Folha Pomerana Pommersche Küche - Culinária Pomerana - Pomerische Koiken - Teil I
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Ano II - Edição n° 76 – Data de 14 de fevereiro de 2015
Folha
Pomerana Express
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POMMERSCHE KÜCHE – CULINÁRIA POMERANA – POMERISCHE KOIKEN
Parte I – Tópicos 1 e 2
Neubiana Beilke
“De pommersch Bur, de is to kenn,
Wenn hei’t Gewehr fött bi dat Enn,
Wenn hei de Kolben fluschen lett
Un – wenn hei dicke Arften frett...”
A culinária de um povo é um dos aspectos proeminentes de sua cultura. A
culinária também é uma forma de expressão cultural. O modo como um povo
desenvolve sua alimentação – de acordo com os gêneros alimentícios que encontram
ao seu alcance e com sua disponibilidade econômica – diz muito sobre sua
criatividade, sobre seus modos de viver e de
se organizar.
A cultura culinária também é
representada na língua, pois é preciso nomear
os pratos e as receitas que algumas vezes
indicam o produto, outras vezes indicam o
modo como é feito ou um ingrediente
principal que o compõe.
Vamos falar sobre a cozinha
pomerana. A comida tradicional da Heimat
pomerana – a terra natal dos ancestrais
pomeranos – e também da comida pomerana
adaptada no Brasil.
Ao se referir à “Culinária Pomerana”,
precisamos ressalvar que existem diferenças
entre a culinária na Pomerânia – a Pomerânia Histórica, que vamos chamar também
de Pomerânia Europeia – e a Pomerânia Brasileira, composta pela comunidade de
descendentes de pomeranos em diversas regiões do Brasil (Espírito Santo, Minas
Gerais, Rondônia, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) que se unem em
Bate-bola
From:
Cesnarmis Sent: Saturday,
February 07, 2015 10:48 AM To: Ivan Seibel Subject: Re:
Folha Pomerana número 75 - 07
02 15
Dr. Seibel: El Nº 75 -
07.02.15 llegó OK ! Una vez
más, GRACIAS por el envío
cuyo contenido en mucho me
trae "saudades" de la patria de
mis ancestros. Dr.
Guido Rauber . Puerto Rico ,
Misiones . Argentina
--------------
TRANSPORTE DE CARGA ENTRE OS ANTIGOS
POMERANOS
Por Ivan Seibel
Um dos fatores
responsáveis por muitas das
dificuldades que os antigos imigrantes pomeranos
enfrentaram, sem sombra de
dúvidas, foi a quase
inexistência de estradas. Muitas
vezes eram apenas trilhas ou “picadas”
abertas à facão, pelas quais apenas se conseguia
transitar com mulas ou cavalos.
torno da identidade pomerana.
A culinária pomerana no Brasil modificou alguns aspectos da culinária
tradicional devido não só ao distanciamento temporal da origem, mas também ao
espacial. Havia e há diferenças entre gêneros alimentícios acessíveis no Brasil e na
Europa. Também haviam diferenças climáticas, pois a “Nova Pomerânia” é tropical.
Algumas receitas ficaram restritas a pátria pomerana, não sendo mais praticadas no
Brasil, talvez devido a indisponibilidade de alguns gêneros aqui, que existiam na
Europa, como, por exemplo, as variadas espécies de cerejas.
Consideramos que a cultura não é algo fixo, mas que ela possui movimentos,
estabelecendo assim relações e trocas culturais. Nesse sentido, existem receitas que
permanecem e outras que se transformam, sofrendo algumas alterações, devido a
diversos fatores, dentre eles o contato com outras culturas.
Ressalvamos que há receitas pomeranas que ainda são comuns na Alemanha
atual, tanto na região de Mecklemburgo Pomerânia Ocidental/Mecklenburg
Vorpommern, quanto em outras regiões com algumas variações regionais. Existem
também receitas que foram incorporadas à cultura pomerana no Brasil, da mesma
forma que receitas pomeranas podem estar difundidas e ressignificadas em outras
culturas.
Quanto as receitas pomeranas que possam estar presentes em outras culturas
(como o Lewkuckamann e o Peepernoit) salientamos que não sabemos qual
processo histórico e cultural teria permitido tal ocorrência, porém nosso foco não é
buscar onde as receitas teriam se originado, mas informar sobre receitas conhecidas
entre os pomeranos.
Para escrever este artigo, foi realizada uma pesquisa de receitas atuais em
blogs, sites pomeranos-brasileiros, artigos de pesquisadores e receitas coletadas para
o banco de dados da pesquisadora; o Pommersche Korpora. Também pesquisamos
em sites especializados de culinária, alemães e europeus, que contenham receitas
pomeranas. Por fim, contamos com o auxílio de alguns consultores da comunidade
pomerana.
Algumas receitas desaparecem e novas surgem, assim é a dinâmica da
própria história. Algumas receitas podem apresentar alguma modificação tanto na
composição de ingredientes quanto no modo de fazer. A alteração da rotina, dos
modos de vida, o desenvolvimento da tecnologia e da globalização também
influenciam nos hábitos alimentares de um povo, portanto classificaremos as
receitas em quatro tópicos.
Na Parte I deste artigo, no primeiro
tópico, falaremos de receitas da antiga
Pomerânia, tanto oriental quanto ocidental,
pesquisadas nos livros adquiridos na
Alemanha em uma Flohmarkt, um “Mercado
de Pulgas”, que consiste em uma feira na qual
são vendidos objetos variados, inclusive bons
livros a preço acessível. Lá encontramos dois
livros antigos de culinária pomerana:
“Pommersche Küche – Regionale Küche mit
Tradition” e “Spezialitäten aus Pommern –
Das Kochbuch von Rautenberg” –
traduzindo, o primeiro livro se chama
“Cozinha Pomerana - Culinária Regional com
Tradição” e o segundo livro se chama
“Especialidades da Pomerânia - O livro de
receitas de Rautenberg”.
No segundo tópico, falaremos de alguns pratos da culinária pomerana no
Brasil.
Dependendo do lugar, muitos
produtos terminavam deteriorando
porque levavam semanas para
chegar ao consumidor. Por
vezes iam 10 tropas, isto,
considerando que cada tropa tinha dez burros
de carga, chegando-se a contar com 100
animais. Nos locais em que era necessário atravessar rios
mais caudalosos,
retirava-se toda a carga dos animais para
fazer a travessia em canoas e
depois se “carregava”
novamente as tropas. Havia também os
locais em que “ranchavam”, ou seja, por vezes descansavam cinco, seis ou até oito dias.
Com o passar dos anos e a
gradativa abertura das
estradas, seja entre as
diferentes regiões do interior dos
estados, muitos “vendistas” passaram a comprar e a
vender os seus produtos
diretamente aos grandes
comerciantes de centros urbanos
mais desenvolvidos.
Entretanto, mesmo com
este progresso registrado na
área comercial, até 1950, as
tropas e mulas continuavam sendo o mais
importante meio de transporte de
mercadorias
O terceiro e quarto tópicos serão desenvolvidos na Parte II que será
publicada no próximo número da Folha Pomerana, como sequência deste artigo.
Tópicos nos quais estabeleceremos uma relação entre as receitas pomeranas na
Europa e as receitas pomeranas no Brasil, falando inclusive sobre algumas receitas
que são praticadas em comum, tanto na Alemanha atual quanto no nosso país. O
artigo será finalizado no quarto e último tópico, quando é conjecturado que algumas
receitas pomeranas parecem estar também presentes e difundidas em outras culturas.
1. Receitas Culinárias da Pomerânia Europeia
Na Prússia, era comum a criação de gansos, patos e marrecos. E na culinária
da Pomerânia Europeia, essas aves de carne branca estavam presentes; encontramos
receitas nomeadas de Pommersches Gänsenschmalz, ou seja, banha de ganso
pomerana e também o Pommerscher Gänsebraten, ganso assado pomerano, embora
seja um prato possível de ser reproduzido no Brasil, sabemos que a criação de
gansos para consumo em grande escala não é comum aqui, como a criação de
galinhas, por exemplo. No Brasil a avicultura de galináceos e a bovinocultura de
corte dominam o mercado de carnes, então a carne de aves maiores se restringem à
época de festividades, principalmente ao natal.
Na Pommerland também era comum uma canja, chamada Ententopf, receita
que consiste em um ensopado de pato.
Ainda tratando das receitas que levam carne branca como ingrediente
principal, vamos falar dos peixes. E o primeiro deles é o Hering – o arenque. Um
peixe abundante no Mar Báltico e
um dos principais produtos de
subsistência dos pomeranos, na
época de nossos tataravós. Dentre
as receitas com o Hering, podemos
listar: A Heringssalat, uma salada
com pedaços do peixe em cubos e
Heringshäckerle – picadinhos de
Hering e o Sahnehering, que era
um creme com o Hering e que
possui aspecto de um molho
branco.
Outros peixes também eram
utilizados, como as sardinhas ou Sardellen e as Karpfen ou carpas (tipo comum,
grandes e acinzentadas), assim uma Karpfensalat mit Sardellenbutter, era muito
apreciada, consistindo em carpas mal passadas ao molho de sardinhas amanteigado,
ou seja, o povo que vivia ao longo do mar, os pomeranos, apreciavam tanto os
peixes a ponto de utilizar dois tipos em uma receita só: peixe com peixe! Outra
receita com esse tipo de peixe é Karpfen in Biersauce – que seriam carpas em
pedaços, cozidas ao molho de
Malzbier, uma cerveja escura.
A Fischsuppe, sopa de
peixe, também era comum na
Pomerânia, que por estar diante do
Mar Báltico, tinha na pesca um de
seus gêneros mais frequentes à
mesa pomerana. Dentre os “frutos”
do mar, podemos destacar também
uma receita chamada Aal mit
Rührei, que era enguia fatiada em
entre as diferentes regiões do interior do Brasil. Em
muitos lugares, ainda nos
últimos anos da década de 1950 tropas de mulas
podiam ser vistas com suas cargas subindo
serras ou transpondo altas montanha para
interligar os mais longínquos recantes deste imenso Brasil.
pequenos pedaços servida com farofa em cada porção.
Quanto ao menu de receitas doces ou Süßspeisen, consta entre as
especialidades pomeranas uma receita chamada Mohnstollen que seria um bolo
parecido com um rocambole
misturando duas cores que imitam
o aspecto da Mohn e que leva a
semente preta da flor Mohn
(papoula) em sua composição. A
Mohn é uma flor com o miolo de
cor diferente em relação as
pétalas. Além da Mohnstollen,
havia outros tipos de Stollen,
feitos em época de Natal,
recheados com uvas passas e com
uma cobertura branca por cima,
confeitado por um Backpullver ou
Vanillazucker, um açúcar com
essência de baunilha bem fininho.
Entre as sopas podemos citar a Kirschsuppe ou sopa de cerejas. As cerejas
também eram muito utilizadas nas receitas, haja vista que lá existiam diversas
espécies de cerejas.
As cerejas não são usadas no Brasil com tanta frequência em receitas
pomeranas, pois não é um produto fácil de produzir em qualquer região do nosso
país e como a maioria das cerejas que chegam ao supermercado são importadas, se
torna um produto caro. Outro ingrediente que era mais frequente na Pomerânia
Europeia e mais raro na Pomerânia Brasileira, é o Pilz ou Cogumelo.
Poderíamos citar inúmeras receitas tradicionais pomeranas, mas realizamos
uma seleção e gostaríamos de encerrar essa primeira seção com algumas
curiosidades que dão lugar ao ditado “Ein Pommerscher Magen, kann alles
vertragen” ou “Ain pomerisch machen, koina allas verdregen”. Em português, o
ditado significa “um estômago pomerano pode tudo aguentar!” Pois os pomeranos
além de comerem enguias, arraias, também comiam Rebhühner, que é uma ave bem
pequena e bonita, parecida
com a codorna, também
comiam pombos, faziam
pudins de macarrão,
aproveitavam todas as
partes dos animais,
inclusive estômago e língua
de animais pequenos como
de gansos etc. Entretanto, a
culinária pomerana de época
era repleta de criatividade,
vejam por exemplo, o
Stettiner Baumkuchen (Boumkucka), um bolo
enorme em formato de árvore, que em alguns modelos possui camadas que lembram
realmente o tronco de uma árvore.
2. Receitas Culinárias da Pomerânia Brasileira
Vamos tratar agora de listar algumas das principais receitas atuais apreciadas
e praticadas entre os descendentes de pomeranos em diversas regiões do Brasil.
Uma das mais conhecidas é o brote, um pão caseiro que além de nutritivo tem o
objetivo de sustentar, já que é consumido também antes do trabalho no campo. O
Mijlchabroud é um brote (pão) de milho, também conhecido como Milhabrot. É um
pão de fubá de milho branco ou amarelo, preparado com batata doce, cará e aipim.
Ele é muito conhecido como uma receita dos pomeranos-brasileiros. É diferente do
Maisbrot, pão de milho alemão, simples, pois a versão pomerana incorporou vários
ingredientes à receita. Há também o Bananabroud ou Bananabrote, que consiste no
brote acrescido de banana. Outro nome pomerano para um pão do tipo Knustbrot é
Kanten e essa nomenclatura foi encontrada nos livros de receitas.
Os pomeranos costumam consumir o brote com banha de porco e açúcar por
cima. Outra forma de consumir o brote é com linguiça de porco e toicinho frito.
Outro hábito que os pomeranos relatam é passar fatias do pão de milho em ovos
batidos e fritar, o aspecto lembra um pouco as rabanadas.
O pão de trigo caseiro comum feito com a farinha refinada é chamado de
Weitbroud, Weitbrote ou Wittbrote. Já Stuten é o nome que os pomeranos dão para
o pão de trigo refinado (trigo branco, não integral) comprado e parecido com o pão
francês, chamado também de Stuuta, “pão do padeiro” ou “pão de padaria”.
Os pomeranos no Brasil também fazem um bolo chamado Kucherloff, com
três camadas, sendo que a do meio leva chocolate. Outro “bolo” é a versão
pomerana do Strudel, mas que entre os pomeranos é conhecido também como
Strudelteig, que tem uma teig, massa, um pouco diferente do Strudel europeu que é
bem fininha e crocante. O Strudel tem a forma
de um rolo, porém na Europa é feito com
massa folhada e recheado com geleia de maçãs
e pedaços dessa fruta; o Apfelstrudel. No
Brasil até se faz o Strudelteig recheado com
maçãs, mas por aqui é mais comum o recheado
com bananas, o Bananastrudel.
No Brasil temos um bolo chamado de
Spitsbuben ou bolo ladrão, mas que tem a
textura de uma bolacha e recebe goiabada em
sua composição; o bolo é decorado com um
trançado por cima.
No Brasil também se faz sopa de ameixa, Flaumensup, e sopa de pêssego,
Firsichsup, muito apreciadas entre os pomeranos. Esta é uma receita que
permaneceu ao longo do tempo, pois
nos livros de receitas constam essas
sopas como Pflaumensuppe e
Pfirsichsuppe e até hoje elas são
feitas em algumas regiões da
Alemanha.
Também são realizadas no
Brasil receitas com queijo, do tipo
puína, como a Käseschmier, por
exemplo, que é parecida com uma
qualhada. Outra receita com queijo
são os bolos de queijo, Käsekuchen.
Os pomeranos no Brasil também costumam fazer geleias com frutas da
região, fazem também biscoitos caseiros de nata e biscoitos amanteigados. Uma
sobremesa apreciada é a banana nanica assada e servida com canela.
Outro prato muito apreciado entre os pomeranos no Brasil é o Melkariss mit
simt, também conhecido na Alemanha como Milchreis mit Zimt. O Melkariss
consiste em um arroz doce, preparado com açúcar e leite que é consumido com
canela em pó semeada por cima. Na Pomerânia alemã, atualmente, é possível
encontrar essa iguaria industrializada em potinhos prontos para o consumo.
Entre as receitas pomeranas presentes no Brasil também podemos listar a
Blutwurst, uma linguiça do tipo chouriço, feita de sangue e de miúdos de porco,
mas os pomeranos também fazem a linguiça de carne de boi. Também podemos
citar as canjas e sopas de aipim cozido e socado, a sopa de batata doce ou cará e o
hábito de comer sopa com rosca. Outra receita que leva o cará é o Cará Back, que é
um bolinho frito.
Ressalvamos que esses são alguns pratos presentes na alimentação dos
pomeranos, mas que comer ou não comer esses alimentos, com maior ou menor
frequência, não fazem com que sejam mais ou menos pomeranos. Assim, não
estamos tratando de estereótipos, mas de receitas que são conhecidas e consumidas,
de modo geral, entre os pomeranos. São representativas dessa cultura.
Continua na edição do dia 21 02 2015 ________________________________________________________________________
Previsão do tempo em Rügen – Mar Báltico
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