A implantação dos Sousas na Estremadura in A capela dos Sousas no Mosteiro da Batalha, Edição de...

22
1 | P á g i n a A implantação regional dos Sousas na Estremadura Miguel Portela O túmulo de D. Diogo Lopes de Sousa, falecido em Madrid, por 1640 ou 1641, que se apresenta magnificente, na antiga capela de S. Miguel, na cabeceira do Mosteiro da Batalha, representa um monumento singular na exaltação da memória genealógica da família dos Condes de Miranda, depois Marqueses de Arronches e, mais tarde, Duques de Lafões, cujos antepassados, desde tempos medievais, encontraram na então Estremadura lugares para edificação de solares, enquanto senhores de rico património, assim como de projecção do seu estatuto e prestígio. No ano de 1690, o Cardeal Sousa, olhando para este Mosteiro, em que repousavam os corpos reais dos fundadores da Dinastia de Avis, e onde se encontravam, na referida capela, as ossadas de alguns dos seus antepassados, eventualmente em condições de deposição e guarda funerárias menos adequadas à dignidade da família, tomou a decisão de, numa atitude de erudito mecenatismo e de revigoramento da memória genealógica da sua Casa, aqui patrocinar a construção do mausoléu que hoje admiramos. Não concordam todos os cronistas em saber se o Mestre da Ordem de Cristo, D. Lopo Dias de Sousa, a quem D. João I doou esta capela, foi ou não aqui sepultado. Frei Luís de Sousa, na História de S. Domingos, afirma-o; o autor de O Couseiro ou Memórias da Diocese de Leiria, de cerca de 1650, nega-o, o mesmo se podendo ler em autores como Barbosa de Machado e D. António Caetano de Sousa. Como ponto de partida para este estudo, achamos que era de todo o interesse procurar as origens dos Sousas na antiga Estremadura. Nesse sentido, a descrição genealógica desta linhagem, assumirá importância ao longo deste trabalho, bem como as suas ligações familiares. Assim, independentemente das informações recolhidas, procuraremos aclarar vários aspectos preponderantes que motivaram a fixação e deram impulso ao granjear do prestígio dos Sousas no acesso aos rendimentos necessários e ao reconhecimento da sua condição social.

Transcript of A implantação dos Sousas na Estremadura in A capela dos Sousas no Mosteiro da Batalha, Edição de...

1 | P á g i n a

A implantação regional dos Sousas na Estremadura

Miguel Portela

O túmulo de D. Diogo Lopes de Sousa, falecido em Madrid, por 1640 ou 1641,

que se apresenta magnificente, na antiga capela de S. Miguel, na cabeceira do Mosteiro

da Batalha, representa um monumento singular na exaltação da memória genealógica da

família dos Condes de Miranda, depois Marqueses de Arronches e, mais tarde, Duques

de Lafões, cujos antepassados, desde tempos medievais, encontraram na então

Estremadura lugares para edificação de solares, enquanto senhores de rico património,

assim como de projecção do seu estatuto e prestígio.

No ano de 1690, o Cardeal Sousa, olhando para este Mosteiro, em que

repousavam os corpos reais dos fundadores da Dinastia de Avis, e onde se encontravam,

na referida capela, as ossadas de alguns dos seus antepassados, eventualmente em

condições de deposição e guarda funerárias menos adequadas à dignidade da família,

tomou a decisão de, numa atitude de erudito mecenatismo e de revigoramento da

memória genealógica da sua Casa, aqui patrocinar a construção do mausoléu que hoje

admiramos.

Não concordam todos os cronistas em saber se o Mestre da Ordem de Cristo, D.

Lopo Dias de Sousa, a quem D. João I doou esta capela, foi ou não aqui sepultado. Frei

Luís de Sousa, na História de S. Domingos, afirma-o; o autor de O Couseiro ou

Memórias da Diocese de Leiria, de cerca de 1650, nega-o, o mesmo se podendo ler em

autores como Barbosa de Machado e D. António Caetano de Sousa.

Como ponto de partida para este estudo, achamos que era de todo o interesse

procurar as origens dos Sousas na antiga Estremadura. Nesse sentido, a descrição

genealógica desta linhagem, assumirá importância ao longo deste trabalho, bem como

as suas ligações familiares. Assim, independentemente das informações recolhidas,

procuraremos aclarar vários aspectos preponderantes que motivaram a fixação e deram

impulso ao granjear do prestígio dos Sousas no acesso aos rendimentos necessários e ao

reconhecimento da sua condição social.

2 | P á g i n a

Dos Sousas antigos, encontram-se várias inscrições sepulcrais, no claustro do

silêncio do mosteiro de Alcobaça, relativas a membros desta linhagem que viveram

entre finais do século XII e ao longo da centúria imediata1. No dizer de D. Luiz

Gonzaga, estes terão acompanhado a Reconquista e: “descendo dos seus senhorios

patrimoniais nortenhos, se vieram fixar no que então era a zona sul do País,

apadrinhando a criação de «capelas» tumulares ou, melhor dizendo, de vínculos pios

no poderosíssimo e abastado cenóbio cistercense de Alcobaça. Aliás aproximavam-se

já os tempos em que neste se instituiria o Panteão da Família Real Portuguesa e os

novos senhorios dos «de Sousa» situavam-se no que é hoje o centro do território

nacional – motivos que, reunidos, amplamente justificavam a opção dos descendentes

do Conde D. Mendo, «O Sousão».”2.

Assume especial importância na linha de varonia dos Sousas, D. Gonçalo Garcia

de Sousa que terá sido: “um dos mais opulentos ricos homens do seu tempo em

Portugal”3. Foi investido, na segunda metade do ano de 1255, no cargo de “signifer

curiae”, tendo celebrado contrato de casamento com D. Leonor Afonso, em 11 de Maio

de 1273 e recebido, em doação S. Estêvão (c. Ponte de Lima)4. Seria ela filha natural de

D. Afonso III, segundo alguns autores, ou como afirmam outros, filha bastarda do dito

rei5. D. Leonor Afonso terá sido casada anteriormente com D. Estêvão Anes de Sousa,

conforme carta de doação da vila de Pedrógão (Grande), passada em Lisboa, a 28 de

Janeiro de 12716.

1 BRAAMCAMP, Anselmo - Brasões da Sala de Sintra, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda,

1996, vol.1, p. 204. TAVORA, D. Luiz Gonzaga de Lancastre e - Apontamentos de Armaria Medieval

Portuguesa, III A Heráldica dos «Sousões» no Claustro do Silêncio de Alcobaça, Lisboa, 1983, p. 5.

SILVA, José Custódio Vieira da - O Panteão Régio do Mosteiro de Alcobaça, Lisboa, IPPAR,

Departamento de Estudos, 2003, pp. 24-27. GOMES, Saul António - Entre memória e história: os

primeiros tempos da Abadia de Santa Maria de Alcobaça. Revista de História da Sociedade e da Cultura,

2, 2002, pp. 218-219 e doc. 21, pp. 254-256. Sobre as lápides sepulcrais brasonadas dos Sousas em

Alcobaça, vd. BARROCA, Mário Jorge - Epigrafia Medieval Portuguesa (862-1422), Lisboa, Fundação

Caloustre Gulbenkian: Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2000, vol. II, pp. 644-646. 2 TAVORA, D. Luiz Gonzaga de Lancastre e, Op. Cit., p. 6. 3 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 205. Para um estudo mais aprofundado consultar:

LOURENÇO, Vanda Lisa - D. Gonçalo Garcia de Sousa - Um percurso de vida, Lisboa, Faculdade de

Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 2003. 4 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 205. VENTURA, Leontina e OLIVEIRA, António

Resende de - Chancelaria de D. Afonso III, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2006, liv. I,

vol. 2, pp.136-138. 5 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit.,vol.1, p. 205. D. Luiz Gonzaga de Lancastre e, Op. Cit., p. 8 e 15.

Fontes Narrativas da História Portuguesa, Livro de Linhagens do Século XVI (Introdução de FARIA,

António Machado), Academia Portuguesa da História, Lisboa, 1956, pp. 10-11. 6 VENTURA, Leontina e OLIVEIRA, António Resende de, Op. Cit., liv. I, vol. 2, pp. 55-56.

3 | P á g i n a

No final de 1286, D. Dinis ordenara inquirições ao património de Gonçalo Garcia

de Sousa, devido à contenda que o opunha aos herdeiros deste7.

As ligações familiares entre os Sousas e os descendentes dos nossos monarcas

irão revestir-se de uma manifesta importância, pois conduzirão à fixação desta linhagem

na região centro do nosso País. Em tempo de D. Dinis, constata-se o casamento de seus

irmãos e de uma sua sobrinha com esta família. Vejamos: D. Afonso Dinis, meio-irmão

de D. Dinis, foi casado com D. Maria Pais (Peres Ribeira)8, herdeira da Casa dos Sousa

– deles descendem os Sousas de Arronches; D. Martim Afonso, meio-irmão de D.

Dinis, foi casado com D. Inês Lourenço – deles descendem os Sousas Chichorros ou do

Prado; D. Leonor Afonso casou com D. Gonçalo Garcia de Sousa, como anteriormente

nos referimos e, por último, cumpre mencionar sua sobrinha D. Aldara Peres, casada

com D. João Pires dos «de Sousa»9.

Os Sousas no século XIII

Podemos constatar que a verdadeira implantação dos Sousas, na região centro, se

deve não só às estreitas ligações familiares com os descendentes dos nossos monarcas,

mas em parte à proximidade do prestígio de cobiçarem e possuírem terras em locais

disputados pela coroa e altos dignitários da cúria régia.

Um desses exemplos foi D. Maria Pais Ribeira que recebeu, em 1209, de D.

Sancho, a herdade de “almafala” (Almofala, c. Figueiró dos Vinhos)10, ou mesmo de

Martinho Anes, alferes-mor de D. Afonso II que, em Agosto de 1221, recebeu, em

doação e coutamento, uma herdade régia situada entre Penela e Maçãs (Maças de Dona

Maria, c. Alvaiázere). Esta propriedade estendia-se pelas margens da ribeira de Alge e

7 KRUS, Luís - D. Dinis e a Herança dos Sousas. O Inquérito Régio de 1287, Lisboa, Edição

Policopiada, 1989. 8 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 274. Veja o Título dos Sousas em Fontes Narrativas da

História Portuguesa… Op. Cit., p. 37. 9 D. Luiz Gonzaga de Lancastre e, Op. Cit., p.8. BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit, vol.1, pp. 201-298.

Veja o Título dos Sousas em Fontes Narrativas da História Portuguesa… Op. Cit., pp. 18-49. Livro dos

Bens de D. João de Portel, Cartulário do século XIII, (Publicado por AZEVEDO, Pedro de e

BRAANCAMP, Anselmo, Edições Colibri e Câmara Municipal de Portel, 2003, pp. XXVII. SEIXAS,

Miguel Metelo de, GALVÃO-TELLES, João Bernardo - Sousas Chichorros e Sousas de Arronches: um

enigma heráldico. In Estudos de Heráldica Medieval (Coord. de SEIXAS, Miguel Metelo de e ROSA,

Maria de Lurdes), Lisboa, Instituto de Estudos Medievais, Universidade Nova de Lisboa, 2012, pp. 411-

446. 10 Torre do Tombo (TT) - mç. 12 - Forais antigos, n.º 3, fl. 63. In PEDRO, Avelino Ferreira, Maçãs de

Dona Maria “A Ribeirinha”, Lisboa, 1928, p. 27. A data de Maio de 1219, está fora do reinado de D.

Sancho I. João Pedro Ribeiro, corrige a mesma para 1209. In COUTINHO, José Eduardo Reis - Ansião -

Perspectiva Global da Arqueologia, História e Arte da Vila e do Concelho, Coimbra, 1986, p. 131.

4 | P á g i n a

confinava a sul com Maçãs de D. Maria Pais (Maçãs de D. Maria), pela ribeira das

Lajes11. Este “Martim Anes” outorgou carta de foral, em Novembro de 1221, aos

povoadores desta nova herdade, agora denominada “herdade do avellal e da almafalla”,

ou seja, de Avelar e Almofala12. Uma terceira parcela desta herdade régia, designada

como herdade de “Couze” (Chão de Couce, c. Ansião), hoje chamada de Quinta de

Cima ou de Chão de Couce, foi dada, no ano de 1258, por D. Afonso III a D. Constança

Gil, filha de D. Egídio Martins, com todos os termos e direitos reais, a qual doou

posteriormente a seu sobrinho D. Martim Gil de Sousa, conde de Barcelos13.

Na varonia dos Sousas, D. Mem Garcia de Sousa, irmão de D. Gonçalo Garcia de

Sousa, fora casado com D. Teresa Eanes14. Deste casamento houve, entre outros filhos

dos quais não subsistiu geração, Maria Mendes e Constança Mendes, que deram origem

a dois grandes ramos dos Sousas (Sousas Chichorros ou do Prado e Sousas de

Arronches)15.

Da união de D. Maria Mendes com D. Lourenço Soares de Valadares, nasceu D.

Inês Lourenço, mulher que foi de Martim Afonso, o Chichorro de alcunha16.

No caso de Constança Mendes, sabe-se que fora casada com D. Pedro Eanes de

Portel, filho de D. João Peres de Aboim17, o qual teve propriedades no termo de Leiria,

conforme se documenta num escambo que o Concelho de Leiria fez com a Ordem do

11 AZEVEDO, Rui - Período de formação territorial: expansão pela conquista e sua consolidação pelo

povoamento. As terras doadas. Agentes colonizadores. In História da Expansão Portuguesa no Mundo,

(Direção de BAIÃO, António, CIDADE, Hernâni e MÚRIAS, Manuel), Editorial Ática/Lisboa, 1937, vol. I,

p. 36. 12 AZEVEDO, Rui, Op. Cit., vol. I, p. 36. Portugaliae Monumenta Historica, vol. I, p. 589, in PEDRO,

Avelino Ferreira, Op. Cit., p. 27. 13 AZEVEDO, Rui, Op. Cit., vol. I, p. 36. Em 1319, o Mosteiro de Santo Tirso trocou com D. João Afonso,

genro de D. Dinis, herdade pelos lugares de “Vila Verde e Ardazube ou Ardazubre, perto de Tentúgal, por

umas casas em Coimbra, juncto á egreja de S. Pedro, e mais quinhentas libras para compra de terras. -

«E era Chão de Couce cousa tão grande (diz a Benedictina Lusitana), que o Abbade e Monges se

desculpam de a trocarem, dizendo que o fazem assim por estar longe e não a poderem grangear, como

tambem por lhe damnificarem todas as suas propriedades os fidalgos que nellas se hião metter.», in S.

TOMAZ, Fr. Leão de, Benedictina Lusitana, tom. 2, trat. 1, part. 1, cap. 5, §5. SIMÕES, António

Augusto da Costa - Topografia Médica das Cinco Vilas e Arega, Edição fac-similada, Minerva, Coimbra,

2003, p. 1-2. 14 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., p. 206. Fontes Narrativas da História Portuguesa… Op. Cit., pp.

20-21. 15 Ibidem, pp. 20-21. Livro dos Bens de D. João de Portel, Cartulário do século XIII, (Publicado por

AZEVEDO, Pedro de e BRAANCAMP, Anselmo, Edições Colibri e Câmara Municipal de Portel, 2003,

pp. XXVII. 16 Desta união precedem os Condes do Redondo. BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, pp. 206-210.

Fontes Narrativas da História Portuguesa, Op. Cit., pp. 20-21. 17 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 241. Livro dos Bens de D. João de Portel…, Op. Cit., pp.

XXVII.

5 | P á g i n a

Templo de certos bens situados nos lugares de Alcanada, Magueixa e Maceira18, sendo

também usufrutuários vitalícios de umas casas da Ordem do Templo nesta cidade19. D.

Pedro Eanes de Portel tinha o governo de Leiria e Sintra em 1267, aparecendo, a partir

de 1271 até 1282, apenas como tenens de Leiria. Teria já falecido a 7 de Outubro de

1315, por não constar entre os confirmantes de um diploma régio daquela data20.

Constança Mendes recebera grande parte das propriedades de seu tio, D. Gonçalo

Garcia de Sousa, em virtude de uma contenda, sentenciada em 2 de Setembro de 1288,

na qual se pretendia definir aqueles a quem pertenciam certos direitos senhoriais

relativos justamente à herança em causa. A 8 de Janeiro de 1297, fez testamento em

Santarém, tendo falecido antes de 10 de Maio de 1298, vindo a ser sepultada no

convento de S. Domingos de Santarém21.

Desta união nasceu, entre outros, D. Maria Peres Ribeira, na qual recaiu a

representação da casa dos Sousas, por falecimento de todos os seus irmãos. Foi casada

com Afonso Dinis, filho bastardo de D. Afonso III, tal como D. Leonor Afonso, como

já foi anteriormente referido22. Deste casamento, entre outros filhos, nasceram D.

Rodrigo Afonso de Sousa e D. Diogo Afonso de Sousa igualmente ligados a Leiria23.

Os Sousas na região Leiria

De D. Rodrigo Afonso de Sousa, rico-homem, sabemos que possuiu um paço em

Agodim (Milagres, c. Leiria), onde, por carta datada de 26 de Novembro de 1378, os

frades do Convento de S. Domingos de Évora tomaram posse dos seus bens, a título de

instituição de uma capela para missas de aniversário por sua alma24. Este foi casado

com Constança Gil, que já era viúva desde 1372, conforme consta do reconhecimento

de uma doação de bens por parte de seu filho Gonçalo Rodrigues de Sousa25. Para além

de ter tido um paço em Agodim, possuíra certas propriedades, descritas nessa dita carta,

18 “(…) E a meatade da vinha que jaz tras esse moynho. A qual vynha parte com dom Pedro Anes dicto

Portel.” (GOMES, Saul António - Reguengo do Fetal, Documentos Históricos, Edição da Junta de

Freguesia do Reguengo do Fetal, 2012, doc. 22, pp. 51). 19 Livro dos Bens de D. João de Portel…, Op. Cit., p. XXVI. 20 Livro dos Bens de D. João de Portel…, Op. Cit., pp. XXV e XXVI. 21 D. Pedro Eanes de Portel faleceu num dos anos entre 1308 e 1315. BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit.

vol.1, pp. 262-263. Livro dos Bens de D. João de Portel…, Op. Cit., pp. XXVII. 22 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 274. 23 Veja o Título dos Sousas em Fontes Narrativas da História Portuguesa…, Op. Cit., p. 37. 24 GOMES, Saul António - Reguengo do Fetal,…Op. Cit., doc. 30, pp. 58-61. 25 TT - Mosteiro da Batalha, liv.4, doc. 200. Veja o Título dos Sousas em Fontes Narrativas da História

Portuguesa…, Op. Cit., pp. 18-49, onde D. Rodrigo Afonso de Sousa, aparece também casado com D.

Violante Ponce filha de Martim Anes de Briteiros.

6 | P á g i n a

tais como: um casal de herdades na Várzea da Maceira, um moinho na Ribeira da

Maceira, herdades na Abrunheira (freg. Golpilheira, c. Batalha), duas courelas no

Alqueidão da Serra (c. Porto de Mós), quatro courelas em Rio Seco, um moinho em

Agodim da Ribeira e umas courelas pequenas de herdades em Regueira de Pontes (c.

Leiria), entre outras propriedades26.

No dia 9 de Janeiro de 1379, renovou-se um contrato de arrendamento, por 10

anos, que havia sido celebrado em Leiria, a 28 de Outubro de 1373, por Constança Gil,

viúva de D. Rodrigo Afonso de Sousa, rico-homem, e seu filho, Gonçalo Rodrigues,

com Afonso Eanes, sobre certos bens que aqueles dominicanos tinham na Ribeira da

Maceira (Leiria)27.

A 11 de Janeiro de 1402, os frades de S. Domingos de Évora passaram procuração

a Fr. Rodrigo de Évora e Fr. João de Lisboa, da dita Ordem, para: “que elles por elles e

em nome do dicto Mosteiro podessem arrendar emprazar a des pesoas em nome do

dicto todolos beens ou parte delles que o dicto Moesteiro ha na villa de Leiria e em seus

termhos os quaees beens forom de Rodrigo Afomso de Sousa, os quaees beens deu e

leixou ao dicto Moeesteiro os quaees beens elles posam arrendar e emprazar (…).” 28

Sabemos, também, que D. Rodrigo Afonso de Sousa doou uma terça parte de um

“engenho de serrar”, ao Mosteiro de Alcobaça, e os restantes dois terços ao Convento

de S. Domingos de Évora, segundo é declarado num aforamento que trazia, em 1418,

uma Senhorinha Lourenço, viúva de Gonçalo Vasques “Toirom”29.

De D. Diogo Afonso de Sousa, casado com D. Violante Lopes Pacheco, nasceram

Álvaro Dias de Sousa, Lopo Dias de Sousa e Branca de Sousa. Álvaro Dias de Sousa foi

casado com D. Maria Teles, tendo nascido deste casamento D. Lopo Dias de Sousa,

mestre que foi da Ordem de Cristo30.

26 GOMES, Saul António - Reguengo do Fetal…, Op. Cit., doc. 30, pp. 58-61. 27 Insere procuração dada pelos próprios outorgantes a Gonçalo Fernandes, dada em Évora a 2 de Julho de

1372. Torre do Tombo, Mosteiro da Batalha, liv.4, doc. 200. 28 GOMES, Saul António - Golpilheira Medieval, Documentos Históricos, Edição do Jornal da

Golpilheira e Câmara Municipal da Batalha, 2009, doc. 49, pp. 87-88. 29 TT - Mosteiro de Alcobaça: Dourados, liv. 3, fls. 108-108vº, doc. 209, publicado por GOMES, Saul

António, Materiais de Construção na Região de Leiria em Tempos Medievais. In História da Construção

- Materiais, (Coord. MELO, Arnaldo Sousa, e RIBEIRO, Maria do Carmo), Braga, CITCEM e LAMOP,

2012, p. 176. 30 Veja o Título dos Sousas em Fontes Narrativas da História Portuguesa…, Op. Cit., p. 38.

BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 279.

7 | P á g i n a

D. Lopo Dias de Sousa, mestre da Ordem de Cristo

A Rainha D. Leonor, irmã da mãe de D. Lopo Dias de Sousa, terá conseguido que

o mestrado da Ordem de Cristo, por falecimento de D. Nuno Rodrigues Freire, lhe fosse

entregue, ainda que fosse menor de idade31. D. Lopo Dias de Sousa terá nascido por

volta de 135732. Em Tomar, no ano de 1374, foi nomeado procurador da Ordem e do

convento. No contexto da Crise de 1383-1385, D. Lopo Dias de Sousa, a 11 de Junho de

1384, apoderou-se do castelo de Ourém, defendendo-o pelo Mestre de Avis. Como se

sabe, acabou preso, às mãos dos castelhanos, em Santarém, não tendo participado na

Batalha Real de Aljubarrota, de 14 de Agosto de 1385. Foi em 1386, nomeado oficial da

casa da Rainha D. Filipa de Lencastre, com o cargo de mordomo-mor33.

Em 11 de Março de 1388, em Évora, D. João I ratificou o consentimento que os

juízes e concelho de Vouga haviam dado a D. Lopo Dias de Sousa, para que pudesse

vender os vinhos que tivesse no dito julgado nos três meses do relego34. Por carta

passada por D. João I, em Tui, datada de 27 de Julho de 1398, “considerando os mujtos

grandes stremados serujços que nos e este regno de dom frey lopo diaz mestre da

hordem da caualaria de christos E entendemos de receber ao adiante de diogo lopez de

sousa seu filho mayor”, foi-lhe feita doação de todos os bens de raiz de Egas Coelho, os

quais eram: “da ujilla de mjranda e de podentes germello e folgosinho e do Julgado de

uouga com todas as suas rendas e // djreitos foros trabutos e perteenças e com todas

suas Jurdiçoões ciuel e crime mero e mjsto Jmperio Reseuando pera nos a correiçom e

alçadas do lugar de uella pella guisa que o auja o conde dom Joham afomso E dos

beens de Leiria E de todollos outros que o dicto Egas coelho auja em estes regnos quer

que estam e forem achados.” 35.

31 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 280. 32 SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto P. - Os Patronos do Mosteiro do Grijó. Evolução e

estrutura da família nobre (séculos XI a XIV), Ponte de Lima, Edições Carvalhos de Basto, 1995, p. 319. 33 SILVA, Manuela Santos - A rainha inglesa de Portugal. Filipa de Lencastre, Círculo de Leitores, Rio

de Mouro, 2012, p. 183. MENDONÇA, Manuel Lamas de – O Mestre D. Lopo Dias de Sousa. Um neto

de Reis com descendência controversa. In As Ordens Militares. Freires, Guerreiros, Cavaleiros. Actas do

VI Encontro sobre Ordens Militares, (Coord. FERNANDES, Isabel Cristina F.), Município de Palmela,

vol. 2, 2012, pp. 631 e seguintes. 34 TT - Chancelarias de D. Duarte, fl. 59vº-60, publicadas em Chancelaria Portuguesas de D. Duarte,

Organização de DIAS, João José Alves, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de

Lisboa, 1998, vol. I, tom. I, pp. 219-220. 35 TT - Chancelarias de D. Duarte, fl. 58 vº-59vº, publicadas em Chancelaria Portuguesas de D. Duarte,

Op. Cit., vol. I, tom. I, pp. 216-219.

8 | P á g i n a

Participou na armada que, partindo do Restelo no dia 24 de Julho de 1415,

conquistou a cidade de Ceuta.36 D. Lopo Dias de Sousa terá falecido por volta do ano de

142037.

De entre os muitos filhos bastardos38, D. Lopo Dias de Sousa teve, com D. Maria

Ribeira, sepultada em Pombal, D. Diogo Lopes de Sousa, D. Maria de Sousa, mulher de

Vasco Fernandes Coutinho39, D. Leonor Lopes de Sousa, mulher de Fernão Martins

Coutinho, em primeiras núpcias40, e D. Violante de Sousa, mulher de Rui Vasques

Ribeiro, senhor de Figueiró e Pedrógão, entre outros41.

Diz Anselmo Braamcamp, nos seus Brasões da Sala de Sintra, citando o Dr. Pedro

Álvares [Sêco], que D. Lopo Dias de Sousa: “Foi mandado sepultar pelo infante D.

Henrique, na igreja do convento de Cristo em Tomar, em rico sarcófago, com a imagem

de vulto de tamanho natural deitada sôbre a campa, colocado na parede da parte do

evangelho junto da porta, posteriormente tapada, da sacristia velha. Esta sepultura

mandou depois D. João III trasladar para a parede da direita da capelinha de Nossa

Senhora, por baixo da tôrre dos sinos, e por a estátua jacente aí não caber, se meteram

os ossos em menor túmulo, na frente do qual se mandou gravar um cópia do letreiro

antigo.”42

Fr. Luís de Sousa, na sua História de S. Domingos, publicada em 1623, afirma

que D. Lopo Dias de Sousa jazia sepultado na capela do Mosteiro da Batalha, mais

36 Veja-se entre outros autores sobre este Mestre: VASCONCELOS, António Maria Falcão Pestana de -

Nobreza e Ordens Militares. Relações Sociais e de Poder. Séc. XIV e XVI., Porto, 2008, vol. II, pp. 317-

319. SILVA, Isabel de Sousa - A ordem de Cristo durante o Mestrado de D. Lopo Dias de Sousa (1373?-

1417)”. In Militarium Ordinum Analecta. 1. As Ordens Militares no Reinado de D. João I, Porto,

Fundação Eng.º António de Almeida, 1997, pp. 9-128. 37 SERRÃO, Joaquim Veríssmo - História de Portugal, Lisboa, Editorial Verbo, 1980, 3.ª Edição, vol. II,

p. 133. BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 280-281. 38 “Nas crónicas de D. João I de Fernão Lopes e de Gomes Eanes de Azurara encontra-se larga menção

das acções do mestre D. Lopo Dias de Sousa, que não casou, por isso ser então defendido aos

comendadores das ordens militares, mas teve muitos filhos bastardos.”. In BRAAMCAMP, Anselmo,

Op. Cit., vol.1, p. 281. 39 TT – Chancelaria de D. Afonso V, liv. 12, fl. 30. O Contrato de casamento foi aprovado por D. Afonso

V e Maio de 1450 (1412) sendo confirmado a 31 de Março de 1452. In CASTRO, Eugénio de - Os meus

Vasconcelos, Coimbra, Coimbra Editora, 1933, pp. 46-47. O Contrato de casamento foi aprovado por D.

Afonso V e Maio de 1450 (1412) sendo confirmado a 31 de Março de 1452. 40 Deste matrimónio nasceu D. Beatriz Coutinho que desposará D. Pedro de Meneses, 1º conde de Vila

Real, ao qual, como se sabe, o rei D. Afonso V doou as rendas de Leiria. Lembremos que também a Casa

de Vila Real teve importante património no em todo o atual distrito de Leiria. Vd. CAMPOS, Nuno Silva

- D. Pedro de Meneses e a construção da Casa de Vila Real (1415-1437), Évora, CIDEHUS /

Universidade de Évora, 2004, p. 141 e seguintes; GOMES, Saul António - Introdução à História do

Castelo de Leiria..., pp. 178-180. MENDONÇA, Manuel Lamas de, Op. Cit., pp. 631 e seguintes. 41 Veja o Título dos Sousas em Fontes Narrativas da História Portuguesa…Op. Cit., p. 38.

BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, pp. 283-291. VASCONCELOS, António Maria Falcão

Pestana de, Op. Cit., vol. II, pp. 317-319. 42 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 280.

9 | P á g i n a

afirmando que, no tempo em que escrevia essa notícia, o então Conde de Miranda, D.

Henrique de Sousa, administrador desta capela, nela recolhera as ossadas de sua mulher,

D. Mecia43. No livro O Couseiro – Memórias do Bispado de Leiria, de cerca de 1650,

cujo autor se ignora, nega que D. Lopo Dias de Sousa tivesse sido sepultado na Batalha.

Outros cronistas mais tardios, como D. António Caetano de Sousa ou Barbosa

Machado, referem que as ossadas deste mestre foram trasladadas, por volta de 1435, por

mandado do Infante D. Henrique, de Pombal para o mausoléu dos mestres da Ordem de

Cristo, que ele mandou levantar em Tomar, negando, assim, que ele tivesse recebido

sepultura nesta capela44.

1. Túmulo de D. Lopo Dias de Sousa, no Convento de Cristo em Tomar45.

Não nos parece defensável, face a esta tradição, a interpretação de Gustavo Matos

Sequeira, no Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Leiria, publicado em 1955,

ao referir-se à Capela dos Sousas, neste Mosteiro, quando diz que: “Outra arca

43 SOUSA, Fr. Luís de - História de S. Domingos, (Introdução e revisão de ALMEIDA, M. Lopes de),

vol. 1, Porto, Lello & Irmão, 1977, vol. 1, liv. VI, cap. XIV, p. 635. 44 SOUSA, D. António Caetano de Sousa - História Genealógica da Casa Real Portuguesa. Nova edição

revista por ALMEIDA, M. Lopes de, e PEGADO, César, Tom. XII, Coimbra, Atlântida-Livraria, Editora,

1953, pp. 170-278: 252. 45 Gravura retirada da obra de MOREYRA, Manuel de Sousa - Theatro Historico Genealogico y

Panegyrico Erigido a la Immortalidad de la Excelentissima Casa de Sousas, Paris, Emprenta Real, 1694.

10 | P á g i n a

quatrocentista brasonada, com as armas dos Sousas, acantoa-se ainda à esquerda

desta capela. É a tumba de Lopo Dias de Sousa Mestre da Ordem de Cristo”46.

Senhores de Miranda do Corvo

Foi D. Diogo Lopes de Sousa, filho do Mestre da Ordem de Cristo, legitimado,

sendo já de maior idade, a 3 de Janeiro de 139847, nomeando-se-lhe por mãe Leonor

Ribeiro, natural de Pombal48. De facto, na doação dos bens de Egas Coelho, a seu pai,

lavrada nesse mesmo ano, antes citada, refere-se que D. Diogo Lopes de Sousa era seu

filho de maior idade.49 Esta doação, como outras graças e mercês feitas por D. João I a

D. Lopo Dias de Sousa e a seu filho, D. Diogo Lopes de Sousa, vieram a ser, por

solicitação deste, confirmadas entre os anos de 1434 e 1436, pelo rei D. Duarte.50

D. Diogo Lopes de Sousa foi, certamente, possuidor de propriedades na zona do

Reguengo do Fetal (c. Batalha), conforme se menciona no Tombo dos bens e renda do

Mosteiro de Alcobaça, com data de 1 de Janeiro de 1435, nomeadamente no Título da

Rodriga antre a Torre da Mageija e o Regeengo: “Item no dicto logar huã herdade que

parte com herdade de Joham Gallego. E doutra parte com herdade do Mosteiro de

Randufe. Entesta com Diogo Lopez de Sousa. E com caminho velho.”51. Em 1443,

aparece citado em confrontações com umas casas de D. Fradique de Castro, em Leiria,

no “Arrabalde da Ponte”, sendo que: “partem da hua parte dom Diogo Lopez de

Sousa”52.

D. Diogo Lopes de Sousa possuiu também a alcaidaria-mor de Arronches,

transmitindo-a a seus descendentes, aos quais se deu a designação á referida de Sousas

de Arronches53. Terá falecido em 1451, tendo casado duas vezes: a primeira com D.

Catarina de Ataíde e a segunda com D. Isabel de Castro, viúva de Álvaro Gonçalves

46 SEQUEIRA, Gustavo de Matos - Inventário Artístico de Portugal, Distrito de Leiria, Lisboa,

Academia Nacional de Belas Artes, 1955, p. 34. 47 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 284. 48 CASTRO, Eugénio de – Os meus Vasconcelos, Coimbra, Coimbra Editora, 1933, pp. 32-33. 49 TT - Chancelarias de D. Duarte, fl. 58vº-59vº, publicadas em Chancelaria Portuguesas de D. Duarte,

Op. Cit., vol. I, tom. I, pp. 216-219. 50 TT - Chancelarias de D. Duarte, fl. 58vº-60, publicadas em Chancelaria Portuguesas de D. Duarte, Op.

Cit., vol. I, tom. I, pp. 216-220. 51 GOMES, António Saul - Reguengo do Fetal, Op. Cit., doc. 38, pp. 72-76. 52 TT - Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, liv. 4, fls. 108-109, publicado por GOMES, Saul António -

Materiais de Construção…, Op. Cit., p. 178. 53 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 285.

11 | P á g i n a

Coutinho54. Esta alcaidaria e o senhorio de Miranda e mais bens da casa passaram a seu

filho Álvaro de Sousa e, depois, a seu neto, D. Diogo Lopes de Sousa.55

Este foi terceiro senhor de Miranda, Podentes e mais Casa56 e mordomo-mor de

D. Afonso V, por carta de 18 de Novembro de 147157, tendo casado com D. Isabel de

Noronha. Deste matrimónio, ocorrido antes de 1475, nasceu André de Sousa, que viria a

herdar, por carta datada de 19 de Abril de 1504, os bens desta Casa.58

Continuou ela em descendência até ao seu bisneto Manuel de Sousa59 que por ter

falecido em criança, pelos anos de 1570-1574, foi então julgada vaga para a Coroa, a 27

de Março de 1574.60

Foi ao filho de seu irmão Henrique de Sousa (senhor de Oliveira do Bairro), D.

Diogo Lopes de Sousa, segundo senhor de Oliveira do Bairro, que foram doadas as

terras de Miranda, Podentes, Vouga, Germelo e Folgosinho que tinham sido julgadas

vagas para a Coroa61, passando estas para seu sobrinho Vasco de Sousa.

Nos seus descendentes continuou a Casa até Henrique de Sousa62, primeiro

marquês de Arronches, por carta passada a 27 de Junho de 1674, irmão do Cardeal D.

Luís de Sousa.

Nesta capela de S. Miguel, receberam sepultura, de acordo com o Padre Manuel

de Sousa Moreira, André de Sousa, no início do século XVI, e o seu filho Manuel de

Sousa, falecido em 155063. Segundo Fr. Luís de Sousa, cerca de 1620, D. Henrique de

Sousa recolheu nela as ossadas de sua mulher D. Mecia de Vilhena64. De acordo com

54 CASTRO, Eugénio de, Op. Cit., pp. 32-33. 55 Ibidem, p. 285. 56 TT - Chancelaria de D. Manuel I, liv. 13, fl. 12vº, (Confirmação de uma carta de D. João II, datada de

Santarém, a 23 de Junho de 1484, escrita por António Carneiro, na qual confirmava uma outra de D.

Afonso V, datada de Évora, a 14 de Julho de 1477, escrita por João Alvares). 57 TT - Chancelaria de D. Afonso V, liv. 21, fl. 82. 58 TT - Chancelaria de Manuel, liv. 19, fl. 13. Veja o Título dos Sousas em Fontes Narrativas da História

Portuguesa…Op. Cit., p. 40. BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 287. 59 TT - Chancelaria de D. Manuel I, liv. 11, fl. 71, (Confirmação da doação de certos bens na vila de

Mirande, de Podentes e outras, tal como tinham sido dadas e confirmadas aos seus antecessores.). 60 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 287. 61 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, pp. 288-289. 62 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 290. 63 MOREYRA, Manuel de Sousa, Op. Cit., p.657. MACHADO, Diogo Barbosa - Bibliotheca Lusitana,

Historica, Critica, e Cronologica…, tom. III, Lisboa, 1756, p. 381. 64 SOUSA, Fr. Luís de, Op. Cit., vol. 1, liv. VI, cap. XIV, p. 635. PIEDADE, José de Jesus Maria da -

Espelho de Penitentes e Chronica da Provincia de Santa Maria da Arrabida, da regular e mais estreita

Observancia da Ordem do Serafico Patriarcha S. Francisco, no Instituto Capucho, Lisboa Occidental,

1737, tom. II, parte II, livro II, cap. IX, pp. 242-243. BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 289.

No livro O Couseiro, cap. 73, lemos que, ao tempo em que essa obra estava a ser escrita, ou seja meados

do século XVII, citamos: “É agora dos condes de Miranda, e n’ella tem um tumulo, e em sepultura rasa

está o avô do que ora é conde, e a ossada da condessa está em um caixão, coberto com um pano de

veludo.”.

12 | P á g i n a

Fr. José de Jesus Maria, o Cardeal Sousa mandou nela recolher os ossos de seu pai (D.

Diogo Lopes de Sousa), tendo também recolhido alguns ossos de Fr. António das

Chagas.

Fr. José de Jesus Maria65 escreveu, em 1737, mais pormenorizadamente, ao

referir-se a esta capela: “Na Igreja do real Convento da Batalha de meu Padre S.

Domingos deu El Rey D. João I de gloriosa memoria, seu Fundador, huma Capella a

D. Lopo de Dias de Sousa, mestre da ordem de Christo, para seu jazigo, declarando-o

desta sorte merecedor de todas as honras, nella jaz sepultado, e se entendeo esta honra

a seus herdeiros, e sucessores da sua Casa os Condes de Miranda, depois Marquezes

de Arronches, e hoje Duques de Lafões por merce do serenissimo rey D. João V que

Deos nos guarde, feita a seu irmão legitimado o Senhor D. Miguel, o qual casou com a

Senhora D. Luiza Cassimira de Nasáo e Sousa, herdeira desta ilustrissima Casa. Quis o

Cardeal (Sousa) fazer patente ao Mundo a estimação, que fazia das paternas cinzas, e

havendo de trasladallas do convento de Santa Catarina (de Lisboa) para a referida

Capella do da Batalha, mandou fazer nella hum elevado mausoleo de preciosos jaspes,

no qual se vê ainda hoje com o primor da fabrica desempenhando o seu generoso

animo. Quando no anno de mil e seiscentos e noventa determinou fazer esta piedosa

função, foy ao Convento de Santa Catarina, e no caixão, aonde se havião recolhido os

ossos do pay, achou tambem os ossos de outro corpo, e se lhe deu a noticia, que erão

do Veneravel Fr. Antonio das Chagas. (…) Deixou huma (ossada) e trasladou outra

para a capella da Batalha; e ainda persevera a duvida, que então se moveo, sobre qual

daquellas organizações seria a do Conde (D. Diogo Lopes de Sousa, † 1641), ou se em

qualquer dellas estarião confundidos os ossos de ambas. Celebrou-se a trasladação

sem solução certa, a qual dará Deos no dia do Juizo, quando os resuscitar.”.

Num registo e inventário dos bens móveis e de raiz pertencentes ao Mosteiro da

Batalha, datado de 17 de Fevereiro de 1823, ao referir-se a capela dos Sousas, lemos o

seguinte: “O altar mosaico de mármore imbutido, magnifico, denominado de Sam

Miguel: tem duas imagens; huma de Santa Joanna Princêza de Portugal – e outra de

Sam Jacinto; nesta se acham situados dois tumulos ambos pertencentes à Caza de

Lafoens.”66 (Um dos mesmos trasladado para as Capelas Imperfeitas).

65 PIEDADE, José de Jesus Maria da, Op. Cit., tom. II, parte II, livro II, cap. IX, pp. 242-243. In

GOMES, Saul António - Vésperas Batalhinas, Op. Cit., pp.267-268. 66 GOMES, Saul António, Vésperas Batalhinas…, p.239. O Panorama, Jornal Litterario e Instructivo da

Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Uteis, Lisboa, 1839, p. 12.

13 | P á g i n a

2. Retábulo da capela dos Sousas na 3. Túmulo dos Sousas nas capelas Imperfeitas67

Igreja de Santa Cruz da Batalha68.

Senhores de Figueiró e Pedrógão

Como referimos, D. Violante de Sousa era sobrinha-neta da rainha D. Leonor

Teles, por via de seu pai, D. Lopo Dias de Sousa, mestre da Ordem de Cristo. A 8 de

Maio de 1423, estava casada com Rui Vasques Ribeiro, o qual, nesse mesmo dia,

estando em Figueiró, declarou em escritura pública que ao desposá-la lhe prometera três

mil e quinhentas coroas de oiro de dote e arras, dando-lhe o dito lugar e seu termo,

como garantia, a fim de ela haver as suas rendas até ser paga desse dote, com a condição

de, após pagamento integral entregar, a terra aos herdeiros de seu marido.69

Rui Vasques Ribeiro era filho de Rui Mendes de Vasconcelos70, primeiro senhor

de Figueiró e Pedrógão, neto de Gonçalo Mendes de Vasconcelos, primeiro senhor de

Soalhães71. Terá sido Rui Vasques Ribeiro possuidor de terras em Abiul, conforme

67 Foto da DGEMN (Cerca de 1930). 68 Foto da DGEMN (Cerca de 1930). 69 Confirmado por D. João I, por carta de 9 de Junho de 1423, Chancelaria de D. João I, liv. 4, fl. 63, in

BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit, vol.1, p. 283 e 367. 70 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit, vol.1, p. 345. 71 TT - Chancelarias de D. Duarte, fl. 32-32vº, publicadas em Chancelaria Portuguesas de D. Duarte, Op.

Cit., vol. I, tom. I, pp. 122-123. Gonçalo Mendes de Vasconcelos, possuía a sua quinta junto ao Mosteiro

da Batalha, conforme carta passada em Leiria a 5 de Julho de 1397 [Era 1435], in GOMES, Saul António

- Fontes Históricas e Artísticas do Mosteiro e da Vila da Batalha (Séculos XIV a XVII), Edição Instituto

Português do Património Arquitectónicos (IPPAR), 2002, doc. 12, pp. 41-42. CASTRO, Eugénio de, Op.

Cit., pp. 74-77.

14 | P á g i n a

citado nos Títulos dos bens que o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em 1431: “Item

outra herdade que jaz ao Poço. E parte do soam com Rui Baasquez Ribeiro.”72

Jazem ambos sepultados na igreja matriz de S. João Baptista de Figueiró dos

Vinhos num túmulo de pedra ricamente lavrado73. Este túmulo, hoje localizado na nave,

estava primitivamente na capela-mor, do lado esquerdo, de onde foi removido

possivelmente aquando do revestimento da mesma com azulejos setecentistas.74

Gustavo Matos Sequeira descreve-o com pormenor: “Debaixo do coro, do lado do

Evangelho, está uma bela arca tumular quatrocentista, pousada em dois rudes leões,

medindo na tampa 1m, 810 por 0m,700. Esta é de cofre, moldada, e perfilados os moldes

por cordão entrançado com borlas nas cabeceiras. Nestas que são iguais, figuram-se

anjos relevados. A face maior, de pedra policromada, semelha um tecido bordado, e

sobre ela estão apostos dois brasões – o da esquerda com as armas dos Vasconcelos

Ribeiros, e o da direita, esquartelado com as armas dos Vasconcelos e dos Sousas do

Prado. A meio deles lavra-se um Anjo, visto de frente, e aos lados outros dois, vistos de

perfil, que dir-se-iam transportar a alma do jacente. A legenda lavra-se no rebordo da

tampa piramidada sobre esta face heráldica em caracteres góticos. Trata-se do túmulo

de Rui Vasques Ribeiro, 2.º Senhor de Figueiró, e de sua mulher D. Violante de Sousa.

O jacente, filho de Rui Mendes de Vasconcelos, foi para aqui trasladado em 1456.”75

Reinaldo dos Santos descreve-o, por seu turno, da seguinte forma: “É uma bela

arca quadrangular, com uma tampa piramidal e linda inscrição gótica datada de 1456.

Não tem figura jacente, mas a arca assenta sobre dois dragões, e, encostada à parede,

mostra três faces decoradas: a da frente com os escudos sustentados por três anjos de

capas de pregas verticais sobre túnica de idênticas pregas quebradas no solo.”76

De D. Violante de Sousa e de Rui Vasques Ribeiro foi filho e sucessor João

Rodrigues Ribeiro, também chamado João Rodrigues de Vasconcelos, de quem derivam

duas linhas de Vasconcelos; da primogénita, através de Rui Mendes de Vasconcelos77,

72 GOMES, Saul António - Pombal Medieval e Quinhentista, Documentos da sua História, CEPAE –

Centro de Património da Estremadura, 2010, doc. 18, pp. 116-119. 73 MACEDO, Diogo de - Iconografia Tumular Portuguesa, Lisboa, 1934, p.34. SEQUEIRA, Gustavo

Matos de, Op. Cit., p. 52. SANTOS, Reinaldo dos - Escultura em Portugal, Séc. XII a XV, Lisboa, 1948,

vol. I, p. 44. BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 367. História da Arte Portuguesa (Direção de

PEREIRA, Paulo), Circulo dos Leitores, vol. II, p. 167. 74 MATOSO, P. Luís Montês - Memorias Sepulchraes, fl. 154v, in BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit.,

vol.1, p. 367. 75 SEQUEIRA, Gustavo Matos de, Op. Cit., p. 52. 76 SANTOS, Reinaldo dos, Op. Cit., vol. I, p. 44. 77 “Os senhores de Figueiró e Pedrógão contactaram de perto com a produção de papel, nas últimas

décadas do século XV, pois possuíam moinhos no rio Lis, na cidade de Leiria, que tinham pertencido a

15 | P á g i n a

quarto senhor de Figueiró e Pedrógão, mantendo o apelido de Vasconcelos; na segundo-

génita, através de Pêro de Sousa Ribeiro, primeiro alcaide-mor de Pombal, são

descendentes os condes e marqueses de Castelo Melhor.78

4. Túmulo de Rui Vasques Ribeiro e D. Violante de Sousa, 1456, na Igreja Matriz de Figueiró dos Vinhos79.

Ao dito João Rodrigues de Vasconcelos foram-lhe passadas duas cartas no ano de

1476; uma de mercê do serviço velho e novo dos Judeus de Figueiró e Pedrógão, datada

de 5 de Maio, e outra de privilégios de couto e honra para a sua quinta da Guarda

(Santiago da Guarda, c. Ansião) e, ainda, para poder-se fazer feira, na Mouta Santa,

datada de 8 de Dezembro80. A 3 de Janeiro de 1482, foi-lhe feita doação dos direitos

reais dos judeus de Figueiró.81

Do casamento de João Rodrigues de Vasconcelos e de D. Branca da Silva,

nasceram entre outros, Rui Mendes de Vasconcelos, Pêro de Sousa Ribeiro, D. Isabel de

Sousa, D. Catarina de Sousa, mulher de Duarte Galvão82 e, ainda, D. Diogo de Sousa,

bispo do Porto e arcebispo de Braga.83

Rui Galvão secretário do Rei e a sua mulher Branca Gonçalves, sogra de Rui Mendes de Vasconcelos,

fidalgo da casa d’El-Rei, que foi casado com D. Isabel Galvão.”. In PORTELA, Miguel, O Fabrico do

Papel em Figueiró dos Vinhos no séc. XVII, Figueiró dos Vinhos, 2012, p. 2. VITERBO, Sousa, Duarte

Galvão e a sua familia: elementos para um estudo biográfico, Lisboa, Por ordem da Typografia da

Academia, 1905, pp. 44-47. CASTRO, Eugénio de – Os meus Vasconcelos, Op. Cit., pp. 163-164. 78 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, pp. 283 e 369. 79 Fotografia tirada nos anos 30. Colecção do autor. 80 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 369. Esta quinta da Guarda tinha já sido pertença de

Duarte Borges, conforme doação régia datada de 28 de Outubro de 1451. TT – Chancelaria de D. Afonso

V, liv. 37, fl. 50v. 81 TT - Chancelaria de D. João II, liv. 6, fl. 83. 82 A 19 de Julho de 1487, em Figueiró dos Vinhos, na torre de João Rodrigues de Vasconcelos, foi feito

contrato pelo qual, este se obrigava a dotar sua filha D. Catarina de Sousa para casar com Duarte Galvão,

secretário d’el-rei. In VITERBO, Sousa, Op. Cit., pp. 14 e 56-57. 83 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 283 e 370.

16 | P á g i n a

Foi Pedro de Alcáçova de Vasconcelos, descendente de Rui Mendes de

Vasconcelos, oitavo senhor de Figueiró e Pedrógão, casado com D. Maria de Meneses,

os quais, nos finais do século XVI (1598)84, fundaram o convento de Nossa Senhora do

Carmo, em Figueiró dos Vinhos, onde foram sepultados com sua filha D. Ana de

Vasconcelos e Meneses e seu marido D. Francisco de Vasconcelos, conde de Figueiró e

senhor de Pedrógão.85

Os Sousa Ribeiro em Santiago da Guarda (Ansião) e Pombal

Pêro de Sousa Ribeiro, filho de João Rodrigues de Vasconcelos, foi alcaide-mor e

comendador de Pombal, da Ordem de Cristo, tendo sido casado com D. Joana de

Lemos, filha de Gomes Martins de Lemos, senhor da Trofa86. A 29 de Abril de 1475,

seu pai fez escritura de vínculo, estando na vila de Figueiró, dentro da sua torre, com

sua mulher Branca da Silva, de certos bens a uma capela por eles instituída pela alma de

Tomás de Sousa.87

Havia recebido de seu pais, no ano de 1475, uma capela, a qual lhe foi confirmada

por carta de 5 de Maio de 149688. Seu pai trespassou-lhe uma tença de vinte e cinco mil

reais brancos, a qual fora confirmada antes, por carta de 12 de Maio de 1487.

A 8 de Janeiro de 1485 recebeu, por nova carta régia, uma outra tença de trinta

mil reais, tendo-lhe sido outorgada uma outra, no valor de quinze mil reais, a 27 de

Março de 1493, e uma terceira, de 15 moios de pão, 10 de trigo e 5 de segunda, que lhe

dera D. Manuel, em sendo duque, e confirmado, depois, a 24 de Abril de 149789.

Sucedeu, por via de sua mãe, nos casais de Ansião, por carta de 20 de Fevereiro de

1493, herdando de seu pai a quinta da Guarda (Santiago da Guarda) e os direitos da

feira da Mouta Santa, por carta de 10 de Maio de 149790. Na sua quinta da Guarda,

possuía uma casa com torre, com planta quadrangular, elevando-se em três pisos.

84 SANTA ANA, Fr. Belchior de - Chronica de Carmelitas descalços, particular do Reyno de Portugal e

Provincia de Sam Felipe, 1657, tom. I, p. 393-394. 85 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, pp. 370-371. COSTA, P.e António Carvalho da - Corografia

Portugueza, e Descripçam Topografica do Famoso Reyno de Portugal, Lisboa, Na Oficina Real

Deslandesiana, 1722, tom. Terceyro, cap. XIV, pp. 200-202. 86CASTRO, Eugénio de, Op. Cit., pp. 178. 87 Ibidem, p. 369. 88 TT - Chancelaria de D. Manuel I, liv. 27, fl. 29 (1496, Maio, 5), in BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit.,

pp. 372v-373. 89 BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 373. 90 TT - Chancelaria de D. Manuel I, liv. 12, fl. 16, in BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 373.

COUTINHO, José Eduardo Reis, Op. Cit., pp. 188-189.

17 | P á g i n a

Segundo José Eduardo Reis Coutinho91: “O portal da entrada lateral para o pátio,

acantonado por uma formação piramidal a tijolos, teve ombreiras e padieira de filetes,

a meio recortada por um chaveirão, datado de 1544; acima, o brasão esquartelado dos

Vasconcelos Ribeiros e Sousas do Prado”.

Recebeu de D. Manuel, por carta de padrão de 8 de Outubro de 1501, em troca das

suas tenças, a alcaidaria-mor de Pombal, assim como outras rendas nesta vila, tendo

sido compensado por uma tença de doze mil reais brancos, por se considerar haver

prejuízo na troca.92

Pêro de Sousa Ribeiro, possuía as rendas, direitos e a pensão de dois tabeliães da

vila de Pombal, exceptuado o pão, e pagando-se-lhe, também, uma tença, com o hábito

de Cristo, de 20 moios de pão (15 de trigo e 5 de segunda), mais outros 10 moios de pão

meado, tudo avaliado em 92910 reais. A esta soma era-lhe descontado o valor de 18 793

reais, para ordinárias que lhe cumpria pagar. D Manuel I fizera-lhe mercê, de 15 mil

cruzados e 59 016 reais aos quais somavam 1948 reais de pensão dos tabeliães93. A 27

de Março de 1508, no Tombo dos bens e direitos que a Ordem de Cristo tinha em

Pombal, Pêro de Sousa Ribeiro era possuidor de: “Huum pedaço desta terra estaa posto

em vinha cavadura de quatro homens e a traz emprazada Lopo Estevez per prazo feito

per Pero de Sousa Ribeiro em que elle he a primeira pessoa e paga de foro em cada

huum ano dous almudes de vinho aa bica e huum par galinhas per Natal.”94

Em 1712, o Padre António Carvalho da Costa, na sua Corografia Portugueza,

descreve na igreja de Santa Maria do Castelo de Pombal: “leva os olhos dos que a vem,

a delicadeza, & primor da arte, com que os celebrados Escultores, Joaõ Ruaõ, &

Jacome Bruxe, obràraõ as imagens dos Altares em pedra branca, o que principalmente

se vè em huma Capella, que contém o Descendimento da Cruz, de cujas rendas saõ

senhores, & administradores della os da familia, & Vasconcellos desta Villa.”95

91 COUTINHO, José Eduardo Reis, Op. Cit., pp. 192-194. Vd. SILVA, José Custódio Vieira da Silva,

Paços Medievais Portugueses, 2.ª Ed., Lisboa, IPPAR, 2002, pp.172-173. 92 TT - Chancelaria de D. Manuel I, liv. 38, fl. 91. In BRAAMCAMP, Anselmo, Op. Cit., vol.1, p. 373.

VASCONCELOS, António Maria Falcão Pestana de, Op. Cit., 356-357. 93 TT - Núcleo Antigo, n.º 587, fls. 1-3, Rendas e Despesas do Almoxarifado de Pombal, comenda da

Ordem de Cristo (1497), publicado em GOMES, Saul António, Pombal Medieval…, doc. 36, pp. 56 e

165-168. 94 Tombo dos bens e direitos que a Ordem de Cristo tinha em Pombal, publicado em GOMES, Saul

António, Pombal Medieval …, Op.Cit., doc. 40, pp. 198. 95 COSTA, P.e António Carvalho da, Op. Cit., , tom. Terceyro, p. 105. RODRIGUES, Mário Rui Simões -

O Diário “Perdido” da Viagem de José Cornide por Espanha e Portugal em 1772, Centro do Património

da Estremadura, Colecção Estudos & Documentos 1, Batalha, 2010, pp. 73-74.

18 | P á g i n a

Nesta igreja, na capela de Jerusalém, de que era administrador, em 1721, Vicente

de Sousa, estavam sepultados Pêro de Sousa Ribeiro, falecido em 1502 e sua mulher

Joana de Lemos, Simão de Sousa seu filho, falecido em 1569, com sua esposa Catarina

Henriques e Lopo de Sousa Ribeiro, falecido a 21 de Agosto 164296. No corpo da dita

igreja estavam ainda sepultados Lopo de Sousa Ribeiro, falecido em 1563, com sua

esposa Joana da Silva97. Foi esta igreja local de tumulação da família dos Sousa Ribeiro,

que foram alcaides do castelo e comendadores da vila de Pombal, e que vieram a ser

mais tarde condes e marqueses de Castelo Melhor.

O título foi criado pelo rei Filipe II de Portugal, por carta de 21 de Março de 1611,

a favor de Rui Mendes de Vasconcelos. Em 28 de Maio de 1686, deu-se início às obras

de construção de um convento de cónegos seculares de S. João (Frades Lóios), em

Pombal, por ordem de D. Luís de Vasconcelos e Sousa, terceiro conde de Castelo

Melhor98. Em 10 de Outubro de 1766, D. José I criou o título de Marquês de Castelo

Melhor a favor de D. José de Vasconcelos e Sousa Caminha Câmara Faro e Veiga, 4.º

Conde de Castelo Melhor.99

Os Sousas em Óbidos

D. Isabel de Sousa era uma das filhas de João Rodrigues de Vasconcelos, terceiro

senhor de Figueiró e Pedrógão. O seu testamento, datado de 14 de Outubro de 1525,

inicia da seguinte forma: “In nomine Deos amen saybam quantos esta çedola de

testamento virem como eu Dona Ysabell de Sousa molher que fuy de Dom Yoam de

Noronha que Deos tem morador que sam em há vila d’ Obidos (fl. 2) estando em a

quinta da Mouta Santa termo da vila do Rabaçal,(…) 100. D. Isabel de Sousa era, então,

96 Memórias Paroquiais de Pombal, 1721. In EUSÉBIO, Joaquim, Pombal 8 Séculos e História, 2.ª Ed.

Pombal, Câmara Municipal, 2007, pp. 311-314 97 EUSÉBIO, Joaquim, Op. Cit, pp. 311-314. RODRIGUES, Mário Rui Simões, Op. Cit., pp. 75-76. 98 EUSÉBIO, Joaquim, Op. Cit, pp. 116. Este convento seria ocupado após as obras concluídas, por

franciscanos, dado que os Lóis o teriam considerado como reduzido de bens e em área. COUTINHO, José

Eduardo Reis, Op. Cit., pp. 194-195. CASTRO, Eugénio de, Op. Cit., pp. 166-167. 99 EUSÉBIO, Joaquim, Op. Cit., pp. 311-314. RODRIGUES, Mário Rui Simões, Op. Cit., pp. 75-76. CANEDO, Fernando de Castro da Silva, SANTOS, Fernando e CASTRO, Rodrigo Faria de - A

Descendência Portuguesa de El-Rei D. João II, Braga, 1993 (2ª edição). 100 TT - Colegiada de Santa Maria de Óbidos, mç. 17, doc. 37, publicado por FLOR, Pedro - O túmulo de

D. João de Noronha e de D. Isabel de Sousa na Igreja de Santa Maria de Óbidos, Lisboa, Edições Colibri,

2002, pp. 89 e 154-157.

19 | P á g i n a

viúva de D. João de Noronha, alcaide-mor da vila de Óbidos, falecido a 10 de Março de

1525101.

A ligação familiar com os seus parentes mais próximos é perceptível através da

indicação do local onde o testamento foi realizado, ou seja, na quinta da Mouta Santa

(Santiago da Guarda, c. Ansião). Trata-se da denominada Torre dos Condes de Castelo

Melhor, os quais descendem dele por via de Pêro de Sousa Ribeiro, irmão de D. Isabel

de Sousa.

Esta quinta tinha sido pertença de seu pai, João Rodrigues de Vasconcelos, 3.º

Senhor de Figueiró e Pedrógão, estando nessa data, na posse de seus familiares. Nesse

seu testamento, D. Isabel ordenava e estabelecia, citamos: “por meu testamenteiro a

meu senhor yrmão arcebispo de Braga e a meu sobrinho Simão de Sousa hos quais

espero que por serviço de Deos que heles ho fação comprir como se das tais pesoas

espera”, afirmando, ainda, que: “per este testamento ey por deserdado e de feito

deserdo todolos meus parentes e parentas e querro que não erdem em minha fazenda e

hos pago dela com cinquo ceytis cada […] hum porque não quero que em ela erdem

somente Symão de Sousa e seus deçendentes como esta ordenado pela confirmação de

Sua Alteza.”102.

Este Simão de Sousa [Ribeiro] era filho de seu irmão Pêro de Sousa Ribeiro,

também ele, alcaide-mor e comendador de Pombal103, nascido em Figueiró dos Vinhos,

nos inícios do séc. XVI, e de sua mulher D. Joana de Lemos, tendo sido: “fidallguo da

Casa d’El Rey nosso senhor e allcayde mor de Pomball”.104

Foi este testamento, testemunhado, no ano de 1525, por seus familiares, estando

presentes nesse ato: “ho senhor Lopo de Sousa e ho dito frade e Lopo, criado da

senhora Dona Joana de Lemos e Lourença criado do dito padre e outros e eu Yoam

Bras (fl. 8) publico tabaliam notairo na dita vila e seus termos por El Rei nosso Senhor

que ho esprevi e em ele meu pubrico sinall fiz que tall he”. Este citado Lopo de Sousa

era filho dos referidos Pêro de Sousa Ribeiro e de D. Joana de Lemos.105

101 Inscrição epigráfica do túmulo de D. João de Noronha in FLOR, Pedro, Op. Cit., p. 73. 102 TT - Colegiada de Santa Maria de Óbidos, mç. 17, doc. 37, publicado por FLOR, Pedro, Op. Cit., pp.

89 e 154-157. 103 TT - Colecção Especial, caixa 38, n.º 58, Provisão de D. João III, passada em Lisboa, a 20 de Março

de 1538, e aditamento de 2 de Março de 1541, publicado em GOMES, Saul António, Pombal Medieval…,

doc. 44, pp. 251-254. CASTRO, Eugénio de, Op. Cit., p. 179. 104 TT - Colegiada de Santa Maria de Óbidos, mç. 17, doc. 31, publicado por FLOR, Pedro, Op. Cit., pp.

89 e 158-161. 105 CASTRO, Eugénio de, Op. Cit., pp. 178-179.

20 | P á g i n a

D. Isabel de Sousa instituiu, em 31 de Julho de 1525, uma capela na Igreja de

Santa Maria de Óbidos, sendo viúva de D. João de Noronha. O prestígio da família de

D. João de Noronha, e da sua própria família, é-nos transmitido pelas palavras de D.

Isabel de Sousa na carta de instituição da dita capela: “comsiderando diguo

consideramdo ella como seu pay e avos que sancta gloria aja e asi o senhor Dom João

seu marido que hora a deyxou per erdeira em seus bens eramça herão fidallguos e

pesoas notaveis e que serviram aos Reis pasados nas cortes e gueras tocamtes ao

Reyno homde allcamçarão homra e fazemda açaz que hora ella dita senhora pesoyo e

tem por legitima posisão e titollos legítimos, e queremdo ella si como ouve e cobrou dos

seus amtepasados a dita fazemda comservar lynhagem…”.106

Sem descendentes, apenas lhe restava, nas suas palavras: “hum seu sobrynho

Simão de Sousa fidallguo da Casa d’El Rey nosso senhor e allcayde mor de

Pomball”107. D. Isabel de Sousa: “(…) deyxou por capella e mayoria ao dito Simão de

Sousa seu sobrynho depois do falycimento da dita senhora; e depois delle yra a seu

filho lydimo barão in solydo e que todo fique honydo e jumto por capelanya e mayoria

ao dito seu sobrynho per falecimento della dita senhora estetoydora (…)”.108

O mausoléu levantado na igreja de Santa Maria de Óbidos constitui uma obra de

arte renascentista da mais elevada qualidade artística, denunciando a mundividência

cultural esclarecida, socialmente prestigiante e esteticamente atualizada que se vivia no

seio desta família e linhagem. Segundo Pedro Flor: “O túmulo de D. João de Noronha e

D. Isabel de Sousa pode considerar-se como um dos mais belos exemplares escultóricos

em Portugal pela arquitectura, plástica e originalidade que patenteia. Este jazigo

reflecte a mentalidade do seu encomendante que não poupou esforços para mandar

construir um grandioso monumento inserido numa magnífica capela-mor, ostentando e

utilizando essa obra como forma de representar a sua individualidade, embora tal

vontade não tivesse sido cumprida por parte do seu testamenteiro.”109

Os Sousas encontraram, como vimos, um lugar de afirmação nos campos e nas

vilas e cidades da antiga Estremadura. Das suas gerações poderemos escrever, em

verdade, que seja em Santa Maria de Óbidos, seja no claustro cisterciense de Alcobaça,

seja no Mosteiro da Batalha, seja em Pombal, seja finalmente em Figueiró dos Vinhos,

106 FLOR, Pedro, Op. Cit., pp. 89 e 158-161. 107 Ibidem, pp. 89 e 158-161. 108 Ibidem, pp. 89 e 158-161. 109 FLOR, Pedro, Op. Cit., p. 122.

21 | P á g i n a

em todos estes lugares permanecem memórias que evocam o passado de uma das

famílias dos grandes de Portugal, que encontrou na Estremadura, um dos seus territórios

de eleição e de perpetuação da sua linhagem.

5. Lugares de implantação dos Sousas de Arronches (solares, propriedades e sítios de tumulação).

22 | P á g i n a

Texto publicado em 2012

PORTELA, Miguel, “A implantação regional dos Sousas na

Estremadura”, A Capela dos Sousas no Mosteiro da Batalha,

Município da Batalha, Dezembro - 2012, pp. 65-80.