A Antroponímia da oficialidade régia (1367-1481): identidade pessoal e diferenciação social, in...

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In: Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Martim de Albuquerque, vol. II, ed. Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Coimbra: Coimbra Editora, pp. 83-135. ISSN: 0870-3116. 1 A Antroponímia da oficialidade régia (1367-1481): identidade pessoal e diferenciação social * JUDITE A. GONÇALVES DE FREITAS ** RESUMO: O presente trabalho tem como objecto de estudo o nome enquanto forma de designação pessoal dos oficiais da burocracia régia entre 1367 e 1481 e as possíveis relações com a evolução das respectivas estruturas familiares. O texto divide-se em duas partes principais. Na primeira procedemos à contextualização histórica da evolução da antroponímia medieval no Ocidente europeu, à explicação dos objectivos, âmbito cronológico e metodologia seguidos na exploração dos dados recolhidos nas fontes, remetendo para os principais momentos da pesquisa efectuada. A segunda parte é dedicada à análise empírica das formas antroponímicas dos indivíduos que ocupam as distintas instâncias da burocracia régia - redactores e escrivães -, com o objectivo de demonstrar as possibilidades de conhecimento que a antroponímia oferece na reconstrução da imagem que temos das estruturas políticas, sociais e familiares das esferas do poder na Idade Média Final. ABSTRACT: The present work aims to study the name as a form of personal designation of the officers of the royal bureaucracy between 1367 and 1481, and its possible relationships with their evolving family structures. The text is divided into two parts. At first, we performed a historical overview of the evolution of medieval anthroponymy in the Western Europe, explaining the objectives, scope and methodology followed in the exploration of the historical sources, referring the key moments of the research carried out. The second part is devoted to the empirical analysis of anthroponymy forms of the royal officials - redactors and scribes. The aim is exposing the possibilities of knowledge that offers anthroponymy in rebuilding the image that we have of political structures, social and family spheres of power in the late Middle Ages. RESUME: Ce travail a pour objet le nom comme une forme de désignation personnelle des agents de la bureaucratie royale entre 1367 et 1481 et les rapports avec l’évolution des structures familiales. La recherche est divisée en deux parties. Au début, nous avons effectué un aperçu historique de l'évolution d’anthroponymie médiévale en Occident, en expliquant les objectifs, la portée et la méthodologie suivies dans l’exploration chronologique des données recueillies aux sources. La deuxième partie est consacrée à l'analyse empirique des formes anthroponymies de personnes qui occupent les différentes instances de la bureaucratie royale - rédacteurs et scribes - dans le but de démontrer les possibilités de la connaissance qui offre anthroponymie dans la reconstruction de l'image que nous avons des structures politiques et des sphères sociales et familiales du pouvoir au Bas Moyen Âge. * Texto da lição-síntese apresentada em provas de habilitação ao título de agregado em História e Estudos Políticos e Internacionais da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FL-UP), nos dias 5 e 6 de Dezembro de 2007. Os meus agradecimentos aos Professores Doutores Armando Luís de Carvalho Homem (Faculdade de Letras da Universidade do Porto), Doutora Maria Helena da Cruz Coelho (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra), Doutor Luís Miguel Duarte (Faculdade de Letras da Universidade do Porto), Doutor Jorge Fernandes Alves (Faculdade de Letras da Universidade do Porto) e Doutor António Pedro Barbas-Homem (Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa), pelas observações e sugestões efectuadas aquando da discussão pública das provas. ** Professora Catedrática da FCHS da Universidade Fernando Pessoa. Investigadora sénior do Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade/Universidade do Porto/FCT. E-mail: [email protected].

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In: Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Martim de Albuquerque, vol. II, ed. Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Coimbra: Coimbra Editora, pp. 83-135. ISSN: 0870-3116.

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A Antroponímia da oficialidade régia (1367-1481): identidade pessoal e diferenciação social*

JUDITE A. GONÇALVES DE FREITAS**

RESUMO: O presente trabalho tem como objecto de estudo o nome enquanto forma de designação

pessoal dos oficiais da burocracia régia entre 1367 e 1481 e as possíveis relações com a evolução das respectivas estruturas familiares. O texto divide-se em duas partes principais. Na primeira procedemos à contextualização histórica da evolução da antroponímia medieval no Ocidente europeu, à explicação dos objectivos, âmbito cronológico e metodologia seguidos na exploração dos dados recolhidos nas fontes, remetendo para os principais momentos da pesquisa efectuada. A segunda parte é dedicada à análise empírica das formas antroponímicas dos indivíduos que ocupam as distintas instâncias da burocracia régia - redactores e escrivães -, com o objectivo de demonstrar as possibilidades de conhecimento que a antroponímia oferece na reconstrução da imagem que temos das estruturas políticas, sociais e familiares das esferas do poder na Idade Média Final.

ABSTRACT: The present work aims to study the name as a form of personal designation of the officers

of the royal bureaucracy between 1367 and 1481, and its possible relationships with their evolving family structures. The text is divided into two parts. At first, we performed a historical overview of the evolution of medieval anthroponymy in the Western Europe, explaining the objectives, scope and methodology followed in the exploration of the historical sources, referring the key moments of the research carried out. The second part is devoted to the empirical analysis of anthroponymy forms of the royal officials - redactors and scribes. The aim is exposing the possibilities of knowledge that offers anthroponymy in rebuilding the image that we have of political structures, social and family spheres of power in the late Middle Ages.

RESUME: Ce travail a pour objet le nom comme une forme de désignation personnelle des agents de

la bureaucratie royale entre 1367 et 1481 et les rapports avec l’évolution des structures familiales. La recherche est divisée en deux parties. Au début, nous avons effectué un aperçu historique de l'évolution d’anthroponymie médiévale en Occident, en expliquant les objectifs, la portée et la méthodologie suivies dans l’exploration chronologique des données recueillies aux sources. La deuxième partie est consacrée à l'analyse empirique des formes anthroponymies de personnes qui occupent les différentes instances de la bureaucratie royale - rédacteurs et scribes - dans le but de démontrer les possibilités de la connaissance qui offre anthroponymie dans la reconstruction de l'image que nous avons des structures politiques et des sphères sociales et familiales du pouvoir au Bas Moyen Âge.

* Texto da lição-síntese apresentada em provas de habilitação ao título de agregado em História e Estudos Políticos e Internacionais da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FL-UP), nos dias 5 e 6 de Dezembro de 2007. Os meus agradecimentos aos Professores Doutores Armando Luís de Carvalho Homem (Faculdade de Letras da Universidade do Porto), Doutora Maria Helena da Cruz Coelho (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra), Doutor Luís Miguel Duarte (Faculdade de Letras da Universidade do Porto), Doutor Jorge Fernandes Alves (Faculdade de Letras da Universidade do Porto) e Doutor António Pedro Barbas-Homem (Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa), pelas observações e sugestões efectuadas aquando da discussão pública das provas. ** Professora Catedrática da FCHS da Universidade Fernando Pessoa. Investigadora sénior do Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade/Universidade do Porto/FCT. E-mail: [email protected].

In: Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Martim de Albuquerque, vol. II, ed. Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Coimbra: Coimbra Editora, pp. 83-135. ISSN: 0870-3116.

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I PARTE – A ANTROPONÍMIA MEDIEVAL E MODERNA NA EUROPA – SINOPSE DA

EVOLUÇÃO DA PROBLEMÁTICA

«Le prénom présente deux caractéristiques particulièrement intéressantes : c’est un bien gratuit, donc la consommation est obligatoire. Dès lors l’étude de sa diffusion dans le temps est particulièrement apte à mettre en évidence, dans sa pureté, la fonction d’identification et de distinction propre à la consommation des biens de mode»

Philippe BESNARD, 1979.

«And yet in the evidence of personal names, we see how not only kings and aristocrats, but towns-people and peasants, made meaningful choices about their offspring (…) the study of anthroponomy is a vast and daunting discipline, requiring both macro-level statistical studies of name pools of regions and social strata, as well as micro-studies of the onomastic patterns of individual families»

Patrick GEARY, 1997.

Os dois excertos em epígrafe, separados temporalmente por quase vinte anos,

remetem para dois pontos de vista distintos – o do sociólogo e o do historiador -, e

justificam o persistente empenho dos investigadores em transformar a antroponímia

medieval e moderna num importante campo de estudo, retirando-lhe a feição marginal

que de há muito tinha1.

É certo que os primeiros estudos de antroponímia foram desenvolvidos por

estudiosos ligados à história genealógica, à linguística e à filologia, nomeadamente na

segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX, procedendo a uma

recolha das origens remotas dos nomes incluindo o sistema de dupla e tripla

denominação do Baixo Império Romano ao sistema de nome simples germânico,

abrangendo a fase de predomínio do modelo duplo já em tempos medievos (séculos X-

XII).

Posto isto, e procurando retomar a ideia subjacente à primeira das passagens,

podemos principiar por concluir que «as modas não são inocentes». Elas invocam

modos de viver e de sentir colectivos ou de grupos humanos num dado momento

histórico. O estudo dos nomes não foge a esta regra elementar, no essencial, ocupa-se da

referência contextualizada dos nomes próprios. O que interessa saber não é tanto o que

referem os nomes, mas antes como referem. Qual o significado da designação? Esta

1 A onomástica foi tratada durante décadas como uma área marginal e secundária por quase todas as disciplinas e saberes. Com a segunda metade do século XIX filólogos, historiadores, genealogistas e etnólogos começam a interessar-se pelo estudo dos nomes por considerarem importante perceber como concebiam as sociedades tradicionais e mais antigas a atribuição do nome aos seus descendentes e quais os factores que pesavam na respectiva escolha, isto para além da determinação da origem linguística do nome. Durante todo este período a tendência, de um modo geral, foi para valorizar na escolha do nome os factores de ordem simbólica e moral.

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perspectiva de abordagem, corrente nos nossos dias, entre os historiadores das

sociedades e culturas, é, em parte, tributária do diálogo interdisciplinar dos saberes

histórico, antropológico e sociológico-demográfico que, como sabemos, nem sempre

gozou da melhor das vizinhanças, ainda que tenha tido tradições intelectuais próximas.

Simetricamente, nas palavras de Patrick GEARY, as perspectivas e os métodos de

pesquisa colocados pela transversalidade e internacionalização da antroponímia fazem

desta disciplina uma área com problemas específicos e complexos que exige uma

intervenção multifacetada.

Na segunda metade do século XX, podemos distinguir duas fases quanto às

tendências e evolução dos estudos antroponímicos nos meios universitários ocidentais: a

primeira situa-se entre os anos 60 e 70 e a segunda inicia-se a partir dos anos 80, do

século passado, alongando-se até aos nossos dias.

Efectivamente, a partir dos anos 60 surgem os primeiros ensaios marcantes sobre as

práticas de nomeação na Europa medieva provenientes da Escola alemã representada

nas universidades de Friburgo e Münster. A publicação de estudos sobre necrologia

monástica medieval (sécs. XI-XII), pela última das universidades referidas, nos anos 70

constitui um marco indelével no arranque das pesquisas, classificação e distribuição do

nome no tempo2.

Um pouco mais tarde, nos finais dos anos 70, em França, sobre o significado e a

evolução da estrutura do nome incidiu uma «nova» luz, fruto de uma convergência de

interesses entre historiadores, demógrafos, antropólogos e sociólogos3. Inicialmente,

convém dizê-lo, a apreensão do objecto em análise manteve-se refém dos diferenciados

territórios epistemológicos. As contribuições dadas pelos historiadores iam no sentido

de avançar sobre «o nome» encarando-o sobretudo como um elemento de identificação

individual, associando o estudo das taxas de utilização à procedência familiar próxima

(patronímico) e/ou da linhagem (genealogia), comparando as respectivas condições de

2 BEECH, 2002: X. 3 As primeiras abordagens do nome privilegiam a origem e a influência religiosa ou litúrgica na atribuição da denominação pessoal, ignorando os fenómenos empíricos que identificam o conjunto de factores que influem nas práticas de nomear. Os estudos mais antigos, nomeadamente em França, sobre a origem e o significado do nome e apelidos ascendem ao último quartel do século XVII (1681), mas com incidência quase exclusiva no valor moral e simbólico do nome. Cf. DUPÂQUIER, 1984: 7-8.

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transmissão geracional4. Para os historiadores das mentalidades, mais tarde ‘integrados’

no domínio da «antropologia histórica», interessava-lhes a interpretação do(s)

sistema(s) de denominação, designadamente no Antigo Regime.

Mas a renovação de perspectiva de abordagem deve-se, nesta primeira fase, à

influência da Sociologia sobre a História, sustentada no trabalho intitulado «Pour une

étude empirique du phénomène de mode dans la consommation des biens symboliques:

le cas des prénoms»5. Philippe BESNARD avança com um verdadeiro programa de

pesquisa; sugerindo percursos investigativos que incluem a distinção das práticas de

nomear e a transmissão de comportamentos ao longo do tempo, aferindo o peso relativo

da tradição e o grau de inovação, o uso universal do nome duplo, assentes na

quantificação e na estatística. Em verdade, podemos dizer, que se trata de um primeiro

projecto de «sociologia histórica» do nome.

De outro modo, a aproximação ao tema por parte dos antropólogos não se fez

chegar sem alguma rivalidade e distanciamento em relação às anteriores orientações. Os

etnólogos, partem da preposição de que nomear é identificar, classificar, significar,

sustentando a ideia de que é necessária a compreensão concreta do real. Esta é a

perspectiva de Françoise ZONABEND patente em dois artigos produzidos no ano de 1978

sobre o parentesco baptismal e os nomes pessoais na região do Minot6. Para os

antropólogos é imprescindível o levantamento do conjunto de designações atribuídas a

um mesmo indivíduo em diferentes contextos de utilização prática e a desmontagem do

significado social da utilização do nome e da designação individual, procurando

averiguar qual é o sistema de classificação respectivo. As iniciativas conjuntas surgem

na sequência da constituição de equipas de investigadores interessados em avançar com

programas de pesquisa concertados neste domínio.

No ano de 1980, sob os auspícios da Sociedade de Demografia Histórica

parisiense, realizou-se o encontro que promoveu a execução de três ateliers

subordinados aos seguintes temas:

4 Pierre CHAUNU orientou estudos monográficos paroquiais sobre os nomes mais usados. Neste mesmo encalço, Jacques DUPÂQUIER imbuído de maiores ambições intelectuais procedeu ao estudo sistemático, para o Vexin francês, dos nomes próprios e promoveu o “Rencontre des Historiens du Limousin”, propondo o lançamento de um inquérito comum, tendo por base um projecto colectivo, incidindo sobre o estudo da evolução dos nomes no Limousin, do séc. XI ao séc. XX. (DUPAQUIER , 1984: 6). 5 BESNARD, 1979: 343-351. 6 «Jeux de noms. Les noms de personne à Minot», 1979: 51-85.

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- o stock de nomes e os processos de difusão e renovação, a cargo de

D. SCHNAPPER e C. KLAPISCH-ZUBER;

- os nomes e o parentesco: as formas de transmissão, da responsabilidade

de A. BURGUIÈRE e, finalmente,

- o nome e identidade: as funções da denominação, da incumbência de

F. ZONABEND, posteriormente reunidas em livro7.

Contudo, mais que estudos síntese e investigação acabada, as análises

produzidas deixam em aberto, de forma intencional, sugestões de linhas de pesquisa,

realçando os vazios e as lacunas, as hipóteses de trabalho e as dúvidas acerca das

possibilidades de conhecimento no presente. De entre as sugestões de pesquisa então

apresentadas cabe-nos destacar: a prioridade dada à análise da noção de nome composto

(duplo e triplo), avaliação por décadas da respectiva frequência entre os diversos

estratos sociais, distinguindo-a nos centros urbanos e nas comunidades rurais. As

questões que se intenta explorar prendem-se com a necessidade de saber se na

propagação dos comportamentos de nomear está mais patente a questão social ou a

territorial (regional ou local); e, por outro lado, quais terão sido os canais de difusão

(vertical ou horizontal). De igual modo, salienta-se a importância do estudo dos índices

de utilização dos nomes revolucionários, no quadro de uma história urbana e rural.

O ano de 1980 é marcado pelo lançamento de um número especial da revista

francesa L’Homme com artigos de Françoise ZONABEND, André BURGUIÈRE, Alain

COLLOMP, Martine SEGALEN, Christiane KLAPISCH-ZUBER e Carlo SEVERI, dedicado

exclusivamente ao nome pessoal e à designação, traduzindo um maior envolvimento da

antropologia histórica e da sociologia histórica com a problemática8.

Por conseguinte, até ao início dos anos 80, a renovação da temática

investigativa beneficiou de uma certa confluência de interesse de estudiosos de

diferentes áreas do saber pelo estudo dos antropónimos. Nesta óptica, a partilha dos

instrumentos metodológicos aplicados nos diversos territórios científicos enriqueceram

as análises aplicadas ao passado no tempo mais longo (séculos XI a XX), v.g. a

perspectiva histórica9, a sociológica10 e a antropológica11, nomeadamente.

7 Le prénom mode et histoire. Entretiens de Malheur 1980, ed. Jacques DUPAQUIER, Alain BIDEAU e Marie-Elisabeth DUCREUX, Paris: EHECS, 1984. 8 L’Homme, oct.-déc. 1980, XX (4), nº spéciale. 9 DUPAQUIER, 1984 : 5-10 ; BURGUIERE, 1984 : 29-35. 10 SHNAPPER, 1984 : 13-21. 11 ZONABEND, 1984 : 23-27 ; KLAPISCH-ZUBER, 1984 : 37-47.

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De facto, nesta primeira fase, uma plêiade de estudiosos europeus patentearam,

nalguns dos seus trabalhos, uma intenção de aprofundamento desta temática que, apesar

de tudo, se manteve como actividade subsidiária em relação à história da família12 ou à

antropologia do parentesco13, fornecendo nas suas contribuições dados de inegável

mérito para o conhecimento da evolução dos comportamentos antroponímicos, mas pela

via lateral14.

A partir dos anos 80, as pesquisas desenvolvidas nas universidades e nos centros

de investigação transformaram-se, de algum modo, num fenómeno «moda», marcado

por uma ascensão da antroponímia como campo de interesse na historiografia ocidental,

convergindo para a renovação das problemáticas em causa.

Coube, no essencial, aos medievistas franceses, dispondo de uma concepção

mais aberta da respectiva disciplina, aproveitar e bem as perspectivas de análise

oriundas da antropologia, da sociologia, da demografia e da linguística erigindo a partir

dai relações fecundas. Neste contexto, equipas de investigadores estabeleceram algumas

das mais audaciosas pesquisas no plano da constituição e função social do nome nas

épocas medieval e moderna, convergindo num projecto-modelo liderado por Monique

BOURIN que, do nosso ponto de vista, foi a mais significativa experiência de

conhecimento das formas de identidade pessoal e das práticas de nomear levada a cabo

de meados dos anos 80 até aos nossos dias. A Genèse Médiévale de l’Antroponymie

Moderne15 é uma antologia completa de artigos da especialidade, constituindo o produto

das actividades de pesquisa de dezenas de estudiosos de origem francesa, sobretudo,

peninsular, italiana e anglosaxónica reunidos em sete encontros16. A GMAM conta já

com cinco volumes, dois dos quais subdivididos em dois tomos (volumes II e V

respectivamente). O ponto de partida foi a construção de um inquérito antroponímico,

passível de aplicar métodos de exploração estatísticos, incidindo sobre o levantamento

12 Vejam-se os estudos de Georges DUBY inspirados na historiografia alemã de Karl SCHMIT (cujos primeiros trabalhos sobre estruturas familiares datam de 1957) incidindo sobre a literatura genealógica, ao proceder a uma avaliação dos comportamentos linhagísticos, das estruturas de parentesco e dos sistemas de filiação medievos (1973: 267-85). E mais recentemente pode ver-se Histoire de la famille, vol. II, 1986, cujos pressupostos metodológicos admitem a transversalidade interdisciplinar – História, Sociologia e Antropologia. 13 Na linha do que tem feito Ch. KLAPISCH-ZUBER entre outros, ou a mais controversa posição do antropólogo Jack GOODY, 1983. 14 GUERREAU-JALABERT, LE JAN e MORSEL, 2003 : 433-446. 15 Doravante GMAM. 16 Nomeadamente entre 1986 e 1997 (1986, 87, 89, 90, 91, 93 e 95).

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de dados na documentação produzida pelos cartulários, combinando-o com bases

prosopográficas (macro-pesquisas) e inquéritos genealógicos (micro-pesquisas). Um

dos principais objectivos é o de explicar os comportamentos comuns e as práticas

regionais e locais de nomear, assim como os ritmos de transformação e os modos de

difusão dos sistemas de denominação identificados sob o ponto de vista social e

genealógico (história da família, património genealógico e hereditariedade do nome). Os

períodos de distribuição populacional são decenais. A aplicação do inquérito foi feita de

modo transversal (nas principais regiões da Europa Ocidental) procurando determinar as

origens e a evolução dos sistemas de designação modernos.

O primeiro volume da GMAM, para além das questões de método, privilegia a

análise de determinadas áreas regionais que vão da Picardia a Portugal, séculos XI a

XIII, onde, apesar das diferenças regionais e a variação das escolhas sociais, triunfa o

sistema de denominação dupla (nome + patronímico)17. O segundo volume, tomos I e II,

é dedicado à análise da persistência do nome único, em regiões como a Bretanha e em

determinados núcleos populacionais, clérigos e mulheres, para igual período histórico18,

situação que se irá repetir com os dois tomos do quinto volume, dedicado quase

exclusivamente aos sistemas de denominação entre os servos e dependentes, do século

VIII ao XV, extrapolando para as regiões da Itália Central, o noroeste hispânico, a

Flandres, Catalunha, entre outras. Nestes últimos estão patentes estudos sobre o nome

em contexto social específico (servos e dependentes)19. Os terceiro e quarto volumes

são constituídos por ensaios que fazem ressaltar uma linha de evolução acentuada da

antroponímia, quer pelos instrumentos de análise (inquéritos genealógicos e bases

prosopográficas), quer pelas problemáticas abordadas (discursos sobre o nome e o

imaginário medievo - séculos VI / XV-, do domínio da história da cultura, de uma

17 Genèse médiévale de l’Anthroponymie moderne – I, Actes des Ie-IIe Rencontres d’Azay, 1986-1987), dir. M. BOURIN, Université de Tours, 1990. 18 Genèse médiévale de l’Anthroponymie moderne – II- 1, Persistances du nom unique : le cas de la Bretagne, L’anthroponymie des clercs, org. Monique BOURIN e Pascal CHAREILLE, Universidade de Tours, 1992 ; Genèse médiévale de l’Anthroponymie moderne – II-2, Persistances du nom unique : Désignation et anthroponymie des femmes, Méthodes statistiques pour l’anthroponymie, org. Monique BOURIN e Pascal CHAREILLE, Universidade de Tours, 1992. 19 Genèse médiévale de l’Anthroponymie moderne – V-1. Serfs et dépendants au Moyen Âge (VIIIe-XIIe siècles), org. Monique BOURIN e Pascal CHAREILLE, Universidade de Tours, 2002 ; Genèse médiévale de l’Anthroponymie moderne – V-2. Serfs et dépendants au Moyen Âge (Le «nouveau servage»), org. Monique BOURIN e Pascal CHAREILLE, Universidade de Tours, 2002.

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antropologia linguística e cultural), dando-nos a conhecer o resultado das pesquisas

mais recentes20.

As repercussões do avanço proporcionado por estes trabalhos fizeram-se mais

recentemente notar nos volumes dedicados às formas antroponímicas no espaço italiano

em resultado dos encontros de Roma (1993, 1994 e 1997) de que a École française de

Rome publicou as respectivas actas21 e, do encontro realizado em 1994, naquela cidade

incidindo sobre a antroponímia como forma de identificação social, debruçando-se

sobre as formas de constituição do nome entre as minorias judaica e árabe, comparando-

as com o sistema cristão22.

Em paralelo, na Alemanha, foi levado a cabo um projecto de investigação, por

uma equipa de vinte historiadores e linguistas que, incidindo num período histórico

menos estudado pelos medievistas, comprovou a sobrevivência dos nomes próprios da

Primeira (Alta) Idade Média23.

Na Espanha, o único projecto recentemente construído procura associar os

comportamentos antroponímicos às formas de representação social de grupos24, na

esteira das principais vertentes exploradas pela escola francesa25.

Entre nós José Leite de Vasconcelos (1858-1941) terá sido um dos primeiros a

explorar os antropónimos medievais e modernos portugueses, numa perspectiva

filológica, buscando essencialmente a origem linguística e as características de

designação26. Vários autores tendo vindo a contribuir para a renovação e reintrodução

dos estudos antroponímicos na historiografia medieval portuguesa, mormente desde os

20 Genèse médiévale de l’Anthroponymie moderne – III, Enquêtes géneálogiques et données prosopographiques, org. Monique BOURIN e Pascal CHAREILLE, Universidade de Tours, 1995 (contém 26 tábuas genealógicas) ; Genèse médiévale de l’Anthroponymie moderne – IV, Discours sur le nom : normes, usages, imaginaire (VIe-XVIe siècles), org. Patrice BECK, Universidade de Tours, 1997. 21 Genèse médiévale de l’Anthroponymie moderne : l’espace italien – I, org. Jean-Marie MARTIN e François MENANT, Mélanges de l’École française de Rome – Moyen Âge, temps modernes (MEFRM), 1994,1995 e 1998. 22 L’Anthroponymie. Document de l’histoire sociale des mondes méditerranéens médiévaux, ed. Monique BOURIN, Jean-Marie MARTIN e François MENANT, École française de Rome, 1996. 23 Nomen et gens : Zur historischen…, 1997. 24 MARTINEZ SOPEÑA, 1996: 63-85 ; ID., 2002 : 67-76. 25 Antroponimia y Sociedad. Sistemas de identificación..., 1995. 26 Licenciou-se me Medicina em 1886, tendo desde cedo manifestado um maior gosto pelas «letras». Foi Conservador da Biblioteca Nacional até 1911 e Professor da Faculdade de Letras de Lisboa até 1929, onde leccionou disciplinas no âmbito da Filologia, Arqueologia, Epigrafia e Numismática. Fez vários estudos etnográficos sobre o modo de ser português (tratado de Etnografia Portuguesa), associando-os quase sempre à Filologia e à Arqueologia. Produziu inúmeros livros e artigos no âmbito da Filologia Portuguesa no qual se enquadra o estudo dos nomes de pessoas e de lugares e respectivos dialectos sob o título Antroponímia Portuguesa. (GUERREIRO, 1985: 254-255).

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anos 80 para cá, tomando como referente novas perspectivas de abordagem que se

inserem no âmbito da História Social. Algumas das mais importantes e actuais

contribuições são da responsabilidade de Iria GONÇALVES e Robert DURAND. A

primeira, desde princípios dos anos 70 tem publicado trabalhos sobre onomástica

medieval portuguesa com base no levantamento de cartulários dos finais da Idade

Média, das regiões da Estremadura27, do Alto Alentejo e do norte de Portugal28; o

segundo, participou em vários colóquios internacionais, tendo começado por explorar os

dados antroponímicos do Livro Preto da Catedral de Coimbra29 e, recentemente,

avançado com um balanço dos modos de utilização do nomen paternum pela

aristocracia portuguesa dos séculos XI-XII, antecipando timidamente algumas pistas

evolutivas para os tempos finais da Idade Média, v.g. o século XV30. Recentemente

Isabel FRANCO estudou a Antroponímia e Sociabilidade através dos “pergaminhos” do

Cabido da Sé do Porto (século XIV)31.

Nos nossos dias as pesquisas antroponímicas são consideradas como uma das

mais complexas e multidisciplinares linhas de investigação historiográfica europeia32.

Uma das mais recentes linhas de pesquisa antroponímica é aquela que incide

sobre as relações entre identidade pessoal e estruturas familiares patentes na colectânea

de estudos intitulada Personal names studies of Medieval Europe editada nos EUA no

ano de 2002. O estudo que se segue desenvolve-se em torno dos pressupostos desta

tendência mais recente, incidindo sobre um grupo sócio-profissional particular nos

finais da Idade Média portuguesa.

27 1988a: 105-142. 28 1988b: 69-104; EAD., 1999: 347-363; EAD., 2003 : 265-299. 29 DURAND, 1989, reed. 1990: 219-232 ; ID., 1995a : 103-120 ; ID., 1995b : 43-54. 30 DURAND, 2002: 77-86. 31 Dissertação de Doutoramento, Universidade do Minho, 2006. 32 GUERREAU-JALABERT, LE JAN e MORSEL, 2003 : 433-446.

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II Parte – ESTUDO EMPÍRICO DOS ANTROPÓNIMOS DA OFICIALIDADE RÉGIA (1367-1481)

«L’homme a souvent été désigné par la terre, d’après son lieu d’origine

– et la terre par l’homme, en particulier le domaine d’après son propriétaire :

innombrables sont les noms de famille qui ont d’abord été des surnoms

d’origine, et dans cette catégorie subsiste un langage topographique»

Marianne MULON33

Considerando que o nome pessoal é formado por diferentes componentes

qualitativos, uns obrigatórios, outros opcionais, numa sequência determinada,

intentámos proceder ao estudo global das formas de composição onomástica dos oficiais

da Chancelaria régia entre 1367 e 1481.

2.1. Justificação do trabalho

A escolha do objecto de estudo prende-se com factores muito específicos:

1º) Como tem sido por nós abordada a elite de burocratas régios, redactores e escrivães,

encerra em si um conjunto de características que lhe conferem um papel institucional e

político particular. Procuraremos desvendar, sob um outro ângulo, mais algumas das

especificidades destes dois grupos de servidores régios.

2º) A fonte base para o estudo agora encetado é constituída pelos registos da

Chancelaria de D. Fernando34, D. João I35, D. Duarte36 e D. Afonso V37; a que se junta

documentação avulsa compulsada de forma sistemática e uns quantos estudos inéditos38.

A carta régia constitui o tipo de diploma de onde parte o estudo agora encetado. Esta

espécie documental detém uma estruturação particular e provém de uma única entidade

produtora – a Chancelaria39. A documentação da Chancelaria é frequentemente

apresentada como uma fonte homogénea, devido às particulares condições de produção

33Origines et histoire des noms de famille. Essais d’Anthroponymie, Paris, 2002 : 5. 34 IANTT, Chancelaria de D. Fernando, Ls. I a IV. 35 IANTT, Chancelaria de D. João I, Ls. I a V. 36 IANTT, Chancelaria de D. Duarte, Ls. I, II e III. 37 IANTT, Chancelaria de D. Afonso V, Ls. I a XXXVIII. 38 Cf., supra, n. 44. 39 Excepção feita aos livros insertos na Chancelaria provenientes da Casa do Contos de Lisboa.

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e guarda40, se comparada com outros núcleos documentais, ainda que possa assinalar-se

a pontual heterogeneidade e descontinuidade cronológica dos registos devido a perdas41

e à natureza e proveniência dos mesmos42. Os intervenientes na redacção e escrituração

dos diplomas das Chancelarias régias são o objecto da análise antroponímica. Para o

efeito são tidas em consideração as múltiplas aparições de um servidor régio e a sua

qualidade interveniente de redactor ou de escrivão, a que se juntam elementos

complementares de identificação, tais como a qualidade social43 e, naturalmente, o

ofício44.

3º) Busca-se no universo de indivíduos aí representado a relação entre identidade

nas fontes e a experiência social identitária de um grupo com especiais atribuições de

foro burocrático, político e administrativo.

4º) Trata-se de um estudo que visa definir o perfil do mecanismo antroponímico

masculino que preside a este meio e saber das características distintivas do sistema

onomástico respectivo. Dito por outras palavras, procura-se reconstituir a imagem

que a antroponímia pode conferir às estruturas políticas, familiares e sociais das

esferas do poder na Idade Média Final.

2.2. Descrição das tarefas e objectivos

Começamos por proceder à seriação de cada um dos oficiais em serviço

(redactores e escrivães) ao longo dos anos mencionados, tendo por base o levantamento

feito a partir dos registos da Chancelaria régia e da documentação régia original avulsa.

40 HOMEM, DUARTE e MOTA, 1991: 403-423. Sobre as condições particulares de produção, conservação e guarda dos registos da Chancelaria de D. Afonso V ver por todos FREITAS, 2001, vol. I: 33-37. 41 MARQUES, 1979: 171-173. 42 Referimo-nos particularmente aos registos da Casa dos Contos incorporados nas Chancelarias régias que contém um assinalável número de diplomas de múltiplos anos de reinado, ou mesmo de reinados distintos. A título de exemplificativo veja-se o livro 2 da Chancelaria de D. Duarte que contém uma maioria de fólios com registos-originais do reinado de D. Afonso V, muito embora pertença à chancelaria eduardina. (IANTT, Chancelaria de D. Duarte, L. 2; cfr. FREITAS, 1996: 41-45). 43 Sob este aspecto, devemos adiantar, que não foi especificamente o protocolo final das cartas régias o principal meio de aceder à qualidade social dos oficiais régios. Pesquisas complementares permitiram determinar o estatuto de uns indivíduos ou vieram a clarificar a situação social de outros. Infelizmente para um número significativo de servidores não reunimos informações seguras sobre o respectivo estatuto social - até pela natureza da fonte principal. Estes indivíduos foram inseridos na categoria de indeterminados. 44 HOMEM, 1990; FREITAS, 1996; EAD., 2001. Ver também as dissertações de mestrado apresentadas à FL/UP por: VAZ, 1995; ALMEIDA, 1996; BORLIDO, 1996; MONTEIRO, 1997; CARVALHO, 2001; CAPAS, 2001; DURÃO, 2002; HENRIQUES, 2001; FERREIRA, 2001 e BRITO, 2001. A estes acrescem os relatórios inéditos sobre escrivães e desembargadores das Chancelarias de D. Fernando, D. João I e D. Afonso V (MORUJÃO e RAMOS, 1990, nomeadamente).

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Procedemos à criação de uma primeira base de dados com recurso ao programa EXCEL

de que falaremos mais adiante. Prosseguimos com o carregamento da base de dados

que, depois de concluído, permitiu a impressão de uma primeira listagem. Avançamos

para a confirmação e, nalguns casos, correcção dos dados recolhidos na base e

respectivo cruzamento. Este cruzamento de dados foi respeitado na resolução de todos

os casos de homonímia e redundâncias. Algumas situações detectadas, levantaram

problemas de ordem metodológica, obrigando-nos sempre que necessário a efectuar

pesquisa complementar no sentido de dar o melhor encaminhamento possível aos

problemas assinalados conforme a sua natureza. Posteriormente testamos a base de

dados em função das questões previamente colocadas e colocámos novos problemas

e/ou interrogações que de início não tinham estado na origem da recolha da informação.

Esta tarefa, obrigou-nos a ajustar e reconverter toda a base de dados inicial,

actualizando-a. Finalmente procedeu-se à elaboração das listagens definitivas do corpo

de oficiais tratado. A execução dos gráficos e tabelas dependeu inteiramente do modo

como pensamos e alimentamos a base de dados45.

Em paralelo, procedemos à criação de um inquérito-tipo antroponímico com

pontos de acesso normalizados de forma a controlar a qualidade da informação

disponibilizada para posterior e eficaz recuperação da mesma. Este inquérito é

composto por vectores de análise quantitativa, tendo em conta o total de unidades

onomásticas a tratar nos três períodos preestabelecidos, e vectores de análise qualitativa,

através dos quais são analisadas as componentes antroponímicas e a formação de novos

apelativos46.

2.3. A construção da metafonte47

A base de dados principal foi efectuada com recurso ao software EXCEL

contendo diferentes entradas ordenadas por colunas exaustivamente preenchidas numa

disposição sequencial: nº de ordem, período, nome próprio, patronímico, apelido

(família), apelido (localidade), apelido (alcunha ou outro), início de carreira, fim de

45 Gostaríamos agradecer a colaboração à Mestre Sandra Bernardo, da Universidade Fernando Pessoa, o arranjo final dos gráficos e quadros. 46 Cf. Anexo – Inquérito Antroponímico. A construção da matriz do questionário inspirou-se no inquérito apresentado por M. BOURIN e B. CHEVALIER para o estudo do sistema antroponímico masculino (sécs. XI-XIII), mas tivemos que introduzir as adaptações necessárias impostas pela realidade observada nos séculos XIV e XV. (BOURIN e CHEVALIER, 1989 : 11-12). 47 GENET, 1986a: pp. 7-18; ID., 1986b: 99-110.

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carreira, ofício 1, especialidade, ofício 2, especialidade e observações de especial

relevância na identificação dos indivíduos pertencentes ao universo masculino tratado.

Deste modo procurámos sistematizar a informação mais válida para o estudo que

intentámos efectuar e à qual presidiam as principais questões a resolver. Assim foi-nos

particularmente facilitada, depois de preenchidos todos os campos, a ordenação de

listagens de nomes próprios, de patronímicos, de apelidos, bem assim como se vieram a

alargar as possibilidades de cruzamento das informações e categorias de dados

seleccionados.

Por outro lado, procedemos à execução de um inquérito antroponímico48

composto por vectores de análise quantitativa e qualitativa, conforme já avançamos,

com o objectivo de estudar a evolução do nome pessoal destes dois núcleos de

servidores régios. Verificando eventuais alterações devidas à hereditariedade, ao gosto,

às influências literárias, geográficas, sócio-profissionais ou outras.

É do nosso particular interesse reflectir sobre a incidência da constituição dos

antropónimos com três termos ou denominações, podendo, eventualmente, relacioná-los

com o nível social e a proveniência familiar, bem assim como com as crescentes

tendências no século XV para uma maior individualização. Evidentemente que a

correlação que possamos estabelecer tem por base o levantamento prosopográfico

familiar estabelecido nos inquéritos lançados aos oficiais redactores e escrivães.

2.4. Questões metodológicas

Importantes dificuldades de ordem metodológica mereceram a nossa ponderação

e análise. Consideramos ser este o momento mais oportuno para partilhá-las convosco.

Quando decidimos compreender o sistema antroponímico tardo-medievo da elite

de burocratas que serviram os reis de Portugal de 1367 a 1481 contávamos com alguns

problemas de ordem metodológica relacionados com a circunstância de o universo

estudado ser constituído por mais de um milhar de indivíduos que, quer do ponto de

vista hierárquico, quer do ponto de vista social, detém qualidades distintas ainda que

pertençam ao mesmo meio sócio-profissional, conforme já adiantamos. Assim, partimos

da identidade oficial dos personagens de um determinado meio político crendo que ela

48 Cf. Anexo – Inquérito Antroponímico.

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corresponde a pelo menos uma das formas sociais de identificação dos indivíduos do

grupo. Se por um lado a natureza das fontes nos garante uma maior uniformidade das

formas de indicação do pessoal afecto às diferentes instâncias superiores do

Desembargo, consideramos, no entanto, que ela pode não ser redutível à simples

apresentação (presença) nas fontes. Todavia relembremos que o nosso estudo se limita

aos antropónimos dos oficiais presentes nos protocolos finais dos diplomas régios. No

conjunto de nomes seriado a partir da base documental, viemos a encontrar um sistema

antroponímico que comporta diferenças no que toca os componentes de identificação,

para os oficiais redactores e os oficiais escreventes, para os indivíduos de condição

social superior (nobreza de corte) e uma maioria de servidores régios de condição social

indeterminada49. Não obstante este facto, os nomes utilizáveis do ponto de vista deste

estudo são equivalentes às diferentes formas antroponímicas registadas nas fontes.

Partimos igualmente da constatação de que existiriam desequilíbrios assinaláveis

entre o número de servidores identificado para cada um dos reinados e entre distintos

períodos ao longo do tempo abordado. Estes seriam os primeiros problemas com que

nos defrontámos, a que veio juntar-se de imediato outro, já nosso conhecido: a questão

das homonímias. Para ultrapassar o primeiro recorremos a faixas cronológicas de

amplitude variável ajustando-as ao volume informativo que contém. Sabendo, à partida,

que de inícios do segundo quartel do século XV em diante, o aumento de indivíduos é

significativo devido à progressão geométrica da produção e conservação de registos50.

Assim, entendemos por bem proceder a uma partição tendo em conta a distribuição mais

equilibrada do volume de nomes de oficiais redactores e escrivães entre 1367 a 1481,

em três períodos distintos (1367-1432), (1433-1448) e (1449-1481). Por outro lado,

procurámos conciliar esta primeira opção com outra, que entendemos, da maior

relevância - a alteração das conjunturas político-institucionais propriamente ditas que -,

não raras vezes, conforme já adiantámos noutros trabalhos, regulam a mudança de

49 O tratamento das referências profissionais que se seguem ao nome próprio foi exaustivo, uma vez que em trabalhos anteriores nos dedicamos ao estudo das atribuições de foro burocrático dos homens do Desembargo régio numa perspectiva institucional e política (cfr. infra, os trabalhos citados na n. 11) Por conseguinte, para estes dois grupos de servidores (redactores e escrivães), estavam reunidas as referências de carácter profissional que se seguem ao nome no escatocolo dos actos régios. Estas referências de categoria profissional não constituem parte integrante do nome ao contrário do que se verifica para outros núcleos documentais, outras cronias e outros lugares (BECK, 1989: 61-85 e GONÇALVES, 1988a: 105-142; EAD., 1988b: 69-104; EAD., 1999: 347-363). 50 Cf., infra, os estudos referidos na n. 40.

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quadros humanos nas instâncias superiores da burocracia51. Daí que a primeira faixa

reúna sessenta e seis anos (1367-1432), a segunda dezasseis (1433-1448), em virtude

das conjunturas políticas a elas associadas que proporcionaram uma renovação de

recursos humanos52 e, finalmente uma terceira faixa de trinta e dois anos (1449-1481)

que corresponde ao governo efectivo de D. Afonso V.

Faixas cronológicas Total dos anos por faixas

Número de indivíduos %

1367 - 1432 66 389 38,78 %

1433 - 1448 16 272 27,11 %

1449 - 1481 32 342 34,09 %

Totais 114 1003 99,98 %

Quadro I – Dados gerais da documentação (1367-1481)

O período que compreende o maior número de servidores é o primeiro dos

consignados, atinente ao facto de ser a faixa que comporta os oficiais do reinado de

D. Fernando e de D. João I (até finais de 1432), e não obstante detém um valor um

pouco mais elevado – 38,78 % - se comparado com o último dos períodos com uma

dimensão de 34, 09 %, ainda que esta faixa comporte menos de metade dos anos

daquele. Tal como se previa, o segundo período de uns escassos dezasseis (1433-1448),

é um tempo de importante renovação de quadros humanos, e daí que corresponda a

27,11 % do total de indivíduos levantados.

51 FREITAS, 2001: 130-149 e 237-247. 52 FREITAS, 200, vol. I: 130-149 e 237-247.

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0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

1367-1432 1433-1448 1449-1481

Períodos

Registos

Gráfico I – Distribuição do número de ocorrências por período

A distribuição parece-nos consentânea com os períodos chave de alternância nas

instâncias governativas ao longo do século XV, e equilibrada de modo a permitir

elaborar as listas dos nomes que circulam nos três ciclos numa perspectiva comparativa.

Se porventura atendêssemos ao princípio e ao final dos reinados ou à divisão por faixas

com intervalos regulares a dispersão de dados onomásticos proveniente do total de

indivíduos distorcia (ainda mais) as respectivas conclusões estatísticas ao favorecer a

existência de alguns nomes em períodos de maior número de ocorrências em relação a

outros que primam pela escassez de diplomas na Chancelaria régia53. Com esta divisão,

a análise onomástica a que procederemos faz a avaliação estatística segundo critérios

mais equitativos quantitativa e qualitativamente, daí podermos extrair conclusões

consistentes do ponto de vista da evolução do corpo onomástico dos principais núcleos

de agentes do poder régio. Núcleo que a partir de meados do século XV tende a

desenvolver particulares modos de transmissão familiar dos ofícios54. Será que

coincidentemente assistirão à transmissão familiar do nome e, especificadamente, do

terceiro apelativo ou denominação de família?

53 Os estudiosos da problemática em apreço chamam a atenção para os «perigos» da distorção de ocorrências entre períodos cronológicos com intervalos regulares, devido à diversa quantidade das fontes. De um modo geral, o número de ocorrências é muito menor no século XI que nos séculos posteriores (Cf., por exemplo, BARTHÉLEMY, 1989 : 36-38). Por todas as razões apontadas optámos por dividir em faixas cronológicas tomando em consideração os dois dos principais factores: quantidade de documentos expedidos (fontes) e quantidade de oficiais em serviço (factor político). 54 FREITAS, 2001, vol. I: 208-215.

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O problema das homonímias é para todos os estudiosos do universo humano

medievo, amiudadas vezes, um obstáculo difícil de superar. Conforme sabemos um

mesmo indivíduo pode surgir em contextos muito diferenciados, na qualidade de

redactor, de clérigo, de marido, de filho,… assumindo, não raras vezes, formas de

identificação diferenciadas. No entanto, um conjunto de informações igualmente válidas

foi por nós considerado no sentido de reduzir ao mínimo os enganos e as sobreposições,

dispondo para tal do manancial de informes recolhido nos catálogos prosopográficos.

Recorremos, por isso, a todos os indicadores que podiam justificar a separação de dois

homónimos, quando tudo indica tratar-se de identidades diferenciadas. Do mesmo

modo, e na ausência de indicadores mais seguros, optámos por individualizar as

entradas. Ao mesmo tempo verificámos casos de identidade que agrupámos, visto que o

uso da identidade pessoal, nos registos compulsados e para uma maioria dos casos,

radica na utilização de uma forma textual particular, o que contribui para a distinção no

seio do grupo. Foi no entanto impossível comparar a identidade de todos os indivíduos

nas fontes escritas maioritariamente compulsadas – os livros da Chancelaria -, com as

assinaturas autografas das cartas régias originais avulsas55.

3. As componentes do nome e modos de identificação

3.1. O sentido social do nome

O nome individualiza, distingue, umas vezes realça qualidades outras defeitos,

destaca origens, é sinal de pertença a um meio ou, simplesmente, antediz a profissão. O

nome salienta a existência de uma relação entre o gosto da época, os meios sociais e as

circunstâncias culturais, políticas e demográficas. O nome é um importante sinal da

mudança dos tempos!

Por tudo isto, o nome pode também ser interpretado como um valor patrimonial

que é legado de origem.

De igual modo consideramos que o valor do nome pode variar consoante a

abordagem ou perspectiva de análise sob que nos colocámos, seja ela

filológica/linguística, religiosa, lendária... ou histórico-social. Desde já alertámos que

55 Pelos poucos casos observados constatámos haver uma coincidência do número e qualidade dos apelativos, podendo no entanto as rubricas surgir, uma maioria das vezes, de forma abreviada.

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nos iremos debruçar sobre os possíveis valores do nome. Deste modo, não

enveredaremos pelo critério de análise linguístico. No essencial, a nossa perspectiva de

análise repousa numa abordagem histórico-social ou, se quisermos, antropossociológica.

O uso que um determinado grupo político da sociedade de Corte da Idade Média Final

faz do nome. Não iremos por isso desvendar qual a origem etimológica do nome, tarefa

para a qual não nos sentimos habilitada, uma vez que é matéria para filólogos, mas

sobretudo verificar quais as práticas sociais de identidade comunitária de um grupo

específico e bem delimitado, no âmbito profissional. Interessa-nos sobretudo conhecer o

corpo onomástico deste núcleo de agentes do poder régio. Muito embora existam alguns

clérigos no seio da burocracia régia os antropónimos que trataremos pertencem

maioritariamente a indivíduos do sexo masculino, de condição laica, oriundos de meios

familiares seculares. Ainda assim, conforme destacaremos, são passíveis de se constatar

nomes por detrás dos quais se evoca a virtude, a pureza ou mesmo a ‘encomenda’ da

santidade56. Não esqueçamos que no Ocidente medieval o baptismo é o sacramento

principal. «O costume consiste em baptizar a criança o mais depressa possível após o

nascimento porque se reforça, (...) em particular no século XV, um temor muito forte: o

de que os bebés morram sem terem sido baptizados»57. Comportamento distanciado do

constatado por Pierre-Henri BILLY quando se refere à dação do nome nas épocas mais

recuadas, em que o temor da peste e doença não estão presentes: «Jusqu’aux XIe-XIIe

s., les enfants n’etaint guère baptisés que parvenus à l’âge adulte: en général, leur nom

de baptême était alors le nom que leurs parents leur avaient conféré dès leur plus jeune

âge. Ce n’est que vers le XIIe s. (…) qui se généralisa le baptême des nouveau-nés»58.

Efectivamente, o estudo dos antropónimos ajuda a desvendar as modificações de

comportamento de grupos em sociedade e proporciona um conjunto rico de

ensinamentos sobre os modos de vida em família, bem assim como sobre os usos e

costumes onomásticos antepassados.

Em Portugal, na Idade Média Final, constatámos a presença de nomes de

influência religiosa conjuntamente com nomes isentos de conexões com essa mesma

proveniência que, por comodidade de linguagem, designámos de profanos.

56 «O nome atribuído à criança, no baptismo, costumava ser, na Idade Média, uma denominação que pertencera a algum Santo» (GONÇALVES, 1988a: 78). 57 LE GOFF e TRUONG, 2005: 88. 58 BILLY, 1995: 171.

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De outro modo procuramos apresentar a listagem dos nomes próprios, e

justificar a inexistência de casos de nomes simples59, uma maioria de nomes compostos

por dois apelativos, nome próprio mais patronímico, e de um número crescente de

antropónimos constituídos pelo nome próprio, pelo patronímico, constituído a partir do

nome individual60, e por um terceiro apelativo, designadamente de família. A junção da

terceira designação e, nalguns casos pouco frequentes de um quarto apelativo,

demonstra particulares cuidados de individualização e distinção por parte dos

progenitores dos dois núcleos de oficiais estudados. De outro modo, é também de

realçar a presença de um certo tipo de adjunções nominais61 e a exclusão de outras nos

protocolos finais dos diplomas compulsados. A relação entre o núcleo populacional

tratado e o recurso a adjunções nominais assenta num conjunto de factores específicos

que justificam um determinado uso das segundas. O grupo de servidores régios é por

definição um núcleo tendencialmente urbano62, central, ‘conhecedor’, de elite; se

atendermos à função que desempenha e ao lugar que ocupa no seio da Corte63, até pela

itinerância desta64. Mas por outro lado, é composto por um alargado número de

servidores cotados diferenciadamente do ponto de vista social. No topo está a nobreza

de Corte, um dos sustentáculos do poder régio neste período, a que se junta um grupo de

indivíduos de condição social menos elevada e que, nalguns casos, buscam ascender

socialmente pelo provimento a ofícios régios e respectiva retribuição dos serviços

59 Com ressalva para um clérigo, de seu nome Afonso, que, entre 1439-1441, escreve apenas 3 cartas de diferentes tipos diplomáticos. Não sabemos se o nome se encontra registado de forma incompleta, por isso não o consideramos na listagem agora efectuada. Ver por todos FREITAS, 2001: 535. Segundo BOURIN e CHEVALIER «(...) l’ désignation des clercs, elle est différente (...) de celle des laïques et semble rester longtemps fidèle au système du nom unique» (1990: 7). 60 José Leite de VASCONCELOS considera apenas patronímico as designações que descendem do nome pessoal do pai, por exemplo Álvares, Geraldes, Pais, Rodrigues, etc. Deste distingue o sobrenome que pode aparecer logo a seguir ao nome próprio, como exemplo: André, Gil, Vicente, etc. Procurando evitar uma compartimentação excessiva considerar-se-á todos os segundos apelativos, nestas condições, como patronímicos uma vez que na Idade Média tardia eles ainda desempenhavam igual função (VASCONCELOS, 1928: 113 e 199). 61 Por adjunção nominal consideramos toda e qualquer indicação que se acrescente ao registo completo do nome e que ajude a identificar o indivíduo (GONÇALVES, 1988: 71-72). 62 São já alguns os estudos que distinguem a antroponímia urbana da rural, v.g. MENANT, 1996: 349-363. Consideramos, no entanto, da maior dificuldade estabelecer uma separação nítida entre a antroponímia de um meio e de outro, designadamente em Portugal. 63 GOMES, 1995. 64 A Corte é lugar de representação e um dos mais influentes centros do poder em torno do qual gravitam os oficiais que ocupam as diferentes instâncias do poder e uma plêiade de servidores masculinos e femininos com as mais diversas funções. A itinerância é também uma forma de se mostrar, um meio privilegiado de chegar a lugares longe do seu epicentro, onde se fazem valer outras dimensões do poder, senhorial, municipal, eclesiástico e outros.

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prestados65. Deste modo, as atribuições de foro burocrático e político (especificação dos

ofícios) constituem as principais adjunções que seguem ao nome individual dos

elementos da população seriada, acompanhadas da menção a dignidades (arcebispo,

deão ou outra) e posições sociais ocupadas (vassalo, cavaleiro, rico-homem). Com

alguma parcimónia são usados epítetos ou alcunhas, e praticamente inexistentes os

indicativos de filiação. Evidentemente que a procedência, o modo de recrutamento e a

designação do ofício nas cartas que redigem ou escrevem já de si implicam uma

assinalável individualização.

Tendo em conta estas considerações iniciais avancemos no sentido de descrever

os mecanismos de escolha do nome, das características e dos componentes de todos os

nomes do grupo em estudo.

3.2. O nome próprio: escolhas, reposições e... renovação?

O conjunto de nomes próprios agrupado é suficientemente ilustrativo das

tendências desde finais de Trezentos até finais da era Quatrocentista. Os casos que nos

chegaram são, a uma primeira abordagem, nomes de grande aceitação social. Há, no

entanto, grandes diferenças ao nível das taxas e índices de utilização.

Chegados a este ponto concretizemos com índices e níveis de frequência

extraindo daí as respectivas ilações66.

O núcleo de redactores e de escrivães pertencente ao staff da administração régia

entre 1367-1481 faz uso de um total de sessenta e um (61) nomes próprios diferentes67,

sendo trinta e nove (39) nomes de uso corrente e vinte e dois (22) nomes raros, com

apenas uma ocorrência68.

65 FREITAS, 200, vol. I: 228-234. 66 Depois de efectuada uma sondagem, verificámos que não havia cesuras nítidas e dignas de realce no que toca a escolha do nome próprio e do patronímico entre redactores e escrivães, daí a principal razão que nos levou a proceder nos pontos 3.2. e 3.3. a uma apreciação conjunta dos dois núcleos de servidores. 67 Ambrósio, Armon, Eanes, Estácio, Farto, Francisco Gabriel, Gregório, Hucheia, James, Jerónimo, Judas, Lázaro, Manuel, Mendes, Paio, Ricardo, Rolão, Salvato, Turíbio, Urbano, Vítor. 68 Seguimos o critério adoptado nos estudos sobre antroponímia medieval e moderna que, para efeitos de classificação, considera nome raro todo aquele que não ultrapassa uma única ocorrência (Genèse Médiévale de l’Anthroponymie Moderne – I, 1990).

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Nº de ordem Nome próprio Totais % Patronímico Totais % 1 João 172 17,14 Anes/Eanes 83 11,36 2 Fernão/Fernando 84 8,37 Afonso 77 10,54 3 Pero/Pedro 83 8,27 Gonçalves 70 9,58 4 Álvaro 71 7,07 Martins 56 7,67 5 Diogo 66 6,58 Peres/Pires 50 6,84 6 Afonso 64 6,38 Fernandes 46 6,3 7 Gonçalo 59 5,88 Vaz/Vasques 46 6,3 8 Vasco 45 4,48 Esteves 41 5,61 9 Martim/Martinho 37 3,68 Rodrigues 41 5,61 10 Rui 35 3,48 Álvares 31 4,24 11 Luís 29 2,89 Lourenço 27 3,69 12 Estêvão/Esteves 25 2,49 Gil 25 3,42 13 Rodrigo 22 2,19 Lopes 21 2,87 14 Lopo 20 1,99 Dias 21 2,87 15 Lourenço 20 1,99 Domingues 16 1,16 16 Gil 19 1,89 Gomes 14 1,91 17 Vicente 19 1,89 Vicente 14 1,91 18 Nuno 18 1,79 Garcia/Garcês 10 1,36 19 Gomes 17 1,69 Mendes 8 1,09 20 Antão/António 8 0,79 Jorge 4 0,54 21 Nicolau 8 0,79 Dinis 3 0,41 22 Bartolomeu 6 0,59 Pais 3 0,41 23 Brás 6 0,59 Aires 2 0,27 24 Aires 5 0,49 André 2 0,27 25 André 5 0,49 Geraldes 2 0,27 26 Henrique 5 0,49 Mateus 2 0,27 27 Domingues 4 0,39 Nunes 2 0,27 28 Filipe 4 0,39 Romeu 2 0,27 29 Duarte 3 0,29 30 Garcia 3 0,29 31 Soeiro 3 0,29 32 Bernardo 2 0,19 33 Cristóvão 2 0,19 34 Dinis 2 0,19 35 Geraldo 2 0,19 36 Jorge 2 0,19 37 Lançarote 2 0,19 38 Listarte/Lisoarte 2 0,19 39 Tomé 2 0,19

Quadro II - Nomes Próprios e patronímicos dos oficiais da burocracia régia (1367-1481)

A população estudada foi fundamentalmente apadrinhada com os nomes de

João, Fernando, Pedro, Álvaro, Diogo, Afonso, Gonçalo, Vasco, Rui e Martim, isto para

citar apenas aqueles em que se verifica um número de ocorrências acima de trinta e

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cinco. Do total de nomes considerado, os valores mais elevados são, ou continuam a ser,

ocupados pelo nome JOÃO, com cerca de 17 % do total, preenchendo os lugares

seguintes os apelativos: Fernando (8.37%), Pedro (8.27%), Álvaro (7.07%), Diogo

(6.58%), Afonso (6.38%) e Gonçalo (5.88%). Estes com valores muito próximos e que,

individualmente considerados, correspondem a uma taxa de frequência de menos de

metade do nome João que, conforme referimos, ocupa o primeiro lugar. Todos os

restantes detém valores percentuais abaixo dos 5%, muito embora haja um pequeno

grupo que se situe entre os 4,5% e 1% que mereça o nosso realce: Vasco, Rui, Martim,

Luís, Estêvão, Rodrigo, Lopo, Gil, Lourenço, Nuno, Vicente e Gomes, a que se seguem

mais trinta denominações de valor inestimável ou raras. Ou seja, João continua a ser

nome dominante no Portugal medievo69 tal como em toda a Europa Ocidental70,

assumindo valores muito expressivos no quadro político agora observado.

Nos nomes constantes da lista onomástica elaborada as designações de

proveniência germânica são dominantes, não obstante a primazia de João, garantindo

uma atitude convencional perante a escolha do nome, atestada no recurso aos nomes de

baptismo: Fernando, Álvaro, Afonso, Gonçalo, Rodrigo/Rui e Luís; seguida da cristã e

judaico-cristã, com sustentação no já reiterado caso de João, ao qual se somam Pedro,

Martim ou Vicente. Nomes de origem greco-romana só iremos encontrá-los abaixo do

décimo segundo lugar de posição, e isto apesar de, o corpo antroponímico observado,

constar de pelo menos 1671 nomes de origem greco-romana (Gil, Nicolau, André entre

outros). Na população seriada, todos os nomes greco-romanos identificados assumem

uma posição aquém dos 5%.

Há por outro lado que assinalar a ausência de pistas fidedignas quanto à origem

de nomes com forte utilização, casos de Diogo72, Lopo73, em crescendo de aplicação no

século XV, e António74.

69 Para Portugal vejam-se os trabalhos GONÇALVES, 1988a: 69-104; 1988b: 105-142, e particularmente sobre o nome JOÃO e a sua utilização na região sintrense HOMEM, 1994: 171-185. Para o Norte do país v. por todos o trabalho FRANCO, 1995: 16-17. 70 BECK, 1984 : 165 e KLAPISCH-ZUBER, 1984 : 40. 71 Um de provável origem grega: «Diogo». Cf. MACHADO, 2003, t. I: 508. 72 MACHADO, 2003, t. II: 508. 73 MACHADO, 2003, 2003, t. II: 894. 74 MACHADO, 2003, t. I: 144.

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Por fim é de salientar a dispersão verificada no número e qualidade dos nomes

muito raros, usados por um único oficial régio, num total de 22; nomes sobre os quais

entendemos avançar com algumas notas explicativas:

1º) A origem dos nomes raros é múltipla. Existem nomes de origem greco-

romana, judaico-cristã, germânicos, tal como nos de uso corrente.

2º) Só o cruzar de dados biográficos recolhidos nos catálogos prosopográficos

nos permite inferir que as diferenças onomásticas se devem nalguns casos à

proveniência estrangeira (Armon, Hucheia, James75), outros muito plausivelmente à

invocação de figuras da Igreja, santos, papas (Gabriel, Gregório, Lázaro, Urbano, por

exemplo), outros à persistência de patronímico (Eanes, Mendes, por exemplo), outros

marcam a continuidade da presença (Jerónimo, Manuel), outros manifestam alguma

irrupção (Ricardo ou Vítor), e finalmente, outros de que podemos inferir uma descensão

no uso em relação ao período antecedente (Paio, Geraldo).

Existe uma concentração onomástica ao nível do nome próprio. O valor médio

de ocorrências por nome é de 16, 4. Em 1003 indivíduos encontramos 61 unidades

antroponímicas, das quais apenas 19 designações detêm uma taxa de frequência que se

situa acima das 10 ocorrências, i.e., 31.14 % do total de nomes, para um total de 905

indivíduos (90,22% do total). Estes são os nomes verdadeiramente frequentes se

comparados com a diversidade de apelativos existente abaixo dessa taxa de frequência,

42 apelativos correspondendo a 68,85 % do total do catálogo onomástico. Se nos

detivermos no número de indivíduos titulares de nomes próprios abaixo dos dez

registos, 98 oficiais régios, detém apelativos pessoais em desuso ou raros (9,77% do

total). Estes dados reiteram à partida a concentração onomástica ao nível do nome

próprio, mas de igual modo assinalam a desigualdade de distribuição onomástica pelo

grupo populacional em análise. Esta disseminação antroponímica pode justificar-se por

factores de ordem aleatória (gosto pelo «excêntrico», influências externas, devoção

religiosa, ou outros), mas apontar uma tendência para a variação do índice de

antropónimos neste meio. Pode igualmente ser um indicador de que estamos perante um

período de transição onomástica mais geral, visível sobretudo da 3ª década do século

XV em diante. Adiante-se que uns designativos têm tendência para a acentuação a partir

daquela data, nomeadamente os apelativos de António, Filipe, Lopo, Nuno ou Pedro.

75 O equivalente a João.

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Muitos outros embora arrancando da forma apocopada vêm a assumir uma «moderna»

feição linguística, por exemplo: Pedro em vez de Pero, Fernando por Fernão76. Outros

manifestam uma preferência por determinadas variantes semânticas relativamente a

outras que caiem em desuso, como por exemplo Rui em vez Rodrigo77. Para uma

melhor compreensão do exposto segue-se um quadro síntese dos dados:

Nomes próprios 1367-1432 1433-1448 1449-1481 Totais Progressão de uso António 0 4 4 8

Filipe 1 0 3 4 Lopo 6 9 9 21 Nuno 6 6 8 20

Pedro 21 20 42 83 Rui 8 14 13 35

Desuso

André 3 1 1 5 Bartolomeu 5 0 1 6 Estêvão 14 5 6 25

Gil 9 8 2 19 Lourenço 11 5 4 20 Martim/Martinho 23 8 6 37

Rodrigo 10 8 4 22 Vasco 25 12 8 45 Vicente 9 5 5 19

Quadro III – Nomes próprios em progressão de uso e desuso (1367-1481)

Conforme podemos constatar alguns dos designativos parecem manifestar uma

tendência para a acentuação a partir da 3ª década do séc. XV. Como exemplo de nomes

de baptismo em progressão de uso temos António, Filipe, Lopo, Nuno e Pedro. Por

outro lado, alguns onomatos parecem tender para um número menor de ocorrências:

André, Bartolomeu, Estêvão ou Martim, por exemplo.

Comparativamente o repertório de nomes próprios em uso ao longo dos três

períodos cronológicos não evidencia diferenças marcantes. O valor médio de nome por

fase é de respectivamente: 9,4 ocorrências (1367-1432); 7,3 ocorrências (1433-1448) e

76 Fernão forma apocopada de Fernando. 77 As duas designações, ao que tudo indica têm a mesma origem. Do germânico «hrod», glória e «ric», poderoso. Nos quadros e gráficos optámos por distinguir as duas formas por aparecerem escritas de diferente forma na fonte. Por outro lado, pretendíamos saber quais os períodos de maior utilização de cada uma das variantes etimológicas. Rui é considerado, geralmente, a forma proclítica de Rodrigo (MACHADO, 2003, t. III: 1271 e 1284; NEVES, 2003: 227 e 231, respectivamente).

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9 ocorrências (1449-1481). Por conseguinte, apesar das flutuações relativas quanto às

escolhas de nome próprio ao longo do tempo em análise, não se manifesta

estatisticamente um aumento significativo do número de indivíduos por nome. Veja-se

no quadro seguinte o que se passa ao nível dos dez nomes mais usados nos três

períodos:

Nº de ordem Nomes próprios 1367-1432 1433-1448 1449-1481 Totais

1 João 66 34 72 172

2 Fernão / Fernando 28 23 33 84

3 Pero / Pedro 21 20 42 83

4 Álvaro 20 22 29 71

5 Diogo 23 21 22 66

6 Afonso 32 17 15 64

7 Gonçalo 30 12 17 59

8 Vasco 25 12 8 45

9 Martim / Martinho 23 8 6 37

10 Rui 8 14 13 35

Quadro IV – Índices absolutos dos dez nomes mais frequentes (1367-1481)

Antes de mais cabe-nos explicar a quebra do número de ocorrências do nome

João no período de 1433-1448 que pode dever-se à circunstância deste corresponder

apenas a 16 anos. João é efectivamente um nome, conforme já adiantamos, que mantém

uma taxa de utilização alta e constante no Portugal Medievo.

Considerando os dez nomes próprios mais frequentes, os dados estatísticos

fazem salientar por um lado uma tendência para uma ligeira progressão de uso de alguns

dos nomes (Fernão/Fernando e Pero/Pedro, como já referimos) e uma regressão de uso

de outros nomes (casos de Gonçalo, Martim e Vasco). No entanto, a haver modificações

importantes ao nível do nome pessoal, elas decorrem sobretudo dos ritmos de renovação

de nomes no catálogo geral. Não devemos negligenciar a existência de uma

concentração das escolhas ao nível do nome próprio (61 variantes), não obstante termos

verificado que em todos os períodos existem nomes raros e muito raros, num total de 22

nomes de baptismo (designadamente Estácio, Gabriel, Francisco, Jerónimo, Manuel,

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etc), facto que pode ser um indicativo de renovação e de opções conjunturais mais

difíceis de explicar78.

Quanto à origem dos nomes próprios, um breve apontamento a partir da

observação do gráfico seguinte:

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Greco-romana Judaico-cristã Germânica Obscura Outra

Frequência

Gráfico II – Origem dos nomes próprios (1367-1461)

Apesar de no total de apelativos as taxas de variação onomástica serem

superiores nos designativos de origem greco-romana, logo seguidos dos de origem

judaico-cristã; dos nomes constantes da lista onomástica elaborada as designações de

proveniência germânica são dominantes em termos de taxa de utilização, garantindo

uma atitude convencional perante a escolha do nome (Fernando, Álvaro, Afonso,

Gonçalo, Rodrigo/Rui e Luís, são nomes de baptismo predominantes). Nomes de

origem greco-romana só os encontrámos abaixo do décimo segundo lugar de posição, e

isto apesar do corpo antroponímico constar de pelo menos 16 nomes de origem greco-

romana (Gil, Nicolau, André, entre outros)79. Todos os nomes greco-romanos assumem

uma posição aquém dos 5%. Há que assinalar também a ausência de pistas fidedignas

quanto à origem de nomes de baptismo com forte utilização, casos de Diogo e Lopo, por

exemplo, em crescendo de aplicação no século XV. Porém, existe um conjunto de

78 Há ainda nomes próprios com um percurso pouco definido ao longo dos três períodos cronológicos em análise, visto que o grau de flutuação mostrado é de variável aleatória e a alternância de nomes pessoais não proporciona uma dedução segura. 79 Cfr. por todos, infra, o Quadro II – Nomes próprios e patronímicos dos oficiais da burocracia régia (1367-1481).

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nomes raros (uma ocorrência), cuja origem é múltipla, alguns de proveniência

estrangeira (Armon, Hucheia, James), outros invocam figuras da igreja, de santos e

papas (Gabriel, Lázaro, Urbano), outros ainda são devidos à persistência de patronímico

(Eanes, Mendes, por exemplo).

Concluindo, atendendo às considerações efectuadas, os nomes de uso corrente

assinalam uma «longa» época medieval, cujas práticas antroponímicas estão marcadas

por consumos culturais de tendência conservadora que se reflectem no repertório de

nomes na globalidade (e não só nos mais escolhidos). O apadrinhador português de

finais da Idade Média mantém a preferência pelos apelativos tradicionais, indo buscar

os nomes de baptismo às origens. Daí manterem-se nos primeiros lugares os nomes

próprios de maior frequência dos séculos precedentes80, aumentando as taxas de

homonímia, ao nível do nome próprio, no conjunto dos homens que serviram nas

diferentes instâncias do poder. Esta constatação não pode ser escamoteada tanto mais

que sabemos tratar-se de um grupo profissional que busca formas complementares de

individualização, patente no protocolo final das cartas quando a seguir ao nome é

adiantada, não raro, a qualidade social do indivíduo - «vassalo d’el rei», «cavaleiro»,

«rico-homem»-, e, naturalmente, o ofício. De igual modo verificámos uma tendência

para reposição de nomes há muito utilizados (históricos) por exercerem maior atracção

ao acentuarem o enraizamento social e familiar, reproduzindo formas ancestrais de

nomeação dentro da parentela e garantindo, à partida, a integração e consequentemente

maior segurança81. Por outro lado, não verificamos uma cristianização do nome uma vez

que, à excepção dos apelativos pessoais de João (1º lugar) e de Pedro (3º lugar), as

restantes designações de uso comum são de origem germânica, muito embora possam

ter sido «cristianizados» em virtude da nomeação de santos e algumas figuras da Igreja

ou por terem sido nome de baptismo de pessoas com elevado fervor religioso, por

exemplo: S. Luís, rei de França. Os nomes de origem germânica detêm uma expressão

quantitativa e qualitativa assinalável entre os servidores régios. Como salienta Iria

GONÇALVES, «(...) a onomástica galego-portuguesa era a mais profundamente

80 Para o caso português cf. por todos os quadros GONÇALVES, 1988a: 73-75; EAD., 1988b: 107, 109 e 112; EAD., 2003: 276-281. 81 Sobre o assunto articularemos os dados do problema mais em detalhe nos pontos 3.3. e 3.4. Propensão para ir buscar o nome às origens seja o nome próprio, o patronímico, evidentemente, e o terceiro apelativo, designativo de família, numa maioria dos casos.

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germanizada da Península»82. Por seu turno, os nomes greco-romanos, muito embora

em número de variantes superior no conjunto dos oficiais da burocracia (16 no total),

assumem ao nível da utilização uma parca expressão. Poucos são os burocratas régios

baptizados com nomes greco-romanos. Um grupo considerável de oficiais régios tem

por nome de baptismo designações cuja origem é para os estudiosos consultados

obscura, desconhecida e marcada pela ambiguidade (num total de 16 casos,

correspondendo a 26,22% do total dos apelativos em uso).

Por tudo isto, não observámos ao nível da designação onomástica da pessoa,

criações passíveis de destaque. Os autores referem-se a uma tendente diminuição do

repertório onomástico em uso desde os séculos X/XI, com propensão para a estabilidade

no século XIV, que virá a acentuar-se no século XV. Esta tendência, dizem, aproxima,

no que toca as escolhas do nome de baptismo, todos os meios sociais e núcleos

regionais já estudados. Porém, devemos alertar para a possibilidade de actualização do

repertório de nomes dos homens do Desembargo, assumindo inclusive formas de

expressão linguística mais «modernas», conforme vimos, com reflexos visíveis desde

finais da década de 20/inícios da de trinta do século XV. Todavia não esqueçamos, o

baptismo, para os cristãos medievais, é gesto sócio-cultural e “mais que nunca um gesto

corporal”83.

3.3. O patronímico e parentesco

No Ocidente Medievo era comum os pais designarem o filho pelo nome

ascendente paterno, assim Álvares de Álvaro, Domingues de Domingos, Geraldes de

Geraldo, Martins de Martinho, Vasques de Vasco, etc. O patronímico é antes de mais o

nome derivado do designativo pessoal de um antepassado, geralmente o pai,

distinguindo-se do sobrenome que, regra geral, surge após o nome próprio (por

exemplo: André, Jorge, Dinis, Gil, Vicente). Na Idade Média patronímico e sobrenome

desempenham idêntica função. Verifica-se, portanto, uma tendência geral no Ocidente

Medievo para a utilização de apelativos que trazem o nome do pai – patronúmios.

Prática que se vulgariza entre os mais diversos agrupamentos sociais, não obstante o

82 2003: 281. Ver também os trabalhos de MARTINEZ SOPEÑA, 1996: 78 e de Patrice BECK que assinala para a região da Borgonha o domínio da tradição germânica no repertório de nomes, não obstante detectar uma tendência para a descida (de 87% no século X para 66% no século XII) compensada com a reposição de nomes de tradição antiga (1989: 67-68). 83 LE GOFF e TRUONG, 2005 : 88.

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predomínio distinto dos condicionalismos sociais, religiosos, familiares e influências

epocais (modismos)84.

No conjunto populacional em análise, 1003 oficiais do Desembargo, uma

maioria de 730 (72,78%) dos indivíduos do grupo faz uso de patrónimos. A taxa de

variedade onomástica ao nível do segundo apelativo é de 39 patronímicos diferentes.

Por conseguinte, observámos uma mais acentuada variedade antroponímica no nome

próprio (61 variantes) comparativamente ao repertório de patronímicos do qual, como

adiantamos, fazem parte 39 designativos. Destes apenas 28 são de uso frequente, acima

das duas ocorrências, constituindo um grupo bastante restrito o núcleo daqueles que

detém uma taxa de frequência igual ou superior a 10, somente 19 anomatos (48,71% do

total)85, cuja taxa global de utilização é de 94,38%86. Por conseguinte, a concentração

onomástica ao nível da taxa de utilização do patronímico é maior se comparada com os

índices de variação e a taxa de utilização do nome próprio87. O leque de escolhas do

segundo apelativo de identificação é significativamente reduzido. Simetricamente o

total de segundos apelativos raros ou invulgares é de 11 variantes (28,20% do total). Ou

seja, dos 39 patrónimos 28 detém uma taxa de utilização igual ou superior a dois

(71,79% do total).

Em resultado destas premissas, não há importantes variações de posição e uso

dos dois primeiros componentes do nome nos núcleos de oficiais régios tratados

(redactores e escrivães).

O quadro que de seguida se apresenta é ilustrativo do uso comparado de nomes

próprios e de patrónimos.

84 Há fenómenos que marcam as modas onomásticas. Em todas as épocas históricas existem nomes de uso corrente e nomes invulgares ou de rara utilização. São fenómenos de natureza endógena (nomes de heróis nacionais, de santos - o peso do símbolo e o gosto que marcam uma época, controlo social, tradição, etc) e exógena (influência ‘estrangeira’) que interferem na escolha do nome. 85 De registar a coincidência de ao nível do nome próprio e do patronímico. Apenas 19 apelativos são usados por mais de 10 indivíduos do grupo. Cfr. as considerações efectuadas no ponto 3.2. a respeito do nome próprio e, em anexo, o Gráfico II – Patronímicos dos oficiais régios mais frequentes (1367-1481). 86 Quer dizer, em 730 indivíduos que usam o patronímico, 689 recorrem a um repertório de 19 escolhas possíveis. 87 Em 61 nomes próprios, 39 detém uma taxa de utilização igual ou superior a dois, 63,93% do total da população. Em 39 patronímicos, 28 detém uma taxa de utilização igual ou superior a dois, 71,79 % do total da população que utiliza apelativos patronimiados. Cf., infra, ponto 3.2.

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Nome próprio

Nº de ordem

Patronímico

João 1 Anes/Eanes

Fernão/Fernando 2 Afonso

Pero/Pedro 3 Gonçalves

Álvaro 4 Martins

Diogo 5 Peres/Pires

Afonso 6 Fernandes

Gonçalo 7 Vaz/Vasques

Vasco 8 Esteves

Rui 9 Rodrigues

Martim 10 Álvares

Luís 11 Lourenço

Estêvão 12 Gil

Quadro V – Número de ordem do nome próprio e do patronímico dos oficiais régios (1367-1481)

O intervalo máximo para os 12 primeiros nomes é de 6 lugares de posição, quer

no sentido directo/descendente (nome próprio-patronímico), quer no sentido

inverso/ascendente (patronímico-nome próprio), como por exemplo os casos de Álvaro-

Alvares e Martim/Martins. Os restantes onomatos andam muito próximo em termos de

posição. As flutuações de realce ocorrem ao nível das taxas de utilização, entre nomes

próprios e apelativos patronimiados88. Por seu lado, existem nomes que surgem como

nome próprio mas não descobrimos informação sobre o seu uso como patronúmio, caso

de Diogo, ou muito raramente surge naquela qualidade, caso de Luís89.

Resumindo, uma maioria dos indivíduos do grupo faz uso do patronímico como

complemento de identificação pessoal, por conseguinte existe uma elevada

probabilidade de diferentes indivíduos possuírem o segundo apelativo semelhante.

O patronímico, enquanto segundo elemento de designação, na sua forma

genitiva é bastante mais frequente do que na forma nominativa. Este fenómeno é

comum na Idade Média Ocidental uma vez que o nome muitas vezes se completa com

88 Cf., infra, Quadro I – Nomes próprios e patronímicos dos oficiais da burocracia régia (1367-1481). 89 Surge uma única vez como patronímico. Situação semelhante foi a encontrada por Iria GONÇALVES no Alentejo e na Estremadura. Cfr. GONÇALVES, 1988a: 69-104 e 1988b: 105-142.

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recurso a um segundo apelativo que aponta para a raiz do nome paterno (ascendente) –

o fenómeno é designado como «transmissão agnática do nome», nomen paternum. Este

sistema teve um longo período de vigência, desde o século X até ao século XV90, pelo

menos. Mas os sinais de individualização cabal dos dois núcleos de agentes do poder

régio (redactores e escrivães) não residem, para um número significativo de indivíduos

no recurso ao segundo apelativo, cuja função tradicionalmente, conforme dissemos, é

indicar a filiação (o nome paterno ou de um familiar próximo); eles buscam formas

complementares de denominação, ultrapassando, por conseguinte, a aparente tendência

para a homonímia.

3.4. O uso do apelativo e caracterização social das formas de denominação

No sentido de aprofundar este ponto prosseguimos com a aplicação do Inquérito

Antroponímico tendo em consideração o ponto 3 e o ponto 4 respectivamente91.

O sistema de identificação com dois elementos (nome próprio e patronímico) é

maioritário nos dois grupos de oficiais régios (redactores e escrivães), conforme já

demonstrámos. Este sistema de denominação manteve-se como principal na restante

Europa Ocidental, desde o século X92, tendo surgido inicialmente em indivíduos de

ascendência nobiliárquica e só mais tarde entre os plebeus (por volta do século XII),

sendo considerada inicialmente por muitos estudiosos como uma verdadeira «revolução

antroponímica»93. Hoje em dia, esta ideia de mudança brusca já foi contestada:

«Actually, the consensus regarding the evolution of kingship structures is more

apparent than real (...) Nowadays medievalists speak of gradual modification instead of

abrupt changes»94. Simetricamente verifica-se, em determinadas camadas sociais, uma

tendência para que a designação complementar ao nome pessoal passe a ser de ordem

90 Conforme tivemos oportunidade de referir na I parte deste trabalho estudos múltiplos têm sido levados a cabo procurando verificar as alterações regionais e epocais na estrutura do nome, partindo do nome simples até ao triunfo do sistema de denominação com dois elementos, procurando na homonímia uns, ou na transmissão hereditária por via masculina outros, a explicação para o seu aparecimento (cf. por todos BOURIN, 2002: 3-14). 91 Cf., em anexo, o Inquérito Antroponímico. 92 Em Portugal, o sistema de denominação dupla surgiu na última década do século XI (DURAND, 2002: 78). 93 BECK, 1984: 165 ; BARTHÉLEMY, 1990: 38-41. 94 Os trabalhos recentes desmentem a ideia de ‘revolução’ e preferem a noção de evolução com alterações/transformações regionais e sociais (BOURIN, 2002: 3-14).

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profissional, situação confirmada pelos estudiosos da onomástica dos séculos XII e

XIII95.

Na Idade Média Final, os comportamentos sociais de nomear, nos dois grupos

sócio-políticos em estudo, advém da introdução propositada de elementos distintos no

nome, dando lugar a sistemas antroponímicos alternativos aos modelos tradicionais,

confundindo a matriz inicial. De facto, avolumam-se os exemplos híbridos que nos

indicam que os esquemas de denominação estarão a alterar-se. Não obstante este facto,

sabemos que os processos antroponímicos são muito lentos, fundem-se com sistemas

culturais, opções religiosas, estratificações sociais e ritmos demográficos, numa palavra

com o viver evolutivo da sociedade. De uns tempos para outros subsistem arcaísmos, os

vestígios do passado convivem com a inovação.

Daí a necessidade de prosseguirmos com a aplicação do inquérito antroponímico

no sentido de averiguar, de uma forma global, as mudanças assinaláveis no sistema de

denominação individual nos dois grupos políticos em estudo. O questionário lançado

compreende os diferentes modelos antroponímicos dos oficiais régios procurando

apurar a dimensão quantitativa de cada um deles.

O quadro que se segue sintetiza as diferentes formas de designação onomástica

do total de oficiais tratado, considerando que:

Sistemas antroponímicos Nº de ocorrências %96

N 1 0,09 Legenda: N + P 730 72,78 N = Nome Próprio N + P + AF 76 7,57 P = Patronímico N + P + AL 32 3,19 A = Apelido N + P + O 17 1,69 AF = Apelido de Família N + AF 159 15,85 AL = Apelido de Localidade N + AL 59 5,88 O = Prenomes, Alcunhas... N + O 39 3,88

N + P + AF (+ O) 3 0,29

.

Quadro VI – Sistemas Antroponímicos (1367-1481)

95 Cf. o trabalho citado na nota anterior. 96 Os valores percentuais são calculados em relação ao total de indivíduos – 1003.

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A elevada flutuação das combinações dos elementos onomásticos (que surgem

em segundo e terceiro lugar), testemunha a presença de uma fase de agitação das formas

antroponímicas, não obstante o domínio da forma costumada, nome próprio e

patronímico.

As designações pessoais com um elemento, no caso pendente, nome próprio, são

muito raras (1 ocorrência), pelo contrário o sistema de denominação dupla está bem

implantado. Neste meio social e profissional, praticamente não existem casos de

apelativos simples, sejam eles constituídos, isoladamente, por nome próprio, apelido,

alcunha ou outro. Poucos são os oficiais designados por apelidos de localidade, em

complemento do nome próprio, 5,88% do total, e ainda menos os que seguem o modelo

de nome próprio, patronímico e apelido de localidade (3,19% do total). É necessário

realçar que a denominação de localidade pode remeter para quatro situações: o lugar de

origem (familiar), o local de residência (designação locativa), o lugar de senhorio ou

muito raramente o local onde exerce funções. Infelizmente não dispomos de dados

biográficos que nos permitam aferir da competente atribuição local na denominação de

todos os indivíduos. Em todo o caso, podemos adiantar que o apelido de localidade

surge maioritariamente na forma nominativa, antecedido da preposição de, condição que

alguns autores corroboram como sendo genérica no século XV97. De igual forma

devemos salientar o facto de 7,57% do total de oficiais recorrer a um sistema de

denominação que compreende o nome próprio, o patronímico e o apelido de família, e

um grupo mais alargado de 15,85% fazer uso de um sistema de identificação duplo,

nome próprio e designativo familiar.

Os dados estatísticos são bastante esclarecedores a respeito do peso relativo que

tem o uso de apelidos de localidade e de família para cada um dos núcleos de oficiais

tratados.

Categorias burocráticas Apelidos de localidade % Apelidos de família %

Redactores 24 8,98 110 41,19

Escrivães 67 9,1 125 16,98

Totais 91 ------- 235 --------

Quadro VII – Distribuição do total de apelidos de localidade e de família por

categorias burocráticas (1367-1481)

97 BILLY, 1995: 180-181.

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Em termos proporcionais nos dois núcleos de indivíduos, redactores e escrivães,

encontrámos semelhante número de utilizadores de nomes de lugar ou topónimos. Mas

se apenas tivermos em conta os valores absolutos constatámos que o uso do apelido de

localidade é de uso superior entre o núcleo de oficiais escreventes, 67 casos (= 74% do

total absoluto), enquanto o número de ocorrências entre a população de redactores é de

24 casos, (26,37% total de utilizações). Admitamos como possíveis explicações para o

facto os requisitos de recrutamento e provimento dos dois núcleos de servidores, para

além de factores que se prendem com a itinerância da Corte, que proporciona o recurso

a escrivães de circunstância (supranumerários)98, com origem social e geográfica

diversa, e por ventura outros factores que não é possível descortinar de momento.

Diferentemente são as estruturas antroponímicas constituídas por apelidos de

família que agrupam, para o tempo analisado, um número de ocorrências considerável -

235, i.e., 23,42 % dos indivíduos fazem uso de formas designativas que remetem para

um nome comum de família. Em 267 oficiais redactores identificados 110 faz uso de

apelido de família (41% do total), por contraste com o núcleo de oficiais escreventes

cujo uso de apelido de família é de apenas 125 casos em 736 indivíduos, ca. de 17% do

total de oficiais escreventes.

Estes dados levantam a questão de saber que relação existe entre nome,

sociedade e poder nos séculos finais da Idade Média?

A constituição de linhagens familiares entre a oficialidade régia é um fenómeno

em crescendo na viragem do século XIV para o século XV, acentuando-se na segunda

metade deste último. Entre o grupo de redactores, os laços parentais, ou o uso de

apelativo idêntico, surgem com valores expressivos, na ordem dos 41 %.

Comparativamente o nível inferior de burocratas régios, os oficiais amanuenses, faz um

uso bastante mais contido do apelativo familiar, apenas 17 % da população, menos de

metade do núcleo dos redactores. De uma forma geral, podemos afirmar que o apelido

de família tende a acentuar-se entre o núcleo de oficiais redactores. Por ventura um dos

efeitos da patrimonialização dos ofícios régios (linhagens que asseguram os ofícios

régios) e da cristalização do modelo de família linhagística (agnática). Como refere

Monique BOURIN, «Bruts, ces chiffres manquent de sens. Toutefois l’enquête confirme:

98 FREITAS, 2001: 164-177.

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- que l’authentique nomen paternum (nom du père au génitif) est en voie d’extinction !

Il est rare et presque toujours associé à un surnom lignager (…) l’héritage d’un surnom

lignager n’est pas la règle absolue, mas qu’il est normal»99.

Por seu lado, são em número muito reduzido os oficiais denominados pelo nome

próprio e adjunções nominais. Por terem uma representação escassa, e para evitar a

excessiva compartimentação, incluímos no conjunto das adjunções nominais uma

variedade de casos, nomeadamente as designações que servem para distinguir no meio

político cortesão dois homónimos100, o prenome101, os cognomes102 e as indicações que

remetem para a qualificação profissional dos servidores103. Quanto a estas últimas

devemos ressalvar que no período em análise elas constituem cada vez mais um modo

de distinção utilizado por um grupo de profissionais restrito - os físicos e cirurgiões

régios -, sendo raros os oficiais com distintas funções de despacho burocrático, mesmo

que licenciados, mestres ou doutores, em que a qualificação académica seja integrada no

nome, como as excepções de Mestre Gonçalo das Decretais, Desembargador (1366-

1368), ou o mais conhecido Dr. João das Regras104, Chanceler-mor (1384-1389). De

igual forma, Fernão Meirinho (1374), João Escrivão (1385-1386) e Rui Besteiro (1472),

por extensão o segundo apelativo que remete para a actividade profissional, foi

incorporado no nome, sendo uma forma de distinção.

De qualquer modo, a diversidade das formas e esquemas antroponímicos

garante suplementos de individualização no seio deste grupo cortesão de servidores. A

transformação do sistema antroponímico, entre as elites do poder régio, especificamente

dos oficiais que ocupam as instâncias superiores da burocracia, faz-se notar com a

junção ao nome do apelido de família.

99 A Autora refere-se à hereditariedade do apelido na região do Languedoc, nos séculos XI a XIII (BOURIN, 1995: 197). 100 Como é o caso dos escrivães régios: Afonso Trigo, o Moço (1464-1476), Filipe Afonso, o Moço (1449-1455); Diogo Velho (1480-1481); Estêvão Moço (1450); Fernão Velho (1464); Gomes Borges, o Moço (1464-1468); João de Lisboa, o Moço (1443); Joao Mancebo (1450); Lourenço Esteves, o Moço (1384); Martim Afonso, o Moço (1460); Martim Gil, o Moço (1459-1462); Pedro de Alcáçova, o Moço (1464-1472). 101 Dom Afonso de Vasconcelos (1479-1480); Dom Álvaro (1475); Dom Fernando da Guerra (1416-1463); Dom João Rodrigues Galvão (1464-1477); Dom Judas (1374-1383); Frei Nuno Roiz de Andrade (1372); Conde Pedro Vaz de Melo (1450-1478): Dom Rodrigo de Noronha (1468-1476). 102 Álvaro Pires da Mão Inchada (1450-1490); Diogo Afonso Mangancha (1438-1447); Vicente Esteves Barbudo (1434). 103 Os físicos ou cirurgiões: Mestre Afonso Madeira (1459-1475); Mestre Aires (1433-1459; Mestre Fernando (1441-1468); Mestre Gil (1444-1474); Mestre João (1442-1449); Mestre Martinho Vilarinho (1439-59); Mestre Nicolau (1441-1453); Mestre Rodrigo de Lucena (1441-1495). 104 De seu nome João Afonso.

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Nos quadros seguintes podemos ver alguns das designações de localidade e de

família mais frequentes.

Total de apelidos de localidade Frequência Designações

1 9 Lisboa

1 8 Guimarães

3 5 Braga, Elvas, Porto

4 4 Beja, Évora, Olivença e Santarém

2 3 Coimbra e Estremoz

8 2 Alcáçova, Aveiro, Azambuja, Barcelos (...)

Quadro VIII – Apelidos de localidade mais frequentes (1367-1481)

Total de apelidos de família Frequência Designações

1 9 Almeida

1 8 Godinho

1 7 Costa

2 6 Castro, Machado

4 5 Castelo Branco, Figueiredo, Silveira, Vieira

3 4 Borges, Carneiro, Galvão

9 3 Camelo, Cardoso, Faleiro, Lobato, Silva (...)

30 2 Abul, Azevedo, Boto, Faria, Freitas, Lucena (...)

80 1 Abreu, Alvarenga, Carvalho, Grã, Sem, Sousa(...)

Quadro IX – Apelidos de família mais frequentes (1367-1481)

3.5. Nome e família

A existência de mais do que uma matriz onomástica suscitou-nos a curiosidade

de saber qual terá sido a evolução das estruturas antroponímicas e os sinais que as

podem identificar do ponto de vista social (nobres e não nobres) e profissional

(redactores e escrivães). A questão inicial que se nos colocou foi a seguinte: Será que as

estruturas do nome são, de algum modo, relacionáveis com o estatuto social do

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indivíduo, nos grupos burocráticos em análise? Que vantagens se pode tirar da relação a

estabelecer entre a onomástica e a genealogia?

As respostas a estas questões não podem ser dadas de forma simples nem

unívoca, nem tão pouco contar com o total de oficiais régios registados (1003). As

condicionantes têm a ver com três factores:

1º) A dificuldade em proceder a uma análise social da antroponímia. O

conhecimento das estruturas familiares implica pesquisas genealógicas que uma maioria

das vezes não excede as duas gerações (pai/filho) para um alargado número dos oficiais

implicados, sendo que em muitos outros esse conhecimento se encontra comprometido

pela ausência de dados nas fontes.

2º) Em antroponímia não é fácil estabelecer classificações etimológicas,

linguísticas ou toponímicas seguras. Os exemplos de influência antroponímica sobre os

lugares estão aí para o demonstrar e dos lugares sobre a antroponímia. Quer isto dizer

que os topónimos podem ter origem em antropónimos e vice-versa.

3º) Em antroponímia uma interpretação ou asserção não é obrigatoriamente a

única explicação. As variantes e flutuações são inúmeras, não apenas no plano de

análise micro, quando estão em causa estudos de onomástica de famílias individuais,

mas também nas análises macro que tendem a verificar os principais marcos evolutivos

nos sistemas sociais de denominação a nível local ou regional, sustentados em dados de

natureza prosopográfica105.

Com efeito, na análise factorial teremos que recorrer ao processo de

amostragem, visto que para um conjunto alargado de indivíduos não dispomos de

informações que facilitem o respectivo traçado dos itinerários pessoais (a ordem de

nascimento e a posição na hierarquia) e a consequente categorização social. Deste

modo, aspectos vários têm de ser avaliados para aferir da respectiva transmissão

geracional do nome individual. Por seu lado, os números com que iremos trabalhar são

escassos comparativamente ao total da população, mas em compensação mais

sólidos106.

105 GEARY, 2002: VII. 106 Os exemplos que apresentaremos propõem-se mais do que dar respostas cabais levantar alguns problemas que entendemos pertinentes, já que haverá necessidade, sob o presente aspecto, de alargar a aplicação do inquérito a outros meios sociais, políticos e culturais.

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Nas esferas do poder monárquico, nos séculos finais da Idade Média, são

visíveis os sinais de enobrecimento entre o grupo daqueles que ocupa os vários sectores

da administração central, quer pela elevação estatutária que, de algum modo, os serviços

de «Estado» conferem, quer pelas doações de bens patrimoniais e móveis a título de

gratificação dos serviços prestados, quer ainda pela percepção que temos das linhagens

familiares dos estratos sociais representados nos serviços régios. A classificação

estatutária da evolução da família nos séculos finais da Idade Média resulta do

cruzamento dos aspectos políticos, económicos, sociais e culturais. É o advento de uma

aristocracia assente no serviço régio, denominada de nobreza de Corte107. Para estes

torna-se mais fácil desenhar o rasto biológico dos antepassados e dos descendentes, mas

para a maioria dos oficiais de condição não nobre ou de categoria social indeterminada a

tarefa é de mais difícil concretização. Porém, iremos prosseguir com os elementos

conseguidos.

3.5.1. O apelido de família ou a patrimonialização do nome

O sistema de designação que compreende um apelativo de família surge

inicialmente entre a aristocracia ou entre indivíduos de estatuto social mais elevado. De

acordo com José MATTOSO, o aparecimento de nomes de família data do segundo

quartel do século XII entre a alta nobreza portuguesa (encontrando-se relacionado com a

implantação do modelo linhagístico – agnático – neste grupo social, transmissão pessoal

do nome)108. O nome de família identifica um indivíduo dentro de um grupo mais

estreito, a linhagem -, que conduz, não raro, à exclusividade na denominação. A

designação comum de família produz o efeito da raridade. A sua natureza pertence a um

espaço de singularidade, distribuindo-se com parcimónia ao longo do tempo. Neste

sentido é o oposto do patronímico que remete para uma multiplicidade de utilizações

possíveis. A pluralidade do uso do patronímico conduz inevitavelmente ao

desenvolvimento da homonímia, como vimos. Pelo contrário, o apelido de família é

geralmente hereditário, um signo original de identificação da linhagem. Remete para a

consanguinidade (transmissão biológica de um ou mais componentes do nome), muito

107 Sobre o processo de transformação da nobreza e o aparecimento da nobreza de serviço nas duas últimas centúrias da Idade Média portuguesa e europeia pode ver-se nomeadamente MATTOSO, 1998: 7-37; MARQUES, 1987: 242-268 e, mais recentemente, GOMES, 1995: 107 e ss. Para o país vizinho pode ver-se nomeadamente LEROY, 1988: 233-248. 108 MATTOSO, 2001b: 5-182; ID., 2001a.

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embora saibamos que circunstâncias históricas de vária ordem podem conduzir ao uso

de um ou mais apelidos por várias famílias, facto que parece ter surgido com maior

incidência nos tempos subsequentes ao estudado. As pesquisas genealógicas arrastam

consigo a cartografia dos sobrenomes de lugares de origem. Pierre-Henri BILLY a

propósito do estudo que desenvolveu para os séculos XI a XIV refere que os senhores

da região de Toulouse têm como segundo elemento nominal o nome do senhorio109.

Por outro lado, o uso do apelido de família implica uma distribuição regular dos

elementos antroponímicos, de algum modo, induz à topologia110. Uma maior

complexidade das formas de denominar, mas também um apuramento das estruturas

antroponímicas com mais de dois elementos, uma tendência para a repetição dos

enunciados de identificação cabal dos indivíduos. Por conseguinte, o apelido de família

é uma forma «moderna» de identificação que distingue socialmente os indivíduos.

22

14

21

9

65

0

10

20

30

40

50

60

70

Toponímica Estrangeira Alcunha Incerta Outra

Frequências

Gráfico II – Origem dos apelidos de família

O total de ocorrências de apelido de família é de 131, cerca de metade das quais

são de raiz toponímica (49,61%), ainda que a maioria dos casos inseridos na classe

«estrangeiros» tenham origem semelhante o que acrescentaria significativamente o

número daqueles. Por seu lado, algumas alcunhas, com o tempo, foram incorporadas no

nome, passando a ser usadas como designativo familiar de alguns indivíduos.

109

BOURIN, 1995: 182-185. 110 Tratado acerca da colocação de certa categoria de palavras (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, vol. VI, Lisboa, Círculo de Leitores, 1999, p. 3541).

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Do total de variantes do apelido de família - 131, 51 detém mais do que uma

ocorrência.

Comparativamente ao número de variantes patronímicas - segundo elemento de

identificação banalizado ao longo dos séculos XI a XIII -, a multiplicidade de apelidos é

mais significativa. O valor médio de utilização dos patronímicos é de 18,3 % e a taxa de

utilização de apelidos de família é de 1,79%. Números que traduzem reais diferenças na

forma de designação dos indivíduos ao longo do tempo estudado. O alargamento do

repertório de apelidos é um indicativo das crescentes necessidades de individualização,

como de igual modo remete para a estrutura familiar de algumas linhagens entre os

oficiais da Corte. Será que estas tendências acentuar-se-ão nos períodos seguintes?

Tendo em consideração os dados estatísticos, a forte concentração ao nível dos apelidos

de família não é por enquanto um fenómeno palpável, uma vez que uma diversidade de

situações antroponímicas o acompanham ao longo do tempo estudado, por conseguinte

não possuímos de momento informações que nos permitam proceder a uma avaliação

antecipada do fenómeno.

3.5.2. Flutuações: multiplicidade e regularidade(s)

O recurso ao sistema de tripla denominação, designadamente pelo uso do

apelido de família, na opinião avalizada de Monique BOURIN veio complicar a

apreensão das regras antroponímicas. Primeiro porque o segundo elemento pode parecer

um patronímico e efectivamente não ser, é aquilo a que a Autora designa de «les faux

nomina paterna», segundo porque ele é usado geralmente por apenas uma das crianças,

raramente por todos os irmãos, e em terceiro lugar, no sistema de denominação dupla,

por vezes, quando o segundo nome é raro, ele pode desempenhar a função de

sobrenome (apelido de família)111, e por outro lado ainda, dois irmãos podem ter um

segundo elemento nominal diverso. Para Robert DURAND, a alteração da concepção de

família manifesta-se no uso pronunciado de uma mesma designação oriunda de um

topónimo, função ou ofício e transmitida geracionalmente. A mesma opinião é

partilhada por Céline PEROL a respeito da evolução das estruturas onomásticas na Itália

111 BOURIN, 1995: 194-195. É de realçar que a análise produzida pela Autora se reporta a um período anterior ao abordado pelo nosso estudo e, deste modo, pode induzir à tendência para a descontinuidade das formas antroponímicas nos séculos finais da Idade Média.

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dos séculos XIII ao XVI112. Pascoal MARTÍNEZ SOPEÑA, salienta a complexidade das

formas de denominação com a introdução do terceiro elemento de denominação quando

procede a uma sinopse da evolução das estruturas antroponímicas da aristocracia na

Espanha medieva113. Finalmente para completar, Patrice BECK considera que as

estratégias familiares de transmissão da denominação interagem com factores sócio-

culturais diversos114.

Estas apreciações apontam para uma alteridade dos papéis clássicos dos

componentes de denominação. Para melhor percebermos a relação entre apelido e

hereditariedade temos de observar alguns dos segmentos linhagísticos (pai/filhos)

conhecidos pelo apelido para averiguar das estratégias de denominação para umas

poucas famílias de oficiais régios onde a reconstituição da linhagem foi possível. De

facto, a verificação dos comportamentos antroponímicos provém da reconstituição dos

fragmentos genealógicos. As linhas sucessórias nos ofícios palatinos destacam-se pelo

aparecimento de famílias dominantes como os ALMEIDA, os CASTELO BRANCO, os

GALVÃO, os SILVA, os SILVEIRA, os SEM, os MALAFAIA, os AZEVEDO, os CASTRO

e os ALVARENGA115, e outras de inferior plano como os BORGES, os COSTA, os

MACHADO e os FIGUEIREDO. Nos casos tratados os últimos componentes da

identificação, vulgo nome de família, remetem para a linhagem dos indivíduos que, na

maioria dos casos, tem uma raiz toponímica.

Feitas estas considerações passemos à análise de alguns dos itinerários

antroponímicos reconstituídos e classificados nos dois grupos de oficiais régios

estudados (1367-1481).

1. Nomes de oficiais que detém um apelido identificador do pai,

transmitindo-o à geração seguinte:

Aires Gomes da Silva, filho de João Gomes da Silva, filho de Gonçalo Gomes

da Silva. Descendência: João da Silva, Francisco da Silva, Fernão Teles de Menezes,

112 PEROL, 1994: 568. 113 MARTÍNEZ SOPEÑA, 2002:. 72. 114 BECK, 2002: 143 ss. 115 Sobre a presença de indivíduos de um mesmo núcleo familiar nas instâncias superiores do Desembargo pode ver-se FREITAS, 2001, vol. I: 208-215 e as genealogias a páginas 313-316.

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Isabel Teles de Menezes e Margarida de Menezes (os três últimos foram buscar o

apelido de família da mãe, D. Beatriz de Menezes).

Diogo da Fonseca, irmão de Lopo da Fonseca. Descendência: Fernão da

Fonseca.

Diogo Fernandes de Almeida, filho primogénito de Fernão Álvares de Almeida.

Descendência: Lopo de Almeida, Fernão de Almeida

Fernando de Castro, filho de D. Pedro Fernandes de Castro, Conde de Castro

Xerez. Descendência: D. Álvaro Pires de Castro pai de Fernando de Castro, Pedro de

Castro, Álvaro de Castro, Diogo de Castro e Fradrique de Castro.

Luís de Azevedo, filho terceirogénito de Lopo Dias de Azevedo. Irmão de João

Lopes de Azevedo e Lopo de Azevedo, Martim Lopes de Azevedo entre outros.

Descendência: Catarina [Azevedo].

Nuno Vasques de Castelo Branco, filho primogénito de Lopo Vasques de

Castelo Branco (I). Irmão de Gonçalo Vasques de Castelo Branco e de Inês Vasques e

de Isabel Vasques. Descendência: Lopo Vasques de Castelo Branco (II), Pedro

Vasques, João Vasques.

As irmãs vão apenas buscar o segundo nome identificativo de origem familiar

assim como, na terceira geração, os filhos segundos (Vasques).

Pedro Lourenço de Almeida, filho de Martim Lourenço de Almeida. Não teve

descendência. Irmão de Martim de Almeida.

Rui Galvão filho de João Fernandes (clérigo de missa). Descendência: João

Rodrigues Galvão, Duarte Galvão, Jorge Galvão, Pedro Rodrigues Galvão, Maria

Rodrigues Galvão, Isabel Galvão e Filipa Rodrigues Galvão. Um filho ilegítimo João

Rodrigues da Costa (foi buscar o apelido da mãe?).

Rui Gomes de Alvarenga, filho de Gomes Martins de Alvarenga. Casado com

Mécia de Melo. Descendência: Afonso Rodrigues de Melo, Lopo Soares de Melo,

Fernão de Melo, Gomes Soares de Alvarenga, Lopo Soares de Alvarenga.

In: Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Martim de Albuquerque, vol. II, ed. Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Coimbra: Coimbra Editora, pp. 83-135. ISSN: 0870-3116.

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2. Os oficiais que não são apelidados inteiramente com o nome do pai:

Nuno Martins da Silveira, filho de Martim Gil Pestana e Maria Gonçalves da

Silveira. Descendência: Gonçalo da Silveira, Vasco da Silveira, Diogo da Silveira,

Fernando da Silveira, várias filhas.

Os dois primeiros faleceram muito jovens, por conseguinte quem assegurou a

linhagem foi Diogo da Silveira que nomeou o primogénito com o nome do pai Nuno

Martins da Silveira, o Moço.

João do Sem, filho de Álvaro Fernandes de Almeida e Catarina do Sem, irmã de

Martim Gil do Sem. Descendência: António do Sem.

Pedro Gonçalves Malafaia, filho de Gonçalo Peres. Irmão de Luís Gonçalves

Malafaia. Casado com Isabel Gomes da Silva. Descendência: Beatriz da Silva e Leonor

da Silva. As filhas vão buscar o apelido da mãe.

3. Apelidos individuais com origem numa alcunha:

Álvaro Pires da Mão Inchada, filho de Pedro Esteves da Mão Inchada.

Descendência: João da Mão Inchada.

Gomes Eanes de Zurara, filho de João Eanes de Zurara. Descendência:

Gonçalo de Zurara.

4. Uso misto e do nomen paternum:

Paio Rodrigues de Araújo, teve por filhos Pedro Pais, Rui Pais, João Rodrigues

Pais, Paio Rodrigues, Lopo Rodrigues de Araújo e Leonor Pais.

A diversidade de dação de nome aos descendentes é grande com tendência para

sobressair o patronímico de Paio – Pais, cujo uso remete para o valor de apelido. A

análise da realidade do uso do apelido pelos oficiais demonstra a existência de um

elevado índice de variação dos itinerários antroponímicos.

As provas de identificação da família pelo nome da linhagem parecem-nos

evidentes, se bem que a transmissão e herança do 2º e do 3º apelativos varie em função

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da situação hierárquica no agregado familiar. Dois irmãos podem ter um segundo ou

terceiro elemento de denominação diverso, um pode ir buscar o nome do lugar de

origem do senhorio outro um nomen paternum. Deste modo, se compreende que a

maioria dos oficiais primogénitos tenham ido buscar o apelido ao pai, garantindo a

transmissão do apelido de origem, em especial os de raiz toponímica, remetendo para o

berço do senhorio (aquele surge na forma nominativa). As irmãs, por seu turno, não

raro, são herdeiras do apelido da mãe.

Destas famílias com origens diversas nos dão conta os livros de linhagens116,

salientando-se as ligações com outras famílias de perfil nobiliárquico ao longo dos

séculos XIV-XVI, porém não são raros os casos em que apenas nos chegaram

fragmentos muito dispersos do itinerário antroponímico respectivo sem que os

possamos aproveitar. Daí que muitos dos nomes que se repetem em segundo e terceiro

lugares, que inserimos na categoria de apelidos de família, se deva, por um lado ao uso

da preposição «de» ou «da» que tende a adquirir uma maior preponderância a partir do

século XV e que é usado por pelo menos duas gerações consecutivas e, por outro lado, à

circunstância de se tratarem de apelativos cuja utilização é por maior força de razão

daquela qualidade, v.g. ABUL, ALVERNAZ, BORGES, CAMELO, CARDOSO, FALEIRO,

FARIA, FOGAÇA, FREITAS, GODINHO, GOMES, LOBATO, LOBO, LUCENA,

NORONHA, TEIXEIRA, TRIGO, VILELA entre muitos outros. Por conseguinte, estes

nomes que se repetem aparecendo em segundo e/ou terceiro lugar com grande

verosimilhança se aproximam de apelidos de família, sejam eles de origem toponímica

ou alcunha transformada em apelido identificativo do agregado familiar.

116 Livro de Linhagens do século XVI, 1956. Esta fonte foi consultada para a execução das linhagens presentes nos Catálogos Prosopográficos do II volume da nossa dissertação de doutoramento - «Teemos por bem e mandamos»..., 2001; para este trabalho também foi vista a obra de A. Braamcamp FREIRE, Brasões da sala de Sintra, 3 vols., reprod. fac-similada da ed. de 1921-1930, Lisboa, INCM, 1996.

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Conclusões e perspectivas

A regularidade dos enunciados antroponímicos pressupõe a existência de

singularidades que tendem a ocupar um lugar importante no seio deste meio sócio-

político. Do ponto de vista da descrição arqueológica da estrutura do nome, a Idade

Média Final, apresenta sinais de transformação dos componentes de designação

individual. No espaço, Corte, e tempo considerados (1367-1481), temos exemplos que

exprimem diferentes tipos de nomenclatura, expressando práticas de denominação

variáveis. O único componente pessoal do nome é o nome de baptismo. O patronímico

na sua forma genitiva é bastante mais frequente do que na nominativa, enquanto

segundo elemento de designação. O patronímico subsiste como componente

antroponímico, mas as cifras dizem-nos que, nos séculos finais da idade Média,

coexistem práticas onomásticas diversas, cujos componentes do nome assumem

posições variáveis relacionáveis com os laços de parentesco existentes117. Dois irmãos

podem ter um segundo componente de denominação diferente e o modo como são

transmitidos no seio familiar os nomes e os apelidos permanece para nós, num número,

o uso do apelido com carácter hereditário, i.e. o nome de linhagem, justapondo um

nome, o patronímico (nomen paternum) e a designação de família (Monique BOURIN),

acentua-se, tendo um lado bastante visível entre o núcleo de redactores. Por seu turno,

conforme salientamos, a forma denominativa que associa o nome ao designativo de

família toca inicialmente indivíduos de ascendência nobiliárquica ou de famílias

aristocráticas enraizadas na corte régia. Dentro deste grupo existe uma preferência pelas

referências nominativas de origem geográfica ou toponímica. No núcleo dos oficiais

redactores, 41% do total de indivíduos pertencente a este núcleo burocrático faz uso de

uma designação de família. A passagem dessas referências para apelidos de família fez-

se pela invocação da designação de origem, daí que uma maioria dos apelidos de família

tenha raízes toponímicas. Com o tempo, as designações complementares de ordem

familiar vão-se sobrepondo às designações de localidade (locativas). Ou seja os nomes

117 Não há uma única prática de denominação, para uns casos deparámos com o sistema de dupla denominação (nome + nomen paternum), noutros com o de tripla denominação e noutros ainda o segundo elemento do nome provém de uma herança designativa paterna, mas não se trata simplesmente do uso do patronímico.

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de lugar de origem são assumidos como designativo complementar de identificação

familiar.

Contudo não devemos negligenciar a forte mobilidade dos componentes de

denominação seguintes ao nome de baptismo ao longo dos três períodos analisados,

produzindo modelos designativos distintos, nalguns dos casos difíceis de classificar. Em

jeito de fecho, podemos dizer que as posições ocupadas pelo nome próprio, patronímico

e apelido ou designativo complementar adquirem superior espessura e regularidade,

encontrando-nos, de meados do século XV em diante, mais próximo das formas

modernas de denominação pessoal.

Terminemos, com uma frase proferida por Roland BARTHES na Lição Inaugural

da cadeira de Semiologia Literária do Collège de France em 1977:

“Há uma idade em que se ensina o que se sabe; mas surge de seguida uma outra

em que se ensina o que se não sabe: a isto se chama procurar. Chega, agora, talvez a

idade de uma outra experiência: a de desaprender, de deixar germinar a mudança

imprevisível que o esquecimento impõe à sedimentação dos saberes, das culturas, das

crenças que atravessámos”.

À semelhança do nome em tempos tardo-medievos, se tivéssemos que situar

numa escala de idades esta exposição, diríamos que ela se inscreve numa fase de

transição entre a idade do procurar e a idade do desaprender numa tentativa de expor,

sem preconceitos, as possibilidades e os limites de todo o conhecimento histórico.

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A N E X O

INQUÉRITO ANTROPONÍMICO

A – Vectores Quantitativos 1. Unidades onomásticas 1.1. 1367-1432 1.2. 1433-1448 1.3. 1449-1481 2. Número de ocorrências 2.1. Por nome próprio 2.2. Por patronímico 2.3. Por apelido 3. Sistemas antroponímicos e número de ocorrências 3.1. Nome próprio + patronímico 3.2. Nome próprio + patronímico + apelido de família 3.3. Nome próprio + patronímico + apelido de localidade 3.4. Nome próprio + patronímico + outro 3.5. Nome próprio + apelido de família 3.6. Nome próprio + apelido de localidade 3.7. Nome próprio + outro 3.8. Nome próprio + patronímico + apelido de família (+ outro) 4. Sistemas antroponímicos por sector burocrático 4.1. Redactores 4.2. Escrivães 5. Número de homonímias por sector burocrático 5.1. Redactores 5.2. Escrivães 6. Número de patronímicos identificados 7. Número de apelidos de localidade identificados

8. Número de apelidos de família identificados

B – Vectores Qualitativos

9. Formas antroponímicas e formação de «novos» apelativos 9.1. O apelido é um nome 9.2. O apelido é hereditário 9.3. O apelido é uma característica profissional 9.4. O apelido é uma alcunha 9.5. O apelido é um lugar 9.6. O apelido é misto