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II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores
A METODOLOGIA DE PROJETOS E A CONSTRUÇÃO (CONSOLIDAÇÃO) DA AUTONOMIA INTELECTUAL DO ESTUDANTE: O TRABALHO COM SIMULAÇÕES DAS
NAÇÕES UNIDAS NA ESCOLA
Jones Godinho, Lucíola Inês Pessoa Cavalcante
Eixo 2 - Projetos e práticas de formação continuada
- Relato de Experiência - Apresentação Oral
Este texto traz o relato de uma experiência com metodologia de projetos, mais especificamente com um modelo de simulação das Nações Unidas (ONU), desenvolvido no contexto escolar com alunos do Ensino Médio, em uma escola particular na cidade de Manaus/AM. Neste sentido, refletiremos sobre o papel do professor na formação do estudante, tendo como perspectiva a autonomia intelectual, de modo que o aluno possa refletir sobre suas ações, compreendendo os princípios gerais da sociedade em que vivemos e do mundo globalizado, unindo formação intelectual ao processo de apropriação contínua de saberes e práticas. Palavras-chave: Metodologia de Projetos. Ensino Médio. Autonomia intelectual. Simulações da ONU.
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A METODOLOGIA DE PROJETOS E A CONSTRUÇÃO (CONSOLIDAÇÃO) DA AUTONOMIA INTELECTUAL DO ESTUDANTE: O TRABALHO
COM SIMULAÇÕES DAS NAÇÕES UNIDAS NA ESCOLA
Jones Godinho. Centro Educacional La Salle Manaus; Lucíola Inês Pessoa Cavalcante.
Universidade Federal do Amazonas - UFAM .
1. Introdução
Mesmo após tanto debate sobre o assunto, constata-se que o sistema educacional
ainda vigente em nossas escolas é pautado em uma pedagogia tradicional, centrada na
figura do professor, que detém o conhecimento e o repassa a seus alunos de forma
meramente expositiva. Muitos professores ainda sustentam uma metodologia que se
revela ultrapassada, onde os assuntos são abordados de maneira superficial,
descontextualizada e inflexível, pouco atraente aos alunos, demonstrando um déficit na
sua formação docente. Teóricos da Educação afirmam que este modelo tradicional de
ensino tem sido pouco eficaz para ajudar o aluno a desenvolver as competências de
aprender a conhecer, a fazer, a ser e a compreender. Uma educação orientada por essas
competências objetiva que a aprendizagem não se torne passiva, verbal, teórica e
livresca, mas que oportunize ao aluno ser protagonista do conhecimento, e este se dê
pela relação sujeito-objeto-realidade, com a mediação do professor.
Atualmente, as propostas pedagógicas sugerem que educar significa preparar o
indivíduo para responder às necessidades pessoais e aos anseios de uma sociedade em
constante transformação, aceitando os desafios das novas tecnologias, dialogando com
um mundo cada vez mais dinâmico e globalizado, buscando uma sociedade melhor
capacitada para responder às necessidades humanas por meio de espaços educacionais
autônomos, criativos, solidários, multifacetados e participativos. Porém, em nossas
escolas, ainda encontram-se obstáculos para a formação integral dos jovens estudantes
no contexto atual do mundo em que vivemos. A grande questão é o risco da não-
aprendizagem, já que não há uma interação entre o sujeito e o objeto do conhecimento.
O professor repassa aos alunos os conhecimentos adquiridos ao longo dos tempos pelas
diferentes culturas e, como num sistema Bluetooth, apenas transfere os dados, as
informações, com pouca ou sem nenhuma interação ou problematização; há apenas uma
exposição verbal do assunto, exercícios de memorização e fixação de conteúdos, leituras
em livros didáticos, provas. O aluno é um agente passivo no processo, mero espectador,
o qual recebe tudo pronto, não problematiza, ou muito pouco o faz, não é levado a
relacionar ou questionar o que está recebendo com o que já conhece. É um processo
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sem sentido para o educando, pois está desvinculado de sua realidade,
descontextualizado, alienado e, consequentemente, seus resultados são frustrantes.
Outro ponto que nos leva à reflexão é em relação às formas pelas quais os
estudantes são avaliados, formas estas que, muitas vezes, reforçam uma metodologia
que apenas “quantifica” o conhecimento transmitido e nem sempre compreendido pelo
aluno. Uma justificativa muito ouvida entre os professores é com relação à falta de tempo
para realizar trabalhos que envolvam efetivamente os alunos, pois existe um extenso
programa a cumprir. Alia-se a isto o excessivo contingente da sala de aula, o que não
contribui para atividades que exijam outras formas de organização, tendo os mesmos que
permanecerem sentados, ordenados em filas. No passado e, infelizmente ainda hoje, “a
classe tradicional é um espaço orientado segundo um eixo de trás para diante. Na frente,
o mestre empoleirado em seu estrado, que lhe permite ver cada um, e dispondo do
quadro negro sobre o qual se inscreve a verdade.” (CHARLOT, 1986, p.164).
Neste contexto, num primeiro momento, refletiremos brevemente sobre o papel do
professor na formação do estudante, em uma sociedade globalizada, tecnicista e
mercadológica, que cada vez mais exige profissionais qualificados, com sólida formação,
e que transcenda a um ensino que vise apenas uma educação profissional, ou seja, que
se reduza a um simples treinamento/adestramento limitado à reprodução/adequação das
tarefas imediatas demandadas pelo sistema capitalista. Em seguida, passaremos a um
relato de experiência com metodologia de projetos, mais especificamente com um
modelo de simulação das Nações Unidas (ONU), vivido no contexto escolar com alunos
do Ensino Médio, em uma escola particular na cidade de Manaus/AM, processo este que
objetiva desenvolver autonomia intelectual, possibilitando ao estudante a reflexão sobre
suas ações, ampliando a compreensão dos princípios gerais que norteiam diferentes
realidades socioculturais e a organização do trabalho em nossos dias, unindo formação
intelectual ao processo de apropriação contínua de saberes e práticas.
2. O (des)contexto de muitas salas de aula
Poucas são as possibilidades de aprendizagem quando os alunos não estão efetiva
e afetivamente envolvidos na construção do conhecimento. Sendo assim, quando este
envolvimento não ocorre, o professor, em grande parte da sua aula, ocupa-se em chamar
a atenção e pedir silêncio, mas dificilmente consegue atrair sobre si a atenção desejada,
o que acaba virando em bagunça, e o aluno é culpabilizado por isto. Como resultado de
uma metodologia pouco atraente, ocorre a deformação dos alunos e dos próprios
professores, que se desgastam, se distanciam e se desmotivam, resultando em
acomodação e resistência a novas propostas.
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Ouvimos muito dos alunos: “fui a todas as aulas, fiz todas as tarefas, estudei em
casa e não concordo com as notas que recebi”. O professor retruca, afirmando que o
aluno é preguiçoso e não entendeu a matéria. Esse descompasso revela o grande
abismo existente entre as pessoas envolvidas no processo ensino-aprendizagem. Os
estudantes, quando questionados, acham que deveriam ser recompensados pela
quantidade de tempo passado em frente dos livros. Ou seja, as notas deveriam ser
proporcionais ao estudo. A instituição escolar defende que, se o estudante não fez as
tarefas, não leu, nem adquiriu um saber intelectual, ele pode ser reprovado. Para esse
aluno, isso é uma injustiça, algo ilógico. A maioria dos estudantes gosta de ir à escola
para encontrar os amigos, namorar e praticar esportes. Raramente ouvimos algum deles
referir-se a ela como um lugar para aprender. Para eles, os estudos, os trabalhos e as
pesquisas existem para atender apenas aos interesses da escola. Assim, professores
pensam que ensinam e alunos pensam que estudam.
Em entrevista à revista Nova Escola, na edição 195, de Outubro/2006, Bernard
Charlot problematiza o assunto dizendo que,
há milhares de motivos pelos quais os jovens imaginam que a escola é o lugar do lazer e não do saber. É importante descobri-los, mais do que criticar. Os conflitos nascem quando o professor explica algo que não é compreendido. Ainda tranquilo, e com outras palavras, ele explica de novo, e outra vez sem sucesso. Rapidamente, ele vai considerar o estudante um incapaz. O educador culpa o aluno, mas se sente fracassado também porque a turma não avança. O jovem, por seu lado, pensa que o professor não sabe ensinar. O clima fica tenso e uma coisa sem importância vira estopim para uma agressão verbal ou física. (p. 32)
A psicologia, a filosofia, a epistemologia e a sociologia da educação revelam uma
série de fatores que devem ser observados na educação atual, como por exemplo: o
aluno deve ser motivado para a aprendizagem; a abertura ao conhecimento se dá na
relação sujeito-objeto-realidade, com a mediação do professor e não pela simples
transmissão mecânica do conhecimento; é o aluno o protagonista do seu conhecimento,
e o mesmo ocorre por meio do confronto com o objeto de estudo e não simplesmente
pela ação do professor; o aluno possui uma bagagem cultural que precisa ser valorizada;
as ações em sala de aula possuem uma dimensão coletiva, as atividades em grupo
devem ser vistas como atividades cooperativas e colaborativas e os estudantes devem
ser confrontados com as situações de pesquisa e argumentação, que pedagogicamente
são mais enriquecedoras. A sala de aula deve adotar
uma organização espacial e temporal que não é mais centrada no mestre e que combina trabalho individual, o trabalho em pequenos grupos e as trocas ao nível do grupo-classe. As carteiras são ora reunidas em círculo, ora espalhadas na classe em pequenos grupos e
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ora isoladas. O emprego do tempo apresenta flexibilidade e grande variedade de modos de atividade. (CHARLOT, 1986, p. 170-171).
É lógico que existe uma tensão que faz parte do ato pedagógico, porém, o primeiro
problema que o docente enfrenta é não produzir diretamente seu trabalho, ou seja, o que
faz o aluno aprender é sua própria atividade intelectual, não a do mestre. O trabalho do
educador é despertar e promover essa atividade.
3. A Metodologia de Projetos: uma experiência em sala de aula
A sala de aula é o espaço privilegiado do professor e do aluno, onde ambos criam,
produzem, materializam e internalizam todo o produto das criações e interações humanas
sobre o espaço.
Pedagogicamente, a metodologia de projetos não é uma novidade, visto ser uma
prática cotidiana já em muitas escolas, visando o trabalho em grupo, partindo do
interesse dos alunos, do real, favorecendo a criatividade, a descoberta e a pesquisa. As
diferentes tendências que se apresentam atualmente encaram o homem de forma
contextual, holística e multidimensional, o que implica promover, por meio da educação,
metodologias de ensino que permitam ao aluno interagir, de forma dinâmica e
contextualizada, com os conteúdos e as informações disponíveis (ALMEIDA, 2000).
A Metodologia de Projetos torna-se então um apoio para uma proposta de ensino
atualizado, correlacionado com a afetividade, já que permite o trabalho com grupos
cooperativos, cria condições para que os alunos experimentem suas descobertas,
desenvolvam a confiança na própria capacidade de aprender e tomar decisões e fazer
escolhas apropriadas. Possibilita também praticar o ouvir e refletir sobre fatos; defender a
si mesmo e suas ideias; agir na concretização de objetivos; dizer a verdade, honrar
compromissos e servir de exemplo. Confere ao professor a liberdade e a autonomia de
promover, na escola, a organização do currículo escolar por temas e situações-
problema, envolvendo os estudantes na pesquisa, tornando o ensino mais ativo e
significativo para todos (VALENTE, 1999).
Os professores são, efetivamente, os agentes responsáveis por desenvolver
processos de ensino e de aprendizagem que respondam às expectativas da sociedade.
Sendo assim, precisam estar preparados para assumir práticas de ensino voltadas para a
formação de competências, desenvolvimento de habilidades e de valores que vão além
do tradicional ensino baseado em disciplinas e conteúdos. Dessa forma, a metodologia
de projetos permite ao professor orientar o aluno, criar condições para que ele construa
um conhecimento novo através de pesquisas, debates, relatórios, exercícios, confecção
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de seus materiais e até mesmo de produtos gerados a partir de sua aprendizagem
(FREIRE E PRADO, 1999). Assim o aluno deve percorrer, nessa construção, um caminho
pessoal, autônomo, que permite levá-lo à formação da consciência e à análise dos
processos causais que sustentam a vida afetiva, respondendo às exigências da vida
moderna, cada vez mais competitiva, onde o mais preparado, na linha da seleção natural,
é o que sobrevive.
Neste contexto do trabalho com projetos em sala de aula, apresentaremos um
exemplo, dentre tantos que poderiam ser aqui relatados, chamado Mundo ONU,
desenvolvido desde o ano de 2010 como atividade pedagógica permanente e
complementar em uma escola privada na cidade de Manaus/AM, com o qual buscou-se
colocar os alunos em contato com uma prática de simulação, como é conhecida
atualmente, surgida entre os estudantes da Universidade de Harvard, nos Estados
Unidos da América, em 1927, os quais decidiram simular o ambiente de negociação da
Liga das Nações após a Primeira Grande Guerra Mundial. Foi, no entanto, depois da
criação da Organização das Nações Unidas – ONU, que a prática de modelos se
expandiu pelo mundo (MCINTOSH, 2001).
3.1 Histórico do Projeto Mundo ONU
O Projeto Mundo ONU é um modelo de simulações das Nações Unidas, realizadas
com o objetivo de simular o ambiente de negociação e de tomada de decisão de
organismos multilaterais, o qual faz parte das atividades pedagógicas anuais da escola e
é desenvolvido com os alunos matriculados nos três anos do Ensino Médio (1º, 2º e 3º
Anos), totalizando uma média de 700 alunos/ano, envolvendo todos os professores deste
nível de ensino, bem como a comunidade educativa e a comunidade local.
A atividade nasceu durante uma reunião pedagógica, onde se discutiam propostas
de ensino aprendizagem transdisciplinares, alternativas ao ambiente cotidiano de sala de
aula, que promovessem, entre alunos e professores, uma espécie de fórum, uma
discussão e reflexão sobre diversos temas de relevância mundial como direitos humanos,
economia, política, paz, segurança, meio ambiente e sustentabilidade. Desejava-se
também uma atividade que proporcionasse aos alunos, ao buscarem soluções para
desafios e questões globais, o desenvolvimento de habilidades como oratória, pesquisa,
capacidade de negociação, cooperação, tolerância, liderança e autonomia.
Neste sentido, após serem colocadas na mesa algumas propostas, uma em
especial, a qual já era semelhantemente desenvolvida em outras instituições de ensino
pelo país e pelo mundo, foi a que mais chamou a atenção de todos, pois seu formato
vinha ao encontro daquilo que se almejava no momento. Um professor, membro da
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equipe, relatou sua experiência vivida em outra instituição com um modelo semelhante.
Após discussão sobre a proposta de atividade, desenvolveu-se um pequeno projeto
pedagógico sobre o mesmo, o qual foi acolhido e aceito pelos demais colegas
professores, e colocado em prática naquele ano (2010), em caráter experimental.
A experiência deu tão certo que passou a fazer parte do calendário anual de
eventos do Ensino Médio. Passaremos ao relato.
A primeira edição do Projeto, realizada em Outubro de 2010, teve como tema a
realidade socioambiental da região Amazônica: “Os desafios do homem frente às
ameaças quanto à sustentabilidade do planeta e sua própria espécie”. O tema da
diversidade cultural e o respeito à liberdade de definir a própria identidade, sem sofrer
discriminação, foi a base dos debates da segunda edição do evento: “Promover Direitos,
Valorizar Culturas”, ocorrido em Setembro de 2011. Em 2012, sob o tema: “Confiança
entre Países, Respeito entre Pessoas”, pretendeu-se discutir os resultados das duas
primeiras edições, partindo da análise de valores fundamentais da convivência humana
em dois níveis: individual, analisando as relações interpessoais como força motriz de
comportamentos e reações da sociedade; e ao nível macro, estatal, analisando a relação
entre os Estados. A edição de 2013, realizada no mês de Julho, defendeu o
reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus
direitos iguais e inalienáveis como fundamento da liberdade, da justiça e da paz no
mundo (conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos), e teve como tema:
“Reconhecendo Direitos, Promovendo a Dignidade”.
Sob a luz do tripé: Construção do conhecimento; Desenvolvimento de
competências, habilidade e atitudes; e Fortalecimento de valores, o Projeto Mundo ONU
é uma atividade pedagógica complementar ao ensino em sala de aula, que proporciona a
ampliação do conhecimento dos jovens acerca da realidade global, estimula uma postura
mais responsável e crítica com relação aos temas da agenda internacional das Nações
Unidas, com a qual entram em contato, buscando torná-los cidadãos mais críticos e
participativos.
3.2 Descrição do Projeto Mundo ONU
Em nossa experiência, os estudantes dos três anos do Ensino Médio tornam-se
diplomatas de países membros da Organização das Nações Unidas e simulam os
procedimentos de negociação internacional procurando solucionar conflitos e estabelecer
cooperação. As simulações visam aprimorar e avaliar qualidades importantes, dentre elas
a oratória, os métodos de pesquisa, a escrita na norma culta da língua, a comunicação, o
trabalho em equipe, as técnicas de negociação, os processos decisórios e a produção de
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documentos oficiais. Os participantes incorporam princípios como o respeito, a paz, o
diálogo, a tolerância e a democracia.
A preparação do evento acontece quatro meses antes da realização do mesmo. A
equipe organizadora, formada por professores e alguns alunos, elege os comitês, seus
respectivos temas e países a serem representados, levando em conta a participação
efetiva destes nas Nações Unidas e temáticas de relevância regional e mundial. Em
seguida, os estudantes que participarão do Projeto recebem orientações sobre os temas
a serem abordados em cada comitê, bem como os procedimentos para participação nos
mesmos. Após as devidas orientações, é aberto o período de inscrições nos Comitês,
nos quais os alunos, livremente, devem se organizar em grupos (de no máximo 05
integrantes), os quais passarão a representar uma Nação/País membro da ONU. Os
grupos/representação de cada país passam a ser chamados de Delegação, e seus
respectivos membros, Delegados.
Após o período de formação de Delegações e inscrição, são organizados grupos de
pesquisa, debates e esclarecimento de dúvidas quanto à vestimenta a ser usada no dia
do evento, à redação dos documentos oficiais, às regras a serem respeitadas, além de
palestras temáticas com a orientação de cientistas políticos, sociais, filósofos, teólogos,
biólogos, pessoal da área da saúde, das letras, das línguas, juristas, e das demais áreas
do conhecimento, conforme a necessidade. A comunidade educativa envolve-se na
preparação, organização, suporte e divulgação do evento.
Os debates ocorrem em dois dias. No primeiro dia do evento, formalmente vestidos,
após solenidade de abertura realizada no teatro da escola, os Delegados das nações se
reúnem em salas de aula organizadas para este fim, e dá-se início aos debates,
coordenados, avaliados e dirigidos pela Mesa Diretora, composta por dois alunos e um
professor. No segundo dia, dá-se prosseguimento aos debates e procura-se apresentar
propostas para soluções dos problemas ou conflitos discutidos. Durante e ao final do
mesmo, redigem-se documentos oficiais que são avaliados pelos professores, contendo
propostas de cooperação, para solução de crises, e firmam-se acordos internacionais.
Os temas discutidos nos respectivos comitês versam, por exemplo, sobre
segurança internacional, cultura, discriminação, bullying e cyberbullying, organização das
cidades e áreas urbanas, economia mundial, sustentabilidade e preservação do meio
ambiente, sistema carcerário e direitos humanos, propriedade intelectual, saúde pública,
crescimento populacional, desenvolvimento inclusivo e erradicação da pobreza,
educação em situações de emergência, trabalho infantil e os direitos da criança e
adolescente, direito internacional, entre outros.
A organização do Projeto segue o seguinte cronograma:
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Ações Mês 1 2 3 4 5
Eleição dos Comitês e Temas X Apresentação dos Comitês e Temas aos alunos X Inscrições dos alunos nos Comitês X Organização de grupos temáticos para estudo e debates X X Evento Mundo ONU X Avaliação do Projeto, relatório das atividades e resultados X
A equipe organizadora, formada por um coordenador e professores do Ensino
Médio, acompanha e orienta os alunos durante a execução do projeto. No primeiro mês
os alunos são introduzidos no mundo das Nações Unidas por meio de aulas temáticas,
conhecendo seus objetivos e finalidades. São exigidos, das delegações, 2 relatórios de
todas as suas atividades que antecedem o evento, 1 no segundo mês e outro no terceiro.
São propostas atividades complementares com o objetivo de entrosar e sensibilizar os
participantes, como gincanas, coleta de alimentos e visita a entidades assistenciais. Nos
dias do evento, os participantes são avaliados (com nota de 0 a 10) na participação,
pontualidade, assiduidade e respeito às regras; na produção de documentos oficiais,
quanto à coerência com a política externa/posição do país representado e bom uso do
português padrão; a diplomacia; as estratégias de negociação e conteúdo dos discursos;
produção de materiais informativos (vídeos, folders, jornais, blogs) sobre a realidade
sociopolítica da nação representada. Após o evento, os documentos, devidamente
corrigidos, são encadernados e dão origem a um livro, com os resultados e o histórico
dos debates. Uma avaliação geral do evento é feita pelos participantes, por meio de um
questionário, além da gravação em áudio e vídeo de depoimentos, com o intuito de
identificar se os objetivos foram alcançados e também preparar o próximo evento.
Para o desenvolvimento das atividades que compõem o projeto, faz-se uso de salas
de aula, as quais têm suas mesas dispostas em semicírculo, com o intuito de favorecer
os debates e para que todos os envolvidos sejam vistos por todos, auditório, mesas,
cadeiras, computadores (laboratório de informática), impressora, microfones, data show,
máquina fotográfica, sistema de som, biblioteca, livros, revistas, jornais, acesso à
Internet, pincéis para quadro branco, folhas de ofício, blocos para anotação, lápis,
canetas esferográficas, cartazes, faixas, banners, folders, flipchart, pastas, bandeiras,
crachás, copos descartáveis, entre outros.
4. Resultados
Charlot (2010) afirma que para se conseguir uma boa colocação no mercado de
trabalho é preciso adquirir saberes, desenvolver a imaginação, construir referências para
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entender o que é a vida, o que é o mundo e o que é a convivência com os outros. Há
uma grande perda de tempo e energia quando isso não acontece. Todos se sentem
lesados, e não poderia ser diferente, pois muitas de nossas escolas não preparam os
cidadãos para este tipo de comportamento e reação. A escola ideal é aquela que faz
sentido para todos e na qual o saber é fonte de prazer. Isso não quer dizer que dispense
esforço. O esportista, para ter satisfação, se empenha muito. Ainda hoje, um grande
número de professores pensa que sua função é dar respostas, mas elas não significam
nada se não houver um questionamento anterior. Os estudantes estão decorando coisas
que nem sequer entendem. O trabalho do professor é fazer nascer novas questões e o
interesse pela escola. Caso contrário, ele gasta o ano letivo em embates pouco
significativos.
A utilização da metodologia de projetos na escola, principalmente a atividade
supracitada, trouxe à sala de aula, aos alunos e à escola, dinamismo e entusiasmo, pois
sobre o aluno recai a responsabilidade do seu aprendizado, num movimento autônomo,
sob a orientação do professor, visto que “todas as coisas podem ser ensinadas por meio
de projetos, basta que se tenha uma dúvida inicial e que se comece a pesquisar e buscar
evidências sobre o assunto”, diz o educador espanhol Fernando Hernández
(HERNÁNDEZ, 2000, p. 181).
A prática de se trabalhar com projetos na escola, como já dito, não é novidade,
especialmente com o projeto Mundo ONU; é semelhante aos debates em sala de aula: as
carteiras ficam dispostas em círculo e são os alunos que falam por todo o tempo. Mas
existem algumas particularidades: a primeira está no fato de que os estudantes não falam
necessariamente o que pensam ou acreditam, mas defendem pontos de vista que muitas
vezes não são seus, mas dos governos/países que representam. Para isso, cada um
interpreta o papel de diplomata de um determinado país. A segunda diferença é que eles
não discutem apenas para trocar ideias, pois em quase todos os casos, há o texto de
uma resolução em jogo. É produção em grupo, com vários interesses envolvidos. Os
alunos devem não apenas debater tecnicamente o assunto, mas formar alianças, propor
acordos, somar votos e neutralizar os argumentos adversários. E a terceira diferença é
que os estudantes sempre simulam um órgão específico (o comitê), com suas próprias
regras, funções, poderes e determinações.
Esta prática reafirma o que a UNESCO (1999) indica como finalidades para a
educação contemporânea: aprender a ser, aprender a fazer, a viver juntos e a conhecer.
Vivemos em uma sociedade que se quer democrática, onde se defendem valores de
liberdade, solidariedade, igualdade, fraternidade, verdade. No entanto, a capacidade de
pensar, imaginar, inovar, expressar é constantemente inibida, agredida, recalcada. A
medida em que os professores insistem no estudo apenas individual dos alunos, na
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avaliação mediante unicamente provas, na disciplina rígida, no currículo centrado em
conteúdos e disciplinas e não em uma permanente referência do percurso de
aprendizagem e de desenvolvimento do aluno, se está apenas reafirmando um processo
burocrático, alienante e autômato, tudo o que se quer transpor!
Neste sentido, a metodologia de projetos pode ser um auxiliar nesta tarefa,
colocando o aluno frente aos acontecimentos atuais de um mundo dinâmico, utilizando os
conhecimentos teóricos em atividades práticas, voltadas para a utilização e aplicação
deste conhecimento para solucionar conflitos e estabelecer cooperação, além de, com
isto, desenvolver e construir outros conhecimentos e habilidades, principalmente no
contato com o diferente, numa perspectiva da alteridade (ALVES, 2011).
As vantagens das simulações, desenvolvidas no projeto, em relação a uma aula
expositiva comum são muitas. Podemos citar aquilo que vimos durante o desenrolar da
atividade, desde o momento da apresentação do projeto aos alunos até o fechamento do
mesmo nos dias de debates. O que muitos participantes acabaram testemunhando é que
as simulações aprimoram os métodos de pesquisa, o levantamento de dados, a análise
de documentos, a história e a cultura dos povos e países, além da socialização em
debates sobre as informações obtidas. Outros pontos fortes levantados pelos alunos
participantes é que o projeto incentiva o exercício da oratória, da escrita, do diálogo, do
trabalho em equipe, das técnicas de negociação, dos processos decisórios, da produção
de documentos oficiais e da resolução de conflitos.
Percebeu-se, com a realização do projeto, um estímulo ao diálogo, à cooperação, à
responsabilidade e criticidade com relação aos temas da agenda internacional das
Nações Unidas, visando o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais.
Constatou-se, no cotidiano da escola, uma participação e engajamento em atividades
sociais e humanitárias por parte alunos, pois muitos despertaram interesse em seguir
carreira diplomática, a cursar relações internacionais, jornalismo, ou aquelas voltadas,
mais especificamente, à intervenção na sociedade.
Mesmo que muitas vezes, durante o desenvolvimento dos projetos e atividades
escolares, ocorram situações indesejadas que levem ao desânimo ou à desmotivação, e
a responsabilidade de mantê-los vivos recaia sobre um ou dois professores que não se
deixaram sucumbir, acreditamos que, atividades como esta, estimulam o aluno a estudar
por conta própria e a “andar com as próprias pernas”, num exercício da autonomia, tão
desejada e almejada na atualidade, motivando o aluno a estudar História, Política,
Geografia, dados matemáticos e físicos para compor sua argumentação.
Moura (1993) destaca a importância de valorizar a dimensão lúdica, estética, na
educação escolar, “no sentido de superar o impasse principal da escola em nossos dias:
atenuar a presença do fator necessidade, ampliando a atuação do fator estímulo”. À
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afetividade cabe a função desencadeadora do agir e do pensar humanos, que efetiva o
desenvolvimento sócio-cognitivo.
O jovem não quer uma escola com a cara dele, mas uma que faça a ponte entre a
história coletiva do ser humano e sua história individual.
Referências
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