FISIOTERAPIA Alinhamento postural, ansiedade e estresse em adultos jovens
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Revista PIBIC, Osasco, v. 4, n.1, 2007, p. 81-94
FISIOTERAPIAAlinhamento postural, ansiedade e estresse em adultos jovens
Ellen Cristina Gesse de FreitasPesquisadora
Elizabeth Alves Gonçalves FerreiraOrientadora
Resumo
Introdução: A postura pode ser considerada posição ou atitude do corpo ou representação somática das emoções. O
objetivo deste estudo foi avaliar o alinhamento postural e os níveis de ansiedade e de estresse em adultos jovens. Método:
Estudo analítico observacional transversal, com 20 adultos jovens do sexo feminino, com média de idade de 25 anos,
alunos de uma instituição de ensino superior em São Paulo. Após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Escla-
recido, os sujeitos responderam questionários de avaliação de ansiedade e de estresse. A avaliação postural foi realizada
com trajes de praia e os avaliados foram fotografados nas vistas anterior, posterior e lateral. As fotografi as digitais foram
analisadas com o software de análise postural (SAPO). Os resultados foram submetidos à análise estatística descritiva.
Resultados: verifi cou-se que a assimetria postural é predominante na população, com predomínio de pequena inclinação
de cabeça à esquerda, ombro à direita e pelve à esquerda em vista anterior. Na vista posterior, a assimetria observada en-
tre as escápulas foi de 7,3% e na vista lateral constatou-se anteriorização da cabeça e do tronco. Em relação à ansiedade
verifi cou-se maior ocorrência de ansiedade traço com média de 46,65 pontos, sendo indicador de ansiedade média, 85%
da amostra considerou-se estressado com média no questionário de estresse de 58,8 pontos. Conclusão: Conclui-se que a
assimetria esteve presente na amostra com predomínio de inclinação da cabeça e pelve à esquerda e ombro à direita em
vista anterior. Na vista lateral observou-se anteriorização da cabeça e tronco. Os indivíduos pesquisados relataram maior
sensação de ansiedade do que de estresse.
Palavras-chave: Alinhamento postural. Ansiedade. Estresse.
Abstract
Introduction: The posture can be considered as a position or body’s attitude or a somatic representation of emotions.
The purpose of this study was to evaluate the postural alignment and levels of anxiety and stress in young adults.
Method: Analytical, observational, transversal study with 20 young female adults with a medium age of 25 years,
students of a higher education institution in Sao Paulo. After signing the Terms of Free and Informed Consent, the
subjects answered questionnaires, assessment of anxiety and stress. The posture evaluation was performed in beach
costumes and the individuals were photographed in the anterior, posterior and lateral views. The digital photos were
analyzed with the software for posture analysis (SAPO). The results were submitted to descriptive statistical analysis.
Results: it was found that the asymmetry posture is prevalent in the population with the predominance of small head tilt
to the left, shoulder to the right and pelvis to the left in anterior view. In posterior view the asymmetry observed between
the shoulder blades was 7.3% and in the side view there was a head and trunk’s anteriorization. Regarding anxiety there
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was greater incidence of anxiety trait with an average of 46.65 points being indicator of average anxiety, 85% of the
sample considered themselves stressed with an average of 58.8 points of stress. Conclusion: It was concluded that the
asymmetry was presented in the sample with predominance of head and pelvis tilt and to the left, shoulder to the right
in anterior view. In the side view there was head and trunk’s anteriorization. Individuals surveyed reported greater sense
of anxiety than stress.
Key words: Postural alignment. Anxiety. Stress.
Estresse
A terminologia estresse pode ser defi nida como a
mobilização química coordenada do corpo humano
para atender às exigências da luta de vida ou morte
ou de uma rápida fuga frente a um evento que ame-
dronte ou ameace o organismo (ROSA et al 2004;
LIMA; CIASCA, 2008).
O estresse pode ser originado de dois estímulos:
o negativo, chamado de distresse, e o positivo, cha-
mado de eustresse (CAMPOS et al 1996; BOMBAZAR
et al 2002).
O estresse pode ou não levar ao desgaste geral do
organismo dependendo da sua intensidade, duração,
vulnerabilidade do indivíduo e habilidade de admi-
nistrá-lo. O desgaste ocorre, quando a homeostase in-
terna do organismo é perturbada por períodos longos
ou de modo muito agudo (LIPP; MALAGRIS, 1998).
Ansiedade
Uma outra reação psicológica, dentre tantas ou-
tras típicas do estresse é a ansiedade. O termo ansie-
dade refere-se a um estado de tensão ou apreensão
associada à expectativa de alguma coisa que pode
acontecer em futuro próximo, o que acaba sendo um
dos sintomas de estresse (ROSA et al 2004).
A reação de ansiedade pode provocar uma série
de sintomas, tanto na área psicológica como na fí-
Introdução
Postura
A postura pode ser defi nida como posição ou ati-
tude do corpo, com arranjo relativo das partes do
corpo para uma atividade específi ca ou uma manei-
ra característica de alguém sustentar seu corpo (KIS-
NER; COLBY, 1987).
Em estudo realizado em 1999, Schmidt e
Bankoff descrevem a postura como amplo grau de
uma representação somática das emoções internas,
podendo ser considerada somatização da psiquê.
Dessa forma o indivíduo pára e se locomove de
acordo como ele se sente. A postura torna-se a
somatização de todo o seu passado, do cotidiano,da
forma de se posicionar diante das situações de lazer,
trabalho, repouso, estado emocional, dentre outros.
Dessa forma, é difícil estabelecer uma padroniza-
ção do que seria a boa postura, devido à complexi-
dade do tema e por existir dependência muito grande
entre postura e individualidade, que é determinada
pela relação particular de suas estruturas corporais
(FERNANDES, 1996).
No entanto, nenhuma doença ou condição é ca-
paz de produzir interação tão grande entre o corpo e
a mente como o estresse. As reações de origem psi-
cológica acabam se manifestando no corpo e vice-
versa (LIPP; MALAGRIS, 1998).
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sica; o indivíduo além de sentir medo e desânimo,
apresenta também taquicardia, mãos ou pés suados,
e tensão muscular (LIPP; MALAGRIS, 1998).
As manifestações de ansiedade e estresse são
consideradas normais, até o ponto em que come-
çam a provocar sofrimento ao indivíduo. Nesses dois
casos os ajustes fi siológicos extrapolam o âmbito
do sistema nervoso autônomo e atingem o sistema
endócrino e imunológico, tornando-se duradouros
(LENT, 2004).
Para Brito (2007), os fatores emocionais podem
alterar ou mesmo colaborar para a regularização da
postura, sendo importante o conhecimento do pró-
prio corpo pelo paciente. O quadro emocional refl ete
freqüentemente padrão postural de um indivíduo;
em geral indivíduos confi antes, positivos apresen-
tam padrão postural adequado, ocorrendo o contrá-
rio com indivíduos deprimidos e insatisfeitos.
Muitos sociólogos e psicólogos tendem a acredi-
tar que mudanças do estado físico normal do indi-
víduo, como as alterações posturais, podem aparecer
pelo corpo sem que a pessoa esteja lesionada ou ma-
chucada, além de se determinarem principalmente
pela manifestação somática das angústias e das tris-
tezas vividas pelas pessoas (SIVIERO, 2002).
Levando-se em conta que a mente e o corpo fun-
cionam em uníssono, é fundamental a relação entre
personalidade e postura, pois que a melhora do esta-
do emocional aprimora a postura, assim como a pos-
tura infl uencia o estado emocional (HALL; BRODY,
2001; KOCK; KIES, 2004).
Oliveira (1998) em seu estudo relata que o grande
equívoco gerador da fragmentação é que há profi s-
sionais relacionados com o corpo e profi ssionais re-
lacionados com a mente. Entretanto, mente e corpo
formam uma unidade indivisível. A não separação
tem como vantagem possibilitar melhor conheci-
mento da infl uência psicossomática em doenças fí-
sicas, o que refl ete melhor aplicação das técnicas de
tratamento.
Material e método
3.1 Tipo de estudo
Estudo analítico observacional transversal, de
abordagem quantitativa e qualitativa, realizado no
período de fevereiro de 2007 a fevereiro de 2008.
3.2 Sujeitos
Foram avaliados nesse estudo 20 pessoas do sexo
feminino com as seguintes características:
- Faixa etária entre 18 a 40 anos;
- Ausência de doenças crônicas, ortopédicas e
neurológicas;
- Cooperantes, com capacidade de realizar as eta-
pas contidas no estudo;
- Ausência de dor intensa em qualquer parte do
corpo (escala de dor maior do que 7);
- Residentes da cidade de São Paulo.
3.2.1 Situação
A coleta de dados foi realizada no laboratório de
Recursos Terapêuticos Manuais I (RTM I) do curso
de fi sioterapia do UNIFIEO – Centro Universitário
FIEO.
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3.3 Materiais
Para o estudo foram utilizados os seguintes ma-
teriais:
- Software “Sapo” para avaliação postural, que
consiste em programa de computador gratuito
para avaliação postural com banco de dados e
fundamentação científi ca com acesso pela inter-
net (FERREIRA, 2005);
- Computador;
- Câmera fotográfi ca digital;
- Tripé;
- Fio de prumo;
- Pequenas bolas de isopor (0,8 mm);
- Fita dupla face;
- Cartolina branca;
- Caneta esferográfi ca azul e preta;
- Termo de consentimento;
- Ficha para anamnese modifi cada da original de
(FERREIRA, 2005); composta por dados pessoais,
questões referentes a partes do corpo e ao grau
de dor, histórico de doenças;
- Questionário de Spielberger, sendo um questioná-
rio validado, composto de 40 afi rmações, dentre
as quais as 20 primeiras referem-se a uma ten-
dência da personalidade e as outras 20 indicam o
estado emocional no presente momento (SPIEL-
BERGER et al 1979). Cada afi rmação contém uma
escala de 1 a 4 correspondendo respectivamente
a quase nunca, às vezes, freqüentemente e qua-
se sempre, em que cada indivíduo assinala em
cada afi rmação aquilo que ele acha adequado;
posteriormente cada número assinalado de cada
afi rmação será somado, dando um valor abso-
luto, que corresponderá a uma classifi cação de
ansiedade;
- Questionário de lista de sintomas de estresse
(LSS/VAS) validado, composto por 59 afi rmações
que avaliam a freqüência de estresse na vida dos
sujeitos, por meio de uma escala de 0 a 3 corres-
pondendo a nunca, raramente, freqüentemente e
sempre, em que cada sujeito assinala em cada
afi rmação a freqüência do sintoma. As freqüên-
cias assinaladas serão somadas, resultando em
valor absoluto, que corresponderá a uma classi-
fi cação de estresse.
3.4 Procedimentos
Os sujeitos foram orientados a respeito do objeti-
vo e do procedimento da pesquisa e os que estiveram
de acordo assinaram um termo de consentimento, de
que estavam cientes da preservação de sua identida-
de, de acordo com a resolução n. 196/96 do Conse-
lho Nacional de Saúde (CNS). Após o consentimento,
os sujeitos responderam aos protocolos da anamnese
e aos questionários de Spielberger e de estresse.
Após a assinatura do consentimento solicitou-se
dos avaliados que permanecessem em traje de praia
e então foram identifi cados vários pontos anatômi-
cos e demarcados com pequenas bolas de isopor, fi -
xadas no corpo com fi ta crepe dupla face.
Os pontos anatômicos demarcados foram:
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Vista anterior: glabela, lóbulo da orelha direita,
lóbulo da orelha esquerda, mento, acrômio direito,
acrômio esquerdo, manúbrio do esterno, espinha
ilíaca ântero-superior direita, espinha ilíaca ântero-
superior esquerda, trocânter maior do fêmur direito,
trocânter maior do fêmur esquerdo, linha articular
do joelho direito, linha articular do joelho esquerdo,
centro da patela direita, centro da patela esquerda,
tuberosidade da tíbia direita, tuberosidade da tíbia
esquerda, maléolo lateral direito, maléolo lateral es-
querdo.
Vista posterior: ângulo inferior da escápula di-
reita e esquerda, ponto de transição entre a margem
medial e a espinha da escápula direita e esquerda,
processos espinhosos C7, T3, T5,L2; espinha ilíaca
póstero-superior direita e esquerda, calcâneo direito
e esquerdo.
Vista lateral direita: lóbulo da orelha direita,
acrômio direito, epicôndilo lateral direito, espinha
ilíaca ântero-superior direita, espinha ilíaca póste-
ro-superior, trocânter maior do fêmur direito, linha
articular do joelho direito, tuberosidade da tíbia di-
reita, maléolo lateral direito.
Vista lateral esquerda: lóbulo da orelha esquerda,
acrômio esquerdo, epicôndilo lateral esquerdo, pro-
cesso espinhoso C7,T3,T5,L2; espinha ilíaca póstero-
superior esquerdo, trocânter maior do fêmur esquer-
do, linha articular do joelho esquerdo, tuberosidade
da tíbia esquerda, maléolo lateral esquerdo.
Ao total foram demarcados 36 pontos anatômicos,
a referência para a análise postural posteriormente.
Após a demarcação dos pontos anatômicos, os
sujeitos foram orientados a permanecer em pé, em
uma posição confortável, sobre uma cartolina onde
marcaram-se os contornos do pé direito e esquerdo.
Os sujeitos fi caram paralelos ao fi o de prumo que
estava posicionado ligeiramente anterior ao maléolo
lateral. No fi o de prumo foram coladas duas marca-
ções com distância de 1 metro entre elas para pos-
sibilitar a calibração da foto posteriormente. O fi o
de prumo e o sujeito estavam num mesmo plano
perpendicular ao eixo da câmera. A câmera estava
a aproximadamente 3 metros de distância do sujei-
to e a uma altura de cerca da metade da estatura
do sujeito da pesquisa. Estabelecidos os parâmetros,
iniciou-se a tomada de fotos da vista anterior, pos-
terior, lateral direita e lateral esquerda, sempre man-
tendo o mesmo apoio do sujeito, rodando a cartolina
e pedindo para o individuo posicionar-se adequada-
mente sobre a marcação dos pés previamente feita.
As fotografi as geradas foram transferidas da câ-
mera para o computador, e depois para o programa
de análise postural computadorizada “SAPO”, com
o qual foi realizada a análise postural, utilizando o
protocolo SAPO; com o objetivo de quantifi car as
alterações posturais presentes nos indivíduos da
pesquisa. Após avaliação postural foi impresso um
relatório de cada avaliação.
Para a avaliação postural foram selecionados al-
guns itens do relatório do SAPO em cada vista, que
correspondem a alterações posturais que podem ter
mais relação com aspectos emocionais.Foram eles:
Vista anterior: alinhamento horizontal da cabeça,
alinhamento horizontal dos acrômios, alinhamento
horizontal das EIAS, ângulo entre os dois acrômios
e as EIAS, ângulo Q direito e esquerdo.
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Vista posterior: Assimetria horizontal da escápu-
la em relação à T3.
Vista lateral direita e esquerda: alinhamento ver-
tical da cabeça em relação ao acrômio, alinhamento
vertical do tronco, alinhamento horizontal da pélvis,
ângulo do joelho.
Os relatórios foram analisados juntamente com a
anamnese e os questionários de cada indivíduo.
3.5 Análise dos dados
Os resultados obtidos foram submetidos à análise
estatística descritiva.
Resultados
Fizeram parte do estudo 20 sujeitos do sexo fe-
minino (n=20), a média de idade foi de 25,35 anos,
variando entre 19 a 40 anos (Tabela 1).
Tabela 1- Ocorrência em número dos indivíduos pesquisados em relação à idade e índice de massa corpórea.
IMC (índice de massa corpórea)
Observa-se na tabela 2, que levando em consi-
deração o membro dominante, o membro superior
direito é dominante em 90% dos entrevistados, e em
10% o membro é o superior esquerdo.
Tabela 2 – Ocorrência em número e percentagem dos indivíduos pesquisados em relação ao membro dominante
Na questão referente a auto-percepção de estres-
se e de ansiedade, verifi cou-se que 85% conside-
ram-se estressados, 15% referiram não ter estresse e
100% afi rmaram apresentar sintomas de ansiedade,
portanto, considera-se que dentre os indivíduos pes-
quisados há maior sensação de ansiedade do que de
estresse (tabela 3).
% (Percentagem), N (Número)
Tabela 3 – Ocorrência em número e percentagem dos indivíduos pesquisados em relação à auto-percepção de estresse e ansiedade.
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Em relação à auto-avaliação de estresse e de an-
siedade, pelo auxílio de uma escala visual analógica,
valendo de 0 a 10, observou-se que a média referente
ao estresse foi de 4,77, variando entre 1,4 a 10. A
média de ansiedade foi de 5,77, variando de 1,3 a
10. Observa-se também através desses dados que os
sujeitos da pesquisa se consideram mais ansiosos do
que estressados, por uma diferença de 1,0 (tabela 4).
Tabela 4 – Ocorrência em número dos indivíduos pesquisados em relação à auto-avaliação de estresse e de ansiedade, de acordo com escala visual analógica de 0 à 10.
A grande maioria, 75% referem possuir algo que
os incomoda na postura, 25% referem não ter algo
que os incomode, 35% são praticantes de atividades
Tabela 5 - Ocorrência em número e percentagem dos indivíduos pesquisados em relação a incômodo na postura, prática de atividade física e a tratamento fi sioterápico.
físicas e apenas 10% estavam realizando tratamento
fi sioterápico, expresso na tabela 5.
Os dados obtidos com os questionários de ansie-
dade apresentou média de 46,65, variando os resul-
tados entre 34 a 61 em relação à ansiedade traço. A
ansiedade estado teve média de 44,8 variando de 38
a 54 o resultado. Por meio desses dados verifi cou-se
que os sintomas de ansiedade dessa população está
mais associado ao traço do que ao estado de ansie-
dade (tabela 6).
Tabela 6 - Ocorrência em número dos indivíduos pesquisados em relação ao questionário ansiedade-traço (Idate-T) e ansiedade-estado (Idate-E).
t
t
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O questionário de lista de sintomas de estresse
demonstrou uma média de freqüência de 58,8 va-
esquerda na vista anterior. O alinhamento horizon-
tal dos acrômios apresentou média de 0,89° para a
direita, variando de 0 a 7,3°. Nos dados referentes
à espinha ilíaca ântero superior ocorreu média de
1,04° para a esquerda. No posicionamento do joelho
(ângulo Q) verifi cou-se que a média do ângulo do
joelho direito foi de 20,09° variando entre 8° a 38,4°;
o ângulo do joelho esquerdo teve média de 22,95°
variando entre 0,2° e 58,7° (tabela 8).
Tabela 7 – Média, Desvio Padrão, Valor mínimo e Valor máximo, dos sintomas de estresse pesquisados com o questionário de avaliação do estresse (VAS).
riando de 13 a 117 a freqüência entre os sujeitos de
acordo com a tabela 7.
Com referência aos dados posturais, os números
acompanhados de sinal negativo (-) referem-se a um
desvio postural para o lado esquerdo; os números
sem sinal, referem-se a um desvio postural para o
lado direito.
O alinhamento horizontal da cabeça teve média
de 0,4° para a esquerda, variando de 0° a 9,5° de-
monstrando que o posicionamento da maioria dos
sujeitos da pesquisa apresentam inclinação para a
Tabela 8 – Valores médios (desvio padrão, média, valor mínimo, valor máximo) dos indivíduos pesquisados para as variáveis da postura em vista anterior.
AHC – Alinhamento horizontal da cabeçaAHA – Alinhamento horizontal dos acrômiosAHEIAS – Alinhamento horizontal das EIASAQD – Ângulo Q direitoAQE – Ângulo Q esquerdo
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No alinhamento horizontal das escápulas em
relação à T3 observou com os dados que a média
encontrada foi de 7,3%, de assimetria para a esquer-
da com variações de 0 a 52,6% na vista posterior
(tabela 9).
Tabela 9 – Valores médios (desvio padrão, média, valor mínimo, valor máximo) dos indivíduos pesquisados para as variáveis da postura em vista posterior.
Os dados observados na tabela 10, na vista late-
ral direita mostraram que o alinhamento da cabeça
tende para anteriorização com média de 17,93°, com
valores variando entre 9,3 a 29,6°. O tronco apre-
sentou inclinação para frente com média de 0,64°.
AHERT3 – Alinhamento horizontal das escápulas em relação à T3
Em relação ao alinhamento horizontal da pelve ob-
servou-se média de 15° para a esquerda, e o Ângulo
do joelho direito apresentou média de 0,21° para a
direita, com variações de 0,2 e 13,4°.
Tabela 10 – Valores médios (desvio padrão, média, valor mínimo, valor máximo) dos indivíduos pesquisados para as variáveis da postura em vista lateral direita.
Os dados observados na tabela 11, na vista lateral
esquerda mostraram que o alinhamento da cabeça
teve média de 16,75°, com valores variando entre
5,6 e 32,7°. O tronco apresentou média de 2,23° para
AVCA – Alinhamento vertical da cabeça em relação ao acrômio direitoAVT – Alinhamento vertical do tronco AHP – Alinhamento horizontal da pélvis AJ – Ângulo do joelho direito
a esquerda. Em relação ao alinhamento horizontal
da pelve observou-se média de 13,9° para a esquerda
e o Ângulo do joelho esquerdo apresentou média de
0,97° para a direita com variações de 0,7 e 11,8°.
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Discussão
Os dados do presente estudo referentes à avalia-
ção postural apontam para um aspecto comum entre
todos os indivíduos estudados, que é a assimetria de
segmentos corporais.
As principais ocorrências das alterações posturais
foram: inclinação da cabeça para a esquerda, com
anteriorização, elevação do ombro direito, aumento
da espinha ilíaca ântero-superior esquerda, joelhos
valgos, escápula esquerda assimétrica, tronco incli-
nado para a frente.
Segundo (KENDALL, 1995) o padrão de postura
ideal consiste em modelo no qual a postura em vista
lateral deve ser como segue: a linha de prumo deve
estar ligeiramente posterior ao maléolo lateral e ao
eixo da articulação do joelho; a articulação do qua-
dril, bem como, os corpos da vértebras lombares, à
articulação do ombro; a maioria dos corpos das vér-
tebras cervicais e o meato auditivo externo, deverão
estar ligeiramente anteriores ao fi o de prumo.
Porém, o padrão ideal, pregado por Kendall, é
uma forma subjetiva do que seria a postura ideal,
não sendo portanto a assimetria, em si, sufi ciente
para dizer que um individuo possui má postura.
A postura está condicionada aos aspectos de
vida do ser humano, recebendo características desde
a genética, até às infl uências psicossociais; ela vai
se moldando para proporcionar o melhor posiciona-
mento ao individuo, portanto pequenas alterações
físicas da postura, sem comprometimento funcional
do movimento, nada mais são do que as alterações
adaptativas.
Sacco et al (2003), com a fi nalidade de analisar
quantitativamente as alterações posturais, adotadas
em determinadas posições, como sentado, deitado,
por fotografi a digital, chegou à conclusão de que há
inúmeros fatores ambientais que infl uem no desen-
volvimento e na manutenção da boa postura. Essas
infl uências ambientais devem ser tornadas favorá-
veis à boa postura, prevenindo dessa forma o desen-
volvimento de alterações posturais que possam ser
prejudiciais à saúde e ao bem estar do ser humano.
Tabela 11 – Valores médios (desvio padrão, média, valor mínimo, valor máximo) dos indivíduos pesquisados para as variáveis da postura em vista lateral esquerda.
AVCA – Alinhamento vertical da cabeça em relação ao acrômio esquerdoAVT – Alinhamento vertical do tronco AHP – Alinhamento horizontal da pélvis AJ – Ângulo do joelho esquerdo
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No estudo de Ferreira (2005) que avaliou o ali-
nhamento postural e o controle postural em 122 su-
jeitos de ambos os sexos, adultos jovens de 19 a 45
anos, observou ele que houve simetria em alguns
segmentos, porém não se pode afi rmar que foi o pa-
drão predominante no estudo, sugerindo que há um
padrão de similaridade para o alinhamento postural,
mas não pode afi rmar que a simetria postural seja
esse padrão.
O estudo de Carneiro et al (2005) observou que a
maioria dos entrevistados apresentou algum tipo de
alteração postural, sendo essas mais predominantes
em homens.
Concordando com os estudos de Ferreira e Car-
neiro (2005), o estudo de Detsh e Tarrago, realizado
com 154 meninas de 6 a 17 anos, para avalia a inci-
dência de desvios posturais, concluiu que é comum
a ocorrência de desvios posturais, principalmente a
partir dos 10 anos, quando passa a ocorrer um per-
centual maior de assimetrias entre medidas do lado
direito e esquerdo da cintura escapular e pélvica.
As principais alterações encontradas no estu-
do foram: a presença de anteriorização de cabeça
(66,23%), a protusão de ombros (47,40%), a abdução
escapular (80,52%) a hipercifose dorsal (10,39%),
a hiperlordose lombar (31,7%) e a cifolordose
(29,22%).
O estudo de Martelli e Traebert (2006), com 420
crianças de 10 a 16 anos de idade, encontrou maior
ocorrência de alterações na coluna vertebral em indiví-
duos destros, sendo a maioria no quesito dominância.
Observou-se também que o IMC dos sujeitos estavam,
em sua maioria, dentro dos padrões de normalidade.
Holderbaum et al. (2002) avaliaram as posturas
no ambiente de trabalho de 19 indivíduos, com a
fi nalidade de detectar se as más posturas adotadas
podem favorecer o surgimento de desvios posturais.
Os dados coletados mostraram que 100% dos fun-
cionários apresentaram, pelo menos, um tipo de
desvio postural e sugerem que a prática de ativida-
de profi ssional em posturas inadequadas favorece a
instalação de desvios posturais.
Em relação aos estados emocionais no presente
estudo, observou-se,por meio de questionário,que a
maior ocorrência de ansiedade foi a ansiedade-tra-
ço, com níveis considerados de ansiedade média. A
auto-percepção de ansiedade em escala de 0 a 10,
obteve-se média de 5,77, também evidenciando ní-
veis de ansiedade média pelos próprios indivíduos
participantes do estudo, confi rmando os resultados
do questionário.
Rosa (1998), em seu estudo sobre o assunto com
fi nalidade de verifi car o efeito do sexo,do nível so-
cioeconômico e da ordem de nascimento em an-
siedade traço-estado, em 437 estudantes de ambos
sexos, verifi cou que as mulheres apresentaram es-
cores mais altos que os homens, tanto em ansieda-
de-traço, como em ansiedade-estado. Além de que o
sexo pode ter importância nos níveis de ansiedade
traço-estado.
Segundo a revisão de literatura de Kenrys e Wy-
gant, 2005, as mulheres apresentam risco signifi can-
temente maior, comparado ao dos homens, para o
desenvolvimento de transtorno de ansiedade ao lon-
go da vida, concordando com os resultados obtidos
por Rosa (1998).
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Ellen Cristina Gesse de Freitas
No estudo de Baldassin et al., 2006, realizado
com adultos jovens, evidenciou-se que um em cada
cinco sujeitos entrevistados apresentou mais de 49
pontos no Inventário de Ansiedade Traço de Spiel-
berger, o que segundo o Inventário é forte indício de
ansiedade alta.
Nas questões referentes ao estresse, no presente
estudo, observou-se que a auto percepção de estresse
por meio de escala analógica de 0 a 10, obteve-se
média de 4,77, evidenciando que os sujeitos da pes-
quisa consideram-se mais ansiosos do que estres-
sados. Os dados obtidos no questionário de estresse
apontam para um grau de estresse médio, dado esse
também obtido através da escala analógica.
Costa et al. (2007) entrevistou 264 policiais numa
capital brasileira e observou que 47,4% dos entre-
vistados evapresentaram sintomas de estresse, com
maior ocorrência no grupo feminino.
Em estudo semelhante ao de Costa et al., 2007,
realizado com juízes, Lipp e Tanganelli, 2002, obti-
veram como resultado nível 8 em escala de 0 a 10
de estresse ocupacional, estando mais presente em
mulheres do que em homens os níveis de estresse.
Calais et al. (2003) pesquisaram sintomas de es-
tresse em 295 estudantes adultos, jovens de 15 a 28
anos, relacionando-os com o sexo e ano escolar em
curso, e concluíram que há correlação signifi cativa
entre sexo e nível de estresse, sendo que as mulheres
apresentaram maiores níveis de estresse.
Apesar de haver vastos estudos que visam a ex-
plicar as tendências a assimetrias corporais e formas
de incentivar melhor percepção corporal, bem como,
de quantifi car e avaliar níveis de ansiedade e estres-
se; são escassos os estudos que têm como objetivo
avaliar os três temas de uma só maneira, pois en-
contram-se muitos estudos isolados,o que difi culta a
comparação de resultados.
Portanto, pesquisas que relacionam os três temas
seria de grande utilidade para pesquisadores que
queiram relacionar postura, ansiedade e estresse.
É necessário estudar maior número de indivíduos,
abordando-se ambos os gêneros para maior confi a-
bilidade dos resultados obtidos.
Conclusão
As principais alterações encontradas na avalia-
ção postural foram de cabeça e pelve na vista ante-
rior e de cabeça e tronco na vista lateral. Os achados
posturais demonstram que a assimetria é a caracte-
rística mais evidente, presente entre os participantes
da pesquisa.
Em relação aos níveis de ansiedade, observou-se
que a maior ocorrência de ansiedade, por meio do
questionário, foi a ansiedade-traço, com níveis con-
siderados de ansiedade média; a auto-percepção de
ansiedade também evidenciou níveis de ansiedade
média pelos participantes do estudo, confi rmando os
resultados sugeridos como referência para o ques-
tionário.
Os níveis de estresse encontrados no presente
estudo, tanto por meio do questionário de estresse,
quanto pela auto-percepção do indivíduo, sugerem
níveis de estresse médio.
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Revista PIBIC, Osasco, v. 4, n.1, 2007, p. 81-94
Alinhamento postural, ansiedade e estresse em adultos jovens
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