GUERRA DO PELOPONESO: CONSEQUENCIAS DA DISSOLUÇÃO DO PROJETO DE DELOS E IMPLANTAÇÃO DO MODELO...
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GUERRA DO PELOPONESO: CONSEQUENCIAS DA DISSOLUÇÃO DO
PROJETO DE DELOS E IMPLANTAÇÃO DO MODELO ESPARTANO EM
ATENAS
GUIMARAES, Karem Gabriele
Graduando em Licenciatura em História – PUCPR
KOBLITZ, Guilherme Rosa
Graduando em Licenciatura em História – PUCPR
PADILHA, Lucas André Marinho
Graduando em Licenciatura em História – PUCPR
RESUMO
Analise histórica, a partir dos levantamentosbibliográficos dos historiadores Mossé, Kitto, Tucídides,sendo usado a obra de Tucídides como fonte primária sobre aGuerra do Peloponeso. Essa pesquisa tem como objetivoapresentar como se deu início a Guerra do Peloponeso, alémde mostrar como a guerra causou o enfraquecimento de Atenasno território, a destituição da Confederação de Delos e porfim as consequências para a democracia ateniense e a reaçãoda população. A escolha sobre a Guerra do Peloponesojustifica-se pela contemporaneidade que pode ser atribuídaao cenário político da época. Além disso, a comoção militarempregada pelos estados gregos na época foi algo inovador.Houveram a criação de duas alianças, cada qual com sualiderança soberana (Liga do Peloponeso com Esparta, eConfederação de Delos com Atenas), que juntas empregaramgastos em recursos materiais, escalas de soldados e homensem armas e confrontos navais nunca antes vistos em talescala naquela região, entre a Ásia menor e a Sicília. Alémdisso, a criação de estratégias se mostrou extremamentepresente.
Palavras-chave: Guerra do Peloponeso, Confederação de Delos
1. INTRODUÇÃO -
O tema gira em torno da tensão, guerra e pós-guerra
que existiu entre a cidade de Atenas e Esparta e suas
respectivas aliadas. Trata de tensões políticas que
existiram no pós-guerra e do grande despendimento de
recursos e estratégias para angariar aliados e derrotar os
adversários.
Essa abordagem possui relevância na área por
apresentar tais fatos de forma muito bem fundamentada, o
que possibilita um entendimento amplo sobre as transações e
acordos políticos da época, e toda a instauração de um medo
causado pelo crescimento exacerbado de Atenas. O recorte
temporal vai ilustrar o período do pós-guerra, onde
poderemos ver quais foram as consequências da dissolução do
projeto de Delos e da implantação do modelo militarista
espartano em Atenas após a guerra do Peloponeso. É nesse
período que se passa a queda do projeto de Delos, e a
ascensão de Esparta sobre os derrotados. Segundo Le Goff
(1999,p.101):
(I) Ler o presente, o acontecimento, com umaprofundidade histórica suficiente epertinente; (II)manifestar quanto a suas fontes o espírito críticode todos oshistoriadores segundo os métodosadaptados a suas fontes; (III) não se contentaremdescrever e contar, mas esforçar-se paraexplicar; e por fim, (IV) tentar hierarquizarosfatos, distinguir o incidente do fatosignificativo e importante...
Entende-se pois então que para o entendimento do
tema e uma explanação clara e consistente do objeto
abordado, a fim de atingir os objetivos da pesquisa,
necessita-se de uma metodologia concisa e de fontes para
auxiliar a pesquisa, embasando todo conteúdo nos autores
pesquisados.
Com isso, Tucídides se torna a principal fonte
primária a ser utilizada, trazendo grandes quantidades de
informações, uma vez que ele foi estratego na época da Guerra
do Peloponeso.
Entre os autores utilizados para interpretarTucídides, podemos citar Humphrey Kitto, Claude Mossé,Donald Kagan, Indro Montanelli, Le Goff, entre outros, quepor meio de suas obras possibilitam um maior entendimentoacerca da Grécia do período, e, pontualmente, sobre aGuerra do Peloponeso e suas consequências em si.
2. O FIM DA GUERRA E O DESENROLAR POLÍTICO -
A guerra do Peloponeso é iniciada decorrente de muitas
intrigas no perímetro grego. Ocorreu no período de 431 a.C
até 404 a.C, 27 anos de guerra intercalados entre momentos
ora de combate, ora de paz, e envolve principalmente as duas
potências gregas da época: Atenas, potência marítima,
carregada de sua democracia efervescente, e Esparta, potência
terrestre, de sociedade militarizada e oligárquica. A
narrativa é desenvolvida ao redor de personalidades marcantes
e sempre direcionada ao registro dos eventos feito pelo
historiador contemporâneo a época, Tucídides (460 a.C - 400
a.C).
Muitos fatores contribuíram para o estopim da guerra do
Peloponeso. Atenas na época controlava o comércio marítimo, e
recebia muitos tributos de aliados da região, que, para serem
beneficiados por esse domínio, se juntaram a polis. A essa
parceria, deu-se o nome de Confederação de Delos ou Liga de
Delos. Sobre a confederação, o historiador Indro Montanelli
(1962, p. 242) deixou uma breve e eficaz explicação em seu
livro História dos Gregos.
O império de Atenas se chamava Confederação, como odos ingleses se chamava Commonwealth. Mas o que, narealidade, se escondia sob esse nome hipocritamentedemocrático e igualitário era o controle comercial epolítico de Atenas sobre as cidades que faziam parteda Confederação.
O que ele quer dizer é que já era visível naquele
momento que Atenas apresentava intenções expansionistas por
meio de sua democracia, para exercer um domínio político na
região. Outro trecho do historiador Montanelli (1962, p. 241)
auxilia na compreensão desse fato: "Péricles não fez política
externa diversa da que qualquer outro teria feito, em seu
lugar. Para Atenas não havia alternativa: ou ser um império
ou não ser nada". Motivos para essa tentativa de expansão não
faltavam: o espaço territorial de Atenas não era muito grande
e tinha condições péssimas para plantio ou exploração de
matérias-primas. Essas razões já contribuíram com o passar
dos séculos para o desenvolvimento do domínio comercial de
Atenas, como forma de sobrevivência naquele local. Mas essas
tendências claramente irritavam seus rivais na região, os
espartanos. Esparta chegou a fazer parte da Confederação de
Delos, mas quando começou a perceber os rumos maliciosos que
a liga tomava em favor dos atenienses, resolveu tomar as
rédeas em defesa da liberdade e da autonomia das cidades
gregas, fundando assim uma liga que levaria o nome de Liga do
Peloponeso. Esta acabaria tendo adesão de muitas cidades-
estado que se mostravam descontentes com Atenas, e resolviam
por abandonar o projeto de Delos liderado pela mesma.
Houveram, de fato, tentativas de resolver as
divergências antes mesmo que a guerra estourasse. Serão
enviadas embaixadas à Atenas, vindas de Esparta, para tentar
negociações. A primeira não ofereceu resultado algum. Já a
segunda viria com objetivos mais claros, como o de aquietar
as exigências dos aliados megarenses com relação a uma
intervenção espartana no bloqueio dos comércios da Ática com
Mégara imposto pelos atenienses, e principalmente, exigir de
Atenas que respeitassem a liberdade e independência dos
gregos. É justamente nessa segunda visita dos lacedemônios
que Péricles irá, de certa forma, inflar a tensão que geraria
a guerra, por meio de um discurso, em que defenderá que não
há necessidade de concessões à Esparta, e que,
principalmente, em caso de guerra, os atenienses seriam muito
mais fortes, por terem uma unidade e muito mais recursos. E
após esse discurso, os atenienses votaram, como era de
costume para qualquer ação tomada pela polis. E decidiram ir
para a guerra.
Dentro da Confederação de Delos, veremos a fragilidade
que a Liga possuía, com revoltas de membros como Egina,
Eubeia e Samos. Nessa ocasião, as revoltas serão duramente
esmagadas pela frota ateniense, que ironicamente, devia
servir à causa comum da confederação, incluindo à desses três
estados, seus maiores provedores. Outro caso com
protagonistas em paralelo à Atenas e Esparta é o do ataque de
Tebas a Plateias, realizado em 431 a.C. Os eventos que se
sucederam nessa ocasião serão de extrema importância para
contribuir com o estopim da guerra. Tebas era um centro
importante na época, e queria anexar o território de
Plateias, antes que a guerra começasse. Além disso, tinham
relações com a Liga do Peloponeso, que já era forte rival da
Confederação de Delos nessa época. Já Plateias tinha ligações
com os atenienses. Com o auxílio das narrativas de Tucídides,
o autor H.D.F Kitto (1970, p. 248) ilustrou um pouco desse
evento.
Plateias era uma pequena cidade da Beócia, perto dafronteira com a Ática. Os Beócios, na sua maioria,
eram oligárquicos e aliados normais e dos de maiorimportância, de Tebas. Plateias era democrática emantinha relações amigáveis com os atenienses; nãodevemos esquecer que os de Plateias foram os únicosGregos que lutaram ao lado dos atenienses em Maratona.Esta ligação entre uma cidade da Beócia e Atenas eraum perpétuo motivo de irritação para Tebas e, em 431,no meio da tensão que imediatamente precedeu a guerra,o facto seguinte contribuiu para a precipitar.
O fato à que Kitto se referiu teve decorrência dentro
dos limites de Plateias, quando cerca de 300 tebanos
adentraram a cidade para conquistá-la, com a ajuda de alguns
cidadãos da própria cidade de Plateias. Por um momento, os
populares locais se amedrontaram com a invasão, pois era
noite e o exército parecia muito maior. Ao perceberem o
contrário, se organizaram para, no início do amanhecer,
atacar os tebanos invasores, e de maneira violenta, acuar
grande parte dos soldados que lá estavam. Pouquíssimos
conseguiram fugir, e os que ficaram presos na cidade,
receberam pena de morte, pois os conselhos democráticos mais
sensatos de Atenas tardaram a chegar. Como ilustrou Kitto,
esse fato contribuiu para acirrar os ânimos entre o eixo
principal da guerra, Atenas e Esparta, incendiados pelos seus
aliados. Para finalizar o período heroico de Plateias, anos
depois, com a guerra do Peloponeso já em curso, a cidade
acabaria sendo sitiada pelos peloponésios liderados por
Esparta, e este cerco duraria de 429 a.C a 427 a.C. Ao fim do
cerco, os espartanos, como julgamento, insistirão em
perguntar a cada cidadão de Plateias se haviam, de alguma
forma, ajudado Esparta e seus aliados na guerra que
acontecia. Não houve muita argumentação, e os que responderam
que não ajudaram foram mortos, no caso dos homens, ou
vendidos como escravos, no caso de mulheres e crianças. Esse
fato deu fim à cidade de Plateias.
Mas a guerra teve mais do que apenas confrontos.
Péricles arquitetou um plano para salvar seus cidadãos
atenienses que moravam na Ática, e ao perceber o estopim da
guerra, como estratégia militar, resolveu recuar todos para
dentro das muralhas da cidade de Atenas. Com isso, os
espartanos chegaram à Ática e, de dentro da cidade, os
atenienses nada puderam fazer além de observar os inimigos
saquearem e devastarem seus campos, casas e plantações. A
estratégia acabou sendo válida, já que pouco tempo depois, os
peloponésios evacuariam a Ática, e esse fato atrasou o
suficiente os espartanos para que a armada ateniense pudesse
assolar Mégara. Porém, a humilhação e fraqueza dos atenienses
deixou uma marca em seu orgulho durante algum tempo.
No ano seguinte, para piorar a situação, a região foi
assolada por uma terrível peste, que daria conta de
exterminar um quarto da população ateniense. Por azar, ou
falta de previsão, a estratégia de Péricles de amontoar
milhares de pessoas sob proteção das muralhas acelerou o
processo de contaminação da epidemia entre os cidadãos. O
relato sobre o quão terrível era a peste fica a cargo do
historiador Tucídides (1987, p. 117), que em determinado
momento, contraiu a peste, e conseguiu sobreviver a ela.
Enquanto durou a peste, ninguém se queixava de outrasdoenças, pois se alguma se manifestava, logo evoluíapara aquela. Às vezes a morte decorria de negligência,mas de um modo geral ela sobrevinha apesar de todos oscuidados. Não se encontrou remédio algum, pode-sedizer, que contribuísse para o alívio de quem o
tomasse - o que beneficiava um doente prejudicavaoutro - e nenhuma compleição foi por si mesma capaz deresistir ao mal, fosse ela forte ou fraca; ele atingiua todos sem distinção, mesmo àqueles cercados de todosos cuidados médicos.
Enquanto isso, a guerra continuava sem dar frutos. A
cólera dos cidadãos, enfermos, derrotados, recaiu sobre um já
menos popular Péricles, este que também contraiu a peste.
Apesar disso, mais uma vez, seus sensatos discursos
convenceram a população a não ceder, porém, ele não escapou
de uma prestação de contas com a população, e foi condenado a
pagar uma multa. Porém, foi eleito estratego novamente. Mas não
tardaria para que viesse a falecer, vítima da peste. Péricles
foi então substituído por Cléon, que em nada se assemelhava a
ele. Não tinha boa oratória, além de ser bastante grosseiro e
mal educado. Porém, impôs algumas vitórias importantes sobre
os espartanos, fazendo-os recuar para a região do Peloponeso.
Morreria em batalha contra o herói espartano Brásidas, mas
forçaria os lacedemônios a propor uma trégua, que previa
cinquenta anos de paz.
Eis que surge Alcibíades, como uma esperança de Atenas.
Aos poucos, foi alçando uma concreta carreira política na
cidade, arquitetando por baixo dos panos coligações contra
Esparta, sem deixar que houvesse envolvimento de Atenas, para
que a paz não fosse quebrada. Fomentou com o tempo nos
atenienses a convicção de que uma expedição de conquista a
Sicília seria a melhor forma de reaver prestígio. Porém,
quando chegou a época da expedição, em 415, algumas estátuas
de Hermes foram vandalizadas. Alcibíades foi cotado como
suspeito, e como deveria prestar contas segundo a democracia
ateniense, o comando da expedição foi para Nícias, seu rival
pacifista, que por sinal, não desejava a expedição. Diversos
sinais de má sorte se seguiram, o que baixou a moral da
tripulação e dos soldados. Mesmo assim, a campanha não foi
cancelada, como pontuou Mossé (1982, p. 62): "A expedição
partiu, com grande entusiasmo, em meados do verão de 415 a.C.
Toda a população da Ática, tanto cidadãos quanto
estrangeiros, descera até o porto para acompanhar os que
partiam". Ao chegar a Sicília, perceberam que Siracusa era
difícil de conquistar. Além disso, enfrentaram uma chuva
torrencial, e sofreram um ataque avassalador dos siracusanos,
que culminou na aniquilação de quase toda o exército
ateniense e de toda a sua frota. Além disso, Alcibíades
desertou para Esparta, visando escapar do processo a que fora
condenado.
Em Esparta, sua sede de vingança contra Atenas se
mostrará por meio de planejamentos contra sua anterior
cidade. Esparta conseguirá, com a ajuda dele, por exemplo,
devastar as produções de prata atenienses. Mas, em Esparta,
Alcibíades teve deslizes de comportamento também, e se
envolveu com um adultério, justo com a esposa do rei. Este,
ao descobrir, mandou um assassino atrás de Alcibíades, que
por pouco conseguiu se refugiar, dessa vez, na Pérsia, sob o
julgo de Tissafernes naquela época. Por lá, Alcibíades
conseguirá intrigas que o forçarão. De volta a Atenas,
Alcibíades conseguirá empreender algumas vitórias, mas levará
a culpa por uma expedição não plenejada e fracassada de
Antíoco, um substituto, que o forçará a buscar, mais uma vez,
refúgio na Pérsia. Dessa vez, porém, os persas já o
conheciam, e apesar de Farnabaso, o sátrapa em questão, ter
lhe concedido um castelo e alguns guardas, nada mais era do
que uma emboscada que culminaria em sua morte, alguns dias
depois.
Durante esse período de ausência de Alcibíades, Atenas
foi de mal a pior. Seu abastecimento alimentício estava
prejudicado, assim como suas finanças. Os espartanos,
querendo findar a guerra, haviam forjado alianças com os
persas, prometendo à estes territórios na jônia. Esse fato
abalou a época, e o sentimento pode ser resumido com um breve
trecho, novamente de Montanelli (1962, p. 258): "Era a grande
traição. Gregos pediam auxílio de bárbaros para destruir
outros gregos". Com a volta de Alcibíades, a guerra pôde
resistir mais alguns poucos anos, com algumas vitórias de
Atenas, mas não havia mais o que pudesse ser feito, de
maneira efetiva, para vencer essa guerra. Toda essa
explicação ao redor da guerra nos mostra que destituição do
Projeto de Delos aconteceria de maneira gradativa e por baixo
dos panos, com Atenas perdendo seu poder militar e
diplomático na Grécia. Como consequência, o enfraquecimento
da região com relação ao comércio logo se mostrou, já que a
nova soberana, Esparta, pouco entendia do assunto se
comparado à Atenas.
Portanto, em 404 a.C, sob condições duríssimas para
Atenas, a guerra findaria com os espartanos adentrando
Atenas, auxiliando na destruição dos muros. Esparta, apesar
de vitoriosa, também sofreu com o conflito, entrando em
decadência a partir do século IV. Contudo, a vitória
espartana trouxe prejuízos gravíssimos à “democracia”
ateniense. Esses prejuízos serão pontuados pelo historiador
H.D.F Kitto (1970, p. 253) no seguinte trecho.
A Guerra do Peloponeso marcou, virtualmente, o fim dacidade-estado como força criadora, que modela epreenche as vidas de todos os seus membros. Durante oséculo quarto, a Grécia encaminhava-se com firmezapara novos rumos do pensamento e para uma novaconcepção da vida; de tal maneira que, para aquelesque tinham nascido no final do século, o século dePéricles, devia parecer tão remoto, mentalmente, comoa Idade Média o é para nós.
O período de hegemonia espartana despertou profunda
admiração por sua politeia. Os gregos perguntavam-se como um
Estado numericamente tão pequeno conseguiu conquistar tanto
poder. Concomitantemente, a imposição em Atenas de um governo
oligárquico por Esparta (404-401), conhecido como o governo
dos Trinta tiranos, trazido por Crítias e Terâmenes, que
contribuiu para a construção entre os defensores da
democracia de uma imagem de oligarquia associada à crueldade
e ilegalidade.
Em princípios do século IV Esparta gozava entre os
gregos de prestígio e poder político-militar consequente da
vitória na Guerra do Peloponeso. Esta vitória representava a
decadência da democracia frente à oligarquia, o que despertou
nas elites aristocráticas gregas o fascínio pela
politeiaespartana. Esparta torna-se o símbolo da força e da
coragem grega, a única capaz de vencer as tendências
negativas da alma humana. Assim, é justamente após o término
da Guerra do Peloponeso que fortalece o estereótipo do “tipo”
lacedemônio, homem viril e guerreiro. A curiosidade em
relação às instituições espartanas cresce proporcionalmente a
sua influência na Grécia, mormente pelas elites enfraquecidas
devido aos regimes democráticos. Os elogios às
poleislacedemônias partem daqueles que viam na democracia a
forma de governo mais corrompida existente, pois se guiava,
segundo eles, através da ignorância de uma multidão
desenfreada e desejosa de lisonjas.
Os aliados de Esparta, especialmente tradicionais
inimigos atenienses como Tebas e Corinto, agora pregavam a
destruição total da cidade, a escravização da população e a
conversão da Ática em "terra pastoril". Os espartanos
recusaram, mas arrasaram 32 km da grande muralha que ligava
Atenas com seu porto de Pireu, e que havia anteriormente sido
impenetrável contra ataques. Atenas perdeu a liderança da
Liga de Delos - assumida por Esparta - e o governo da cidade
estava nas mãos dos Trinta Tiranos. Esses reacionários
imediatamente privaram a maioria dos cidadãos da cidade dos
seus direitos por meio da lista dos três mil (que nada mais
eram do que três mil escolhidos para manter seus direitos
políticos) e executaram ou exilaram uma série de líderes
democráticos dos mais importantes. Muitos cidadãos que viram
seus direitos políticos tomados por estarem fora da lista dos
três mil foram se refugiar no porto Pireu. Os tiranos
tornaram-se odiados por toda a cidade e eram mantidos apenas
através da presença de uma guarnição espartana na cidade. A
insegurança de seu reinado levou-os a tomar medidas cada vez
mais brutais que afetavam até mesmo os oligarcas mais
moderados de suas facções, como ilustra Mossé (1982, p. 79):
"De fato, desde o começo, os Trinta - dos quais faziam parte
Terâmenes e Crítias, o primo de Platão - quiseram fazer
reinar o terror apoiando-se numa guarnição lacedemônia". Não
demoraria muito, porém, para que Terâmenes fosse condenado à
morte por Cicuta, após um golpe de Crítias.
Muitos democratas não se sentaram em torno da acrópole à
espera de serem executados, mas fugiram da cidade para o
exílio. Surpreendentemente, as cidades mais acolhedoras de
democratas atenienses foram Tebas, Corínto e Mégara: os
mesmos que, como aliados de Esparta, encorajaram fortemente a
completa destruição de Atenas. Trasíbulo fugiu para Tebas e
foi socorrido por Ismenias, líder de Tebas. Lá, ele reuniu
seus homens, dinheiro e armas e se preparou para contra-
atacar após o inverno. Mais uma vez, a historiadora Claude
Mossé (1982, p. 80) fala que:
Desde a tomada do poder pelos oligarcas, (Trasíbulo)refugiara-se em Tebas, onde alguns fiéis companheirosjuntaram-se a ele. Foi dalí que partiu, pouco depoisda morte de Terâmenes, e conseguiu estabelecer-se naÁtica, instalando-se na fortaleza de File. Issoaconteceu durante o inverno de 404/03 a.C, e os Trintanão puderam evitar que ele alí permanecesse.
Na primavera de 403 a. C., os trinta fizeram-se
suficientemente odiados, assim, Trasíbulo sentiu que poderia
agir. Um golpe ousado pode reunir apoio para ele derrubar os
oligarcas do seu domínio instável na cidade. Ele moveu seu
bando de 70 democratas para um local defensável em File, na
fronteira entre a Beócia e Ática e enviou um chamado para os
seus recrutas. Porém o exército dos 30 tiranos enviados para
capturar e matar ele estava encurralando-os. Mas adveio a
providência e interviu: uma tempestade de neve impediu
exército dos tiranos de cercá-los em File, e eles foram
obrigados a voltar para Atenas. Essa "vitória" trouxe força
para os democratas e os novos recrutas começaram a acreditar
na retomada da cidade.
Os Tiranos humilhados, agora estavam seriamente
preocupados, e clamaram pela guarnição espartana para obter
ajuda. Os espartanos estavam revoltados com o fracasso
lamentável de seus aliados, mas concordaram em enviar uma
força para acompanhar uma segunda tentativa de expulsar
Trasíbulo. Desta vez não haveria tempestade de neve. O
trabalho seria feito corretamente. Eles não estavam contando
com Trasíbulo, que tinha acabado de passar os últimos 30 anos
lutando contra os espartanos. Seu pequeno grupo de 70 heróis
já tinha crescido para mais de 700. Em vez de esperar pelos
espartanos para formar uma linha de batalha, da qual eles
eram geralmente imbatíveis, ele lançou um ataque ousado pela
manhã no acampamento espartano. Eles encaminharam os
oligarcas atenienses e chegaram a matar 120 espartanos antes
do resto se retirar com a ordem de recuou. Em questão de
meses, situação deixou de ser apenas um aborrecimento para se
tornar uma coisa desesperadora. Trasíbulo perseguiu o
exército oligárquico durante todo o caminho de volta para
Atenas. Ele deixou File com 200 homens para defendê-la,
enquanto marchava com outros 1.000 para o Pireu, o porto de
Atenas: agora convenientemente sem paredes graças aos
espartanos. Lá, eles estabeleceram-se na colina mais alta com
vista para o porto e aguardaram o próximo ataque.
Não demoraram muito a chegar. Os trinta sentiam o poder
escorregar de suas mãos: os cidadãos atenienses hostilizavam-
nos e suportavam obviamente Trasíbulo, e os espartanos não os
apoiavam pois achavam que eles provaram-se incompetentes.
Eles reuniram suas forças restantes, convenceram a guarnição
espartana para ajudá-los novamente, e marcharam contra
Trasíbulo. O exército oligárquico era cerca de cinco vezes
maior e mais forte do que a força que Trasíbulo tinha sob seu
comando, mas Trasíbulo estava em terreno elevado, bem como a
moral do seu exército (eles tinham batido os oligarcas já por
duas vezes e os seus homens foram inspirados com fervor,
enquanto os homens espartanos estavam desmotivados). Com a
falange de Trasíbulo correndo ladeira abaixo atrás dos
oligarcas, os espartanos se recusam se envolver em um fiasco
deste tipo, e se retiraram da batalha. Trasíbulo havia
vencido a batalha e garantiu sua posição de prestígio. Ele
havia matado o líder dos Trinta, o aristocrata Crítias, e o
restante dos Trinta fugiram da cidade. Mas Atenas não ficou
sob o domínio de Trasíbulo. Novos oligarcas foram eleitos e a
guarnição permaneceu espartana. Estes novos líderes tentaram
chegar a um acordo com o seu adversário, mas Trasíbulo se
recusou a tratar com eles. Em desespero, os oligarcas
chamaram Esparta para derrotar seu inimigo. Os espartanos
realizaram um longo debate sobre o assunto. Lisandro,
vencedor de Aegospotami (a última grande batalha da guerra do
Peloponeso, de 405 a.C) e principal chefe do império
espartano, estava de acordo em entrar e matar até o último
dos homens de Trasíbulo. Entretanto, nem todos os espartanos
estavam tão interessados. O partido moderado, liderado por
Pausânias, não estava disposto a ceder e manter uma grande
guarnição permanentemente na Ática, e tornava-se evidente que
esta seria a única maneira de manter uma oligarquia no poder
em Atenas. Eles também viram isso como uma oportunidade de
derrubar seu adversário, Lisandro, afinal, os Trinta tinham
sido sua ideia. No final, os espartanos não enviaram um
exército, mas elegeram Pausânias para liderá-los nessa
situação. Trasíbulo enfrentou novamente a força espartana,
porem perdeu. Mas não foi uma derrota desonrosa. Os
atenienses lutaram muito bem, e os seus adversários
espartanos prestaram-lhes honras por sua bravura. Isso foi o
suficiente para Pausânias usar como desculpa, já que não
estava disposto a forçar a questão de qualquer maneira. Ele
exigiu que Trasíbulo e os oligarcas chegassem a um acordo.
Trasíbulo permaneceu firme em suas proposições, apesar de sua
recente derrota, e isto forçou os oligarcas a ceder a seus
termos, a restauração da democracia.Pausânias (1918,
[1.29.3]) cita-o como o maior ateniense da história por seus
feitos.
Tais são os seus santuários aqui, e dos túmulos oprimeiro é o de Trasíbulo, filho de Lico, em todos osaspectos o maior de todos os atenienses famosos, dosque viviam antes dele ou depois dele. O maior númerode suas conquistas vou passar, mas os seguintes fatossão suficientes para suportar a minha afirmação. Elederrotou o que é conhecido como a tirania dos Trinta,partindo de Tebas com uma força de valor, a princípio,setenta homens; ele também convenceu os atenienses,
que foram rasgados por facções, a se reconciliarem, ea cumprir seu pacto.
Importante lembrar é que os Trinta Tiranos tomaram o
poder por conta dos interesses espartanos (sempre defensores
de regimes fortes), o que explica o desprezo ateniense por
esta fase. Platão acaba por concordar que fora um período
terrível para Atenas e passa a criar aversão pelas práticas
políticas da época. Somada a isso a morte de Sócrates em 399
a. C, dois anos após a quedados Trinta, põe termo a qualquer
esperança de mudar as instituições de sua polis natal. Conclui-
se com a citação de Platão (2008,p.138): “À vista de
semelhantes fatos e de outros de não menor gravidade, senti-
me revoltado e me conservei afastado daquelas práticas
odientas.”.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do que foi desenvolvido nesse trabalho, pode-se
chegar a conclusão de que a guerra do Peloponeso trouxe mais
malefícios do que benefícios para todos os lados. Exemplo
disso é a desordem que se instaurou em Atenas nos períodos em
que se tornou oligarquia regida por Esparta, não apenas no
quesito social, como também na questão comercial importante
da cidade-estado. Além disso, vemos o poder que a democracia
tinha e a crença dos atenienses de que ela era o melhor plano
de governo possível, já que a oligarquia viria a durar pouco
tempo graças à força popular comandada por Trasíbulo, que
exigia a volta do regime democrático. Podemos finaliza
ressaltando o fracasso de Esparta em desenvolver seu próprio
objetivo ao iniciar a guerra, tendo em vista que a unificação
que tentaram impor pouco deu frutos. Prova disso é que
antigas aliadas de Esparta (e rivais poderosas de Atenas)
como Mégara e Tebas acabam por se aliar à Atenas, tanto
cedendo o local como refúgio para os exilados atenienses,
como posteriormente auxiliando na expulsão da oligarquia dos
Trinta da cidade-estado.
5. BIBLIOGRAFIA
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1986.
GIORDANI, Mario C. História da Grécia - Antigüidade Clássica I.
Petrópolis: Editora Vozes, 1967.
HANSON, Victor D. Uma Guerra Sem Igual. São Cristóvão: Grupo
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