Contrapontos entre o Regime Diferenciado de Contratações Públicas e a Lei Geral de Licitações e...

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NOME DO ALUNO: André Luís Rodrigues CURSO: Especialização em Direito Público TURNO: Noite TÍTULO: Contrapontos entre o Regime Diferenciado de Contratações Públicas e a Lei Geral de Licitações e Contratos TIPO DE TRABALHO ( ) Monografia de Final de Curso Professor Orientador: (X) Paper de Disciplina/Módulo Disciplina/Módulo: Licitações e Contratos ( ) Projeto de Pesquisa

Transcript of Contrapontos entre o Regime Diferenciado de Contratações Públicas e a Lei Geral de Licitações e...

NOME DO ALUNO: André Luís Rodrigues

CURSO: Especialização em Direito Público TURNO: Noite

TÍTULO: Contrapontos entre o Regime Diferenciado de Contratações

Públicas e a Lei Geral de Licitações e Contratos

TIPO DE TRABALHO

( ) Monografia de Final de

Curso

Professor Orientador:

(X) Paper de Disciplina/Módulo Disciplina/Módulo: Licitações e Contratos

( ) Projeto de Pesquisa

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO AO REGIME DIFERENCIADO DE CONTRATAÇÕES......1

2. CONTRAPONTOS ENTRE AS NORMAS ..................................................2

2.1. A publicidade dos valores de referência ..............................................2

2.2. Convocação dos licitantes remanescentes .........................................6

2.3. A contratação integrada.........................................................................7

2.4. Remuneração variável............................................................................9

2.5. Regime de contratação simultânea.....................................................10

2.6. Novos critérios de julgamento das propostas...................................13

2.6.1. Menor preço ou maior desconto .................................................................... 14

2.6.2. Técnica e preço............................................................................................. 14

2.6.3. Melhor técnica ou conteúdo artístico ............................................................. 15

2.6.4. Maior oferta de preço .................................................................................... 15

2.6.5. Maior retorno econômico............................................................................... 16

2.7. Possibilidade de inversão de suas próprias fases de licitação........16

2.8. Negociação das propostas após os julgamentos..............................16

2.9. Fase recursal única ..............................................................................18

2.10. Publicidade do edital de licitação .....................................................20

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................21

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................24

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CONTRAPONTOS ENTRE O REGIME DIFERENCIADO DE CONTRATAÇÕES

PÚBLICAS E A LEI GERAL DE LICITAÇÕES E CONTRATOS

1. INTRODUÇÃO AO REGIME DIFERENCIADO DE CONTRATAÇÕES

Destinadas a conferir maior celeridade às contratações que promoverão a

infraestrutura necessária para a realização da Copa das Confederações de 2013, da

Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016 no Brasil,

a Lei nº 12.462, de 05/08/2011 e o Decreto nº 7.581, de 11/10/2011 vêm,

respectivamente, instituir e regulamentar o chamado “Regime Diferenciado de

Contratações” (RDC). Incluem-se no RDC as obras e serviços necessários para

reforma e construção de aeroportos, estádios e obras de mobilidade urbana.

Os referidos diplomas legais trazem uma série de inovações que visam a

dinamizar os procedimentos licitatórios. Dentre elas: inversão de fases, redução de

alguns prazos de publicação do resumo do edital, concentração da fase recursal etc.

É importante enfatizar o fato de que a adoção do rito preconizado pelo RDC

se constitui em uma faculdade do administrador público. A opção pelo RDC deverá

constar de forma expressa do instrumento convocatório e, de regra, afastará as

normas contidas na Lei Geral de Licitações e Contratos, conforme bem traz o

parágrafo 2º do artigo 1º da Lei que o institui:

A opção pelo RDC deverá constar de forma expressa do instrumento convocatório e resultará no afastamento das normas contidas na Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, exceto nos casos expressamente previstos nesta Lei.

Observa-se, porém, que este afastamento é parcial: o texto da lei, em

diversos pontos, faz referência à aplicação subsidiária da Lei nº 8.666/93. Um bom

exemplo é o artigo 14 da Lei do RDC: “Na fase de habilitação das licitações

realizadas em conformidade com esta Lei, aplicar-se-á, no que couber, o disposto

nos arts. 27 a 33 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993 [...]”.

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Este trabalho desenvolverá o estudo de alguns dos contrapontos mais

polêmicos na doutrina entre o que determina a Lei do RDC – que deverá ser

utilizada apenas nos casos de contratações relacionadas aos eventos acima

relacionados – e a Lei Geral de Licitações e Contratos em vigor desde 1993.

2. CONTRAPONTOS ENTRE AS NORMAS

A Lei que instituiu o RDC e a Lei Geral de Licitações e Contratos possuem

contrapontos que serão estudados a seguir. Nota-se que certas diretrizes do RDC

simplesmente limitam-se a reproduzir dispositivos já introduzidos na Lei nº 8.666/93,

outras diretrizes as aperfeiçoam e outras são totalmente inovadoras.

2.1. A publicidade dos valores de referência:

Um dos principais contrapontos que vem causando maior controvérsia é o

fato de a Administração possuir a discricionariedade de manter em sigilo os valores

dos orçamentos quando adota o RDC em suas licitações.

Com a leitura do artigo 6º da Lei do RDC é possível verificar que há o sigilo do

orçamento estimado da contratação, porém, somente até o término do certame

licitatório, ou seja, o sigilo é transitório:

Art. 6º. Observado o disposto no § 3º, o orçamento previamente estimado para a contratação será tornado público apenas e imediatamente após o encerramento da licitação, sem prejuízo da divulgação do detalhamento dos quantitativos e das demais informações necessárias para a elaboração das propostas. [...] § 2º. No caso de julgamento por melhor técnica, o valor do prêmio ou da remuneração será incluído no instrumento convocatório. § 3º. Se não constar do instrumento convocatório, a informação referida no caput deste artigo possuirá caráter sigiloso e será disponibilizada estrita e permanentemente aos órgãos de controle externo e interno.

Verifica-se, ainda, que o sigilo é restrito aos licitantes, e consequentemente,

ao público. No entanto, os órgãos de controle terão total acesso. É preciso notar

3

também que há uma exceção trazida pelo parágrafo 2º do mesmo artigo: deverão

constar no instrumento convocatório da licitação os valores de referência quando o

julgamento do certame se der pelo tipo “maior desconto”1, bem como nos casos de

julgamento por melhor técnica – em tais casos.

A justificativa para a adoção do sigilo no RDC é a busca por preços menores

nas propostas dos licitantes, uma vez que estes teriam que elaborar suas propostas

com base somente em seus próprios referenciais (LOPES FILHO, 2011) e com

valores efetivamente praticados no mercado. Até porque as propostas que sejam

manifestamente inexequíveis ou permaneçam acima do orçamento estimado para a

contratação serão desclassificadas pela comissão permanente de licitações,

conforme manda o artigo 24, inciso III da Lei do RDC:

Art. 24. Serão desclassificadas as propostas que: [...] III - apresentem preços manifestamente inexequíveis ou permaneçam acima do orçamento estimado para a contratação, inclusive nas hipóteses previstas no art. 6o desta Lei;

Nessa linha de pensamento, o sigilo do orçamento cumpre o papel de

resguardar o interesse público, uma vez que o objetivo de tal mandamento na Lei é

a busca por propostas com valores menores, uma tentativa de se evitar

especulações entre licitantes.

A Lei 8.666/93 já trazia em seu texto algo semelhante, no intuito de preservar

o interesse público. Tal questão encontra-se no artigo 3º, § 3º, quando a Lei

determina o sigilo das propostas até sua abertura2 e no artigo 43, §1º, conhecido

como o princípio do sigilo das propostas3. Isso pois “se os licitantes tivessem acesso

às propostas que antecederam à sua antes da abertura dos envelopes em ato

público estariam diante de informação privilegiada, o que levaria à especulação e

inviabilizaria a lisura do certame.” (LOPES FILHO, 2011).

1 Os critérios de julgamento das propostas adotados no RDC serão estudados na seção 2.6 do presente trabalho. 2 Art. 3º, § 3º: A licitação não será sigilosa, sendo públicos e acessíveis ao público os atos de seu

procedimento, salvo quanto ao conteúdo das propostas, até a respectiva abertura. 3 Art. 43, § 1º: A abertura dos envelopes contendo a documentação para habilitação e as propostas será realizada sempre em ato público previamente designado, do qual se lavrará ata circunstanciada, assinada pelos licitantes presentes e pela Comissão.

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Mesmo assim, alguns doutrinadores veem ferido o princípio da publicidade

que, em tese, deveria estar presente em todos os atos do certame licitatório.

Sendo um dos princípios basilares de Administração Pública, o princípio da

publicidade vem explicitamente contido no caput do artigo 37 da Constituição

Federal (com redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998), que assim

estabelece:

A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...].

Destaca-se também o ensinamento de Maria Sylvia Zanella di Pietro: o

princípio da publicidade exige que os atos administrativos devam possuir ampla

divulgação, e que o artigo 2º, parágrafo único, inciso V da Lei nº 9.784/99 exige

“divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo

previstas na Constituição” (2002, pp. 75 e 77).

Quanto às licitações, Hely Lopes Meirelles ensina que a publicidade dos atos

da licitação “é princípio que abrange desde os avisos de sua abertura até o

conhecimento do edital e seus anexos, o exame da documentação e das propostas

pelos interessados e o fornecimento de certidões de quaisquer peças, pareceres ou

decisões com elas relacionadas.” (2005, p. 272).

Isso significa que qualquer que seja a modalidade escolhida pela

Administração, as licitações devem ser processadas e julgadas observando-se a

publicidade de seus atos, o procedimento formal, a igualdade entre os interessados,

sigilo do conteúdo dos envelopes de propostas até o oportuno momento de abertura,

a vinculação ao edital (ou carta-convite), objetividade dos julgamentos, a probidade

administrativa e a adjudicação compulsória ao licitante vencedor (MEIRELLES,

2005, p. 271).

No âmbito do Tribunal de Contas da União, no Acórdão 932/2008 – Plenário4,

foi orientado que “qualquer interessado deve ter acesso às licitações e seu controle,

4 Disponível em: <http://www.tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/judoc/Acord/20080221/TC-015-938-2005-4.doc>. Acesso em: 16 fev. 2012.

5

mediante divulgação dos atos praticados pelos administradores em todas as fases

da licitação”.

E ainda, no Acórdão nº 1312/2009 – Plenário5, o Tribunal de Contas da União

lembra que “[...] a própria Lei nº 8.666/93 prevê momentos em que os envelopes

encontram-se lacrados, apenas porque o legislador ordinário definiu não ser

apropriado conferir publicidade àqueles documentos em certa etapa do

procedimento licitatório. Dessa forma, a publicidade desses documentos é

postergada e, somente após esse ato, é garantido o contraditório e a ampla defesa.

Essa regra de procedimento não é imutável. Basta o legislador ordinário definir ser

outro o momento apropriado para conferir publicidade a um determinado assunto ou

documento no processo licitatório para a respectiva norma ser alterada, sem

violação da Constituição Federal”.

Em contraponto ao que possibilita o RDC, a Lei 8.666/93, especificamente

nos seus artigos 3º, § 3º, 40, § 2º, II e 44, § 1º, rezam:

Art. 3º. [...] § 3º. A licitação não será sigilosa, sendo públicos e acessíveis ao público os atos de seu procedimento, salvo quanto ao conteúdo das propostas, até a respectiva abertura. Art. 40. [...] § 2º. Constituem anexos do edital, dele fazendo parte integrante: [...] II - orçamento estimado em planilhas de quantitativos e preços unitários; [...] (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994) Art. 44. No julgamento das propostas, a Comissão levará em consideração os critérios objetivos definidos no edital ou convite, os quais não devem contrariar as normas e princípios estabelecidos por esta Lei. § 1º. É vedada a utilização de qualquer elemento, critério ou fator sigiloso, secreto, subjetivo ou reservado que possa ainda que indiretamente elidir o princípio da igualdade entre os licitantes; [...]

Ainda, conforme orienta Alexandre de Moraes, a publicidade dos atos

públicos “evita os dissabores existentes em processos arbitrariamente sigilosos [...]

excepcionada quando o interesse público assim determinar” (MORAES, 2009,

p. 327).

É categórico nesse sentido o Tribunal de Contas da União: “Em razão do

sigilo de que se revestem as propostas, não é permitido a qualquer pessoa ter

5 Disponível em: <http://www.tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/judoc/Acord/20090618/010-095-2008-3-MIN-MV.rtf>. Acesso em: 16 fev. 2012.

6

conhecimento ou leitura de documento existente dentro dos envelopes,

principalmente a proposta”. E acrescenta: “A abertura dos envelopes que contêm os

documentos de habilitação e as propostas será realizada sempre em sessão pública

da qual se lavrará ata circunstanciada, assinada pelos responsáveis pela licitação e

pelos representantes legais dos licitantes presentes ao evento.” (BRASIL, 2006,

p. 163).

2.2. Convocação dos licitantes remanescentes:

Após homologada a licitação pela autoridade competente e adjudicado seu

objeto ao licitante vencedor, este será convocado para assinar o contrato

administrativo, no prazo estabelecido no ato convocatório. Todavia, o licitante

vencedor pode, por qualquer motivo, decidir não mais assinar o contrato. Nessa

hipótese, outra novidade importante é trazida pela Lei do RDC: há previsão no

artigo 40, parágrafo único da Lei, a possibilidade de serem convocados os licitantes

remanescentes para tal, e sem a obrigação de manter o mesmo preço do primeiro

colocado.

Dispõe o aludido texto legal:

Art. 40. É facultado à administração pública, quando o convocado não assinar o termo de contrato ou não aceitar ou retirar o instrumento equivalente no prazo e condições estabelecidos: [...] II - convocar os licitantes remanescentes, na ordem de classificação, para a celebração do contrato nas condições ofertadas pelo licitante vencedor. Parágrafo único. Na hipótese de nenhum dos licitantes aceitar a contratação nos termos do inciso II do caput deste artigo, a administração pública poderá convocar os licitantes remanescentes, na ordem de classificação, para a celebração do contrato nas condições ofertadas por estes, desde que o respectivo valor seja igual ou inferior ao orçamento estimado para a contratação, inclusive quanto aos preços atualizados nos termos do instrumento convocatório.

Notadamente, o dispositivo acima mencionado vem de encontro ao que a Lei

nº 8.666/93 apregoa, na qual há a ordem de vedar a possibilidade de convocação

por valor diferente daquele estipulado pelo licitante vencedor original.

7

Para a Lei Geral, no caso de convocação dos demais licitantes, estes deverão

ser contratos pelo valor estipulado na proposta vencedora, sob pena de revogação

do certame. É o que disciplina o artigo 64 em seu § 2º:

É facultado à Administração, quando o convocado não assinar o termo de contrato ou não aceitar ou retirar o instrumento equivalente no prazo e condições estabelecidos, convocar os licitantes remanescentes, na ordem de classificação, para fazê-lo em igual prazo e nas mesmas condições propostas pelo primeiro classificado, inclusive quanto aos preços atualizados de conformidade com o ato convocatório, ou revogar a licitação independentemente da cominação prevista no art. 81 desta Lei.

Ressalta-se que, neste caso previsto pela Lei nº 8.666/93, os licitantes

remanescentes não estão sujeitos a se submeterem às condições apresentadas

pelo licitante vencedor original, estando assim isentos de qualquer penalidade,

sobretudo àquela prevista no artigo 81, parágrafo único, que regula sobre a recusa

do licitante vencedor em assinar o contrato quando convocado:

Art. 81. A recusa injustificada do adjudicatário em assinar o contrato, aceitar ou retirar o instrumento equivalente, dentro do prazo estabelecido pela Administração, caracteriza o descumprimento total da obrigação assumida, sujeitando-o às penalidades legalmente estabelecidas. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica aos licitantes convocados nos termos do art. 64, § 2º desta Lei, que não aceitarem a contratação, nas mesmas condições propostas pelo primeiro adjudicatário, inclusive quanto ao prazo e preço.

2.3. A contratação integrada:

Outro ponto relevante que diferencia a Lei do RDC da Lei Geral de Licitações

e Contratos é o fato de que poderá ocorrer, nos casos de obras e serviços de

engenharia, a contratação de uma única empresa para efetivar toda a demanda,

desde que técnica e economicamente justificada a possibilidade.

Tal situação é denominada pela Lei do RDC de “contratação integrada” e está

prevista em seu artigo 9º:

Art. 9º. Nas licitações de obras e serviços de engenharia, no âmbito do RDC, poderá ser utilizada a contratação integrada, desde que técnica e economicamente justificada. § 1º. A contratação integrada compreende a elaboração e o desenvolvi-mento dos projetos básico e executivo, a execução de obras e serviços de engenharia, a montagem, a realização de testes, a pré-operação e todas as demais operações necessárias e suficientes para a entrega final do objeto;

8

§ 2º. No caso de contratação integrada: I - o instrumento convocatório deverá conter anteprojeto de engenharia que contemple os documentos técnicos destinados a possibilitar a caracterização da obra ou serviço [...] III - será adotado o critério de julgamento de técnica e preço.

Na contratação integrada, o edital deverá conter um anteprojeto de

engenharia6 com a caracterização da obra ou serviço, do qual devem constar, por

exemplo, uma visão global dos investimentos, a estética do projeto arquitetônico e

parâmetros de economia na utilização, impactos ambientais e acessibilidade; e

deverá, ainda, ser adotado o critério de julgamento de técnica e preço7.

Como visto, a licitante contratada poderá ficar incumbida não apenas da

execução das obras e serviços, mas também das etapas prévias de elaboração e

desenvolvimento dos projetos básico e executivo correspondentes – hipótese

totalmente afastada pela Lei nº 8.666/93. Esta última traz como obrigatória a

existência de projeto básico e/ou executivo como peça fundamental dos editais de

licitação para obras e serviços de engenharia.

Rezam os artigos 7º e 40 da Lei Geral, em seus §§ 2º:

Art. 7º. [...] § 2º. As obras e os serviços somente poderão ser licitados quando: I - houver projeto básico aprovado pela autoridade competente e disponível para exame dos interessados em participar do processo licitatório; [...] Art. 40. [...] § 2º. Constituem anexos do edital, dele fazendo parte integrante: I - o projeto básico e/ou executivo, com todas as suas partes, desenhos, especificações e outros complementos; [...]

Nesse sentido, entende o Tribunal de Contas da União, conforme Acórdão

nº 2.012/2007 – Plenário8, que é “condição para a realização de uma licitação que o

seu objeto esteja adequadamente especificado, o que, no caso de uma obra,

somente pode ser feito por meio de um projeto básico bem elaborado”.

6 As especificidades do anteprojeto de engenharia são melhor detalhadas no Decreto que regulamenta o RDC, mais especificamente nos parágrafos 1º e 3º do artigo 74. 7 Os critérios de julgamento das propostas adotados no RDC serão estudados na seção 2.6 do

presente trabalho. 8 Disponível em: < http://www.tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/judoc/Acord/20070926/TC-018-009-2004-9.doc>. Acesso em: 29 fev. 2012.

9

E ainda, no âmbito do aludido Tribunal, na Decisão nº 339/2000 – Plenário9,

explicou-se que a “necessidade de projeto básico nas licitações públicas, mais do

que uma mera contingência legal [...], consiste em uma importante garantia da lisura

do próprio procedimento licitatório, uma vez que seu objetivo é propiciar aos

licitantes a configuração básica da obra para que possam oferecer uma proposta

efetivamente factível”.

E ainda, segundo a Lei nº 8.666/93, não poderá participar da licitação ou da

execução de obra, serviço ou fornecimento de materiais a empresa que tenha

participado da elaboração do projeto básico.

Traz o artigo 9º da Lei:

Art. 9º. Não poderá participar, direta ou indiretamente, da licitação ou da execução de obra ou serviço e do fornecimento de bens a eles necessários: I - o autor do projeto, básico ou executivo, pessoa física ou jurídica; II - empresa, isoladamente ou em consórcio, responsável pela elaboração do projeto básico ou executivo ou da qual o autor do projeto seja dirigente, gerente, acionista ou detentor de mais de 5% (cinco por cento) do capital com direito a voto ou controlador, responsável técnico ou subcontratado; [...]

2.4. Remuneração variável:

O RDC inova na forma de remuneração dos contratos realizados para as

obras e serviços de engenharia abrindo-se a possibilidade de ocorrer a chamada

“remuneração variável”.

Essa possibilidade de pagamento, segundo a norma em tela, deverá ser

motivada e será vinculada ao desempenho da contratada, tomando-se por base

metas, padrões de qualidade, critérios de sustentabilidade ambiental e prazo de

entrega. Verifica-se, ainda, que o valor do “bônus” resultante não deverá ultrapassar

o limite do orçamento estipulado para a realização do objeto.

Traz o artigo 10 da Lei:

9 Disponível em: <http://www.tcu.gov.br/Consultas/Juris/Docs/judoc/SIDOC/geradoSIDOC_ DC03391500P.pdf>. Acesso em: 29 fev. 2012.

10

Art. 10. Na contratação das obras e serviços, inclusive de engenharia, poderá ser estabelecida remuneração variável vinculada ao desempenho da contratada, com base em metas, padrões de qualidade, critérios de sustentabilidade ambiental e prazo de entrega definidos no instrumento convocatório e no contrato. Parágrafo único. A utilização da remuneração variável será motivada e respeitará o limite orçamentário fixado pela administração pública para a contratação.

Todavia, a Lei nº 12.462/2011 não descreve a sistemática de remuneração

variável, remetendo sua disciplina ao contrato. “Tal descrição, com algum grau de

detalhamento, deveria constar da própria lei, mesmo porque trata da

contraprestação devida à empresa contratada e assegurada pelo próprio texto

constitucional, que determina sejam mantidas, na vigência do contrato, as condições

efetivas da proposta (art. 37, XXI, da Lei Maior).”10 (REZENDE, 2011, p. 26).

2.5. Regime de contratação simultânea:

Visando ao aumento da competitividade, permite-se pelo RDC a contratação

de mais de uma empresa ou instituição para executar o mesmo serviço, desde que

não implique perda de economia de escala, excetuados os serviços de engenharia.

Estipula o artigo 11 da Lei:

Art. 11. A administração pública poderá, mediante justificativa expressa, contratar mais de uma empresa ou instituição para executar o mesmo serviço, desde que não implique perda de economia de escala, quando: I - o objeto da contratação puder ser executado de forma concorrente e simultânea por mais de um contratado; ou II - a múltipla execução for conveniente para atender à administração pú-blica. § 1º. Nas hipóteses previstas no caput deste artigo, a administração pública deverá manter o controle individualizado da execução do objeto contratual relativamente a cada uma das contratadas. § 2º. O disposto no caput deste artigo não se aplica aos serviços de engenharia.

10 CF, art. 37, XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.

11

Essa possibilidade foi denominada de “Contratação Simultânea” no

Regulamento da RDC (vide o artigo 71, que se limitou a copiar o artigo 11 da Lei –

apenas suprimindo o termo “expressa” do caput)11.

Assim, mediante justificativa, a Administração Pública poderá contratar mais

de uma empresa ou instituição para executar o mesmo serviço quando julgar

conveniente.

Na leitura da Lei, verifica-se, ainda, que a Administração deverá realizar, para

todos os fins, um controle individualizado dos contratos na execução do objeto (vide

o art. 11, § 1º – acima).

A utilização desta possibilidade é melhor detalhada no Regulamento do RDC,

que determina em seu artigo 72, parágrafo único, que o “instrumento convocatório

deverá disciplinar os parâmetros objetivos para a alocação das atividades a serem

executadas por contratado”.

Destarte, o Administrador Público deve prever no instrumento convocatório os

pormenores da forma de execução dos serviços quando da utilização da hipótese de

contratação simultânea, o que se pressupõe que deverá ser indicado, inclusive, qual

dos contratados executará o quê.

Cabe complementar que visa esse dispositivo “afastar o risco de

descontinuidade em serviços essenciais, no caso de interrupção de um dos

contratos [...]. Não haverá prestação de serviços em duplicidade, apenas a

possibilidade de sua realização por qualquer das empresas contratadas, as quais

serão remuneradas pelos serviços efetivamente prestados.” (BRASIL, 2011, p. 23).

Guilherme Fredherico Dias Residorfer esclarece, ainda, que a adoção do

regime de contratação integrada é preferencial para os serviços e obras de

11 Decreto nº 7.581, Art. 71: A administração pública poderá, mediante justificativa, contratar mais de uma empresa ou instituição para executar o mesmo serviço, desde que não implique perda de economia de escala, quando: I - o objeto da contratação puder ser executado de forma concorrente e simultânea por mais de um contratado; e II - a múltipla execução for conveniente para atender à administração pública. Parágrafo único. A contratação simultânea não se aplica às obras ou serviços de engenharia.

12

engenharia ao lado dos regimes de empreitada integral12 e por preço global.

Assevera que “o ponto de identidade entre esses três regimes reside em que eles

devem ser em regra reservados a prestações contratuais não fracionáveis, isto é, a

objetos que devem ser executados de forma conjunta ou unitária. Utilizam-se esses

regimes quando, por razões técnicas ou econômicas, afasta-se a viabilidade de

licitar parcelas desses serviços ou obras de engenharia como unidades autônomas.

É o que se extrai da leitura conjugada dos arts. 8º, §1º, e 11, § 2º, da Lei 12.462:

enquanto o primeiro dispositivo prevê que obras e serviços de engenharia devem ser

contratados preferencialmente mediante a adoção dos regimes acima mencionados,

o segundo esclarece que tais prestações não podem ser objeto de contratação

simultânea de mais de uma empresa para o objeto contratado. Ou seja; devem ser

desenvolvidas de forma unitária”. (2011).

Em contraponto à Lei do RDC, a Lei nº 8.666/93 desautoriza a prática de

contratação simultânea, atribuindo a cada serviço um licitante distinto e exclusivo

mediante procedimento licitatório específico, mesmo que o serviço faça parte de um

parcelamento do objeto.

Regula o artigo 23 da Lei Geral, em seus §§ 1º e 2º:

§ 1º. As obras, serviços e compras efetuadas pela Administração serão divididas em tantas parcelas quantas se comprovarem técnica e economicamente viáveis, procedendo-se à licitação com vistas ao melhor aproveitamento dos recursos disponíveis no mercado e à ampliação da competitividade sem perda da economia de escala. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994) § 2º. Na execução de obras e serviços e nas compras de bens, parceladas nos termos do parágrafo anterior, a cada etapa ou conjunto de etapas da obra, serviço ou compra, há de corresponder licitação distinta, preservada a modalidade pertinente para a execução do objeto em licitação. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994) (grifo do autor)

12 Para Marçal Justen Filho, o regime de empreitada integral é o mais adequado “nas hipóteses de objetos dotados de elevada carga de complexidade, em que a Administração não dispõe de condições de identificar, de modo preciso e exato, as etapas, as tecnologias e os custos mais adequados. A empreitada integral propicia, nesses casos, que a Administração atribua aos licitantes uma margem mais ampla de autonomia para conceber soluções complexas e heterogêneas.” (2010, p. 131).

13

2.6. Novos critérios de julgamento das propostas:

Segundo ensina Celso Antônio Bandeira de Mello, a Lei nº 8.666/93

“denomina ‘tipos de licitação’ ao que, na verdade, são os distintos critérios

‘fundamentais’ de julgamento por ela estabelecidos para obras, serviços e compras

[...], vedada a criação de outros (art. 45, § 5º).” (2009, p. 594).

Dispõe o referido texto legal:

Art. 45. O julgamento das propostas será objetivo, devendo a Comissão de licitação ou o responsável pelo convite realizá-lo em conformidade com os tipos de licitação, [...] de maneira a possibilitar sua aferição pelos licitantes e pelos órgãos de controle. § 1º. Para os efeitos deste artigo, constituem tipos de licitação, exceto na modalidade concurso: (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994) I - a de menor preço - quando o critério de seleção da proposta mais vantajosa para a Administração determinar que será vencedor o licitante que apresentar a proposta de acordo com as especificações do edital ou convite e ofertar o menor preço; II - a de melhor técnica; III - a de técnica e preço. IV - a de maior lance ou oferta - nos casos de alienção de bens ou concessão de direito real de uso. (Incluído pela Lei nº 8.883, de 1994) [...] § 3º. No caso da licitação do tipo "menor preço", entre os licitantes considerados qualificados a classificação se dará pela ordem crescente dos preços propostos, [...]. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994) § 4º. Para contratação de bens e serviços de informática, a administração observará o disposto no art. 3º da Lei nº 8.248, de 23 de outubro de 1991, levando em conta os fatores especificados em seu parágrafo 2º e adotando obrigatoriamente o tipo de licitação "técnica e preço", permitido o emprego de outro tipo de licitação nos casos indicados em decreto do Poder Executivo. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994) § 5º. É vedada a utilização de outros tipos de licitação não previstos neste artigo. [...] (grifo do autor)

No entanto, o RDC inova o ordenamento ao criar novos critérios de

julgamento das propostas (contrariando, inclusive, o que determina a Lei Geral no

parágrafo 5º do artigo 45 – destacado acima): menor preço ou maior desconto,

técnica e preço, melhor técnica ou conteúdo artístico, maior oferta de preço ou maior

retorno econômico. Esses critérios são listados no artigo 18 da Lei:

Art. 18. Poderão ser utilizados os seguintes critérios de julgamento: I - menor preço ou maior desconto; II - técnica e preço; III - melhor técnica ou conteúdo artístico; IV - maior oferta de preço; ou V - maior retorno econômico. [...]

Passa-se a melhor explicá-los nas subseções que se seguem.

14

2.6.1. Menor preço ou maior desconto (art. 18, I):

Esse critério não traz diferenças significativas em relação ao que já determina

a Lei Geral em seu artigo 45, § 1º, I (já citado anteriormente), em que a proposta que

apresentar o menor preço será a vencedora. Neste caso, a novidade é em relação à

possibilidade do licitante apresentar o maior desconto em relação ao valor orçado,

hipótese em que deverá constar no edital os valores de referência (conforme

previsão do §1º do art. 6º da Lei nº 12.462/2011):

Art. 6º. [...] o orçamento previamente estimado para a contratação será tornado público apenas e imediatamente após o encerramento da licitação, sem prejuízo da divulgação do detalhamento dos quantitativos e das demais informações necessárias para a elaboração das propostas. § 1º. Nas hipóteses em que for adotado o critério de julgamento por maior desconto, a informação de que trata o caput deste artigo constará do instrumento convocatório. [...]

2.6.2. Técnica e preço (art. 18, II):

Diferencia-se substancialmente do critério de mesmo nome previsto na

Lei nº 8.666/93, no sentido de que amplia as possibilidades de sua aplicação. Isso

porque enquanto a Lei nº 12.462/2011 permite o uso do critério de técnica e preço

para todos os objetos que possam ser executados com diferentes metodologias ou

tecnologias de domínio restrito no mercado, a Lei nº 8.666/93 só admite o uso desse

critério em caráter excepcional (quando não se trate de serviços de natureza

predominantemente intelectual e de aquisição de bens e serviços de informática,

quando sempre é obrigatório – artigo 45, § 4º, conforme exposto anteriormente).

É o que traz o § 1º do art. 20 da Lei do RDC, em contraponto ao que traz o

art. 46, caput e § 3º, da Lei nº 8.666/93:

Lei nº 12.462/2011, Art. 20. No julgamento pela melhor combinação de técnica e preço, deverão ser avaliadas e ponderadas as propostas técnicas e de preço apresentadas pelos licitantes, mediante a utilização de parâmetros objetivos obrigatoriamente inseridos no instrumento convocatório. § 1º. O critério de julgamento a que se refere o caput deste artigo será utilizado quando a avaliação e a ponderação da qualidade técnica das propostas que superarem os requisitos mínimos estabelecidos no instrumento convocatório forem relevantes aos fins pretendidos pela administração pública, [...]

15

Lei nº 8.666/93, Art. 46. Os tipos de licitação "melhor técnica" ou "técnica e preço" serão utilizados exclusivamente para serviços de natureza predominantemente intelectual, em especial na elaboração de projetos, cálculos, fiscalização, supervisão e gerenciamento e de engenharia consultiva em geral e, em particular, para a elaboração de estudos técnicos preliminares e projetos básicos e executivos, ressalvado o disposto no § 4o do artigo anterior. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994) [...] § 3º. Excepcionalmente, os tipos de licitação previstos neste artigo poderão ser adotados, por autorização expressa e mediante justificativa circunstanciada da maior autoridade da Administração promotora constante do ato convocatório, para fornecimento de bens e execução de obras ou prestação de serviços de grande vulto majoritariamente dependentes de tecnologia nitidamente sofisticada e de domínio restrito, atestado por autoridades técnicas de reconhecida qualificação, nos casos em que o objeto pretendido admitir soluções alternativas e variações de execução, com repercussões significativas sobre sua qualidade, produtividade, rendimento e durabilidade concretamente mensuráveis, e estas puderem ser adotadas à livre escolha dos licitantes, na conformidade dos critérios objetivamente fixados no ato convocatório.

2.6.3. Melhor técnica ou conteúdo artístico (art. 18, III):

Aqui não possui excepcional inovação em relação à Lei nº 8.666/93. Nesta

última, em seu artigo 22, § 4º, já está previsto o uso do concurso para a seleção de

trabalhos artísticos: os licitantes somente apresentam propostas técnicas ou

artísticas, e a remuneração ou prêmio já é prefixado no instrumento convocatório da

licitação.

2.6.4. Maior oferta de preço (art. 18, IV):

O julgamento pela maior oferta de preço será utilizado no caso de contratos

que resultem em receita para a administração pública.

16

2.6.5. Maior retorno econômico (art. 18, V):

Neste, não há correlação na Lei nº 8.666/93. Tal critério seleciona a proposta

que proporcione a maior economia para a Administração Pública decorrente da

execução dos contratos de eficiência13.

2.7. Possibilidade de inversão de suas próprias fases de licitação:

O RDC adota, como regra, assim como ocorre nas licitações de modalidade

Pregão (Lei nº 10.520/2002), a realização da fase de julgamento das propostas

antes a da habilitação dos licitantes.

Disciplina a Lei em seu art. 12:

Art. 12. O procedimento de licitação de que trata esta Lei observará as seguintes fases, nesta ordem: [...] III - apresentação de propostas ou lances; IV - julgamento; V - habilitação; [...] Parágrafo único. A fase de que trata o inciso V do caput deste artigo poderá, mediante ato motivado, anteceder as referidas nos incisos III e IV do caput deste artigo, desde que expressamente previsto no instrumento convocatório.

Da leitura do dispositivo acima descrito, é possível verificar que a Lei permite

inverter suas próprias fases, desde que devidamente motivada no edital de licitação.

Ao contrário do que acontece na Lei nº 8.666/93, onde as fases possuem rígida

ordem.

2.8. Negociação das propostas após os julgamentos:

A Lei do RDC, em seu artigo 26, mais especificamente em seu parágrafo

único, disciplina que a Administração tem permissão para negociar com o licitante

13

Lei nº 12.462, Art 23, § 1o. O contrato de eficiência terá por objeto a prestação de serviços, que

pode incluir a realização de obras e o fornecimento de bens, com o objetivo de proporcionar economia ao contratante, na forma de redução de despesas correntes, sendo o contratado remunerado com base em percentual da economia gerada.

17

que apresentar o menor preço, mesmo que todas as propostas apresentas se

configurem superiores aos valores de referência.

Conforme se verifica com a leitura do referido texto legal, caso o licitante

classificado em primeiro lugar venha a se recusar a rebaixar o valor orçado para se

adequar ao(s) valore(s) de referência, a Administração desclassificará sua proposta

e poderá realizar as mesmas tratativas com os licitantes remanescentes, na ordem

dos valores apresentados:

Art. 26. Definido o resultado do julgamento, a administração pública poderá negociar condições mais vantajosas com o primeiro colocado. Parágrafo único. A negociação poderá ser feita com os demais licitantes, segundo a ordem de classificação inicialmente estabelecida, quando o preço do primeiro colocado, mesmo após a negociação, for desclassificado por sua proposta permanecer acima do orçamento estimado.

O objetivo é obter melhores condições de pagamento, de forma que se

enquadrem no orçamento.

Muito diferente ordena o § 3º do artigo 48 da Lei nº 8.666/93: no caso de

todos os licitantes obtiverem desclassificação de suas propostas ou forem

inabilitados, a Administração poderá abrir prazo para apresentação de nova

documentação ou novas propostas, conforme o caso, a fim de sanar os problemas

encontrados.

Veja-se:

§ 3º Quando todos os licitantes forem inabilitados ou todas as propostas forem desclassificadas, a administração poderá fixar aos licitantes o prazo de oito dias úteis para a apresentação de nova documentação ou de outras propostas escoimadas das causas referidas neste artigo, facultada, no caso de convite, a redução deste prazo para três dias úteis. (Incluído pela Lei nº 9.648, de 1998)

Tampouco é o que a doutrina apregoa e recomenda. Para Celso Antônio

Bandeira de Mello, as propostas que não cumprem os requisitos exigidos e

desclassificadas ficam “excluídas da disputa e a Administração não pode entrar no

mérito da conveniência que teriam [...], sequer cabe alinhá-las na seriação por

ordem de vantagens.” (2009, p. 592).

Até a promulgação da Lei do RDC, eram restritas as possibilidades de

negociação com os licitantes. Mais especificamente:

18

Lei do Pregão (Lei nº 10.520/2002), no seu artigo 4º, XVII: que prevê a

possibilidade do pregoeiro negociar com o licitante vencedor um valor

ainda menor, a fim de obter maiores vantagens econômicas14 e

Lei nº 8.666/93, artigo 46, § 1º, II: em que o licitante com a melhor

proposta técnica será convocado a reduzir o valor de sua proposta de

preço até o valor da proposta do licitante que apresentou o menor

valor15.

2.9. Fase recursal única

Diferentemente do que dispõe a Lei 8.666/93, que prevê oportunidades de

recursos em várias fases do procedimento licitatório, o “art. 27 da Lei do RDC, em

harmonia com a sistemática, adotada em outros dispositivos, de precedência

temporal da fase de julgamento das propostas, prevê fase recursal única para as

licitações, nos moldes do que se dá na modalidade de pregão.” (REZENDE, 2011,

p. 36).

Dessa feita, a fase recursal deverá ser utilizada pelos interessados para o

questionamento dos problemas encontrados em todas as demais fases que a

precederam.

Quando não ocorrer inversão de fases na licitação (conforme já estudado na

seção 2.7 do presente trabalho), a fase recursal se dará após a habilitação do

licitante vencedor.

Disciplina o artigo 27:

Art. 27. Salvo no caso de inversão de fases, o procedimento licitatório terá uma fase recursal única, que se seguirá à habilitação do vencedor.

14

Lei nº 10.520/2002, art. 4º, XVII - nas situações previstas nos incisos XI e XVI, o pregoeiro poderá negociar diretamente com o proponente para que seja obtido preço melhor; 15 Lei nº 8.666/93, art. 46, § 1º, II - uma vez classificadas as propostas técnicas, proceder-se-á à abertura das propostas de preço dos licitantes que tenham atingido a valorização mínima estabelecida no instrumento convocatório e à negociação das condições propostas, com a proponente melhor classificada, com base nos orçamentos detalhados apresentados e respectivos preços unitários e tendo como referência o limite representado pela proposta de menor preço entre os licitantes que obtiveram a valorização mínima;

19

Parágrafo único. Na fase recursal, serão analisados os recursos referentes ao julgamento das propostas ou lances e à habilitação do vencedor.

Todavia, caso motivadamente a Administração opte por inverter as fases da

licitação (o que deverá ser expressamente informado no edital), ocorrerá duas fases

recursais distintas (após o julgamento das habilitações dos licitantes e após o

julgamento das respectivas propostas).

Tal conclusão é ratificada por William Romero: trata-se de “consequência lógica

da ordem de fases adotada, bem como da clara dicção do art. 58 do Decreto nº

7.581, bem como do art.27, da Lei nº 12.462, que condiciona a fase recursal única à

observância da regra geral do RDC [...]”. (ROMERO, 2012).

Além disso, os licitantes que pretendem ingressar com algum recurso,

deverão manifestar sua intenção após o término de cada sessão do procedimento,

sob pena de perda do direito. Esta determinação vem expressa no artigo 45 da Lei,

que ainda esclarece em que situações é possível manifestar intenção de recurso:

Art. 45. Dos atos da administração pública decorrentes da aplicação do RDC caberão:[...] II - recursos, no prazo de 5 (cinco) dias úteis contados a partir da data da intimação ou da lavratura da ata, em face: a) do ato que defira ou indefira pedido de pré-qualificação de interessados; b) do ato de habilitação ou inabilitação de licitante; c) do julgamento das propostas; d) da anulação ou revogação da licitação; e) do indeferimento do pedido de inscrição em registro cadastral, sua alteração ou cancelamento; f) da rescisão do contrato, nas hipóteses previstas no inciso I do art. 79 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993; g) da aplicação das penas de advertência, multa, declaração de inidoneidade, suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de contratar com a administração pública; [...] § 1º. Os licitantes que desejarem apresentar os recursos de que tratam as alíneas a, b e c do inciso II do caput deste artigo deverão manifestar imediatamente a sua intenção de recorrer, sob pena de preclusão.

Outro ponto relevante da Lei do RDC que a diferencia da Lei Geral no quesito

recursos é o fato de não prever o efeito suspensivo por ocasião dos recursos,

independente de ter ocorrido inversão de fases (em que há possibilidade de ocorrer

mais de uma oportunidade de interpor recurso). Todavia, o encerramento do

procedimento licitatório só poderá ocorrer após a apreciação e julgamento dos

recursos interpostos (ROMERO, 2012), é o que fica claro na redação do artigo 28:

20

“Exauridos os recursos administrativos, o procedimento licitatório será encerrado e

encaminhado à autoridade superior [...]”.

2.10. Publicidade do edital de licitação:

O RDC vem mais uma vez inovando os procedimentos licitatórios quando trata

da forma de publicação do instrumento convocatório. Pela Lei do RDC, a

Administração é dispensada de publicar o edital na imprensa oficial em

determinados casos.

Outrossim, prevê a possibilidade de publicação do extrato do instrumento

convocatório em site da internet (o que não ocorre na Lei Geral).

Determina a Lei nº 12.462/2011:

Art. 15. Será dada ampla publicidade aos procedimentos licitatórios e de pré-qualificação disciplinados por esta Lei, ressalvadas as hipóteses de informações cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, [...] § 1º. A publicidade a que se refere o caput deste artigo, sem prejuízo da faculdade de divulgação direta aos fornecedores, cadastrados ou não, será realizada mediante: I - publicação de extrato do edital no Diário Oficial da União, do Estado, do Distrito Federal ou do Município, ou, no caso de consórcio público, do ente de maior nível entre eles, sem prejuízo da possibilidade de publicação de extrato em jornal diário de grande circulação; e II - divulgação em sítio eletrônico oficial centralizado de divulgação de licitações ou mantido pelo ente encarregado do procedimento licitatório na rede mundial de computadores. (grifo do autor) § 2º. No caso de licitações cujo valor não ultrapasse R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) para obras ou R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) para bens e serviços, inclusive de engenharia, é dispensada a publicação prevista no inciso I do § 1º deste artigo. (grifo do autor) § 3º No caso de parcelamento do objeto, deverá ser considerado, para fins da aplicação do disposto no § 2º deste artigo, o valor total da contratação.

O maior destaque quanto às inovações que traz esse dispositivo reside no

seu parágrafo § 2º, que dispensa a publicação do extrato do edital nos diários

oficiais.

21

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Notadamente editadas com o intuito de promover maior celeridade nas

contratações públicas que envolverão os jogos da Copa das Confederações de

2013, da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016

no Brasil, a Lei nº 12.462, de 05/08/2011, juntamente com seu regulamento

especifico, o Decreto nº 7.581, de 11/10/2011, promoveram uma série de inovações

no campo das contratações públicas.

As referidas normas vêm trazendo uma série de novidades que, combinadas,

criam uma nova modalidade de licitação, assim como ocorreu com o pregão, não

abandonam completamente os enunciados da Lei nº 8.666/93, fazendo dela de

suporte para determinadas diretrizes. Além disso, determinados dispositivos ainda

ampliam certas regras que já são previstas na Lei Geral.

Um dos pontos destacados nesse estudo foi quanto à publicidade dos

orçamentos. Apesar dos valores de referência poderem ser divulgados apenas no

encerramento do processo licitatório, verificou-se que a doutrina diverge no quesito

quanto à obediência à Constituição e demais normas legais quanto ao princípio da

publicidade. Para determinados doutrinadores, a publicidade de todos os atos da

licitação deve ocorrer desde a sua abertura. Para outros, o princípio da publicidade

não é ferido nesse caso, uma vez que é possível ao legislador determinar em que

momento a lei de licitações permite dar publicidade a determinados atos.

É preciso lembrar de que o sigilo dos orçamentos é transitório, e que os

órgãos de controle têm acesso a eles. A justificativa para a adoção do sigilo dos

orçamentos é a busca por preços menores nas propostas dos licitantes, pois estes

elaborariam suas propostas com base nos valores de mercado, sem influência dos

valores orçados pela Administração. Configura-se essa característica do RDC como

uma inovação no ordenamento.

Outro ponto interessante é o fato de que, na hipótese de desistência do

licitante vencedor em contratar com a Administração, esta última poder convocar os

licitantes remanescentes sem a necessidade de que estes sejam contratados

22

obrigatoriamente pelo valor do orçamento obtido com o primeiro colocado – o que

poderia frustrar a licitação, já que os demais licitantes podem não aceitar a redução

de suas propostas. Mais uma vez, a celeridade do trâmite da contratação foi

priorizada, o que não acontece no modelo até então regulado pela Lei nº 8.666/93,

constituindo-se em mais uma inovação nos procedimentos licitatórios.

Há, ainda, a possibilidade de ocorrer no RDC a chamada contratação

integrada. Nas obras e serviços de engenharia é permitida a contratação de uma

única empresa licitante para executar toda a demanda – desde a elaboração e

desenvolvimento dos projetos básico e executivo correspondentes até a execução

final do objeto. Fato impossível de ocorrer caso seja invocada a Lei 8.666/93 nos

editais de licitação. Para a Lei Geral, só poderá ser licitados os objetos que já

possuem um projeto básico e/ou executivo previamente aprovados, e estes últimos

deverão fazer parte do edital de licitação. Mais uma vez, o RDC introduz no

ordenamento inovadoras diretrizes.

Outra novidade advinda com o RDC é a possibilidade de remunerar o

contratado de acordo com seu desempenho, característica essa muito utilizada no

âmbito do direito privado, onde a contratada recebe maior ou menor remuneração de

acordo com seu rendimento. Nesse caso percebe-se, mais uma vez, a preocupação

do legislador em conferir aos serviços e obras necessárias a realização dos eventos

abrangidos pelo RDC a maior celeridade possível e preocupação com os critérios de

qualidade definidos no edital.

Ademais, o RDC trouxe à Administração a discricionariedade quanto ao

procedimento de avaliação das propostas e da documentação de habilitação dos

licitantes. Abriu-se a possibilidade de escolha do rito que melhor de adéque ao

objeto, julgando-se as propostas e posteriormente os documentos de habilitação ou

vice-versa. Acrescenta-se, ainda, novos critérios de julgamento das propostas dos

concorrentes e os que já eram previstos na Lei Geral foram aperfeiçoados,

garantindo nessa nova modalidade de licitação alternativas diferenciadas de aferição

da melhor licitante para contratação.

Outrossim, a exemplo do que já ocorre com os pregões, o RDC possibilita

uma única fase de recursos (quando não há inversão de suas fases, hipótese em

23

que haverá fase de recursos para a habilitação e para as propostas). É claro aqui

que o legislador procurou, mais uma vez, conferir maior dinamismo ao rito licitatório

para obter com a maior brevidade possível a definição da melhor proposta.

Com tudo isso, verifica-se que o RDC, implantado no ano de 2011, confere

maior dinamismo às contratações dos objetos que se destinam a oferecer a

infraestrutura necessária à realização dos eventos previstos no seu artigo 1º, uma

vez que acaba por suprimir formalidades excessivas prevista na legislação e cria

novas diretrizes ou aperfeiçoando as já existentes.

Porém, é preciso lembrar que apesar do RDC proporcionar um processo

licitatório mais célere, não abre a possibilidade de deixar em segundo plano a busca

da proposta mais vantajosa, obedecendo-se sempre aos princípios constitucionais

que norteiam os atos da Administração Pública. Talvez pela exigüidade de tempo, o

legislador preferiu criar uma nova modalidade de licitação, específica e com tempo

determinado, a propor e discutir alterações na Lei Geral, que poderiam ser

aproveitadas e utilizadas nas contrações seguintes.

24

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