2-Hideaway.pdf - Livros Gratuitos

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Disponibilização:EvaTradução:Nicole

Revisão:Nane,JuzitaeDrikaArte:Niquevenen

LeituraFinaleDiagramação:Eva

BanksEnterradonas sombrasda cidade, háumhotel chamadoThePope.Decadente,vazioeescuro—eleéabandonadoecercadoporummistérioesquecido.Masvocêachaqueéverdade,nãoé,KaiMori?Ahistóriasobreodécimosegundoandarescondido.Omistériodohóspedesombrioquenuncaentrouenuncasaiu.Achaquepossoajudá-loaencontraroesconderijosecretoechegaratéele,nãoé?Você e seus amigos podem tentar me assustar. Podem tentar me empurrar.Porque apesar de lutar para esconder tudo o que sinto quando você olha paramim—etenhofeitoissodesdequeeueramenina—euachoquetalvezoquevocêprocuraestámuitomaispertodoquevocêjamaisvaiperceber.Eununcavoutraí-lo.Então,fiquequieto.NaDEVIL'SNIGHT,acaçadaviráatévocê.

KaiVocênãotemideiadoqueeuprocuroLittleOne.Vocênãosabeoqueeutivequemetornarparasobrevivertrêsanosnaprisão,porumcrimequeeuficariafelizemcometernovamente.Ninguémpodesabernoquemetransformei.Queroaquelehotel,queroencontrá-lo,equeroofimdisto.Queroaminhavidadevolta.Mas quanto mais estou perto de você, mais eu percebo que este novo eu éexatamenteoqueeuestavadestinadoaser.Então,vamoslá,garota.Nãoamarele.Minhacasaénacolina.Hátantasmaneirasdeentrar,eboasorteparaencontrarasaída.Euvioseuesconderijo.Horadeveromeu.

Playlist

“BlackHoney”byThrice

“Castle”byHalsey

“Control”byPuddleofMudd

“CryLittleSister”bySeasonsAfter

“Emotionless”byRedSunRising

“GotoHell”byKMFDM

“HeavyInYourArms”byFlorence+TheMachine

“JekyllandHyde”byFiveFingerDeathPunch

“LikeaNightmare”byNeverSayDie

“Lung(BronchitisMix)”bySisterMachineGun

“PaintIt,Black”byCiara

“RememberWeDie”byGeminiSyndrome

“SaveYourself”byStabbingWestward

“Scumgrief(DeepDubTraumaMix)”byFearFactory

“SmellsLikeTeenSpirit”byThinkUpAnger

“Smokin’IntheBoysRoom”byMötleyCrüe

“WaitingGame”byBanks

NotadaAutora

Mesmo o romance HIDEAWAY sendo único, o enredo é uma continuação do que começou emCorrupt(Devil’sNight#1).ÉaltamenterecomendávelquevocêleiaCORRUPTantesdeleresteromance.

Divirta-se!

ParaZ.King

Umhomemnãopodedestruiroselvagemnele,pornegarseusimpulsos.Aúnicamaneiradeselivrardeumatentaçãoécederaela.

-RobertLouisStevenson,

OestranhocasodoDr.JekylleMr.Hyde

Capítulo1Kai

Achuvaécomoanoite.Vocêpodeserdiferentenoescuroesobasnuvens.

Eu não tenho certeza do que é. Talvez a falta de luz solar e como os nossos outros sentidos seaguçam, ou omanto sutil escondendo coisas de nossa vista, mas apenas determinadosmomentos sãoaceitáveisparafazercertascoisas.Livre-sedoseucasacoearregaceasmangas.Despejeumabebidaeincline-separatrás.RiacomosseusamigosegriteparaojogodebasquetenaTV.

Sigaumamenina,quevocêfodeucomosolhosporumahora,paraobanheirodopubetenhaseusamigosacenandoemaprovaçãoquandovocêsair.

Tentefazerissoduranteodia,comaestagiárianoescritório.

Nãoqueeuqueiraaliberdadeparaentraremqualquercoisa,aqualquermomento,dequalquermaneira.Ascoisassãomaisespeciaisquandosãoraras.

Mas a cada manhã, quando o sol se levanta, as bobinas do meu estômago apertam-se emantecipação.

Oanoitecerestáchegandonovamente.

Deixocairàmáscaradaminhamãoaomeulado,estounotopodopatamardosegundoandareobservoRikasentadaemseucarro.Elamantémacabeçabaixa,orostovisívelpelobrilhodeseucelular,apesardachuvatorrencialbatendonopára-brisa,conformeeladigita.

Eubalançominhacabeça,meuqueixoflexiona.Elanãoescuta.

Euvejoquandoanoivadomeumelhoramigoodesliga,poisaluzdeseutelefonedesaparece,eentãoelaabreaportadocarro,saiecomeçaacorrer,irrompendoatravésdachuvatorrencial.Viromeusolhos,fazendoseuinventário.Cabeçaeosolhoslançadosparabaixo.Chavesembrulhadasemseupunhofechado.Braçosprotegendoacabeçadachuvaequeimpedemasualinhadevisão.

Completamenteinconscientedeseusarredores.Avítimaperfeita.

Agarrooapoionapartedetrásdaminhamáscara,oestendoedeslizoocrâniodepratasobreaminhacabeça,oseuinteriorabraçacadacurvadomeurostonumajusteapertado.Omundoaminhavoltaseencolheaumtúnel,etudoqueeupossoveréoqueestábemnaminhafrente.

Calor se espalha pelo meu pescoço, penetrando profundamente em meu peito, e puxo umarespiraçãolonga,gelada,sentindomeucoraçãobatendo,ficandocomfome.

De repente, a chuva, como uma cachoeira no beco lá fora, enche o dojo1, e a porta de metal

pesado,noandardebaixo,sefecha.

“Olá?”Elagrita.

Meucoraçãomergulhanomeuestômago,efechoosolhos,saboreandoasensação.Osomdesuavozecoapeloprédiovazio,maseuficoplantadonopatamarescuro,esperandoqueelameencontre.

“Kai?”Ouçoogritodelaatravésdograndeespaço.

Afasto-meparatrásepuxoocapuzdomeumoletompretoparacima,cobrindominhacabeça,emeviroparaolharparabaixo,sobreoparapeito.

“Olá?”Elaperguntadenovo,commaisurgência.“Kai,vocêestáaqui?”

Vejoseucabeloloiroemprimeirolugar.ÉoquevocêsempreobservaprimeirosobreRika.Emsuacoberturaescura,nestedojoescuro,nobecoescuro,emsalaseruasescuras.Elasempresedestaca.

Eudescansominhasmãosnocorrimãodeaçoenferrujado,mantendomeuspésplantadossobreasgrelhas,eaobservopassarlentamenteparaasalaprincipal,lançando-separaosinterruptoresnaparede.Masnadaacontece.Asluzesnãoacendem.

Elaviraacabeçaparaaesquerdaeparaadireita,parecendo,derepente,alertae,emseguida,correamão,virandoosinterruptoresnovamente.

Nada.

Seupeitosobeedescemaisrápido,suaconsciênciachegandoenquantoelaseguraaalçadesuabolsamaisapertada.

Eu lutoparanãosorrire inclinoacabeça,olhandoparaela.Eudeveriamemostrar.Devo jogarlimpo,deixá-lasaberqueestouaqui,equeelaestásegura.

Masquantomaistempoeuespero,quantomaistempoficoquietoeescondido,maisnervosaelaparece.Eenquantoelacaminhamaisparadentrodasala,eunãopossofazernada,alémdesentiressemomento.Ela está confusa.Assustada.Tímida.Elanão sabequeestouaqui. Logoacimadela.Elanãosabequemeusolhosestão sobreelaagora.Elanão sabequeeupoderiacorrerparaela, levá-laaumporão,efodê-lanochãoantesqueelasequersoubesseoqueaconteceu.

Eunãoqueriaassustá-la,masofiz.Poderecontrolesãoviciantes.Eeunãoquerogostar,porquemefazdoente.

IssomefazcomoDamon.

Começoarespirarmaisforteeapertomeuspunhosemtornodoparapeito,ficandocadavezmaisassustado.Issonãoénormal.

“Euseiquevocêestáaqui”eladiz,olhandoaoredorcomassobrancelhasjuntas.

Masaposiçãoteimosadosseusolhoséforçadaeeulevantoocantodaminhabocaemumsorrisoportrásdamáscara.

Sualongacamisetacinzacaiparaforadeseuombro,eachuvabrilhasobreseupeitoepescoço.AchuvatorrencialatacaMeridianCityláfora,eaestahoradanoiteenestebairro,asruasestãovazias.Ninguémiráouvi-la.Ninguém,provavelmente,aviuentrarnoedifício.

Epelaformacomoelacomeçaarecuarlentamenteparaforadasalaescura,parecequeelaestácomeçandoaperceberisso.

Douumpasso.

Opisorange,eelavirasuacabeçaparaaesquerda,seguindoosom.

Seusolhosfixam-seemmim.Mantendomeuolharsobreela,euandoemdireçãoàsescadas.

“Kai?”Elapergunta.

Porqueéqueelenãoresponde? Ela provavelmente se pergunta. Por que ele está usando suamáscara?Porqueasluzesestãoapagadas?Porcausadatempestade?Oqueestáacontecendo?

Maseunãodigonadaenquantocaminholentamenteemdireçãoaela,suaformabonitaepequenaficandomaisdefinidaquantomaispertoeufico.Fiosdecabelosmolhados,quenãopercebiantes,estãopresosaoseupeito,easargolasdediamantes,queMichaeldeuaelanoúltimoNatal,brilhamemseusouvidos.Osbicosdeseusseioscutucamatravésdesuacamisa.

Seusolhosazuismeolhamcomcautela.“Euseiqueévocê.”

Sorrioportrásdaminhamáscara,seucorporígidotraisuaspalavrasconfiantes.Sabe?

Euacirculo lentamente,prendendo-a,enquantoelapermanece teimosamente imóvel.Temtantacerteza que sou eu? Eu posso não ser Kai, certo? Eu poderia ter acabado de tomar suamáscara. Oucompradoumaigualzinha.

Paroatrásdela,eutentomanterminharespiraçãocalma,apesardamaneiraquemeucoraçãoestábatendo.Eupossosenti-la.Aenergiaentremeupeitoesuascostas.

Eladeveriatersevirado.Eladeveriatersepreparadoparaoperigo,comoeuensineiaela.Elaachaqueistoeraumjogo?

“Parecomisso”elagrita,virandoacabeçaapenasosuficienteparaqueeupossavê-lamoveroslábios.“Issonãoéengraçado.”

Não, não é engraçado.Michael se foi - saiu da cidade nessa noite - eWill está provavelmenteficandobêbadoemalgumlugar.Somosapenasnós.

Epela formacomoomeuestômagomalditoestavavirandoagora,nãoéengraçado,oubom,oucerto,oquantoeuprecisoconstantementemeempurrarsobreabordaparamesentirnocontrolecadavezmais.Nãoébomoquantoeunãoqueroparar.

Euaagarro;envolvomeusbraçosemtornodelaeenterromeunarizemsuaorelha.Seuperfumefazminhaspálpebraspesarem,eouçoseususpiroconformeeuapertomeuabraço,mantendoseucorpo

contraomeu.“Somossónós,PequenoMonstro”rosno.“Assimcomoeuqueroqueseja,etemosanoitetoda.”

“Kai!”Elagrita,puxandocontrameusbraços.

“QueméKai?”

Elasetorce, lutandocontrameuabraçoe lutando.“Euteconheçoagora.Suaaltura,suaforma,seucheiro...”

“Conhece?”Pergunto.“Vocêsabecomoeumesinto,né?”

Eu enterromeu rostomascarado em seu pescoço e aperto os braços em volta dela. Possessivo.Ameaçador.Expiroemumsussurro,“Eusintosua faltacomoumameninadocolegial,Rika.”Eugemo,agindocomoseeuamasseasensaçãodelasecontorcendocontramim.“Vocênãodeunenhumadica.”

Elapara,cadapartedeseucorpocongelandoexcetosuarespiração.Seupeitocedee,emseguida,começaatremerdebaixodosmeusbraços.

Euaatingi.

Alguémpróximoanósdisseexatamenteessaspalavrasumavez,alguémqueaassustou,eagoraela está duvidando se eu sou ou não ele.Damondesapareceu no ano passado, e ele poderia estar emqualquerlugar,certo,Rika?

“Espereimuito tempopor isso,”eudigo,ouvindoo trovãoestalar lá fora.“Tireessamerda.”Eupuxosuacamisaparabaixo,expondoapartesuperiordasuacamiseta,eelasoltaumgrito.“Euquerovê-la, porra.”Ela suspira, afastando-se e atirando os braços contramim.Ela imediatamente dá umpassopara trás, o primeiro contramovimento que lhemostrei quando alguém a agarrasse por trás,mas euafastoomeupédetrás,sabendooqueelaiafazer.

Vamos,Rika!

Eentão,derepente,elacai, todoopesodoseucorpodeslizandoatravésdemeusbraçosdiretoparaochão.

Euquaserio.Elaestápensandorapidamente.Bom.

Maseumantenhoomeuataque.Elasemexeemsuasmãosejoelhos,preparando-separafugir,eeupuloparafrente,agarrando-apelotornozelo.

“Ondevocêpensaqueestáindo?”Euprovoco.

Ela vira e chutaaminhamáscara, e eu recuo, rindo. “Oh,Deus, você serádivertida.Malpossoesperarporra.”

Umgemidoescapaenquantoelasearrastaparatráseempurra-seaseuspésnovamente.Elavira-se,omedogravadoemseurosto,ecomeçaacorreremdireçãoaosvestiários.Provavelmenteváatéasaídanapartedetrásdoedifício.

Corroatrásdela,agarrandosuacamisa,todoomeucorpoemchamas.

Porra.Sintoumagotadesuordeslizarnapartedetrásdomeupescoço.

É só um jogo. Eu não vou machucá-la. É como pega-pega ou esconde-esconde quando éramoscrianças.Sabíamosquenadaderuimaconteceriaquandofossemospegosenãotraríamosnenhumdanoquandoperseguíamos,masomedoirracionalnosanimavadequalquermaneira.Édissoqueeugosto.Sóqueisso.Issonãoéreal.

Viro-a;envolvoumbraçoaoredordela,levantooseujoelhocomaoutramãoealevantodochão.Elaergueooutrojoelho,maseutorçomeusquadrisantesqueseuchutepouseentreasminhaspernas.Lançando-adevolta,jogo-nosnochão,caindoemcimadela.

“Não!” Ela choraminga. Seu corpo exausto debaixo do meu, e eu me forço entre suas pernas,trazendoseuspulsosparacimadacabeçaefixando-oslá.

Ela luta contra o meu agarre, mas seus braços começam a tremer, e sua força começa aenfraquecer.

Eu me acalmo e olho para baixo. Damon e eu temos cabelos e olhos escuros, embora os delefossemquasepretos.

Elanãoseriacapazdedizeradiferençasobomantodaescuridãoquenosrodeia.Maselapodemesentir.

Manipulando-a,obrigando-a,ameaçando-a...assimcomoele.

Eulentamenteinclinominhacabeçacontraoseupeito,pairandoumcentímetroacimadesuapele,eelaparadelutar.

Seupeitoarfacomtantaforça,queparecequeelaestátendoumataquedeasma.

Olho para ela e vejo seu corpo facilmente semoldar aomeu e as suasmãos atadas impotentessobreela;vejo-achorar.Elasabiaqueeraisso.Ninguémparameparar,ninguémparaouvi-lagritar,umloucoemumamáscaraquepoderiamachucá-la,matá-laelevaranoitetodafazendoisso.

Seurostoderepentevacila,eelaquebra,gritandoquandosualutaéengolidapelohorrordoqueestavaacontecendocomela.

Droga. Eu puxo de volta o meu capuz e jogo fora a minhamáscara, furioso. “Você é um bebêporra!” Eu grito, batendo a mão no chão ao lado de sua cabeça. “Tire-me de cima de você!” Eu meaproximodoseurosto."Agora!Vamos!"

Ela rosna; seu rosto ficando vermelho, e ela ergue-se e coloca o braço sobre minha nuca.Espremendo-meemumachavedeestrangulamento,elaestendeaoutramãodebaixodobraçoecravaseudedopolegarnosmeusolhos.

Nãoémuito,mas issome levaa solta-la o tempo suficienteparaqueelamebatana lateral dorosto,equandoeumevolto,elaseergueepegasuabolsa,batendo-anaminhacabeça.

“Ugh!”Euresmungo,arrancando-adesuasmãos.

Masrapidamente,ela ficadepéecorreparaaparede,agarrandoumadasespadasdeKendoeassumindosuapostura,oshinaidebambu2levantadoepronto.

Sento-menomeucalcanharepuxominhamãoparalongedomeurosto,procurandoporsangue.Nada.Deixo escapar um suspiro e levanto os olhos para ela,meu corpo ficando frio conformeomedodeixaseusolhoseésubstituídopelaraiva.

Aadrenalinaaindacorreporminhaspernas,erespirofundoderepente,meucorpodezvezesmaispesadoquandoeuficoempé.

“Eunãogostodeseremboscadaassim!”Elagrita.“Istodeveriaserumespaçoseguro.”Eupisco,corrigindo-acomumolharrepreensivo."Nenhumlugaréseguro."

Euandoemdireçãoàsescadas,tirandomeumoletomenquantosubo.“Vocênãoestáalerta.”Pegoa garrafa de água que tinha deixado junto à janela. "Eu te observei. Você estava concentrada em seutelefonenarua.Evocêmalconseguiamemover.Vocêgastamuitotempoficandoempânico.”

Euenguloaágua, tãosedentodemais,doqueapenaspeloesforço.Muitospensamentos,muitapreocupaçãoeconspiração.Precisodisso.

Senti faltadisso todasaquelasnoites,anosatrás,quandoeu tinhaautorização.Quandoeu tinhaamigoscomquemmeperder.

Seuspassoscaemnasescadas,eeuolhopelajanela,asluzesbrilhantesdeMeridianCitydooutroladodorio,umfortecontrastecomaescuridãodestelado.

“Eujáabsorvitudooquevocêmeensinou”eladiz.“Confieiemvocê,enãoestavalevandoasério.Nomomento,seacontecerdenovo,euvoulidarcomisso.”

“Vocêdeveriaterlidadocomissonestemomento.Esenãofosseeu?Oqueteriaacontecidocomvocê?”

Olhoparaela, vendoseusolhosmagoadosolhandopara forapela janela,earrependimento rolaatravés domeu estômago. Eu odeio ver esse olhar. Rika já tinha passado pormuita coisa, e eu tinhaacabadodesacudi-lanovamente.

“Achoquevocêgostadisso”elarespondecalmamente,aindaolhandoparaforadajanela.“Euachoquevocêgostadisso.”Meucoraçãopulaumabatida,eeumeviropara longedela,seguindoseuolharpelajanela.

“Segostasse,nãoteriaparado.”

Ela olha paramim, e eu ouço um carro passando lá embaixo, seus pneus patinando através dachuva.“Sabe,euteobservei,também,”elamediz.“Vocêestáquieto,ninguémconsegueverondevocêcomeoudorme…"

Eutorçoa tampadagarrafadeágua,orecipienteplásticoestalanomeupunho.Seidoqueelaestafalando.Seiqueestoudistante.

Maseutinhaquemantertudosobcontroleouarriscarqueascoisaserradasescorregassempara

fora.Émelhorassim.Eestápiorrecentemente.Tudoestafodido.ElaeMichaelestãotãoconsumidosumcomooutro,eWillestásóbrioapenasalgumashoraspordia.Eutenhoficadoporminhacontamaisdoquenunca.“Vocêécomoumamáquina.”Eladáumlongosuspiro.“NãocomoDamon.Vocêéilegível.”Elapausa.“Excetoagora.Excetoquandovocêestávestindosuamáscara.Vocêgosta,nãoé?Éaúnicavezquetevejosentiralgumacoisa.”

Viroacabeça,suavizandoosmeusolhos.“Vocênãoestácomigootempotodo,”brinco.

Euseguroseusolhosporummomento,ambossabemosexatamentedoqueeuestavafalando.Elanãomeviucommulheres,eumblushleveatravessaseurosto.Elamedáummeiosorriso,abandonandosualinhadequestionamento.

Limpoagarganta,seguindoemfrente.“Vocêprecisatrabalharemseuscontra-ataques”digoaela.“Easuavelocidade.Sevocêpara,vocêdáaoagressorachancedetesegurar.”

“Eusabiaqueestavaseguracomvocê.”

“Vocênãosabia”respondocomfirmeza.“Sempreassumaoperigo.SequalqueroutrapessoaalémdeMichaelagarrá-la,elesrecebemoquemerecemdequalquermaneira.”

Elacruzaosbraçossobreopeito,epossosentirsuairritação.Euentendoisso.Elanãoquerviversempreemguarda.Maselamalestátomandoprecauçõesbásicasdesegurança,enãohálimiteparaoquantoelavailamentarseaproveitaraschanceserradas.Michaelnãoestásempreporperto.

Masquandoeleestáporperto,pelomenoseleestácomela.Faziasemanasqueeunãofalavacomele.

“Comoeleestá?”Perguntoaela.

Elareviraosolhos,eeupossodizerqueoclimaestámudandoparaalgomaisleve.“ElequervoarparaoRioouparaalgumoutrolugar,paracasar.”

“Achei que ambos tinham decidido esperar até depois que você terminasse a faculdade.” Elabalançaacabeça,suspirando.“Sim,eupenseiissotambém.”

Apertoosolhossobreela.Então,oqueestáacontecendo?

OspaisdeMichaeleRikaesperamumcasamentoemThunderBay,e, tantoquanto sei, ocasalestavabemcomisso.Naverdade,Michaeltinhasidomuitoinflexívelsobrefazerumgrandealaridodisso.Elequeriavê-laemumvestido,andandopelocorredoremdireçãoaele.Elecresceupensandoqueelairiasecasarcomseuirmão,afinal.Elepretendiamostraratodosqueelaerasua.

Eentãoissomeatinge.

Damon.

“EleestácommedodequeumcasamentocompompaecircunstânciaváatrairDamondevolta,”adivinho.

Rikaconcordanovamente,aindaolhandoparaforadajanela.“Eleachaquesenoscasarmos,nadaderuimvaiacontecercomigo.Quantoantes,melhor."

“Eleestácerto,”digoaela.“Umcasamento-centenasdepessoas,Willeeuaoseulado–oegodeDamonnãopoderiaaguentar.Elenãoficarialonge.”

“Ninguémviuououviufalardeleemumano.”

Flexiono minha mandíbula, antecipação rola através do meu estômago. “Sim, isso é o que meassusta.”

Umanoatrás,DamonqueriaqueRikasofressede forma inimaginável.Todosnósqueríamos,naverdade,masDamonfoiumpoucoalém,equandonósnãoficamosaoladodele,todosnostornamosseusinimigos.Elenosatacou;machucou-a,eajudouoirmãodeMichael,Trevor,atentarmatá-la.Michaelfoiinteligente em assumir que a raiva de Damon provavelmente não havia se dissipado. Se soubéssemosonde ele estava, isso seria uma coisa, mas os detetives que contratamos para encontrá-lo emanter ocontrolesobreoseuparadeiro,nãotinhamsidocapazesdelocalizá-lo.

OqueexplicaporqueMichaelquertomarmedidasparamanterRikalongedosholofotes,comoumcasamentograndiosoemnossaafluentecidadenatal,àbeira-marpoderiacolocá-la.

“Vocênãoseimportacomumgrandecasamento,”eualembro.“VocêsóquerMichael.Porquenãoirparalongeefazê-locomoelequer?”

Ela ficaemsilêncioporalguns instantese,emseguida, falaemvozbaixa,comosolhosemumlugar distante. “Não.” Ela balança a cabeça. “Logo atrás de St. Killian, onde termina a floresta e as

falésias dão lugar ao mar. Sob o céu da meia-noite...” ela assente com a cabeça, um belo sorrisomelancólicotocaseuslábios.“ÉondevoumecasarcomMichael.”

Estudo-a, pensando sobre aquele olhar distante e sonhador em seus olhos.Como se ela sempresoubequeiriasecasarcomMichaelCristetivesseimaginadoissoemsuacabeçaavidatoda.

“Oqueéesseedifício?”Rikapergunta,empurrandooqueixo,apontandoparaforadajanela.

Sigoseuolhar,maseunãotenhoqueolharparasaberdequaledifícioelafalou.Escolhiestelocalparaseronossodojoporumarazão.

Olhandoparaforadovidro,euvejooprédiodooutroladodarua,cercadetrintaandaresmaisaltodoqueonosso,apedracinzentaescurecidapelachuvaeasluzesdaruaquebradas.

“ThePope”respondo.“Foiumbomhotelháalgunsanos.Aindaé,naverdade.”

ThePopetinhasidoabandonadoporváriosanosetinhasidoconstruídoquandosefalavadeumestádio de futebol que estaria sendo construído aqui, como uma forma de trazer mais turismo paraMeridianCity.E foiuma formaderevitalizarWhitehall,emresumo,odistritourbanoemqueagoraseencontrava.

Infelizmente,oestádionuncafoiconstruído,eThePopedecaiudepoisdelutarparapermanecernonegócio.

Olhoparaas janelasescuras,assombrasdascortinaspoucovisíveis,dentrodeumacentenadequartosqueagoraestãoquietosevazios.Édifícilpensarqueumlugartãograndenãotemmaisumpingodevida.Impossível,naverdade.Meusolhosdesconfiadosobservamcadacantoescuro,meusolhossómelevamalgunscentímetrosparadentrodasalaantesqueaescuridãoconsumaoresto.

“Parecequealguémestánosobservando.”

“Eusei”concordo,examinandocadajanela,umaapósaoutra.

Vejo-atremercomocantodomeuolhoepegomeumoletom,entregandoaela.

Elaopega,dando-meumsorrisoquandoelaseviraparavoltaradescerasescadas."Estáficandofrio.Eunãopossoacreditarqueoutubrochegou.Devil'sNightestaráaquiembreve,“elacantaacanção,parecendoanimada.

Eubalançoacabeçaeasigo.

Mas,quandoeu lançomaisumolharparatrás,calafriosseespalhampelomeucorpo,pensandosobreoscemquartosassombradosevagos,nohotelabandonadodooutroladodarua.

EnaDevil'sNight,tantotempoatrás,quandoomenino,queeucostumavaser,caçouumamenina,quepoderiasercomoRika,emumlugarquesópodeseromesmohotelescurodoladodeforadajanela.

Masaocontráriodehojeànoite,elenãoparou.

Elefezalgoquenãodeveriaterfeito.

Desço as escadas, centímetros atrás de Rika e combino meus passos com os seus, no exatomomentoqueolhoparaapartedetrásdeseucabelo.

Elanãopercebequeoperigoestámuitopróximodela.

Capítulo2Kai

Devil’sNight

Seisanosatrás

Devil’sNight3.Eraisso.

Nossaúltima.

Iríamosnos formaremmaiopróximo,eumavezquenósquatro fossemosparaa faculdade,nãoestaríamosemcasaamenosque fosseparao invernoouparaas fériasdeverão.Eaté lá, estaríamosmuito velhos para isso. Nós não teríamos a desculpa da juventude para explicar por que escolhemoscelebrar a noite antes do Halloween, entregando-nos as brincadeiras e outras peripécias infantis, pornenhumaoutra razãoalémdoqueparacriarumpequeno inferno.Seríamoshomens.Nãoseriaaceito,certo?

Então,estanoiteseriaisso.Ofinal.

Eubatoaportadocarroeatravessooestacionamento,passodoBMWdeDamon,evouemdireçãoa entrada traseira da catedral. Abrindo a porta, entro na área da recepção, que consiste de algumasmesas,umacozinha,algunssofáseumamesadecafécheiadepanfletossobreComorezarorosárioeJejuardeumaformasaudável.

Eu inspiro profundamente, o sempre presente cheiro de incenso enchendo os corredoressilenciosos.Eueracatólicopornascimento,comomeuamigoDamon,masnaprática,éramoscatólicosdamesma forma que Taco Bell era um restaurantemexicano. Eu joguei junto comminhamãe, enquantoDamonjogoujuntocomadiversão.

Eucaminhoparaocorredordanavedaigreja,masumbaqueforteperfuraosilêncio,eeuparo,olhandoemvolta,procurandodeondeeleveio.Sooucomoumlivrocaindosobreumamesa.

Éumamanhãdesexta-feira.Nãohámuitaspessoasaqui,emborahouvesseprovavelmentealgunsretardatáriosajoelhadosnosbancoseorandosuapenitência,jáqueaconfissãotinhaacabadohápouco.

“O que nós discutimos ontem?” Eu ouço a voz forte do Padre Beir de algum lugar a minhaesquerda.

“Eunãomelembro,Padre.”

Sorriparamimmesmo.Damon.

Virando à esquerda, eu piso silenciosamente em outro corredor de mármore, arrastando meusdedossobreospainéisdemognobrilhantenasparedesetentandoreteromeuriso.

ParandopoucoantesdaportaabertadoescritóriodoPadre,euficoparatráseouço.OtomsuaveecalmodeDamonrespondeaBeircomoseseguindoumroteiro.

“Vocêéimpenitenteeirresponsável.”

"Sim,Padre."

Meupeitotreme.AspalavrasdeDamonestavamsempreemcompletacontradiçãoemcomoelassoavamaosairdesuaboca.Sim,Padre,comoseconcordassecompletamentequetinhasecomportadomal,enquantoaomesmotempoSim,Padre,nãoestáorgulhosodemim?

Amaioriadenóssereconciliavanosconfessionáriosforadanave,masDamon-apósmuitosanosde“redirecionamento” fracassadodeseupaieseupadre - foiobrigadoaser instruídocaraacaranassessõesdeaconselhamentosemanais.

Elegostava,porra.Eletinhaprazeremserodiabodealguém.

Torcendominhacabeça,euespreitoparadentrodasala,vendoosacerdotecaminharaoredordamesa,enquantoDamonestáajoelhadonoúnicobanco,grande,comaBíbliapretadeBeirnasuafrente.

“Vocêquerserjulgado?”Opadrepergunta.

“Todosnósseremosjulgados.”

“Issonãoéoqueeuteensinei.”

AcabeçadeDamonestásuficientementeabaixadaparaqueoseucabelopretoestejapenduradosobreosolhos,maseupossoverasombradeumsorriso,queBeirprovavelmentenãopode.Eleusaonossouniformeescolar,calçascáquicomoseuenrugadotípico,Oxfordbranco,punhosdesabotoados,euma gravata azul e verde pendurado no pescoço. Nós estávamos no caminho para a escola, mas elepareciaqueesteveemsuasroupasdurantetodaanoite.

Derepente,eleviraacabeçaparamim,evejocomoeleprojetasualíngua,movendo-adeladoaladosugestivamenteesorrindocomoumidiota.

Curvo-meemumrisosilencioso,sorrindoparaeleebalançandoacabeça.

Idiota.

Afastando-me, eu caminho de volta pelo corredor, em direção à igreja, deixando Damon paraterminarasua“lição.”

Hámuita coisa que eu amo sobre este lugar,mas ser ensinadodesse jeito não é umadelas.Asmissasmeentediam,aescoladominicalémonótona,muitosdossacerdotessãodistantese frios,eporissomuitosdosparoquianossãomausunscomosoutrosdesegundaasábadoe,derepente,mudamsuasmúsicasdasdezàsonzehorasnasmanhãsdedomingo.Étudoumamentira.

Maseugostodaigreja.Ésilencioso.Evocêpodeficarquietoaqui,semaexpectativadeinteraçõesforçadas.

Descendo o corredor, em direção à parte de traz, eu visualizo os quatro confessionários,certificando-meseasluzesestãoacesas,oquesinalizaqueumpadreestádentro.Jáqueelesestãotodosvazios,desçoparaaextremadireita,escolhooúltimo,parcialmenteescondidoatrásdeumacolunaeamaispróximodasjanelasdevidrocolorido.

Eupuxoacortinaparatráseentronocubículoescuro,fechandoacortinanovamente.Ocheirodemadeiravelhamecerca,masnãoháoutracoisaqueeunotovagamente.Umasugestãodeestardoladodefora.Noventoenaágua.

Sentandonacadeirademadeira,olhoparafrenteparaateladevimeescurecidanaminhafrente,sabendo que o outro lado está vazio. Os sacerdotes tinham ido para suas outras tarefas diárias.Exatamentecomoeugosto.Eusemprefizissosozinho.

Inclino-me,meuscotovelossobreosjoelhos,eapertominhasmãosjuntas.Osmúsculosdosmeusbraçosqueimamcomaflexãoinvoluntária.

“Perdoe-me,Padre,porquepequei”eudigoemvozbaixa.“Passou-seummêsdesdeaminhaúltimaconfissão.”

Enguloemseco,sempremaisconscientedequequandoumsacerdotenãoestavameouvindo,euestava.E,acrediteounão,àsvezeseramaisdifícil.Ninguémparameofereceroperdão,alémdemimmesmo.

“Euseiquevocênãoestáaí”digoaoarvaziodooutro lado. “Euseiqueeu tenho feito issohámuitotempo,paracontinuarainventardesculpas,mas...”façoumapausa,procurandoaspalavras.“Masàsvezeseusópossofalarquandoninguémestáescutando.”

Euinspiroprofundamente,minhacascacaindo.

“Eusóprecisodizerascoisasemvozalta,euacho.”Mesmoseeunãotiverapenitênciabarataquenãofaznadaparaabsorveraculpa.

Eurespiroocheirodeáguaedovento,semsaberdeondeeleestavindo,masissomefezsentircomoseestivesseemumacaverna.Asalvodeolhoseouvidos.

“Eu não preciso de você. Só preciso deste lugar,” admito. “O que há de errado comigo, que eugostodeesconder?Quegostodosmeussegredos?”

NãopossoimaginarqueDamontenhaalgumsegredo.Elenãosegabadeseusatossujos,maselenuncaesconde,tampouco.Will,ooutromembrodanossamatilha,nãofaznadasemavisar,assimalguémestasemprecientedoqueeleestafazendo.

EMichael - nosso capitão de equipe, e aquele de quem eu sou mais próximo, esconde apenasdaquelesemtornodele,oqueescondedesimesmo.

Maseu...seiquemsou.Eeufizumesforçoconcentradoparanuncadeixarninguémvê-lo.

“Eugostodementirparaosmeuspais,”quasesussurro.“Eugostoqueelesnãosaibamoqueeufizontemànoiteounasemanapassadaouoquevou fazerestanoite.Gostoqueninguémsaibacomogosto de estar sozinho. Como gosto de lutar, e que eu gosto dos quartos privados nos clubes...” paro,perdidoempensamentos, lembrandodomêspassado,desdeaminhaúltimaconfissãoetodasasnoitesquemeperdi.

“Eugostoqueosmeusamigossejamruinsparamim”digo,continuando.“Eeugostodeassistir.”Envolvoumpunhodentrodooutro,forçandoaspalavras.

“Gosto de observar as pessoas. Algo novo que descobri sobre mimmesmo.” Corro a mão pelocabelo,sentindoasextremidadesásperascomgel.“Quererestarneles,parasentiroqueestãosentindo,équasemaisquentedoquerealmenteserumapartedisso.”Euolhoparaa telaescura,vendoapenasuma pequena parte dela deixada aberta. “E eu gosto de escondê-lo. Não quero quemeus amigosmeconheçamtãobemquantoelespensamquefazem.Eunãoseiporquê.”Balançoacabeça,pensando.“Háalgumascoisasquesãomaisemocionantesquandosãoumsegredo.”

Abaixandomeusolhos,eususpiro.“Maspormaisqueeunãoqueiraservisto,ésolitário,também.Nãohánenhumaconexão.”

Oquenãoerainteiramenteverdadesevocêvissepeloladodefora.Michael,Will,Damon...éramoscortes do mesmo pano, de certa forma. Todos nós amávamos o passeio selvagem e adorávamos aadrenalinaquesóvinhadefazerqualquercoisaquenãodeveríamosfazer.

Maseu?Eugostodaminhaprivacidade.Maisdoqueeles.

Egostodascoisassórdidas.Tantoquantoeles.

Eu empurro a vergonha para longe, voltando. “Então, de qualquermaneira, euminto. O tempotodo.Muitasvezesparacontar.”Paratodos.“Eutambémtenhoressentimentodomeupai,namaioriadasvezes.EutomeionomedoSenhoremvãocercadecincocentenasdevezesnomêspassado,etivesexopré-maritalparaquebraramonotoniadecadaminutodevigíliaconsumidocompensamentosimpuros.”Eubalançominhacabeça,rindodemimmesmo.“Penitêncianãovaimefazerparar,enãotenhonenhumaintençãodemudar,então...”

Éporissoqueconfessaraumpadrenãomefazbem.Novamente,eugostodefazertudooqueeufaçodeerrado.Masébomadmitirisso.Pelomenoseuconfesso,certo?Pelomenosseiqueestoufazendocoisasquenãodeveria,eissoéalgo.

Fechandoosolhos,inclino-mecontraaparedeerespironosilêncio.

Foda-me,eunãopossoesperarporestanoite.Pensarsobreascatacumbasouocemitérioouondequerqueacabemos,meenchedenecessidade.Minhamáscara,omedo,aperseguição...enguloocaroçonaminhagarganta,sentindoocalordomeucorposubir.

A calmaria da fonte na parte de trás da igreja pinga suavemente, e ouço o eco de uma tosse adistância.Eunãoseioquevoufazerprimeiro:quebraralgumacoisa,meenroscarcomalguém,oulutar;maseuqueriaoquequerfosseagora,enãoestáescuroainda.Estanoiteéodestaquedomeuano.

“Háumahistória...”umavozdizderepente,mesacudindo.

Euabromeusolhos,emeucoraçãocainomeuestômago,porra.Oque…?

“Quediabos?”Eumesintoexplodiremesento."Quemévocê?"

Avozfemininaveiodealgumlugarperto.

Comoooutroladodomalditoconfessionário.

Eusaltodacadeira,aspernasguinchandocontraochãodemármore.

“Não,porfavor,não”elaimplora,provavelmentesabendoqueestouprestesaabriraportaparaacâmaradopadre,dooutrolado.“Eunãoqueriaouvir,masjáestavaaqui,evocêcomeçouafalar.Nãovoudizerqualquercoisa."

Elaparecejovem,talvezdaminhaidade,enervoso.Ficoolhandoparaatela,suavozacentímetrosdedistância.

“Vocêesteveaíesse tempo todo?”Rosno;minhacabeçaumturbilhãocomtodaamerdaqueeuacabeidedizer.

"Queinferno?Quemévocê?"

Abroaminhacortina,masentãoeuouçoagradedoseuladodopainelseabrirtoda,eseupedido,

“Porfavor”elasussurra.“Euquerofalarcomvocê,enãoposso,sevocêmever.Apenasmedêumminuto.Apenasumminuto."

Paro,travandomeuqueixo.Quediaboselaestavafazendoali?Elasabequemeusou?

“Vocêpodemever”eladiz.“Apenasmedêumminuto.”

Algosobresuavozéfrágil.Comoseelafosseumvasooscilandoàbeiradeumamesadecafé.Euficocongeladoporumminuto,debatendosedevoounãodeixaraminhacuriosidadepuxaroseuraboparaforadasalaouentrarnela.

OK.Apenasumminuto,então.

“Háumahistória”elacomeçadenovoquandoeunãomemovoparalonge“sobreThePopeHotelemMeridianCity.Conheceolugar?”

Euolhoparaatela,malvendoseucontornonoescuro.

ThePope?Aqueledesperdíciodemilhõesdedólaresnoladoruimdorio?

Fechoacortina,tomandoomeulugarnovamente."Quemévocê?"

“Há um rumor sobre o décimo segundo andar” ela continua, ignorando aminha pergunta. “Eleexiste,masninguémpodechegaratéele.Vocêjáouviuessahistória?”

Eumeinclinoapenasumpoucoparatrás,meucorpoaindarígidoeemguarda."Não."

“HárumoresdequeafamíliaquepossuioThePopeconstruiuumdécimosegundoandaremcadahotelqueconstruiu.Parausopessoaldafamília,”elamediz.“Oandarinteiroéasuaresidênciaquandoeles estão em uma determinada cidade em um dos seus hotéis. É inacessível para os hóspedes, noentanto.Oelevadornãoparanoandar,equandofoi investigado,nãohánemmesmoapossibilidadedoelevadorpararlá.Opisoéconfinado.”Suavozatenua,enotoumtoquedeemoçãoemsuaspalavras.“Eoacessodaescadatambém.”

“Então,comoafamíliachegaaoseuandarsecretoquandoquerementrar?”

“Bem,essaéaquestão,nãoé?”Elapergunta.“Esseéosegredo.Durantemuitotempo,aspessoasachavamqueeraapenasalgummistériopromovidopelosproprietáriose funcionáriosparaaumentarofascíniodohotel.”Elafazumapausa,eeupossoouvi-lainspirar.“Mas,então,convidadoscomeçaramanotá-la.”

"Notá-la?"

“Umamulher-dançando”elaresponde.

“Dançando”eurepito,derepenteumpoucomaisinteressado.

Umpisosecreto?Umaentradasecreta?Umagarotafantasma?

Eusintoquandoelabalançaacabeça,masnãopossotercerteza.“Depoisdameia-noite,quandoquasetodososhóspedesestãoescondidosemseusquartoseohotelestácalmoeescuro,elesdizemquevocêpodevê-la...”elaquasesussurra,eeupossoouvirosorrisoemsuavoz.“Dançandosozinha,comoumabailarina,nosalãoescuroiluminadopeloluar.Dançandoumacançãodeninarassombrada.”

Euvejoseuslábiossemoverem,escondidos,emsuamaiorparte,nasombra,maseupossoverocontorno.

“Outrahistóriafaladeumabailarinadançandonavarandadodécimosegundoandar,também,”elacontinua. “Eles podiam vê-la das janelas superiores. A chuva leve brilha, quando reflete as luzes dacidade,dançandocomelaenquantoelagiraepulanoar.Históriasforamadicionadasaolongodosanos,apariçõeseperguntas...umameninaquenuncafezcheck-inenuncafezcheck-out,escondendo-sedediaedançandoanoite.”Eentãosuavozcaiparaumsussurro,fazendocomqueocabeloemmeusbraçosselevante.“Sempresozinha,sempreseescondendo.”

Nãopodiaserverdade,maseumeioquequeriaacreditarqueera.Eracomoumacaçaaotesouro,nãoera?Umamenina,ocultadomundo,seescondendo.Bemdebaixodonarizdetodos.

“Porquevocêestámecontandoessahistória?”

“Porqueelaaindaestálá”,elaresponde.“Escondidanoandarsecreto.Sozinha.Pelomenoséissoqueeugostodeacreditar.Segredosemistériosfazemavidadivertida,nãoé?”

Eusorrioparamimmesmo,inclinando-meparafrenteedescansandooscotovelossobreosjoelhosnovamente."Sim."

Seus dedos sobem para a tela, e eu finalmente vejo um pedaço dela. Suamãomagra, dedos e

unhascurtas.

“Eugostodosseussegredos.”Elaparecesemfôlego.“Equemvocêrealmenteestáprejudicando,mantendo-os?Certo?"

Oventoeaáguamecercam,eeupercebodeondeocheirotinhavindo.Euatinhacheirado,logoqueentreinoconfessionário.Elajáestavaaqui.

“Vocêescutaconfissõesdeoutraspessoas,muitasvezes?”Pergunto,umtantodivertido.

"Àsvezes."

Suarespostaétãorápida,queeunãopodiadeixardeadmirá-la.Eugosteiqueelasesentissetãoàvontadesendohonesta,eeumeioqueesperavaquefosseporminhacausa.

“Eumintotambém,”elaoferece.

"Paraquem?"

“Paraaminhafamília”eladiz.“Eumintoparaelesotempotodo.”

“Sobreoquevocêmenteparaeles?”

“Qualquercoisaqueeupreciseparamantê-losfelizes.Digo-lhesqueestoubemquandonãoestou.Euvejominhamãe,enãodeveria.Eumintosobreaminhalutaparaserfiel.”

“Éimportanteesconderaverdadedeles?”

“Tãonecessário comoodesejodelesde conhecer cadapassomeu, sim.”Osdedosdela flutuamparabaixodatela,suasunhasmalaraspando.“Elesaindamevêemcomoumacriança.Incapaz."

“Parecequevocêpodeser,”eumedito.“Jovem,euquerodizer.”

Azombariaescapadeseuslábios,medesafiando.“Eueravelhaaosseisanos.Vocêpodeentendercomoissosoa?”

Apertoosolhos,tentandoentendê-la.Suavoz,tudooqueeladisse,queelaera...velhaaosseis.Elacresceumuitocedo.Issoéoqueelaqueriadizer.

Recostando-medenovo,euobservoaformaescurasemexerdooutroladodatela.Euqueriavê-la,maseunãoqueriaparardefalar,também.Aindanão.

Eladissequenãopodiafalarcomigoseeuavisse.Seráqueeuaconheço,então?

“Somos sempre bons, porque existem consequências” digo a ela. “Leve-os para longe, e todomundomostraseuverdadeiroeu.Écomotiraramáscara.”

“Ou colocar uma” ela responde. “Afinal de contas, nãohá liberdadena clandestinidade, não é?”Sim,euacho-

“Vocêgostadasensaçãodeumamáscara?”Elacantarola,mudandodeassunto.

Foi inesperado, emeu coração pula uma batida. “Por que você estáme perguntando isso?” Elasabequemeusou,nãoé?ElasabequeéaDevil’sNight.

“Eugostodasensação”eladiz.“Comoestacortinaeaescuridão.Elassãotiposdemáscaras,nãosão?”

Maisoumenos.

“Eupoderiaserqualqueruma.”Suavozfrágilsuaviza,ficandobrincalhona.“Eupoderiaserumagarota com quem você cresceu. Um colega de classe. A irmãzinha de alguém. A garota que vocêcostumavatomarcontaquandovocêtinhadezesseisanos...”

Oscantosdosmeuslábiosselevantam,eeualimentoaideia.Emboraeunãoreconheçasuavoz,oque não significa que eu não a conheça. Ela pode ser umamenina por quem passo todos os dias noscorredores.Alguémqueeununcadeiumsegundoolhar.Ouelapodeseranamoradadeumamigooudeumadasfilhasdojardineiro.Quemsabe?

“Evocêpoderiaserqualquerum,também”,elapondera.“Namoradodeumaamiga,umprofessorporquemeutenhoumaqueda,ouumdosamigosdemeupai.Vocêpoderiamedizerqualquercoisa.Eupoderiadizerqualquercoisaparavocê.Enãohánenhumconstrangimento,porquenuncateremosqueenfrentarumaooutro.Nãosenãoquisermos.”

Inclino-memaisumavez,tentandorespirarmaisdeseuperfume.

Euquerovê-la.Definitivamentetenhoquevê-la.

“Euvoumanterseussegredos,”digoaela."Nãoimportaquemvocêseja."

“Vocêéumdosmeussegredos,”elaatiradevolta.“Estoutentandoteroubar,masgostariaqueeunãoquisesse.”

“Oquesignificaisso?”Roubar-me?

“Então,oquevocêgostadeassistir?”Elapergunta.

“Huh?” Ela muda de assunto novamente. Ela está se movendo a mil por hora, e estou tendodificuldadeparaacompanhar.

“Emsuaconfissão,vocêdissequegostadeassistir.Assistiroque?"

Mordo o canto da minha boca, hesitante. “Acho que você sabe”, eu respondo, prendendo.“Descubraisso,mocinha.”

Elaripelaprimeiravez.Essesomperfeito,inocente,eminhasmãoscantarolamcomavontadedetocá-la,derepente.

“Eseeugostardeassistir,também?”Elabrinca.“Mostre-mecomsuaspalavras.”

“Eunãoposso.”Olhoparabaixo,envergonhado,apesardemimmesmo.

“Porfavor”,elaperguntadenovo,suavozcaindoparaumsussurro,eeujuroquepossosentirocalordesuarespiraçãonomeurosto."Falecomigo.Diga-meoquevocênãocontaaninguém.”

Eubalançoacabeça,lutando.Ojeitoqueelafala...àsvezeseracomoumamulher,montandomeucolocomoslábiosacentímetrosdomeu.

Masagora,eracomoumamenina,desesperadaporumdeleite.

“Quandofoisuaúltimaconfissão,pequena?”Eucutuco,avançandoaindamaisemseuterritório.

“Eununcafizuma.”

“Vocênãoécatólica?”

"Não."

Entãoporqueelaestáaqui?

Mas,novamente,porqueelaestánacâmaradopadre,também?“Vocêéumpoucomisteriosa,nãoé?”Pergunto,nãoesperandoumaresposta.

"Vamos.Oquevocêgostadeassistir?”Elarepete,meempurrando.

Abroaboca,massóacabodeixandoescaparumsuspiro.

Jesus.Oqueeugostodeassistir?Nãopossodizerissoaela.Porra.

Fechoosolhos.Euprecisosair.Eseelameconhece?Esefrequentoaescolacomela?Eseelaéalguémdequemgosto?Elanãoquersaberdessamerda.

Mas,comoseelasoubesseomeumedo,elamediz:“Nãotenhamedo.Eujáestouimaginandoopior,eaindaestouaqui,certo?”

Eubalanço a cabeça, sentindo-meestúpido,mas rio dequalquermaneira. “Eugosto...”Corro amão pelo meu rosto. “Um dos meus amigos teve uma garota na sala de imprensa neste verão” digo,começandodenovo.“Jáeratarde,estávamostodosmuitoacesos,eoclimaestavaficandoaquecido.Elecomeçouabeijá-laesenti-la,nadaqueeunãotenhavistoantes,maselaolhouparamim,provavelmenteesperandoqueeuparticipasse,mas...”

Eu inspiroprofundamente.Nãosintoqueestouasalvonomomento.Eunãosintoqueestoumeescondendonestefodidoconfessionárioescuro,comumatelaentremimeessagarotaqueeupossoounãopossoconhecer.Eudevocalaraboca.

Maspartedemimnãoquer.Cadapalavratrouxe-memaispertodaborda.Maispertodecair.Euquerocair.

Eu continuo. “Algomemanteve enraizadonomeu lugarnestemomento.Não conseguia tirar osolhosdela,masnãopodiamover-me,também.”

Ameninadooutroladopermanecequieta,masseiqueelaaindaestálá.

“Eu não queriamemover”, confesso. “E ela não conseguia tirar os olhos demim, também. Elamontounele,fodeucomele,masseusolhosestavamemmimotempotodo.”

Fechoosolhosporummomento,lembrando-medavisãodesuamoagemsobreele.Maseratudoparamim.

Tudooqueelafezfoicontinuarmeassistindo.Euacontrolei.

“Eupodiaverseupeitosemovendomaisrápidocomsuarespiração,osuoremseupescoço,seusolhosnervosos...elanãosabiaoqueeuiafazer.Elanãosabiaseeugostavadoqueestavavendoouseiriaatacaraqualquermomento.Elaestavaassustada.Eexcitada.”

“Elanãotinhaideiadoqueeuestavapensando.Comogostavadoqueelaestavafazendocomigosemcolocaramãoemmim.Eunãoestavamecomunicandocomasmãosouaboca,apenasosmeusolhosportodooseucorpo,eadeixavaloucanãosaber.Deus,elaadorou.”

“Eletransoucomela”,eudigo,“maseufuiapessoaqueafezgozar.”

Percebiqueminhascalçasestavammaisapertadas,emeabaixeiparameajustar,grunhindosobaminharespiraçãocomador.

“Sórdido,certo?”Digo.“Nojento,desprezível,vil...”

“Sim.”Masouçoumsorrisonasuavoz.“Então,oquevocêfazsobreisso?”

“Oquevocêquerdizer?”

As pontas dos seus dedos pressionam contra a tela novamente. “Você deve ter ficado excitadodepoisdisso.Oquevocêfez?"

Euseguromeurisonervoso.Elanãoperdeumabatida,nãoé?“Vocêestámeesfolandovivoagora,garota."

Umarisadaofeganteescapadela,eeuquasepodiaperceberseuslábiospertodatela.

“Quantosanosvocêtem?”Pergunto.

“Idadesuficienteparatervistoeouvidopior”elaresponde."Nãosepreocupe.Agoraoquevocêfezdepoisdisso?”

“Eunãoposso...”respiro.“Eunãofiz...eunãofiznada.”

Maselaespera.Elasabequeeuestoumentindo.

Lambooslábiossecos,deixandoaminhavozcairtanto,queeunãoseiseelapodemeouvir.“Eunãoespereiosmeusamigosparamelevantaresairdecarroparairbuscarcomida”digoaela.“Enãoespereiameninasearrastarpelocorredoratéobanheiroouqueelaentrassenochuveiro.Eunãoaseguioudesligueiasluzes,assustando-a...”

Amemóriadeseususpirosoaemmeusouvidos,eomundo inclinanaminhafrente.Obanheiroescuro,acortinadochuveirobalançando,ovaporquejápodiasentirocheiro...

“Estátudobem,”GarotaMisteriosadizquandoeupermaneçoquieto.

“Nãogosteideassustá-laoufazê-lagritar.”Eucerroosdentes,deixandoacabeçacairnaminhamão.“Ousubiemseuchuveiroeaarrasteieasentidesmoronaremminhasmãos...”

Meusdedosdeslizampelomeucabelo,vergonhaqueimameurosto,mastambémumpesolevantademeusombros.Seessagarotanãocorrer,entãotalvezeunãofossetãoruim,certo?

Certo?

“Enãoameicadasegundodentrodeseucorpoapertado”

“Não,não”elainsiste,meparando.“Nãodigamais.Porfavor."

Eulevantominhacabeça,minhasentranhasencolhendo.“Estouteassustando.”

"Não."

"Mentirosa."

“Sim”elafinalmentediz.“Sim,vocêmeassusta.Maseugosto.Eusó...”

“Sóoque?’

“Eusóestou...”elafezumapausa,respirandodeformairregular.“Sóestoucomciúmes.”

“Porquê?”

“Porquevocêacaçou.”Suatestapálida inclina-secontraatela,eeupegoalgunsfiosdecabelo

abundante e escuro. “Talvez eu não devesse deixar vocême ver ainda. Talvez eu devesse deixá-lomecaçar,também.Parecequevocêébomnoquefaz.”

Eumeinclinoparatrás,umsorrisopuxandomeuslábios.Eujánãoestouenvergonhado.Mantendomeusolhosnela,puxoasminhaschavesdomeubolsoecolocoaafiada,domeucarro,emumdosburacosdateladevime.Antesqueelatenhatempodeirparatrás,eupuxoachaveparabaixo,arrancandoumafendanatela,eempurrominhamãoatravésdela,pegandosuacamisanomeupunhoenquantoelatentaescapar.Puxo-aparafrenteeinclino-me,sentindooventoemsuapeleesentindooquãopequenaeleveelaé.Eumalflexionoummúsculo,segurando-a.

“Oquefazvocêpensarqueeunãotenhafeitoissoessetempotodo?”Euprovoco.“Vocêachaqueessapequenahistóriaéamaisimpertinentequepossoter?Devotecontarsobreoúltimoverãoecomocaceiaminhaex-babáumanoitequeestavaemcasadefériasdafaculdadedemedicina?Elagostoudecomoeucresci.”

Elainspiraforte,inspiraçõesrasas,esuasmãosvemparacima,apertandoaminha."Sim."

Aperto os olhos, soltando seumoletom e, em vez disso, levanto amão para seu rosto. Nomeutoque,elatreme,masnãorecua.

Apelelisaparececomoaáguaquandoeuroçomeusdedossobresuamandíbulaafiadaeatésuabochecha.Eumergulhopor seu lóbulodelicadoeemseucabelo,decifroa suavidadeeocomprimentoescondido.Tecidoroçaapalmadaminhamão,eperceboqueelaestáusandoumcapuz.

Seucabeloestáescondidoatrásdela,etudoestáfrio.Seurosto,asmãos,oscabelos...mesmosuaorelhapareceumpingentedegelo.

“Vocêestátãofria”digo.

Maselaviraorostonaminhamão,seuhálitoquentecaindoemminhapalma.“Eunãoestoucomfrio.”

Seus lábiosmal tocamminhamão, e quero ir para frente alguns centímetros para chegarmaispertoe tocá-los,masnãoo faço.Elanãoestá seafastandodemim,eeuqueroprolongar isto.Deslizominhamão em tornode seupescoço, seguro-a e roço o polegar na frente de suagarganta, sentindo-aengolir.

Elaestavatãoquieta,comoseestivesserealmentecommedo.Umsomquebraemalgumlugarnaigreja,eregistrobrevementeumaboladebasquetequicando.Depoisdeanosnaquadra,euconheçoosomcomosefosseavozdaminhamãe.

“ÉaDevil´sNight,eanoiteéumacriança”elafinalmentefala.“Talvezvocêencontrealguémparaassustarestanoite.”

Apertoomeupunho.“Eseeuquiserassustá-la?”

Sinto seu corpo tremer com uma risada. “Então talvez eu esteja por perto” ela diz, brincando,afastando-se."Boacaçada."

Ouço um arrastar e vejo a luz acender em seu quartinho antes da porta se fechar, tornando-oescurodenovo.

“Ei.”Puxominhamãodevolta.“Ei!”

Levanto-meeabroacortina,saindoeolhandoaoredorantesdeabriraporta.Acâmaradopadreestávazia.Eumeviroeolhoaoredordaigreja,notandoapenasalgumaspessoasnosbancosdaigreja,nenhuma comaparência de uma adolescente. Ando até a fileira de colunas, perto das janelas, olho aoredor,nãovendoninguémlá,também.

“Quediabos?”Paraondeelafoi?

Osomdequicaréouvidonovamente,eolhoparacima,vendoDamondaravoltanaúltimafileiradebancosecaminharemminhadireção.EledeveteracabadocomBeir.

“Oqueestáacontecendo?”Perguntaatravésdocigarroapagadonaboca.

Eumeendireitoefechominhaboca,tentandorespirarmaislento."Nada."

Eunãotenhoideiadecomocomeçaraexplicaroqueaconteceu.Alémdisso,nãoésábiocolocarumameninaemseuradarsevocêplanejamantê-laparasimesmo.Pelomenos,noinício.

Segurandoabolaaoseulado,eleseinclinaeacendeocigarrousandoumadasvelasdeoração.“Vamos lá, pare com isso,” repreendo, ainda tentando não olhar em volta para procurar amenina. Euainda a sinto ali. Damon o acende, a ponta do seu cigarro ficando laranja e uma nuvem de fumaçaflutuandonoar."Nemligo.”Eletiraocigarrodabocaesopra.

“Maséuminsultoparaaspessoasqueofazem.Nãoadmiraquevocêestejanoconfessionáriocadaporradesemana.”Euandoemtornodele,ficandoimpacienteesemsaberoporquê.

Damonfaztudoquepodeparaserumidiota,masissoédele.Eleésempreomesmo.

Ederepente,nãoqueroamesmamerdahojeànoite,poralgummotivo.Eunãoqueroqueelesejaeleouqueeusejaeu.Nãoqueroescondernadaestanoite.

É Devil´s Night, ela disse. Ela sabia o que iríamos fazer. Ela me conhecia. Se ela não meencontrasse,euaencontraria.

Capítulo3Kai

Presente

Pegoduasgarrafasdeáguadabaciacomgeloaoladodastoalhasecaminhoemdireçãoasauna,ocalorúmidoserpenteiaatéminhasnarinasquandoabroaportadevidrofoscoeentro.

OHunter-BaileyMen´sClubestátranquiloestahoradodia.Enãoimportaoquãoocupadoeuemeusamigosestamos-oucomquegrauderessaca-nosencontramosaquiquasetodasasmanhãs.

Olho para cima, vendo instantaneamente Michael sentado dois degraus acima, no assento demármorequeserpenteiaemvoltadasala,enquantoWillsentou-seaminhadireitaumdegrauparabaixo.Ele levantaacabeça,eeupossoveras indiscriçõesdanoitepassadaescritasportodoorostopálidoecansado.Olheirasseveemdebaixodeseusolhos,eeleabaixaacabeçanovamente,resmungando,“Filhodaputa.”

Eubalançoacabeça,segurandoumagarrafadeágua.“Vocêprecisadenovosvícios.”

O idiotaestabêbado todososdias.Eparapiorarascoisas,eleestágastandocadacentavoqueseus pais estúpidos e indulgentes lhes deram, pagando por qualquer uma das três coisas a que elededicousuavida:bebida,mulheres,e,comoestoucomeçandoasuspeitar,pílulasepó.

Ele puxa a água para fora da minha mão e segura a garrafa gelada na testa, sua respiraçãosuperficialficainstável.

Tomando minha garrafa, subo o degrau e sento-me ao lado de Michael. Suas costas e cabeçadescansamcontraaparede,eseusolhosestãofechadosenquantovaporondulanoaraonossoredor.Ailuminação fraca lançaumsuavebrilhoazul,por todaasala,esintoumagotadesuordeslizandopelomeupeitoemdireçãoatoalha.

“ComoestãoasreformasnoSt.Killian?”Pergunto.

Maselesacodeacabeça.“Nãofaçaisso.Nãofalecomigosobreaporradasreformasagora.”

Euestreitomeuolhar,vendoseusolhosabertosesuamandíbula flexionarquandoeleolhaparafrente.Eleestácomraiva?Demim?

Eentãoasuspeitamebate.AnteontemànoiteeoqueaconteceunodojocomRika.

Ótimo.Nãoéqueeutivessedireito,demodoalgum,masconfieiqueelanãodirianadaaMichael.Deixoescaparumsuspiro.“Cara,sintomuito.Eunãoiamachucá-la.Eu-"

“Vocêsabesobreoqueeuestivepensandoultimamente?”Elemeinterrompe,perguntando,masnãoesperandoporumaresposta.“Suamãe,Vittoria.”

Eumantenhomeusolhossobreele.

“Elaeraumapeçavaliosanaquelaépoca,hein?”Elemeditacomumlevesorrisonorosto.“Aindaé,sevocêmeperguntar.Bundagrande.Pernaslongas."

Euparo,apertandomeuqueixo.Seioqueeleestáfazendo,masaraivaestásubindodequalquermaneira.

Elecontinua:“Eunãoachoquetedisseoquãoquenteelasempremepareceu,nãoé?Noensinomédio, indopara suacasaea vendoemsuas roupasapertadasdeginástica.Aquelamulheraindanãoparecetermaisquetrinta.”Elesorri,saboreandoosinsultosqueeleatiranaporradomeurosto.

“Sabeoqueeuachoquevoufazer?”Eleprovoca.“Euachoquevouparaacasadosseuspaisestanoite.Esperaratéqueseupaiestejadormindoeverseelaquersubiremcimademim.Sim.”Eleassente.“Elavaiadorarmesentir,esenãoofizer,quemse importa?Quemse importacomoquantoela lutaechora?Voucolocarmedonela,entãocadavezqueestiverporperto,elavaisaberqueeupossopegaroquequiserdela,nãoimportaoquê.”

Euapertoospunhosaomeuladoeolhoparafrente,a fúriaqueimandoatravésdomeuinterior.Pracaralho.

Levanto-meedesçoosdegraus,virando-meparaMichael,queaindaestárelaxandosentadocontraaparede.Masseusolhosestãopresosnosmeus,muitoprontoparaesteconfronto.

“Eununcaateriamachucado”digonovamente.

“Machucadoquem-”

MasMichael corta a pergunta deWill eme olha, inclinando-se para frente. “Quando acordo nomeiodanoite,euesperoencontrarRikalá”elecospe.“Nãochorandoenquantoelaespancaumsacodepancadasnoandardebaixo,àstrêshorasdamanhã,porquevocêafezsentirvergonhadesimesma.”Elemesegueatéodegrau,invadindoomeuespaçoetentandomeintimidar.“Equandoeuperguntar-lheoqueestáerrado”elecontinua, “nãoesperoqueelamintaparamimparaprotegê-lo.Oquediabosestáacontecendocomvocê?Porquevocêfoitãolonge?”

“Ela precisa ser capaz de se proteger” digo a ele. “Ela precisa estar pronta. Ela não é a suaboneca.”

“Nãomedigaoqueelaé!”

“Vocêdissequeelaeraumadenós!”Atirodevolta.“Elanãoédiferente,certo?VocênãomimaWilloueu.'Elaéigual.'Foioquevocêdisse.Nóssomosseusamigos,também,etemosumaparticipaçãoemvê-lasercapazdeproteger-se.Eunãovouseguraraporradamãodelacomoseelativessecincoanosdeidade.”

Michaelselançaparafrente,ficandonaminhacara.“Vocênãopodetomardecisõessobreaminhamulher.”

“Temcertezaquepode?”Respondo.

Asrugasentreassobrancelhasseaprofundam.Eleaindaestáchateado.

Massoueuquemestácerto.

MichaeltreinouRikaporanos,porra.Desdequeeramcrianças,elebrincoucomelaeamanipulou.Elenuncaatratougentilmenteesempreesperouqueelacuidassedesimesmaedesuaprópriamerda.

Mas agora que ela era dele, ele tinha mudado. Todos nós lutamos nossas próprias batalhas,incluindoRika.Oquediaboseleestavapensando?Elenãoestavalhefazendonadadebom.

Euouçoosseusossosestalaremquandoalgoéapertado.Seeufossequalqueroutrapessoa,elejáteriamebatido.

Sefossequalqueroutrapessoa,elenãoteriamedo.

“Experimente,”zombo."Atreva-se."

Eledáumpassoparamaisperto, e eu também,pescoçoapescoçoeolhonoolho como senósestivéssemosnochão.EununcapisonopédeMichael,eelenuncapisalongedemaisdomeu.Elesabeque não vai ganhar, então para salvar o seu orgulho, eu sempre fui o primeiro a recuar. Nas poucasocasiõesemqueestávamoszangadosumcomooutro,dequalquermaneira.

Masencontro-menãotãodispostoacederdestavez.EunãoqueriafazerRikasesentirmal,maselanãodevesesentirconfortável,também.NãocomDamoncorrendoporaí.Eutenhorazão.

Osuorescorrepelasminhascostas,enósencaramosumaooutroenenhumdenóspisca.

“Vocêsvãoseentenderagora?”Willpergunta.

Euabaixomeusolhos.PeloamordeDeus.

DeixeWillcontarumapiadaagora.

Comum suspiro, eu ando em torno deMichael e olho entre os dois. “Temos inimigos. E a listacresceacadadia.Rikadeveestartãoalertaquantonós.”

Nós quatro tínhamos formado uma empresa — Graymor Cristane — a combinação de nossossobrenomeseRikainsistiuemserumaparceiraigualitárianonegócio.Enogrupo.Elaprecisavasabercomolidarcomqualquerameaça.

MasMichaelseviraparamim,balançandoacabeça.“Damonsefoi.”

“Não,Damonestáescondido,”euocorrijo.“Vocêjáparouparaseperguntarporquê?”JogoumolharparaWillantesdemevoltarparaMichael.“Porquenãoháquaisquerfotosdeleonline?Porqueosdetetivesnãosãocapazesdeencontrá-loparavigiá-locomopedimosaeles?Elesnãoestãoencontrandocomprasemseuscartõesdecrédito,eseupassaportenãomostrouqualqueratividadenoanopassado.”

Querdizer,supondoqueelenãoestámorto,porqueéqueelenãoaparecenoradardeninguém?

“Damonnão seesconde”digoaeles. “Porqueeleestá seescondendoagora?Ele sabequenãovamosatrásdele.PorqueelenãoestácurtindonosclubesdeMoscououcomprandomerdaemTóquioousendonotadonoHavaíouFijiouLA?”Meutomficamaisalto,maisexigente.“Porqueeleestáinvisível?”

Michael e Will ficam em silêncio por um momento, suas expressões pensativas antes de Willfinalmenteresponder.“Porqueelenãoquerqueaspessoassaibamondeeleestá?”

“Exatamente.”EentãoeuencontroosolhosdeMichael.“Eporqueelenãoquerqueaspessoassaibamondeeleestá?"

OolhardeMichael cai, e suavozestámoderada. “Porqueeleestáemalgum lugarqueelenãodeveriaestar.”Euconcordo.OegodeDamonéumacentenadevezesotamanhodeumnavio.Elenãoiriaseesconderdenós.Não,amenoseletivesseumaboarazãoparanãoserencontrado.

“EseopassaportequerastreamosparaaRússianoanopassadofoiumdisfarce?”Pergunto-lhes,nãoesperandoumaresposta.“Eseeleestivermaispertodoquepensávamos?”EentãoeumeaproximodeMichael,baixandoavozparaumsussurro.“Eseelenuncafoiembora?”

OsolhoscastanhosdeMichaelseestreitamdenovo,esuamandíbulaflexionaquandoasrodasemsuacabeçacomeçamagirar.Depoisde todoesse tempoe todososesforços fracassadospara localizarDamon,finalmentepenseinisso.Eleestavadeliberadamentepermanecendoforadoradar.Enãofoiporculpaouvergonhapeloqueelefez.Eleestavaescondido,porqueestavabemdebaixodosnossosnarizes.Euapostariaminhavidanisso.

“Ei,ei,ei,”Willentranaconversa,eeuovejolevantar-secomocantodomeuolho.“Demaneiranenhuma,porra!Elenãopoderiaterficadoaquiumanointeirosemsabermosdisso.Eseeleestá,oquediaboseleestáesperando?”

Viroacabeçaparaele.“Devil´sNight.”EentãoeuolhoparaMichael."Nósprecisamosir.Agora."

Leva menos de uma hora para chegar a Thunder Bay, nossa cidade costeira onde tínhamoscrescido.Rikaaindaestanasaladeaula,umadeiniciantenoTrinityCollege,emMeridianCity,porissoMichaellhemandouumamensagem,avisandoqueestariadevoltaempoucashoras.Tenhocertezaqueela teriagostadode fazeraviagemcurtaparaversuamãe,masMichaelnemsequer lhedeuaopção.Provavelmenteporqueelenãotinhanenhumaintençãodetrazê-laparaqualquerlugarpertodacasadeDamonoudeseupai.

E por mais que eu tenha falado muito na sauna, eu não poderia dizer que o culpava. GabrielTorranceeraumpedaçodemerda.

Sentamosemumespaçodoestacionamentoao ladodaentradacirculardeautomóveis,nonovoSUVdeMichael.“Deixe-meir,”digo,sentadonobancodopassageiro,olhandoparaamansãodepedra."Euquerofalarcomelesozinho.”

“Vamostodos,”Willfaladobancodetrás.

“Não.”Euvirominhacabeçaparaele,estreitandoosolhos."Vocêficaaqui."

Eume viro para frente novamente, encontrando brevemente os olhos deMichael.Will tinha secomportandomal,comosefosseaporradoseutrabalho,desdequeDamonfoiembora,eeunãotinhacerteza se era boa idéia trazê-lo aqui, muito menos sujeita-lo a esta casa. Pelo que eu sabia, Damonpoderiaestarescondidoemalgumlugarládentro.

Limpandoagarganta,abroaportaepuloparaforadocarro,olhandoparatrás,atravésdasjanelasabertas,enquantofechoaporta.“Digaaminhamãequemorribem,”eudigosarcasticamenteparaambose, em seguida, lanço um olhar para Will. “Não, na verdade, diga você a ela. Michael não tem maispermissãodeficarpertodaminhamãe.”Eumeviro,ouvindoarisadadeMichaelatrásdemim.Émelhorquenadadessamerdasejaverdade,também.

Indo até a porta da frente, olho rapidamente para a torre construída na frente da casa. A casaTorranceeraumaestruturaemestilodecastelodepedraclara,mashaviatrêstorresdevigia,dando-lheumaqualidadedecastelo.UmadastorreserapróximaaoquartodeDamon,ondeumaescadaemespiraldooutroladodesuacamalevavaatéumapequenaalcovanotopocomumaúnicajanelapequena.Eusóestive em seu quarto uma vez, e ele nãome deixou ficarmuito tempo. Aquele era um lugar onde ele

cobiçavasuaprivacidade.

Estendoamãoparapressionaracampainha,masaportaseabrederepente,edeixocairaminhamão."Sr.Mori,”Hanson,umhomemloiroemumternopretomecumprimenta."Porfavorentre."

Hesitoapenasummomentoantesdepisarparafrente.Jáquetivemosquenosanunciarnoportão,elessabiamqueeuestavachegando,maseusintoumnóapertarnomeuestômago,dequalquermaneira,com a resposta rápida. Mais alguns momentos de atraso, por ter que lidar com Gabriel, teria sidoapreciado.

Elefechaaporta,esemumapalavra,euosigopelacasa.OpaideDamonpoderia,quasesempre,serencontradoemcasa.Éondeeleestámaisseguro.

Emboraeletenhasecolocadoafrentelidandocomosmeiosdecomunicação,investindoemredes,notícias e entretenimento, eu sabia que era apenas uma gota no oceano de como ele ganhou o seudinheiro.Homenscomtrabalhoshonestosnãomudavamseussobrenomesrussosparainglesestentandoesconder seupassado.E sóoshomenscomatos sujosqueempregavamumaequipedemúsculosparaprotegê-losotempotodo.

Oempregadomeconduzatravésdavastacasaeparaoterraço,ondetodaaáreafoipavimentadaemummosaicodepedrascinzacomlinhasesporádicasdeciprestesitalianos.Váriaspessoasvagueavamaoredor,muitasmulheresjovensemvestidoschiquesesegurandotaçasdechampanhe.Semseimportarquefossequasemeio-dia.

Umbuffet de alimentos está àminha direita, enquanto, nas proximidades, emumamesa cheia,homensbemvestidosconversameriem.

Gabriel,vestidocomcalçaspretaseumacamisapreta,estáparadosobreumrottweiler,agarrandoseucolarinho.

Paro,olhandoparaele.Elegiraopunhonapartedetrásdacabeçadocão,oaneldeourocomcabeça de leão em seu dedo médio, pressionando seu crânio. O cão gane, avançando, mas ele tentamantê-loentresuaspernas.Alutacontinua.

Pressionomeumaxilare levantoumolharduroparaGabriel.Filhodaputa.Um sorriso doentiocurvaseuslábiosfinos,quandoeleoempurramaisparabaixoetorceacorrenteemvoltadopescoçodocão,sufocando-o.

Douumpasso,masparo,vendoosdoishuskies,obeaglecomcortessangrentosnasualateral,eopitbullcujascostelaseupodiaveratravésdesuapele.

DadotodoomeuressentimentodeDamonTorrance-comoeletentoumematarnoanopassado,como ele traiu Will e Michael, e como ele tentou ferir Rika - eu nunca deixo de lembrar como umverdadeiromonstroparece.

Ocãofinalmentequebraesedeita,tremendo,comoprevisto.

Gabrielpegaumpequenopedaçodecarnedopratosobreamesadojardimeoatiraparaocão.Ele então se levanta e pegamais umpouco de carne, jogando os pedaçosmaiores ao pastor e para ohuskiedepéatrásdele,enquantoosoutroscãesolhamavidamente.

“Então, elesmemandaramoNipônico, hein?”Elediz, semolharparamimenquanto acaricia apeledohuskie.“Michaelnãoémaisocãoalfa?”

Eulevantomeuqueixo,mantendootom,apesardesuacalúnia.“RegrasdeMoscou,Sr.Torrance.”Euolembro."Númerooito.'Nuncaperturbeaoposição.”

“Número nove” ele dispara de volta, piscando os olhos escuros sob uma sobrancelha cinza.“Escolhaahoraeolocalparaaação.”

Eeleestendeasmãos,apontandoparaseushomensesuasarmas,quenuncaforammuitolonge,esuacasa,ouseja,euestouemseuterritório.Eletemavantagem.

“Então,oqueéisso?”Elelimpaasmãosemumguardanapodelinho,cavandoentreosseusdedosesoboanel.“Estamoschegandoaumacordo?Vocêvaideixarmeufilhoempaz,seelevoltarparacasa?”

“Issodepende.Vocêestáabertoànegociação?”

Derepente,opastoralemãoestala,tantoelecomoopitbulllatindoumparaooutroquandoestetentaroubarsuacarne.Gabrieldáumpasso,gritando:“Não.Heel!”Elechicoteiaopano,encaixando-onorostodopitbull.

UmdeseushomenscorreparapegarocãoconformeGabriel fazumacaretaparaoanimalqueluta.

“Aquelemanchadoestámeirritando”dizohomemedepoisgritaparaocãonovamente."Deitado.Deitado!"

OpobreanimaléarrastadoeGabrielvoltaparaamesa,jogandooguardanapo.Eleolhaparamim,voltandoànossaconversa. “Nãobrinquecomigo, rapaz”, elevocifera. “Você sóestávivoaindaporqueDamonvaiquererfazerashonraselemesmo.”

“Não”respondo;omeutommuitocalmo.“Seufilhofezosuficientedeconfusãoporvocê,evocênãoprecisademaisumaagora.Sepudermosfazerissoamigavelmente,euseiquenósdoispreferiremos,entãotentenãointimidar.”

Elerisuavemente,tomandoumgoledoseucopo.Michael,Will,eRikaconcordaramqueelesiriamseguiremfrentecomsuasvidasedeixarDamonseguiremfrentecomasuaseeleficasseforadacidadeelongedenós.

Maseunão.Euprecisavaencontrá-lo,enãopodiadizeraosmeusamigosoporquê.

E eu precisava encontrá-lo agora, antes que ele voltasse para casa e para a proteção de suafamília.

“Oseuhotelnacidade,”eucontinuo."ThePope.Édomeuladodorio,eestouinteressadonele.Quidproquo.Vocêmedaalgo.Eulhedoualgo.Estáàvenda?”

“Tudoestáàvenda.”Elecolocaocoponamesaesenta-se,gesticulandoparaeufazeromesmo.“Masvouquerermeufilhodevolta.”

Claro que você quer. Sento-me na cadeira preta de ferro forjado do jardim, tentando parecerrelaxado,apesardadornomeuestômagotenso.Euodeioaeleeestacasa.

“Emesmo que isso está sobre a mesa” ele continua, “ainda não será suficiente para fazer umacordo.Eunãogostodevocê.”

“Eusei.”Aloiraseaproxima,eeuviromeuolharparaela.Elausaumrobedesedabranca,longoosuficienteparacobrirseutraseiroquandoelaseinclinaparacolocaroutrabebidanafrentedeGabriel.“Eeuestouàvenda”,elabrinca.

Lanço meu olhar de volta para Gabriel, tentando ignorar a interrupção. Não era incomum vermulheresvestidasassimnestacasa,nemseuflerteeraforadocomum.Entretenimentosempreestáaoalcanceaqui.MesmoquandoamãedeDamonviviaaqui.

Baixoosolhos,sentindoaadrenalinainundarminhasveiascomalembrançadela.Eunãogostavadelamaisdoqueomarido.

Ajovemvira-separairembora,masGabrielapuxadevoltaparaseucolo.

“Vocêsabequaléseuproblema?”Elemeperguntaconformeeleserpenteiaumamãoaoredordelaeapertaseuseioatravésdeseurobe.“Porque,devocêstrês,vocêeraoúnicoqueeuodiavapenduradoemtornodomeufilhonosegundograu?”

Eupermaneçoemsilêncio.

“Sualealdadetemumlimite”Gabrieldiz,respondendoàsuaprópriapergunta.“Eusemprepudeverisso.GraysoneCrist,elesiriamprotegê-lo,mesmoseelesencontrassemumaprostitutamortaemsuacamaesangueemsuasmãos.Nãohaveriaperguntas.Semhesitação.EDamontambém.”Eleacenaparamim.“Maseunãoachoquevocêfariaomesmoporeles.”

Seus olhos arrogantes encontram os meus enquanto ele enfia a mão dentro do robe dela,distraidamenteacariciandoseuseio.

Euenrolominhasmãosempunhos.Masentãoeurelaxo,nãoquerendo lhedarasatisfação.Elenuncasaberiaoquantoeufizporseufilho.

“Mesmoseuamorporseusamigos”elecontinua,“nuncapoderiaofuscaroseusensodecertoeerrado,certo?”

“Eufuipresoporagredirumpolicial.Porumamigo,”euolembro.

"Não. Por agredir umhomemque acreditava quemerecia, por abusar de sua irmã” argumenta.“Mesmocomoumcriminoso,vocêénobre.”

Eleentãovoltaseusolhosparaamenina.“Vocêvê,querida”eledizaela,puxandosuamãoparaforadeseurobeeescovandoseucabeloparatrásdaorelha.“KaiMoriéumfilhodaputahipócrita,eeuqueroquevocêváláelhedêumboquete,agora.”

Raivaaqueceinstantaneamentemeucorpo.Ameninatrancaosolhoscomigo,inclinandoacabeça,

brincando,e,emseguida,elacaminhaaoredordamesaemminhadireção.

Aquelefilhodaputa.Elesabiacomomanipularaspessoas,nãoé?Seeusaísseagora,aconversateriaacabado.Semacordo.Queéprovavelmenteoqueeletinhaemmente.ElepodequererDamondevolta,maselenãoquerlidarcomigo.Eleesperaqueeupuledobarcoecorra.

Agora,seeudeixarameninamechupar,issoiriasurpreendê-lo,nãoé?

Elaparanaminhafrente,eeuseguroseusolhosenquantoelaseajoelha,suasunhaspintadasdacor vinho lentamente ampliam minhas coxas. Ela agarra a minha cintura, e eu agarro suas mãos,empurrando-a.

Não.

Gabrielnãovaimeempurrarnasarjetacomele.

Levanto-me,endireitandoocintoealisandominhamãopelomeucasaco.

“Sempreprevisível.”Gabrielri.

Agarotaolhaparaele,provavelmentecommedodeterfeitoalgoerrado,eeleempurraoqueixoparaela,falandorusso.Elaimediatamenteselevantaevoltaparaacasa.

“Porém, você deve experimentá-la,” ele me diz, pegando sua bebida. “Uma garganta de umquilômetrodeprofundidade,essaaítem.”

“Tudobem?”

Euempurrominhacabeça,vendoMichaeleWillparadosnaportadacasa,nosobservando.Deixoescaparumarespiração,nãopercebendoqueeuaestavasegurando.Eunãotenhocertezaseelesviramoquetinhaacontecido,maseurealmentenãomeimporto.

“Hanson”Gabriel chama seu homem, colocando sua bebida para baixo e colocando o braço emtornodacinturadeumamorenaquetinhalevantado.“Leveestessenhoresparaasaladejantar.”Eleolhaparanós três. “Meuassistente irá encontrá-lo lá paradiscutir os termos eThePope.Eu vou estar emcontato.”

Elásefoiele,levandoajovemparadentrodacasa.

Aexpressãoplanaqueeuestiveforçandovacila,eolhoparaassuascostasquandoelesai.

O pai de Damon era quase idêntico ao de Michael na personalidade. Eu odiava a ambos. Ecompreendia completamente por que meu pai raramente falava com qualquer um deles em festas oueventosesportivosquandocrescia.FoiaúnicaáreaondeKatsuMorieeuconcordamos.

“Senhores.”Hansonavança, levantandoobraçoeapontandoparaquenósoseguíssemosparaacasa.

Michael franze as sobrancelhas, questionando-me com os seus olhos,mas eu balanço a cabeça,seguindooservo.

Os cachorros. Amenina. Amultidão de pessoas que ele não dá amínima que vejam seus atosimundos.Elequeriaqueeusoubessequeeleeramaisforte.

Maseuiasermaisesperto.

Hansonnos levadevoltapelacasa,mãosentrelaçadasatrásdascostasatéquechegamosaumconjunto de portas duplas, e as abre, convidando-nos para uma sala de jantar. Ele para e se vira,deixando-nosentrar.

“Porfavor,sente-seondequiserem”eleinstrui.“Refrescosserãoservidosembreve.”

Elesaidoquarto, fechandoasportasduplaspretas,e, logoqueeuouçoasmaçanetasdouradasclicaremfechadas,soltoumsuspiroefechoosolhos.

“Oqueaconteceu?”Michaelpergunta,parecendopreocupado.

Euapenasbalançoacabeça,virando-meeolhandofixamenteparaforadasjanelas,paraoterraçodeondetinhaacabadodesair.“Euquasemeesqueci,”murmuroparamimmesmo.“EuquasemeesqueciquehaviaumarazãoparaDamonestartãofodido.”

Eu chuto a perna de uma cadeira, fervendo.Maldito seja. Eleme chamou de criminoso, porra.“Mesmocomoumcriminoso,vocêénobre,”Gabrieltinhadito.Elepodiairsefoder.Suacrueldade,suanaturezadiabólica,seuprazernadordosoutros...cadacentímetrodaquelecaraeraimundo.Eunãoeraocriminoso.Eunãoeracomoele.

Michaelseaproxima."Oqueestáacontecendo?"

Segurooencostodeumacadeira,vendoWillparadodooutro ladodamesa.“Eunãoseiainda,”digocomosdentescerrados.

“PorqueelemencionaThePope?”

“Isso-”masparoquandoHansonabreaportanovamente.

Umamulher jovem,completamentevestidaecomseucabeloenfiadoemumgorrodejornaleiro,empurraumcarrinhocomcoposdeáguaeumabandejadealgumtipodedoce.

Eupuxoumacadeira,eMichaeleWillseguemaminhaliderança,quandoelacomeçaatrabalhartendoosrefrescosprontos.Hansondizalgoemrussoparaelaesaidasala,deixandoasportasfechadasnovamente.

“Éemfrenteaodojo”Michaeldiz.“EupenseiqueiriadarumaolhadaemGraymorCristane.”

“Nósnãofalamossobreisso”elereclama.“Deondediabosissoveio?PenseiqueveioaquiparaverseGabrielsabiaparaondeDamonfoi.”

Euatiro-lheumolharpor cimadamesa, tentandodizeraele commeusolhosqueestenãoéomelhorlugarparafalar.Michaelmeconhecebemosuficienteagora,parasaberqueeunãotomodecisõesapressadas.Eutenhoumplano.

“Eunãoachoqueelesaibadisso”Michaeldizconformeeurelaxonacadeira.“Porquenãocolocaropassadoparatrásefazerumacordo?Ohotelaindaestáemótimoestado.Nóspoderíamosfazeralgocomele.”

“Oque?”Michaelolhaparamimcomoseeutivessetrêscabeças.

Euquaserio.

Façoumshowemolharparaaminhadireitaondeameninaestavatrabalhando,edepoisdigocomumsorrisonosmeusolhos,oprendendo,“VocêsabiaqueThePopeéumapropriedadedeTorrance?”Euviro meus olhos para Michael, esperando que o idiota soubesse como pegar uma pista. “Tem estadoabandonadodurante todoesse tempo.Masdeveestarmuitobomno interior,porque todasasentradassãoguardadascomumsistemadealarme,câmerascobrindotodasasportasecantosaoredordohotel,eháatémesmoumsegurançaqueaindacruzaohotelacadahoraecaminhaaoredordoperímetroacadaquatrohoras.Noteiolhandododojo.”

Michaelmeestuda,asrodasemsuacabeçagiram,enquantoWillaindapareciaconfuso.

Vamos,Michael.Entenda.

E,finalmente,euvejoaluzacenderemseusolhos,eeleentende.“Oh,sim.”Eleassente.“Certo.”Eusorrioparamim,felizqueelefinalmenteentendeu.

Porquetodaessasegurançaparaumlocalquenãoestásendousado?Porquenãoapenastrancarebloquearasportas?Ouderrubá-loevendê-lo?Porquefoifechadoeguardadocomoumaprisão?

Damonestálá.

Eunãotinhaintençãodecomprarohotel,maseuqueriaentrarnele.Eseosrumoressobreummisteriosodécimosegundoandarescondido fosseverdade,euprecisavadeacessocompletoao localeprivacidadeparaexplorar.

Damontentounosmatar.Elenãoiaserautorizadoavoltarparacasa,nunca.Mashaviaumarazãoparaqueeuprecisasseencontrá-lo.Tínhamosumapontasoltaparacuidar.

Umguardanapodepano e copos comágua foi colocadonanossa frente e ouçoumarrastar depratosatrásdemim.Ondeestavaesseassistentequedeverianosatender?

“Apenas confie emmim”murmuro paraMichael, ainda falando em código. “Vai ser um grandehotel.Esenãoestiverlimpo,vamoslimpá-lorápido.”

Eleribaixinhoedepoisabreabocaparafalar,masaempregadavemecolocaumpratonasuafrente.

“Eunãoestoucomfome”elediz,passandoasmãosnafrentedeleparapararagarota.“Ny-et.”

ElacalmamentepegaopratonovamenteeocolocaemsuaoutramãonafrentedeWill,antesdecircularamesaparaviratémim.

“Eu teconheço?”Will fala,olhandosobreaminhacabeçaparaa jovemqueestáenchendomeucopodeágua.

Masantesqueamenina tenhaa chancede responder,Michael vira-separaele. “Vamos, idiota.Logoagora,”eleresmunga.“Vocênãoprecisa ficarcomalguémcadavezqueparaocarro.Droga."Osolhos deWill se viram com raiva, cadamúsculo em seu corpo se apertando. Jesus. Ele empurrou suacadeiraparatráselevanta-se,saindoporumadasportasdevidroquedãoparaopátio.

Sento-meemlinharetaesoltoumsuspiro.EuseiqueMichaelquisdizerissocomoumapiada,masnãoverdadeiramente,também.EWillsabiadisso.Elesabiaquesuasatividadesextracurricularesforamsetornandoumproblema,maselenãoqueriaqueseusamigosapontassem.

Michaelolhaparaamesa,seusolhoscordeavelãabaixadoseumpoucoarrependido.EuassistoWillpelasportasenquantoacendeumcigarro,umhábitoqueelecomeçounoanopassado.

“Então,dequalquermaneira”Michaelcontinua,“nósentramoshotel, fazemosuma 'avaliação',evemosseestátudo...emordem,antesdetentarcomprá-lo,certo?”

Eubalançoacabeça,tomandoumgoledaminhaágua.

“Esenãoestiver?”

Oquesignifica'EseDamonestiverlá?'

Entãonóslidamoscomisso.Masantesqueeutenhaachancedelheresponder,vejoMichaelseafastarquandoaáguaeoscubosdegeloderramamnamangadeseupaletó."JesusCristo…"

Ameninaapressadamentelevantaajarra,inclinandoacabeçaemdesculpas.

“Iz-vee-nee-tye”elaengasgacomumavozbaixa,commedo.Olhoparaela,incapazdeverorostoescondidosobogorro.Elapuxaorecipienteparalongeeoabaixa,pegandoumguardanapoetentandolimparsuamanga.

“Apenas...”elepegaatoalhadela.“Deixe-meempaz.Eleveissoembora.”Elelheentregaocopoeoguardanapomolhado,afastando-seimediatamenteedispensando-a.

Elaabaixaacabeçanovamente,correndoparaseesconderemalgumlugaratrásdemimondeamesadeservireseucarrinhoestão.

Levanto-me,caminhandoemdireçãoasportasdopátioeolhandoparafora.“Setudonãoestivercomodeveser,”eudigo,“entãovoulidarcomisso.”

“Sóvocê?”Michaelselevantaecaminhaemminhadireção.

“VocêcuidadeRika,”digoaele.“EWill.”

OnegócioqueeutinhacomDamoneraprivado.

Michaelseinclina,falandobaixo.“Todosnósprecisamosenfrentá-lo,especialmenteWill.EleestásedebatendosemDamon.”

“Damon tentoumatá-lo,” eu falo.Eleamarrouumblocono seu tornozeloeo jogounaporradooceano.

“Sim.”Michaelacena,encontrandomeusolhos.“Seumelhoramigotentoumatá-lo.”

“Nóssomosseusmelhoresamigos.”

“DamoneWillforamsempremaispróximos”elediz.“Assimcomonósdoissomosmaispróximos.Will precisa de Damon. Você sabe que ele está em uma espiral. Ele precisa enfrentá-lo. Então, vamostodosencontrarofilhodaputaedar-lheumavisoqueelenuncavaiesquecer.”

“VocêquerelenamesmasalaqueRika,também?”

Michaelpassaamãopelocabeloeexala.Issofoiumnão.

“Vocêcuidadetodomundo,eeuvoucuidardoThePope,”instruo.“ElenãoéumaameaçamenoràRikadoqueTrevorfoi.”

EnósdoissabemoscomoMichaeltinhatratadoseuirmão.AideiadefazeromesmoparaDamon-alguémque tinha sidoumamigo – fazmeuestômago revirar,maseu fariaoque tinhaque fazer.Paramanterosmeusamigosseguros.

EparamanteramalditabocadeDamonfechada.

Viro-meecaminhodevoltaparaamesa,ficandodepé.VejoWillforadasportascaminhandoemdireçãoanósnovamente,esperoquetenhaseacalmado.

“Chegadeesperar,porra”Michaeldiz,pegandomeucopoe tomandooutrogole.“Vamoscuidardaspontassoltas.”

“Sim, falando em esperar,” Will interrompe, entrando pela porta. “Onde está esse cara? Esteassistentequedeveríamosencontrar?”

Vejoquandoeleabreasportasparaocorredoregritaparaalguém.“Ei?”Elerecua,deixandoohomem,Hanson,entrarnasala.

“Sim,senhor.”EleolhaparaWillquestionando.

“Ondeestáesseassistentequedeveríamosencontrar?”Willpergunta.“Nósnãotemosodiatodo.”ProvavelmentesóqueriaacabarcomissoparaqueelepudesseficarlongedeMichael.

OhomemolhaparaWill,hesitante,ederepentesintocomoseumatragédiaestivesseprestesaacontecer.Euestreitomeusolhossobreele.Oqueestavaacontecendo?

Hanson, em seguida, vira a cabeça, falando com a jovem. “Banks?” Pergunta. “Você precisa demaisalgumacoisadoscavalheiros?”

Banks?Oque?Meucoraçãobatefortenopeito.

Eulentamenteviroomeuolharparaacriadacomquemeleestavafalando,aquelaqueestevetãorecatadamenteaoladodaparede,quietaessetempotodo.

Vejoquandoelalevantaacabeça,aatitudetímidaesubmissaagorasefoi.Seuolharencontraomeu,assobrancelhasescurasemoldurandoosolhosverdescomumabordaazulaoredordaíris.Oqueixolevantado,umdesafiosutilnogesto.

MeuDeus.Ela?

“Não,euachoquetenhotudooquepreciso”eladiz.

Ela,então,desamarraoaventalbrancodesuacinturaeojoganocarrinhodecomida.

Euforçoonónagargantaparabaixo.Porra.

Aquele cabelo escuro escondido sobogorro, os ombros esbeltos e amandíbula estreita, roupasmasculinas,elaaindausava...sóqueaoinvésdojeanssujos,sapatosquebrados,ecamisetadegrandesdimensõesquemelembrava,agoraeraumacalçapreta,umacamisapreta,eumagravatalistrada.

Baixoosolhos.Suasunhasaindaestavamsujas,porém,visívelemsuasluvasdecourosemdedos.Elaseviraesaidasala,pegaumblazerdacadeiradosalãoeovestequandoeladesaparecedevista.Euasigocomosmeusolhos,minharespiraçãoficasuperficial.

“Senhores” Hanson diz. "A assistente do Sr. Torrance irá atualizá-los, e um deles entrará emcontato.Seacabaram,vouacompanhá-los.”

“Umminuto”Michaelgrita.“Essaeraasuaassistente?”Eudeixoescaparumsuspiro,virandoosolhosparaele.“EssaeraBanks.”

Elejuntaassobrancelhas,nãoselembrando,mas,emseguida,aluzraia,eeleolhaparatrás,paraocorredorondeeladesapareceue,emseguida,volta-separamim.Esuamandíbula.

“Oqueelaouviuvaiusarparaatualizá-lo?”Willfala,parecendopreocupado.“Seráquedissemosalgoruim?”

Sorrioparamimmesmo,omeusangue,derepentecorrendoquentecomaslembrançasdaquelanoitevindoàtona.

“Vocêachaqueelaselembradenós?”Michaelpergunta.

Douumpasso,todosnósseguimosHansonparaforadasaladejantareparaaportadafrente,eumurmurosobaminharespiração,“Seráqueelapercebeuqueelenãoestáporpertoparaficarnomeucaminho,destavez?”

Capítulo4Kai

Devil´sNight

Seisanosatrás

Euestivenolimitedesdeaconfissãoanterior.

Olhando por cima do ombro, dando segundos olhares para todos conforme eu andava peloscorredoresesentei-menasaladeaula.

Ameninanoconfessionário,eutinhaqueconhecê-la,certo?Elacertamentesabiaquemeuera.

Emeroubar?Oquediabosissosignifica?Lançoumolharparaasmeninassentadaseconversandonaarquibancada, prontas e esperandoparadar aos carasnaquadra algumaatençãodepois do treino.Qualquerumadelaspoderiaserela.Qualquergarotanaescolapoderiaserela.Emboraeugostedeumpoucodemistério,euprefiroestaremvantagem.Seroqueestá fazendoo jogo,nãooqueestásendomanipulado.

JogandoaboladebasqueteparaWill,eucorroparaofinaldaquadracomtodososoutros,vinteparesdetênisdeslizandopelochãoconformeabolamudademãosduasvezesmaise,emseguida,voltaparamim.Euapego,respirandocomdificuldade,comosuorescorrendopelasminhascostasenquantoempurroomarcadornasminhascostas,driblando,virando,e,emseguida,arremessando.Abolasobenoar,deslizaparaforadoaro,ecerromeumaxilarquandoerroacestaeelacainasmãosdeDamon.

Elesorri,correndodevoltaparaooutroladodaquadra,satisfeitocommeufracasso.

A raiva cai comoum tijolo nomeu estômago,mas fico quieto.Eunãodeveria ter perdido essa.Estavapensandonela,econtinuariaatéqueeudescobrissequemelaera.Eudeveriaterinvadidoolocaleaconfrontadoquandotiveachance.

Damonpassa a bola paraMichael, e ele a pega, a sua camiseta penduradana parte de trás doshortenquantocorrepelaquadra.Háumlampejodealgoaminhaesquerda,evirominhacabeçaatempodeverosgalhosefolhasdosicômorodedozemetrosforadoginásiobalançandocontraasjanelasacimadasarquibancadas.

“Esse vento está ficando louco,” Will diz, ficando ao meu lado. Ele se mexe com leveza erapidamente, mantendo um olho na bola quando ele me lança um olhar, sorrindo. “Vai ser uma noiteselvagem.”

Sim,selvagem.Comparadacomoquê?

MeusamigosnãoprecisamdaDevil’sNightcomodesculpaparaficaremloucos.Maseupreciso.Éaúnicanoitequeeumedeixotomardecisõesmuitoruins.Decisõestomadaspelodesejoepeloegoísmoeumanecessidadedenãopensarmetodicamentesobrecadadetalhedecadamovimentoqueeufaçotodososdias.Nãofuicriadoparaserperfeito,masfuicriadoparafazertudocomaperfeiçãoemmente.Lentoecuidadosamente,comfoco...mostrandoamesmaconsideraçãoemservirumaxícaradecafécomoemfazerumtestedematemática.Ouemconsertarmeucarro.

Oufoderumagarota.

Eeuestavamaisdoqueprontopararelaxar.Minhasimperfeiçõesestãoansiosasparasair.

Mas agora, em vez de antecipar todas as maneiras que eu ia sujar as mãos esta noite, estavaobcecadoporelaesegostariaounãodevê-la.Comoeuiriareconhecê-la?

A melhor parte sobre falar com ela esta manhã foi que eu não achei que ela pretendia sermisteriosaoumecausarumaforteimpressão,dojeitoqueelafez.Elanãoestavamemanipulandocomooutrasgarotastentaramfazer.Oqueelanãodissefoitãointeressantequantooqueeladisse.Suafaltadear, sua voz baixa, o flerte que escorregou em suas palavras cuidadosas, como se ela quisesse algumacoisa,masnãotinhaideiadecomoserousada.Eugosteidesuainocência,maspodiasentirseudesejodemudar.Tãoperfeita.

“Ei, cara.” Michael cutuca meu braço. Olho para ele, tentando parecer como se não tivesseacabadodeviajarnovamente,quandoeleinclinaoqueixoapontandoparaomeuladodireito.“Seupai.”

Viroacabeça,mantendominhacarranca,masmeendireito,noentanto.Meupaiestáàbeiradaquadra,olhandoparamimcomosbraçoscruzadossobreopeito,seuternoeleganteepretocontrastandocomasparedescremeecomamadeiradaquadra.Oqueeleestavafazendoaqui?Elesabequeeuvousairdepoisdaaula.

Seucabelopreto,damesmacordomeu,parecetãoperfeitoquantoeleesteveestamanhã,eseusolhosescurosesobrancelhasfranzidas,presosemmim;dizendo-mequeeleestavafelizsobreotempo,satisfeitocomotreinodeontemànoite,oucompletamentealheiosobreoestadodascoisasnaUcrânia.Eununcapoderiarealmentedizer.

Sempedirpermissãoparadeixarotreino,euandoemdireçãoaele,puxandoaminhacamisaparaforadapartedetrásdomeushorteacolocandonovamente.

“Pai”,eudigo,agarrandominhatoalhadaarquibancadainferiorelimpandomeurosto.

Elenãodiznada,esperandoparatertodaaminhaatençãoantesdefalar.Aquiéondeeueratantosortudocomoamaldiçoado.Enquantoospaisdosmeusamigosestavamnacasadocinquenta,meupaitemapenasquarentaetrês.Eelecuidavadesimesmo.Elenãotinhaproblemasparameacompanharetinhaapaciênciadeumsanto.

Guardandominhatoalhaemminhamochila,pegoaágua.“Eunãoestareiemcasaparaojantar.Amãedisseavocê,certo?”

“Eladisse,”elediz;suaexpressãonovamenteimpassível.“Maseuprefeririaquevocêmudassedeideia.Vocêpodepassarmaistempocomseusamigosemoutranoite.”

“Outra noite não será Devil’s Night.” Eu abro o topo da minha garrafa de água, incapaz deencontrarseusolhos.“Éumavezporano,eéaúltimaantesdeirparaafaculdade.Euvouficarforadeproblemas.”

Ele permanece imóvel, não discutindo ou semovendo enquanto eu tomo um gole e continuo aarrumarorestodomeuequipamento.Orisoeenergiaficammaisaltosquandotodospegamsuasbolsas,eouçoaportadovestiárioseabrirefecharváriasvezes.

Nadadissofazasensaçãodeseusolhosemmimdesaparecer.

“Vocêestádesapontadocomigo,”eudigo.“Eusei.”

Eufechominhabolsaeajogosobreaminhacabeça.Meupainuncameproibiudefazerqualquercoisa,maselenãoeraestúpido.ElesabiaexatamenteoquefazíamosnaDevil´sNight.

“Eudesejoquevocêfaçaasmelhoresescolhas,”eleesclarece.“Issoétudo.”

Finalmenteolhoparaele.“Assuasescolhas,vocêquerdizer.”

“As escolhas certas.” Seus olhos ficam severos. “É por isso que respeitar os mais velhos éimportante.Nóstemosmuitomaisexperiênciaemerrar,Kai.”

Nãopossoevitar.Eusorrio. “Eununcaerro,” respondo. “Estoucertoouestouaprendendo. Jakunikukyoshoku.”

Recitoumdosmuitosprovérbiosjaponesesqueelecuspiuparamimaolongodaminhavida.

Osfracossãocarne,osfortesascomem.

E,apesarde saberqueelequeriadizermais, eleacenacomacabeça,deixandopra lá comumsorrisopoucovisívelemseurosto.Finalmente.

“Nãoseesqueçadedomingo,”eledisse.

“Eununcaesqueço.”

Erecuo,virando-meeindoparaovestiário.Tododomingodemanhã,mejuntoaele,nodojoemnossacasa,paraumtreino.Éaúnicacoisaquefazemosjuntos,eelenuncadeixadeestarlá.Eassim,éclaro,nemeu.

“Semofensa.”Willcorreparaomeulado,osuorencharcasuacamisetaecobreopescoço.“Masseupaimeassustapracacete.Atémesmoeuqueroasuaaprovação,eseiqueelemeodeia.”

“Elenãoteodeia,”asseguroaele,sorrindoparamimmesmo.“Eleestáesperandooseumelhor.Issoétudo.”Elesimplesmenteresmunga,eeuosigoquandoeleempurraaportadovestiário.

Francamente,eunãomeimportosemeupaigostadosmeusamigos.OpaideDamonnãogostade

ninguém,eeuficariasurpresoseopaideMichaelsoubesseomeunome,mesmodepoisdetodosestesanos.Meusamigos são simplesmentemeus.Era isso.Eles são separadosdoqueaconteceemcasa,nasaladeaula, oumesmonaminhacabeça, às vezes. Issoéoqueeugosto sobreeles.Quandoestamosjuntos,somosumplaneta.

Depoisquetireiaroupaetomeibanho,caminhoaoladodafileiradearmários,asalasubitamentetão barulhenta, que eumal posso pensar. Todomundo está pronto, e eu também. Eu quero vê-la estanoite.Elatemquemeencontrar.

Abromeuarmárioecomeçoapuxarminhasroupasparafora.

“Tudobem,”Willgrita,arrumandoseucabelonafrentedoespelhodoseuarmário,“oscalourosjáarrumaram tudo, e os equipamentos de paintball estão nos carros,” ele nos diz. “Vamos sair e fazer anossacoisa,passarumpoucodetemponocemitério,edepoisvamosparaacidade.”

“Espere.Acidade?”Damonfala.“Nósnãovamosparaoarmazém?”

Sorrio.“Vocêestáperdoado,certo?”Perguntoaele, lembrando-odesuaconfissãonestamanhã.“Vocêprecisadenovospecadosparaapróximasemana.Nãosepreocupe.Vocêvaigostar.”

“Émelhormesmo,”elediz,apertandoatoalhanacintura.“Porque,putamerda,euprecisodomeupausendochupado.”

Asportasdosarmáriossãoimediatamentefechadas,eeuolhoparacima,derepentevendotrêsdenossoscompanheirosdesocuparemaárea rapidamente.Will cainumagargalhada tão forte,queele securva,tremendoincontrolavelmente.

Damonvira-seegrita,“Ei,aondevocêsvão?Umabocaquenteemolhadaétãoboaquantooutra,noquemedizrespeito!”

Sorrindo,Willbalançaacabeça,elevantandoamãonoar,encontroapalmadamãodeDamonemumhigh-five.Damonriecolocaumcigarroapagadonaboca,masdepoisumberroecoapelovestiário.

“Torrance!”Otreinadorgrita.EDamonimediatamentecospeocigarro.

“Merda,”elerosnaemvozbaixa.

ComoLernersempresabequandoDamonestáprestesafumar,eunãotenhoideia.Suairritação,porém,nãoimpedeWilldesairparafumarcantarolandoamúsicaSmokingintheBoysRoomdeMötleyCrüe´s,oprovocando.

“Tudobem,vamosfazerisso,”Michaelchama,calando-os.“Estánahora.”

Euvistomeujeans,olhandoparaorelógioatrásdemimevendoquesãoquaseduasdatarde.

Horadefazerafestaacontecer.

Nós rapidamente terminamosdenos vestir, colocandonossos capuzespretos, e pegandonossostelefones,carteirasechaves,deixandotodoorestoparatrás.Osinaltoca,sinalizandooiníciodaúltimaaula do dia, e nós quatro saímos para o corredor vazio, ouvindo o baixo tagarelar de professores, quecontinuamcomsuasaulasfinaisnestatardedesexta-feira.

Desejoquevocêfaçaescolhasmelhores.Issoétudo.

Euolhoparaaesquerdaeparaadireita,vendoquealuzfracadatardequaseacendeuumbrilhonosarmáriosazuiseverdes.Oscantosescurosestreitamalém,etodosficamosemsilêncioporumraromomento,apreciandoacalmariaantesdatempestade.

“Vamosfazerisso,”eudigo,aindaolhandoparaocorredorevendoosramoscomfolhasvermelhaselaranjadoladodeforadaportadafrente,queestãoabertasporcausadovento.

Euouçoobarulhodeumamochilaserremexida,eseiqueWillestátirandonossasmáscaras,umapor uma. Damon veste seu crânio preto, os dentes parecendo garras. Will entrega aMichael a únicavermelhacomcortespretosprofundosemtodoorostoqueeratãoterrívelquantooslábiosroídos.Willme jogaaminhamáscarapratametálicacomfendasparaosolhosqueerampequenoseescuros,eossulcosnapelegrosseiroseduros.Então,eledeslizouumabrancacomuma listravermelhacruzandoalateraldorosto.Todosnósparecíamosumesquadrãodamortepós-apocalíptico,adequadoparaoegodeumbandodegarotosmimadosericosquerealmentenuncaconheceuoperigo.

Willjogouamochiladevoltanoarmáriodovestiário,eeuvestiminhamáscaracomoumcapacete.Fechoosolhos,saboreandoisso.Aqui,eusouinvisível.Eupossoserquemeuquiser.

Aqui,nãoestouescondendo.

Retirando meu telefone, eu mando uma mensagem para Kylie Halpern no escritório da frente,

sinalizandopara ela tocar amúsica.Dentro de dez segundos, SisterMachineGun começa a tocar nosauto-falantespeloscorredoreseaoredor,eguardomeucelularnobolsodetrás,respirandofundo.

Michaeldáumpassoadiante,olhandoparaaesquerdaedepoisàdireita.“Agora,”dizele.

“Vai, vai, vai!”MaxCasongritaparaovento, comacabeçade foradaminha janelado ladodopassageiro.

Meiahoradepois,quatorzecarros,caminhonetesemotosestavamacaminho,cheiosapontoderuptura com todos os jogadores da nossa equipe, algumas de suas namoradas, e alguns apenasacompanhandoadiversão.Aescolaouninguémnãonos impediudesairparaoque tinharapidamentetornando-seatradicionalDevil´sNightparaaumentaracamaradagemdaequipeemoral.

Atacaraescolaàsduasdatardeparainiciartudoisso,tinhasetransformadoemumadasminhaspartesfavoritasdanoite.Interferiremsalasdeaula,agarrandomeuscolegasjogadoresdebasquete–equem mais queríamos – e arrastar todos fora da escola era como uma anfetamina para o cérebro.Tínhamosaatençãodetodos,oseutemor,e,porvezes,oseumedo.Erapoder,eparaumanoiteporano,nósapreciamosumaofertailimitadadisso.Osprofessoresnãonosimpediam,policiaisficavamdelado,eporumtempo,eurealmentegostavadesereu.

Todomundoqueriasernós.

AcaminhonetepretaFordRaptordeWill seguenaminha frente,e todososcarasnacarroceriariemegritamjácomcervejasnamão.Algunsdelestemgarrafasdeáguacheiasdeumlicorclaro,queeraumatáticainteressanteparabebernasaladeaula.Enquantoissopareciaágua,osprofessoresnuncasabiamadiferença.

Comaminhamáscaraenfiadanoconsoleaomeulado,eutrocoparaasextamarcha,correndoàfrenteeseguindoWill.Damonguiaacomitiva,eeuolhoàminhaesquerda,vendoGavinEllisonpassaratodavelocidadeemsuamotocomsuanamoradanagarupaeseusbraçosemvoltadele.

Damondevetervistoelevindopeloseuespelhoretrovisor,porqueassimqueGavinaceleraparaultrapassaraBMWdeDamon,Damondesviaàesquerda,bloqueandoseucaminho.Sorriosozinho,masdepois vejo um garoto em uma bicicleta, centímetros do carro de Damon, desviar e cair ao lado daestrada,emeurostoficasério.

“Quediabos?”Eugrito,pressionandomeupélevementenofreioparadesacelerar.

Ogarotocaiunochão,escorregandonapequenainclinação,esuabicicletacolidiucomagrama.

EDamoneamotocontinuaramanossafrente.

Carambacara.

Eupressionoopedaldofreiomaisfirme,parandoojipeevendoasluzesdefreiodoWillbrilharvermelhodiantedemim.Eudeixoojipenoneutroepuxoofreiodemão,pulandoparaforadocarro.

Olhoparaaestradaàfrente,vendoDamoneamotoaindacompetindonavelocidade.Nãoocorreuaeleparar?

“Damonéumidiota.”Willolhaparamim,saltandodacabineedandoumamordidanacarnesecaemsuamão.

Algunsdoscarasdacarroceriapulamparafora,também,eWillcaminhaatéondeogarotocaiu,curvando-separaajudá-lo.

“Vocêestábem?”

Ogarotosenta-seemsuasmãose joelhos,emeaproximo,vendoelederelanceentreaspernasdoscarasenquantosemoviamaoredor,agarrandolivrosqueforamjogadosaoladodaestrada.Eunãoouvieleresponder,enãopodiaverseurosto.

Willpegoudoislivrosquetinhamcaído,eavisteiumacestanafrentedabicicleta.

“Eudissequeestoubem,”ogaroto fala irritado, e euparo, vendoumbonédebeisebol cairnochão.

Cabelos longos e escuros, de repente ficam bagunçados, balançando com o vento forte, e eu

identificoumrostofinoelábioscarnudos.

Éumagarota.

Vestidacomonós,porém,usandojeanseummoletomazulmarinho.

Elaestendeamão,mantendoacabeçabaixaeosolhosprotegidosporseucabeloenquantoelaagarraoslivrosdasmãosdeWill.

Elaparecebem.Nóspoderíamosir.

“Euvi vocêemalgum lugarantes,nãoé?”Will pergunta, curvando-separapegar suabicicleta.“Vocêmoraporaqui?Podemoslevá-laparacasa.Entrenocarro.”

“Não.”Elaergueasmãos,impedindo-odetocarsuabicicleta.“Eudissequeestavabem.Apenasváembora.Porfavor.”

Estreitoosolhossobreela,aproximando-me.

Só então dois caras pegaram alguns de seus livros emostrava umpara o outro, rindo. Ela ficaimóvel,olhandoparaochão.Seujeansestáimundo.Manchasescurascobremosjoelhos,maseunãovejonenhumsangue.Nãoachoqueelaestejaferida.

“Nósdeveríamostrazê-lacomagente,cara,”alguémbrinca.

“Sim,nóspodemosdar-lheumbanhoprimeiro?”

“Chega,”faloirritado,interrompendoele.“Voltemparaacaminhonete.Suascervejasestãoficandoquentes.”

Elessedispersam,eWillcaminhadevoltaparasuacabine,lançandomaisumolharparaagarota,queestádiscretamenteerapidamenterecolhendoseuslivros,nosignorando.

Ela tinha que ter a nossa idade, mas ela certamente não gostava de nenhuma atenção.Especialmentea julgarpelasroupassurradasqueusaeosapatovelhoVansqueestá largadonochão.Devetersaídodopénaqueda.Porqueelanãoestáusandomeias?Estáfrio.

Agacho,pegandoumpedaldesuabicicleta,quetinhaquebrado.

“Vocênãopodeandarnessabicicleta,garota,”digoaela.“Opedalestáquebrado.”

Seguroopedalnafrentedeseurosto,mostrandoaela.

“Voudarumjeito.”Elaselevanta,osbraçosenroladosemtornodetodososseuslivros,evitandoomeuolhar.

Elaémuitopequena,nãoé?

Eunãoseiseelaestácommedodenósouchateadacomoqueaconteceu,maseladefinitivamentenãoqueriaseenvolver.

“Willdissequevocêviveperto?”Pergunto.“Eupossojogarabicicletanapartedetrásdomeujipeelevarvocê-”

“Eu disse que vou dar um jeito,” ela fala irritada, aindamantendo a cabeça baixa. “Apenas váembora.”

Nãopossodeixardesorrirumpouco.Elapareciatãodesesperadaparanósirmosembora.Comoseelaestivessecommedoquealgoruimfosseacontecer.Oqueelaachouquenósiríamosfazercomela?

Eume viro para sair,mas vejo um livrono chão, quasepisei nele. Inclino e o pego, precisandoolhar duas vezes pela surpresa para a ruiva em um vestido esmeralda na capa. Os seios dela estãoarrebentando as costuras enquanto um cara musculoso em uma camiseta apertada a abraçadramaticamente,mechasdeseucabeloeseuvestidosoprandonovento.

Bufoquandomeviroeentregoaela.

“Caleaboca,”elamurmura,aoverosorrisonomeurostoepegandoolivrodevolta.

Agacho-memaisumavez,pegandoosapatonochãoe,emseguida,puxoseupé.

Suapeleestácongelando,eeuafastoemsurpresa.Seujeanstemburacosportodaparteesemmeias.Porqueelanãoestavavestidaadequadamente?

Elaafastaopé,agarrandoosapato.“Eupossofazerisso.”

Maseusegurofirme,dando-lheumolhardesafiadorenquantopuxoseupéparacima.

“Deus,vocênãopodeentenderadica?”Elaperguntairritada.

“Suapeleestácongelando,”comento,calçandoosapato.“Talvezvocêdevesse-”

“Tireamãosdela,”alguémordenaatrásdemim.

Eu viro minha cabeça e vejo que vários homens tinham chegado, suas motos esportivasestacionadasnomeiodaestrada.ComoroncodomotordacaminhonetedeWill,eunãotinhaouvidoelesseaproximarem.

Levanto enquanto eles chegammais perto, e vejo como eles se colocaramem frente da garota,ficandodepéentrenós.

Quediabos?

“Desculpe-me?”Euolhoaoredor,tentandovê-la.

“Elaestábem,”dizumnomeiocomacabeçaraspadaqueestávestidocomumacamisetabrancasemmangas.“Vamoscuidardissoapartirdaqui.”

Deixo escapar uma risada, sentindoWill se aproximar domeu lado e vendoMichael chegar alitambém.

“Quemdiabosévocê?”Pergunto.

Maseleapenasmeignora,virandoacabeçaparaelaesussurrando,“Puxeseucapuz.”

Elasegueaordem,cobrindo-serapidamenteemantendooqueixoparabaixo.DoiscarasladeandooCabeçaRaspada,assimcomoaposiçãodeMichaeleWill,todosnósumbloqueio.

“Váembora,”aquelenomeiomeordena.

“Ahclaro,dejeitonenhum.”Inclinoacabeça,tentandofazercontatovisualcomagarotaportrásdeles.“Vocêestábem?Quemsãoessescaras?”

Elespoderiamserseusirmãos,maselesnãosepareciamnadacomela.

Elaolhaparacima,eentãopercebo.Umpequenosorrisoemseuslábioseumolhardivertidocruzaseus traços, sua timidez desaparecendo rapidamente. “Eles são muito mais capazes do que você é,cavaleiro.”

Seusnovosamigossoltamumarisada,parecendopresunçosos.

Eulevantomeuqueixo.

“Vamos,”CabeçaRaspadadizaela.

Todoselesolhamparanósenquantoseafastam,eajovemsegue,esfregandonomeubraçoquandopassa pormim. Eu inalo seu perfume fraco. A energia no ar de repente estava tão espessa que vocêpoderiasegurá-la.Haviaalgofamiliarsobreela.

Elaentregaseuslivrosparaoaltocomcabeloloiroeumacorrentedepratanopescoço,enquantoooutrolevantasuabicicletaporcimadoombroenquantoelemontasuamoto.

ElasobeatrásdoCabeçaRaspada,eestreitoosolhos,observandoelaenvolverosbraçosaoredordele.

Douumpassoparafrentequandoomotordesuasmotossãoligados.

Elaolhaporcimadoombromaisumavez,eeu finalmentevejoseusolhos.Umbeloverdecomtoquesdeouro.“Penseiquevocêtinhaalgumaspessoasquequeriaassustarestanoite,”dizela.

Oque?

Elasevira,masnãorápidoosuficienteparaesconderosorrisonorosto,eelespartem,as trêsmotosesportivaszumbindopelaestradaenquantovãoembora.

Quediaboseladisse?Como...?

Euapertominhamandíbula,entendimentosurgindo.

Anoiteéumacriança.Talvezvocêencontrealguémparaassustarestanoite.

Agarotadoconfessionáriodehoje.Porra,eraela.

Euassistoelaeaquelesidiotasdesapareceremdevista,tudooqueeudisseaelahojetocandonaminhacabeçanovamente.Comoelasabiaquemeuera?Eporqueeununcaaviantes?

Elaestavabrincandocomigo.

Comoconfianteevalenteelaficouquandoeleschegaram.Elapensouqueaquelescaras–quemdiaboseram–poderiamnoscolocaremnossolugar.Estávamosbrincandodesermauseeleseramacoisareal.Éissooqueelapensou?

“Vocêaconhece?”Michaelperguntaaomeulado.

Concentronaestrada,nãoseicomoresponderaisso.

“Sevocêquerela,elaésua,”dizMichael.

Eumantenhoomeusorrisoparamim.Michael falavasobreasmulheresdamesmamaneiraqueelefalavasobrecheeseburgers.Realmenteeratãofácilcomoisso.

“Querela?”Willinterrompe.“Quediaboseleiriaquerercomelaquandotemosgarotasquentesemnossoscarrosagora?Vocênãoviucomoelaestavavestida?Semmaquiagem,roupasdehomens...elaéumafeminista.”

Fecho os olhos, rindo para mim. Jesus. “Eu pensei que você gostava daquelas difíceis deconseguir?”Eubrinco,olhandoparaele.

Maseleapenastorceos lábios,oobjetosegredodesuaobsessãonãomais importantedoqueagarotaquetinhaacabadodesair.“Sim,bem...vocêquerqueeuchameDamon,ouoquê?”Perguntaele.“Alguémdissequeelatrabalhavaemsuacasa.”

Elatrabalhava?

“Não,”respondo.“Eunãoqueroelemedizendonadasobreela.Voudescobrirsozinho.”

Elejátinhaidoemboradequalquermaneira,provavelmentejáestavanocemitérioagora.

“Então,vamospega-la?”Michaelpergunta.

Maseusóolhoparafrente,pensando.

Elamedesafiou,nãodesafiou?Elafezissocomoumobjetivoparamedeixarsaberquemelaeraantesdefugircomaquelesidiotas.Deixarsaberqueelamepegouhojesomentequandoelapensouquepoderiaficarlongedenós.

Eumalconcordocomacabeça,cadamúsculodomeucorpotensocomoumacorda.“Eumeioquequeroassustarelaprimeiro.”

OuçoMichaelrirbaixinhoedepoisvejovirar,gritando,“Ei,Dayton!”Elechamaalguémdoscarros,eeuobservoelejogarsuaschavesnaqueladireção.“Trocadecarrocomigo.Esaitodomundo!Precisodacaminhonete.”

Willresmungaanimadamenteeesfregaasmãos,derepentemuitointeressadonesseplano.

Nós viramos para entregar as nossas chaves para os outros levarem nossos carros para ocemitério, entãonós trêspoderíamos irnessamissão juntos. Issoeramaisextravagantedoqueomeugostousualembrincadeiras,maseunãoconseguiaparar.

Nãoqueromeparar.

Euquerobateratravésdecadaparedenaminhacabeçaecorrertãorápidoquenãoteriatempoparapensar.Agora,tantoquantoeuestavapreocupado,estanoitenuncairiaacabar.

Elafodeucomigohoje.

Agoraeuiafodercomela.

Capítulo5Kai

Presente

EntronaSensou,aalçadaminhamochilaatravessandosobremeupeitoenquantoolhoemvolta,fazendouminventáriodetudooqueacontece.Espadasdeesgrimaressoandoàminhadireita,vindodasalaondeRikaconduzauladeesgrimatrêsnoitesporsemana.Pesoscolidemumnooutroebatemnochão na sala de musculação à minha esquerda, e grunhidos enche todo o dojo, ecoando nas vigas,enquantoosalunosexercitamocorpoeseconfrontamnagrandesala.

Apresso-mesilenciosamenteatravésdosnovospisos,ansiosoparaexercitaralgumaenergia.Agoladaminhacamisa irritandomeupescoço,eumlevesuormolhaomeupeitoeascostas.Euprecisosairdessasroupas.

EnquantoeudirigiadevoltaparaThunderBay,todososdomingos,paraexercitarcomomeupaietomarcafédamanhãcomaminhafamília,porsolicitaçãodaminhamãe,eunãodeixeimetadedoqueeutinhadentrodemimsair.Meupaiestavaemgrandeforma,maseleaindatinhaquasecinquenta.Eunãopoderiaatingi-lo.

Masnodojo,eupoderiabatertãofortequantoeuqueria,edepoisdehoje,euprecisava.

Apósareuniãocomo“assistente”maiscedo,eutinhaaintençãodevirdiretoaqui,masemvezdepegarasaídadaponte,euapenascontinuei,meperdendonomeucarroporquaseduashoras.

Banks.

Jesus Cristo. Seis anos atrás, ela mais do que despertou meu interesse. Hoje, ela estava fria,estranhamentecalma,emuitoserena.Lembravadelamuitodiferente,noentanto.Elatentoumuitoserdifícilnaquelanoite,masaquelesolhosescurosecomoelespoderiammenivelar,eaqueleslábios...sim,eumelembrava.Elanãoficariacontroladapormuitotempo.

Eentãoalgunsanosmaistarde,quandoRikasaiuconoscoumanoiteeBankstinhasetornadoumamemória,eufuicativadopelonossoPequenoMonstro,porqueelamelembroudeBanks.Ainocência,aluta,amaneiraqueeuqueriaolharparaela...

Mastãorapidamentequantoelatinhaentradoviolentamenteemmeumundo,elatinhafugido,etudodentrodepoucashoras,umanoite,háseisanos.

Quemeraela?Deondeelaveio?

Empurroaportadomeuescritórioefechoatrásdemim,deixandocairminhabolsaearrancandominhajaqueta.

Eurapidamentetrocoparacalçadetreinoetênisdecorrida,pegandoumatoalhaevestindoumacamiseta quando saio do escritório. Na recepção eu passo por Caroline, uma das universitárias quecontratamosmeioperíodo,quemmedeuumsorrisodocecomosempre.Eulevantoamão,eelamejogaumagarrafadeáguadorefrigeradoratrásdela.Mesmotreinotodososdias.Elasabiaoquefazer.

“Uh,Sr.Mori?”Elafalaquandocontinuoandando.

Euparoeviroparaela.“Oqueé?”

Seurabodecavaloloiropresonoalto,esuapoloazulmarinhocomologotipoGraymorCristanenopeitoesquerdoestavalimpaepassada,comosempre.

Elaolhaatrásdemimeapontaparaalgumacoisa,eeuvirominhacabeça, ficando irritado.Deverdade,agarotaagiacomoseeuiacome-laseelafalasse.

Mas,vendoosdoisvisitantesparadossemqualquerpropósitonosaguão,derepenteeuesqueçodeCaroline.

Banksestavaaoladodaparedeàminhadireita,segurandoumadasvarasdebambudaprateleiradali.Elaolhaparamimedepoisdevoltaparaavara,distraidamenteexaminandoaarmacomoseelaestivesseadmirandoaquilocomnenhumoutropropósitoparaestaraqui.

Dooutrolado,àsuadireita,estavaumhomemquepareciavagamentefamiliar.Claramenteumdoscapangas de Gabriel, a julgar pela sua cabeça raspada, corrente de prata, jaqueta de couro brega, emarcaspretaseazuisemtornodeseuolho.

Eusoltoagarrafadeáguaeatoalha.Apresençadeleseraumsinalmuitobomoumuitoruim.Eunãoqueroproblemas,nãoaqui.

Caminhando lentamente em direção à garota, eu seguro seu olhar enquanto estendo a mão egentilmentepegoaarmadesuasmãos.

“ÉumaShanai,”digoaela.“Umaespadajaponesa.”

Ela olha paramim, sem expressão, e a oscilação de seu peito é constante e lenta. Controlada.Muitocontrolada.Recuocomaarma,tentandonãoassimilarsuaaparênciaoudeleitar-menaformacomoissomediverte.

Umgorro de esqui simples, preto, cobria cada pedaço do que eu sabia que era um rico cabelocastanhoescuroporbaixo,eemvezdoternoqueusarahoje,elaagoraescondiaquasecadacentímetrodoseucorpoemumjeansvelhocomrasgossobreosjoelhos,botasdecombate,eumajaquetapretacurtaabotoadaatéopescoço,asmãosescondidasnosbolsos.

Masantesqueelaescondesse,eunotoqueelaaindausaamesmaluvadecourosemdedosqueestavausandomaiscedohoje.Aúnicapelevisívelnelaeraumaparteseupescoçoerosto.

Eugostodisso.Elaaindaéummistério.

Afastomeuolharcomrelutânciadela,virandoacabeçaparaooutrohomem.“Vocêveiocomumamensagem?”Pergunto.“Gabrielvaifazernegócios?”

Ohomem,aquemeujulgueiestaremseustrintaepoucosanospelasrugasdefinidasemtornodeseusolhos,lançouumolharrápidoparaagarotaedepoisinclinaoqueixoparamim.

“Porquevocêquerohotel,exatamente?”

“Sou um homem de negócios,” respondo. “Estou adquirindo propriedades, como empresáriosfazem.”

Eleolhaparaelanovamente,eeuestreitomeuolhar,seguindoodele.Banksolhaparaele,ejuroquevejoumlevesorrisonorostodela.

Umdiálogosilenciosopassouentreeles,eeuosobserveicommuitocuidado.

Ohomemfinalmenterespirafundoeassente.“Sr.Torranceestáinteressadoemabrirumdiálogocomvocê.”

Mas eu simplesmente zombo. “Abrir um diálogo...” zombo sob a minha respiração. “Sim, euconheçoodiálogodeGabrielmuitobem.Ejáconcordeiqueseufilhopoderiavoltar,maseuvouprecisardegarantiasminhas.”

Ele lança um olhar rápido para Banks – novamente – e entãome responde, resoluto. “Sr. Faneestaráseguro.”

“Vocênãopodegarantir isso,”euargumento,umpassoà frente.“NósdoissabemosqueDamonnãodeixaninguémfalarporele.”

“Damonvaifazeroqueseupaidiz.”

Ficoali,continuoquietoepensando.

SeGabrielestavadispostoamedeixarcomprarohotel,issosignificavaDamonnãopoderiaestarlá afinal.Ou,muito possivelmente,Gabriel simplesmente não sabia onde seu filho estava. Prisão tinhaenvergonhadonossasfamíliasimensamente,eGabrielTorrancenãoestavainteressadoemverseufilhoestragartudonovamente.

Seelesabiaondeofilhoestava,eleiriatrazê-loparacasa.Minhaintenção,porém,eraencontrá-loantesdoseupai.

“Queroentrarnohotelprimeiro,”digoaele.“Precisocavarumpoucoeavaliarquantotrabalhoelevaimelevar.”

Seusolhosseguematéelanovamente,masfoitãorápidoqueeuperdisuarespostasilenciosa.

“Semproblema,”elefinalmenteresponde.

Porqueeleficaolhandoparaela?Quediabosestavaacontecendo?

Olhoparaosdois,perplexoeesquecendoqueeutinhaacabadodeconcordaremcomprarumhoteldeváriosmilhõesdedólares.

Lambendomeuslábios,eugiroacoisanaminhamãoemumcírculo,meditando.“Sabe,quandoeutinhaquatorzeanos,GabrieldisseparaDamoneeualgoquenuncavouesquecer. ‘Mulheres’disseele‘sãobrinquedosouferramentas.Elassãoboasparajogarouboasparapagar.’”Eugiroacoisadevagareobservoelescomcuidado.“EmtodososanosquefuiamigodeDamon,eunoteiumadiferençamarcanteentre a sua casa e a minha. Minha mãe nunca foi uma mulher dócil, enquanto qualquer mulher queencontreinacasadeTorranceeraouparaosexoouumaserva.Brinquedoouferramenta.”

“E?”Perguntaohomem.

“Eeunãotenhocertezadequalcategoriaelaseencaixa,”digo,apontandoparaBanks.“Todavezqueeute façoumapergunta,vocêolhaparaelaprocurandoresposta.Éestranhoumamulherteressetipodepoder,dadooqueeuconheçodeGabrielTorrance.”

Eleolhaparaeladenovo,parecendoprocurarpordireção.

Elaeraaúnicaresponsável.

Elenão.

Éissoaí.

Queinteressante.

Seguro a arma aomeu lado eme aproximo dela, olhando para baixo. “Vamos acabar com essamerdaenegociardiretamente,huh?”Eudigo,minhapaciênciatinhadesaparecido.

Quando chego perto dela, o homem se aproxima rapidamente, provavelmente em guarda, e eulevantoaespada,atingindo-onopeitoeimpedindo-o.“Esebemmelembro,”digo,olhandoparaele,“elasabecomolutar,entãováesperarnocarro.”

Suamandíbulaflexiona,seucorpoficarígido,eeleestáprontoparaumaluta.Maseleolhaparaela,esperandoaordem.

Elahesitaporummomento, finalmente,dando-lheumacenodecabeçaedispensando-o.Elemelançaumolharantesdevirarascostasesairdodojo.

Banksfixaosolhosnovamenteemmim,inclinandoacabeça.

“Vocêestácommedodemimagora,garota?”Pergunto. “Nãoépossível falarporcontaprópriamais?”

Euqueriadeixa-ladesconfortávelcomovingançaporjogarcomigohoje,maseunãoqueriaqueelaperdessesuacolunavertebraltambém.

Masemvezderesponder,elaapenasgiraacabeça,aparentementeentediada.

Sorrioparamimmesmo,caminhandoparaaparedeecolocandoaarmadevoltanaprateleira.

“Então,quala impressãoquevocêreuniuhojeparapassarparaopaideDamon?”Pergunto.Euqueriasaberseoquedissemosnaquelasalaquelhedeualgumagarantia,quandonóspensamosqueeraapenasumaempregadaespionando.

“Qualquer coisa que tenha sido,” responde ela, “ele gostou do que ouviu, porque ele tem umapropostaparavocê.Estouaquicomasuaautoridade.”

Minhamãotreme,eafastodaparede.Avozdela.Elasódissealgumaspalavrashojecedo,masagora...essamesmaprovocaçãosuavequeeumelembravaapareceu,trazendo-medevolta.Eumeviro,defrenteparaelaecruzandoosbraçossobreopeito.

Elaéquinzecentímetrosmaisbaixadoqueeu,mascomobrilhoarrogantenoolhar,elapoderiamuitobemserquinzecentímetrosmaisalta.

“Kai,estátudobem?”Rikaperguntaatrásdemim.

“Está,”eudigo,semolharparaela.

A julgar de toda a conversa por perto e ao som de portas do vestiário abrindo e fechando nocorredor,Rikadeviaterterminadocomsuaaula.

“Rika?” Eu chamo ela por cima domeu ombro, chamando sua atenção antes que se afastasse.“VocêpodeencontrarWilleMichaelenosencontrarnoescritório,porfavor?”

Eunãovejoseurosto,masouço-ahesitante,“Claro.”

Ela afasta, e eume viro, acenandomeu braço e apontando para Banks. “No final do corredor.Damasprimeiro.”

Eu esperava aborrecimento ser visível em seu rosto,mas nãohavia nada. Seu olhar permaneceestávelquandoelapassapormim,indoemdireçãoaocorredor,eeusigologoatrás,meucoraçãobatendoumpoucomaisenquantoolhoatrásdela.

Ocordãodeumadesuasbotaspretasarrastanochão,eemboraeunãotenhadúvidadequeelapode cuidar de si mesma, era divertido como tão pouco ela se preocupava com sua aparência. Tãodiferentedasmulheresqueeutinhacrescidojunto,emcasaenaescola.

Masminhasmãossabiamcomoelaerabonita.Elasselembravam.

ElaparaaoladodeumaportarotuladaEscritórioeesperapormimparaabri-la.Aproximo-meegiroamaçaneta,eelaentra,aofazerisso,imediatamenteemdireçãoaocantomaisdistantenosfundosdoescritório.Elaseviraparamim.

Euquaseri.AocontráriodeRika,Banksimediatamenteentrouemmododesobrevivênciaemumasituação insegura. Enquanto em território inimigo, tomar o ponto de vista com as variáveis emmenornúmero.Posicionadanocanto,elasóprecisavaveroqueestavavindoparaela,nãooqueestavavindodetrás.EuestavatentandotransformaressaliçãoeminstintocomRikapormeses.

Fechandoaporta, caminhoao redorda sala, pegandocadeiras e colocando-as emvoltadeumamesa.Umaquepoderiaacomodartodososcinco.

“Posso imaginar que lidar com alguns dos companheiros de Torrance pode ser difícil para umamulher,”abordo.“Éporissoquevocêfalaatravésdaqueleidiotaláfora?”

Seus olhos me encontram brevemente antes de voltar para o quadro desenhado em carvãoemoldurado na parede, uma obra de arte queRika admirava e tinha colocado aqui, uma vez que esteescritórioerausadoportodosnós.Eladissequesepareciacomigo.Nãoseicomo.Oquadroéumafigurasemrosto,váriosriscossemdireçãoespecífica.Aarteabstrataeraumamordomeupaiqueeunãotinhaherdado,infelizmente.

“VocêseesqueceuquefoivocêapessoaquemecontousobreThePope?”Continuo,mudandodeassunto.

“Eunãoesqueçodenada.”

Paro,apoiando-menoencostodacadeiraqueeutinhaacabadodemover,estudando-a.Depoisdetantosanosaquelaconchanãoapenasestava láainda,masestavamuitomaisespessaagora.Elatinhacrescido.

“Vocêaindaachaqueháumdécimosegundoandarescondido?”

“Euachoquevocêestámuitopreocupadocomossegredosquevocêsabequeexistem,maisdoqueaquelesquevocênãosabe.”

Eentãoelaconcentrasuaatençãonasimagensearmasquerevestemasparedes,dispensando-me.

Oqueissosignifica?Oquediaboseunãosabia?

“Ei,oqueestáacontecendo?”Michaelentra,parecendosuadoe jogandouma toalhasobreumacadeira. Will e Rika entram logo atrás dele e fecham a porta atrás deles. Will está sem camisa erespirandocomdificuldade,provavelmenteestavanasalademusculação.

“AssistentedeGabriel,”eudigo,“veiocomumaproposta.”

“Oi.”Rikaseaproximadelacomumamãoestendida.“EusouErikaFane.”

Banks simplesmenteolhaparaela.SeusolhosencontramosdeRika,umapitadadedesdémnorostoantesdelasevirardenovo,ignorando-a.

Rikaolhaparamimcomumaperguntaemseusolhos,eentãoelarecolhesuamão,pegandoumassentonamesa.

Nóstodosseguimosoexemploenossentamos.

Bankstiraalgodedentrodesuajaquetaecolocasobreamesa,viradoparacima.Éumafoto.Elaempurra isso lentamente sobre amesa demadeira paramim, e eu estudo a pequena imagemde umajovemmulherqueeunãoconhecia.Cabeloloiroescuro,olhosazuis,rostoangelical,bonitaosuficiente...definitivamente o tipo deMichael. Asmaçãs do rosto foram tingidas de rosa, e sua boca parecia umamaçãdoce.Jovemelinda.

“Queméessa?”Perguntoquandotodossilenciosamenteseaproximamparavermelhorafoto.

“VanessaNikova,”Banksresponde.“SobrinhadoSr.Torrance.”

“E?”Encostonacadeira,tentandoparecerrelaxado.

“Eissoémuitomaisdoqueapenasnegociarumhotelparaumfilhopródigo,vocênãoacha?”Elameolha,umolharcondescendenteemseurosto.“Sr.Torrancequergarantiaindiscutíveldequevocêeseusamigosnãovãoprovocarnenhumdanoaoseufilhoousuafamília.Vaiexigirmaisinvestimentodoqueapenasdinheiro.”

Elaolhaparaafotonovamente.“Elaémuitobonita.”

Estreitoosolhosnela.Bonita?Oque?

Elespensaramqueeuqueriacomprarohotel,masoqueissotemavercomoarranjo?

“Ondevocêquerchegar?”Eupressiono.

Elainclinaacabeça,umsorrisotímidoemseusolhos.“Algoumpoucomaisconcreto,”dizela.“Umfuturo.Aliançasaindasãofeitasdessamaneira.”

Alianças?Olhopara osmeus amigos, tentando avaliar qualquer compreensãodoquediabos elaestavafalandoaosolhosdeles,também,maselesparecemtãoperdidosquantoeu.

Masquandoolhoparaa fotonovamente, lentamente começaa fazer sentido.Meucoraçãobatecommaisforça,emeuspunhossobmeusbraçoscruzadosapertam.

Elanãoestavafalandosério.

“Vocêestáfalandodeumcasamento?”Rikadeixaescapar,olhandoparaela.

MasBanksfalacomigo.“ElaviveatualmenteemLondres,”elameinforma.“Elafalafluentementeinglês,francês,espanholerusso.Elaébem-educada-”

“Dáofora.”Michaelriamargamente.

“Eelaé...intocada,”Bankstermina,quandoMichaelestavaprestesaexplodiraummetrodela.

Euinclinoparafrente,olhandoparaela.Intocada.Umavirgem.

“Vocêestábrincando,” falo.Qual o séculoqueGabriel estavavivendo?Umcasamento? Issoeraridículo.

Dejeitonenhum!

Mas ela inclina a cabeça paramim. “A únicamaneira que nós podemos ver que você não serátentado a ferir a família Torrance é se você estiver envolvido com a família Torrance,” explica ela.“Queremosumaaliançaqueéobrigatória.”

Eumalpossorespirar.Querdizer,nãopossodizerqueelaestáerrada,euacho.Casamentosemcertas famílias poderia ser muito mais sobre como manter a riqueza e alianças seguras em vez dequalqueroutracoisa,masnãohavianenhumamaneiraqueeuiafazeralgoparecido.

“Paraisso,vocêterátotalautonomiasobreaherançadela,”elamediz,“incluindoaspropriedadesqueseuspaisadeixaramquandofaleceramháváriosanos.”Elafazumapausa,jogandoaúltimaparte.“EvocêvaiterThePope.Grátis.Comopresentedecasamento.”

Will senta-se com os braços cruzados sobre o peito, observando a cena com diversão leve,enquantoRikaolhaparamim,perturbada.Seucorpo inteiroestá rígido,eela lançaumolharduroemBankspelocantodoolho.

“ElenãovaisecasarcomaprimadeDamon,ok?”Michaellevanta-se,parecendoqueeleterminoucomaconversa.“Issoéumabesteiradocaralho.Nósnãoprecisamosdohotel.Nósvamos...encontraroqueprecisamosdonossojeito.”Elemedáumolharcompreensivo,indicandonossabuscaporDamon.

Willagarraafotodamesaebrinca,“Bem,euvoucasarcomela.”

MasMichaelignora,mecutucando.“Kai?Digaaelaparairsefoderesair.”

Mas eu seguro seu olhar escuro, vendo o canto da sua boca curvar ligeiramente, incapaz deesconderseuprazernisso.

“Kai?”RikachamaquandoeunãorespondoaoMichael.

Respirofundoeencostonaminhacadeira,limpandoagarganta.“Pessoal,deixe-nossozinhosporumminuto,ok?”

“Kai?”Michaeldiznovamente.

Euolhoparaele,tentandopareceràvontade.“Algunsminutos,ok?”

Todosmeusamigoshesitam,olhandoentremimeagarotaeclaramentenãoquerendomedeixarsozinhocomela.Eraumcréditoparaela,eusuponho.Queelesachavamqueelaeratãoperigosa.

Elessaemdasalaefechamaportaatrásdeles,epegoafotografia,segurando-a.“Vocêachaquepodememostrarumafotoesozinhadevemedizerqueéamulhercomquemdeveriaterosmeusfilhos?”

Elaencolheosombros.“Elaéjovem,saudável...oquemaisvocêprecisasaber?Elavaiagradá-lo.”

Sorriobaixinho.JesusCristo.“Éprecisomuitoparameagradar,”provoco.“Lembra?”

Seusorrisodesaparece,eelaendireita-senacadeira.

Jogoafotodevoltaparaela,fazendoissovoarporcimadamesa.“Digaaeleparairsefoder.Éacoisamaisabsurdaquejáouvifalar?”

Edestavez,elasorriquandopegaafotonafrentedelaedeslizadevoltadentrodesuajaqueta.

“Porqueestásorrindo?”

“Eudisseaelequevocênãoiriaconcordar.”

“Você acha que eu deveria?”Retruco. “Você acha que isso não é apenas alguma formahorrívelparaGabrielmecolocarsoboseucontrole?Éridículo.”Eulambomeuslábiossecos.“Eestousurpresoqueeleiriaquererumdescendentedejaponêspoluindoosanguedafamíliadequalquermaneira.Parecediferentedele.”

Na verdade, era exatamente como ele. Ligandominha família com a sua. Para sempre emmeurosto.

Ela exala lentamente, como se calculando suas próximas palavras enquanto ela cruza as mãossobreamesa.“Euseioquevocêrealmentequer,”dizela.“VocêquersaberondeDamonestá.Vocênãoquersersurpreendido.Eagora,vocêéumratoemumlabirinto.Vocênãosabeparaondesevirar,evocênãovaiverqueescolheuoladoerradoatéquetenhaidolongedemais.”

“Oquevocêquerdizer?”

“Ouseja,vocêestápresoagora,”elaatiradevolta.“Eumavez...vocêeraocaçador.”

Eu inclinopara frente, descansandoos antebraços sobreamesanovamente. “Vocêquer que euencontreele?”

“Eunãopoderiame importarmenos se você destruir toda esta cidadeprocurandopor ele,” elaresponde.“Estouaquiparaentregarumamensagem.Nadamais.”

“Masvocêdeviasaberqueeuiarecusar.”

Elaassentecomacabeçaumavez.“Sim.”

“Então,porqueveio?”

Agoraelaeraaúnicaahesitar.Elaestendeamãoepegaumpedaçodepapeleumacanetadomeiodamesa,olhandoparabaixoquandoelacomeçaaescreverefalaraomesmotempo.

“Porquedepois da sua recusa,” ela começa, “eu vou sair.”Ela rabisca no papel, provocando-mecomassuaspalavrassuaves.“Entãovocêiráláparacimaesairáparaoterraçoabertoparaexercitarnoardanoite.Vocêirágostardissoláfora,maisagora,eupossodizer.”

Meusolhosardemenquantoolhoparaela.Oque?

“O tempoestáesfriando,por issoémaisconfortávelapráticaaoar livre,nãoé?”Elacontinua,aindanãoolhandoparamimenquantoescreve. “Ecoma resistênciaquevocêpossui, a suamente iráeventualmentevoltarparaanossadiscussãoestanoite.Vocêvaipensaremcomotãopoucoestáemseucontrole.Vocêvaipensar:'Oqueeufaçoagora?'ecomosuavidaestáemumimpasse,ecomoapequenacoceirasobapelechamadaraivaestáficandomaisforte?”

Paroderespirar,eelaolhaparacimaeencontrameusolhos,prazercompletoescapandodoseuolharemealcançando.

“Está crescendo e crescendo e crescendo todos os dias,” diz ela, cortando aindamais profundoquandoficoalisentadoimóvel.“Porqueasuavidateenvergonha.Nemmesmosetornoupróximadoqueeraantesdevocêserpreso.”

Elabaixaosolhosecomeçaaescrevernovamente.“Todososseusamigosdoensinomédio–bem,quase todos– foramparaa faculdade,escolasdedireitodeprestígioeescolasmédicas,deixandosuas

famíliasorgulhosas,”elacontinua,“eànoite,elesvãoaclubesepegamgarotasjovensequentesquelhesdãoumboquetenocarronavoltaparasuascoberturas.Elesestãonotopodomundosempreocupações.”

Osriscos lentosdasuacanetanopapel,soamcomoumalâminadeesculturaemmadeira.“Masnão você,” ela zomba. “Você acha que é uma piada para eles. Até onde o garoto de ouro caiu. Umavergonhaparasua família.Ahistória infamequeelesvãocontarnareuniãodoensinomédioemcincoanos,aqual,infelizmentevocênãovaiestarpresenteporquenofundovocêsabequeelesestãocertos.”

Elatampaacanetaeacolocadevoltanosuporte,nocentrodamesa.

“Entãovocêvaientrardepoisdotreino,evaitomaroutrobanho.Seuterceirohoje.Issolavaoódiodesimesmoporpoucotempo,nãoé?”Eladobraopapelaomeio,aprofundaovincoenquantoseusolhosmeseguramcomoumaâncora.“Entãovocêvaisaireirparaumclubeeencontraralguém–qualquerum–paratomartodaessaraiva,demodoquevocêpodepelomenosdormirporalgumashorashojeànoite.”

Euapertomeuspunhos,pressionando-osnamesaenquantomelevantodaminhacadeira.Precisode tudo o que tenho para não agarrá-la no pescoço. Caminhando até ela, eu inclino, empurrando suacadeiradereclinar.Seusorgulhososolhosmeencontram,desafiando-me.Ondediaboselaconseguiutudoisso?Elaestavameobservando?

Nãoodeioaminhavida.Nãoestoucomraiva.Euservimeutempo.Asentençafoidada,eeunãoestavachafurdandonaautopiedade.Seicomomelevantareseguiremfrente.

Ou,pelomenoseuestavatentando.

“Equandovocêacordar,”eladizbaixo,quasesussurrandoparamim.“Vocêvaiperceberoquantotudoaoseuredoréumaporcariaecomoéhoradeentrarnojogomaldito,KaiMori,eaceitaralgumaschances.”

Caramba.

Ela ergue o pedaço de papel dobrado entre nós. “A herança dela,” ela diz, entregando-me. “Vaifazervocêumhomemmuitopoderoso.Maispoderosodoqueseusamigosnuncaserão.”

Ela se levanta da cadeira,me forçando para trás, emeu corpo é preenchido comummal-estarrepentino.Elatinhameirritado,esabiadisso.Maseunãotinhaafetadoela.

“VouesperaratéamanhãparadizeraoSr.Torranceasuaresposta,”elamediz.“Apenasnocasodeouvirdevocêhojeànoite.”

Estendoamãoeagarroseubraço,parando-a.“Eufizummontededecisõesruinsnaminhavida,”digo,depéaoseulado.“Nãovoufazermaisnenhuma.”

Elaolhaparamimepuxaseubraçodomeuaperto.“Esperoquenão.Vocêfezmuitas.”

Elamove-separasair,maseubloqueioelanovamente.Deslizandoopapelqueelamedeuemsuajaquetasemolharparaele,recuperoaimagememvezdisso.Finjoolharparaafoto.

EuprecisavadeDamon.

Eeuprecisavadaquelehotel.

Masseelenãoestavalá...

Euolhoparabaixoemseusolhospenetrantes, lembrandoocheirodoseucabelo,avisãodeseusorriso, e a sensação de seumedo e excitação.Ela era a única coisa que eu nunca tinha visto ele serpossessivo.

Seelenãoestavanohotel,entãoelaeraopoder.

“Digaaelequetemosumacordo,”digoaela.

Elapiscaparamimporummomento,eseiqueelanãoestavaesperandoisso.

Masquandoelaalcançaamaçaneta,eucolocominhamãonaporta,mantendo-afechada.“MasvoupagarpeloThePope,”esclareço.“Emvezdisso,meupresentedecasamento...serávocê.”

Elasevira,eeufinalmentevejoalgumaemoçãoemseurostoquandoelameolha.“Eunãoestounaproposta.”

Enãopossodeixardesorrirparaela,minhamentesujaencontrandooduplosignificado.

“Vocêtrabalhaparamimatéocasamento.Esteéoacordo.Váedigaaelemeustermos.”Eurecuo,derepentemuitoconfiante.“Irádescobrirquevocêéexatamenteoqueeudissequeera.Brinquedoouferramenta.Nadamais.”

Deixo seu lado e caminho de volta aminhamesa. Enquanto sua posição comGabrielme deixaperplexo, eu sabia que o homem iria vender sua alma para fazer dinheiro. Não havia nenhumapossibilidadedaquelagarotaserdemuitovalorqueelenãoiriasacrifica-laparaverseueuiriaconcordarcomseustermos.

“E,Banks,”digo,vendoelapuxaraporta,umapequenabrasadofogoquemelembravanelatodosaqueles anos atrás, finalmente, apareceu novamente. “Uma vez que ele concordar, recolha as chaves,códigoseprojetosparaohoteletraga-osparamim.Euqueroaquiamanhã.”

Elanãoseviraoudemonstrareconhecermeupedido,maseuvejoairritaçãoemseurostoantesqueelasaiadoescritório,batendoaportaatrásdela.

Meupeitobalançaquando soltouma risada silenciosa.Seguindoatrásdela, vejoelaenfiar suasmãos de volta nos bolsos do casaco e ignorar osmeus amigos que estão no saguão. Paro ao lado darecepção,vendo-adesaparecerpelasportas,emomentosdepoisumSUVpretodesaparece.

“Oquevocêfez?”Michaelseaproxima.

Mas eu continuo olhando as portas atrás dela, murmurando, “Ela disse 'destrua a cidadeprocurandoporele’.”

“Oque?”

“Eladissequenãoseimportavaseeudestruíssetodaacidadeprocurandoporele,”digodenovo,maisalto. “Eununcadisseaelaquepenseiqueeleestavanacidade.”Ebalançoacabeça,agoracommaiscertezadoquenunca.“Eleestáaqui.”

Viro-meparavoltaraoescritório.

“Vocênãovaisecasar,”Michaelgritaatrásdemim.

Olhoparatrás.“Eunãovoumecasar,porra.”

Capítulo6Banks

Devil’sNight

Seisanosatrás

Talvezeuestareiporperto?

Eudisse isso.Porqueeudisse issoaelenoconfessionário?Eporqueprovoqueielenaestradamaiscedo?Nãohavianenhumamaneiraqueeuestariaporpertoouteriapermissãoparairaqualquerlugarhojeànoite.NãonaDevil’sNight.

Mas, finalmente, sendo capaz de me envolver com ele, não pude me conter. Ele era como umquebra-cabeça, dando a impressãodequehavia tantas coisas que ele queria dizer,mas ele lutouparaconseguirassuaspalavras.Edepois...devezemquandonaqueleconfessionário,elesemostrou.Seuegoreal.Omonstroquemeuirmãodissequetodostinhamdentrodeles.

Sigopelaestrada longa, testandominhabicicletaapósosreparosqueeutinhafeito.Soltomeusdedosdoguidão,eespalhandoaminhamão,euestudominhasunhassujas.

Elenãogostariademim,certo?Eunãoeraotipodele.

Eleestavaacostumadocomgarotasquepareciammodelos,comcabeloderevista,sombradecemdólaresesaltosdurantedias.OlhoparaovelhoVansdomeuirmãoemmeuspés–aquelesquetinhamficadopequenosparaeleseisanosatrás–permanentementemanchadodeóleoqueeletinhaderramadosobreelesmuitosverõesatrás,eotecidorasgandonaemendacomasoladeborracha.Eunãopareciaumagarota,muitomenosumamulher.

Eaosdezesseteanos,euestavatãolongedeoutrasgarotasdaminhaidade.Kainãopodiaservistocomigomesmoseelequisesse.Euiriaconstrangê-lo.

Enuncaseriacapazdemedaraoluxodeparecercomoeupoderia,atémesmotentarmeencaixarcomeleesuaturma.

Eu respiro as sempre-vivas emambos os lados do asfalto quando o vento derrubameu capuz eacariciameucabelo.

EmtodasasvezesqueeutinhavistoKaipertodeThunderBay,pertodaminhacasa,nojogodebasquete...eleerafrioecalmo,tocadopornada.

Masnãohoje.Deixeielenervoso.

Sorrio,pedalandomaisrápidoenquantoeuclicoopequenocontroleremotopretopresonoguidão.SmellsLikeTeenSpiritdominameusouvidos,edesvioparaaesquerda,aproximandodosportõesdeferrologoqueelesseabremparamim.Segurofirmenodeclivedaestrada,edesçocorrendoacolinaíngremeepavimentadadaminha entrada.Segurandooguidão reto, fechoos olhos, sentindo instantaneamentemeucoraçãosaltarparaminhagargantacomarajadadeventoeasensaçãomedominando.

Deixeielenervoso.Minhapeleaindaformigavaondeeleesfregouquandoagarroumeumoletom.Oqueeleteriafeitosemaquelaparedeentrenós?

Umabuzinasoa,eabroosolhos,vendoumdoscarrosdomeupaiavançandoemminhadireção.

Merda. Eu desvio fora do caminho, virando à direita, e passo voando pelo Bentley, evitando ocontato visual. O caminho fica nivelado, e eu continuo por ele, sentindo os olhos nas minhas costasenquantodesapareçoatrásdacasa,foradavistadocarro.

A chuva da noite passada ainda refrigera o ar, mas o chão está seco quando desço da minhabicicletaeempurroelaatrásdascercasentreasduasgaragens,umacheiadecarrosquenuncaforamligadoseumacomjanelasescurecidaseumtecladonuméricoquequaseninguémsabiaocódigo.

Escondo a bicicleta fora da vista e vou rapidamente até a parte de trás da casa. Entrando nacozinha,euimediatamentesintoocheirodetodaacomidaequasegemoquandofechoosolhosporummomento.

Marina,umadascozinheirasda família,estava fazendopãohoje,eeu fechoaporta, sentindoocalor.

“Ondevocêestava?”OuçoavozdeDavideolhoparaa longamesademadeiranomeiodasalaondeeleestásentadocommaisdoissegurançasdomeupai,IliaeLev.

Olhoparaooutrolado,caminhandoparaofogão.“Arrumandominhabicicleta.”

Marinalimpaasmãosemumatoalhaepiscaparamim,levantandoatampadapanelanofogão.Inclino,respirandoesorrindoparaasopadecastanhaecogumelos.

“Quandooseuirmãomechama,”Davidvocifera,“eeunãoseiondevocêestá,sintoqueelevaialcançar o telefone e arrancar minha garganta. Você está memetendo em encrencas, Nik. E se vocêestiverindoparaaconfissão,avise-noseumdenósvailhedarumacarona.”

Reviroosolhosparamimmesma,pegandoa tigelaqueMarinameentrega.Caminhandoparaamesa,sentonobancoaoladodeDavid,tirandoumpedaçodepãoquejáestáservidonaminhafrente.

“Deixaagarotaempaz,”Marinarepreende,vindoatrásdemimepuxandomeucabeloparaforadomeumoletom,penteandocomosdedos.“Elaprecisadeumpoucodeliberdade.”

Elefazumacaretaparaela.“Tenteexplicarissoaele.”

Euficoemsilêncio,sabendoqueeleestavacerto.Eletinhaodireitodeestarcomraiva.Ninguémquerialidarcomomeuirmão.Levantando-me,andoatéapiaparapegarumacolherlimpa.

OuçoIliafalar.“Sim,eunãopossomesmodizer-lhequevocêrouboualgumasdasminhascervejasontemànoite.”Elemeagarraemeprendecomumachavedebraço.“Eleapenasvaimeculparporlevarvocêatentação.”

Contorço,tentandomelibertar.“Parecomisso!”Grito,oodordecigarrosesuorinundamminhasnarinasmefazendoengasgar.

“Eunãoroubeisuascervejas!”Grito.“Vocêestavaprovavelmentebêbadodemaisparalembrarquebebeutodaselas!”

Eufinalmentebatominhacolhernapartedetrásdasuacabeça,eelemesolta,rindo.

Ficoempénovamenteemesentoàmesa,franzindoocenho.Idiota.

Mergulhandoumpedaçodepãonasopa,euolhoparabaixo,comendoetentandomanterminhaboca fechada.Ocalorespalha-seemminhabocaenaminhagarganta, filtrandoatravésdomeucorpoenquantotentoignorarosolhosdetodosemmim.

“Então,quantapenitênciavocêrecebeu?Huh?”Iliacutucameuombro,nãodesistindo.“Roubaraminhacerveja,não fazercomo lhedisseram,comoumaboagarota...”ele listaosmeuspecados.“Vocêtemquaisquerpensamentosimpurosainda?”

“Pergunteasuanamorada,”respondo,minhabocacheiadecomida.“Elamecobiçamaisdoquecobiçavocê.”

Levbufa.

“Suamerdinha,”Iliadizentreosdentes,cutucandominhabarrigacomosdedos.

Eu me afasto, mas ele circula seus braços em volta do meu corpo e me faz cócegas. Eu mecontorço,atingindo-onopeito.“Deixe-meempaz!”

Maseleapenasri,movendoasmãosdebaixodosmeusbraçose,emseguida,voltandoparaminhabarriga.

“Deixaelaempaz,”ouçoDaviddizer.

“Mmm.”AmãodeIlia‘acidentalmente’encontra-sepertodaminhabunda.“Conseguindootipodeperversãoaíatrás,nãoé?”Elemebeliscasobreojeans.Movendo-meparalongedele,preparominhamãoeatinjoseupescoço.

“Tudobem,osuficiente,”Marinarepreende.“Foradaminhacozinha.Fora.Todosvocês.Agora!”

IliaeLevriem,empurrandoosbancosenquantoselevantamesaemdacozinha,Iliamedandoumtapinhana cabeça enquanto ele se afasta.David levanta-se, tomandoo restodo seu café e largandoacanecaantesdesairdacozinhasemdizermaisnada.

Engulomaisalgumascolheradasdesopaelevanto,pegandomaisumpedaçodepãonamesaparalevarcomigo.

Levantandodobanco,eucaminhoemdireçãoaescadadosfundos,quelevaparameuquarto.

Masumavozatrásmeimpede.“Nik.”

Paro,endireitandomeusombrosparamepreparar.Eutinhaesperançadeescapar,maseratardedemais.

Marina não éminhamãe, mas ela assumiu o cargo. Tínhamos um acordo. Eu ia e vinha comoqueria,eelareservouodireitodemedizeroqueelagostavaounãosobreisso.

Minhamãeverdadeiramalpodiacuidardesimesma,muitomenosdemim.

Virando-me,rapidamentedouumamordidanopãoqueseguro,esperandoqueseriaumsinaldequeeunãoquerofalar.

Maselaseaproximadequalquermaneira,seusolhosazuisnivelandoosmeuseuma inclinaçãosolidáriaemseusorriso.“Pormaisquetente,”eladiz,“seuirmãonãopodepararotempo.Nãoimportacomovocêencobreouquãograndesãoasroupasquevocêusa,vocênãopodeseesconderparasempre.Seucorpoestámudando.”

Calorimediatamentesobeemmeurosto,eeuqueriadesviaroolhar,masnãofaçoisso.“Então?”

“Então,oshomensestãocomeçandoapercebervocê,”elaaponta,mais insistente. “Vocêéumagarotabonita, enãoachoqueéumaboa ideia...”Ela fazumapausa como seestivesseprocurandoaspalavras certas. “Eu não acho que eles deveriam lidar com você assim mais. Eles vão começar a terideias.”

Elalevantaasmãoseesfrega-asemmeusbraços,acrescentando,“Seelesjánãotem,claro.Vocêéumamulheragora,eseucorpoéseu.”

Destavezeudesviooolhar,inalandoumarespiraçãopesada.

Umamulher.Eunãoestavacrescendo.Meucorpopoderiamudartudooquequeria,maseununcaseriaumamulher.Nuncaserianadaalémdoquesounessemomento.

“Estátudobemcrescer,”Marinaquasesussurracomoseestivesselendominhamente.“Estátudobemsevestireusarmaquiagemcomoasoutrasmulheresfazem,seéissoquevocêquer.”

Segurominhaamargarisada.“Eunãovejocomoissofazalgumsentido.Nãoqueroqueessescarasmenotem-inclinominhacabeçaparaocorredorondeIlia,Lev,eDavidtinhaacabadodepassar,“-entãoporquechamarmaisatençãoparamimmesma.”

Porquevestireatémesmotentarficarbonita?

“Porquesim.”Marinasorrigentilmente,pegandoumtubodobolsodoseuavental.Vejoquandoeladestampaetorceabase,fazendoumbatomvermelhoaparecer.

Ela aproxima o batom dosmeus lábios, e eu recuo por reflexo,mas paro quando ela começa adesliza-loemminhaboca.

Sorrindo,elaafastaamãoemeviraparaoespelhoqueelatinhapenduradonaparedeaoladodadespensa.

Pisco, surpresa. Eu raramente olhava no espelho, recusando-me a encarar o que eu sabia queestavaacontecendocomminhaaparência,masnãoconseguiaparardeolharderepente.Apertandomeuslábiosjuntos,sintoalgoqueeunãosentiahámuitotempo.Umímpeto.

Overmelhoparecefazerminhapelemorenabrilharemumamaneiraqueeununcatinhanotadoantes,emeusolhosverdesmeperfuramenquantoolhamdevoltadoespelho.Atéomeucabelopareceummarrommaisrico.

“Porque,finalmente,”Marinacontinua,“haveráalguémcujaatençãovocêquer.”

EumaimagemdeKaisurgenaminhacabeça.Oqueelepensoudemimhoje?

Marinavira-se,voltandoaotrabalho,eolhonoespelhomaisumavezantesdeiratéaescadadosfundos.

Ascoisasestavammudando.Meuirmãomemantevetodaparaele,eenquantoeleerameumundo,euestavacomeçandoamesentircomosepudessecaberemmais.Euqueriamais.Umavidamaior.

Tenhodezesseteanos.Eunão tenhoamigosenemeducação formal.Oqueeu farianopróximoano,quandomeuirmãofosseparaafaculdade?Eupodiaignorarcomomeucorpoestavamudandomasotempoestavapassandodequalquermaneira,garantindoqueanossavidaevoluiu.Euteriaqueserumaadulta,finalmente.

Chegoaosegundoandar,rapidamentesigopelocorredor,indoparaoquartodomeuirmão,masum ruído me chama a atenção, e eu paro. Olho para a janela no final do corredor, vendo a árvorebalançandocomoumabandeiranoventoforte.Douumpassomaisperto,olhandodoladodefora.

OqueKaiestavafazendoagora?Pregandopeças,festejando,outalvezfazendoumadascoisasqueeleconfessouhoje?Emsuamaneira,numasalaprivadaemumclubeoualgoigualmentedolorosoparamimpensar?

Olhando para baixo, vejo um Charger me encarando – bastante novo – com uma listra pretadesenhadanalateral.Minhassobrancelhasseunem.Dequeméessecarro?Eunãoreconheço.

Mas,emseguida,umestourosurge,eafastominhacabeçadajanela,olhandoparaocéuacimademimenquantoeuouçoozumbidoeapitologodepois.Issoera...umfogodeartifício?

De repente, um segundo, terceiro e quarto estouro, parecendoque estava vindoda florestanasproximidades, queimando e sibilando acima, e ouço um tumulto lá embaixo enquanto parece quemaisfogos de artifício começam a explodir no céu perto da casa. Portas se fecham, e eu olho por cima docorrimão,vendofuncionárioscorreremparaosfundosdacasa,provavelmentesaindoparafora.

Quediabosestavaacontecendo?

Viro-meparavoltarainvestigar,masentãoalgoéempurradosobreaminhacabeça,medeixandonoescuro,eumeviro,ofegante.

“Oquê?”Euchoro,meucoraçãopulandonaminhagarganta.

Mãosagarrammeusbraços,opanosobreaminhacabeçaapertaemvoltadomeupescoçoemeuspéssãolevantadosdochãoenquantosoucarregadaescadaabaixo.

“Solte-me!”Eubatoechuto.Queporraestavaacontecendo?Quemsãoeles?

Umamão desce sobre o pano, cobrindominha boca, e eu continuo a contorcer e torcer contraaqueleapertoenquantopassosfortesbatemnosdegrausdaescada.Quantossão?

“Socorro!”Eugrito contra amão.Osmúsculos domeuestômagoqueimamenquanto eu resistocomtudooquetemdentrodemim.

OhDeus.Oarfrioatingeminhascostasondeomoletomlevantou-senaluta,eeusintoseuspassosapressarem.

“Coloqueelaaídentro!”Umdelesgrita.“Rápido!”

Osfogosdeartifíciovãoàloucura,queimandoaliperto,eeucontinuoalutar,torcendoacabeçaparatráseparafrenteparaconseguirlivrarminhaboca.

“Socorro!”Meugritoabafadoescapa.

Paraissoqueserviamosfogosdeartifício.Umadiversão.

Euvagamenteouçoalgoclicareumavozdehomemzomba,“Esperoquevocênãoseimportecomespaçosapertados,pequena.”

Alguémri,ederepenteeuestoucaindo,atingindoumasuperfícieduramuitaaltaparaserochão.Eentão,qualquer luzquevematravésdocapôdesaparececompletamenteealgo fecha totalmenteemcimademim,todooruídofracoesemgraçaagora.

Espaçosapertados.Euesticominhasmãosepernas,cadaumdelesbatememumabarreira,comoseestivesseemumcaixão.Ochãodebaixodemimtreme,euouçoasportasdocarrobaterem,movimentominhasmãosnaminhafrente,encontrandoumatapeçariadefeltroacima.

Estoupresa.Omotor ruge, e entãoentendo tudo.Estouemumportamalas.Eu imediatamentecomeçoabaterechutar.“Não!”Eugrito,amãocobrindoabocaagoralivre.“Porfavor!Deixe-mesair!”

Rasgandoolaçoemvoltadomeupescoço,eupuxoearrancoosacodaminhacabeça,sugandoemumagolfadadear.

Eentãoeubatono tetoacimademim.Grito tãoaltoquantopossoe faço tantobarulhoquantopossívelnaesperançadequealguémfossemeouvir.

“Deixe-mesair!”Eugrito,minhagargantaqueimaenquantogritoatéaúltimagotadefôlegodosmeuspulmões.“Ilia!Lev!David!Socorro!”

Porra!Ocarroembaixodemimsemove,eeuroloumpoucocomomovimento.“Socorro!”Batomeuspunhosmaisemaisrápido,ficandolouca.Quantomaislongeelesmelevassem,maiorachancedenuncamaisserencontrada.

Música alta tocamonotonamente no interior do carro, emeu caixão demetal vibra debaixo demim,obarulhoabafandoosomdosmeusgritos.

“Oh,Deus,”choro,meusolhoscheiosdelágrimas.“Porfavor.”

Eucomeçoachoramingarincontrolavelmente,sugandorespiraçõescurtasesuperficiaisenquantobatominhasmãospeloassoalhodoportamalas,tentandoencontraralgoquepudesseusarcomoarma.Umaferramenta,umarodadeferro,algumacoisa.

Mas o porta malas está completamente vazio, e eu balanço a cabeça. Meu pai nunca viria mesocorrer.

Foda-se.Batomeuspunhos, batendo a tampa emcimademimdenovo e denovo, nemmesmoparandoquandoelescomeçamadoer.Elesiamfazeroquequeriamfazer.Eunãoiadeitaraquieesperarpor isso.Podehaverumachance,algumacaso,umcarroquepassavaoumesmoumacriançaemumabicicletapodemeouvir.

“Socorro!”Eugrito,tentandofazerminhavozserouvida.“Sooooocoooooorro!”

Ocarrofazummovimentobrusco,eeubalançoparafrenteeparatrásnoportamalas.Pensoquenósviramos,ederepenteaestradadebaixoécascalho,enósdesaceleramos.

Maseucontinuogolpeandoebatendo,chutandoegritando.Virodeladoecomeçoachutarcontraa parede atrás do banco de trás, esperando que possa haver algum tipo de fuga, já que eu sabia quebancos traseirosde alguns carrosdobravam, abrindoparaoportamalas.Masdesdequeeunão tinhavistoquetipodecarroquefuijogadadentro,eunãopodiatercerteza.Então,tentodequalquermaneira.

Ocarrocontinuaaabrandar, edepoisele finalmentepara.Eu respirocomdificuldadeeescuto.Deslocandoosolhosnaescuridão,ouçoamúsicasendodesligada,ocarro ficaemsilêncio,easportascomeçaramabater.Quantosdelesestãolá?Pelomenosdoismelevaramparaforadacasa.

O medo percorre meu corpo, e um pequeno suspiro escapa. Eu cubro minha boca com a mãotremendoquandoumalágrimaescorrepelaminhatêmpora.

Trêsgolpesatingematampadoportamalas,emeusolhosarregalam.

“Váemfrenteegrite,”umavozarrogantedehomem–amesmadeantes–diz.“Nãoháninguémporpertoparaouvi-laagora.”

Euouçoorisoabafado,enãoseioquefazer.Querosairdaqui,masaomesmotemponão.Oqueelesvãofazer?

Masoutravozsurge,essamaissuaveemaissombria,parecendocentímetroslongedemim.“Vocêdissequequeriasercaçada.Certo?”

Minharespiraçãoficapresanagarganta.

Kai?

Minhatestafranzequandoascoisascomeçamafazersentido.Medosetransformaemraiva,emeuolhartentaqueimarumburacoatravésdatampadoportamala.

“Vocêvêessapequenaalavancaverdebrilhandonoescuroaí?”Perguntaele.“Puxe-a.”

Alavanca?Qual?Olhandoaoredor,finalmentevejoalgoverdebrilhantenocantoàminhadireita.Épequeno,masfacilmentevisível,eeunãoseicomonãoviissoantes.Temumafotodeumcarrosobreela,eeuestendoamãoepuxou-a, oportamalas imediatamenteabreeum feixede luzdodiade repentebrilhadentro.

Exalo,meusnervosrelaxando.

Empurrandoatampaaberta,olhoparacima,vendotrêsdelesdepénaminhafrente,comosolhospoucovisíveisatravésdesuasmáscaras.Arisadavemdoligeiramentemaisbaixoaesquerda,namáscarabrancaevermelha–Will–eeurapidamentelimpominhaslágrimaseescapodoportamalas.

“Idiotas!”Eugrito,empurrandoaquelecomamáscaraprataqueseiqueéKaicomambasasmãos,e,emseguida,avançoebatodiretamentenopeitodeMichaelqueusaamáscaravermelhaerígida.Elespodemnãosabermuitosobremim,masseiexatamentequemelessãoeasbesteirasquegostamdefazersimplesmenteporquepodem.Eunãopossoacreditarqueelesfizeramisso!Meninosricosbrincandodesermaus.

Masapiadaerasobreeles.Vocênãoérealmenteruimquandovocêsófazmerdasobasegurançadenuncaterquesofrerasconsequências.

EondeestavaDamon?Olhoemvoltadosquatro,masalémdetodososcarrosnoestacionamento,

estávazio.

“Issonãofoiengraçado,”reclamo.

Aquele no meio simplesmente olha para mim, enquanto os outros dois riem suavemente, seafastandoenosdeixandosozinhos.Sigoelescommeusolhos,vendo-osentrarnaflorestaedesaparecerentreasárvores.Maisdeduasdúziasdecarrosestãoestacionadosnocascalhodopátioimprovisado,masnãotemconstruções,nemcasas,apenasflorestaecarros.

Ondediabosestamos?Pareceapenasumaclareiranafloresta.

Viro-me,vendoKaiseaproximardemim,amáscaracontinua.Elecolocaumamãosobreatampaeapontaparaaalavancaqueeutinhapuxadopordentro.

“Cadacarrofeitodesde2002temuma,”elemediz.“Seissoacontecercomvocêdenovo,jásabeoquefazer.”

Façoumacaretaparaele.“Seissoacontecerdenovo,minhaequipenãoserátãoeducadacomoforamantes.”

Davidpodemeirritarmuito,maseleiriacortaralínguadelessesoubesseoquetinhamfeito.

Masentão,derepente,Kaimeempurra,fazendocairdevoltadentrodoportamalassentandonoassoalho.Minhaspernaspenduradasdoladodefora,olhoparaele,seucorpolongobloqueandoaminhafuga.

“Issodeveriaserumaameaça?”

E então ele se inclina, sua máscara terrível a dois centímetros do meu rosto, fazendo meuestômagorevirar.“Fuicriadoparaserumcavalheiro,”dizele,“massevocêenviaroutroshomensatrásdemim,prendendomeuinteresse,seráopiorerroquevocêjáfez.”

Forçoumsorrisocomdesprezo,masumarrepiopercorreminhacolunadequalquermaneira.

Eleendireitasuaposturaelevantaamáscaranasuacabeça,revelandoorostoqueeusabiaqueestavaporbaixo.Seusolhosescuros,sobsobrancelhasaindamaisescuras,olhamparamimcomdesafio,eumasensaçãodemauagourobeliscaminhasentranhas.Maseunãodesviooolhar.

Umalevecamadadesuorcobreasbordasdeseucabelo,deixandoissoconfusoesexy.Tãoraroparaeleteralgumacoisaforadolugar.

Semdizerumapalavra,eleseafastademim,emdireçãoàfrentedocarroeforadavista.

Eu ouço o barulho do cascalho sendo esmagado lentamente ficar cada vezmais fraco, e entãodesaparececompletamente,euvirominhacabeça,confusa.

Oque?Eupuloparaforadoportamalasefechoatampa,olhandoporcimadocapô.Ondeelefoi?

Ondetodosforam?

Ummardecarrosespalhadosdiantedemim,umaflorestadeárvoresemtodasasdireções,eeuolhoparacima,vendoasprimeirasestrelasapareceremnocéudesafira.Osolsepôsháumtempoatrás,eficaráescuroembreve.

Calafrioscobremmeusbraços.Merda.

Virandoacabeçavejoaestradadeterraestreitaquepassamosatrásdemim.Ofatodeestarlivreeserpentearemumacurvadesaparecendodevistameassusta.Eudeveriairporessecaminho.Tinhaquelevaràautoestrada.

Masamúsicaalertameusouvidos,eeumevirodevoltaparaocaminhoondeKaiseguiu.Ogritoanimadodeumagarota invadeanoite, e eu estudoa escuridãoda florestadensaa frente enquanto abatidadosautofalantesvibramnomeucorpo.

Todosestescarros,todasaquelaspessoas...elesestavamnaflorestaemalgumlugar.Issoeraumafesta.

Olho para trás novamente. Eu deveria seguir para a estrada. Caminhar para casa, pegar umacarona...qualquercoisaassim.

Mas ele me trouxe aqui, não trouxe? Talvez eu estivesse um pouco curiosa. Ele estava medesafiando.

Caminhandoaoredordocarro,sigodiretoparaafloresta.Alguémnessafestateriaumtelefone,eeu ligariaparaDavid.Ele iriameculparpor isso,mas ficariadeboca fechada.Nenhumdenósqueriasofrerasconsequênciasdeeuestaraqui.

Corro, olhando ao redor enquanto as folhas douradas e laranja remexem debaixo dos meussapatos.Ocheirodelenhaalcançaminhasnarinas,maseunãovejoumafogueiraouquaisquerpessoasainda.Ondeelesestão?Euaindapossoouviramúsicaaolonge,entãoeucontinuodiretamenteentreasmadeirasescuras.

Lançoumolhardevoltaparaoestacionamento,aluzdaclareiraficandomenor.

Talvez isso não era uma boa ideia afinal. Eu avalio a vegetação rasteira novamente. “Olá?” Euchamo.

Ondeestouexatamente?Eu tinha feitocaminhadasnamata,masnãoachoqueeu tinha ido tãolonge.Tenhocertezaqueopenhasco ficaaoitocentosmetrosàminhaesquerda,LochLairnCaveestáatrásdeStuartHillàminhadireita,edaBellTowerdeveser...

Bemali.Olhoparacima,àminhadireita,eestreitoosolhosàfrente,decifrandoatorredepedracercadedoisandaresdealturaeosarbustosaltoseverdesemtornodela.

A Bell Tower é uma ruína, parte de uma antiga vila que se extinguiumais de cem anos atrás,quando uma tempestade fez todo mundo seguir para o interior alguns quilômetros longe dali porsegurança.

“Olá?”Euchamonovamente.Talvezalguémestáali.“Olá?”

Meucoraçãodispara.Estavaficandoescuro.

“Kai!”Grito.

Meu pé fica preso em um tronco, e eu tropeço para frente, ouvindo um galho ranger àminhadireita.Levantominhacabeça,procurandodeondeveio.

Nada.

Emseguida,umsussurrodefolhassurgeatrásdemim,eeuviro,ofegante.

“Quemestáaí?”

Avistoalgopretoedirijomeusolhosapenasumpoucoparaaesquerda.

Kaiestádepéali,inclinandooombroemumaárvoreemeobservando.

Imediatamentedouumpassoparatrás.“O-Oquevocêestáfazendo?”

Quantotempoelejáestavalá?Eleestavaatrásdemim,oquesignificaqueeupasseiporelenaminhacaminhada.Umarrepiopercorreminhacoluna.

Eledáumpasso,suamáscarapenduradanamão.

Olhoemvolta.“Ondeestátodomundo?Porquevocêmetrouxeaqui?”

Elenãoresponde,seusolhospresosnosmeusenquantoeleseaproxima.Queporraéessa?

Douumpassoparatrásparacadapassoseuàfrente.

“Foiestúpidovocêmeespionarhoje,”eledizcalmamente.“Eumerroaindamaiorrevelar-semaiscedo.Eupoderianuncasaberqueeravocê.”

Engulo o caroço naminha garganta, ainda recuando. Amúsica ao longe parece paramim umatábuadesalvaçãoderepente,eeleprovavelmentesabeoqueestoupensando.

“Vocêdevecorrer,”dizele,suaadvertênciafriaecalma.

Eudevo?MasesteeraKai.Eunãooconhecia,maseuoobservei.Eleeraobom.Oquieto.

Eleestavabrincandocomigo.

“Você...”gaguejo.“Vocênãovaifazernada.”

“Comoeunão fiznadaparaaquelagarotanochuveiro?”Elemedesafia.“Vocêachaqueeu iriapassarportodoesseproblemaparatrazervocêaquiapenasparadeixá-lair?”

Talvez.Sim.Ok,não,mas...

“Veja, eu não gosto de ser provocado,” continua ele, uma de suas sobrancelhas arqueadas.“Respeitoereverênciasão importantesparamim,evocênãotemnenhum.Vocêprecisaaprenderumalição.”

“Issonãoéverdade.”Euorespeitava.Eunãosabiaqueeleiaestarnaqueleconfessionáriohoje.

Eunãoqueriaouvir.

“Nãotenhomedodevocê,”digoaele,masmeuspésmetraem,aindarecuando.

“Issoéporquevocêachaquesabeoqueestáacontecendoagora.”

Ederepente,euencontroumaparede.

“Masvocênãosabe,”eletermina.

Congelo, sentindo alguma coisa atrás de mim. Lentamente, eu viro para verMichael lá de pé,elevando-sesobremim.

Oque?EuvoltoaolharparaKai,vendoumcantodesuabocaelevarcomumsimplessorriso.

Ahmerda.

MinharespiraçãoficapresanagargantaenquantoacaveiravermelhadeMichaelolhaparamim,eentendoosentimentodeparedesfechandodeantes.Olhoemvolta.Estamosaquisozinhos.Eueeles.

EquantoaWill?Eleaindaestavaaquiemalgumlugartambém?

Eu mudo de direção, movendo para esquerda e afastando-me dos dois agora. Eles dão passoslentosnaminhadireção,Michaeltiraamáscarae,emseguida,seucapuzecamiseta,soltando-osnochão.

Minhaboca seabre, e o calordominaminhasbochechas.Seu tronco longo,bronzeadode jogarbolanosol,estábemnaminhafrente,eeubaixomeusolhos.EutinhavistoDavideoscarassemsuascamisasmuitasvezes,maselesnãoseparecemassim.

“Elaébonita,”dizKai,osdoiscaminhando ladoa ladoemdireçãoamimenquantoeucontinuoafastando.“Eelaparecefácilparanóslidarmos.Juntos.”

Ouçoa risada tranquiladeKai, edououtropassoatrás,de repenteencontroumaárvore.Enfiominhasunhasnacascaatrásdemim.

“Não tenha medo,” Michael me diz, e olho para cima apenas o suficiente para ver sua cuecaaparecendonacinturadoseujeans.“Nóssomosbons.Somosrealmentebons.”

Nóssomosbons?Elesnãoestavamfalandosério?

Eusaioemdisparada.Semolharparatrás,eucorropelaflorestaemdireçãoamúsica.Conseguirumtelefone,pegarumacarona,echegaremcasa.Pelaprimeiravez,oesconderijoqueeusempretinhaquefazersoamuitobemagora.Meuirmãoestavacerto.Carassãoidiotas.

Eu ofego, determinada a ficar longe. Kai teria deixado isso acontecer? Ser usada comoentretenimento?Haviaumardeperigosobreelenaigrejahoje,maseletambémfoigentil.

Derepente,Kaiestánaminhafrente,meimpedindo.“Espere,”elediz.

Mas eu não me importo com o que ele tinha a dizer. Empurro-o no peito, passando por ele efugindo.Eucontinuodeterminada,correndoomaisrápidoqueposso,mesmosemolharparaondeestouindo.

Braços envolvemminha cintura, e sou levantadado chão enquantoum sussurro rouco sopranomeuouvido,“Nãoéoquevocêpensa,”elemediz.“Foiumapiada.”

Oh,aindamelhor.Algoparaelessedivertirem.

“Porquevocêmetrouxeaqui?”Euchoro,tentandomelibertar.

“Shhh.”

Eletentameacalmar,maseusóbalançoacabeça.Eusóqueroirparacasa.Seeunãofuivista,nãopoderiaserhumilhada.

“Fiquelongedemim!”Eucontorço,sentindoeletropeçarquandonósdoiscaímosnochão.

Eupousosobreeleeouço-ogrunhir,masquandotentomelevantareafastarrapidamente,elemepuxadevoltaparao chãoe sobeemcimademim.Seucorpoaninhadoentreasminhaspernas, e eleapertameuspulsos,prendendo-osemcimadaminhacabeça.

“Deixe-meir,”digocomfirmeza.“Agora.”

Maseleapenaspairasobremim,meolhando.Suavirilhadescansanaminha,eeutentoignorarosnervosdespertando.

“Diga,”elesussurra.

“Dizeroque?”

“Quevocêquersóamim.”

“Euprefirolamberumacasquinhadesorvetedelâminasdebarbear,”respondo.

Elesorri.“Vocêmedeixoutetocarnoconfessionáriohoje.Gostoudemimtocandoemvocê.”

Acalmominharespiração,equilibrandominhaexpressão.“Mesmo?Eumalmelembro.”

Eleentãomove-seentreasminhaspernas,aumentandoodesafio,eumpequenogemidoescapademim.

Jesus.

Inclinando-se, ele provocameus lábios com os seus. “Fica?” Pergunta ele, calor enchendo seusolhos.“Eugostariaquevocêficasse.”

Deus, ele está em cima demim. Eu nunca tinha sentido o peso de alguém sobremim assim. Amenosqueeuconsiderelutarcomoscaras,emesmoassim,nãoeradomesmojeito.

“Oqueestáacontecendo?”Alguémpergunta.LevantomeusolhosparaverumagarotachegarcomMichael,queestáatrásdeKai.Quantotempoeleestevelá?

Elaprovavelmenteveiodafesta.Entãoestamosperto.

Kaiviraacabeça,falandocomMichael.“Váparaocemitério.Euresolvoisso.”

Michael não diz nada, mas eu vejo seus sapatos aproximarem do nosso lado, e então umpreservativocainochãobempertodomeubraço.

Meupeitodesaba.Oque?

Michaelafasta,levandoagarotacomele,eKaiolhaparamim.Elesoltameusbraços,apoiandoasmãosnochão.

“Pegueisso,”elemeordena.“Oufuja.”

Eupegoeatiroparalongedenós,emalgumlugaratrásdele.

“Nósnãoprecisamosdisso,”digoaele,desafiando-o.“Vocêestáapenastentandomeassustar.”

Masentãoelemoveseucorpo,empurrandosuavirilhaemmim,eeusintoadurezadentrodoseujeans.

“Ah,”gemo,eentãofechominhabocacomforça.Quediabos?

“Podemosprecisardele,”dizele,umsorrisoarrogantenorosto.

Meuclitórispulsa,eeumedeslocodebaixodele,querendomais.

“Quemévocê?”Elepergunta.

Maseunãopossodizeraele.Oconfessionáriofoiumacidente,eeunãotinhanenhumaintençãodecorrerparaelenovamente.Eunãoacheiqueemalgummomentoteriaqueenfrentá-lo.

Olhoemseusolhosescuros,querendofalarcomelenovamentecomofizemoshoje.Querendoqueelemeconheça.Maseunãotinhapermissão.

Emvezdisso,digoemvozbaixa,“Estoucomfrio.”

Eratudoqueeuconseguiapensaremdizer.

Kaiselevantaepegaminhasmãos,mepuxandoparacima.Maselenãomesolta.Emvezdisso,elemelevanadireçãoopostadeondetínhamosvindo.

ParaaBellTower.

Olhoemvolta,aindaouvindoamúsicaaolonge,eeupossoouvirgritoserisadastambém.Estamospertodafesta.Oqueeleestavafazendo?

Eusigo suaorientaçãodequalquermaneira,não resistindo.Minhasentranhasestão torcendoeamarrando-se damaneiramais emocionante. Isso era o que eu queria, certo?A chancede estar pertodele?

Aestruturadepedracinzaécercadametadedaalturadeumfarol,comumacâmaradesinonapartesuperior.Eunãotinhacertezaseosinoaindaestavalá,noentanto.Orelógiotinhahámuitotempoparadodefuncionar,eumarconosrecebecomumaportagradeada.

Eudouumpassoládentro,olhandoaoredoreanalisandoasproximidades.

Asparedescontémalgumasjanelas,ealgunsbancosdepedraforamconstruídosdentrodasala.Costumavaseralgumtipodecasaoulocaldeencontrosligadoàtorre,massemutilidadehámuitotempo.

Vasospretospenduradosnasparedescomdecadentesrosascordecinzaplantadasdentro.Quemsabiaquantosanoselastinham?

Umpoucodeluzentrava,fazendoovermelho,azuledouradodosvitraisrefletiremnasparedeseescadaemespiraldemadeirapresaemumaparede,tãoaltaquedesaparecedaminhavista.

Kaisoltaminhamãoepegaumacaixadefósforos,iluminandoopequenotocodevelaacomodadonoparapeitodajanela.Apequenasalabrilhaumpoucomaisquente,ederepenteficomuitoconscientedecomoestásilencioso,amúsicaquaseinaudívelaqui.

Suapresença–aantecipação–estápesadanomeupeito.Deus,eleélindo.

Suapeleestáumpoucomaisescuradoqueaminha–quente,bronzeadaebrilhante-eeumordoocanto domeu lábio, olhando para seu pescoço. Eu posso ver o sinal da veia através da pele, e eumeperguntoqualseriaasensaçãodetocá-la.

Euvisuamãeumavez.Eletemoslábiosdela,osorrisoecílios.

Mas Kai definitivamente pegou algumas coisas do seu pai também. Mandíbula angular, corpomagro,narizreto,eenquantoseucabeloégrossocomodasuamãe,eleénegrocarvãocomodoseupai.Eletambémherdouaqueleolharpenetrantedoseupai...Tãopenetranteeseveroquemeintimida.

Kaisevira,acintilaçãodavelaemseusolhos,eouçooventouivandonasárvoresatravésdaportaaberta.

“Comovocêmeconhece?”Elepergunta,andandonaminhadireção.

“Todomundoconhecevocê.”

“Vocêvaiparaanossaescola?”

Eubalançominhacabeça.“Eusou...ensinadaemcasa.”

Oqueera,euacho,amelhormaneiradedescreverisso.Eusóestudeiatéasextasérie,faltandomaisaulasdoqueassisti,quandomeuirmãomelevouparamorarcomeleemefezcomeçarafazertodaasualiçãodecasa,enquantoeuficavaemcasadurantetodoodia.Eéassimqueeuaprendiálgebraeespanhol e como Shakespeare usava corrupção, traição e decepção como temas para retratar culpa,pecado e vingança. Ele frequentava as aulas, absorvendo apenas o suficiente para passar por testes,enquanto eu fazia o trabalho escrito, absorvendo apenas o suficiente para não ser completamenteignorante.Havialacunas,éclaro,maseutinhafeitoumtrabalhorealmentebomemmedisciplinarafazerotrabalhoesuasleiturasindicadas.Eusemprefuimenosdoquetodosaomeuredor,eissomefezquerersermais.Euiatentarconseguirmeudiploma,emalgummomento.

“Euvejovocêporaí,porém,”explico.“Meuirm...minhamãecozinhaparaosTorrance.”

Euengulo,minhagargantacomoumdeserto.Issofoiumamentira.Marinanãoéminhamãe,maseraaexplicaçãoquedecidimosdaràspessoas,desdequemeupainãoqueriaqueninguémforadacasasoubessequemeurealmenteera.

Nemomeuirmão.

Eufinalmenteolhoparacima,vendoKaiapenasmeobservandocomprovavelmenteummilhãodeperguntasemsuacabeçaqueeuesperavaqueelenãofizesse.

“Eudeveriair,”digoaele.

Caminho em torno dele em direção a porta, mas ele bloqueia minha fuga, dando um passo naminhafrentenovamente.

“Não.”Elecolocaasmãosemambososmeus lados,naparede,meprendendo. “Acoisaé,vocêouviutodaminhamerdahoje,eeugostodaminhaprivacidade.Comoseiquevocênãoiráfalar?ComoeuseiquevocênãopublicounoInstagramaqueleconfessionário,ostentandoquevocêestavazombandodemim?”

Levantomeuolhar.“Eunão...eu...”falorapidamente,gaguejando.“Nuncafariaalgoassim.”

“Porqueeudeveriaacreditarnisso?”

Porqueissonãotinhasequermeocorrido!Nãosoudesonesta.Fiqueifelizquandoelecomeçouafalarnaqueleconfessionário.

“Porqueeu...”paro,procurandoemmeucérebro.“EunemsequertenhoInstagram.”

Eleinclinaacabeça,seusolhosmerepreendendopelarespostatãoestúpida.

“Eunemsequertenhoumtelefonecelular!”Faloindignada.Eunemsequertiveacapacidadedegravarsuaconfissão,caramba.”

“Vocênãotemumtelefone?”Elenãopareciaacreditaremmim.“Todomundotemumtelefone.”

Aparentementenão.

Mas antes que eu tivesse a chance de responder, ele alcança e coloca suas mãos sobre meusquadris,agachando,earrastandosuasmãospelasminhascoxas.

Eurespirofundo,tentandoafastar.Suasmãosderivamemtornodaminhabunda,deslizandosobremeusbolsostraseiroseseusdedosafundandoumpouco.

“Vocêestábrincandocomigo?”Eureclamo.Eleestavamerevistando?

Masumacorrenteelétricapercorremeucorpo,easalacomeçaagirardequalquermaneira.Eleestavametocando.

Olhando diretamente nosmeus olhos, seu olhar endurece enquanto suasmãos vagueiam até asminhas costas e então sobre o meu estômago, procurando o telefone celular escondido que eleaparentementeachavaqueeuestavamentindosobrenãoter.

Entãoeleselevanta,inclinandopertoesegurandomeusolhos,enquantoumadesuasmãoscruzalentamenteatéointeriordaminhacoxa,eumpulsarbateentreasminhaspernas.Eurespirofundo.

“Parecomisso,”ofego,batendonasmãosdele.

Umsorrisoarroganteatravessaseurosto.“Seusjoelhosestãotremendo,”dizele.“Seeusoubessequevocêerainocente,nãoteriadeixadoMichaeleeuprovocá-laantes.”

Eurespirosuperficialelambooslábiossecos.

“Algumavezvocêjáfoibeijada?”

Mantenhominhabocafechada,masseiqueerarespostasuficienteparaele.

“Vire-se,”eleordena.

Olhoparaelecomceticismo.

Ele ri baixinhoemevira, inclinando sobremimemeabraçandopor trás.Euposso senti-loporquasecadacentímetrodemim:minhacoluna,minhaspernasemeusbraços.Elebaixaacabeçaaomeulado,orostonomeuouvido,eacariciameusdedoscomosdele.

“Vocêsenteisso?”Elesussurra.

“Oque?”

Seuslongosbraçoscobremosmeus,minhasmãosdescansandodentrodassuas.“Vocêencaixaemmimcomoumacamisa.Éummoldeperfeito.”

Sorrioparamimmesma, sentindoumruboraquecermeu rosto. “Poragora,”digo. “Eupareidecrescer,masvocêprovavelmentenão.”

Oshomensnormalmentecontinuamcrescendoumpoucomaisdoqueasmulheres.

Arespiraçãodeleencontrameuouvido.“Entãoestamosemposiçãotemporária,nãoestamos?”

Fechoosolhos,arrepiosespalhandopelosmeusbraçosquandoeleesfregaoslábiossobreomeulóbulo.

OhDeus.Derepenteparecequemeucorpotemmilpalitosdefósforo,cadaumacendendoapósooutro.

Pegandominhasmãos,eleascolocaemminhascoxasearrasta-assubindopelomeucorpo.

“Estátudobem?”Elepergunta.

Meucorpotreme,eeuconcordo.Sim.

“Vocêvaiterqueseconfessarnovamenteamanhã,”brinco.

“Porquê?”

“Sequestro.”

Sua risada atinge meu pescoço enquanto ele esfrega os lábios sobre a minha pele ali. “Odeioanunciar isso para você, garota, mas eu consegui fraudar aquele lugar. Sem penitência para mim. Amenosquevocêqueiraircomigo,”eleacrescenta.“Purificaralgunsdeseusprópriospecados,talvez?”

“Nãocatólica,lembra?Eunemsaberiaoquefazerlá.”

“Bom,”elecomeça,soandoderepentetravesso.

Elepegaminhamãoemelevaparaaparedeemumdosbancos.Senta-seeentãomeagarra,mepuxando.Eugritodesurpresaquandocaioemseucolo.

“Primeiro,vocêentraesenta-se,”eleensina,apertandomeusquadris.“Vocêestásentada?”

Viroacabeçaparaolharparaele,eeleuneassobrancelhas,parecendosériocomoumprofessor.

Reviroosolhos.“Estouagora.”

“Entãovocêfazosinaldacruz.”Elepegaminhamãodireitanadeleetocameusdedosnaminhatesta.“Evocêdiz‘Perdoe-me,padre,porqueeupequei’.”

Deixoelemeguiar,meuprópriotoquenomeupeitoprovocandoarrepiosnomeucorpoquandoelememostracomofazerosinaldacruz.

Nossos lábios centímetros longe um do outro, e eu tento falar, mas apenas um sussurro sai.“Perdoe-me,padre,porqueeupequei.”

“Estaéaminhaprimeiraconfissão,”dizele,mefalandooquedizeremseguida.

Euaproximo,nossoslábiosquaseencontrandoenquantoeuolhoparasuaboca.“Essaéaminhaprimeiravez.”

Ele respira fundo.Seusolhos seguemparaminhaboca, e ele coloca asmãos emminhas coxas,enfiandoseuslongosdedosnosmeus.

“Jesus,”eleresmungabaixinho.

Umsorrisocruzameuslábios.

“Entãoelevaidizer,'Eoquevocêgostariadeconfessar?'”Eentãoelelimpaagarganta,suavozdepadreinflexívelprovocandoumavibraçãonomeuestômago.“Oquevocêgostariadeconfessar?”

Seguromeuslábiosentreosdentes.“Nãoseiseposso.Eu...”respirofundo.“Estounervosa.”

“Relaxa,minhafilha.VocêestánasmãosdeDeusagora.”

Sorriobaixinho.Gostodessaspreliminares.Seiquenãodeveriameimportar,masnãoquerodizeralgoestúpidoparaestragarojogo.Nãoqueroincomodá-lo.Todagarotaacabouperdendoointeressedomeuirmão.OdeioopensamentodequeKaiirásecansardemimesóqueroirembora.

“Umgarotomesegurou,padre,”eudigoaele,olhandoemseusolhos.

“Elesegurou?”

Eubalançoacabeça.“DentrodaBellTowerescura,pertodocemitério.Seiqueeunãodeveriaterdeixado,maselemeagarroue...”

“Eleroubouvocêdetodososoutros?”Kaiprovoca.“Conseguiudeixarvocêsozinha?”

“Sim,padre.”

Seusdedosafundamnoiníciodasminhascoxaseseusolhosestreitam,ficandoquentessobremim.“Oquevocêdeixouelefazercomvocê?”Eleacusa.“Hmm?Oquevocêdeixouacontecer?”

“Elemebeijounopescoçoprimeiro,”confesso.

EKaienfiaamãonomeucabelo,entendendoadicaquandoelegentilmentepuxaminhacabeçaparaolado,seuslábiosnomeupescoço,lentamentemordiscando.

Eusoltoumsuspiro,fechandomeusolhos.“Gosteiquandoelefezisso.”

“Vocêconheceaquelesrapazes...”elerepreende,beijandoemordendominhapele.“Elesgostammuitodamaneiradoce.Vocêtemqueserforteeresistir.”

“Eseeugostardamaneiradoce,também?”Gemo,sentindominhapeleformigar.

“Elefoioprimeirohomematocarvocê?”PerguntapadreKai.

“Sim.”

Elegeme.

Mordoolábio,commedo,mascontinuo.

“Eentãoelecolocouamãodebaixodaminhacamisa,”eudigo,meupeitoansiandopelasminhasprópriaspalavras.“Euestavatãoassustada,massabiaqueeleiaserbom.Euqueriamuitoisso.”

Euqueriamais.Queriaqueelemetocasseemlugaresquemeuirmãoiriaquerermatá-lo.

Ele levanta a cabeça e olha para mim. Seus dentes estão aparecendo um pouco, e noto umaprotuberânciadebaixodemim.

Alcançando atrás de mim, ele lentamente levanta o velho moletom do meu irmão sobre minhacabeça,deixando-ocairnochão,eentãoeleenfiaamãodebaixodaminhacamiseta,mantendoseusolhosnosmeusotempotodo.

“Apostoquevocêqueria,”dizele,seusdedosacariciandominhabarriga.“Euapostoquevocêatémesmoseesfregouneleparamostraroquantovocêgostoudoqueeleestavafazendo.”

Eugemo,notandoaumidadeentreminhaspernas.“Sim.”

Encostoacabeçanoombrodeleemovimentomeusquadris,esfregandominhabundaneleapenasumpouco.Aprotuberânciadebaixodemimétãogostosa,adordovaziodentrodemimcresce.

Levantominhamão e pego seu rosto, perguntando se ele iame beijar. Ele ainda não tinhamebeijadonaboca.

Mas,emvezdisso,eusintosuamãosubirumpoucomaissobminhacamisa,eabromeusolhos,lembrando.Oh,Deus,oenvoltório.AbandagemACEqueeutinhaenroladonomeupeitoparameachatar.

Merda! Eu endireito minha postura rapidamente, puxando a minha camisa para baixo e mecobrindo.Elenãoviu,viu?Aslágrimassurgemnosmeusolhos,constrangimentoaquecendoaminhapele.

Outrasmulheresusamsutiã.Eleficariaconfusoedefinitivamentesemexcitaçãoseelevisseoqueeuusava.Elepensariaqueeueraestranha.

“Estátudobem,”dizele,afastandosuasmãosderepente.“Estátudobem.Vocênãoprecisafazernadaquenãoqueira.Estelugar,essesjogos,elesnãosãoparavocêdequalquermaneira.Eunãodeveriatertrazidovocêaqui.”

Sim,eusei.Eraumapiadaparaeleeumafantasiaparamim.Oqueeuestavapensando?Eunãopoderiafazerissocomeledequalquermaneira.Issonuncapoderiaacontecer.

Elepegameuqueixoevirameurostoparaele.“Eunãotiveaintençãodepressioná-la,ok?Souumidiota,”dizele.“Nãoqueroseduzirvocêaqui.Vocêédiferente.”

“Diferentecomo?”

“Eufalocomvocê,”eleresponde.“Egostodeconversarcomvocê.Issoéraroparamim.”

Meusombrosrelaxamumpouco,eeleacariciameuouvidonovamente,mefazendotremer.

“Equeroquesejaespecial,”continuaele.“Euquerolevá-laaocinemaesair,irapasseios,sentarvocênomeucoloassimquandoeuquiser.Equandoestivermosprontos,vamosfazerumalongaviagematéaenseadanacasadebarcosdaminhafamília,eireidevagarcomvocê.”Seusussurroacariciaminhaorelha, enviando arrepios pelomeu corpo. “Tomandomeu tempo onde ninguémpode nos interromper.Tomandoanoitetoda.”

Deus,euqueriaisso.Queriaacreditarquepoderiaacontecer.

Mas–euolhoparaossapatosvelhosdomeu irmãoeminhasunhasmastigadas–euestavameiludindo.Tentandoescapardaminhavidaesonharqueeumesmopoderiaparecerpertenceraoseulado.

“Bem, bem, estou chocado,” uma voz profunda fala em algum lugar atrás de nós. “Santo Kai,prestesamolharseupaunoiníciodanoite,hein?”

Meusolhossearregalam,enósdoisficamosimóveis.

Não.

Umarisadasombriaqueeuconheçomuitobemsurge,eeuapressadamenteprendominhacamisa,afastandoasmãosdeKai.

Não,não,não...

“Eusabiaquevocêviria,”dizDamon,suavozseaproximando.“Quemvocêtemaí?”

Eumeencolho,tentandomeescondernafrentedeKai.

“Saia,”Kaiordenaporcimadoseuombro.“Alguémforadoslimites.”

Fechoosolhos,rezandosilenciosamenteedesejandoficarinvisível.Porfavorváembora.Porfavor.

Kaidevetersentidomeutremor,porqueeleapertameusbraços,medandoconfiança.

Masentãoeusintoele.

Eleestavalá.

Ocalordeseuolharcaisobreoladodomeurosto,eeulentamenteabromeusolhosecomminhavisãoperiférica,vejoossapatospretosnochãoàminhadireita.Olhandoparacima,vejoDamonaoladodeKai,seuolharencontraomeu.

Umaondadenáuseameatinge.

Ele parece calmo,mas eu sei quenão.Suaboca ligeiramente aberta se fecha, e suamandíbulaflexiona.Foiumgestosutil,maseuconheciaaquelessinais.

Meu irmão nunca foi calmo. Se ele não estava tendo uma discussão comigo agora, ele iriaeventualmente,eeunãoiriaverissochegando.

Ele solta um suspiro com escárnio, continuando a farsa de não me reconhecer. “Como eu iriaincomodar,”eledizparaKai.“Elaéumabagunçadocaralho.Vocêestábrincandocomigo?”

Seusolhosderivamsobremimemumaapresentação.Elenãoestavaavaliandominhaaparência.Elesabiaoqueeuusavatodososdias.Eramsuasroupasvelhasafinal.

Eleestavamantendoofingimento.Foradacasa,eunãodeveriaconhecê-lo.Eueraumfantasma.Elenãoqueriaqueeutivesseamigos,eelenãoqueriaqueseusamigosmenotassem.Sealguémsoubessequeeuerasuairmã,iriamquestionarporquenãoiaparaaescolacomele,vestiatãobemcomoele,ouiaafestascomele.EsealguémsoubessequeGabrielTorranceerameupai,questionariamporquenãoeratratadacomoumafilha.Muitahistóriaparaaspessoasquenãoprecisamsaber.

“Hágarotasbonitasláfora,cara,evocêescolheaquelaqueseparececomumgaroto?”Elepegaumcigarroebatenotopodasuamão.“Queméela,afinal?”

“Nãoédasuaconta,”Kairetruca,“enãosejaumcanalha.”

“Relaxe.”Eleenfiaocigarronaboca,acendendo-oenquantoelefala.“Eunãoiriatocararatinhasujamesmosevocêmepagasse.Limpe-se,querida.”Eletiraocigarrodabocaesoltaumabaforadadefumaça.“Asmulheressãoboasparaumacoisa,evocêestáfalhandoaténisso.”

Euencolho,querendodesaparecer.

MasKaiseempurranaminhafrente,seucorpoficarígidoquandoelegrita.“Parecomisso.”

“Ah,foda-se.Estousaindodequalquermaneira.”

OuçoospassosdeDamonrecuaremcruzandoochãodeterra,eeunãoolho,masimaginoqueeledeixouatorre.

Enguloocaroçonaminhagarganta.Eraumacoisameuirmãomepegaremalgumlugarqueeunãodeveriaestar,masmeencontraraquicomKai?NãohaveriaerronacabeçadeDamonsobreoqueeletinhainterrompidoagora.

Levanto,passominhasmãospelomeucabeloearrumominhasroupas.

“Ei,foda-seele,”Kaimediz,tentandoaliviaroquetinhaacontecido.“Eleéumidiota.”

“Eleéseuamigo.”

“Eeleéporumarazão.”Eleseaproximademim.“Elesótemummontedecoisafeiadentrodele,eelejogaissonaspessoas.Apenasignore-o.”

Agarromeumoletomdochão.“Eutenhoqueir.”

Eutinhaquesairdaqui.Odeioquandoeleestavacomraivademim.Vouvoltarparacasaeficarnomeuquarto,equandoDamonchegarlámaistardeoupelamanhã,elevaimeencontrardormindobemondeeudeveriaestar.Esperandoporele.

“Ei.”Kaipegameubraço.

Maseumeafastodele.

“Nãováembora.”

Eunãoqueria,mastenhoquefazer.Afastoodesejoaindafuriosopercorrendomeucorpoepassoporele,correndodasala.

“Ei!”Kaigritaatrásdemim.

Maseuapenascorro,rapidamentevestindomeumoletom.Aslágrimasreunindoenquantoeucorrodevoltaparaafloresta,mergulhandonassombrasescurasdasárvores.

“Eunemseioseunome!”Ouçoseugritoatrásdemim.

Os músculos das minhas pernas estão em chamas e corro em direção ao estacionamento e daestradaqueviemos.

Masentãoumamãoagarrameumoletomemepuxadevolta,ocheirodecigarrosdomeuirmãomeinundandoquandomeucorposechocacomodele.

EurespirofundoevejoquandoDamonseelevasobremim,suacalmacuidadosamenteconstruídatinhasumidoagora.

“Oh, vocêestá forados limites, tudobem,” ele rosnaaspalavrasdeKaiparamim. “Eudeveriaarrancarcadapeçaderoupaemseucorpoagora.Tudooqueeutedei.Eudissequetodasasmulhereseramegoístaseputasmentirosas.Elenãopodeficarcomvocê,evocênãopodeficarcomele.”Elemeencara,olicoremsuarespiraçãoflutuandoemminhasnarinas.

“Damon,porfavor?”Euimplorobaixinho,colocandoamãonoseupeito.“Eunão-”

“Nãometoque.”Elebateemminhamão.“Eulhedisseparanãosesujar.”

“Eunãoestou,”asseguroaele,balançandoacabeça.

Maseleapenasolhaparamim,fúriaemseusolhosedorqueeletentouesconderemsuavoz.

Eleagarrameuqueixo,eeuchoramingoquandoelepressionaminhascostasemumaárvore.“Porquevocêfezisso?”Eleperguntairritado.“Eulhedisseparanuncadeixarumhomemtocarvocê.”

“Eu não queria deixar isso acontecer,” respondo. “Mas ele nãome tocou emqualquer lugar, euprometo.”

“Oh, sim,ele tocou.”Seusolhos seestreitamemmim. “Evocêgostou.Todasvocêsvagabundasgostamdisso.Vocêvaideixa-loafastarvocêdemim.Vocêvaime ferrar,e se issoacontecer,euvou tematar.Vocêmeouviu?Euvoutematar.”

Meu estômago revira, olhando para seus olhos escuros enquanto elesme analisam como se eufossesujeira.Comoseeufossesuamãe.

Eutinhaperdidoseurespeito.Elepensouqueeunãoeranada.Elemeodiava.Aúltimavezquefizalgo que ele não gostou eu tinha treze anos, e ele não olhou para mim por uma semana. Eu tinhacaminhadocommuitocuidadodesdeentão.

Atéagora.

“Porfavor.Damon.”Nuncatinhavistoeletãozangado.“Euamovocê.Vocêétudooqueeutenho.Porfavor.Eucometiumerro.”

Euqueriatantasoutrascoisas,masnãoseissosignificasseperdê-lo.Eunãopoderiaperdê-lo.

Empurroamãodeleeavanço,passandoosbraçosaoredordeleeenterrandominhacabeçaemseupeito.Eusegurofirmecomtodososmúsculosquepoderiausar.

Perdoe-me.

“Sempre fui boa,” imploro. “Não vou fazer nadade erradonovamente.Euprometo.”Aperto elecommaisforça.“Sousua.Euteamo.”

Eleestendeamãoeagarrameusbraços,comoseestivesseprontoparameafastar,masdepoiselepara,eeumantenhomeusolhosfechados,esperando.Porfavor,meamenovamente.

Ninguémmaisnomundomeamava,excetoele.Elemeprotegeu,melevouparalongedaminhamãe,mantinhameupailongedemim,esealguémjátentoumemachucar,eleacabavacomeles.

Euaindamesentiainseguraàsvezes,maspelomenoseununcamesentisozinhamais.

ArespiraçãodeDamonacalma,seupeitosemovendoparacimaeparabaixo,cadavezmaislento.

Seusdedosemtornodemeusbraçosrelaxam.

“Vocênãopodeafasta-lodemim,”dizeleemvozbaixa.“Eelenãopodeafasta-lademim,também.Vocêentendeu?”

Eubalançoacabeçarapidamente,alíviocomeçandoaseinstalar.“Eusei.Sereiboa.”

Levantando minha cabeça, eu olho para ele, as lágrimas secando no meu rosto enquanto eumantenhomeusbraçosemtornodele.

“Eunãoqueroele.Sófiqueientediada,”digo.“Quandovocênãoestáemcasa,eunãoqueroestarlá.”

Quandoelenãoestáemcasa,ficoemnossoquartotantoquantopossível,entãoeunãoencontrocomnossopai.Masquantomaisvelhaeufico,maisinquietaeumetorno.

Seurostosuaviza,evejoumsorrisoaparecer.“Eusei.”Eleacariciameucabelo.“Algumdianósteremosnossaprópriacasa,evocêpoderáserlivre.Euvoucercá-lacomumacentenadehectares,evocêpoderáficarlouca.Ninguémnuncavaiolharparavocêdamaneiraerradaoutrata-lamal.”

Forçoumsorrisonaquelenossosonho.Aqueleemqueeleiriaparaafaculdadeevoltariaparamimenósdesapareceríamosemumacasa, longe,nomeiodeumaflorestaounabordadomundo,eeunãoteriaquemeesconderdeninguém.

Maseusabiaquenãoerareal.Issonuncaseria.

“Oqueestáerrado?”

Baixo os olhos. “Alguém vai tirar você demim, porém, não vão?” Pergunto. “Eventualmente, dequalquermaneira.Elanãovaimequereremsuacasa.”

Esquecendoofatodequequantomaisvelhaeufico,maiseuqueriacoisasqueDamonnãoquerque eu tenha, mas também, ele estava crescendo. Nós não tínhamos treze e doze anos mais. Temosdezoitoedezesseteanos,eMarinaestavacerta.Nósnãopoderíamospararotempo.Elenãoiriaquerereventualmenteumafamília?Eunãopoderiairjuntoeinvadirafestaparasempre.

Maseleapenasridemim.“Vocêéumaidiota.”Elebeliscameuqueixo,empurrandominhacabeçaemeforçandoaencontrarseusolhos.“Oqueeudisse?Hápeões,torres,cavalosebispos,masapenasuma rainha.” Ele sorri, brincando. “Nós somos um par, Nik. Todo mundo vem e vai, mas você nuncaescapadosangue.Osangueéparasempre.”

Ocantodaminhabocacurvaemumsorriso.Esoltoumsuspiro,sentindoalívioqueeletinhameperdoado.

Elepegaseutelefonedobolsodacalçaecomeçaadiscar.ProvavelmenteparaDavid,Lev,ouIliaparaviremepegar.

“Eupossocaminharatéemcasa,”explico,tentandoimpedi-lo.“Estátudobem.”

Maseleapenaslevantaotelefoneaoouvido,olhandoparaoarsobreminhacabeçaenquantoouçoaoutralinhatocar.

Elesrespondemapósoprimeirotoque.“Damon.”

EureconheçoavozdeDavid.

“Vocênuncavaiadivinharquemeupegueiaoitoquilômetrosdacasa,noescuro,semproteção.Vocêestádemitido.”

“Damon,nãopossoficardeolhonelaacadasegundo!”Davidresponde.“Vocêquerqueeuamarreela?”

“Foda-se.”A voz friadomeu irmãoera comoo lentomovimentodeuma faca. “Você e os carasvenhamatéaBellTowerepegueelaagora.”

Nãopossodeixardesoltarmeusombrosumpouco.Eusabiaquetinhadeirparacasa.Eusónãoqueriaainda.

“Ealeveparaocemitério,”Damontermina.

Eulevantominhacabeça,meuestômagodáumacambalhota.Mesmo?

Damon sorri paramim enquanto fala. “Ela pode ir para a fogueira,masmantenha ela quieta emantenhaoscaraslongedela.”

“Tudobem.Nósestaremosaíemquinzeminutos.”

“Cinco,”meuirmãoordenaedesliga.

Mordoolábioinferior,maseleaindavêmeusorrisotentandoescapar.

Ele inclina meu queixo novamente, avisando-me com seu olhar. “Eles vão cercá-la como umamalditaparede,entendeu?Nãomeirrite,enãodeixeKaivê-la.”

Eubalançoacabeça,tentandonãoparecermuitoanimada.

“Dessaforma,vocêpodeveroqueelenãoquerquevocêveja.”Seusorrisodesaparece.“Quemelerealmenteé.”

Capítulo7Banks

Presente

“Eu não sou parte do negócio.” Olho para Gabriel sentado do outro lado damesa. “Você podeenviarLevouDavidouqualqueroutrapessoaparatrabalharparaele.”

“Sim...”meupairibaixinho,nuvensdesuafumaçadecharutoescapamantesqueelesopraorestofora. “Porque isso é exatamente o que ele quer de você, não é? Para limpar banheiros em seu dojo ecarregarotraseirodeleporaí.”

Inclinomeuqueixoparacimacomseusarcasmo.“Elenãomequerpara...”falo,hesitando.“Paraisso.Eseelequer,elenãovaiconseguir.”

Kaipoderiamuitobemmequererparaservi-lodepésemãos,masmeupaitinhaoutrasideias.Emsuacabeça,seKaiestavameexigindo,emparticular,entãoelemequeriaparanadamenosdoqueumpoucodediversão.

Eelenãoiaconseguirisso.

Gabriel não sabiaqueeu tinha conhecidoKai antes.Gabriel não sabiaqueeu já tinha jogadoaversãodeKaidediversão.Recuseisersuaferramenta.Ouseubrinquedo.

“Vocêvaifazeroquetemquefazer,”elemediz.

“Eunãovou-”

“Vocêvaifazerexatamenteoquefoiordenada!”

Cadamúsculoficatenso,eeutravominhamandíbula,calando-me.Umsuorleveerepentinocobreminhatesta,ondeomeugorroestáacomodado.

Damon.

IssotudoeraparaDamon.Eleeraaúnicarazãopelaqualeufiqueinessacasa.Lembrodofimdojogo.Encontre-o,leve-oparacasa,emantenhaKaieorestodaquelesidiotaslongedele.

Osolhosexaustosdomeupaiestãodesfocados,maldandoqualquer importânciaemmimagora.Kaiestavacertosobreumacoisa.EueraapenastãovaliosaquantooqueeraboaparaGabrielTorrance.SoubedissonomomentoemquedeixeioescritóriodeKaiestanoitenodojo.Soubedissoquandoentreinesteescritórioumahoramaistarde.Eusempresoubemeuvaloraqui.

Umamulhernãoeraboasuficientenestacasa,entãoeufiztudoquepodiaparafazeromeupaieirmãoesqueceremqueeueraumdeles.

Gabriel levanta da sua cadeira e caminha lentamente em torno de sua mesa, o vento noturnouivandonoladodeforadoescritório.Ficandonaminhafrente,eleseinclinaparatrásemsuamesa,umpoucomais relaxado enquanto eleme oferece um olhar condescendente. “Você tem sido útil,” diz ele,soprando a fumaça e virando-se para apoiar o charuto no cinzeiro. “Você é inteligente, e levoumuitotempoparavocêganharminhaconfiança,masvocêganhou.Seiquepossocontarcomvocê.SeumundointeiroéDamon.”

Mesmoquefosseverdade,nãofoilisonjeiroouvir.Meuirmãoeraomeumundo.Masenquantoeuoamavamaisdoqueameiqualqueroutracoisaemtodaaminhavida,euodiavaaformacomomeupaidisseisso.

ComoseeufosseocãodeestimaçãodeDamon.

“Mas agora,” Gabriel continua, “você tem a oportunidade de provar a si mesma inestimável.Insubstituível.”

Importante.

Apesar domeuódio pelomeupai, aminha aversãodeKaiMori,MichaelCrist,WillGrayson, eErikaFane,eunãopoderiaevitaropingodeorgulhoqueseinfiltrou.

Euerainsubstituível.Semeupainãoviuissoainda,eleiria.Mesmoquesejaaúltimacoisaqueeleveja.

Gabrielrespirafundoelevanta-se,suaexpressãoficandoumpoucoagradável.

“Issoérealmenteperfeito,”dizeleenquantocaminhadevoltaemtornodesuamesa,parecendoquaseanimado.“Vocêvaisercapazdemanterumolhonele.VocêvaiterasuacasaprontaparaVanessaquandoelachegar.Vocêvaipassarotemponodojo,trabalhandoparaele,treinando,oqueseja...vocêvaificarondeeleestáemeavisarseexistealgumacoisaqueeudeveriamepreocupar.Comeleouorestodaqueles idiotas.”Ele pega o charuto e puxa algumas tragadas. “E se seu irmão sair do esconderijo eprovoca-losnovamente,vocêvaiprotegê-lo.Certo?”

Desviomeuolhar.Claro, eu faria isso.Eu sempre fiz.Maseunãoqueria fazer.NãopossoestarpertodeKaitodososdias.

Araivafervesobminhapele.

Eupoderiaargumentar.Eupoderiaatémesmosair.Nãoamoomeupai,eeuprovavelmenteerainadequada.

MaseupoderiaprotegerDamonmelhorsendopartedisso,esesaísseeunãotinhanada,droga.Eleprecisavademim.Seounãomeupaimesmoadmitiuisso,elesabia.

QuandoDamonfoipresonafaculdadeefoienviadoparaaprisão,euestavanocontroletotaldasituaçãodiantedeGabriel.Euuseitodooesforçoquepodiaparagarantirqueninguémtocassenomeuirmão,equandoelesaiunoanopassado,limpeitodasassuasbagunças.Esemprequeonossopaitentoucontrolá-lo e ele não podia ser controlado, fiz o que eu sempre fiz. Esgotei meu irmão mais velho eespanquei-oatéqueeleentrouemcolapsoetodaaraivatinhadesaparecido.Porumtempodequalquermaneira.Elesemprevoltava.

Damon,únicofilhoeúnicoherdeirodeGabriel,ficavaapenasnoseumelhorquandoelemetinhacuidandodele.Sóquandomeuirmãotinhaoseututor.

Gabrielficaali,olhandoparamimcomumrarointeressederepente.“Comquantoshomensvocêjáesteve?”Elepergunta.

Eu fico em silêncio e firme,masminha paciência estava ficandomais difícil de encontrar. Comquantoshomenseujáestive...Jesus.

Meupaicaminhanovamenteaoredordamesaseaproximandodemim,invadindomeuespaçoemeforçandoaolharparaele.Eulevantomeuolhar,semmepreocuparemesconderodesgostonisso.

“Vocêsabecomofoder?”Eleexigeclaramente,chegandoaoponto.“Vocêsabecomoagradá-lo?”

Ele.

Kai.

Minhasentranhasencolhem,emeafastodoseualcance,desviandooolharnovamente.

Maselenãocede.Elelentamentepuxameugorro,deixando-ocairnochão,ecomeçaadesabotoarmeucasaco.Umgolpedemedomeatinge,maseunãoluto,enãoresisto.Observo-oentreoslongosfiosescurosagorapairandosobremeurosto.

Meupainuncatinhametocado,maseusabiaquearazãomaisprovávelnãoestavarelacionadocomofatodequeeuerasuafilhaemaisavercomofatodequeDamonnãoquerianinguémmetocando.

Ele puxa a jaqueta pelosmeus braços, e respiro rápido quando ele afasta os cabelos dosmeusolhos,ocheirodedieselnasmechas,detrabalharemumadascaminhonetesmaiscedohoje,derivaemmeunariz.

Seus dedos percorrem minha pele, e ele se senta, estudando-me, inclinando meu queixo paraanalisarmeurostocomoseelenãotivessemevistoquasetodososdiasduranteosúltimosonzeanos.

Elemecircula,suamãoàderivaemtornodaminhacintura,eeuapertomeusdentesquandoelelevantaavelhacamisetadeDamonparaolharminhabarriga.Elesoltaacamisetaeseusolhospousamnomeupeito,balançandoacabeçaemaprovação.

“Vocênãoévirgemainda,nãoé?”Elepergunta,provavelmentesuspeitoquandoeunãorespondo.“Querodizer,Damoncuidoudissohámuitotempo,certo?”

Bilesurge,invadindominhagarganta,eeuempurrosuasmãosparalonge.“Vocêénojento,”digoentredentes,osolhosardendocomlágrimas.

Comoelepodiasertãovil?

Maseleapenasriecaminhadevoltaemtornodesuamesa.“Aquelegarotoiafoderumtijoloseisso estivessemolhado o suficiente.Não pense que todos nós não sabíamos o que estava acontecendonaquelatorre.”

Eupodia sentiras lágrimasbrotando,massó resmungoeagarromeucasacodochãoe saiodasala.

Meu estômago se agita com a perspectiva do que ele esperava de mim. Eu poderia atirar, eupoderia lutar, eu poderia convencer cada homem na cidade a gastar milhares de dólares em umaprostitutadevintedólaresseeuquisesse...naseunãoseriaentreguedeumhomemparaoutrocomosefosseescravaparaserpresenteadaàvontade.Eusoumais.Souinestimável.Estaéaminhacasa.

NãoqueroficarpertodeKaiMorioudosseusamigos.

Viroocantodocorredor,erapidamentesuboasescadas,ouvindoavozdeDavidvindodebaixo.“Banks,euprecisofalarcomvocê.”

“Maistarde.”

Corroatéosegundoandar,pulandoosdegraus,edeterminadafaçoocontornonocorredoresigoatéaportademadeiraescuraàminhadireita.Pegandominhachavedobolso,eudesbloqueioafechaduraeabro.

Eu entro, o brilho suave das luzes na arandela presa na parede iluminam outra escada quandofecho a porta e tranco novamente. Subindo na segunda escada, viro a direita emumquarto de formacircular,oúnicocômodonoterceiroandar.

Atravessandoopisodemadeirabrilhante,abroajanelaesuavementeempurroosdoispainéisdevidro. A noite de outubro excepcionalmente quente está apenas um pouco mais nítida pelos ventosrepentinos,eeufechoosolhos,inalandoocheirodeterraefolhasardentestransportadasnabrisa.

Minha pele começa a vibrar, e eu jáme sintomelhor. Este quarto era um outromundo. Nossomundo.MeuedoDamon.

Deixando a janela aberta, eu atravesso o quarto e abro o laptop, clicando em uma lista dereprodução. Like a Nightmare começa a tocar, e então eu me inclino sobre a cama, pegando umtravesseiro.

Colocandootravesseirocontrameunariz,euinalo,omenorindíciodeamaciantederoupafazendominhasnarinas formigarem.Eu sabiaquenão iria sentir o cheirodomeu irmão sobre isso,mas estoudesapontadadequalquermaneira.Fiqueisemeletemposuficiente.Estoucansadadeestarsozinha.

Aroupadecamaénova–eu tinhasubstituídoháváriosmeses,e limpooquarto regularmente,apenasparacertificardequeestaráimpecávelseeleaparecer.Masmesmoqueelenãotenhadormidoaquiemmaisdeumano,euaindaesperocadavezquepisoaqui,queeuiriaencontraralgumaevidênciadequeeleesteveemcasa.

Colocootravesseirodevoltaemseulugar,aroupadecamapreta,brancaecinzaficamperfeitasquandopuxooscantosdotravesseiro,tirandoasrugas.

Tudotinhaqueestarperfeito.

Olhandoaoredordoquarto,analisoochãoimaculado,asparedesescurasearandelasdouradas,asfotospretoebrancoqueeletinhapenduradasdaescola...mulheresepernasepelebrilhante,nãodemaugosto,masrealmentesexo,noentanto.

Eunãogostodeolharparaelas.

E então, levantando os olhos, vejo outra escada no canto do quarto. Envolto em sombras, aescadarialevaà“torre”,comonósachamamos,umapequenaalcovacomumpisoaindamenornotopo.Écercada por janelas, quase como um farol lá em cima, onde você pode ver sobre as árvores porquilômetros.Esseéomeuespaço.Quandoeumoroaqui.

Aindaalojameucolchão,uma lâmpada, e algumas roupas, apenasno casodeprecisardenovo.Nãoqueeu jáuseimuito issodequalquermaneira,mesmoquandoeumoreiaqui.Damonmemanteveperto.

Euandoatéajaneladenovo,eencostocontraaparedeaoladodajanela,deslizandoparabaixoatéqueestounochão.Pegandomeucabelo,prendo-onotopodaminhacabeçaantesdepegarmeugorroecobrirmeucabelonovamente.

Meus ombros finalmente relaxam, e fecho os olhos, segura no conhecimento de que ninguémpoderiameveragora.

Nãoqueeueramuitovisualizada,dequalquermaneira.

Maseugostavadeassistiroutraspessoas.TipocomoKaifazia.

Hámuitotempoatrás,euobserveieleàdistância,partedemimquerendomuitoele.Eupenseiqueeleerabom.

Fiel.Bonito.

MaselepoderiasermaisassustadordoqueDamon.

E meu irmão, Damon Torrance, foi um pesadelo desde a primeira vez que eu o conheci. Umpesadelorequintado.

“Levantesuameia,”minhamãeordenaquandobateàportadoladodopassageiro.

Curvando puxominhasmeias encardidas até os joelhos, nós duas de pé ao lado do nosso carroestacionado em frente a um grande portão, preto. Está aberto, e os carros estão circulando de formaconstante.Mãedissequehaviaumafestaacontecendohoje.Eraumbommomentoparavê-lo.

“Lembre-se do que eu disse.” Ela me puxa, abotoando o botão de cima do meu cardigã eendireitandoablusaporbaixo.Euolhoparalonge,impaciente.Eutenhodozeanos,eelamevestiucomoumacriançadecincoanos.

“Seelecomeçarsendomal,”continuaela,suavoztremendotantoquantosuasmãos,“vocêprecisame ajudar, ok? Diga-lhe que precisamos de dinheiro. Se não conseguirmos ajuda, Nik, você terá quedeixaroapartamento,oseuquarto,etodasassuascoisas.Vocêvaidormiremcasasdeestranhos.Eelespoderiamlevá-laparalongedemim.”Elaagarrameusombros,respirandocomdificuldade.“Vocêquerirparacasahojeànoite,certo?”

Euconcordo.

“Então sorriso bonito,” Jake, seu namorado, grita paramimdo assento domotorista através dajanelaaberta.

Sim, sorriso bonito. Ser legal com alguém que nunca foi bom paramim. Quem nunca quis meconhecer.Meuestômagocontinuaagitado,enãopossoapertarmeusdedos.Eumesintofraca.

“Apresse-se,Luce,”dizeleparaaminhamãe.

Euseiporqueelequerquenosapressamoseparaoqueelequeriadinheiro.Osdois.Claro,senóstivermos sorte o suficiente para conseguir qualquer coisa, eu iria conseguir alimento e talvez algumasroupasesapatosusados.Minhasmeiassãotãovelhasquenãoseencaixambem,eeuestavalavandoomeucabelocomsabãoembarraháummês.

Maselesvãoapenasfazerfestacomoresto.Todavezquetemosalgumdinheiro,issodesapareciaantesquenóstínhamosachancedeexalar.

Minhamãepegaaminhamão,eeuasigoatravésdosportõeselongaentrada.Olhandoemvolta,meucoraçãoinstantaneamentedói.Étãolindoaqui.Muitoverdeemambososladosdocaminho,árvoresearbustos e o cheirode flores...Deus, como seria apenas ir lá e correr?Dar cambalhotas e subirnoscarvalhosvermelhosefazerpiqueniquesnachuva?

Olhando para frente, vejo a casa, a pedra branca impressionante contra o céu azul. Carroscircundamaentradadeautomóveis,esalpicosdevermelhoaoredordacasa,queeuachoquedevemserroseiras,emboraeuaindanãoestoupertoosuficienteparaver.

Masquantomaisnosaproximamos,maisnervosaeufico.Euparoeficoimóvel.Euqueroviraredizer,“EuvouroubarcomidadoShop-and-Gonaruadonossoapartamentoseeuprecisar.”Eujáfizissoantes.Precisávamosdeleiteecereais,eminhamãemepediuparaconseguir.Seeufossepegaroubando,comoumamenoreunãoiriaentraremtantosproblemasquantoelairia.

Nós seguimos até a casa, e elame para pouco antes de chegar à porta. Ela agacha, seu longocasacoaúnicacoisaboaqueelatemparaencobrirsuasroupasbaratas.

Elasegurameusombroseolhaparamim,osolhostristes.“Sintomuito,”dizela.“Estassãocoisasque as crianças não deveriam ter que passar. Eu sei disso.” Ela olha em volta, agitada e parecendodesesperada.“Euqueriaquevocêsoubesseoquantoeuqueroquevocêtenhatudo.Vocêmerecetudo,sabedisso,certo?”

Apenasolhoparaela,meusolhoscomeçandoamolhar.Minhamãeéconfusa,elanemsempremecolocouemprimeirolugar,eeuodeioasposiçõesquesoucolocadaalgumasvezes,mas...seiqueelameama.Nãoqueissosemprepareceosuficiente,maseuseiqueelatenta.

“Eugostariadepoderlevá-laecomprarparanósumacasacomoesta,”dizelamelancolicamente,“etudooquevocêpoderiafazerésorrir.”Elaselevanta,alisaasrugasdeseucasaco.“Mata-mequeomerdinhadofilhodeleconseguetudoquequerevocênãoganhanada.”

Damon.Ofilhodomeupai.Oúnicofilhoqueeleassumiu.

Elasótinhamencionadoelealgumasvezes,nãoqueelajáoconheceu.Eletinhanascidoassimqueminhamãeficougrávidademim,masouvimososuficienteaolongodotempo.Eledeveriaserotipodeproblemas.

Elapegaaminhamãodenovoemelevaàportadafrente,ondeumservoestásegurando-aaberta,cumprimentandoosconvidadosenquantoelesentram.

Umamulher em um vestido brilhante olha paramim, estreitando os olhos, e avaliandominhasroupas.Eurapidamentedesviooolhar.

Pessoasentramnacasa,enósseguimos,masohomemnaportacolocaamãonoombrodaminhamãe.“Comlicença.Quemévocê?”

“EuprecisoverGabriel.”

Ohomem,queestáusandoumcoletebranco,move-senafrentedela,bloqueandoseucaminho.

Espreitoemtornodele,vendo todasaspessoasextravagantesemternosevestidosqueseguemporumaportanapartedetrásdacasa.

“Sr.Torranceestáentretendoconvidadosagora,”eledizaela.

Minhamãecolocaobraçoemvoltademim,respondendocategoricamente,“Estaésuafilha,eseeunãovê-loagora,voucorreratravésdesuapequenavilaaquiemThunderBayegritarparaomundo.”

Ohomemfranzeos lábios,eeunotoalgumaspessoasaonossoredorvirarparaolhar.Eutremopordentro.SeráqueGabrielseimportariaseelafizesseisso?

Oservoacenaparaohomemdepéao ladodaparede,eeleseaproxima.Meucoraçãodispara,observandoeleapalparminhamãe.

Mas,emseguida,oguardacorpulentoterminacomelaeaproximademimpassandoasmãospelosmeusbraços.Euempurro,eminhamãemeafasta.

“Mantenhasuasmãoslongedela,”elaexige.

Ficopertodela,escondendo-meomáximopossível.

“Siga-me,”oservoquetinhaabertoaportadiz.Elenoslevapelacasa,eeuolhoemvolta,notandouma biblioteca, um escritório, e algum tipo de sala de estar. Tudo é escuro, e quase tudo é feito demadeira:asescadas,osmóveis,algumasdasparedes....nóspassamospelaescada,emeuolhopercebeumafiguradepénotopo.Euolhoparacima.

Ummeninoestádepéali,encostadonaparede,comosbraçoscruzadossobreopeito.Eleolhaparanós,seusolhosmeseguindoenquantoeupasso.Eletemcabeloescurocomoomeu,masseusolhossãomaisescuros,estreitosecalmos.Masalgoemseuolharmefazencolher.Éele?

“Espereaqui,”dizohomem.

Minhamãeeeuparamosdiantedeumaporta,enquantoohomemmaisvelhocontornaocanto.

Minhamãepegaaminhamãoeseguracomassuas.ElafezamesmacoisaháalgunsanosatrásquandooServiçodeProteçãoàCriançaveioanossacasaetambémnasrarasocasiõesemqueeutinhaumprofessorinsistentequefezoimpossívelparaconvencê-laairnasconferênciasdepaiseprofessores.Elaestánervosa.

Ouçopassosfirmesbateremnochão.Meucoraçãocomeçaabaternaminhagarganta,eeuparoderespirarporummomento.

Umasombra surgeno chão, e euolhopara cima, vendoumhomemalto, bemvestido surgirnocorredor.

Cabelosgrisalhospreto,bonitoternopretoecamisa,sapatosbrilhantes...euolhoparaelecomosolhos arregalados, a respiração fica presa na minha garganta com seu forte cheiro, uma mistura deperfumeetabaco.

Eleaproximadaminhamãe,comavozsoandotãomalqueasminhasmãoscomeçamatremer.

“Sabeoqueémaistrágicodoqueumapobreprostitutadrogada?”Elefalairritadoparaela.“Umapobreprostitutaviciadamorta.”

Eentãoeleolhaparamim.“Sente-se,”eleordena.“Agora.”

Eurespirosuperficial–étudoquepossonomomento–esentonobanco,remexendocomasmãos.

Eleempurraminhamãepelaporta,eeuvejoumamesaealgunslivrosantesqueelefecha.

OhDeus.Quediabos?Eleétãomau.Porquê?Euseiqueminhamãepodeserumproblema,eelaéembaraçosa,atémesmoparamim,àsvezes,maseunãofiznada.

Eutentoafastaraslágrimasquesurgemderepente.Eunãoqueroestaraqui.Essaspessoassãoterríveis.Minhamãedissequemeupaiédonodeumaempresademídiaetemfunçãonoconselhodeoutras–oquesejaqueissosignifica–mastambémháoutrascoisasqueelefaz.Elatinhatrabalhadoparaele,maselanãoquismedizeroqueelafez.

Eusóqueroirembora.Nãoqueroternadaavercomele,eeunãoquerosabermaisnada.

Ummovimentomechamaaatenção,eolhoparacimaparaveromeninodeolhosescurosvindopelo corredor. Ele parece relaxado, segurando uma garrafa verde pelo pescoço e parando na porta deentrada,encostandonaparedeenquantoeleolhaparamim.

Eu lambo os lábios, sentindo cada cabelo em meus braços se levantar. Eu desvio meus olhos,envergonhada,maselescontinuamvoltandoparaele.

Suacalçapretaesapatosdecouroparecemquealguémtentouvesti-lo,massuacamisabrancaestáparcialmenteparaforadacalçaeasmangasestãoenroladas.Seucabeloestápenteado,embora,enotooquãoestreitoseuolharestásobremim,assimcomooarcomarcantedesuassobrancelhasescuras.Eutenhoosmesmosarcos,eminhamãedizqueelesfazemoverdedosmeusolhostãopenetrantes,masissofazomesmoparaseusolhosescurostambém.

Eletomaumgoledagarrafa–algumtipodecerveja,euacho,maselenãoparecemuitomaisvelhodoqueeu.

Eu ouço uma discussão abafada por trás da porta e olho para ele novamente.Meu pai pareciasaberquemeusou.Essemeninosabe?

“Vocêémeuirmão?”Pergunto.

Seuslábioscurvamdivertidos,eelenãoseparecenemumpoucochocadocomaminhapergunta.Caminhandoparamim,elepara,suaspernasbatendonasminhasenquantoeleinclinaagarrafa,tomandoorestodabebida.Euassistoocaroçodasuagargantaoscilarantesqueeletermina,enfiandoopescoçodagarradanovasodeplantassobreamesa.

Eleseinclina,umamãoapoiadanaparedeacimadaminhacabeçaeaoutraacariciameurosto.Eurecuo,masnãotenhoparaondeir.

Acervejaemseuhálitoatingemeunarizquandoeleseaproxima,eeusintoumsuorfriosurgirnomeupescoço.Seráqueelevaimebeijar?

Sua boca paira centímetros da minha, e ele olha diretamente nos meus olhos. “Você gosta decobras?”

Cobras?Oque?

Eubalançominhacabeça.

Uma faísca de algo pisca em seus olhos, e de repente ele se levanta, pegando a minha mão.“Vamos.”

Elemepuxadobanco,eeutropeçoatrásdele.

“Não, espere,” digo. “Euachoque tenhoqueesperarminhamãe.Nãoqueroqueela fique comraiva.”

Maselecontinuacaminhando,mearrastandoatéasescadas,eeunãoluto.Seeufizer,elepodeficarcomraivatambém.Eseeudeixa-locomraiva,issopoderiadeixaromeupaicommaisraiva.

Elemepuxaatrásdele,seuapertonomeupulsofazendoapelequeimarumpoucoenquantoelenos levaao redordocorrimãono topodasescadas. Indoemdireçãoao fimdocorredor, eleabreumaportaemepuxaparadentro.Derepente,estounaescuridão,comapenasumpequenobrilhoacima.Meucoraçãoestábatendotãofortequesintonáuseas.Ondeestamos?

Ogarotomepuxa,eeusigo,masmeupéenroscaemalgumacoisa,etropeço.Euagarroapartetraseiradesuacamisaparameimpedirdecair,eperceboqueestouemumaescada.Elecontinua,eeuagarroaparede,tentandomeequilibrarenquantoeuescaloodecliveíngreme.Háumterceiroandarnacasa?

Nós chegamos ao topo, e ele abre uma outra porta, empurrando-me para dentro. Arrepiosespalhampelaminhapele,echoramingosobaminharespiração,derepentecommedo.Eseminhamãenãopudermeencontrar?Eseomeupaifizerelasair,mesmosemmim?Porqueestouaquiemcima?

Seráqueelevaimedeixarsair?

Eu puxo as mangas para baixo sobre minhas mãos, remexendo de novo, e olho ao redorrapidamente. O quarto bagunçado tem uma grande cama desfeita, cartazes em todas as paredes, ealgumasmúsicadeheavymetalsobreodesejode“irparao inferno” tocandoemalto-falantesquenãopossover.

Euinalopelonarizesintooodorsutildecigarros.

Quando ele vai até seu computador e abaixa a música, sou incapaz de impedir o medo, mastambémsintoumpoucodeadmiração.Damondeveterapenastrezeanos,eelebebeefuma?Elepodefazeroquequiser.Comoumadulto.

Ele se vira e curva o dedo paramim, e apesar de quão preocupada eu estou, nãome atrevo arecusar.

Elepegaaminhamãoemelevaatéumalongacômodademadeira,enotodoisaquáriosdepeixesemcima.Umtemareiacomumgranderamoeumapiscinadeágua,enooutroháhúmuscomfolhasemaisramos.Naesquerda,vejoumacobralistradadevermelho,pretoeamarelo.

Meucoraçãoacelera.Éporissoqueelemetrouxeatéaqui.

“EsteéVolos,”dizele.“EesteéKore.”Eleapontaparaacobrabrancanooutrotanque,escondidadentrodeumtroncoescavado.Euolhohesitante,vendoasmanchasvermelhasemsuapele.

Euolhoparaelecomocantodomeuolho,preocupadaqueelevairemovê-lasdesuasgaiolas.

“Eles...mordem?”Pergunto.

Eleolhaparamim.“Todososanimaismordemquandosãoprovocados.”

Eumeinclino,olhandoatravésdovidro.Esperandoqueseeumostrarinteresse,elenãovaiquerertentarmeassustar,tirando-osparafora.

Seusaquáriossãograndes,muitoespaçoparasemover,eelesparecemlimpos.Ascobrasestãoimóveis.“Elesnãogostariamdeestarjuntos?”

“Eles não são cachorros,” ele retruca. “Eles são animais selvagens. Eles não brincam com osoutros,enãogostamdecompanhia.Nãofazemamigos.”

Eleremoveapartesuperiordagaiolado ladoesquerdo,eeu imediatamentedouumpassoparatrás.Não.

“Seumdeles se irritar ou ficar estressado,” diz ele, alcançando e pegando a vermelha, preta eamarela,“vaicomerooutro.”

Damon puxa as duas mãos, a cobra enrolada entre os dedos, e ele se vira para mim, a cobracentímetrosdomeucorpo.

Euafasto,eelecaminhaparamim, rindo. “Comovocêpodepensarqueeusouseu irmão?Vejacomomedrosavocêé.”

Eleempurraacobranomeurosto,eeugrito,minhascostasbatendonaparede.

“Não,eunãogosto-”

“Caleaboca,”elerosna,agarrandominhasmãoscomasualivre.

Eu luto, tentandome afastar dele,mas seu corpome prende na parede enquanto ele segura acobracomumamãoeconsegueprendermeuspulsoscomaoutra.Empurrando-asobreaminhacabeça,eleprendeminhasmãosnaparede,eeucomeçoachorar,meupeitoenchendodepavor.

“Não,não,porfavor...”

“Cale-se.”

Eutorçominhacabeçaparatráseparafrente,fechandoosolhosenquantoelemeseguralá.

“Vocêsabequemeusou?”Elepergunta.

Minharespiraçãotreme,eeunãoqueroabrirmeusolhos.Então,algotocaminhabochecha,eeuafasto.

“Fiquequietaouelavaimorder.”

Euofego,acalmandoinstantaneamentetodososmúsculos.

“Porfavor,”sussurro,implorando.

Masnãomemovo.Otoquevolta,eésuave,comoaágua.OhDeus.Porfavor.

“Olheparamim,”dizele.

Meuspulmõesesvaziam,eeuhesito.Mas,lentamente,abroosolhos.

Eu vejo um borrão vermelho, preto e amarelo naminha frente e oscilo com um grito. Ele estásegurandoissobemnafrentedomeurosto.Eusintoalínguaagitarsobreaminhapele,eeucomeçoarespirarrápido,meupeitosubindoedescendomaisrápidodoqueomeucoração.

“Shhh...”Damondizsuavemente.

Eumeforçoalevantarosolhosparaele,ederepente...aminharespiraçãocomeçaadesacelerar.Eleestámeperfurandocomseusolhos–queeuvejoagorasãomaisnegrosdoquemarrom–eestoupresaneles.

“Olheparaelesláfora,”elemediz,virandoacabeçaparaajanelaàminhaesquerda.

Eusigooseuolhar,lentamentevirandoacabeçalongedacobraparaveroshomensemskulkingpretonogramado,doismanobristasemcoletesbrancos,eumhomemeumamulhersaindodeumcarropretobrilhante.

“Quando eu entro em cena, todos eles desviam o olhar,” ele sussurra, olhando do lado de fora.“Quandoeufalocomeles,suasvozestremem.Elesnemsequerdeixamsuasesposas,namoradasoufilhaspertosesabemqueeuestouemcasa.”

Minhassobrancelhasseunememconfusão.Dequemestáfalando?Osservos?Ouosconvidados?

“Euseitudo,todomundofazoqueeuquero,etodomundoestácommedodemim,”elecontinua,edepoisviraosolhosemmim,“edinheironãocompraisso.Dinheiroepodernãoandamdemãosdadas.Podervemdeteracoragemdefazeroqueoutrosnãotem.”

Elearrastaocorpodacobrasobreaminhaboca,eeuengasgo,afastandonovamente.

“Vocênãoénadacomoeu,”elerosnaemvozbaixa.“Umasimplessujeira.Umerro.”

Elemesoltaeafasta,eeurapidamenteenxugoaslágrimasquederrameisobreminhaspálpebras.

Eleseviraesentaemumacadeiraalmofadada,acariciandosuacobra.“Nãodeixequeasuamãevolteaquinovamente,entendeu?”Eleordena,prendendo-mecomumolhar.“Oueuvoutrancá-laemumarmáriocomVolos.”

Eucorroparaaportaepegoamaçaneta,masaminhamão treme tantoquenãopossogira-la.“Nãoéminhaculpa,”deixoescapar,virandoacabeçanadireçãodele.“Queaminhamãemeteve.Porquevocêquermemachucar?”

“Vocênãoéespecial.”ElelevantaVoloseolhaparaele,agindocomoseeunãoestivesseaqui.“Hámuitaspessoasqueeuqueromachucar.Etalvezeuvoualgumdia...quandodescobriramelhormaneirademelivrardeumcorpo.”

Eledáummeiosorriso,agindocomoseeleestivessebrincando,masnãoestoucertadequeeleestava.

“Eusouespecial,”digo.“Meuprofessordizquesouamaisinteligentedaminhaclasse.”

“Nãoimporta.”Eleencolheosombros.“Emcincoanos,vocêestarámontandopausnobancodetrásporvintedólares,assimcomosuamãe.”

Meu estômago revira, e eu quase engasgo comuma tosse.Oque?Comoele poderia dizer algoassim?

“Damon?”Umavozressoa.

Estávindodosistemadealto-falantenaparede,aoladodaporta.

“Damon,suamãequervocê,”avozdamulherdiz,nãoesperandoporeleresponder.“Elaestánoquartodela.”

Viro a cabeça e olho para ele, unindo minhas sobrancelhas juntas quando eu noto sangueescorrendo pelo seu dedo. A cobra de repente ataca ele de novo, e eu prendo a respiração. Ele estáapertando-amuitoforte.Porqueeleestáfazendoisso?

Mas ele apenas olha em frente, com os olhos pesados, como se ele estivesse perdido em seuspensamentos.Seráqueelepelomenosouviuamulhernointerfone?

“Damon?”Digo.Aquelacobranãoéperigosa,certo?Elenãoiriamanterumanimalvenenosoaqui.

Oquehádeerradocomele?

Elefinalmentelevantaosolhos.“Saia.”

Jesus.Queidiota.Euabroaportaedouumpasso.Masentãoeuparoegiroaoredormaisumavez.

“Umcemitério,”digo.“Éassimqueeumelivrariadeumcadáver.”

Eleolhaparamimdenovo,estreitandoosolhos,eeulevantoomeuqueixo,encolhendoosombros.“Eu iria encontrar uma sepultura recém coberta.Dessa forma, eles não seriam capaz de dizer que foireescavada.Coloqueoutrocorpoládentroecubradevolta.Issoéoqueeufaria.”

Efechoaporta,cobrindoseuolharescuro.

Exalo,respirandocomdificuldade,masficandoumpoucomaisalta.

Deus,eleeraumaconfusão.Ehorrívelemalvado,eporqueelefracassoucomissoassimquandoquemquerquefossefalounointerfone?Porummomento,elepareciatãosozinho.

Ele tem tudo.Porqueeleestá tão zangado?Eusouaúnicaquedeveriaestarcomraiva.Souaúnicaqueestásozinha.Umpaiquenãoseimportacomigoeumamãequememachucaemeobrigafazercoisasquenãoquerofazer.

Elenãosabeoqueésofrerparateralgo,paraestarzangado.

Minutosmaistarde,quandoeueminhamãesomoindicadasparaaporta–demãosvazias,éclaro– eu ando na calçada, olhando atrás de mim uma última vez. Damon está na janela de seu quarto,observando-nossair.

Apontalaranjadeumcigarroqueimabrilhantementequandoeledáumatragada,eeumantenhoseuolharportantotempoquantoposso,incapazdedesviar.

Não,atéqueumaárvorepassaporminhalinhadevisão,eeunãopossovê-lomais.

Vouparacasacomaúltimaimagemdelenaqueleterceiroandarsozinho,omeninoescuronaquelequartoescuro,eficoinquieta.

Elenãoestábem.

Eusonheicomelenaquelanoite.

Eoitodiasdepois,eleaparecenaportadaminhamãe.Eleentregaaelanovemil,quatrocentosesessentaedoisdólares,umRolex,ebrincosdeesmeralda.

Emelevaparacasacomele.

Eu descanso meus braços sobre os joelhos dobrados, passando meus lábios sobre os dedosentrelaçadosenquantoamemóriamedeixa.Eutinhadozeanosnaquelaépoca,eaquiestamos,onzeanosdepois, e aqui era onde eu tinha ficado desde então. Meu pai me deixou ficar, porque ele raramentenegavaalgumacoisaparaseufilho,masminhatutoralegaltinhasidoMarina.Sóparaomeupainãoteratarefa tediosa deme levar aomédico quando estava doente ou responder à polícia se eu entrasse emproblemas.

MaseupertenciaaDamonTorrance.

Nãoseiporqueelemequeria.Nãonocomeço.Eeuestavacommedoquecoisas ruins fossemacontecercomigo.

Eelasaconteceram.

Maselesemprecuidoudemim.Elepegavaoqueelepoderiacolocarasmãosemtornodacasaparanegociarcomminhamãe,quem,emummundoperfeito,teriaamadonãofazeroqueelatinhafeito,mas o dinheiro e a pequena perspectiva de que eu poderia realmente ter uma vida melhor aqui emThunderBayvenceu.

Principalmente, era odinheiro, no entanto.Que foi gasto tão facilmente comoele foi obtido emnenhummomentoafinal.Elatentoumelevardevoltaváriasvezesaolongodosanos,talvezporqueelaodiavaoquetinhafeito,outalvezelasóqueriarenegociarparamaisdinheiro,masDamontinhaoqueelequeria,eelenemsequerdeuouvidosaela.Nãoquandoeletinhaquinzeanosoudezesseteoudezenove.

Não que eu queria isso dele, de qualquer maneira. Poderia ser tão estranho como as coisasacontecem.Comoaspessoasquevocênuncasuspeitasetornamsuaúnicasalvação,evocêseprendeaelestãofortecomopode,porquenãotemescolha.Nãoexistiamaisnadaparaevitardevocêcair.Cairna

solidão,desesperooumedo.Eleestendeuamãoparamim,eeuaceitei.

Poucosdiasdepoisdechegar,entrandonomeucubículonatorreepassandohorasehorassendosuasombra,fuicativadaporele.Idolatrava-oequeriasercomoele.

Éramosanossafamília.

Olhoparaosaquários,vendoVoloseKoreIIaquecendosobaslâmpadasdecalor.Levantando,euaproximoetiroatampa,cuidadosamentepegandoVoloseajudando-oaenrolaremvoltadaminhamão.Elejádeveriaestarmorto.Koremorreuanosatrás,masVolosestavaaguentando.Talvezparaseumestre.

Eledescansatranquilamente,semsemover,eeupassomeusdedosporsuapeleescamosa.

ApósoprimeiroencontrocomDamon,eutinhapesquisadosuascobrasnainternetnabibliotecaedescobri que Volos era uma serpente de leite e Kore era uma cobra demilho. Ambos completamenteinofensivas,nemvenenosas.

EmboraoqueDamondisseeraverdade.

Cadaanimalmordequandoéprovocado.

Capítulo8Banks

Devil’sNight

Seisanosatrás

“Vocêficacomagente,”Davidordena,abrindoaportadocarro.“Sevocêmeirritar,vouarrasta-laparacasa,nãoimportaoqueDamondiz.”

Simeusei.Vocêmedisseduasvezes.

Todos nós deixamos o SUV, Ilia e eu saímos da parte de trás, enquantoDavid e Lev saíram dafrente.Asfechadurasclicamatrásdenós,efomosdescendoacolina,paraaseçãoisoladadocemitérioondeobrilhodafestaeracomoumvaga-lumeemumcéuescurocomobreu.

DepoisdeDavideoscaraschegaremàBellTowermaiscedo,elesmecolocaramnocarro,enósseguimosaoredordocemitério,atravésdaentradaprincipal.

PuddleofMuddencheoar,eeuolhoparaafesta,retardandomeuspassos,notemordavisão.Ummardechamasestabelecidasdiantedenós,centenasdevelassobreaslápides,emtornodassepulturas,ealinhandoosperímetrosdeváriostúmulos.Obelogramadoverde–negronoescuro–pareciaservivocomsombrasdaschamasdançandosobreagrama.

E mais longe, na distância, queima a fogueira, tão corajosa e brilhante que eu podia ouvir ocrepitardaqui.

Alguémpegaminhamão.

EuolhoparaverLevaomeulado,apertandomeusdedosfrouxosnosseus.

Tentoafastar.“Eunãosouumbebê,”digoaele.

Precisodaminhamãosendosegurada?Mesmo?

“Bem,vocêentraemapuroscomoum,”eleatiradevolta.“Agora,sevocêquiserentraremapuros,euvoucomvocê.”

Eunãopudedeixarderirumpouco.Elerealmenteeraomeufavorito.Provavelmenteporqueelenãoeramuitomaisvelhodoqueeu.Apenasalgunsanos.

Circulandoemtornodele,eupulonassuascostas,obrigando-oa libertar-meenquantoeupassomeus braços e pernas ao redor dele. “Por favor...” respondo em seu ouvido. “Se eu quiser entrar emapuros,eusótenhoquesegui-lo.”

Eleresmunga,reajustandosuaposturacomomeupesoadicional.“Saidecimademim,mulher.”

“Vocênãoquermefazerchorar,nãoé?”

Elezomba,meagarrandosobos joelhosemeerguendoparaumaposiçãomaissegura.“Eunãosonhariacomisso.”

“Vamospegarbebidas,”Davidanuncia,levando-nosparaafesta.

Iliaacendeumcigarro.“Sim,vamosveroqueessesmerdinhasricospensamoqueéo'materialpesado’.”

“Levanteseucapuz,”Levmediz.

Eusigoasorientações,cobrindo-meenquantoaproximamosdoruído.

Antecipação estavame deixando tonta,mas eu não sabia se estava animada por estar em umafesta,ansiosaqueeuiriaverKaiaqui,ounervosasobreasúltimaspalavrasdeDamonparamim.Oqueelequisdizer?Oquepoderiapossivelmentemechocardepoisdetudooqueeutinhavisto?EunãoquerianadaparaarruinarKainaminhacabeça.

Sim,definitivamentenervosa.

Gruposdepessoasnoscercaram,algumasdasgarotasvirandosuascabeçaseseguindooscarascom seus olhos. Não é um choque. Não apenas parecíamos que estávamos fora de lugar com nossascamisetasdemenosdequecinquentadólarese semsapatosdemarca,masoscaraseramclaramentebandidos.

Davidcomumpoucomenosdeummetroeoitentacomumcorpogrande,maséacabeçaraspadaebraçostatuadosquefazdeleumdestaque.

Ilia é o modelo. Ou poderia ter sido, provavelmente. Cabelo loiro, olhos sensuais, nariz fino,mandíbulaestreita–tudooquefaziaeleparecerumJamesBondrusso.

ELev.Aindamuitocriançacomvinteeumanos.Sorrisocontagiante,umcabelomaislongopreto,raspadodoslados,parecendomaisqueelepertenciaaumabandadoqueenterradoemThunderBayemtarefasmundanasqueumalunodaterceirasériepoderiafazer.

Mas eles são atraentes, eu acho. Apenas não para mim. Eu cresci ouvindo como eles falavamquandonãotinhamfiltrosobreoquediziamecheiravaseusvômitosapóslongasnoitesdefarra.Superquente.

Sim,não.ElessãocomoDamon.Comoirmãos.

Oscarasseaproximamdacarroceriadeumacaminhonetecomaportatraseiraabaixadaeumbarimprovisadoemexibição.EupulodascostasdeLevquandoDavideIliaagarramcoposecaminhamatéobarril,enchendo-os.LevpegaumagarrafadePatróneserveumadoseemumcopovermelho.

Pensoempedirum,maseletinhaacabadodedizernão.Nãoeracomoseeufossevirgemaoálcoolouqualquercoisa.Damongostavadeteralguémparacorrerquandoseusamigosnãoestavamporperto,entãoeutinhacerveja,vinhofresco,bebidasmistas...

Masnuncaempúblico.Elesprovavelmentesabiamquemeuirmãonãoiriagostar.

Olhandoparatrás,eunotoDavideIliaaindapertodobarril,masoutrocaravemecomeçaumaconversa.Elesestavamsorrindocomfacilidade,parecendorelaxados.Deumavez.

“Caminhacomigo?”PerguntoparaLev.

Elelevantaosolhos,apenasbrevementehesitandoantesdeassentir.LançandoumolharporcimadoombroparaDavid,elediz,“Nósvamosfazerasrondas.Voltar.”

AssobrancelhasdeDavidseunemcomumaviso.“Não.Perca.Ela.”

EuvejoLevrevirarosolhosenquantoelemecutuca,nostirandodelá.

Virandoadireita,aoredordacaminhonete,sigonadireçãodafogueiraondeeunotoumabriganasproximidades.Pareciabrincadeira,embora,enquantoaspessoassesentamemvoltaassistindo.Eulançoolharesparaesquerdaedireita,procurandomeuirmão.

EKai.

Masnão vejo eles.Eu sabiaque eles faziambrincadeirasnaDevil’sNight, então elespoderiamestarforaemalgumlugarainda.Eumantenhominhacabeçaparabaixo,noentanto.ApedidodeDamon.Euestavaaquiparaobservar.Nãointeragir.

“Vocêvaifazerdezoitoanosnopróximoverão,”Levanuncia.“Vocêvaisairdaqui?”

Balançoa cabeça, observandoalgumaspessoasatirandomarshmallows comum tacodehóquei,atingindoumgrupoderapazes.“Eunãoseiparaondeir.”

“Masvocêpode,sabe?”Elemediz.“Vocêpodefazeroquequiser.Vocênãoprecisaficarcomele.”

Euviroparaele,estreitandoomeuolhar.Eraincomum,coragemdapartedeledizeralgoassim.Desdequandoeleseimportacomoqueeufaço?

Enãoseicomoresponder.

Nãoeracomoseeunãotivessepensadonisso.Eusabiaqueascoisasiriammudarembreve,maseunãoachoqueelasiammudarparaobem.EuiriacontinuarnamesmaatéDamonsairdafaculdade,eentão...comoeledisse,estaríamospornossaconta.Aideiadeiremboraparasempre–deviversozinha,trabalhar sozinha, fazer meus próprios amigos, indo e vindo sem consequência – parecia exageroconsiderar.Mesmoqueeuquisesse–queeunãoqueria–Damonnãopermitiriaisso.

Desvioosolhos,deixandocairaminhavoz.“Eleétudooquetenho.”

“Equemtedisseisso?”Elepergunta.“Ele?”

Dou-lheumolhar.Idiota.

Mudodeassunto.“Emdireçãoaluta?”Façoumgestoemdireçãoaogrupodoscarasaliperto,eeleconcorda.

Caminhamos entre algumas lápides, e eu posso ouvir o clamor da luta ali na frente. Eu estavaacostumada ver lutas, os caras perto de casa constantemente começavam uma briga com os outrosquandoestavamentediados.Euatépegueialgumasjogadas.

“Queméela?”Ouçoumamulherperguntar.

ParandocomLev,euolhoparacimaparaveruma jovemruiva,comosbraçoscruzadossobreopeitoeolhandoparaelecomoseestivesseadoissegundosdecuspirácidodebateria.

Mas,semesperarpelarespostadele,elaseviraecomeçaaseafastar.

“Venhaaqui,”dizele,agarrandoseubraço.

Maselaseafasta.“Váseferrar.”

“Atéquando?”Eledisparadevolta,aproximando-sedela. “Apróximavezqueseunamoradonãopuderfazervocêgozar,princesa,evocêviermeimplorarporisso?”

Meusolhossearregalam.EleestavatrepandocomumagarotadeThunderBay?Oqueeleestavapensando?

Paraela,issoeravantagemeprazer.Eletinhaquesaberisso.

Agarotainclinaoqueixonaminhadireção,carrancuda.“Queméela?”

“Nãoimporta.”

Elaseviraeafastadele,seucabelovermelhobalançando.

Eleolhaparamim.“Fiqueaqui.Entendeu?”

Euvejoquandoeleseviraeprendeela,forçandoelacontraapartetraseiradeumtúmulo,apenasumapartedeseuscorposvisíveis.

“Ondeeleestá?”PerguntaLev,evejosuacoxaalcançaracinturadele,aomesmotempoqueouçoosomdetecidorasgando.

Ele?Onamoradodela?

Respiraçãopesada,dedossubindoembaixodesuasaia,e...sim,issoétudooqueeuprecisavaver.Eunãosabiaoqueestavaacontecendolá,enãomeimportava.Viro,deixandoelesnisso.

Puxandoocapuzmaisumpoucoecobrindoosolhos,sigoatéaluta,ouvindoaplausosevendoumcorpobaternochão.Olhoatravésdas lacunasnomeiodamultidão,observandoquandoum lutadordecabelosescurosmontanele,eelelevantaacabeçaapenasosuficienteparaeuverseurosto.

Meucoraçãosaltanaminhagarganta.Kai.

Seucabeloestámolhadodesuor,enotosangueescorrendodeseunariz.Elescontinuama luta,rolando, socando, perfurando, e brigando, e eu paro atrás de uma lapide alta, me escondendo eespreitandoemtornodaborda.

Kairoladecostas,segurandoopescoçodogarotoacimadele,comosbraçosflexionadosecadamúsculo definido enquanto ele mantem o outro cara no comprimento do braço. Abdômen contraído ecalçajeansumpoucoabaixodasuacinturanaluta,elefazminhasbochechasesquentarem.

Oamigodomeuirmãoéquente.Porqueeutenhoquequererele?

Damon poderia conformar-se emme apaixonar um dia,mas ele não iria tolerar ser seumelhoramigo.

Eusorrio,observandocomoeleparece tão felizagora.Nãoqueeuo tinhavistomuito,masnãoacho que alguma vez tinha visto uma expressão tão calma em seu rosto antes. Como se ele estivessefinalmentevivo.

Eupoderiavê-lodurantetodaanoite.

Atéquesintoocheiromuitofamiliardecigarrosdomeuirmão.Virandoacabeça,euobservoelesoprarumfluxodefumaça,soltandoorestodocigarronochão,episandoemcimadisso.Eleaproxima-seeficaatrásdemim,apoiandoobraçonalápide.

“Então,éissoquevocêqueriaqueeuvisse?”Perguntoaele,nósdoisassistindoKaiespancandoseuoponente.“Éprecisomuitoparanoschocar,lembra?”

“Nãoisso.”Elebalançaacabeça.“Apenasespere.”

Olhoparaalutanovamente,esperandoograndemistériosobreKaiMoriserevelar.EunãopodiaimaginaroqueDamonpensouqueseriatãochocante.Eueradifícildeimpressionar.

Elesoltaumsuspiroaomeulado,olhandoaoredor.“Elesdeixaramvocêsozinhanovamente.Eurealmentevoumataralgumdelesumdiadesses.”

Sorrio,mesmoqueeusintapenadoscarasquedeveriammecuidar.Eraumtrabalhodemerda,eelesestavampreparadosparamais.

“Vocênãoétãomisericordioso.”Euolhoparaele,meuolharimediatamentecaindoparaocantodasuaboca.“Evocêtemmostardaemseulábio.Eoseuhálitofede.”

Eleabreabocaesoprabemnaminhacara,ocheirodecigarrosecachorroquente–ouoqueeletinhaacabadodecomer–agrideminhasnarinas.

Euestremeçoemeviro.

“Aúltimagarotanãoseimportou,”elezombabrincando.“Claro,eunãoestavabeijandooslábiosdela.Nãoosqueestãonorostodequalquermaneira.”

Eeleavançaparacolocarumbraçoaoredordomeupescoçoe lambermeurostocomoumcãofolgado.

“Nojento!”Euresmungo,empurrando-oelimpandomeurosto.“Jesus.”

Eleapenasbalançacomoriso.

“Sim,issoétudoqueeupreciso,o‘suco’dealgumagarotaemcimademim.Obrigada.”

Elebagunçameucabeloatravésdomeucapuz,aindarindo.Claro,oseudeleitenavidavemdefodercomtodosaoseuredor,eeunãoestavaexcluídadisso.Nunca.

Euficoemsilencioevoltoparaaluta,observandoquandoKaiéatingidoaoladoesquerdodesuamandíbula. Ele volta para a luta com um gancho de direita e empurra seu oponente no peito. Fiosmolhadosdoscabeloscastanhosdocarabalançamnafrentedeseusolhos,maseledevetervistoKaiseaproximando,porqueelejogasuasmãos,acenandoparaKaipararquandoelecurva,tentandorecuperarofôlego.

Kaivira,defrenteparanós,eeuvejoosorrisoemseurosto.Meusangueaquece.

Todos aplaudem quando o outro cara desiste, terminando a luta com Kai como o vencedor. Eumantenhoomeusorriso,maseunãopoderiasegurarissointeiramente.Elefoibom.Melhordoquebom.Eleprovavelmentepoderiaterterminadoalutamuitomaiscedo.

Euovejoagarrarsuacamisadochãoeenxugarorostoecorpocomissoenquantoelerespiracomdificuldade.

Eentãoeuvejoquandoeleenfiaapeçaderoupanobolsodetrás,enquantoumaloiraagarraseucintoepuxa-oparaela.Meusorrisodesaparece.

Elaolhaparaelecomumsorrisotímido,enquantosuaexpressãosesuavizaquandoelevaiatéela,colocandoasmãosnacinturadelaeolhandoparaela.

Oque-

“AquelaéChloe,”meuirmãodiz,seutominexpressivo.“Anamoradadele.”

Meupeitocomeçaasubiredescermaisemaispesado,eumaardênciaatingemeusolhos.Elenãotinhaumanamorada.Querodizer,eletinha.Eutinhavistoelecomasgarotas,mas...

Não.ElenãoteriameencurraladonaBellTower,elenãoteriaconfessadotodasaquelascoisasquetinhafeito,setivesseumanamorada.Kainãoeraassim.Elenãoera...Damon.

AsmãosdeKaialcançamabundadelaquandoseus lábiosdeslizamao longodesuamandíbula.Parecequeelaestásussurrandocoisas,porqueelerespondecomumagargalhadaouumsorriso.

Baixoosolhos,sabendoqueeunãotinhadireitodeestarchateada.Elenãoerameu.

Euapenaspenseiqueeleeradiferente.

Esim,euestavacomumpoucodeciúmes.

“Eleestásempredebomhumordepoisqueficaexcitado,”explicaDamon.“Umaluta,umacorridadecarros,assistindo...”

Ouumaperseguição,euterminonaminhacabeça,lembrando-medetudooqueaconteceuhojeecomooquemeuirmãodzfaztodoosentido.Kaigostavadepreliminares.

“Eelaestásempreláparaele,”Damoncontinuaaomeulado,observandoocasal.“Alémdenós,elaéumadosseusmelhoresamigos.Campeãestadualnotênis,capitãdotimedematemática,trabalhano jornal da escola, e compete com o Clube de Xadrez... tudo o que o pai de Kai quer para ele. Anamorada para se orgulhar.” Ele coloca a mão no meu braço, apertando-o suavemente enquanto euobservoKaiesuanamorada.

Meuirmãocontinua.“Alguémcomoportunidades,ambiçãoedireção.Epeloquealguémqueosviuem umamesa de piquenique no verão passado falou, quando todos nós fomos acampar no litoral, elaparecegostardeumaboafodatambém.”

Fechoosolhosparaaimagemnaminhacabeça.Lágrimassurgem.

“Sim,elagosta,tudobem.Especialmentedele,”Damonmediz.

Eumantenhominhacabeçaparabaixo,masolhoatravésdas lágrimasnosmeusolhos,vendoasmãosdelasobreele,seucorpocoladoaodele.

Umajusteperfeito.

“Eudisseavocê,”Damondizemvozbaixanomeuouvido.“Oscarasvãodizerqualquercoisa.Enós nem sequer precisamos mentir muito bem. As garotas querem acreditar.” Eu sinto seu braço meenvolverquandoeleinclinaorostocontraminhatêmpora.“Masosolhosdelavãodizeraúnicaverdadequevocêprecisa.Vocêsabedisso.Bastaolharparaela.”

Eurapidamenteenxugoumalágrimanabordadaminhamanga.

“Aquelaéquemvaisaircomele–parececomoumanamorada,deveriapareceremseucolo,”meuirmãocontinua.“Aquelaéquemestaráemumlindovestidodebaileaoseuladoemmaio.Aquelaquemconheceseuspaiseparticipadejantarescomeles.Aquelaquemenviamensagenstardedanoiteedeixaeleduro.Aquelaqueéonormaldele,Nik.Vocêtemumlugar,enãoéesse.Nuncairiafuncionar.”

Meuqueixotreme,eeuconcordo.Suaminissaiaxadrezoumeujeansvelho?Suacamisaapertadaouaminhacamisetadegrandesdimensões?Seudinheiro,educaçãoeaporratodadeumfuturonafrentedelaouomeu...nada?

Eubalançominhacabeça.Foda-seele.Eunãoprecisavadetudoisso,eseéissooqueinteressavaKai–aparências–entãoestouemumaposiçãomelhor.Euseriamaisdoquetodoseles.

Girandoaoredor, saiodoalcancedemeu irmãoecomeçoameafastar, indonadireçãooposta.Damonnão iriameseguir.Ele sabiaqueeuestava foradeperigoagora, semdúvidasatisfeitoconsigomesmo,queeletinhaconseguidomeafastardeKai.

Eupoderiaestarzangadacomomeuirmãopornuncaprotegermeussentimentosoucompreenderalgumasdascoisasqueeuqueria,maselesempremedisseaverdadeeforneceuissodiretamenteparamim.Dançaremtornodomeupobrecoraçãonãoiriameajudar.

Eleerameumelhorprofessor.

ProcuroporDavid, tirandomeumoletomeamarrando-oemtornodaminhacintura.Derepenteestoumuitoquente,umairritaçãomordendominhapele.

Perambulando através do cemitério, eu verifico perto do barril onde o vi ele pela última vez, eentão sigo até a colina, olhando pequenos grupos de pessoas tentando encontrar os caras. Um tijoloestabeleceu-seemmeuestômago,raivasolidificando.Eupreciso irparacasa.Eunãoqueroolharparaessaspessoasmais.Ououvirsuamúsica.Oumeocuparcomodrama.EuquerosairdaquiantesdeKaimever.Elepensariaqueeuosegui.

“Quetalessaaí?”Alguémfala.

Olhoparacima,saindodosmeuspensamentos.

Quatro caras perto de um túmulo aberto, dois deles sentado em lápides próximas. Eu tinhameafastadodaáreadafesta,todooruídoeluzatrásdemim.

Merda.Essetúmuloestavavazio?

“Parecequeelaseassustafacilmente,”dizumoutro,levantando-sedalapideesoprandoafumaça.“Funcionaparamim.”

Oque?

Começoarecuarevirar-me,masentãoumdelesdáumpassonaminhafrente,mefazendosaltar.

“Querbrincar?”Perguntaele,maldadeemseusolhoscastanhos.

“Não.”

“ÉchamadodeSeteMinutosnoCéu.”Elepegaminhamão,meentregandoumcentavo.“Atireissonoar.Qualquerumdenósquepegarissopodelevarvocêlá.”

'Lá?'Céu?

“Não,obrigada.”Euviroemumcírculo,procurandoporqualquerum.OcabelopretodeLev, acabeçaraspadadeDavid,umcigarroacessodeDamon...

“Joga,”outrocaraexige.

“Váparaoinferno!”Eujogoomalditocentavoparaeleederepentecadaumdelessejogaparaamoeda.

Merda!Elessaemcorrendo,caindounssobreosoutroserindo,masantesqueeupensoemgirarao redor e tirarminha bunda de lá, o cara com olhos castanhos e jaqueta de couro preta fica em pé,erguendoopunhotriunfante,semdúvidacomamoedanamão.

“Pegaela!”Elegrita.

“Oquê?”Eufaloassustada.

Todos corremdireto paramim, e eu recuo quando eles agarrammeus braços, a pele dosmeuspulsosqueimandoquandoelesmearrastamparafrente.

“Não,não!”

Mas eles não escutam. Eles me balançam sobre o buraco, e eu me contorço e luto, mas elerapidamentemesoltanofundorasodasepulturaescura.

Pouso, tropeçopara ficarempé,ebatonaparededasepultura,meupulsoderepentedolorido.Respirofreneticamente,imediatamentegirandoparacertificar-mequeotúmuloestavavazio.

Sujeirapor todaparte,sujeiradebaixodosmeussapatos...nãoseise issoéumanovasepulturacavadaporumserviço este fimde semanaouuma sepultura antiga simplesmentenão cavada fundoosuficienteparaalcançarocaixãoporbaixo.

“Oh,Deus.”Eu pulo para cima, tentando agarrar a terra no topo,mas eu só pego a sujeira, osdedosdeslizandoatravésdela.

Tirem-medaqui!”Eufalorispidamente.

Eu tento o outro lado do buraco, saltando de novo e de novo, tentando segurar em algo comfirmeza.

Mas, então, uma figura pousa à minha direita, e eu me viro, de frente para o cara de olhoscastanhosnovamente.

“Éapenasseteminutos,”dizeleemumtomarrogante.“Quantodanopossorealmentecausar?”

“Vamosdescobrir!”Umdeseusamigosgrita.

Olhoscastanhossorrieavançaparamim.“Vemcá,querida.”

“Pare!”Euoempurro,girandoesaltando,pulandotãoaltoquantopossoefinalmenteagarrandoumpoucodegrama.

Masmeus dedos deslizam através dela, e eu caio de volta para baixo, caindo do outro lado dasepultura.Meubraçonucontraaterramolhada,asraízesarranhandoaminhapele.

Eeleseaproximademimnovamente.Elemeempurraparaumcanto,agarrandominhacintura.“Qualéseunome?”

“Qualéseunome?”Retruco,rangendoatravésdosmeusdentes.

“Flynn.”

“Bom.” Eu empurro suas mãos, tentando sair do canto. “Eu espero que você goste de cobras,Flynn.”

“Huh?”Confusãocruzaseurosto,masnãopreocupoemexplicarométodofavoritodomeuirmãodetorturaralguémquemexeucomigo.

Cada músculo do meu corpo fica tão tenso que começa a queimar, e eu levanto meu punho,

atingindoalateraldasuacabeça.Foradoalvoedescuidado,maselecambaleiaparatráseestremece.Empurro-onopeitonovamente,fazendoelecairsentado.

“Socorro!”Levantando-me,eubatominhapalmacontraaparededeterra.“Deixe-mesairdaqui!”

“Ow,porra!”Euouçoorugidodecima,maseunãopossoverninguémderepente.

Eurespirocomdificuldade,olhandonervosamenteentreoidiotaficandodepéaomeuladoedotopodasepultura,agoravazia.Ondediabosestãoseusamigos?

E então alguém se aproxima da borda da sepultura, parecendo sem folego enquanto olha parabaixo.

Kai?Porqueelenãoestavacomsuarainhaloiradobaile?

Eledáumpasso,caindonasepulturadepé.Eu ignoroosaltoemmeucoraçãoquandoeleolhaparamim,seusolhosobservandopreocupadosmeucorpo.

“Kai,Jesus,queinferno?”Ooutrocaradiz,aindasegurandooladodesuacabeça.“Nósestávamosapenasbrincando.”

MasKai apenas se vira para ele, entrando em seu espaço. “Cinco... quatro... três,” ele fala, e aexpressãodocaratransforma.

“Dois,”Kaicontinua,“U-”

Ejaquetadecourosaltaantesdeleterminaracontagem,subindoaparedecomasmãoseospésatéqueeleestánaborda.

Desaparece.

Kaiseviraparamim,estendendoamãoparaomeurosto.“Vocêestábem?”

Mas eu bato em sua mão, afastando. Que diabos estava acontecendo com todos eles? Doente,sádico...eudeveriaterpisadodiretamentesobreseupauquandoeleestavanaporradochão.

“Ei,” Kai diz, estalando os dedos nomeu rosto. “Eles foram embora. Está tudo bem. Você estáferida?”

Pisco,tentandoprocessaroqueelemeperguntouatravésdaminharaiva.

Não.Não,eunãoestavaferida.Masmeusnervosforambaleados.

Eupassoporele,pulandoparacimaegrunhindoenquantotentoagarrarqualquercoisaparametirardaqui.Comoéqueaqueleidiotafezissotãofacilmente?

“Issonãovaifuncionar,”Kaimediz.

Paro,fechandominhasmãosefervendo.“Entãometiredaqui.”

“Tudobem,sósegura.”

Ele apoia-se do lado mais baixo da sepultura, parecendo que ele estava abrindo espaço paracomeçaracorrer,entãoelepodiaescalaraparede.

Masentãoeleestendeamãoeagarrameubraço.“Espere,oqueaconteceu?”

Eugiroobraçoumpouco,vendosanguemancharmeucotovelo.

Ha.Eunãotinhasequersentidoissoacontecer.Devetersidodurantealuta.

Kaipegasuacamisadobolsodetráselimpaosangue.

“Banks!”

Eurespirofundoelevantomeusolhosnadireçãodochamadodomeunome.“Merda,”eumurmurosobaminharespiração.

“Banks!Ondeestávocê?”

Baixo os olhos para ver Kai olhando para mim, suas sobrancelhas estreitaram. “Esse é o seunome?”

Droga.Elesnãoiriamseafastarsemeencontrassemcomele,mesmoqueissonãofoiculpaminha.ElesdiriamaDamon,eeununcasairiadecasanovamente.

Kaiabaixaosbraçosecorre,saltandoatéabordaeolhandoporcima.Depoisdeummomento,eledesce.

“Quem são esses caras?” Pergunta. “Eles são osmesmos que pegou você na estradamais cedohoje.”

“Sómedeixesair.”

“Quemsãoeles?”

“Irmãos,”eurespondosarcasticamente.“Elesmecompartilham,ok?Àsvezes,elesmeemprestamparafestas.Vocêquerumpedaço?”

“Banks!”EuouçoDavidgritar,apaciênciaemsuavozagoradesapareceu.Olhopreocupadaparaotopodasepultura,encolhendo-menocanto.

Droga.

MasKaiapenasreviraosolhos,diversãocruzandoseurosto.

“Elaestáaqui!”Elegrita.

Oque-?Corroparaele,colocandoamãosobresuaboca,segurandoapartedetrásdoseupescoçocomaoutramão.“Caleaboca!”Eusussurroapressada.

Puxoeledevoltacomigo,nosencobrindonaescuridãodocanto.

“Shhh,”euimploroemumsussurro.“Seelesmeencontraremcomvocê,vouficarpresaatéqueeusejavelhaegrisalha.”

Eusinto suabocaseespalharemumsorrisopor trásdaminhamão,eeleapoiaaspalmasdasmãoscontraaparededeterraatrásdemim,seuolharescurofazendomeuestômagorevirar.

Eleviraacabeça,empurrandominhamão.“Vocêéummontedeproblemas.”

“Então,paredetomaruminteresse.”

Olhamosumparaooutro,presosemumdesafio.Seucorpoestápressionadoaomeu,eeupodiaosentirsemoverenquantoelerespira.Inala,exala.Inala,exala.

Olhoparaseuslábios,molhandoosmeus.

Eleseinclina,acaríciadeseufôlegoencontrandomeurosto,eseiqueelevaimebeijar.

Masalguémchama,nosimpedindo.“Kai!”Umavozdemulherperfuraoardanoite.

Evejoseusolhossefecharemquandoeledizum“Foda-se”baixo.

Realidadedominaomomento.

“EssaseriaChloe?”Euprovoco.

Seusolhosseabrem,meestudando.“Vocêconheceela?”

“Euseiquevocêédela.”

“Quemtecontouisso?”

Euficoemsilêncio,percebendoaprofundamarcadeconfusãoemseurosto.

“Não.”Eleri,balançandoacabeça.“Ok?Não.Nósrompemosváriasvezesporumlongotempo,mas...”

“Mas…?”

“Masnósestamosseparados,”eleafirma.“Jáháumbomtempo.”

“Masvocêsaindaficamumcomooutro,certo?”

Eledesviaosolhos,parecendodesconfortávelquandoumsorrisoenvergonhadosurge.

“Kai?”Eupressiono.

Eeleencolheosombros,parecendoarrependido.“Melhorlidarcomumasituaçãoquejáconheçodoqueumaquenãoseinada,ok?”

Que seja. Ela não podia ser tão ruim se ele ainda gostava de dormir com ela. Era apenasmaisconvenienteapostaremumacoisacertadoquefazerotrabalhodeseduziralguémnovo.

Típico.

“Olha.”Elepegameuqueixo,meforçandoaolharparaele.“Eununcateriatentadonadacomvocê

naBellTowerseeutivesseumanamorada.Elaestásaindocomoutroscaras.Nósnãoestamosjuntos.”

“Nãoimporta.”

Douavoltaneleparatentarsubiratéaparede,maseleagarraapartedetrásdaminhacalçaemepuxadevoltacontraseucorpo,queimandominhaorelhacomseuhálitoquente.“Eugostomaisdevocê.”

Minhas pálpebras ficam pesadas de repente e arrepios espalham sobremeu corpo.Mas eumeobrigo a ficar com raiva. “Como se eu me importasse,” eu digo. “Se não estivesse aqui, você estaria‘gostando’muitodelanobancotraseirodoseucarroagora?”

Elerinomeuouvido.“Vocêestátãomau.”Eentãoeleficacalmo,suavozsuaveesinceraquandoelemeviraparaencará-lo.“Eurealmentegostodevocê,apesardetudo.”

Nãoseioquedizer.Oqueeupoderiadizer?Poralgumarazão,noentanto,foimuitobomouvir.Kaierabom.

“Deixe-metocarvocê,”elesussurra,prendendomeuolharemepuxando.

Vejoeleseaproximar,eeulentamenteinclinominhacabeçaparatrásparalhedaracessoaomeupescoço.Seuslábiostocamminhapele,eminhaspálpebrasvibram.Eleéamelhorsensaçãodomundo.

“Eunãoqueroiraencontros,”digoaele,anunciandodiretamente.“Eunãogostodemuitagente.”

Sinto ele sorrir contra a minha pele enquanto ele continua o que estava fazendo. “Nem eu. Equantoavocê,eu,eNetflix?”

Inferno,sim.“Eninguémpodesaberqueestouenvolvidacomumgarotoricoemimado,ok?Euperderiameurespeito.”

Elebufa,tremendodetantorir.“Ei,nãoéorótulodosjeans,masoqueestádentroqueimporta.”Eelemelevanta,agarrandominhabundaemepressionandocontraele.

Eugemo,sentindoocalorentrenós.Sim,tudobem,espertinho.

Inclinando-me, eu separomeus lábios, e ele avança, capturando-os.Eugemoemsuaboca.MeuDeus.Ocalor,osabor...eleestálento,masforteeprofundo,eeumedesfaçonele,seguindoseuexemplo,sugandoemordiscando.

Meucorpointeiroestávivo,umacorrenteelétricapassandodosmeuslábiosparaorestodemim,eeuqueroqueelemebeijeemtodososlugares.

“De onde é que você vem, Banks?” Ele sussurra,mordendomeu lábio. “Por que você vive comTorrance?”

Eu seguro o lado de seu rosto, afastandomeus lábios, mas tocandominha testa na dele. “Nãoimporta.Nãoquerosereuestanoite,ok?”Afasto,sorrindoedesafiando-o.“Estamosnoconfessionário,eninguémpodenosver.Vamosapenascorrerenãoolharparatráshojeànoite.”

Seusolhosiluminam,eeleacariciameurosto.

“Claroquesim,”respondeele.“Comumacondição.”

Eleme coloca de pé novamente e enfia amão no seu jeans, e eu olho para baixo entre nossoscorpos,observandoquandoelepegaalgumtipodecartão.

Eleergueisso,aspalavrasThePopeofMeridianCityescritasemtodaapeçapretadeplástico.

Umcartão-chave?

Voltomeusolhosparaosdele,vendoaemoçãoláquetambémestavacirculandoemmim.

Eletemumquarto?NoThePope?

“Euquerodescobriraqueledécimosegundoandar,”dizele.“Queriremumaaventuracomigo?”

Eusorrioenãopoderiaevitarisso–euaproximoeenvolvomeusbraçosemtornodele.Euiaterumaquedaterrívelseelenãofossecuidadoso.

Issoiriadestruirtotalmenteminhareputação.

Comoeleconseguiuumquarto?Tinhaqueserhojemaiscedoapósaconfissão,euacho.

Euinclinoparatráseacenocomacabeça,afastando-medeleeficoparada.

“Vamos-”

Mas então, de repente, algo agarra minha camisa e me puxa para cima. Mãos apertam meusbraços,eeusouarrancadaparaforadasepultura.

“Ei!”Eugrito,meucoraçãobalançandonaminhagarganta.

“Quediabos?”OuçoKaigritardebaixo.

Eusoujogadanagramafriaacima,oventomeatingindo.Eumeviro,vendováriosparesdebotaspretas.

Quem…

Maseuimediatamenteencontroseusrostos.David,Lev,Ilia,e...Damonestãosobremim,olhandoparabaixo.Osolhosnegrosdomeuirmãoestãoemchamas.

Ah,não.

Eulentamenteficodepé,mantendomeusolhosparabaixo.

Maseumantenhomeuqueixoparacima.Curvar-menãomefarianenhumbemnestemomento.

Kaipulaparaforadasepultura,ficandodepéeaproximandodaminhafrente.“Damon?”Elediz,respirandocomdificuldadequandoeleolhaparameuirmão.“Quediabo,cara?”

Euabrominhabocaparadizeralgumacoisa–eunãoseioque–masDamonagarrameupulsoemepuxaatrásdele.

“Fiquequieta,porra,”elerosnaparamim.

Kaiavançaparaele.“Quediabosestáfazendo?”

Meuirmãoseviraparaele.“Vocênãovaiseenvolvercomoqueémeu,vai?Penseiqueéramosirmãos.”

Fechoosolhos.Oh,Deus.EupossosentirosolhosdeKaiemmim.Suaconfusão.

“Sua?”Elepergunta.“Eunãosabiaqueelaerasua.VocêagiucomosenãoaconhecessenaBellTower!”

Olhorapidamenteentreeleemeuirmão,lágrimasbrotando.Aspessoasestavamcomeçandoasereunirperto,eeuvejoMichaeleWillapareceremcenatambém.

OsolhosdeKaiestreitamemmim,aindasegurandoachavedohotelemseupunho.

“Eeusintomuitoemdizer,”continuaele,“masrealmentenãoparecequeelaquersersua.”Elemediz,“Vocêquerqueeuteleveparacasa?”

Não.

Leve-meparaqualqueroutrolugar.

“Vocêquerqueeletelevaparacasa?”Meuirmãoolhaparamim,desafiando-mecomavozfria.

Nãoéumaescolha,noentanto.

Euadorariaseroutrapessoa,emoutrolugar,maseraisso.Damonprecisavademim.Kainão.Oqueaconteceriacommeuirmão,seeuquebrasseseucoração?

Estendoamãoepegoamãodele,balançandoacabeça.

EeupossosentirosilênciodeKaicomoumafacacortandomeuinterior.

“Bem,issoémuitodivertido,”Willentranaconversa.“Vamos,cara,deixaelaempaz.”ElecutucaKai.“Damonreivindicouprimeiro.Oqueissoimporta?”

“DesdequandoDamondáamínimaparareivindicações?”KairespondeparaWill.“Seapessoanãoestiverdisponível, ele semoveparaapróxima.Nenhumamulher vale apena, certo?”Eledesafiameuirmão.“Vocênuncacolocaumagarotadiantedenós.Eseeuquiserelatambém?”

“Bem,vocênãopodeficarcomela,”Damonresponde.“Ébomterumabucetalimpaepurasóparamim.”

Vomitoameaçasubiremminhagargantaenquantoorisoexplodeaoredordocírculo.

Damonvira-separamim.“Aquemvocêpertence?Quemvocêama?”

Eubalançoacabeça,araivarasgandocadapedaçodefelicidadequeeuacabeidesentirdentrodaquelasepultura.Malditosejaele.

Masosangueeraparasempre.

“Euamovocê,”digo,olhandoparaele.

Epegoobrilhodealívioemseusolhosantesqueelessetornemseverosnovamente.Eletinhadeverdadealgumadúvida?

Elebeijaminha testa. “Váparaomeuquartoeespere lá,”elepede,batendonaminhabundaeolhandodevoltaparaseusamigos.“Eupossoquererumpedaçoquandochegaremcasa.Qualquercoisaqueissoseja.”

Risadasmerodeiamdenovo,eDavidcolocaamãonasminhascostas,meempurrandoparalonge.

NósquatrocaminhamosemdireçãoaoSUV,deixandomeuirmãoeseusamigos,maseupegosuaadvertênciaparaKaiquandopuxoocapuzdevolta.

“Ninguémmaistocanela,”dizele.“Nunca.”

Não.Nunca.

Capítulo9Banks

Presente

KaiGenatoMori,leioamimmesma.Nascimento:28desetembrodeThunderBay...semirmãos.

Páginaapóspáginadetalhamsuavida,suasnotasimpecáveis,esuasestatísticasnobasqueteenanatação.

Esuaprisãoeatividadedesdequesaiumaisdeumanoatrás.

Alémdoqueoprendeu-agredirumabusadordecriançaqueaconteceudesertambémumpolicial-elesemprefoiumacriançamodelo.ElesabiacomofazerumafestamasnuncafoialémdolimitecomoWill.

Elegostavademulheres,maselasnuncapareciamodiá-loporissocomofaziamcomDamon.

Eelepodiaserduroedifícileassustador,masnuncaapareceucomomau,comoMichael.

Kaieraomelhordetodoseupequenogrupo.

Atéqueelesaiudaprisão.Agoraeleédiferente.

Nenhumamulher,pelomenosnãopublicamente.Nuncamaisdoqueumabebida,pelomenosnãopublicamente.Enãosóparecequeémau,eleparecequasecruelàsvezes.

ParonafotodeleenquantoestavacaminhandoparaHunter-Baileyumdia.Oinvestigadoropegounacalçada,seucasacopretoaovento,acamisabrancadecolarinhoaberto,umamochilapenduradanoombro,eseucabelopretofazendoseusolhossedestacarem,parecendoinflexíveis.Olhoparasuacamisa,lembrandoasensaçãodohomemembaixoquandoeraumacamisetaemoletom.

Caloroso.Issoéoqueeumelembro.

Realmentequente.

Eufechoapasta,pausandoumarespiraçãoprofunda,eempurrando-asoboassentocomasoutras.Eu vi o meu irmão brincar com inúmeras garotas, tratando-as como brinquedos insignificantes e, emseguida,jogando-asdeladocomolixo.Euseicomooshomenspodemserhorríveiscomasmulherescomquem estão transando. E as mulheres não só aceitam, mas voltam para mais. Imploram por ele, naverdade.

Issonuncaseriaeu.

“Ondediabos ele está?”David resmungado assento domotorista, sacudindo a cinza do cigarropelafrestadajanela.

Viromeuolharparaforadoladodopassageirotraseiro,olhandoatravésdachuvaescorrendopelajanela,paraacasadetijolopreto.Chegamosquinzeminutosatrás,eeumandeiumamensagemparaqueele saibaquenósestamosaqui.Elenãomandouumamensagemdevolta,maseu seiqueeleestáemcasa.SuaRS7estánacalçada,debaixodeumaárvore,cobertadamerdadefloresdecardos

4quecaíram

comachuva.

Verificandomeu telefone, vejo que são oito e quinze. Se ele não sair, eu vou embora. Eu tenhooutrascoisasparafazeralémdeesperarele.

Levbocejaàminhaesquerda,eolhoparacima,vendoseuassentoreclinado,eosolhosfechados.Ele ainda veste a mesma calça jeans preta e a camiseta semmangas branca da noite passada, e elecheiravaabanheirodebar.

“QuandoVanessadevechegar?”Davidmepergunta.

Olhoparaforadajanela,meucoraçãobatendoforte,apesardesimesmo.“Umasemanamaisoumenos.”

“Comoelarecebeuanotícia?”

"Issoimporta?"

Euposso sentir seusolhosatravésdoespelho retrovisor,mas ignoro.Gabriel fez a ligaçãoparaLondresnanoitepassadaemeenviouinstruçõesparalidarcomelaquandochegasse.Elanãoestáfeliz,mas sabia que esse dia chegaria. Eventualmente, ela seria vendida a alguém, e contanto que alguémmantenhaoestilodevidaaqueelaestáacostumada,elafaráoquelhefordito.

Elaestá,Gabrieldivulgou,felizqueKaiépelomenosjovemedeboaaparência.

Deixomeusolhosfecharemporummomento.Kainãovailevarissoadiante.Issoéumacoisaqueestouconfiantequenãomudou.Suaintegridade.AprincesaNikova,quefazbeicinhoseelativerquedarumespirro,iráirritá-lodemais.

Sorrioparamimmesma.Nãohánenhumamaneiraqueelevásuportarela.

“Sabe, se precisar de mim,” diz David, e abro os olhos, encontrando os seus no espelho “- aqualquerhora-vouestarlá.”

Querodar-lheumacenodecabeça.EutrabalheiduroparateraatençãoerespeitoqueeutenhoagoranacasadoGabriel.Euodiavaserexpulsacomosefossedispensável.Masmeusombrosrelaxamumpouco,sabendoquenãoestourealmentefazendoissosozinha.Elesaindaestãoaquipormim.

Ele solta fumaça, balançando a cabeça como se estivesse pensando em voz alta. “Eu não gostodessecara.”

Eumantenhoomeusorrisoparamim.“Quetipodecaravocêgosta?”

Levcomeçaarirbaixinho,osolhosaindafechados,eolhoparacima,vendoDavidmemostrarumdedodomeionoespelhoretrovisor.

Euolhodevoltaparaacasa.Ascortinasnasjanelassãotãobaratas.Possodizerdaqui.Apinturaexteriorestádesgastada,eostijolosquebradosemtantos lugares.Esperoqueo interiorestejamelhor.Seráprecisoumamerdadetoneladadecarasparaterestelugararrumadoemduassemanas.

“Damonestavafodido,”Davidcontinua,“maselenuncaescondeuisso,tampouco.Essecara...”eleolhapelajaneladoladodopassageiroparaacasa."Eunãosei."

Eledeitasuacabeçanoencostodecabeça,eenquantomeucoraçãoaquecequeeleestárealmentepreocupadocomigosendodeixadacomKai,eunãoqueroqueeleesteja.Euqueromanteropoderquetenhoeganharmais.Nãoajudaseoscarascomquemtrabalhotentammeajudaraatravessarcadapoçamalditaparaminhasanáguasnãoficaremlamacentas.EupossolidarcomKaiMori.

“Ele está muito controlado,” diz David. “Pessoas que estão enroladas tão apertado sãoimprevisíveis.”

Colocomeutelefonedentrodomeucoletedeesquiepuxoparabaixoasmangasdomeumoletom.

“Nãosepreocupecomela,”Levdiz,osolhosaindafechados.“Emduassemanas,elevaiterasualindanoivinhaparabrincar.”

Enãopossoevitar isso.Meus lábios torcememumpequenogrunhidoantesdeeu rapidamenteescondernovamente.

Sim,elevaitê-la,nãoé?Eumaimagemdelesmevem,sozinhosnaquelacasa,olhandoumparaooutro,seesbarrandoumnooutro,seconectandoemerda...sento-meetiromeucintodesegurança.

“SeoGabriel quisesseque vocêspensassem, ele teria os colocadono comando,”murmuro. “Euestareidevolta.”

Pingosgrossosdechuvabatemnogorronaminhacabeça,eeuolhoatravésdachuva,colocandoosdedosenluvadosnosmeusbolsosesubindoasescadasdecimento.

Tocoacampainha.

Este lugar é um aterro. Parece sujo, o jardim crescido e negligenciado, e uma varanda suja,cobertadejornais,vasosvaziosefolhasmortas.Porqueelemoraaqui?Tenhocertezaqueelepoderiaterse mudado para o Delcour – os arranha-céus luxuosos do Michael Crist, do outro lado do rio -gratuitamente.ErikaFaneeWillGraysonvivemlá,então,porqueKaioptouporficartãolonge,aqui,esemseusamigos?

Claro,euseiondeelemoravaquandocomprouestelugarumanoatrás,masnãomeocorreuficarincomodadaporissoentão.

Agora,desdequeeutenhoquedeixarissoprontoparaumaesposa,estoucomeçandoaperceberquantotrabalhoprecisaserfeito.

Eutocoacampainhadenovo,ficandomaisirritada.Ondediaboseleestá?

Batonaportadetela,amadeiravelhabatendocontraobatenteacadabatida.“Olá,”eugrito,maiscomoumaordemdoqueumapergunta.

Olhandopelajanelaàminhadireita,possoverumchãoempoeiradoeumapequena,mesavirada,orestoescondidodavistapelacortinadeplásticoamarelandopenduradaporumcantosobreajanela.

Suspeitameinvadeconformemeendireitonovamente.

Istonãomeparecebem.Ninguémviveaqui.

EununcativeaimpressãodequeKaiMoriprecisassedeumpalácioparaestarcontente,maseledefinitivamenteéotipodehomemquetemorgulhodesimesmoetudooquelhepertence.Elecuidadasuamerda,eestelugarnãoécuidado.

Olho até o topo da colina, àminha direita, vendouma casa grande, cinza, de pedra.Umpoucopequenaparaserconsideradaumamansão,masbempertodisso.Elaécercadaporumportãoalto,preto,e é o único vizinho de Kai. Eu deveria ter pesquisado quem mora lá. Ter certeza que eles não sãointrometidos.

Lançandoumolharrápidoparatrásnocarro,eunãopossoverLevatravésdasjanelasescurasnapartedetrás,maspossoverDavidnafrente,meobservando.

Foda-se.Virandodevolta, abroaportade tela egiroamaçaneta, encontrando-adesbloqueada.Empurroaportaabertaerelutantementedouumpassoparadentro,meuolharindodaesquerdaparaadireitaconformeobservoointeriordacasadeKaiMori.

Umaluzcinzabatenospisos,entrandoatravésdasjanelassujas,enquantosombrasdasgotasdechuva dançam em toda amadeira suja. Lençóis cobertos de poeira pairam sobre objetos que parecemcadeirasemesaseumsofá.

Deixando a porta aberta, caminho lentamente para a sala, observando a lareira com seu tijolomanchadodefuligemeumapilhadegravetosantesdeirparaacozinha,everumageladeiraefogãodosanos50,assimcomoabancadaantigadelinóleorosavelho.

Eu sufoco uma risada. Jesus. Quem ele está enganando? Esta não é a sua casa. De maneiranenhuma.

Indodevoltaatravésdosaguão,suboasescadas,dedoisemdoisdegrausdecadavezeentroemdoisquartoseumbanheiro,nenhumdosquaisparecemtervida.Nãohácomida,nempratosutilizados,nãoháescovasdedente,ouroupasuja,semTV,semlâmpadas...

Até eu caminhar pelo corredor, entrando no último quarto, e olhar em volta. Eu paro, vendoinstantaneamenteumacama.Oúnicoquartocomuma.

Hálençóisnacama,eestáperfeitamentearrumada.Eudevoacreditarqueeleacaboudedormiraqui,então?

“Olá!”Gritodenovo.

Masnãoouçonada,sóosomdachuvaláfora.

Andando para fora do quarto, entro no corredor e abro algumas portas do armário, verificandotodososcantos.Asprateleirasestãovazias,nãocontendonemmesmotoalhasdebanho.

Qualéomistérioaqui,Kai?“Olá!”Grito.

Fechoaúltimaportaeviro,derepentevendo-odepébemnaminhafrente.

Enguloemseco,omeucoraçãoparacom tanta forçaquedói. “Merda!”Euexplodo, respirandorápidoquantoeleapenasficaempéali.“Deondediabosvocêveio?”

Ele fica em pé no corredor, vestindo jeans e um pulôver preto de aparência cara, parcialmenteabertopararevelaracamisetabrancaporbaixo.

Elesacodeacabeçaparatrás,seucabeloperfeitamentearrumadosemsemover.“Doquarto.”

Estreitomeusolhosnele.“Euestavalá,”digoaele.“Evocênãoestava.”

Haviaumacamaevelaseumacômodaenadamais.Ondeeleestava?Escondidonoarmário?

Euperceboqueestourespirandocomdificuldade,entãomeforçoameacalmar.

“Toqueiacampainhaechamei.Eracomoseninguémestivesseaqui,”digo.

Mas ele me ignora, parecendo aborrecido quando pergunta “Você trouxe as plantas, chaves e

códigoscomoeupedi?”

Suaexpressãoseverapareceimpaciente.Certo,tudobem.Euvouterqueentraraquiecavaremvoltaembreve,dequalquermaneira,entãoeupossoesperarparaserintrometida.

“Nocarro,”respondosecamente.

Elebalançaacabeçaecaminhaparaasescadas,descendo-aesabendoqueeuiriaseguir.

Nóssaímosparaavaranda,eseuolhar instantaneamenteencontraDavieLevsentadosnoSUV,esperando.

Kaivoltaseusolhosescurosemmim.“Vocêestácomigoagora.Diga-lhesparasaírem.”

Eu escureço meus olhos. Mas me viro e desço as escadas, em direção ao carro, enquanto elecaminhaparaalateraldacasaemdireçãoaoseu.

Davidabaixaajaneladoladodopassageiro.

“VolteparaThunderBay,”eudigoaele,entrandonocarroerecolhendoosarquivosparaoThePopeeorolodasplantasdoassento."Vejovocêsànoite."

Eleestreitaosolhos,parecendodesconfortável.

“Estátudobem,”euasseguro,começandoameafastar.“Concluaascoleções,nãoseesqueçadosestoquesparaWeisz´seBrother´s,ecertifique-sequeIliatenhaoscanisarrumados.”Olhoparaahoranopainel.“Elembre-se,oDeSotovemàstrês.Certifique-sedequeumcarrovápega-lo.”

Viro-meantesqueeletenhaachancederesponderecaminhoemdireçãoaoAudideKai.Eledárénaentrada,achuvapesadalentamentelavandoafloresdecardossobreocarro,eleparaquandomevêindoemdireçãoaele.

Contornandoocarro, subonobancodopassageiro, jogando tudoatráseenxugandoachuvadomeurosto.Eupossosentiraáguaescoandopelotecidodomeugorro,equerotirá-lo,maseutereiqueesperaratéestarsozinha.

Semfalar,Kaisoltaofreioeterminadedararéorestodocaminhoparaforadagaragem,eeumudomeusolhosparaqualquerlugar,menosparaele.Elecolocaocarroemprimeiramarcha,eminharespiraçãoficapresa,sentindo-osemexeraomeuladoenquantoozumbidosuavedomotorvibradebaixodosmeuspés.

Eleacelerae correpelaavenida,mudandoparaa segundaeatéa terceiramarcha, enquantoocarronosimpulsionamaisemaisrápido.

“Vocênãovivenaquelacasa,”digoemumavozbaixa,uniforme.

Eleseguraovolante,obraçosuperiorpresocomoaço,reto,enquantoeleolhaparaafrente.

“Vocêachaqueeunãopossovivercomobásicodobásico?”Elebrinca,alcançandoeaumentandoovolumedeEmotionlesstocandonorádio.

“Básicodobásico?”Euescondomeusorriso.“EuachoqueHowardHughes5eramenosobsessivo

doquevocê.Vocênuncairiavivernesselixo.”

“Euviviemumpordoisanosemeio,”eleresponde,suavozficandodura."Ascoisasmudam."

Olhoparaelecomocantodomeuolho,vendoseusolhosficaremdistantes, impassíveis.Enguloatravésdasecurarepentinanaminhagarganta,fechando-meparaomomento.

Éfácilesquecer,dadasassuasunhaslimpaseroupascaras.Masnãomuitotempoatráseleestavaemumacamisetade trêsdólarese trancadoemuma jaulacomaspessoasdizendo-lheoque fazeremcadaminutodoseudia.

Aindaassim,porém,elemereceu.Elecometeuocrime.

“Você não está mais hospedada no Torrance,” ele me diz, mudando para quarta marcha eacelerando.“Vocêtrabalhaparamimagora.EuquerovocêemMeridianCity.”

“EumoroemMeridianCity.”Viromeusolhosdajaneladoladodopassageiro.“Emesmoqueeunãomorasse,vocênãotemqueditarondeeudurmo.”

Quando eles saíram da prisão no ano passado, eumemudei para a cidade para estar perto deDamon.Meupaicomeçouamepagar -apenasosuficienteparamanterumrato -maseraosuficienteparaencontrarumlugarparadormir.

“Eondevocêdorme?”Elepergunta.

"Nãolonge."

Eleajustaoespelhoretrovisor,dandoumolhardemorado.“Comumdeles?”

Eulentamenteviromeusolhosparaelee,emseguida,olhoparatrás,vendooEscaladeseguindo.Eunãopossodeixardesorrirumpouco.

Eudeveriaestarcomraivaqueelesdesobedeceramumaordem,mas...

SeGabrieltivesseditoparairemparacasa,elesteriamido.Elesótinhaalealdadedelesenquantoelepagava.Eunãopagonadaaeles.

Deixominha cabeça cair para trás sobreo encostode cabeça, apaz rarade contentamentomeatingindo.“Étudonoquesouboa,certo?”

Seus lábiostorcem.“Damondeverealmentetertemachucadomuitoparamantê-latão leal,”elecospe.“Euovicomasmulheres.Vocêrealmentegostadoqueelefazcomvocê?”

Oqueelefazcomigo....fixoosolhosparaforadopara-brisacobertodechuva,olhandoparafora.EupertençoaDamon,eseKaisabeounãoaverdadeirarazãoparaisso,issonãomudaqueeusempreestareidoseulado.

"Aquelanoite-"

“Não,”eudigo,interrompendo-o.

Elepara,eeupossoouvirsuarespiraçãopesadasaindodoseunariz.

“Euameiqueelenosviunaquelanoite,”elecontinua, suavozquaseumrosnado. “Ameiaqueleolharfuriosonaporradacaradelequandoeleviuvocêemcimademim.”

Eu aperto os músculos das minhas pernas, estremecendo com a memória. Eu estava tão malnaquelanoite.Eosentimentodecadacentímetrodeleemmimaindaétãoclaro.

“Háalgosobrevocê,garota,”elediz,aindaolhandoparaaestradaàfrente.“Nãoseioqueé,masnamaioriadasvezes,quandodouaulas,encontro-mecomosempreiteiros,conversocommeusamigos,merda...” ele balança a cabeça. “Eumal posso suportar isso. Até tenho dificuldade demastigarminhamalditacomidanamaioriadasvezes.”Eentãoeleolhaparamim,mudandoparaaquintamarcha.“Masnãopertodevocê.Pertodevocê,euficocomfome.Comoseestivessemorrendodefome.”

Eu mantenho meu olhar para a frente, o instinto de me encolher e tentar ser invisível quaseassumindo.

“Vocêestáusandoocintodele.”Suavozprofundasoaperigosaefazopelonaminhapelearrepiar.

O cinto de Damon. Eu memexo no meu lugar, de repente muito consciente da faixa de couroapertada,emvoltadosmeusquadris.

Eleapontaparabaixoparaocintoantesdevirarseusolhosdevoltanaestrada.“Eureconheçoasmarcasesculpidasnocouroparacadaenterradaqueelefeznaescola.Dentroeforadaquadra.”

Dentroeforadaquadra?Jesus,Damon.Eusegurominharespiração.

Pegueiocintoquandoelefoiparaaprisão,eelenuncapediudevolta.

“Use-otodososdias,Banks,”Kaiordena."Todosantodia."

“Ah,euuso,”sussurro,masseiqueelemeouviu.

Aposto que ele se pergunta se havia umamarca de registro paramim no cinto. Damon estavacerto.Éestrategicamentevantajosoninguémsaberquemeusouparaele.SeKaisoubessequeeueraumbrinquedoTorranceeumaferramenta,elenãosaberiaexatamenteoqueeletinha,ouascartasqueelerealmentepoderiajogar.

Deusmeajudeseelejádescobriu,noentanto.

Kaicontinuadirigindo,descendoparaodistritodeWhitehall,eeupossoverumnaviodecargaealguns barcos rebocadores descendo o rio na chuva. A cidade surge a distância, arranha-céusparcialmenteencobertospornuvens,eeupossoverodouradoepretodoDelcour,nocentrodosmelhorescomércioserestaurantes.

Kai desacelera conforme nós chegamos ao The Pope, e noto o novo Rover de Michael Cristestacionadojuntoaomeio-fio.Oqueeleestáfazendoaqui?

Nós viramos, dirigindo para o pequeno beco do lado do hotel, para a parte traseira, e o carrosubitamentepenetranaescuridão.Opainelbloqueiaqualquer luz,eeucorrominhasmãos lentamente

pelasminhascoxas,sentindoumzumbidoportodaaminhapele.Ocarropareciamuitomenoragora.

Aescuridão.

Oconfessionário.Oportamalas.ATorredoSino.Asepultura.Espaçospequenoscomele.Sempreespaçospequenoseescuros.

Semmedarumolharouumapalavra,Kaiestacionaocarroeabreaporta,saindonachuva.Eurapidamenteosigoeobservo-ochegarnapartedetrásesegurarasplantasqueeutrouxe.

Elecomeçaacorrer,indoparaumadasportastraseiras,enotoduaslixeiras,algumaspaletasdemadeira,eummontedecaixasdepapelãoficandoencharcadasnasproximidades.

“Oquevocêestáfazendoaqui?”ouçoKaiperguntar.Olhoparacimaparavê-loconversandocomMichaelCristeWillGrayson,queestavamàesperasobumtoldo.

Will usa apenas jeans e uma camiseta branca, enquanto Michael está vestido para o clima,parecendoestranhamentesimilaracomoeleparecianoensinomédioemseumoletom.Manchasdeáguacobremseujeans.

“Porquevocêsnãoestãoesperandonocarro,caras?”Kaipergunta.

OsolhosdeMichaeldesviamparamim,estreitando,enquantoWillseafastadaparedeepegaseuchiclete,jogando-oparaforanachuva.“Nãoqueriaperdervocê,”dizele.

Kaiestendeamãoparamim,eeulheentregoaschavesdohotel.

“OndeestáRika?”Eleperguntaaosrapazes.

Michaelviraconformeeleseaproxima,prontoparasegui-loatravésdaporta.“Aula”.Eentãoelemeolhanovamente.“Somosapenasnós.”

Asensaçãodemauagourorodanomeuestômago,eeuficoatrás,deixandotodoselesentraremantesdemim.

Nósandamosatravésdeumtúnelescuro,eeunãopossoverclaramenteportrásdoshomenscommaisdeummetroeoitentanaminhafrente,masdepoisdealgunsmomentos,vejoalgumbranco.Paredesclaras aparecem, e eu observo vários freezers, geladeiras e fogões. Nós entramos pela cozinha. Só évisível,porém,devidoàpoucaluzqueentrapelasjanelas.

Cadaumdoscarasligamsuaslanternas,eWillmeentregauma.

Euapego,ligando-a.

“Então,Kai?”Willgritaconformetodosnósentramospelacozinha.“Vocênãoprecisariademimparaentraremsuanoivavirgemparavocê,nãoé?”

ElecomeçaarireviraacabeçaparamimantesdeKaipoderresponder.“Kainãogostadevirgens.Elegostademulheresquesabemoqueestãofazendo.”

Eentãoeledeixaseuolharsemoverpelomeucorpo.

Eulevantoumasobrancelha.Sim,eunãoacreditonisso.Eueravirgemnaquelanoiteanosatrás,eissonãooimpediudequererumbocadodemim.

“Maseu?”Willcontinua.“Eugostodelasapartirdozero.Eupossoensinarexatamenteoqueeugostoecomofazerdamaneiraqueeuquero.”

“Quer dizer que você gosta que elas não tenham ninguém para comparar com você,” eu digo,“entãoelasnãopodemdizeroquãoruimvocêénisso.”

Michaeldáumapequenabufada,maseupercebo,epossoverapartedetrásdosombrosdeKai,tremendocomumarisadasilenciosa.

Willsevira,deixando-mesozinha.

Todos nós seguimos Kai, e eu espero fora da sala de controle conforme eles mexem eminterruptores,tentandotereletricidade.Depoisdealgunsminutos,porém,nada.

“Aindabemquenóstrouxemoslanternas,”Michaelmurmuraenquantosaidasaladecontrole.

Kaisegueepara,todosnósparadosjuntos.

“Bem, pelomenos os quartos estarão destrancados,” ele nos diz. “Amánotícia é que vamosdeescada.”

Subirdozeandares.Excelente.

“Vamosnosdividir,”elenosdiz,começandoaandarparaasportasdacozinha,queprovavelmentelevam para uma sala de jantar. “Tirem fotos de qualquer quarto que vocês entrarem e close-ups deeventuais problemas. Roedores, encanamento, vazamentos, qualquer tipo de danos... eu vou trazerempreiteirosetermelhoresestimativas,maseuqueroumaideiadosreparoseoquetemosquecontarcomoperdido.”

MichaeleWillsaem,deixandoacozinha,eKaiseviraparamim.“Vejasevocêconsegueencontrarogerador,”elemediz.“Nóspodemos,pelomenos,teralgumasluzesfuncionando.”

Sim,tudobem.Eumantenhominhaacidezparamimemedirijoparaoacessoàescada,ligandominha lanterna enquanto desço para o porão. Não há janelas aqui embaixo na escada, e meu pulsocomeçaacorrer,lembrandodosestúpidosfilmesdehorrordaporraqueDamonassistiaquandoéramosmaisjovens.Euacenderiaalanterna,e,derepenteumameninaemumvestidobrancoeabocacheiadegarrassangrentasiriasaltaremcimademim.

Abrindoaportanofundo,entronoporãoeimediatamentesoltoumsuspiro.Éumaenormesaladeaquecimentoabertacomjanelasquerevestemaparedenotopo.Eusópossodetectarospésdealgunspedestresandando.Umpoucode luznaturalentra,maseumantenhoaminha lanterna, jáqueaindaémuitofraca.

Caminho lentamente pelo corredor, brilhando aminha luz em tubos e tanques, fornos e outrasmáquinas que não reconheço. Realmente, o hotel não ficou fechado por tanto tempo assim. Amaioriadestematerialprovavelmentefuncionabemainda.

Vejo um gerador perto da parede e me dirijo a ele. Eu não tenho ideia de como essas coisasfuncionam,maseutinhavistoeles,eseicomoprocurarnoGoogle,seprecisasse.

Inclinando-me,assoproapoeiradosinterruptores,esfregandoasujeira.Essacoisanãoégrandeosuficienteparaalimentarmuito,edefinitivamentenãovaialimentaroselevadores,mastalvezsirvaparaailuminaçãodocorredor.ViroobotãoPower.

Mas nada acontece. Ligou alguma coisa? Bem, ele não iria ligar a uma parede, é claro. Setivéssemoseletricidade,nãoprecisaríamosdeumgerador.

Talvezestejaconectadoaumabateriadealgumtipo.Eurapidamentetirominhajaqueta,deixando-acairnochão,emeapoioemminhasmãosejoelhos,atirandoalanternanochãoaoredor,àprocuradefiosoucordas.

Algo segurameus tornozelos, no entanto, grito conformeme puxa, meus joelhos cedem emeucorpoéarrastadopelochão.

“Que diabos?” Eu grito, olhando ao redor para ver quemme agarrou.Meu coração bate forte.MichaeleWillestãonaminhafrente,eeuoschuto.“Fiquemlongedemim!”

Michaelestendeamão,meagarrandopelacamisaemepuxandoparacima.

Idiota.Olhoemvolta,masKainãoestáaqui.

Michaelagarrameupescoçoemeplantacontraaparede,mesoltando.

Euolhoparaele.Euesperavaenfrentarissocomelesembreve-euseioqueelesfizeramcomaRikanoanopassado,entãoeuseicomoelesgostamdejogarseupesoaoredor-masporalgumarazão,euficoparada.Elevaiterumenormeproblemacomigoembreve,masvoufazeraminhajogadaquandoestiverpronta.

“EunãotenhoideiadoqueKaiestápensandoagora,”dizelecomumamordidanoseutom,“masvoulhedarumavisoeapenasumaviso.”

Eulevantomeuqueixodevagar,preparando-meparaasuaameaça.

“Se você foder com a gente, vamos fazê-la desaparecer,” ele rosna. “No momento em que eucomeçarasentiramenorpreocupaçãoquevocêpossateralgonamanga,eunãohesitarei.Entendeu?”Eleestreitaosolhos.“Vocêtrabalhaparaele,ecuidadele,efazoquequerqueelequeiraquevocêfaça,efaçaissobem,querida.Sónãomedêumarazãoparaafunda-lanofundodaporradorio,porqueissoéoquãorápidovocêpodeacabar.Entendeu?"

Ohsim.Entendi.

Começo a respirar rápido. Eu tragomeus dedos recatadamente para osmeus lábios e finjo umolhardemedo.Oqueeufiz?Oh,não,porfavor,nãomemachuque.Porfavor?Deixoescaparumpequenogemidoeapertominhassobrancelhasconfusa.

Eentãoeuparomeuchorofalsoeabroumsorriso,olhandoparaelecomumarisadasilenciosa.

EssamerdapodeterfuncionadocomaErikaFane,maseletemoutropensamentovindo.

“Voufazeromeutrabalho,”digoaele,“evocênãomeassusta.”

Suacarrancaseaprofunda.

“Oquevocêpodefazer?”Pergunto.“Vocêéumatleta,aosolhosdopúblico,prestesasecasarcomagarotaquevocêsempreamou,commuitoaperder.Eeste”-gesticuloparaWillatrásdele-“estáapenassóbrioapartirdomomentoqueelearrastasuabundaparaforadacamademanhãatéotempoqueelepodeiraorefrigeradordecervejaqueelemantémemsuacozinha.”

Willfazumacaretaparamim.

“Os Horsemen estão fracos e morrendo,” continuo, fingindo um olhar preocupado. “Momentoperfeitoparaosinimigosatacarem.”Estendoamãoepegomeucasaco,deslizandomeusbraços.“Opaide Damon adoraria se desfazer de você, seu pai está tentando impedir alguns dos seus negóciosimobiliários,Damonestásabe-seláonde,Rikaandaporaítododia,armadacomapenasseuspequenosetruquesdekungfu.”EuolhoparaWill.“Eaquelepolicialquevocêfoiparaaprisãoporatacar,nãoestevefarejandovocêultimamente,procurandoalgumacertodecontas?”

OsolhosdeMichaelseestreitam,eeledesviaoolhar,parecendosurpreso.Sim,vocênãosabiasobreisso,nãoé?

“Você tem tanta coisa acontecendo,Michael, realmente,” zombo dele como se ele tivesse cincoanos,colocandominhasmãosnosbolsos.“Eoenquantovocêficamevigiando,vocênãoosvê.”

Eutiroasduasmãos,eMichaelpegaobrilhodepratanaminhamãodireitaeagarrameupulso,meparando.

Sorrioenquantoeleseguraapequenalâminalongedeseurostoemeencaracomumgrunhido.

Mas eu solto meu sorriso e giro a ponta da lâmina na minha outra mão, a que ele não vê,apontandologoacimadesuavirilha.

Elevaiparatrás,umapequenacaretanorosto.

“Você não só não está com seus patos em ordem,Michael, mas eles estão cagando em todo olugar.”Euguardoalâminadevoltanobolso.“Vocêsgarotos,precisamdeummodelo.”

Indoparaolado,andoemtornodelesemedirijoparaforadoporão,ouvindoosussurroderaivadeMichaelatrásdemim.“Queporraéessa?”

“Euiatedizer!”Willsussurra-gritandodevolta.

Eubalançoacabeça.

Queperdadetempo.

Depois de todos os anos de trabalho, grunhido - limpando, inventariando, entregas e buscas -finalmentetenhoumpoucoderespeito.AgoraeutenhoatarefadeserasombradeKaiesuapequenaequipe, observando-os atrapalharem-se para dar cinco passos quando eles poderiam conseguir o queprecisamcomum.

Puxoafrentedomeugorromaisparabaixo,tentandoresistiraobocejoqueestáempurrandoseucaminhoparafora.

Meucelularvibranomeubolso,eeuopuxoparaforaconformesuboasescadas.

Encontre-menotreze.

Kai. Como ele conseguiumeu número? E entãome lembro que eu lhemandei umamensagemnaquelamanhã.Ótimo.Treze,eeuestounoporão.Colocandomeutelefonedevoltanobolso,euseguroocorrimãoecomeçoasubiraescada,correndoepulandodegrausconformevoo.Alcançandocadaandar,olho para cima e tomo nota do número do andar, mas no nove paro, meus pulmões agora parecendoapertadosepequenos.Olhandoparacima,vejoosandaresapagadosacimademim, iluminadosapenaspelasluzesdeemergência.

Respirando fundo, corro umpoucomais devagar até os andares restantes, chegando ao treze eabrindoaportadaescada.

Umpontoapertaomeulado,eeuenguloatravésdasecuradagarganta.Acheiqueeuestivesseemboaforma,caramba.

Entroemumcorredorescuroeolhoparaaesquerdaedireita,ocarpetecinza,comumdesigndefiligranabrancoenfraquecendolentamentenosvaziosnegrosdecadacorredorescuro.

“Olá?”Grito.

Viroàdireita,acendoalanterna,masumventoatingeminhascostas,eeuolhoatrásdemim.Umventosutilrefrigerameuslábios.

Virandoàesquerdaemvezdisso,andoparaocorredor,inspecionandocadaportaenquantopassoefinalmentenotandoqueestavaaberta.Olhoparadentro,vendocortinasbrancasdooutroladodasalachicoteandonovento.

Aportasdasacadadevemestarabertas.

Entronoquarto,olhandoparaosdoisladosenquantoatravesso,efinalmenteperceboaformadeKainavaranda.Puxandoacortina,vouparafora.

“Avarandadodécimosegundoandar,”dizele,inclinando-sesobreocorrimãoevirandoacabeçaparaolharparamim.

Sigoo seuexemplo,espiandoporcimadocorrimãoeolhandoparabaixo.Cadaandar temumavaranda, e a que está diretamente abaixo de nós não é diferente. Entalhada em pedra, um corrimãogrosso,tudomolhadodachuva...

Eumeendireito,inclinandoacabeçaparaele.Odécimosegundoandar.

Suspeitacomeçaaentraremmim.

“Vocêrealmenteachaqueeuiriaajudá-loaprocurarnoThePopeseeuachassequeDamonestavaseescondendoaqui?”Pergunto.“Vocênãoestácomprandoestehotelporcausadealgumahistóriaqueeuteconteiquandoeutinhadezesseteanos,nãoé?”

Vejoocantodasuaboca levantaremumsorriso."A.Sim,”afirma.“Euacheiquevocêfossemeajudaraprocurar,senãoporqualoutrarazãoiriameapontarnadireçãoerrada.”Elevaiparatráseolhaparamim.“EB,eunãotenhocertezaseDamondisseavocêondeeleestáescondido.”

“Eporqueisso?”

“Porque eume lembro dele sendo particularmente possessivo com você,” diz ele. “Eu acho quevocê sabe que ele está na cidade,mas eu acho que ele pode estar observando-a tanto quanto ele nosobserva.”

Sorrioparamimmesma.

Euouvi falar sobreodécimo segundoandardepoisde irmorar comDamonemeupai.Gabrielferozmenteprotegia suaprivacidadee construiuquatrohotéis antigamente:umemMeridianCity,SanFrancisco, São Petersburgo, e Bahrain - os lugares que ele mais viaja. Privacidade, segurança e serinvisível,àsvezes,sãonecessidadesparaalguémquefezpelomenospartedoseudinheiroforadalei.

Masmeu irmão não está aqui. Pelomenos não da última vez que verifiquei. Kai está perdendotempo.

“Nósjáexploramosestelugarumavez,lembra?”Digoaele.

Elepiscaosolhosdivertidosparamim,soandoarrogante.“Nósnãofomosmuitolonge,lembra?”

Umruboraqueceinstantaneamenteminhasbochechas,eeumeviro.

Kaiespiaporcimadagradedenovo,eeufaçoomesmo,observandoagrandequedaparaochãoabaixo.Olhoparaele,estudandoacuriosidadeestampadaemseurosto.Aformacomoassobrancelhasescurasficamjuntascomoseeleestivessecalculandoasuapróximajogada,eaformaqueseupescoçoestica namedida emque lhe dá umamelhor vista. Ele parece tão jovem.Comouma criança tentandoencontrarcoragemparaseguirseusamigosaumpenhasco.

Oqueeleestáfazendo?

Endireitando-me,desenroloocachecolemvoltadomeupescoçoeo tiro foradocasaco.Kaimeobservaenquantoeuosegurosobreocorrimão.

Medindooventoleve,abaixo-otantoquantopossível,finalmentedeixandosairdosmeusdedoseflutuarparabaixoparaasacadadodécimosegundoandar.O tecido fazumaondaconformeafundae,finalmenteencontraocorrimão,oventojogando-oparaointeriordavaranda.

Semolharparaele,euvoltoparaoquarto.Elenãotemescolhaanãosermeseguir.

Sério,seelequeriapassarporcimadagradeesematar,nãoédaminhaconta,mas...

Elepodeestarcerto.Damonnãoestavaaquiquandoeuprocureiporele,mas issonãosignificaqueelenãoestejamudandodeesconderijos, também.Elepodeestar aqui, e euprecisoganharalgumtempo.

Caminhandopelocorredor,viroàdireita,indoemdireçãoasaídapelaescadaqueeuvim.

Nós dois descemos rapidamente as escadas, mas depois de dois lances, chegamos ao andarseguinte,ondeumaportadeveriaestarmarcandoodécimosegundoandar.Aparedeestánua,noentanto.Semporta.Semmarcaçãoindicandoqueandaré,nada.Apenasumaparedebranca.

Dou-lhe um olhar, um entendimento mudo passando entre nós. Continuamos a descer, ambosalcançandoamaçanetadaentradadodécimoprimeiroandaraomesmotempo.Suamãoroçaaminha,eeurapidamentemeafasto,umacorrenteelétricafluipelomeubraço.Eleabreaporta,eamboscorremosindodiretoparao1122,oquartodiretamenteabaixodo1322.

Giro a maçaneta e entro, seguindo para as portas da varanda que abro, uma rajada de ventoinstantaneamentebatenomeurosto.Kaieeupisamossobreolimiar,olhandoemvoltaparaolenço.

Éapenasumapesquisa rápida,masnãohánada, comoeu sabiaquenãohaveria.Nada, excetoumaplantamortaemumvaso,umamesadeferroforjadoenferrujada,eumafolha.

Olençonãoestáaqui,éclaro,mas...

Euandoparaoladodireitodavaranda,levantominhacabeçaeolhoparacima.

E lá está ele.O lençopreto chicoteando feliz, alguns centímetrospenduradodo ladode foradavarandabemacimadenós.

“Ali.”Balançoacabeçaparacima.

Kaijuntaassobrancelhaseseaproxima,inclinando-senalateralevirandoacabeçaparacima.

Eleolha,tantoconfusocomoirritado,maseusorrioumpoucodamesmaforma.

“Quediabos?”Eleresmunga.

“Precisamoschegarláemcima,”elemediz.

Ecomovocêplanejafazerisso?Oselevadoresnãoestãofuncionandonomomento,enãoécomosetivéssemosumacorda.

Vejo quando ele começa a subir no parapeito,mas imediatamente estendo amão e puxo-o parabaixo.

“Estátudobem,”eudigosecamente.“Nãoévalioso.Esqueça.”

Suassobrancelhasseerguem.“Vocêestápreocupadacomigo?”

“Sim.AssimcomocomopreçodochánaChina.”

Elebalançaacabeça,sorrindoparasimesmo.Mas,novamente,elefazummovimentoparasubir.

Puxo-oparatrás.“Eunãopossosegurarvocê.Vocêémuitogrande.Vocêpodemesegurar,entãodeixe-mefazê-lo.”

Caminhandoemvoltadele,subonoparapeito,eelesai,agarrandoomeubraçoparamefirmar.Euseiqueseolharparaadireita,euveriaaquedaabaixoqueestáaapenasumerrodedistância,entãonãoolho.

Minhaspernastremem,maseuenrolomeusdedosdopé,segurandoocorrimãogrosso.Droga.Eunãoprecisodaporradolençodevolta,maseunãoquerodescobrirseeleécapazdeescalaratélá.Aindanão.

Apertandoobraçodelecomumamão,euestendoooutrobraçoparaterequilíbrioe,lentamente,levantoparaficardepé.Minhabarrigatorce.

“Eu seguro você,” Kai me diz. Olho para baixo, vendo seus olhos escuros segurando os meusquandopassaooutrobraçoemvoltadasminhaspernas.Minhasmãosficamfracas,eporalgummotivo,issonãomefazsentirmelhor.

Eu subo com ambas as mãos e deslizo até o tecido desgastado, o aperto de Kai aumentando.Infelizmente,porém,euaindaestou,pelomenos,aquinzeouvintecentímetrosdetocá-lo.

ColocandominhamãonoombrodeKaiparamemanterfirme,eu lentamenteficonaspontadospésmaisficarmaisalta.Estendomeuoutrobraço,esticandoosmúsculosearticulaçõescentímetroporcentímetro, até que finalmente, vou até onde posso ir. Estremeço, tentando pegar o pequeno fio quepende.Mudandomeucorpoapenasligeiramente,eucontinuotentando,maséinútil.

Deixoescaparumsuspiro.“Eunãoconsigoalcançá-lo.”

Caindodevoltaempé,olhoparaKai.

Eparoderespirar.

Eleestáapenasolhandoparamim.Bemali,olhandoparacima,comosbraçosemvoltadasminhascoxaseseurostopróximodemaisentreelas.Abroaboca,masaspalavrasnãosaem.

Umsorrisodivertidobateemseusolhos,emeucoraçãocomeçaabombeardescontroladamente.Eunãoquerosaberoquediabosestápassandopelasuacabeçanomomento.

“Vocêestábem?”Pergunto.Eupoderiadizerqueofilhodaputaestásegurandoumsorriso.

Eupuloparabaixo,forçando-oparalonge,eajeitoaroupa,puxandoparabaixominhacamisetaejaqueta."Estoubem."

Elesóiriausarvocê.EutenhoquelembrarqueseuobjetivoéDamon.Vingança.EelesabequeDamonseimportacomigo,demodoquemefazvaliosa.

Euignoroabatidanomeupeitoeafastooolhardosseusolhos.

Nãocometaosmesmoserros.Nãodeixeeletetocar.Nãoqueiraele.Vocênãopodetê-lo.

Esquecidissoháseisanos,masnãodestavez.

Osilênciosearrastanaminhapele,eosomdachuvalevepermaneceànossavolta.

“Porquevocêusaaquelacoisa?”AvozdeKaiétranquilaesuave.

Coisa.Asminhasroupas?

Evitooseuolhar,minhaarmaduraengrossando.Euaguenteiporcariamaisqueosuficientesobreminhaaparênciaaolongodosanos.

Oque,vocênãogostanasminhasbotasdesegundamãodecombatecomoscadarçosquebradosededos arranhados? elas te ofendem? Há alguma regra quemeu jeans deva ser apertado, para que oshomensqueeunãoconheçopossamterprazeremolharparaaminhabundacomoseeufosseumcarronarua?

“Euusooquequero,”corto.“Eunãomevistoparaagradarninguém.”

“Pelo contrário...” eu o sinto se aproximar, e olho para baixo, vendo seus sapatos pararemcentímetroslongedemim.“Estoupensandosevocêsevesteassimpara,defato,agradaralguém.”

Encontroseuolhar,alongaprática,desgastante,denãomostrarnenhumaemoçãovemmaisfácildoquequandoeueracriança.

OK.Pontocerto.TalvezeutenhacomeçadoamevestirassimparaagradarDamon.Eununcativedinheiropararoupas,eatémesmoagoraomeusalárioémuitopequenoparapagarmuito.Masestoufelizcomoquemeuirmãomedeueteriaprazeremusarqualquercoisaseissosignificassequeeupoderiaficarcomele.

Ecrescendo,essasroupasmemantiveramsegura.Hámuitoshomensemvolta,eeupareçomaisjovemquandoestouusandoisso.Escondeaminhaformaeajudaamemanterinvisível.

“Essassãoroupasdehomens,”eleressalta,suavozendurecendo.“Roupasmasculinasusadas.Dequemelassão?SãotodasdoDamon?”

“Porquevocêseimporta?”Respondo.“Voufazeromeutrabalho.Conduzi-loporaí,consertarsuamerdadecasa,limparodojo,eeunãoprecisousarumvestidodebaileparafazerisso.”

Eleirrompeemumsorriso.“Vocêéumcompletomistério,esoucuriososobrevocê.Issoétudo.Então,vamoscomeçarsimples.Qualoseunome?"

“Banks.”

“Qualéoseunome,Banks?”

Euquasebufo.

Quase.

Eleéumpoucomaisrápidonapegadaqueseusamigos,nãoé?

Banksémeuúltimonome.Eugostodele,porqueachoqueeurecebomaisrespeitosoandomenoscomoumamulher,emeupaiprefere,porqueeleodeiaomeuprimeironome.

EnadadissoédacontadeKaiMori.

Kaicontinua,“Edeondevocêé?Ondeestãoseuspais?Vocêfoirealmenteeducadaemcasa?”Ele

começa a caminhar em minha direção, e eu vou para trás, tropeçando. "Onde você mora? Você temalgumaamiga?Comovocêpodetrabalharparaaquelepedaçodemerdanojento,hã?Comovocêdorme?"

Eubatonaportadevidro,eelediminuiadistânciaentrenós,pairandoebaixandoavozparaumsussurro,“Ouquetalumaperguntaaindamaisfácil?”Seucalorfiltraatravésdeminhajaqueta,ecadacentímetrodemimcanta.“Euvoumeconfessarhoje.Quervir...Banks?”

Seusolhosfixamnosmeuslábios,eminharespiraçãoficasuperficial.Oh,Cristo.Oventocarregaseucheiro,eeuinalo,omundodiantedemimcomeçandoagirar.

Pisco,virando-me.A lembrançadonossoprimeiroencontro—ahistóriaqueelemecontouqueficou gravada emminhamente naquele dia no confessionário - Deus, eu gostei do jeito queme senti.Falandoassimcomele.

Eufechoospunhoseencontroseusolhosnovamente,forçandoomeutomparaficarcalmo.“Oh,Sr.Mori,vocêesqueceu?”Eurespondo,fingindoinocência.“Vocêsempreseconfessanofinaldomês.”

Dou-lheumsorrisopresunçoso,vejosuaexpressãodivertidacaireficarescura.

Sim.Nuncaseesqueçaqueeuseitudosobrevocê.

Seusolhossemantemcalmos,maseupossoouviraaceitaçãodomeudesafioemsuaspalavras,“Vejovocênotrabalho.”

Epassandopormimsemdizerumapalavra,elesaidoquarto,deixando-mesozinha.

Ficoporummomento,olhandoparaosfiospenduradosdomeulençonavarandaacima.

Eume orgulho de sempre ficar um passo à frente. Informação é poder. Émais valiosa do quedinheiro.

Masapreensãosilenciosamentecrepita,dequalquermaneira.

Kainãoéestúpido.

Eventualmente,eleirápegartudo.

Capítulo10Banks

Presente

DelcourficadooutroladodorioapartirdodistritodeWhitehall.Eulembrodeveroprédioaumadistânciadonossoapartamentonocentroquandoeueracriançaeviviacomminhamãe.Alto,preto,comacabamentodourado,lembra-mealgotiradodeumfilmeantigo.Gangstersemternosriscadegiz,carroscompneusdefaixabranca,senhorasemvestidosextravagantes....umpoucodeartdeco,umpoucodaantiga Hollywood, e inteiramente ostensivo demais, mas sempre me encheu de admiração quando eupegava um vislumbre dele. Eu não sei como uma coisa pode ser fascinante e assustadora ao mesmotempo, mas o Delcour provou que há uma coisa assim. Ele fica no meio da cidade como uma joiaornamentadaemalguémvestindoumsacodebatata.

Eunãomeencaixoemlugaresassim,emeusnervosestãoagindoporvontadeprópria.

Há, provavelmente, jovens como eu, mas ao contrário de mim, estão correndo por um conjuntocompletamentediferentedeprioridades:sapatosdegrifeecaféscomleitetriplos,semespuma,desoja.

Oelevadorparaeasportasseabrem,asvibraçõesdamúsicadebaixodosmeuspésbatendonosmeusouvidosagora.

Minhabocaficaseca,forçoumpassoeentronacoberturadeMichaelCrist.

“Olá,” um homem em calças pretas e uma camisa preta me cumprimenta. “Posso pegar seucasaco?”

“Não.”

Passo pelas prateleiras de casacos na entrada, ignorando sua expressão de surpresa, e viro nocorredorparaorestodaresidência.Músicatocaalta,maseuaindapossoouviraconversadoscasaisqueeupasso.Homenssemovem,vestidoscasualmente,algunsemternoscomcolarinhosabertos,outrosemjeansecamiseta,enquantoasmulheresestãovestidascomcapricho.Comosempre.

Asluzesofuscantesbrilhamsobreopisodemármorepreto,eentronasaladeestar,ospelosnosmeusbraçoslevantandocomavisãodetodasaspessoas.

Mas eu me forço a relaxar. Multidões me deixam nervosa, mas eu posso lidar. Alguns pares deolhosestãosobremim,olhandodecimaabaixoaminhaaparência,maseucontinuoaminhavarreduradasala.

Ondediaboseleestá?

Caminholentamenteprocurandonafestaoscabelospretosperfeitamentearrumadoseohabitualolhar aborrecido, mas parece ser impossível. Muitos dos hóspedes parecem ser jogadores do Storm –companheirosdeMichael-porqueatémesmooimpressionanteummetroenoventadeKaiseperderianomeiodealgunsdoscarasdedoismetrosoumaisaqui.

Cry Little Sister toca nos alto-falantes, e avisto Erika, voltando para dentro pela entrada doterraço.Aluzdevelacintilaemsuapele,enossosolhosseencontram.Elacaminhaatémim.

“Oi,”eladizcalmamente,seusorrisopequeno,masquente.Mesmoqueeladevasaberqueeunãoqueroternadaavercomela,elanãomostra.

“Kaiaindaestáaqui?”Pergunto,apontandoparaoenvelopenaminhamão.“Elequeriaissoestanoite.”Elanãodiznadaporummomento,masapenasolhanosmeusolhos.

“Poraqui,”elafinalmenteresponde.

Seguindoatrásdela,passopelacozinhaeumcorredor,olhandoparaaminhaesquerdaevendoumaquadradebasqueteafundada,aqui,noapartamento.

Porqueéclaroquehaveria.

Várioscarasemternoseblazerscorremdeumladoparaoutrodaquadra.Eurapidamenteprocuroosrostosdosjogadores,masnãovejoKailá,também.

Erikaseguemaisadianteporumcorredormal iluminado,emeuolharcainascostasdela,meioqueadmirandoomacacãopretoelegantequeelausacomtirasentrecruzadassobreosombros.Bonita,simples,eocentrodoscavaleiros.

Tudooqueeununcaseriaparaninguém.

Aindaassim,eunãopossoverporqueDamonestátãoobcecadoporela.

Elaviraàdireitaeabreumaporta,vozesprofundaserisosimediatamentesoamnocorredor.Rikaviraascostasparaaporta,abrindoespaçoparaeuentrar.

Euentroeolhoemvolta.Umamesadecartascommeiadúziadehomens,incluindoMichaeleWill,está no centro da sala, e Kai ocupa uma cadeira, de costas para mim. Vários outros homens estão emváriasmesasaoredordasala,eumamulherseapoianaparedenocanto,umabebidanamão.

Alguns, incluindoMichaeleWill,melançamumolhar,parandoummomento,masamaiorianãoperdetempocomigo.

EumarchoparaoladodeKai,semolharparatrásparaverseRikaficouousaiu.

“Eu poderia ter trazido isso para a sua casa mais tarde,” eu digo, irritada conforme empurro oenvelopeemseupeito.“Ouparaodojodemanhã.”

Elememantevetrabalhandoepassandorecadossempararnosúltimosdoisdias,afinaldecontas.Jáétarde,eeuprecisodormir.

Ignorandominhasqueixas,elepegaoenvelopeeabre.

Viro-meparasair.

“Fique,”ouço-odizer.

Paro,virando-me.

Kai puxa os papéis que Gabriel me deu, enquanto meu olhar passa para Michael, que está meobservando.Euquasesorrio.Provavelmenteoidiotaaindaestáchateadosobreontemnohotel.

EuvejoKaifolhearocontrato,mas,emseguida,paraetiraumacanetadobolsointernodopaletó.

Issoeradeseesperar.Gabrielsabequeelevailutarcontracertasestipulações.

“Vocênãovaiapresentarsuaamiga,Kai?”Umhomemdooutroladodamesapergunta.

MasKaiapenasinclinaacaneta,estreitandoosolhosenquantoelelê.

E então eu o vejo se mexer na sua cadeira e olhar para cima, olhando para mim. “Ele estábrincando?”Eleapontaapontadacanetaparaumpontonocontrato,algosobrecertificar-sequeVanessatenhafilhosemtempohábil.

Umadesuassobrancelhassobequasetocandosuatestaconformeeleolhaparamimcomosefosseminhaculpa.Doudeombros.“Sevocênãopodefazer,podemosdar-lheaumhomemmelhor.Bastadizerapalavra.”

Elesóolhaparamim,nemmesmoacarrancaleveestragandoseurostoescultural.Elevoltaparaodocumento. Cortando sua caneta em toda a página, ele cruza a cláusula e vai para a próxima página,tambémcortandoforaváriasoutras.

“Então,éassimtãofácilnoseumundo,hein?”Elepergunta,mantendoavozsóentrenós.“Bastadarumapessoaparaoutra?”

“Vocêdevesaber,”eurespondo.

Eufuidadaaeleatéocasamento,nãofui?

“EstaéBanks,”ele faladenovo,maisalto,paraque todosnamesapossamouvir. “Ela trabalhaparaGabriel Torrance.Háquanto tempo você trabalhoupara ele agora?”Ele olhaparamim,masnãoesperaaminhapararesponder.“Meioestranhocomoumameninatãojovemfoilevadaamansãodeummilionário desprezível assim, você não acha?” Sua caneta move-se rapidamente através das páginas,circulandoefazendoanotações.“Eleconheceasuafamília?Elestêmconexõescomeles?”Umfiodeumsorriso suaviza o rosto severo conforme ele olha o restante do contrato. “Seria interessante descobrircomo issoaconteceu.Queusoumamulherpoderia terparaumacasacheiadehomens,eugostariadesaber.”

Algumaspessoasaoredordamesariemsobsuasrespiraçõescomsuainsinuação.

“Equantoelepagaparavocêou...”elepara,tirandosuasúltimaspalavras.“Oqueelepagapor

você?”

Ele olha para mim, virando as páginas de volta no lugar e deslizando o documento de volta noenvelope.Elepodeterpensadoemvozalta,ouelepodeterinsinuadosaberasrespostasporsisó.Nãoseriadifícil.Uminvestigadorsótemquefalarcomaminhamãe.

“Temquesermenosdoqueoqueeupagoporumamulher,”ouçoWillatirarparafora,seguidoporrisadasmaisbaixasaoredordoquarto.Elemelançaumolhar,deixandoseudesgostoolharparacimaeparabaixonaminhaaparência.

“Oh,porfavor,”amulhernocantointerrompe.“Comoseeusequeraindatecobrasse.Tudooquevocêquerfazeréabraçarametadedotempodequalquermaneira.”

Umdoshomensnamesabufa,malconseguindoconteroriso,enquantooutrosnãoseincomodamemtentarescondê-lo.

Willvira-separaelacomumacareta,lamentando,“Pooooorra.”Elasorriepiscaparaele.

Essa deve ser Alex. Estudante universitária e acompanhante caríssima do décimo sexto andar.AmigadeRika,etemWillGraysoncomoclienteregular.

Damongostavadaenergiadela.Nãogostavaqueelanãofaziatudooqueelequeria,noentanto.

“Tantasperguntas...”Kailevantaoenvelope,oferecendoàmim.“Quasefazvocêquerercontrataralguémparadescobrirasrespostas.”

Piscolentamente,tentandoparecerentediada,masmeucoraçãoaceleraapenasumfiodecabelo.Euesperavaisso.Kainegociacurvasdeaprendizadomaisrápidoqueamaioria.Euestivepesquisandoeleeseusamigos.Elevaicomeçarafazeromesmocomigo,claro.

Tereiquefazerumavisitaàminhamãe.

Amanhã.

“Faça-oconcordarcomessasalterações,eeuassino,”dizele.

Agarrooenvelope,maselenãosolta.Emvezdisso,eleopuxaparabaixo,trazendo-mejunto.

“Edetodasasmaneiras,”elesussurra,suarespiraçãocaindonaminhabochecha.“Continuemesubestimando.”

Nósdoisseguramosoenvelope,eeuviromeusolhosnele,momentaneamentecongelada.

Tãoperto.Euqueromeafastar,masnãoconsigo.Algoinchaemmeupeito,eseusolhosescurosficampretosconformeelemesegura,presa.

Vocêdissequequeria sercaçada.Deus,porqueeupensonissodepoisde todoesse tempo?Euquasefechoosolhoscomalembrança.

Seucheiro,suaboca,seucorpopressionandoomeu...eleéfriocomogelootempotodo.

Atéqueelequeira.Euseioquãogananciosoelepodeficaremseguida.

Opulsoentreasminhaspernascomeçaalatejar,eeupuxooenvelopedesuasmãosemelevantoemlinhareta.

“Possofazermaisalgumacoisaparavocê,Sr.Mori?”

Ele abaixa a mão no descanso de braço e parece se concentrar de volta no jogo de cartas. “Váreabastecerastoalhasparaoshóspedesnapiscina.”

Eulevantoumasobrancelha.“Eunãoestouaquiparaservirseusamigos.”

“Vocêestáaquiparamimetudooqueeulhedisserparafazer.”Elemeprendecomumolhardeadvertência."AnãoserquevocêqueiravoltarparaThunderBayedizeraoGabrielquevocêquebrouocontrato.”

Sim, você pode simplesmente amar isso, hein? Você tem as chaves e códigos para o hotel, nãoassinaramocontratoainda,eaculpacairiasobremimporquebraroacordo.

SegurandooolhardeKai,eusaiodasala,ouvindoavozdeMichaelatrásdemim.“Elasestãonoarmáriodocorredornoandardecima!”

Eucerroosdentes,fervendoquandorisadassaemdasalaatrásdemim.Idiotas.

Virando no corredor, eu passo entre as pessoas, e agarro o corrimão, subindo as escadasrapidamente.Eunãoestoucomnenhumapressaparaestaremserviço,maseuquerosairdaqui,elogo

queelestiveremsuasdrogasdetoalhas,euvousaircomousemasuapermissão.

Amúsicanoandardebaixodesaparece,echegoaotopo,umagrandeáreaabertacheiadeTVs,sofás,ealgumaspessoasmecumprimentam.

Eu continuo pelo corredor, no escuro, abrindo algumas portas até encontrar dois quartos, umbanheiroeumescritório,antesdeabriroutrae,finalmente,encontrarprateleirasderoupasdecamaetoalhasempilhadasordenadamente.Começoatirartantastoalhasquantoeupossocarregar.

"Oi."

Eupulo,minharespiraçãopresanaminhagarganta.Ajovemdojogodepokerdeantesespiapelaportaaberta,comamãoemseuquadril.

“EusouAlex,”elamediz.

"Euseiquemvocêé."

Pegomaisumatoalhaeacrescentonapilhanomeubraço.

“Voutomarissocomoumacoisaboa.”

Tomecomoquiser.

“Eu não posso acreditar que Rika tolera sua presença,” eu digo, fechando a porta do armário.“Quantosdosclientesdelaquevocêestáfazendoclientesseusestanoite?”

Masparaminhasurpresa,elari.“Nãoestoutrabalhandoessanoite,naverdade.”

Umbrilhoiluminaseusolhos,eeutenhoqueentregaraela.Eufuipropositadamenterude,maselaroloucomissocomoumacampeã.

“ERikagostademeteremtodososlugares,”elazomba,inclinando-se.“Elapensaqueeusouumaboabeijoqueira.”

Sim,tudobem.

“As mulheres são normalmente melhores beijoqueiras pela minha experiência, de qualquermaneira,” ela continua, dando-me uma olhada de cima a baixo que de repente me deixa muito alerta.“Querodizer,oshomensnãotêmideiadoquefazercomalíngua.”Elari.“Cobroextradelesparabeijar.”

MinhamentevoltaparaquandoeubeijeiKai,eosnervossobminhapeledespertamparaavida.Kaidefinitivamentesabiaoquefazercomalíngua.

Alex continua, revirando os olhos. “É ou sou uma casquinha de sorvete” - ela fecha os olhos elambeoar,grunhindoefazendomovimentosexageradoscomalíngua-“ouécomoumtornadonaporradeumbecocomaquelacoisa.”Emaisumavez,elafechaseusolhos,fazendocírculosnoarcomalínguaedemonstrandoumciclone.“Écomo,sintomuito.Eudeveriausarumbabadorquandotebeijo?”

Elaestremece,eeunãopossoevitardesoltarumapequenarisada.GraçasaDeuseunãotiveomesmo infortúnio.Euprovavelmente ficaria tentadaamorderqualquercoisapresanaminhabocaquenãofosseagradáveldeestarlá.

Elapercorreocorredor,espiandopelafrestadaportalá.

“MasWill?”Ela sussurra, a luzdedentrodoquarto fazendo seus olhosbrilharem. “Ele émuitobom.Elesabecomousaraquantidadecertaquevocêpodesentirissocomosesualínguaestivesseentreassuaspernasaoinvésdaboca.Eletocacadanervo.”

Sigo-a,espiandoWilldentrodoquartocomumagarotapresoàparede.Suabocacobreadela,aspálpebrasdelatremulandoenquantoamãodelesearrastaportodaapeleescuradacoxadelaantesdelevanta-laepressionarmaisfundoentresuaspernas,suasroupasaúnicacoisaentreelesagora.

Euouçoopequenogemidodela.

“Gentil primeiro,” Alex continua, observando ele como se estivesse narrando. “Ele saboreia ebrinca, edepois entramais forte emaisduro, e vocênunca foi fodida tãobemeopaudelenemestádentrodevocêainda.”

Eupossoveralínguadelemovendo-senabocadela,nãomuitoprofundamente,mas,emseguida,ele lambeo lábiosuperiordelaantesderapidamentepegaro inferiorentreosdentes.Emseguida,elemergulhadevolta,capturandoseuslábiosnovamente.

Meusdentestremem,eeuaperto-os,fechandoosolhosporummomento.

“Elefazotrabalho,sabe?”Alexdiz,eeupossoouvirsuafaltadear.“Nenhumapartedocorpode

umamulherdeveserdeixadosembeijar.Willrealmentefazomelhornoqueeleébom.”

Abatidadamúsicanoandardebaixovibraatravésdasminhaspernas,maseunãopossoouvi-la.Tudooqueeuouçoéela.Ameninanoquarto,seussuspirosegemidos,enãorealmentequerendosaberoqueeleestáfazendo,porqueeujápossoverissonaminhacabeça.

Partedemimsabequetudoquemeucérebromedizéverdade.Homensiriammemachucar,meusar,emejogarfora,blah,blah,blah.

Masnão importaoqueminhacabeçadiga,euaindanãopossoevitarodesejoquesemprevem,cadavezmais,ultimamente.

Euquerocrescer.

“Eurealmentegostariade fazer issocomvocêagora,”dizumavoznomeuouvido,eeuabroosolhos, vendo que Alex veio ficar nas minhas costas. “Eu gostaria de tirar sua roupa e enterrar minhalínguaentresuaspernas.”

Meusolhosarregalam,eeudeixocairastoalhas.Merda!

“Alex.”Umavozprofundaderepenteperfuraosilêncio,eeucongelo.

Alexpara,também,eeusintoelaviraratrásdemim.

“Essanão,”Kaidizaela.

“VocêlevouoménageàtroisqueeuqueriacomMichaeleRika,eagoraela?”Elaresponde.“Estoucomeçandoapensarquevocêéminhacompetição,Kai.”

Atrês.Euenguloocaroçonaminhagarganta.Eusabiasobreisso,masnãoprecisodelembretes.

Háumsilêncio,eentãoeufinalmentevejoAlexsairpelocantodomeuolho,caminhandodevoltapelocorredor.Apertominhascoxas,sentindoaumidadeentreminhaspernasconformemeviro.

Kai se inclinacontraaparedeoposta, olhandoparamimcomosbraçoscruzados sobreopeito.Masnãohánadafrioemseusolhos.Elesmeprendem.

Os sons do quarto onde Will e a menina estão começam a ficar mais altos, e uma imagemespontâneadeKaiemcimademimháseisanosaparecenaminhacabeça.

Minha respiração treme conforme meu estômago vira, e eu me sinto tonta. “Eu estou... estoupassandomal.”

“Vocênãoestápassandomal.”Elepermanecenaparede,meolhandodecimaabaixo.“Vocêestáexcitada.”

Ocalorsobeparameurosto,eeubalançoacabeça,tentandocontrolarminharespiração.

“Abrasuascoxas,”ouçoWillmandarpelaportaentreaberta.“Abra-asparamim,baby.”

Diversão toca os olhos de Kai conforme nós dois ficamos enraizados, nossos olhares seencontrando.

“Sim,”agarotadizofegante."Rápido.Euvougozar.”

“Oh,issoétãoquente,”Willdizaela,acrescentando:“Continueesfregandoessabuceta.Deixe-aboaemolhada.”

Meupeitocede,eeuimediatamenteimagino-anacamaládentro,eoqueelaestáfazendoparaele.

“Mm-hmm,”elageme,implorando,“Venha,vamosfazerisso.”

“Vire.”

Umsuorfrioirrompeportodoomeucorpo,eeuolhoparaKai,deixandomeusolhoscaírememseucorpo.Mesmo sobas roupas, eupossodizer oquãobonito ele é.Fechoos olhosporumsegundo,tentandoafastaranecessidadecrescendoentreasminhaspernas.Euquerosertocada.Euqueroessasroupasfora.Euquerotodasuaatençãoemumacama,emalgumlugar.Eunãomeimportoonde.Eleétãobom,eeumelembro.Tudoaindaétãoclaro.

A cabeceira no quarto começa a bater na parede e grunhidos e pequenos gritos vão para ocorredor.

Eu levomeusolhosparabaixona cinturaestreitadeKai e aspernas longas,desejandoporummomentoquefosseeunaquelequarto.

Divertindo-meporummomentoqueeununcairiadeixaracontecer.

“Continueolhandoparamimassim,”Kaifala,“enósvamosterproblemas.”

Eudesviomeusolhos.Euprecisosairdaqui.

“Possosairagora?”Solto.

Maselenãoresponde.Emvezdisso,elesemexe,deixandocairosbraçoseandandodiretoparamim.

“Vocêsabenoqueeupensei tantasvezesao longodosanos?Maisvezesdoqueeugostariadeadmitir?”Elepergunta,plantandoumamãonaparedeatrásdaminhacabeça.“Vocêeeunaquelatorre,minhasmãosemvocê,apenassentindovocê.Lembradisso?"

Eu não digo nada, e ele se inclina. “Eu gostei de ter controle sobre você,” ele continua, suaspalavrassaindosuavemente.Pensativas.“Foidiferentedoqueeracomoutrasgarotas.Ocontroleéumailusão. Ele geralmente dura apenas alguns minutos.” Ele levanta os olhos, encontrando os meus. “Mascomvocê,eumesenticomosetivesseocontroledevocêparasempre.Pareciaqueeupodiasegurartudooquevocêénapalmadaminhamão.Vocêtevequefazeredizertãopoucoparamefazerquerervocê.”

Euavançopara trás,batendonaparede.Oqueelequerdemim?Eledesceupra favelaoualgoassim? Não que eu ache que sou desagradável ou feia, mas Jesus. Eu propositadamente me visto comroupasgrandesdemaisparadeteraatenção,eKaiagecomoseelenemsequervisseasroupas,ocabeloemaranhado,easunhassujas.

Eleagecomofezháseisanos.Comoseeufosseapenasumamenina.

Masnãomédia,também.Comoseeufosseespecial.Procurada.Desejada.

Eleseinclinanomeuouvido,enviandoumavibraçãoaomeuestômagoenquantosussurra,“Tireoseucasacoeabrasuacamisaparamim.”

Odesejodeafastá-lomebate,maseupermaneçoparada,porqueeurealmentequerofazeroqueelemepede.Euquerosuasmãosnovamente.

Euapenasbalançoacabeça.

Eleestendeamão,puxandoogorrodaminhacabeça,emeucabelosesolta,caindoemtornodemim. Ele tira uma mecha do meu cabelo, enrolando-o em seus dedos. A pequena sensação faz minhaspálpebrasvibrarem.

Masentãoeleselevanta,pegandoumpunhadodomeucabelonapartedetrásdaminhacabeça,eeuofegante,estremeçocomador.

“Oqueéjusto,éjusto,”elerosnabaixo,forçando-meamanterosolhos.“Vocêmeobservou.Vocêmeseguiu.Contouquantasvezespordiaeutomavabanho.Vocêassistiuissotambém?Hã?"

Eucerroosdentes,ocalordasuarespiraçãobatendonosmeuslábios.

“Você me assistiu transar?” Seus olhos caem para a minha boca. “Abra sua camisa para mim,pequena.Vamosverseeugostodoqueestoumetrazendodeproblema.”

Seuslábiospairamsobreosmeus,eodesejonomeucorposeenfurece.

“Não,”eusussurroeplantoasmãosemseupeito.“Vocêtirasuacamisa.”

Elefazumapausa,olhandoparamimcuriosamenteenquantoseguraminhacabeçaacentímetrosda sua. Minha pele está queimando, e minhas roupas irritam. É quase doloroso. Eu as quero fora. Euquerosenti-locontraomeucorpo.

Estendendoamão,tocoemseurosto,correndominhamãoemsuamandíbulaeparabaixoatrásdopescoço.Quenteesuave,maseuqueromais.

Ele me olha com cautela, com os olhos saltando rapidamente para a minha boca novamenteconformeseuslábiosseseparam.Maselenãomeimpede.Seuapertorelaxa.

Arrastomeusdedosparabaixonasuacamisaemantenhoseusolhosquandocomeçoaabrirosbotões,masmeusdedostrememtantoqueeuagarroacamisaemambasasmãosearasgouaberta,osbotõesvoandoemambasasdireções.

Elesoltaumsuspiropesado,soandoquasecomoumrosnadoquandoapertaseusbraçoseabaixaatestanaminha.

Maseuoempurro,fazendo-otropeçarparatrás.“Nãometoque.”Eavançoparaele,empurrando-onovamenteatéqueelebatedevoltanaparedeoposta.

Uma mistura de choque e raiva atravessam seu rosto, mas eu não lhe dou uma chance deresponder.Corroatéele,levandoseuspulsosemambasasmãoseoscolococontraaparedeaoseuladoconformeficonapontadospéseenterromeurostonoseupescoço.

Ecorromeuslábiossobresuapele.

Lentamentesubindoedepoisdescendo,sobreaveianopescoçoedescendonacurvaquenteemdireçãoaopescoço.

Eleestremece.

Deus,eleétãosuaveequente,eumformigamentobatenosmeuslábios,seespalhandoportodoomeurostoeemtodoomeucorpo.Abroaboca,arrastandomeuslábiosemtodososlugares.Mergulhandosobseuqueixoparaooutrolado,euexploro-ocomaminhaboca,tãotentadaabeijá-lo.Sóumavez.Aafundarmeuslábiosemsuapeleeprovaroquecheiratãobom.Corromeunarizemseuouvido,inalandoseuaromaedepoissoltominharespiraçãoquente.Elederretenaparede,inclinandoacabeçaparatrásefechandoosolhos,meconvidandoaindamais.

Ele começa a empurrar contra minha força, querendo as mãos livres, mas eu aperto tão duroquantoposso,enviando-lheumaviso.

Voltandoaficarsobremeuspés,eusoltoospulsos.“Mantenha-oslá.”

Puxando sua camisa e jaqueta abertas, levo minhas mãos e boca para seu peito. Meus dedosdescememsuapele, cantarolandoao sentir as elevaçõesedepressõeseminhaboca segueo caminhodefinido por minhas mãos. Circulo seu mamilo com meu dedo médio e depois sigo com meus lábios,minhascoxasapertandoapeleláeocentroduro.

Fechoosolhos.Eunãoqueroqueissoacabe.Euqueroqueeleenvolvaseusbraçosemvoltademim,metranqueemseucaloreperfumeinebriante.

Masseeudeixá-lo,esseserámeuprimeiroerro.

Ergoacabeça,olhando-omeverconformeseupeitosobeedescecomarespiraçãopesada.

“Eunão sou suapequena.”Eudeixominhasmãos caírem, indopara trás. “Mas você está certosobreocontrole.Éumailusão.Olheparavocê.Vocênuncateve.”

Eudeixoumsorrisoapareceremeabaixoparapegarmeugorro.

Masapróximacoisaqueeusei,éKaimeagarrandoemepuxandodevoltaparaele.“Enemvocê,”elesussurranomeuouvido.“Vocêtemtantocontrolequantoeupermitoquevocêtenha.”

“Ah,sim,vocêganha.Músculossobrecérebrostodavez,certo?Masvocêesqueceumacoisa.”Viroacabeça,falandocomele.“Eupossodizernãoquandoeuquiser,etermina.Amenosquevocêqueirairparaaprisãonovamente.”

Elepara,semdizernada.

Elesabequeeuestoucerta.Claro,elepodedizernão,também,masnãoéprovável.

Arespiraçãodelecaisobremeucabelo,eelesoltameusbraços,abaixandoacabeçaao ladodaminha.

“Você está certa,” diz ele calmamente. “Você pode dizer não a qualquer hora.” E ele começa acorreroslábiosnomeupescoçoassimcomoeutinhafeitocomele."Quandovocêquiser."

Minhaspálpebrasflutuam,esuamãopegaoladodomeurosto,virandoacabeçanadireçãodele.Nossosnarizessetocam,nossoslábiosaumfiodecabelolongeumdooutro,tãopertoquepossosentirogostodele,enósnãoestamosnosbeijando.

Euestoupulsandoentreasminhaspernas,epensonaquelepedaçodeporcariadecasaeaquelaacamasolitárianoquartonoandardecima,ecomonãoháoutrolugarqueeuqueiraestaragora.

Quemestárealmentenocontroledequem?Nósdoisestamosfodidos.

Suamãoroçaporcimadomeuestômago,indomaisparabaixo,eeuaagarroassimqueelechegaentreasminhascoxas.Eusoluço.“Oh,Deus.”Euqueroafastá-lo,masmesintotãobem.

Porra.Eunãotenhoar,eficoofegante.Estasmalditasamarrações.

Eunãoconsigorespirar.

“Pare,”eugrito,empurrandosuasmãoslonge."Pare,pare,pare.Eunãoconsigorespirar.Eunãoconsigorespirar.”

Puxoo ar, descansandominhamãonaparedeparame sustentar. Jesus.Quediabos? As minhascostelasepulmõesdoem,eeuestremeço,desesperadaparateressamerdafora.

Euprecisosairdaqui.

“Ei,Kai,”ouçoumamulherdizer.

Viro a cabeça para ver duas meninas andando pelo corredor, nenhuma das quais eu reconheço.Nãoqueeudevesseconhecê-las.

Elas olham para mim, seus olhos caindo pelo meu corpo, e vendo em minha aparência. Elasdesviamosolhosdenovo,maseunãopercooolharqueelasdãoumaaoutraconformeelaspassampormim,malesperandoparaentrarnobanheiroantesdecaírememrisadas.

Euolhoparaochão.“Possodaroforadaquiagora?”

Kai olha para mim, sua jaqueta e camisa parcialmente abertas, revelando a pele bronzeada dopeito.“Nãosepreocupecomelas.Elasestãoapenasbêbadas.”

Eucolocomeugorro,semmepreocuparemcolocarmeucabelodevoltanele.Eunãoconsigoterapaciência.“Comosevocêdesseamínima,”cuspo.“Vocêqueriaqueeuficassedesconfortável.Éporissoquevocêmefezviraqui,emvoltadestaspessoas,paraquevocêpudessemelembrardomeulugar.”

“Eunão-”

“Eu não me importo com suas besteiras.” Olho para ele, raiva familiar aquecendo meu sangueagora. “Você acha que eu não estou acostumada a forma como as pessoas olham para mim? Homenspensandoquesemeenfeitaremestariammefazendoalgumtipodefavor,easmulheresrindoportrásdesuasmãos.Temsidoassimtodaaminhavida.Eunãodouamínimaparaoqueveemquandoolhamparamim.Seumundoévazio,eelenãopodemeensinarnada.”

Eumedeixei levar.Eu fui levadapor ele.Novamente.Mas, felizmente, não fui longedemais.Aculpaédostressouaatraçãoemrelaçãoaelequesempresenti,maseuparei.Eupossopelomenosmesentirbemsobreisso.

Levantomeuqueixo.“EutenhoDamon.Eleétudoqueeuquero.”

OsolhosdeKaiestreitamemmim,eeupossoouvirsuarespiraçãolenta,masdifícildaqui.Sim,penseoquevocêquiser,maséverdade.Meuirmãoéoúnicohomemquemequerforte.Oúnicohomemquenuncairámemachucar.

Viro-meevoltopelocorredor,emdireçãoàescada.

Contornandoocorrimão,eurapidamentedesçoosdegraus,vendoKaimeseguircomocantodoolho.Elearrasta-selentamente,noentanto,euseiqueelenãoestátentandomepegar.

Emdoisminutos,estareiforaelongedaqui.Bastair.

Maschegandoembaixo,olhoparacima,vendoumabrigacomeçandonomeiodasaladeestar.Oque-?

Levestácomasmãospresasatrásdacabeça,sorrindoparaDavideMichaelempéumdefrenteparaooutro. Iliaestáparatráscomosbraçoscruzadossobreocasacodoternopreto,enquantoRika,Will,eváriosespectadoresestãoperto,observandooqueestáfervendo.

“Oqueestáacontecendo?”Kaigritaatrásdemim,passandopormim.

O funcionário da recepção do andar de baixo, ainda em seu terno de três peças, vira-se e fala.“Sintomuito,senhor,”dizele,parecendoagitado."Sr.Cristdissequequalquerumpodiavirparacima,maselesparecem foradocomum,equandoeu ligueiparao check-in, eles sópegaramoelevador.Eusintomuito."

EleolhaentreMichaeleKai, seusolhospreocupados.Eunão tenhocertezaporqueeleestásedesculpandocomKai.Nãoéseuapartamento.

“Está tudo bem,” Michael assegura-lhe e, em seguida, olha para os meus rapazes. "Quem sãovocês?"

“Eles trabalham para Gabriel,” eu grito, empurrando através das pessoas. “David, o que vocêsestãofazendoaqui?

Vi-osemThunderBayalgumashorasatrás,quandoestavapegandoocontrato,maselesdeveriamficarláparaanoite.Eunãoestavaesperandoporelesnacidadeestatarde.

Davidviraacabeça,olhandoparamim.“Vocêquerirparacasa?”

“Euestavadesaída.”

MasKaientraemcena,olhandoparamim.“Sente-se,”elemediz.

Euendureçomeuqueixo,olhandoparaele.Oque?

Dejeitonenhum.Foda-seeleeestaviagemdepoder.Eutiveosuficienteporumanoite.

“Vocênãoestápreparadoparacomeçaralgocomessescaras,”eudigo,ficandoarrogante.

Realmentefácildefazerquandoeutenhocostasquentes.Sim,souumamerdinha.

MasKaifalacomDavid.“Gabrielconcordoucomisso.Elatrabalhaparamimagora.Saiam.”

“Gabrielnãonosenviou.”Eledáumpassoparaafrente,seaproximandodeKai.“Edeixamosissoaocomandodela.Nãoseu."

Kaiseviraparamim,inclinandoacabeçaparameolharparabaixo."Vácomele.Eutedesafio.”

Meucoraçãopulaumabatida.QuantoelemelembradeDamonagora.

Masocontratoaindanãofoiassinado.Umavezqueseja,eupossomefechar,eseriacomelesequisessemeperseguir.Seeuquebraroacordoagora,porém,Gabrielirámeculpar.

Kaiabaixaavoz, todosaonosso redoremsilêncio,masamúsicaeos foliõesno restodo lugaraindasãoaltos.“Aquemvocêpertence?”

“Kai,”alguémrepreende.

“Quieta,Rika,”elemordefora,aindaolhandoparamim.“Aquemvocêpertence?”

Eupossosentirosolhosemmimvindosdetodososlugares,eeuquerotirarminhafacadebolsoeafundá-lanaporradoseuintestino.Foda-seele.Anoseanosescalandosobresacosdemerdacomoeleapenasparadarumaespiadaporcimadacerca,ealiestáele,agarrandomeustornozelosemepuxandodevoltaparadentrodopoço.Todomundovaisaber.Todomundovaimeverimpotenteaqui.

Euseguroseusolhos,osmeusprópriosqueimandodeódio.Eucerroosdentescomtantaforçaquecomeçaadoer.

Dandoumpasso,eumemudoparaoladodeleeviro,defrenteparaDavid,Lev,eIlia.

“Avocê,”eudigoquaseemumsussurro.

Evoumatarvocêporisso.Umcaroçosealojanaminhagarganta,eeusintonáuseas.

“Agora...,” diz Kai, sentando-se na cadeira almofadada preta atrás dele. “Você pode levá-la paracasa.”

Eu não espero os rapazes fazerem qualquer coisa. Disparo, empurrando através de todas aspessoas, os caras virando e me seguindo enquanto eu passo. Sinto uma mão descansar levemente nasminhascostas.

“Elasabecomoandar,”Kailateatrásdenós.“Nãotoquenela.”

Amão,provavelmentedoDavi,imediatamentemedeixa.

Balançandoaovirarnocorredor,todosnósentramosnoelevador,eIliaapertaobotão.Umavezqueasportasse fecham,euestouacabada.Batomeupunhonaparedeeoutravez,balançandominhapernaparatrásechutando-a,rosnandocommeuspulmões."Porra!"

Eumeviro, jogandomeucotovelopara trás, tudonomeubraçodireito,dosdedosatéoombro,gritandodedor.Batonaparededenovoedenovo,socandoechutando.“Ugh!”Eudououtrosoco.

Felizmente,osrapazessabemcomocalarabocaeficamdoladodelesdoelevador.

Ando para trás e para frente, respirando com dificuldade. Ele me humilhou lá dentro. Bato naparedecomminhamãodenovo,doratirandoparacimadomeubraço.Humilhou...

“Oquevocêquerquefaçamos?”PerguntaDavid.

Maseunãoolhoparaeles.Ourespondo.

Euseioqueprecisaacontecer.PrecisoqueKaiassineessecontratomaldito.Umavezqueelefaçaisso,eleétudoqueeutenhodeenfrentar.Meuirmãopoderávoltareestarseguro,emeupaiestaráforadajogada,depoisdeterconseguidooquequer.Eupodereifazerascoisasdomeujeito,então.

Mas eu suspeito que Kai nunca teve qualquer intenção de assiná-lo. Esse é o problema. Ele vai

arrastarissoforaemearrastarcomele.

Eununcadeveriaterdeixadoelemetocar.

“Os homens só querem foder” eu lembro do meu irmão me dizendo uma vez. “Nós fodemosqualquercoisaquepodemosteremnossasmãos.Ninguémvaiteamar.Nãodeverdade.Elevaisólevá-laadiante,conseguiroquepodee,finalmente,vaipassarparaoutramaisnovaemaisquente.Prometaquevocênuncavaideixarqualquerumusá-laassim.Nãosejaumaputa.Sejaforte."

Meu irmão me ensinou que os homens só me usariam e me machucariam, e pelo que eu vi atéagoranestavida,eleestavaextremamentecerto.

Kaipodeficarcomtesãocomoqualqueroutrapessoa,masaluxúrianuncapoderiaofuscaroquãocrueleuseiqueelepodeser.Quãocruelele foicomErikanoanopassadoequãocrueleleacaboudeprovarser.

Eleestácomtotalcontroledemim.Elesabe,eacaboudeprovarisso.

Eu preciso parar de responder a ele. Se foi desejo, raiva ou medo, eu preciso encerrar. Precisodeixá-loentediado.

Seeunãoofizer,nósdoisperdemos.

Eentão...seráguerra.

Capítulo11Kai

Presente

Fechandoaportado armário, colocominhas roupasnamochila e fecho.É tarde, oginásio estávazio,eeusaiodovestiárionãomesentindotãoexaustoquantoeuesperava.

Depoisdemaisumtreinoeoutrobanho,aindaestoumuitoacordadoàsdezemeiadanoite.

Deixandoovestiário,caminhopelocorredoremdireçãoaoescritório,pegomeutelefonedecimadamesa,etrancoaporta.Todomundofoiemboraporagora,orestodolugarestásilenciosoeescuro.

Meutelefonetoca.

Olhando,vejoonúmerodaminhamãe.

Meusombrosrelaxamumpouco,maseusabiaqueelairialigar.Eucanceleiminhavisitaparaojantarhojeànoite.

Euamomeuspais,maseurealmenteinvejoaabordagemliberaldospaisdeMichaelàsvezes.

Aproximootelefonedoouvido.“Vocêestáacordadaatétarde.”

“Estoutentandonãodormir,”elaanuncia.“Parecequefuncionabemparaomeufilho.”

Sorriosozinho,andandoaoredordosaguãotendocertezaqueoscomputadoresforamdesligados.

“Vocêestáligandoparameinsultar?”Perguntoaela.

"Talvez."

“Sintomuito,ok?”Andoemdireçãoàportadafrente.“Eudeveriateridohojeànoite.”

Euvouparacasaaosdomingosparaoalmoçoeparatreinarcomomeupai,porisso,nãoécomose nunca os visse. Eu só achei difícil me forçar a estar lá mais, quando ainda posso sentir odesapontamentodeledooutroladodamesa.

“Opapaiestácomraiva?”

“Não,”elaresponde.“Eleestáapenas...”

Balançoacabeça.“Desapontado.Eusei."

Minhamãeficaemsilêncio,porqueatémesmoelasabequeéverdade.Nósdamosvoltasevoltas,eenquantomeupairaramentegritacomigo,osilênciodelaémaisdifícildelevar.

“Eumarineiumpardebifesextras,”elafalacantando.“Elesestãoesperandoporvocê,sequiservoltarparacasaamanhã.”

"Talvez."

Oquesignificaqueeuvouvê-ladomingo,comodecostume.

“Vocêestáindobem,”elamediz.“Eelevêisso.Eleteama,Kai.”

“Sim,eusei.”Emteoria.

Seeumorrer,elevailamentarpormim.Eusei.Duvidoquequalqueroutracoisairianostirardesteimpassequenósnosencontramosdesdequeeufuipresotodosessesanosatrás,noentanto.

“Vouvervocêsembreve,ok?”Eudigitoocódigonotecladoeabroaportadafrente,passandoporelaetrancando-a.

“Euteamo,”eladizemvozbaixa,masessastrêspalavrastêmtantasmaiscoisasqueelanãoestádizendo.Euodeioquejáfizminhamãechorar.

“Eutambémteamo,”respondoedesligootelefone.

Deslizando-o emmeubolso, eume viro e olhopara oThePope.Se eunão encontrarDamon, amerdavaibaternoventiladornovamente,eprovavelmentenuncasereicapazdeolharmeupainosolhos.

Caminhandoemdireçãoaobeconaesquina,vejoBanksinclinadacontraaparededetijoloscomasmãosnosbolsos.

“Oquevocêestáfazendo?”Euadeixeiirumahoraatrás.

“Esperandominhacarona.”

“Vocênãotemumcarro?”Pergunto.

“Vocêjámeviucomumcarro?”

Euhesito.Bemnão.Elaésemprelevadaporaquelesidiotas.

Efalandonodiabo...

Olho para cima, vendo o mesmo SUV preto no meio-fio, parando rapidamente. David e aquelegaroto-esqueciseunome-sentamnosbancosdafrente,disparandoseusolhosentreBankseeu.

Semprequeelachama,elescomcertezavêmcorrendo,nãoé?

Euandoemvoltadelaparaobeco.“Voulevá-laparacasa.Entra.”

“Comoeudisse,estátudocerto,”elasolta.

Paro,virandoeencontrandoseusolhos.

“Alémdisso,estouindoparaThunderBay,”elaacrescenta.“Euprecisocuidardealgumascoisas.”

“Ótimo.Estouindoparalá,também.”Emeviro,caminhandoparaomeucarroedestrancando-o.

EunãoestavapensandoemirparaThunderBay,masachoqueagoraestou.

Enãoestoucomciúmes.Eusónãogostodecomoessescarassempreaparecem,agindocomoseelaaindafossedeles.

Elanãoé,etodosprecisamlembrardisso.

Abroaportadocarro,olhandoparaelasobreocapô.“Banks.”

Ela fica ali por um momento, lançando um olhar de soslaio para os caras e parecendoenvergonhada. Ela provavelmente quer argumentar,mas ela faz o que foi dito. Andando até o carro eabrindoaporta,elaentra,bateaporta,enãoseincomodadecolocarocintodesegurança.

Eudouumaolhadaparaoscaras,vendo-osfazercarafeiaparamim.Euquasesorrio.

Saindodomeuespaçonoestacionamento,viroocarroepassocorrendoporeles,paraforadobecoparaaruatranquila.

Ela não diz nada, e eu a deixo ficar em silêncio enquanto dirijo. Estou empurrando-a muitoultimamente,enãoqueroqueessasejacadainteraçãoquetenhamos.Eugostodeconversarcomela.

DepoisdafestadeMichaelháalgunsdiasatrás,eufiqueiforadoseucaminhoeadeixeificarforadomeu,maisporqueestavaconfuso,emvezdecomraiva.

EraparaeuestarprocurandoporDamon.Eudeveriaestarlimpandooqueeletemsobremim.

Masnaoutranoite,naquelecorredorescuronoDelcour,tudoveioàtona.Comoéfácilseenvolvercomela, falarcomela, equantoeuamoaqueles rarosmomentosdevulnerabilidadequandoelaquaseprecisademim.Emequer.

Elaéummistério,masagora,aúnicaverdadequeeucontinuoquerendoéoqueeufariacomeladebaixo de mim, entre os lençóis. Como seus olhos ficariam? Que palavras ela sussurraria? Onde elacolocariaasmãosemmim?

MaselaélealaosTorrances.Comoeupoderiafazeroqueeuprecisofazeremantê-la?

Ocarrocortaanoite,correndopelaponteepelaestradaescuraparaThunderBaycomosfaróisbrilhandoàfrente.Eupuxoumarespiraçãogrossa,sentindotudoderepentetãopesadodentrodocarro.

Minhapeleagitacomasensaçãodelaaomeulado.

Olho por cima, vendo-a olhando para fora da janela, de costas retas, e as mãos no colo.Lentamente,porém,elacomeçaacorre-lassubindoedescendoemsuascoxas,eperceboquãoprofundasuarespiraçãoestáficando.

Elaviraacabeçaparaafrentedenovo,eeuobservoarápidaolhadaparaforapelocantodoolho.Elaprendeoslábiosentreosdentes.

Viromeusolhosdevoltaparaaestrada,segurandomeusorriso.“Vocêérealmenteboaemautocontrole,nãoé,menina?”Eumantenhomeutomcalmo.“Vocêquerdizeralgoparamim?Eupossosentiropesodisso.Vocêpodeiremfrente.”

Maselapermanecequietacomoeusabiaqueelafaria.Colocomeucotovelonaportaecorromeusdedossobremeuslábios.Comovocêjogacomalguémquenãoseenvolve?

Eentãoeutenhoumaideia.

“Então,comoelaé?”Pergunto.

Suassobrancelhasficamjuntas."Quem?"

“Vanessa.”

Elaviraosolhosdevoltaparaforadajaneladoladodopassageiro,suspirandocomimpaciência.“Comoquemvaiparecerrealmenteboasaltandoparacimaeparabaixoemcimadevocêemsuanoitedenúpcias.”

Euapertoovolante,moendo-onomeupunho.Quepirralhadocaralho.

“Então,vocênuncafaloucomela?”Pressiono.

Euqueroqueelafiquecomciúmes.

“Algumasvezes,”elaresponde.“Eumavezqueelapagouummeninoparaagarrarmeusseiosemumafestaquandotínhamosquinzeanos.Damonoamarrouaumaárvorepor issoecolocousuacobra,Volos,emsuacueca.Ogarotogritoucomoumacadela.”

Eubufo.

Eentãomeurostocai,odiandoaquilo,porummomento,eusintofaltadoDamon.EunãogostodeouvirquealguématacouBanks,masporalgumarazão,estouapaziguado,sabendoqueeleavingou.Issoéestranhovindodele.

Porqueeleétãoligadoaela?

Mas, novamente, estou ficando rapidamente ligado. Por razões que eu não posso nem mesmotentarentenderagora.

“EuconverseicomMichaelhoje,”digoaela,mudandodeassuntoenquantoolhoparaforadopara-brisa dianteiro. “Ele disse que você o ameaçou no The Pope. Depois ele te pegou e a prendeu a umaparedeparaameaçarvocê.”

Eunãopossoresistiraosentimentodivertidocomaimagemnaminhacabeça.

“Vocêdisseaelequesomosvulneráveisesemfoco?”Eusorrioparaela,fazendoumacurvasuave.“Elerealmentepareciapreocupado,comosevocêtivesseumponto.”

Suassobrancelhasficammaisfundas,claramentetentandoignorarminhastentativasdeconversa.

“Sabe,aúltimavezqueavi,háseisanos,vocêera tímidae inocente.O tipodegarotaque iriarecuarcomumabrisaleve.”Eudeixoescaparumlongosuspiro,meperguntandoseaquelameninaaindaestá dentro dela em algum lugar. “Agora, é como se até mesmo um gole de água é calculado. E ospróximosdezenovepassosdepoisdela.”

Eupossosentirelaenrijeceraomeulado.

“UmpardeanosdepoisdaquelaDevil’sNight,Rikaseguiujuntocomagenteemuma,”digoaela,maseususpeitoqueelajásaibatudosobreisso.“Elamelembroumuitodevocênaquelanoite.Apenasaprendendo sobre o que a excitava. Apenas começando a dar o primeiro passo sobre a linha que eladesejavatantoatravessar.Vocêsduassãomuitoparecidas.”

RikatinhamelembradodeBanksnaquelanoite.Alguémporquemeupoderiaseratraído.Alguémqueiriacairnoburacodocoelhocomigo.Eutinhaosmeusamigos,masnãoeraomesmo.

“Excetopelocontrole.Rikareageporinstinto,”acrescento,lambendomeuslábios.“Elaqueroqueelaquer,eelaconsegue.”

Banksviraosolhosdevoltaparaforadajanela,agindocomoseeunãoestivesseaqui.

“Masamadurecendo,elatambémficoumuitodiferente.”Eulevoocarroemumacurvasuaveparaadireita."Quandosomosjovens,somosoquesomospornecessidade-nóssomosquemsomosensinados

aser.Comaliberdade,porém,vemaliberdadedeampliarnossoshorizontes.Quandonóstemosapenasnósmesmospara responder,” eudigo, eolhoparaelanovamente. “Vocênãoconseguiuessa liberdadeainda,nãoé?Porque?Aspessoastemachucamsevocêpisarforadalinha?OGabrieltemachucaquandovocêsecomportamaloufalaforadehora?ODamontemachucou?”Eucontinuocutucando,esperandoesgota-la.

Elapuxaumarespiraçãodifícileolhaparaafrentedenovo,limpandoagarganta.“VocêeMichaelpodemcomeçarporreduziroshábitosdestrutivosdeWill.ElespioraramdesdequeDamonfoiembora,”eladiz,ignorandotodasasminhasperguntas.“Eleestádeprimido.Vocêprecisadar-lhealgoparafazer.Muitascoisas,naverdade,entãoelenãoterátempoparapensar.Dê-lheumpropósito.”

Eulevantominhassobrancelhas.NãoestouirritadoqueelamudoudeassuntodevoltaparasuadiscussãocomMichael.Elaestáfalando,afinal.

Eupensosobreoqueeladisse.Willestáraramentesóbrioeissoofazfracoeumalvofácil.Talvezelaestejacerta.Afinal,estoufuncionandomelhordoqueWill,etalvezsejaapenasdevidoaofatodequeeumemantenhomuitoocupado,entãonãomedebruçosobreopassado.

Ocarroficaemsilêncionovamente,evejoasmãos,correndosubindoedescendosuascoxasmaisumavez.Eulevantoamãoeligooaquecedor–baixo-apenasnocasodelaestarcomfrio.

Obrilhodopainellançaluzapenasosuficienteparaverseuqueixo,onariz,eumatiradepeledoseu pescoço. Eu aperto a direção novamente, meu corpo carregado com nova energia. Muita energiareprimida.

Faztempodesdequeestivecomninguém.

Talvezeudevadeixarvocêmecaçar,também.

Pisco, tentando tirar o calor correndo dentro de mim. Ela tem muito do meu interesse, e nãopreciso da distração. Há outras mulheres para brincar. Inferno; Alex me deu seu cartão umas quinzevezes.Elaestáprontaparairseeudecidirquequero.

Umpequenosomquebraosilêncio,eeuperceboqueéBanks.Seuestômagorosnou.Olhoparaorelógionopainel,vendoqueédepoisdasonze.

“Quandofoiaúltimavezquevocêcomeu?”Perguntoaela.

Maselanãoresponde.

“Eununcavejovocêcomer,naverdade.”Continuoolhandoparaaestrada,masdevoltaparaela,também.

“Achoquetodomundopoderiadizeromesmodevocê.”

Verdade.Eutenhohorasestranhas,entãofaçoascoisasnomeupróprioritmo.

Mas eu não posso ignorar a dor surda nomeupróprio estômago, também.Depois das reuniõesanteriores,fiqueiocupadocomfolhadepagamentoefizchamadas.Esquecidecomer.

“Vocêestácerta,”digo,desviandoparapegarabifurcaçãonaestrada.“Eestoumorrendodefome.Oquevocêgostadecomer?"

“Eugostariadeirparacasa.”

Sim.Tenhocertezaquevocêgostaria.

“Semproblema,”respondo.

“Euquisdizeraminhacasa,”elasolta,meiahoradepois,irritada.

Sorriobaixinho,passandoporelaenquantoela ficaenraizadaao ladodeumaparedenasaladejantardosmeuspais.

Emvezdelevá-ladevoltaparaGabriel,eualevoparaminhacasa.Ouacasadosmeuspais,dequalquermaneira.Minhamãeemeupai-ambosdormemnoandardecimaealheiosqueestamosaquiembaixo-aindavivememThunderBay,assimcomoospaisdeMichaeleWill,eclaro,opaideDamon.

Eu levopratosparaa longamesademadeira,brilhantecoma luzsuavedocandelabrode ferroforjadopenduradoemcima.Apesardoamordomeupaiaoestilojaponêstradicionaldedecoração,minhamãeganhouemobilhounossacasacommuitamadeiraescura,tapetes,pinturasecores.

Maselatambémprocurouagrada-lo.Háumavistamaravilhosadanossapropriedadeemuitaluznaturalentrandonacasa.

Eucolocodoispratoseguardanaposenroladoscomtalheres.

“Esteéomelhor restaurantedacidade,”digoaela, jogandoumagarrafadeáguaaelaqueeucarregodebaixodobraço."Sente-se."

Maselacruzaosbraços sobreopeito,agarrafadeáguaenfiadaembaixo,edesviaoolhar,meignorando.“Possoiragora?”

Puxominhacadeira.“Euseiquevocêestácomfome.”

Seusolhosdesviamparaoprato,masrapidamentedesviaoolharnovamente.

Desenrolandomeuguardanapo,sentoeseguroogarfoeafacadentro,começandoacortarumdosfilésmignonqueminhamãedisseestariamesperandonageladeira.

Elapermanecenaparede,eeudeixocairmeuscotovelos,perdendoapaciência."Sente-se."

Ela espera cerca de três segundos, só para me irritar provavelmente, mas finalmente puxa acadeiraedeixacairsuabundanela.

Depoisdecolocaragarrafadeáguaparabaixo,elaprontamentecruzaosbraçosnovamente.“Eunãogostodebife.”

Sim,tudobem.Tantofaz.

Eudecidonãolutarcontraelasobreisso.

Mesmoqueeusaibaqueelaestámentindo.Éumadesculpa,paraelanãoterquesercordialemumarefeiçãocomigo.

Querodizer,quemdiabosnãogostadebife?Amenosqueelasejavegetariana,esemofensa,maseutenhoaimpressãodequeelacresceucomendotudooquelhefoidado.Emaisfrequentementedoquenão, isso foi, provavelmente,McDonald´s e sobras de outras pessoas em vez de brócolis orgânico e aporradeleitedeamêndoa.

Baixoosolhos,olhandoparaopratocomacomida.Batatasbaby,feijãoverde,eumbifegrossodecarnequeeuseiquevaicortarcomomanteiga.

Derepenteestouperdidoempensamentos.Nóssomosprovavelmentemaisparecidosdoqueelapensa.

Euabaixominhafacaegarfo,meuestômagogemendocomocheirodasbordascarbonizadasqueeuamonacarne.

“Quando eu era pequeno,” eu digo a ela, recostando-menaminha cadeira, “nós vivíamos numaporcariadeapartamentodedoisquartosnacidade.”Euvoltolánaminhamente,tentandomelembrardecadadetalhe.“Osburacosnasparedesdomeuquartoeramtãoprofundosquevocêpodiasentirocheirodaervaquenossosvizinhosestavamfumandoeocurryqueasenhoraláemcimaestavacozinhando.”

Olhonatoalhademesa,lembrandooslancesdeescadasquesubiaacadadia,minhapobremãecomigoareboque.

“Minhamãe faziaopossívelpara torná-lo agradável, noentanto,” eudigo, lembrandodosmeusdesenhoscomqueeladecoravaasparedes.“Elaerarealmenteboacomdinheiroefazendoopoucodurarmuito.”

Bankspermanecequieta.

“Meupaiestavaterminandoaescolaetrabalhandootempotodo,entãoelequasenuncaestavaemcasa,”explico.“Eucomiatantomacarrãoequeijoqueeununcaperguntavaoquetinhaparaojantar.Nãoqueeumeimportasse.Macarrãoequeijoéincrível.”Douummeiosorriso.“Masaminhamãefaziaoseumelhor para fazer tudo gourmet e merda. Colocava-o em cima de um pouco de pão e adicionava umraminhodesalsa.”

Euachoquenão comomacarrão equeijo desdequedeixamoso apartamento, agoraquepensonisso.

“Lembro-medeumanoite,eutinhaunscincoanosemeupaichegouemcasa,”continuo,minhavozcalmacomoseestivessefalandosozinho.“Eeujátinhacomido.Macarrãoequeijo,éclaro.Euestava

sentado,assistindoTV,eelacolocouumbifenafrentedelenamesadacozinha.Aindamelembrodeouvi-lonoprato.Aformacomoamanteigaquetinhasalteadocheirava.Eleestavalívido.”

Eume lembrodele olhandopara elade sua cadeira, umamisturade raiva e confusão.Meupaiestavaacostumadoaviversemisso.Elecresceupobre.Masminhamãenão.Elaveiodeumafamíliaricaedeixouumnoivoricoarrumadoparaelaparasecasarcommeupai.Elafoirejeitada.Meusavósaindanãotinhammeconhecido.

“'Comovocêpôdegastardinheiro?”Eurepitoaspalavrasdomeupaiparaelaemsuavozsevera.“‘Se a minha família não come carne, então eu não como carne.’ Mas minha mãe disse que homensimportantescomemcarne,eelanãoqueriaquemeupaiesquecessequeeleeraumhomemimportante.”

Ergoosolhos, forçandoumsorrisoquandoolhoemseusolhos.“Emvezdisso,elese tornouumgrande homem, e agora nós podemos ter carne a qualquermomento que quisermos.” Deixo cairmeuolhar, murmurando baixinho conforme distraidamente cutuco o prato. “Eu nem sequer preciso serimportante.”

Eunãosouimportante.

Aindanão.

Meupaitrabalhoupraburroparadaraminhamãedevoltatudooqueelasacrificounaescolhadele,ecomoeuretribuiaele?Euferreitudo,dirigindocarrosqueelepagouecomendoqualquercoisaqueeuquisesse,nãoimportandoocusto.Eunãoganheinada.

Eunãosounadanasombradoqueeleconseguiu.

Eupegueimeufundofiduciáriodepoisquesaínoanopassado, investimuitodele,e tentei fazeralgodemimmesmo,masanuvemnegradeserrotuladocomoumcriminosoaindapairasobremim.Eusemprepossoverissoemseusolhos.Nuncasereicapazdeapagaravergonha.

Meusolhosardem,eeupisco,olhandoparalonge.Nãomereçoestarnestamesa,emuitomenoscomeraporradacarne.

Mas então eu vejo seumovimento. Olho para cima apenas o suficiente para vê-la desenrolar oguardanapo, tirando seus talheres. Lentamente, eu vejo como ela corta a carne, corta um pedaço, etimidamentecoloca-oemsuaboca.

Elamordesuavementee,derepente,fechaosolhos,colocandoamãoàboca.

Meucorpoaquece.“Estábom?”Perguntoemvozbaixa.

Elaabreosolhosdenovoebalançaacabeça,deixandoescaparumpequenogemido.

Meusombrosrelaxam,eeuobservo-adaroutramordida,estamaisrápida.Sorrio.

Otemperocaseirodaminhamãeéfantástico,maseusoumuitobomemcozinhar,também.

Olhoparaomeuprópriopratoepuxopara frentenovamente,pegandodevoltaaminha facaegarfo.

“Bem,estoufelizquepudemudarsuaideiasobrebife,”eudigo,cortandodevoltaomeupróprio.

Elaengoleemseco.“Eunaverdadenuncacomibife.”

Douumamordidanacarnetenra,ossucosdeixandominhaspapilasgustativasemalta.“Nunca?”

Elaencolheumdosombros,olhandoparalonge,enquantomastigaoutramordida.

“Oquevocêgeralmentegostadecomer?”

Ela corta o bife novamente, terminando rapidamente com ele. Ela deve estar com fome. “Ovos,torradas...”eladiz."Essetipodecoisa."

“Nãopodesustentartanto.”

Maseladesvia o olhardenovo, ignorandoaminha solicitaçãoparaobtermais informações.Eudeixomeuolharcairparasuasmãos.Umalinhafinademanchapretasobasunhas,eajaquetapretaqueelausaestádesgastadanospunhos.Ovosetorradas,hein?Eutenhoasuspeitadequeétudooqueelapodepagar,droga.QuantoGabriellhepaga?

Bem,euachoqueécomigoagora,nãoé?Voupensaremalgoamanhã,então.

“Vocênuncausavaessasluvas,”indico,apontandoparaasluvasdecourosemdedosqueelausa.“Existeumarazãoagora?”

“Paraeunãorasgarminhas juntasquandobateremvocê.”Elaenfiaoutropedaçodecomidana

boca.

Meupeitoretumbacomumarisadaqueeusegurava.Ei,eupossodeixá-ladarumsoco.Elanãovaiganhar,noentanto.

Elacomeobife,o feijãoverde,eamaioriadasbatatas, finalmenteabrindoagarrafadeáguaetomandoumlongogole.

Elaparece...satisfeita,curiosamente.

Nãoseiporque,masfoibomalimentá-la.Elanãoéotipodepessoaquedeixaqueosoutrosfaçamascoisasparaela,demodoqueissoseriaumararidade.Eupossotambémapreciar.

Elatomaoutrogoleefechaagarrafa,limpandoabocacomamanga.

Terminomaisalgumasmordidasenquantoelasenta-secalmamente,brincandocomoguardanaponamesa.

Eentãoelafinalmentefala,quebrandoosilêncio.“Eunãoseiondeeleestá.”Elalevantaosolhosresolutos,encontrandoosmeus.“Eseeusoubesse,nãoirialhedizer.”

Elanãoestátentandoserdifícil.Apenashonestaediretacomigo,eeuvirosuaspalavrasnaminhacabeça,finalmente,assentindo.

Eutragooguardanapoparacimaelimpoaboca,colocando-odevoltaparabaixoesegurandoseuolhar."Compreendo.Euaindaassimnãovoudeixarvocêir,noentanto.”

Capítulo12Banks

Presente

Umtoqueestridenteperfuraoarnamanhãseguinte, eacordoassustada,apalpandoamesadecabeceira acima da minha cabeça para pegar meu telefone. Ele pende para o lado, e eu agarro-o,arrancando do carregador enquanto eu afasto o sono. O nome de Gabriel aparece na tela. Eu atendoimediatamente.

“Banks,”digo,rapidamentelimpandoagargantaquandoeusentoejogoaspernasforadacama.

“Ummensageirovailevarocontratoparaodojodeleestamanhã,”elemeinforma.“Certifique-sedequeeleassine.”

Esfregomeurosto,tentandoacordar.Foda-se,eunãodeveriatercomidoaquelarefeiçãonanoitepassada.Eutinhamaisenergiaquandocomiamenos.“Eudisseavocê,nãoachoqueeletemqualquerintenção de assiná-lo. Ele queria o acesso ao The Pope, porque ele acha que Damon está lá. Ele vaienganaragente.”

“Quemeimportaqualéoseuplano?”Meupaifala.“Eleselouestepônei.Agoraelevaicavalgar.”

Kainãoiaassinaromalditocontrato.Eunãotinhacertezadoqueelequeriacomigo–nãotinhacertezaseelesabia–maseudefinitivamenteentendiqueKainãogostavadefazerascoisasdamaneiraerrada.Depoisdoqueeuouvinanoitepassada,elenuncasecasariacomalguémqueelenãoconheciaeexplicaria a seu pai que ele tinha acabado de se unir a Gabriel Torrance.Meu pai e o de Kai não seencontravampor acasomuitas vezes, e apesardo fatodeque seus filhos forambonsamigosumavez,KatsueGabrielseodiavam.

“DamonnãoestánoThePope,correto?”PerguntaGabriel.

Levanto e caminho até a janela, espreito por trás da cortina esfarrapada para ver que estáchovendo.

“Comoeudisse,achoqueeleesteveemalgummomento,”eudigo.“Maselepareceteridoemboraagora.”

Meuirmão,eutenhocerteza,tinhaváriosesconderijosnacidade.SeeleestavanoThePope,terianosvistochegandoatempoparasumir.

“Vocêpoderiamedizerseeleligarparavocê?Ousevocêover?”Elepressiona,umaameaçaemseu tom. Eu poderia dizer que ele estava nervoso. Damon era uma bomba-relógio, e Gabriel estavaperdendoocontrolesobrecomolidarcomele.“Euperceboqueeletemasualealdade,massouoúnicoquepagavocê.Vocêestáapenasprotegidaporminhasboasgraças,garotinha.Lembre-sedisso."

Euliberoacortina,aminhairacrescente.“Eoseuúnicopodersobreelesoueu.Lembre-sedisso.”

Euimediatamentefechoosolhos,lamentandooquedisse.Merda.

Meu pai fica em silêncio. Eu já fui rude com as palavras com ele uma vez. E uma vez foi osuficienteparaaprenderomeulugar.

Respiro fundo,acalmandoomeu tom. “Estoudoseu lado,”asseguroaele. “Nãosepreocupe,econfiequeeupossodeterminaramelhormaneiradefazeromeutrabalho.EuconheçoDamonmelhordoqueninguém.Voulevá-loparacasa.”

Elenãodiznadaporumtempo,maspossoouvirvozesaofundo.GraçasaDeusnãoestouempénafrentedeleagora.Seeuestivesse,assuasopçõessobrecomolidarcomomeuatrevimentonãoseriamtãolimitadas.

Mas para minha surpresa, ele simplesmente solta um suspiro e diz, “Tudo bem.” E então eleacrescenta,“Vocêdeveriaternascidoummenino.VocêéofilhoqueDamondeveriatersido.”

Euapenasficoali,opesosobremeusombrostãopesado.Partedemimgostoudeouvirisso.Queeledesejavameuirmãosermaiscomoeuenãoocontrário.Encheumeucoraçãocomorgulho.

Maseuaindanãosouummenino.Enuncaserei.Issoétudoaqueseresumia.Oqueestáentreminhaspernas.

Enãoimportaoqueeufizouoquãodurotrabalhei,semprehaveriaisso.

“Aindaassim,asmulheresnãosãocompletamenteinúteis,”elecontinua.“Kaigostadevocê,entãouseoqueDeuslhedeuefaçaeleassinarocontrato.Nãosepreocupeemvoltaratéquevocêconsiga.”

Eentãoeledesliga.

Apertoobotãodedesligarnomeutelefoneejogo-onoslençóisdacama.Cruzandoosbraçossobreopeito,euapertomeusdentesjuntos,tentandoencontraraporradomeufoconovamente.

Estoutãocansada.

Eudeveria ter apenas vindopara casaontemànoite.Nãodeveria ter entradoemseu carroouaceitado sua comida ou deixá-lome contar histórias estúpidas que fezmeu estômago retorcer com ascoisasqueeunãodeveriasentir.

Oquemeimportaseelegostademacarrãoequeijo,peloamordeDeus?

Passoamãoporcimadaminhacabeça,empurrandoparatrásoscabelosquesesoltoudasminhasduastrançasfrancesas.

Droga.Eu fechomeusolhos,gemendoquandoafundominhasunhasemmeucourocabeludo.Ocabeloestáderepente tãoapertadoqueeusóqueriaarrancaraos laçosdeborrachaedesmancharastranças.Minhacabeçadói.Minhapelequeima.Emeuestômagodóicomafome,odesejodeestarcheionovamentecomosefosseanoitepassada.

Tentorespirarcompassado.

Ondevocêestá,Damon?Nãoprecisamosviverassim.Porquevocêmedeixouparatrás?

Maseuseiaresposta.Elefoiembora,porquesabiaqueeuiriaesperar.Eusempreesperei.

QuantomaisKai estavanosmeusdias, porém,mais confusaeuestavame tornando.Ele foi tãosinceronanoitepassada,relembrandoseuantigoapartamentodainfância,masentãosuaexpressãoficoutriste,lembrandoqueseupaitinhaconseguidosetornarumgrandehomem.Eledeixoumuitopordizer.Tantoqueelerealmentenãoprecisavadizer,euacho.

Elepensouqueeraumadecepção.

Olhoemvoltadomeupequenoapartamentodeumquarto,astábuasrachadasvibramdebaixodosmeuspéscadavezquealguémpassapelocorredoremfrenteaminhaporta.

A janela suja está coberta por uma cortina amarelada. A pia vazia, um prato, uma tigela, umaxícara,eumconjuntodetalheresacomodadosnoescorredordepratosemumladodela.Temumfutonqueeutinhacompradoemumalojadesegundamãoealgunsblocosdeconcretocomumatabuaemcimafuncionandocomoamesadecafé.

KaiMorinãosabeasortequeeletem.Pelomenoseletinhapessoasparacontar,umaeducação,oportunidadesechances.

Eunemsequertenhoumdiplomadoensinomédio.

Nemdinheirotambém,eeununcapoderiadeixaraúnicapessoaqueeunãomeimportava.

Kaisemprepodesubirmaisalto,eestou ficandocansadadeestarpertodeleeser lembradadequeeunãopodia.

Eusemprevivereiassim.

Subindoaescadaestreitarapidamente,euvironocorrimãoecontinuoatéosegundoandar.Pontasde cigarro esmagadasnopisodemadeira lascada, e eu respiro atravésdeminhabocapara impedir ocheiro de tudo que esteve acontecendo neste edifício me fazer engasgar. Não foi nenhum piqueniquecrescercomDamoneGabriel,maseuestavatãogrataquemeuirmãomelevouparalongedaquiháonzeanos.

Batonaportadoapartamentodaminhamãe,o3faltandono232acimadoolhomágico.Agorasóamarcaescuradacolaemformadeumtrêspermanece.

“Mãe!”Grito,batendocomoladodomeupunhonovamente.“Mãe,soueu!”

NósduasvivemosnomesmobairrodecadenteemMeridianCity,entãoviraquilevoumenosdedezminutos.

QuandomemudeiparaacidadedepoisqueDamonfoiparaaprisão,eupoderiatersimplesmentevoltadoamorarcomela,eudeveria–combinarrecursosetudo–maseunãoqueria,efelizmente,elanãopediu.Elaaindatinhaumestilodevidaqueascriançaspoderiamtercãibras,então...

Euprecisavafalarcomela,noentanto.Precisávamosdeumahistóriaconfiávelnocasodealguém– como Kai – venha perguntar sobremim. Gabriel não estava naminha certidão de nascimento, e asúnicas outras pessoas que sabiamque eu era sua filha trabalhavampara ele, assim,minhamãe era oúnicoelofraco.Eutinhaquegarantirsuabocafechada.Kainãoprecisadescobrirexatamenteoquantodeinfluênciaeletinhaaoseualcance.

Depoisdeumminutosemrespostaenenhumsomvindodedentro,eupegominhachaveroubada,destrancoaporta.Abrindo,eudouumpassoparadentroeimediatamenteolhoemvolta,assimilandoabagunçanasaladeestar.

“Quediabos?”Eufaloemespanto,estremecendocomocheiro.

Avistoumhomemdesmaiadonosofá,umapernapendurada,efechoaportaatrásdemim,nãomepreocupando em fazer silencio. Ele obviamente nãome ouviu batendo ummomento atrás de qualquermaneira.

Guardandominhaschavesnobolso,analisoasalaescuraesuja,aúnicaluzvindodasfrestasdascortinas bregas de veludo azul. Vou até a mesa do café, examinando embalagens antigas de comidachinesa,cigarros,egarrafasdecervejavazias.Eupegoumtubo,ovidroembaçadodoresíduodaquiloquefoiqueimadodentrodele.Cadamúsculocontraienquantoeuolhoparaisso,ebalançoacabeça.

Jogoissodevoltanamesa,olhoparaomotoqueirodeitadonosofácomseujeansecintodesatado.Então,levantandoosolhosumpouco,euolhoparaacâmeraacomodadanobraçodosofá.Umadotipoboaedealtatecnologiacomummicrofoneligado.

Foda-seela.

Girando,eucaminhoatéamesadacozinha,derrubandoumadascadeirascomforçaemumadaspernas,quebrando-a.Pegoopedaço,esigopelocorredoremdireçãoaseuquarto,abrindoaportacomforça.

Amaçanetabatenaparede,eencontroelacomoutrocara,essemaisjovemedesmaiadonacamaaoladodela.Lençóisenroladosemtornodaspernasdeles,umabajurdesligadocaídonochão,eachuvarespingounoparapeitodeondeajanelaestavaaberta.Roupasestãoespalhadasportodaparte,eomaucheirodoscigarrosmeatingemcomoumaonda.Eulutoparanãotossir.

Olhandoparaadireita,vejootripéparaacâmera.

Filhodaputa.Balançandoobastãoàminhadireita,batoemsuacômoda.

“Saia!”Grito.“Dáofora!”

Batoobastãodemadeiradenovo,fazendoosfrascosdeperfumedecimadacômodatombar.

“Quediabos?”Ohomemacordaderepente,tentandosentareesfregandoosolhos.

“Levanta,idiota!”Eulevantomeupé,pisandosobreacama.“Saiadaquiagora!”

Minha mãe, o cabelo escuro sobre um olho, puxa o lençol e senta. "O que? O que estáacontecendo?”

“Caleaboca,”eufaloirritada,levantandoobastão.

O jovem rapaz, provavelmente apenas alguns anosmais velhosdoque eu,meolha como se eleestivesseparteaterrorizadoeparteconfuso.

Ok,deixe-mesermaisclaraentão.

Aproximo-medoseurosto. "Cai.Fora!”Eugrito,meurostoquentecomo fogoquandoeubatoobastãocontraaparedeacimadesuacabeçaumaeoutravez.“Dáofora!Vai!Vai!Vai!"

“Queporra é essa?”Ele grita, escapandode cimada camae correndoparapegar suas roupas.“Qualéoseuproblema?”

“Nik,oquevocêestáfazendo?”Euouçominhamãemeperguntar,masignoro.

Eurespirocomdificuldade.Acâmera,oshomens,drogas...prostituta.Enguloabilesubindopelaminhagarganta.

Ocaravesteseujeanscomdificuldade,agarraossapatosepuxasuacamisadacadeira,olhaparamimcomumacaretaecorredoquarto.

Minhamãerapidamentevestesuacamisolaerobe,maseusigoocaraparafora,certificando-mequeelelevouoamigo.

Eu o vejo pulando com uma perna só, tentando calçar seus sapatos. “Cara, levante-se!” Elesussurraaltoparaseucompanheiro.

Ooutrocomeçaadesocuparosofá,maseuavançorapidamenteepegoacâmera.

“Ei,issoénosso!”Ojovemgrita.“Pagamosela!Oqueestáaíénosso!”

Maseuapenasficoalidepé,omeupunhoapertandoobastãoenquantoosdesafio.“Gabriel,”eudigolentamente.“Torrance.”

Elesrapidamentetrocamumolhar,evejoaexpressãodeseusrostosmudar.Sim,estácerto.Essenomeeraútilquandoeuprecisavaquefosse.

Elesnãosabiamquemeupaipodianãodaramínimasobreoqueminhamãefazia.

“Saia,”repitoumaúltimavez.

Elessemovemlentamente,massemovimentam.Elespegamseuscasacos,pegamsuasdrogas,esaempelaporta,ojovemolhandoparamimcomumaexpressãodescontenteantesdedesaparecer.“Elanãoeraboadequalquermaneira,”elefala,seusolhospiscandoatrásdemim.

Elessaem,eeuacompanho,chutandoaportaatrásdeles.

Ouvindoumsuspiroatrásdemim,viro,jogandoobastãosobreosofá.

Minhamãeestánasaladeestar,tinhaacabadodesairdocorredor,orobedesedavermelhoatéomeiodacoxa,cobrindoparcialmenteacamisolarosa.Elamordeaunhadopolegar,oqueixotremendo.

“Paraqueéacâmeradevídeo?”Pergunto.

“Euprecisavadedinheiro.”

"Eutedoudinheiro!"

“Issonemmesmocobreoaluguel!”

Seus olhos se enchem de lágrimas, e eu caminho até o sofá, jogando as almofadas novas quecomprara.

“Equantoaessamerda?”Euacuso,caminhandopelasaladeestar,fazendoumquadrobalançaremseupregoeumvasodecristaldamesaoscilar.

Virei-me, observando suas unhas postiças com francesinha e o bronzeado artificial. Gabriel mepagaumamerdade“saláriodemulher”emcomparaçãocomoqueDavid,Lev,eIliarecebem,edepoisque eu pagomeu aluguel e os poucos serviços que tenho, ela fica com o resto. Eu, de alguma forma,consigovivercommenos!Porqueelanãopoderia?Sintoumsoluçonaminhagarganta,eeusóqueroestrangularela.

“Há milhões de pessoas no mundo e eles fazem isso funcionar de alguma forma!” Grito,caminhandoparaficarfrenteafrentecomela.

Tudoestavafodido,easparedesestavamsefechando.Euodiavaminhavida.EuodiavaDamon,meupaieKaietodos.Eusóqueriadormirporumano.Quandoascoisasiamserdiferentes?

“Eleestavacerto,”faloentreosdentes,olhandoparaela,masvendoapenasamimmesma.“Vocêéapenasumaprostitutasujaeviciada!Oquevocêvaifazerquandoninguémquiserpagarmaisporsuabucetavelha?Seuspeitosjáestãoabaixodosjoelhos!”

Suamãoatingemeurosto,eminhacabeçaviraparaadireita.

Eurespirofundo,todoomeucorpoficaimóvel.

Aqueimaduranomeurostoseespalhacomoumapicadadecobraficandomaisemaisprofunda,eeufechoosolhos.

Cristo.Minhamãenuncatinhamebatidoantes.

Eupoderiaterrecebidoalgumaspalmadasquandocriança–nãolembro–maselanuncamebateunorosto.

Lentamente,euvirominhacabeçaparafrentedenovo,vejoelaolhandoparamim,ummundodedoremseusolhosvermelhos.Elalevaamãoàboca,eeunãoseiseelaestavachocadacomoquetinhafeitooutristequeissofoiondenósacabamos.

Enfio amão no bolso, sentindo uma lágrima rolar enquanto olho para o chão. Pego sessenta equatrodólaresqueeutinhanomeuclipeeafasto-medela,jogandonamesadecafé.

“Issoétudo,”eudigo.

Hojeeratudoqueeuiadar-lhedenovo,prometoamimmesma.

Masamanhãseria‘suficienteparaviverporalgunsdias.’

Enapróximasemanaeuestariadevoltacommais.

Eu sempre voltava.Oqueeu ia fazer?Nãoqueriaqueminhamãevivessenas ruas.Euaindaaamava.

Ignorandoseulevechoroeacabeçaenterradaemsuasmãos,euabroaportadafrenteparasair.

“Vocêtemdinheiroparacomer?”Elapergunta.

Mas eu apenas sorrio baixinho. “Usemais algumas doses,” digo a ela, apontando para o tubo.“Vocênãovaiseimportarmais.”

Fechandoaporta,eusoltoumsuspiro,meupeitotremendoenquantofechomeusolhos.

“Eusouimportante,”eusussurroparamimmesma.

Lágrimas silenciosas transbordam nos meus olhos enquanto afasto toda a dúvida. Afasto assuspeitasdequeeuestavasendousada.Não.Não,meupaiprecisavamaisdemimacadadia.EDamonnão estava me usando também. Ele queria que eu fosse feliz. Eu sei que ele queria. E eu seria,eventualmente.

Eseeunãocuidassedaminhamãe,quemfaria?

Sounecessária.Souvaliosa.

Eunãoseria jogadaforacomoela.Elesnãofariamissocomigo.Quemiafazeroqueeufizparaeles?

Acâmeraquebranaminhamão,etodososmúsculosdomeurostodóicomumsoluço,porqueatémesmoeujánãopodiaacreditarnasminhasprópriaspalavras.

OhDeus.Começoacorrerquandoomundonaminhafrenteturvaetodasaslágrimascomeçamaderramar.Euiasercomoela.Mesessetransformamemanos,epessoascomoeunãocompreendemisso.

Elaiamorrernaqueleapartamento.Eeuiamorrernestacidade,tãoestupida,ignoranteepobrecomosouagora.

Descendoasescadasrapidamente,contornoocorrimãoecorroparafora.

Achuvafriaatingemeurostocomoumpingentedegelo,umalíviobem-vindodamerdacorrendocomolavasobaminhapeleagora.

Euinaloeexpiro,praticamenteofegandoenquantosigopelacalçada,tecendoentreospedestresnocaminhoparaotrabalhodelesdodia.Eunãoseiondeestouindo.Sóprecisofugir.

Tãolongeetãorápidoquantoeuposso.Apenascontinuarandando.

Então,eucorro.Corro,achuvabatendonacalçadaemtornodemim,nãovendonadaexcetopésepernasenquantodesviodeoutroscorrendopelasruas.Buzinassoam,maseunãolevantooolharparaversefoiporminhacausa.

A chuva encharcou minhas botas de combate, não foi difícil desde que não foram amarradasnovamente,elogomeugorroescorregadaminhacabeça,pesadocomágua.

Saltoatravésdaspoças, sentindo lentamentecadapeçade roupaemmimcomeçaragrudarnaminhapele.Euenxugoachuvadomeurosto,masachuvaestá tãoespessaqueeumalpossoverseismetrosaminhafrente.

Mas eu não paro. Corro, não dando a mínima se existe um precipício ou um carro vindo meencontraratravésdanévoaaqualquermomento.

Issoeratudoculpadeles.OirmãodeMichaelfezDamonserpresoemprimeirolugar,egraçasaDeuseleestavamorto,oueuteriafeitoisso.Senãofosseporisso,Damonteriaterminadoafaculdade,enósteríamosidoembora.

Edepoisorestodeles....meuirmãoterialevadoumabalaporeles,eelesescolheramErikaFanesem hesitação. Anos com ele sempre apoiando-os, e eles ignoraram-no como se fosse nada. Eles nemsequerlutaramporele.

Ouviumsomdealta-frequênciacruzaroar,eolhoparacima,vendoqueestounapassarelaquecruzaaponte.Eudirecionomeusolhos cansadospara a água, vendoum rebocadorqueempurraumabarcanorioabaixo,asuasireneecoandopelatempestade.

Olhando para a câmera na minha mão, eu levanto meu punho e a jogo dentro do rio, vendodesaparecernaáguaescura.

Baixoosolhos,balançandoacabeça.Issonãoeraverdade,embora,nãoé?EupodiaveroladodeDamon,porqueeusabiaoquantoeleestavasofrendo.Eusabiacomoelepensava.

Ninguémemcasaoamava.Nossopaieraumtirano,esuamãe...elefoiaterrorizadoporela.Eususpirocomanáuseacrescendonomeuestômago,lembrandotodasascoisasqueelenuncaquisqueeupresenciassenaquelatorre.

Todasascoisasqueelanãosabiaqueeuestavaláparaver.

Porcausadetudoisso,Damontornou-semuitopossessivodaspoucaspessoasboasnasuavida.

Eu,seusamigos....

Qualquercoisaquenosameaçavaeraimediatamenteuminimigo.

ÉporissoqueeleodiavaErika–ouRika,comotodosparecemchamá-la.Elenãoestavacerto,maseusabiadeondeeleestavavindo,entãoeupodiaentender.

MaseleconseguiuserpresoportransarcomWinter,umagarotaqueelesabiaqueestavaforadoslimites.Emmaisdeumsentido.

Efoielequemacabouindomuitolongenoanopassadoetevequeseesconder.

Se ele realmente me quisesse em sua vida nesses dois anos, ele teria me levado com ele.Esqueceria seus amigos. Esqueceria Rika. Nós dois simplesmente iriamos embora daqui, e nóspoderíamosfinalmenteserlivres.

Masissonãoaconteceu,eagoraeuperceboquenuncairáacontecer.

Mordoolábioinferior,tentandonãochorarmais.Nósnãoíamosrealmenteirembora,íamos?Eleestavameusandotambém.

Cruzandoosbraçossobreopeito,eucomeçoaandardenovo,tentandocontrolarminhasemoções,massimplesmentenãoconsigo.Eucaminho,cruzandoaponte,passandoovelhomercadodoagricultornaStateStreet,edescendopelaspistasvaziaseemruínasdoWhitehall,eeunãoqueriachorar,masaslágrimascontinuamacairdequalquermaneiraenquantoeucerroosdentesjuntos,tremendo.

Achuvahaviaencharcadominhasroupas,minhacabeçaestápesadacomogorroencharcado,eofriocobreminhapele.Eupossosentircadacabelo tentandose levantarquandocalafriosespalhamportodomeucorpo.

Eu finalmenteparo,meusbraçosmeenvolvendoenquantomeusdentesbatemumnosoutros,eolhoparacima.

Sensoubrilhaemvermelho,umemblemacomumlabirintodentrodeumlabirintoaoladodonomeeescritaemjaponêsnocentro.Euachoquemeuspéssabiamondeeudeveriaestar.

Comoumamáquina.Assimsoueu.

Comasmãos trêmulas, eu afastomeupunho e olho para omeu relógio, vendoque são oito damanhã.Kaimedisseontemànoiteparaestaraquiasnove.

EuprecisoligarparaDavidedizer-lhequenãoprecisodeumacaronaestamanhã.

Indoparaafrentedodojo,eupuxoaporta,masnãoabre.Trancada.

Caminhandoparaalateraldoprédio,entronobecoescuro,todososprédiosdetijolosaoredormeencobrindonaescuridão,mesmoasescadasdeincêndio.

Pulandonaescadalateral,euencolhosobotoldoepuxoaporta.

Mastambémnãoabre.

Eupassomeusbraçosemvoltademimnovamente,recostando-mecontraoprédio.

Ofrioestáalcançandoatémeusossos,eabaixominhacabeça,minhaspálpebrassefechando.

Minhamãeestavaoufumandooqueeudeiaelaoucomprandoumanovaroupaagora.Oquefosseprecisoparasesentirmelhor.

Elanãoiriasimplesmenteamarmeverfazendoqualquercoisaquefosseprecisoparatrazermaisdinheiro?Claro,elasesentiriaarrependidasobreisso,masrealmente,oqueelapensouqueiaacontecercomigo quando Damon me comprou naquela época? Ela lhe perguntou o que ele queria comigo. Elesimplesmenterespondeu,‘Seráqueissoimporta?’

Não importava.Emummundoperfeito,elaqueriasercapazdedarao luxodese importar,masquandochegouahora,elanãotinhaideiadoqueelepoderiaterfeitoparamim,eodesconhecidonãofoisuficienteparaimpedi-lademeentregar.

EueraoqueKaidissequeeuera.Umaferramenta.Algoqueoutrosutilizavam.

Meusolhosseenchemdenovo,eeulimpomeurostocomamanga.

“Bomdia.”

Euolhorapidamenteparaadireita.

AcalçapretadeKaiestácobertadospingosdechuva,eeleseaproxima,umamochilanoombroeumjornaldobradosobresuacabeça.Euviroorosto,queeusabiaquedeveestarvermelhoemanchado.Nãoqueroqueelemevejaassim...minhacredibilidadenasruasetudo.

“Oque...”eleparaaomeulado,sobotoldo.“Vocêestátodamolhada.Oqueacon-”

“Nãomeperguntenada,por favor,” imploroemvozbaixa.“Eusó fuipeganachuva,eeu...vouficarbem.”

Euapertoospunhos,tentandoaquecerminhasmãos,masnãoconsigoimpedirosarrepios.

Nãoolheiparaoseurosto,masnãoouçoelesemoverporummomento,entãoeunãoseioqueeleestáfazendo.

Finalmente,ouçoaportaserdestrancadaeaberta.

"Entreaqui.Vamos,”elemediz.

Eleseguraaportaabertaparamim,eeuabaixoparapassarsobseubraço,entrandonacozinhadodojo. Eu poderia ligar para David e pedir-lhe para vir, me trazer algumas roupas. Ou talvez houvessealgumasdessaspolosextrasqueosfuncionáriosusavam.Eupoderiasairdomeujeansmolhadoagora.

Mordoolábio,tremendo,quandoKaientra,deixacairsuabolsaeacendeasluzes.Olhoparaele,vendo que está usando uma camisa branca de botão, o peito visível através das gotas molhadas. Euapenasolhoparaeleporummomento.Seucabelomolhadoebagunçado,parecendoincrívelelindo,mefazendoesquecerdofrioporummomento.

Eleseaproxima,entregando-meumatoalha,masentãoelepegaminhaoutramão, tentandomelevaraalgumlugar.

Afasto-medoseudomínio.

Eunãoprecisosercuidada.

Maselesevira,fixando-mecomumolhar.“Vocênãoquerlutarcomigoagora,”elealerta.“Bastafazeroquelhemandam.Vocêéboanisso.”

Eelepegaminhamãonovamenteemepuxaatrásdele.Eutropeço,seguindo-oatéacozinha,nosaguão,epelocorredor.Todoolugarestávazioeescuro,excetoopequenobrilhodasluzesquerevestemaguarniçãosobreaparteinferiordasparedes.

Eleempurraaportadovestiáriodasmulheres,emelevaalémdosarmários,paraoschuveiros.

Abreumaportadacabine,eleestendeamãoe ligaaágua,aduchaforte inicia.Águacomeçaaverterevaporinstantaneamentedominaoambiente.

Deus,issoparecebom.

“Vocêestácongelando,”dizele,voltando-separamim.“Tireessasroupas.”

Eleestendeamãoparaosbotõesdomeucasaco,eeubatonelas."Não."

Cruzoosbraçosnaminhafrente,constrangimentoinchandodentrodemim.“Nãometoque.”

“Eunãoiatocaremvocê,”dizele,suavozderepentemaissuave.“Eusóquerotirarocasaco,ok?”

Eubalançominhacabeça.

“Olha, vocênãoprecisa tirar suas roupas,” explica ele, seu tomcada vezmais urgentedenovo“masvocêprecisaseaquecer.”

Ficoolhandoparaosnósdosmeusdedosbrancosaindaapertadosempunhos.“Minhasroupasvãosecar.”

Elesoltaumsuspiro,soandocomoumgrunhidoabafado,eantesqueeupercebesseoqueestavaacontecendo,elepassaosbraçosemvoltademimemelevantadochão,levando-meparaochuveiro.

Eu empurro contra seupeito enquanto ele fecha a porta do chuveiro e nos coloca ambos sob aduchaquente.

“Não!”Argumento.

Mas,comseuslábiosapertados,elemedaumirritado“Shh...”Emecolocadepé,osbraçospresosemtornodomeucorpoemesegurandocontraele.

Idiota!

Euplantominhasmãossobreopeitodele,rosnandoparaele,maslogo,ocalordaáguacomeçaainfiltrar-seemminhasroupas,eentãoaáguaestácorrendopelaminhapele.

Oh...

Umaondadealfinetadasdeliciosasirrompeemminhapele,fazendomeusanguedespertarquandotudovibracomocalor.

Euqueriasorrir,sinto-metãobem.

Minhaspálpebras ficampesadas, aáguaquentecobrindominhas costas, correndopelasminhaspernas,eseespalhandosobreaminhacabeçaepescoço.

Quente.Estoumuitoquente.Eusóqueria…

Eugemo,começandoavacilar.

Meu corpo estava tão cansado.Kai reforça seudomínio,mepermitindo relaxar contra ele, e eufaçoisso.Eunãolutocontra.Eucolocominhacabeçaemseupeito,edepoisdeummomento,sintoeledeslizarcuidadosamenteogorrodaminhacabeça,

Aáguabatendonomeucourocabeludoeabafandoorestodomundo.

Fechoosolhosesaboreioasensação.

Sóporumminuto,eudigoamimmesma.

Aconchego meus braços, aninhando em seu peito, me permitindo confiar por umminuto. Seusbraçosenvolvemmeucorpo,umdescansanaminhacinturaeoutronomeubraço,enquantoocalordaáguamisturadacomocalordesuapeleatravésdesuacamisamolhadamecolocaemummomentodepazquenãopodialembrardealgumavezsentirantes.NemmesmocomDamon.

Eunãoconseguialembrardaúltimavezqueestivetãopertodealguém.

Aduchacaiemtornodenós,abafandoosomdatempestadeláfora,nossarespiração,mesmoosmeus pensamentos... Eu não queria pensar. Durante cinco malditos minutos, eu não quero falar,preocupar,lutarouficarcommedo,comraivaouódiodetudo.Eunemsequerqueroficarempé.

“Issonãosignificanada,”eumurmuro,aindaaconchegadaemseucorpo.

Seupeitobalançadebaixodaminhacabeça."Absolutamentenada.Euprometo."

Algodeslizanaminhatesta,eeusintoseusdedosafastaremocabelonaminhabochecha.Suamãoalisaosfiosparatrásporcimadaminhacabeça,eoutrapequenaondadeprazermeatingeatéosdedosdospés.Derepenteeuestoucientedasminhascoxasmolhadasmoldadasàssuaseorestodomeucorpopressionandocontraele.

Issoeraoparaíso.

Suamãoalisameucabelomaisalgumasvezes,maislentoesuave,eentãoelepassaosbraçosemvoltademimnovamente,mesegurandoapertado.

“Eugostodesuastranças.”Suavozprofundaderepentesoarouca.“Seucabeloéumacorbonita.Comoomogno.Porqueesconderisso?”

Euabrominhabocaparafazerumaobservaçãodesagradável,masdesisto.Eunãoqueroqueissoacabeagora,eachoqueeranormalparaeleimaginar.

Masaindanãoeradasuaconta.

“Vocêcobreseucabelo,usaroupasdehomem,”elecontinua,“Quemévocê,garota?”

Quasesoacomoumaperguntaretórica,comoseestivessepensandoemvozalta.Epartedemimqueriaconfessartudo.

Eudouummeiosorrisoqueelenãovê."Eunãosouninguém."

“Issonão é verdade,” ele argumenta, e ouço sua vozmais perto daminha orelha. “Eununca viDamonpossessivo sobreumamulher,masele estavaemcimade vocênaquelanoite.”Ele inclinameuqueixoparacima,forçando-meaolharparaele.“Quemévocêparaele?”

Abroaboca,masnovamente,eunãoseioquedizer.Balançominhacabeça.

“Elemachucouvocê?”OsolhosdeônixdeKaimeimplorampormaisquandosuavozsetornaumsussurro.“Ninguémestáaqui,apenasvocêeeu.Elemachucouvocê?Porquevocêélealaeles?”

Encaroseuolhar,meusolhoscomeçamaqueimarnovamenteenquantoeulutocomomeuamorpormeuirmãoeopatéticodesejocrescendodentrodemimparaconseguiralguém.

Aduchacaindosobreseucabelopreto,águaescorrendoemseupescoçoesobreaveiaali.Aáguadesaparecesobocolarinho,eeupermitomeusolhosseguirdesuamandíbulaangularparaaboca.Lábioscarnudos,oinferiorcomumpequenoesingularlocalplanocomosealguémtivessepressionadoodedoalieo sulcopermaneceu.Olhandoali,meusdentesde repentedoem.Eupodiasentiracarnequeelemealimentouontemànoiteemminhabocanovamenteeasensaçãodemorderisso.

Confusãodestróimeucérebro.Elenãoerarealmentemeuinimigo.Naverdadenão.

Elequerrespostas.Euqueromeuirmãodevolta.

“Como foi para você na prisão?” Pergunto a ele. “Nós pagamos pessoas para manter Damonseguro,masequantoavocêeWill?Foiruim?”

Derepentedorcruzaseuolhar,eelemeencara,perdidoporummomento.

“Michaelfezomesmo,”elemediz.“Pessoaspagasparanosmanterasalvo,mas...”

Elepara,eeuespero.Comonoconfessionáriotodosaquelesanosatrás,eleprecisacriarcoragemdefalar.

Eleengoleemseco.“EudisseaRikaumavezqueeununcaiavoltarlá.Queeununcasoubequeaspessoaspudessemsertãofeias.”Elemeolhanosolhos.“Maseuestavafalandodemim.”

Eleacariciameucabelo,parecendoperturbado.

“NãofoitãosimplescomoMichaelpensavaqueseria.Subornaraspessoas,querodizer.Éramosricos, jovens, privilegiados, e estávamos cumprindometade da pena que os outros estavam cumprindopelosmesmoscrimes.Asameaças,osolhares,asprovocaçõesnoturnasvindodascelasnanossadireção,”elemediz.“Eusóqueriairparacasa.”

Umnódulodistendeminhagargantadolorosamente,tristeporeleemeuirmão.

“Meupaimeensinoualutar,”elecontinua.“Elemeensinouamatarseeuprecisassefazerisso.Masele tambémmeensinoua tornaromundomelhor.”Ele fazumapausa,pensando,edepois faladenovo.“Umtruquedesobrevivêncianaprisãoé,noseuprimeirodia,andeporalicomsuacabeçaerguida,olhandoparaosolhosdetodos,eencontrealguémparabater.Estabeleçaasuaforçaegarantaquetodosvejamisso.”

Ouço,lembrandoqueeutinhaouvidoamesmacoisaemalgumlugar.

“Esperei até trêsdias,” diz ele. “Euescolhi omaior caraqueeupoderia encontrar, alguémquetinhaafirmadosuaposiçãodeautoridade,alguémquetinhaameaçadoWillemnossoprimeirodia,eeuavancei,ebatinele.”

Euquasepossoverissonaminhacabeça.

“Paraminhasurpresa,porém,elenãodesistiuimediatamente,”Kaicontinua,ummeiosorrisonorosto.“Euacabeicomumnarizquebrado,trêscostelasquebradas,eumlábioinchado.”

Sorrio um pouco. UmHorseman não caimuitas vezes, então ele teve seu castigomerecido, eudiria.

Massuaexpressãotorna-sesolene.“Eleacaboucomumafraturanacoluna.”

Oh,Cristo.

“Eu era a pessoa treinada,” diz ele, parecendo que ainda estava zangado consigo mesmo. “Eudeveriasaberondeeuestavachutando.”

“Elerecuperou?”

Eleassente.“Sim,maslevoualgumassemanas,eeletevealgunsdanosnosnervos.Eleficousemnenhumasensibilidadeemtrêsdeseusdedosdamãodireita.”

Bem,poderiatersidopior.Muitopior.

“Nodiaseguinte,”continuaele,“minhamesadealmoçofoiamaischeianoblocodecelas.”

“Então,vocêconseguiurespeito.”

“Sim,agindocomoumanimal,”ressaltaele.“Issomeassustou,porquenãofoiaprimeiravezqueeutinhaescolhidoreagircomviolênciaquandoeunãodeveria.Issoiaserumhábito?Euestavaperdendoacompreensãodavidaqueeuqueriatereapessoaqueeuqueriaser,porquecontinueisendoestúpido.”Elebaixaosolhos,respirandotãoforteeparecendovulnerável.“Eunãoqueroestragaraminhavida.”

Olhoparaele,incapazdedesviaroolhar.Elenãoolhaparamim,eeuperceboqueelesesentiatãoinútileinadequadocomoeusempresenti.

Umdesejomedominaparafazê-losesentirbem.

“Ei.”Eulevantoamão,cutucandoseuqueixo.

Elelevantaosolhos.

Sorrioparaele.“Àsvezes,quandotudoetodosaomeuredorsãodifíceisdeenfrentar,euolhoparacima.”

Suassobrancelhasseunem,parecendoqueelenãoentendia,eeuinclinominhacabeçaparatrás,olhandoparaoteto.

Lentamente,elefazomesmo,seguindoomeuolhar.

Ovaporcirculandonoaracimadenós,abrindoaquiealiparamostrarotetodegranitobrancodochuveiro.Aspartículasdecristalnarochabrilhamnapenumbra,eporummomento,omeucérebroficaflutuandoentreanévoa.Levecomoumapena,subindoparaasnuvens.

“Alterandosuavista...”euinterrompo.“Issoajuda.Certo?”

Elesorri,seusombrosrelaxam.“Nósvamosterquetentarissoànoitedoladodeforaemalgummomento.”

Nós?

Derepente,elelimpaagargantaeseendireita,meliberando.“Euvoupegaralgumasroupas,tudobem?”Elemediz.“Porquenãosesenta?Aqueçaumpoucomaissobaágua.”

Eubalançoacabeça,relutantementerecuandoquandoeleseafasta.Eleestavaenvergonhado?Eunãoqueriaqueelesaísse,maselepareciaqueestavacompressaparasairdaqui.Talvezelearrependeudedizertudoaquiloparamim,maseuestavafelizqueeledisse.

Eleapontaparaochãodochuveiro.“Fiqueaqui,ok?”

Elecaminhaatéaporta,abreesai.“Alex,”ouçoelechamar,masantesqueeutenhaachancedeolhar,elefechaaportadochuveironovamente.

Ficoaqui,todoofriodesapareceuagora.Comaspernascruzadas,euencostosuavementecontraparedeparaajudaraapoiaromeupeso.

Elenãometocou.Eletinhaapenascolocadoosbraçosemvoltademimemesegurou,nãoficandoextremamenteansiosoou tentou conseguiruma resposta emocionaldemimouqualquer coisa.MesmoDamonnuncafoitãopacienteereconfortantecomigo.

Nas raras ocasiõesquemeu irmãoparecia compelido amostrarqualquer afeto, nenhumabraçonuncaduroumaisdoquealgunssegundos.Minhamãefoiprovavelmenteaúltimapessoaamesegurarassim.

Eudeslizopelaparede,minhabundaapoiadanoazulejo e osmeus joelhospara cima.Fechoosolhos,sentindomeusanguefluirquentesobminhapele,minharespiraçãolentaeconstante.

Minhamentederiva,ecadamembropesadeztoneladas.Eunãoseiporquantotempoeudormi.

“Banks?”Euouçoumavozsuavedizer.

Poderiaserumahoramaistardeouumminuto.Eunãotinhacerteza.

Eumemexo,deixandoescaparumpequenogemido.

“Banks?”Dizavoz,maispertodestavez,eeulentamenteabromeusolhos.

Alex, a garota da festa, está agachada ao meu lado, usando shorts de treino rosa e um sutiãesportivobranco.Elaestáatrásdopulverizadordochuveiro.

“Kaimepediuparatrazeralgumasroupas,”elaexplica.“Euestiveesperandodoladodefora.Eusóqueroavisarqueeutenhoalgoparavocêusar.Vocêpodeficaraquipormaistemposequiser,embora.”

Eususpiro,abrindoosolhosemudandodeposição.“Estoubem.”

Euficodepé,Alexlevantandocomigo.

“Ok,”dizela,afastandoeapontandoparaoganchonaparede.“Toalhasestãoali,etemumasacolaparacolocarsuasroupasmolhadastambém.Eucoloqueialgumasroupassecasnobancoemfrente.”

Balançoacabeça,relutantementeapreciandocomoelatinhapensadoemtudo.Eunãotinhaligadoparanenhumdoscaras,entãoeunãotinharoupas,eprecisousaralgoenquantoasminhassecam.Seiqueelestêmlavadorasesecadorasdisponíveisparaaacademia.

Elasairapidamente,eeuestendoamãofechandoaágua.Pegandoumadastoalhasdogancho,euuso no meu cabelo ainda trançado e penduro de volta, rapidamente tiro a roupa. Tiro minha jaquetaencharcadaesoltonochão,rapidamenteseguidacomminhacamisadeflanela,sapatos,meias, jeanseroupas intimas. Cada desenrolar das ataduras ao redor do meu peito parecia mais glorioso do que aúltima,atéquefinalmenteosmeusseiossãolibertados,encontrandooar.

Fecho os olhos, deixando escapar um pequeno gemido. Eu me enrolo na mesma toalha erapidamentecolocoasroupasmolhadasemumadassacolasbrancadaSensouvendidasnarecepçãoqueAlexaparentementetrouxeparamim.Desfazendoastrançasnomeucabelo,eubalanceioscachoslivres,massageandomeucourocabeludocomaoutratoalha.

Alcançando do lado de fora da porta, agarro a pequena pilha de roupas, ouvindo várias outrasmulheresconversandonovestiário.Aacademiajádeveestaraberta.

Fechandoaporta,euavalioapilha,olhandoparaorestodaroupa.

“Oquê?”Eudisparo.

Calça de ginástica preta que parecem uma segunda pele e um sutiã esportivo cinza com umsímbolodaNikenomeio.Eugemo.Ondeestáaporradoresto?Eunãopoderiausaressamerda.

“Ugh,”eurosno,segurandoosutiãecomeçandoavestiracalça.Elatinhaquetercolocadoalgoamaisaqui.Oupelomenosummoletom.

Eu puxo a calça para cima, o tecido envolvendo minhas coxas e bumbum, e resmungo com odesconforto.Éestranhoteralgopresoaminhapeleassim.Masquandoeupuxoatoalhaeestendoamãoparapendurá-la,euparo,percebendocomoacalçaajustouconfortavelmente,ficandobomparasemover.Umatoneladamaisleve.

Deslizandomeusbraçosatravésdasaberturasnosutiã,euenfiominhacabeçapelomeioepuxoosutiãparabaixo,rapidamenteajustandomeusseiosparacaberdentro.

Fecho os olhos por um momento. Oh Deus. Sinto-me nua. Puxo meu cabelo sobre o ombro,tentandocobrirmeusseiosqueestãoprestesapularforadosutiãesportivo,ecruzoasmãossobreminhabarriganua.

Euabroumpoucoaporta,espreitandoláfora.Eunãoqueroandarporaíassim.

Oh,quemeuestavaenganando?Cadamulheraquiestápraticamentevestidaassim.Eunãoseriatão diferente. Damon sempre me deixou claro, como se eu mostrasse um tornozelo, os homens meatacariamcomolobos.

Secandomeuspésnovamente,saio,pegandoasacoladeroupasejogandoastoalhasnocestodoladodeforadochuveiro.

Caminhopelovestiário,vendoalgumasmulheresseapressandoparacomeçarseustreinos.

“Vocêparecebem,”dizumavoz.

VejoAlexdepécomasmãosnosquadriseacenandoparamimenquantoseusolhosmeobservamdecimaabaixo.

Euficotensa.

“Somosquasedomesmotamanho,”elamedita,aproximando-seepegandoaminhamão.“Nãoiriasaberissopelaformacomovocêseafogaemsuasroupashabituais.”

Elaagarraasacoladaminhamão,euvejoquandoelajoga-aparaumaatendente–umajovemcomumapolodaSensou–quelevaissoparaalgumlugar,esperemosquesejaparaassecadoras.

“Minhasroupasnãosãotãograndes,”eumurmuro.

Ela me leva até as penteadeiras e empurra meus ombros para baixo, minhas pernas cansadascedendodebaixodemimeminhabundabatendonoassento.Ela imediatamentecomeçaaescovarmeucabelo.

“Eupossofazerisso,”eufaloirritada,estendendoamãoparaaescova.

Mas ela se afasta. “Você não pode,” elame diz, arrancando umembrulho de papel alumínio decimadobalcãoejogandonomeucolo."Vocêprecisacomer."

Eupegooembrulhomacioequente."Oqueéisso?"

“Kaipediuburritos.”

Soltonovamentenomeucolo."Estoubem."

“Ele disse que você ia dizer isso.” Ela segura um punhado do meu cabelo, trabalhandointensamenteemescovarasmechas.“Eletambémdissequevocêéinteligenteosuficienteparaescolhersuasbatalhas,ealguémtãopráticacomovocênãoiriadiscutirporcausadeumburritoestúpido.”

Umsorrisoescapademim.Ok.Ponto.

Ocheirodamassaatingemeunariz,emeuestômagoderepenteresponde.Eunãotinhacomidoestamanhã.

Ela terminade escovarmeu cabelo emaranhado enquanto eudesembrulho o burrito e douumamordida.Ovocozido,linguiçaapimentada,cebolas,pimentasejalapenhascomumpoucodequeijo,eeunãopoderiaevitar.Mordonovamente,nãoesperandoengoliraprimeiramordidaprimeiro.

“Boagarota.”Alexpiscaparamimeligaosecadordecabelo.

Meucabeloagitaemtornodemim,ozumbidoabafandotudoexcetoeueessemalditoburrito.Namaioria das vezes, eu raramente parei dememover tempo suficiente para perceber se eu estava comfomeounão,entãomuitasvezespasseiodiatodoapenascomumovoeumpedaçodetorrada.Marinatinhasemprealgocozinhandotambém,entãoeupodiapegaralgunspedaçosdesobrasouumatigeladesopadapanelaqueelamantemnofogão,masgeralmentepegoalgorapidamenteounãocomonada.

Alexusaaescovapelomeucabeloenquantoelaseca,oslongosfiosfazemcócegasnapelenuadosmeusbraçosecostas.Sintocalafriossobreminhapeleeacabocedendoumpouco inclinandoacabeçaparatrásparalhedarmelhoracessocomaescova.Eususpiro,fechandoosolhosenquantomastigo.Osdentesdesuaescovaesfregandosobreomeucourocabeludo.

Logoque terminooburritoe ficoali sentada, saboreandoasensaçãodaescovapenteandomeucabeloquandoeuperceboqueosecadordecabelonãoestáfuncionando.Abroosolhos,vendoAlexmeobservandonoespelho,seubonitorabodecavalopresonoaltocomocabeloemvoltadoseurosto.

Meuprópriocabelo,todososquarentaecincocentímetros,caiemcascatapelasminhascostas,eelacolocaumapartedelado.Hámuitotempoeunãootinhasolto,limpoesecoaomesmotempo.

“Quandofoiaúltimavezquevocêfoitocada?”Elapergunta,meestudando.“Tocadadeverdade?”

Abaixominhacabeçaparafrentenovamente,evitandoosolhosdela.Achoqueeutinhagostadodomeucabelosendopenteadoumpoucodemais?

Elasenta-seaomeulado,montandonobancoedefrenteparamim.

“Todos nós precisamos, você sabe?” Ela diz calmamente. “Precisamos de contato. É apenashumano.Mas se você não consegue de outra pessoa, não há nada de errado com um pouco de amor-próprio também. Apenas comentando isso. Você me parece tensa e isso vai ajudar. Eu me dou amor-própriopelomenosduasvezespordia.”

Eufaçoumacaretaparaela.Eunãogostodepessoasquecompartilhamdemais.

Elari,eeuperceboseusorrisobrilhanteelargoquedáaelaumaaparênciadocementeinfantil,comumeagradável.Muitoaocontráriode seucorpo –não tão infantil - queeu sabiaquemetadedoshomensnaquelafestanaoutranoiteprovavelmentetinhamlevadoparaacama.Kaijádormiucomela?

“Embora estou falando sério.” Ela me cutuca, trazendo-me de volta. “Ser tocada é umanecessidade.Fecheosolhosparamim.”

Hã?

“Éumexperimento,”explicaela,provavelmentevendomeuolharconfuso.“Eunãovoutocaremvocêemqualquerlugarpessoal.”

Não.Euafastoumpouco.

Maselamesegue.“Fecheosolhoseimaginequeeusouele.”

“Ele?”

“Suafantasia.”

Minhafantasia?Oque-

“Satisfaça-mepordoisminutos,”elainclina,sussurrando,“eeuvoutedarmeumoletom.”

Soltoumsuspiroincrédulo.

Masainda...eugostariadeummoletom.

Bem.Foda-se.Fechoosolhos.

Semaminhavisãomeequilibrando,meucérebroparececomeçaraflutuar,maseuaindasintoelasemoveraomeulado,eentãoumamãotocameuestômago,mefazendosaltar.

“Vocêovêemsuacabeça,”elasussurra,suarespiraçãoatingindominhamandíbula.“Suafantasia.Imagineoqueele–ouela–estávestindo,oquarto,comoestávindoparavocê.”

Minhaspálpebrastremem,asimagensaparecendonaminhacabeçaporinstinto.

“Não,”eumurmuro,apalavraacidentalmenteescapando.

Seus dedos acariciam de leve meu abdômen, provocando calafrios deliciosos em meus braços.“Sim,”elarespiranomeuouvido.“Vocêovê,nãoé?Eleestátocandoemvocêagora.Estaésuamãoemseuestômago.Seucorpoaoseulado.Suavozemseuouvido.Vocêovê?"

Eutremo,minharespiraçãosetornandosuperficial.Derepenteeuestavadevoltanasepultura.

OpeitonudeKaiestánaminhafrente,eeuqueroafundarmeusdedosemsuacinturaeenterrarmeunarizemseupescoço.Oligeiroaromadeseusaboneteedaterramolhadasobnossossapatosmecercam,eoutroperfumequeéapenasKai.Issoestáemseucabelo,suaboca,suapele...

“Eu quero você,” ele diz ofegante, seu hálito quente nomeu ouvido. “Eu quero você naminhaboca.”

Sua mão desliza até a parte de trás do meu pescoço, enfiando no meu cabelo e puxando-olevemente.Gemo,sentindomeusmamilosendurecerem.

Eleafundasuabocanomeupescoço,eeu respiroatravésdemeusdentes,os lábiosbeijandoesugandominhapele.OhDeus.Inclinoacabeçaparaolado,dandoliberdadeaele.

“Eu vou te comermuitoprofundo,” diz ele, comamãopossessivanomeuestômagoarrastandoparaointeriordaminhacoxa.

Eupossonosveremumacama,suacabeçaenterradaentreasminhaspernas,eatémesmosintoocalordorubornomeurosto,euqueriaeleali.

“Vocêmesente?”Elepergunta.“Vocêsenteoquantoeutequero?Vouenfiaralínguadentrodevocêelamberatéquevocêgriteparaqueeuadeixegozar.Vocêéminha.”

Meu peito oscila, e eu gemo, sentindo-o mordiscar minha orelha, suas mãos cada vez maisexigentes,mefazendosuar.

“Pegueminhasmãos,baby,”elesussurra.“Coloqueminhasmãosemvocê.”

Lambomeus lábios secos, nemmesmohesitando.Euagarro suamãonaminhacoxa,masparo,sentindoumamãomacia,pequena,quenãoparececomamãodeumhomem.

Euabromeusolhos,vendoAlexaomeulado.

“Oh,meuDeus.”Eucolocominhamãosobreaboca,constrangimentomedominando.Issofoitudoela.Putamerda.Eusoltosuamão,observando-arelutantementeseafastaredeixarescaparumsuspiro.

“Eleéumcaradesorte.Quemquerqueseja.”

Eubalançoacabeça,perplexacomoqueacaboudeacontecer.Eascambalhotasaindaemcursonomeuestômago.

Elaseinclina.“Hojeànoite,vocêdeveriaselembrardessafantasiaeterminá-la,mesmoquesejaapenasvocê,sozinha,nasuacama.”

NãoadmiraqueWillmanteveelanafolhadepagamento.

“Ousevocêquiser,”dizela,brincandocomumsorrisoemsuavoz,“mechame,eeuvouterminarparavocê.”

Opulsoentreasminhaspernaslatejamaisforte.

Incrívelporra,eureflitoparamimmesma.Eupoderiacapturarumcaradecentoedezquilos,masumaacompanhantedevinteanosmedeixoutímida.

Euestavaprestesalevantarquandoumgritoecoapelovestiário.“Banksnãoacabouainda?!”

ÉoKai.

Alexpuladobanco,agarrandosuaescovaeempurrandomeucabelosobremeusombros.“Sim,elaestásecaevestida!”

“Deixeelasairentão.”

Eu rapidamente levanto e corro até o armário de Alex, pegando o moletom cinza no banco nafrentedele.Élongo,esperoqueosuficienteparacobriraspartescurvas.

Eucaminhoparaaporta, vendo-aparcialmenteabertae a formadeKai atravésdo vidro fosco.Vistoomoletom.

“Euestouaqui,”eudigo,abrindoaporta."Oquevocêprecisa?"

Ele imediatamente se vira e começa a caminhar, sem olhar para mim, esperando que euclaramenteosiga.

“Eu preciso de você cuidando da recepção por uma hora. A primeira atendente está presa notrânsito.”

Eutentofecharozíperdomoletom,masderepenteelefoiarrancadodemimportrás,eeumevirobruscamente,vendoAlexsorrindopegandoomoletomdevoltaemeempurrandonopeitomeobrigandoaafastardaporta.

Queporraéessa?

Elafechaaportadovestiário,evoltoparaaporta,sacudindoamaçaneta,maselaestásegurandoaporta,nãomedeixandoentrar.

Abroabocaparagritar,masapenasfechominhasmãosempunho,rosnandobaixo.

Maldita.

“Tudo retarda com uma parada maldita, como se as pessoas nunca viram chuva antes,” Kaicontinua,aindacaminhandopelocorredor.“Apenasdigitalizarcartões,distribuirtoalhasseelespedirem,eatenderotelefone.Nãodeveserpormuitotempo.”

Enfioum ladodomeucabeloatrásdaminhaorelhaeosigocomrelutância, remexendominhasmãosetentandocobrirminhabarrigacommeusbraçosetambémmeudecote.

“Euvoutemostrarcomousarointerfoneparamebiparseprecisardemim,”eleorienta.

Paronarecepçãoquandoelesecurvasobreela,agarrandoumconjuntodechaveseumwalkietalkie.

MasentãoalgocainomeiodosaguãoeKaieeuolhamos,vendoMichaeldepéimóvelcomsuasmalditassobrancelhasarqueadas.Eleestáolhandoparamim.

Olhoaoredor,rangendoosdentes.Sim,riadisso,imbecil.

Kaiergueasmãos, irritadoquandoeleolhaparaMichaeleRikaparadosnomeiodosaguãodeentradacomGatoradederramandonochão.

“Qualéoproblemacomvocês?”Eleperguntairritado.

Eentãoelesegueoolhardeles,finalmente,virando-seeolhandoparamim.

Suas sobrancelhas se unem, ele corrige sua postura, e ele olha para mim como se eu tivessechutadoumfilhotedecachorro.

Seuolharsegueparameuspésdescalços,lentamenteavaliandoacalçadetreinoapertadadeAlex,meuabdômennu,osutiãesportivo,emeucabelosoltoelivre.

Meuspunhosapertamaomeulado.

OsolhosdeKaifinalmenteencontramosmeus,emeuestômagorevira.Euconheçoaqueleolhar.FoiomesmoqueeletinhaemseusolhosnaquelaDevil’sNight,poucoantesdelemeperseguir.

Ele levantaumasobrancelhae viraa cabeçapara seusamigos. “Oquevocêestáolhando?”ElerosnaparaMichael.“Vestiárioéporali.”

Michaeltemumsorrisoqueeleestavatentandosegurar,eRikafazumacaretaparaele.

“Respire,idiota,”dizela,eentãoelaseguerapidamentepelocorredor.

Ele a segue, uma risada sufocada em sua voz. “Querida, eu estava um pouco chocado. É umagrandemudança!”

“Caleaboca.”

“Rika,vamoslá...”

Eadiscussãodelesdesaparecenocorredor.

Ficoali,minhacabeçaniveladamasmeuolharnochãoenquantoeumordoo interiordaminhabochecha. “Eu vou trocar assim que minhas roupas estiverem secas,” digo a ele, olhando para cima.“Ondepossoconseguirumadessaspolosqueosoutrosfuncionáriosdarecepçãousam?”

Elenãorespondeporummomento,seuolharhesitanteolhandodecimaabaixonovamente.

Fechandoosolhosbrevemente,elevempelaminhalateral,emdireçãoaocorredor.“Nãotemosemestoque.”

Capítulo13Banks

Devil’sNight

Seisanosatrás

Jogandominhaschavessobreamesa,eufechoaportaeatravessooquarto,puxandoascortinasfechadas.Tiromeumoletom,ossapatos,eprocuronaprimeiragavetadacômodadeDamon,retirandoumacuecaeumacamiseta.Bocejando,euentronobanheiro,opisodemármorebrancogeladoesuavesobosmeuspés.

Meuirmãonãoestariaemcasapelomenosatéoamanhecer.KaiestavaaindaplanejandoirparaoThePopeestanoite?Eledeveterconseguidoaquelachavedepoisdanossaconversaestamanhã,antesqueelesoubessequeiriaencontrarcomigonovamente.

Euodiavaaideiadeleirsemmim.

Depoisde lançaraminharoupanocesto,euvistoacamisetaeacueca, lavoorosto,escovoosdentesecabelo,esaiodobanheiro,apagandoaluzaodeixarocômodo.

Engatinhonacama,agarrandootravesseiroeabraçando-oquandoergoamãoedesligooabajur.O quarto fica escuro, o zumbido sutil do ar condicionado fluindo pela casa me acalmando. Minharespiraçãodesaceleraemeucoraçãoseacalma.

Kaiestavaprovavelmentecomraivademimdeverdade.Elenão tinhanenhumarazãoparanãoacreditaremDamon.Eleprovavelmentesesentiutraído,enganado,echateado.

Chateadoosuficienteparapensarqueeledeveriaterficadocomodiaboqueeleconheciadoquecomodiaboquenãofazia ideiadequemera.TalvezeleestariacompartilhandoaquelequartodehotelcomChloeestanoite.

Eporalgumarazão,eugosteidadorque issocausounomeupeito.Araivaeramais fácil,eeuquase queria que ele fosse correndo para ela. Ele faria o mesmo que qualquer outro homem que euconhecia.Egoísta,mentiroso,eganancioso.

Seelefracassouparamim,eupoderiavoltaranãoseimportaremnãotê-lo,certo?

Eu tenhoDamon,afinal, eaqui soua rainha,pelomenos.Elenunca trouxeasgarotaspara seuquarto. Ele nunca me fez sair, para que pudesse ter privacidade. Esse é o nosso espaço, e nenhumamulherestáacimademimnasuavidaemcasa.

Eusótenhoqueencontrarcontentamentoemtudooqueeujátinha.

Eubocejonovamente,minhaspálpebrasficandomaispesadasefechando.

Masentãoeuouçoaportaatrásdemimabrireochãoranger.

Viroacabeçasobreomeuombro,tensaquandovejoumafiguraaltaeescurasemoveremdireçãoàcama.Eupoderiaapenaspercebereleremovendosuacamisaenquantoeleaproximademim.

“Vocêjáestáemcasa?”Eupergunto,mantendo-meimóvel.

Mas ele apenas responde, “Shhh,” e não pressiono ainda mais quando volto minha cabeça aposiçãodeantes,olhandoparaaescuridão.

Elenãoligaaluz,entãoeuachoqueéumbomsinaldequeelenãoquergritarcomigo.

Sintoacamaafundaratrásdemim,eeledeita,fazendoissorangercomoseupeso.

Eunãoseiporqueelemequeriaaqui.Querdizer,eudormiaaoladodelemaisvezesdoquepossocontar,masseiqueeleestáchateado,entãoémelhorapenasdar-lheoseuespaçoestanoite.

Masentãoeusintoelenasminhascostasquandoelerolanaminhadireçãoeenvolveumbraçonaminhacintura.

Meuspulmõesficammenoresenquantotentosugarmaisar,epossosentiraveianomeupescoço

pulsar.Oqueeleestáfazendo?

Arespiraçãodeleencontrameupescoço,eantesqueeupercebooqueestáacontecendo,eleestábeijandominhapeleeenfiandoamãosobminhacamisa,pegandomeupeitodeformapossessiva.

Umgritopresonagarganta.“Oquevocêe-"

Sua mão alcança entre as minhas pernas, e ele me agarra, me segurando firme quando eleempurraseusquadriscontraminhabunda.

“Damon,não!”Euchoro,lutandoparaempurrarasmãosdeleesairdacama.

Maselemesegura firme.Empurrando-medecostas,elesobeemmim,prendendominhasmãosacimadaminhacabeça,ebatendosuabocanaminha,ásperoepossessivo.

Tentogritarpormeiodeseuataquequando lágrimasderramamdosmeusolhos.Não,não,não,porfavor!Nãofaçaisso.Eufechomeusolhoscomforça,tentandotorcerminhacabeça.Náuseaavançapelomeuestômagocomoumaavalanche.Não,não,não…

Atéque ele força sua línguanaminhaboca, e euparo, percebendoque algo está diferente.Eucongelo,inalandoprofundamentepelonariz.

NadadeDavidoffs6.Nemmesmoumapitadadequalquercigarroemsuapele,suarespiração,seu

cabelo...

Euluto,gritandoemsuabocaenquantoeuarrancomeusbraçosdeseuapertoedouumtapanoseurosto.

“VocênãoéDamon?”Eufaloirritada.

Ele agarrameus pulsos, prendendo-os em cimadaminha cabeçamais uma vez. Sua respiraçãoquenteatingemeurosto,eeurespirorápidoesuperficial,oseucorposobremimmuitopesado.

“Evocênãoédelecomoeledisse,nãoé?”

Michael?Quediaboseleestavafazendoaqui?

“Quemévocê?”Elepergunta.

“Saiadecimademim,”rosno,mecontorcendo."Oquevocêestáfazendo?"

Seriaapenasminhasorteumdoscaras–oupior,meuirmão–entraraquiagoraepensarqueissoéminhaculpa.

Ele libera um dosmeus pulsos, inclinando-se para a esquerda, e então o abajur está acesso, eMichaelCristestáolhandoparamim.

Liberandomeuoutrobraço,eleficamontadoemmim,deixandoosolhosseguirpelomeucorpo.Eurapidamentepuxominhacamisetadevoltaparabaixo.

Elesorri.“Nãoadmiraqueelemantémvocêemsegredo.”

Ele rola de cimademim, deitandode costas aomeu lado, deslizandoumbraçodebaixo de suacabeça.

“Eu às vezes me sinto possessivo com Rika Fane assim também,” ele diz, olhando para mim.“Emboraelanãoéminhairmã.”

Minhassobrancelhasseunem,derepenteemalerta.Comoele...

Elesabia?

Ou talvez ele apenas suspeita, e eu tinha confirmado quando eu me apavorei durante a suapequenaaposta.

Eledáummeiosorriso,provavelmentedivertidocomaconfusãonomeurosto.“Vocêparececomele.EunãoseicomoKainãovêisso.”

“Eunãosouirmãdele,e-”

“OnegóciodeDamonéumnegóciodeDamon.”Elesesenta,colocandoaspernasforadacamaelevantando-se.“MasvocêestáestragandoanoitedeKai,garota.”

Reviroosolhos,sentando-metambém.“Bem,euestouforadocaminhoagora,”aponto.“Vocêeseumelhoramigopodemirtransar.”

Eleri,segurandomeuolhar.“Eutenhoumaideiamelhor,”dizele,dandoumtapanaminhacoxa.

“Vamosparaacidade.”

Eentãoeleseabaixa,agarrandomeustornozelosemepuxandoparaofinaldacama.

“Oquê?”Eudeslizosobreolençol,caindodecostas.“Não!”

Mas meu protesto foi ignorado. Ele me puxa para cima, e meu coração fica preso na minhagargantaquandoelemejogaporcimadoombro,etodoomeumundoviradecabeçaparabaixoenquantoeuosciloaummetroeoitentadochão.

“Vocênãopode!”Eubato,fazendo-otropeçar.“Eunãoestounemmesmovestida!”

“JesusCristo!”Ele fala chateado, caindocontraamesadecabeceira.Euapoiominhasmãosnaparedeparanosimpedirdecair.

“Vocêsabe,euestouficandocansadadedizerparaosidiotasmesoltarem,”eudigoaele.

“Então,nãodiga.Vocêsabequequerir.”

Algocainasminhascostas,eeuagarro,vendoamangadeseucapuzqueeledeve terpegodealgumlugar.

Elecomeçaaandar,eeuficomaislongedacama,criado-mudo,equarto.

“Vamos,cara.”Eugemo,seuombroafundandoemmeuestômago.“Damonnãovaigostar.”

“Elenãovaisaber.”

Sim,elevai!Meuirmãoestariaondeelesestão.Comoéqueelenãoiriamever?

Ele passa os braços firmemente em torno de minhas coxas, e eu paro de lutar assim que elecomeçaadescerasescadas.Eunãoqueroqueelemesolte.

Elepara,eeusintoumacorrentedearnasminhaspernasquandoeleabreaportadofundo.

“Sério,”euimploro.“Eunãoqueroir.DamonmematariaseelemeencontrarcomKainovamente.”

Maselesimplesmentemeignora.

“Vamos!”Eugrito,chutandoebatendonassuascostas.“Nãosejaumidiota!Eunãoquerovê-lodequalquermaneira.Oidiotamallutouquandoeusaí,nãoéhomemosuficienteparaviratrásdemimelemesmo,hein?”

Umtapaatingeminhabunda,eeugrito.Aqueimaduraespalha-se,fazendo-meestremecer.

Elecaminhaparaaescada,eavistoaportadoquartodomeupaiseabrir,luzinvadindoocorredorescuro.

“Quediabosestáacontecendo?”Elesaidoquarto,imediatamenteencontrandomeusolhosquandoeuconsigoviraracabeçaparavê-lo.

“Gabriel.”EuofegoquandoMichaelpara.“EleapenasfoiparaoquartodeDamon.Eunãoqueroircomele.”

Meupaiapenasarqueiaumasobrancelha,maseupercoavisãodelequandoMichaelvira-separaencará-lo.

Háumsilêncio,eeuficoimóvel,àesperadeMichaelmecolocarnochão.

Maselenãofazisso.

Emvezdisso,meupaifala.“Portõessãotrancadosduranteanoite,”informaaMichael.“Sevocêalevarparafora,nãopodetrazê-ladevoltaatéoamanhecer.”

Eufechomeusolhos,afrustraçãofervenomeusangue.Nãofiqueisurpresa.Oqueeuesperavaqueeledissessequandoumcaraseminuinvadesuacasaparasequestrarsuafilha?

Absolutamentenada.

Euouçoaportasefecharnovamente,eMichaelvira-se,descendoasescadasenquantoseucorpotremedetantorir.

“OpaiModelo,esseaí.”Eleapertaapartedetrásdaminhacoxa.“Euachoquevocêvairealmenteestarmaisseguracomigo.”

Descemosasescadas,eeleabreaportadafrente,saindo.

“Ouça,” eu digo, vendo a calçadaquandomeu cabelo bloqueia o resto daminha visão. “Eunão

possoircomvocê.Elejáestácomraivaosuficiente.”

“Eudisseavocê,elenãovaisaberquevocêestálá.”

Eentãoeusoujogadanaposiçãovertical,meuspésencontrandoochão.

Minhacabeçaoscilacomtontura,maseuovejoabriraportatraseiradeseuG-Classederepente,amúsicaeorisospreencheoambiente.Euolhodentro,vendoocarrocheiodepessoas.Ninguémqueeureconheço.

“Abramespaço,”Michaeldizaalguém.

Eleentãoseviraemeempurrouparaobanco.“Ty,façaorostodela,”dizeleaalguémeaportabateatrásdemim.

Olhoemvolta, encontrandopessoasempilhadasnobancode trás,garotasnocolo, enquantonafrenteduaspessoascompartilhamobancodopassageiro.Michaeldáavoltanafrentedocarro,indoparao lado do motorista. Pessoas olham para mim, mas eles estão sorrindo e ainda envolvidos com suasconversas.

Jábêbados,eudiria.

Michaelentranocarro,jogandosuacamisaemoletomcomcapuzsobreaspessoasàsuadireita,eligaocarro.

Eentãoumagarotaavançaparamim.

Eu respiro fundo, olhando enquanto ela monta em mim. Ela está usando short curto, mas elatambémusa uma jaquetamarrom de couro, botas e um cachecol. Seu rosto está com uma caveira deaçúcar. A borda dos seus olhos pintados de preto, e ela tem belos desenhos de flores em toda a suatêmpora.

Oqueelaestáfazendo?

Levantando uma espécie de cunha esponjosa, ela dá uma batidinha na maquiagem branca eaproximademim.

Eurecuo.“Oquevocêestáfazendo?”EugritoacimadorádiotocandoSaveYourselfnofundo.

“Elaestádisfarçandovocê,”Michaeldizenquantoelecolocaocarroemmarchaeseguedescendoacalçada,seguindoparaoportão."Colabore."

Elasorri,oslábiosdacorvinhoespalhandopararevelardentesbrancosperolados.Inclinando-se,elacomeçapassaramaquiagememmimnovamente.

“Équasemeia-noite,”elasussurraanimadamente.“DiadelaMuertos.”

Dia dosMortos? Isso dura doHalloween até depois dos Finados em primeiro de novembro, eusabia,masporque...

Oh, amaquiagem.Entendi por que ela estava usando pintura facial e o que ela estava fazendocomigo.

Easvelasnocemitério,também.

EunãosabiamuitomaissobreoferiadodoqueumdesfilequeeutinhavistoquandocriançaemMeridianCity.

“Vocêestácomfrio?”Michaelpergunta,eentãoummoletoméjogadonapartedetrás.

Agarro a peça de roupa. Impressionante. Tudo o que eu estou vestida é uma cueca fina e umacamiseta.

EentãomeusVanscaemsobremimtambém.Elepegoumeussapatos?Euapressadamentecalço,imediatamentemesentindomaisquente.

“Paraondeestamosindo?”Euprendomeucabeloatrásdasorelhas, tornandomaisfácilparaTytrabalhar.

Osolhosdelabrilham."Esconde-esconde."

GritoseaplausosinstantaneamenteatingemmeusouvidosquandoMichaelabreasportasduplasdoThePope.

Levou menos de quarenta e cinco minutos para entrar em Meridian City, as ruas por todo ocaminhodonossopovoadoàbeira-maràagitadametrópoleestãoagoraescurasesilenciosasparaanoite.

Pelomenostrintapessoasperambulampelosaguãoquandoolhoaoredoreinstintivamentepuxomeu capuz – ou o capuz de Michael – preocupada que a pintura facial não seja suficiente para medisfarçar.Gruposdeadolescentesestãoespalhadosentrecolunaspretasqueseestendematéotetoaltoeescuroornamentadodecarpintariaelustresdecristal.Algunssentamnossofásecadeirasestofadasouestão perto das grandes janelas com bonitas cortinas brancas e vasos de plantas e bonsai nasproximidades.

Eununcaestiveaquiantes.Nossopairaramenteencontrouumarazãoparanostrazer–ouDamondequalquermaneira–paraacidade.Emboraeuseiqueissoestavaemperigodeserfechado.Oestádio,quedeveriatersidoconstruídoanosatrásnuncaaconteceueonegócioestavasofrendo.Erarealmenteumapenaqueestavatãovazioedesvalorizadoporsuagrandeza.

Um braço enrosca nomeu pescoço, e eu vejoMichael em pé aomeu lado. Ele ainda está semcamisa.

“Vocêtempernasbonitas,”dizele,olhandoemredordoátrio.“VocêpodeestarasalvodeDamonnomomento,masnãoachoqueestáasalvodorestodenós.”

Eleentãoolhaparamimcomumdesafioemseusolhos.

“Enãopensequeeunãoseicomocuidardemimmesma,”respondo.“Eunãomeimportodebateremumagarota.”

Suaboaabre,eeleribaixinho.Michaelnãopareceserumcaraquerevelamuitacoisa,maseusintoumpoucodeorgulhoqueelepareciameachardivertida,pelomenos.

Todomundoseespalhou,agarotaquetinhafeitominhamaquiagempegaminhamãoemearrastaemdireçãoaoselevadores.Michaelealgunsoutrosseguem.

“Ojogoé,”agarotaanuncia,“umamisturaentreesconde-escondeeseteminutosnoparaíso.”

Seteminutosnoparaíso?Gemointeriormente.Eujátinhajogadoissoestanoite.

“Vocêseesconde,esevocêéencontrado,”elacontinua,“vocêeelepodemteralgunsminutosasós.”

“Eseeunãoquiserjogar?”

“Porquevocênãoiria?”Michaelapertaobotãoparaodécimoterceiroandareasportascomeçamafechar."Édivertido."

Sim, divertido. Você está me dizendo que meu irmão brinca disso apenas com a esperança deacariciar alguémemumarmário escuro?Eles estavammentindo ou tornando esse jogo extremamentemaisagradávelporminhacausa.Eunãotenhointeressenisso.

“Quantos'candidatos'são?”Euolhodevoltaparaagarota,ignorandoMichael.

Elaencolheosombros.“Umparacadaumadenós.Àsvezesmais.”

Mais?

Oelevadorsobe,masmeuestômagoestáafundando.Calafriosseespalhampelasminhaspernas,eficocomabocaseco.

EntãoMichael inclina perto domeu ouvido, sussurrando, “Você não querKai encontrandomaisalguém,nãoé?”

Meuslábiostrememcomumleverosnado.“Nãohágarantiadequeelevaimeencontrar.”

“Entãocertifique-sequeelefaçaisso.”

Lambomeuslábios,imediatamenteprovandoobatomcerejapretaqueagarotatinhapassadoemmim.Elasoltaminhamãoquandoasportasseabrem,evejoquandotodomundopassapormimsaindorapidamentedoelevador.

Maseudoupassoslentos.

O corredor está escuro e barulhento, uma canção irritante Fear Factory toca acima de toda as

conversas,eapertominhasmãos,derepentemesentindonervosa.Eunãoqueroentraremumasituaçãoquenãopoderiasair.EurealmentemesentiriaumpoucomaisconfortávelcomDavidaqui.

Sorriopelaironia.

Sigo todosenquantoelesseguempelocorredor,queestácheiodemaispessoaseasportasdosquartosabertascomoseesteéumgrandeespaçocomum.

Asarandelasbrilhamcom luzdifusa,masos lustresacimaestãodesligados,demodoquedáaopisoaaparênciadeumacavernaassustadora.Nóscaminhamospassandoasportasabertas,músicavindodecadaquarto,eparecemaiscomoumdormitóriodoqueumhotel.Devemtercompradotodooandar.

Adolescentesmascaradoscirculamdentroeforadosquartosescuros,iluminadoapenasporvelas,e eu olho dentro de um quarto, vendo vários dançando lenta e sensualmente. Duas garotas estão seacariciando,comasmãosemtodososlugares,eoutragarotamontaumcaraemumacadeira.

Semeuirmãomevisse,euculpariaMichael.Éculpadelequeestouaqui.

“Tudobem!”Alguémgrita,eeuolho.Willestáemcimadeumcoolerdoladodeforadeumquarto,olhandoparaosdoisladosdocorredor.

Umadúziadepessoasoumaiscomeçamasereunir,eeumantenhomeucapuzeminhacabeçaparabaixo.EunãotinhavistoKaiainda,masMichaelaindaestáaomeulado,entãoeumesintomenosinsegura.Eusintoocheirodecomidavindodeumquartoadireitaeumapontadadefomemeatinge.Eunãotinhacomidodesde...opãoeasopadestatarde?

“Paramanter isso viável, vamos limitar dos quartos 1312 até o 1322,”Will informa. “Senhoras,vocêsabemoquefazer.Encontrarumesconderijoemqualquerumdessesquartos,ecertifiquequesejabom.Vocêpodealterarosesconderijos,massevocêforpegaemtrânsito,vocêestápresa.”Seurostoestáadornado com um sorriso enquanto olha para os caras, alertando-os. “E se for pedido para vocêsrecuarem,vocêsrecuem.”

Algumas risadasexplodemao redordaárea,eeu imediatamentedouumpassopara trás.OndeestáKai?Seelenãoiajogar,entãoeunãoqueria.EpeloamordeDeus,seomeuirmãofosseoúnicoameencontrar.

Entãooqueeufaço?Encontroumlugarseguroparaesperaressamerdaterminarouiragoraeencontraromelhorlugarparameesconder?

EentãoeuvejoumafiguraescurasairdeumdosquartosatrásdeWillelentamenteseaproximar.Quandoobrilhodocandeeirocaisobresuamáscara,euqueriaquefossedeprata.

Masénegra,eaveianaminhagargantacomeçaapulsar.Éadomeuirmão.Euolhoparabaixonovamente.

“Vocês têmumminutoparaseesconderem,”Willdiz,eentãoeleolhaparaosrapazes“eentãovocêsterãoquinzeminutosparasetrancaremumarmáriocomanamoradadoseuamigosevocêvencê-lo por ela.” O riso explode, seguido de assobios agudos. “Quando todomundo ouvir essa buzina,” eleergueumabuzina,“tempoacabouevocêpodesair.”

Ele jogaabuzinaparaumgarotonasproximidades,provavelmenteumcolegadeclassecalouroqueelesdeterminaramparafazerotrabalhodemerdadeles,enquantoWillpuladocoolerecolocasuamáscara.Imaginoqueeleiabrincartambém.

Eu começo a andar para trás, dando passo por passo. Eu não ia apenas ficar por aqui e deixarDamonmever,maseunãotinhanenhumaintençãodeserencontradatambém.Euconheçooesconderijoperfeito.

“Pronto?”Willgrita."Preparado?"

Olhoàminhadireita,vendooquarto1332.Umpoucomaisadiante.

“Eeeeee...vão!”Willgrita.

Eunãoesperoparaveroquealguémmaisestavafazendo.Girando,eucorropelocorredorescuro,ouvindorisosegritosatrásdemimenquantoeucorroparao1312,abroaporta,erapidamenteverificodaesquerdaparaadireitaparaversealguémestavaaqui.

Masestávazio.Sim.

Sentindo o movimento das outras garotas correndo pelo corredor, eu corro para a cama edelicadamente subo, entrando atrás das três fileiras de almofadas macias e limpas apoiadas contra acabeceira da cama. Segurando os travesseiros para cima emantendo eles no lugar com umamão, eudeslizo atrás deles, deitando na parte de cima da cama, de costas para a cabeceira. Afundo contra ostravesseiros, rapidamente estendendo amão e sentido eles para garantir que eles ainda permanecem

apoiados,nãomerevelando.

Meucoraçãodispara,emeuspulmõesparecemqueestãoficandocadavezmenores.Eumalpossorespirar por medo. Eu não tenho tanta certeza de que estou com medo, no entanto. É apenas aperseguição.

Maseuseiquetenhoumbomesconderijo.Estáfácildever.

Certamanhã,quandoeueramais jovem,acordei comDamonemumataque.Dealguma forma,duranteanoite,eutinhaafundadonostravesseiros,eeuaindaeramuitopequenaaostrezeanos.Magra.Eletinhaacordadonaquelamanhãenãomeviunacama,grandecomoera.Elepensouqueeujátinhalevantado.Noentanto,quandoeledesceuasescadasenãoconseguiumeencontrar,eleprocurounacasaenosjardins,chamandopormim.

Quandoacordeicomtodaacomoção,emearrasteideondeeuestavadormindootempotodobemdebaixodoseunariz,elenãoficoufeliz.

Eu acho que ele estava um pouco assustado naquele dia. Eu também percebi que ele poderiarealmentesepreocuparcomigo.

Euouçoaportaseabrirderepenteebaternaparede,seguidoderisos.Euficotensa,parandoderespirar.

“Portrásdascortinas!”Umagarotasussurraalto.“Vouverseeuconsigoentrarnoarmário.”

Outrogritosegue,eouçomovimentos,orangerdeumadobradiça,eumbaque.Amúsicaaindaflutuaatravésdasparedescomoumeco subterrâneo, eeuapertoo travesseiroaomeu lado, tentandopararmeutremor.

Eentãoeuouço.Gritosdealgumlugardistante.

Eentãoouçoumestrondo.Comopassospesadosdeumadúziadecarascorrendopelocorredor.

Fechoosolhos.Cincoquartos.Amenosqueelesdestruamestelugar,elesnãomeencontrariam.

Portas batem contra paredes, soando como se estivessem sendo chutadas ao abrir, e vozesprofundas chamam, mas eu não poderia decifrar suas provocações. Mais portas se abrem, cada umaparecendomaispertodoqueaúltima,atéquefinalmente...

Aportadomeuquartoéaberta,amaçanetadaportabatendonaparededenovo,eeusaltonosusto.Meusangueagita,eeucongelo.

“Saia,saia,deondequerqueesteja,”umavozsuaveprovoca.

Eouçoumarisadinhadealgumlugarnoquarto.

É isso aí. Leve ele até você. Eu só tenho que ficar aqui até que encontrem as outras e fiquemocupadosfazendooquequeremfazer.

Váriossonsvêmdocorredor,bemcomoumgritodealgumagarotaemoutroquarto.Alguémhaviasidoencontrado.

“Verifiquenoarmário,”dizalguém.

Existedoisaqui.

Ficoomaisimóvelpossível,masentãoouçoummovimentoperto,tentoouvirondefoi.

“Não!”Umadasgarotas ri.Asargolasdacortinadeslizamnovarão,eeuseiqueumdoscarastinhaencontradoagarotanascortinas.

“Caifora,”elaretruca.“Eunãoficocomjúnior.”

“Bem,sortesua,”eleresponde,“Eugostodemulheresmaisvelhas.”

Ouçoumescárniodela,eumarisadadele.

“Háumagarotanoarmário.Váatrásdela,”eladiz.

Eentãomadeirabateemmadeira,epareceaalçametálicadoarmáriobalançando.“Cadela!”Euachoqueaoutragarotaqueescondenoarmárioexclama.

“Ei,obrigado,”dizooutrocara.Euouçomaisumpoucodemovimentoseprotestos,umaportasefechando(obanheiro?),eentãopassos.

O silêncio segue, e então a voz da garota que estava escondida nas cortinas fala. “Não diga aninguém sobre isso.” A cama afunda debaixo de mim, e eu viro de um lado para o outro, os olhos

arregalandocomalarme.

“Nãosepreocupe,”eledizaela.“Vocêvaiquererdizeratodossobreisso.”

Eeusintoosdoismovimentarnacama.

Euseguronos travesseiros, tentandocertificardequeelescontinuemmecobrindo,quandoelesavançamnessadireção.Respiraçãopesada,movimentosconstantes,beijos,ealgunsgemidosdela,ederepenteacabeceirabatenaparede.

Jesus!Paraumagarotaquenãoficacomumjúnior,elaestácertamentedandoaestetudodela.

Meucorpooscilaparafrenteeparatrás,ebalançoacabeça.Eunãopoderiaficaraquienquantoelesfazemsexo.

Virando sobre minha barriga, eu afundo meus cotovelos na cama e me arrasto para o lado,deslizando para o chão. Eu agacho no tapete, imóvel por ummomento e ouvindo os gemidos e beijosdeles.

Aindaestavaacontecendo.

Elesnãomenotariam.

Rastejando ao redor da cama, eu sigo para a porta para ver se o corredor está limpo. Todos jádeviamserencontradosatéagora.

Masentãoaportadoquartoseabrenovamente,eumcara,suamáscaraempurradacimaemcimadacabeça,imediatamentemevê.

"Bem,bem."

Oh,infernonão.

Levantoepassocorrendoporele,indoparaocorredor.

Eacabonosbraçosdeoutrapessoa.

Eugrito,recuominhamão,fechoopunhoebatonocarabemnafacedasuamáscara.

Eletropeçaparatrás."Merda!"

Tirandoamáscara,eledeixa-acairaochãoeagarraonarizcomasduasmãos.

WillGrayson.

Recuo, mantendo minha distância. Mas eu meio que queria rir. Essas pessoas estiveram meagarrandoanoitetoda.Eraapenasumaquestãodetempo.

Algumasvaiasderisoenchemocorredor,eWillafastasuasmãosparaverificarsehásangue.

“Vocênãopodepega-la,cara?”Alguémgrita.

Aspessoasriem,maseumantenhomeusolhosnele,pronta.Eunãoiaserpega.

“Bem,oquevocêquerqueeufaça?”Eleestendeasmãos,discutindocomseusamigos.“Eunãopossobaternela!”

“Não,vocênãopode,nãoé?”Euprovocoele.

Eamultidãovaiàloucura.

Elebalançaacabeçaparamim.“Suamerdinha.”

E eu sorrio, apesar de minhas mãos tremerem. Isso é mais confortável para mim. Eu estavaacostumadaamorarcomcarasrudes.

Maseleavança,ameaçando,“Euvoucolocarvocêemumarmárioporisso.”

“Nãosevocênãopodemepegar.”Entãoeurespirofundoedouumpassoadiante,lançandomeupunho em direção ao seu rosto, mas ele esquiva. Eu rapidamente bato minha mão esquerda sob seuqueixo,jogandosuacabeçaparatrás.

Oh,merda,funcionou!

Eletropeçaerosna,meagarrandopelomoletom,mearrastandoemejogandoporcimadoombro.Denovonão!

“É a únicamaneira que você pode ganhar, hein?” Eu falo irritada, contorcendo-se enquanto os

espectadoresbalançamcomprazer.“Vocêpegaoscarascomquevocêbrigatambém?Ouvocêgostaqueseushomenssecurvem,éisso?”

Risosenchemocorredor,masdepoismeucorpoélevantadonovamente,eeugrito,minhabundabatendonochão.Quediabos?

Ficosemfolego,eeutussotentandorecuperarminharespiração.

Willsobeemcimademim,meempurrandodecostaseagarrandomeuspulsos.Euluto,forçandomeusmúsculosardentescontraoseuaperto,maseleacabaempurrandominhasmãosacimadaminhacabeça,mantendo-aslá.Eunãosouforteosuficiente.Filhodaputa.

Movimentosoboseupeso,amultidãouivandoemtornodenósenquantoelemeprendenochão.

Willresmunga,ofedordecervejavemdoseufôlegoenquantoelelutaparamanteropodersobremim.“Istoéoquevocêrealmentequer,nãoé,tampinha?”

“Comamerda!”

Euatacodebaixodele,maseleapenascainagargalhada.

Todoselesestãorindo.Meuirmãoestavacerto.Issoeraoquesemprefaziamcomasmulheres.Fuisujeitaaficardecostas,semdúvida,ondeoidiotaaquipensouqueeupertencia.

Eusoltoumgrunhido,jogandotodoomeupesocontraele,einvertonossaposição.Eupreparoumsocoeatinjoseunariz,antesqueeleseafastedemim.Eupousonochão,nósdoisnosesforçandoparaficardepé,elesegurandoonarizefazendoumacareta.

Euavançoparaelenovamente.

Masalguémpegameumoletomportráseenvolveumbraçoemminhacintura,levantando-medochão.

“Uau,calmatigre.”Opeitolargonasminhascostasbalançaquandoohomematrásdemimri.

Eurespirocomdificuldade,empurrandominhacabeçaparadarumaolhada.

Euencontrocaraacaracomumamáscaraprateada.Ocapuzdoseumoletompretoestáabaixado,maseuencontroseusolhosquandoelesolhamparamimevejoseucabeloescuro.

Kai.

Eleolhaparafrente,inclinandooqueixodesuamáscara."Quediabosestáfazendo?"

Eu olho para Will, sua cabeça inclinada para trás, o dedo debaixo do seu nariz, e sangueescorrendo sobre o lábio superior. “Conseguindo tirar essa merda de cima de mim,” ele resmungaenquantoamultidãoconversadivertidaaonossoredor.“Elaéumalutadora.”

“Eusóbatiporquevocêmedeixou,”eufalo.“Vamosacabarcomisso.Deverdadedessavez.”

Willreviraosolhos,eKaiapertaseubraço,masouçosuarisadaofeganteatrásdemim.

“Ninguémquervervocêmachucada,querida,”dizKai,mecolocandonochãoe ficandodomeulado,olhandoparamim."Vocêestábem?"

Euempurromeucabeloatrásdaminhaorelha,fazendoumapausaquandoperceboquemeucapuztinhadescido.Olhoparaesquerdaeparaadireita.Porfavor,permitaqueDamonnãomeviuaqui.

Eupuxoocapuz,cobrindo-metantoquantopossível.

“Você é de outra escola?” Pergunta Kai. “Esta é uma festa de Thunder Bay. Você deveria estaraqui?”

Elenãomereconheceu.

Amaquiagem.Eutinhaesquecidosobreamaquiagemqueestouusando.

Alémdisso,euestavadepijamaemoletom,roupasdiferentesdaquelaqueuseinocemitério.

Começoarecuar.

Quantomaistempoeufico,maiorachancedeserdescoberta.Éhoradesair.

“Espere umminuto,” diz ele, dando um passo emminha direção. “Esta é uma festa particular.Quemévocê?”

Meuolharsaltaparaaspessoasnocorredor,vendoelesnosobservando.

“Eu posso lhe dar uma carona,” Kai oferece, avançando lentamente enquanto recuo. "Você temcarro?Quantosanosvocêtem?"

“Kai,deixaelair.Vamoslá!”Willchama,indoparaoutroquarto.

Douumpasso,segurandooolhardeKaiemeucoraçãobatendoforte.“Idadesuficienteparatervistoeouvidoopior,”eudigoaele.

Eeleparanomeiodopasso.

Uma onda de emoção cresce naminha garganta, e minhas pernas queimam com o impulso decorrer.

Eleolhaparamim,seupeitosubindoedescendomaisrápido.Elelembrou.Euestavacommedoqueelenãoiria.Talvezeutinhasonhadocomoconfessionárioestamanhã,enuncarealmenteaconteceu.

Maselelevantaacabeça,eparecequeeleestáseconcentrando.

Merda.

Doumaisumpassoparatrás,passandopelamultidão,econtinuo.

“Michaelmetrouxeaqui.”Euengulocomdificuldade,minhabocatãoseca."Nãotemnadaavercomvocê.Eunãoqueronemestaraqui.”

Eutropeçoemalgonochão,desviandooolharparaencontraromeuapoioerapidamenteolhandoparaele.Maseleapenasficaenraizadoemseulugar,meobservando.

Elenãoiadizernada?

Eucontinuoarecuar,commedodevirarascostasparaele.

Eentãoeledáumpasso.

Eusugoumarespiraçãocurta."Oquevocêestáfazendo?"

Eledáoutropasso.“Dando-lheumavantagem.”

Meuestômagorevira.“Maseunão...eunãoqueriajogar!”

“Oh, você esteve jogando comigo a noite toda,” diz ele, um rosnado preso em sua voz. "Corre.Porqueeumetransformoemumapessoamuitodiferentequandoninguémestáolhando.”

Eu percominha respiração e giro ao redor, afastando.O saguão.Haveria pessoas no saguão. Efuncionáriosdarecepção.Corroatéo fimdocorredor,passandooelevador,semolharpara trásesaiocorrendopelaportadesaídaqueconduzàescadaria.

Aluzbrilhantemecega,eeuagarroocorrimãoenquantodesçoasescadascorrendo,virandonofinaldaescada,saltonopróximolancedeescadas.Euouçoaportaacimasefechar,masentãoumsomecoanaescada,eeuseiqueeraosomdelaseabrindonovamente.

Engasgocomumsuspiroedesçoparaoutrolance,pulandoosdegraus.Maseunãopodiadeixardeolharparatrás.Olhandosobremeuombro,euprocuroporseussapatosouqualquermovimento,masnada.Nemmesmoosomdepassossendodados.

Masentão,derepente,elepousacomumbaquefortenopatamar,saltandosobreoscorrimõesedoislancesdeescada.

Ele endireita os joelhos curvados, ficando de pé novamente, e seus olhos escurosme perfuramatravésdamáscarahorrível.Meucoraçãoalojanaminhagarganta,eeugrito,descendomaisrápidoasescadasesentindoeleemmimcomoasroupasdomeucorpo.

Osmúsculosdasminhaspernasqueimam,esuorcobreminhatesta,masDeus,euestavaexcitada.

Euqueroqueelemepegue.

Continuandoadescerrapidamenteasescadas,possoouvirseussaltoscadavezmaisperto.Maseunãoolhoparatrás.Eunãoquerovê-lochegando.Eusóquerosentir.Sentirseusbraçosenvolverememtornodemimeoperigotomarposse,obrigando-meaenfrentá-lo.

Minhasrespiraçõessaemcurtasesuperficiais,cadacentímetrodaminhapeledesesperadaparaseragarrada,apertada,beijada,mordida,echupada.Deus,oqueeleestavafazendocomigo?

Alcançandoosaguão,euabroaporta,avistandoopretocomocantodomeuolhoesorrindo,quasedelirante,porqueeuestavatãoassustadaqueeleestálogoatrásdemim.

Eu corro pela porta, entrando no saguão, e olho em volta, vendo alguns retardatários ainda

sentadospelohotelmaliluminado.Nenhumfuncionárioestánarecepção,eeumeviro,semverquaisquerseguranças ou porteiros ou alguém. Não que eu estava planejando correr para pedir ajudar, mas euassumiqueoqueKaiiriaounãofazerdependiadequemestavaassistindo.

Girandorapidamente,eutropeçoparatrás,observandoaportaeaparedebrancadaescadavisívelatravésdapequenajanelaretangularderepentesetornandonegraquandosuaformacobreisso.

Umcalorfuriosoqueimaemminhabarriga,eeuparoderespirarquandoeleabreaportaeentra,seusolhospresosemmim.

Eleparecemuitomaioragora.Elejáéalto,maseuestoucommedo,eomedomefazestimarseutamanhocomomeu.Eleprovavelmentepoderiaenvolverseusbraçosemvoltademimquaseduasvezes.

Façaisso,eudesafioelecommeusolhos.Temsidoumlongodiademerda,eeuestoutãocansada,masofogocorreemminhasveias,mefazendosentirmaisvivaquenunca.Euquerovertudodoqueeleéfeito.Silencioso,ponderando,estoico,ereservadoKaiMori.Vamos.Fodacomigo.

Eumergulhominhalínguaparafora,lambendomeulábioeprovandoosuornaminhapele.

Eeledispara,meapressando.

Enguloemseco,girandoecorrendoparaasprimeirasportasquevejo.Eu ignoroaatençãoquetinhaatraídodaspessoassentadasnocorredordeentradaeabroaportapassandorapidamenteporela.

Ela bate atrás demim, e eu atravesso o salão e entro atrás deumconjuntode cortinaspretas,assimqueportaseabrenovamente.

Euapertominhamãosobreaboca,desesperadaporar,maseunãoconsigoparardeofegar.Estámuitoalto.Aportafechanovamente,eeunãopossoouvirmaisnada,meucoraçãoestábatendotãofortenosmeusouvidos.Eleestánasala?

Seráqueeledesistiu?

Euqueroqueelemeencontre,aadrenalinadaperseguiçãoaquecendomeusangue,maseuestoucommuitomedotambém.

“Vocêsenteisso,nãosente?”Elegrita.

Fechoosolhos,tremendoincontrolavelmente.

“Eujáestoudentrodevocê.”

Meuclitórispulsa,dolorido,eeuestendoamão,segurandoentreasminhaspernas.OhDeus.

“Euseiquevocêestáaqui,”continuaele.“Euvejoascortinassemovendo.”

Minhasmãoscaem,pousandonoparapeitodajanelaatrásdemimquandoeuapoiominhascostaseolhoparaopanopretonaminhafrente.

“Eu quero algo que não émeu,” ele rosna, e sei que ele está bem ali. “Mas não estamos aqui,estamos?”

Oque?

“Nósnãoexistimos,eissonãoestáacontecendo,”elemediz.

Mordoolábioparanãosorrir.Damonnuncasaberia,eoqueelenãosabianãofariamalamim.

“Nósnãoestamosaqui,”eusussurrodevolta,seguindooseuexemplo.

Eentãoascortinasabrem,eeleseaproximademim,tiraamáscara,eagarraapartedetrásdomeupescoçomepuxandoparaele.

Euchoramingo,minhabocaencontraasua,ederepenteeleestáemtodaparte.Apertandoomeupescoço,umamãosegurandoaminhabunda,meusbraçosaoredordeseupescoço,esuacinturaestreitapressionando dolorosamente forte entre as minhas coxas, eu luto para aproximar mais. Eu quero eleinteiro.Suabocacobreaminha,enosbeijamos,forteerápido,comendoumaooutrovivo.Eletemgostodetudooqueeusempreprecisei.

Mordoseu lábio,arrastando-oentremeusdentesenquantoeumeatrapalhocoma fiveladoseucinto.

“Eusóquerovocê,”eufalocontrasuaboca,nossoslábiosmaciosprovocandoumaooutro.“Nãoécomocomele.Eusófalocomvocê.”

Elemeempurraparatrás,levantandoomoletomeminhacamiseta,ecomeçaachuparmeupeitoenquantoeleseaninhaentreasminhaspernas,esfregandocomforça.

Fechoosolhos,gemendo.Fogoflorescenomeumamiloeespalhasobreaminhapele.OhDeus.

“Nósnãovamosfalaragora,”eledizentreosdentes,movendo-separaooutro.Sualínguaétãoquenteeacendeumafogueiraentreasminhaspernas.

Jeans aberto, ele pressiona em mim, e eu reviro os quadris para encontrá-lo novamente. Aprotuberânciagrossasobsuacuecabrincacommeuclitórisequandoesfregasobreelenovamente.

Eugrito, e ele cobreminhaboca comumamão sobreminhaboca,me fodendo sempenetraçãoenquantoeleseinclinamaispertoemordeminhaorelha.

“Eupossosentirisso,”elesussurra,suaoutramãosegurandomeuquadril.“Vocêmequer,nãoé?Vocêquerisso?"

Eu balanço a cabeça, grunhindo, suando, e esfregando commais força, tentando garantir meuorgasmoqueestáquaseaparecendo.

“Euvouroubaressaspernasabertasetefoderemtodososcantosqueeuconseguircolocarvocêdentro.”

Gemendodenovo,euvirominhacabeçaepegosuaboca,tãofaminta.Suaspalavras.Deus,suaspalavras.“Foda-me,”euimploro.“Persiga-me,meroube,emefoda.Esconda-me,eunãomeimporto.”

Eleagarraapartedetrásdaminhacabeça,mepuxaparaoseupeito,emefodesempenetraçãocommaisforça,nósdoisofegandoegrunhindoe,finalmentebeijandoenquantonósdoisgozamos.Umacorrenteelétricaé liberadaeseespalhapelasminhaspernas,minhabucetatãoquentequandoeu ficomaismolhada.

“Minha,”elegeme.

Eudeslizominhasmãossobseucapuz,sentindosuascostasmolhadaseenterromeurostoemseupeitoquandooorgasmodesaparece,emeucoraçãopulsaemmeusouvidos.

Ficamoslá,imóveisequentes,masincapazesdenosmover.Prendominhaspernasemtornodassuascostaseapenasrespiroquandosegundossetransformamemumminutoeumminutosetransformaemdois.

Seusdedosempurramatravésdomeucabelo, e ele forçaminhacabeçapara trás emeusolhosparacimaquandoeleseinclinaemebeijasuavemente.Profundo,longoelento,eupoderiabeijá-loparasempre.

“Encontre-meamanhãnaBellTower,”elemediz.

Maseubalançoacabeça.“Eunãopossotãocedo.Estareitrancada.”

“Eunãovouesperar.”Eleseinclinaparabeijarminhaorelhaenquantoelealcançaentreminhaspernasparameesfregar.“Encontreumamaneiradesair,ouvouencontrarumamaneiradeentrar.Eunãomeimportodefazerissoatrásdeoutroconjuntodecortinasseprecisamosdisso.”Eentãoeleenfiaamãonafrentedomeushortdedormireaspontasdeseusdedosdentrodemim.

“Ah,”eumecontorçoparatrás.Issomachuca.

Maseutremo,também.Aindahaviamuitoparasentir.

“Eu gosto de perseguir você,” diz ele, uma sugestão de sorriso nos lábios. “Gosto das nossaspreliminares.”

Eubalançoacabeça."Eugostodissotambém."

“Escondacomigo,então?”

Esconderdomeuirmão?EsconderdeDavid,Lev,eIliaeesgueirarporaícomKai?

Eubalançoacabeçanovamente.“Ok.”

Elemebeija,eapesardesaberquenãoestávamossendorealistas-esconderumcomooutronãoduraria–eunãopoderiadeixardeestaranimadapelapromessademaismomentosroubados.Eusóqueroestarcomele.Euquerosenti-lo.

Perdidaemseuslábios,eunãonoteiamúsicaprimeiro.Respingosdechuvaaoredor,eeuquaseolhopelajanelaparaverseestáchovendo,masentãoeuouçoamelodiaseguirrapidamente.Otilintardenotas altas de um xilofone ou algum instrumento que soa como uma canção de ninar assombradapenduradanosilênciodosalão.

Nósdoisparamoseolhamosparacimae,emseguida,aoredor.

Eeunãopossoacreditarnoqueestouvendo.Derepente,umamulherbonitavemgirandodeforadopalco,entrandonapistadedança,suassapatilhasdebalépretasamarradasemsuaspernasbrancas,mas fortes, enquanto seu cabelo preto balança em volta dela. Ela entra e gira comoum sonho para amelodiaestranha,seutrajepretoesfarrapado,masextravagantecomoumcisneemtornodela,adornadocompenasebrilhos.Elaésonho.

“Vocêvêoqueestouvendo?”Kaisussurra.

“Sim,”eurespondo,incapazdeafastaroolhar.“Éamulherdançando.”

Capítulo14Kai

Presente

“Ei,garota,”chamoBanksquandoelapassapelaportadoescritório.“Venhaaquiporumminuto.”

Ela para, hesitando antes de entrar. Pego em suas roupas, tudo seco e de volta ao seu corpo,cobrindocadacentímetropossíveldepelenovamente.ElanãopodiaesperarparatirarascoisasdeAlex,nãoé?

Fico em pé atrás da mesa e pego um conjunto de chaves em um anel, jogando-as pela sala emdireçãoaela.

Elapega,easanalisaporummomento."Oqueéisso?"

“Chavesparaodojo.Caso eupreciseque vocêpeguealgumacoisa, deixe algo... há tambémoschuveiros, osquartosnoandarde cima, a lavanderia, a comidana cozinhadaequipe...” eumeafasto,paraguardarosrecibosdomêsemumapastanagaveta.“Entreesaiaquandoquiser.”

“Eutenhoumchuveiro,umacama,eumlugarparalavarroupa.”

Olhoparacima,encontrandoseusolhos teimososenemumpoucosurpresocomoquantoelaéinteligente.Sim,tudobem.Talvez,eunãotenhasidotãosutilcomainsinuação.

Masestragueitudo.“Nãofoibemissoquequisdizer.Vocêprecisadechavescomopartedoseutrabalho.Nãoétãocomplicado.”

“Comovocêsabequenãovouteenganar?”

Fechoagaveta,umsorrisopuxandominhabocaenquantoficoempé.“Porqueeusouumgrandejuizdecaráterepequenosroubosnãopareceserseuestilo,”digoaela.

Ela pode precisar das chaves no caso de ter que entrar aqui enquanto está fechado, mas suassuspeitasiniciaistambémestãocorretas.Gabrieladeixouvivercomoumamiserável—queéevidenteemsuaroupa—eaindanãoestousegurodequaléasuaformadesustento.Eladizquevivenacidade,masnemfaçoideiadoestadoedasituaçãodesuaresidência.Querotercertezaqueelatenhaoutraopçãosequiser.Odojoéseguro,limpo,eelateriatudooqueprecisaaqui.

Excetoumcarro.Devomecertificarqueelatenhaum,então,nãoseráapanhadapelachuvacomoaconteceuestamanhã.

Elaempurraaschavesnobolsoeseviraparasair.

“Possoverquesuasroupasjásecaram.”Deixomeusolhoscairnapartedetrásdesuaspernas—pernasqueviapenasumavez.

“Tenhoalgumascláusulascontratuaisquevocêpode levarparaGabriel,”digoaela, limpandoagarganta."Estãonamesa."

Ela se aproxima e pega o envelope, segurando-o ao seu lado. “Mais alguma coisa?” Não, naverdade,não.

Mas,tambémnãoqueroqueelaváembora.

"Sim."Colocominhacanetanosuporteelevantomeusolhosparaela."Nãoimportacomovocêsecobrir,nuncaéosuficiente,vocêélinda."

Elafranzeatesta,edepoisviraesaipelaportadoescritórioomaisrápidoquepode.

Balançoacabeça,sorrindoparamim.Amulhermaisteimosaqueeujáconhecinaminhavida.

Alexcruzaaportaaberta,emdireçãoaofundodocorredor.

“Alex?”Chamo,virandoecaminhandoaoredordaminhamesanovamente.

Elaentranasala,umatoalhabrancaporcimadoombroesuorbrilhandoemseutórax.

Pegominhacarteirae tiroumcartãopreto. “LeveBanksàscomprasnospróximosdias,”digoeentregoocartãodecrédito.“AfestadeWillestáchegandoeelaprecisarádealgoparavestir.”

Suaexpressãoimpacientesetransformaemfascinadaquandopegaocartãodecrédito.

“Sereiumaconsultorademoda?”Elapergunta,brincando.“Éissoaí.”

“Eupagopeloseutempo.”

“Certo.” Ela encolhe os ombros. “Pode me presentear com uma roupa nova, também, e ficamosquites.”

Elaviraesedirigeparaaporta.

“Alex?”Chamo.“Peguetambémalgumasroupasnormais,paraodiaadia.”

“Eseelarejeitar?”

Desligoalâmpadademesaesigoemdireçãoàporta.“Então,compreoquequiserusar.Elateráalgumasopçõescasodecidaremoveropaudasuabunda.”

Abroaportacompletamenteenósdoissaímos.

“Quantopossogastar?”Elapergunta.

“Euteligoquandoosalertasdetextocomeçaremameassustar.”

Envolvoumelásticoemtodososenvelopesepegominhamochila.Passadasseisquandotermino,emboraaindativéssemosumfluxoconstantedepessoasindoevindo.

Will não ajuda, Rika está ocupada dando aulas ou indo à escola, e Michael está quase sempredesaparecido.Eusouoúnicoquenãotemabsolutamentenadaafazercomorestododia.

Nãoquemeimporte.Gostodoquefazemosaquieondeestamoslevandonossosoutrosinteressesimobiliários,masqueromeaproximardoThePope.Destavez,sozinho.

EntregoapilhadechequesdepagamentoparaCaroline,paraqueelapossadistribuí-los,acenoboanoiteesigoatéaportadafrente.

Nuvens surgem de forma ameaçadora, atravessando a cidade escura como uma avalanche deondasoceânicas,eestáexcepcionalmentequente.Realmentequente,atépossosentirocheirodoalcatrãonasruas.

Meutelefonetoca,epuxodobolsodojeansenquantoabroaportadocarroeoatendo.

“Alô?”

Jogominhamochilanocarro,pegootelefonecomaoutramãoetrocoparaoutroouvido.

Alinhaficaemsilêncio.

“Olá?”Perguntonovamente.

Eentãoavozdisse:“Vocêjáfodeucomela?”

Levantomeuqueixoeempertigoacoluna.Calorinundaminhasveias.

Damon.

Nãoentendooqueexisteemsuavozquemefaztremer.Elesemprefazdeumaforma,masnãotinhapercebidoissoatéagora.Depoisdepassartantotemposemouvi-lo.

Glacial.Issoéoqueé.Pareceopontodeumalâminacavandoemsuapele.

“Ela é bonita enquanto dorme," ele me diz. "Muitas noites a vi ao meu lado, desejando poderdormirassim.”

Minhamãodói,eabromeusdedosquandoperceboquemeupunhoestátensoaoredordamolduradaporta.

“Empoucosdias,seráaDevil’sNight,”ressaltacomoseeunãosoubesse.“Planosparaesteano?”

Minha boca permanece fechada. Olho para cima, virando lentamente a minha cabeça para aesquerdaeparaadireita,procurandoqualquersinaldele.

Vocêjáfodeucomela?PresumoqueelefalesobreBanks.Oquesignificavaqueelesabequeelatrabalhaparamimagora.

“Vocêsabequenãosouestúpido.”Elenão fazumapergunta,eleenfatizaapalavrasabe. “Vocêacimadetodossabedisso.VocêrealmenteachaquevaimeencontrarnoThePope?Achaqueolugarnãoestágrampeadoeeunãooveriachegando?QueBanksdeixariavocêfodê-laseporumsegundopensassequeeuestavalá?Elasempreseráminha.”

Carrospassamenquantooventoquentechicoteiapelobecoondehaviaestacionado.Partedemimesperaqueeleestejacerto.Elapodemelevaraele.

“Vocêandatãoentediado,nãoé?”Eleprovoca.“Tão,entediado,porquemeterporpertolhedeuum pretexto para o ser o depravado que sempre foi. Para se entregar e dar uma boa olhada nessemonstro.Vocênãoénobreportrásdeportasfechadas,Kai.”

“Ondevocêestá?”,Pergunto.

"Poraí."

Torçomeuslábiosemsuarespostadissimulada.

“Rikatambémestásozinha,”continuaele.“ComMichael forao tempotodo,vocêrealmentenãodeveriaterseposicionadotãolongenaoutramargemdorio.”

Malregistroamudançadeassunto,fechandomeusolhos.

“Na noite passada, ela dormiu com a mais tentadora calcinha de seda branca.” Seu tom estáconfiante,esintominhamãoapertaraoredordotelefone.“Foiquaseinsuportável,observaraquelecorpodesperdiçadonaquelacamavaziaefria.Deus,euqueriafodê-la...quartoescuro,meioadormecida...elanempoderiaternotadoadiferença.”

Eleestámentindo.Fodendocomigo.Nãotemcomoeleentrarnaqueleapartamento.Michaelpodeestarausente,masele tomouprecauçõessignificativas.Reforçouasegurança,mudou todasassenhas,contratoupessoaladicional...inclusiveatérastreouseutelefoneecarro.Eudeveriamesentirculpadoporisso,desdequeela tambéméminhaamiga,massabíamosqueelaofereceriaresistência,eseria inútil.Michaelestavacerto.Foinecessário.

Estavahonestamentesurpresoqueelenãotenhamarcadosuasjoias,também,jáqueDamonnãoirialevá-laemseuprópriocarroesaberiaselivrardotelefone.

“Masprecisoesperarmeu tempo,”Damondizmelancolicamente. “Aguardohá tanto tempo.Nãovoumeprecipitar.”

Precipitar?

“Tevetantotrabalhopornada,comprandoThePope,”elecontinua.“Vocênãovaimeencontrar.”

“Eunãodiriaquefoitudopornada.”Fixomeusolhosnaestradanohotel.“Suapequenavadiaémuitomaisprazerosadoquepenseiqueseria.”

Essafoiumadeclaraçãocompletamenteverdadeira.Queelededuzaoquequiser.

“Acho que agora entendo por que você gosta tanto dela. Por que, sem as roupas provocativas,maquiagem e penteados, você encontra algo tão sedutor.” Respiro, gostando deste lado de jogar uminferno e coisas bem piores. O lado onde estou na ofensiva. “Ela é tão reprimida. É cativante vê-latotalmentesoltaeentregueaoprazer.Perceberqueelagostadeservistacomoumamulher.”Eentãofalolentamente,“equeelagostadefazercoisasqueumamulherfaz.”

Consegui sentir o seu silêncio como se fosse suas mãos contra a minha cara. Só que não vourecuar.

“Tãosilenciosoderepente?"Brinco.

“Nik éminha,” ele afirma, coma voz entrecortada. “Vocênunca seráparaela oque sou.”Nik?Esseéoprimeironomedela?

“Evoutematarnafrentedela,”acrescento.

“Bem,vamosláentão.PorqueesperaratéaDevil’sNight?Vamosacabarcomisso.”Batoaportadocarro,caminhandoemdireçãoàruaeaochuviscoqueflutuanoar.NãofaçoideiaseeleestáemThePopeounão,masencarooedifíciocomoseestivessefalandodiretamentecomele.“Ouvocêpodefugir

novamente.Ou."

“Masissonãoéoquevocêquer,”elediz,comamaldadedissimuladadevoltaemsuavoz.“Eutedisse,Slope

7,nãosouburro.Euseioquevocêestáprocurando.Enãoéumconfronto,nemvingança,e

nemmesmoBanks.”

Posicionomeusolhosemumajanelaacima,desejandoqueeleapareça.

“Váemfrente,”eledesafia."Faça.Pergunte-meoquevocêeeusabemosquevocênãoquerqueWill,MichaeleRikadescubram.”

Meupeitoarfacomrespiraçõessilenciosas.

“Pergunte-meonde enterrei o corpoquando limpei suamerdahá seis anos.”Fechomeus olhos,completamentenervoso.

Elenãoesqueceu.Elenuncaesqueceria.Acheimesmoqueelefaria?

Agredir um policial e ficar na prisão por três anos, não foi a pior coisa que fiz. Eu ainda nemcomeceiapagarpelosmeuscrimes.

“Nãomediga,”engasgo,completamentedesinflandoenquantoolhoemfrente,mastentoserforte.“Porquesevocêfizerisso,euvouenterrá-locomela.Eseiquevocêodeiaisso.”

Desligo, parando na frente do beco e olhando para o hotel enquanto o pesadelo de uma noiteretornaaminhamente.

Comoestávamosnosdivertindoe tudo fugiuaocontrole.Comoestavaconfuso,comraivaenãoconseguiameconter,ecomoafúriameconsumia.Comoeuqueriamachucá-la,emboranãoaconhecessedeverdade,masaindaassimaodiava.

ComojáameiDamon,ecomosabiaqueGabrielTorranceestavaerrado.Eufariaqualquercoisaporseufilho.Efizqualquercoisaporseufilho.

Eumateiporele,enoanopassadoelesevirouequasemematou.

Olhoparacima,devoltaaohotel, imaginandoseeleestavacerto.Eutinhaperdidomeutempo?Talvezeudevesseterseguidosuapreciosanamoradinhaemvezdisso?

Duascoisaseramcertas,noentanto.

Eleestavaaqui,nacidade,eeleaindaqueriaRika.Antecipar-meaelenãotinhasidoumerro.

EuligareiparaGabrielamanhãedesistireidaminhapropostasobreohotel.Eunãotinhaassinadoumcontrato,entãonãohouveacordo.

Mexo-meparavirar,ogranuladoda luz ficandomaispesadoàmedidaquecainaminhacabeça,masdepoisparo.Olhandoparaobecodooutroladodarua,vejoBankssaindodeumSUVsozinha.Elaolhaemvolta,nãomevendo,ecorreparaamesmaportadetrásquetinhaentradohápoucosdias.

Oqueelaestáfazendo?

Otrovãorachaemcima,dividindo-seportodoocéu,eeumergulhodooutroladodarua,correndoquandoosfaróisdeumcarrobrilhamatravésdanévoa.

Atingindoapartedetrásdoedifício,eucavominhaschaveseolhoparabaixo,percebendoqueeutinha dado a Banks o conjunto do hotel. Mas eu ainda tenho o código memorizado. Digitando os setedígitos no teclado, eu coloco minhas chaves no bolso e abro a porta, rapidamente escorregando paradentro.

Eunãolhedisseparafazernadanohotelhoje.Elanãoestáaquipormim,euseidisso.Tirandoomeutelefone,euacendoalanternaecaminhoparaforadacozinhaatravésdasaladejantaredolobby.Entrandonoespaçoaberto,euvirominhacabeçaparaadireitaeesquerda,procurandoporela.Ondeelafoi?

Masentãoeuouçoumzumbidomaçante,umruídoenterradocomosenasparedesousobopiso.Seguindo o som, eu viro meu olhar para a esquerda e vejo os números acima um dos elevadores seiluminando.

Quandoelesobemaisemaisalto.

Elesestãofuncionando?

Estendendoamãoparapressionarasetaparacima,façoumapausaedepoismeafasto.Emqueandar ela parou? Eu assisto os números acenderem - oito, em seguida, nove e dez... E então eles

continuam-onze,doze…

Eelepara.Aluznãosobemais.Décimosegundoandar.

Eurapidamenteapertoobotãodecima,tocando-ováriasvezesconformeomeusanguecomeçaaferver.

Vocêtemqueestarbrincandocomigo.Oelevadorfoiparaodécimosegundoandar.

Esperoqueeledesçanovamente,mantendomeutelefonecelularàmãonocasodeprecisardeluz.

Comodiaboselaconseguiuqueoselevadoresfuncionassem?

Assimqueasportasseabrem,euentro,douumsoconodozee,emseguida,obotãoparaasportassefecharem.

Ela sabia que ele estava aqui o tempo todo. Ela estava vendo-o, observando-nos atrapalhar eouvindo nossas conversas. Quer dizer, eu sabia que ela não estava do nosso lado. Ela nunca escondeuondesualealdadeestava?Então,porqueeuqueroestrangulá-lamaisdoqueeleagora?

Euapertominhamalditamandíbula tão forte,meusdentesdoem.Seelagosta tantodehomenscruéis,eudeveriamostrar-lhequãocrueleupoderiaser.

Batominhamãono12denovo,comtantaraivaqueeuquasenãonotoquenãoestaacendendo.

Ouqueoelevadornãoestásemovendoainda.

Queporraéessa?Nãoestavafuncionandoumminutoatrás?Porqueelenãoestavafuncionandoagora?

Apertoobotãomaisalgumasvezes,olhandoaoredorparatodasasluzesdopaineldoelevadorqueregistramondeeuqueriaapertar,masnada.

A iluminação fluorescente está desagradável dentro do elevador, e eu olho em torno de outrosbotões para apertar ou qualquer outra coisa que parecia incomum. Qualquer coisa para indicar comochegarondeeuqueroir.

O elevador foi para o décimo segundo andar. Um décimo segundo andar existia. Eu sabia dissoagora.

Apertoo11sóparaverseelevaifuncionar.

Eele funciona.O11derepente ilumina-se,eeusintooscabossemoverememtornodemimegravidadepesar sobremim,quando começoa subir.Asportas se abremnoonze, e eu olhopara cimatempo suficiente para ver o corredor escuro na minha frente antes de apertar o 13 e rapidamente asportas fecharem novamente. Eu subo, mais uma vez, parando no 13 quando as portas se abrem,permitindo-meentrarnesseandar.

Asportasdoelevadorsefechamnovamente.Comoelafezoelevadorpararno12?

Talvez houvesse outro acesso pela escada em um desses pisos? Eles tinham que ter um quechegasseaodoze.Esehouvesseumincêndioouoselevadoresquebrassem?

Estendiamãoetenteiaúnicaoutracoisaquepensei.Aperteio11eo13juntos.

Paraminhasurpresa,ambosseiluminaram.

Maseuaindanãosentiomovimentodoelevador.

Emvezdisso,umpequenozumbidoveiodetrásdemim,eeumevirei,vendoumpaineldepratalevantar-separarevelarumtecladoescondidonaparededoelevador.

Meucoraçãopulouumabatida.Então,eraisso.Foiassimqueelafoiaodécimosegundoandar.

Eelasabiadissonaúltimavezqueestivemosaqui.

Caminhandoatéoteclado,notobotõesclaroscomnúmerospretossobreeles,juntamentecomumapequenatelaqueestáiluminadadeverde.

Eudigitooúnicocódigoqueeusei.Aqueledasportasdeforaparaentrarnoedifício.

Nadaacontece.

Eutentonovamente,pressionandoosímbolode#depois.

Nadaainda.

Eraumcódigodiferente.Umqueeunãotinha.

MasalgoqueBanksdissecertavezmefazparar.

“...equandoelefoiinvestigadonãohaviasequerumapossibilidadedeoelevadorpararlá.Opisoestavacercado.”

Masissonãoeraverdade.Elaparounestepiso.

Mantendoascostasparaasportasdoelevador,euinclino-meparaaparededetrás,deitandocomacabeçanoaço.Corroamãoatéaborda,notandoumintervaloondeaparedeencontraopainel.

Umvão.

Estanãoeraumaparede.Eraumaporta,eesteelevadorseabriapelafrenteeportrás.

Jesus.

Derepente,aportasemovenaminhafrenteecomeçaaabrir.Eumeempurrodevoltaenquantoaparede prata - a entrada secreta – se movimenta e Banks está em pé na minha frente, seus olhos searregalandoquandoelamevê.

Olho além dela brevemente, vendo a extensão maciça e escura atrás dela. Não há portas dequartoscomnúmeros,nemcorredor,semcarpetesdemerda...

Éumacobertura.

Viromeuolharparatrásdela.“Vocêsabiaotempotodo.”

Elaolhaparamim,seucorpoparadoerígido.

Entronacobertura,obrigando-aadarumpassoparatrás.“Leve-meparaele.”

“Elenãoestáaqui.”

Maseucaminhoparaela,avançandoemseuespaçocomumolhardeadvertência.

“Elenãoestáaqui!”Elaresmunga.

“Vocêéumamalditamentirosa!”

“Eu suspeitava que ele pudesse estar, por isso vim verificar. Mais uma vez” ela acrescentaenquantopassoporelaedouumalongaolhada.

Osquartosestavamescuros,asaladeestarnocanto,dandolugaraumabibliotecaesalão,comalgunscorredoresqueconduzemparavários lugares,provavelmentequartos.Haviasofáse luminárias,mesasetapetes,todoolugarconfiguradocomoumacasacomumavisãomelhor.

Quando eu viro ao redor do elevador, noto a varanda através dos dois conjuntos de portasfrancesasqueestávamostentandochegarnooutrodia.

Esteapartamentopareciaqueocupavaumandarinteiro.Oquesignificavaqueelepodeterváriasvarandascontornandotodososladosdoedifício.

“Comovocêconseguiuqueoelevadorfuncionassesemeletricidade?”Eupergunto.

Elaenfiouasmãosnosbolsos.“Oselevadorestêmumdisjuntordiferente.”

“Evocêsabiadissoquandoestávamosaquidaúltimavez?”Eladesviaosolhos.

Obviamente.

Ocheiropersistentedecravochegaaminhasnarinas,eeuoreconheçoimediatamente.

DamonfumavaprincipalmenteDavidoffs,masdevezemquandoeledesfrutavadeDjarumBlacks.Oodorerapersistente,eeununcaesqueci.

“Vocêtinhaquesaberqueeununcaoentregariaavocê.”AvozdeBanksésolene.“Euseidoquevocêeseusamigossãocapazes.”

Eumeviro,incapazdeimpedirorosnadodesair.“Oqueeusoucapaz?”Euperguntoaela.“Então,eleéavítima?”

Aproximo-medela,cansadodesuamenteestreitaetudosendopretooubrancocomela.“Eueraseuamigo.Eusempreestavaaoseulado,eelenãofeznada,alémdetentarnosferir.Eleéumaameaça.”

Viro de volta e mais para dentro da cobertura, caminhando para baixo em um dos corredorescurtos.

Entroemquartos,levantadoumpoucodepoeira,algunslençóisdebabados,eumcheiroúmido,provavelmentedolugarqueestáfechadohámuitotempo.

Pisandoemumquarto,umavarandavisívelatravésdasportasduplas,euimediatamentevejoumcinzeiroemumacômodaemeaproximoparainspecioná-lo.

PegoumadaspontasdecigarropretasdeDamonemummardebrancasea tragoparaomeunariz.

Ocheirodeterraepicantetemamesmadoçuraavassaladoraqueeumelembrava.

Deixo-adevoltanocinzeiro,notandotodososDavidoffsbrancostambém.Ambasassuasmarcas.

Olhandoaoredordoquarto,pegonoslençóisdesarrumadoscomostravesseirosnopédacama,asgarrafas de Corona no lixo, e o chão coberto com as embalagens de lençóis dentro de suas caixas decigarro, que Damon tinha uma obsessão em dobrar em pequenos pedaços até que não pudesse serdobradomais.

“Elepodenãoestaraquiagora,maseleestava”eudigo,virando-meparaencará-la.

Elaseguraomeuolhar,permanecendoemsilêncio.

“Ondeeleestáagora?”Pergunto,caminhandoemdireçãoaela.

"Eunãosei."

Eulevantominhacabeça,repetindoaminhapergunta.“Ondeeleestá?”

“Eunãosei.”

Outropassoemdireçãoaela."Ondeeleestá?"

"Eunãosei."

Euaprendonaparede,calorenchendomeuolhar“Eleémuitopossessivosobrevocê,nãoé?”

Elaprendeoslábiosentreosdentes,ehátantascoisasqueeuaindanãotinhaentendimento-porqueDamonestavatãoligadoaela,porqueelaeratãolealaele,eeunãotinhaamenoridéiadequemdiaboselarealmenteera,masumacoisaeusabiacomcerteza.EupoderiamexercomGabriel,eupoderiabalançarRikacomoumaminhocanoanzol,masessamenina,aqui,eraaúnicapessoaparadeixarDamoninsano.

Elaerasuafraqueza.

“Talvezeunãopreciseprocurarporele,afinaldecontas,”digoaela.“Eutenhovocê,eelevaiviratémim,nãovai?Comamotivaçãocerta.”

Seusolhosseagarramaosmeus,eeupegoumestremecimentodepreocupaçãoantesqueelaoesconda.

Masaqueleúnicovacilo foi tudo.Eraumarachadura,umadasúnicasqueeutinhavistoemseuexteriorduro,frio.

EporummomentoesqueçotudosobreDamonTorrance.

“Peça-meparanãomachucá-lo,”eudisse,minhavozfalhandoinesperadamente.

Maselaapenasolhaparamim,seuolharvacilandoapenasligeiramente.

Aproximo-memais,sentindoocalordeseucorpo.“Algumavezlheocorreuquetudoquevocêtemafazerépedir?”

EuprecisavadeDamon,paraqueeupudesseobterdelealocalizaçãodomalditocorpoantesqueeledecidisseusá-locontramim,maseunãotinhaquemachucá-lo.Issoeracomele.Etalvezela.

Elaprocuroumeusolhos,oabismoverdeinfinitocomeçaabrilhar.Seuqueixotreme,eelabalançaacabeçalentamente,emguerraconsigomesma.

“Vocênãopode,nãoé?Vocênãovaimepedirnada.”Elabaixaosolhos,seupeitocedendo.“Vocêoama?”Pergunto.

"Sim."

Suacabeçaaindaestavaabaixadaquandoelasussurra,maseuouçoarespostarápidaosuficiente.

“Sim”, ela repete, balançando a cabeça. "Eu o amo tanto. Mais do que eu nunca vou amarninguém.”Seusolhosmarejadosselevantameencontramosmeusnovamente.“Eupossocontrolá-lo.Se

eupuderencontrá-lo.Sómedeumachance."

Maseumalouçoaúltimaparte.

Sim.

Euoamotanto.

Maisdoqueeununcavouamarninguém.

Elaabriuseucoração,pelomenosparecia,maserasóparaele.

Eumeendireito,estremecendo.

“Vocêestáchorando?”Pergunto."Porele?"

Elanãodiriaaspalavras,elanãoiriamepedir,masestavaemseusolhos.Elaeratantosuaagoracomoeranaquelaépoca.

“Tudobem”falo,inclinando-meezombandodela.“Choreporele,emeimplore.Implore-meparadeixá-loempaz,eeuvou.”

Suamandíbulaflexiona,eumruborderaivacruzaseurosto.

“Vocêtemumachancedesalvarasuavida,Banks.Tudoquevocêtemafazerémepedir.Vamos.Euquerover.Quãolongevocêvaiporele?”Eumostroosdentes,fervendo."Implore!"

Elagrita,suamãoenluvadavindoparaomeurosto.

Minhacabeçaviraparaolado,eaqueimaduradotapaespalha-separaosmeuslábios.

Meucoraçãosalta.

Novamente.

“Porra,vocêépatética.”Eusorrioarrogantementequandomeviroparaencararsuavitória.“Seucachorrinhodecolo,nãoé?Sevocêéboa,elelhepermiteoprivilégiodelamberseupauatéficarlimpodepoisqueelefodeumamulherdeverdade?”

“Ugh!”Elarosna,batendo-menamesmabochechanovamente.

Meupescoçodóicomogolpesúbitodestavez,eeurespirofundo,absorvendoador.Elaéforte.

Eu mergulho minha língua no canto dos meus lábios, saboreando o gosto metálico onde meusdentes tinham rasgado a pele. “Você nunca vai ser mais do que você é agora.” Eu me jogo, batendominhasmãosnaparedeatrásdela,trazendo-noscaraacara.“Algoparaoshomensusarem.Issoétudooquevocêé.Eemcinquentaanosvocêvaiacabarsozinhanuncasabendocomoé.”

Corromeupolegarsobreagotadesanguenocantodaminhabocaealimponasuabochecha.

Elarosna,batendonaminhamão,masestouvoandoaltoenãoseiseestouchateado,excitado,oudesesperadoporesteconfronto,maseumergulhoepercoocontrole.Meucorpocostumapensar.

Euagarroapartedetrásdoseupescoçocomumamãoesuabundacomaoutraetragoseucorpoaomeu.“Comoistoparece”rujosobreoslábios,apertandomeupauduroejádesesperadoporela-nasuavirilha.

Elagemeeseucorpoinstantaneamenteendurececomoseelaestivesseassustada,maselaagarrameusombrosdequalquermaneira,osdedoscavandominhapeleatravésdaminhacamisa.

“Ecomoistoparece”,eusussurro,deslizandominhamãoparabaixonapartedetrásdesuacalçajeanseapertandoumpunhadodesuabundasuaveemacianaminhamão.

Elaengasga,apertandoosolhosfechados,maseunãopercoaformacomoelamoveapernaparaoladodeforadaminha,abrindosuascoxasumpoucomaisparamimerolandoseusquadris.

Eu não sabia se ela pretendia fazê-lo, ou talvez ela apenas fosse como eu. Apenas se deixandolevar.

“Eunãovouteimplorarparamerdanenhuma”eladiz,umalágrimacaindopeloseurosto.

“Foda-se Damon.” Bato suas costas na parede, levantando-a e moendo meu pau entre as suaspernas.“Issoéentrevocêeeu.”

Elaarfaenquanto trancaaspernasemvoltadomeucorpo.Opequeno traçodesangueemsuabochechacomeçaabrilharcomseusuor,eeunãoparodetocá-laenãodiminuo,porqueseeulhederumsegundoparapensar,elavaipararcomisso.

“Eugosteidevocê”sussurro.“Euaindame lembrocomoaquelesmomentosroubadoscomvocêforambons.”

Entretodasasmulheres,minhamentesempreaencontrou.

Eeunãopossoesperarmais.Pegoseuslábios,silenciandotodasasnossaspalavras,preocupações,bagagememerdaeabeijo,mergulhandominhalínguadentroedegustandocomoseelafosseaporradaminharefeição.

Menina fria –menina forte - por que eu estou obcecado?Por que eu estou comciúmesque elaprovavelmentedeuamuitosoutroshomensumpedaçodelanaquelacasa,masmalmepoupaumapalavraoufrase?

Foda-seela.Elamequer.Eunãomeimportocomabesteiraquesaidesuaboca.Nósnãosomosmaisadolescentes,eeunãosouocarabom.ElavaifazerpormimoqueelafezparaDamonouDavidouquemdiabosmaisveiodentroe foradoTorranceeelavai saberqueeu soumuito implacável.Elamesubestimou,maselanãovaiesquecerisso.Euvoupossuirumpedaçodelaexatamentecomoeles.

Eurasgoocasacoeopuxoparabaixoosseusbraços."Tiresuacamisa."

Euadeixocairaseuspés,ogorrodeslizapara foradasuacabeça,deixandoocabelocair livreconformeeupuxomeupulôverecamisetasobreaminhacabeçaeosdeixocairnochão.

Elafazumapausa,levantandoosbraçosecobrindoseucorpoaindavestido."Eu-"

Maseuaagarroebeijonovamente,cortando-a.Elagemeemminhaboca,eeurasgosuacamisade flanela, fazendo os botões voarem, e eu me afasto, parando apenas um momento quando vejo asatadurasquecobremseupeito.

Quediabos?

Euteriaqueperguntaraelasobreissomaistarde,quandominhacabeçaestiverclara.

Olhoparaamesa,vendoumabridordecartas,eeuagarro,deslizandoa lâminafriadelatãonointeriordoenvoltórioepuxocomforça,fatiandoomaterialevendoseusseiosbonitospularemlivre.Eurespirocomdificuldade,vendobrevementeasmarcasemsuapeleenvolvidastãoapertadoantesqueeuempurresuacamisaparabaixodosseusbraçosemeaproximo,aproximandoopeitodomeu.

“E como isto parece” eu respiro em seu ouvido, tonto com o sentimento de seus mamilosendurecidospressionadosnomeupeito.

Eupassomeusbraçosem tornodela, ficando loucocoma formacomoascostassão tãosuavescomoaáguaepelamaneiracomoseucabeloacariciameusbraços,deixandoarrepios.

Elaseagarraemmim,ofeganteenervosa."Eusoudele.Eupertençoaele.”

Eubalançoacabeça,forçando-adevoltaparaacama."Digaissodenovo."

Eumergulhoemseupescoço,mordendoapelelá.

“Eupertençoaele.”Elageme,deixandoacabeçacairparatrás.“Eununcavousersua.Euodeiovocê.”

“Masvocêmequer.”

Eeuaempurrodevolta,fazendo-acairparaacama.

Segurandoseusolhos,eudesabotoomeucinto,abroozípereempurroorestodasminhasroupaspelasminhaspernasemeucorpo.

Elainspiramaisemaisrápido,arregalandoosolhoseencarandomeupauenquantoeleselevantaduroepronto,assimcomoestevedesdequeelacomeçouamebater.

Euprecisodissoagora.Paixão.Enãoimportoquesejacomraiva.Desdequeossentimentossejamfortes.

Lágrimasenchemseusolhos,evejoseusseios,apenasgrandeosuficienteparaencheraminhamão,enãopossoesperarparapossuircadamalditocentímetrodela.

“Vocêquerqueeupare”,euadesafio,pisonacamaeolhoparaela.“Aquiestásuachance.Peça-meparaparar,eeuparo.”

Ela fica em silêncio, mas, em seguida, sua mandíbula trava, seus olhos ficam com raiva, e elarosna.“Sim,eusabiaquevocêerademuitaconversaedepoucaação.Váemfrenteepareemseguida,covarde.”

Euabroumsorriso.

Descendo, agarro o topoda sua calça jeans e calcinha e as puxoparabaixode suaspernas, asroupasfeitassobmedidasaemsemnenhumproblema.Elagrita,apertandoosolhosfechados,maseuseiqueéapenasseuorgulhofalando.

Banksestevecomcarasmaisásperosdoqueeu,maseuiateramalditacertezadequeelanãoseesquecessedisso.AputinhaTorranceseriaminhaporquantotempoelamantivesseaspernasabertas.

Eumeabaixocontraela,gemendoacadacentímetrodesuapelequentecontraaminha.

Eulevantoo joelho,emordiscoseuslábiosenquantoeumeencaixoentresuaspernas.Deus,eupossosentirocalormolhadoemseucentro.Meucorpocomeçaatremer.

Eucubrosuaboca,sentindoseusgemidosegemidosvibraremdebaixodosmeuslábios.

Trabalhandominhamãoparabaixoentrenós,eumeposicioneiecomeçoaempurrar.

Elaengasga,seusmúsculosderepentetensos."Euestouassustada."

“Nãofique.Damonnãotemquesaberquevocêadoraserfodidapormimmaisdoqueporele.”

Eeurosno,empurrandoduroeprofundoeafundandoemseucorpoapertado;meucérebromalregistrandoumafinabarreiracedendo.

Elagrita,jogandoacabeçaparatrás,comorostocontorcidoemdor.“Ah!Oh,Deus!”

Queporraéessa?Euparo.

Seucorpotreme,suasunhassecravamemmeusombros,eelaestarespirandoamilporhora.Dedor,nãoprazer.

Euparoderespirar.

Não,não,não…Oque?Não.

Eudeitolá,olhandoparaelaconformemeupênispulsadentrodela.

Umavirgem?

Eupossosentiraconfusãogravadanomeurosto.

Elaeravirgem,porra?

Ela suspira de novo e de novo, tentando recuperar o fôlego. Lentamente se acalma conforme ochoquedeclina,enósficamosapenasdeitadoslá,suaexpressãocomeçaarelaxar.

Elaabreosolhos,olhandoparaminhacaradedor.

OhDeus.Oqueeufiz?

Seuslábioslentamentesecurvamemummeiosorriso.“Sim,vocênãoesperavaporisso,nãoé?”

Capítulo15Banks

Presente

“Quediabosestáacontecendo?”Eleolhaparamimemagonia,todaamesquinhezearrogânciademaiscedosefoiagora.

Euseisobreoqueeleestáconfuso,maseunãorespondo.Piscoatravésdas lágrimasnosmeusolhos.

Issomeferiu.AssimcomoDamondissequeiria.

Eu quis me afastar dele, mas então ele saberia que eu não poderia lidar com o que estavaacontecendo.Nãopodiameajudar,alémdemecontorcerdebaixodele,noentanto,etentarmudarador.

Queima, e estou desconfortável. Minha garganta incha com as lágrimas que estou tentandosegurar.

Claro,eusabiaquesóiriadoerumavez,masumavezeratudoqueeuiriasofrer,entãomeajude.Euapertominhamandíbulaparaimpedirmeuqueixodetremer.Nãoqueromostraravergonhaquesinto.Eununcafareiissodenovo,porra.Issonãoébom.

“Saiademim.”Resmungo.Estoucomfrio,dói,epareceumaintrusão.Comoalgoquenãodeveriaestardentrodemim.

“Está tudo bem” ele sussurra baixinho, suavemente empurrando meu cabelo para fora do meuolho.“Estátudobem.”

“Vocêconseguiuoquequeria,entãosaiadecimademimagora.”

Estouquebrando,eas lágrimasse soltam,correndopelasminhas têmporas,paraomeucabelo.Estouarruinada.

Damoniriameodiaragora.

Mas Kai apenas balança a cabeça lentamente, ainda olhando para mim confuso. “Eu não sabia.Eu...eupensei...”Seusdedoscaemparaoladodomeurostoe,emseguida,paraomeubraço.“Queporraestáacontecendo?”

Suatestacainaminha,eestouprestesaempurrá-loparafora,maseuhesito.Porquediaboseleseimporta?Nãoeraissooqueelequeria?Seforaminhaprimeiravezouaminhacentésima,elemeusoucomoobrinquedoqueeueraparaele.Oqueimportava?

“Quemvocêéparaele?”Elepergunta,levantandoacabeçaparaolharparamim.

"Nãoimporta.Euaindavouescolhê-lo.Elenuncamemachucoudessejeito.Nãocomovocê.”

Eleestremece,epossodizerqueoferi.Kaisepreocupaemserruim,eeletentasersinistro,masnãotãonofundo,eleerabom,eeraquemeleera.Elenuncairiamudar.

Elenãogostadememachucar.

Ele move seu corpo, puxando para fora de mim, e eu vacilo na dor renovada entre as minhaspernasconformeeutentofechá-las.

Maselenãosemovedecimademim.Eleficaentreasminhascoxas.

“Olheparamim”elemediz.

Lentamente,levantoosolhosnovamente,eeletocameurosto.

“Euteriasidomaissuavenasuaprimeiravez”elediz.

“Eunãomeimporto.”Balançominhacabeça.“Eunãomeimportocomnadadisso.”

Empurrando as palmas das mãos em seu peito, eu o empurro de cima de mim e saio da cama,correndo.

Maselemepegaportrás.Envolvendoumbraçoemvoltadaminhacintura,elemepuxadevolta,eeuofego,quandocaímosdecostasnacama.Eudeitadaemcimadele,minhascostasmoldadasnoseupeito.

Meugritocortadoporsuabocaquandoeleenfiaosdedosnapartedetrásdomeucabeloetorceminhacabeça,segurandominhabocaparaadele.

Eubatoeempurro,acotovelando-oenquantoeutentotorcerparalonge,maselenãomedeixair.Suaboca,forteeexigente,muda-separaomeuqueixo,meurosto,emeuouvido,chupandoemordendo,eeurosno,jogandominhamãoesquerdasobreomeucorpoeoesbofeteando.

"Machuque-me.Façaoquequisercomigo,”eleengasgaemmeuouvido."Eumereço."

Eletrásaspernasparacima,entreasminhas,dobrando-asnojoelhoeespalhandoasminhas.

Suamãodeslizaentreasminhaspernas,eeugrito,derepentecommedo,maseleparaeapenasadescansaali,imóvelconformeelemeseguranapalmadasuamão.

“Kai!”Eugrito,lutandocontraele.

Seuslábiosparamnaminhabochecha,respirandocomdificuldadeequente.“Nãoestanoite.”Oquê?

“EunãosouKai”elediz,“evocênãoéBanks.”

Háalgosuplicanteemsuavozquemefazhesitar.

“OThunderBaynãoexiste,enãoestamosnoThePope”elecontinua.“Éseisanosatrás,quandoeu estava feliz e excitado, e você estava curiosa sobre tudo, e as minhas palavras eram tudo o queprecisavaparatocaremvocê.”

Meu corpo inteiro se acalma, e as lágrimas de repente turvam a minha visão quando elesussurraparamim.

“Vocêéagarotaqueeunãoconhecia,epoderíamosserqualquerpessoanaqueleconfessionário.Tudoomaiscaiu.Tudo.Poderíamosnosescondere fodercomomundonaquelapequenasala.Éramosapenasnós.”

Fechoosolhos,ocansaçomeagarrando.

Todosessesanosatrás.Aquelanãoerarealmenteeu,nãoé?

Eurelaxonele,incapazdeencontraravontadedelutar.

Euquasemelembrodeserela.Quandoeuaindaesperavaquehouvessempossibilidades.Quandoeupenseiquehaviaalgumamaneiradetê-loeterascoisasdivertidasqueasmeninasnormaistiveram.Quandoeumedeixeiansiarosseusbeijosroubadoseolhosemmim;imaginá-loquerendocoisasqueumhomemqueriadeumamulherequerendo-osdemim.

Meuspulmõesqueimam,eeurespirofundo,percebendoqueeumeesqueciderespirar.Deus,todaaquelanecessidademeinundounovamente,caindosobremimeaquecendoaminhapele.Estoumorrendodefome,ederepentesenticomosemeusossosestivessemtãofracosqueeupoderiaquebrar.Estoucomtantafome.

Viro a cabeça, encontrando seu olhar a um centímetro do meu. Seus dedos relaxados no meucabelo,enquantoeuolhosuaspiscinasescuras,minhamentemuitonebulosaparapensar.

“Mantenhaosolhosnosmeus,”eledizsuavemente.“Bastaficarolhandoparamim.”Eufaçoisso.Eusómergulhoemerendoecaio.

Oconfessionário.

Estávamos de volta ao confessionário. Éramos mais jovens, e não havia ninguém além de nós.Escondidos,seguros.

Estousegura.

Amãoentreminhaspernascomeçaasemover,esfregandodemodosuaveelento.“Ninguémnosvê”,eleexpira.“Nãoháninguém,alémdevocêeeu.Somosinvisíveis.Nósnãoexistimos.”

Eubalançoacabeçafracamente,masminhaspálpebrascomeçamainclinar-secomasensaçãodesuascarícias.OhDeus.

“Mantenhaseusolhosemmim,baby”elemediz.

Piscováriasvezes,mefocandoenquantosuamãoafasta-se,correndoporcimadomeuestômago.

Seutoqueenviaarrepiospormeusbraços,eeugemo, lutandoparamanterseuolharquandosuamãochegaaomeuseio.Elesegura-o,amassandotãosuavementeemeprovocando.

Euopegoolhandoparaomeuseio,abocaabertaeseuolharestáfamintocomoseelequisessequeaquiloqueestáemsuamãoestivesseemsuaboca.

Lambendo meus lábios, eu o sinto passar para o meu outro seio, acariciando o mamilo até queesse, também, fique duro. Borboletas invadem minha barriga, e eu começo a sentir o pulso em meuclitórispalpitar,querendosuamãoláagora.

Seus dedos cavam levemente em minha pele, correndo de volta para baixo do meu tronco eestômago,enviandochoquesparatodososporosdomeucorpoquandoelemepegaumpoucomaisforteentreascoxasdestavez.

Fechoosolhosearqueioascostas,sentindosuaereçãopulsardebaixodemim.“Kai...”

Cadatoque,cadarespiraçãoaumentaagravidadetomandocontadomeucorpo.Estouflutuando,oquartoestagirando,eeunãoquerosairdessepasseio.

Virandoacabeça,euseparomeuslábios,procurandoosseus.

Seusdentespegammeulábioinferior,arrastando-oparaforaprovocativamente.

“Éassimquedeveriatersido”elemediz.“Nãoteriadoídotantoseeutivessetedeixadoprontaprimeiro.Eusintomuito.Eudeveriateridodevagar.”

Abrindo os olhos, olho para ele. O instinto me diz para fugir. Voltar para minha concha epermanecernaescuridão.

Mas eu não sou Banks esta noite. Ele não é Kai, e nós não estamos aqui. Nada disso estaacontecendo.

“Então,vádevagarcomigo,”eusussurro.

Ele só hesita por um momento antes de deslizar por debaixo de mim e me colocar em cima dacama.Euimediatamentelevantomeusbraçosparamecobrir,umaboladegolfenaminhagargantaemeucoraçãopalpitante.

Euoquero,masaindaestoutímida.Ninguémnuncatinhamevistonua.

Avidatinhaficadouminfernodemuitomaiscomplicadanosúltimosdezminutos.

Elenãoestáolhandoparaqualquerlugar,alémdosmeusolhosquandoelepairasobremim.

“Euquerovocê.”Elegentilmentepuxameusbraçosparabaixo.

Seuolharestáemmimquandoelepassaamãoatéocentrodomeutronco,deslizandoentreosmeusseiosparaomeupescoço.Elemergulha,cobrindomeumamilocomaboca,eeujogominhacabeçaparatrás,gemendo.“Kai”,digonovamente.

Eucolocominhasmãosemseusbraçosenquantoelemeseguracomumadasmãoseusaaoutraparaapalparoseioqueestavabeijando.Suabocaquentechupaapelefirme,forte,puxandoomamiloe,emseguida,indopormais,antesqueelecomeceasemover.

Estremeço.“Issoétãobom.”

Elerapidamentemudaparaooutro,deixandosuamãoondeestavaememantendoquente.

Elesearrastadescendopelomeuestômago,eeutremo,mergulhandomeusdedosemseucabelo.

“Abrasuaspernas”eledizcomavozrouca.

Eulevantominhacabeça,emeusolhosimediatamentecaementreaspernasdele,vendo-oduroegrosso.“Uh,”soluço."Não."

Semolharparacima,eledescemaisbaixoelevantaaminhapernapelapartedetrásdojoelho.“Tenhoqueprepará-la,querida.”

Elebaixaacabeçaentreasminhaspernas,enterrandosuaboca,eeutentoempurrá-lo.“Não,nãofaçaisso-”

Mascomotoquesutildesualíngua,minhaspálpebrasderepenteficamtãopesadas.

Elearodaumpoucoacimadaárea,meesfregandocomabocaenquantosuamãocirculaminhacoxa,segurando-a,eseucorposeestabeleceentreasminhascoxas.

Lambendo e mordendo, seu ataque é suave no início, faz meu estômago cambalear e fogos de

artifício subirem pelas minhas pernas. Eu sinto como se estivesse em um balanço a vinte andares,inclinando-meparatráscommeucabelovoandonoar.

Queromais.Algomaisprofundo.

Então ele começa a chupar. Tudo. Dentro, fora, e ao redor, beijando minha pele lá e aindaamassandomeupeitocomumamão.Eulevantoaminhacabeça,olhandoparaele.

“Você é tão apertada aqui,” ele ofega, me mordendo gentilmente. “Mas você vai esticar. Euprometo."

Mordoolábioenquantoeleolhaparamim.

“Vocêgostadisso?”Elepergunta,melambendolentamente.

Minhasbochechasseaquecemcomumruboreumpequenosorrisoatravessaseurosto.

“Oudisso?”Elemeobservaenquantoelerodasualínguaemvoltadomeuclitórisoutrasvezes.

Eupercoaminharespiração,minhaspálpebrasvibram.

Elesorri,meprovocando.“Outalvezisso?”

Eentãoelecobremeuclitóriscomoslábiosesugaforte,puxandoepuxando,ocalordesuabocametorturaenquantoarqueioparaforadacamaegemo.“Ah,”eugemosemfôlego.

“Tãolinda,”elesussurra.“Vocêestápronta,garota?”

Meuestômagotremecomantecipação,eeunãoestoumesmoirritada,elemechamoude“garota”novamente.Masdessavez,sooucativante.

Eubalançoacabeça,deslizandominhamãonoseucabelo.Nãotenhacertezadoqueestouprontaparamais.Eusóqueromais.

Chegando-se,elemebeija,conseguindoaminhabocaabertaemergulhandosualínguadentro.Eugemo,meucorpoassumeconformeeuagarroseusquadriseseparoaspernas, levantandoos joelhosedeixando-oentrar.

Meusmamilosescovamseupeito,eeuempurro,beijando-odevoltacomforçatotal.Seucheiro,suapele,seugosto...nestemomento,estoumudando.

Ajoelhadoemcimademim,eleestendeamãoentrenóseseposicionanaminhaabertura.Apontaempurraparadentro,eaqueimaduraapertadaimediatamentemefazcongelarnovamente.

“Dói.”Cadamúsculoseaperta,eestoucommedodememover.

“Olheparamim”elediz.

Ergoosolhostrêmulos,olhandoparaolocalplanoemseulábioinferior.

“Dobremaisosjoelhos”elemediz.

Eufaço,meusdedossecurvandoemseusquadris.

“Agora,relaxesuascoxas,”ele instrui.“Espalhe-asamplamenteedeixe-ascairparaacama,ok?Abraparamim.Bastaabrir.”

Eudeitominhascoxas,joelhosdobradosemeespalhouporele.

Eleempurraumpoucomais,eeurespirofundo,masnãotentoimpedi-lo.Eleparaeseinclinaparabaixo,sussurrandosobremeuslábios.“Vocêestámetorturando.Euquerotantoafundaremvocê.”

“Nãoestádentroainda?”

Elesesacodecomumarisada.“Nemtudo.Aindadói?"

Euestavaprestesadizerquesim.Estavadefinitivamentedesconfortável,mas...achoquenãodói.

Eubalançominhacabeça.

Olhandonosmeusolhos,elelentamenteafundamais,eeucomeçoasentir-meesticadaecheiaemeioestranha.

"Quetalagora?"

“Eu...eunão...”gaguejo,meajustandoaele."Eunãosei."

Ele empurra até o fim, até o fundo do poço, e me bate tão fundo, que meus olhos reviram. Ah

Merda.“Kai...”

“Banks,JesusCristo.”Elemebeija.“Euadoroaformacomovocêparece.”

Seguro seus quadris enquanto ele mordisca minha boca e garganta e ouvido, e antes que eupercebanadamaisestádesconfortável.

“Ponhaumamãonomeuombro”elediz,recostando-separameolhar.“Euqueroquevocêsintameumovimento.”

Façooqueeledisse,elentamente,elepuxa.Registrobrevementealgomolhado,maselereviraosquadris,afundandodevoltadentrodemim.

“Oh,Deus.”Eugemo.

Nãodóinadamais.

Agarradaaele,euobservoseucorposemoverconformeoquartoseenchecomossonsdenossosmovimentosegemidos.Eledeslizadentroefora,bombeandomaisrápidoquantoseusolhossemovemdomeuolharparaosmeuslábios,paraomeucorpodebaixodele.

“Epareçocomo?”Pergunta.

Puxo-oparadentrodemimquandoeleempurradenovo,desejandoaporramaisemais.

“Comodedosnomeucabelo”euexpiro.“Ésuaveeforte-euquerotomarmais.Eapressão...ugh,bemali.”

Eusoltoumgrunhido,apertandoosolhosfechados.Vougozar.

Eumefizgozarantes,maseradiferenteassim.Comosefosseummúsculotravandomaisemaisealgogirandocomoumcicloneficandomaior,eeuansiavaaliberação.

Empurrando para cima, pego seu pescoço e beijou-o com força e com fome. Suor umedece seucabeloenquantoeusussurroemseuouvido:“Faça-megozar,Kai.”Eusorrio. “Faça-megozar,eeuvoudeixarvocêvereoqueeufaçoquandoestounochuveiropensandoemvocê.Vocêgostadeassistir,né?”

Elerosna,agarrandomeuspulsoseprendendo-osemcimadaminhacabeçacomumamão.Sorrio,surpresaenervosaetãoexcitada.

“Eaqui, eupenseiqueestava sendo legal,pegando levevocê.”Eleapertaminhabundaemsuaoutramão,apertando-meemseupau.

Eugemo."Sim."

Ele bombeia mais rápido e mais áspero, ficando louco em cima de mim, até que tudo o que eupossofazeréoagarrar.Atétudoqueeusintoécomosefosseumbrinquedoconstruídoparaelebrincar,nomomento,eunãotenhonenhummalditoproblemacomisso.

Euadoroqueelemevêassim.Amoqueelequeiraissodemim.

Eleempurradenovoedenovo,emeusjoelhosselevantam,calorcobremeucorpo,erajadasdeprazer explodem dentro de mim, varrendo minhas pernas para baixo. Eu grito, meu corpo travandoenquantoeumeseguroemcimadele,montandooorgasmo.

Eleresmungaebombeiaefinalmenteempurratãoprofundo,afundandoemmimemantendo-seláconformeelejogaacabeçaparatrás.

“Deus,baby.Porra!"

Elecaiemcimademim,nossoscorposesuorderretendojuntosemcaloreeuforia.Jesus.

Eusabiaoqueestavaperdendotodoessetempo,mas...eunãoachoqueseriaincapazderesistiraisso.

Eunãoseisealgumavezseriacapaz.

Lentamente,minharespiraçãoseacalma,maseunãomeafastodeleouoroçardeseuslábiosnomeupescoço.

Arealidadeiriaentrarembreve,eeudesfrutodosúltimosmomentos.

Nósapenasficamosdeitados.Euamoseucaloreestarperto.

Euamosentirisso.

“Porquevocêestádepilada?”Elepergunta,derepente,.

Depilada?

Oh.Láembaixo,elequeriadizer.

Seunarizescovaminhabochechaquandoeleseinclinaparatrás,corado,eseusolhoscansados,enquantoolhaparamim.

“Eunãoestoureclamando”asseguracomummeiosorriso.“Foiapenasinesperado.Especialmenteparauma...paraumavirgemquenãoestáesperandoqualqueraçãoláembaixo.”

Reviroosolhos,deixandosuapiadarolaremmimpelaprimeiravez.

Mas,então,aminhadiversãocaienquantoeupensosobrecomoresponderaele.Comosefossedacontadeledequalquermaneira.

Eutenhomedepiladoháanos.Foidifícilnoinício,masaolongodosanos,adordatarefatornou-semaisfácildesuportar,eei,eusótenhoquefazê-loacadadoismeses.

Tenteirasparquandocomeçouaapareceremmeusanosdepré-adolescencia,masvoltouacrescerrápido demais e os cabelos vieram muito grossos. Não muito tempo depois, comecei a fazer minhaspernas e axilas, também. Vestindo-me como um menino, cobrindo meu cabelo, achatando meus seios...tudooqueeupodiafazerparanãoserumamulher.

“Eunãodeveriamudar”dissecalmamente.“Eunãodeveriacrescer.”

Capítulo16Banks

Devil’sNight

Seisanosatrás

“Vocêestavacerta,”Kairesponde.

Eubalançoacabeça,distraidamente,semacreditaremmeusolhos.Nósdoisassistimosamulherdançarnochão,quasecomoumaborboleta,mastambémcomoumacriança.Tãoinocenteeetérea.Elaébonita.

Tãobonitae...familiar.

Quem-

Seu cabelo flutua ao seu redor, e eu pego um vislumbre de seu rosto, uma sensação de dorinstantaneamentecobrindomeucoração.Eupercotodoaremmeuspulmões.

Ó,meuDeus.Não.

Amúsica.NightMist.Eutinhaouvidoissoantes.

Eumeencolhoatrásdascortinas.

Nãopodeserela.

“Eupenseiqueeraapenasumahistória”Kaidizemvozbaixa,aindaaobservando-mergulharacabeçaemoverseusbraçosepéscomgraça.Elavoa.Elasempreflutuouevoou,comoseagravidadenãofossepartedesuarealidade.Aindatãorequintada.

“Sabequeméela?”Elepergunta.

Meus olhos disparam para cima para vê-lo olhando para mim, as sobrancelhas franzidas empreocupação.

Euacenoumavez.Meuestômagorevira,eestoumuitohorrorizadaparapensaremumamentira.“ÉNatalyaTorrance.AmãedeDamon.”

“Suamãe?”Aconfusãoseespalhaporseurostoquandoeleseviraparaelanovamente."Mas…"

Masnada.Eladesapareceuhátrêsanos,quandoDamontinhafinalmentesofridoosuficiente.Eletinhasemachucado,mefezmachucá-lo,eretirou-separaoshowdehorrordesuaprópriacabeçaatéqueumanoiteelaveioparaelemuitasvezes.

EuassistiNatalya, seu longocabelopretode seda flutuandoem tornodelaemondas.Eunãoaconheciabem,masnósvivemosnamesmacasaporumpardeanos,antesqueelaescapassedaraivadeDamonnaquelanoiteefugiu.

Elatinhadesaparecidodesdeentão.

Elaaindaerabonita,embora.Claro,elaera.Elasó teriacercade trintaequatroanosde idadeagora.GabrielaviupelaprimeiravezemumballetemSãoPetersburgo,quandoelatinhatrezeanos.Eleimediatamenteacobiçou.NomomentoqueelatinhadezesseisanoselaerasuaesposaejátinhadadoàluzDamon.Elaestavamaispróximaemidadeparaseufilhodoquedoseumarido.

Duvidoqueelatenhafeitoalgumesforçoparasabermuitosobremim,noentanto.Eueraumanão-entidadeparaela.ElasabiaquemeueraeoqueeueraparaGabriel,maselanuncapareceuseimportar,e eu possomuito bem ter sido uma partícula de poeira sob sua pia do banheiro para tudo o que elapareceunotardemim.Elaviviaemummundosódela.

“Sim, você está certo.” Kai a estuda, finalmente reconhecendo-a. “Ela partiu há alguns anos,embora?Oqueelaestáfazendoaqui?”

Eubalançoacabeça.Deus,eunãotenhoideia.EnãoseioqueaconteceriaseDamonavisseaqui.Elanãodeveriaestarpertodele.

Esteeraohoteldoseumarido,porém,elaeGabrielaindaeramcasados,tantoquantoeusabia,masDamonatinhamandadoembora.Eledissequeamatariaseeleavise.

Euprecisavatirá-lodaquiantesqueeleofizesse.

“Devemosdizeraele?”Kaipergunta.

“Não”eufalorapidamente,pegandosuamão.“Não,elenãovaiquerervê-la.”

Ouelenãodeveriavê-la.Eusóprecisochegaratéeleeencontraralgummotivopara tirá-lodohotel.

MeupaipodialidarcomelasemDamondescobrir.

Puxo Kai para fora das cortinas e nos movemos ao longo da parede, de forma rápida esilenciosamentecaminhandoemdireçãoàsportas.

“Oh.”Euaouçodizer.

Eeuparo,fechandomeusolhos.Merda.

“Eunãosabiaquehaviaalguémaqui”,eladiz.“Oquevocêsestãofazendocrianças?”

EusoltoamãodeKaievirominhacabeçalentamenteemdireçãoaela.Elaestáali,nomeiodapistadedança,parada,comosenomeiodeumgirocomosbraçosligeiramenteestendidos.

“VocênãodeveriaestaremThunderBayouMeridianCity,”eudisseaela,dandoumpassoparafrente.

Elameolhaporummomento,provavelmentetentandomereconheceratravésdamaquiagem,masdepoisaluzsefoi.

“Você”eladiz.

Elaselembrademim.

Masantesqueeupossaavançarsobreela,elavolta-separaaporta,aluzemseusolhosbrilhandocomoumacriança.“Meufilhoestáaqui?”Elapergunta."Faztantotempo."

“Fiquelongedele.”Euchegoalgunspassosmaisperto."Falosério."

Seuolhardescansaemmimdenovo,seusorrisotímidoenquantoseusdedosdescansamnotutu.“Você gosta?”Ela olha paramim, esperançosa, como se eu não tivesse dito nada. “Eu ainda caibo emmeusvelhosfigurinos.Euaindasoumuitobonita,nãosou?”

Bonita?Oque?Elaestáabsolutamentelouca.

“Oqueestáacontecendo?”Kaisurgeaomeulado,maselamallhepoupaumolharantesdevirarosolhosparaasportas.

ElavaiprocurarDamon.

“Eleéumhomemagora”disseelamelancolicamente.“Jovemeforte.”

Eu balanço a cabeça, empurrando Kai atrás de mim para passar para as portas. “Ela é má.Precisamossair.”Eumeviro,agarrandoamãodeKaiealcançoamaçaneta.

“Diga-lhequemamãeoama”elagrita.“Eusouaúnicaqueoama.”

Eumeviro,liberandoKai.“Issonãoéamor,”eurosnoparaela.

Umsoluçoestáalojadonaminhagarganta,mesintomuitoimpotenteapesardaminharaiva.Elanãoiriamachucá-lonovamente.Elanãopodia.Elenãopermitiriaisso.

Maselameignora,parecendocalmaeatéumpoucoanimada.

“Ouvidizerqueeleéumbomanimalagora,”elaprovoca.“Nenhumagarotanaquelacidadeestásegura.Esseéograndegarotodamamãe.”

“JesusCristo.”EuouçoKaimurmuraraomeulado.“Quediaboselafezcomele?”

“Elejátocouvocê?”Elamepergunta.

Euenterromeusdentes.

“Elevai,sabe?”Eladáumpassoparamaisperto.“Eleéumdestruidor.Assimcomoseupai.”

Minha cabeça balança ligeiramente. Isso nunca aconteceria. Meu irmão nunca me machucaria

dessejeito.“Euqueriaqueeletetomasse.”Suaspalavrasdeixamseuslábiossuavementeesearrastamdentrodemimenquantoelasegurameuolhar.“Dormiremseuquartocomovocêfaz,elenãoserácapazde resistiraoaromadesuapreciosamenina.”Elaestendeamão, roçandoosdedos suavemente sobreminhamandíbula.“Seupequenotesouro.”

“Hey,hey.”Kaiempurraamãoparabaixoemepuxadevolta.

Eentãoelafinalmentevoltaseuolharparaele."Eumelembrodevocê.Amigodomeufilho”eladiz.“Issosignificaqueeleestáaqui,então?”

Minharespiraçãoficapresanagarganta.Damon.

Masasportasatrásdenósseabremderepente,eeuvirominhacabeça,olhandoporcimadomeuombro.Meuirmãoinvade,osmúsculosdoseurostotensoseseusolhosfuriososquandoelesbloqueiamemmim.

“Eusabiaqueeravocêláemcima”elediz,fervendo."Oquediabosestáacontecendo?Comovocêchegouaqui?"

Eurapidamenteviromeucorpoparaencará-lo,naesperançadebloquearsuavisãodela.

Masnãoadianta.

Suavozsoaatrásdemim.“Damon.”

Eeufechoosolhos,apertandoasmãos.Damon.

“Porfavor,Nik,”eleimplora,seuslábiostremendo.

Lágrimasescorrempelomeurostoenquantoeuestouacimadomeuirmãoconformeelesesentanabeiradacama.Elafoiembora.Elaconseguiuoquequeriadele.

Mas o perfume dela ainda esta em cima dele. Ele sempre foi para o chuveiro imediatamentedepois.Porqueelenãofoiagora?

“Euestoupodre.”Seusussurrosaicomoumúltimosuspiroquandoeleabaixaacabeçaeolhaparaochão.

Olhoparaoscortesfrescosnasuacoxa-nolugarondeamaioriadaspessoasnãoseriacapazdeidentificá-los.

Eletinhafeitoissoháalgunsdiasatrás.Depoisdaúltimavez.

Elaestávindoaoseuquartocommaisfrequênciaagora.Elecresceutãorápidonoanopassado,ficandomaisaltoemaior, asmaçãsdo rostoemandíbulaperderamsua suavidadee tornaram-semaiscomodeumhomem.Seus ombros tinham ficadomais amplos, e o treinamento de basquete durante overãotinhapreenchidoseusmúsculos.

Quandoeudescobrioqueestavaacontecendoanosatrás,quandomemudei,meuirmãoserecusouacontaraalguém.Eleserecusouadeixar-mecontaraalguém.Eventualmente,eutiveesperançadequeelairiaperderointeressenelequandoelecrescesseatéaidadeadulta.

Elanãoofez.Eupercebiqueelanãoeraumapedófilanosentidomaisestritodapalavra.Nãoerasobreseucorpoousuajuventude.Erasobreele,eelaéapenaspsicótica.

Eciumenta.Eleestánaescolaagora.Muitasoutrasmeninas-jovensmeninas-pararoubarasuaatençãoparalongedela.Elanãogostadisso.

Vouatéeleeestendoamãotrêmula,tocando-oemseuombronu.Eleaindaestánu,olençolpretolargadoemseucolo,cobrindo-o.

Inclinando-me,eutentopegarseusolhos,suplicando-lhe.“Euprefiromemachucar.Porfavor.Nãomeobrigueafazê-lonovamente.Porfavor."

Elebaixaacabeça,encontrandominhatestaerespirandosuperficialmente,comoseeleestivessetentandoconterossoluços.“Dê-mealgumacoisa”elesussurra.“Algo.Vocêquerquesejaeu?Huh?”Eleagarrameuqueixo,segurandocomforça.“Se-myah.Euprecisodevocê.Faça."

Se-myah.

Família.

Não falo russo bem, não cresci com esse idioma, comoDamon -mas aprendi o suficiente paraentender.

Eubalançoacabeça,tantoquantoelapodiasemoveremseuaperto.Eleestápiorando.Quandoiriaparar?Elesempreprecisademais.Maisduro,maisfortemaisdor...“Porfavor,”chorobaixinho.

Ele rosna e puxa o cinto para fora da cama, jogando o braço para preparar o primeiro açoiteatravésdassuascostas.

“Não!”Agarro-oparaforadesuamão.Quandoelefaz issoasimesmo,eleofazmuitoforte.Oscarasdotreinofariamperguntas.

Levanto-me, deixo cair o cinto no chão, e choro enquanto eu pego um punhado de seu cabelo.Ninguém iria fazerperguntas sobrecortesehematomasno rosto.Damonestava sempreem lutas,porissoéumahistóriaprovávelparaseesconderatrás.

Pegandomeumedoe agonia, euo torço com raiva e rosno, batendoemsuabochecha tãoduroquantoeuposso.

Emergulho.Novamenteenovamenteenovamente.Eutenhoqueacabarcomisso.Apenasfaça.Eusoluçomaisalto,aslágrimasescorrendopelomeurosto.

AlguémTemqueceder,eledisse.

Eleestavacerto.Oálcoolnão foi suficiente.Nem foramoscigarros, asmeninasqueeleusouetratoucomomerdanaescola,ouador.Eventualmente,ele seacostumoucomtudo isso,eprecisoudemais.

AlguémTemqueceder.Quantadorqueelepoderiaterantesdequebrar?Quantotempoatéquenadafosseosuficienteparasatisfazê-lo?

CorroatéDamon.“Bastair”eudigoaele,agarrandoseubraço."Vamos.Anda."

Puxo-o, ignorando o olhar confuso no rosto de Kai, mas meu irmão esta enraizado como umaárvore.

Seusolhossobreelaeramdeaço,duroeafiado.

“Baby”,elamurmura,chegandoaele."Vocêestátãobonito.Eusentitantosuafalta.”Eubalançoacabeça,puxando-oparachamarsuaatenção.Maseleestácongelado.

“Euseiquevocêperdeuacabeça,eestátudobem”elalhedizdocemente,sempreaflordelicadano lado de fora. "Estou bem.Eu te amo independentemente de qualquer coisa. E prometo que vai sermelhordestavez.Eucuidareidevocê."

“Damon,”grito,tentandoquebrarofeitiço.

Masseusolhosestãofechados,seguindo-aconformeelarastejaparafrente,cadavezmaisperto.“Eusentisuafalta”,elacontinua."Euprecisodevocê.Estoutãosolitária.Estoutãoperdida,baby,eu-”

Sóentão,elecorreparafrenteeasegurapelopescoço,suagrandemãoenvolvidaaoredordesuagargantaesbeltaepálida.

“Damon...”olhoentreeleeela,semsaberoquefazer.

Elaengasga,massemantémcalmaquandoeleapuxaatéosdedosdospéseparabemperto.Suamandíbulaestavaapertada,ecalorlíquidocorreporminhasveiasconformeeuosassistoolharumparaooutro.

“Esseéomeumeninoforte,”elasussurra.“Vocêcresceueficoutãoforte.”

“Damon,”euimploroaele."Olheparamim."

Elesimplesmenteficaali,segurandoseupescoço,extasiado.

“Eu esperei que você viesse paramim” ela ofega. "Tomasse o controle. Você é o homemagora.Tudooquemeufilhoprecisar.”

Fechoosolhos.

“Elaélouca,”Kaiproferebaixinhoaomeulado.

“Damon!”Eugrito."Olhe.Para.Mim!"

Eleasegura,maselaseguracompletamentesuaatenção.“Tome-a”,elainsistecomele.“Lave-a.Assimcomomamãecostumavalevá-lo.”

Euquebro,aagoniadeanosatrásvindoa tonaenquantoeuolhoparaomeu irmãoatravésdas

minhaslágrimas.“Vocêéohomem”elarepete."Tudoéseu.Tudo.”

Eubalançominhacabeça.Damon.

“Sevocêaama,elapodeferi-lo”Natalyadizaele.“Sevocêmachucá-laemvezdisso,elanuncavaiescapardevocê.Vocêsemprevaipossuí-la.Elaésua.Vocênãopedeevocênãoseimporta.Tomeoqueéseu.Tome-a."

Sua voz cai tão baixo que eumal posso ouvir. “Tome-a.” E, de repente, ele finalmente se vira,encontrandomeusolhos.

Não.

Lágrimascaemconformesilenciosamenteimploro.Nóstínhamosficadosozinhosnomundo.Nóssóestávamossegurosquandoestávamosjuntos.Eununcairiamachucá-lo.Eletinhaquesaberdisso!

Ela queria que ele nos arruinasse. Para destruir qualquer coisa boa que restasse nele, porqueDamoneraofuturodafamília,epelomenos,monstroseramfortes.

Damonpodeacabarsendomuitopiordoqueomeupaisemprefoi.

“Tome-a”,Natalyaoinstiga,passandoamãoemseupeito.“Elavaialimentá-lo.Tome-a.Mostre-lheoquevocêé.”

Fiquecomigo.Euseguroseuolhar.Euseiquemvocêé.Vocêmeprotege,vocêmelevaàscomprasnomeuaniversárioemedeixaescolheroqueeuquiser,evocêmeacordacommeusmilk-shakesfavoritosquandovocêchegaacasanomeiodanoite.Euseiquemvocêé.

“Lambatudo”Natalyainspira.“Leve-aparasuacasaereclame-a.”

Umasugestãodemedoaindarestanosolhosdela,ederepenteeleapenasolhaparamimcomoseelefosseumamáquina.Comoseelenãoestivesserealmentelá.

ComosenãofossemaisDamon.

Euchupoemumpequenosuspiro,paralisada.

EentãoKaiestá lá.Eleseaproxima,meafastando,eagarraDamonpelopulso. “Vamos lá,”eleexige.“Deixe-air,Damon.”

“Somostodosseus,”elasussurraparaseu filhocomoseKainãoestivesse lá.“Euvoucuidardevocê,baby.Voumecertificardequesuadoceepequenabuceta,sejasua.”

“Cale a boca!” Kai grita para ela. “Sua doente!” E então ele vira-se para Damon que aindaseguravameuolhar.“Olheparamim,cara.Nãoolheparaela!”

Elenãofariaisso.Não.Elenuncaviriaatémimassim.Nunca.

“Tome-a”Natalyapedenovamente.

Eeuchoro.“Damon!”Acorde.

“Nãoolheparaela!”Kaiberra,oempurrando.

“Elaéumapartedevocê”suamãesussurracomoseaprovocaçãofossedeumfantasma.“Elavaitorná-loforte.Tome-a."

“Caleaboca!”Kaiviraesacodeamãoemseurosto,perdendoacalma.

Euma respiração ficapresanaminhagargantaenquantoeuobservo seu corpo chicotear e seupeitocairemumamesadejantarredonda.Óculosbatemàmedidaqueelestombam,ovasocaiaoseulado,epratosetalheresdeslizamparafora,enquantoelaosempurra.

MasentãoeuouçooarfareoafastardeNatalya,olhandoparaomeu irmão.Eleestácurvado,apoiando-senoencostodeumacadeira,ecomeçaapassarmalcomacabeçabaixaenquantoelacospeetosse.

Corro,aindasoluçando.“Estátudobem.”Eupassomeusbraçosemtornodoladodele."Estábem.Estábem.Estouaqui.Ouçaaminhavoz.”

Elecambaleia,nadaaparece,alémdoseucuspirenquantoele lutapara inalarar.Aperto-omaisforte.Muitascriançasquesofremabusonãogostamdesertocadas,masquandoDamonestáemespiral,elenãopodiachegarpertoosuficientedemim.Comoseelesóquisesserastejardentrodaminhacabeça,ondeelesabiaqueeraseguro.

“Ela não tem controle sobre você.” Eu o abraço apertado, sussurrando em seu pescoço úmido."Somoslivres.Somosapenasnós.”

“Issoaindaestádentrodemim”eleengasga."Issodói."

Euapertomeusolhosfechados,chorandomaisforte."Segure-seemmim.Apenassegureemmim.”

Euseioqueelequer.Oqueeleprecisa.Eeunãopossonegar-lhe.Nãoessanoite.

Abroabocaemordoapeleentreseupescoçoeseuombro.Passandoosbraçosemtornodele,euosintogrunhirconformeeucravomeusdentescommaisforçaemsuapele.Seusbraçosserpenteiamemtorno demim, e ele segura firme,mantendo-me perto. Se Kai olhasse, pareceria apenas como se nósestivéssemosnosabraçando.

MaseleaindaestafocadoemNatalya,eunãopossoverportrásdascostasdomeuirmão.

Issoaindaestádentrodemim. Isso.Eunãosabiaseelesereferiaaelaouaoterroremedoouqualqueroutracoisa.Eusósabiaqueeumesentitãoimpotente.

Lágrimasescorrempelomeurosto, fazendocócegasnaminhapeleepairandosobremeuscíliosembebidos.

“Maisduro”elesussurra.

Mordomaisforte,saboreandosuapelesalgadaecercadapelocheirofamiliardeseuscigarros.Elenãovaimemachucar.Eleprecisademim.

Elemeama.

Eusintoogostodecobre,eeuseiquequebreiapele.Elesoltaumsuspiroeseafasta.

“Obrigado”elediz,eolhaparamim, suahabitualeestranhacalma fixando-seem todoocorpo."Vocêestábem?"

Eubalançoacabeça."Você?"

Ele dá um aceno cansado, virando-se e ajustando seu capuz para se certificar de que minhasmarcasdedentesforamencobertas.

EeufinalmenteolhoparaKai.

Eleolhaparaochão,ondeNatalyaestádeitada,eeunãoconsigoveraexpressãoemseurostoenquantoeumemovimentoparaoseulado.Elapareciamudaremumsegundo.

Eleestácommedo?Elenãofeznadadeerrado.Seelenãoativessecalado,ela...

Eunãopossosequerpensarnissoagora.Meu irmãoestavacompletamentebloqueado,eeunãopoderiaenvolverminhacabeçaemtornodoqueestavaacontecendocomele.Seráque issoaconteceránovamente?

FiqueicontentequeKaibateunela.

Damoncaminhaatéseulado,ambosencarandoNatalya.Elaestánochão,depoisdetercaídodevoltacontraapernadacadeira,maselaparecequepodeestarferida.Seusolhosestãofechados,massuacabeçabalançalevementeenquantoelaseguraseulado.

“Vocêestábem?”Kaivira-separaDamon.“Cara,eusintomuito.Eunãosei-”

“Caleaboca”Damongrita.“Elaestavafalandobobagem.Esqueça.Entendeu?”

Meuirmãoolhaparaoamigo,umaameaçaatandosuaspalavras.

Kainãoresponde,apenasfechaabocaeolhaparaDamon.Elesabequeéumamentira.

OsangueescorreporentreosdedosdeNatalya,eeuverificoamesa,finalmentevendoahastedeumcopodevinhoquebradoecaídoaoseulado.Umadasbordasafiadasestámergulhadaemsangue.Elatinhasidocortada.

“Elaestáferida,”Kaicontinua.“Precisamosdeumaambulância.Euachoqueelabateuacabeça,também.”

"Eucuidareidisso.Vocêjáfezosuficiente.”Eleolhaporcimadoombroparamim.“Vocêacolocouemperigo.Elanãodeveriaestaraqui.”

“Eunãovivocêfazerummovimentoparafazerqualquercoisa.”

“Chega.”Eudouumpassoparafrente.

Tínhamos problemas maiores. A sanidade de Natalya tinha claramente deteriorado ainda maisdesdequeeladesapareceuhátrêsanos.Todasascoisasqueelatinhadito,enafrentedeKai...nãohá

comonãodizerquãoforadecontroleelapoderiasetornar.Gabrielnãogostavadeserconstrangido.Oquefaríamoscomela?

“Saiam,”DamondizaKai.“Vouligarparaomeupai.”

Kaioolha,parecendoincerto.“Não,éminhaculpaqueelasemachucou.Euquerotercertezaqueelachegueaummédico.”

“Equandoeladisseraalguémnohospitalquevocêbateunela?”Damonresponde.“Sim,eutenhocertezaquevai fazermaravilhasparasuasaplicaçõesda faculdade.”Elebalançaacabeça. “Basta sairdaqui.Minhafamíliavaitercertezaqueelaestejabememantenhaosilêncio.Nãosepreocupe.Ninguémquerumacena.”

Kai hesita; provavelmente preocupado em certificar-se de que ela estaria bem cuidada, mas oTorrance,obviamente,tinhaumpoucodahistóriadefamíliaséria,eeletinhaqueentenderqueDamonqueriaqueseupaivisseNatalya.Semhospitais.Sempoliciais.Todosnóstínhamosumaparticipaçãoemmantê-lacalma.

Kaipegaminhamão."Vamos."

MasDamonmeagarraemepuxaparaele.“Minha”eledizaoseuamigo.

“Odiabo.”Kaifazumacaretaparaele.“Vi-oemseurosto,cara.Vocêestáumabagunça.Vocêiriamachucá-la.”

Damonapenasbalançaacabeçaparaele,semsepreocuparemsedefender.Issoeraalgoqueeuadmiravasobremeuirmãoedesejavaqueeupudessecontrolaramimmesma.Aspessoasvãopensaroque elas quiserem pensar, não porque acreditam que estão certas, mas porque está em sua naturezasustentaroquesão.Aodefenderasimesmo,vocêalimentaoapetiteparaodrama.Aoabster-se,vocêterminaaconversa.Você.Nãoeles.

Maseunãopudeevitar,tambémmeperguntoseKaitalvezestejacerto.Oqueteriaacontecidoseelenãotivesseintercedido?

Damonvira-separamim,empurrandooqueixo.“Vácomele,então.Vá.”

“Oquê?

“Estátudobem”elemediz.“Váembora,sequiser.”

“Damon”

“Vocêquer,euseiquevocêquer.Eunãoprecisodevocê.Eununcaprecisei."

Meupeitocede.Porqueeleestáfazendoisso?Porqueelesemprefazisso?

“Vamos.”Kaipegaminhamão.

Maseumeafasto.“Bastair.”Baixoacabeça,incapazdeolharparaele.“Volteparaafesta.”

“Banks.”

“Eununcavoudeixá-lo,”digoaKai.

Nunca.Douumpassoparaomeuirmãoetomosuamão,querendoqueKaiapenasfosse.

Duas vezes esta noite eu tinha escolhido Damon. Ele não sabia que éramos uma família, e elepoderia entender mais se o fizesse, mas essa informação ainda não mudaria nada. Damon fica emprimeirolugar.Sempre.

Meuirmãoapertaminhamão,umgestosutilmedizendoqueelemeperdoou.

“Mulheres,cara”eledizaKai,umtoquedehumoremsuavoz.

Osilêncioseestendeentreeles,eeupossosentirosolhosdeKaiemmim.Eleéumbomrapaz,maselenãoaceitariaserempurradoaoredorporumterçodotempo.OlhoparaNatalya,cadasegundoqueKaificaali,seestendendocomoumaeternidade.

“Sim”eleresponde.“Noitelouca,né?”Eentãoeuovejoirparalongecomocantodomeuolho.“Atésegunda-feiranaescola.”

Eentãoelesai,omeucoraçãoficandocadavezmaisdoloridoacadamomentoqueelenãoviraevoltaparamimatravésdasportas.Maistarde,quandoestiversozinhaeperdidanaminhacabeça,euvouperguntaroqueteriaacontecidoseeuotivesseseguido.Setivessetomadosuamãoemeescondidocomeleorestodanoite.

Damonmepuxaparaperto,beijandominhatesta.“Boamenina.Vocênuncamedecepcionou.”

Natalyageme,suaspálpebrastremulandoabertas.Sanguesaturaamãodela,eemboraparecesseumcorteouvárioscortesdesagradáveis-odesagradávelfluxonãoestátãoruim.Precisávamoslevá-laaummédico,noentanto.Elaprecisadepontosoualgoassim.

Damonmeentregaotelefonee,emseguida,agacha-se,olhandoparaela.“LigueparaDavid,”elemediz.“Digaaeleparatrazersuabundaaquiparabuscá-la,eváesperarporelenohalldeentrada.”

“Porquevocênãopodemelevarparacasa?Vamosapenasir-”

“Estareiemcasamaistarde”elediz,comosolhosaindasobreela.“Euprecisolimpartudoaqui.”

Capítulo17Banks

Presente

Euaceleroopassodescendoaruamovimentada,desviandodepedestrescomumamãonobolsodocasacoeaoutrasegurandoumenvelopegrandecommaisumcontratoparaKaiassinar.Eledeveriaestarnodojo,masquandovoltodosmeusafazeresestamanhã,elemandaumamensagem,dizendo-meparaencontrá-loemseuclube.Elesabequeeunãotenhoumcarro,caramba.

Eeunãoestouprontaparaenfrentá-lo.

Ontemànoite,naquelehotel,enterradosemumandarsecretoeemumasalasemtelefones,semtelevisão, e ninguém além de nós, foi inimaginável. Como um sonho de onde fui tirada e continueifechandoosolhosparaperseguirosononovamenteapenasparaqueeupudessevoltarparalá.Issofoiháapenasalgumashorasatrás?

Eletentoutirarumpoucomaisdeinformaçãodemimnanoitepassada,maselenãoforçoumuito.Quandominhaguardasubiu,eusoubequeelenãoqueriaestragaroqueaconteceu.Eleerabomemlerosmeussinais,eutenhoquelhedaressecrédito.

Ele queria me levar para casa, mas fui embora antes que ele pudesse lutar comigo de novo.Mergulheinanoitechuvosa,tudoquetinhamefeitotãobem,derepentedesaparecendo,eeunãosabiacomotê-lodevolta.Culpaevergonha,asensaçãodosolhosdeDamonsobremim,julgando-me,porqueeunãopodiasuperarisso?

Então,eutranseicomumcara.Quemseimporta?Eugostei.Processe-me.

Masédiaagora,easconsequênciaspodemserlentas,maselasestãovindo.Minhashabilidadesnãoseestendemlongeosuficienteparaequilibraromeudesejoporumeasexigênciasdooutro.

SubindoosdegrausdaHunter-Bailey,euabroumadasportasduplaseentro,omobiliáriopolidocitrusimediatamentemecircundando.Amadeirabrilhaemtodososlugares,eorelógiodepénosaguãofaztique-taqueàminhaesquerda.

Vouatéapequenamesa.“EuprecisoverKaiMori,porfavor.”

O jovem, de cabelo preto e em um terno simples, com uma gravata fina, assente como se meesperasse.

“Eleaindaestánasala.”Eleandaemvoltadasuaestaçãoparaaspróximasportasduplas.

“Sóvireàdireitaaoentrarnasaladejantar.”

Hmm.Asmulheresnãosãonormalmentepermitidasnoclube.Estousurpresaqueeleestejamedeixandoentrartãofacilmente.EuachoqueKaicuidoudisso.

Eleabreasportas,dandoumpassoparaoladoparaqueeupossaentrar,eeuimediatamenteviroparaaesquerda,notandobrevementetodaaequipenasaladejantararrumandoasmesasparaoalmoço.

Entrandonasala,olhoemvoltaporummomento,absorvendoasensaçãodeesconderijodagrandesala.Sofásdecouromarrombrilhamà luzda lâmpada,enquantocortinasverdescobremas janelasdochãoaotetoaoredordasala.Arandelasdeouro,veados,alces,eatémesmoumacabeçadeleãoestãopenduradasnoalto,ealmofadasxadrezestãojogadasemcadeirasesofás.Umbarficanapartedetrás,prateleiras de livros alinham nas paredes, e uma tapeçaria representando algum tipo de guerra pairasobrealareira.

Cristo.Estasalafoidecoradacomotema“Seosnazistastivessemvencido...”

Eu dou uma olhada na sala, rapidamente encontrando Kai perto das janelas. Sem paletó, asmangasestãoarregaçadas,eminhabocaderepenteficasecacomavisãodele.Quasedóiolharconformeelesentalá,debruçadosobreumamesadepapéis.

Aquelasmãosestavamsobremimnanoitepassada.Eaquelabelaexpressão severaqueparecequasecomraivaemeioquemefazquerersorrirestavaperdidadeprazernaúltimavezqueeuvi.

Tãocontroladoetãofrio,maselepodesertãoáspero,também.

MichaeleWillsentamdecadaladodele,umnotelefoneeooutrolargadoemsuacadeiracomseucopode gelo pressionadona testa e os olhos fechados.Eu caminho, ignorando os olhares da dúzia deoutroscavalheirosnasala.

Kaiolhaparacimaenquantoeumeaproximo."Vocêestáatrasada."

Seu tomé seco,mas suabocanão, está curvadanos cantos como se ele só estivesse pensandosobreoporquêdeeumalconseguirdormirnanoitepassada.

“EutivequeiraoThunderBayestamanhã,”eudigoaele.

"Porque?"

“Gabrielquersaberporquevocênãoassinouocontrato.”

Eleparaoqueestáfazendoeolhaparamimnovamente.Michaelseafastadoseutelefone.

“Oquevocêdisseaele?”Kaipergunta.

Jogooenvelopecomumcontratofrescodentroemcimadamesanafrentedele.Algunsdeseuspapéis revoam em protesto. “Que você está atrasando,” eu digo. “A mesma coisa que eu venho lhedizendo.”

"Oque-"

Maseleparaoqueeleiadizer,pegandootelefonequeestavazumbindo.

Aborrecimentoemseurosto,eleresponde."Sim."

Eleouveenquantoalguémdooutroladofala,suassobrancelhasficandomaiscavadas.

“A&JPlumbing?”Elediz,parecendoconfuso.“Eunãoligueiparaqualquer-”

Debruço-mesobreamesaeesticoamão.

Elepara,olhandoparamim.Pegootelefone.

“Deixeiaschavesparaeleemumenvelopedebaixodamesa,”disseaogarotonodojoqueeusabiaqueestavadooutrolado,“edesligueiosistemadealarmenacasaparaele.Digaaeleparacomeçarláemcimanosbanheiros.Euprecisodeumaestimativacompletaomaisrápidopossível.”

“Uh,sim,senhora”,elegagueja,eeudesligo.

Eufizaligaçãoparaarrumarencanadores,eletricistaseempreiteirosnomeucaminhodevoltadaThunderBay.Penseiqueestarianodojo,noentanto,entãoacheiqueoencontrarialá.

EuentregootelefonedeKaivoltaparaele.

“Issoéparaminhacasa?”Elequestiona."Oqueeulhedisse?"

Eumeendireito,colocandominhasmãosnosbolsos.“Vanessachegaemtrêsdias,”eudigoaele.

Suacarrancalentamentecai,evejoWillcomocantodomeuolhocolocarasuabebidaparabaixoelevantaracabeçaparacima.

Kainãodiznada.

“PartedaatualizaçãodeGabriel,estamanhã,”euexplico,sentindoomesmonónoestômagoqueeutivequandoGabrielmedisse.“Surreal,nãoé?Noquevocêsemeteu?”

Elestrêssimplesmenteficamlá,eeunãoseiseelesestãoatordoadosoubravosouoque,maselesdefinitivamentenãoestãofelizes.

“Eutenhocertezaquevocêseimaginaoarquitetodealgumgrandeesquema,”eucontinuo,“masoacordoquevocêvaiparaafrente,independentementedevocêestarounãopronto.Suanoivaembreveestará em seu caminho para cá. Arrumei uma suíte no Mandarin para ela enquanto nós fazemos osreparosnacasa.”

Kaipegaoenvelope,amandíbulaflexionandoquandoeleorasgaaberto,tiraapapelada,ecomeçaafolhearaspáginas.

“Elenãofezasrevisões,”dizele,examinando-o.

“Nemvai,ousodizer.Épegaroulargar."

Kaiestáencurralado,eelesabedisso.Mas,realmente,qualéoproblema?Elesabecomochegar

nodécimosegundoandaragora.Elenãoprecisadohotel,eelenãoquernenhumaligaçãocomafamíliaTorrance.Porquenãoseafastarsimplesmente?Porqueeleconcordouemprimeirolugar?

“Seeunãoassinar,étemporadadecaçaaDamon,”alerta.“Michael,eu,Will,Rika...vamoslidarcomisso,evamosfazerissodamaneiraquenósquisermos.”

Eubalançoacabeça,entendendo.Seelenãoassinar,Damonnãoteránenhumapromessadequeserábem-vindonacidade.Seelevierparacasa,elespodemiratrásdele.

“Masseeunãoassinar,”dizele,comavozbaixa,“vocêvaiembora.”

Euvou?Éissoqueestáligandoeleaesteacordoestúpido?

Euvejoocaroçonagargantadelesemovimentar.

Elenãoquerqueeuvá.

Eeunãotenhocertezadoquantoeuaindaquero,masessecontratonãopodemefazerficarseeurealmentequiserirembora.Eletemquesaberisso.EstouaquiapedidodeGabriel.

“Possosairaqualquermomentoqueeuqueira,”euolembro.

“Vocêvaivoltarparaele,nãoé?”

Baixo os olhos, nãoquerendo ter essa discussão e, especialmentenãoquero tê-la na frente dosseusamigos.

Suavozestáestranhamentecalma.“Vocêquerqueeuassineisso?”

“Sim,”faloentredentes.“EuqueroDamonemcasa.”

Ele me observa, os olhos duros, mas ele não faz nenhum outro movimento. Os caras ouvemsilenciosamente.

“Euacordeinanoitepassada,querendovocêdenovo,”dizele.

Meucoraçãobatemaisforte,ocalordavergonhasubindoparaminhasbochechas.

Recostando-senacadeiraalmofadada,elerespirafundo.“Eufoditudo,rapazes,”dizele,destavezparaseusamigos.

Michaelolhaparaele.“Nósqueremosoquequeremos,certo?”

Kaibalançaacabeçaparamim.

Então,Damonnãoéoúnicoobjetivoaqui.Emalgumlugaraolongodocaminho,tornou-sesobremim,também.GabrielmefeztrabalharparaKai,entãoeuofiz.Masnenhumcontrato,nenhumaBanks.

“Vocêvesteasroupasdele,”dizKaiparamim.“Vocêmalcome.Elecontrolaasualiberdade,suacomida,suasamizades....oquevocêquer,garota?Sevocêfosseele,sevocêfosseumhomem,oquevocêfaria?Oquevocêtomaria?”

Eudisparo,rodeandoacadeiradeWillechegandoao ladodeKai. Inclinando-meparabaixo,eupegoocontratodamesaeumadesuascanetas,virandoparaapáginafinal.EurapidamenterabiscadoKaiMoriemsuamalditaescritaquaseexatamentecomoeutinhavistoemoutrosdocumentosnodojo.

Jogando a caneta para baixo, eu coloco o contrato de volta no lugar, deslizo para dentro doenveloperasgado,eentregoaele.

Vamosacabarcomisso.Estouchamandoseublefe.Cancelaresteacordoidiotaemedeixarir,oudarospapéisparaGabrieledeixarmeuirmãovoltarparacasa.

“Agora você temuma escrava até seu casamento,” eu o desafio. “O que você vai fazer comigo?Tirarminhasroupasaquiedobrar-mesobreamesa,garotão?”

Elepegaoenvelope,umsorrisoamargonoslábios.“Não.Issoébomedoce.Algoqueeuvoufazerparaanovaesposinha,”elezomba.“Meusbrinquedosrecebemumpoucomaisdedesgasteelágrimas.”

OuçoWillbufaràminhaesquerdaeemseguidaelesoltaumsuspiro."Droga."

Michael passa amão sobre o rosto, parecendo exasperado, eKai apenas olha paramim.Ele selevanta,pegandoopaletódacadeiraerolandoparabaixoasmangas.

“Váaodojo,”elemeordena.“Vaiserumlongodia.”

Horasmaistarde,eestousufocada.Eleestavamefazendotrabalharpracaramba.

DepoisdelidarcomoencanadoredoisempreiteirosquemedizemqueumanoéumaestimativarazoávelparaaquelepedaçodemerdadecasebrequeKaivive,eutinhavoltadoparaodojoparapassarorestodaporradodialidandocommaismerda.Umamáquinadelavarexplodiu,algumjogadoridiotadoStormamigodoMichaeldeixoucairseucelularnobanheiro,umagarotanasuaquartaauladeaikidoestasemanavomitounolobby,eporquediaboseuestoulidandocomessamerda?

Kaiestábravo,econtinuomefalandoparairemborahoje.Ninguémpodememanteraqui,eeunãoestoupresaaumcontratoestúpido.Eudigoamimmesmaqueépelomeuirmão.Sente-sefirmeeapenasrespireatéchegarahora.

DigoamimmesmaquenãovoudeixarKaivencer.Eleestátentandomeempurrar,emeuorgulhoestáemjogo.

Edigoamimmesmaquetenhoumdever.EuassumiumcompromissocomacasadeGabriel,eeunãovoumedobrar.

Masaverdadeéqueeunãotenhooutrolugarparair.Euconseguiumsaláriohoje.Umchequedeverdade,emitidoparasacarmaisdeumsalárioqueeufaçoemummêscommeupai.Seeusairagora,semoutroplano,estareisozinha.Gabrielnãovaimelevardevoltaseeuquebraroacordo,eestareiforadocircuito,incapazdeaindaserosolhoseouvidosdeDamon.

Eutenhotodososmotivosparaficar.

MasmeuhumornãotemqualquermelhoraquandoRikaeAlexentramenquantoestoucatandolixodochão,seusriosdecabelo,perfumedecemdólares,eshortscurtosbonitosnoclimadesessentagrausamplificandotodaamerdaqueeuestavamesentindo.

Especialmentemeuciúme.

CadacentímetrodeKaiquemetocounanoitepassadatocouelaumavez.

Eusempremeressentidela.Apartirdomomentoqueeuouvipelaprimeiravezsobreela,Michaele Kai na sauna no Hunter-Bailey. Mas as coisas são diferentes agora. Minha ligação com Kai estácrescendo, e cadamomentoqueeleeeuestamosnomesmoquartoeelenãoestáme tocandome fazquere-lomais.

Euodeioqueelesseveemtodomalditodia.Eumalpossocontermeuódioenquantoolhoparaascostasdelaenquantocaminhaparaovestiário.

Euterminodejogarastoalhassujasnamáquinadelavar,esaiodalavandaria,empurrandoaportadevaivémtãofortequebatenaparede.

Éhoradeirparacasa.Euprecisodeumtempoeumacaminhadaagradável,longa,saindodaqui.

EuvouparaoescritórioparadizeraKai,maselenãoestálá.Estouprestesasaireprocurarporele,masotelefonefixosobreamesacomeçaatocar.Pego-orapidamente.

“Sensou.”

“Quemé?”Umcarapergunta,parecendoconfuso.

“Quemé?”Eurespondo.

“Ah.Banks,”dizele,finalmentenotandoaminhavoz.“ÉoMichael.OndeestáKai?”

Pego o telefone sem fio e ando para o corredor, olhando lentamente para a esquerda e para adireita.“Saiuporalgunsminutos,euacho.Possopassaralgumrecado?”

"Não.Eunãoconfioemvocê,lembra?”

Sorrio baixinho, caminhandomais pelo corredor. “Isso é inteligente de você,Michael. Você estáaprendendo.”

Maseuparo,vendoRikaeKainoátrio.Eupermaneçoescondida,vendo-osconversar.Aseveridadequesempreendureceseusolhosparaolharumestudanteeternoémaissuaveagora.Relaxado.

Édifícilrespirar.

Eleestámuitoperto.Tambémsorrisuavementedemaisparaelaetocaemseubraçomuitotempo.

“MasvocêconfiaemKai?”PerguntoaMichael,aindaolhandoparaeles.“Cegamente?”

“Oqueéqueissoquerdizer?”

Eubalançoacabeça,observandoquandoKaifazseucaminhoparaaGrandeSalaeRikavememminhadireção,devoltaparaocorredor.

Viro-me,relaxandonaparedeeolhandoparabaixoquandoelapassa.Eladesapareceemumadassalasdetreino.

Limpoagarganta.“Nada,”eudigo."Estouentediada.Algumrecadoounão?”Elenãodiznada.

“Tudobem,voudizerquevocêligou.”

"Espera."

Paro,colocandooreceptordevoltaaomeuouvido."Sim?"

Ouço seu suspiro do outro lado,mas o cara para de falar de novo de repente. Espero, ouvindoapenasosilêncio.

“Oi?”Eucutuco.

“Você acha que você é tão esperta, não é?”Ele finalmente pergunta. "Está bementão. Se vocêfosseeu,naminhasituação,oquevocêfariaparafortalecerseudomíniosobretodososseusferrosnofogo?Vocêdissequenóséramosfracos.Onde?Comoque?"

Euquasesorrio.Eleestáfalandosério?

Eucaminhodevoltaparaocorredor,derepenteintrigada.“Vocêestámepedindoconselhos?”

“Estou pedindo para você colocar seu dinheiro onde sua boca inteligente está, pestinha,” eleresponde.“Finjaquevocêadministraminhaequipeagora.Oquevocêfaria?"

“Oquefazvocêpensarqueeuoajudaria?”

“Porqueeuachoquevocêestámorrendoparaalgumusorealdassuashabilidades.”

Bem,eleestácertonisso.Kainãoestámeusandocomtodomeupotencial,eeuadoroterumlugaràmesa.Eumatariaparalhedizerexatamenteoquepensodeleedesuaoperaçãodeensinomédio.

Eu paro na entrada da sala de treino e vou para trás, observandoRika jogar blocos contra seubonecoWingChun.Elamanobra, batendonospostes, rápido,masmetodicamente, parandode vez emquandoparacorrigirsuapostura.

Ederepentemeocorre.

Michaelestáacariciandomeuorgulho.

“Sensou”significa“guerra”emjaponês.Estelugar,onome,oqueelesfazemaqui...épartedeummaiorobjetivo.

Rikapodesersuave,maselaestátreinando.Michaelpodeserdescuidado,maseleéatento.Willpodeserfraco,maseletemKai.

EKaiestásepreparando.

Essaspessoassãomeusinimigos.

“Seeufossevocê,”respondocalmamente.“Aprimeiracoisaqueeufariaseriamedemitir.Eunãosousuaamiga."

Eeudesligoaligação.

Euqueroqueissoacabe.

Estoucansadadasvoltaseespera,eenquantoeuseiquemeuirmãoéparcialmenteresponsávelpor todaamerdaemqueeleseencontrounoanopassado,ele temtodososmotivosparaseressentirdessaspessoas.Elesnãolutaramporele.Tãofacilmenteelesdesistiramdele,nãoé?

Eeutenhotodososmotivosparaodiá-la.

Sigoatéaporta,encostadanobatenteeobservandoseutrabalho.

MesmoseDamonvierparacasa,mesmoquealgummilagreoreconciliecomseusamigos,enãohajamaisqualquersangueruim,KaiMori,aindaassim,nãoseránadamaisparamimdoqueeleéagora.

Nãocomelaporperto.Eletransoucomela,porqueeleaquis,emesmoqueessedesejotenhadiminuídoaolongodotempo,elenuncavaidesaparecer.Bastaolharparaela.Opacoteperfeito.Inteligente,rica,bonita.Etodoselessimplesmentepensamqueelaéacoisamaisdoce,também.

Eutragominhasmãosparacima,distraidamenteestalandomeusdedos,dobrandocadadedoparatrásatéouviroscrackseestalos.

Sim,raivaémelhor.Eufiqueitãoperdidananoitepassada,meafundandoemcomotudoparecia,sersegurada,tocadaebeijada....masissotrouxenadaalémdeconfusão.

Araivaéumalinhareta.Elatemumalvo.

"Vocêprecisadealgumacoisa?"

Pisco, levantando os olhos. Rika tem a cabeça virada, olhando para mim por cima do ombroenquantoofega.Eunãopercebiqueelamenotou.

Incapazdeesconderminhadistração,eulentamenteentronasala,indoemdireçãoaela.Damoneeuambosherdamosanaturezametódicadonossopai,masDamontambémtemumpoucodepaciência.Eunão.

“Vocêjáesteverealmenteemumaluta?”Pergunto,apontandoparaomanequim.

"Sim.Porque?”Elaendireitaascostas,tornando-seumpoucomaisalta.

Eu ando em volta deWing Chun, avaliando-o. “Você gasta muito tempo em sua postura e suaforma,”eudigoaela.“Amaioriadaspessoasquelutamestãolutandoparasobreviver.Nãoháregras.Nãohá fair play. Sem tempo paramanter a distância de ataque adequada. Todos os seus planos vão pelajanela.”

“Nãosepreocupe,”elameassegura.“Euseicomopuxarcabelo,arranhar,echutarseprecisar.”

“E morder,” acrescento, observando-a voltar ao seu manequim. “Quando Damon amarra-lanovamente,mostrealutadoraquevocêé.Elevaisedivertir.”

Elavira,fúriaemseusolhos.

E eu não consigo evitar o sorriso que vem para fora. Sim, eu sei tudo sobrePithom, o iate dafamília deMichael, no ano passado e como ele a assustava.Não que eu aprovei na época,masDeus,esperoqueeleváfazertudooquepodeparacriarproblemasparaelaagora.

Diminuominhavoz.“Euseiquevocêevitouoscarasdeirematrásdelenoanopassado.Euseiquevocêinsisteemficarsozinhanacobertura,semproteção,quandoMichaelestáforadacidade.”Euavançoparaafrente,sempiscarnenhumavez.“Eutambémseiquevocêgostadasmãosdeumhomememvocê,eelasnãotêmnecessariamentedeserdoseunoivo,nãoé?Então,quandoDamonvierparavocê,nãoseesqueçadelutarumpouco,porprecaução,ok?Assim,Michaelacreditaráemsuasmentirasquandovocêdisseraelequenãoquercadacentímetrodele.”

Seurostosecontorceemfúria,eelarosna,balançandoparatrásopunhoemebatendodooutrolado da mandíbula. Eu tropeço um passo para o lado, perdendo o fôlego e fechando meus olhos emreflexo.

Masocalordaadrenalinainundameupeito.Sim.

Eurapidamentemeendireitonovamente,meforçandoaencará-la.Adorafundaprofundamentenoosso,eminhapelequeima.Tocandonocantodomeulábio,eupuxominhamãoparatrás,vendosanguenasminhasmãos.

“Obrigada,”eudigoaela.

Usandotudoqueeutenho,eumetorçoebatoascostasdaminhamãoemseurosto,enviando-aparaochão.Elasecontem,caindodequatro,eeupossoouvi-lapuxaroar,oartendosidotiradodela.Elabateospunhosnochãoumavez,rosnandoderaiva,eantesqueeuperceba,elasevirou,avançandoparamimecolocandoasmãosnomeupeito,nósduascaindodevoltaparaasesteiras.

“Queporraéoseuproblema?”Elagrita,desabandoemcimademim.

Maseunosgiro,colocando-anochãocomigomontandoemcimadelaagora.Agarrandoocabeloloironotopodasuacabeça,meinclino.“Apenasmantendooseumundoemperspectiva,ErikaFane!Nemtodomundosecurvaaosseuspés!”

Batomeupunhoparabaixoemseurosto,maselameempurra,me fazendoperdermeuaperto.Agarroseupescoçoentãoebatonelamaisduasvezes.

Elarosna,tirandomeugorrodacabeçaepuxandomeucabelo,forçandominhacabeçaparabaixo

emeucourocabeludo.Euestremeçodedor.

Maldita!

Eudeveriatercortadomeucabelo.Anosatrás.ÉapenasaúnicapartedemimqueaindaéNikenãoBanks,eeumeprendinissoporalgummotivo.

Eupercomeupodersobreela,dando-lhetemposuficienteparameempurrar fora.Elamesolta,sentandoejogandosuaperna,mechutandonoestômago.

Eeunãoconsigorespirar.Minhagargantafecha,eeulutopararespirar.Tusso,mecurvando.Meuestômagopassoupelamalditaespinha?

“Vocêterminou?”Elagrita,eeunotoqueelatemumfiodesanguesaindodeseunariz.

Umapontadamomentâneadesatisfaçãomebatecomador.Elamefezsangrar,afinaldecontas.Éjusto.

“Ainda não.” Eu respondo para ela, agarrando seu pescoço novamente e enrolandomeus dedoscomtantaforçaqueminhasunhascravamemsuapele.

Elaengasga,osolhosarregalamconformeelasegurameupulso.Euseiquetinharasgadoapele.

Mãosmeagarramportrásemepuxamparalonge,decimadela.

“Quediabos?”OuçoKairosnar.Virominhacabeça,voltandobrevementemeuolharnele.

Eleaindaestácomascalçasdetreinodeantes,masagorasuoraparecenasextremidadesdeseucabeloeseupeitobrilha.

“Não!”RikaempurraKai,fervendo.“Vamosacabarcomisso!”

Sorrio baixinho, vendo as quatro meias-luas vermelhas tatuadas em sua pele ao longo de suajugular, onde uma pequena cicatriz que ela já tinha estava. Olho para as minhas unhas, vejo sanguemisturadocomsujeira.

Douumaguinadaparaelanovamente,masKaimepega,mepuxandoparatrás.

“Basta!” Ele vem entre nós, gritando. “Todo mundo está vendo vocês duas. Que diabos estáacontecendo?”

Espectadores permanecem fora da sala, espiando a comoção. Voltando para Rika, eu envolvo ocortenaminhabochechaecuspoosanguenospésdela.

Elaselançaparamimnovamente.

“Droga!”Kaime agarra pelo colarinho,me empurrando para trás. Ele aponta o dedo naminhacara,osdentesàmostraquandomeencaracomumolhardeadvertência.

Voltando-separaRika,eleinclinaacabeçaparacima,verificandoseunarizsangrando.“Vocêestábem?”

Elaestábem?Suapequenaprincesadeuoprimeirosoco,imbecil.

“Euestoubem.”Elaviraacabeçaparaforadesuasmãos,medesafiando.“Eupossoterqualquercoisaquevocêteve!”

“Eutenhocerteza!Emambasasextremidades,ouvidizer!”

Elavemparamimnovamente,masKaiaempurraparatrás,virando-separamim.“Queporraéoproblemacomvocê?”

“Eunãogostodela,enãotrabalhoparaela,entãovoufazeraporraqueeuquiser!”Eugrito.

“Vocêvaifazeroqueeuquiser,”elesussurra,ficandonaminhacara."Fimdahistória."

Olhando em volta demim, ele fala à plateia reunida. “Continuem, todos. Acabou.”E paraRika,“Deixe-nossozinhos,porfavor.”

Elanãosemoveporummomento,aindaolhandoparamimevermelhadoesforço,eseurabodecavalopenduradoporumfio.Maselafinalmentepassapornós,deixandoasala.

Euouçoasvozesdesapareceremlentamenteconformetodosvãocuidardosseusnegóciosesaem.

“OquevocêtemcontraRika?”Kaiquestiona.“Vocênãofaloucomelaumavezoumalolhouparaela.Oqueéisso?"

Tomandomeupunho,eulimpoosanguedaminhaboca,nãolherespondendo.

"Vocêestácomciúmes?"

Dou-lheumolhar'foda-se'evoltoaolharparaoespelhoatrásdele.

Possosentirseusolhosemmim,corroendoapequenadistânciaentrenóseenvolvendomeucorpocomoumagaiola.

“Oquevocêquerdizercom'emambasasextremidades'?”

"Vocêsabeoqueeuquerodizer."

Opequenotriodelesnasauna.Kainafrente.Michaelatrás.Quantasvezesissoaconteceudepoisdaquilo?

“VocêouviusobreRikaeeu?”Suavozébaixa.“Sobreasauna?”

Quemnãoouviu?Elesforamvistos,apareceunoclubetodo,enãoésegredooqueelesenteporela.Estálácadavezqueeleolhaparaela.

"Eu-"

“Não.” Eu o interrompo. “Eu tive minha cota de suas histórias, e eu não poderia me importarmenos-”

“Shh,shh,shh...”eleapertaodedonosmeuslábios,balançandoacabeçaparamim.“Nãovamosfazer issoaqui,ok?Precisamosconversar sobre isso,masemalgum lugarquenóspodemos realmenteconversar.”

Eseuolharficaescuro,medizendoqueháoutrosignificadoparasuaspalavras.

Realmentefalar?Onde?

Soltandoamão,elecaminhaemvoltademim,saindodasala.

“Oquevocêquerdizer?”Eugritoatrásdele.

“Vocêvaidescobrir,”elejogaporcimadoombroe,emseguida,desaparece.

Capítulo18Banks

Presente

Umahoramaistarde,eeuaindaestounolimite.Estavacansadaantesdalutanodojo,masagoraestouligada,acordada,ecomraivademimmesma.Minhascartasestãonamesaagora.

Ela sabe que eu a odeio, então não há como me aproximar dela se eu precisar, e Kai estáprovavelmente saboreandominha exibição nojenta de ciúme. O que Damonme disse, várias vezes? Ésempremelhordizeromínimopossível.Quantomaismisteriosovocêé,menospoderelestêm.

Eeufuiefoditudo.

Desço a rua tranquila, entrando no Halston Park, a área comercial da Meridian City. É poucodepoisdasnove,eeuolhoparaocéu,finalmentecapazdeveralgumasestrelas.Asluzesemtodolugarnestacidadesãomuitobrilhantesparavermuitasmais.

OqueaAlexquer?Elamandouumamensagem,dizendoqueKaiqueriaqueeuaencontrassenaMcGiverneBourne.

Eununcaestivelá,masseiqueéumalojadedepartamentosluxuosa.

Virandoemumcorredor,tiroumcabelodomeuolhoecolocodevoltasobomeugorroquandomeaproximodasportasdevidrodoedifício.

Levantominhamãoparabater,masparo,vendoqueestáescuronointerior.Háalgumasluzesdeemergênciabrilhandolánofundo,corredoresiluminados,masestalojaestáfechada.Porqueelamedisseparaviraqui?

Foda-se.Soltominhamãoemeviroparasair.

“Ah,nãoseatreva!”Umavozdemulhergrita.

Viro-me,vendoAlexsaindopelasportas.Elausaumablusaondulante,brancasexyquependedoseuombrocomleggingspretasebotasdecouromarromatéosjoelhos.Ocorre-mequeeuquasesempreapenasaviemroupasdeginástica.AlémdafestadeMichael.

Elapulaeagarraminhamão,mepuxando.

Seguromeussaltos.“Oqueéisso?Estelugarnãoestáfechado?”

“Nãoparanós,”elacanta."Venha."

Elaabreaportadevolta,meforçandoparadentro.

“Oqueestáacontecendo?”Eugemo.

“OrdensdeKai,”Alexresponde.“Cale-seesiga-me.”

Um segurança em um uniforme cinza escuro se aproxima, fechando a porta atrás de nós.“Divirtam-se,senhoras.”

“Obrigada,Pip,”Alexdiz.

“Phillipe,”elecorrige.

“Queseja.”

Apertoosolhossobreela."Vocêoconhece?"

“Não,acabamosdenosconhecer.Elecaiurápido,noentanto.”

Reviroosolhos.Oqueestáacontecendo?Claramente,a lojaestá fechada.Excetoparanós.Porque?

Minhasbotasdecombateguinchamatravésdospisosdemármore,eeuolhoparacimanovamente,esquecendomomentaneamentederesistiraelaconformeoaremmeuspulmõeséexpelido.

Uau.Pelomenoscincoandaresestãoempilhadosemcimadenós.Nósparamosnaparteinferiordoátrio,eeuvirominhacabeçaparafrenteeparatrás,vendocomooslancesacimadenóscirculamoperímetrodoespaçoaberto,todoocaminhoatéaclaraboianotopodoedifício.Cadaandarpoderiaolharsobreabordaenosveraquiembaixo.

Umlustreenormeestápenduradonoalto,e tudobrilhabrancoedouradoenquantoocheirodecouroeperfumessoprasobremim.

Passamosporvitrinesdejoias,balcõesdeperfumes,ebolsas,enquantoquadrosestãopenduradosem todos os lugares, exibindo pessoas bonitas em iates e em casas de neve de luxo brandindo seusrelógiosdedezmil dólares oubotasde camurçaque vocêpoderia facilmentepegar aqui e então vocêtambém,seriamagicamente transportadaparaum iatenoMediterrâneoouumacasaemAspenouumclubedepolonaEscócia.

Eucostumavasonharqueminhamãeeeuiriamosàscomprasemalgumlugarcomoestequandoeuerapequena.

Algum dia, quando fossemos ricas e todos os problemas tivessem ido embora, teríamos coisasbonitas,euseriapopular,eminhavidarealteriacomeçado.

Parecequeparte demimainda está sonhando com isso. Sempre esperando.Aguardandominhahora.

“Vocêjáesteveaquiantes?”Alexpergunta,melevandoparaumelevador.

"Não."

“É legal, não é?” Ela aperta o botão para o quarto andar e as portas do elevador se fecham,imediatamentecomeçandoasubir.“Vocêjáviuaquelefilmeantigodosanos80?Mannequin?"

Cruzoosbraçossobreopeito,balançandoacabeça.

“Bem,umvitrinistatrabalhaànoiteemumalojadedepartamentocomoesta,esemprepareceumuitodivertidoserele, sabe?Ter todoo lugarparasimesmoparaexperimentaras roupas,explorarebrincarcomtudo.”

Oelevadorpara,asportasseabrem,eelasai,nãomeesperandoparasegui-la.

“Olha,jáédepoisdasnove.”Eusigoatrásenquantopassamosporumlabirintodeprateleiras.“Euaindatenhoumascoisasparacuidarhojeànoite.Oqueestoufazendoaqui?”

Ela delicadamente pega um pedaço de seda - lingerie? - roupas íntimas combinando.“Experimentarroupas,explorarebrincarcomtudo”elarespondefrancamente, inspecionandoaspeçasderoupa.

Elaseguraotopatémim,eeurecuo,vendoalçasfinas,rendas,botões,eumaporradadetecidofaltandoquedeveriaestar cobrindoabarriga. Jesus. Issonão é roupa.Sãopedaçosque sobraramdasroupas.

Ela aperta os lábios, me avaliando. “Hmmm... cabelo castanho escuro. pele bronzeada. Ardósiacinza,sim.Issovaificarmuitobem.”

“Ficarmuitobemparaque?”Euficotensa.“Eunãovouusarisso.”

“Oh,peloamordeDeus.”Elabaixaosbraços,suspirando.“Vocêpoderiatomarumabebida,porfavor?Muitasbebidas?”

Viro-meparasair.Estaéaúltimacoisaqueeuprecisohoje.

Masumcorpoderepentebloqueiameucaminho,eeurespirofundo,indoparatrásnovamente.

WillGraysonolhaparamim,sorrindo.

“Oque você está fazendo aqui?”Eu explodo.Ele não está extravagante, e seus olhosnão estãoencapuzados,comodecostume.“Sóbrioumavez?”

Elerieandaemvoltademim,começandoamexernascalcinhasnamesa.ElepegaumatangapretaeaatiraparaAlexantesdevirardevoltaeprocurarpormaisqueelegoste.

Émelhorissoserparaela.

“Olha,eutenhoqueir.”Eumevirodevoltaecaminhoemdireçãoaoselevadores.

“Asportasestãotrancadas,”elegrita.

“Nãosepreocupe.”Olhoporcimadomeuombroparaele.“Issonãovaimeimpedir.”

Ele joga outra peça paraAlex, falando com ela. “Vá pegarmais algumas coisas.” Ela balança acabeçaeseafasta,eelecaminhaatémim.Paroemeviro.

“Olha.”Elesuspira,olhandoparamimcomoseeufosseumacriança.“Vocêparecequenãotemummontedeamigos,euau,issoéumchoque,masAlexparecegostardevocê,eeugostodela,entãoeutentoserumamigo.”

“Issodevecustarumapequenafortuna.”

Elelevantaumasobrancelha,nãoapreciandoaminhaobservação.“Elaprovidenciouparaolocalserabertodepoisdahoradefechar,assimvocênãoficarianervosaporcontadetodasas...oh,qualéapalavra?”Elebatenoqueixo,fingindopensar."Pessoas?"

Queseja.

Sim,eunãogostodepessoas,maséumaescolhaconsciente,nãoumproblema.

Eupoderialidarcomelas.Seeuquisesse.Queeunãoquero.

“Kai quer que você compre roupas,” continua ele. “Elas não têm que ser sexy ou femininas oumesmotãoelegantescomoaquelacalçajeansimpressionanteherdadadehomemquevocêestávestindocomosrecortesdemaçosdecigarrosdeDamonnobolsodetrás.Maselastêmqueseragradáveis,elastêmqueservirdireito,eelastêmquesersuas.Estouaquiparamecertificardequevocêfaçaisso.”

“EuprefirocomerminhamãodoquedeixarKaiMoripagaraminhamerda,”eufaloentredentes.

“Elenãoestápagando.GraymorCristaneestá.”Elecaminhaatémim,meforçandoairparatrás.“Vocêéumaempregada,evocênosrepresenta.Temosumacontadedespesaspararoupa.Nãoépessoal.Étrabalho.Evocêsemprepareceumamerda,entãoaquiestamos.”Elejogaosbraços,apontandoparaaenormemaliluminadalojadedepartamentos,evazia,ondeestamosagoraàsnoveemeiadanoite.

Queelestinhamcompletamentearranjadocommeuconfortoemmente.

“Agora,sente-se,”eleordena,“precisoirbuscarumsutiãparacombinarcomsuacalcinha.”

Umpoucomaisdeumahoradepois,estamosnocarrodeWill,dirigindopelacidadecomapartedetrásrepletadesacolas.Eunãopossoacreditarnoqueaconteceu.Ouoquãorápidoissoaconteceu.Alexera como um tornado, e ela eWill falavam rápido demais para eu conseguir pensar ou discutir. Elescomeçaramaescolherascoisasqueeuodiei,eantesqueeupercebesse,euestavajogandoforaroupasqueeunãogostavaemantendoaquelasqueeupensavaquepudessesercapazdeusar.Edepoisdemaisalgunsminutos,euparticipeiecompreitodaamerda.

Eusentolá,aindaumpoucoatordoada.

Eu provavelmente apenas me livraria da maior parte disso. Colocaria na caixa de doação doGoodwillefariaamanhãdeNataldealguémamanhã,certo?

Ouei,tenhocertezaqueminhamãeadorariaascoisas.Porquenão?

Eunãogostavadeninguémpagandominhascoisas.Deixava-meemdívida.

Masémeiodivertidoentregar-meàfantasiadequetudoissoémeu.Que,poralgunsminutos,eutenhosacolasesacolasdepequenostesourosecoisasnovas,bonitas,quenuncapertenceramaninguémequalquermulhernacidademeinvejariaporelas.

Euatégosteidasensaçãodalingeriecinzaardósiaquandoelameempurrouemumcamarimparaexperimentar.PenseicomoficariaorostodeKaiseelemevisse.

“Bem, obrigada.” Olho para Alex no banco aomeu lado enquantoWill dirige. “E obrigada pelacaronaparacasa.”

Elamedáumsorrisosincero."Denada.Evocêpoderiaterusadoumdeseusnovostrajes,nãoé.”Seusolhosvãoparaamesmaroupasujaqueeuuseinaloja.

Doudeombros."Euvoudormirdaquiapouco.Odiafoi longo.Nãohásentidoemarriscarsujaralgumacoisa.”

ViromeusolhosparaWill,observando-opuxarumatragadadoseucigarro,enquantoAlexcomeça

adigitaremseutelefone.Elestêmumrelacionamentoestranho.Elessãoamigos,quedormemumcomooutro,maselestambémdormemcomoutraspessoas.

Masquemsoueuparafalar?Eunãotiveumaúnicarelaçãosaudávelnaminhavida.Pelomenoselesgostamumdooutro.

Meucelularvibranomeubolso,eeuenfioamãonajaqueta,pescando-o.

“Alô?”Respondo.

“Ei,problemas.”

Essetomsuave,profundocaicomomelnomeuouvido.Apenasumapessoapodefazeressasduaspalavrassoaremcomoumaameaça.

Meupeitosobeedescemaisemaisrápido,emeucoraçãodispara.

Deus,eunãoouviaavozhátantotempo,eeuolhoparaaAlexedepoisparaWill,certificando-medequeeunãotinhachamadoaatençãoparamimmesma.Willobservaarua,enquantoAlexvirouparaolharpelajanela.

“Ei,um...”respirocomdificuldade, lambendomeus lábiosressecadosconformemantenhominhavozbaixa.“Eurealmentenãopossofalaragora.Eupossoligarparavocêdevolta?"

“Vocêsedivertiuhojeànoite?”Elepergunta.

Estanoite?Como...

Deus,Kaiestácerto.Damonestámeobservando,também?Oueleestátendoalguémmeseguindo.Elesabesobreanoitepassada?

“Elesvãotemachucar,”elemediz.“Eelevaijogá-laforacomolixo,porqueéissoquevagabundassão.Lixo."

Meuqueixotreme.

“Seeufossedeixarminhairmãzinhapassarsuabucetaparaosmeusamigos,”dizele,“euteria,pelomenosdadoparaWillprimeiro.Eleeraomaisleal.”

EuolhoparaWillenquantoeledirige,completamentealheioacomquemestoufalando.

“Eutenhoqueir,”digoaomeuirmão.

“Elevaimorrer,”elecospe.

Ele.Kai?

“Nãoporqueelemetraiu,masporquevocêofez,”eleexplica.“Issovaisertudoculpasua.”

Meucoraçãobatetãofortequedói.NãohádúvidasemminhamentequeDamonfariaisso.Elenãotemnadaaperder.

Eeleéobstinadoemsuaideiadoqueécertoeoqueéerrado.Traiçãoéimperdoável.

Limpoagarganta,mantendoasminhaspalavrasvagas,jáqueAlexeWillestãosentadosaqui."Eucuidareidisso."

“Eujáestoufazendoisso.Équarta-feiraànoite.Eleestánormalmentenacatedralessahora,nãoé?"

Fechoosolhos.“Não,”eusussurro.

Maselejádesligou.

"Alô?"

Aoutraextremidadedalinhaestámuda.

Droga.Kai trabalhaaté tardenasnoitesdequarta-feira.Então,ele tomabanhoecomeedirigeparaThunderBayparaaCatedraldeSaintRaphael.Àsvezes,eleentranoconfessionário,àsvezeselepasseiaeolhaaarte.Àsvezes,eleficalámenosdedezminutos,àsvezesmaisdeumahora.

Elevaitodaquarta-feira,noentanto.Toda.Quarta.Feira.

Ele deve ser um especialista em autodefesa, certo? “Variar sua rotina” não é uma medidapreventiva,droga?

Euenfiootelefonenomeubolso.“VocêpodemelevarparaaSt.Raphael?”GritoparaWill.

“EmThunderBay?”Eleolhaporcimadoombroparamim.“Porque?”

“Eusóprecisochegarlá.”

“Esuasroupas?”

“Eunãodouamínimaparaasroupas,”eumordo.“Sómedeixepegarseucarro,então?Porfavor!”

“Tudobem,tudobem.”Elesuspiraegiraovolanteparaaesquerda,virandoeacelerandopelaruaestreita,emdireçãoàrodovia.“Eutelevo.”

Eupuxomeucintodesegurança."Várápido."

Capítulo19Kai

Presente

“Kai?”

Viro-me,seguindoavoz.

Acatedralestápraticamentevazia,excetopormimeumparde faxineirosàespreitaemalgumlugar,mas as portas ainda estão destrancadas.Eunão estou esperandoninguém.Mantendo os braçoscruzadossobreopeito,desçoasEstaçõesdaCruzparaespiaremvoltadascolunasdemármoremaciço.

Banksestánapartedetrásdaigreja,pertodeumadaspiasdeáguabenta,girandolentamenteacabeçaparatráseparaafrente,olhandoparamim.

Comoelasabequeeuestariaaqui?

Não,claro.Elafezsuapesquisa,nãofez?

Deixomeusolhoscaírememsuaforma.Elanãoestavafazendocompras?Euvitodasascomprasentraremnocartão,maselaaindausasuasmesmasroupassujascomogorrodejornaleirocobrindoseucabelocomoantes.Embora,algunsfiosescuroscaiamaoredordorosto.

Éengraçado.Elaparecefazertudooquepodeparadistrairofatoqueelaéumamulher,maselanãopercebequeasroupasqueelausaapenasamplificamseurosto.Semsuascurvasouapelelisa,vocênãotemescolha,anãoserdescansarosolhosnapartedelaquevocêpodever.

Infelizmente,depoisdanoitepassada,euvitudo,eeuseioqueelaescondeagora.Excitaçãoabreseucaminhoatravésdomeucorpo.

Eu saio de trás da coluna, caminhando em direção a ela entre os bancos. Sua cabeçaimediatamenteagarradaamim.

“Vocêestáaquisozinho?”Elapergunta,seusolhosvoandoaoredornovamente.

Eulutoparanãosorrir.Oqueelaestáfazendo?Elaparecenervosa.

“Nãomais,”eudigo,brincandocomela.

“Bem,eusó...”elacontinuaaolharaoredor,olhandoparaavarandaepelocorredoremdireçãoaoaltar.“Hum,eusabiaquevocêestariaaqui,éisso.Penseiqueseria,um...”

“Um...?”

“Uh.”Elaengoleemseco,aindaolhandoaoredor,paraoque,eunãosei.“Uh,eupenseiqueseriaumaboaoportunidadeparadiscutirocasamento.Esteéumespaçoagradávelparaele.Devoreservá-lo?”

Sorriobaixinho."Lógico.Porquenão?"

Queseja.Eunãovoumecasar,porra,emesmoqueeunãoprecisemaisdeacessoaohotel,eurealmenteamoteracessoaela.Gostodela.

Muito.

Alémdisso,elaéminhaúnicaligaçãocomDamon.Eunãoestouprontoparadesistirdelaainda,eelavaiemboranosegundoqueeudisseraoGabrielquenãoháacordo.

“Vocêjáfezasua'confissão'?”Pergunta.

"Não.Eunãofaçoissodesde...”baixoavoz.“Desdeaúltimavezcomvocê.”

"Émesmo?Masvocêvemaquitodasassemanas.”

“Eu?”Provoco.

Agoracomoéquevocêsabedisso?

Masnósdoissabemosqueelafoiomeuprópriosatélitepessoal,mecirculandoaumadistânciadesóDeussabequanto,muitoantesdeeuaparecernoGabrielnaqueledia.

Andoatéela,pelocorredor,edeixomeusolhospercorreremovastosalão.Madeiraescurabrilhaemtodososlugares,desdeosarcosornamentadostrintametrosacimadenós,atéosconfessionáriosnapartedetráseasdezenasdefileirasdebancosemvoltadenós.Eunãovenhoaquiparaumamissaháanos,masocheirodeincensoefloresdocesaindapermanecedaQuaresmaháseismeses.

“VocêsabiaquedeMichael,Will,eDamon,Damonfoioprimeiroqueeuconheci?”Eudigoaela.“Nósnãonostornamostodosamigosrealmenteatéoensinomédio,maseuconheciDamonmuitoantesdisso. Nós dois fomos consagrados aqui quando tínhamos dez anos.” Eu olho para cima e em voltanovamenteantesdeencontrarseusolhos."Juntos.Aulastodaquarta-feira.”

Seusolhossedeslocam.“Evocêvemaqui,porque...”

“Porqueeupossonãosaberondeeleestá,masseiondeeleesteve.Eleé tãoprováveldevoltaraquicomoemqualquerlugar.”

Elaapertaosolhos,parecendoconfusa.“Porqueeleteriaqualquerrazãoparavoltaraqui?Paraacatedral?”

Elarealmentenãosabe?Hã.

Bem,achoqueMichaeleWillnãosabemtambém,nãoéestranhodeDamonmanterascoisasparasimesmo.Algumascoisasdequalquermaneira.

Coisasqueodeixamvulnerável.

Bem, não serei eu a educá-la. Eu venho aqui toda quarta-feira, o mesmo dia da semana quetínhamosnossasaulasquandotínhamosdezanos,porváriasrazões,sendoamais importanteeusaberqueestaigrejaésignificativaparaDamon.

Nesteinstante,porém,eugostodeestarumpassoàfrentedela,eumavezqueelaaindanãoestádomeulado,eunãovouentregarminhasinformações.

“Vocêestámuitobonita,”eudigo,notandoumbatomlilás fracoquecombinacomorosaescuronormaldoseuslábios.

“Vocênãoestárespondendoaminhapergunta.Oquevocênãoestámedizendo?”

“Tudooquevocêpodeusarparachegaràminhafrente.”

Ela desvia o olhar, irritada. Mas ela sabe que faria o mesmo na minha posição. Não somosparceiros–aindanão.

“Tudobem,”elasolta,recuando."Justo.Sintomuitoseincomodeivocê.”Girando,elavaiparaasportasdetrás,maseugrito,parando-a.

“Euviosdébitosnocartãodaempresa,”informoaela.“Porquevocênãoestáusandosuasroupasnovas?”

“Oh,euestou.”

Ela vira de volta, procura dentro de sua jaqueta, e levanta a camisa,mostrando um pedaço derendacinzaescurode lingerieacentuandoaporradabarrigade fora, seiosperfeitoseapele linda.Apartedebaixoabraçasuacinturaumpoucoacimadoumbigo,ecadacurva-domorrodosseusseiosaoàdescidaparaseuquadril,écomosealguémapertassemeuspulmões.

“Merda.”Fechoosolhosnelaeavanço.

Ela grita, correndo para uma fileira de bancos e pulando três fileiras para baixo antes que eupudessechegaratéela.Sorrio.

Correndo em volta, ela segurameus olhos, fogo fluindo entre nós, e eu colocominhasmãos napartedetrásdobanconaminhafrenteenquantoelaficarígidaeespera.

“Vocêtembomgosto,”euprovoco."Estousurpreso."

“Willqueescolheu.”

Meusorrisocai.“Eleteviucomisso?”

Ela assente, parecendo muito satisfeita em admitir isso. “Ele até acertou o meu tamanho decalcinha. Embora eu não ache que haja tecido realmente suficiente lá para chamar uma tanga de‘calcinha’.”

Aquelefilhodaputa!Eupulosobreobanco,eelacorrepelafileira,devoltaparaocorredor.Sigo,perseguindo-a e vendoquandoogorro cai da cabeçae os cabelos se soltam,balançandoenquanto elatentaescapar.

Eupegoapartedetrásdesuajaqueta,puxando-aparamime,emseguida,empurrando-acontraaparededoconfessionário,pressionandomeucorpoaodela.Deus,eupossosenti-laagora.Apressãoemseusseiossefoi,eelaésuaveemtodososlugares.

Enfiandoosdedosnapartedetrásdeseucabelo,eupuxolevemente,forçandooqueixoparacimaeosolhosemmim.

“Vocêéumamalcriada,sabedisso?”Digo.“Eupoderiabateremvocêseeunãoachassequevocêiriapedirissoemsegundosapenasparameirritar.”

“Eununcavoumecomportarparavocê.”

"Éassimentão?"

Elaseinclina,sussurrandosobreminhaboca.“Vocênãoéassustador,semsuamáscara,KaiMori.”

Euapertoomeupunhoemseucabelo,eelagrunhe,arqueando-senapontadospésparaaliviarapressão.

Eunãosouassustador?Ousejanãoaintimidoomínimo.

Droga, ela é difícil de lidar. Constantemente me empurrando, sua porra de orgulho não estádispostoaconcederumcentímetro.

Eumostroosdentes,falandobaixoconformeapuxoparamaisperto.“Vocêjáfaloudemaiscomoproblemaemquesemeteucomabrigahoje.”

Ouço-aengolirconformeendurece.“Eunãoquerofalarsobreela.”

“Eu acho que você precisa.” Puxo minha cabeça de volta para cima, olhando para ela. Raivaaprofundaovincoentreseusolhos,eeupossodizerqueelanãoestábrincandomais.

Agarro-apelajaquetanovamenteeapuxoaoredordoconfessionário.

"Oquevocêestá-"

“Precisamos ir a algum lugar que podemos realmente conversar,” eu digo a ela, empurrando-aatravésdaporta.

Meupébatenogenuflexório,mashátambémumacadeirademadeira,eeupuxoaportafechada,sentandoneleetrazendo-aparaomeucolo.

"Solta."

"Não."

“Não?”Elaexplode.

Olugarestáescurocomobreu,eeumalpossoversuasombra,muitomenostodasascores.Umpequenopedaçodeluzviolandoateladevimeeumpoucomaisatravésdasfissurasnaporta,masparaalémdisso,estamosescondidosdomundo.

Novamente.

“Eunãovoutocaremvocê,”prometo.“Vousoltarminhasmãosagora,porque...”descansominhatestaemseuombro.“Oquecomeçouentrenósaquiháseisanoscomeçouhonesto.Senadamais,apenasquesejasempreassim.Apenasouça."

Aúltimavezqueestivemosaquijuntos,elaouviutudo.Tudooqueeunãoqueriaqueaspessoassoubessem. E eu queria uma pessoa que me conhecia. Eu não queria essa mancha entre nós,simplesmenteporqueeutinhamedodoqueelapensaria.Euprecisavaqueelaentendesse.

Elarespiracomdificuldade,masestáparada,nãofazendonenhummovimentoparasair.

Afrouxandomeuaperto,mantenhominhasmãosdescansadasemsuacintura.“Meupaicostumavamecontarhistóriassobreguerreirosjaponeses,”eudigoaela,mantendoavozbaixa,“que,seeleseramderrotadosnabatalha,cometiamoqueéchamadooseppuku.Umritualsuicida.”Asimagensdoslivrosque eu vi passam pelaminha cabeça, homens emulheres ajoelhados com uma espada em suasmãos.“Usandoumalâminacurta,elesseempalavamefatiavamseusestômagosabertos.Issoiriarecuperarasuahonra.”

Elaouve,eeumeinclinoparatrás,levando-acomigo.

“Elespreferiamsematardoqueviverorestodesuasvidascomvergonha,”euexplico.“Enãosóeles,masissorecuperavaahonradesuafamília,também.”

Elaaindapermaneceparada,massintoelarelaxarumpouco.

“Serpresomudoutudoparamim,”eucontinuo.“-meufuturo,minhafamília,minhaesperança....mesmodepoisqueeusaí,aindapodiaverissonosolhosdosmeuspais.Atristezanosdaminhamãeeadecepçãonosdomeupai.”Meusolhosardem,eeuasintorelaxarcontraomeupeitoenquantoouve.

“Oqueeupoderiafazer,semaporradeumaespadanomeuintestino,quefariaomeupaimeverdamesmaformanovamente?”

Eupassomeusbraços ao redor da cintura dela, ouvindo o rangidoda catedral emvolta denósconformeoventosopradoladodefora.

“Eunãopodiaestarcomumamulher,Banks.Nãopodiatocá-las.Nãopodiabeberousorriroumalcomer.Nãopodiafazernadaquepudessemedarprazer,porqueeunãoeradigno.”

Hesito,nãoquerendomagoá-la,maselaprecisadehonestidade.

“Colocamos Rika através de tal inferno no ano passado,” eu admito. “Nós a culpamos e amarcamos,acolocamosemperigoeaassustamos.Nósaaterrorizamos,Banks.”

Deixominhavozvirarumsussurro.“Elameviuopiorqueeujámecomportei,eelaaindafaloucomigo.Aindaouviu.Aindacolocouosbraçosemvoltademimeporra...”engasgo, lágrimasnascendo.“Nóssimplesmente,nóstrês,precisávamosdaquelemomento.Cadaumporrazõesdiferentes,maselamefezsentircomoseeunãoestivessemaissozinho.Elamefezsentirdesejadoeforte.Eissometrouxeumpoucodepazpelaprimeiravezemumlongotempo.”

Eu posso sentir seu corpo tremendo em meus braços, e sua respiração estremece. Ela chorabaixinho.“Masvocê...”enterromeunarizemseupescoço,cheirandoalgoinebrianteeperfumado.“Vocême faz sentirmotivado. Vocême deixa faminto e em chamas e querendo retardar o tempo em vez dequererapressa-lo.Évocêqueeuprocuroquandoeuentroporaquelasportasdemanhã.Nãoela.Você."

Ela solta uma respiração pesada e vira a cabeça ao redor, encontrando minha boca. Nós nosbeijamos,oslábiosdeladerretendonosmeusenossaslínguasseencontrando,provocandoebrincando,mordendoetomando.Eugemo,meupauinchandodentrodaminhacalça,crescendodoloroso.

“Vocêpodemetocaragora,”elasussurraentrebeijos.

Elanãoprecisafalarduasvezes.

Corrominhasmãos emvoltada sua cintura, sentindo a renda e apele e apertando-a, porqueaminhaadrenalinaestácorrendotãoquentequeestouperdendoocontrole.Elaétãodoce.

Euseguroumdeseusseios,segurando-oparamimesaboreandoasensaçãodela.

“Eugostodosutiã.”Beijoemordoseupescoço“Euamo.”

“Euvoutepagarpelasroupas.”

Tirosuajaqueta,deixando-acairnochão,antesdelevantarsuacamisasobreacabeça."Simvocêvai."

Minha brincadeira sugestiva não parece irritá-la, porque ela me beija novamente, sua línguaroçandocontraaminha.

“Paracomeçar,vocêpodesecomportar,”eudigoaela,amassandoambososseiosnarendacinzanovamente.

“Eusouumapunkderua,Mori”,elaprovoca,deixandobeijinhosnaminhabochechaqueestãomedeixandolouco.“Eulutosujo.”

"Nãomais.Éasuavezagora.”

“Minhavezparaque?”

Eu a empurro para cima domeu colo e a viro ao redor, trazendo-a de novo para ficar entre asminhaspernas.

Olhandoparacimaparaseucontornosuavenoescuro,seguroseusquadrisenquantosuasmãosrepousamsobremeusombros.

“Confessar,”eudigoaela.“Horadevirarapágina.”

Elanãofaznenhummovimentoepermaneceemsilêncio,provavelmentepensandosobreoqueela

devefazer.Oqueeladevemedizer?Oqueelanãodevemedizer?

“Váemfrente,”eupeçoaela.

“Eu ...” seus dedos deslizam em volta domeu pescoço, e ela solta uma risada nervosa. “Uh ...perdoe-meóPai,porquepequei.Temsido…"

Elaparadefalarquandoeudesabotooacalçajeanseadeixocairpelaspernas.

“Fazseisanosdesdeaminhaúltimaconfissão.”

Elapisaparaforadascalças,paraoladodeforadasminhaspernas,esenta,montandomeucolo.

Fechoosolhosporummomento,passandominhasmãosdescendoparasuabunda.Estoudevoltalánovamente.NaTorredoSino,muitoantesdetudoiramerda,eestoufeliz.

“Eu ...” ela pressiona sua virilha na minha, inclinando-se. “Não sei por onde começar. Estounervosa.”

“Muitospecados,hein?”

Ouçosuarisada,esorrio.

“Ok,deixe-meajudá-la.”Euaapertoemminhasmãos.“Vocêpensoumuitoemmimmuitoduranteosúltimosseisanos?”

“Sim,”elasussurra.

Cavomeusdedos,sentindosuapelelisaearendadacalcinha.

“Algunsdospensamentoserambons?”Questiono.

Elainclinaopeitonomeu,seuslábiosroçandoosmeus."Sim."

Calorelétricorodopiabaixo,eeupossosentirquasecadapedacinhodelaentresuaspernas.Meupauestálutandocontraminhacalça.

“Vocêsetocava,pensandoemmim?”

Elacomeçaaofegar,rolandolentamenteseusquadriscontraminhadureza.Sintoelaassentir.

Etiroamãodesuabundaeatragodevoltacomumapancadaafiada.Elagrita,empurrandodevolta."Ei!"

Elaesfregaaáreaqueeubati,maseupegosuamão,trazendo-adevoltaparaomeuombro.

“Issoémuitoimpertinente,”eudigoaela.“Então,oquevocêusava...umvibrador,umtravesseiro...?”

Elarespiranervosaagora.“Hum,minha...aminha,aminhamão.”

Eubatonelanovamentee,emseguida,abeijocomforça,cortandoseugrito.Euesfregoo localqueeubati,sentindoseucorpolentamenterelaxarnovamente.

“Vocêgostoudanoitepassada?”Pergunto.

"Sim."

Outrotapa.

Elacaiparaafrente,ofegante.“Kai...”

"Vocêgostademim?"

Elaofeganomeuouvidoeapertameusombrosforte.“Sim.”

Tapa.

"Vocêgostamuitodemim?"

“Sim!”Elagrita.

Tapa.Elaresmunga,passandoasmãosemcimademimeseuslábiospelomeuqueixo.

“Vocêestáficandofaminta,pequena?”

"Sim."

Tapa.

Eelagemedessavez,começandoaesfregarnomeupau.

“Algumavezvocêjámentiuparamim?”Pergunto,meutomprofundo.

Ela faz uma pausa, e eu bato duas vezes dessa vez, sabendo que era definitivamente a minharesposta.

“Ah!”Elasepressionacontramim.

“Eupossojogarsujotambém.”Levantando-adecimademim,euagiroepuxoacalcinhaporsuaspernas.Tirominhajaquetaedesabotoomeucinto,puxandomeupauparaforasentindoalívioporlhedaralgumespaço.

Puxo-adevoltaparabaixoemmim.

“Issoéchamadodecowgirlreverso,pequena,”Eurosnoemseuouvido."Espere."

Euaempurroparaafrente,suasmãosindoagarrarapequenasaliênciasobateladopadre,eeuseguro sua perna na curva onde encontra seu quadril e usa a outra mão para guiar meu pau.Encontrando-amolhada,empurrosuaaberturae,aomesmotempo,meusquadris,puxo-adevoltaparamim,edeslizoparadentrodeumavez.

Elarespirafundo,eminhacabeçacaiparatrásenquantoeugemo.

Tãoquenteeapertada.

Choramingando, ela aperta osmúsculos em volta demim, segurando-medentro dela. “Oh,meuDeus,”elasuspirabaixinho.

Agarrando um punhado de seu cabelo, eu puxo sua cabeça para trás e tiro, empurrandoprofundamentedenovo.

“Mais,maisrápido,”elageme.

Eeucomeçoafodercomela.Maisrápidoemaisforte,batendonelaenquantoelaagarraabordanafrentedelaeausacomoalavanca,indoparatrásemmim.

Isto é o que eu quero. O que eu sempre quis, desde a primeira vez que a vi. Alguém quemeconheçaequeiramergulharcomigo.

Todososanossentindo-meimpotente,alguémmedizendoquandocomer,dormir,andarefalar,eusaí daquele lugar, me sentindo menos do que humano. Sentindo-me menos do que um cão. Eu fuiremovido,commedodasconsequências seeu tivesse raivaou fosseviolentooumau,entãoeusegureitudo,porqueeununcairiavoltarparalá.Eununcavouseressehomemdenovo,porqueeumateiumapartedemimemateimeuspaisquandofuiembora.

Eeuaindaestavanaprisãoquando saí, vivendocomoumamáquina, entãoeunão iria cometererros,equeriasentiraporradealgumacoisa.Euqueriaempurrarepuxarelutarefoderepossuirtodoestemalditomundonovamente.

Euqueriatomar.

Aperto meus olhos fechados, deleitando-me com quão bonita ela é. Soltando seu cabelo, corrominhasmãossobreseutraseiro,desejandoquehouvesseluzsuficienteparaverseaindaestavavermelhodasurra.

Agarroseusquadriseapenasseguroenquantoelaassumeocontrole,empurrandodevoltaparamim,deslizandoparacimaeparabaixonomeupau.

“Ei,Kai!”Alguémgrita.“Yo,ondevocêestá?”

Will.

Porra.

Banksengasga,eeufechoamãosobresuaboca,nósdoisempécommeupauaindadentrodela.

“Shhhh,” eu falo emseuouvido. Imobilizando-a contraaparede, euabromais suaspernas, tirominhacamisa,easegurofirme,continuandominhasempurradas.

Mas,emseguida,vemavozdeAlex,também.“Banks!”

Quediabos?EuapertominhamãocommaisforçaquantomaisBankscomeçaagemer.

"Eleestáaqui?Elaoencontrou?”EuouçoAlexperguntar.

"Nãosei.Ocarrodeleaindaestálánafrente,”acrescentaWill.“Kai!”

Banksseafastadaminhamão.“Elesmedeixaramaqui,”elasussurra.“Elesestãoprovavelmentechecandoparagarantirqueteencontrei.Devemosparar.”

“Não.”Eubeijoseupescoço,sentindomeuorgasmochegandoconformeeuapalposeupeito.

“Ah,”elachoraminga.“Vaimaisforte.Porfavor."

Beijo seus lábios e a bochecha, orelha e pescoço, em todos os lugares que eu posso chegarenquantoasegurocomforçacontramim.“Sim,sim...oh,Deus.”

Colocominhamãosobresuabocanovamente,masestamostãoperto,queeurealmentenãodouamínimaseWilleAlexnosouvem.SóqueBanksficariaenvergonhadaquandovoltarasi.

“Vocênãofoifeitaparaeles,”eudigoemseuouvidoquandochegoaoredoreesfregoseuclitóris.“NemDamonouGabrielouqualqueroutrapessoa.Você foi feitaparamim,eeuquerovocênaminhacamaestanoite.”

“Eunãovoudormirnaquelelugardemerda.”

Eubatonabundadela,esuarespiraçãoaceleraantesdelavirareagarrarapartedetrásdomeupescoço,beijando-mecomumarisada.

EunãoseiseAlexeWillsaíramounão,maseunãoouçomaisnada,entãoelesousesepararamououviramosruídossaindodoconfessionárioedepoissaíramporvontadeprópria.

Euaesfregomaisemaisrápido,empurrandotãoprofundoquantoeuposso."Vemcá,baby.Vamoslá.”

“Kai,”elachoraminga.

E em seguida, seu corpo aperta, congelando no lugar, apenas segurando enquanto eu bato,trazendoseutraseirodevoltaparamimcadavezmaisforte.

Elagrita,gozandoerespirandocomdificuldadeenquantoficamole,deixando-senaufragarporseucorpo.

Deus,euqueriasaberoqueestáemsuacabeçanessemomento.

Maisalgunssegundos,eualcançomeuclímaxeempurro,derramandodentrodelaemeusdedosapertandoapeleencharcadadesuordeseusquadris.

Ela se segura rápido no pequeno balcão, desesperada por ar no confessionário agora abafadoconformepequenosgemidosescapam.

Prazerpercorre todoomeucorpo,eeumesinto tontoconformedescansominha testaemsuascostas.

Elaéincrível.

Mas puta merda, minha mãe me mataria se ela souber o que eu acabei de fazer e onde. Eurealmentenãomeimporto,noentanto.Estesoueu,eissoéoquefazemos.

Umzumbidovemdealgumlugar,efaçoumapausa,perguntandoseeraomeutelefoneouodelaesedevemosapenasdeixartocar.

Masaospoucos,elaseafastaeseabaixapararecuperarseujeans.

Elatiraotelefoneparafora,eeuvejoumflashdeluzverde,sabendoqueeradodelaquetinhavindoobarulho.

Eladeslizanatelaebatealgumasvezes,emseguida,lê.

“Oqueé?”Pergunto,vendo-aficaralicongelada.

Eladeixacairamãodoseulado,semolharparamim.

“Vanessachegoucedo,”dizelacalmamente.“ElaestáaquiemThunderBay.”

Capítulo20Banks

Presente

Ofracoding-dongdacampainhavêmatéoquartodeDamon,efechoatampadacaixadeKore,andandoatéajanela.AlimusinequemeupaienviouparaKaiestánafrente.

Meuestômagodáumnó.ÉhoradeconhecerVanessa,eeunãoqueroelenestacasacomela.Eunãoqueroelaemqualquerlugarpertodele.Porqueeleveio?

Euabroaportadoquartoedesçoasescadas,ouvindomeucoraçãobateremmeusouvidos.Eupoderiadizeraelequequeroficarcomele,eissoacabaria.Eupoderiadizerqueeuqueroestarcomele,eelevaimelevar,enóspoderemosiremboradaqui.

Maseunãopoderiagarantir-lheminhalealdade.Euseiquenãopoderia.

Fechandoaporta,nofimdaescada,eudouavoltanocorrimãoedesçoospróximosdegraus, jáouvindoHansonabriraportaecumprimentarosconvidados.

“Boanoite,Sr.Mori,”elediz."Sr.Grayson.SenhoritaFane.Porfavor…"

Will e Rika, também? Estou meio agradecida, na verdade. Eles não querem ver Kai fazer algoestúpido,porisso,seelesintervirem,eunãotenhoquefazerisso.Nãotereiqueescolher.

Kaiaparece,emeuspassosdesaceleram,travandoosolhoscomele.Façotudoparanãosorrir.

Euamocomoeleolhaparamimeapenasolha.Euamocomooolhodireitoperfuraumpoucomaisdoqueoesquerdo.Eeuamocomoapenasavisãodelefazmeuestômagodarcambalhotas.

Seuolharcaipelomeucorpo,suavizandoenquantoeleobservaminhasroupasnovas.Nadaexagerado,masojeansnovocaiperfeitamente,eeurealmentegostodacamisetabrancacomdecoteemVeajaquetamilitarbonita.EuatépasseiumpouquinhoderímelqueAlexmeempurrougoelaabaixoontemànoitenaMcGivern&Bourne.

“Kai,comovocêestá?”Gabrielseaproxima,estendendoamão.

Masseutoméfalso,eocorpodeKaificatenso.Elesnãoestãoenganandoumaooutro.

Desçoo restodosdegrausedouumpassoao ladodomeupai,não tenhocertezaseéondeeudeveriaestar.Senãofosse,eupossoestaremoutraconfissãomaistarde.

Minhabundaaindaestáumpoucocruadanoitepassada.

Gabriel me lança um olhar rápido e, em seguida, vira-se para Kai. “Você a tirou fora daquelestraposdela,”dizele."Bemfeito.Nósmeioquesentimosfaltadelaporaqui,naverdade.”

Meupaicutucameuqueixocomosdedos,eosolhosdeKaiestreitamnele.

“Will,”Gabrielcumprimenta,apertandoamãodeWill."Bomteverdenovo."

Will assente, provavelmente quem conhece melhor meu pai dos três deles, uma vez que ele eDamonforammuitopróximos.

“EErikaFane.”Gabrieldáumpassoadiante,invadindoseuespaçoeestendendoamão.“GabrielTorrance.Euacreditoquevocêconheçaomeufilho.”

Os olhosdela semovem,parecendodesconfortável,mas ela toma suamão, aperta-a e afasta-serapidamente.EunãopossoacreditarqueMichaeladeixouvirsemele.Eleémeiocego,maseunãooconsideroignorante.

“Crist é um homem de sorte,” ele diz a ela. E então ele vai para o lado, apontando para elesentrarem.“Vamosentrarnoesconderijo.”

Gabriel vira, abrindo o caminho pelo corredor, e eu sigo, andando ao seu lado.Mas um apertoseguraascostasdomeucasaco,eeupuxoumarespiraçãosúbitaconformeKaimepuxaparatrás.

Paraoseulado.

Continuamosandando,eelenãoolhaoufalacomigoainda.

“Ondeelaestá?”KaiperguntaaGabriel.“Vanessa.”

Otremornomeuestômagodeterelepertomudaparaoutraporradenócomamençãodela,eeufechomeusdedos.

“Poraí,”Gabrielprovocaeentranoescritório.

Ele se aproxima de sua mesa, e todos entram, deixando Hanson para fechar a porta. Willimediatamenteencontraosofádecouroeplantaabundaparabaixo,enquantoRikavaiparaoladodasala.

KaitomaolugaropostoaGabrieldooutroladodamesa.

Gabrielinclinaseuqueixoparamim.“Váverificarojantar.”

“Elanãotrabalhamaisparavocê,”Kaiinterrompeu.

“Naverdade,elatrabalha.Tecnicamentefalando,éclaro.”

Nenhumcontrato.Nenhumacordo.

MasKainãomordeaisca,relaxandoemsuacadeira.“Vouencontraranoivaprimeiro,obrigado.”

Meu pai ri baixinho. “Hanson.” Ele pega o charuto apoiado em seu cinzeiro. “Busque a minhasobrinha.”

Ohomemacenacomacabeça,calmamentedeslizandoparaforadasala.

Euolhoparaforadasportasdopátio,vendoumgrupodemulheresjovenssentadasnasmesasaváriosmetrosdedistância.Eunãoconsigoverseusrostos,masocabeloloiro-brancodeVanessaéfácilosuficienteparaver,eelaestádecostasparamim.

Eseeleforatraídoporela?

“Então,quandoéocasamento?”PerguntaGabriel,eeupisco,vendo-oolharparaRika.

Porummomento,achoqueeleestáperguntandoaKai.

Rikaresponde:“Nenhumadataespecíficaainda.”

“EondeestáMichael?”

SeusolhosbrilhamparaKaiantesderesponder.“Longeemumjogopelodiatodo.”

Meu pai sorri, os pensamentos em sua cabeça mal mantendo-se contidos conforme seus olhoscorremsobreocorpodela.

Kailevantaeandapelasestantesdelivros,colocando-senafrentedela.Meupaiestáfodendoelacomosolhos,eKaisabedisso.Suatestaestáenrugada,incomodado,maselepermaneceemsilêncio,semfalarouolharparamim.Oqueeleestápensando?

E,finalmente,umabatidalevequebraosilêncio.

TodossevoltamouolhamparacimaquandoaportaseabreeVanessaNikovaentra.

Eunãoseioqueeuesperava.Talvezqueelasesentisseestranhaeolhasseparaqualquerlugar,menos para ele, ou talvez que Kai ficasse surpreso e instantaneamente atraído, perdendo toda osemblantedepensamentoaovê-la.

Maselestravamosolhoseapenasolhamumparaooutroporumminutoenquantoelalentamentefechaaporta.

Issoépior.

Corro meus olhos para ele, observando-o assimila-la nos como se ele estivesse realmenteconsiderando-a.

Elaentranasala,vestindoumvestidodefestaprataqueafazpareceretéreacomseucabeloloiroe olhosgrandes e azuis.Ela temamesma cor deRika,masRika é diferente.Ela está viva, eVanessapareceumabonecamantidaemumacaixa.Nenhumaimpressãodigitalsobreela.

Elanãoétãoimaculadapordentro,noentanto.

ElaseaproximadeKai,eeuovejoseendireitar,preparando-se.Estendendoamão,elasorri,assobrancelhasbemcuidadasamolecendoparaele.

“Olá,”eladizdocemente.

Douumameiaroladadeolhoantesdemeconter.Cobradeduascabeças.

“Olá.”Eletomasuamão,aperta-a,e,finalmente,solta.Alguns segundos atrasados, na minhaopinião.

“Vanessa,esteéKaiMori.”Gabrielfazasapresentaçõesoficiais.“Eseusamigos,WilliamGraysonIIIeErikaFane.”

Vanessasevira,seussaltosbatendoquandoelaseaproximadeWilleapertasuamão.Virando-separaRika,porém,elafazumapausa,avaliando-aclaramente,conformeaoutraestendeamãocomumsorrisotenso.

“Rika está prestes a se casar com Michael Crist,” explica Gabriel. “Outro amigo de Kai.Infelizmente,elenãopôdeestaraquihoje.”

Vanessa relaxa, a rachadura em sua fachada selando novamente enquanto ela aperta amão deRika."Prazeremconhecê-la."

Asalaficaemsilêncioquandotodosapenasficamoslá,eeupossoouviroscãeslatindoaolonge,provavelmente com fome. Gabriel alimenta alguns e deixa outros esfomeados, e enquanto os maisexperientessabemquelatirsódeixapior,elesempretemsanguenovoentrandoeaprendendoatorturatodadenovo.

“Bem,” Vanessa finalmente fala, tentando deixar leve. “Nós não teremos problemas de ligaçãoafetivaassim.”

Gabrielri,Kaiofereceumsorriso,eeufaçoumacarranca.Porqueeleestásorrindo?

Porqueelesequeraindaestáaqui?Qualéoseujogoagora?Elenãovairealmentesecasarcomela,peloamordeDeus,entãoporquetentarumvínculo?

“Euprecisodeumpoucodearfresco,”eladizaKai."Evocê?"

Sua cabeça vira como se estivesse prestes a olhar paramim,mas então ele concorda, parando."Parecebom."

Elasorrimaisbrilhante,mostrandoosdentes,esegueparaforadasportasdopátio.“Enãonossiga,”elabrincacomHansonquesemoveuparaacompanhar.“Precisamosdeprivacidade.”

Euolhoapartedetrásdacabeçadelaconformeelesdesaparecem.Apropriedadeéextensa.Elespodemficarforaporumahora.Temposuficienteparaelaencantá-lodequalquermaneiraqueelaqueira.

“Váverificarojantar.”

Olhoaoredor,encontrandoosolhosdeGabriel.Eagoraeuvouservirojantarparaohomemcomquemestoudormindoesuanoiva.Fantástico.

Saindo da sala, eu bato a porta fechada, sabendomuito bem quemeu pai sabe que estou comraiva.Elenãoseimportará.Elesabequeeufareiomeudeverdequalquermaneira,nãoimportaoquantoeuestejabrava.

Umcãoganefora,eeunãoseiseelefoiatacadoporoutrocãoouregidoporumtreinador,masdepoisoutrouivaosommaisangustiantecomoseestivesseimplorando.Paraoque,eunãosei,maseuentronacozinhasentindocomosequisesseacompanhá-lo.Uivaregritare lutaratéqueeuescapeoualguémmetiredaminhamiséria.

“Ei!”Marinaexclama,vendo-meentrarenquantoelalavaasmãosnapia.Seusolhosencantadosobservamminhasroupas."Vocêpareceótima.Quandoistoaconteceu?"

Achoqueelaquerdizeraminha“reforma”maseunãoestounoclima.Vendoosbifesparaojantarnatábuadecorte,euandoepegoumafacagrandedecortardeitadaali.

Ecomeçoacortar.

“Essessãoosbifes-”

Marinapara,observando-mecortartiras,cortandoacarnenobrecomafacaafiadacomosefossemanteiga,eemseguida,picoasfatiasempedaços.

“Esses são os bifes para o jantar!” Ela diz apressando-se para a ilha. “Banks, o que você estáfazendo?”

Olhoparaela,sentindomeucoraçãodisparar,eatiro-lheumsorrisodebocafechada.Elarecua,apertandoosolhos.

Elaprovavelmentenãoconsegueselembrardaúltimavezqueeusorriparaela.

Terminandoaminhatarefa,eutiroumatigelagrandedogabinete,jogonelatodosospedaçosdecarne,epegooprato,levando-oparaforadaportadetrás.

Issonãovaiacabarbemparamim,masDeus,mesintobem.Enãopossoparar.

“Ondeestãoosbifes?”PerguntaGabriel,olhandoparabaixonasobradasopademilhodoalmoçode hoje dos rapazes e os pratos de Piroshki - uma torta com recheio de carne que Marina estavapreparandoparaoalmoçodeamanhã.

“Eualimenteioscães,”eudigo.

Willbufa,eouçoumdeboche,provavelmentedeVanessa,mascontinuoaolharparaaparedeàminhafrente,prontaparasofrerquaisquerconsequênciaschegando.

EupossosentiradiversãodeKai.Elesentadooutroladodamesa,eeutenhoquasecertezaqueeleestáolhandoparamim,também.

Gabrielexalaforte.“Algumassemanascomvocêeelavoltatodaaudaciosa,”dizeleaKai.“Assimcomoquandoelaeraumaadolescente.”

Amesaficaemsilêncio,comexceçãodeWill,quecomeçouacomer.

“Elasabecomoserdisciplinada,noentanto,”eleacrescenta.

“Oh?”Kaicutuca.

Piscolongoeforte.Issonãoédacontadeninguém.Nãoaqui,nãoagora.

MasGabrielcontinua.“Peça-lheparatirarasluvas.”

Idiota.

Euimediatamentebloqueiominhasmãosatrásdascostas,foradavistaconformetodosvoltamosolhosparamim.Gabrielnãopodemedisciplinaragora,entãoelefazoquetemquefazerparamanterseuorgulho.Elemehumilha.Kainãomeviusemasluvas.Nãodesdequeeutinhadezesseteanos,antesdeeuser“disciplinada”.

“Outravez,talvez,”Gabrieldiz,parecendosatisfeitoconsigomesmo.“Elavaiembreveseroseuproblemadequalquermaneira.”

“Oh?”

Destavez,éVanessa.

“Partedocontrato,”Gabriel explica, tomandoumgolede sua sopa. “Kai recebevocê,ohotel, eBanks.Atéocasamento,dequalquermaneira.”

Elapermaneceemsilêncio,ejáqueelaestásentadadepoisdemim,eunãopossoverseurosto,masháhesitaçãoosuficienteparasaberoqueestápensando.

Ouoqueelasuspeita.

“Elaéumaboatrabalhadora,”Kaientranaconversa,pegandoumatortaecheirando.

“Bem, bem,” Vanessa suspira, bancando a boba. “Por que você não vai desfazerminhasmalas,Banks?Deixe-noscomer."

“Euarrumeiumasuítenacidadeparavocê.”

“Eumudeideideia.”Elamedispensa.“Euvouficaraqui.”

Olhoparacima,encontrandoosolhosdeRika,nenhumdenósparecendonadasatisfeitodeestaraqui.

Bem.Queseja.Nãoqueeuestivesseaqui,comtantafrequênciamais,dequalquermaneira,maseuprefiroqueelaestivesseemumhotelondefosseaindamenosprováveleuencontrarcomela.

Viro-meecaminhoemdireçãoàporta.

“Enãodêminhasroupasparaoscães,”elagrita.

Eunãosonhariacomisso.

Eufechoaportaatrásdemimesuboasescadasparaumdosquartos.Euhonestamentenãomeimportocomatarefaseelametiradasala.

EncontroabagagemLouisVuittonaoladodacamaemumquartonocorredordoquartodomeupaiepegosuascoisastãolentamentequantoposso,esperandoqueKai,Rika,eWilltenhamidoquandoeuacabo.Infelizmente,elanãotrouxetantoquantopenseiqueelafaria.

Claro,elairiaparaacidadeparafazercompras,entãoelasóembaloualgumasmalas.Eupenduroamaioriadesuasroupas,colocandoblusasde lã,roupasdeginásticae íntimasnasgavetaseorganizotodososseusprodutos-hidratantes,produtosdelimpezadepele,maquiagens-perfeitamentenobalcãodasuíteemconsideraçãocomopessoalqueteriaquearrumaroquarto,emvezdaVanessa.

Colocoasmalasdebaixodacama,ajeitooedredom,edouumaolhadanoquarto,certificando-mequeasgavetasearmáriosestejamfechadosantesdevoltarparaocorredor.

Levomaisdeumahora.Talvezelestenhamidoemboraatéagora.

Masquandoeuvouparaajanelanocorredornoandardecima,notoqueaportaparaoterceiroandarestáaberta.

Eufecheiisso.

Abrindo-a,olhoparaoaltodaescada,vendoluzentrandopelaportaabertanotopo.

Suboasescadassuavemente,emguarda.Ninguémsobelá,excetoDamoneeu.

“Claro,eleteriacobras,”ouçoRikadizereouçoseuspassospeloandardomeuirmão.

Quediaboselaestáfazendonoquartodele?

“Qualéoproblemacomvocê?”PerguntaKai.

“Eupoderiateperguntaramesmacoisa.”Elaparecepreocupada.“Vocêperdeucompletamenteacabeça?”

Euficotensaporinstinto.Porqueelesescaparamjuntos?Willestálácomeles?Paronotopoeficoparatrás,ouvindoatravésdaportaaberta.

“Issoéestúpido,”ela insistecomele,“eoqueeurespeitosobrevocêéquevocênãofazcoisasestúpidas.”

“Eutenhoumregistocriminalquedizdiferente.”

Elasoltaumdeboche,eouçomaispassos.

“Hámuito tempo atrás vocême disse algo importante,” ela continua. “Sempre que você quiserfazerumaimpressãoevocêacharquejáfoilongedemais,dêumpassoalém.Sempredeixe-ospensarquevocêéapenasumpoucoloucoeaspessoasnuncairãofodercomvocêdenovo.”

"E?"

“Evocêfoimaisdoqueumpassoadiante.”

Euouçoalguma respiração instável, enão tenhocertezadequemé,maso tomdeRikaparecechateado.Preocupadacomoumamigoestaria.

“Eugostodequemeusouagora,eparamelhorouparapior,vocêéparcialmenteresponsável,”eladizaele."Masisso?Esteerropodearruinarvocê.Estanãoéavidaquequeremosparavocê.”

Ouçomaispassos,ejáqueeunãopossovê-losatravésdafresta,imaginoqueelesestejampertodostanquesdooutroladodasala.

“Háumplanoaqui,”eledizaela,falandomaissuave."Vocêtemqueconfiaremmim."

Háum silêncio,mas euquasequero ouvirmais.Ela está preocupada comele, e ela parece tãoconfusacomoeuestou.Queplanoéesse?Euqueroqueelaopressioneaindamais.Elepodedizercoisasqueelenãoquismedizer.

Masaconversaacabou.

Abroaporta,vendoKaivirareRikaolharparacimaquandoeuficoempélá.

Osolhosdelebrilhamparaminhasluvas,eeucruzoosbraçossobreopeito.“Ninguémdeveestar

aqui.”

Kai se aproxima. “Mas você está,” diz ele, jogando-me um dos meus gorros que ele deve terencontradoaqui.

Euopego,permanecendoemsilêncio.

“Porquevocêépermitida?Quandovocêveiomorarcomestafamília?VocênãoestádormindocomDamon,porquevocêeravirgem,entãooqueeleestáfazendocomvocê,hein?Quemexatamenteévocê?”

Eudouummeiosorriso.“Suainimigafavorita,”respondo.

Masentão,elecorreeseguraminhasmãos.Eucerromeusdentesjuntos,conformeeletiraumaluvaedepoisaoutra,soltando-asnochão.

Merda.

Elesegura-ascomforça,olhandoparaascostasdasminhasmãos.Apenasumatemaqueimaduradecharutonela.

Euusoduasluvas,noentanto,paramanterafarsa.

Eupossoouvirsuarespiraçãocomraivaficandomaisrápida.Maselenãofazperguntas.EuachoqueeleéinteligenteosuficienteparadescobrircomoGabrielmedisciplinou.

Felizmente,levouapenasumavezparaeuaprender,noentanto.

Rikadeslocaacabeçasóumpouco,tentandoserdiscretaconformeeladáumaolhada.Acicatrizcircular é do tamanho de umamoeda, a carne esburacada e rosa. Não é uma cicatriz antiga,mas sedesvaneceumuitoaolongodosúltimosanos.Euolhoparaapequenamarcanopescoçodela,sabendoqueelaaconseguiunomesmoacidentedecarroquematouseuspaisanosatrás.

“Vocênãosabeoqueestáfazendocomigo,”Kaisolta,parecendosolene.

Euvirominhacabeçaemantenhominhabocafechada.

Rikacomeçaacaminharparafora,dando-nosprivacidade,maseuparoela.

“Não,fique,”eudigoaela.“Elevaiprecisardeseusamigos.”

Eleolhaparamim,analisandominhacara.“Vocêquerqueeumecasecomela?”Elepergunta.“Eisso seránós?Você,minhapequenaamanteparaquemeu fujopara fodernomeiodanoite.Hã?Vocêgostariadisso?”

“Vocêachaqueeuiriaaguentarisso?”Replico.

Meurostoestácomeçandoaracharemeuqueixotreme,maseuapertotodososmúsculosqueeupossoreunir,mantendoaslágrimas.

“Olheparamim,”elesussurraenquantoRikaestáperto,masdesviaoolhar.“Olheparamim.”Eunãoofaço.

“Eugostodevocê,”elemediz.“Euquerovocênaminhacasa.Euquerovervocênaminhacama.Eunãoquerotevertodososdias.Fiquecomigoestanoite.”

Maseunãoposso.Eunãopossoestarcomelepornadamaisdoquemomentosroubados.

Porumarazãosimples.

“VocêodeiaDamon?”Pergunto-lhe.

Eleendireitaosombros,eeupossodizerqueumaparedeestásubindo.“Elenãoéumfatorparanós.Elenãotemlugarnaminhavida.”

“Bem,eletemnaminha,”eudigo."Euoamo."

Antesqueelepossadizerqualqueroutracoisa,eumeviroesaio,movimentando-merapidamentepelasescadas.Suficiente,droga.Apenassaia.Tudoestá fodido,porcausadele,eeuquerovoltarparaquandoerasimples.Quandoeuerasinceranofatodequeeuerafielaumapessoa,eque,porsisó,eraomeupropósito.

Quandoeunãoqueriadizer'sim'.

Quandoeunãoestavameapaixonando.

Chego no fim das escadas e atravesso a porta, batendo em David. “Ei” ele diz. “Eu estavaprocurandoporvocê.”

Piscoaslágrimasnosmeusolhosedesviooolhar."Oque?"

Mas, em seguida, rangidos e pisadas aparecem atrás de mim, e Kai e Rika saem da escada,também.

Eugemo.

David recua, olhando interrogativamente entre nós três,mas ele continua. “Ok, ótimo,” diz ele,balançandoacabeça.“Todomundoemumsólugar.Perfeito.”Eentãoeleolhaparamim.“Gabrielprecisadevocêporalgunsmomentos.Traga-osparaacasadehóspedes.”

Eeleseviraparasair.

A casa de hóspedes - agarro o braço dele, estreitando os olhos. Não. É onde Gabriel leva seusproblemasparalidarlongedeolharesindiscretos.

MasDavid apenas ri baixinho e se inclina para sussurrar. "Está tudobem.Todomundo vai sairinteiro.Euprometo."

Passando pelo terraço e as luzes piscando da festa de boas-vindas de Vanessa começando aaparecer,levoKai,Will,eRikaemvoltadalagoaparaoquartodehóspedes.Émaiscomoumaprimeiracasa,detamanhomuitomaiordoquequalquerapartamentoqueminhamãeeeujávivemos.KaieWillestiveram láantes.ÉondeDamonsempre levou seusamigosnas rarasocasiõesemqueele convidavaalguém.

Assim, ninguém encontrava sua mãe. Ou me via. É totalmente mobilada e decorada com trêsquartos,doisbanheiros,umacozinhacompletaeumagrandesala.ParaoqueGabrielprecisadelesaquiqueelenãopodefazeremseuescritório?

Painéis bonitos de vidro cercam a frente da casa, e avisto alguns homens dentro da casa.Meupulsoacelera.Oqueestáacontecendo?

Eulutoparanãodaravoltaetirá-losdaqui.Istonãoparecebom.

MasDaviddissequeestarãoseguros.Elenãomentiriaparamim.

Antesqueeupossadecidir,noentanto,asportasdevidroabrem.

“Kai!”MeupaiaparecepartirdedentroenquantoIliaseguraaportaabertaparanós.“Venham!”

Kaiandaatémim,meuspésaindaenraizadosno lugar.RikaeWill seguem,eeu finalmentememexo,enfiandoasmãosnosbolsos,meusdedosdeslizandoparaolugarondeescondilâminas.

“Vocêgosta?”Gabrielestendeasmãosnasalaenorme.“Acaboudeserreformada.EupenseiemfazerissoasuacasaedeVanessaquandovocêsvisitarem.Vaiserbomteralgumafamíliaporpertodenovo.”

Iliafechaaportaatrásdemim,etodosnósvamosmaisparadentrodasala.Trêshomensvagandoatrásdomeupai, se espalhamcasualmente,maseles estão semovendo.Embora lentamenteparanãoatrairaatenção.

Maselestêmaminha.Elesestãoseposicionandoemvoltadenós.Iliaficaaomeulado,enquantoLeveDavidestãoausentes,provavelmenteemumamissãoemalgumlugar.

“Oquevocêquer?”Kaiparaatrásdeumacadeiraalmofadada,olhandoparaGabriel.“Vamossair."

Meupaivaiparaatrásdeumamesaepegaumacaneta-tinteiropreta,segurando-aparaKai.“Sóapequenaquestãodeumaassinatura.”

Deixoescaparumsuspiro.Elenãoestáemperigo,afinaldecontas.IssoéapenassobreocontratoestúpidoqueKainuncavaiassinar.Imaginoqueelenãoentregouumcomaassinaturaqueeuforjeinamanhãdeontemcomraiva.

“Envie-o para o dojo,” ele diz ao meu pai. “Se não há mais alterações a serem feitas, eu vouassinar.”

“Vocêvaiassinaragora.Vanessaestáaqui,eocasamentoestásendoplanejado.”EleolhaparaKai,todaapaciênciaegentilezasagoradesaparecidas."Agora."

Kaidáumpasso.“Comoeuseiquevocênãoescorregouemumacontingênciaqueeunãovi?Euvoutomarmeutempoparalê-lonovamenteantesdeconcordarcomqualquercoisa.”

MeupailargaamãoelançaumolharsobreIlia,acenandoparaele.

Oque-

“Desculpe,garota,”Iliamurmura.

Hã?

Eentãoelemeagarra.

“Ei!”Eugrito.

Maselemepuxaparaooutroladodasala,eeuvirominhacabeçaaoredor,tentandoveroqueestá acontecendo. Tudo acontece tão rápido. Cada um dos homens do meu pai pega um dos nossosconvidados,eKaicortaseuagressornorostocomapalmadasuamão,fazendoooutrohomemcairdejoelhos.

Ele imediatamente olha paramim conforme sou forçada sobre atrás damesa comomeupai, eentãoalguémbateumabarradeaçoemseusombros,eKaidesce,grunhindo.Eletropeça,balançandoenquantotentaverWilleRikaqueestãocadaumsendocontidopelosbraços.

“Quediabosestáacontecendo?”Elegrita.

TorçonosbraçosdeIlia.

“Semcontrato,semacordo,”Gabrielfalaentredentes.“Semhotel,eBanksénossa.”

“Eunãodouamínimaparaohotel!”Kaigritaquandoélevantadoporaquelequebateunele.Eleempurraohomemforaevira,olhandoparaomeupai.“Eelanãotemqueficaremqualquerlugarquenãoqueira.Elanãoésuapropriedade!”

Seus olhos ardem, parecendo ao mesmo tempo furioso, mas pronto. Gabriel vira-se para mim.“Vocêquerircomele?Vá.”

Não.Nãofaçaisso.Euimploroaelecommeusolhos.

“Vá,”elemedizmaisumavez,odesafioforteemseutom.“Vejaquantotempoelequervocê.Vejao que acontece quando você tentar rastejar de volta aqui, porque você sabe como eu premio adeslealdade.Vá."

Eu aperto os olhos fechados por um momento, sentindo todos os olhares sobre mim. Isso éinsuportável.Seeusaircomele,eusaiosemnada.CompletamentedependentedeKai.

Euqueroele,masmeupaiestácerto.Eurealmentevoutrocarodiaboqueeuconheçopelodiaboquenãoconheço?EunãopossoconfiarnoquepodeounãoestarentreKaieeu.Eleémeusnospróximoscincominutos,eminhafamíliaserápelorestodaminhavida.

“Vocêquerele?”Gabrielcutucanovamente."Vá."

Eleempurra,eeutremo,tentandoseguraraslágrimas.Porfavor.Kaiestáesperandopormim,eissoéumatortura.

EupossoouvirarespiraçãoagitadadeKaiquandoestendeamão.“Vamos,baby,”eleimplora.“Sóestenda."

Meusdedoscantam,querendoseutoque.Querendopegarsuamão.

Maseuenroloospunhoseencontroseusolhos,lentamente,balançandoacabeça.

EKai apenas olha paramim, sua expressão congelada,mas seu peito lentamente afundando.Ocalordavergonhadistribuipelomeurosto.Euodeiomachucá-lo.

Masnósdoissabíamosqueissoacabouantesmesmodecomeçar.

“Nãofiquetãosurpreso,”Gabrieldizaele,aautossatisfaçãoemsuavoz."Elaamaele.Elasemprevaiescolhê-lo.”

AdornosolhosdeKaificadura,eeleseendireita,alisandoumamãoparabaixonasuacamisaecasacoconformeolhaparamim.

Meupaiseviraparamim,divertido.“Euachoqueelenãoquermaisvocê.”

Euenguloocaroçonaminhagarganta.

“Sevocênãovem,éguerra,”Kaimeameaça,seutomtãomortocomoumamáquina.“Eeuvoufazerissodoer.Desafie-me."

Ouçomeupairir,maseuseiqueKainãoestáblefando.EissopodeaténãosersobreDamonmais.Eleestácomraivademimagora.

Eentão,derepente,acontece.Kaidispara,pegaacanetaerabiscasuaassinaturasobrealinha.

“Kai,não!”Rikagrita.

“Não,” eu digo ofegante.Cada pedaço de ar deixameus pulmões enquanto eu olho horrorizadaparaocontratoassinado.

Oh,meuDeus.

Ele vira a caneta, deixando-a cair sobre amesa e empurra o contrato aGabriel, sua expressãodesafiadora.Entãoeleseaproximadamesa,meagarrapelocolarinhocomambasasmãosemelevanta,minhaspernasepésmandandodocumentos,umabandejadearquivos,eumalumináriaparaochão.

“Kai,”eurespiro,segurandoasmãosenquantoaslágrimasbrotamnosmeusolhos.Oqueelefez?

Elemelevantanafrentedele,ambosdenósdefrenteparaGabrielenquantoKaipassaobraçoemvoltadomeupescoço.“Agoravocêéminha,”eleameaçanomeuouvido.“Pelomenosatéocasamento.”

“Bomgaroto.”Gabrielsorriquandopegaocontratoeviratodasaspáginasdevoltanolugar.

“Kai,oquevocêfez?”Rikacorreparafrente.

MasKainãodiznada.

“Euvouinformaràsuanoivadaboanotícia,”Gabrieldizaele.

Kaiagarrameucolarinhoemumamão,empurrando-meparaoladoenquantorecua.

“Nósmanteremoscontato,”asseguraGabriel.

Eleapertaminhamão,mearrastandoparaforadacasaconformeRikaeWillcorremparaalcançá-lo.

“Kai,ouça-me!”Rikatentachamarsuaatenção.

MasKaisimplesmentecontinuaandando,levando-nosaoredordacasaparaaentradadecarros.Eutropeço,meusmúsculosqueimandoparamemanter.

Paramosnafrentedosseuscarros.

“Kai!”Rikarosna.“Vocênãopodefazerisso!”

“Vocênãoestápensandodireito,cara”,Willentranaconversa.“Nósprecisamosdaquelecontratodevolta.”

“Esse contrato é a menor das minhas preocupações,” Kai cospe, chegando nos carros. “Euprecisavadeumaalavancagem,eagoraeutenho.”

“Não,largaisso!”Rikagrita.“Vocênãopode-”

“Damontemalgosobremim!”DizKai,cortando-a.

Oque?

Elevira,olhandoparatodosnós.“Algoruim,ok?”

Todomundocongela,apenasolhandoparaele.

Oque?Eletemalgosobreele.Porqueeunãoseidisso?

“Oqueeletemsobrevocê?”Rikaseaproximadele.

"Issoimporta?"

“Oqueeletemsobrevocê?”Elagritanovamente.

Kaiolhalonge,fúriaemseusolhos,mashesitante.Oqueelenãoquerdizer?

“Amãedele,”elefinalmentediz.“Elaestámortaporminhacausa.”

Minhabocaseabreumpouco,eeuolhoparaeleemchoque.RikaeWillficamquietos.

Elaestámorta?Querdizer,eususpeitavaqueelapoderiaestarporagora.Ninguémtinhavistoou

ouvidofalardeladesdeaquelanoiteháseisanos,maseupenseiquepoderiatersidoDamonouGabrielquetinhamfinalmenteaexecutado.

Nãoqueeurealmentemeimporte.Contantoqueaquelacadelatenhaidoembora,estoufeliz.

AmandíbuladeKai aperta. “AnoitedoDevil, há seis anosnoThePope,” explica. “Ela estava...ferindoDamon.EelaestavatentandomachucarBanks.Euperdiacabeça,eaataquei.Elasemachucounaqueda.”

Aquelanoitevemàtona.Oterror,aspalavrasrepugnantes,visqueelafalou,adordeDamon,e...Kai perdendo a paciência, batendo nela, e o sangue.Ele nos protegeu, e se ela estámorta, então boalibertaçãodaporra.

“Vocêsóestánosdizendoissoagora?”Rikadeixaescapar.“Depoisdetodoessetempo?”

“Eunãosabiaqueamatei.Nãoatéoanopassadonoiate,”dizele.“Você,Michael,eWillestavamnaágua,eDamoneeuestávamosbrigando.Elemeprovocoucomisso.Umpequenodetalhequeeletinhaguardadoparaocaso.”Elerespira.“Depoisqueeudeixeiohotelnaquelanoite,elanãosobreviveu.Eleselivroudocorpoparameproteger.Agoraeleestáusando-oparameameaçar.Épor issoqueeuprecisoencontrá-lo.Eunãovouarriscarvoltarparaaprisão.”

“Eseeleestivermentindo?”Willargumenta.“Comovocêsabequeeleestádizendoaverdade?”

“Vocêcorreriaesserisco?”Kaimordefora.“Porqueelanãofoivistadesdeentão.Oueletrazsuamãemuitovivaouseucorpo,paraqueeupossaseguiremfrentecomaporradaminhavidaenãotenhaissopendurado sobre aminha cabeça.E se eunão conseguir umou o outro, eu voupara calá-lo parasempre.”

“Então, é por issoque você esteve tãopreocupadoemencontrar ele?”Rikapergunta.E, então,acrescenta“Vocêdeveriaternosditoantes,cara.Comonoanopassado.”

MasKai ignora seusprotestos,meempurrandoparaWill. “Sópegueela,” ele ordena, tirandoocasacoelimpandoonarizcomopolegar.Osanguemanchaapontadodedo.Eunãovieleseracertado,maseledevetersido.“Traga-aparaDarcyStreetedepoissaia,”dizele.“Euprecisomeacalmarantesdelidarcomela.”

Eelenãoolhaparamimquandoentranocarroedáré,saindoomaisrápidoquepode.

RikaeWillficamcomigonacalçada,observando-ocorrer,eWillmeempurra.“Euachoquevocêestánessaagora.”

Capítulo21Banks

Presente

“Kai!”Rikarosnaemseutelefone.“Atenda!”Eentãoelaterminaaligação,parecendoexasperada.“Droga.”

Essaéaterceiravezqueela ligaparaeledesdequesaímosdeThunderBay.Willdirige,eRikasentanobancodopassageiroaoladodele,enquantoeuseguroaslâminasescondidasnosbolsossentadanobancodetrás.

Alavancagem.Eledissequeeueraaalavancagem.Elaestárealmentemorta?Elenãopodesabercom certeza, mas eu acho que é o que ele está tentando descobrir. Nada como ter um assassinatopotencialpairandosobresuacabeça.

Damonrealmenteojogariaaoslobos?

“Precisamosfalarcomele,”RikadizaWillenquantoacendeumcigarro.

Maseuovejosacudiracabeça.“Precisamosdeixá-losozinho.Kaisabeoqueestáfazendo.”

“Elenãoplanejouesserumodosacontecimentos,seubabaca!Étudosobreela.”Elaviraacabeçaemminhadireção.“Eeleestánessaagora.EuprecisoentraremcontatocomMichael.”

Elaolhaparaotelefonedenovo,eeuviromeusolhosparaforadajanela,vendoasluzesdacidadebrilhandonaáguaescuradorioconformenóscruzamosaponte.

Eunãoestoupresaaessecontrato.Servidãocontratadanãoémaisumacoisa.Eupossofugir,eeufaria.Eufuiútil,meupaiconseguiuoquequeria.Euseriabemrecebidadevoltaagora.

Emeuirmãocertamentenãoesperaqueeuhonreoacordo.

“Vocêprecisafalarcomele.”

EuouçoaspalavrasdeRika,masnãoéatéeupegarelameolhandocomocantodoolhoqueeuperceboqueelaestáfalandocomigo.

"Desculpe?"

“Você precisa falar com ele,” ela me diz. “Você o trouxe para esse lado. Assuma algumaresponsabilidade.”

Sorrio baixinho, olhando para longe novamente. Jesus.Nada disso é culpaminha, e eu não voulevaraculpa.Homensesuaidiotice,eeuestoucansadadeserdanocolateral.

“Você ouviu o que ele disse,” eu respondo. “Sou a alavancagem. Isso é tudo o que ele quercomigo.”

“Vocêrealmenteacreditanisso?”Elameolha.“Elepoderiaterapenaspegovocê,seéissoqueelequeria.Eleassinouocontrato,porqueeleestavacomraiva.Devocê,”ressalta.“Elevaiouvirvocê.Euoconheçohámuitotempo,eumavezqueeleacalme-”

“Euoconhecimuitoantesdevocêvir,”eurosno.“Eunãoprecisodevocêparameexplicarsobrequemeleé.”

Elaapertaoslábios,secalando.

“E eu conheço um inferno demuitomais tempo do que ambas de vocês,”Will solta. “Kai estáagindo fora de si, mas ele funciona o caralho melhor quando é deixado quieto, ok? Se ele falar comalguém,vaiserMichael.”EentãoeleacenaparaRika.“Tenteeleoutravez.”

Elasuspiraepegaotelefone,ligandoparaonoivodelamaisumavez.

“Evocê,”Willgrita.

Olhoparacima,vendo-omevernoespelhoretrovisor.

“Amerdavaibaternoventilador,independentementedocontrato.Vocêsabedisso,certo?”

Sim.Sim,euseidisso.MesmoseKaideixardeladosuaraivaeNatalyaestivervivaebem,Damonaindaestáporvir.

Eháumaboachancedequeelenãováganhar.

Will solta umabaforadade fumaça, sacudindo as cinzaspara forada janela quando vira para aDarcyStreet.“SevocêpedirparaKainãoferirDamon,”elemediz,“entãoelenãovai.Tudoquevocêtemquefazerépedir.”

Agarroamaçanetadaporta,prontaparafugir,logoqueasportasdestrancam.

Maslentamenterelaxoosdedos,pensandoemsuaspalavras.

TalvezWilltenhaumponto.Kaipodeserintimidanteeassustadoretãomaucomoeupossoser,ásvezes,maselenãoécruel.Elepodeserrazoável.

Soltominhamãodaportaconformeocarrodesaceleranotopodarampa.

“Aquiestamosnós,”Willdiz,parandoocarro.

Olhopela janelanovamente,vendoacasade tijolopretodeKaicomcortinasrasgadassobreasjanelasealuztrêmuladavaranda,parecendoalgosaídodeumdaquelesfilmesdotipo“Vocêentra,masvocênãosai”.Paraqueeleusaestelugar?Elenãomoraaqui.

Ondeeledorme?Ondeelefazsuasrefeiçõesetomabanhoefodeasmulheresalémdemim?

“Eleestáesperandoládentro.”

EncontroosolhosdeWillnoespelhonovamente."Comovocêsabe?"

“Ele acabou demandar umamensagem,” eleme informa, segurando o telefone. “Aqui está suachance.”

Nóssaímoshámenosdeumahoraatrás.Elenãovai tercalmaainda.“Bastafalarcomele,”dizRika,virando-separamim."Porfavor."

Aúltimacoisaqueeuquerofazeréalgumacoisaparaela.Atensãosearrastapelaminhapele,eeuabroaporta,derepentequerendoestarforadelámaisdoquelongedaqui.

Certo. Vou pedir a ele. Não porque eles querem que eu peça,mas porque isso pode funcionar.Damonpoderiavoltarparacasa,eupoderiamantê-lolongedeles,etodoselespodemcontinuarcomsuasvidasaquinacidade,enquantomeuirmãoeeucontinuamoscomasnossas.

Abroaportaeimediatamentecomeçoasubirosdegrausdacasa.

Masmeuolharvaimaislongeatéacolinaparaacasaempoleiradaemcima,vendoumaúnicaluznosegundoandar.Ediminuo.

Pareceum insetoacesopairandosobreum lagopretoànoite.Nãohánadaaqui.Nãoháoutrascasas,negócios,ea luzdacidadenãopoderiafuraraflorestafinaaoredordaárea.Estamosnoaltoeisolados,apenasaquelacasaeadeKai.Elesabequemmoralá?

Arrepios espalham pelos meus braços. É linda, tipo gótica da virada do século com cumeeiraspontudaseumportãopreto.

“Vocêestábem?”Willgrita,eeuolhoparavê-loinclinando-separaforadajanela.

Euviropara trás,mostrando-lheumdedomédio sobreomeuombroenquantomedirijoparaacasanovamente.

Umavezqueestounavaranda,viroamaçanetadaporta,encontrando-adestrancada.

Nãoháluzesdentro,àexceçãodoluarfluindoatravésdasjanelassemcortinas.EntronofoyereouçoWilliremboraantesdefecharaporta.

Umcliquealtosoa,etodosospelosdomeucorpoficamempéconformeolhoparaaesquerdaedireita.Ondediaboseleestá?

Acasapareceomesmoquedaúltimavez.Aindaquasenenhummóveletudoqueestáaquiestácobertode lençóis.Nãohá lâmpadas,equandoeuestendoamãoeapertoobotãonaparede,aantigalumináriapenduradaacimanãofaznada.

Poeiracobreosdegraus,masquandoentromaislonge,notoalgumaspartículasqueflutuamnoar.Comosealguémtivesseestadoaquiemexido.

Olhoemvolta,hiperatenta.“Kai?”

Oventoláforaaumenta,eeuouçoguinchosvindodecima.Comoumramoraspandocontraumavidraça.

“Kai!”Eugritonovamente,destavezmaisalto."Ondevocêestá?"

Meuquadrilvibra,eeuperceboqueéomeutelefone.Puxandoparafora,eubatonatelaeolhoparaamensagem.

Feche.

Eumeviroparafrenteeparatrás,atirandomeusolhosemtodososlugares,tentandoverondeeleestá.Entronasalae,emseguida,nasaladejantar,procurandonoscantoseatrásdasportas.

“Quediabos?”Rosno.

Eunãoconsigovernada.Nenhumasombra,nenhumaforma,eeunãoconsigoouvirnada,também.Acasaestácompletamentesilenciosa.

“Eunãovoujogarseusjogos!”Eugritoparaasescadas.

Meutelefonetocanovamente.

Vocêjáestá.

Balançominhacabeça.Oqueelepensaqueestáfazendo?Umapequenadiversãodoente?

Claro, eu me lembro a versão de Kai de diversão. A Devil’s Night, há seis anos. O hotel, aperseguição,osalãodebaile,ascortinas...omedo.

Eunãomeimportavacomoissomeexcitounaquelanoite,maseunãoestoucomvontadeagora.

“Estouindoembora,”gritoparaoarvazio.

Emevirando,giroamaçanetadaportanovamente.

Maselanãogira.Oque?Eusacudoamaçaneta,empurrando.aportabatendocontraobatenteconformeempurromais.

Umaluzverdepiscaàminhaesquerda,eeuolhoparaaparede,vendoumteclado.Meuestômagoafunda.Eletemumsistemadealarmeetravasautomáticas.

Eupuxoaportadenovo,aindanãoabrindo.

Viro-me.“Euquerosair!”Eudigoaele.“Ouvouquebrarumajanela!”

Outramensagemaparece.

Vocêdissequeeunãoeraassustador.Vocêjáestácommedo?

Olhoparacimaparaosegundoandar."Estouchateada."

Mentirosa.

Idiota.

Ouço um rangido acima de mim, e levanto meus olhos novamente. O vento uiva por entre asárvoresdoladodefora,eestoumuitosozinhaagora.

Comeleemalgumlugarnestacasa.

SevocêpedirparaeleparanãoferirDamon,elenãovai.

Molhomeuslábiossecoseforçoasminhaspalavras."Euprecisofalarcomvocê."

Encontre-me.

“Ondevocêestá?”Grito,ficandoenraizadaondeestou.

Espero alguns segundos, mas nenhuma resposta vem. Nenhuma voz. Nenhumamensagem. Kaiestámesmoaqui?Querdizer,eunãoseicomcertezaquefoielequemmandouasmensagensdetexto,certo?Alguémpodetercolocadoseucorpoemumafornalha,pegooseutelefone,eagoraestáfazendoacoisaassustadoradosJogosMortaisondeelesperguntamsevocêquer jogarumjogo,masnaverdade,vocênãotemescolha,entãovocêjogaantesdeserpicadaporumcortadordecarnenummatadouro.

Elásevaiminhaimaginação.

Euapertootelefonenamão.“Ondevocêestá?”Gritonovamente.

Andardecima,vemamensagemfinalmente.

Idiota.

Bem.Foda-se,então.Eusuboasescadas.“Seeutiverqueencontrá-lo,vocêvaisangrar,”eudigo.

Mas,então,umamensagemvem.

Ficandomaisquenteagora.

Olhoparaaesquerdaparaadireita,memantendoalertaenquantosubo lentamenteasescadas."Porquevocêestáfazendoisso?"

Masapenasumarespostadeduaspalavrasvemconformedououtropasso.Maisquente.

Umsuorfrionaminhatesta.Oassoalhodebaixodosmeussapatosrange,conformechegoaotopodaescada,olhandoparaadireitaevendoaportadoquartoaberta.Eupossoveraparteinferiordacamaecortinasbrancasvoandonoventoqueentrapelajanelaaberta.Euachoquenãoestavaabertadaúltimavezqueestiveaqui.Eunãoconsigolembrar.

Emvezdisso,viroàdireita,indoparaooutroquarto.

Frio.

Paro,respirandocomdificuldade.Então,eleestánoquartoprincipal.Eunãoconsigoengolir.

Controle-se.Eleestáfodendocomvocê.

Virando,medirijodevoltaparaoprincipal.

Meucelularvibra,eeuolhoparabaixo.

Possolhedizermaisalgumacoisa?

“Oque?”Eurosnobaixo.

Eapróximamensagemvem.

Vocênuncavaisairdestacasa.

Minhabocaseabre,euparoderespirar,enãopossojuntaraporradeumpensamentocoerente.Kai...

Viro-me rápido,mas lá está ele. Ele sai do banheiro, vestido com jeans, um capuz preto, e suamáscaradecaveiraprata.

Paro,indoparatrásconformedigoofegante.“Oque…"

Tudoestápreto.Eleéapenasumaforma.Asroupasescuras,omantodanoite,onegrodeseusolhos...apenasosbrancossãovisíveis,deixando-mesaberquehaviaumhomemládentro.

“Kai...”estendoasmãos.Foda-se,porquenãoconsigopensar?!

Um arrepio atinge minha parte inferior, e eu fecho as coxas, de repente me sentindo como setivessequeiraobanheiro.

Elelentamentecaminhaparamim,colocandoumpénafrentedooutro,eeumemexocomasmãostrêmulas,pegandoalâminadomeubolso.

“Váparatrás,porra!”Falo,segurandoalâminanaminhafrente.

Mas ele continua andando, cada parada no tempo perfeito, até que estou contra a parede, emfrenteaoquartoprincipal.

Elenãopara,eeudisparo,rosnando.“Eunãotenhomedodevocê.”

Eleinclinaacabeça,suamáscaraparecendodizer“Oh,sim,vocêtem.”

Oespaçoentrenósficamenoremenor,eeuataco,tentandoassustá-lo.Eleagarraminhamão,noentanto,eeugritoquandoelearrancaa lâminadosmeusdedos, jogando-asobreocorrimão.Ouçoelabaternochão,emalgumlugarláembaixo.

Prendendo meus pulsos na parede ao meu lado, ele pressiona seu corpo no meu e me seguracontraaparede.

Puxooar,curtoerápido,porquemeupeitonãoconsegueexpandircomeleemmimassim.

Eeleapenasficalá.

Acabeçainclinadaparabaixoparamim.

Observando-me.

Eunãopossonemmesmoouvi-lorespirar.Oúnicosomqueeleestávivoéasubidaedescidadoseupeitocontraomeu.

“Oquevocêquercomigo?”Eusolto,soluçospresosnaminhagarganta.

Oque,elenãovaidizernada?

A casa geme em volta de nós conforme o vento sopra novamente e zumbe pelas pequenasrachadurasnasparedes.

Eeuestoulá.Sozinha,ninguémporquilômetros,eumamáscarapairandosobremimeparecendoumafacanaminhagarganta.

Porra,euestoucommedo.Oh,Deus,oh,Deus...

Suor irrompesobreminhascostas,eocalorespalhapelasminhaspernasondeseucorpotocaomeu. Nossas coxas em camadas, uma das suas entre ambas as minhas, meu peito ficando sensível econscientedocalordeseucorpo.Suavirilhaestápressionadacontraaminhaeaumentaapressãoentrenós,mesmoquenãohajamovimento.

Porra…

E eu ainda não consigo respirar. Eu não consigo respirar, porque estou pulsando em todos oslugares.Meucorpoestápulsandoeesquentando,eeuquerogritar,morder,e...

Desistir.

Porquenãoquerocorrer?

Deixominhacabeçacairparaafrente,emseupeito,exaustaecomfomeequerendocavarminhasgarrasemalgo.

“Estoucommedo,”sussurro.“Eutenhomedodevocêmesmosemamáscara.”

Porcausadetudooquevocêmefazsentir.

Elenãosemove.Apenasmeseguralá,seuapertoemmeuspulsossoltandoumpouco.

Olhoparacima,falandobaixoconformemeuslábiosroçamsuamáscara.“Eu...”eunãoseioquedizer.

SourealmenteapenasumaalavancanestejogodegatoeratoentrevocêeDamon?Apenasumaarma?

Quero dizer, Rika está certa, não está? Ele poderia terme levado, se isso fosse tudo o que elequeria.Elequeriaqueeuoescolhessenacasadehóspedes.

Elemequeria.

Eeuqueriaqueelesoubessequeeutivequefazerumaescolhaimpossível.Mas,naminhacabeça,escondida, onde guardo meus segredos, será sempre ele. Dez anos ... vinte anos de estrada. Eu oobservariadelongeeoveriaconstruirsuavidaeseriafelizseeleestivessefeliz.

Euqueriaqueelesoubessequeeuamonossaspreliminares.

Euqueriaqueelesoubessequeeuoamo.

“Eu gostaria de podermantê-lo,” eu digo. “Pessoas como eu não conseguem o que querem, noentanto.Elasganhamoqueprecisamparasobreviver,emesmosenãohouvesse tantossegredosentrenós,eunãomeencaixoemseumundo,Kai.”

“Meumundo?”Dizele,olhandoparamim.“Querveromeumundo?”

Eeleseafastademim,entrandonoquartoprincipal.

Hã?Oqueissosignifica?

Respiro fundo, sentindo como se eu fosse cair sem ele lá parame segurar,masme forço ameendireitareosigo.

De repente, ouço um som arranhando combinado com um trovão, e eu levanto minha cabeça,

caminhandoparaoquartoevendoKaitirarumpainelinteirodaparede.

Quediabos?

Alareira-oufalsalareiraeuacho-ligadaaumaseçãodepavimentoquevaiparafora,abrindoaparededochãoaoteto.

Háumapassagemsecreta.

Semolharparamim,eledesaparecepeloburacoedeixaaentradaaberta.

Ondeeleestáindo?

Estacasaestácomeçandoa fazerumpoucomaisdesentido.Eusabiaquetinhaquehaverumarazãoparaelecomprar.

Cuidadosamenteandandoatéaabertura,espreitodentro,meusolhos indoparaaúnicacoisa ládentro.Umaescada.Elavaiparabaixo,comiluminaçãoamarradaaolongodaparede,eeusintonizomeuouvido,escutandoruídos.Masnãoouçonada.Nemmesmoosomdeseuspassos.

“Kai?”Chamo."Ondevocêestá?"

Masasminhaspalavrasapenascaemnovazio.Qualaprofundidadequeissovai?

Euprendomeu cabelo atrás daminha orelha e apertominha jaqueta contra o ar frio conformeentro.Edesço.Deixoaportaaberta,porém,apenasnocaso.

Osdegraussãodearenito,easparedesrevestidascomcabosqueligamailuminaçãoinstaladaempequenosintervalos.Continuoadesceraescadaemespiral,abraçandoaparedecomoapoioesentindooarficarmaisvivoquantomaislongeeuvou.Círculoapóscírculoapóscírculo,eutenhoquepiscarváriasvezesparanãoficartonta.

Paraquetudoisso?

Depoisdoquepareceumaeternidade,eufinalmentechegoaofundo,eolhoparafrente,vendoumtúnel.A luzda luaentraporcima,eeuseiquenãodeveria termedo,maseu tenhoumpouco.SeKaiestavaescondendo isso,oquemaiseleesconde?Basta ir,Banks.Quantomenosvocê sabe,maismedovocêtem,entãovásabermais.

Eucaminho,mantendomeusolhoseouvidosalertasconformepisosobreopisodegradedeaçoeolho para baixo para ver um fluxo de água. Olhando para cima, vejo outra grade e o céu negro comestrelasacima.Éumesgotoparaescoara chuva.Asparedesdepedraeo túnel foramconstruídosháváriasdécadas,provavelmente.Háarcosàminhadireita,eeupossodizerqueotúnelcostumavadesviarpara fornecer acesso a outras áreas da cidade,mas as passagens foram emparedadas.Há apenas umcaminhoapercorrer.Reto.

“Kai?”Chamonovamente,olhandoparafrente.“Kai,vocêestáembaixo?”

Claro,elenãoresponde.Talvezelenãopossamaismeouvir.

Aceleromeus passos eme dirijo para baixo do túnel, chegando a uma outra escada.Olho paracima,incapazdeverotopo.Elasócontinua.

Engulo,agargantatãoseca.Eunãocomooubeboháhoras.

Bem,paracimaébom,pelomenos.Apartesuperiordevesairnoníveldosolo.

Corro para cima, repetidamente olhando atrás de mim para garantir que nenhuma coisaassustadoraestejanomeu rastro.Meusmúsculoscomeçamaqueimar,eeudesaceleroumpouco,nãoestouacostumadacomumainclinaçãotãoíngreme.Ondeissovai?

Chegandoaotopo,vejoumaportadandoparaumasala,assimcomoadeondeeuvim.

Estendo a mão e empurro a parede um pouco mais para ter uma visão melhor, a divisóriafacilmentedeslizando.Quediaboséisso?

Entroemumasalaenorme,comtetosabobadadosemobiliário.Pisosdemadeirabrilhamàluzquevemda lareira a lenha, eum longo, tapetepersa foi colocado sobos sofásde couropreto emesasdemadeirasofisticadas.Arteadornamasparedes,umalumináriadeprataemumamesarepletadepapéis,eouçomúsicaquevemdealgumlugarforadoescritório.

Meupulsodispara.

Sigoo somatravésda salaeentroemumgrande foyer,minhacabeçacaindopara trásemeusolhosabsorvendooespaçovazioacimademimquandomeviroemumcírculo.

“Oh,meuDeus.”Tremo.

Outrasala,umasaladeestar,acho,dooutroladodasala,umagrandeescadaergueatrásdemim,edoisoutroscorredoresemambosladosdaescada,levandoparapartedetrásda...

Casa.

Issoéumacasa.

Acasadele.

TudoqueeuesperavadacasadeKaiemuitomais.

Eupossosentirocheirodatintafrescaconformeeuobservoasmoldurasqueadornamaspinturasnasparedes,easbelasmesas,cadeirasesofásespalhadosportodaoescritórioesaladeestar.Háumlustredecristalpenduradoacimademim,tilintandocomalevebrisavindodotúnel.

Éumacasaprojetadaporumhomemquesepreocupacomdetalhe,refletindotantosuasherançasjaponesas como italianas. Elegante, equilibrada e organizada, mas também ornamentada, rica emdetalhes,eexuberantecomoumamansãoEuropeia.

Euandoatéaescadapreta,seguindoamúsicaconformemeucorpoinundacomadrenalina.Seusamigossabemsobreestelugar?

Égrandeeespaçosa,mastambémescuraeacolhedora.Comoumacâmaraescondidadomundoexterior.

Comoseeletivessecriadoseupróprioconfessionáriopessoalaqui.

Ou...suaprópriaTorredoSino,sepultura,oThePope...

No andar de cima, ando pelos corredores, seguindo a voz suave cantando umamúsica que eufinalmentereconheçoserumaversãodePaintIt,Black,epassoporumquartocomaportaabertaeparo.

Acamapretadedosselestáperfeitamentearrumada, lençóisbrancos,edredometravesseiros,eeuentro,vendoumquadroemolduradonaparede.Umanoitepretacomumsolvermelho,chuva,garçasvoando...

Eháaquelesímbolojaponêsnocentronovamente.OmesmodaplacadoSensou.

Guerra.Issoéoquesignifica.Assimcomoonomedolugar.

Ouçoochuveirodesligar,eandoemdireçãoàporta,virandoocorredoremdireçãoaobanheiro.

Kaificaempénoespelhogranderedondocomumatoalhaenroladanacintura,penteandoocabelocomasmãos.Gotasdeáguabrilhamemsuascostas,evaporencheoaposento.

“Kai.”

Elefazumapausa,fixandoosolhosemmimatravésdoespelho.

“Oqueéisso?”Pergunto,lentamenteentrando.

“Acasanacolina.”

“Eestaéasuacasa?”Esclareço.“Suacasadeverdade?”

Eusabiaqueé-ocheirodeleestáemtodaparte,maseunãotenhocertezadoqueeuseienãoseimais,eeuprecisoouvi-lodizerisso.

Elebalançaacabeça,sorrindo.“Vocêrealmentenãoachaqueeuvivonaquelelugarimundo,nãoé?”

Eubufo,masestoutãoprontaparachorartambém.Estoutãoexausta.“Kai,Jesus-”

Começo a protestar, querendo interrogá-lo sobre que diabos está acontecendo e por que eleescondeuesselugar,maselesevira,balançandoacabeça.

“Apenasmedêdezminutos,estábem?”Dizele,parecendotãocansadoquantoeu.“Apenasmedêdezminutoscomvocê,eentãonóspodemoslevarissoasério.”

Caminhandoatémim,eletiraminhajaquetaecolocaemumbancopertodabanheira.

Queestavaenchendocomágua.Bolhassobemmaisaltoumavezqueatorneirajogaáguanabaciaprofunda,branca,eémeuinstintolutarcomele,maselefala,mecortando.

“Vouexplicartudoemdezminutos.”

Minhaspálpebras caem, e eunão sei quehoras são,mas temque ser tarde.Deixoque ele tireminharoupa.

Tudoétirado,eelenãotentameapalparoubeijar,emboraeunãoteriarealmentemeimportadosenãoestivessetãocansada.

“Entrenabanheira,”elemediz.

Euentro,imediatamentesentindoarrepiosdeliciososseespalhandopelasminhaspernasconformeocalordaáguaembebeminhapele.

Lentamente,mesento,afundandoatémeupeitoetragomeusjoelhosparacima,abraçando-os.Kaitiraatoalha,eeuachoqueelevaientrar,maselepegaumacalçadeagasalhoedeslizasobreela.

Algosobaminhapelesacodecomavisãodesuanudez,eeumordomeulábio.Eleolhaparacima,eeudesviooolhar,maspossosentirseusorrisoestúpidopegandomeuolhar.

Colocando minhas roupas no balcão, ele senta no banco e pega uma esponja de banho,mergulhando-anaágua.

Emseguida,eletiratodoocabelodomeuombro,ecomeçaaensaboarminhascostas.

Eutorçominhacabeça,pegandoaesponja."Eupossofazerisso."

Maselepuxa-a,dizendogentilmente,“Euseiquevocêpode.”

Eu não gosto de pessoas fazendo coisas paramim. É desconfortável ser cuidada. Eu não estouacostumadacomisso.Mergulhandoaesponjadenovo,eleapertaaáguasobreminhascostas,deixando-acairemcascataparabaixodaminhapele,eeufechoosolhos,entregando-me.

“Oh,”eususpiro.

Minhacabeçacaiparaoladoenquantoeleesfregaaesponjaquentesobremeuombroepescoço,esintocomoumcobertorqueeununcaqueiradeixarirembora.Nósnãofalamos,eelenãomedáordens,simplesmenteinclinandominhacabeçaparatrásederramandoáguasobreomeucabeloantesdelava-lo,e eumantenhomeusolhos fechadoso tempo todo.Seusdedosnomeucouro cabeludo, a águaquentesobreaminhacabeça,eocheirodeleedeseuperfumemedeixamtontaealta,eeununcamesentitãobem.

Euquasemesintofeliz.

Depoisdelavarmeucabelo,elelavameucorpo,deslizandoaesponjaentreasminhaspernas,eeuficomaisalerta,abrindomeusolhos.

“Useasmãos,”digoaele.“Elassãomelhores.”

Vejoseuslábiostransformarem-seemumsorriso,eelesoltaaesponja,ensaboandoasmãos.

Deslizando-asentreasminhaspernas,eleseabaixapertoconformemelava.

Estouprestesafecharosolhosnovamente,masouçoumsomdetelefone.

Eleviraacabeça,tentandoveratelasobreobalcão.Emseguida,elesoltaumsuspiroepuxaasmãoslonge,secando-as.

“Oqueé?”Eusento,abraçandomeusjoelhosnovamente.

Eleolhaparao telefone,passandoa telae lendo.Ele franzea testaecolocaocelularnobolso,levantando.

“Michael”,elemediz,inclinando-seebeijandominhatesta.“Eleestánoportão.Euprecisoirfalarcomele.Tenhoroupasnoquarto,entãoencontreoquevocêquiserparadormir,eeuvoutrazeralgumacomidanomeucaminhodevolta,ok?”

Balanço a cabeça, relutante emdeixá-lo ir. Ele sai, e eu o observo o até que ele desaparecenocorredor.

Então,obviamente,seusamigossabemondeelevive.

Embora,eumeperguntosejáestiveramaqui.naminhapesquisanuncahouvequalquerindicaçãoqueKaitinhaesterefúgio.Eununcavieleouseusamigosviremparaestacasa.

Élinda,noentanto.E,claro,euestavacertaotempotodo.Nãohavianenhumamaneiraqueelevivessenaquelecasebre.

Euterminoobanhoepuxoopluguenaágua,ficandoempé.Pegoumatoalhanaprateleiraperto,meseco,enxugandotodasasespumaseenvolvootecidomacio,grossoemvoltadomeucorpo.

Apóseuescovarmeucabelo-esercuriosa,cheirandosuacolônia-vouparaoquartoetiroumadassuascamisetasdeumagaveta.Sempreuseicoisasdomeuirmão,porqueéoqueelemedavaparausar,maseusorrio,colocandoacamisadeKai.Euquerosentirsuasroupasemmimeseucheiroemvoltademim.

Olhando para a porta vazia, visto rapidamente e, em seguida, levo a toalha de volta para obanheiro,jogando-anocesto,edobrominhasroupas,queestãonobalcão.

“Não!”Ouçoumgritoeparo,virandoacabeça.

“Comovocêpodelevá-laaqualquerlugarpertodessepedaçodemerda?”Outravozgrita.

Michael.Ficosurpresaquepossaouvi-lodaqui.

Deixo as roupas e me arrasto levemente para trás através do quarto e de volta pelo corredor,chegandoaotopodasescadas.Olhandoporcima,vejoqueovestíbuloestávazio,masestouapenasdecamisa.Nãovoupara láseaspessoasestãoaqui.andoatéodegraumaisaltoeparo,ouvindobarulhovindodoescritório.

“Eunãoprecisolimpartudoatravésdevocê.Elafazsuasescolhas!”Kairosnadevolta.

Ela?Significaeu?

“Rikaéminha!”AvozdeMichaelbaixa,masafúriacontinuatãoforte.“Minhaparceira,sevocêtemqualquerideiadaporraqueissosignifica.Nóstomamosdecisõesjuntos!”

“Vocêsabe,queeuestouaqui!”OuçoRikagritar.“Falecomigo!”

Oh,elesestãofalandodeRika.

EeuachoqueMichaeldescobriusobreojantarhojeànoite.KainãodeveriadeixarRikairparaacasadoGabriel,euacho?

VejoWillpertodaparede,osbraçoscruzadosenquantoeleapenasassiste.

Kaicontinua,“Vocêquedissequeelaeraumadenós.Elapodecarregarseupeso.Elaéumaigual,então-”

“Elanãoéigual!”Michaelgrita.

Etodomundoficaemsilêncio.

Droga,euqueriapoderverseusrostos.

“Elanuncaseráigual!”Elecontinua.“Elasemprevaisignificarmaisdoquevocê.”

Meu coração bate descontroladamente, e eu consigo imaginar o rosto de Kai conforme essaspalavraspairamnoar.EleestámachucadoqueMichaeldisseisso?

Massefossecomigo,eunãoiriaesperarsignificarmaisparaohomemqueeuiacasardoqueseusamigos?

A julgar pelo silêncio vindo do escritório, todo mundo está percebendo que a dinâmica de suapequenaequipeestárecebendoumadosemuitoclaradarealidade.

“Euamovocês,caras”Michaeldiz,“masvocêssãoaporradedensos?Vocêssãomeusamigos.Elaétudo.Talvezumdiavocêsvãosaberquediabosestoufalando.”

Eapróximacoisaqueeusei,équeelesaiparaosaguão,emdireçãoàporta,segurandoamãodeRikaenquantoelalançaumolhartristedevoltaparaosrapazes.Eurecuo,foradavista.

Eupossodizerqueelasentiamuitoqueelesgritaram,masoquevocêfaz?Michaeltinhamedoporela.

Eelecertamentenãoéoúnicohomemquenãoquersuamulheraoredordomeupai.

Elessaem,eKaieWillvãoparaovestíbulo,parecendoacabados.

“Oqueissosignifica?”Willpergunta,olhandoparaseuamigo.

MasKai apenas olhapara a porta queMichael passou. “Isso significa queprecisamosdenovoscavalheiros.”

Capítulo22Banks

Presente

“Olá,Olá?”Umavozalegreperfurameusono.

Aperto meus olhos bem fechados, finalmente percebendo uma luz brilhando através das minhaspálpebras.Quediabos?Euestoumorta.

Eubocejo, rolandoeesticandomeusbraçosnoarconformeregistroumaportase fechandoeofarfalhardesacolas.

"Euacordeivocê?"

“Duh,”resmungo,reconhecendoavozdeAlex.

Sério,qualéadessagarota?Todavezqueeuviroelaestáviolandomeuespaçoseguro.

Eugostariaqueelanãogostassetantodemim.

Piscoparaabrirosolhos,bocejandonovamente."Quehorassão?"

Semesperarporumaresposta,viroàesquerdaeàdireita,procurandoasmesasdecabeceiranoquartodeKaiparaverumrelógio.Eudevotercaídonosonoantesmesmodelesubirnanoitepassada.EleeWilltinhamqueconversar,entãoeudeitei,vestindosuacamisa,paraesperar.

“Nãohárelógiosaqui,”pensoemvozalta,sentando.

“Sim.”Elavemesesentanacamaaomeulado,noladobagunçadoondeKaideveterdormido.

Eufaçoumacareta,umpoucodesapontadaquedormimosnamesmacamapelaprimeiravez,eeuestavadesmaiada.

“Estacasaéumaoutradimensãoondeotemponãoexiste,aparentemente.”Elabalançaosdedosparamimcomoumfantasma.

Segurandoseutelefone,elaverificaatela.“Sãoduasemeia.”

“Datarde?”

Elaassentecomacabeça,encaixandoumbraçosobacabeça.“Vocêdeviaestarcansada.”

“EKaisimplesmentemedeixouaqui?”jogoascobertas.

"Claroquenão.Eletrabalhoudecasahoje”explicaela“paraqueeleestivesseaquiotempotodo,masagoraeleestáocupadocomosfornecedores,eeuacabeidechegar,entãoelemepediuparaacordá-la.”

Euolhoparaela.“Osfornecedores?”

“Paraafesta?”Elaaponta,exercitandominhamemória.“AfestadopijamaqueWillquerfazerparaaDevil’sNight?”

Ohsim.Euvagamenteouvisobreisso.EunãosabiaqueKaiiafazerafesta,noentanto.

Levanto,sentindoocheirodecaféepão.Notoumabandejapertodaporta.“MasaDevil’sNightnãoéemalgunsdias,”eudigoaela.

“Sim,maselessãohomensagora.Semfestasnasnoitesdetrabalho.”

Elasorridocemente,eeuprocuroemvoltaasminhasroupas.Ah,certo.Deixeinobanheiro.

“Eutenhotantacoisaparafazer.”Entronobanheiroparticular,masminhasroupasnãoestãonobalcãoondeeudobreiedeixei.Elasnãoestavamemqualquerlugar.Merda!

Se Kai assinou o contrato, então talvez Damon recebeu a notícia e estaria em casa a qualquermomento.Euprecisofalarcomele.EledisseaKaiaverdadesobreNatalya?

“Você não tem nada para fazer,” ela grita, sua voz se aproximando, “nada para se preocupar, enadaemquepensar.Kaiestálidandocomseuchefe,nãohánenhumapalavrasobreoretornodeDamonainda,eKainãotemabsolutamentenadaparavocêfazerhoje.Então,coma.”

Voltoparaoquartoenquantoelacolocaabandejadecomidaemcimadacama.

“Eunãopossocomer,”eudigoaela.“Eunãopossoficaraqui.Eu…"

Euparodefalar,evouparaacômoda.Abrindoumpardegavetas,procuroalgumtipoderoupa,finalmente,localizandoumacalçadeagasalhonaterceiragaveta.

“Vocêpodefazeroquequiser,”elamediz,seutomsério.“Eeudiriaqueestamostodosprecisandodealgumdivertimento,nãoé?”

Douummeiosorriso,incapazdeevitar.Oqueéissoquevocêestáfalando?Diversão?Nuncaouvifalardisso.

“Sevocêsair,”Alexdiz“Kaisimplesmentevaisegui-la.Eentãotodosnósvamossegui-lo.Eeuachoqueoproblemasabeondeestamosesempresoube,eumanoitenãofarádiferença.”

Faço uma pausa. Sim, Kai me seguiria. Eu não tenho dúvida de que é verdade. Se, por algummilagre,euacharDamon,euprecisodelesozinho.

“Agora...”elasorrienquantocaminhaatéassacolasdeboutiquenacadeira,umaluzemseusolhoscomosetivesseganhoadiscussão.“Conhecendoasuatimidez,eutomeialiberdadedeescolherpijamasespeciaisparavocêparaafestadehojeànoite.”

Horasmaistarde,eumpardebebidascoagidasamimporAlex-achoqueestouprontaparairàfesta,quejáestáemplenoandamento.KaisaiudecasadepoisqueeucomioalmoçotardioqueAlexmetrouxe,entãoeunãoovejodesdeanoitepassada.

Eumepergunto seeleestápreocupado.Oudemauhumor sobreabrigacomMichaelnanoitepassada.Ouseeleestázangadocomigo.Elepodevê-lacomominhaculpa,sentindo-seforçadoaassinaresse contrato, e mesmo que eu saiba que não sou, eu também sei que continuamos nos cavando maisprofundo.Eissoédefinitivamente,emparte,culpaminha.

SeelesouberqueDamonémeuirmão,elepodeentenderporquemeussentimentossãotãofortesporeleenãoesperarqueeufaçaescolhasqueelesabequenãopossofazer.

Devodizeraele.Menosumsegredo,certo?Masnãohánenhumagarantiadequeeledesistadavingança,ealémdomais,elenãomeusoucomoalavancaainda,maselepode.Eunãoqueriaqueelesoubesseexatamenteoqueeletememsuasmãos.

Maseudefinitivamentepreciso falarcomKai.Oqueelevai fazercomocontrato?EseVanessaapareceraqui?

Eporqueelemanteveestacasaforadoradar?Porqueaentradasecreta?

Ugh.Talvezeudevausaraqueles“pijamas”queAlexcomprouparamim,afinaldecontas.Talvezsuamenteentreemaçãoeelepossasermaispróximo?

Sim, não. Não há nenhuma maneira que eu vá, usando uma frente única preta com calcinhaclaramentevisíveldebaixodeumasaialongatransparente.Elaatétentoumecolocarsaltos,paragritar.

ArrancotudoforaeprocuronasgavetasdeKaiatéencontrarumacuecaboxer.Enfioevistoumacamisalimpa,brancadegoladeledoarmário.Euadeixocolocarumpoucodemaquiagem-delineador,rímelebatom-masmeucabeloficaconfuso.Eudisseaelaqueiriatodaproduzida,masrealmente,eunãoestouprontaparaircomforçatotal.Nãoqueeunãogostedemevestirearrumarocabelo,masumacoisa de cada vez. Eu preciso sentir alguma aparência familiar. Muita coisa está acontecendo muitorápido.

Maspelomenosestoumaiscobertadoqueelaemsuaboxerminúsculadesedavermelhacomlaçoderendaecorseleteriscadegiz.Eupossoexperimentaralgocomoisso,masdefinitivamentenoprivado.

“Vamos.”Elapuxaminhamão.

Entrando no corredor, sou pega de surpresa em como está escuro. Olho para os dois lados,percebendocomoasluzesdemaiscedoestãoagoraabaixadase,emvezdisso,velasacesasbrilhamem

cimadecastiçaisempequenasmesasqueseguempelocorredor.Músicavemdebaixoparacima,epossoouviracampainhatocando.

Risoeconversafracamisturadascombarulhosdesaltosedetilintardecopos.

Vamosparabaixoemdireçãoàescada,masassimquechegamosaodegraumaisaltoeeuvejotodasaspessoas,algumasqueeureconheçocomoantigoscolegasdeDamondeThunderBayeoutroscomojogadoresdotimedeMichaelStorm,eutravo.

“Eunão...”puxoaminhamãodadela.“Eunãotenhocertezaqueesseéomeulugar.Eunãogostodisso.Eusinto…"

Nãoseioquedizer.Meucorpoestácoberto,eeucorreriaatéoThePopecomessaboxeranosatrástambém,masagora...

Olhoparatodasasmulheres.Vestidascomlingerie.Sexy.Bronzeadas.Bonitas.Eunãoqueromevestirassim,mastambémnãomesintoajustadacomoestou.AúnicapessoaparaquemeuqueriausaressetipodecoisaéKai,eeunãopossofazerisso.Estaéasuacena,nãoaminha.

Douum passo para trás. Seria mais divertido ficar aqui e explorar o resto da casa de qualquermaneira.Hádezenasdequartos,eumsótão,tenhocerteza.Paranãomencionarqueseháumapassagemsecretanoescritório,provavelmentehámais.Nadaseriamaisdivertidodoqueisso.

Masmãosagarrammeuquadrilportrás,eosussurrodeKaiderepenteestánomeuouvido.

“Ondevocêpensaquevai?”

Eucruzoosbraçossobreopeito.“Eunãomemostroparaoprazerdoshomens.”

Seupeitosacodecomumarisadaatrásdemim.“Bem,bom.Ficofelizemouvirisso,porqueeusouoúnicohomemcujaatençãovocêdevetentarter,ebaby,vocêconseguiuissoanosatrás,enquantovestiaroupasdeoutrohomem.”Elebeijaminhatesta,seuhálitoquenteenviandoarrepiosnaespinha.“Então,vocêpodeimaginarcomoaporradelindavocêestáparamimagoravestindoasminhas.”

Meucoraçãoacelera,ederepente,sinto-memaiscorajosa.

Semoutrapalavra,elepassapormim,descendoasescadas,paracumprimentarseusconvidados.Olhoparaosmúsculosdas suascostas, visíveis jáqueele sóusacalçasdepijamacomoummontedeoutroscaras,esinto-meaquecernovamente.

Maseunãomesintomaisnervosa.ComeçoadescerasescadascomAlex.

Afestanãoestárealmentetãocheiaquantoeupensava.Elepoderiaterfacilmenteacondicionadomais de cem pessoas, no piso inferior, mas parece haver apenas cerca de setenta a oitenta dos seusamigospessoais,próximosdesuagangue.Osjogadoresdebasquetebol,colegasdetrabalho,amigosdaantigaescola...

Eolugarestámontadocomoumafestadopijama,deacordocomotemadepijamasdoWill.

Mesasenchemasaladejantar,cobertascomumavariedadedesalgadinhoseHeavyInYourArmstocanosistemadesomdacasa.

Garçonscirculamcommaishorsd'oeuvres,incluindotaçasdevinhocheiasdeleite,cobertascomumenormecookieM&Mcomgotasdechocolate.Eusorrio,amandocomoissomelembrasercriança.Nenhumadasminhasmemóriasdesercriança,propriamentedito,mascomoumacriançadevecrescer.Travesseiros maciços também foram lançados em pilhas, enquanto as jovens, algumas em camisolaspequenas e sensuais e algumas com pijama de homens como eu, descansavam, deitadas, comendo econversando.

Háatémesmoumabela tendano cantoda salade estar feitade lençóis esticada com luzesdeNatalbrancasnointerior.

“Issoparece tãodiferentedeKai.”Olhoemvolta, notandocomoaatmosferadeixouaspessoasmeioquebrincalhonas.Umcara,combemmaisdeummetroeoitenta,estámergulhandoparadentrodatendaatrásdesuanamoradagritando.

“Nãoénadacomoele.”ElabebeumgoledePatrónechupaumafatiadelimão.“Euplanejeiisso.”

"Porque?"

Elaencolheosombros.“Willprecisasedivertircomseusamigos.Kaiachouqueeraumaboaideia,entãoeleabriuacasa.Finalmente."

Ela me dá um copo de shot, mas eu aceno que não. Eu ainda estou nervosa e quero manter acabeçaclara.

“Se Kai tivesse mais habilidade,” diz um homem, “ele iria descobrir como ter você, sem aassinaturadeumcontrato."

Eumeviro,vendoMichaelseaproximardemim.Eelenãopareceestarbrincando.

MasKaisegue,balançandoacabeça.

“Caleaboca,”eleresmunga.

Michaelvestecalçadepijamapretaeestásemcamisa,meobservandodecimaabaixo.“Vocêestábem,arrumada,”elesorri,baixandoavozparaumsussurro.“Aindamelhordoqueaúltimavezquetevidepijama.”

Euparoderespirar,eeleseviraparaafesta,eleeKaiobservandotodosconformeesperooqueviráemseguida.Aúltimavezqueelemeviudepijamasfoiháseisanos,eapesardeKaipensarqueeleestavafalandosobretodosnósnoThePopenaquelanoite,osussurrodeMichaelinsinuavasobrequandoeleseesgueirouparaacamadeDamoneficouemcimademim.QuandoeledescobriuquesouairmãdeDamon.

Então,Michael sabe quem eu sou. E daí? Ele também sabe que não muda nada, e Michael nãointerferequandonãoénecessário.Damonsempregostoudissonele.EnquantoWilleraintrometidoeKaitentavareinarsobreDamon,MichaelraramenteinterferiacomaformacomoDamonqueriasedivertir.

Kaivaidescobrir,maseuesperoqueeleaindanãoofaça.

“Vocêsdoisestavamprestesachegaràsviasdefatonanoitepassada?”Euaponto,mudandodeassunto."Oqueaconteceu?"

PorqueeleestáderepenteemumafestanacasadeKai,agindocomosetudoestivessebem?

Michaelengolesuacerveja,abaixandoocopo."Nada.Nósbrigamos,eseguimosemfrente.Nósnãosomosmeninas.”

Idiota.

“Quediaboselaestávestindo?”PerguntaKai,olhandoparaosaguão.

Sigoseuolhar,vendoRikaentrareentregarocasacoparaoatendente.ElausashortsdedormircomabacatesneleeumacamisetacombinandoquedizEutenhoumcrush

8porvocê.

Michael começa a rir baixinho, sacudindo a cabeça. “Eu não acredito que ela ainda tem essepijama.Minhamãedeuaelaquandotinhaunsquinzeanos,eeumesentitãomalporela.Maselausavadequalquermaneira.Éporissoqueeladevetervoltadoparacasahoje,euacho.”

Eleandaatéela,eelatentaesconderosorrisoenvergonhadoquandoelealevantanosbraçosericomela.

“Então,podíamosusarpijamasnormais?”EuolhoparaAlexqueevitameuolhar.

“Comoeudisse,vocêpodefazeroquequiser.”

Sim.

Euprecisopegarojeitodisso.

Segundaportadepoisdaescada.

Asvelasestãoqueimando,entãoKaimepedeparapegarmaisnoarmárionocorredor.Euseiquealgumasdasportaslevamparaoporãoousãousadascomoarmáriosdecasacos,entãoeuencontroaquefuiinstruídaeviroamaçaneta.

Erafundo.Prateleirasnofundo,assimcomodoslados,eeuentro,meudedopresonosuportedevelaconformeestendoamãoparapuxaracorrenteparaacenderalâmpada.

Acorrentefazumbarulho,masaluznãoacende.Olhoaomeuredor,aindacapazdeverumpoucocomavelaqueeutrouxe.

OK.Velas,velas,velas....ondeestãovocês?

Curvando-me,eucolocoosuporteparabaixoeolhonasprateleiras,tirandoascoisasdocaminho,emeioqueperguntandoporqueestouàprocuradevelas,quandohálanternasepilhasaquinaminhafrente.Masaspessoasricasgostamdeterfestasàluzdevelas,então...

Passoosolhos,finalmenteachandoasvelasdooutrolado.

Mas, de repente, a porta se fecha, e o quarto escurece mais, deixando apenas a luz da minhapequenavela.Euassusto,virando.

“Então,euouviquevocêchutouabundadeRika,”Michaeldiz,bloqueandoaportaesemovendoemdireçãoamim.Eleéaltoeimponente,enãohánenhumamaneiradepassarporele.

Meucoraçãobatemaisforte,maseudeixodelado.

ÉsóoMichael.

“Eunãosaíilesa,”eudigo,virandoaoredorepegandoalgumasvelasdacaixa.

“Eeuouviquevocêfezumcomentáriosobre‘aceitaremambasasextremidades’.”

Sorriobaixinho,encarando-onovamente.“Evocêestáaquiparalutarporsuahonra?”

“ARikapodelutarsuasprópriasbatalhas.”

Claramente.

E claramente ela não tem escolha, a não ser fazer isso, porque nunca ocorreria a Michael serciumentooupossessivooubravo.Elenuncairiaserincomodadocomgrandesgestos,iria?

Eubalançoacabeça.“Deus,vocêtemalgumorgulho?”

Elemeempurroudevoltacontraasprateleiras,eeudeixocairasvelas.

Inclinando,eumalconsigoveralgumacoisa,alémdoseupeitolargonaminhafrenteenquantoelepairasobremim.Tentocontrolarminharespiração.

“Que tal isso?” Ele pergunta, fervendo. “Rika é a minha lembrança mais antiga, e eu sempre aamei.Osolnascecomela.Semprenasceu.Etudooquefazemos,fazemosjuntos.Tudo.”Elemostraosdentes. “Ninguém nos julga, e nós vamos passar por cima de qualquer um que tente. Você entendeu?Olhe-senaporradoespelhodapróximavezquequiserlançarcalúniassobreocaráterdela.Tudooquevocêvaiveréseupróprioódioeinveja.Oquevocênãosabesobrenósémuito.”

Euolhodevoltaparaele,nenhumdenósvacilando,masmeupulsoestácorrendoamilporhoraagora.EumeimportariaseRikaestivessecomWillnaquelasauna?

Não.Eupossonãocompartilharsuamenteaberta,maseunãomeimportaria.Eleestácerto.Eraciúme.

Eeraproblemameu.Nãodela.

ALuzcaidentrodoarmário,eeuolhosobreoombrodeMichaelparaverKaiparadolá.Eledevetervindomeprocurar.

Michaelvira,masnãosemovedaminhafrente.Abaixo-meepegoasvelasenquantoosolhosdeKaiestreitamnacena.Tenhocertezadequepareceruim.

“Oqueestáacontecendo?”OuçoumavozfemininaeolhoparacimaparaverRikaempéaoladodeKaieolhandoparadentro.

Oh,impressionante.Afestatodaestáaqui.

“Euestavaprestesameperguntarisso,”dizKai,aindaolhandoparaMichael.

EMichaelfinalmentevaiparaolado.“Sódeixandotudoclaroparaela.”

Kaientra,eRikasegue,fechandoaporta.

“Vocêestábem?”Elepergunta,seaproximandodemim.

“Elaestábem,”Michaeloferece.

“Euestavaperguntandoaela.”

Kaiolhaparaoamigo,masRikadáumpassoàfrente,colocando-seentreeles.

“Vocênãoprecisavadizernada,”eladizaMichael. “Sea situação fosse inversa, eumesentiriaestranhadamesmaformacomisso.”

“Eunãomesintoestranha,”interrompo.“Comoestáonariz,apropósito?”

Elabalançaacabeça,dando-meummeiosorriso.Aproximando-se,eladiz“Eunãosouumaameaçaparavocê,ok?EuamoKai,maseunãosouumaameaçaparavocê.”

“Eunãomeimporto.”Euandoemvoltadeles.“Deixe-mesair.”

“Eu acho que você se importa.” Michael entra no meu caminho, mas não me toca. “Muito, naverdade.Eeumeioqueentendo.Querficarquites?”

Façoumapausa,olhandoparaele,confusa."Oque?"

Quites?Como…?

“Doquevocêestáfalando?”Rikaperguntaaele.

Eleseviraparaela,lançandoumolharrápidoparaKai.“Kaipegouvocê.Porqueeunãodeveriapega-laumavez?”

“Vocêestáforadesi?”Kaientra,avançandoparaoespaçodeMichael.“Eunãocompartilho.”

“Desdequando?”Seuamigoseendireita,ambasasparedesrígidasconformeelesdesafiamumaooutro.“Porquenãodeixá-lafazeraescolha?Vejaoqueeladiz.”

Kaiparececompletamenteperdido.Comoseelenãotivessecertezasedeviariroubrigar.

Euficolácomabocaabertaeaindatentandodescobrirseissoéumapiada.

Rikanãoparecenadaconfusa,noentanto.ElaolhaparaMichael,parecendopreocupada.

“Vocêémuitobonita,”Michaeldiz,voltando-separamim,seusolhossuavizando.“RikaestevecomoKai.Vocêquermeter?Eentãotodomundoficaquites?”

Ficoestupefata.Elenãoestáfalandosério.

“Michael.”Rikaintensifica.“Eunãogostodestejogo.”

“Euestoujogando?”Eleperguntaaela.Eelaficatensa.

EuencontroosolhosdeKai,eseuolharentraemmim.Elepodeestaràesperadoqueeutenhoadizersobreoassunto,masseeuescolhererrado,elevaidarumpassoàfrente.

Elenãocompartilha.

Eeulutocomumsorriso,masnãoqueroqueelecompartilhe.

EuvejoRikaolharparaMichaeleeleolhardevolta,eentãoseusolhosvacilam,enfraquecendoaovê-la.

Eleestájogandocomigo.Elaédele,eeleédela,eelessabemquemeoqueelesquerem.

MaseuaindanãogostodeMichaelbrincandocomigo.Eupossojogartambém.

Euoempurrodevolta.“Transarcomvocêmedeixaquitescomela?”Digoaele.“Eunãocolocominhavisãotãobaixa.EuqueroestarquitescomKai.”

Suassobrancelhasapertam,nãomeacompanhando.EncontroosolhosdeRika.

Eelairrompeemumsorriso.“Elaéinteligente,nãoé?”

“Oqueestáacontecendo?”MichaelolhaentreRika,Kai,eeu.“Oquesignificaisso?”

Estendendoamão,Rikapegaaminhaegentilmentemepuxaparaela.“Issosignificaque,seKaimeteve,omesmoacontececomela.”EentãoelaolhaparaMichael."Oque?Ojustoéjusto,certo?”

Elefranzeatesta,voltando-separaKai,queapenasficaláparecendotãochocado.

Meucoraçãodispara,eeunãotenhocertezaseeuestavablefandoquandodisseisso,oueuapenasnãopenseitãolongequandofaleidemaiscomoeusemprefaço,masseideumacoisa.EuamoasensaçãodosolhosdeKainasminhascostasagora.Euamoelemeobservando,eseiquetudoéparaele.

Elacolocaasmãosnomeuquadril,eeuabroabocaparaprotestar.“Eunão-”

“Oqueelefazquevocêgosta?”Elasussurra,inclinando-semaisperto.

“Um...dentes?”Eugaguejo.“Elemordemeuslábios.”

Ela fica ofegante, sua boca pairando sobre a minha. “Sim, eu gosto quando Michael faz isso

também.”Eelafazisso,aproximando-seearrastandomeulábioinferiorentreosdentes.

Eusoluço,minharespiraçãotrêmulaconformemeudesejocresce.

“SóqueoMichael,”elarespiranomeuouvido,“mordeaquiembaixo.”

Eelapegaminhamãoemefazmetocar.Eusorrioanimada."Merda."

Elamebeija, e eu colocominhasmãos em seuquadril, beijando-ade volta.Oquediabos estoufazendo?

Elafechaosolhos,mordendomeuslábiosnovamente,ebalançandoomeulábiosuperiorcomsualíngua, a respiração quente, doce, me aquecendo toda. Eu gemo, um nervo entre as minhas pernascomeçandoapulsar.

“Você deveria vê-los,” ela sussurra, mordiscando minha orelha. “Eles estão prestes a perder acabeça.”

Eutremocomumarisadatranquilaeinclinoacabeçaparatrás,deixandoseuslábiosdevoraremmeupescoço.Euamoelemeobservando.Amoelemeversentirprazer.

Trazendominhacabeçaparabaixonovamente,deixomeucabelocairnosmeusolhosquandomeinclinopertodela,pressionandonossoscorposjuntos.

E eu assumo o comando. Empurrando-a para trás, nós caímos nas prateleiras, e eu seguro seurostoenquantoabeijonovamente,surpreendendoquandoelagemeeseesfregaemmim.

“Toque-me”elaofegacontraosmeuslábios.

“Oh,merda,”Michaelengasga.

E eu sorrio, mergulhando dentro da boca dela uma e outra vez enquanto lentamente deslizominhasmãosparacimaemsuacamisa.Elatomaissocomoumasugestãoepuxaacamisetasobresuacabeça, deixando-anua emcima.Mordo o lábio e encontro seus olhos, segurando-os conformeminhasmãosselevantameseguroumpeitoemminhamão.

Elasoltaumgemido.

“Banks,”ouçoKairespirarparafora,maseunãoolhoparaele.

Rikacomeçaadesabotoarminhacamisa,ecadanervosobaminhapeleanseiaporsertocada.Eunãoconsigotirarrápidoosuficiente.PossosentiralínguadeKainaminhacoluna,emboraelenãoestejametocando.Sintoseusdentesemãosnosmeusseios.

A camisa cai no chão, e nósgozamos juntas, pressionandonossos corpos juntos conformemeusmamilosroçamosdela.Eucomoseuslábiosnovamente,querendotantoverorostodeKai.Masnãoseisedevovirar.Eunãoqueroquebrarofeitiçoainda.Eseeleestivercomraiva?

Nósnosbeijamoselambemoseofegamosumpouco,ecadacentímetrodaminhapeleresfriacomsuorenquantoelaapertameuseiodireitoepassaalínguapelaminhagarganta.Nósagarramosoquadrilumadaoutra,nosesfregandoumasobreaoutra.Deus,euestoumolhada.

“Tiresuaboxer,Rika,”Kaidizderepentecomumavozrouca.Comoseeleestivesse foradoar.Rikasorri,encorajada.Eladeslizaosdedosdentrodaminhacinturaepuxaparabaixo.Eusorrio,saindodaboxer.

Eu façoomesmocomela,empurrandoparabaixoseusshortsdedormir,quase todasasnossasroupasempilhadasnochãoenquantocontinuamosabalançareesfregar.

Eeufinalmenteviroacabeça,enquantoelamordiscaminhaorelha.Michaelestáatrásdenós,masKai se mudou para o canto perto da porta para ter uma visão melhor. Ele observa, seu corpodolorosamentetenso,eseupauumcumeduro,grossoprojetandocontrasuacalça.

Nósduasolhamosparaosmeninosconformenosabraçamosmaisperto,derostocolado,conformeRikadábeijospequenos,leves,nocantodosmeuslábios.

“Queremosserfodidas,”eladizparaMichael.

Euafirmocomacabeça,umsorrisodançandoemmeuslábiosenquantoobservoosolhosescurosdeKaiecolocoasmãosatrásdacalcinhadela,provocando-o.

Eleacompanha,enfiaosdedospelomeucabelo,epuxaminhacabeçaparatrás,beijando-metãoforteeásperoquetirameufôlego.

Antesqueeuperceba,Rikaélevada,eouçoumtecidorasgarantesdosussurroroucodeMichael,“Deus,monstropequeno,euteamo.”

Kaimedobra,minhacuecaépuxadaparabaixo,eeucolocominhasmãosnasprateleirasnaminhafrenteconformeseupaumecoroa.Eutenhotempodepuxarumarespiraçãorápida,eentãoeleestámeempurrando,seenfiandoemmimcomummovimento.

Grito,sentindo-ofundo,adordocemetocandotãoprofundo.Olhoporcima,vendobrevementeafrente de Rika pressionada nas prateleiras conforme Michael segura seu joelho para o lado, abrindo-aparaeleenquantoempurradentrodela.Acabeçadeleestáenterradanopescoçodela,eelaalcançaaoredor,segurandoapartedetrásdopescoçodeleenquantoelevainelaforteerápido.

Kai rosna, segurandomeucabeloepuxandominhacabeçapara trás. “Euachoquevocêgostoudemaisdaquilo,”dizelenomeuouvido."Gostou?"

Eusoluço,malcapazdepensarconformefechoosolhos.“Bem,eunãovoutentarquebraronarizdelamais,seéissoquevocêquerdizer.”

Elesoltaumarisadinha."Bom."

E me puxa mais, e eu viro minha cabeça, saboreando sua boca conforme o quarto enche degemidoserespiraçãoofegante.Entãoeuvouparatrás,olhandoemseusolhosquandoelemefode.

Eunãoiriapará-lo.Eunãoirianuncapará-lo.Oqueestáfeitoestáfeito,eeurouboecobiçotodososmomentosquerestam.Fechoosolhos,saboreandoasensaçãodelenaminhamemória.

Eleagarrameuquadrilerespiranomeuouvido.“Eugostodevocê,garota.”

Eusorrio,odiandoesseapelidoestúpidotantoquantoquandoelemechamadegarota.

"Eutambémgostodevocê."

Euteamo.

Acordandonamanhãseguinte,olhoevejoqueKainãoestánacamaaomeu ladonovamente.Aquehoras ele levantou?Ele foi paraa camacomigo,masele sequerdormiu?Elepareceestar semprefazendoalgo,movendo-seoupensandooucorrendo.Limpomeusolhosparaacordarebocejo,verificandoorelógio.Éumpoucodepoisdasoito.Maistardedoquenormalmentelevanto,massóconseguidormirseishorasatrástambém.

Levantando,caminhoparaseuarmárioeabroasgavetas,encontrandooutracuecaboxer.Vistoe,emseguida,vouparaocloset,abrindoaportaeficandodeolhosarregaladoscomoespaçoenorme.Eumergulheiaquiontemparapegarumacamisaparaafesta,maseunãotivetempoparaapreciá-lo.

Entro.Econtinuoandando.Seucheiroinundaminhacabeça,equasemesintotonta.

O closet é exatamente Kai, e eu balanço a cabeça, sentindo-me tão estúpida. Eu deveria terpensadomelhor.Eusabiaexatamentequetipodecasaqueeleteria.Eunãodisseaele?Beladecoração,móveiscaros,todasassuascamisasengomadasalinhadasemcabidesdemadeiracomaquantidadecertada porra de espaço entre cada peça de roupa, para sair gritando. Um homem que se orgulha de cadaaspecto,minutodesuavida.

Corro minhas mãos na fileira de camisas brancas, sentindo o tecido macio, fresco entre meusdedos.MeuDeus,ficosurpresaqueelemedeixetocá-locommeusgermes.Sorrioparamimmesma.EleécomoChristianGrayencontrandoHowardHughesencontrandoPatrickBateman.Seeuencontrarumamotosserraouummachadodentrodacasa,estouforadaqui.

Empurro todos os ganchos até o fim, amassando as camisas juntas e destruindo seu pequenomundoperfeito,enquantosorrioparamimmesmaconformepuxoumacamisaazuldemangacompridaforadeumcabide.Deslizando-aemmim,abotoo,cruzominhasmãosatrásdascostasesaiodoarmário,assobiando.

Eutenhoquevoltarparaomeuapartamentoparapegarumamudaderoupaemalgummomento.EstoucomasroupasdeKaihádoisdiasagora.

Saindo do quarto, ando pelo corredor e desço as escadas, seguindo ao redor do corrimão, emdireçãoàsaladejantar.Osfornecedoreslimparamtodaamontagemnanoitepassada,depoisdamaiorpartedosconvidadosteremidoembora,maseuavistoatendadelençoaindamontadanasaladeestareasalmofadasespalhadas.

“ElenãoestánoThePope.Nósprocuramosnodécimosegundoandar,”ouçoKaidizer.

Voumaisdevagar,parandoantesdasaladejantar.

“Vocêtemcertezaqueelenãoestáemoutroandar?”PerguntaMichael.

"Sim.Elenãoestálá,porra.”

Damon.

Olhodentro,vendoKaieseusamigos,incluindoWill,Michael,eRikarelaxandoaoredordamesaenquantotomamocafédamanhã.Ninguémestárealmentevestidoainda,aindavestindosuasroupasdedormir.

Rikalevantaumenvelopegrandeamarelo,aoutramãosobreumapilhadecaixaspequenas.Sãofósforos?

“Nósnãosabemosseissoédele,”dizKai.

“Dequemmaispoderiaser?”

“Olheparaocarimbodocorreio!”Elaexplode,parecendoirritadaconformejogaoenvelopeparaeledooutroladodamesa.“ÉdaCidadedoMéxico.Elenãoestáaqui."

“Olheparaascaixasdefósforos!”Elerosnadevolta.“Elepodeterpedidoparaqualquerumenviarissodequalquerlugarquequeira.Eelemandouparavocê.Issoéumamensagem.Elenãoestáapenasmeameaçandomais.”

Elepegaoenvelopeeatira-odevoltaparaela.

Caixas de fósforos. Estudo a pilha de pequenas caixas e livros sobre a mesa que, obviamente,tinhamvindonoenvelope,vejoumacaixaprataqueeureconheçoimediatamentecomosendodaRealm,umadiscotecaqueoscarasfrequentamaquiemMeridianCity.Todoselessãodestaárea?Erapor issoqueKaiestavapreocupado?

Michaelpassaasmãospelocabeloedescesobreorosto.

“Então,oquevocêvai fazer?”EladesafiaKai.“Perderacabeçacorrendoemcírculos,enquantoeleridenós?Damonestájogando.Elenãovaifazernada.”

"Comovocêsabe?"

“Porqueeleteveumadúziadechancescomigonoanopassado,eparou!Cadavez!”Elaselevantadasuacadeira,empurrando-a.“Elegostadefodercomasnossascabeças.Éisso.Bastadeixá-losozinho.”

“Porquevocêsempredizisso?”

Rikahesita,olhandoparaele."Oque?"

Kaibaixaavozaonormaleseaproxima,desafiando-a.“Todavezquequeremoslidarcomele,vocênosdizparadeixá-losozinho,”elesolta.“Eletemmerdademim.EletentoumatarWill.Quediaboséoproblemacomvocê?Porquevocêestáprotegendoele?”

Suabocaseabre,emeucoraçãoacelera.Elapareceofendidacomaacusação.

SeusolhosvãoparaMichaele,emseguida,Will,todosolhandoparaelaassimcomoKai.Protegê-lo?Porqueelespensamisso?

Ninguémdiznada,eentãoelapisca,zombandoenquantopegaseupratoeseafastadetodoseles,emdireçãoamimeparaaporta.

Eusaiodetrásdaparede,foradoseucaminho,eelapassapormimsemolhar.

Kaimenota,esuaexpressãosesuaviza.“Vocêestácomfome?”Pergunta.“Temcafédamanhã.”

Olhoparaamesadobuffet,balançandoacabeça.“Sim,emumminuto.”

Viroepassopelasescadas,paraoescritório,evejoRikadesaparecercomseupratoparaojardim.

Depoisdanoitepassada,eunãoachoquesomosamigas,masestoucuriosa.Seomeuirmãolheenviouumpacoteparaassustá-la,porqueelanãoestámaispreocupada?NãoerasóoKaipegandoseussinaistambém.AformacomoMichaeleWillolharamparaela...

Sigo-a fora, grata pelas nuvens bloqueando o sol brilhante da manhã. Ela senta no chão,inclinando-secontraumaárvore.Descansandoacabeçaparatrás,elacolocaseupratodecomidaaoseulado,masnãocome.

Euandoatéela.

“Ei,”eudigoenquantomeabaixoedeitonochão.

Elaassentecomacabeça,aindaparecendopreocupada.

“Damonenvioucaixasdefósforos?”Pergunto,nãohesitando."Porque?"

Elaencolheosombros.“Eucoleciono,”elaresponde.“Meupaicostumavatrazeralgunsdesuasviagens, e eu comecei a acumula-las.Michael continuoua tradição, trazendoaquelasqueencontraemviagensforadacidadequeeunãooacompanho.”

Então,Damonsabequeelagostadisso.“EeleteenvioudeMeridianCity,”euimagino.Elequerqueelasaibaqueeleesteveaqui.Ouqueeleestáaquiagora.

Ela ficaemsilêncioporum tempo,eeuqueroperguntarmais -perguntarporqueelanãoestábrava-masnãosomosamigas,eseiqueelanãoconfiaemmim.Depoisdoqueaconteceuontemànoite,porém,euesperavaquepudéssemosconversarumpoucomaisfácil.

“VocêcresceucomDamon?”Elapergunta.

"Porumtempo."

Elaabreabocaparafalar,masdepoispara,hesitando.

“Algumavezvocê...viualgumacoisa?”Elapergunta,apertandoseuspolegaresnocolo.“Ascoisasquepodemteracontecidocomele?”

Oque?

Elasabe?

“Damonlhedissealgumacoisa?”Questiono.

“Não,claroquenão.”Elabalançaacabeça.“OirmãodeMichael,Trevorcontou,noentanto,umavez.Eunãotinhamotivosparaconfiarnele,masnãopossoimaginarporqueeleiriainventarumahistóriacomoessa.Fazsentido,dadaaformacomoDamoné.”

Elafinalmenteolhaparacima,eeutenhomedodoqueelavaidizer.Damonnãoquerqueninguémsaibadenadaqueaconteceuemcasa.Eunãopossofalarsobreisso.

“EledissequeamãedeDamon...”eladiz,parecendoqueestálutandoparateraspalavras“queela começou a machucá-lo quando ele tinha doze anos.” E então ela fecha os olhos, baixando a voz.“Violentandoele.”

Então,elasabe.ElacontouparaoMichael?

“Deus,issomedeixadoentesódepensarnisso.”Elarespirafundo,olhandoparalonge.

Masentãoelaapenasdádeombros,acenandoparamim."Deixapralá.Aindanãoédesculpa.Eusóachoqueseelequisagircomoelefezhámuitotempo,nósdevemosapenasdeixarpralá.Talvezeletenhasofrido,eenquantoeununcavouperdoá-lo,possodeixá-lotentarencontrarapazquepuder.Eleestádoente,enadadebomvemdecutucarumursodormindo.”

Eu concordo com ela. Ainda não é desculpa. Muita gente teve uma vida difícil e se comportoumuitobem.

Emteoria.

Masquandovocêestánomeiodeabusoeaindavivecomotormentoemsuacabeçatodososdias,éumpoucodiferente.Ninguémlidacomisso.Elessimplesmentefingemmelhor.Dequeoutraformavocêlidacomaterrívelmerdaquevocêpassou?

“Elenuncachorou,”eudigoaela,minhavozcalma. “Eununcaovi chorar.”Elapermaneceemsilêncio,eeuviromeusolhosparaocéu.

“Quando ela entrava, ele me fazia me esconder,” continuo, minha pulsação ecoando nos meusouvidos.“Noclosetcomseusfonesdeouvido.Edepoisqueacabava,elemedeixavasair,eentãoeleiatomarumbanho.Àsvezes,eleficavaláporumahora.Àsvezes,trêsouquatro.”

Lágrimasbrotam,eeufechoosolhos.

Osrangidosdacamaviolavamamúsicanosmeusouvidos,àsvezes.Euaindapossoouvir.

“Eleficavanochuveiroatésecontrolarnovamente,”eudigoaela.“Àsvezes,oscortesestavamemseus braços ou no peito. Dependendo da época e o que suas roupas cobriam.” Lágrimas silenciosasescorrempelomeurosto.“Quandoeletinhaquinzeanos,elecomeçouacortarapartedebaixodospés

dele, então ele sentiria isso cada vez que ele andasse. Eu não entendo como ele conseguia correr naquadradebasquetecomador.Suasmeiasficavamencharcadasdesangue,àsvezes.”Euolhoparaela,oazuldeseusolhosbrilhandocomoumapiscina.“Ehaviaoutrascoisasqueelefazia.Maneirasqueelemefaziamachucá-lo...”façoumapausaedepoiscontinuo.“Atéanoitequeerahorademachucá-la.”

Damonbateuemsuamãeatésangrarumanoite,enóspensamosqueeraaúltima,quejamaisaveríamos.Essafoianoiteemqueeleparoudesemachucar,porqueeleaprendeucomoerabomsentir-semachucandoosoutros.

Elenãoprecisavasofrermais.

“Damoncomedor,”eudigoaela.“Elevaiencontrarumamaneiradeleva-laetorcê-laeenfia-laparabaixoemsuagarganta,paraqueelepossaengoli-la.Eleestáfeitodisso.Vocêstodospodemsuportaratésuperá-la,masDamon...elequerestarnoinferno.”

Éondeelebrilha.

Euviromeusolhosdevoltaparaocéu,deslizandoumbraçodebaixodaminhacabeça.“Masaindaassim...elenuncachorou.”

Capítulo23Kai

Presente

Umtoquedepenasacariciameu rosto, eeumeagito,percebendoqueestavadormindo.Minhacabeçaestácomoumpesomorto,eeunãoconsigolevantá-la.

Piscando,vejoaluzentrarnoquartoeBanksdeitadaaomeulado.Eusorrio.Sempreodieidormircomoutrapessoa-tiposonoreal,namesmacama.

Elaestátãotranquila,noentanto.Eeugostodevê-lanomomentoemqueacordo.

Estendendoamão,passoumbraçoemvoltadacinturadelaeapuxoparaperto.

Maselaestádura,ealgoestáfora.Fechoosdedosemvoltadesuapele,masnãoépelequeestousentindo.Éroupa.

Abroosolhostotalmenteevejoqueelaestácomacabeçaviradaparamim,meobservando.

Seusolhosparecemtristes.

“Oqueé,baby?”Apoionosmeuscotovelosemeviroparaela,mantendomeubraçoemvoltadela."Oqueestáacontecendo?Porquevocêestávestida?”

Elaestáusandoamesmaroupaqueveioemumpardediasatrás.

Seusussurroépequenoconformeelapassaascostasdamãonaminhabochecha.“Nãoesqueçacomosenteisso.”

Apertominhassobrancelhas."Oque?"

Empurrando-meparacima,sentodejoelhosenotoseutelefonenamão.Umasensaçãoinquietantemetoma.Oqueelaquerdizer?

Pegootelefonedela,eeladeixa,emsilênciomeobservandoenquantoeuleioatela.

Olhepelajanela.

Eunãoreconheçoonúmero,eelanãotemocontatosalvo.Nenhumnome.Umaúnicamensagem.

Olhoparaela,embuscadeumaexplicação,maselapareceparalisada.

Eudeslizoparaforadacama.Caminhandoparaajaneladoquarto,avoltadaparaacidadelonge,olhoparafora,meuestômagoimediatamenteafundando.

Umanuvemde fumaçanegra indopara o céu, e está vindodeste ladodo rio.DeWhitehall. Eupossoouvirasirenefracadoscaminhõesdebombeirosdaqui,eumhelicópteroaindapairaperto.

“Oqueéisso?”Pergunto,virandoosolhosparaela."Oqueestáacontecendo?"

Elaengoleemseco,sentandocomacabeçabaixa.Elanemsequerolhaparamim.

“Oqueéisso?”Grito,agarrando-aepuxando-aparacima.

Suarespiraçãoacelera.“Sensou.”

Não.Eua soltoe saio correndodoquarto,descendoasescadas.Masaportada frente seabreantesqueeucheguelá,eeuolhoparacimaparaverMichael,Will,eRikaentrando.

Willmepega,tentandomeimpedirdecorrerparafora.

"Étardedemais.Elesefoi,”dizele,empurrando-meparatráseparecendoaflito.

Minhamãodisparaparaomeucabelo,eeuolhoparaforadaportadafrente,vendotodaafumaçaescurecerocéu.

Deus,não.

Rikachorabaixinhonohall,epensoemtudooqueeuconstruínaquelelugar.Todasasarmasquemeupaidoouquandoeuoabri.Foramembora.Todososregistrosearrendamentos,tudoestavalá!Eufaçotodososnossosnegóciosdelá.

Eaclientelaquenósconstruímos?Foi.Levariamesesparareconstruir.

Euapertoaporradosdentes,adordaperdapertodoinsuportável.

“Haverámaisincêndios,”ouçoBanksdizer.

Minha tristeza se transforma em raiva, e eu viro, vendo-a caminhar lentamente descendo asescadas.

Damonmandouumamensagemparaela.

“Eelevaitrazê-losparaThunderBay,também,”elaadverte.“EstáforadocontroledeGabriel.”

Quantotempoelamedeixoudormir?Apenasotemposuficienteparaofogoacabarcomtudo?Eusegurootelefone,verificandoahoradamensagem.

Seisminutosatrás.

Eupressionooíconedetelefonenamensagemetragoatéomeuouvido,deixandotocar.

Mas uma gravação de voz vem, dizendo que a linha está fora de serviço. Ele está usando umgravador.Eu terminoa ligaçãoemeviro, lançandoo telefonepara foranacalçadaenomatoalémdoportão.

Depoisdeummomento,Michaelentranaconversa.“Caminhõesdebombeiros jáestão lá.Vista-se.”MaseumeaproximodeBanksenquantoelacautelosamentecheganofimdaescadaria.

“Eunãosabia,”dizela.

“Vocêteriaodetidosevocêsoubesse?”

Dorbrilhaemseusolhos,masseusilênciodiztudo.

Umasombracaisobreasala,bloqueandoaluzdosol,eeumeviroparaveroscarasdeGabriel,osmesmosqueapegaramdafestadoMichaelnaquelanoite,empédoladodeforadaporta.

Odecabeçaraspada-David,acho-olhaparamimeinclinaoqueixoparaela.“Vamos.”

“Elanãovaialugarnenhum.”Euviro,colocando-meentreeleseela.

“Vanessafoiembora,”dizDavid,entrandonacasa.“Alguémchegouaela.Assustou-a.Elanãoquerfazerpartedisso.”

“Eunãodouamínima,”rosnodevolta,apontandoparaBanks.“Elanãovaialugarnenhum.”

“Ocasamentoestácancelado.Nenhumacordo,”elerepete,ememovoparaavançarnele,maseleabreajaqueta,pondoamãoemseuquadril.

Éumaaçãocausal,masumgestocomopropósitodecertificar-sedequeeuvejoaarmaqueeletemenfiadaemumcoldredebaixodobraço.Vouparaele.

MasMichaeltiraamão,meparando.“Elestêmarmas.Nãotemosnada.Sejapaciente.”

Cadaporrademúsculoaperta,eeufechoospunhos,apertando-oscomtantaforçaquedói.

“Nãosepreocupe.”Davidsorri.“Nósnãovamosforçá-laairseelaquiserficar.”

Viro-me, encontrando seus olhos, e quando ela vacila, eu sei qual é a sua decisão.Meu sangueferve.

Foda-se.

Talvezelaesteja realmenteescolhendo-osou talvezelapensequepodemanterDamon longedenós se ela for embora,mas eu estou cansado de tentar ser o homem que eu acho que deveria ser. Ohomemqueeueranocolégio.

Semimplorar.Seelagostadehomensquetomam,eupossotomar.

Elapassapormim,eeumeviro,observando-asaircomeles.

Elasevira,andandoparatrásenquantofalacomigocomlágrimasnosolhos.

“Era tudo tão fácil,” diz ela calmamente. “Tudo o que você tinha que fazer era perguntarmeunome.”

Euhesito.Oqueelaestáfalando?Euseionomedela.

Eles saem, e nós quatro ficamos olhando para o SUV preto conforme ele acelera para fora dagaragem.

A fumaça do fogo foi para as montanhas, e eu posso sentir o cheiro da queima de madeira ealcatrãodotelhado.Haverámaisincêndios,eestefoiapenasoinício.ADevil’sNightnemsequercomeçaatéameia-noite.

Viro-meparaRika,vendoosolhossecos,masvermelhos.“Agoravocêvê?”Eudigoaela.Elatemqueparardeesperaromelhordele.Esseeraonossolugar.Nossosnegócios.Meusustento.

“Então,aDevil’sNightestávindonãoimportaoquefizermos,”Willentranaconversa.

Eu balanço a cabeça. “E nós temos uma peça de poder,” eu digo, virando paraMichael. “Nãoqueremosusar?”

Mas,estranhamente,elesorri.“Naverdade,”dizele.“Vocêtemumaoutracartaparajogar.”

Eutenho?

Ele se inclina, cruzando os braços sobre o peito. “O nomedela... éNikova,” eleme diz. “Pensedireito.Vocêvaientender.”

Nik.

EupenseitalvezNikki?TalvezNicole?

Não.

Nikova.

A variante feminina de Nikov. Como em Gabriel Torrance, nascido Gabriel Nikov, cuja famíliaadotouosobrenomemais“americano”deTorranceparaseusnegóciosquandoelesimigraram.

GabrielaindausaNikov,noentanto.Detemposemtempos.

Epareciaqueelenãopermitiuquesuafilhailegítimativesseoseunomedefamília,entãoamãe,parairritá-lo,deu-lheoseuprimeironome.

Inteligente,realmente.Provavelmenteoirritou,maselenãopodiaimpedi-la.

“Oquevocêestáfazendoaqui,garoto?”

EuentronoescritóriodeGabriel,WilleMichaelaomeulado.

Dois dos rapazes de Gabriel ficam fora atrás, guardando a porta que acabamos de entrar,masmeusolhosbrilhamparaBanks,queestáaoladodoseupaivestidacomasroupasdeDamonnovamente.

Tantofazsentidoagora.

Masissonãodeixanadamelhor.

“Euvimparaaminhanoiva,”eudigo,olhandoparaeleemsuacadeira.“Vamosacabarcomisso.”

Maseleapenasficasentado.Elenãolateougritacomoeupenseiqueeleiria.

Em vez disso, ele apenas balança a cabeça, parecendo cansado e perdido em pensamentos.“Damon...”elepara,respirandocomdificuldade.“Eupenseiqueelefosseseafastardeseusimpulsos,eaprender que gastar energia com batatas pequenas, como você, é uma perda de tempo.” Ele dá umabaforadanocharuto.“Eletemmuitomaispaciênciadoqueeulhedeicrédito,noentanto,eeleésingularemseusdesejosemrelaçãoaseusamigos.”

“Nósnãosomosseusamigos.”

“Ele não vai parar,” ele assegura, parecendo realmente arrependido sobre isso. “E ele assustouVanessa,entãoocontratoénuloesemefeito.Vocêdeveriaestarfeliz."

Inclino-meecolocoaspalmasdasmãossobreamesa,sentindoMichaeleWillatrásdemim.Olhoparaele,esperandoeleencontrarmeusolhos.

MasBanksestámeobservando.Eunãotenhoqueolharparaelaparasaberisso.

Elefinalmentecolocaospésparabaixoeolhaparacima.

“Eunãoestougostandodeserdeixadode fora,” respondocalmamente,mordendocadapalavra.“Eusousingular,também,enãovoucorrer.Umnegócioéumnegócio,evocêestápresocomigo.”

“Bem,eunãotenhomaissobrinhasparalhedar.”

OlhoparaBanksedepoisdevoltaparaele.“Vocêtemumafilha,”euaponto.

Seusolhosbrilhamparamim,euouçoBankspuxarumarespiração,eporra,euquasesorrio.

“Eeunãomeimportoseelacaminhapelocorredornessejeanssujoqueelaestáusandoagora,”eudigo a ele. “Leve a bunda dela para a igreja esta noite, e você tem aminha palavra de que não voumachucarseufilho.Masseelanãoestiverlá...”

Enfioamãonobolsoetiroumtelefonecelular,segurando-o.

Seusolhosseestreitam."Oqueéisso?"

“Éaquele...?”Banksolhaparaeleeentãoolhaparamim.“Vocênãodestruiu?”

Euvoupara trás, colocando-ode voltanobolso.O telefone celular eranossoanuárionoensinomédio.Ele temfotosevídeode todososnossosatos,bonsemaus, incluindoosvídeosdoscrimesquemandaramDamon,Will,eeuàprisão.

DepoisdeDamonescaparnoanopassado,nóspretendíamosdestruí-lo,masdepoisdecidimosqueumpequenopodernãoeraumamáideia.Depoisdeapagarosvídeosquenosincriminavaemquaisqueroutroscrimes,carregamosumpardedrivescomosdele.

Eossalvamos.

Otelefoneeraparaoefeito.

Claro,eupossousarosvídeosparaameaçá-locomoeleestámeameaçando,maseuaindaprecisosaberondeNatalyaTorranceestá.Euprecisoresolverisso.

Viro-meecaminhoparaaporta,meusamigosseguindo.

“Elaéumabastarda,”elegrita.“Umadasminhasmuitas.Oquefazvocêpensarquecasarcomelalhedáqualquerpodersobremim?Vocêsabequeeunãodouamínimaparaela.”

Paramos,eeuvirominhacabeçasobreoombro,meusolhosimediatamentetravandoemBanks.

Elaficaimóvel,olhandoparaamesanafrentedela.Oinstintomedizparalevá-laparaforadaquiagora.Leva-laparacasaemecertificarqueelanuncatenhadeouviralgoassimdenovo.

Maselafezsuasescolhas.

“Vocêpodenãodar,”respondo,“masDamondá.Elesepreocupamuitocomela,nãoé?Vocêpodeestarmorto em cinco anos,mas eu vou ter seu filho - e único herdeiro - exatamente onde eu quero.”EncontroosolhosdeBanks.“Seeuativer.”

Eletomoualgoqueeuamavahoje.Agoraeutomooqueeleama.

Capítulo24Banks

Presente

Kaisaidasala,seguidoporWilleMichael,eoescritórioficaemsilêncioatéqueouvimosoruídosurdodaportadafrentesefechando.

Então,meupailevantadacadeira,vira-seemeagarracomumamão,apertandomeuqueixo.

Enguloemsecoenquantoseusdedosenterram.

“Eugostariadepodermatarvocê,”elesolta,olhandonaminhacara.“Euiriatiraraporradoseupescoço em um segundo se eu não soubesse que aquele pedaço demerda domeu filho iria perder acabeçaefazeralgoestúpido.”

Elemeempurraparalonge,eeucaioemDavid,quemepegaantesdeeucairemeendireita.

“Certifique-sedequeelearecebausada,”dizDavid.

Minharespiraçãotreme."Oque?"

Maselenãomeresponde.Eledáavoltanamesaevaiparaforadasala,deixando-mesozinhacomoscaras.

EumeafastodeDavidevouparaolado,colocandotodosnaminhafrente.Oquediaboselequisdizer?

Umdos rapazes,McCandless,move-seemdireçãoamim lentamente,umsorrisoemseusolhosazuis.

MasIliaselevantadooutrolado,colocandoamãoemseupeito,impedindo-o.

Ummomentodealíviomebate.Eupoderiaaguentarum,maseunãopoderialevartodos.David,Lev,eIlianãomemachucariam.

Mas, em seguida, os olhos azuis gelados de Ilia viram-se paramim, e ele semove, tirando suajaqueta.“Euqueroissohámuitotempo,”elediz,jogandoocasaconamesadomeupai.

Meuestômagoafundaparaosmeuspés,emeuqueixocai.Deus,euvouvomitar.

Passandoamãopelocabeloloiro,eleestendeamãoemeagarra,mepuxandoparaoseucorpo.

Rosno,me soltando, empurrando, e passando por ele. Corro para a porta,mas os dois guardasestãolá,eIliaagarrameucasacoportrás,mepuxandoparatrásemejogandonochão.

“Ah!”Eugrito,adoratingindominhascostas,maseurapidamenteviroecorroparalonge.

Asportasdopátioestãolá.Ésófinaldatarde,masestáficandoescuro.Eupoderiaperdê-losnafloresta.

Algopegameutornozelo,noentanto,emepuxadevolta.Cavominhasunhasnopisodemadeira,tentandofazercomquemeusjoelhosdebaixodemimempurrem,masoseupesoesmagaparabaixo,eestouofeganteporarconformemeuspulmõessecontraem.

Minhajaqueta,sópresacombotões,éarrancadademimportrás,eocabelocainaminhacara,meugorrocaídoemalgummomento.

OlhoaoredorporDavideLev,nãosendocapazdelevantarmuitoacabeça,maseunãopossovê-los.Ondeelesestão?Elesnãodeixariamissoacontecer,nãoé?

Euapertoosolhosfechados,tremendocomumsoluçosilenciosoquemerecusoadeixarsair.

Ouçoumbarulhodepapelatrásdemim,maisgrunhidos,esoacomoseumamesaestivessecaindomaseunãopossover.

Eentãosuamãoestánomeu jeans.Eleestásendopuxadocontraomeuquadril,e tudodentroentraematividade.Eumedebato,chutandoetentandomesoltarconformemostroosdentes.Assimque

eupuderencara-lo,euvoumorder.TudooqueeudisseparaRikafazer.

Eleagarrameucabelofortenomeucourocabeludo,empurrandominhacabeçanochãoenquantopuxaaminhacalçajeans.Euapertominhamandíbula,meurostosecontorceecadamúsculoficatenso.

Não.

Não!

“Vocênãovaigritar?”Eleprovocanomeuouvido.“Chorar?”

Não.

Sinto-otrabalharemsuaprópriacalçaatrásdemim,eentãoeleseinclinanovamente,deslizandoumamãoentreminhaspernas.“Vocêpodeserminha,”elesussurra.“Umaputinhatãodoce.”

Eeulevanto,torcendoopescoçomaisdoquedeveria,emordosuabochecha.

“Ugh!”Elerosnaevira,afrouxandooapertotempoosuficienteparameatirareagarrarqualquercoisaqueeupossaalcançar.

Eupegoapernadeumamesapequena,redondaepuxo,pegandoumatigeladecristalquecaiu.Pegando-a, eu viro e a esmago no lado da cabeça de Ilia, cacos de vidro caindo em todos os lugaresconformeopratosedesintegranaminhamão.

Pressionando os pedaços em sua pele, eu quase não noto a dor aguda na minha própria mão,conformeospedaçosesmigalhamnaminhamão.

Elegrita,caindoparaolado.Eurapidamentetirominhasbotasejeans,aindaemvoltadosmeusjoelhos,ecorroparalongedele.BatominhamãosobreamesadeGabriel,empurrando-meparacima,evejooabridordecartasdeouroali.

“Vemcá,suacadela.”

Agarrandooobjetoafiadoesegurando-oapertado,meviro,semtercertezadoquãopertoeleestá.Elepegaoladodoseurosto,cortandoumalinhacarmesimdaorelhaaboca.

Ele seguraseu rosto, caindode joelhosnovamente.Fechoospunhos, sentindoadordovidro,ebatoneletãofortequantopossodenovoedenovoedenovoatéqueeunãoconsigomaisrespirar.

Elecaidecostas,acabado,eeuolhoparaele,osdedosaindasegurandoafacacomforça.Eulutoparanãoireafundaralâminaemseupeito.

Euqueroquetodoseles–todos–saibamquenãopodemmemachucar.Eunãopermitoisso.

Levantandoosolhos,olhoparaLeveDavid,queestãodooutro ladodasalacomosguardasdeGabriel.Davidseguraum,eLevtemooutropresoàparede.Issoeraabrigaqueeuouvi.

Elesestavammeprotegendo,afinaldecontas.

LargooabridordecartasnochãoepegooguardanapoemcimadospratosdojantardeGabrielemsuamesa.O sangueescorredomeunariz, emvoltadosmeus lábios, epingadomeuqueixo, e eulimpo-o,sentindoogostodesalinidademetálicoatravésdosmeusdentes.

EnrolooguardanapoaoredordaminhamãocortadaecaminhoatéohomemaospésdeDavid,apertandominhamãoemseucabelo. “Pegue-oe saiadaqui,”eudigoemumtombaixo,empurrando-oparaIlia.

Euestariamortaemumdiaseeuchamarapolícia.

Masajustiçavirá.Eutenhocertezadisso.

Lev solta seu guarda, e os dois tropeçam fora do escritório, levando Ilia com eles. Eu fungo,provandomais gotejamento de sangue naminha garganta enquanto caminho para os caras. Eu aindaestoudecalcinhaecamiseta,ehásanguenomeucabelo,fazendocomquealgunsfiosgrudemnaminhacara. Isso é tudo que Lev e David veem conforme elesme olham com desconfiança, como se nãomeconhecessem.

Merda,eunemtenhocertezadoqueeufiz.

Mas,estranhamente,nãomeimporto.Essaéquemeudeveriaser.

“Chame aMarina,” digo a David, passando por ele para fora do escritório. “Eu preciso de umvestido.”

Estouempéforadasportasdacatedral,naentrada,segurandomeusbraçosparaforaparadarespaçoparaMarinatrabalhar.Meucorpoestápuxadoemumadúziadedireçõesdiferentes,enquantoelaprende,costura,eapertaovestidoqueelamedeuquandoeutinhadezesseisanos,masnuncausei.Foioúnicovestidoquepudeencontrartãorapidamente.

Olhoparaasportasfechadasnaminhafrente.Euoodeio.Masporquenãoestoumaisnervosa?Porquenãoestoucommedo?

Tudooque eu sinto é raiva.E instinto.Eunão ligoparaoqueacontece comigoagora.Deixe-ofazeroseupior.

“Possopassarrímelemvocê?”PerguntaAlex.

“Porquenão?”Murmuro.Esfregomeuslábios,sentindoobatomvermelhoqueelajápassousobreeles.Euqueroficarbonita,masnãoparaele.Algodentrodemimestádiferente.Eunãoestoupensandomaisemtodasascoisasquequeroser.

Eusóprecisofalarmaisaltosobreisso.

Ela trabalhanosmeusolhos, adicionandoumpoucodedelineador, epuxaopluguedo ferrodaparede,terminandooscachosnomeucabeloemondassoltas.

“Eutenhofloresparavocê”Marinacolocaumbuquênasminhasmãos.

Maseusólevantoumasobrancelha,olhandoparaasrosasbrancas.Eentãoasjogoparaolado,deixando-as pousar em um banco de veludo. Foi legal da parte dela ter esse trabalho, mas ela sabiamelhor.

Eunãoconsigoouvirnadaacontecendodentrodaigreja,anãoseroecodogenuflexórioestranhosendo empurrado para cima e para baixo nos bancos. Alex rapidamente colocamais pó nomeu nariz,provavelmenteaindaumpoucovermelhodoataqueanterior.

Meu corpo ainda está preso nisso. Eu não vejomeu pai, Ilia, ou os dois guardas, desde que eujogueiminharoupaesaícorrendodacasaantesqueeledescobrisseoqueaconteceu.Eunãoestoucommedo pormim tanto como por David e Lev, que foram contra as ordens eme protegeram.Nós todosvoamosparaumcarroefomosembora,Marinanosencontrandoaqui,poucodepois,pegandoovestidonocaminho.

Estourealmentegrata.PorterovestidoeAlexarrumandomeurosto.Sinto-mearmada.Euqueroser ousada, não invisível. Não parecer como sempre pareci, apologética e como se estivesse sempretentandocompensarporexistir.Estouaqui,efoda-seeles.

AcenoparaAlexseafastar,eagarromeuvestido,levantando-oparacaminharparaasportas.

“Oquevocêestáusando?”Alexexplode.

Eumeviroparavê-laolhandoparaosmeuspés.

Olhoparabaixoparatentarverqualéoproblema.

Minhasbotasde combate, aspretas, arranhadasnaspontas, estãonosmeuspés, soltas comoscadarçosdesamarrados,comodecostume.

“Elascombinam,”eudigoaelaemeviro.

Maseuaouçodarumsuspiropesadoatrásdemim.

Soltandoovestido,abroasportas,semesperarporumadica.Odeioformalidades,eseKaiquersofrertanto,porquenãoirparaaCâmaraMunicipal?

Aspessoassedemoramemtornoda frenteda igrejaquasevazia,algunsparoquianosaleatóriosnosbancosdetrásdaigreja.Todos,umporum,paramparaolhar.

Euesperoqueomeuvestidopreto façaumadeclaração.Ocorpeteécordecarvãoeapertado,deixandomeusombrosebraçoscompletamentenus,enquantoo tulebrancoestáemvoltadapartedebaixocomumacapatotalmentepreta.

Kaiestáempénafrentedaigreja,defrenteparaMichaelnalateral,massuacabeçaestávoltadaparamim.Ovestidoéumsonhoelindo,eeuesperocomooinfernoqueeuestejabemnele.

Semesperarporqualquermúsicacomeçar,ando,fixandoosolhosnoaltarconformemarchoatéoaltar.Aigrejaficaemsilêncio,eeuabsorvoocalordeumadúziadeparesdeolhosemmim.

Meu pai está sentado na frente,mas eu sabia que ele ia estar aqui. Hansonme encontrou umtempoatrásparaassinaracertidãodecasamento.

Michaelestáempénafrente,aoladodeKai,enquantoWilleRikaestãoàminhaesquerda.

Eupossosentiroutroscorpostambém,maseuimaginoquepertençamaoladodomeupai.Umavezqueeleseacalmoueparoudeculpar-sepornãoselivrardemim,maiscedo,eledeveterpercebidoque,enquantoeufuiparaessecasamentosemnada,eusaiocomaminhalegítimametade.

OutudoseKaiacontecerdeseratropeladoporumônibus.

Um padre de cabelos brancos e óculos sai de trás de um pódio, me observando, e move-serapidamente para os degraus para ficar no centro. Ele olha nervosamente para Kai, provavelmentepercebendooquãoanormalesta“cerimônia”é.

Kai descruza os braços e deixa seus olhos caírem na minha forma, um olhar cético no rosto.Caminhandoparamim,eleacenacomacabeça,enósdoisnosaproximamosdosacerdote.

“Vocêestáusandoumvestido,”dizeleemvozbaixa.“Acormesurpreendeu.”

Idiota.

Mas eu dou ao homem alto na nossa frente um sorriso doce, observando seu manto brancoextravagantecombordadosdeouro.

“Nuncauseium,” respondocalmamente. “Umvestido,querodizer.E jáqueeusóvoumecasarumavez...”

“Ah,vocêterámuitasoportunidadesdeusarvestidos,casadacomigo”,assegura.“Estoupensandoemtornarestecasamentotãotorturantequantopossívelparavocê.”

Maseuatirodevolta,inclinandomeuqueixoparacima.“Váemfrenteenquantopode.Vouserumaviúvaembreve,tenhocerteza.”

Ouçosuarisadatranquilaaomeulado,maseleparaasbrincadeirasconformeopadreolhaalémdenósànossalistadeconvidadospatética.

“Fique atento às nossas orações, ó Senhor,” ele fala, abrindo os braços para todos, “e em suabondade,derramesuagraçasobreestes, teusservos,KaieNikova,que,unidosperanteseualtar,elespossamserconfirmadosnoamorumpeloou-.”

“Puleparaosvotos,”Kaidizentredentes.

Opadreparaseuroteiro,parecendoperturbado.Euquasebufo.Coitado.Éestranho,porém,ouvirmeunomeassim.Ninguémusa,excetominhamãeeDamon,eelesmechamamNik.

MeupainãogostadeNikova,porém,entãoeumeacostumeiausarBanks.Essaéquemeusouagora.

O padre pigarreia, puxando uma respiração profunda. “Kai e Nikova, vocês vêm aqui para secasaremsemcoerção,livrementeedetodocoração?

“Euvenho,”respondeKai.

Euhesito,masfinalmenteconcordo,sentindoopesodomeupainaigreja."Euvenho."

“Evocêsestãopreparados,conformeseguemocaminhodaunião,paraamarehonrarumaooutroenquantoambosviverem?”

“Sim,”Kaisussurra,soandocompressa."Estou."

Meucoraçãodáumpulo.Deus,issoestárealmenteacontecendo?“Sim,”respondo.

EunãopossodetectarWillatrásdemim,eMichaelestátãoimóvelcomoumapedra,maseupossoouvirainquietaçãoconstantedeRikaàminhaesquerda.

“VocêsestãopreparadosparaaceitarascriançasdeDeuseparaensina-lasdeacordocomaleideCristoedasuaIgreja?”

O que? Eu viro meus olhos para Kai, que simplesmente olha para o padre com a sobrancelhaarqueada.

Demaneira nenhuma. Podemos estar aqui sob falsos pretextos,mas essa é demais. Eu não vousequerfingirconcordarcomisso.

“Continue,”Kaidiz,eperceboqueelenãovaifazerisso,também.

Douumsuspirodealívio.

Opadreolhaparaoseulivro,parecendonervosoantesdeseguirgaguejando.“Umavezque...umavezquesejasuaintençãoentrarnopactodoSantoMatrimônio,”dizele,encontrandosuavoznovamente,“juntemasmãosdireitas,edeclararemoseuconsentimentodiantedeDeusedasuaIgreja.”

Kaiseviraparamim,etudoquepossofazerétravarminhamandíbula,paranãosairpalavrões.Euficodefrenteparaele,eeleseguraminhasmãos,masmerecusoafecharosdedosemvoltadele.Mesmocomoformigueiroqueestácorrendonosmeusbraços.

“Kai GenatoMori,” o padre começa, “você aceita Nikova como sua legítima esposa, para ter ecuidar,destediaemdiante,naalegriaenatristeza,nariquezaenapobreza,nasaúdeenadoença,atéqueamorteossepare?”

Atéamorte…

Eleolhaparamim,seuolharvacilante,eeuvejoumvislumbredohomemsentadonamesadoseupai,mecontandoahistóriasobreobife.

Eentãoelesorri.“Atéamorte,”eleespecifica."Euaceito."

Meuspulmõesesvaziam,eaperto suasmãos sóporqueeuprecisoqueaminhaparede tremer.“NikovaSarahBanks.”Ohomemmaisvelhoseviraparamim.“VocêaceitaKaicomoseulegítimoesposo,paraterecuidar,destediaemdiante,naalegriaenatristeza,nariquezaenapobreza,nasaúdeenadoença,atéqueamorteossepare?”

Eunãopossoacreditarqueissoestáacontecendo.

Eleapertaminhasmãosdevolta,sinalizandoqueéaminhavezdefalar,emesoltodoseuaperto,atirando-lheumolhar.

“Atéqueamortenossepare,”murmuro.“Oquenãodeveserlongeapartirdeagora,entãosim,euaceito.”Kaisorri,rindobaixinhoparamim.

Foda-se,nãoéumapiada.

“QueoSenhornasuabondadefortaleçaoconsentimento...”

Opadrecontinuacomsuabênção,eorestopassoucomoumborrãoconformetrocamosanéis,eosacerdoteoferecepalavrasgentisparaospresentes.

Arespiraçãoqueeuestavasegurandosolta,eeuabaixomeusolhos.Merda.

Nósnoscasamos.

OlhoparaKai,ambosdefrenteparaopadredenovo,earaivafervesobminhapele.Euvouserapioresposaquevocêjáteve.

“Seubeijoéasuapromessaumaooutro,”dizoclérigoparaKai.“Vãoempazparaglorificarasuaunião,eagoravocêpodebeijarsuanoiva.”

Kaiseviraparamim,emeucoraçãosaltanaminhagarganta,mas...

Maselenãopararderodar.

Elerodaavolta todaesai fora,devoltapelocorredor,deondeeuvim,medeixandoaliparadacomoumaidiota.Piscolongoeduro,constrangimentoaquecendomeurosto.Puto.

Umporum,Michael,Will, eRika vão atrás dele, cadaumade suas testemunhas correndopelocorredoresaindodaigreja.Elenãoolhaparatrás,maseuseiquetodososoutrosolhosaliestãoemmim.Opadrenãosabeoquefazer.Elesóficalá.

Então,Kaivaiseropiormarido,também,peloqueparece.Palmaslentasparaele.Issofoivil,eeuestourealmenteimpressionada.

Capítulo25Kai

Presente

Alcançoatigelagrande,pegandoumpoucodemacarrãoerecarregomeuprato.

“Porra,”soltoatravésdosmeusdentes,pensandonabagunçaqueeumemeti.Comodiabostudoficouforadecontrole?Estouatrásdoquemais?Qualéoobjetivofinal?

EuqueroencontrarDamon.É isso.DeterminarsehámaisperigoparaRika,Michael,ouWill,edescobriroqueelefezcomocorpo,parapoderlidarcomissoeoumeentregarouchegaraumacordocomacadeladoenterecebendoexatamenteoqueelamerece.Eseassimfor,entãomecertificareiqueelaestejabemescondidaelidarcomissoseelanãoestiver.

Eunemsequerseioquefazeremumasituaçãocomoessa.Aideiadevertudodenovo,atémesmofalarsobreisso...eufechoosolhos.Eunãomelivreidocorpo.Jesus.

Ummomento.Minha vida é uma série de enormes erros cometidos emmomentos que perco ocontrole.

Excetohoje.Quandoolheiparaelaedisseaquelasmentiras-votosquenãotenhoaintençãodemanter-masnaquelemomento,eutive.Comosemeumundoseriaperfeitoseeupudesseengolirmeuorgulhoedizeraelaqueaamoequeelamedeixassesegurá-la.Nãoimportaoque,tudoteriaficadobemseeupudessetervistoseusorrisonodiadocasamento.

Levantando os pauzinhos, fecho a boca em volta do macarrão e legumes, olhando para o meutelefoneeobservandoquenãoháoutrasmensagensenquantomastigo.WillesperouBankssairdaigreja,paraqueelepudessetrazê-laaqui.Elaargumentouelutou,masaameaçadotelefonecelularapareceu,eelafinalmenteconcordou.

Fazmaisdeumahora,noentanto.Seelanãoestiveraquiembreve,euvoubuscá-la.

Masentãoouçoumclique,eolhoparacimadamesadasaladejantareaobservoabriraporta,lentamenteentrandoemsuanovacasa.

Elaolhouaoredor,eeurelaxonaminhacadeiraenquantoelafechaaportaearrumaosombros.Sorrioparamimmesmo.Oqueeuvoufazercomela?

Acabeçadelafinalmentesevira,eelatravaosolhoscomigo.Engulominhacomida.

“Entre,”eudigoaela,empurrandoatigeladevolta.

Hesitante,eladáumpassonaminhadireção,entrandonasaladejantar.“Qualéomeuquarto?”

“Omeu.”

Seusombrosteimososcaemumpouco.“Estoucansada,Kai.”

“Você também éminha esposa.” Eu pegomeu copo, tomando um gole de água. “Seu precioso,irmãomaisvelhodeveestarrastejandopelasparedesagora.”

Ela balança a cabeça, parecendo enojada demim. “Eu não sou seu peão, então confie emmimquandodigoquecasarcomigonãomedeixamenosdifícil.”

Oh,euesperoquenão.

Olhopara ela, absorvendoo vestidoque ela usouhoje e nadamais.Ela veio completamentedemãosvazias,amenosqueelatenhasuaspequenasfacasenfiadasemumaligasobovestido.Elapensaquenãovaificartemposuficienteparasemudar?

Euvoumandartrazersuasroupasaqui.Ouelapoderiausarasminhas.

“Nãoestoupreocupado,”eudigo.“Vocêirásecurvar.”

Ela ri, eeupegouma tigela limpaeumgarfo, colocandoyakisobanoprato. “Venhacomer.”Eucolocoacomidaeosutensíliosnamesa,apontandoparaacadeiranaminhafrente.

Elasóolhaparamim.

“Coma,evoutemostrarquequartoéoseu?”Eunegocio.

Mas ela não senta. Em vez disso, ela caminha até a mesa de buffet e pega mais duas tigelas.Voltando para a mesa, ela pega o garfo e enche ambas as tigelas com macarrão, empilhando-as, ecolocandoquasetudooquefoideixado.

Eugeralmentefaçoosuficienteparaassobrasduraremtrêsdias.

“Oquevocêestáfazendo?”Perguntoaela.

“Meushomensestãoláfora.Elesnosseguiramatéaqui.”Elaenfiagarfosemambasastigelaseoslevanta.“Elesprecisamcomer,também.”

Oquê-quem?

“Seushomens?”Eudesafio.“AquelesidiotasquetrabalhamparaGabriel?Diga-lhesparasair.”

Eulevantodaminhacadeiraecaminhoemdireçãoà janela,puxandoparatrásacortina.Ecomcerteza,aquelamesmaSUVpretaestáparadanaminhagaragem.Eupodiaverocarecanoassentodomotorista.

“Vocêdizaeles,”elaatiradevolta.“Elessecolocaramnalinhadefrentepormimestanoite,eéassimquevocêrecompensaafidelidade?”

“Colocaram-senalinhadefrente?Oquevocêquerdizer?Oqueaconteceu?"

Eladesviaoolhar,balançandoacabeça."Nada.Só...,”elafazumapausa,procurandoaspalavras.Então ela olhadiretamente paramim. “Eles não vão sair.Eles trabalhamparamim, e eles nãopodemvoltarparalá.Éisso."

Elavira-seecaminhaparaaportadafrente,empilhandoumatigelaemcimadaoutraparaabriraporta.

“Elestrabalhamparavocê?”Levantoaminhavoz.“Comovocêestápensandoempaga-los?”

“Fácil,”dizela,seusolhosatirandoemvoltadelaparaacasaetudooquenosrodeia.“Metadedoqueéseuémeuagora.”

Eelasaipelaporta,batendo-aatrásdela.

Eusóficoempéali,estrangulandooarnaminhafrente.Filhadeumaputa–Deus-queporra?

Droga,elaéumamerdinha!Oquediaboseuquerocomdoiscaraspenduradosemvoltadaminhacasa o tempo todo? Eles vão estar no meu caminho, e eu não gosto de pessoas no meu espaço ebagunçandoasminhascoisas.Estouficandoacostumadoatê-laaomeuredor,caramba!

Eubalançoaminhapernaparachutaramesadobuffet,masmecontrolo,parando.Elaé,cara,eantigaemerda,então...

Puxandoacortinadevolta,eumantenhoumolhodeáguiaparafora,certificando-medequeelanãotentefugircomelesoualgoassim.Ajaneladoladodopassageirorolaparabaixo,evejoomaisnovocomoMohawk

9pretonobanco.

Ela desliza as tigelas pela janela, e o garoto cheira, parecendo satisfeito. Ela fala com eles poralgunsminutos,dandoalgunsolharesdevoltaparamim,eeufinalmentesoltoacortina,deixando-alá.

Eunãogostodecomoelesolhamparaela.Comoseelestivessemmaisdireitoàsuaatenção.

Maseupensoque,quemnãoiriaquerersuaatenção?NikovaBankséumamulherbonita.

Vê-la naquele vestido hoje na igreja foi o mais perto que eu cheguei de perder o controletotalmente.Fiqueiemguerracomigomesmotodaacerimônia.Elaescondetantosobaroupa,masessevestidocertamentetrouxetudoparafora.Apelelisaecurvasincríveis...

Seucabelo,suamaquiagem...eunãoseiporqueelasearrumoutoda-eunãoacheipornenhummomentoqueeraparamim.

Aportadafrenteseabreeelaentranasaladejantar,parecendoumpoucomaiscalma.

Mantemososolhosumnooutro,eeusintoumapontadadedesejoporela.Porumachanceparasalvaroqueestediasetransformouetratá-labem.

Maseunãoamereço.Nãoimportaoqueelatenhafeitooucomosuasescolhasmemachucaram,eutomeisuamão,hoje,comtantaforçaquantoeutomeisuainocêncianaquelequartonoThePope.Ela

precisaserdeixadasozinha.

Façoumgestoparaamesaparaelasesentarecomer.

Elasentaecolocaatigelanasuafrente,pegandoogarfo.Maselapara,percebendominhatigelacomumconjuntodepauzinhoscruzadosemcima.

Encontrando um par sobre a mesa, coloca o garfo para baixo e pega os pauzinhos. Claro, elaprovavelmentenãotinhainteresseemusá-los.Eulhedeiumgarfo,eéasuanaturezateimosaquevocênãodizaBanksoqueelapodeenãopodefazer.Éoproblemadeeudeduzindoqueelairiaquererumgarfo.

Elatentaencaixá-losemseusdedos,maselescontinuamescorregando.

Euandoatéseuladodireitoeestendoamão."Assim."

Pego-osnosmeusdedos,ignorandoocenhofranzidodelaconformeeuencaixoambosentremeudedo indicadoreodedomédio,usandooúltimopara firmareooutroparacontrolaromovimento.Eubalançomeudedoindicadorparacimaeparabaixo,mostrando-lhequeéessequemexe.Abrindogrande,eupegoumpedaçodorepolhoefecho,prendendo-oentreasvaras.

“Eupossofazerisso,”dizela,arrancando-osdevolta.

Eelafaz.Commaisalgumastentativas,elaseguradireitoeécapazdepegarsuacomidaecoloca-laemsuaboca,aindatrêmula.Oaneldeplatinanodedodelabrilhaàluzsuavedocandelabro,sintoumapontadadeculpa,agoraqueeumeacalmei.Eladeveriaterumdiamantenamão.

“Elessãochamadosdehashi,”digoaela,apontandoparaospauzinhos."Emjaponês."

Levantando,pegoumpequenodescansodecerâmicaeocoloconafrentedela.“Eissoéchamadohashioki.Quandovocênãoestácomendo,vocêdescansaasextremidadesdeseuspauzinhosaqui.Ou,”euindico,apontandoparaminhatigela.“Vocêpodecolocá-losnasuatigela.Masnuncanacomidaenuncacruzados.”

"Porque?"

“Porque é... rude,” digo a ela. Há outra razão tendo a ver com pessoas falecidas e ofertas etradições,mastenhoasensaçãodequesóiriaincitarasuarebelião.

Sento-medevolta,deixando-acomer.Minhacabeçaestánadando.Euficariafelizseconseguissedormirestanoite.

Eu tenho que chamar os caras que estão lá fora aqui e colocá-los na folha de pagamento. Bemcomodescobrirquediaboselesvãofazerparamim.

EutenhoquevoltarparaoSensouemereunircomoagentedeseguro.Descobrirqualopróximopasso.Iremosreabrir?

Eu preciso vermeus pais também. Estou surpreso que eu não recebi ligações hoje à noite, naverdade. Se eles ainda não ouviram falar, isso será em breve. Surpreendentemente, não estou muitotriste.Eusónãogostodemeexplicar.Provavelmenteporquenãoposso.

E amanhã é aDevil’sNight.Nós aindanãodescobrimos ondeDamonestá escondido, então elepodechegaraténósantesdechegarmosatéele.Outalveznadaaconteça.TalvezRikaestejacerta,eeleestáfodendocomagente.

Euaindaprecisolidarcomele,noentanto.Nãopossocontinuar,tendoascoisaspairandosobreaminhacabeça.Talvezagentetragatodosaquiparaanoite.Colocarolugaremconfinamento.

Elaterminasuatigelaeolhaparaamaior,vendoseháalgumasobra.Eusorrio,gostandoqueelaclaramentegostoudaminhacozinha.Bifesetudo.

Elainclinaatigelamais,usandoospauzinhosparapegarqualquermacarrãoremanescenteemsuatigelamenor,eeufechoosolhos,rindobaixinho.

Elaacaboudequebrarcercadetrêsregrasdeetiqueta.Meupaificarialouco,sevisse.

Masolhandoseurostoemeperdendonaqueleslábiosvermelhos,elarealmenteéincrível.

“Éumlindovestido,”eudigoaela.“Ondevocêconseguiu?”

Elaterminademastigardevagar,semolharparamim.“Marina,”dizela,“cozinheiradeGabriel.Elafezparamimquandofizdezesseisanos.”

OlembretequeGabrieléseupaimebatedenovo,eeutenhotantasperguntasainda.

“Meupaiestavadandoumafesta,”elaexplica,“eMarinapensouqueelepoderiamedeixarir,se...seeuestivessebonitaosuficiente.”

Bonitaosuficiente?

"Vocêfoi?"

Ela balança a cabeça. “Eu me arrumei toda. Cabelo e um pouco de batom. Mas Damon nãopermitiuisso.Elemefezficarláemcima.”

Eladáumarisadinha,comoseestivessetentandoselivrardapossessividadedele,mas...

Territorialébomquandoénoquarto.Nãoébomquandoimpedealguémquevocêdeveamardeviverumavida.

Todasaspeçascomeçaramaseencaixar.ADevil’sNight,háseisanos.Comoelenãodeixouelasequerfalarcomigo.Comoelefezessescarasalevaremembora.Comoelasemprepareciaseescondercomoumrato-noconfessionário,nocemitério-medodogatosairparapega-la.

ComoelessetrancaramumaooutronoThePope.Comoelaeraaúnicamulherqueeujávielesependurarcomoumsalva-vidas.

Dadooqueeuseidosseuspais,nãoédeadmirarqueelesfizeramdesuafamíliaapenasosdois.Eraoúnicolugarqueeleseramseguroseamados.

“Venhaaqui,”eudigo,deixandoaminhavozvirarumsussurro.

Elaestreitaosolhos.

Ela tem todos os motivos para me odiar depois do que eu puxei hoje. Depois de Gabriel e eujogarmoselaparafrenteeparatráscomoumaposse.Elajáesteveemalgumlugar,alémdacidadedeMeridianouThunderBay?Ela,pelomenos,terminouaescola?ElatemumaúnicaamigaquenãosejaumcaranaequipedeGabriel?

Inclino-me,derepentequerendotudo.Euqueromostrar-lheomundo.

“Foda-seeleeseupai,”eudigosuavemente.“Foda-seeueamerdaquesaidaminhaboca.”

Suassobrancelhasficammaisfundas,parecendoconfusa.

Passando um braço ao redor dela, eu a puxo para o meu colo, e ela imediatamente tenta meafastar.

“Euqueriaisso,”digoaela,olhandoemseusolhos.

Elafazumapausa.

“Pornenhumaoutrarazãoalémdequeeuqueria.”Euenlaçomeusdedoscomosdela, roçandocontraaaliançaemseudedo.Euvouarrumarumaneldenoivadoparaelanapróximasemana.Mesmoquenuncaestivemosnoivos.Talvezelagostassedeescolher,naverdade.“Damonsabeotesouroquevocêé,eeleteama.Maselenãovaimemanterlongedevocê.”Eulevantoseuqueixoparaencontrarmeusolhos.“Istonãoésobreeleouohotelouoseupai.Euquerovocê."

“Eseeunãoquiservocê?”

Meuolharvacila,maseudecidoserdireto.“Vocênãoquer?”

Eunãointerpreteimalossinais.Elagostademim.

“Nãovoumachucá-lo,”eudigo,sabendoquaissãosuaspreocupações.“Masprecisomeproteger,entãoeuprecisovê-lo.Vocêentende?"

“Vocêpromete?”

Elaparecetãovulnerável.Nãopossopedir-lheparaescolher.

Balançoacabeça. “Prometo.”Aperto-a,umamãoemsuacintura,aoutraemsuacoxa. “Euvouconsertarisso,masnãopossoresponderporele.Seelemeempurrarmuitolonge,vouserforçadoaagir.Vocêsabedisso."

Vejo-aengolirquandoolhaparaseucolo.

“Euquerovocê,”digoaelanovamente.“Enãomeimportaqualéoseunome,enãomeimportoquemsãoseuspaisouquantodinheirovocêtemounãotem.Eusóquerovocê,láemcima,evestidacomnada,alémdosmeuslençóis.”

Umsorrisobonito,pequeno,puxaseuslábios.“EunãovouserBankshojeànoite?”

Eubalançoacabeça.“EeunãosouKai.”

“Sóporessanoite?”

Balançoacabeça,adorandoonossojoguinho.“Sóporessanoite.”

Elaselevantaelentamentesoltatodoseucabelosobreoombro.“Ovestidoéumespartilho.”Elaviraascostasparamim.“Vocêmeajudaadesamarrarantesdeeuirparacima?”

Meucoraçãobatemaisforte.

Eucorrominhamãoparabaixonolaçoentrecruzadoetiroafitaamarradanovestido.Soltando,eupuxoo laçocomprido,preto,algumasvoltasedepoispassomeusdedospor suacoluna,afrouxandooslaços.Meucorpoésacudidocomprazer.Euamodespi-la.

Ovestidocomeçaacairlentamente,maisdascostasdelgadasdelaficandoàmostra,eeucolocominhamãodentro,sentindoasuanudez.

Não há nada. Nem sutiã, nem calcinha, nenhuma combinação, nada além dela, completamentepuraebelaeinocentedebaixodovestido.

Ovestidocainochão,emeupaulatejaeincha.Suabunda,seusombros,suaspernas–douradas,queelacomcertezanãoherdoudoladodeseupai,brilhandosobaluzfraca.

Elasevira,seusolhoscaindosobreminhacalçaeaprotuberânciacrescendolá.

Elacomeçaarespirarmaisrápido,seuolharficandoaquecido.“Foda-seoslençóis,”elasussurra.

Eeladeslizaparabaixo,abreaspernas,emontaemmim.Eugemo,desabotoandoeabrindomeujeans.Tiromeupaue esfregoapontapara cimaeparabaixodo seu comprimento, encontrando-a tãomolhadajá.

Elaseabaixa,meabraçandomaispertoegemendoconformeeuapreencho.

Porra.Euagarroseusseios,cobrindoosmamiloscomaminhaboca,umporum,enquantoseguroapartedetrásdacadeiraecomeçoamemoverdentroefora,rolandoseusquadrismaisemaisrápido.Elameguia, seusgemidos ficandomaisaltos, eeume inclinopara trás, segurandosuabundacomasduasmãosesóaobservo.

Deus,eutenhosorte.

“Então,vocêaindagostademim?”Elapergunta,brincando.

Sorrioumpouco.Eumaisdoquegostodevocê.

“Achoquevoumantê-la,”digoaelaaoinvésdisso.“Eninguémmeafastadevocê.Entendeu?"

Eubeijo seuqueixo, trilhandobeijosao longode suamandíbula. “Nemseupai,nemseu irmão,nemseushomens.”Euaperto suabundanovamente, puxando-aprofundamente. “Euquero a suabocaespertinha.”Beijoseus lábios.“Euquerocada lembrançaquevocêvaiterapartirdeagora.”Beijosuatesta. “E quero isso.” Agarro-a, puxando-a para dentro demim conformemordo o pescoço. “No carro,nessamesanocafédamanhã,amanhã,emtodososlugares...”

Seu corpo fica tenso, e ela coloca os braços em volta demim, balançandomais emais rápido.“Então,vocêrealmentegostademim,afinal?”

Eusorrioparaapiadadela.Merdinha.

“Sim,”digoaela."Eugostomuitodevocê."

Muito.

Eudesabotooocolarinhodeumacamisaeapuxodocabide,deslizandomeusbraçosnela.Époucodepoisdasseisdamanhã,epossosentirocheirodachuvanoar,logoqueacordo.Abotoominhacamisaecaminhoatéamesadecabeceira,agarrandomeutelefoneeparandoquandovejoasluvasdecouroqueelasempreusaaoladodoabajur.

Mudomeuolharparaela,vendosuasmãos,umadescansandonotravesseiroeaoutrasobreseuestômago.Umsorrisopuxameuslábios.Elaastirou.

A cicatriz parece quase como um carimbo de tinta vermelha nas costas damão, e eu aperto otelefone,ficandocomraiva.Gabrielvaipagarporisso.Epormuitomais.

Seuslábiosestãoentreabertos,enotoumfiodecabelocordechocolatequecaiusobreseulábio.Inclinando para baixo, eu suavemente o tiro antes de dar-lhe um beijo, demorando apenas temposuficienteparaocheirodelalançarumrastrodecalordomeucoraçãoparaminhavirilha.

Eugemo,relutantementeindoparatrás.Agoranão.Elaprecisadormir,eeuqueroqueelaacordeparaocafédamanhã.Eladissequegostadeovos.

Não.

Elaapenasdissequecomiamuitosovos.Talvezelanãogostedelestantoassim.Elessãobaratos,baixoteordegordura,esustentam.Perfeitoparaumapessoadebaixarenda.

Olhoparaomeuanel,finalmentesentindoqueelaéminhaagora.Atéqueelafujanovamente,dequalquermaneira.

Eelatemumavidaparaviver,seeutiveralgumacoisaadizersobreisso.Semovos.Euvougostardemimarela.

Abrindoomeutelefone,saiooquarto, fechandosilenciosamenteaportaatrásdemimenquantoverificootempoparahoje.Eununcadeveriateridodormirnanoitepassada.Eunãotenhoideiadoqueháhojenaloja,maseudeveriatermepreparadoantes.Anecessidadedocorpodeperderumterçodasuavidaútilinconscienteéumerrodaevolução.Vejaoquantoeupoderiaterfeito.

Nubladodurantetodoodia,máximadevintegraus.Tempestadesànoite.Ótimo.Precisoteracasafechada, alguns suprimentos e alimentos, e tenho uma enxurrada de telefonemas de amigos de casaperguntandose iríamosestarnacidadeestanoitee funcionáriosperguntandoseelesdevemencontrarnovosempregos.Nãoesim.

Aquele fodido.Euprometiquenão iriamachucá-lo,masdepoisdoqueele fez,eupossonãosercapazdemeconter.

Meu telefone toca enquanto eudesço a escada, e verifico a tela, vendoumnúmeroque eunãoreconheço.

Euandomaisdevagar,olhandoparaele.

Damon.EunãoouçofalardeledesdeodianaruaemfrenteaoThePope.Eledeveterumcelulardescartávelcadavezqueelefezsuaspequenasligações.

Eusorrioparamimmesmo,tocandomeuaneldecasamentocomopolegar.Elenãodeveestardebomhumor.

Atendendootelefone,euotragoparaminhaorelha.

“Ondeelaestá?”Dizele,semesperarporumasaudação.

"Dormindo."

“Voulevá-ladevolta,”elemediz.

Eurespirofundoecaminhoatéaportadafrente,olhandoparaforadapequenajanelanalateral.OshomensdaBanksaindaestãoláfora.

Impressionante.

“Então,venha,”digoaele.“Venhaparaacasa,ealevedevolta.”

Suarisadaenchemeuouvido.“Ah,euvou,”dizele.“Massoumaisespertodoquevocê.Vouterminhamoedadetrocaprimeiro.”

Quemoedadetroca?

Eunãooqueroaqui.Eunãoqueroelepertodela.Masestouprontoparacalá-lo.Elenãovaipega-ladevolta.

“Fuieuquemtomoucontadela,”eleargumentou.“Oúnicoqueaamava.Vocênãopodepediraelaparadesistirdemim.Vocêsabeporque?Porqueéumaescolhaimpossívelevocênãoquersaberqueelapodesimplesmentenãoescolhê-lo.”

Eubalançoacabeça,abrindoaportadafrente.Nãovoupedirparaelafazermaisessaescolha.Vouapenascontinuarlutando,porqueeuamo-

Derepente,sintocomoseoartivessesidobatidoforademim.

Porqueeuaamo.

“Vocêmevênela,nãoé?”Eleprovoca,baixandoavoz.“Vocêrealmentequerserconfrontadocomela todos os dias? Você pode realmente a amar, sabendo quem ela é e que vou sempre dividir suaatenção?”

Rosnoesaionacalçada,batendonocapôdoSUVduasvezes.Oscarasdentropulam,tirandoseuspésdopainel.Voltoparaacasa,sabendoqueelesvãomeseguir.

“Ondevocêestá?”PerguntoaDamon.

“Eu gostaria de poder lhe dizer,” ele sussurra. “Eu realmente gostaria, porque é simplesmentemuitobom.Sevocêaomenostivessefeitoumpoucomaisdepesquisa,cara.”

“Damon-”

“Érealmenteummilagreparamimquevocêaindanãopercebeu.”

“Damon!”

“Nãopossofalar,”dizele.“Maseuvouteverembreve.”

"Estanoite?"

Eouçoumclique.

“Damon!”Eugritonotelefone.Oqueelequisdizer'embreve'?

“Sim.”Euouçoumavozatrásdemim.

Viro-me,olhandoparaa ligaçãomudana teladomeu telefone.Eupoderia ligardevolta,masotelefoneestariadesligado,semdúvida.Alémdisso,éumdesperdíciodetempo.

VejoDavideogaroto,Lev,pisarnosaguão,omaisjovembocejando.

Andandoatéamesanohall,eupegoummolhodechavesdeumpequenobaúemcima.

Jogoomolhoparaele.“Oterceiroandaréseu,”eudigo.“Banksvaiorganizarsuastarefasnessacasaeforadela,evoucolocá-losnafolhadepagamento.Elaestádormindoagora.”Vouatéeles,pesandominhasinstruçõesfortemente,paraelessaberemqueestoufalandosério.“Nãoadeixesozinhaaquiouadeixesair,equandoelaacordar,digaaelaqueeufuiexecutarumamissão,evoltologo.”

“Você.”OlhoparaLev.“VáparaDelcour.TragaWilleRikaaquiemantenha-osaqui.Diga-lhesparatrazeramalaparapassaranoite.”

“Elesnãovãovircomigo,”eleargumenta.

“Estoumandandomensagensdetextoagoraparaqueelessaibamquevocêestáacaminho.Vá."

ElesuspiraepegaaschavesdocarrodeDavid,dirigindo-separaaportadafrente,eeupegomeucelular,mandandoumamensagemparaMichaelparameencontrarnoThePopeedepoisoutraparaWilleRika.

“Verifiquetodasas janelaseportas,”ordenoaDavid,pegandoaschavesdomeucarroesaindo.“Umavezquetodoscheguem,éconfinamento.Vocêentendeu?"

Eleassente."Entendi."

Capítulo26Kai

Presente

Caminhodistraidamenteatravésdosalãodebaile,repetindotudonaminhacabeça.AquelaDevil’sNighttodosaquelesanosatrás.Bankseeu.Amulherdançando.

QuantotempoNatalyaTorranceestevelá?QuantasvezesosTorrancesusaramseuandarsecreto?EladeixouDamontrêsanosatrás.Elaesteveláotempotodo?

Existealgoqueestouperdendo.

A luz da manhã entra pelas janelas, revelando a poeira que flutua no ar, e eu olho ao redor,percebendoo chãocheiode folhetos.Haviaestandespara folhasdemúsicaaindanopalco, ealgumasmesasredondasaoredordapistadedança.

Eupuxoumarespiraçãoprofunda,esfregandoosolhos.Elaqueriaestarpertodele.

Mas,então,issolevantaumaoutraquestão.OThePopenãoémuitovelho.OndeafamíliaficavaquandoelesestavamnacidadeantesdeoThePopeserconstruído?Issopeganaminhacabeça,eporqueeunãotinhaprestadoqualqueratençãoaisso.Nãopareceimportante,maséestranho.

Equandoalgoparecefora,é.

“Ei,oqueestáacontecendo?”Michaelgrita.

Viroacabeça,vendo-oentrarnosalão.Euotireiforadacamaedisse-lheparameencontraraqui.EudeveriaterchamadooWill,maseuprefiroquealguémfiquepertodeRikaquandoLevforpegá-los.

Balançominhacabeça.“Euseiouvirmeusinstintos,eeuosignorei.”

“Porque?Oqueestáerrado?"

Viro-meparaele.“Estelugarfoiconstruídonoiníciodosanosnoventa,”digoaele,“maseraumhotelfamiliar,eoboatoéqueafamíliatinhaumandarsecretoemcadahotelquepossuía.”

“Edaí?”Elesuspira,parecendocansado.

“EdaíqueafamíliadoDamonéumadasmaisantigasemThunderBay,”euaponto.“OsNikovsestãonestaáreadesdeosanostrinta.Nãofariasentidocomeçarseusnegóciosperto,comofizemos,paramonitorá-losmaisfacilmenteantesdeseexpandirparaoexterior?”

Eles construíram hotéismuito antes da década de noventa. Por que esperar para construir umpertodecasaatéentão?

“Vocêestá certo.”Eleolhaparaonada,parecendoperdidoempensamentos. “PorqueelesnãotiveramumhotelemMeridianprimeiro?”

Semmencionarofatodequenãohouvenenhummovimentoparaconstruiroutrooureabrireste.Ele não queria um lugar local onde ele pudesse ter reuniões de negócios, acondicionar clientes, darfestas...?Nãofazsentido.

Provavelmentenãoénada.Então,elenãoabriuumhotelpertodecasa.Éestranho,masafamíliaéassim.

OlhoparaMichael,balançandoacabeçaemexaustão.Meucérebroestáfritando.

Maseleestácongelado.Eleolhaparafrente,comofocoemnadacomoseasrodasgirassememsuacabeça.

Eentãoelesuspira,“Merda”,emergulhaamãonobolso,puxandooseucelular."Nãonãonão…"

Avançoparafrente.Quediabos?

Elerespiracomdificuldade,digitandoumnúmeroecolocandootelefonenoouvido.“Rika...”

“Oquehádeerrado?”Eulato.

Maselesóapontaparamim,jácaminhandoparaaporta.“Entrenocarro!”

“Oque?”

Elesai,eeutenhoquecorrerparaalcançá-lo.Nóscorremosportrás,eeunãodiscutooutentoimpedi-lo.Michaelnuncaperdeuacabeça,eseeleperdeu,háumarazão.ElepulaemseuRover,eeudeixomeucarroaoladodele,pulandoemseuladodopassageiro.

Antes mesmo de eu fechar a porta, no entanto, ele coloca o carro em marcha à ré e bate noacelerador,fazendomeucorpoirparaafrente.Euesticoamãoparamesegurar.

Eleacelerapelobecoeviraocarro,indoparaaruae,emseguida,descendoaruadacidadeemdireçãoàponte.

“Robson!”Elegritaparaquemfinalmenteatendedooutro ladoda linha.“QuemtinhaoDelcourantesdenós?”

Delcour?Oque-

Eleouveooutrohomemfalar,preocupaçãomarcandoseurosto.“Euseiqueelemudoumuitodemãos,”elegrita.“Maselefoiconstruídonadécadadetrinta.Quemconstruiu?"

Não,não,não...Elenãoacha-

Delcour,oprédiodeapartamentosdafamíliaCristeraumajoianacidadenegra.Foiartisticamentedesenhado,temasmelhoresvistas,eaarquiteturaémisteriosaesedutora.

Efacilmentepoderiatersidoumhotel.Tematéumsalãodebaile.

BomDeus.

Michael corre, desviando pelos veículos, e tira o telefone longe de sua orelha, apertando maisbotões. “Baby, vamos lá, vamos lá”, suplica ele, colocando o telefone no ouvido novamente. "Vamos.Atendaotelefone."

“Delcour?”Eusolto,voltando-meparaele.“Vocêestábrincandocomigo?”

Como?

“Todo esse tempo,” ele engasga, apertando o volante com tanta força que seus dedos estãobrancos.“OsTorrancevenderamoDelcournadécadadeoitentaeconstruíramonovohotelemWhitehallparalucrarcomoestádio.”

“DelcouréoThePopeoriginal?”

Elepuxaotelefonelonge,rediscando.“Rika,droga!”

Atravessamosaponteecorremosatravésdodistritodearmazém,virandonaParkerAvenue.

“Você sabia?” Eu pressiono. “Você sabia que eles eram os donos do prédio? Foi o hotel em ummomento?”

“Não,eunãosabia!”Elerosna.“Nósnãotínhamosnemnascidoainda,peloamordeDeus!Eusósabiaquefoiconstruídonadécadadetrinta,equenemsemprenósopossuímos.”

Mas o advogado do pai de Michael acaba de confirmar. Os Torrances eram os proprietáriosoriginais.EsehaviaumpisoescondidonoThePope,então...

“Rika,atendaaporradotelefone!”

Elejogaseucelularcontraopara-brisa,eelecaipelopainelenochão.

“Apenascheguelá,”eudigoentredentes.

Calcinhaderendabranca.Sópodeestarbrincandocomigo.Elepodeterestadonoprédio,maselenãopodeterchegadonoapartamentodeles,pode?ElerealmenteesteveláefoicapazderesistirafazercontatocomWill?Alex?

Michaelacelera,buzinasemvoltadenós,eparanafrentedoDelcour,parandoemumsobressalto.

Abrindonossasportas, corremospara foradocarroeparadentrodoprédio, oporteiro lutandoparamanteraportaaberta.

“Você viu Rika?” Michael grita para o homem atrás da mesa conforme nós corremos para oelevador.

Seus olhos se erguem, ficando arregalados, enquanto tenta encontrar as palavras. “Uh, não

senhor.”

NósentramosnoelevadoreMichaelapertaobotãoeasportasfecham.

“Você sabe se o edifício tem um piso oculto ou um apartamento escondido ou alguma coisa?”Questiono.

Elebalançaacabeça,osuorcobrindoatesta.“Eunãoseinada.Eunãoprestoatençãoemnadaqueaminhafamíliafaz.Vocêsabedisso."

Oqueincluiacompradesteedifícioounãosabernadaalémdoqueprecisaparatersuabundanasuacobertura.Eleétãoegocêntrico.Elealgumavezsepreocupouemaprenderououvirqualquercoisaque alguém disse? Ficar curioso, talvez? Se fosse comigo, e eu tivesse carta branca no lugar, teriaexploradocadacantodesteedifício.

NãoMichael,noentanto.

Basquetebol,Rika,comida,sexoesonosãoasúnicascoisasquechamamsuaatenção.

Oelevadorpassavinteeumandares,edesaceleraparandonotopodoedifício.Asportasseabrem,eMichaeleeuvoamosparafora,virandonocorredorecorrendoemseuapartamento.

LeveWillestãonocentrodasaladeestar,eMichaelvaidiretoparaeles.“Vocêsestãocomela?Ondeelaestá?"

"Ei,oquehá?"

AvozdeRikavemdecima,eminhacabeçaselevanta,vendo-adescerasescadascomumamaladecouromarrom.

Michaelsobeasescadas,pulandodoisdegrausdecadavez,eaagarra.Elepassaosbraçosemvoltadelaealevanta,abraçando-a.

Exalo,deixandocairacabeça.Elenãoalevou.Talvezelenãoestejaaqui,afinaldecontas.

“Baby,”Michaelengasga.“Porquediabosvocênãoatendeotelefone?”

Elaoabraçadevolta,parecendoconfusa.“Eu...estánaminhabolsa,euacho,”elagagueja.“Euestavaarrumandoamalanoandardecima.Oqueestáerrado?"

Maseleapenasbalançaacabeça.Nãoéhoraparaexplicar.

“Senhor,”outravozdiz,eeuolhodevoltaparaverPatterson,umdosgerentesdoedifícioentrarnacobertura."Algoerrado?Jacksonláembaixodissequepodehaverumproblema.”

“Eu não tenho certeza,” Michael responde. “Você viu alguém suspeito entrando e saindo doprédio?”

“Não,senhor.”Eleseaproxima,parecendopreocupado.“Euteriatomadomedidasseeutivesse,eulhegaranto.”

“Sim,eusei.”

Maseusalto,abordandoMichael.“QuandoosTorrancesvenderamesselugar?”

ElepegaamãodeRikaesegurasuamala,descendoasescadas.“Em1988,disseoRobson.”

Eu balanço a cabeça. “Então, controladores computadorizados em elevadores não existiam atémaistardenoséculopassado,”pensoemvozalta.“Sabendoqueeleestavavendendooedifício,Gabrielnão teria atualizado o sistema para incluir códigos para o andar escondido. O que significa que elestinhamumamaneiramuitomaissimplesparaacessarodécimosegundoandardoqueohotelmaisnovodooutroladodorio.”

Semteclado.Definitivamentesemreconhecimentodeimpressãodigitaloucartãomagnético.

Elestinhamqueterumelevadorseparado,mas...

OselevadoresdeDelcourforamremodelados.Elesforamtiradosparafora,ospoçosrenovados,oandarescondidoteriasidoencontrado.Amenosque…

“Existemoutroselevadores?”PerguntoaPatterson."Qualquercoisa?Nãoemuso.Atémesmoforadeserviço?Ouumaoutraescada?”

Elebalançaacabeça,mostrandoserumbecosemsaída,masdepoiselepara,parecendopensaremalgo.

“Bem, há uma escada no primeiro andar levando para cima, mas foi murada. Não vai a lugar

nenhummais."

Meusombroscaem.

“Eháumelevadordeserviçonoporão,”acrescenta.

Eulevantoacabeça.

“Masétampado,”elenosdiz.“Nãoachoquefoiusadoem...trintaanos?”Bem,issoseriaquasecerto.

Douumpassoemdireçãoaele."Mostre-nos."

Elecaminhaparaoelevadordenovo,descendo,passandoo lobby,agaragem,debaixodarua,eparabaixomaisumnível.Quantodavaparair.

MichaelmantemRika,masmelançaumolharaborrecido.Eunãoachoqueelejáesteveaquiembaixo,eaideiadequeDamonestavanoedifício,especialmentenasnoitesemqueMichaeltinhajogosouestavaforadacidade,équaseparalisante.

Entrandonoporão,doisníveisabaixodosolo,Pattersonnos levaporumcorredoreviraemumcanto.Águacorreatravésdastubulaçõesacimadenós,eeupossoouviroroncosuavedofornovindodealgumlugar.

Seguimos por um corredor e entramos em uma pequena área aberta, e lá está ele. O antigoelevadordeserviço.

Pattersonparaderepente,noentanto,parecendoconfuso.“Asplacasforamtiradas,”dizele.

Sigo seu olhar, vendo todas as tabuas, cinco, com dez com pregos enferrujados saindo delasespalhadasparaolado.Quantotempotinhapassadodesdequeeleesteveaquiembaixo?

Oantigoelevadornãoparecemuitogrande,eestácomumacrostadesujeiraeteiasdearanha,mas há um seletor antigo em cima das portas. Não há números, mas uma luz brilha atrás do vidromanchado,mostrandoqueestárecebendoenergia.

“Vocêtemqueestarbrincandocomigo,”Michaelmurmura,semsaberoquemaisdizer.

Apertandoobotão,asportasdoelevadorimediatamenteabremcomumding,etodomundoficaparadoaliporummomento.

Maseudouoprimeiropasso.

Ochãosemovesobreoscabossóumpouco,maspareceestávelosuficiente,eeuseguroaportaaberta,gesticulandoparaquetodosentrem.

Ointeriorépequeno.Tapetecobrenochão,easparedessãodemadeiradecerejeiraescuranapartedebaixoeespelhadasnapartedecima.

Háapenasumbotãonointerior.Umavezquetodosentram,eudigoaLevparavoltarparaaminhacasaedeixarBanks saberqueestarei emcasaembreve, e, emseguida,Michaeldiz aPattersonparaenviarsegurançaaquiatrásdenós.Entãoeufechoasportasenoslevoparacima.

Oscabosrangem,eeupossosentirasvibraçõesdomovimentosobmeuspés.

“Umano,”dizMichael.“Eleestáindoevindo,observandotodosnós,háumanodocaralho.Diretodaqui.”

“Naverdade,nãoeratãodifícildedescobrir,”Willacrescenta,falandopelaprimeiravez.

Olhoparaele.Eunãotenhofaladocomeleultimamente,emeperguntocomoeleestásegurando.Eleestábemcomtudoisso?EletemummontedemerdanacabeçasobreDamon,tenhocerteza.

Euvoufalarcomelemaistarde.

Oelevadorsobepeloprédio,parandoporcontaprópria,oqueeuassumo,seriaoandarescondido.Não tenho certeza se é o décimo segundo andar deste edifício, como o The Pope, ou se é um andardiferentedestavez.

Asportasseabrem,etodosnósolhamosparaafrente,paraforanavastasalaànossafrente.

Comprida e larga, é como uma grande sala de estar com portas para a lateral e para o fundo,provavelmentelevandoaquartoseumacozinha.Jesus.Éenorme.

Foiprojetadacomoumasuítedeluxo,comumaáreacomum,masaextensãonãoécompletamentevisívelainda.Umalareiraestáàdireita,enquantojanelascobremaparedeleste,comcortinasdeveludoealuzdocéunubladoláforaentrando.

“Inacreditável,”Rikadizconformetodosnósentramosenosespalhamos,tomandoagrandesala.“Todoessetempoissoestavaaqui,enósnãosabíamos.”

Sim.Eeleesteveaqui.Ocheirodecigarroépungente.

Retratos cobrem as paredes, e há várias áreas de estar commesas e cadeiras almofadadas. Euchego a uma mesa, vendo uma garrafa de Dewar pela metade, e um copo vazio. Levanto o copo,cheirando-o.

Michaelprocuraosquartos,enquantoRikaficacomigoeWillolhandoforanoterraço.MasDamonnãoestáaqui.

TalvezelenosviuchegardealgumaformaoutalvezeletenhaidoparaoThePope.

“Porqueelenãosaiusimplesmentedopaíseficoufora?”Rikaenfiaasmãosemseucasaco,seucabeloloirocaindosobreosombros.

MaséWillquemresponde“PorquetudooqueelequerestáemMeridianCity.”

“Mas todas as vezes que eu saí,” Michael diz, se aproximando, “ela esteve tão vulnerável. Elepoderiaterfeitoqualquercoisa.”

“Maselenãofez,então,acalmem-se,”Rikarebate.

“Elenosobservou!”Michaelfazumacaretaparaela.“Eleseescondeucomoaporradeumdoentebemdebaixodosnossosnarizes!”

Rikadesviaoolhar,enquantoWillpassaamãopelocabelo.Michaelestácerto.Édefinitivamenteassustadorpracaralho,mas...

“Rikaestácerta,”acrescento.“Porqueelenão feznada?Eutrabalheiaté tardesozinhonodojoinúmerasnoites,enquantoeleestava,provavelmente,emfrenteàruanoThePope.Willestavabemaqui.Rikaestavasozinhaaqui.Porqueelenãoagiu?”

Todomundoficaemsilêncioenquantoopensamentopairanoar.Oqueeleestavaesperando?Porqueeleapenassentouaqui,semfazernada?Eleteveumanoemúltiplasoportunidades.

“Porquesóisso,”Willfinalmentefala.“Michael,Rika,eeuestamosaquinoDelcour.VocêeBanksestão emWhitehall.” Ele faz uma pausa, abaixando seus olhos. “O resto domundo não tem nada queDamonquer.Elequeriaestaraqui.Perto.”Seusolhosbrilhamparaosmeus."Denós."

Eubalançoacabeça.Besteira.

Massoaverdadeiro.Porqueeleficou.Porqueeleesperouatéagora.“ADevil’sNight.Todosnós.Seuamigos.Ésuahorafavorita,”murmuro.

“Comovamosencontrá-lo?”PerguntaMichael.

Balançoacabeça,pensando.Mas,então,umamensagemrola,eeutiromeucelular,passandoatela.

Jogossãomelhorescommaisjogadores,vocênãoacha?

Outronúmeroquenãoreconheço.Porqueelecontinuacomisso?Vamos.Vamosfazerisso.

Outramensagemaparece.

ThePope.9:00.Nãovenhasozinho.Eunãovou.

"Não há necessidade. Ele não está se escondendo.” Eu respondo, caminhando para o elevador.“Coloquemsuasroupasderuaemeencontremnaminhacasadentrodeumahora.”

Eutenhoqueirparacasa.Eleprecisadamoedadetroca,eelevaiatrásdela.

Entronoelevador,deixando-osparatrás,elembrodeumaúltimacoisa,gritando,“Enãoesqueçamdesuasmáscaras.”

“Porque?”Willgrita.

“PorqueéaDevil’sNight.”Apertoobotão,asportascomeçandoafechar.“Eeunãovouserpegodestavez.”

Capítulo27Banks

Presente

Desçoasescadaseentronacozinha,olhoaoredordocômodoescuro,vazio,umpoucoconfusadomeupróximopasso.Seestivesseemcasa,estariapegandoumpunhadodoqueaMarinaterianamesanaquelamanhã, ou se estivesse nomeu apartamento, eu estaria cozinhando um ovo e preparando umpedaçodepão,compressaparairondequerqueGabrieltenhamemandadoir.

Eunãotenhoparaondeir.

Eunãotenhomaisumtrabalho.

Estouàmercêdomeuirmão,etudoestáquietoporenquantoestamanhã.Excetopelofatodequeeunãotenhoideiadeondediabosvou?Davidbateunaminhaportamaiscedoparamever,entregarassacolasderoupasnovasqueelepegounomeuapartamento,emedeixarsaberqueKaitinhaacabadodesaireestariadevoltalogo.

Estourealmentemuitogratapelasroupas.Tudoqueeutinhaaquiéomeuvestidodecasamento,eenquantoeu teriaalegrementeusadoalgodeKai, realmentegostomaisdacalça jeanspreta justa,eablusademangacurtaqueeutinhaescolhidodassacolas.Ébomexperimentaralgonovo.

Acendendoaluz,andoaoredordailhademármoreatéageladeira,olhandoparaasárvoresláforapelaparededejanelasàminhadireita.Oventoestáforte,asfolhaschicoteandosobotrovãoqueseformaacima,eeulembroqueumatempestadeestávindoemnossadireçãohoje.

Outrarodadadecalafriosseespalhapelosmeusbraços.

Abrindoaportadageladeira,euolhoatravésdeumavariedadedealimentosquemalreconheçoeum monte de outras coisas que eu nunca experimentei. Tofu e carne embrulhados, sucos verdes elaranjas, e um prato de cogumelos interessante com um molho que realmente cheira muito bom. Hátambémovose leite, assimcomoduasprateleirasde frutase legumes.Nenhumqueijooubiscoitosourefrigerante.Deveriasaberqueelesealimentavadeformasaudável.

Pegoosovos.

Virando-me,colocoaembalagemnobalcãoepuxoumapaneladoarmário.

“Vocêestásorrindo.”

Olhoparacima,vendoDavidentrarnacozinha.

Estousorrindo?Deixooscantosdaminhabocacurvarem.“Bem,eunãoqueria.”

Eleri.Tirandoopaletó,eleopenduranacadeiradooutroladodailhaconformeLeventraatrásdele.

Ele boceja, seu cabelo preto caindo em seus olhos quando ele joga as chaves no balcão.Minhamentepara.Porummomento,elepareceDamon.QuandoDamonvinhatarde,comaqueleolharcansadosonhadornosolhos,porqueeleestavatãobêbadoqueestavarealmenteempaz,etudoqueelequeriaeradormir.

“Kaiestarádevoltaembreve,”elemediz.

"Estátudobem?"

Eleencolheosombros.“Euachoquevamosdescobrir.”

Oooookay.

Eusirvotrêssucose,emseguida,olhoparaeles.“Vocêsestãocomfome?”

“Vocêcozinha?”Davidrecua,parecendochocado.

“Euseicomofazerovos,mas...”euviro,abrindoageladeira,umpoucoabalada.“Eletemcomidasuficienteaquiparaatenderumcasamento.”

Seusolhosseiluminameelessaemdesuascadeiras,circulandoailha.

“Bem,nósacabamosde terumcasamento,”dizDavid, curvando-seeexaminandoasprateleiras“Então,foda-se.Vamosfazerumafesta.”

“Issovaifazerumabagunça,”aponto.“Kainãogostadebagunça.”

Elebufa,tirandoacarneembrulhadaempacotesdepapelpardo.“Aesposadelepodefazeroquequiseremsuacasa,certo?”

Eusorrio.“Achoquevamosdescobrir.”

Mordoosonho,meusdentesafundandonasbolsasdeardamassamacia.“Issoérealmentemuitobom,”digoaLev,lambendooaçúcarempódomeulábio.

Eleabaixaoseu,concordandocomacabeça.“Minhaavómecriou.Elacostumavafaze-losotempotodo.NãoéacomidadaMarina,maseupossoviver,seforpreciso.”

Sorrioparamimmesma,masdepoisparo.“Marina,”pensoemvozalta.

Oempregadoridiotadela,etodososoutrosidiotasnafolhadepagamentodeGabrielentrandoesaindodacasa.Eunãodeveriatê-ladeixadoparatrás.

Levvoltaparaofogão,farinhanoseurosto,conformeDavidcomeobifequeelecozinhouecolocamaisovosemseuprato.

“Banks.”

EulevantominhacabeçaemdireçãoàportadeentradaevejoKaiparadolá.Elenãoolhaparaoscaras.

“Venhaaqui,”elemedize,emseguida,vira-seesaidasala.

Eulimpoasmãosnopanodepratoelimpoafarinhadaminhacamisa.Sigo-o,momentaneamentemexendoonovoanelnomeudedo,masmeforçoaparar.Soltandoasmãos,paronafrentedeondeeleestavanosaguão.

“Nósvamoslimparacozinha,”euasseguroaele.

“Eunãoestoupreocupadocomisso.”Elebalançaacabeça,osolhossuavizando.“Estoufelizquevocêestejasedivertindo.”

Aportada frenteabreeWill entra, carregandoumamalae seguidoporMichaeleRika.Kai sevoltaparamim.“Deixeseusrapazesterminaremdecomer,eentãoeuprecisodelesláfora.”

“Oqueestáacontecendo?”

Eleparaporummomento,segurandomeusolhoscomumapreocupaçãonosdele.Tomandomeubraço,elemelevadevoltaparaaparede.

“VocêsabiaqueDelcourtambémpertenceuaoseupaiemumponto?”Eledizemvozbaixa.

Delcour?“Oque?”Eunãosabiaoquedizer.“Pertenceu?Não,eunãosabia.Eunãosabiadosseusnegócios.Nãoseusnegócioslegítimos,dequalquermaneira.Euachoqueeuteriaouvidoalgumacoisa,noentanto.”

“Ele possuiu antes de você nascer,” ele me informa. “Costumava ser um hotel. Sua famíliaconstruiu,naverdade."

Umhotel.Então…

“Então,oandarsecreto...”

“Está lá, também.” Ele balança a cabeça, sabendo o que eu estava perguntando. “Parece queDamonestavadividindoseutempoentreasduaspropriedades.”

Você só pode estar a brincar comigo. Isso significa que quando eu estava lá, caindo fora docontratonafestadoMichaelnaquelanoite,meuirmãopoderiaestarnoprédio.Eunãotinhadúvidadequeeleestavanacidade,masDeus...

PorqueelenuncamefalousobreoDelcour?

“Estoupronto para acabar com isso,”Michael diz, deixando cair umamochila nopéda escada.“Elenosdeixoucorrendoporaícomoidiotas.”

“Exatamente.”Willsaidacozinhacomumacerveja.“NósnãodeveríamosnemirparaaoThePope.Deixequeelevenhaaténós.Vamosapenasdeixaraporradaportaaberta.Porquenão?"

OsmúsculosdoqueixodeKaiflexionam,eeuseiqueeleestáfrustrado.

“Porfavor,nãochameapolícia.”Soltoaminhavoz,meapoiandonele.“Gabrielnãovai...”

“Nãovaioque?”

Eunãoquero lhesdizerqual seráopróximomovimentodomeupai. Issopodedar ideiasaKai.“Ele não vai deixar Damon envergonhá-lo com outra prisão novamente,” eu digo a ele,mantendo issovago.“Eupossotê-losobcontrole.Sepuderfalarcomele-”

“Elenãovaichegarpertodevocê.”

"Eleémeuirmão-"

“Issonãovaiacontecer!”Kailate.“Euvoulidarcomele.”

“Willestácerto.”Rikaavança.“Deixe-oefaça-oviraténós.Todoessetempoeleesteveaqui,eleaindaéumasériaameaçadequalquermaneira.”

Mas Kai apenas ri, soando mais condescendente do que divertido. “E os tubarões circulam ascoisasqueelesestãotentandodecidirsequeremounãocomer,também.”Eleolhaparaela.“Àsvezeselesvãoembora.Àsvezeselesmordem.Elepodequererteralgumaspalavrascomagente,”eleapontaparaMichaeleWill,“maseleadorariacolocarasmãosemvocêsduas.”EeleolhaentreRikaeeu.“Eunãovouarriscarqueestanoitesejaanoiteemqueeledecidafazerisso.”

“Exatamente,”respondeMichael.

“Vamosnos encontrar comelemais tarde.”Kaimeprende comumolhar que émais umaviso.“Você,Rika,eAlexvãoficaraquicomLeveDavid.”

“Não!”Rikaberra.

“Absolutamentenão!”Grito.“Eutenhoomesmodireitodevê-lo.Sealguémpodeacalmá-lo,soueu.Nósnãovamosficaraquiefazercupcakesenquantooshomenssaemàcaça!Sevocêacha..."

Kai me agarra, envolvendo os braços em volta do meu tronco, debaixo dos meus braços e melevantando. “Eu teamo,”elesussurracontrameus lábiosenquantonosafasta longedosoutros. “Eelepodememandarparaaprisãonovamenteporumtempomuitolongo.Eunãovoudeixarissoaconteceragoraqueeuteencontrei.Porfavor.”

Seusolhosescuros,nubladoscommedo,eramapenasparamim.Ninguémmaisveria.

Elemeama?

Olho fixo para ele, perguntando o que está acontecendo em sua cabeça. Por que eu? Nós nãocombinamos.Essaérealmenteminhacasaagora?Minhacamanoandardecima?Asminhasroupas?Meumarido?Euterianossosfilhosesaberiaalgosobresermãe?

Deus,ofuturoparecetãodiferenteagora.Sãocoisasqueeupenseiquenuncaterianaminhavida.

Emvezda linhadiretanaminha frente–umtúnel -meu futuroparecemaisvirandoumcírculoparaencontrarumaestradae,ao invésdissoencontrandoapenaspradosecolinasemontanhas.Tantacoisa para explorar. Nenhum caminho definido. Eu posso andar e nunca passar nomesmo lugar duasvezes.

Mas,poralgumarazão,issorealmentenãomeassusta.Euquerovoltarasonhardenovo.

“Porfavor,nãoomachuque,”eudigoaele.

“Euvoutentarnãofazerisso.”

Elemecolocaparabaixoebeijaminhatestaantesdevirar.

Maseuopuxodevolta,sussurrando:“Eutambémteamo.”

Umsorrisoatravessaseuslábios.Segurandoapartedetrásdomeupescoço,elemepuxadenovo,mebeijandonoslábiosansiosamenteedepoismaisduasvezes,lentamente.

Segurandomeusolhos,eledáumpassoparatrásevira-separaseusamigos.“Vamosdeixaresse

lugartrancadocomoumtúmulo.”

Capítulo28Kai

Presente

“Estaporraéincrível,comtodaahonestidade.”

Michaelpasseiapela saladodécimosegundoandar,assimilandoaspequenaspistasqueDamondeixou para trás - roupas, pontas de cigarro, alguns celulares mortos - e a quantidade de espaço tãohabilmente escondido no edifício. Você realmente se pergunta como algo tão incrível pode passardespercebido.Acreditoquenãovemosoquenãoestamosprocurando.

“Éumacidadeenorme,”continuaele,vasculhandopapéisemumamesa.“Damonsemprefoiumacoruja da noite. Descansava durante o dia, e podia fugir de seus pequenos esconderijos à noite epercorreracidade,enquantodormimos.”

“Nãoédanaturezadeleficarsozinho,porém,”Willacrescenta,aindaencostadonaporta.

Elenãoentrou.Eunãoperguntoporque.

“Aporradeumabelavista.”Michaelsuspira,olhandoparaforadasjanelas.

Olho para a cama, os lençóis ainda uma bagunça, e os travesseiros ainda onde Banks e eu osdeixamos.Nãoparececomoseeletivesseestadoaquidesdequeestivemos.

“Tudobem,vamos.”Enfiominhasmãosnomeucapuzpretoecaminhoparaaporta."Elenãoestáaqui.Vamosesperarporelenohalldeentrada.”

Hesitante,Michaelmesegueparafora,etodosnósvoltamosparaoelevador.Édepoisdasnove,eDamon não disse em que lugar no The Pope o encontrar, mas nós verificamos o andar de qualquermaneira,apenasnocaso.Alémdisso,oscarasqueriamver.

Seguimos para o saguão, e eu viro em um círculo, observando todo o espaço. A chuva estácomeçandoacairnarua,erelâmpagossãovistosatravésdasjanelas,seguidosporumtrovão.

Algoparecefora.

Nós não o vemos há um ano. Ele estava se preparando para uma entrada. Ele não ia apenascaminharatéohoteledizer“oi.”

Meutelefonetoca,eeudeixoescaparumsuspiro.Puxo-oparaforadomeubolsoenemsequermepreocupoemolharparaatela.

“Ondevocêestá?”Pergunto.

“Bemondeeuprecisoestar.”

"Oqueissosignifica?"

Elenãodiznadaporummomento.Entãoelepergunta“Vocêachaqueelateama?Maisdoqueeu?”

“Ondediabosvocêestá?”Apertootelefonenaminhamão,sentindooscarasseaproximaremaomeouvirem."Estamosaqui.Esperando."

“Elaéumapartedemim,”elecontinua.“Eeusouumapartedela.”

“Vocêscompartilhamsangue.”Euandoatéasportasdafrente,olhandoparaforadovidro.“Issonãofazumafamília.”

“Eéaíquevocêestáerrado,”dizele,umamordidanoseutom.“Osangueéolaçoqueune.Onónasuaalmaquedizquenãoimportaondevocêváouoquevocêfaça,háalguémnestaporrademerdademundoesquecidoporDeus,comquemvocêestáparasempreconectado.”

“Onde—"

“Pode ser uma maldição,” ele continua. "Um fardo. Mas também pode ser o seu batimentocardíaco. Seu centro, o seu propósito, seu pertence...” ele solta um suspiro, abrandando. “Eu fodi, eu

menti,euquasemedilacereinafrentedela,maselaentendequeissoéfamília.Famíliaéoqueavidalhedáparaajudá-loasuportar.O lugardelaéaoseu lado,não importaoquantodoa, sãoaspessoasqueestarãosempreaoseulado.Édever.”

Nãoquandoéabuso.Elaéminhafamíliaagora,eelenuncairámachucá-lanovamente.

“E, infelizmente, Kai...” Damon soa quase divertido. “Nada poderia me afastar do lado dela,também.”

“Ondevocêestá?”Euexijo.

Maseleapenasresponde,“Elaéminha.”Eentãoeuouçoumclique.

“Damon!”Arvaziodooutroladodotelefone.“Damon!”

“Quediabosestáacontecendo?”Michaelolhaparamim.

Maseunãosei.Porqueeleligou?Porquenãodizeressamerdaparamimpessoalmente?

Porqueeleestavanosprovocando?Novamente?

Eentãomeocorre.

Moedadetroca.

“Elenãovem,”eudigo.

“Oque?”Michaelseaproxima.

Eeuviromeusolhosparaele."Asgarotas.Elesabiaqueiriamosdeixá-lasemcasa.”

Capítulo29Banks

Presente

“Ugh,”Alexrosna,tirandoamãodaabóboraetirandoapoçalaranjadasuamãoparaojornal.

“Vocêdissequequeriaassarassementesdeabóbora,”Rikaaponta.

“Sim,bem,eunãosabiaqueesteeraolugardeondeelasvêm.”

Forçoummeiosorriso,tentando,semsucesso,tiraraminhamentedeKaiemeuirmão.Colocandouma vela dentro daminha JackO'Lantern, eu pego o isqueiro e alcanço de volta dentro, acendendo opavio.

EsculpirabóboraséumaformapatéticadememanterocupadaquandotudoqueeuquerofazerépularemumcarroeirbuscarKaieDamon,masseeusair,Rikameseguirá,edepois,éclaro,Alex,eeunãopossoserresponsávelporelas.EuvoupassarmeutempoatéKailigar.Seelenãofizerissonoprazodeumahora,porém,euvou,enãomeimportaquemirásaltarnocarrocomigo.Euamoosdois,eelesqueremmachucarumaooutro.Comodiabosvoutirartodosnósdisso?

Lev e David entram, pegando os lanches nas bancadas enquanto nos observam terminar. Eucarregominhaabóboraparaa janeladacozinhasobreapiaeacolocoviradapara foraemdireçãoaojardim.

Asárvorescoloridassopramnovento,eouçogotasdechuvabatendonajanela.

Umrelâmpagorompeatravésdasjanelas,eeupulo,omeucoraçãopulandoumabatida.Trovõesseguem,abatidaocasoandoacima.

Virando, eu levanto o queixo para os rapazes. “A tempestade está vindo. Há velas, lanternas epilhasnoarmáriodocorredor.Vãopegaralgumas,ok?”

“'Kay.”Davidselevantadeondesedebruçasobreobalcão,seusorrisoedeLevemAlexantesqueelessevirem.

Eladáumolhardepaqueraemtroca.

“Essessãounsrapazesaparentementesaudáveis,”elabrinca,seguindo-oscomosolhosconformeelesdeixamacozinha.“Elessãoumaequipe?”

Eu levanto a cabeça, e Rika apenas balança a sua, sorrindo enquanto ela esculpe sua abóbora.“Quandoestouentediadapensoemsexo.”

“Equandoelapensaemsexo,”Rikaentranaconversa,“alguémvaitransar.”

Alexcolocaotopodevoltaemsuaabóborailuminada.“Éumasensaçãoboa,nãoé?Devemostervergonhadefazercoisasquegostamos?Não."

Euavejodandoumapiscadaparamimedepois sairdacozinha,esperoquenãoembuscadosrapazes.

Rikacontinuaatrabalharnosolhos,eeuembrulhomeujornal,assementesdeabóboraetudo.SeAlexquisertorrar,então,elapodefazerisso.Eufiqueitãodomésticaquantoeupudehoje.

“Gosteidoseuvestido,”dizRika,semolharparamim."Foiperfeito."

Meuvestido?

Oh,ocasamento.Ovestidoaindaestáemumapilhanochãodasaladejantar,agoraqueeupenseinele.

“Vocêachaquevaiserfeliz?”Elase inclinaparabaixo,cortandocomcuidadocomsuapequenafacaserrilhada,paraformarumolho.

“Eunãosouinfeliz,”digoaela."Seidisso."

Elaassente,aindaseconcentrandoemseutrabalho.“Kaiéumbomhomem.Eleéfamília.”

Eusei.Eseioqueelaestámedizendo.Émelhoreufazê-lofeliztambém.Ascoisaspodemficarcomplicadas,epodelevarmuitotempoantesqueelesafrouxemasrédeasosuficienteparaampliarseucírculoparameencaixar,maseuadmiroalealdadedela.

Eulevanto,levandoumavelaeumisqueiroatéelaquandoestápronta.“Então,comoestáindooseuplanejamentodecasamento?”

Umlargosorrisoseespalhaemseurosto.“Estoutendoideias,”elarespondetimidamente.“Quermeajudarafazercompras?”

“Compras?”Eunãopossoconteraaversãonomeurosto.“Devestidos?”

Elaolhaparamim,inclinando-se.“Paraumtrem.”

"Umtrem?Comoem…"

“Todosaaaaaboooordo,”elacanta.

Hã?

Masantesqueeutenhaachancedeperguntarmais,todaaluznacozinhaapaga,etodaasalaficaescura.

“Uau.”Rikaseendireitaemseubanquinho.

Euatravessoacozinha,rapidamentealcançandoosinterruptoresnaparede.

Masasluzesacabaram.“Lanternasevelas!”Eugritoparaocorredor.“Mexamsuasbundas!”

“Eunãopossoacreditoquejáacabou.”Rikaesfregaosbraçoscomosetivesseumcalafrio.“Nemestátãoruimainda.”

“Tudobem,aqui.”DavideLevvoltamcorrendo,colocandoossuprimentosnailha.

EntregoaRikaumisqueiro.“Acendeasvelasnossuportesnasaladejantar?”

Elapegaepuladoseubanquinho,deixandoacozinha.EntregoaAlexalgumasvelas.“Vocêpodeespalharumpoucoláemcimanoscorredores?Levvácomela.”

Davidmeentregauma lanterna,eeupegoalgumasvelaseum isqueiroparacolocarnasaladeestar,enquantoelecorreparaoandardecima.

Entrono esconderijoprimeiro e achoumapequenabandejade clipesdepapel namesadeKai.Colocandoavelasobreela,euaacendoesaio,dandoumaolhadaduasvezesparagarantirqueaentradasecretaparaotúnelestejafechada.Caminhandoparaasala,eutenhoarrepios,sentindoumtremor.Olhoparacima,vendoascortinassoprandoeachuvacaindoatravésdajanelaaberta.

“Quediabos?” Jogo as velas no sofá e corropara a janela, agarrando-a e tentandopuxá-la parabaixonovamente.“Comodiabosissoestáaberto?”

Chuvasalpicanopeitorildajanela,gotassaltandocontraaminhacamisaconformecolocotodoomeupesoparacolocarajaneladevoltaparabaixo.

“Porqueissoestáaberto?”Rikacorreatémim,agarrandoa janela.Ambaspuxando, finalmente,fazendo-adeslizarparabaixo.

“Eu não tenho ideia.” Respiro com dificuldade e tiro o pó dasminhasmãos. "Obrigadamesmoassim.Estáficandoruimláfora.”

“Sim.”Elaolhaparaforadajanela,seucabelocompridoloiropairasobreosombros.“Meioquegostariaqueestivéssemosemcasa.ADevil’sNightéaindamelhorcomchuva.”

Esfregomeusbraços,tremendo.Eunãosaberia.Maseupossoadivinharoquetodomundoestavalevantandoparavoltarparacasaestanoite.EunãotenhooolharmelancóliconosmeusolhoscomoRikatem,noentanto.

Euposso imaginarqueelatenhacrescidodeformabastantediferentedemim.Emsegurança,eumpoucoprotegida.EucrescicomDamon,poroutrolado,eviumcomportamentodestrutivoosuficienteparaqueaDevil’sNightpareçamansa.Eunãoaacholibertadoraoudivertida.Enquantoelagostariaderompereencontraralgumproblema,eudesejoacalmaetranquilidade.

Algo cai no chão acima de nossas cabeças, e nós duas instantaneamente olhamos para o teto.Tábuasrangemcomosealguémestivesseatravessandoosegundoandar,eseguimososomcomnossosolhos.

“Alex,”dizRika.

Concordo,emboraoquartodeKai-emeu–sejabemacimadenós.Elanãotemnenhumarazãoparaestarlá.

Pegominhalanternanosofáecomeçoacaminharparafora."Vamos."

Nóscorremosatéasescadas,ospelosnosmeusbraçosempé.Nósnãotínhamosdeixadoaquelajanelaaberta.Olhoemvolta,brilhandominhalanternaparaesquerdaedireita,emaltoalerta.

“Alex?”Grito,seguindoocorredorparaonossoquarto.“Alex,vocêestábem?”

Euabroaportadoquarto,acautelameimpedindodeentrarconformebrilhoalanternaaoredor.Nãohávelasacesasaqui,eeuprocurooscantos,acama,eatrásdaporta.

Tudoestáexatamentecomoeudeixei.

Estouprestesairparaobanheiroadjacente,masentãoouçoumrangidovindoatrásdemim.Rikaeeuviramosacabeça.

“Alex?”Grito.

Caminhando,euabroaportaeiluminoalanternadentrodoquartoextra.

“Queporraéessa?”ExclamaLev.Elepuladacama,levantandoefechandoseujeans.Alexlevantadeondeelaseajoelhanochãoedádeombrosparamimcomumsorrisotímido.

Eu balanço a cabeça, latindo para Lev, “Vá comDavid, e vá para o porão. Verifique a caixa defusíveis.”

Elelimpaagarganta,tentandoesconderseusorrisoquandopassapormimparaforadoquarto.

Viro-meparaAlex.“Elessãotodosseus,umavezquetenhamacabadoanoite.Acalme-se."

Ela abre a boca para falar,mas algo bate no teto acimade nós, e todos nós levantamosnossosolhos.

Euengasgo,minharespiraçãopresanagarganta.Issonãoéqualquerumdenós.

“Oqueéisso?”PerguntaRika.

Eu agarro seu braço, puxando-a para o corredor e, em seguida, levantando o queixo paraAlex."Vamos!"

Elasmeseguem,todasnóscorrendodevoltapelocorredoreasescadas.“Lev!”Eugrito.“David!”

Girandoemvoltadocorrimão,corroparaacozinhaeabroaportaparaoporão.

“Lev!”Euapertoalanternanaminhamão,brilhandoparabaixodaescadaescura.“David!”

Jesus,ondeelesestão?

Otetorangedenovo,e,novamente,empequenosintervalos,comosealguémestivesseandandoacimadenós.

“Banks,”Rikasoltaentreosdentescomoumaviso.

Eusei.Eusei.Algoestáerrado.

Começoameafastardaportadoporão,olhandoparaaesquerdaeparaadireita.“Oseutelefone...ondeestá?”

“Nasaladeestar.”

Nóstodasviramos,eeumantenhoa lanternaconformeatravessamososaguão.Euverificoduasvezesasfechadurasnaportadafrenteparamecertificardequeaindaestãoseguras.

Entrandonasaladeestar,Rikavaidiretoparaosofáeprocuraemsuabolsa,retirandoseucelular.

Então,algocainochãoacimadenós,umbaquevibrandopelacasa.

“Quediabos?”Alexestáempéjuntodajanela,piscandosualuzaoredor.

Rika se vira e me olha nos olhos, pronta para ligar, mas então seu olhar brilha atrás demim.“Banks.”

Eusigooolhardelamevirando.Kaiestáempénaportavestindosuamáscara.

Deixoescaparumsuspiro.“Kai.”Eucorroatéele,passandoosbraçosaoredordeleeabraçando-operto."Quediabos?Vocênosassustou.”

Eleestáseguro.Osnósnomeuestômagocomeçamarelaxar.

“Vocêentroupelaentradasecreta?”Pergunto,sentindoseusbraçosvirememvoltademimememantendoapertada.“OndeestãoMichaeleWill?”

“Banks,”Rikachama.

Afasto-me,virandoacabeçanadireçãodela."Oque?"

Elaolhaentreseutelefoneeeu,eouço-ovibrarnasuamão.“Kaiestámeligando.”

Oque?

Seuolharbrilhaparaohomemnaminhafrente,eseupeitocede.Elacomeçaasacudiracabeça,indoparatrás.“EssenãoéKai.”

Tiromeusbraçosaoredordacinturadohomem,umcaroçonaminhagargantaenquantoolhodevoltaparaamáscara.

Olhosnegrosencontramosmeus,umafriezafamiliarolhandoparamim.

Damon?Eumeafasto,seusolhosaindaemmim.“Oh,meuDeus.”

“Coloqueotelefoneparabaixo,”eledizaRika."Agora."

Maseuseiqueelanãovaiouvi-lo.Voltandomeusolhosparaela,eubalançoacabeça,implorandocomosolhos.Issovaiapenasprovocá-lo.Eupossolidarcomeleseeupudermantê-localmo.

Opunhodelaapertaemvoltadotelefone,eeupossodizerqueelaestálutandocomoquefazer.Mas finalmente, ela enfia o telefone no seu bolso de trás e pega uma garrafa de JohnnyWalker pelopescoçoemcimadoarmáriodebebidas,preparando-se.

“Então,comoestãoasminhascobras?”PerguntaDamon,tirandosuamáscara-ouumaréplicadadoKai-alisandoamãopelocabelo.

Olhoparaorostodomeuirmãopelaprimeiravezemumano.Seucabelopretoestámaiscompridoaoredordasorelhaseseurostopareceumpoucomaisfino,masomaxilarangularaindaestátenso,osmúsculosflexionandodevezemquando.Ésuaúnicadicaqueestáguardandomaisraivadoqueeleestádeixandoaparecer.

Douumpassolentoparatrás,apenasnocaso.

“Vocêestácommedodemim?”Elejogaamáscaranacadeira.

“OndeestãoDavideLev?”Pergunto.

“Amarradosnoporão.”

Eubalançoacabeça.“Vocênãopodelevartodasnós,”aviso,vendoAlexsemexercomocantodomeuolhoesquerdo.

Eleapenasribaixinho."Nãosepreocupe.Háumdemimparacadaumadevocês.”

Então ele levanta o queixo para cima, assobiando uma chamada. Eu paro de respirar enquantoobservomaisdoishomens,ambosvestidoscomoDamoncomcapuzesejeans,viraremnocorredorparaasala,tambémvestindocópiasdamáscaradeKai.

Trêshomensparamdiantedenós,ecadamúsculodomeucorpoficatenso.

"Quem-"

MasDamonmecorta.“Agora,”eleordena.

Eelesvêmparanós.

“Damon,não!”Grito,girandocomasmãosnaminhafrente,prontaparasegurá-los.

Maselespassamdiretopormim,ambosindodiretoparaAlex.Umapegaportrás,segurandoseucabelocomamãopuxandoseupescoço,enquantoooutropressionapelafrente,prendendoasmãosdelaatrásdascostas,enquantoelarosnaetentasedebater.

Rikalevanta,indodiretoparaeles.

“Eupoderiaquebraropescoçodelaemumsegundo,”apessoaportrásdeAlexameaça,olhandoparaRikaesacudindoacabeçadeAlexcomambasasmãos.

Eunãoreconheçosuasvozes.

Rikapara,comasmãosfechadasempunhos,umadelasaindasegurandoagarrafa.SeusolhossevoltamparaDamon.“Seucovarde!”

“Não,eusouinteligente.”Elesorri.“Elesnãodurariamcincosegundostentandopegarvocê.”

“Ei,foda-se,”dizoqueestápressionandoAlexpelafrente.

Viro-meparaDamon."Oquevocêquer?"

“Você”,dizele.

“Besteira!”Rosno.“Vocêsempremeteve!Porqueesperaratéagoraparamostrarseurosto?”

Masantesqueelepossaresponder,Rikavemparaa frente.“Você tentounosmatar,”elacobra."Will…. você amarrou um bloco de cimento em volta do seu tornozelo, amarrou suas mãos atrás dascostas,eojogounooceano.”Suavozfalha.“Vocêsabenoquevocêcolocouele?Vocêéaporradeummonstro.”

"Eusei."

Meus olhos disparam para cima de novo, levados de volta por sua resposta. Ele parece quasesincero.

“Eu tenho tantascoisaserradascomigo,”dizele,umtraçodesolenidadeemsuavoz.Seuolhardeslizaao redordasala,evitandoosnossos. “Euadorava irparaaescola.Eu ia todososdias.Mesmoquandoestavadoente.Lembra,Banks?”

Apertoosolhos.Claro,eumelembro.Damoneraaúltimapessoanomundoquevocêesperariatergrandecomparecimento.Aúnicavezqueelefaltoufoiquandoseusamigosfaltaram.

“Aescolaeraoúnicolugarqueeusabiaqueestariaseguro,”elecontinua.“Emaistarde,quandofiqueimaisvelho,haviamúsicaebebidaegarotas....eracomoumafestatodososdias.Àsvezeseraatémesmo o suficiente para me tirar as coisas da cabeça, então eu nem sequer percebia o que estavaacontece-”elebaixaavoz,forçandoasúltimaspalavrasparafora.“Acontecendocomigo.”

Lágrimasqueimamatrásdosmeusolhos.

“Eutinhameusamigos,minhaequipe,evocê,”dizele,levantandoosolhosparamim.“Tudoparamim.Aúnicagarotaqueeuconfiei.Ninguémialevá-laparalongedemim.Eunãogostodemudanças.”EentãoeleolhaparaRika.“Vocêfoiamudança.”

Elecomeçaacaminharemdireçãoaela.

“Damon,não,”eugrito.

Eleparaeviraacabeçaparamim.“Entãovenhacomigo.”

“Onde?”

“Paracasa,éclaro,”eledize,emseguida,olhaparaRika.“EuqueroqueaRikamemostreasreformasdoSt.Killian.Talvezdarumpasseionascatacumbas.”

Eleolhaparaela,seusolhosameaçadoresinsinuandomaisdoqueeleestádizendo.Elabalançaacabeçanervosamente.

“Eunãovoualugarnenhumcomvocê,”eladizofegante.

“Mas é a Devil’s Night,” brinca ele, avançando em direção a ela. "Vamos. Kai, Will e Michaelseguirão,semdúvida.Nósvamosnosdivertir.Comonosvelhostempos.”

Elazomba,parecendomaisousada.“Éparaissoquevocêesperouumano?ADevil’sNight?”Elaolhaparaele.“Deus,vocêrealmenteprecisafazerisso,nãoé?Osvelhostempos,aquelaadrenalina,seusamigosqueodeiamvocêagora...?”

Elepula,mergulhandonoespaçodelaeprendendo-acomosbraçosplantadosnaparedeemambososladosdesuacabeça.

“Damon!”Grito.

“Nãosepreocupe,querida,”elemeresponde.“Elanãoestácommedodemim.Está,Rika?”

Elaagarraagarrafanamão,olhandodesafiadoramenteparaele.

“Vocêmeodeia,porcausadascoisasqueeufaço,masvocêamaoMichaelpelasmesmasrazões.”

“Michaelnãotentoumatarseusamigos,”dizela.

“Oh, você sempremeodiou,”ele responde. “Eu lembrodevocêaosquatorzeanos, correndodasalatãorápidoquantovocêentravaquandomevianacasadeMichael.Aspessoasditamregrascombaseemcomoelasqueremsertratadas,masvoulhedizerumacoisa.Quandoalguémsecomportamal,épretoebranco,nãoé?Nósjulgamosecondenamos,masquandonósfazemos,éumaáreacinzentaderepente.Asoutraspessoasestãosujeitasàssuasconvicções,masnãovocê,certo?NãoMichael?”

Amandíbuladelaflexionaconformeelaolhaparaele.

“As pessoas são hipócritas, Banks,” eleme diz, ainda olhando para ela. “Elas fazem asmesmascoisasqueodeiamoutrasfazendo.Aúnicabússolamoralemqueeuaindaconfioéaminhaprópria.”

Eleaagarrapeloqueixo,segurando-afirme.“Eeuchegueiàconclusão,”elesolta“queumhomemmerecetudoqueumhomempodeter.”

Elabalançaacabeça,orostotorcidoderaiva.“Euteodeio.”

Eleseaproximamais,sussurrando:“Euamoquevocêmeodeie.”

Eentãoeleseinclinaemseuouvidodireito,eelarecua,masdepoisseacalmacomoseestivesseouvindo.Eunãopossoverabocadele,massuamandíbulapareceestar semovendo.Eelanãoestavaempurrando-oparalonge.Eleestásussurrandoparaela?

Eu vejo os olhos dela, ficando juntos em fúria, afiados, e então, de repente, o seu peito cedeenquantoseucorpocongela.Oolhardelacai,eelaficalácomosenãopudessesemover.

Damonsealinhadevoltaeolhaparaela,soltando-a.“Foda-seomundo,Rika.Denada."

Elaoempurra,respirandocomdificuldade.Maseleapenasri.

Douumpasso."Oquevocêdisse?"

Masentão,luzesbrilhamatravésdasjanelas,eeupisco,sabendoqueumcarroparou.

“Oh,olhaquemestáemcasa,”Damonprovoca,olhandoparaasjanelas.

Rika aproveita sua chance. Ela balança a garrafa na sua cabeça, o barulho surdo derrubando-oparaoladoenquantoelelevaasmãosparaseprotegerecainaparedecomoumabonecadepano.

Sem hesitar, ela joga a garrafa em um dos caras segurando Alex, fazendo-a abaixar temposuficienteparaeucorrer.Ooutrovira-se,eeudouumsoconoseumaxilar,seguindocomumchutenavirilha.Eletropeça,caindodejoelho,eRikaseguraAlex.

“Corra!”Rikagrita.

“Poraqui!”Euaslevoatravésdosaguãoparaoesconderijo.“Poraqui,depressa!”

Empurrandoaestantecomtodoomeucorpo,eulentamentefaço-aabrircaminhoparadentrodotúnel.Rikadeveterentendidooqueeuestoufazendo,porqueelamesegueeinclina-separaaprateleira,Alexpegandoadicadela.

Uma vez que abrimos o suficiente, eu as empurro para passar. Elas mergulham no interior dapassagemsecreta,maseunãoofaço.Seguroabordada“porta”epuxo-afechadanovamente.

“Banks,oquevocêestáfazendo?”Rikagrita.“Banks!”

“Apenasvão!”Grito.EuprecisochegaraomeuirmãoantesdeKai.

Corrodevoltaatravésdosaguão,ouvindoalguémbatendonaporta,enquantoouçoa fechaduravirar.Oinstintomedizparaabriraportadafrenteparaeles,masentãoeuvejosanguenochão,trilhandoemdireçãoàcozinha.

Eles o machucariam. Ou matariam. Eu corro pelo corredor, atrás da escada, e para dentro dacozinhaescura.

Asportasdevidroestãoabertasdooutroladodailha,eachuvachicoteadanoventopeganofunildo jardim fechado. As árvores dobram ao ponto de quase quebrarem, e uma das portas bate contra aparede.

Ondevocêestá?

Derepente,souagarradaportrásepuxadadevolta,umbraçomeenvolvendopelosombros.

Euofego.

“Vocênãooama,nãoé?”Damonpergunta,algomolhadotocandoaminhatesta.“Porqueeuestouprestesatorná-laumaviúva.”

Umaviúva?Euabroabocapara falar,masentãominhamão roçasuaoutrapenduradaaomeulado,meusdedospassandopelocanofriodeaço.Umgritoarranhaaminhagarganta.

Viroacabeça,vendosanguenoseucabeloeescorrendopeloladoesquerdodeseurosto.“Damon,oquevocêquer?”Sussurro.

E então eu ouço a porta da frente abrir, ecoando pela casa, e fecho os olhos. “Por favor,” euimploro.“Porfavor,não.Porfavor,apenasváembora.Corra."

“Eu te eduquei melhor do que isso,” ele diz, me girando e segurando a minha camisa pelocolarinho.“Eraparasernós,Nik.Sónós."

“Se você só me quisesse, teríamos ido quando você saiu da prisão no ano passado,” eu digo,ouvindoKaieosrapazesentrarempelacasa."Oquevocêrealmentequer?"

Raivaqueimaatravésdosseusolhos.Eleolhaparamim,maseupegomaisalgumacoisabrilhandoporumafraçãodesegundo,também.Comoseeleestivesseenvergonhadodarespostareal.

Elebaixaavoz, respondendo: “Eusóqueroquesejacomocostumavaser.”Seusolhosabaixam,masdepoiseleoslevantanovamente,ogelodevoltaemseuolhar.“Eseeunãopossoterisso,entãoeuvoutermalditacertezaqueninguémnuncavaiselivrardemim.”

Elemeempurraparatrás,eeutropeço,virando-me.Segurandomeuombro,elemeobrigairpelasportasabertasparaoquintal.

Foda-se,oqueeufaço?Meuinstintomedizpara lutar.Vire-se,ataque,edepoiscorra.Mas issonãoimpediriaeleouKaidesemachucarem.

Oquediaboseufariaseperdesseumouooutro?

“Tiresuasmalditasmãosdecimadela!”EuouçoKaigritar.

Damonmevira,mecolocandonafrentedelecomumbraçoemvoltadosmeusombrosnovamente.A chuva gelada encharcando nossas roupas, e eu pisco através da chuva, vendo Kai, Michael, e Willcorreremparaopátio.

OsolhosdeKaivãoparaamãodomeuirmão,eeuseiqueeleviuaarma.

“Vocênãovaimachucá-la,”dizele.“Euseiquevocênãovai.”

“Eu tenho amachucado durante onze anos.”Damon aperta o punho na parte de trás daminhacamisa.“Nãohámuitoqueeunãofaria.”

Kaipermaneceimóvel,suaraivavacilando.Elenãotemcertezaseomeuirmãoestáblefando,maselenãoestácertodequeelenãoestá.Nãoésuficiente,dequalquermaneira.

“OndeestãoLeveDavid?”Kaimepergunta.

“Eleosamarrounoporão.”

“ERikaeAlex?”Michaelexplode.

“Euasmandeiatravésdapassagem.”

KaiseviraparaMichael.“Acasadescendoacolina.Vá!"

Michael corre de volta para casa, e eu deixo escapar um suspiro que eu não sabia que estavasegurando.EuaindanãoseiondeosoutrosdoisajudantesmascaradosdeDamonestão.Esperoqueelestenhamfugido.

“Ei,cara.”OtomdeDamonficamaissuave."Sentisuafalta."

PresumoqueeleestejafalandocomWill,que,pelaprimeiraveznasuavida,nãoparecefeliz.Umlevegrunhidocurvaseuslábios,esuacarrancaestáfixaemDamoncomosenadatenhasidoesquecidoouperdoado.

Kaidáumpassoadiante,saindoparaforanachuva,“Porquepassarportudoisso?”

“Porqueestaéaminhacasa,”Damonresponde.Então,elemepuxadevoltaparaoseupeito.“Eentãoéisso.”

“Elanãoéseuanimaldeestimação,”Kaiargumenta.“Ousuapropriedade.Elanuncafoi.”

“Eudeitudoaela.”

“Você a tratou como um cão!” Kai grita, seus olhos preocupados olhando para mim. "Você amachucou."

Euenguloocaroçoenormenaminhagarganta.EuseiqueDamonmetratoumal,emboraeuodeieenfrentaressefato.Euapenasdeidesculpasparaisso.Elenãoestábem.Eleestásozinho.Eleprecisadealguémqueelepossaconfiar.

Euoamava.Oqueeudeveriafazer?Eupoderiafazê-lomelhor.Certo?

Masseossacrifíciossóvêmdeumlado,éhoradeencararaverdade.Eleestavamemachucando.

“Ela fica tensa quando eu a toco,” Kai diz a ele. “É sutil, e é só por ummomento,mas a pegadesprevenida,comoseelanãoestivesseacostumada.”

Eufaçoisso?

“Elatemumagrandeimaginação,masachoqueelaéaindamelhoremcuidardosnegócios,”eleprossegue,segurandomeuolharagora.“Elavaiestarnocomandodascoisasalgumdia,emesmoqueeunãosaibaoqueexatamente,vaiserótimo.”

Lágrimasbrotamnosmeusolhos.

“E eu até gosto dela em roupas de homem,” diz ele, suavizando sua voz. “Contanto que sejamminhas.”

Entãoelelevantaosolhos,dizendoaDamon,“Apenasdeixe-air,cara.Elanãovaitemachucar.Elateama.Evocêaama.”

Eupossosentirasrespiraçõesrasasdomeuirmãoatrásdemimenquantoeledáumpassoatrás,aindaresistindo.“Osúnicosquepodemmachucá-losãoaquelesquevocêama.”

Fechoosolhos.

“Escolha,”dizele.

Abroosolhos,eelemegira,olhandoentremimeeles.“Elepodesobreviversemvocê.Vocêsabedisso."

ElequerdizerqueKainãoprecisademim.Damonprecisa.Issoéoqueelequerqueeuacredite,masnãoéinteiramenteverdade.

“Vocêtambémpode,”respondo.“Vocêsimplesmenteodeiavernóssobrevivermossemvocê.”

Seuolharseestreita,eeuseiqueotenho.Masantesqueelepossadizerqualquercoisa,Damonéempurradonochão,eeusouempurradaparalonge.

EuvejoquandoWillpulaemcimadele,derrubandoaarmadesuamãoebalançandoospunhoscomosetivesseestadoàesperadissoporumano.Imaginoqueeletenha,afinaldecontas.

“Seufodido!”Elegrita,grunhindoconformesoca."Vocênãoénada!Nadasemnós!”

Apróximacoisaqueeusei,équeKaiagarrameubraçoemepuxadevolta,eeuvejoMichael,Rika,eAlexatravessandoacozinhaevindoaténós.

“Osamigosdelefugiram,”Rikamedizedepoisvoltaosolhosparaaação.

Viro-me,vendoWillaindacompletamentelouco.

“Comovocêpôdeirtãolonge?”Eleexplode.“Euvoutematar,porra.”

Eleagarraagargantadomeuirmãoemumamão,segurando-onolugar,ebatenelecomaoutra.Damonnão está lutandode volta.Ele apenas fecha os olhos, o sangue escorrendodonariz e pelo seurostoconformeWilloatacanovamenteenovamente.

“Quando você não tem nada, você não tem nada a perder.” Sua voz treme quando ele grunhe.“Foda-setudo,efoda-sevocê.”

Então,derepente,eleenganchaWillemumachavedebraçoepuxa-oparabaixo,restringindo-o.Então ele sobenele, deixandoWill embaixo enquantonãoparadebater nele, dando socos, batendo, erosnando.Damonficaalisentado,atestainclinadanopeitodeWill,respirandocomdificuldadeelevandoossocos.

“Pareeles,”euimploroaKai."Porfavor."

Maseleapenasficalá,deixandoWillterasuavingança.

SangueembaraçaocabelodeDamon,escorrendopeloseurostocomachuva.EleagarraacamisadeWilleenterraacabeça,tentandoseproteger,masnãotentandopará-lo.

Elesabequemereceisso.

Willjogaele,levanta-seejogaparatrásaperna,chutandoDamonnacabeça.Eumeviro.

Euseioqueeleestáfazendo,sódeixandoWillsocá-lo.Seeleestivessecomdordoladodefora,elenãoiriasentirissopordentro.

Abaixo a cabeça, olhandopara as gotas de chuvabatendonas folhasdegramaenquanto a lutacontinuaeosonsdegrunhidosesocosenchemopátio.

Tempodemais.

Eentãoeunãoouçonada.Lentamentelevantandoosolhos,vejoWillsentadonochãoaoladodeDamon,comasmãosparatrás,levantandoerespirandocomdificuldade.

Damondeitadodecostas,comosjoelhosdobradosparacima,masimóvel.

Lentamente,elecomeçaavirar,ecomosmembrostremendo,ficadejoelhosesenta-sesobreoscalcanhares,parecendoquemaltemforçasuficienteparaseguraracabeçaparacima.Águaescorrepelorosto,fazendoseucabelopretopendurarsobreosolhos,eeuseiquenãopossonãoamá-lo.Sangrando,quebrado,perdidoesozinho,eleestádevolta,nãoé?Elesempreseriacapazdeaceitaroquequalquerumfizessecomele.Torcerisso.Virar.Engolir.

Kaiseaproxima,eeusigo.Ajoelha-se,olhandoparaomeuirmão.

“NósnãoescolhemosRikaaoinvésdevocê,”dizelecalmamente.“OuBanks.”Eleseinclina,seutomfirme.“Vocênosdeixou.”

Will observa Damon com o canto do olho, raiva ainda furiosa através dos seus olhos, mas elesbrilham,também.

Kailevanta-se.“Ondeestáocorpo?”

RikaeMichaelseaproximam,evejoDamonpuxarumarespiraçãoprofunda.“Foi-se,”dizele.

Kaiabaixa-seeagarraotopodesuacabeçapelocabelo."Onde?"

Damonlevantaosolhos,quasedivertido.“Vocênãoamatou.”

Eudouumpassoemdireçãoaele,eKaiosolta,seendireitando.

“Oque?”Pergunto.

“ElaestavabemquandovocêeKaisaíramdohotel.”

“Comoeuseiquevocêestádizendoaverdade?”Kaiexige.

“Porqueelaestavarespirandoquandovocêsaiu,nãoestava?”

“Bem,ondeelaestá,então?”Pergunto.Elaprecisariadedinheiroemalgumponto.Émuitotempoparaninguémtervistoououvidofalardela.

“Euprecisodeprovasqueelaestábem,”Kaidizaele.“Euaindaaferi.”

“Não, ela estava nos ferindo.”Damon fica de pé, lutando para arrumar seus ombros. “E você aparou.Fimdahistória."

“Então,elaestavabemquandosaídohotel?”Kaidesafia-o.“Elaestavabemquandovocêdeixouohotel?”

DamonseguraosolhosdeKai,nãorevelandonadaconformeosilêncioseestendeentreeles,eeusei...eusósei...

Elaestámorta.

AquelanoitenãotinhaterminadoquandoKaieeudeixamosoThePope.

“Kai!”Alexgrita.“Oh,meuDeus,depressa!”

Todosnósviramos,vendo-adentrodacasa,dooutroladodacozinha,eolhandoparaocorredor.

Elaviraseusolhospreocupadosdevoltaparanós.“Ondeestáoextintordeincêndio?”

Todos nós corremos.Correndode volta para a casa, passo pela cozinha, sentindo amãodeKaipegaraminha.DeixamosDamonláfora,eeuseiqueelevaicorrer.Umagrandepartedemimesperaqueeleofaça.

Alexestádepénosaguão,olhandoparaasaladeestar,eMichael,Rika,Kai,eeucorremosatéela,vendoacortinapretacomchamas.Umapequenaárvorecaiupela janela,vidroechuvacobrindoo

chão.

“Asvelas,”Kairespira."Merda!"

Olhoparaochão,ecomcerteza,aárvorecaídaderrubouasvelasnochão, fazendocomqueascortinaspegassemfogo.

KaiapontaparaWill. “Armário!”E todoseles, incluindoMichael, corremdevoltapelocorredor,abrindoaportadoarmárioemergulhandodentroparaosextintores.

Corropara a sala, vendoas chamas se espalharempela cortina, e, em seguida, noto os shanaispenduradosnaparedeaoladodajanela.

“Rika!”Eugrito,correndoepegandoumdaparede.

Ocalordaschamasardenosmeusolhos,eachuvabatenomeubraçoquandolevantodenovo,puxandooutraespadaforadaparede.Engasgocomaslágrimaspresasnaminhagarganta.

Elejáperdeuodojo.Eunãopossodeixarissoacontecernovamente.

Rikatrabalhacomigo,puxandotudoparaforadaparedeejogandoparaumdossofás.

“Não!”EuouçoKaigritar.“Banks,fiqueparatrás!”

Elecorreeagarrameubraço,puxando-meatrásdele.“Apagueorestodasvelas!”

Aschamasseespalhamatravésdasaia,eeucorroparasoprarasoutrasvelasapenasnocasodoventosoprarmaisalgumaparaochão.

MichaeleWillcorremparadentro,Michaelcomosolhoshorrorizadosemnossadireção.

“Rika!”Elegrita.

E eu viro. Um pedaço de tecido pendurado acima, consumido de chamas, caído para baixo,penduradoporfios.Elasegueseuolhar,olhandoparacima,eeledispara,correndoparaela.Derepente,ahastedouradaquebrada,caidaparede,etudoficaemcâmeralenta.Ascortinas,emchamas,desabam,etodoscorremparaela,massóentão,elaéagarradapelacamisa,puxadaparatrás,longedaschamas,ejogadanopisodemadeiranocentrodasala.Elacaidecostas,encolhendo-sepormedooudor,eunãotenhocerteza.

EeuolhoparacimaevejoDamon.Eunãovieleentrar.

Rikapiscaalgumasvezes,oventoaderrubaparaconformeMichaelmergulhaepuxa-aparacima.

“JesusCristo,”eleengasga,segurandoseurosto."Vocêestábem?"

Elapareceatordoada,tentandorecuperarofôlego.Entãoelaolha,eeutambém,Damonalicomsuamandíbulaapertada.

Todomundoficamomentaneamentecongelado,entendendooquediabosaconteceu,masKaivolta-separaaschamas,eapontaoesguichonajanela.EleeWillpulverizaramoextintordecima,parabaixo,emais,aschamasquentesrapidamentevirandofumaça,Willtossindoconformeofogoéapagado.

Exalo,tentandorecuperarofôlego.

Elescolocamostanquesparabaixo,todosnósapenasficamoslá,cansados,confusos,comraiva,ouoquequerqueseja.OlhoparaAlex.Elatemumamãonopeito,arespiraçãodifícil,enquantoMichaelestánafrentedeRika,ambossemdizernada.

Will cai no sofá, descansandoa cabeçaemsuasmãos, eKai...Kai volta seusolhosparaDamonfinalmente.

“Vocêachaquenãovamoschamarapolícia?”Eleameaça.“Vocêdeveriaterfugido.”

“Eunãovoufugir,”dizDamon,olhandoparaaparede."Chame-os."

Enguloemseco,doresticandoaminhagarganta.EuseiqueKaiestáolhandoparamim.Oqueeupossodizer?Porfavor,não.

MeupainãovaideixarDamonvoltarparaaprisão.Elevaienviá-loparaalgumlugarondeelenãopossaembaraçá-lodenovo,eelevaimantê-lolá,foradavista,pelotempoquelevarparaDamondarumfimasimesmo.

SeeufosseKai,eusaberiaqueDamonmerecesofrer.Eusaberiaoquefazerparaasegurançadosmeusamigosefamiliares.

MaseunãosouKai.

Fecho os olhos, meu queixo tremendo. Estou muito perto a situação. Meu coração não podesuportarvê-losofrermais.

“Rika?”Kaidiz,vindoatémimeenfiandoosdedosnosmeus."Michael?Will?Vocêsfaçamoqueprecisamfazer.Eunãopossolidarcomissoagora.”

Eleapertaseuslábiosnaminhatesta.Eunãopossopediraqualquerumdelesparadeixá-loir,masestougrataqueKaificoucomigo.

Ninguémfala,eeuabromeusolhosparaverRikadesviaroolhardeDamon.Háraivanosolhosdela,mastambémconflito.

Econfusão.Eleacaboudeasalvardesemachucaroupior.

Eoqueeletinhasussurradoparaelaantesdoscarasaparecerem?

“Nãofiqueconfusa,”Damondizaela.“Eunãosouumbomrapaz.Chameapolícia."

Michael vira-se, parecendo pronto para bater nele,mas Rika o puxa de volta. “Saia daqui,” elarosnaparaDamon.Eentãoelasevira,respirandotãodifícilquesuaraivapareceprestesatransbordar.

Damonmelançaumolhar,ehátantacoisaqueeuquerodizer.

Masnósdoissabemosqueeletemquesairdaquiantesqueelamudedeideia.

Elesai,eeuouçoaportadafrenteseabrir,osomdachuvacaindo.

Eseeununcamaisover?Damonétudoqueeutenhohámuitotempo.Tudoénovoagora.Minhacasa,osmeusdias,atémesmominhasroupas...euexalo,dortorcendomeuestômago.

Eucorroparaforadasalaesaiopelaportadafrente.“Damon!”

Lágrimasescorrempelomeurosto,eeumalpossovê-loatravésdoborrãonosmeusolhos.Maseuvejo a sua formaescuraparar e lentamente virar.O sangue secouem tornodo seuolho,masa chuvalavouamaiorpartefora.

“Algumavezvocêmeamou?”Pergunto.

Elelentamenteseaproximademim,olhandofixamente.“Oamorédor,Nik,”elemediz.“Nuncaébom.”

“Nemmesmoomeuamor?”

Elebaixaosolhos,balançandoacabeça.“Eunãoqueroferi-la.Nãomais,”acrescenta."Issoétudoqueeusei."

Ele recua lentamente, finalmente, virando-se e caminhando pela calçada escura até que eledesaparecenanoite.

Eusóolhoparaascostasdele,naescuridãovazia.Nuncaétardedemais.

Capítulo30Banks

Presente

Oventodeoutubrouivaláfora,fazendoacasa,antesquieta,rangersobapressão.Devesercercadetrêsdamanhã,maseunãoestoufazendoqualquermovimentoparaverificarmeutelefone.Kaieeusentamos na cama, eu entre suas pernas descansando em seu peito enquanto ele senta encostado nacabeceiradacama.Eubrincocomseusdedos,enfiandoosmeusdentroeforadosdele.HojeéoDiadasBruxas.

“Vocêsenteisso?”Perguntoemvozbaixa.

"Oque?"

Eu respiro fundo, enchendo os pulmões e fechando os olhos. “É como se tudo estivessecomeçando.”

UmenormepesofoitiradodosmeusombrosquandoDamonsaiuhorasatrás.Eumeperguntoparaondeelefoieseeleestáseguro.Preocupo-mequeeleduvidoudoquantoeuoamo.

Maseunãopercebiaoquantotemiaele,também.

Pelomenospartedemim.

Nãoatéelesairdecasa,nãodandoqualquerindicaçãodequeeleviriaparanósnovamente,eadornomeuestômago,comaqual fiquei tãohabituadaasentirao longodosanos,quequasenãonotomais,começalentamenteadesaparecer.Elesempreseguroutãofirme.Firmedemais.

Masagoraparecequemeuspulmõespodemsegurarumoceano.Eunãotenhoquefazerqualquercoisaqueeunãoqueirafazermais,eamelhorparte?Eupossofazerqualquercoisaqueeuqueirafazeragora. Iràescola, tentarusarunssaltos,chegaremcasademadrugada,viajar,servoluntária, iraumbar...

Teramigos.

“Se vocêquiser umaanulação, eu lhe dou,” dizKai, seus lábios roçandomeu cabelo. “Podemoscomeçardenovo.Fresco.Talveznamorar.Eumcasamentoapropriadodepoisdeeulhepediresevocêdissersim.”Elebaixaavozparaumsussurro.“Euvoutebeijarcomoeudeveriaterbeijado.”

Douummeiosorriso.Eupossodizerqueelesesenteculpadosobreonosso“casamento.”

“Não.”Eulevantominhamão,olhandoparaomeuanel.“Épartedanossahistória,eeunãoqueromudarisso.Eugostodanossahistória.”

Seubraçodeslizaaoredordaminhacintura,apertadoepossessivo.

“Então,oquevemdepois?”Elepergunta.“Oquevocêquerfazercomsuavidaagora?”

“Tudo.”

Elesoltaumarisada.Eudefinitivamentemesintoincerta.Eculpada.Elejámecomprouroupas,mas eu não vou deixá-lome sustentar. Eu tenho que descobrir algo logo.Não serei feliz amenos quecontribuaparaanossavida.

Eestacasa.

Querodizernossacasa,euacho.

Oquemelembra...

“Porquevocêmanteveestacasaemsegredo?”Viroacabeça,olhandoparaele.

Seusolhossorriemdevoltaparamim.“Pelamesmarazãoqueeugostavadoconfessionário.”

Eujuntominhassobrancelhas,nãotenhocertezaqueentendi.

“Eugostodaminhaprivacidade,eeugostodomeuespaço,”explicaele,“eesteéoúnico lugar

ondepossoficartranquilo,meouvirpensar,enãomedistrair.Eutenhoperspectivaaqui.”Eleapertaoslábioscontraaminhatesta.“Eusabiaquenãoiaserumsegredoparasempre,maseuqueriaaproveitar,reforma-laevivernelaantesdosmeusamigoscomeçaremairevir.”

“Bem,euachoquevocêvaisedistraircomigoaqui,”aponto.“Eunãosoutãoquieta.”

Seupeitosacodecomumarisadaatrásdemim.“Eunãomeimportocomsuasdistrações.”

Esperoquenão,porqueAlexdeixoua lingeriequeelacomprouparamimparaa festanaoutranoite,eeuplanejofecharoportão,trancarasportas,eserextremamenteperturbadoramuitoembreve.

“Existemoutraspassagenssecretas?”Pergunto.

"Sim."

Comichõesespalhamportodomeucorpo.“Elaslevamacoisasdivertidas?”

“Sim.”

Eusorrio,minha imaginaçãocorrendosolta.Aindaestounervosa sobreondeminhavidavaimelevaragora,masestouanimadatambém.

Colocominhacabeçaemseuombro,olhandoemseusolhos.“Seuspaisvãomeodiar?”

Ele balança a cabeça. “Não,” responde. “Meu pai vaime odiar por cerca de quinzeminutos, eentãoelevaievoluirparaficarapenasdecepcionadonovamente.”Elebeijameunariz.“Sejaapenasquemvocêjáé.Fiel,honesta,prática,francaeteimosa.Elerespeitaoqueelevêdentro.”

"Esuamãe?"

“Tudocomqueaminhamãevaisepreocuparéquevocêmeama.”Elesorriparamim.“Eissoquefomoscasadosporumpadre,éclaro.”

Apertoosolhos.Estácerto.Ocorre-mecomoéestranhoqueeletenhaarranjadoumaigrejaeumpadreparaumcasamento,queeleaparentementenãoqueria.Aopesquisar sobreele, eununca tiveaimpressãodequeeleaindafosseparticularmentereligioso,alémdeaparecerparaosrarosbatismosdafamíliaetal.Elefezissoporcausadasuamãe?

“Elafoiomotivoquevocê-”

Elebalançaacabeça,seusolhossuavizandoenquantoeleseguraomeuolhar.“Foisempreparaavida,garota.”

Sempreparaavida.Eunãopossodeixardesorrir.Eudeveriasaber.Kainãocometeerros.

Beijo-o,suabocaquenteenviandoformigamentosseespalhandoatravésdosmeuslábiosenomeupescoço. Nós apenas nos abraçamos, aproveitando o nosso tempo uma vez, os beijos ficando maisprofundosemaisexigentes.

Deixandominhaboca,elebeijaminhatestae,emseguida,meucabelonovamente.

“Osolvaiapareceremalgumashoras.”Eleolhaparaajanelapertodacama.“Tantoparadormir.”

Saindoatrásdemim,elesaidacama,eeuovejopassarporcimadesuacômoda.Tirandoumacalçadepijama,eleseviraparamim.“Banhocomigo?”

Eudeito,descansandominhacabeçanamão.Cara,issoétentador.Eunãoquerosairdoseulado.

Masalgoaindaestámeincomodando.“Váemfrente,”eudigoaele,segurandoomeutelefone."Euprecisoverificaralgumasmensagens.”

Elemeencaracomumolharquedizquedefinitivamentenãoiriademorar.Euvejo-ocaminharatéobanheiroeesperoatéouvirochuveirocorrereaportadevidrofechar.

Sentando,euapressadamentecorroosdedosatravésdosmeuscontatos,encontrandoquemestouprocurando.

Ligando,esperoenquantoalinhatoca.Énomeiodanoite.Podelevaralgumastentativasantesqueeleacorde.

Masparaminhasurpresa,otoqueparaeumavozgroguerosnaparamimnalinha.

“Jesus,oque?”Willlate.

Eu saioda camae caminhoparaaportadoquarto. "Pode se encontrar comigo?Precisoda suaajuda."

Tirando o jipe deKai da estrada, eu voupara uma estradade cascalho, a floresta fina àminhaesquerdaéaúnicacoisaentreeueacasadomeupai.VejoasluzestraseirasvermelhasemfrenteevejooSUVdeWill indodevagarparaadireita.Eledeve teraceleradoatéaqui.Tenhocertezaqueeleestábravocomooinfernocomigo,tirando-odacamaantesdoamanhecer.

Eu dirijo passando por ele e olho pelo retrovisor, vendo-o sair para fora do acostamento e meseguirmaisfundonaestrada.

Encontrando o caminhodesgastadoqueDamon costumavausar quando chegava emcasamuitotardeeasportasestavam trancadas,pegoaesquerdaemergulhoabaixoemumapequena inclinação,balançando para frente e para trás enquanto dirijo para o bosque, entrando pela parte de trás dapropriedade.Éaúnicamaneiradechegarlásemqueninguémperceba.

Possivelmente.

Aindahásensoresdemovimentoecâmerasehásempreumguardacaminhandonoperímetro,maseu sei por experiência, que por esta altura da noite, ele está provavelmente escondido na cozinha,comendosobraseassistindoTV.

Uma vez que vejo as luzes acesas à frente, eu sei que estou chegando na parte de trás dasgaragens. Parando, estaciono e desligo o carro. Havia nove cães, da última vez que vi. Espero quepossamosacalmartodos.

Saiodocarro,levandoaschavescomigo.

“Vocênãotemummaridoparadrenarlentamenteavidadele?”OuçoWillreclamarlogoquebatoaporta.“Oqueestoufazendoaqui?”

Seguroomeudedosobremeuslábios.“Shh,”digoaele.“Eunãopossofazerissosozinha.Sóparadechoramingar.”

“ExistealgumarazãoparavocêsimplesmentenãotrazeroKai?’

“Sim!”Eusussurro-gritando.“Elenuncamedeixariavoltaraqui.”

EupoderiatertrazidoDavideLev,maselesseriamvistos,sevoltassemaqui.

EeunãoousarialevarRika.Euteriatodoselescomraivademimporarriscarcolocá-laemperigo.Michaelnãoiriadeixá-lasozinhadequalquermaneira,nãodepoisdoqueaconteceuontemànoite.

Além disso, Will é... agradável. Ele pode gemer e reclamar, mas ele faria qualquer coisa paraajudaralguém,eutenhocerteza.Querodizer,eleescolheuminhalingerie.Issodevesignificarquesomosligadososuficienteparapedirfavoresumaooutro,certo?

Virando, eu lidero o caminho em direção à casa, arrastando-me rapidamente através das folhasmolhadasefechandominhajaquetadecouronovacontraabrisafria.HalloweenemThunderBayétãograndecomoaDevil’sNight, entãoaspróximashoras serãocheiasparaa forçapolicialdacidade.Euduvidoquemeupaiváenviá-losatrásdemimdequalquermaneira,nãoimportaoquãoesticadasuaforçadetrabalhoestejaestanoite.

Eledefinitivamentesabequeestouaqui,noentanto.

Correndo pela primeira garagem, eu escapo até a grande loja e tiro minhas chaves do bolso.Gabriel sabe que eu não sou estúpida,mas ele provavelmente também percebeu que eu não sou umaameaça.Aindanão,dequalquermaneira.Euduvidoqueeletenhamudadoas fechadurasnosdoisdiasdesdequeestiveaqui.

Levantandoatampadoteclado,eudigitoocódigo,equandooalarmedesativa,insirominhachavedepratanaporta,virandoatranca.

“Oqueestamosfazendo?”Willperguntabaixinho.

Mas eu o ignoro, deslizando para dentro e puxando-o atrás de mim. Eu imediatamente ouçocorrentes chocalhando e embaralhando vindo de vários dos canis. Olhando em volta, vejo que não háninguémaquiaindaenotoumpardeluzesdeemergênciaacesasquemedãoosuficienteparavermeucaminho.

Arrancando um punhado de coleiras da parede, eu jogo três para o Will. “Precisamos nosapressar.”

“Oque-”

Abrooprimeirocanil.

“Elesvãolatir,porra!”Eledeixaescapar.

“Elesvãosevocênãofizerexatamenteoqueeudigo.”

Se eles começarema ficar doidos, o guardanoturno estará aqui em segundos. Precisamos ficarinvisíveis.

Aproximo-medocão–umpitbullmaisvelho-queestáaquidesdequeeraumfilhote.Eleficaempésemlatir.Ele,pelomenos,meconheceeébemtreinadoagora,masosoutrospodemficarnervosos,entãoéporissoqueprecisasereuasegurá-los.Willpodecarregá-losnoscarros.

Façoumcarinhoatrásdaorelhadeleconformeprendosuacoleiraegentilmentepuxo,levando-oparaforadagaiola.

“Eseeletivermaiscães?”WillperguntaconformeentregoBrutusparaele.

“Daí,estaremosdevolta,euacho.”

Apressada,abrotodasasportasdasgaiolaseentro,encoleirandooscãesecaminhandoparafora.Os dois pirineus vêm com facilidade, mas um está muito magro, suas costelas aparecendo no pelo,enquanto o rottweiler, os dois pastores, e os dois huskies todos se enroscam para fora, resistindo.Alcançando o saquinho no meu bolso, pego pedaços de carne que eu trouxe comigo, oferecendorapidamenteparaeles.

Willpegaopitbull,eeuentregoosdoispirineus.

“Vácolocá-losnobancodetrásdasuacaminhonete.”Eudigoaele.“Edepressa!”

Dirigindo-meparaaúltimagaiola,euvejoobeagledeitado,apenasnosobservando.Vouatéele,enotoqueeleestátremendo.Minhagargantaparecequetemagulhas.

Eunãotenhotempoparaavaliarosdanos,emborarealmentevejaalgumascrostas,entãoeunemsequer tento motivá-lo. Pegando-o em meus braços, eu pego novamente as outras coleiras e deixo oprédio,andandorapidamente.

Willeeusomosrápidoscarregandotodososcãesparaoscarros,eeudebatosobreamarra-los,mas decido contra isso. Eles foram treinados para serem agressivos, mas eu não quero arriscar umaquedaousaltaremparaforadobancoeseestrangularem.Seeleslutarem,eulidareicomissoentão.

Willsaltaemseucarro,gritandoparamimatravésdaportaaberta."Vamos!"

Pegominhaschaves,masdepoisparo.

Eolhoparatrásemdireçãoàcasa.

Eunãoestoucomtudo.

Willligaomotor,eeuviro,acenandocomamão.“Pare,espere!”

Umpardelatidosbaixosvemdoscarrosquandoeleatiraacabeçaparaforadajanela."Oquevocêestáfazendo?"

“Fiqueaqui,”eudigoaele.

“Banks!”Elesussurraatrásdemim."Quediabos?"

Corro até a casa e tento amaçaneta da porta da cozinha. Ela lentamente cede.Meu estômagorevira. O guarda destrancou para ir e vir o que significa que ele está por perto. Abrindo a portasuavemente, olho para dentro e vejo que a pequenaTVno balcãode granito no canto está ligada.Hátambémumpratodemigalhasnafrentedela.Elefoi,provavelmente,aobanheiro.

Aproveitandominhachance,enquantotenho,eucorroatravésdacozinha,pelocorredor,esuboasescadas.Abrindoaportadoquartodatorre,eurastejorapidamentedentroecorroatéasescadas.

Damonpodeestaraqui.

Masquandoeuabroaporta,oquartoestáescuro,aúnicaluzvindodalualáfora,eaindaparecevazio.Umapontadadedecepçãomebate.Eunãoestouprocurandoporele,eesseprovavelmentenãoéomelhorlugarparaeleestar,dequalquermaneira,masseelenãoestáaqui,ondemaiseleestá?

Caminhandoparaoarmário,euprocurodentroporambososfaunariums10erapidamentecarrego

VoloseKoreIInosrecipientesseparados.SeDamonnãovaivoltarparacasa,entãonãoháninguémparacuidardeles.

Deus,Kaivaimematar.

Dandoumaúltimaolhadanoquarto,saioenãomeincomodoemtrancaraportanapartedebaixodaescada.

Correndodevoltaparabaixonasescadas,encontrocomumafiguraescurachegandoeparo.Umdoshomens,Sergei,paraeolhaparamimabruptamente.

“Quediabosvocêestáfazendo?”Eleolhaparamim.

Mas eu não respondo. Balançando rapidamente em volta dele, eu corro para baixo o resto daescada.Eleimediatamentecontinuaatéopróximoandar,seuritmomaisurgente.Eleestáindochamarmeupai.

Euentronacozinha, vendoMarinanapia.Ela viraa cabeça, osolhosarregaladosde surpresa."Ei."

Vouatéaportadetrás,meatrapalhandocomasgaiolasnasminhasmãosconformeabro.

“Vamos,”eudigoaela.“Vocêvemcomigo.”

“Oque?”

Viroacabeça.“Nãotemostempoparadiscutir.Eunãovoudeixarvocêaqui.”

Commeupaiouesteshomens.

Elalimpaasmãosnoavental,confusãoportodoorosto.“Eunãopossosair.”

“Vocêpode,”euinsisto."Vocêpodevircomigo.Nesseminuto.Vocêquer?"

Elaabreaboca,masaspalavrasnãosaem.Seusolhoscorremparabaixo,depoisparacima,eeununcaviseuolharmaisconflituosoenquantoprocuraemvoltadelacomoseissofosselhedararespostaqueprecisa.

Masentãoelapiscaerespirafundo,arrancandooavental.Eusorrio.

Nóscorremosparaforadacasa,deixandoaportaaberta,eeuolhoparatercertezaqueocarrodoWillaindaestálogoapósafileiradeárvores.Eleacendeosfaróis.

“Quediabosvocêpensaqueestáfazendo?”Umgritomepegapelapartedetrás.

Paro,apertandoosolhosfechados.Porra.

EuouçoumaportadecarrobatereabromeusolhosparaverWillforadoseucarroecaminhandorapidamenteatéaqui.

OlhoparaMarina.“Entrenojipe.”

Elaassentecomacabeçaecaminhaemfrente,semolharparatrás.

Euviro.Meupaiestáempédecalçapretaesemcamisa,comcercadequatrohomensatrásdele.Eleestádisfarçandoseugrunhido,maseuaindapossoperceberisso.

“Arrumeumacozinheiranova,”eudigoaele,apertandoosfaunariums.“Enãoarrumemaiscães.Souextremamentedifícildetratar.”

Eleriamargamente.Eentãoavançanaminhadireção,seushomensficamparatrás.

“Vocênãovailevarminhamerda,”elerosnabaixo.

Eulevantomeuqueixo.“Consideremeupacotededesligamento,”eudigo.“Efiquegratoquenãoestoupegandomaiscomopagamentoparamanteraminhabocafechadasobretudooqueaconteceaqui.”

Seuolharseestreitaemmim.Elesabedoqueécapaz,eelesabequeeusei.Masmeupaiéumhomeminteligente,eelesabequeeunãoestoumaissozinha.Valeapenaadordecabeça?

Umsorrisodoentecurvaseuslábios.“EuouvisobreoepisódionacasadoKainanoitepassada,”dizele,mordendocadapalavra.“Digaaoseuirmãoqueeuquerovê-lo.Esevocênãoconseguirmanterelecomportadodeagoraemdiante,euvoutê-loamarradoearrastadoatéaBlackchurch.Semhesitação.”

Eucerroosdentes.Damonsaiudaprisãomuitomaisrancorosoedistanciadodarealidadedoquejamaisesteve.Asúltimaslinhasdetudooqueeuamavasobreeleestãoenfraquecendo.Blackchurchfaria

deleumanimal.

“Eletemmaisumachance,”meupaiameaça.Eentãoeleinclinaacabeçaparamim.“Mastalvezissoésóoqueeleprecisa.Umano,oucinco,parapensarnaqueletemperamentodele.”

Raivaderramadentroeforadosmeuspulmões,eeuolhoparaomeupai.

“Eseissoacontecer...”eleseaproxima,baixandoavoz.“Estáabertaatemporadadecaçaavocêesuanovapequenaequipe.Agoradêoforadaminhapropriedade.”

Eu recuo, semhesitar e sem tirar os olhos de nenhumdeles. É estranho eleme deixar fora doganchoesimplesmentesair,tendolevadoamelhorsobreele,maseletemproblemassuficientes.EletemDamonparasepreocupar.

CorrendoparaoWill,empurromeucotovelonele,enósdoisandamos,subindoemnossoscarroseacelerandoparafora.

Eumantenhomeusolhosnoespelhoretrovisortodoocaminhoparacasa.

"Quediabos?"

OuçoKaigritareestremeço.

Batendoaportadocarro,eumeviroparavê-lo,David,eLevvindoatravésdolimiardacasaeportodoocaminhodecascalhoemdireçãoanós.

“Vocêestámorto.”KaiapontaparaWill.

"Calma,cara.Droga.”Willabreapartedetrásdojipe.“Elaésuagarota.Nãoéminha."

Quatro dos nove cães pulam da parte de trás do jipe de Kai, e eu tento proteger os pequenosfaunariumsatrásdemim,masnãoadianta.Kaiestreitaosolhossobreoscãese,emseguida,eleparaseuolharàminhadireitaondeMarinacontornaafrentedocarro.

“O que é isso?” Ele fala para mim. Então seus olhos caem para as cobras, ficando aindamaisalarmados.

“FomosatéoGabriel,”eudigoaele.“Eeu,hum...eupegueialgunscães?”

“VocêfoiatéoGabriel?”Seutomsoacomoseeuestivesseemumgrandeproblema.“Vocêescapoulogoapósaconversaquetivemossobrelealdadeehonestidadee...”

“Eeuprecisavafazerissosozinha,”euointerrompo.“Nãoécomo'Ei,aquiéomeuhomem,eelevai lutarcomvocêsevocêmemachucar,entãorecue!'Euprecisavaencará-loporcontaprópria.Estoubem.Veja?"

Ele cruza os braços sobre o peito. Seus bíceps flexionam, esticando a camiseta preta, e meuestômagovira.

Limpoagarganta.“Eunãovouvoltar.Euprometo.Eusóprecisavaresolverisso.”

Asrugasentreseusolhosficammaisprofundas.Euseiqueelenãoestáloucoporqueeuenfrenteimeupai.Kainãometratacomoumaflor frágil.Euachoqueeleestácomraivaqueeufuisemele,noentanto,eeuentendoisso.Euficarialoucatambém.

MastambémseiqueeleteriatomadoadianteiraeentradopormimseelenãogostassedoqueGabrielmedissesseoucomoeleolhasseparamim.Euprecisavafazerissosozinha.

OuçobarulhoatravésdasrochaseofegantevirominhacabeçaparaverWillsairdeentreoscarroscomorestodosanimais.Porém,elesestãofazendoumtrabalhomelhorpuxando-o.

“Novecães?”Kaisolta,fixandooolharemmim.“Elesnãovãoficaraqui.”

“Claroquenão,”eudigo,tentandoparecerinocente.“Vouligarparaoabrigoquandoabrirememumahora.”

“Oupodemosmantê-los,”Willsugere.“Querodizer,olheparaestemerda.Eleestátremendo.”

Eeleabaixa-separapegarobeagle,opequenosecontorcendo,porqueestátãonervoso.

Kaiparececonfuso.Eentãoelemedáumolhardeadvertência.“Baby,eugostodetranquilidade.Vocêsabedisso.”

“Totalmente.” Aceno com a cabeça, tentando tirar o sorriso domeu rosto. “Eu quero dizer queestiveramemgaiolasassuasvidastodas.Eupoderiamantê-losnaoutracasaporalgunsdias,também?Talvezengordá-los?Antesdoabrigosimplesmentejoga-losemmaisgaiolas,certo?”

“Sim,elespoderiamfazer issocomumpoucodemimo,”acrescentaWill. “Vamosapenasmantê-los.”

“Oh, meu Deus,” Kai resmunga, virando as costas para a casa e balançando a cabeça. “Novecães...”

Eudobromeuslábiosentreosdentesparanãorir.

Entregando rapidamente as gaiolas para Marina, eu sigo Kai. “Oh, e eu meio que trouxe acozinheiradeGabriel,”eudigo,tropeçandoatéele.“Nóspodemosusá-la,certo?”

“Sim, tudobem, foda-se,queseja.”Eleentranacasaecomeçaa subirasescadas. “Traga todomundo.Asportasestãoabertas.Porquediabosnão?”

Eubufoatrásdele,nãoperdendoseusarcasmo.Eleestásedesarmando,eeuadoro.Estaéanossavida,afinaldecontas,epodemostropeçarumnooutroporumtempoainda,masnãosomospessoasqueestãobemcomfalhastambém.Nósdaremosumjeito.

“Oh,emaisumacoisa.”Eucorro,alcançandoeleepulandoparacimanaescadaemcimadele.Eleparanocaminho,deixandoescaparoutrosuspiro.“Euachoquepossochorar.”

Eutentonãorir.Opobrerapazteveosuficienteparaumamanhã.

Olhoparaseuslábioseombroslargosecabelosperfeitosemeinclino,desejoaquecendoaminhapele.

Passandoosbraçosemvoltadopescoçodeleepressionandoomeucorpoaoseu,euacaricioseuslábioscomosmeus,sentindo-oestremecer.

Eeusussurro,“Euaindaprecisodaquelebanho.”

Entãoeupegoamãodele,pegandooolharquenteemseusolhos,elevo-oparacima.

Epílogo

Gramacobreaterramaciaconformeeleandacalmamenteatravésdaslápides.Ummardelotesrepousa,sobreumacolinaàesquerdaeatrásdele,estendendo-setantoquantoelepodever.Érealmenteolugarmaiscalmoqueelejáesteve.

As pessoas ficam quietas aqui. Expressões solenes são tão esperadas como as irritadas, e falarconsigomesmoéperfeitamenteaceitávelemumcemitério.Noentanto,elepodegritaragoraeninguémnotaria.Ninguémmaisestáaqui.

Eleolhaparaaluacheia,vendoobrilhodeumanelcircundando-aelançandosualuzfracasobreaterra.A lápidedegranitoqueeleprocuraapareceàfrente,eeleseaproximadela,umcalorcrescentecorrendoemsuasveiasquandoelecerraseusdedosfrios.

Parando,eledeixaseusolhoscaíremsobreomarcadore,emseguida,paraseussapatoseaterraondeelesestãoempé.Eoqueestáporbaixo.

Elefechaosolhos,deixandotudoenvolvê-lo.

Todomundoachaqueeleédesumano.Incapazdesentir.Resistenteàemoção.Doente.Indisposto.Umamáquina.

Não.

Elesentetudo.Elenuncaevitaumaemoção.Nenhuma.Elesabequedeixá-lacorreroseucursoéaúnicamaneiradeselivrardela.

Vergonha.

Medo.

Raiva.

Amor.

Preocupação.

Tristeza.

Traição.

Culpa.

Eleédonodecadauma.

Ela afunda através de suas pálpebras e em seus pulmões através do ar fresco, enchendo-seconformelágrimassaltamportrásdosseusolhos.

Maselenãochora.

Elalogocorreparabaixopelosbraçosecantarolaatravésdeseusdedos,antesdeafundaremseuestômago,osnósapertadosvirandotijolosedepoissemoldandoaele,tornando-separtedele.Elasestãolá.Elassãodele.

Eentãotudoficamaissuave,vibrandoporsuavirilhaeparabaixodesuaslongaspernaseatravésdeseuspés,cimentando-oaochão.

Euestouaqui.Soueu.

Estesoueu.

Eleabreosolhoseolhaparaalápide.Enãosentemaisnada.

Puxandoseumaçodecigarrosdobolso,eletiraumforaebateapontadelenalata.Eleoprendeentreos lábioseenfiaamãonobolsodas suascalçasparao isqueiro.Acendendoaponta,ele inalaesopraafumaça,colocandotudodevoltanobolsonovamente.

Eledáoutratragadae,emseguida,puxaocigarrodaboca.“Vocêpodeagradecerairmãzinhaporisso,”eledizàlápide.“Foiideiadela.”

Banksétãointeligentequantoele.Seaomenoselafossetãoleal.

“Poderiatersidodeoutrasmaneiras,”dizeleparaasepultura.“Formasmaislimpas.”

Eledáoutratragada,osabormisturadocomoarfriocomumgostobomemsualíngua.

“Asuniversidadesusamdigestoresindustriaisparaselivrardecadáveres,”continuaele,sentindo-sedivertido.“Elesparecemenormespanelasdepressão.Vocêmisturatrezentoslitrosdeáguacomumpoucodesodacáusticaecozinhaatéestarnatemperaturaeconsistênciacerta.Umcorpopodedissolverem questão de horas.” Ele dá outra tragada, beliscando entre os dedos. “E então você pode apenas...despejarocorponoralo.Acabou.Nada."

Oventoaumenta,farfalhandonasárvores.

“Maselenãodissolvertudo, infelizmente.Algunspedaçosdeossoedentessobrevivem,por issoeles têm de ser esmagados,” ele continua. “Agora, ácido sulfúrico, emboramais perigoso do que sodacáustica,podedissolvercompletamenterestoshumanos.Adesvantageméquelevamaistempo.Cercadedoisdias.”Elebalançaacabeça,deixandocairocigarrosobrealápideepisandocomseusapato.“Eissoéinconveniente.”

ElementiuparaKai.Ocorpodesuamãenãofoiembora.Estáamenosdecincoquilômetrosdesuascasas.

AquimesmoemThunderBay.

Talvezeledevesseterselivradodele.

“Eusimplesmentenãopoderiafazê-lo,noentanto.”Seusolhoscaemsobrealápide,suarespiraçãoficando rasa e sua voz ficando baixa. “Eu quero que você exista,” ele sussurra. “Eu não quero nuncaesquecerqueomundoéumlugarruim,quevocêerareal,equeacadadiavocêestáapodrecendosobmeuspés.”

Eleapertaamandíbulaeinclinaoqueixoparacima,tentandosesentirmaisalto.Lembrandooprazerdeenterrarelanestasepulturaenãotomandoqualquercuidadodecolocarseucorpoouenvolvê-locontraoselementos.

Abrindoabraguilha,tiraapartefavoritadeleparaelaeolhaparaapedraconformeelefazxixiportodoochão.

Elenãovoltaránovamente.Eleacaboucomela.

Mas há um outro que ainda merece muito o que está vindo para ela e que ainda precisa sertratada.Elaéapróxima.

Finalizando, ele coloca-se de volta em suas calças e fecha de novo, dando uma última, longaolhada.

“Ei,”alguémgritaatrásdele.“Ocemitérioestáfechado.Oquevocêestáfazendoaqui?”

Umzelador.

Eleexalaumsuspiro,semsevirar.“Sópagandomeusrespeitosàminhamãe.”

O brilho de uma lanterna atrás dele acende na lápide na frente dele. "Suamãe?Mas esse é otúmulodeEdwardMcClanahan.”

“Ah,é?”Dizele,segurandoosorriso.

Eleouveospassosdohomemchegaremmaisperto.“Sevocêvoltarnapartedamanhã,eupossoajudá-loaencontraralápidedasuamãe.Qualéonomedela?"

Mas ele apenas balança a cabeça. “Não, está tudo bem. Eu vou estar bastante ocupado depoisdestanoite.”Eelevira,encontrandoosolhoscastanhosdohomemsobsobrancelhasgrisalhas."Euvouembora.FelizDiadasBruxas."

Eentãoeleseafasta,evoltapelocaminhoqueveio.

“Sim,você,também,”oguardagritaparaele.

Defato.

Notas[←1]

DojoouDojôéolocalondesetreinamartesmarciaisjaponesas.

[←2]Shinaiéumaarmausadaparapráticaecompetiçãoemkendorepresentandoumaespadajaponesa

[←3]Devil'sNightéumnomeassociadocom30deoutubro,anoiteanterioraoHalloween.Estárelacionadocoma"Noitedemalícia"praticadaempartesdosEstadosUnidos,masestáprincipalmenteassociadaaosériovandalismoeincêndioocorridoemDetroit,Michigan,desdeadécadade1970atéadécadade1990.

[←4]Tipodeflorroxa

[←5]HowardRobardHughesJr.-foiummagnatadenegóciosamericano.Elesetornouconhecidoporseucomportamentoexcêntricoeestilodevidarecluso–atitudesestranhasqueforamcausadasemparteporumagravamentodotranstornoobsessivo-compulsivo(TOC).

[←6]Marcadecigarros.

[←7]Gíriausadaparadescreverdeformadepreciativaumapessoaasiática,descrevendoainclinaçãodosseusolhos.

[←8]Eminglêsbrincandocomapalavraabacate.

[←9]Cortedecabelo.

[←10]Caixasparatransportarrépteis