A CONCILIAÇÃO E A MEDIAÇÃO COMO NOVAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE TRATAMENTO DOS CONFLITOS

40
UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS UNIPAC FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS DE BARBACENA CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO A CONCILIAÇÃO E A MEDIAÇÃO COMO NOVAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE TRATAMENTO DOS CONFLITOS Monografia apresentada ao Curso de Graduação em direito apresentada ao Curso de Graduação de Direito da Universidade Presidente Antônio Carlos UNIPAC, como requisito parcial de obtenção do Título Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Esp. Paulo Afonso de Oliveira BARBACENA 2012

Transcript of A CONCILIAÇÃO E A MEDIAÇÃO COMO NOVAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE TRATAMENTO DOS CONFLITOS

UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS – UNIPAC

FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS DE BARBACENA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

A CONCILIAÇÃO E A MEDIAÇÃO COMO NOVAS POLÍTICAS

PÚBLICAS DE TRATAMENTO DOS CONFLITOS

Monografia apresentada ao Curso de

Graduação em direito apresentada ao Curso

de Graduação de Direito da Universidade

Presidente Antônio Carlos – UNIPAC,

como requisito parcial de obtenção do

Título Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Esp. Paulo Afonso de

Oliveira

BARBACENA

2012

ELISÂNGELA CRISTINA SOARES

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

Data de aprovação: 20 de Dezembro de 2012

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________

Professor Especialista Paulo Afonso de Oliveira

UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS

_____________________________________________________

Mestre Maria José Gorini da Fonseca

UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS

_____________________________________________________

Mestre Ciro di Benatti Galvão

UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS

Dedico este trabalho de forma especial ao MM. Juiz e Professor Marcos Alves

de Andrade que implantou o Juizado de Conciliação em Barbacena. Sua visão altruísta

me proporcionou a possibilidade de conhecer e trabalhar neste projeto.

Ao Padre Eudes e sua equipe que novamente abriu as portas da Paróquia de

Santo Antônio para os conciliadores.

E à Margarete uma amiga que a faculdade me trouxe que se tornou inseparável.

Agradeço a todos que de alguma forma, colaboraram para que esse trabalho se

tornasse possível, em especial, ao meu orientador pelas palavras motivadoras

que renovaram as minhas forças;

a Deus, por acreditar que nossa existência pressupõe

outra infinitamente superior;

Aos meus pais pelas orações, pelo amor incondicional

e pelo exemplo de força e coragem na vida;

E aos meus irmãos pelo auxílio nas horas difíceis;

Aos meus sobrinhos pelas alegrias que me proporcionam;

Ao querido André pelo tempo que caminhamos juntos;

Especialmente ao amigo Flávio Luiz Pinto de Vasconcellos,

por acreditar nesse sonho desde o início.

“Posto diante de todos estes homens reunidos,

de todas estas mulheres, de todas estas

crianças (sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra, assim lhes fora mandado),

cujo suor não nascia do trabalho que não tinham,

mas da agonia insuportável de não ter,

Deus arrependeu-se dos males que havia feito e permitido,

a um ponto tal que, num rebento de constrição,

quis mudar o seu nome para outro mais humano.

Falando à multidão, anunciou:

"A partir de hoje chamar-me-ei justiça".

E a multidão respondeu-lhe:

“Justiça, nós a temos, e não nos atende."

Disse-lhes Deus:

“Sendo assim, tomarei o nome de Direito."

E a multidão tornou a responder-lhe:

“Direito, já nós o temos, e não nos conhece".

E Deus:

“Nesse caso, ficarei com o nome de Caridade, que é um nome bonito."

Disse a multidão:

"Não necessitamos de caridade,

o que queremos é uma Justiça que se cumpra e um Direito que nos respeite”.

José Saramago

RESUMO

O presente estudo pretende apurar a postura dos operadores do direito perante a

Resolução 125 do Conselho Nacional de Justiça que introduziu a conciliação e a

mediação como política pública de tratamento de conflitos visando que a jurisdição seja

aplicada com eficácia e modernização.

A sociedade contemporânea conclama uma modernização do Poder Judiciário

com vistas a promover a melhora na prestação jurisdicional. Busca também resgatar a

credibilidade e atingir o escopo da jurisdição com eficácia e presteza de forma que a

sala de audiência seja um espaço democrático, reafirmadora dos valores trazidos pelos

métodos alternativos de solução de conflitos, como a confidencialidade, a competência,

imparcialidade, neutralidade, independência, autonomia e respeito à ordem pública.

A grande discussão se perfaz em torno da utilização dos métodos alternativos e

da necessidade de aprimoramento dos agentes executores da nova política pública, com

a aplicação da presente norma, cujo conteúdo estabelecido pelo Conselho Nacional de

Justiça visou tornar o acesso à justiça mais efetivo.

O trabalho foi desenvolvido buscando reiterar a necessidade dos advogados,

juízes e conciliadores assumirem uma nova postura perante a missão deontológica de

promotores da paz social. Alerta as instituições de ensino acerca da importância de

adotarem os métodos alternativos nos currículos das faculdades de direito para que os

futuros operadores de direito não sejam apenas formados para litigar.

Perpassa também pelas características que diferenciam os métodos alternativos

de conflitos destarte positivados, se referindo aos projetos já implantados e como

deverão se adaptar à nova política pública.

Por fim, diante da explosão de litigiosidade, considerando o esgotamento

pragmático do sistema e a necessidade de que a jurisdição real se aproxime da jurisdição

legal defende a aplicação em larga escala das técnicas de conciliação e mediação sem

ignorar a aplicação dos direitos e garantias constitucionais.

Palavras-chave: Poder Judiciário. Acesso à Justiça. Garantias Constitucionais.

Morosidade da Justiça. Redução da Judicialização. Política Pública. Tratamento

Adequado dos Conflitos de Interesses. Conselho Nacional de Justiça. Resolução

125/2010. Código de Ética dos Conciliadores. Conciliação. Mediação.

ABSTRACT

This study aims to determine the attitude of law enforcement officers before the

Resolution 125 of the National Council of Justice entered conciliation and mediation as

a public policy conflict handling in order that the jurisdiction is effectively implemented

and modernization.

Contemporary society calls for a modernization of the judiciary in order to

promote the improvement in adjudication. It also seeks to rescue the credibility and

reach the scope of jurisdiction effectively and promptly so that the courtroom is a

democratic space, reafirmadora values brought by alternative dispute resolution, such as

confidentiality, competence, impartiality, neutrality, independence, autonomy and

respect public order.

A great discussion makes up around the use of alternative methods and the need

for improvement of executing agents of the new policy, the application of this standard,

the content established by the National Council of Justice sought to make access to

justice more effective.

The work was developed aiming to reiterate the need for lawyers, judges and

conciliators take a new attitude towards the mission of deontological promoters of

social peace. Alert educational institutions about the importance of adopting alternative

methods in the curricula of law schools so that future law enforcement officers are not

only trained to litigate.

It covers also the characteristics that differentiate alternative methods of conflict

positivized Thus, referring to projects already implemented and how they should adapt

to the new policy.

Finally, before the explosion of litigation, considering the depletion pragmatic

system and the need for royal jurisdiction approaches the legal jurisdiction supports the

large scale application of the techniques of mediation and conciliation without ignoring

the enforcement of rights and constitutional guarantees.

Keywords: Judiciary. Access to Justice. Constitutional Guarantees. Slowness of Justice.

Reduction Judicialization. Public Policy. Adequate treatment of Conflicts of Interest.

National Council of Justice. Resolution 125/2010. Code of Ethics of the conciliators.

Conciliation. Mediation.

LISTA DE SIGLAS

CLT

CNJ

MASC

OAB

ONG

PROCON

STJ

STF

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................3

2 ASPECTOS SOCIAIS E TEMPORAIS......................................................................6

3 AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS E A MOROSIDADE DA JUSTIÇA...... 9

4 UMA ANÁLISE SOBRE A CONCILIAÇÃO E A MEDIAÇÃO............................13

4.1 Projetos desenvolvidos no Brasil............................................................................14

4.1.1 O Juizado de Conciliação de Barbacena.............................................................15

4.2 Diferentes métodos e suas diferentes técnicas... ....................................................16

5 A RESOLUÇÃO 125 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA......................20

5.1 O Código de Ética dos novos auxiliares da justiça.................................................24

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

3

1 INTRODUÇÃO

O homem é um ser essencialmente social. Sua natureza gregária prevalece onde

há um mínimo de condições de sobrevivência. Mas, é também inerente a ele o conflito

que surge com o advento da complexidade da organização social.

Para solucioná-los, de forma imparcial, o homem “confiou” ao Estado a tutela

jurisdicional cabendo a este dizer o direito em caso de divergência de interesses.

Por seu turno, na contemporaneidade, o Poder Judiciário no exercício de suas

atividades vem encontrando sérios entraves como a sobrecarga e a morosidade que tem

prejudicado sua atuação ferindo seriamente seus valores precípuos: o senso de justiça e

a paz social.

Hodiernamente, é mister afirmar que somente a jurisdição Estatal não é capaz de

solucionar todas as questões que envolvem a complexidade da sociedade pós-moderna.

Apesar de o ordenamento jurídico brasileiro preservar a manifestação da vontade

das partes e tratar os chamados Métodos Alternativos Solução de Conflitos como uma

saída para dinamizar o Poder Judiciário constata-se a necessidade de um tratamento

adequado à sua aplicação, onde seus partícipes possam administrar suas demandas, e,

principalmente, enfrentar os conflitos de forma a promover a restauração do diálogo

entre as partes, sustentando, enfim, uma ordem jurídica mais justa e coesa.

Diante de tal contexto, o Conselho Nacional de Justiça, implementou a Política

Nacional de Mediação e Conciliação no Judiciário Brasileiro através da Resolução nº.

125, de 29 de novembro de 2010, que dispõe “sobre a Política Judiciária Nacional de

tratamento adequado dos conflitos e dá outras providências”:

Da Política Pública de tratamento adequado dos conflitos de

interesses

Art. 1º Fica instituída a Política Judiciária Nacional de

tratamento dos conflitos de interesses, tendente a assegurar a

todos o direito à solução dos conflitos por meios adequados à

sua natureza e peculiaridade.

Parágrafo único. Aos órgãos judiciários incumbe, além da

solução adjudicada mediante sentença, oferecer outros

mecanismos de soluções de controvérsias, em especial os

chamados meios consensuais, como a mediação e a

conciliação, bem assim prestar atendimento e orientação ao

cidadão.

Este trabalho pretende apurar a nova postura do Poder Judiciário perante aos

Métodos Alternativos de Solução de Conflitos -MASC como forma de enfrentar os

4

congestionamentos nas instâncias ordinárias e Tribunais Superiores, além de analisar a

eficácia da descentralização do serviço jurisdicional utilizando a conciliação e a

mediação como política pública para a solução de litígios.

Para que tais mudanças se tornem efetivas faz-se necessária uma tranformação

cultural, conforme afirmou recentemente (ALMEIDA, 2012, p. 191)

a lei não serve apenas como forma de estabelecer normas [...]

mas, também como forma de divulgação e criação de cultura

[...] tornando-se uma aliada imprescindível para difundir o

método em larga escala e em curto espaço de tempo.

Acredita-se portanto que a nova política pública implementada tornar-se-a esta

aliada dos operadores do direito para ajudar a resgatar a credibilidade da Justiça,

trazendo a modernização e eficácia necessárias ao cumprimento da jurisdição.

Ressalvando, que a adoção dos métodos deve ser única forma de buscar uma solução

do problema tendo em vista a complexidade da questão.

Em 1995, com o advento da Lei 9.099, muitos acreditaram que os Juizados

Especiais resolveriam os problemas de morosidade da justiça, o que “tecnicamente tem

sido chamada de explosão de litigiosidade” (PINHO e BAUMGARTEN, 2012, p. 215 ).

Entretanto, nossa normatização processual civil faz parte de uma estrutura

jurídica engessada que muito se utiliza das reformas para modificar o sistema e o hoje,

quase duas décadas depois, o funcionamento dos juizados especiais também já se

encontra assoberdado e lento.

Some-se à questão o que lecionou recentemente Pinho ( 2012, p. 214)

o Estado contemporâneo não está, ainda, preparado para

identificar e enfrentar as causas do conflito, comprometendo-

se a uma verdadeira pacificação[...] o máximo que pode fazer

é monitorar e empreender um trabalho de acompanhamento

Há de se ressaltar também que o Art. 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal

de 1988, garante aos cidadãos o princípio da inafastabilidade do juiz dispondo do

monopólio estatal, com vistas à proporcionar maior segurança jurídica. O princípio é

uma conquista social e histórica que não pode ser afetada.

Sobre o assunto Tavares e Lenza (2011 apud Rocha, 2005, p. 33) assinalam:

A jurisdição consiste no direito público subjetivo

constitucionalmente assegurado ao cidadão de exigir do

Estado a prestação daquela atividade. A jurisdição é, então,

5

de uma parte, direito fundamental do cidadão, e, de outra,

dever do Estado.

Ressalta-se que a adoção dos métodos alternativos em larga escala, são

utilizados por diversos países e devem servir de base para os operadores do direito que

trabalham no enfrentamento da questão. Ainda em tese, novamente Pinho (2012, p.

215),

A ação é um direito e não um dever. O que nos leva a

considerar os recentes estudos de aprimoramento dos

sistemas jurídicos de outros países que modificaram sua

atuação cujos resultados já são conhecidos deve servir de

parâmetro para o país.

A implantação com sucesso de uma política pública eficaz exige uma

reestruturação de todo o sistema e a Resolução 125 do Conselho Nacional de Justiça

visou atuar diretamente no treinamento e estrutura dos Juizados de Conciliação que já

atuam no país. Portanto, o presente estudo buscará avaliar as ferramentas propostas na

Resolução 125 e sua aplicação no Poder Judiciário.

As diretrizes implementadas buscam uma atualização do conceito de acesso à

justiça? A institucionalização da mediação e da conciliação, a implementação do código

de ética do conciliador e a capacitação dos mesmos em novos moldes serão adequadas

para proporcionar segurança e qualidade aos executores da política pública no exercício

deste múnus?

Considerando também que o uso dos métodos alternativos é uma busca pela

afirmação da manifestação de vontade das partes, e, uma forma de fortalecer a cidadania

questionamos, principalmente, se as partes envolvidas estão preparadas para enfrentar

seus conflitos a ponto de alcançar uma solução pacífica e exequível?

Em suma, o foco dado pela política pública aos métodos alternativos de solução

de conflitos é um passo inicial nesta busca, que não deve ser único, mas, nos aproximar

de todas as questões que envolvem os números do Poder Judiciário, as soluções e

propostas advindas da Resolução 125 é a proposta do nosso estudo.

Para a execução dos objetivos analisaremos artigos e livros publicados por

juristas brasileiros sobre o tema. Em especial no Direito Constitucional, Direito Civil,

Trabalhista e na Resolução 125 do Conselho Nacional de Justiça, buscando conceitos de

apoio e desenvolvimento da pesquisa. O método de análise será o dedutivo-lógico para

6

obter relações de proposição para verificar os conceitos inerentes à aplicação da política

pública recém adotada.

7

2 ASPECTOS SOCIAIS E TEMPORAIS

Os métodos de negociação antes de se consolidarem como atividade do Estado

de Direito já faziam parte da cultura dos povos. Tem-se notícia da utilização da

mediação na solução de litígios na China de Confúcio1.

Ressalta-se que outros países já adotaram a previsão nos ordenamentos jurídicos

dos Métodos Alternativos de Solução de Conflitos como uma forma de alcançar a

celeridade da prestação jurisdicional com êxito.

Os Estados Unidos implementaram novas leis nas décadas de 1980 e 1990 em

prol de mecanismos de solução de conflitos visando dinamizar o processo. Na

Califórnia também existe previsão de adoção da mediação no Code af Civil Procedura2.

Assim como na França, Itália, Japão, Espanha e Argentina. Esta última, ousou

editando a Lei 27.573/1996 da Cidade Autônoma de Buenos Aires que introduziu a

mediação como requisito obrigatório de admissibilidade da ação. Questão controversa,

que levou a norma à revisão. Entretanto, a “declaração de constitucionalidade foi

exarada pela Corte Suprema de Justiça de La Nación, em setembro de 2001” (Almeida,

2011, p. 194), ratificando a mediação prévia obrigatória com previsão de pagamento de

multa em caso de não comparecimento à audiência. O mesmo autor, ainda leciona que

Na doutrina, mesmo aqueles que consideram inconstitucional

a norma que introduziu a mediação prévia obrigatória,

entendem que a declaração de sua constitucionalidade

prioriza interesses e ideologias [...] Mas, no que diz respeito à

eficacia do novo sistema, as estatísticas não deixam

dúvidas[...] o número de ações ajuizadas caiu 34% (trinta e

quatro por centro) em doze anos de vigência da nova lei.

No Brasil, a solução conciliada possui referência nas Ordenações Filipinas e

posteriormente, na Carta Maior de 1824, que dizia que “sem ter intentado o meio de

reconciliação, não se começará processo algum. E, para esse fim, haverá o juiz de paz”.

Em 1827, uma lei específica disciplinava a função do Juiz de Paz, “que eram

eleitos e não precisavam ser bacharéis em direito”. Mas, vertentes políticas mais

conservadoras do Legislativo impediram o avanço da atividade, tendo em vista o fato de

______________________________________________________________________ 1 http://jus.com.br/revista/texto/22520/a-mediacao-a-conciliacao-e-a-arbitragem-como-formas-

alternativas-de-resolucao-de-conflitos/6#ixzz2F9NKDeV4

2 http://www.humbertodalla.pro.br/arquivos/O_novo_CPC_e_a_Mediacao.PDF

8

ampliado sua atuação até mesmo em questões de âmbito jurisdicionais.

A atual Constituição Federal de 1988, no art. 98, inciso II, cita a instituição da

Justiça de Paz “remunerada, eleita e temporária”, mas, esta não afeta a prática

processual.

No âmbito das relações de Trabalho os métodos alternativos se mantiveram mais

presentes, pois, a mesma sempre adotou a celeridade processual como princípio básico

considerando o caráter alimentar das verbas salariais.

Em 1907, surge o Conselho Permanente de Conciliação e Arbitragem com a

finalidade de solucionar os conflitos nascidos das relações de trabalho. Posteriormente,

criaram-se também as Juntas de Conciliação e Julgamento, formada por 3 (três)

membros, presidida por um Bacharel em Direito.

Ademais em 1.995, a Lei 9.022, alterou o conteúdo disposto no artigo 846 do

referido diploma pátrio, tornando obrigatória a tentativa de conciliação no início do

processo. E, pouco tempo depois, a Emenda Constitucional nº. 24 de 1.999 trouxeram a

tentativa de conciliação para os trâmites finais instrução trabalhista.

Por fim, em 2000, a Lei 9.958, alterou a Consolidação das Leis do Trabalho e

introduzindo o art. 625-D criando as Comissões de Conciliação Prévia, e, cabe-nos

destacar que o Tribunal Superior do Trabalho tem entendido que se trata de um requisito

de admissibilidade da ação.

Entretanto, repetindo Ludwig (2012, p. 22) na Ação Direta de

Inconstitucionalidade nº. 2.160-5/DF, que ataca a referida lei e derroga tal posição,

discorrendo

o Supremo Tribunal Federal, por maioria, considerando os

termos do inciso XXXV do art. 5º da Constituição Federal

[...] nos termos do voto do Ministro Marco Aurélio Mello,

que tais normas não tornam obrigatória a “fase

administrativa”, permanecendo os titulares do direito material

com o acesso imediato ao Poder Judiciário desprezando a

fase que é a relevada pela atuação das Comissões.

Destarte, no mesmo texto, o referido autor critica substancialmente a morosidade

judicial e a necessidade de reorganização procedimental do sistema no sentido de que a

suspensão do art. 625-D ocorreu com excessiva demora e ainda em votação liminar, ou

seja, em caráter precário, lecionando que

a ADIN 2160-5/DF ora analisada, consigna, em si mesma,

um retrato nítido da situação caótica da sobrecarga de

9

processos no Poder Judiciário, na medida em que embora

distribuída em 02 de março de 2000, o julgamento apenas de

sua correspondente medida cautelar (ainda precária) se

completou em 13 de maio de 2009, ou seja, mais de nove

anos depois.

Resgatando as causas que provocam essa explosão de litigiosidade no país

podemos elencar a rápida transformação cultural por que veio passando a sociedade

brasileira nos últimos anos com a migração da sociedade rural para urbana expandindo

o nível de conflituosidade, sobrecarregando a justiça formal. Desta forma, ponderou

Nalili (2011, p. 7)

No início do século passado, o Judiciário constituía a última

ratio. Não se litigava à toa. Pessoas de gerações mais

longevas ainda se orgulham de proclamar que não haviam

litigado na justiça [...]

Soma-se a este contexto social o advento da nova ordem constitucional no Brasil

que com a promulgação da Constituição Federal de 1988 influenciou fortemente a

sociedade acerca dos direitos e garantias fundamentais. Sobre o tema, alguns autores

sintetizam a questão como se a sociedade tivesse respondido ao chamado da

Constituição Cidadã de 1988, e, esse amadurecimento ratificou o Estado Democrático

de Direito.

Propõe Ludwig (2011 apud JUNQUEIRA, 1996, p. 2) que foi todo processo pela

democratização que representou uma modificação na cultura a ponto de aumentar a

demanda pelo direito de ação

este diploma, em sua gênese, representou um rito de

passagem do autoritarismo que marcou o período do regime

militar para o esperado Estado Democrático de Direito.[...] os

motivos que suscitaram o interesse do tema do acesso à

justiça em solo brasileiro no início dos anos 1980 não

estiveram relacionados ao movimento internacional de

ampliação do acesso à justiça, mais sim ao processo político e

social da abertura política e na emergência do movimento

social que então se iniciava.

Entretanto, em sua maioria, os processualistas destacam o movimento mundial

pela universalização do acesso à justiça como uma das causas de aumento da

conflituosidade no país. Destacam-se Capelletti e Garth (1988, p. 70-71) que citam a

“terceira onda” renovatória do panorama internacional de acesso à justiça3.

______________________________________________________________________ 3 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. 1988, p. 70-71

10

Em recente publicação, Watanabe (2011, p.382) anota também “a chamada

economia de massa, através do ajuizamento de processos repetitivos” como causa da

sobrecarga de serviço no Judiciário. Causa que será combatida através da reforma do

instituto da Repercussão Geral no novo Código de Processo Civil em andamento na

Câmara Legislativa Federal.

Neste breve resumo histórico podemos observar a complexidade do problema

que a Resolução 125 do CNJ busca atingir e que tem sido tema de grandes discussões

doutrinárias e não se esgota com tais análises.

11

3 AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS E A MOROSIDADE DA JUSTIÇA

A grande discussão em torno da utilização em maior escala dos métodos

alternativos de solução de controvérsias como uma das formas de amenizar a crise do

Poder Judiciário tem trazido à doutrina um embate que já chega a ser tratado como

dogmático para que a discussão não se torne um fim em si mesma. O momento

demonstra uma preocupação com os princípios constitucionais versus a demora na

prestação jurisdicional.

Em sede doutrinária, há de se destacar ainda o que assegura Didier Filho, 2008,

p. 27

Vive-se, atualmente, uma fase de renovação do estudo do

Direito Constitucional. Há diversas manifestações disso: a)

parte-se da premissa de que a Constituição tem força

normativa e, por conseqüência, também tem forma normativa

os princípios e os enunciados relacionados aos direitos

fundamentais; b) pela expansão da jurisdição constitucional

[...] c) desenvolvimento de uma nova hermenêutica

constitucional (com valorização dos princípios de

proporcionalidade e razoabilidade).

Watanabe (2011, p.384) sintetiza bem a questão “Não basta apenas como

garantia o mero acesso aos órgãos do Poder Judiciário, [...] e sim o acesso à ordem

jurídica justa, de forma efetiva, tempestiva e adequada”.

Nossa Constituição, no seu Art. 5º, inciso LIV, prevê ainda que “ninguém será

privado da liberdade ou de seus bens sem o Devido Processo Legal” e sob tal prisma,

nota-se uma renovação do pensamento jurídico sob a perspectiva constitucional que

exige uma adequação à efetiva tutela, onde, se destaca a “dimensão temporal do

processo” (MARCATO, 2012, p. 88), estabelecendo a premissa de que

a demora excessiva na obtenção da tutela jurisdicional não

deve se confundir com o tempo programado para que ele

produza resultados [...]. Sintetizando que a maturação do

processo ocorre com a observância dos prazos pré-fixados

pelo legislador, sendo considerada a demora excessiva em

violação de direitos.

Fincados ainda, no âmbito de proteção dos direitos fundamentais, outro princípio

também disposto no art. 5º, inciso LXXVIII, a Duração Razoável do Processo, que está

presente no plano internacional elencado na Declaração Universal de Direitos do

12

Homem (1948), na Convenção Européia dos Direitos do Homem (1950) e na

Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969).

Analisando o período em que foram firmados estes tratados, concluímos que a

preocupação com a celeridade processual perdura na justiça processual. E

reconhecemos que diante de tal perspectiva a existência de um novo embate que são a

jurisdição real e outra legal.

O excessivo número de processos, a falta de servidores e a chamada explosão de

litigiosidade configuraram uma crise que vem sido estudada com afinco pelo Conselho

Nacional de Justiça e diversos processualistas. Watanabe (2011, P. 387) apud Peluso em

seu discurso de posse4, cita

pesquisas recentes e confiáveis mostram que 43% dos

brasileiros, ao sentirem seus direitos desrespeitados,

procuram soluções por conta própria. Só 10% vão

diretamente à justiça. Outros se dividem na busca de

mediação de advogados, no recurso à polícia, na renúncia ao

interesse e, pasmem, até no uso da força. [...] É verdade que,

entre os que recorrem ao Judiciário, 46% se declaram

satisfeitos e, apenas 23%, inconformados. Mas, está claro que

isso não pode consolar-nos.

Muitos criticam que apesar de não ignorar a importância dos direitos

fundamentais, o acesso ao Poder Judiciário deve ser entendido como ultima ratio

considerando, principalmente, que a justiça no caso concreto deve ser aplicada com

eficácia. Em contrapartida, nos vemos diante de um sistema engessado e rígido tendente

à morosidade.

Nossa Constituição Federal, elaborada no período histórico pós-ditadura,

também ratificou os princípios tendentes a assegurar ao máximo o acesso à justiça,

entretanto, em contraponto, para alguns doutrinadores, a sociedade pós-moderna exige

que essa excessiva proteção seja relativizada sob o prisma do chamado Princípio da

Tempestividade da Jurisdição (SILVA, 2011, p. 51)

O que deve nortear o pensamento processualista

contemporâneo é a busca pela harmonização da segurança

jurídica, guardando-se as garantias processuais, a justiça das

decisões e a celeridade do processo [...] para que a prestação

jurisdicional não se procrastine além do necessário.

4 CONSELHO Nacional de Justiça. Resolução n 125, de 29. nov. 2010 . Disponível em:

<http://www.cnj.jus.br/atos-administrativos/atos-da-presidencia/323-resolucoes/12243-resolucao-no-125-

de-29-de-novembro-de-2010

13

Considerando principalmente que a sociedade não está mais percebendo o

escopo da justiça que é a pacificação social e que as reformas processuais, emendas

constitucionais e legislações esparsas como a Lei 9099/1995, dos Juizados Especiais,

foram opções feitas pelos legisladores que trouxeram modificações positivas, todavia

saturadas.

Sustenta Didier Filho (2008, p. 74) que os métodos alternativos são o que

nomina de “equivalentes jurisdicionais”

por serem formas de solução de conflitos não jurisdicionais e

chamados de equivalentes exatamente porque, não sendo

jurisdição, funcionam como técnica de tutela de direitos,

resolvendo conflitos ou certificando situações jurídicas, mas

[...] não são definitivas, pois podem ser submetidas ao

controle jurisdicional.

Neste ínterim, a adoção dos métodos alternativos torna-se uma via alternativa

que já surge com um questionamento em relação a estas garantias, que é válido e

pertinente, que é também a base deste tema: Estão as partes prontas para enfrentar seus

litígios? Temos uma sociedade capaz de negociar e dialogar acerca de seus direitos?

Nosso estado democrático é formado por sujeitos cientes de seus direitos a ponto de

enfrentá-los de forma segura?

A jurisdição é uma técnica de controle social e uma conquista que não deve ser

ignorada. A convivência regulada tornou-se necessária justamente por causa da

complexidade das relações humanas. No aspecto prático perdemos a eficácia quando

criamos uma máquina estatal complexa e que não se atualiza no âmbito tecnológico

com a mesma velocidade que a sociedade o faz.

O mundo jurídico, diante do contexto histórico e da necessidade de um novo

paradigma sofre o que Silva (2011, p. 43) chama de esgotamento pragmático

encontrando inúmeras dificuldades de resolver problemas

decorrentes da complexidade das relações intersubjetivas,

ainda mais em um mundo que prima pela celeridade

decorrente de avanços tecnológicos, não podendo o

ordenamento jurídico ficar alheio a essa realidade.

Obviamente que nenhuma crise é somente negativa e o enfrentamento da mesma

gera o amadurecimento do sistema que já analisa o novo Código de Processo Civil

Projetado com vistas a trazer a conciliação e a mediação no seu próprio texto, além da

reforma de institutos e inserção de outros que desafoguem as varas e tribunais.

14

Importante passo também foi dado pela Resolução nº. 125 do CNJ visando à

formação mais rígida do conciliador e do mediador, além da ampliação da estrutura dos

Núcleos de Conciliação e Cidadania.

Destaca-se, porém, a preocupação do Legislativo em contemplar o estímulo à

positivação dos métodos alternativos. Desta forma, a maturação dos mesmos se torna

progressiva reafirmando ainda mais a autonomia da vontade das partes no processo,

desde que, respeitando os princípios constitucionais.

15

4 UMA ANÁLISE SOBRE A CONCILIAÇÃO E A MEDIAÇÃO

Discorrer sobre os métodos de solução de controvérsias nos remete à Teoria do

Contrato Social. A vida social formou-se em estado de equilíbrio e de ajuda mútua,

onde havia renúncia em prol do semelhante, mas, sua evolução gerou um “estado

anárquico” que necessitou do que podemos chamar de regulação.

Reiteramos Calmon Filho (2012, p. 37), ao dispor que “a harmonia social é a

regra e o conflito exceção”. Ainda hoje, o homem respeita sentidos morais e valores

amplos que enunciam a harmonia. Grande parte da sociedade cumpre suas obrigações e

deveres sem necessidade de acionamento do sistema regulatório da sociedade que é a

jurisdição.

Entretanto, há uma convergência entre todas as teorias estudadas pelos grandes

filósofos que se dedicaram a este tema. Em sua maioria elas afirmam que “os homens

lutam entre si [...] e o surgimento da regulação estatal torna-se imprescindível” Calmon

Filho (2012, p.38). Sob tal prisma, também conclui

o Contrato Social e mesmo a existência da norma jurídica não

são suficientes para a pacificação social, porquanto nem

sempre o seu cumprimento é espontaneamente verificado [...]

E sem acordo de vontades a convivência é impossível.

Ademais, a sociedade moderna ainda enfrenta paradigmas como a prevalência

entre o público e o privado, a regulação e a emancipação, o legalismo e o relativismo;

tornando-se possível sintetizar que tais questões retornam ao discurso com o aumento

da complexidade da sociedade pós-moderna que culminou no estado caótico onde o

clamor pela eficácia é generalizado.

A precariedade da estrutura, a dependência excessiva ao Estado-Juiz e os altos

custos de funcionamento deste aparato são grandes entraves ao escopo da preservação

da paz social reservada ao Estado. Novamente, neste sentido, Calmon Filho (2011, p.

42) afirma que

A sociedade moderna se apresenta como uma cultura de

conflitos, na qual não somente se verifica uma enorme e

interminável quantidade de conflitos, como igualmente, o

hábito predominantemente de atribuir ao Estado a

responsabilidade de proporcionar sua solução.

16

Desta forma, ressaltamos que a política pública abordada neste estudo, que

adotou a conciliação e a mediação como os métodos de solução de conflitos a serem

utilizados pelo Poder Judiciário nos Núcleos de Conciliação e Cidadania vem

complementar o acesso à justiça, sem acionar a jurisdição.

Tal iniciativa, não é inovadora no âmbito internacional, considerando que a

utilização de mecanismos informais de solução de litígios já representa no panorama

internacional uma forma de tornar o acesso à justiça mais efetivo.

No país, enfrentamos certa resistência em aceitar a utilização dos métodos. Em

tese recente, Ludwing (2011 apud CAPELLETTI e GARTH, 1988, p. 84) discorre que

Existem vantagens óbvias tanto para as partes quanto para o

sistema jurídico, se o litígio é resolvido sem necessidade de

julgamento. A sobrecarga dos tribunais e as despesas

excessivamente altas com os litígios podem tornar

particularmente benéficas para as partes as soluções rápidas e

mediadas [...] É significativo que um processo dirigido para a

conciliação – ao contrário do processo judicial, que

geralmente uma parte “vencedora” e a outra “vencida” –

ofereça a possibilidade de que as causa mais profundas de um

litígio sejam examinadas e restauradas um relacionamento

complexo e prolongado.

Nesse diapasão, cabe-nos supor inicialmente que falta conhecimento técnico a

despeito dos métodos e a demora na implantação efetiva dos mesmos no sistema

contribuíram para gerar a pouca aceitação em aplicá-los.

4.1 Projetos desenvolvidos no Brasil

O Conselho Nacional de Justiça, após estudar o sistema e aplicar vários anos de

pesquisa e metas ao poder judiciário adotou a Conciliação como seu projeto principal

com vistas a minimizar os efeitos da sobrecarga judicial.

Os Métodos Alternativos são citados na Constituição Federal em vigor, e, nos

últimos anos, alguns defensores das técnicas, motivados pela disseminação dos mesmos

iniciaram projetos nos Tribunais de Justiça Estaduais voltados para a Conciliação.

Nestes casos, a iniciativa partia de um magistrado, que ao conhecer o tema

implantava ou não os Juizados de Conciliação como forma de desafogar suas comarcas

e/ou varas. Recentemente, em pesquisa publicada o próprio Ministério da Justiça apurou

que “16,42% dos programas alternativos de administração de conflitos eram

17

Fluminenses, enquanto São Paulo detinha 14,93% e a Bahia 8,96%” (NETTO E

MEIRELLES, 2012, p. 215)

Em contrapartida, os mesmos autores indicam que “uma das experiências mais

relevantes é a do “Balcão de direitos”, projeto iniciado em 1997, pela ONG “Viva Rio”

em comunidades carentes para, entre outras contribuições, organizar mediações

comunitárias”. O que podemos apurar é que a criação de Núcleos, Centrais e Juizados

em parceria com a comunidade são projetos de baixo custo e com eficiência acima do

esperado.

Como referência, temos o desenvolvimento de projetos ligados às soluções

alternativas de controvérsias no Estado de Minas Gerais, que possui em andamento 05

(cinco) práticas de conciliação em atividade “podendo variar de acordo com o momento

ou a natureza do conflito” conforme cartilha do Tribunal de Justiça do Estado de Minas

Gerais (2009, p. 5).

A Conciliação no Juizado de Conciliação, na fase pré-processual; a Conciliação

no Juizado Especial, com base na Lei 9.099/95, portanto, processual. A Conciliação da

Central de Conciliação na cidade de Belo Horizonte, que trata de projetos voltados aos

grandes litigantes como bancos, etc. A Conciliação no trâmite de um processo formal,

também processual, com base no art. 331 do Código de Processo Civil em vigor. E,

finalmente, a Central de Precatórios, também processual, que visa acordo com os

credores das empresas públicas.

A implantação no Estado dos Juizados de Conciliação iniciou-se com a edição

da Resolução nº. 89, de 19 de março de 1.987, pelo Tribunal de Justiça, que criou os

Juizados Informais de Pequenas Causas.

As Resoluções 135 de 1.989 e, 236 de 1.992 modificou a estrutura dos mesmos

visando aperfeiçoamento das atividades. E, em 2.001, nova Resolução, nº. 378 que criou

os Juizados Informais, conferindo-lhes um novo perfil.

Finalmente, as Resoluções 400 de 2.002 e 460 de 2005 atualizou a iniciativa do

projeto conferindo a ele parcerias com órgãos de Governo, Prefeituras, Igrejas,

Associações de classe, dentre outros. A partir deste momento, os conciliadores,

capacitados pela Escola Judiciais Desembargador Edésio Fernandes, atuavam perante a

comunidade.

18

4.1.1 O Juizado de Conciliação de Barbacena

Na cidade de Barbacena, o Juizado de Conciliação foi implantado pela Portaria

nº 173, publicada em 23/08/2002. Um dos primeiros que iniciaram atividade no interior

do Estado de Minas Gerais.

Possui um Núcleo em funcionamento dentro das dependências do Fórum local e

outros 06 núcleos nas comunidades como na Paróquia de Santo Antônio, Paróquia Bom

Pastor e em alguns pequenos municípios que fazem parte da Comarca (Antônio Carlos,

Senhora dos Remédios e Ressaquinha), atingindo uma gama significativa da população.

Além da parceria com o Núcleo de Prática Jurídica da Faculdade de Direito da

Universidade Presidente Antonio Carlos – UNIPAC.

Os números referente à Semana Nacional de Conciliação de 2011 chamam

atenção pelo êxito na quantidade de acordos alcançados. Ressalta-se também que a

parceria com a universidade proporciona o atendimento gratuito ao cidadão

concomitante ao aprendizado dos alunos que, divididos em grupos, realizam

atendimento, participam das sessões de conciliação, além de acompanharem as

audiências do caso quando o acordo não acontece.

Vemos, neste caso, a atenção efetiva dada os Métodos Alternativos de Solução

de Controvérsias ocorrendo sob a supervisão do Juiz-orientador, do Conciliador-

orientador e dos professores que atuam no Núcleo Prático da universidade, montando

assim, uma cadeia eficaz de atenção à comunidade e ao aluno que conhece as técnicas

de conciliação e mediação durante a graduação.

4.2 Diferentes métodos e suas diferentes técnicas

Os Meios Alternativos positivados pela norma em estudo inovam principalmente

na forma de enfretamento do conflito. Considerando a necessidade de esvaziar gabinetes

e promover números o Estado-juiz está punindo severamente seus jurisdicionados

quando presta a jurisdição com excessiva demora e certa pressão por atingir metas.

Argumenta Buitoni (2011, p. 179) sobre o tema

O Poder Judiciário, acompanhando o aumento do ruído na

nossa civilização, vem se mostrando cada vez mais surdo,

deixando de ouvir as partes em conflito, nas audiências. […]

em nome da estabilidade jurídica, econômica e social, com

base em critérios racionais, procura cada vez mais fazer

acordos, conciliar as partes, julgar antecipadamente, para

tentar diminuir o volume de processos

19

[…] Quando no sistema jurídico se pratica a escuta é com a

pretensão de fechar as lacunas do conflito, o que só é possível

artificialmente, por uma convenção do sistema jurídico. O

objetivo da escuta judicial não é entender o conflito, mas,

terminá-lo. A solução jurídica é apenas ilusória, pois na

prática pode terminar, pontualmente, aquela controvérsia,

mas, o conflito em si não termina.

Com a implantação da utilização dos métodos alternativos de conflitos, a

formação e a aplicação das técnicas de conciliação e mediação receberão o espaço

necessário para que as audiências sejam mais produtivas e os profissionais que ali atuam

possam buscar com mais afinco o escopo da pacificação social.

Por esta premissa, todos estarão voltados para abraçar o uso das técnicas

autocompositivas quando poderemos então vislumbrar que a sala de audiência do

Século XXI será um espaço mais cidadão, onde as partes estarão assistidas por

advogados abertos a conciliar, sob o olhar de um juiz pró ativo e atento, imbuído dos

nobres valores que visam à solução do litígio e não apenas a prolação de uma sentença,

buscando atingir metas e encerando tecnicamente mais um processo .

Nesse diapasão, assinalamos algumas características e diferenças entre os

métodos de conciliar e mediar conflitos. Ressaltando que este não é o foco principal

deste estudo.

A Mediação é aplicável às causas cujo envolvimento entre as partes deve ser

relevantemente considerado. O conflito é parte de uma complexa relação social e o

mediador deve buscar restaurar o diálogo, de modo a promover a solução do conflito e

manter o vínculo entre as partes.

Oliveira Júnior (201I apud Silva, 2009, p.07) ensina que na mediação “não há

imposições de sentenças ou laudos; o mediador auxilia as partes a acharem seus

verdadeiros interesses e preservá-los num acordo criativo onde as duas partes ganham.”

Para que seja caracterizado o método, o mediador assume uma postura mais

passiva, e não poderá oferecer propostas para as partes envolvidas. Buitoni, (2012, p.

173), discorre sobre as partes e sobre a técnica da mediação dispondo que

as pessoas em conflito querem falar, se expressar de alguma

maneira [...] e o mediador não o faz um simples registro do

que é dito pela mediando, mas, faz perguntas, interage com o

mediando, deixando que ele se expresse livremente, sem

interpretar, apenas facilitando a expressão [...] identificando-

se um emissor e um receptor.

Complementando, leciona Sena (2007 apud Warat, 2006, p. 22) que

20

A mediação começa quando as partes conseguem interpretar,

no simbólico, ódios e amores que as diferenciam. A mediação

facilita às partes a possibilidade de interpretar seus ódios e

amores. O que é mediável são os conflitos de afetos, não as

diferenças patrimoniais sem história, sem afetos, nem desejo

(elas são transações que podem estar disfarçadas de

mediações). Nos casos patrimoniais sem história, se decidem

as diferenças, não existe conflito a resolver. Para que algo

possa ser mediado, é necessário que uma das partes, pelo

menos, tenha um conflito de ódio, amor ou de dor.

Após a publicação da Resolução nº. 125, o CNJ vem divulgando um pouco mais

conciliação que a mediação, considerando que a primeira tem sido o método mais

utilizado dentre os demais meios de solução de conflitos. Novamente, a posição de

Sena, (2007, p.10)

A conciliação entendida em um conceito muito mais amplo

do que o “acordo”, significando entendimento, recomposição

de relações desarmônicas, empoderamento, capacitação,

desarme de espírito, ajustamento de interesses. Em dizer

psicanalítico: apaziguamento.

A conciliação é mais comumente usada para as chamadas relações descartáveis,

ou seja, os sujeitos envolvidos possuem vínculos de natureza mais patrimonial e

surgidas excepcionalmente como num acidente de trânsito, na relação de consumo, etc.

Almeida (2011, p. 189) resume de maneira clara e objetiva as principais diferenças entre

as técnicas

O mediador é apenas um facilitador, que direciona seus

esforços no aprimoramento da comunicação dos mediandos.

Não lhe é lícito oferecer opções de acordo. Essa característica

passiva do mediador é o principal diferencial entre a

mediação e a conciliação. Esta tem como condutor um

profissional ativo, que dirige uma atividade mais dinâmica.

Não tem a intenção de recuperar o diálogo entre os

participantes, concentrando-se exclusivamente na questão

objetiva, isto é, no conflito. Esgotadas sem sucesso as opções

de propostas sugeridas pelos participantes da sessão de

conciliação, o conciliador, diferentemente do mediador,

poderá oferecer novas alternativas, levando em consideração

sua perspectiva externa do conflito ou critérios objetivos,

também externos, que sejam aceitos pelas partes. […]

Enquanto na mediação a autoria dos mediandos na

construção do acordo é absoluta, na conciliação poderá ser

mitigada pela participação ativa do conciliador no momento

da negociação. O conciliador não tem a preocupação com a

restauração do diálogo. Inexistindo, destarte, comunicação

entre as partes, impõe-se-lhe um papel mais participativo, que

preencha a lacuna decorrente da ausência de negociação

direta. Na conciliação, restringe-se parcialmente, pois uma

das vantagens dos métodos autocompositivos, que é a

colaboração das partes na construção de acordo que

entendam ser adequado aos seus interesses.

21

Complementando muito bem, esclarece Sena (2007, p. 07) quando cita a

conciliação endoprocessual

A conciliação distingue dos outros meios de solução de

conflitos em três aspectos: no plano subjetivo a diferenciação

se apresenta na interveniência de um terceiro e diferenciado

sujeito que é a autoridade judicial; no ponto de vista formal: a

conciliação judicial se realiza no iter de um processo judicial,

podendo extingui-lo parcial ou integralmente. E, quanto ao

seu conteúdo, também difere, pois a conciliação judicial pode

abarcar questões não transacionáveis na esfera estritamente

privada.

Com a aplicação da nova política pública, nasce um novo espaço de trabalho,

pautado pelo diálogo com as partes. Tanto conciliador quanto procuradores e

representantes, motivados pelo compromisso de exteriorizar as expectativas naquele

conflito precisam se ater a elementos mais humanizados para alcançar a construção de

um acordo satisfatório.

Neste âmbito, precisamos enfatizar que a imposição de um acordo ocorre

quando se desrespeita a vontade das partes e quando se constata que o mesmo não foi

elaborado com bom senso e ética.

Quando as partes entregam a um terceiro o conflito, e são conduzidos por estes,

a um acordo exeqüível, todos estes atores, tornam-se construtores e destinatários desta

justiça aplicada ao caso concreto. Ápice este, que deve ser buscado incessantemente

pelos operadores da justiça.

Considerando os métodos alternativos de solução de conflitos na história

podemos afirmar que temos um sistema jurídico prático e educacional totalmente

voltado para a “solução adjudicada de conflitos” (Watanabe, 2010, p. 382).

A cultura de que o somente o juiz deve dizer o direito e a motivação da pós-

modernidade tendente ao individualismo nos impede de acreditar e atuar na busca da

solução alternativa dos conflitos. Muito bem pontuou Splengler e Splengler Neto (2010,

p.23)

Unidos pelo conflito, os litigantes esperam por um terceiro

que o solucione. Espera-se pelo Judiciário para que digam

quem tem mais direitos, mais razão ou quem é o verdadeiro

vencedor da contenda. Trata-se de uma transferência de

prerrogativas que, ao criar muros normativos, engessa a

solução da lide em prol da segurança. Ignorando que a

reinvenção cotidiana e a abertura de novos caminhos são

inerentes a um tratamento democrático.

22

Mais do que uma dificuldade prática abertamente enfrentada pelo Conselho

Nacional de Justiça as novas políticas de enfrentamento de conflitos encontram uma

resistência cultural que precisa ser vencida. De acordo com o que acentua Ludwing

(2012 apud MARTINS, 2008, p. 08):

É preciso mudar a concepção cultural do brasileiro de ser

reticente, ter desconfiança ou aversão a procedimentos

extrajudiciais de solução de conflitos, como já ocorria na

arbitragem e com os juizados de pequenas causas [...] O

brasileiro sempre prefere que o conflito seja solucionado pelo

Poder Judiciário. Entretanto, para conciliar, não é preciso a

existência de um órgão especifico do Poder Judiciário, que

tem a competência para dizer o direito nos casos concretos

que lhe são submetidos à apreciação.

Para atingir o fim da sobrecarga e o resgate da credibilidade do Poder Judiciário,

a sociedade precisa responder às rápidas necessidades de transformação que todos

exigem e conclamam. Uma alternativa à questão já tem sido adotada pelas instituições

de ensino. A inclusão do estudo dos métodos alternativos de solução de conflitos e o

incentivo aos discentes a prática conciliatória.

23

5 A RESOLUÇÃO 125 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

O Conselho Nacional de Justiça fazendo uso de sua atribuição fincada no art.

103-B, da Constituição da República, exercendo sua competência de controle da

atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário, prevista no art. 37, que trata dos

princípios da Administração Pública, dentre eles o zelo pela eficiência operacional e

pela responsabilidade social deste poder, nos termos da Resolução nº. 70, de 18 de

março de 2009, adotou Política Pública de tratamento adequado dos conflitos de

interesses.

Isto posto, uma ressalva importante faremos no início deste capítulo. A

competência do CNJ para legislar sobre a questão atingindo também a esfera dos

poderes legislativos e executivos. Em tal norma, o Conselho elencou diversas

atribuições que incluem órgãos independentes e interlocutores importantes do poder

judiciário como o Ministério Público, a Defensoria Pública, a Ordem dos Advogados do

Brasil, PROCON’s, Procuradorias Estaduais e Instituições de Ensino Superior. Heringer

(2012, p. 31) lecionou em tese recente que

Uma política pública se forma e se realiza no bojo do Estado,

no sentido mais amplo do conceito de Estado e conforme sua

conformação política. O Estado é dotado de entes públicos

que são considerados os Poderes de Estado e o modelo

republicano brasileiro têm em sua composição três Poderes –

Legislativo, Executivo e Judiciário. É um conceito político

que se refere à forma de organização soberana de uma nação

com o poder de regular a vida nacional em um determinado

território. O conceito de Estado varia de acordo com os

autores, alguns definem o Estado como o conjunto de

instituições que possuem a autoridade e poder para

estabelecer regras que regem uma sociedade, tendo a

soberania interna e externamente em um território

determinado.

Em conclusão, o mesmo autor (2011, p. 46) afirma que a Resolução “corrobora a

falência do Poder judiciário” e que

as regras técnicas inerentes a formação de qualquer política

pública devem se observadas por todos os poderes,

Executivo, Legislativo e Judiciário, levando-se em conta a

responsabilidade executiva de suas proposições, suas

características e natureza, bem como as despesas públicas

advindas das mesmas. […] Por esta premissa, quando o Poder

Judiciário, através do seu Conselho Nacional, propõe uma

determinada política pública e determina seu cumprimento

responsabiliza-se por sua concepção, negociação de

24

interlocutores, a consultas públicas e a eleição de opções

razoáveis e aptas para a concretização da sua finalidade, bem

como sua despesa.

Diante de tais afirmativas, podemos afirmar que a instucionalização dos meios

alternativos de controvérsias através da Resolução 125 deve ter questionada sua

constitucionalidade, bem como sua validade e eficácia no Supremo Tribunal Federal.

Apesar das severas críticas, Heringer, 2011, p. 46 não deixa de “parabenizar a

iniciativa do CNJ na elaboração desta política pública, pois, é: imprescindível estimular,

apoiar e difundir a sistematização e o aprimoramento das práticas já adotadas pelos

tribunais”5.

Analisando no aspecto da qualidade da norma, pela maneira abrangente como

foi elaborada, que a Resolução que reuniu de forma eficaz e concisamente estratégias,

metas e ferramentas objetivas para o Poder Judiciário aplicar a política pública. Criou

um destaque normativo considerando que uma norma em branco, sujeita a

regulamentações posteriores, seria mais um entrave ao legislador e ao sistema.

Em sua introdução elencou estratégias e justificativas para a criação dos Núcleos

Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos

CONSIDERANDO a necessidade de se consolidar uma

política pública permanente de incentivo e aperfeiçoamento

dos mecanismos consensuais de solução litígios;

CONSIDERANDO que a conciliação e a mediação são

instrumentos efetivos de pacificação social, solução e

prevenção de litígios, e que a sua apropriada disciplina em

programas já implementados nos país tem reduzido a

excessiva judicialização dos conflitos de interesses, a

quantidade de recursos e de execução de sentenças;

CONSIDERANDO ser imprescindível estimular, apoiar e

difundir a sistematização e o aprimoramento das práticas já

adotadas pelos tribunais;

CONSIDERANDO a relevância e a necessidade de organizar

e uniformizar os serviços de conciliação, mediação e outros

métodos consensuais de solução de conflitos, para lhes evitar

disparidades de orientação e práticas, bem como para

assegurar a boa execução da política pública, respeitadas as

especificidades de cada segmento da Justiça;

CONSIDERANDO que a organização dos serviços de

conciliação, mediação e outros métodos consensuais de

solução de conflitos deve servir de princípio e base para a

criação de Juízos de resolução alternativa de conflitos,

verdadeiros órgãos judiciais especializados na matéria;

_____________________________________________________________________________________

5 CONSELHO Nacional de Justiça. Resolução n 125, de 29.nov. 2010 . Disponível em:

<http://www.cnj.jus.br/atos-administrativos/atos-da-presidencia/323-resolucoes/12243-resolucao-no-125-

de-29-de-novembro-de-2010

25

Uma das questões que torna a Resolução do CNJ muito ampla e eficaz é que

ainda no contexto da lei o Conselho já elencou as atribuições de cada órgão que

participará da implementação da política e suas competências. Vinculou a esta o Código

de Ética do conciliador, a criação de banco de dados como forma de controle estatístico,

as justificativas para sua implantação, além de acrescentar os módulos dos cursos par

introdução aos meios alternativos de solução de conflitos para conciliadores,

mediadores e magistrados.

Das atribuições do Conselho Nacional de Justiça, podemos destacar a

competência do mesmo para organizar programas visando promover ações de incentivo

“à autocomposição de litígios e à pacificação social por meio da conciliação e da

mediação” cujas metas são

I – estabelecer diretrizes para implementação da política

pública de tratamento adequado de conflitos a serem

observadas pelos Tribunais;

II – desenvolver conteúdo programático mínimo e ações

voltadas à capacitação em métodos consensuais de solução de

conflitos, para servidores, mediadores, conciliadores e demais

facilitadores da solução consensual de controvérsias;

III – providenciar que as atividades relacionadas à

conciliação, mediação e outros métodos consensuais de

solução de conflitos sejam consideradas nas promoções e

remoções de magistrados pelo critério do merecimento;

IV – regulamentar, em código de ética, a atuação dos

conciliadores, mediadores e demais facilitadores da solução

consensual de controvérsias;

V – buscar a cooperação dos órgãos públicos competentes e

das instituições públicas e privadas da área de ensino, para a

criação de disciplinas que propiciem o surgimento da cultura

da solução pacífica dos conflitos, de modo a assegurar que,

nas Escolas da Magistratura, haja módulo voltado aos

métodos consensuais de solução de conflitos, no curso de

iniciação funcional e no curso de aperfeiçoamento;

VI – estabelecer interlocução com a Ordem dos Advogados

do Brasil, Defensorias Públicas, Procuradorias e Ministério

Público, estimulando sua participação nos Centros Judiciários

de Solução de Conflitos e Cidadania e valorizando a atuação

na prevenção dos litígios;

VII – realizar gestão junto às empresas e às agências

reguladoras de serviços públicos, a fim de implementar

práticas autocompositivas e desenvolver acompanhamento

estatístico, com a instituição de banco de dados para

visualização de resultados, conferindo selo de qualidade;

VIII – atuar junto aos entes públicos de modo a estimular a

conciliação nas demandas que envolvam matérias

sedimentadas pela jurisprudência.

Das atribuições dos Tribunais de Justiça encontra-se como meta principal a

criação dos Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos, no

prazo de 30 (trinta) dias a 12 (doze) meses, de acordo com sua localização e estrutura e

26

organização das comarcas, compostos por magistrados da ativa ou aposentados e

servidores, preferencialmente atuantes na área, com as seguintes atribuições, entre

outras:

I – desenvolver a Política Judiciária de tratamento adequado

dos conflitos de interesses, estabelecida nesta Resolução;

II – planejar, implementar, manter e aperfeiçoar as ações

voltadas ao cumprimento da política e suas metas;

III – atuar na interlocução com outros Tribunais e com os

órgãos integrantes da rede mencionada nos arts. 5º e 6º;

IV – instalar Centros Judiciários de Solução de Conflitos e

Cidadania que concentrarão a realização das sessões de

conciliação e mediação que estejam a cargo de conciliadores

e mediadores, dos órgãos por eles abrangidos;

V – promover capacitação, treinamento e atualização

permanente de magistrados, servidores, conciliadores e

mediadores nos métodos consensuais de solução de conflitos;

VI – na hipótese de conciliadores e mediadores que atuem em

seus serviços, criar e manter cadastro, de forma a

regulamentar o processo de inscrição e de desligamento;

VII – regulamentar, se for o caso, a remuneração de

conciliadores e mediadores, nos termos da legislação

específica;

VIII – incentivar a realização de cursos e seminários sobre

mediação e conciliação e outros métodos consensuais de

solução de conflitos;

IX – firmar, quando necessário, convênios e parcerias com

entes públicos e privados para atender aos fins desta

Resolução.

Parágrafo único. A criação dos Núcleos e sua composição

deverão ser informadas ao Conselho Nacional de Justiça.

Ainda dispõe a resolução que cada unidade dos Centros Judiciários de Solução

de Conflitos e Cidadania deverá obrigatoriamente abranger setor de solução de conflitos

pré-processual, setor de solução de conflitos processual e setor de cidadania, onde

poderão atuar membros do Ministério Público, defensores públicos, procuradores e/ou

advogados. E que serão admitidos mediadores e conciliadores capacitados na forma

deste ato cabendo aos Tribunais, antes de sua instalação, realizar o curso de capacitação,

podendo fazê-lo por meio de parcerias.

5.1 O Código de Ética dos novos auxiliares da justiça

Neste capítulo, é preciso ressaltar a atenção dispensada aos conciliadores e

mediadores. Na criação do Código de Ética do Conciliador e do Mediador e no destaque

dado à necessidade de aperfeiçoamento melhorando a sua capacitação incluindo a

previsão de uma submissão à avaliação do usuário, na Seção III, Art. 12, in verbis

§ 1º Os Tribunais que já realizaram a capacitação referida no

caput poderão dispensar os atuais mediadores e conciliadores

27

da exigência do certificado de conclusão do curso de

capacitação, mas deverão disponibilizar cursos de

treinamento e aperfeiçoamento, na forma do Anexo I, como

condição prévia de atuação nos Centros.

§ 2º Todos os conciliadores, mediadores e outros

especialistas em métodos consensuais de solução de conflitos

deverão submeter-se a reciclagem permanente e à avaliação

do usuário.

§ 3º Os cursos de capacitação, treinamento e aperfeiçoamento

de mediadores e conciliadores deverão observar o conteúdo

programático e carga horária mínima estabelecida pelo CNJ e

deverão ser seguidos necessariamente de estágio

supervisionado.

§ 4º Os mediadores, conciliadores e demais facilitadores do

entendimento entre as partes ficarão sujeitos ao código de

ética estabelecido pelo Conselho.

Dos princípios e garantias da conciliação e mediação judiciais

Artigo 1º - São princípios fundamentais que regem a atuação

de conciliadores e mediadores judiciais: confidencialidade,

competência, imparcialidade, neutralidade, independência e

autonomia, respeito à ordem pública e às leis vigentes.

§1º. Confidencialidade – Dever de manter sigilo sobre todas

as informações obtidas na sessão, salvo autorização expressa

das partes, violação à ordem pública ou às leis vigentes, não

podendo ser testemunha do caso, nem atuar como advogado

dos envolvidos, em qualquer hipótese;

§2º. Competência – Dever de possuir qualificação que o

habilite à atuação judicial, com capacitação na forma desta

Resolução, observada a reciclagem periódica obrigatória para

formação continuada;

§3º. Imparcialidade – Dever de agir com ausência de

favoritismo, preferência ou preconceito, assegurando que

valores e conceitos pessoais não interfiram no resultado do

trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos no

conflito e jamais aceitando qualquer espécie de favor ou

presente;

§4º. Neutralidade – Dever de manter eqüidistância das partes,

respeitando seus pontos de vista, com atribuição de igual

valor a cada um deles;

§5º. Independência e autonomia - Dever de atuar com

liberdade, sem sofrer qualquer pressão interna ou externa,

sendo permitido recusar, suspender ou interromper a sessão

se ausentes as condições necessárias para seu bom

desenvolvimento, tampouco havendo obrigação de redigir

acordo ilegal ou inexeqüível;

§6º. Respeito à ordem pública e às leis vigentes – Dever de

velar para que eventual acordo entre os envolvidos não viole

a ordem pública, nem contrarie as leis vigentes.

Podemos constatar que a regulamentação efetivada pelo CNJ foi pautada na

busca pela expansão da aplicação dos métodos alternativos de solução de conflitos no

Poder Judiciário.

Ademais, espera-se que a edição da norma, de forma transparente e norteadora,

elencando princípios e metas, editando normas de ética e punição para o não

28

cumprimento das mesmas, traga um plus para que o sistema jurisdicional atue com

amparo legal, trazendo a segurança necessária para a expansão dos Núcleos e,

principalmente, a melhora no serviço jurisdicional tanto para quem atua perante o

mesmo, quanto para quem espera uma solução para seu conflito.

29

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme já abordado o Conselho Nacional de Justiça correspondendo às

exigências de melhoria na prestação jurisdicional editou recentemente a Resolução nº

125 contendo políticas públicas de tratamento diferenciado aos métodos alternativos de

solução de conflitos.

As diretrizes traçadas apontam para a exigência de uma nova postura dos

sujeitos que atuam na prestação jurisdicional, e neste momento imprescindível para a

construção de uma justiça mais eficaz os advogados, juízes e conciliadores reassumem

sua função de promotores da paz social.

A comissão que analisou e formulou a norma em estudo continua atuando e já

busca uma solução para custear as modificações no sistema. A sugestão inicial da

comissão que atua em São Paulo e que também desenvolveu a Resolução em estudo é

de que seja reservado um percentual das custas processuais e parte do orçamento do

poder judiciário para a remuneração dos conciliadores e da estrutura mínima dos

Centros de Conciliação e Cidadania6.

Obviamente que a solução pré-processual ocorre antes à formação do litígio

formal, ou seja, anterior ao aperfeiçoamento da relação processual jurídica: autor, réu e

juiz. E, a norma em estudo visa atingir, principalmente, os casos em sua fase pré-

processual, pois no aspecto técnico os arts. 329 a 330 do Código de Processo Civil já

prevê a extinção da ação com ou sem exame de mérito por autocomposição e também

em ser art. 447 também prevê a audiência de tentativa de conciliação, além do art. 125,

inciso IV, sendo dever de o magistrado conciliar as partes a qualquer tempo.

Frisa-se, portanto, que as críticas sobre a vedação ao acesso à justiça não

procedem, pois a conciliação pré-processual pode descompor a pretensão do autor e, o

termo de acordo, é um título executivo judicial que pode ser apreciado pelo Poder

Judiciário em caso de descumprimento do mesmo. Mas, esse enfrentamento prévio da

causa atingirá consubstancialmente os números de processos nos Tribunais e estes

resultados não podem ser simplesmente ignorados.

Apesar das alegações de que o CNJ tem poucos números que confirmam a

eficácia da conciliação e mediação pré-processuais, não ignoremos que, em diversos

______________________________________________________________________

7 http://www.tjsp.jus.br/Egov/Conciliacao/Nucleo/Default.aspx

30

países os métodos já geraram redução nos números que hoje assustam a comunidade

jurídica no Brasil, e, em breve, produzirá efeitos positivos da aplicação dos MASC o

que será sentido pelos operadores do direito e pela sociedade.

Os novos modelos, já implantados, como os projetos que nascem das parcerias

entre sociedade civil e do Poder Judiciário são de baixo custo com excelentes resultados

diminuindo os procedimentos previstos no mesmo litígio quando levado ao Poder

Judiciário. Como referido, a adoção dos métodos alternativos para solucionar conflitos

reduzem custos e atrasos, barateando a máquina estatal.

Há de se olvidar também a maior participação dos interessados na solução das

controvérsias proporcionando maior conveniência, considerando que os Núcleos podem

funcionar nas próprias comunidades gerando eficácia e maior grau de certeza da atuação

na pacificação. É uma jurisdição combinada à prevista na Constituição Federal, que,

bem aplicada, é mais barata, mais justa e democrática. Mencionamos neste trabalho que

a criação de uma cultura de pacificação social, de uma justiça mais célere e efetiva

perpassa pelas mãos de uma sociedade que exige soluções participativas com

independência e autonomia.

Apesar da resistência de muitos se nota a necessidade dos operadores do direito

contemporâneo romperem esta barreira limitadora da sua atuação e resgatarem a

importante missão deontológica de promotores da justiça, reassumindo junto a toda

estrutura social uma postura diferenciada na utilização e preparo para com os métodos

alternativos de solução de conflitos.

O Código de Ética do Advogado7, já preconiza que “é dever estimular a

conciliação entre os litigantes, prevenindo, sempre que possível a instauração de

litígios”. (MAMEDE, 2008, p. 403)

Pacificar é buscar na autonomia de vontade das partes seus interesses,

equacioná-los de forma racional e auxiliá-los na tomada de decisões. É neste momento,

que o operador do direito, com visão altruísta demonstrará que há espaço para o

exercício de uma nova mentalidade. Assinalamos neste momento que a Ordem dos

Advogados do Brasil do Rio Grande do Sul pode servir como exemplo, pois já

implantou a Casa da Mediação8, onde os profissionais são convidados a atuar junto à

comunidade, aplicando o método, trazendo presteza e segurança à sociedade, exercendo

seu múnus dentro do que prevê o citado Código de Ética deste profissional. Esperamos

que as iniciativas sejam ampliadas por todo o país.

Outra questão a ser enfrentada é a posição das Faculdades de Direito perante os

Métodos Alternativos de Solução de Controvérsias. Algumas já adotaram os métodos

31

alternativos em sua grade curricular ou implantaram Núcleos de Conciliação e

Cidadania nos escritórios de prática extracurriculares. Ademais, está em andamento a

indicação nº. 3251/20129, de projeto de Lei que “sugere ao Ministério da Educação que

encaminhe ao Conselho Nacional de Educação, por meio da Câmara de Educação

Superior, proposta de inclusão da disciplina "Conciliação e Mediação" nos cursos de

Graduação em Direito de todo o país.”

Considerando os ensinamentos recebidos nas faculdades hoje, somos formados

para litigar. Os ganhos do ponto de vista ambiental serão grandes tendo em vista o

quadro lastimável de morosidade que todos querem reverter as transformações também

necessitam atingir a formação do profissional que atua no direito.

As iniciativas advindas do Conselho Nacional de Justiça e pelos membros do

Poder Judiciário tem sido bem recebidas pela sociedade e tendem a disseminação da

cultura da pacificação. Por fim, já temos como vislumbrar mudanças positivas no

contexto levando em conta a positivação da conciliação e da mediação no novo Código

Civil projetado. Obviamente que, comungamos do ponto de vista da maioria dos

doutrinadores de que a instância prévia obrigatória não deve ser adotada por configurar

uma vedação ao acesso à justiça. Por outro lado, a positivação dos métodos e a

Resolução nº 125 somente acrescem as possibilidades de aumentar o número de solução

de litígios sem acionar a jurisdição.

Por fim, reiteramos que esta não deve ser a única solução a ser adotada,

ressaltando a complexidade do tema e a forma como o nosso ordenamento jurídico está

assegurado. Mas, ignorar a efetividade dos projetos existentes, a resposta recebida pelo

Poder Judiciário na implantação da nova política pública e dos estudos esclarecendo o

tema, tem-se hoje, em mãos, um projeto que auxiliará a todos na consecução de um dos

valores precípuos da justiça que é a paz social.

8 http://www.oabrs.org.br/noticia_ler.php?id=8020

9 http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=557352

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Diogo Assumpção Rezende de. O princípio da adequação e os métodos de

solução de conflitos. Revista de Processo, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 36, p.

185-206, mai 2011.

BOITONI, ADEMIR. A mediação de conflitos e a escuta criativa. Revista de

Arbitragem e Mediação, São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 36, p. 173-187, jun-

jul/2011.

BONOTTO, Cecília Laranja da Fonseca. Política Nacional de Conciliação: Política

Pública implementada pelo Conselho Nacional de Justiça. Rio de Janeiro: Fundação

Getúlio Vargas, 2012.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, Senado,

1998. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/legislacao/const/> Acesso em:

17.dez.2012

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução nº. 125. Institui a política

nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses. 29.nov.2010. Brasília.

Disponível em: <www.cnj.jus.br>. Acesso em 25.ago.12.

DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 9. ed. Salvador:

JusPodixm, 2008. vol. 1.

CALMON FILHO, Petrônio. O conflito e os meios de sua solução. Teoria do Processo.

Panorama doutrinário mundial, Salvador: Juspovidm, 2008. p. 825.

HERINGER, Mauro Brant. Política judiciária nacional: resolução n. 125/2010 do CNJ

e a sua efetividade como política pública para redução da judicialização dos

conflitos. Disponível em:

http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/9791?show=full. Acesso:

07.dez.2012

LUCHIARI, Valéria Ferioli Lagasta. O anteprojeto de Código de Processo Civil, a

conciliação e a mediação. São Paulo: Revista de Direito Civil e Processual Civil, n.

71, p. 52-57, maio-junho 2011.

LUDWING, Guilherme Guimarães. Entre o acesso à justiça e a “dependência química”

do Judiciário: a Conciliação Prévia como resgate da Cidadania. São Paulo: Revista de

Direito Civil e Processual Civil, n. 71, p. 7-33, maio-junho 2011.

GUINOVER, Ada Pelegrini. A obrigatoriedade da audiência de conciliação nos

Juizados Especiais Cíveis: Uma lição para o processo comum. São Paulo: Revista de

Direito Civil e Processual Civil, n. 72, p. 59-63, maio-junho 2011.

MAMEDE, Gladston. A advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil. 3. ed. revista

e ampliada. São Paulo: Atlas, 2008. 403 p.

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Acesso à Justiça por sistemas alternativos de

administração de conflitos: mapeamento nacional de programas públicos e não

governamentais. Disponível em: <www.mj.gov.br> p.40

MITIDIERO, Daniel. Direito Fundamental ao processo justo. São Paulo: Revista

Magister de Direito Civil e Processual Civil, n. 45, p. 22-31, nov-dez 2011.

MORAES, Tiago França. A mediação, a conciliação e a arbitragem como formas

alternativas de resolução de conflitos. Jus Navigandi, Teresina. Disponível em:

<http://jus.com.br/revista/texto/22520>. Acesso em: 15 dez. 2012.

NALILI, José Renato. Filosofia e ética jurídica. São Paulo: Saraiva 2009.

OLIVEIRA JÚNIOR, Evaldo Rosário de Oliveira. Acesso à Justiça e as vias

alternativas para solução de controvérsias: mediação, conciliação e arbitragem. Jus

Navigandi, Teresina. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/20517>. Acesso

em: 03.dez.2012.

PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. Revista de Direito Civil, São Paulo: Revista

dos Tribunais, v. 207, p. 213-238, maio-junho 2011.

PROJETO DE LEI 8.046/2010 – Projeto do novo Código de Processo Civil.

Disponível em: <www.camara.gov.br>. Acesso em: 30.ago.12.

SADEK, Maria Tereza A. Reforma do Judiciário. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 271-

289.

SENA, Adriana Goulart. Formas de Resolução de Conflitos e acesso à justiça.

Tribunal Regional do Trabalho 3º Região, Belo Horizonte, 2007. Disponível em:

http://www.trt3.jus.br/download/artigos/pdf/20_formas_resolucao_conflitos.pdf. Acesso

em 19.set.2012

WATANABE, Kazuo. Política pública do Poder Judiciário nacional para tratamento

adequado dos conflitos de interesses. Revista de Processo, São Paulo: Revista dos

Tribunais, v. 36, n. 195, p. 381-389, maio 2011.