Da perspectiva clínica àcultural* - Universidade Federal do ...

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NARCISISMO: Da perspectiva clínica à cultural * Maria de Fátima Vieira Severiano** 'íESUMO Em fà.ce da atual exaltação de um suposto "individualismo". de base nercisics, expresso através da celebra/' ;.ão dos signos de consumo como forma de realização pessoal, Investigamos neste estudo as relações entre o :: aceito de nercisismo e a estruturação do ego, primeiramente de acordo com o reterenciel Ireudisno. para em se uida analisarmos este mesmo fenômeno na perspectiva da cultura, de acordo com teóricos que temstizsrsm -.li questão. Objetivamos neste estudo esclarecer que a chamada "Cultura do Nercisismo", vigente em nossa :: ruemporeneidede. ao promover um pseudo resgate do nsrcisismo etre vés da ideologia do consumo, não ~ orece os processos de autonomia humana/ mas ao contrário, percorre um caminho inverso ao da.individuação. Palavras chave: Nsrcisisrno, Individualismo, consumo, cultura. ISSISM: from clinical to cultUl'al perspective - STRACT One of the rnsin cherecteristics of our time is the exeltetion of a supposed nsrcissistic individuelism. which expressed through the celebretion of the consumption sign as form of personal accomplishment. This study estigstes the reletionship between the concept of nsrcissism and tbe structuring of the ego, first/y Irom the - eudian theoreticel trsmework and then Irom the cultural perspective. The sim is to demonstrate that tbe so 'led "culture of Nsrcissism" of the contetnporsry ege, which promotes a pseudo redemption of the narcissism ~ ugh the ideology of the consumption doesn 'tfà.vour the processes of human autonomy. Key words: Narcissism, individualism, consumption. culture . ..- presente artigo é parte do Capo IV de minha Tese de Doutorado intitulada: "As Subjetividades Contemporâneas sob o Signo do umo - Os Ideais Narcísicos na Publicidade da TV: Produçâo e Consumo" defendida no programa de pós-graduação do Deparrarnen- Ciências Sociais Aplicadas à Educação da UNICAMP em 1999. ;. fessora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará ora em Ciências Sociais Aplicadas à Educação. pelaUniversidade de Campinas/SP e Universidad Complutense de Madrid. 35

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NARCISISMO:Da perspectiva clínica à cultural *

Maria de Fátima Vieira Severiano**

'íESUMO

Em fà.ce da atual exaltação de um suposto "individualismo". de base nercisics, expresso através da celebra/';.ão dos signos de consumo como forma de realização pessoal, Investigamos neste estudo as relações entre o:: aceito de nercisismo e a estruturação do ego, primeiramente de acordo com o reterenciel Ireudisno. para emse uida analisarmos este mesmo fenômeno na perspectiva da cultura, de acordo com teóricos que temstizsrsm-.li questão. Objetivamos neste estudo esclarecer que a chamada "Cultura do Nercisismo", vigente em nossa:: ruemporeneidede. ao promover um pseudo resgate do nsrcisismo etre vés da ideologia do consumo, não~ orece os processos de autonomia humana/ mas ao contrário, percorre um caminho in verso ao da. individuação.

Palavras chave: Nsrcisisrno, Individualismo, consumo, cultura.

ISSISM: from clinical to cultUl'al perspective- STRACT

One of the rnsin cherecteristics of our time is the exeltetion of a supposed nsrcissistic individuelism. whichexpressed through the celebretion of the consumption sign as form of personal accomplishment. This studyestigstes the reletionship between the concept of nsrcissism and tbe structuring of the ego, first/y Irom the

- eudian theoreticel trsmework and then Irom the cultural perspective. The sim is to demonstrate that tbe so'led "culture of Nsrcissism" of the contetnporsry ege, which promotes a pseudo redemption of the narcissism~ ugh the ideology of the consumption doesn 't fà.vour the processes of human autonomy.

Key words: Narcissism, individualism, consumption. culture .

..- presente artigo é parte do Capo IV de minha Tese de Doutorado intitulada: "As Subjetividades Contemporâneas sob o Signo doumo - Os Ideais Narcísicos na Publicidade da TV: Produçâo e Consumo" defendida no programa de pós-graduação do Deparrarnen-Ciências Sociais Aplicadas à Educação da UNICAMP em 1999.

;. fessora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Cearáora em Ciências Sociais Aplicadas à Educação. pelaUniversidade de Campinas/SP e Universidad Complutense de Madrid.

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Introdução

o objetivo primordial deste estudo consiste embuscar compreender a forma que os processos(pseudo)individualizantes adquiriram em nossacontemporaneidade, considerando-se o contexto dachamada "Cultura do Narcisisrno".

O foco de nossa análise residirá, inicialmente, nacompreensão do fenômeno do narcisismo e suas rela-ções com a estruturação do ego ao nível da estruturado psiquismo - privilegiando os conceitos psicanalíti-cos tais como elaborados por Freud - e posteriormen-te, investigaremos o narcisismo na perspectiva da cul-tura, desta feita, privilegiando o papel da indústriacultural na atual expansão do chamado "individualis-mo pós-moderno", segundo a óptica dos diversos teó-ricos que te matizaram esta questão.

A "Cultura do Narcisisrno" refere-se, fundamen-talmente, à configuração que as culturas capitalistasmodernas assumiram, principalmente a partir das últi-mas duas décadas. Nela, aparentemente, os projetosindividuais assumem extrema relevância e parecemanunciar uma época em que a "pluralidade" e a "di-versidade" triunfam definitivamente sobre o mundohomogeneizado das chamadas "Sociedades de Mas-sa". Sua principal característica reside numa preocu-pação acentuada, proveniente de todos os campos, coma realização individual privada em estreita ligação comas opções do consumidor, na qual a beleza, a juventu-de, a felicidade, o sucesso pessoal etc, são cada vezmais reivindicados pela indústria cultural como um bema ser adquirido através do consumo. Uma enorme gamade novos produtos e serviços passa a ser "ofertada"pela publicidade a um público cada vez mais segmen-tado, passando isso a significar: "liberdade", "individu-alidade" e "democracia". I

Entretanto, não acreditamos que a libertação oua individualidade possam ser fundadas graças àsbenessesdo mercado; o que parece ocorrer é, por umlado uma confusão entre individualidade e narcisismoe, por outro, entre "Democracia e o exercício das pre-ferências do consumidor" (Lasch. p. 43).

Nossa opção específica pela compreensão dofenômeno do narcisismo e suas relações com aestruturação do ego - ao nível da clínica psicanalítica e

ao nível da cultura - justifica-se, portanto, dado a ne-cessidade de um esclarecimento teórico entre esses doistermos: Narcisismo e Individualidade, assim como suasimplicações psicossociais para a autonomia do homemcontemporâneo.

Vejamos inicialmente as questões relativas àinsersão da temática da individualidade na chamada"Cultura do Narcisisrno".

~Na perspectiva freudiana, será que o conceitode "narcisisrno" designaria, necessariamente, um'fortalecimento do ego no sentido de maior dife-renciação e maior desenvolvimento desta instân-cia frente às demandas do id, do superego e darealidade externa?

~ Na perspectiva da cultura, o "narcisista" éestereotipadamente caracterizado como um "in-dividualista". Mas em que consistiria na realida-de esse "individualismo"? Teria esta categoria omesmo sentido que o proferido nos ideais doiluminismo, no qual se atribuía um valor éticopositivo à crescente individuação e à emancipa-ção do indivíduo das heterodoxias de um mun-do reificado?

No que diz respeito à constituição da individua-.lidade, para nós é historicamente evidente que os ide-ais de individualidade autônoma, cujo paradigma estáexplicitado no ideário liberal dos séculos XVIII e XIX,nunca se concretizaram. Sua importância residia, en-tretanto, em serem tomados como um valor a ser re-alizado, uma utopia necessária na busca contínua deindependência e autonomia humana, assim como,uma ruptura com as antigas cosmovisões comunitári-as ou com a heteronomia, freqüentemente impostaaos homens, nos grandes centros urbanos do mundocontemporâneo.

Na perspectiva dos teóricos da Escola de Frank-furt, o processo de horninização. assim como a produ-ção da cultura, implica uma contínua diferenciação dohomem com relação à natureza, cujo ápice é o estabe-lecimento da individuação humana. Isto acarreta o re-conhecimento dos homens como indivíduos autôno-'mos, diferenciados dos demais e da natureza externa,

I O discurso da celebração das "diferenças" e dos "pluralisrnos" instaurado pela "pós-rnodernidade" pode ser encontrado emLipovetsky (1991).

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dotados de uma consciência que instaura, como nor-ma, a autoconservação e seu desenvolvimento. Nestesentido, a característica mais distintiva da individuali-dade é, justamente, a percepção crítica da tensão, dacisão entre homem e natureza.

Para esses teóricos o que se evidencia no "mun-do administrado" do capitalismo avançado é que aidentificação é utilizada como instrumento de "desin-dividuaçâo", na qual a individualidade tenderia nãosomente para a dissolução como também para umafalsa reconciliação entre sujeito e objeto - uma "falsamirnese". Segundo Rouanet (1986), essa conciliaçãoé falsa porque não é mediada por um ego autônomo,

apaz de, dentro de certos limites, transformar a rea-ltdade e assegurar a autoconservação do indivíduoatravés da transformação do inconsciente em consci-ência, mas, pelo contrário, essa "reconciliação" é fei-ta graças, justamente, ao enfraquecimento do próprioego que, expropriado de seus poderes, transforma-seem pura exterioridade. aderindo de forma miméticaao sistema social.

Também para Freud, o desenvolvimento da per-sonalidade humana se efetua, num certo sentido, em

ecorrência de uma série de processos de identifica-ções sucessivas - primárias e secundárias - tendo pormeta final o estabelecimento da individuação e, conse-.üentemente, o progressivo afastamento dos desejos

ce reunião simbiótica com a natureza. Os diversos pro-cesses de identificação, pelos quais os homens passamo decorrer de sua socialização, constituem instrurnen-

. s que possibilitam a individuação e não a fusão entre5 leito-objeto.

Portanto. nossa hipótese inicial é a de que nãoe rste uma necessária correlação positiva entre

arcisismo e fortalecimento do ego, ao contrário, ocesenvolvirnento do ego requer um contínuo afasta-

ente da posição narcísica primitiva em direção aourro e aos ideais culturais. Da mesma forma, uma

cultura pautada em traços narcisistas é incapaz de ha-nar seus membros para o exercício da autonomia.

1. Perspectiva Freudiana

Nosso interesse na compreensão do narcisismo,- mo categoria conceitual freudiana, reside, como já-e erido, na necessidade de um esclarecimento teórico

~ roso acerca deste fenômeno, haja vista sua cres-cente difusão ao nível da cultura, com o propósito dezaracterizar um certo "espírito" da era contemporânea,

uma determinada tipologia de personalidade pree-nente em nossos tempos. Objetivando evitar os

reducionismos em que, muitas vezes, se incorre ao tra-balhar com uma temática interdisciplinar, nossa tarefainicial consistirá em aprofundar conhecimentos acercado narcisismo, exclusivamente na perspectiva clínicapsicanalítica, para só então, posteriormente, retomar a.leitura dos críticos da cultura, a fim de averiguar apertinência teórica da transposição deste conceito.

Nosso objetivo específico, neste momento, con-siste pois em averiguar as relações do fenômeno donarcisismo com a estruturação do ego, tais como con-cebidas por Freud. a fim de esclarecer uma crençapopular corrente - reforçada pela media - que asso-cia, vulgarmente, o "homem narcísico" a alguém de-tentor de um ego fortalecido e individualizado.

O ensaio de Freud intitulado Sobre o Nercisismo:Uma Introdução (1914) constitui-se, segundo Sandleret alii (1991), 'como um dos momentos decisivos dopensamento de Freud", derivando daí importantes con-seqüências para a Psicanálise, inclusive significativasmodificações no conceito de ego, o que possibilitou apassagem para a "Teoria Estrutural". Além disso, talobra introduziu outros conceitos como "auto-imagem"e "ideal de ego", uma nova distinção entre "libido doego" e "libido objeta]", assim como possibilitou impor-tantes desdobramentos teóricos, principalmente no quediz respeito à "Teoria das relações objetais".

O início da construção do conceito de narcisismose formou, entretanto, num momento bem anterior aoreferido ensaio. A primeira menção feita por Freud aotermo "narcisisrno" foi, segundo Ernest Jones, numareunião da Sociedade Psicanálitica de Viena, realizadaem 10 de novembro de 1909, na qual Freud definira onarcisismo como "uma /àse intermediá.ria necessáriaentre o auto-erotismo e o amor obietel" (Cf FREUD,1976, Vo1.14, p. 85), posteriormente, tal termo apare-ce em uma nota à segunda edição dos Três EnsaiosSobre a Teoria da Sexualidade, que veio a público noinício de 1910. Logo em seguida, em maio daquele.mesmo ano, Freud volta a utilizar-se deste conceitoem seu estudo sobre Leonardo da V,nci (1910), agorapara designar o homossexualismo como um determi-nado tipo de escolha narcísica de objeto, dando rele-vância à introjeção das figuras parentais na formaçãoda identidade sexual. No estudo sobre Schreberi 191 I-1913), o conceito de narcisismo vai se estruturandocada vez mais, passando a ocupar uma posição de des-taque na teoria pulsional. sendo então concebido, se-gundo Birman (1991, p. 216), como "partefundamentalda históriaIibidine! do sujeiro". Em Totem e Tabu (1912-1913), no capítulo referente ao Animismo, Magia eOnipotência de Pensamento, Freud utiliza largamente

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o conceito de narcisismo, desta feita como uma estru-tura permanente, tanto ontogenética como filogeneti-camente, cujo "componente essencial" - a "Onipotên-cia do pensamento" <, permitiu-lhe estabelecer fecundasanalogias entre o "primitivo", a criança e as diversasformas de psiconeuroses.

A importância fundamental do ensaio de 1914 -Sobre o Narcisismo: Uma introdução - reside na abor-dagem deste conceito em suas múltiplas dimensões,ou seja, tanto nas perversões e nas psicoses quantono "desenvolvimento normal" de todo ser humano:na vida cotidiana, no amor, na regulação da auto-es-tima, na relação com os ideais e também na Psicolo-gia de grupo.

Na primeira parte deste ensaio, Freud claramen-te reivindica para o narcisismo "um lugar no cursoregular do desenvolvimento humano "(VaI. 14, p. 89).Em suas observações clínicas de pacientes"parafrênicos". Freud considerou os sintomas mega-lomaníacos e a retirada do interesse dessas pessoaspelo mundo externo, não como uma atitude perver-sa, mas como uma atitude de defesa do ego, onde onarcisismo funcionaria como 'o complemento Iibidins!do egoísmo do instinto de eutopreserveçso" (p. 90).Este "egoísmo" estaria, no caso, ligado à necessidadede sobrevivência do indivíduo, em função daautoconservação, daí o reinvestimento no ego da libi-do retirada dos objetos.

O narcisismo define-se, portanto, como um esta-do psíquico que se origina do retorno dos investimen-tos objetais em direção ao ego, aludindo sempre a umfenômeno segundo o qual um indivíduo elege a si pró-prio como objeto de amor ou nas palavras de Freud:::4 libido afa.stada do mundo externo é dirigida para oego e assim dá margem a uma atitude que pode serdenominada de narcisismo ': Entretanto, este narcisismoconstitui-se num fenômeno secundário, uma vez que alibido, ao regressar ao ego, apenas está realizando ummovimento contrário a uma rota percorrida quando daconstituição primária do próprio ego. Em outras pala-vras, a megalomania dos esquizofrênicos não é um sin-toma novo, pois encontra seu correlato e fundamentonos sentimentos primários, grandiosos e onipotentes daprimeira infância, a mesma superestima de poder tam-bém encontrada nos povos primitivos, segundo os es-tudos clínicos expostos em Totem e Tabu (lb. Vai 13).

Para Freud (1976, vol. 14), o que acontece comos esquizofrênicos, assim como com todos aqueles quese sentem impotentes em relação à "própria capacida-de de smer; em conseqüência de perturbação Hsice oumental" (p. I 16), ou mesmo por ocasião da perda do

objeto amado (real ou imaginária), é uma tentativa deretorno ao estado de onipotência primária, anterior ouparalela à constituição do ego, no qual a consciênciada falta não existia, e onde "Sua Majestade, o Bebê"reinava sem fronteiras, em fusão completa com o mun-do externo.

Tal quadro nos remete à noção de narcisismoprimário, definido por Laplanche/Pontalis (I 986) como

"uma fase precoce ou momentos básicos, quese caracterizam pelo spsrecimento simultâneode um primeiro esboço do ego e pelo seu inves-timento pela libido" (o que não implica que esteprimeiro narcisismo se/a o primeiro estado doser humano, nem que, do ponto de vista econô-mico, esta predominância do amor de si mesmo.exclua qualquer investimento objetsl). (p.370).

Na concepção freudiana exposta no ensaio de1914, existe uma catexia original do ego. com umaquantidade fixa de libido, a qual. no desenvolvimentodo indivíduo, irá dirigir-se para os objetos, investindo-os libidinalmente, porém sem nunca desinvestir total-mente o ego. Este, por sua vez, estará sempre pronto aretomar a libido e acumulá-Ia em si próprio mediantedeterminadas condições, geralmente associada comalguma enfermidade ou frustração excessiva. Neste mo-mento, portanto, a libido do ego é postulada por Freudcomo oposta à libido objetal, onde o voltar-se exclusi-vamente para si, exclui, necessariamente, o interessepelo outro. Entretanto, um excesso de catexia libidinalno ego é visto como perigoso para o equilíbrio psíqui-co: 'Devemos começar a amar a fim de não adoecer-omos, e estemos destinados a cair doentes se, em con-seqüência da frustração, formos incapazes de amar"(Freud, 1976, vol. 14, p. 101). O equilíbrio psíquicodepende de um balanceamento energético entre os in-vestimentos do ego e dos demais objetos. Dessuant(1992) nos define claramente as situações extremas dedesequilíbrio:

"seo investimento permanecesse exclusivamen-te nercisico, conduziria o sujeito à morte, aoimpedi-to de se voltar para o objeto vital e, damesma forma, o investimento rotalmente enti-narcísico esvaziana o sujeito, ao pnvé-Io de simesmo "{p. 9).

O movimento das catexias, felizmente, parece ser.extremamente flexível, daí a analogia freudiana destemovimento com a emissão de pseudópodos produzi-

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dos pelo corpo da ameba, que também pode modifi-car sua forma e sua direção.

A grande importância teórica do conceito denarcisismo para a concepção psicanalítica do ego é,iustarnente, o fato de que foi somente a partir da for-mulação deste conceito que o ego se constituiu comoobjeto investido libidinalmente e não mais como umsimples agente de censura e representante dos interes-ses da auto-conservação, completamente dessexuali-zado e inscrito exclusivamente nos processos consci-entes secundários, de acordo com a primeira teoriafreudiana das pulsões. A admissão de um egobidinizado. em que ele próprio se torna joguete dasulsôes. provoca uma transformação profunda na teo-

-ia pulsional e prepara o caminho para a elaboraçãoca segunda tópica freudiana, pela qual o ego. definiti-amente, passa a ser dividido numa parte inconsciente

e noutra pré-consciente/consciente. alterando assim oscerrnos do "conflito psíquico"; que não se daria maisentre pulsões sexuais e pulsões do ego, mas entre libi-

o do ego e libido do objeto, ou seja, o "conflito psí-::U1CO" se inscreve agora no plano libidinal (Cf.

.RMAN, 1991).Retomando nossa leitura do ensaio de 1914,

=reud, naquela ocasião, já admite que o ego nãoreexiste desde sempre na constituição primária do serurnano. tendo portanto que ser desenvolvido medi-

- te "umanova ação psíquica "(p. 93), pois o que existecesde o início são os "instintos auto-eróticos", uma li-

do fragmentada e dispersa nas zonas erógenas. Oomento de unificação destas pulsões fragmentadas,

cestas partes esfaceladas, dar-se-ia justamente no mo-emo da transição, da passagem, entre a fase do auto-

r risrno e das relações objetais. na qual o ego é inves-libidinalmente como objeto de si mesmo, dando

_ gern. assim à fase narcísica. O narcisismo é portanto- nternporâneo à primeira estruturação do ego. o qual

responsável pela organização das pulsões fragrnen-as do momento auto-erótico anterior e da própria

constituição da auto-imagem do sujeito como total ida-ce Integrada.

Estamos. portanto, diante do momento inauguralca consciência, do momento do nascimento da cons-

ência de si e da consciência do outro, o momentondante do indivíduo como unidade estruturada e di-

:~renciada dos outros sujeitos e dos objetos do mundoterno. Para que isso ocorra, Freud reivindica "umava ação psíquica" que se constitui justamente, se-

_~.mdo Birman (1991), "numa relação do sujeito comimagem, na qual é fundamental a relação com o

urro':.."uma relação intersubjetive que se interiorizs "

(p. 221) e que permite a estruturação e o desenvolvi-mento do ego em direção aos objetos e à cultura. Tam-bém Enriquez (1990) nos fala acerca da importânciado olhar e da linguagem nessa fase:

A apreensão do corpo como unidade. que fazsurgir o júbIlo no estágio do espelho, só é possí-vel porque a criança é, em princípio, constituídacomo unidade pelo olhar do outro sobre ela epelo discurso que a designa como ser único. Nóssó podemos nos ver porque o outro nos vê e nos'fala de nós (p. 69).

Em outras palavras, esta representação do sujei-to como unidade indivisível e fortemente estruturadasomente é possível graças à imagem corporal que acriança obtém de si mediatizada pelo outro, ou seja,graças ao olhar da mãe como constituinte eorganizadora da auto-imagem da criança. Portanto, épor intermédio de um outro sujeito, cujo olhar investelibidinalmente o corpo do infante e lhe devolve uma"imagem do corpo" que o ego é constituído. De acor-do com Dessuant (1992),

a possibilidade de poder bastar a si mesmo, forada Ilusão megalomaníaca, é rardia e sua reali-zação requer o amor dos que a cercam. era-oças a este amor, a criança poderá tornar-se pro-gressivamente autônoma e gozar de suaindependência (p. 38).

Nesse processo, observamos pois, o papel fun-damental da vinculação afetiva e da realidade - repre-sentada por um outro sujeito - na estruturaçâo do apa-relho psíquico. Sabemos que, na ausência de um outroque o confirme, a criança é incapaz de estabelecer umauto-conceito pertinente ao princípio da realidade. Semo outro que lhe permita imaginar a falta e buscar nomundo externo o seu objeto de satisfação, temos o in-divíduo autista ou o esquizofrênico catatônico; ou comono Mito: alguém que morre afogado no próprio eu.

Portanto, para Freud, é "ebsolutemente necessá-rio para a nossa vida mental ultrapassar os limites donsrcisismo e ligar a libido a objetos" (p. 10 I). Nestesentido, podemos afirmar que, da mesma forma comoa fase narcísica constitui-se numa passagem imprescin-dível para a constituição e estruturaçâo do ego. a supe-ração desta fase na direção das relações objetais e dosideais culturais constitui-se numa condição indispen-sável para o desenvolvimento de um ego maduro. Estanecessidade de ultrapassar a fase narcísica também é

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afirmada por Freud, ao nível filogenético. EmAnimismo, Magia e a Onipotência de Pensamentos,Freud (1976, Vo1.13) distingue três concepções domundo: "Anirnista", "Religiosa" e "Científica" que, dealguma forma, correspondem às três grandes fases dodesejo: "narcísica", "eleição do objeto" e "maturidadegenital". Este desenvolvimento implica num progressi-vo deslocamento desde a onipotência do pensamentoaté a subordinação do desejo aos ditames do princípioda realidade (fase "científica"). Trata-se aí, novamen-te, agora ao nível filogenético. da necessidade - emprol do desenvolvimento da espécie - de uma progres-siva renúncia ao narcisismo, representado aqui pela oni-potência do pensamento.

Ainda segundo Freud, após a constituição do egocomo imagem coesa, a libido pode migrar em três dire-ções, cujo percurso se relaciona diretamente com aauto-estima do indivíduo: o próprio ego ("resíduo donarcisismo infantil" que permanece), os objetos (libidoobjeral) e os ideais (representado inicialmente pelos pais,e posteriormente pelos ideais propostos pela cultura).

O movimento da libido em direção às relaçõesobjetais constitui-se num dos caminhos apontados porFreud para o desenvolvimento do ego. Visto que a acu-mulação egóica redunda em patologia e dado que onarcisismo infantil é freqüentem ente golpeado, no cursodo desenvolvimento do psiquisrno. ante as inúmerasfaltas que a realidade lhe impõe, uma das saídas que oindivíduo encontra para atender às próprias demandasé tentar buscar no amor do objeto a restauração de seuprimitivo sentimento de onipotência perdido. Freuddenomina este tipo de eleição objetal narcisista, ondeo critério de escolha dos objetos amorosos segue omodelo do próprio" eu" da pessoa, isto é, ela busca nooutro "o que ela própria é': ou algumas variações des-te termo: ''O que ela própria foi, o que ela própria gos-taria de ser, ou alguém que foi uma vez parte delamesma" (Freud. 1976, Vol. 14. p. 107). Freud tam-bém distingue outro tipo de eleição objetal denomina-da de anaclítica, esta baseada nas necessidades de cui-dado e proteção.

Para os nossos propósitos específicos, a eleiçãoobjetal narcísica nos é de grande valia na cornpreen-

são do maior ou menor fortalecimento do ego. ParaFreud, o "empobrecimento do ego" ocorre quando "oamar em SI; na medida em que envolva anelo e priva-ção, reduz a auto-estima, ao passo que ser amado, sercorrespondido no amor, e possuir o objeto amado, e/e-ova-a mais uma vez" (lb. p. 117). O grau de auto-esti-ma traduz ''O tamanho do ego "e este depende estreita-mente da libido conseguir, neste caso, através dosinvestimentos em objetos amorosos, alguma confirma-ção do primitivo sentimento de onipotência, o qual podeser experienciado numa relação amorosacorrespondida. Entretanto, quando não existe recipro-cidade na relação ou quando, por algum motivo, o su-jeito sente-se impotente na sua capacidade de amar,ocorre uma fragilização do ego. o qual, debilitado, vol-ta-se para si mesmo, num movimento de defesa e dereinvestimento narcísico do próprio ego.

Entretanto, nem toda libido egóica é investidanas relações objetais. A persistência, no homem adul-to, do desejo de onipotência levou Freud a investigaro destino da megalomania infantil na formação dosideais". Ora, uma vez que "o homem se mostra ince-paz de abrir mão de uma satisfàção de que outroradesfrutou" (Freud. 1976, Vol. 14. p. 111), mas quediante das injunções da realidade e do seu juízo críti-co vê-se impossibilitado de reavê-Ia na mesma forma,ele então recorre à formação de um ideal, em dire-ção ao qual se desloca agora o seu amor-próprio eque representa todas as perfeições do narcisismo per-dido de sua infância.

Este ideal, que expressa as preferências pessoais,"idéiss culturais e éticas do indivíduo" (lb. p. I 10) foiconstituído sob a influência das relações obietais. ouseja, foi elaborado na identificação com os pais ou fi-guras substitutas, graças à projeção do narcisismo dacriança sobre eles; daí sua origem ser essencialmentenarcísica. Esta formação intrapsíquica que Freud de-nomina de "ideal do ego". e que o homem "fixa" em simesmo como algo próprio, representa um modelo ide-al a ser atingido pelo ego adulto em suas realizaçõesefetivas, sendo este permanentemente vigiado por umainstância especial de censura ("consciência"), a qualmede o "ego real" e o compara com o "ideal de ego".

2Nossa análise, neste artigo, se restringirá às relações do Narcisismo com a estruturação do ego. Para um maior aprofundamento acercadas relações do Narcisismo com a formação dos ideais consultar SEVERIANO, Ma de Fátima. As Subietividades Contemporâneas sob oSigno do Consumo. Os Ideais Narcísicos na Publicidsde da TV Produçâo e Consumo. CaplV, Item: 4.2.2 ''A formação dos ideais numacultura narcísica". Tese de Doutorado. UNICAMP. 1999.

4 O Revisto de Psicologia, Fortaleza. V.15(l12) V.16(l12) p,35 . p,47 jon/dez 1997/98

De acordo com o resultado desta avaliação, o ego dosujeito poderá ser ou não fortalecido, isto dependerá::0 grau de aproximação deste com o ideal de ego, ouseta, do grau de onipotência que é corroborada pelae periência, pois, como nos afirmou Freud: "Tudo ocue uma pessoa possui ou realiza, todo remanescente.: sentimento primitivo de onipotência que sua expe-...•ência tenha confirmado, ajuda a aumentar sua auto-estime "{p. 115).

Portanto, este modelo de ego idealizado que omem projeta diante de si como um alvo a ser alcan-

cado, nada mais é do que um 'substituto do narcisismocerdido de sua inflincia na qual ele era o seu próprio

'eel" (lb. p. 111). Este "substituto", entretanto, não écêntico ao ego narcísico infantil. pois ele pressupõe o

-e onhecimento da falta do sujeito, impõe certas exi-zências para o atingimento deste ideal, que o sujeito só- nsegue se abandonar o estado de quietude e- mpletude narcísicas ou seus delírios narcisistas, e in-- rporar novos traços psíquicos que lhe permitam maior

bihdade. seja no investimento dos ideais, seja noestirnento de novos objetos de satisfação.

Ouando a libido egóica se volta para um Idealce ego projetado externamente ou para as relações_ erais, o narcisisrno primário diminui, o que irn-cuca maior desenvolvimento do ego. Isto é confir-

ado por Freud. quando este afirma que é: '~..ebso-temente necessário para a nossa vida mental-- assar os limites do Narcisismo e ligar a libido ae os" (p. 10 I), apesar, como dissemos, da grande

stência do homem em tentar recuperar, regressi-ente, este glorioso estado.

Esta enorme atração que o homem sente para• mar ao estado narcísico, juntamente como as 'se-~"'ascondições, que o ideal de ego impõe, à satism-

...; da libido por meio de ob;eros"(Freud, 1976, Vol.- p. 118), induz a saídas regressivas, em que é o

prio ego que é recatexizado - produzindo um ex-zesso de acumulação da libido egóica -, ou então o::eal do ego é substituído por um objeto idealizado,

dendo ser tanto um "ideal sexual", como um ideal_ ético ou um ideal de líder, ou ainda (acrescentamos),

caso das sociedades contemporâneas, um ideal deestilo" de vida propiciado pelos signos do consumo.

=m ambos os casos - visto que 'á idealização épossi-el tanto na esfera da libido do ego quanto na da libido

do objeto" (Ib. p. 111) - ocorre a idealização, na qual"sem qualquer alteração em sua natureza, [o objeto} éengrendecido e exaltado na mente do indivíduo" (lb.:: I I I). Nestes casos, estamos mais próximos aoiarcisismo primário; ocorreu uma involução no desen-

BCH-PERIOOICOS

volvimento do ego. No primeiro caso, o ego ao serreinvestido estanca o fluxo libidinal anteriormente diri-gido aos objetos e aos ideais - elementos estes impres-cindíveis ao seu desenvolvimento normal; no segundocaso, o objeto substitui o ideal.· que, irrealisticamentesupervalorizado, "parece atrair sobre si toda a libidodo sujeito, deixando-lhe um ego sacrificado e empo-brecido" (Dessuant, p. 36), ocorrendo, como disseFreud, uma absorção, onde o objeto "devora", por as-sim dizer, o ego.

O recurso a essas saídas regressivas expressa, emúltima instância, uma frustração. Em uma obra poste,rior, Freud (1976, Vol. 19), ao tecer comentários so-bre a etiologia comum das neuroses e das psicoses,afirma que a neurose consiste numa frustração inicial.numa "não realização, de um daqueles desejos de in-:flincia que nunca são vencidos... Essa fi-ustração é,em última análise, sempre uma fi-ustração externa, mas,no caso individual, ela pode proceder do agente inter-no (no superego) que assumiu a representação dasexigências da Realidade" (Neurose e Psicose, p. 191,2). A impotência e o fracasso do ego no atendimentodessas exigências implica um desligamento deste domundo externo, através de uma "retirada da catexiaenviada pelo ego" (Ib. p. 193) que, ao retomar aomesmo, resulta no que Freud denomina - em O Id e oEgo - de "neuroses narcísicas".

2. Narcisismo e Cultura Contemporânea

O narcisismo na perspectiva da cultura, tambémimplica num distanciamento dos processos de.individuação, assim como sua origem também residenuma frustração inicial. seguida de um movimento de-fensivo de desinvestimento do mundo em direção ainteresses particularistas.

Passaremos a apresentar o posicionamentoteórico de alguns autores contemporâneos quete matizaram esse assunto, procurando evidenci-ar suas possíveis convergências e/ou divergênci-as teóricas.

O advento do narcisismo como fenômeno so-cial e cultural parece expressar em todos eles aemergência de um novo tipo de indivíduo socialprofundamente marcado pelas rápidas transforma,ções e tumultos sociais deste final de século, reve-lando assim não uma ruptura abrupta com antigasformas de indentidade e de socialização, mas, taistransformações dizem respeito a processos sociaismais amplos, resultado de uma evolução a longoprazo da cultura.

4 1Revido de Plicologio, fortaleza, V.15(l!2) V.l6(1!2) p.35 - p.47 jcn/dez 1997/98

De acordo com Lasch (1983) - autor de A Cul-tura do Narcisisrno, a categoria de "narcisisrno" é deextrema valia para a compreensão do perfil psicológi-co do homem contemporâneo, proporcionando, "nãoum determinismo psicológico, mas um meio de com-preender o impacto psicológico das recentes mudan-ças soávs"(p. 76). Baseado em autores clínicos comoKenberg, Kohut. Lichtenstein, Searles e Rosenfeld,Lasch refere-se a uma mudança significativa nos pa-drões de neurose, evidenciada nas últimas décadas pelaPsicanálise, de neuroses sintomáticas (histeria, neuro-ses obsessivas), para "desordens do caráter" do tiponarcisista, cujos distúrbios de personalidade estãofreqüentemente associados a sentimentos de vazio ede falta de sentido, à incapacidade de relacionamentocom o outro de maneira profunda e significativa, àhipocondria, às fronteiras difusas do ego e à falta deum sentimento coeso do eu (Cf. LASCH, 1983).

Apesar das motivações desse tipo de personali-dade estarem fundamentalmente centradas num "eu"percebido como "grandioso" (Kenberg), Lasch consi-dera que este "neo-individualismo pós-moderno" re-presenta mais uma estratégia de sobrevivência do "eu"diante das extremas adversidades e das previsões ca-tastróficas anunciadas neste final de século e que sãoexperienciadas pelos indivíduos mais como um "senti-do de um fim", do que um real enaltecimento e fortale-cimento do eu.

Para esse autor, "o narcisismo significa uma per-da da individualidade e não a auto-afirmação; refere-se a um eu ameaçado com a desintegração e por umsentido de vazio interior" (p. 47). Trata-se, portanto,de uma "cultura do sobrevivencialisrno", onde os ho-mens recuam para se ocupar com investimentos estri-tamente pessoais. Ocorre, pois, um retorno à própriapessoa do amor retirado do mundo, ou seja, uma auto-absorção no eu, um desejo de retorno à onipotêncianarcísica primária, mediado pelo "ego ideal", visto que,tanto os ideais culturais, as utopias, ("ideal de eu") quan-to as relações amorosas satisfatórias (relações objetais)- fontes originárias da auto-estima - parecem tambémpróximas a um "fim". Neste sentido, há uma tentativade se reconstituir uma "tecnologia do eu" como alter-nativa ao colapso pessoal. "O medo de que o homemseja escravizado por suas máquinas deu lugar a umaesperança de que o homem se transforme em algo pa-recido a uma máquina" (p. 48). Ou, como observa-mos conternporanearnente, que ele somente se sinta"completo" quando "plugado" a uma máquina. Emsuma, a eleição de si mesmo como objeto de amor nãopassa de uma estratégia de sobrevivência.

As "estratégias de sobrevivência" a que Lasch(1983 e 1987) alude como formas de preservação do"eu" são justamente aqueles traços da cultura contem-porânea que tencionam "enaltecer" o indivíduo, taiscomo: o culto da expansão da consciência, da saúde edo "crescimento pessoal" expresso em alguns progra-mas psicoterapêuticos; o apelo freqüente em se buscarviver intensamente o momento, desprezando o passa-do e negligenciando o futuro; a preocupação exclusivacom o desempenho particular em detrimento das cau-.sas coletivas; o enaltecimento do poder pessoal e davontade individual como todo-poderosa e totaldeterminante do destino de cada um, tendo por conse-qüência o isolamento do eu e a depreciação pelos in-teresses de classe; as ilusões de onipotência epersonalismo constantemente estimuladas pela publi-cidade etc.

Entretanto, alerta Lasch (1991):

o fascínio pelas relações pessoais. que cresce àmedida que diminui a fé em soluções políticas,esconde um radical desencantamento com es-tas mesmas relações ... As ideologias da gratifi-cação dos impulsos e da busca do prazer torna-ram-se dominantes justamente no momento queo prazer perde seu sabor. .. Há um desinteressenercisiste pelo mundo exterior subjscente à de-manda por gratificação imediata - retumbante-mente endossada pela publicidade, pela propa-ganda de massa e pela indústria da saúde - e àansiedade intolerável que !Tustra continuamen-te esta demanda... Quanto mais o homem 'libe-rado' clama por auto-realização, mais ele sucum-be à hipocondris, à melancolia ou a um ódiosuicida de si mesmo que se alterna, não comocssionsis picos de arrebatamento, mas comuma moderada depressão crônica - estado deespírito predominante da época (p. 232).

Para Baudrillard (1970), a individualidade, tãoproclamada pela indústria do consumo, é também ape-nas uma "ficção contemporânea da individualidade"que reduz todo narcisista a um produto de uma cultu-.ra homogeneizante. Na concepção desse autor, o in-divíduo só existe na sociedade de consumo no papelde consumidor. Neste sentido, ele realmente é"insubstituível". mas não como uma pessoa, "com tra-ços irredutíveis e com o peso específico ... um sujeitocom paixões, vontade e caráter próprio ': Tal pessoa,nos diz Baudrillard, "encontra-se ausente, morta, var-rida do nosso universo funcionar (p. 100)

4 2 Revisto de Psicologia, fortaleza, V.15(12) V.16(12) p.35 . p.47 jon/dez 1997/98

ividualização. na era contemporânea, só é pos-. na esfera da "personalização" e esta só se realiza

avés da aquisição de bens diferenciados de consu-o, prescritos num modelo mais geral, a partir do qual

s sujeitos se hierarquizam e se diferenciam. Ou seja,0S indivíduos, como consumidores atornizados, nãomais se confrontam em suas diferenças reais, ou pos-síveis contradições, mas apenas se opõem, ou me-lhor, se hierarquizam socialmente em referência aosmodismos consumistas, os quais escondem uma rigo-rosa "discriminação social": "Todos são iguais peren-te os objetos enquanto valor de uso, mas não diantedos objetos enquanto signos e diterençes. que se en-contram profundamente biererquizedos' (p. (03).Enfim, a diferença e a singularidade reais, própriasda individuação não existem; as diferenças na socie-

ade de consumo assinalam antes uma "obediência. adeterminado código e a sua integração em escalamóvel de valores"(p. I O I).

A concepção de narcisismo em Baudrillardenfatiza especialmente a posição do corpo, o stetus aele atribuído, na sociedade de consumo, o qual pas-sou a ser investido - tanto econômica quanto psiqui-camente - como "o mais belo objeto de consumo",enquadrado, assim, na lógica fetichista da mercado-na como qualquer outro objeto. O investimentonarcísico no corpo promove, na visão deste autor, uma"evolução regressiva da etetividede para o corpo/cri-ança e para o corpo/objeto ': na qual o sujeito édrssociado de seu corpo, o qual, objetificado, passa asignificar apenas "reflexos dos signos do sistema damoda" (Baudrillard, (970). Neste sentido, investirnarcisicamente no corpo não significa reapropiá-lo

corno signo de desejo e sexualidade com fins de li-oertação, mas unicamente tratá-I o como umpatrimônio" de acordo com "o princípio normativo

do prazer e da rendibilidede hedoniste" (p. (60) aosmoldes do código de produção e consumo das socie-dades capitalistas. Para Baudrillard, o narcisismo con-ternporâneo é portanto um "narcisisrno dirigido", nosentido de que o investimento no corpo é referenciadopara aquilo que simbolize prestígio e diferenciaçãosocial, ou seja, investe-se uma determinada parte doorpo ou trata-se ele desta e não de outra maneira

orientado pelos signos da moda, que em última ins-tância representam - quando bem administrados-"salvação" social (Cf. BAUDRILLARD, (970).

Costa ( I 986) contesta esta noção de "narcisismodirigido", argumentando que, a se pautar pela noçãode Freud, Winnicott, Lichtenstein e Lacan, todonarcisismo "é dirigido para equik» que no corpo ou no

psiquismo é percebido como objeto do desejo do ou-tro" (Ib. p. 162), perdendo-se assim a especificidadedo narcisismo na sociedade de consumo. Entretanto,compreendemos esta ênfase de Baudrillard nonarcisismo dirigido, mais como uma forma deste res-'saltar que quem regula atualmente esta direção é, pre-dominantemente, a sociedade de consumo, ou melhor,são os "signos de consumo" que estão ditando a dire-ção do desejo.

Na mesma direção de Baudrillard, no que dizrespeito à necessidade de "personalização" do ho-mem contemporâneo, Santos (1989) nos fala que a"busca de personalidade" na era" pós-moderna" nãose dá ao nível de uma subjetividade singularizada,mas apenas na "aparência". A diferenciação se bus-ca unicamente através da aquisição de bens de con-sumo" personalizados". O consumo é "personaliza-do" no interior de uma produção em massa. A livreopção consiste em consumir entre uma infinidade deartigos e "combiné-Ios para marcar fortemente suaindividualidade" (p. 87).

Morin (1984) parece confirmar a existência des-se aparente paradoxo do culto da "individualidade"numa sociedade de massa. Em sua caracterização daindústria cultural do Século Xx, ele nos fala de umacontradição fundamental entre "as estruturas burocra-tizadas - padronizadas" da indústria cultural e a "origi-nalidade do produto que ela deve fornecer" (p. 25).Segundo ele, estabelece-se uma relação específica en-tre ''8 lógica industrial - burocrática - monopolisncs -centra/izadora - padronizadora "e a "contrslágice in-dividualista - inventiva - concorrencial - autonomista- inovadora '; constituindo-se numa "contradição di-nâmica" da cultura de massas, num "mecanismo deadaptação" tanto desta em relação ao público, quantovice-versa (p. 28).

Na concepção de Gabriel (1983), essas varieda-de e "individualidade" no interior mesmo do consumo'de massa, parecem não suprir a ânsia narcisista pelarealização do "eu". A este respeito ele é bastante explí-cito e contundente:

... o consumo, embora lhe empanturre tempo-rariamente o ego, longe de preencher seu va-zio interno só fàz eprotunde-lo. não há volumede símbolos de status capaz de aliviar sua an-gústia de stetus, não há símbolos de poder ca-pazes de obscurecer sua impotência para efe-tuar mudanças reais, não há produtos de belezacapazes de superar seu medo de envelhecimen-to e da morteíii». 3(8).

4 3.Revido de Psicologia, fortaleza, V.15(l12) V.16(l12) p.35 . p.47 jan/dez 1997/98

A emergência do tipo narcisista de personalidadereflete. na visão deste autor, não o 'novo paraísotecnológico. mas é, antes, um 'produto do desamor domundo moderno, de seu empobrecimento cultural eespiritual e da dominação da economia, da política eda cultura por organizações impessoais de larga escala'(p.306).

Sennet (1993) considera que a proeminênciados distúrbios de caráter narcisista em nossacontemporaneidade está relacionada com o cres-cente declínio da vida pública nas sociedades oci-dentais, a partir da metade do século passado, e osubseqüente estabelecimento do que ele denomi-na de "Sociedade lntimista". Segundo ele, "associ-edades estão mudando a partir de algo semelhantea um estado voltado para o outro para um tipo vol-lado para a interioridede" (p. 18). Em conseqüên-cia desta" erosão da vida pública", o narcisismopassou a ser exacerbadamente mobilizado nas re-lações sociais, passando a cultura a ser governadapor um 'sentimento intimista como uma medida dasignificação da realidade "(p. 379). Prepondera uma"cultura da personalidade" sobre os interessesgrupais; o "eu" passou a constituir-se no interessee motivação central numa cultura em que a avalia-ção da realidade social passou a ser realizada emtermos" psicológicos".

Esta mensuração generalizada da realidade so-cial em termos psicológicos, além de anular o sen-so de contato social significativo no domínio públi-co, não promove, na visão de Sennet, uma "realsatisfação das necessidades do eu" (p. 21). Quantoa este assunto específico, este autor, na mesma li-nha dos demais teóricos já citados neste estudo,também não associa o fenômeno do narcisismo comum real fortalecimento do eu. Vejamos isso em suaspalavras:

Como distúrbio de caráter, o narcisismo é o pró-prio oposto do vigoroso auto-amor. A auto-absorção(típica do narcisismo) não produz satisfação, produzferimentos no eu; apagar a linha divisória entre o eu eo outro significa que nada de novo, nada de 'outro'jamais adentra o eu; é devorado e transformado, atéque a pessoa possa pensar que pode se ver na outra-e, então isso se torna sem sentido. São apagadas asdemarcações, os limites e as formas do tempo, tantoquanto os do relacionamento ... o mito de Narciso captanitidamente isso: a pessoa se afoga no eu; é um estadoentrópico (p. 395).

Entretanto, a perspectiva de Sennet diverge dade Lasch no que diz respeito à responsabilidade atri-

4 4

buída às esferas pública e privada na estimulação donarcisismo. Para Sennet. houve uma invasão da vidapública pela "ideologia da intimidade", ou seja, o mun-do privado da "sociedade intirnista" ao promover um"culto ao eu", diluiu os limites entre esfera pública eprivada - anteriormente existentes em Londres ou Pa-ris do século XVIII - tornando o mundo público ummero "espelho do eu", não mais existindo um necessá-rio distanciamento entre as esferas, nem uma forma desociabilidade independente da intimidade. A perda das"exigências de civilidade" e de um certo clima lúdico ede auto-distanciarnento. que possibilitava as pessoascompartilharem de um dado espaço, em comum, semterem que se revelar intimamente, indica a primazia deum "narcisisrno desvairado", onde o espaço do "ou-tro" é subsumido pelo "eu", em detrimento tanto do'indivíduo quanto da sociedade:

... Agora o narcisismo é que é mobilizado nasrelações sociais por uma cultura despojada dacrença no público e governada pelo sentimentointimista como uma medida da significação darealidade. Quando questões como classes,etnicidade e exercício do poder deixam de seconformar a essa medida, quando deixam deser um espelho, cessam de suscitar paixão ouatenção. O resultado da versão narcisistade.re-alidade é que os poderes expressivos dos adul-tos ficam reduzidos. Eles não podem brincarcoma realidade, porque a realidade só Ihes interessaquando de algum modo promete espelhar ne-cessidedes íntimas (p. 397).

Em contraposição a isso, Lasch (1983) fala que a"invasão da vida privada pelas forças da dominaçãoorganizada tornou-se tão penetrante, que a vida pes-soal quase cessou de existir", evidenciando assim suadiscordância de Sennet, quando este último afirma quehouve uma invasão da vida pública pela esfera da "ide-ologia da intimidade". A perspectiva de Lasch é nitida-mente inversa: "nossa sociedade, longe de favorecer avida privada à custa da vida pública, tornou cada vezmais difíceis de ser conquistadas amizades profundas eduradouras, casos de amor e casamentos" (p. 53). Con-cordamos com este último autor, uma vez que consi-deramos que o mal-estar contemporâneo reside nãono privatismo, mas numa devastação da vida pessoal,ocasionada, justamente, por uma diluição do particu-lar na totalidade do social.

Connor (1992) também situa, na chamada" pós-rncdernidade". o "colapso da idéia do eu privado". Para

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ele, a característica fundamental das sociedades con-temporâneas está inscrita na noção de "extrema visibi-lidade", própria de uma cultura narcísica, na qual "avida moderna é tão profundamente invadida por ima-gens eletrônicas, que não podemos deixar de respon-der aos outros como se suas ações - e nossas próprias- estivessem sendo registradas e simultaneamente trans-mitidas a uma audiência invisível ou armazenadas paraminucioso escrutínio posterior "(p. 73). O mundo pas-sa, desse modo, a ser caracterizado pela saturação co-municativa: "visibilidade absoluta, perda deuuenoridede e proliferação da informação e da como-ruceçêo". É a "sociedade dos espetáculos" ou a "salade espelhos", conforme caracterização de Baudrillard.

Lefebvre (1991). ao expor sua "teoria dac tidianidade", também contribui para o esclarecimento""0 peso atribuído à esfera privada em nossa:: ntemporaneidade. Este autor refere-se ao cotidano::0 mundo moderno como "o principal produto da so-ciedade dita organizada, ou de consumo dirigido", ocual. longe de se constituir num "espaço-tempo" livree entregue às regulações espontâneas dos desejos indi-

duais,

... torna-se objeto de todos os cuidados: domí-nio da organização, espaço-tempo da auto-regulação voluntária e planificada ': principalapoio da sociedade burocrática do consumo di-rigido (p. 82).

Essa questão do cotidiano como uma nova fon-.e de exploração do capital. assim como as questõesr~ erentes à fragilização do "eu" provocadas por umac e astação da vida privada por instânciase trafarniliares" foram temas exaustivamente anali-ados pelos teóricos da Escola de Frankfurt. Estes, aoealizar a crítica da cultura, já afirmaram, com anteri-ndade, que nas sociedades modernas, a dominação

-" u da esfera restrita do trabalho para impor-se, de-•..rma totalitária e implícita, por sobre todos os aspec-. s da cultura, assumindo assim uma nova forma, não

ais explícita e direta, mas através da imposição de.rrna hegemonia ideológica, utilizando-se das institui-=; - es culturais como a escola, a família, os meios de:: municação de massa etc., para produzir uma sub-euvidade humana "unidirnensional". Como todos os_ rores já mencionados, eles denunciaram, de forma_ neira, a "dissolução da individualidade" nas socie-zades do capitalismo industrial avançado:

O que é individual não passa do poder das gene-- dades de estampá-lo com tanta firmeza que ele é

aceito como tal. A reticência desafiadora ou a aparên-cia elegante do indivíduo em exibição é produzida emmassa, como as fechaduras Yale, cuja única diferençapode ser medida em frações de milímetros. A peculia-ridade do eu é uma mercadoria de monopólio deter-minada pela sociedade (Adorno e Horkheimer, 1991)

3. Considerações finais

Diante do exposto, acreditamos que as atuais con-·figurações culturais apresentam condições mais propí-cias para o desenvolvimento de uma dinânima psíqui-ca, coletiva, fundada na expansão do narcisisismo, doque no seu controle.

As implicações desse fenômeno para o ego, tan-to com relação às estratégias individuais que se utili-zam de mecanismos narcisistas, como com relação àmobilização coletiva, orientada por ideais narcísicos,resultam, contrariando o senso comum, num contínuoafastamento dos processos de individuação, com oconseqüente enfraquecimento do ego e perda de suacapacidade de mediação reflexiva nos conflitos psíqui-cos. A "cultura do narcisisrno". apesar de sua aparên-cia liberalizadora, ao promover um pseudo retorno àposição de cornpletude narcísica. na realidade, apontapara um caminho inverso ao da individuação, o da.pseudo-individuaçâo: processo que implica uma su-posta diferenciação do indivíduo tendo por base a "elei-ção", pretensamente "livre", de estilos de consumo, jápreviamente estandardizados e articulados pela lógicado mercado, o qual se serve, fundamentalmente, dalógica do desejo para promover uma identificação ide-alizada com seus objetos. A promessa implícita, masnunca realizada, é a de conferir "individualidade" e"diferenciação" social aos seus consumidores.

Há aproximadamente duas décadas, nas chama-das "sociedades de massa", a repressão se exercia pormeio de uma falsa liberação da sexualidade (Marcuse,1982). A pseudoliberalização da sexualidade pareciafornecer o "argumento" ou a "prova" de que a socie-dade havia se tornado "livre", fazendo, assim, frente àsantigas reinvidicações de liberdade sexual. Hoje, tal"liberalização" é dada por suposta e, apesar de aindacontinuar sendo um eficiente álibi, parece que a socie-dade "pós-moderna" precisa de mais um "novo argu-mento" que a legitime, não só como uma sociedade"livre", como também "plural", afastando, desta feita,o "fantasma" da sociedade" massificada e homogênea",da era industrial. Esse "novo" discurso parece, agora,se centrar, mais ainda, na "individualidade". com ênfa-se nas possibilidades de "escolhas", no exercício das

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"diferenças", dos "estilos", dos "segmentos" etc ... r ouseja, o argumento reside, atualmente, no fato dessasociedade ser capaz de "prover" não só o desejo de"todos", mas de "atendê-los" de forma "individualiza-da", "singularizada", "particularizada", de acordo como "estilo" de cada um . Promove-se, assim, mais do quenunca, porque facilitado pelos novos modos de produ-ção do chamado capitalismo "flexível" e em consonân-cia com as novas políticas "neo-liberais" de um Estadocada vez mais excludente. uma "diversidade" infinitade imagens de objetos de consumo, que prometemfundar a "pluridirnensionalidade" do homem pela viada" multiplicidade de escolhas" desses objetos, mas que,na realidade, cada vez mais funda a "unidimensionali-dade'" do ser nos espelhos multiplicados das imagensnarcisistas do consumo. Hoje, a repressão se exercepor meio da falsa liberação da "individualidade".

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- - uma falsa conciliaçãoa úmca forma de realidadena! e a produção da subie-

4 Este termo é utilizado por Marcuse em suas análises das sociedades industriais modernas na aec -entre indivíduo e sociedade, no qual se instaura o reino da positividade e o cuho apossível. Para maiores esclarecimentos a respeito ler SEVERIANO, Ma. de Fáurna. -tividade humana". IN: Revista de Psicologia. Vol. 9 e 10, ed EUFC. 1993 1994

4 6 Revista de Psicologia, forlolezo, V.150J2) V.l I Z

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