Desenvolvimento da Educação Ambiental com Alunos do Ensino Fundamental

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O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL: EXPERIÊNCIAS COM LIXO E RECICLAGEM EM NOVA SERRANA/MG Alexandre Rodrigo Nunes 1 RESUMO: Este trabalho teve por objetivo mostrar aos alunos a importância da educação ambiental (EA) no que se refere ao tratamento adequado do lixo visando sensibilizá-los quanto a esse problema, além de oferecer novas metodologias de ensino para a EA na escola, com base em recursos de baixo custo. Foram utilizados, como ferramenta de coleta de dados, questionários aplicados antes e após a realização de um projeto com 28 alunos do 6º ano do ensino fundamental da de uma escola pública municipal da cidade de Nova Serrana/MG. Tal projeto abordou temáticas de separação do lixo, reciclagem, compostagem e divulgação de conhecimento. Os dados coletados revelaram que uma significativa parcela de alunos já possui conhecimento sobre questões ambientais a nível local, porém ainda desconhecem certos aspectos, o que justifica a continuidade de trabalhos sobre EA nas escolas, projetos nesse sentido também manifestam grande aceitação no público-alvo. Também pode ser percebido da comparação entre conhecimentos prévios dos alunos e conhecimentos ao término do projeto sobre a eficácia das atividades desenvolvidas para a construção de novos conhecimento e desenvolvimento de uma consciência ambiental no que se refere à gestão dos resíduos sólidos. PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental, Lixo, Reciclagem, Alunos, Ensino- Aprendizagem. 1 INTRODUÇÃO A Educação Ambiental (EA) possibilita ao homem o desenvolvimento de habilidades sustentáveis em seus processos de relacionamento com o meio ambiente. Nesse sentido, pode-se perceber a importância de se trabalhar a EA nas instituições de ensino tendo em vista o compromisso dessas com a formação do cidadão crítico e consciente de seus direitos e deveres para com a realidade na qual está inserido (DIAS, 2010). Tendo em vista que a escola é o espaço ideal para formar cidadãos, conscientes, éticos, críticos, e reflexivos que terão poder para transformar sua 1 Especialização em Educação Ambiental pela Universidade Cidade de São Paulo. São Paulo- SP, Brasil. E-mail do autor:[email protected]. Orientador: Professora Dra. Siderly do Carmo Dahle de Almeida.

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O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM

ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL: EXPERIÊNCIAS COM LIXO E

RECICLAGEM EM NOVA SERRANA/MG

Alexandre Rodrigo Nunes1

RESUMO: Este trabalho teve por objetivo mostrar aos alunos a importância da educação ambiental (EA) no que se refere ao tratamento adequado do lixo visando sensibilizá-los quanto a esse problema, além de oferecer novas metodologias de ensino para a EA na escola, com base em recursos de baixo custo. Foram utilizados, como ferramenta de coleta de dados, questionários aplicados antes e após a realização de um projeto com 28 alunos do 6º ano do ensino fundamental da de uma escola pública municipal da cidade de Nova Serrana/MG. Tal projeto abordou temáticas de separação do lixo, reciclagem, compostagem e divulgação de conhecimento. Os dados coletados revelaram que uma significativa parcela de alunos já possui conhecimento sobre questões ambientais a nível local, porém ainda desconhecem certos aspectos, o que justifica a continuidade de trabalhos sobre EA nas escolas, projetos nesse sentido também manifestam grande aceitação no público-alvo. Também pode ser percebido da comparação entre conhecimentos prévios dos alunos e conhecimentos ao término do projeto sobre a eficácia das atividades desenvolvidas para a construção de novos conhecimento e desenvolvimento de uma consciência ambiental no que se refere à gestão dos resíduos sólidos.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental, Lixo, Reciclagem, Alunos, Ensino-

Aprendizagem.

1 INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental (EA) possibilita ao homem o desenvolvimento de

habilidades sustentáveis em seus processos de relacionamento com o meio

ambiente. Nesse sentido, pode-se perceber a importância de se trabalhar a EA nas

instituições de ensino tendo em vista o compromisso dessas com a formação do

cidadão crítico e consciente de seus direitos e deveres para com a realidade na qual

está inserido (DIAS, 2010).

Tendo em vista que a escola é o espaço ideal para formar cidadãos,

conscientes, éticos, críticos, e reflexivos que terão poder para transformar sua

1 Especialização em Educação Ambiental pela Universidade Cidade de São Paulo. São Paulo- SP,

Brasil. E-mail do autor:[email protected]. Orientador: Professora Dra. Siderly do Carmo Dahle de Almeida.

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realidade, é fundamental adotar práticas pedagógicas mais eficazes que possam

despertar a importância do manejo adequado do lixo para que os alunos interiorizem

valores e sejam capazes de utilizá-los em sua vida diária.

Murgel Branco (2001), ao analisar a degradação causada pelo lixo, afirma

que esta se revela cada dia mais preocupante, uma vez que a estimativa de

produção de lixo no planeta terra hoje é de cerca de 2,8 bilhões de quilos por dia e a

maior parte desses resíduos não recebe nenhum tipo de manejo.

Observando a atual situação do planeta, nota-se que algo preocupante vem

ocorrendo: a cada ano o resíduo sólido liberado pelas atividades humanas vem

comprometendo maior número de reservas naturais e ocasionando uma

subseqüente perda da qualidade de vida. Com o intuito de modificar tal quadro, é

preciso realizar medidas de conservação e manejo dos recursos com planejamentos

regionais, nacionais e internacionais, envolvendo a obtenção do conhecimento

científico e o esclarecimento de toda a população através da EA a fim de assegurar

uma qualidade adequada de vida a todos no futuro (DIAS, 2010).

O problema principal ao qual este estudo se propõe é responder ao seguinte

questionamento: como a escola deve desenvolver metodologias que objetivem a

formação de consciência, por parte dos seus alunos, quanto à gestão mais

sustentável do lixo produzido em suas residências?

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (1998), para

alcançar o desenvolvimento sustentável no que se refere a EA torna-se condição

básica a realização de mobilização escolar, uma vez que a escola enquanto

instituição de ensino possui em seu objetivo mais amplo a formação do aluno

enquanto cidadão, nele despertando o senso de responsabilidade, para a

conservação do meio ambiente (BRASIL, 1998).

Por sua vez, essas metodologias a serem desenvolvidas devem aproximar-

se do contexto no qual os alunos estão inseridos, para que, a partir do conhecimento

construído no ambiente escolar, eles possam reproduzir por meio de vivências em

suas residências e no meio onde interagem. Acredita-se, portanto, que uma forma

eficaz de trabalhar as metodologias de EA na escola seja por meio de teatro, vídeo-

aulas, aulas práticas de campo em que o aluno se torne um agente ativo na

construção de seu conhecimento.

O estudo em questão teve como objetivo geral mostrar aos alunos a

importância da EA no que se refere ao tratamento adequado do lixo, ressaltando que

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esse tratamento é fundamental para manter uma boa qualidade de vida para todos.

Como objetivos específicos visou-se sensibilizar os alunos quanto ao problema do

lixo em nossa sociedade; identificar capacidades desenvolvidas pelos alunos em

projetos ambientais já desenvolvidos pela escola; desenvolver novas habilidades

que possam ser utilizadas no cotidiano quanto ao manejo correto dos resíduos

sólidos produzidos nas residências e oferecer novas metodologias de ensino para a

EA na escola, com base em recursos de baixo custo.

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2 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA PARA O CORRETO

MANEJO DO LIXO

O termo lixo é usado para designar resíduos sólidos de diferentes

procedências, nas quais se inclui o resíduo urbano de origem nas residências. A

taxa de produção de resíduos está relacionada aos hábitos de consumo de cada

cultura. Nos últimos anos, nota-se uma estreita relação entre o poder aquisitivo de

uma população e sua capacidade de produção de lixo. Assim sendo, quanto maior o

poder econômico, maior será a quantidade de lixo gerada (FADINI e FADINI, 2011).

De acordo com os princípios de Talomoni e Sampaio (2003), a contínua

degradação dos recursos naturais tem suas causas em seu intenso e descontrolado

uso para a produção de mercadorias com as mais diferentes finalidades, tal fato

aumenta a produção de resíduos que alteram fluxos naturais de energia e matéria e,

através dos tempos, têm produzido modificações fundamentais que colocam em

risco a sobrevivência de toda a vida no planeta.

Dias (2010) afirma que é essencial estimular, na discussão, a busca de

alternativas para a diminuição da produção de lixo, considerando-se os aspectos

tecnológicos e comportamentais. É de extrema importância ser incentivado o

consumo de produtos com embalagens recicláveis, uma alternativa útil à economia

de energia. A dificuldade para isso é mudar a consciência das pessoas que ao longo

dos anos foi sendo trabalhada a voltar-se a uma mentalidade consumista.

Talomoni e Sampaio (2003) ainda refletem que, para solucionar as questões

ambientais há muito que se destacar o papel da EA. Enquanto área formadora de

conhecimentos, a EA constitui-se em um pilar fundamental para o desenvolvimento

de relações sustentáveis para com o meio ambiente.

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Campos e Cavassan (2013) analisam que uma das tarefas árduas da EA

consiste em rever conceitos e valores, despertando nas pessoas a visão crítica da

realidade vivenciada e repensando hábitos de consumo, valores e atitudes, de forma

a promover mudanças cognitivas e comportamentais em prol da qualidade de vida.

No processo de relação do homem com a natureza, destaca-se a questão da

produção de lixo. Damásio e Sampaio (2013), ao realizarem reflexões sobre a

degradação ambiental revelam que, quanto à questão do lixo ele representa mais do

que poluição. Representa também muito desperdício de recursos naturais e

energéticos e o resultado disso é um planeta com menos recursos naturais e com

mais lixo. Nesse sentido, esses autores ressaltam a necessidade de que políticas de

EA sejam feitas não somente para alertar quanto aos riscos ocasionados pelo

consumismo desenfreado, mas também para consolidar mecanismos de tratamento

e/ou reciclagem dos resíduos gerados.

2.1 O PAPEL DA ESCOLA NA PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Para que haja um correto processo de destinação dos resíduos é fundamental

a participação de todos os cidadãos. Por sua vez, a participação de todos no

processo somente pode ser obtida a partir do momento que sejam desenvolvidas

princípios e práticas que remontam à questão da consciência ambiental. Tratando

sobre esse processo de desenvolvimento de habilidades, Robaina, Coimbra e

Wickbert (2008) ressaltam que a escola possui um papel fundamental, pois atua

como responsável pelo arranjo de contingências reforçadoras para o aluno, isso

significa, segundo esses autores, que a escola deve atuar no desenvolvimento de

práticas que atuem motivando o aluno e tornando-o com disposição para atuar no

ambiente onde vive.

Robaina, Coimbra e Wickbert (2008) destacam ainda que o papel da escola é

desenvolver uma aprendizagem significativa ao aluno, caso isso não aconteça ela

funciona apenas como um local onde se apenas recebe informações, definições pré-

estabelecidas e conceitos. Mais que informar, o papel da escola é possibilitar que o

aluno trabalhe criticamente a informação.

Como exemplo para a situação acima diagnosticada pode-se descrever sobre

o tratamento do lixo. Esse tema merece um debate crítico na escola. De acordo com

a visão de Figueiredo (2011), o aluno deve aprender que a reciclagem é essencial

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para manter um ambiente limpo, o nível de qualidade de vida adequado e também

economizar gastos desnecessários, assegurando ao ambiente um perfil estético,

sanitário e econômico. A autora ainda reflete que tal debate em torno do tema é

impossível se os educandos não passarem inicialmente por uma reciclagem interior,

o que ela diagnostica como uma mudança de atitude, um despertar de consciência,

objetivo este, que deve ser visado pela escola no processo de aprendizagem.

Entende-se, portanto, que a escola tem a função de despertar habilidade e não

apenas informar conceitos.

Conseguir despertar habilidades não é uma tarefa fácil, ao contrário, muitas

vezes, os professores devem utilizar recursos variados que aumentam o trabalho

quanto à preparação e o desenvolvimento das aulas, pois envolvem tempos e

espaços mais amplos. Discutindo esse aspecto, Castro e Alkmim (2006), relatam

que a EA deve ser priorizada na escola desde as séries iniciais, uma vez que na

infância as crianças estão mais abertas para o aprendizado e mais curiosas para

com o mundo também. Nesse sentido, a infância se configura como período no qual

se torna possível transformar atitudes.

Castro e Alkmim (2006), ainda destacam que é de extrema necessidade

trabalhar com materiais concretos buscando elementos próximos ao universo da

criança, pois assim a criança se familiariza com o mundo que a cerca e cria um

vínculo afetivo para com ele, sendo por isso mais fácil buscar sua sensibilização.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo foi desenvolvido em uma escola da rede pública

municipal da cidade de Nova Serrana/MG, durante o primeiro semestre do ano de

2014, com uma população de 28 alunos do 6º ano do Ensino Fundamental.

De início, aplicou-se um questionário para ser respondido pelos alunos. A

finalidade de tal questionário foi realizar um diagnóstico sobre os pontos de interesse

dos alunos bem como identificar seus conhecimentos sobre o tema, a fim de verificar

que pontos deveriam ser trabalhados.

A etapa seguinte foi de sensibilização com a turma utilizando os textos Relax

Ecológico e Nossa Natureza (PINTO e PINTO, 2010). Tais textos tratam de temas

atuais que refletem as agressões ao meio ambiente. Nessa etapa também serão

6

apresentados filmes pedagógicos como Ilha das Flores (direção de Jorge Furtado,

1989) e Quixote Reciclado (Direção de Phillipe Henry, S/D). Nessa perspectiva

audiovisual, introduziu-se nessa fase do projeto, atividades com música, sendo

utilizada Aquarela do Brasil, de Vinícius de Morais A aprendizagem construída será

retratada por meio de desenhos.

A parte de desenvolvimento prático do projeto consistiu em realizar trabalhos

de reciclagem com os alunos. Para isso, inicialmente o lixo de cada local da escola

será separado, coletado e pesado durante uma semana. Seguidamente à pesagem

do lixo, ele foi reaproveitado da forma que se fizer mais conveniente: encaminhando

para associações de catadores, realizando oficinas de reciclagem/reaproveitamento

na própria escola ou realizando a produção de adubo orgânico.

Com o adubo orgânico foi construída uma horta suspensa, utilizando-se tanto

dos resíduos orgânicos quanto das garrafas PET geradas no lixo escolar.

O encerramento das atividades se deu com apresentações culturais (música e

teatro de bonecos) além da exposição dos trabalhos artesanais feitos pelos alunos.

Ao término do projeto também se aplicou um questionário com o intuito de

diagnosticar a habilidades desenvolvidas nos alunos no decorrer das atividades e,

com isso, dar as considerações gerais sobre a realização do projeto.

3.1 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1.1 Resultados do questionário aplicado anteriormente ao projeto

Uma vez que os questionários de diagnóstico foram aplicados, os dados

coletados foram agrupados, passando por uma análise e discussão, à luz do

referencial teórico pesquisado.

A pesquisa realizou-se sobre uma população de 28 alunos sendo 14 do sexo

masculino e 14 do sexo feminino. Os alunos tem idades entre 10 anos a 12 anos.

Quanto à escolaridade dos pais, percebeu-se que 10 pais são alfabetizados,

ou seja, nesse caso, conseguem ler alguns textos, sabem assinar o nome, mas não

freqüentaram a escola, ou o tempo que nela passaram é inferior a um ano. Outros 7

possuem o ensino fundamental incompleto; 3 possuem ensino fundamental

completo e 8 completaram o ensino médio.

7

No processo de análise de resultados, também é fundamental, no diagnóstico

do perfil da população de pesquisa, destacar a quantidade de pessoas que residem

por domicílio. Pode ser notado que 8 dos alunos pesquisados residem em

habitações nas quais o número de habitantes é igual ou inferior a 3; outros 11

moram em residências cujo número de residentes é igual a 4 ou 5 e por fim, 9

moram em casas com um número maior de 5 pessoas. Pesquisa com resultados

semelhantes foi realizada por Silva (2006), na qual a autora discute a importância de

conhecer o número de habitantes de uma residência, pois isso indica a quantidade

de lixo que nela é produzido. Observando o número de residentes, pode-se perceber

que quanto maior o número de pessoas maior será a quantidade de resíduos

produzida.

Tendo em vista a necessidade de trabalhar a EA com alunos em todos os

níveis da educação básica, foi perguntado aos alunos sobre a freqüência com que

manifestam atitudes na preservação do meio ambiente. Os resultados mostram que

1 dos alunos nunca havia manifestado qualquer tipo de atitude com relação à

preservação ambiental; por outro lado, 15 sempre manifestam esse tipo de atitude e

12 às vezes manifestam atitudes em prol do meio ambiente. Esses resultados

podem ser relacionados com as reflexões feitas por Guimarães (1992), nas quais o

autor discute sobre a necessidade do educando de tomar atitudes frente à sua

realidade, atitudes estas, que devem procurar modificar situações de degradação do

meio onde vive.

Foi questionado junto aos alunos sobre o tratamento dado ao lixo produzido

em suas residências, ou seja, foi questionado se os resíduos sólidos produzidos

passavam por um processo de separação antes de serem recolhidos.

Pode ser notado que em 10 residências, o lixo passa sempre pelo processo

de separação antes de ser recolhido, em outras 8 residências isso ocorre às vezes.

Por outro lado, 7 residências raramente separam o lixo e outras 3 nunca separam.

Foi questionado junto aos alunos se eles possuíam conhecimentos suficientes

sobre como deve proceder para a realização da coleta seletiva de lixo, sendo

diagnosticado que 22 têm conhecimento sobre o assunto. Em contrapartida, 6 não

sabem. Os 22 alunos têm maior esclarecimento da necessidade da coleta seletiva

uma vez que estão sendo devidamente informados sobre o assunto. Essas

informações da coleta seletiva são atualmente repassadas tanto pela escola, quanto

por jornais, TV, revistas e pelo próprio ambiente familiar.

8

Gonçalves (1997) discute que, dentro das propostas de EA para escolas da

rede básica de ensino, é fundamental trabalhar sobre o manejo adequado do lixo.

Entre as medidas de manejo, a autora destaca a coleta seletiva como uma

alternativa para reduzir a destruição ambiental, reduzir o volume de resíduos em

depósitos além de gerar novos empregos para a população. Em consonância com

outros autores, Gonçalves (1997) reflete que, para que um projeto de coleta seletiva

dê resultados é necessário que toda a população tome consciência de sua

importância.

Também foi perguntado aos alunos sobre seus conhecimentos sobre a

reciclagem. Diagnosticou-se que 22 alunos possuem conhecimentos sobre alguma

forma alternativa para reciclar resíduos produzidos em suas residências, outros 6

desconhecem qualquer método de reciclagem. A explicação para tal resultado

também pode ser encontrada na formação cultural dos alunos. Aqueles que

conhecem sobre o assunto receberam a informação em algum veículo de

comunicação e principalmente através da escola, por sua vez, aqueles que

desconhecem ignoram o assunto por receberem pouco estímulo da própria família

(na maioria dos casos).

Teixeira e Segura (1997) discutem, em um trabalho que realizaram

abordando o tema Consumo e Produção de lixo, que metodologias de

aproveitamento de vasilhames, desenvolvimento de artesanato a partir de sucata e

também a compostagem de lixo orgânico como forma de redução desse material em

aterros controlados ou lixões.

Após ter sido feita a apuração dos questionários quanto ao conhecimento dos

alunos sobre métodos de tratamento de lixo, diagnosticou-se, que a reciclagem é um

método conhecido por 10 alunos, em segundo lugar aparece o lixão que é apontado

por 12 deles. Aterro sanitário foi apontado por 5 alunos e aterro controlado por 3.

Comparando os dados com pesquisa feita por Silva (2006), na cidade de Nova

Serrana/MG, encontram-se dados semelhantes, com grande quantidade de alunos

ainda retomando a figura do lixão quando se fala em métodos de tratamento de lixo.

Percebe-se que todos os alunos consideram ser importante o trabalho com

EA na escola. Ao debater sobre o assunto, Sousa (2013) revela que este tema deve

ser estimulado por todos os setores envolvidos no processo de construção do

conhecimento e deve fazer parte do projeto pedagógico da escola. De acordo com a

percepção dos alunos, 25 consideram que na escola sempre ocorre separação do

9

lixo, outros 3 acreditam que essa separação ocorre apenas às vezes (em virtude de

algum projeto que é realizado).

3.1.2 Realização do projeto na escola

Inicialmente o trabalho consistiu em realizar um processo de conscientização

dos alunos, por meio do trabalho com análise de textos, vídeo-aulas e aulas com

música. Segundo Cinel (2004), é importante educar os alunos na linguagem

audiovisual enquanto são explorados os conteúdos. Na mesma perspectiva, Bencini

(2005), afirma que aulas com vídeo aproximam os alunos de situações, pessoas,

cenários e imagens do passado e do presente.

De acordo com Cinel (2004), a música é o meio de desenvolvimento da

expressão da auto-estima, de integração social, de equilíbrio e bem-estar, essas

habilidades devem ser plenamente desenvolvidas para se trabalhar qualquer tipo de

conteúdo no ambiente escolar.

Lima (2004) cita que o brinquedo feito de sucata faz com que a criança

valorize o que é seu, pois participa de sua fabricação, melhorando inclusive sua

auto-estima.

A partir dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos montou-se um mural,

conforme pode ser percebido na Figura 1.

Figura 1: Mural com trabalhos confeccionados pelos alunos.

10

Uma vez coletado, separado e pesado o lixo de cada local da escola (sala de

aula, cozinha, secretaria), ele foi separado pelos alunos e alguns materiais já foram

diretamente sendo direcionados para a associação de catadores do município.

Separou-se alguns papeis e garrafas para a realização de oficinas. Seguindo os

pressupostos de Lima (2004) que propõem oficinas com materiais recicláveis, os

alunos foram estimulados a montar brinquedos com o lixo reciclado coletado nas

salas, tais brinquedos foram expostos na escola ao término do projeto, conforme

pode ser percebido na Figura 2.

Figura 2: Materiais montados com o papel reciclado.

Utilizando também as sugestões de Campos e Cavassan (2013), foi realizada

uma aula prática na qual os alunos aprenderam a fazer papel reciclado o papel

produzido em tal aula foi utilizado para a confecção de trabalhos artísticos feitos

também pelos alunos.

O lixo molhado também foi utilizado no projeto. Durante dois dias o lixo da

cozinha da escola foi coletado. Seguindo as instruções de Fortuna (2007) os alunos

também tiveram uma aula prática sobre produção de adubo orgânico a partir de

determinados tipos de lixo como restos de alimentos e cascas de legumes e frutas.

Produziu-se uma horta suspensa, conforme pode ser observado na Figura 3.

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Figura 3: Produção de horta suspensa a partir de adubo orgânico feito com lixo da

cozinha da escola

O encerramento do projeto consistiu em realizar um teatro para que os alunos

divulgassem para o restante da escola aquilo que haviam aprendido em todas as

fases anteriores (Figura 4).

Figura 4: Teatro de encerramento do projeto sobre lixo e reciclagem

3.1.3 Resultados após a realização do projeto

Após a realização do trabalho foi aplicado um questionário com o intuito de

verificar as habilidades despertadas nos alunos. De acordo com Dias (2010), a

12

questão mais importante dentro de trabalhos de EA se refere à capacidade de

desenvolver habilidades de disseminação de informações quanto à preservação e

conservação do meio ambiente. Nesse intuito, foi questionado junto aos alunos

sobre as formas que utilizam para veicular formas de preservação do meio

ambiente. Os resultados estão dispostos na Figura 15.

Confirmando as reflexões de Dias (2010), 21 alunos responderam que são

disseminadores de informações a parentes e amigos, outros 7 afirmam que dão sua

contribuição à preservação do ambiente realizando a separação correta do lixo.

Nota-se que, nesse sentido, que se tornaram significativos os conhecimentos dos

alunos quanto à necessidade de divulgarem informações sobre a preservação do

meio ambiente.

Pode-se ressaltar que os alunos tiveram uma grande afinidade com trabalhos

envolvendo produções textuais, desenhos e vídeos. Os alunos manifestaram maior

interesse por tais atividades porque exigem maior dinamicidade. Por outro lado,

geralmente os alunos apresentam dificuldades em realizarem atividades que exigem

grau demasiado de silêncio e concentração. Teatro e Música tiveram uma

preferência de 15 alunos. Cinel (2004) e Bencini (2005) realizam estudos quanto ao

trabalho com o audiovisual enquanto material didático. Para esses autores, crianças

que são educadas em uma metodologia com esse tipo de recurso desenvolvem

mais sua auto-estima e criatividade.

Outras atividades como a coleta seletiva realizada e os métodos de

reciclagem tiveram uma preferência de 13 alunos.

A pesquisa confirmou que 15 alunos responderam que atualmente na escola

se pratica a coleta seletiva. Cabe aqui refletir que os alunos, anteriormente à

realização do projeto já manifestavam algum conhecimento sobre a coleta seletiva,

mas não sabiam a maneira correta de separação do lixo.

Os alunos também manifestaram certo conhecimento sobre o aterro

controlado, uma vez que 6 responderam que parte do lixo da escola era

encaminhado para esse local. Após o desenvolvimento da compostagem acredita-se

que esse volume será ainda mais reduzido.

Foi perguntado aos alunos se após o término do projeto, algum deles já havia

praticado a compostagem do lixo orgânico em suas residências. Notou-se que 16

alunos pesquisados afirmaram que passaram a praticar a compostagem em suas

residências. Isso confirma as reflexões de Dias (2010) sobre a capacidade de

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desenvolvimento de habilidades práticas em pessoas que participam de projetos de

EA.

Novos projetos de EA devem sempre fazer parte do cotidiano da escola.

Desta maneira, procurou-se aqui realizar um diagnóstico sobre como seria a

receptividade dos alunos quanto a novos projetos. Todos os alunos manifestaram

uma grande receptividade quanto a outros projetos de EA a serem desenvolvidos na

escola. De acordo com Ferreira (2007) projetos desse tipo propiciam que o aluno

mude de ambiente, saindo um pouco da sala de aula, mostrando seus

conhecimentos e assumindo o papel de agente ativo de seu conhecimento, isso

desperta muito o interesse do aluno e gera grande resultado no processo de

aprendizagem.

4 CONCLUSÕES

Ao término deste trabalho pode-se concluir que a escola pesquisada já utiliza

projetos de trabalho com a EA o que possibilitou que os alunos desenvolvessem

consciência sobre a importância de um ambiente não-poluído por resíduos sólidos.

Os filmes utilizados possibilitaram uma grande sensibilização dos alunos, fato

que foi revelado principalmente nas produções textuais e também no teatro

realizado.

Os projetos desenvolvidos pela escola na área de EA até o presente

momento visaram apenas o lado teórico, por esse fato, os alunos manifestaram um

grande desconhecimento sobre aspectos práticos de manejo do lixo, não

desenvolvendo até então, formas de reciclar tanto o lixo orgânico quanto o lixo

inorgânico.

A utilização de sucatas para a produção de brinquedos e a compostagem do

lixo orgânico da escola ofereceu aos alunos a possibilidade de desenvolvimento de

habilidades práticas para o manejo correto do lixo em suas residências.

O projeto desenvolvido teve grande aceitação dos alunos e possibilitou o

desenvolvimento de novas habilidades, tendo em vista que a avaliação pós-projeto

revelou que grande parte do público-alvo passou a utilizar as capacidades

desenvolvidas em sua casa.

Há que se ressaltar também que o houve um grande aprofundamento nas

práticas pedagógicas de EA da escola, sendo oferecido aos professores, por meio

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do projeto, novas possibilidades de trabalhar com o tema em questão, utilizando

recursos de baixo custo.

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