2° seminário de tese - 11/10/2013

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1 Programa de Pós Graduação em Engenharia de Infra-Estrutura Aeronáutica Área: Transporte Aéreo e Aeroportos Disciplina IT-310 – Seminário de Tese 2013/2 Bruno Arantes Caldeira da Silva METODOLOGIA PARA AVALIAÇÃO DE INCÔMODO POR RUÍDO AERONÁUTICO Rogéria de Arantes Gomes Eller Orientadora Campo Montenegro São José dos Campos, SP – Brasil 2013

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1

Programa de Pós Graduação em Engenharia de Infra-Estrutura Aeronáutica

Área: Transporte Aéreo e Aeroportos

Disciplina IT-310 – Seminário de Tese

2013/2

Bruno Arantes Caldeira da Silva 

METODOLOGIA PARA AVALIAÇÃO DE INCÔMODO POR

RUÍDO AERONÁUTICO

Rogéria de Arantes Gomes Eller

Orientadora

Campo Montenegro

São José dos Campos, SP – Brasil

2013

2 RESUMO

A observação dos conflitos existentes entre aeroportos e as comunidades em seu entorno mostra que

existem deficiências associadas à forma atual de modelagem do incômodo causado pelas operações

aeronáuticas. Este trabalho tem por objetivo analisar tecnicamente a situação do ruído em aeroportos

brasileiros selecionados e identificar potenciais melhorias na abordagem feita atualmente ao problema

pelos órgãos com influência sobre a questão. A proposta é utilizar métricas alternativas de ruído,

isoladamente ou em conjunto com métricas tradicionais, para verificar se há melhor correlação com o

nível de incômodo relatado por comunidades no entorno de aeroportos. Para tal, prevê-se a realização de

pesquisas de opinião em aeroportos brasileiros selecionados de forma a prover um cenário amplo em

termos operacionais, acústicos e demográficos. A plataforma de modelagem de dados de ruído e

aquisição de informações sobre as operações aeronáuticas já se encontra operacionalizada. Esta

plataforma foi utilizada para modelar o impacto de ruído nos principais aeroportos nacionais, com o uso

da métrica DNL, atualmente em vigor no Brasil. Os próximos passos incluem o cálculo das métricas

suplementares para estes mesmos aeroportos, de forma a embasar a escolha dos aeroportos que

participarão das pesquisas de opinião.

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1. Introdução 

A percepção do ruído é sujeita a variáveis técnicas (emissão de ruído das aeronaves, trajetórias de

pouso e decolagem, distâncias, zoneamento urbano, métodos construtivos, etc.) e também variáveis

subjetivas de difícil determinação (sensibilidade de pessoas ao ruído). Com o objetivo de unificar estas

características díspares em uma única metodologia de análise, foi desenvolvida nos anos 70 a métrica

DNL (Day-Night Average Sound Level), que foi posteriormente adotada pela FAA (Federal Aviation

Administration) para delimitar as comunidades impactadas por ruído aeronáutico nos Estados Unidos

(More, 2010). O Brasil adotou metodologias essencialmente semelhantes à americana em suas

regulamentações: a Portaria 1141/GC5, de 1987, utilizava a métrica IPR - Índice Ponderado de Ruído

(Abdala, 2005), e mais recentemente o RBAC 161 (Regulamento Brasileiro de Aviação Civil – ANAC),

de 2011, adotou a métrica DNL na forma adotada pela FAA (ANAC, 2011).

Existem vários indícios de que o DNL não consegue mais modelar com precisão o incômodo

percebido pela população, pelas seguintes razões, entre outras:

São inúmeros os casos de reclamações oriundas de regiões fora das áreas consideradas

inadequadas pela regulamentação em vigor (Eller, 2009), (ACRP, 2009);

O DNL, ao contemplar apenas variáveis técnicas de emissão de ruído em seu cálculo,

acaba por eliminar características demográficas específicas de cada aeroporto, que são

importantes na determinação do incômodo percebido (Eller, 2009);

Os limites máximos delimitados pela regulamentação brasileira foram baseados na

experiência internacional, devido à inexistência de estudos amplos para determinar a

resposta da população brasileira ao ruído aeronáutico (Abdala, 2005).

Tais argumentos justificam a tendência mundial em se revisar tanto a métrica quando os valores

de ruído considerados adequados (ACRP, 2009).

Desde o desenvolvimento da métrica DNL, ocorreram também grandes mudanças no cenário

operacional da aviação civil brasileira. A característica do ruído aeronáutico foi alterada devido a

utilização de aeronaves mais modernas, que possuem níveis de ruído menores e com diferente

distribuição em frequência; o número de operações nos principais aeroportos nacionais aumentou

drasticamente, e a ocupação no entorno dos principais aeroportos evoluiu consideravelmente. Estas

mudanças podem ter correlação com uma possível perda de representatividade da métrica DNL para

avaliação de incômodo aeronáutico.

Além destas mudanças, as técnicas de controle de tráfego aéreo também evoluíram neste tempo,

impactando as características de sobrevoo das comunidades afetadas por ruído aeronáutico. Dentro deste

contexto, os procedimentos baseados em PBN (Performance-Based Navigation) estão começando a ser

4 utilizados em larga escala nos aeroportos brasileiros. Este tipo de procedimento se baseia na

implementação de requisitos de desempenho para aeronaves a utilizar o conceito de Navegação por Área,

o que permite rotas mais diretas para a execução de um voo. Apesar de, em teoria, este tipo de

procedimento possuir menor impacto de ruído, ainda são poucas as pesquisas acadêmicas dedicadas a

verificar se de fato ocorre melhoria na percepção subjetiva do ruído aeronáutico no caso de utilização dos

procedimentos PBN.

Este cenário aponta a necessidade de uma reavaliação da metodologia atual de abordagem ao

ruído aeronáutico no Brasil. Entretanto, percebe-se que tal tarefa seria dependente de informações

atualizadas sobre o incômodo percebido pelas comunidades no entorno de aeródromos, informações estas

que são escassas na atual realidade brasileira: as iniciativas existentes de mapeamento geralmente são

pontuais, focadas em problemas específicos de algumas cidades.

Para sanar esta deficiência, este trabalho irá avaliar a adequação das atuais metodologias de

levantamento de impacto ambiental por ruído aeronáutico, e propor nova metodologia caso uma possível

inadequação seja confirmada. Para tal, as seguintes etapas de desenvolvimento são previstas:

Modelagem de ruído da aviação civil brasileira, considerando modelos de aeronave,

frequências e horários de movimentos, e pessoas residentes no entorno dos principais

aeroportos brasileiros.

Levantamento da percepção subjetiva das comunidades afetadas ao ruído, com a

execução de pesquisas de opinião dedicadas.

Análise estatística das informações obtidas, com cruzamento entre as metodologias de

avaliação de ruído e a percepção relatada pelas comunidades. Tendo em vista a grande

variedade de métricas de ruído disponíveis, o estado da arte de estudo do assunto e os

inúmeros fatores não-acústicos envolvidos, propõe-se que este trabalho concentre

esforços na relação entre o número de eventos ruidosos observado e a percepção relatada.

Os resultados do trabalho podem subsidiar os tomadores de decisão de políticas públicas quanto à

delimitação da área de impacto e imposição de restrições de uso e ocupação do solo.

2. Métricas de ruído existentes: detalhamento e discussão 

Para se compreender as diferentes métricas atualmente em uso para caracterizar o incômodo

causado por ruído, são necessários alguns fundamentos básicos de acústica, que serão descritos nesta

seção.

5 Uma onda mecânica é definida como uma oscilação de um dado material, que transporta energia

através do mesmo sem movimentá-lo como um todo. As ondas mecânicas se dividem basicamente em

três tipos:

Onda longitudinal – a oscilação ocorre na mesma direção de propagação da onda

Onda transversal – a oscilação ocorre perpendicularmente à direção de propagação da

onda.

Onda de superfície – a oscilação ocorre na interface entre dois materiais diferentes.

A onda mecânica é caracterizada basicamente pela amplitude e frequência de sua oscilação, bem

como pela velocidade de sua propagação. Dadas estas características, define-se como “som” as ondas

mecânicas longitudinais com valor de frequência de oscilação entre 20 e 20.000 oscilações/segundo (ou

Hertz). Esta faixa caracteriza as ondas mecânicas audíveis ao ouvido humano, e assim incluem a primeira

influencia da percepção humana nas definições acústicas. Em consequência desta definição, tem-se

também o “ultrassom” como uma onda mecânica longitudinal com frequência superior a 20 kHz, e o

“infrassom” como uma onda mecânica longitudinal com frequência abaixo de 20 Hz.

Dentre os sons audíveis pelo ser humano, define-se como “ruído” qualquer som que provoque

sensação incomoda ou indesejável no ouvinte. Ou seja, a definição de ruído passa pela percepção

subjetiva do ser humano, o que torna sua análise mais complexa do que a simples análise do fenômeno

físico.

O meio material de propagação da onda sonora é a atmosfera terrestre, desta forma a onda sonora

se propaga através de variações de pressão em torno da pressão atmosférica existente em um dado

ambiente. A amplitude da onda sonora é assim definida como a variação máxima e mínima da onda, com

relação à pressão atmosférica. Assim a amplitude sonora é medida em unidades de pressão – Newton/m2,

ou Pascais (Pa).

O ouvido humano médio possui enorme sensibilidade em termos de amplitude sonora: o limiar

mínimo de sensibilidade é definido em 20x10-6 Pa, enquanto que o limiar máximo de dor situa-se em

torno de 200 Pascais. Esta faixa muito grande de sensibilidade acaba por ocasionar dificuldade para se

utilizar a escala linear para analisar os sons. Como consequência, foi definido o uso de uma escala

logarítmica para caracterizar a amplitude sonora: o NPS (Nível de Pressão Sonora). O valor de referencia

desta escala logarítmica foi definido como o limiar de sensibilidade humana (2x10-5 Pascais). A escala

assim definida possui a unidade adimensional de Decibel (dB).

A imagem a seguir ilustra como o NPS permite descrever toda a variação de sensibilidade sonora

humana com valores mais simples de serem manipulados e compreendidos:

6

Figura 1 - Faixa de Níveis de Pressão Sonora audíveis

Como os Níveis de Pressão Sonora são referenciados a uma escala logarítmica, eles não podem

ser somados linearmente, mas sim os valores correspondentes de pressão sonora, em Pascais. A seguinte

equação define como realizar a somatória de dois NPS:

10 10 10 10

Como regras básicas, pode-se dizer que a soma de dois NPS iguais resultará em um NPS 3 dB

maior que o NPS dos dois níveis; e que no caso de NPS diferentes um fator proporcional à diferença

algébrica dos dois níveis será adicionado ao maior nível sendo somado.

7 Em termos de composição de frequência, os sons se caracterizam como tons puros, quando a

energia sonora está concentrada em apenas uma frequência, e sons em banda larga, onde a energia

encontra-se espalhada em uma faixa de frequências.

Para se analisar ruídos em banda larga, são utilizados filtros que separam a energia sonora em

bandas de frequência com NPS próprio. As principais bandas de frequência utilizadas para análise

acústica são:

Bandas de oitava - faixas de frequência são definidas dobrando-se o valor de frequência

sucessivamente a partir de um valor inicial;

Bandas de 1/3 de oitava - faixas de frequência são definidas multiplicando-se por 21/3 o

valor inicial de frequência.

A imagem a seguir ilustra as bandas de oitava padronizadas pela norma IEC 225, bem como uma

comparação com as frequências das teclas de um piano.

Figura 2 - Bandas de oitava e suas frequências centrais (ref. IEC225)

3. Métricas de ruído 

3.1. Conceito 

O ruído aeronáutico é um dos principais impactos ambientais associados à aviação civil.

Entretanto, seu impacto não é relacionado à emissão de ruído em si, mas com a percepção humana com

relação a este ruído. Esta definição contrasta com a emissão de poluentes, que já caracteriza um impacto

ambiental simplesmente pela sua existência, ao contrário do ruído, que requer além de sua emissão a

recepção por um ouvinte.

Desta forma, existe grande subjetividade associada à definição de impacto ambiental associado ao

ruído, já que ele é dependente do incômodo percebido pelo ser humano, percepção esta que varia de

indivíduo para indivíduo. Além disso, verifica-se que existe uma complexa relação entre o incômodo

percebido e as grandezas físicas que caracterizam o ruído (pressão sonora e frequência, basicamente).

32 64 128 256 512 1024 2046 4096

31.5 63 125 250 500 1000 2000 4000

8 Deste contexto foram desenvolvidas as Métricas de Ruído, com o objetivo de realizar a correlação

entre as grandezas físicas associadas aos sons e a percepção humana associada. Esta relação é ilustrada na

seguinte figura:

Figura 3 - Conceito associado às métricas de ruído

Dada a complexidade da resposta humana, existem inúmeras métricas de ruído em uso para

diferentes aplicações. Em linhas gerais, as métricas de ruído se dividem em três tipos, em função de sua

representatividade temporal: Métricas instantâneas, métricas de evento único e métricas cumulativas. As

métricas mais utilizadas atualmente e mais relevantes para este trabalho serão descritas em maior detalhe

a seguir:

3.2. Métricas instantâneas de ruído 

As métricas instantâneas caracterizam o ruído em um determinado instante do tempo, definido em

geral em uma duração entre 0.5 e 1 segundo. As principais métricas instantâneas utilizadas em ruído

aeronáutico são o dB(A), o PNL e o PNLT. Estas métricas serão descritas em detalhe a seguir:

3.2.1. dB(A) 

A sensibilidade do ouvido humano varia em função da frequência sonora. Tendo em vista

representar esta variação, foi desenvolvida a Curva de Compensação A, que ajusta o NPS de cada

frequência de forma a simular a sensibilidade do ouvido humano. A seguinte imagem ilustra os fatores de

ajuste da curva A, em bandas de oitava:

9

Figura 4 - Curva de compensação A

A imagem mostra que o ouvido humano possui sensibilidade maior na faixa de frequências entre

1000 e 4000 Hertz, diminuindo à medida que a frequência sonora se afasta destes valores.

Dados estes fatores de ajuste, a métrica dB(A) é calculada a partir dos níveis NPS da seguinte

forma:

Adiciona-se aritmeticamente o valor de ajuste da curva A ao NPS de cada banda de

frequência.

Adiciona-se, em decibéis, os valores de cada banda de frequência.

A soma de todas as bandas de frequência gera o NPS em dB(A), valor único que caracteriza o

ruído em um dado instante no tempo. Esta relação é descrita pela seguinte equação:

10 10

‐30

‐25

‐20

‐15

‐10

‐5

0

5

63

125

250

500

1000

2000

4000

8000

16000

Nível relativo

 (dB)

Frequência (Hz)

Curva de compensação A

10 3.2.2. PNL 

A curva de compensação A possui um formato simplificado, com o objetivo de facilitar sua

implementação prática em circuitos elétricos. Desta forma, ela não representa com exatidão a

sensibilidade do ouvido humano com relação a frequências.

Além disto, a curva de compensação A somente considera a variação de sensibilidade do ouvido

humano com relação à frequência sonora. Entretanto, a sensibilidade do ouvido humano também varia

com a amplitude do som.

Dado este contexto, o PNL (Perceived Noise Level) foi desenvolvido com o objetivo de modelar a

sensibilidade do ouvido humano com maior nível de detalhe.

O PNL utiliza curvas de conversão entre o NPS e uma escala de ruidosidade percebida (unidade –

Noy). Estas curvas de ruidosidade consideram a variação da sensibilidade com a amplitude, e não apenas

com a frequência, conforme ilustrado na imagem a seguir:

Figura 5 - Curvas de ruidosidade (Noys)

O PNL é calculado a partir do Noy em três passos:

1 - converte-se o NPS de cada frequência para Noy, com o uso das curvas de ruidosidade.

2 - Calcula-se a “ruidosidade total percebida” N, combinando os valores de Noy de cada

frequência. No caso de um espectro em frequência em 1/3 de oitava, este cálculo é

efetuado pela seguinte fórmula: 0.85 0.15 ∑ ,

onde n=ruidosidade de cada componente em frequência f=frequências de1/3 de oitava, entre 50 e 10.000 Hz.

200

200

200

200

400

400

400

400

600

600

600

600

800

800

800

800

1000

1000

1000

1000

1200

1200

1200

1400

1400

1400

1600

1600

1600

1800

1800

2000

50 63 80 100

125

160

200

250

315

400

500

630

800

1000

1250

1600

2000

2500

3150

4000

5000

6300

8000

1000

0

110

115

120

125

130

135

140

145

150

Um ruído de 116dB em 4000Hz

incomoda o mesmo que um ruído de 135dB em 80 Hz (400

Noys)

Um aumento de 105 para 115 dBs representa a

mesma variação de incomodo que um aumento de 136

para 137 dBs (200 Noys)

NPS (dB) 

Frequencia (Hz)

11 Converte-se a ruidosidade total para PNL com a seguinte fórmula:

4010

2log

3.2.3. PNLT 

Pesquisas mais aprofundadas concluíram que a concentração de energia em uma frequência

aumenta o incômodo percebido. Denominam-se “tons puros” estas concentrações de energia.

Desta forma, foi incluída na métrica PNL uma correção para levar em conta este efeito, chamada

de “correção de tom” (Tone Correction). Maiores detalhes sobre o cálculo desta correção são encontrados

no Anexo 16, da ICAO. O PNL corrigido para este efeito denomina-se PNLT (Tone-corrected Perceived

Noise Level).

PNLT=PNL+Tone Correction

A imagem a seguir ilustra um espectro de ruído de aeronave, destacando o efeito causador da

correção de tom:

Figura 6 - conceito associado à correção de tom

40

45

50

55

60

65

70

75

80

85

90

50

63

80

100

125

160

200

250

315

400

500

630

800

1000

1250

1600

2000

2500

3150

4000

5000

6300

8000

10000

Nível de pressão

 Sonora, dB  (NPS)

Frequencia 1/3 oitava, Hz

Espectro de ruído ‐ aeronave com motor turbofan

Tom puro – causa correção de tom

12

3.3. Métricas de evento único 

3.3.1. Conceito 

O NPS, NPS(A), PNL e PNLT fornecem valores de ruído em um dado instante no tempo.

Entretanto, o incômodo percebido varia também com a duração dos eventos ruidosos, assim não pode ser

adequadamente descrito pelas métricas instantâneas somente. Desta forma, para incluir o efeito de

duração de um evento foram criadas as “métricas de evento único”, que incluem uma integração dos

níveis de ruído instantâneos observados ao longo do tempo de duração do evento.

De forma geral, as métricas de evento único são calculadas da seguinte forma:

1 – o ruído do evento em questão é medido em toda sua duração

2 - o evento é dividido em instante de tempo de igual duração (em geral, 0.5 ou 1 segundo).

3 – o valor instantâneo de ruído é calculado para cada instante do evento

4 – efetua-se a integração dos níveis instantâneos durante o período de ocorrência do evento,

gerando um nível de ruído único que caracteriza todo o evento ruidoso.

A imagem a seguir ilustra o processo de obtenção da série de níveis de ruído instantâneos

necessária para calcular o nível de evento único:

Figura 7 - Obtenção de série de níveis de ruído instantâneos

As principais métricas de evento único para análise de ruído aeronáutico são o SEL (Sound

Exposure Level) e o EPNL (Effective Perceived Noise Level), descritas em detalhe a seguir:

Espectro em frequência de cada intervalo de tempo

70.0

75.0

80.0

85.0

90.0

95.0

100.0

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

nivel dB(A)

Tempo (s)

1 nível global de ruído para cada intervalo de tempo

13 3.3.2. SEL (Sound Exposure Level) 

O SEL (Sound Exposure Level) é a métrica de ruído único obtida a partir da integração dos níveis

em dB(A) observados durante o evento. Esta integração deve ser feita, no mínimo, no período de tempo

quando o ruído está a menos de 10 dB(A) do valor máximo observado.

O SEL é definido pela seguinte equação:

10 ∑ 10 , onde T0=1 segundo

Pode-se perceber que o SEL constitui-se na soma decibel dos níveis de ruído instantâneos em

dB(A) observados durante um evento, normalizado para uma duração de 1 segundo. A seguinte imagem

ilustra o conceito envolvido na definição de SEL.

Figura 8 - Obtenção do SEL

3.3.3. EPNL 

O EPNL (Effective Perceived Noise Level) é uma métrica análoga ao SEL, porém integra os

valores de PNLT do evento ruidoso e utiliza um intervalo de normalização T0 de 10 segundos. A equação

assim fica:

101

1010

70.0

75.0

80.0

85.0

90.0

95.0

100.0

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

nivel dB(A)

Tempo (s)

níveis dB(A) ‐ decolagem B727

Período de integração do SEL

10dB abaixo do máximo

SEL=102.3 dB

14

3.4. Métricas cumulativas de ruído 

3.4.1. Conceito 

Pessoas no entorno de aeroportos são sujeitas ao ruído de inúmeros sobrevoos diariamente. Desta

forma, para se avaliar o impacto ambiental associado à operação do aeroporto como um todo, todos os

eventos ruidosos observados devem ser considerados. Desta necessidade surgem portanto as métricas

cumulativas.

Existe grande variedade de métricas cumulativas em uso para analisar ruído aeronáutico, devido à

variações na métrica de evento único utilizada e em pesos variáveis em função do horário do evento

ruidoso, que objetivam modelar o maior incômodo produzido por eventos ruidosos em horários de

descanso. Em geral, as métricas são escolhidas pelos países em função da melhor correlação com o

incômodo percebido por sua população, o que inclui indiretamente fatores sociais e culturais associados a

cada país.

A seguir serão descritas as principais métricas utilizadas no mundo:

3.4.2. DNL (Day­Night Average Noise Level) 

O DNL (Day-Night Average Noise Level) consiste no valor médio de SEL observado em uma

comunidade durante um período de 24 horas. Para se considerar o maior incômodo associado a eventos

noturnos, a métrica prevê uma penalização de 10 dB SEL aos eventos que ocorrem no período entre as

22:00 e 07:00.

O DNL é definido pela seguinte equação:

Pode-se ver que o DNL consiste também em um somatório em dB dos níveis SEL observados

durante o dia.

SEL – eventos normalizados em 1 

segundo

Eventos noturnos –penalização de 10 dB

Média diária – número total de segundos em 1 dia

15 O DNL é utilizado pelo Brasil e pelos Estados Unidos em suas respectivas regulamentações de

planejamento de ocupação de uso do solo: RBAC 161 e 14 CFR Part 150.

3.4.3. DENL (Day­Evening­Night Average Noise Level) 

O DENL é uma versão ligeiramente alterada do DNL. Ele inclui, além da penalização de 10 dB

para eventos noturnos, uma outra penalização de 5 dB para eventos que ocorrem no período vespertino

(do inglês “evening”. - entre 19 e 23 horas). A definição de horário noturno também é alterada para o

período entre 23:00 e 7:00. A equação do DENL é representada por:

101

8640010 10 10

O DENL foi proposto como métrica de ruído a ser utilizada de forma uniforme na União

Europeia (European Commission, 2002).

3.4.4. CNEL (Community Noise Equivalent Level) 

Análogo ao DENL, porém com o período noturno definido entre 22:00 e 07:00, e o vespertino

definido entre 19:00 e 22:00. Além disto, a penalização de eventos vespertinos é de 4.77 dB, o que

equivale a dizer que cada movimento neste período contaria como 3 eventos.

101

8640010 10

.10

3.4.5. LAeq (Equivalent Noise Level) 

O LAeq é análogo ao SEL, porém efetua a média de ruído em dB(A) ao longo de um dado período

de tempo, ou seja, em intervalos de normalização variáveis, diferentes de 1 segundo. Esta é a métrica

utilizada por normas brasileiras de conforto acústico (NBR 10.151 e 10.152).

101

10

Frequentemente o LAeq é calculado considerando a média de ruído diurna e noturna, gerando

assim duas métricas de avaliação de ruído: o LAeqN (noturno) e o LAeqD (diurno).

16 3.4.6. NEF (Noise Exposure Forecast) 

A métrica NEF foi desenvolvida nos anos 60 nos Estados Unidos. Ela é análoga ao DNL, porém

utiliza o EPNL como métrica básica e inclui uma penalização de 12.2 EPNdB (peso de 16.7) para

eventos noturnos. Além disso, o fator de normalização é de 88 dBs, de forma a produzir um valor de

NEF=0 para um impacto ambiental definido como desprezível (Bishop et al, 1969). Desta forma, a

equação do NEF fica da seguinte forma:

10 10 10.

88

O NEF era a métrica utilizada pelos Estados Unidos antes da escolha do DNL. Entretanto, como o

EPNL é utilizado especificamente para ruído aeronáutico, o DNL foi adotado para padronizar uma única

métrica para todas as fontes de ruído. Entretanto, o NEF ainda é utilizado em países como o Canadá.

3.4.7. ANEF (Australian Noise Exposure Forecast) 

O ANEF é uma variação do NEF, utilizada na Austrália. Ela foi definida a partir de um amplo

levantamento de incômodo feito neste país, que mostrou que os pesos originais do NEF para eventos

noturnos não se correlacionavam tão bem aos resultados das pesquisas de incômodo (NAL, 1982). Com

este objetivo, o ANEF modificou o período noturno da métrica para o período entre 19:00 e 7:00. Eventos

ocorrendo neste período recebem uma penalização de 6 dB (ou seja, equivalem a 4 eventos em horário

diurnos).

10 10 10: :

88

3.4.8. WECPNL (Weighted Equivalent Continuous Perceived Noise Level) 

O WECPNL foi sugerido pela ICAO no Anexo 16 como tentativa de unificar a métrica de

avaliação de ruído em aeroportos no mundo. Entretanto, esta recomendação foi retirada do Anexo 16 a

partir de sua segunda edição (1988), deixando a escolha da métrica a cargo de cada país. Hoje, versões

adaptadas do WECPNL são utilizadas no Japão e Coréia do Sul.

Em linhas gerais, o WECPNL é equivalente ao DENL, porém com a utilização do EPNL como

métrica de evento único. Como fator diferenciador, o WECPNL prevê um fator de ajuste por estação do

ano, tendo em vista modelar períodos onde as pessoas tenderiam a manter as janelas fechadas (inverno)

ou abertas (verão). A equação básica do WECPNL fica na seguinte forma:

17

10 10 10 10 39.37

Onde S = Fator de ajuste de estação, definido na seguinte tabela:

Tabela 1 - Ajuste de Estação definido pelo WECPNL.

Temperatura da estação Fator de Ajuste S Meses com menos de 100 horas acima de 20 C -5 dB

Meses com mais de 100 horas acima de 20 C mas menos que 100 horas acima de 25.6 C

0 dB

Meses com mais de 100 horas acima de 25.6 C +5 dB

3.4.9. NNI (Noise and Number Index) 

O NNI foi desenvolvido na Inglaterra nos anos 60 , e contempla de forma mais direta tanto o

nível de ruído dos eventos quanto o número de eventos. Ele é dado pela seguinte formula

15 80, onde:

L = PNL médio máximo das operações, ou seja, a média de todos os valores máximos de

PNL observados.

N=número de operações

3.4.10. N.A. (Number of Events Above) / T.A (Time Above) 

O T.A. baseia-se no tempo a que uma comunidade é submetida a um nível de ruído acima de um

dado valor, ou seja, não considera o valor máximo dos eventos mas sim a duração dos mesmos com

relação a um critério fixo. Já o N.A. simplesmente considera os eventos que produzem ruído acima de um

dado valor, não importando o tempo do evento ou o valor máximo. Estas duas métricas são em geral

utilizadas como métricas suplementares para comunicação com o publico em geral, pois são facilmente

compreensíveis, ao contrário das métricas de somatório de energia mostradas anteriormente.

Na Austrália, os níveis de 60 dB(A) e 70 dB(A) são utilizados como critérios para contagem das

métricas N60 e N70, utilizadas respectivamente para medir o número de operações que geram impacto

nos horários diurno e noturno, respectivamente.

18

3.5. Sumário de métricas cumulativas de ruído 

A descrição anterior mostra que as métricas cumulativas utilizam basicamente duas metodologias

distintas para considerar os eventos ruidosos: média de energia acústica e número de eventos ruidosos. No

caso das metodologias de média de energia, basicamente três variáveis diferenciam as métricas: pesos

associados a horários dos dias, métrica de evento único utilizada e fator de normalização. Com esta

consideração, as principais métricas em uso no mundo atualmente possuem as características dispostas na

seguinte tabela:

Tabela 2 - Resumo de métricas cumulativas de ruído

Métrica cumulativa

Métrica de evento

único usada

Período Diurno Período

Vespertino Período noturno

Fator de normalização

Período Peso Período Peso Período Peso

DNL dB(A) 07:00 a 22:00

1 - - 22:00 a 07:00

10 49.37

DENL dB(A) 07:00 a 19:00

1 19:00 a 23:00

3 23:00 a 07:00

10 49.37

CNEL dB(A) 07:00 a 19:00

1 19:00 a 22:00

3 22:00 a 07:00

10 49.37

NEF EPNL 07:00 a 22:00

1 - - 22:00 a 07:00

16.7 88

ANEF EPNL 07:00 a 19:00

1 - - 19:00 a 07:00

4 88

WECPNL EPNL 07:00 a 19:00

1 19:00 a 22:00

3 22:00 a 07:00

10 39.37

4. Revisão bibliográfica 

Esta etapa da revisão bibliográfica foi focada no levantamento de referencias bibliográficas que se

dedicam à melhorar a representatividade das métricas utilizadas para análise de ruído aeronáutico

considerando o incômodo causado.

Nesta linha, Flindell (1983) já apontava que métricas que consideram a integração de energia

sonora ao longo de um intervalo (como o DNL) possuíam boa correlação com aspectos fisiológicos como

perda de audição, mas a mesma correlação não necessariamente se aplicaria ao incômodo percebido.

Miedema et al (2001) analisou várias pesquisas de opinião utilizando a métrica DNL e DENL e

separando os dados em função da fonte de ruído. As curvas de incômodo obtidas possuem melhor

correlação com as respostas das pesquisas de opinião, porém o autor sugere que sejam inseridas novas

variáveis para descrever o incômodo, além do DNL e do DENL. Ele sugere a inclusão de variáveis que

podem ser controladas por políticas públicas, tal como nível de isolamento ou orientação das residências

19 com relação à fonte de ruído. Este trabalho baseou a escolha, pela União Europeia do DENL como

métrica descritiva de incômodo por ruído aeronáutico e de outras fontes. (European Commission Working

Group, 2002).

Entretanto, Babisch et Al (2009) mostrou com dados mais recentes que o incômodo relacionado a

ruído aeronáutico seria maior do que o mostrado pelas curvas de Miedema et al (2001), e assim sugere

que a curva de predição de incômodo por ruído aeronáutico seja alterada. O mesmo trabalho mostrou que

as curvas associadas a outras fontes de ruído, como o de tráfego, permaneciam válidas. Este resultado

sugere duas possíveis interpretações: ou a atitude das pessoas com relação a ruído aeronáutico foi

modificada, ou aspectos operacionais não captados adequadamente pela métrica DENL, como o número

de eventos ruidosos, podem ter influenciado o aumento no incômodo relacionado ao ruído aeronáutico.

Seguindo esta linha, pesquisas recentes vêm sendo feitas com o objetivo de fornecer base

científica à utilização de novas métricas para representação do incômodo. Neste sentido, destaca-se o uso

de métricas suplementares, ou seja, métricas que já existem mas que até o momento não foram

consideradas atualmente para estimar níveis de incômodo. Wyle (2011) lista várias destas métricas, e

recomenda que estudos científicos sejam aprofundados para validar sua utilização como variáveis

descritivas de incômodo.

Dentre as métricas suplementares, destacam-se a utilização de métricas de tempos, eventos e

níveis sonoros, em oposição às métricas de integração de energia sonora, como o DNL. Tais métricas, por

serem mais facilmente compreendidas pelo público em geral, são tradicionalmente utilizadas apenas para

facilitara comunicação com comunidades afetadas por ruído. Entretanto, dadas as dúvidas com relação às

métricas de integração de energia sonora, iniciativas vêm sendo tomadas para incluir tais variáveis na

modelagem de incômodo. Goldschagg (2013) utilizou as métricas N60 e N70 para modelar o incômodo

percebido por moradores no entorno do aeroporto internacional de Johannesburgo, na África do Sul. Para

tal, foi efetuada uma pesquisa de opinião, por meio postal, com o envio de 1000 correspondências para

moradores do entorno do aeroporto. 330 respostas válidas foram obtidas pela pesquisa, de onde se

concluiu que há boa correlação entre as métricas de número de eventos utilizadas e o incômodo relatado

pela população.

Nesta linha de ação, o governo australiano reconheceu que a métrica utilizada atualmente, o

ANEF, não capturaria adequadamente o incômodo causado por ruído no entorno de aeroportos. Desta

forma, recomendou revisar a norma australiana de restrições ao uso do solo, tendo em vista incluir as

métricas N60 e N70 adicionalmente ao ANEF (DIRF, 2012). Especificamente, o governo sugeriu que

usos sensíveis a ruído sejam evitados em áreas sujeitas a:

20 ou mais eventos diurnos com nível de ruído superior a 70 dB(A)

20 50 ou mais eventos diurnos com nível de ruído superior a 65 dB(A).

100 ou mais eventos diurnos com nível de ruído superior a 60 dB(A)

6 ou mais eventos noturnos com níveis de ruído maiores que 60 dB(A).

Contra esta proposta, cita-se a falta de embasamento científico para estes valores de restrição,

conforme registrado em AAS (2012). Tal observação também é feita por Mestre (2008), que afirma com

base nos desenvolvimentos recentes que, apesar de haver controvérsia com relação à utilização do DNL

para prever incômodo, ainda faltam dados que suportem a utilização de novas métricas. Assim, este

trabalho também sugere que seja mais bem avaliada a relação entre o incômodo percebido e métricas

suplementares, como as relacionadas ao número de eventos.

Nos Estados Unidos, a FAA também reconhece a necessidade de pesquisas mais detalhadas com

relação a métricas de ruído aeronáutico. Com este objetivo, a FAA identificou três objetivos primordiais

para seus próximos projetos de pesquisa, a saber: (FAA, 2011).

Obter evidências técnicas que permitam revisar os critérios de planejamento de ocupação

de uso do solo atualmente em vigor, baseados no DNL.

Aumentar a confiança do publico em geral, a partir da aplicação de informações

atualizadas.

Embasar com dados técnicos ações para mitigação dos efeitos de ruído, como mudanças

de espaço aéreo e procedimentos de baixo ruído.

Percebe-se que os três objetivos serão dependentes, portanto, de uma reavaliação dos impactos de

ruído através de novas pesquisas de opinião. Para garantir ampla representatividade dos resultados a

serem obtidos, linhas-mestras para a realização de tais pesquisas foram listadas em Wyle (2011), dentre as

quais se citam aqui:

Consideração de aeroportos com diferentes características operacionais, em termos de

número de operações, tipos de aeronaves, combinações de níveis e número de eventos

gerando um mesmo nível DNL.

Disponibilização de dados detalhados de ruído, que permitam o cálculo de diferentes

métricas.

Questionários focados não apenas em incômodo, mas também em perturbação de sono,

de forma a verificar a correlação entre estes dois tipos de impacto.

21 O trabalho também analisa pesquisas de opinião realizadas em outros países e sugere que também

sejam consideradas no escopo do trabalho americano. Uma lista compreensiva destas pesquisas encontra-

se em (Wyle Laboratories, 2009). Destaca-se que dentre as 628 pesquisas relacionadas, apenas duas

foram realizadas no Brasil (uma em Porto Alegre e outra em Curitiba, ambas focando em ruído urbano de

forma geral).

Fields et al (2001) analisou a questão da definição de questionários a serem aplicados em

pesquisas de opinião para captação de percepção de incômodo. Tendo em vista comparar resultados

obtidos em diversos países e situações, o trabalho propôs uma padronização das questões a serem

aplicadas. Para tal, definiu 2 perguntas básicas que devem ser realizadas nas pesquisas de opinião. Uma

pergunta remete a uma escala verbal de descrição do incômodo, e a segunda a uma escala numérica. As

duas perguntas podem ser utilizadas para focalizar a pesquisa em qualquer fonte de ruído, ou período de

tempo de análise, mas sugere-se que a pergunta seja direcionada à percepção do respondente no último

ano. O trabalho fornece estas perguntas padronizadas em 9 línguas diferentes. Inglês, Holandês, Francês,

Alemão, Húngaro, Japonês, Norueguês, Espanhol e Turco.

As versões em Inglês e espanhol destas perguntas encontram-se a seguir:

RECOMMENDED QUESTIONS: Q.V. Thinking about the last (period of analysis), when you are here at home, how much does noise from (noise source) bother, disturb, or annoy you: Extremely, Very, Moderately, Slightly or Not at all? Q.N. Next is a zero to ten opinion scale for how much (source.) noise bothers, disturbs or annoys you when you are here at home. If you are not at all annoyed choose zero, if you are extremely annoyed choose ten, if you are somewhere in between choose a number between zero and ten. Thinking about the last (period of analysis) what number from zero to ten best shows how much you are bothered, disturbed, or annoyed by (source) noise? SPANISH Q.V. Tomando en consideracion los ultimos (periodo da análise), indique Vd. en que cuantia le molesta o perturba el ruido producido por (indicar la fuente de ruido) cuando se encuentra en su casa: extremadamente, muy, medianamente, ligeramente, absolutamente nada. Q.N. A continuación se da una escala de opinión de cero a diez para que Vd. Pueda expresar en qué cuantía le molesta o perturba el ruido producido por (indicar la fuente de ruido…) cuando se encuentra en su casa. Por ejemplo, si Vd. Está “absolutamente nada'' molesto por el ruido debería escoger el cero, y si Vd. está &&extremadamente'' molesto debería escoger el diez. Tomando en consideración los últimos (12 meses), indique qué número desde el cero al diez expresa mejor la cuantía en que Vd. está molesto o perturbado por el ruido producido por (indicar la fuente de ruido)

Algumas iniciativas vem ocorrendo no Brasil para analisar as questões associadas ao ruído

aeronáutico. Revoredo (2008) propôs utilizar as métricas LAeqD e LAeqN para caracterizar níveis de

ruído aeronáutico aceitáveis em aeroportos brasileiros, relacionando-as ao nível DNL, pelo fato destas

22 métricas serem utilizadas por normas brasileiras em vigor (NBR 10151). Porém, não é feita uma

discussão sobre a representatividade destas novas métricas no que diz respeito ao incômodo causado.

Heleno (2013) também utilizou as métricas LAeqD e LAeqN em uma modelagem fuzzy de

incômodo causado por ruído. Para tal, foram utilizados valores constantes da norma NBR 10151, que

relacionam o nível de ruído nas referidas métricas com a reação da comunidade afetada. Porém o estudo

não verifica a correlação dos valores da norma com esta reação das comunidades, pois não inclui novas

pesquisas de opinião, nem tampouco discute a adequabilidade destes valores no caso específico de

exposição a ruído aeronáutico. A norma define um valor critério de 45 dB(A) para áreas residenciais. A

tabela a seguir ilustra a correlação entre incômodo e nível de ruído definida pela norma:

Tabela 3 - Critério de incômodo segundo norma NBR 10.151

Valor em dB (A) pelo qual o nível sonoro corrigido ultrapassa o nível critério.

Resposta estimada da comunidade Categoria Descrição

0 Nenhuma Não se observa reação 5 Pouca Queixas esporádicas

10 Média Queixas generalizadas 15 Enérgicas Ação Comunitária 20 Muito Enérgicas Ação comunitária vigorosa

Duas iniciativas recentes utilizaram pesquisas de opinião para captar a percepção de populações

acerca de ruído. O trabalho de Eller (2009) utilizou pesquisas de opinião para definir uma tarifa de ruído

associado ao incômodo percebido pela população no entorno do aeroporto de Guarulhos. Com este

objetivo, o nível de incômodo percebido foi correlacionado com o nível certificado de ruído de cada

modelo de aeronave operando neste aeroporto. O trabalho obteve 248 questionários válidos para a análise,

mas não efetuou correlação entre o nível de incômodo e o nível de ruído global das operações

aeronáuticas. Santos (2011) utilizou um sistema online para obtenção de percepção de ruído aeronáutico

na cidade de São José dos Campos, integrado a uma base de dados geográficos.

5. Evolução de escopo do trabalho 

5.1. Discussão 

Dada a pesquisa bibliográfica realizada e a grande variedade de métricas de ruído levantada,

percebe-se que, de fato, ainda há controvérsia sobre a utilização do DNL para fins de caracterização de

impacto ambiental associado ao ruído aeronáutico, o que corrobora os objetivos definidos para o trabalho.

Mais especificamente, existe dúvida sobre a correlação de métricas de somatório de energia com

o incômodo percebido pelas comunidades, dadas as condições operacionais atuais. Para compreender

23 melhor esta questão, o gráfico a seguir fornece a evolução do número de pessoas afetadas por 65 dB DNL

e o número de movimentos de aeronaves, nos Estados Unidos:

Figura 9 - Evolução do número de pessoas expostas a 65 DNL e o número de movimentos de aeronaves nos

Estados Unidos (FAA, 2011)

O gráfico mostra que o número de pessoas expostas a ruído acima de 65 dB DNL nos Estados

Unidos foi reduzido drasticamente nas últimas décadas, mesmo com enorme aumento no número de

movimentos de aeronaves observado. Este resultado reflete que as medidas de redução de ruído na fonte e

de planejamento de ocupação do uso do solo, baseadas na métrica DNL, estão sendo bem executadas

neste país. Porém, reações de comunidades continuam a ocorrer de forma vigorosa pelo mundo, o que

levanta duas questões:

O atual planejamento de ocupação de uso do solo, baseado na métrica DNL, é adequado

para modelar os impactos ambientais do ruído aeronáutico?

O impacto ambiental associado ao aumento no número de movimentos de aeronaves é

adequadamente modelado pela métrica DNL?

Para ilustrar a discussão destes pontos, a figura a seguir ilustra dois cenários operacionais que

produzem o mesmo nível DNL:

24

Figura 10 - Exemplos de cenários operacionais com DNL 65

Os cenários sugerem que o número de eventos ruidosos, apesar de considerado de forma indireta

pela métrica DNL, pode estar sendo subestimado devido ao somatório logarítmico envolvido, que de certa

forma acaba por priorizar o nível de ruído em detrimento do número de eventos.

Outra observação possível é que, à época da escolha do DNL como métrica de ruído aeronáutico,

a aviação civil internacional seria caracterizada qualitativamente pelo “Cenário 1”, ou seja: poucos

movimentos de aeronaves muito ruidosas (a reação). Para fins de sensibilidade, um exemplo de aeronave

que produz este nível de ruído é o Boeing 707-320.

Por outro lado, a situação atual seria mais bem classificada no “Cenário 2”: aeronaves com menor

nível de ruído (ex compatível com o cenário 2: Airbus A318), mas com número de eventos maior. É

possível que esta mudança não esteja sendo adequadamente captada pelo DNL, o que pode ajudar a

explicar os problemas associados ao uso desta métrica.

Dada esta discussão, propõe-se que o objetivo do trabalho atual seja alcançado a partir das

seguintes etapas, que serão descritas em maior detalhe a seguir:

1. Definição de aeroportos de interesse para participação em nova pesquisa de opinião 2. Definição e execução de pesquisa de opinião nos aeroportos selecionados. 3. Modelagem detalhada da situação de ruído encontrado no entorno aeroportos 4. Identificação de métrica(s) que melhor se correlacionem com os resultados da pesquisa

de opinião, com foco na consideração no número de eventos ruidosos.

Cenários equivalentes a DNL=65 dB

Cenário 1 ‐ 1 evento diurno com SEL 114.4 dB(A) = DNL 65

Cenário 2 ‐ 100 eventos diurnos com SEL 94.4 dB(A) = DNL 65

25

5.2. Definição  de  aeroportos  candidatos  para  pesquisa  de 

opinião 

Dado o objetivo do trabalho de embasar uma nova métrica de ruído que melhor descreva o

incômodo causado por ruído aeronáutico de forma geral, é interessante que sejam obtidas as percepções

de comunidades sujeitas à diferentes características de ruído e diferentes situações operacionais. Com este

objetivo, características operacionais e de ruído de 35 aeroportos brasileiros foram levantadas, a fim de

identificar aeroportos candidatos para a pesquisa. Os aeroportos inicialmente analisados foram escolhidos

em função do número de operações registradas no ano 2010, critério primário utilizado pelo RBAC161

para definir o porte do aeroporto em termos de ruído (emissão de Plano básico ou Plano Específico de

zoneamento de ruído).

Para reduzir esta lista de aeroportos e viabilizar a execução das pesquisas de opinião, propõe-se

utilizar os seguintes critérios para definir aeroportos que englobem a maior faixa possível de situações

operacionais e de incômodo, e assim otimizar o alcance da pesquisa de opinião a ser realizada:

Número de pessoas expostas a ruído acima de 55 dB DNL

Número de movimentos de aviões (helicópteros não serão considerados na

análise)

Número de pessoas expostas a uma dada quantidade de eventos ruidosos

Distribuição de movimentos em função do horário (diurno/noturno)

A seguinte tabela dispõe os aeroportos analisados inicialmente, em função do número de

movimentos registrado em 2010:

26 Tabela 4- Principais aeroportos brasileiros em termos de movimentos

AEROPORTO  nome Movimentos 

totais Movs. 

Helicopteros %HELI

SBGR  Aeroporto Internacional de Guarulhos  251943 8763  3% 

SBSP  Aeroporto de Congonhas  211913 17120  8% 

SBBR  Aeroporto Internacional de Brasília  170753 4371  3% 

SBMT  Aeroporto Campo de Marte  153313 105768  69% 

SBRJ  Aeroporto Santos‐Dumont  129441 9800  8% 

SBGL  Aeroporto Internacional do Galeão  124492 1848  1% 

SBSV  Aeroporto Internacional de Salvador  114803 4627  4% 

SBJR  Aeroporto de Jacarepaguá  97595 69586  71% 

SBPA  Aeroporto Internacional de Porto Alegre  91884 2282  2% 

SBCF  Aeroporto Internacional de Confins  83872 485  1% 

SBCT  Aeroporto Internacional de Curitiba  79828 422  1% 

SBRF  Aeroporto Internacional de Recife  76377 3346  4% 

SBKP  Aeroporto Internacional de Campinas  75364 954  1% 

SBBH  Aeroporto da Pampulha  70179 10961  16% 

SBME  Aeroporto de Macaé  67937 64768  95% 

SBGO  Aeroporto de Goiânia  67882 1266  2% 

SBFZ  Aeroporto Internacional de Fortaleza  64779 2919  5% 

SBCY  Aeroporto Internacional de Cuiabá  54742 757  1% 

SBVT  Aeroporto de Vitória  53542 17540  33% 

SBEG  Aeroporto Internacional de Manaus  52809 284  1% 

SBJD  JUNDIAÍ  52280 1462  3% 

SBPR  Aeroporto Carlos Prates  47355 11490  24% 

SBBE  Aeroporto Internacional de Belém  43008 1192  3% 

SBRP  RIBEIRÃO PRETO  42981 5567  13% 

SBFL  Aeroporto Internacional de Florianópolis  41774 4914  12% 

SBBI  Aeroporto de Bacacheri  41067 7101  17% 

SBLO  Aeroporto de Londrina  35008 337  1% 

SBBP  BRAGANÇA PAULISTA  32798 696  2% 

SDAM  CAMPINAS (AMARAIS)  32461 9990  31% 

SBUL  Aeroporto de Uberlândia  30856 820  3% 

SBCG Aeroporto Internacional de Campo Grande  29784

311  1% 

SDCO  SOROCABA  27636 1820  7% 

SBNT  Aeroporto Internacional de Natal  26177 879  3% 

SBSL  Aeroporto Internacional de São Luís  23679 1091  5% 

SBSJ  Aeroporto de São José dos Campos  18408 2897  16% 

Pode-se ver que existem aeroportos cujos movimentos são dominados por helicópteros. Como o

foco da pesquisa será sobre o ruído gerado por aviões, foram eliminados da análise os aeroportos de

27 Campo de Marte, Jacarepaguá e Macaé, que possuem mais de 50% de movimentos atribuídos a

helicópteros.

O gráfico a seguir mostra o número de pessoas expostas a ruído acima de 55 dB DNL em cada

um dos aeroportos restantes. Os números foram obtidos com a utilização do software INM. Ressalta-se

que estas informações populacionais devem ser analisadas de forma qualitativa, já que foi utilizada uma

premissa de decolagens e pousos em linha reta. Porém tal abordagem é valida neste ponto de definição de

possíveis candidatos à pesquisa.

Figura 11 - Pessoas residentes em áreas acima de 55 dB DNL em aeroportos brasileiros

A tabela mostra que existem aeroportos com baixa quantidade de pessoas submetidas a níveis de

ruído acima de 55 dB DNL, apesar do alto número de movimentos. Seguindo este critério, foram

eliminados da análise os aeroportos de Jundiaí, Bragança Paulista e Campo dos Amarais (Campinas).

Apesar do baixo número de pessoas afetadas apontado pela análise, o aeroporto de São José dos Campos

foi mantido na análise para que seus resultados sejam comparados com outras pesquisas realizadas no

âmbito do ITA.

O seguinte gráfico mostra a distribuição dos voos nos aeroportos restantes, em função do tipo de

motor instalado nos aviões:

10

100

1000

10000

100000

1000000

SBGR

SBSP

SBGL

SBFZ

SBRF

SBPA

SBBE

SBSV

SBEG

SBVT

SBSL

SBCT

SBBR

SBBH

SBKP

SBGO

SBRJ

SBCG

SBCF

SBCY

SBLO

SBRP

SBFL

SBUL

SDCO

SBBI

SBPR

SBNT

SBSJ

SBJD

SBBP

SDAM

Residentes em áreas acima de 55 dB DNL

28

Figura 12 - Classificação de aeroportos por tipo predominante de aeronave

Este tipo de informação será útil para verificar qual tipo de fonte de ruído está sendo causadora do

possível incômodo, e verificar se há correlação entre esta variável e o nível de incômodo percebido.

Dentro deste critério, destacam-se os aeroportos da Pampulha, pela grande concentração de turboprops, e

Carlos Prates, por possuir pessoas dentro da curva de 55 dB DNL mesmo com 100% de suas operações

sendo de aviões de motor convencional, de pequeno porte.

O gráfico a seguir ilustra a distribuição de movimentos diurnos/noturnos, conforme definição

adotada pelo DNL (22:00 – 07:00):

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

SBCF

SBGL

SBGR

SBKP

SBSP

SBBR

SBRJ

SBVT

SBCT

SBFL

SBRF

SBFZ

SBSV

SBPA

SBNT

SBBE

SBSL

SBEG

SBCG

SBCY

SBGO

SBRP

SBSJ

SBLO

SBUL

SBBH

SDCO

SBBI

SBPR

Distribuição por tipo de motor

% convencional % turboprops % jatos

29

Figura 13 - Classificação de aeroportos por horário dos movimentos Este tipo de informação é importante para determinar a influência do horário do movimento no

incômodo percebido, e para se verificar aspectos de interrupção de sono, que também podem estar

correlacionados ao incômodo relatado.

Como a pesquisa deseja saber a influência dos eventos isolados de ruído sobre o incômodo

percebido, será importante também levar esta variável em consideração quando da escolha dos aeroportos

candidatos à pesquisa. Ou seja, será interessante obter respostas de aeroportos com diferentes situações

em termos de DNL e número de eventos ruidosos.

Entretanto, a métrica de número de eventos ruidosos não é calculada diretamente pelo software

INM, razão pela qual será necessária uma abordagem alternativa para obter esta variável. O governo

australiano disponibiliza uma ferramenta que adapta resultados obtidos com o INM para calcular métricas

de número de eventos ruidosos (N70 e N60). Esta ferramenta chamada TNIP (Transparent Noise

Information Package) será incorporada à metodologia de análise na sequencia deste trabalho.

5.3. Proposta de pesquisa de opinião 

Conforme mostrado na revisão bibliográfica, trabalhos foram feitos no sentido de padronizar as

perguntas efetuadas para captar a resposta subjetiva da população ao ruído. Assim propõe-se que as

perguntas sugeridas em Fields et al (2001) sejam utilizadas na pesquisa de opinião a ser realizada:

50%

55%

60%

65%

70%

75%

80%

85%

90%

95%

100%

SBBI

SBPR

SBSJ

SDCO

SBLO

SBRJ

SBSP

SBUL

SBBH

SBRP

SBBR

SBCT

SBGO

SBVT

SBPA

SBCY

SBFL

SBSV

SBCF

SBKP

SBGL

SBGR

SBRF

SBCG

SBFZ

SBSL

SBNT

SBEG

SBBE

Distribuição por horário

%noturno % diurno

30 Tabela 5 - Perguntas propostas para pesquisa de opinião

Tipo de Questão Pergunta (traduzida de Fields, 2001) Escala verbal Considerando os últimos 12 meses, indique quanto lhe incomoda ou

perturba o ruído produzido por aviões quando você está em casa: extremamente, muito, moderadamente, um pouco ou nada.

Escala numérica A seguir tem-se uma escala de opinião de zero a dez, para que você expresse o quanto lhe incomoda ou perturba o ruído produzido por aviões quando você está em sua casa. Se você não está incomodado de forma alguma pelo ruído, escolha zero, e se você está extremamente incomodado escolha 10. Considerando os últimos 12 meses, indique qual número entre 0 a 10 melhor representa o quanto você está incomodado ou perturbado pelo ruído produzido por aviões.

Também poderão ser incluídas perguntas específicas a respeito de perturbação de sono e

incômodo em função de horário. O detalhamento final do questionário será efetuado após a definição dos

aeroportos-alvo.

A experiência encontrada por Eller (2009) mostrou que há complexidade em se obter respostas a

questionários pessoalmente no Brasil, devido a fatores como segurança. Por outro lado, respostas obtidas

através de sistemas online como o proposto em Santos (2011) poderiam ser consideradas tendenciosas, já

que requerem uma atitude proativa do respondente com relação ao ruído questionado, o que pode se

traduzir em um falso número de pessoas altamente incomodadas. Devido a estes fatores, propõe-se que as

pesquisas sejam realizadas por meio telefônico, conforme realizado em várias outras pesquisas ao redor

do mundo com bons resultados. Esta abordagem tem como vantagens a segurança e possível maior

receptividade dos respondentes, já que não serão requisitados dados pessoais. Além disto, o próprio

endereço da pessoa, disponibilizado pela empresa de telefonia, fornecerá a localização da residência para

posterior verificação do nível de ruído submetido. Para tal, serão utilizadas listas telefônicas de endereços

disponíveis tanto online quanto em papel (ex: http://www.telelistas.net/).

Conforme analisado na referencia bibliográfica, é necessário grande número de respostas para que

se obtenha resultados estatisticamente analisáveis. Nesta etapa do trabalho vislumbra-se inicialmente a

obtenção de 600 respostas, divididas da seguinte forma: 3 aeroportos, 3 faixas de ruído (55-60, 60-65 e

65-70 DNL) e 2 regiões diferentes por faixa de ruído. Isto totalizaria 18 pontos válidos para a análise

(cerca de 33 respostas/ponto, o que forneceria uma resolução de 3% quando da análise de proporção de

pessoas altamente incomodadas por ruído).

Com a utilização do meio telefônico para obtenção das respostas, seria possível a utilização de

serviços comerciais de Call Center para a realização das pesquisas. Também seria possível uma

contratação temporária de um ou mais estagiários para realizar este trabalho. Supondo um tempo médio

de 8 minutos para obtenção de uma resposta válida (5 minutos para discar vários números até encontrar

um respondente, e 3 minutos para aplicar o questionário), seria necessário o trabalho de uma pessoa em

31 tempo integral (8 horas), por aproximadamente dois meses, para obter as 600 respostas estimadas. A

sequência do trabalho irá avaliar a viabilidade e validade destas premissas com maior nível de detalhe. O

trabalho irá avaliar estas opções em termos de custo/beneficio.

5.4. Modelagem de Ruído Aeronáutico 

Idealmente, a variável ruído aeronáutico deve ser obtida através de medições diretas nos locais

afetados, com o uso de equipamentos adequados para este fim. Entretanto, esta forma de aquisição de

dados apresenta algumas dificuldades associadas, entre elas:

Alto custo associado à obtenção de maior volume de medições, tanto em questão de

tempo de medição quanto em área representada;

Necessidade de local seguro para instalação dos equipamentos, dentro da área de

interesse para o estudo;

Influência do ambiente nas medições (outros tipos de ruído, reflexões em prédios, entre

outros).

Maior dificuldade na interpretação dos resultados

Tendo em vista estas dificuldades, propõe-se que o nível de ruído seja obtido através de modelos

internacionalmente aceitos para este fim. Neste trabalho será utilizado o software INM (Integrated Noise

Module), versão 7.0c, desenvolvido pela FAA (Federal Aviation Administration – Estados Unidos).

Este tipo de software possui uma base de dados de geração de ruído por tipo de aeronave, desta

forma ele calcula o nível de exposição ao ruído aeronáutico de toda a área no entorno de um aeródromo, a

partir de informações sobre os movimentos de aeronaves neste aeródromo: tipo de aeronave, quantidade

de movimentos, tipo de movimento (pouso/decolagem), pista e trajetória utilizada para pouso e

decolagem. Estas informações necessárias à modelagem serão obtidas de duas formas:

a) Tipo de aeronave, quantidade, pista e tipo dos movimentos de um aeródromo: estas

informações serão obtidas através do sistema BIMTRA (Banco de Informações de

Movimento de Tráfego Aéreo), base de dados do DECEA (Departamento de Controle do

Espaço Aéreo) que consolida informações dos movimentos de aeronaves no espaço aéreo

nacional.

b) Trajetória de pousos e decolagens de aeronaves: serão obtidas através de aquisição de

informações ADS-B (Automatic dependent surveillance-broadcast) das aeronaves operando

em um determinado aeroporto. Estas informações são transmitidas por aeronaves equipadas

com transponder do tipo Mode-S. Apesar de ser possível realizar a modelagem de ruído

considerando apenas cartas de navegação em vigor no aeroporto, a utilização de trajetórias

reais confere maior precisão à modelagem de ruído, pois considera a dispersão de trajetórias

32 que ocorre em operação real, dispersão esta que tem efeitos nos níveis de ruído observado em

solo.

O uso deste tipo de abordagem possibilitará a análise de maior quantidade de dados e de

aeroportos. Neste cenário, a utilização de medições diretas de ruído seria utilizada apenas para fins de

validação dos resultados do modelo INM, em pontos específicos para tal. Para viabilizar estas medições,

prevê-se a utilização de equipamentos de análise acústica de menor custo e com precisão aceitável para o

propósito aqui descrito (medidor de nível sonoro Reed ST-173 e calibrador acústico Reed SC-05).

O andamento da pesquisa até o momento permitiu verificar que o INM não calcula métricas de

número de eventos de forma direta. Assim será utilizado, em conjunto com o INM, o pacote de softwares

TNIP, disponibilizado pelo governo australiano, para complementar o INM no que diz respeito ao cálculo

de métricas de ruído não convencionais, que poderão ser utilizadas para confrontar os resultados das

pesquisas de opinião.

5.5. Correlação das informações obtidas 

De posse da modelagem de ruído e do resultado das pesquisas de opinião, será feita uma

correlação entre várias métricas de ruído e o nível de incômodo relatado, tendo como objetivo encontrar

uma métrica que melhor se adapte aos resultados. Ressalta-se que a análise poderá indicar o uso de uma

ou mais métricas em conjunto para caracterizar o incômodo, como por exemplo ocorre na métrica PNL,

que utiliza duas variáveis para obter o nível de sensibilidade do ouvido humano (frequência e amplitude).

Outro detalhe a ser destacado é que não necessariamente a pesquisa apontará uma métrica nova: é

possível que métricas já utilizadas no passado venham a ser consideradas adequadas para a modelagem,

por exemplo o NNI (Noise and Number Index), que já inclui em sua definição uma maior influencia do

número de eventos ruidosos.

As metodologias baseadas em número de eventos ruidosos também serão avaliadas em detalhe.

Tendo em vista a atual definição deste tipo de métrica, que simplesmente considera como evento ruidoso

qualquer evento que gere valor de ruído acima de um determinado valor, percebe-se que a metodologia

fuzzy pode vir a ser utilizada para melhorar a representatividade deste tipo de métrica, por meio da

classificação de um evento ruidoso em função de seu valor máximo observado. Esta possibilidade é

detalhada na seguinte imagem:

33

Figura 14 - Conceito fuzzy aplicado à métrica N70

6. Plano de ação 

O plano de ação do doutorado encontra-se em dia, com a realização da pesquisa bibliográfica e a

obtenção das informações técnicas necessárias para o desenvolvimento do trabalho. No primeiro semestre

de 2013 foi também cursada a última disciplina necessária para o doutorado.

Tabela 6 - Plano de ação do doutorado

2012/2 2013/1 2013/2 2014/1 2014/2 2015/1

Revisão bibliográfica

Desenvolvimento da metodologia de obtenção de dados

Obtenção de dados em campo

Análise das informações

obtidas

Submissão ao

periódico

Desenvolvimento da

tese

• Disciplinas:

IE-232 - Ocupação e Uso do Solo Urbano em Áreas no Entorno de Aeroportos (já

cursada como isolada)

NÍVEL MÁXIMO DE RUÍDO DO EVENTO

70

1

2

1

NÍVEL MÁXIMO DE RUÍDO DO EVENTO

70

Métrica N70 tradicional Possível métrica N70 fuzzy

Número de eventos considerado

Número de eventos considerado

34 IT-207 - Pesquisa operacional Aplicada a Problemas de Transporte Aéreo (cursada)

IT-206 - Gestão do Tráfego Aéreo (cursada)

Além disso, resultados parciais do trabalho embasaram apresentação de artigo no congresso

WCTR2013, em julho de 2013, no Rio de Janeiro. O trabalho versou sobre o impacto ambiental dos

novos procedimentos RNP-AR em utilização no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. A

submissão deste trabalho a um periódico está sendo avaliada no momento.

Um artigo também foi submetido ao Journal of the Brazilian Air Transportation Research

Society (Qualis B2 – Engenharias I). Este artigo abordou uma análise histórica de desenvolvimento de

sistemas de vigilância utilizados para controle de tráfego aéreo.

Em virtude da revisão bibliográfica realizada e da evolução do escopo do trabalho, a lista de

periódicos alvo para o principal artigo da tese foi também revisada, conforme disposto a seguir.

• Periódicos

Periódico Qualis (Engenharias I) Journal of Sound and Vibration A1 Transportation Research Part D – Transport and Environment A1 Transportation Research Part C – Emerging Technologies A1 Journal of Air Transport Management A2

7. Conclusões 

Os desenvolvimentos feitos até o momento permitiram algumas conclusões que deverão

direcionar o progresso do trabalho. Entre estas conclusões, destacam-se:

Mostrou-se que a execução de uma pesquisa de opinião com um amplo escopo seria uma

grande contribuição ao estudo do ruído aeronáutico no Brasil, haja vista a tendência

mundial na realização deste tipo de pesquisa e a inexistência de estudos com este nível de

detalhamento no Brasil. Desta forma, sugere-se que tal objetivo seja perseguido na

sequencia do trabalho, apesar das dificuldades associadas em termos de tempo/recursos

necessários para a realização das pesquisas.

O trabalho desenvolvido para o WCTR2013, sobre o aeroporto Santos Dumont, poderá

ser utilizado para embasar a submissão a um periódico de relevo, haja vista a atualidade

do assunto e especificidade do estudo de caso realizado.

A modelagem de ruído encontra-se em estágio avançado de detalhamento, possibilitando

o levantamento de grande quantidade de dados a partir dos códigos computacionais

implementados até o momento.

35 Dentre os próximos passos da pesquisa, citam-se:

Definição dos aeroportos a serem objeto de avaliação, após cálculo de métricas

alternativas de avaliação de ruído não contempladas pelo software INM de forma direta.

Detalhamento da pesquisa de opinião a ser realizada, em termos de perguntas a serem

feitas e forma de execução.

Verificação da possibilidade de utilização dos dados da pesquisa de incômodo realizada

por Eller (2009), a fim de testar a metodologia proposta.

36

8. Referências 

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