As influências da Internet nas fronteiras do campo político e da mídia: Uma análise com enfoque...

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¹ Pós-graduação em Business Intelligence (IESB/Brasília) e mestrando em Ciência Política (CEFOR/Câmara dos Deputados). Email: [email protected] As influências da Internet nas fronteiras do campo político e da mídia: Uma análise com enfoque no papel mediador de parlamentares e mídia Autor: Gustavo Warzocha Fernandes Cruvinel¹ Resumo: Utiliza o conceito de campo de Pierre Bordieu para analisar as influências da Internet nas fronteiras do campo político e da mídia. Para isso, analisa as mudanças de comportamento dos agentes envolvidos com o advento da Internet e o comportamento dos parlamentares na mídia social Twitter. Palavras-chave: campo político, campo da mídia, Internet, redes sociais digitais, Twitter. Abstract: It uses the concept of Pierre Bourdieu field to analyze the influence of the Internet on the borders of the political field and the media. For this, it analyzes the changes in behavior of the agents involved with de advent of the Internet and the behavior of parliamentarians on social media Twitter. Keywords: political field, media field, Internet, digital social networking, Twitter. 1-INTRODUÇÃO A Internet aumentou a capacidade de comunicação e disseminação de informações da sociedade. Desde o seu surgimento ela vem sendo utilizada por políticos, partidos e instituições na tentativa de aumentar a interação com os cidadãos. Os estudos sobre política e internet são complexos e multifacetados, mas apontam para duas direções básicas. A primeira explora os potenciais da internet, em uma perspectiva otimista, com as possibilidades de interação, participação, transparência e maior aproximação entre representantes e representados. Conforme analisado em SIMÕES (2009), Manuel Castells e Pierre Lévy são autores que seguem essa visão.

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¹ Pós-graduação em Business Intelligence (IESB/Brasília) e mestrando em Ciência Política

(CEFOR/Câmara dos Deputados). Email: [email protected]

As influências da Internet nas fronteiras do campo político e da mídia:

Uma análise com enfoque no papel mediador de parlamentares e mídia

Autor: Gustavo Warzocha Fernandes Cruvinel¹

Resumo: Utiliza o conceito de campo de Pierre Bordieu para analisar as influências da Internet

nas fronteiras do campo político e da mídia. Para isso, analisa as mudanças de comportamento

dos agentes envolvidos com o advento da Internet e o comportamento dos parlamentares na

mídia social Twitter.

Palavras-chave: campo político, campo da mídia, Internet, redes sociais digitais, Twitter.

Abstract: It uses the concept of Pierre Bourdieu field to analyze the influence of the Internet on

the borders of the political field and the media. For this, it analyzes the changes in behavior of

the agents involved with de advent of the Internet and the behavior of parliamentarians on social

media Twitter.

Keywords: political field, media field, Internet, digital social networking, Twitter.

1-INTRODUÇÃO

A Internet aumentou a capacidade de comunicação e disseminação de informações da

sociedade. Desde o seu surgimento ela vem sendo utilizada por políticos, partidos e instituições

na tentativa de aumentar a interação com os cidadãos.

Os estudos sobre política e internet são complexos e multifacetados, mas apontam para

duas direções básicas.

A primeira explora os potenciais da internet, em uma perspectiva otimista, com as

possibilidades de interação, participação, transparência e maior aproximação entre

representantes e representados. Conforme analisado em SIMÕES (2009), Manuel Castells e

Pierre Lévy são autores que seguem essa visão.

A segunda, por sua vez, ancorada em estudos empíricos, apresenta diagnósticos

pessimistas, ao concluir que as ferramentas digitais são pouco ou subutilizadas pelos atores

políticos e pelos cidadãos. Nessa linha, diversos estudos, entre eles o de NORRIS (2003),

mostram que o potencial da Internet para o aumento da interatividade entre instituições políticas

e cidadãos tem sido subutilizado. Websites de partidos e políticos são utilizados na maioria das

vezes para prover informações de maneira unidirecional assim como o fazem o rádio e a

televisão.

O surgimento das redes sociais digitais (RSDs), como exemplo temos o Twitter e

Facebook, aumentaram ainda mais o potencial da Internet para interação. Da mesma que nos

estudos sobre Internet, o surgimento dessas redes reforçou o otimismo para alguns autores que

seguiam essa linha, mas os estudos empíricos reforçaram que as instituições políticas

subutilizam o potencial de interação dessas redes e as usam predominantemente para

disseminação de informações.

O objetivo desse trabalho é analisar as influências da Internet no jogo político e no

comportamento de seus agentes. Essa análise irá desconsiderar o momento eleitoral e as

manifestações populares. Utilizaremos o conceito de campo, conforme definido por Pierre

Bordieu e analisaremos os potencias da internet para influenciar as fronteiras dos campos da

política e da mídia. O objetivo é mostrar que a Internet atua de forma periférica alterando o

comportamento de parlamentares e mídia em seus respectivos campos, mas não adquirindo

ainda centralidade na tomada de decisão nem tampouco na formação do capital político. O

trabalho foi dividido em seis seções, seguidas de uma conclusão, sendo a primeira esta

introdução.

Na seção 2 apresentaremos as relações das mídias tradicionais e as possibilidades

trazidas pela internet. Na seção 3 mostraremos a relação entre campo político e campo da mídia.

Na seção 4 mostraremos como os parlamentares tem usado a internet para ganhar visibilidade e

se esse uso tem alterado efetivamente as fronteiras dos campos político e da mídia. Iremos

analisar especificamente a atuação parlamentar na rede social Twitter. Na seção 5 iremos

descrever algumas tentativas de institucionalização das atividades através da Internet.

2-MÍDIA E INTERNET

A evolução tecnológica da mídia ao longo do século XX modificou todo ambiente

político. O surgimento do rádio e posteriormente a televisão modificou o contato entre líderes

políticos e sua base, a relação dos cidadãos com as questões públicas e até mesmo o processo de

governo (MIGUEL, 2002).

A mídia é um fator central da vida política contemporânea (MIGUEL, 2002). Isso

ocorre porque os representantes políticos necessitam da mídia para se comunicar com suas bases

e também porque esta tem um papel fundamental na formação da imagem dos representantes.

A lógica de funcionamento do rádio, televisão e imprensa escrita, o que chamaremos

aqui de mídia convencional, provê um grande poder a esses meios na divulgação de

informações e consequente mediação política. De um lado, os representantes políticos precisam

se fazer notáveis para ganhar espaço nessas mídias. De outro, os cidadãos são receptores de

informações, já filtradas e com determinado enfoque, sem muitas possibilidades de intervenção

no modo de produção informativa.

O surgimento da internet e das RSDs colocou novas possibilidades nesse jogo. Esses

novos meios permitem que todos os agentes sejam produtores potenciais de informações. Além

disso, permitem uma interação direta entre representantes e cidadãos. Considerando que os

meios de comunicação são uma esfera da representação política e que as mídias convencionais

reproduzem mal a diversidade social (MIGUEL, 2002), as possibilidades trazidas pela internet,

em um primeiro momento, parecem contribuir para uma maior diversidade na difusão das

visões de mundo. Além disso, potencialmente, podem fornecer oportunidades para uma maior

participação e influência da sociedade nas decisões políticas.

Conforme relatado por RODRIGUES (2010), sobre uma pesquisa feita por Figueiredo e

Limongi, em 1996, apenas 18% dos deputados federais afirmavam que a sociedade civil tinha

muita influência. Já no que se refere a imprensa, 82% afirmavam que esta possuía muita

influência. Será que nos dias atuais, com o advento da Internet, essa percepção mudou?

Acreditamos que a imprensa ainda exerça forte influência, mas esperamos que os percentuais

em relação às influências da sociedade civil tenham subido.

3-CAMPO POLÍTICO e CAMPO DA MÍDIA

O conceito de campo permite entender a interação entre mídia

e política, duas esferas que se guiam por lógicas diferentes, mas que

interferem uma na outra. O campo político é, segundo a definição de

Bourdieu, “o lugar em que se geram, na concorrência entre os agentes

que nele se acham envolvidos, produtos políticos, problemas,

programas, análises, comentários, conceitos, acontecimentos, entre os

quais os cidadãos comuns, reduzidos ao estatuto de ‘consumidores’,

devem escolher”. Todo campo se define pela imposição de critérios

próprios de avaliação da realidade, em especial pela fixação de

objetivos que se apresentam como “naturais” para aqueles que deles

participam — neste caso, a busca do poder político.

O campo da mídia e o campo da política tem sua própria lógica de funcionamento, mas

são interdependentes entre si e, pode-se dizer que funcionam de maneira simbiótica. A

visibilidade no campo da mídia é essencial para formação do capital político e isso gera uma

dependência dos atores do campo político em relação a mídia. Da mesma forma os agentes do

campo midiático dependem de respaldo dos agentes políticos para que possam se sobressair no

seu próprio campo. Além disso, devemos lembrar que os campos da política e da mídia sofrem

pressões do mercado, mas que apesar disso conseguem manter sua própria lógica e autonomia

em relação a ele (MIGUEL, 2002).

Conforme colocado por MIGUEL (2002), o capital político é uma espécie de capital

simbólico, ou seja, depende mais de reconhecimento dos próprios pares e dos eleitores do que

de outros fatores como, por exemplo, a quantidade de votos ou o poder econômico¹. Agentes

que se posicionam melhor no campo político recebem maior atenção da mídia e conseguem

orientar o noticiário e, por consequência, a agenda pública através de entrevistas e declarações.

Atores situados na periferia teriam mais dificuldades para inserir um novo item na agenda

pública. Dessa forma, percebemos que a mídia acaba refletindo as relações de poder

estabelecidas no campo político e seus agentes acabam criando uma relação de dependência

com os atores políticos em postos mais altos.

O que tentaremos mostrar na próxima seção é até que ponto a Internet e as RSDs

reforçam as oportunidades para uma maior pluralidade de participação no jogo político.

4-AS INFLUÊNCIAS DA INTERNET

No conceito de democracia de público, estabelecido por Bernard Manin, os partidos

perderam centralidade no processo de mediação política e esse espaço foi ocupado pelos meios

de comunicação de massa. Como consequência temos o surgimento do eleitor flutuante e um

novo fórum que são as mídias. A questão que colocamos aqui é se o surgimento da Internet e

das RSDs tem fornecido novos fóruns de participação para esse novo tipo de eleitor.

Para responder a essa questão iremos verificar a atuação e tendências de comportamento

dos parlamentares na rede social Twitter. A escolha dessa rede se deve primeiro ao modo de

discurso que ela permite, pois ela é configurada para mensagens (chamadas tweets) rápidas e

¹Isso não significa desprezar ou desconsiderar a relevância desses aspectos para a eleição dos

representantes, mas queremos ressaltar aqui a importância do poder simbólico, que é uma

das chaves da leitura de Bourdieu.

sucintas (SILVA, 2012). Essa característica foi considerada importante pois é muito similar a

fragmentação do discurso ocorrido na televisão e relatada no trecho abaixo.

Já a fragmentação do discurso não é uma imposição técnica da

televisão — nada impede que seja transmitida uma fala

ininterrupta de duas ou três horas — mas fruto dos usos que se

fizeram dela. O resultado é que a fala padrão de um entrevistado

num telejornal, por exemplo, é de poucos segundos e as

expectativas dos telespectadores se adaptaram a essa regra.

Os políticos, por consequência, também. Abreviar a fala,

reduzi-la a umas poucas palavras, de preferência “de efeito”,

tornou-se imperativo para qualquer candidato à notoriedade

midiática (MIGUEL, 2002).

Além disso, a pretensão dessa rede é de chegar em qualquer celular via Internet ou

SMS. Isso alivia em grande parte a exclusão digital que ainda temos no Brasil. Outra vantagem

é que as mensagens repercutem instantaneamente o que demoraria horas ou dias para aparecer

nas mídias convencionais (SILVA, 2012).

Por último, e não menos relevante, temos o fato de essa rede simular melhor as

afinidades por tema e não necessariamente entre “amigos”. Um usuário A pode seguir um

usuário B, e B não seguir A (SILVA, 2012). Essa lógica parece modelar melhor as relações

entre parlamentares e cidadãos do que as lógicas de outras redes sociais como o Facebook, por

exemplo.

4.1-O USO DO TWITTER PELOS PARLAMENTARES

Estudos recentes, como MARQUES (2014) e SILVA (2012), têm analisado o perfil e

atuação dos parlamentares brasileiros no Twitter. Nessa seção, utilizaremos os achados do

trabalho de SILVA (2012), para mostrar como os parlamentares brasileiros tem incorporado o

Twitter em seus processos de comunicação política.

Segundo trecho de David Carr, transcrito por SILVA (2012): “No começo, o Twitter

pode ser esmagador, mas pense nisso como um rio de informações que passam correndo

e onde se mergulha um copo de vez em quando”. Analisando o trabalho da autora

parece ser esse o uso atual que os parlamentares brasileiros fazem da ferramenta.

Uma das revelações do trabalho, conforme mostrado na figura 1, é que os

parlamentares têm usado o Twitter predominantemente para, na ordem de relevância,

prestar contas, obter informações e aumentar a visibilidade.

Figura 1 – O que os parlamentares brasileiros buscam no Twitter

Fonte: SILVA (2012)

Em relação a prestação de contas a autora ressalta que a medida que isso se

tornar um padrão entre os parlamentares aqueles que não o fizerem poderão perder

capital político. Percebemos aqui que a padronização do uso da Internet e das RSDs em

determinadas atividades parlamentares pode exercer influência direta sobre o campo

político.

No que se refere a obtenção de informações, vários deputados revelaram que

utilizam ferramentas para esse fim, mas não foi verificado se existe a pretensão de

algum deles em monitorar em tempo real o “rio inteiro”, utilizando para isso recursos de

big data e análise semântica.

Em relação a visibilidade, alguns parlamentares informaram usar o Twitter para

fazer relacionamentos e manter o eleitor informado pois não possuem esse espaço na

mídia convencional. Um desses relatos foi o de Anthony Garotinho (retirado de SILVA

(2012)):

Muitos se perguntam onde o Garotinho consegue fazer

relacionamentos e manter seu eleitor informado, apesar

dos ataques da Globo e, principalmente, dos meios de

comunicação que agem hoje como se fossem partidos

políticos.

Sr. Presidente, esse trabalho que eu comecei em 2003

faz com que eu tenha hoje, apenas em meu Twitter

@blogdoGarotinho, 70 mil seguidores (...) Não tendo a

colaboração dos jornais e da TV para divulgar meu

trabalho, restam me os Blogs, o site e o Twitter.

(Deputado Anthony Garotinho, em 01 de fevereiro de

2011).

Em relação as influências do campo econômico sobre a mídia e as possiblidades que a

Internet oferece para uma maior pluralidade das visões de mundo temos o relato do deputado

Nazareno Fonteles (retirado de SILVA (2012)):

Ontem, tive oportunidade de expressar o meu

posicionamento. Aproveitei as notas taquigráficas,

mesmo sem a minha revisão, e as coloquei no Twitter

para que outros retuítassem, como aconteceu com

alguns jornalistas, que, de forma mais independente,

fizeram isso. Há, de fato, um debate, vamos dizer assim,

sobre a divulgação dos fatos pelos grandes meios de

comunicação.

Eles não noticiam o lado dos estudantes, apenas o dos

empresários e da Prefeitura (...) E finalizo, Sr.

Presidente, destacando a importância das redes

sociais - do Twitter, do Facebook - na mão da juventude

(...) Hoje mesmo as TVs, segundo informações que

pude ver pelo Twitter da minha assessoria, não

permitiram que os líderes estudantis fossem

entrevistados; só estão ouvindo o outro lado (Deputado

Nazareno Fonteles, em 02 de setembro de 2011).

O relato da atuação desses dois parlamentares se propõe apenas a mostrar algumas

oportunidades que a inclusão da Internet e das RSDs vêm provendo para a comunicação política

de alguns parlamentares. A medida que esses meios forem sendo incorporados à vida diária da

população brasileira, potencialmente, todos os eleitos poderão se comunicar com seu eleitorado

através dela. Porém, o que vemos atualmente, através dos estudos empíricos realizados, é que a

adoção desses meios tem sido lenta e com pouca influência na tomada de decisão política.

Na próxima seção mostraremos algumas tentativas de institucionalizar o uso de

ferramentas digitais online no meio político.

5-FERRAMENTAS PARA PARTICIPAÇÃO SÓCIODIGITAL

Da mesma forma que os parlamentares têm adotado gradualmente o uso da Internet e

das RSDs em sua atuação, as instituições públicas também têm acrescentado esse uso às suas

atividades para melhorar a interação com a sociedade. Como exemplo, podemos citar o

programa E-democracia na Câmara dos Deputados e o programa Interlegis do Senado Federal.

Conforme descrito por FARIA (2012) o portal E-democracia possui os seguintes

objetivos:

O portal e-Democracia da Câmara dos

Deputados é um espaço virtual, interativo, com

interface amigável, criado para estimular cidadãos e

organizações civis de todo tipo e interesse a

contribuírem na formulação de leis federais, assim

como para auxiliar os deputados no trabalho de

fiscalização e controle. Permite à sociedade brasileira

participar do processo legislativo pela internet por meio

de: a) compartilhamento de informações, estudos e

outros conteúdos, na forma escrita ou audiovisual, que

sejam úteis à discussão dos projetos de lei; b)

participação do processo deliberativo nos fóruns de

discussão; c) organização de redes sociais temáticas

para fins legislativos; e d) apresentação de propostas de

texto legislativo, construídas de forma colaborativa, a

fim de subsidiar o trabalho dos deputados na tomada de

decisão (FARIA, 2012).

O programa Interlegis apresenta em seu portal o seguinte objetivo:

Seu objetivo é fortalecer o Poder Legislativo brasileiro

por meio do estímulo à modernização, integração e

cooperação das casas legislativas nas esferas federal,

estadual e municipal. Para isso, disponibiliza

gratuitamente vários produtos e serviços para as

Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais

como cursos à distância, treinamentos presenciais e

ferramentas tecnológicas (PORTAL INTERLEGIS,

1997).

As ferramentas citadas acrescentaram uma porosidade ao estado e fornecem novas

oportunidades de participação para a sociedade através de meios digitais. A medida que seu uso

for disseminado, tanto na sociedade, como por seus representantes, a tendência e que elas

aumentem também a influência na formação do capital político.

6-CONCLUSÃO

A mídia convencional exerce uma forte influência sobre o campo político e é, da mesma

forma, influenciada por ele.

O surgimento da Internet e das RSDs oferece novas oportunidades para que

parlamentares possam se comunicar diretamente com seu eleitorado através da prestação de

contas, obtenção de informações e aumento de visibilidade. Apesar disso, estudos empíricos

realizados no Twitter revelam que a atuação dos parlamentares nessa mídia ainda é bem recente

e tem pouca influência no processo de tomada de decisão.

As ferramentas de participação sóciodigital criadas pelo estado tentam aumentar a

interação com a sociedade e institucionalizar a participação popular através das novas mídias.

Apesar de conseguir inserir uma porosidade nos processos de tomada de decisão, o seu uso

ainda não se popularizou na sociedade e nem no meio político.

As hipóteses para o baixo uso dos potencias oferecidos pelas novas mídias são diversas.

De um lado temos uma sociedade com alta exclusão digital – pouco mais de 60 por cento da

população tem acesso à Internet segundo últimas pesquisas realizadas pelo IBGE – e pouco

engajamento em assuntos relacionados a política. De outro lado parece termos uma cultura

parlamentar ainda pouco participativa. Talvez por esse motivo, os representantes ainda não se

interessem pelo estabelecimento de formas sistemáticas e institucionalizadas para aproveitar a

potencial inteligência coletiva que viria dessas novas mídias. Outra possibilidade seria que uma

eventual abertura poderia dificultar a mediação e o atendimento de interesses de determinados

grupos dominantes.

A análise dessas e de outras possiblidades serão realizadas com mais profundidade em

estudos futuros. A importância do fator tecnológico tende a crescer a medida que as novas

mídias forem sendo incorporadas, principalmente aos setores mais carentes da sociedade, mas

deve sempre ser analisada em conjunto com fatores socais, econômicos e políticos.

REFERÊNCIAS

FARIA, Cristiano Ferri Soares de. O Parlamento aberto na era da internet. Pode o povo

colaborar com o Legislativo na elaboração das leis? Brasília. 2012.

NORRIS, P. Preaching to the Converted? Pluralism, Participation and Party WebSites. Party

Politics, v. 9, n. 1, 2003, p. 21-45.

MARQUES, Francisco Paulo Jamil Almeida. Parlamentares, representação política e redes

sociais digitais: perfis de uso do Twitter na Câmara dos Deputados. In: Opin. Publica vol.20

no.2. Campinas. 2014.

MIGUEL, Luís Felipe. OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A PRÁTICA POLÍTICA. LUA

NOVA Nº 55 – 56. 2002.

PORTAL INTERLEGIS. Disponível em: http://www.interlegis.leg.br/institucional/o-que-

fazemos-1. Acesso em 04/06/2014.

RODRIGUES, Malena Rehbein. O PAPEL DA IMPRENSA NA QUALIDADE

DEMOCRÁTICA – UMA ANÁLISE DE POSSIBILIDADES NOS PRINCIPAIS JORNAIS

NACIONAIS. Brasília. 2010.

SILVA, Talita Victor. O USO DO TWITTER PELOS DEPUTADOS FEDERAIS

BRASILEIROS: estudo sobre atuação e tendências de comportamento. Brasília. 2012.

SIMÕES, Isabella de Araújo Garcia. A Sociedade em Rede e a Cibercultura: dialogando com o

pensamento de Manuel Castells e de Pierre Lévy na era das novas tecnologias de comunicação.

In: Revista Eletrônica Temática. Ano V. 2009.