A CONCILIAÇÃO E A MEDIAÇÃO COMO NOVAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE TRATAMENTO DOS CONFLITOS
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UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS – UNIPAC
FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS DE BARBACENA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
A CONCILIAÇÃO E A MEDIAÇÃO COMO NOVAS POLÍTICAS
PÚBLICAS DE TRATAMENTO DOS CONFLITOS
Monografia apresentada ao Curso de
Graduação em direito apresentada ao Curso
de Graduação de Direito da Universidade
Presidente Antônio Carlos – UNIPAC,
como requisito parcial de obtenção do
Título Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. Esp. Paulo Afonso de
Oliveira
BARBACENA
2012
ELISÂNGELA CRISTINA SOARES
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
Data de aprovação: 20 de Dezembro de 2012
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________
Professor Especialista Paulo Afonso de Oliveira
UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS
_____________________________________________________
Mestre Maria José Gorini da Fonseca
UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS
_____________________________________________________
Mestre Ciro di Benatti Galvão
UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS
Dedico este trabalho de forma especial ao MM. Juiz e Professor Marcos Alves
de Andrade que implantou o Juizado de Conciliação em Barbacena. Sua visão altruísta
me proporcionou a possibilidade de conhecer e trabalhar neste projeto.
Ao Padre Eudes e sua equipe que novamente abriu as portas da Paróquia de
Santo Antônio para os conciliadores.
E à Margarete uma amiga que a faculdade me trouxe que se tornou inseparável.
Agradeço a todos que de alguma forma, colaboraram para que esse trabalho se
tornasse possível, em especial, ao meu orientador pelas palavras motivadoras
que renovaram as minhas forças;
a Deus, por acreditar que nossa existência pressupõe
outra infinitamente superior;
Aos meus pais pelas orações, pelo amor incondicional
e pelo exemplo de força e coragem na vida;
E aos meus irmãos pelo auxílio nas horas difíceis;
Aos meus sobrinhos pelas alegrias que me proporcionam;
Ao querido André pelo tempo que caminhamos juntos;
Especialmente ao amigo Flávio Luiz Pinto de Vasconcellos,
por acreditar nesse sonho desde o início.
“Posto diante de todos estes homens reunidos,
de todas estas mulheres, de todas estas
crianças (sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra, assim lhes fora mandado),
cujo suor não nascia do trabalho que não tinham,
mas da agonia insuportável de não ter,
Deus arrependeu-se dos males que havia feito e permitido,
a um ponto tal que, num rebento de constrição,
quis mudar o seu nome para outro mais humano.
Falando à multidão, anunciou:
"A partir de hoje chamar-me-ei justiça".
E a multidão respondeu-lhe:
“Justiça, nós a temos, e não nos atende."
Disse-lhes Deus:
“Sendo assim, tomarei o nome de Direito."
E a multidão tornou a responder-lhe:
“Direito, já nós o temos, e não nos conhece".
E Deus:
“Nesse caso, ficarei com o nome de Caridade, que é um nome bonito."
Disse a multidão:
"Não necessitamos de caridade,
o que queremos é uma Justiça que se cumpra e um Direito que nos respeite”.
José Saramago
RESUMO
O presente estudo pretende apurar a postura dos operadores do direito perante a
Resolução 125 do Conselho Nacional de Justiça que introduziu a conciliação e a
mediação como política pública de tratamento de conflitos visando que a jurisdição seja
aplicada com eficácia e modernização.
A sociedade contemporânea conclama uma modernização do Poder Judiciário
com vistas a promover a melhora na prestação jurisdicional. Busca também resgatar a
credibilidade e atingir o escopo da jurisdição com eficácia e presteza de forma que a
sala de audiência seja um espaço democrático, reafirmadora dos valores trazidos pelos
métodos alternativos de solução de conflitos, como a confidencialidade, a competência,
imparcialidade, neutralidade, independência, autonomia e respeito à ordem pública.
A grande discussão se perfaz em torno da utilização dos métodos alternativos e
da necessidade de aprimoramento dos agentes executores da nova política pública, com
a aplicação da presente norma, cujo conteúdo estabelecido pelo Conselho Nacional de
Justiça visou tornar o acesso à justiça mais efetivo.
O trabalho foi desenvolvido buscando reiterar a necessidade dos advogados,
juízes e conciliadores assumirem uma nova postura perante a missão deontológica de
promotores da paz social. Alerta as instituições de ensino acerca da importância de
adotarem os métodos alternativos nos currículos das faculdades de direito para que os
futuros operadores de direito não sejam apenas formados para litigar.
Perpassa também pelas características que diferenciam os métodos alternativos
de conflitos destarte positivados, se referindo aos projetos já implantados e como
deverão se adaptar à nova política pública.
Por fim, diante da explosão de litigiosidade, considerando o esgotamento
pragmático do sistema e a necessidade de que a jurisdição real se aproxime da jurisdição
legal defende a aplicação em larga escala das técnicas de conciliação e mediação sem
ignorar a aplicação dos direitos e garantias constitucionais.
Palavras-chave: Poder Judiciário. Acesso à Justiça. Garantias Constitucionais.
Morosidade da Justiça. Redução da Judicialização. Política Pública. Tratamento
Adequado dos Conflitos de Interesses. Conselho Nacional de Justiça. Resolução
125/2010. Código de Ética dos Conciliadores. Conciliação. Mediação.
ABSTRACT
This study aims to determine the attitude of law enforcement officers before the
Resolution 125 of the National Council of Justice entered conciliation and mediation as
a public policy conflict handling in order that the jurisdiction is effectively implemented
and modernization.
Contemporary society calls for a modernization of the judiciary in order to
promote the improvement in adjudication. It also seeks to rescue the credibility and
reach the scope of jurisdiction effectively and promptly so that the courtroom is a
democratic space, reafirmadora values brought by alternative dispute resolution, such as
confidentiality, competence, impartiality, neutrality, independence, autonomy and
respect public order.
A great discussion makes up around the use of alternative methods and the need
for improvement of executing agents of the new policy, the application of this standard,
the content established by the National Council of Justice sought to make access to
justice more effective.
The work was developed aiming to reiterate the need for lawyers, judges and
conciliators take a new attitude towards the mission of deontological promoters of
social peace. Alert educational institutions about the importance of adopting alternative
methods in the curricula of law schools so that future law enforcement officers are not
only trained to litigate.
It covers also the characteristics that differentiate alternative methods of conflict
positivized Thus, referring to projects already implemented and how they should adapt
to the new policy.
Finally, before the explosion of litigation, considering the depletion pragmatic
system and the need for royal jurisdiction approaches the legal jurisdiction supports the
large scale application of the techniques of mediation and conciliation without ignoring
the enforcement of rights and constitutional guarantees.
Keywords: Judiciary. Access to Justice. Constitutional Guarantees. Slowness of Justice.
Reduction Judicialization. Public Policy. Adequate treatment of Conflicts of Interest.
National Council of Justice. Resolution 125/2010. Code of Ethics of the conciliators.
Conciliation. Mediation.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................3
2 ASPECTOS SOCIAIS E TEMPORAIS......................................................................6
3 AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS E A MOROSIDADE DA JUSTIÇA...... 9
4 UMA ANÁLISE SOBRE A CONCILIAÇÃO E A MEDIAÇÃO............................13
4.1 Projetos desenvolvidos no Brasil............................................................................14
4.1.1 O Juizado de Conciliação de Barbacena.............................................................15
4.2 Diferentes métodos e suas diferentes técnicas... ....................................................16
5 A RESOLUÇÃO 125 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA......................20
5.1 O Código de Ética dos novos auxiliares da justiça.................................................24
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
3
1 INTRODUÇÃO
O homem é um ser essencialmente social. Sua natureza gregária prevalece onde
há um mínimo de condições de sobrevivência. Mas, é também inerente a ele o conflito
que surge com o advento da complexidade da organização social.
Para solucioná-los, de forma imparcial, o homem “confiou” ao Estado a tutela
jurisdicional cabendo a este dizer o direito em caso de divergência de interesses.
Por seu turno, na contemporaneidade, o Poder Judiciário no exercício de suas
atividades vem encontrando sérios entraves como a sobrecarga e a morosidade que tem
prejudicado sua atuação ferindo seriamente seus valores precípuos: o senso de justiça e
a paz social.
Hodiernamente, é mister afirmar que somente a jurisdição Estatal não é capaz de
solucionar todas as questões que envolvem a complexidade da sociedade pós-moderna.
Apesar de o ordenamento jurídico brasileiro preservar a manifestação da vontade
das partes e tratar os chamados Métodos Alternativos Solução de Conflitos como uma
saída para dinamizar o Poder Judiciário constata-se a necessidade de um tratamento
adequado à sua aplicação, onde seus partícipes possam administrar suas demandas, e,
principalmente, enfrentar os conflitos de forma a promover a restauração do diálogo
entre as partes, sustentando, enfim, uma ordem jurídica mais justa e coesa.
Diante de tal contexto, o Conselho Nacional de Justiça, implementou a Política
Nacional de Mediação e Conciliação no Judiciário Brasileiro através da Resolução nº.
125, de 29 de novembro de 2010, que dispõe “sobre a Política Judiciária Nacional de
tratamento adequado dos conflitos e dá outras providências”:
Da Política Pública de tratamento adequado dos conflitos de
interesses
Art. 1º Fica instituída a Política Judiciária Nacional de
tratamento dos conflitos de interesses, tendente a assegurar a
todos o direito à solução dos conflitos por meios adequados à
sua natureza e peculiaridade.
Parágrafo único. Aos órgãos judiciários incumbe, além da
solução adjudicada mediante sentença, oferecer outros
mecanismos de soluções de controvérsias, em especial os
chamados meios consensuais, como a mediação e a
conciliação, bem assim prestar atendimento e orientação ao
cidadão.
Este trabalho pretende apurar a nova postura do Poder Judiciário perante aos
Métodos Alternativos de Solução de Conflitos -MASC como forma de enfrentar os
4
congestionamentos nas instâncias ordinárias e Tribunais Superiores, além de analisar a
eficácia da descentralização do serviço jurisdicional utilizando a conciliação e a
mediação como política pública para a solução de litígios.
Para que tais mudanças se tornem efetivas faz-se necessária uma tranformação
cultural, conforme afirmou recentemente (ALMEIDA, 2012, p. 191)
a lei não serve apenas como forma de estabelecer normas [...]
mas, também como forma de divulgação e criação de cultura
[...] tornando-se uma aliada imprescindível para difundir o
método em larga escala e em curto espaço de tempo.
Acredita-se portanto que a nova política pública implementada tornar-se-a esta
aliada dos operadores do direito para ajudar a resgatar a credibilidade da Justiça,
trazendo a modernização e eficácia necessárias ao cumprimento da jurisdição.
Ressalvando, que a adoção dos métodos deve ser única forma de buscar uma solução
do problema tendo em vista a complexidade da questão.
Em 1995, com o advento da Lei 9.099, muitos acreditaram que os Juizados
Especiais resolveriam os problemas de morosidade da justiça, o que “tecnicamente tem
sido chamada de explosão de litigiosidade” (PINHO e BAUMGARTEN, 2012, p. 215 ).
Entretanto, nossa normatização processual civil faz parte de uma estrutura
jurídica engessada que muito se utiliza das reformas para modificar o sistema e o hoje,
quase duas décadas depois, o funcionamento dos juizados especiais também já se
encontra assoberdado e lento.
Some-se à questão o que lecionou recentemente Pinho ( 2012, p. 214)
o Estado contemporâneo não está, ainda, preparado para
identificar e enfrentar as causas do conflito, comprometendo-
se a uma verdadeira pacificação[...] o máximo que pode fazer
é monitorar e empreender um trabalho de acompanhamento
Há de se ressaltar também que o Art. 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal
de 1988, garante aos cidadãos o princípio da inafastabilidade do juiz dispondo do
monopólio estatal, com vistas à proporcionar maior segurança jurídica. O princípio é
uma conquista social e histórica que não pode ser afetada.
Sobre o assunto Tavares e Lenza (2011 apud Rocha, 2005, p. 33) assinalam:
A jurisdição consiste no direito público subjetivo
constitucionalmente assegurado ao cidadão de exigir do
Estado a prestação daquela atividade. A jurisdição é, então,
5
de uma parte, direito fundamental do cidadão, e, de outra,
dever do Estado.
Ressalta-se que a adoção dos métodos alternativos em larga escala, são
utilizados por diversos países e devem servir de base para os operadores do direito que
trabalham no enfrentamento da questão. Ainda em tese, novamente Pinho (2012, p.
215),
A ação é um direito e não um dever. O que nos leva a
considerar os recentes estudos de aprimoramento dos
sistemas jurídicos de outros países que modificaram sua
atuação cujos resultados já são conhecidos deve servir de
parâmetro para o país.
A implantação com sucesso de uma política pública eficaz exige uma
reestruturação de todo o sistema e a Resolução 125 do Conselho Nacional de Justiça
visou atuar diretamente no treinamento e estrutura dos Juizados de Conciliação que já
atuam no país. Portanto, o presente estudo buscará avaliar as ferramentas propostas na
Resolução 125 e sua aplicação no Poder Judiciário.
As diretrizes implementadas buscam uma atualização do conceito de acesso à
justiça? A institucionalização da mediação e da conciliação, a implementação do código
de ética do conciliador e a capacitação dos mesmos em novos moldes serão adequadas
para proporcionar segurança e qualidade aos executores da política pública no exercício
deste múnus?
Considerando também que o uso dos métodos alternativos é uma busca pela
afirmação da manifestação de vontade das partes, e, uma forma de fortalecer a cidadania
questionamos, principalmente, se as partes envolvidas estão preparadas para enfrentar
seus conflitos a ponto de alcançar uma solução pacífica e exequível?
Em suma, o foco dado pela política pública aos métodos alternativos de solução
de conflitos é um passo inicial nesta busca, que não deve ser único, mas, nos aproximar
de todas as questões que envolvem os números do Poder Judiciário, as soluções e
propostas advindas da Resolução 125 é a proposta do nosso estudo.
Para a execução dos objetivos analisaremos artigos e livros publicados por
juristas brasileiros sobre o tema. Em especial no Direito Constitucional, Direito Civil,
Trabalhista e na Resolução 125 do Conselho Nacional de Justiça, buscando conceitos de
apoio e desenvolvimento da pesquisa. O método de análise será o dedutivo-lógico para
6
obter relações de proposição para verificar os conceitos inerentes à aplicação da política
pública recém adotada.
7
2 ASPECTOS SOCIAIS E TEMPORAIS
Os métodos de negociação antes de se consolidarem como atividade do Estado
de Direito já faziam parte da cultura dos povos. Tem-se notícia da utilização da
mediação na solução de litígios na China de Confúcio1.
Ressalta-se que outros países já adotaram a previsão nos ordenamentos jurídicos
dos Métodos Alternativos de Solução de Conflitos como uma forma de alcançar a
celeridade da prestação jurisdicional com êxito.
Os Estados Unidos implementaram novas leis nas décadas de 1980 e 1990 em
prol de mecanismos de solução de conflitos visando dinamizar o processo. Na
Califórnia também existe previsão de adoção da mediação no Code af Civil Procedura2.
Assim como na França, Itália, Japão, Espanha e Argentina. Esta última, ousou
editando a Lei 27.573/1996 da Cidade Autônoma de Buenos Aires que introduziu a
mediação como requisito obrigatório de admissibilidade da ação. Questão controversa,
que levou a norma à revisão. Entretanto, a “declaração de constitucionalidade foi
exarada pela Corte Suprema de Justiça de La Nación, em setembro de 2001” (Almeida,
2011, p. 194), ratificando a mediação prévia obrigatória com previsão de pagamento de
multa em caso de não comparecimento à audiência. O mesmo autor, ainda leciona que
Na doutrina, mesmo aqueles que consideram inconstitucional
a norma que introduziu a mediação prévia obrigatória,
entendem que a declaração de sua constitucionalidade
prioriza interesses e ideologias [...] Mas, no que diz respeito à
eficacia do novo sistema, as estatísticas não deixam
dúvidas[...] o número de ações ajuizadas caiu 34% (trinta e
quatro por centro) em doze anos de vigência da nova lei.
No Brasil, a solução conciliada possui referência nas Ordenações Filipinas e
posteriormente, na Carta Maior de 1824, que dizia que “sem ter intentado o meio de
reconciliação, não se começará processo algum. E, para esse fim, haverá o juiz de paz”.
Em 1827, uma lei específica disciplinava a função do Juiz de Paz, “que eram
eleitos e não precisavam ser bacharéis em direito”. Mas, vertentes políticas mais
conservadoras do Legislativo impediram o avanço da atividade, tendo em vista o fato de
______________________________________________________________________ 1 http://jus.com.br/revista/texto/22520/a-mediacao-a-conciliacao-e-a-arbitragem-como-formas-
alternativas-de-resolucao-de-conflitos/6#ixzz2F9NKDeV4
2 http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/O_novo_CPC_e_a_Mediacao.PDF
8
ampliado sua atuação até mesmo em questões de âmbito jurisdicionais.
A atual Constituição Federal de 1988, no art. 98, inciso II, cita a instituição da
Justiça de Paz “remunerada, eleita e temporária”, mas, esta não afeta a prática
processual.
No âmbito das relações de Trabalho os métodos alternativos se mantiveram mais
presentes, pois, a mesma sempre adotou a celeridade processual como princípio básico
considerando o caráter alimentar das verbas salariais.
Em 1907, surge o Conselho Permanente de Conciliação e Arbitragem com a
finalidade de solucionar os conflitos nascidos das relações de trabalho. Posteriormente,
criaram-se também as Juntas de Conciliação e Julgamento, formada por 3 (três)
membros, presidida por um Bacharel em Direito.
Ademais em 1.995, a Lei 9.022, alterou o conteúdo disposto no artigo 846 do
referido diploma pátrio, tornando obrigatória a tentativa de conciliação no início do
processo. E, pouco tempo depois, a Emenda Constitucional nº. 24 de 1.999 trouxeram a
tentativa de conciliação para os trâmites finais instrução trabalhista.
Por fim, em 2000, a Lei 9.958, alterou a Consolidação das Leis do Trabalho e
introduzindo o art. 625-D criando as Comissões de Conciliação Prévia, e, cabe-nos
destacar que o Tribunal Superior do Trabalho tem entendido que se trata de um requisito
de admissibilidade da ação.
Entretanto, repetindo Ludwig (2012, p. 22) na Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº. 2.160-5/DF, que ataca a referida lei e derroga tal posição,
discorrendo
o Supremo Tribunal Federal, por maioria, considerando os
termos do inciso XXXV do art. 5º da Constituição Federal
[...] nos termos do voto do Ministro Marco Aurélio Mello,
que tais normas não tornam obrigatória a “fase
administrativa”, permanecendo os titulares do direito material
com o acesso imediato ao Poder Judiciário desprezando a
fase que é a relevada pela atuação das Comissões.
Destarte, no mesmo texto, o referido autor critica substancialmente a morosidade
judicial e a necessidade de reorganização procedimental do sistema no sentido de que a
suspensão do art. 625-D ocorreu com excessiva demora e ainda em votação liminar, ou
seja, em caráter precário, lecionando que
a ADIN 2160-5/DF ora analisada, consigna, em si mesma,
um retrato nítido da situação caótica da sobrecarga de
9
processos no Poder Judiciário, na medida em que embora
distribuída em 02 de março de 2000, o julgamento apenas de
sua correspondente medida cautelar (ainda precária) se
completou em 13 de maio de 2009, ou seja, mais de nove
anos depois.
Resgatando as causas que provocam essa explosão de litigiosidade no país
podemos elencar a rápida transformação cultural por que veio passando a sociedade
brasileira nos últimos anos com a migração da sociedade rural para urbana expandindo
o nível de conflituosidade, sobrecarregando a justiça formal. Desta forma, ponderou
Nalili (2011, p. 7)
No início do século passado, o Judiciário constituía a última
ratio. Não se litigava à toa. Pessoas de gerações mais
longevas ainda se orgulham de proclamar que não haviam
litigado na justiça [...]
Soma-se a este contexto social o advento da nova ordem constitucional no Brasil
que com a promulgação da Constituição Federal de 1988 influenciou fortemente a
sociedade acerca dos direitos e garantias fundamentais. Sobre o tema, alguns autores
sintetizam a questão como se a sociedade tivesse respondido ao chamado da
Constituição Cidadã de 1988, e, esse amadurecimento ratificou o Estado Democrático
de Direito.
Propõe Ludwig (2011 apud JUNQUEIRA, 1996, p. 2) que foi todo processo pela
democratização que representou uma modificação na cultura a ponto de aumentar a
demanda pelo direito de ação
este diploma, em sua gênese, representou um rito de
passagem do autoritarismo que marcou o período do regime
militar para o esperado Estado Democrático de Direito.[...] os
motivos que suscitaram o interesse do tema do acesso à
justiça em solo brasileiro no início dos anos 1980 não
estiveram relacionados ao movimento internacional de
ampliação do acesso à justiça, mais sim ao processo político e
social da abertura política e na emergência do movimento
social que então se iniciava.
Entretanto, em sua maioria, os processualistas destacam o movimento mundial
pela universalização do acesso à justiça como uma das causas de aumento da
conflituosidade no país. Destacam-se Capelletti e Garth (1988, p. 70-71) que citam a
“terceira onda” renovatória do panorama internacional de acesso à justiça3.
______________________________________________________________________ 3 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. 1988, p. 70-71
10
Em recente publicação, Watanabe (2011, p.382) anota também “a chamada
economia de massa, através do ajuizamento de processos repetitivos” como causa da
sobrecarga de serviço no Judiciário. Causa que será combatida através da reforma do
instituto da Repercussão Geral no novo Código de Processo Civil em andamento na
Câmara Legislativa Federal.
Neste breve resumo histórico podemos observar a complexidade do problema
que a Resolução 125 do CNJ busca atingir e que tem sido tema de grandes discussões
doutrinárias e não se esgota com tais análises.
11
3 AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS E A MOROSIDADE DA JUSTIÇA
A grande discussão em torno da utilização em maior escala dos métodos
alternativos de solução de controvérsias como uma das formas de amenizar a crise do
Poder Judiciário tem trazido à doutrina um embate que já chega a ser tratado como
dogmático para que a discussão não se torne um fim em si mesma. O momento
demonstra uma preocupação com os princípios constitucionais versus a demora na
prestação jurisdicional.
Em sede doutrinária, há de se destacar ainda o que assegura Didier Filho, 2008,
p. 27
Vive-se, atualmente, uma fase de renovação do estudo do
Direito Constitucional. Há diversas manifestações disso: a)
parte-se da premissa de que a Constituição tem força
normativa e, por conseqüência, também tem forma normativa
os princípios e os enunciados relacionados aos direitos
fundamentais; b) pela expansão da jurisdição constitucional
[...] c) desenvolvimento de uma nova hermenêutica
constitucional (com valorização dos princípios de
proporcionalidade e razoabilidade).
Watanabe (2011, p.384) sintetiza bem a questão “Não basta apenas como
garantia o mero acesso aos órgãos do Poder Judiciário, [...] e sim o acesso à ordem
jurídica justa, de forma efetiva, tempestiva e adequada”.
Nossa Constituição, no seu Art. 5º, inciso LIV, prevê ainda que “ninguém será
privado da liberdade ou de seus bens sem o Devido Processo Legal” e sob tal prisma,
nota-se uma renovação do pensamento jurídico sob a perspectiva constitucional que
exige uma adequação à efetiva tutela, onde, se destaca a “dimensão temporal do
processo” (MARCATO, 2012, p. 88), estabelecendo a premissa de que
a demora excessiva na obtenção da tutela jurisdicional não
deve se confundir com o tempo programado para que ele
produza resultados [...]. Sintetizando que a maturação do
processo ocorre com a observância dos prazos pré-fixados
pelo legislador, sendo considerada a demora excessiva em
violação de direitos.
Fincados ainda, no âmbito de proteção dos direitos fundamentais, outro princípio
também disposto no art. 5º, inciso LXXVIII, a Duração Razoável do Processo, que está
presente no plano internacional elencado na Declaração Universal de Direitos do
12
Homem (1948), na Convenção Européia dos Direitos do Homem (1950) e na
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969).
Analisando o período em que foram firmados estes tratados, concluímos que a
preocupação com a celeridade processual perdura na justiça processual. E
reconhecemos que diante de tal perspectiva a existência de um novo embate que são a
jurisdição real e outra legal.
O excessivo número de processos, a falta de servidores e a chamada explosão de
litigiosidade configuraram uma crise que vem sido estudada com afinco pelo Conselho
Nacional de Justiça e diversos processualistas. Watanabe (2011, P. 387) apud Peluso em
seu discurso de posse4, cita
pesquisas recentes e confiáveis mostram que 43% dos
brasileiros, ao sentirem seus direitos desrespeitados,
procuram soluções por conta própria. Só 10% vão
diretamente à justiça. Outros se dividem na busca de
mediação de advogados, no recurso à polícia, na renúncia ao
interesse e, pasmem, até no uso da força. [...] É verdade que,
entre os que recorrem ao Judiciário, 46% se declaram
satisfeitos e, apenas 23%, inconformados. Mas, está claro que
isso não pode consolar-nos.
Muitos criticam que apesar de não ignorar a importância dos direitos
fundamentais, o acesso ao Poder Judiciário deve ser entendido como ultima ratio
considerando, principalmente, que a justiça no caso concreto deve ser aplicada com
eficácia. Em contrapartida, nos vemos diante de um sistema engessado e rígido tendente
à morosidade.
Nossa Constituição Federal, elaborada no período histórico pós-ditadura,
também ratificou os princípios tendentes a assegurar ao máximo o acesso à justiça,
entretanto, em contraponto, para alguns doutrinadores, a sociedade pós-moderna exige
que essa excessiva proteção seja relativizada sob o prisma do chamado Princípio da
Tempestividade da Jurisdição (SILVA, 2011, p. 51)
O que deve nortear o pensamento processualista
contemporâneo é a busca pela harmonização da segurança
jurídica, guardando-se as garantias processuais, a justiça das
decisões e a celeridade do processo [...] para que a prestação
jurisdicional não se procrastine além do necessário.
4 CONSELHO Nacional de Justiça. Resolução n 125, de 29. nov. 2010 . Disponível em:
<http://www.cnj.jus.br/atos-administrativos/atos-da-presidencia/323-resolucoes/12243-resolucao-no-125-
de-29-de-novembro-de-2010
13
Considerando principalmente que a sociedade não está mais percebendo o
escopo da justiça que é a pacificação social e que as reformas processuais, emendas
constitucionais e legislações esparsas como a Lei 9099/1995, dos Juizados Especiais,
foram opções feitas pelos legisladores que trouxeram modificações positivas, todavia
saturadas.
Sustenta Didier Filho (2008, p. 74) que os métodos alternativos são o que
nomina de “equivalentes jurisdicionais”
por serem formas de solução de conflitos não jurisdicionais e
chamados de equivalentes exatamente porque, não sendo
jurisdição, funcionam como técnica de tutela de direitos,
resolvendo conflitos ou certificando situações jurídicas, mas
[...] não são definitivas, pois podem ser submetidas ao
controle jurisdicional.
Neste ínterim, a adoção dos métodos alternativos torna-se uma via alternativa
que já surge com um questionamento em relação a estas garantias, que é válido e
pertinente, que é também a base deste tema: Estão as partes prontas para enfrentar seus
litígios? Temos uma sociedade capaz de negociar e dialogar acerca de seus direitos?
Nosso estado democrático é formado por sujeitos cientes de seus direitos a ponto de
enfrentá-los de forma segura?
A jurisdição é uma técnica de controle social e uma conquista que não deve ser
ignorada. A convivência regulada tornou-se necessária justamente por causa da
complexidade das relações humanas. No aspecto prático perdemos a eficácia quando
criamos uma máquina estatal complexa e que não se atualiza no âmbito tecnológico
com a mesma velocidade que a sociedade o faz.
O mundo jurídico, diante do contexto histórico e da necessidade de um novo
paradigma sofre o que Silva (2011, p. 43) chama de esgotamento pragmático
encontrando inúmeras dificuldades de resolver problemas
decorrentes da complexidade das relações intersubjetivas,
ainda mais em um mundo que prima pela celeridade
decorrente de avanços tecnológicos, não podendo o
ordenamento jurídico ficar alheio a essa realidade.
Obviamente que nenhuma crise é somente negativa e o enfrentamento da mesma
gera o amadurecimento do sistema que já analisa o novo Código de Processo Civil
Projetado com vistas a trazer a conciliação e a mediação no seu próprio texto, além da
reforma de institutos e inserção de outros que desafoguem as varas e tribunais.
14
Importante passo também foi dado pela Resolução nº. 125 do CNJ visando à
formação mais rígida do conciliador e do mediador, além da ampliação da estrutura dos
Núcleos de Conciliação e Cidadania.
Destaca-se, porém, a preocupação do Legislativo em contemplar o estímulo à
positivação dos métodos alternativos. Desta forma, a maturação dos mesmos se torna
progressiva reafirmando ainda mais a autonomia da vontade das partes no processo,
desde que, respeitando os princípios constitucionais.
15
4 UMA ANÁLISE SOBRE A CONCILIAÇÃO E A MEDIAÇÃO
Discorrer sobre os métodos de solução de controvérsias nos remete à Teoria do
Contrato Social. A vida social formou-se em estado de equilíbrio e de ajuda mútua,
onde havia renúncia em prol do semelhante, mas, sua evolução gerou um “estado
anárquico” que necessitou do que podemos chamar de regulação.
Reiteramos Calmon Filho (2012, p. 37), ao dispor que “a harmonia social é a
regra e o conflito exceção”. Ainda hoje, o homem respeita sentidos morais e valores
amplos que enunciam a harmonia. Grande parte da sociedade cumpre suas obrigações e
deveres sem necessidade de acionamento do sistema regulatório da sociedade que é a
jurisdição.
Entretanto, há uma convergência entre todas as teorias estudadas pelos grandes
filósofos que se dedicaram a este tema. Em sua maioria elas afirmam que “os homens
lutam entre si [...] e o surgimento da regulação estatal torna-se imprescindível” Calmon
Filho (2012, p.38). Sob tal prisma, também conclui
o Contrato Social e mesmo a existência da norma jurídica não
são suficientes para a pacificação social, porquanto nem
sempre o seu cumprimento é espontaneamente verificado [...]
E sem acordo de vontades a convivência é impossível.
Ademais, a sociedade moderna ainda enfrenta paradigmas como a prevalência
entre o público e o privado, a regulação e a emancipação, o legalismo e o relativismo;
tornando-se possível sintetizar que tais questões retornam ao discurso com o aumento
da complexidade da sociedade pós-moderna que culminou no estado caótico onde o
clamor pela eficácia é generalizado.
A precariedade da estrutura, a dependência excessiva ao Estado-Juiz e os altos
custos de funcionamento deste aparato são grandes entraves ao escopo da preservação
da paz social reservada ao Estado. Novamente, neste sentido, Calmon Filho (2011, p.
42) afirma que
A sociedade moderna se apresenta como uma cultura de
conflitos, na qual não somente se verifica uma enorme e
interminável quantidade de conflitos, como igualmente, o
hábito predominantemente de atribuir ao Estado a
responsabilidade de proporcionar sua solução.
16
Desta forma, ressaltamos que a política pública abordada neste estudo, que
adotou a conciliação e a mediação como os métodos de solução de conflitos a serem
utilizados pelo Poder Judiciário nos Núcleos de Conciliação e Cidadania vem
complementar o acesso à justiça, sem acionar a jurisdição.
Tal iniciativa, não é inovadora no âmbito internacional, considerando que a
utilização de mecanismos informais de solução de litígios já representa no panorama
internacional uma forma de tornar o acesso à justiça mais efetivo.
No país, enfrentamos certa resistência em aceitar a utilização dos métodos. Em
tese recente, Ludwing (2011 apud CAPELLETTI e GARTH, 1988, p. 84) discorre que
Existem vantagens óbvias tanto para as partes quanto para o
sistema jurídico, se o litígio é resolvido sem necessidade de
julgamento. A sobrecarga dos tribunais e as despesas
excessivamente altas com os litígios podem tornar
particularmente benéficas para as partes as soluções rápidas e
mediadas [...] É significativo que um processo dirigido para a
conciliação – ao contrário do processo judicial, que
geralmente uma parte “vencedora” e a outra “vencida” –
ofereça a possibilidade de que as causa mais profundas de um
litígio sejam examinadas e restauradas um relacionamento
complexo e prolongado.
Nesse diapasão, cabe-nos supor inicialmente que falta conhecimento técnico a
despeito dos métodos e a demora na implantação efetiva dos mesmos no sistema
contribuíram para gerar a pouca aceitação em aplicá-los.
4.1 Projetos desenvolvidos no Brasil
O Conselho Nacional de Justiça, após estudar o sistema e aplicar vários anos de
pesquisa e metas ao poder judiciário adotou a Conciliação como seu projeto principal
com vistas a minimizar os efeitos da sobrecarga judicial.
Os Métodos Alternativos são citados na Constituição Federal em vigor, e, nos
últimos anos, alguns defensores das técnicas, motivados pela disseminação dos mesmos
iniciaram projetos nos Tribunais de Justiça Estaduais voltados para a Conciliação.
Nestes casos, a iniciativa partia de um magistrado, que ao conhecer o tema
implantava ou não os Juizados de Conciliação como forma de desafogar suas comarcas
e/ou varas. Recentemente, em pesquisa publicada o próprio Ministério da Justiça apurou
que “16,42% dos programas alternativos de administração de conflitos eram
17
Fluminenses, enquanto São Paulo detinha 14,93% e a Bahia 8,96%” (NETTO E
MEIRELLES, 2012, p. 215)
Em contrapartida, os mesmos autores indicam que “uma das experiências mais
relevantes é a do “Balcão de direitos”, projeto iniciado em 1997, pela ONG “Viva Rio”
em comunidades carentes para, entre outras contribuições, organizar mediações
comunitárias”. O que podemos apurar é que a criação de Núcleos, Centrais e Juizados
em parceria com a comunidade são projetos de baixo custo e com eficiência acima do
esperado.
Como referência, temos o desenvolvimento de projetos ligados às soluções
alternativas de controvérsias no Estado de Minas Gerais, que possui em andamento 05
(cinco) práticas de conciliação em atividade “podendo variar de acordo com o momento
ou a natureza do conflito” conforme cartilha do Tribunal de Justiça do Estado de Minas
Gerais (2009, p. 5).
A Conciliação no Juizado de Conciliação, na fase pré-processual; a Conciliação
no Juizado Especial, com base na Lei 9.099/95, portanto, processual. A Conciliação da
Central de Conciliação na cidade de Belo Horizonte, que trata de projetos voltados aos
grandes litigantes como bancos, etc. A Conciliação no trâmite de um processo formal,
também processual, com base no art. 331 do Código de Processo Civil em vigor. E,
finalmente, a Central de Precatórios, também processual, que visa acordo com os
credores das empresas públicas.
A implantação no Estado dos Juizados de Conciliação iniciou-se com a edição
da Resolução nº. 89, de 19 de março de 1.987, pelo Tribunal de Justiça, que criou os
Juizados Informais de Pequenas Causas.
As Resoluções 135 de 1.989 e, 236 de 1.992 modificou a estrutura dos mesmos
visando aperfeiçoamento das atividades. E, em 2.001, nova Resolução, nº. 378 que criou
os Juizados Informais, conferindo-lhes um novo perfil.
Finalmente, as Resoluções 400 de 2.002 e 460 de 2005 atualizou a iniciativa do
projeto conferindo a ele parcerias com órgãos de Governo, Prefeituras, Igrejas,
Associações de classe, dentre outros. A partir deste momento, os conciliadores,
capacitados pela Escola Judiciais Desembargador Edésio Fernandes, atuavam perante a
comunidade.
18
4.1.1 O Juizado de Conciliação de Barbacena
Na cidade de Barbacena, o Juizado de Conciliação foi implantado pela Portaria
nº 173, publicada em 23/08/2002. Um dos primeiros que iniciaram atividade no interior
do Estado de Minas Gerais.
Possui um Núcleo em funcionamento dentro das dependências do Fórum local e
outros 06 núcleos nas comunidades como na Paróquia de Santo Antônio, Paróquia Bom
Pastor e em alguns pequenos municípios que fazem parte da Comarca (Antônio Carlos,
Senhora dos Remédios e Ressaquinha), atingindo uma gama significativa da população.
Além da parceria com o Núcleo de Prática Jurídica da Faculdade de Direito da
Universidade Presidente Antonio Carlos – UNIPAC.
Os números referente à Semana Nacional de Conciliação de 2011 chamam
atenção pelo êxito na quantidade de acordos alcançados. Ressalta-se também que a
parceria com a universidade proporciona o atendimento gratuito ao cidadão
concomitante ao aprendizado dos alunos que, divididos em grupos, realizam
atendimento, participam das sessões de conciliação, além de acompanharem as
audiências do caso quando o acordo não acontece.
Vemos, neste caso, a atenção efetiva dada os Métodos Alternativos de Solução
de Controvérsias ocorrendo sob a supervisão do Juiz-orientador, do Conciliador-
orientador e dos professores que atuam no Núcleo Prático da universidade, montando
assim, uma cadeia eficaz de atenção à comunidade e ao aluno que conhece as técnicas
de conciliação e mediação durante a graduação.
4.2 Diferentes métodos e suas diferentes técnicas
Os Meios Alternativos positivados pela norma em estudo inovam principalmente
na forma de enfretamento do conflito. Considerando a necessidade de esvaziar gabinetes
e promover números o Estado-juiz está punindo severamente seus jurisdicionados
quando presta a jurisdição com excessiva demora e certa pressão por atingir metas.
Argumenta Buitoni (2011, p. 179) sobre o tema
O Poder Judiciário, acompanhando o aumento do ruído na
nossa civilização, vem se mostrando cada vez mais surdo,
deixando de ouvir as partes em conflito, nas audiências. […]
em nome da estabilidade jurídica, econômica e social, com
base em critérios racionais, procura cada vez mais fazer
acordos, conciliar as partes, julgar antecipadamente, para
tentar diminuir o volume de processos
19
[…] Quando no sistema jurídico se pratica a escuta é com a
pretensão de fechar as lacunas do conflito, o que só é possível
artificialmente, por uma convenção do sistema jurídico. O
objetivo da escuta judicial não é entender o conflito, mas,
terminá-lo. A solução jurídica é apenas ilusória, pois na
prática pode terminar, pontualmente, aquela controvérsia,
mas, o conflito em si não termina.
Com a implantação da utilização dos métodos alternativos de conflitos, a
formação e a aplicação das técnicas de conciliação e mediação receberão o espaço
necessário para que as audiências sejam mais produtivas e os profissionais que ali atuam
possam buscar com mais afinco o escopo da pacificação social.
Por esta premissa, todos estarão voltados para abraçar o uso das técnicas
autocompositivas quando poderemos então vislumbrar que a sala de audiência do
Século XXI será um espaço mais cidadão, onde as partes estarão assistidas por
advogados abertos a conciliar, sob o olhar de um juiz pró ativo e atento, imbuído dos
nobres valores que visam à solução do litígio e não apenas a prolação de uma sentença,
buscando atingir metas e encerando tecnicamente mais um processo .
Nesse diapasão, assinalamos algumas características e diferenças entre os
métodos de conciliar e mediar conflitos. Ressaltando que este não é o foco principal
deste estudo.
A Mediação é aplicável às causas cujo envolvimento entre as partes deve ser
relevantemente considerado. O conflito é parte de uma complexa relação social e o
mediador deve buscar restaurar o diálogo, de modo a promover a solução do conflito e
manter o vínculo entre as partes.
Oliveira Júnior (201I apud Silva, 2009, p.07) ensina que na mediação “não há
imposições de sentenças ou laudos; o mediador auxilia as partes a acharem seus
verdadeiros interesses e preservá-los num acordo criativo onde as duas partes ganham.”
Para que seja caracterizado o método, o mediador assume uma postura mais
passiva, e não poderá oferecer propostas para as partes envolvidas. Buitoni, (2012, p.
173), discorre sobre as partes e sobre a técnica da mediação dispondo que
as pessoas em conflito querem falar, se expressar de alguma
maneira [...] e o mediador não o faz um simples registro do
que é dito pela mediando, mas, faz perguntas, interage com o
mediando, deixando que ele se expresse livremente, sem
interpretar, apenas facilitando a expressão [...] identificando-
se um emissor e um receptor.
Complementando, leciona Sena (2007 apud Warat, 2006, p. 22) que
20
A mediação começa quando as partes conseguem interpretar,
no simbólico, ódios e amores que as diferenciam. A mediação
facilita às partes a possibilidade de interpretar seus ódios e
amores. O que é mediável são os conflitos de afetos, não as
diferenças patrimoniais sem história, sem afetos, nem desejo
(elas são transações que podem estar disfarçadas de
mediações). Nos casos patrimoniais sem história, se decidem
as diferenças, não existe conflito a resolver. Para que algo
possa ser mediado, é necessário que uma das partes, pelo
menos, tenha um conflito de ódio, amor ou de dor.
Após a publicação da Resolução nº. 125, o CNJ vem divulgando um pouco mais
conciliação que a mediação, considerando que a primeira tem sido o método mais
utilizado dentre os demais meios de solução de conflitos. Novamente, a posição de
Sena, (2007, p.10)
A conciliação entendida em um conceito muito mais amplo
do que o “acordo”, significando entendimento, recomposição
de relações desarmônicas, empoderamento, capacitação,
desarme de espírito, ajustamento de interesses. Em dizer
psicanalítico: apaziguamento.
A conciliação é mais comumente usada para as chamadas relações descartáveis,
ou seja, os sujeitos envolvidos possuem vínculos de natureza mais patrimonial e
surgidas excepcionalmente como num acidente de trânsito, na relação de consumo, etc.
Almeida (2011, p. 189) resume de maneira clara e objetiva as principais diferenças entre
as técnicas
O mediador é apenas um facilitador, que direciona seus
esforços no aprimoramento da comunicação dos mediandos.
Não lhe é lícito oferecer opções de acordo. Essa característica
passiva do mediador é o principal diferencial entre a
mediação e a conciliação. Esta tem como condutor um
profissional ativo, que dirige uma atividade mais dinâmica.
Não tem a intenção de recuperar o diálogo entre os
participantes, concentrando-se exclusivamente na questão
objetiva, isto é, no conflito. Esgotadas sem sucesso as opções
de propostas sugeridas pelos participantes da sessão de
conciliação, o conciliador, diferentemente do mediador,
poderá oferecer novas alternativas, levando em consideração
sua perspectiva externa do conflito ou critérios objetivos,
também externos, que sejam aceitos pelas partes. […]
Enquanto na mediação a autoria dos mediandos na
construção do acordo é absoluta, na conciliação poderá ser
mitigada pela participação ativa do conciliador no momento
da negociação. O conciliador não tem a preocupação com a
restauração do diálogo. Inexistindo, destarte, comunicação
entre as partes, impõe-se-lhe um papel mais participativo, que
preencha a lacuna decorrente da ausência de negociação
direta. Na conciliação, restringe-se parcialmente, pois uma
das vantagens dos métodos autocompositivos, que é a
colaboração das partes na construção de acordo que
entendam ser adequado aos seus interesses.
21
Complementando muito bem, esclarece Sena (2007, p. 07) quando cita a
conciliação endoprocessual
A conciliação distingue dos outros meios de solução de
conflitos em três aspectos: no plano subjetivo a diferenciação
se apresenta na interveniência de um terceiro e diferenciado
sujeito que é a autoridade judicial; no ponto de vista formal: a
conciliação judicial se realiza no iter de um processo judicial,
podendo extingui-lo parcial ou integralmente. E, quanto ao
seu conteúdo, também difere, pois a conciliação judicial pode
abarcar questões não transacionáveis na esfera estritamente
privada.
Com a aplicação da nova política pública, nasce um novo espaço de trabalho,
pautado pelo diálogo com as partes. Tanto conciliador quanto procuradores e
representantes, motivados pelo compromisso de exteriorizar as expectativas naquele
conflito precisam se ater a elementos mais humanizados para alcançar a construção de
um acordo satisfatório.
Neste âmbito, precisamos enfatizar que a imposição de um acordo ocorre
quando se desrespeita a vontade das partes e quando se constata que o mesmo não foi
elaborado com bom senso e ética.
Quando as partes entregam a um terceiro o conflito, e são conduzidos por estes,
a um acordo exeqüível, todos estes atores, tornam-se construtores e destinatários desta
justiça aplicada ao caso concreto. Ápice este, que deve ser buscado incessantemente
pelos operadores da justiça.
Considerando os métodos alternativos de solução de conflitos na história
podemos afirmar que temos um sistema jurídico prático e educacional totalmente
voltado para a “solução adjudicada de conflitos” (Watanabe, 2010, p. 382).
A cultura de que o somente o juiz deve dizer o direito e a motivação da pós-
modernidade tendente ao individualismo nos impede de acreditar e atuar na busca da
solução alternativa dos conflitos. Muito bem pontuou Splengler e Splengler Neto (2010,
p.23)
Unidos pelo conflito, os litigantes esperam por um terceiro
que o solucione. Espera-se pelo Judiciário para que digam
quem tem mais direitos, mais razão ou quem é o verdadeiro
vencedor da contenda. Trata-se de uma transferência de
prerrogativas que, ao criar muros normativos, engessa a
solução da lide em prol da segurança. Ignorando que a
reinvenção cotidiana e a abertura de novos caminhos são
inerentes a um tratamento democrático.
22
Mais do que uma dificuldade prática abertamente enfrentada pelo Conselho
Nacional de Justiça as novas políticas de enfrentamento de conflitos encontram uma
resistência cultural que precisa ser vencida. De acordo com o que acentua Ludwing
(2012 apud MARTINS, 2008, p. 08):
É preciso mudar a concepção cultural do brasileiro de ser
reticente, ter desconfiança ou aversão a procedimentos
extrajudiciais de solução de conflitos, como já ocorria na
arbitragem e com os juizados de pequenas causas [...] O
brasileiro sempre prefere que o conflito seja solucionado pelo
Poder Judiciário. Entretanto, para conciliar, não é preciso a
existência de um órgão especifico do Poder Judiciário, que
tem a competência para dizer o direito nos casos concretos
que lhe são submetidos à apreciação.
Para atingir o fim da sobrecarga e o resgate da credibilidade do Poder Judiciário,
a sociedade precisa responder às rápidas necessidades de transformação que todos
exigem e conclamam. Uma alternativa à questão já tem sido adotada pelas instituições
de ensino. A inclusão do estudo dos métodos alternativos de solução de conflitos e o
incentivo aos discentes a prática conciliatória.
23
5 A RESOLUÇÃO 125 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
O Conselho Nacional de Justiça fazendo uso de sua atribuição fincada no art.
103-B, da Constituição da República, exercendo sua competência de controle da
atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário, prevista no art. 37, que trata dos
princípios da Administração Pública, dentre eles o zelo pela eficiência operacional e
pela responsabilidade social deste poder, nos termos da Resolução nº. 70, de 18 de
março de 2009, adotou Política Pública de tratamento adequado dos conflitos de
interesses.
Isto posto, uma ressalva importante faremos no início deste capítulo. A
competência do CNJ para legislar sobre a questão atingindo também a esfera dos
poderes legislativos e executivos. Em tal norma, o Conselho elencou diversas
atribuições que incluem órgãos independentes e interlocutores importantes do poder
judiciário como o Ministério Público, a Defensoria Pública, a Ordem dos Advogados do
Brasil, PROCON’s, Procuradorias Estaduais e Instituições de Ensino Superior. Heringer
(2012, p. 31) lecionou em tese recente que
Uma política pública se forma e se realiza no bojo do Estado,
no sentido mais amplo do conceito de Estado e conforme sua
conformação política. O Estado é dotado de entes públicos
que são considerados os Poderes de Estado e o modelo
republicano brasileiro têm em sua composição três Poderes –
Legislativo, Executivo e Judiciário. É um conceito político
que se refere à forma de organização soberana de uma nação
com o poder de regular a vida nacional em um determinado
território. O conceito de Estado varia de acordo com os
autores, alguns definem o Estado como o conjunto de
instituições que possuem a autoridade e poder para
estabelecer regras que regem uma sociedade, tendo a
soberania interna e externamente em um território
determinado.
Em conclusão, o mesmo autor (2011, p. 46) afirma que a Resolução “corrobora a
falência do Poder judiciário” e que
as regras técnicas inerentes a formação de qualquer política
pública devem se observadas por todos os poderes,
Executivo, Legislativo e Judiciário, levando-se em conta a
responsabilidade executiva de suas proposições, suas
características e natureza, bem como as despesas públicas
advindas das mesmas. […] Por esta premissa, quando o Poder
Judiciário, através do seu Conselho Nacional, propõe uma
determinada política pública e determina seu cumprimento
responsabiliza-se por sua concepção, negociação de
24
interlocutores, a consultas públicas e a eleição de opções
razoáveis e aptas para a concretização da sua finalidade, bem
como sua despesa.
Diante de tais afirmativas, podemos afirmar que a instucionalização dos meios
alternativos de controvérsias através da Resolução 125 deve ter questionada sua
constitucionalidade, bem como sua validade e eficácia no Supremo Tribunal Federal.
Apesar das severas críticas, Heringer, 2011, p. 46 não deixa de “parabenizar a
iniciativa do CNJ na elaboração desta política pública, pois, é: imprescindível estimular,
apoiar e difundir a sistematização e o aprimoramento das práticas já adotadas pelos
tribunais”5.
Analisando no aspecto da qualidade da norma, pela maneira abrangente como
foi elaborada, que a Resolução que reuniu de forma eficaz e concisamente estratégias,
metas e ferramentas objetivas para o Poder Judiciário aplicar a política pública. Criou
um destaque normativo considerando que uma norma em branco, sujeita a
regulamentações posteriores, seria mais um entrave ao legislador e ao sistema.
Em sua introdução elencou estratégias e justificativas para a criação dos Núcleos
Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos
CONSIDERANDO a necessidade de se consolidar uma
política pública permanente de incentivo e aperfeiçoamento
dos mecanismos consensuais de solução litígios;
CONSIDERANDO que a conciliação e a mediação são
instrumentos efetivos de pacificação social, solução e
prevenção de litígios, e que a sua apropriada disciplina em
programas já implementados nos país tem reduzido a
excessiva judicialização dos conflitos de interesses, a
quantidade de recursos e de execução de sentenças;
CONSIDERANDO ser imprescindível estimular, apoiar e
difundir a sistematização e o aprimoramento das práticas já
adotadas pelos tribunais;
CONSIDERANDO a relevância e a necessidade de organizar
e uniformizar os serviços de conciliação, mediação e outros
métodos consensuais de solução de conflitos, para lhes evitar
disparidades de orientação e práticas, bem como para
assegurar a boa execução da política pública, respeitadas as
especificidades de cada segmento da Justiça;
CONSIDERANDO que a organização dos serviços de
conciliação, mediação e outros métodos consensuais de
solução de conflitos deve servir de princípio e base para a
criação de Juízos de resolução alternativa de conflitos,
verdadeiros órgãos judiciais especializados na matéria;
_____________________________________________________________________________________
5 CONSELHO Nacional de Justiça. Resolução n 125, de 29.nov. 2010 . Disponível em:
<http://www.cnj.jus.br/atos-administrativos/atos-da-presidencia/323-resolucoes/12243-resolucao-no-125-
de-29-de-novembro-de-2010
25
Uma das questões que torna a Resolução do CNJ muito ampla e eficaz é que
ainda no contexto da lei o Conselho já elencou as atribuições de cada órgão que
participará da implementação da política e suas competências. Vinculou a esta o Código
de Ética do conciliador, a criação de banco de dados como forma de controle estatístico,
as justificativas para sua implantação, além de acrescentar os módulos dos cursos par
introdução aos meios alternativos de solução de conflitos para conciliadores,
mediadores e magistrados.
Das atribuições do Conselho Nacional de Justiça, podemos destacar a
competência do mesmo para organizar programas visando promover ações de incentivo
“à autocomposição de litígios e à pacificação social por meio da conciliação e da
mediação” cujas metas são
I – estabelecer diretrizes para implementação da política
pública de tratamento adequado de conflitos a serem
observadas pelos Tribunais;
II – desenvolver conteúdo programático mínimo e ações
voltadas à capacitação em métodos consensuais de solução de
conflitos, para servidores, mediadores, conciliadores e demais
facilitadores da solução consensual de controvérsias;
III – providenciar que as atividades relacionadas à
conciliação, mediação e outros métodos consensuais de
solução de conflitos sejam consideradas nas promoções e
remoções de magistrados pelo critério do merecimento;
IV – regulamentar, em código de ética, a atuação dos
conciliadores, mediadores e demais facilitadores da solução
consensual de controvérsias;
V – buscar a cooperação dos órgãos públicos competentes e
das instituições públicas e privadas da área de ensino, para a
criação de disciplinas que propiciem o surgimento da cultura
da solução pacífica dos conflitos, de modo a assegurar que,
nas Escolas da Magistratura, haja módulo voltado aos
métodos consensuais de solução de conflitos, no curso de
iniciação funcional e no curso de aperfeiçoamento;
VI – estabelecer interlocução com a Ordem dos Advogados
do Brasil, Defensorias Públicas, Procuradorias e Ministério
Público, estimulando sua participação nos Centros Judiciários
de Solução de Conflitos e Cidadania e valorizando a atuação
na prevenção dos litígios;
VII – realizar gestão junto às empresas e às agências
reguladoras de serviços públicos, a fim de implementar
práticas autocompositivas e desenvolver acompanhamento
estatístico, com a instituição de banco de dados para
visualização de resultados, conferindo selo de qualidade;
VIII – atuar junto aos entes públicos de modo a estimular a
conciliação nas demandas que envolvam matérias
sedimentadas pela jurisprudência.
Das atribuições dos Tribunais de Justiça encontra-se como meta principal a
criação dos Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos, no
prazo de 30 (trinta) dias a 12 (doze) meses, de acordo com sua localização e estrutura e
26
organização das comarcas, compostos por magistrados da ativa ou aposentados e
servidores, preferencialmente atuantes na área, com as seguintes atribuições, entre
outras:
I – desenvolver a Política Judiciária de tratamento adequado
dos conflitos de interesses, estabelecida nesta Resolução;
II – planejar, implementar, manter e aperfeiçoar as ações
voltadas ao cumprimento da política e suas metas;
III – atuar na interlocução com outros Tribunais e com os
órgãos integrantes da rede mencionada nos arts. 5º e 6º;
IV – instalar Centros Judiciários de Solução de Conflitos e
Cidadania que concentrarão a realização das sessões de
conciliação e mediação que estejam a cargo de conciliadores
e mediadores, dos órgãos por eles abrangidos;
V – promover capacitação, treinamento e atualização
permanente de magistrados, servidores, conciliadores e
mediadores nos métodos consensuais de solução de conflitos;
VI – na hipótese de conciliadores e mediadores que atuem em
seus serviços, criar e manter cadastro, de forma a
regulamentar o processo de inscrição e de desligamento;
VII – regulamentar, se for o caso, a remuneração de
conciliadores e mediadores, nos termos da legislação
específica;
VIII – incentivar a realização de cursos e seminários sobre
mediação e conciliação e outros métodos consensuais de
solução de conflitos;
IX – firmar, quando necessário, convênios e parcerias com
entes públicos e privados para atender aos fins desta
Resolução.
Parágrafo único. A criação dos Núcleos e sua composição
deverão ser informadas ao Conselho Nacional de Justiça.
Ainda dispõe a resolução que cada unidade dos Centros Judiciários de Solução
de Conflitos e Cidadania deverá obrigatoriamente abranger setor de solução de conflitos
pré-processual, setor de solução de conflitos processual e setor de cidadania, onde
poderão atuar membros do Ministério Público, defensores públicos, procuradores e/ou
advogados. E que serão admitidos mediadores e conciliadores capacitados na forma
deste ato cabendo aos Tribunais, antes de sua instalação, realizar o curso de capacitação,
podendo fazê-lo por meio de parcerias.
5.1 O Código de Ética dos novos auxiliares da justiça
Neste capítulo, é preciso ressaltar a atenção dispensada aos conciliadores e
mediadores. Na criação do Código de Ética do Conciliador e do Mediador e no destaque
dado à necessidade de aperfeiçoamento melhorando a sua capacitação incluindo a
previsão de uma submissão à avaliação do usuário, na Seção III, Art. 12, in verbis
§ 1º Os Tribunais que já realizaram a capacitação referida no
caput poderão dispensar os atuais mediadores e conciliadores
27
da exigência do certificado de conclusão do curso de
capacitação, mas deverão disponibilizar cursos de
treinamento e aperfeiçoamento, na forma do Anexo I, como
condição prévia de atuação nos Centros.
§ 2º Todos os conciliadores, mediadores e outros
especialistas em métodos consensuais de solução de conflitos
deverão submeter-se a reciclagem permanente e à avaliação
do usuário.
§ 3º Os cursos de capacitação, treinamento e aperfeiçoamento
de mediadores e conciliadores deverão observar o conteúdo
programático e carga horária mínima estabelecida pelo CNJ e
deverão ser seguidos necessariamente de estágio
supervisionado.
§ 4º Os mediadores, conciliadores e demais facilitadores do
entendimento entre as partes ficarão sujeitos ao código de
ética estabelecido pelo Conselho.
Dos princípios e garantias da conciliação e mediação judiciais
Artigo 1º - São princípios fundamentais que regem a atuação
de conciliadores e mediadores judiciais: confidencialidade,
competência, imparcialidade, neutralidade, independência e
autonomia, respeito à ordem pública e às leis vigentes.
§1º. Confidencialidade – Dever de manter sigilo sobre todas
as informações obtidas na sessão, salvo autorização expressa
das partes, violação à ordem pública ou às leis vigentes, não
podendo ser testemunha do caso, nem atuar como advogado
dos envolvidos, em qualquer hipótese;
§2º. Competência – Dever de possuir qualificação que o
habilite à atuação judicial, com capacitação na forma desta
Resolução, observada a reciclagem periódica obrigatória para
formação continuada;
§3º. Imparcialidade – Dever de agir com ausência de
favoritismo, preferência ou preconceito, assegurando que
valores e conceitos pessoais não interfiram no resultado do
trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos no
conflito e jamais aceitando qualquer espécie de favor ou
presente;
§4º. Neutralidade – Dever de manter eqüidistância das partes,
respeitando seus pontos de vista, com atribuição de igual
valor a cada um deles;
§5º. Independência e autonomia - Dever de atuar com
liberdade, sem sofrer qualquer pressão interna ou externa,
sendo permitido recusar, suspender ou interromper a sessão
se ausentes as condições necessárias para seu bom
desenvolvimento, tampouco havendo obrigação de redigir
acordo ilegal ou inexeqüível;
§6º. Respeito à ordem pública e às leis vigentes – Dever de
velar para que eventual acordo entre os envolvidos não viole
a ordem pública, nem contrarie as leis vigentes.
Podemos constatar que a regulamentação efetivada pelo CNJ foi pautada na
busca pela expansão da aplicação dos métodos alternativos de solução de conflitos no
Poder Judiciário.
Ademais, espera-se que a edição da norma, de forma transparente e norteadora,
elencando princípios e metas, editando normas de ética e punição para o não
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cumprimento das mesmas, traga um plus para que o sistema jurisdicional atue com
amparo legal, trazendo a segurança necessária para a expansão dos Núcleos e,
principalmente, a melhora no serviço jurisdicional tanto para quem atua perante o
mesmo, quanto para quem espera uma solução para seu conflito.
29
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme já abordado o Conselho Nacional de Justiça correspondendo às
exigências de melhoria na prestação jurisdicional editou recentemente a Resolução nº
125 contendo políticas públicas de tratamento diferenciado aos métodos alternativos de
solução de conflitos.
As diretrizes traçadas apontam para a exigência de uma nova postura dos
sujeitos que atuam na prestação jurisdicional, e neste momento imprescindível para a
construção de uma justiça mais eficaz os advogados, juízes e conciliadores reassumem
sua função de promotores da paz social.
A comissão que analisou e formulou a norma em estudo continua atuando e já
busca uma solução para custear as modificações no sistema. A sugestão inicial da
comissão que atua em São Paulo e que também desenvolveu a Resolução em estudo é
de que seja reservado um percentual das custas processuais e parte do orçamento do
poder judiciário para a remuneração dos conciliadores e da estrutura mínima dos
Centros de Conciliação e Cidadania6.
Obviamente que a solução pré-processual ocorre antes à formação do litígio
formal, ou seja, anterior ao aperfeiçoamento da relação processual jurídica: autor, réu e
juiz. E, a norma em estudo visa atingir, principalmente, os casos em sua fase pré-
processual, pois no aspecto técnico os arts. 329 a 330 do Código de Processo Civil já
prevê a extinção da ação com ou sem exame de mérito por autocomposição e também
em ser art. 447 também prevê a audiência de tentativa de conciliação, além do art. 125,
inciso IV, sendo dever de o magistrado conciliar as partes a qualquer tempo.
Frisa-se, portanto, que as críticas sobre a vedação ao acesso à justiça não
procedem, pois a conciliação pré-processual pode descompor a pretensão do autor e, o
termo de acordo, é um título executivo judicial que pode ser apreciado pelo Poder
Judiciário em caso de descumprimento do mesmo. Mas, esse enfrentamento prévio da
causa atingirá consubstancialmente os números de processos nos Tribunais e estes
resultados não podem ser simplesmente ignorados.
Apesar das alegações de que o CNJ tem poucos números que confirmam a
eficácia da conciliação e mediação pré-processuais, não ignoremos que, em diversos
______________________________________________________________________
7 http://www.tjsp.jus.br/Egov/Conciliacao/Nucleo/Default.aspx
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países os métodos já geraram redução nos números que hoje assustam a comunidade
jurídica no Brasil, e, em breve, produzirá efeitos positivos da aplicação dos MASC o
que será sentido pelos operadores do direito e pela sociedade.
Os novos modelos, já implantados, como os projetos que nascem das parcerias
entre sociedade civil e do Poder Judiciário são de baixo custo com excelentes resultados
diminuindo os procedimentos previstos no mesmo litígio quando levado ao Poder
Judiciário. Como referido, a adoção dos métodos alternativos para solucionar conflitos
reduzem custos e atrasos, barateando a máquina estatal.
Há de se olvidar também a maior participação dos interessados na solução das
controvérsias proporcionando maior conveniência, considerando que os Núcleos podem
funcionar nas próprias comunidades gerando eficácia e maior grau de certeza da atuação
na pacificação. É uma jurisdição combinada à prevista na Constituição Federal, que,
bem aplicada, é mais barata, mais justa e democrática. Mencionamos neste trabalho que
a criação de uma cultura de pacificação social, de uma justiça mais célere e efetiva
perpassa pelas mãos de uma sociedade que exige soluções participativas com
independência e autonomia.
Apesar da resistência de muitos se nota a necessidade dos operadores do direito
contemporâneo romperem esta barreira limitadora da sua atuação e resgatarem a
importante missão deontológica de promotores da justiça, reassumindo junto a toda
estrutura social uma postura diferenciada na utilização e preparo para com os métodos
alternativos de solução de conflitos.
O Código de Ética do Advogado7, já preconiza que “é dever estimular a
conciliação entre os litigantes, prevenindo, sempre que possível a instauração de
litígios”. (MAMEDE, 2008, p. 403)
Pacificar é buscar na autonomia de vontade das partes seus interesses,
equacioná-los de forma racional e auxiliá-los na tomada de decisões. É neste momento,
que o operador do direito, com visão altruísta demonstrará que há espaço para o
exercício de uma nova mentalidade. Assinalamos neste momento que a Ordem dos
Advogados do Brasil do Rio Grande do Sul pode servir como exemplo, pois já
implantou a Casa da Mediação8, onde os profissionais são convidados a atuar junto à
comunidade, aplicando o método, trazendo presteza e segurança à sociedade, exercendo
seu múnus dentro do que prevê o citado Código de Ética deste profissional. Esperamos
que as iniciativas sejam ampliadas por todo o país.
Outra questão a ser enfrentada é a posição das Faculdades de Direito perante os
Métodos Alternativos de Solução de Controvérsias. Algumas já adotaram os métodos
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alternativos em sua grade curricular ou implantaram Núcleos de Conciliação e
Cidadania nos escritórios de prática extracurriculares. Ademais, está em andamento a
indicação nº. 3251/20129, de projeto de Lei que “sugere ao Ministério da Educação que
encaminhe ao Conselho Nacional de Educação, por meio da Câmara de Educação
Superior, proposta de inclusão da disciplina "Conciliação e Mediação" nos cursos de
Graduação em Direito de todo o país.”
Considerando os ensinamentos recebidos nas faculdades hoje, somos formados
para litigar. Os ganhos do ponto de vista ambiental serão grandes tendo em vista o
quadro lastimável de morosidade que todos querem reverter as transformações também
necessitam atingir a formação do profissional que atua no direito.
As iniciativas advindas do Conselho Nacional de Justiça e pelos membros do
Poder Judiciário tem sido bem recebidas pela sociedade e tendem a disseminação da
cultura da pacificação. Por fim, já temos como vislumbrar mudanças positivas no
contexto levando em conta a positivação da conciliação e da mediação no novo Código
Civil projetado. Obviamente que, comungamos do ponto de vista da maioria dos
doutrinadores de que a instância prévia obrigatória não deve ser adotada por configurar
uma vedação ao acesso à justiça. Por outro lado, a positivação dos métodos e a
Resolução nº 125 somente acrescem as possibilidades de aumentar o número de solução
de litígios sem acionar a jurisdição.
Por fim, reiteramos que esta não deve ser a única solução a ser adotada,
ressaltando a complexidade do tema e a forma como o nosso ordenamento jurídico está
assegurado. Mas, ignorar a efetividade dos projetos existentes, a resposta recebida pelo
Poder Judiciário na implantação da nova política pública e dos estudos esclarecendo o
tema, tem-se hoje, em mãos, um projeto que auxiliará a todos na consecução de um dos
valores precípuos da justiça que é a paz social.
8 http://www.oabrs.org.br/noticia_ler.php?id=8020
9 http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=557352
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