CRIMES AMBIEN TAIS

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1 Ciências Penais Parceiro de Conteúdo: Cursos de Pós-Graduação Lato Sensu Televirtuais | 2011 Pós-Graduação – 2011 TUTELA PENAL DOS BENS JURÍDICOS SUPRA-INDIVIDUAIS LEITURA OBRIGATÓRIA AULA 2 LEITURA OBRIGATÓRIA 1 PÁG. 02 A 24 LEITURA OBRIGATÓRIA 2 PÁG. 25 A 27 LEITURA OBRIGATÓRIA 3 PÁG. 28 LEITURA OBRIGATÓRIA 4 PÁG. 29 A 30 © DIREITOS RESERVADOS Proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem o prévio consentimento, por escrito, pelos autores. Publicação: Outubro de 2.011.

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Ciências Penais Parceiro de Conteúdo: Cursos de Pós-Graduação Lato Sensu Televirtuais | 2011

Pós-Graduação – 2011 TUTELA PENAL DOS BENS JURÍDICOS SUPRA-INDIVIDUAIS

LEITURA OBRIGATÓRIA – AULA 2

LEITURA OBRIGATÓRIA 1 – PÁG. 02 A 24 LEITURA OBRIGATÓRIA 2 – PÁG. 25 A 27 LEITURA OBRIGATÓRIA 3 – PÁG. 28 LEITURA OBRIGATÓRIA 4 – PÁG. 29 A 30

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Publicação: Outubro de 2.011.

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CRIMES AMBIENTAIS

SUMÁRIO: I. PREÂMBULO – II. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES - Parte l - TUTELA PENAL GENÉRICA E DO MEIO AMBIENTE - Conceito e finalidade do Direito Penal - Definição e Destinação - 1.1. Direito penal no sentido dinâmico ou social - 1.2. Direito penal no sentido formal - 1.3. Funções do Direito penal - 1.4. Finalidades do Direito penal - 1.4.1. Tutela de Bens Jurídicos - 2. Delitos Ambientais e Constituição - 2.1. Limites da política criminal e Direito penal - 2.2. Crimes ambientais e a Teoria Constitucionalista do Delito - 3. Proteção penal ambiental - 4. Fases pretéritas à Lei 9.605, de 12.02.98 - 5. Intervenção mínima do ordenamento jurídico penal - 6. Normas penais em branco - 7. Proteção dos bens jurídicos ambientais - 8.Tipicidade - 9. Tipo doloso e Tipo culposo - 9.1. Elemento subjetivo - 10. Classificação dos crimes ambientais - 11. Sujeitos ativo e passivo - 11.1.Sujeito ativo - pessoa humana - 11.2. Sujeito ativo - pessoa jurídica - 11.3. Sujeito passivo - 12. Sanções penais - 13. Penas aplicáveis às pessoas físicas - 13.1. Penas privativas de liberdade - 13.2. Penas restritivas de direitos - 13.3. Pena de multa - 14. Penas aplicáveis às pessoas jurídicas -14.1. Pena de multa - 14.2. Penas restritivas de direitos - 15. Circunstâncias atenuantes - 16. Circunstâncias agravantes - 17. Causas de aumento de pena - 18. O princípio da insignificância - 19. Causas excludentes da antijuridicidade - 20. O compromisso de ajustamento de conduta como causa supralegal de exclusão da antijuridicidade – Bibliografia.

I - PREÂMBULO

É importante proteger o meio ambiente.

Da simplicidade desta frase, extrai-se tema complexo e opiniões contraditórias. Muitos argúem de que se trata de um grave empecilho ao desenvolvimento do país, enquanto outros, que é questão de sobrevivência. Deixando de lado as opiniões divergentes, às vezes irônicas ou apaixonadas, nunca o meio ambiente foi tão discutido como nos últimos tempos.

Na busca de desenvolvimento, duas características têm distinguido os tempos atuais: a capacidade humana, quase ilimitada, para criar e construir e sua contrapartida de poderes equivalentes para destruir e aniquilar. Enquanto a criatividade humana tem levado a empreendimentos tão ambiciosos como a clonagem animal, a produção comercial dos polêmicos transgênicos e, mesmo o grandioso mapeamento do genoma humano, o dia-a-dia das ações do homem tem se caracterizado pela agressiva supressão das bases de sustentação do seu próprio desenvolvimento, fato que tem se verificado por processos destrutivos que afetam a estabilidade natural do ambiente, interferem negativamente nos processos ecológicos essenciais e, diretamente ou como conseqüência, reduzem a biodiversidade.1

A vida humana está diretamente ligada à preservação do meio ambiente, não se deve, portanto, colocar o qualquer forma de desenvolvimento, notadamente o econômico acima da preservação da natureza e das espécies, porque isso implicaria não apenas destruir o

1 Milano, Miguel Serediuk. In: Direito Ambiental das Áreas Protegidas. Forense Universitária: 2001. p. 3.

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ambiente sadio da humanidade, mas todas as possibilidades de vida. Deste modo a tutela jurídica do meio ambiente reveste-se de grande relevância, transcende, por isso mesmo, as fronteiras nacionais e se coloca como um problema internacional de primeira grandeza. Por isso a Constituição Federal dedica um capítulo específico ao tema sob o título: “Do Meio Ambiente”, elevando-o dessa forma à condição jurídica de “bem de uso comum do povo”.

Sabidamente, o meio ambiente é um dos direitos fundamentais da pessoa humana a exigir a intervenção estatal para protegê-lo, notadamente, na seara penal, impondo sanções penais aos que o agridem.

A Lei 9.605/98, ao dispor sobre as sanções penais decorrentes de condutas e atividades, de pessoas humanas e jurídicas, lesivas ao meio ambiente, preencheu o espaço, antes vazio, na seara da tutela criminal do meio ambiente.

Com este “roteiro de estudo”, minha pretensão é unicamente auxiliar os alunos do Curso de Pós-Graduação em Ciência Criminais, do Instituto Luiz Flávio Gomes, a obterem informações claras, precisas e condensadas, sobre o tema, auxiliando-os na preparação para os embates do dia-a-dia, notadamente, para enfrentarem as diversas ações para as quais se propuserem e, também, na resolução de questões em concursos a que se submeterem.

Para aprofundarem os estudos sobre o tema, os remeto aos trabalhos de renomados autores, citados na bibliografia que se segue no anexo, adiante, juntamente com o índice remissivo e o texto da Lei 9.605/98.

Por fim, questão de relevo refere-se à responsabilidade penal da pessoa jurídica e, notadamente, em matéria de crime ambiental. Para melhor análise do tema, sugiro que procurem matérias doutrinárias para se aprofundarem sobre o tema.

II - CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Antes do advento da Lei dos Crimes Ambientais as sanções não passavam de multas; hoje, além de multas em valores mais elevados, há a possibilidade de aplicação de pena privativa de liberdade pelo cometimento do delito.

Para atribuir o crime aos infratores há que se definir o que é crime ambiental. Ultrapassados os limites autorizados pelo ordenamento jurídico, há caracterização de crime ambiental. Contudo, não são todas as agressões ao meio ambiente que se constituem em crime ambiental. Para que haja crime ambiental há que se tipificar a infração, enquadrando a intensidade da agressão nos parâmetros da lei.

Basicamente, uma agressão ambiental é reconhecida quando o meio ambiente for impactado de forma que haja alteração fora do normal (ou do consentido pela legislação) das suas propriedades físicas, químicas ou biológicas, causada por qualquer forma de energia ou matéria nele introduzida ou mesmo, qualquer ação humana que venha afetar direta ou indiretamente a saúde, a segurança e o bem estar da população, incluindo as atividades sociais e econômicas a biota, as condições estéticas e sanitárias, e a qualidade dos recursos ambientais.

O mau trato aos animais domésticos, aos monumentos, ou a quaisquer tipos de decorações públicas, bem como, a apreensão, o transporte e o cativeiro de animais silvícolas, o ato de fabricar, comercializar, transportar e soltar balões e ainda a pichação, foram também colocados na Lei como crimes.

No caso da agressão ambiental propriamente dita, para o julgamento do tipo impacto ambiental, antes mesmo de se medir sua intensidade, há que se conhecer as diversas definições de impacto ambiental, expressas nas diretrizes estabelecidas pelos órgãos de controle ambiental. Dessa forma, estará dado o primeiro passo para a apreciação da gravidade da agressão. A partir daí, virá o julgamento.

Quando da aplicação da penalidade, o conhecimento de duas definições também são muito importantes de se conhecer. O que vêm a ser as “Medidas Mitigadoras” e as “Medidas

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Compensatórias”, visto que há impactos irreversíveis, permanentes, de longo prazo e estratégicos, considerados dificilmente evitáveis ou de impossível conserto. Tais definições devem ser bem pensadas e levadas em conta, quando se quiser exigir a chamada recuperação de um dano ambiental.

Parte I - TUTELA PENAL GENÉRICA E DO MEIO AMBIENTE

Conceito e finalidade do Direito Penal - Definição e Destinação

1.1. Direito penal no sentido dinâmico ou social

Sabidamente, o direito penal tem por fim precípuo o controle social formal, através do Estado, em face das leis penais vigentes em seu ordenamento jurídico, impondo sanções aos infratores que ofendem bens ou interesses tutelados, observando-se os princípios norteadores de suas ações, notadamente, o do devido processo legal.

1.2. Direito penal no sentido formal

Sob o aspecto formal, Luiz Flávio Gomes assevera que “pode-se afirmar que o Direito penal é um conjunto de normas jurídico-públicas que definem certas condutas como infração (delitos ou contravenções), associando-lhes penas ou medidas de segurança, assim como outras conseqüências jurídicas (reparação civil, por exemplo) 2.

1.3. Funções do Direito penal

A complexidade da vida em sociedade está-se a exigir regras para a convivência pacífica dos indivíduos. Estes praticam ações, omissões, enfim, condutas que, quase sempre, não ofendem bens ou interesses recíprocos. São os denominados fatos sociais. Contudo, vez ou outra, ao praticarem esses fatos, acabam por ofendê-los, exigindo a intervenção estatal para restabelecimento e manutenção da paz social. O direito positivo, formado pelo conjunto das regras impostas a todos, deve ser observado pelos membros do grupo social e se houver violação de seus preceitos, a conseqüência poderá será imposição de sanções penais.

Torna-se complexo asseverar qual é a função do Direito penal. Contudo, a Criminologia, a Sociologia, dentre outras ciências, procuram apontar diversas e diferentes funções para o Direito penal, sempre ligando o indivíduo ao fato infracional e retribuindo-lhe o mal causado, na espécie de uma sanção. Consideradas as mais diversas discussões dogmáticas, filosóficas e doutrinárias a respeito, há que se admitir que a função punitiva deve ser a mínima possível, buscando sempre outras formas mais amenas de composição.

1.4. Finalidades do Direito penal

Muito se fala, nos dias atuais, que ao Direito Penal incumbe a contenção ou a diminuição da violência estatal, mantendo distante da realidade a vingança privada, notadamente em face da tipificação de condutas ante a observância do princípio da legalidade. Contudo, melhor doutrina pátria assevera que o Direito Penal existe para proteger bens jurídicos relevantes, por isso se diz que a proteção penal é fragmentária e subsidiária. Que a finalidade precípua do Direito Penal é proteger os bens jurídicos mais relevantes como a vida, integridade física, liberdade individual, sexual etc.3

2 GOMES, Luiz Flávio. DIREITO PENAL - Parte Geral Introdução. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 14. 3 GOMES, Luiz Flávio. DIREITO PENAL- Parte Geral Introdução. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 21.

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1.4.1.Tutela de Bens Jurídicos

Todo Estado democrático de Derecho se caracteriza por los limites que tiene para aplicar su potestad punitiva; es decir, el ius puniendi en um Estado democrático de Derecho en ningún momento debe sobrepasar los limites que establecen los princípios general es del Derecho y los de la teoria general del delito, a riesgo de que se lê catalogue como tirânico, autoritário y oportunista, o simplemente no democrático. Los princípios de legalidad, utilidad o eficácia de la intervencón penal mínima - que comprende los caracteres fragmentário, subsidiário y de ultima ratio -, seguridad jurídica, del non bis in idem, del Bien Jurídico, de culpabilidad y proporcionalidad, constituyen no solamente los limites próprios del ius puniendi, sino que - como sedijo - dan lãs característica próprias de todo Estado democrático de Derecho. Estos princípios marcan los limites al poder sancionador que garantiza a los ciudadanos la possibilidad de vivir em um Estado social y democrático de Derecho, modelo de Estado considerado como el más conveniente.

Se analiza la evolución del Bien Jurídico pretendiendo destacar lãs dos distinta y contrarias posturas respecto de su teoria, apontadas por Karl Binding y Franz Von Liszt. El Primero senala que es Bien Jurídico todo interes que aparezca a los ojos del legislador y este quiera proteger mediante la ley; a su vez, el segundo, dice que, independientemente de lo que el legislador reconozca, serán Bien Jurídico aquellos intereses que como condiciones esenciales para la vida en sociedad, la comunidad quiera que sean elevados a la categoria misma de Bien Jurídico.

De lãs posturas de Binding y Liszt parten, ma mi entender, las posteriores discusiones y posiciones acerca de la teoria del Bien Jurídico, de tal manera que estas se pueden reconducir a cualquiera de las dos primeras. Parece que la doctrina del Derecho Penal estuviera atrapada entre estas dos posturas. Evidentemente que la mayor parte de la doctrina há considerado que la posición de Liszt es la válida y que de ella debe partir la teoria del Bien Jurídico; pero, no obstante estos Buenos deseos, surge como uma postura infalible la de Binding, ya que es la única verdaderamente válida para cualquier Derecho positivo, dado que solo los Bienes Jurídicos protegidos por la ley serán los únicos protegidos por el Derecho Penal, por más interes que la sociedad tenga en la protección de otros. Ahora bien, es en la posición de Binding em que cobra mayor importância el principio de legalidad respecto de la sanción de comportamientos que lesionan Bienes Jurídicos, al sustentar que solo lo que esté previamente protegido podrá ser sancionado.

Se abordan los dos grupos teóricos del Bien Jurídico de mayor importância: el de las teorias constitucionales y el de las sociológicas. Em las primeras se analiza no solamente la discusión acerca de si todos los Bienes Jurídicos deben ser extraídos o no de la Constitución y, por tanto, buscar allí fundamento o no, sino además se analiza la importância que tiene la Constitucíón em el marco de los limites del ius puniendi entre el Estado y el administrador de justicia, de tal manera que - ya sea que los Bienes Jurídicos tengan base constitucional o no - los derechos fundamentales serán siempre las bases que se han de respetar em la aplicación de Ias sanciones penales.

Respecto a las teorias sociológicas, se analizan Ias nuevas concepciones del Bien Jurídico a partir de las teorias sistémicas y funcionalistas del mismo. Considero que estas teorias, a pesar de las fundadas críticas que se lês há hecho, son las únicas que permiten explicar em algunos delitos la esencia de los objetos de protección, aun cuando algunos de sus partidários pretendan prescindir del concepto dei Bien Jurídico de curió liberal.

Mas adelante, se pretende um acercamiento a la esencia del contenído del injusto sancionado por el Derecho Penal, siempre em relación con el Bien Jurídico protegido. Para ello se analizan las custiones relativas ai desvaler del acto, al resultado y al principio del Bien Jurídico, pues solamente a través de darle contenido a este se puede lograr establecer la esencia del contenido del injusto penal, el cual merece ser sancionado con pena privativa de libertad. Para darle también riqueza a esta discusión, se considero oportuno analizar los princípios que a su vez se derivan del principio de exclusiva protección del Bien Jurídico,

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como son el de intervención penal mínima, los caracteres fragmentário, subsidiário y de ultima ratio, así como la función promocional del Derecho Penal.

Se considero conveniente abordar someramente la cuestión de los titulares de los Bienes Jurídicos, estúdio em el cual- adernas de dejar Constancia del indivíduo y de la sociedad como principales titulares del Bien Jurídico - se hizo um análisis histórico de la personificación del Estado como titular de los Bienes Jurídicos “4.

2. DELITOS AMBIENTAIS E CONSTITUIÇÃO

Enormes preocupações com o meio ambiente levaram os Constituintes de 1988 a adotarem na Carta Magna um capítulo disciplinando, genericamente, a matéria ambiental. Tanto o Poder Público quanto a coletividade têm o dever de defender o meio ambiente, mantendo-o ecologicamente equilibrado. Todas as ações implementadas para o progresso do país e, de todos e quaisquer seguimentos dos setores público ou privado, devem respeitar o meio ambiente. No art. 225, a Constituição dispõe:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva- lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1° - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

VI - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

§ 2° - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

4 GONZALES, Raúl e CAMPOS, Salas. In La Teoria del Bien Jurídico en El Derecho Penal. Pereznieto Editores, S.A. de C.V. Cuervo N° 30, Fracc. Las Arboledas, Cd. López Mateos, 52950. Atizapán de Zaragoza, Estado de México, 1995. p. XV/XVI.

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§ 3° - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

§ 4° - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.

§ 5° - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

§ 6° - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

2.1. Limites da política criminal e Direito penal

O Direito penal não pode ser um instrumento qualquer a serviço da política. Tanto que ocorrendo mudanças políticas em qualquer país, o Direito penal não deve sofrer mudanças.

Só deve visar comportamentos absolutamente inaceitáveis em qualquer tipo de sociedade. As normas penais, como as demais normas jurídicas derivam-se de decisões políticas, porquanto oriundas do Poder Legislativo e sancionadas e promulgadas pelo Poder Executivo. Porém, o princípio da legalidade rompe o vínculo da manifestação político-criminal e a lei penal.

Zaffaroni assevera que “a circunstância de que seja cortado o cordão umbilical entre decisão política e norma não significa que haja entre ambas uma desvinculação total e absoluta, posto que a carga genética da decisão política é conservada pela norma. O bem jurídico tutelado, escolhido como decisão política, é o componente teleológico que nos indica o fim da norma. Sempre que se observe o princípio da legalidade, o esclarecimento da decisão política será um elemento orientador de primordial importância para determinar o alcance da proibição” 5.

2.2. Crimes ambientais e a Teoria Constitucionalista do Delito

Os crimes ambientais devem ser vistos à luz da teoria constitucionalista do delito, haja vista que apesar da divergências dogmáticas e doutrinárias aplicáveis à espécie, é a melhor que se coaduna com o Direito penal moderno. Para melhor compreensão do contexto, faço uma síntese das teorias correntes e, ao final, menciono alguns dos aspectos mais relevantes da teoria constitucionalista, à luz dos ensinamentos do Prof. Luiz Flávio Gomes, os quais adoto.

CONCEITOS DE DELITO:

- FORMAL

- LEGAL

- MATERIAIS

- DOGMÁTICOS OU ANALÍTICOS

5 ZAFFARONI, Eugênio Raul. PIERANGELI, José Henrique. MANUAL DE DIREITO PENAL BRASILEIRO: Parte Geral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 134.

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a) naturalista ou causal ou clássico - início do século XX

b) 1907, surge a concepção PSICOLÓGICO-NORMATIVA da culpabilidade (exigibilidade de conduta diversa).

c) neoclássico (Neokantista) - MEZGER, 1930

d) Finalista – WELZEL - início na pré-guerra e força no pós 2ª guerra

e) Racional - Final ou Teleológico Funcional ou Funcionalista-Teleológico - ROXIN, 1970

f) Funcionalista sistêmico - JAKOBS, 1984

- CONSTITUCIONALISTA

O delito se constitui como ofensa a um bem jurídico e sua dimensão constitucional.

NÍVEIS DO DELITO

a) contrariedade do fato ao direito - INJUSTO PENAL

b) Sancionabilidade Penal - PUNIBILIDADE ABSTRATA OU AMEAÇA DE PENA

CRIME VISTO COMO UM NOVO SISTEMA TRIPARTIDO (Luiz Flávio Gomes)

I) Crime como INJUSTO PUNÍVEL

a) Fato materialmente típico

b) Antijuridicidade

c) Punibilidade abstrata - ameaçado formalmente com pena

II) Crime como INJUSTO PENAL

a) Fato materialmente típico

b) Antijuridicidade

A antijuridicidade se exprime em face da ausência de causa justificante.

O fato materialmente típico possui REQUISITOS:

a) CONDUTA - realização formal da conduta típica

b) RESULTADO NATURALÍSTICO TÍPICO (só nos crimes materiais)

c) NEXO DE CAUSALIDADE

d) RELAÇÃO DE TIPICIDADE

CAUSAÇÃO/IMPUTAÇÃO

CAUSAÇÃO - preocupação da doutrina antiga. Ocupa a dimensão fática/ legal (naturalista) do fato típico.

IMPUTAÇÃO - atribuição do fato ao agente.

Acha-se relacionada com a dimensão axiológica ou valorativa do fato materialmente típico.

DIMENSÃO AXIOLÓGICA

a) resultado jurídico relevante (Lesão ou Perigo concreto de Lesão ao bem jurídico)

b) Imputação Objetiva (criação de um risco proibido juridicamente relevante)

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c) Imputação Subjetiva (somente nos crimes dolosos) - garantia material

III) CULPABILIDADE - pressuposto de pena

IV) PERICULOSIDADE - pressuposto de medidas de segurança

À luz da teoria constitucionalista do delito, todos os fatos infracionais previstos na Lei dos crimes ambientais, tornam-se claros e evidentes quanto à sua aplicabilidade aos seus transgressores.

Para melhor compreensão do tema, remeto-os à obra Direito Penal - parte geral, volume 3, Editora Revista dos Tribunais, do Prof. Luiz Flávio Gomes.

3. PROTEÇÃO PENAL AMBIENTAL

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, na sua concepção moderna, é um dos direitos fundamentais da pessoa humana que, por si só, justifica a imposição de sanções penais às agressões contra ele perpetradas, como “extrema fatio”. Em outro modo de dizer, “ultima ratio” da tutela penal ambiental significa que ela é chamada a intervir somente nos casos em que as agressões aos valores fundamentais da sociedade alcancem o ponto do intolerável, ou seja, objeto de intensa violação do corpo social.

Ora, preservar e restabelecer o equilíbrio ecológico em nossos dias é questão de vida ou morte. Os riscos globais, a extinção de espécies animais e vegetais, assim como a satisfação de novas necessidades em termos de qualidade de vida, deixam claro que o fenômeno biológico e suas manifestações sobre o Planeta estão sendo perigosamente alterados. E as conseqüências desse processo são imprevisíveis, já que as rápidas mudanças climáticas, a menor diversidade de espécies fará com que haja menor capacidade de adaptação por causa da menor viabilidade genética e isto estará limitando o processo evolutivo, comprometendo inclusive a viabilidade de sobrevivência de grandes contingentes populacionais da espécie humana. Por isso, arranhada estaria a dignidade do Direito Penal caso não acudisse a esse verdadeiro clamor social pela criminalização das condutas antiecológicas. Na verdade, a garantia do meio ambiente saudável transcende o que está nas leis, parecendo próxima do direito natural do ser humano.

Atenta a isso, a Constituição Federal, em seu art. 225, § 3°, estabeleceu que “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.

Nestes termos, a danosidade ambiental tem repercussão jurídica tripla, já que o poluidor, por um mesmo ato, pode ser responsabilizado, alternativa ou cumulativamente, na esfera penal, na administrativa e na civil. No âmbito civil, o ato de sancionar as condutas antiambientais já era uma realidade mesmo antes da entrada em vigor da Constituição de 1988, porquanto a obrigação reparatória de danos, segundo o princípio da responsabilidade objetiva (ou semi culpa) a disciplinada, desde 1981, pela Lei da Política Nacional do Meio Ambiente.

Para a plena efetividade daquela norma programática, faltava um tratamento adequado da responsabilidade penal e administrativa, espaço este agora preenchido com a incorporação ao ordenamento jurídico da Lei 9.605/98, que dispõe sobre sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Fechou-se, então, o cerco contra o poluidor.6

6 MILARÉ, Édis. DIREITO DO AMBIENTE. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 845.

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4. FASES PRETÉRITAS À LEI 9.605, DE 12.02.98

Conforme vimos, a legislação penal vigorante em nosso país até a independência, sobre ser complexa, esparsa e assistemática, ressentia-se das dificuldades de uma aplicação prática e acentuava a necessidade de um corpo de regras mais atualizado.

Tal estado de coisas ainda permaneceria mesmo depois da independência, com a promulgação, em 1830, do primeiro Código Penal brasileiro, onde apenas em dois dispositivos despontava o interesse pelo meio ambiente, os quais puniam o corte ilegal de árvore e o dano ao patrimônio cultural.

Com o advento da República, por igual, nenhum progresso se experimentou com o Código Penal de então, o mesmo se dando com o Estatuto de 1940, que pouca atenção deu à matéria. Vale referir, neste último, os seguintes exemplos: 163 (dano ao patrimônio público ou particular, no qual, por óbvio, se incluía toda a sorte de atentados à fauna e flora), 165 (dano em coisa tombada), 166 (alteração de local especialmente protegido), 250, § 1.°, II, h (incêndio em mata ou floresta), 252 (uso de gás tóxico ou asfixiante) 259 (difusão de doença ou praga que possam causar dano a floresta), 270 e 271 (envenenamento, corrupção ou poluição de água potável).

Minguadas também foram às previsões de cunho ambiental contidas na Lei das Contravenções Penais de 1941, que só de forma mediata se preocupou com a questão. Assim, por exemplo: art. 38 (emissão de fumaça, vapor ou gás capaz de ofender ou molestar alguém), art. 42 (perturbação do sossego alheio por meio de poluição sonora) e art. 64 (crueldade contra animais). A seguir, inúmeros outros diplomas legais extravagantes foram editados, contemplando já uma ou outra preocupação de cunho penal ambiental, mas sem um tratamento sistemático da matéria, pois dela cuidaram de maneira diluída e casual. Lembremo-nos dos seguintes: Lei 4.771, de 15.09.1965 (Código Florestal); Lei 5.197, de 03.01.1967, com nova redação determinada pela Lei 7.653, de 12.02.1988 (proteção à fauna); Lei 6.45 3, de 17.10.1977 (responsabilidade por atos relacionados com atividades nucleares); Lei 6.938, de 31.08.1981 (Política Nacional do Meio Ambiente); Lei 7.643, de 18.12.1987 (proibição da pesca de cetáceos nas águas jurisdicionais brasileiras); Lei 7.679, de 23.11.1988 (proibição da pesca de espécies em períodos de reprodução); Lei 7.802, de 11.07.1989 (agrotóxicos); Lei 7.805, de 18.07.1989 (mineração); Lei 8.974, de 05.01.1995 (biossegurança); revogada pela Lei 11.105 de 24.03.2005.

Hoje, com a edição da Lei 9.605/98, boa parte desses textos recebeu um tratamento mais orgânico e sistêmico, como reiteradamente reclamado. Lamente-se apenas a oportunidade perdida de se pôr fim à pulverização legislativa imperante na matéria, uma vez que a nova lei não alcançou a abrangência que se lhe pretendeu imprimir, pois não incluiu todas as condutas que são hoje contempladas e punidas por vários diplomas como nocivas ao meio ambiente. Nas razões do veto ao art. 1°, do Projeto de Lei 1.164/91, tal circunstância é plenamente admitida.

Apenas para exemplificar, cumpre lembrar que não foram inteiramente revogados tipos de natureza ambiental constantes do Código Penal (art. 250, § l.°, II, /i), da Lei das Contravenções Penais (art. 31), do Código Florestal (art. 26, e, j, l, m), da Lei 6.453/77 (arts. 23,26 e 27), da Lei 7.643/87 (art. 2°) etc.7

5. INTERVENÇÃO MÍNIMA DO ORDENAMENTO JURÍDICO PENAL

O princípio da intervenção mínima representa a inauguração de uma nova era no Direito Penal, onde este, mais do que nunca, é abordado como a ultima ratio em matéria de responsabilização jurídica. Com o fortalecimento do princípio da subsidiariedade da ação penal, a doutrina evolui no sentido de que este ramo do Direito deve (pode) incidir sobre o caso concreto somente quando as demais instâncias de responsabilização - civil e

7 MILARÉ, Édis. Obra citada, P. 846/847.

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administrativa, que são menos gravosas - já se tenham mostrado insuficientes para coibir a conduta infracional, potencial ou efetivamente lesiva ao bem jurídico tutelado.

A razão de ser do princípio da intervenção mínima do Direito Penal reside no reconhecimento da liberdade como direito fundamental do homem e valor supremo para a vida em sociedade, essencial no Estado Democrático de Direito, conforme expusemos antes. Assim, qualquer ação estatal que envolva restrição a esse direito público subjetivo encontra seus limites na exata medida do necessário e suficiente para atender ao fim público a ser tutelado em cada situação.

Especificamente no campo do Direito Ambiental, a legislação é inteiramente voltada a prevenir o dano e, após a sua ocorrência concreta, à sua reparação tempestiva e integral. O Direito Penal tutelar do ambiente não pode furtar-se a essa realidade e pretender constituir-se em um fim em si mesmo. Criticando o caráter altamente criminalizador da Lei 9.605/98 que, contrariando os princípios penais da intervenção mínima e da insignificância, guindou à categoria de crime um sim se pronuncia: A orientação político-criminal mais acertada é a de que a intervenção penal na proteção do melo ambiente seja feita de forma limitada e cuidadosa. Não se pode olvidar jamais que se trata de matéria penal, ainda que peculiaríssima, submetida de modo inarredável, portanto, aos ditames rígidos dos princípios constitucionais penais - legalidade dos delitos e das penas, intervenção mínima e fragmentariedade, entre outros -, pilares que são do Estado de Direito democrático.

A sanção penal é a ultima ratio do ordenamento jurídico, devendo ser utilizada tão-somente para as hipóteses de atentados graves ao bem jurídico ambiente. O Direito Penal nesse campo cinge-se, em princípio, a uma função subsidiária, auxiliar ou de garantia de preceitos administrativos, o que não exclui sua intervenção de forma direta e independente, em razão da gravidade do ataque. Em outras palavras, quando, no caso concreto, as demais esferas de responsabilização forem suficientes para atingir integralmente aqueles dois objetivos primordiais (prevenção e reparação tempestiva e integral), a verdade é que, em tese, não há mais razão jurídica para a incidência do Direito Criminal.

Sobre o assunto, adverte Maura Roberti que “a dimensão das liberdades do cidadão na Constituição Federal de 1988 não deixa dúvidas de que não há mais espaço no Direito Penal moderno para uma Política criminal intervencionista. A função dos princípios constitucionais penais, ao contrário do que possa parecer à primeira vista, não é de legitimar o exercício absoluto do poder punitivo, mas antes condicioná-lo, vinculá-lo, servindo de obstáculo à indiscriminada utilização da punição”.

São valiosos, nesta mesma linha, os ensinamentos de Damásio E. de Jesus: “No Direito Penal mínimo, pretende-se, por meio da pena, fortalecer a consciência jurídica da comunidade e o respeito aos valores sociais protegidos pelas normas. Ocorre que o Direito Penal, por se tratar de um sistema descontínuo de ilicitudes, de caráter fragmentário, não se deve ocupar de qualquer ameaça aos bens jurídicos constitucionalmente relevantes, mas apenas das condutas que, por sua gravidade, colocam em risco a sociedade e o ser humano”.

Ao analisar as perspectivas para o Direito Penal pátrio, o talentoso jurista adianta o seu pensamento: Nas próximas décadas, a sociedade que nos tem ouvido, porém sem a devida atenção, afinal entenderá que o sistema criminal em que o Brasil tem insistido por mais de meio século deve ser abandonado, que o Direito Penal e o Processo Penal possuem a missão de preservar os direitos mais relevantes do homem e não de resolver todos os problemas sociais. Nesse tempo, viveremos mais em paz e o Direito Criminal terá alcançado a sua meta.

A jurisprudência não foge desse entendimento. Em magistral voto proferido em Recurso Ordinário em Habeas Corpus, interposto perante o Supremo Tribunal Federal, o Ministro Sepúlveda Pertence traduziu com clareza o princípio da intervenção mínima do Direito Penal que, segundo ele, “desonera a Justiça Criminal, congestionada da repressão de uma dentre as inúmeras insignificâncias que a têm inviabilizado”. E mais: “Não posso deixar de explicitar minha convicção de que -ante o quadro de notória impotência do Judiciário para atender à demanda multiplicada de jurisdição e, de outro, A também notória impotência do Direito Penal para atender aos que pretendem transformá-lo em mirífica, mas ilusória, solução de

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todos os males da vida em sociedade -, tendo, cada vez mais, a aplaudir a reserva à sanção e ao processo penal do papel de ultima ratio, e, sempre que possível, a sua substituição por medidas civis ou administrativas, menos estigmatizantes e de aplicabilidade mais efetiva”.

Assim, por exemplo, a infração penal consistente em fazer funcionar atividade sem a licença exigível do órgão ambiental competente foi tipificada no artigo 60 da Lei 9.605/98 para coibir atividades clandestinas potencialmente lesivas para o ambiente. Ora, na hipótese de o órgão ambiental já ter expedido a licença ambiental exigível, após ter o infrator tomado as medidas cabíveis para tanto, em cumprimento a um termo de ajustamento (vale dizer, na forma negociai autorizada pela própria legislação), parece-nos que são perfeitamente defensáveis o arquivamento do inquérito policial e o afastamento da persecução penal da conduta, com base exatamente no princípio da intervenção mínima, uma vez que o fim almejado pela norma já teria sido complemente alcançado. Tem-se outro exemplo quando a reparação integral do dano ou o cumprimento total do TAC (Termo de ajustamento de conduta ambiental) ocorre antes do oferecimento da denúncia. Em tais casos, como se garantiu a tutela integral do bem jurídico, através da esfera civil ou administrativa, não se justifica a intervenção do Direito Penal. Em ambos os casos, eventual ação penal não teria cabimento e jamais poderia ser proposta, por estar ausente o interesse processual - pressuposto inafastável para o exercício da persecução criminal. Assim sendo, mesmo quando, no mundo dos fatos, houver indícios da ocorrência de uma determinada conduta, que o Direito Penal qualifica, a priori, como criminosa, o hermeneuta, à luz do princípio da intervenção mínima, deverá avaliar as circunstâncias do caso concreto e a efetiva periculosidade da situação que se lhe apresenta, antes de, com açodamento, pretender simplesmente enquadrá-la na letra fria da lei.

Por outro lado, se de fato houver risco de dano ao patrimônio ambiental, não há dúvida de que todas as esferas de responsabilidade devem intervir de modo a evitara sua concretização.8

6. NORMAS PENAIS EM BRANCO

Forte no princípio da legalidade dos delitos e das penas (nulium crimen, nulia poena sine lege), tem-se repetido que o Direito Penal deve definir de modo autônomo os componentes de suas normas, evitando remissão a outras regras do ordenamento jurídico. Malgrado isso, em matéria de proteção ao meio ambiente tem-se utilizado, com freqüência, a técnica legislativa denominada norma penal em branco, ou seja, “com o preceito lacunoso ou incompleto, necessitando da complementação de outros dispositivos legais, que podem ser até mesmo extrapenais. Essa prática funda-se no caráter complexo, técnico e multidisciplinar da problemática ambiental.

A Lei 9.605/98 - base do ordenamento ambiental penal - foi pródiga no emprego dessa técnica. Citem-se, a título de exemplo: a) Art. 29, §4°, I e VI - não estão discriminadas as espécies raras ou consideradas ameaçadas de extinção; por igual, não estão definidos os métodos ou instrumentos capazes de provocar destruição em massa; b) Art. 34, caput, e parágrafo único, I e II - não há menção aos períodos de pesca proibida, nem se sabe quais os lugares interditados; não se diz quais são as espécies aquáticas que devam ser preservadas ou o tamanho dos espécimes cuja pesca é proibida; não se estabelece a quantidade de pescado permitida nem quais sejam os aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos; c) Art. 35, I e II - não se define o que venham a ser explosivos, tampouco substâncias tóxicas proibidas; d) Art. 36 - as listas oficiais da fauna e da flora devem ser buscadas junto aos órgãos oficiais de gestão ambiental integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA; e) Art. 37, IV - o animal nocivo passível de abate deve ser caracterizado e declarado pelo órgão competente, no caso o IBAMA; f) Art. 38 - não se define o que seja floresta de preservação permanente; g) Art. 45 - a definição de madeira de lei depende de ato do Poder Público; h) Art. 50 - não se esclarece o que se deva entender por vegetação fixadora de duna

8 MILARÉ, Édis. Obra citada. P. 847/9.

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e protetora de mangue; i) Art. 52 - não se define o que vêm a ser substâncias ou instrumentos próprios para caça ou para exploração de produtos ou subprodutos florestais; j) Art. 56 - fica por conta de atos normativos extravagantes o conceito de produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente; I) Art. 62,I - quais os bens especialmente protegidos por lei, ato administrativo ou decisão judicial.

Em todos estes casos, como se percebe, o comportamento proibido vem enunciado de forma vaga, clamando por complementação ou integração através de outros dispositivos legais ou atos normativos extravagantes. Nem poderia ser diferente em matéria, como a em discussão, regulada predominantemente por normas e instituições de Direito Administrativo.9

7. PROTEÇÃO DOS BENS JURÍDICOS AMBIENTAIS

A proteção penal do meio ambiente foi recomendada pelo próprio legislador constituinte, fato que, por si só, elimina qualquer discussão quanto à pertinência de sua seleção para a categoria de bem jurídico autônomo, considerado por Weizel como aquele “vital de la comunidada o del indivíduo que por su significación social es protegido juridicamente”.

Como bem acentua Herman Benjamin, “se o Direito Penal é, de fato, ultima ratio, na proteção de bens individuais (vida e patrimônio, p. ex.), com mais razão impõe-se sua presença quando se está diante de valores que dizem respeito a toda a coletividade, já que estreitamente conectados à complexa equação biológica que garante ávida humana no planeta”. Nos crimes ambientais, o bem jurídico precipuamente protegido é o meio ambiente (= qualidade ambiental) em sua dimensão global. Sim, porque o ambiente elevado à categoria de bem jurídico essencial à vida, à saúde e à felicidade do homem - integra-se, em verdade, em um conjunto de elementos naturais, culturais e artificiais, de modo que possibilite o seguinte detalhamento. (constituído pelo solo, a água, o ar atmosférico, a flora, a fauna, enfim, a biosfera); meio ambiente cultural (integrado pelo patrimônio artístico, histórico, turístico, paisagístico, arqueológico, espeleológico etc); e meio ambiente artificial (formado pelo espaço urbano construído, consubstanciado no conjunto de edificações e nos equipamentos públicos: ruas, praças, áreas verdes, ou seja, todos os logradouros, assentamentos e reflexos urbanísticos, caracterizados como tal).

Todos esses elementos estão definitivamente protegidos pelo Direito Penal, como se vê da nova arquitetura tipológica da Lei 9.605/98.10

8. TIPICIDADE

O meio ambiente - com todos os elementos que ele pode compreender- é inescapavelmente holístico e sistêmico, o que dificulta sobremaneira o desenho dos tipos penais destinados a tutelá-lo.

Daí a correia observação de Ivette Senise Ferreira de que “uma questão de grande relevância na estruturação do tipo penal ambiental é o da sua amplitude ou indeterminação da conduta incriminada, caracterizando o chamado tipo aberto”. Não aparece, por completo, a norma que o agente transgride com o seu comportamento. Com certa freqüência, então, “é necessário que a lei faça remissão a disposições externas, a normas e conceitos técnicos”.

Em tais casos, a conduta típica depende “da transgressão de normas a que a incriminação do fato se refere e que devem ser necessariamente consideradas pelo juiz para estabelecer a tipicidade do comportamento do agente”.

Observa-se, em conseqüência disso, que, na maioria das infrações penais ambientais, o fato é ilícito porque o agente atuou sem autorização legal, sem licença ou em desacordo com as determinações legais.Vale dizer que o agente é punido não por ter praticado o fato ou

9 MILARÉ, Édis. Obra citada. P. 850. 10 MILARÉ, Édis. Obra citada. P. 851.

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exercido tal ou qual atividade considerada danosa ao meio ambiente, mas sim por não ter obtido a autorização ou licença para tanto ou, ainda -mesmo quando devidamente habilitado, com a autorização ou licença, por não ter observado suas condicionantes e/ou as determinações legais ou regulamentares.

Exemplificando: caçar animais silvestres tanto pode ser ilícito penal como fato atípico, porquanto a caça não só pode ser proibida como também permitida, medianos Tutela penal do patrimônio cultural, autorização. Se permitida, porém dependente de autorização, o agente será processado não por ter praticado o fato, mas por tê-lo praticado sem antes munir-se da necessária autorização.

O mesmo acontece com a pesca: pode ser um ilícito penal ou um fato atípico, dependendo de estar ou não o agente autorizado para tal e de ter obedecido (se autorizado) às disposições regulamentares respectivas. Assim também o desmatamento ou corte de árvores podem estar ou não autorizados.

Outra não é a situação que ocorre quanto à poluição. Alguém pode estar agredindo o ambiente através de queimadas, de explosão em pedreiras etc. e não estar cometendo nenhuma infração, seja no campo do Direito Administrativo, seja no do Direito Penal, desde que esteja legal e devidamente autorizado.

Acrescente-se, ainda, que, na formulação dos tipos penais não pode o legislador perder a perspectiva eminentemente preventiva que embasa todo o Direito do Ambiente. Aliás, “todas as disciplinas jurídicas que cuidam da gestão do meio ambiente apresentam em comum esse desafio: abarcar também os riscos e não somente os danos, pois o prejuízo ambiental é, comumente, de difícil identificação (condutas fluidas e temporalmente protraíeis), de larga dimensão e irreparável”. É isso que justifica a tendência da moderna ciência penal em conceber o crime ecológico, cada vez mais, como crime de perigo. Este, na lição do exímio penalista Paulo José da Costa Júnior, se verifica “sempre que a lei transfira o momento consumativo do crime da ‘lesão’ para aquele da ‘ameaça’, aperfeiçoando-se o crime no instante em que o bem tutelado encontrar-se numa condição objetiva de possível ou provável lesão. Obtém-se dessa forma a confortadora perspectiva de avançar a fronteira protetora de bens e valores, merecedores de especial tutela. De um ponto de vista político-criminal, portanto, o recurso aos crimes de perigo permite realizar conjuntamente finalidades de repressão e prevenção, sendo certo que o progresso da vida moderna está aumentando em demasia as oportunidades de perigo comum, não estando a sociedade em condições de refrear certas atividades perigosas, tidas como condições essenciais do desenvolvimento que se processa.

O legislador, impaciente, acaba por descartar a ocorrência do dano como elemento necessário para a caracterização do crime, fazendo-o com fulcro na simples probabilidade de que ele possa se desencadear.11

9. TIPO DOLOSO E TIPO CULPOSO

9.1. Elemento subjetivo

A responsabilidade está ligada à culpabilidade.

Nos crimes ambientais o elemento subjetivo é o doloso, mas existem tipos culposos no contexto da Lei 9.605/98.

O dolo, sabidamente, pode ser direto (quando o agente quer o resultado), ou indireto, nas formas eventual (quando o agente assume o risco de produção do resultado) ou alternativa (quando o agente quer um ou outro resultado).

11 MILARÉ, Édis. Obra citada, p. 852.

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10. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES AMBIENTAIS

Nos crimes ambientais, os bens jurídicos protegidos se aproximam mais do “perigo” do que do “dano”.

São crimes de perigo abstrato que marcam os tipos penais ambientais na moderna tutela penal. Procura-se antecipar a proteção penal, reprimindo-se as condutas preparatórias.

11. SUJEITOS ATIVO E PASSIVO

Tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica podem praticar crimes ambientais, nos termos da Carta Magna e da Lei 9.605/98.

11.1. Sujeito ativo – pessoa humana

As pessoas físicas, obviamente, podem praticar crimes ambientais. Contudo, O legislador adotou o princípio da co-autoria necessária entre a pessoa física e a jurídica. Assim, o crime ambiental poderá ser praticado por uma ou mais pessoas em concurso. Se praticado por uma única pessoa, o crime é chamado de monossubjetivo; se várias pessoas concorrem para a consumação do crime, denomina-se plurissubjetivo. 12

11.2. Sujeito ativo - pessoa jurídica

Seguindo tendência do Direito Penal moderno de superar o caráter meramente individual da responsabilidade penal até então vigente, e cumprindo promessa do art. 225, § 3. °, da CF, o legislador brasileiro erigiu a pessoa jurídica à condição de sujeito ativo da relação processual penal, dispondo, no art. 3. ° da Lei 9.605/98, que “as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade”.

O intento do legislador, como se vê, foi punir o criminoso certo e não apenas o mais humilde, ou o “pé-de-chinelo” do jargão popular. Sim, porque, via de regra, o verdadeiro delinqüente ecológico não é a pessoa física - o quitandeiro da esquina, p. ex. - mas a pessoa jurídica que quase sempre busca o lucro como finalidade precípua, e para a qual pouco interessam os prejuízos a curto e longo prazos causados a coletividade, assim como a quem pouco importa se a saúde da população venha a sofrer com a poluição. É o que ocorre geralmente com os grandes grupos econômicos, os imponentes conglomerados industriais, e por vezes - por que não dizer - com o próprio Estado, tido este como um dos maiores poluidores por decorrência de serviços e obras públicas sem controle.

A responsabilidade da pessoa jurídica, como está escrito no parágrafo único do referido art. 3°, é óbvio, não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato, na medida em que a empresa, por si mesma, não comete crimes.

Ás hipóteses de relevância da omissão elencadas no art. 13, § 2°, do Código Penal, acrescentou a nova lei mais uma situação, ao estabelecer, no art. 2º, a responsabilidade do diretor, administrador, membro de conselho e de órgão técnico, auditor, gerente, preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la. Assim, tendo referidas pessoas o dever jurídico de agir para evitar danos ao ambiente, tornam-se, pela omissão, partícipes do fato delituoso.

No ponto, “não se pode deixar de contemplar os responsáveis que apenas de fato assumiram as funções mencionadas nos artigos citadas (3° e 2º), pois, do contrário, um campo

12 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente. 1a edição, São Paulo: SARAIVA, 1998. p. 11/29.

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fértil à fraude seria aberto e, portanto, a eficácia da repressão criminal dos grupamentos estaria duramente atingida. O que importa é saber se tais pessoas estão encarregadas de exprimir a vontade da pessoa coletiva”.

Portanto, diante da expressa determinação legal, não cabe mais entrar no mérito da velha polêmica sobre a pertinência da responsabilidade penal das pessoas jurídicas. Melhor será exercitar e perseguir os meios mais adequados para a efetiva implementação dos desígnios do legislador, pois, segundo advertência de Starck, o jurista não pode esperar por um direito ideal. Ele deve trabalhar com o Direito existente, em busca de soluções melhores. 13

Entanto, a doutrina majoritária não admite a responsabilidade penal da pessoa jurídica, mas a tendência no direito penal moderno é romper com o clássico princípio societas delinquere non potest. Assim, o ordenamento jurídico pátrio prevê imposição de sanções penais, nas espécies, pena de multa, penas restritivas de direitos e prestação de serviço à comunidade. A multa segue os critérios do Código Penal; as restrições de direitos referem-se a suspensão parcial ou total de atividades, interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade e proibição de contratar com o Poder Público, bem como obter subsídios, subvenções ou doações poratédezanos. A prestação à comunidade consiste em custear obras de recuperação de áreas degradadas, manter espaços públicos e contribuir para entidades ambientais ou culturais pública.

A pena mais grave é a decretação da liquidação forçada da pessoa jurídica que permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido na Lei 9.605/98.

Cabe destacar que as penas previstas em abstrato são as privativas de liberdade e muitas têm sido as discussões sobre como deve agir o Julgador para aplicar a reprimenda às pessoas jurídicas. Efetivamente, deve-se ter muita cautela quanto à aplicação desses dispositivos para que não se tornem letra morta. Deve-se buscar a sanção penal sempre que a reparação civil ou a infração administrativa se tornar ineficaz.

11.3. Sujeito passivo

Sujeito passivo do crime é o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado pela conduta criminosa. Nada impede que, em um delito, dois ou mais sujeitos passivos existam: desde que tenham sido lesados ou ameaçados em seus bens jurídicos referidos no tipo, são vítimas do crime.

Nos delitos ambientais, o sujeito passivo direto será sempre a coletividade, por ser o bem ou o interesse tutelado considerado de uso comum do povo, segundo o disposto no art. 225 da CF. De fato, como ensina Maurício Libster,”... el bien ambiental pertenece a las categorias de los bienes jurídicos colectivos, ya que afectan a la comunidad como tal, sea en forma directa o indirecta, mediata o inmediata. Es un bien jurídico de todos y está estrechamente vinculado alas necesidades existenciales de los sujetos, como la vida, la salud. la seguridad, y aun la recreación y el solaz espiritual”. É por isso que se diz ser a pulverização (ou difusividade) de vítimas um dos traços característicos do dano ambiental.

Mas não é impossível que pessoas certas e determinadas acabem também lesadas ou ameaçadas em seus bens jurídicos por conta de aspectos particulares do dano, situação que as coloca na posição de sujeitos passivos indiretos. No entanto, ainda quando a objetividade material sobre a qual recai a conduta lesiva pertence a determinado sujeito individual, este somente surge como sujeito passivo secundário ou por via reflexa. Sujeito passivo principal permanece a sociedade mesma, titular do bem que constitui a objetividade jurídica dos crimes contra o meio ambiente.

Há que se distinguir, portanto, o objeto jurídico (que se refere ao bem ou ao interesse diretamente tutelado) do objeto material, ou seja, da coisa sobre a qual recai a ação do sujeito ativo e que constitui o bem ou o interesse indiretamente tutelado. Enquanto o objeto 13 MILARÉ, Édis. Obra citada, p. 857.

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jurídico é sempre o meio ambiente, bem de interesse público, o objeto material atingido ou ameaçado pode ser público ou particular.

Assim, por serem dois os bens jurídicos atingidos, na hipótese referida, poderá ocorrer um concurso de infrações, ou seja, um ilícito penal ambiental atingindo a coletividade e, ao mesmo tempo, um dano ao patrimônio público ou particular, dando causa ao surgimento de um outro ilícito penal. É o que ocorre, p. ex., em um incêndio provocado intencionalmente por terceiro em mata ou floresta pertencente ao patrimônio público ou particular, dando causa a um dano ambiental. Haverá, no caso, um crime previsto no art. 41 da Lei 9.605/98 e um crime de dano contra o patrimônio particular, previsto no art. 163, parágrafo único, IV, do Código Penal.

12. SANÇÕES PENAIS

As infrações penais ambientais têm semelhança como Direito Penal, no que tange à repressão, haja vista que prevê penas privativas de liberdade, restritivas de direito e multa, para os infratores. Como assevera Edis Milaré, “há preferência da nova Lei de Crimes Ambientais pelas penas restritivas de direitos e pecuniárias, não só porque apropriadas tanto às pessoas físicas como às pessoas jurídicas, como também porque a pena de prisão, em razão do perfil diferenciado do delinqüente ambiental, tem-se mostrado inadequada, por impor à sociedade um duplo castigo: suportar o dano e pagar a conta do presídio.

Nessa linha de pensar, a Exposição de Motivos que acompanhou a reforma penal de 1984 já advertia: “Uma política criminal orientada no sentido de proteger a sociedade terá de restringir a pena privativa de liberdade aos casos de reconhecida necessidade, como meio eficaz de impedir a ação criminógena cada vez maior do cárcere. Esta filosofia importa obviamente na busca de sanções outras para delinqüentes sem periculosidade ou crimes menos graves”.

13. PENAS APLICÁVEIS ÀS PESSOAS FÍSICAS

As sanções previstas para as infrações cometidas por pessoas físicas compreendem: pena privativa de liberdade, pena restritiva de direitos e multa.

13.1. Penas Privativas de Liberdade

As penas privativas de liberdade para os ilícitos penais praticados pelas pessoas físicas são as tradicionais reclusão e detenção, para os crimes, e prisão simples, para as contravenções.

Cabe ressaltar que a maioria das novas infrações penais, pela quantidade da pena cominada, enseja a aplicação dos institutos da transação penal, suspensão do processo e suspensão condicional da pena (= sursis ambiental).

13-2. Penas restritivas de direitos

Com os olhos postos no perfil do delinqüente ambiental - totalmente diferente do criminoso comum -, cujo encarceramento não é aconselhável, possibilitou o legislador a aplicação de penas restritivas de direitos em substituição às privativas de liberdade. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as penas privativas de liberdade nos casos em que (I) se tratar de crime culposo (II) ou for aplicada pena privativa de liberdade inferior a quatro anos, ou, ainda, (III) a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime (art. 7°, I e II).

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Neste ponto, vale ter presente que o Código Penal, por força de alteração provocada pela Lei 9714/98, teve ampliado para até quatro anos o limite da pena autorizadora de substituição, o que também repercutiu na Lei Ambiental Penal, não só por se tratar de lei nova mais benigna como também pelo princípio da subsidiariedade.

Sendo assim, segundo o sistema da nova lei, as penas alternativas passaram a constituir a regra, ficando reservadas as penas privativas de liberdade para casos excepcionais. Com efeito, aplicada que seja a pena máxima estabelecida para o crime, apenas os tipos descritos nos arts. 35, 40,54, §§ 2.° e 3.°,e 56, § 2.°, não admitiriam a substituição da pena de prisão pela restritiva de direitos. As penas restritivas de direitos, que terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída, compreendem:

I - prestação de serviços à comunidade, que “consiste na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas junto a parques e jardins públicos e unidades de conservação, e, no caso de dano da coisa particular, pública ou tombada, na restauração desta se possível” (arts. 8º, I, e 9º).

II - interdição temporária de direitos, que importa na “proibição de o condenado contratar com o Poder Público, de receber incentivos fiscais ou quaisquer outros benefícios, bem como de participar de licitações, pelo prazo de 5 (cinco) anos, no caso de crimes dolosos, e de 3 (três) anos, no de crimes culposos” (arts. 8°, II, e 10).

III - suspensão parcial ou total de atividades, aplicável “quando estas não estiverem obedecendo às prescrições legais” (arts. 8°, III, e 11).

IV - prestação pecuniária, consistente “no pagamento em dinheiro à vítima ou à entidade pública ou privada com fim social, de importância, fixada pelo juiz, não inferior a l (um) salário mínimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos” (arts. 8°, IV, e 12). A previsão, no caso, de que o valor pago será deduzido do montante de eventual reparação civil a que for condenado o infrator (art. 12, infine) mostra-se de todo desarrazoada, por implicar violação ao princípio da independência da responsabilidade civil em relação à penal, com nítido sabor de inconstitucionalidade. Ora, se a sanção pecuniária arbitrada na esfera penal é descontada da reparação civil a que faz jus a vítima, na verdade acaba recaindo sobre esta a reprimenda.

V - recolhimento domiciliar, que se baseia “na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado, que deverá, sem vigilância, trabalhar, freqüentar curso ou exercer atividade autorizada, permanecendo recolhido nos dias e horários de folga em residência ou em qualquer local destinado a sua moradia habitual, conforme estabelecido na sentença condenatória” (arts. 8°, V, e 13).

Anote-se, por relevante, a possível conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade, em caso de descumprimento injustificado da restrição imposta ou de superveniente condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, conforme o disposto no art.44, §§ 4° e 5°, do CP, com a redação determinada pela Lei 9.714/98, e diante da subsidiariedade da lei penal comum expressamente prevista no art. 79 da Lei 9.605/98.

13-3. Pena de multa

A pena de multa, instrumento tradicional de exigir ações socialmente corretas, para que mantenha sua força retributiva, será calculada segundo os critérios do Código Penal; “se revelar-se ineficaz, ainda que aplicada no valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida”. A propósito, estabelece o Estatuto Penal:

“Art. 49. A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.

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§ 1º O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário.

§ 2° O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária”.

Feitos os cálculos, verifica-se que o valor máximo da sanção prevista na lei penal ambiental pode ficar bem aquém do valor aplicável pela sanção administrativa.

14. PENAS APLICÁVEIS ÀS PESSOAS JURÍDICAS

Às pessoas jurídicas as penas aplicáveis são; multa, restritivas de direitos e prestação de serviços à comunidade. A prestação de serviços à comunidade, na verdade, é espécie do gênero “restritivas de direitos”, como, aliás, aparece no art. 8°, I, da Lei 9.605/98, e também no art. 43, IV, do Código Penal, com a redação que lhe deu a Lei 9.714/98. Art. 18 da Lei 9.605/98. Art. 75 da Lei 9.605/98.

14.1. Pena de multa

A pena de multa cominada à pessoa jurídica não ganhou, como era de esperar, disciplina própria, aplicando-se, portanto, a regra comum estampada no art. 18 da Lei 9.605/98. Procedentes, no ponto, as críticas de Sérgio Salomão Shecaira, ao ressaltar que “embora deva-se ter em conta a situação econômica do infrator (art. 6°, III), não foi adotado um critério específico para as empresas, não se equacionando uma regra própria para a pessoa jurídica pagar seu ‘próprio dia-multa”.

Assim, punir-se-á, da mesma maneira, a pessoa jurídica e a pessoa física, com critérios - e valores - que foram equalizados, o que é inconcebível. Melhor seria se houvesse transplantado o sistema de dias-multa do Código Penal para a legislação protetiva do meio ambiente, fixando uma unidade específica que correspondesse a um dia de faturamento da empresa e não em padrão de dias-multa contidos na Parte Geral do Código Penal. Da maneira como fez o legislador, uma grande empresa poderá ter uma pena pecuniária não condizente com sua possibilidade de ressarcimento do dano ou mesmo com a vantagem obtida pelo crime.

14.2. Penas restritivas de direitos

As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são:

I - suspensão parcial ou total de atividades, aplicável quando estas não estiverem obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente (art. 22,1 e § 1°).

II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade, aplicável quando estes estiverem funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar (art. 22, II e § 2.°).

III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações, pelo prazo de até dez anos, em caso de descumprimento de normas, critérios e padrões ambientais (art. 22, 111 e § 3º).

IV - prestação de serviços à comunidade, consistente em: custeio de programas e de projetos ambientais; execução de obras de recuperação de áreas degradadas; manutenção de espaços públicos; contribuições a entidades ambientalistas ou culturais públicas (art. 23).

Tenha-se presente, outrossim, que a pessoa jurídica constituída ou utilizada preponderantemente com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime ambiental

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terá decretada sua liquidação forçada, verdadeira pena de morte, com perda de seus bens e valores.

Assinale-se, por fim, a conveniência de se buscar na aplicação de penas às pessoas jurídicas aquelas que prevêem a recuperação do ambiente lesado. A paralisação de atividades, p. ex., atingiria, por via reflexa, o empregado, que não teve nenhuma responsabilidade no crime cometido pela empresa.

15. CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES

Segundo o art. 14 da Lei 9.605/98, são circunstâncias que atenuam a pena:

I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;

II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano. ou limitação significativa da degradação ambiental causada;

III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental;

IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental.

16. CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES

Agravam sempre a pena, quando não constituem ou qualificam o crime, as circunstâncias referidas no art. 15 da Lei 9.605/98. É evidente, adverte Mirabete, “que uma circunstância elementar (elemento) ou qualificadora, que faz parte da estrutura do tipo básico ou qualificado, não pode, ao mesmo tempo, torná-lo mais grave, com o reconhecimento dessa circunstância como agravante genérica da pena, o que é vedado pelo princípio non bis in idem”.

São elas:

I - reincidência nos crimes de natureza ambiental;

II - ter o agente cometido a infração;

a) para obter vantagem pecuniária;

b) coagindo outrem para a execução material da infração;

c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio ambiente;

d) concorrendo para danos à propriedade alheia;

e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime especial de uso;

f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos;

g) em período de defeso à fauna;

h) em domingos ou feriados;

i) à noite;

j) em épocas de seca ou inundações;

I) no interior do espaço territorial especialmente protegido;

m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais;

n) mediante fraude ou abuso de confiança;

o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental;

p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas públicas ou beneficiada por incentivos fiscais;

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q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autoridades competentes;

r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções.

17. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA

Segundo o art. 58 da nova lei penal ambiental, nos crimes dolosos previstos na Seção III do Capítulo V, as penas serão aumentadas:

I - de um sexto a um terço, se resulta dano irreversível à flora ou ao meio ambiente em geral;

II - de um terço até a metade, se resulta lesão corporal de natureza grave em outrem;

III - até o dobro, se resultar a morte de outrem.

Anota, com acuidade, Nelson Roberto Bugalho, que “tais causas somente são aplicáveis aos crimes dolosos previstos na Seção III e dispostos nos artigos anteriores (arts. 54, 55 e 56), posto que se pretendesse o legislador incidissem também nos crimes definidos nos arts. 60 e 61, teria disposto os artigos de forma diversa”. Completa: “São resultados que advêm a título de culpa, respondendo o autor pelo resultado mais grave quando podia prever a sua ocorrência (art. 19 do Código Penal). Outra não poderia ser a conclusão face o ‘se resulta’ e o ‘se resultar’ insculpidos nos incisos. Ocorrendo uma daquelas circunstâncias por culpa do sujeito ativo, obrigatório será o aumento da pena. Cuida-se, pois, de crime preterdoloso (preterintencional), em que a ação causa um resultado mais grave que o pretendido pelo agente. O sujeito quer um minus e seu comportamento produz um majus, de forma que há dolo na conduta antecedente e culpa no resultado”.

Por último, tenha-se presente que as penalidades previstas no artigo em estudo somente serão aplicadas se do fato não resultar crime mais grave.

18. O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

O princípio da insignificância relaciona-se com a subsidiariedade do Direito Penal em relação às demais esferas de responsabilização. Nos dizeres de Vico Manãs, “o princípio da insignificância pode ser definido como instrumento de interpretação restritiva, fundado na concepção material do tipo penal, por intermédio do qual e possível alcançar, pela via judicial e sem macular a segurança jurídica do pensamento sistemático, a proposição político-criminal de descriminalização de condutas que embora formalmente típicas, não atingem de forma socialmente relevante os bem jurídicos protegidos pelo Direito Penal”.

Segundo Fernando de Almeida Pedroso, “muitas vezes, condutas que coincidem” com o tipo, do ponto de vista formal, não apresentam a menor relevância matéria’! São condutas de pouco ou escasso significado lesivo, de forma que, nesses casos tem aplicação o princípio da insignificância, pelo qual se permite excluir, de pronto a tipicidade formal, porque, na realidade, o bem jurídico não chegou a ser agravado e, portanto, não há injusto a ser considerado”.

No campo do Direito Penal Ambiental, obviamente, tal princípio, deve ser aplicado com parcimônia, uma vez que não basta a análise isolada do comportamento de agente, como medida para se avaliar a extensão da lesão produzida; é preciso levar em consideração os efeitos dos poluentes que são lançados artificialmente sobre os recursos naturais e suas propriedades cumulativas e sinérgicas.

Não obstante, tal circunstância não impede a sua eventual incidência sobre o caso, a critério do julgador. Imaginemos, por exemplo, que, no curso da ação penal, haja notícia de que o agente, antes mesmo do oferecimento da denúncia, formalizou acordo com o Poder Público para a regularização de sua atividade, estando cumprindo as condicionantes impostas com vistas à obtenção da Licença de Operação. Neste caso, em tese, restaria afastada a

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tipicidade da conduta, em virtude da insignificância de seu potencial ofensivo, sem interesse para o Direito, e, assim, descaracterizada a prática do crime previsto no artigo 60 da Lei 9.605/98.

19. CAUSAS EXCLUDENTES DA ANTIJURIDICIDADE

O fato típico perde a eiva da ilicitude quando presente uma causa excludente da antijuridicidade.

Tendo em vista a subsidiariedade da lei penal comum, conforme determinação do art. 79 da Lei 9.605/98, tem plena aplicação aos delitos ambientais o art. 23 do Código Penal, que diz: “Não há crime quando o agente pratica o fato (i) em estado de necessidade; (ii) em legítima defesa; (iii) em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito”.

A propósito, o art. 37 da Lei 9.605/98 descriminaliza o abate de animais “para saciar a fome do agente ou de sua família”, “para proteger lavouras ou rebanhos”, ou quando forem aqueles “nocivos”. Cuida-se, a bem ver, de mandamento perfeitamente dispensável. No que diz com a “caça famélica”, evidencia-se a redundância, pois não passa de espécie do estado de necessidade já previsto genericamente no art. 23, I, do Código Penal. As outras duas hipóteses, por já contempladas no art. 3º, § 2°, da Lei 5.197/67.

Fugindo a uma evidente aberração jurídica, veto presidencial aposto ao inciso III do referido art. 37 impediu a previsão de legítima defesa contra ataques de animais ferozes, o que, se aceito, transformaria o Brasil no primeiro país do mundo a reconhecer as feras como sujeitos de direitos e deveres, já que só há legítima defesa contra agressão humana.

20. O COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA COMO CAUSA SUPRALEGAL DE EXCLUSÃO DA ANTIJURIDICIDADE

A celebração de um Compromisso de Ajustamento de Conduta, tal qual previsto no art. 5°, § 6°, da Lei 7.347/85, ou no art. 79-A da Lei 9.605/98, que preveja a integral reparação do dano ou a completa regularização da atividade perante os órgãos licenciadores gera efeitos, não apenas na seara do Processo Penal, mas também no campo do Direito material.

Isto porque, para a caracterização de um fato como antijurídico não basta a sua mera subsunção à norma, através de uma análise fria e formal da realidade. A antijuridicidade há de restar concretamente demonstrada, assim como a lesão ou a ameaça de lesão há de ser socialmente relevante.Vale dizer: há que se perquirir o porque da conduta irregular e, ainda, quais as possíveis e prováveis conseqüências para o ambiente dessa mesma conduta.

Um exemplo: no caso concreto, que uma atividade, ainda que não-licenciada, não provoca dano ambiental nem gera risco de lesão ao ambiente e, ao mesmo tempo, que a atividade já está em processo de regularização, mediante o cumprimento das cláusulas do Termo de Ajustamento de Conduta firmado e que o empreendedor está tomando todas as providências tendentes a cumprir as exigências do Poder Público, não haveria, em tese, ilicitude material da conduta.

Já nos casos dos crimes de resultado, como, por exemplo, o de poluição, a existência de um acordo firmado na área cível ou administrativa com os agentes públicos competentes e que assegure a integral recuperação do ambiente degradado também pode constituir forte argumento para a improcedência da ação penal, uma vez que nesta hipótese, a finalidade última dessa esfera de responsabilização ambiental já terá sido alcançada.

Com efeito, o reconhecimento de causas supralegais de exclusão da ilicitude, que se excedem ao rol exemplificativo do artigo 23 do Código Penal, a exemplo da reparação do dano, viabilizada através de um acordo entre o agente responsável e o Ministério Público, é um imperativo dos tempos modernos.

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À luz do simples bom-senso, para o legislador é impossível acompanhar a velocidade das mudanças, da evolução tecnológica e o surgimento rotineiro de novas realidades. Diariamente, o Poder Judiciário depara-se com questões das mais variadas; e, na maior parte das situações - para não dizer em todas - se lhe impõe a pesquisa aprofundada do espírito das leis e do sistema jurídico em que interagem, na medida em que a interpretação literal dos textos mostra-se insuficiente para arrimar uma decisão justa.

Assim é que, embora um determinado comportamento seja abstratamente enquadrável em um tipo penal, ele pode configurar conduta socialmente adequada e, portanto, lícita, ao passo que a persecução criminal justifica-se apenas no caso. Para Paulo José da Costa Júnior, trata-se: “[d]aquelas condutas humanas que, malgrado a contrariedade aparente aos preceitos de uma legislação penal positiva, não se afastam em realidade daqueles princípios éticos fundamentais que vigem em determinado ordenamento social. Dessarte, elas excluem a priori qualquer traço de ilicitude penal, desde que demonstrem estar ictu oculi em tranquila harmonia com as normas basilares de convivência que uma sociedade claramente consagra. (...) Homogêneo, pois, com o princípio da adequação social, a validade, no terreno ecológico, do risco consentido, ou seja, da possibilidade de qualificar como penalmente não-perigosas condutas naturalisticamente perigosas para o bem tutelado, em razão de uma aceitação tácita por parte da sociedade”. Desse modo, há “determinados comportamentos que parecem causar prejuízo à integridade de determinados interesses e, todavia, não atingem o limite daquele risco que pode ser juridicamente definido como perigo ou dano. E isso na convicção de que a tutela ofertada pela ordenação jurídica a determinado bem não é jamais absoluta, mas funcional às exigências concretas da vida coletiva”. Assim é que “a indiscutível utilidade social da conduta em consideração vem a restringir o âmbito do perigo, ou do dano ecológico punível”.

Sobre o assunto, Maura Roberti ainda ensina: “Existem condutas consideradas justas pela consciência social que não se encontram acobertadas pelas causas de exclusão da antijuridicidade, quando então estaríamos falando do princípio da adequação social como causa supralegal de exclusão da antijuridicidade da conduta, (...). O princípio da intervenção mínima estará sendo imposto ao intérprete da lei, a quem caberá identificar as hipóteses em que, apesar da tipicidade legal da conduta à norma, ao ser feito um juízo de tipicidade penal, aquela conduta aparentemente proibida restará atípica, vez que a ordem normativa não quer proibir. (...) Estará exercendo uma função de limitação da tipicidade legal dentro de nosso ordenamento jurídico, cabendo ao julgador extrair do caso fático a causa extralegal de justificação da conduta”.

Em síntese, a legislação ambiental tem por vocação a prevenção e a reparação do dano, que são exatamente o objeto do chamado Termo de Ajustamento de Conduta. Este instrumento, ao estabelecer condicionantes técnicas e cronograma para a execução de determinadas obrigações, definidos mediante as negociações que se realizam entre o órgão ambiental e o empreendedor, garante a regularização das atividades e, ao mesmo tempo, a sua continuidade.

E a forma legal de conciliação entre a preservação ambiental e o desenvolvimento econômico, que se traduz exatamente no ideal do desenvolvimento sustentável, que busca crescei sem destruir. Quando essa situação se apresenta, a conduta tida abstratamente como delituosa perde, no caso concreto, seu caráter de antijuridicidade.

BIBLIOGRAFIA

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ZAFFARONI, Raul Eugênio - PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais,1997.

JOSÉ LUIZ DE MOURA FALEIROS Juiz de Direito

Como citar este artigo:

FALEIROS, José Luiz de Moura. Crimes Ambientais. Disponível em: http://www.uvb.com.br/main/posgraduacao/CienciasCriminais/AulasImpressas/CCTD_Aula05_Extra.pdf. Material da 2ª aula da Disciplina Tutela Penal dos Bens Jurídicos Supra-Individuais, ministrada no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu TeleVirtual em Ciências Penais – Universidade Anhanguera-Uniderp – IPAN - REDE LFG.

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DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

AgR no RE 628582/RS

Rel. Min. DIAS TOFFOLI Julgamento: 22/02/2011 Publicação: DJe-042 DIVULG 02/03/2011 PUBLIC 03/03/2011

Decisão

Vistos. Global Village Telecom Ltda. interpõe recurso extraordinário, com fundamento na alínea "a" do permissivo constitucional, contra acórdão da Turma Recursal Criminal dos Juizados Especiais do Rio Grande do Sul, proferido no julgamento da Apelação Criminal nº 71002552503: "CRIME AMBIENTAL. ARTIGO 60, CAPUT, DA LEI 9605/98. PRELIMINARES AFASTADAS. ABSOLVIDO RÉU POR INEXISTENCIA DE PARTICIPAÇÃO NO DELITO. MANTIDA CONDENAÇÃO DA RÉ GVT. A denúncia preenche os requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal, bem como do art. 395, inc. I, II e III do mesmo Diploma Legal, haja vista qualificar os réus, descrever fato, que em tese é típico, em todas as suas circunstâncias, as partes são legítimas, há interesse de agir, enfim, preenche todos os requisitos para a instauração da ação penal.

Inexiste nulidade na audiência de oitiva de testemunhas de acusação e defesa e nos depoimentos das testemunhas arroladas pelo Ministério Público, já que não ocorreu nenhum prejuízo para os réus, que se defenderam dos fatos a ele imputados. Mesmo constando que se tratava de audiência para oferta de suspensão condicional do processo, foram ouvidas as testemunhas de defesa, na presença de advogado, inexistindo prejuízo. Não há prejuízo em razão da apresentação de rol pelo Ministério Público alguns dias depois do oferecimento da denúncia, pois foi dada ciência aos acusados, por ocasião da citação. Trata-se de crime de mera conduta, que independe de resultado naturalístico, e de perigo abstrato, uma vez que a lei fala em atividade potencialmente poluidora. A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente adotou a sistemática da responsabilidade civil objetiva, recepcionada pela Constituição Federal, sendo irrelevante e impertinente a discussão se o agente agiu com culpa ou dolo. Comprovada a ausência de participação do réu, que era gerente administrativo financeiro da empresa, sem nenhuma ingerência no licenciamento das antenas, vai absolvido. Comprovado que a ré GVT, sem licença ambiental, fez funcionar estabelecimento potencialmente poluidor, praticou o crime ambiental previsto no art. 60 da Lei 9.605/98. Prova suficiente para a manutenção da condenação e da pena, corretamente aplicada à ré pessoa jurídica" (fl. 659 - grifos no original).

Os embargos de declaração opostos (fls. 683 a 697) foram rejeitados (fls. 699 a 702).

A recorrente alega afronta aos artigos 5º, incisos II,XXXIX, XLV, LIV, LV e § 3º, 24, inciso VI e 225, § 3º, todos da Constituição Federal, em razão de uma pluralidade de argumentos tais como a inépcia da denúncia, irregularidades na audiência de instrução e julgamento, atipicidade material do delito e impossibilidade de responsabilização penal da pessoa jurídica (fls. 712/713).

Contrarrazões apresentadas (fls. 757 a 765), o recurso extraordinário foi admitido (fls. 766/767).O Ministério Público Federal, pelo parecer do ilustre Subprocurador-Geral da República, Dr. Wagner Gonçalves, opinou pelo não conhecimento do recurso (fls. 273 a 279). Examinados os autos, decido.

Anote-se, inicialmente, que o acórdão proferido em sede de embargos de declaração foi publicado após 3/5/07 (fl. 704), quando já era plenamente exigível a demonstração da repercussão geral da matéria constitucional objeto do recurso, conforme decidido na Questão de Ordem no AI nº 664.567/RS, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de

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6/9/07. Todavia, apesar da petição recursal ter trazido a preliminar sobre o tema, não é de se proceder ao exame de sua existência, uma vez que, nos termos do artigo 323 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, com a redação introduzida pela Emenda Regimental nº 21/07, primeira parte, o procedimento acerca da existência da repercussão geral somente ocorrerá "quando não for o caso de inadmissibilidade do recurso por outra razão". A irresignação não merece prosperar. No que tange os artigos 5º, incisos II, XXXIX e XLV, 24, inciso VI e 225, § 3º, da Carta da Republica, apontados como violados, carecem do necessário prequestionamento, sendo certo que esses pontos não foram objeto do acórdão recorrido. Incidência da Súmula nº 282 desta Corte. Anote-se que o fato da recorrente ter trazido a questão constitucional no bojo dos embargos de declaração não é bastante para suprir o requisito do prequestionamento, a teor da Súmula nº 356/STF, uma vez que, não obstante a oposição dos embargos, o recurso de apelação e as contrarrazões da apelação não suscitaram os referidos temas constitucionais, hipótese em que já não se prestam os embargos declaratórios opostos ao acórdão de segundo grau a suscitá-la pela primeira vez. Nessa linha de entendimento, destaco:"1 Recurso extraordinário: descabimento: dispositivo constitucional dado por violado (CF, art. 5º, II) não analisado pelo acórdão recorrido: incidência das Súmulas 282 e 356. 2. Embargos de declaração, prequestionamento e Súmula 356. Os embargos declaratórios só suprem a falta de prequestionamento quando a decisão embargada tenha sido efetivamente omissa a respeito da questão antes suscitada. 3. Recurso extraordinário: inadmissibilidade: alegada violação a dispositivo constitucional que, se ocorresse, seria reflexa ou indireta, que não enseja exame no recurso extraordinário: incidência, mutatis mutandis, da Súmula 636" (AI nº 596.757/RS-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 10/11/06);

"RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. PREQUESTIONAMENTO DA MATÉRIA CONSTITUCIONAL. 1. Ao contrário do que sustenta o agravante, os embargos de declaração, para fins de prequestionamento, servem para suprir omissão do acórdão recorrido em relação à matéria suscitada no recurso cabível ou nas contrarrazões e não para inovar matéria constitucional não debatida nos autos. 2. Ausente o prequestionamento do art. 129, III, da Constituição, dado como contrariado. Não prescinde desse requisito, inerente ao cabimento do recurso de natureza extraordinária, a circunstância de poder a ilegitimidade ativa ad causam ser analisada em qualquer grau de jurisdição. 3. Agravo regimental improvido" (RE nº 434.420/DF-AgR, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ de 14/6/05).Sobre eventual transgressão ao artigo 5º, incisos LIV e LV, da Constituição Federal, forçoso concluir que o Tribunal a quo ao decidir a questão se ateve ao exame da legislação infraconstitucional. Portanto, a violação, se ocorresse, seria indireta ou reflexa, o que não enseja recurso extraordinário. Anote-se que a jurisprudência desta Suprema Corte é assente no sentido de que as alegações de afronta aos princípios da legalidade, do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, dos limites da coisa julgada e da prestação jurisdicional, se dependentes de reexame de normas infraconstitucionais, podem configurar apenas ofensa indireta ou reflexa à Constituição Federal, o que não enseja reexame em recurso extraordinário. Perfilhando esse entendimento: "Agravo regimental. Processual penal. Prequestionamento. Ofensa reflexa. Reapreciação de fatos e provas. Precedentes da Corte. 1. Não se admite o recurso extraordinário quando o dispositivo constitucional que nele se alega violado não está devidamente prequestionado. Incidência das Súmulas nºs 282 e 356/STF. 2. Nos termos da jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal, as alegações de afronta aos princípios da ampla defesa e do contraditório, entre outros, configuram ofensa indireta ou reflexa àConstituição Federal e, por isso, não abrem passagem ao recurso extraordinário. 3. Não é possível, em sede de recurso extraordinário, reexaminar fatos e provas a teor do que dispõe a Súmula nº 279/STF. 4. Agravo a que se nega provimento" (AI nº 603.952/SP-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Menezes Direito, DJ de 27/6/08);"PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL: OFENSA INDIRETA À CONSTITUIÇÃO. PRECEDENTES. AGRAVO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

1. Apesar dos argumentos do Agravante, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de que as alegações de afronta aos princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, entre outros, configuram ofensa reflexa à Constituição da

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República. 2. Agravo Regimental ao qual se nega provimento" (AI nº 649.191/DF-AgR, Primeira Turma, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJ de 1º/6/07). No mesmo sentido: AI nº 622.527/AP-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro Eros Grau, DJ de 18/5/07; AI nº 562.809/SP-AgR, Primeira Turma, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, DJ de 18/5/07; e AI nº 563.028/GO-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJ de 11/5/07, entre outros. Ainda que assim não fosse, concluir de forma contraria ao acórdão recorrido, demandaria o reexame aprofundado do contexto fático-probatório dos autos, além de outros elementos intimamente ligados ao mérito da própria ação penal, o que é inviável na via eleita. Incidência, portanto, da Súmula nº 279/STF.

Perfilhando esse entendimento, ressalto o julgado seguinte: "AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. OFENSA AO ART. 5º, INCISOS LIV E LV. INVIABILIDADE DO REEXAME DE FATOS E PROVAS. SÚMULA STF Nº 279. OFENSA INDIRETA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INQUÉRITO. CONFIRMAÇÃO EM JUÍZO DOS TESTEMUNHOS PRESTADOS NA FASE INQUISITORIAL. 1. A suposta ofensa aos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa passa, necessariamente, pelo prévio reexame de fatos e provas, tarefa que encontra óbice na Súmula STF nº 279. 2. Inviável o processamento do extraordinário para debater matéria infraconstitucional, sob o argumento de violação ao disposto nos incisos LIV e LV do art. 5ºda Constituição. 3. Ao contrário do que alegado pelos ora agravantes, o conjunto probatório que ensejou a condenação dos recorrentes não vem embasado apenas nas declarações prestadas em sede policial, tendo suporte, também, em outras provas colhidas na fase judicial. Confirmação em juízo dos testemunhos prestados na fase inquisitorial. 4. Os elementos do inquérito podem influir na formação do livre convencimento do juiz para a decisão da causa quando complementam outros indícios e provas que passam pelo crivo do contraditório em juízo. 5. Agravo regimental improvido" (RE nº 425.734/MG-AgR, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJ de 28/10/05).

Ante o exposto, nos termos do artigo 38 da Lei 8.038/90 e artigo 21, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, nego seguimento ao recurso extraordinário. Publique-se. Brasília, 22 de fevereiro de 2011.Ministro DIAS TOFFOLI. Relator. Documento assinado digitalmente.

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AÇÃO PENAL CONTRA PESSOA JURÍDICA POR CRIME

AMBIENTAL EXIGE IMPUTAÇÃO SIMULTÂNEA DA PESSOA FÍSICA RESPONSÁVEL

Responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais é admitida desde que

haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou em seu benefício, já que não se pode compreender a responsabilização do ente moral dissociada da atuação de uma pessoa física, que age com o elemento subjetivo próprio. A decisão é da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que anulou o recebimento de denúncia de crime ambiental praticado por uma empresa paranaense. O Ministério Público do Paraná ofereceu denúncia contra uma empresa, pela prática do delito ambiental previsto no artigo 41 da Lei n. 9.605/98 (provocar incêndio em mata ou floresta), que foi rejeitada em primeira instância. O Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), por sua vez, proveu o recurso em sentido estrito para determinar o recebimento da denúncia oferecida exclusivamente contra a pessoa jurídica pela prática de crime ambiental. Para o TJ, a responsabilização penal da pessoa jurídica pela prática de delitos ambientais advém de uma escolha política, como forma não apenas de punição das condutas lesivas ao meio ambiente, mas também de prevenção geral e especial. Além disso, a lei ambiental previu para as pessoas jurídicas penas autônomas de multas, de prestação de serviços à comunidade, restritivas de direitos, liquidação forçada e desconsideração da pessoa jurídica, todas adaptadas à sua natureza jurídica. Ao recorrer ao STJ, o Ministério Público sustentou violação do Código Processual Penal quando da sentença e dos embargos e ofensa à Lei n. 9.605/98, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Por fim, argumentou a impossibilidade de oferecimento da denúncia unicamente contra a pessoa jurídica. Ao decidir, o relator, ministro Arnaldo Esteves Lima, destacou que não houve denúncia contra a pessoa física responsável pela empresa e, por essa razão, o acórdão que determinou o recebimento da denúncia deve ser anulado.

Fonte: www.stj.gov.br, 29 out. 2010.

DECISÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

REsp 865864 - 16/10/2009

Como citar este artigo:

Decisão do Superior Tribunal de Justiça. Disponível em:

http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=94248, acessado em 29/10/10. Material da 2ª aula da Disciplina Tutela Penal dos Bens Jurídicos Supra-Individuais, ministrada no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu TeleVirtual em Ciências Penais – Universidade Anhanguera-Uniderp – IPAN - REDE LFG.

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Jurisprudência Selecionada

TRF 4ª REGIÃO - RECURSO CRIMINAL EM SENTIDO ESTRITO Nº

2000.72.02.000626-9/SC

(DJU 03.03.2004, SEÇÃO 2, P. 522, J. 25.02.2004)

RELATOR :DES. FEDERAL ÉLCIO PINHEIRO DE CASTRO RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RECORRIDA : T.E. ADVOGADOS : ALEXANDRE DOS SANTOS PEREIRA VECCHIO E OUTROS RECORRIDO : C.A.S. ADVOGADOS : EDSON LUIZ MEES STRINGARI E OUTRO RECORRIDO : R.D.Q. ADVOGADOS : ALEXANDRE DOS SANTOS PEREIRA VECCHIO E OUTROS RECORRIDOS : INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVAVEIS – IBAMA : M.M.C. ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO - FABRÍCIO VON MENGDEN CAMPEZATTO RECORRIDO :J.P.P.L. ADVOGADO : ALAN MUXFELDT DA SILVA RECORRIDO :FUNDAÇÃO DO MEIO AMBIENTE – FATMA

EMENTA

DIREITO PENAL E PROCESSUAL. DENÚNCIA. REJEIÇÃO. ART. 43 DO CPP. LEI 9.605/98. CRIMES

AMBIENTAIS. ENTRADA EM FUNCIONAMENTO DE USINA HIDRELÉTRICA. LICENÇA DE OPERAÇÃO

CONCEDIDA PELOS ÓRGÃOS RESPONSÁVEIS. MORTANDADE DE PEIXES. EFEITO INEVITÁVEL.

ATIPICIDADE DA CONDUTA. AUSÊNCIA DE INDÍCIOS SUFICIENTES DA MATERIALIDADE DELITIVA.

PROPORCIONALIDADE ENTRE TUTELA CRIMINAL E LESÃO AO ECOSSISTEMA. FALTA DE JUSTA

CAUSA. PRESCRIÇÃO EM ABSTRATO DE PARTE DOS FATOS. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

DESPROVIDO.

1. A imputação relativa ao crime previsto no artigo 29, § 1o, inc. I e II, c/c o § 4o, incisos II,

IV, V e VI, encontra-se prescrita in abstracto tendo em conta o transcurso de mais de 04

(quatro) anos desde a data do evento supostamente delituoso, sem a presença de marco

interruptivo algum (art. 109, V, CP).

2. No tocante às demais infrações descritas na peça exordial, verifica-se que a colocação em

funcionamento da Usina Hidrelétrica de Itá foi amparada em licença de operação outorgada

Universidade Anhanguera-Uniderp

PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão

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pelo órgão competente e precedida de medidas ambientais compensatórias.

3. Resta evidente que uma obra de tamanha envergadura necessariamente acarreta mudanças

no meio onde realizada, não implicando, por si só, a caracterização de crime contra a

natureza.

4. Consoante os depoimentos de peritos ouvidos na esfera policial, o fechamento das

comportas tanto em dezembro/99 como em janeiro/2000 teria o mesmo impacto ambiental,

independente de se tratar ou não da época de reprodução da fauna aquática. 5. Ademais, na

hipótese em tela, deixou-se de coletar, na fase inquisitorial, um mínimo lastro de provas

indicando se a quantidade de peixes mortos em decorrência da conduta narrada na peça

acusatória foi maior do que o previsível, vale dizer, se chegou a afetar o equilíbrio da bacia

hidrográfica do rio Uruguai ao ponto de ensejar tipicidade penal.6. In casu, não se mostra

razoável pretender punir os réus por causar lesão ínfima ao ecossistema, quando a estes foi

dada autorização estatal expressa para imprimir significativa alteração ao meio ambiente da

região, sob pena de caracterizar-se ofensa aos princípios penais da intervenção mínima e da

proporcionalidade. 7. Inexistindo justa causa para a instauração da persecutio criminis in

judicio, correta a decisão que rejeitou a denúncia com apoio no art. 43 do Diploma

Processual.