Escolha Racional e Ação Coletiva: problemas e soluções

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Revista da Associação Mineira de Direito e Economia 1 Escolha Racional e Ação Coletiva: problemas e soluções Leonardo Monteiro Monasterio * Resumo: O trabalho discute a teoria da ação coletiva, ressaltando suas questões não solvidas e os desenvolvimentos teóricos. Inicialmente, apresenta-se a formulação seminal de Mancur Olson (1965) e as críticas à universalidade de suas proposições feitas por autores ligados a abordagem neoclássica. Debatem-se, em seguida, algumas das soluções oferecidas pela literatura para o dilema da ação coletiva: incentivos seletivos, cooperação advinda de jogos dinâmicos, normas internas e externas, altruísmo e a presença de um empreendedor político. Uma vez apontados os limites dessas soluções, dedica-se atenção especial para a embeddedness approach (Granovetter, 1985). Essa abordagem considera que as ações dos agentes racionais estão inseridas em redes de relações sociais que não devem ser omitidas. Argumenta-se, por fim, que tal linha de pesquisa permite a renovação no estudo dos problemas da ação coletiva, e pode ser aplicada a uma ampla variedade de temas das ciências sociais. Palavras-Chave: Ação Coletiva - Teoria dos Jogos - Nova Sociologia Econômica Abstract: This paper discusses the theory of collective action, highlighting its unsolved issues and theoretical advances. Initially it presents Mancur Olson (1965) seminal approach and its neoclassical criticisms. Then, there is a debate on some of the proposed solutions of the collective action dilemma: selective incentives, cooperation emerging from dynamic games, internal and external norms and the political entrepreneur. Once the limits of these solutions are * Economista do IPEA. Pesquisador do CNPq.

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Revista da Associação Mineira de Direito e Economia

1

Escolha Racional e Ação Coletiva: problemas e soluções

Leonardo Monteiro Monasterio*

Resumo:

O trabalho discute a teoria da ação coletiva, ressaltando suas questões não

solvidas e os desenvolvimentos teóricos. Inicialmente, apresenta-se a formulação

seminal de Mancur Olson (1965) e as críticas à universalidade de suas

proposições feitas por autores ligados a abordagem neoclássica. Debatem-se, em

seguida, algumas das soluções oferecidas pela literatura para o dilema da ação

coletiva: incentivos seletivos, cooperação advinda de jogos dinâmicos, normas

internas e externas, altruísmo e a presença de um empreendedor político. Uma

vez apontados os limites dessas soluções, dedica-se atenção especial para a

embeddedness approach (Granovetter, 1985). Essa abordagem considera que as

ações dos agentes racionais estão inseridas em redes de relações sociais que não

devem ser omitidas. Argumenta-se, por fim, que tal linha de pesquisa permite a

renovação no estudo dos problemas da ação coletiva, e pode ser aplicada a uma

ampla variedade de temas das ciências sociais.

Palavras-Chave:

Ação Coletiva - Teoria dos Jogos - Nova Sociologia Econômica

Abstract:

This paper discusses the theory of collective action, highlighting its unsolved

issues and theoretical advances. Initially it presents Mancur Olson (1965)

seminal approach and its neoclassical criticisms. Then, there is a debate on

some of the proposed solutions of the collective action dilemma: selective

incentives, cooperation emerging from dynamic games, internal and external

norms and the political entrepreneur. Once the limits of these solutions are

* Economista do IPEA. Pesquisador do CNPq.

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shown, the embeddedness approach (Granovetter, 1985) receives a special

attention. This approach considers that the actions of rational agents are

embedded in social relationships that should not be omitted. Finally, it is argued

that this framework allows a renewal of the study of collective action problems,

and could be applied to a wide diversity of social sciences themes.

Keywords:

Collective Action – Game Theory – New Economic Sociology

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“Ah! os mortais sempre culpam as divindades. Dizem que de nós

provêm os males quando, ao invés, são eles que os atraem com os

seus pecados e contra a vontade do destino.”

(Homero, A Odisséia, Canto I)

“A truly rational discussion of collective action in general or in

specific contexts is necessarily complex, and what is even worse, it is

necessarily incomplete and unresolved. ”

(Arrow, 1974, p.17)

Introdução

As ações dos grupos coincidem com os interesses de seus membros? A resposta usual

para essa pergunta era positiva até a publicação de “A Lógica da Ação Coletiva” de

Mancur Olson (1965). Na verdade, esse questionamento nem chegava a ser uma

preocupação dos pesquisadores, pois se considerava que a agregação das ações

individuais bastava para que se chegasse à ação coletiva.

A edição de tal obra, contudo, fez com que um número crescente de pesquisadores de

todas as ciências sociais questionasse a visão simplista do comportamento dos grupos.

Seguindo as orientações de Olson, eles perceberam que a racionalidade individual não é

suficiente para a racionalidade coletiva e aplicaram essa abordagem aos seus ramos de

pesquisa. Na Economia, Sociologia e na Ciência Política foram produzidos centenas de

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trabalhos que partiam da lógica olsoniana para examinar os problemas de ação coletiva

nos fenômenos relacionados com suas áreas de conhecimento.

A abrangência das aplicações da teoria da ação coletiva causa admiração. Basta ver que

Olson (1982) a utilizou para analisar desde as castas na Índia pré-colonial até o

desemprego involuntário nas sociedades contemporâneas, passando pelo crescimento

dos países desenvolvidos do Pós-guerra e os ciclos econômicos. Além disso, outros

autores voltaram-se para identificar as condições - não previstas por Olson - que levam

ao sucesso ou fracasso da ação coletiva.

O presente trabalho tem como objetivo principal examinar a literatura acerca de tal

tema, discutindo as principais formas de solução do problema. Dá-se especial atenção à

embeddedness approach (Granovetter, 1985) devido ao seu potencial explicativo e

relativo desconhecimento nos meios acadêmicos nacionais. Vale alertar que se evitou a

formalização para que o texto se mantivesse acessível e sintético. Mesmo com o recurso

à intuição e aos exemplos, uma profunda compreensão do tema exigirá do estudioso o

recurso aos modelos originais.

A Teoria da Ação Coletiva

A Formulação Original de Olson (1965)

A apresentação original da lógica da ação coletiva foi feita por Olson em sua obra de

1965 e não sofreu maiores modificações por parte do autor desde então. O primeiro

passo de sua análise consiste na retomada do conceito de bem coletivo, mostrando que

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sua aplicação não se limita à área das finanças públicas. Ele argumenta que a questão da

satisfação de interesses comuns a um grupo é análoga ao problema de provisão de um

bem coletivo para toda a sociedade. Como é sabido, se a distinção entre contribuintes e

não-contribuintes para a produção de um bem não puder ser feita, há um incentivo para

que cada agente adote uma postura de caroneiro (free-rider) e não colabore, na

expectativa de que outros o façam. Obviamente, ninguém poderá desfrutar

gratuitamente do bem, uma vez que este não será produzido.

Olson argumenta que o conceito de bens coletivos pode ser aplicado a bens que

interessam apenas a um subconjunto da sociedade. Os membros desse grupo, mesmo

desejosos de um benefício coletivo, individualmente não têm incentivos para arcarem

com os custos da sua produção. Sendo a melhor escolha de cada agente a não-

contribuição, chega-se a um resultado Pareto-ineficiente para o grupo como um todo.

Tome-se como exemplo uma greve de trabalhadores em busca de maiores salários.

Como um possível acréscimo nos pagamentos beneficiará a todos os empregados, quer

grevistas quer fura-greve, a escolha racional é evitar os riscos de uma retaliação patronal

e comparecer ao trabalho. A greve fracassa e o bem coletivo, i.e. uma elevação salarial,

não é produzido. Não basta que os membros do grupo sejam racionais para que uma

resposta ótima seja obtida. Quando a racionalidade individual não coincide com a

racionalidade coletiva tem-se o chamado problema da ação coletiva.

Mas nem toda a interação entre indivíduos com interesses comuns na provisão de algum

bem redunda em fracasso. Greves ocorrem, cartéis mantêm preços mais altos e os mais

diversos lobbies conseguem benesses governamentais para os seus patrocinadores. A

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análise de Olson volta-se então para as condições que implicam no sucesso ou fracasso

da ação coletiva1.

O número de membros do grupo surge como o principal

determinante do grau de optimalidade da ação coletiva. Intuitivamente, é

fácil ver que as dificuldades de provisão de um bem público crescem pari

passu ao aumento do número de potenciais beneficiados no grupo. Em um

grupo muito pequeno, a parcela do bem público que cabe a cada membro

pode ser superior aos custos totais. Nesse caso, um agente auto-interessado

provê o bem coletivo e arca solitariamente com os seus custos. Um bom

exemplo desse fenômeno seria um duopólio no qual uma das firmas

financia um lobby por uma tarifa de importação mesmo sabendo que a

outra empresa será beneficiada. No outro extremo, estão os grupos com um

número grande de agentes, onde cabe a cada um apenas uma pequena

parcela do bem coletivo e a sua contribuição mal traz impactos

perceptíveis sobre os custos dos outros agentes. Nesse caso, Olson prevê

que o comportamento de caroneiro será predominante e a ação coletiva

fracassa.

Em termos mais esquemáticos, Olson estabeleceu a seguinte taxonomia dos grupos em

função do número de agentes (1965, p. 43- 52):

1 Nesse momento trata-se apenas das características intrínsecas ao grupo que influenciam a ação coletiva.

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- Grupos privilegiados (Privileged groups): nesses pequenos grupos, tal como

no supra citado, existe ao menos um agente para quem os benefícios da ação

coletiva são maiores do os custos, mesmo que ele seja o único contribuinte.2

- Grupos intermediários (Intermediate groups): não há uma definição rigorosa

desse tipo de grupos. Na visão de Olson estariam aí incluídos oligopolistic

sized groups, não privilegiados, nos quais o comportamento de cada agente é

perceptível para os outros agentes. Um comportamento free-rider isolado

teria um impacto substantivo nos custos e nos benefícios da ação coletiva. A

ilustração mais característica de grupo intermediário seria o de um cartel, em

que a deserção de apenas um dos membros põe fim ao conluio. Olson afirma

que nesse caso o resultado é indeterminado e não há uma solução geral: tanto

a ação coletiva pode ocorrer, quanto não.

- Grupos latentes (Latent groups): é o tipo de grupo no qual o problema da

ação coletiva é mais intenso. Por mais que os agentes tenham interesses em

comum, sua pulverização faz com que o comportamento de caroneiro seja

racional em termos individuais, o que leva a um nível nulo de produção do

bem coletivo. Outro entrave no caminho dos grupos latentes consiste nos

elevados custos de localização dos membros, sua organização, a barganha,

entre outros, para que o problema da ação coletiva seja resolvido.

Outras possibilidades de solução da ação coletiva serão tratadas mais adiante.

2 Nesse caso, o membro que tiver o maior benefício individual será aquele que acabará arcando com todos

os custos do bem coletivo e os pouco interessados recebem sua parcela gratuitamente. Um exemplo

corriqueiro desse fenômeno no meio acadêmico ocorre quando um pesquisador mais dedicado compra

uma nova versão de um software econométrico e permite cópias gratuitas (ilegais) para outros

professores. Nas palavras de Olson, surge: “a suprising tendency for the ‘exploitation’ of the great by the

small.” (1965, p. 35).

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Na verdade, mesmo em grupos pequenos existe um problema de sub-optimalidade da

provisão do bem público. Em termos gerais, como cada indivíduo recebe apenas uma

fração do benefício de seus gastos do bem público, ele vai demandar uma quantidade

menor do que a ótima para o grupo (1965, p. 35).3

Finalmente, há uma distinção entre os grupos exclusivos e os inclusivos. Os primeiros

produzem bens coletivos rivais, isto é, um acréscimo no tamanho do grupo gera uma

perda da quantidade do bem disponível para cada agente (1965, p.36-43). Nesse caso, a

adesão na ação coletiva tem de ser integral, pois de outra forma o “caroneiro” poderia

auferir todos os ganhos. Um cartel ilustra perfeitamente tal situação. Já nos grupos

inclusivos existe uma não-rivalidade considerável no bem coletivo. Dessa maneira, a

incorporação de novos membros ao grupo eleva os níveis do bem coletivo desfrutados

individualmente. A ausência de empecilhos à entrada consiste em uma característica

marcante dos grupos inclusivos, o mesmo não ocorrendo para os grupos exclusivos.

Restrições às proposições de Olson

As proposições de Olson almejam uma universalidade pouco freqüente nas ciências

sociais. Através de uma retórica persuasiva e uma formalização matemática elegante,

sua argumentação parecia ter capturado a lógica da ação coletiva em todos os seus

aspectos. Contudo, quase quarenta anos de pesquisa sobre o tema mostraram que,

mesmo a partir de uma ótica neoclássica, existem hipóteses específicas que invalidam as

afirmações de Olson.

3 Olson apresentou um modelo simplificado da provisão de bens coletivos (1965, p. 23-25). Para um

tratamento mais sofisticado, ver Sandler (1992).

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A forma da função de produção dos bens coletivos pode alterar decisivamente a relação

entre o tamanho do grupo e a suboptimalidade da oferta do bem coletivo. Marwell e

Oliver (1988) examinam os diversos formatos possíveis da função e mostram que a

presença de retornos crescentes pode subverter as afirmações de Olson4. Sandler (1992)

faz um survey das demonstrações formais que o tipo da tecnologia de produção do bem

importa para a ação coletiva, isto é, como as contribuições individuais se transformam

no resultado final. Em alguns casos, o nível da provisão do bem coletivo é dado pelo

nível de contribuição mais baixo, em outros, pelo mais alto5. Ele mostra que a análise de

Olson só é formalmente válida quando a summation technology se aplica, ou seja,

quando a contribuição dos membros guarda uma relação aditiva entre si.

Demostrou-se, também, que não necessariamente um aumento no número de integrantes

agrava o problema de ação coletiva: é possível que, apesar do decréscimo da

contribuição individual, o nível agregado de provisão do bem coletivo aumente quando

os grupos se expandem (McGuire, 1984; Chamberlain, 1974; Sandler, 1992, p. 49-50).

Por fim, argumentou-se que a adoção das hipóteses de heterogeneidade dos agentes e de

não-rivalidade faz com que um aumento no número de membros eleve as chances de

que alguém proveja o bem coletivo por própria conta (Marwell, Oliver e Teixeira, 1985)

4 Ver Elster (1989, cap. 13) para uma apresentação didática dos efeitos de diversos formatos da função de

produção para a ação coletiva.

5 A adoção de medidas profiláticas para barrar o avanço de uma peste se enquadra no primeiro caso. O

enfrentamento de um dragão que aterroriza uma vila representa uma ação coletiva cuja tecnologia

envolvida é do tipo best-shot (Sandler, 1992, p. 36-37). .

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Soluções Propostas para o Problema da Ação Coletiva

Incentivos seletivos

Foi o próprio Olson quem sugeriu que o problema da ação coletiva pode ser resolvido

mediante o oferecimento de um bem privado associado ao bem coletivo. Esses

incentivos seletivos (selective incentives) são destinados apenas aos contribuintes e

deixam de fora os free-riders. Dentro dessa visão, quando um lobby empresarial oferece

assistência jurídica aos seus membros ou quando um sindicato disponibiliza planos de

saúde para os associados, o bem privado está servindo apenas como instrumento para

que a ação coletiva seja obtida.

Essa argumentação foi objetada com um questionamento: por que os membros não

obtêm o bem privado de outras fontes e seguem caroneiros? Essa crítica pertinente

levou à percepção de que o bem privado deve estar sujeito a algum grau de monopólio

para que sirva como incentivo seletivo. Em termos empíricos, percebe-se que as

organizações se valem de seu poder de monopólio, muitas vezes informacional, para

incentivar a contribuição dos seus membros.

Contudo, uma reflexão mais profunda sobre os incentivos seletivos mostra seus limites

teóricos como solução para os dilemas da ação coletiva. Ora, a produção e a distribuição

de bens coletivos para os membros contribuintes de um grupo pressupõem alguma

forma de organização anterior. O problema persiste visto que a teoria não explica como

surgiu a organização responsável pelos incentivos seletivos. Como a provisão desses

também é um problema da ação coletiva, a questão está sendo posta em um nível

superior, mas não resolvida. Em suma, os incentivos seletivos podem gerar ações

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coletivas em níveis ótimos, mas permanece inconclusa a questão de sua origem.

Teoria dos jogos e cooperação

Muitas vezes a análise olsoniana é encarada como equivalente a um dilema do

prisioneiro generalizado jogado apenas uma vez (Hardin, 1982 e North, 1990, p. 13).

Mesmo que a validade dessa interpretação tenha sido negada por Olson6, há toda uma

linha de pesquisa, baseada na Teoria dos Jogos, que mostra a possibilidade da ação

coletiva ser o resultado da interação repetida entre agentes auto-interessados.

O chamado Folk Theorem mostra que em jogos infinitamente repetidos a cooperação

mútua pode ser um equilíbrio de Nash (Heap e Varoufakis, 1995, cap. 6). Há um sem-

número de trabalhos, como os de Axelrod (1984) e Sugden (1989), que vão na mesma

direção: mostram as condições nas quais a cooperação emerge e a ação coletiva gera

resultados eficientes. Desse modo, autores como Taylor (1990) sustentaram que o

pessimismo de Olson deriva de sua análise estática e que a interação repetida entre os

agentes seria a solução básica dos problemas de ação coletiva.

É correto que no mundo real a repetição das interações entre os agentes é bem mais

freqüente do que na alegoria dos prisioneiros que têm de tomar uma decisão única.

Contudo, conforme lembram Heap e Varoufakis (1995) e Hechter (1990), o Folk

Theorem só aponta que jogos repetidos podem solucionar os problemas de ação

coletiva, não que isso seja inevitável. Essa indeterminação dos equilíbrios de Nash só é

evitada com uma escolha muito cuidadosa das hipóteses que faça da cooperação a

6 Mais a frente voltar-se-á as críticas de Olson à aplicação da Teoria dos Jogos nos problemas de ação

coletiva..

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estratégia dominante. Argumenta-se, também, que hipóteses um pouco mais realistas,

como informação imperfeita, põem em xeque o otimismo daqueles que acreditam na

emergência da cooperação (Hechter, 1990; North 1990, p. 14-15; e Elster, 1994, p. 158).

Luiz Orenstein (1998) elabora um modelo no qual a cooperação dos agentes para a

superação de um mal coletivo torna-se mais provável na medida em que os custos de se

preservar o status quo sejam crescentes. Apesar de o modelo prescindir da suposição de

repetição infinita do jogo, sua conclusão otimista não é geral; deriva de hipóteses

bastante específicas.

Em nenhum momento conhecido de sua extensa produção científica Olson recorreu ao

instrumental da Teoria dos Jogos. Ele reconhece os avanços significativos ocorridos

nessa linha de pesquisa, mas assevera que as hipóteses nas quais se baseia estão

distantes dos problemas concretos da ação coletiva. Ao contrário dos suspeitos na fábula

do Dilema do Prisioneiro, agentes sociais podem se comunicar e elaborar acordos que

garantam a colaboração mútua. O resultado do Dilema do Prisioneiro é análogo ao do

dilema da ação coletiva, mas a lógica é distinta. Em suas palavras (Olson, 1992, p.xv):

“....(t)he Prisoner’s Dilemma is taken, incorrectly as a general explanation of the

difficulties of collective action”

Olson admite que a sua análise ignora a interação estratégica entre os indivíduos, porém

isso não viola a sua proposição de suboptimalidade da ação coletiva nos grupos latentes

(1992, p. xv). Nesses não há incentivos para que os agentes interajam estrategicamente,

nem se comuniquem e barganhem, uma vez que os benefícios dessas ações serão

diminutos frente aos custos de incorrê-las. Assim, na sua visão, a Teoria dos Jogos em

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nada contribuiria para a compreensão dos problemas de ação coletiva em grandes

grupos.7

Na sua última obra (2000), publicada dois anos após o seu falecimento, Olson voltou ao

tema da ação coletiva. Ele a retomou apenas para demonstrar que, ao contrário do que

muitos consideram, mesmo em um mundo sem custos de transação a ação coletiva pode

fracassar. O Teorema de Coase não valeria neste caso. Ele afirma (2000, p. 80-84) que

até se não houvesse custos na elaboração e cumprimentos de contratos, os agentes

prefeririam não negociar, porque se ficarem de fora da negociação, o bem seria

produzido de qualquer forma.

Normas externas

Uma norma de comportamento, formal ou não, que incentive o comportamento

cooperativo é uma das respostas mais freqüentes para o problema da ação coletiva. Isso,

contudo, não a isenta de uma inspeção mais detalhada.

Uma norma social deve ter algum mecanismo de punição para os que dela divirjam.

Quem será o responsável por impingir o castigo? Ora, a punição é um bem coletivo para

o grupo, uma vez que cada membro almeja não incorrer nos custos envolvidos. Assim,

as normas externas aos indivíduos só podem contribuir para a ação coletiva quando

houver de antemão uma estrutura que vigie o seu cumprimento e puna os violadores

(Taylor, 1990, p. 239-40).

7 Voltando-se ao âmbito da Teoria dos Jogos, o “fracasso” dos grandes grupos pode ser explicado pela

redução da probabilidade de repetição das interações entre agentes que reduz as chances de um equilíbrio

de Nash cooperativo (Heap e Varoufakis, 1995, p. 173)

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Via de regra, o Estado é o responsável pela imposição de normas que garantem a

obtenção de bens coletivos para grupos grandes. Algumas qualificações devem ser feitas

a essa última afirmação. Primeiro, a teoria da ação coletiva não explica a origem do

Estado, uma vez que se deve evitar a falácia funcionalista de equiparar o papel por ele

exercido com a sua formação8. Além disso, é patente a alta freqüência dos fracassos do

Estado em criar uma estrutura de incentivos que garanta a ação coletiva. Dentre outros

motivos, isso ocorre porque a criação de um mecanismo de repressão externa, tal como

no caso dos incentivos seletivos, também é um problema de ação coletiva.

Normas internas

Nem todas as normas sociais necessitam de vigilância externas aos agentes para que

sejam cumpridas. A vergonha e a perda do amor-próprio decorrente da violação de uma

norma podem ser uma ameaça suficiente para restringir suas ações. Elster (1994, p. 159)

considerou que alguns podem ser levados à cooperação através por uma norma

internalizada que repreende o comportamento free-rider. Assim, o membro cooperará

com o grupo por considerar isso o “justo” ou o “correto”.

Taylor (1990) sugere que quando se diz que as normas internas solucionam os

problemas de ação coletiva, na verdade não havia problema algum a ser resolvido.

Como as os agentes preferem cooperar, mesmo sem a ameaça de punição, seus pay-offs

não caracterizariam situações do tipo Dilema do Prisioneiro. Essa solução trivial do

problema da ação coletiva deixa sem resposta um ponto fundamental: por que existem

essas normas de cooperação? Como se dá o seu surgimento? Inversamente, por que

8 Olson (1997) apresenta uma interessante alegoria acerca do surgimento do Estado.

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outras normas internalizadas que a todos beneficiariam não existem?

A diversidade de trabalhos que tentam responder a essas perguntas indica a

complexidade do tema. Para os fins o presente estudo, basta apontar que a teoria da ação

coletiva, em si mesma, é incapaz de explicar a origem de tais normas internas. Em

termos empíricos, a simples observação do cotidiano indica que a internalização das

normas de conduta não é suficiente para resolução de todos os dilemas da ação coletiva.

Altruísmo

Nem todos os tipos de altruísmo são soluções adequadas para o problema em questão.

Primeiro tem-se o altruísmo "kantiano", que segue a máxima “faça aquilo que se os

outros fizerem será o melhor para todos”. Esse tipo de regra de conduta faz com que os

agentes tenham comportamentos cooperativos e que conduzem a situações

coletivamente eficientes.9

Conforme sustentou Olson (1982, p. 20n), o altruísmo preocupado com os resultados

também levará ao fracasso dos grandes grupos. Tome-se, por exemplo, a instalação de

filtros em um automóvel. Um altruísta “de resultados” perceberá que o seu

comportamento ecologicamente correto, se outros não o acompanharem, em nada

contribui para uma redução sensível da poluição. Assim sendo, como o seu altruísmo é

quase inútil para a provisão de bens coletivos em grupos latentes, ele o voltará para

outras ações mais efetivas.

9 Na verdade, dependendo da forma da função de produção do bem coletivo, a cooperação geral pode não

ser uma solução racional para o grupo. Por exemplo, se todos forem voluntários para uma guerra, as

fábricas de suprimentos essenciais encerram suas atividades (Elster, 1994, p. 156).

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Seria irrealista negar que em diversas situações o altruísmo "kantiano" é relevante. O

próprio Olson (1982, p. 20n) considera que essa regra de conduta explica algumas

contribuições voluntárias em grandes grupos. Elster (1994, p. 159) levanta a

possibilidade dos kantianos, sob certas condições, sejam um “gatilho” que motiva a

contribuição dos membros auto-interessados10. Por outro lado, considerar hegemônica

essa forma de altruísmo equivale a negar a própria validade da teoria da escolha racional

e, portanto, a existência de qualquer problema de ação coletiva.

Empreendedor político

Uma saída final para o problema da ação coletiva reside na atividade empreendedora de

um agente que seja capaz de mudar as atitudes individuais, as crenças, ou prover o

conhecimento ou a tecnologia necessárias para o grupo (Taylor, 1990, p. 233-235).

Mediante essas práticas, ele influenciaria o grupo na direção de um equilíbrio de Nash

cooperativo.

Em termos teóricos, a principal falha desse argumento está em seu caráter ad hoc, uma

vez que o comportamento do empreendedor político está em dissonância com o previsto

pela teoria da ação coletiva e não se detalham as condições que propiciam a sua

existência. Historicamente, percebe-se que muitas vezes a ação coletiva teve origem

efetiva nas atividades individuais empreendedoras. Motivados por sentimentos

ideológicos, líderes sindicais incorreram em altos custos pessoais até que a organização

dos trabalhadores começasse a gerar resultados.

10 Elster parece ter em mente uma função de produção com retornos crescentes.

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Relações Sociais e Ação Racional: uma alternativa

A visão estruturada da ação individual

A teoria da ação coletiva apresentada na primeira seção deste trabalho vê os indivíduos

de forma atomística. Desconsidera-se os possíveis vínculos sociais que podem haver

entre eles e suas interações não vão muito além daquelas consideradas pela Teoria dos

Jogos. Para superar essa limitação, o sociólogo Mark Granovetter sugeriu uma

metodologia que, sem abrir mão da racionalidade dos agentes, considera o contexto

social na qual eles estão inseridos.

Granovetter parte de uma crítica às duas concepções padrão da ação humana: a sub-

socializada e a super-socializada. A primeira seria característica da Teoria Econômica

onde os agentes decidem em vácuo social e bastaria a troca impessoal entre os

indivíduos anônimos para que a mão invisível se movimentasse. Na verdade, os laços

pessoais seriam empecilhos ao funcionamento mais fluido do mercado. Em oposição a

essa visão "higienizada", os sociólogos adotam a postura da super-socializada do

comportamento. Ou seja, os indivíduos obedeceriam cegamente às normas e valores

correspondentes ao seu papel na sociedade. Essas duas visões antitéticas foram

sintetizadas na afirmação estereotipada de Duesenberry: “economics is all about how

people make choice; sociology is all about how they don’t have any choices to make”

(1960, p. 233 apud Granovetter, 1985, p. 485).

Buscando a superação dessa controvérsia, Granovetter propõe uma abordagem que

combina elementos das duas posições polares supracitadas. O autor considera que o

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pressuposto de racionalidade ainda é uma boa hipótese de trabalho e não deve ser

abandonada, ainda que suas bases psicológicas sejam simplórias (Granovetter, 1985, p.

506). A principal limitação da teoria da escolha racional reside na negligência da rede de

relações interpessoais que envolve a ação humana, mesmo na esfera econômica das

sociedades contemporâneas11. De acordo com o embeddedness approach, os agentes

almejam a maximização da utilidade, mas dentro de um sistema de relações sociais na

qual estão inseridos.12

Mas de que forma as tais laços influenciam as ações econômicas? Ainda segundo

Granovetter (1985, p. 490-491), a reputação de um agente não subsiste de maneira

abstrata, ela só é construída e mantida através de cadeias de relações interpessoais

concretas. Esses laços de confiança entre os indivíduos fazem com que se criem

expectativas mútuas e as normas de conduta sejam cumpridas13. Os sistemas de

intercâmbio social contribuem para a resolução dos problemas de ação coletiva, uma

vez que desincentivam a “má” conduta e premiam o comportamento cooperativo (o qual

reforça ainda mais os laços pessoais). Assim sendo, as ações dos agentes não só serão

limitadas por tais compromissos, como serão condicionadas pela suas relações sociais

disponíveis.

11 Em sua crítica teórica e empírica à teorias do custos de transação, Granovetter (1995) argumenta que os

grupos empresariais (business groups) só podem ser compreendidos através do embeddedness approach.

No mesmo sentido, Baker (1983 apud Coleman, 1988) argumenta que até no mercado de opções de

Chicago, as relações pessoais entre os operadores são relevantes para os seus resultados.

12 Uma citação de Kenneth Arrow (1994, p.5) ecoa os autores da Nova Sociologia Econômica: "...

individual behavior is always mediated by social relations. These are as much a part of the description of

reality as is individual behavior".

13 Vale notar que Granovetter não incorre no erro de considerar que as relações sociais eliminam

completamente o comportamento oportunista ou a desonestidade (1985, p. 491).

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Uma visão mais ampla da racionalidade dos agentes reforça a importância da estrutura

social. Se for considerado que os argumentos da função utilidade de cada agente

incluem não apenas aspectos pecuniários, mas também o grau da sua aceitação pelos

membros do grupo, seu status e poder, as relações dele com os outros agentes terão um

peso ainda maior nas suas escolhas.

Modelos sócio-econômicos de ação coletiva

Em um trabalho anterior à sua formulação explicita do embeddedness approach,

Granovetter (1978) já elaborava um modelo de ação coletiva que seguia tais princípios,

onde o comportamento individual depende das decisões daqueles com os quais ele

mantém relações sociais.

No modelo, os indivíduos teriam níveis de “limiar” (threshold) comportamental, ou

seja, suas escolha entre participar ou não de uma ação coletiva depende do número de

agentes que já estão envolvidos e do grau de relacionamento que o agente tem com os

participantes. Quanto mais indivíduos já estiverem participando e quanto mais próximos

forem os laços sociais maiores são as chances de o indivíduo aderir.

Em uma greve, por exemplo, os operários atentariam para quantos companheiros já se

comprometeram com a participação e quem são eles. Aqueles mais ativos (talvez

empreendedores políticos ou altruístas "kantianos") tomam iniciativa e uma outra

parcela dos trabalhadores espera que o número de grevistas ultrapasse o seu limite

crítico para contribuir para a ação coletiva. Tão indesejável quanto correr os riscos de

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ser o único operário grevista, é ser o solitário fura-greve da sua seção.14

Uma decorrência curiosa desse modelo é que pequenas diferenças nos níveis de

threshold dos membros de um grupo podem determinar o sucesso ou não da ação

coletiva. É possível que a ação de um indivíduo isolado dispare a participação de outro

com nível de threshold 1, a qual fará com que aqueles com níveis de threshold 2 e assim

por diante até que todo o grupo esteja envolvido. Contudo, se algum dos elos dessa

reação em cadeia estiver ausente, a ação coletiva pode fracassar ou ficar restrita a um

pequeno grupo.

Em outra linha, mas também a partir do trabalho de Granovetter, há toda uma gama de

pesquisadores que enfatizam a importância das relações sociais para as atividades

produtivas (Coleman, 1988, 1990 e Putnam, 1996). Nesse sentido desenvolveu-se o

conceito de capital social, o qual é definido como:

“características da organização social, como confiança, normas e sistemas, que

contribuam para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações

coordenadas.” (Putnam, 1996, p. 177).

A organização social seria a forma fundamental de solução dos dilemas da ação

coletiva. Mas não seria qualquer tipo de relação pessoal que comporia o capital social.

Putnam (1996) ressalta que especialmente os vínculos horizontais, não hierárquicos, que

propiciam a colaboração mútua dos agentes. Paradoxalmente, os vínculos muito fortes

como parentesco ou íntima amizade podem promover a ação coletiva nos pequenos

14O mesmo raciocínio se aplica a outras ações coletivas, como lobbies ou mesmo cartéis. De acordo com a

lógica do modelo, o empresário só financia o grupo de pressão ou se compromete com o cartel quando

percebe que um certo número de influentes membros do grupo fará o mesmo.

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grupos, porém, justamente pela sua intensidade, não são capazes de integrar toda a

coletividade de forma cooperativa. Para que isso seja alcançado, devem haver laços em

certo sentido mais “fracos” por um lado, mas que por outro geram uma comunidade

mais vigorosa como um todo e um melhor desempenho institucional (Putnam, 1996, p.

185).

Finalmente, uma abordagem mais sofisticada que relaciona os vínculos sociais e a ação

coletiva foi formulada por Marwell, Oliver e Prahl (1988). É um modelo formal de

interdependência das ações individuais que busca identificar através de simulações

numéricas, visto que soluções analíticas são por demais complexas, os fatores que

propiciam a ação coletiva. São consideradas as seguintes características da organização

social:

i) Densidade: o número de laços pessoais efetivos entre os membros

dividido pelo número relações possíveis;

ii) Centralidade: a tendência para que poucas pessoas concentrem a maior

parte dos vínculos sociais.

iii) Custo de utilização dos laços sociais, como o de entrar em contato com

outro agente para participar em uma ação coletiva;

iv) Heterogeneidade: diferenças de recursos e de preferências entre os

membros.

Conforme esperado, as simulações mostraram que uma maior densidade e menores

custos contribuem para a ação coletiva. Já a centralidade gerou um resultado inesperado,

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mostrando um efeito positivo sobre a ação coletiva, o que sugere que quando os

vínculos estiverem concentrados em membros-chave essa é facilitada. E as interações da

heterogeneidade com as outras três variáveis geram resultados não monotônicos sobre a

ação coletiva.

Conclusão

Hoje se percebe que a importância da Lógica de Olson reside mais no fomento de um

novo tema de pesquisa do que propriamente nas suas respostas aos problemas teóricos

anteriores. A partir de sua obra, a questão é explicar não o fracasso da ação coletiva nos

grandes grupos, mas o seu sucesso.

Cada uma das respostas ao problema da ação coletiva apresentados na segunda seção

sofre de limitações teóricas e/ou empíricas. Nenhuma dessas alternativas por si só é

capaz de explicar todas as soluções que as sociedades usam para resolver tais dilemas.

Nesse sentido, há que se concordar com Jon Elster:

“Há dois equívocos a serem evitados ao tentar explicar o comportamento cooperativo.

O mais cru é acreditar que exista uma motivação privilegiada- auto-interesse, por

exemplo- que explique todas as instâncias da cooperação. Um erro mais sutil é

acreditar que cada instância da cooperação pode ser explicada por uma motivação. Na

realidade, a cooperação ocorre quando e porque diferentes motivações se reforçam

entre si.” (Elster, 1994, p. 157)

Sem dúvida, adotar uma postura plural na análise da ação coletiva tem seus custos.

Perde-se a parcimônia característica da teoria da escolha racional e as proposições

testáveis tornam-se mais raras. Com isso, há o risco de se ter uma teoria da ação coletiva

meramente interpretativa, não-falseável e, portanto, não-científica nos padrões

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popperianos.

O embeddedness approach parece ser uma alternativa mais consistente e melhor

fundamentada a análise da ação coletiva. Ironicamente, se Olson tinha ciente a ruptura

do seu trabalho com a tradição sociológica dominante na época, hoje os maiores

avanços teóricos vem de sociólogos (Granovetter) ou de cientistas políticos (Putnam).

Tendo adotado a hipótese de racionalidade, esses autores são capazes de dialogar como

os economistas e incorporar à analise elementos que os últimos tratam com desconforto

e hesitação: relações pessoais e agentes heterogêneos. Além disso, essa linha de

pesquisa já tem desenvolvidos métodos pesquisa empírica e falseamento dos modelos

que são estranhos aos versados apenas na Teoria Econômica.

Essas contribuições dos cientistas sociais têm sido ignoradas pelos economistas

estudiosos da ação coletiva. Sandler (1992), um abrangente survey sobre o tema, omite

todos os trabalhos citados na terceira seção deste trabalho, bem como não constam

papers publicados no American Journal of Sociology dentre os mais de cento e

cinqüenta itens de sua bibliografia citada. Provavelmente, as razões desse fenômeno

estão relacionadas com a imagem que os economistas têm da pesquisa sociológica:

funcionalista, anti-científica e repleta de hipóteses ad hoc, dentre outros pecados

metodológicos. É verdade que esses adjetivos já representaram bem a Sociologia, mas

houve mudanças consideráveis na pesquisa nessa área de conhecimento.

O estudo da ação coletiva, dentre outros ramos de pesquisa, terá muito a ganhar se a

Teoria Econômica escapar de tais preconceitos e conseguir uma maior integração com

algumas das contribuições oriundas da Sociologia. Nesse sentido, esse trabalho

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pretendeu ser uma pequena colaboração.

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