A Utilização do Facebook como Suporte ao Aprendizado Presencial: a visão dos alunos

19
A UTILIZAÇÃO DO FACEBOOK COMO SUPORTE AO APRENDIZADO PRESENCIAL: A VISÃO DOS ALUNOS SOARES, Luciano de Sampaio 1 - UTP MACHADO, Mércia Freire Rocha Cordeiro 2 - PUCPR Grupo de Trabalho - Comunicação e Tecnologia Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este artigo é parte dos resultados obtidos numa pesquisa intitulada “O Facebook como Ferramenta para Aprendizagem Híbrida: um estudo de caso em cursos técnicos de fotografia”, apresentada em forma de monografia para o Curso de Pós-Graduação Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação – Teoria e Prática da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Caracteriza-se como um trabalho científico original quanto à natureza; como um estudo de caso quanto aos procedimentos e ao objeto e qualitativa quanto à forma de abordagem. Envolveu 38 alunos de uma turma do curso técnico em Processos Fotográficos integrado ao ensino médio de uma Instituição Federal de Educação na cidade de Curitiba que cursaram as disciplinas Teoria das Cores, Equipamentos Fotográficos e Laboratório de Criatividade no segundo semestre de 2011. Apresenta como finalidade examinar a percepção objetiva dos alunos sobre a utilização do facebook como suporte ao aprendizado presencial e se sustenta teoricamente pelos autores: Almeida (2009), Ferreira, Corrêa e Torres (2012), Köse (2010), Mattar (2008), Moran (2000), Morin (2002), Primo (2003), Recuero (2009) e Souza e Schneider (2012) entre outros. Para o desenvolvimento desta metodologia, os alunos assistiam aulas presenciais e realizavam as interações e as postagens das atividades por meio de um grupo fechado no Facebook intitulado: Integrado Processos Fotográficos. Durante o processo pedagógico foram observados os comentários, as interações e a participação dos alunos. Para avaliar a efetividade da proposta, aplicou-se um questionário aos alunos através do Google Docs cujas respostas resultaram em opiniões favoráveis à utilização da plataforma, ressalvas quanto à atuação do professor e discordâncias em relação ao modelo utilizado no estudo. Analisando as críticas dos alunos participantes e também observando criticamente as atividades desempenhadas pelo professor, identificou-se estratégias que permitem melhor aproveitamento do ambiente virtual disponível no Facebook, com o intuito inclusive de melhorar o relacionamento professor-aluno em sala de aula presencial. Palavras-chave: Facebook. Rede social. Processo pedagógico. Aprendizagem. 1 Mestrando em Comunicação e Linguagens na Universidade Tuiuti do Paraná, e-mail: [email protected] 2 Doutoranda em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, PR - Brasil, e- mail: [email protected]

Transcript of A Utilização do Facebook como Suporte ao Aprendizado Presencial: a visão dos alunos

A UTILIZAÇÃO DO FACEBOOK COMO SUPORTE AO

APRENDIZADO PRESENCIAL: A VISÃO DOS ALUNOS

SOARES, Luciano de Sampaio1 - UTP

MACHADO, Mércia Freire Rocha Cordeiro2 - PUCPR

Grupo de Trabalho - Comunicação e Tecnologia

Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este artigo é parte dos resultados obtidos numa pesquisa intitulada “O Facebook como Ferramenta para Aprendizagem Híbrida: um estudo de caso em cursos técnicos de fotografia”, apresentada em forma de monografia para o Curso de Pós-Graduação Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação – Teoria e Prática da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Caracteriza-se como um trabalho científico original quanto à natureza; como um estudo de caso quanto aos procedimentos e ao objeto e qualitativa quanto à forma de abordagem. Envolveu 38 alunos de uma turma do curso técnico em Processos Fotográficos integrado ao ensino médio de uma Instituição Federal de Educação na cidade de Curitiba que cursaram as disciplinas Teoria das Cores, Equipamentos Fotográficos e Laboratório de Criatividade no segundo semestre de 2011. Apresenta como finalidade examinar a percepção objetiva dos alunos sobre a utilização do facebook como suporte ao aprendizado presencial e se sustenta teoricamente pelos autores: Almeida (2009), Ferreira, Corrêa e Torres (2012), Köse (2010), Mattar (2008), Moran (2000), Morin (2002), Primo (2003), Recuero (2009) e Souza e Schneider (2012) entre outros. Para o desenvolvimento desta metodologia, os alunos assistiam aulas presenciais e realizavam as interações e as postagens das atividades por meio de um grupo fechado no Facebook intitulado: Integrado Processos Fotográficos. Durante o processo pedagógico foram observados os comentários, as interações e a participação dos alunos. Para avaliar a efetividade da proposta, aplicou-se um questionário aos alunos através do Google Docs cujas respostas resultaram em opiniões favoráveis à utilização da plataforma, ressalvas quanto à atuação do professor e discordâncias em relação ao modelo utilizado no estudo. Analisando as críticas dos alunos participantes e também observando criticamente as atividades desempenhadas pelo professor, identificou-se estratégias que permitem melhor aproveitamento do ambiente virtual disponível no Facebook, com o intuito inclusive de melhorar o relacionamento professor-aluno em sala de aula presencial. Palavras-chave: Facebook. Rede social. Processo pedagógico. Aprendizagem.

1 Mestrando em Comunicação e Linguagens na Universidade Tuiuti do Paraná, e-mail: [email protected] 2 Doutoranda em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, PR - Brasil, e-mail: [email protected]

3899

Introdução

Educar para aprender a aprender é o novo desafio posto para os educadores, e exige do

docente, segundo Moran (1999, p. 1), “muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de

grupo, menos conteúdos fixos e propostas mais abertas de pesquisa e comunicação”. Outros

autores, como Moraes (1997) e Morin (2002), defendem que o conhecimento deixe de ser

visto como estanque e absoluto para ser concebido como um processo, algo em constante

transformação, um “sistema” ou uma “rede” onde os “problemas” da humanidade estão

interligados e são interdependentes.

Para que a utilização de recursos das tecnologias de informação e comunicação (TICs)

seja devidamente integrada às praticas pedagógicas atuais e possibilitem à escola responder ao

desafio mencionado, segundo Almeida (2009, p. 82),

[...] é preciso ir além do acesso, integrando significativamente os recursos tecnológicos e midiáticos, criando condições para que alunos e demais membros da comunidade escolar possam se expressar por meio das múltiplas linguagens, dominar operações e funcionalidades das tecnologias.

Com esta motivação, segundo Souza e Schneider (2012), é preciso planejamento e que

o professor se torne, ele mesmo, usuário das ferramentas disponíveis na Internet. Para tanto,

participar de comunidades e redes sociais é o primeiro passo para essa apropriação, afinal, é

impossível utilizar com precisão uma ferramenta que não se conhece. É durante esta

apropriação que o erro oriundo da prática oferece as possibilidades que Schön (2000) defende

surgem a partir da reflexão sobre a ação, seja no entendimento próprio do docente, seja na

interação com outros profissionais.

Já Souza e Schneider (2012) ressaltam que as possibilidades de interação, criação e

recepção hipertextual se agregam em redes sociais online – plataformas dinâmicas e em

constante mudança – que, para Recuero (2009), permitem a atualização constante de

conteúdos, disponibilizados por seus próprios integrantes, de forma cooperativa e em tempo

real. Dentro do universo dos aplicativos de redes sociais online em uso, a escolha pelo

Facebook como plataforma para este estudo se deu principalmente pela variedade de

ferramentas concentrada pelo site americano, que permitem um grau de interação variado. No

entanto, segundo Primo (2003, p. 98),

3900

[...] de forma alguma se pretende aqui negar que as redes informáticas possam mediar interações cujas características são aquelas da comunicação interpessoal. Ou seja, não se pode discordar da mediação tecnológica das chamadas interações ‘um-um’ (através do e-mail e mensageiros instantâneos, por exemplo) e ‘todos-todos’ (como nas listas de discussão).

Ou seja, uma vez que o Facebook concentra em sua estrutura ferramentas que

permitem a troca de informação e experiência em tempo real pelo mensageiro instantâneo e

assíncrona nos grupos fechados – que fazem às vezes das listas de discussão mencionadas na

citação acima –, além de álbuns de fotografia e sistemas para troca de endereços de internet e

arquivos, a plataforma reúne em um sistema apenas todas as facilidades necessárias para o

desempenho de atividades de aprendizagem.

Essa abordagem, caracterizada principalmente pelo compartilhamento de opiniões e

críticas sobre os resultados das atividades desenvolvidas pelos próprios alunos, oferece à

perspectiva do aprendizado híbrido uma gama de opções para a exploração dos conteúdos,

uma vez que referências, links e outras fontes de informação disponíveis na internet devem ser

utilizadas como base teórica para o desenvolvimento da criticidade e da prática que

complementará a experiência educacional, pois é através do diálogo, da troca de informações

e experiências que o educando efetivamente aprende.

Este artigo é parte dos resultados obtidos numa pesquisa intitulada “O Facebook como

Ferramenta para Aprendizagem Híbrida: um estudo de caso em cursos técnicos de fotografia”,

apresentada em forma de monografia para o Curso de Pós-Graduação Tecnologias da

Informação e Comunicação na Educação – Teoria e Prática da Pontifícia Universidade

Católica do Paraná com a finalidade de examinar a percepção objetiva dos alunos sobre a

utilização do Facebook como suporte ao aprendizado presencial.

O Facebook como suporte a aprendizagem presencial

Esta pesquisa caracteriza-se como um trabalho científico original quanto sua natureza,

quando verifica-se nas pesquisas a utilização desta metodologia blended learning em cursos

projetados na modalidade à distância com o suporte de Ambientes Virtuais de Aprendizagem

(AVAs), Learning Management Systems (LMSs) ou outros softwares educacionais (KÖSE,

2010) e não em cursos presenciais.

Caracteriza-se como um estudo de caso quanto aos procedimentos e ao objeto

fundamenta-se em Lücke e André (1986, p. 18) sendo a pesquisa desenvolvida “numa

3901

situação natural, é rica em dados descritivos, tem um plano aberto e focaliza a realidade de

forma complexa e contextualizada”.

Como qualitativa quanto à forma de abordagem, partindo de uma experiência empírica

de utilização do Facebook como suporte ao processo pedagógico desenvolvida de forma

presencial, no curso técnico em Processos Fotográficos integrado ao ensino médio de uma

Instituição Federal de Educação na cidade de Curitiba3 que cursaram as disciplinas Teoria das

Cores, Equipamentos Fotográficos e Laboratório de Criatividade no segundo semestre de 201.

Denominaremos esta metodologia como blended learning, que de acordo com Köse

(2010) é definida como o aprendizado que se utiliza de etapas presenciais complementadas

por diferentes atividades online, permitindo ao professor combinar, em um mesmo curso, as

vantagens particulares a cada uma das modalidades utilizadas, além de contar com a

familiaridade da maioria dos participantes com o uso das ferramentas disponíveis no

Facebook, favorecendo o envolvimento dos alunos no processo, de maneira semelhante à

discutida por Mattar (2008).

A escolha da rede social Facebook como recurso ou como ambiente virtual de

aprendizagem, de acordo com Ferreira, Corrêa e Torres (2012) permite que o professor

ressignifique a forma de aprender, num contexto mais interativo e participativo fomentando a

mediação pedagógica e a interação entre os pares. Segundo eles:

[...] muitas das plataformas de aprendizagem quando utilizada por muito tempo sem atratividade desmotiva a participação e o interesse dos alunos, já a rede social Facebook, permite incorporar, personalizar, redimensionar, dinamizar e agregar sentido ao aprendizado, se tornando atrativa, sendo que o aluno sai do papel de receptor passivo passando a ser agente responsável pelo seu aprendizado. (FERREIRA; CORRÊA; TORRES, 2012, p. 8).

O Facebook “surge como um novo cenário para aprender a aprender e aprender com o

outro, ou seja, aprender a conviver virtualmente, num processo interativo pedagógico

comunicacional que emerge no ciberespaço” (FERREIRA; CORRÊA; TORRES, 2012, p. 8).

A metodologia blended learning foi proposta para o desenvolvimento do curso técnico

em Processos Fotográficos integrado ao ensino médio, com 38 alunos de 14 a 16 anos

utilizando-se as seguintes ferramentas do Facebook:

a) Os grupos - círculos fechados de compartilhamento e contato entre usuários; Esta

ferramenta de interação foi uma das mais utilizadas nas relações aluno/aluno e

3 De acordo com Lücke e André (1986) numa pesquisa na abordagem qualitativa as questões éticas devem ser levadas em conta pelo pesquisador, portanto será mantida o anonimato da instituição pesquisada.

3902

professor/aluno assemelhando-se aos fóruns de discussões online disponíveis na

maioria dos AVAs tradicionais existentes. A natureza das publicações originadas

pelo professor variou entre a informação sobre trabalhos, comentários e críticas a

respeito do desempenho geral da turma na disciplina, recados e alertas sobre

materiais e conhecimentos, sugestões de leitura e convites à discussão de temas

relacionados às disciplinas envolvidas no estudo. Os alunos por sua vez

abordavam dúvidas sobre conteúdos, sugestões de leituras e links interessantes

relacionados ao curso, além de respostas e discussões espontâneas entre eles.

b) Álbuns de fotografia - existem em duas situações diferentes: composto por

álbuns pessoais, não utilizado neste estudo, e os criados dentro do grupo,

utilizados como forma de entrega de trabalhos semanais, em sua maioria

fotografias – partes da avaliação continuada das disciplinas envolvidas no trabalho

– chamados “desafios”. Cada desafio era passado durante o horário de aula

presencial e as imagens produzidas pelos alunos como resolução de cada desafio

ficavam publicadas pelos alunos em um álbum específico para cada trabalho e que

permitiam a inserção de comentários e críticas por parte tanto do professor quanto

de colegas de classe.

c) Mensageiro instantâneo (chat) e mensagens privadas - sua utilização dentro do

propósito deste estudo se resumiu ao atendimento individual aos alunos, sanando

dúvidas sobre atividades a serem desenvolvidas. Nos momentos em que o

professor se encontrou online, havia a permissão implícita para que os alunos

utilizassem a ferramenta para o contato em dias e horários determinados.

d) Perfil público - criado por cada usuário, utilizado de forma exploratória e

permitiu a todos os participantes um panorama mais amplo a respeito da

personalidade, gostos e repertório de cada um. Na discussão de resultados,

evidenciou-se uma maior integração social entre os alunos, tanto entre si quanto

com o professor, graças à essa possibilidade.

e) Mural de recados permite que usuários conectados (“amigos”, na linguagem do

Facebook) possam trocar mensagens publicamente. Não foi uma ferramenta

explorada a fundo durante este estudo justamente pela necessidade de privacidade

nas comunicações entre professor e alunos.

3903

Quando as ferramentas disponíveis no Facebook se mostraram insuficientes para

algumas atividades programadas para as disciplinas envolvidas na pesquisa, outros serviços

online foram utilizados para suprir essa deficiência e manter a proposta de utilização de

sistemas online como ferramentas acessórias às aulas presenciais, principalmente na entrega

de trabalhos por parte dos alunos.

O Dropbox (encontrado em <http://www.dropbox.com>) serviu como plataforma para

o compartilhamento de arquivos que excediam as especificações de formato ou tamanho do

servidor de arquivos da rede social online, e o Google Drive (então chamado Google Docs, e

encontrado em <http://drive.google.com>) permitiu a colaboração entre professor e alunos na

redação e manutenção de arquivos de texto e de planilhas de gerenciamento da turma. Todos

estes serviços (Dropbox, Google Drive e também o Facebook) foram abordados na disciplina

de Fotografia na Web ao longo do primeiro semestre de 2011.

O questionário aplicado aos participantes para esta pesquisa foi desenvolvido na

ferramenta de formulários disponível no Google Drive, e abordou dois âmbitos principais

com relação ao uso do Facebook. A primeira parte se reportou à utilização pessoal da rede

social, fora do contexto educacional, enquanto a segunda parte tratou do desenvolvimento das

atividades no ambiente online, os desempenhos de professor e alunos no decorrer do período

pesquisado e também a percepção objetiva sobre a utilização do Facebook como suporte ao

aprendizado presencial.

A utilização da rede social facebook como interface pedagógica: a visão dos alunos

Para entender melhor como os alunos exploram o Facebook foram apresentadas quatro

questões referentes ao modo e à finalidade de acesso à plataforma.

A primeira questão – sobre o local de onde se acessa o Facebook – apresentou 100%

de respostas “Casa”, resultado este esperado dada a rotina comum à idade, que circula

principalmente entre casa e escola, sendo que neste segundo ambiente o acesso à rede social

online é limitado principalmente pelos professores durante as aulas, conforme representado no

Gráfico 1.

3904

Gráfico 1 - Acesso cotidiano.

Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.

As questões seguintes buscaram, entender o nível de envolvimento dos alunos com a

plataforma Facebook através do tempo de utilização (semanal) da rede, as ferramentas mais

utilizadas e também as razões que fazem os alunos manterem-se conectados

Gráfico 2 - Tempo conectado.

Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.

De acordo com o Gráfico 2, onze alunos (35% do total de respondentes) revelaram

passar entre 1 e 5 horas conectados à rede a cada semana, enquanto 23% dos respondentes

(sete indivíduos) admitiram passar de 5 a 10 horas semanais utilizando a ferramenta. A

mesma porcentagem de alunos afirmou passar mais de 10 horas semanais no Facebook. O

menor percentual de respostas foi o daqueles que passam menos de 1 hora semanal na

plataforma, somando 19% dos participantes. Quando inquiridos pessoalmente a respeito desta

afirmação, os alunos que compõem este grupo minoritário afirmaram que o principal uso que

fazem do Facebook é exatamente o descrito neste trabalho, incluindo um caso especial, em

que o aluno criou seu perfil na rede social online exclusivamente para participar da pesquisa.

Em termos de ferramentas e serviços disponíveis na plataforma, de acordo com o

Gráfico 3, o Mural foi o mais utilizado, uma vez que 26 participantes (84%) admitem utilizar

a funcionalidade com frequência. De forma semelhante, os Grupos – incluído aí o Grupo

3905

utilizado neste estudo – contaram com 22 respostas positivas em utilização, somando 71% dos

participantes como usuários frequentes do recurso. As Listas foram à única funcionalidade ao

sem utilização pelos participantes, fato provavelmente derivado de seu lançamento

relativamente recente e do seu caráter muito semelhante ao Mural de recados e ainda assim

restritivo em termos de publicações concomitantes disponíveis.

Gráfico 3 - Utilização das ferramentas.

Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.

A última questão relacionada ao uso pessoal do Facebook se refere às atividades

desempenhadas no ambiente online representado no Gráfico 4, além daquelas propostas pelo

professor. Fotos, vídeos e outros produtos multimídia – aquilo que Lima (2010) considera

como a parcela digital do “novo ecossistema midiático” – compõem o conteúdo mais

consumido pelos alunos (90% das respostas positivas), seguidos pela navegação pelos

diversos links publicados por amigos, colegas e parentes (77%) e pela manutenção da rede de

contatos presenciais (74%). Estes dados permitem um entendimento melhor da utilização do

Facebook pelos alunos quando aliados aos números apresentados no parágrafo anterior, uma

vez que boa parte desses conteúdos – imagens, vídeos e links para outros sites – são

rotineiramente publicados nos murais de recados dos diversos perfis.

3906

Gráfico 4 - Motivos para utilização das ferramentas.

Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.

A segunda parte do questionário apresentado aos participantes da pesquisa refere-se à

percepção dos alunos sobre a utilização do Facebook como complemento às aulas presenciais,

sobre o desempenho da turma e do professor no decorrer do estudo e também a respeito do

modelo definido para esse uso, conforme representado. Como ponte entre as duas seções do

questionário, iniciou-se a investigação sobre o uso pedagógico da plataforma tentando

descobrir até que ponto os alunos estavam dispostos a utilizar a rede social online como

ferramenta educacional. E acordo com o Gráfico 5 mais da metade dos participantes (64%)

discordou (parcial ou totalmente) da afirmação “Preferia manter meu perfil no Facebook

apenas para uso pessoal, sem colocar coisas de escola” apresentada nesta questão,

evidenciando assim uma receptividade favorável à utilização da plataforma, enquanto apenas

6% das respostas concordaram com o distanciamento entre atividades educacionais e rede

social online. Para 29% dos participantes, a utilização do Facebook como apoio às aulas é

indiferente em termos de preferência pessoal.

Gráfico 5 - Preferência pela utilização pessoal ou escolar.

Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.

3907

Seguindo a mesma linha de raciocínio, e buscando confirmar os resultados da

afirmação anterior, questionou-se o interesse individual pela utilização do Facebook como

ferramenta didático-pedagógica no curso estudado. A essa afirmação o Gráfico 6 representa

que apenas 3% dos participantes exibiu algum tipo de discordância, enquanto 6%

mantiveram-se indiferentes. A grande maioria – 27 respostas, ou 88% do total – mostrou-se

interessada na possibilidade, porém destes apenas 7 indivíduos não evidenciaram qualquer

restrição à prática.

Gráfico 6 - Interesse na exploração didático-pedagógica.

Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.

Compreendida a vontade e o interesse dos alunos em utilizar a plataforma também no

intuito educacional, o questionário passa então a abordar questões referentes ao modelo

escolhido para este estudo. Essa análise começa com a questão da liberdade individual dentro

do Grupo, tentando descobrir o envolvimento que a ausência de moderação sobre as

publicações por parte do professor permite aos alunos. O Gráfico 7 nos apresenta que apenas

2 (6%) participantes se mostraram desconfortáveis com essa ausência, enquanto 74% das

respostas mostrou um grau de satisfação pleno ou próximo a isso em relação a essa liberdade.

Menos de 20% dos alunos consideram esse um fator indiferente à prática desempenhada.

3908

Gráfico 7 - Percepção de propriedade em relação a não moderação do grupo.

Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.

A sequência da exploração do modelo contou com uma questão referente à própria

escolha do Facebook como plataforma. Esta questão é demonstrada no Gráfico 8, onde 52%

dos participantes declarou ser indiferente se outras ferramentas disponíveis na rede seriam

mais apropriadas para este estudo. Ao mesmo tempo, 45% dos alunos declararam

concordância com a escolha e apenas 1 respondente afirmou existirem plataformas mais

indicadas para a utilização no aprendizado híbrido, mencionando a possibilidade de

exploração de um blog específico e de acesso restrito à turma como alternativa viável. Vale

mencionar que AVAs tradicionais não foram apresentados aos alunos como alternativas

durante todo o período pesquisado.

Gráfico 8 - Preferência por plataformas diferentes.

Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.

Ao iniciar os questionamentos a respeito dos conteúdos disponíveis e/ou publicados

pelo grupo envolvido na pesquisa – professor e alunos – no Facebook, buscou-se identificar

se a variedade de possibilidades oferecida pela plataforma poderia se tornar um empecilho ao

aprendizado. Novamente conforme representado no Gráfico 9, apenas 1 participante

3909

concordou com a afirmação de que a rede social acabou se tornando uma distração durante o

período da pesquisa, enquanto 78% das respostas indicam que, mesmo com o grande número

de publicações alheias ao Grupo e à intenção educacional, a rede não atrapalhou o

desempenho das atividades sugeridas pelo modelo utilizado. Apenas 19% dos participantes

declararam indiferença em relação ao assunto.

Gráfico 9 - Fatores de distração no desenvolvimento de atividades.

Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.

Quando inquiridos a respeito da utilização dos conteúdos que poderiam ser publicados

no Facebook – fotos, vídeos, links e textos, principalmente – e a possibilidade de utilizá-los

como apoio ao aprendizado, o Gráfico 10 nos apresenta que 78% dos alunos concordam que

esses materiais auxiliam no entendimento das disciplinas. Ainda assim, 19% dos alunos

sentiram-se indiferentes à essa facilitação e 1 indivíduo discordou parcialmente dessa

possibilidade.

Gráfico 10 - Conteúdos online como facilitadores do aprendizado.

Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.

Sendo uma rede social online, é natural esperar que interações ocorridas pelo

Facebook estimulem e melhorem o desempenho social dos seus usuários. Para averiguar se

3910

isso se aplica também em contexto educacional, questionou-se se a utilização da plataforma

poderia aprimorar o relacionamento entre os alunos, tanto online quanto presencialmente. O

gráfico aponta que 11, 64% dos participantes concordaram com tal afirmação, enquanto quase

30% das respostas foram indiferentes. Apenas 1 indivíduo (3%) se mostrou discordante dessa

possibilidade, já que acredita que a interação online não necessariamente se refletirá em

alterações no relacionamento presencial com alguns colegas.

Gráfico 11 - Influência da interação online.

Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.

Questionados sobre a possibilidade de conhecer melhor o docente, e a importância

disso para a interação entre a turma e o professor, evidencia-se no Gráfico 12 que 74% dos

participantes concordou que o Facebook permite um melhor entrosamento entre as duas partes

da dinâmica de sala de aula. 13% dos alunos, entretanto, discordaram da afirmação,

principalmente quanto à sugestão de interação facilitada entre a turma e o docente

mencionada no enunciado. Outros 13% dos alunos mostrou-se indiferente à essa situação, não

notando diferença no relacionamento aluno-professor a partir da utilização da rede social

online.

Gráfico 12 - Possibilidades de interação.

Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.

3911

A motivação dos alunos para a utilização do Facebook em contexto educacional foi

uma das principais preocupações desta pesquisa. Além de desenvolver atividades e discussões

no Grupo, menções constantes ao Mural coletivo e a links e textos publicados fizeram parte

das iniciativas relativas a essa situação. A percepção dos alunos sobre a vontade em utilizar a

ferramenta por parte dos colegas foi medida no questionário, e 41% dos participantes

acreditam que – independente da própria intenção – a turma participaria ativamente das

discussões e atividades na plataforma, enquanto 32% se mostram indiferentes à postura dos

colegas.

A avaliação é parte integral do processo educacional e o Gráfico 13 demonstra esta

afirmação, pois 55% dos alunos mostraram-se favoráveis à inclusão das atividades realizadas

no Facebook como parte da composição dos conceitos das disciplinas, enquanto 16%

rejeitaram a sugestão. Para 29% dos participantes, a utilização ou não das atividades online

como parte da avaliação foi indiferente.

Gráfico 13 - Processo de avaliação.

Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.

O papel do professor no modelo utilizado foi principalmente de mediador e gestor das

atividades desempenhadas dentro do Grupo, segundo o Gráfico 15, onde 78% dos alunos

acreditam que ele deveria ter se mostrado mais ativo, principalmente na publicação de mais

material relacionado às disciplinas. Apenas 3% dos alunos mostraram-se satisfeitos com a

atuação do docente, enquanto que para 19% deles o professor agiu de forma suficiente, porém

sem grandes destaques.

3912

Gráfico 15 - Desempenho docente como fator motivacional.

Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.

A possibilidade de entregar trabalhos no Grupo, especificamente nos álbuns de

fotografias, é uma das principais vantagens encontradas pelos alunos na utilização do

Facebook no âmbito educacional. Esta afirmação pode ser comprovada a partir do Gráfico 16,

onde 90% dos alunos corroboram essa característica, que diminui custos e amplia os prazos

disponíveis para a entrega, fazendo com que as avaliações sejam mais completas.

Gráfico 16 - Facilitador da entrega de trabalhos.

Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.

Além de permitir que docente e alunos se conheçam melhor – graças ao acesso às

publicações e informações compartilhadas em Murais e nos Perfis públicos –, o Facebook

conta com diversas ferramentas que permitem interação síncrona e assíncrona entre os dois

grupos.

3913

Gráfico 17 - Acesso a ferramentas.

Fonte: Organizado pelos autores, com base no questionário aplicado.

Para 77% dos participantes deste estudo, como visualizado no Gráfico 17, essa

possibilidade de contato direto é uma das grandes vantagens da utilização da rede social

online como acessório à sala de aula, uma vez que o esclarecimento de dúvidas ou o

compartilhamento de informações acerca das disciplinas e conteúdos podem ser obtidos de

forma rápida e – muitas vezes – mais prática do que em momentos reservados para

atendimento ao aluno no ambiente escolar. Ainda assim, 13% dos participantes são

indiferentes à possibilidade e 10% dos alunos discordam de certos aspectos dessa

possibilidade, como a espera significativa durante os fins de semana, quando o docente não

está necessariamente online, e também com respostas “extraviadas” graças à grande

quantidade de mensagens enviadas por alunos em datas próximas à entrega de trabalhos, por

exemplo.

Considerações finais

Como um primeiro esforço, este trabalho evidenciou que existe potencial para a

exploração do Facebook como plataforma de expansão do processo educacional, partindo da

utilização de suas ferramentas como extensões online de práticas comuns ao fazer

pedagógico.

Apesar de uma amostra estatística pequena, acredita-se que este estudo de caso

demonstra possibilidades de utilização da rede social conectada como acessório pedagógico,

dada a aceitação do uso do Facebook pelos alunos. Além disso, as respostas ao questionário

apresentado também oferecem insights a respeito de metodologias possíveis para a utilização

das ferramentas disponíveis no site.

3914

Também se encontram, nos resultados obtidos, alertas sobre condutas e dificuldades

que podem se apresentar durante a utilização da rede social online, em especial aquilo que

Dennen (2008) chama de lurking pedagógico, já que as várias atividades sugeridas pelo

docente nem sempre contaram com participação maciça da turma, ainda que todos tomassem

conhecimento das mesmas.

Entre as hipóteses levantadas neste trabalho para esta discrepância entre aceitação e

participação discente estão a falta de costume para a utilização didática da rede social online e

a falta de controle do aluno sobre o próprio uso da tecnologia (em alguns casos, os alunos

foram privados da participação em atividades online como punição familiar devido à alguma

conduta inapropriada fora da escola, por exemplo), e tal achado combina marginalmente com

o estudo dos riscos do aprendizado híbrido conduzida por Holley e Oliver (2010).

A atuação do professor no grupo, previa uma maior autonomia dos alunos em relação

às publicações e discussões no grupo, e pelo questionário entendeu-se que procedimentos

mais constantes e uma maior presença do docente podem ter impacto positivo na utilização do

grupo pelos alunos. Entre as medidas sugeridas pelos alunos para essa maior participação

docente, a curadoria de conteúdo – relacionando as publicações a temas de aula – é uma das

práticas que devem ser realizadas constantemente.

Por fim, as redes sociais, especificamente o Facebook, surgem como uma

possibilidade de apoio ao ensino presencial por sua capacidade de convergência entre mídias,

por ser um ambiente virtual familiar e por disponibilizar inúmeros recursos de aprendizagem

(conteúdos multimídia, hipertextuais de interação síncrona e assíncrona entre

professores/alunos e alunos/alunos). Contudo o Facebook permite ao aluno assumir a

responsabilidade e a motivação pelo seu aprendizado, aumentar a sensação de pertencimento

ao grupo e oferecer oportunidades colaborativas em sala de aula.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M. E. B. Gestão de tecnologias, mídias e recursos na escola: o compartilhar de significados. Em Aberto, Brasília, DF, v. 22, n. 79, p. 75-89, 2009. Disponível em <http://emaberto.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/viewFile/1435/1170>. Acesso em: 22 fev. 2013.

DENNEN, V. P. Pedagogical lurking: student engagement in non-posting discussion behavior. Computers in Human Behavior, Tallahassee, v. 24, n. 4, p. 1624-1633, 2008. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S074756320700115X>. Acesso em: 15 maio 2013.

3915

FERREIRA, J. L.; CORRÊA, B. R. P. G.; TORRES, P. L. O uso pedagógico da rede social Facebook. In: TORRES, P. L.; WAGNER, P. R. Redes sociais e educação: desafios contemporâneos/comunidade virtual de aprendizagem. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012. p. 16-18. Disponível em: <http://www.ead.pucrs.br/ebook-ricesu2012/>. Acesso em: 15 maio 2013.

HOLLEY, D.; OLIVER, M. Student engagement and blended learning: portraits of risk. Computers & Education, Amsterdã, v. 54, n. 3, p. 693-700, 2010. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0360131509002711>. Acesso em: 26 nov. 2011.

KÖSE, U. A blended learning model supported with Web 2.0 technologies. Procedia Social and Behavioral Sciences, Amsterdã, v. 2, n. 2, p. 2794-2802, 2010. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S187704281000457X>. Acesso em: 26 nov. 2011.

LIMA, W. Mídias sociais conectadas e social machines. In: BRAMBILLA, A. (Org.). Para entender as mídias sociais. São Paulo: [s.n.], 2011. Disponível em: <http://issuu.com/anabrambilla/docs/paraentenderasmidiassociais>. Acesso em: 26 nov. 2011.

LÜCKE, M.; ANDRÉ, M. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

MATTAR, J. O uso do second life como ambiente virtual de aprendizagem. Revista Fonte, Belo Horizonte, n. 8, p. 88-95, 2008. Disponível em: <http://www.prodemge.mg.gov.br/images/revistafonte/revista_8.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2012.

MORAES, M. C. O paradigma educacional emergente. Campinas: Papirus, 1997.

MORAN, J. M. O uso das novas tecnologias da informação e da comunicação na EAD: uma leitura crítica dos meios. Belo Horizonte: MEC, 1999. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/T6%20TextoMoran.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2013.

MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2002.

PRIMO, A. F. T.; AXT, M. Interação mediada por computador: a comunicação e a educação a distância segundo uma perspectiva sistêmico-relacional. 2003. 292 f. Tese (Doutorado em Informática na Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003.

RECUERO, R. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.

SHÖN, D. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Tradução de Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed, 2000.

3916

SOUZA, A. A. N.; SCHNEIDER, H. N. Aprendizagem nas redes sociais: colaboração online na prática de ensino presencial. São Carlos: UFSCAR, 2012. Disponível em: <http://sistemas3.sead.ufscar.br/ojs/Trabalhos/43-870-1-ED.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2013.