1669) O Brasil e a América do Sul: Mercosul e Alca: uma avaliação dos resultados alcançados no...

41
O Brasil e a América do Sul. Mercosul e Alca. uma avaliação dos resultados alcançados no período recente Palestra no curso preparatório Palestra no curso preparatório Carreira Diplomática Carreira Diplomática Brasília, 30 de setembro de 2006 Paulo Roberto de Almeida Paulo Roberto de Almeida ([email protected] ; www.pralmeida.org ) Uniceub, Brasília; diplomata de carreira.

Transcript of 1669) O Brasil e a América do Sul: Mercosul e Alca: uma avaliação dos resultados alcançados no...

O Brasil e a América do Sul. Mercosul e Alca.uma avaliação dos

resultados alcançados no período recente

Palestra no curso preparatórioPalestra no curso preparatórioCarreira DiplomáticaCarreira DiplomáticaBrasília, 30 de setembro de 2006

Paulo Roberto de AlmeidaPaulo Roberto de Almeida([email protected]; www.pralmeida.org)

Uniceub, Brasília; diplomata de carreira.

Mini-bibliografia do autor sobre o tema, 1:

-Uma nova ‘arquitetura’ diplomática?: Interpretações divergentes sobre a política externa do Governo Lula (2003-2006). Revista Brasileira de Política Internacional (Brasília, a. 49, n. 1, 2006, p. 95-116).

- Uma política externa engajada: a diplomacia do governo Lula. Revista Brasileira de Política Internacional (Brasília, a. 47, n. 1, 2004, p. 162-184).

- A política internacional do Partido dos Trabalhadores: da fundação do partido à diplomacia do governo Lula. Sociologia e Política (Curitiba, n. 20, 2003, p. 87-102).

Acesso: www.pralmeida.org

Mini-bibliografia do autor sobre o tema, 2:

- América do Sul: desintegração política e fragmentação econômica, Carta Internacional (São Paulo: vol. 1, n. 2, julho 2006, p. 6-10).

- Problemas conjunturais e estruturais da integração na América do Sul: a trajetória do Mercosul desde suas origens até 2006. Meridiano 47 (Brasília, n. 68, março 2006, p. 4-9).

- Políticas de Integração Regional no Governo Lula, Política Internacional (Lisboa, Portugal: nº 29, II série, dezembro 2005, p. 33-60).

- América Latina: novo rumo na direção da esquerda?, Carta Internacional (São Paulo: Nupri-Usp, ano 1, nº 1, março 2006, p. 3-4).

Acesso: www.pralmeida.org

América do Sul: o grande América do Sul: o grande objetivo da política objetivo da política externa de Lula: externa de Lula:

““A grande prioridade da política A grande prioridade da política externa durante o meu governo externa durante o meu governo será a será a construção de uma construção de uma América do SulAmérica do Sul politicamente politicamente estável, próspera e unida, com estável, próspera e unida, com base em ideais democráticos e base em ideais democráticos e de justiça socialde justiça social..””

Fonte: Discurso de posse de Lula, dia 1º de janeiro de 2003

Reforço do Mercosul…Reforço do Mercosul… ““Para isso é essencial uma ação Para isso é essencial uma ação

decidida de decidida de revitalização do revitalização do MercosulMercosul, enfraquecido pelas , enfraquecido pelas crisescrises de cada um de seus de cada um de seus membros e por membros e por visõesvisões muitas muitas vezes vezes estreitasestreitas e egoístase egoístas do do significado da integraçãosignificado da integração..””

Fonte: Discurso de posse de Lula, dia 1º de janeiro de 2003

...a partir de sua ...a partir de sua reconstrução..reconstrução....

““O Mercosul, assim como a O Mercosul, assim como a integração da América do Sul integração da América do Sul em seu conjunto, é sobretudo em seu conjunto, é sobretudo um um projeto políticoprojeto político. Mas esse . Mas esse projeto repousa em projeto repousa em alicerces alicerces econômico-comerciaiseconômico-comerciais que que precisam ser urgentemente precisam ser urgentemente reparados e reparados e reforçadosreforçados..””

Fonte: Discurso de posse de Lula, dia 1º de janeiro de 2003

……e ampliado para novas e ampliado para novas áreas: áreas:

““Cuidaremos também das Cuidaremos também das dimensõesdimensões socialsocial, , culturalcultural e e científico-tecnológica do processo científico-tecnológica do processo de integração. Estimularemos de integração. Estimularemos empreendimentos conjuntos e empreendimentos conjuntos e fomentaremos um vivo fomentaremos um vivo intercâmbio intelectual e artístico intercâmbio intelectual e artístico entre os países sul-americanos.entre os países sul-americanos.””

Fonte: Discurso de posse de Lula, dia 1º de janeiro de 2003

Liderança brasileira na Liderança brasileira na região? região? (1)(1): :

““Apoiaremos os arranjos Apoiaremos os arranjos institucionaisinstitucionais necessários, necessários, para que possa florescer uma para que possa florescer uma verdadeira identidadeverdadeira identidade do do Mercosul e da América do Sul. Mercosul e da América do Sul. Vários dos nossos vizinhos Vários dos nossos vizinhos vivem hoje situações difíceis.vivem hoje situações difíceis.””

Fonte: Discurso de posse de Lula, dia 1º de janeiro de 2003

Liderança brasileira na Liderança brasileira na região? região? (2)(2): :

““ContribuiremosContribuiremos, desde que , desde que chamados e na medida de nossas chamados e na medida de nossas possibilidades, para encontrar possibilidades, para encontrar soluções pacíficas para tais soluções pacíficas para tais crisescrises, com base no diálogo, nos , com base no diálogo, nos preceitos democráticos e nas preceitos democráticos e nas normas constitucionais de cada normas constitucionais de cada país.país.””

Fonte: Discurso de posse de Lula, dia 1º de janeiro de 2003

Liderança brasileira na Liderança brasileira na região? região? (3)(3): :

““O mesmo empenho de O mesmo empenho de cooperação concreta e de cooperação concreta e de diálogos substantivos diálogos substantivos teremos teremos com todos os países com todos os países da América Latinada América Latina..””

Fonte: Discurso de posse de Lula, dia 1º de janeiro de 2003

Outros objetivos setoriais da Outros objetivos setoriais da diplomacia:diplomacia:

““Procuraremos terProcuraremos ter com os com os Estados Estados UnidosUnidos da América uma parceria da América uma parceria madura, madura, com base nocom base no interesse interesse recíproco e no respeito mútuorecíproco e no respeito mútuo. . Trataremos de fortalecerTrataremos de fortalecer o o entendimento e a cooperação com entendimento e a cooperação com a a União EuropéiaUnião Européia e os seus Estados- e os seus Estados-Membros, bem como com outros Membros, bem como com outros importantes países desenvolvidos, importantes países desenvolvidos, a exemplo do a exemplo do JapãoJapão..””

Fonte: Discurso de posse de Lula, dia 1º de janeiro de 2003

Os grandes “parceiros Os grandes “parceiros estratégicos”... estratégicos”...

““Aprofundaremos as relações Aprofundaremos as relações com com grandes nações em grandes nações em desenvolvimentodesenvolvimento: a China, a : a China, a ÍndiaÍndia, a , a RússiaRússia, a , a África do África do SulSul, entre outros, entre outros ..””

Fonte: Discurso de posse de Lula, dia 1º de janeiro de 2003

...e uma opção “idealista”: ...e uma opção “idealista”:

““Reafirmamos os Reafirmamos os laços profundoslaços profundos que nos unem a que nos unem a todo o continente todo o continente africanoafricano e a nossa disposição de e a nossa disposição de contribuir ativamentecontribuir ativamente para que para que ele desenvolva as suas enormes ele desenvolva as suas enormes potencialidadespotencialidades ..””

Fonte: Discurso de posse de Lula, dia 1º de janeiro de 2003

Confirmação do Confirmação do multilateralismo...multilateralismo...

““Visamos não só a explorar os Visamos não só a explorar os benefícios potenciais de um maior benefícios potenciais de um maior intercâmbio econômicointercâmbio econômico e de uma e de uma presença maior do Brasil no presença maior do Brasil no mercado internacionalmercado internacional, mas , mas também a estimular os incipientes também a estimular os incipientes elementos de elementos de multipolaridademultipolaridade da da vida internacional vida internacional contemporânea.contemporânea.””

Fonte: Discurso de posse de Lula, dia 1º de janeiro de 2003

...contra a arrogância ...contra a arrogância imperial:imperial:

““A A democratização das relações democratização das relações internacionaisinternacionais sem hegemoniassem hegemonias de qualquer espécie é tão de qualquer espécie é tão importante para o futuro da importante para o futuro da humanidade quanto a consolidação humanidade quanto a consolidação e o desenvolvimento da democracia e o desenvolvimento da democracia no interior de cada Estadono interior de cada Estado ..””

Fonte: Discurso de posse de Lula, dia 1º de janeiro de 2003

Chega-se ao tema da ONU...Chega-se ao tema da ONU...

““Vamos Vamos valorizar as valorizar as organizações organizações multilateraismultilaterais, em especial , em especial as Nações Unidas, a quem as Nações Unidas, a quem cabe a cabe a primazia na primazia na preservação da paz e da preservação da paz e da segurança internacionaissegurança internacionais..””

Fonte: Discurso de posse de Lula, dia 1º de janeiro de 2003

...com a reafirmação de velhos ...com a reafirmação de velhos princípios...princípios...

““As As resoluçõesresoluções do Conselho de do Conselho de Segurança Segurança devem ser fielmente devem ser fielmente cumpridascumpridas. Crises internacionais . Crises internacionais como a do Oriente Médio devem como a do Oriente Médio devem ser resolvidas por ser resolvidas por meios meios pacíficospacíficos e pela e pela negociaçãonegociação..””

Fonte: Discurso de posse de Lula, dia 1º de janeiro de 2003

...para desembocar na questão do ...para desembocar na questão do Conselho:Conselho:

““Defenderemos um Conselho de Defenderemos um Conselho de Segurança Segurança reformadoreformado, , representativorepresentativo da realidade da realidade contemporânea com contemporânea com países países desenvolvidos e em desenvolvimento desenvolvidos e em desenvolvimento das várias regiões do mundodas várias regiões do mundo entre entre os seus membros permanentesos seus membros permanentes ..””

Fonte: Discurso de posse de Lula, dia 1º de janeiro de 2003

Uma volta aos princípios Uma volta aos princípios tradicionais...tradicionais...

““Enfrentaremos os desafios da Enfrentaremos os desafios da hora atual como o hora atual como o terrorismoterrorismo e o e o crime organizadocrime organizado, , valendo-nos da valendo-nos da cooperação cooperação internacionalinternacional e com base nos e com base nos princípios do princípios do multilateralismomultilateralismo e do e do direito internacionaldireito internacional..””

Fonte: Discurso de posse de Lula, dia 1º de janeiro de 2003

...e a crença no papel relevante ...e a crença no papel relevante da ONU:da ONU:

““Apoiaremos os esforços para tornar Apoiaremos os esforços para tornar a ONU e suas agências a ONU e suas agências instrumentos ágeis e eficazes da instrumentos ágeis e eficazes da promoção do desenvolvimento promoção do desenvolvimento social e econômicosocial e econômico do do combate à combate à pobrezapobreza, às , às desigualdadesdesigualdades e a e a todas as formas de todas as formas de discriminaçãodiscriminação da defesa dos da defesa dos direitos humanosdireitos humanos e e da preservação do da preservação do meio meio ambientalambiental..””

Fonte: Discurso de posse de Lula, dia 1º de janeiro de 2003

Que síntese é possível Que síntese é possível fazer?fazer?

O que poderia ser dito dos O que poderia ser dito dos grandes grandes objetivosobjetivos do governo Lula em do governo Lula em matéria de política externa, e matéria de política externa, e quais são seus quais são seus resultados práticosresultados práticos, , nestes três anos e meio de intensa nestes três anos e meio de intensa presença no cenário internacional, presença no cenário internacional, uma “uma “diplomacia altiva e ativadiplomacia altiva e ativa”, ”, como a classificou o chanceler?como a classificou o chanceler?

Iniciativas diplomáticas do Governo Lula:

avaliação a partir dos objetivos proclamados1. Multilateralismo e “nova relação de forças” no plano mundial

2. Organização das Nações Unidas: ingresso no Conselho de Segurança

3. Globalização e volatilidade financeira internacional 4. OMC e negociações comerciais multilaterais 5. Relações Sul-Sul - países em desenvolvimento6. Crises financeiras e acordos com o FMI7. Brasil como “líder” regional e mundial8. O Mercosul e a inserção internacional do Brasil, 1 e 29. Relações com a Argentina10. Comunidade Sul-Americana de Nações, 1 e 211. Relações com a União Européia12. Relações com os Estados Unidos13. Negociações em torno de uma Alca, 1 e 214. O papel do instrumento diplomático15. Síntese: presença soberana no mundo e forte integração

continental

1. Multilateralismo e nova “relação de forças” no mundo

Iniciativas diplomáticas:

Avaliação preliminar:

1) Forte ênfase no sistema político multilateral;2) Reafirmação

tradicional da soberania nacional;

3) Ênfase na igualdade soberana dos países (Rui

Barbosa);4) Busca de uma “mudança

no eixo do poder mundial”;

5) Persegue uma estratégia de alianças estratégicas com algumas

potências médias e outras nações emergentes de postura independente.

1) Multilateralismo é ineficaz para vários problemas mundiais;2) Mundo atual é caracterizado pela interdependência

efetiva;3) Alguns se acham “mais

iguais” que outros, inclusive o Brasil;4) Resulta mais da

relevância do país, do que da sua vontade;

5) O sistema mundial é hoje mais diversificado

e os interesses nacionais nem sempre são coincidentes, sobretudo na esfera econômica.

2. Conselho de Segurança das Nações UnidasIniciativas

diplomáticas:Avaliação preliminar:

1) Enorme prioridade à conquista de uma cadeira permanente, com gestão

direta e perdão de dívidas bilaterais;

2) Multiplicação de apoios à pretensão, inclusive de

membros do CSNU;3) Contrapartida:

necessidade de o País assumir novas e maiores

responsabilidades, em termos de segurança, de assistência humanitária e de cooperação ao desenvolvimento de países

pobres;4) Maiores encargos

financeiros, humanos e diplomáticos;

5) Grandes investimentos político-diplomáticos (G-4)

e frustração pela não-reforma e o impasse criado.

1) Pedidos de apoio já revelam problema de

representatividade e de legitimidade da demanda;2) Os apoios manifestados foram meramente retóricos;3) Dificuldades: o Brasil não tem “excedentes de

poder”, em termos de forças militares, e solidez

econômica e financeira para cooperação técnica

internacional, além de ainda manter o status de “país em

desenvolvimento”;4) Dificuldades fiscais previsíveis, agora e no

futuro, para essa expansão;5) Situação de impasse deve

persistir pelo futuro previsível, no plano

regional e entre as grandes potências (in e out).

3. Globalização e volatilidade financeira internacional

Iniciativas diplomáticas:

Avaliação preliminar:

1) No início: adesão irrestrita às teses do Foro Social Mundial: “um outro

mundo é possível”;2) “Ponte” entre Porto

Alegre e Davos: diálogo com os dois mundos, os

alternativos de Porto Alegre e os capitalistas de Davos;

3) Combate à fome e a pobreza mundial: taxas sobre os fluxos de capitais e o comércio internacional de

armas;4) Recusa explícita do chamado “consenso de Washington”: proposta Brasil-Argentina de um

“consenso de Buenos Aires”, aberto aos países da região

e do mundo;

1) No terceiro Ano: “por um mundo mais justo”: ou seja, o

atual é aceitável, com alguns ajustes solidários;

2) Contradições da “quadratura do círculo”: na

prática, os antiglobalizadores não têm nada de concreto e factível

a propor; 3) Pouco sucesso no “fome zero mundial”: apenas uma taxa, nacional e de adesão

voluntária, sobre as passagens aéreas, para remédios anti-Aids;

4) Maior parte dos países adere implicitamente ao “consenso de Washington; aceitação inexistente ou

nula do “consenso de Buenos Aires” por outros países:

teses vagas;

4. OMC e negociações comerciais multilaterais

Iniciativas diplomáticas:

Avaliação preliminar:

1) Ativismo diplomático: formação do G-20, em Cancun (setembro de 2003): fim dos subsídios internos e das

subvenções às exportações de produtos agrícolas;

2) Enfática defesa, na OMC, da soberania econômica nacional e de políticas

nacionais, macroeconômicas e setoriais, para o

desenvolvimento nacional (TRIMs-minus);

3) Ofensivo na demanda de acesso a mercados agrícolas, mas defensivo na abertura e liberalização dos setores industriais, de serviços nacionais e de compras

governamentais.

1) Vitória mais de procedimento do que de substância: interesses

internos dos países membros são algo contraditórios e defensivos; amarra o Brasil a posições menos ofensivas

da China e da Índia;2) Fraco entendimento

nacional sobre o que são políticas nacionais e

setoriais de desenvolvimento:

inconsistências temporais e substantivas na definição de

políticas adequadas ao momento;

3) Necessidade de maior equilíbrio negociador e construção de consenso interno em favor de nova

abertura e de liberalização progressiva da política comercial externa.

5. Relações Sul-Sul - países em desenvolvimento

Iniciativas diplomáticas:

Avaliação preliminar:

1) Grande arco de alianças estratégicas: China, Índia,

Rússia, África do Sul;2) Formação do G-3 ou IBAS

(com África do Sul e Índia);3) Concertação política,

econômica e até “estratégica” com a China e

a Rússia;4) Tentativa de coordenação política, além do desejo de

aprofundar os laços econômicos, tecnológicos e de cooperação técnica em várias regiões: América do Sul, Oriente Médio, África;

5) Política de ativa solidariedade com a África: reconhecimento, em nome da Nação, por “séculos de

tráfico e de escravidão” e pela exclusão interna dos

“afro-brasileiros”.

1) Alianças estratégicas devem estar condicionadas a

interesses nacionais;2) Um formato em busca de

algum conteúdo: qual seria?;3) Diferenciais de poder e de presença internacional dificultam o intento;

4) Sucesso apenas parcial nas iniciativas: os países

adotam uma postura pragmática (e não

principista) na definição de suas propostas e ações

diplomáticas e de cooperação;

5) Dúvidas quanto à consistência histórica e

moral da “dívida para com a África”; sociedade está

dividida: gerações atuais não se sentem responsáveis

pela situação..

6. Crises financeiras e acordos com o FMIIniciativas

diplomáticas:Avaliação preliminar:

1) FMI: um dos principais objetos da demonologia econômica

da esquerda;2) Oposição a qualquer acordo

que “limite a soberania brasileira”;

3) Mudança de postura durante a campanha eleitoral: aceitação relutante (mas desconfiança

silenciosa);4) Postura pragmática do min. da

Fazenda;5) Dificuldade em aprovar, em 2003, a renovação do acordo de

2002;6) Mas, convivência (de má vontade) com esse acordo,

tolerado apenas e tão somente enquanto era indispensável para

o equilíbrio das contas externas;

7) Alívio com a não recondução do acordo com o FMI: em

compensação, foram mantidos os níveis do superávit primário..

1) Inconsistências do “pensamento” econômico da esquerda quanto ao FMI;

2) A “limitação de soberania” se dá por inadimplência, não acordo

com FMI;3) “Tática eleitoral”: depois, assunção de todos os princípios

e práticas de uma gestão econômica responsável;

4) Não havia outra atitude a tomar;

5) Com muita oposição interna e bastante desconforto público;6) O governo promoveu melhoria da situação das contas externas, ajudado em grande medida pela excelente situação da economia

internacional;7) O governo continua praticando

a mais exemplar ortodoxia econômica já operada no Brasil

nas últimas décadas.

7. Brasil como “líder” regional e mundialIniciativas

diplomáticas:Avaliação preliminar:

1) Um dos grandes objetivos políticos, não necessariamente limitado à região, mas podendo

estender-se ao mundo;2) Esse papel deveria ser

conquistado com base no ativismo diplomático e nas alianças estratégicas, com países

selecionados, que estão sendo desenvolvidas;

3) Não parecem existir, a priori, limitações estruturais

(orçamentárias e militares) a essa pretensão à liderança;4) O elemento da liderança aparece nas relações com os vizinhos, mas também com os países africanos e, de modo

geral, para o mundo em desenvolvimento;

5) Na prática, o exercício da liderança é mais difícil do que o antecipado nos discursos para

consumo público.

1) Raramente, em diplomacia, se afirma liderança, mas se espera que ela seja reconhecida, em

bases concretas; 2) A liderança deve resultar de

uma gradual preeminência econômica, na própria região, estendendo-se eventualmente, a

outras regiões;3) Deve haver uma avaliação

clara da limitação dos recursos disponíveis para a ação externa

do Estado;4) Existem limites, derivados da capacidade econômica do Brasil,

a essa liderança, bem como restrições dadas pelas

percepções dos parceiros (Argentina);

5) Na prática, não há disponibilidade de recursos

financeiros, ou sequer militares e diplomáticos, para isso.

8. O Mercosul e a inserção internacional do Brasil (1)

Iniciativas diplomáticas:

Avaliação preliminar:

1) A prioridade mais importante da diplomacia brasileira: importância estratégica do Mercosul para a união da América

do Sul; ampliação;2) Região deveria estar livre de influências “externas” (EUA) e das limitações hegemônicas por ele impostas (Alca);

3) Mercosul como fortaleza defensiva

contra as investidas do império;

1) Determinismos geográficos não são bons

conselheiros para a inserção internacional:

o ideal seria o universalismo sem

restrições;2) Idéia de

exclusividade regional e de supostas ameaças externas não combinam com realidade de um mundo globalizado;3) Mercosul como plataforma para o exercício de uma interdependência

assumida;

8. O Mercosul e a inserção internacional do Brasil (2)

Iniciativas diplomáticas:

Avaliação preliminar:

4) O social e o político assumem precedência no processo de integração;

5) Mercosul buscado não como meio para realizar objetivos de política externa, mas

como fim em si mesmo: Brasil assume custos e

responsabilidades no Mercosul (Argentina e Bolívia, por exemplo);

6) Assimetrias internas tem de ser superadas mediante programas compensatórios, num esquema similar ao dos

fundos europeus de convergência (Brasil paga

70% do custo)..

4) Na ausência de progressos econômicos e comerciais fica

difícil sustentar a integração;

5) A integração e o Mercosul não podem ser fins, em si mesmos, mas servir de base

para objetivos de desenvolvimento nacional.

Brasil não dispõe de recursos suficientes;

6) Assimetrias internas ao Brasil são bem mais importantes do que as

existentes entre os países do Mercosul; estas, de fato,

constituem a base da integração regional (David

Ricardo).

A integração sul-americana não pode ser construída unicamente com base em instituições criadas politicamente, mas sim deve

responder a necessidades concretas da economia.

9. Relações com a ArgentinaIniciativas

diplomáticas:Avaliação preliminar:

1) “O” parceiro estratégico: tolerância excessiva em relação a salvaguardas

contra produtos brasileiros;2) Consultas freqüentes e

busca de posições comuns (na Alca, por ex.);

3) Aceitação preliminar da moeda comum e da união política (criação do

Parlamento do Mercosul);4) “Consenso de Buenos Aires”: mais no plano simbólico do que ações

reais;5) A identidade de posições e a política de compreensão

com as “dificuldades temporárias” deveriam conduzir ao reforço do

Mercosul, à consolidação da união sul-americana e a uma

maior projeção internacional.

1) A “diplomacia da generosidade” foi feita em detrimento dos interesses dos industriais brasileiros

(salvaguardas);2) A coordenação de posições não consegue alcançar todos

os pontos;3) Renúncia de soberania (explícita no projeto da moeda comum) precisa ter justificativa muito forte;

4) Não há muitas alternativas em termos de

políticas econômicas credíveis;

5) Na prática, o Mercosul foi fragilizado pela

inobservância de regras básicas, a Argentina nunca aderiu à tese da América do Sul e vem obstaculizando, tanto quanto possível, o

projeto da cadeira brasileira no CSNU.

10. Comunidade Sul-Americana de Nações (1)Iniciativas

diplomáticas:Avaliação preliminar:

1) “Relações estratégicas” e iniciativas políticas:

visitas a todos e recebimento em Brasília de

todos os chefes de Estado da região;

2) Região é vista como cenário de atuação exclusiva da diplomacia brasileira, em competição com os Estados Unidos; sustentação das

negociações regionais entre a CAN e o Mercosul; idéia da Casa é “vendida” aos sócios

do Mercosul; 3) Liderança proclamada na região recebeu menor carga retórica no segundo ano;

1) Abandono de uma postura tradicionalmente mais discreta na região pode

redundar em resistências que estavam sendo superadas;2) Acordos limitados;

dificuldades para a formação de uma área de livre

comércio (poder de atração dos EUA, que fez rede de

acordos bilaterais); países preferem manter opções

abertas: diferenças de poder e de mercados;

3) Reconhecimento das limitações à liderança regional, inclusive por razões históricas;

10. Comunidade Sul-Americana de Nações (2)Iniciativas

diplomáticas:Avaliação preliminar:

4) Estratégia arriscada nas negociações

hemisféricas da Alca; reintegração de Cuba ao

concerto americano (dificuldades);

5) Esquema da IIRSA parcialmente aceito pelo

governo Lula, que prefere financiamento bilateral pelo BNDES

(limitações de recursos enfrentadas pela diplomacia na

materialização dos projetos concebidos).

4) “Sucesso” na paralisação da Alca representou uma

frustração para os demais países, que

querem ganhar acesso ao mercado EUA;

5) Comunidade não tem estrutura definida;

esquemas de financiamento não são a maior dificuldade, e sim a existência de bons

projetos, com capacidade gerencial para levá-los

a bom termo, o que depende dos países.

Relações com países da região devem partir de : pacificação política e militar dos países vizinhos, estabilidade social e

perspectivas de crescimento econômico na região.

11. Relações com a União EuropéiaIniciativas

diplomáticas:Avaliação preliminar:

1) Atribui à União Europa um papel político compensatório em uma espécie de “aliança estratégica” contra o unilateralismo dos EUA, para uma mudança no

“eixo do poder mundial”;2) Visão de um acordo comercial entre o

Mercosul e a UE como dotado de maiores

benefícios potenciais do que aquele negociado com

os EUA e demais parceiros no âmbito do

projeto da Alca.

1) A Europa permanece basicamente atlantista (OTAN), a despeito de alguns desentendimentos ocasionais com os EUA

(Iraque), e não pretende mudar as “relações de

força” no plano mundial;2) As relações de comércio entre o

Mercosul e a UE são basicamente do tipo Sul-

Norte (produtos primários contra

manufaturados) e os europeus são bem mais protecionistas na área

agrícola.

12. Relações com os Estados UnidosIniciativas

diplomáticas:Avaliação preliminar:

1) Relação importante, mas considerada não essencial

para os objetivos brasileiros;

2) Desacordos são nítidos, tanto políticos quanto

econômicos;3) No plano da política

mundial, se busca concretamente a emergência

da multipolaridade;4) Reciprocidade estrita (revelado no fichamento de turistas americanos);

5) Governo Lula não é anti-americano, mas existem nítidas posturas anti-americanas em diversos

setores da sua base política e social, o que dificulta

novas iniciativas.

1) Na verdade, subsiste uma grande desconfiança, ainda

que se reconheça a importância dos EUA;

2) Parco trabalho conduzido para eliminar ou diminuir os

desacordos.3) Correto, mas

unipolaridade resulta não da vontade própria dos EUA, mas da incapacidade dos demais;4) Concepção equivocada da

reciprocidade (discriminação ilegal);

5) A sociedade brasileira manifesta sentimentos

ambivalentes e contraditórios em relação

aos EUA, feitos de admiração e receio, atração e repulsa.

13. Negociações em torno de uma Alca (1)Iniciativas

diplomáticas:Avaliação preliminar:

1) PT sempre se opôs ao esquema velado de

“dominação imperial”: a Alca seria simplesmente

um “projeto de anexação”;

2) Plebiscito contra a Alca em 2002, com amplo apoio de setores do PT e

de sindicatos identificados com o

partido), mas PT retirou seu patrocínio explícito

(eleições);3) Aceitação relutante do livre-comércio: defesa dos “espaços

nacionais”;

1) As razões não derivavam de uma análise de cunho econômico, mas

de uma ação essencialmente política

e ideológica;2) A oposição continuou plena no âmbito da base social e dos grupos de apoio, se manteve ativa no MRE, mas apoio em outros setores do governo (Fazenda,

Agricultura, MDIC); 3) De fato se buscou

diversificar o comércio no Sul, para não ser “dependente” do Norte;

13. Negociações em torno de uma Alca (2)Iniciativas

diplomáticas:Avaliação preliminar:

4) Barganha ainda mais dura na mesa de

negociações: impasses negociais ao longo de 2003 (ministerial de

Miami) e início de 2004: Alca parou em Mar del

Plata (2005);5) “Interesse nacional”

e desvantagens da liberalização comercial

assimétrica;6) Minilateralismo e

liberalização à la carte: de fato, a Alca

“aladizou-se”; EUA se lançam à construção de sua rede de acordos.

4) Ação contra a Alca feita no interior do processo negocial, com

base em novos requerimentos para alcançar resultados: “três vias”, “Alca

light” ou “à la carte”;5) Não há acordo sobre o interesse nacional e

sobre eventuais resultados da liberalização;

6) Qualquer progresso depende de progresso na

Rodada Doha (OMC); Brasil ficou sem maiores

opções de acesso a mercados.

14. O papel do instrumento diplomáticoIniciativas

diplomáticas:Avaliação preliminar:

1) Itamaraty divide a formulação e execução da política externa com assessores presidenciais (partidários) e outros atores escolhidos de forma ad hoc;2) Diplomacia presidencial

implícita (conceito recusado por sua identificação com a administração anterior);

3) Coordenação política com países em desenvolvimento e “alianças estratégicas” com

alguns deles: oferta partiu do Brasil, que assumiu custos pela

iniciativa;4) Liderança regional e internacional para mudar

substantivamente o mundo, e implantar uma “nova geografia

comercial”;5) Participação no mundo

globalizado, com preservação da soberania nacional.

1) Questão da unidade conceitual e da uniformidade de concepção,

formulação e execução da política externa, problema do discurso unificado em temas

sensíveis;2) Grande ativismo do chefe de

Estado gera o problema da instância política de recuo ou

de retificação das ações empreendidas;

3) Em diplomacia, posturas adotadas a priori podem não ser adequadas, uma vez que se deve preservar flexibilidade na ação;

unilateralismo não correspondido;

4) A implementação das mudanças não depende apenas do discurso diplomático, mas de condições de

influência e de ação;5) A soberania se defende com

maior participação na interdependência global.

15. Uma tentativa de síntese: presença soberana no mundo e forte integração continental

Objetivos proclamados:

Questões a ponderar:

Objetivo 1:Inserção soberana:

crescimento da importância do Brasil no cenário

internacional, mas preservação dos espaços de formulação e

execução de políticas nacionais de desenvolvimento.

Objetivo 2:Reforço da integração na

América do Sul: consolidação do Mercosul, ampliação a novos

membros e formação de um grande espaço integrado na

América do Sul e de coordenação de políticas dos países da região, no âmbito da

Casa, com perspectiva exclusiva à região.

Ponderação 1:Tentativa de construção de um “capitalismo nacional” pode

ser uma “tarefa de Sísifo” nas condições da interdependência global; países mais inseridos lograram resultados positivos.

Ponderação 2:Processos discriminatórios e

“minilateralistas”, como os de integração, apresentam custos econômicos (desvio de comércio e investimentos) e não podem ser considerados como um fim

em si; desenhar processo excludente em relação aos EUA é contraproducente e inócuo.

Obrigado !Obrigado !

Brasília, 30 de setembro de 2006

Paulo Roberto de Almeida

www.pralmeida.org