Dissertação 2 - Tóp Esp Mec Solos - Eduardo Filipe Gabriel Rafael

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Graduação em Engenharia Civil Tópicos Especiais em Mecânicas dos Solos Eduardo Santos Neiva Filipe Eliel de Faria Gabriel Torino Nogueira Rafael Peixoto Jorge ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO, ESCAVAÇÕES E ESCORAMENTOS Belo Horizonte 2014

Transcript of Dissertação 2 - Tóp Esp Mec Solos - Eduardo Filipe Gabriel Rafael

Graduação em Engenharia Civil

Tópicos Especiais em Mecânicas dos Solos

Eduardo Santos Neiva

Filipe Eliel de Faria

Gabriel Torino Nogueira

Rafael Peixoto Jorge

ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO, ESCAVAÇÕES E

ESCORAMENTOS

Belo Horizonte

2014

Eduardo Santos Neiva

Filipe Eliel de Faria

Gabriel Torino Nogueira

Rafael Peixoto Jorge

ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO, ESCAVAÇÕES E

ESCORAMENTOS

Belo Horizonte

2014

Dissertação apresentado à disciplina

Tópicos Especiais em Mecânica dos

Solos da Pontifícia Universidade

Católica de Minas Gerais.

Professor: Sidney Santos Barradas

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Variação dos empuxos em função do deslocamento ........................................... 6

Figura 2: Massa semi-infinita de solo ............................................................................... 6

Figura 3: Empuxo ativo (Ea) e Empuxo Passivo (Ep) .......................................................... 7

Figura 4: Empuxo no repouso ......................................................................................... 8

Figura 5: Empuxo ativo................................................................................................. 10

Figura 6: Empuxo passivo ............................................................................................ 11

Figura 7: Contenção escorada de madeira ..................................................................... 15

Figura 8: Exemplos de encaixes de pranchas verticais .................................................... 15

Figura 9: Gabião ......................................................................................................... 16

Figura 10: Estaca prancha ............................................................................................ 16

Figura 11: Muros de arrimo ........................................................................................... 17

Figura 12: Gabião ........................................................................................................ 19

Figura 14: Muros de flexão .......................................................................................... 20

Figura 15: Muros de contrafortes ................................................................................... 21

Figura 16: Ficha .......................................................................................................... 22

Figura 17: Escavação em solo mole ............................................................................. 23

Figura 18: Escavações ................................................................................................ 25

Figura 19: Tipos de escoramento ................................................................................. 27

Figura 20: Tirante ........................................................................................................ 28

Figura 13: Crib-wall ..................................................................................................... 19

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: k0 H.P. CAPUTO ............................................................................................. 8

Tabela 2: k0 M. VARGAS ................................................................................................ 9

LISTA DE SIGLAS

NBR – Norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 4

2. EMPUXO DE TERRA ......................................................................................... 4

2.1. Generalidades .................................................................................................... 4

2.2. Coeficientes de Empuxo ..................................................................................... 6

2.2.1. Empuxo no Repouso ......................................................................................... 7

2.2.2. Empuxo Ativo .................................................................................................... 9

2.2.3. Empuxo Passivo ................................................................................................ 9

2.3. Teoria de Rankine............................................................................................. 10

2.3.1 Hipóteses Fundamentais .................................................................................. 10

2.3.2 Solos Não Coesivos ......................................................................................... 11

2.3.2.1 Estado Ativo .................................................................................................. 11

2.3.2.2 Estado Passivo .............................................................................................. 12

3. ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO .................................................................... 13

3.1. Tipos de estruturas de Contenção .................................................................... 14

3.1.1 Classificação .................................................................................................... 14

3.1.1.1 Provisória ...................................................................................................... 14

3.1.1.2 Definitiva........................................................................................................ 16

3.2. Aspectos importantes relativos às Obras de Contenção .................................. 21

4. ESCAVAÇÃO ................................................................................................... 23

5. ESCORAMENTO .............................................................................................. 26

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 30

4

1. INTRODUÇÃO

A engenharia civil é responsável por grandes empreendimentos, de

impressionantes formas e tamanhos. Utiliza, hoje ainda mais que em tempos atrás,

artifícios que garantem estabilidade e segurança às edificações, durante e após a

construção. As estruturas de contenção e escoramentos fazem parte deste grupo,

que mantem estáveis algumas obras que não se manteriam caso não se fizesse uso

desses artifícios.

As obras de contenção mais antigas de que temos notícia são muros de

alvenaria de argila, contendo aterros na região sul da Mesopotâmia (atual Iraque),

construídos por sumerianos entre 3200 e 2800 a.C. Obras construídas conforme

preceitos de engenharia moderna começaram a surgir apenas no início do século

18, fruto do trabalho de engenheiros franceses.

De fato, a engenharia moderna de obras de contenção iniciou-se com a

publicação do trabalho de Coulomb, em 1776, sobre estruturas de arrimo. Essas

obras são comuns em projetos de edificações urbanas para criação de subsolos

para estacionamentos, contenção de cortes e também presentes em projetos de

estradas, estabilização de encostas, metrôs, entre outros.

2. EMPUXO DE TERRA

2.1. Generalidades

Empuxo de terra é a ação produzida pelo maciço terroso sobre as obras com

ele em contato. A determinação do valor do empuxo de terra é fundamental na

análise e projeto de obras como:

a. Muros de arrimo – empuxo ativo sobre o muro.

b. Cortinas de estacas-pranchas – empuxo ativo e passivo (ficha) na cortina.

c. Construções de subsolos – empuxo no repouso sobre as paredes de um

edifício.

d. Encontros de pontes – empuxo passivo.

5

É um dos temas mais intricados da Mecânica dos Solos. Todas as teorias

propostas admitem hipóteses simplificadoras que não expressam totalmente a

realidade dos solos.

O empuxo geralmente é calculado por uma faixa de largura unitária da

estrutura de arrimo, não se considerando as forças que atuariam sobre as

superfícies laterais dessa faixa. A magnitude do empuxo depende:

▪ Desnível vencido pela estrutura de arrimo;

▪ Tipo e das características do solo;

▪ Deformação sofrida pela estrutura;

▪ Posição do nível de água;

▪ Inclinação do terrapleno, etc.

O valor do empuxo de terra, assim como a distribuição de tensões ao longo

do elemento de contenção, depende da interação solo-elemento estrutural durante

todas as fases da obra. O empuxo atuando sobre o elemento estrutural provoca

deslocamentos horizontais que, por sua vez, alteram o valor e a distribuição do

empuxo, ao longo das fases construtivas da obra.

Os termos ativo e passivo são usualmente empregados para descrever as

condições limites de equilíbrio correspondente ao empuxo do solo de retroaterro

contra a face interna (tardoz1) do muro de arrimo ou contenção.

A figura 1 mostra a variação de empuxos em função do deslocamento. A

pressão horizontal diminui ou aumenta, conforme o muro aproxima-se ou afasta-se

do maciço de terra.

6

Figura 1: Variação dos empuxos em função do deslocamento

2.2. Coeficientes de Empuxo

Consideremos uma massa semi-infinita de solo e calculemos a pressão

vertical σv em uma profundidade z.

Figura 2: Massa semi-infinita de solo

A relação entre σh e σv em repouso é chamado de k, que é o coeficiente de

empuxo.

k = σh σv

7

Se a solicitação imposta ao solo envolver deformações laterais de

compressão ou de extensão, o equilíbrio é alterado e o solo se afasta da condição

de repouso.

Dependendo da magnitude das deformações laterais, o estado de tensões no

solo pode situar-se entre as condições de repouso e de ruptura. Quando a

solicitação levar a uma condição de tensões com a circunferência de Möhr

tangenciando a envoltória, a resistência ao cisalhamento disponível do solo passa a

ser integralmente mobilizada e o elemento atinge o estado de equilíbrio plástico ou

equilíbrio limite.

Terzaghi mediu o valor da força necessária para manter o anteparo estático,

denominado de “empuxo em repouso” (Eo), denominou a força sobre o anteparo no

momento da ruptura, de “empuxo ativo” (Ea), afastando o anteparo da massa de solo

e a força empurrando o anteparo contra a massa de areia até a ruptura de “empuxo

passivo” (Ep).

Figura 3: Empuxo ativo (Ea) e Empuxo Passivo (Ep)

2.2.1. Empuxo no Repouso

Estados de Equilíbrio Plástico:

8

O estado de repouso corresponde à pressão exercida pelo solo de retroaterro

sobre um muro de contenção rígido e fixo, ou seja, que não sofre movi-mentos na

direção lateral.

Figura 4: Empuxo no repouso

Tabela 1: k0 H.P. CAPUTO

9

Tabela 2: k0 M. VARGAS

2.2.2. Empuxo Ativo

O estado ativo ocorre quando o muro sofre movimentos laterais

suficientemente grandes no sentido de se afastar do retroaterro.

Figura 5: Empuxo ativo

2.2.3. Empuxo Passivo

De forma análoga, o estado passivo corresponde à movimentação do muro de

encontro ao retroaterro.

10

Figura 6: Empuxo passivo

Para o caso ativo, a trajetória de tensões corresponde a um descarregamento

da tensão lateral (redução da tensão principal menor σ3), enquanto, para o caso

passivo, a trajetória pode ser associada a um carregamento lateral (aumento da

tensão principal maior σ1).

As teorias clássicas sobre empuxo de terra foram formuladas por Coulomb

(1773) e Rankine (1856), sendo desenvolvidas por Poncelet, Culmann, Rebhann,

Krey, Caquot, Ohde, Terzaghi, Brinch Hansen e outros.

2.3. Teoria de Rankine

Rankine baseou-se na hipótese de que uma ligeira deformação no solo é

suficiente para provocar uma total mobilização da resistência de atrito, produzindo o

estado ativo se o solo sofre expansão e passivo se sofre compressão.

2.3.1. Hipóteses Fundamentais

As hipóteses fundamentais são:

I. Terrapleno homogêneo;

II. Superfície plana;

III. Válida a Teoria de Möhr;

11

IV. Sem pressão de percolação;

V. Movimento livre do anteparo;

VI. Não há atrito entre solo e muro.

2.3.2. Solos Não Coesivos

2.3.2.1. Estado Ativo

12

2.3.2.2. Estado Passivo

13

3. ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO

A realização de uma obra de fundações quase sempre envolve estruturas de

contenção. É frequente a criação de subsolos para estacionamento em edifícios

urbanos, de contenções de cortes ou aterros, por muros de arrimo, para a criação de

plataformas; a instalação de dutos de utilidades em valas escoradas etc. Obras de

contenção do terreno estão presentes em projetos de estradas, de pontes, de

estabilização de encostas, de canalizações, de saneamento, de metrôs etc.

A contenção é feita pela introdução de uma armadura ou de elementos

estruturais compostos, que apresentam rigidez distinta daquela do terreno que

conterá. O carregamento da estrutura pelo terreno gera deslocamentos que por sua

vez alteram o carregamento, num processo interativo. Alguns preferem afirmar que o

processo é mais corretamente descrito como sendo de deslocamentos impostos,

14

gerando carregamentos decorrentes e não o contrário. De qualquer forma,

contenções são estruturas cujo projeto é condicionado por cargas que dependem de

deslocamentos.

Apesar de isto ser um fato há muito reconhecido, ilustrado que foi pelos

resultados clássicos de Terzaghi (1934) de ensaios em modelos de muros de arrimo

em areia a prática corrente nem sempre demonstra este reconhecimento, como se

discutirá adiante. A seguir serão apresentados os principais tipos de estruturas de

contenção, suas características executivas e peculiaridades.

3.1. Tipos de estruturas de Contenção

3.1.1. Classificação

3.1.1.1. Provisória

As contenções provisórias são aquelas de caráter transitório, sendo

preferencialmente removidas quando cessada sua necessidade. Nelas, são

principalmente empregados três processos executivos:

• Contenções de madeira;

• Contenções com perfis cravados e de madeira;

• Contenções com perfis metálicos justapostos.

Todos os três métodos resultam em contenções flexíveis, podendo ou não ser

escoradas.

3.1.1.1.1. Contenção escorada de madeira

É uma técnica utilizada para escavações de pequenas alturas, usualmente

entre 1,5 e 2,5 metros, escavadas manualmente.

15

Figura 7: Contenção escorada de madeira

No caso de escavações de obras que não sejam valas, as estroncas são

substituídas por estacas inclinadas.

O escoramento por estacas inclinadas deve ser feito a medida que avança a

escavação. As pranchas verticais se comportam melhor quando dotadas de encaixe

tipos macho e fêmea, principalmente em areias e terrenos argilosos muito moles por

que vedam melhor a passagem de água e as partículas de solos muito finos.

Figura 8: Exemplos de encaixes de pranchas verticais.

Contenção de madeira para profundidades de:

• 1,80 a 3,0 m, no caso de solos duros e firmes;

• 1,2 a 2,0 m, no caso de solos mais fofos e arenosos.

16

3.1.1.2. Definitiva

Algumas outras técnicas só são economicamente recomendáveis em

contenções definitivas, principalmente por não permitirem o reaproveitamento dos

componentes e materiais utilizados e por resultarem em contenções mais robustas

ou pesadas.

Dentre elas destacam as estacas pranchas, muros de arrimo e parede de

diafragma.

Figura 9: Gabião

Figura 10: Estaca prancha

17

Figura 11: Muros de arrimo

3.1.1.2.1. Muros de Arrimo

Os muros são estruturas corridas de contenção constituídas de parede

vertical ou quase vertical, apoiada numa fundação rasa ou profunda. Podem ser

construídos em alvenarias (de tijolos ou pedras) ou em concreto (simples ou

armado), ou ainda de elementos especiais.

Os muros de gravidade são estruturas corridas (contínuas) que suportam os

esforços (empuxos) pelo seu peso próprio. Geralmente são executados para conter

desníveis pequenos ou médios, inferiores a cerca de 5 metros. São construídos

quando se dispões de espaço para acomodar sua seção transversal: a largura da

base é da ordem de 40% da altura do solo a ser contido.

No caso de contenção em terrenos escavados, podem ser executados em

trechos alternados, permitindo que a escavação se processe por etapas, evitando o

desconfinamento total do terreno. O muro é então construído em trechos sucessivos

até sua conclusão.

Os muros de gravidade podem, também, ser construídos para conter

terraplenos (aterros). Nesse caso, o muro deve ser executado integralmente param

18

receber o maciço somente ao final da sua construção, ou à medida que for sendo

erguido.

Pelo fato de serem estruturas pesadas, são quase sempre escolhidos como

contenção quando o terreno tem boa capacidade de carga, capaz de suportar as

tensões máximas na fundação em sapata corrida.

Os muros de gravidade podem ser construídos com diversos tipos de

materiais ou elementos:

• Muro de pedra seca: são executados com pedras encaixadas manualmente,

sem argamassa.

• Muro de pedra argamassada: as pedras são assentadas com argamassa

(alvenaria de pedra).

• Muro de concreto ciclópico: são executados através da execução de fôrmas e

lançamento de concreto com pedras de grande dimensão (“pedras de mão”).

• Muro de solo cimento ensacado: são confeccionados pelo empilhamento de

sacos de aniagem preenchidos com mistura de solo, cimento e água.

• Muro de gabiões: são construídos pela superposição de gaiolas prismáticas

de arame galvanizado cheias de pedras com diâmetro mínimo superior à

abertura da malha da gaiola. Suas principais características são a flexibilidade

(acomodam-se bem a recalques diferenciais) e a permeabilidade. O

preenchimento com pedras é feito mecanicamente no local, após a disposição

da gaiola.

• Crib-wall: também chamadas de “paredes de engradados”, são estruturas

formadas por elementos pré-moldados de concreto armado, madeira ou aço,

montados no local justapostos e interligados longitudinalmente (figura 3.19),

cujo espaço interno é preenchido de preferência com material granular graúdo

(brita grossa ou pedra de mão).

19

Figura 12: Gabião

Figura 13: Crib-wall

3.1.1.2.2. Muros Atirantados

São estruturas mistas em concreto e alvenaria (de blocos de concreto ou

tijolos) atirantadas ao maciço de solo que contêm, por meio de barras ou vigas de

concreto armado ligando o muro a blocos, vigas longitudinais ou estacas

implantadas no maciço. Os muros assim descritos são estruturas de baixo custo,

para pequenas alturas de contenção (até 3 metros), executados sempre que os

tirantes não possam vir a tornar-se obstáculos para obras futuras. Dependendo das

condições do solo de fundação e da altura do arrimo, podem apoiar-se em sapata

corrida, em estacas ou mesmo em brocas.

3.1.1.2.3. Muros de Flexão

São estruturas mais esbeltas, com seção transversal em forma de “L” que

resistem aos empuxos por flexão. O peso do solo sobre a base do “L” auxilia na

20

manutenção do equilíbrio. Na grande maioria dos casos, são construídos em

concreto armado, tornando-se em geral antieconômicos para alturas acima de 5 a 7

metros. Os muros de flexão, quando de estrutura massiva, também auxiliam a

manter o equilíbrio pelo seu peso próprio, sendo um misto de funcionamento entre

os muros de gravidade e os de flexão.

Figura 14: Muros de flexão

3.1.1.2.4. Muros de Contrafortes

Os muros de contrafortes possuem elementos verticais de maior porte

(contrafortes ou gigantes) espaçados de alguns metros, e destinados a suportar os

esforços de flexão pelo engastamento na fundação. Nesse caso, a parede do muro

constitui-se de lajes verticais apoiadas nesses contrafortes.

Como nos muros de flexão, o equilíbrio é alcançado pelo peso do maciço de

solo sobre a base do muro (sapata corrida ou laje de fundação). A diferença entre

esse tipo de muro e o muro de flexão é essencialmente estrutural.

Os gigantes ou contrafortes podem ser construídos para o lado externo do

muro ou embutidos no maciço. Os muros de contrafortes, assim como os de flexão,

destinam-se a conter solos ou aterros que devem ser compactados adequadamente

sobre a base, cuja largura é em média da ordem de 40% da altura do solo a ser

contido, exigindo assim esse espaço para execução.

Se apoiados em fundações diretas (sapata corrida), a condição crítica de

equilíbrio é relativa à translação, o que pode exigir a construção de um dente vertical

na fundação para dificultar tal deslocamento. Podem ser apoiados em estacas

verticais e/ou inclinadas, dependendo das características do solo no local.

21

Figura 15: Muros de contrafortes

3.2. Aspectos importantes relativos às Obras de Co ntenção

A influência da água é marcante na estabilidade dos muros de arrimo, já que

o acúmulo de água por deficiência de drenagem pode duplicar o empuxo atuante

sobre o muro. Assim, a execução de um sistema eficaz de drenagem é

imprescindível.

A drenagem pode ser feita de diversas maneiras. Alguns tipos de contenção,

como os muros de pedras secas, gabiões e crib-walls, são autodrenantes, tendo em

vista o material que empregam. Entretanto, mesmo nesses muros, é indicada a

execução de canaletas no topo e na base do talude, para captar águas superficiais e

evitar o rompimento das fundações do muro. Também é indicada a execução de

dreno de areia entre o solo e a estrutura para a coleta de água subterrânea,

podendo ser acrescentada uma camada de manta geotêxtil para evitar o

carreamento do solo. Em estruturas impermeáveis, como muros de concreto, pedra

argamassada, concreto ciclópico, cortinas atirantadas ou mesmo muros de solo-

cimento, devem ser acrescentados a esse conjunto de medidas os barbacãs. Esses

elementos são tubos horizontais curtos instalados na parte inferior da estrutura de

contenção para evitar o acúmulo de água junto à base. O número e diâmetro dos

barbacãs variam de acordo com a dimensão da estrutura de contenção. A

durabilidade da obra depende ainda da manutenção para evitar colmatação

(entupimento) dos drenos.

22

As valas escoradas com pranchas, sejam elas metálicas, de madeira ou de

concreto, não são estanques, provocando o rebaixamento do lençol freático no local.

Isso pode gerar um fluxo de água para dentro da escavação, dificultando os

trabalhos dentro da vala e podendo causar o carreamento de solos finos, o que seria

extremamente danoso para edificações vizinhas. Assim, a necessidade ou não de se

prever um sistema de rebaixamento controlado do nível do lençol freático deve ser

avaliada.

Também relativamente aos escoramentos, à demora na instalação das

contenções e a deficiência no encunhamento das estroncas e pranchas levam a

maiores deslocamentos horizontal e vertical do solo vizinho ao da escavação. Os

deslocamentos verticais ocorrem com maior intensidade numa faixa de terreno

adjacente à escavação igual à metade da altura escavada, diminuindo de

intensidade para pontos mais afastados do bordo da escavação. Isso gera

distorções em edificações vizinhas.

Uma das principais dificuldades comuns aos diversos tipos de escoramento

de escavações é a possibilidade de não ser atingida a “ficha” necessária à

contenção.

Entende-se por “ficha” o comprimento do escoramento existente abaixo do

nível da escavação. Isso leva à necessidade de se criar um ou mais planos

horizontais de escoramento (estroncas provisórias) para suporte aos empuxos

atuantes nas várias frentes de execução.

Figura 16: Ficha

Com relação às escavações, em solos moles pode ocorrer a ruptura do fundo

da escavação quando for atingida a profundidade crítica, sendo que essa ruptura se

assemelha à ruptura do solo sob fundações diretas (por cisalhamento). Além do

23

efeito imediato de recalque acentuado da superfície lateral do terreno, há o perigo de

deslocamento das estroncas inferiores pela elevação do solo mole no fundo da vala.

Aliás, essa elevação pode ocorrer mesmo que não haja a ruptura do fundo, porém

em menor intensidade. Em locais onde existir camada de argila mole subterrânea, e

quando o nível da escavação estiver abaixo do nível do lençol freático, pode ocorrer

ruptura súbita do fundo da escavação. Para evitar o problema, basta o uso de poços

de alívio internos à vala, não havendo a necessidade de instalação e operação de

um sistema de rebaixamento do lençol freático.

Figura 17: Escavações em solo mole

4. ESCAVAÇÃO

Os serviços de escavação visão a retirada de solo de um dado terreno a fim

de se atingir a profundidade ou a cota necessária à execução de uma determinada

construção.

Diferem, portanto, dos serviços de terraplenagem, uma vez que estes

envolvem, além do desmonte ou da escavação em si, as etapas de transporte e

aterro. No entanto, apresentam bastante semelhanças, sobretudo por lidarem com o

mesmo material, o solo, e por compartilharem o uso de determinados equipamentos.

24

São serviços indispensáveis as mais diferentes obras civis, desde a

construção de edifícios no caso de subsolos enterrados ou piscinas, até a

construção de barragens.

Assim, as escavações são executadas em obras como: edifícios, adutoras

d'água, coletores de esgoto, metrôs, rodovias e ferrovias, aeroportos, canais,

barragens, aterros sanitários, etc.

Por esse amplo espectro de aplicações fica claro que devemos estudar os

serviços de escavação em função dos aspectos técnicos neles envolvidos, e não

pelo porte ou tipo da obra a que se destinam.

Assim, os serviços de escavação caracterizam−se pelos seguintes aspectos:

• quantidade de solo a ser removido;

• localização da escavação;

• dimensões da escavação;

• tipo de solo a ser escavado;

• destino dado ao material retirado.

Ao consideram esses diferentes aspectos, podem organizar os tipos de

escavações em sete diferentes categorias:

• de grandes volumes em áreas limitadas;

• de grandes volumes em grandes áreas;

• de solos não consolidados, sobretudo argilas e siltes;

• verticais em áreas limitadas;

• abertura de valas;

• abertura de túneis;

• dragagem.

As escavações de grandes volumes em áreas limitadas são muito comuns na

construção de edifícios, nos quais usualmente são construídos subsolos enterrados,

atingindo escavações de mais de 10 m de profundidade. Nesses casos, a técnica

usual é se dispor o equipamento de escavação dentro da área a ser escavada,

sendo que esse vai escavando o solo no sentido do meio para os limites do terreno.

25

O material escavado é retirado por caminhões, que acessam o local por meio de

rampas. A configuração resultante são escavações de contornos verticais ou quase

verticais, algumas vezes inclusive contidas artificialmente.

Os equipamentos usualmente empregados nesses casos são a escavadeira

de colher ou, simplesmente, escavadeira e a pá−carregadeira, também chamada

escavo−carregadeira, ou, simplesmente, carregadeira, sendo esta última utilizada

em escavações de menores volumes.

As escavações de grandes volumes e grandes áreas são típicas de serviços

de terraplenagem. Por não terem limitações dimensionais em planta, usualmente

são de limitadas por rampas suaves ao invés de por paredes verticais como no caso

anterior. Isso faz com que o acesso à área escavada, sobretudo para a retirada do

material, se dê sem a necessidade de construção de rampas de grandes

inclinações, permitindo a utilização de equipamentos como os scrapers, que cumpre

o duplo papel de escavarem e transportarem o solo.

Figura 18(a): Escavações de grandes volumes em áreas limitadas

Figura 18(b): Escavações de grandes volumes em grandes áreas

26

Figura 18(c): Escavações de solos não consolidados

Figura 18(d): Escavações verticais em áreas limitadas

5. ESCORAMENTO

Quando a escavação não puder ser contida apenas com a presença de

taludes, deve então ser previsto o escoramento da paredes do corte. Os

escoramentos são estruturas provisórias executadas para possibilitar a construção

de outras obras, sendo mais comumente utilizadas para permitir a execução de

obras enterradas ou o assentamento de tubulações embutidas no terreno. De um

modo geral, os escoramentos são compostos pelos seguintes elementos: paredes,

longarinas, estroncas e tirantes.

• Parede: é a parte em contato direto com o solo a ser contido. Na maioria dos

casos, é vertical e formada de madeira (contínua ou descontínua), aço ou

concreto.

27

• Longarina: é um elemento linear e longitudinal que serve de apoio à parede.

Geralmente, fica na posição horizontal e pode ser constituída de vigas de

madeira, aço ou concreto armado.

• Estroncas (ou escoras): são elementos que servem de apoio às longarinas,

indo de um lado a outro da escavação, ou apoiando-se em estruturas

vizinhas, mas com comprimento máximo de 12 metros. Assim, as estroncas

são perpendiculares às longarinas, e podem ser de madeira ou aço. Em

muitos casos, dependendo do comprimento da estronca, pode ser necessário

o seu contraventamento ou até apoios intermediários (estacas metálicas

cravadas) para suportar seu peso.

• Tirantes: com a mesma função das estroncas (ou seja, suporte às longarinas),

os tirantes são elementos lineares introduzidos no solo a ser contido, e

ancorados no maciço por meio de um trecho alargado chamado de bulbo.

Trabalham à tração, e podem ser escolhidas como suporte às estroncas se

for julgada a solução mais adequada.

• Bermas: são muitas vezes usados como único elemento de escoramento em

contenções de pequena altura (até 6 metros) e em solos com boas

características de resistência. Por permitirem deslocamento da parede da

contenção, podem induzir recalques indesejáveis em edificações vizinhas. É

comum sua utilização como escoramento auxiliar dos outros tipos,

funcionando como escoramento provisório até a instalação destes.

Figura 19: Tipos de escoramento

O tirante é um elemento linear capaz de transmitir esforços de tração entre

suas extremidades: a extremidade que fica fora do terreno é a cabeça, e a que fica

enterrada é conhecida como bulbo de ancoragem. A grande maioria dos tirantes é

28

constituída por um ou mais elementos de aço, geralmente barras, fios ou

cordoalhas.

Atualmente, têm sido pesquisados tirantes em fibras químicas, mas com uso

ainda restrito a casos especiais. A cabeça do tirante é a parte que suporta a

estrutura. É em geral constituída por peças metálicas que prendem o elemento

tracionado através de porcas, clavetes botões ou cunhas.

Figura 20: Tirante

O bulbo de ancoragem, na grande maioria das vezes, é constituído por nata

de cimento, aderindo-se ao aço do tirante e ao solo, e possui comprimento muitas

vezes superior a 5 metros. Ao longo do corpo do tirante - o chamado trecho livre,

que possui comprimento não inferior a 3 metros - o aço não deve estar em contato

com a nata de cimento. Por isso, é comum, antes da sua colocação, revesti-lo com

graxa, com um tubo ou mangueira de plástico, ou com bandagem de material

flexível. Uma grande vantagem do uso de tirantes é, além da alta capacidade de

carga (até 850 KN), a simplicidade construtiva. Os elementos que o compõem são

simples e de fácil manejo. Se comparados a um sistema de estroncamento, onde

são necessários vários elementos de elevado peso (longarinas, estroncas,

contraventamentos, apoios intermediários, etc.), os tirantes são bem mais

vantajosos, além de permitir trabalhos dentro da escavação sem a presença

daqueles elementos, mantendo o terreno livre.

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Os tirantes oferecem também a vantagem de permitir fundações mais simples

à obra de contenção. Por impedirem o deslocamento inicial do arrimo através da

protensão coisa que não acontece nas contenções tradicionais, reduzem o risco de

prejuízo a edificações vizinhas. Nas obras de contenção, os tirantes são usados

desde os casos mais simples, com apenas uma linha de tirantes, até casos mais

complexos, como em obras de múltiplos subsolos em locais com os mais variados

tipos de solo dispostos em camadas.

Dentre as limitações do uso de tirantes, citam-se:

• os tirantes penetram no terreno vizinho no mínimo 8 metros;

• quando da injeção da nata de cimento para o bulbo de ancoragem, existe a

possibilidade de levantamento da superfície do terreno sobre os tirantes em

locais de solo argiloso, podendo resultar em danos em edificações vizinhas

apoiadas sobre esse terreno;

• existe a possibilidade de corrosão de tirantes de aço, que geralmente se

desenvolve desde a cabeça até aproximadamente 1 metro dentro do trecho

livre;

• por ser um serviço especializado, é oneroso, devendo ser avaliado sob o

ponto de vista custo/benefício.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6489 : prova de carga

direta sobre terreno de fundação. Rio de Janeiro: ABNT, 1984. 2p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122 : projeto e

execução de fundações. Rio de Janeiro: ABNT, 1996. 33p.

HACHICH, Waldemar et al. Fundações: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Pini,1996

RODRIGUEZ ALONSO, Urbano. Exercícios de fundações. São Paulo: E. Blücher,

1983.