A Dieta Mediterrânica na Web EC
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1
A DIETA MEDITERRÂNICA NA WEB, UM POTENCIAL POR APROVEITAR
Faculdade de Economia - Universidade do Algarve. Mestrado em Sociologia –
Mobilidades e Identidades
Turismo, Patrimonialização e Identidades Sociais
17 de março de 2014
Eurídice Cristo n.º 9487
RESUMO: O presente artigo procurou abordar o tema Património Imaterial no contexto
do fenómeno turístico a partir de um estudo de caso sobre a Dieta Mediterrânica, que
teve por base a consulta de websites1 de dois dos países que apresentaram a candidatura
transnacional da Dieta Mediterrânica a Património Cultural Imaterial da Humanidade, à
UNESCO2. Procurou-se observar se a dieta mediterrânica está a ser devidamente
aproveitada para a promoção turística de Portugal e Espanha e das suas comunidades
‘representativas’ Tavira (Algarve) e Soria. Desenvolveu-se o tema com base na
literatura, abordando a relação entre gastronomia e turismo. Aos valores associados à
gastronomia enquanto experiência turística, tais como autenticidade, identidade, cultura
e tradição juntam-se outros, ligados à dieta mediterrânica, tais como civilização
mediterrânica, nutrição equilibrada e saúde, que vão ao encontro dos estilos de vida
procurados hoje em dia pelas populações ocidentais. Isso representa um elevado
potencial para a promoção dos destinos turísticos em questão.
PALAVRAS-CHAVE: Dieta Mediterrânica; Património Cultural; Gastronomia; Turismo.
ABSTRACT: This article sought to address the Intangible Heritage theme in the context
of tourism phenomenon from a case study on the Mediterranean Diet, which was based
on the consultation of websites of two of the countries involved on the transnational
nomination of the Mediterranean Diet as UNESCO Humanity Intangible Cultural
Heritage. The intention was to observe whether the Mediterranean diet is being fully
exploited for tourism promotion of Spain and Portugal and their 'representative'
communities Tavira (Algarve) and Soria. The theme was developed based on the
literature addressing the relationship between gastronomy and tourism. Along with the
values that are linked to gastronomy as tourist experience, such as authenticity, identity,
culture and tradition values, the Mediterranean Diet brings another, such as
Mediterranean civilization, balanced nutrition and health, which meet the current
lifestyles of Western populations. This represents a high potential for the promotion of
the concerned tourist destinations.
KEYWORDS: Mediterranean Diet; Cultural Heritage, Food, Tourism.
1 Optou-se por se utilizar o término website em vez de sítio da internet por ser o mais comumente usado em Portugal. Também se utilizam outros términos em inglês, familiares ao utilizador da internet, como por exemplo, front page, search, link, etc…Apresentam-se em itálico. 2 Concretamente Portugal e Espanha.
2
1. ANÁLISE DE CASO
ENQUADRAMENTO
A dieta mediterrânica foi classificada como Património Imaterial da
Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura (UNESCO) em Baku, no Azerbaijão, no passado dia 4 de Dezembro de
2013.3
METODOLOGIA
A consulta dos websites partiu do particular para o geral, seguindo as
seguintes etapas: Cidade/Região de partida da candidatura, Província/Região a
que pertence, Outro destino turístico do país, País. Este procedimento foi efetuado
para os websites de Portugal (Tavira, Algarve, Lisboa e Portugal) e de Espanha
(Soria, Barcelona, Espanha).
Sempre que possível fez-se uma navegação pelo website, de secção em
secção, tendo em conta a relevância do tema para o presente estudo (por exemplo,
secções de gastronomia, cultura, património, etc…) e, de seguida, a utilização do
mecanismo search.
Apresenta-se, de seguida, os resultados das consultas.
3 A classificação diz respeito a uma candidatura transnacional, apresentada por Portugal aliado à Croácia e Chipre, mas também à Espanha, Marrocos, Itália e Grécia – estes últimos quatro países tinham já os seus nomes e a dieta mediterrânica respetiva inscritos nos bens patrimoniais da Unesco desde 2010, mas associaram-se agora aos outros três numa candidatura renovada e mais abrangente. A candidatura portuguesa da “Dieta Mediterrânica” consistiu na primeira candidatura transnacional apresentada pelo Estado Português à Lista Representativa do Património Imaterial da Humanidade, e que se destina a reforçar o reconhecimento internacional desta expressão cultural alargada, no âmbito da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial. A decisão foi tomada durante a 8.ª Sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO, onde esteve presente uma delegação portuguesa, liderada pela Câmara de Tavira. De notar, que também foi aquele Município que liderou a candidatura dos restantes países. http://www.turismodeportugal.pt/Português/AreasAtividade/desenvolvimentoeinovacao/Pages/DietaMediterranicaclassificadapelaUNESCOcomoPatrimonioImaterialdaHumanidade.aspx
3
PORTUGAL
Tavira
Município de Tavira: http://www.cm-tavira.pt/site/
O website do município de Tavira, na sessão ‘Gastronomia e Vinhos’ tem
uma parte dedicada à Dieta Mediterrânica e à candidatura. Aqui podemos
encontrar também o vídeo promocional.
A pesquisa por dieta mediterrânica originou muitos resultados: uma lista
imensa de notícias, eventos, exposições, de onde se destaca, a título de curiosidade:
- “Dieta Mediterrânica tema de carnaval infantil”;
- "Dieta Mediterrânica, património cultural milenar em exposição”.
Algarve
Turismo do Algarve: http://www.turismodoalgarve.pt
Na secção ‘Imprensa’ encontrou-se uma notícia de 24.01.2014 – “Algarve
aposta no turismo cultural”, que refere “a valorização da gastronomia pela Dieta
Mediterrânica, recentemente classificada Património Imaterial da Humanidade pela
UNESCO”.
Turismo do algarve: www.visitalgarve.pt/
Na secção ‘Cultura’ há um texto intitulado História, Gastronomia,
Entretenimento, Festivais e Eventos, que salienta as Cataplanas e as Caldeiradas de
peixe entre outras “iguarias típicas do Algarve”.
Não há qualquer referência explícita à dieta mediterrânica.
4
Lisboa
Turismo de Lisboa: http://www.visitlisboa.com/
Na secção ‘Gastronomia’ existe uma referência à comida mediterrânea: “Em
Lisboa, encontrará também o melhor da cozinha mediterrânea, pão, azeite, queijo,
enchidos e uma grande variedade de petiscos.”
A pesquisa por dieta mediterrânica originou 1 resultado: ‘Comidas do
Mundo’, um evento gastronómico que decorreu de 20 a 24 de fevereiro de 2014.
Portugal
Turismo de Portugal: http://www.turismodeportugal.pt/
Da pesquisa por dieta mediterrânica resultaram 3 referências. Em ‘Boas
Práticas e Tendências” faz-se o enquadramento da candidatura à UNESCO.
Turismo de portugal: www.visitportugal.com
O website tem uma secção bastante desenvolvida sobre ‘Dieta Mediterrânica’.
No entanto, não é fácil chegar a ela, há que ir a ‘Sugestões’, na parte de baixo do
website. Aqui começa-se por se salientar o aspeto identitário: “A Dieta Mediterrânica,
classificada Património Mundial pela Unesco, faz parte do bilhete de identidade da
gastronomia portuguesa.”
Neste website é visível o esforço de ligação da dieta mediterrânea a toda a
gastronomia portuguesa. A questão da identidade está reportada ao nível nacional. Nas
sugestões gastronómicas houve o cuidado de se apresentar pratos de diversas regiões do
país: o caldo verde do Norte, as receitas alentejanas à base de pão e a cataplana do
Algarve.
Destaca-se a cozinha simples e frugal, os alimentos de ‘época’, a saúde.
Também se fala no convívio à volta da mesa, da “convocação e transmissão de saberes”,
da “celebração intercultural e entre gerações”, da diversidade de produtos da terra e do
5
mar, mar esse que não obstante ser atlântico, na forma de estar e de comer, se associa ao
Mediterrâneo.
Em ‘informações úteis’, remete-nos para o website Prove Portugal.
Prove Portugal: www.proveportugal.pt
O portal pretende “aumentar a visibilidade e o reconhecimento internacional da
gastronomia portuguesa, sustentada em produtos genuínos de grande qualidade”.
Sendo a navegação difícil4
partiu-se logo para pesquisa por dieta
mediterrânica.
Não há referência ao reconhecimento da UNESCO.
ESPANHA
Soria
Ayuntamiento de Soria: www.soria.es
Existe uma referência à gastronomia de Soria, que oferece “variedad de
productos tradicionales (...) con nuevas materias primas de calidad y con identidad
propiá.”
Não existe referência explícita à dieta mediterrânica.
A procura por dieta mediterrânica apresentou 4 notícias, sendo a mais recente
de 1/08/2010 – 12:02, sobre uma horta municipal que se fez “aprovechando unos
terrenos municipales junto a la calle Dieta Mediterránea”. 5
Este website tem pouca informação e está pouco atrativo. Nos links de interesse
apenas remete para “Soria wikipedia”.
4 Na maior parte das vezes não era visível os títulos das secções. 5 (http://www.soria.es/actualidad/la-segunda-fase-de-los-huertos-municipales-arrancara-en-2014-avalada-
por-el-exito-de-lo-0)
6
Turismo de Soria: http://www.spain.info/es/que-quieres/ciudades-
pueblos/otros-destinos/soria.html
Sobre a gastronomia diz-se o seguinte:
La gastronomía soriana tiene en los derivados del cerdo y en los asados
de cordero sus principales aliados. Conserva, asimismo, otros platos de
tradición pastoril, como las migas (a base de pan, ajo y cerdo) y la
caldereta (guiso de cordero). La mantequilla es uno de los productos
artesanales más típicos de Soria.
Não há qualquer referência à dieta mediterrânica.
Barcelona
Fundación Dieta Mediterránea6: http://dietamediterranea.com/
É um website com muita informação sobre a dieta mediterrânica. Apresenta-a do
ponto de vista nutricional e também do ponto de vista cultural e social, destacando o
estilo de vida, as celebrações e as tradições:
A antiga palavra grega diaita, de onde deriva dieta, significa estilo de vida equilibrada e isto é exatamente o que é a Dieta Mediterrânea, muito mais do que um padrão nutricional.
Refere a localização geográfica dando ênfase ao ‘mediterrâneo’: “Algo más que
un mar (...) Mediterráneo, del latín mediterraneus, mar entre tierras”.
Aqui estão devidamente enfatizados os aspectos e valores que se pretende
associar à dieta mediterrânica:
- Simplicidade, variedade e sustentabilidade (“productos frescos, locales y de
temporada”);
- Tradição e património cultural (“valiosa herencia cultural”);
- Inovação (“Ha ido evolucionando (...) e incorporando sabiamente, nuevos
alimentos y técnicas”);
- Partilha, convívio e socialização (“ Los alimentos …el Mediterráneo
convocan”);
6 A FDM faz parte da parceria do projeto SlowMed – Slow Food as a menas of Dialogue in Mediterranean Contexts, cofinanciando pelo programa ENPI CBC MED. (http://www.in-loco.pt/pt/projectos/20140304/slowmed-slow-food-as-a-means-of-dialogue-in-mediterranean-contexts/
7
- Hábitos de vida saudáveis (“dieta equilibrada, variada y con un aporte de
macronutrientes adecuado”).
Catalunha: http://www.catalunya.com/
Na secção ‘Património Mundial’ existe um link para “património cultural da
UNESCO”, que remete para a página Generalitat de Catalunya (gencat) 7. Uma das
nove referências de património mundial apresentadas é “la dieta mediterrânea”:
Na secção ‘Gastronomia’ pode-se ler:
Tras la cocina catalana actual hallamos la historia de un país, un
territorio, una forma de ser y de hacer. Es por este motivo que se ha
presentado la candidatura a la Unesco, con el fin de que sea
reconocida como Patrimonio Inmaterial de la Humanidad.8
7 http://www20.gencat.cat/portal/site/Patrimoni/menuitem.a953ae2225e3a5cd3f6c8910b0c0e1a0/?vgnextoid=68075356066b0110VgnVCM1000000b0c1e0aRCRD&vgnextchannel=68075356066b0110VgnVCM1000000b0c1e0aRCRD&vgnextfmt=default&newLang=es_ESc 8 http://www.catalunya.com/que-quieres-hacer/gastronomia
8
Ainda no website da Generalitat de Catalunia existe um link para uma “gastroteca”
http://www.gastroteca.cat/. Aqui a procura por ‘dieta mediterrânea’ originou 18
resultados: 5 produtos, 3 locais ‘onde comprar’ e 10 sítios ‘onde degustar’.9
Espanha
Portal Tasting Spain: www.tastingspain.es
Na secção “Costumbres y tradiciones” há um pequeno texto sob o título
“Nuestro mejor património”:
Esta gastronomía centenaria ha sido reconocida internacionalmente. En
el año 2010 fue declarada por la UNESCO como Patrimonio Cultural e
Inmaterial de la Humanidad por ser mucho más que una alimentación
saludable y consolidarse como una cultura que propicia la interacción
social, el respeto hacia la tierra y la biodiversidad, y la conservación de
actividades tradicionales y artesanales vinculadas a la agricultura y a la
pesca.
Em “Gastronomía”, há uma subsecção intitulada “Visión Territorial”. A
encabeçar o texto está o título “100% MEDITERRÁNEO”. Aqui faz-se referência à
Costa Mediterrânica, designada também por “El Levante”.
9 Do meu ponto de vista isto é particularmente interessante pois mostra que existem 10 restaurantes já referenciados como locais de degustação da dieta mediterrânica.
9
2. DESENVOLVIMENTO
TURISMO PATRIMONIAL, GASTRONOMIA E TURISMO
Palmer 10
aborda a relação entre turismo patrimonial e identidade nacional,
defendendo que uma das razões porque o turismo patrimonial é tão popular e prevalente
é porque as imagens apresentadas revelam um passado que as pessoas reconhecem
como seu. Confere unidade e é intemporal.
Contudo, até há pouco tempo, raramente a gastronomia raramente fazia parte das
listas classificativas do Património dos destinos turísticos. Em 1999, Westering referia
que “although it is generally seen as a part of culture it is not seen as an aspect of
heritage.” 11
Westering entende a relação entre gastronomia e património como um elemento-
chave de motivação para a viagem turística e defende que as comidas e as bebidas têm
uma identidade geográfica. A comida fornece um mapa de referência. Algumas comidas
são rapidamente identificadas com um país ou região. Para além disso, por alguma
razão indefinida, os produtos locais sabem melhor no local de origem.12
Isto vai ao encontro do conceito de Bell & Valentines13
de ‘comer o local’. O
ambiente da refeição confere uma experiência muito mais significante do que apenas
comer e beber os produtos locais, é algo que não pode ser replicado em mais nenhum
lugar.14
Os turistas buscam maior autenticidade e experiências reais. 15
Nessa busca
privilegiam a cozinha local, pois a comida é talvez um dos últimos campos de
‘autenticidade’16
que os turistas podem pagar.17
10 1999: 319 11 Este aspeto também se apreende pela visualização dos websites pois a gastronomia nunca aparece incluída na secção Património, esta apenas inclui locais de património material (cultural ou natural). 12 Westering, 1999: 75-79 13 (1997, citados por Westering, 1999:80) 14 Westering, 1999: 80 15 Poon, 1994, citada por Westering, 1999:78 16 A questão do autêntico e da autenticidade da atração turística remete-nos para um debate mais vasto que não é aqui aprofundado. 17 MacCannel, 1973: 597
10
Através da autentificação, a linguagem do turismo responde a um dos
sentimentos mais universais da humanidade: uma nostalgia pelos bons velhos tempos18
,
levando à criação de mitos românticos como a crença na autenticidade e a tradição
gastronómicas.19
A indústria do turismo apoia-se no potencial dos mitos para promover
e vender destinos e atrações turísticas.20
Menasche (2013) também aborda a relação entre a comida e o património,
procurando explicar porque a dieta mediterrânea21
passou a integrar a Lista
Representativa do Património Cultural Imaterial da UNESCO.
O ato de comer tem uma enorme importância social22
e as suas múltiplas formas
podem ser tomadas como indicadoras da diversidade cultural existente23
. É o uso
ideológico da diversidade que torna possível converter a comida em património.24
A relação entre comida e identidade pode ser objeto de perceções negativas,
propiciando estereótipos25
e discriminações sociais “entre lo que es comido por
nosotros y lo que es comido por los otros” (26
). Não obstante, também pode converter-
se num valor positivo.
Com efeito, os benefícios criados por uma identidade gastronómica única e
memorável são imensos. Através dessa identidade os destinos turísticos tornam-se
jogadores importantes no turismo gastronómico, um nicho de mercado em contínuo
crescimento.27
Esses destinos tendem a atrair um grupo-alvo bastante lucrativo: turistas
de classe média alta que apreciam identidades gastronómicas únicas e memoráveis.28
18 Lévi-Strauss, 1966, citado por Fox, 2007:555 19 Fox, 2007:555 20 Palmer, 1999:316 21 Assim como a gastronomia francesa e a cozinha tradicional mexicana. 22 Da Mata, 1987:22, citado por Menasche, 2013: 182 23 Menasche, 2013: 182 24 Menasche, 2013: 186 25 Por exemplo, os italianos comem pasta, os alemães batatas. 26 Menasche, 2013: 184 27 Fox, 2006: 547 28 Eg. Bordieu, 1998; Olsen et al., 2000 ; Corrigan, 2004, citados por Fox, 2007:547.
11
3. CONCLUSÕES
É inegável que o turismo cultural é um mercado cada vez mais importante e que
se verifica uma tendência crescente para a importância da gastronomia na viagem
turística. 29
Desta forma, a gastronomia pode ser vista como uma força de suporte,
desenvolvimento e promoção do património. Desempenha um papel na promoção do
turismo, ‘per se’; na construção e manutenção do património e como catalisador para
uma atração turística composta. A comida edifica, assim, a natureza do turismo. 30
A marca «dieta mediterrânica» possui um elevadíssimo potencial de mercado que
pode ser melhor aproveitado para a promoção dos destinos turísticos31
. Em si reúne
argumentos e valores fortes, reconhecidos globalmente:
– O próprio nome remete-nos para o Mediterrâneo, espaço geográfico com um
significado cultural forte, associado ao ‘berço da civilização ocidental’ e que abarca
destinos turísticos bastante importantes como Itália, Grécia, França e Espanha. Recebe
cerca de 100 milhões de visitantes/ano.32
– O rótulo «mediterrâneo» passou a ser equivalente ao atributo “saúde”, indo ao
encontro das preocupações atuais, no mundo ocidental, de saúde e bem-estar.33
– É cada vez maior o reconhecimento da gastronomia enquanto elemento cultural
e patrimonial de uma região bem como da sua importância para a atratividade turística
da mesma.
– A inscrição enquanto património imaterial da Humanidade, da UNESCO,
confere uma dimensão internacional e uma projeção à escala global, perspetivando um
aumento do número de visitantes nas regiões mediterrânicas.
Nos websites consultados nota-se que se atribui importância à gastronomia para
a valorização turística do destino reconhecendo-se o papel que desempenha na
veiculação da identidade, autenticidade e qualidade do mesmo. Apesar disso, em muitos
dos casos, o recurso à marca ‘dieta mediterrânica’ ainda não se verifica ou é incipiente.
29 Richard, 1996, citado por Westering, 1999:78 30 Westering, 1999:81 31 Neste caso do Algarve/Portugal e de Soria/Espanha. 32 Dieta Mediterrânica Algarvia 33 Garcia, 2001: 31)
12
A marca ainda não está devidamente aproveitada pelas entidades responsáveis
pelo Turismo dos países e regiões envolvidas.
Em Portugal e em Espanha parece haver posições contrárias.
Em Portugal, é notório o “apadrinhamento” por parte de Tavira, que se traduz
em inúmeros eventos projetados em notícias nos media. Ao mesmo tempo verifica-se
um certo ‘alheamento’ por parte de Portugal e de Lisboa, como se a marca não fosse
relevante para a promoção turística dos destinos. Talvez porque não a sintam como algo
‘deles’.
Em Espanha, é curioso notar que a maior promoção à dieta mediterrânica é feita
pela Fundação Dieta Mediterránea, de Barcelona34
, e não pela região de Soria. Seria
interessante explorar as motivações políticas que levaram à escolha de Soria como
localidade porta-estandarte da dieta mediterrânica espanhola.35
Também é curioso notar
que os websites de Soria estão desatualizados no que respeita a este tema, apresentando
apenas notícias de 201036
, sem qualquer alusão aos desenvolvimentos recentes.
Verificou-se que, mesmo quando não há referência explícita à dieta
mediterrânica, a gastronomia local é amplamente reconhecida, nos websites visitados,
como um elemento cultural identitário do destino e amplamente divulgada e promovida
como atração turística. Salientam-se os valores da autenticidade, da tradição e herança
cultural, mas também da modernidade, da preocupação pela saúde, da criatividade, da
fusão de culturas, do estilo de vida.
Como defende Palmer 37
, as atrações patrimoniais são negócios que operam num
mercado turístico muito competitivo, o que justifica que, por questões de sobrevivência,
se utilize o senso comum do marketing – se uma boa história vende, porque não fazê-
lo?
O mesmo se poderá aplicar ao património imaterial e ao caso concreto da dieta
mediterrânea: - “Se uma boa história vende, porque não fazê-lo?” 38
34 Entidade parceira do projeto SlowMEd, já referido anteriormente. 35 Esse não era, contudo, o objetivo do presente trabalho, nem a consulta da web evidenciou essas motivações 36 Altura em que Espanha inscreveu a ‘dieta’ na UNESCO 37 1999: 319 38 Esta última observação e a paráfrase são da minha autoria.
13
BIBLIOGRAFIA E WEBSITES CONSULTADOS
Para a análise de caso
Tavira
http://www.cm-tavira.pt/site/ - consultado em 8-03-2014, 12:14
http://www.cm-tavira.pt/site/etiquetas/turismo - consultado em 8-03-2014, 12:08
Algarve
http://www.turismodoalgarve.pt/home.html - consultado em 8-03-2014, 11:47
http://www.visitalgarve.pt/ - consultado em 8-03-2014, 11:52
http://www.in-loco.pt/pt/projectos/20140304/slowmed-slow-food-as-a-means-of-
dialogue-in-mediterranean-contexts/, consultado em 13-03-2014, 20:20
Lisboa
http://www.visitlisboa.com/ - consultado em 8-03-2014, 12:03
Portugal
http://www.visitportugal.com/pt-pt/node/199728 - consultado em 16-03-2014, 17:51
http://www.turismodeportugal.pt/ e
(http://www.turismodeportugal.pt/Português/AreasAtividade/desenvolvimentoeinovaca
o/Pages/DietaMediterranicaclassificadapelaUNESCOcomoPatrimonioImaterialdaHuma
nidade.aspx) - consultado em 8-03-2014, 11:22
http://www.proveportugal.pt/ e (http://www.proveportugal.pt/gastronomia/dieta-
mediterranicax) - consultado em 8-03-2014, 11:34
http://www.turismodeportugal.pt/ e
(http://www.turismodeportugal.pt/Português/AreasAtividade/desenvolvimentoeinovaca
o/Pages/DietaMediterranicaclassificadapelaUNESCOcomoPatrimonioImaterialdaHuma
nidade.aspx) - consultado em 8-03-2014, 11:22
http://www.proveportugal.pt/ e (http://www.proveportugal.pt/gastronomia/dieta-
mediterranicax). - consultado em 8-03-2014, 11:34
Soria
http://www.soria.es/turismo/gastronomia - consultado em 15-03-2014, 17:42
http://www.fundacioncajarural.net/ - consultado em 13/03/2014, 20:56
Barcelona
http://www.catalunya.com/ -consultado em 15-03-2014, 18:25.
14
http://dietamediterranea.com/ e
http://dietamediterranea.com/mediterraneo/dieta-mediterranea-y-la-unesco/ - consultado em 13/03/2014, 20:30
Espanha
http://www.tastingspain.es/
Internacional
http://www.unesco.org/culture/ich/index.php?lg=en&pg=00002 e http://www.unesco.org/culture/ich/index.php?lg=en&pg=00482&activityID=00094
http://www.unesco.org/culture/ich/index.php?lg=en&pg=00011#tabs
(http://www.unesco.org/archives/multimedia/index.php?s=flvplayer&pg=33&vo=2&vl=Eng&id=1680 -consultados em 13/03/2014, 20:09.
Para o desenvolvimento
Dieta Mediterrânica Algarvia, disponível em: http://www.drealg.net/moodle2/pluginfile.php/3523/mod_resource/content/1/dietmed_versao_por_reduzido.pdf e
Fox, R. (2006). Reiventing the gastronomic identity of Croatian tourist destinations. Hospitality Management 26 (2007), pp. 546-559.
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Menasche (2013). Cuando la comida se convierte en patrimonio: puntualizando la discussión. Patrimonio Inmaterial, museos y sociedade, Balances y perspectivas de futuro, pp. 180-187. Ministerio de Educación, Cultura y Deporte.
Palmer, C (1999). Tourism and the symbols of identity. Tourism Management 20, pp. 313 – 321.
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