HÁBITOS DE ESTUDOS EM ADOLESCENTES DO ENSINO BÁSICO

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Universidade de São Paulo Faculdade de Educação Departamento de Filosofia da Educação e Ciência da Educação Trabalho de Estágio: HÁBITOS DE ESTUDOS EM ADOLESCENTES DO ENSINO BÁSICO Disciplina: EDF -298 Práticas Escolares, Diversidade, Subjetividade Professora Doutora Sílvia M. Gasparian Colello Alunos: Leonardo Araujo Cardeal Da Costa Nº USP: 6475168 Renan Coradine Meireles Nº USP: 6841267

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Universidade de São Paulo

Faculdade de Educação

Departamento de Filosofia da Educação e

Ciência da Educação

Trabalho de Estágio:

HÁBITOS DE ESTUDOS EM ADOLESCENTES DOENSINO BÁSICO

Disciplina: EDF -298 Práticas Escolares, Diversidade,

Subjetividade

Professora Doutora Sílvia M. Gasparian Colello

Alunos: Leonardo Araujo Cardeal Da Costa Nº USP: 6475168

Renan Coradine Meireles Nº USP: 6841267

São Paulo

1º Semestre de 2012

HÁBITOS DE ESTUDOS EM ADOLESCENTES DO ENSINOBÁSICO

Introdução.

Uma das maiores queixas dos professores das escolas do

ensino básico é a falta de interesse dos alunos,

principalmente os adolescentes, em estudar e/ou aprender.

Professores creditam, conforme observamos no estágio,

o desinteresse juvenil como próprio da idade (fator

biológico), dos problemas familiares (ausência/falta de

apoio dos pais), ou mesmo ao comportamento dos estudantes

que não se comprometem as aulas, muito devido as atuais

tecnologias muito avançadas como celular, i-pod, i-touch,

internet com as quais a escola e os professores não

conseguem mais competir.

Por certo ponto de vista, a fala dos professores é

razoável, pois realmente a escola ficou defasada em relação

ao mundo, ela manteve sua mesma estrutura já muito antiga,

enquanto que a juventude se transformou bastante nesses

últimos tempos.

2

A organização escolar que obriga ao aluno ficar muito

tempo sentado, que não diversifica as atividades

curriculares, que não releva o pensamento dos alunos e

desconsidera outras formas de aprender.

As estratégias pedagógicas precisam ser repensadas1.

Bem como toda formação docente e sua posterior valorização

(em todos os sentidos2), hoje muito fragilizada que não

atende aos interesses dos alunos, gerando frustações para

ambos os lados. Temos uma escola do século XIX, com

professores do século XX para alunos do século XXI.

Buscamos, assim, compreender está questão pelo viés

dos alunos ao ouvi-los e ao aplicarmos um questionário

sobre hábitos de estudo, implicando perguntas sobre

interesses e estratégias praticadas pelos alunos durante

seus estudos e como eles se auto avaliam diante o ambiente

que estudam.

Refletir sobre o hábito de estudos é sobretudo pensar

a prática dos estudantes, seu posicionamento e postura

frente ao processo de aprendizagem e a escola como um todo.

Além, de permitir repensar algumas situações como o

fracasso escolar e indisciplina tão recorrentes para

explicar as dificuldades enfrentadas pelos professores para

ensinar e fazer os alunos aprenderem.

1Os interesses dos alunos não estão no conteúdo e sim para as questõesde sua realidade. O professor tem que descobrir as experiências,vivências dos alunos e ser sujeitos transformadores da escola.2 Pois eles têm seu trabalho socialmente degradado na sociedade, comsalários baixos, tendo que trabalhar o dia inteiro para podersobreviver, não conseguindo pensar em problemas além deles.

3

Pra tanto, devemos considerar como os alunos adquirem

conhecimento, o que está diretamente relacionado com o

desenvolvimento humano. A pesquisa pautou-se em

adolescentes do último ano do ensino médio, no qual supomos

a partir das teorias de Jean Piaget, já tenham consolidado

conceitos abstratos que exigem operações mentais

superiores, com consciência da sua forma de pensar e

justificar seu pensamento (VASCONCELOS, 2010: 83).

Segundo Leila Maria Ferreira Salles (2000: 135);

Para o adolescente, a escola e os estudos são ummeio para a concretização dos seus desejos, de suasaspirações e de suas expectativas futuras. (...) Oadolescente enfatiza a importância dos estudos parao seu futuro, para ascensão social, para garantir umcerto status e obter certa estabilidade financeira.Contudo, a importância percebida por ele de estudarpara ter um futuro melhor não se traduznecessariamente em gostar de estudar.

Dessa maneira, a partir do questionário respondido

pelos alunos, pretendemos problematizar o que as teorias

falam sobre o adolescente e sua relação com os estudos,

defrontando-as com a realidade da escola básica e verificar

as contradições dos discursos juvenis entre a necessidade e

a vontade em estudar, como bem questiona Salles, em seu

texto “Desvelando a Escola – o adolescente, o professor do

aluno adolescente e a indisciplina na escola”, do qual nos

baseamos para esta pesquisa.

4

Objetivos.

A disciplina “Prática escolares, subjetividade e

diversidade” tem como proposta a discussão de questões

relacionadas à prática e ao cotidiano escolar, abordando-os

a partir de uma base teórica advinda da psicologia da

educação.

A partir disso, foi pensado um trabalho de campo que

pudesse trazer à tona alguns problemas latentes na educação

básica e que por poucas vezes são observados, teorizados e,

consequentemente, resolvidos. A temática escolhida foi

hábitos e estratégias de estudo em adolescentes.

Considerando os conteúdos debatidos em sala de aula e

a própria vivência no estágio, julgamos esta temática como

fundamental na vida estudantil, visto que, é uma questão

pouco discutida e parte constitutiva da aprendizagem de

qualquer estudante.

Com esta pesquisa nas escolas tivemos a intenção de

descobrir quais os hábitos e estratégias de estudos dos

alunos de terceiro ano do ensino médio, adolescentes que

estão terminando o ciclo escolar, caminhando para a

Universidade ou o mercado de trabalho.

Portanto, nossos objetivos gerais são: coletar dados,

através de questionários e conversas nas escolas, visando à

descoberta dos hábitos e estratégias de estudo dos alunos

de escola pública; analisar os dados coletados, no intuito

de fazer um panorama geral das práticas a esse respeito;

analisar as possíveis diferenças entre a escola na

5

metrópole e a escola no interior do estado, e por último,

relacionar a análise dos dados com as discussões feitas em

sala de aula e os textos lidos durante a disciplina.

Alguns objetivos específicos também foram propostos,

acerca de: saber se os alunos gostam ou não de estudar; se

estudam fora do horário próprio das aulas e onde estudam;

quantos dias por semana e por quanto tempo por dia estudam;

quais as condições físicas do local de estudo; e a relação

dos estudos e as avaliações.

Metodologia.

O trabalho proposto foi realizado a partir de dois

métodos de pesquisa: a observação do cotidiano escolar e a

conversa com professores, alunos e funcionários da escola e

um questionário para os alunos.

Nestas conversas, prioritariamente com professores e

coordenadores pudemos levantar pontos importantes acerca da

relação da escola e dos professores para com os alunos, no

que diz respeito aos hábitos e estratégias de estudo.

Nos questionários (anexos) tentamos formular questões

objetivas e subjetivas. Em geral as questões foram

propostas com o objetivo de demarcar as ações dos alunos no

que se refere aos estudos fora da sala de aula, embarcando

características físicas do local, tempo de estudo,

periodicidade e qual a relação “afetiva” destes alunos com

o estudo.

6

Tais questionários foram aplicados em duas escolas:

uma na metrópole de São Paulo, a Escola Estadual Professor

Vicente Peixoto localizada em Osasco; e outra no interior

do estado, Escola Estadual Osmarina Sedeh Padilha em

Pirassununga. Os alunos tiveram 20 minutos para responder

as questões. Algumas dúvidas sobre as questões foram

sanadas durante a aplicação do questionário.

Dados objetivos e análise.

Neste item iremos fazer uma analise quantitativa dos

dados coletados nos questionários respondidos pelos alunos

do terceiro ano do ensino médio das duas escolas.

Ao todo foram questionados 81 alunos de duas escolas e

três turnos diferentes, sendo 26 do noturno, 35 do diurno,

ambos da escola situada na capital e 20 alunos do

vespertino da escola do interior.

7

37 %

63%

Porcentagem de alunos: Homens e Mulheres

HomensMulheres

Em todas as turmas questionadas há um número superior

de alunos do sexo feminino. Do número total de alunos, 51

são do sexo feminino e 30 do sexo masculino, portanto, 63%

dos entrevistados são mulheres e apenas 37% são homens.

71,6%

28,4%

Vai prestar algum vestibular este ano?

SimNão

8

Em todas as turmas questionadas a maioria respondeu

afirmativamente a questão sobre “se vai prestar

vestibular”. Dos 81 alunos, 58 responderam que sim e 23

responderam que não, portanto, 71,6% dos participantes irão

prestar vestibular esse ano e 28,4% não irão participar.

75,3%

24,7 %

Você gosta de estudar?

SimNão

Em todas as turmas participantes, a maioria responde

que gosta de estudar, sendo dos 81 participantes, 61

respondendo que “sim” e 20 respondendo que “não”, portanto,

75,3% e 24,7%, respectivamente.

Importante citar que, mesmo respondendo que gostam de

estudar, grande parte destes estudantes não estudam ou o

faz pouco, e justificam-se dizem que fatores como cansaço e

dificuldades em algumas disciplinas.

9

71,6%

28,4%

Você gosta do local em que estuda?

SimNão

Neste e nos próximos quatro itens nosso objetivo foi

de descobrir qual a relação do aluno com o seu local de

estudo em casa ou na escola. Se este local é o que ele

gosta para estudar, se viabiliza o estudo e se o estudante

se sente confortável.

Neste item 58 dos 81 estudantes responderam que gostam

do local em que estudam, sendo isso representado por 71,6%

do total.

10

39,5%

60,5%

O local é silencioso?

SimNão

Neste quesito, grande parte dos estudantes responderam

que estudam em lugares barulhentos. Dos 81 participantes,

49 (60,5%) responderam que não estudam em locais

silenciosos e 32 (39,5%) que sim.

92,5%

7,5%

O local é bem iluminado?

SimNão

11

Neste item sobre a iluminação do local de estudo, 75

(92,5%) dos 81 estudantes responderam que o local é bem

iluminado. Apenas 6 (7,5%) disseram que não.

55,5%

44,5%

O local é confortável?

SimNão

Dos 81 estudantes, 45 (55,5%) responderam que o local

de estudo é confortável. Já 36 (44,5%) responderam que o

local de estudo não é confortável.

12

40,5%

59,5%

É um local específico para estudo?

SimNão

Neste item, 47 (59,5%) dos alunos responderam que o

local onde estudam não é próprio para essa atividade.

27,1%

20,9%

6,1%

45,6%

Qual a periodicidade de estudo? (semanal)

1-2 dias3-5 diasNenhum diaSomente antes das provas

Neste e no próximo item, a intenção foi de

contabilizar a quantidade de tempo e a periodicidade de

estudo dos alunos. Neste item, grande parte dos alunos, 37

(45,6%) dizem só estudar antes das provas.13

71,6 %

20,9%

7,4 %

Quando estuda, o faz por quanto tempo? (dia)

Até 2 horas2-4 horasMais de 4 horas

Grande parte dos estudantes, 58 (71,6%) responderam

que estudam até duas horas por dia, quando se propõem a

estudar. Apenas 7,4% dos estudantes estudam mais de quatro

horas por dia.

14,3%

18,1%

58,5%

9,1%

Sobre os resultados dos seus estudos, responda.

Estudo muito e vou bem nas provasEstudo muito e vou mal nas provasEstudo pouco e vou bem nas provasEstudo pouco e vou mal nas provas

14

Neste item, a maioria dos estudantes, 45 (58,4%),

responderam que em geral estudam pouco e vão bem nas

provas. Já 14 estudantes, o que equivale a 18,1% disse o

contrário, que estuda muito e vai mal nas provas. Ainda,

dos 81 entrevistados, 11 (14,3%) estuda muito e vai bem nas

provas e 7 (9,1%) diz que estuda muito e vai bem nas

provas.

A partir da análise dos dados citados acima é possível

concluir logicamente alguns fatores referentes aos hábitos

e estratégias dos estudantes.

Por se tratar de turmas de terceiro ano do ensino

médio, grande parte dos estudantes vai prestar vestibular

no fim do ano, apesar de percebermos que, a maioria deles

não possui uma periodicidade de estudos. Grande parte dos

alunos diz só estudar antes das provas e por menos de duas

horas.

Outro item interessante a ser citado é acerca do

cruzamento da resposta da questão sobre “se gosta e não de

estudar” e a periodicidade e tempo de estudo. Uma grande

maioria disse que gosta de estudar, porém, podemos perceber

que grande parte deles estuda apenas antes das provas e por

muito pouco tempo. Nas questões subjetivas alegam problemas

que influem nesta questão, dentre eles; cansaço, preguiça

ou falta de tempo.

Sobre o local de estudo propriamente dito, grande

maioria diz gostar do local, porém, é um local barulhento e

não específico para estudo. Grande parte dos estudantes

disse que estudam em locais da casa como sala, quarto e

15

cozinha. Muitos citam o barulho e a competição com a

televisão ou o computador como entraves aos estudos.

Sobre os hábitos de estudo podemos concluir que a

maioria esmagadora dos estudantes não possui uma rotina

diária de estudos e um local próprio para estudo,

confortável e silencioso.

Analise dos dados subjetivos.

Em relação às respostas mais subjetivas como a

justificativa pelo hábito ou não de estudar encontramos

respostas variadas, porém as mais frequentes foram:

Estudam por que é importante para o futuro,

principalmente para o vestibular, traz

conhecimento e pode ser um caminho para obter

sucesso. Interessante destacar, que os alunos do

período noturno responderam, em um número mais

relevante, que estudam para conquistar um bom

emprego ou conseguir uma boa carreira

profissional. No caso dos alunos do interior, o

que chamou a atenção foi os poucos comentários

sobre a questão do vestibular.

Não estudam, pois há uma competição com as

tecnologias da informação, eles preferem assistir

televisão, mexer no celular, navegar na internet,

entre outros. Já o cansaço, a falta de vontade e

de tempo podem ser notados mais nos alunos do

noturno, visto que muitos trabalham.

16

Legal, que em um questionário, de uma aluna do diurno

da EE Prof. Vicente Peixoto, escreveu um comentário à

parte, no canto inferior da folha, nos pedindo ajuda para o

vestibular: “Já que vocês estudam em uma ótima faculdade, poderiam me

dar umas dicas como ir bem no vestibular? [email protected] – entrem em

contato!”.3

Algumas respostas, no mínimo interessantes,

gostaríamos de destacar:

- Sobre não gostar de estudar – “Sei lá, tem que pensar e não

gosto muito.”; ”Porque eu já cansei de vir para a escola de ônibus.”; “Minha

vida inteira estudando cansa.”; “Pois tenho que me esforçar muito. Prefiro

poupar energia”; “Pois já estou trabalhando e ganhando um salário fixo”; “Não

tenho tempo”; “Não tenho paciência.”; “Porque odeio tudo”.

- Sobre gostar de estudar – “O aprendizado é único, algo que

não perdemos.”; “Estudar é muito importante, para ter um bom futuro,

conseguir passar nos vestibulares de universidades públicas federais, ter um

bom desempenho, um bom emprego e muito conhecimento.”; “Quero daqui

alguns anos estar com minha vida pronta, carreira de sucesso, quero ter uma

vida social boa, fazer o que gosto e ganhar bem. Estudar é sempre bom!”; “Sim,

alguma matérias, para eu poder ter conhecimentos e também conseguir um

bom emprego e claro para poder ter uma vida pouco melhor. Por exemplo:

saber o que falar para não magoar as pessoas ao meu redor.”.

Ao serem questionados sobre suas estratégias de

estudos, os alunos elencaram, de forma geral que leem,

3 Tentamos entrar em contato, mas até agora, ela ainda não respondeu aonosso email.

17

decoram, memorizam, releem os textos e realizam resumos e

mostram preocupação com os exercícios de matemática (buscam

refazê-los como forma de estudo). Muito poucos citaram que

pedem ajuda a alguém que saiba do assunto, como o

professor, os pais ou irmãos. Apenas uma aluno relatou que

trabalhar em grupo é uma boa estratégia.

Os alunos, geralmente, não estudam da mesma forma,

pois isso vai depender da matéria e do professor. Alguns

aprofundam seus estudos nas matérias que consideram mais

difíceis; uns se concentram mais nas matérias que

compreendem serem mais úteis para eles; outros se focam

mais nas matérias em que os professores são mais rigorosos.

Muitos só estudam mesmo para as provas, como evidencia o

aluno da EE Prof. Vicente Peixoto do diurno: “Eu estudo

mesmo, só antes das provas.”.

Para os alunos os fatores que atrapalham os seus

estudos, em sua maioria, são a preguiça, a bagunça, o

barulho, a falta de motivação e interesse dos professores,

a falta de tempo (mais da turma do noturno) a internet, a

televisão, o video game, as músicas e a própria

adolescência (com isso, achamos que eles queriam dizer que

na adolescência eles têm outras preocupações mais

importantes do que a escola e estudar), além de não se

sentirem motivados para estudar. O fator que mais ajuda,

segundo a grande maioria, é o silêncio; os livros e

internet também contribuem para favorecer os estudos, pois

com eles, os alunos conseguem adquirir mais informações. A

18

força de vontade própria do aluno também aparece nas

repostas, muito por conta do vestibular.

Um aspecto importante, é que alguns alunos ó mantém o

interesse se o professor mostrar vontade e dedicação, como

vemos nessa fala de um aluno do noturno da EE Prof. Vicente

Peixoto: “Somente com determinados professores. O meu interesse surge

com a competência do professor.” Outro aluno desta mesma turma

enfatiza: “A escola deveria ter uns professores melhores, que ensine, em

vez de falar besteira, que não tem nada a vê com a aula.”. Os alunos do

diurno dessa escola dizem: “O que atrapalha [meus estudos] são

os professores desinteressados e o que ajuda são os professores que se

importam.”. “Os professores, alguns não sabem ensinar, mal aprendizado e

mal humor da parte de alguns deles.”.

Por fim, algo que nos impressionou ao ler as respostas

dos alunos foi a dificuldade que eles possuem para elaborar

a redação (que não exigia muito esforço, era apenas

escrever um simples parágrafo), principalmente naqueles que

não demonstraram interesses em estudar. Os erros eram

gramaticais e ortográficos, algo significante para alunos

que já estão há onze anos na escola (evidenciando como eles

estão defasados na aprendizagem)4. Durante a aplicação dos

questionários os alunos sempre perguntavam como se escreve

tal palavra.4 Uma curiosidade, na EE Prof. Vicente Peixoto, no período do diurno,antes de iniciar a aplicação do questionário, pedimos a uma aluna paraescrever na lousa “questionário sobre hábitos de estudos”. Então, aaluna começou a escrever e fomo explicar a nossa pesquisa para a sala.Porém a aluna escreveu a palavra hábitos errado na lousa, estavaescrito “ábtos” e o professor responsável da aula percebeu isso e tirousarro da aluna diante de toda a classe. A aluna rapidamente apagoutudo que estava escrito na lousa e foi se sentar no seu lugar, com umrosto bem envergonhado. Não sabíamos o que fazer, foi uma situaçãomuito embaraçosa.

19

Análise Geral.

As duas escolas analisadas constituem-se de um modelo

empirista, em que a educação é vista como um arranjo de

condições para conduzir o aluno ao conhecimento. A escola é

uma espécie de agência sistematizadora de uma certa cultura

pré-estabelecida (concepção estática do saber), onde o

professor é o representante do saber e transmissor do

conhecimento.

Ao realizar este estudo, podemos defrontar a realidade

escolar e a ação educativa, entre uma macroesfera (dos

projetos pedagógicos que visam promover valores e respeito)

e uma microesfera (dos pequenos acontecimentos que ocorrem

no cotidiano escolar que obrigam os envolvidos a realizar

uma decisão), principalmente dos alunos de ensino médio que

são preparados para o social, para o mundo.

Importante frisar, que apesar de encontramos algumas

respostas semelhantes, não é possível homogeneizar os tipos

de estudantes, pois nenhum aluno (principalmente

adolescente) é igual, possuem experiências e histórias

diferentes, definindo uma singularidade do sujeito, como

retratou Lev Vygostsky sobre os planos genéticos, mais

especificamente, a microgênese.

Acreditamos ser acertado focarmos os hábitos de

estudos em alunos adolescentes, pois a adolescência pode

ser considerada um estágio intermediário da infância para a

idade adulta, um momento paradoxal, envolvendo oscilações,

20

ambivalências, conflitos e contradições, o que torna os

jovens muitas vezes incompreendidos (pelos professores,

pais, sociedade).

Durante esse período, pelo ponto de vista social, o

adolescente entra em confronto e crise em suas relações

familiares (a conquista de autonomia e a necessidade de

autoafirmação), há um fortalecimento do grupo de amizades

(para identificação e segurança), o que acaba por gerar uma

re-significação da escola e dos estudos.

Também, os jovens passam por novas experiências e

descobertas, potencializando a necessidade de explorações e

vivências (ocasionando novos relacionamentos, curiosidades,

dúvidas e angústias). Ainda mais, os alunos do terceiro ano

do ensino médio, que enfrentam a difícil opção de escolher

uma profissão (ou o que fazer depois de terminar a escola

básica), e sofrem com pressões sociais para obter

realizações (passar no vestibular, por exemplo, ou

enfrentando as dificuldades e oportunidades de inserção no

mercado de trabalho).

Um fato que nos chamou muita atenção foi a

espontaneidade de alguns alunos quando souberam que teriam

que responder um questionário sobre hábitos de estudos,

pois alguns alunos falaram: “ih, a gente tem que ter hábitos de

estudo?” ou “ Não vou responder não, não estudo!”.

Notamos, e isso foi planejado durante a elaboração

dessa atividade de campo, algumas diferenças sobre os

estudos entre alunos que frequentam as aulas do matutino,

do vespertino e do noturno. O rendimento de estudos dos

21

alunos da manhã e da tarde é um pouco superior ao da noite,

por vários motivos, entre eles podemos destacar: o aluno do

diurno, geralmente está mais descansado, o professor também

está e isso diminui sua impaciência, são mais tolerantes

(percebemos os professores muito mais nervosos, dando

muitas broncas). À noite o índice de frequência em aulas é

bem menor, os alunos faltam muito, principalmente nas

sextas, o número de alunos cabulando também é mais

expressivo, além do que muitos não assistem à última aula

alegando o fato de o horário ser tarde e já muito perigoso

(e que precisam pegar ônibus para voltar à casa). A noite

os alunos reclamam mais de sono e cansaço.

Considerações Finais.

Julio R. Groppa Aquino, em “A desordem da na relação

professor-aluno: indisciplina, moralidade e conhecimento“

salienta que (1996: 52):...jovens, por incrível que pareça, são

absolutamente ávidos por saber, pelo convite àdescoberta, pela ultrapassagem do óbvio, desde quesejam convocados e investigados para tanto. Tudodepende, pois, da proposta por maio da qual oconhecimento é formulado e gerenciado nessemicrocosmo que é cada sala de aula.

O problema reside nas relações entre escola, professor

e aluno, que não devem ser analisados isoladamente, mas

pensar nos interesses comuns entre eles é o caminho para

melhor potencializar o rendimento escolar dos alunos,

atendendo as suas expectativas.

22

Acreditamos que é preciso repensar as metodologias de

ensino, os conteúdos e primordialmente a relação do aluno

com a escola, com os estudos, a partir de uma postura mais

dialógica por parte dos educadores que possuem um papel

importante como mediadores pedagógicos, numa permanente

adequação e reorientação das estratégias de ensino adotadas

para atingir os interesses dos alunos, ou seja, a relação

professor-aluno torna-se o centro do trabalho pedagógico

(AQUINO, 1996: 53).

Nos cabe questionar o que a escola quer valorizar?5

Talvez as bases curriculares que originaram a escolaridade

no século XIX não estejam correspondendo as necessidades

dessa época atual. Ao conhecer a realidade dos alunos em

seus cotidianos, seja na metrópole, seja no interior,

percebemos que é preciso pensar novas estratégias e

experiências diversas para fomentar os hábitos de estudo

dos alunos.

Considerar outras formas de conhecimento (por exemplo,

encontramos um aluno que dedica seu tempo para a educação

musical, é violinista e, ao conversarmos, ele nos disse que

se sentia pouco valorizado pelos professores devido a suas

notas que nem sempre são boas), outros tipos de

inteligência e, essencialmente, valorizar os alunos como

sujeitos pensantes, participativos de todo processo escolar

e trazer pertinência aos conhecimentos significativos a

5 O problema está na questão da abordagem, com que concepção oprofessor entra em uma sala de aula? Por isso, a discussão da falta deinteresse do aluno tem que ser revisitada, será que é desinteresse? Ouuma falta de compreensão do que se quer propor?

23

eles, é uma possibilidade de potencializar e trazer o

interesse e a motivação ao ato de estudar.

Basta criar condições para os alunos se desenvolverem

e a acreditarem que o estudo tenha sentido para a sua vida,

pois, apesar de serem estudantes do último ano, muitos

ainda não despertaram para o conflito: a escola não é só

para obter conteúdo para algum conhecimento, mas pelo

contrário, ela tem um papel muito maior, o de prepará-lo

para o mundo, para a vida, para as escolhas e tomadas de

decisões, enfim, para seu futuro6.

Impossível não perguntar e refletir sobre o que é

escola e qual o seu papel, seu objetivo, como surgiu e para

quê e para quem? Perguntas que não foram ou não são

questionadas. Falta pensar mais na questão das necessidades

e das motivações no debate sobre ensino-aprendizagem na

escola, para de redimensionar a relação entre o ensinar e o

aprender.

Referências Bibliográficas

AQUINO, Julio Groppa. A desordem na relação professor-

aluno: Indisciplina, moralidade e conhecimento. In: AQUINO,

Julio Groppa (org.). Indisciplina na Escola: alternativas

teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996.

6 É isso que, pelo menos, deveríamos esperar de um aluno no final doensino médio, um sujeito autônomo, e até mesmo com pensamento crítico,que nada mais é que um processo interno (não de conteúdo), que torna apessoa capaz de olhar o processo de elaboração do pensamento, ou capazda possibilidade de se aprender.

24

SALLES, Leila Maria Ferreira. Desvelando a Escola: o

adolescente, o professor do aluno adolescente e a

indisciplina na escola. In: SALLES, L M. F; LEITE, C. D;

LOUVEIRA, M B (Orgs.). Educação, Psicologia e

Contemporaneidade: novas formas de olhar para escola.

Taubaté, São Paulo: Cabral Universitária, 2000, p. 131-154.

VASCONCELOS, Mário Sérgio. O caminho cognitivo do

conhecimento. In: STAREPRAVO, A.R.; TRINDADE, R.;

VASCONCELOS, M. S.; FURTADO, J. C. ; ROMANELLI, E. J.

Desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem escolar.

Curitiba: Editora Melo, 2010, v. 1, p. 71-84.

Anexo.

QUESTIONÁRIO para alunos de 3º ano do Ensino Médio.

1. Idade: ( ) Sexo: ( ) Masculino( ) Feminino

2. Vai prestar algum vestibular este ano? ( )Sim( )Não

3. Você gosta de estudar ? Sim ( ) Não ( )

Justifique.

25

4. Onde você costuma estudar quando não está em aula?

a) Não estudo ( )

b) Em casa ( ) - No quarto ( ) Na sala ( ) Outro

local ( ) Qual:________________

c) Na escola ( ) - Sala ( ) Biblioteca ( ) Outro

local ( ) Qual:________________

5. Sobre seu local e hábitos de estudo, assinale SIM ou

NÃO.

26

a) Você gosta do local em que estuda?

( )SIM ( )NÃO

b) O local é silencioso?

( )SIM ( )NÃO

c) O local é bem iluminado? ( )SIM

( )NÃO

d) O local é confortável?

( )SIM ( )NÃO

e) Você estuda sentado? (

)SIM ( ) NÃO

f) Você estuda deitado?

( )SIM ( )NÃO

g) É um local específico para estudo?

( )SIM ( )NÃO

h) Há outra característica que queira descrever?

( )SIM ( )NÃO

Qual(ais)?

6. Qual a periodicidade de estudo? (semanal)

( ) 1 a 2 dias ( ) 3 a 5 dias ( )

nenhuma ( ) somente antes das provas

7. Quando estuda, o faz por quanto tempo? (dia)

( ) até 2 horas ( ) 2 a 4 horas ( )

mais de 4 horas27

8. Quais são suas estratégias de estudo? Você estuda damesma forma para todas as disciplinas? Justifique.

9. Quais são os fatores que ajudam e atrapalham seusestudos?

10. Sobre os resultados dos seus estudos, responda.( ) Estudo muito e vou bem nas provas.( ) Estudo muito e vou mal nas provas.( ) Estudo pouco e vou bem nas provas.( ) Estudo pouco e vou mal nas provas

11. Como você avalia os resultados dos seus estudos?

28

29