A ARTE DA NATUREZA . A PAISAGEM NA OBRA FOTOGRAFICA DA CASA BIEL

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ISR"BL C U ARD" o autor fazia assim tabua rasa deste territ6rio, 0 que contra ria a metodo- logia desenvolvida em Alvalade, concebendo urn projecto progressista e racio- na1, imprevisivel face as condit;6es de implementat;ao. Procurava-se, na esteira dos argumentos defendidos por Le Corbusier, projectar-se a imagem de uma cidade idealizada que nao procurava concessoes com 0 ambiente construido existente. Os paralelos com os trabalhos de Le Corbusier para as quarteiroes hist6ricos de Paris,Q6 sao bastante elucidativos e demonstram uma posit;ao con- tradit6ria no percurso deste autor. Como conclusao final deste estudo, podemos referir que a paisagem ur bana de Lisboa nas Mcadas de 40 e 50 sofreu influencia simultanea de diferentes modelos de urbanismo, como 0 Movimento Modemo, a Cidade Jardim ou ainda alguns principios da Cidade Classica. A radicalidade dos principios do Movimento Modemo fo i 0 que mais marcou a decada de 50, no entanto apareceram muitas vezes diluidos com as principios da CidadeJardim ou da Cidade Classica, projectando-se simultanea- mente uma imagem de continuidade e de da paisagem urbana_ 106 RefeTimo-nos as propostas de rransforma,ao radical propostas par Le Corbusier para oS conslTuidos do Bairro do Palais-Royal em Paris. das Tulherias e dos Champs .Elysees. Le corbus,er Urbani5mo, Martins Fontes, Sao Paulo, 2000, p. 19 1 . 128 A ARTE DA NATUREZA . A PAISAGEM NA OBRA , F OTOGRAFICA DA CASA BIEL PA UL O BAPTISTA Como ponto de partida gostaria de vos prop or 0 desa fio de imaginar urna pu- de dirnensao 400 por 300 mm , com rna is de 400 paginas , mais de 350 fotograficas de superior qualidade, com a dos rn ai s important es eruditos portugueses. Quantas obras desta dimensao foram pro- duzid as entre n6s? Falo-vos de A Arte e a Natureza em Portuga L A de tao arrojado projecto, ap6s urn planeamento de mais de 15 ano s, deveu-se ao es pir it o positivista, criativo e sobretudo empreendedor de Emilio B ie1 , urn emigrante al emao que assumiu Po rtu gal como sua patria ge nuina, colocando a par Goethe e editando Os Lus ia das para as sin a- lar 0 tricentenario da morte do poe ra , em 1880, Urna das questaes qu e se levant a de imediato e a de entender como e que urn emigrante al emao no Po rto, comerciante e industria l, se tDfna na mais importante figura da fotografia porruguesa do terceiro quartel de oitocentos aI Guerra Mundia l. Na procura das raz6es para ess a ha que primeiro analisar as cir- cunstancia s da da fotografia em Portug al nao tantO do ponto de vista crono16gico e facmal,06mas nu ma perspectiva socio16gica e cultura l. o primeiro contacw que 0 nos so pais teve com a fotogra fia ocorreu com a vinda de rerratistas em digressao pela Peninsula ou em transito para a Ame- rica do SuI. Port ugal esrava ainda no r es caldo das guerr as libe rais, assisti a- se Como refere Maria Vaz de Car valho (1 847-1 921 ) nllma noticia sabre Biel publicada em lO8CommrTcio P OTt Ug U fZ , s" ana, N° 133, 13/611880, p. I. V. Bapt is ta, Paulo, A CasQ Bid (' as sua5 tdif0e5 fotogrdfica5 no Portugal de Oitocentos. de Potogn. do em H ist6ria da Anc, Lisboa. FCSH da UNL, 1994. pp. 15 a 18 c Sena, Amonio, HWoria da Imagcm r4fica t'm Port ugaf'J8J9 -1977, Porto, POrtO Editora, 1998, pp. 16-26. 129

Transcript of A ARTE DA NATUREZA . A PAISAGEM NA OBRA FOTOGRAFICA DA CASA BIEL

ISRBL C U ARD

o autor fazia assim tabua rasa deste territ6rio 0 que contra ria a metodoshy

logia desenvolvida em Alvalade concebendo urn projecto progressista e racioshy

na1 imprevisivel face as condit6es de implementatao Procurava-se na esteira

dos argumentos defendidos por Le Corbusier projectar-se a imagem de uma

cidade idealizada que nao procurava concessoes com 0 ambiente construido

existente Os paralelos com os trabalhos de Le Corbusier para as quarteiroes

hist6ricos de ParisQ6 sao bastante elucidativos e demonstram uma positao conshy

tradit6ria no percurso deste autor

Como conclusao final deste estudo podemos referir que a paisagem urbana

de Lisboa nas Mcadas de 40 e 50 sofreu influencia simultanea de diferentes

modelos de urbanismo como 0 Movimento Modemo a Cidade Jardim ou

ainda alguns principios da Cidade Classica A radicalidade dos principios do Movimento Modemo foi 0 que mais

marcou a decada de 50 no entanto apareceram muitas vezes diluidos com as principios da CidadeJardim ou da Cidade Classica projectando-se simultaneashy

mente uma imagem de continuidade e de mudan~a da paisagem urbana_

106 RefeTimo-nos as propostas de rransformaao radical propostas par Le Corbusier para oS no~to~ conslTuidos do Bairro do Palais-Royal em Paris das Tulherias e dos ChampsElysees Le corbuser

Urbani5mo Martins Fontes Sao Paulo 2000 p 191

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A ARTE DA NATUREZA A PAISAGEM NA OBRA FOTOGRAFICA DA CASA BIEL PA UL O BAPTISTA

Como ponto de partida gostaria de vos prop or 0 desafio de imaginar urna pushy

blica~ao de dirnensao 400 por 300 mm com rnais de 400 paginas mais de 350

reprodu~oes fotograficas de superior qualidade com a colabora~ao dos rnais

importantes eruditos portugueses Quantas obras desta dimensao fora m proshy

duzidas entre n6s Falo-vos de A Arte e a Natureza em PortugaL

A concretiza~ao de tao arrojado projecto ap6s urn planeamento de mais

de 15 anos deveu-se ao espirito positivista criativo e sobretudo empreendedor

de Emilio Bie1 urn emigrante alemao que assumiu Portugal como sua patria genuina colocando a par Goethe e Camoes~ editando Os Lusiadas para assinashy

lar 0 tricentenario da morte do poera em 1880

Urna das questaes que se levanta de imediato ea de entender como eque

urn emigrante alemao no Porto comerciante e industrial se tDfna na mais

importante figura da fotografia porruguesa do terceiro quartel de oitocentos aI Guerra Mundial

Na procura das raz6es para essa s itua~ao ha que primeiro analisar as cirshycunstancias da introdu~ao da fotografia em Portugal nao tantO do ponto de vista crono16gico e facmal06 mas numa perspectiva socio16gica e cultural

o primeiro contacw que 0 nosso pais teve com a fotogra fia ocorreu com a vinda de rerratistas em digressao pel a Peninsula ou em transito para a Ameshy

rica do SuI Portugal esrava ainda no rescaldo das guerras liberais assistia-se

~07 Como refere Maria Am~lia Vaz de Carvalho (1847-1921) nllma noticia sabre Biel publicada em lO8CommrTcio POTtUgUfZ s ana Ndeg 133 13611880 p I

~ V Baptista Paulo A CasQ Bid ( as sua5 tdif0e5 fotogrdfica5 no Portugal de Oitocentos Disser(a~ao de

Potogndo em H ist6ria da Anc Lisboa FCSH da UNL 1994 pp 15 a 18 c Sena Amonio HWoria da Imagcm r4fica tm PortugafJ8J9-1977 Porto POrtO Editora 1998 pp 16-26

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PAULO JAPTISTA

il funda~ao das Academias de Belas Artes e talvez por isso alguns dos prishymeiros fotografos foram recebidos como artistas 0 que nalguns casos seria legitimo porque a invenao da fotografia deveu bastante a pintores de parco talento como Louis Daguerre ou David Octavius Hill cujo menor desempeshynho pictorico tera sido importante estimulo para que atraves das inova~oes fotograficas pudessem dar resposta satisfatoria as encomendas dos seus clienshytes Alias Hill que chegou a ser a secreta rio da Academia Escocesa de Pintura tera sido 0 primeiro recordista da fotografia ao representar num so painel as

457 membros da recem-criada Igreja LIvre Escocesa A propria imprensa recebia as primeiros fotografos com jubilo e urn dos

mais significativos exemplos disso e 0 artigo que 0 destacado escritor e jomashylista Antonio Feliciano de Castilho (1800-1875) colaborador do Panorama e da Revista Universal Lisbonense publicou nesta ultima em 1845 descrevendo a sua

primeira ida ao fotografou

Escreve Castilho [ ] Em seis retratos meos que tenho mandado fazer par diversos artistas para dar aminha noiva uns em miniatura outros em claro escuro outros a oleo tenho sido ate hoje tao feliz que se ella tivesse a indiscrishyao de os mostrar daria a mais horrorosa idea da sua constancia julgal-a-hiam namorada de seis pessoas differentes inclusivamente de meu avo e d outrO

individuo que podera vir a ser meu neto ainda antes de eu ser caducaraquo Euma pe~a cheia de humor critica mordaz ao traballio dos miniaturistas

mas tambem expressao de uma tendenda social que se acentuava ao longo

do seculo XIX no sentido da democratizaao do acesso as artes com 0 aparemiddot cimento dos primeiros saloes e promo~ao de belas artes e publica~oes artistishy

cas entre outras desde meados do seculo Esta proposta de analise foi pela

primeira vez apontada pdo critico de arte de origem checa Heinrich Schwarz que em 1931bull publicou a primeira monografia sobre a obra de urn fotografo precisamente sabre David Octavius Hill em que nos diz lt[JA inven~ao da fotografia [em 1839] e [ ] tudo menos espontanea ao inves e 0 produto de exishygencias e de tendencias ja expressas ha seculos [encontrando paraldo na de Gushy

6109 Newhall Beaumont Tht History ofPkolography The Museum of Modern Art NY 1982 pp 4 48

o 110 RtVua UttiWrsal Lisbontttst vol 1844-45 p329 Ref de A S Carvalho Comtntoral=o(S do Ctnftnari da Foograjia separata das t Mem6rias da Academia das Ciendas de Lisboa (Torno III) USboa 194deg

transcrevendo urn ucerto curtO que nao expressa toda a riqueza do textO

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A PAI SAGB M NA O IR A IOTOGRAflCA VA CASA BISL

tenbergJ e a concretizarao de tens6es eticas e artisticas sendo determinada

pelas forra s historicas No concreto a invenrao surge como 0 fruto de uma

mudan~a da ordem social e de uma nova atitude estetica baseada no assunshy

to cientifico do homem em confronto com 0 proprio ambiente Representa ao tempo 0 sintoma e a causa de uma nova perspectiva do mundo visivel

E a expressao de uma perspectiva de fundar a invenao dos novos meios exshypressivos na sua propria urgencia social de considera-Ios como urn sintorna

das transformaoes de orienta~ao emotiva de toda uma sociedade A afirmaao da burguesia no inicio do seculo XIX abre caminho ao desejo de expressao da agita~ao e tensao atraves de uma forma artistica diferente a fotografia Novos model os de representarao novas formas expressivas imp6em-se substituinshy

do as antigas inadequadas arenovada procura cultural e econ6mica [ ]raquo11

o impacto do advento da fotografia nas outras artes foi profundo A possibilidade tecoica de reproduzir a real permitiu a subita libertaao dos derradeiros tra~os da tradi~ao pict6rica barroca e c1assicista Alias a obsesshysaoraquo com 0 realismo marcou profundamente a pintura desde 0 Renascimenshy

to Desse ponto de vista dever-se-a dar a necessaria atencao aanalise que 0

pintar David Hockney fez a varios efeitos opticos na pintura de Johannes Vermeer que foi depois aprofundada e sistematizada pelo arqnitecto Philip Steadman abrangendo toda a obra do pintor de Delft nome ada mente com a reconstitu irao aescala do atelier de Vermeer Steadman fotografou varias cenas recriando as composir6es de Vermeer para pravar de forma quase ineshy

quivoca que ele recorreu acamara obscura Poder-se-a desta forma abrir urn

novo capitulo nas origens da fotografi a do grego ltgt010 YPCX4gtocr (jato graphos) escrita representaflio da luz

E interessante constatar que como afirma Schwarz as novas perspecshy

tivas do mundo visivel sao determinantes para a mudan~a de atitude esteshytica Relativamente a Vermeer deve ser dado significado a coincidencia de

o naturalista pioneiro da microscopia e investigador da optica Anton van

Ill V Schwarz Heinrich MIt( Fotograjia Thrim Bolati Boringhieri 1992 p 9

Ill Hockney David Stert Knowltdgt Rediscovering tnt Lost Ttdlniluef of the Old MaJurJ Thames amp Hudson New York 2001

113 Steadman Philip Vtrmraj Canttrti Uncovering Iht Than Bthind [fIr Mastcrpitcts Oxford University PrCM lOOI

1 3 1

PAUlO BAPTISTA

Leeuwenhoek (1632-1723) ser seu contemporiineo e conterraneo Teni sido proshy

vavelmente Leeuwenhoek 0 forneced or das lentes cuja adapta~ao a camara

obscura permitiu a sua portabilidade e melhor adapta~ao ao uso de Vermeer

wrnando-se no seculo seguinte 0 imprescind ivel lnstrumento por exempl0

de Francesco Guardi e de Giovanni Canal 0 Canaleto No mesmo sentido vai

a contribui~ao do historiador john Tagg que (numa linha laquobenjaminianaraquo)

afirma que laquo[ Ja verdadeira revolu~ao pict6rica se concretizou na facilidade

com que a semelhanp [ Jpassou a poder ser registada sistematicamente bull

com as implicac6es da mais diversa ordem desde cedo ocorrida na sistematica

elimina~ao pela polkia dos communards identificados a partir dos registos

fotograficos das barricadas da Comuna de Paris em 1871 ou ainda na utilizashy

~ao das tecnicas fotografics ao servi~o da reprodu~ao fraudulenta de valores fiduciarios como sucedeu entre nos no famoso caso dos irmaos Silveira7

A vinda esparsa de for6grafos a Portugal durante as primeiras decadas subsequentes a inven~ao da forografia pode justificar-se porque a pressao

exercida pela nova classe social elnergente embora se comecasse a fa zer senshy

tir ainda nao era tao acentuada como no resto da Europa Efectivamente a

burguesia portuguesa 56 se consolidou durante 0 periodo fontista jusrificamiddot

-se assirn a tardia instalacao em permanencia das primeiras casas fotognificas

quase na deeada de 1860 s6 tendo surg ido 11a decada de 1880 casas com dimenshy

sao verdadeiramente industrial cujo paradigma e a Cas a BieI contando em

[893 com 50 mil cliches no seu arquivo de retratos

Nao foi s6 no dominio do rerrato que essa pressQo social se foi fazendo senshy

rir desde muito eedo surgiranl fot6grafos que se dedicaram a temas diversos

do rerraro destacando-se 0 patrim6nio quer de urn ponto de vista cientifico

quer amador e turistico 0 primeiro fotografo paisagista em Portugal foi urn

amador Frederick Flower urn ingles sediado no Porto que ainda na decada

114 middot Scguindo as premissas enunciadas em Benjamin Walter Th ework ofart in theageofmechanical Tq1TOduaton v pdf a partir de httpwwwmarxistsorgreferencesubjectphilosophyworksge benjaminhtm 115middot TaggJonh WorkofArt Amherst University ofMassachusetts Press 1988 pp 56-59 acrescentando que esse registo sistematico concedeu ~ fotografia um papel-chave nas instituicoes burocraticas como a esquadra 0 manic6mio a escola e a prisao bull

116 AAVV Corbet ef la Commune La Commune photographii Paris RM N 2000

11 7 Baptista Paulo A Casa Bit e as swas edifoesfotogrdficas no Porlwgal de Oitocentos Dissertacao de mestrado em Hist6ria da Anc Lisboa FCS H da UN L 1994 p 22

1 J 2

A PAI SA G S M NA OSRA pOTO G RAplCA 0 CAS A BIpoundL

de 1850bull fotografou diversas vistas do Porto e seus arredores utilizando a caloshy

tipia j a na decada seguinte e publicada entre 1861 e 1863 a Revista Pittoresea

e Descripnva de Po rtugal sob direc~ao de joaquim Possid6nio Narciso da Silva

Eurn conjunto de fotografias e textos sobre 24 monumentos em Lisboa Sanshyta rem Porto Coimbra e Sintra e foi a primeira de llma serie de publicaC6es

como Monumentos Nacionais (de Henrique Nunes) Panorama Photographico de

Portugal (de diversos fotografos entre os quais Carlos Relvas) Album Lisbonense

(de Augusto Xavier Moreira) e album de fotografias de Lisboa (de AS Fonseshy

ca) para mencionar alguns exemplos em que era utilizada a lecnica de colar

as provas fotograficas em cartolina Alguns dos fotogrfos mais conceituados

embora seIn 0 recurso aedi cao tinham colecc6es proprias de vistas que coshy

mercializava m nos seus ateliers e nas mai s inlportantes livrarias e papelarias

do Porto e Lisboa Sao disso exemplos Francisco Rocchini e Augusto Bobone

A fototipia e urn processo no qual uma chapa coberta por uma camada

de gelatina bicromato e exposta a luz sob urn negtivo fotografico obtendoshy-se dessa forma uma matriz que perm ire realizar impressoes em papel Com

tintas gordas A ideia foi sugerida por Alphonse Louis Poitevin (1819-1882) em 1855 pOSlerionnente desenvolvida e divulgada a partir da decada de 1870 noshymeadamente por joseph Albert que aperfei oou 0 processo utilizando 0 vidro

como supoTte e a gelatina como base permirindo tiragens que podiam ir ate

duas mil provas por cada chapa sempre com meios tons de exceleme qualidashy

de 0 enorme sucesso com que esra tecnica foi recebida na Europa e Estados

Vnidos deveumiddotse sobrerudo ao facto de ser um dos processos que pelo recor

te e precisao da imagem mais aproximadamente se confunde com fotografia

gracas as cam ad as de gelatina e verniz e avantagem de permitir a utiJizaCao

de papel previamente impresso facilirando a inser~ao directa em volume

A sua introdu~ao em Portugal foi feita por Carlos Relvas que comprou 0 pro

cesso na Austria e generosamente deg cedeu depois a Outros fotografos entre as quais Emilio Bie

118 Joaquim Vieira laquoFrederick W Plower Urn fot6grafo calotipista em Portugal Co16qwio Arus N deg 46 SCtcmbro de J980 Llsboa Fundacao Calouste Gulbenkian

119 RNista Piuoresca e Descripriva de PortwgiJl com Vistas Photographicas direccao dejoaquim Possid6nio Narciso da Silva ed lmprensa Nacional Lisboa 1862 (albu m de 24 albuminas coladas em cartao provavelmeme de varios autores e publicado em fasdculos de 1862 a 63)

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PAULO IAPTISTA

Retomando a questiio da interac~iio entra a jovemraquo fotografia e as artes

academicas vermcoumiddotse que a fotografia se tornou em termos tecnicos uma

ferramenta a que passaram a reeorrer as pintores e as escultores como auxiliar

do seu trabalho Para 0 retrato a fotografia tinha a grande vanta gem de poder

em parte substituir 0 modelo Noutros generos veio a ser urn recurso utilishy

zado por muitos artistas como salientou 0 historiador de arte Aaron Scharf~ Em Fran~a muitos pintores recorreram ao auxllio da fotografia no seu trabashy

Iho Jean-Baptiste Camille Corot Jean-Fran~ois Millet Theodore Rousseau

Charles-Pran~oi s Daubigny mas foi em Inglaterra que uma das figuras tuteshy

lares da arte inglesa da segunda metade do sec XIX John Ruskin usou de

forma sistematica a fotografia como base dos seus desenhos entre 1841 e 1845

recorrendo a uma extensa colec~ao de daguerreotipos de edificios italianos de

Floren~a Pisa e Veneza Ruskin teorizou sobre as vantagens dessa util iza~iio na obra Praeterita embora mais tarde tambem tenha posta em causa a seu

valor A proximidade entre artes pl~sticas e fotogralia favoreceu natural mente

a adop~iio dos generos consagrados sobretudo na pintura pelos fotografos

A assimila~ao foi nalguns casos tao completa que chegou inclusivamentar a contemplar 0 academico genero h istorico cultivado pelo ex-pintor e fotografo

sueeo Oscar Gustav Rejla nder em particular com as suas recriac6es de cenas

biblicas Nessa medida iremos abordar a paisagem na obra da Casa Biel e em

particular n A Arte e a Natureza em Portugal considerando 0 genero da paisashy

gem numa perspectiva de epoea abrangendo vistas da natureza mas tambem

urbanas de ruinas ou ate alguns exemplos de costumes Voltando a actividade da Casa Biel importa mencionar que de facto 0

projecto de editar urn grande repertorio da arte portuguesa teve origem logo

na decada de 1880 quer pelas primeiras tentativas de ediciio quer pela sisteshy

matica divulga~iio de imagens atraves da revista 0 Occidente que se inicia em

1882 com a publica~iio de gravuras de Caetano Alberto da Silva a partir de

fotografias da Casa Biel incluindo vistas de alguns lugares do norte do pais e das novas vias de caminho de ferro que totalizaram mais de 100 fotografias

referendadas durante os 22 anos de edicao 0 Occidente (1877-1899) 0 Archivo

Pittoresco (1856-1868) e 0 Panorama (1837-1868) teriio sido os rna is importantes

1l0 Scharf Aaron Art and Pholography Allen Lane the Penguin Press Londres 1968 p 5lmiddot

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A PAI$AGIIW NA OBRA POTOCRAPI C A OA CASA BIBL

vekulos de divulgaiio iconognlfica que a grande tiragem das publicac6es pershy

mitia chegar a urn publico alargado

As primeiras publicacoes da Casa Biel e alguns projectos revelaram desde

logo aspectos muito importantes No inicio de 1881 0 projecto de urn grupo de

jovens membros do Club Nomada que realizou uma expediciio it Serra do Suashy

jo vai associar a Emilio Biel dois entusiastas da fotografia que vieram a ter granshy

de importancia no panorama fotognlfico portugues Ildefonso Correia (futuro

editor da revista A Am Photographica) e Jose Augusto da Cunha Moraes fot6grashy

fo angola no autor do album fotognlfico Africa Occidental Album Photographico e

Descriptivo da Africa Occidental impresso na casa Biel em 1885 e se tornou mais

tarde importante colaborador de Biel Infelizmente 0 album de titulo 0 Soajo

ter-se-a ficado pelo prospecto introdut6riou Logo no ano seguinte 0 album Exshy

posiftio Districtal de Aveiro em 1882 representa urn importante passo primeiro e0

inicio da longa colabora~ao entre Emilio Biel eJoaquim de Vasconcelos depois

representa uma resposta de ambos famosa polemic que opos Vasconcelos (e

outros como Ramalho Ortigiio) it comissao organizadora da Exposicao de Arte

Ornamental no palacio das Janelas Verdes quanto aos criterios de selec~iio das

pecas e it organizaciio da exposi~ao de cujo ll1xUOSO catalogo foi encarregado

Carlos Relvas Desde cedo Biel assume urn interven~1io civica com a publica ao

de Os Lusiadas mas logo em 1883 prop6e urn projecto com 0 titulo Portugal Antishy

go e Moderno em que siio esbo~adas algumas dos aspectos rnais importantes da futura Arte e Natureza 0 projecto Portugal Antigo e Moderno propunha-se divulshy

gar as monumentos e ou[ras obras de arte nacionais que seriam ilustradas com

800 fototipias (1) Para a sua concretiza ao desta obra Biel deslocou-se a Lisboa

solicitando 0 apoio do rei D Fernando II para a sua concretizaciio 0 projecto

nao teve continuidade editorial muito provavelmente por falta de apoios No

entanto sabemos que a recolha sistematica de vistas seg uia 0 seu curso como e

possive testemunhar atraves de 0 Occidente

fl1 Baptista Paulo A Casa Bit t as suas tdlfOts fOlografictls no Portugal dt OfIOCtnIOS Dissertaio de rncstrado em Hist6ria da Arte Lisboa PCSH da UNL 1994 p 119 121 Jose-Augusto Pran~a A ATtt em Porlugal no Siculo XIX II volp 7l

Il] A nolicia dena viagem foi pubJicada em 0 Primtiro dt jantiro 15deg Anno Ndeg 20 24 011188]

D Pernando II (1816-1886) rei consorte que favoreceu bastante os alemies residentes em Portugal nomeadamente Biel (cf EAStrasen e Alfredo Gandara Oito stcwlos de HiJt6ria Luso-Almd) embora no ferenda caso infeJizmente tal nao tenha sucedido

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PAU LO BAPTIST A

Dentro da organiza~ao da sua empresa urn aspecto que mereceu partishy

cular cuidado a Emilio Bie foi 0 seu COlPO tecnico Pela sua casa passaram

alguns dos mais importantes fotografos portugueses como Guilherme Boldt

Domingos Souto jose Carvalho jose Peres Constantino Guedes Domingos

Alvao de entre os que chegaram ao nossO conheci mento mas ha que destacar

Fernando Brutt e jose Augusto da Cunha Moraes verdadeiros pilares de A

Arte e a Natureza em Portugal e socios de Biel nesse empreendimento integranshy

do a sec~ao das industrias gridlcas (forografia fototipia e litografi a) que ele

criou para as grandes edi~oes Na viragem do seculo ira desencadearmiddotse todo urn rurbilhao de edioes de

1896 a 1902 a Casa Biel puhlicou algumas das mais importantes edi~oes produzidas

em Porrugal duas obras do Visconde Vilarinho de S Romao Viticultura e Viniculshy

turaU e 0 Minho e as suas Culturas Tambem publicou 0 catalogo da Exposifllo de

Arte Ontamental do Districta de Vianna em Agosto e Setembro de 1896 nova cola boramiddot

~ao corn joaquim de Vasconcelos e ainda dois dos albuns que iniciararn uma linha

editorial denominada Portugal os i1buns PortugalmiddotGerez de 1887 e POTlugal-Espinho

de 1898~ Nestas obras ja comeam a ser inseridas algumas das fototipias que tamshy

bern integra ram depois A Arre e a Natureza em Portugal revelando uma preocupa~ao

na ecanomia de meios imprescindive1 a realiza~oes dessa dim en sao No conjunro da obra da Casa Emilio Biel amp Cmiddot e pel a sua dimensao A Arte

e a Natureza em Portugal nao tera talvez a consistenda de autros trabalhos como

oDouro ou 0 lbum do Caminho de Ferro do Douro mas nunca podera deixar de

ser considerada a mais importante de toda a obra daquela casa editora na medida

em que representa urn projecto proprio com raizes antigas e uma conscienda

plena em termos esteticos e historiogrficos E0 primeiro projecto porrugues de

fOlego que assume 0 registo e divulga~ao de patrimonio traduzindo a consciencia

da necessidade de um levantamento do patrimonio ideia cuja actualidade se conmiddot

tinua a colocar de forma extrema mente premente como 0 atestam as mais recenshy

124 Visconde ViJlarinho de S RomiiO Vit icullura e Vinicutura TrasmiddotOs-Montes e Alto Douro Central

Lisboa Imprensa Nacional 1896 com n fototipias de 8kl 1

125 Visconde VilJarinho de S Romao Minhq(O) e as Suas Culturas Lisboa Imprensa Naciona 190 bull

com 39 forotipias de Siel 1l6 Catalogo da ExposiflIo de Artt Ornamental do Districto de Vianna em Agosto t Seumbro dt 1896 Viana do

Castelo Emilio Iliel amp C 1898 (com 61 phototypias da casa Biel) 121 Em ilio Biel Portugal -fupio Po rtO Emilio Biel amp Cmiddot 898

1 36

It PAISACBM N A OBRA POTOCRAPCA DA CASA BlBL

tes edioes Essa dimensao foi segura mente ttansposta para A Arlee a Natureza em

Portugal por joaquim de Vasconcelos e cabal mente aproveitada por um sensive

e erudito empresario Emilio Biel que teve capacidade para the dar prossecu~ao A preocupa ao de Biel com as questoes do patrimonio fez-se sentir amiude e e pOl isso que assistimos em 1897 ao urgente levantamento fotografico do Conshy

vento de S Bento da Ave Maria do Porto edificio que se enContrava na eminencia

de ruil 0 trabalho fotografico foi executado por Fernando Br(jtt ~

Em termos esteticos os lbuns dos Caminos de Ferro e em particular Caminhos de

Ferro do Douro representaram uma autentica ruptura na forogra fia portuguesa

do seculo XIX Grande parte das fotografias revelam uma abordagem fotograshy

fica totalmente nova quer pela profunda riqueza tonal que possuem testemushy

nho de um assinalvel dominio tecnico quer pelo enquadramento cenografico

e monumental da panoramica traduzindo toda a beleza rude e in6spita do vale

do Douro com 0 seu leito profundarnente cavado por entre vertentes abruptas

(om uma discreta presena humana que se revela insignificante perante a for~a

da natureza qu e agora uma nova mao humana procura dominar Euma noshy

tavel representa~ao das rela~5es entre natureza e tecnica cujos elementos esteshy

ticos contribuem de forma significativa para 0 conteudo documental que sera

talvez a mais cabal representaao do progresso jontista Essa perspcctiva era

totalmente nova na fotografia porruguesa da epoca e constiruira uma das linhas esteticas exploradas em A Arre e a Natureza em Portugal

Biel e os seus colaboradores tiveram estreitos contactos com os artistas da

primeira geraao naturalista Biel era socio do Ateneu Comercial do Porto tenshy

do chegado a coIaborar na ediao de muitos dos catalogos das exposi oes desse

importante centro anistico portuense entre 1887 e 1895 Nessa medida sao de

destacar os Contactos comjoao Marques de Oliveira j ulio Costa Antonio Teishy

xeira Lopes Ant6nio Ramalho Antonio Carvalho de Silva Pono jose julio de

Souza Pinto Henrique Pousao Alberto Nunes]oao Vaz jose Brito e principal

IU 0 Prlltleiro de Jannro 280 ano Ndeg 34 de 8611891 pl 0 Convento dOl Ave Maria _ trabalho fotogrUico

119 A inovaao estetica surge desde logo na comparaao com a evulgaridade re~titiva comparem-se COrn os albuns que Bobone umbem produziu para os Caminhos de Ferro nomeadamente 0 album do carn lnho de rerro dOl linha de Cascai s que se Iimita a apresemar um registo mecanico e destituidos de lInagmatao das enaOes daquela Iinha contrastando com os albuns de Biel

137

PAULO BAPTISTA

mente Antonio Soares dos Reis cujo album de homenagem apos a tragic morshy

te foi preparado e impresso na Casa Biel Certamente que 0 contacto com os

referidos artistas tera sido importante para a aproxima~ao ao gosto naturalista

Noutro sentido terao sido inumeras as oportunidades de contactar com a nova

fotografia que se come~ava a impor sobretudo em Inglaterra num movimento

que proeurava reivindicar para a fotografia urn lugar entre as artes 0 grande

numero de exposi~oes em que participou em Portugal e no estrangeiro pershy

mitiram urn contacto com a obra de muitos fotografos Sao de destacar dois

dos mais importantes fotografos do seu tempo Peter Henry Emerson e Henry

Peach Robinson que participaram na Exposi~ao Internacional de Fotografia

realizada no Porto em 1886 onde a Casa Biel teve ampla participa~ao como

expositor e 0 proprio Biel como jurado Joao Marques de Oliveira tambem parshy

ticipou como expositor e como jurado de fotografia

A discussao do gosto de Emilio Biel nao pode ignorar 0 forte apelo que sobre ele exerceu a natureza Biel foi floricultor horticultor avicultor lepidopterologo

e urn fervoroso apaixonado do Geres onde comprou uma propriedaderaquo para se

dedicar acria~ao de veados Levou a sua fascina~ao ao ponto de editar mesmo

urn album 0 ja referido Portugal-Gerez~ preparado ern 1887 para ser oferecido i

familia real portuguesa 0 gosto pelo naturalismo e pela paisagem era por isso

para Biel rnais do que mera atitude estetica urn modo de estar na vida A multiplicidade de facto res condi~oes e circunstmcias investiram em

Emllio Biel uma verdadeira responsabilidade para com a historia da fotografia

porruguesa - fazer naseer a mais importante edi~ao forografica portuguesa

Felizmente 0 luso-alemao nao enjeitou 0 desafio Na folha de rosto de A Arte e a Natureza em Portugal indica-nos que se trata de urn Album de photographias

com descrip~oes cliches originaes copias em phototipia inalteravel monushy

mentos obras de artet costumes paisagensraquo Mas como vamos poder ver 0

130 0 texto de HP Robinson -Do effeito artistico em photographia foi publicado em A Arlf

Ph oCographlca Vob Janeiro Mano Abril Maio Junho Agosto Setembro Ourubro e Novembro de 188pp16-2879_89 111-120 147154 178185 144-254 28)-187 199-)09 e)45-)52 131 c r 0 Prilrlnrodejatlriro 180 ano Ndeg 81 44 1886 p I 132 cr 0 Pnlrltlro dtjanriro 180 ano Ndeg 88 13 411886

IJJ S Tomas Moreira Emilio Biel urn alemao no Pono_ 0 Tripriro IX ano Ndeg 5 Maio de 1990 pmmiddot 134 Portugal_ G(rn POrtO Emilio Biel amp Ca 1900-1910 (a lbum de rototipias) 135 0 Primaro d fjanflro 190 ano N0 255 de 12 1011 887 p I A familia real no Norte_

138

A PAI S AGS N N A oa flA POTOG flA P ICA DA CA SA BUL

conjunto de paisagens representa nao s6 uma parte signjficativa em terrnos

nu mericos mas sobretudo 0 conjunto artisticarnenre rna is marcante

Eclaro que nao podemos entender A Arte e a Natureza em Portugal como

uma obra de autor muitas das forografias representam urn compromisso com

o seu programa da obra Muitas sao vistas de vilas e cidades de urn pais preshy

dominantemente rural Mafra Mon~ao Vila Vi~osa Lagos Amarante Cashy

minha Montalegre Chaves e as vistas com menos urbe de Valen~a Barcelos

Barroso Bragan~a e Amarante Nesta ultima vale a pena reparar na modern ishydade da composi~ao de assinalavel maturidade estetiea

Nestas imagens temos sempre urn fundo de ruralidade que domina numa

visao que de facro ainda tern muito de garretiano Pode mesmo eonsiderar-se

que as Viagens na Minha Terra representam urn ponto de partida a que Rashy

malho Orrigao aludiu earacterizando 0 tema da obra de Garrett da seguinte

fo rma laquo[ j Estas viagens sao indispensaveis no meio da lamentavel desmoshy

ralizaao em que nos dissolvemos para nos ensinarem a conhecer e a amar

a Pat ria pelo que nela eimortal ineorruptlvel e sagrado pelo doee aspecto

dos seus montes dos seus vales dos seus rios pelo sorriso melane6lieo mas

contente dos vinhedos dos oliva is dos SOutos das hortas e dos pomares pela tradiao vivida nos monumentos arquitect6nicos nas romarias nos cantos e

nas cantigas populares nas indusrrias caseiras nas alfaias agricolas nas ferrashy

mentas dos edificios rurais na configura~ao dos lares [ jraquo

Mas passemos das paisagens urbanas as paisagens rurais que representam

algumas das mais belas fotografi as da obra 0 apuro tecrueo e a informa~ao esteshy

tica voltam a revelar-se de forma especial na sensivel explora~ao das margens rishy

beirinhas e dos reflexos na agua excedendo 0 mero registo bucolico Encontramoshy

-005 num POnto de viragem da fotografia portuguesa porque estes registos aponshy

tam novas direC~6es esteticas claramente assumidas por Biel neles se tomando eVidente a compreensao das questoes que se coloeavam afotografia no final de oitocentos em particular a sua emancipaao como forma de arte

Urn dos principais paladinos da afirma~ao da fotografia como arte foi Peter Henry Emerson com quem como referimos Biel teve contacto na Exshy

136 Abordado de forma profunda por Maria Joao lello Ortigao de Olive ira _ 0 Ptluamtnto tstirico

de Ramalho Ortigdo Para ~ma estitica do natural- it irttrarios (paisagtnS de malnura lisboa F C S H - UNL 1988 III parte p 15

139

~

PAUlO BAPTISTA

posi~ao Internacional de Fotografia do Porto em 1886 e que se destacou por algumas das mais bel as imagens dos lagos da regiao leste inglesa de East Anshy

glia A produ~ao deste medico britanico nao se limitou asua marcante obra

fotog abrangendo tambem escritos embora dispersos por publica~oesrbull fica e cpistolas Come~ando por se assumir como urn fot6grafo naturalista veio

rnais tarde a rejeitar 0 naturalismo em fotografia para defender a autonomia da

nova arte teorizando sobre os aspectos da composi~ao e da sua especificidade

re1ativamente as Durras arres em particular apintura Ha muitos paralelos enmiddot

[te as obras fotogrficas de Peter Henry Emerson e de Biel quer no conj unro

de paisagens rurais quer naurTas temas que se salientam adiante

Uma das temticas da obra de Biel que possui uma carga romantica muito

acentuada e0 registo de ruinas No entanto Biel confece a estes registos uma

carga de dramatismo que ultrapassa de forma inequivoca 0 mero regisro docushy

mental As fotografias revelam-nos cuidadosas encenac6es em que as cuinas c os

monumentos sao descobertos de uma curva do rio como no Castelo de Almoushy

rol ou por detras de urn maci~o de vegeta~ao como na Batalha explorando 0

efeito da surpresa mais do que contemplarmos registos sentimo-nos a viajar

Estas forografias sao testemunho de uma profunda consciencia estetica elegenmiddot

do a composicao como elemento fundamental de uma forma nlarcadamente

moderna com urn inteligente enquadramento da arquitectura na natureza e

urn informado entendimento desta Talvez cjam estes os melhores exemplos das imagens que terao inspirado 0 titulo da obra A Arte e a Natureza em PortugaL

Neste conjunto de imagens Biel nao poderia deixar de dar destaque a DutrO urn

monumento a edificacao romantica por excelencia 0 Palacio da Pena homenamiddot

gem ao seu Rei COlnpatriota e patrono conferindo ao conjunto de imagens de

Sinrra captadas sob atmosfera densa uma simbologia especial As marinhas sao outra serie que se destaca nesta obra D e facto vamos

pouco a pouco percorrendo na fotografia os generos que fora m herd ados da

pinrura naturalis ta 0 conjunto de irnagens da ria de Aveiro e urn novO tesmiddot

temunho da modernidade desta obra Aqui se voltam a destacar 0 dominiO dos elementos da luz da agua e dos reflexos que nos levam a regressar aD

137 A imponancia da atmosfera na arte fotogrifica ~ abordada por Weaver Mike Th~ PhOlOgntpkiCArt

NY Harper amp Row 1986 pp 46-51

A PAISACBM 11 Oap POTO(RAFICA DA CASA B1BL

paralelo com a obra de Peter Henry Emersonja que grande parte da sua obra

e ma rcada por esses elementos Se Ie certo que 0 caracter artistico da obra de

Emerson emais acentuado por for~a do recurso agrande amplitude tonal e

ao grao tao caracteristicos da fotogravura processo tecnico que elegeu para a

sua expressao artistlca e que domina com mestria No entanto nas fototipias

da ria de Aveiro Biel atingiu 0 melhor apuro tecnico e mesmo sem 0 efeito

do grao a for~a das imagens nao fi ca aquem da de Emerson feliz contra ponto da luz mediterranica filtrada pel ligeira nortada adensa neblina de Norfolk

Esse apuro tecnico deixamiddotnos sentir nestas imagens 0 prenuncio de uma tenmiddot

dell cia pictorialista que tambem e perceptivel noutras series desta obra como

nas imagens dedicadas aserra da Estrela e ao Mondego

A uriliza~ao do termo pictorialista no contexto da obra de Biel nao preshy

tende natural mente associamiddotlo 30 movimento anistico pictorialista que nas

duas primeiras decadas do seculo XX marcou a cenas anisticas novamiddotiorquina

e londrina em que Alfred Stieglitz assumiu papel de destaque divulgando

em Nova Iorque algu ns dos mais destacados artistas europeus entre os quais

Amadeo de Souza-Cardoso Noutro senti do 0 pictorialismo na obra de Biel

deve entendermiddotse na acep~ao mais lata do termo pel a preocupa~ao de transshymitir nas fotografi as uma ambiencia expressar urn sentimento afastando middotse

dessa forma das preocupa~oes estritamente docu mentais que caracterizam 0

grosso das imagens de a A Arte e a Natureza em Portugal e a quase totalidade da

fotografia portuguesa desse periodo Ests excep~6es tern por isso uma partishy

cular importancia para esc1arecer de forma inequ ivoca a sua modernidade

As forotipias da serra da Estrela retomam a visao monumental reve1ada nos

lbuns dos Caminhos de Ferro aqui acentuando 0 carcter inospito da paisagem

e a impotencia do Homem perante a for~a da Natureza 0 exemplo mais punshy

gente dessa dicotomia mais ainda do que na forca das cascaras surgemiddotnos com

a fotografia da Lagoa Escura gelada em que a presen~a humana insignificante

quase s6 se fa z sentir pela ponrua~ao das sombras projectadas na imensa superfishy

tie branca da lagoa gelada num bela efeito grafico de acemuada modernidade so

passivel pelo espeCial apuro tecnico que a fotogcifia de neve e gelD em montanha

exige Mas essa modernidade acenrua-sc nao s6 pelas imagens em si seja esta

Elisa dificuldade tern plena expressao no fraco album de Emygdio Navarro Quatro Dlas na amprra

14114 0

PAULO BAPTISTA

seja a ja mencianada vista de Amarante mas sabretuda pela ausadia de as incluir

na abra amerce da aprecia~aa de urn publica pouca canhecedor e nessa persshy

pectiva assuminda urna pasiaa estetica e palitica de maiar empenha e risco

Pademas criticar a A Arte e a Natureza em Portugal par alguma heterageneidashy

de Ela deve-se naturalmente asua langa genese e a urn pragrama sucessivamente

adaptada as circunstancias que acabaram par permitir a sua cancretiza~aa mas

tera sabretuda a ver cam a diversa autoria das registas fatograficos Sabemas de

antemaa que as principais respansaveis pela realizaaa tecnica das fatagrafias

faram Cunha Maraes e F Brtitt Ambas teraa colabarada cam muitas fatagrafias

mas se cansiderarmas que Brtitt era urn pilar da estudia e da secaa de preparashy

aa e retoque das chapas de impressaa tera deixada certamente parte significashy

tiva da fuse final da abra para Cunha Maraes ja durante a publicaaa em que era necessario satisfazer 0 compromisso mensal de fazer chegar aos assinantes os

numeras que lbes eram devidas_ Pademas assirn delinir dais grandes conjuntas

de fatogralias a narte da pais e parte da centra teraa sida da respansabi lidade

de BrUtt em particular as fatagralias que ja pertenciam acalecaa da Casa Biel

enquanta toda a suI da pais e a regiaa de Lisbaa teraa sida da responsabilidade

de Cunha Maraes cuja contribuiaa para a abra tera sida decisiva na fuse final da recalha particularmeote na regiaa de Lisbaa na Alenteja e na Algarve Algushy

mas dessas sequencias revelam-nas a cansistencia da trabalha de Cunha Maraes

e a qualidade que ja se lbe canhecia em trabalbas anteriares testemunha da

trabalha de urn das melbares fat6grafas da seu tempa_ Datada de particular

sensibilidade cam urn gasta muita acentuada pela pequena detalhe assimila

com particular facilidade as pressupostas e abjectivas da abra A qualidade das fatagralias de Cunha Maraes revela-se na generalidade

dos registos embora nalguns casos possa ser excepcional assinale-se a paisashy

gem de Manchique cujas varia6es tanais de extrema suavidade saa a prava

da sua sensibilidade Pa r alinidade evidente atribuir-lhe-emas a autoria de aushy

tras paisagens que aqui se incluem e refonam a consistencia do seu trabalho

A serenidade da seu trabalha de regista esta na p6la apasto da dramatismo

da Enrdln Notas dt 11m passrio Porto livraria Civiliza~ao 1884 com fototipias impressa ~Ia Fotografia

Mod~ma de IIdtfonso Correia de cuja falta de qualidade 0 autor A Cesar Henriques se oenaliza

referindo 0 facto de as leT cedido a muira cuStO por serem da sua co lec~ao panicular 139 CfO Primriro dtJartnro 3]deg anD Ndeg 165 de 13711901 pl eidem 35deg ano Ndeg 30a de JJ i12 rrJ)j pl

42

A PAJ$AGBM NA OBRA FOTOGRAplCA OA CASA IIIEL

das paisagens da Daura segura mente da respansabilidade de Biel e BrUtt

Mas para sermas justas cam BrUtt naa nas pademas esquecer de que sabre ele

pesava a encarga da processa fatitipica e nessa medida signilicativa parcel a de respansabilidade sabre a impressaa de tada a abra Ou seja as pravas das

fatagralias de Cunha Marais faram impressas sab a superintendencia de Brutt

e nessa medida saa tambem de sua autoria a que nas mastra que de facta s6

uma grande cumplicidade tecnica e estetica entre estas tres figuras cimeiras da fatogralia partuguesa passibilitau a feliz desfecha da abra

A serie de fatagrafias da Mandega e das rna is belas de tada a abra expresshysanda urn naturalismo ja presente nalgumas vistas de 0 Minho e as suas Cultushy

ras mas que aqui se assume em grande plenitude_ Destaca-se a laquoPaisa gem na choupah) cujo tratamento particularmente suave do contra-luz atinge urn exshy

traordinario apuro tecnico porque nao escurece 0 primeiro plano e em que

pademas abservar a cena buc6lica de uma javem malhanda a pe numa paa

de agua estariamos perante uma cena de genera encenada nao fossem os ga_

rotos que brincarn mais arras deixarem-nos a ideia de se tratar de uma situacao

espontanea_ A suavidade da prova e a sua subtil riqueza tanal valtam a provar

a grande apuro tecnico na manipulaaa das fatotipias atingida pela Casa Biel e

a passibilidade de adequar esse processa tecnica a diversas situa6es esteticas

Muita mais da que mera virtuasismo fatografico csta abra desvenda-nas a asshy

sumpaa de urn estila pr6pria bern definida que subjaz a tada a abra mas se tarna rna is evidente em pantua6es diversas cama n As Margens do rio Nabiio

em 0 rio Cris Martagua n As Portas de Rodam au em Ponte dosJuncaes sobre 0 rio Mondego_ Saa paisagens intimistas mamentas de fruiaa particular que trans

formam a pr6pria carleter manumental da obra canferinda-lhe uma leveza e

uma madernidade unicas que pertnitem cansidera-la 0 prirneiro grande ensaio

de fotagrafia de paisagem partuguesa Embara naa se conhea nenhum escrita

que passa fundamentar as ap6es esteticas de Biel naa restam quaisquer duvishydas sobre elas porque a acampaobar a ediaa de A Arte e a Natureza em Portugal

as assinames recebiam brindes especiais fatotipias de grande farmata algumas

impressas a partir de imagens que canstavam do corpa da abra e autras ineditas

~ 40 Tecnicamente e bastante dincil conseguir a sugestao de ceu que Fernand Brutt 0 esptcialista de IfTlpresdo da Casa Biel conseguiu na zona critica do contramiddotluz para 0 que Ur1l mascarado todo 0 TeSta e t ill seguida laquoqu6rnadoraquo toda ena zona para guantir a legihilidade do primeiro plano sem davarraquo 0 ceu

143

P

PA U LO BAPTI STA

Estas fotografias tern urn significado especial porque nao estavam vinculadas

ao programa da obra e nessa medida representam a mais livre escolha de Biel

Identmcanda a seu gasto mais intimo integram-se na serie de paisagens intimisshy

tas incluindo a Paisagem no Choupal e Aldeia no Minho (Serradella)

Mesmo depois do desaparecimento de Biel a sua obra nunca deixou de

representar uma das principais referencias para a ilustra~ao fotografica ponushy

guesa e a sua qualidade e impordncia marcou a fotografia nacional em parshy

ticular as edi~6es de Marques de Abreu e a obra de Domingos Alvao que foi por urn lado 0 sucessor directo de Biel como forografo do Douro explorando

a riqueza plastica daquela regiao com uma obra de grande pujan~a por ourro cultar da fotografia de costumes numa vertente assumidamente pictorialista

na serie a que curiosamente chamaram laquoas suas pupilasraquomiddot

A Arte e a Natureza em Portugal e todo 0 conjunto da obra de Emilio Biel

surge-nos como urn marco de especial impon ancia para a fotografia portushy

guesa para a historiografia da arte portuguesa e para a ilustra~ao fotogra fica

representando ainda urn dos mais importantes repertorios iconograficos do seculo XIX e inkio do seculo XX Obra (mica e de plena actualidade ja deveshy

ria ter merecido 0 reconhecimento e a divulgarao com que nao pode contar

penalizada pela incipiencia do meio cultural e artistico portugues que apesar

da sua imporrancia sem inal nao conseguiu ai nda entender a modernidade

que Ihe esra subjacente e a excluiu sistematica mente da visibilidade de que

beneficiou algum fotografia porrugues nos anos mais recemes

A Pd SAGE M NA OBRA FO T OGRAFICA DA CASA BIEL

141 v VidraJoaqum -0 Fot6grafo Alvao e as suas Pupilas Coequi D-Mus N 51 Dezembro de 1981 pp 42a 49

14 4 145

PAULO JAPTISTA

il funda~ao das Academias de Belas Artes e talvez por isso alguns dos prishymeiros fotografos foram recebidos como artistas 0 que nalguns casos seria legitimo porque a invenao da fotografia deveu bastante a pintores de parco talento como Louis Daguerre ou David Octavius Hill cujo menor desempeshynho pictorico tera sido importante estimulo para que atraves das inova~oes fotograficas pudessem dar resposta satisfatoria as encomendas dos seus clienshytes Alias Hill que chegou a ser a secreta rio da Academia Escocesa de Pintura tera sido 0 primeiro recordista da fotografia ao representar num so painel as

457 membros da recem-criada Igreja LIvre Escocesa A propria imprensa recebia as primeiros fotografos com jubilo e urn dos

mais significativos exemplos disso e 0 artigo que 0 destacado escritor e jomashylista Antonio Feliciano de Castilho (1800-1875) colaborador do Panorama e da Revista Universal Lisbonense publicou nesta ultima em 1845 descrevendo a sua

primeira ida ao fotografou

Escreve Castilho [ ] Em seis retratos meos que tenho mandado fazer par diversos artistas para dar aminha noiva uns em miniatura outros em claro escuro outros a oleo tenho sido ate hoje tao feliz que se ella tivesse a indiscrishyao de os mostrar daria a mais horrorosa idea da sua constancia julgal-a-hiam namorada de seis pessoas differentes inclusivamente de meu avo e d outrO

individuo que podera vir a ser meu neto ainda antes de eu ser caducaraquo Euma pe~a cheia de humor critica mordaz ao traballio dos miniaturistas

mas tambem expressao de uma tendenda social que se acentuava ao longo

do seculo XIX no sentido da democratizaao do acesso as artes com 0 aparemiddot cimento dos primeiros saloes e promo~ao de belas artes e publica~oes artistishy

cas entre outras desde meados do seculo Esta proposta de analise foi pela

primeira vez apontada pdo critico de arte de origem checa Heinrich Schwarz que em 1931bull publicou a primeira monografia sobre a obra de urn fotografo precisamente sabre David Octavius Hill em que nos diz lt[JA inven~ao da fotografia [em 1839] e [ ] tudo menos espontanea ao inves e 0 produto de exishygencias e de tendencias ja expressas ha seculos [encontrando paraldo na de Gushy

6109 Newhall Beaumont Tht History ofPkolography The Museum of Modern Art NY 1982 pp 4 48

o 110 RtVua UttiWrsal Lisbontttst vol 1844-45 p329 Ref de A S Carvalho Comtntoral=o(S do Ctnftnari da Foograjia separata das t Mem6rias da Academia das Ciendas de Lisboa (Torno III) USboa 194deg

transcrevendo urn ucerto curtO que nao expressa toda a riqueza do textO

13 0

A PAI SAGB M NA O IR A IOTOGRAflCA VA CASA BISL

tenbergJ e a concretizarao de tens6es eticas e artisticas sendo determinada

pelas forra s historicas No concreto a invenrao surge como 0 fruto de uma

mudan~a da ordem social e de uma nova atitude estetica baseada no assunshy

to cientifico do homem em confronto com 0 proprio ambiente Representa ao tempo 0 sintoma e a causa de uma nova perspectiva do mundo visivel

E a expressao de uma perspectiva de fundar a invenao dos novos meios exshypressivos na sua propria urgencia social de considera-Ios como urn sintorna

das transformaoes de orienta~ao emotiva de toda uma sociedade A afirmaao da burguesia no inicio do seculo XIX abre caminho ao desejo de expressao da agita~ao e tensao atraves de uma forma artistica diferente a fotografia Novos model os de representarao novas formas expressivas imp6em-se substituinshy

do as antigas inadequadas arenovada procura cultural e econ6mica [ ]raquo11

o impacto do advento da fotografia nas outras artes foi profundo A possibilidade tecoica de reproduzir a real permitiu a subita libertaao dos derradeiros tra~os da tradi~ao pict6rica barroca e c1assicista Alias a obsesshysaoraquo com 0 realismo marcou profundamente a pintura desde 0 Renascimenshy

to Desse ponto de vista dever-se-a dar a necessaria atencao aanalise que 0

pintar David Hockney fez a varios efeitos opticos na pintura de Johannes Vermeer que foi depois aprofundada e sistematizada pelo arqnitecto Philip Steadman abrangendo toda a obra do pintor de Delft nome ada mente com a reconstitu irao aescala do atelier de Vermeer Steadman fotografou varias cenas recriando as composir6es de Vermeer para pravar de forma quase ineshy

quivoca que ele recorreu acamara obscura Poder-se-a desta forma abrir urn

novo capitulo nas origens da fotografi a do grego ltgt010 YPCX4gtocr (jato graphos) escrita representaflio da luz

E interessante constatar que como afirma Schwarz as novas perspecshy

tivas do mundo visivel sao determinantes para a mudan~a de atitude esteshytica Relativamente a Vermeer deve ser dado significado a coincidencia de

o naturalista pioneiro da microscopia e investigador da optica Anton van

Ill V Schwarz Heinrich MIt( Fotograjia Thrim Bolati Boringhieri 1992 p 9

Ill Hockney David Stert Knowltdgt Rediscovering tnt Lost Ttdlniluef of the Old MaJurJ Thames amp Hudson New York 2001

113 Steadman Philip Vtrmraj Canttrti Uncovering Iht Than Bthind [fIr Mastcrpitcts Oxford University PrCM lOOI

1 3 1

PAUlO BAPTISTA

Leeuwenhoek (1632-1723) ser seu contemporiineo e conterraneo Teni sido proshy

vavelmente Leeuwenhoek 0 forneced or das lentes cuja adapta~ao a camara

obscura permitiu a sua portabilidade e melhor adapta~ao ao uso de Vermeer

wrnando-se no seculo seguinte 0 imprescind ivel lnstrumento por exempl0

de Francesco Guardi e de Giovanni Canal 0 Canaleto No mesmo sentido vai

a contribui~ao do historiador john Tagg que (numa linha laquobenjaminianaraquo)

afirma que laquo[ Ja verdadeira revolu~ao pict6rica se concretizou na facilidade

com que a semelhanp [ Jpassou a poder ser registada sistematicamente bull

com as implicac6es da mais diversa ordem desde cedo ocorrida na sistematica

elimina~ao pela polkia dos communards identificados a partir dos registos

fotograficos das barricadas da Comuna de Paris em 1871 ou ainda na utilizashy

~ao das tecnicas fotografics ao servi~o da reprodu~ao fraudulenta de valores fiduciarios como sucedeu entre nos no famoso caso dos irmaos Silveira7

A vinda esparsa de for6grafos a Portugal durante as primeiras decadas subsequentes a inven~ao da forografia pode justificar-se porque a pressao

exercida pela nova classe social elnergente embora se comecasse a fa zer senshy

tir ainda nao era tao acentuada como no resto da Europa Efectivamente a

burguesia portuguesa 56 se consolidou durante 0 periodo fontista jusrificamiddot

-se assirn a tardia instalacao em permanencia das primeiras casas fotognificas

quase na deeada de 1860 s6 tendo surg ido 11a decada de 1880 casas com dimenshy

sao verdadeiramente industrial cujo paradigma e a Cas a BieI contando em

[893 com 50 mil cliches no seu arquivo de retratos

Nao foi s6 no dominio do rerrato que essa pressQo social se foi fazendo senshy

rir desde muito eedo surgiranl fot6grafos que se dedicaram a temas diversos

do rerraro destacando-se 0 patrim6nio quer de urn ponto de vista cientifico

quer amador e turistico 0 primeiro fotografo paisagista em Portugal foi urn

amador Frederick Flower urn ingles sediado no Porto que ainda na decada

114 middot Scguindo as premissas enunciadas em Benjamin Walter Th ework ofart in theageofmechanical Tq1TOduaton v pdf a partir de httpwwwmarxistsorgreferencesubjectphilosophyworksge benjaminhtm 115middot TaggJonh WorkofArt Amherst University ofMassachusetts Press 1988 pp 56-59 acrescentando que esse registo sistematico concedeu ~ fotografia um papel-chave nas instituicoes burocraticas como a esquadra 0 manic6mio a escola e a prisao bull

116 AAVV Corbet ef la Commune La Commune photographii Paris RM N 2000

11 7 Baptista Paulo A Casa Bit e as swas edifoesfotogrdficas no Porlwgal de Oitocentos Dissertacao de mestrado em Hist6ria da Anc Lisboa FCS H da UN L 1994 p 22

1 J 2

A PAI SA G S M NA OSRA pOTO G RAplCA 0 CAS A BIpoundL

de 1850bull fotografou diversas vistas do Porto e seus arredores utilizando a caloshy

tipia j a na decada seguinte e publicada entre 1861 e 1863 a Revista Pittoresea

e Descripnva de Po rtugal sob direc~ao de joaquim Possid6nio Narciso da Silva

Eurn conjunto de fotografias e textos sobre 24 monumentos em Lisboa Sanshyta rem Porto Coimbra e Sintra e foi a primeira de llma serie de publicaC6es

como Monumentos Nacionais (de Henrique Nunes) Panorama Photographico de

Portugal (de diversos fotografos entre os quais Carlos Relvas) Album Lisbonense

(de Augusto Xavier Moreira) e album de fotografias de Lisboa (de AS Fonseshy

ca) para mencionar alguns exemplos em que era utilizada a lecnica de colar

as provas fotograficas em cartolina Alguns dos fotogrfos mais conceituados

embora seIn 0 recurso aedi cao tinham colecc6es proprias de vistas que coshy

mercializava m nos seus ateliers e nas mai s inlportantes livrarias e papelarias

do Porto e Lisboa Sao disso exemplos Francisco Rocchini e Augusto Bobone

A fototipia e urn processo no qual uma chapa coberta por uma camada

de gelatina bicromato e exposta a luz sob urn negtivo fotografico obtendoshy-se dessa forma uma matriz que perm ire realizar impressoes em papel Com

tintas gordas A ideia foi sugerida por Alphonse Louis Poitevin (1819-1882) em 1855 pOSlerionnente desenvolvida e divulgada a partir da decada de 1870 noshymeadamente por joseph Albert que aperfei oou 0 processo utilizando 0 vidro

como supoTte e a gelatina como base permirindo tiragens que podiam ir ate

duas mil provas por cada chapa sempre com meios tons de exceleme qualidashy

de 0 enorme sucesso com que esra tecnica foi recebida na Europa e Estados

Vnidos deveumiddotse sobrerudo ao facto de ser um dos processos que pelo recor

te e precisao da imagem mais aproximadamente se confunde com fotografia

gracas as cam ad as de gelatina e verniz e avantagem de permitir a utiJizaCao

de papel previamente impresso facilirando a inser~ao directa em volume

A sua introdu~ao em Portugal foi feita por Carlos Relvas que comprou 0 pro

cesso na Austria e generosamente deg cedeu depois a Outros fotografos entre as quais Emilio Bie

118 Joaquim Vieira laquoFrederick W Plower Urn fot6grafo calotipista em Portugal Co16qwio Arus N deg 46 SCtcmbro de J980 Llsboa Fundacao Calouste Gulbenkian

119 RNista Piuoresca e Descripriva de PortwgiJl com Vistas Photographicas direccao dejoaquim Possid6nio Narciso da Silva ed lmprensa Nacional Lisboa 1862 (albu m de 24 albuminas coladas em cartao provavelmeme de varios autores e publicado em fasdculos de 1862 a 63)

133

PAULO IAPTISTA

Retomando a questiio da interac~iio entra a jovemraquo fotografia e as artes

academicas vermcoumiddotse que a fotografia se tornou em termos tecnicos uma

ferramenta a que passaram a reeorrer as pintores e as escultores como auxiliar

do seu trabalho Para 0 retrato a fotografia tinha a grande vanta gem de poder

em parte substituir 0 modelo Noutros generos veio a ser urn recurso utilishy

zado por muitos artistas como salientou 0 historiador de arte Aaron Scharf~ Em Fran~a muitos pintores recorreram ao auxllio da fotografia no seu trabashy

Iho Jean-Baptiste Camille Corot Jean-Fran~ois Millet Theodore Rousseau

Charles-Pran~oi s Daubigny mas foi em Inglaterra que uma das figuras tuteshy

lares da arte inglesa da segunda metade do sec XIX John Ruskin usou de

forma sistematica a fotografia como base dos seus desenhos entre 1841 e 1845

recorrendo a uma extensa colec~ao de daguerreotipos de edificios italianos de

Floren~a Pisa e Veneza Ruskin teorizou sobre as vantagens dessa util iza~iio na obra Praeterita embora mais tarde tambem tenha posta em causa a seu

valor A proximidade entre artes pl~sticas e fotogralia favoreceu natural mente

a adop~iio dos generos consagrados sobretudo na pintura pelos fotografos

A assimila~ao foi nalguns casos tao completa que chegou inclusivamentar a contemplar 0 academico genero h istorico cultivado pelo ex-pintor e fotografo

sueeo Oscar Gustav Rejla nder em particular com as suas recriac6es de cenas

biblicas Nessa medida iremos abordar a paisagem na obra da Casa Biel e em

particular n A Arte e a Natureza em Portugal considerando 0 genero da paisashy

gem numa perspectiva de epoea abrangendo vistas da natureza mas tambem

urbanas de ruinas ou ate alguns exemplos de costumes Voltando a actividade da Casa Biel importa mencionar que de facto 0

projecto de editar urn grande repertorio da arte portuguesa teve origem logo

na decada de 1880 quer pelas primeiras tentativas de ediciio quer pela sisteshy

matica divulga~iio de imagens atraves da revista 0 Occidente que se inicia em

1882 com a publica~iio de gravuras de Caetano Alberto da Silva a partir de

fotografias da Casa Biel incluindo vistas de alguns lugares do norte do pais e das novas vias de caminho de ferro que totalizaram mais de 100 fotografias

referendadas durante os 22 anos de edicao 0 Occidente (1877-1899) 0 Archivo

Pittoresco (1856-1868) e 0 Panorama (1837-1868) teriio sido os rna is importantes

1l0 Scharf Aaron Art and Pholography Allen Lane the Penguin Press Londres 1968 p 5lmiddot

134

A PAI$AGIIW NA OBRA POTOCRAPI C A OA CASA BIBL

vekulos de divulgaiio iconognlfica que a grande tiragem das publicac6es pershy

mitia chegar a urn publico alargado

As primeiras publicacoes da Casa Biel e alguns projectos revelaram desde

logo aspectos muito importantes No inicio de 1881 0 projecto de urn grupo de

jovens membros do Club Nomada que realizou uma expediciio it Serra do Suashy

jo vai associar a Emilio Biel dois entusiastas da fotografia que vieram a ter granshy

de importancia no panorama fotognlfico portugues Ildefonso Correia (futuro

editor da revista A Am Photographica) e Jose Augusto da Cunha Moraes fot6grashy

fo angola no autor do album fotognlfico Africa Occidental Album Photographico e

Descriptivo da Africa Occidental impresso na casa Biel em 1885 e se tornou mais

tarde importante colaborador de Biel Infelizmente 0 album de titulo 0 Soajo

ter-se-a ficado pelo prospecto introdut6riou Logo no ano seguinte 0 album Exshy

posiftio Districtal de Aveiro em 1882 representa urn importante passo primeiro e0

inicio da longa colabora~ao entre Emilio Biel eJoaquim de Vasconcelos depois

representa uma resposta de ambos famosa polemic que opos Vasconcelos (e

outros como Ramalho Ortigiio) it comissao organizadora da Exposicao de Arte

Ornamental no palacio das Janelas Verdes quanto aos criterios de selec~iio das

pecas e it organizaciio da exposi~ao de cujo ll1xUOSO catalogo foi encarregado

Carlos Relvas Desde cedo Biel assume urn interven~1io civica com a publica ao

de Os Lusiadas mas logo em 1883 prop6e urn projecto com 0 titulo Portugal Antishy

go e Moderno em que siio esbo~adas algumas dos aspectos rnais importantes da futura Arte e Natureza 0 projecto Portugal Antigo e Moderno propunha-se divulshy

gar as monumentos e ou[ras obras de arte nacionais que seriam ilustradas com

800 fototipias (1) Para a sua concretiza ao desta obra Biel deslocou-se a Lisboa

solicitando 0 apoio do rei D Fernando II para a sua concretizaciio 0 projecto

nao teve continuidade editorial muito provavelmente por falta de apoios No

entanto sabemos que a recolha sistematica de vistas seg uia 0 seu curso como e

possive testemunhar atraves de 0 Occidente

fl1 Baptista Paulo A Casa Bit t as suas tdlfOts fOlografictls no Portugal dt OfIOCtnIOS Dissertaio de rncstrado em Hist6ria da Arte Lisboa PCSH da UNL 1994 p 119 121 Jose-Augusto Pran~a A ATtt em Porlugal no Siculo XIX II volp 7l

Il] A nolicia dena viagem foi pubJicada em 0 Primtiro dt jantiro 15deg Anno Ndeg 20 24 011188]

D Pernando II (1816-1886) rei consorte que favoreceu bastante os alemies residentes em Portugal nomeadamente Biel (cf EAStrasen e Alfredo Gandara Oito stcwlos de HiJt6ria Luso-Almd) embora no ferenda caso infeJizmente tal nao tenha sucedido

135

PAU LO BAPTIST A

Dentro da organiza~ao da sua empresa urn aspecto que mereceu partishy

cular cuidado a Emilio Bie foi 0 seu COlPO tecnico Pela sua casa passaram

alguns dos mais importantes fotografos portugueses como Guilherme Boldt

Domingos Souto jose Carvalho jose Peres Constantino Guedes Domingos

Alvao de entre os que chegaram ao nossO conheci mento mas ha que destacar

Fernando Brutt e jose Augusto da Cunha Moraes verdadeiros pilares de A

Arte e a Natureza em Portugal e socios de Biel nesse empreendimento integranshy

do a sec~ao das industrias gridlcas (forografia fototipia e litografi a) que ele

criou para as grandes edi~oes Na viragem do seculo ira desencadearmiddotse todo urn rurbilhao de edioes de

1896 a 1902 a Casa Biel puhlicou algumas das mais importantes edi~oes produzidas

em Porrugal duas obras do Visconde Vilarinho de S Romao Viticultura e Viniculshy

turaU e 0 Minho e as suas Culturas Tambem publicou 0 catalogo da Exposifllo de

Arte Ontamental do Districta de Vianna em Agosto e Setembro de 1896 nova cola boramiddot

~ao corn joaquim de Vasconcelos e ainda dois dos albuns que iniciararn uma linha

editorial denominada Portugal os i1buns PortugalmiddotGerez de 1887 e POTlugal-Espinho

de 1898~ Nestas obras ja comeam a ser inseridas algumas das fototipias que tamshy

bern integra ram depois A Arre e a Natureza em Portugal revelando uma preocupa~ao

na ecanomia de meios imprescindive1 a realiza~oes dessa dim en sao No conjunro da obra da Casa Emilio Biel amp Cmiddot e pel a sua dimensao A Arte

e a Natureza em Portugal nao tera talvez a consistenda de autros trabalhos como

oDouro ou 0 lbum do Caminho de Ferro do Douro mas nunca podera deixar de

ser considerada a mais importante de toda a obra daquela casa editora na medida

em que representa urn projecto proprio com raizes antigas e uma conscienda

plena em termos esteticos e historiogrficos E0 primeiro projecto porrugues de

fOlego que assume 0 registo e divulga~ao de patrimonio traduzindo a consciencia

da necessidade de um levantamento do patrimonio ideia cuja actualidade se conmiddot

tinua a colocar de forma extrema mente premente como 0 atestam as mais recenshy

124 Visconde ViJlarinho de S RomiiO Vit icullura e Vinicutura TrasmiddotOs-Montes e Alto Douro Central

Lisboa Imprensa Nacional 1896 com n fototipias de 8kl 1

125 Visconde VilJarinho de S Romao Minhq(O) e as Suas Culturas Lisboa Imprensa Naciona 190 bull

com 39 forotipias de Siel 1l6 Catalogo da ExposiflIo de Artt Ornamental do Districto de Vianna em Agosto t Seumbro dt 1896 Viana do

Castelo Emilio Iliel amp C 1898 (com 61 phototypias da casa Biel) 121 Em ilio Biel Portugal -fupio Po rtO Emilio Biel amp Cmiddot 898

1 36

It PAISACBM N A OBRA POTOCRAPCA DA CASA BlBL

tes edioes Essa dimensao foi segura mente ttansposta para A Arlee a Natureza em

Portugal por joaquim de Vasconcelos e cabal mente aproveitada por um sensive

e erudito empresario Emilio Biel que teve capacidade para the dar prossecu~ao A preocupa ao de Biel com as questoes do patrimonio fez-se sentir amiude e e pOl isso que assistimos em 1897 ao urgente levantamento fotografico do Conshy

vento de S Bento da Ave Maria do Porto edificio que se enContrava na eminencia

de ruil 0 trabalho fotografico foi executado por Fernando Br(jtt ~

Em termos esteticos os lbuns dos Caminos de Ferro e em particular Caminhos de

Ferro do Douro representaram uma autentica ruptura na forogra fia portuguesa

do seculo XIX Grande parte das fotografias revelam uma abordagem fotograshy

fica totalmente nova quer pela profunda riqueza tonal que possuem testemushy

nho de um assinalvel dominio tecnico quer pelo enquadramento cenografico

e monumental da panoramica traduzindo toda a beleza rude e in6spita do vale

do Douro com 0 seu leito profundarnente cavado por entre vertentes abruptas

(om uma discreta presena humana que se revela insignificante perante a for~a

da natureza qu e agora uma nova mao humana procura dominar Euma noshy

tavel representa~ao das rela~5es entre natureza e tecnica cujos elementos esteshy

ticos contribuem de forma significativa para 0 conteudo documental que sera

talvez a mais cabal representaao do progresso jontista Essa perspcctiva era

totalmente nova na fotografia porruguesa da epoca e constiruira uma das linhas esteticas exploradas em A Arre e a Natureza em Portugal

Biel e os seus colaboradores tiveram estreitos contactos com os artistas da

primeira geraao naturalista Biel era socio do Ateneu Comercial do Porto tenshy

do chegado a coIaborar na ediao de muitos dos catalogos das exposi oes desse

importante centro anistico portuense entre 1887 e 1895 Nessa medida sao de

destacar os Contactos comjoao Marques de Oliveira j ulio Costa Antonio Teishy

xeira Lopes Ant6nio Ramalho Antonio Carvalho de Silva Pono jose julio de

Souza Pinto Henrique Pousao Alberto Nunes]oao Vaz jose Brito e principal

IU 0 Prlltleiro de Jannro 280 ano Ndeg 34 de 8611891 pl 0 Convento dOl Ave Maria _ trabalho fotogrUico

119 A inovaao estetica surge desde logo na comparaao com a evulgaridade re~titiva comparem-se COrn os albuns que Bobone umbem produziu para os Caminhos de Ferro nomeadamente 0 album do carn lnho de rerro dOl linha de Cascai s que se Iimita a apresemar um registo mecanico e destituidos de lInagmatao das enaOes daquela Iinha contrastando com os albuns de Biel

137

PAULO BAPTISTA

mente Antonio Soares dos Reis cujo album de homenagem apos a tragic morshy

te foi preparado e impresso na Casa Biel Certamente que 0 contacto com os

referidos artistas tera sido importante para a aproxima~ao ao gosto naturalista

Noutro sentido terao sido inumeras as oportunidades de contactar com a nova

fotografia que se come~ava a impor sobretudo em Inglaterra num movimento

que proeurava reivindicar para a fotografia urn lugar entre as artes 0 grande

numero de exposi~oes em que participou em Portugal e no estrangeiro pershy

mitiram urn contacto com a obra de muitos fotografos Sao de destacar dois

dos mais importantes fotografos do seu tempo Peter Henry Emerson e Henry

Peach Robinson que participaram na Exposi~ao Internacional de Fotografia

realizada no Porto em 1886 onde a Casa Biel teve ampla participa~ao como

expositor e 0 proprio Biel como jurado Joao Marques de Oliveira tambem parshy

ticipou como expositor e como jurado de fotografia

A discussao do gosto de Emilio Biel nao pode ignorar 0 forte apelo que sobre ele exerceu a natureza Biel foi floricultor horticultor avicultor lepidopterologo

e urn fervoroso apaixonado do Geres onde comprou uma propriedaderaquo para se

dedicar acria~ao de veados Levou a sua fascina~ao ao ponto de editar mesmo

urn album 0 ja referido Portugal-Gerez~ preparado ern 1887 para ser oferecido i

familia real portuguesa 0 gosto pelo naturalismo e pela paisagem era por isso

para Biel rnais do que mera atitude estetica urn modo de estar na vida A multiplicidade de facto res condi~oes e circunstmcias investiram em

Emllio Biel uma verdadeira responsabilidade para com a historia da fotografia

porruguesa - fazer naseer a mais importante edi~ao forografica portuguesa

Felizmente 0 luso-alemao nao enjeitou 0 desafio Na folha de rosto de A Arte e a Natureza em Portugal indica-nos que se trata de urn Album de photographias

com descrip~oes cliches originaes copias em phototipia inalteravel monushy

mentos obras de artet costumes paisagensraquo Mas como vamos poder ver 0

130 0 texto de HP Robinson -Do effeito artistico em photographia foi publicado em A Arlf

Ph oCographlca Vob Janeiro Mano Abril Maio Junho Agosto Setembro Ourubro e Novembro de 188pp16-2879_89 111-120 147154 178185 144-254 28)-187 199-)09 e)45-)52 131 c r 0 Prilrlnrodejatlriro 180 ano Ndeg 81 44 1886 p I 132 cr 0 Pnlrltlro dtjanriro 180 ano Ndeg 88 13 411886

IJJ S Tomas Moreira Emilio Biel urn alemao no Pono_ 0 Tripriro IX ano Ndeg 5 Maio de 1990 pmmiddot 134 Portugal_ G(rn POrtO Emilio Biel amp Ca 1900-1910 (a lbum de rototipias) 135 0 Primaro d fjanflro 190 ano N0 255 de 12 1011 887 p I A familia real no Norte_

138

A PAI S AGS N N A oa flA POTOG flA P ICA DA CA SA BUL

conjunto de paisagens representa nao s6 uma parte signjficativa em terrnos

nu mericos mas sobretudo 0 conjunto artisticarnenre rna is marcante

Eclaro que nao podemos entender A Arte e a Natureza em Portugal como

uma obra de autor muitas das forografias representam urn compromisso com

o seu programa da obra Muitas sao vistas de vilas e cidades de urn pais preshy

dominantemente rural Mafra Mon~ao Vila Vi~osa Lagos Amarante Cashy

minha Montalegre Chaves e as vistas com menos urbe de Valen~a Barcelos

Barroso Bragan~a e Amarante Nesta ultima vale a pena reparar na modern ishydade da composi~ao de assinalavel maturidade estetiea

Nestas imagens temos sempre urn fundo de ruralidade que domina numa

visao que de facro ainda tern muito de garretiano Pode mesmo eonsiderar-se

que as Viagens na Minha Terra representam urn ponto de partida a que Rashy

malho Orrigao aludiu earacterizando 0 tema da obra de Garrett da seguinte

fo rma laquo[ j Estas viagens sao indispensaveis no meio da lamentavel desmoshy

ralizaao em que nos dissolvemos para nos ensinarem a conhecer e a amar

a Pat ria pelo que nela eimortal ineorruptlvel e sagrado pelo doee aspecto

dos seus montes dos seus vales dos seus rios pelo sorriso melane6lieo mas

contente dos vinhedos dos oliva is dos SOutos das hortas e dos pomares pela tradiao vivida nos monumentos arquitect6nicos nas romarias nos cantos e

nas cantigas populares nas indusrrias caseiras nas alfaias agricolas nas ferrashy

mentas dos edificios rurais na configura~ao dos lares [ jraquo

Mas passemos das paisagens urbanas as paisagens rurais que representam

algumas das mais belas fotografi as da obra 0 apuro tecrueo e a informa~ao esteshy

tica voltam a revelar-se de forma especial na sensivel explora~ao das margens rishy

beirinhas e dos reflexos na agua excedendo 0 mero registo bucolico Encontramoshy

-005 num POnto de viragem da fotografia portuguesa porque estes registos aponshy

tam novas direC~6es esteticas claramente assumidas por Biel neles se tomando eVidente a compreensao das questoes que se coloeavam afotografia no final de oitocentos em particular a sua emancipaao como forma de arte

Urn dos principais paladinos da afirma~ao da fotografia como arte foi Peter Henry Emerson com quem como referimos Biel teve contacto na Exshy

136 Abordado de forma profunda por Maria Joao lello Ortigao de Olive ira _ 0 Ptluamtnto tstirico

de Ramalho Ortigdo Para ~ma estitica do natural- it irttrarios (paisagtnS de malnura lisboa F C S H - UNL 1988 III parte p 15

139

~

PAUlO BAPTISTA

posi~ao Internacional de Fotografia do Porto em 1886 e que se destacou por algumas das mais bel as imagens dos lagos da regiao leste inglesa de East Anshy

glia A produ~ao deste medico britanico nao se limitou asua marcante obra

fotog abrangendo tambem escritos embora dispersos por publica~oesrbull fica e cpistolas Come~ando por se assumir como urn fot6grafo naturalista veio

rnais tarde a rejeitar 0 naturalismo em fotografia para defender a autonomia da

nova arte teorizando sobre os aspectos da composi~ao e da sua especificidade

re1ativamente as Durras arres em particular apintura Ha muitos paralelos enmiddot

[te as obras fotogrficas de Peter Henry Emerson e de Biel quer no conj unro

de paisagens rurais quer naurTas temas que se salientam adiante

Uma das temticas da obra de Biel que possui uma carga romantica muito

acentuada e0 registo de ruinas No entanto Biel confece a estes registos uma

carga de dramatismo que ultrapassa de forma inequivoca 0 mero regisro docushy

mental As fotografias revelam-nos cuidadosas encenac6es em que as cuinas c os

monumentos sao descobertos de uma curva do rio como no Castelo de Almoushy

rol ou por detras de urn maci~o de vegeta~ao como na Batalha explorando 0

efeito da surpresa mais do que contemplarmos registos sentimo-nos a viajar

Estas forografias sao testemunho de uma profunda consciencia estetica elegenmiddot

do a composicao como elemento fundamental de uma forma nlarcadamente

moderna com urn inteligente enquadramento da arquitectura na natureza e

urn informado entendimento desta Talvez cjam estes os melhores exemplos das imagens que terao inspirado 0 titulo da obra A Arte e a Natureza em PortugaL

Neste conjunto de imagens Biel nao poderia deixar de dar destaque a DutrO urn

monumento a edificacao romantica por excelencia 0 Palacio da Pena homenamiddot

gem ao seu Rei COlnpatriota e patrono conferindo ao conjunto de imagens de

Sinrra captadas sob atmosfera densa uma simbologia especial As marinhas sao outra serie que se destaca nesta obra D e facto vamos

pouco a pouco percorrendo na fotografia os generos que fora m herd ados da

pinrura naturalis ta 0 conjunto de irnagens da ria de Aveiro e urn novO tesmiddot

temunho da modernidade desta obra Aqui se voltam a destacar 0 dominiO dos elementos da luz da agua e dos reflexos que nos levam a regressar aD

137 A imponancia da atmosfera na arte fotogrifica ~ abordada por Weaver Mike Th~ PhOlOgntpkiCArt

NY Harper amp Row 1986 pp 46-51

A PAISACBM 11 Oap POTO(RAFICA DA CASA B1BL

paralelo com a obra de Peter Henry Emersonja que grande parte da sua obra

e ma rcada por esses elementos Se Ie certo que 0 caracter artistico da obra de

Emerson emais acentuado por for~a do recurso agrande amplitude tonal e

ao grao tao caracteristicos da fotogravura processo tecnico que elegeu para a

sua expressao artistlca e que domina com mestria No entanto nas fototipias

da ria de Aveiro Biel atingiu 0 melhor apuro tecnico e mesmo sem 0 efeito

do grao a for~a das imagens nao fi ca aquem da de Emerson feliz contra ponto da luz mediterranica filtrada pel ligeira nortada adensa neblina de Norfolk

Esse apuro tecnico deixamiddotnos sentir nestas imagens 0 prenuncio de uma tenmiddot

dell cia pictorialista que tambem e perceptivel noutras series desta obra como

nas imagens dedicadas aserra da Estrela e ao Mondego

A uriliza~ao do termo pictorialista no contexto da obra de Biel nao preshy

tende natural mente associamiddotlo 30 movimento anistico pictorialista que nas

duas primeiras decadas do seculo XX marcou a cenas anisticas novamiddotiorquina

e londrina em que Alfred Stieglitz assumiu papel de destaque divulgando

em Nova Iorque algu ns dos mais destacados artistas europeus entre os quais

Amadeo de Souza-Cardoso Noutro senti do 0 pictorialismo na obra de Biel

deve entendermiddotse na acep~ao mais lata do termo pel a preocupa~ao de transshymitir nas fotografi as uma ambiencia expressar urn sentimento afastando middotse

dessa forma das preocupa~oes estritamente docu mentais que caracterizam 0

grosso das imagens de a A Arte e a Natureza em Portugal e a quase totalidade da

fotografia portuguesa desse periodo Ests excep~6es tern por isso uma partishy

cular importancia para esc1arecer de forma inequ ivoca a sua modernidade

As forotipias da serra da Estrela retomam a visao monumental reve1ada nos

lbuns dos Caminhos de Ferro aqui acentuando 0 carcter inospito da paisagem

e a impotencia do Homem perante a for~a da Natureza 0 exemplo mais punshy

gente dessa dicotomia mais ainda do que na forca das cascaras surgemiddotnos com

a fotografia da Lagoa Escura gelada em que a presen~a humana insignificante

quase s6 se fa z sentir pela ponrua~ao das sombras projectadas na imensa superfishy

tie branca da lagoa gelada num bela efeito grafico de acemuada modernidade so

passivel pelo espeCial apuro tecnico que a fotogcifia de neve e gelD em montanha

exige Mas essa modernidade acenrua-sc nao s6 pelas imagens em si seja esta

Elisa dificuldade tern plena expressao no fraco album de Emygdio Navarro Quatro Dlas na amprra

14114 0

PAULO BAPTISTA

seja a ja mencianada vista de Amarante mas sabretuda pela ausadia de as incluir

na abra amerce da aprecia~aa de urn publica pouca canhecedor e nessa persshy

pectiva assuminda urna pasiaa estetica e palitica de maiar empenha e risco

Pademas criticar a A Arte e a Natureza em Portugal par alguma heterageneidashy

de Ela deve-se naturalmente asua langa genese e a urn pragrama sucessivamente

adaptada as circunstancias que acabaram par permitir a sua cancretiza~aa mas

tera sabretuda a ver cam a diversa autoria das registas fatograficos Sabemas de

antemaa que as principais respansaveis pela realizaaa tecnica das fatagrafias

faram Cunha Maraes e F Brtitt Ambas teraa colabarada cam muitas fatagrafias

mas se cansiderarmas que Brtitt era urn pilar da estudia e da secaa de preparashy

aa e retoque das chapas de impressaa tera deixada certamente parte significashy

tiva da fuse final da abra para Cunha Maraes ja durante a publicaaa em que era necessario satisfazer 0 compromisso mensal de fazer chegar aos assinantes os

numeras que lbes eram devidas_ Pademas assirn delinir dais grandes conjuntas

de fatogralias a narte da pais e parte da centra teraa sida da respansabi lidade

de BrUtt em particular as fatagralias que ja pertenciam acalecaa da Casa Biel

enquanta toda a suI da pais e a regiaa de Lisbaa teraa sida da responsabilidade

de Cunha Maraes cuja contribuiaa para a abra tera sida decisiva na fuse final da recalha particularmeote na regiaa de Lisbaa na Alenteja e na Algarve Algushy

mas dessas sequencias revelam-nas a cansistencia da trabalha de Cunha Maraes

e a qualidade que ja se lbe canhecia em trabalbas anteriares testemunha da

trabalha de urn das melbares fat6grafas da seu tempa_ Datada de particular

sensibilidade cam urn gasta muita acentuada pela pequena detalhe assimila

com particular facilidade as pressupostas e abjectivas da abra A qualidade das fatagralias de Cunha Maraes revela-se na generalidade

dos registos embora nalguns casos possa ser excepcional assinale-se a paisashy

gem de Manchique cujas varia6es tanais de extrema suavidade saa a prava

da sua sensibilidade Pa r alinidade evidente atribuir-lhe-emas a autoria de aushy

tras paisagens que aqui se incluem e refonam a consistencia do seu trabalho

A serenidade da seu trabalha de regista esta na p6la apasto da dramatismo

da Enrdln Notas dt 11m passrio Porto livraria Civiliza~ao 1884 com fototipias impressa ~Ia Fotografia

Mod~ma de IIdtfonso Correia de cuja falta de qualidade 0 autor A Cesar Henriques se oenaliza

referindo 0 facto de as leT cedido a muira cuStO por serem da sua co lec~ao panicular 139 CfO Primriro dtJartnro 3]deg anD Ndeg 165 de 13711901 pl eidem 35deg ano Ndeg 30a de JJ i12 rrJ)j pl

42

A PAJ$AGBM NA OBRA FOTOGRAplCA OA CASA IIIEL

das paisagens da Daura segura mente da respansabilidade de Biel e BrUtt

Mas para sermas justas cam BrUtt naa nas pademas esquecer de que sabre ele

pesava a encarga da processa fatitipica e nessa medida signilicativa parcel a de respansabilidade sabre a impressaa de tada a abra Ou seja as pravas das

fatagralias de Cunha Marais faram impressas sab a superintendencia de Brutt

e nessa medida saa tambem de sua autoria a que nas mastra que de facta s6

uma grande cumplicidade tecnica e estetica entre estas tres figuras cimeiras da fatogralia partuguesa passibilitau a feliz desfecha da abra

A serie de fatagrafias da Mandega e das rna is belas de tada a abra expresshysanda urn naturalismo ja presente nalgumas vistas de 0 Minho e as suas Cultushy

ras mas que aqui se assume em grande plenitude_ Destaca-se a laquoPaisa gem na choupah) cujo tratamento particularmente suave do contra-luz atinge urn exshy

traordinario apuro tecnico porque nao escurece 0 primeiro plano e em que

pademas abservar a cena buc6lica de uma javem malhanda a pe numa paa

de agua estariamos perante uma cena de genera encenada nao fossem os ga_

rotos que brincarn mais arras deixarem-nos a ideia de se tratar de uma situacao

espontanea_ A suavidade da prova e a sua subtil riqueza tanal valtam a provar

a grande apuro tecnico na manipulaaa das fatotipias atingida pela Casa Biel e

a passibilidade de adequar esse processa tecnica a diversas situa6es esteticas

Muita mais da que mera virtuasismo fatografico csta abra desvenda-nas a asshy

sumpaa de urn estila pr6pria bern definida que subjaz a tada a abra mas se tarna rna is evidente em pantua6es diversas cama n As Margens do rio Nabiio

em 0 rio Cris Martagua n As Portas de Rodam au em Ponte dosJuncaes sobre 0 rio Mondego_ Saa paisagens intimistas mamentas de fruiaa particular que trans

formam a pr6pria carleter manumental da obra canferinda-lhe uma leveza e

uma madernidade unicas que pertnitem cansidera-la 0 prirneiro grande ensaio

de fotagrafia de paisagem partuguesa Embara naa se conhea nenhum escrita

que passa fundamentar as ap6es esteticas de Biel naa restam quaisquer duvishydas sobre elas porque a acampaobar a ediaa de A Arte e a Natureza em Portugal

as assinames recebiam brindes especiais fatotipias de grande farmata algumas

impressas a partir de imagens que canstavam do corpa da abra e autras ineditas

~ 40 Tecnicamente e bastante dincil conseguir a sugestao de ceu que Fernand Brutt 0 esptcialista de IfTlpresdo da Casa Biel conseguiu na zona critica do contramiddotluz para 0 que Ur1l mascarado todo 0 TeSta e t ill seguida laquoqu6rnadoraquo toda ena zona para guantir a legihilidade do primeiro plano sem davarraquo 0 ceu

143

P

PA U LO BAPTI STA

Estas fotografias tern urn significado especial porque nao estavam vinculadas

ao programa da obra e nessa medida representam a mais livre escolha de Biel

Identmcanda a seu gasto mais intimo integram-se na serie de paisagens intimisshy

tas incluindo a Paisagem no Choupal e Aldeia no Minho (Serradella)

Mesmo depois do desaparecimento de Biel a sua obra nunca deixou de

representar uma das principais referencias para a ilustra~ao fotografica ponushy

guesa e a sua qualidade e impordncia marcou a fotografia nacional em parshy

ticular as edi~6es de Marques de Abreu e a obra de Domingos Alvao que foi por urn lado 0 sucessor directo de Biel como forografo do Douro explorando

a riqueza plastica daquela regiao com uma obra de grande pujan~a por ourro cultar da fotografia de costumes numa vertente assumidamente pictorialista

na serie a que curiosamente chamaram laquoas suas pupilasraquomiddot

A Arte e a Natureza em Portugal e todo 0 conjunto da obra de Emilio Biel

surge-nos como urn marco de especial impon ancia para a fotografia portushy

guesa para a historiografia da arte portuguesa e para a ilustra~ao fotogra fica

representando ainda urn dos mais importantes repertorios iconograficos do seculo XIX e inkio do seculo XX Obra (mica e de plena actualidade ja deveshy

ria ter merecido 0 reconhecimento e a divulgarao com que nao pode contar

penalizada pela incipiencia do meio cultural e artistico portugues que apesar

da sua imporrancia sem inal nao conseguiu ai nda entender a modernidade

que Ihe esra subjacente e a excluiu sistematica mente da visibilidade de que

beneficiou algum fotografia porrugues nos anos mais recemes

A Pd SAGE M NA OBRA FO T OGRAFICA DA CASA BIEL

141 v VidraJoaqum -0 Fot6grafo Alvao e as suas Pupilas Coequi D-Mus N 51 Dezembro de 1981 pp 42a 49

14 4 145

PAUlO BAPTISTA

Leeuwenhoek (1632-1723) ser seu contemporiineo e conterraneo Teni sido proshy

vavelmente Leeuwenhoek 0 forneced or das lentes cuja adapta~ao a camara

obscura permitiu a sua portabilidade e melhor adapta~ao ao uso de Vermeer

wrnando-se no seculo seguinte 0 imprescind ivel lnstrumento por exempl0

de Francesco Guardi e de Giovanni Canal 0 Canaleto No mesmo sentido vai

a contribui~ao do historiador john Tagg que (numa linha laquobenjaminianaraquo)

afirma que laquo[ Ja verdadeira revolu~ao pict6rica se concretizou na facilidade

com que a semelhanp [ Jpassou a poder ser registada sistematicamente bull

com as implicac6es da mais diversa ordem desde cedo ocorrida na sistematica

elimina~ao pela polkia dos communards identificados a partir dos registos

fotograficos das barricadas da Comuna de Paris em 1871 ou ainda na utilizashy

~ao das tecnicas fotografics ao servi~o da reprodu~ao fraudulenta de valores fiduciarios como sucedeu entre nos no famoso caso dos irmaos Silveira7

A vinda esparsa de for6grafos a Portugal durante as primeiras decadas subsequentes a inven~ao da forografia pode justificar-se porque a pressao

exercida pela nova classe social elnergente embora se comecasse a fa zer senshy

tir ainda nao era tao acentuada como no resto da Europa Efectivamente a

burguesia portuguesa 56 se consolidou durante 0 periodo fontista jusrificamiddot

-se assirn a tardia instalacao em permanencia das primeiras casas fotognificas

quase na deeada de 1860 s6 tendo surg ido 11a decada de 1880 casas com dimenshy

sao verdadeiramente industrial cujo paradigma e a Cas a BieI contando em

[893 com 50 mil cliches no seu arquivo de retratos

Nao foi s6 no dominio do rerrato que essa pressQo social se foi fazendo senshy

rir desde muito eedo surgiranl fot6grafos que se dedicaram a temas diversos

do rerraro destacando-se 0 patrim6nio quer de urn ponto de vista cientifico

quer amador e turistico 0 primeiro fotografo paisagista em Portugal foi urn

amador Frederick Flower urn ingles sediado no Porto que ainda na decada

114 middot Scguindo as premissas enunciadas em Benjamin Walter Th ework ofart in theageofmechanical Tq1TOduaton v pdf a partir de httpwwwmarxistsorgreferencesubjectphilosophyworksge benjaminhtm 115middot TaggJonh WorkofArt Amherst University ofMassachusetts Press 1988 pp 56-59 acrescentando que esse registo sistematico concedeu ~ fotografia um papel-chave nas instituicoes burocraticas como a esquadra 0 manic6mio a escola e a prisao bull

116 AAVV Corbet ef la Commune La Commune photographii Paris RM N 2000

11 7 Baptista Paulo A Casa Bit e as swas edifoesfotogrdficas no Porlwgal de Oitocentos Dissertacao de mestrado em Hist6ria da Anc Lisboa FCS H da UN L 1994 p 22

1 J 2

A PAI SA G S M NA OSRA pOTO G RAplCA 0 CAS A BIpoundL

de 1850bull fotografou diversas vistas do Porto e seus arredores utilizando a caloshy

tipia j a na decada seguinte e publicada entre 1861 e 1863 a Revista Pittoresea

e Descripnva de Po rtugal sob direc~ao de joaquim Possid6nio Narciso da Silva

Eurn conjunto de fotografias e textos sobre 24 monumentos em Lisboa Sanshyta rem Porto Coimbra e Sintra e foi a primeira de llma serie de publicaC6es

como Monumentos Nacionais (de Henrique Nunes) Panorama Photographico de

Portugal (de diversos fotografos entre os quais Carlos Relvas) Album Lisbonense

(de Augusto Xavier Moreira) e album de fotografias de Lisboa (de AS Fonseshy

ca) para mencionar alguns exemplos em que era utilizada a lecnica de colar

as provas fotograficas em cartolina Alguns dos fotogrfos mais conceituados

embora seIn 0 recurso aedi cao tinham colecc6es proprias de vistas que coshy

mercializava m nos seus ateliers e nas mai s inlportantes livrarias e papelarias

do Porto e Lisboa Sao disso exemplos Francisco Rocchini e Augusto Bobone

A fototipia e urn processo no qual uma chapa coberta por uma camada

de gelatina bicromato e exposta a luz sob urn negtivo fotografico obtendoshy-se dessa forma uma matriz que perm ire realizar impressoes em papel Com

tintas gordas A ideia foi sugerida por Alphonse Louis Poitevin (1819-1882) em 1855 pOSlerionnente desenvolvida e divulgada a partir da decada de 1870 noshymeadamente por joseph Albert que aperfei oou 0 processo utilizando 0 vidro

como supoTte e a gelatina como base permirindo tiragens que podiam ir ate

duas mil provas por cada chapa sempre com meios tons de exceleme qualidashy

de 0 enorme sucesso com que esra tecnica foi recebida na Europa e Estados

Vnidos deveumiddotse sobrerudo ao facto de ser um dos processos que pelo recor

te e precisao da imagem mais aproximadamente se confunde com fotografia

gracas as cam ad as de gelatina e verniz e avantagem de permitir a utiJizaCao

de papel previamente impresso facilirando a inser~ao directa em volume

A sua introdu~ao em Portugal foi feita por Carlos Relvas que comprou 0 pro

cesso na Austria e generosamente deg cedeu depois a Outros fotografos entre as quais Emilio Bie

118 Joaquim Vieira laquoFrederick W Plower Urn fot6grafo calotipista em Portugal Co16qwio Arus N deg 46 SCtcmbro de J980 Llsboa Fundacao Calouste Gulbenkian

119 RNista Piuoresca e Descripriva de PortwgiJl com Vistas Photographicas direccao dejoaquim Possid6nio Narciso da Silva ed lmprensa Nacional Lisboa 1862 (albu m de 24 albuminas coladas em cartao provavelmeme de varios autores e publicado em fasdculos de 1862 a 63)

133

PAULO IAPTISTA

Retomando a questiio da interac~iio entra a jovemraquo fotografia e as artes

academicas vermcoumiddotse que a fotografia se tornou em termos tecnicos uma

ferramenta a que passaram a reeorrer as pintores e as escultores como auxiliar

do seu trabalho Para 0 retrato a fotografia tinha a grande vanta gem de poder

em parte substituir 0 modelo Noutros generos veio a ser urn recurso utilishy

zado por muitos artistas como salientou 0 historiador de arte Aaron Scharf~ Em Fran~a muitos pintores recorreram ao auxllio da fotografia no seu trabashy

Iho Jean-Baptiste Camille Corot Jean-Fran~ois Millet Theodore Rousseau

Charles-Pran~oi s Daubigny mas foi em Inglaterra que uma das figuras tuteshy

lares da arte inglesa da segunda metade do sec XIX John Ruskin usou de

forma sistematica a fotografia como base dos seus desenhos entre 1841 e 1845

recorrendo a uma extensa colec~ao de daguerreotipos de edificios italianos de

Floren~a Pisa e Veneza Ruskin teorizou sobre as vantagens dessa util iza~iio na obra Praeterita embora mais tarde tambem tenha posta em causa a seu

valor A proximidade entre artes pl~sticas e fotogralia favoreceu natural mente

a adop~iio dos generos consagrados sobretudo na pintura pelos fotografos

A assimila~ao foi nalguns casos tao completa que chegou inclusivamentar a contemplar 0 academico genero h istorico cultivado pelo ex-pintor e fotografo

sueeo Oscar Gustav Rejla nder em particular com as suas recriac6es de cenas

biblicas Nessa medida iremos abordar a paisagem na obra da Casa Biel e em

particular n A Arte e a Natureza em Portugal considerando 0 genero da paisashy

gem numa perspectiva de epoea abrangendo vistas da natureza mas tambem

urbanas de ruinas ou ate alguns exemplos de costumes Voltando a actividade da Casa Biel importa mencionar que de facto 0

projecto de editar urn grande repertorio da arte portuguesa teve origem logo

na decada de 1880 quer pelas primeiras tentativas de ediciio quer pela sisteshy

matica divulga~iio de imagens atraves da revista 0 Occidente que se inicia em

1882 com a publica~iio de gravuras de Caetano Alberto da Silva a partir de

fotografias da Casa Biel incluindo vistas de alguns lugares do norte do pais e das novas vias de caminho de ferro que totalizaram mais de 100 fotografias

referendadas durante os 22 anos de edicao 0 Occidente (1877-1899) 0 Archivo

Pittoresco (1856-1868) e 0 Panorama (1837-1868) teriio sido os rna is importantes

1l0 Scharf Aaron Art and Pholography Allen Lane the Penguin Press Londres 1968 p 5lmiddot

134

A PAI$AGIIW NA OBRA POTOCRAPI C A OA CASA BIBL

vekulos de divulgaiio iconognlfica que a grande tiragem das publicac6es pershy

mitia chegar a urn publico alargado

As primeiras publicacoes da Casa Biel e alguns projectos revelaram desde

logo aspectos muito importantes No inicio de 1881 0 projecto de urn grupo de

jovens membros do Club Nomada que realizou uma expediciio it Serra do Suashy

jo vai associar a Emilio Biel dois entusiastas da fotografia que vieram a ter granshy

de importancia no panorama fotognlfico portugues Ildefonso Correia (futuro

editor da revista A Am Photographica) e Jose Augusto da Cunha Moraes fot6grashy

fo angola no autor do album fotognlfico Africa Occidental Album Photographico e

Descriptivo da Africa Occidental impresso na casa Biel em 1885 e se tornou mais

tarde importante colaborador de Biel Infelizmente 0 album de titulo 0 Soajo

ter-se-a ficado pelo prospecto introdut6riou Logo no ano seguinte 0 album Exshy

posiftio Districtal de Aveiro em 1882 representa urn importante passo primeiro e0

inicio da longa colabora~ao entre Emilio Biel eJoaquim de Vasconcelos depois

representa uma resposta de ambos famosa polemic que opos Vasconcelos (e

outros como Ramalho Ortigiio) it comissao organizadora da Exposicao de Arte

Ornamental no palacio das Janelas Verdes quanto aos criterios de selec~iio das

pecas e it organizaciio da exposi~ao de cujo ll1xUOSO catalogo foi encarregado

Carlos Relvas Desde cedo Biel assume urn interven~1io civica com a publica ao

de Os Lusiadas mas logo em 1883 prop6e urn projecto com 0 titulo Portugal Antishy

go e Moderno em que siio esbo~adas algumas dos aspectos rnais importantes da futura Arte e Natureza 0 projecto Portugal Antigo e Moderno propunha-se divulshy

gar as monumentos e ou[ras obras de arte nacionais que seriam ilustradas com

800 fototipias (1) Para a sua concretiza ao desta obra Biel deslocou-se a Lisboa

solicitando 0 apoio do rei D Fernando II para a sua concretizaciio 0 projecto

nao teve continuidade editorial muito provavelmente por falta de apoios No

entanto sabemos que a recolha sistematica de vistas seg uia 0 seu curso como e

possive testemunhar atraves de 0 Occidente

fl1 Baptista Paulo A Casa Bit t as suas tdlfOts fOlografictls no Portugal dt OfIOCtnIOS Dissertaio de rncstrado em Hist6ria da Arte Lisboa PCSH da UNL 1994 p 119 121 Jose-Augusto Pran~a A ATtt em Porlugal no Siculo XIX II volp 7l

Il] A nolicia dena viagem foi pubJicada em 0 Primtiro dt jantiro 15deg Anno Ndeg 20 24 011188]

D Pernando II (1816-1886) rei consorte que favoreceu bastante os alemies residentes em Portugal nomeadamente Biel (cf EAStrasen e Alfredo Gandara Oito stcwlos de HiJt6ria Luso-Almd) embora no ferenda caso infeJizmente tal nao tenha sucedido

135

PAU LO BAPTIST A

Dentro da organiza~ao da sua empresa urn aspecto que mereceu partishy

cular cuidado a Emilio Bie foi 0 seu COlPO tecnico Pela sua casa passaram

alguns dos mais importantes fotografos portugueses como Guilherme Boldt

Domingos Souto jose Carvalho jose Peres Constantino Guedes Domingos

Alvao de entre os que chegaram ao nossO conheci mento mas ha que destacar

Fernando Brutt e jose Augusto da Cunha Moraes verdadeiros pilares de A

Arte e a Natureza em Portugal e socios de Biel nesse empreendimento integranshy

do a sec~ao das industrias gridlcas (forografia fototipia e litografi a) que ele

criou para as grandes edi~oes Na viragem do seculo ira desencadearmiddotse todo urn rurbilhao de edioes de

1896 a 1902 a Casa Biel puhlicou algumas das mais importantes edi~oes produzidas

em Porrugal duas obras do Visconde Vilarinho de S Romao Viticultura e Viniculshy

turaU e 0 Minho e as suas Culturas Tambem publicou 0 catalogo da Exposifllo de

Arte Ontamental do Districta de Vianna em Agosto e Setembro de 1896 nova cola boramiddot

~ao corn joaquim de Vasconcelos e ainda dois dos albuns que iniciararn uma linha

editorial denominada Portugal os i1buns PortugalmiddotGerez de 1887 e POTlugal-Espinho

de 1898~ Nestas obras ja comeam a ser inseridas algumas das fototipias que tamshy

bern integra ram depois A Arre e a Natureza em Portugal revelando uma preocupa~ao

na ecanomia de meios imprescindive1 a realiza~oes dessa dim en sao No conjunro da obra da Casa Emilio Biel amp Cmiddot e pel a sua dimensao A Arte

e a Natureza em Portugal nao tera talvez a consistenda de autros trabalhos como

oDouro ou 0 lbum do Caminho de Ferro do Douro mas nunca podera deixar de

ser considerada a mais importante de toda a obra daquela casa editora na medida

em que representa urn projecto proprio com raizes antigas e uma conscienda

plena em termos esteticos e historiogrficos E0 primeiro projecto porrugues de

fOlego que assume 0 registo e divulga~ao de patrimonio traduzindo a consciencia

da necessidade de um levantamento do patrimonio ideia cuja actualidade se conmiddot

tinua a colocar de forma extrema mente premente como 0 atestam as mais recenshy

124 Visconde ViJlarinho de S RomiiO Vit icullura e Vinicutura TrasmiddotOs-Montes e Alto Douro Central

Lisboa Imprensa Nacional 1896 com n fototipias de 8kl 1

125 Visconde VilJarinho de S Romao Minhq(O) e as Suas Culturas Lisboa Imprensa Naciona 190 bull

com 39 forotipias de Siel 1l6 Catalogo da ExposiflIo de Artt Ornamental do Districto de Vianna em Agosto t Seumbro dt 1896 Viana do

Castelo Emilio Iliel amp C 1898 (com 61 phototypias da casa Biel) 121 Em ilio Biel Portugal -fupio Po rtO Emilio Biel amp Cmiddot 898

1 36

It PAISACBM N A OBRA POTOCRAPCA DA CASA BlBL

tes edioes Essa dimensao foi segura mente ttansposta para A Arlee a Natureza em

Portugal por joaquim de Vasconcelos e cabal mente aproveitada por um sensive

e erudito empresario Emilio Biel que teve capacidade para the dar prossecu~ao A preocupa ao de Biel com as questoes do patrimonio fez-se sentir amiude e e pOl isso que assistimos em 1897 ao urgente levantamento fotografico do Conshy

vento de S Bento da Ave Maria do Porto edificio que se enContrava na eminencia

de ruil 0 trabalho fotografico foi executado por Fernando Br(jtt ~

Em termos esteticos os lbuns dos Caminos de Ferro e em particular Caminhos de

Ferro do Douro representaram uma autentica ruptura na forogra fia portuguesa

do seculo XIX Grande parte das fotografias revelam uma abordagem fotograshy

fica totalmente nova quer pela profunda riqueza tonal que possuem testemushy

nho de um assinalvel dominio tecnico quer pelo enquadramento cenografico

e monumental da panoramica traduzindo toda a beleza rude e in6spita do vale

do Douro com 0 seu leito profundarnente cavado por entre vertentes abruptas

(om uma discreta presena humana que se revela insignificante perante a for~a

da natureza qu e agora uma nova mao humana procura dominar Euma noshy

tavel representa~ao das rela~5es entre natureza e tecnica cujos elementos esteshy

ticos contribuem de forma significativa para 0 conteudo documental que sera

talvez a mais cabal representaao do progresso jontista Essa perspcctiva era

totalmente nova na fotografia porruguesa da epoca e constiruira uma das linhas esteticas exploradas em A Arre e a Natureza em Portugal

Biel e os seus colaboradores tiveram estreitos contactos com os artistas da

primeira geraao naturalista Biel era socio do Ateneu Comercial do Porto tenshy

do chegado a coIaborar na ediao de muitos dos catalogos das exposi oes desse

importante centro anistico portuense entre 1887 e 1895 Nessa medida sao de

destacar os Contactos comjoao Marques de Oliveira j ulio Costa Antonio Teishy

xeira Lopes Ant6nio Ramalho Antonio Carvalho de Silva Pono jose julio de

Souza Pinto Henrique Pousao Alberto Nunes]oao Vaz jose Brito e principal

IU 0 Prlltleiro de Jannro 280 ano Ndeg 34 de 8611891 pl 0 Convento dOl Ave Maria _ trabalho fotogrUico

119 A inovaao estetica surge desde logo na comparaao com a evulgaridade re~titiva comparem-se COrn os albuns que Bobone umbem produziu para os Caminhos de Ferro nomeadamente 0 album do carn lnho de rerro dOl linha de Cascai s que se Iimita a apresemar um registo mecanico e destituidos de lInagmatao das enaOes daquela Iinha contrastando com os albuns de Biel

137

PAULO BAPTISTA

mente Antonio Soares dos Reis cujo album de homenagem apos a tragic morshy

te foi preparado e impresso na Casa Biel Certamente que 0 contacto com os

referidos artistas tera sido importante para a aproxima~ao ao gosto naturalista

Noutro sentido terao sido inumeras as oportunidades de contactar com a nova

fotografia que se come~ava a impor sobretudo em Inglaterra num movimento

que proeurava reivindicar para a fotografia urn lugar entre as artes 0 grande

numero de exposi~oes em que participou em Portugal e no estrangeiro pershy

mitiram urn contacto com a obra de muitos fotografos Sao de destacar dois

dos mais importantes fotografos do seu tempo Peter Henry Emerson e Henry

Peach Robinson que participaram na Exposi~ao Internacional de Fotografia

realizada no Porto em 1886 onde a Casa Biel teve ampla participa~ao como

expositor e 0 proprio Biel como jurado Joao Marques de Oliveira tambem parshy

ticipou como expositor e como jurado de fotografia

A discussao do gosto de Emilio Biel nao pode ignorar 0 forte apelo que sobre ele exerceu a natureza Biel foi floricultor horticultor avicultor lepidopterologo

e urn fervoroso apaixonado do Geres onde comprou uma propriedaderaquo para se

dedicar acria~ao de veados Levou a sua fascina~ao ao ponto de editar mesmo

urn album 0 ja referido Portugal-Gerez~ preparado ern 1887 para ser oferecido i

familia real portuguesa 0 gosto pelo naturalismo e pela paisagem era por isso

para Biel rnais do que mera atitude estetica urn modo de estar na vida A multiplicidade de facto res condi~oes e circunstmcias investiram em

Emllio Biel uma verdadeira responsabilidade para com a historia da fotografia

porruguesa - fazer naseer a mais importante edi~ao forografica portuguesa

Felizmente 0 luso-alemao nao enjeitou 0 desafio Na folha de rosto de A Arte e a Natureza em Portugal indica-nos que se trata de urn Album de photographias

com descrip~oes cliches originaes copias em phototipia inalteravel monushy

mentos obras de artet costumes paisagensraquo Mas como vamos poder ver 0

130 0 texto de HP Robinson -Do effeito artistico em photographia foi publicado em A Arlf

Ph oCographlca Vob Janeiro Mano Abril Maio Junho Agosto Setembro Ourubro e Novembro de 188pp16-2879_89 111-120 147154 178185 144-254 28)-187 199-)09 e)45-)52 131 c r 0 Prilrlnrodejatlriro 180 ano Ndeg 81 44 1886 p I 132 cr 0 Pnlrltlro dtjanriro 180 ano Ndeg 88 13 411886

IJJ S Tomas Moreira Emilio Biel urn alemao no Pono_ 0 Tripriro IX ano Ndeg 5 Maio de 1990 pmmiddot 134 Portugal_ G(rn POrtO Emilio Biel amp Ca 1900-1910 (a lbum de rototipias) 135 0 Primaro d fjanflro 190 ano N0 255 de 12 1011 887 p I A familia real no Norte_

138

A PAI S AGS N N A oa flA POTOG flA P ICA DA CA SA BUL

conjunto de paisagens representa nao s6 uma parte signjficativa em terrnos

nu mericos mas sobretudo 0 conjunto artisticarnenre rna is marcante

Eclaro que nao podemos entender A Arte e a Natureza em Portugal como

uma obra de autor muitas das forografias representam urn compromisso com

o seu programa da obra Muitas sao vistas de vilas e cidades de urn pais preshy

dominantemente rural Mafra Mon~ao Vila Vi~osa Lagos Amarante Cashy

minha Montalegre Chaves e as vistas com menos urbe de Valen~a Barcelos

Barroso Bragan~a e Amarante Nesta ultima vale a pena reparar na modern ishydade da composi~ao de assinalavel maturidade estetiea

Nestas imagens temos sempre urn fundo de ruralidade que domina numa

visao que de facro ainda tern muito de garretiano Pode mesmo eonsiderar-se

que as Viagens na Minha Terra representam urn ponto de partida a que Rashy

malho Orrigao aludiu earacterizando 0 tema da obra de Garrett da seguinte

fo rma laquo[ j Estas viagens sao indispensaveis no meio da lamentavel desmoshy

ralizaao em que nos dissolvemos para nos ensinarem a conhecer e a amar

a Pat ria pelo que nela eimortal ineorruptlvel e sagrado pelo doee aspecto

dos seus montes dos seus vales dos seus rios pelo sorriso melane6lieo mas

contente dos vinhedos dos oliva is dos SOutos das hortas e dos pomares pela tradiao vivida nos monumentos arquitect6nicos nas romarias nos cantos e

nas cantigas populares nas indusrrias caseiras nas alfaias agricolas nas ferrashy

mentas dos edificios rurais na configura~ao dos lares [ jraquo

Mas passemos das paisagens urbanas as paisagens rurais que representam

algumas das mais belas fotografi as da obra 0 apuro tecrueo e a informa~ao esteshy

tica voltam a revelar-se de forma especial na sensivel explora~ao das margens rishy

beirinhas e dos reflexos na agua excedendo 0 mero registo bucolico Encontramoshy

-005 num POnto de viragem da fotografia portuguesa porque estes registos aponshy

tam novas direC~6es esteticas claramente assumidas por Biel neles se tomando eVidente a compreensao das questoes que se coloeavam afotografia no final de oitocentos em particular a sua emancipaao como forma de arte

Urn dos principais paladinos da afirma~ao da fotografia como arte foi Peter Henry Emerson com quem como referimos Biel teve contacto na Exshy

136 Abordado de forma profunda por Maria Joao lello Ortigao de Olive ira _ 0 Ptluamtnto tstirico

de Ramalho Ortigdo Para ~ma estitica do natural- it irttrarios (paisagtnS de malnura lisboa F C S H - UNL 1988 III parte p 15

139

~

PAUlO BAPTISTA

posi~ao Internacional de Fotografia do Porto em 1886 e que se destacou por algumas das mais bel as imagens dos lagos da regiao leste inglesa de East Anshy

glia A produ~ao deste medico britanico nao se limitou asua marcante obra

fotog abrangendo tambem escritos embora dispersos por publica~oesrbull fica e cpistolas Come~ando por se assumir como urn fot6grafo naturalista veio

rnais tarde a rejeitar 0 naturalismo em fotografia para defender a autonomia da

nova arte teorizando sobre os aspectos da composi~ao e da sua especificidade

re1ativamente as Durras arres em particular apintura Ha muitos paralelos enmiddot

[te as obras fotogrficas de Peter Henry Emerson e de Biel quer no conj unro

de paisagens rurais quer naurTas temas que se salientam adiante

Uma das temticas da obra de Biel que possui uma carga romantica muito

acentuada e0 registo de ruinas No entanto Biel confece a estes registos uma

carga de dramatismo que ultrapassa de forma inequivoca 0 mero regisro docushy

mental As fotografias revelam-nos cuidadosas encenac6es em que as cuinas c os

monumentos sao descobertos de uma curva do rio como no Castelo de Almoushy

rol ou por detras de urn maci~o de vegeta~ao como na Batalha explorando 0

efeito da surpresa mais do que contemplarmos registos sentimo-nos a viajar

Estas forografias sao testemunho de uma profunda consciencia estetica elegenmiddot

do a composicao como elemento fundamental de uma forma nlarcadamente

moderna com urn inteligente enquadramento da arquitectura na natureza e

urn informado entendimento desta Talvez cjam estes os melhores exemplos das imagens que terao inspirado 0 titulo da obra A Arte e a Natureza em PortugaL

Neste conjunto de imagens Biel nao poderia deixar de dar destaque a DutrO urn

monumento a edificacao romantica por excelencia 0 Palacio da Pena homenamiddot

gem ao seu Rei COlnpatriota e patrono conferindo ao conjunto de imagens de

Sinrra captadas sob atmosfera densa uma simbologia especial As marinhas sao outra serie que se destaca nesta obra D e facto vamos

pouco a pouco percorrendo na fotografia os generos que fora m herd ados da

pinrura naturalis ta 0 conjunto de irnagens da ria de Aveiro e urn novO tesmiddot

temunho da modernidade desta obra Aqui se voltam a destacar 0 dominiO dos elementos da luz da agua e dos reflexos que nos levam a regressar aD

137 A imponancia da atmosfera na arte fotogrifica ~ abordada por Weaver Mike Th~ PhOlOgntpkiCArt

NY Harper amp Row 1986 pp 46-51

A PAISACBM 11 Oap POTO(RAFICA DA CASA B1BL

paralelo com a obra de Peter Henry Emersonja que grande parte da sua obra

e ma rcada por esses elementos Se Ie certo que 0 caracter artistico da obra de

Emerson emais acentuado por for~a do recurso agrande amplitude tonal e

ao grao tao caracteristicos da fotogravura processo tecnico que elegeu para a

sua expressao artistlca e que domina com mestria No entanto nas fototipias

da ria de Aveiro Biel atingiu 0 melhor apuro tecnico e mesmo sem 0 efeito

do grao a for~a das imagens nao fi ca aquem da de Emerson feliz contra ponto da luz mediterranica filtrada pel ligeira nortada adensa neblina de Norfolk

Esse apuro tecnico deixamiddotnos sentir nestas imagens 0 prenuncio de uma tenmiddot

dell cia pictorialista que tambem e perceptivel noutras series desta obra como

nas imagens dedicadas aserra da Estrela e ao Mondego

A uriliza~ao do termo pictorialista no contexto da obra de Biel nao preshy

tende natural mente associamiddotlo 30 movimento anistico pictorialista que nas

duas primeiras decadas do seculo XX marcou a cenas anisticas novamiddotiorquina

e londrina em que Alfred Stieglitz assumiu papel de destaque divulgando

em Nova Iorque algu ns dos mais destacados artistas europeus entre os quais

Amadeo de Souza-Cardoso Noutro senti do 0 pictorialismo na obra de Biel

deve entendermiddotse na acep~ao mais lata do termo pel a preocupa~ao de transshymitir nas fotografi as uma ambiencia expressar urn sentimento afastando middotse

dessa forma das preocupa~oes estritamente docu mentais que caracterizam 0

grosso das imagens de a A Arte e a Natureza em Portugal e a quase totalidade da

fotografia portuguesa desse periodo Ests excep~6es tern por isso uma partishy

cular importancia para esc1arecer de forma inequ ivoca a sua modernidade

As forotipias da serra da Estrela retomam a visao monumental reve1ada nos

lbuns dos Caminhos de Ferro aqui acentuando 0 carcter inospito da paisagem

e a impotencia do Homem perante a for~a da Natureza 0 exemplo mais punshy

gente dessa dicotomia mais ainda do que na forca das cascaras surgemiddotnos com

a fotografia da Lagoa Escura gelada em que a presen~a humana insignificante

quase s6 se fa z sentir pela ponrua~ao das sombras projectadas na imensa superfishy

tie branca da lagoa gelada num bela efeito grafico de acemuada modernidade so

passivel pelo espeCial apuro tecnico que a fotogcifia de neve e gelD em montanha

exige Mas essa modernidade acenrua-sc nao s6 pelas imagens em si seja esta

Elisa dificuldade tern plena expressao no fraco album de Emygdio Navarro Quatro Dlas na amprra

14114 0

PAULO BAPTISTA

seja a ja mencianada vista de Amarante mas sabretuda pela ausadia de as incluir

na abra amerce da aprecia~aa de urn publica pouca canhecedor e nessa persshy

pectiva assuminda urna pasiaa estetica e palitica de maiar empenha e risco

Pademas criticar a A Arte e a Natureza em Portugal par alguma heterageneidashy

de Ela deve-se naturalmente asua langa genese e a urn pragrama sucessivamente

adaptada as circunstancias que acabaram par permitir a sua cancretiza~aa mas

tera sabretuda a ver cam a diversa autoria das registas fatograficos Sabemas de

antemaa que as principais respansaveis pela realizaaa tecnica das fatagrafias

faram Cunha Maraes e F Brtitt Ambas teraa colabarada cam muitas fatagrafias

mas se cansiderarmas que Brtitt era urn pilar da estudia e da secaa de preparashy

aa e retoque das chapas de impressaa tera deixada certamente parte significashy

tiva da fuse final da abra para Cunha Maraes ja durante a publicaaa em que era necessario satisfazer 0 compromisso mensal de fazer chegar aos assinantes os

numeras que lbes eram devidas_ Pademas assirn delinir dais grandes conjuntas

de fatogralias a narte da pais e parte da centra teraa sida da respansabi lidade

de BrUtt em particular as fatagralias que ja pertenciam acalecaa da Casa Biel

enquanta toda a suI da pais e a regiaa de Lisbaa teraa sida da responsabilidade

de Cunha Maraes cuja contribuiaa para a abra tera sida decisiva na fuse final da recalha particularmeote na regiaa de Lisbaa na Alenteja e na Algarve Algushy

mas dessas sequencias revelam-nas a cansistencia da trabalha de Cunha Maraes

e a qualidade que ja se lbe canhecia em trabalbas anteriares testemunha da

trabalha de urn das melbares fat6grafas da seu tempa_ Datada de particular

sensibilidade cam urn gasta muita acentuada pela pequena detalhe assimila

com particular facilidade as pressupostas e abjectivas da abra A qualidade das fatagralias de Cunha Maraes revela-se na generalidade

dos registos embora nalguns casos possa ser excepcional assinale-se a paisashy

gem de Manchique cujas varia6es tanais de extrema suavidade saa a prava

da sua sensibilidade Pa r alinidade evidente atribuir-lhe-emas a autoria de aushy

tras paisagens que aqui se incluem e refonam a consistencia do seu trabalho

A serenidade da seu trabalha de regista esta na p6la apasto da dramatismo

da Enrdln Notas dt 11m passrio Porto livraria Civiliza~ao 1884 com fototipias impressa ~Ia Fotografia

Mod~ma de IIdtfonso Correia de cuja falta de qualidade 0 autor A Cesar Henriques se oenaliza

referindo 0 facto de as leT cedido a muira cuStO por serem da sua co lec~ao panicular 139 CfO Primriro dtJartnro 3]deg anD Ndeg 165 de 13711901 pl eidem 35deg ano Ndeg 30a de JJ i12 rrJ)j pl

42

A PAJ$AGBM NA OBRA FOTOGRAplCA OA CASA IIIEL

das paisagens da Daura segura mente da respansabilidade de Biel e BrUtt

Mas para sermas justas cam BrUtt naa nas pademas esquecer de que sabre ele

pesava a encarga da processa fatitipica e nessa medida signilicativa parcel a de respansabilidade sabre a impressaa de tada a abra Ou seja as pravas das

fatagralias de Cunha Marais faram impressas sab a superintendencia de Brutt

e nessa medida saa tambem de sua autoria a que nas mastra que de facta s6

uma grande cumplicidade tecnica e estetica entre estas tres figuras cimeiras da fatogralia partuguesa passibilitau a feliz desfecha da abra

A serie de fatagrafias da Mandega e das rna is belas de tada a abra expresshysanda urn naturalismo ja presente nalgumas vistas de 0 Minho e as suas Cultushy

ras mas que aqui se assume em grande plenitude_ Destaca-se a laquoPaisa gem na choupah) cujo tratamento particularmente suave do contra-luz atinge urn exshy

traordinario apuro tecnico porque nao escurece 0 primeiro plano e em que

pademas abservar a cena buc6lica de uma javem malhanda a pe numa paa

de agua estariamos perante uma cena de genera encenada nao fossem os ga_

rotos que brincarn mais arras deixarem-nos a ideia de se tratar de uma situacao

espontanea_ A suavidade da prova e a sua subtil riqueza tanal valtam a provar

a grande apuro tecnico na manipulaaa das fatotipias atingida pela Casa Biel e

a passibilidade de adequar esse processa tecnica a diversas situa6es esteticas

Muita mais da que mera virtuasismo fatografico csta abra desvenda-nas a asshy

sumpaa de urn estila pr6pria bern definida que subjaz a tada a abra mas se tarna rna is evidente em pantua6es diversas cama n As Margens do rio Nabiio

em 0 rio Cris Martagua n As Portas de Rodam au em Ponte dosJuncaes sobre 0 rio Mondego_ Saa paisagens intimistas mamentas de fruiaa particular que trans

formam a pr6pria carleter manumental da obra canferinda-lhe uma leveza e

uma madernidade unicas que pertnitem cansidera-la 0 prirneiro grande ensaio

de fotagrafia de paisagem partuguesa Embara naa se conhea nenhum escrita

que passa fundamentar as ap6es esteticas de Biel naa restam quaisquer duvishydas sobre elas porque a acampaobar a ediaa de A Arte e a Natureza em Portugal

as assinames recebiam brindes especiais fatotipias de grande farmata algumas

impressas a partir de imagens que canstavam do corpa da abra e autras ineditas

~ 40 Tecnicamente e bastante dincil conseguir a sugestao de ceu que Fernand Brutt 0 esptcialista de IfTlpresdo da Casa Biel conseguiu na zona critica do contramiddotluz para 0 que Ur1l mascarado todo 0 TeSta e t ill seguida laquoqu6rnadoraquo toda ena zona para guantir a legihilidade do primeiro plano sem davarraquo 0 ceu

143

P

PA U LO BAPTI STA

Estas fotografias tern urn significado especial porque nao estavam vinculadas

ao programa da obra e nessa medida representam a mais livre escolha de Biel

Identmcanda a seu gasto mais intimo integram-se na serie de paisagens intimisshy

tas incluindo a Paisagem no Choupal e Aldeia no Minho (Serradella)

Mesmo depois do desaparecimento de Biel a sua obra nunca deixou de

representar uma das principais referencias para a ilustra~ao fotografica ponushy

guesa e a sua qualidade e impordncia marcou a fotografia nacional em parshy

ticular as edi~6es de Marques de Abreu e a obra de Domingos Alvao que foi por urn lado 0 sucessor directo de Biel como forografo do Douro explorando

a riqueza plastica daquela regiao com uma obra de grande pujan~a por ourro cultar da fotografia de costumes numa vertente assumidamente pictorialista

na serie a que curiosamente chamaram laquoas suas pupilasraquomiddot

A Arte e a Natureza em Portugal e todo 0 conjunto da obra de Emilio Biel

surge-nos como urn marco de especial impon ancia para a fotografia portushy

guesa para a historiografia da arte portuguesa e para a ilustra~ao fotogra fica

representando ainda urn dos mais importantes repertorios iconograficos do seculo XIX e inkio do seculo XX Obra (mica e de plena actualidade ja deveshy

ria ter merecido 0 reconhecimento e a divulgarao com que nao pode contar

penalizada pela incipiencia do meio cultural e artistico portugues que apesar

da sua imporrancia sem inal nao conseguiu ai nda entender a modernidade

que Ihe esra subjacente e a excluiu sistematica mente da visibilidade de que

beneficiou algum fotografia porrugues nos anos mais recemes

A Pd SAGE M NA OBRA FO T OGRAFICA DA CASA BIEL

141 v VidraJoaqum -0 Fot6grafo Alvao e as suas Pupilas Coequi D-Mus N 51 Dezembro de 1981 pp 42a 49

14 4 145

PAULO IAPTISTA

Retomando a questiio da interac~iio entra a jovemraquo fotografia e as artes

academicas vermcoumiddotse que a fotografia se tornou em termos tecnicos uma

ferramenta a que passaram a reeorrer as pintores e as escultores como auxiliar

do seu trabalho Para 0 retrato a fotografia tinha a grande vanta gem de poder

em parte substituir 0 modelo Noutros generos veio a ser urn recurso utilishy

zado por muitos artistas como salientou 0 historiador de arte Aaron Scharf~ Em Fran~a muitos pintores recorreram ao auxllio da fotografia no seu trabashy

Iho Jean-Baptiste Camille Corot Jean-Fran~ois Millet Theodore Rousseau

Charles-Pran~oi s Daubigny mas foi em Inglaterra que uma das figuras tuteshy

lares da arte inglesa da segunda metade do sec XIX John Ruskin usou de

forma sistematica a fotografia como base dos seus desenhos entre 1841 e 1845

recorrendo a uma extensa colec~ao de daguerreotipos de edificios italianos de

Floren~a Pisa e Veneza Ruskin teorizou sobre as vantagens dessa util iza~iio na obra Praeterita embora mais tarde tambem tenha posta em causa a seu

valor A proximidade entre artes pl~sticas e fotogralia favoreceu natural mente

a adop~iio dos generos consagrados sobretudo na pintura pelos fotografos

A assimila~ao foi nalguns casos tao completa que chegou inclusivamentar a contemplar 0 academico genero h istorico cultivado pelo ex-pintor e fotografo

sueeo Oscar Gustav Rejla nder em particular com as suas recriac6es de cenas

biblicas Nessa medida iremos abordar a paisagem na obra da Casa Biel e em

particular n A Arte e a Natureza em Portugal considerando 0 genero da paisashy

gem numa perspectiva de epoea abrangendo vistas da natureza mas tambem

urbanas de ruinas ou ate alguns exemplos de costumes Voltando a actividade da Casa Biel importa mencionar que de facto 0

projecto de editar urn grande repertorio da arte portuguesa teve origem logo

na decada de 1880 quer pelas primeiras tentativas de ediciio quer pela sisteshy

matica divulga~iio de imagens atraves da revista 0 Occidente que se inicia em

1882 com a publica~iio de gravuras de Caetano Alberto da Silva a partir de

fotografias da Casa Biel incluindo vistas de alguns lugares do norte do pais e das novas vias de caminho de ferro que totalizaram mais de 100 fotografias

referendadas durante os 22 anos de edicao 0 Occidente (1877-1899) 0 Archivo

Pittoresco (1856-1868) e 0 Panorama (1837-1868) teriio sido os rna is importantes

1l0 Scharf Aaron Art and Pholography Allen Lane the Penguin Press Londres 1968 p 5lmiddot

134

A PAI$AGIIW NA OBRA POTOCRAPI C A OA CASA BIBL

vekulos de divulgaiio iconognlfica que a grande tiragem das publicac6es pershy

mitia chegar a urn publico alargado

As primeiras publicacoes da Casa Biel e alguns projectos revelaram desde

logo aspectos muito importantes No inicio de 1881 0 projecto de urn grupo de

jovens membros do Club Nomada que realizou uma expediciio it Serra do Suashy

jo vai associar a Emilio Biel dois entusiastas da fotografia que vieram a ter granshy

de importancia no panorama fotognlfico portugues Ildefonso Correia (futuro

editor da revista A Am Photographica) e Jose Augusto da Cunha Moraes fot6grashy

fo angola no autor do album fotognlfico Africa Occidental Album Photographico e

Descriptivo da Africa Occidental impresso na casa Biel em 1885 e se tornou mais

tarde importante colaborador de Biel Infelizmente 0 album de titulo 0 Soajo

ter-se-a ficado pelo prospecto introdut6riou Logo no ano seguinte 0 album Exshy

posiftio Districtal de Aveiro em 1882 representa urn importante passo primeiro e0

inicio da longa colabora~ao entre Emilio Biel eJoaquim de Vasconcelos depois

representa uma resposta de ambos famosa polemic que opos Vasconcelos (e

outros como Ramalho Ortigiio) it comissao organizadora da Exposicao de Arte

Ornamental no palacio das Janelas Verdes quanto aos criterios de selec~iio das

pecas e it organizaciio da exposi~ao de cujo ll1xUOSO catalogo foi encarregado

Carlos Relvas Desde cedo Biel assume urn interven~1io civica com a publica ao

de Os Lusiadas mas logo em 1883 prop6e urn projecto com 0 titulo Portugal Antishy

go e Moderno em que siio esbo~adas algumas dos aspectos rnais importantes da futura Arte e Natureza 0 projecto Portugal Antigo e Moderno propunha-se divulshy

gar as monumentos e ou[ras obras de arte nacionais que seriam ilustradas com

800 fototipias (1) Para a sua concretiza ao desta obra Biel deslocou-se a Lisboa

solicitando 0 apoio do rei D Fernando II para a sua concretizaciio 0 projecto

nao teve continuidade editorial muito provavelmente por falta de apoios No

entanto sabemos que a recolha sistematica de vistas seg uia 0 seu curso como e

possive testemunhar atraves de 0 Occidente

fl1 Baptista Paulo A Casa Bit t as suas tdlfOts fOlografictls no Portugal dt OfIOCtnIOS Dissertaio de rncstrado em Hist6ria da Arte Lisboa PCSH da UNL 1994 p 119 121 Jose-Augusto Pran~a A ATtt em Porlugal no Siculo XIX II volp 7l

Il] A nolicia dena viagem foi pubJicada em 0 Primtiro dt jantiro 15deg Anno Ndeg 20 24 011188]

D Pernando II (1816-1886) rei consorte que favoreceu bastante os alemies residentes em Portugal nomeadamente Biel (cf EAStrasen e Alfredo Gandara Oito stcwlos de HiJt6ria Luso-Almd) embora no ferenda caso infeJizmente tal nao tenha sucedido

135

PAU LO BAPTIST A

Dentro da organiza~ao da sua empresa urn aspecto que mereceu partishy

cular cuidado a Emilio Bie foi 0 seu COlPO tecnico Pela sua casa passaram

alguns dos mais importantes fotografos portugueses como Guilherme Boldt

Domingos Souto jose Carvalho jose Peres Constantino Guedes Domingos

Alvao de entre os que chegaram ao nossO conheci mento mas ha que destacar

Fernando Brutt e jose Augusto da Cunha Moraes verdadeiros pilares de A

Arte e a Natureza em Portugal e socios de Biel nesse empreendimento integranshy

do a sec~ao das industrias gridlcas (forografia fototipia e litografi a) que ele

criou para as grandes edi~oes Na viragem do seculo ira desencadearmiddotse todo urn rurbilhao de edioes de

1896 a 1902 a Casa Biel puhlicou algumas das mais importantes edi~oes produzidas

em Porrugal duas obras do Visconde Vilarinho de S Romao Viticultura e Viniculshy

turaU e 0 Minho e as suas Culturas Tambem publicou 0 catalogo da Exposifllo de

Arte Ontamental do Districta de Vianna em Agosto e Setembro de 1896 nova cola boramiddot

~ao corn joaquim de Vasconcelos e ainda dois dos albuns que iniciararn uma linha

editorial denominada Portugal os i1buns PortugalmiddotGerez de 1887 e POTlugal-Espinho

de 1898~ Nestas obras ja comeam a ser inseridas algumas das fototipias que tamshy

bern integra ram depois A Arre e a Natureza em Portugal revelando uma preocupa~ao

na ecanomia de meios imprescindive1 a realiza~oes dessa dim en sao No conjunro da obra da Casa Emilio Biel amp Cmiddot e pel a sua dimensao A Arte

e a Natureza em Portugal nao tera talvez a consistenda de autros trabalhos como

oDouro ou 0 lbum do Caminho de Ferro do Douro mas nunca podera deixar de

ser considerada a mais importante de toda a obra daquela casa editora na medida

em que representa urn projecto proprio com raizes antigas e uma conscienda

plena em termos esteticos e historiogrficos E0 primeiro projecto porrugues de

fOlego que assume 0 registo e divulga~ao de patrimonio traduzindo a consciencia

da necessidade de um levantamento do patrimonio ideia cuja actualidade se conmiddot

tinua a colocar de forma extrema mente premente como 0 atestam as mais recenshy

124 Visconde ViJlarinho de S RomiiO Vit icullura e Vinicutura TrasmiddotOs-Montes e Alto Douro Central

Lisboa Imprensa Nacional 1896 com n fototipias de 8kl 1

125 Visconde VilJarinho de S Romao Minhq(O) e as Suas Culturas Lisboa Imprensa Naciona 190 bull

com 39 forotipias de Siel 1l6 Catalogo da ExposiflIo de Artt Ornamental do Districto de Vianna em Agosto t Seumbro dt 1896 Viana do

Castelo Emilio Iliel amp C 1898 (com 61 phototypias da casa Biel) 121 Em ilio Biel Portugal -fupio Po rtO Emilio Biel amp Cmiddot 898

1 36

It PAISACBM N A OBRA POTOCRAPCA DA CASA BlBL

tes edioes Essa dimensao foi segura mente ttansposta para A Arlee a Natureza em

Portugal por joaquim de Vasconcelos e cabal mente aproveitada por um sensive

e erudito empresario Emilio Biel que teve capacidade para the dar prossecu~ao A preocupa ao de Biel com as questoes do patrimonio fez-se sentir amiude e e pOl isso que assistimos em 1897 ao urgente levantamento fotografico do Conshy

vento de S Bento da Ave Maria do Porto edificio que se enContrava na eminencia

de ruil 0 trabalho fotografico foi executado por Fernando Br(jtt ~

Em termos esteticos os lbuns dos Caminos de Ferro e em particular Caminhos de

Ferro do Douro representaram uma autentica ruptura na forogra fia portuguesa

do seculo XIX Grande parte das fotografias revelam uma abordagem fotograshy

fica totalmente nova quer pela profunda riqueza tonal que possuem testemushy

nho de um assinalvel dominio tecnico quer pelo enquadramento cenografico

e monumental da panoramica traduzindo toda a beleza rude e in6spita do vale

do Douro com 0 seu leito profundarnente cavado por entre vertentes abruptas

(om uma discreta presena humana que se revela insignificante perante a for~a

da natureza qu e agora uma nova mao humana procura dominar Euma noshy

tavel representa~ao das rela~5es entre natureza e tecnica cujos elementos esteshy

ticos contribuem de forma significativa para 0 conteudo documental que sera

talvez a mais cabal representaao do progresso jontista Essa perspcctiva era

totalmente nova na fotografia porruguesa da epoca e constiruira uma das linhas esteticas exploradas em A Arre e a Natureza em Portugal

Biel e os seus colaboradores tiveram estreitos contactos com os artistas da

primeira geraao naturalista Biel era socio do Ateneu Comercial do Porto tenshy

do chegado a coIaborar na ediao de muitos dos catalogos das exposi oes desse

importante centro anistico portuense entre 1887 e 1895 Nessa medida sao de

destacar os Contactos comjoao Marques de Oliveira j ulio Costa Antonio Teishy

xeira Lopes Ant6nio Ramalho Antonio Carvalho de Silva Pono jose julio de

Souza Pinto Henrique Pousao Alberto Nunes]oao Vaz jose Brito e principal

IU 0 Prlltleiro de Jannro 280 ano Ndeg 34 de 8611891 pl 0 Convento dOl Ave Maria _ trabalho fotogrUico

119 A inovaao estetica surge desde logo na comparaao com a evulgaridade re~titiva comparem-se COrn os albuns que Bobone umbem produziu para os Caminhos de Ferro nomeadamente 0 album do carn lnho de rerro dOl linha de Cascai s que se Iimita a apresemar um registo mecanico e destituidos de lInagmatao das enaOes daquela Iinha contrastando com os albuns de Biel

137

PAULO BAPTISTA

mente Antonio Soares dos Reis cujo album de homenagem apos a tragic morshy

te foi preparado e impresso na Casa Biel Certamente que 0 contacto com os

referidos artistas tera sido importante para a aproxima~ao ao gosto naturalista

Noutro sentido terao sido inumeras as oportunidades de contactar com a nova

fotografia que se come~ava a impor sobretudo em Inglaterra num movimento

que proeurava reivindicar para a fotografia urn lugar entre as artes 0 grande

numero de exposi~oes em que participou em Portugal e no estrangeiro pershy

mitiram urn contacto com a obra de muitos fotografos Sao de destacar dois

dos mais importantes fotografos do seu tempo Peter Henry Emerson e Henry

Peach Robinson que participaram na Exposi~ao Internacional de Fotografia

realizada no Porto em 1886 onde a Casa Biel teve ampla participa~ao como

expositor e 0 proprio Biel como jurado Joao Marques de Oliveira tambem parshy

ticipou como expositor e como jurado de fotografia

A discussao do gosto de Emilio Biel nao pode ignorar 0 forte apelo que sobre ele exerceu a natureza Biel foi floricultor horticultor avicultor lepidopterologo

e urn fervoroso apaixonado do Geres onde comprou uma propriedaderaquo para se

dedicar acria~ao de veados Levou a sua fascina~ao ao ponto de editar mesmo

urn album 0 ja referido Portugal-Gerez~ preparado ern 1887 para ser oferecido i

familia real portuguesa 0 gosto pelo naturalismo e pela paisagem era por isso

para Biel rnais do que mera atitude estetica urn modo de estar na vida A multiplicidade de facto res condi~oes e circunstmcias investiram em

Emllio Biel uma verdadeira responsabilidade para com a historia da fotografia

porruguesa - fazer naseer a mais importante edi~ao forografica portuguesa

Felizmente 0 luso-alemao nao enjeitou 0 desafio Na folha de rosto de A Arte e a Natureza em Portugal indica-nos que se trata de urn Album de photographias

com descrip~oes cliches originaes copias em phototipia inalteravel monushy

mentos obras de artet costumes paisagensraquo Mas como vamos poder ver 0

130 0 texto de HP Robinson -Do effeito artistico em photographia foi publicado em A Arlf

Ph oCographlca Vob Janeiro Mano Abril Maio Junho Agosto Setembro Ourubro e Novembro de 188pp16-2879_89 111-120 147154 178185 144-254 28)-187 199-)09 e)45-)52 131 c r 0 Prilrlnrodejatlriro 180 ano Ndeg 81 44 1886 p I 132 cr 0 Pnlrltlro dtjanriro 180 ano Ndeg 88 13 411886

IJJ S Tomas Moreira Emilio Biel urn alemao no Pono_ 0 Tripriro IX ano Ndeg 5 Maio de 1990 pmmiddot 134 Portugal_ G(rn POrtO Emilio Biel amp Ca 1900-1910 (a lbum de rototipias) 135 0 Primaro d fjanflro 190 ano N0 255 de 12 1011 887 p I A familia real no Norte_

138

A PAI S AGS N N A oa flA POTOG flA P ICA DA CA SA BUL

conjunto de paisagens representa nao s6 uma parte signjficativa em terrnos

nu mericos mas sobretudo 0 conjunto artisticarnenre rna is marcante

Eclaro que nao podemos entender A Arte e a Natureza em Portugal como

uma obra de autor muitas das forografias representam urn compromisso com

o seu programa da obra Muitas sao vistas de vilas e cidades de urn pais preshy

dominantemente rural Mafra Mon~ao Vila Vi~osa Lagos Amarante Cashy

minha Montalegre Chaves e as vistas com menos urbe de Valen~a Barcelos

Barroso Bragan~a e Amarante Nesta ultima vale a pena reparar na modern ishydade da composi~ao de assinalavel maturidade estetiea

Nestas imagens temos sempre urn fundo de ruralidade que domina numa

visao que de facro ainda tern muito de garretiano Pode mesmo eonsiderar-se

que as Viagens na Minha Terra representam urn ponto de partida a que Rashy

malho Orrigao aludiu earacterizando 0 tema da obra de Garrett da seguinte

fo rma laquo[ j Estas viagens sao indispensaveis no meio da lamentavel desmoshy

ralizaao em que nos dissolvemos para nos ensinarem a conhecer e a amar

a Pat ria pelo que nela eimortal ineorruptlvel e sagrado pelo doee aspecto

dos seus montes dos seus vales dos seus rios pelo sorriso melane6lieo mas

contente dos vinhedos dos oliva is dos SOutos das hortas e dos pomares pela tradiao vivida nos monumentos arquitect6nicos nas romarias nos cantos e

nas cantigas populares nas indusrrias caseiras nas alfaias agricolas nas ferrashy

mentas dos edificios rurais na configura~ao dos lares [ jraquo

Mas passemos das paisagens urbanas as paisagens rurais que representam

algumas das mais belas fotografi as da obra 0 apuro tecrueo e a informa~ao esteshy

tica voltam a revelar-se de forma especial na sensivel explora~ao das margens rishy

beirinhas e dos reflexos na agua excedendo 0 mero registo bucolico Encontramoshy

-005 num POnto de viragem da fotografia portuguesa porque estes registos aponshy

tam novas direC~6es esteticas claramente assumidas por Biel neles se tomando eVidente a compreensao das questoes que se coloeavam afotografia no final de oitocentos em particular a sua emancipaao como forma de arte

Urn dos principais paladinos da afirma~ao da fotografia como arte foi Peter Henry Emerson com quem como referimos Biel teve contacto na Exshy

136 Abordado de forma profunda por Maria Joao lello Ortigao de Olive ira _ 0 Ptluamtnto tstirico

de Ramalho Ortigdo Para ~ma estitica do natural- it irttrarios (paisagtnS de malnura lisboa F C S H - UNL 1988 III parte p 15

139

~

PAUlO BAPTISTA

posi~ao Internacional de Fotografia do Porto em 1886 e que se destacou por algumas das mais bel as imagens dos lagos da regiao leste inglesa de East Anshy

glia A produ~ao deste medico britanico nao se limitou asua marcante obra

fotog abrangendo tambem escritos embora dispersos por publica~oesrbull fica e cpistolas Come~ando por se assumir como urn fot6grafo naturalista veio

rnais tarde a rejeitar 0 naturalismo em fotografia para defender a autonomia da

nova arte teorizando sobre os aspectos da composi~ao e da sua especificidade

re1ativamente as Durras arres em particular apintura Ha muitos paralelos enmiddot

[te as obras fotogrficas de Peter Henry Emerson e de Biel quer no conj unro

de paisagens rurais quer naurTas temas que se salientam adiante

Uma das temticas da obra de Biel que possui uma carga romantica muito

acentuada e0 registo de ruinas No entanto Biel confece a estes registos uma

carga de dramatismo que ultrapassa de forma inequivoca 0 mero regisro docushy

mental As fotografias revelam-nos cuidadosas encenac6es em que as cuinas c os

monumentos sao descobertos de uma curva do rio como no Castelo de Almoushy

rol ou por detras de urn maci~o de vegeta~ao como na Batalha explorando 0

efeito da surpresa mais do que contemplarmos registos sentimo-nos a viajar

Estas forografias sao testemunho de uma profunda consciencia estetica elegenmiddot

do a composicao como elemento fundamental de uma forma nlarcadamente

moderna com urn inteligente enquadramento da arquitectura na natureza e

urn informado entendimento desta Talvez cjam estes os melhores exemplos das imagens que terao inspirado 0 titulo da obra A Arte e a Natureza em PortugaL

Neste conjunto de imagens Biel nao poderia deixar de dar destaque a DutrO urn

monumento a edificacao romantica por excelencia 0 Palacio da Pena homenamiddot

gem ao seu Rei COlnpatriota e patrono conferindo ao conjunto de imagens de

Sinrra captadas sob atmosfera densa uma simbologia especial As marinhas sao outra serie que se destaca nesta obra D e facto vamos

pouco a pouco percorrendo na fotografia os generos que fora m herd ados da

pinrura naturalis ta 0 conjunto de irnagens da ria de Aveiro e urn novO tesmiddot

temunho da modernidade desta obra Aqui se voltam a destacar 0 dominiO dos elementos da luz da agua e dos reflexos que nos levam a regressar aD

137 A imponancia da atmosfera na arte fotogrifica ~ abordada por Weaver Mike Th~ PhOlOgntpkiCArt

NY Harper amp Row 1986 pp 46-51

A PAISACBM 11 Oap POTO(RAFICA DA CASA B1BL

paralelo com a obra de Peter Henry Emersonja que grande parte da sua obra

e ma rcada por esses elementos Se Ie certo que 0 caracter artistico da obra de

Emerson emais acentuado por for~a do recurso agrande amplitude tonal e

ao grao tao caracteristicos da fotogravura processo tecnico que elegeu para a

sua expressao artistlca e que domina com mestria No entanto nas fototipias

da ria de Aveiro Biel atingiu 0 melhor apuro tecnico e mesmo sem 0 efeito

do grao a for~a das imagens nao fi ca aquem da de Emerson feliz contra ponto da luz mediterranica filtrada pel ligeira nortada adensa neblina de Norfolk

Esse apuro tecnico deixamiddotnos sentir nestas imagens 0 prenuncio de uma tenmiddot

dell cia pictorialista que tambem e perceptivel noutras series desta obra como

nas imagens dedicadas aserra da Estrela e ao Mondego

A uriliza~ao do termo pictorialista no contexto da obra de Biel nao preshy

tende natural mente associamiddotlo 30 movimento anistico pictorialista que nas

duas primeiras decadas do seculo XX marcou a cenas anisticas novamiddotiorquina

e londrina em que Alfred Stieglitz assumiu papel de destaque divulgando

em Nova Iorque algu ns dos mais destacados artistas europeus entre os quais

Amadeo de Souza-Cardoso Noutro senti do 0 pictorialismo na obra de Biel

deve entendermiddotse na acep~ao mais lata do termo pel a preocupa~ao de transshymitir nas fotografi as uma ambiencia expressar urn sentimento afastando middotse

dessa forma das preocupa~oes estritamente docu mentais que caracterizam 0

grosso das imagens de a A Arte e a Natureza em Portugal e a quase totalidade da

fotografia portuguesa desse periodo Ests excep~6es tern por isso uma partishy

cular importancia para esc1arecer de forma inequ ivoca a sua modernidade

As forotipias da serra da Estrela retomam a visao monumental reve1ada nos

lbuns dos Caminhos de Ferro aqui acentuando 0 carcter inospito da paisagem

e a impotencia do Homem perante a for~a da Natureza 0 exemplo mais punshy

gente dessa dicotomia mais ainda do que na forca das cascaras surgemiddotnos com

a fotografia da Lagoa Escura gelada em que a presen~a humana insignificante

quase s6 se fa z sentir pela ponrua~ao das sombras projectadas na imensa superfishy

tie branca da lagoa gelada num bela efeito grafico de acemuada modernidade so

passivel pelo espeCial apuro tecnico que a fotogcifia de neve e gelD em montanha

exige Mas essa modernidade acenrua-sc nao s6 pelas imagens em si seja esta

Elisa dificuldade tern plena expressao no fraco album de Emygdio Navarro Quatro Dlas na amprra

14114 0

PAULO BAPTISTA

seja a ja mencianada vista de Amarante mas sabretuda pela ausadia de as incluir

na abra amerce da aprecia~aa de urn publica pouca canhecedor e nessa persshy

pectiva assuminda urna pasiaa estetica e palitica de maiar empenha e risco

Pademas criticar a A Arte e a Natureza em Portugal par alguma heterageneidashy

de Ela deve-se naturalmente asua langa genese e a urn pragrama sucessivamente

adaptada as circunstancias que acabaram par permitir a sua cancretiza~aa mas

tera sabretuda a ver cam a diversa autoria das registas fatograficos Sabemas de

antemaa que as principais respansaveis pela realizaaa tecnica das fatagrafias

faram Cunha Maraes e F Brtitt Ambas teraa colabarada cam muitas fatagrafias

mas se cansiderarmas que Brtitt era urn pilar da estudia e da secaa de preparashy

aa e retoque das chapas de impressaa tera deixada certamente parte significashy

tiva da fuse final da abra para Cunha Maraes ja durante a publicaaa em que era necessario satisfazer 0 compromisso mensal de fazer chegar aos assinantes os

numeras que lbes eram devidas_ Pademas assirn delinir dais grandes conjuntas

de fatogralias a narte da pais e parte da centra teraa sida da respansabi lidade

de BrUtt em particular as fatagralias que ja pertenciam acalecaa da Casa Biel

enquanta toda a suI da pais e a regiaa de Lisbaa teraa sida da responsabilidade

de Cunha Maraes cuja contribuiaa para a abra tera sida decisiva na fuse final da recalha particularmeote na regiaa de Lisbaa na Alenteja e na Algarve Algushy

mas dessas sequencias revelam-nas a cansistencia da trabalha de Cunha Maraes

e a qualidade que ja se lbe canhecia em trabalbas anteriares testemunha da

trabalha de urn das melbares fat6grafas da seu tempa_ Datada de particular

sensibilidade cam urn gasta muita acentuada pela pequena detalhe assimila

com particular facilidade as pressupostas e abjectivas da abra A qualidade das fatagralias de Cunha Maraes revela-se na generalidade

dos registos embora nalguns casos possa ser excepcional assinale-se a paisashy

gem de Manchique cujas varia6es tanais de extrema suavidade saa a prava

da sua sensibilidade Pa r alinidade evidente atribuir-lhe-emas a autoria de aushy

tras paisagens que aqui se incluem e refonam a consistencia do seu trabalho

A serenidade da seu trabalha de regista esta na p6la apasto da dramatismo

da Enrdln Notas dt 11m passrio Porto livraria Civiliza~ao 1884 com fototipias impressa ~Ia Fotografia

Mod~ma de IIdtfonso Correia de cuja falta de qualidade 0 autor A Cesar Henriques se oenaliza

referindo 0 facto de as leT cedido a muira cuStO por serem da sua co lec~ao panicular 139 CfO Primriro dtJartnro 3]deg anD Ndeg 165 de 13711901 pl eidem 35deg ano Ndeg 30a de JJ i12 rrJ)j pl

42

A PAJ$AGBM NA OBRA FOTOGRAplCA OA CASA IIIEL

das paisagens da Daura segura mente da respansabilidade de Biel e BrUtt

Mas para sermas justas cam BrUtt naa nas pademas esquecer de que sabre ele

pesava a encarga da processa fatitipica e nessa medida signilicativa parcel a de respansabilidade sabre a impressaa de tada a abra Ou seja as pravas das

fatagralias de Cunha Marais faram impressas sab a superintendencia de Brutt

e nessa medida saa tambem de sua autoria a que nas mastra que de facta s6

uma grande cumplicidade tecnica e estetica entre estas tres figuras cimeiras da fatogralia partuguesa passibilitau a feliz desfecha da abra

A serie de fatagrafias da Mandega e das rna is belas de tada a abra expresshysanda urn naturalismo ja presente nalgumas vistas de 0 Minho e as suas Cultushy

ras mas que aqui se assume em grande plenitude_ Destaca-se a laquoPaisa gem na choupah) cujo tratamento particularmente suave do contra-luz atinge urn exshy

traordinario apuro tecnico porque nao escurece 0 primeiro plano e em que

pademas abservar a cena buc6lica de uma javem malhanda a pe numa paa

de agua estariamos perante uma cena de genera encenada nao fossem os ga_

rotos que brincarn mais arras deixarem-nos a ideia de se tratar de uma situacao

espontanea_ A suavidade da prova e a sua subtil riqueza tanal valtam a provar

a grande apuro tecnico na manipulaaa das fatotipias atingida pela Casa Biel e

a passibilidade de adequar esse processa tecnica a diversas situa6es esteticas

Muita mais da que mera virtuasismo fatografico csta abra desvenda-nas a asshy

sumpaa de urn estila pr6pria bern definida que subjaz a tada a abra mas se tarna rna is evidente em pantua6es diversas cama n As Margens do rio Nabiio

em 0 rio Cris Martagua n As Portas de Rodam au em Ponte dosJuncaes sobre 0 rio Mondego_ Saa paisagens intimistas mamentas de fruiaa particular que trans

formam a pr6pria carleter manumental da obra canferinda-lhe uma leveza e

uma madernidade unicas que pertnitem cansidera-la 0 prirneiro grande ensaio

de fotagrafia de paisagem partuguesa Embara naa se conhea nenhum escrita

que passa fundamentar as ap6es esteticas de Biel naa restam quaisquer duvishydas sobre elas porque a acampaobar a ediaa de A Arte e a Natureza em Portugal

as assinames recebiam brindes especiais fatotipias de grande farmata algumas

impressas a partir de imagens que canstavam do corpa da abra e autras ineditas

~ 40 Tecnicamente e bastante dincil conseguir a sugestao de ceu que Fernand Brutt 0 esptcialista de IfTlpresdo da Casa Biel conseguiu na zona critica do contramiddotluz para 0 que Ur1l mascarado todo 0 TeSta e t ill seguida laquoqu6rnadoraquo toda ena zona para guantir a legihilidade do primeiro plano sem davarraquo 0 ceu

143

P

PA U LO BAPTI STA

Estas fotografias tern urn significado especial porque nao estavam vinculadas

ao programa da obra e nessa medida representam a mais livre escolha de Biel

Identmcanda a seu gasto mais intimo integram-se na serie de paisagens intimisshy

tas incluindo a Paisagem no Choupal e Aldeia no Minho (Serradella)

Mesmo depois do desaparecimento de Biel a sua obra nunca deixou de

representar uma das principais referencias para a ilustra~ao fotografica ponushy

guesa e a sua qualidade e impordncia marcou a fotografia nacional em parshy

ticular as edi~6es de Marques de Abreu e a obra de Domingos Alvao que foi por urn lado 0 sucessor directo de Biel como forografo do Douro explorando

a riqueza plastica daquela regiao com uma obra de grande pujan~a por ourro cultar da fotografia de costumes numa vertente assumidamente pictorialista

na serie a que curiosamente chamaram laquoas suas pupilasraquomiddot

A Arte e a Natureza em Portugal e todo 0 conjunto da obra de Emilio Biel

surge-nos como urn marco de especial impon ancia para a fotografia portushy

guesa para a historiografia da arte portuguesa e para a ilustra~ao fotogra fica

representando ainda urn dos mais importantes repertorios iconograficos do seculo XIX e inkio do seculo XX Obra (mica e de plena actualidade ja deveshy

ria ter merecido 0 reconhecimento e a divulgarao com que nao pode contar

penalizada pela incipiencia do meio cultural e artistico portugues que apesar

da sua imporrancia sem inal nao conseguiu ai nda entender a modernidade

que Ihe esra subjacente e a excluiu sistematica mente da visibilidade de que

beneficiou algum fotografia porrugues nos anos mais recemes

A Pd SAGE M NA OBRA FO T OGRAFICA DA CASA BIEL

141 v VidraJoaqum -0 Fot6grafo Alvao e as suas Pupilas Coequi D-Mus N 51 Dezembro de 1981 pp 42a 49

14 4 145

PAU LO BAPTIST A

Dentro da organiza~ao da sua empresa urn aspecto que mereceu partishy

cular cuidado a Emilio Bie foi 0 seu COlPO tecnico Pela sua casa passaram

alguns dos mais importantes fotografos portugueses como Guilherme Boldt

Domingos Souto jose Carvalho jose Peres Constantino Guedes Domingos

Alvao de entre os que chegaram ao nossO conheci mento mas ha que destacar

Fernando Brutt e jose Augusto da Cunha Moraes verdadeiros pilares de A

Arte e a Natureza em Portugal e socios de Biel nesse empreendimento integranshy

do a sec~ao das industrias gridlcas (forografia fototipia e litografi a) que ele

criou para as grandes edi~oes Na viragem do seculo ira desencadearmiddotse todo urn rurbilhao de edioes de

1896 a 1902 a Casa Biel puhlicou algumas das mais importantes edi~oes produzidas

em Porrugal duas obras do Visconde Vilarinho de S Romao Viticultura e Viniculshy

turaU e 0 Minho e as suas Culturas Tambem publicou 0 catalogo da Exposifllo de

Arte Ontamental do Districta de Vianna em Agosto e Setembro de 1896 nova cola boramiddot

~ao corn joaquim de Vasconcelos e ainda dois dos albuns que iniciararn uma linha

editorial denominada Portugal os i1buns PortugalmiddotGerez de 1887 e POTlugal-Espinho

de 1898~ Nestas obras ja comeam a ser inseridas algumas das fototipias que tamshy

bern integra ram depois A Arre e a Natureza em Portugal revelando uma preocupa~ao

na ecanomia de meios imprescindive1 a realiza~oes dessa dim en sao No conjunro da obra da Casa Emilio Biel amp Cmiddot e pel a sua dimensao A Arte

e a Natureza em Portugal nao tera talvez a consistenda de autros trabalhos como

oDouro ou 0 lbum do Caminho de Ferro do Douro mas nunca podera deixar de

ser considerada a mais importante de toda a obra daquela casa editora na medida

em que representa urn projecto proprio com raizes antigas e uma conscienda

plena em termos esteticos e historiogrficos E0 primeiro projecto porrugues de

fOlego que assume 0 registo e divulga~ao de patrimonio traduzindo a consciencia

da necessidade de um levantamento do patrimonio ideia cuja actualidade se conmiddot

tinua a colocar de forma extrema mente premente como 0 atestam as mais recenshy

124 Visconde ViJlarinho de S RomiiO Vit icullura e Vinicutura TrasmiddotOs-Montes e Alto Douro Central

Lisboa Imprensa Nacional 1896 com n fototipias de 8kl 1

125 Visconde VilJarinho de S Romao Minhq(O) e as Suas Culturas Lisboa Imprensa Naciona 190 bull

com 39 forotipias de Siel 1l6 Catalogo da ExposiflIo de Artt Ornamental do Districto de Vianna em Agosto t Seumbro dt 1896 Viana do

Castelo Emilio Iliel amp C 1898 (com 61 phototypias da casa Biel) 121 Em ilio Biel Portugal -fupio Po rtO Emilio Biel amp Cmiddot 898

1 36

It PAISACBM N A OBRA POTOCRAPCA DA CASA BlBL

tes edioes Essa dimensao foi segura mente ttansposta para A Arlee a Natureza em

Portugal por joaquim de Vasconcelos e cabal mente aproveitada por um sensive

e erudito empresario Emilio Biel que teve capacidade para the dar prossecu~ao A preocupa ao de Biel com as questoes do patrimonio fez-se sentir amiude e e pOl isso que assistimos em 1897 ao urgente levantamento fotografico do Conshy

vento de S Bento da Ave Maria do Porto edificio que se enContrava na eminencia

de ruil 0 trabalho fotografico foi executado por Fernando Br(jtt ~

Em termos esteticos os lbuns dos Caminos de Ferro e em particular Caminhos de

Ferro do Douro representaram uma autentica ruptura na forogra fia portuguesa

do seculo XIX Grande parte das fotografias revelam uma abordagem fotograshy

fica totalmente nova quer pela profunda riqueza tonal que possuem testemushy

nho de um assinalvel dominio tecnico quer pelo enquadramento cenografico

e monumental da panoramica traduzindo toda a beleza rude e in6spita do vale

do Douro com 0 seu leito profundarnente cavado por entre vertentes abruptas

(om uma discreta presena humana que se revela insignificante perante a for~a

da natureza qu e agora uma nova mao humana procura dominar Euma noshy

tavel representa~ao das rela~5es entre natureza e tecnica cujos elementos esteshy

ticos contribuem de forma significativa para 0 conteudo documental que sera

talvez a mais cabal representaao do progresso jontista Essa perspcctiva era

totalmente nova na fotografia porruguesa da epoca e constiruira uma das linhas esteticas exploradas em A Arre e a Natureza em Portugal

Biel e os seus colaboradores tiveram estreitos contactos com os artistas da

primeira geraao naturalista Biel era socio do Ateneu Comercial do Porto tenshy

do chegado a coIaborar na ediao de muitos dos catalogos das exposi oes desse

importante centro anistico portuense entre 1887 e 1895 Nessa medida sao de

destacar os Contactos comjoao Marques de Oliveira j ulio Costa Antonio Teishy

xeira Lopes Ant6nio Ramalho Antonio Carvalho de Silva Pono jose julio de

Souza Pinto Henrique Pousao Alberto Nunes]oao Vaz jose Brito e principal

IU 0 Prlltleiro de Jannro 280 ano Ndeg 34 de 8611891 pl 0 Convento dOl Ave Maria _ trabalho fotogrUico

119 A inovaao estetica surge desde logo na comparaao com a evulgaridade re~titiva comparem-se COrn os albuns que Bobone umbem produziu para os Caminhos de Ferro nomeadamente 0 album do carn lnho de rerro dOl linha de Cascai s que se Iimita a apresemar um registo mecanico e destituidos de lInagmatao das enaOes daquela Iinha contrastando com os albuns de Biel

137

PAULO BAPTISTA

mente Antonio Soares dos Reis cujo album de homenagem apos a tragic morshy

te foi preparado e impresso na Casa Biel Certamente que 0 contacto com os

referidos artistas tera sido importante para a aproxima~ao ao gosto naturalista

Noutro sentido terao sido inumeras as oportunidades de contactar com a nova

fotografia que se come~ava a impor sobretudo em Inglaterra num movimento

que proeurava reivindicar para a fotografia urn lugar entre as artes 0 grande

numero de exposi~oes em que participou em Portugal e no estrangeiro pershy

mitiram urn contacto com a obra de muitos fotografos Sao de destacar dois

dos mais importantes fotografos do seu tempo Peter Henry Emerson e Henry

Peach Robinson que participaram na Exposi~ao Internacional de Fotografia

realizada no Porto em 1886 onde a Casa Biel teve ampla participa~ao como

expositor e 0 proprio Biel como jurado Joao Marques de Oliveira tambem parshy

ticipou como expositor e como jurado de fotografia

A discussao do gosto de Emilio Biel nao pode ignorar 0 forte apelo que sobre ele exerceu a natureza Biel foi floricultor horticultor avicultor lepidopterologo

e urn fervoroso apaixonado do Geres onde comprou uma propriedaderaquo para se

dedicar acria~ao de veados Levou a sua fascina~ao ao ponto de editar mesmo

urn album 0 ja referido Portugal-Gerez~ preparado ern 1887 para ser oferecido i

familia real portuguesa 0 gosto pelo naturalismo e pela paisagem era por isso

para Biel rnais do que mera atitude estetica urn modo de estar na vida A multiplicidade de facto res condi~oes e circunstmcias investiram em

Emllio Biel uma verdadeira responsabilidade para com a historia da fotografia

porruguesa - fazer naseer a mais importante edi~ao forografica portuguesa

Felizmente 0 luso-alemao nao enjeitou 0 desafio Na folha de rosto de A Arte e a Natureza em Portugal indica-nos que se trata de urn Album de photographias

com descrip~oes cliches originaes copias em phototipia inalteravel monushy

mentos obras de artet costumes paisagensraquo Mas como vamos poder ver 0

130 0 texto de HP Robinson -Do effeito artistico em photographia foi publicado em A Arlf

Ph oCographlca Vob Janeiro Mano Abril Maio Junho Agosto Setembro Ourubro e Novembro de 188pp16-2879_89 111-120 147154 178185 144-254 28)-187 199-)09 e)45-)52 131 c r 0 Prilrlnrodejatlriro 180 ano Ndeg 81 44 1886 p I 132 cr 0 Pnlrltlro dtjanriro 180 ano Ndeg 88 13 411886

IJJ S Tomas Moreira Emilio Biel urn alemao no Pono_ 0 Tripriro IX ano Ndeg 5 Maio de 1990 pmmiddot 134 Portugal_ G(rn POrtO Emilio Biel amp Ca 1900-1910 (a lbum de rototipias) 135 0 Primaro d fjanflro 190 ano N0 255 de 12 1011 887 p I A familia real no Norte_

138

A PAI S AGS N N A oa flA POTOG flA P ICA DA CA SA BUL

conjunto de paisagens representa nao s6 uma parte signjficativa em terrnos

nu mericos mas sobretudo 0 conjunto artisticarnenre rna is marcante

Eclaro que nao podemos entender A Arte e a Natureza em Portugal como

uma obra de autor muitas das forografias representam urn compromisso com

o seu programa da obra Muitas sao vistas de vilas e cidades de urn pais preshy

dominantemente rural Mafra Mon~ao Vila Vi~osa Lagos Amarante Cashy

minha Montalegre Chaves e as vistas com menos urbe de Valen~a Barcelos

Barroso Bragan~a e Amarante Nesta ultima vale a pena reparar na modern ishydade da composi~ao de assinalavel maturidade estetiea

Nestas imagens temos sempre urn fundo de ruralidade que domina numa

visao que de facro ainda tern muito de garretiano Pode mesmo eonsiderar-se

que as Viagens na Minha Terra representam urn ponto de partida a que Rashy

malho Orrigao aludiu earacterizando 0 tema da obra de Garrett da seguinte

fo rma laquo[ j Estas viagens sao indispensaveis no meio da lamentavel desmoshy

ralizaao em que nos dissolvemos para nos ensinarem a conhecer e a amar

a Pat ria pelo que nela eimortal ineorruptlvel e sagrado pelo doee aspecto

dos seus montes dos seus vales dos seus rios pelo sorriso melane6lieo mas

contente dos vinhedos dos oliva is dos SOutos das hortas e dos pomares pela tradiao vivida nos monumentos arquitect6nicos nas romarias nos cantos e

nas cantigas populares nas indusrrias caseiras nas alfaias agricolas nas ferrashy

mentas dos edificios rurais na configura~ao dos lares [ jraquo

Mas passemos das paisagens urbanas as paisagens rurais que representam

algumas das mais belas fotografi as da obra 0 apuro tecrueo e a informa~ao esteshy

tica voltam a revelar-se de forma especial na sensivel explora~ao das margens rishy

beirinhas e dos reflexos na agua excedendo 0 mero registo bucolico Encontramoshy

-005 num POnto de viragem da fotografia portuguesa porque estes registos aponshy

tam novas direC~6es esteticas claramente assumidas por Biel neles se tomando eVidente a compreensao das questoes que se coloeavam afotografia no final de oitocentos em particular a sua emancipaao como forma de arte

Urn dos principais paladinos da afirma~ao da fotografia como arte foi Peter Henry Emerson com quem como referimos Biel teve contacto na Exshy

136 Abordado de forma profunda por Maria Joao lello Ortigao de Olive ira _ 0 Ptluamtnto tstirico

de Ramalho Ortigdo Para ~ma estitica do natural- it irttrarios (paisagtnS de malnura lisboa F C S H - UNL 1988 III parte p 15

139

~

PAUlO BAPTISTA

posi~ao Internacional de Fotografia do Porto em 1886 e que se destacou por algumas das mais bel as imagens dos lagos da regiao leste inglesa de East Anshy

glia A produ~ao deste medico britanico nao se limitou asua marcante obra

fotog abrangendo tambem escritos embora dispersos por publica~oesrbull fica e cpistolas Come~ando por se assumir como urn fot6grafo naturalista veio

rnais tarde a rejeitar 0 naturalismo em fotografia para defender a autonomia da

nova arte teorizando sobre os aspectos da composi~ao e da sua especificidade

re1ativamente as Durras arres em particular apintura Ha muitos paralelos enmiddot

[te as obras fotogrficas de Peter Henry Emerson e de Biel quer no conj unro

de paisagens rurais quer naurTas temas que se salientam adiante

Uma das temticas da obra de Biel que possui uma carga romantica muito

acentuada e0 registo de ruinas No entanto Biel confece a estes registos uma

carga de dramatismo que ultrapassa de forma inequivoca 0 mero regisro docushy

mental As fotografias revelam-nos cuidadosas encenac6es em que as cuinas c os

monumentos sao descobertos de uma curva do rio como no Castelo de Almoushy

rol ou por detras de urn maci~o de vegeta~ao como na Batalha explorando 0

efeito da surpresa mais do que contemplarmos registos sentimo-nos a viajar

Estas forografias sao testemunho de uma profunda consciencia estetica elegenmiddot

do a composicao como elemento fundamental de uma forma nlarcadamente

moderna com urn inteligente enquadramento da arquitectura na natureza e

urn informado entendimento desta Talvez cjam estes os melhores exemplos das imagens que terao inspirado 0 titulo da obra A Arte e a Natureza em PortugaL

Neste conjunto de imagens Biel nao poderia deixar de dar destaque a DutrO urn

monumento a edificacao romantica por excelencia 0 Palacio da Pena homenamiddot

gem ao seu Rei COlnpatriota e patrono conferindo ao conjunto de imagens de

Sinrra captadas sob atmosfera densa uma simbologia especial As marinhas sao outra serie que se destaca nesta obra D e facto vamos

pouco a pouco percorrendo na fotografia os generos que fora m herd ados da

pinrura naturalis ta 0 conjunto de irnagens da ria de Aveiro e urn novO tesmiddot

temunho da modernidade desta obra Aqui se voltam a destacar 0 dominiO dos elementos da luz da agua e dos reflexos que nos levam a regressar aD

137 A imponancia da atmosfera na arte fotogrifica ~ abordada por Weaver Mike Th~ PhOlOgntpkiCArt

NY Harper amp Row 1986 pp 46-51

A PAISACBM 11 Oap POTO(RAFICA DA CASA B1BL

paralelo com a obra de Peter Henry Emersonja que grande parte da sua obra

e ma rcada por esses elementos Se Ie certo que 0 caracter artistico da obra de

Emerson emais acentuado por for~a do recurso agrande amplitude tonal e

ao grao tao caracteristicos da fotogravura processo tecnico que elegeu para a

sua expressao artistlca e que domina com mestria No entanto nas fototipias

da ria de Aveiro Biel atingiu 0 melhor apuro tecnico e mesmo sem 0 efeito

do grao a for~a das imagens nao fi ca aquem da de Emerson feliz contra ponto da luz mediterranica filtrada pel ligeira nortada adensa neblina de Norfolk

Esse apuro tecnico deixamiddotnos sentir nestas imagens 0 prenuncio de uma tenmiddot

dell cia pictorialista que tambem e perceptivel noutras series desta obra como

nas imagens dedicadas aserra da Estrela e ao Mondego

A uriliza~ao do termo pictorialista no contexto da obra de Biel nao preshy

tende natural mente associamiddotlo 30 movimento anistico pictorialista que nas

duas primeiras decadas do seculo XX marcou a cenas anisticas novamiddotiorquina

e londrina em que Alfred Stieglitz assumiu papel de destaque divulgando

em Nova Iorque algu ns dos mais destacados artistas europeus entre os quais

Amadeo de Souza-Cardoso Noutro senti do 0 pictorialismo na obra de Biel

deve entendermiddotse na acep~ao mais lata do termo pel a preocupa~ao de transshymitir nas fotografi as uma ambiencia expressar urn sentimento afastando middotse

dessa forma das preocupa~oes estritamente docu mentais que caracterizam 0

grosso das imagens de a A Arte e a Natureza em Portugal e a quase totalidade da

fotografia portuguesa desse periodo Ests excep~6es tern por isso uma partishy

cular importancia para esc1arecer de forma inequ ivoca a sua modernidade

As forotipias da serra da Estrela retomam a visao monumental reve1ada nos

lbuns dos Caminhos de Ferro aqui acentuando 0 carcter inospito da paisagem

e a impotencia do Homem perante a for~a da Natureza 0 exemplo mais punshy

gente dessa dicotomia mais ainda do que na forca das cascaras surgemiddotnos com

a fotografia da Lagoa Escura gelada em que a presen~a humana insignificante

quase s6 se fa z sentir pela ponrua~ao das sombras projectadas na imensa superfishy

tie branca da lagoa gelada num bela efeito grafico de acemuada modernidade so

passivel pelo espeCial apuro tecnico que a fotogcifia de neve e gelD em montanha

exige Mas essa modernidade acenrua-sc nao s6 pelas imagens em si seja esta

Elisa dificuldade tern plena expressao no fraco album de Emygdio Navarro Quatro Dlas na amprra

14114 0

PAULO BAPTISTA

seja a ja mencianada vista de Amarante mas sabretuda pela ausadia de as incluir

na abra amerce da aprecia~aa de urn publica pouca canhecedor e nessa persshy

pectiva assuminda urna pasiaa estetica e palitica de maiar empenha e risco

Pademas criticar a A Arte e a Natureza em Portugal par alguma heterageneidashy

de Ela deve-se naturalmente asua langa genese e a urn pragrama sucessivamente

adaptada as circunstancias que acabaram par permitir a sua cancretiza~aa mas

tera sabretuda a ver cam a diversa autoria das registas fatograficos Sabemas de

antemaa que as principais respansaveis pela realizaaa tecnica das fatagrafias

faram Cunha Maraes e F Brtitt Ambas teraa colabarada cam muitas fatagrafias

mas se cansiderarmas que Brtitt era urn pilar da estudia e da secaa de preparashy

aa e retoque das chapas de impressaa tera deixada certamente parte significashy

tiva da fuse final da abra para Cunha Maraes ja durante a publicaaa em que era necessario satisfazer 0 compromisso mensal de fazer chegar aos assinantes os

numeras que lbes eram devidas_ Pademas assirn delinir dais grandes conjuntas

de fatogralias a narte da pais e parte da centra teraa sida da respansabi lidade

de BrUtt em particular as fatagralias que ja pertenciam acalecaa da Casa Biel

enquanta toda a suI da pais e a regiaa de Lisbaa teraa sida da responsabilidade

de Cunha Maraes cuja contribuiaa para a abra tera sida decisiva na fuse final da recalha particularmeote na regiaa de Lisbaa na Alenteja e na Algarve Algushy

mas dessas sequencias revelam-nas a cansistencia da trabalha de Cunha Maraes

e a qualidade que ja se lbe canhecia em trabalbas anteriares testemunha da

trabalha de urn das melbares fat6grafas da seu tempa_ Datada de particular

sensibilidade cam urn gasta muita acentuada pela pequena detalhe assimila

com particular facilidade as pressupostas e abjectivas da abra A qualidade das fatagralias de Cunha Maraes revela-se na generalidade

dos registos embora nalguns casos possa ser excepcional assinale-se a paisashy

gem de Manchique cujas varia6es tanais de extrema suavidade saa a prava

da sua sensibilidade Pa r alinidade evidente atribuir-lhe-emas a autoria de aushy

tras paisagens que aqui se incluem e refonam a consistencia do seu trabalho

A serenidade da seu trabalha de regista esta na p6la apasto da dramatismo

da Enrdln Notas dt 11m passrio Porto livraria Civiliza~ao 1884 com fototipias impressa ~Ia Fotografia

Mod~ma de IIdtfonso Correia de cuja falta de qualidade 0 autor A Cesar Henriques se oenaliza

referindo 0 facto de as leT cedido a muira cuStO por serem da sua co lec~ao panicular 139 CfO Primriro dtJartnro 3]deg anD Ndeg 165 de 13711901 pl eidem 35deg ano Ndeg 30a de JJ i12 rrJ)j pl

42

A PAJ$AGBM NA OBRA FOTOGRAplCA OA CASA IIIEL

das paisagens da Daura segura mente da respansabilidade de Biel e BrUtt

Mas para sermas justas cam BrUtt naa nas pademas esquecer de que sabre ele

pesava a encarga da processa fatitipica e nessa medida signilicativa parcel a de respansabilidade sabre a impressaa de tada a abra Ou seja as pravas das

fatagralias de Cunha Marais faram impressas sab a superintendencia de Brutt

e nessa medida saa tambem de sua autoria a que nas mastra que de facta s6

uma grande cumplicidade tecnica e estetica entre estas tres figuras cimeiras da fatogralia partuguesa passibilitau a feliz desfecha da abra

A serie de fatagrafias da Mandega e das rna is belas de tada a abra expresshysanda urn naturalismo ja presente nalgumas vistas de 0 Minho e as suas Cultushy

ras mas que aqui se assume em grande plenitude_ Destaca-se a laquoPaisa gem na choupah) cujo tratamento particularmente suave do contra-luz atinge urn exshy

traordinario apuro tecnico porque nao escurece 0 primeiro plano e em que

pademas abservar a cena buc6lica de uma javem malhanda a pe numa paa

de agua estariamos perante uma cena de genera encenada nao fossem os ga_

rotos que brincarn mais arras deixarem-nos a ideia de se tratar de uma situacao

espontanea_ A suavidade da prova e a sua subtil riqueza tanal valtam a provar

a grande apuro tecnico na manipulaaa das fatotipias atingida pela Casa Biel e

a passibilidade de adequar esse processa tecnica a diversas situa6es esteticas

Muita mais da que mera virtuasismo fatografico csta abra desvenda-nas a asshy

sumpaa de urn estila pr6pria bern definida que subjaz a tada a abra mas se tarna rna is evidente em pantua6es diversas cama n As Margens do rio Nabiio

em 0 rio Cris Martagua n As Portas de Rodam au em Ponte dosJuncaes sobre 0 rio Mondego_ Saa paisagens intimistas mamentas de fruiaa particular que trans

formam a pr6pria carleter manumental da obra canferinda-lhe uma leveza e

uma madernidade unicas que pertnitem cansidera-la 0 prirneiro grande ensaio

de fotagrafia de paisagem partuguesa Embara naa se conhea nenhum escrita

que passa fundamentar as ap6es esteticas de Biel naa restam quaisquer duvishydas sobre elas porque a acampaobar a ediaa de A Arte e a Natureza em Portugal

as assinames recebiam brindes especiais fatotipias de grande farmata algumas

impressas a partir de imagens que canstavam do corpa da abra e autras ineditas

~ 40 Tecnicamente e bastante dincil conseguir a sugestao de ceu que Fernand Brutt 0 esptcialista de IfTlpresdo da Casa Biel conseguiu na zona critica do contramiddotluz para 0 que Ur1l mascarado todo 0 TeSta e t ill seguida laquoqu6rnadoraquo toda ena zona para guantir a legihilidade do primeiro plano sem davarraquo 0 ceu

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PA U LO BAPTI STA

Estas fotografias tern urn significado especial porque nao estavam vinculadas

ao programa da obra e nessa medida representam a mais livre escolha de Biel

Identmcanda a seu gasto mais intimo integram-se na serie de paisagens intimisshy

tas incluindo a Paisagem no Choupal e Aldeia no Minho (Serradella)

Mesmo depois do desaparecimento de Biel a sua obra nunca deixou de

representar uma das principais referencias para a ilustra~ao fotografica ponushy

guesa e a sua qualidade e impordncia marcou a fotografia nacional em parshy

ticular as edi~6es de Marques de Abreu e a obra de Domingos Alvao que foi por urn lado 0 sucessor directo de Biel como forografo do Douro explorando

a riqueza plastica daquela regiao com uma obra de grande pujan~a por ourro cultar da fotografia de costumes numa vertente assumidamente pictorialista

na serie a que curiosamente chamaram laquoas suas pupilasraquomiddot

A Arte e a Natureza em Portugal e todo 0 conjunto da obra de Emilio Biel

surge-nos como urn marco de especial impon ancia para a fotografia portushy

guesa para a historiografia da arte portuguesa e para a ilustra~ao fotogra fica

representando ainda urn dos mais importantes repertorios iconograficos do seculo XIX e inkio do seculo XX Obra (mica e de plena actualidade ja deveshy

ria ter merecido 0 reconhecimento e a divulgarao com que nao pode contar

penalizada pela incipiencia do meio cultural e artistico portugues que apesar

da sua imporrancia sem inal nao conseguiu ai nda entender a modernidade

que Ihe esra subjacente e a excluiu sistematica mente da visibilidade de que

beneficiou algum fotografia porrugues nos anos mais recemes

A Pd SAGE M NA OBRA FO T OGRAFICA DA CASA BIEL

141 v VidraJoaqum -0 Fot6grafo Alvao e as suas Pupilas Coequi D-Mus N 51 Dezembro de 1981 pp 42a 49

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PAULO BAPTISTA

mente Antonio Soares dos Reis cujo album de homenagem apos a tragic morshy

te foi preparado e impresso na Casa Biel Certamente que 0 contacto com os

referidos artistas tera sido importante para a aproxima~ao ao gosto naturalista

Noutro sentido terao sido inumeras as oportunidades de contactar com a nova

fotografia que se come~ava a impor sobretudo em Inglaterra num movimento

que proeurava reivindicar para a fotografia urn lugar entre as artes 0 grande

numero de exposi~oes em que participou em Portugal e no estrangeiro pershy

mitiram urn contacto com a obra de muitos fotografos Sao de destacar dois

dos mais importantes fotografos do seu tempo Peter Henry Emerson e Henry

Peach Robinson que participaram na Exposi~ao Internacional de Fotografia

realizada no Porto em 1886 onde a Casa Biel teve ampla participa~ao como

expositor e 0 proprio Biel como jurado Joao Marques de Oliveira tambem parshy

ticipou como expositor e como jurado de fotografia

A discussao do gosto de Emilio Biel nao pode ignorar 0 forte apelo que sobre ele exerceu a natureza Biel foi floricultor horticultor avicultor lepidopterologo

e urn fervoroso apaixonado do Geres onde comprou uma propriedaderaquo para se

dedicar acria~ao de veados Levou a sua fascina~ao ao ponto de editar mesmo

urn album 0 ja referido Portugal-Gerez~ preparado ern 1887 para ser oferecido i

familia real portuguesa 0 gosto pelo naturalismo e pela paisagem era por isso

para Biel rnais do que mera atitude estetica urn modo de estar na vida A multiplicidade de facto res condi~oes e circunstmcias investiram em

Emllio Biel uma verdadeira responsabilidade para com a historia da fotografia

porruguesa - fazer naseer a mais importante edi~ao forografica portuguesa

Felizmente 0 luso-alemao nao enjeitou 0 desafio Na folha de rosto de A Arte e a Natureza em Portugal indica-nos que se trata de urn Album de photographias

com descrip~oes cliches originaes copias em phototipia inalteravel monushy

mentos obras de artet costumes paisagensraquo Mas como vamos poder ver 0

130 0 texto de HP Robinson -Do effeito artistico em photographia foi publicado em A Arlf

Ph oCographlca Vob Janeiro Mano Abril Maio Junho Agosto Setembro Ourubro e Novembro de 188pp16-2879_89 111-120 147154 178185 144-254 28)-187 199-)09 e)45-)52 131 c r 0 Prilrlnrodejatlriro 180 ano Ndeg 81 44 1886 p I 132 cr 0 Pnlrltlro dtjanriro 180 ano Ndeg 88 13 411886

IJJ S Tomas Moreira Emilio Biel urn alemao no Pono_ 0 Tripriro IX ano Ndeg 5 Maio de 1990 pmmiddot 134 Portugal_ G(rn POrtO Emilio Biel amp Ca 1900-1910 (a lbum de rototipias) 135 0 Primaro d fjanflro 190 ano N0 255 de 12 1011 887 p I A familia real no Norte_

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A PAI S AGS N N A oa flA POTOG flA P ICA DA CA SA BUL

conjunto de paisagens representa nao s6 uma parte signjficativa em terrnos

nu mericos mas sobretudo 0 conjunto artisticarnenre rna is marcante

Eclaro que nao podemos entender A Arte e a Natureza em Portugal como

uma obra de autor muitas das forografias representam urn compromisso com

o seu programa da obra Muitas sao vistas de vilas e cidades de urn pais preshy

dominantemente rural Mafra Mon~ao Vila Vi~osa Lagos Amarante Cashy

minha Montalegre Chaves e as vistas com menos urbe de Valen~a Barcelos

Barroso Bragan~a e Amarante Nesta ultima vale a pena reparar na modern ishydade da composi~ao de assinalavel maturidade estetiea

Nestas imagens temos sempre urn fundo de ruralidade que domina numa

visao que de facro ainda tern muito de garretiano Pode mesmo eonsiderar-se

que as Viagens na Minha Terra representam urn ponto de partida a que Rashy

malho Orrigao aludiu earacterizando 0 tema da obra de Garrett da seguinte

fo rma laquo[ j Estas viagens sao indispensaveis no meio da lamentavel desmoshy

ralizaao em que nos dissolvemos para nos ensinarem a conhecer e a amar

a Pat ria pelo que nela eimortal ineorruptlvel e sagrado pelo doee aspecto

dos seus montes dos seus vales dos seus rios pelo sorriso melane6lieo mas

contente dos vinhedos dos oliva is dos SOutos das hortas e dos pomares pela tradiao vivida nos monumentos arquitect6nicos nas romarias nos cantos e

nas cantigas populares nas indusrrias caseiras nas alfaias agricolas nas ferrashy

mentas dos edificios rurais na configura~ao dos lares [ jraquo

Mas passemos das paisagens urbanas as paisagens rurais que representam

algumas das mais belas fotografi as da obra 0 apuro tecrueo e a informa~ao esteshy

tica voltam a revelar-se de forma especial na sensivel explora~ao das margens rishy

beirinhas e dos reflexos na agua excedendo 0 mero registo bucolico Encontramoshy

-005 num POnto de viragem da fotografia portuguesa porque estes registos aponshy

tam novas direC~6es esteticas claramente assumidas por Biel neles se tomando eVidente a compreensao das questoes que se coloeavam afotografia no final de oitocentos em particular a sua emancipaao como forma de arte

Urn dos principais paladinos da afirma~ao da fotografia como arte foi Peter Henry Emerson com quem como referimos Biel teve contacto na Exshy

136 Abordado de forma profunda por Maria Joao lello Ortigao de Olive ira _ 0 Ptluamtnto tstirico

de Ramalho Ortigdo Para ~ma estitica do natural- it irttrarios (paisagtnS de malnura lisboa F C S H - UNL 1988 III parte p 15

139

~

PAUlO BAPTISTA

posi~ao Internacional de Fotografia do Porto em 1886 e que se destacou por algumas das mais bel as imagens dos lagos da regiao leste inglesa de East Anshy

glia A produ~ao deste medico britanico nao se limitou asua marcante obra

fotog abrangendo tambem escritos embora dispersos por publica~oesrbull fica e cpistolas Come~ando por se assumir como urn fot6grafo naturalista veio

rnais tarde a rejeitar 0 naturalismo em fotografia para defender a autonomia da

nova arte teorizando sobre os aspectos da composi~ao e da sua especificidade

re1ativamente as Durras arres em particular apintura Ha muitos paralelos enmiddot

[te as obras fotogrficas de Peter Henry Emerson e de Biel quer no conj unro

de paisagens rurais quer naurTas temas que se salientam adiante

Uma das temticas da obra de Biel que possui uma carga romantica muito

acentuada e0 registo de ruinas No entanto Biel confece a estes registos uma

carga de dramatismo que ultrapassa de forma inequivoca 0 mero regisro docushy

mental As fotografias revelam-nos cuidadosas encenac6es em que as cuinas c os

monumentos sao descobertos de uma curva do rio como no Castelo de Almoushy

rol ou por detras de urn maci~o de vegeta~ao como na Batalha explorando 0

efeito da surpresa mais do que contemplarmos registos sentimo-nos a viajar

Estas forografias sao testemunho de uma profunda consciencia estetica elegenmiddot

do a composicao como elemento fundamental de uma forma nlarcadamente

moderna com urn inteligente enquadramento da arquitectura na natureza e

urn informado entendimento desta Talvez cjam estes os melhores exemplos das imagens que terao inspirado 0 titulo da obra A Arte e a Natureza em PortugaL

Neste conjunto de imagens Biel nao poderia deixar de dar destaque a DutrO urn

monumento a edificacao romantica por excelencia 0 Palacio da Pena homenamiddot

gem ao seu Rei COlnpatriota e patrono conferindo ao conjunto de imagens de

Sinrra captadas sob atmosfera densa uma simbologia especial As marinhas sao outra serie que se destaca nesta obra D e facto vamos

pouco a pouco percorrendo na fotografia os generos que fora m herd ados da

pinrura naturalis ta 0 conjunto de irnagens da ria de Aveiro e urn novO tesmiddot

temunho da modernidade desta obra Aqui se voltam a destacar 0 dominiO dos elementos da luz da agua e dos reflexos que nos levam a regressar aD

137 A imponancia da atmosfera na arte fotogrifica ~ abordada por Weaver Mike Th~ PhOlOgntpkiCArt

NY Harper amp Row 1986 pp 46-51

A PAISACBM 11 Oap POTO(RAFICA DA CASA B1BL

paralelo com a obra de Peter Henry Emersonja que grande parte da sua obra

e ma rcada por esses elementos Se Ie certo que 0 caracter artistico da obra de

Emerson emais acentuado por for~a do recurso agrande amplitude tonal e

ao grao tao caracteristicos da fotogravura processo tecnico que elegeu para a

sua expressao artistlca e que domina com mestria No entanto nas fototipias

da ria de Aveiro Biel atingiu 0 melhor apuro tecnico e mesmo sem 0 efeito

do grao a for~a das imagens nao fi ca aquem da de Emerson feliz contra ponto da luz mediterranica filtrada pel ligeira nortada adensa neblina de Norfolk

Esse apuro tecnico deixamiddotnos sentir nestas imagens 0 prenuncio de uma tenmiddot

dell cia pictorialista que tambem e perceptivel noutras series desta obra como

nas imagens dedicadas aserra da Estrela e ao Mondego

A uriliza~ao do termo pictorialista no contexto da obra de Biel nao preshy

tende natural mente associamiddotlo 30 movimento anistico pictorialista que nas

duas primeiras decadas do seculo XX marcou a cenas anisticas novamiddotiorquina

e londrina em que Alfred Stieglitz assumiu papel de destaque divulgando

em Nova Iorque algu ns dos mais destacados artistas europeus entre os quais

Amadeo de Souza-Cardoso Noutro senti do 0 pictorialismo na obra de Biel

deve entendermiddotse na acep~ao mais lata do termo pel a preocupa~ao de transshymitir nas fotografi as uma ambiencia expressar urn sentimento afastando middotse

dessa forma das preocupa~oes estritamente docu mentais que caracterizam 0

grosso das imagens de a A Arte e a Natureza em Portugal e a quase totalidade da

fotografia portuguesa desse periodo Ests excep~6es tern por isso uma partishy

cular importancia para esc1arecer de forma inequ ivoca a sua modernidade

As forotipias da serra da Estrela retomam a visao monumental reve1ada nos

lbuns dos Caminhos de Ferro aqui acentuando 0 carcter inospito da paisagem

e a impotencia do Homem perante a for~a da Natureza 0 exemplo mais punshy

gente dessa dicotomia mais ainda do que na forca das cascaras surgemiddotnos com

a fotografia da Lagoa Escura gelada em que a presen~a humana insignificante

quase s6 se fa z sentir pela ponrua~ao das sombras projectadas na imensa superfishy

tie branca da lagoa gelada num bela efeito grafico de acemuada modernidade so

passivel pelo espeCial apuro tecnico que a fotogcifia de neve e gelD em montanha

exige Mas essa modernidade acenrua-sc nao s6 pelas imagens em si seja esta

Elisa dificuldade tern plena expressao no fraco album de Emygdio Navarro Quatro Dlas na amprra

14114 0

PAULO BAPTISTA

seja a ja mencianada vista de Amarante mas sabretuda pela ausadia de as incluir

na abra amerce da aprecia~aa de urn publica pouca canhecedor e nessa persshy

pectiva assuminda urna pasiaa estetica e palitica de maiar empenha e risco

Pademas criticar a A Arte e a Natureza em Portugal par alguma heterageneidashy

de Ela deve-se naturalmente asua langa genese e a urn pragrama sucessivamente

adaptada as circunstancias que acabaram par permitir a sua cancretiza~aa mas

tera sabretuda a ver cam a diversa autoria das registas fatograficos Sabemas de

antemaa que as principais respansaveis pela realizaaa tecnica das fatagrafias

faram Cunha Maraes e F Brtitt Ambas teraa colabarada cam muitas fatagrafias

mas se cansiderarmas que Brtitt era urn pilar da estudia e da secaa de preparashy

aa e retoque das chapas de impressaa tera deixada certamente parte significashy

tiva da fuse final da abra para Cunha Maraes ja durante a publicaaa em que era necessario satisfazer 0 compromisso mensal de fazer chegar aos assinantes os

numeras que lbes eram devidas_ Pademas assirn delinir dais grandes conjuntas

de fatogralias a narte da pais e parte da centra teraa sida da respansabi lidade

de BrUtt em particular as fatagralias que ja pertenciam acalecaa da Casa Biel

enquanta toda a suI da pais e a regiaa de Lisbaa teraa sida da responsabilidade

de Cunha Maraes cuja contribuiaa para a abra tera sida decisiva na fuse final da recalha particularmeote na regiaa de Lisbaa na Alenteja e na Algarve Algushy

mas dessas sequencias revelam-nas a cansistencia da trabalha de Cunha Maraes

e a qualidade que ja se lbe canhecia em trabalbas anteriares testemunha da

trabalha de urn das melbares fat6grafas da seu tempa_ Datada de particular

sensibilidade cam urn gasta muita acentuada pela pequena detalhe assimila

com particular facilidade as pressupostas e abjectivas da abra A qualidade das fatagralias de Cunha Maraes revela-se na generalidade

dos registos embora nalguns casos possa ser excepcional assinale-se a paisashy

gem de Manchique cujas varia6es tanais de extrema suavidade saa a prava

da sua sensibilidade Pa r alinidade evidente atribuir-lhe-emas a autoria de aushy

tras paisagens que aqui se incluem e refonam a consistencia do seu trabalho

A serenidade da seu trabalha de regista esta na p6la apasto da dramatismo

da Enrdln Notas dt 11m passrio Porto livraria Civiliza~ao 1884 com fototipias impressa ~Ia Fotografia

Mod~ma de IIdtfonso Correia de cuja falta de qualidade 0 autor A Cesar Henriques se oenaliza

referindo 0 facto de as leT cedido a muira cuStO por serem da sua co lec~ao panicular 139 CfO Primriro dtJartnro 3]deg anD Ndeg 165 de 13711901 pl eidem 35deg ano Ndeg 30a de JJ i12 rrJ)j pl

42

A PAJ$AGBM NA OBRA FOTOGRAplCA OA CASA IIIEL

das paisagens da Daura segura mente da respansabilidade de Biel e BrUtt

Mas para sermas justas cam BrUtt naa nas pademas esquecer de que sabre ele

pesava a encarga da processa fatitipica e nessa medida signilicativa parcel a de respansabilidade sabre a impressaa de tada a abra Ou seja as pravas das

fatagralias de Cunha Marais faram impressas sab a superintendencia de Brutt

e nessa medida saa tambem de sua autoria a que nas mastra que de facta s6

uma grande cumplicidade tecnica e estetica entre estas tres figuras cimeiras da fatogralia partuguesa passibilitau a feliz desfecha da abra

A serie de fatagrafias da Mandega e das rna is belas de tada a abra expresshysanda urn naturalismo ja presente nalgumas vistas de 0 Minho e as suas Cultushy

ras mas que aqui se assume em grande plenitude_ Destaca-se a laquoPaisa gem na choupah) cujo tratamento particularmente suave do contra-luz atinge urn exshy

traordinario apuro tecnico porque nao escurece 0 primeiro plano e em que

pademas abservar a cena buc6lica de uma javem malhanda a pe numa paa

de agua estariamos perante uma cena de genera encenada nao fossem os ga_

rotos que brincarn mais arras deixarem-nos a ideia de se tratar de uma situacao

espontanea_ A suavidade da prova e a sua subtil riqueza tanal valtam a provar

a grande apuro tecnico na manipulaaa das fatotipias atingida pela Casa Biel e

a passibilidade de adequar esse processa tecnica a diversas situa6es esteticas

Muita mais da que mera virtuasismo fatografico csta abra desvenda-nas a asshy

sumpaa de urn estila pr6pria bern definida que subjaz a tada a abra mas se tarna rna is evidente em pantua6es diversas cama n As Margens do rio Nabiio

em 0 rio Cris Martagua n As Portas de Rodam au em Ponte dosJuncaes sobre 0 rio Mondego_ Saa paisagens intimistas mamentas de fruiaa particular que trans

formam a pr6pria carleter manumental da obra canferinda-lhe uma leveza e

uma madernidade unicas que pertnitem cansidera-la 0 prirneiro grande ensaio

de fotagrafia de paisagem partuguesa Embara naa se conhea nenhum escrita

que passa fundamentar as ap6es esteticas de Biel naa restam quaisquer duvishydas sobre elas porque a acampaobar a ediaa de A Arte e a Natureza em Portugal

as assinames recebiam brindes especiais fatotipias de grande farmata algumas

impressas a partir de imagens que canstavam do corpa da abra e autras ineditas

~ 40 Tecnicamente e bastante dincil conseguir a sugestao de ceu que Fernand Brutt 0 esptcialista de IfTlpresdo da Casa Biel conseguiu na zona critica do contramiddotluz para 0 que Ur1l mascarado todo 0 TeSta e t ill seguida laquoqu6rnadoraquo toda ena zona para guantir a legihilidade do primeiro plano sem davarraquo 0 ceu

143

P

PA U LO BAPTI STA

Estas fotografias tern urn significado especial porque nao estavam vinculadas

ao programa da obra e nessa medida representam a mais livre escolha de Biel

Identmcanda a seu gasto mais intimo integram-se na serie de paisagens intimisshy

tas incluindo a Paisagem no Choupal e Aldeia no Minho (Serradella)

Mesmo depois do desaparecimento de Biel a sua obra nunca deixou de

representar uma das principais referencias para a ilustra~ao fotografica ponushy

guesa e a sua qualidade e impordncia marcou a fotografia nacional em parshy

ticular as edi~6es de Marques de Abreu e a obra de Domingos Alvao que foi por urn lado 0 sucessor directo de Biel como forografo do Douro explorando

a riqueza plastica daquela regiao com uma obra de grande pujan~a por ourro cultar da fotografia de costumes numa vertente assumidamente pictorialista

na serie a que curiosamente chamaram laquoas suas pupilasraquomiddot

A Arte e a Natureza em Portugal e todo 0 conjunto da obra de Emilio Biel

surge-nos como urn marco de especial impon ancia para a fotografia portushy

guesa para a historiografia da arte portuguesa e para a ilustra~ao fotogra fica

representando ainda urn dos mais importantes repertorios iconograficos do seculo XIX e inkio do seculo XX Obra (mica e de plena actualidade ja deveshy

ria ter merecido 0 reconhecimento e a divulgarao com que nao pode contar

penalizada pela incipiencia do meio cultural e artistico portugues que apesar

da sua imporrancia sem inal nao conseguiu ai nda entender a modernidade

que Ihe esra subjacente e a excluiu sistematica mente da visibilidade de que

beneficiou algum fotografia porrugues nos anos mais recemes

A Pd SAGE M NA OBRA FO T OGRAFICA DA CASA BIEL

141 v VidraJoaqum -0 Fot6grafo Alvao e as suas Pupilas Coequi D-Mus N 51 Dezembro de 1981 pp 42a 49

14 4 145

~

PAUlO BAPTISTA

posi~ao Internacional de Fotografia do Porto em 1886 e que se destacou por algumas das mais bel as imagens dos lagos da regiao leste inglesa de East Anshy

glia A produ~ao deste medico britanico nao se limitou asua marcante obra

fotog abrangendo tambem escritos embora dispersos por publica~oesrbull fica e cpistolas Come~ando por se assumir como urn fot6grafo naturalista veio

rnais tarde a rejeitar 0 naturalismo em fotografia para defender a autonomia da

nova arte teorizando sobre os aspectos da composi~ao e da sua especificidade

re1ativamente as Durras arres em particular apintura Ha muitos paralelos enmiddot

[te as obras fotogrficas de Peter Henry Emerson e de Biel quer no conj unro

de paisagens rurais quer naurTas temas que se salientam adiante

Uma das temticas da obra de Biel que possui uma carga romantica muito

acentuada e0 registo de ruinas No entanto Biel confece a estes registos uma

carga de dramatismo que ultrapassa de forma inequivoca 0 mero regisro docushy

mental As fotografias revelam-nos cuidadosas encenac6es em que as cuinas c os

monumentos sao descobertos de uma curva do rio como no Castelo de Almoushy

rol ou por detras de urn maci~o de vegeta~ao como na Batalha explorando 0

efeito da surpresa mais do que contemplarmos registos sentimo-nos a viajar

Estas forografias sao testemunho de uma profunda consciencia estetica elegenmiddot

do a composicao como elemento fundamental de uma forma nlarcadamente

moderna com urn inteligente enquadramento da arquitectura na natureza e

urn informado entendimento desta Talvez cjam estes os melhores exemplos das imagens que terao inspirado 0 titulo da obra A Arte e a Natureza em PortugaL

Neste conjunto de imagens Biel nao poderia deixar de dar destaque a DutrO urn

monumento a edificacao romantica por excelencia 0 Palacio da Pena homenamiddot

gem ao seu Rei COlnpatriota e patrono conferindo ao conjunto de imagens de

Sinrra captadas sob atmosfera densa uma simbologia especial As marinhas sao outra serie que se destaca nesta obra D e facto vamos

pouco a pouco percorrendo na fotografia os generos que fora m herd ados da

pinrura naturalis ta 0 conjunto de irnagens da ria de Aveiro e urn novO tesmiddot

temunho da modernidade desta obra Aqui se voltam a destacar 0 dominiO dos elementos da luz da agua e dos reflexos que nos levam a regressar aD

137 A imponancia da atmosfera na arte fotogrifica ~ abordada por Weaver Mike Th~ PhOlOgntpkiCArt

NY Harper amp Row 1986 pp 46-51

A PAISACBM 11 Oap POTO(RAFICA DA CASA B1BL

paralelo com a obra de Peter Henry Emersonja que grande parte da sua obra

e ma rcada por esses elementos Se Ie certo que 0 caracter artistico da obra de

Emerson emais acentuado por for~a do recurso agrande amplitude tonal e

ao grao tao caracteristicos da fotogravura processo tecnico que elegeu para a

sua expressao artistlca e que domina com mestria No entanto nas fototipias

da ria de Aveiro Biel atingiu 0 melhor apuro tecnico e mesmo sem 0 efeito

do grao a for~a das imagens nao fi ca aquem da de Emerson feliz contra ponto da luz mediterranica filtrada pel ligeira nortada adensa neblina de Norfolk

Esse apuro tecnico deixamiddotnos sentir nestas imagens 0 prenuncio de uma tenmiddot

dell cia pictorialista que tambem e perceptivel noutras series desta obra como

nas imagens dedicadas aserra da Estrela e ao Mondego

A uriliza~ao do termo pictorialista no contexto da obra de Biel nao preshy

tende natural mente associamiddotlo 30 movimento anistico pictorialista que nas

duas primeiras decadas do seculo XX marcou a cenas anisticas novamiddotiorquina

e londrina em que Alfred Stieglitz assumiu papel de destaque divulgando

em Nova Iorque algu ns dos mais destacados artistas europeus entre os quais

Amadeo de Souza-Cardoso Noutro senti do 0 pictorialismo na obra de Biel

deve entendermiddotse na acep~ao mais lata do termo pel a preocupa~ao de transshymitir nas fotografi as uma ambiencia expressar urn sentimento afastando middotse

dessa forma das preocupa~oes estritamente docu mentais que caracterizam 0

grosso das imagens de a A Arte e a Natureza em Portugal e a quase totalidade da

fotografia portuguesa desse periodo Ests excep~6es tern por isso uma partishy

cular importancia para esc1arecer de forma inequ ivoca a sua modernidade

As forotipias da serra da Estrela retomam a visao monumental reve1ada nos

lbuns dos Caminhos de Ferro aqui acentuando 0 carcter inospito da paisagem

e a impotencia do Homem perante a for~a da Natureza 0 exemplo mais punshy

gente dessa dicotomia mais ainda do que na forca das cascaras surgemiddotnos com

a fotografia da Lagoa Escura gelada em que a presen~a humana insignificante

quase s6 se fa z sentir pela ponrua~ao das sombras projectadas na imensa superfishy

tie branca da lagoa gelada num bela efeito grafico de acemuada modernidade so

passivel pelo espeCial apuro tecnico que a fotogcifia de neve e gelD em montanha

exige Mas essa modernidade acenrua-sc nao s6 pelas imagens em si seja esta

Elisa dificuldade tern plena expressao no fraco album de Emygdio Navarro Quatro Dlas na amprra

14114 0

PAULO BAPTISTA

seja a ja mencianada vista de Amarante mas sabretuda pela ausadia de as incluir

na abra amerce da aprecia~aa de urn publica pouca canhecedor e nessa persshy

pectiva assuminda urna pasiaa estetica e palitica de maiar empenha e risco

Pademas criticar a A Arte e a Natureza em Portugal par alguma heterageneidashy

de Ela deve-se naturalmente asua langa genese e a urn pragrama sucessivamente

adaptada as circunstancias que acabaram par permitir a sua cancretiza~aa mas

tera sabretuda a ver cam a diversa autoria das registas fatograficos Sabemas de

antemaa que as principais respansaveis pela realizaaa tecnica das fatagrafias

faram Cunha Maraes e F Brtitt Ambas teraa colabarada cam muitas fatagrafias

mas se cansiderarmas que Brtitt era urn pilar da estudia e da secaa de preparashy

aa e retoque das chapas de impressaa tera deixada certamente parte significashy

tiva da fuse final da abra para Cunha Maraes ja durante a publicaaa em que era necessario satisfazer 0 compromisso mensal de fazer chegar aos assinantes os

numeras que lbes eram devidas_ Pademas assirn delinir dais grandes conjuntas

de fatogralias a narte da pais e parte da centra teraa sida da respansabi lidade

de BrUtt em particular as fatagralias que ja pertenciam acalecaa da Casa Biel

enquanta toda a suI da pais e a regiaa de Lisbaa teraa sida da responsabilidade

de Cunha Maraes cuja contribuiaa para a abra tera sida decisiva na fuse final da recalha particularmeote na regiaa de Lisbaa na Alenteja e na Algarve Algushy

mas dessas sequencias revelam-nas a cansistencia da trabalha de Cunha Maraes

e a qualidade que ja se lbe canhecia em trabalbas anteriares testemunha da

trabalha de urn das melbares fat6grafas da seu tempa_ Datada de particular

sensibilidade cam urn gasta muita acentuada pela pequena detalhe assimila

com particular facilidade as pressupostas e abjectivas da abra A qualidade das fatagralias de Cunha Maraes revela-se na generalidade

dos registos embora nalguns casos possa ser excepcional assinale-se a paisashy

gem de Manchique cujas varia6es tanais de extrema suavidade saa a prava

da sua sensibilidade Pa r alinidade evidente atribuir-lhe-emas a autoria de aushy

tras paisagens que aqui se incluem e refonam a consistencia do seu trabalho

A serenidade da seu trabalha de regista esta na p6la apasto da dramatismo

da Enrdln Notas dt 11m passrio Porto livraria Civiliza~ao 1884 com fototipias impressa ~Ia Fotografia

Mod~ma de IIdtfonso Correia de cuja falta de qualidade 0 autor A Cesar Henriques se oenaliza

referindo 0 facto de as leT cedido a muira cuStO por serem da sua co lec~ao panicular 139 CfO Primriro dtJartnro 3]deg anD Ndeg 165 de 13711901 pl eidem 35deg ano Ndeg 30a de JJ i12 rrJ)j pl

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A PAJ$AGBM NA OBRA FOTOGRAplCA OA CASA IIIEL

das paisagens da Daura segura mente da respansabilidade de Biel e BrUtt

Mas para sermas justas cam BrUtt naa nas pademas esquecer de que sabre ele

pesava a encarga da processa fatitipica e nessa medida signilicativa parcel a de respansabilidade sabre a impressaa de tada a abra Ou seja as pravas das

fatagralias de Cunha Marais faram impressas sab a superintendencia de Brutt

e nessa medida saa tambem de sua autoria a que nas mastra que de facta s6

uma grande cumplicidade tecnica e estetica entre estas tres figuras cimeiras da fatogralia partuguesa passibilitau a feliz desfecha da abra

A serie de fatagrafias da Mandega e das rna is belas de tada a abra expresshysanda urn naturalismo ja presente nalgumas vistas de 0 Minho e as suas Cultushy

ras mas que aqui se assume em grande plenitude_ Destaca-se a laquoPaisa gem na choupah) cujo tratamento particularmente suave do contra-luz atinge urn exshy

traordinario apuro tecnico porque nao escurece 0 primeiro plano e em que

pademas abservar a cena buc6lica de uma javem malhanda a pe numa paa

de agua estariamos perante uma cena de genera encenada nao fossem os ga_

rotos que brincarn mais arras deixarem-nos a ideia de se tratar de uma situacao

espontanea_ A suavidade da prova e a sua subtil riqueza tanal valtam a provar

a grande apuro tecnico na manipulaaa das fatotipias atingida pela Casa Biel e

a passibilidade de adequar esse processa tecnica a diversas situa6es esteticas

Muita mais da que mera virtuasismo fatografico csta abra desvenda-nas a asshy

sumpaa de urn estila pr6pria bern definida que subjaz a tada a abra mas se tarna rna is evidente em pantua6es diversas cama n As Margens do rio Nabiio

em 0 rio Cris Martagua n As Portas de Rodam au em Ponte dosJuncaes sobre 0 rio Mondego_ Saa paisagens intimistas mamentas de fruiaa particular que trans

formam a pr6pria carleter manumental da obra canferinda-lhe uma leveza e

uma madernidade unicas que pertnitem cansidera-la 0 prirneiro grande ensaio

de fotagrafia de paisagem partuguesa Embara naa se conhea nenhum escrita

que passa fundamentar as ap6es esteticas de Biel naa restam quaisquer duvishydas sobre elas porque a acampaobar a ediaa de A Arte e a Natureza em Portugal

as assinames recebiam brindes especiais fatotipias de grande farmata algumas

impressas a partir de imagens que canstavam do corpa da abra e autras ineditas

~ 40 Tecnicamente e bastante dincil conseguir a sugestao de ceu que Fernand Brutt 0 esptcialista de IfTlpresdo da Casa Biel conseguiu na zona critica do contramiddotluz para 0 que Ur1l mascarado todo 0 TeSta e t ill seguida laquoqu6rnadoraquo toda ena zona para guantir a legihilidade do primeiro plano sem davarraquo 0 ceu

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P

PA U LO BAPTI STA

Estas fotografias tern urn significado especial porque nao estavam vinculadas

ao programa da obra e nessa medida representam a mais livre escolha de Biel

Identmcanda a seu gasto mais intimo integram-se na serie de paisagens intimisshy

tas incluindo a Paisagem no Choupal e Aldeia no Minho (Serradella)

Mesmo depois do desaparecimento de Biel a sua obra nunca deixou de

representar uma das principais referencias para a ilustra~ao fotografica ponushy

guesa e a sua qualidade e impordncia marcou a fotografia nacional em parshy

ticular as edi~6es de Marques de Abreu e a obra de Domingos Alvao que foi por urn lado 0 sucessor directo de Biel como forografo do Douro explorando

a riqueza plastica daquela regiao com uma obra de grande pujan~a por ourro cultar da fotografia de costumes numa vertente assumidamente pictorialista

na serie a que curiosamente chamaram laquoas suas pupilasraquomiddot

A Arte e a Natureza em Portugal e todo 0 conjunto da obra de Emilio Biel

surge-nos como urn marco de especial impon ancia para a fotografia portushy

guesa para a historiografia da arte portuguesa e para a ilustra~ao fotogra fica

representando ainda urn dos mais importantes repertorios iconograficos do seculo XIX e inkio do seculo XX Obra (mica e de plena actualidade ja deveshy

ria ter merecido 0 reconhecimento e a divulgarao com que nao pode contar

penalizada pela incipiencia do meio cultural e artistico portugues que apesar

da sua imporrancia sem inal nao conseguiu ai nda entender a modernidade

que Ihe esra subjacente e a excluiu sistematica mente da visibilidade de que

beneficiou algum fotografia porrugues nos anos mais recemes

A Pd SAGE M NA OBRA FO T OGRAFICA DA CASA BIEL

141 v VidraJoaqum -0 Fot6grafo Alvao e as suas Pupilas Coequi D-Mus N 51 Dezembro de 1981 pp 42a 49

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PAULO BAPTISTA

seja a ja mencianada vista de Amarante mas sabretuda pela ausadia de as incluir

na abra amerce da aprecia~aa de urn publica pouca canhecedor e nessa persshy

pectiva assuminda urna pasiaa estetica e palitica de maiar empenha e risco

Pademas criticar a A Arte e a Natureza em Portugal par alguma heterageneidashy

de Ela deve-se naturalmente asua langa genese e a urn pragrama sucessivamente

adaptada as circunstancias que acabaram par permitir a sua cancretiza~aa mas

tera sabretuda a ver cam a diversa autoria das registas fatograficos Sabemas de

antemaa que as principais respansaveis pela realizaaa tecnica das fatagrafias

faram Cunha Maraes e F Brtitt Ambas teraa colabarada cam muitas fatagrafias

mas se cansiderarmas que Brtitt era urn pilar da estudia e da secaa de preparashy

aa e retoque das chapas de impressaa tera deixada certamente parte significashy

tiva da fuse final da abra para Cunha Maraes ja durante a publicaaa em que era necessario satisfazer 0 compromisso mensal de fazer chegar aos assinantes os

numeras que lbes eram devidas_ Pademas assirn delinir dais grandes conjuntas

de fatogralias a narte da pais e parte da centra teraa sida da respansabi lidade

de BrUtt em particular as fatagralias que ja pertenciam acalecaa da Casa Biel

enquanta toda a suI da pais e a regiaa de Lisbaa teraa sida da responsabilidade

de Cunha Maraes cuja contribuiaa para a abra tera sida decisiva na fuse final da recalha particularmeote na regiaa de Lisbaa na Alenteja e na Algarve Algushy

mas dessas sequencias revelam-nas a cansistencia da trabalha de Cunha Maraes

e a qualidade que ja se lbe canhecia em trabalbas anteriares testemunha da

trabalha de urn das melbares fat6grafas da seu tempa_ Datada de particular

sensibilidade cam urn gasta muita acentuada pela pequena detalhe assimila

com particular facilidade as pressupostas e abjectivas da abra A qualidade das fatagralias de Cunha Maraes revela-se na generalidade

dos registos embora nalguns casos possa ser excepcional assinale-se a paisashy

gem de Manchique cujas varia6es tanais de extrema suavidade saa a prava

da sua sensibilidade Pa r alinidade evidente atribuir-lhe-emas a autoria de aushy

tras paisagens que aqui se incluem e refonam a consistencia do seu trabalho

A serenidade da seu trabalha de regista esta na p6la apasto da dramatismo

da Enrdln Notas dt 11m passrio Porto livraria Civiliza~ao 1884 com fototipias impressa ~Ia Fotografia

Mod~ma de IIdtfonso Correia de cuja falta de qualidade 0 autor A Cesar Henriques se oenaliza

referindo 0 facto de as leT cedido a muira cuStO por serem da sua co lec~ao panicular 139 CfO Primriro dtJartnro 3]deg anD Ndeg 165 de 13711901 pl eidem 35deg ano Ndeg 30a de JJ i12 rrJ)j pl

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A PAJ$AGBM NA OBRA FOTOGRAplCA OA CASA IIIEL

das paisagens da Daura segura mente da respansabilidade de Biel e BrUtt

Mas para sermas justas cam BrUtt naa nas pademas esquecer de que sabre ele

pesava a encarga da processa fatitipica e nessa medida signilicativa parcel a de respansabilidade sabre a impressaa de tada a abra Ou seja as pravas das

fatagralias de Cunha Marais faram impressas sab a superintendencia de Brutt

e nessa medida saa tambem de sua autoria a que nas mastra que de facta s6

uma grande cumplicidade tecnica e estetica entre estas tres figuras cimeiras da fatogralia partuguesa passibilitau a feliz desfecha da abra

A serie de fatagrafias da Mandega e das rna is belas de tada a abra expresshysanda urn naturalismo ja presente nalgumas vistas de 0 Minho e as suas Cultushy

ras mas que aqui se assume em grande plenitude_ Destaca-se a laquoPaisa gem na choupah) cujo tratamento particularmente suave do contra-luz atinge urn exshy

traordinario apuro tecnico porque nao escurece 0 primeiro plano e em que

pademas abservar a cena buc6lica de uma javem malhanda a pe numa paa

de agua estariamos perante uma cena de genera encenada nao fossem os ga_

rotos que brincarn mais arras deixarem-nos a ideia de se tratar de uma situacao

espontanea_ A suavidade da prova e a sua subtil riqueza tanal valtam a provar

a grande apuro tecnico na manipulaaa das fatotipias atingida pela Casa Biel e

a passibilidade de adequar esse processa tecnica a diversas situa6es esteticas

Muita mais da que mera virtuasismo fatografico csta abra desvenda-nas a asshy

sumpaa de urn estila pr6pria bern definida que subjaz a tada a abra mas se tarna rna is evidente em pantua6es diversas cama n As Margens do rio Nabiio

em 0 rio Cris Martagua n As Portas de Rodam au em Ponte dosJuncaes sobre 0 rio Mondego_ Saa paisagens intimistas mamentas de fruiaa particular que trans

formam a pr6pria carleter manumental da obra canferinda-lhe uma leveza e

uma madernidade unicas que pertnitem cansidera-la 0 prirneiro grande ensaio

de fotagrafia de paisagem partuguesa Embara naa se conhea nenhum escrita

que passa fundamentar as ap6es esteticas de Biel naa restam quaisquer duvishydas sobre elas porque a acampaobar a ediaa de A Arte e a Natureza em Portugal

as assinames recebiam brindes especiais fatotipias de grande farmata algumas

impressas a partir de imagens que canstavam do corpa da abra e autras ineditas

~ 40 Tecnicamente e bastante dincil conseguir a sugestao de ceu que Fernand Brutt 0 esptcialista de IfTlpresdo da Casa Biel conseguiu na zona critica do contramiddotluz para 0 que Ur1l mascarado todo 0 TeSta e t ill seguida laquoqu6rnadoraquo toda ena zona para guantir a legihilidade do primeiro plano sem davarraquo 0 ceu

143

P

PA U LO BAPTI STA

Estas fotografias tern urn significado especial porque nao estavam vinculadas

ao programa da obra e nessa medida representam a mais livre escolha de Biel

Identmcanda a seu gasto mais intimo integram-se na serie de paisagens intimisshy

tas incluindo a Paisagem no Choupal e Aldeia no Minho (Serradella)

Mesmo depois do desaparecimento de Biel a sua obra nunca deixou de

representar uma das principais referencias para a ilustra~ao fotografica ponushy

guesa e a sua qualidade e impordncia marcou a fotografia nacional em parshy

ticular as edi~6es de Marques de Abreu e a obra de Domingos Alvao que foi por urn lado 0 sucessor directo de Biel como forografo do Douro explorando

a riqueza plastica daquela regiao com uma obra de grande pujan~a por ourro cultar da fotografia de costumes numa vertente assumidamente pictorialista

na serie a que curiosamente chamaram laquoas suas pupilasraquomiddot

A Arte e a Natureza em Portugal e todo 0 conjunto da obra de Emilio Biel

surge-nos como urn marco de especial impon ancia para a fotografia portushy

guesa para a historiografia da arte portuguesa e para a ilustra~ao fotogra fica

representando ainda urn dos mais importantes repertorios iconograficos do seculo XIX e inkio do seculo XX Obra (mica e de plena actualidade ja deveshy

ria ter merecido 0 reconhecimento e a divulgarao com que nao pode contar

penalizada pela incipiencia do meio cultural e artistico portugues que apesar

da sua imporrancia sem inal nao conseguiu ai nda entender a modernidade

que Ihe esra subjacente e a excluiu sistematica mente da visibilidade de que

beneficiou algum fotografia porrugues nos anos mais recemes

A Pd SAGE M NA OBRA FO T OGRAFICA DA CASA BIEL

141 v VidraJoaqum -0 Fot6grafo Alvao e as suas Pupilas Coequi D-Mus N 51 Dezembro de 1981 pp 42a 49

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PA U LO BAPTI STA

Estas fotografias tern urn significado especial porque nao estavam vinculadas

ao programa da obra e nessa medida representam a mais livre escolha de Biel

Identmcanda a seu gasto mais intimo integram-se na serie de paisagens intimisshy

tas incluindo a Paisagem no Choupal e Aldeia no Minho (Serradella)

Mesmo depois do desaparecimento de Biel a sua obra nunca deixou de

representar uma das principais referencias para a ilustra~ao fotografica ponushy

guesa e a sua qualidade e impordncia marcou a fotografia nacional em parshy

ticular as edi~6es de Marques de Abreu e a obra de Domingos Alvao que foi por urn lado 0 sucessor directo de Biel como forografo do Douro explorando

a riqueza plastica daquela regiao com uma obra de grande pujan~a por ourro cultar da fotografia de costumes numa vertente assumidamente pictorialista

na serie a que curiosamente chamaram laquoas suas pupilasraquomiddot

A Arte e a Natureza em Portugal e todo 0 conjunto da obra de Emilio Biel

surge-nos como urn marco de especial impon ancia para a fotografia portushy

guesa para a historiografia da arte portuguesa e para a ilustra~ao fotogra fica

representando ainda urn dos mais importantes repertorios iconograficos do seculo XIX e inkio do seculo XX Obra (mica e de plena actualidade ja deveshy

ria ter merecido 0 reconhecimento e a divulgarao com que nao pode contar

penalizada pela incipiencia do meio cultural e artistico portugues que apesar

da sua imporrancia sem inal nao conseguiu ai nda entender a modernidade

que Ihe esra subjacente e a excluiu sistematica mente da visibilidade de que

beneficiou algum fotografia porrugues nos anos mais recemes

A Pd SAGE M NA OBRA FO T OGRAFICA DA CASA BIEL

141 v VidraJoaqum -0 Fot6grafo Alvao e as suas Pupilas Coequi D-Mus N 51 Dezembro de 1981 pp 42a 49

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