem prudência, porque são eles que determinam o horizonte dasconclusões possíveis que, por sua vez e por princípio, estarão sempre sujeitas a novos testes e revisões.

Antes de mais, a atribuição da maior parte dos menires e, dentro destes, dos monumentos mais imponentes,ao Neolítico antigo, obrigou a um olhar muito diferente sobre a história da neolitização do Alentejo Central. Oquadro das relações geográficas envolvidas no processo, alargou-se, para Norte, à fachada atlântica europeiae os grupos mesolíticos (ou pelo menos os mais dinâmicos) ganharam um protagonismo acrescido.

É certo que este protagonismo, sendo mais fácil de encaixar nas perspectivas indigenistas, nem sequer é,necessariamente, contraditório com o modelo dos enclaves neolíticos: o papel dos presumíveis colonos, ter-se-ia, em última análise, diluído num substrato indígena forte, responsável por uma interpretação original dasnovidades oriundas do Mediterrâneo oriental, em articulação com um fundo cultural de claras afinidadesatlânticas.

Neste processo, não devemos também negligenciar o facto de os caçadores-recolectores do Tejo e do Sado apresentarem alguns dos sintomas das inovações que, no Próximo Oriente, prepararam o terreno para aemergência da economia agro-pastoril.

Note-se, por outro lado, que o reconhecimento de mecanismos de contacto directo de longa distância,com eventuais consequências genéticas, permite relativizar os resultados, sejam eles quais forem, dos estudosgenéticos comparativos, entre as populações mesolíticas e neolíticas.

Jean Guilaine, adepto de uma neolitização de tipo intrusivo, embora com “deslocações limitadas” , sublinha,num texto recente, que “ a Europa não era um deserto quando se difundiram as primeiras comunidades deagricultores”, uma vez que “as populações indígenas, descendentes das brilhantes civilizações paleolíticas,povoavam o antigo continente” (Guilaine e Zammit, 2001: 125).

Com ou sem colonos, uma leitura integrada dos dados disponíveis permite entrever o caráctereminentemente indígena do Neolítico alentejano.

Metaforicamente, poderia afirmar-se que, em termos rituais, o Neolítico não fez mais do que acrescentarneologismos a uma linguagem pré-existente; em termos sociais e económicos, esta continuidade manifesta-senas experiências em curso, desde os inícios do VI milénio a.C., no sentido da sedentarização e dacomplexificação social.

O Alentejo Central surge, por outro lado, como uma área geograficamente coerente com os estuários doTejo e do Sado; litoral e interior são, no contexto histórico que parece ter gerado os menires, concebidoscomo as duas faces da mesma moeda. Trata-se de realidades paisagísticas radicalmente distintas e, em muitosaspectos, mesmo contrastantes. A uni-las, uma rede de caminhos naturais (rios e festos) e, eventualmente,memórias mais antigas, materializadas, por exemplo, no santuário rupestre do Alqueva (e, eventualmente, naGruta do Escoural) e que remetem para a presença, anterior à litoralização do povoamento, de grupospaleolíticos e epipaleolíticos, no interior alentejano. As noções de limites e fronteiras, com repercussões simbólicasnão negligenciáveis (Barnatt, 2001: 96), sobretudo se olharmos a partir dos estuários, parecem ter estruturadoa distribuição dos monumentos e sítios, pelo menos numa primeira fase; povoados e menires parecem reflectir

262Manuel Calado

um protagonismo da própria paisagem, numa forma de discurso simbólico em que o Homem domestica o Céue a Terra, submetendo-se às suas formas e ritmos.

Em textos anteriores, defendi a separação entre megalitismo funerário e não funerário e, partindo de umaanterioridade relativa dos menires no universo megalítico local, avancei a ideia de que o megalitismo, comofenómeno simbólico, só numa fase avançada, se teria “deslocado” do mundo dos vivos para o mundo dosmortos (Calado, 2000a). No entanto, mesmo sem evidências indiscutíveis e com outras aparentementecontraditórias, os menires parecem, desde o início, relacionar-se com o culto dos antepassados; o que falta,certamente, é definir as modalidades desse relacionamento.

A possibilidade da construção simultânea de recintos e antas, não deve ser definitivamente afastada,sobretudo se atendermos às indefinições das fases terminais de uns e iniciais das outras. Porém, de um modogeral, parecem excluir-se espacialmente; os próprios casos, ainda raros e discutíveis, de menires reutilizadosem antas, sugerem também alguma exclusão. Na verdade, é seguro que antas e menires coexistiram nasmesmas paisagens e mesmo que, como parece, não se tenham construído novos menires, alguns dos quesobreviveram mantiveram provavelmente alguma função na estrutura simbólica da paisagem dolménica.

De um modo geral, a substituição dos menires pelas antas, no Alentejo Central, pode ser interpretadacomo uma evolução no seio da própria monumentalidade megalítica; os monumentos, em vez de representaremos antepassados, passam a conter os seus restos mortais; trata-se, de certo modo, da passagem de umaforma embrionária de escultura/estatuária para aquela que é, certamente, uma das mais antigas formas dearquitectura ritual.

Esta passagem pode ter, e provavelmente tem, caminhos complexos. Por um lado, podemos supor umaevolução a partir das pequenas sepulturas, em ferradura ou rectangulares/trapezoidais, que parecem, nalgunscasos mas não em todos, anteceder os verdadeiros sepulcros megalíticos e, por outro, uma conjunção como saber fazer adquirido na erecção de menires.

Algumas datas de monumentos de corredor do Centro-Oeste francês, a confirmarem-se, sugerem umaeventual origem das grandes arquitecturas funerárias megalíticas nessa área. A chegada, aparentemente tardia(Gonçalves, 2003c), desse modelo, ao Alentejo Central, pode ter implicado, desta vez, um movimento lento,de capilaridade (Jorge, 1999; Balbín e Bueno, 2002), muito diferente daquele que as semelhanças entre osmenires bretões e alentejanos, sem paralelos no espaço geográfico que os separa, parecem traduzir. Note-seque, no Norte da Península, dispomos actualmente de datas para monumentos funerários (alguns deles, maismegaxílicos que propriamente megalíticos) bastante anteriores às datas disponíveis para o megalitismo funeráriodo Sul de Portugal (Blas, 2000: 223).

A interiorização do povoamento e o abandono dos concheiros teriam, logicamente, contribuído para essamudança global.

Por outro lado, a reocupação sistemática do interior peninsular, ainda a partir do Neolítico antigo, e aexpansão dessas comunidades, num quadro de prosperidade económica e de crescimento demográfico, criou,finalmente,uma rede de povoamento contínua, ou quase, que facilitaria a transmissão de ideias, modas eprodutos, sem necessidade de viagens de longo curso.

Se o início da construção dos menires se pode encaixar na crise vivida pelas comunidades mesolíticasmais dinâmicas e nos fenómenos de fissão que daí teriam resultado, o abandono dos monumentos e atransferência do investimento colectivo para outras arquitecturas, mais complexas e mais ubíquas, parececorresponder a outra crise. Trata-se, num primeiro momento, do fim das disputas e tensões ideológicas quese subentendem por detrás da sobrevivência, até à primeira metade do V milénio a.C., dos últimos caçadores-recolectores renitentes às mudança; a esta situação global, em que o novo status quo se impôs definitivamente,seguiu-se, aparentemente, uma crise de crescimento, despoletada pela explosão demográfica e pelas novaspossibilidades e exigências decorrentes de um melhor conhecimento do território e do respectivo potencial

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agrícola e pela consolidação de um sistema económico plenamente produtor.Nesta fase, a região manteve uma personalidade cultural muito forte,traduzida na construção de antas de

inexcedível monumentalidade, como é o caso da anta do Zambujeiro (nº3); esta, localizada no mesmoenquadramento micro-paisagístico que os Almendres (a bacia da ribeira de Valverde), surge, possivelmente,como um substituto do recinto megalítico, numa época em que ele deveria já ter entrado em declínio.

Em termos regionais, essa herança parece ter-se materializado na irradiação de um ícone tão bem sucedido,no tempo e no espaço, como foi a placa de xisto.

Uma certa recentragem ritual da região, num território (o dos xistos) a que o Neolítico antigo tinha sidoalheio, sugere um movimento pendular, desses que a focagem na longa duração atesta, em inúmerosregistos,traduzido no regresso, depois da “experiência” dos festos, às paisagens fluviais.

Por fim, o protagonismo do santuário ancestral, eventualmente interrompido durante o Mesolítico e durantea fase de construção dos menires, renova-se, expande-se e expande aparentemente o seu raio de acção,através da exportação das placas de xisto e dos báculos; trata-se, porventura, de um fenómeno que bemconhemos na nossa história recente: após os excessos das revoluções, por mais iconoclastas que tenham sido,muitas das antigas crenças e dos velhos santuários renascem ou recuperam vigor.

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Capítulo 14: Bibliografia

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310Manuel Calado

311Menires do Alentejo Central

Capítulo 15: Anexos

312Manuel Calado

Capítulo 15.1: Mapas

313Menires do Alentejo Central

Mapa 1 - Distribuição dos monumentos e sítios, neolíticos e calcolíticos, no Alentejo Central.

Mapa 2 - Representação cartográfica dos menires do Alentejo Central, em função do peso estimado.

314Manuel Calado

Mapa 3 - Distribuição dos habitats do Neolítico antigo/médio, dos recintos megalíticos e conjuntos de menires.

Mapa 4 - Distribuição dos habitats do Neolítico antigo/médio e dos menires isolados.

315Menires do Alentejo Central

Mapa 5 - Distribuição dos habitats do Neolítico antigo/médio, em função dos elementos de diagnóstico, no AlentejoCentral.

Mapa 6 - Distribuição dos habitats do Neolítico/Calcolítico, em função da presença/ausência de sílex, no Alentejo Central.

316Manuel Calado

Mapa 7 - Distribuição dos tipos de habitats neolíticos e calcolíticos, no Alentejo Central.

Mapa 8 - Distribuição dos achados avulsos (seixos talhados), no Alentejo Central.

317Menires do Alentejo Central

Mapa 9 - Distribuição dos achados avulsos (percutores), no Alentejo Central.

Mapa 10 - Distribuição dos achados avulsos (pedra polida), no Alentejo Central.

318Manuel Calado

Mapa 11 - Distribuição dos achados avulsos (sílex), no Alentejo Central.

Mapa 12 - Distribuição dos monumentos funerários e recintos megalíticos, no Alentejo Central.

319Menires do Alentejo Central

Mapa 13 - Distribuição dos sítios com arte rupestre, no Alentejo Central.

Mapa 14 - Distribuição dos monumentos naturais inventariados e menires, no Alentejo Central.

320Manuel Calado

Mapa 15 - Distribuição dos monires, em função dos substratos geológicos, no Alentejo Central.

Mapa 16 - Distribuição dos menires, em função das exposições do terreno, no Alentejo Central.

321Menires do Alentejo Central

Capítulo 15.2: Fotografias

322Manuel Calado

1

2 3

Foto 1 - O povoado Barrocalinho 17 (nº1990) (Reguengos de Monsaraz) , visto do lado Norte.

Foto 2 - Pormenor do povoado do Barrocalinho 17. Foto 3 - Pormenor do povoado do Barrocalinho 17.

323Menires do Alentejo Central

Foto 4 - Povoado doAlto de S.Bento (nº1698) (Évora).

Foto 5 -Povoado da Valada do Mato (nº1119) (Évora).

324Manuel Calado

Foto 6 - Povoado do Azinhalinho (nº958) (Évora), visto da Valada doMato.

Foto 7 - Afloramentos do povoado de Alcamizes (nº1554)(Évora).

325Menires do Alentejo Central

Foto 8 - Aspecto dos afloramentos no povoado da Casbarra (nº980) (Évora).

Foto 9 - Aspecto dos afloramentos no povoado da Casbarra.

326Manuel Calado

Foto 10 - Aspectos do afloramento central do povoado do Penedo do Ouro 1 (nº1220) (Évora).

Foto 11 - Aspectos do afloramento central do povoado do Penedo do Ouro 11 (Évora).

327Menires do Alentejo Central

Foto 12 - Afloramentos do povoado da Abaneja 3 (nº941) (Évora).

Foto 13 - Afloramentos do povoado da Abaneja 3 (Évora).

328Manuel Calado

Foto 14 - Afloramentos do povoado da Azinheirado Campo 3 (nº966) (Évora).

Foto 15 - Afloramentos do povoado de Monte doCume (nº1929) (Évora)

329Menires do Alentejo Central

Foto 16 - Povoado do Monte do Ramal (nº1931)(Évora).

Foto 17 - Povoado da Oliveira 5 (nº1059) (Évora).

330Manuel Calado

Foto 19 - Afloramentos do povoado de Vale Maria do Meio 11 (Évora).

Foto 18 - Afloramentos do povoado de Vale Maria do Meio11 (nº1136) (Évora).

331Menires do Alentejo Central

Foto 20 - Afloramentos do povoado de Vale Maria do Meio 11 (nº1136) (Évora).

Foto 21 - Afloramentos do povoado de Vale Maria do Meio 11 (Évora).

332Manuel Calado

Foto 22 - Área do povoado do Porro (1659) (Évora).

Foto 23 -Pormenor dos afloramentos no povoado do Zambujal do Conde 1 (nº1865)(Évora).

333Menires do Alentejo Central

Foto 24 - Afloramentos no povoado das Murteiras (nº2204) (Évora).

Foto 25 - Afloramentos no povoado das Murteiras (Évora).

334Manuel Calado

Foto 26 - Afloramentos no povoado das Murteiras (nº2204) (Évora).

Foto 27 - Afloramentos no povoado das Murteiras (Évora).

335Menires do Alentejo Central

Foto 29 - Afloramentos do povoado do Paicão 1 (nº1061) (Évora).

Foto 28 - Afloramentos do povoado do Paicão 3 (nº1063) (Évora).

336Manuel Calado

Foto 30 - Afloramentos do povoado do Paicão 1 (nº1061) (Évora).

Foto 31 - Afloramentos do povoado do Paicão (Évora).

337Menires do Alentejo Central

Fig. 33 - Povoado da Pedra da Moura (nº375) (Arraiolos).

Foto 32 - Povoado da Carrascosa (nº1922)(Évora).

338Manuel Calado

Foto 34 - Afloramentos do povoado dos Atalhos (nº1253)(Redondo).

Foto 35 - Afloramentos do povoado da Pedra Alçada 3 (nº1780) (Alandroal).

339Menires do Alentejo Central

Capítulo 15.3: Estampas de materiais

340Manuel Calado

Estampa 1 - Valada do Mato: materiais de superfície (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

341Menires do Alentejo Central

Estampa 2 - Valada do Mato: materiais de superfície (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

342Manuel Calado

Estampa 3 - Valada do Mato: materiais de superfície (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

343Menires do Alentejo Central

Estampa 4 - Valada do Mato: materiais de superfície (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

344Manuel Calado

Estampa 5 - Valada do Mato: materiais de superfície (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

345Menires do Alentejo Central

Estampa 6 - Valada do Mato: materiais de superfície (pedra lascada) (seg. Calado, 1995).

346Manuel Calado

Estampa 7 - Valada do Mato: materiais de superfície (pedra lascada) (seg. Calado, 1995).

347Menires do Alentejo Central

Estampa 8 - Valada do Mato: materiais de superfície (pedra lascada e polida) (seg. Calado, 1995).

348Manuel Calado

Estampa 9 - Casbarra 2 (2-5); S. Matias (6 e 7); Oliveirinha (8); Montinho 1 (9); Laranjal da Varge (10); Vale Maria doMeio 4 (11); Jarro (12) e Palheireiros (13,14): materiais de superfície (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

349Menires do Alentejo Central

Estampa 10 - Vale Maria do Meio 1 (1); Vale Maria do Meio 4 (2 e 3); Jarro 1 (4); Vale Maria do Meio 12 (5); Jarro 2(6 e 9); Laranjal da Varge (7 e 8): materiais de superfície (cerâmica e líticos) (seg. Calado, 1995).

350Manuel Calado

Estampa 11 - Carrascosa: materiais de superfície da (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

351Menires do Alentejo Central

Estampa 12 - Carrascosa: materiais de superfície (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

352Manuel Calado

Estampa 13 - Carrascosa: materiais de superfície (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

353Menires do Alentejo Central

Estampa 14 - Oliveira 5: materiais de superfície (cerâmica e líticos).

354Manuel Calado

Estampa 15 - Oliveirinha (1-9); Alto de S. Bento (10-13): materiais de superfície (cerâmica).

355Menires do Alentejo Central

Estampa 16 - Quinta do Gato 8: materiais de superfície (cerâmica e líticos).

356Manuel Calado

Estampa 17 - Quinta do Gato 3 (1-2); Freiras (3-10): materiais de superfície (cerâmica e líticos).

357Menires do Alentejo Central

Estampa 18 - Alto de S. Bento (1-26); Almendres (27-37): materiais de superfície (líticos).

358Manuel Calado

Estampa 19 - Barrocalinho 17 (1-41); Barrocalinho 21 (42): materiais de superfície (líticos).

359Menires do Alentejo Central

Estampa 20 - Valada do Mato (1); Penedo do Ouro 11 (2); Serra (3); Vale de Carregais (4); Paicão 1 (5): materiais desuperfície. S. Sebastião (6-11); Vale d’El Rei (12-17): materiais de escavação.

360Manuel Calado

Estampa 21 - Materiais de superfície do povoado do Jarro (cerâmica).

361Menires do Alentejo Central

Estampa 22 - Vale Maria do Meio 4 (1);Vale Maria do Meio 11 (3, 5); Laranjal da Varge 5 (2) e Laranjal da Varge 2 (4): materiais de superfície (cerâmica).

362Manuel Calado

Estampa 23 - Nó Poente (1); Barrocalinhjo 17 (2); Pedra da Moura (3);Vale de Anta (4): materiais de superfície (cerâmica).

363Menires do Alentejo Central

Estampa 24 - Arredores de Vale Maria do Meio: materiais de superfície (cerâmica).