Filosofia e Lógica Filosofia e Lógica

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Filosofia e Lógica Filosofia e Lógica Delmo Mattos 2ª edição

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Filosofia e Lógica

Filosofia e Lógica

Delmo Mattos

2ª e

diçã

o

Filosofia e Lógica

DIREÇÃO SUPERIOR Chanceler Joaquim de Oliveira

Reitora Marlene Salgado de Oliveira

Presidente da Mantenedora Jefferson Salgado de Oliveira

Pró-Reitor de Planejamento e Finanças Wellington Salgado de Oliveira

Pró-Reitor de Organização e Desenvolvimento Jefferson Salgado de Oliveira

Pró-Reitor Administrativo Wallace Salgado de Oliveira

Pró-Reitora Acadêmica Jaina dos Santos Mello Ferreira

Pró-Reitor de Extensão Manuel de Souza Esteves

Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Marcio Barros Dutra

DEPARTAMENTO DE ENSINO A DISTÂNCIA Diretora Claudia Antunes Ruas Guimarães

Assessora Andrea Jardim

FICHA TÉCNICA Texto: Delmo Mattos

Revisão: Lívia Antunes Faria Maria e Walter P. Valverde Júnior

Projeto Gráfico e Editoração: Andreza Nacif, Antonia Machado, Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos

Supervisão de Materiais Instrucionais: Janaina Gonçalves de Jesus

Ilustração: Daniel Mattos

Capa: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos

COORDENAÇÃO GERAL: Departamento de Ensino a Distância

Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niterói, RJ, CEP 24020-420 www.universo.edu.br

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universo – Campus Niterói

M444f Mattos, Delmo . Filosofia e lógica. Delmo Mattos ; revisão de Lívia Antunes

Faria Maria e Walter P. Valverde Júnior. – 2.ed. - Niterói, RJ: UNIVERSO, 2010.

218p. ; il.

1. Filosofia. 2. Lógica. I- Maria, Lívia Antunes Faria. II- Valverde Júnior, Walter P. III- Título.

CDD 100

Bibliotecária: ANA MARTA TOLEDO PIZA VIANA – CRB/ 7 - 2224

© Departamento de Ensino a Distância - Universidade Salgado de Oliveira

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma

ou por nenhum meio sem permissão expressa e por escrito da Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura, mantenedora

da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO).

Filosofia e Lógica

Palavra da Reitora

Acompanhando as necessidades de um mundo cada vez mais complexo, exigente

e necessitado de aprendizagem contínua, a Universidade Salgado de Oliveira

(UNIVERSO) apresenta a UNIVERSO Virtual, que reúne os diferentes segmentos do

ensino a distância na universidade. Nosso programa foi desenvolvido segundo as

diretrizes do MEC e baseado em experiências do gênero bem-sucedidas mundialmente.

São inúmeras as vantagens de se estudar a distância e somente por meio dessa

modalidade de ensino são sanadas as dificuldades de tempo e espaço presentes nos

dias de hoje. O aluno tem a possibilidade de administrar seu próprio tempo e gerenciar

seu estudo de acordo com sua disponibilidade, tornando-se responsável pela própria

aprendizagem.

O ensino a distância complementa os estudos presenciais à medida que permite

que alunos e professores, fisicamente distanciados, possam estar a todo momento

ligados por ferramentas de interação presentes na Internet através de nossa plataforma.

Além disso, nosso material didático foi desenvolvido por professores

especializados nessa modalidade de ensino, em que a clareza e objetividade são

fundamentais para a perfeita compreensão dos conteúdos.

A UNIVERSO tem uma história de sucesso no que diz respeito à educação a

distância. Nossa experiência nos remete ao final da década de 80, com o bem-

sucedido projeto Novo Saber. Hoje, oferece uma estrutura em constante processo

de atualização, ampliando as possibilidades de acesso a cursos de atualização,

graduação ou pós-graduação.

Reafirmando seu compromisso com a excelência no ensino e compartilhando

as novas tendências em educação, a UNIVERSO convida seu alunado a conhecer o

programa e usufruir das vantagens que o estudar a distância proporciona.

Seja bem-vindo à UNIVERSO Virtual!

Professora Marlene Salgado de Oliveira

Reitora

Filosofia e Lógica

Filosofia e Lógica

Sumário

1. Apresentação da disciplina ......................................................................................................................................... 06

2. Plano da disciplina .......................................................................................................................................................... 09

3. Unidade 1 – A importância da investigação filosófica ....................................................................................... 13

4. Unidade 2 – As diversas formas de interpretação da realidade: o senso

comum, conhecimento científico e o conhecimento filosófico ..................................................................... 29

5. Unidade 3 – A filosofia conta a sua história: os principais períodos da

história da filosofia .......................................................................................................................................................... 47

6. Unidade 4 – Os principais campos de investigação do conhecimento

filosófico .............................................................................................................................................................................. 63

7. Unidade 5 – O problema do conhecimento e a reflexão acerca da

verdade ................................................................................................................................................................................ 81

8. Unidade 6 – A teoria do conhecimento: A explicação filosófica acerca

das possibilidades do conhecimento humano ..................................................................................................... 95

9. Unidade 7 - Os conceitos fundamentais da Lógica clássica e a sua

aplicabilidade no campo da ........................................................................................................................................ 113

10. Unidade 8 - Matemática e da ciência ...................................................................................................................... 127

11. Unidade 9 - A epistemologia e a filosofia da ciência .......................................................................................... 145

12. Unidade 10 - A filosofia moral: ética, moral e valores humanos .................................................................... 161

13. Unidade 11 - A filosofia política .................................................................................................................................. 177

14. Unidade 12 - A filosofia no Brasil: a questão sobre a existência de uma

filosofia genuinamente brasileira .............................................................................................................................. 193

15. Considerações finais ....................................................................................................................................................... 207

16. Conhecendo o autor ....................................................................................................................................................... 208

17. Referências ......................................................................................................................................................................... 209

18. Anexos ......................................................................................................................................................................................211

Filosofia e Lógica

Apresentação da Disciplina

Você acaba de receber o Livro de Estudo da disciplina Filosofia e Lógica.

Este livro foi elaborado página a página pensando em você e nas suas necessidades. Por isso, leia-o sempre e reflita sobre cada assunto. O estudo constante lhe garantirá maior segurança e aprendizado.

Você já parou para refletir sobre a sua condição de estudante universitário? Em geral, o que um estudante universitário está procurando é um curso que o transforme em um profissional qualificado. Por isso, este se dispõe a ficar alguns anos por conta de obter o diploma que lhe dará crédito no mercado de trabalho. Neste sentido, a universidade é só um meio para alcançar essa ansiada meta: ser profissional para entrar no mercado de trabalho e ter sucesso na vida. Trata-se, portanto, de uma perspectiva individualista que segue uma lógica bastante evidente: eu passei para a universidade, eu devo passar em cada uma das disciplinas, eu devo passar em cada um dos semestres, eu devo fazer minha monografia, eu devo obter meu título ou a minha graduação.

Pensando assim, o terceiro grau é um vago episódio na nossa vida. Ela é somente um “ente” que nos confere um título. Usando a experiência universitária neste sentido, jogamos fora a grande chance que a universidade nos dá: pertencer a uma longínqua tradição. Tradição de pensamento, tradição de conhecimento, tradição de busca, tradição de sentimento. Perdemos a oportunidade de vivenciar a experiência de pertencer a uma teia que tem raízes muito profundas na história humana, pois o conhecimento, em qualquer das áreas de especialização, não é outra coisa que o resultado dos esforços de milhares de homens e mulheres que, ao longo dos milênios, acumularam saber e o transmitiram de geração em geração até o presente e o farão no futuro.

Assim, a disciplina de Filosofia será apresentada sob esta forma de ver nosso percurso pela universidade: eu chego à faculdade onde serei iniciado numa tradição de conhecimento que está, por sua vez, conectada intimamente com a história do pensamento e do conhecimento da humanidade. Ao final disso, serei um iniciado capaz de perpetuar essa tradição, transmitindo e ampliando seus conteúdos. Tornar-me-ei um membro legítimo de um grupo de seres humanos que durante milênios perseguiram o seu desejo de conhecer o mundo que os rodeia, a sociedade e a si mesmos.

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Filosofia e Lógica

Como a Filosofia é uma instituição que tem uma tradição e uma história de

mais de vinte e cinco séculos, nada mais coerente com o nosso propósito de

estudar a disciplina Filosofia é travar um debate com a sua própria história. Assim, a

melhor maneira de se estudar Filosofia é refazermos o percurso percorrido pela

história da Filosofia desde o seu nascimento. Sem vivenciar o passado filosófico,

sem examinar a sua problemática através de uma prévia visão retrospectiva do seu

evoluir histórico, é quase impossível compreendê-la. Porque de todos os saberes

nenhum é tão comprometido como o seu passado histórico do que a Filosofia.

Outros saberes ou ciências aceitam os resultados da sua evolução histórica,

bastando apenas o aproveitamento destes sem a necessidade de se reportar a sua

própria história. A Filosofia, ao contrário de outras ciências, historicamente se

constitui, em parte, em si mesma, porque a construção histórica da Filosofia já é um

filosofar e, portanto, é já Filosofia. Por isso, a necessidade de ao estudar a Filosofia

tenha necessariamente que iniciar por refazer minuciosamente a sua própria

história para compreender a sua problemática, a sua importância e finalidade como

também reconhecer que o que somos e o que temos é resultado de uma grande

aventura que se chama: história da humanidade.

Levando em conta tudo o que foi dito acima, a nossa disciplina tem por

finalidade principal:

- Capacitação para um modo especificamente filosófico de formular e

propor soluções a problemas nos diversos campos do conhecimento;

- Capacidade de desenvolver uma consciência crítica sobre

conhecimento, razão e realidade sócio-histórico-política;

- Estimular a aquisição de competências adequadas ao exercício

profissional compromissado com o “aprender a aprender”,

possibilitando o crescimento pessoal e o amadurecimento intelectual;

- Compreensão da importância das questões acerca do sentido e da

significação da própria existência e das produções culturais;

- Percepção da integração necessária entre a Filosofia e a produção

científica, artística, bem como com o agir pessoal e político;

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Filosofia e Lógica

-

Capacidade de relacionar o exercício da crítica filosófica com a promoção

integral da cidadania e com o respeito à pessoa, dentro da tradição de

defesa dos direitos humanos.

- Capacitar o discente a interpretar, discutir e relacionar logicamente os

conceitos e dados de cada disciplina específica.

Aceite esse desafio que lhe convidamos agora, mergulhe de cabeça neste

imenso oceano do pensamento e do raciocínio, e deixe o resto por conta de sua

competência e destreza. Bom estudo !

Não esqueça de se organizar! Reserve um horário para leituras

complementares, fazer seus exercícios, garantindo assim um ótimo desempenho.

Desejamos que você tenha um excelente estudo e alcance o sucesso!

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Filosofia e Lógica

Plano da Disciplina

Esta disciplina foi elaborada tendo em vista fornecer um quadro geral de

uma determinada questão filosófica, o que facilita o seu estudo em profundidade, pois permite facilmente uma visão segura do campo geral em que está colocada cada questão particular da Filosofia. Desta forma, não se constitui em uma síntese esquemática e sufocante para os estudantes, mas oferece uma exposição que realça o que é de essencial sobre uma determinada questão ou assunto, deixando outras para que você tenha iniciativa de investigá-las por conta própria. Há assim uma unidade que se manifesta no equilíbrio da exposição, na proporção e hierarquia dos assuntos apresentados. Além disso, a elaboração do conteúdo desta disciplina tem por objetivo fazer com que você se contagie pelo gosto do raciocínio e utilização da reflexão crítica, pois veremos que esta disciplina lhe trará satisfação e liberdade.

Segue abaixo um pequeno resumo acerca de cada unidade para que você possa ter uma visão global daquilo que irá estudar.

UNIDADE 1: A IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO FILOSÓFICA.

Objetivo: Procuramos através desta unidade mostrar a relevância e a necessidade do estudo da disciplina Filosofia, focando, sobretudo, o seu aspecto questionador como um exercício da liberdade da humana. Por outro lado, faz-se necessário investigar a sua necessidade diante das especificidades da sociedade em que vivemos.

UNIDADE 2: AS DIVERSAS FORMAS DE INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE: SENSO COMUM, CONHECIMENTO CIENTÍFICO E O CONHECIMENTO FILOSÓFICO.

Objetivo: Compreender que a interpretação humana da realidade se dá através de várias formas, sendo estas formas as relações que o homem compreende e interpreta o mundo. Caracterizar cada uma dessas formas de interpretação da realidade, Senso Comum, Conhecimento Científico e Conhecimento Filosófico indicando suas características marcantes a fim de problematizar o que as distinguem uma das outras.

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Filosofia e Lógica

UNIDADE 3: O NASCIMENTO DA FILOSOFIA E O SEU ESTABELECIMENTO

ENQUANTO CONHECIMENTO RACIONAL.

Objetivo: Compreender as condições que permitiram o surgimento de uma

nova forma de pensar denominada de Filosofia. Problematizar a discussão,

inicialmente, em torno do pensamento mítico, mostrando que a Filosofia se inicia a

partir deste pensamento. Mostrar as principais características da Filosofia em seu

nascimento na Grécia, e o que especulavam os primeiros filósofos.

UNIDADE 4: A FILOSOFIA CONTA A SUA HISTÓRIA: OS PRINCIPAIS PERÍODOS

DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA.

Objetivo: Compreender a evolução da Filosofia através dos principais

períodos da sua história. Trata-se, portanto, de percorrer a história da Filosofia

através dos seus momentos e dos tipos de abordagem que variam ao longo da

história da humanidade.

UNIDADE 5: OS PRINCIPAIS CAMPOS DE INVESTIGAÇÃO DO CONHECIMENTO

FILOSÓFICO.

Objetivo: Procuramos através desta unidade delinear algumas das principais

disciplinas ou ramos da Filosofia. Nosso objetivo principal é mostrar o

desdobramento da Filosofia em vários campos de conhecimento.

UNIDADE 6: O PROBLEMA DO CONHECIMENTO E A REFLEXÃO ACERCA DA

VERDADE.

Objetivo: O objetivo desta unidade é fornecer uma introdução ao problema

do conhecimento. Procuramos destacar alguns aspectos iniciais acerca deste

problema, tais como: o conceito de verdade e a questão da relação entre o sujeito e

o objeto, à medida que fornecemos uma preparação para a próxima unidade em

que analisaremos a teoria do conhecimento propriamente dita.

UNIDADE 7: A TEORIA DO CONHECIMENTO: A EXPLICAÇÃO FILOSÓFICA

ACERCA DAS POSSIBILIDADES DO CONHECIMENTO HUMANO.

Objetivo: Pretende-se apresentar o desenvolvimento histórico do tema e dos

problemas da teoria do conhecimento pelo estudo dos problemas filosóficos

relativos ao alcance, limite e origem do conhecimento.

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Filosofia e Lógica

UNIDADE 8: OS CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA LÓGICA CLÁSSICA E A SUA

APLICABILIDADE NO CAMPO DA MATEMÁTICA E DA CIÊNCIA.

Objetivo: Através do exame de um ramo específico da Filosofia denominada

de Lógica, iremos analisar os conceitos fundamentais da Lógica Clássica, como

também a sua aplicabilidade no campo da matemática e da ciência. Com isto,

pretendemos conduzi-lo a uma abordagem que contemple tanto o aspecto da

lógica no sentido filosófico, como também a sua aplicabilidade e funcionalidade no

âmbito das ciências exatas.

UNIDADE 9: A FILOSOFIA DA CIÊNCIA.

Objetivo: O objetivo desta unidade é de examinar a constituição da filosofia

da ciência e fornecer uma apreciação mais ampla dos argumentos que

transformaram o debate sobre a ciência numa discussão sobre os valores e o

compromisso do conhecimento científico para com a sociedade.

UNIDADE 10: ÉTICA, MORAL E VALORES HUMANOS.

Objetivo: Esta unidade constitui uma reflexão sobre o significado dos

conceitos de ética e moral. Começaremos por apresentar o significado dos valores

morais, para a partir desses, examinarmos os conceitos de moral e de ética.

UNIDADE 11: A FILOSOFIA POLÍTICA.

Objetivo: Fornecer uma análise dos problemas fundamentais da filosofia

política com base em alguns temas e autores relevantes que apresentam

problemas que continuam sendo fundamentais na reflexão sobre o poder, o

Estado, as instituições sociais e as relações entre os seres humanos.

UNIDADE 12: FILOSOFIA NO BRASIL: A QUESTÃO SOBRE A EXISTÊNCIA DE

UMA FILOSOFIA GENUINAMENTE BRASILEIRA.

Objetivo: Esta unidade possui como objeto apresentar uma reflexão acerca da

genuinidade da reflexão de uma filosofia brasileira. Procura mostrar alguns

aspectos do debate sobre a originalidade da filosofia no Brasil, como também,

delineia a trajetória da formação de um pensamento filosófico no Brasil, seja ele

genuíno ou não.

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Filosofia e Lógica

Filosofia e Lógica

A Importância da Investigação Filosófica

O que é Filosofia e por que é necessário estudá-la?

A utilidade da reflexão Filosófica.

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Filosofia e Lógica

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Caro aluno, seja bem-vindo a nossa primeira unidade. Ela visa delinear a

configuração do pensamento filosófico. Para isso, buscamos compreender a

questão acerca da sua utilidade através de uma breve explicação da relevância da

Filosofia como atitude de questionamento da realidade. Espero que por intermédio

desta explicação você se sinta mais confortável ao se introduzir no espetacular

“mundo da Filosofia”.

OBJETIVOS DA UNIDADE:

Reconhecer a relevância e a necessidade do estudo da disciplina Filosofia,

focando, sobretudo, o seu aspecto questionador como um exercício da liberdade

humana e investigar a sua necessidade diante das especificidades da sociedade em

que vivemos.

PLANO DA UNIDADE:

• O que é Filosofia e por que é necessário estudá-la?

• A utilidade da reflexão Filosófica.

Bem-vindo à primeira unidade de estudo.

Sucesso!

Filosofia e Lógica

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O que é filosofia e por que é necessário estudá-la?

Uma definição precisa do real significado do que é Filosofia é quase

impraticável. Difícil se torna entender a definição de Filosofia sem se possuir uma

vivência, por mais insignificante que seja, acerca dos seus “problemas”

fundamentais. Dessa forma, o significado ou a simples definição do que é Filosofia,

formulado no início de qualquer compêndio ou tratado,

só passa adquirir pleno sentido e profunda ressonância

no entendimento do estudante de Filosofia, quando este,

assimiladas certas questões fundamentais, pode aplicá-

las a situações concretas e deduzir daí como procede a

reflexão filosófica. Pois bem, afinal de contas, por que é

necessário estudar Filosofia?

Segundo Porta (2002, p. 25), “para quem não se dedicou a um estudo

sistemático da filosofia e tem um contato primário com essa disciplina, a impressão

de um certo caos é inevitável”. A Filosofia, neste sentido, é compreendida como

uma disciplina em que cada Filósofo ou autor pode dizer o que quiser sobre o

conteúdo e o discurso filosófico. Porém, esta impressão é falsa, ou seja, a reflexão

filosófica não pode ser compreendida assim. Se o

estudante de Filosofia não entende o que os

Filósofos dizem, acreditando que cada um

meramente diz “o que quer”, isso pode ser explicado

pelo fato de que não se entende o “problema” que

os Filósofos apresentam ou, ainda, porque não

constata que existam “problemas”. Esse é um dos

motivos principais que nos faz entender o motivo básico da falta de interesse pelo

estudo da Filosofia.

Compêndio: Estudo

introdutório e

sintetizado de uma

determinada disciplina

ou assunto.

Filosofia e Lógica

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IMPORTANTE

No entanto, a Filosofia está repleta de “problemas”, e mais, a lista

dos “problemas” filosóficos está submetida a uma constante revisão, que

nunca tem fim. Ora, pode-se dizer que se a Filosofia se faz com “problemas”,

quando este não há, tampouco pode haver Filosofia propriamente dita. Isto é

lógico! Bom, se a Filosofia se faz com “problemas”, você já deve estar se

perguntando: quais são os “problemas” da Filosofia? Por incrível que pareça os

“problemas” fundamentais da Filosofia se originam do “espanto” e da

“perplexidade” que temos diante das coisas que parecem ser comuns a nós.

Assim, na visão de Garcia Morente (1970, p. 33-34):

“Para abordar a Filosofia, para entrar no território da

Filosofia, é absolutamente indispensável uma primeira

disposição de ânimo. É absolutamente indispensável que

o aspirante a filósofo sinta a necessidade de levar a seu

estudo uma disposição infantil. Quem quiser ser filósofo

necessitará infantilizar-se, transformar-se em menino.”

Esta afirmação paradoxal de Garcia Morente nos coloca diante do mais

importante ou o ponto de partida de todos os “problemas” que irão permear o

estudo da Filosofia, ou seja, o “espanto” ou a “perplexidade” como o início de todo

o processo da reflexão filosófica.

Espanto - Usa-se o termo “espanto” no sentido de admiração e inquietação

diante da realidade. A primeira virtude do Filósofo, afirmava Platão, é o espanto (em

grego: thaumázein) que significa a capacidade de admirar e problematizar as coisas.

Filosofia e Lógica

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O que significa este “espanto” e tal “perplexidade” para com as coisas, com a

realidade em que estamos inseridos? Ora, a capacidade de se

espantar diante das coisas, de se admirar é uma característica

própria de todo ser humano. Do “espanto” e da “perplexidade”

surge a nossa capacidade de interrogação, ou seja, de uma

busca incessante de uma explicação plausível para os fatos sobre

os quais nos deparamos, pelas coisas que vivemos, sentimos, da

nossa realidade e das coisas que ainda podemos esperar. Esta atitude é comparada

com a de uma criança ou um menino, como vimos na citação de Morente.

Doravante, o sentido de que a disposição do ânimo que se faz presente na origem

do processo da reflexão filosófica deve consistir necessariamente em perceber e

sentir por onde quer que for, tanto no âmbito de nossas vidas, tanto no âmbito da

realidade que participamos, um sentimento de admiração, espanto e de uma

curiosidade insaciável, como a de uma criança que inicialmente não compreende

nada e para quem tudo está repleto de “problemas”.

É neste sentido que a etimologia da palavra

Filosofia é compreendida. O termo “Filosofia”

significava originariamente “amante da sabedoria”,

tendo surgido com a famosa réplica de Pitágoras aos

que o chamavam de “sábio”. Insistia Pitágoras em que

sua sabedoria consistia unicamente em reconhecer sua

ignorância, não devendo, portanto, ser chamado de

“sábio”, mas apenas de “amante da sabedoria”. Nesta

acepção, a Filosofia apresenta-se como uma busca

incessante pelo saber, através do “espanto” originário

de todo ser humano. Com efeito, a Filosofia mantém

acesa a capacidade humana de espantar-se com tudo,

na medida em que chama a nossa atenção de que nada

é tão óbvio assim e que todas as coisas são passíveis de

“espanto” e “perplexidade”. Nada pode escapar ao olhar

crítico de quem se espanta com os fatos. Quem se

“espanta” também possui a capacidade de questionar,

de duvidar, pois o “espanto” e a “perplexidade” são a

base para a atitude questionadora da Filosofia.

A palavra filosofia é grega. É

composta por duas outras:

philo e sophia. Philo deriva de

philia, que significa amizade,

amor fraterno, respeito entre

os iguais. Sophia quer dizer

sabedoria e dela vem a

palavra sophos, sábio.

Pitágoras - Atribui-se ao

filósofo grego Pitágoras de

Samos (que viveu no século V

antes de Cristo) a invenção

da palavra filosofia. Pitágoras

teria afirmado que a

sabedoria plena e completa

pertence aos deuses, mas

que os homens podem

desejá-la ou amá-la,

tornando-se filósofos.

Filosofia e Lógica

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Dizia Pitágoras que três tipos de pessoas compareciam aos jogos olímpicos (a

festa mais importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos, ali

estando apenas para servir aos seus próprios interesses e sem preocupação com as

disputas e os torneios; as que iam para competir, isto é, os atletas e artistas (pois

durante os jogos também havia competições artísticas: dança, poesia, música,

teatro) e as que iam para contemplar os jogos e torneios, para avaliar o

desempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Este terceiro tipo de

pessoa, dizia Pitágoras, é como o filósofo.

Se você percebeu, através do que apresentamos acima, delineamos a principal

característica da Filosofia, talvez o seu postulado fundamental, que é o seu caráter

de questionamento. Através desta caracterização, podemos, enfim, entender a

importância e a finalidade de se estudar a Filosofia.

De acordo com Iglesias (2002, p. 17):

“Ora, quando uma sociedade em que as explicações estão

prontas, onde as normas são aceitáveis sem discussão, a

tendência é estagnar. As alterações, inevitáveis em

qualquer comunidade humana, ficam por conta de fatores

externos: mudanças climáticas, cataclismas, guerras,

invasões... Mas onde há questionamento de tudo existe

um princípio interno de transformação, e existe a

permanente possibilidade de mudança.”

Como se pode notar pela citação da autora acima, na maioria das vezes a

sociedade, em seu cotidiano, é repleta de crenças, muitas vezes “silenciosas”, em

que as explicações “prontas” nos fazem aceitar as coisas e as ideias como sendo

óbvias e naturais. Isso pode ser explicado porque em nossa “experiência cotidiana”

na sociedade, surge uma série de concepções que são aceitas de modo que se

tornam um consenso entre os seus membros. Ao acharmos como óbvias tais

concepções, estas se tornam uma verdade incontestável, mas na verdade elas

escondem ideias e valores falsos, parciais e preconceituosos.

Filosofia e Lógica

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Mas por que razão acreditamos nestas crenças e nestes valores? Acreditamos

porque não nos espantamos e nem temos uma perplexidade diante deles. Apenas

acreditamos, na medida em que fazemos parte de uma sociedade que não

estimula aquela curiosidade insaciável tal como a de uma criança. Pois, aquele para

quem tudo resulta muito natural e óbvio, nunca poderá compreender que há uma

falta de fundamentação, uma ambiguidade e uma incompatibilidade entre os fatos

do cotidiano, isto é, da “experiência cotidiana”.

Desta forma, a Filosofia pressupõe uma “não-aceitação” às crenças e aos

preceitos da “experiência cotidiana”. Quando não aceitamos mais as coisas como

óbvias, introduzimos na nossa atitude com a realidade certo distanciamento

daquilo que é consenso, daquilo que é aceito por todos. Por esta atitude, somos

instigados a questionar as crenças e os valores da “experiência cotidiana” e, ao

questionarmos, exigimos respostas e justificações para as crenças e valores que

dominam a sociedade.

Segundo Chauí (2005, p. 18):

“Para Platão, o discípulo de Sócrates, a Filosofia começa com

a admiração ou, como escreve seu discípulo Aristóteles, a

Filosofia começa com o espanto ‘... pois os homens começam

e começaram sempre a filosofar movidos pelo espanto (...)

Aquele que se coloca uma dificuldade e se espanta

reconhece a sua própria ignorância (...) De sorte que, se

filosofaram, foi para fugir da ignorância.”

Lembra que dissemos acima que o “espanto” e a “perplexidade” são a base para a atitude questionadora da Filosofia? Pois então, aí está sinalizado o caminho para compreendermos porque precisamos estudar Filosofia. O “espanto” e a “perplexidade” que temos das coisas significam nada mais do que o reconhecimento da nossa ignorância e, ao reconhecê-la, já estamos nos pondo diante de sua superação. Se nos espantamos com algo é porque este nos produz uma inquietação. Tal inquietação, certamente, nos

Filosofia e Lógica

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conduzirá a um amontoado de questionamentos e indagações a respeito de algo,

isto, portanto, só é possível na medida em que tomamos distância da “experiência

cotidiana”, fugindo assim do consenso, daquilo que é aceito por todos sem uma

prévia indagação.

Desta forma, esse distanciamento configura-se como uma diferenciação, não

aceitar o costumeiro é se distanciar do consenso, do comum, isto é, daquilo que

não contém a atitude questionadora da Filosofia. Já vimos que a Filosofia tem

como base a função de questionar, de refletir sobre os “fatos do cotidiano”. Assim,

através da Filosofia, podemos conhecer a fundo a nossa capacidade de refletir e

questionar. Você deve estar se perguntando em que sentido o estudo da Filosofia

pode te levar a avaliar a sua capacidade reflexiva. A resposta é que ao utilizarmos a

nossa capacidade de questionar e refletir, podemos exercer o poder de transformar

a realidade que nos cerca e a nós mesmos, pois ao questionarmos ou nos

espantarmos com certas coisas que são tidas como óbvias, estamos praticando

nada mais do que o exercício de liberdade. Ora, sem questionarmos as coisas, não

poderíamos ser de modo algum livres. Considerar as coisas, a “experiência

cotidiana” sem um prévio questionamento é não ser dono de nossas próprias

ações na medida em que se é movido por causas que não são as nossas. Essa é a

diferença entre quem estuda Filosofia e aqueles que vivem imersos em valores e

crenças do cotidiano. Estes não possuem o poder de reflexão e, por isso mesmo,

não podem escolher por si mesmo o curso de ação que irão adotar.

É neste momento que fica bastante claro a necessidade de se estudar Filosofia.

A atitude de questionamento e de indagação é a condição de possibilidade para

nos tornarmos livres. Se for assim, então o estudo da Filosofia está muito próximo

da liberdade. Assim, se o questionamento e a indagação levam-nos a liberdade, e

se a Filosofia nos permite usar essa capacidade de questionar as coisas com mais

profundidade tal como a atitude de uma criança, então a Filosofia pode ser

compreendida como uma ferramenta primordial para o exercício de nossa

liberdade, pois nos leva a refletir sobre as coisas mais claramente, resultando no

uso de nossa capacidade de escolha com mais plenitude.

Filosofia e Lógica

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Eis, então, a resposta para a pergunta da necessidade de se estudar Filosofia,

ou seja, o exercício e o estudo da Filosofia é a expressão mais profunda e plena da

nossa liberdade. Ela representa a liberdade do refletir, do pensar e que, portanto,

nos conduz a agirmos livremente. O estudo da Filosofia pressupõe que reflitamos e

indagamos o sentido de nossas vidas, nossas ações e a realidade que nos rodeia, a

situação do nosso país, os valores e as crenças da nossa sociedade etc.

A utilidade da reflexão filosófica

Há uma questão que muita gente formula de imediato quando ouve falar da

Filosofia: qual a utilidade da Filosofia? Podemos ver acima que a principal

característica da Filosofia consiste no caráter questionador e no exercício da

liberdade. Será que estas características da Filosofia estão em conformidade com a

realidade da nossa sociedade? Qual seria a utilidade da Filosofia em relação a esta

realidade?

Ora, na nossa sociedade atual é considerado útil aquilo que possui uma

finalidade prática e imediata. Tudo se processa ou tem razão de existir se tiver uma

aplicação prática que forneça algum resultado imediato, não é isso? Um exemplo

deste fato é que todo mundo sabe que todo aquele que estuda engenharia, de

uma maneira geral, irá participar da construção de edifícios, ruas, bairros, cidades

etc. Todos sabem que a utilidade de se filmar um roteiro cinematográfico é, senão,

para que as pessoas vejam o tal enredo sendo encenado e que ao assistirem ao

filme pronto se emocionem, que se tal filme for bem aceito pelo público, seja

merecedor de um Oscar e que ao ser visto por milhões de telespectadores, ele

retorne em dividendos para seus produtores. Tudo hoje em dia é visto sob este

aspecto finalístico, em que tudo que é feito possui uma razão de ser.

Segundo Chauí (2005, p. 24):

“(...) Nossa sociedade considera útil o que nos dá prestígio,

poder, fama e riqueza. Julga o útil pelos resultados visíveis

das coisas e das ações, identificando sua possível

utilidade, como na famosa expressão ‘levar vantagem em

tudo. ’”

Filosofia e Lógica

22

Sobre este aspecto, não há, certamente, expectativa

alguma de que a Filosofia contribua para a produção de

riqueza material. Contudo, a menos que suponhamos

que a riqueza material seja a única coisa de valor, a

incapacidade da Filosofia de promover este tipo de

riqueza não implica em que não haja sentido prático em

filosofar. Ora, se a Filosofia não traz riquezas, em muito

menos nos dá prestígio ou poder. Por que, então há pessoas que se dedicam a essa

atividade? Para que serve a filosofia?

Para respondermos a tal indagação, faz-se necessário, em primeiro lugar,

refletir sobre a expressão “para que serve?”. Primeiramente, devemos nos ater que

a própria questão acerca do que “para que serve?” já é o começo de toda atitude

filosófica, isto é, o ato de refletir.

A questão acerca do que “para que serve?”, de antemão, pressupõe uma visão

utilitária das coisas. No entanto, no sentido utilitário das coisas, não há como

vislumbrar para que serviria a Filosofia. Aí então, poderíamos dizer a célebre

expressão: a Filosofia não serve para nada! Mas, tal expressão só poderia fazer

sentido se limitássemos a pensar a Filosofia através da possibilidade de que com

ela se poderia obter uma utilidade econômica, isto é, obter lucro com a sua

utilização. Se for assim, a Filosofia sempre permanecerá no direito de se manter

inteiramente inútil.

Se ao contrário, pensássemos a utilidade da Filosofia sem a visão utilitária que

permeia a nossa sociedade, isto é, sem a visão do que o que é útil pressupõe uma

finalidade, uma utilidade prática, poderíamos pensar a utilidade da Filosofia de

uma outra forma. Você deve estar ansioso para saber qual seria a utilidade da

Filosofia, não é? Então vamos lá!

A utilidade da Filosofia se faz presente quando, com e para com ela

abandonamos as crenças e os valores pré-concebidos. Ela se faz útil quando

através dela exercemos nossa capacidade de ser livre. Ser livre, neste sentido é não

aceitar que os valores e as crenças sem fundamentos possam governar nossas

vidas. Além disso, a Filosofia está disposta a recuperar a unidade do saber na

medida em que em nossos dias, o saber se “pulveriza” em uma gama de

Filosofia e Lógica

23

especializações que resulta em uma perda de visão mais ampla do conhecimento humano. Ao recuperar esta visão perdida sobre a visão unitária do conhecimento, a Filosofia procura questionar a validade dos métodos e critérios adotados pelas ciências. A Filosofia torna-se útil quando busca compreender e investigar as respostas à finalidade, ao sentido e ao valor da vida e de toda a realidade. Por este aspecto, ela torna-se o mais útil de todos os saberes que a humanidade foi capaz de conceber.

Enfim, podemos agora com toda a clareza afirmar que a Filosofia possui uma utilidade, mas que a sua utilidade nada tem a ver com o sentido de utilidade que a nossa sociedade é regida. No entanto, ainda pode haver alguém que discorde dessa ideia e nos convença de que a Filosofia é o contrário de tudo o que dissemos, ou seja, “ela é justamente a ciência com a qual, ou sem a qual, o mundo continua tal e qual!”.

LEITURA COMPLEMENTAR:

JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. 3ª ed. São

Paulo: Cultrix, (1980). 188p.

BLACKBURN, S. Dicionário Oxford de Filosofia. Trad. Desidério Murcho: Rio

de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. 437p.

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo,

presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo,

além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso

prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente

virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Chegamos ao final desta unidade. Esperamos que você tenha compreendido a

relevância do estudo da Filosofia através dos argumentos apresentados acima e que a partir desta unidade, você se sinta estimulado a prosseguir com mais confiança e segurança ao exame dos problemas fundamentais da Filosofia. Então, te espero na próxima unidade. Ainda temos muito que estudar!

Filosofia e Lógica

24

Exercícios – unidade 1

1. Complete a frase a abaixo.

“A __________ da Filosofia se faz presente quando, com e para com ela

__________ as crenças e os valores pré-concebidos. Ela se faz útil quando através

dela exercemos nossa capacidade de ser livre. _____ , neste sentido, é não aceitar

que os valores e as crenças sem __________ possam governar nossas vidas. Além

disso, a Filosofia está disposta a __________ do saber na medida em que em

nossos dias, o saber se “pulveriza” em uma gama de especializações que resulta em

uma perda de visão mais ampla do _______________”.

a) Utilidade - abandonamos - ser livre - fundamento - recuperar a unidade - conhecimento humano.

b) Inutilidade - abandonamos - ser bom - esquecimento - recuperar a unidade - conhecimento desumano.

c) Utilidade - achamos - ser mau - esquecimento - recuperar a inutilidade - conhecimento humano.

d) Inutilidade - abandonamos - ser livre - fundamento - enumerar e unidade - conhecimento insano.

e) Utilidade - abandonamos - ser bom - esquecimento - recuperar a unidade - conhecimento inato.

2. Marque a única resposta incorreta:

a) Uma definição precisa do real significado do que é Filosofia é quase impraticável.

b) Do “espanto” e da “perplexidade” surge a nossa capacidade de interrogação.

c) A questão acerca do que “para que serve?”, de antemão, pressupõe uma visão não-utilitária das coisas dos princípios.

d) A Filosofia pressupõe uma “não-aceitação” às crenças e aos preceitos da “experiência cotidiana”.

e) Na nossa sociedade atual é considerado útil aquilo que possui uma finalidade prática e imediata.

Filosofia e Lógica

25

3. Dizia Pitágoras que três tipos de pessoas compareciam aos jogos Olímpicos (a

festa mais importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos, ali

estando apenas para servir aos seus próprios interesses e sem preocupação com as

disputas e os torneios; as que iam para competir, isto é, os atletas e artistas (pois

durante os jogos também havia competições artísticas: dança, poesia, música,

teatro); e as que iam para contemplar os jogos e torneios, para avaliar o

desempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Este terceiro tipo de

pessoa, dizia Pitágoras, é o:

a) Sofista.

b) Hermeneuta.

c) Médico.

d) Filósofo.

e) Atleta.

4. Coloque (V) se a questão for verdadeira ou (F) se for falsa:

( ) A utilidade da filosofia é facilmente perceptível.

( ) A inutilidade da filosofia proclamada pelo senso comum decorre dele não tomar o significado de útil como aquilo que traz vantagem imediata.

( ) A diferença entre ser útil e inútil depende do significado atribuído à palavra “útil”.

( ) Muitas vezes o senso comum só percebe como útil aquilo que é empregado no seu dia-a-dia.

( ) O senso comum só utiliza a filosofia quando esta é atualizada.

a) F – F – V - V - F

b) V - F - V - V - V

c) F - F - F - F - V

d) V - V - V - F - F

e) V - V - F - V - V

Filosofia e Lógica

26

5. Sabemos que os “problemas” fundamentais da Filosofia possuem uma origem

bastante precisa. Quais são estes problemas fundamentais pelos quais a Filosofia se

principia?

a) O inesperado e o absurdo.

b) O próprio ato de discordar.

c) O “espanto” e a “perplexidade”.

d) A dúvida em relação ao existir.

e) O espanto e da falta de clareza das coisas.

6. Sabemos que Filosofia se opõe ao pensamento mítico. O que se pode entender

por mito?

a) Um conjunto de livros e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos físicos por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa.

b) Um conjunto de narrativas e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos físicos por intermédio da linguagem matemática.

c) Um conjunto de livros e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de obras filosóficas por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa.

d) Um conjunto de narrativas e doutrinas, o mito caracteriza-se por oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos racionais por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa.

e) Um conjunto de narrativas e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos fantasiosos por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa.

7. Qual o significado da palavra “Filosofia”? a) Amigo dos preconceitos. b) Liberdade de pensamento. c) Amante da sabedoria. d) Questionamento. e) Amante da disputa.

Filosofia e Lógica

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8. Marque a única afirmativa correta:

a) Filosofia torna-se útil quando busca compreender e investigar as respostas à finalidade, ao sentido e ao valor da vida e de toda a realidade.

b) Filosofia torna-se útil quando busca compreender e investigar porque o consenso é útil para nossas vidas.

c) Filosofia torna-se útil quando busca compreender e investigar as respostas à finalidade, ao sentido e ao valor da consciência física e de toda a irrealidade.

d) Filosofia torna-se útil quando busca compreender e investigar as respostas à finalidade daquilo que não precisa possuir finalidade.

e) Filosofia torna-se inútil quando busca compreender e investigar as respostas à finalidade, ao sentido e ao valor da vida e de toda a realidade.

9. Para Garcia Morente (1970, p. 33-34):

“Para abordar a Filosofia, para entrar no território da Filosofia, é absolutamente

indispensável uma primeira disposição de ânimo. É absolutamente indispensável

que o aspirante a filósofo sinta a necessidade de levar o seu estudo uma disposição

infantil. Quem quiser ser filósofo necessitará infantilizar-se, transformar-se em

menino”.

Comente a afirmação de Morente, procurando evidenciar o aspecto de todo o processo da reflexão filosófica. _____________________________________________________________________

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10. Relacione a expressão “para que serve?” com a concepção do que é útil e do

que é inútil na sociedade em que vivemos ?

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ASDIVERSAS FORMAS DE INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE:SENSO COMUM, CONHECIMENTO CIENTÍFICO E

O CONHECIMENTO FILOSÓFICO.

As formas de interpretação da realidade.

O senso comum e sua caracterização.

O conhecimento científico e a sua caracterização.

O conhecimento filosófico e a sua caracterização.

2

Filosofia e Lógica

30

Na unidade anterior, compreendemos a importância e a utilidade da Filosofia.

Vimos que pensar filosoficamente é possível a qualquer um, bastando apenas certo

distanciamento do “pensar ingênuo”, comum ao dogmatismo e que sejam

colocadas questões fundamentais sobre a realidade. Nesta unidade, veremos quais

são as formas humanas de interpretação da realidade.

OBJETIVOS DA UNIDADE:

• compreender que a interpretação humana da realidade se dá através de

várias formas, sendo tais formas as relações que o homem compreende e

interpreta o mundo; caracterizar cada uma dessas formas de interpretação da

realidade: o senso comum, o conhecimento científico e o conhecimento filosófico,

indicando suas características marcantes, a fim de problematizar o que as

distinguem.

PLANO DA UNIDADE:

• As formas de interpretação da realidade.

• O senso comum e sua caracterização.

• O conhecimento científico e a sua caracterização.

• O conhecimento filosófico e a sua caracterização.

Bons estudos!

 

Filosofia e Lógica

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As formas de interpretação da realidade

O nosso objetivo nesta disciplina é o estudo da Filosofia em geral. No entanto,

devemos ressaltar que a Filosofia não é a única forma de saber ou de

conhecimento. Existem outras formas sob as quais interpretamos a realidade e

buscamos respostas para nossos problemas. A partir deste momento, iremos

conhecer as outras formas de interpretação da realidade, de modo que possamos

distingui-las umas das outras e buscar compreender o papel da Filosofia diante de

outras formas de interpretação da realidade. Cercado pelas coisas do mundo no

convívio com seus semelhantes, o homem é um ser que, diferentemente dos

demais, problematiza a realidade que o rodeia, colocando perguntas e

investigando possíveis respostas. O homem não se contenta em simplesmente

estar ou transitar entre as coisas, mas procura esclarecer o seu significado, seu

porquê, ou seja, as causas das coisas.

Para Buzzi (1992, p. 73),

“A diferença do animal que vive no puro aberto, que não vê

espaço e o tempo, o homem vê sempre dentro de uma

moldura, define e delimita as coisas. Isso é o seu espaço. As

coisas são vistas a partir desse espaço. São colhidas dentro

de um determinado horizonte. Surge daí aquilo que

chamamos de mundo, história, cultura, sociedade. Não

vemos jamais as coisas puras em si, vemos a partir de uma

representação, nas malhas de uma interpretação.”

IMPORTANTE

Todo indivíduo, ao nascer, já se encontra imediatamente inserido em um

mundo previamente interpretado. Desde o nascimento, encontramos

um “sistema” de coisas com uma significação definida, transmitida pela cultura de

uma determinada sociedade. A interpretação da realidade é uma necessidade

essencial do ser humano, pois surge da necessidade de resolver certos problemas

impulsionados pelos mais variados interesses. Assim, de acordo com certos

interesses, o homem interpreta a realidade das mais variadas formas.

Filosofia e Lógica

32

Há muitos modos de se conhecer e interpretar a realidade que dependem da

postura do homem frente às suas necessidades fundamentais. De acordo com esta

postura, a interpretação da realidade pode ser explicada através do mito, do Senso

Comum, da Ciência, da Filosofia e da Arte. Todos eles são formas de conhecimento,

pois cada um, a seu modo, oferece uma resposta para os mais variados interesses

do homem, atribuindo-lhes um sentido.

Sendo assim, o mito é um modo de interpretação da realidade em que ocorre

o apelo ao sagrado na medida em que fornece segurança e conforto ao homem. O

Senso Comum ou “conhecimento espontâneo” é a primeira compreensão do

mundo resultante da herança do grupo a que pertencemos e das experiências

atuais que continuam sendo efetuadas. A ciência procura descobrir o

funcionamento da natureza através, principalmente, das relações de causa e efeito,

busca o conhecimento objetivo e lógico, através de métodos desenvolvidos para

manter a coerência interna de suas afirmações. Dotada de aplicabilidade, pode

resultar em tecnologias que permitem ao homem intervir na natureza. A Filosofia,

por sua vez, propõe oferecer um tipo de conhecimento que busca, com todo o

rigor, a origem dos problemas, relacionando-os a outros aspectos da vida humana,

numa abordagem “totalizante”, e o conhecimento proporcionado pela Arte nos dá

não o conhecimento de um objeto, mas de um mundo interpretado pela

sensibilidade do artista e traduzido numa obra individual.

Como vimos, podemos conhecer e interpretar a realidade de diversas

maneiras. A seguir, iremos examinar os três tipos básicos de interpretação da

realidade: Senso Comum, Conhecimento Científico e a Filosofia. Deixaremos o mito

para uma outra unidade e a Arte, não entraremos no mérito da questão.

O senso comum e sua caracterização

No seu cotidiano, o homem adquire espontaneamente um modo de entender

e atuar sobre a realidade que o cerca. Algumas pessoas, por exemplo, não passam

por baixo de escadas, porque acreditam que dão azar, outras acham que se

quebrarem um espelho podem ter sete anos de azar. Algumas confeiteiras sabem

que o forno não pode ser aberto enquanto o bolo está assando, senão ele “sola”,

sabem também que determinados pratos, feitos em “banho-maria”, deve-se

acrescentar algumas gotas de limão para que a vasilha em que está inserido não

Filosofia e Lógica

33

fique escura. Como estas pessoas aprendem tais informações? Elas foram

transmitidas de geração para geração. Elas não só foram assimiladas como também

transformadas, contribuindo assim para uma compreensão da realidade. Em todos

os tempos, o homem se defronta com dificuldades de ordem prática que

necessitam de soluções imediatas e imprescindíveis para a sua sobrevivência e seu

bem-estar.

IMPORTANTE

Com efeito, podemos perceber que este tipo de conhecimento é

um produto de uma prática que se faz social e historicamente. Todas as

explicações para a vida, para as regras de comportamento, para o trabalho, para os

fenômenos da natureza etc., passam a fazer parte das explicações para tudo o que

observamos e “experimentamos”. Todos estes são elementos assimilados ou

transformados de forma espontânea. Por isso, raramente há questionamento sobre

outras possibilidades de explicações para a realidade. Acostumamos-nos a uma

determinada compreensão de mundo e não mais questionamos, nos tornamos

“conformistas de algum conformismo”.

Aos que não detêm o conhecimento científico, resta buscar a resolução de

seus problemas cotidianos sem a ajuda das construções racionais e metódicas da

ciência, sem os instrumentos que a ciência desenvolveu para que se atinja uma

melhor compreensão do mundo. Dotados de informações e interpretações que

adquirem com a experiência de vida, os “homens comuns” procuram dar respostas

às questões e às necessidades de seu mundo baseados num “conhecimento” cujo

conjunto de formulações a ciência denomina: senso comum ou conhecimento

espontâneo. Portanto, podemos dizer que o senso comum é o modo comum,

corrente e espontâneo de conhecer e interpretar a realidade, que se adquire no

trato direto com as coisas e os seres humanos; é o saber que prevalece em nossas

vidas diárias, aquele que é sem comprovação ou estudo, sem a aplicação de um

estudo (método) mais cuidadoso e sem se haver refletido sobre algo que é

afirmado como verdade.

Filosofia e Lógica

34

Muitas das concepções do senso comum transformam-se em frases feitas ou

ditados populares, como por exemplo: “homem que é homem não chora”, “filho de

peixe, peixinho é”, “Deus ajuda a quem cedo madruga”. Frases como estas,

repetidas irrefletidamente no cotidiano, na verdade escondem ideias falsas,

parciais e preconceituosas. Mas, o que caracteriza basicamente as ideias

provenientes do senso comum não é a sua verdade ou falsidade, mas uma falta de

fundamentação. Ou seja, não nos preocupamos com o porquê destas ideias. Elas

são aceitas, repetidas e até defendidas, mas não sabemos explicá-las. Trata-se,

portanto, de um conhecimento adquirido sem uma base crítica ou de

questionamento.

Isto explica o motivo pelo qual o senso comum apresenta-se como um

conhecimento superficial adquirido espontaneamente, sem preocupação com o

método, com a crítica ou com a sistematização. Desta forma, o senso comum é

indisciplinar e ametódico; não resulta de uma prática especificamente orientada

para o produzir, reproduz-se espontaneamente no suceder quotidiano da vida. Por

último, o senso comum é retórico e metafórico; não ensina, persuade.

As principais características do senso comum são:

• Subjetivo: Só exprime sentimentos e opiniões individuais de um determinado grupo, variando de indivíduo para indivíduo, conforme as condições em que se vive;

• Natural: Transmitido de “pai para filho” quase da mesma forma como se transmitem as características genéticas - sem qualquer esforço consciente, sem intenção nem intervenção da vontade;

• Conservador: O novo, as mudanças, o desconhecido é evitado, pois exigiria maior empenho do pensamento e uma mudança de hábitos;

• Preconceituoso: Não há o costume de verificar e checar as informações, os valores e os comportamentos que são repetidos pela maioria.

• Fragmentário: Não percebe os fatos relacionados entre si, embora diferentes na aparência. Assim, as ideias desenvolvem-se independentemente umas das outras, opiniões contrárias são submetidas ao mesmo tempo; algo dito agora, pode ser negado por outra coisa dita logo depois;

Filosofia e Lógica

35

Espontâneo ou intuitivo: Surge como se não obedecesse a nenhuma determinação da razão, se faz por imitação e da associação por analogias.

Porém, é importante assinalar que o senso comum é uma forma válida de

conhecimento e explicação da realidade, pois o homem precisa dele para se

orientar, resolver ou superar suas necessidades imediatas do cotidiano.

Os pais, por exemplo, educam seus filhos mesmo não sendo psicólogos ou

pedagogos e nem sempre os filhos de pedagogos ou psicólogos são mais bem

educados.

Levando em conta a reflexão feita até aqui, podemos considerar o senso

comum como sendo uma visão de mundo, uma explicação precária e fragmentada

da realidade. Mesmo possuindo o seu valor enquanto processo de construção e

explicação do conhecimento e da realidade, ele deve ser superado por um tipo de

explicação que o incorpore, que se estenda a uma concepção crítica e coerente e

que possibilite, até mesmo, o acesso a um saber mais elaborado, como a ciência e a

Filosofia.

Mostraremos a você, no próximo tópico, o que é e o que caracteriza o

conhecimento científico.

O conhecimento científico e a sua caracterização

Quando nos deparamos com o tema ciência, uma polêmica logo se faz

presente quanto ao significado que se quer dar ao termo. Assim, para o senso

comum, a ciência significa uma coisa, como significou outra coisa para Aristóteles e

Platão. Tem ainda um significado bem específico para os filósofos e cientistas da

contemporaneidade. Para o senso comum, a ciência pode significar habilidade na

execução de uma tarefa específica ou uma informação mais apurada sobre um

determinado assunto. Nos dias atuais, a ciência reveste-se de um caráter especial:

não é simplesmente uma habilidade especial, nem um conhecimento obtido com

o uso da razão sobre um objeto qualquer, mas sim um conhecimento rigoroso,

sistematizado e demonstrado metodicamente.

Filosofia e Lógica

36

É neste sentido que trataremos de examinar o

conhecimento científico, ou seja, através do seu caráter

sistemático, metodológico e do seu rigor. Diferentemente do

senso comum que concebia o mundo fragmentado, a ciência

ou o conhecimento científico passa a conceber os fatos do

mundo através de uma explicação investigativa, cuja causa

deve ser explicada e comprovada. Explicar uma causa é

resolver um problema sobre o porquê de um fato. No entanto,

no caso do conhecimento científico, somente se pode explicar

um fato através da utilização de um método adequado.

IMPORTANTE

A palavra método tem sua origem na língua grega (em grego, ‘meta’

quer dizer ‘através de’, ‘por meio’ de e ‘hodós’, ‘caminho’). O método,

portanto, sinaliza para a ciência que suas especulações precisam seguir um

caminho para se obter resultados seguros, embora este caminho não lhe traga

garantias de que os resultados esperados sejam realmente o que buscamos. É

como você ter uma receita e querer fazer um bolo. A receita é o método e o bolo é

a solução do problema que você irá resolver. Na ciência, tudo se passa como se

alguém perguntasse se o “bolo está bom”, e você respondesse que ele está

delicioso porque você seguiu perfeitamente a receita. Ou seja, você não pode

aperfeiçoar seu bolo com toques especiais na preparação, não pode pôr seus

preconceitos e sentimentos, e muito menos suas crenças pessoais. A ciência quer

somente que seu bolo seja conforme a receita diz.

Tudo bem que a receita pode, em certos casos, ser omissa, mas neste,

você pode fazer o que quiser, sem ficar em desacordo com o método.

O método é um estranho caminho que nos leva a um

lugar, mas não temos certeza que lugar é este. Assim, o

método configura-se como um “roteiro de pesquisa”, ou

seja, uma orientação que guia a ciência na busca das

explicações sobre os fatos. No entanto, é importante notar

que a utilidade do método para a ciência não consiste em

A Ciência é um

conhecimento

racional, metódico,

verificável e

sistemático que visa

estabelecer relações

necessárias entre as

coisas.

Filosofia e Lógica

37

chegar a conclusões dos seus problemas mais gerais, mas, sobretudo, em evitar

que a sua atividade se perca enquanto procura resolver seus problemas. Ou seja, o

método não garante que se chegue lá aonde se quer chegar, mas garante que não

se assumam certos procedimentos em desacordo com o procedimento científico.

O método científico pode ser resumido em quatro momentos principais: a

observação, a hipótese, a experimentação e a generalização. Veja cada um a seguir:

A observação científica: Observar é uma das atitudes mais comuns de todo ser

humano. Observarmos o comportamento dos outros, como se vestem, como

falam, como comem, observamos o clima, entre outras coisas. Este tipo de

observação, normalmente, ocorre de uma forma superficial e aleatória, isto é,

observamos por acaso, sem uma preocupação de levarmos isso a diante, pois esta

observação é própria de nossa consciência espontânea ou natural. Ao contrário da

observação natural, a observação científica só se dá numa consciência

anteriormente preparada para a pesquisa científica. Portanto, a observação

científica pressupõe um conjunto de conhecimentos e informações prévias daquilo

que se está observando.

A hipótese científica: A observação científica pode originar uma hipótese

científica. Por hipótese, deve-se entender uma explicação provisória que necessita

de um amadurecimento maior e uma averiguação posterior.

A experimentação científica: A característica da hipótese consiste em não

concluir a certeza ou a evidência, pois assim não seria mais considerada uma

hipótese, mas um postulado. Uma vez lançada a hipótese, a ciência prepara as

condições necessárias para a sua verificação. Enquanto no primeiro momento a

observação se dá in loco, aqui a observação se faz a partir de um artifício, pois o

cientista forja uma situação em que o objeto de seu estudo pode receber um

tratamento mais minucioso. Além disso, a ciência faz uso dos instrumentos que

considera adequado para o controle do mesmo.

A Generalização: Uma vez confirmada a hipótese, o cientista chega ao

momento mais almejado: a generalização da sua hipótese, ou seja, a conclusão

obtida em que seja aplicada a situações semelhantes àquela particularmente

testada.

Filosofia e Lógica

38

As generalizações são, portanto, o ponto de chegada de uma pesquisa

científica. No entanto, esta deve proceder de uma linguagem apropriada. Isto quer

dizer que a ciência possui uma linguagem extremamente rigorosa cujos conceitos

são definidos, a fim de evitar ambiguidades. Desta forma, a linguagem científica

torna-se cada vez mais precisa, na medida em que utiliza a matemática como a

linguagem específica da ciência. A matematização da ciência se inicia a partir do

século XVII com Galileu Galilei. Depois deste, os acontecimentos do mundo são

interpretados e representados matematicamente, portanto, experimentados e

medidos.

As principais características do Conhecimento científico são:

• Sistematização: A ciência organiza-se sob a forma sistêmica, isto é,

em sistemas. Por sistema entende-se o caráter orgânico e coerente

em que as hipóteses e conclusões da ciência estão dispostas;

• Verificação: As conclusões científicas são passíveis de verificação.

Em certos casos, através destas experiências, uma hipótese é

comprovada, tornando-se, por sua vez, uma teoria;

• Operatividade: Consiste no postulado de que todo e qualquer

conceito científico somente tem valor científico se for definido

mediante uma série de operações físicas, experiências e medidas

idealmente possíveis;

• Objetividade: Capacidade de distanciamento de todo elemento

afetivo e subjetivo, isto é, tendência a ser independente dos

“sentimentos pessoais”. A objetividade da ciência quer dizer,

sobretudo, que o seu conhecimento tem um caráter universal.

No próximo tópico mostraremos a você o que é e o que caracteriza o

conhecimento filosófico.

Filosofia e Lógica

39

O conhecimento filosófico e a sua caracterização

A Filosofia é uma forma de interpretação da realidade como a ciência e o senso comum. Diferentemente da ciência, a Filosofia não assenta em experimentações nem em observação, sua especificidade está no pensamento. Ao contrário do senso comum, a Filosofia não surge da necessidade de se enfrentar as circunstâncias imediatas sem a necessidade de uma prévia discussão ou fundamentação.

De uma maneira geral, o que diferencia o conhecimento filosófico das outras formas de conhecimento é a maneira como problematiza as coisas. A Filosofia é uma forma de reflexão, ou melhor, uma reflexão crítica acerca dos fundamentos de todas as coisas. Ela pode ser considerada uma ciência, mas uma ciência que possui a pretensão de obter as explicações mais complexas e profundas sobre todas as coisas, a partir de suas causas e seus fins últimos. Não vá pensando que os mesmos problemas da ciência sejam os problemas da Filosofia. A ciência pretende alcançar a determinação constante dos nexos, ou seja, a regularidade dos fenômenos, com a descrição do que acontece na realidade e suas causas próprias, suscetíveis de serem registradas pela experiência. A experiência permite fornecer uma uniformidade às investigações científicas, de modo que esta adquire mais objetividade. Ao contrário, a Filosofia pretende saber as razões últimas de todos os seres, sem a preocupação de uma referência à experiência, pois a Filosofia parte da experiência vivida o que permite ir além da mera constatação científica.

IMPORTANTE

O conhecimento filosófico é um saber crítico e conceitual. A exigência da crítica é própria do ideal da Filosofia. Trata-se de um conhecimento que se assenta em base crítica, mas não basta apenas a crítica para caracterizar a Filosofia. Esta é uma atividade de investigação e questionamento permanente. A atitude filosófica exige uma insatisfação constante para a abertura de novos horizontes, a fim de solucionar os problemas mais gerais que se impõe aos homens. Enfim, podemos concluir que a Filosofia é uma forma de conhecimento que, a partir da reflexão rigorosa, radical e totalizante sobre o real, procura construir um conhecimento cada vez mais verdadeiro através da sua atitude questionadora, a fim de ultrapassar o caráter finito e óbvio da interpretação superficial que apresenta o saber comum.

Filosofia e Lógica

40

As principais características do conhecimento filosófico são:

• A Filosofia é uma atividade racional, pois exige a utilização do pensamento. Por sua vez, o uso da razão torna viável a reflexão e a crítica, cuja principal finalidade é a procura da verdade e do sentido da existência humana. O uso da razão permite ainda a autonomia e a independência intelectual, ou seja, pensar por si mesmo;

• A Filosofia procura os fundamentos, as causas fundamentais da realidade de modo a encontrar a sua essência. Procura a razão de ser das coisas, o seu sentido geral, a verdade que se encontra por trás das aparências. Esta, portanto, implica em um questionamento e uma problematização constante. Exige uma solução para as perguntas que vai ao “por que” último das coisas;

• A Filosofia pressupõe inquietações que interessam a todos os homens. Desta forma, os temas da Filosofia são temas universais, pois exprimem inquietações próprias de toda a humanidade.

LEITURA COMPLEMENTAR:

GARCIA MORENTE, Manuel. Fundamentos de filosofia. 8ª edição. São Paulo: Mestre Jou, 1980. 324p.

CORBISIER, Roland. Introdução à filosofia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1986, 288p.

REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. 4ª ed. São Paulo, Saraiva, 1994 2002. 322p.

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Nesta unidade foram apresentadas as diferentes formas de interpretação da realidade. Cada uma delas é um modo como o homem interpreta a realidade que o cerca. Espero que você tenha compreendido a questão acerca dos modos como interpretamos a realidade. Na próxima unidade, vamos analisar o surgimento da Filosofia, ou seja, o seu nascimento na Grécia antiga. Até lá!

Filosofia e Lógica

41

Exercícios – unidade 2 1. Qual das alternativas abaixo é concernente à caracterização do caráter “subjetivo” do senso comum?

a) Só exprime sentimentos e opiniões individuais de um determinado grupo, variando de indivíduo para indivíduo, conforme as condições em que se vive.

b) Transmitido de “pai para filho” quase da mesma forma como se transmitem as características genéticas - sem qualquer esforço consciente, sem intenção nem intervenção da vontade.

c) O novo, as mudanças, o desconhecido é evitado, pois exigiria maior empenho do pensamento e uma mudança de hábitos.

d) Não há o costume de verificar e checar as informações, os valores e os comportamentos que são repetidos pela maioria.

e) Não percebe os fatos relacionados entre si, embora diferentes na aparência. Assim, as ideias desenvolvem-se independentemente umas das outras, opiniões contrárias são submetidas ao mesmo tempo; algo dito agora, pode ser negado por outra coisa dita logo depois.

2. Complete a frase abaixo. No seu cotidiano, __________ adquire __________ um modo de entender e atuar sobre a _______ que o cerca.

a) O animal, criticamente, realidade.

b) O homem, criticamente, realidade.

c) O homem, espontaneamente, realidade.

d) O animal, reflexivamente, realidade.

e) O homem, reflexivamente, realidade.

Filosofia e Lógica

42

3. Dentre as alternativas abaixo, qual delas caracteriza a “hipótese científica”?

a) Deve-se entender como uma “explicação científica” provisória que necessita

de um amadurecimento maior e uma averiguação posterior.

b) Deve-se entender como uma verificação inconsequente e imprevisível.

c) Consiste no postulado de que todo e qualquer conceito científico somente

tem valor científico se for definido mediante uma série de operações físicas,

experiências e medidas idealmente possíveis.

d) Consiste em uma hipótese, ou seja, uma conclusão obtida em que seja

aplicada a situações semelhantes àquela particularmente testada.

e) Deve-se entender como uma atividade racional que exige a retrospectiva do

pensamento.

4. Qual das alternativas a seguir refere-se à caracterização de “generalização”.

a) Capacidade de distanciamento de todo elemento afetivo e subjetivo, isto é,

tendência a ser independente dos “sentimentos pessoais”.

b) Entende-se o caráter orgânico e coerente em que as hipóteses e conclusões

da ciência estão dispostas.

c) Uma conclusão obtida em que seja aplicada a situações semelhantes àquela

particularmente testada.

d) Entende-se o caráter orgânico e coerente em que as falácias e conclusões da

ciência estão dispostas.

e) Capacidade de congestionamento de todo elemento afetivo e objetivo, isto é,

tendência a ser independente dos “sentimentos impessoais”.

Filosofia e Lógica

43

5. Das alternativas abaixo, qual delas reapresenta uma característica do conhecimento filosófico?

a) Espontâneo.

b) Fragmentário.

c) Impreciso.

d) Procura da verdade e do sentido da existência humana.

e) Desonesto.

6. Há muitos modos de se conhecer e interpretar a realidade que dependem da postura do homem frente às suas necessidades fundamentais. Quais são eles?

a) A hipótese, a lei, a generalização e a memorização.

b) O mito, o Senso Comum, a Ciência, a Filosofia e a Arte.

c) O mito, o senso comum, a ciência, a memorização e a arte.

d) A lei, a regra, a generalização e a arte.

e) O mito, a hipótese, a generalização e a ciência.

7. Para Buzzi, o que diferencia o animal do homem?

a) Para Buzzi, o animal vive no puro aberto e não vê o espaço e o tempo. O homem, por sua vez, vê sempre dentro de uma moldura pela qual define e delimita as coisas.

b) Para Buzzi, o animal vive no puro aberto no qual estabelece uma relação com o espaço e o tempo. O homem, por sua vez, vê sempre dentro de uma moldura pela qual define e delimita as coisas.

c) Para Buzzi, o animal vive no puro aberto no qual estabelece uma relação com o espaço e o tempo. O homem, por sua vez, é limitado à estrutura irracional.

d) Para Buzzi, o animal vive no puro aberto no qual não estabelece uma relação com o espaço e o tempo. O homem, por sua vez, vê sempre dentro de uma moldura pela qual define e delimita as coisas.

e) Para Buzzi, o animal, apesar de não viver no puro aberto, estabelece uma relação com o espaço e o tempo. O homem, por sua vez, não consegue ver dentro de uma moldura pela qual define e delimita as coisas.

Filosofia e Lógica

44

8. Complete a seguinte frase:

“O ______ é um estranho caminho que nos leva a um lugar, mas não temos certeza

que lugar é este. Assim, o método configura-se como ____________, ou seja, uma

orientação que guia _______ na busca das explicações sobre os fatos. No entanto,

é importante notar que a utilidade do método para a ciência não consiste em

chegar a _________ dos seus problemas mais gerais, mas, sobretudo, em evitar que

a sua atividade se perca enquanto procura resolver seus problemas”.

a) Método, um “roteiro de pesquisa”, a ciência, conclusões.

b) Vocabulário, um “roteiro de pesquisa”, a ciência, conclusões.

c) Sentido, um “roteiro de pesquisa”, a ciência, conclusões.

d) Método, um “roteiro de pesquisa”, o senso comum, conclusões.

e) Vocabulário, um “roteiro de pesquisa”, a ciência, conclusões.

9. Atente ao texto que se segue:

“Quando uma pessoa faz um bolo, segue a receita e incorpora uma série de

informações para melhor sucesso do seu trabalho. Sabe que ao bater as claras dos

ovos, elas crescem e tornam-se esbranquiçadas; sabe que não convém abrir o forno

quando o bolo começa a cozinhar senão ele sola: que medida adequada de fermento

faz o bolo crescer. Se fizer um pudim em “Banho-Maria”, sabe que uma rodela de limão

na água evita o crescimento deste na vasilha, o que facilitará o trabalho posterior. Essa

pessoa sabe tudo isso, mas não sabe explicar o porquê e como ocorrem esses

fenômenos, não conhecendo as suas causas constitutivas”. (Autor desconhecido).

Filosofia e Lógica

45

A) Identifique o tipo de conhecimento a que o texto se refere.

_____________________________________________________________________

B) Cite duas características deste tipo de conhecimento.

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

10. O que significa a “operatividade” e a “objetividade” no conhecimento

científico?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

Filosofia e Lógica

46

Filosofia e Lógica

47

O NASCIMENTO DA FILOSOFIA E O SEU ESTABELECIMENTO ENQUANTO CONHECIMENTO RACIONAL

A origem da Filosofia.

A questão do Mito.

O nascimento da Filosofia: a passagem do Mito para a Razão.

3

Filosofia e Lógica

48

Na unidade anterior, compreendemos que a Filosofia é apenas uma forma de

compreender a realidade. Nesta unidade, vamos mostrar a você como a Filosofia

nasceu e as condições para o seu surgimento na Grécia no século VI a.C..

Preparado? Vamos lá!

OBJETIVOS DA UNIDADE:

compreender as condições que permitiram o surgimento de uma nova forma

de pensar denominada de Filosofia; problematizar a discussão, inicialmente, em

torno do pensamento mítico, mostrando que a Filosofia se inicia a partir deste

pensamento; mostrar as principais características da Filosofia em seu nascimento

na Grécia e o que especulavam os primeiros filósofos.

PLANO DA UNIDADE:

• A origem da Filosofia.

• A questão do Mito.

• O nascimento da Filosofia: a passagem do Mito para a Razão.

Bons estudos!

Filosofia e Lógica

49

A origem da filosofia

A questão sobre a origem da Filosofia pergunta como a Filosofia começa, ou

seja, como ocorre o seu nascimento. A tendência de todo e qualquer estudioso no

assunto é responder a esta questão através da exposição sobre o antigo “mundo

grego” e um relato das questões que intrigavam os gregos, entre os séculos VI a.C.

e IV a.C, na Ásia menor. Essa tendência imediata é fundamental para a

compreensão histórica do surgimento da Filosofia.

O nascimento da Filosofia pressupõe uma ruptura com certo modo de

pensamento predominante na Grécia Antiga. Alguns historiadores da Filosofia

costumam afirmar que a Filosofia surge quando se abandona o mito, substituindo-

o pela “explicação racional”. A “explicação racional” de que

falamos é aquilo que o logos expressa, isto é, a razão. Assim,

a Filosofia surge, pois, quando o logos (razão) substitui o

mito na função de explicação da realidade. Esse novo modo de interpretar a realidade é

considerado oposto ao pensamento mítico (mito). É como se na Grécia, no século VI a.C., os homens tomassem consciência de que a realidade que os cercava não era algo de tão misterioso, celestial e divino, mas ao contrário, podia ser perfeitamente conhecido através da razão ou de um discurso racional. O descrédito com que a explicação mítica apresentava-se dentro da sociedade grega é, portanto, o que tornará possível o nascimento de uma nova forma de interpretação da realidade: a Filosofia.

Logos – Essa palavra

sintetiza vários

significados em

português, como por

exemplo, narrar,

proferir, falar, refletir,

mas daremos

preferência ao seu

significado como razão.

Filosofia e Lógica

50

Vejamos como isto aconteceu.

A questão do mito

Na antiguidade, antes do estabelecimento da Filosofia enquanto saber racional, os mitos eram a principal forma de compreensão da realidade, da origem do universo e do funcionamento da natureza. Originalmente em grego, Mythos designa uma palavra formulada, quer se trata de uma narrativa, de um diálogo ou de uma anunciação. Dessa forma, o mito é um conjunto de narrativas e doutrinas tradicionais dos poetas ou rapsodos (aedos) acerca do mundo, do homem e de Deus. Como um conjunto de narrativas e doutrinas, isto é, o mito caracteriza-se por oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos fantasiosos por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa.

Para Eliade (1986, p. 7):

“(...) o mito narra como, graças às façanhas dos entes

sobrenaturais, uma realidade que passou a existir, seja ela

uma realidade total, isto é, o Cosmo ou apenas um

fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um

comportamento humano, uma instituição. É sempre,

portanto, uma narrativa de uma “criação”: Ele relata de que

modo foi produzido e começou a ser. O mito fala apenas do

que realmente ocorreu, do que se manifestou plenamente.”

Mito vem da palavra

grega Mythos que

significa discurso,

rumor, palavra

proferida, conselho e

prescrição.

Filosofia e Lógica

51

Conforme a citação acima, os mitos descrevem

essencialmente a origem de alguma coisa (o universo, o homem,

o mal, o trabalho, as estações do ano, etc.) através de uma

linguagem própria e não-racional. A narração sobre a origem é

designada de genealogia, ou seja, uma narrativa acerca da

geração, do nascimento de algo.

Consideremos um exemplo da narrativa mítica a obra do

poeta Grego Hesíodo (séc. VIII-VII a.C.) ‘Teogonia’. Nessa obra,

Hesíodo declama que é a partir do “caos primordial” que surgem

as divindades Eros (amor) e Gaia (terra). Esta, portanto, dá origem

a Urano (céu) e Pontos (mar) sozinha, isto é, por meio da

segregação. Depois, unindo-se a Urano graças à influência de

Eros – princípio da coesão do universo -, Gaia dá início às gerações divinas. O

trecho a seguir expõe a explicação mítica para a origem da noite, da dor e dos

combates:

“Noite pariu hediondo Lote, Sorte negra e Morte, pariu Sono

e pariu a grei dos Sonhos. A seguir, Escárnio e Miséria cheia

de Dor. Com nenhum conúbio divino pariu-os a Noite

trevosa. As Hespérides que vigiam além do ínclito Oceano

Belas macas de ouro e as árvores frutificantes Pariu e as

Partes e as Sortes que punem sem dó: Fiadeira, Distributiz e

Inflexível que os mortais tão logo nascidos dão haveres de

bem e de mal (...)” (HESÍODO Apud SOUZA, 1995, p. 40).

Percebeu como a linguagem mítica é repleta de símbolos sobrenaturais através dos quais as “forças emergentes” vão se transformando em divindades: a Terra é Gaia, o Céu é Urano, o Tempo é Cronos. Esses seres nascem, portanto, ora da segregação, ora pela intervenção de Eros (Amor). Através desse exemplo, podemos perceber que o pensamento mítico apela para uma explicação da realidade fazendo uso do sobrenatural e do mistério. São os Deuses, as divindades que governam a realidade, a natureza e o próprio homem. O mito não pode ser desprezado enquanto uma interpretação da realidade, ele possui uma função muito importante dentro de uma cultura específica.

Genealogia:

Essa palavra na

terminologia

grega génos,

significa

nascimento,

tempo, origem,

lugar e

condição do

nascimento.

Filosofia e Lógica

52

Segundo Buzzi (1992, p. 81),

“O conhecimento expresso em mitos traduz uma intelecção

do ser de validade originária e primária, que se coloca num

plano diferente da lógica racional, mas dotado de igual

dignidade.”

Na visão de Buzzi, o mito apesar de se contrapor à razão (lógica racional)

também possui a sua função coerente dentro do contexto da cultura Grega.

Podemos considerar como papel do mito acomodar e tranquilizar o ser humano

diante dos acontecimentos do mundo, fornecendo uma base de sustentação para

o bem viver.

De acordo com Marcondes (2001, p. 21),

“De fato, desse ponto de vista, o pensamento mítico tem

uma característica até certo ponto paradoxal. Se, por um

lado, pretende fornecer uma explicação da realidade, por

outro, recorre nessa explicação ao mistério e ao sobrenatural,

ou seja, exatamente aquilo que não se pode explicar, que

não se pode compreender por estar fora do plano da

compreensão humana. A explicação dada pelo pensamento

mítico esbarra assim no inexplicável, impossibilidade do

conhecimento.”

Isto justifica porque a explicação mítica vai perdendo sua relevância dentro da

sociedade grega que tem como consequência o nascimento da Filosofia. O

aparecimento da Filosofia tem a ver com um rompimento com o pensamento

mítico à medida que este não satisfaz plenamente a uma explicação coerente e

racional sobre a realidade.

No próximo tópico analisaremos como se dá exatamente esse rompimento

com o pensamento mítico e como a partir dele nasce a Filosofia.

Filosofia e Lógica

53

O nascimento da filosofia: a passagem do mito à razão

Foi utilizando o significado do mito na Grécia que afirmamos que o

nascimento da Filosofia representa um rompimento, uma passagem do

pensamento mítico para o pensamento racional. No entanto, devemos ressaltar

que a Filosofia não nasceu na Grécia repentinamente, de uma hora para outra, mas

é fruto de um longo processo o qual teve início com o pensamento mítico.

Devemos, neste instante, nos perguntar: O que tornou possível o surgimento da

Filosofia na Grécia no século VI a.C.? Quais as condições para que tal fato

acontecesse?

Filosofia e Lógica

54

IMPORTANTE

Podemos apontar alguns fatores que levaram os Gregos a filosofar.

Dentre eles, o comércio assume importância definitiva, possibilitando o

desenvolvimento da moeda. A viagem entre os Gregos possibilitou a aquisição de

novos conhecimentos técnicos e geográficos através do contato com outras

civilizações e diferentes formas de vida. Nas mentes mais despertas, a sabedoria

popular, representada pelos ensinamentos rotineiros dos poetas, começa a

aparecer inadequada. No que diz respeito à moral, os valores bélicos e

aristocráticos encontram-se defasados, já que as relações comerciais exigem

normas de justiça e de direito como base para as trocas. O conhecimento dos

outros povos pelos gregos cria a convicção de que cada povo e cada raça

representavam de maneira diversa os deuses. Em suma, todos esses motivos levam

os gregos a acreditar que a interpretação da realidade e da convivência humana

deve assentar-se em bases inteligíveis e racionais.

É nesse sentido que o pensamento mítico vai

paulatinamente perdendo sentido e deixando de satisfazer às necessidades de uma nova sociedade, preocupada, sobretudo, com a realidade concreta e com a atividade política intensa à medida que cria as condições favoráveis para o surgimento de um pensamento mais racional.

A explicação racional (logos) começa quando a ideia de uma explicação divina sobre as coisas cede lugar a uma explicação proveniente da própria natureza. Portanto, foi o mundo natural que despertou nos primeiros filósofos o exercício de uma especulação racional. Por esta razão é que Aristóteles denomina os primeiros filósofos de físicos na medida em que as suas especulações buscam fornecer uma explicação causal dos processos e dos fenômenos naturais a partir de causas genuinamente naturais, ou seja, no âmbito da natureza e não em mundo sobrenatural e divino como as explicações míticas. É sob essa perspectiva que se permite compreender tanto a originalidade como a transcendência histórica da interrogação dos primeiros filósofos gregos sobre a arché ou o princípio último.

Explicação causal -

Princípio fundamental da

razão aplicada segundo o

qual “todo o fenômeno

possui uma causa”, “tudo o

que acontece ou começa a

ser supõe, antes dele, algo

do qual resulta segundo

uma regra” (Kant).

Filosofia e Lógica

55

De início, o princípio único que os primeiros filósofos buscavam, isto é, a arché

(princípio fundamental), é retirada da natureza, embora tendo um valor ideal,

mantém, por assim dizer, uma consistência concreta. As especulações em busca

das causas (arché) são, portanto, o objeto de investigação e preocupação dos

primeiros filósofos, denominados de Pré-socráticos. No entanto, como a procura da

arché não poderia ser de ordem sobrenatural e misteriosa, esta reporta

necessariamente aos eventos naturais. Tais eventos são denominados por estes

filósofos originários de physis (natureza). Diante disso, é possível compreender que

a própria interrogação acerca da arché (princípio) nos remeta para a ideia de physis

e esta abarque as ideias de origem, substrato e causa primeira. Aquilo que os Pré-

socráticos procuravam como arché nada mais poderia ser do que a própria physis,

ou seja, um princípio natural, proveniente da natureza.

Assim com uma originalidade estupenda, Tales de Mileto, considerado o

primeiro a especular a realidade sobre bases naturais, portanto, o primeiro filósofo

propriamente dito de que se tem notícia, sustentou ser a arché um princípio

puramente natural (physis), ou seja, a água. Temos, então, a água como um

princípio imanente, natural e concreto no qual tudo se origina. Segundo Tales, a

água, ao se resfriar, torna-se densa e dá origem a terra; ao se aquecer transforma-se

em vapor e ar, que retornam como chuva quando novamente resfriada. Sugestão:

inserir figura de representação da água.

Para Marcondes (2001, p. 25),

“É claro que a água tomada como primeiro princípio é muito

diferente da água de nossa experiência comum, que

bebemos ou que encontramos em rios, mares, e lagos. Trata-

se realmente de um princípio, tomado aqui como

simbolizando um elemento líquido ou fluido real como o

mais básico, mais primordial; ou ainda a água como

elemento presente em todas as coisas em maior e menor

grau.”

Filosofia e Lógica

56

O que Marcondes quer dizer é que não possui importância a escolha de Tales

no que diz respeito à água como a sua physis, mas sim sua contribuição de

formulação em bases próprias a ideia de um elemento primordial que fornece uma

explicação não-divina ou sobrenatural como faziam os mitos, mas unicamente

natural.

Sobre esse ponto, vejamos o comentário de Nietzsche na sua obra A Filosofia

na idade trágica dos Gregos (1995, p. 27):

“A filosofia grega parece começar com a ideia absurda, com a

proposição de que a água é a origem de todas e o seio

materno de todas as coisas. Será realmente necessário parar

aqui e levar esta ideia adiante? Sim, e por três razões:

primeiro, porque a proposição sugere algo acerca da origem

das coisas; em segundo lugar, porque faz isso sem imagens e

fábulas; e, finalmente, porque contém, embora em estado de

crisálida, a ideia de que tudo é um. A primeira dessas três

razões ainda deixa Tales na comunidade dos homens

religiosos e supersticiosos, a segunda separa-o dessa

sociedade e mostra-o como investigador da natureza, a

terceira faz de Tales o primeiro filósofo grego.”

A busca da arché, um princípio originário, conflita com forças que, por sua vez,

precisam ser enquadradas em um princípio diferente. Essa dificuldade não é

exclusividade de Tales, é da própria Filosofia, que se desenvolve tentando resolvê-

la. Se Tales aparece como iniciador da Filosofia, é porque seu esforço em busca de

um princípio único da explicação da realidade não só constitui o ideal da Filosofia

como também lhe forneceu o impulso para se desenvolver. Diferentes pensadores

buscaram, portanto, o princípio explicativo para a questão da arché e da physis,

assim, por exemplo, os sucessores de Tales, Anaximandro e Anaxímenes

compreenderam que a physis era o ar e o apeíron. Para Pitágoras era o número.

Heráclito dizia ser o fogo o princípio primeiro de todas as coisas. Demócrito, o

átomo e assim sucessivamente.

Filosofia e Lógica

57

A interrogação dos filósofos gregos acerca do princípio ou princípios da

totalidade do real representa, pois, uma dupla característica: a sua radicalidade, na

medida em que pretende alcançar o princípio ou os princípios últimos e originários

e a sua universalidade, em que aspira atingir o princípio ou os princípios do real.

Trata-se, portanto, de uma interrogação filosófica ou, mais exatamente, trata-se da

interpretação com a qual se inicia a Filosofia.

Na visão de Marcondes (2001, p. 27):

“Um dos aspectos mais fundamentais do saber que se

constitui nessas primeiras escolas de pensamento,

sobretudo na escola jônica, é o seu caráter crítico. Isto é, as

teorias aí formuladas não o eram de forma dogmática, não

eram apresentadas como verdades absolutas e definitivas,

mas como formulações e propostas alternativas. Como se

trata de construções do pensamento humano, de ideias

de um filósofo – e não de verdades reveladas, de caráter

divino ou sobrenatural. Estão sempre abertas à discussão,

à reformulação, a correções. O que pode ser ilustrado pelo

fato de que, na escola de Mileto, os dois principais

seguidores de Tales, Anaxímenes e Anaximandro, não

aceitaram a ideia do mestre de que a água seria o

elemento primordial, postulando outros elementos,

respectivamente o ar e o apeíron, como tendo esta

função. Isso pode ser tomado como um sinal de que nessa

escola filosófica o debate, a divergência e a formulação de

novas hipóteses eram estimuladas.”

Na verdade, quando esse debate foi instaurado em lugar da transmissão

dogmática dos mitos, esses filósofos demonstraram nada mais do que a principal

característica da Filosofia, isto é, a atitude crítica.

Filosofia e Lógica

58

Atitude crítica - A palavra crítica vem do grego e significa capacidade de julgar,

discernir e decidir corretamente. Também significa a atividade de examinar e

avaliar detalhadamente uma ideia, um valor ou um costume.

LEITURA COMPLEMENTAR:

VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. 4ª

Edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992. 360 p.

NIETZSCHE, F. A Filosofia na idade trágica dos Gregos. 1ª

edição. Lisboa: Edições 70, 1995. 112p.

VÍDEO

Fúria de Titãs. Diretor: Desmond Davis. Duração: 117 min.

Hécules. Diretor: John Musker e Ron Clements. Duração: 117 min.

É HORA DE AVALIAR:

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo,

presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo,

além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso

prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente

virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Nessa unidade, entendemos a explicação sobre o nascimento da Filosofia.

Vimos que este fato está diretamente ligado à ruptura com o pensamento mítico.

Dessa forma, ao romper com o mito, a Filosofia cria uma nova forma de

interpretação da realidade construída em bases puramente racionais. Na próxima

unidade, convidamos você a conhecer como esse tipo de pensamento se

desenvolveu ao longo da história. Trata-se de conhecer as divisões fundamentais

da história da filosofia. Encontro você na próxima unidade!

Filosofia e Lógica

59

Exercícios – unidade 3

1. O que a problemática sobre a origem da filosofia pressupõe?

a) A pergunta como a Filosofia terminou, ou seja, como ocorre a sua finalização.

b) A pergunta como os Romanos não conseguiram inventar uma nova atitude de

pensamento.

c) A indagação de como a Filosofia começa, ou seja, como ocorre o seu

nascimento.

d) A pergunta sobre como a Filosofia não se desenvolveu no Brasil.

e) A pergunta sobre como a Filosofia iniciou-se juntamente com os mitos.

2. “Alguns historiadores da Filosofia costumam afirmar que a Filosofia surge

quando se abandona o mito, substituindo-o pela “explicação racional.”

Qual das alternativas abaixo explica a afirmação acima?

a) Isto quer dizer que o nascimento da Filosofia não pressupõe uma ruptura com

nenhum modo de pensamento.

b) Isto quer dizer que o nascimento da Filosofia pressupõe uma ruptura com um

modo de pensamento predominante na Grécia.

c) Isto quer dizer que o nascimento da Filosofia não interferiu em nada na

estrutura predominante na Grécia.

d) Isto quer dizer que o nascimento da Filosofia nada tem a ver com uma ruptura

na estrutura predominante na Grécia.

e) Isto quer dizer que o nascimento da Filosofia pode ser interpretado como uma

convergência entre a poesia e a razão.

Filosofia e Lógica

60

3. Pode-se dizer que a filosofia surge quando:

a) o logos (razão) substitui o mito na função de explicação da realidade.

b) Tales observa que o fogo é o princípio de toda a realidade.

c) o logos (razão) substitui os Gregos na função de explicação da realidade.

d) a realidade passa a ser interpretada com um cunho fundamentalmente religioso.

e) a realidade passa a ser interpretada com um cunho fundamentalmente surreal.

4. Dentre as alternativas abaixo, qual delas é diz respeito à caracterização de “Mito”?

a) Um conjunto de narrativas e doutrinas. O mito caracteriza-se por oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos racionais, por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa.

b) Um conjunto de narrativas e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos fantasiosos por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa.

c) Um conjunto de livros e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos físicos, por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa.

d) Um conjunto de narrativas e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos físicos, por intermédio da linguagem matemática.

e) Um conjunto de livros e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de obras filosóficas, por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa.

5. A relação entre o pensamento racional e o mítico é entendida de que forma?

a) Uma relação de dependência.

b) Uma relação de assimetria.

c) Uma relação de identidade.

d) Uma relação de oposição.

e) Uma relação de consignação.

Filosofia e Lógica

61

6. Qual o correto significado do termo “genealogia”?

a) O uso genético de uma explicação.

b) A genética enquanto explicação misteriosa.

c) Um discurso racional acerca da geração.

d) Uma narrativa acerca da geração.

e) O uso fantasioso de uma causa racional.

7. Por que para Marcondes (2001) o mito é uma explicação paradoxal?

a) Porque se por um lado pretende fornecer uma explicação da realidade, por outro, recorre nessa explicação ao mistério e ao racional, ou seja, exatamente aquilo que não se pode explicar, que não se pode compreender por estar fora do plano da compreensão humana.

b) Porque se por um lado pretende fornecer uma explicação da realidade, por outro não consegue uma explicação suficiente do mistério e do sobrenatural, ou seja, exatamente aquilo que não se pode explicar, que não se pode compreender por estar fora do plano da compreensão humana.

c) Porque se por um lado pretende fornecer uma explicação da racionalidade

humana, por outro recorre nessa explicação ao mistério e ao sobrenatural, ou

seja, exatamente aquilo que não se quer explicar, pois não pode compreender

aquilo que está fora do plano da compreensão humana.

d) Porque se por um lado pretende fornecer uma explicação da realidade, por

outro recorre nessa explicação ao mistério e ao sobrenatural, ou seja,

exatamente aquilo que não se pode explicar, que não se pode compreender

por estar fora do plano da compreensão humana.

e) Porque se por um lado não pretende fornecer uma explicação da realidade,

por outro pretende recorrer a uma explicação diferente do mistério e do

sobrenatural, ou seja, exatamente aquilo que não se pode explicar, que não se

pode compreender por estar fora do plano da compreensão humana.

Filosofia e Lógica

62

8. Sobre o que se interrogavam os primeiros filósofos, podemos afirmar que:

a) os primeiros filósofos gregos buscavam compreender como a filosofia se

emancipou do mito.

b) os primeiros filósofos gregos interrogam sobre a arché ou o princípio último.

c) os primeiros filósofos gregos buscavam compreender como a água era o

princípio fundamental.

d) os primeiros filósofos gregos buscavam compreender porque o Eros e não o

sol era o princípio das coisas.

e) os primeiros filósofos gregos buscavam compreender porque ora a água era

um princípio ora o fogo era uma espécie de mito.

9. Alguns fatores possibilitaram que a Filosofia surgisse na Grécia. Quais são os

fatores que levaram os gregos a filosofar?

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10. Qual foi a importância de Tales de Mileto no desenvolvimento da Filosofia?

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Filosofia e Lógica

63

A filosofia conta a sua história: os principais períodos da história da filosofia

Os períodos da Filosofia ao longo da História.

A Filosofia Antiga: Os períodos da Filosofia grega.

A Filosofia Medieval e o Cristianismo: O conflito entre Fé e Razão.

A Filosofia Moderna e a Nova Atitude Científica.

A Filosofia Contemporânea: problemas e questões fundamentais.

4

Filosofia e Lógica

64

Como ciência, a Filosofia pode ser estudada no seu desenvolvimento e

evolução no tempo, o que chamamos de História da Filosofia. O estudo da História

da Filosofia não pode substituir o estudo da filosofia propriamente dita, mas é um

precioso auxílio para compreender como as diversas correntes filosóficas

desenvolveram-se no tempo e chegaram a determinadas conclusões. Assim, o

estudo da história deve andar lado a lado com o estudo da Filosofia sistemática.

Convido você a acompanhar conosco a evolução histórica da Filosofia. Então,

vamos lá!

OBJETIVO DA UNIDADE:

Compreender a evolução da Filosofia através dos principais períodos da sua

história. Trata-se, portanto, de percorrer a história da Filosofia através dos seus

momentos e dos tipos de abordagem que variam ao longo da história da

humanidade.

PLANO DA UNIDADE:

• Os períodos da Filosofia ao longo da História.

• A Filosofia Antiga: Os períodos da Filosofia grega.

• A Filosofia Medieval e o Cristianismo: O conflito entre Fé e Razão.

• A Filosofia Moderna e a Nova Atitude Científica.

• A Filosofia Contemporânea: problemas e questões fundamentais.

Bons estudos!

Filosofia e Lógica

65

Os períodos da filosofia ao longo da história

A partir do seu nascimento e ao longo dos séculos, a Filosofia teve um

conjunto de preocupações, indagações e interesses que são peculiares de cada

época e de cada filósofo. Examinemos, brevemente, os conteúdos que a Filosofia

apresentou no decorrer de vinte e cinco séculos. Comecemos, então pela Filosofia

Antiga.

A filosofia antiga: os períodos da filosofia grega

Para Chauí (2005, p. 38), “a história da Grécia costuma ser dividida pelos

historiadores em quatro grandes fases ou épocas”:

• “A da Grécia homérica, correspondente aos 400 anos narrados pelo poeta

Homero, em seus dois grandes poemas, Ilíada e Odisséia”;

• “A da Grécia arcaica ou dos sete sábios, do século VII ao século V antes de

Cristo, quando os gregos criam cidades como Atenas, Esparta, Tebas,

Megara, Samos, etc., e predomina a economia urbana, baseada no

artesanato e no comércio”;

• “A da Grécia clássica, nos séculos V e IV antes de Cristo, quando a

democracia se desenvolve, a vida intelectual e artística entra no apogeu e

Atenas domina a Grécia com seu império comercial e militar”;

• “A época helenística, a partir do final do século IV antes de Cristo, quando a

Grécia passa para o poderio do império de Alexandre da Macedônia, e,

depois, para as mãos do Império Romano, terminando a história de sua

existência independente. Os períodos da Filosofia não correspondem

exatamente a essas épocas, já que ela não existe na Grécia homérica e só

aparece nos meados da Grécia arcaica. Entretanto, o apogeu da Filosofia

acontece durante o apogeu da cultura e da sociedade grega; portanto,

durante a Grécia clássica. Os quatro grandes períodos da Filosofia grega,

nos quais seu conteúdo muda e se enriquece são”:

Filosofia e Lógica

66

• “Período pré-socrático ou cosmológico, do final do século VII ao

final do século V a.C., quando a Filosofia se ocupa

fundamentalmente com a origem do mundo e as causas das

transformações na Natureza”. Os historiadores da filosofia costumam

dividir a Filosofia grega em dois períodos: antes e depois de

Sócrates. Assim, os filósofos anteriores a Sócrates são denominados

de pré-socráticos e escreveram obras que, no entanto, não foram

conservadas. Tudo aquilo que se sabe sobre estes filósofos é

indireto, ou seja, baseado em pequenos trechos de seus escritos,

citados por outros filósofos que vieram depois deles (os fragmentos

dos pré-socráticos) e em descrições feitas por autores posteriores a

Sócrates (os comentários ou doxografias).

As principais escolas filosóficas do período pré-socrático foram:

• Filósofos da Escola Jônica: a Escola Jônica, assim chamada por ter

florescido nas colônias jônicas da Ásia Menor. A escola jônica é

também a primeira do período naturalista, preocupando-se os seus

expoentes em achar a substância única, a causa, o princípio do

mundo natural, múltiplo e mutável (physis). Essa escola floresceu

precisamente em Mileto, colônia grega do litoral da Ásia Menor,

durante todo o VI século, até a destruição da cidade pelos persas no

ano de 494 a.C., prolongando-se, porém, ainda pelo V século.

Os mais conhecidos filósofos desta escola são:

• Tales de Mileto (625-558 a.C.): Tales foi comerciante de sal e de

azeite de oliva e enriqueceu como proprietário de prensas de

azeitona durante uma safra promissora. Sabe-se que Tales previu um

eclipse ocorrido em 585 a.C. De suas ideias quase nada é conhecido.

Aristóteles o denomina de fundador da filosofia e lembra que a sua

doutrina baseia-se na água como o elemento primordial de todas as

coisas (physis, fonte originária, gênese), e que para suportar as

transformações e permanecer inalterada, a água deveria ser um

elemento eterno. Atribui-se a Tales a afirmação de que “todas as

Filosofia e Lógica

67

coisas estão cheias de deuses”. Essa afirmação representa não um

retorno a concepções míticas, mas simplesmente a ideia de que o

universo é dotado de animação, de que a matéria é viva (hilozoísmo).

Além disso, elaborou uma teoria para explicar as inundações do Nilo,

e atribui-se a Tales a solução de diversos problemas geométricos

(exemplo: teorema de Pitágoras). Tales, com essa afirmação, queria

descobrir um elemento físico que fosse constante em todas as

coisas. Algo que fosse o princípio unificador de todos os seres.

Principais fragmentos do seu pensamento: “(...) a água é o princípio de todas

as coisas(...)”; (...) todas as coisas estão cheias de deuses(...)”; “(...) a pedra magnética

possui uma alma porque move o ferro(...)”

• Anaximandro de Mileto (610-546 a.C.): Discípulo e sucessor de Tales. Anaximandro recusa-se a ver a origem do real em um elemento particular; todas as coisas são limitadas e o limitado não pode ser, sem injustiça, a origem das coisas. Do ilimitado surgem inúmeros mundos e estabelece-se a multiplicidade; a gênese das coisas a partir do ilimitado é explicada através da separação dos contrários em consequência do movimento eterno. Para Anaximandro o princípio das coisas, isto é, arché - não era algo visível -; era uma substância etérea ou infinita. Chamou a essa substância de apeíron (indeterminado, infinito). O apeíron seria uma “massa geradora” dos seres, contendo em si todos os elementos contrários. Anaximandro tinha um argumento contra Tales: o ar é frio, a água é úmida, e o fogo é quente, e essas coisas são antagônicas entre si, portanto, um elemento primordial não poderia ser um dos elementos visíveis, teria que ser um elemento neutro, que está presente em tudo, mas está invisível. Esse filósofo foi o iniciador da astronomia grega. Foi o primeiro a formular o conceito de uma lei universal presidindo o processo cósmico totalmente. De acordo com ele, para que o vir-a-ser não cesse, o ser originário tem de ser indeterminado. Estando, assim, acima do vir-a-ser e garantindo, por isso, a eternidade e o curso do vir-a-ser. O seu fragmento refere-se a uma unidade primordial, da qual nascem todas as coisas e à qual retornam todas as coisas. Anaximandro recusa-se a ver a origem do real em um elemento particular.

Filosofia e Lógica

68

Principais fragmentos do seu pensamento: “(...) o ilimitado é eterno(...)”; ”(...) o

ilimitado é imortal e indissolúvel(...)”

• Heráclito de Éfeso (540-476 a.C.): Heráclito nasceu em Éfeso,

cidade da Jônia, de família que ainda conservava prerrogativas

reais, isto é, descendentes do fundador da cidade. Seu caráter altivo,

misantrópico e melancólico ficou marcado em toda a antiguidade.

Recusou-se sempre a intervir na política. Além disso, manifestou

desprezo pelos antigos poetas, contra os filósofos de seu tempo e

até contra a religião. Sem ter sido mestre, Heráclito escreveu um

livro Sobre a Natureza, em prosa, no dialeto jônico, mas de forma tão

concisa que recebeu o cognome de Skoteinós, o Obscuro. Por conta

disso, Heráclito é por muitos considerados o mais eminente

pensador pré-socrático, por formular com vigor o problema da

unidade permanente do ser diante da pluralidade e mutabilidade

das coisas particulares e transitórias. Estabeleceu a existência de

uma lei universal e fixa o Lógos regedora de todos os

acontecimentos particulares e fundamento da harmonia universal.

Harmonia feita de tensões: “como a do arco e da lira”.

Principais fragmentos do seu pensamento: “(...) Todas as coisas estão em

movimento(...)”; “(...) O movimento se processa através de contrários(...)” ; ”(...)

Tudo se faz por contraste; da luta dos contrários nasce a mais bela

harmonia(...)”;”(...) descemos e não descemos no mesmo rio; somos e não

somos(...)”

• Filósofos da Escola Itálica: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e

Árquitas de Tarento;

• Filósofos da Escola Eleata: Parmênides de Eléia e Zenão de Eléia;

• Filósofos da Escola da Pluralidade: Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazômena, Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera.

Filosofia e Lógica

69

• “Período socrático ou antropológico, do final do século V e todo o século IV a.C., quando a Filosofia investiga as questões humanas, isto é, a ética, a política e a técnica (em grego, ântropos quer dizer homem; por isso o período recebeu o nome de antropológico)”. O principal representante dessa fase da filosofia foi Sócrates. Ele nasceu em Atenas, provavelmente no ano de 470 a.C. e tornou-se um dos principais pensadores da Grécia Antiga. Podemos afirmar que Sócrates fundou o que conhecemos hoje por filosofia ocidental. Foi influenciado pelo conhecimento de um outro importante filósofo grego: Anaxágoras. Seus primeiros estudos e pensamentos discorrem sobre a essência da alma humana. Conhecemos seus pensamentos e ideias através das obras de dois de seus discípulos: Platão e Xenofontes. Infelizmente, Sócrates não deixou por escrito seus pensamentos. Ele não foi muito bem aceito por parte da aristocracia grega, pois defendia algumas ideias contrárias ao funcionamento da sociedade. Criticou muitos aspectos da cultura grega, afirmando que muitas tradições, crenças religiosas e costumes não ajudavam no desenvolvimento intelectual dos cidadãos gregos.

• “Período sistemático, do final do século IV ao final do século III a.C. , quando a Filosofia busca reunir e sistematizar tudo quanto foi pensado sobre a cosmologia e a antropologia, interessando-se, sobretudo, em mostrar que tudo pode ser objeto do conhecimento filosófico, desde que as leis do pensamento e de suas demonstrações estejam firmemente estabelecidas para oferecer os critérios da verdade e da ciência”.

• “Período helenístico ou greco-romano, do final do século III a.C. até

o século VI depois de Cristo. Nesse longo período, que já alcança

Roma e o pensamento dos primeiros padres da Igreja, a Filosofia se

ocupa, sobretudo, com as questões da ética, do conhecimento

humano e das relações entre o homem e a Natureza e de ambos

com Deus. Pode-se perceber que os dois primeiros períodos da

Filosofia grega têm como referência o filósofo Sócrates de Atenas,

donde a divisão em Filosofia pré-socrática e socrática”.

Filosofia e Lógica

70

A filosofia medieval e o cristianismo: o conflito entre fé e razão

Ao longo do século V d.C., o Império Romano do Ocidente sofreu constantes

ataques dos povos bárbaros. Do confronto desses povos com a civilização romana

decadente, desenvolveu-se uma nova forma de vida social, política e econômica na

Europa correspondente ao período medieval. Em meio ao esmagamento do

Império Romano, decorrente, em parte, das invasões germânicas, a igreja católica

conseguiu manter-se como instituição social organizada. A igreja consolidou a sua

estrutura religiosa e difundiu o cristianismo entre os povos “bárbaros”, preservando

vários elementos da cultura pagã greco-romana. Nesse contexto, surge a filosofia

cristã – bastante influenciada pelo cristianismo, predominou no Ocidente,

principalmente na Europa, entre os séculos I ao século XIV d.C. Sugestão: inserir

figura do período Medieval.

Alguns historiadores da Filosofia costumam dividir a Filosofia cristã em duas

grandes épocas: a primeira, que se inicia no século I d.C. e vai até o século V d.C.,

denominada de Filosofia Patrística; a segunda, por sua vez, inicia-se no século X

d.C. e vai até o século XIV, e corresponde a chamada Filosofia Escolástica ou

Medieval, propriamente dita.

IMPORTANTE

Para Silveira da Costa (2002, cap. 2, p. 88),

“O problema central da filosofia cristã é o da conciliação das

exigências da razão humana com a revelação divina. O modo de

abordar e solucionar esse problema caracteriza suas duas etapas e,

mais particularmente, a constituição e dissolução da escolástica

medieval.”

Os principais filósofos da Filosofia Patrística são:

• São Justino: Estabelece um elo entre a filosofia pagã e o

cristianismo;

• Tertuliano: Para Tertuliano, não há uma concordância entre a razão

humana e a revelação divina;

Filosofia e Lógica

71

• Santo Agostinho: Nascido em Tagaste, província da África,

Agostinho fora profundamente influenciado pelos clássicos,

principalmente, por Platão. Entre as suas obras mais importantes

está a Cidade de Deus que, influenciou decisivamente o rumo da

cristandade medieval.

Os principais filósofos da filosofia escolástica medieval são:

• Santo Anselmo de Canterbury: Considerado o verdadeiro fundador da

escolástica. Seu intuito era o de retomar e inovar o projeto de Santo Agostinho de

compreender a razão como revelação. Santo Anselmo foi o formulador do célebre

“argumento ontológico”, que caracteriza muito bem o estilo dos filósofos

medievais de filosofar e o tratamento fornecido às questões que dizem respeito à

aproximação entre a teologia e a filosofia.

• Pedro Abelardo: Aberlardo, juntamente com Santo Anselmo, é

considerado um dos fundadores da escolástica. Seu esforço dirige-se no sentido de

explicar racionalmente as verdades da fé, ultrapassando os limites aceitos pela

ortodoxia ao submeter os dogmas às exigências críticas da dialética.

• Santo Tomás de Aquino: A sua Filosofia representa uma verdadeira

aproximação entre o cristianismo e o aristotelismo. Ao contrário de Santo

Agostinho, São Tomás aproximou-se do pensamento de Platão, conseguindo, com

isso, uma abertura de um novo rumo para o desenvolvimento da escolástica.

• John Duns Scot: A Filosofia de Duns Scot representou uma das várias

reações ao pensamento de São Tomás, que, segundo ele, implicava concessões em

demasia à razão humana.

• Guilherme Ockham: Representante legítimo do final da escolástica. Sua

Filosofia se desenvolveu em torno da tese da separação entre fé e razão.

Bem, traçamos de uma forma geral a Filosofia medieval. No tópico seguinte,

você terá a oportunidade de examinar as características e os principais

representantes da Filosofia Moderna.

Filosofia e Lógica

72

A filosofia moderna e a nova atitude científica

A Filosofia Moderna tem início com o pensamento de Descartes e o dos

empiristas ingleses. É claro que a Filosofia moderna não nasceu de uma hora para

outra, seu nascimento possui suas origens no humanismo do século XVI e pelas

concepções científicas da época.

A ideia de modernidade, segundo Marcondes (2001, p. 139) “está sempre

relacionado para nós ao “novo”, àquilo que rompe com a tradição”. Trata-se de um

termo ligado à transformação, à mudança. Ainda segundo Marcondes (2001, p.

141), “a etimologia de “moderno” parece ser o advérbio latino “modo”, que

significa “agora mesmo”; “neste instante”; “no momento”, portanto, designando o

que nos é contemporâneo, e é este o sentido que “moderno” capta, opondo-se ao

que é anterior e traçado, por assim dizer, uma linha ou divisão entre os dois

períodos”

Os principais filósofos do período da filosofia moderna são:

• Renné Descartes: Considerado um dos “pais da filosofia moderna”,

Descartes, aplicando a “dúvida metódica”, chegou à célebre conclusão: “penso,

logo existo”. Através dessa conclusão, enquanto postulado fundamental da sua

filosofia, Descartes construiu de forma sólida o edifício do conhecimento filosófico

da sua época.

1- Os Empiristas:

• Francis Bacon: Considerado um dos fundadores do método indutivo da

investigação científica. Conhecido pela sua frase “conhecer é poder”, criticava o

pensamento escolástico considerando-o meramente especulativo e abstrato.

Bacon valorizava a pesquisa científica experimental;

• John Locke: Afirmava que o homem, ao nascer, seria uma “tábua rasa”,

ou seja, um papel em branco sem nenhuma ideia previamente escrita. Assim, a tese

de Locke é que não existe nada em nossa mente que não tenha origem nos

sentidos. Todas as ideias que possuímos são adquiridas pelo exercício da

experiência sensorial;

Filosofia e Lógica

73

• David Hume: Para Hume, tudo o que conhecemos são impressões (dados

dos sentidos) ou ideias (representações mentais derivadas das impressões). Seu

pensamento dirige-se ao questionamento da validade do raciocínio indutivo,

afirmando que a repetição de um fato não nos possibilita concluir, pela lógica, que

ele continuará a repetir-se indefinidamente;

• George Berkeley: Defendeu a tese de que “ser é perceber e ser

percebido”, reduzindo assim a realidade material à ideia que fazemos dela.

2- Os Racionalistas: A filosofia de Descartes influenciou uma nova forma de

pensamento na época moderna denominada de Racionalismo. O Racionalismo

caracteriza-se como uma reflexão que enfatiza a razão humana como primordial no

processo de conhecimento.

• Pascal: Profundamente ligado ao movimento de Port-Royal, pretende

conciliar a razão e a experiência religiosa;

Sugestão: inserir figura de Pascal.

• Spinoza: Formulador de uma “metafísica monista” baseada, sobretudo,

na ideia de substância integrando metafísica e ética;

• Leibiniz: Considera a lógica como o verdadeiro caminho para uma

fundamentação do conhecimento, afastando-se da epistemologia e do

racionalismo, como também, do empirismo.

1- Os teóricos políticos da modernidade: Os principais pensadores da

tradição política são Hobbes, Locke e Rousseau. São os formuladores do

denominado “contrato social” como fundamento da sociedade organizada

racionalmente.

2- Kant e o kantismo: Immanuel Kant foi o formulador da filosofia crítica.

Kant valorizou a importância dos “juízos sintéticos a priori” como o único capaz de

ampliar o conhecimento humano. Além do mais, defendeu a tese da

impossibilidade de conhecimento das coisas que estão além da experiência

sensível.

Filosofia e Lógica

74

3- G.W.F. Hegel: O mais importante filósofo do idealismo alemão e principal

crítico do sistema kantiano. Considerado o último pensador da filosofia moderna,

Hegel pensa a história inserida no centro do seu sistema filosófico, mostrando o

modo filosófico de compreender a realidade baseada no conhecimento da

evolução da história.

4- Karl Marx: De início, profundamente influenciado pelo pensamento de

Hegel, Marx desenvolve a sua filosofia como uma crítica ao idealismo através do

método por ele criado, denominado de “materialismo histórico”;

5- Idealismo alemão pós-kantiano: caracterizado, sobretudo, por indicar

um novo rumo às ideias de Kant, ao abandonar o seu sentido crítico. Os principais

representantes dessa corrente são:

• Schopenhauer: Privilegia a vontade como um lugar central da interpretação

da realidade;

• Kierkegaard: Para Kierkegaard, a existência humana divide-se em três

estágios: o estético, o ético e o religioso. Considerado o fundador do

existencialismo e é um dos seus principais representantes.

• F. Nietzsche: O principal crítico da tradição e de seus valores reais.

Desenvolveu um niilismo baseado na afirmação da “morte de Deus”, ou seja, na

rejeição à crença dos valores absolutos. O niilismo de valores faz surgir o “niilismo

existencial”. No entanto, Nietzsche acreditava na possibilidade de superação de tal

niilismo através de uma “transmutação dos valores” tradicionais e a criação de uma

nova ordem capaz de gerar valores afirmativos da vida.

Diante desse panorama geral que traçamos sobre o período moderno da

Filosofia, no próximo tópico, examinaremos as principais características da

denominada Filosofia contemporânea.

Filosofia e Lógica

75

A filosofia contemporânea:

problemas e questões fundamentais

A contemporaneidade Filosófica caracteriza-se, sobretudo, como uma

tentativa de encontrar respostas para a crise do projeto filosófico da era moderna.

As principais correntes que a constitui visam atualizar o racionalismo e o

fundacionismo característico da filosofia moderna, assim seu objetivo é o de

romper com essa tradição através de uma crítica à subjetividade como o ponto de

partida para a fundamentação do conhecimento e da ética.

Em vez de caracterizarmos os filósofos principais desse período,

consideraremos algumas correntes teóricas que surgiram na contemporaneidade,

tais como:

• Filosofia analítica da linguagem;

• Semiótica;

• Positivismo lógico;

• A hermenêutica;

• O estruturalismo;

• A Fenomenologia;

• O existencialismo;

• A escola de Frankfurt.

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo,

presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de

proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira,

redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual

de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Filosofia e Lógica

76

Espero que você tenha compreendido os principais períodos da filosofia. Na

próxima unidade, analisaremos os principais ramos de conhecimento em que a

filosofia se divide. Até a próxima!

LEITURA COMPLEMENTAR:

DELACAMPAGNE, Cristian. História da filosofia no séc. XX. 1ª edição.

Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. 308p.

NUNES, Benedito. A filosofia contemporânea: trajetos iniciais. 2ª edição. São

Paulo: Ática, 1991. 142p.

VÍDEO

O Nome da rosa. Diretor: Jean Jaques Annaud. Duração: 130 minutos.

Filosofia e Lógica

77

Exercícios – unidade 4

1. Qual dos filósofos abaixo é reconhecidamente um legítimo representante do

período antigo da filosofia?

a) Sócrates. b) Hegel. c) Kant. d) Karl Marx. e) Kierkegaard.

2. Na divisão da história da filosofia, o período considerado “helenístico ou greco-

romano” compreende:

a) o longo período em que já alcança Roma e o pensamento dos primeiros Padres da Igreja. A Filosofia se ocupa, sobretudo, com as questões da ética, do conhecimento humano e das relações entre o homem e a Natureza e de ambos com Deus.

b) o período em que a Filosofia investiga as questões humanas, isto é, a ética, a política e as técnicas (em grego, ântropos quer dizer homem; por isso o período recebeu o nome de antropológico).

c) do final do século IV ao final do século III a.C. d) o período em que o problema central da filosofia é o da conciliação das

exigências da razão humana com a revelação divina. e) O período que se caracteriza como uma tentativa de encontrar respostas

para a crise do projeto filosófico da era moderna.

3. Qual das correntes filosóficas abaixo é representante do período contemporâneo

da filosofia?

a) Período pré-socrático. b) Positivismo lógico. c) Escola da Pluralidade. d) Empirismo. e) Escola Eleata.

Filosofia e Lógica

78

4. Qual das questões abaixo não diz respeito ao problema central tratado pela

filosofia cristã?

a) Explicação racional sobre as verdades da fé. b) Influência direta do cristianismo. c) O “argumento ontológico”. d) A interdependência entre a subjetividade teológica e a razão pragmática. e) A conciliação das exigências da razão humana com a revelação divina.

5. Qual dos filósofos abaixo apresentou uma das várias reações ao pensamento de

São Tomás?

a) John Duns Scot. b) Aristóteles. c) Kierkegaard. d) G.W.F. Hegel. e) Pascal.

6. Dentre os filósofos abaixo, qual pode ser considerado um legítimo representante

do pensamento do empirista inglês?

a) Pascal. b) Descartes. c) Foucault. d) Locke. e) Tales de Mileto.

7. Dentre as questões abaixo, qual delas é concernente com o núcleo central do

pensamento dos filósofos políticos da modernidade?

a) Formulação crítica do denominado “contrato social” como fundamento da sociedade organizada racionalmente.

b) Visam atualizar o racionalismo e o fundacionismo característico da filosofia moderna, assim seu objetivo é o de romper com essa tradição através de uma crítica à subjetividade como o ponto de partida para a fundamentação do conhecimento e da ética.

c) Formulação acrítica do denominado “contrato social” como fundamento da sociedade organizada racionalmente.

Filosofia e Lógica

79

d) Visam desatualizar o irracionalismo e o fundacionismo característico da

filosofia moderna, assim seu objetivo é o de romper com essa tradição através de uma crítica à subjetividade como o ponto de partida para a fundamentação do conhecimento e da ética.

e) Defesa intransigente da tese da impossibilidade de conhecimento das coisas que estão no âmbito da experiência sensível.

8. Dentre os fragmentos abaixo, qual deles diz respeito a uma das questões

fundamentais de Heráclito de Éfeso?

a) “(...) a pedra magnética possui uma alma porque move o ferro (...)”. b) “ser ou não ser, eis a questão”. c) “sei que nada sei”. d) “(...) descemos e não descemos no mesmo rio; somos e não somos (...)”. e) “(...) o ilimitado é imortal e indissolúvel (...)”.

9. Cite duas correntes primordiais da Filosofia contemporânea e em seguida

caracterize-a

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10. Quais são as duas grandes vertentes da filosofia medieval?

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_____________________________________________________________________

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Filosofia e Lógica

80

Filosofia e Lógica

81

Os principais campos de investigação do conhecimento filosófico

Antropologia Filosófica.

A Ética.

Filosofia da Mente.

Ontologia ou Metafísica.

Filosofia da Ciência.

Epistemologia.

Estética.

Filosofia Política.

Filosofia da História.

Filosofia da linguagem.

Lógica.

História da Filosofia.

5

Filosofia e Lógica

82

Após termos estudado, na unidade anterior, a evolução da Filosofia através da

história, abordaremos, nesta unidade, os diversos ramos que constitui a Filosofia

enquanto disciplina sistemática. Vamos lá?

OBJETIVOS DA UNIDADE:

Identificar algumas das principais disciplinas ou ramos da Filosofia;

Reconhecer o desdobramento da Filosofia em vários campos de conhecimento.

PLANO DA UNIDADE:

• Antropologia Filosófica.

• A Ética.

• Filosofia da Mente.

• Ontologia ou Metafísica.

• Filosofia da Ciência.

• Epistemologia.

• Estética.

• Filosofia Política.

• Filosofia da História.

• Filosofia da linguagem.

• Lógica.

• História da Filosofia.

Bons estudos!

Filosofia e Lógica

83

A antropologia filosófica

É uma disciplina filosófica ou movimento filosófico que tem relações com as

intenções e os trabalhos de M. Scheler, mas não está unido ao conteúdo específico

desse autor. A antropologia encarada metafisicamente é antes aquela parte da

Filosofia que investiga a estrutura essencial do homem. Contudo, este ocupa o

centro da especulação filosófica, na medida em que tudo se deduz a partir dele, na

medida em que ele torna acessíveis as realidades que o transcende nos modos de

seu existir relacionados com essas realidades. Ou seja, a antropologia filosófica é

uma antropologia da essência e não das características humanas. Ela se distingue

da antropologia mítica, poética, teológica e científico natural ou evolucionista por

fornecer uma interpretação basicamente ontológica do homem.

A ética

A ética do latim “ethica”, do grego “ethiké”, é um ramo da filosofia e um sub-

ramo da axiologia que estuda a natureza do que consideramos adequado e

moralmente correto. Pode-se afirmar também que Ética é, portanto, uma Doutrina

Filosófica que tem por objeto a moral no tempo e no espaço, sendo o estudo dos

juízos de apreciação referentes à conduta humana. A ética pode ser interpretada

também como um termo genérico que designa aquilo que é frequentemente

descrito como a “ciência da moralidade”, isto é, suscetível de qualificação do ponto

de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de

modo absoluto. Na filosofia, o comportamento ético é aquele que é considerado

bom e, sobre a bondade, os antigos diziam que: o que é bom para a leoa, não pode

Filosofia e Lógica

84

ser bom à gazela. E, o que é bom à gazela, fatalmente não será bom à leoa. Este é

um dilema ético típico. Portanto, a ética juntamente com outras áreas tradicionais

de investigação filosófica e devidas subjetividades típicas em si, ao lado da

metafísica e da lógica, não pode ser descrita de forma simplista. Dessa forma, o

objetivo da teoria da ética é determinar o que é bom tanto para o indivíduo como

para a sociedade como um todo. Os filósofos antigos adotaram diversas posições

na definição do que é bom, sobre como lidar com as prioridades em conflito dos

indivíduos versus o todo, sobre a universalidade dos princípios éticos versus a

“ética de situação”. Nesta, o que está certo depende das circunstâncias e não de

uma lei geral qualquer e sobre se a bondade é determinada pelos resultados da

ação ou os meios pelos quais os resultados são alcançados.

A filosofia da mente

A Filosofia da Mente é o estudo filosófico dos fenômenos mentais, incluindo

investigações sobre a natureza da mente e dos estados mentais em geral. A

Filosofia da Mente é, na verdade, um conjunto de estudos metafísicos sobre o

modo de ser da mente, sobre a natureza dos estados mentais e sobre a

consciência. Além disso, a filosofia da mente envolve estudos epistemológicos

sobre o modo como a mente conhece a si mesma e sobre a relação entre os

estados mentais e os estados de coisa que os mesmos representam

(intencionalidade), incluindo estudos sobre a percepção e outros modos de

aquisição de informação, como a memória, o testemunho (fundamental para a

aquisição da linguagem) e a introspecção. Envolve ainda a investigação de

questões éticas como a questão da liberdade, normalmente considerada

impossível caso a mente siga, como tudo o mais, leis naturais.

A investigação filosófica sobre a mente não implica nem pressupõe que exista alguma entidade – uma alma ou espírito – separada ou distinta do corpo ou do cérebro e está relacionada a vários estudos da ciência cognitiva, da neurociência, da linguística e da inteligência artificial.

Filosofia e Lógica

85

A ontologia ou metafísica

A Metafísica é uma divisão da filosofia que se ocupa do estudo da realidade,

dos primeiros princípios (filosofia primeira) e do ser (ontologia). Os problemas

centrais da metafísica são ontológicos, principalmente o ser enquanto ser. O

sentido da palavra metafísica deve-se a Aristóteles e a Andrônico de Rodes.

Aristóteles nunca utilizou esta palavra, mas escreveu sobre temas relacionados à

physis e sobre temas relacionados à ética e política, entre outros semelhantes.

Andrônico, ao organizar os escritos de Aristóteles, organizou os escritos de forma

que, espacialmente, aqueles que tratavam de temas relacionados à physis vinham

antes dos outros. Assim, eles vinham depois da física (metha = depois, além; physis =

física). Assim, conscientemente ou não, Andrônico organizou os escritos de forma

análoga à classificação dos dois temas. Ética, política, etc., são assuntos que não

tratam de seres físicos, mas de seres não-físicos existentes, apesar da sua

imaterialidade. Portanto, a Metafísica trata de problemas sobre o propósito e a

origem da existência e dos seres. Especulações em torno dos primeiros princípios e

das causas primeiras do ser. Muitas vezes ela é vista como parte da Filosofia, outras,

a esta se confunde.

A filosofia da ciência

A Filosofia da Ciência tem por função analisar de

forma crítica as diferentes formas de ciência, ou seja, as

ciências exatas e humanas na busca por compreender a

avaliação dos seus métodos e dos seus resultados. Possui

a pretensão de examinar as relações entre as ciências e

cientificismo e a aplicação prática da ciência, ou seja, a

técnica.

Filosofia e Lógica

86

A epistemologia

Epistemologia ou Teoria do Conhecimento (do grego episteme – ‘ciência’;

‘conhecimento’, logos – ‘discurso’) é um ramo da filosofia que trata dos problemas

filosóficos relacionados à crença e ao conhecimento. Podemos dizer que a

epistemologia se origina em Platão. Ele opõe a crença ou opinião ( doxa, em grego)

ao conhecimento. A crença é um determinado ponto de vista subjetivo. O

conhecimento é crença verdadeira e justificada. A epistemologia também estuda a

evidência (entendida não como mero sentimento que temos da verdade do

pensamento, mas sim no sentido forense de prova), isto é, os critérios de

reconhecimento da verdade.

A estética

Em sua origem, o conceito de Estética é atribuído à palavra grega aisthetiké,

que se refere a tudo aquilo que pode ser percebido pelos sentidos (COTRIM, 1993).

O primeiro a utilizar-se deste termo no sentido que conhecemos até os nossos dias

foi Alexander Baumgarter. Ele referia-se à Estética como a teoria do belo e das suas

manifestações pela arte. Como tal, a Estética pretende alcançar um conhecimento

específico que pode ser capturado pelos sentidos, pois parte da experiência

sensorial, da sensação, da percepção sensível. Seu principal objeto de investigação

é a “obra de arte”. Podemos citar a Estética ao lado da Filosofia da Arte, mas neste

caso caberia à Filosofia da Arte investigar o desenvolvimento artístico na busca

pelo seu sentido no contexto da história da arte.

Filosofia e Lógica

87

A filosofia política

Cabe à Filosofia Política enquanto uma ramificação da Filosofia, o estudo sobre

a questão da natureza do poder e, principalmente, as teorias que retratam o

nascimento do Estado, a ideia de direito, justiça e lei.

A filosofia da história

A Filosofia da História busca compreender a “dimensão temporal da existência

humana” sob o ponto de vista sociocultural. Seus temas variam entre as teorias do

progresso, evolução e descontinuidade dos processos históricos à historicidade da

condição humana. A periodização da história, tal como a concebemos hoje, tem

origem com o filósofo Alemão Hegel. Este foi o primeiro a elaborar uma Filosofia da

História, ou seja, uma tentativa de compreender a história da filosofia como uma

questão central da própria Filosofia e não como um relato histórico das doutrinas

ou correntes do passado.

IMPORTANTE

A Filosofia da Linguagem

A Filosofia da Linguagem ou Filosofia Analítica amadureceu durante a virada

deste século, quando Frege, Bertrand Russel e Ludwig Wittgenstein desenvolveram

importantes reflexões acerca da Linguagem. Segundo Costa (2002, p. 7), “A

expressão “filosofia da linguagem” possui duas acepções principais, uma mais

estrita e outra mais ampla”. Na visão deste, na acepção estrita, a Filosofia da

linguagem é uma investigação filosófica acerca da natureza e do funcionamento

da linguagem, “sendo por vezes chamada de “análise da Linguagem” (Ibidem,

idem). Na segunda acepção, Costa afirma que a Filosofia da Linguagem diz respeito

a qualquer abordagem crítica de “problemas filosóficos metodologicamente

orientada por uma investigação da linguagem”, sendo por vezes, denominada de

“crítica da linguagem”.

Filosofia e Lógica

88

A lógica

A Lógica é o ramo da Filosofia que cuida das regras do bem-

pensar ou do pensar correto, sendo, portanto, um instrumento do

pensar. A aprendizagem da lógica não constitui um fim em si. Ela só

tem sentido enquanto meio de garantir que nosso pensamento

proceda corretamente, a fim de chegar a conhecimentos verdadeiros.

Podemos, então, dizer que a lógica trata dos argumentos, isto é, das

conclusões a que chegamos através da apresentação de evidências

que a sustentam. O principal organizador da Lógica Clássica foi

Aristóteles, com sua obra chamada Órganon.

A história da filosofia

Essa ramificação da Filosofia possui como objetivo analisar os diferentes

períodos da Filosofia, os principais filósofos de cada período e os problemas que

são abordados por estes nas diferentes épocas que constitui a Filosofia ao longo da

história.

LEITURA COMPLEMENTAR:

MARÍAS, Julían. História da Filosofia. Tradução Alexandre Pinheiro

Torres. 2ª ed. Porto: Sousa e Almeida 1988. 560 p.

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo,

presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de

proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira,

redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual

de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Filosofia e Lógica

89

Esses são alguns dos principais ramos em que a Filosofia se desdobra. Claro,

existem outras ramificações que não mencionamos aqui, mas acreditamos que as

mencionadas sintetizam e fornecem a você um panorama dos principais

problemas da filosofia. Espero que você tenha compreendido os aspectos

principais desta. Na próxima unidade, começaremos a examinar alguns dos

problemas apresentados aqui. Portanto, o nosso trabalho está apenas começando.

Não desanime! Espero você na próxima unidade!

Filosofia e Lógica

90

Exercícios – unidade 5

1. A Metafísica pressupõe:

a) problemas sobre o propósito e a origem da existência e dos seres. b) analisar de forma crítica as diferentes formas de ciência, ou seja, as ciências

exatas e humanas, na busca em compreender a avaliação dos seus métodos e dos seus resultados.

c) um determinado ponto de vista subjetivo. d) alcançar um conhecimento específico que pode ser capturado pelos

sentidos, pois parte da experiência sensorial, da sensação, da percepção sensível.

e) o estudo sobre a questão da natureza do poder e, principalmente, as teorias que retratam o nascimento do Estado.

2. A Metafísica disciplina constitui-se em uma subdivisão da filosofia que se ocupa

do estudo da realidade, dos primeiros princípios (filosofia primeira) e do ser

(ontologia). O sentido da palavra metafísica deve-se a qual dos pensadores

abaixo?

a) Baumgarter e Kant. b) Andrônico de Rodes e Baumgarter. c) Aristóteles e Platão. d) Aristóteles e Andrônico de Rodes. e) Aristóteles e Tales de Mileto.

3. Qual das alternativas abaixo diz respeito aos problemas fundamentais da

filosofia da mente?

a) Envolve estudos monetários sobre o modo como a mente conhece a si mesma e sobre a relação entre os estados mentais e os estados de coisa que os mesmos representam.

b) Envolve estudos epistemológicos sobre o modo como a democracia estabelece relações entre os poderes institucionais e sobre a relação entre os estados mentais e os estados de coisa que os mesmos representam.

Filosofia e Lógica

91

c) Envolve estudos sobrenaturais sobre o modo como a mente conhece a si

mesma e sobre a relação entre os estados mentais e os estados de coisa que os mesmos representam.

d) Envolve estudos políticos sobre o modo como a mente conhece a si mesma e sobre a relação entre os estados mentais e os estados de coisa que os mesmos representam.

e) Envolve estudos epistemológicos sobre o modo como a mente conhece a si mesma e sobre a relação entre os estados mentais e os estados de coisa que os mesmos representam.

4. Por Epistemologia diz-se que é o:

a) ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à política e ao conhecimento dos universais.

b) ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à política e ao conhecimento dos fatos sobrenaturais.

c) ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à busca dos problemas relacionados aos poderes constitucionais.

d) ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à política e ao conhecimento dos fatos sobrenaturais.

e) ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à crença e ao conhecimento.

5. Qual das alternativas abaixo NÃO pode ser considerada um problema específico

da ética?

a) Uma Doutrina Filosófica que tem por objeto a moral no tempo e no espaço, sendo o estudo dos juízos de apreciação referente à conduta humana.

b) O comportamento ético é aquele que é considerado bom e, sobre a bondade, os antigos diziam que: o que é bom para a leoa, não pode ser bom à gazela.

c) A questão dos universais. d) Estuda a natureza do que consideramos adequado e moralmente correto. e) O comportamento humano.

Filosofia e Lógica

92

6. Qual dos filósofos abaixo é um dos principais expoentes da filosofia da

linguagem ou filosofia analítica?

a) Karl Popper. b) Ludwig Wittgenstein. c) Fichte. d) Baumgarter. e) Platão.

7. Dentre as alternativas abaixo, qual delas NÃO pertence ao leque de ramificações

que compõem a Filosofia enquanto estudo crítico e racional?

a) Filosofia da história. b) Doxografia. c) Estética. d) Ética. e) Antropologia filosófica.

8. Pode-se afirmar que a Ética:

a) pode ser compreendida como mais uma fase da metafísica. b) constitui-se, também, como doutrina Filosófica que tem por objeto a moral

no tempo e no espaço, sendo o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana.

c) pode ser interpretada como um termo atípico que designa aquilo que nunca é descrito como a “ciência da moralidade”, isto é, suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto.

d) não se constitui, também, como doutrina Filosófica que tem por objeto a moral no tempo e no espaço, sendo o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana.

e) pode ser interpretada como um termo anormal que designa aquilo que nunca é descrito como a “ciência da causalidade”, isto é, suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto.

Filosofia e Lógica

93

9. A citação abaixo diz respeito a um ramo de conhecimento da filosofia. Qual seria

este ramo?

“O ramo da Filosofia que cuida das regras do bem pensar ou do pensar correto,

sendo, portanto, um instrumento do pensar”.

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_____________________________________________________________________

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10. O que diferencia a antropologia filosófica da antropologia mítica, poética,

teológica, científico natural ou evolucionista?

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Filosofia e Lógica

94

Filosofia e Lógica

95

O problema do conhecimento e a reflexão acerca da verdade

O que significa filosoficamente “conhecer”? A estrutura do conhecimento e o conhecimento como processo. Mas afinal, o que é o conhecimento?

6

Filosofia e Lógica

96

Nesta unidade, abordaremos o problema do conhecimento em Filosofia. Você

já parou para pensar sobre este assunto? Então, convido você a caminhar junto

conosco neste intrigante mundo do conhecimento. Vamos lá!!

OBJETIVO:

Destacar alguns aspectos iniciais acerca do problema do conhecimento,

tais como o conceito de verdade e a questão da relação entre sujeito e do objeto.

PLANO DA UNIDADE:

O que significa filosoficamente “conhecer” ?

A estrutura do conhecimento e o conhecimento como processo.

Mas afinal, o que é o conhecimento?

Bons estudos!

Filosofia e Lógica

97

O que significa filosoficamente “conhecer”?

Um dos problemas fundamentais apresentados pela tradição filosófica ocidental é o que se refere à possibilidade de conhecermos a realidade. Ao longo da história, à medida que o homem supre as suas necessidades, ele produz conhecimento, pois nas suas atividades práticas ele busca respostas para as suas inquietações. Desta forma, o conhecimento se torna um elemento interpretativo e elucidativo do real, ou seja, por meio do conhecimento a intenção do homem é chegar à verdade. Filósofos e cientistas têm se ocupado nesta busca, encontrando diferentes possibilidades de verdade ao longo dos tempos. Ao refletirmos sobre o conhecimento e a sua relação com a verdade, a primeira dificuldade é a de saber de que tipo de conhecimento pode-se falar. Com efeito, podemos distinguir:

Um conhecimento que nos chega através da percepção sensorial (conhecimento sensível) e um conhecimento fruto já da elaboração do entendimento (conhecimento racional);

Um conhecimento que se satisfaz com a descrição superficial das coisas (conhecimento vulgar) e um tipo de conhecimento que aspira a dar conta da razão de ser profunda das coisas, explicando-as (conhecimento científico);

Um conhecimento direto ou imediato (conhecimento intuitivo) e um conhecimento a que se chega através de uma cadeia de raciocínios (conhecimento discursivo).

Com isto, devemos proceder a seguinte indagação: se há diferentes possibilidades de verdade, então não existe uma única verdade? Você já parou para refletir sobre o que é a verdade? Comecemos então pelos dicionaristas, apresentando dois significados do termo verdade:

Verdade: [do latim veritae] S.f. 1. Conformidade com o real;

exatidão, realidade: verdade do ocorrido. 2. Franqueza,

sinceridade. 3. Coisa verdadeira ou certa: A verdade foi

escamoteada por todos (...) Filo. Verdade que é contingente e

cujo oposto é impossível. Verdade de razão. Filos. Verdade

necessária e cujo oposto é impossível (...). (FERREIRA, Aurélio

Buarque de Holanda, 1986, p. 1975).

Filosofia e Lógica

98

De outro modo, veremos o seguinte conceito de verdade:

Verdade. 1. Classicamente, a verdade se define como

adequação do intelecto ao real. Pode-se dizer, portanto, que

a verdade é uma propriedade dos juízos, que podem ser

verdadeiros ou falsos, dependendo da correspondência

entre o que afirmam ou negam e a realidade de que falam. 2.

Há, entretanto, várias definições de verdade e várias teorias

que pretende explicar a natureza da verdade (...). 3. Diz-se

daquilo que corresponde à verdade, à realidade, ao existente

e como tal se impõe à aceitação. Real, evidente. Ex. juízo

verdadeiro. Autêntico, sincero. Ex. o verdadeiro motivo, o

verdadeiro patriota. “Jamais aceitar alguma coisa como

verdadeira que não a conhecesse evidentemente como tal”.

Descartes, Discurso do método (...). (JAPIASSU, Hilton;

MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia, 1995, pp.

241-42).

IMPORTANTE

Bem, de acordo com as definições dos dicionaristas, podemos

enunciar algumas conclusões acerca da concepção de verdade:

1. Existem várias definições de verdade e várias teorias que pretendem explicar a natureza da verdade;

2. De uma maneira geral, a verdade é concebida como adequação ou correspondência;

3. A verdade é o que é verdadeiro em contraposição ao que é falso.

A partir dessas três conclusões retiradas dos dicionários podemos, portanto,

refletir acerca da concepção de verdade, como também fornecer uma definição

plausível para os nossos propósitos.

Filosofia e Lógica

99

Na primeira conclusão (1), diz-se que existem várias definições de verdade. Se nos voltarmos para a primeira definição, a do dicionário Aurélio, constataremos que a palavra ‘verdade’ em seu sentido etimológico refere-se a ‘veritas’. Dessa forma, ‘veritas’ é o termo latino que significa ‘verdade’. Nessa acepção, ‘verdade’ quer dizer precisão, rigor e exatidão “de um relato, no qual se diz com detalhes, por menores e fidelidade o que realmente aconteceu” (CHAUÍ, 2005, p. 96). O verdadeiro, neste caso, deve corresponder, portanto, a um fato real, a um acontecimento verdadeiro. Assim, uma ideia verdadeira é aquela que corresponde à realidade que é o conteúdo da verdade, que existe fora do nosso pensamento, ou seja, não está em nós. Chegamos à segunda conclusão (2), a verdade concebida como ‘correspondência’. Na concepção de verdade como ‘correspondência’ é aquela que afirma que o que é verdadeiro só pode ser através do acordo entre o pensamento e a realidade. Mas, como o pensamento e a realidade podem estar de acordo? Estão de ‘acordo’ quando a verdade do nosso pensamento se adequada às coisas representadas por ela ou quando as coisas se adequam ao nosso pensamento. A terceira conclusão (3), diz respeito àquilo que é oposto ao verdadeiro, ou seja, o falso. Como podemos distinguir o falso do verdadeiro? Ora, como vimos, o verdadeiro é aquilo que corresponde à realidade. No entanto, se não existe ‘acordo’ entre o nosso pensamento e a realidade, é claro que não pode haver um conhecimento verdadeiro, e sim, um conhecimento falso. O falso e o verdadeiro estão, portanto, ligados à correspondência entre a realidade e o pensamento.

Estas breves considerações acerca da verdade são já bastantes para nos advertir para o amplo leque de significações, de usos e de contextos que tornam complexo esse conceito. A verdade é, porventura, uma das mais obscuras noções que usamos e, todavia, é igualmente uma das que mais capacidade de mobilização possui. Se passarmos agora a consideração da noção de verdade, tal como ela surge na obra dos filósofos, também aí se nos depara uma grande diversidade de significados. Ao limite, quase se poderia dizer que embora todos os filósofos, sem exceção, dizem a respeito da verdade e partam do suposto de que a verdade é o termo comum onde se pode dar o entendimento entre os homens, sendo assim, cada qual possui a sua própria concepção de verdade. Com efeito, tal como acontece com outros conceitos, assim também, o conceito de verdade sofreu transformações ao longo da historia do pensamento. Podemos, todavia, referenciar essas transformações e alguns momentos e aspectos fundamentais, que são:

Filosofia e Lógica

100

A verdade lógica: Esta é o tipo de verdade entendida como a coerência

formal do pensamento consigo mesmo, segundo o princípio de não-

contradicão. Esta noção de verdade é indiferente à realidade, ou

conteúdo material do pensamento, ou seja, não visa à correspondência

entre os enunciados e à realidade ou os objetos a que se referem, mas

visa apenas à correspondência das proposições ou enunciações entre si,

tal como ocorre na lógica das operações da matemática e da álgebra. Por

isso, também é denominada de “verdade formal”.

A verdade metafísica: Esta é aquela verdade entendida como adequação

do pensar (o do dizer o que se exprime) ao ser (adequação do

entendimento à realidade). É, portanto, este o conceito de verdade que

subjaz às filosofias antigas e medievais. Esta parte do suposto de que o

entendimento humano tem como seu objeto próprio o ser e é

naturalmente capaz de conhecer a realidade tal como ela realmente é.

Vejamos como esta concepção é expressa por Aristóteles na sua obra

Metafísica: “A verdade ou a falsidade depende, por parte dos objetos, da sua união

ou da sua separação, de tal modo que estar no verdadeiro, é pensar que o que está

separado está separado e que o que está unido está unido, e estar falso é pensar de

modo contrario à natureza dos objetos. Quando há, pois, ou não há aquilo que

chamamos verdadeiro ou falso ? É necessário, com efeito, examinar bem, o que

entendemos por essas expressões não é porque pensamos de uma maneira

verdadeira que tu és branco, mas é porque és branco que, ao dizermos que tu és,

dizemos a verdade. Se, por conseguinte, existem coisas que estão sempre unidas e

que é impossível distinguir; se há outras que são sempre distantes e que é

impossível unir; se outras, finalmente, admitem união e distinção: então, ser, é estar

unido, é ser uno; não ser é não estar unido, é ser múltiplo. Sendo assim, quando se

trata de coisas contingentes, a mesma opinião não se torna ora verdadeira ora

falsa, mas as mesmas opiniões são eternamente verdadeiras ou falsas”.

Filosofia e Lógica

101

A verdade como certeza. Com Descartes deparamo-nos com um novo

conceito de verdade, segundo o qual é verdadeira toda a ideia, que se

revele ao pensamento, como clara e distinta. Não é já, pois, a ordem

ontológica, ou seja, o ser, que determina a verdade do pensamento e que

é o seu critério, mas sim o modo como as ideias são vistas ou intuídas

pelo pensamento: ideias que se revelam como claras e distintas não

podem ser senão verdadeiras. O pressuposto do pensamento antigo e

medieval, que acima referimos, foi invertido: agora não são as leis que

regem o ser que, por sua vez, regem o pensamento, mas sim o inverso: as

leis que regem o pensamento são também as que regem o ser. Dessa

forma, verdade é ter certeza, ou seja, é estar certificado, ter a garantia de

evidência de uma ideia ou conceito. Contudo, esta noção de verdade

exige um “certificado absoluto”, que só poderia ser Deus. Assim,

Descartes tem que admitir que o autor de algumas ideias fundamentais é

necessariamente o próprio Deus e que este, se é o ser perfeito e infinito

que, de acordo com a ideia que dele fizemos, coloca no meu espírito

ideias evidentes e não falsas.

Vejamos o que Descartes diz sobre esta questão nas suas Meditações de

Filosofia Primeira, mais precisamente na quarta meditação: “Creio que não lucrei

pouco com a meditação de hoje, porque investiguei a causa do erro e da falsidade.

E certamente não pode ser nenhuma outra senão a que expliquei, porque sempre

que contenho assim a vontade, ao fazer juízos, de maneira a que ela apenas se

estenda ao que lhe é apresentado clara e distintamente pelo entendimento, nunca

pode acontecer que eu erre. Todo o conceito claro e distinto é, sem dúvida, alguma

coisa e, por conseguinte, não pode partir do nada, mas tem necessariamente Deus

como autor, quero dizer, aquele Deus sumamente perfeito a que repugna ser

enganador; e logo, sem dúvida, é verdadeiro (....)”.

A verdade como objetividade: Também no pensamento de Kant é central

o problema da verdade. Kant aborda esse problema em três níveis, dois

dos quais já lhe apresentamos anteriormente, a saber, o nível lógico, o

nível metafísico e, finalmente, o nível transcendental. Para este, entre a

verdade formal lógica e aquilo que seria a verdade absoluta metafísica,

Filosofia e Lógica

102

segundo a qual o pensar coincidiria com o ser, há lugar, segundo Kant, para

um tipo de intermédio de verdade que é a que está verdadeiramente ao

alcance do entendimento humano e a que se exibe na ciência. É o que

poderíamos denominar de “noção transcendental de verdade, ou a

objetividade do conhecimento” esta consistiria na concordância do pensar

com os objetos, os quais devem ser dados na experiência. O estudo das

condições de possibilidade de tal verdade e o reconhecimento da sua

amplitude é o que constitui a tarefa daquilo que Kant chama de Lógica

transcendental, que visa a estabelecer as condições a priori que tornam

possível o conhecimento dos objetos enquanto dados na experiência.

“A verdade como todo”: Hegel pretende com a sua Filosofia fazer uma

síntese da concepção antiga e da concepção moderna da verdade, ou

seja, daquela concepção que fundava a verdade no ser ou na substância e

daquela que a fundava no pensar, no sujeito e na sua certeza: Diz Hegel:

“Segundo a minha maneira de ver (...) tudo depende deste ponto

essencial: aprender e exprimir o verdadeiro, não apenas como substância,

mas precisamente também como sujeito”. Assim se ultrapassaria a

imobilidade do objeto, ou seja, a sua indiferença e autonomia do sujeito

relativamente ao objeto, ou seja, se sairia da forma do pensamento que

se fecha na universalidade vazia. A verdade, por conseguinte, não está

dada de imediato, nem do lado do objeto, nem do lado do sujeito, mas é

um processo pelo qual o sujeito, mediante a reflexão sobre o objeto, se

desenvolve, apropriando-se do objeto ou da substância e fazendo deste

o seu objeto. Assim, continua Hegel: “O verdadeiro é o de vir de si

mesmo, o círculo que pressupõe e tem no começo o seu próprio fim

como seu objetivo e que é efetivamente real apenas mediante a sua

atualização desenvolvida e mediante o seu fim. (...) O verdadeiro é o todo.

Mas, o todo é apenas a essência realizando-se e acabando-se mediante o

seu desenvolvimento. Do absoluto deve dizer-se que ele é resultado, ou

seja, que somente no fim ele se efetiva como verdade; nisso consiste

Filosofia e Lógica

103

propriamente a sua natureza, que é ser realidade efetiva, sujeito ou

desenvolvimento de si mesmo”. Este conceito de Hegel de verdade que

está subjacente a muitas manifestações do pensamento contemporâneo,

nomeadamente as filosóficas da história. Com efeito, a noção hegeliana

de verdade fornece fundamentação lógica e metafísica à crença

iluminista no progresso da humanidade e da razão.

A verdade como apropriação: No Novum Organum, o filósofo do século

XVII Francis Bacon manifesta o sentimento profundo da sua época, a

confiança nas novas possibilidades oferecidas pela nova ciência. Assim,

estabelece uma íntima relação entre ciência e o poder humano, que

constituirá um dos aspectos mais significativos da civilização moderna e

contemporânea. Conhecer a natureza é poder dominá-la e manipulá-la.

Ao ideal antigo, medieval e renascentista de uma ciência essencialmente

contemplativa, substitui-se, assim, o ideal de uma ciência operativa,

inventiva de conhecimentos que, por sua vez, possam ser produtores dos

efeitos. Conhecer as causas é aprender a produzir os efeitos. Dessa forma,

ciência e técnica unem-se em um indissociável consórcio que perdura e

se intensifica até os nossos dias.

Conseguiu entender como a Filosofia e / ou os filósofos compreendem a

verdade? No próximo item, veremos como a verdade está intrinsecamente

relacionada ao processo de conhecimento. Então, no próximo tópico, vamos

examinar a estrutura filosófica do conhecimento.

Diante do que foi dito acima, o conhecimento é dependente da nossa

representação, isto é, daquilo que está fora de nós. Dessa forma, conhecer alguma

coisa é nada mais que representar o que está no exterior do nosso pensamento, da

mente, do espírito. A representação, por sua vez, é o processo pelo qual o

pensamento (o espírito, a mente) torna presente diante de si a imagem ou a ideia

de um objeto que é exterior.

Filosofia e Lógica

104

No entanto, para que haja qualquer tipo de conhecimento, é necessário que

exista uma relação entre dois elementos básicos: um sujeito cognoscente, isto é, a

nossa mente, o pensamento e um objeto a ser conhecido (a realidade, o mundo, os

fenômenos). Essa é a relação necessária para qualquer conhecimento, portanto, só

poderá haver conhecimento se houver um sujeito e um objeto.

Relação: A relação entre os dois elementos é ao mesmo tempo uma

correlação. O sujeito só é sujeito para um objeto e o objeto para um sujeito. Ambos

só são o que são para o outro. Mas, esta correlação não é reversível. Ser sujeito é

algo completamente distinto de ser objeto. A função do sujeito consiste em

apreender o objeto, a do objeto em ser apreendido pelo sujeito.

No entanto, nessa relação, sujeito e objeto permanecem separados. O

conhecimento apresenta-se como uma relação entre estes dois elementos, que

nela permeiam eternamente separados um do outro. O dualismo sujeito e objeto

pertence à essência do conhecimento (HESSEN, 2000, p. 26).

IMPORTANTE

Desta forma, podemos concluir:

conhecer é reproduzir em nosso pensamento a realidade; damos o nome de conhecimento à posse deste pensamento que

concorda com a realidade; a concordância do pensamento com a realidade, chamamos de verdade.

Filosofia e Lógica

105

“O conhecimento está, portanto, intimamente relacionado ao conceito de

verdade. Sendo assim, o conhecimento concorda com o objeto, a verdade do

conhecimento é estabelecida. No entanto, antes de ser verificada essa

concordância, o objeto mesmo não pode ser considerado nem verdadeiro nem

falso. Vale ressaltar que as determinações do objeto não se modificam pelo simples

fato de ele haver sido captado e incorporado à esfera do sujeito. Não há, nesse

processo, uma inclusão do objeto no sujeito, senão a reprodução do objeto, ou

seja, a formação da imagem do objeto. No sujeito sim, acrescenta-se algo que o

modifica completamente, que é a imagem dentro de si do objeto.

Dentro dessa estrutura, o conhecimento é considerado não como uma

construção arbitrária do sujeito, este somente deve reproduzir as propriedades do

objeto, pelo que exige o concurso da experiência.

Mas afinal, o que é o conhecimento?

A primeira tentativa de responder a pergunta acerca do que é conhecimento

pode ser obtida inicialmente através da distinção formal entre conhecimento

sensível, isto é, aquele que advém dos sentidos humanos fundamentais e o

conhecimento racional, (aquele que provém substancialmente da razão). Esta

distinção fora uma das primeiras grandes conquistas da filosofia. Tanto Platão

como Aristóteles reclamaram, embora por vias diferentes, a necessidade de

ultrapassar o nível do conhecimento sensível para chegar ao nível do

conhecimento racional ou intelectual. Para estes, o conhecimento sensível não

oferece garantia suficiente de segurança para o conhecimento, pois está sujeito

constantemente ao erro, ou seja, à modalidade das impressões sensoriais

desencadeadas pelos objetos. Assim, para estes somente o conhecimento racional

ou intelectual poderia garantir uma concepção estável da realidade,

simultaneamente, de acordo com os objetivos da ciência e de acordo com as leis

lógicas da razão humana.

Filosofia e Lógica

106

I

MPORTANTE

A distinção entre o conhecimento sensível e o racional nos conduz,

irremediavelmente, a uma outra distinção, aquela que se estabelece entre o

conhecimento vulgar e o conhecimento científico. O primeiro não se preocupa

com a objetividade requerida pela ciência nem ao menos com a coerência (ver a

segunda unidade desta disciplina); o segundo ao contrário, não se contenta em ver

com o aspecto superficial da realidade, mas procura a razão de ser ou o porquê de

acontecer. Aristóteles concebia a ciência ou o conhecimento cientifico como o

“conhecimento da realidade pelas causas”. Com efeito, conhecer a realidade era

saber o porquê das suas manifestações. Contudo, esse porquê não pode ser

considerado como algo a ser alcançado pelos sentidos, mas sim, aquele que é

descoberto ou contemplado pela razão.

Assim, se desfaz, completamente, a crença vulgar dos nossos sentidos. Os

sentidos não somente são incapazes de nos fornecer um acesso a um verdadeiro

conhecimento da realidade, mas pode ser por vezes um obstáculo ao

conhecimento de fato. Tem-se presente a reação dos homens do século XVII às

teorias de Copérnico e Galileu segundo as quais não era o sol que girava em torno

da terra, mas era a terra que girava em torno do sol. Essa era, portanto, uma

verdade científica que contradizia as evidências dos sentidos.

Atualmente, o problema do conhecimento não somente assume uma maior

relevância em todos os seus aspectos como também proporcionou o surgimento

de uma disciplina filosófica específica denominada de teoria do conhecimento,

onde são abordados de uma forma sistemática os vários problemas acerca do

conhecimento, tais como: o problema da sua origem, do seu valor e do seu limite,

da sua possibilidade, etc. Em torno desses problemas, alinham-se as posições dos

diferentes filósofos. Com isso, surgem as mais diversas designações que na

atualidade se aplicam para definir o pensamento desses filósofos acerca do

conhecimento, dentre estes: racionalismo, empirismo, psicologismo, idealismo,

formalismo, realismo, criticismo, etc.

Filosofia e Lógica

107

Entretanto, para Chauí (2005, p. 130), “tornar o entendimento objeto para si

próprio, tornar o sujeito do conhecimento objeto de conhecimento para si mesmo

é a grande tarefa que a modernidade filosófica inaugura ao desenvolver a teoria do

conhecimento”. Se for assim, a teoria do conhecimento possui como pressuposto a

volta do pensamento sobre si mesmo, colocando-se como objeto para si mesmo.

Assim, do ponto de vista da teoria do conhecimento, a reflexão se torna um

ingrediente fundamental no processo de conhecimento. Como somos seres

racionais e conscientes, a consciência que possuímos das coisas é um fator de

conhecimento. Mas o que podemos entender por consciência?

A consciência é uma “atividade mental” que torna a presença humana no

mundo como capaz de possuir algum tipo de saber. Por isso, diz Cotrim (1993, p.

44) “a biologia classifica o homem atual como “sapiens sapiens”, ou seja, o ser que

sabe que sabe. O processo de conscientização faz do homem um ser inter-

relacionado com o mundo e consigo mesmo. Isto o permite caminhar para dentro

de si, investigando o seu íntimo, à medida que descobre a si mesmo e a realidade

externa. Esse processo faz do homem um ser dinâmico na medida em que pode

centrar sobre si mesmo ou sobre os objetos exteriores, aquilo que se denomina

alteridade (do latim, alter, o outro). Portanto, pode vislumbrar duas dimensões no

processo de conscientização humana: a consciência de si e a consciência do outro.

A consciência de si é consciência nos estados internos do sujeito, ou seja, a

reflexão. A consciência do outro é a consciência dos objetos exteriores. Enquanto a

consciência é o pressuposto da capacidade humana de conhecer, esta se faz

presente no conhecimento na medida em que é um conhecimento do

conhecimento, ou seja, a reflexão.

Assim, para a teoria do conhecimento, a consciência representa uma atividade

dotada de poder de análise, de representação dos objetos, compreensão e

interpretação. Ela é o sujeito de todo e qualquer conhecimento. Portanto, a

consciência enquanto sujeito do conhecimento reflete sobre as relações entre ela e

o seu objeto, procurando denotar sentido ou significação ao próprio ato de

conhecer.

Filosofia e Lógica

108

Segundo Caio Jr. (1981, p. 15),

“Realmente é o que se verifica no desenvolvimento histórico

do pensamento humano logo que o progresso do

conhecimento atinge certo nível. Isto é, retorno reflexivo da

elaboração cognitiva sobre si mesma, passando o próprio

conhecimento a se fazer objeto do conhecer, fato esse

suficientemente marcado para dar lugar a uma ordem de

cogitações bem caracterizadas e distintas do conhecimento

ordinário”.

Essa observação do autor nos fornece uma característica importante do

conhecimento, ou seja, o sujeito ao apreender o objeto não se comporta

passivamente. A consciência humana não se encontra perante a realidade como se

fosse um espelho a refletir simplesmente a imagem do objeto. A sua atitude,

portanto, é ativa e dinâmica. Há uma participação criativa e inovadora por parte da

consciência na construção da imagem, quanto ao seu próprio conteúdo objetivo.

Dessa forma, as imagens captadas pelo sujeito no processo de conhecimento são

interpretadas de uma forma que este mesmo sujeito pode operar no processo de

intervenção e construção da realidade que o cerca. Viu como não é tão difícil

compreender a dinâmica do conhecimento? Não há dificuldades. O conhecimento

é relacional, existe sob a forma de relação, isto é, em uma relação entre o sujeito e o

objeto.

LEITURA COMPLEMENTAR:

Hessen, J. Teoria do conhecimento. 3ª Edição. São Paulo: Martins

fontes, 2000. 184 p.

SUGESTÃO DE FILME:

Quem somos nós? (Original: What the Bleep Do We Know?)

Duração: 109 minutos. Ano de Lançamento (EUA): 2004

Filosofia e Lógica

109

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo,

presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de

proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira,

redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual

de aprendizagem (AVA) .Interaja conosco!

Definido em linhas gerais o problema do conhecimento, na próxima unidade

estudaremos a teoria do conhecimento, em que serão apresentadas as definições

mais específicas do problema do conhecimento na Filosofia. Espero você na

próxima unidade! Até lá!

Filosofia e Lógica

110

Exercícios – unidade 6

1. Qual das alternativas abaixo diz respeito à concepção de verdade como ‘correspondência’?

a) É aquela que afirma que o que é moralmente aceito só pode ser através de uma superação entre o pensamento e a realidade.

b) É aquela que afirma que o que é verdadeiro só pode ser através de uma distinção entre o pensamento e a realidade.

c) É aquela que afirma que o que é falso só pode ser através de uma superação entre o pensamento e a realidade.

d) É aquela que afirma que o que é verdadeiro só pode ser através do acordo entre o pensamento e a realidade.

e) É aquela que afirma que o que é verdadeiro só pode ser através de uma superação entre o pensamento e a realidade.

2. Das alternativas a seguir, não diz respeito ao significado de ‘verdade’?

a) Adequação do intelecto ao real.

b) Acordo entre a subjetividade e as propriedades mentais.

c) Coisa verdadeira ou certa.

d) Verdade do ocorrido.

e) Verdade que é contingente e cujo oposto é impossível.

3. Dentre as seguintes afirmações qual delas está incorreta?

a) O conhecimento dependente da nossa representação, isto é, daquilo que está dentro de nós.

b) Diz-se daquilo que corresponde à verdade, à realidade, ao existente e como tal se impõe à aceitação.

c) A verdade é o que é verdadeiro em contraposição ao que é falso.

d) Existem várias definições de verdade e várias teorias que pretendem explicar a natureza da verdade.

e) De uma maneira geral, a verdade é concebida como adequação ou correspondência.

Filosofia e Lógica

111

4. Das alternativas a seguir, qual se refere exatamente à essência do conhecimento?

a) A união entre sujeito e objeto.

b) A inexistência entre um sujeito e um objeto.

c) A descoberta de um termo intermediário entre um sujeito e um objeto.

d) A relação entre sujeito e objeto.

e) O desvio lógico entre o sujeito e o objeto.

5. Das alternativas a seguir, uma delas explica corretamente o significado de

“representação”, qual?

a) É o processo pelo qual o que é falso torna presente diante de si a imagem ou a

criptografia de um objeto que é exterior.

b) É a dinâmica da realidade pela qual o pensamento (o espírito, a mente) torna

distante a imagem ou a ideia de um objeto que é exterior.

c) É o processo pelo qual a metafísica (o espírito, a mente) torna presente diante

de si a imagem ou a ideia de um objeto que é interior.

d) É o processo pelo qual o pensamento (o espírito, a mente) torna presente

diante de si a imagem ou a ideia de um objeto que é interior.

e) É o processo pelo qual o pensamento torna presente diante de si a imagem ou

a ideia de um objeto que é exterior.

6. Dentre as alternativas a seguir, qual delas diz respeito à forma de “conhecimento

falso”?

a) Quando existe um ‘acordo’ entre o nosso pensamento e a realidade.

b) Quando pensamos não existir uma realidade no nosso pensamento.

c) Quando falta um dos componentes do conhecimento.

d) Quando não existe um ‘acordo’ entre o nosso pensamento e a realidade.

e) Quando não se pode determinar um exame do pensamento.

Filosofia e Lógica

112

7. O termo reflexão pode ser entendido como:

a) uma introspecção das emoções.

b) uma retrospecção da ação.

c) uma ação irrefletida.

d) um conhecimento do conhecimento.

e) um conhecimento sem conhecimento.

8. Qual é a relação entre a verdade e o conhecimento?

a) A verdade é sempre determinada pelo que não podemos conhecer.

b) A concordância do sujeito e do objeto revela-nos a verdade.

c) O conhecimento só é conhecimento porque não existe uma verdade única.

d) A verdade é o que se apresenta como ilusório à consciência.

e) O conhecimento válido é aquele que é igual ao falso.

9. O que podemos entender classicamente por “verdade”?

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10. O que diferencia a “consciência de si” da “consciência do outro”?

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Filosofia e Lógica

113

A teoria do conhecimento:

A explicação filosófica acerca das possibilidades do conhecimento humano

O problema inicial da teoria do conhecimento.

Os fundamentos do conhecimento.

As possibilidades do conhecimento.

7

Filosofia e Lógica

114

Na unidade anterior obtemos uma noção sobre o significado do

conhecimento e o problema relativo à verdade. Nesta unidade, examinaremos um

importante ramo da Filosofia, fundamental para a formação de qualquer ser

humano: a teoria do conhecimento. À teoria do conhecimento cabe a explicação

de como o conhecimento ocorre e quais são as possibilidades do ato de conhecer.

Preparado para iniciar a nossa sétima unidade? Então, vamos lá!

OBJETIVO:

compreender o desenvolvimento histórico da teoria do conhecimento pelo

estudo dos problemas filosóficos relativos ao alcance, ao limite e à origem do

conhecimento.

PLANO DA UNIDADE:

• O problema inicial da teoria do conhecimento.

• Os fundamentos do conhecimento.

• As possibilidades do conhecimento.

Bons estudos!

Filosofia e Lógica

115

O problema inicial da teoria do conhecimento

A Teoria do Conhecimento tem por objetivo buscar a origem, a natureza, o valor e os limites do conhecimento da faculdade de conhecer. Às vezes o termo é usado ainda como sinônimo de epistemologia, o que não é exato, pois o mesmo é mais amplo, abrangendo todo tipo de conhecimento, enquanto que a epistemologia limita-se ao estudo sistemático do conhecimento científico, sendo por isso mesmo chamada de filosofia da ciência.

Na obra Teoria do Conhecimento (2000, p. 14), o autor Hessen afirma que “como disciplina filosófica independente, não se pode falar de uma teoria de conhecimento nem na antiguidade nem na Idade média”. Para este, embora se encontrem várias reflexões acerca da natureza do conhecimento, não podem ser consideradas questões do conhecimento sobre os moldes de uma teoria, pois nestas misturam-se questões psicológicas e metafísicas. Foi somente a partir da Idade Moderna que a teoria do conhecimento surge como uma disciplina autônoma. Segundo Hessen (2000, p. 19), “A teoria do conhecimento, como o nome já diz, é uma teoria, isto é, uma interpretação e uma explicação filosófica do conhecimento humano”. Neste sentido, enquanto uma teoria, esta tem o papel de investigar as origens e as possibilidades do conhecimento, os seus fundamentos e a extensão do conhecimento, como também o seu valor.

Contudo, o problema do conhecimento pode ser considerado e estudado sob vários pontos de vista: sob o ponto de vista psicológico, sob o ponto de vista lógico, sob o ponto de vista gnosiológico, sob o ponto de vista epistemológico, sob o ponto de vista sociológico, etc. Vejamos, brevemente, em que consistem algumas dessas modalidades de abordagem do conhecimento. Preste atenção em cada uma delas.

A perspectiva psicológica: Nesta o conhecimento é considerado como

uma “vivência” do sujeito, ora é visto e estudado como uma das respostas

do ser humano aos estímulos do seu meio. Analisam-se, neste caso, as

condições de aprendizagem, isto é, o processo da sua constituição e

sedimentação até se atingir formas estáveis de conduta, nas quais se

integram e organizam-se os dados oriundos das percepções.

Filosofia e Lógica

116

A perspectiva lógica: Nesta o conhecimento é concebido enquanto

expresso em enunciados e proposições. Dessa forma, se estuda a lei

interna desses enunciados, não interessando os conteúdos, mas apenas

as condições que deve o conhecimento cumprir para ser considerado

correto ou válido. Também, abstrai-se do problema da adequação entre

conhecimento e os objetos reais, para fixar-se somente na articulação

formal dos enunciados.

A perspectiva gnosiológica: Esta considera o conhecimento em si

mesmo, como ato no qual um objeto se faz presente a um sujeito ou uma

consciência. Nesta perspectiva, o conhecimento é visto como uma

relação entre sujeito e objeto. Trata-se, então, de analisar o que nesta

relação, que constitui o conhecimento, é contribuição do objeto e o que é

contribuição do sujeito. Enfim, trata-se ainda de pensar a relação entre o

objeto e o sujeito enquanto conhecido.

A perspectiva metafísica: Esta trata de verificar se o objeto se esgota no

plano subjetivo – enquanto objeto conhecido por uma consciência ou

sujeito -, ou se mesmo esse plano do sujeito só ganha sentido dentro de

um plano mais vasto que é o plano do ser. Enfim, trata-se de ver se para

além dos nossos conteúdos da consciência não há algo de real ao qual os

nossos pensamentos correspondam e que, em última instância, seja o seu

suporte e fundamento.

A perspectiva sociológica: Nesta o conhecimento é considerado como

estando condicionado por fatores históricos, ou seja, trata-se de

investigar até que ponto e em que medida as transformações

econômicas e sociais influem na evolução das categorias do pensamento,

no surgimento das doutrinas e até mesmo da ciência.

A perspectiva epistemológica: É o tipo qualificado de conhecimento

que pode ser considerado como, propriamente, o conhecimento

científico. Trata-se, então, de averiguar as condições, isto é, métodos,

critérios e pressupostos que validam qualquer tipo de conhecimento que

queira se apresentar como cientifico.

Filosofia e Lógica

117

Como é obvio, todos os aspectos atrás referidos estão intimamente

relacionados. A solução que se dá ao problema do conhecimento em uma dessas

perspectivas afeta diretamente a solução das outras perspectivas.

Uma vez caracterizada a proposta geral acerca da teoria do conhecimento, no

próximo tópico examinaremos os problemas fundamentais sobre o qual se

debruça este ramo da Filosofia. Vamos lá!

Os fundamentos filosóficos do conhecimento

Vimos no tópico anterior que a preocupação central da teoria do

conhecimento é investigar as origens e as possibilidades do conhecimento. Iremos,

a partir de agora, detectar os elementos que são as bases para o conhecimento.

Várias correntes filosóficas procuraram fornecer uma resposta a esta questão.

Podemos destacar dentre elas o empirismo e o racionalismo. Vejamos as respostas

que estas tendências formulam:

O empirismo: O termo empirismo em grego significa empeiria, isto é, a

experiência sensorial. O empirismo afirma que todas as nossas ideias são

provenientes de nossas percepções sensoriais, tais como visão, audição

etc. Conforme afirma o filósofo Locke, o principal representante do

empirismo, “nada vem à mente sem antes ter passado pelos sentidos”.

Em outras palavras, a mente é entendida como uma folha em branco, na

qual os sentidos registram as percepções.

O racionalismo: Derivado do latim ratio, que significa razão, o

racionalismo pressupõe a razão como o principal meio de conhecimento

da verdade. Os racionalistas afirmam que a experiência sensível não pode

ser levada a sério, pois são fontes de erros. Apenas a razão humana pode

atingir o conhecimento verdadeiro capaz de fornecer a universalidade ao

conhecimento.

Filosofia e Lógica

118

Estas concepções refletem de maneira divergente as diversas fontes para se conhecer a verdade. O empirismo considera a experiência dos sentidos como a base do conhecimento e, por outro lado, o racionalismo afirma que a razão humana é a verdadeira fonte do conhecimento. Você pode estar se perguntando: Mas, quais destas concepções podem ser consideradas corretas? A resposta é: nenhuma! A preocupação em relação às fontes do conhecimento é um debate interminável. Até hoje são discutidas as possibilidades de que o empirismo e o racionalismo possam ser considerados como fontes válidas do conhecimento. No entanto, não importa quais são as fontes verdadeiras do conhecimento, o que é válido é a discussão e o debate em torno desta questão.

As possibilidades do conhecimento:

como podemos conhecer?

Se a questão acerca das fontes do conhecimento é apresentada de maneira

divergente e interminável, a capacidade e a possibilidade humana de conhecer a verdade é uma preocupação também discutida e polêmica. Ao longo da história da filosofia o problema do conhecimento desenvolveu-se sobre as seguintes questões: somos realmente capazes de conhecer? É possível o sujeito captar o seu objeto de conhecimento? Quais são, verdadeiramente, as possibilidades do conhecimento humano? As respostas a estas questões conduziram ao surgimento de duas correntes filosóficas que procuraram responder tais questões: o dogmatismo e o ceticismo:

Dogmatismo: O dogmatismo é a posição mais simples e mais antiga,

aquela que significa a atitude ingênua do homem diante da realidade

que o cerca. A palavra dogmatismo vem do grego dogmatikós, que

significa doutrina estabelecida. O dogmatismo é a doutrina que defende

a possibilidade do conhecimento da verdade. Ele se divide em três

variantes básicas:

1- O dogmatismo ingênuo: Este tipo não encontra problemas na relação entre

o sujeito e o objeto, por isso não entende como problema qualquer

dificuldade no que concerne à percepção do mundo tal como ele se

apresenta;

Filosofia e Lógica

119

2- O dogmatismo crítico: Acredita em nossa capacidade de conhecer a

verdade mediante um esforço entre os nossos sentidos e a nossa

inteligência. Além disso, confia plenamente que através de um método

adequado, ou seja, racional e científico, o conhecimento humano torna-se

capaz de compreender a realidade que o cerca;

3- O dogmatismo pragmático: Compreende o conhecimento como sendo

resultado de uma operação de pesquisa e investigação no sentido de que

estes são fatores fundamentais para o homem solucionar problemas por

eles enunciados. O pragmatismo pode ser considerado uma espécie de

relativismo, ou seja, o conhecimento se apresenta como uma função

meramente instrumental ou utilitária: o conhecimento é verdadeiro ou

falso na medida em que serve ou não para os fins humanos. O pragmatismo

volta-se, principalmente, para ação.

Ceticismo: A palavra ceticismo vem do grego Sképtesthai, que significa

considerar, examinar. O ceticismo afirma a impossibilidade de

conhecimento da verdade. Assim, para ele, o homem nada pode afirmar,

pois nada pode conhecer.

Através da história da filosofia, os céticos sensoriais argumentaram que só

percebemos coisas como parecem a nós e não podemos saber o que causa essa

aparência. Se é que existe um saber sensorial, ele é sempre pessoal, imediato e

mutável. Qualquer inferência das aparências é sujeita a erros e não temos meio de

saber se essa inferência ou julgamento está correto. Contudo, estes argumentos

não impediram muitos céticos de avançar na defesa do probabilismo em relação

ao conhecimento empírico. Nem o ceticismo sensorial impediu dogmáticos de

procurar a verdade absoluta noutro lado, nomeadamente na Razão ou na Lógica.

Talvez o maior problema acerca da possibilidade da verdade absoluta seja o

argumento cético quanto ao critério da verdade. Qualquer critério usado para

julgar a verdade de uma afirmação pode ser desafiado, pois é necessário um

critério superior para julgar o critério usado, e assim, sucessivamente, até ao

infinito. Este argumento não deteve filósofos como Platão e Descartes de

afirmarem ter encontrado um critério absoluto de verdade. Enquanto a maioria dos

céticos rejeitaria a noção de tal critério existir como eles pretendem, a maioria

Filosofia e Lógica

120

aceita provavelmente os argumentos de Santo Agostinho e outros que afirmam

existir certas afirmações absolutamente certas, mas esses são assuntos de lógica e

não tem a ver com o estabelecimento da certeza de afirmações da nossa percepção

imediata.

Os antigos céticos não concordavam sequer com os assuntos fundamentais, tais como certeza e conhecimento serem possíveis. Alguns acreditavam que sabiam que a certeza não era possível; outros afirmavam que não sabiam se o saber era possível. A posição de alguém que defende que o conhecimento é impossível parece ser autorrefutado. O ponto de vista que afirma que não sabe se o saber é possível é consistente com a noção de que faz sentido tentar saber, mesmo se não temos a certeza de atingir esse conhecimento. E, enquanto antigos céticos pareciam advogar a ideia de que não ter opiniões fortes é algo bom, muitos pareciam manter que quando existem fortes provas apoiando a probabilidade de uma posição sobre outra, então aquela era desejável. A maioria deles parecia não aceitar que, como não podemos ter a absoluta certeza de algo, devíamos suspender o julgamento sobre todas as coisas. Tal princípio negar-se-ia a si próprio. Pois que, de acordo com ele, não o devemos aceitar, mas suspender julgamento sobre ele. Suspender o julgamento sobre afirmações deve ser reservado para aquelas sobre as quais nada sabemos, ou não podemos saber, e para aquelas em que as evidências estão equilibradas nos opostos. Pode ser verdade que nada é absolutamente certo, mas não é verdade que todas as afirmações são igualmente prováveis. Uma pessoa razoável usa a probabilidade como guia para o que acredita, não a certeza absoluta, de acordo com os céticos filosóficos.

Em resumo, diversas foram as formas de investigar e responder a possibilidade e a impossibilidade do conhecimento. Tanto o dogmatismo quanto o ceticismo apresentam seus argumentos, mas nenhum destes podem ser considerados como superior ao outro. São discussões que não encerram em si a questão do conhecimento, pois dão forma e conteúdo para a atualização do debate acerca desta questão.

LEITURA COMPLEMENTAR:

Hessen, J. Teoria do conhecimento. 3ª Edição. São Paulo: Martins

fontes, 2000. 184p.

Filosofia e Lógica

121

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo,

presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de

proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira,

redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual

de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Chegamos ao fim do nosso estudo sobre o problema do conhecimento. Como

você pode notar as unidades VI e VII são unidades complementares. As duas

abordam de maneira geral a questão do conhecimento em Filosofia. Na próxima

unidade você terá a oportunidade de estudar a lógica que, embora não seja uma

teoria sobre o conhecimento, é uma parte essencial e auxiliar desta questão

genuinamente filosófica, ou seja, a questão do conhecimento. Vamos para a

próxima unidade? Até lá!

Filosofia e Lógica

122

Exercícios – unidade 7

1. Dentre as alternativas abaixo, qual delas diz respeito ao objetivo fundamental da teoria do conhecimento?

a) Buscar na própria imagem do objeto, a origem, a natureza dos limites do conhecimento, da faculdade de ajuizamento.

b) Buscar a origem para o apreço que se tem em relação à vontade de conhecer.

c) Buscar a origem, a natureza, o valor e os limites da capacidade de relacionar o sujeito e o objeto.

d) Buscar a origem, a natureza, o valor e os limites do conhecimento, da faculdade de conhecer.

e) Buscar as relações entre a natureza e o valor dos limites da consciência, da faculdade dos valores.

2. Qual das alternativas a seguir caracteriza corretamente o empirismo?

a) O empirismo afirma que todas as nossas convicções pessoais são provenientes do nosso mau hábito de gerar discussões passivas.

b) O empirismo afirma que todas as nossas visões espaciais são provenientes de nossas percepções intelectuais.

c) O empirismo afirma que todas as nossas experiências são provenientes unicamente da razão.

d) O empirismo afirma que todas as nossas ideias são provenientes de nossas percepções sensoriais, tais como visão, audição etc.

e) O empirismo afirma que todas as nossas convicções são provenientes de nossas percepções elementares, tais como visão, audição etc.

Filosofia e Lógica

123

3. O pragmatismo pode ser considerado uma espécie de relativismo. Por

pragmatismo podemos dizer que:

a) o conhecimento se apresenta como uma função meramente desinteressada

ou utilitária.

b) o conhecimento se apresenta como uma função meramente instrumental ou

utilitária.

c) o conhecimento se apresenta como uma função meramente desinteressada

ou instrumentalizada.

d) o conhecimento se apresenta como uma função meramente sensorial ou

utilitária.

e) o conhecimento se apresenta como uma função meramente limitada ou

fragmentada.

4. Por ‘dogmatismo crítico’ diz ser uma:

a) incapacidade de conhecer a verdade mediante um esforço entre os nossos

sentidos e a nossa inteligência. Além disso, confia plenamente que através de

um método adequado, ou seja, racional e científico, o conhecimento humano

torna-se capaz de compreender a realidade que o cerca.

b) capacidade de conhecer a verdade mediante um esforço entre os nossos

sentidos e a nossa percepção monoteísta. Além disso, confia plenamente que

através de um método adequado, ou seja, racional e científico, o

conhecimento humano torna-se capaz de compreender a realidade que o

cerca.

c) capacidade de conhecer a verdade mediante um esforço entre os nossos

sentidos e a nossa inteligência. Além disso, confia plenamente que através de

um método adequado, ou seja, racional e científico, o conhecimento humano

torna-se capaz de compreender a realidade que o cerca.

Filosofia e Lógica

124

d) incapacidade de conhecer a verdade mediante um esforço entre os nossos

sentidos e a nossa inteligência. Além disso, o conhecimento humano é

incapaz de compreender a realidade intransigente.

e) capacidade de desconhecer a verdade mediante um esforço de disjunção

entre os nossos sentidos e a nossa inteligência. Além disso, confia plenamente

que através de um método adequado, ou seja, racional e científico, o

conhecimento humano torna-se capaz de compreender a realidade que o

cerca.

5. Qual a contribuição de Kant para o problema do conhecimento?

a) Formulador da filosofia crítica emocional. Além disso, difundiu a tese da

incapacidade de conhecer as coisas que estão introduzidas na conduta

insensível.

b) Formulador da filosofia Racionalista. Além disso, defendeu a tese da

impossibilidade de conhecimento das coisas que estão além da experiência

racional.

c) Formulador da filosofia Empírico-teológica. Além disso, defendeu a tese da

compatibilidade entre o conhecimento das coisas que estão além da

experiência racional e daquelas que estão no interior da nossa memória

afetiva.

d) Formulador da filosofia Racionalista. Além disso, defendeu a tese da

possibilidade de conhecimento das coisas que estão além da experiência

sensível.

e) Formulador da filosofia Racionalista. Além disso, criticou a tese da

impossibilidade de conhecimento das coisas que estão além da experiência

sensível.

Filosofia e Lógica

125

6. Quanto ao ‘ceticismo ingênuo’, podemos dizer que:

a) este tipo de conhecimento subordina os problemas elementares da relação

entre o sujeito e o objeto, não conseguindo entender o problema da

percepção do mundo tal como ele se apresenta.

b) este tipo de conhecimento somente encontra problemas na relação entre o

sujeito e o objeto desconhecido, por isso não se baseia no problema que

concerne à percepção do mundo tal como ele se apresenta.

c) este tipo de conhecimento não encontra problemas na relação entre o critério

subjetivo e o objeto incoerente, por isso não entende como problema

qualquer dificuldade no que concerne à percepção do mundo tal como ele se

apresenta.

d) este tipo de conhecimento não encontra problemas na relação entre o sujeito

e o objeto, por isso não entende como problema qualquer dificuldade no que

concerne à percepção do mundo tal como ele se apresenta.

e) este tipo de conhecimento identifica problemas na relação entre o sujeito e o

objeto, por isso não entende como problema qualquer dificuldade no que

concerne à percepção do mundo tal como ele se apresenta.

7. O ceticismo vem do grego Sképtesthai. Qual o significado deste termo?

a) Considerar ou examinar.

b) Examinar ou desconsiderar.

c) Considerar ou encaminhar.

d) Desconsiderar ou verificar.

e) Verificar ou desconfiar.

Filosofia e Lógica

126

8. Qual o problema maior sobre a possibilidade da verdade absoluta para os

céticos?

a) O argumento que justifica a possibilidade de qualquer conhecimento mediato.

b O argumento acerca do critério da verdade.

c) O problema acerca dos universais.

d) O problema acerca da incapacidade de descobrir uma conexão entre o sujeito e o objeto.

e) A incapacidade de o sujeito possuir várias concepções de verdade.

9. O que pressupõe o ‘Racionalismo’?

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10. O que os céticos argumentam em relação às possibilidades do conhecimento?

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Filosofia e Lógica

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Os conceitos fundamentais da lógica clássica e a sua aplicabilidade no campo da matemática e da ciência

O que é Lógica?

A Lógica Formal.

As três operações intelectuais do espírito.

Trabalhando com conceitos.

O Silogismo: a lógica do Raciocínio.

A relação possível entre a lógica e a matemática.

8

Filosofia e Lógica

128

Nesta unidade iremos analisar os conceitos fundamentais da Lógica Clássica,

como também a sua aplicabilidade no campo das ciências exatas e principalmente

no âmbito da matemática e da ciência. Esta possui o filósofo grego Aristóteles

como seu principal formulador. Dessa forma, procuraremos ressaltar como e

porque as contribuições deste filósofo no campo da Lógica são de extrema

importância até os nossos dias.

OBJETIVOS DA UNIDADE:

• analisar a fundamentação dos argumentos lógicos e as condições que

esses argumentos necessitam para serem considerados válidos ou corretos;

• compreender a aplicabilidade da Lógica clássica no estudo da

matemática e da ciência.

PLANO DA UNIDADE:

• O que é Lógica?

• A Lógica Formal.

• As três operações intelectuais do espírito.

• Trabalhando com conceitos.

• O Silogismo: a lógica do Raciocínio.

• A relação possível entre a lógica e a matemática.

Bons estudos!

Filosofia e Lógica

129

O que é lógica?

A Lógica é uma parte da Filosofia, na sua definição geral, que pode ser compreendida como a ciência que tem como objeto determinar, por entre todas as operações intelectuais que tendem para o conhecimento do verdadeiro, as que são válidas e as que não são (LALANDÉ, 1951). Desde a Grécia Antiga, a Filosofia busca o saber através do uso metódico da razão, ou seja, aos filósofos interessava uma formulação de raciocínios que chegasse a resultados verdadeiros e não falsos. Para se obter esses resultados, diversos pensadores se voltaram para a tarefa de analisar as estruturas do raciocínio, organizando-as e classificando-as. Foi assim que a Lógica se desenvolveu.

Contudo, em seu início, a falta de uma sistematização que fizesse com que a Lógica se constituísse em um domínio específico e autônomo do conhecimento humano era visível. Essa sistematização da Lógica só teve seu início com Aristóteles, no qual a Lógica se estabelece enquanto disciplina sistemática denominada de Lógica Clássica ou Lógica Tradicional. Com isso, Aristóteles assume um papel fundamental na história da Lógica, pois tem consciência de seu caráter autônomo, sendo seu primeiro grande sistematizador.

Apesar de Aristóteles fornecer um caráter sistematizador da Lógica e de ser o seu principal iniciador, parece, portanto, que ele não chega a nos dar uma definição explícita de seu empreendimento teórico. Surge, então, um ponto fundamental que não podemos deixar de mencionar para entendermos como Aristóteles caracteriza a Lógica. O fato é que ele não emprega o termo “lógica” e sim o termo “analítica” (o nome Lógica é posterior a Aristóteles – só vai aparecer 500 anos depois, no tempo de Cícero). Mas, o que estuda a analítica?

Filosofia e Lógica

130

As fontes básicas para elucidar essa questão são os comentários de Aristóteles

em uma das suas obras lógicas, Os Primeiros analíticos. Nessa obra, ele procura

destacar a finalidade da Analítica.

“De início é necessário estabelecer o objetivo de nossa

investigação e a que a disciplina ela pertence: seu objetivo é

a demonstração e pertence à ciência demonstrativa.” (An. Pr.

24ª, pp. 10-17)

Assim, o que a analítica visa é o estudo da demonstração, que para Aristóteles

se dá a partir da análise do raciocínio. A Lógica, para Aristóteles, não teria a função

de aumentar o conhecimento, seu objetivo seria, como vimos, uma análise do

raciocínio em suas diversas formas e comuns a todo tipo de conhecimento

(Matemática, Ética, Física), caracterizando-se, assim, em um pré-requisito básico,

em um conhecimento para o conhecimento propriamente dito. Por fim, a título de

esclarecer a função da analítica para Aristóteles, vale ressaltar o comentário de um

estudioso do pensamento aristotélico, Ross, que diz:

“Para Aristóteles, a Lógica não é uma ciência substantiva,

mas sim um aspecto geral a que todos devem submeter-se

antes de estudar qualquer ciência.” (ROSS, D. 1993)

Considerando a afirmação de Ross, a Lógica para Aristóteles possui um caráter

instrumental, ou seja, é um instrumento utilizado pelas ciências. Na verdade, a

Lógica é um estágio preparatório que antecede ao conhecimento propriamente

dito. É dentro dessa vertente que se convencionou chamar de Órganon (em grego,

instrumento) ao conjunto de obras lógicas de Aristóteles. As obras de Aristóteles

que constituem o Órganon são as seguintes:

Filosofia e Lógica

131

I

MPORTANTE

• As categorias: Referem-se a uma lista de predicados mais abrangentes, que são predicáveis essencialmente das várias entidades nomeáveis e que determinam de que espécie são;

• Sobre a Interpretação: Estuda-se a enunciação;

• Primeiros Analíticos: Estuda a natureza do Silogismo;

• Segundos Analíticos: Aristóteles estuda a aplicação do Silogismo;

• Os Tópicos: Tratam do uso do Silogismo;

• As refutações Sofísticas: Discutem os erros que podem ser encontrados no raciocínio.

Como um instrumento para o conhecimento, a Lógica preocupa-se

fundamentalmente com o aspecto formal de um raciocínio ou argumento. O termo

“formal” refere-se à forma, o que pressupõe que a Lógica tem como objetivo a

preocupação com a forma e a estrutura do pensamento, e não o seu conteúdo.

Pode-se dividir a Lógica de duas formas: a Lógica tradicional e a Lógica moderna

(simbólica ou matemática). Entretanto, essas duas não são completamente

distintas, pois a Lógica tradicional está contida na moderna. O objetivo dessa

divisão é apenas uma questão didática.

Para nossos propósitos, no próximo tópico, examinaremos algumas das

especificações da lógica tradicional de origem aristotélica. Acreditamos que a

análise desta representa uma reflexão mais simples e particular, correspondendo,

assim, aos objetivos desse curso.

A lógica formal ou clássica

A Lógica formal preocupa-se com a maneira pela qual o pensamento deve se

apresentar para ser correto, ou seja, preocupa-se em estabelecer a forma pela qual

o pensamento deve ser enunciado para que possua validade.

Filosofia e Lógica

132

A Lógica formal considerou alguns princípios fundamentais. Tais princípios

nos quais toda a Lógica é baseada são básicos e elementares. São eles:

A – O princípio da identidade: Enunciado pela seguinte sentença: “cada coisa é

idêntica a si mesma”. Podemos dar ao princípio da identidade um tratamento

algébrico, reduzindo-o à seguinte forma enunciativa:

A é idêntico a A

Esse enunciado atribui ao princípio da identidade um caráter tautológico (do

grego tauto, o mesmo). Isso significa que o seu enunciado consiste numa

proposição que tem como sujeito e predicado o mesmo conceito. Ex.: Eu sou eu.

B – O princípio da não-contradição: O princípio da não-contradição postula

que dois conceitos são contraditórios quando não podem ser e não são ao mesmo

tempo, quando analisados de um mesmo ponto de referência. Este princípio pode

receber o seguinte tratamento:

Não (A é não- A)

A partir dessas caracterizações, vamos examinar no tópico seguinte os

conceitos básicos da Lógica formal.

As três operações intelectuais do espírito segundo a lógica clássica aristotélica

Segundo Aristóteles, a inteligência humana possui três funções básicas:

A- Conceber: Conceber é um ato pelo qual se forma um conceito. Quando

pensamos, por exemplo, acerca do homem em geral, da mesa em geral, do

professor em geral, estamos efetuando um ato de conceber.

B- Julgar: Julgar é o ato pelo qual se afirma ou se nega algo a respeito de

alguma coisa. Quando pensamos, por exemplo, “o homem é mortal” estamos

efetuando um ato de julgar. O ato de julgar é mais complexo do que o ato de

conceber, uma vez que o ato de conceber é suposto pelo de julgar, sendo anterior

a este.

Filosofia e Lógica

133

C- Raciocinar: Raciocinar é o ato pelo qual se deriva um juízo a partir de um ou mais juízos. É, por exemplo, pensar:

José é maior do que Mário.

Logo, Mário é menor do que José.

Temos, portanto, um exemplo de derivação de um juízo a partir de um juízo. O ato de raciocinar envolve em si todo um mecanismo psicológico que não interessa a Lógica. À Lógica cabe estudar o conteúdo do ato de raciocinar. Ao conteúdo do ato de raciocinar chamamos de raciocínio. Assim, quando efetuamos o ato de raciocinar, produzimos raciocínio. Na produção de um raciocínio existem sempre juízos.

Trabalhando com conceitos lógicos:

Como vimos anteriormente, um conceito é o conteúdo do ato mental de conceber. Podemos definir o conceito como uma representação intelectual ou discursiva das propriedades que definem uma classe de objetos. As notas determinam a compreensão de um conceito de tal modo que quanto maior o número de notas admitidas, maior a compreensão do conceito. Quando definimos “homem” como ‘animal racional’ distinguimos duas notas que compõem o conceito ‘homem’: ‘animal’ e ‘racional’. Neste sentido, as notas ‘animal’ e ‘racional’ designam propriedades que algo deve possuir a fim de pertencer à classe das entidades que, corretamente, podemos denominar individualmente de ‘homem’. Assim, dizer que as notas de conceito conotam o conceito.

A extensão de um conceito na lógica:

Também conhecida como denotação, a extensão de um conceito – ‘livro’ -, por exemplo, pode ser definida como a classe de todos os objetos aos quais podemos inequivocadamente denominar de ‘livro’. Do mesmo modo, a extensão do conceito ‘mesa’ seria o conjunto de todas as mesas e a extensão do conceito ‘homem’, o conjunto de todos os homens. João, Pedro e José, por exemplo, pertencem à extensão do conceito ‘homem’. Podemos notar, por exemplo, que a extensão do conceito ‘quadrado’ é menor do que a do conceito ‘quadrilátero’ e a extensão deste, por sua vez, é menor do que a do conceito ‘polígono’.

Filosofia e Lógica

134

A compreensão de um conceito na lógica:

A compreensão de um conceito é também denominada de conotação ou intensão. Podemos definir a compreensão como o conjunto de características que dizem respeito ao significado de um conceito, contrariamente às coisas que o conceito designa. Assim, enquanto extensão refere-se à amplitude do conceito quanto a particularidades, a compreensão diz respeito à sua amplitude quanto às notas que o constituem e o caracterizam.

IMPORTANTE

A lei geral dos conceitos na lógica clássica:

Como vimos, a extensão do conceito ‘quadrilátero’ é menor do que a do conceito ‘polígono’, pois há mais polígonos do que quadriláteros. Entretanto, a compreensão do conceito quadrilátero é maior do que a do conceito de ‘polígono’, pois a compreensão de ‘quadrilátero’ pode ser assim expressa: polígono de quatro lados. Isto é, ‘ter quatro lados’ é uma característica fundamental de ‘quadrilátero’, e não de ‘polígono’, pois existem polígonos que não tem quatro lados. Logo, ‘ter quatro lados’ é uma característica a mais que o conceito ‘quadrilátero’ possui em relação ao conceito ‘polígono’. Esse exemplo ilustra a lei geral vigente entre a extensão e a compreensão de um conceito e que pode ser assim enunciada: “A extensão e a compreensão dos conceitos variam inversamente”, ou seja, quanto maior for a compreensão de um conceito, menor a sua extensão, e quanto maior for a extensão, menor será a compreensão.

Essas considerações sobre o conceito, a extensão e a compreensão serão de

extrema importância para entendermos o silogismo. Convido você a examinar

comigo o significado de silogismo.

Filosofia e Lógica

135

O silogismo e a estrutura lógica do raciocínio

Como vimos anteriormente, o raciocínio é o conteúdo do ato mental de

raciocinar. Podemos definir o raciocínio como a derivação de um juízo a partir de

um ou mais juízos. Em todo raciocínio distinguimos sempre o antecedente e o

consequente. Como exemplo de raciocínio, temos:

Nenhum homem é mortal [ANTECEDENTE]

Logo, nenhum imortal é homem [CONSEQuENTE]

Esse exemplo é também caracterizado como uma inferência. Por inferência

deve-se entender um conjunto ordenado de proposições no qual a última é a

conclusão (consequente) e as demais são denominadas de premissas

(antecedente).

Os tipos de Raciocínios

Raciocínio Dedutivo

Raciocínio dedutivo ou dedução é aquele cujo consequente é inferido em

função apenas da conexão que compõe o raciocínio. Ou seja, o argumento

dedutivo é aquele que parte de premissas gerais para uma conclusão particular.

Exemplo:

Todo mamífero é mortal

Todo cão é mamífero

Logo, todo cão é mortal.

Como você observou o antecedente “todo

mamífero é mortal” enuncia uma verdade mais geral do que a conclusão “todo cão

é mortal”.

Filosofia e Lógica

136

Raciocínio Indutivo

Raciocínio indutivo é aquele que parte de proposições ou premissas

particulares e chega a uma conclusão geral. Vejamos um exemplo:

A África é um continente habitado.

A Europa é um continente habitado

(o mesmo para a América, Ásia, Oceania e Antártida)

Logo, todos os continentes são habitados.

O raciocínio indutivo, partindo de verdades particulares, tende a chegar a

conclusões apenas provavelmente corretas, enquanto que o raciocínio dedutivo,

partindo de verdades gerais, tende a chegar a conclusões seguramente corretas.

Isto porque no raciocínio indutivo a conclusão não está implícita no antecedente,

ao passo que no raciocínio dedutivo a conclusão está implícita no antecedente.

A natureza do silogismo e os seus elementos principais

O silogismo é uma forma especial de argumento em que uma conclusão que

une os dois termos é deduzida de duas premissas que une esses dois termos a um

terceiro termo. Todo silogismo é constituído de três proposições nas quais os três

termos são combinados dois a dois. Eis um exemplo de silogismo aristotélico:

1ª Premissa – Todo homem é mortal

2ª Premissa – Todo grego é homem

Conclusão – Todo grego é mortal

1ª Premissa – Todo A é B

2ª Premissa – x é A

Conclusão – Todo x é B e A

Filosofia e Lógica

137

O silogismo é composto de dois termos extremos que se unem na conclusão

funcionando como sujeito e predicado. O predicado da conclusão é denominado

de termo maior (que se convencionou abreviar por “T”), enquanto que o sujeito é o

termo menor (que se convencionou abreviar por “t”). O termo ao qual cada um dos

extremos está ligado e que não aparece na conclusão do silogismo é denominado

de termo médio (abreviado por “M”). No exemplo acima, ‘mortal’ é o termo maior,

‘grego’ é o termo menor e ‘homem’, o termo médio.

Assim, os termos (T, t, M) são a “matéria remota” do silogismo. A premissa que

contém o termo maior é chamada de premissa maior, enquanto que a que contém

o termo menor é chamada de premissa menor. A premissa maior e menor e a

conclusão são a “matéria próxima” do silogismo. Todo silogismo possui a seguinte

estrutura:

(Antecedente) Todo homem (M) é mortal. (T) – Premissa maior.

(Antecedente) Todo grego (t) é homem. (M) – Premissa menor.

(Consequente) Todo grego (t) é mortal. (T) – Conclusão.

Mais exemplos:

(Antecedente) Todo círculo (M) é redondo. (T) – Premissa maior.

(Antecedente) Nenhum triângulo (t) é redondo. (M) – Premissa menor.

(Consequente) Logo, Nenhum triângulo (t) é círculo. (T) – Conclusão.

A relação possível entre a lógica e a matemática

Tanto para os antigos e os medievais aristotélicos, os princípios e as leis da

lógica correspondiam à estrutura da própria realidade, pois o pensamento

exprimiria o real e dele participa. Aristóteles dizia que a verdade e a falsidade são

propriedades do pensamento e não das coisas e que a realidade e a irrealidade

(aparência ilusória) são propriedades das coisas e não do pensamento e, ainda, um

pensamento verdadeiro devia exprimir a realidade da coisa pensada, enquanto um

pensamento falso nada poderia exprimir. Por outro lado, os modernos (século XVII),

a lógica era uma arte de pensar, para bem conduzir a razão nas ciências.

Filosofia e Lógica

138

Os princípios e as leis da lógica correspondiam à estrutura do próprio pensamento, sobretudo, à do raciocínio. Dessa forma, como arte de pensar, a lógica oferecia ao conhecimento científico e filosófico as leis do pensamento verdadeiro e os procedimentos para a avaliação dos conhecimentos adquiridos.

Contudo, alguns estudiosos contemporâneos admitem que a lógica antiga e moderna não eram plenamente formal, pois não era indiferente aos conteúdos das proposições, nem às operações intelectuais do sujeito do conhecimento. A forma lógica recebia o valor de verdade ou falsidade a partir da verdade a falsidade dos atos de conhecimento do sujeito e da realidade ou irrealidade dos objetos conhecidos. Ao contrário, a lógica contemporânea, procurando tornar-se um puro simbolismo do tipo matemático e um cálculo simbólico preocupa-se cada vez menos com o conteúdo material das proposições (a realidade dos objetos referidos pela proposição) e com as operações intelectuais do sujeito do conhecimento (a estrutura do pensamento).

Desde a Grécia antiga considerou-se a matemática uma ciência baseada na intuição intelectual de verdades absolutas, existentes em si e por si mesmas, sem depender de qualquer interferência humana. Os axiomas, as figuras geométricas, os números e as operações aritméticas, os símbolos e as operações algébricas eram considerados verdades absolutas, universais, necessárias, que existiriam com ou sem os homens e que permaneceriam existindo mesmo se os humanos desaparecessem (para muitos filósofos, a matemática chegou a ser considerada a ciência divina por excelência). No entanto, desde o século XIX passou-se a considerar a matemática uma ciência que resulta de uma construção intelectual, uma invenção do espírito humano, sem que suas entidades sejam existentes em si e por si mesmas. Os entes matemáticos são puras idealidades construídas pelo intelecto ou pelo pensamento, que formula um conjunto rigoroso de princípios, regras, normas e operações, para a criação de figuras, números, símbolos, cálculos, etc.

Desta maneira, a matemática surgia como um ramo da lógica, cabendo ao alemão Frege e aos ingleses Bertrand Russell e Alfred Whitehead prosseguir o trabalho de Peano (que realizou um estudo sobre a aritmética dos números cardinais finitos demonstrando que estes poderiam ser derivados de cinco axiomas ou proposições primitivas e de três termos não definíveis – zero,

Filosofia e Lógica

139

número e sucessor de), oferecendo as definições lógicas dos três termos que o

matemático italiano julgara indefiníveis. Frege ofereceu o primeiro conceito de

sistema formal e os primeiros exemplos do cálculo de proposições e de predicados.

A matemática é uma ciência de formas e cálculos puros organizados numa

linguagem simbólica perfeita, na qual cada signo é um algoritmo, isto é, um

símbolo com um único sentido. É elaborada pelo espírito humano e não um

pensamento intuitivo que contemplaria entidades perfeitas e eternas, existentes

em si e por si mesmas.

Ora, se o pensamento constrói seus próprios objetos, em vez de descobri-los ou contemplá-los, essa construção, segundo os próprios matemáticos, faz com que a matemática deva ser entendida como um discurso ou como uma linguagem que obedece a certos critérios e padrões de funcionamento. Assim sendo, a lógica adotou para si o modelo de um discurso ou de uma linguagem que lida com puras formas sem conteúdo e tais formas são símbolos de tipo matemático ou algoritmos.

LEITURA COMPLEMENTAR:

COPI, Irving. Introdução à lógica. 2ª Edição. São Paulo: Mestre Jou, 1974. 488p.

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Percebeu como o estudo da lógica é importante? Através dessa disciplina, podemos obter um raciocínio correto, seja quando estamos escrevendo seja quando estamos argumentando um problema qualquer. Espero que você tenha compreendido esses conceitos fundamentais da lógica. Caso queira se aprofundar mais nesse assunto, recomendo que você recorra à leitura complementar indicada. Bom estudo! Até a próxima unidade.

Filosofia e Lógica

140

Exercícios – unidade 8 1. O que podemos entender o estudo da lógica?

a) A lógica pode ser compreendida como a ciência que tem como objeto determinar, por entre todas as operações intelectuais que tendem para o conhecimento do verdadeiro, as que são válidas e as que não são.

b) A lógica pode ser compreendida como uma conferência que tem como objeto determinar, por entre todas as operações intelectuais que tendem para o conhecimento do verdadeiro, as que são válidas e as que não são.

c) A lógica pode ser compreendida como uma tendência moderna que tem como objeto determinar, por entre todas as operações intelectuais que tendem para o conhecimento do verdadeiro, as que são válidas e as que não são.

d) A lógica pode ser compreendida como uma conferência que tem como objeto catalogar, por entre todas as operações intelectuais que tendem para o conhecimento do verdadeiro, as que são válidas e as que não são.

e) A lógica pode ser compreendida como uma conferência que tem como iniciativa coletiva determinar, por entre todas as operações intelectuais que tendem para o conhecimento do verdadeiro, as que são válidas e as que não são.

2. O que significa dizer que a Lógica ocupa-se fundamentalmente com o aspecto formal de um raciocínio ou de um argumento?

a) Porque a Lógica tem como objetivo a preocupação com a emancipação disforme e a estrutura do pensamento e não o seu conteúdo.

b) Porque a Lógica tem como objetivo a preocupação com a forma e a estrutura do pensamento e não o seu conteúdo.

c) Porque a Lógica tem como objetivo a preocupação com a ligação disforme e a estrutura do pensamento e não o seu conteúdo.

d) Porque a Lógica tem como objetivo a preocupação com a iniciação disforme e a estrutura do pensamento e não o seu conteúdo.

e) Porque a Lógica tem como objetivo o exame da confecção do silogismo e a estrutura do pensamento e não o seu conteúdo.

Filosofia e Lógica

141

3. Qual das alternativas a seguir implica em uma definição da compreensão de um

conceito?

a) Refere-se à amplitude do conceito quanto às particularidades.

b) É o conteúdo do ato mental de raciocinar.

c) O conjunto de características que dizem respeito ao significado de um conceito, contrariamente às coisas que o conceito designa.

d) Refere-se ao conteúdo dos atos mentais.

e) Designa uma nota do conteúdo do ato mental de raciocinar.

4. Identifique no silogismo a seguir qual é a premissa maior.

Existem biscoitos feitos de água e sal.

O mar é feito de água e sal.

Logo, o mar é um grande biscoito.

a) O mar é feito de água e sal.

b) Logo.

c) “Existem biscoitos feitos de água e sal”.

d) Água e sal.

e) Logo, o mar é um grande biscoito.

5. Que tipo de raciocínio expressa o seguinte silogismo?

O ferro conduz eletricidade

O ouro conduz eletricidade

O cobre conduz eletricidade

Logo, todos os metais conduzem eletricidade.

Filosofia e Lógica

142

a) Raciocínio indutivo.

b) Raciocínio dedutível

c) Raciocínio dedutivo.

d) Raciocínio gramático.

e) Falácia conceitual.

6. Dentre as questões a seguir, qual delas caracteriza corretamente “o princípio da

não-contradição”?

a) Postula que três conceitos são ilusórios quando não podem ser e não são ao mesmo tempo, quando analisados de um mesmo ponto de referência.

b) Postula que dois conceitos são invariáveis quando podem ser e não são ao mesmo tempo, quando analisados de um mesmo ponto de referência.

c) Postula que duas consciências são contraditórias quando não podem se refletir ao mesmo tempo, quando analisados de um mesmo ponto de referência.

d) Postula que dois conceitos são contraditórios quando podem ser e não ser ao mesmo tempo, quando analisados de um mesmo ponto de referência.

e) Postula que dois conceitos são contraditórios quando não podem ser e não são ao mesmo tempo, quando analisados de um mesmo ponto de referência.

7. Qual das alternativas abaixo não se refere à “compreensão de um conceito” na

lógica?

a) Também denominada de conotação.

b) Também denominada de intensão.

c) Diz respeito à sua amplitude quanto às notas que o constituem e o caracterizam.

d) Refere-se à amplitude do conceito quanto às particularidades.

e) Conjunto de características que dizem respeito ao significado de um conceito, contrariamente às coisas que o conceito designa.

Filosofia e Lógica

143

8. Das seguintes alternativas, qual corresponde à caracterização correta de

Raciocinar?

a) Ato pelo qual o espírito opõe-se à matéria.

b) Ato pelo qual se deriva um juízo a partir de um ou mais juízos.

c) Ato pelo qual o diálogo se converte em espírito.

d) Ato pelo qual a concepção de ato conduz a concepção de espírito.

e) Ato pelo se deriva uma inferência a partir de uma consequência.

9. A Lógica Formal considerou alguns princípios fundamentais. Tais princípios, nos

quais toda a Lógica é baseada, são básicos e elementares. Quais são eles?

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10. Quais são as três operações intelectuais do Espírito segundo a Lógica clássica

aristotélica?

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Filosofia e Lógica

144

Filosofia e Lógica

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A epistemologia e a filosofia da ciência

A questão inicial da Filosofia da ciência.

A classificação das ciências.

A neutralidade da ciência.

O cientificismo e a ideologia da ciência.

9

Filosofia e Lógica

146

Nesta unidade aprenderemos que a Filosofia da Ciência procura identificar as

peculiaridades da ciência e descobrir em que operações da razão ela fundamenta

suas técnicas, seus procedimentos de pesquisa e, consequentemente, seus

resultados.

OBJETIVOS DA UNIDADE:

• examinar a constituição da Epistemologia e da Filosofia da Ciência.

• fornecer uma apreciação mais ampla dos argumentos que transformaram

o debate sobre a ciência numa discussão sobre os valores e o compromisso do

conhecimento científico para com a sociedade.

PLANO DA UNIDADE:

• A questão inicial da Filosofia da ciência.

• A classificação das ciências.

• A neutralidade da ciência.

• O cientificismo e a ideologia da ciência.

Bons estudos!

Filosofia e Lógica

147

A questão inicial da filosofia da ciência

A Filosofia da Ciência enquanto uma especificação da filosofia destacou-se no

final do século XIX, a partir da polêmica travada entre William Whewell e John

Stuart Mill. A preocupação central da Filosofia da Ciência diz respeito à reflexão

crítica sobre os fundamentos do saber científico. Em outras palavras, diz-se que a

Filosofia da Ciência ou Epistemologia busca constituir uma “teoria do

conhecimento científico”. No entanto, podemos a partir desse tema geral,

desdobrá-lo em uma série de problemas que são discutidos pelos filósofos da

ciência ao longo dos tempos, tais como:

A preocupação acerca do método de investigação científica;

A questão sobre a classificação das ciências;

A natureza e as especificidades das teorias científicas;

A questão acerca do papel da ciência e a sua utilidade na sociedade.

A Filosofia da Ciência pode ser dividida em duas grandes áreas: a

epistemologia da ciência e a metafísica da ciência. (1) A epistemologia da ciência

discute a justificação e a objetividade do conhecimento científico. (2) A metafísica

da ciência discute aspectos filosoficamente problemáticos da realidade

desvendada pela ciência. Podemos dizer que a filosofia da ciência possui como

expressão máxima as reflexões dos filósofos Thomas Kuhn e Karl Popper. As

questões levantadas por estes filósofos acerca dos problemas da ciência podem ser

resumidas na seguinte reflexão de Gilles-Gaston Granger:

Filosofia e Lógica

148

“A ciência é uma das mais extraordinárias criações do homem, ao

mesmo tempo pelos poderes que lhe confere e pela satisfação

intelectual e até estética que suas explicações proporcionam. No

entanto, ele não é lugar de certezas absolutas e, exceto nas

matemáticas, nas quais sabemos exatamente as condições em que

um teorema é verdadeiro, o conhecimento científico é

necessariamente parcial e relativo. É limitado o campo em que a

visão científica do conhecimento pode legitimamente conhecer?

Devemos traçar fronteiras à ciência? A resposta é não, no sentido de

que nenhuma razão derivada da natureza da ciência obrigue a se

delimitar seu campo de investigação. No entanto, nem toda espécie

de fenômeno lhe é igualmente acessível. O obstáculo único, mas

radical, me parece ser a realidade individual dos acontecimentos e

dos seres. O conhecimento científico exerce-se plenamente quando

pode neutralizar essa individuação, sem gerar gravemente seu

objeto, como acontece em geral nas ciências da natureza. (...) Por

outro lado, a ciência não se propõe de modo algum resolver as

questões que envolvem escolhas de valor. Vimos que ela própria

levanta problemas éticos; sem dúvida, ela deve contribuir para nos

informar e nos esclarecer a respeito desses problemas, mas

absolutamente não seria capaz de resolvê-los. O erro mais grave

sobre esse ponto consistiria em transformar conhecimentos positivos

cientificamente estabelecidos em preceitos de escolha e de ação.”

(GRANGER, 1994, pp. 113-114).

Essas dentre muitas questões são, portanto, o objeto de discussão da filosofia

da ciência. A seguir, iremos examinar alguns desses problemas e discussões acerca

dos fundamentos do saber científico.

Filosofia e Lógica

149

2- A classificação das ciências

Desde os tempos áureos da Filosofia, os filósofos possuem a preocupação de elaborar uma classificação geral das ciências. A primeira classificação sistemática das ciências se deve a Aristóteles. Aristóteles empregou três critérios para classificar os saberes:

Critério da ausência ou de presença da ação humana. Levando em conta esse aspecto, Aristóteles estabeleceu uma distinção entre ciências teoréticas, ou seja, as ciências que tem como objetivo o conhecimento puro e racional do mundo. Ex.: Física, matemática, biologia, etc. As ciências práticas, as que possuem como objetivo o conhecimento de princípios instrumentais a serem aplicados no comportamento social e intelectual do homem. Ex.: Moral, política, lógica;

Critério de imutabilidade e permanência: nesse critério, Aristóteles estabelece uma distinção entre metafísica, física ou ciências da natureza e a matemática;

Critério de praticidade: Nesse, Aristóteles distingue as ciências que tem por objeto a práxis (a ação ética e política) das ciências técnicas (a fabricação de objetos artificiais).

Uma outra interessante classificação das ciências nos é fornecida pelo filósofo do século XIX Auguste Comte. Ele propôs uma classificação das ciências baseada no critério do grau de simplicidade ou generalidade dos fenômenos investigados. Para este filósofo, era necessário partir da investigação dos fenômenos mais gerais ou simples, até atingir os fenômenos particulares. Assim, de acordo com esse princípio, as ciências são classificadas em cinco grupos: astronomia, física, química, biologia e sociologia.

Filosofia e Lógica

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Diferentemente de Aristóteles e Auguste Comte, o filósofo contemporâneo Carl Hempel classificou as ciências em dois grandes grupos:

Ciências empíricas: são aquelas que procuram descobrir, descrever e explicar as ocorrências do mundo em que vivemos. As afirmações dessas ciências, diz Hempel, devem ser confrontadas com os fatos de nossa experiência;

Ciências não-empíricas: são aquelas que dispensam a referência à experiência. Estas se desenvolvem no plano da abstração e do raciocínio. Ex.: a lógica e a matemática. Por sua vez, as ciências empíricas dividem-se em ciências naturais e ciências sociais ou ciências humanas. Para Hempel, as ciências naturais são aquelas que estudam o conjunto de seres e coisas, orgânicas e inorgânicas, que compõem a natureza. São exemplos de ciências naturais: a física, a química, a biologia, etc. Por outro lado, as ciências sociais estudam as relações do homem consigo mesmo, com os outros homens e com a natureza. Exemplos desse tipo de ciência são: sociologia, economia, antropologia e história.

Bem, com base nesses três exemplos de filósofos e suas teorias classificatórias,

você possui subsídios suficientes para compreender as distinções entre as ciências

e os seus limites de atuação.

3- A neutralidade da ciência

Segundo Chauí (2005, p. 235),

“Como a ciência se caracteriza pela separação e pela distinção

entre o sujeito do conhecimento e o objeto e por retirar dos

objetos de conhecimento os elementos subjetivos; como os

procedimentos científicos de observação, experimentação e

interpretação procuram alcançar o objeto real ou o objeto

construído como modelo aproximado do real. Enfim, como os

resultados obtidos por uma ciência não dependem da boa ou

má vontade do cientista nem de suas paixões, estamos

convencidos de que a ciência é neutra ou imparcial.”

Filosofia e Lógica

151

Mesmo tendo esta visão como predominante, a ciência em nada pode ser

caracterizada como neutra ou desinteressada. Essa visão é uma ilusão, pois quando

o cientista define o seu objeto de investigação ou conhecimento ou decide usar

um ou outro método em sua investigação para obter um resultado esperado, sua

atividade não é neutra nem parcial. A neutralidade da ciência diz respeito aos

valores morais e sociais que, em tese, não influenciariam os cientistas em seu

trabalho de pesquisa e investigação. Neste caso, o conhecimento científico seria

considerado neutro por não atender a nenhum valor particular, podendo suas

práticas serem realizadas sem a influência de qualquer valor, não serviriam a

nenhum interesse específico. No entanto, como vimos acima, parece que a ciência

não procede dessa maneira. De fato, vamos investigar alguns procedimentos

científicos, tais como os exemplos que forneceremos a seguir conforme a filósofa

Marilena Chauí (2005, p. 235), ilustra que a neutralidade e imparcialidade da ciência

é um mito:

“O racismo não é apenas uma ideologia social e política. É também uma

teoria que se pretende científica, apoiada em observações, dados e leis

conseguidas com a biologia, a psicologia, a sociologia. É uma certa

maneira de construir tais dados, de sorte a transformar diferenças étnicas

e culturais em diferenças biológicas naturais imutáveis e separar os seres

humanos em superiores e inferiores, dando aos primeiros justificativas

para explorar, dominar e mesmo exterminar os segundos”;

Filosofia e Lógica

152

“Por que Copérnico teve que esconder os resultados de suas pesquisas e

Galileu foi forçado a comparecer perante a Inquisição e negar que a Terra

se movia ao redor do Sol? Porque a concepção astronômica geocêntrica

(elaborada, na Antiguidade, por Ptolomeu e Aristóteles) permitia que a

Igreja Romana mantivesse a ideia de que a realidade é constituída por

uma hierarquia de seres, que vão dos mais perfeitos – os celestes – aos

mais imperfeitos – os infernais – e que essa hierarquia colocava a Igreja

acima dos imperadores, estes acima dos barões e estes acima dos

camponeses e servos”;

“Se a astronomia demonstrasse que a Terra não é o centro do Universo e

que o Sol não é apenas uma perfeição imóvel, e se a mecânica galileana

demonstrasse que todos os seres estão submetidos às mesmas leis do

movimento, então as hierarquias celestes, naturais e humanas perderiam

legitimidade e fundamento, não precisando ser respeitadas. A física e a

astronomia pré-copernicanas (elaboradas por Ptolomeu e Aristóteles)

serviam – independentemente da vontade de Ptolomeu e de Aristóteles,

é verdade – a uma sociedade e a uma concepção do poder que se viram

ameaçadas por uma nova concepção científica”;

“Um último exemplo pode ser dado através da antropologia. Durante

muito tempo, os antropólogos afirmaram que havia duas formas de

pensamento cientificamente observáveis e com leis diferentes: o

pensamento lógico-racional dos civilizados (europeus brancos adultos) e

o pensamento pré-lógico e pré-racional dos selvagens ou primitivos

(africanos, índios, tribos australianas). O primeiro era considerado

superior, verdadeiro e evoluído; o segundo, inferior, falso, supersticioso e

atrasado, cabendo aos brancos europeus “auxiliar” os selvagens

“primitivos” a abandonar sua cultura e adquirir a cultura “evoluída” dos

colonizadores”.

Filosofia e Lógica

153

Enfim, esses exemplos ilustram que não têm como aceitar a neutralidade e a

imparcialidade da ciência como se fosse possível compreender que o

conhecimento científico é um “saber pelo saber”, ou seja, completamente

desinteressado. Os valores morais e sociais influenciam de tal forma as escolhas das

pesquisas, ao privilegiar umas em detrimentos de outras, o que torna impossível

considerar a ciência neutra e imparcial. Portanto, é uma ilusão conceber que o

cientista esteja imune à influência do contexto social em que está inserido. Assim, a

ciência se encontra fundamentalmente envolvida na moral e na política, pelas

quais se evidencia o comprometimento e a responsabilidade social do cientista das

quais ele não pode abdicar.

4- O cientificismo e a ideologia da ciência

Segundo Chauí (2005, p. 235),

“O senso comum, ignorando as complexas relações entre as

teorias científicas e as técnicas, entre ciência pura e ciência

aplicada, entre teoria e prática e entre verdade e utilidade,

tende a identificar as ciências com os resultados de suas

aplicações. Essa identificação desemboca numa atitude

conhecida como cientificismo, isto é, fusão entre ciência e

técnica e a ilusão da neutralidade científica.”

O cientificismo é a crença segundo a qual a ciência pode e deve conhecer tudo

e que seu procedimento é perfeito, ou seja, a ciência é considerada o único conhecimento possível e o método das ciências da natureza é o único capaz de explicar todas as ocorrências da realidade. O cientificismo, diz Chauí (2005, p. 235) “(...) desemboca numa ideologia e numa mitologia da ciência. O que é a ‘ideologia da ciência’ e ‘mitologia da ciência’?

A Ideologia da ciência: Crença no progresso e na evolução dos

conhecimentos que, um dia, explicarão totalmente a realidade e

permitirão manipulá-la tecnicamente, sem limites para a ação

humana;

Filosofia e Lógica

154

A Mitologia da ciência: Crença na ciência como se fosse magia e

poderio ilimitado sobre as coisas e os homens, dando-lhe o lugar que

muitos costumam dar às religiões, isto é, um conjunto doutrinário de

verdades intemporais, absolutas e inquestionáveis.

IMPORTANTE

Pode-se dizer que a ideologia e a mitologia cientificistas encaram a ciência não pelo prisma do trabalho do conhecimento, mas pelo prisma dos seus resultados específicos, como também uma forma velada de poder social e de controle do pensamento. Sendo assim, aceitam a “ideologia da competência”, ou seja, a ideia de que na sociedade existem dois grupos: os que sabem e os que não sabem. Os primeiros são competentes e possuem o direito de mandar e de exercer poderes; os demais são vistos como incompetentes e, por isso, devem obedecer e ser mandados. Enfim, a sociedade sob este ordenamento possui certa estrutura através da qual deve ser dirigida e comandada pelos que “sabem” e os demais devem executar as tarefas que lhes são ordenadas por quem tem o “saber”.

Filosofia e Lógica

155

Podemos concluir o nosso estudo com a seguinte reflexão:

“Além de fazer parte essencial da atividade econômica, a

ciência também passou a fazer parte do poder político. Não é

por acaso, por exemplo, que governos criem ministérios e

secretarias de ciência e tecnologia e que destinem verbas para

financiar pesquisas civis e militares. Do mesmo modo que as

grandes empresas financiam pesquisas e até criam centros e

laboratórios de investigação científica, assim também os

governos determinam quais as ciências que irão ser

desenvolvidas e, nelas, quais as pesquisas que serão

financiadas. Essa nova posição das ciências na sociedade

contemporânea, além de indicar que é mínimo ou quase

inexistente o grau de neutralidade e de liberdade dos cientistas,

indica também que o uso das ciências define os recursos

financeiros que nelas serão investidos. A sociedade, porém, não

luta pelo direito de interferir nas decisões de empresas e

governos quando estes decidem financiar um tipo de pesquisa

em vez de outra. Dessa maneira, o campo científico torna-se

cada vez mais distante da sociedade sem que esta encontre

meios para orientar o uso das ciências, pois este é definido

antes do início das próprias pesquisas e fora do controle que a

sociedade poderia exercer sobre ele.” (CHAUÍ, 2005, p. 235).

LEITURA COMPLEMENTAR:

ALVES, RUBEM. Filosofia da Ciência. 21ª Ed. São Paulo: Brasiliense,1995.

224 pág.

Filosofia e Lógica

156

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo,

presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de

proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira,

redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual

de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Terminamos mais uma unidade. Você compreendeu alguns problemas que a

filosofia da ciência reflete e discute. Notou como os problemas são importantes e

atuais? Pois bem, agora você está apto a se aprofundar um pouco mais sobre esses

assuntos, consultando a leitura complementar recomendada. Claro, sinta-se à

vontade caso queira investir em outras fontes no seu aprofundamento sobre a

filosofia da ciência. Então, procure a biblioteca do seu campus e siga em frente! Até

a próxima unidade!

Filosofia e Lógica

157

Exercícios – unidade 9

1. Complete a frase a abaixo.

“Pode-se dizer que a _____ e a ______ cientificistas encaram a ciência não pelo

prisma do trabalho do ______, mas pelo prisma dos seus resultados específicos,

como também, uma forma velada de ______ e de controle do pensamento”.

a) Ciência, técnica, conceito, poder social.

b) Ideologia, mitologia, conhecimento, poder social.

c) Ideologia, técnica, conhecimento, poder social.

d) Ciência, mitologia, conceito, poder social.

e) Ideologia, técnica, conceito, poder social.

2. Quais são os dois grandes grupos em que o filósofo contemporâneo Carl Hempel

classifica as ciências?

a) Ciências teoréticas e ciências materiais.

b) Ciências empíricas e ciências naturalizadas.

c) Ciências materiais e ciências práticas.

d) Ciências empíricas e ciências não-empíricas.

e) Ciências da saúde e ciências humanas.

3. Poderíamos dizer que a filosofia da ciência subdivide-se em duas áreas

fundamentais. Quais são elas?

a) A epistemologia da ciência e a filosofia da metafísica.

b) A epistemologia da ciência e a espectrologia da decência.

c) A epistemologia da ciência e a metafísica da ciência.

d) A epistemologia da ciência e a operatividade das hipóteses.

e) A epistemologia da ciência e a pós-metafísica da ciência.

Filosofia e Lógica

158

4. Qual das seguintes alternativas abaixo caracteriza a epistemologia da ciência?

a) Discute a inativação e a subjetividade do conhecimento científico.

b) Discute a justificação e a inutilidade do conhecimento científico.

c) Discute a ausência de subjetividade no conhecimento científico.

d) Discute a justificação e a objetividade do conhecimento científico.

e) Discute a justificação e a incompetência do conhecimento científico.

5. Qual o significado da “ideologia da competência”?

a) É a idéia de que na sociedade existem dois grupos: os alunos e os professores.

b) É a idéia de que na sociedade existem dois grupos: os que sabem e os que não

sabem.

c) É a idéia de que na universidade existem dois grupos: os que sabem e os que

não sabem.

d) É a idéia de que na sociedade não existem grupos diferenciados.

e) É a idéia de que na sociedade possam existir dois grupos: os que não sabem e

os que desejam saber cada vez mais.

6. Complete a frase a abaixo.

“A _____, porém, não luta pelo direito de _____ nas decisões de empresas e

governos quando estes decidem ______ um tipo de pesquisa em vez de outro”.

a) Sociedade, interferir, comprar.

b) Sociedade, se omitir, comprar.

c) Sociedade, interferir, financiar.

d) Sociedade, refletir, financiar.

e) Sociedade, monitorar, conquistar.

Filosofia e Lógica

159

7. Qual o significado correto de ‘cientificismo’?

a) É a crença segundo a qual a ciência pode e deve conhecer tudo e que seu

procedimento é desnecessário.

b) É a crença segundo a qual a ciência pode e deve conhecer tudo e que seu

procedimento é perfeito.

c) É a crença segundo a qual a ciência pode e deve desconhecer tudo e que seu

procedimento é imperfeito.

d) É a crença segundo a qual a ciência pode e deve conhecer tudo e que seu

procedimento é imperfeito.

e) É a crença segundo a qual a ciência não pode e não deve conhecer tudo e que

seu procedimento é perfeito.

8. O que significa “mitologia da ciência”?

a) Crença na ciência como se fosse magia e poderio ilimitado sobre as coisas e os homens, dando-lhe o lugar que muitos costumam dar às religiões, isto é, um conjunto doutrinário de verdades intemporais, absolutas e inquestionáveis.

b) Crença na religião como se fosse tecnologia e poderio ilimitado sobre as coisas e os homens, dando-lhe o lugar que muitos costumam dar às religiões, isto é, um conjunto doutrinário de verdades intemporais, absolutas e inquestionáveis.

c) Crença na moral como se fosse tecnologia e poderio limitado sobre as coisas e os homens, dando-lhe o lugar que muitos costumam dar às religiões, isto é, um conjunto doutrinário de verdades intemporais, absolutas e inquestionáveis.

d) Crença na não-ciência como se fosse magia e poderio ilimitado sobre as coisas e os homens, dando-lhe o lugar que muitos costumam dar às religiões, isto é, um conjunto doutrinário de verdades intemporais, absolutas e inquestionáveis.

e) Crença na ciência como se fosse magia e poderio limitado sobre as coisas e os homens, dando-lhe o lugar que muitos costumam dar à tecnologia, isto é, um conjunto doutrinário de verdades intemporais, absolutas e inquestionáveis.

Filosofia e Lógica

160

9. A primeira classificação sistemática das ciências se deve a Aristóteles. Quais são

os três critérios que este utilizou para classificar os saberes?

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10. Qual é a diferença fundamental entre as Ciências Empíricas e as Ciências Não-

empíricas?

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Filosofia e Lógica

161

A filosofia moral: ética, moral e valores humanos

Os valores morais: O argumento principal da Filosofia Moral.

A Moralidade e o seu campo de atuação.

A Ética e o seu campo de atuação.

A Liberdade como um problema ético e moral.

10

Filosofia e Lógica

162

Esta unidade visa abordar um tema muito importante em nossa época, a

questão da ética e da moral. O que é ética? O que é moral? As respostas para essas

questões podem ser vislumbradas por intermédio da distinção fundamental entre

ética e moral. Então, vamos examinar o que esses conceitos significam?

OBJETIVOS DA UNIDADE:

• constituir uma reflexão sobre o significado dos conceitos de ética e moral;

• compreender o significado dos valores morais, para a partir desses,

examinar os conceitos de moral e de ética.

PLANO DA UNIDADE:

• Os valores morais: O argumento principal da Filosofia Moral.

• A Moralidade e o seu campo de atuação.

• A Ética e o seu campo de atuação.

• A Liberdade como um problema ético e moral.

Bons estudos!

Filosofia e Lógica

163

1-

Os valores morais: o argumento principal da filosofia moral

O seguinte texto é do Filósofo Nowell-Smith (1966, p.11-12,). Vejamos como ele expõe a sua conceituação sobre os valores:

“Imagine-se que alguém me pedisse um código moral por onde

pautar a sua vida. Eu responderia como Aristóteles fez – “Não

posso dar-lhe um código; observe os homens melhores e mais

sábios que você possa encontrar e imite-os.”

Bem, podemos perceber na citação acima que a questão dos valores possui uma correspondência direta entre a conduta a ser seguida por alguém. Ora, mas como avaliar se a conduta de alguém merece ou não ser seguida? Assim, como na citação do Filósofo Nowell-Smith sobre Aristóteles: como posso saber quem é sábio ou mais sábio para que eu possa me espelhar ou imitar?

IMPORTANTE

Essa é uma questão que diz respeito ao ato humano de valorar as coisas. O âmbito dos valores faz parte da existência humana. O ato de valorar é uma constante entre nós. Estamos a todo o momento fazendo avaliações sobre as coisas e pessoas que nos cercam. Por exemplo: “Este computador é lento, não corresponde ao que espero” ou “Esta disciplina é muito atrativa”, ainda mais “Acho que o Presidente da República agiu corretamente ao pronunciar aquelas palavras” e “Prefiro comprar um carro novo a viajar para a Europa”. Essas afirmações se referem aos juízos que fazemos da realidade. Quando nos referimos ao computador ou a esta disciplina, ao pronunciamento do Presidente da República e ao escolher a compra de um carro do que a viajem, estamos emitindo “juízos de valor” sobre a realidade, atribuindo uma qualidade que desperta a nossa atração ou repulsão sobre uma determinada coisa, opinião, etc.

Filosofia e Lógica

164

Nesse momento, você deve estar se perguntando: afinal, qual é a relação entre a questão dos valores e a filosofia? A questão dos valores é objeto de estudo da axiologia (em grego: axios que dizer valor e logos significa estudo), que é um ramo particular da filosofia. A axiologia é uma teoria ou uma investigação acerca dos valores. De uma maneira geral, o conceito de valor designa o caráter valioso de algo que nos desperta uma afetividade ou uma repulsão.

Os valores morais são, portanto, juízos sobre as ações humanas que se baseiam em definições do que é bom ou mau, ou do que é o bem ou o mal. Eles são imprescindíveis para que possamos guiar nossa compreensão do mundo e de nós mesmos e servem de parâmetros pelos quais fazemos escolhas e orientamos nossas ações. Os valores morais servem justamente para orientar as pessoas no momento de escolhas e de construção de suas existências. Como a ação humana é aberta e não inteiramente determinada, toda comunidade humana precisa criar valores que permitam distinguir os comportamentos desejados e bons dos indesejados e maus. Do mesmo modo, toda sociedade promove uma reflexão crítica sobre seus valores morais e suas ações práticas reais.

Assim, todos nós fazemos apreciações morais e nos colocamos indagações sobre o que é bom e mau. Por essa razão, todos possuem valores morais e não há ninguém sem ética. O que acontece, com frequência, é que os valores variam entre pessoas e grupos, que são diferentes e, muitas vezes, podem questionar ou mesmo agredir nossas convicções do que é certo ou justo, bom ou mal.

2- A moralidade e o seu campo de atuação

Segundo Aranha, M. L. A. e Martins, M. H. P (1995, p. 301)

“Os conceitos de moral e ética, ainda

que diferentes, são com frequência

usados como sinônimos. Aliás, a

etimologia dos termos é semelhante:

moral vem do latim ‘mos’, que significa

“costume”, “maneira de comportar-se

Filosofia e Lógica

165

regulada pelo uso”, e de moralis, morale, adjetivo referente ao

que é relativo aos “costumes”. Ética vem do grego ethos, que

tem o mesmo significado de “costume”.

Apesar de serem conceitos aparentemente idênticos, ética e moral possuem diferenças fundamentais. O ato de perceber os valores, de avaliar as nossas ações de acordo com o que é bom e o que é mal, ou quais são justas e injustas, corretas ou não é o que de certa forma diferencia o comportamento humano do comportamento animal. Para o animal, o campo da moralidade é inacessível, pois seu comportamento é guiado pelos seus instintos imediatos. Os seres humanos, por sua vez, possuem a consciência moral, ou seja, a “faculdade de observar a própria conduta e formular juízos sobre os atos passados, presentes e as intenções futuras” (COTRIM, 1993, p. 214). Dessa forma, depois de emitir um juízo de valor, os seres humanos têm a capacidade de escolher através de um cálculo de consequências decorrentes do que será feito. É exatamente isto que constitui a consciência moral, ou seja, um conjunto de exigências e prescrições que os seres humanos reconhecem como válidas para a orientação da sua escolha. É a própria consciência que discerne o valor moral dos nossos atos.

Ao longo da história da humanidade, a consciência moral foi responsável

direta pelo desenvolvimento do que se denomina moralidade. De uma maneira

geral, podemos considerar a moral como um conjunto de condutas que indica qual

deve ser o comportamento dos homens em um determinado contexto ou em um

grupo social.

A moral - uma das formas de consciência social - é o reflexo das condições da

vida material da sociedade sob determinadas normas de conduta dos homens.

Podemos dizer que toda cultura e cada sociedade instituem uma moral, ou seja,

valores concernentes ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido, e à conduta

correta, válidos para todos os seus membros. “Culturas e sociedades fortemente

hierarquizadas e com diferenças muito profundas de castas ou de classes podem

até mesmo possuir várias morais, cada uma delas referida aos valores de uma casta

ou de uma classe social”. (CHAUÍ, 2005) Contudo, não se pode dizer que a simples

existência da moral não significa a presença explícita de uma ética, entendida

como filosofia moral, isto é, uma reflexão que discuta, problematize e interprete o

significado dos valores morais. Então, vamos analisar o conceito de ética?

Filosofia e Lógica

166

A ética e o seu campo de atuação

A experiência moral é comum a todos os homens, em

todas as sociedades. Entretanto, nem todos são capazes

de desenvolver uma crítica do conteúdo da moral. Essa é,

portanto, tarefa da ética.

Como vimos anteriormente, muitos empregam

indiscriminadamente os termos moral e ética. No âmbito

da Filosofia, tais termos são vistos como distintos. Uma

breve exposição da etimologia desses dois termos torna

as suas diferenças mais claras. O conceito de ética provém

do grego éthos. Quando escrito com “e” breve, significa

hábito, enquanto que com “e” longo significa

“propriedade ou caráter”. Nas suas investigações sobre as

questões do bem e do mal, da virtude e do vício, Aristóteles empregou Ethiké com

sentido de reflexão sobre as “propriedades do caráter”. Se por moral entende-se a

reunião de costumes e hábitos de um indivíduo ou um povo, orientada por um

princípio geral do que é “bem”, ao contrário desta, a ética deve ser entendida como

um conjunto de regras avaliadas com rigor e consciência crítica. Isto significa que a

ética se preocupa com uma rigorosa avaliação sobre o que é o bem e o mal,

buscando indicar quais os caminhos o homem pode realizar enquanto agente do

bem. Assim, se a moral indica os costumes de um determinado grupo social, a ética

questionará e teorizará o que é justo sobre o agir adequado a uma determinada

situação, na qual se realize o bem e se evite o mal.

Ética: é uma disciplina filosófica que, a partir de uma determinada ideia de bem, tem por objeto uma elaboração teórico-crítica acerca da conduta humana no contexto social e a análise do conjunto das condições necessárias para que uma experiência moral qualquer possa ocorrer.

Filosofia e Lógica

167

Ao abordar o primeiro aspecto, a ética considera de que modo, nas mais

diversas sociedades, os homens vivem concretamente seus valores morais,

apontando suas fraquezas e enaltecendo suas realizações. No segundo aspecto, a

ética desenvolve uma análise sobre as condições necessárias para que um ato

humano qualquer possa ser introduzido no âmbito da moral ou da ética e, com

isso, avaliado como bom ou mal, justo ou injusto, moral ou amoral. Além disso,

cabe à ética a análise do conjunto das condições necessárias para que a

experiência ética pessoal possa ocorrer de maneira absoluta. Enquanto a moral

está associada ao agir concreto, a ética vincula-se também à teorização sobre os

valores e a conduta moral, discutindo a questão do bem e do mal. Em outras

palavras, enquanto a moral envolve exclusivamente a prática, a ética pode se

referir tanto à prática quanto à teoria sobre a mesma.

Dessa forma, para que um determinado ato possa ser avaliado sob o ponto de

vista da ética, ele deve ser livre, consciente e orientado por alguma norma. A partir

daí, o ato humano pode ser classificado como moral, imoral, amoral e não-moral.

Vamos descrevê-los:

Filosofia e Lógica

168

A liberdade como um problema ético e moral

IMPORTANTE

Todas essas possibilidades, no entanto, podem dar a impressão de

que vivemos em grande liberdade, mas isso é relativo. Há uma série de

circunstâncias que acontecem conosco e nas quais nos vemos envolvidos sem que

as tenhamos escolhido. Por essa razão, podemos afirmar que a vida social instaura

a construção histórica e sempre relativa da liberdade.

Desse modo, embora nossa liberdade tenha limites, é possível afirmar que

nossas condutas não são inteiramente determinadas de fora e jamais temos apenas

uma alternativa a seguir. Nossa capacidade de interpretar o mundo e orientar

nossas ações no tempo nos dá, a cada instante, um leque de possibilidades para

novos arranjos de vida.

Sendo assim, não podemos evitar nossa liberdade relativa, nem suas

consequências. Portanto, nós precisamos, necessariamente, fazer escolhas para

inventarmos, dentro de certos limites e nas possibilidades que nos são dadas, a

nossa vida. Diante disso, é comum nos depararmos com dúvidas como o que

devemos fazer? Como saber o que é mais importante ou urgente? Como escolher?

Como se pode deduzir, a questão da liberdade é um dos grandes temas nas

discussões morais. Mais que escolher entre duas alternativas, liberdade é decidir,

conscientemente, por que se está tomando esta atitude e não outra. Assim, a

liberdade pressupõe uma pessoa que interiorize as razões pelas quais se age, ou

seja, um sujeito que se coloca como a causa última das próprias ações.

Para interiorizar as razões de nossas ações, é preciso:

Filosofia e Lógica

169

O desenvolvimento da consciência e da capacidade de atribuir sentido ao

mundo, portanto, aumentam a possibilidade de ação livre das pessoas. Ao

contrário, nas situações em que não conseguimos compreender o que está se

passando, que não entendemos o que nos acontece, nossa capacidade de tomar

decisões é muito mais limitada e restrita. Entretanto, a realização da liberdade não

depende apenas da capacidade de compreensão do mundo e de planejamento da

ação. Para, além disso, é preciso reunir as condições objetivas para a ação

acontecer. Assim, o acesso aos meios de vida criados socialmente também são

condições para a realização da liberdade.

IMPORTANTE

A liberdade permite que o sujeito tome decisões e possa ser o autor,

em certa medida, de sua própria existência. Entretanto, para viver a

liberdade, precisamos nos responsabilizar por ela, ou seja, a liberdade traz, em

contrapartida, a responsabilidade. Somos livres para tomar uma decisão, mas

devemos assumir a autoria daquilo que decidimos fazer. No campo contrário ao da

liberdade está a dependência. A ação dependente é baseada em uma causa

externa e as escolhas não são feitas a partir de uma reflexão e da própria

compreensão do mundo.

Podemos concluir, portanto, que a liberdade é uma construção histórica que depende do trabalho dos humanos. No mundo da natureza não há liberdade possível, pois nas condições da ação natural não existe representação consciente do mundo, nem ação planejada e orientada a finalidades. Por ser um mundo

Filosofia e Lógica

170

restrito aos limites dados previamente e sujeito ao que acontece, a natureza é o mundo da necessidade e da dependência.

Assim, a reflexão sobre os valores morais serve para aprendermos a lidar melhor com a nossa capacidade de escolher e com o uso dessa particularidade humana, que é a liberdade. Ao definirmos o que é bom ou mal, estamos projetando um modo de viver humanamente, em sociedade. Por essa razão, a reflexão sobre liberdade e responsabilidade não pode deixar de ser feita tendo em vista as relações humanas.

Nós nos formamos na interação com os outros. Sem o outro, não poderíamos desenvolver nossos conhecimentos, modos de agir, nem nossa consciência. Assim, é na relação com o outro que podemos exercer a liberdade. Por esse motivo, podemos concluir que reconhecer o outro como humano livre e tratá-lo como tal, fortalecendo sua liberdade, não é uma atitude altruísta pura e simplesmente, não é uma ação que beneficia apenas o outro. Tratar o outro como humano é criar condições para que o outro, fortalecido na sua condição de humano, possa reconhecer e fortalecer a nossa própria condição humana, a nossa liberdade .

Não se esqueça:

Filosofia e Lógica

171

LEITURA COMPLEMENTAR:

VASQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. 26ª Edição. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 1987. 304p.

VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. 9ª Edição. São Paulo: Brasiliense, 1996. 84p.

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo,

presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de

proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira,

redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual

de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Bem, chegamos ao final desta unidade. Aqui, mostramos a você as

especificações contidas na filosofia moral ou ética e evidenciamos que o problema

da filosofia moral ou da ética pressupõe o conhecimento dos valores morais, nos

quais as ações humanas se baseiam. Foi, portanto, pela apresentação das

definições de ética e moral e das suas respectivas diferenças, que essa unidade

cumpriu o seu objetivo de apresentar o significado geral dos problemas relativos à

filosofia moral. Espero que tenha sido proveitoso para você. Na próxima unidade,

vamos tratar de um outro tema importante, também relacionado com o tema

apresentado nessa unidade - trataremos da filosofia política. Espero você lá!

Filosofia e Lógica

172

Exercícios – unidade 10

1. O conceito de ‘valor moral’ designa:

a) a imposição de regras à conduta individual. b) o caráter valioso de algo que nos desperta uma afetividade ou uma

repulsão. c) a falta de uma perspectiva moral. d) os valores servem para obstruir o momento de escolhas das pessoas. e) o preço que se dá às coisas.

2. Os ‘valores éticos’ possuem uma correspondência com o que?

a) Possuem uma correspondência direta entre a conduta e a Inteligência. b) Possuem uma correspondência indireta entre a conduta a ser seguida por

alguém. c) Possuem uma correspondência direta entre a conduta a ser seguida por

alguém. d) Possuem uma correspondência formal entre a conduta a ser seguida por

um membro de uma facção. e) Possuem uma correspondência complementar entre a conduta a ser

seguida por alguém.

3. Qual dos conceitos abaixo representa uma característica da moral?

a) Objetivação do ser. b) Normas de conduta. c) Ser enquanto ser. d) Confiabilidade prática. e) Condições de possibilidade.

Filosofia e Lógica

173

4. Qual dos conceitos abaixo não representa uma propriedade da ética?

a) Rigor. b) Nascimento. c) Crítica. d) Avaliação. e) Teorização.

5. Marque a única opção correta.

a) “Todos renegam os valores amorais e não há conhecimento sem uma ética”.

b) “Todos possuem valores imorais e não há ética sem imitação”. c) “Todos possuem valores morais e não há ninguém sem uma ética”. d) “Todos renegam os valores morais e não há ética sem medo”. e) “Todos possuem valores anormais e não há ética sem preconceito”.

6. De acordo com Aristóteles, o significado da palavra Ethiké diz respeito a qual

opção abaixo?

a) Designa uma caracterização dos valores individuais. b) Compreende tudo aquilo contrário ao bem e ao mal. c) Reflexão acerca de regras de conduta. d) Reflexão sobre as possibilidades de conhecimento. e) Uma reflexão sobre as “propriedades do caráter”.

7. Podemos dizer que o desenvolvimento da consciência e da capacidade de

atribuir sentido ao mundo pode contribuir para quê, na conduta ética e moral dos

indivíduos?

a) Para aumentar a possibilidade de ação livre das pessoas. b) Para compartilharmos bons momentos com nós mesmos. c) Para diminuir a possibilidade de ação livre das pessoas. d) Para nos dar um sentido para a vida. e) Para convencer as pessoas a praticar o bem.

Filosofia e Lógica

174

8. Podemos dizer que a função dos valores morais é:

a) Os valores morais contribuem justamente para desfazer as escolhas pessoais e a desconstrução de suas existências.

b) Os valores morais servem justamente para informar as pessoas o momento de angústia e de construção de suas existências.

c) Os valores morais servem justamente para desorientar as pessoas no momento de escolhas e de construção de suas existências.

d) Os valores morais servem justamente para orientar as pessoas no momento de escolhas e de construção de suas existências.

e) Os valores morais servem justamente para capacitar as pessoas no momento de escolhas e de construção de suas inteligência.

9. Explique em que a ética se diferencia da moral.

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10. Leia atentamente o texto abaixo:

“No âmbito da Filosofia, tais termos são vistos como distintos. Uma breve

exposição da etimologia desses dois termos torna as suas diferenças mais

claras. O conceito de ética provém do grego éthos. Quando escrito com “e”

breve, significa hábito, enquanto que com “e” longo significa “propriedade

ou caráter”. Nas suas investigações sobre as questões do bem e do mal, da

virtude e do vício, Aristóteles empregou Ethiké com sentido de reflexão

sobre as “propriedades do caráter.”

Filosofia e Lógica

175

Diante do que foi mencionado acima, podemos dizer que por moral entende-se a

reunião de costumes e hábitos de um indivíduo ou um povo, orientada por um

princípio geral do que é “bem”, a ética deve pressupor o quê?

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Filosofia e Lógica

176

Filosofia e Lógica

177

A filosofia política

Os problemas fundamentais da Filosofia Política.

A origem e o significado do conceito de Política.

A relação entre a política e o poder.

O problema da origem do Estado.

11

Filosofia e Lógica

178

Nesta unidade, você terá a oportunidade de estudar a política enquanto um

problema estritamente filosófico. Convido você a conhecer alguns conceitos e

problemas daquilo que se costuma denominar de Filosofia Política.

OBJETIVO DA UNIDADE:

•Analisar os problemas fundamentais da filosofia política com base em alguns

temas e autores relevantes que apresentam problemas que continuam sendo

fundamentais na reflexão sobre o poder, o Estado, as instituições sociais e as

relações entre os seres humanos.

PLANO DA UNIDADE:

• Os problemas fundamentais da Filosofia Política.

• A origem e o significado do conceito de Política.

• A relação entre a política e o poder.

• O problema da origem do Estado.

Bons estudos!

Filosofia e Lógica

179

Os problemas fundamentais da filosofia política

A Filosofia política é a disciplina filosófica na qual se discute o modo como a

sociedade deve estar organizada. A melhor maneira de abordarmos esta disciplina (como qualquer outra) é conhecendo os problemas de que trata. Os problemas relacionados à filosofia política possuem um elevado grau de generalidade e de abstração: isto significa que não se trata de analisar problemas sociais e políticos contextualizados num dado país ou num determinado momento, mas, sobretudo, de refletir sobre questões sociais e politicamente transnacionais.

Os problemas de filosofia política são, acima de tudo, problemas conceituais por oposição aos problemas empíricos tratados em disciplinas como a ciência política, a sociologia ou a economia. Por muito que observemos as sociedades ou por mais que descrevamos os seus sistemas políticos, não encontraremos respostas para a questão fundamental da filosofia política: como deveremos organizar a sociedade? Algo análogo se passa também com a ética. Por mais que psicólogos e sociólogos descrevam como é que os seres humanos agem, não conseguem responder, ainda, à questão ética de saber o que devemos fazer. Isto mostra, finalmente, que os problemas relacionados à filosofia política, tal como os da Ética, originam uma reflexão que é, sobretudo normativa, por contraste com os estudos descritivos feitos pela ciência (Cf. WOLFF, 2004, p. 17).

As teorias de filosofia política estão, particularmente, enraizadas nos contextos históricos, sociais, econômicos e políticos que os filósofos viveram e isto é mais sensível do que quando estudamos metafísica ou epistemologia. No entanto, fazer filosofia política não consiste em analisar o contexto histórico, em descrever as circunstâncias políticas em que os filósofos viveram e deixaram de viver ou em traçar a história das ideias dos filósofos políticos – isso é algo que compete ao historiador, não ao filósofo. Também a ciência política descreve sistemas políticos concretos, analisando as suas características, comparando-as com as de outros sistemas e explicando a origem das suas leis.

É evidente que o filósofo político não pode ignorar os dados empíricos que a

ciência política, bem como outras ciências, lhe proporciona. Contudo, mais do que

descrever os sistemas políticos, a filosofia política consiste numa análise crítica dos

fundamentos desses sistemas. Não sendo possível dissociar a organização política

da atividade econômica dos Estados, é claro que das teorias relativas à filosofia

Filosofia e Lógica

180

política se podem deduzir consequências em termos de pensamento econômico.

De fato, propor um modo como devemos organizar a sociedade inclui propor um

modo como devemos organizar a economia dessa sociedade. Mas, isto não

transforma a filosofia política em um ramo ou sub-ramo da economia, tal como a

Lógica não se transforma num ramo da Ética por esta ser o lugar do raciocínio

prático.

Vejamos agora que relação tem a filosofia política com outras disciplinas

normativas, nomeadamente com outras especialidades filosóficas. Tal como a

filosofia política, a ética consiste num corpus (programa ou conjunto) de teorias

sobre como devemos agir. Mas, tem um alcance mais geral, pois não trata

especificamente de saber como devemos agir para organizar uma sociedade. Por

exemplo, em ética discute-se o relacionamento moral da espécie humana com

outras espécies, o que excede o âmbito da filosofia política. Admitindo esta

caracterização, a relação da ética com a filosofia política será uma relação gênero-

espécie. E assim se compreende que os problemas de filosofia política tenham, por

regra, um acentuado conteúdo ético: por exemplo, o filósofo político discute o que

deveria ser uma sociedade justa, mas o filósofo moral interroga-se sobre o que é a

justiça propriamente dita.

Uma outra área que mantém grande contiguidade temática com a filosofia

política é a filosofia do direito. Nesta, discutem-se questões como a da natureza do

direito; analisam-se conceitos como os de direito e dever jurídicos; esclarece-se o

que é um ato jurídico, o que é a responsabilidade ou em que consiste a

inimputabilidade; analisam-se os mecanismos das decisões jurídicas e discutem-se

quais as instituições mais adequadas para o funcionamento do Estado. Há, assim,

uma forte conexão entre a filosofia do direito e os sistemas jurídicos e instituições

concretas sobre as quais refletem. Entretanto, na filosofia política analisa-se o

próprio âmbito do direito, ou seja, o lugar e alcance que deve ter na sociedade,

discutindo, por exemplo, até onde pode ir o Estado na regulação das interações

dos indivíduos. Podemos, então, concluir que a filosofia política é uma disciplina

mais abstrata e mais geral do que a filosofia do direito.

Filosofia e Lógica

181

A origem e o significado do conceito de política

O homem é um animal essencialmente político e sociável, como já havia

observado Aristóteles na sua obra Política. Em geral, o termo política vem do

grego pólis que significa cidade ou Estado. Neste sentido, a política seria a arte de

governar a cidade. Por outro lado, esse termo tem um sentido mais abrangente

que designa o campo da atividade humana que além de se referir à cidade ou ao

Estado, também diz respeito às coisas de interesse público. A obra Política se

configura como um dos tratados mais importantes sobre a arte e a ciência de

governar a pólis. Para Cotrim (1993, 228), “foi devido, em grande medida, a essa

obra clássica que o termo política se firmou nas línguas ocidentais”.

Para Aristóteles, o termo política vem do grego ta politika proveniente de pólis.

Pólis é a cidade entendida como uma comunidade organizada, formada,

principalmente, por cidadãos, ou seja, os homens livres. Assim, ta politika refere-se

aos negócios públicos dirigidos pelos cidadãos, isto é, os costumes, as leis, a

administração dos serviços públicos e das atividades econômicas da cidade.

A pólis grega é vista por Aristóteles como um fenômeno natural, pois a cidade

(pólis) encontra-se entre as realidades que existem naturalmente e o homem é por

natureza um animal político, ou seja, é da própria natureza do homem ser

envolvido na política. Assim, constituída por um impulso natural do homem, a

sociedade deve ser organizada conforme essa natureza humana.

Sobre isso Aristóteles diz o seguinte:

“Essas considerações deixam claro que a cidade e não uma

criação natural e que o homem é por natureza um animal social,

e um homem que por natureza, e não por mero acidente, não

fizesse parte de cidade alguma seria desprezível ou estaria

acima da humanidade (como o “sem clã, sem leis e sem lar” de

que Homero fala com escárnio, pois ao mesmo tempo ele é

ávido de combates), e se poderia compará-lo a uma peça

isolada do jogo do gamão. Agora é evidente que o homem,

muito mais do que a abelha ou outro animal gregário é um

animal social. Como costumamos dizer, a natureza faz sem um

Filosofia e Lógica

182

propósito, e o homem é único entre os animais que tem o dom

da fala. Na verdade, a simples voz pode indicar o dom do

prazer, e outros mais a possuem (...) a característica específica

do homem em comparação com outros animais é que somente

ele tem o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e

de outras qualidades morais (...)” (ARISTÓTELES, 1988, p. 15).

Percebeu como a definição de homem para Aristóteles possui um significado

estrito com a política? Na passagem acima, podemos inferir que, por um lado, o

homem é um animal, ou seja, um ser da natureza, por outro, ele é o único animal

que possui o dom da fala, por isso, para Aristóteles, o homem é um zóon lógon

ékhon (animal reclamante). No entanto, fora da pólis não seria possível ao homem

comunicar-se, daí o sentido aristotélico do homem como zóon politikón, ou seja, o

homem como um animal político.

3- A relação entre a política e o poder

Em qualquer estudo sobre política constata-se que a sua discussão está

estritamente relacionada à questão do poder. Esta questão é sempre pensada de

duas formas, a saber: do poder que é exercido por alguém e de alguém sobre o

qual o poder é exercido. Pensar o poder assim é compreendê-lo através de uma

relação ou um conjunto de relações pelas quais um grupo de pessoas ou uma

pessoa interfere nas relações de outras.

O que é poder ? Para Bertrand Russel (1982, p. 55) “poder é a posse dos meios

que levam à produção de efeitos desejados”, quer dizer aqueles que detêm o

poder são capazes de exercer várias formas de domínio e, por meio deste, alcançar

os efeitos desejados. Para Cotrim (1993, p. 230), “entre os diversos tipos de

domínio, costuma-se destacar o poder do homem sobre a natureza e o poder do

homem sobre outros homens”. Portanto, essas duas formas de poder andam lado a

lado, podendo-se dizer que uma influi na outra.

Filosofia e Lógica

183

Segundo Cotrim (Idem, Ibidem.), “se levarmos em conta o meio do qual se

serve o detentor do poder para conseguir os efeitos desejados, podemos destacar

três formas de poder (...)”. Dentre essas formas podemos citar:

Poder econômico: Aquele que utiliza a posse de bens “socialmente

necessários” para induzir aqueles que não possuem a adotar um

determinado comportamento. Exemplo: Fazer um determinado tipo de

trabalho. Este se preocupa em garantir o domínio da riqueza,

controlando a organização das forças produtivas.

Poder ideológico: Aquele que utiliza a persuasão para influenciar o

comportamento dos outros, induzindo-os a pensar da mesma forma que

aqueles que detêm o poder. Estes se preocupam em garantir o domínio

sobre o conhecimento, controlando a forma como a sociedade deve

pensar. Exemplos: Os meios de comunicação de massa, ou seja, a

televisão, jornais, etc.

Poder político: Aquele que utiliza os meios de “coerção social”, ou seja, a

força física, legalmente, para dominar os outros. Este se preocupa em

garantir o domínio da força controlando a organização dos

“instrumentos de coerção”, ou seja, polícia, forças armadas, tribunais

etc.

Diante desses três tipos de poder, Bobbio faz o seguinte comentário:

“O que têm em comum essas três formas de poder é que elas

contribuem conjuntamente para instituir e manter sociedades

de desiguais divididas em fortes e fracas, com base no poder

político; em ricos e pobres, com base no poder econômico; em

sábios e ignorantes, com base no poder ideológico.

Genericamente, em superiores e inferiores.” (BOBBIO, N. 1987,

p. 83)

Filosofia e Lógica

184

Podemos apontar um outro importante comentário de Bobbio inserido no

Dicionário de política sobre a questão do poder:

“Como o poder cujo meio específico é a força, de longe o

meio mais eficaz para condicionar os comportamentos, o poder

político é, em toda a sociedade de desiguais, o poder supremo,

ou seja, o poder ao qual todos os demais estão de algum modo

subordinados; o poder coativo é, de fato, aquele a que recorrem

todos os grupos sociais (a classe dominante), em última

instância, para se defenderem dos ataques externos ou para

impedirem, com a desagregação do grupo, de serem

eliminados. Nas relações entre grupos sociais diversos, o

instrumento decisivo para impor a própria vontade é o uso da

força, a guerra.” (BOBBIO, N. 1986, p. 995-6).

As relações de poder são, portanto, essencialmente, relações de

desigualdade. Isso levou muitos críticos do poder a confundi-lo com a pura repressão. Sendo o poder considerado sinônimo de repressão, ele constituiria uma injustiça que deveria ser abolida. Muitos sonharam e muitos hão de sonhar com a abolição do poder, no entanto, é preciso compreender com mais cuidado esta questão. Uma coisa são as relações de poder que existe entre as diversas instâncias da sociedade, outra coisa é o poder do Estado.

Esta situação recoloca com especial urgência o problema tantas vezes debatido também nas épocas anteriores a respeito da origem, natureza e funções do Estado e das relações entre os indivíduos e a sociedade.

4- O problema da origem do estado

O Estado é uma realidade empírica cuja existência é incontrovertível, mas é também uma realidade extremamente mutável: nasce, desenvolve-se e, desenvolvendo-se, assume múltiplas formas e, frequentemente, por razões várias, debilita-se e desagrega-se. Tudo isso faz do Estado uma realidade problemática. De uma forma geral, o Estado é uma das mais complexas instituições sociais já criadas pelos homens em todos os tempos.

Filosofia e Lógica

185

IMPORTANTE

De uma forma mais específica, o pensador alemão Max Weber conceitua o Estado como uma instituição política que é dirigida por um governo soberano que possui o monopólio do uso da força física em um determinado território subordinando a sociedade que nele vive. Pode-se dizer que a função do Estado é de promover a conciliação dos grupos sociais, conflitos que são inevitáveis entre os homens em todos os tempos. Como o Estado pode resolver esses conflitos? Para minimizá-los, o Estado deve promover o bem estar dos indivíduos, criando condições para uma harmonia entre os grupos da sociedade, preservando certos interesses que são comuns a eles. Sabemos, portanto, que o Estado nem sempre existiu, sendo assim, ele é gerado por um ato de criação essencialmente humano.

Para Cotrim (1993, p. 233),

“O nascimento do Estado representa o ponto de passagem

das chamadas sociedades primitivas para as sociedades

civilizadas. Quer dizer, o Estado surge quando a sociedade

torna-se complexa: aumenta a divisão social do trabalho e

surgem conflitos de classe com a formação de grupos

dominantes e grupos dominados”.

No entanto, devemos nos indagar: o que aconteceria se o Estado não existisse

realmente? O Estado pode possuir múltiplas faces? Por que alguns Estados prezam

a democracia e outros não? Qual seria a visão dos filósofos de um Estado ideal?

Como pensar a questão da liberdade em relação ao poder do Estado? A essas

interrogações foram dadas muitas respostas, das quais as principais parecem ser a

dos seguintes pensadores políticos:

Nicolau Maquiavel

Em vez de argumentar sobre um Estado ideal em sua obra O Príncipe, Maquiavel defendeu a conquista e manutenção do poder pelo governante que, segundo sua virtude de administrar o acaso, realizaria seus objetivos. Ele afirma que a obrigação suprema do governante é manter o poder e a segurança de seu país e para isso deve utilizar todos os meios disponíveis, já que os fins justificam os meios. Nicolau Maquiavel propõe também a compreensão profunda da história

Filosofia e Lógica

186

que ajudaria a prever e prevenir acontecimentos típicos. De uma forma geral, essa

doutrina exprime e lança uma nova visão da história, uma visão moderna, na qual a

desordem e a desarmonia são o preço a se pagar pela manutenção da liberdade.

Com sua teoria de “os fins justificam os meios” e exposição de medidas que ele

considera necessárias em determinados momentos para manter o poder (medidas

que por muitos seriam consideradas imorais), sua obra serviu como legitimação de

investidas políticas de vários governos e ainda inaugurou um estudo político da

realidade baseada na investigação histórica, que serviu de guia em certas situações

pelas quais os Estados passam, sobretudo, em conselhos políticos para a

manutenção do poder.

Thomas Hobbes

Hobbes justifica o poder centralizado através da natureza humana. Segundo ele, o homem, por natureza, é individualista e mesquinho. O poder absoluto centralizado seria, então, o produto de um pacto social de um contrato ou acordo estabelecido entre os homens em condição de igualdade. Por esse contrato eles renunciavam as suas liberdades naturais, delegando a um soberano o poder de decidir sobre tudo que diz respeito à vida social. A expressão máxima desse poder na prática foi a monarquia absolutista. A ideia de que todo indivíduo é portador de direitos naturais inalienáveis formou um novo conceito de cidadania. No século XVIII, essa formulação deu lugar à luta pelos direitos naturais humanos. Mas, as influências de Hobbes na modernidade não se limitam à concepção de direitos humanos e de liberdade. A noção de que a função do Estado é manter a paz e o monopólio do uso da violência para preservar os pactos ainda está presente no mundo. Pode-se dizer que Thomas Hobbes inaugura o Estado civil moderno, como fruto de um pacto entre os homens que não podem sobreviver numa situação de cada um por si.

John Locke

Com suas ideias políticas, Locke exerceu a mais profunda influência sobre o

pensamento ocidental. Suas teses encontram-se na base das democracias liberais.

Os Dois Tratados sobre o Governo Civil justificaram a revolução burguesa na

Inglaterra no século XVII. De uma forma geral, as revoluções burguesas

representaram a formação de um novo Estado, com novos participantes do poder

Filosofia e Lógica

187

político e uma nova concepção de sociedade que prevalece até hoje. No século

XVIII, os iluministas franceses foram buscar em suas obras as principais ideias

responsáveis pela Revolução Francesa. Esta Revolução é um marco na história

humana e a cronologia tradicional a classifica como marco do início dos tempos

contemporâneos, devido à manifestação, neste movimento, de ideais que se

tornariam a base do Estado atual.

Rousseau Começando com a desigualdade como um fato irreversível, Rousseau tenta

responder a questão do que compele um homem a obedecer a outro homem ou por que direito um homem exerce autoridade sobre outro. Ele concluiu que somente um contrato tácito e livremente aceito por todos permite cada um “ligar-se a todos enquanto retendo sua vontade livre”. A liberdade está inerente na lei livremente aceita. “Seguir o impulso de alguém é escravidão, mas obedecer a uma lei autoimposta é liberdade”.

Há uma diferença entre o pensamento de Rousseau e o de Locke, que também afirmou a liberdade do homem como base de sua teoria política. Locke admite a perda da liberdade quando afirma que o homem, por ser livre por natureza, não pode ser privado dessa condição e submetido ao poder de outro sem o próprio consentimento. Para Rousseau, o homem não pode renunciar a sua liberdade. Esta é, portanto, uma exigência fundamental do seu pensamento ético.

Rousseau considera a liberdade um direito e um dever ao mesmo tempo. A liberdade pertence ao homem e renunciá-la é renunciar a própria qualidade de homem. O princípio da liberdade é direito inalienável e exigência essencial da própria natureza espiritual do homem.

O contrato social para Rousseau é “uma livre associação de seres humanos que deliberadamente resolvem formar certo tipo de sociedade a qual passam a prestar obediência mediante o respeito à vontade geral”. O contrato social, ao considerar que todos os homens nascem livres e iguais, encara o Estado como objeto de um contrato no qual os indivíduos não renunciam seus direitos naturais, mas ao contrário, entram em acordo para a proteção desses direitos que o Estado é criado para preservar. O Estado é a unidade e como tal expressa a “vontade geral”, porém esta vontade é posta em contraste e se distingue da “vontade de todos”, a qual é meramente o agregado de vontades, o desejo acidentalmente mútuo da maioria.

Filosofia e Lógica

188

Montesquieu

Inspirou-se em Locke para formular a teoria da separação dos três poderes.

Inúmeros Estados, hoje em dia, apresentam-se segundo esse modelo.

LEITURA COMPLEMENTAR:

LEBRUN, Gérard. O que é poder. 14ª Edição. São Paulo, Brasiliense,

1994. 126p.

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo,

presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de

proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira,

redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual

de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Nessa unidade você compreendeu alguns dos principais conceitos da filosofia

política. Partindo de Aristóteles, percorremos, de forma breve, um longo caminho

que a filosofia política trilhou até ser o que estudamos hoje. Espero que você tenha

se interessado sobre esse assunto tão importante e que se aprofunde mais lendo as

diversas obras de inúmeros autores que tratam sobre o tema. Por enquanto,

atente-se às diretrizes traçadas aqui. Até a próxima unidade!

Filosofia e Lógica

189

Exercícios – unidade 11

1. De acordo com o filósofo grego Aristóteles, o homem é essencialmente:

a) político e amigável. b) político e sonhador. c) político e honesto. d) político e libertário. e) político e sociável.

2. Quais são as duas formas pelas quais é discutida a questão do poder?

a) Poder temporal e poder passageiro. b) Do poder que é discutido por alguém e de alguém sobre o qual o poder é

inibido. c) Poder animal e poder humano d) Poder simplificado e poder composto. e) Do poder que é exercido por alguém e de alguém sobre o qual o poder é

exercido.

3. Qual das obras de Aristóteles se configura como um dos tratados mais

importantes sobre a arte e a ciência de governar a pólis?

a) Órganon. b) Política. c) Crítica da Razão Pura. d) Leviatã. e) Omnia vincit.

4. A pólis grega é entendida por Aristóteles como um fenômeno puramente

natural, pois:

a) A pólis encontra-se entre as realidades que existem artificialmente, e o homem é por natureza um animal político.

b) A pólis encontra-se entre as realidades que existem naturalmente, e o homem é por natureza um animal político.

c) A pólis encontra-se entre as modalidades que existem naturalmente, e o homem é por natureza um animal apolítico.

Filosofia e Lógica

190

d) A pólis encontra-se entre as fases lunares que existem naturalmente, e o

homem é por natureza um animal político. e) A pólis não encontra-se entre as realidades que existem naturalmente, e o

homem é por natureza um animal apolítico.

5. Dentre as alternativas abaixo, qual delas representa o significado exato de

“Poder político”?

a) Aquele que inutiliza a posse de bens “socialmente necessários” para induzir aqueles que não possuem a adotar um comportamento indeterminado. Exemplo: fazer um determinado tipo de trabalho. Este se preocupa em garantir o domínio da riqueza controlando a organização das forças produtivas.

b) Aquele que utiliza a ingratidão para influenciar o comportamento dos outros, induzindo-os a repensar da mesma forma que aqueles que detêm o poder. Estes se preocupam em garantir o domínio sobre o conhecimento, controlando a forma como a sociedade deve pensar. Exemplos: os meios de comunicação de massa, ou seja, a televisão, os jornais, etc.

c) Aquele que utiliza a posse de bens “socialmente necessários” para induzir aqueles que não possuem a adotar um determinado comportamento. Exemplo: fazer um determinado tipo de trabalho. Este se preocupa em garantir o domínio da riqueza controlando a organização das forças produtivas.

d) Aquele que utiliza a persuasão para influenciar o comportamento dos outros, induzindo-os a pensar da mesma forma que aqueles que detêm o poder. Estes se preocupam em garantir o domínio sobre o conhecimento, controlando a forma como a sociedade deve pensar. Exemplos: os meios de comunicação de massa, ou seja, a televisão, os jornais, etc.

e) Aquele que utiliza os meios de “coerção social”, ou seja, a forca física, legalmente, para dominar os outros. Este se preocupa em garantir o domínio da força controlando a organização dos “instrumentos de coerção”, ou seja, polícia, forças armadas, tribunais etc.

6. Pode-se dizer que a função do Estado é de promover a conciliação dos grupos

sociais, conflitos que são inevitáveis entre os homens em todos os tempos. Como o

pensador alemão Max Weber conceitua o Estado?

Filosofia e Lógica

191

a) Como uma instituição inconsistente que é dirigida por um governo soberano que possui o monopólio do uso da força física em um determinado território, subordinando a sociedade a uma esfera altruísta.

b) Como uma instituição política que é dirigida por um governo soberano que possui o monopólio do uso da força física em um determinado território, subordinando a sociedade que nele vive.

c) Como uma instituição política que é dirigida por um governo alternativo que possui o monopólio do uso da força física em um determinado território, subordinando a sociedade a uma anomalia inevitável.

d) Como uma instituição política que é dirigida por um governo soberano que possui o monopólio do uso da intensidade moral em um determinado território, subordinando a sociedade a um todo composto inevitável.

e) Como uma instituição política que é dirigida por um governo misto que possui o monopólio do uso da mídia televisiva em um determinado território, subordinando a sociedade a uma massificação ideológica.

7. Em vez de argumentar sobre um Estado ideal em sua obra O Príncipe, Maquiavel

defendeu a conquista e manutenção do poder pelo governante que, segundo sua

virtude de administrar o acaso, realizaria seus objetivos. Com base nisto, podemos

dizer que Maquiavel:

a) afirma que a obrigação suprema do governante é manter o poder e a segurança de seu país e para isso deve utilizar todos os meios disponíveis, já que os fins justificam os meios.

b) afirma que a obrigação suprema do governante é manter o poder e a segurança de seu país e para isso deve utilizar a educação inclusiva para todos, já que os fins justificam os meios.

c) afirma que a obrigação suprema do governante é manter o poder e a segurança de seu país e para isso deve utilizar intensamente o debate e a persuasão, já que os fins justificam os meios.

d) afirma que a obrigação suprema do governante é denegrir o poder e a segurança de seu país e para isso deve utilizar todos os meios disponíveis, já que os fins justificam os meios.

e) afirma que a obrigação suprema do governante é manter o poder e a segurança de seu país e para isso deve utilizar se armar com o poder bélico altamente desenvolvido, já que os fins justificam os meios.

Filosofia e Lógica

192

8. Com suas ideias políticas, Locke exerceu uma profunda influência sobre o

pensamento ocidental. Suas ideias encontram-se na base das atuais democracias

liberais. Qual das alternativas a seguir é uma obra de referência deste filósofo:

a) Contrato Social. b) Leviatã c) Segundo Tratado sobre o Governo Civil. d) Ética mínima para homens mal governados. e) O Príncipe.

9. O que é “poder político”?

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10. Há uma diferença entre o pensamento de Rousseau e o de Locke, que também

afirmou a liberdade do homem como base de sua teoria política. Locke admite a

perda da liberdade quando afirma que o homem, por ser livre por natureza, não

pode ser privado dessa condição e submetido ao poder de outro sem o próprio

consentimento. Para Rousseau, o homem não pode renunciar a sua liberdade. Esta

é, portanto, uma exigência fundamental do seu pensamento ético. Em que consiste

o contrato social para Rousseau?

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Filosofia e Lógica

193

A filosofia no Brasil: a questão sobre a existência de uma filosofia genuinamente brasileira

O debate acerca da possibilidade de uma Filosofia Brasileira.

Aspectos históricos da Filosofia Brasileira.

12

Filosofia e Lógica

194

Estamos prestes a concluir o nosso estudo, porém não podemos deixar de

mencionar a questão da possibilidade da existência de um pensamento original no

nosso país. Convido você, nesta unidade, a percorrer de forma breve as questões

que envolvem a filosofia no Brasil.

OBJETIVOS DA UNIDADE:

• Refletir acerca da genuinidade da reflexão filosófica brasileira;

Compreender alguns aspectos do debate sobre a originalidade da

filosofia no Brasil;

• Delinear a trajetória da formação de um pensamento filosófico no Brasil,

seja ele genuíno ou não.

PLANO DA UNIDADE:

• O debate acerca da possibilidade de uma Filosofia Brasileira.

• Aspectos históricos da Filosofia Brasileira.

Bons estudos!

Filosofia e Lógica

195

O debate acerca da possibilidade de uma filosofia brasileira

O filósofo Miguel Reale, certa vez, pronunciou-se sobre a questão da filosofia

brasileira da seguinte forma:

“Custou para se desfazer a crença de que a gente brasileira

seria infensa à meditação filosófica, limitando-se a informar

sobre as doutrinas estrangeiras e a delas reproduzir conceitos e

ideais. Chegou-se mesmo a proclamar, desconsoladamente,

que a história da filosofia no Brasil não seria senão a história das

influências recebidas, o que era afirmado por figuras das mais

representativas de nossa intelectualidade.”

Essa é uma das questões mais delicadas e difíceis, a da “filosofia nacional”, uma

vez que a filosofia é por sua própria natureza universal, mas não há quem não

distinga, em virtude de certas características ou pelo predomínio de determinadas

tendências, a filosofia alemã da francesa, da anglo-americana, da italiana, etc. É

que, por mais universal que seja a filosofia, não pode esta deixar de sofrer a

influência de diretrizes dominantes na linha existencial dos povos ou das nações, o

que já fora possível observar na passagem do mundo grego para o mundo romano.

Assim, na visão de ARANHA, Maria Lúcia A., MARTINS (2003, p. 94),

“De fato mesmo que a filosofia inicie seu questionamento

a partir das peculiaridades histórico-sociais de um determinado

país, é no sentido da universalidade, e não do regionalismo que

busca realizar seu projeto (...).”

Filosofia e Lógica

196

Tanto os que não acreditam em tal coisa, os “universalistas” ou

“internacionalistas”, quanto os que acreditam, os “originários”, sempre colocam

toda a questão em termos sociais e institucionais. Os primeiros pensam que deve

criar-se uma comunidade de estudiosos de textos, de bons comentadores e

conhecedores de filosofia clássica e moderna, capazes de gerar artigos e livros que

possam concorrer dignamente no plano internacional. Esta deve, segundo eles, ser

considerada como a contribuição brasileira à filosofia. Alguns deles não veem

qualquer sentido na questão de tal tipo de prática filosófica acabar gerando ou não

um pensar “genuinamente brasileiro”, enquanto outros apostam numa

continuidade, às vezes difícil de compreender entre essas atividades eruditas e o

nascer de um pensamento original brasileiro. Para ARANHA, Maria Lúcia A.,

MARTINS (2003, p. 94),

“Retomando a indagação sobre a “filosofia brasileira”,

entenderíamos que o filósofo brasileiro deveria estar voltado

para as questões que se colocam no espaço e no tempo por ele

vivido. A partir dessa condição, muitos concluem pela

negatividade sobre uma eventual filosofia no Brasil, afirmando

que os pensadores brasileiros estariam por demais presos à

cultura europeia, ou nos últimos anos, também, à norte-

americana.”

Por isso, a ideologia universalista parece-me hoje predominante entre os

professores. Por outro lado, os escassos críticos da filosofia acadêmica acham que

se devem criar condições sociais, culturais e mesmo institucionais que favoreçam a

um pensamento original e criador, devendo-se lutar contra o colonialismo ainda

presente nas mentes dos pensadores brasileiros, que os leva a copiar moldes

externos em lugar de pensar por si mesmos.

Filosofia e Lógica

197

Em ambos os casos, pensam todo o problema do filosofar original e criador

dentro dos termos de uma preparação sociocultural e institucional que permitiria

seu desenvolvimento: do ponto de vista universalista, devem-se preparar gerações

de eruditos e comentadores, criando-se, então, uma comunidade de

contribuidores à filosofia internacional. Por outro lado, são criadas condições para

superar as estruturas da dependência cultural e preparar as condições para um

pensamento, se possível, genuinamente brasileiro.

2- Aspectos históricos da filosofia brasileira

O pensamento filosófico brasileiro constituiu-se a partir do final do século

XVIII, passando por sucessivas mutações, até ganhar a pluralidade de formas e

correntes que possui em nossos dias. Contudo, não é possível falar de uma tradição

intrinsecamente brasileira de pensamento, constituidora de um cabedal de ideias e

de uma metodologia própria. Em um país relativamente jovem, cuja porção letrada

era formada por imigrantes europeus e seus descendentes, a filosofia em nosso

país foi em sua quase totalidade influenciada por correntes europeias,

predominantemente pelo pensamento e pela cultura francesa.

IMPORTANTE

Os primeiros pensadores brasileiros de que se tem notícia adotavam

as teorias sensistas e materialistas de Condillac e Cabanis, tentando conciliá-las

com o espiritualismo eclético, veiculado, especialmente, por Victor Cousin. Dentre

os adeptos deste direcionamento, destacam-se, no século XIX, Eduardo Ferreira

França e Domingos José Gonçalves de Magalhães.

Contrapondo-se a essa tendência, a filosofia tomista sempre encontrou expressão no Brasil. Seu principal órgão de difusão foram os padres jesuítas, cuja ordem chegou ao país na mesma época de seu descobrimento. Podemos citar entre seus principais representantes no século passado, José Soriano de Souza e Vicente Cândido Figueiredo de Sabóia. O principal objetivo desses pensadores era empreender a crítica, a um só tempo, do materialismo e do espiritualismo reinantes entre os filósofos brasileiros de seu tempo, a fim de apresentar o pensamento escolástico como solução para resolver a contradição matéria-espírito, presente na obra dos filósofos criticados.

Filosofia e Lógica

198

Uma doutrina largamente difundida em nosso país durante todo o século XIX, permanecendo atuante até as primeiras décadas do século XX, é o positivismo. Seus adeptos exerceram influência não apenas filosófica, mas igualmente política, desempenhando importante papel na Proclamação da República (vale a pena lembrar que o lema Ordem e Progresso, presente em nossa bandeira é igualmente o lema do positivismo comteano). Podemos citar como seus mais eminentes adeptos, Benjamin Constant, Miguel Lemos e Teixeira Mendes. As correntes evolucionistas e culturalistas, em voga na Europa durante a segunda metade do século XIX, também encontraram-se representadas no Brasil. Seus principais divulgadores foram Tobias Barreto e Sílvio Romero, partidários do culturalismo alemão e do evolucionismo de Spencer, respectivamente.

Podemos citar como o filósofo brasileiro de maior fôlego e originalidade o cearense Raimundo de Farias Brito, o maior representante da filosofia em nosso país. Aluno de Tobias Barreto, Farias Brito produziu uma extensa obra voltada, sobretudo, para a reflexão filosófica. Sua reflexão representa um grande esforço de renovação espiritualista contra o positivismo e o materialismo da “Escola de Recife”, fundada por Tobias Barreto.

Segundo os historiadores da filosofia Padovani e Castagnola (1994, p. 536),

“No pensamento de Tobias Barreto não se encontram

doutrinas verdadeiramente originais. O que ele disse a respeito

de Deus, do homem, da religião, da alma, do direito natural já

se encontrava nos famosos fundadores europeus do

materialismo e do monismo evolucionista (...).”

No princípio do século XX, vimos surgir o padre Leonel Franca como um dos nomes mais representativos do pensamento filosófico desse período. Pensador Neotomista desempenhou importante papel na restauração e renovação desse pensamento frente às questões trazidas pelas doutrinas materialista e espiritualista.

Podemos citar outros pensadores de inspiração católica tais como, Tarcísio Meireles Padilha quem, inspirado na meditação de Louis Lavelle, formula uma “filosofia da esperança”; Geraldo Pinheiro Machado, que se destacou como historiador das ideias filosóficas no Brasil; Ubiratan Macedo e Gilberto de Mello Kujawski, os quais elaboraram as suas obras inspirando-se no pensador espanhol José Ortega y Gasset; Fernando Arruda Campos, reconhecido estudioso do neotomismo brasileiro e o padre Stanislavs Ladusans, da Companhia de Jesus, autor da obra Rumos da filosofia atual no Brasil.

Filosofia e Lógica

199

Tentando dar uma resposta concreta ao problema da pobreza e das

desigualdades sociais que afetam o Brasil, alguns pensadores de formação cristã

têm desenvolvido, ao longo das últimas décadas, o que poderia ser denominado

de projeto “imanentista de libertação”, que acolhe elementos conceituais

provindos das teologias católica e protestante, bem como do hegelianismo, dos

messianismos políticos rousseauniano e saint-simoniano, do personalismo de

Emmanuel Mounier e do marxismo. As principais contribuições nesse terreno

pertencem ao padre jesuíta Henrique Cláudio de Lima Vaz, inspirador do

movimento chamado Ação Popular (que posteriormente converter-se-ia na Ação

Popular Marxista-Leninista); a Hugo Assmann, destacado professor universitário; ao

padre Leonardo Boff, autor de numerosa bibliografia nos terrenos teológico,

político, filosófico e ecológico e ao pedagogo Paulo Freire.

O pensamento filosófico em nosso país foi, ao longo do século XX, ampliando seus horizontes e suas áreas de contato. Os pensadores de inspiração marxista têm desenvolvido no Brasil amplo trabalho de análise, abordando, especialmente, os aspectos socioeconômicos. Destaca-se nesse terreno Caio Prado Júnior, para quem seria infantil a pretensão comteana, adotada pela maior parte dos marxistas brasileiros, de enquadrar a explicação científica acerca da evolução social nos estreitos parâmetros de leis gerais e eternas. “Tal pré-fixação de etapas”, escreve Prado Júnior (1966, p. 23), “através das quais evoluem ou devem evoluir as sociedades humanas, faz rir”. Apesar da advertência crítica desse autor, a tendência que veio a prevalecer no chamado “marxismo acadêmico” brasileiro, foi a comteana ou cientificista. Os principais representantes dessa vertente (que possui como preocupação fundamental a implantação da sociedade racional, em bases marxistas) foram Leônidas de Rezende, Hermes Lima, Edgardo de Castro Rebelo, João Cruz Costa, Álvaro Vieira Pinto e Roland Corbisier.

Filosofia e Lógica

200

IMPORTANTE

Vale a pena destacar os nomes de alguns autores de inspiração

marxista desvinculados da opção comteana: Luiz Pinto Ferreira e Gláucio Veiga, os

quais fazem uma avaliação da problemática herdada da “Escola do Recife”,

notadamente no terreno do direito. Recentemente, Leandro Konder desenvolveu

uma crítica sistemática à opção comteana seguida pelo marxismo brasileiro.

Apoiando-se em bases que remontam a Hegel e a Marx, esse autor atribui à

“derrota da dialética”, sofrida pelo marxismo brasileiro. Leandro Konder situa-se,

assim, nos dias atuais, como o ‘continuador’ da atitude crítica anteriormente

sustentada por Caio Prado Júnior. Podemos ainda citar como principais pensadores

brasileiros contemporâneos: Emmanuel Carneiro Leão, Gerd Bornheim, Ernildo

Stein, Guido de Almeida, Miguel Reale, Roberto Machado e Benedito Nunes.

Para Resende (2002, p. 289),

“A instauração do lugar institucional da filosofia na cultura

brasileira, porém, não é suficiente para assegurar a produção

teórica especialmente filosófica referida a essa cultura. Assim,

Gilberto Kujawski parece que, embora a filosofia apareça

oficialmente institucionalizada nas universidades brasileiras,

ainda não foi socialmente institucionalizada. Entendendo que a

tarefa da filosofia é a de conduzir a consciência nacional à idade

da razão, não à razão pura, mas à razão histórica - único

instrumento capaz de devolver o Brasil a si mesmo e de nos

fazer compreender o que somos, de onde viemos, para onde

vamos -, urge impedir que ela se transforme em função

esotérica de alguns iniciados. É preciso, diz ele, voltar das ideias

para a realidade. E uma das maneiras de fazê-lo é saber o que

fazer corretamente com as ideias, o que fazer com as ideias

filosóficas. Enfim, para despertar o interesse da juventude pela

filosofia é preciso, antes, dar satisfação ao seu sadio

pragmatismo e lhe mostrar o que fazer com a filosofia.” (Cf.

Rumos da filosofia atual no Brasil, padre S. Ladusans (org.), 1976)

Filosofia e Lógica

201

Embora isso seja constatado na realidade, algumas universidades divulgam

uma gama muito diversificada de correntes, ocorrendo estudos aprofundados e

intercâmbios com os principais pensadores de nosso século. Podemos citar como

principais direcionamentos da investigação filosófica brasileira atual: a filosofia

analítica, o pensamento existencial francês e alemão, as filosofias antiga e

moderna, o marxismo, a ética, a epistemologia, a lógica, a filosofia francesa

contemporânea. Enfim, a filosofia está presente com toda força em nosso país.

Cabe a todos os interessados aproximar-se do fascinante mundo do pensamento

filosófico.

LEITURA COMPLEMENTAR:

PAIM, Antônio. História das ideias filosóficas no Brasil. 5ª ed.

Londrina:

UEL, 1997. 760p.

JAIME, Jorge. História da Filosofia no Brasil. 3ª edição. Petrópolis: Faculdades

Salesianas, 1997. Vol. 1.

___________. História da Filosofia no Brasil. Vol. 1 e 2. São Paulo: Vozes,

1999. Vol.2

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo,

presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de

proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira,

redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual

de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!

Filosofia e Lógica

202

Nessa unidade, estudamos um pouco sobre a problemática acerca da filosofia

no Brasil. Podemos destacar na nossa exposição a formação de um debate

filosófico no Brasil e também a tentativa de se criar um espaço para a consolidação

de um pensamento brasileiro.

Com isso, chegamos ao fim do nosso estudo. Espero que tenhas gostado.

Conto com suas críticas, sugestões e opiniões. Foi ótimo estar contigo. Até outra

oportunidade e sucesso daqui para frente! Depois dessa longa jornada, sinta-se

convidado a ser mais um “amante da sabedoria”.

Filosofia e Lógica

203

Exercícios – unidade 12

1. Aponte entre os pensadores brasileiros abaixo qual é o fundador da “escola de

recife”.

a) Benjamin Constant. b) Tobias Barreto. c) Teixeira Mendes. d) Miguel Lemos. e) Miguel Reale.

2. Podemos dizer que Tobias Barreto e Sílvio Romero são legítimos representantes

de quais correntes da filosofia brasileira?

a) Positivismo e Fenomenologia. b) Materialismo e evolucionismo. c) Culturalismo e Positivismo. d) Evolucionismo e culturalismo. e) Fenomenologia e Culturalismo.

3. A tendência que veio a prevalecer no chamado “marxismo acadêmico” brasileiro

foi exatamente:

a) a renascentista ou greco-romana. b) a evolucionista ou pagã. c) a comteana ou cientificista. d) a leninista-comunista. e) a socialista moderada.

4. Podemos dizer que a preocupação fundamental da vertente denominada de

“marxismo acadêmico” brasileiro foi:

a) implantar uma sociedade racional, em bases marxistas. b) implantar uma sociedade de mercado. c) implantar um regime socialista. d) implantar uma sociedade neocapitalista. e) implantar uma Universidade voltada para os interesses religiosos.

Filosofia e Lógica

204

5. Dentro dos pensadores brasileiros abaixo, quais deles são representantes do

positivismo iniciado no século passado?

a) Tobias Barreto e Sílvio Romero. b) Benjamin Constant e Miguel Lemos. c) Caio Prado Junior e Padre Leonel Franca. d) Teixeira Mendes e Gláucio Veiga. e) Miguel Reale e Silvio Romero.

6. No princípio do século XX, vimos surgir o padre Leonel Franca como um dos

nomes mais representativos do pensamento filosófico desse período. Sobre este,

podemos dizer que:

a) desempenhou importante papel na restauração e renovação do pensamento Neotomista frente às questões trazidas pelas doutrinas materialista e espiritualista.

b) desempenhou importante papel na restauração e renovação das escolas antitomistas frente às questões trazidas pelas doutrinas materialista e espiritualista.

c) desempenhou importante papel na restauração e renovação do pensamento Neotomista frente às ameaças trazidas pelas doutrinas imaterialista e espiritualista.

d) desempenhou importante papel na difamação e renovação do pensamento Neotomista frente às questões trazidas pelas doutrinas materialista e espiritualista.

e) desempenhou importante papel na restauração e renovação do pensamento Neotomista frente às questões trazidas pelas doutrinas imanista e espiritualista romana.

Filosofia e Lógica

205

7. Os primeiros pensadores brasileiros de que se tem notícia adotavam as teorias

sensistas e materialistas de Condillac e Cabanis, tentando conciliá-las com o

espiritualismo eclético, veiculado, especialmente, por Victor Cousin. Dentre os

adeptos deste direcionamento, podemos destacar:

a) José Soriano de Souza e Vicente Cândido Figueiredo de Sabóia. b) Miguel Lemos e Teixeira Mendes. c) Miguel Lemos e Vicente Cândido Figueiredo de Sabóia. d) Eduardo Ferreira França e Domingos José Gonçalves de Magalhães. e) José Soriano de Souza e Vicente Cândido Figueiredo de Sabóia.

8. Dentre os principais representantes do “marxismo acadêmico”, podemos citar

entre eles:

a) Roland Corbisier e Edgardo de Castro Rebelo. b) Emmanuel Carneiro Leão e Gerd Borheim. c) Patrik Stellita e Salvador Adoran. d) Tobias Barreto e Afonso Barbosa Filho. e) Gerd Borheim e Roland Corbisier.

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206

9. Tentando dar uma resposta concreta ao problema da pobreza e das

desigualdades sociais que afetam o Brasil, alguns pensadores de formação cristã

têm desenvolvido projeto, ao longo das últimas décadas, que acolhe elementos

conceituais provindos das teologias católica e protestante, bem como do

hegelianismo, dos messianismos políticos rousseauniano e saint-simoniano, do

personalismo de Emmanuel Mounier e do marxismo. Como se denomina este

projeto desenvolvido pelos pensadores brasileiros nas ultimas décadas?

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10. Por que existem teóricos que afirmam veementemente a impossibilidade de

uma filosofia genuinamente brasileira?

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___________________________________________________________________

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___________________________________________________________________

Filosofia e Lógica

207

Considerações finais

Caro aluno,

Chegamos ao final ao final do nosso curso de Filosofia e Lógica. Durante o

nosso percurso de estudo, objetivamos oferecer a você um panorama geral da

Filosofia através dos temas principais que a constitui, diante de um panorama

lógico e coerente com a especificidade de cada campo de estudo que esta

disciplina abrange. Com base nisso, foi-lhe apresentado as ferramentas

fundamentais para que você desenvolva uma elaboração correta do pensamento

abstrato, como também o amadurecimento, a aquisição da autonomia da reflexão

e do seu agir coerente, através do olhar crítico sobre si mesmo e do mundo que o

cerca. Esta foi, portanto, a nossa tarefa principal.

O Ensino à Distância o parabeniza por ter concluído seus estudos,

aumentando sua bagagem com conhecimentos e habilidades que irão beneficiá-lo

durante toda a sua vida.

Contudo, tenha em mente que a aprendizagem não para por aqui. Mantenha

o hábito de ler, atualize-se sempre e não esqueça de praticar o que foi aprendido

com esta disciplina.

“Uma visão sem ação é meramente um sonho.

Uma ação sem visão carece de sentido.

Uma visão com ação pode mudar o mundo”.

(Arthur Joel Barker – do filme Descobrindo o Futuro)

Sucesso!

Filosofia e Lógica

208

Conhecendo o autor

O professor universitário Delmo Mattos é graduado em Filosofia, Mestre em

Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, onde atualmente

cursa o Programa de Doutorado em Filosofia. Professor e Coordenador do curso de

Pós-graduação em Filosofia e Cultura – UNIVERSO. Conteudista e Tutor da

disciplina Filosofia – EAD- UNIVERSO, assim como professor da UNIVERSO desde

2002 nas disciplinas presenciais correlacionadas a Filosofia e Sociologia. Possui

artigos publicados em revistas eletrônicas de cunho internacional e participante

ativo de conferências relacionadas às áreas de Filosofia Política e Metafísica.

Filosofia e Lógica

209

Referências  

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:

1- ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando. Introdução à filosofia. São

Paulo: Moderna, 1995.

2- CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. SP: Ática, 2005.

3- ______. Introdução à história da filosofia. Dos pré-socráticos a Aristóteles. São

Paulo: Brasiliense, 1994.

4- REZENDE, A. Curso de filosofia. Para Professores e alunos dos cursos de Filosofia

de segundo Grau e Graduação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,1986.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. 3 ed. São Paulo: Cultrix,

1976.

BLACKBURN, S. Dicionário Oxford de Filosofia. Trad. Desidério Murcho: Rio de

Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

GARCIA MORENTE, Manuel. Fundamentos de filosofia. São Paulo, Mestre Jou,

1970.

REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. 3ª ed. São Paulo, Saraiva, 1994.

VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Ed. Rio de Janeiro,

Bertrand Brasil, 1992.

DELACAMPAGNE, Cristian. História da filosofia no séc. XX. Rio de janeiro, Jorge

Zahar, 1997.

Filosofia e Lógica

210

NUNES, Benedito. A filosofia contemporânea. São Paulo, Ática, 1991.

MARÍAS, Julían. História da Filosofia. Tradução Alexandre Pinheiro Torres. 2. ed.

Porto: Sousa e Almeida, s.d.

HESSEN, J. Teoria do conhecimento. Martins fontes: São Paulo, 2000.

COPI, Irving. Introdução à lógica. São Paulo: Mestre Jou, 1974.

ALVES, Rubem. Filosofia da Ciência. 21ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 1995.

VASQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1987.

VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo, Brasiliense, 1986.

LEBRUN, Géreard. O que é poder. São Paulo, Brasiliense, 1881.

BOBBIO, Norberto. A teoria das formas de governo. Brasília, UNB, 1980.

PAIM, Antônio. História das ideias filosóficas no Brasil. 5. ed. Londrina: UEL, 1997.

JAIME, Jorge. História da Filosofia no Brasil. Vol. 1 e 2. São Paulo/Petrópolis:

Faculdades Salesianas/Vozes, 1997 e 1999.

Filosofia e Lógica

211

Anexos

Filosofia e Lógica

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Gabarito

Unidade 1 1. A 2. C 3. D 4. A 5. C 6. E 7 C 8 A

9 Resposta: Esta afirmação paradoxal de Garcia Morente nos coloca diante do

mais importante ou o ponto de partida de todos os “problemas” que irão permear

o estudo da Filosofia, ou seja, o “espanto” ou a “perplexidade” como o início de

todo o processo da reflexão filosófica. O que significa este “espanto” e tal

“perplexidade” para com as coisas, com a realidade em que estamos inseridos? Ora,

a capacidade de se espantar diante das coisas, de se admirar é uma característica

própria de todo ser humano. Do “espanto” e da “perplexidade” surge a nossa

capacidade de interrogação, ou seja, de uma busca incessante de uma explicação

plausível para os fatos sobre os quais nos deparamos, pelas coisas que vivemos,

sentimos, da nossa realidade e das coisas que ainda podemos esperar. Esta atitude

é comparada com a de uma criança ou um menino, como vimos na citação de

Morente. Doravante, o sentido de que a disposição do ânimo que se faz presente

na origem do processo da reflexão filosófica deve consistir necessariamente em

perceber e sentir por onde quer que for, tanto no âmbito de nossas vidas , tanto no

âmbito da realidade que participamos, um sentimento de admiração, espanto e de

uma curiosidade insaciável, como a de uma criança que inicialmente não

compreende nada e para quem tudo está repleto de “problemas”.

Filosofia e Lógica

213

10 Resposta: Ora, na nossa sociedade atual é considerado útil aquilo que possui

uma finalidade prática e imediata. Tudo se processa ou tem razão de existir se tiver

uma aplicação prática que forneça algum resultado imediato, não é isso? Um

exemplo deste fato é que todo mundo sabe que todo aquele que estuda

engenharia, de uma maneira geral, irá participar da construção de edifícios, ruas,

bairros, cidades etc. Todos sabem que a utilidade de se filmar um roteiro

cinematográfico é, senão, para que as pessoas vejam o tal enredo sendo encenado

e que ao assistirem ao filme pronto se emocionem, que se tal filme for bem aceito

pelo público, seja merecedor de um Oscar e que ao ser visto por milhões de

telespectadores, ele retorne em dividendos para seus produtores. Tudo hoje em

dia é visto sob este aspecto finalístico, em que tudo que é feito possui uma razão

de ser. A questão acerca do que "para que serve?", de antemão, pressupõe uma

visão utilitária das coisas. No entanto, no sentido utilitário das coisas, não há como

vislumbrar para que serviria a Filosofia. Aí então, poderíamos dizer a célebre

expressão: a Filosofia não serve para nada! Mas, tal expressão só poderia fazer

sentido se limitássemos a pensar a Filosofia através da possibilidade de que com

ela se poderia obter uma utilidade econômica, isto é, obter lucro com a sua

utilização. Se for assim, a Filosofia sempre permanecerá no direito de se manter

inteiramente inútil.

Unidade 2 1. A 2. C 3. A 4. C 5. D 6. B 7 A 8 A

9 A – Resposta: O Senso comum. / B - Resposta: O aluno poderá citar entre

muitas: Subjetivo; Natural; Conservador; Fragmentário; Espontâneo e Intuitivo.

Também, acrítico, pré-científico, Dogmático.

Filosofia e Lógica

214

10 Resposta: A operatividade consiste no postulado de que todo e qualquer

conceito científico somente tem valor científico, se for definido mediante uma série

de operações físicas, experiências e medidas idealmente possíveis e a objetividade

significa a capacidade de distanciamento de todo elemento afetivo e subjetivo, isto

é, tendência a ser independente dos “sentimentos pessoais”. A objetividade da

ciência quer dizer, sobretudo, que o seu conhecimento tem um caráter universal.

Unidade 3 1. C 2. B 3. A 4. B 5. D 6. D 7 D 8 B

9 Resposta: O comércio assume importância definitiva possibilitando o

desenvolvimento da moeda. A viagem entre os Gregos possibilitou a aquisição de

novos conhecimentos técnicos e geográficos através do contato com outras

civilizações e diferentes formas de vida. Nas mentes mais despertas, a sabedoria

popular, representada pelos ensinamentos rotineiros dos poetas, começa parecer

inadequada. No que diz respeito à moral, os valores bélicos e aristocráticos

encontram-se defasados, já que as relações comerciais exigem normas de justiça e

de direito como base para as trocas. O conhecimento dos outros povos pelos

gregos cria a convicção de que cada povo e cada raça representavam os Deuses de

maneira diversa.

10 Resposta: Tales aparece como iniciador da Filosofia. A sua importância se

deve ao fato de que, seu esforço em busca de um princípio único da explicação da

realidade, não só constitui o ideal da Filosofia como também lhe forneceu o

impulso para se desenvolver.

Filosofia e Lógica

215

Unidade 4 1. A 2. A 3. B 4. D 5. A 6. D 7 A 8 D 9 Resposta: O aluno pode citar: Filosofia Analítica da Linguagem; Semiótica; Positivismo Lógico; A Hermenêutica; O Estruturalismo; A Fenomenologia; O Existencialismo; A Escola de Frankfurt. A Filosofia Contemporânea caracteriza-se, sobretudo, como uma tentativa de encontrar respostas para a crise do projeto filosófico da era moderna.

10 Resposta: A Filosofia Patrística e a Filosofia Escolástica ou Medieval

propriamente dita.

Unidade 5 1. A 2. D 3. E 4. E 5. C 6. B 7 B 8 B

9 Resposta: Lógica

10 Resposta: Esta se distingue daquelas por ser uma antropologia da essência e

não das características humanas, ou seja, ela se distingue da antropologia mítica,

poética, teológica e científico-natural ou evolucionista por fornecer uma

interpretação basicamente ontológica do homem.

Filosofia e Lógica

216

Unidade 6 1. D 2. B 3. A 4. D 5. E 6. D 7 D 8 B

9 Resposta: Classicamente, a verdade se define como adequação do intelecto ao

real. Pode-se dizer, portanto, que a verdade é uma propriedade dos juízos que

podem ser verdadeiros ou falsos, dependendo da correspondência entre o que

afirmam ou negam e a realidade de que falam.

10 Resposta: A consciência de si é a consciência nos estados internos do sujeito,

ou seja, a reflexão. A consciência do outro é a consciência dos objetos exteriores.

Unidade 7 1. D 2. D 3. B 4. C 5. D 6. D 7 A 8 B

9 Resposta: O racionalismo pressupõe a razão como o principal meio de

conhecimento da verdade.

10 Resposta: A impossibilidade de conhecimento da verdade. Assim, para o

ceticismo, o homem nada pode afirmar, pois nada pode conhecer.

Filosofia e Lógica

217

Unidade 8 1. A 2. B 3. C 4. C 5. A 6. E 7 D 8 B 9 Resposta: O princípio da identidade e o princípio da não-contradição. 10 Resposta: Conceber, julgar e raciocinar. Unidade 9 1. B 2. D 3. C 4. D 5. B 6. C 7 B 8 A 9 Resposta: Critério da ausência ou de presença da ação humana, critério de imutabilidade e permanência, critério de praticidade. 10 Resposta: Enquanto as ciências empíricas vão descobrir, descrever e explicar as ocorrências do mundo em que vivemos, as ciências não-empírica são aquelas que dispensam a referência à experiência. Estas se desenvolvem no plano da abstração e do raciocínio. Unidade 10 1. B 2. C 3. B 4. B 5. C 6. E 7 A 8 D 9 Resposta: Enquanto a moral está associada ao agir concreto, a ética vincula-se também à teorização sobre os valores e à conduta moral, discutindo a questão do bem e do mal. Em outras palavras, enquanto a moral envolve exclusivamente a prática, a ética pode se referir tanto à prática quanto à teoria sobre a mesma.

Filosofia e Lógica

218

10 Resposta: A ética deve ser entendida como um conjunto de regras avaliadas com rigor e consciência crítica. Isto significa que a ética se preocupa com uma rigorosa avaliação sobre o que é o bem e o mal, buscando indicar quais os caminhos o homem pode realizar enquanto agente do bem. Assim, se a moral indica os costumes de um determinado grupo social, a ética questionará e teorizará o que é justo sobre o agir adequado a uma determinada situação, na qual se realize o bem e se evite o mal.

Unidade 11 1. E 2. E 3. B 4. B 5. E 6. B 7 A 8 C 9 Resposta: É aquele que utiliza os meios de “coerção social”, ou seja, a força física, legalmente, para dominar os outros. Este se preocupa em garantir o domínio da força, controlando a organização dos “instrumentos de coerção”, ou seja, polícia, forças armadas, tribunais etc. 10 Resposta: O contrato social para Rousseau é “uma livre associação de seres humanos inteligentes que deliberadamente resolvem formar certo tipo de sociedade a qual passam a prestar obediência mediante o respeito à vontade geral”. O contrato social, ao considerar que todos os homens nascem livres e iguais, encara o Estado como objeto de um contrato no qual os indivíduos não renunciam seus direitos naturais, mas ao contrário, entram em acordo para a proteção desses direitos que o Estado é criado para preservar. Unidade 12 1. B 2. D 3. C 4. A 5. B 6. A 7 D 8 A 9 Resposta: Denomina-se de projeto “imanentista de libertação”. 10 Resposta: O aluno deverá responder, destacando, sobretudo, que os filósofos brasileiros foram profundamente influenciados pelas Correntes Européias, dando margem para uma continuidade do Pensamento Europeu ao invés de uma constituição de um pensamento original.