Cartografia no século 21: revisitando conceitos e definições
Estudo de Conceitos de F´ısica Térmica utilizando um ...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SAO CARLOS
CAMPUS SOROCABA
CENTRO DE CIENCIAS E TECNOLOGIAS PARA A SUSTENTABILIDADE
DEPARTAMENTO DE FISICA, QUIMICA E MATEMATICA
Estudo de Conceitos de Fısica Termica utilizandoum Simulador Mecanico
Wesley Moura Boracchi Cristino
UFSCar - Sorocaba
Outubro/2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SAO CARLOS
CAMPUS SOROCABA
CENTRO DE CIENCIAS E TECNOLOGIAS PARA A SUSTENTABILIDADE
DEPARTAMENTO DE FISICA, QUIMICA E MATEMATICA
Estudo de Conceitos de Fısica Termica utilizandoum Simulador Mecanico
Wesley Moura Boracchi Cristino
Trabalho de Conclusao de Curso apresentado
ao curso de Licenciatura Plena em Fısica da
Universidade Federal de Sao Carlos, campus
Sorocaba, para obtencao do tıtulo de Licenciado
em Fısica.
Orientacao: Prof. Dr. James Alves de Souza
UFSCar - Sorocaba
Outubro/2018
Agradecimentos
Agradeco a Deus por essa primeira etapa concluıda em minha carreira
profissional e por ter me ajudado em todos os momentos da vida. A Ele toda
honra e minha eterna gratidao.
Agradeco ao Prof. Dr. James Alves de Souza por ter me orientado neste
projeto demorado, sempre me motivando e apoiando mesmo nos momentos mais
crıticos de minha formacao. Sua enorme paciencia, cooperacao, mente inovadora
e empolgadora foram essenciais para a viabilizacao deste trabalho. A ele meu
profundo agradecimento e enorme carinho, muito obrigado professor!
A minha famılia que sempre me incentivou e apoiou em todos os anos
de minha graduacao. Ao meu pai Hugo Boracchi Cristino e mae Noemia Costa
Moura Cristino, pela liberdade, amor e apoio incondicional aos meus estudos. Ao
meu irmao Willian de Moura Boracchi que sempre me ajudou, mesmo em seu
pior momento de vida. A minha amada cunhada e eterna jovem Lucinei A. C.
L. Boracchi, que sempre elogiou o projeto, a qual partiu deixando saudades, e a
quem dedico este trabalho.
Agradeco aos meus amigos e a todos meus professores, por todo o ca-
rinho, conhecimento partilhado, conselhos e todas as experiencias universitarias
convividas em todos esses anos.
A minha futura, com amor.
Sumario
1 Introducao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1 Problema de Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2 Hipotese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.3 Objetivos Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.4 Objetivos Especıficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.5 Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2 Referencial Teorico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.1 Ensino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.1.1 Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel . . . . . 9
2.1.2 Fısica Termica no Ensino Medio: Proposta Curricular do
Estado de Sao Paulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3 Fısica Termica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.1 Termodinamica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.1.1 Gas Ideal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3.1.2 Lei de Boyle-Mariotte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.1.3 Lei de Charles . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.1.4 Lei de Gay-Lussac . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.1.5 Obtencao da Equacao de Estado Termica dos Gases Ideais 19
4
3.1.6 Primeira Lei da Termodinamica . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.1.7 Segunda Lei da Termodinamica . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.2 Teoria Cinetica dos Gases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.2.1 Calculo Cinetico da Pressao . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.2.2 Energia Cinetica Media de Translacao . . . . . . . . . . . 38
3.2.3 Livre Percurso Medio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.2.4 Movimento Browniano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.3 Mecanica Estatıstica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.3.1 O Problema do Passeio Aleatorio . . . . . . . . . . . . . . 44
3.3.2 Microestado de um Sistema, Espaco de Fase e Entropia . . 47
4 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.1 O Simulador e o Analogo Mecanico de um Gas Real . . . . . . . . 51
4.2 Construcao do Simulador Mecanico . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.2.1 Motor e Engrenagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.2.2 Pistao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.2.3 Manivela e Pivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.2.4 Cilindro de vidro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.2.5 Base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.2.6 Esferas e embolos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.2.7 Bases Especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4.2.8 Circuito Eletrico do Simulador Mecanico . . . . . . . . . . 62
4.2.9 Montagem Final . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
5 Simulacoes e Analise dos Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . 67
5.1 Simulacao da Lei de Boyle-Mariotte . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
5.2 Simulacao da Lei de Charles . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
5.3 Simulacao da Lei de Gay-Lussac . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
5.4 Simulacao da Primeira Lei da Termodinamica . . . . . . . . . . . 80
5.5 Simulacao da Segunda Lei da Termodinamica . . . . . . . . . . . 84
5.6 Simulacao da Expansao Livre de um Gas . . . . . . . . . . . . . . 91
5.7 Simulacao da Mistura de Dois Gases . . . . . . . . . . . . . . . . 93
5.8 Simulacao da Evaporacao de um Perfume . . . . . . . . . . . . . 97
5.9 Simulacao do Problema do Passeio Aleatorio . . . . . . . . . . . 100
5.10 Simulacao do Livre Percurso Medio . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
5.11 Simulacao do Movimento Browniano . . . . . . . . . . . . . . . . 106
6 Consideracoes Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
Referencias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
Resumo
Nesta monografia apresentamos a proposta e os resultados obtidos de
onze simulacoes mecanicas, idealizadas para que sejam empregadas no estudo
didatico de conceitos de Fısica Termica para o Ensino Medio. Para tanto,
construımos um simulador mecanico composto por um cilindro de vidro trans-
parente disposto verticalmente, contendo pequenas esferas plasticas em seu in-
terior. Cada esfera representa uma partıcula (atomo ou molecula) de um gas
ideal. As esferas foram colocadas em movimento, em uma especie de agitacao
termica, atraves de um pistao acoplado a um motor eletrico. A ideia central
desenvolvida foi a representacao de caracterısticas microscopicas de processos
termicos, cujos efeitos se manifestam no estado macroscopico do sistema fısico
representado. Nestas simulacoes demonstramos as causas e relacoes microscopicas
que explicam as Leis de Boyle-Mariotte, de Charles, de Gay-Lussac, da Primeira e
Segunda Leis da Termodinamica. Demonstramos tambem o carater probabilıstico
de processos irreversıveis, como a expansao livre de um gas e a mistura de
dois gases diferentes. Adicionalmente, foi possıvel descrever o significado de
livre percurso medio, simular o problema do caminho aleatorio e a origem do
movimento browniano. A descricao mecanica quantitativa realizada, aliada a
potencial capacidade de vizualizacao dos fenomenos simulados, pode permitir
uma abordagem mais dinamica e compreensiva dos conceitos de Fısica Termica,
contribuindo como ferramenta facilitadora no processo de ensino-aprendizagem,
alem de poder promover uma aprendizagem mais significativa.
Palavras-chave: Ensino de Fısica Termica, simulacao no ensino de Fısica, leis dos
gases ideais, leis da Termodinamica, Teoria cinetica dos gases, mecanica estatıstica.
i
Abstract
In this work we present a proposal of a mechanical device constructed
and designed to simulate several experiments in the area of Thermal Physics,
for didactic use in High School. The central idea is to represent the microscopic
characteristics of thermal processes, in which its effects are manifested in the
macroscopic state of the represented physical system. In this way, we also
inserted some concepts related to Statistical Mechanics to be introduced in the
Physics classes. In this work we conducted eleven simulations carried out in
a single apparatus, where we demonstrate the causes and microscopic relations
to explain the Laws of Boyle-Mariotte, Charles, Gay-Lussac, First and Second
Laws of Thermodynamics. The probabilistic feature of irreversible processes, such
as the free expansion and the mixture of gases, was also demonstrated. With
our mechanical simulator we were able to discuss the meaning of the mean free
path, to present the problem of the random walk and the cause of the Brownian
motion. Additionally to the visual analogy, we measured some properties in
the representative mechanical system, which led to interesting results similar
to those obtained for real gases, such as the adiabatic curve and the absolute
zero prediction. The quantitative mechanical description along with a potential
visualization of simulated microscopic phenomena allow a more dynamical and
comprehensive approach to Thermal Physics concepts. It can also contribute to
facilitate the teaching-learning process promoting a more meaningful learning.
Keywords: Teaching of Thermal Physics, simulation in physics teaching, ideal gas
laws, laws of thermodynamics, kinetic theory of gases, statistical mechanics.
ii
Lista de Figuras
3.1 Diagrama da pressao P em funcao do volume V de um gas ideal
mostrando duas isotermas de Boyle para diferentes temperaturas
T1 e T2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.2 Diagrama V× T da lei de Charles para tres diferentes pressoes. . 18
3.3 Diagrama P×V apresentando os processos isotermico, de A a B, e
isobarico, de B a C, para a obtencao da equacao de estado termica
de um gas ideal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.4 Partıcula de massa m se movendo em uma dimensao sujeita a uma
forca ~F partindo de um estado inicial na posicao x1 seguindo ate
o estado final em x2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.5 Colisao de uma unica molecula com velocidade v com um pistao
preso a uma mola. A componente em x da velocidade da molecula
e invertida de vx1 para −vx1 enquanto que a componente em y, vy1,
permanece a mesma antes e depois da colisao. . . . . . . . . . . . 35
3.6 .(a) Trajetoria tıpica de uma molecula de um gas, cırculo fechado,
colidindo com as moleculas de outro gas, cırculos abertos. (b) A
colisao entre duas moleculas ocorre quando os centros das mesmas
se aproximam de uma distancia d. (c) O mesmo numero de colisoes
de qualquer molecula seria observado se o diametro da molecula
fosse aumentado de 2d. Neste caso todas as outras moleculas
seriam reduzidas a pontos geometricos. . . . . . . . . . . . . . . . 40
iii
Lista de Figuras iv
3.7 Trajetoria aleatoria de uma partıcula que realiza movimento brow-
niano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.8 Deslocamento de uma partıcula em uma dimensao, eixo x, a partir
de uma origem arbitraria O para ilustrar o problema do passeio
aleatorio ou passeio do bebado. A partıcula pode se deslocar para
direita ou para esquerda dando saltos sempre do mesmo compri-
mento l. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.1 Representacao do simulador mecanico com seus principais elementos. 51
4.2 Conjunto formado pelo motor e volante (peca destacada). A cor-
reia mostrada a esquerda e posteriormente acoplada ao eixo do
motor, transferindo o movimento a volante. . . . . . . . . . . . . . 54
4.3 (a) Coletor universal de amostras utilizado como pistao. (b) Peca
em forma de disco (em destaque) para apoio do CD/DVD no leitor
do DVD player e (c) e mostrado o pistao com o suporte. . . . . . 55
4.4 Montagem da manivela. A esquerda mostramos as dimensoes do
palito de sorvete cortado, no centro a manivela pronta com furos e
a direita e mostrado o parafuso utilizado como pivo e suas dimensoes. 55
4.5 Articulacao da manivela atraves dos pivos, monstrando em (a) o
pivo fixado a volante e em (b) o pivo fixado ao suporte do pistao.
(c) Conjunto Motor-manivela-pistao pronto. . . . . . . . . . . . . 56
4.6 Cilindro de vidro utilizado como recipiente do gas de esferas na
montagem do simulador mecanico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.7 Pecas em madeira tipo MDF utilizadas para a confeccao da base
do simulador mecanico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.8 Amplificacao da figura 4.7(d), mostrando as dimensoes dos furos
para a construcao do painel do dispositivo. . . . . . . . . . . . . . 58
4.9 Base montada sem o painel. A esquerda apresentamos a vista
lateral da base e a direita sua vista frontal, mostrando o seu interior
e os furos realizados na parte de tras da mesma. . . . . . . . . . . 58
Lista de Figuras v
4.10 A esquerda mostramos o calco, feito de palitos de sorvete, utilizado
para a fixacao do motor na base. A direita e apresentado o motor
fixo a base. Note que o cilindro de vidro foi utilizado para sustentar
o pistao na posicao vertical. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.11 A esquerda mostramos as esferas plasticas utilizadas para repre-
sentar as moleculas do gas nas simulacoes e a direita o conjunto do
embolo, mostrando da esquerda para a direita o embolo, a cruz e
o extensor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.12 (a) Base do tipo grade linear para a simulacao do problema do
caminho aleatorio. Cada posicao da grade foi numerada como -2,
-1, 0, 1, 2, da esquerda para a direita. (b) Base do tipo grade com
9 celulas numeradas dispostas em uma configuracao 3 × 3 para a
simulacao da Segunda Lei da Termodinamica. (c) Base do tipo
recipiente confeccionada para as simulacoes da mistura entre dois
gases e expansao livre de um gas. (d) Base tipo frasco com tampa
para a simulacao da evaporacao de um perfume. . . . . . . . . . . 62
4.13 Circuito eletrico montado para realizar o controle do aparelho
simulador mecanico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.14 Painel com as chaves e botoes de comando. . . . . . . . . . . . . . 64
4.15 Simulador mecanico completamente montado e pronto para fun-
cionar. Do lado direito tem-se a fonte de tensao selecionada na
posicao de 15 V. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.16 Tampa tipo lupa para a simulacao do movimento browniano. A
esfera mostrada representara uma partıcula de polen. . . . . . . . 65
4.17 Aparelho simulador e todos os acessorios confeccionados. O con-
junto sera capaz de simular e estudar diversos fenomenos na area
de Fısica Termica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Lista de Figuras vi
5.1 O aumento da pressao mecanica no gas de esferas se da pela adicao
dos discos sobre o embolo, fazendo com que o volume mecanico di-
minua. Note no interior da caixa de vidro a direita, uma regua gra-
duada utilizada para facilitar na determinacao do volume mecanico
do sistema a medida que PM varia. . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.2 Grafico da pressao mecanica PM em funcao do volume mecanico
VM obtido dos dados da Tabela 5.2. A curva vertical pontilhada
tracejada corresponde ao valor mınimo VM0 do gas de esferas. As
isotermas mecanicas de Clausius de TM1 a TM11 correspondem a
temperaturas diferentes, ou seja, k (TMi), para i = 1, 2, . . . , 11,
diferentes e TM11 > TM1. A curva solida preta e uma adiabatica
do tipo apresentado na eq.(5.4). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
5.3 Grafico de PM vs VM mostrando uma adiabatica, curva solida
preta, ajustada nos pontos obtidos com o nosso simulador para
k = 1, 4 × 10−11 J e γM = 3, em comparacao com duas outras
adiabaticas para γM = 1, 66 (curva tracejada pontilhada azul) e
1, 4 (curva tracejada vermelha), em analogia a gases ideais mo-
noatomicos e diatomicos, respectivamente. . . . . . . . . . . . . . 74
5.4 Altura do embolo h em funcao da posicao angular do potenciometro
θ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
5.5 Energia cinetica media calculada em funcao do volume mecanico
obtido na simulacao da transformacao isobarica. . . . . . . . . . . 78
5.6 Quantidade de discos n introduzidas no eixo do embolo em funcao
da posicao angular do potenciometro θ para simulacao de uma
transformacao isocorica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
5.7 Energia cinetica media em funcao da pressao mecanica. Os pontos
foram obtidos na simulacao de um processo isocorico. . . . . . . . 81
Lista de Figuras vii
5.8 Grafico de UM , calculados pela teoria cinetica dos gases, em funcao
do produto PMVM medidos na simulacao. A curva solida vermelha
e o ajuste linear dos pontos obtidos na simulacao. O coeficiente
angular da reta e dado por α = 0, 0599± 0, 0003. . . . . . . . . . 82
5.9 Variacao da energia mecanica ∆UM devido ao aumento da posicao
angular θ do potenciometro. A curva solida vermelha mostra o
ajuste linear dos pontos. Seu coeficiente angular e da ordem de 10−7. 84
5.10 Base tipo grade 3 × 3 mostrando uma das configuracoes possıveis
que o sistema pode assumir para duas esferas. O anagrama asso-
ciado a esta configuracao e dado por EVVVEVVVV, sendo E a
celula que contem uma esfera e V uma celula vazia. A sequencia
do anagrama e obtido pela numeracao das celulas apresentada na
figura 4.12(b). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
5.11 Probabilidade de ocorrencia de macrovalores para 2 esferas na
grade 3× 3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
5.12 Probabilidade de ocorrencia de macrovalores para 3 esferas na
grade 3× 3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
5.13 Esferas ocupando inicialmente uma unica cavidade do recipiente
para simular a expansao livre de um gas. . . . . . . . . . . . . . . 92
5.14 Probabilidade de retorno das esferas apos espalhamento no recipiente. 94
5.15 Base tipo recipiente mostrando dois conjuntos de esferas de cores
diferentes dispostos separadamente, um em cada cavidade, para si-
mular a mistura irreversıvel de dois gases durante o funcionamento
do simulador mecanico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
5.16 Probabilidade de separacao espontanea das esferas. . . . . . . . . 96
5.17 Frasco contendo as esferas verdes representando o perfume e o ar
do quarto sendo representado pelas esferas azuis. . . . . . . . . . . 98
5.18 Apos varias agitacoes as moleculas de ar e de perfume ficam total-
mente misturadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
Lista de Figuras viii
5.19 Mesmo apos muitas agitacoes, as moleculas de ar e de perfume
tendem a permanecer misturadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
5.20 Posicao inicial da esfera para simular o problema do passeio aleatorio.101
5.21 Probabilidade de se encontrar a esfera em cada uma das posicoes
m = −2,−1, 0, 1, 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
5.22 Percurso livre medio em funcao do tempo decorrido entre colisoes
para diferentes numeros de esferas. . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
5.23 Simulacao do movimento browniano observado para uma partıcula
suspensa, grao de polen, ao colidir com moleculas de agua, esferas
azuis em movimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
Capıtulo 1
Introducao
A Fısica mesmo enquanto disciplina escolar aborda os mais variados
assuntos. Podemos incluir desde temas relacionados aos fenomenos atomicos,
na escala microscopica da materia, ate temas relacionados aos gigantescos astros
abordados pela astronomia. Essa variedade de assuntos pode tornar a fısica esco-
lar atraente para os estudantes que perceberao, ao longo do tempo, a existencia
de leis fundamentais que regem os mais diversos fenomenos naturais, levando-os
a compreensao dos conceitos mais basicos deste universo harmonioso em que
estamos inseridos [1].
Ao mesmo tempo em que a Fısica escolar pode despertar o interesse pelo
conhecimento e o gosto pela ciencia, a tarefa de lecionar essa disciplina ainda
e permeada por dificuldades, das quais podemos citar a abstracao recorrente
de alguns conceitos que se apoia num ferramental matematico, nem sempre tao
simples de ser ensinado [2]. Outro problema enfrentado e o fato da Fısica lidar
com materiais e diversas situacoes que estao distantes do cotidiano simples dos
estudantes tais como, movimentos planetarios, fenomenos subatomicos, materiais
radioativos, intervalos de tempo muito pequenos ou gigantescos, entre outros.
Uma ferramenta importante no Ensino de Fısica, que complementa a
metodologia da experimentacao, e o emprego de simulacoes [3]. As simulacoes
didaticas sao representacoes que visam ilustrar por analogia fenomenos reais.
A utilizacao de quadro-negro para fazer representacoes ou a apresentacao de
1
1. Introducao 2
fotografias e imagens esquematicas na sala de aula nem sempre e suficiente para
representar da melhor maneira um fenomeno fısico, pois podemos estar interes-
sados na dinamica do mesmo. A simulacao, por outro lado, permite trabalhar a
dinamica de fenomenos de tal forma que o professor pode fazer com que os alunos
tenham uma melhor compreensao.
As simulacoes existem nas mais diversas formas. Essencialmente, elas po-
dem ser mecanicas, onde ha o emprego de uma maquina ou dispositivo que simula
de forma analoga o fenomeno que pretende-se ensinar. Esta pode ser tambem
computacional, em que o professor pode executar um programa de computador
para o tratamento de fenomenos em uma aula demonstrativa ou os alunos podem
interagir com os mesmos atraves de animacoes cujos parametros envolvidos no
sistema fısico, como massa, coeficiente de atrito, forca, energia, entre outros,
podem ser controlados virtualmente por eles. As simulacoes mecanicas, que e
o nosso interesse nesse trabalho, possuem o carater interessante e motivador de
tratar um fenomeno fısico em uma escala diferente daquela do fenomeno real
atraves de analogias. Fenomenos na escala atomica, por exemplo, podem ser
representados por simuladores mecanicos em escala macroscopica, fazendo com
que o tratamento abstrato e completamente matematico do sistema em estudo
ganhe um caracter visual, tornando o tratamento didatico do mesmo um pouco
mais viavel para os alunos, pois eles estarao vendo o que pode, a princıpio, estar
acontecendo entre os atomos constituintes do sistema.
Uma das areas da Fısica que necessita de certo grau de abstracao e
imaginacao e a Fısica Termica, em que sao trabalhados os conceitos de Ter-
modinamica, Teoria Cinetica dos Gases e Mecanica Estatıstica. Nesta area
sao considerados sistemas com um grande numero de partıculas constituintes
se movendo mecanicamente, o que da origem a um novo tipo de movimento
chamado de movimento termico. Este tipo de movimento e caracterizado pela
acao combinada das partıculas constituintes do sistema. Na Termodinamica sao
estudadas propriedades macroscopicas gerais de sistemas em equilıbrio atraves
de duas leis basicas, junto com uma serie de outros resultados experimentais,
enquanto que na Teoria Cinetica dos Gases e na Mecanica Estatıstica sao tratados
modelos moleculares em que o conceito de atomo e necessario. O ensino dos
1. Introducao 3
conceitos da Fısica Termica, sobretudo os relacionados a escala microscopica da
materia, exige certo esforco por parte do professor para fazer com que os alunos
compreendam o comportamento da materia nesta escala e que os relacionem
com os fenomenos macroscopicos. Matematicamente, o sistema mais simples
que se pode trabalhar e aquele constituıdo por um gas ideal. Experimentos em
fısica termica realizados na escola secundaria permitem a verificacao apenas de
grandezas macroscopicas e a compreensao microscopica fica a cargo da imaginacao
dos alunos, impulsionada pelas explicacoes do professor.
Neste trabalho simulamos a acao combinada das partıculas constituintes
de um sistema fısico, particularmente um gas, utilizando um simulador mecanico
que nos permite explicar propriedades macroscopicas a partir do seu compor-
tamento microscopico. Com o nosso dispositivo conseguimos demonstrar quali-
tativamente e quantitativamente varias propriedades e fenomenos termicos que
podem ser tratados em qualquer nıvel de ensino. Isto pode permitir, por exemplo,
que o professor do Ensino Medio nao fique limitado a termometria e calorimetria,
podendo abordar tambem conceitos muito importantes da Termodinamica, Teoria
Cinetica dos Gases e Mecanica Estatıstica, tornando o ensino da Fısica Termica
mais enriquecido e atraente para os alunos desse nıvel de ensino.
No Capıtulo 2 apresentamos a Teoria da Aprendizagem Significatica de
Ausubel e dos temas referentes a Fısica Termica no Ensino Medio, com enfoque
para o currıculo oficial do estado de Sao Paulo. Tambem sao apresentados
neste capıtulo todo o referencial teorico referente as leis dos gases ideais, leis
da Termodinamica e conceitos da Teoria Cinetica dos Gases, como o calculo
cinetico da pressao, o percurso livre medio e o movimento browniano. Tambem
sao abordados conceitos pertencentes a Mecanica Estatıstica, como o problema do
caminho aleatorio, o conceito de microestado de um sistema e o carater estatıstico
da entropia. No Capıtulo 3 apresentamos brevemente alguns detalhes sobre a
construcao do simulador mecanico utilizado e no Capıtulo 4 apresentamos os
resultados obtidos a partir das simulacoes realizadas. No Capıtulo 5 fazemos
nossas consideracoes finais e gerais acerca dos resultados e potencialidades do
dispositivo construıdo.
1. Introducao 4
1.1 Problema de Pesquisa
Existem diversos simuladores no meio educacional que tratam de fenomenos
da Fısica Termica. A maioria deles e computacional e envolve a Teoria Cinetica
dos Gases, como as simulacoes phet, disponibilizadas gratuitamente na internet
pela Universidade do Colorado. Geralmente estes sao compostos por animacoes
que representam os comportamentos naturais de fenomenos de maneira virtual.
Os simuladores computacionais sao importantes ferramentas para o ensino de
Fısica, uma vez que demonstram de maneira dinamica e didatica os conceitos
fısicos envolvidos [3]. Entretanto, algumas simulacoes computacionais utilizam
modelos e equacoes aproximadas que podem limitar a analogia do resultado da
mesma com o fenomeno real que pretende-se estudar, como por exemplo, o nao
tratamento de forcas de atrito presentes no sistema e a influencia da vizinhanca
no mesmo. Ja nos simuladores mecanicos, nos somos obrigados a lidar com tais
influencias, pois e muito difıcil elimina-las ou ate mesmo minimizar os efeitos das
mesmas. Isso pode tornar a analogia mais interessante em termos didaticos, pois
estas influencias tambem estao presentes no fenomeno original. Com o simulador
mecanico podemos tambem minimizar a complexidade do fenomeno original,
fazendo com que os alunos utilizem conceitos previos para o entendimento do
mesmo. A ligacao entre o conhecimento previo e o que se deseja aprender, como
defende David P. Ausubel, contribui para uma aprendizagem significativa [4].
Um simulador mecanico ou uma montagem experimental, pode ser mais
bem aproveitado se for util para a descricao de diversos fenomenos fısicos. Exis-
tem poucos recursos didaticos, como experimentos e simuladores, para o ensino da
Fısica Termica [5], ainda mais se for considerado aqueles em que o tratamento do
atomo se faz necessario. Isso nos motivou a construir o nosso simulador mecanico
para responder a seguinte pergunta de pesquisa: Quais sao as possibilidades
de simulacoes e resultados que podem ser alcancados por um unico simulador
mecanico para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem de conceitos de Fısica
Termica no Ensino Medio? Neste trabalho mostramos que e possıvel descrever
varios fenomenos atraves de analogias criadas que propomos com o simulador
mecanico construıdo, respondendo muito bem a pergunta de pesquisa.
1. Introducao 5
1.2 Hipotese
O simulador mecanico foi concebido para ser utilizado na analogia de
diversos fenomenos diferentes envolvendo, em sua maioria, o comportamento de
gases. Se o fenomeno simulado nao representar de forma adequada o fenomeno
real alvo, perde-se o sentido de sua utilizacao, uma vez que havera prejuızo
na interpretacao dos resultados analisados e as analogias desejaveis nao serao
percebidas. Assim espera-se que seja possıvel representar com suficinte fidelidade
o fenomeno alvo, de modo que os resultados obtidos pela simulacao realizada seja
compatıvel com os resultados experimentais reais.
Espera-se obter a relacao correta entre os fenomenos simulados e os reais,
tanto qualitativamente, atraves da visualizacao dos fenomenos, quanto quantita-
tivamente, a partir dos dados coletados das simulacoes. Nossa proposta vai alem
de apenas obter o analogo do fenomeno real, nos tambem pretendemos prever o
comportamento do sistema real atraves do simulador. Ou seja, apos a modificacao
de uma das variaveis determinantes do fenomeno em estudo, esperamos que o
simulador responda de maneira analoga ao sistema real alvo. Deste modo, a
simulacao sera um procedimento experimental que devera estar em concordancia
com o experimento real e assim, espera-se que expressoes e curvas de graficos
obtidas sejam analogas as teoricas ou equivalentes aos dos experimentos com
gases reais.
Sinteticamente, espera-se que as simulacoes mecanicas sejam complemen-
tares a metodologia da experimentacao, auxiliando a aprendizagem do que se
pretende abordar para tornar mais completo o seu entendimento. Diferente-
mente dos experimentos didaticos reais, as simulacoes mostram diretamente o
comportamento microscopico dos sistemas representados, como se estivessemos
utilizando uma lente de aumento para revelar os constituintes da materia. Por
isso, o emprego do simulador e desejavel mesmo durante a realizacao de um
experimento, pois ele trara uma hipotese plausıvel do que pode estar ocorrendo
no interior “invisıvel” do fenomeno.
1. Introducao 6
1.3 Objetivos Gerais
Propor diferentes simulacoes mecanicas que possam ser empregadas por
professores do Ensino Medio para facilitar a compreensao dos principais conceitos
de Fısica Termica. Visa-se a demonstracao do comportamento microscopico
de um gas ideal para viabilizar a abordagem da Fısica Termica nos assuntos
referentes a Termodinamica, a Teoria Cinetica dos Gases e conceitos introdutorios
de Mecanica Estatıstica, em aulas para o Ensino Medio. Para isso tivemos que
construir um simulador mecanico com capacidade de poder representar, de forma
simples, variados fenomenos relacionados a essas areas de interesse de estudo.
1.4 Objetivos Especıficos
Os objetivos especıficos sao os seguintes:
(a) Analisar os conteudos referentes a Fısica Termica na Proposta Curricular
para o Ensino Medio do Estado de Sao Paulo.
(b) Verificar na literatura o uso de simulacoes no ensino de Fısica Termica e
as teorias de aprendizagem que embasam a proposta do emprego das simulacoes
mecanicas.
(c) Atraves do uso do simulador, descrever os principais conceitos e obter relacoes
matematicas analogas aquelas referentes a Fısica Termica (Termodinamica, Teo-
ria Cinetica dos Gases e Mecanica Estatıstica).
(d) Construir e descrever a montagem do simulador mecanico a partir de mate-
riais de relativo baixo custo.
(e) Utilizar o simulador mecanico para simular a Lei de Boyle-Mariotte, a Lei
de Charles e a Lei de Gay-Lussac, trabalhar a Primeira e Segunda Leis da
Termodinamica, a expansao livre de um gas, a mistura entre dois gases e o caso
da evaporacao de um perfume no ar, simular o problema do caminho aleatorio, o
movimento browniano e o percurso livre medio.
(f) Analisar os resultados das simulacoes e as potencialidades de seus empregos
1. Introducao 7
no ensino e as limitacoes do simulador mecanico construıdo.
1.5 Justificativa
As simulacoes propostas perpassam pelos conceitos centrais da Fısica
Termica, logo se tornam muito interessantes de serem implementadas como re-
curso introdutorio ou complementar as aulas de Fısica no Ensino Medio. Como o
intuito dessas simulacoes e tornar mais compreensıveis os fenomenos, o emprego
delas pode facilitar e melhorar o processo de ensino-aprendizagem. Essa area
requer abstracao e a utilizacao de simulacoes mecanicas pode facilitar a compre-
ensao de conceitos importantes, ao mesmo tempo em que confere maior significado
e compreensao das equacoes matematicas envolvidas. Para o professor, trata-se
de uma possibilidade de facilitacao de seu trabalho.
Assim, com um unico dispositivo construıdo, e possıvel abordar uma
gama de conceitos pertinentes. O simulador construıdo pode ser utilizado em
varias aulas para diferentes turmas, pois se este for bem construıdo e manipulado
de maneira adequada, podera ser utilizado ao longo de alguns anos.
Capıtulo 2
Referencial Teorico
A Fısica Termica, em especial a Termodinamica, consolidou-se como uma
das mais importantes areas da Fısica, recebendo merecido destaque ao contribuir
de forma definitiva no desenvolvimento das maquinas termicas entre os seculos
XVII e XVIII, alavancando os processos produtivos e desencadeando a Primeira
Revolucao Industrial [1]. As Leis da Termodinamica permitiram o entendimento
de certos aspectos relacionados a energia, transformando profundamente nossa
maneira de entender o universo. Por outro lado, a Teoria Cinetica dos Gases, cujas
primeiras ideias remontam do seculo XVII, constituiu-se como um dos primeiros
modelos explicativos da materia na escala microscopica e serviu de apoio para
a hipotese atomica. Por fim, a Mecanica Estatıstica contribuiu em explicar os
resultados e as leis da Termodinamica a partir do comportamento microscopico
de um numero muito grande de partıculas que constituem o sistema, utilizando
para isso as leis da mecanica e a teoria das probabilidades.
Neste trabalho, esses campos de estudo serao abordados de forma mais
detalhada. Inicialmente sera discutido as relacoes que existem no ensino da Fısica
Termica, sobretudo no Ensino Medio.
8
2. Referencial Teorico 9
2.1 Ensino
As simulacoes propostas foram concebidas para facilitarem o processo de
ensino-aprendizagem e assim tornar o ensino de Fısica Termica mais prazeroso e
interessante, tanto para o professor, quanto para o aluno do Ensino Medio. Nos
achamos mais conveniente referenciar nossa proposta na Teoria da Aprendizagem
Significativa de Ausubel. Esta e descrita sucintamente na proxima secao e os
conteudos abordados no Ensino Medio, em um contexto nacional, com maior
enfoque para o Estado de Sao Paulo, sao apresentados na secao subsequente.
2.1.1 Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel
A Teoria da Aprendizagem Significativa, ou Teoria da Assimilacao, e um
modelo cognitivista concebido por David Paul Ausubel (1918 - 2008) que procura
explicar como se dao as estruturas internas mentais no processo da aprendizagem
e acomodacao do conhecimento [4].
Em relacao a outras teorias de aprendizagem, como a de Jean Piaget
(1896 - 1980), a Teoria da Aprendizagem Significativa preocupa-se mais espe-
cificamente com o cotidiano da sala de aula. Ausubel retoma a importancia
da aprendizagem por descoberta, mas principalmente valoriza a aula do tipo
expositiva.
Segundo Ausubel, a aprendizagem pode se dar de duas formas distintas.
A primeira e a aprendizagem por descoberta, onde o aprendiz descobre de maneira
mais independente alguma relacao, princıpio ou lei que envolve o conhecimento
a ser assimilado. A segunda forma de processamento da aprendizagem e o da
recepcao, onde o aprendiz recebe a informacao pronta e atraves de sua propria
atuacao efetiva sobre o material oferecido amplia seu conhecimento baseando-se
em concepcoes ja existentes em sua estrutura cognitiva [6]. Aulas expositivas sao
proprias para a aprendizagem por recepcao.
O ponto chave da Teoria da Aprendizagem Significativa e a utilizacao do
conjunto de ideias ja existentes na estrutura cognitiva do aprendiz para servir de
2. Referencial Teorico 10
ancora para a acomodacao de novos conceitos. Desta forma a aprendizagem se
processa por meio de uma especie de ampliacao de conhecimentos anteriores do
aprendiz. E dessa relacao entre ideias ja assimiladas com as novas que surge a
aprendizagem significativa. As novas ideias devem se relacionar com as ideias ja
existentes na estrutura cognitiva de maneira nao arbitraria e substantiva. Nao
arbitraria significa dizer que as novas ideias devem ter relacao logica e explıcita
com as ideias ja existentes na estrutura cognitiva do aprendiz. Substantiva quer
dizer que o aluno aprendeu o sentido e significado daquele novo conhecimento,
podendo explica-lo com suas proprias palavras [7].
Esse tipo de aprendizagem tao enfatizado por Ausubel se contrapoe com
a chamada aprendizagem mecanica. Esse tipo de aprendizagem nao e desejado,
pois os novos conhecimentos nao se relacionam com nenhuma das ideais relevantes
pre-existentes na estrutura cognitiva do aprendiz. Assim, a assimilacao do novo
conhecimento se da por meio de memorizacao, e por isso o aprendiz nao consegue
reproduzir a nova informacao com outras palavras, ja que esse novo saber nao tem
significado para ele [7]. Em outras palavras, a aprendizagem mecanica e arbitraria
e nao e substantiva. Por essas caracterısticas, a aprendizagem mecanica faz com
que a nova informacao fique armazenada por curto perıodo de tempo.
Para haver a desejada aprendizagem significativa, duas condicoes preci-
sam ser satisfeitas. A primeira condicao e que o material de aprendizagem deve
ser potencialmente significativo. A segunda e que o aprendiz deve apresentar pre-
disposicao a aprender. Segundo Ausubel nao existe material que seja puramente
significativo, quer seja um livro, aula, ou qualquer outro instrumento didatico,
mas sim, potencialmente significativo, pois o significado nao esta no material,
mas nas pessoas [7].
Assim um material potencialmente significativo e aquele que pode efe-
tivamente relacionar as ideias presentes na estrutura cognitiva do aprendiz com
o novo conceito abordado. A segunda condicao enfatiza justamente o papel do
aprendiz no processo da aprendizagem significativa, pois ele deve querer assimilar
o novo conhecimento, baseando-se nos conceitos previos que ja tem, ja que e
o aprendiz que confere significado ou nao ao novo conhecimento. Se o aluno
2. Referencial Teorico 11
nao apresentar pre-disposicao a aprender, mesmo servindo-se de um material
potencialmente significativo, nao ha aprendizagem significativa. Neste sentido o
aprendiz e corresponsavel por sua propria aprendizagem.
Nossa proposta de construir um simulador mecanico, cujo funcionamento
e baseado em conceitos mecanicos ja adquiridos pelos estudantes, quer seja atraves
da escola ou mesmo oriundos do proprio cotidiano dos alunos, pode constituir-se,
sob a perspectiva da Teoria da Aprendizagem Significativa, como um material po-
tencialmente significativo. As simulacoes baseadas em conceitos mecanicos como
velocidade, forca, energia e pressao constituirao saberes ancora sobre os quais os
aprendizes poderao alicercar os novos conceitos da Fısica Termica, como tempe-
ratura e energia interna. Alem disso, a propria realizacao das simulacoes poste-
riormente descritas constituirao verdadeiros experimentos, onde sera possıvel in-
crementar a aprendizagem por descoberta. A utilizacao de saberes pre-existentes
para adquirir novos conhecimentos, faz da nossa proposta, uma boa abordagem
pautada na aprendizagem significativa.
2.1.2 Fısica Termica no Ensino Medio: Proposta Curri-
cular do Estado de Sao Paulo
No ambito do ensino, a Fısica Termica constitui-se num dos principais
temas que devem ser abordados na disciplina de Fısica a nıvel de Ensino Medio.
No estado de Sao Paulo, por exemplo, de acordo com o currıculo oficial, e
reservado para o ensino dessa area o perıodo correspondente a dois bimestres. Ela
esta presente nos Parametros Curriculares Nacionais (PCN) no eixo estruturador
“Calor, Ambiente e Usos de Energia” [8]. Desta forma ela se faz presente em
todas as colecoes de livros didaticos aprovados pelo Programa Nacional do Livro
Didatico (PNLD) de 2018.
A maioria desses livros didaticos apresenta esse tema no segundo volume,
direcionado para o segundo ano do Ensino Medio. Os principais temas abordados
sao a Calorimetria e a Termodinamica. A Teoria Cinetica dos Gases tambem e
abordada entre esses dois temas principais. E importante salientar que alguns
2. Referencial Teorico 12
conceitos introdutorios da Teoria Cinetica podem aparecer em livros didaticos do
Ensino Fundamental. A Mecanica Estatıstica nao aparece de forma pronunciada
nos livros didaticos de Ensino Medio. Porem, a insercao de assuntos introdutorios,
como neste caso, utilizando o nosso simulador pode permitir a interpretacao
estatıstica de alguns conceitos, como o de entropia, tornando o tratamento mais
detalhado e aprofundado desses assuntos mais viavel e interessante nas salas de
aula.
O Currıculo oficial e uma referencia comum de temas e conteudos para
todas as escolas (cerca de 5000) que integram a rede estadual paulista de ensino,
a qual acolhe 3,5 milhoes de alunos [9]. Para a disciplina de Fısica, o Currıculo
aponta seis temas estruturadores, sendo um deles referentes a Fısica Termica.
O tema no currıculo oficial tambem e “calor, ambiente e usos de energia”. Os
conteudos abordados neste tema sao referentes a calorimetria, a primeira e se-
gunda leis da Termodinamica, as maquinas termicas, teoria cinetica da materia e
aquecimento global [10]. Dessa forma, uma gama de conceitos de Fısica Termica
devem ser trabalhados pelos professores da rede publica do estado de Sao Paulo,
assim como no paıs inteiro. A utilizacao de um dispositivo capaz de simular
os principais conceitos de Fısica Termica, como o que estamos propondo nesta
monografia, pode facilitar o trabalho do professor e promover uma aprendizagem
dinamica e significativa.
Capıtulo 3
Fısica Termica
Neste capıtulo discutiremos em detalhes a Fısica envolvida nos princi-
pais fenomenos simulados em nosso dispositivo, abordando conceitos da Termo-
dinamica, da Teoria Cinetica dos Gases e da Mecanica Estatıstica.
O tipo de movimento estudado na Fısica Termica e o movimento termico.
Este movimento e decorrente da acao combinada dos constituintes do sistema,
o que faz com que o mesmo adquira qualidades incrıveis observadas em suas
propriedades eletricas, magneticas e termicas. Por isso nao faz sentido em fa-
lar sobre a temperatura de um unico atomo, pois temperatura e um conceito
termodinamico obtido pelo movimento termico de um numero muito grande
de partıculas. E isso que significa dizer que se trata de uma acao combinada
ou coletiva dos constituintes do sistema, sejam estes atomos ou moleculas. O
movimento termico e o foco de estudos da Termodinamica, da Teoria Cinetica
dos Gases e da Mecanica Estatıstica, cada um com sua forma particular.
3.1 Termodinamica
Na Termodinamica sao estudadas propriedades macroscopicas gerais de
sistemas em equilıbrio termodinamico atraves de duas leis basicas fenomenologicas,
a Primeira e a Segunda Leis da Termodinamica. O equilıbrio termodinamico se da
quando o sistema esta em equilıbrio quımico, termico e mecanico. Alem de suas
13
3. Fısica Termica 14
leis basicas, e considerado uma serie de outros resultados experimentais para o
estudo dos fenomenos. Como o foco de estudo da Termodinamica e o movimento
termico, esta nao se ocupa apenas de fenomenos termicos. Ela e responsavel
tambem por outros fenomenos decorrentes da acao combinada dos constituintes
do sistema, como os fenomenos de magnetizacao e polarizacao, por exemplo.
A Termodinamica como ciencia surgiu no inıcio do seculo XIX, antes da
compreensao microscopica da materia [11]. Uma vez que a nocao de atomos e
partıculas microscopicas era um tanto vaga na epoca em que foi desenvolvida
[12], a Termodinamica lida apenas com nocoes macroscopicas para estabelecer
relacoes com as transformacoes de energia entre sistemas. O desenvolvimento
das maquinas termicas baseou-se na Termodinamica e o emprego de tais dispo-
sitivos na industria levaram a profundas transformacoes no modo de producao,
a chamada Revolucao Industrial, cujo inıcio se deu na Inglaterra e, posterior-
mente, estabelecendo-se em toda a Europa e Estados Unidos. Os conhecimentos
produzidos pela Termodinamica trouxe implicacoes praticas que transformaram
a sociedade e a compreensao de suas leis promoveram profundas mudancas no
modo de como entendemos a energia e suas transformacoes [1].
Um sistema termodinamico basicamente e composto por uma amostra,
sendo o caso mais simples uma massa de gas que e delimitada por uma fron-
teira. Toda a regiao externa a fronteira e chamada de vizinhanca. No equilıbrio
termodinamico (condicao em que os parameros macroscopicos nao se alteram
em relacao ao tempo), qualquer objeto macroscopico pode ser descrito por um
conjunto de variaveis, as quais fornecerao as grandezas macroscopicas do mesmo,
chamadas de variaveis de estado. Para fluidos homogeneos, o estado do sistema
pode ser completamente caracterizado por qualquer par das grandezas pressao
(P), volume (V) e temperatura (T) [13]. A terceira variavel pode ser obtida
atraves da equacao de estado do sistema dada por:
f(P, V, T ) = 0 (3.1)
3. Fısica Termica 15
3.1.1 Gas Ideal
Os sistemas termodinamicos mais simples de serem analisados sao os ga-
ses. No nosso dispositivo nos simularemos particularmente sistemas que envolvam
o comportamento de gases. Teoricamente trataremos um gas como um sistema
ideal, composto por partıculas que nao interagem entre si, ou seja, a energia desse
gas e basicamente cinetica. A esse modelo e dado o nome de gas ideal ou gas
perfeito. Nestas condicoes e possıvel obter a equacao de estado termica desse
sistema de maneira bem mais simples, utilizando as leis de Charles, de Boyle e de
Avogadro, as quais trataremos mais adiante. Esta e tambem chamada de equacao
de Clapeyron [13] e e dada por,
PV = nRT, (3.2)
em que n e o numero de mols do gas e R e a constante universal dos gases.
Para escrevermos a eq.(3.2) na forma geral dada pela eq.(3.1) basta fazermos
PV − nRT = 0, de modo que f(P, V, T ) = PV − nRT .
Para gases reais, as equacoes de estado termicas sao obtidas empirica-
mente ou atraves dos metodos da Mecanica Estatıstica. Mais de 150 equacoes
de estado ja foram propostas para gases reais. Dependendo das condicoes de
temperatura e pressao um gas real pode ser considerado ideal. Se este estiver
a baixas pressoes ou temperaturas distantes daquelas correspondentes aos seus
pontos de liquefacao, teremos uma condicao em que as moleculas estarao mais
afastadas e interagindo o mınimo possıvel. Dessa forma, o gas real se comportara
em boa aproximacao como um gas ideal [13]. Exemplos de gases reais que podem
ser considerados ideais a temperatura e pressao ambientes sao o hidrogenio, o
helio, o nitrogenio, entre outros.
Outra particularidade dos gases ideais, e que tambem e muito util para
defini-los, e que a energia interna U do mesmo depende apenas da temperatura
do gas, ou seja, U = U(T ). Esta relacao e conhecida como Lei de Joule, pois
foi Joule quem primeiro a observou em seus experimentos com gases. A equacao
de energia de um sistema termodinamico e tambem conhecida como equacao de
estado calorica e e util para a determinacao das capacidades termicas do sistema.
3. Fısica Termica 16
A equacao de estado termica e assim chamada por possibilitar a obtencao da
temperatura do sistema.
A partir do seculo XVII uma serie de experimentos com gases foram con-
duzidos, mostrando que estes poderiam apresentar comportamentos semelhantes
numa ampla variedade de condicoes, principalmente naquelas em que definimos
o gas ideal. A partir de estudos do comportamento dos gases com relacao a
sua pressao, volume e temperatura foi possıvel obter relacoes conhecidas como
Leis dos Gases. A seguir daremos particular atencao a estas relacoes porque um
dos objetivos do nosso trabalho e obter o analogo destas leis a partir do nosso
dispositivo mecanico.
3.1.2 Lei de Boyle-Mariotte
Uma das principais leis empıricas dos gases ideais foi estabelecida em
1662 por Robert Boyle, e independentemente em 1676 por Edme Mariotte, por
isso sendo conhecida usualmente como lei de Boyle-Mariotte [13]. De acordo
com a lei de Boyle, o volume V de uma dada massa de gas M e inversamente
proporcional a sua pressao P , quando sua temperatura T e mantida constante,
ou seja,
PV = k = constante. (3.3)
Esta lei e melhor verificada quando o gas esta a baixas pressoes e altas tempera-
turas, representando portanto uma descricao de um processo isotermico de um
gas ideal.
A constante k da eq.(3.3) depende da temperatura, da massa e da na-
tureza do gas. Para o mesmo gas temos que k = k(T ), de modo que, para cada
temperatura obtemos uma isoterma diferente para o gas, como ilustrado na figura
3.1. Pelo diagrama da pressao em funcao do volume do gas apresentado na figura
3.1, note que uma isoterma e representada por um ramo de hiperbole de acordo
com a eq.(3.3).
Conforme a lei de Boyle, a Figura 3.1 mostra que se a temperatura do
gas for mantida constante o seu volume final se expandira para duas vezes o seu
3. Fısica Termica 17
volume inicial V0 se a pressao aplicada no sistema for diminuıda pela metade do
seu valor inicial P0
2e vice-versa.
FIGURA 3.1: Diagrama da pressao P em funcao do volume V de um gas ideal
mostrando duas isotermas de Boyle para diferentes temperaturas T1 e T2.
Fonte: Os autores.
3.1.3 Lei de Charles
A proxima lei que consideramos e a lei de Charles, que foi descoberta
em 1787 por Jacques Charles [13]. Nesta Charles observou que o coeficiente de
expansao isobarica (pressao constante), dado por,
β =1
V0
(∂V
∂θ
)P
, (3.4)
onde θ e a temperatura. Tem o valor β ≈ 1273
C−1 para todos os gases analisados
por ele. O valor atual e β ≈ 1273,15
C−1, o que mostra que o valor obtido por
Charles e bastante razoavel considerando as condicoes experimentais da epoca.
Pela eq.(3.4) nota-se que o que esta sendo investigado e como o volume
V do gas varia com sua temperatura empırica θ, quando a pressao P no gas e
mantida constante. Considerando a variacao de volume ∆V = Vθ−V0 correspon-
dente as temperaturas θ e 0C, respectivamente, ambos a pressao de P = 1atm
tem-se,
β =1
V0
(∆V
∆θ
)P
⇒ βV0 =Vθ − V0
θ.
3. Fısica Termica 18
Rearranjando a equacao acima e substituindo o valor de β obtemos,
Vθ = V0 (1 + βθ) ∴ Vθ =V0
273, 15(θ + 273, 15) .
Note que o termo entre parenteses e a conversao da temperatura empırica θ,
dada em graus Celsius, para a temperatura absoluta T , dada em Kelvin, ou seja,
T = θ + 273, 15. Consequentemente, para θ = 0C temos T0 = 273, 15K. Dessa
forma a equacao acima torna-se,
V
T=V0
T0
= k, (3.5)
e a lei de Charles pode ser enunciada como:
A pressao constante, o volume de um gas e diretamente proporcional a sua
temperatura absoluta.
Quanto mais baixa a pressao no gas, melhor esta lei e verificada. Essa
lei esta representada no diagrama V× T da figura 3.2.
FIGURA 3.2: Diagrama V× T da lei de Charles para tres diferentes pressoes.
Fonte: Os autores.
Na Figura 3.2 se pode perceber a relacao linear entre o volume e a
temperatura absoluta de um gas. Quando o volume e hipoteticamente nulo,
a temperatura do gas chega a 0K. Esse e o menor valor possıvel que se pode
atingir para a temperatura na escala absoluta, sendo por isso chamada de zero
3. Fısica Termica 19
absoluto. E importante salientar que o volume de um gas nao pode ter valor
zero no zero absoluto ou qualquer outra temperatura. Fisicamente isso significa
que o gas se desintegraria naquela temperatura, o que e absurdo, pois cada
partıcula tem um tamanho mınimo e portanto um volume mınimo incompressıvel.
Apesar da eq.(3.5) nos dizer que V = 0 para T = 0K, o que temos e o volume
mınimo possıvel do gas nestas condicoes, dado pelo empilhamento das partıculas
constituintes do sistema.
3.1.4 Lei de Gay-Lussac
No inıcio do seculo XIX o quımico frances Joseph Louis Gay-Lussac
descobriu uma relacao entre a pressao e a temperatura de uma massa fixa de
gas mantida a volume constante. O enunciado dessa lei e o seguinte:
A pressao P de um gas com massa e volume fixos e diretamente proporcional a
temperatura absoluta T do gas.
Dessa forma, a equacao que descreve a lei de Gay-Lussac e dada por,
P
T= k = constante (3.6)
Note que se fizermos o diagrama da pressao P em funcao da temperatura
T , a eq.(3.6) nos fornecera um conjunto de retas semelhantes ao apresentado na
figura 3.2 para a lei de Charles. Neste caso as retas de menor inclinacao serao
aquelas para volumes fixos do gas maiores, com todas as retas convergindo para
T = 0K, da mesma forma que na figura 3.2.
3.1.5 Obtencao da Equacao de Estado Termica dos Gases
Ideais
A relacao entre as variaveis de estado P, V e T de um gas ideal foi
estabelecida pelo fısico e engenheiro frances Benoıt Paul-Emile Clapeyron. A
equacao de estado termica do gas ideal ou equacao de Clapeyron, e uma sıntese
3. Fısica Termica 20
das leis de Boyle e de Charles. Esta pode ser obtida a partir de um processo
isotermico, descrito pela lei de Boyle, seguido de um processo isobarico, o qual e
descrito pela lei de Charles. Na Figura 3.3 apresentamos os dois processos em um
diagrama P ×V . O processo isotermico se da de A a B, partindo dos parametros
termodinamicos iniciais (P0, V0, T0), os quais definem o estado inicial do gas, ate
o estado intermediario dado por (P, VX , T0). O processo a pressao constante e
dado de B a C ate o estado final (P, V, T ).
FIGURA 3.3: Diagrama P× V apresentando os processos isotermico, de A a B,
e isobarico, de B a C, para a obtencao da equacao de estado termica de um gas
ideal.
Fonte: Os autores.
Partindo do estado inicialA (P0, V0, T0) ao estado intermediarioB (P, VX , T0)
em um processo isotermico, temos pela eq.(3.3) da lei de Boyle que,
P0V0 = PVX
Seguindo do estado B ao estado C (P, V, T ) atraves de um processo
isobarico tem-se pela eq.(3.5) da lei de Charles que,
VXT0
=V
T
Combinando as dois resultados acima para eliminarmos o volume inter-
3. Fısica Termica 21
mediario do gas VX obtemos,
P0V0
T0
=PV
T= k = constante. (3.7)
A constante k depende apenas da natureza do gas e de sua quantidade e
pode ser obtida da Lei de Avogadro. Esta lei foi proposta por Amedeu Avogadro
em 1811 e estabelece que volumes iguais de todos os gases, nas mesmas condicoes
de temperatura e pressao, contem o mesmo numero de moleculas. Para gases reais
esta lei apresenta pequenos desvios do comportamento ideal, mas continua sendo
uma boa e util aproximacao na maioria dos casos. Quanto mais proximo das
condicoes de gas ideal, melhor esta lei e verificada.
Nas condicoes normais de temperatura e pressao (CNTP), as quais cor-
respondem a temperatura de T0 = 273, 15K, ou θ = 0C e pressao de P0 =
1atm ≈ 1, 013 × 105Pa, 1 mol de qualquer gas ocupa sempre o mesmo volume,
dado por V0 = 22, 4l = 2, 24 × 10−2m3. Substituindo estes valores na eq.(3.7)
obtemos que k ∼= 8, 314 JmolK
. O valor dessa constante e o valor da constante
universal do gases R, de modo que para um mol do gas ideal tem-se,
V0 = RT0
P0
.
Como o volume V e proporcional a quantidade de gas, uma massa de n
moles, nas mesmas condicoes, ocupa um volume n vezes maior, ou seja, V = nV0.
Dessa forma, obtemos finalmente a equacao de estado termica de um gas ideal,
PV = nRT. (3.8)
Como exemplo de gases reais que podem ser considerados ideais a tempe-
ratura ambiente T = 300K e pressao de P = 1atm temos o hidrogenio e o helio,
cujas temperaturas de liquefacao sao, respectivamente, dadas por TH ∼= 20K e
THe ∼= 4K.
3.1.6 Primeira Lei da Termodinamica
Um dos primeiros enunciados mais originais sobre o princıpio de con-
servacao de energia, que viria a ser conhecido como uma das primeiras versoes da
3. Fısica Termica 22
Primeira Lei da Termodinamica, e creditado ao medico alemao Julius Robert von
Mayer. Em 1840, Mayer conseguiu um emprego a bordo de um navio que estava
de partida para a ilha de Java. Ao fazer uma sangria em um dos tripulantes
quando chegaram na atual Indonesia, percebeu que o sangue venoso que jorrava
possuia coloracao vermelho brilhante ao inves de vermelho escuro, como estava
acostumado a observar. Mayer chegou a conclusao de que o corpo humano nao
necessitava de tanta energia para tornar a temperatura constante nos tropicos,
necessitando de menor quantidade de oxigenio, o que fez com que o sangue venoso
se tornasse mais brilhante. Ele foi capaz tambem de fazer uma associacao entre
a energia produzida pela ingestao de alimentos e o trabalho mecanico produzido
pelo corpo humano, percebendo intuitivamente que calor e trabalho estavam
relacionados com a energia. Em ultima analise, Mayer considerou que uma
mesma quantidade de alimentos poderia gerar quantidades diferentes de calor
e trabalho mecanico, sendo constante a soma dessas duas quantidades. Mesmo
sendo o primeiro a postular a primeira lei da termodinamica, Mayer nao foi capaz
de generalizar suas conclusoes para diferentes sistemas fısicos, devido a falta de
habilidades matematicas e conhecimentos em Fısica [14].
A Primeira Lei da Termodinamica foi estabelecida como resultado de
investigacoes teoricas e experimentais no domınio da Fısica e da Quımica, sendo
concluıda com a descoberta do equivalente do calor e trabalho, isto e, com a
descoberta do fato da transformacao de calor em trabalho e de trabalho em calor,
a qual e efetuada de acordo com uma relacao quantitativa constante, dada por
1cal = 4, 186J . Essa relacao mostra que uma unidade de quantidade de calor,
dada pela caloria (cal), e equivalente a 4, 186 unidades mecanicas de energia, dada
em Joule (J). Este resultado e comumente conhecido como o equivalente mecanico
do calor. O estabelecimento deste princıpio de equivalencia foi o ultimo estagio
na formulacao do aspecto quantitativo da Lei de Conservacao e Transformacao
de Energia.
Dentre os personagens historicos de grande importancia para a sistema-
tizacao da Primeira Lei da Termodinamica, alem de Mayer, vale a pena citar as
constribuicoes de Benjamin Thompson, o conde Rumford, James Prescott Joule
e Hermann von Helmholtz. Thompson, durante sua inspecao na perfuracao de
3. Fısica Termica 23
canhoes em Munique em 1797, observou que o aquecimento do metal durante
a perfuracao era decorrente da conversao da energia transmitida pelo trabalho
mecanico do torno em uma nova forma de energia, chamada de energia termica.
Baseado em seus experimentos ele publicou o trabalho “Uma Investigacao Ex-
perimental sobre a Fonte de Calor que e Excitada pela Friccao”, na revista
Philosophical Transactions of the Royal Society em 1798. Este trabalho foi a base
de varios desafios para o estabelecimento de teorias sobre o calor, desencadeando
uma revolucao na Termodinamica no seculo XIX. Seu experimento inspirou o
trabalho de Joule em sua obra “Sobre o Equivalente Mecanico do Calor”, onde
ele fornece a primeira relacao quantitativa entre calor e trabalho. Contribuicoes
muito importantes tambem foram fornecidas por Helmholtz em 1847 em seu
tratado “Sobre a conservacao da Energia”, em que ele descreve o princıpio da
conservacao de energia descoberto durante os seus estudos em medicina sobre o
metabolismo muscular [15].
Para obtermos a relacao matematica da primeira lei da termodinamica
vamos utilizar alguns conceitos conhecidos da mecanica classica. Quando estu-
damos o conceito de trabalho consideramos, por simplicidade, o movimento de
uma partıcula ao longo de um eixo de um sistema de coordenadas inercial. Isso
significa que o mundo da partıcula e constituıdo por uma linha, de modo que ela
nao pode se mover para os lados e nem para cima e para baixo, somente para
frente e para tras. Vamos considerar que a partıcula possui massa m e esta sujeita
a uma forca ~F partindo de um estado inicial na posicao x1 ate um estado final
na posicao x2, como ilustrado na Figura 3.4.
FIGURA 3.4: Partıcula de massa m se movendo em uma dimensao sujeita a uma
forca ~F partindo de um estado inicial na posicao x1 seguindo ate o estado final
em x2.
Fonte: Os autores.
Pela segunda lei de Newton temos que ~F = m~a, em que ~a e a aceleracao
3. Fısica Termica 24
da partıcula dada pela variacao de sua velocidade ~v no tempo, a qual pode ser
escrita como:
a =dv
dt=dv
dx
dx
dt= v
dv
dx,
onde utilizamos o fato de v = v[x(t)].
Substituindo na segunda lei de Newton obtemos que F = mv dvdx
. Como
estamos trabalhando em uma unica dimensao, podemos negligenciar a notacao
vetorial. Se integrarmos esta ultima equacao na posicao x obtemos:∫ x2
x1
Fdx =
∫ x2
x1
mvdv
dxdx =
∫ v2
v1
mvdv, (3.9)
em que utilizamos a definicao dvdxdx = dv. Podemos identificar o termo mvdv como
a diferencial de(
12mv2
), ou seja, d
(12mv2
), pois pela definicao de diferencial de
uma funcao f(v), temos que df = dfdvdv. Se f(v) = 1
2mv2 obtemos,
d
(1
2mv2
)=
1
22mvdv ∴ d
(1
2mv2
)= mvdv.
Logo, a eq.(3.10) pode ser escrita como:∫ x2
x1
Fdx =
∫ v2
v1
d
(1
2mv2
). (3.10)
A quantidade Fdx e chamada de trabalho δW da forca resultante F na
direcao do deslocamento dx, ou seja, δW = Fdx. A formulacao infinitesimal
do trabalho e dada por δW em vez de dW , porque o trabalho e uma diferencial
inexata. Fisicamente isso significa que o trabalho nao e uma propriedade fısica
do sistema, nao pode ser medido em um estado de equilıbrio. Nao faz sentido
dizer que nos vamos medir o trabalho do sistema. A definicao de trabalho e a
seguinte:
O trabalho e um metodo pelo qual energia e transferida ao sistema.
Na mecanica classica, sendo o trabalho dado por δW = Fdx, estamos
calculando a energia transferida ao sistema atraves de uma forca F . Para mover
uma cadeira de uma posicao inicial x1, por exemplo, ate uma posicao final x2
precisamos transferir energia para a cadeira. De que forma? Atraves de uma
forca. Por se tratar de uma diferencial inexata o trabalho depende do caminho,
3. Fısica Termica 25
ou do processo, pelo qual o sistema e conduzido de x1 a x2. Podemos generalizar
a expressao do trabalho W para conduzir o sistema entre dois pontos, 1 e 2, no
espaco tridimensional como,
W1→2 =
∫ 2
1
~F · d~r, (3.11)
em que ~F = Fxi + Fy j + Fzk e d~r = dxi + dyj + dzk. Portanto, o trabalho
definido na mecanica classica e dado pelo produto escalar da forca resultante ~F
pelo vetor posicao d~r. Se considerarmos Fy e Fz = 0 e d~r = dxi retornamos
ao caso de uma dimensao que tratamos anteriormente. Consequentemente, se
a forca no sistema estiver sendo aplicada no sentido contrario ao deslocamento
do mesmo, como uma forca de atrito por exemplo, o trabalho desta forca sera
negativo (W < 0). Se ~F estiver na mesma direcao do deslocamento tem-se que
W > 0. Em alguns casos pode ocorrer do trabalho independer do caminho. Nestes
casos particulares e possıvel definir uma energia potencial EP para o sistema de
modo que W1→2 = −∆EP . Este resultado e muito util porque nos permite
identificar uma classe de forcas na Fısica, chamada de Forcas Conservativas.
A outra quantidade obtida na eq.(3.10), dada por 12mv2 e chamada de
energia cinetica da partıcula, EC = 12mv2. Neste caso temos uma diferencial
exata, pois energia pode ser medida em um estado de equilıbrio, e portanto, esta
depende apenas do estado final e inicial do processo, no presente caso de v1 e v2.
Portanto, o trabalho de uma forca resultante ~F pode ser escrito como,
W1→2 = ∆EC , (3.12)
em que ∆EC = 12mv2
2 − 12mv2
1. Esta ultima expressao e conhecida como Teorema
Trabalho-Energia.
Este teorema e muito importante na Fısica, pois nao precisamos conhecer
a natureza da forca para o calculo do trabalho, como na eq.(3.11), pois ∆EC e
completamente determinado se v1 e v2 sao conhecidos. Nao precisamos saber
como a velocidade variou.
A primeira lei da termodinamica e um generalizacao do teorema trabalho-
energia. Se considerarmos a forca total aplicada no sistema como a soma das
forcas externas e internas, o trabalho da forca total W1→2 = WT tambem pode,
3. Fısica Termica 26
sem perda de generalidade, ser considerado como a soma do trabalho das forcas
externas W e e das forcas internas W i, de modo que,
WT = W e +W i = ∆(EeC + Ei
C
). (3.13)
Note que fizemos a mesma consideracao para a energia cinetica, sendo a energia
cinetica total do sistema dada pela soma da energia cinetica externa EeC , devido ao
movimento do centro de massa do mesmo, e a forca cinetica interna EiC , pensando
agora no movimento das partıculas constituintes do sistema em relacao ao seu
centro de massa.
Para as forcas internas consideramos apenas forcas conservativas, de
modo que W i = −∆EiP . Para as forcas externas temos tanto forcas conservativas
como nao conservativas, ou seja,
W e = W −∆EeP ,
em que W e o trabalho das forcas externas nao conservativas. Substituindo estas
expressoes na eq.(3.15) temos,
W = (∆EeC + ∆Ee
P ) +(∆Ei
C + ∆EiP
)= ∆E, (3.14)
sendo E a energia mecanica do sistema dada pela soma de sua energia potencial
mais cinetica, E = EP +EC . Note que se o sistema estiver livre da influencia de
forcas nao conservativas, como o atrito por exemplo, tem-se W = 0 e portanto
∆E = 0. Como o sistema esta sob a influencia de forcas conservativas apenas,
sua energia total se conserva. Vemos entao que a mecanica classica nao sabe lidar
com forcas que podem converter energia mecanica em energia termica, pois como
na observacao de Thompson, durante as perfuracoes dos canhoes, observa-se esse
tipo de conversao. Na mecanica classica a energia total do sistema e a energia
mecanica, e em casos em que o atrito esta presente, ela nao se conserva. Mas o
que ocorre com a energia do sistema para ela nao se conservar?
A resposta a essa pergunta e dada pela Termodinamica que fornece
uma generalizacao ao problema introduzindo mais um metodo de transmissao
de energia, chamado calor ou quantidade de calor Q, o qual e desconhecido
na mecanica classica. Outro ponto negligenciado pela mecanica classica e o
3. Fısica Termica 27
movimento das partıculas constituintes do sistema em relacao ao seu centro de
massa. Isso e feito porque este movimento nao altera o movimento do centro de
massa do sistema, o qual pode ser demonstrado pela conservacao do momento
linear [13]. Como as forcas internas no sistema sao forcas newtonianas, que sao
aquelas que obedecem a terceira lei de Newton, o efeito resultante e nulo.
Na Termodinamica como estamos interessados em estudar as proprieda-
des decorrentes do movimento termico do sistema, o comportamento coletivo das
partıculas constituintes e de extrema importancia. Por outro lado, nao estamos
interessados no conceito de atomos e moleculas propriamente dito, mas somente
no seu efeito. Dessa forma nos desconsideraremos os detalhes da energia interna
do sistema, ou seja, nao queremos saber sobre as contribuicoes da energia interna
de interacao das partıculas ou se a energia cinetica interna e devido a rotacao,
translacao ou vibracao das mesmas. Colocamos toda a parte de energia interna,
cinetica e potencial, em apenas uma variavel dada por U = EiC + Ei
P , de modo
que a eq.(3.15) pode ser generalizada como,
W +Q = (∆EeC + ∆Ee
P ) + ∆U. (3.15)
Este e o enunciado matematico da Primeira Lei da Termodinamica em sua forma
geral. No caso de sistemas como de um foguete, ou vapor em uma turbina, e
importante levar em conta as energias cinetica e potencial externas do sistema,
pois o sistema esta em movimento em um campo de forcas externos, como o gravi-
tacional. No caso em que o sistema e dado por uma amostra em repouso em uma
bancada de laboratorio ou localizada em um equipamento para caracterizacao
de suas propriedades, mudancas na sua energia cinetica e potencial externas sao
nulas ou desprezıveis, de modo que a eq.(3.15) torna-se,
W +Q = ∆U. (3.16)
Na Termodinamica existe uma convencao de sinal para o trabalho, que
diz que o trabalho positivo e aquele realizado pelo sistema sobre sua vizinhanca.
Com isso, a expressao acima torna-se,
Q−W = ∆U, (3.17)
3. Fısica Termica 28
a qual estabelece que a energia interna de um sistema e uma funcao de unico valor
de seu estado e varia somente sob a influencia de acoes externas, sendo igual a
energia fornecida ao sistema pelo calor Q (positivo) atraves de sua fronteira menos
a energia fornecida do sistema para a vizinhanca atraves do trabalhoW (positivo).
Em sua forma infinitesimal tem-se δQ− δW = dU , ou seja, o calor, assim como o
trabalho, e uma diferencial inexata e depende do caminho, ou processo, pelo qual
o sistema e movido de um estado inicial 1 ao estado final 2. Portanto, podemos
escrever o enunciado da Primeira Lei da Termodinamica como segue:
A variacao da energia de um sistema se da atraves da energia fluindo para o
mesmo, atraves do calor, menos a energia fluindo para fora do mesmo, atraves
do trabalho.
E importante deixar claro que, apesar das unidades de trabalho e quan-
tidade de calor serem Joule (J), estes nao sao formas de energia, sao metodos de
transmissao de energia. Poderia aparecer a pergunta: Se estes nao sao formas de
energia, porque a primeira lei diz que a soma dos dois e igual a energia? E muito
comum encontrarmos nos livros expressoes como, energia sendo transmitida na
forma de calor, entre outros. Isso e incorreto! A eq.(3.18) nos diz que a energia
adquirida pelo sistema atraves do metodo calor menos a energia fornecida pelo
sistema a vizinhanca atraves do metodo trabalho e igual a variacao da energia
interna do mesmo no processo de ir do estado inicial 1 ao estado final 2, ∆U =
U2−U1. Portanto, na equacao da primeira lei estamos realmente considerando a
energia adquirida ou perdida pelo sistema atraves dos metodos calor e trabalho.
Ou seja, Q e a energia adquirida pelo sistema atraves do calor e W e a energia
fornecida pelo sistema atraves do trabalho. Nos nao estamos medindo o calor
e o trabalho do sistema, isso nao faz sentido, estamos considerando a energia
adquirida ou fornecida pelo sistema atraves desses metodos, e essa energia nos
podemos medir.
3. Fısica Termica 29
3.1.7 Segunda Lei da Termodinamica
Vimos na secao anterior que para todo sistema, a Primeira Lei da Ter-
modinamica estabelece a existencia de um parametro de estado de unico valor,
dado pela energia interna U , o qual nao varia na ausencia de acoes externas
ao sistema. A Segunda Lei da Termodinamica, a qual trataremos nessa secao,
estabelece a existencia de um parametro de estado de unico valor, chamado de
entropia S, que, em contraste com U , permanece constante em sistemas isolados
para processos reversıveis e sempre aumenta em processos irreversıveis. Um
processo de transicao de um sistema a partir de um estado 1 para um estado 2 e
dito reversıvel se a transicao oposta do sistema, de 2 para 1, pode ser feita com
o sistema transitando pelos mesmos estados intermediarios ate atingir o estado
1. Ou seja, e possıvel realizar o mesmo caminho de 1 para 2 e de 2 para 1 se
o processo for reversıvel. Se isso nao puder ser estabelecido, o processo e dito
irreversıvel. Portanto, em um processo em que ha perdas de energia a transicao
de um estado inicial para um final, a entropia do sistema sempre aumenta.
E bem conhecido que a Segunda Lei da Termodinamica foi historicamente
estabelecida atraves da analise do trabalho de maquinas termicas. Tais maquinas
sao dispositivos capazes de realizar trabalho mecanico, operando em ciclos en-
tre duas fontes quente e fria, quando energia e fornecida atraves do calor [13].
A questao acerca das maquinas termicas era determinar como torna-la o mais
efeciente possıvel. Esse problema foi resolvido pelo engenheiro frances Nicolas
Sadi Carnot (1796 - 1832) em seu trabalho “Reflexoes Sobre a Potencia Motriz
do Fogo” de 1824 [16]. Carnot idealizou um dispositivo chamado de maquina
de Carnot, que apos realizar um ciclo completo, levava a substancia de trabalho
utilizada novamente ao seu estado inicial. O ciclo realizado por essa maquina e
conhecido como ciclo de Carnot.
Se considerarmos um processo cıclico como em uma maquina termica,
em que o estado final do sistema coincide com seu estado inicial, temos pela
primeira lei que Q = W , pois ∆U = 0. Este resultado mostra que e impossıvel
conceber um moto perpetuo de 1a especie, o qual criaria energia, pois o trabalho
W so pode ser concebido a partir de uma fonte de energia. Este resultado
3. Fısica Termica 30
tambem nos diz que a energia adquirida pelo sistema atraves do calor pode ser
completamente convertida em trabalho ou que a energia adquirida pelo sistema
atraves de trabalho pode ser convertida completamente em energia termica. A
formulacao inicial da segunda lei da termodinamica surge para expressar a lei de
conversao de calor em trabalho e de trabalho em calor e e dada pelas duas teses
independentes:
Q>→ W e W
=→ Q.
A primeira tese mostra que nao e possıvel converter todo calor em tra-
balho sem um compensacao em um processo cıclico. Isso ocorre porque a energia
termica adquirida pelo sistema nao altera somente o estado termodinamico do
sistema que esta recebendo a energia, ela altera tambem sua vizinhanca. Quando
damos ignicao no motor de um carro a energia termica adquirida pela explosao
no motor faz com que toda a carcaca do motor se aqueca, de modo que e
impossıvel converter essa energia termica em energia cinetica para colocar o
carro em movimento, pois ela se espalha por todo sistema mecanico de forma
irreversıvel. Neste caso e necessario uma compensacao para repor essa energia
perdida durante o processo de conversao em trabalho. Isso tambem significa
que e impossıvel conceber um moto perpetuo de 2a especie, pois se a conversao
completa de calor em trabalho fosse possıvel, o oceano e a atmosfera consituiriam
um reservatorio termico de energia inesgotaveis.
Ja a segunda tese e possıvel, pois a energia transmitida atraves do tra-
balho pode ser completamente convertida em qualquer outra forma de energia.
Como nas perfuracoes dos canhoes observadas por Thompson, toda a energia
mecanica do torno pode ser convertida em energia termica atraves da friccao da
broca com o metal.
A primeira e a segunda teses juntas da Segunda Lei da Termodinamica
estabelecem a natureza unilateral da variacao da entropia em processos naturais
em sistemas isolados. E justamente a nao equivalencia entre as duas formas de
transmissao de energia, dadas pelo calor e o trabalho, e que faz com que a segunda
lei exista.
3. Fısica Termica 31
Matematicamente, a mudanca da entropia em um sistema em equilıbrio
e dada por,
dS =δQ
T, (3.18)
ou seja, ela ocorre quando a transferencia de energia ao sistema atraves do calor
δQ ocorre a temperatura T (absoluta) constante. Note que se tivermos uma
transformacao adiabatica reversıvel, em que δQ = 0, a eq.(3.18) nos conduz
a dS = 0. Logo, para uma transformacao adiabatica a entropia do sistema
permanece constante.
Considerando um processo cıclico, a primeira lei nos fornece W = Q =∮δQ. Pela eq.(3.18) temos tambem que
∮δQ =
∮TdS, de modo que,
W =
∮TdS = T
∮dS 6= 0, (3.19)
se∮dS 6= 0. Se isso for verdade teremos a violacao da primeira tese da segunda
lei e consequentemente seria possıvel construir um moto perpetuo de segunda
especie. Como isso e impossıvel, temos que∮dS = 0. Esse resultado mostra que a
entropia e um parametro de estado de unico valor, uma vez que no processo cıclico
temos S1 = S2. Portanto a equacao integral da Segunda Lei da Termodinamica
para processos cıclicos reversıveis e dada pela igualdade de Clausius :∮δQ
T= 0. (3.20)
Se o processo for irreversıvel temos a desigualdade de Clausius [13],∮irr
δQ
T< 0. (3.21)
Uma vez que no processo cıclio temos S1 = S2, a desigualdade acima e equivalente
a dizermos que,
S2 − S1 >
∫ 2
1
δQ
T. (3.22)
Se considerarmos agora uma transformacao adiabatica irreversıvel, em
que δQ = 0, obtemos que S2 − S1 > 0, mostrando que a entropia no processo
aumenta. Esta e chamada de lei do aumento da entropia.
Com estes resultados podemos concluir que a entropia de um sistema iso-
lado nunca pode decrescer, ela nao se altera para processos reversıveis e aumenta
3. Fısica Termica 32
para processos irreversıveis, ∆S ≥ 0. Consequentemente, se um sistema isolado
evolui de forma irreversıvel de um estado inicial 1 para um estado final 2, seu
estado de equilıbrio sera aquele em que a entropia do sistema e maxima. Isso nos
permite descrever a entropia como uma medida da irreversibilidade de processos
termicamente isolados. A irreversibilidade de um processo sera nitidamente
observada em nosso dispositivo a medida que o mesmo funcionar partindo de um
estado bem definido e evoluir no tempo para estados cuja reversibilidade para
estados anteriores e praticamente impossıvel, mostrando que o sistema simulado
aumenta sua entropia.
Outra observacao interessante e que, uma vez que todos processos na-
turais (espontaneos) ocorrem de forma irreversıvel, segue que nesses sistemas
(isolados) a entropia sempre aumenta. Dessa forma, a segunda lei indica a
direcao de processos naturais fornecendo assim uma “seta do tempo” em sistemas
termicamente isolados.
3.2 Teoria Cinetica dos Gases
A teoria cinetica dos gases e o principal topico da Fısica Termica que
exploraremos nas simulacoes realizadas em nosso dispositivo mecanico. O mo-
delo microscopico desta teoria e bastante rudimentar, mas pode nos fornecer
explicacoes microscopicas de conceitos basicos da Termodinamica. Pretendemos
levar os alunos em uma viagem incrıvel, saindo da fısica macroscopica, descrita
pela termodinamica, a fısica microscopica sem a necessidade da formulacao da
teoria quantica.
Isso e possıvel porque a fısica considerada em um modelo teorico, classica,
semiclassica ou quantica, depende muito do tipo de propriedades que pretendemos
analisar. Propriedades e processos mecanicos de um sistema gasoso, como o con-
ceito de temperatura, entropia, processos de expansao e compressao volumetrica,
podem ser explicados de forma bastante satisfatoria atraves de modelos classicos
de atomos, como o nosso dispositivo mecanico. Propriedades mecanicas em
solidos e lıquidos tambem podem ser descritos por modelos atomicos classicos,
3. Fısica Termica 33
mas estes exigem modelos computacionais um pouco mais sofisticados como a
dinamica molecular, por exemplo. Nestes podemos simular o aquecimento e o res-
friamento de um solido, constantes elasticas, transicoes de fases estruturais, fusao
e recristalizacao do material, entre outros. Modelos semiclassicos ou quanticos sao
exigidos quando queremos descrever propriedades magneticas da materia, em que
os eletrons e seus spins desenvolvem um papel essencial, ou descrever interacoes
entre radiacao e materia em que o fenomeno de superposicao e fundamental.
Para performarmos um teoria molecular da materia, nao podemos sim-
plesmente fornecer as moleculas de uma substancia todas as propriedades da
propria substancia, pois muitas destas propriedades e decorrente do movimento
termico, decorrente do comportamento coletivo e ate mesmo cooperativo das
moleculas que constituem o sistema. A cor azul do sulfato de cobre, por exemplo,
nao e explicada postulando-se que este e composto de moleculas de cores azuis.
O fato de um gas ser capaz de expandir indefinidamente nao e explicado pela
asssercao de que este consiste de moleculas que podem expandir individualmente
de forma indefinida. O que nos tentamos fazer e levar em conta que propriedades
mais complexas da materia em um determinado volume (bulk) sao consequencias
de propriedades simples descritas pelo comportamento coletivo ou individual de
suas moleculas [17].
Portanto, assumindo que um gas monoatomico consiste de um grande
numero de partıculas levando em conta apenas suas velocidades, massas e um
tamanho finito, podemos explicar a equacao de estado observada para um gas a
baixas pressoes ou descrever propriedades como condutividade termica e tempe-
ratura e ate entender o papel essencial da existencia de partıculas no movimento
browniano ou na difusao de um gas.
Nosso simulador fornecera aos alunos o ponto de partida do desenvol-
vimento de uma teoria molecular para mostrar quais propriedades de um gas a
baixa pressao podem ser explicadas pelo modelo molecular mais simples possıvel
composto por um agregado de partıculas rıgidas com massa e velocidade apenas.
Varias pessoas contribuıram para o desenvolvimento da teoria cinetica
dos gases com ideias qualitativas que levaram a teoria atomica. Dentre estas
3. Fısica Termica 34
podemos citar Leonhard Euler, um matematico do seculo XVIII quem postulou
em 1729 que o ar era composto por minusculas esferas girantes. Considerando
que um gas fosse constituıdo por “bolas de bilhar”, Daniel Bernoulli escreveu em
1738 um tratado intitulado “Hidrodinamica” [18] em que apresenta pela primeira
vez uma abordagem estatıstica para estudar as partıculas que compoem um gas.
Varias outras contribuicoes importantes foram dadas para o desenvolvimento da
teoria cinetica no seculo XIX, dentre os quais podemos citar Herapath, Waterson,
Joule, Kronig e principalmente Clausius e Maxwell [19].
As hipoteses basicas da teoria cinetica sao as seguintes:
• Um gas e constituıdo por um numero elevado de partıculas (moleculas,
atomos, ıons).
• As partıculas possuem dimensoes desprezıveis em relacao ao volume ocu-
pado pelo gas.
• As partıculas que constituem um gas movimentam-se em todas as direcoes,
colidindo umas com as outras e com as paredes do recipiente que as contem.
• A forca entre as partıculas de um gas e desprezıvel, atuando somente
durante as colisoes. As partıculas se comportam como “bolas de bilhar”
microscopicas.
• Todas as colisoes que as partıculas que constituem um gas realizam entre
elas e as paredes do recipiente em que o sistema esta contido sao perfeita-
mente elasticas, isto e, a energia cinetica total se conserva.
3.2.1 Calculo Cinetico da Pressao
Se supormos que um gas esta confinado em um cilindro de comprimento
L, como o ilustrado na figura 3.5, as moleculas do gas em seu interior exercem
uma pressao contra suas paredes. Se olharmos para a parede do cilindro formada
por um pistao preso a mola do lado direito na figura, esta pressao e interpretada
na teoria molecular nao como um impulso estatico no pistao mas como um efeito
medio de varios empurroes resultantes das colisoes das moleculas do gas com o
3. Fısica Termica 35
mesmo. Isso significa que se supormos que o pistao e forcado por uma mola para
ficar em um posicao fixa, nao e de se esperar que ele permaneca em repouso
absoluto, mas sim que ele oscile em torno de uma posicao media, uma vez que o
mesmo esta sendo bombardeado constantemente por inumeras partıculas do gas.
Esse efeito nao e observado a olhos nus em uma situacao real, por mais sensıvel que
seja o pistao. Com o nosso dispositivo mecanico isso podera ser simulado em uma
escala aumentada trazendo o efeito aos olhos dos alunos. Sao exatamente esses
impactos moleculares aleatorios, os quais nao estao em equilıbrio o tempo todo,
e que sao os responsaveis pelo movimento Browniano de partıculas suspensas.
Em acordo com a primeira hipotese basica descrita na secao anterior, nos
assumimos que o gas e composto por um grande numero de moleculas, todas com
a mesma massa m percorrendo o espaco interior do cilindro. A direcao de suas
velocidades e randomica e a magnitude das mesmas diferem de uma molecula
para outra. Vamos analisar a colisao de uma unica molecula com o pistao. A
molecula possui massa m e velocidade v, como ilustrado na Figura 3.5.
FIGURA 3.5: Colisao de uma unica molecula com velocidade v com um pistao
preso a uma mola. A componente em x da velocidade da molecula e invertida de
vx1 para −vx1 enquanto que a componente em y, vy1, permanece a mesma antes
e depois da colisao.
Fonte: Os autores.
As componentes em x e y dessa molecula sao dadas, respectivamente, por
vx1 e vy1. Note que a componente vy1 da velocidade nao e alterada pela colisao
com o pistao. Consequentemente, se considerarmos todas as moleculas do gas, o
3. Fısica Termica 36
gas nao ira, em media, realizar qualquer tipo de movimento como um todo nesta
direcao. A energia interna do gas e dada pela soma de todas as energias cineticas
de suas moleculas individuais. Considerando um sistema isolado, a energia interna
do gas permanece constante, de modo que a energia cinetica media das moleculas
do gas tambem e constante. Nos assumimos portanto que a energia cinetica de
qualquer molecula nao e alterada em uma colisao com as paredes do cilindro, o
que significa que as colisoes sao perfeitamente elasticas.
Assim como a magnitude da componente em y da velocidade nao e
alterada antes e depois da colisao com o pistao, a magnitude da componente
em x tambem nao e. Contudo, sua direcao e invertida de vx1 para −vx1.
A forca media exercida no pistao por uma molecula e dada pela taxa
media de variacao temporal do momento linear da molecula, ou seja, temos da
segunda lei de Newton que 〈Fx〉 =⟨
∆p1x∆t
⟩. Uma vez que a velocidade em x de cada
molecula inverte em cada colisao, a variacao do momento da molecula em cada
colisao na direcao x e dada por −mvx1 −mvx1 = −2mvx1. Pela conservacao do
momento linear, o momento transferido ao pistao pela molecula devido a colisao
e,
∆p1x = 2mvx1. (3.23)
Para encontrarmos a forca media durante o tempo de uma colisao, terıamos
que dividir ∆p1x por este tempo. Contudo, apos a colisao com o pistao, a molecula
precisa viajar para a outra extremidade do cilindro e voltar para uma nova colisao
com o pistao. Antes da proxima colisao, a molecula nao colide com o pistao
durante todo o tempo que vai e volta no cilindro percorrendo a distancia de 2L,
em que L e o comprimento do cilindro. A forca media deve ser obtida durante o
tempo total entre colisoes, o qual e dado por:
∆t = 2L
vx1
. (3.24)
Das eqs.(3.23) e (3.24) podemos expressar a forca media exercida no
pistao por uma molecula como,
〈Fx〉 =2mvx1
2L/vx1
=mv2
x1
L(3.25)
3. Fısica Termica 37
A pressao media no pistao produzida por esta molecula e dada pela forca
media dividida pela area do pistao, a qual chamaremos de A. Logo,
P1 =mv2
x1
AL=mv2
x1
V, (3.26)
em que V = AL e o volume total do cilindro.
Considerando agora outras moleculas, com velocidades em x dadas por
vxi, i = 2, 3, . . . , N , a pressao media total P sera dada pela soma de todas as
pressoes medias das partıculas individuais dadas por Pi =mv2xiV
, ou seja,
P =∑i
Pi =m
V
(v2x1 + v2
x2 + v2x3 + · · ·+ v2
xN
). (3.27)
Sendo N o numero total de moleculas do gas confinadas no cilindro a
velocidade media ao quadrado da componente em x da velocidade de todas as
moleculas e dada por,
⟨v2x
⟩=v2x1 + v2
x2 + v2x3 + · · ·+ v2
xN
N, (3.28)
de modo que a pressao media no pistao pode ser escrita como,
P =Nm 〈v2
x〉V
. (3.29)
A magnitude da velocidade resultante de qualquer molecula e dada por
v2 = v2x + v2
y + v2z . Fazendo a media sobre todas as moleculas do gas temos
que 〈v2〉 = 〈v2x〉 +
⟨v2y
⟩+ 〈v2
z〉. Pela isotropia da distribuicao das velocidades
moleculares temos naturalmente que 〈v2x〉 =
⟨v2y
⟩= 〈v2
z〉, pois todas as direcoes
x, y e z sao equivalentes. Temos entao que 〈v2〉 = 3 〈v2x〉. Substituindo esse
resultado na eq.(3.29) obtemos,
P =1
3
Nm 〈v2〉V
⇒ PV =1
3Nm
⟨v2⟩. (3.30)
Analisando a expressao acima, percebe-se que quanto maior o volume
do recipiente menor sera a pressao obtida. Outra consideracao importante e a
relacao entre a velocidade media das partıculas e a pressao. Se as demais variaveis
permanecerem constantes, quanto maior a velocidade media, maior sera a pressao
produzida pelas partıculas.
3. Fısica Termica 38
3.2.2 Energia Cinetica Media de Translacao
A energia cinetica media de uma molecula do gas e dada por 〈Km〉 =
12m 〈v2〉. Se multiplicarmos 〈Km〉 pelo numero total de moleculas N obtemos a
energia cinetica media total 〈K〉 do gas, ou seja, 〈K〉 = N 〈Km〉. Na eq.(3.30)
podemos identificar a expressao Nm 〈v2〉 como sendo 2 〈K〉. Dessa forma, vemos
que o produto PV e igual a dois tercos da energia cinetica media total do gas,
PV =2
3〈K〉 . (3.31)
Comparando a eq.(3.31) com a equacao de estado termica de um gas
ideal (3.8) obtida na secao 3.1.5, PV = nRT , temos que:
〈K〉 =3
2nRT. (3.32)
Isso significa que a energia cinetica media de uma molecula e dada por 〈K〉N
, ou
seja,1
2m⟨v2⟩
=3
2
nRT
N. (3.33)
O numero de mols n e dado pelo numero total de moleculas N dividido
pelo numero de Avogadro N0 ≈ 6, 023× 1023 moleculas/mol, de modo que,
n =N
N0
⇒ n
N=
1
N0
.
Utilizando essa relacao na eq.(3.33), obtemos para a energia cinetica media por
molecula,1
2m⟨v2⟩
=3
2
R
N0
T. (3.34)
A razao RN0
aparece frequentemente em teoria molecular e e chamada de
constante de Boltzmann kB = 1, 38 × 10−23 J/moleculaK. Esta tambem e uma
constante universal, uma vez que e a razao de duas constantes universais R e N0.
Portanto, a eq.(3.34) pode agora ser escrita como,
1
2m⟨v2⟩
=3
2kBT, (3.35)
mostrando que a energia cinetica media por molecula depende somente de sua
temperatura e nao da pressao, volume, ou especie da molecula. Esse resultado
3. Fısica Termica 39
fornece uma interpretacao microscopica para a temperatura absoluta T , como
sendo a medida da energia cinetica media de translacao das moleculas de um gas
ideal. E por esta razao, que dizemos que esta energia e a energia de agitacao
termica do sistema [19].
3.2.3 Livre Percurso Medio
Quando derivamos a expressao da pressao exercida pelo gas nas paredes
do cilindro, veja secao 3.2.1, as moleculas do gas foram tratadas como pontos
geometricos viajando livremente de um lado para outro do cilindro sem colidir
com outras moleculas. Como nos partimos da hipotese de gas ideal, uma rarefacao
extrema do gas e esperada. Uma das objecoes quanto a este tratamento, e que
surgiu durante o desenvolvimento da teoria cinetica, foi que se as moleculas do
gas se comportam dessa forma, entao uma pequena quantidade de gas, como um
perfume borrifado em uma sala de aula grande, por exemplo, se espalharia por
toda a sala quase que instantaneamente. Consequentemente, se supormos que
os alunos estao espalhados pela sala, todos sentiriam o aroma do perfume ao
mesmo tempo. Na pratica sabemos que isso nao e verdade, pois se o perfume for
borrifado proximo a alguma parede da sala, os alunos que estao proximos a parede
oposta sentirao o aroma do perfume apos decorrido um tempo consideravel. Esta
lenta difusao das partıculas que constituem o perfume no ar e resultado das
colisoes entre as moleculas dos dois gases, perfume e ar. Estas fazem com que as
moleculas do perfume se movam em uma trajetoria irregular do tipo ziguezague,
como ilustrado na figura 3.6 (a).
A distancia que uma molecula percorre entre duas colisoes consecutivas
com outras moleculas e chamada de livre percurso e a distancia media entre
colisoes e o livre percurso medio. Na Figura 3.6(a) ilustramos alguns percursos
livres de uma molecula, representada pelo cırculo fechado, colidindo com outras
moleculas, cırculos abertos.
Para calcular o livre percurso medio de uma molecula vamos assumir que
as moleculas sao esferas de diametro d. Uma colisao ocorrera quando os centros
de duas moleculas se aproximam de uma distancia d [20], como ilustrado na figura
3. Fısica Termica 40
FIGURA 3.6: .(a) Trajetoria tıpica de uma molecula de um gas, cırculo fechado,
colidindo com as moleculas de outro gas, cırculos abertos. (b) A colisao entre duas
moleculas ocorre quando os centros das mesmas se aproximam de uma distancia
d. (c) O mesmo numero de colisoes de qualquer molecula seria observado se
o diametro da molecula fosse aumentado de 2d. Neste caso todas as outras
moleculas seriam reduzidas a pontos geometricos.
Fonte: Os autores.
3.6(b). Podemos reduzir as moleculas a pontos geometricos se considerarmos que
as moleculas possuem um diametro de 2d, ou raio d, de modo que teremos um
volume excluıdo no qual o centro de nenhuma outra molecula podera penetrar
neste volume, veja figura 3.6(c). Considerando o movimento desta unica molecula,
dada por uma esfera de diametro 2d, atraves do gas com uma velocidade media
〈v〉, esta varrera o volume de um cilindro em um tempo t, cuja seccao transversal
e dada por πd2 e comprimento igual a 〈v〉 t. A seccao do cilindro e a seccao de
choque total de colisao da molecula e o seu volume e descrito por,
V = πd2t 〈v〉 .
Se o numero medio de moleculas por unidade de volume e n, o numero
de colisoes no tempo t e dado por nV . A frequencia media de colisoes 〈f〉 no
intervalo de tempo t sera entao nVt
, de modo que,
〈f〉 = nπd2 〈v〉 .
O livre percurso medio 〈l〉 e a distancia media entre colisoes, ou a distancia total
percorrida por unidade de tempo, que e igual a 〈v〉 = 〈l〉t
, dividido pelo numero
3. Fısica Termica 41
medio de colisoes por unidade de tempo 〈f〉, ou seja,
〈l〉 =〈v〉〈f〉
=1
nπd2. (3.36)
Nesta ultima expressao e possıvel observar o efeito da quantidade N de
partıculas do gas em seu livre percurso medio, uma vez que n = NV
. Note que o
tamanho das partıculas, dado por d, influencia diretamente o livre percurso medio,
mostrando que quanto maior o diametro das partıculas, menor sera 〈l〉. Isso pode
ser facilmente explicado devido a diminuicao da disponibilidade de espaco para
a partıcula realizar seu movimento livre. Da mesma maneira, quanto maior a
quantidade de partıculas, menor sera o deslocamento livre. Deste modo, um gas
rarefeito tenderia a possuir um deslocamento livre medio de suas partıculas maior
em relacao a um gas com maior quantidade de partıculas por unidade de volume
com o mesmo diametro.
3.2.4 Movimento Browniano
Partıculas extremamente pequenas, chamadas partıculas coloidais, em
um lıquido de densidade menor que a das proprias partıculas nao se acumulam
no fundo do recipiente que contem o lıquido. Elas permanecem permanentemente
suspensas por todo o volume do lıquido. Essas partıculas sao grandes o suficiente
para serem observadas com um microscopio, e o seu numero por unidade de
volume em diferentes alturas no lıquido podem ser contadas. As partıculas
sao observadas para estarem em um estado de movimento contınuo chamado
movimento Browniano, apos o botanico ingles Robert Brown observar este efeito
em 1827, quando analisava ao microscopio minusculas partıculas de polen em
suspensao na agua. A princıpio, Brown pensou que este efeito era devido a
presenca de seres vivos no sistema, abandonando essa hipotese apos observar o
mesmo movimento em partıculas inorganicas em suspensao [17, 19, 21].
A explicacao correta para este efeito e dada pelo movimento randomico
das moleculas que constituem o lıquido colidindo com as partıculas em suspensao.
Esta explicacao foi primeiramente proposta por Delsaux em 1877, mas a primeira
teoria quantitativa do movimento Browniano foi publicada por Albert Einstein
3. Fısica Termica 42
em 1905.
O movimento de partıculas em fluidos ja e observado ha muito tempo.
O romano Tito Lucrecio em cerca de 60 a.C, ja argumentava que partıculas de
poeira suspensas no ar realizavam movimentos aleatorios devido as colisoes que
recebia das partıculas que constituiam o proprio ar. Em 1785, Jan Ingenhousz
estudou o movimento de partıculas de carvao submersas em alcool, percebendo
que tal movimento e aleatorio [22]. Na Figura 3.7 mostramos esquematicamente a
trajetoria de uma partıcula que realiza movimento browniano. Note a semelhanca
da trajetoria aleatoria da partıcula com aquela que apresentamos na Figura 3.6
quando consideramos a trajetoria tıpica de uma molecula de um gas colidindo
com as moleculas de outro gas.
O movimento browniano tem importancia historica, uma vez que serviu
de indıcio para a existencia dos atomos numa epoca em que a existencia dessas
partıculas era questionada. Em meados do seculo XIX diversos outros experimen-
tos foram conduzidos e concluiu-se que o movimento browniano era influenciado
por varios fatores, como a viscosidade do fluıdo, o tamanho e a densidade das
partıculas submersas.
FIGURA 3.7: Trajetoria aleatoria de uma partıcula que realiza movimento
browniano.
Fonte: Figura extraıda de [22].
O movimento Browniano representa efetivamente uma evidencia do mo-
vimento de agitacao termica na escala molecular, amplificado ate tornar-se visıvel
ao microscopio. A partıcula microscopica que realiza este movimento pode ser
3. Fısica Termica 43
pensada como uma “molecula gigante” sendo bombardeada continuamente pe-
las moleculas do fluido em que esta suspensa. Como os impactos moleculares
aleatorios nao estao em equilıbrio o tempo todo, isso faz com que a molecula
suspensa tenha o seu proprio movimento de agitacao termica. Com o nosso
dispositivo seremos capazes de simular o movimento Browniano de uma partıcula
suspensa fornecendo um efeito visual muito bonito. Conseguimos fazer com que
este efeito seja amplificado para tornar-se visıvel aos olhos curiosos dos alunos.
3.3 Mecanica Estatıstica
Pelo exposto na secao anterior, vimos que a teoria cinetica dos gases nos
permite deduzir e interpretar resultados observados em escala macroscopica, como
a equacao de estado de um gas, a partir de uma teoria molecular microscopica,
levando-se em conta o comportamento individual dos constituintes do sistema. Na
segunda metade do seculo XIX a teoria da constituicao atomica de toda materia
comecou a ganhar maior aceitacao de tal forma que sistemas macroscopicos
comecaram a ser analisados de um ponto de vista microscopico mais fundamental,
como sistemas consistindo de um numero muito grande de atomos e moleculas.
Como ja discutido anteriormente o foco de estudo da termodinamica e tambem
da mecanica estatıstica e o mesmo e consiste, principalmente, na analise das leis
do movimento termico em sistemas que estao em equilıbrio termodinamico. A
diferenca essencial entre essas duas areas consiste nos metodos de investigacao.
Na mecanica estatıstica fazemos uso de modelos moleculares da estrutura
de sistemas fısicos, em que o conceito de atomos e moleculas e essencial, a
partir de metodos matematicos da teoria de probabilidades. Nesta monografia
abordaremos apenas alguns conceitos da mecanica estatıstica que estao direta-
mente ligados ao simulador mecanico proposto. Os conceitos mais pertinentes
selecionados referem-se ao problema do passeio aleatorio, ao microestado de um
sistema, espaco de fase e entropia.
3. Fısica Termica 44
3.3.1 O Problema do Passeio Aleatorio
Sempre que quisermos descrever uma situacao ou fenomeno do ponto
de vista estatıstico, ou seja, em termos de probabilidades, precisamos utilizar o
conceito de ensemble. Um ensemble e uma idealizacao que consiste em considerar
um grande numero de copias virtuais do sistema, cada uma representando um
estado fısico possıvel em que o sistema pode estar. Em outras palavras, um
ensemble e um conjunto estatıstico dado por uma distribuicao de probabilidade
para o estado do sistema. A probabilidade de ocorrencia de um evento particular e
definida com relacao a este particular ensemble e e dada pela fracao de sistemas no
ensemble que e caracterizado pela ocorrencia deste evento especıfico [23, 24, 25].
Para discutir os conceitos basicos de probabilidades em mecanica es-
tatıstica, o exemplo mais simples e o passeio aleatorio em uma dimensao. Este e
util para ilustrar um processo de difusao do tipo do movimento Browniano dis-
cutido anteriormente. Este problema e tratado tradicionalmente como o “passeio
do bebado”.
No problema e considerada uma partıcula que se desloca para a esquerda
ou direita atraves de saltos de igual comprimento l a partir de uma origem
arbitraria sobre uma reta no eixo x, veja Figura 3.8. A partıcula se “comporta”
de forma similar a um bebado que, partindo de uma origem arbitraria, como um
poste por exemplo, tambem caminha para a esquerda ou direita atraves de passos
iguais. Como no caso do bebado, cada salto que a partıcula da para a direita ou
esquerda e completamente independente do salto realizado anteriormente.
FIGURA 3.8: Deslocamento de uma partıcula em uma dimensao, eixo x, a partir
de uma origem arbitraria O para ilustrar o problema do passeio aleatorio ou
passeio do bebado. A partıcula pode se deslocar para direita ou para esquerda
dando saltos sempre do mesmo comprimento l.
Fonte: Os autores.
3. Fısica Termica 45
Naturalmente, uma vez que o comprimento de cada salto e l, a localizacao
da partıcula ao longo do eixo x e da forma x = ml, em que m e um numero inteiro
que pode ser positivo, negativo ou zero. Toda vez que a partıcula da um salto,
ou o bebado da um passo, a probabilidade da mesma se deslocar para a direita e
p, enquanto que a probabilidade de se deslocar para a esquerda e q = 1 − p. A
pergunta de interesse neste problema e a seguinte: Apos a partıcula ter dado N
saltos, qual a probabilidade PN(m) desta ser encontrada na posicao x = ml?
A formulacao estatıstica do problema implica que e necessario considerar
um numero muito grande M de partıculas similares iniciando seu movimento
na mesma origem arbitraria. No nosso dispositivo, como a situacao nao muda,
ou seja, a partıcula que consideramos nao perde massa ou se deforma, podemos
repetir o experimento M vezes com a mesma partıcula.
Voltando ao problema, nota-se que o valor m deve estar compreendido
no intervalo −N ≤ m ≤ N . Denotando por n1 o numero de saltos para a direita e
n2 o numero de saltos para a esquerda, temos entao que o numero total de saltos
N e,
N = n1 + n2. (3.37)
O deslocamento lıquido da partıcula com relacao a origem e dado por,
m = n1 − n2. (3.38)
Se for conhecido que, em uma sequencia de N saltos, a partıcula deu n1
saltos para a direita, entao o deslocamento lıquido m a partir da origem pode ser
determinado. Combinando as eqs.(3.37) e (3.38) obtemos:
m = n1 − (N − n1) = 2n1 −N. (3.39)
Lembrando que nossa assercao fundamental e que saltos sucessivos sao
estatisticamente independentes entre si, temos que a probabilidade de qualquer
sequencia de passos n1 dada para a direita e n2 dada para a esquerda e obtida
3. Fısica Termica 46
pela multiplicacao das respectivas probabilidades, ou seja,
(p...p)︸ ︷︷ ︸n1 vezes
n2 vezes︷ ︸︸ ︷(q...q) = pn1qn2 . (3.40)
O numero de sequencias, considerando os saltos independentes, e dado
pelo fator combinatorio fornecido por,
N !
n1!n2!. (3.41)
Deste modo a probabilidade WN(n1, n2) da partıcula dar n1 saltos para
direita e n2 saltos para a esquerda, num total de N saltos em qualquer ordem, e
obtida pela multiplicacao da eq.(3.40) pelo numero (3.41). Isso fornece,
WN(n1, n2) =N !
n1!n2!pn1qn2 . (3.42)
Se fizermos n2 = N − n1 a eq.(3.42) pode ser escrita como:
WN(n1) =N !
n1!(N − n1)!pn1qN−n1 , (3.43)
a qual permite calcularmos a probabilidade da partıcula dar n1 saltos para a
direita. O mesmo poderia ser feito considerando a probabilidade da partıcula dar
n2 saltos para a esquerda se fizessemos n1 = N − n2.
A funcao de probabilidade dada pela eq.(3.43) e chamada de distribuicao
binomial [23], pois obedece o Teorema binomial descrito por:
(p+ q)N =N∑n=0
N !
n!(N − n)!pnqN−n. (3.44)
Como sabemos que a partıcula deu n1 saltos para a direita de um total
de N saltos, a probabilidade PN(m) da partıcula ser encontrada na posicao m
apos N saltos e a mesma de WN(n1), ou seja,
PN(m) = WN(n1) (3.45)
Das eqs.(3.37) e (3.38) obtemos as relacoes n1 = 12
(N +m) e n2 =
12
(N −m). Substituindo essas relacoes na eq.(3.42) obtemos:
3. Fısica Termica 47
WN(n1) =N !(
N+m2
)!(N−m
2!)p(N+m
2 )q(N−m
2 ) (3.46)
Lembrando que q = 1− p, a probabilidade PN(m) e entao dada por:
PN(m) =N !(
N+m2
)!(N−m
2!)p(N+m
2 ) (1− p)(N−m
2 ) (3.47)
No caso em que p = q = 12, obtemos a forma simetrica,
PN(m) =N !(
N+m2
)!(N−m
2!) (1
2
)N. (3.48)
Este e exatamente o caso que nos consideramos para o funcionamento do
nosso dispositivo mecanico. O dispositivo foi ajustado para termos o caso especial
em que a probabilidade da partıcula dar um salto para a direita ou esquerda sejam
iguais a 50%, ou seja, p = q = 12. Este caso e o mais simples, em geral temos
p 6= q. Se caso o simulador tiver algum desnıvel na face do embolo o caso mais
geral precisa ser considerado. Os detalhes da montagem do dispositivo sao dados
no Capıtulo 4.
3.3.2 Microestado de um Sistema, Espaco de Fase e En-
tropia
Na mecanica estatıstica, a analise de um sistema fısico em equilıbrio e re-
alizada pela especificacao dos estados microscopicos, ou microestados, do sistema,
os quais formam o seu ensemble, pelo estalecimento de um postulado estatıstico,
com o objetivo de usarmos a teoria das probabilidades, e pelo estabelecimento de
uma conexao com as variaveis do mundo macroscopico, ou seja, a termodinamica
[24].
Um sistema fısico de partıculas e governado pelas leis da mecanica, seja
classica ou quantica, dependendo do nıvel de descricao e do interesse particular
da analise. Se quisermos estudar propriedades mecanicas de um sistema, como
constantes elasticas, expansao termica, etc., a mecanica classica pode fornecer
3. Fısica Termica 48
uma descricao suficiente para as propriedades do sistema. No caso de proprieda-
des magneticas, por exemplo, um tratamento mais rigoroso pode ser necessario,
o que pode requerer o uso da mecanica quantica. Em todas estas situacoes, as
leis da mecanica fornecerao os meios para a especificacao dos microestados do
sistema.
Em nosso dispositivo nos simulamos um modelo discreto bidimensional de
gas com N partıculas (esferas) contidas em uma malha de area arbitraria. Esta foi
dividida em um numero determinado de celulas discretas que podem estar vazias
ou ocupadas por um unica partıcula. Dessa forma podemos simular o efeito de
impenetrabilidade do nucleo duro de potenciais interatomicos. Neste modelo de
gas, a especificacao microscopica dos estados do sistema consiste na identificacao
das configuracoes das N partıculas distribuıdas nas celulas da malha. O ensemble
estatıstico e o conjunto de todos estes estados microscopicos, com cada um
possuindo um peso probabilıstico. Devido a simplicidade dos modelos tratados
em nosso dispositivo, o tratamento das simulacoes realizadas sera puramente
classico.
Na mecanica classica, o estado de um sistema de n graus de liberdade e
completamente especificado se nos fornecermos n coordenadas generalizadas da
posicao q1, q2, . . . , qn e n coordenadas generalizadas do momento p1, p2, . . . , pn.
Nas simulacoes em 3 dimensoes em nosso dispositivo, por exemplo, temos N
partıculas livres no espaco Euclidiano, de modo que precisamos de 3N coorde-
nadas da posicao e 3N momenta para a especificacao de um estado do sistema.
Devido ao grande numero de coordenadas e momenta do sistema e conveniente
introduzirmos o espaco de fase do sistema, com 2n dimensoes, em que cada micro-
estado do sistema de n graus de liberdade e representado por um unico ponto (q, p)
deste espaco. O par (q, p) representa o conjunto de variaveis q1, . . . , qn, p1, . . . , pn.
Neste espaco de fase podemos representar todos os pontos (microestados) que
sao compatıveis com as condicoes macroscopicas, ou macroestados de um dado
sistema, como sua energia ou volume.
Para a determinacao dos microestados de nosso gas bidimensional nos
calibramos o dispositivo de modo que nao haja qualquer direcao preferencial para
3. Fısica Termica 49
as partıculas preencherem as celulas da malha. Ou seja, isso foi feito para que a
acessibilidade dos microestados possıveis em nosso sistema obedeca o postulado
fundamental da mecanica estatıstica, ou postulado das iguais probabilidades a
priori, que diz o seguinte [24, 25]:
Em um sistema estatıstico com energia fixa e fechado, todos os microestados
acessıveis sao igualmente provaveis.
A determinacao do numero de microestados acessıveis Ω do sistema e
essencial para a definicao estatıstica da entropia S, pois esta foi definida por
Boltzmann em 1877 como sendo proporcional ao logaritmo natural de Ω, ou
seja, ln(Ω). A expressao matematica que relaciona a entropia com o numero de
microestados acessıveis e dada por,
S = kBln(Ω), (3.49)
em que kB e a constante de Boltzmann.
No nosso dispositivo nos definiremos os macroestados do sistema de
acordo com cada configuracao dada pela disposicao das partıculas na malha
bidimensional. Para cada configuracao, ou microestado, do sistema teremos
apenas um macroestado correspondente. A recıproca nao e valida, pois diferentes
microestados podem representar o mesmo macroestado. Isso significa que macro-
estados que possuem maior numero de microestados, maximizam a entropia, pois
como mostra a eq.(3.49), quanto maior Ω, maior S. Dessa forma, o sistema evolui
espontaneamente para macroestados mais provaveis, isto e, para o maior valor
da entropia [26].
Este resultado esta de acordo com a lei do aumento da entropia obtida
na termodinamica, veja secao 3.1.7, em que o estado de equilıbrio do sistema
sera aquele em que sua entropia e maxima. Isso significa que o equilıbrio do
sistema e estabelecido justamente no macroestado mais provavel que o sistema
pode assumir, fornecendo assim um carater estatıstico para a entropia. Portanto,
com o nosso dispositivo seremos capazes de descobrir qual o macroestado mais
provavel do nosso gas bidimensional e introduzir qualitativamente aos alunos o
carater estatıstico da entropia fornecido por Boltzmann.
Capıtulo 4
Metodologia
Nesta monografia conseguimos demonstrar os seguintes conceitos e pro-
cessos, ja discutidos teoricamente no Capıtulo 3:
• A lei de Boyle-Mariotte;
• A lei de Charles;
• A lei de Gay-Lussac;
• A Primeira Lei da Termodinamica;
• O carater estatıstico da Segunda Lei da Termodinamica;
• A irreversibilidade da Expansao livre de um Gas;
• A irreversilibilidade da Mistura de dois Gases;
• O caso da evaporacao de um perfume no ar;
• O problema do passo aleatorio;
• O movimento browniano.
Para isso construımos um dispositivo multifuncional simples o suficiente
para ser construıdo por professores e utilizado no Ensino Medio. Outro fato a se
considerar e que a construcao foi idealizada para que fossem utilizados materiais
de facil aquisicao e de relativo baixo custo. Neste capıtulo forneceremos alguns
detalhes sobre a construcao do dispositivo.
50
4. Metodologia 51
4.1 O Simulador e o Analogo Mecanico de um
Gas Real
Nosso principal objetivo neste trabalho foi simular, de forma represen-
tativa, o comportamento microscopico das partıculas de um gas. Para isso
construimos um simulador mecanico composto basicamente de um cilindro de
vidro transparente disposto verticalmente e no seu interior sao dispostas pequenas
esferas plasticas, conforme ilustracao na Figura 4.1. Cada esfera representa uma
partıcula (atomo ou molecula) de um gas ideal. O dispositivo e baseado na ideia
original de Bernoulli, apresentada em sua obra “Hidrodinamica” de 1738 [18].
Nesta obra, Bernoulli explica pela primeira vez que um embolo que encerra um
gas num cilindro se mantem suspenso gracas a acao de multiplas colisoes das
partıculas constituintes desse gas sobre sua superfıcie interna.
FIGURA 4.1: Representacao do simulador mecanico com seus principais
elementos.
Fonte: Os autores.
Note na Figura 4.1 que o cilindro e limitado superiormente por um embolo
leve que possui liberdade de movimento vertical e inferiormente por um pistao
motorizado. O pistao e posto em movimento devido a acao de um pequeno motor
eletrico. O motor imprime movimento a um conjunto de pequenas engrenagens.
4. Metodologia 52
O centro da ultima roda dentada e acoplado ao centro de uma outra roda, daqui
em diante denominada volante. Um pequeno pino presente num ponto da borda
do volante, ao girar, provoca o movimento de sobe e desce de uma pequena haste,
a manivela, que se conecta de maneira articulada com o pistao atraves de outro
pino no interior do cilindro. O aparato possui funcionamento semelhante ao de
um motor de explosao interna de carros.
As esferas inicialmente repousam sobre o pistao no interior do cilindro
e o embolo permanece sobre as esferas imoveis. Isso nos permite definir um
volume mınimo para o sistema dado pelo empilhamento das esferas. Quando
o dispositivo simulador e ativado, o motor faz com que o pistao desloque-se
verticalmente em um movimento de sobe e desce no interior do cilindro. Isso
faz com que as esferas entrem em movimento caotico, tal como faz as moleculas
de um gas ideal segundo a Teoria Cinetica dos Gases. Quanto maior a tensao
eletrica fornecida ao motor do pistao, maior sera a frequencia de oscilacao do
pistao dentro do cilindro, e maior sera a agitacao das esferas que colidem o
tempo todo nas paredes internas do cilindro e com elas mesmas. A tensao
eletrica e controlada por meio de um potenciometro ou controlada externamente
atraves do seletor de voltagem de uma fonte de alimentacao universal. A esse
potenciometro ou seletor da fonte e atribuıda uma escala referente a posicao
angular de seu eixo, relacionada a velocidade do pistao e, consequentemente,
das esferas. Na simulacao, conforme se gira o potenciometro no sentido de menor
resistencia eletrica, maior sera o analogo da temperatura de um gas formado pelas
moleculas (esferas). Consequentemente, um movimento mais frenetico e intenso
devera ser observado. Nos chamaremos de temperatura mecanica TM o analogo
da temperatura simulada em nosso dispositivo para diferenciar da temperatura
real T de um gas.
O embolo permanecera suspenso devido as multiplas colisoes das esferas
abaixo dele. Um aumento na temperatura mecanica do sistema implicara em
colisoes mais intensas com a superfıcie interna do embolo, fazendo com que o
mesmo seja movido para posicoes mais elevadas. Isso e equivalente a expansao
do volume V de um gas real. O equivalente mecanico do volume V de um gas
real sera chamado de volume mecanico VM . Se empurramos o embolo para baixo
4. Metodologia 53
com o dedo e possıvel perceber um aumento da forca resistente que mantem o
embolo suspenso. Esta e proveniente das inumeras colisoes das esferas com o
mesmo. Nesta condicao, devera ser observado um movimento mais frenetico das
esferas, a medida que se comprime o volume mecanico do gas de esferas plasticas.
Essa compressao e o consequente aumento da temperatura mecanica do sistema,
equivale a aumentar a pressao P de um gas real. O equivalente mecanico de P
sera chamado de pressao mecanica PM .
Note que foi possıvel definirmos as variaveis mecanicas (PM , VM , TM) do
nosso sistema em analogia as variaveis (P, V, T ) de um sistema termodinamico
simples, no caso, dado por um gas.
O passo a passo da construcao de cada parte do simulador mecanico e
apresentado na proxima secao.
4.2 Construcao do Simulador Mecanico
A construcao do dispositivo segue apresentada abaixo por etapas que se
referem aos componentes e processos empregados na sua montagem.
4.2.1 Motor e Engrenagens
O motor e o conjunto de engrenagens foram obtidos a partir de um leitor
de disco de vıdeo digital (DVD player). O aparelho foi desmontado e a bandeja
de disco retirada. Essa bandeja, geralmente feita de plastico, possui um motor
de corrente contınua (DC) acoplado a um conjunto de engrenagens. Removemos
o motor com as engrenagens cortando-se a parte onde o motor e as engrenagens
ficam alojadas. O conjunto possui uma pequena correia de borracha que transfere
o movimento de rotacao do motor as outras engrenagens. Colamos com cola
adesiva instantanea uma roda plastica sobre a ultima engrenagem. Essa roda
compoe o disco de apoio para CD/DVD do leitor de discos de DVDs players,
computadores, aparelhos de som, entre outros. Essa peca constitui a volante do
nosso simulador mecanico. A Figura 4.2 mostra a porcao cortada da bandeja e a
4. Metodologia 54
roda plastica (volante) ja fixada.
FIGURA 4.2: Conjunto formado pelo motor e volante (peca destacada). A correia
mostrada a esquerda e posteriormente acoplada ao eixo do motor, transferindo o
movimento a volante.
Fonte: Os autores.
A peca apresentada na Figura 4.2 constitui o principal componente mecanico
do dispositivo simulador. A correia impede que o motor sofra danos caso haja
um travamento das engrenagens devido a um bloqueio do pistao no interior do
cilindro. Neste caso, a correia se desprende do conjunto fazendo com que o motor
realize seu movimento livremente, impedindo que o mesmo seja danificado. Para
recuperar a mobilidade do sistema, bastar liberar o pistao e reposicionar a correia
na volante.
4.2.2 Pistao
O pistao foi construıdo com um pequeno pote feito de plastico. Escolheu-
se um coletor universal para amostras, Figura 4.3(a), facilmente encontrado em
farmacias e de baixo custo. Qualquer recipiente cilındrico que tenha tampa e seja
ligeiramente menor que o cilindro de vidro pode ser utilizado.
Abaixo da bandeja de disco do DVD player se encontra o leitor de disco
que contem o motor DC. Ao eixo desse motor ha uma peca acoplada que pode
ser removida facilmente. Ela tem um formato de disco que serve para apoiar
o CD/DVD. A figura 4.3(b) mostra a localizacao desta peca. Removemos esta
peca para servir como suporte do pistao. Por meio de cola adesiva instantanea,
fixamos a mesma ao centro do coletor universal (pistao), conforme mostrado na
Figura 4.3(c).
4. Metodologia 55
FIGURA 4.3: (a) Coletor universal de amostras utilizado como pistao. (b) Peca
em forma de disco (em destaque) para apoio do CD/DVD no leitor do DVD
player e (c) e mostrado o pistao com o suporte.
Fonte: Os autores.
4.2.3 Manivela e Pivos
A manivela e a haste que articula o volante ao suporte do pistao. Essa
articulacao e dada atraves dos pivos, que sao eixos que permitem mobilidade nas
conexoes. A manivela foi confeccionada com um palito de sorvete. Dois pequenos
parafusos serviram como pivos. A Figura 4.4 mostra as medidas utilizadas para
a confeccao da manivela e dos pivos.
FIGURA 4.4: Montagem da manivela. A esquerda mostramos as dimensoes do
palito de sorvete cortado, no centro a manivela pronta com furos e a direita e
mostrado o parafuso utilizado como pivo e suas dimensoes.
Fonte: Os autores.
Apos confeccionar a manivela, esta foi acoplada a volante. A fixacao da
4. Metodologia 56
manivela foi feita com cola quente. Para conseguir o movimento de sobe e desce
do pistao fizemos uma articulacao entre a manivela e a volante e entre a manivela
e a base do pistao, conforme mostrado na Figura 4.5(a) e (b), respectivamente.
Os acoplamentos da manivela a volante e a base do pistao foram feitos
atraves de dois parafusos utilizados como pivos. As dimensoes dos mesmos estao
apresentadas a direita na Figura 4.4. Com a cola quente fixamos definitivamente
uma das extremidades dos parafusos. A outra extremidade permaneceu livre,
conferindo mobilidade a manivela. O conjunto motor-manivela-pistao e mostrado
na Figura 4.5(c).
FIGURA 4.5: Articulacao da manivela atraves dos pivos, monstrando em (a) o
pivo fixado a volante e em (b) o pivo fixado ao suporte do pistao. (c) Conjunto
Motor-manivela-pistao pronto.
Fonte: Os autores.
4.2.4 Cilindro de vidro
O recipiente do simulador mecanico que comportara o gas de esferas
foi adquirido em uma vidracaria. Este consiste de um cilindro com as duas
extremidades abertas e dimensoes mostradas na Figura 4.6. A parede do cilindro
de vidro possui espessura de 3 mm. O ajuste de seu diametro com o pistao deve
ser feito de modo que o pistao possa se mover quase que livremente pelo cilindro
para nao forcar o motor e comprometer a movimentacao das esferas no interior
do cilindro.
4. Metodologia 57
FIGURA 4.6: Cilindro de vidro utilizado como recipiente do gas de esferas na
montagem do simulador mecanico.
Fonte: Os autores.
4.2.5 Base
A base do dispositivo e responsavel pela sustentacao de todos os compo-
nentes. Ela foi construıda inicialmente por pecas separadas. As pecas podem ser
unidas por cola adesiva instantanea, cola de madeira ou adesivo de contato. O
material das pecas pode ser madeira tipo MDF. As medidas da base sao apresen-
tadas na Figura 4.7 e foram escolhidas para se ajustar aos demais componentes
apresentados anteriormente.
FIGURA 4.7: Pecas em madeira tipo MDF utilizadas para a confeccao da base
do simulador mecanico.
Fonte: Os autores.
4. Metodologia 58
A peca mostrada na Figura 4.7(b) possui um furo inferior e central com
diametro de 7mm. A peca da figura 4.7(d) constitui o painel do dispositivo
simulador. A Figura 4.8 mostra com maiores detalhes as dimensoes empregadas
para a confeccao do painel.
FIGURA 4.8: Amplificacao da figura 4.7(d), mostrando as dimensoes dos furos
para a construcao do painel do dispositivo.
Fonte: Os autores.
A medida dos furos realizados no painel, Figura 4.8, foram feitos para
ajustar os componentes eletronicos do simulador mecanico. A base montada sem
o painel e apresentada na Figura 4.9.
FIGURA 4.9: Base montada sem o painel. A esquerda apresentamos a vista
lateral da base e a direita sua vista frontal, mostrando o seu interior e os furos
realizados na parte de tras da mesma.
Fonte: Os autores.
A parte do motor constituıdo pelo proprio motor, as engrenagens, a
volante, a manivela e o pistao foi fixado no interior da base, como mostrado
4. Metodologia 59
na Figura 4.10. Antes de sua fixacao, foi necessaria a utilizacao de calcos para
ajustar a altura do sistema para que o pistao pudesse ser visualizado de forma
adequada na parte superior do furo da peca apresentada na Figura 4.7(e).
A altura adequada do calco foi de 40mm. O calco foi construıdo com
palitos de sorvete sobrepostos e colados com cola adesiva instantanea, veja Figura
4.10. A esquerda da Figura 4.10 mostramos todo o conjunto do motor fixado sobre
o calco no interior da base. A fixacao foi feita com cola adesiva instantanea.
FIGURA 4.10: A esquerda mostramos o calco, feito de palitos de sorvete,
utilizado para a fixacao do motor na base. A direita e apresentado o motor
fixo a base. Note que o cilindro de vidro foi utilizado para sustentar o pistao na
posicao vertical.
Fonte: Os autores.
4.2.6 Esferas e embolos
As esferas representam as moleculas do gas no nosso simulador mecanico.
Essas esferas sao feitas de plastico e sao projeteis de airsoft, um tipo de pistola
de brinquedo. As esferas sao coloridas e cada uma possui diametro de aproxima-
damente 6, 0 mm e massa em torno de 0, 12 g. Estas sao mostradas a esquerda
da Figura 4.11.
O embolo foi feito com bandeja de poliestireno expandido (isopor). Re-
cortamos um cırculo de 54, 0 mm de diametro e fixamos um canudo de plastico
no centro do cırculo com cola quente. O canudo e o eixo do embolo. A lateral do
cırculo que constitui o embolo foi pintada de vermelho para facilitar a visualizacao
4. Metodologia 60
de sua posicao quando for inserido no interior do cilindro.
FIGURA 4.11: A esquerda mostramos as esferas plasticas utilizadas para
representar as moleculas do gas nas simulacoes e a direita o conjunto do embolo,
mostrando da esquerda para a direita o embolo, a cruz e o extensor.
Fonte: Os autores.
Para aumentar a pressao sobre as esferas durante as simulacoes, nos
cortamos discos de papelao para serem utilizados como pesos adicionais no eixo
do embolo. Para acomodar estes discos uma nova peca, feita de canudo em forma
de cruz, foi acoplada ao topo do eixo. Se for desejado colocar mais discos durante
a realizacao das simulacoes, alem daqueles que a cruz suporta, basta acoplar um
extensor feito com um pedaco de canudo ao eixo da cruz. O conjunto do embolo
e mostrado a direita da Figura 4.11.
A massa do embolo e de 0, 251 g, a da cruz de 0, 15 g e a do extensor de
aproximadamente 2, 5×10−2 g, fornecendo uma massa total de aproximadamente
0, 40 g para o conjunto. E importante fazer alguns testes e ver se essas pecas nao
vao prejudicar a expansao do sistema mecanico devido as colisoes das esferas.
Se o embolo for feito com um conjunto de pecas pesados, esse efeito sera com-
prometido, pois o peso do conjunto sobre as esferas ja contribui para a pressao
aplicada sobre elas. Deste modo, o proprio embolo e seu conjunto sempre exerce
uma pressao sobre as esferas dada pelo seu proprio peso, da mesma forma como
no caso de um gas real confinado em um recipiente com embolo.
4. Metodologia 61
4.2.7 Bases Especiais
As bases especiais sao pecas de papelao que sao acopladas a parte superior
do pistao principal para realizar diferentes simulacoes. Esse acoplamento foi feito
com ımas. Sob a tampa do pistao foi fixado um pequeno ıma de neodımio e cada
base especial tem uma tarja magnetica na base. Assim, basta posiciona-la sobre
o pistao principal para realizar a fixacao. Foram confeccionadas 4 bases especiais,
a do tipo grade linear, do tipo grade 3 × 3, do tipo recipiente e do tipo frasco.
Todas estao apresentadas na Figura 4.12.
A base tipo grade linear, Figura 4.12(a), possui cinco espacos quadrados
de lados iguais a 8 mm dispostos linearmente. As laterais sao rodeadas por
paredes inclinadas para fazer com que as esferas nao saiam da grade e caiam para
fora da base. Essa base sera utilizada para realizar o experimento do problema
do passeio aleatorio descrito na secao 3.3.1.
A base do tipo grade apresentada na Figura 4.12(b) tem sua area dividida
em 9 celulas quadradas de 8 mm cada, dispostas em uma configuracao 3×3. Esta
sera empregada para simular a Segunda Lei da Termodinamica. Cada posicao e
numerada de 1 a 9 para a identificacao.
A base do tipo recipiente, Figura 4.12(c), foi confeccionada para ser
empregada nas simulacoes da mistura entre dois gases e da expansao livre de
um gas. Esta e constituıda por um recipiente retangular separado ao meio por
uma parede.
Por fim, a base do tipo frasco, apresentada na Figura 4.12(d), represen-
tara um frasco de perfume. Esta possui um reservatorio com tampa para guardar
as esferas que representarao as moleculas de perfume. Uma tampa superior
fechara o cilindro para impedir que as esferas saiam quando o dispositivo for
ligado. Um suporte de papelao contendo a imagem do quarto de uma casa foi
confeccionado para ilustrar a situacao que sera proposta.
As bases especiais podem ser trocadas rapidamente e sao as responsaveis
por parte da multifuncionalidade do simulador proposto.
4. Metodologia 62
FIGURA 4.12: (a) Base do tipo grade linear para a simulacao do problema do
caminho aleatorio. Cada posicao da grade foi numerada como -2, -1, 0, 1, 2, da
esquerda para a direita. (b) Base do tipo grade com 9 celulas numeradas dispostas
em uma configuracao 3× 3 para a simulacao da Segunda Lei da Termodinamica.
(c) Base do tipo recipiente confeccionada para as simulacoes da mistura entre
dois gases e expansao livre de um gas. (d) Base tipo frasco com tampa para a
simulacao da evaporacao de um perfume.
Fonte: Os autores.
4.2.8 Circuito Eletrico do Simulador Mecanico
O circuito do aparelho foi cencebido para o controle da velocidade do
motor que movimenta o pistao, o acionamento da iluminacao e o acionamento
permanente (botao contınuo) ou temporario (botao pulso) do motor. O circuito
opera com tensao de 15 Volts em corrente contınua.
O circuito possui dois modos de comando, um pelo painel (analogico) e
outro digital, caso o operador desejar controla-lo via arduıno. Nesta monografia
apresentamos apenas o controle via painel, mas o aparelho tambem tem conexao
4. Metodologia 63
para comando externo. A escolha para um ou outro tipo de comando se da atraves
de uma chave seletora. O aparelho e ligado atraves de uma chave geral e apos a
escolha da chave seletora para a posicao analogica, pode-se controlar a velocidade
da simulacao por meio de um potenciometro e de dois botoes que podem fazer
com que o pistao se mova continuamente ou descontinuamente, atraves de pulsos.
O circuito tambem possui um interruptor para permitir que o sistema possa ser
iluminado internamente para melhor observar as simulacoes. Na Figura 4.13
mostramos a montagem esquematica do circuito eletrico empregado no aparelho.
FIGURA 4.13: Circuito eletrico montado para realizar o controle do aparelho
simulador mecanico.
Fonte: Os autores.
A tensao no circuito e controlada por meio de um transistor TIP 42 e
um potenciometro do tipo linear. A escolha do potenciometro linear e preferıvel
e muito importante para as simulacoes, pois o deslocamento do seu eixo e dire-
tamente proporcional a variacao da velocidade do pistao, permitindo estabelecer
uma relacao entre a velocidade do pistao e a posicao do potenciometro facilmente.
As chaves geral e seletora de comando, assim como os botoes do modo contınuo
e pulso, foram organizados no painel do dispositivo, confome mostrado na Figura
4.14.
4. Metodologia 64
Caso se selecione a opcao digital pela chave seletora com o aparelho ligado
a fonte de tensao convencional, o aparelho funcionara em sua potencia maxima.
Neste caso a corrente eletrica ira ser direcionada diretamente ao motor, sem
passar por qualquer outro componente. Isso pode ser utilizado caso for desejado
que o aparelho opere em maxima velocidade em alguma simulacao. Entretanto,
na opcao digital a luz nao pode ser acionada. A opcao digital e apenas uma parte
do circuito que desabilita as funcoes do painel e permite o controle externo direto
do motor, ideal para insercao de microcontroladores como o Arduıno.
FIGURA 4.14: Painel com as chaves e botoes de comando.
Fonte: Os autores.
4.2.9 Montagem Final
Para finalizar a construcao e montagem do dispositivo inserimos o pistao
dentro do cilindro e fixamos o cilindro na parte superior do aparelho. O compar-
timento do circuito e do motor foram fechados e em volta do cilindro nos fixamos
paredes de vidro para possibilitar uma boa visualizacao do interior do cilindro.
Uma lampada de LED foi utilizada para a iluminacao do dispositivo durante as
simulacoes. Esta foi fixada ao redor da parte superior do cilindro. Na Figura 4.15
apresentamos o simulador mecanico finalizado e pronto para funcionar.
Confeccionamos tambem 18 discos de papelao identicos. Como ja discu-
tido anteriormente, estes serao utilizados para aumentar o peso do embolo sobre
as esferas em movimento, aumentando assim a pressao sobre elas. Cada disco
tem massa aproximada de 0, 33 g.
4. Metodologia 65
FIGURA 4.15: Simulador mecanico completamente montado e pronto para
funcionar. Do lado direito tem-se a fonte de tensao selecionada na posicao de
15 V.
Fonte: Os autores.
Para a simulacao do movimento browniano confeccionamos uma especie
de tampa para o cilindro. Essa tampa tem um furo circular onde foi colada
uma lente biconvexa de uma lupa de diametro igual a 100 mm. Ao centro
da lente colamos um fino barbante com uma pequena esfera de poliestireno
expandido (isopor) de raio igual a 5 mm fixada na outra extremidade. Essa esfera
representara uma partıcula de polen na simulacao do movimento browniano. Esta
e chamada de tampa tipo lupa e e mostrada na Figura 4.16.
FIGURA 4.16: Tampa tipo lupa para a simulacao do movimento browniano. A
esfera mostrada representara uma partıcula de polen.
Fonte: Os autores.
4. Metodologia 66
Para guardar todos os acessorios do dispositivo confeccionamos alguns
suportes especıficos para cada peca e todo o conjunto foi organizado em uma
caixa de madeira na forma de um kit didatico. Na Figura 4.17 apresentamos o
simulador mecanico e todos os acessorios construıdos para realizar as simulacoes
propostas.
FIGURA 4.17: Aparelho simulador e todos os acessorios confeccionados. O
conjunto sera capaz de simular e estudar diversos fenomenos na area de Fısica
Termica.
Fonte: Os autores.
Com o conjunto apresentado e possıvel simular 11 experimentos pertecen-
tes a area de Fısica Termica. As propostas de simulacao e os resultados obtidos
sao apresentados no proximo capıtulo.
Capıtulo 5
Simulacoes e Analise dos
Resultados
O uso do simulador mecanico se mostrou bastante eficaz para a abor-
dagem de temas da area de Fısica Termica. Neste capıtulo apresentamos as
propostas de simulacoes executadas neste trabalho e os resultados obtidos. Os
resultados sao provenientes de analises qualitativas e quantitativas dos fenomenos
e processos analisados. Como o dispositivo foi concebido para a realizacao de
simulacoes diferentes, a descricao de cada resultado segue separadamente a seguir.
Cada simulacao requer montagem ou ajuste especıfico para ser realizada. Nos
mostramos a seguir cada montagem necessaria, alem da analogia proposta entre
a simulacao, a teoria e o caso real.
Para todas as simulacoes, as partıculas dos gases serao representadas
pelas esferas. Para a simulacao das Leis dos Gases Ideais e da Primeira Lei da
Termodinamica, o cilindro e o embolo representarao um sistema real, semelhante
a uma seringa. Para todas as demais simulacoes haverao particularidades asso-
ciadas aos conceitos que se pretende fazer analogia, propondo-se representacoes
distintas e utilizando-se acessorios diferentes. Em todas as simulacoes o disposi-
tivo foi operado por meio do comando manual presente no painel, selencionando-se
a posicao analogico na chave de comando.
67
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 68
5.1 Simulacao da Lei de Boyle-Mariotte
A transformacao isotermica, descrita pela Lei de Boyle-Mariotte, rela-
ciona a pressao e o volume de um gas quando sua temperatura e constante. A
analogia requer que as esferas mantenham a mesma velocidade de translacao no
interior do cilindro, ja que a temperatura do gas depende unicamente de sua
energia cinetica, conforme mostra a eq.(3.35).
A simulacao deve ser realizada mantendo-se fixa uma posicao adequada
do potenciometro. Assim, uma quantidade determinada de esferas foi inserida
no interior do cilindro e o embolo montado sobre elas. Ao ligar o simulador,
giramos o potenciometro ate que o embolo alcancasse uma altura determinada.
Apos isso, nao alteramos mais a posicao do potenciometro, o que significa dizer
que a velocidade media das esferas e mantida constante.
A percepcao da relacao entre a pressao PM e o volume VM mecanicos
pode ser percebida de duas formas, uma qualitativa e outra quantitativa. A
forma qualitativa e obtida pressionando-se com a mao o eixo do embolo, de
modo a diminuir VM ocupado pelas esferas em movimento. A forma quantitativa,
mais detalhada, requer a utilizacao dos discos de papelao, cujo peso conhecido
e distribuıdo sobre a area inferior do embolo, o qual fornece a pressao mecanica
sobre as esferas. Os valores dos volumes mecanicos correspondentes sao obtidos
mais facilmente a partir de uma regua graduada posicionada verticalmente e
paralelamente ao eixo do cilindro, veja figura 5.1.
A cruz no eixo do embolo foi montada para acrescentarmos os discos e as
novas posicoes do embolo a cada adicao de disco foram aferidas. Conhecendo-se
as dimensoes do cilindro, foi possıvel obter os valores de VM ocupados pelas
esferas, assim como os respectivos valores das pressoes mecanicas aplicadas. Na
Figura 5.1 mostramos os discos posicionados sobre o embolo para a realizacao da
simulacao.
Atraves da eq.(3.30) foi possıvel obter os valores da velocidade quadratica
media de cada esfera em movimento. Da expressao 〈Km〉 = 12m 〈v2〉 podemos
obter o valor da energia cinetica media por esfera. Essas equacoes descrevem de
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 69
maneira coerente o sistema mecanico real formado pelas esferas em movimento.
Por fim, atraves da eq.(3.35) foi possıvel estimar a temperatura mecanica TM
do gas de esferas. Os valores de TM assim como os da energia cinetica media
por esfera devem ser constantes, pois estamos tentando simular um processo
isotermico. Como em todo sistema fısico, estamos limitados a barras de erros
em nossas simulacoes e os valores obtidos para as propriedades mecanicas podem
oscilar.
FIGURA 5.1: O aumento da pressao mecanica no gas de esferas se da pela adicao
dos discos sobre o embolo, fazendo com que o volume mecanico diminua. Note no
interior da caixa de vidro a direita, uma regua graduada utilizada para facilitar
na determinacao do volume mecanico do sistema a medida que PM varia.
Fonte: Os autores.
Vale ressaltar que se realizarmos um processo isotermico em um gas real,
o sistema trocara energia atraves de calor com a vizinhanca para manter sua
temperatura constante. Isso e necessario porque a medida que aumentamos a
pressao do sistema a temperatura pode aumentar. Esse processo de troca de
energia por calor nao existe no nosso simulador, portanto, a lei de Boyle sera
observada ate um certo limite de PM e VM , a partir dos quais TM podera variar.
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 70
Neste caso estarıamos simulando um processo adiabatico e o resultado pode ser
a obtencao de curvas adiabaticas do tipo PMVγM = constante, sendo γ > 1.
Isso pode ser muito vantajoso didaticamente para explicar as diferencas entre
os processos termodinamicos, o conceito de calor e ate introduzir o conceito de
entropia mecanica SM do gas de esferas em analogia a entropia S de um gas
real, uma vez que em um processo adiabatico a entropia do sistema se mantem
constante. Assim, existem muitas discussoes que podem ser conduzidas com os
alunos, pois estamos relacionando o experimento simulado e suas limitacoes com
a teoria.
Para obtencao da relacao entre PM e VM utilizamos 25 esferas para
compor o gas mecanico mantendo o potenciometro fixo em uma posicao ar-
bitraria. Estes parametros foram mantidos constantes durante toda a simulacao
na tentativa de observarmos a lei mecanica de Boyle PMVM = k (TM). Com este
analogo mecanico objetivamos observar as isotermas de Boyle, em que a constante
k = k (TM) depende da temperatura mecanica TM , ou seja, cada isoterma equivale
a uma unica TM .
Um ponto muito importante, e que geralmente nao e observado didati-
camente, e que um gas real possui um volume mınimo. Se partirmos da relacao
PV = k obteremos V = 0 para uma pressao aplicada muito grande. Isso nao tem
sentido fısico, pois implicaria que as moleculas de gas poderiam se desintegrar se
aumentassemos indefinidamente a pressao no gas. No sistema mecanico e mais
facil perceber a existencia de um volume mınimo VM0, pois como o sistema e
macroscopico o valor de VM0 pode ser observado e determinado pelo empilhamento
das esferas quando o simulador esta desligado. Portanto, introduziremos uma
correcao no volume para obtencao das isotermas, de modo que,
PM (VM − VM0) = k (TM) . (5.1)
No caso de um gas real terıamos P (V −V0) = k. Estas sao chamadas de isotermas
de Clausius. Portanto, com o nosso dispositivo tentamos observar o analogo
mecanico das isotermas de Clausius. Para as 25 esferas, o volume mınimo do gas
mecanico e dado por VM0 = 1, 37× 10−5 m3.
A obtencao da relacao entre PM e VM se deu pela insercao dos n discos
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 71
de papelao no embolo do sistema e pela medida da altura h correspondente
do embolo. O numero de discos e as alturas correspondentes do embolo estao
apresentados na Tabela 5.1. Note que, a medida que aumentamos a quantidade
de discos, a altura do embolo diminui, ou seja, isso e equivalente a dizer que,
a medida que aumentamos a pressao no gas de esferas, o volume ocupado pelo
mesmo diminui. Agora precisamos ver se esta relacao obedece a eq.(5.1).
TABELA 5.1: Numero de discos n adicionados ao embolo do sistema e altura h
correspondente do embolo.
n h (± 5 mm)
0 80
1 70
2 65
3 60
4 55
5 50
6 47
7 45
8 42
9 40
10 40
11 40
Fonte: Os autores.
A relacao entre a pressao e o volume mecanicos e obtida a partir dos
calculos dessas propriedades. Para o calculo da pressao consideramos a forca
peso dos discos Fp = nmg, sendo m a massa de cada disco, n a quantidade de
discos adicionados e g a aceleracao da gravidade, distribuıda na area do embolo
A. Precisamos tambem levar em conta o peso do proprio embolo sobre as esferas.
A essa pressao, devido ao peso do proprio embolo, chamamos de P0. Logo,
PM = P0 +FpA
= P0 +nmg
A. (5.2)
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 72
Para o calculo do volume mecanico ocupado pelo gas de esferas basta
multiplicar a altura h pela area interna do cilindro de vidro πR2C , sendo RC o
raio do cilindro, de modo que:
VM = πhR2C . (5.3)
Os valores de PM e VM correspondentes aos dados da Tabela 5.1 estao
apresentados na Tabela 5.2.
TABELA 5.2: Pressao PM e volume VM mecanicos obtidos, respectivamente, a
partir das eqs.(5.2) e (5.3) e dos dados da Tabela 5.1.
PM (Pa) VM (m3)
3, 77± 0, 10 1,61 ×10−4 ± 1, 17× 10−5
5, 42± 0, 14 1,50 ×10−4 ± 1, 17× 10−5
7, 07± 0, 18 1,38 ×10−4 ± 1, 17× 10−5
8, 72± 0, 22 1,27 ×10−4 ± 1, 16× 10−5
10, 36± 0, 27 1,15 ×10−4 ± 1, 16× 10−5
12, 02± 0, 30 1,09 ×10−4 ± 1, 16× 10−5
13, 67± 0, 35 1,04 ×10−4 ± 1, 16× 10−5
15, 32± 0, 39 9,8 ×10−5 ± 1, 16× 10−5
16, 97± 0, 43 9,2 ×10−5 ± 1, 16× 10−5
18, 62± 0, 47 9,2 ×10−5 ± 1, 16× 10−5
20, 27± 0, 52 9,2 ×10−5 ± 1, 16× 10−5
Fonte: Os autores.
Para verificar se temos realmente uma isoterma mecanica de Clausius, do
tipo da eq.(5.1), plotamos o grafico de PM vs VM apresentado na Figura 5.2. Note
que os pontos obtidos da simulacao nao podem ser ajustados por uma isoterma
de Clausius, eq.(5.1). Isso significa que a temperatura mecanica do gas de esferas
esta variando.
Na Figura 5.2 ajustamos uma isoterma para cada ponto obtido na si-
mulacao mostrando que a medida que aumentamos PM , consequentemente au-
mentamos TM . Isso e esperado porque a medida que PM aumenta, VM diminui,
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 73
e isso faz com que o numero de colisoes do pistao com as esferas aumente, au-
mentando assim a transferencia de momento para as mesmas e consequentemente
suas velocidades. Como estas estao relacionadas com a temperatura mecanica do
sistema, podemos concluir que TM realmente aumenta. Portanto, um processo
isotermico nao pode ser simulado em nosso dispositivo.
FIGURA 5.2: Grafico da pressao mecanica PM em funcao do volume mecanico
VM obtido dos dados da Tabela 5.2. A curva vertical pontilhada tracejada
corresponde ao valor mınimo VM0 do gas de esferas. As isotermas mecanicas
de Clausius de TM1 a TM11 correspondem a temperaturas diferentes, ou seja,
k (TMi), para i = 1, 2, . . . , 11, diferentes e TM11 > TM1. A curva solida preta e
uma adiabatica do tipo apresentado na eq.(5.4).
Fonte: Os autores.
Como o nosso sistema nao possui um analogo da energia transferida para
a vizinhanca atraves do calor para realizarmos um analogo do processo isotermico,
tentamos ajustar os pontos obtidos por uma curva adiabatica em que δQM = 0.
Esta e dada por:
PM (VM − VM0)γM = k, (5.4)
em que k e uma constante que dependera da entropia mecanica do sistema, k =
k (SM), em analogia a um processo adiabatico real em que temos P (V − V0)γ =
k(S). Em um processo adiabatico a entropia do sistema se mantem constante.
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 74
A constante γ de um gas real e dada pela razao entre as capacidades termicas a
pressao constante CP e a volume constante CV , ou seja, γ = CP
CV. Os analogos
mecanicos para a entropia e para as capacidades termicas nos nao levamos em
conta neste trabalho. A unica consideracao e que γM > 1, como no caso real.
A curva solida preta na Figura 5.2 mostra uma curva adiabatica dada
pela eq.(5.4) para k = 1, 4 × 10−11 J e γM = 3. Note que esta curva ficou em
excelente acordo com os pontos obtidos na simulacao. Como esperado γM > 1.
Na Figura 5.3 nos comparamos a adiabatica mecanica obtida com duas
adiabaticas para γM = 1, 66, em analogia a um gas monoatomico ideal a tempe-
ratura ambiente, como o Helio, e γM = 1, 4, em analogia a um gas diatomico ideal
como o oxigenio (O2) e hidrogenio (H2), para um modelo de molecula rıgida.
FIGURA 5.3: Grafico de PM vs VM mostrando uma adiabatica, curva solida
preta, ajustada nos pontos obtidos com o nosso simulador para k = 1, 4× 10−11
J e γM = 3, em comparacao com duas outras adiabaticas para γM = 1, 66 (curva
tracejada pontilhada azul) e 1, 4 (curva tracejada vermelha), em analogia a gases
ideais monoatomicos e diatomicos, respectivamente.
Fonte: Os autores.
O valor de γ em um gas real aumenta a medida que os graus de liberdade q
do sistema diminuem. Pelo teorema da equiparticao de energia e possıvel mostrar
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 75
que [19],
γ =q + 2
q. (5.5)
O valor mınimo de q, correspondente ao gas ideal monoatomico, e q = 3, pois as
moleculas estariam livres para se moverem no espaco, coordenadas x, y, z. Para
o nosso gas obtivemos γM = 3, o que pela eq.(5.5) nos fornece q = 1. Ou seja,
o nosso simulador mecanico simula um gas ideal em um dimensao. Isso esta em
pleno acordo com o funcionamento do nosso dispositivo porque a unica direcao
em que ha transferencia de energia para as esferas e a direcao vertical. Com isso
concluımos que, para simularmos um gas ideal em tres dimensoes, q = 3, seria
necessario construir um cilindro com pistoes nas direcoes x, y, z.
Note entao que simular um gas ideal com esferas plasticas rıgidas em um
sistema completamente mecanico, pode fornecer resultados realmente incrıveis
tanto do ponto de vista qualitativo quanto quantitativo.
5.2 Simulacao da Lei de Charles
A montagem para a demonstracao da Lei de Charles e igual a utilizada
na simulacao da Lei de Boyle-Mariotte. Tratando-se de uma transformacao
isobarica, a pressao mecanica do gas sobre as paredes do cilindro, como resultado
das inumeras colisoes das esferas, deve ser constante. Isso e facilmente obtido
coloncando-se uma quantidade fixa de discos no eixo do embolo, ou simplesmente
nao colocando nenhum disco, ja que o proprio peso do embolo sobre as esferas
exerce uma determinada pressao sobre as esferas em movimento.
Preferimos utilizar o embolo sem os discos, variando TM atraves do
potenciometro e verificando os novos valores de VM , dados pelas novas posicoes
do embolo. Conhecendo os valores de TM e VM podemos verificar o analogo
mecanico da lei de Charles de um gas ideal dada pela eq.(3.5), uma vez que
PM e constante. O experimento foi realizado com 25 esferas. A variacao da
altura do embolo em funcao da variacao da posicao do potenciometro foi visu-
almente perceptıvel durante o experimento. Deste modo, o aumento do volume
devido ao aumento da velocidade das esferas (quando nao se altera o peso sobre
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 76
o embolo), pode ser compreendido qualitativamente por meio da observacao e
tambem quantitativamente. Os resultados encontrados com o aparelho para esta
simulacao estao expressos na Tabela 5.3 a seguir:
TABELA 5.3: Relacao entre posicao angular do potenciometro e altura do
embolo.
Posicao do Potenciometro Altura do embolo (± 5 mm)
90 60
120 62
150 67
180 70
210 75
240 80
270 82
300 82
Fonte: Os autores
Como se pode perceber na tabela acima, a posicao do potenciometro esta
diretamente relacionada a altura assumida pelo embolo. Isso era esperado, uma
vez que o potenciometro e o responsavel pelo controle da velocidade das esferas.
Esferas mais velozes carregam maior momento linear que e transferido ao embolo
durante a colisao com ele. Essa transferencia de momento maior e traduzida na
aplicacao de uma forca maior, por isso o embolo e impulsionado para alturas mais
elevadas.
A relacao entre a posicao do potenciometro e a altura assumida pelo
embolo e linear, como se pode perceber no grafico apresentado na Figura 5.4.
Os pontos obtidos na simulacao foram ajustados linearmente pela equacao
θ = 0, 12h+ 49, 3, em que θ e a posicao angular do potenciometro em graus, e h
e a altura do embolo em milımetros. Tanto pelo grafico, quanto pela equacao do
ajuste, pode-se perceber que a altura mınima do embolo sustentado pelas colisoes
das esferas e aquela obtida quando o potenciometro assume a posicao angular de
0 graus (≈ 50mm). Entretanto na pratica isso nao ocorre, pois nessa posicao
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 77
do potenciometro a oscilacao do pistao e relativamente lenta e nao ha suspensao
estavel do embolo.
FIGURA 5.4: Altura do embolo h em funcao da posicao angular do potenciometro
θ.
Fonte: Os autores.
A extrapolacao da reta de ajuste torna-se muito mais interessante quando
se relaciona a energia cinetica media 〈K〉, obtida aplicando-se os dados nas eqs
(3.30) e (3.32), com o volume mecanico VM ocupado pelas esferas em movimento.
A analise a partir de 〈K〉 e essencialmente importante, pois como demonstra a
eq.(3.32), a temperatura (que e a grandeza que se deseja representar) depende
unicamente de 〈K〉. O grafico da Figura 5.5 mostra essa relacao.
Considerando o volume mecanico inicial VM0 = 1, 37 × 10−5m3 dado
pelo empilhamento das esferas do gas mecanico quando o motor esta desligado,
observa-se na Figura 5.5 que a energia cinetica media e diretamente proporcional
ao volume mecanico VM ocupado pelas esferas. E interessante notar que a reta
que passa pelos valores de VM obtidos na simulacao e extrapolada exatamente
no valor de VM0. Portanto nosso dispositivo mostra que 〈K〉 e nula quando
VM = VM0, ou seja, a temperatura mecanica TM tambem e nula para este volume.
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 78
Este resultado e realmente incrıvel, pois reproduz a Lei de Charles para um gas
ideal com a correcao no volume, sendo o volume mınimo caracterıstico de uma
temperatura nula mınima, chamada de zero absoluto. Vemos com isso que com o
gas de esferas unidimensional e possıvel introduzir conceitos dificilmente tratados
no ensino medio, como a previsao do zero absoluto.
FIGURA 5.5: Energia cinetica media calculada em funcao do volume mecanico
obtido na simulacao da transformacao isobarica.
Fonte: Os autores.
5.3 Simulacao da Lei de Gay-Lussac
Para a transformacao isocorica, no qual essa lei se baseia, utilizou-se a
mesma montagem experimental das simulacoes anteriores. A diferenca e que esta
lei requer que o volume mecanico do sistema permaneca constante, isto e, a altura
do embolo nao pode variar.
Para obtermos essa condicao controlamos simultaneamente a posicao do
potenciometro (TM) e a quantidade de discos sobre o embolo (PM). Deste modo,
estabelecemos uma posicao do potenciometro ate atingir a posicao desejada para
o embolo, ou seja, VM . Em seguida comecamos a adicionar discos ao eixo do
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 79
embolo e ajustar o potenciometro em novas posicoes, sempre mantendo o valor
de VM inicial.
Os pares (PM , TM) foram mais difıceis de serem obtidos em comparacao
com os procedimentos anteriores. Um processo isocorico tambem e muito difıcil
de ser concebido experimentalmente em sistemas reais, pois se a temperatura
do sistema varia, o mesmo se dilata. Apesar das dificuldades conseguimos obter
alguns pontos e verificar o analogo mecanico da lei de Gay-Lussac para um gas
ideal dada pela eq.(3.6).
A simulacao foi conduzida com 25 esferas sendo possıvel manter a altura
do embolo constante em torno de h = 67, 5mm. Devido as dificuldades em
conseguir pares (PM , TM) a um VM constante foi possıvel obter apenas tres pontos
nesta simulacao. Estes sao apresentados na Tabela 5.4.
TABELA 5.4: Relacao entre a posicao do potenciometro θ e quantidade de discos
n adicionados ao eixo do embolo para manter a altura constante.
θ n
150 0
210 1
270 2
Fonte: Os autores
A Figura 5.6 mostra o grafico dos valores apresentados na Tabela 5.4.
A partir das devidas correspondencias, ja descritas nas simulacoes anteriores,
podemos expressar esse resultado como sendo a energia cinetica media do gas de
esferas em funcao da pressao mecanica aplicada ao mesmo, como mostrado na
Figura 5.7.
Para o ajuste linear apresentado na Figura 5.7 nos tomamos como quarto
ponto PM = 0. Note que a reta ajustada passa perfeitamente pelos tres pontos
obtidos e por zero. Esse resultado mostra que quando a pressao mecanica e nula
a energia cinetica media das esferas tambem e nula, como esperado, pois se as
esferas nao se movem estas nao podem exercer nenhuma forca no embolo do
sistema a partir das inumeras colisoes no mesmo para mante-lo suspenso. Uma
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 80
vez que a energia cinetica media e nula, a temperatura mecanica do sistema
tambem e nula, de modo que o resultado para pressao nula tambem conduz a
discussao do zero absoluto.
FIGURA 5.6: Quantidade de discos n introduzidas no eixo do embolo em funcao
da posicao angular do potenciometro θ para simulacao de uma transformacao
isocorica.
Fonte: Os autores.
5.4 Simulacao da Primeira Lei da Termodinamica
Como ja discutido na secao 5.1 o nosso sistema nao simula transmissao
de energia atraves do calor, ou seja, o gas de esferas nao troca energia com a
vizinhanca. Portanto, o nosso simulador mecanico funciona como um sistema
de paredes adiabaticas em que δQ = 0. Pela primeira lei da termodinamica,
eq.(3.18), devemos entao ter Q = 0 e portanto ∆U = −W , ou seja, temos
uma situacao em que o trabalho independe do caminho, dependendo apenas dos
estados final e inicial do sistema.
Como em um gas ideal a energia interna depende apenas de sua tempera-
tura, U = U(T ), podemos descrever o analogo mecanico UM da energia interna do
sistema como sendo a energia cinetica do gas de esferas, ou seja, UM = 12Nm 〈v2〉.
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 81
FIGURA 5.7: Energia cinetica media em funcao da pressao mecanica. Os pontos
foram obtidos na simulacao de um processo isocorico.
Fonte: Os autores.
Sendo o trabalho de um gas dado por δW = PdV nesta situacao, podendo
ser positivo no caso de uma expansao ∆V > 0 ou negativo, em uma compressao
∆V < 0, podemos definir o analogo mecanico do trabalho do gas de esferas como
sendo WM = PM∆VM . Dessa forma o analogo mecanico da primeira lei para um
processo adiabatico fica ∆UM = −PM∆VM , ou seja,
∆
(1
2Nm
⟨v2⟩)
= −PM∆VM . (5.6)
Como ja discutido podemos variar a energia cinetica das esferas, e con-
sequentemente TM , atraves do potenciometro. Os valores de PM e VM tambem
podem ser determinados facilmente, como descrito anteriormente. Dessa forma o
nosso disposito possibilita verificar um analogo da primeira lei da termodinamica
de forma bastante elegante. Ate onde sabemos, este e o primeiro experimento
didatico capaz de demonstrar o princıpio de conservacao de energia.
Como discutido anteriormente nos pretendemos verificar se o nosso sis-
tema conserva energia. Como o analogo para o conceito de calor em nosso
simulador nao existe, tentamos verificar que UM = PMVM , de acordo com a
eq.(5.6). Para isso medimos os valores de PM e VM e comparamos com o valor
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 82
correspondente da energia interna mecanica, dada pela energia cinetica media
do sistema, obtido teoricamente a partir da teoria cinetica dos gases. Na Figura
5.8 apresentamos os valores de UM calculados com relacao aos correspondentes
valores do produto PMVM medidos na simulacao.
FIGURA 5.8: Grafico de UM , calculados pela teoria cinetica dos gases, em funcao
do produto PMVM medidos na simulacao. A curva solida vermelha e o ajuste
linear dos pontos obtidos na simulacao. O coeficiente angular da reta e dado por
α = 0, 0599± 0, 0003.
Fonte: Os autores.
A curva solida vermelha mostra o ajuste linear dos pontos, cujo coe-
ficiente angular e dado por α = 0, 0599 ± 0, 0003. Se tivessemos conservacao
de energia deverıamos ter α = 1. O valor obtido mostra que os valores da
energia interna mecanica calculados deveriam ser bem maiores para o valores
de PM e VM medidos. A nao conservacao de energia em nosso sistema e de
certa forma esperada, porque alem de produzir muito barulho durante as colisoes
entre as esferas e o cilindro, as esferas sao amortecidas quando as colisoes entre
as mesmas e o embolo ocorrem. Como o embolo esta sendo sustentado pelas
colisoes as esferas basicamente transferem todo o seu momento para o embolo e
em seguida caem em direcao ao pistao sob o efeito da gravidade com uma energia
bem menor que a anterior a colisao. Ou seja, a colisao das esferas com o embolo
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 83
sao inelasticas. Se tivessemos colisoes completamente elasticas como suposto no
modelo, provavelmente observarıamos UM = PMVM e portanto α = 1.
Apesar da energia interna do nosso sistema nao se conservar, fizemos uma
outra simulacao para verificar se a energia interna depende apenas da temperatura
mecanica do gas de esferas, ou seja, do controle do potenciometro. Fixando-se o
embolo notamos que as esferas ficam cada vez mais velozes a medida que se gira o
potenciometro, isto e, a medida que se adiciona energia mecanica do pistao. Essa
energia e completamente transformada em energia cinetica das moleculas, pois o
pistao transfere momento para as esferas em colisoes aproximadamente elasticas.
Para realizacao desta simulacao procedemos de forma semelhante a si-
mulacao da Lei de Charles, considerando PM constante, transformacao isobarica.
Como o valor da variacao da posicao do potenciometro e constante, variando de
30 em 30 graus, ou seja, ∆θ = 30, esperamos que a variacao da energia interna do
sistema ∆UM , tambem deva ser a mesma. Em outras palavras, tentamos mostrar
que ∆UM = PM∆VM .
Na figura 5.9 mostramos ∆UM em funcao de θ. Neste grafico mostramos
que o sistema evolui do estado 1 para o 2 com o potenciometro posicionado em
θ = 30. Ao mover o potenciometro a passos de 30 movemos o sistema do
estado 2 para o 3 e assim por diante. Com isso, nosso objetivo foi demonstrar
que a variacao de energia interna de 1 para 2 e igual a mesma variacao de 2 para
3 e assim sucessivamente, ou seja, ∆UM21 = ∆UM32 = ∆UM43 = . . ., porque
nos sempre mudamos a posicao do potenciometro de um estado para o outro de
30. Como o potenciometro utilizado e linear esperamos que o equivalente da
temperatura mecanica fosse aumentando tambem de forma linear.
Para verificar se isso realmente ocorre fizemos o ajuste linear dos pontos
obtidos, curva solida vermelha da figura 5.9, e verificamos que o coeficiente
angular da reta e da ordem de 10−7, ou seja, praticamente zero. Este resultado
nos permite concluir que a energia interna mecanica depende unicamente da
temperatura mecanica do sistema, regulada pelo potenciometro, uma vez que
para uma gas ideal U = 12m 〈v2〉 = 3
2nRTN
. Mostramos portanto, que a energia
mecanica do nosso gas de esferas depende somente da temperatura mecanica do
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 84
mesmo, UM = UM (TM), como no caso de um gas ideal.
FIGURA 5.9: Variacao da energia mecanica ∆UM devido ao aumento da posicao
angular θ do potenciometro. A curva solida vermelha mostra o ajuste linear dos
pontos. Seu coeficiente angular e da ordem de 10−7.
Fonte: Os autores.
5.5 Simulacao da Segunda Lei da Termodinamica
Essa proposta e baseada nos artigos de Martin Sussman [27] e de Tim
Harman [28], alem de algumas adaptacoes realizadas a partir das ideias apresen-
tadas no artigo de Souza, Dias e Santos [26]. Estes artigos propoem experimentos
simples para uma abordagem estatıstica da Segunda Lei da Termodinamica. De
maneira semelhante, nos adaptamos os experimentos destes autores ao nosso
simulador mecanico. O experimento proposto se assemelha mais com o proposto
na referencia [26]. A diferenca com a nossa proposta e que o nosso experimento
e automatizado e apresenta uma configuracao diferente para a obtencao dos
microestados do sistema.
A ideia principal e associar os conceitos de microestado e macroestado a
um conjunto de esferas, cujas configuracoes representam os estados microscopicos
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 85
de um gas. Como ja discutido na secao 3.3.2 um conjunto de diferentes microes-
tados pode estar associado a um unico macroestado. O numero de microestados
associados ao mesmo macroestado e expresso pela entropia do sistema, eq.(3.49).
A partir desses conceitos e possıvel entender o carater estatıstico da entropia
utilizando nosso dispositivo.
Para simularmos isso utilizamos a base tipo grade 3×3. Como exposto na
secao 4.2.7, esse embolo possui nove celulas em um plano para a acomodacao das
esferas. Utilizando N esferas, com N < 9, observamos diferentes combinacoes
das mesmas na grade. Cada configuracao corresponde a um microestado do
sistema. Cada celula podera estar ocupada com uma esfera (E) ou vazia (V).
Utilizando as letras E e V nos estabelecemos cada microestado do sistema atraves
de um anagrama de nove letras. Por exemplo, para duas esferas, os anagra-
mas EVEVVVVVV e VVVVEVVEV sao microestados acessıveis do sistema. A
sequencia de 1 a 9 do anagrama e obtida na ordem estabelecida pela numeracao
das celulas apresentada na figura 4.12(b). Como as esferas e os espacos vazios
sao indistinguıveis entre si, a permutacao das letras E e V de um anagrama nao
forma outro anagrama diferente. A Figura 5.10 mostra uma das configuracoes,
ou microestados, possıveis do nosso gas hipotetico para duas esferas.
A quantidade Ω de anagramas e, portanto, de microestados que podem
ser formados e dado por:
Ω =9!
N !(9−N)!, (5.7)
em que (9 − N) e a quantidade de celulas vazias. O macroestado por
sua vez, e representado por um numero associado a cada microestado, o qual
chamaremos de macrovalor, em analogia a [26]. Esse numero e dado em funcao
da posicao em que as esferas se encontram na grade, ou de maneira mais simples,
no anagrama. Definimos o macrovalor como sendo a soma das posicoes de cada
esfera na grade. Por exempo, o microestado dado por VVVEVEVVE, possui
macrovalor 4 + 6 + 9 = 19. Nao e difıcil perceber que configuracoes diferen-
tes podem resultar num mesmo macrovalor, como por exemplo, a configuracao
VVEVVVEVE tambem tem macrovalor igual a 19. Isso esta em pleno acordo
com o fato de que um conjunto de diferentes microestados pode estar associado
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 86
a um unico macroestado.
FIGURA 5.10: Base tipo grade 3× 3 mostrando uma das configuracoes possıveis
que o sistema pode assumir para duas esferas. O anagrama associado a esta
configuracao e dado por EVVVEVVVV, sendo E a celula que contem uma esfera
e V uma celula vazia. A sequencia do anagrama e obtido pela numeracao das
celulas apresentada na figura 4.12(b).
Fonte: Os autores.
Como nos calibramos o pistao para nao lancar as esferas em alguma
direcao privilegiada, naturalmente nao ha configuracoes privilegiadas, ou seja,
estas sao igualmente provaveis. A probabilidade p de se obter qualquer um dos
microestados e dada por:
p =1
Ω(5.8)
Macrovalores com um maior numero de microestados associados terao
maiores probabilidades de ocorrerem. No dispositivo simulador, a mudanca de
uma configuracao para outra e obtida pressionando-se o botao pulso do painel.
Quando se pressiona esse botao, o pistao sobe e desce e as esferas sao lancadas, as-
sumindo uma nova configuracao. O sistema se comporta como em um lancamento
de dados.
Os resultados obtidos mostram o carater estatıstico da Segunda Lei da
Termodinamica, uma vez que macrovalores que maximizam a entropia sao os mais
provaveis de ocorrerem. Com isso podemos tambem discutir a lei do aumento
da entropia, mostrando que o estado mais provavel (S maximo) e o estado de
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 87
equilıbrio termodinamico do sistema. A simulacao da Segunda Lei da Termo-
dinamica baseou-se na proposta da compreensao estatıstica e microscopica da
entropia. Como indicado na metodologia, associou-se o conceito de microestado
de um gas as diferentes configuracoes (disposicoes ou arranjos) que as esferas
poderiam assumir na base tipo grade 3× 3.
Utilizando duas esferas, obtemos 36 configuracoes diferentes na grade,
com macrovalores variando entre 3 e 16. A Tabela 5.5 mostra algumas confi-
guracoes e seus macrovalores associados.
TABELA 5.5: Algumas configuracoes que as esferas podem assumir na base tipo
grade 3× 3 e seus respectivos macrovalores.
Configuracao Macrovalor
EEVVVVVVV 1+2 = 3
EVEVVVVVV 1+3 = 4
EVVEVVVVV 1+4 = 5
EVVVEVVVV 1+5 = 6
EVVVVEVVV 1+6 = 7
EVVVVVEVV 1+7 = 8
EVVVVVVEV 1+8 = 9
EVVVVVVVE 1+9 = 10
VEEVVVVVV 2+3 = 5
Fonte: Os autores.
Como cada configuracao e igualmente provavel, a probabilidade p de se
obter qualquer uma das 36 configuracoes num dado lance e de:
p =1
36≈ 2, 8%. (5.9)
Assim, foi possıvel calcular a probabilidade de ocorrencia para cada
macrovalor, bastando multiplicar 2, 8% para cada configuracao existente em cada
macrovalor. Pela determinacao de todas as 36 configuracoes e o calculo de todos
os macrovalores, obtemos a Tabela 5.6.
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 88
TABELA 5.6: Probabilidade de ocorrencia para cada macrovalor.
Macrovalor Quantidade de Configuracoes Probabilidade
3 1 2,8%
4 1 2,8%
5 2 5,6%
6 2 5,6%
7 3 8,4%
8 3 8,4%
9 4 11,2%
10 4 11,2%
11 4 11,2%
12 3 8,4%
13 3 8,4%
14 2 5,6%
15 2 5,6%
16 1 2,8%
17 1 2,8%
Total 36 ≈ 100%
Fonte: Os autores.
Pela Tabela 5.6 nota-se que os macrovalores 9, 10 e 11 sao os mais
provaveis de ocorrerem, pois sao os que tem a maior quantidade de configuracoes
associadas. Ja os macrovalores 3, 4, 16 e 17, sao os menos provaveis, com apenas
uma configuracao associada a cada um deles. Logo e bem mais provavel obter
macrovalores proximos de 10 do que proximos de 1 ou 17, num dado lance. Essa
relacao fica mais explıcita no grafico da Figura 5.11.
A curva obtida no grafico da Figura 5.11 e o ajuste da funcao gaussiana
definida por p = Ae−(x−xc)
2
2w2 , para xc = 10 (macrovalor central), A = 11 (maior
quantidade de microestados) e w = 4. Portanto, p e a probabilidade de se
obter determinado macrovalor num lance qualquer. Como a entropia e uma
grandeza que mede a quantidade de microestados para cada macroestado, aqui
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 89
representado pelos macrovalores, a entropia maxima sera aquela associada aos
macroestados com o maior numero de microestados.
FIGURA 5.11: Probabilidade de ocorrencia de macrovalores para 2 esferas na
grade 3× 3.
Fonte: Os autores.
A entropia de um sistema real atinge o valor maximo quando o sistema
entra em equilıbrio termodinamico. O equilıbrio se da justamente quando o gas
assume um macroestado mais provavel, isto e, quando a entropia e maxima.
Assim, no caso do gas formado pelas duas esferas, a entropia sera maxima
nos macrovalores centrais da gaussiana do grafico da Figura 5.11, sendo estes
representantes do “equilıbrio termico”. Pode-se com isso discutir com os alunos
que sistemas fısicos caminham espontaneamente para o equilıbrio termodinamico
por uma questao essencialmente probabilıstica. Ou seja, apos certo tempo e
mais provavel encontrar um gas na condicao de equilıbrio que fora dele, sendo a
entropia maxima um indicativo para qual macroestado o sistema vai evoluir.
Desse modo, a afirmacao da Segunda Lei da Termodinamica de que a
entropia nunca decresce em processos irreversıveis, processos espontaneos, pode
ser entendida estatisticamente. A entropia nesses processos nao diminui porque a
probabilidade disso ocorrer e muito pequena. Na simulacao proposta, a probabi-
lidade do sistema composto pelas 2 esferas assumir macrovalores (macroestados)
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 90
com poucas configuracoes (poucos microestados, pequena “entropia”) e muito
pequena. Assim durante os lances realizados, a maioria dos macrovalores obtidos
serao referentes a valores maximos de “entropia” e dificilmente havera diminuicao,
pois a chance de se obter macrovalores com poucas configuracoes associadas sera
pequena. Em sıntese, ao se manipular o simulador neste experimento se percebera
que nao sera facil fazer a “entropia” diminuir com o passar dos lances, embora
nao seja impossıvel, levando a compreensao de que o equilıbrio termodinamico e
dado pela configuracao mais provavel do sistema.
Realizando a simulacao com 3 esferas na grade 3× 3, observamos que a
quantidade de configuracoes possıveis do sistema aumenta. Neste caso serao 84
configuracoes diferentes e os macrovalores estarao compreendidos entre 6 e 24. A
probabilidade para a ocorrencia de cada configuracao num lance qualquer sera
neste caso de aproximadamente 1, 2%, ja que sao igualmente provaveis. Com isso,
obtemos analogamente o grafico mostrado na Figura 5.12.
FIGURA 5.12: Probabilidade de ocorrencia de macrovalores para 3 esferas na
grade 3× 3.
Fonte: Os autores.
Mais uma vez percebe-se que os macrovalores mais provaveis serao aque-
les proximos da regiao central da curva obtida pelo ajuste da funcao gaussi-
ana. Neste caso para 3 esferas, os macrovalores mais reincidentes serao aqueles
proximos de 16. Logo, estes valores centrais representarao o estado de equilıbrio
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 91
termico, pois apresentarao “entropia maxima”.
5.6 Simulacao da Expansao Livre de um Gas
Sabemos que a expansao livre de um gas e um processo irreversıvel. Para
entender esse fenomeno os livros didaticos geralmente consideram um recipiente
dividido ao meio por uma parede formando duas cavidades [19]. De um lado esta
o gas e do outro e feito vacuo. Ao remover a parede, as moleculas do gas ocupam
o espaco das duas cavidades. Sabe-se que, espontaneamente, todas as moleculas
do gas dificilmente estarao, em um determinado instante de tempo, ocupando
apenas uma das cavidades fazendo com que o sistema retorne a sua configuracao
inicial, uma cavidade vazia e outra com todo o gas.
Termodinamicamente dizemos que a reversibilidade deste processo e im-
possıvel, pois a expansao livre de um gas e irreversıvel. Na linguagem da mecanica
estatıstica dizemos que essa irreversibilidade e pouco provavel, ou seja, esta tem
carater probabilıstico. Se o gas fosse constituıdo por uma unica molecula, a
probabilidade da mesma estar em uma das cavidades, direita ou esquerda, num
determinado instante de tempo e 1/2, ou seja, de 50%. Para duas moleculas
indistinguıveis do gas a probabilidade e 1/2×1/2 = 1/22 = 1/4. ParaN moleculas
do gas a probabilidade Pel torna-se,
Pel =1
2N. (5.10)
Vemos entao que a probabilidade do gas retornar ao estado inicial, ou
de se concentrar exclusivamente em qualquer uma das duas cavidades, depende
do inverso da quantidade de moleculas que constitui o gas. Se tivermos N >> 1
entao Pel → 0. Mesmo tendendo a zero, probabilidade disso acontecer em termos
da mecanica estatıstica existe, diferentemente da termodinamica.
Nos simulamos o sistema descrito acima utilizando a base tipo recipiente.
Uma quantidade N de esferas foi posicionada em um unico lado desse embolo
especial. A figura 5.13 mostra a condicao inicial ara a realizacao da simulacao.
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 92
FIGURA 5.13: Esferas ocupando inicialmente uma unica cavidade do recipiente
para simular a expansao livre de um gas.
Fonte: Os autores.
A remocao da parede central do recipiente e simulada ao acionar o dispo-
sitivo, fazendo as esferas se agitarem e saltarem entre os lados. A irreversibilidade
do processo e demonstrada na tentativa de observar as esferas retornando a
configuracao inicial enquanto o dispositivo e mantido em funcionamento.
Com esta simulacao demonstramos estatisticamente a improbabilidade
que um gas, inicialmente ocupando um unico lado de um recipiente, tem de
retornar espontaneamente ao lado original apos sofrer expansao livre. A Tabela
5.7 mostra a relacao entre a probabilidade deste evento em relacao a quantidade
de esferas acumuladas inicialmente em um unico lado.
Essa relacao pode ser melhor entendida atraves do grafico da Figura 5.14
obtido atraves dos dados apresentados na Tabela 5.7.
A probabilidade das esferas voltarem a ocupar o mesmo lado de recipiente
e cada vez menor, a medida que se aumenta a quantidade de esferas. Para
um gas real, essa probabilidade tende a zero, devido ao enorme numero de
partıculas constituintes. Assim e praticamente impossıvel, ou improvavel, que
um gas se concentre espontaneamente em unico lado de um recipiente num dado
instante. Por isso a expansao livre de um gas e um processo irreversıvel. Essa
irreversibilidade esta associada tambem a entropia. O gas espalhado uniforme-
mente por todo o recipiente maximiza mais a entropia que quando esta a ocupar
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 93
espontaneamente um unico lado deste recipiente. As esferas espalhadas tem muito
mais configuracoes (microestados) em relacao a condicao em que ocupam um
unico lado. Logo, um gas qualquer tende a permanecer espalhado no recipiente
que o contem, pois esta e a configuracao mais provavel do sistema.
TABELA 5.7: Probabilidade de retorno espontaneo das esferas para um unico
lado de um recipiente fechado.
Quantidade de Esferas Probabilidade de Retorno
1 50,0%
2 25,0%
3 12,5%
4 6,3%
5 3,1%
6 1,6%
7 0,8%
8 0,4%
9 0,2%
10 0,1%
11 0,05%
12 0,025%
13 0,0125%
14 0,00675%
15 0,003375%
Fonte: Os autores.
5.7 Simulacao da Mistura de Dois Gases
Esta simulacao e semelhante ao caso anterior. Neste caso, em vez de
vacuo, consideramos dois gases distintos, A e B, com cada um ocupando uma
das cavidades do recipiente separadas por uma parede central. Termodinami-
camente, ao se remover a parede os gases se misturam e jamais se separaram
espontaneamente [29].
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 94
FIGURA 5.14: Probabilidade de retorno das esferas apos espalhamento no
recipiente.
Fonte: Os autores.
Como no caso anterior, nesta simulacao tambem estamos demonstrando
que a irreversibilidade do processo pode ser explicada estatisticamente.
As diferentes configuracoes que o sistema pode assumir inclui duas em
que os gases estarao totalmente separados. O gas A no lado direto e o gas B no
lado esquerdo, ou vice-versa. Matematicamente, o numero total de combinacoes
g, referente a soma das N partıculas que compoem os dois gases, e dada por,
g = 2N. (5.11)
Como a quantidade de combinacoes em que os gases estarao completa-
mente separados sao duas, a probabilidade Pm desse evento ocorrer e dada por,
Pm =2
g=
1
N, (5.12)
mostrando novamente que se tivermos N >> 1, Pm → 0. Podemos ate discutir
com os alunos qual a processo tem menor probabilidade de voltar ao estado inicial,
o de expansao livre ou o de mistura de dois gases distintos para um mesmo numero
de partıculas N .
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 95
Para essa simulacao utilizamos a base tipo recipiente. Inserimos uma
determinada quantidade de esferas verdes em uma cavidade do recipiente para
representar o gas A e uma outra determinada quantidade de esferas azuis na outra
cavidade do recipiente para representar o gas B. A Figura 5.15 mostra a condicao
inicial do sistema simulado.
FIGURA 5.15: Base tipo recipiente mostrando dois conjuntos de esferas de cores
diferentes dispostos separadamente, um em cada cavidade, para simular a mistura
irreversıvel de dois gases durante o funcionamento do simulador mecanico.
Fonte: Os autores.
Como no caso da expansao livre, a remocao da parede que separa os dois
gases foi simulada ao acionar o dispositivo, fazendo com que as esferas se agitem e
saltem a parede central, se misturando em um movimento caotico. Pela variacao
da quantidade de esferas em ambas as cavidades do recipiente e possıvel analisar
a probabilidade de separacao total dos gases misturados.
Partindo da eq.(5.12), pode-se construir a Tabela 5.8, a qual mostra a
probabilidade de dois gases, apos se misturarem, voltarem a se separar esponta-
neamente.
A separacao espontanea de dois gases torna-se cada vez mais improvavel,
a medida que se aumenta a quantidade de esferas em cada gas. Assim, a partir de
um certo numero relativamente grande de esferas, a separacao e extremamente
improvavel. Este tambem e um fato estatıstico, pois a completa separacao entre
as esferas, gas A na direita e gas B na esquerda, e vice-versa, sao somente duas em
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 96
meio a muitas outras configuracoes diferentes. Deste modo, a separacao completa
das esferas de mesma cor, cada uma de um lado no recipiente, e um evento muito
raro, mas nao e impossıvel pela mecanica estatıstica. O grafico da Figura 5.16
mostra a relacao entre a quantidade total de esferas e a probabilidade de separacao
espontanea em uma agitacao de um lance qualquer.
TABELA 5.8: Probabilidade de separacao espontanea entre dois gases em relacao
a algumas quantidade de esferas presentes em cada gas.
Gas A Gas B Probabilidade
1 1 50,0%
2 2 25,0%
3 2 20,0%
3 3 16,7%
4 3 14,3%
4 4 12,5%
Fonte: Os autores.
FIGURA 5.16: Probabilidade de separacao espontanea das esferas.
Fonte: Os autores.
Como se pode perceber, a probabilidade da separacao cai drasticamente
com o aumento das esferas. A curva obtida acima e um ramo de hiperbole
dado pela eq.(5.12). No caso de um gas real, o numero de partıculas seria
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 97
muito maior, da ordem do numero de Avogrado, e a probabilidade de separacao
espontanea tenderia a zero. Por exemplo, para 12
mol de gas A e 12
mol de gas B
misturados, a probabilidade de separacao seria da ordem de 11023
, o que torna o
evento praticamente impossıvel de ocorrer.
Esse resultado na verdade e mais uma faceta da Segunda Lei da Ter-
modinamica. Podemos considerar que o “macroestado da mistura” das esferas
apresenta muitas combinacoes (“microestados”) e em contrapartida, a condicao
da separacao so apresenta duas unicas combinacoes possıveis. Logo a entropia da
mistura e muito maior que a entropia das esferas separadas, e o sistema tendera
a permanecer neste estado de maxima entropia, equilıbrio termodinamico.
Outro aspecto interessante a se observar e o aumento da desordem do
sistema de esferas a cada agitacao promovida. Inicialmente as esferas estao
totalmente separadas, com cada cor de um lado do recipiente. Apos breve agitacao
em cada lance, a ordem inicial vai se perdendo, dando lugar a combinacoes
cada vez mais provaveis. Isso significa que a entropia associada vai ficando
cada vez maior, atingindo seu maximo quando as esferas estiverem totalmente
misturadas. Se todos os lances forem filmados e o filme fosse reproduzido de tras
para frente, verıamos as esferas desordenadas lentamente retornando aos lados
originais, ordenando o sistema. Esse efeito para nos seria muito estranho, pois
efeitos semelhantes nao ocorrem espontaneamente em nossa experiencia diaria.
Logo perceberıamos, corretamente, que o filme estava invertido. Assim, atraves
dessa simulacao pode-se tambem compreender porque o aumento da entropia
estabelece um sentido para processos espontaneos na natureza, ou seja, uma seta
do tempo.
5.8 Simulacao da Evaporacao de um Perfume
Nesta simulacao ilustramos a situacao em que uma pessoa deixa aberto,
desapercebidamente, seu frasco de perfume que esta em seu quarto. Apos certo
tempo, a pessoa encontra o frasco de perfume vazio e percebe que todo o per-
fume evaporou no ar, pois sente o aroma do mesmo pelo quarto. A finalidade
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 98
desta simulacao e demonstrar de forma ludica que as moleculas do perfume, que
agora se encontram misturadas as moleculas de ar do quarto, jamais retornarao
espontaneamente ao frasco, ou seja, que o processo tem uma probabilidade muito
pequena de acontecer.
Para isso utilizamos a base tipo frasco, figura 4.12(d), e o suporte ilus-
trativo que encena o quarto da jovem, como discutido na secao 4.2.7. Inserimos
algumas esferas verdes no frasco para representar as moleculas do perfume, e
este foi posteriormente tampado. Ao redor do frasco inserimos uma quantidade
maior de esferas azuis para representar as moleculas do ar. Para simular a
evaporacao do perfume retiramos a tampa do frasco e colocamos o dispositivo
em funcionamento. Isso provoca a agitacao do frasco fazendo com que as esferas
verdes saiam do mesmo, ao passo que ocasionalmente algumas azuis entram no
frasco. Essa agitacao promove uma mistura irreversıvel das esferas, ou seja,
a mistura das moleculas do perfume com as do ar. Como na simulacao da
secao anterior, podemos conduzir uma discussao com os alunos sobre a pequena
probabilidade das moleculas de perfume retornarem ao frasco, uma vez que o
processo e irreversıvel.
Essa simulacao teve carater apenas ilustrativo e assemelhou-se a simulacao
da mistura de gases. Posicionamos o frasco fechado com 18 esferas verdes repre-
sentando o perfume e 30 esferas azuis ao redor representando o ar no quarto,
conforme mostra a fotografia mostrada na Figura 5.17.
FIGURA 5.17: Frasco contendo as esferas verdes representando o perfume e o ar
do quarto sendo representado pelas esferas azuis.
Fonte: Os autores.
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 99
Abrindo-se a tampa do frasco e acionando o botao pulso, a agitacao faz
sair parte das esferas verdes do frasco e entrar algumas esferas azuis nele. A tarefa
de recolocar somente as esferas verdes no frasco, isto e, fazer o perfume retornar
espontaneamente ao frasco e muito difıcil. Essa tarefa foi tentada pressionando-se
e soltando-se o botao pulso e observando a configuracao das 48 esferas no intervalo
entre as pulsacoes. Apos alguns lances de agitacao, as esferas verdes e azuis estao
totalmente misturadas, conforme mostra a Figura 5.18.
FIGURA 5.18: Apos varias agitacoes as moleculas de ar e de perfume ficam
totalmente misturadas.
Fonte: Os autores.
Apos diversos lances de agitacao, o sistema tende a permanecer mistu-
rado. A fotografia da Figura 5.19 mostra o estado do sistema apos 30 agitacoes.
A dificuldade de se restabelecer a ordem original e um fato probabilıstico.
Assim como nos casos anteriores da expansao livre de um gas e da mistura de
dois gases, a difusao de um perfume no ar tambem e um fenomeno irreversıvel.
Isto torna-se mais claro considerando que as moleculas de perfume concentradas
espontaneamente dentro do frasco aberto e so uma dentre as inumeras outras
configuracoes que o sistema pode assumir, resultando num evento rarıssimo de
ocorrer.
Novamente ressalta-se que o reestabelecimento da ordem original nao e
algo estritamente impossıvel, nao ha nenhuma proibicao natural que impeca esse
evento. Entretanto ele nao ocorre porque e extremamente improvavel. Logo a
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 100
diminuicao espontanea da ordem de um sistema, que esta relacionada a entropia,
nao e absolutamente impossıvel, mas a sua ocorrencia e tao rara que geralmente
consideramos como um evento impossıvel.
FIGURA 5.19: Mesmo apos muitas agitacoes, as moleculas de ar e de perfume
tendem a permanecer misturadas.
Fonte: Os autores.
5.9 Simulacao do Problema do Passeio Aleatorio
Nesta simulacao nos demonstramos o significado da eq.(3.48). Para isso,
utilizamos a base tipo grade linear, que possui cinco espacos para acomodacao
das esferas dispostos linearmente, e uma esfera para representar a partıcula que
realizara o passeio aleatorio.
Primeiramente analisamos o funcionamento do dispositivo para ver se a
montagem oferecia algum tipo de interferencia que implicasse numa direcao pri-
vilegiada durante os saltos da partıcula. Montamos o dispositivo e posicionamos
a esfera na posicao central da grade linear (posicao 0). A Figura 5.20 mostra essa
condicao inicial.
Cada uma das cinco celulas da grade e demarcada pelos numeros -2,
-1, 0, 1, 2, conforme descrito na secao 4.2.7, figura 4.12(a). Ao pressionar o
botao pulso fazemos com que a esfera salte para outra posicao. Consideramos
como validos somente os saltos em que a esfera sai de sua posicao para outra
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 101
adjacente, a direita ou a esquerda, ou seja, nao consideramos os saltos em que a
esfera pula duas ou mais celulas de uma so vez. Isso foi feito para simular que o
salto para a direita ou esquerda tem comprimento l fixo, como descrito na teoria
apresentada na secao 3.3.1. Isso significa que se a esfera ocupar as posicoes -2 e
2 da grade linear, ela deve ser colocada novamente na posicao central da grade
para realizacao de novos saltos.
FIGURA 5.20: Posicao inicial da esfera para simular o problema do passeio
aleatorio.
Fonte: Os autores.
A contagem de saltos validos serviu para analisar se o dispositivo apre-
sentava funcionamento vicioso, ou seja, se havia tendencia de que os saltos se
realizassem mais para a direita ou mais para a esquerda. Foram realizadas 10
rodadas de 20 saltos validos cada uma, determinando-se quantos foram para
a esquerda e quantos foram para a direita. Os resultados das rodadas estao
expressos na Tabela 5.9.
Os resultados mostram que nao ha tendencia viciosa do dispositivo, com
probabilidade aproximadamente igual para saltos a direita e para a esquerda.
Esse resultado ilustra o deslocamento linear de uma partıcula de um gas, onde
nao ha direcao preferencial de deslocamento.
Utilizamos a eq.(3.48) para calcular a probabilidade de se encontrar a
esfera em cada uma das posicoes indicadas na grade linear a cada rodada (10
saltos validos).
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 102
TABELA 5.9: Probabilidade de saltos validos de uma esfera na grade linear para
direita (D) e para esquerda (E).
Rodada Saltos para Dir. Saltos para Esq. % D % E
1 11 9 55% 45%
2 14 6 70% 30%
3 9 11 45% 55%
4 13 7 65% 35%
5 15 5 75% 25%
6 11 9 55% 45%
7 5 15 25% 75%
8 7 13 65% 45%
9 8 12 60% 40%
10 11 9 55% 45%
Total 104 96 52% 48%
Fonte: Os autores.
Essas probabilidades representam a situacao real de uma partıcula ser
encontrada na posicao x = ml, apos realizar movimentos discretos e aleatorios
para a direita ou para a esquerda, num movimento unidimensional. Fazendo m
assumir os valores inteiros −2,−1, 0, 1, 2, l = 8mm e N = 10, mostramos na
Tabela 5.10 as probabilidades para a esfera assumir cada uma das posicoes apos
os dez saltos validos de uma rodada. As posicoes centrais sao as mais provaveis
de se encontrar a esfera ao final de uma rodada. O grafico da Figura 5.21 mostra
essa relacao.
Como a esfera obrigatoriamente deve ocupar cada posicao sem pular
posicoes adjacentes, a distribuicao de probabilidades para cada posicao e a indi-
cada pelo grafico da Figura 5.21. Se o salto valido considerasse o pulo de posicoes,
entao a esfera poderia ocupar qualquer posicao em um salto qualquer, isto e,
todas as posicoes seriam igualmente provaveis. Como a grade linear apresenta
apenas 5 posicoes, entao a probabilidade de se encontrar a esfera ao final de dez
saltos, seria igual a de qualquer salto intermediario. Todas as posicoes teriam
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 103
igual probabilidade (20%) de estar ocupada. E essa probabilidade independeria
da quantidade de saltos realizados.
TABELA 5.10: Probabilidade de encontrar a esfera em cada uma das posicoes
da grade linear apos dez saltos validos.
Posicao (m) Posicao (x) Probabilidade
-2 -16 mm 20,5%
-1 -8 mm 23,5%
0 0 mm 24,6%
1 8 mm 23,5%
2 16 mm 20,5%
Fonte: Os autores.
FIGURA 5.21: Probabilidade de se encontrar a esfera em cada uma das posicoes
m = −2,−1, 0, 1, 2.
Fonte: Os autores.
Como os saltos validos sao apenas os saltos adjacentes ao estado anterior
da partıcula (celula da grade), teremos a primeira posicao vizinha a esquerda
ou a direita. Assim para a esfera transitar em todas as posicoes durante os dez
saltos, deveria obrigatoriamente passar mais vezes pelas posicoes centrais que
pelas posicoes das extremidades da grade, ja que parte da posicao zero. Isso
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 104
evidentemente aumenta as chances da esfera ser encontrada nas posicoes centrais
que nas extremidades, explicando a distribuicao de probabilidades exibida no
grafico da Figura 5.21.
5.10 Simulacao do Livre Percurso Medio
Nesta simulacao discutimos qualitativamente o significado fısico da eq.(3.36)
atraves do calculo dos possıveis percursos livres das esferas em movimento caotico
em funcao de diferentes intervalos de tempo considerados entre colisoes. A ideia
aqui e verificar se a eq.(3.36) e aplicavel ao sistema mecanico de esferas. Dessa
forma poderemos tornar o conceito abstrato envolvido, em algo mais palpavel,
uma vez que as partıculas do simulador mecanico sao visıveis e o movimento
coletivo das mesmas pode ser observado.
Para isso utilizamos 25 esferas e os mesmos dados da simulacao da
Lei de Boyle-Mariotte, pois nessa simulacao a velocidade media das esferas e
constante. Utilizando a velocidade encontrada naquela simulacao, encontramos
o livre percurso medio das esferas para diferentes intervalos de tempo conside-
rados. Esses intervalos de tempo foram estimados, uma vez que visualmente e
impossıvel determinar o tempo medio entre as colisoes das esferas. Os resultados
sao apresentados na Tabela 5.11.
TABELA 5.11: Percurso livre medio 〈L〉 em relacao a diferentes intervalos de
tempos entre colisoes.
Tempo 〈L〉
0,0 s 0,0 mm
0,1 s 4,4 mm
0,2 s 8,8 mm
0,3 s 13,2 mm
0,4 s 17,6 mm
0,5 s 22,0 mm
Fonte: Os autores.
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 105
Como se pode perceber, o aumento do intervalo de tempo naturalmente
aumenta o percurso livre medio das esferas. Para intervalos entre colisoes acima
de meio segundo, o percurso livre medio ultrapassa 22 mm, o que e uma distancia
consideravelmente grande para a esfera percorrer sem colidir com outras esferas.
Isso indica que o intervalo de tempo entre colisoes deve ser relativamente pequeno,
pois percebe-se visualmente que as colisoes se dao em distancias pequenas.
Como se pode verificar na eq.(3.36), quanto maior a quantidade de es-
feras, maior sera o caminho livre medio para uma velocidade media 〈v〉 fixa. O
grafico exibido na Figura 5.22 mostra como a quantidade de esferas influencia no
percurso livre medio em relacao a diferentes intervalos de tempo entre colisoes.
Nota-se claramente que o aumento da quantidade de esferas faz diminuir o per-
curso livre medio das esferas. Na pratica, deve-se aumentar a energia cinetica
total do sistema para manter a velocidade media das esferas constante, quando
se aumenta a quantidade de esferas no cilindro.
FIGURA 5.22: Percurso livre medio em funcao do tempo decorrido entre colisoes
para diferentes numeros de esferas.
Fonte: Os autores.
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 106
5.11 Simulacao do Movimento Browniano
Nesta simulacao fizemos a representacao do fenomeno em que uma partıcula
de polen suspensa em agua realiza um movimento aleatorio tipo ziguezague. A
partıcula se movimenta dessa forma devido as diversas colisoes que sofre com as
moleculas da agua. A simulacao tem carater ilustrativo e mostra a origem do
movimento da partıcula de polen, ja que no caso real nao e possıvel visualizar as
colisoes dessa partıculas com as moleculas de agua.
Inserimos 30 esferas azuis no cilindro para representar as moleculas de
agua e posicionamos a tampa tipo lupa no dispositivo. Essa tampa possui uma
lente na qual uma esfera de isopor, bem maior que as esferas azuis, e presa ao
centro. Essa esfera representara a partıcula de polen. Ao ligar o simulador e
possıvel visualizar atraves da lente o movimento da esfera de isopor (polen) e
das esferas menores (moleculas de agua). A lente aumenta a imagem das colisoes
internas, permitindo uma melhor visualizacao do fenomeno. A proposta permite
o entendimento da causa do movimento browniano e representa uma proposta
dinamica e elucidativa para introduzir conceitos da Teoria Cinetica dos Gases no
Ensino Medio.
Conforme indicado na metodologia, essa simulacao e apenas ilustrativa.
Representamos como o movimento de uma partıcula de polen suspensa em um
lıquido ocorre a partir das colisoes das esferas em movimento. Para isso variamos
a velocidade das esferas menores, que representam o lıquido, e observamos como a
esfera maior, que representa a partıcula de polen, se movimenta apos as inumeras
colisoes com as esferas menores.
Verificamos que as esferas menores imprimem um movimento aleatorio na
nossa partıcula de “polen”, a qual oscila em relacao a sua posicao central, ja que
a mesma esta presa pelo cordao ao centro da lente. Na Figura 5.23 apresentamos
uma foto do sistema com o dispositivo ligado.
O aumento da velocidade das esferas evidentemente fez aumentar a agitacao
da partıcula suspensa, da mesma forma como observado na situacao real. O
experimento mostra as causas do movimento aleatorio da partıcula de polen,
5. Simulacoes e Analise dos Resultados 107
impossıvel de ser vizualizado num experimento real. Desta forma, simulamos
a origem microscopica do movimento browniano e mostramos como a Teoria
Cinetica pode ser tratada em um nıvel adequado, elegante e divertido para
a aprendizagem de conceitos e fenomenos microscopicos em qualquer nıvel de
ensino.
FIGURA 5.23: Simulacao do movimento browniano observado para uma partıcula
suspensa, grao de polen, ao colidir com moleculas de agua, esferas azuis em
movimento.
Fonte: Os autores.
Capıtulo 6
Consideracoes Finais
Diante dos resultados obtidos nota-se que as simulacoes mecanicas de-
senvolvidas apresentam muitas possibilidades para auxiliar a aprendizagem em
sala de aula. Elas podem ser utilizadas em aulas para abordar temas variados
da Fısica Termica, desde a teoria cinetica dos gases e leis da Termodinamica, ate
conceitos pertinentes a Mecanica Estatıstica.
A possibilidade de entender o macroestado de sistemas a partir da com-
preensao da dinamica interna de suas partıculas constituintes permite fazer a
ponte conceitual entre a Termodinamica, Teoria Cinetica e Mecanica Estatıstica.
Deste modo, os assuntos podem ser explorados de forma mais global e menos
abstrata.
Vale ressaltar que os resultados tambem puderam ser analisados quanti-
tativamente atraves da obtencao de curvas caracterısticas dos sistemas e processos
analisados similares as encontradas em experimentos reais. Nosso simulador nos
permitiu ate mesmo prever, atraves de extrapolacao grafica, a temperatura do
zero absoluto. O uso do nosso dispositivo para a compreensao estatıstica da entro-
pia e outro ponto muito interessante, pois foi possıvel demonstrar que fenomenos
irreversıveis podem ser explicados e entendidos por meio de probabilidades.
O simulador mecanico construıdo e um material potencialmente sig-
nificativo, uma vez que alem de permitir uma aprendizagem por descoberta,
ha a possibilidade de conferir um maior sentido a relacao entre as grandezas
108
6. Consideracoes Finais 109
termodinamicas, ja que o comportamento mecanico interno pode ser visualizado
e compreendido com base em conhecimentos previos dos aprendizes. Deste modo
o emprego do simulador em sala de aula para ensinar conceitos de Fısica Termica
pode contribuir para a implementacao de uma aprendizagem significativa, assim
como definida por Ausubel.
Acreditamos tambem que o emprego das simulacoes possa contribuir para
a diminuicao da abstracao recorrente no ensino da Fısica Termica no concerne o
papel dos constituintes do sistema em seu movimento termico que da origem a
propriedades macroscopicas. As simulacoes substituem as ilustracoes de livros ou
feitas em lousa, sendo potencialmente mais significativas, alem de mais dinamicas.
A interatividade do aprendiz com o objeto do saber tambem e outra vantagem do
emprego do aparelho construıdo. O carater ludico de algumas simulacoes podem
tornar a acao de aprender mais prazerosa.
De modo geral, o emprego das simulacoes em sala de aula pode constituir
um interessante metodo de aprendizagem. Sua relativa simplicidade e suas po-
tencialidades ilustrativas sao vantagens para implementacao em aulas no Ensino
Medio e ate mesmo como um complemento para a graduacao em Fısica ou outras
areas afins. O ensino de Fısica Termica pode ser beneficiado aplicando praticas
como essa proposta, facilitando a aprendizagem e criando o gosto pela ciencia em
nossos estudantes.
Referencias
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