A Utilização do Facebook como Suporte ao Aprendizado Presencial: a visão dos alunos
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A UTILIZAÇÃO DO FACEBOOK COMO SUPORTE AO
APRENDIZADO PRESENCIAL: A VISÃO DOS ALUNOS
SOARES, Luciano de Sampaio1 - UTP
MACHADO, Mércia Freire Rocha Cordeiro2 - PUCPR
Grupo de Trabalho - Comunicação e Tecnologia
Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este artigo é parte dos resultados obtidos numa pesquisa intitulada “O Facebook como Ferramenta para Aprendizagem Híbrida: um estudo de caso em cursos técnicos de fotografia”, apresentada em forma de monografia para o Curso de Pós-Graduação Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação – Teoria e Prática da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Caracteriza-se como um trabalho científico original quanto à natureza; como um estudo de caso quanto aos procedimentos e ao objeto e qualitativa quanto à forma de abordagem. Envolveu 38 alunos de uma turma do curso técnico em Processos Fotográficos integrado ao ensino médio de uma Instituição Federal de Educação na cidade de Curitiba que cursaram as disciplinas Teoria das Cores, Equipamentos Fotográficos e Laboratório de Criatividade no segundo semestre de 2011. Apresenta como finalidade examinar a percepção objetiva dos alunos sobre a utilização do facebook como suporte ao aprendizado presencial e se sustenta teoricamente pelos autores: Almeida (2009), Ferreira, Corrêa e Torres (2012), Köse (2010), Mattar (2008), Moran (2000), Morin (2002), Primo (2003), Recuero (2009) e Souza e Schneider (2012) entre outros. Para o desenvolvimento desta metodologia, os alunos assistiam aulas presenciais e realizavam as interações e as postagens das atividades por meio de um grupo fechado no Facebook intitulado: Integrado Processos Fotográficos. Durante o processo pedagógico foram observados os comentários, as interações e a participação dos alunos. Para avaliar a efetividade da proposta, aplicou-se um questionário aos alunos através do Google Docs cujas respostas resultaram em opiniões favoráveis à utilização da plataforma, ressalvas quanto à atuação do professor e discordâncias em relação ao modelo utilizado no estudo. Analisando as críticas dos alunos participantes e também observando criticamente as atividades desempenhadas pelo professor, identificou-se estratégias que permitem melhor aproveitamento do ambiente virtual disponível no Facebook, com o intuito inclusive de melhorar o relacionamento professor-aluno em sala de aula presencial. Palavras-chave: Facebook. Rede social. Processo pedagógico. Aprendizagem.
1 Mestrando em Comunicação e Linguagens na Universidade Tuiuti do Paraná, e-mail: [email protected] 2 Doutoranda em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, PR - Brasil, e-mail: [email protected]
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Introdução
Educar para aprender a aprender é o novo desafio posto para os educadores, e exige do
docente, segundo Moran (1999, p. 1), “muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de
grupo, menos conteúdos fixos e propostas mais abertas de pesquisa e comunicação”. Outros
autores, como Moraes (1997) e Morin (2002), defendem que o conhecimento deixe de ser
visto como estanque e absoluto para ser concebido como um processo, algo em constante
transformação, um “sistema” ou uma “rede” onde os “problemas” da humanidade estão
interligados e são interdependentes.
Para que a utilização de recursos das tecnologias de informação e comunicação (TICs)
seja devidamente integrada às praticas pedagógicas atuais e possibilitem à escola responder ao
desafio mencionado, segundo Almeida (2009, p. 82),
[...] é preciso ir além do acesso, integrando significativamente os recursos tecnológicos e midiáticos, criando condições para que alunos e demais membros da comunidade escolar possam se expressar por meio das múltiplas linguagens, dominar operações e funcionalidades das tecnologias.
Com esta motivação, segundo Souza e Schneider (2012), é preciso planejamento e que
o professor se torne, ele mesmo, usuário das ferramentas disponíveis na Internet. Para tanto,
participar de comunidades e redes sociais é o primeiro passo para essa apropriação, afinal, é
impossível utilizar com precisão uma ferramenta que não se conhece. É durante esta
apropriação que o erro oriundo da prática oferece as possibilidades que Schön (2000) defende
surgem a partir da reflexão sobre a ação, seja no entendimento próprio do docente, seja na
interação com outros profissionais.
Já Souza e Schneider (2012) ressaltam que as possibilidades de interação, criação e
recepção hipertextual se agregam em redes sociais online – plataformas dinâmicas e em
constante mudança – que, para Recuero (2009), permitem a atualização constante de
conteúdos, disponibilizados por seus próprios integrantes, de forma cooperativa e em tempo
real. Dentro do universo dos aplicativos de redes sociais online em uso, a escolha pelo
Facebook como plataforma para este estudo se deu principalmente pela variedade de
ferramentas concentrada pelo site americano, que permitem um grau de interação variado. No
entanto, segundo Primo (2003, p. 98),
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[...] de forma alguma se pretende aqui negar que as redes informáticas possam mediar interações cujas características são aquelas da comunicação interpessoal. Ou seja, não se pode discordar da mediação tecnológica das chamadas interações ‘um-um’ (através do e-mail e mensageiros instantâneos, por exemplo) e ‘todos-todos’ (como nas listas de discussão).
Ou seja, uma vez que o Facebook concentra em sua estrutura ferramentas que
permitem a troca de informação e experiência em tempo real pelo mensageiro instantâneo e
assíncrona nos grupos fechados – que fazem às vezes das listas de discussão mencionadas na
citação acima –, além de álbuns de fotografia e sistemas para troca de endereços de internet e
arquivos, a plataforma reúne em um sistema apenas todas as facilidades necessárias para o
desempenho de atividades de aprendizagem.
Essa abordagem, caracterizada principalmente pelo compartilhamento de opiniões e
críticas sobre os resultados das atividades desenvolvidas pelos próprios alunos, oferece à
perspectiva do aprendizado híbrido uma gama de opções para a exploração dos conteúdos,
uma vez que referências, links e outras fontes de informação disponíveis na internet devem ser
utilizadas como base teórica para o desenvolvimento da criticidade e da prática que
complementará a experiência educacional, pois é através do diálogo, da troca de informações
e experiências que o educando efetivamente aprende.
Este artigo é parte dos resultados obtidos numa pesquisa intitulada “O Facebook como
Ferramenta para Aprendizagem Híbrida: um estudo de caso em cursos técnicos de fotografia”,
apresentada em forma de monografia para o Curso de Pós-Graduação Tecnologias da
Informação e Comunicação na Educação – Teoria e Prática da Pontifícia Universidade
Católica do Paraná com a finalidade de examinar a percepção objetiva dos alunos sobre a
utilização do Facebook como suporte ao aprendizado presencial.
O Facebook como suporte a aprendizagem presencial
Esta pesquisa caracteriza-se como um trabalho científico original quanto sua natureza,
quando verifica-se nas pesquisas a utilização desta metodologia blended learning em cursos
projetados na modalidade à distância com o suporte de Ambientes Virtuais de Aprendizagem
(AVAs), Learning Management Systems (LMSs) ou outros softwares educacionais (KÖSE,
2010) e não em cursos presenciais.
Caracteriza-se como um estudo de caso quanto aos procedimentos e ao objeto
fundamenta-se em Lücke e André (1986, p. 18) sendo a pesquisa desenvolvida “numa
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situação natural, é rica em dados descritivos, tem um plano aberto e focaliza a realidade de
forma complexa e contextualizada”.
Como qualitativa quanto à forma de abordagem, partindo de uma experiência empírica
de utilização do Facebook como suporte ao processo pedagógico desenvolvida de forma
presencial, no curso técnico em Processos Fotográficos integrado ao ensino médio de uma
Instituição Federal de Educação na cidade de Curitiba3 que cursaram as disciplinas Teoria das
Cores, Equipamentos Fotográficos e Laboratório de Criatividade no segundo semestre de 201.
Denominaremos esta metodologia como blended learning, que de acordo com Köse
(2010) é definida como o aprendizado que se utiliza de etapas presenciais complementadas
por diferentes atividades online, permitindo ao professor combinar, em um mesmo curso, as
vantagens particulares a cada uma das modalidades utilizadas, além de contar com a
familiaridade da maioria dos participantes com o uso das ferramentas disponíveis no
Facebook, favorecendo o envolvimento dos alunos no processo, de maneira semelhante à
discutida por Mattar (2008).
A escolha da rede social Facebook como recurso ou como ambiente virtual de
aprendizagem, de acordo com Ferreira, Corrêa e Torres (2012) permite que o professor
ressignifique a forma de aprender, num contexto mais interativo e participativo fomentando a
mediação pedagógica e a interação entre os pares. Segundo eles:
[...] muitas das plataformas de aprendizagem quando utilizada por muito tempo sem atratividade desmotiva a participação e o interesse dos alunos, já a rede social Facebook, permite incorporar, personalizar, redimensionar, dinamizar e agregar sentido ao aprendizado, se tornando atrativa, sendo que o aluno sai do papel de receptor passivo passando a ser agente responsável pelo seu aprendizado. (FERREIRA; CORRÊA; TORRES, 2012, p. 8).
O Facebook “surge como um novo cenário para aprender a aprender e aprender com o
outro, ou seja, aprender a conviver virtualmente, num processo interativo pedagógico
comunicacional que emerge no ciberespaço” (FERREIRA; CORRÊA; TORRES, 2012, p. 8).
A metodologia blended learning foi proposta para o desenvolvimento do curso técnico
em Processos Fotográficos integrado ao ensino médio, com 38 alunos de 14 a 16 anos
utilizando-se as seguintes ferramentas do Facebook:
a) Os grupos - círculos fechados de compartilhamento e contato entre usuários; Esta
ferramenta de interação foi uma das mais utilizadas nas relações aluno/aluno e
3 De acordo com Lücke e André (1986) numa pesquisa na abordagem qualitativa as questões éticas devem ser levadas em conta pelo pesquisador, portanto será mantida o anonimato da instituição pesquisada.
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professor/aluno assemelhando-se aos fóruns de discussões online disponíveis na
maioria dos AVAs tradicionais existentes. A natureza das publicações originadas
pelo professor variou entre a informação sobre trabalhos, comentários e críticas a
respeito do desempenho geral da turma na disciplina, recados e alertas sobre
materiais e conhecimentos, sugestões de leitura e convites à discussão de temas
relacionados às disciplinas envolvidas no estudo. Os alunos por sua vez
abordavam dúvidas sobre conteúdos, sugestões de leituras e links interessantes
relacionados ao curso, além de respostas e discussões espontâneas entre eles.
b) Álbuns de fotografia - existem em duas situações diferentes: composto por
álbuns pessoais, não utilizado neste estudo, e os criados dentro do grupo,
utilizados como forma de entrega de trabalhos semanais, em sua maioria
fotografias – partes da avaliação continuada das disciplinas envolvidas no trabalho
– chamados “desafios”. Cada desafio era passado durante o horário de aula
presencial e as imagens produzidas pelos alunos como resolução de cada desafio
ficavam publicadas pelos alunos em um álbum específico para cada trabalho e que
permitiam a inserção de comentários e críticas por parte tanto do professor quanto
de colegas de classe.
c) Mensageiro instantâneo (chat) e mensagens privadas - sua utilização dentro do
propósito deste estudo se resumiu ao atendimento individual aos alunos, sanando
dúvidas sobre atividades a serem desenvolvidas. Nos momentos em que o
professor se encontrou online, havia a permissão implícita para que os alunos
utilizassem a ferramenta para o contato em dias e horários determinados.
d) Perfil público - criado por cada usuário, utilizado de forma exploratória e
permitiu a todos os participantes um panorama mais amplo a respeito da
personalidade, gostos e repertório de cada um. Na discussão de resultados,
evidenciou-se uma maior integração social entre os alunos, tanto entre si quanto
com o professor, graças à essa possibilidade.
e) Mural de recados permite que usuários conectados (“amigos”, na linguagem do
Facebook) possam trocar mensagens publicamente. Não foi uma ferramenta
explorada a fundo durante este estudo justamente pela necessidade de privacidade
nas comunicações entre professor e alunos.
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Quando as ferramentas disponíveis no Facebook se mostraram insuficientes para
algumas atividades programadas para as disciplinas envolvidas na pesquisa, outros serviços
online foram utilizados para suprir essa deficiência e manter a proposta de utilização de
sistemas online como ferramentas acessórias às aulas presenciais, principalmente na entrega
de trabalhos por parte dos alunos.
O Dropbox (encontrado em <http://www.dropbox.com>) serviu como plataforma para
o compartilhamento de arquivos que excediam as especificações de formato ou tamanho do
servidor de arquivos da rede social online, e o Google Drive (então chamado Google Docs, e
encontrado em <http://drive.google.com>) permitiu a colaboração entre professor e alunos na
redação e manutenção de arquivos de texto e de planilhas de gerenciamento da turma. Todos
estes serviços (Dropbox, Google Drive e também o Facebook) foram abordados na disciplina
de Fotografia na Web ao longo do primeiro semestre de 2011.
O questionário aplicado aos participantes para esta pesquisa foi desenvolvido na
ferramenta de formulários disponível no Google Drive, e abordou dois âmbitos principais
com relação ao uso do Facebook. A primeira parte se reportou à utilização pessoal da rede
social, fora do contexto educacional, enquanto a segunda parte tratou do desenvolvimento das
atividades no ambiente online, os desempenhos de professor e alunos no decorrer do período
pesquisado e também a percepção objetiva sobre a utilização do Facebook como suporte ao
aprendizado presencial.
A utilização da rede social facebook como interface pedagógica: a visão dos alunos
Para entender melhor como os alunos exploram o Facebook foram apresentadas quatro
questões referentes ao modo e à finalidade de acesso à plataforma.
A primeira questão – sobre o local de onde se acessa o Facebook – apresentou 100%
de respostas “Casa”, resultado este esperado dada a rotina comum à idade, que circula
principalmente entre casa e escola, sendo que neste segundo ambiente o acesso à rede social
online é limitado principalmente pelos professores durante as aulas, conforme representado no
Gráfico 1.
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Gráfico 1 - Acesso cotidiano.
Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.
As questões seguintes buscaram, entender o nível de envolvimento dos alunos com a
plataforma Facebook através do tempo de utilização (semanal) da rede, as ferramentas mais
utilizadas e também as razões que fazem os alunos manterem-se conectados
Gráfico 2 - Tempo conectado.
Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.
De acordo com o Gráfico 2, onze alunos (35% do total de respondentes) revelaram
passar entre 1 e 5 horas conectados à rede a cada semana, enquanto 23% dos respondentes
(sete indivíduos) admitiram passar de 5 a 10 horas semanais utilizando a ferramenta. A
mesma porcentagem de alunos afirmou passar mais de 10 horas semanais no Facebook. O
menor percentual de respostas foi o daqueles que passam menos de 1 hora semanal na
plataforma, somando 19% dos participantes. Quando inquiridos pessoalmente a respeito desta
afirmação, os alunos que compõem este grupo minoritário afirmaram que o principal uso que
fazem do Facebook é exatamente o descrito neste trabalho, incluindo um caso especial, em
que o aluno criou seu perfil na rede social online exclusivamente para participar da pesquisa.
Em termos de ferramentas e serviços disponíveis na plataforma, de acordo com o
Gráfico 3, o Mural foi o mais utilizado, uma vez que 26 participantes (84%) admitem utilizar
a funcionalidade com frequência. De forma semelhante, os Grupos – incluído aí o Grupo
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utilizado neste estudo – contaram com 22 respostas positivas em utilização, somando 71% dos
participantes como usuários frequentes do recurso. As Listas foram à única funcionalidade ao
sem utilização pelos participantes, fato provavelmente derivado de seu lançamento
relativamente recente e do seu caráter muito semelhante ao Mural de recados e ainda assim
restritivo em termos de publicações concomitantes disponíveis.
Gráfico 3 - Utilização das ferramentas.
Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.
A última questão relacionada ao uso pessoal do Facebook se refere às atividades
desempenhadas no ambiente online representado no Gráfico 4, além daquelas propostas pelo
professor. Fotos, vídeos e outros produtos multimídia – aquilo que Lima (2010) considera
como a parcela digital do “novo ecossistema midiático” – compõem o conteúdo mais
consumido pelos alunos (90% das respostas positivas), seguidos pela navegação pelos
diversos links publicados por amigos, colegas e parentes (77%) e pela manutenção da rede de
contatos presenciais (74%). Estes dados permitem um entendimento melhor da utilização do
Facebook pelos alunos quando aliados aos números apresentados no parágrafo anterior, uma
vez que boa parte desses conteúdos – imagens, vídeos e links para outros sites – são
rotineiramente publicados nos murais de recados dos diversos perfis.
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Gráfico 4 - Motivos para utilização das ferramentas.
Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.
A segunda parte do questionário apresentado aos participantes da pesquisa refere-se à
percepção dos alunos sobre a utilização do Facebook como complemento às aulas presenciais,
sobre o desempenho da turma e do professor no decorrer do estudo e também a respeito do
modelo definido para esse uso, conforme representado. Como ponte entre as duas seções do
questionário, iniciou-se a investigação sobre o uso pedagógico da plataforma tentando
descobrir até que ponto os alunos estavam dispostos a utilizar a rede social online como
ferramenta educacional. E acordo com o Gráfico 5 mais da metade dos participantes (64%)
discordou (parcial ou totalmente) da afirmação “Preferia manter meu perfil no Facebook
apenas para uso pessoal, sem colocar coisas de escola” apresentada nesta questão,
evidenciando assim uma receptividade favorável à utilização da plataforma, enquanto apenas
6% das respostas concordaram com o distanciamento entre atividades educacionais e rede
social online. Para 29% dos participantes, a utilização do Facebook como apoio às aulas é
indiferente em termos de preferência pessoal.
Gráfico 5 - Preferência pela utilização pessoal ou escolar.
Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.
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Seguindo a mesma linha de raciocínio, e buscando confirmar os resultados da
afirmação anterior, questionou-se o interesse individual pela utilização do Facebook como
ferramenta didático-pedagógica no curso estudado. A essa afirmação o Gráfico 6 representa
que apenas 3% dos participantes exibiu algum tipo de discordância, enquanto 6%
mantiveram-se indiferentes. A grande maioria – 27 respostas, ou 88% do total – mostrou-se
interessada na possibilidade, porém destes apenas 7 indivíduos não evidenciaram qualquer
restrição à prática.
Gráfico 6 - Interesse na exploração didático-pedagógica.
Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.
Compreendida a vontade e o interesse dos alunos em utilizar a plataforma também no
intuito educacional, o questionário passa então a abordar questões referentes ao modelo
escolhido para este estudo. Essa análise começa com a questão da liberdade individual dentro
do Grupo, tentando descobrir o envolvimento que a ausência de moderação sobre as
publicações por parte do professor permite aos alunos. O Gráfico 7 nos apresenta que apenas
2 (6%) participantes se mostraram desconfortáveis com essa ausência, enquanto 74% das
respostas mostrou um grau de satisfação pleno ou próximo a isso em relação a essa liberdade.
Menos de 20% dos alunos consideram esse um fator indiferente à prática desempenhada.
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Gráfico 7 - Percepção de propriedade em relação a não moderação do grupo.
Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.
A sequência da exploração do modelo contou com uma questão referente à própria
escolha do Facebook como plataforma. Esta questão é demonstrada no Gráfico 8, onde 52%
dos participantes declarou ser indiferente se outras ferramentas disponíveis na rede seriam
mais apropriadas para este estudo. Ao mesmo tempo, 45% dos alunos declararam
concordância com a escolha e apenas 1 respondente afirmou existirem plataformas mais
indicadas para a utilização no aprendizado híbrido, mencionando a possibilidade de
exploração de um blog específico e de acesso restrito à turma como alternativa viável. Vale
mencionar que AVAs tradicionais não foram apresentados aos alunos como alternativas
durante todo o período pesquisado.
Gráfico 8 - Preferência por plataformas diferentes.
Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.
Ao iniciar os questionamentos a respeito dos conteúdos disponíveis e/ou publicados
pelo grupo envolvido na pesquisa – professor e alunos – no Facebook, buscou-se identificar
se a variedade de possibilidades oferecida pela plataforma poderia se tornar um empecilho ao
aprendizado. Novamente conforme representado no Gráfico 9, apenas 1 participante
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concordou com a afirmação de que a rede social acabou se tornando uma distração durante o
período da pesquisa, enquanto 78% das respostas indicam que, mesmo com o grande número
de publicações alheias ao Grupo e à intenção educacional, a rede não atrapalhou o
desempenho das atividades sugeridas pelo modelo utilizado. Apenas 19% dos participantes
declararam indiferença em relação ao assunto.
Gráfico 9 - Fatores de distração no desenvolvimento de atividades.
Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.
Quando inquiridos a respeito da utilização dos conteúdos que poderiam ser publicados
no Facebook – fotos, vídeos, links e textos, principalmente – e a possibilidade de utilizá-los
como apoio ao aprendizado, o Gráfico 10 nos apresenta que 78% dos alunos concordam que
esses materiais auxiliam no entendimento das disciplinas. Ainda assim, 19% dos alunos
sentiram-se indiferentes à essa facilitação e 1 indivíduo discordou parcialmente dessa
possibilidade.
Gráfico 10 - Conteúdos online como facilitadores do aprendizado.
Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.
Sendo uma rede social online, é natural esperar que interações ocorridas pelo
Facebook estimulem e melhorem o desempenho social dos seus usuários. Para averiguar se
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isso se aplica também em contexto educacional, questionou-se se a utilização da plataforma
poderia aprimorar o relacionamento entre os alunos, tanto online quanto presencialmente. O
gráfico aponta que 11, 64% dos participantes concordaram com tal afirmação, enquanto quase
30% das respostas foram indiferentes. Apenas 1 indivíduo (3%) se mostrou discordante dessa
possibilidade, já que acredita que a interação online não necessariamente se refletirá em
alterações no relacionamento presencial com alguns colegas.
Gráfico 11 - Influência da interação online.
Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.
Questionados sobre a possibilidade de conhecer melhor o docente, e a importância
disso para a interação entre a turma e o professor, evidencia-se no Gráfico 12 que 74% dos
participantes concordou que o Facebook permite um melhor entrosamento entre as duas partes
da dinâmica de sala de aula. 13% dos alunos, entretanto, discordaram da afirmação,
principalmente quanto à sugestão de interação facilitada entre a turma e o docente
mencionada no enunciado. Outros 13% dos alunos mostrou-se indiferente à essa situação, não
notando diferença no relacionamento aluno-professor a partir da utilização da rede social
online.
Gráfico 12 - Possibilidades de interação.
Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.
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A motivação dos alunos para a utilização do Facebook em contexto educacional foi
uma das principais preocupações desta pesquisa. Além de desenvolver atividades e discussões
no Grupo, menções constantes ao Mural coletivo e a links e textos publicados fizeram parte
das iniciativas relativas a essa situação. A percepção dos alunos sobre a vontade em utilizar a
ferramenta por parte dos colegas foi medida no questionário, e 41% dos participantes
acreditam que – independente da própria intenção – a turma participaria ativamente das
discussões e atividades na plataforma, enquanto 32% se mostram indiferentes à postura dos
colegas.
A avaliação é parte integral do processo educacional e o Gráfico 13 demonstra esta
afirmação, pois 55% dos alunos mostraram-se favoráveis à inclusão das atividades realizadas
no Facebook como parte da composição dos conceitos das disciplinas, enquanto 16%
rejeitaram a sugestão. Para 29% dos participantes, a utilização ou não das atividades online
como parte da avaliação foi indiferente.
Gráfico 13 - Processo de avaliação.
Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.
O papel do professor no modelo utilizado foi principalmente de mediador e gestor das
atividades desempenhadas dentro do Grupo, segundo o Gráfico 15, onde 78% dos alunos
acreditam que ele deveria ter se mostrado mais ativo, principalmente na publicação de mais
material relacionado às disciplinas. Apenas 3% dos alunos mostraram-se satisfeitos com a
atuação do docente, enquanto que para 19% deles o professor agiu de forma suficiente, porém
sem grandes destaques.
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Gráfico 15 - Desempenho docente como fator motivacional.
Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.
A possibilidade de entregar trabalhos no Grupo, especificamente nos álbuns de
fotografias, é uma das principais vantagens encontradas pelos alunos na utilização do
Facebook no âmbito educacional. Esta afirmação pode ser comprovada a partir do Gráfico 16,
onde 90% dos alunos corroboram essa característica, que diminui custos e amplia os prazos
disponíveis para a entrega, fazendo com que as avaliações sejam mais completas.
Gráfico 16 - Facilitador da entrega de trabalhos.
Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.
Além de permitir que docente e alunos se conheçam melhor – graças ao acesso às
publicações e informações compartilhadas em Murais e nos Perfis públicos –, o Facebook
conta com diversas ferramentas que permitem interação síncrona e assíncrona entre os dois
grupos.
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Gráfico 17 - Acesso a ferramentas.
Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.
Para 77% dos participantes deste estudo, como visualizado no Gráfico 17, essa
possibilidade de contato direto é uma das grandes vantagens da utilização da rede social
online como acessório à sala de aula, uma vez que o esclarecimento de dúvidas ou o
compartilhamento de informações acerca das disciplinas e conteúdos podem ser obtidos de
forma rápida e – muitas vezes – mais prática do que em momentos reservados para
atendimento ao aluno no ambiente escolar. Ainda assim, 13% dos participantes são
indiferentes à possibilidade e 10% dos alunos discordam de certos aspectos dessa
possibilidade, como a espera significativa durante os fins de semana, quando o docente não
está necessariamente online, e também com respostas “extraviadas” graças à grande
quantidade de mensagens enviadas por alunos em datas próximas à entrega de trabalhos, por
exemplo.
Considerações finais
Como um primeiro esforço, este trabalho evidenciou que existe potencial para a
exploração do Facebook como plataforma de expansão do processo educacional, partindo da
utilização de suas ferramentas como extensões online de práticas comuns ao fazer
pedagógico.
Apesar de uma amostra estatística pequena, acredita-se que este estudo de caso
demonstra possibilidades de utilização da rede social conectada como acessório pedagógico,
dada a aceitação do uso do Facebook pelos alunos. Além disso, as respostas ao questionário
apresentado também oferecem insights a respeito de metodologias possíveis para a utilização
das ferramentas disponíveis no site.
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Também se encontram, nos resultados obtidos, alertas sobre condutas e dificuldades
que podem se apresentar durante a utilização da rede social online, em especial aquilo que
Dennen (2008) chama de lurking pedagógico, já que as várias atividades sugeridas pelo
docente nem sempre contaram com participação maciça da turma, ainda que todos tomassem
conhecimento das mesmas.
Entre as hipóteses levantadas neste trabalho para esta discrepância entre aceitação e
participação discente estão a falta de costume para a utilização didática da rede social online e
a falta de controle do aluno sobre o próprio uso da tecnologia (em alguns casos, os alunos
foram privados da participação em atividades online como punição familiar devido à alguma
conduta inapropriada fora da escola, por exemplo), e tal achado combina marginalmente com
o estudo dos riscos do aprendizado híbrido conduzida por Holley e Oliver (2010).
A atuação do professor no grupo, previa uma maior autonomia dos alunos em relação
às publicações e discussões no grupo, e pelo questionário entendeu-se que procedimentos
mais constantes e uma maior presença do docente podem ter impacto positivo na utilização do
grupo pelos alunos. Entre as medidas sugeridas pelos alunos para essa maior participação
docente, a curadoria de conteúdo – relacionando as publicações a temas de aula – é uma das
práticas que devem ser realizadas constantemente.
Por fim, as redes sociais, especificamente o Facebook, surgem como uma
possibilidade de apoio ao ensino presencial por sua capacidade de convergência entre mídias,
por ser um ambiente virtual familiar e por disponibilizar inúmeros recursos de aprendizagem
(conteúdos multimídia, hipertextuais de interação síncrona e assíncrona entre
professores/alunos e alunos/alunos). Contudo o Facebook permite ao aluno assumir a
responsabilidade e a motivação pelo seu aprendizado, aumentar a sensação de pertencimento
ao grupo e oferecer oportunidades colaborativas em sala de aula.
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