Expansão do capital e desenvolvimento regional

17
Ideação v v v . 12 nº 1 p. 1º semestr . 12 nº 1 p. 1º semestr . 12 nº 1 p. 1º semestr . 12 nº 1 p. 1º semestr . 12 nº 1 p. 1º semestr e de 2010 e de 2010 e de 2010 e de 2010 e de 2010 R R REVISTA EVISTA EVISTA EVISTA EVISTA DO DO DO DO DO C C C C CENTRO ENTRO ENTRO ENTRO ENTRO DE DE DE DE DE E E E E EDUCAÇÃO DUCAÇÃO DUCAÇÃO DUCAÇÃO DUCAÇÃO E E L L L L LETRAS ETRAS ETRAS ETRAS ETRAS DA DA DA DA DA U U U U UNIOESTE NIOESTE NIOESTE NIOESTE NIOESTE - C - C - C - C - CAMPUS AMPUS AMPUS AMPUS AMPUS DE DE DE DE DE F F F F FOZ OZ OZ OZ OZ DO DO DO DO DO I I I I IGUAÇU GUAÇU GUAÇU GUAÇU GUAÇU 101 ARTIGO EXPANSÃO DO CAPITAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: FOZ DO IGUAÇU ENTRE O LEGAL E O ILEGAL 1 RESUMO: RESUMO: RESUMO: RESUMO: RESUMO: O setor turístico de Foz do Iguaçu movimenta uma quantia significativa de capitais e é considerado pelo empresariado local a principal vocação econômica da região. Isso encobre o papel que as relações econômicas subterrâneas estabelecidas entre o Brasil e o Paraguai possuem na economia local e também o conjunto de práticas sociais “informais” geradas pela alta movimentação de pessoas, de dinheiro e de mercadorias. O artigo problematiza o desenvolvimento do setor turístico e hoteleiro na região, destacando o seu impacto econômico, para, em um segundo mo- mento, investigar os vínculos existentes entre este desenvolvimento e um conjunto de situações mais obscuras, como a utilização de hotéis para a estocagem de mercadorias contrabandeadas do Paraguai, a redefinição conflituosa dos espaços comerciais do município a partir da sua utilização por trabalhadores ambulantes e o processo de exploração de uma mão-de- obra presa a baixos salários e a uma jornada de trabalho mal definida. PALA PALA PALA PALA PALAVRAS-CHA VRAS-CHA VRAS-CHA VRAS-CHA VRAS-CHAVE: VE: VE: VE: VE: Turismo, Trabalho, Desenvolvimento Regional. ABSTRA ABSTRA ABSTRA ABSTRA ABSTRACT CT CT CT CT:The tourism sector of Foz do Iguacu moves a significant amount of capital and is regarded by local entrepreneurs to the region’s main economic activity. This obscures the role that the economic relations established between groundwater Brazil and Paraguay have on the local economy and also the set of social practices “informal” generated by the frequent movement of people, money and goods. The article discusses the development of tourism and hospitality sector in the region, highlighting its economic impact, for, in a second time, to investigate the links between this development and a set of the darkest situations, such as the use of hotels for the storage of goods smuggled from Paraguay, the conflicting redefinition of the commercial spaces in the city from its use by street vendors and the process of operating a manpower tied to low wages and an ill-defined working hours. KEY KEY KEY KEY KEY-WORDS: -WORDS: -WORDS: -WORDS: -WORDS:Tourism, Labour, Regional Development. Eric Gustavo Cardin 2 UNIOESTE NIOESTE NIOESTE NIOESTE NIOESTE aaaCampusaaa FOZ OZ OZ OZ OZ DO DO DO DO DO I I I I IGUAÇU GUAÇU GUAÇU GUAÇU GUAÇU V. 12 - n º 1 - p. 101-117 1º sem. 2010 sem. 2010 sem. 2010 sem. 2010 sem. 2010 Enviado em: 04/09/2009 - Aceito em: 10/12/2009 Revista do Centro de Educação e Letras Revista do Centro de Educação e Letras Revista do Centro de Educação e Letras Revista do Centro de Educação e Letras Revista do Centro de Educação e Letras Ideação ARTIGO 1 Este artigo corresponde a uma versão do trabalho “Turismo em Foz do Iguaçu: as possíveis faces de um mesmo processo” apresentado no VII Seminário do Trabalho promovido pela UNESP, campus de Marília/SP. 2 Professor Assistente da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, doutorando em Sociologia pela Universi- dade Estadual Paulista – UNESP. [email protected]

Transcript of Expansão do capital e desenvolvimento regional

Ideação

vvvv v . 1

2

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tre

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10RRRR R

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA D

OD

OD

OD

OD

O C C C C C

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO D

ED

ED

ED

ED

E E E E E E

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

O EEEE E

L L L L LET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

S D

AD

AD

AD

AD

A U U U U U

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

E -

C -

C -

C -

C -

CA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

S D

ED

ED

ED

ED

E F F F F F

OZ

OZ

OZ

OZ

OZ D

OD

OD

OD

OD

O I I I I I

GU

UG

UA

ÇU

GU

UG

UA

ÇU

GU

U

101

ARTIGO

EXPANSÃO DO CAPITAL EDESENVOLVIMENTO REGIONAL: FOZ DO

IGUAÇU ENTRE O LEGAL E O ILEGAL1

RESUMO:RESUMO:RESUMO:RESUMO:RESUMO: O setor turístico de Foz do Iguaçu movimenta uma quantiasignificativa de capitais e é considerado pelo empresariado local a principalvocação econômica da região. Isso encobre o papel que as relaçõeseconômicas subterrâneas estabelecidas entre o Brasil e o Paraguai possuemna economia local e também o conjunto de práticas sociais “informais”geradas pela alta movimentação de pessoas, de dinheiro e de mercadorias.O artigo problematiza o desenvolvimento do setor turístico e hoteleiro naregião, destacando o seu impacto econômico, para, em um segundo mo-mento, investigar os vínculos existentes entre este desenvolvimento e umconjunto de situações mais obscuras, como a utilização de hotéis para aestocagem de mercadorias contrabandeadas do Paraguai, a redefiniçãoconflituosa dos espaços comerciais do município a partir da sua utilizaçãopor trabalhadores ambulantes e o processo de exploração de uma mão-de-obra presa a baixos salários e a uma jornada de trabalho mal definida.PALAPALAPALAPALAPALAVRAS-CHAVRAS-CHAVRAS-CHAVRAS-CHAVRAS-CHAVE:VE:VE:VE:VE: Turismo, Trabalho, Desenvolvimento Regional.ABSTRAABSTRAABSTRAABSTRAABSTRACTCTCTCTCT:The tourism sector of Foz do Iguacu moves a significant amountof capital and is regarded by local entrepreneurs to the region’s maineconomic activity. This obscures the role that the economic relationsestablished between groundwater Brazil and Paraguay have on the localeconomy and also the set of social practices “informal” generated by thefrequent movement of people, money and goods. The article discusses thedevelopment of tourism and hospitality sector in the region, highlighting itseconomic impact, for, in a second time, to investigate the links between thisdevelopment and a set of the darkest situations, such as the use of hotels forthe storage of goods smuggled from Paraguay, the conflicting redefinitionof the commercial spaces in the city from its use by street vendors and theprocess of operating a manpower tied to low wages and an ill-definedworking hours.KEYKEYKEYKEYKEY-WORDS:-WORDS:-WORDS:-WORDS:-WORDS:Tourism, Labour, Regional Development.

Eric Gustavo Cardin2

UUUUU N I O E S T EN I O E S T EN I O E S T EN I O E S T EN I O E S T EaaaCampusaaaFFFFFOZOZOZOZOZ DODODODODO I I I I IGUAÇUGUAÇUGUAÇUGUAÇUGUAÇU

V. 12 - nº 1 - p. 101-1171 º 1 º 1 º 1 º 1 º sem. 2010sem. 2010sem. 2010sem. 2010sem. 2010

Enviado em: 04/09/2009 - Aceito em: 10/12/2009

Revista do Centro de Educação e LetrasRevista do Centro de Educação e LetrasRevista do Centro de Educação e LetrasRevista do Centro de Educação e LetrasRevista do Centro de Educação e LetrasIdeação ARTIGO

1 Este artigo corresponde a uma versão do trabalho “Turismo emFoz do Iguaçu: as possíveis faces de um mesmo processo”apresentado no VII Seminário do Trabalho promovido pelaUNESP, campus de Marília/SP.

2 Professor Assistente da Universidade Estadual do Oeste doParaná – UNIOESTE, doutorando em Sociologia pela Universi-dade Estadual Paulista – UNESP. [email protected]

Ideação

vvvv v . 1

2

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tre

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10RRRR R

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA D

OD

OD

OD

OD

O C C C C C

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO D

ED

ED

ED

ED

E E E E E E

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

O EEEE E

L L L L LET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

S D

AD

AD

AD

AD

A U U U U U

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

E -

C -

C -

C -

C -

CA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

S D

ED

ED

ED

ED

E F F F F F

OZ

OZ

OZ

OZ

OZ D

OD

OD

OD

OD

O I I I I I

GU

UG

UA

ÇU

GU

UG

UA

ÇU

GU

UIdeação

102

ARTIGO

3 Como observa Amaral (2010: 26), o Brasil possui nove tríplices fronteiras, enten-dendo as mesmas como a interseção das fronteiras de três diferentes países. Umdos fatores que diferencia a Tríplice Fronteira das outras fronteiras tríplices doBrasil é a presença de três cidades de médio porte nesta confluência de limitesterritoriais e a consequente intensidade dos fluxos humanos e econômicos quetêm lugar na região.

1 – IntroduçãoA região de confluência das fronteiras do Brasil, com o

Paraguai e a Argentina possui características que a diferenciamdas demais tríplices fronteiras existentes no Brasil3 e lhe ofere-cem um destaque midiático especial, garantindo bons índicesde visitação e, consequentemente, de ocupação em seu par-que hoteleiro. Além dos seus limites territoriais peculiares, quepermitem um alto fluxo de pessoas e de capital, a Usina Hidre-létrica de Itaipu e o Parque Nacional do Iguaçu podem ser con-siderados dois importantes atrativos da região por receberemmais de um milhão de turistas anualmente. Somando-se a isso,a região é centro da maior reserva de água doce do mundo.Como afirma Dreyfus (2007: 105), “la cuenca hídrica de laregión es el eje de la mayor fuente subterránea de agua potabledel mundo: el acuífero Guaraní, un reservorio subterráneo deagua de una superficie estimada de 1.200.000 kilómetroscuadrados”.

Contudo, a produção e a circulação de capital na regiãonão estão vinculadas unicamente a estes fatores, a produção degrãos, de energia hidrelétrica e a comercialização de produtoseletroeletrônicos nas zonas francas de Ciudad Del Este/Paraguaie Puerto Iguazú/Argentina, como também possuem relevânciaao garantirem uma forte integração entre os países fronteiriços.O impacto social e econômico destes diferentes setores podeser constatado com relativa facilidade através dos inúmerosveículos de informação que divulgam os números levantadospor diferentes institutos de pesquisa e organismos governamen-tais, como também pelos dados disponibilizados pelo Ministé-rio do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Noentanto, esta economia oficial, publicável, difundida e defen-dida pelas municipalidades e associações empresariais e indus-triais da Tríplice Fronteira, divide espaço e coexiste com umaforte economia subterrânea que possui tanta expressão quantoas belezas naturais ou os números de um setor turístico bemsucedido.

As relações econômicas existentes entre Brasil, Paraguai

Eric Gustavo Cardin10

1-11

710

1-11

710

1-11

710

1-11

710

1-11

7

Ideação

vvvv v . 1

2

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tre

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10RRRR R

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA D

OD

OD

OD

OD

O C C C C C

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO D

ED

ED

ED

ED

E E E E E E

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

O EEEE E

L L L L LET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

S D

AD

AD

AD

AD

A U U U U U

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

E -

C -

C -

C -

C -

CA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

S D

ED

ED

ED

ED

E F F F F F

OZ

OZ

OZ

OZ

OZ D

OD

OD

OD

OD

O I I I I I

GU

UG

UA

ÇU

GU

UG

UA

ÇU

GU

U

103

ARTIGO

e Argentina, que possibilitam o crescimento de toda regiãoinvestigada, não são sustentadas exclusivamente pelos indica-dores oficiais. Inúmeras pesquisas realizadas apontam para apossível existência de uma economia paralela que pode supe-rar as quantias de capital movimentadas pelos setores de servi-ço e produtivo, fomentando um universo composto pelos con-flitos entre as práticas, as posturas, os modos de viver e as ide-ologias, fundamentadas em relações dialéticas que se perdementre as definições do oficial/extra-oficial, do legal/ilegal, domoral/imoral e do justo/injusto. Assim, a acumulação, a manu-tenção e a expansão do capital, dentro desta conjuntura, nãose limitam às normas comerciais internacionais, às definiçõestributárias ou às legislações trabalhistas; elas buscam sua sus-tentação flexibilizando e subvertendo regras e aproveitando-seda miséria dos homens.

A Tríplice Fronteira, embora envolva municípios comcaracterísticas semelhantes e uma intensa relação cultural, nãopossui o mesmo papel para os diferentes países que a com-põem. Segundo Dreyfus (2007),

la región tiene su propia dinámica económica transnacional de cre-cimiento económico. La Triple Frontera concentra dos enclaves ur-banos y comerciales de tamaño medio (Ciudad del Este y Foz deIguazú), situados en áreas de alto desarrollo agrícola, principalmentevinculado al cultivo de soja; y uma ciudad pequeña (Puerto Iguazú),que se encuentra en una de las áreas más pobres y menos desarrolla-das de la Argentina y que subsiste básicamente en función del turis-mo. En cuanto Ciudad del Este y Foz de Iguazú son piezas funda-mentales para la economía nacional (en el caso de Ciudad del Este)y regional (en el caso de Foz de Iguazú), Puerto Iguazú es una ciudadpequeña más de una provincia que no es de extrema relevanciapara la economía nacional. Para Paraguay, un país pobre y subde-sarrollado localizado entre el gigante Brasileño y Argentina, la TripleFrontera no es simplemente una región más del país, es la región demayor relevancia econômica (en todos los sectores de la economía)y la puerta de salida hacia el puerto brasileño de Paranaguá (en lacosta atlántica del sur de Brasil) (Dreyfus, 2007: 106).

A relevância que cada uma destas cidades possui em seusrespectivos países depende da abordagem ou do foco utilizadopara a análise. Analisando exclusivamente os valores referentesà importação e à exportação entre as três nações, as conclusõesobtidas vão diretamente a favor das afirmações de Dreyfus(2007). Enquanto Puerto Iguazú tem um papel muito pequeno

EXPANSÃO DO CAPITAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: FOZ DO IGUAÇUENTRE O LEGAL E O ILEGAL

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

Ideação

vvvv v . 1

2

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tre

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10RRRR R

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA D

OD

OD

OD

OD

O C C C C C

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO D

ED

ED

ED

ED

E E E E E E

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

O EEEE E

L L L L LET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

S D

AD

AD

AD

AD

A U U U U U

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

E -

C -

C -

C -

C -

CA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

S D

ED

ED

ED

ED

E F F F F F

OZ

OZ

OZ

OZ

OZ D

OD

OD

OD

OD

O I I I I I

GU

UG

UA

ÇU

GU

UG

UA

ÇU

GU

UIdeação

104

ARTIGO

na economia Argentina, tanto no que se refere a sua produçãode capital quanto na circulação do mesmo, Foz do Iguaçu e,principalmente, Ciudad Del Este possuem uma maior expres-são econômica. Contudo, a importância destes municípioslimítrofes muda de status quando são levados em consideraçãoassuntos relativos à segurança pública, à comunidade interna-cional e à economia subterrânea, embora tais questões sejamde maior complexidade e, ao mesmo tempo, de maiorinvisibilidade.

No intuito de fortalecer e enriquecer a leitura realizadapor Dreyfus (2007) torna-se significante apresentar, antes detudo, algumas informações que possibilitam materializar a ideiade que as cidades da Tríplice Fronteira possuem papéis diferen-ciados no interior de seus próprios países. Para, a partir daí,trazermos outros elementos para problematizarmos os dinamis-mos da realidade social e econômica da região. Através dosnúmeros disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimen-to, Indústria e Comércio (MDIC) e pela Secretaria do ComércioExterior (SECEX) é possível vislumbrar a importância da regiãopara o Brasil, Argentina e Paraguai. Na Tabela 01 encontram-seprimeiramente as principais vias de importação de mercadori-as brasileiras pelo Paraguai. Como é possível de ser observado,mais da metade das importações realizadas pelo país vizinhopassa por Foz do Iguaçu e Ciudad Del Este, fato que coloca afronteira em um lugar estratégico.

Tabela 01 - Vias das importações brasileiras doParaguai – Peso e Valor – 2008

P o r t o ( t )

P a r t i c ip a ç ã

o n o t o t a l

( % )

U S $ P a r t i c ip a ç ã o

n o t o t a l ( % )

F o z d o I g u a ç u /P R 1 .1 8 9 .9 7

2

5 3 ,2 3 8 1 . 9 5 2 .8 9

2

5 8 ,1

G u a ir á /P R 4 2 5 .7 2 4 1 9 ,0 6 7 .8 3 3 .5 2 8 1 0 ,3

P o r to d e P e c e m /C E 1 3 .3 3 4 0 ,6 3 4 .4 4 1 .1 0 7 5 ,2

S a n t a H e le n a /P R 1 6 7 .6 9 1 7 ,5 3 2 .5 8 1 .9 0 6 5 ,0

M u n d o N o v o /M S 1 4 3 .2 1 5 6 ,4 2 6 .8 4 8 .6 9 6 4 ,1

S . J o s é d o s C a m p o s /S P 1 3 0 ,0 2 6 .2 3 5 .0 0 0 4 ,0

P o n t a P o r ã /M S 1 4 6 .7 9 7 6 ,6 1 9 .6 3 2 .7 2 3 3 ,0

U r u g u a ia n a / R S 5 7 .7 5 0 2 ,6 1 4 .4 3 4 .7 7 5 2 ,2

A e r o p o r to d o R io d e

J a n e ir o / R J

2 0 0 ,0 1 3 .6 7 7 .5 6 1 2 ,1

P o r to d o R io d e J a n e ir o /R J 3 0 .7 4 8 1 ,4 1 1 .7 3 6 .9 2 5 1 ,8

O u tr o s 5 9 .8 1 3 2 ,7 7 2 8 .1 1 9 .4 0 1 4 ,3

T o t a l d e Im p o r t a ç õ e s 2 .2 3 5 .0 7

7

1 0 0 ,0 6 5 7 . 4 9 4 .5 1

5

1 0 0

F o n t e : M D I C /S E C E X

Eric Gustavo Cardin10

1-11

710

1-11

710

1-11

710

1-11

710

1-11

7

Ideação

vvvv v . 1

2

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tre

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10RRRR R

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA D

OD

OD

OD

OD

O C C C C C

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO D

ED

ED

ED

ED

E E E E E E

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

O EEEE E

L L L L LET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

S D

AD

AD

AD

AD

A U U U U U

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

E -

C -

C -

C -

C -

CA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

S D

ED

ED

ED

ED

E F F F F F

OZ

OZ

OZ

OZ

OZ D

OD

OD

OD

OD

O I I I I I

GU

UG

UA

ÇU

GU

UG

UA

ÇU

GU

U

105

ARTIGO

Por outro lado, na Tabela 02 visualiza-se a menor impor-tância do município de Foz do Iguaçu na entrada das merca-dorias argentinas adquiridas pelo Brasil. Observando o total dosvalores movimentados nas negociações realizadas entre os doispaíses, constata-se que a cidade é o canal de entrada de apenas5,5% do total importado pelo Brasil, ficando à frente apenas dacidade de Dionísio Cerqueira, em Santa Catarina.Consequentemente, a fronteira entre Foz do Iguaçu e PuertoIguazú não possui uma grande importância na economia daArgentina. Porém, como se verá mais adiante, existem outroselementos na região que garantem cuidados por parte do go-verno federal argentino à Tríplice Fronteira como, por exem-plo, as Cataratas do Iguaçu, que é o principal receptor de turis-tas estrangeiros na Argentina, e a segurança internacional.

Tabela 02 – Vias de importação Argentina para oBrasil – 2008

Partindo exclusivamente dos dados oficiais expostos, épossível dizer que as cidades limítrofes que compõem aquiloque se entende como Tríplice Fronteira possuem papéis econô-micos distintos. Enquanto Ciudad Del Este é responsável pormetade do Produto Interno Bruto Paraguaio (PIB), Foz do Iguaçue, principalmente, Puerto Iguazú, apresentam-se como meroscoadjuvantes em seus países. Todavia, a análise da realidadesocioeconômica da fronteira não deve ficar limitada a estesíndices. A importância da região encontra-se também vincula-

P O R T O ( t )

P a r t i c ip a ç ã

o n o t o t a l

( % )

U S $ P a r t i c i p a ç ã o

n o t o t a l ( % )

U r u g u a ia n a /

R S

9 8 8 . 5 6 9 8 ,8 3 .0 0 5 .6 5 2 .6 6 9 2 2 ,7

S ã o B o r ja / R S 4 3 6 . 0 6 2 3 ,9 1 .4 7 2 .6 0 7 .7 4 5 1 1 ,1

P o r to d e P o r to

A le g r e /R S

1 .2 9 6 . 2 7 9 1 1 ,5 1 .1 3 8 .0 6 8 .9 8 9 8 , 6

P o r to d e S a n to s /S P 1 .4 5 7 . 7 6 7 1 2 ,9 1 .1 3 4 .9 8 0 .2 9 3 8 , 6

P o r to d o R io d e

J a n e ir o / R J

6 9 8 . 3 4 2 6 ,2 1 .0 1 8 .9 9 5 .8 9 0 7 , 7

P o r to d e

P a r a n a g u á / P R

5 1 7 . 5 3 1 4 ,6 7 6 6 . 6 0 9 . 3 9 4 5 , 8

P o r to d e A r a tu /B A 2 9 7 . 4 7 0 2 ,6 7 3 5 . 3 5 3 . 4 8 5 5 , 5

P o r to d e R io G r a n d e 6 6 9 . 0 8 7 5 ,9 7 3 2 . 7 1 7 . 3 5 6 5 , 5

F o z d o Ig u a ç u /P R 8 3 3 . 0 4 1 7 ,4 7 2 5 . 8 4 7 . 6 1 3 5 , 5

D io n ís io C e r q u e ir a / S C 2 9 4 . 8 3 2 2 ,6 2 3 7 . 5 2 6 . 1 8 9 1 , 8

O u t r o s 3 .8 0 0 . 1 1 3 3 3 ,7 2 .2 9 0 .0 2 2 .9 5 2 1 7 ,3

T o t a l d e Im p o r t a ç ã o 1 1 .2 8 9 .0 9

3

1 0 0 , 0 1 3 .2 5 8 .3 8 2 . 5 7 5 1 0 0

EXPANSÃO DO CAPITAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: FOZ DO IGUAÇUENTRE O LEGAL E O ILEGAL

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

Fonte: MDIC/SECEX

Ideação

vvvv v . 1

2

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tre

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10RRRR R

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA D

OD

OD

OD

OD

O C C C C C

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO D

ED

ED

ED

ED

E E E E E E

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

O EEEE E

L L L L LET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

S D

AD

AD

AD

AD

A U U U U U

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

E -

C -

C -

C -

C -

CA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

S D

ED

ED

ED

ED

E F F F F F

OZ

OZ

OZ

OZ

OZ D

OD

OD

OD

OD

O I I I I I

GU

UG

UA

ÇU

GU

UG

UA

ÇU

GU

UIdeação

106

ARTIGO

da a processos e circuitos que não são oficiais, mas que garan-tem a circulação de somas significativas de dinheiro, além deocupação para milhares de trabalhadores. Levando em consi-deração as outras possibilidades de acumulação de capital,muitas vezes camufladas ou nos limites das vias aceitas juridi-camente, o caminho percorrido na busca do entendimento dasrelações sociais ocorridas na região não pode ficar restrito aosnúmeros e aos processos regulamentados.

Desta forma, para uma melhor contextualização do uni-verso de interesse é necessário desconstruir a ideologia domi-nante que separa as práticas licitas e ilícitas. Ao contrário da-quilo que se busca divulgar, a realidade social da fronteira écomposta pelos conflitos entre estas possibilidades, quando nãopor suas obscuras alianças. Assim, a compreensão das relaçõessociais existentes na região precisa envolver e problematizar talsituação. Dentro das diferentes variáveis que interferem nasdinâmicas políticas e econômicas da tríplice fronteira, concen-tramos as discussões deste artigo unicamente nos antagonis-mos derivados do desenvolvimento regional possibilitado pelosetor turístico. Neste sentido, o texto está organizado em doistópicos principais. No primeiro, apresentamos eproblematizamos os impactos do setor turístico e hoteleiro naeconomia de Foz do Iguaçu e região. No segundo, analisamosas relações deste desenvolvimento com os mundos do trabalhoe com algumas práticas vinculadas ao circuito sacoleiro4 exis-tente na fronteira com o Paraguai, problematizando as relaçõesobscuras existentes no interior do sistema do capital.

2 – O desenvolvimento regional e o setor turístico.

Nos últimos dez anos, o setor turístico ganhou uma ex-pressiva importância na economia mundial, tornando-se fun-damental na arrecadação de um conjunto de países europeus eamericanos. Embora de maneira um pouco mais tímida, o se-tor obteve leve crescimento no Brasil, as Atividades Caracterís-

4 O termo circuito sacoleiro está sendo utilizado para fazer referencia a todopercurso trilhado pela mercadoria oriunda do mercado paraguaio e que entra noBrasil de forma ilegal. Todavia, com a sua utilização pretendemos não apenasenvolver ou explicitar os caminhos percorridos pela mercadoria, mas também asrelações estabelecidas entre as diversas ocupações existentes na fronteira nointuito de possibilitar esse trâmite.

Eric Gustavo Cardin10

1-11

710

1-11

710

1-11

710

1-11

710

1-11

7

Ideação

vvvv v . 1

2

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tre

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10RRRR R

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA D

OD

OD

OD

OD

O C C C C C

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO D

ED

ED

ED

ED

E E E E E E

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

O EEEE E

L L L L LET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

S D

AD

AD

AD

AD

A U U U U U

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

E -

C -

C -

C -

C -

CA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

S D

ED

ED

ED

ED

E F F F F F

OZ

OZ

OZ

OZ

OZ D

OD

OD

OD

OD

O I I I I I

GU

UG

UA

ÇU

GU

UG

UA

ÇU

GU

U

107

ARTIGO

ticas do Turismo geraram um valor da produção de R$149 642milhões contribuindo com aproximadamente 3,6% do seu PIBe ocupando 5,7 milhões de pessoas no ano de 2006 (IBGE,2009). De maneira geral, acredita-se que o “turismo gera im-pactos importantíssimos para o desenvolvimento econômicoregional e se apresenta como um elemento capaz de amenizaros problemas estruturais, principalmente aqueles relacionadosaos desequilíbrios regionais” (Nodari, 2007, p. 28). Na TrípliceFronteira estudada, suas características geográficas fazem comque parcela significativa dos empresários e políticos locais con-sidere o turismo a “verdadeira” vocação econômica de toda aregião.

Alguns números são utilizados na defesa desta tese. Pes-quisas realizadas em anos anteriores referentes aos empregosgerados pelo turismo somente no município de Foz do Iguaçu,ou seja, sem observar Ciudad Del Este/Paraguai e Puerto Iguazú/Argentina, indicam que no ano de 2004 foram criados 9.264empregos permanentes e 508 temporários, em 529 atividadesligadas ao setor. Naquela época foi registrada a existência de32 atrativos turísticos e 142 meios de hospedagens, totalizando9.637 leitos disponíveis. Além disso, constatou-se que a estru-tura para eventos tinha capacidade para 42.290 pessoas e onúmero de pousos e decolagem no Aeroporto Internacional deFoz do Iguaçu foi de 5.456, com 412.968 passageiros, no anode 2005 (Nodari, 2007: 47). No que se refere mais especifica-mente a valores, segundo o IBGE,

o PIB do município de Foz do Iguaçu em 2001 foi de R$3.536.683.000, sendo a participação da renda do turismo de 10,5%e em 2002, de R$ 3.748.625.000 com a participação do turismo de14,3%, representando um crescimento anual de “apenas” 6%. Esti-mando um crescimento do PIB municipal a uma taxa anual de 6%para 2003 o montante é de R$ 3.973.542.500 com uma participa-ção do turismo de 15,4% e, em 2005 o PIB foi de 4.450.367.600com participação do turismo de 18,2%. A participação média doturismo no PIB de Foz do Iguaçu é de 6,2%. (Nodari, 2007,: 47 – 48)

Alguns números mais recentes sobre o fluxo de turistasno município de Foz do Iguaçu, expostos na Tabela 03, de-monstram o crescimento gradativo do setor.

Tabela 03 – Fluxo de Turistas em Foz do Iguaçu

EXPANSÃO DO CAPITAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: FOZ DO IGUAÇUENTRE O LEGAL E O ILEGAL

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

Ideação

vvvv v . 1

2

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tre

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10RRRR R

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA D

OD

OD

OD

OD

O C C C C C

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO D

ED

ED

ED

ED

E E E E E E

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

O EEEE E

L L L L LET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

S D

AD

AD

AD

AD

A U U U U U

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

E -

C -

C -

C -

C -

CA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

S D

ED

ED

ED

ED

E F F F F F

OZ

OZ

OZ

OZ

OZ D

OD

OD

OD

OD

O I I I I I

GU

UG

UA

ÇU

GU

UG

UA

ÇU

GU

UIdeação

108

ARTIGO

Como é possível de ser observado, independente das di-ficuldades ou dos problemas nacionais e internacionais exis-tentes, o setor turístico na Tríplice Fronteira como um todo vemobtendo números positivos. No entanto, isso não pode ser con-siderado uma regra. Quando se analisou o fluxo de turistas na-cionais e estrangeiros apenas no Parque Nacional do Iguaçu(PNI), que muitas vezes é considerado o principal termômetrodo turismo em Foz do Iguaçu e que obteve um crescimento de5,9% no número de visitantes em junho de 2009, constataram-se muitas oscilações. Neste caso, as possíveis explicações paraesse fenômeno encontram-se nas mudanças econômicas e nascampanhas publicitárias realizadas fora do Brasil na última dé-cada.

Os problemas de saúde pública derivados da epidemiade gripe suína e a instabilidade política econômicadesencadeada com a crise imobiliária norte-americana, queatingiram o setor turístico de forma global nos últimos dois anos,não foram suficientes para “esfriar” a tendência de crescimen-to no qual a região estava inserida. Se por um lado observou-seuma diminuição no ingresso de turistas europeus e norte-ame-ricanos nos principais atrativos da região, constatou-squenoaumento nos números referentes aos turistas nacionais e dospaíses do MERCOSUL, garantindo a lucratividade do setor.

Fonte: Inventário Turístico de Foz do Iguaçu (2009)

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

Eric Gustavo Cardin

Ideação

vvvv v . 1

2

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tre

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10RRRR R

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA D

OD

OD

OD

OD

O C C C C C

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO D

ED

ED

ED

ED

E E E E E E

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

O EEEE E

L L L L LET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

S D

AD

AD

AD

AD

A U U U U U

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

E -

C -

C -

C -

C -

CA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

S D

ED

ED

ED

ED

E F F F F F

OZ

OZ

OZ

OZ

OZ D

OD

OD

OD

OD

O I I I I I

GU

UG

UA

ÇU

GU

UG

UA

ÇU

GU

U

109

ARTIGO

Tabela 04 - fluxo de turistas no Parque Nacionaldo Iguaçu.

A planilha de visitação disponibilizada pela SecretariaMunicipal de Turismo indica que o número de turistas oriun-dos do bloco regional, chegou a 19,9% em 2008 e 21,8% em2009. No que se refere ao índice de brasileiros, constatou-seuma alta de 43,4% para 48,3%, enquanto que o número deturistas de outros países sofreu um decréscimo de 36,7% para29,9%. Mesmo com essas modificações no fluxo e também noperfil dos visitantes, constata-se a manutenção e a até mesmouma certa expansão do turismo na região.

A manutenção de um crescimento paulatino e constantedo número de turistas estrangeiros se deve principalmente àestabilidade política econômica do país e às campanhas publi-citárias desenvolvidas pelo governo federal fora do Brasil. As

EXPANSÃO DO CAPITAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: FOZ DO IGUAÇUENTRE O LEGAL E O ILEGAL

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

Fonte: IBAMA

Ideação

vvvv v . 1

2

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tre

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10RRRR R

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA D

OD

OD

OD

OD

O C C C C C

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO D

ED

ED

ED

ED

E E E E E E

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

O EEEE E

L L L L LET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

S D

AD

AD

AD

AD

A U U U U U

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

E -

C -

C -

C -

C -

CA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

S D

ED

ED

ED

ED

E F F F F F

OZ

OZ

OZ

OZ

OZ D

OD

OD

OD

OD

O I I I I I

GU

UG

UA

ÇU

GU

UG

UA

ÇU

GU

UIdeação

110

ARTIGO

ações do governo municipal para o setor são direcionadas fun-damentalmente a divulgação dos atrativos existentes, nãoexplicitando uma preocupação estrutural e, muito menos,umprocesso de democratização no acesso ao mercado origi-nado pelo fluxo de visitantes, o que significa a concentraçãodos recursos públicos exclusivamente no corredor turístico queliga os principais atrativos e os principais hotéis. A Tabela 05sintetiza o direcionamento dos esforços do poder executivo local.

Tabela 05 – Ações Operacionais da Secreta-ria Municipal de Turismo

As bolhas de crescimento geradas pelo desenvolvimentoe pelo fortalecimento do turismo na fronteira não se limitamapenas aos empresários e às categorias de trabalhadores liga-dos diretamente ao setor. De maneira geral, a ampliação doprocesso de acumulação de capital e de geração de empregosé estendida para outros ramos econômicos, como o alimentí-cio, o cultural e o hoteleiro. Como afirma Nodari,

o turismo é uma atividade produtiva contínua, geradora de renda,que se submete às leis econômicas e interfere nos diversos segmentosda economia, repercutindo acentuadamente e indiretamente emoutras atividades produtivas através do seu efeito multiplicador. O

Fonte: SMTU/2007

Eric Gustavo Cardin10

1-11

710

1-11

710

1-11

710

1-11

710

1-11

7

Ideação

vvvv v . 1

2

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tre

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10RRRR R

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA D

OD

OD

OD

OD

O C C C C C

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO D

ED

ED

ED

ED

E E E E E E

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

O EEEE E

L L L L LET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

S D

AD

AD

AD

AD

A U U U U U

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

E -

C -

C -

C -

C -

CA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

S D

ED

ED

ED

ED

E F F F F F

OZ

OZ

OZ

OZ

OZ D

OD

OD

OD

OD

O I I I I I

GU

UG

UA

ÇU

GU

UG

UA

ÇU

GU

U

111

ARTIGO

Turismo promove o desenvolvimento intersetorial, em função doefeito multiplicador dos investimentos e dos acréscimos da deman-da interna e receptiva. É um elemento importante para o planeja-mento regional ou territorial. Proporciona a geração de rendas parao setor público, representada por impostos diretos e indiretos, inci-dentes sobre a renda total gerada no âmbito do sistema econômicoe estimula o processo de abertura da economia (Nodari, 2007,: 15).

O setor hoteleiro é aquele que possui uma maior aderên-cia em relação às variações sofridas pelo turismo ao tornar-serentável nos momentos em que obtém elevados números deocupação na alta temporada e, por outro lado, passar por gran-des dificuldades nas épocas marcadas pela diminuição dos vi-sitantes. Outra importante característica do setor hoteleiro é ocontingente de empregos gerados, pois um quarto de hotelconstruído gera de 0,4 a 2 empregos diretos, sendo os hotéisde luxo aqueles que geram o maior número de postos de traba-lho por unidade disponível (Beni, 2003). Logo, é possível afir-mar a importância do turismo para a realidade local, já que

o impacto causado sobre a renda auferida é maior que sua somainicial, pois cada unidade recebida resulta em várias transações.Pode-se exemplificar com a construção de um hotel, onde, desde aconstrução até o início das atividades há uma movimentação finan-ceira, além de a cidade oferecer estrutura para atender as necessida-des geradas, assim o valor gasto pelo turista não é só com a hospeda-gem. De acordo com a ACIFI (Associação Comercial e Industrial deFoz do Iguaçu), no ano de 2000, a atividade turística no município,representou 65% da economia refletindo a importância deste seg-mento econômico para a cidade e, considerando a falta de indústri-as, pode-se ter uma idéia do que representa a hotelaria para a eco-nomia do município, pois se deve levar em conta que nesta regiãoestá instalado, atualmente, segundo dados da Secretaria Municipalde Turismo – 2005, um total de 134 hotéis em funcionamento nacidade (Prates, 2006:. 77).

Entretanto, não é possível analisar o amplo setor turísticoe hoteleiro de Foz do Iguaçu desvinculando-o de um conjuntode práticas sociais que ocorrem de maneira explícita, emborade forma não regulamentada ou oficial. Ao mesmo tempo emque esse ramo econômico é responsável por 6,2% do PIB mu-nicipal e exerce poder político significativo nas decisões gover-namentais, constata-se uma imensa rede de trabalhadores ocu-pados e explorados nas mais diferentes atividades existentesdentro do setor. São trabalhadores que atuam em pequenos

EXPANSÃO DO CAPITAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: FOZ DO IGUAÇUENTRE O LEGAL E O ILEGAL

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

Ideação

vvvv v . 1

2

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tre

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10RRRR R

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA D

OD

OD

OD

OD

O C C C C C

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO D

ED

ED

ED

ED

E E E E E E

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

O EEEE E

L L L L LET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

S D

AD

AD

AD

AD

A U U U U U

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

E -

C -

C -

C -

C -

CA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

S D

ED

ED

ED

ED

E F F F F F

OZ

OZ

OZ

OZ

OZ D

OD

OD

OD

OD

O I I I I I

GU

UG

UA

ÇU

GU

UG

UA

ÇU

GU

UIdeação

112

ARTIGO

hotéis e pensões pertencentes a famílias, piranhas5 responsá-veis informais pela recepção e divulgação dos hotéis e dos atra-tivos turísticos da região, além de hotéis credenciados que osmantêm possuem como único objetivo armazenar mercadori-as contrabandeadas do Paraguai, alimentando uma infinidadede práticas supostamente não-oficiais articuladas ao mercadoturístico. Em outras palavras, o desenvolvimento regional atra-vés deste setor da economia coexiste com práticas subterrâne-as que também são garantidoras de renda ou da simples sobre-vivência de muitos homens e mulheres.

3 – Desenvolvimento turístico e os mundos do traba-lho.

O crescimento gradativo do número de turistas na re-gião é fundamental para a manutenção da rede hoteleira domunicípio de Foz do Iguaçu e, consequentemente, para a cir-culação de capital. Entretanto, este suposto desenvolvimentoocorre de maneira dependente a uma ampliação do processode exploração dos trabalhadores, com o aumento do tempo detrabalho e a manutenção de baixos salários. Acompanhandoesse mesmo processo, constata-se a existência de atividades ir-regulares vinculadas aos setores analisados, como os denomi-nados piranhas e os hotéis armazéns. Embora ambas as ativida-des sejam ilegais e estigmatizadas, elas são fundamentais nalogística de recepção dos turistas não agenciados e na manu-tenção dos hotéis não enquadrados nas classificações da Asso-ciação Brasileira da Indústria de Hotéis

Como demonstra Santos (2009):visível na paisagem urbana, o parque hoteleiro de Foz do Iguaçucom mais de 150 empreendimentos, das diferentes categorias e ser-viços, sugere uma pré-definição do mercado, tanto na profissionali-zação quanto nas demais empresas ou abastecimento dessa cadeiaprodutiva. Um dos problemas pré-estabelecidos por essa cadeia pro-dutiva é o fato de a maior parte desta hotelaria ser de característicafamiliar, ou seja, estabelecendo menor exigência profissional, combaixas expectativas de ascensão na carreira, diferente das redes ebandeiras hoteleiras, estas que só tiveram acesso ao parque empre-sarial iguaçuense há pouco mais de 6 anos, podendo num futuro

5 Piranha é a categoria utilizada na região da fronteira para denominar os agentes dehotéis e turismo autônomos. O piranha é considerado um “agente” por venderequipamentos e atrativos turísticos nos portões de entrada e em pontos estraté-gicos da cidade (Santos, 2009).

Eric Gustavo Cardin10

1-11

710

1-11

710

1-11

710

1-11

710

1-11

7

Ideação

vvvv v . 1

2

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tre

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10RRRR R

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA D

OD

OD

OD

OD

O C C C C C

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO D

ED

ED

ED

ED

E E E E E E

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

O EEEE E

L L L L LET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

S D

AD

AD

AD

AD

A U U U U U

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

E -

C -

C -

C -

C -

CA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

S D

ED

ED

ED

ED

E F F F F F

OZ

OZ

OZ

OZ

OZ D

OD

OD

OD

OD

O I I I I I

GU

UG

UA

ÇU

GU

UG

UA

ÇU

GU

U

113

ARTIGO

moderar este impacto estabelecendo um número menor de empre-gos, mas criando trabalhos com especialidade e maior tecnologia,redução direta do posto pela economia no processo. Este alto nú-mero de hotelaria familiar auxilia na formação da informalidade,através de ideologias e/ou práticas visíveis a todos, seja na frente doshotéis com vendedores ambulantes e produtos pirateados ou comis-sionados a exemplo dos guias “piranhas” que ficam em locais estra-tégicos da cidade para abordar os turistas e visitantes, mas são finan-ciados por essa rede de hotéis de gestão familiar (Santos, 2009, s/p).

Neste contexto, existem três questões que merecem aten-ção: 1) o alto número de trabalhadores informais atuando nosetor turístico; 2) a baixa remuneração e os horários de traba-lho existentes no setor e; 3) a funcionalidade de parte do setorhoteleiro de Foz do Iguaçu. Sobre este último aspecto, obser-va-se que a variação nos números referentes aos meios de hos-pedagem no município reflete, em grande medida, os vínculosexistentes entre o lado público do processo de acumulação decapital e aquele mais obscuro e menos explicitado. O gráfico01 apresenta as oscilações no setor hoteleiro entre os anos de1990 e 2006, cobrindo assim o período caracterizado ou mar-cado pelo ápice do comprismo em Ciudad Del Este, como tam-bém a época de sua decadência.Gráfico 01 - Evolução dos Meios de Hospedagem emFoz do Iguaçu

Os picos de desenvolvimento dos meios de hospedagem

EXPANSÃO DO CAPITAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: FOZ DO IGUAÇUENTRE O LEGAL E O ILEGAL

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

Ideação

vvvv v . 1

2

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tre

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10RRRR R

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA D

OD

OD

OD

OD

O C C C C C

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO D

ED

ED

ED

ED

E E E E E E

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

O EEEE E

L L L L LET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

S D

AD

AD

AD

AD

A U U U U U

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

E -

C -

C -

C -

C -

CA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

S D

ED

ED

ED

ED

E F F F F F

OZ

OZ

OZ

OZ

OZ D

OD

OD

OD

OD

O I I I I I

GU

UG

UA

ÇU

GU

UG

UA

ÇU

GU

UIdeação

114

ARTIGO

durante a década de 1990 acompanham o aumento na quan-tia de sacoleiros e laranjas que trabalhavam na região fronteiriçano mesmo período. Como será aprofundado no próximo capí-tulo, muitos hotéis e pousadas surgiram nesta época para servi-rem exclusivamente como locais de estocagem de mercadoriasoriundas do Paraguai. Como os trabalhadores conseguiam atra-vessar poucas mercadorias de uma única vez através da Ponteda Amizade, eles alugavam quartos nos hotéis próximos da fron-teira para irem alojando os produtos comprados até atingiremas metas estabelecidas, que podiam ser listas de encomendasou um número determinado de mercadorias que garantiria arentabilidade esperada pelo sacoleiro. Após estocarem umaquantia significativa transferiam todas as mercadorias para osveículos de transporte que seriam utilizados para levar as“muambas” até o seu destino final.

Neste período, muitos dos hotéis credenciados, princi-palmente aqueles assinalados como “sem categoria”,correspondiam a verdadeiros galpões de armazenagem. A suafunção primeira não era exatamente prover a hospedagem,embora isso chegasse a ser realizado, mas servir como aparelhoestratégico para o desenvolvimento do circuito sacoleiro. Con-tudo, a partir do ano de 2001, a Polícia e a Receita FederalBrasileira iniciaram um trabalho sistemático para acabar como contrabando e o descaminho, baseando-se em duas formasde atuação: a fiscalização dos hotéis próximos à fronteira como Paraguai e a apreensão dos ônibus utilizados para o transpor-te das mercadorias. Estas ações minaram a estrutura de funcio-namento do circuito, exigindo mudanças na forma de trabalhoe dificultando a manutenção de muitos hotéis, como é possívelde ser observado através do gráfico 01.

A dificuldade de manutenção dos pequenos empreendi-mentos, como os inúmeros hotéis e restaurantes localizados nasproximidades da Ponte da Amizade, que além de cumpriremsuas funções também serviam de locais de estocagem de mer-cadorias, e a pouca absorção do mercado de trabalho local sãoaspectos garantidores de um alto índice de informalidade naregião. Concretamente, observa-se a existência de uma imensamassa populacional excluída das formas regulamentadas de tra-balho formal desenvolvendo as mais variadas ocupações nabusca pela sobrevivência, de atividades relacionadas ao circui-to sacoleiro à prestação de serviços ao setor turístico e hotelei-

Eric Gustavo Cardin10

1-11

710

1-11

710

1-11

710

1-11

710

1-11

7

Ideação

vvvv v . 1

2

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tre

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10RRRR R

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA D

OD

OD

OD

OD

O C C C C C

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO D

ED

ED

ED

ED

E E E E E E

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

O EEEE E

L L L L LET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

S D

AD

AD

AD

AD

A U U U U U

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

E -

C -

C -

C -

C -

CA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

S D

ED

ED

ED

ED

E F F F F F

OZ

OZ

OZ

OZ

OZ D

OD

OD

OD

OD

O I I I I I

GU

UG

UA

ÇU

GU

UG

UA

ÇU

GU

U

115

ARTIGO

ro. Como foi observado outro momento, apenas no municípiode Foz do Iguaçu, 40,23% da população economicamente ati-va encontra-se na informalidade (Cardin, 2009c, p. 8).

Os piranhas, por exemplo, possuem um papel central nosistema turístico da região. Tendo em vista que aproximada-mente 80% dos turistas não chegam a Foz do Iguaçu através deagências especializadas, cabe a estes trabalhadores fazerem asabordagens nos portões de entrada da cidade, apresentando evendendo os seus meios de hospedagem e os seus atrativos tu-rísticos. Assim, eles podem ser considerados responsáveis pelarecepção e pelo primeiro contato com os visitantes. No entan-to, desconsiderando a centralidade da ocupação, tais trabalha-dores, por não serem oficialmente regulamentados, não po-dem efetuar o pagamento do Imposto Sobre Serviços de Qual-quer Natureza (ISSQN) e nem terem acesso à assistência social.Fica explícita a contradição, pois ao mesmo tempo que eles sãoauxiliares diretos no processo de acumulação de capital no se-tor turístico e hoteleiro, eles também são não absorvidos pelomercado de trabalho formal ao desempenharem seus serviçosde maneira precária e irregular.

Esta categoria de trabalhadores encontra-se organizadaem uma associação que regulamenta algumas práticas, como onúmero mínimo de dias trabalhados por semana, e normatizaos instrumentos de identificação, como os coletes utilizadosdurante o trabalho e o material impresso disponibilizado aosvisitantes. Além disso, também é responsável pelos convêniosestabelecidos com os hotéis, fato que determina quais os pro-dutos que podem ser ofertados durante as abordagens. O pira-nha, durante sua prática de trabalho, recepciona o turista, apre-senta e oferece as possibilidades de hospedagem, acompanhao cliente até o local escolhido e recebe um voucher do estabe-lecimento, ou seja, um pagamento pelo serviço prestado. Des-ta comissão recebida, 5% fica com a associação para garantir amanutenção da instituição e o restante com o trabalhador, lem-brando que a associação não é responsável pela seguridadesocial ou pela assistência social deste.

Segundo Santos (2009), 51% destes trabalhadores possu-em apenas o ensino fundamental e uma renda média de atédois salários mínimos durante a baixa temporada e de oito sa-lários durante a alta, o que corresponde mais exatamente aosperíodos de férias escolares e aos feriados prolongados. Entre-

EXPANSÃO DO CAPITAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: FOZ DO IGUAÇUENTRE O LEGAL E O ILEGAL

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

Ideação

vvvv v . 1

2

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tre

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10RRRR R

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA D

OD

OD

OD

OD

O C C C C C

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO D

ED

ED

ED

ED

E E E E E E

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

O EEEE E

L L L L LET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

S D

AD

AD

AD

AD

A U U U U U

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

E -

C -

C -

C -

C -

CA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

S D

ED

ED

ED

ED

E F F F F F

OZ

OZ

OZ

OZ

OZ D

OD

OD

OD

OD

O I I I I I

GU

UG

UA

ÇU

GU

UG

UA

ÇU

GU

UIdeação

116

ARTIGO

tanto, a rentabilidade depende diretamente do trabalhador, poiseste não tem salário fixo e recebe exclusivamente por comis-são. Esta situação faz com que a carga horária de trabalho cum-prida pelos piranhas seja muito alta, aproximando-se a dozehoras diárias. A associação da categoria estabelece um númeromínimo de dias trabalhados por semana, mas não determina oteto máximo. Para encerrar, constata-se que 50% deles ingres-saram na atividade por falta de outras oportunidades de traba-lho da região e na mesma porcentagem ainda desejam serecolocar no mercado em ocupações mais estáveis.

Enfim, as observações permitem afirmar que a expansãodo capital em direção a fronteira oeste brasileira é associada auma própria flexibilização da categoria fronteira. Neste senti-do, o desenvolvimento do setor turístico na região está associ-ado às facilidades de fluxo de pessoas, mercadorias e capitaisem uma fronteira que, embora estabeleça limites físicos, não seapresenta como um grande empecilho para a circulação decapital. Indo além, a categoria fronteira também édesconsiderada quando a utilizamos para estabelecer defini-ções para as supostas dualidades que marcam a vida cotidiana.No processo de expansão incontrolável do capital o legal e oilegal misturam-se em único processo enquanto o trabalho for-mal é dependente de funções desempenhadas por trabalhado-res informais, garantindo assim um desenvolvimento expostoem números oficiais sustentados em pilares cravados em solosde areia.

4 – REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

AMARAL, Arthur Bernardes do. A Tríplice Fronteira e a Guerra aoTerror. Rio de Janeiro: Apicuri, 2010.

BENI, Mário Carlos. Globalização do Turismo. São Paulo: Aleph,2003.

CARDIN, Eric Gustavo. O Novo Mundo do Trabalho e o Perfil dosTrabalhadores Informais de Foz do Iguaçu (2002 - 2007) . In: CARDIN,Eric Gustavo; DEBALD, Blasius; SOUZA, Keila Rodrigues de. Região& Desenvolvimento: Estudos Temáticos Sobre o Extremo Oestedo Paraná. Foz do Iguaçu: UNIAMÉRICA, 2009. PP. 07 – 26.

DREYFUS, Pablo. La Triple Frontera. Zona de encuentro e desencuentros.In: HOFMEISTER, Francisco Rojas; SOLIS, Luis Guilhermo (orgs.). La

Eric Gustavo Cardin10

1-11

710

1-11

710

1-11

710

1-11

710

1-11

7

Ideação

vvvv v . 1

2

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tr.

12

1

p

.

1

º se

mes

tre

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10e

de

20

10RRRR R

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA

EVIS

TA D

OD

OD

OD

OD

O C C C C C

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO

ENT

RO D

ED

ED

ED

ED

E E E E E E

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

OD

UC

ÃO

DU

CA

ÇÃ

O EEEE E

L L L L LET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

SET

RA

S D

AD

AD

AD

AD

A U U U U U

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

EN

IOES

TE

NIO

EST

E -

C -

C -

C -

C -

CA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

SA

MPU

S D

ED

ED

ED

ED

E F F F F F

OZ

OZ

OZ

OZ

OZ D

OD

OD

OD

OD

O I I I I I

GU

UG

UA

ÇU

GU

UG

UA

ÇU

GU

U

117

ARTIGO

EXPANSÃO DO CAPITAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: FOZ DO IGUAÇUENTRE O LEGAL E O ILEGAL

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

101-

117

percepción de Brasil en el contexto internacional: perspectivas ydesafios. Rio de Janeiro: Konrad-Adenauer-Stiftung, 2007. P. 105 –133.

NODARI, Maria Zeneide Ricardi. As Contribuições do Turismo paraa Economia de Foz do Iguaçu. Dissertação (Mestrado emDesenvolvimento Econômico). Curitiba: UFPR, 2007.

PRADO, Fábio Haugge. Grupos de Pressão: Teoria e Prática - OCaso Foz do Iguaçu. Dissertação (Mestrado em Engenharia deProdução). Florianópolis: UFSC, 2003.

SANTOS, Deivid Rossotti. A Informalidade como Determinante doDesenvolvimento Turístico: Lado B e Lado A do Fenômeno. In: Anaisdo III Fórum Internacional de Turismo do Iguassu. Foz do Iguaçu,2009.