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MEMÓRIAS d’ODIANA 2.ª Série Estudos Arqueológicos do Alqueva 4.º COLÓQUIO DE ARQUEOLOGIA DO ALQUEVA O Plano de Rega (2002-2010)

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MEMÓRIAS d’ODIANA 2.ª SérieEstudos Arqueológicos do Alqueva

4.º COLÓQUIO DE ARQUEOLOGIA DO ALQUEVAO Plano de Rega (2002-2010)

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MEMÓRIAS d’ODIANA - 2.ª Série

TÍTULO4.º COLÓQUIO DE ARQUEOLOGIA DO ALQUEVA O Plano de Rega (2002 – 2010)

EDIÇÃOEDIA - Empresa de desenvolvimentoe infra-estruturas do AlquevaDRCALEN - Direcção Regional de Cultura do Alentejo

COORDENAÇÃO EDITORIALAntónio Carlos SilvaFrederico Tátá RegalaMiguel Martinho

DESIGN GRÁFICOLuisa Castelo dos Reis / VMCdesign

PRODUÇÃO GRÁFICA,

IMPRESSÃO E ACABAMENTOVMCdesign / Ligação Visual

TIRAGEM500 exemplares

ISBN978-989-98805-7-3

DEPÓSITO LEGAL356 090/13

FINANCIAMENTO EDIA - Empresa de desenvolvimentoe infra-estruturas do AlquevaINALENTEJOQREN - Quadro de Referência Estratégico

NacionalFEDER - Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

Évora, 2014

FICHA TÉCNICA

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9 INTRODUÇÃO

11 PROGRAMA

15 LISTAGEM DOS PÓSTERES APRESENTADOS

17 CONFERÊNCIAS

19 “Alqueva – Quatro Encontros de Arqueologia depois...”. António Carlos Silva

34 “O património cultural no Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva: caracterizar, avaliar, minimizar, valorizar …”. Miguel Martinho

45 “O Acompanhamento no terreno do Projecto EFMA na área da Extensão de Castro Verde do IGESPAR”. Samuel Melro, Manuela de Deus

53 COMUNICAÇÕES

55 “Um mundo em negativo: fossos, fossas e hipogeus entre o Neolítico Final e a Idade do Bronze na margem esquerda do Guadiana (Brinches, Serpa)”. António Carlos Valera, Ricardo Godinho, Ever Calvo, F. Javier Moro Berraquero, Victor Filipe e Helena Santos

74 “Intervenção arqueológica em Porto Torrão, Ferreira do Alentejo (2008-2010): resultados preliminares e programa de estudos”. Raquel Santos, Paulo Rebelo, Nuno Neto, Ana Vieira, João Rebuje, Filipa Rodrigues, António Faustino Carvalho

83 “Contextos funerários na periferia do Porto Torrão: Cardim 6 e Carrascal 2”. António Carlos Valera, Helena Santos, Margarida Figueiredo e Raquel Granja

96 “Intervenção Arqueológica no sítio de Alto de Brinches 3 (Reservatório Serpa – Norte): Resultados Preliminares”. Catarina Alves, Susana Estrela, Eduardo Porfírio, Miguel Serra

103 “Caracterização preliminar da ocupação pré-histórica da Torre Velha 3 (Barragem da Laje, Serpa)”. Catarina Alves, Catarina Costeira, Susana Estrela, Eduardo Porfírio, Miguel Serra, António M. Monge Soares, Marta Moreno-Garcia

112 “Questões e problemas suscitados pela intervenção no Casarão da Mesquita 4 (S. Manços, Évora): da análise intra-sítio à integração e comparação regional”. Susana Nunes, Miguel Almeida, Maria Teresa Ferreira, Lília Basílio

119 “Um habitat em fossas da Idade do Ferro em Casa Branca 11, na freguesia de Santa Maria, concelho de Serpa”. Susana Rodrigues Cosme

125 “Poço da Gontinha 1 (Ferreira do Alentejo): resultados preliminares”. Margarida Figueiredo

132 “Currais 5 (S. Manços, Évora): diacronia e diversidade no registo arqueoestratigrá<co”. Susana Nunes,; Mónica Corga, Miguel Almeida, Lília Basílio

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137 “A villa romana do Monte da Salsa (Brinches, Serpa): uma aproximação à sua sequência ocupacional”. Javier Larrazabal Galarza

145 “Dados para a compreensão da diacronia e diversidade do registo arqueológico na villa romana de Santa Maria”. Mónica Corga, Maria João Neves, Gina Dias, Catarina Mendes

155 “A pars rústica da villa da Insuínha 2, freguesia de Pedrógão, concelho da Vidigueira”. Susana Rodrigues Cosme

162 “A villa da Herdade dos Alfares (São Matias, Beja) no contexto do povoamento romano rural do interior Alentejano”. Mónica Corga, Miguel Almeida, Gina Dias, Catarina Mendes

171 “A necrópole de incineração romana da Herdade do Vale 6, freguesia e concelho de Cuba”. Susana Rodrigues Cosme

178 “Necrópole romana do Monte do Outeiro (Cuba)”. Helena Barranhão

185 “O conjunto sepulcral do Monte da Loja (Serpa, Beja)”. Sónia Cravo e Marina Lourenço

191 “O sítio de São Faraústo na transição da Época Romana para o Período Alto-Medieval, freguesia de Oriola, concelho de Portel”. Susana Rodrigues Cosme

197 “O sítio romano da Torre Velha 1. Trabalhos de 2008-09 (Barragem da Laje, Serpa)”. Adriaan De Man, Eduardo Porfírio, Miguel Serra

203 “Análise preliminar dos contextos da Antiguidade Tardia do sitio Torre Velha 3 (Barragem da Laje - Serpa)”. Catarina Alves, Catarina Costeira, Susana Estrela, Eduardo Porfírio, Miguel Serra

212 “A Necrópole de São Matias, freguesia de São Matias, concelho de Beja”. Susana Rodrigues Cosme

219 “Xancra II (Cuba, Beja): resultados preliminares da necrópole islâmica”. Sandra Brazuna, Ricardo Godinho

225 “Funchais 6 (Beringel, Beja) – resultados preliminares”. Manuela Dias Coelho, Sandra Brazuna 231 PÓSTERES

233 “Primeiros resultados da intervenção arqueológica no sítio Torre Velha 7 (Barragem da Laje - Serpa)”. Adriaan De Man, André Gregório, Eduardo Porfírio, Miguel Serra

237 “A Torre Velha 3 (Serpa) no espaço geográ<co. Uma abordagem morfológica de um “sítio” arqueológico”. Miguel Costa, Eduardo Porfírio, Miguel Serra

242 “O contributo da Antropologia para o conhecimento das práticas funerárias pré e proto -históricas do sítio de Monte da Cabida 3 (São Manços, Évora)”. Maria Teresa Ferreira

246 “Villa Romana da Mesquita do Morgado (S. Manços, Évora): considerações acerca das práticas funerárias”. Maria Teresa Ferreira

250 “Monte da Palheta (Cuba, Beja): dados para a caracterização arqueológica e integração do sítio à escala regional”. Mónica Corga, Gina Dias

256 “Aldeia do Grilo (Serpa): contributos para o estudo do povoamento romano na margem esquerda do Guadiana”. Carlos Ferreira, Mónica Corga, Gina Dias, Catarina Mendes

261 “Resultados preliminares de uma intervenção realizada no sítio Parreirinha 4 (Serpa)”. Carlos Ferreira, Susana Nunes, Lília Basílio

267 “Depósitos cinerários em Alpendres de Lagares 3”. Maria Teresa Ferreira, Mónica Corga, Marta Furtado

271 “Workshop Dryas’09: Estruturas negativas da Pré e Proto-história peninsulares – estado actual dos nossos conhecimentos... e interrogações”. Miguel Almeida, Susana Nunes, Maria João Neves, Maria Teresa Ferreira

276 “Intervenção arqueológica na Horta dos Quarteirões 1, Brinches, Serpa”. Helena Santos

280 “A Intervenção Arqueológica no Monte das Covas 3 (S. Matias, Beja): Os contextos romanos de época republicana”. Lúcia Miguel

284 “O Sítio do Neolítico antigo da Malhada da Orada 2 (Serpa): resultados preliminares”. Ângela Guilherme Ferreira

289 “Intervenção arqueológica nas necrópoles do Monte da Pecena 1 e Cabida da Raposa 2”. Andrea Martins, Gonçalo Lopes, Marisa Cardoso

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Resumo

No âmbito dos trabalhos de minimização de impactes arqueológicos do projecto de Aproveitamento Hidroa-grícola de Monte Novo, foram identi1cadas e intervencionadas duas necrópoles de cronologia Alto - Medieval. Estas caracterizam-se pela tipologia arquitectónica das sepulturas: em caixa, utilizando cerâmica de construção e blocos pétreos, sendo a cobertura realizada com o recurso a lajes de xisto e cerâmica de construção. Não foram identi1cados vestígios osteológicos.

Abstract

During the project “Aproveitamento Hidroagrícola de Monte Novo (EDIA, SA)”, were identi1ed the archaeo-logical sites Monte da Pecena 1 and Cabida da Raposa 2. 6e emergency archaeological 1eldwork revealed two High Medieval necropolis characterized by the usual funerary architectural typology of this period. Osteological remains were not identi1ed.

1. Monte da Pecena 1 e Cabida da Raposa 2: considerações gerais

No âmbito dos trabalhos de minimização de impactes sobre o património cultural, do projecto de implemen-tação do Aproveitamento Hidroagrícola de Monte Novo – Bloco 4, a CRIVARQUE, Lda. realizou entre Setembro e Outubro de 2007, sondagens arqueológicas nos sítios referenciados como Monte da Pecena 1 e Cabida da Raposa 2. A responsabilidade cientí1ca deste trabalho arqueológico foi devidamente autorizada pelo IGESPAR à primeira signatária deste artigo.

2. Monte da Pecena 1

O sítio Monte da Pecena 1 situa-se do ponto de vista administrativo no distrito de Évora, concelho de Portel e freguesia de Monte do Trigo. As coordenadas correspondentes, no Datum Lisboa, são: M - 234972, 363; P - 160398, 824 e A – 190, 342.

No sítio Monte da Pecena 1 foram implantadas inicialmente 4 sondagens arqueológicas, cuja área total corres-pondia ao que foi estabelecido em caderno de encargos: 24m2, distribuindo-se ao longo do eixo da conduta, em zonas onde se visualizavam materiais arqueológicos à superfície e na restante área de afectação.

A escavação da sondagem 2 originou a identi1cação de três sepulturas, levando à necessidade de alargamento da sondagem bem como da execução de trabalhos de remoção mecânica em áreas ainda não intervencionadas. Foram assim identi1cadas quatro sepulturas.

2.2.1. Sepultura 1

A sepultura 1 era constituída por uma estrutura organizada, bem estruturada, com recurso a diversos materiais

“INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NAS NECRÓPOLES DO MONTE DA PECENA 1 E CABIDA DA RAPOSA 2”.

ANDREA MARTINS151, GONÇALO LOPES152, MARISA CARDOSO153

151 [email protected]; Crivarque, Lda152 [email protected]; Crivarque, Lda153 [email protected]; Crivarque, Lda

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de construção e num bom estado de conservação. Num primeiro momento foi aberta no substrato xistoso uma cova de formato rectangular, orientada Oste-Este, com cerca de 45 cm de profundidade, tendo como dimensões 2, 30 m de comprimento por 0, 80 m de largura máxima. Posteriormente foi construída ao redor das paredes uma sucessão de camadas ou níveis de tijolos maciços, blocos pétreos e material de construção, estruturados sem qualquer tipo de argamassa a ligá-los. Não apresentava qualquer tipo de material a cobrir o fundo, sendo este assim constituído apenas pelo substrato geológico. A cabeceira encontrava-se especialmente bem estruturada, mostrando uma escolha criteriosa dos materiais de construção, que se enquadravam perfeitamente nas dimensões existentes. A cobertura era constituída por 3 grandes lajes de xisto afeiçoadas, mais 2 de formato rectangular mais pequenas junto dos pés, tendo a meio dois tijolos de grandes dimensões. Na zona lateral e entre as lajes, os espaços encontravam-se colmatados com material de construção de dimensões mais reduzidas, criando assim uma cobertura totalmente impenetrável e fechada. (Figura 1)

Figura 1 – Monte da Pecena

Sepultura 1.

Figura 2 – Monte da Pecena

Sepultura 2.

2.2.2. Sepultura 2

A sepultura 2 era constituída por uma estrutura organizada com recurso a diversos materiais de construção. Num primeiro momento foi aberta no substrato xistoso uma cova de formato rectangular, orientada Oste-Este, com cerca de 35 cm de profundidade, tendo como dimensões 2 m de comprimento por 0, 70 m de largura máxima. Posteriormente foi construída ao redor das paredes uma sucessão de camadas ou níveis de tijolos maciços e material de construção cerâmico, sem qualquer ligante. Encontravam-se assim colocados nas paredes laterais enquanto na zona da cabeceira e dos pés existia apenas um grande tijolo quadrangular colocado ao alto. Não tinha qualquer tipo de material a cobrir o fundo, sendo este assim constituído apenas pelo substrato geológico. A cobertura encontrava-se parcialmente destruí-da, conservando apenas duas grandes lajes rectangulares de xisto e um tijolo quadrangular de grandes dimensões, que assentavam directamente sobre as paredes laterais da sepultura. (Figura 2)

2.2.3. Sepultura 3

A sepultura 3 encontrava-se num estado de conservação muito limitado, veri1cando-se estar muito destruída, conservando-se apenas uma única 1ada de material de construção delimitando a estrutura da sepultura. Num primeiro momento foi aberta no substrato xistoso uma cova de formato rectangular, orientada Oste-Este, com cerca de 15cm de profundidade, tendo como dimensões 2m de comprimento por 0, 90m de largura máxima. Posteriormente foi cons-truída ao redor das paredes uma camada ou nível de tijolos maciços. Encontravam-se assim juntos nas paredes laterais enquanto na zona da cabeceira existia apenas um grande tijolo quadrangular colocado horizontalmente, enquanto que nos pés estava colocado ao alto. Não apresentava qualquer tipo de material a cobrir o fundo, sendo este assim consti-tuído apenas pelo substrato geológico. (Figura 3)

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2.2.4. Sepultura 4

A sepultura 4 encontrava-se, tal como a sepultura 3, num estado de conservação muito de1ciente. Num primeiro momento foi aberta no substrato xistoso uma cova de formato rectangular, orientada Oste-Este, com cerca de 40cm de profundidade, tendo como dimensões 2m de comprimento por 0, 80m de largura máxima. Posteriormente foi cons-truída ao redor das paredes uma camada ou nível com recurso a diversos materiais: tijolos maciços, blocos pétreos de diversas dimensões e morfologias e lajes rectangulares de xisto. Na cabeceira e na zona dos pés foram colocadas duas grandes lajes de xisto ao alto. Não apresentava qualquer tipo de material a cobrir o fundo, sendo este assim constituído apenas pelo substrato geológico. Esta sepultura não apresentava qualquer tipo de cobertura, desconhecendo-se assim se seria esta a sua estrutura original (sem cobertura) ou se esta foi removida pelos trabalhos agrícolas ou intencional-mente levando á destruição parcial da sepultura. A disposição caótica dos materiais de dimensões menores revela-nos provavelmente uma acção pós-deposicional relacionada com trabalhos agrícolas. De salientar porém que o recurso a grandes blocos pétreos para delimitação da estrutura, conferiu-lhe uma imagem robusta e bem estruturada, distinta das restantes sepulturas pelos materiais utilizados. (Figura 4)

2.3. Organização da necrópole e características gerais

A disposição geográ1ca das sepulturas é idêntica, encontrando-se com a cabeceira para Oeste e os pés para Este, distribuindo-se alternadamente pela área. Nenhuma sepultura cortava ou se encostava a outra, não havendo assim sobreposições de estruturas ou remodelações do espaço da necrópole. Tratam-se de sepulturas cuja cova foi aberta no substrato geológico, localizando-se todas numa faixa de alteração geológica caracterizada por uma crista xistosa, que se desagrega mais facilmente do que na restante área. Tipologicamente são de formato rectangular, de dimensões distintas, mas todas apresentam os mesmos materiais de construção: cerâmica de construção (tijolos maciços, telhas) e lajes de xisto. Apenas a sepultura 4 apresentava também alguns blocos de granito na estrutura. De referir que foram identi1cados vários fragmentos de tegulae e alguns tijolos apresentavam linhas paralelas ou marcas de pegadas de ani-mais (cão e gato), que seguramente foram realizadas num momento anterior à cozedura das peças, sendo relativamente frequentes em contextos romanos. Não existia qualquer tipo de espólio arqueológico associado, nem vestígios osteoló-gicos, encontrando-se as sepulturas vazias, apesar de não terem sido violadas ou vandalizadas em períodos posteriores à sua utilização. (Figura 5)

Figura 4 – Monte da Pecena 1

Sepultura 4.

Figura 5 – Monte da Pecena 1 – sepulturas após

a intervenção.Figura 6 – Cabida da Raposa 2 – sepultura.

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3. Cabida da Raposa 2

O sítio Cabida da Raposa 2 situa-se do ponto de vista administrativo no distrito de Évora, concelho de Évora e freguesia de São Manços. As coordenadas correspondentes, no Datum Lisboa, são: M - 231065,949; P - 168156,708 e A – 219,269.

No sítio Cabida da Raposa 2 foram implantadas 3 sondagens arqueológicas, cuja área total correspondia ao que foi estabelecido em caderno de encargos: 18m2, distribuindo-se no topo do talude em zonas onde se visualizava uma maior quantidade de materiais arqueológicos à superfície, dentro da área de afectação.

Na sondagem 1 foi identi1cada uma estrutura que foi caracterizada como uma sepultura. Esta foi, numa primeira fase, escavada no substrato geológico e posteriormente delimitada com fragmentos de grande dimensão de talhas que constituíam assim, a estrutura rectangular da própria sepultura (Figura 6). Não foi identi1cado espólio osteológico. No sedimento [103] que se encontrava no interior da estrutura [102] foram recolhidos fragmentos de paredes de talhas que possivelmente fariam também parte da própria estrutura. Ainda nesta mesma camada foi recolhido um fragmento de bordo de um pote, de cerâmica comum, sem decoração, que poderá corresponder ao espólio directamente associado à sepultura. Tipologicamente trata-se de uma forma fechada, com um bojo ovóide e bordo simples voltado para fora. Encontra paralelos tipológicos no espólio de outras necrópoles do Alto Alentejo (Nolen, 1985, 118), sendo porém o pote da Cabida da Raposa 2 de cronologia mais recente. (Figura 7)

Tipologicamente trata-se assim de uma sepultura em caixa, constituída quer nas paredes laterais como na ca-beceira por grandes fragmentos de formato rectangular e quadrangular de talhas, desconhecendo-se como seria a co-bertura. Estes fragmentos assentavam directamente sobre o substrato geológico, fazendo assim a caixa rectangular da sepultura. A elevada quantidade de materiais arqueológicos (cerâmica de construção e talhas) dispersos à superfície do terreno e que foram identi1cados na intervenção, poderão por um lado fazer certamente parte da estrutura identi1cada, e por outro corresponder a outra(s) estrutura(s) que foram revolvidas pelos trabalhos agrícolas, visto se encontrarem numa cota superior.

4. Contextualização arqueológica: o ambiente funerário

A escavação arqueológica no Monte da Pecena 1 e na Cabida da Raposa 2 revelou-nos assim a existência de duas necrópoles de época Alto-Medieval, que se enquadram tipolo-gicamente noutros contextos semelhantes intervencionados no nosso país. No Monte da Pecena 1 foram identi1cadas quatro sepulturas, de tipologia com características idênticas, não tendo sido recolhido qualquer tipo de espólio arqueológico ou osteo-lógico no interior das mesmas. Na Cabida da Raposa 2 foi iden-ti1cada apenas uma sepultura, que se encontrava num estado de

conservação muito de1ciente, não apresentando também qualquer tipo de espólio osteológico ou arqueológico, o que impossibilitou uma atribuição cronológica e contextualização mais precisas (Figura 8).

A localização de uma necrópole obedece a cânones previamente estabelecidos por determinada comunidade como são exemplo o espaço envolvente, os rituais funerários, as estruturas e o espólio. No Monte da Pecena 1 veri1ca-se que estas premissas foram tomadas em conta, adquirindo esta necrópole um carácter homogéneo. Desde logo a escolha do local implica uma decisão deliberada e um conhecimento aprofundado da realidade geológica e geomorfológica da paisagem envolvente. Todas as sepulturas intervencionadas localizam-se numa faixa de alteração do substrato geoló-gico, constituindo uma crista xistosa, com características de desagregação, permitindo a abertura das sepulturas mais facilmente. Do ponto de vista geomorfológico a necrópole implanta-se no topo de uma pequena elevação suave, mas que detêm um longo alcance visual em toda a peneplanície alentejana até aos contrafortes da Serra de Portel para Sul.

Na necrópole veri1ca-se uma organização do espaço, não existindo sobreposições de sepulturas, nem eventuais

Figura 7 – Cabida da Raposa 2 – fragmento de pote recolhido

no interior da sepultura

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afectações ou remodelações. O espaço encontra-se assim estruturado, dividido, ocupando cada sepultura o seu local sem interferir em qualquer outra (Figura 9). Todas obedecem aos mesmos padrões: encontram-se todas com a mesma orientação Oeste-Este, ou seja com a cabeceira a Oeste; todas foram edi1cadas da mesma maneira e por 1m nenhuma apresentava qualquer tipo de espólio funerário ou osteológico. A estrutura constitui assim o vestígio artefactual regis-tado e os materiais que a constituem tornam-se na componente artefactual analisada.

A ausência de espólio osteológico poderá ser explicada por processos tafonómicos, de degradação do material quando sujeito a agentes agressivos, como é o caso de fertilizantes químicos. Relativamente ao eventual espólio ar-queológico (como cerâmica ou metais) a sua ausência poderá ser re_exo do próprio ritual funerário, onde o morto foi colocado sem qualquer tipo de espólio. Esta prática funerária é frequente em necrópoles alto-medievais de regiões interiores, onde as populações teriam certamente poucos recursos, sendo os existentes canalizados para a construção da estrutura tumular. Relativamente ao ritual fúnebre levantam-se algumas questões resultantes da análise do registo arqueológico. Após a abertura da cova no substrato geológico o corpo era colocado antes ou depois da edi1cação das paredes laterais da estrutura? A reduzida dimensão existente na base da sepultura (nalguns casos 20 cm) torna muito improvável a deposição de um cadáver, mesmo que seja em posição lateral, conseguindo-se ainda depois realizar as paredes da estrutura. Estaríamos aqui na presença de deposições secundárias, onde os corpos já estão desmembrados e em elevado estado de decomposição 1cando com menos volume? Ou já foram colocados como esqueletos, sendo a inumação inicial noutro local? Porém uma coisa 1ca bastante clara: de modo algum houve sepultamentos com recurso a caixão.

Os materiais de construção recolhidos não nos permitem realizar uma atribuição cronológica, pois apesar da exis-tência de diversos fragmentos de tegulae (de cronologia romana), estes materiais surgem frequentemente reutilizados em períodos posteriores. Apenas as características tipológicas e morfológicas da necrópole e das próprias sepulturas nos permitem efectuar alguns paralelos. No nosso país e nomeadamente na região sul foram intervencionadas diversas necrópoles tipologicamente idênticas ao Monte da Pecena 1 (António, 2003; Antunes-Ferreira, 2005; Cunha, 2004; Faria, 2002; Inácio, 2005; Monteiro, 2003; Sabrosa, 1996; Santos, 2002; Soares, 1997). Cronologicamente os diversos autores enquadram-nas em épocas Tardo-Romanas ou Alto-Medieval, podendo algumas prolongar-se por períodos mais recentes (séc. XIII-XIV). Enquadramos assim as necrópoles do Monte da Pecena 1 e Cabida da Raposa 2 num período compreendido entre a Antiguidade Tardia e a Alta Idade Média, ou seja, entre os séculos V a VII.

Figura 9 – Monte da Pecena 1 – necrópole.

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ANTÓNIO, Jorge; REIS, Marta (2003) – “Intervenção arqueológica na necrópole Tardo-Romana de Alter do Chão”, Al-Madan, IIª série, nº 12, pp. 179-180

ANTUNES-FERREIRA, Nathalie; MENDES, Carlos (2005) – “A necrópole medieval do Sobreirinho”, Al-Madan, IIª série, nº 13, pp. 137-139

CUNHA, Mélanie Wolfram Espanha da (2004) – Silveirona: do mundo funerário romano à antiguidade tardia sete décadas depois, Dissertação de mestrado em pré-história e Arqueologia, FLUL, exemplar policopiado

FARIA, João Carlos (2002) – “Ocupações romanas e tardo-romanas afectadas pelo Regolfo do Alqueva – Bloco II – do a_uente do Álamo ao rio Degebe, resultados preliminares”, Al-Madan, IIª série, nº 11, pp. 139-144

INÁCIO, Isabel Maria B. (2005) – A necrópole de Vale de Condes, Alcoutim no contexto da antiguidade tardia no Algarve, Dissertação de mestrado em pré-história e Arqueologia, FLUL, exemplar policopiado

MONTEIRO, Margarida (2003) – A necrópole romana de Casal de Pianos (São João das Lampas, Sintra), Dissertação de mestrado em pré-história e Arqueologia, FLUL, exemplar policopiado

NOLEN, Jeannette U. Smit (1985) – Cerâmica comum de necrópoles do Alto Alentejo, Fundação da Casa de Bragança, Lisboa, 259 p.

SABROSA, Armando José (1996) – “Necrópole romana do Porto dos Cacos (Alcochete)”, Actas das primeiras jornadas sobre romanização dos Estuá-rios do Tejo e do Sado, Câmara Municipal do Seixal, Publicações Dom Quixote, pp. 283-300

SANTOS, Heloísa; ABRANCHES, Paula (2002) – “Ocupações do Período Medieval e Modernos nos concelhos de Moura e Mourão”, Al-Madan, IIª série, nº 11, pp. 152 – 157

SOARES, António Monge (1997) – “ A necrópole paleocristã do Assento de Chico Roupa (Vila Verde de Ficalho, Serpa), Arqueologia Medieval, nº 5, pp. 23

(Footnotes)

1 ISINGS: 1957, 24. Esta forma surge nos inícios do séc. I d.C. e difunde-se a partir de meados do mesmo século por todo o império, sendo que as formas mais tardias datam do século II d.C., Tratando-se portanto de peças bem balizadas cronologicamente.

2 ISINGS: 1957, 68.

3 ISINGS: 1957, 31.