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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS SIMEY DE LIMA LOPES RODRIGUES RECUSA PARA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS NA PERSPECTIVA DA FAMÍLIA CAMPINAS 2019

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

SIMEY DE LIMA LOPES RODRIGUES

RECUSA PARA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS NA PERSPECTIVA DA

FAMÍLIA

CAMPINAS

2019

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SIMEY DE LIMA LOPES RODRIGUES

RECUSA PARA DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS NA PERSPECTIVA DA

FAMÍLIA

Tese apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da

Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos

exigidos para a obtenção do título de Doutora em Ciências.

ORIENTADORA: ILKA DE FÁTIMA SANTANA FERREIRA BOIN

Este exemplar corresponde à versão final da Tese

defendida pela aluna Simey de Lima Lopes Rodrigues,

orientada pela Profa. Dra. Ilka de Fátima Ferreira

Santana Boin.

CAMPINAS

2019

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COMISSÃO EXAMINADORA DA DEFESA DE DOUTORADO

SIMEY DE LIMA LOPES RODRIGUES

ORIENTADORA: PROFA. DRA. ILKA DE FÁTIMA SANTANA FERREIRA BOIN

MEMBROS:

1. PROFA. DRA. ILKA DE FATIMA SANTANA FERREIRA BOIN

2. PROF. DR. DANILO DONIZETTI TREVISAN

3. PROF. DR. AGNALDO SOARES LIMA

4. PROFA. DRA. MARLÍ ELISA NASCIMENTO FERNANDES

5. PROF. DR. HELDER JOSE LESSA ZAMBELLI

Programa de Pós-Graduação em Ciências da Cirurgia da Faculdade de Ciências

Médicas da Universidade Estadual de Campinas.

A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no

SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da FCM.

Data de Defesa: 30/01/2019.

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DEDICATÓRIA

A Deus,

pelo dom da vida, saúde e vivência de situações,

que enriquecem o meu aprendizado de forma a tornar minha

vida mais significativa e repleta de alegrias;

Aos meus pais, Aparecido e Eliana,

que sempre me apoiaram, incentivando-me

na busca do conhecimento;

Ao meu esposo Marcos,

grande colaborador e incentivador,

agradeço pela paciência nas minhas ausências e apoio durante

toda a minha formação;

Aos meus amigos,

pelo incentivo nesta caminhada;

A minha família,

pelo ânimo, incentivo e paciência em

todos os momentos da minha vida

Dedico.

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AGRADECIMENTOS

A realização de um sonho é sempre um motivo para comemorarmos,

deste modo, agradeço, antes de tudo, às pessoas que ajudaram a torná-lo realidade.

A todos, dirijo o meu reconhecimento e, de modo especial, quero agradecer:

Às famílias dos potencias doadores de órgãos e de tecidos, pela

grande contribuição a este estudo, pelo carinho e por me receber em suas casas ou

comparecerem, voluntariamente, ao Hospital de Clínicas da UNICAMP com um

sorriso na face. Assim, reconheço que sem essas famílias não teríamos realizado

este estudo. Minha eterna gratidão;

À Profa. Dra. Ilka de Fátima Santana Ferreira Boin, por sua valiosa

orientação, empenho, carinho e incentivo constante. Expresso minha admiração pela

sua permanente dedicação em relação ao processo de doação e de transplante de

órgãos, contribuindo com excelência para o ensino e para a pesquisa voltada a essa

área;

Ao Prof. Dr. Helder Jose Lessa Zambelli, a quem muito admiro, pessoal

e profissionalmente. Agradeço pela amizade, pela seriedade, pelo incentivo e pela

valiosa contribuição no desenvolvimento deste estudo, do exame de qualificação e

da defesa;

À Dra. Marli Elisa Nascimento Fernandes, pela excelente experiência

no processo de doação de órgãos e de tecidos. Acompanhou-me desde o início da

minha trajetória. Agradeço por sua criteriosa contribuição neste estudo. Que Deus

continue te abençoando grandemente;

Ao Prof. Dr. Danilo Donizetti Trevisan e ao Prof. Dr. Agnaldo Soares

Lima, pelos excelentes apontamentos no exame de defesa. Agradeço pelo empenho

e pelo criterioso olhar científico, contribuindo com a robustez deste estudo;

À enfermeira Dra. Alba Franzon Miranda, pelas revisões no método

científico, pela colaboração e pelas sugestões que enriqueceram este estudo.

Agradeço pela amizade e expresso minha admiração pela sua dedicação à ciência

da enfermagem;

À enfermeira Dra. Paula de Moura Piovesana, pelas revisões, pelo

apoio e por ter aceitado participar como suplente no exame de qualificação e defesa;

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Ao enfermeiro Dr. José Alexandre Pio Magalhães, pelas revisões da

tese e por ter aceitado participar como suplente do exame de defesa;

Ao médico Dr. Luiz Antonio da Costa Sardinha, Coordenador da

Organização de Procura de Órgãos (OPO), do Hospital de Clínicas da UNICAMP,

que me ajudou na idealização deste estudo, muito antes do projeto ser concebido;

Às funcionárias da OPO do Hospital de Clínicas da UNICAMP, Eliete

Bombarda Bachega Montone, Maria Valéria Omena Athayde e Luciana Aparecida

dos Santos;

A todos os funcionários do Ambulatório de Transplante de Fígado do

Gastrocentro – UNICAMP, pelo apoio durante a realização deste estudo – Luciana

Teixeira Lot, Talita de Oliveira Colado, Deuzelina Ventrili, Luci Gonsalves Rocha

Munhoz, Dra. Maria Izabel Warwar, Dra. Áurea Maria Oliveira da Silva, Profa. Dra.

Raquel Silveira Bello Stucchi, Profa. Dra Elaine Cristina de Ataíde, Tereza Cristina

Bonaldo, Simone Reges Perales e Catherine Puliti Hermida Reigada;

À equipe da Pós-Graduação em Ciências da Cirurgia da Faculdade de

Ciências Médicas – UNICAMP, em especial, ao funcionário Amarildo, pela

prontidão, pelo carinho e pela atenção ao me atender;

À Profa. Laisa Ribeiro do Couto, pela primorosa revisão de português.

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RESUMO

Introdução. Um dos meios mais promissores para aumentar os transplantes realizados é a

efetivação do doador falecido em morte encefálica – um único doador pode salvar até oito

vidas. No Brasil, a lei exige o diagnóstico de morte encefálica e o consentimento familiar

assinado para consolidar o processo de doação de órgãos, sendo esta uma decisão difícil e

complexa. Em geral, os indivíduos não têm as informações necessárias para decidir sobre a

doação de órgãos dos membros de sua família e não compreendem o processo de doação

de órgãos. A recusa familiar é a principal causa de não doação de órgãos, portanto este

estudo pretendeu compreender, na subjetividade do discurso, a negativa familiar. Objetivo.

Avaliar a percepção dos familiares que recusaram a doação de órgãos e tecidos. Método:

Estudo exploratório, descritivo, com abordagem qualitativa. Por meio de saturação das

respostas, foram entrevistadas dez famílias, que recusaram a doação no ano de 2015 e cuja

morte encefálica do parente havia sido notificada pela Organização de Procura de Órgãos –

UNICAMP, do Sistema Estadual de Transplantes de São Paulo. Os depoimentos obtidos

sofreram análise de conteúdo na modalidade temática. Resultados. Predominou-se, entre

os familiares, indivíduos brancos, do gênero feminino, casados, que habitam nas

redondezas de Campinas, católicos e concluintes do ensino fundamental e médio. Na

análise dos discursos, categorizou-se: insatisfação familiar com os serviços prestados nas

unidades de emergências durante a vivência da morte encefálica do ente falecido;

necessidade de apoio psicossocial aos familiares; necessidade de humanizar o processo de

doação; motivos para o não consentimento; desejo em doar manifestado pelos familiares

após o processo de doação; e sugestões dos familiares para melhorar esse processo.

Conclusão. As internações em unidades de urgência geraram insatisfação e insegurança

nas famílias, locais apontados como inadequados para manter o potencial doador. A

comunicação da morte encefálica aos familiares foi distante do tempo ideal, levando o

familiar a recusar a doação, uma vez que ainda não haviam compreendido o diagnóstico e,

portanto, não elaboraram a morte encefálica como um fato real. Os motivos encontrados

para o não consentimento são passíveis de intervenções educativas, fundamentais para

haver a conscientização nesse contexto.

Palavras-Chave: Morte Encefálica; Transplantes; Recusa de Participação; Obtenção de

Tecidos e Órgãos; Acolhimento; Humanização da Assistência.

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ABSTRACT

Introduction. One of the most effective actions to increase the number of transplants is by

donation from the brain death donor; a single donor can save up to eight lives. In Brazil,

legally, it is necessary to diagnose brain death and fill out a family consent document in order

to donate an organ or tissue, which is a difficult and complex decision. In general, individuals

do not have the information they need to decide on organ donation from their family

members and do not understand the organ donation process. So, this study intends to

understand the main causes of family non-organ refusal. Objective. Evaluate the perception

of family members who refuse to donate organs and tissues. Method. Exploratory,

descriptive study with a qualitative approach. Ten families were interviewed who refused to

donate in the year 2015. The brain death of the donor had been notified by the UNICAMP

Organ Procurement Organization – State Health Transplant System - São Paulo. The

testimonies obtained underwent content analysis in the thematic modality. The method used

was interview data and saturation. Results. Prevalence of white individuals, female, adults

and married who were hospitalized near Campinas, and were catholics and had mostly

completed primary and secondary education. The interview analysis was categorized as

follows: family dissatisfaction with the services provided at emergency units during the

experience of death; need for psychosocial support; need to humanize the donation process;

reasons for non-consent; desire to donate manifested by family members after the donation

process; and suggestions from family members to improve this process. Conclusions.

Hospitalizations in emergency units generated dissatisfaction and insecurity in the families.

The locations were pointed out as inadequate to maintain the potential donor. The

communication of brain death to family members was far from being at the ideal moment,

leading them to refuse the donation, since they did not understand yet the diagnosis and

therefore did not elaborate brain death as a real fact. The reasons found in this study for non-

consent led to an increase in educational interventions, fundamental for awareness in this

context.

Keywords: Brain Death; Transplants; Refusal to Participate; Tissue and Organ

Procurement; User Embracement; Humanization of Assistance.

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LISTA DE FIGURAS

Pág.

Figura 1. Fluxograma do recrutamento dos familiares que

recusaram à doação da OPO HC-UNICAMP no ano de

2015. Campinas, SP, Brasil, 2016-2017

32

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LISTA DE TABELAS

Pág.

Tabela 1. Características sociodemográficas, causas da morte

encefálica, unidades e tempo de internação dos potenciais

doadores não efetivos do ano de 2015 da OPO HC-

UNICAMP. Campinas, SP, Brasil, 2016-2017

38

Tabela 2. Características sociodemográficas dos familiares, parentesco

com o PD e tempo de entrevista após a recusa à doação de

doadores não efetivos do ano de 2015 da OPO HC-

UNICAMP. Campinas, SP, Brasil, 2016-2017

40

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABTO Associação Brasileira de Transplante de Órgãos

AVE Acidente Vascular Encefálico

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CIHDOTT Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos

FCM Faculdade de Ciências Médicas

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

ME Morte encefálica

MS Ministério da Saúde

OPO Organização de Procura de Órgãos

PD Potencial doador

PMP Por milhão de população

PS Pronto-Socorro

RMC Região Metropolitana de Campinas

SAMU Serviço de Atendimento Móvel de Urgência

SUS Sistema Único de Saúde

TCE Traumatismo crânio-encefálico

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

UPA Unidade de Pronto Atendimento

UTI Unidade de Terapia Intensiva

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SUMÁRIO

Pág.

Introdução

14

Objetivos

29

Material e Métodos

30

Resultados

37

Discussão

57

Conclusão

71

Referências

72

Apêndices

85

Anexos 90

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14

1. INTRODUÇÃO

A transplantação no Brasil vem se destacando nas últimas décadas, pois

possuímos o maior sistema público de transplantes do mundo, com assistência

integral ao paciente transplantado, financiada integralmente com recursos públicos1.

A meta nacional estimada para o número de doadores por milhão de população

(pmp) em 2017 foi 16,6 pmp. Assim, ultrapassamos este índice, chegando a 16,7,

que pode ter sido conquistado pelo crescimento de 3,8% na taxa de notificação de

potenciais doadores (PDs), no mesmo período. Na última década, houve um

expressivo aumento anual no número de transplantes realizados em nosso país,

chegando a aproximadamente 50% em relação a 20072.

Assim, mesmo diante do avanço na transplantação, de possuirmos um

processo sistemático e legal para o diagnóstico de morte encefálica (ME)3-4, com

diretrizes e recomendações, que ao serem seguidas asseguram a irreversibilidade

da ME e a qualidade dos órgãos de PDs disponibilizados5, o Brasil ainda está

aquém, no que se refere ao número de doadores efetivados pmp (16,7), com

exceção dos estados do Paraná (38,0) e Santa Catarina (40,8) com altas taxas de

efetivação, em relação a outros países, ficando com menor desempenho quando

comparado com países Europeus [Espanha (46,9), Portugal (34,0), Bélgica (33,6),

Croácia (33,0), Itália (28,2), França (26,8), Inglaterra (23,0), Noruega (22,0)], Norte

Americanos, [Estados Unidos da América (31,9) e Canadá (20,9)] e América Latina,

como o Uruguai (20,4)6.

Sabe-se que o número de transplantes de órgãos e tecidos nos últimos

anos vem aumentando significativamente, porém ainda persiste um desequilíbrio

crescente entre a oferta e a demanda de órgão no Brasil1 e em países

desenvolvidos7-10. A Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO)

constatou aumento significativo na doação de órgãos e tecidos. Em 2007 a taxa de

efetivação foi de 6,3 doadores pmp e, em 2017, 16,6, porém há evidência e

potencial para melhora, considerando que ainda persiste um déficit na efetivação

desses PDs, pois em 2017, somente 32,1% foram efetivados11.

Sendo assim, o caminho mais promissor para aumentar a oferta de

órgãos e tecidos é pela efetivação do doador falecido em ME, que pode

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disponibilizar até oito órgãos para transplantes7,10,12, além dos tecidos, como

córneas, ossos, pele, valvas cardíacas, vasos e tendões12.

Em nosso país, após a constatação da ME, por meio do processo de

diagnóstico da legislação vigente4, excluindo as contraindicações prévias absolutas5,

é necessário a autorização familiar, para que possamos validar o PD elegível em

doador efetivo, sendo essa uma decisão difícil e complexa para os familiares.

O insuficiente nível de informação sobre essa temática nos revela que há

necessidade em melhorar esse campo do saber13. A falta de conhecimento da

população leiga e dos profissionais da área da saúde sobre o processo de doação

de órgãos é apontada por inúmeros estudos como sendo um dos motivos que levam

os familiares a não doar, bem como o desconhecimento familiar do desejo do

falecido em ser doador de órgãos14-18, a insatisfação familiar com as abordagens

médicas18-20, crenças religiosas14,19-23, entre outros.

Na busca das principais causas da não efetivação da doação de órgãos,

destaca-se a recusa familiar, atingindo 42% no Brasil, chegando a mais de 70% em

algumas regiões brasileiras2. Os altos índices do não consentimento familiar à

doação são expressivos em países da América do Norte (Canadá10 e Estados

Unidos da América7), Europa (Reino Unido24, Alemanha25, Holanda18), Ásia

(Turquia19, Arábia Saudita21, Irã26), entre outros. Esses dados demonstram que o não

consentimento familiar é uma problemática complexa e multifacetada, que abrange

pessoas com diferenças sociais, políticas, econômicas, culturais, religiosas,

educacionais e crenças.

Na literatura nacional alguns estudos têm procurado compreender os

motivos alegados pelos familiares para o não consentimento à doação, encontrando-

se: a não compreensão do diagnóstico de ME, religiosidade, falta de competência

técnica da equipe, tempo longo do processo, falecido não era doador, medo da

mutilação, enterrado como veio ao mundo, qualidade do atendimento, decisão de

um único membro da família, experiência negativa em outro processo de doação e a

transferência do corpo para outro hospital para a extração dos órgãos14,22,27 e

abordagem familiar precoce23.

No estudo que avaliou se a intenção de doar órgãos é influenciada pelo

conhecimento populacional sobre ME, foram constatados que 85,3% dos sujeitos

analisados têm a crença que o médico pode se equivocar na confirmação do

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diagnóstico de ME e relataram baixo grau de confiança no diagnóstico de ME28,

demonstrando um desconhecimento do conceito de ME entre a população.

Assim sendo, as dificuldades relatadas pelas famílias de PDs e da

população podem ser preocupante se considerarmos, que entre os profissionais da

área de saúde, médicos e enfermeiros, essa temática também é conflitante,

ratificado pelos seguintes achados: dificuldade em aceitar a ME como morte do

indivíduo; a não aceitação em desconectar o ventilador mecânico do paciente em

ME em não doador de órgãos; o desconhecimento para a realização dos exames do

processo de diagnóstico de ME; a falta de comprometimento, o descaso no cuidado

com os PDs; a escassez de recursos humanos e materiais; a crença religiosa e a

falha na comunicação29 e o não reconhecimento do horário da ME como horário do

óbito3.

Estudo Brasileiro com médicos intensivistas identificou que 16% dos

médicos desconheciam o conceito de ME, 29% não foram capazes de determinar a

que horas o encéfalo parou de funcionar e 53% se sentiam inseguros para explicar

para a família o significado desse evento30, mostrando que entre esses profissionais

há deficiência de conhecimento sobre o processo de doação18-19, uma realidade

fragilizada que necessita de intervenções educativas, pois são esses profissionais

que assistem o PD e passam a ser referência para as famílias, além de exercerem

papéis de educador e formador de opinião na equipe de trabalho e na sociedade.

Outra problemática levantada na literatura refere-se à insatisfação familiar

com o atendimento hospitalar, limitando a intenção em doar31-32. Estudo com famílias

não doadoras, com significância estatística, constatou que há influência das

estruturas hospitalares na efetividade da doação de órgãos e tecidos, sendo

identificado em 70,5% dos casos, falhas nos processos, e em 46,2%, erros em

relação à entrevista familiar, (podendo ser considerado como inadequados - o local

de internação, o esclarecimento médico sobre o diagnóstico de ME, o momento que

a entrevista foi realizada e o local físico escolhido pelo profissional para realizá-la)32.

Desse modo, profissionais, que atuam em doação de órgãos, precisam atentar que

os ambientes escolhidos para acolher as famílias durante a entrevista para a doação

devem ser considerados, apontando a importância para a existência de um local

privativo, em que os familiares não sejam incomodados33.

Diante da condição de internação e da constatação da morte de um

familiar, é imprescindível um atendimento humanizado aos familiares. Estudiosos

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apontam que as famílias, quando esclarecidas da gravidade do quadro clínico e do

risco de morte do paciente, passam a ter maior confiança na equipe. Dessa forma,

ao perceberem que o atendimento é adequado e que os profissionais estão

empenhados no tratamento do paciente, consideram a assistência prestada durante

a internação do paciente, satisfatória. Nessa perspectiva, quando os familiares

percebem que todos recursos materiais e humanos, necessários à tentativa de

recuperação do paciente, foram utilizados, há uma sensação de conforto e ameniza

a angústia das famílias34.

No entanto, o descaso dos profissionais de saúde com os acompanhantes

e familiares de PDs, não os considerando como importantes na hospitalização, pode

fragilizar e agravar as relações entre famílias e profissionais de saúde, o que

descaracteriza a essência do trabalho destes profissionais.

Pesquisadores avaliaram o atendimento prestado em serviços de

emergência na visão de acompanhantes e familiares, e detectaram: falha de

comunicação dos profissionais de saúde com as famílias e pouca importância dada

a presença destes no processo de doença/agravo da saúde do paciente;

acolhimento das famílias inviabilizado pelas estruturas físicas inadequadas; alta

demanda inviabilizando a assistência humana (muitas filas e estresse pela demora

por atendimento e informações); aparente incompetência profissional; e falta de

humanização dos profissionais de saúde por não aparentarem estar sensíveis aos

acontecimentos com os pacientes, gerando insatisfação da família em relação à

hospitalização35.

Nesse sentido, se considerarmos que PDs são internados,

frequentemente, nas unidades de emergência, por falta de leitos em Unidades de

Terapia Intensiva (UTI), em nosso país36, que esses pacientes requerem cuidados

intensivos da equipe de saúde, atendimentos multiprofissional, orientações e

esclarecimentos da gravidade do paciente aos familiares durante todo o período da

hospitalização, podemos deduzir que a hospitalização, em ambiente de emergência

para PDs, pode ser um indicador negativo a doação, pois muitas vezes, não se

consegue no atendimento prestado neste local, oferecer esses cuidados, sendo

todos essenciais para o manejo dos PDs e para o processo de doação.

O descontentamento dos familiares pode contribuir com a recusa à

doação. Durante o atendimento, quando estes não participam das decisões relativas

ao cuidado de seu ente querido, ao perceberem a falta de conhecimento e a

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dificuldade de esclarecimento da equipe médica diante do tratamento adotado e

sobre os testes para diagnótico de ME, sentem-se insatisfeitos e desapontados37.

Além disso, o pedido de doação de órgãos tem um impacto significativo

sobre as famílias, com efeitos que perduram por muito tempo após a morte do ente

falecido, independentemente da decisão tomada (doar ou não doar), o processo

como um todo é uma experiência complexa e de mudança de vida para as

famílias38.

Portanto, com vistas a refinar o conhecimento, considerando todos os

esforços dos pesquisadores sobre a temática da não efetivação da doação de

órgãos e tecidos, a pouca disponibilidade de órgãos para transplantes em relação à

demanda, os elevados índices estatísticos de recusa familiar, bem como a

complexidade da assistência prestada aos PDs e a suas famílias, entendemos que a

compreensão do atendimento prestado aos PDs na perspectiva dos familiares,

possibilitará maior reflexão dos profissionais de saúde (tanto aos que trabalham com

doação quanto àqueles que prestam assistência direta aos PDs), reconhecendo e

minimizando as ações consideradas pelos familiares como negativas (falhas) e

impeditivas para efetivação da doação.

1.1 A Família no Processo de Doação

A contextualização familiar na sociedade possui arcabouço diversificado

de conceitos. Sabe-se que a concepção de família, que historicamente foi sendo

construída, é fruto da trajetória de sua existência na sociedade.

De acordo com o contexto social, em cada sociedade e época histórica, a

vida doméstica passa a assumir determinadas formas específicas, evidenciando que

a família não é instituição natural, mas reforçando a compreensão de que ela é

socialmente construída de acordo com as normas culturais39.

Inicialmente, podemos definir a palavra família conforme o dicionário

Aurélio da Língua Portuguesa, como: “pessoas que vivem na mesma casa; pessoas

do mesmo sangue, que vivem ou não em comum”40, porém a origem desta palavra é

milenar, surgindo na Roma Antiga, conhecida em latim como famulus, que

significava “o conjunto de empregados de um senhor”, e contemplava-se ao casal e

a seus filhos, além dos vários escravos que laboravam em suas propriedades.

Assim, a família era originada mais pela autoridade que o pater família exercia sobre

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esta, e não por laços de sangue nem de afetividade, que embora existisse não era

levado em consideração41.

Na idade média a família era regida com exclusividade pelo direito

canônico, que regulava as relações dos homens entre si e até mesmo o Estado.

Nesta época, apenas o casamento religioso era conhecido, entretanto, a influência

das normas romanas era exercida nas relações patrimoniais entre os cônjuges no

que se refere ao pátrio poder42.

Na era contemporânea, a família tem seus princípios baseados no afeto e

na valorização da dignidade da pessoa humana42. A estrutura familiar foi se

alterando paulatinamente com as mudanças dos costumes e valores, sendo os

elementos que contribuíram com tais transformações: a independência econômica

da mulher, a igualdade e emancipação dos filhos, o divórcio, o controle de

natalidade, a reprodução assistida, a afetividade, entre outros, tornando a estrutura

familiar mais maleável, adaptável às concepções atuais da humanidade43.

No contexto da pós-modernidade, adotam-se instituições mais flexíveis e

abertas, que recusando as estruturas rígidas e uniformes, hierarquizadas do

passado, fazem vigorar o ecletismo cultural, a informação e o estímulo das

necessidades. Nessa ótica, liberam-se os costumes, fazendo prevalecer a inclusão

sobre a exclusão, ampliando a autonomia individual e a valorização da realização

pessoal do indivíduo, estendendo-se aos diversos planos da existência humana,

como as escolhas pessoais, a sexualidade, as barreiras ideológicas de expressão

individual44.

Nessa fase, estamos contemplando as características intrínsecas das

diversas modalidades de família, e dessa forma, podemos entender que convivem

simultaneamente a família casamentaria, a família formada na união estável, a

família concubinária, a família monoparental, a família homossexual, entre outras42.

No Brasil, vivemos por um longo período sobre os domínios da

colonização Portuguesa, a qual valorizava os princípios canônicos. Foi com a

Constituição Brasileira de 1934 que inaugurou o Estado social brasileiro,

incorporando uma concepção de intervenção do Estado na ordem econômica e

social. Houve uma preocupação em inserir a temática da família em seu corpo,

caminhando para o estabelecimento de uma democracia social42.

Na Constituição Federal de 1988 empenhou-se a ânsia da sociedade

brasileira pela normatização democrática e pela conquista do Estado Democrático

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20

de Direito, onde o predomínio do social encontra evidência, uma vez que ocupa

papel de destaque o respeito aos valores mais elevados da natureza humana45.

Introduziu uma radical mudança no panorama da família, com a nova conceituação

de entidade familiar, para efeitos de proteção do Estado, passando a família a ser

concebida de forma mais ampla, em decorrência de sua origem no direito natural,

com reflexos no âmbito civil e penal42.

Consagra a constituição atual a proteção à família no artigo 226,

legalizando que essa se forma pelo casamento civil ou religioso com efeitos civis,

pela união estável entre o homem e a mulher, facilitada sua conversão ao

casamento e pela família monoparental, comunidade formada por qualquer dos pais

e seus descendentes46.

Percebe-se que em cada momento histórico, em cada contexto, a família

vem sendo construída e possui mobilidade e, por estar sempre em movimento, tal

como a sociedade, fica complicado tecer uma única concepção familiar47.

Assim, a reflexão sobre as diversas formas de famílias e como essas

passam a ser reconhecidas, tanto socialmente como legalmente, nesta fase da pós-

modernidade, facilita a compreensão de como o núcleo familiar está organizado e

como as famílias se relacionam no momento de hospitalização.

Esse diagnóstico é de extrema importância aos profissionais que atuam

nos serviços de saúde, pois conseguem atuar junto as famílias durante a internação

de um parente, facilitando a estruturação e implementação das ações de cuidado,

que são positivas nesse contexto48.

A família deve ser considerada como elemento de apoio entre o paciente

e a instituição, capaz de manter vínculos e tornar o ambiente mais seguro e

acolhedor, mas também como organismo em processo de sofrimento e adaptação48.

O adoecimento de um membro, geralmente, acarreta mudanças na dinâmica

familiar, exigindo flexibilidade para reestruturar as atividades diárias. Essas

mudanças exigem adaptação à nova condição e restruturação aos aspectos vitais do

cotidiano, que podem ameaçar a integridade dos membros em virtude da

imprevisibilidade dos acontecimentos vivenciados no hospital49.

Durante a hospitalização, os familiares apontaram a sobrecarga física

associada ao acúmulo de papéis, desajustes na economia familiar, na saúde e na

qualidade de vida de seus membros49, que podem potencializar, mediante a

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possibilidade de morte, muitos sentimentos, como medo, insegurança, angústia,

solidão, entre outros, desorganizando os familiares49-50.

No contexto do processo de doação, a família passa a ser o núcleo

central desse processo, sendo a ela comunicado todas as condições clínicas do PD,

e após a constatação de ME, é oferecido a possibilidade para doação. A legislação

brasileira vigente, considerando a valorização afetiva que pode ser estabelecida no

seio familiar, baseada nas Leis n° 9.434/199751 e 10.211/200152, tendo como

diretrizes a “gratuidade da doação, a beneficência em relação aos possíveis

receptores, não maleficência em relação aos doadores vivos”, entende que os

familiares do PD elegível são capazes de decidir sobre a doação de órgãos e

tecidos27.

Não há como subjugar o papel das famílias no processo. Existe a

percepção da família como um grupo de pessoas com características distintas

formando um sistema, o qual é inserido em outro mais amplo, o sociocultural, que

sofre influências e tenta se adaptar às mudanças dessa sociedade23. Nesse sentido,

os profissionais de saúde devem estar preparados para atender e entender uma

demanda multivariada de famílias, respeitando as relações internas que se

estabelecem.

Familiares de PDs revelam que vivenciar esse momento de hospitalização

é estressante e apontaram como fatores desencadeantes - o momento sofrido,

moroso, burocrático, desgastante e cansativo - percepções que comprometem,

desfavoravelmente, o número de doações34,53-55.

Logo, entendemos que o conhecimento das peculiaridades na relação

familiar pode auxiliar os profissionais de saúde em suas ações no momento da

internação para obter e transmitir as informações, sendo ao familiar do PD à quem

as equipes de saúde devem reportar, tanto para esclarecimentos da evolução clínica

do agravo inicial quanto de todas as etapas do processo de doação,

independentemente da decisão em doar ou não. Desse modo, entendendo a

complexidade da família na sociedade, os profissionais de saúde passam a não a

subjugar, conseguindo atuar de forma imparcial, mesmo diante de situações

adversas socialmente, ou seja, cria-se uma relação de empatia familiar e o

profissional passa a respeitar a decisão familiar.

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22

1.2 Comunicação da Morte Encefálica e Consentimento Legal para a Doação de

Órgãos e Tecidos de Potencial Doador Elegível no Brasil

Sabe-se que a hospitalização é um processo doloroso para os familiares,

exigindo competências dos profissionais para comunicá-los sobre a evolução e

prognóstico da doença, principalmente quando a notícia retratada aos familiares se

refere a morte.

O ser humano tem dificuldades para lidar com a finitude, fugindo de

encará-la como um processo natural da vida, calmamente, e quanto mais avança-se

na ciência, mais parece que tememos e negamos a realidade da morte56.

Dessa forma, comunicar más notícias aos familiares em hospitais é uma

das mais difíceis e importantes tarefas com que se deparam as equipes de saúde. A

despeito de sua importância, muitos profissionais ainda carecem de informação e

preparo suficientes para lidar com essas situações.

A literatura aponta que os principais fatores que dificultam a comunicação

de más notícias pelos profissionais de saúde e médicos são: preocupação em como

a má notícia irá afetar o paciente e sua família, receio de falha terapêutica, de

problema judicial, do desconhecido, dificuldade em dizer “não sei” e de expressar

suas emoções57, ou seja, aos profissionais médicos passa ser mais conflitante, pois

há uma exigência indelegável em transmitir a má noticia e uma insegurança para

fazê-la.

No que se refere ao processo de doação, objeto deste estudo, é de

responsabilidade do profissional médico, a comunicação aos familiares de PDs da

gravidade do quadro clínico e da constatação da ME51, por outro lado, há um

despreparo profissional que o deixa inseguro para fazê-la.

Pesquisadores têm apontado falta de conhecimento dos profissionais de

saúde sobre todo o processo de doação desde a formação profissional da

graduação58-60, não sendo valorizado esse saber dentro das faculdades de medicina,

evidenciando uma formação profissional com deficiência nesse saber3,28,30. Esse

desconhecimento constatado, tanto pela equipe de saúde quanto pelos familiares,

pode gerar sensação de insegurança nas famílias18-19,28.

Mesmo para as famílias que doaram os órgãos de seu ente falecido,

houve pouca sensibilidade da equipe médica em comunicar a ME e ausência de

suporte socioemocional diante das fases do processo de doação. Por outro lado,

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afirmaram ter sido bem atendidos e informados sobre o processo de doação pelos

profissionais de enfermagem61. A atuação de profissionais mais qualificados, com

experiência no processo de doação, pode transmitir, favoravelmente, maior

confiança aos familiares de pacientes internados, pois demonstra ações mais

seguras37, sendo essa prática realizada por países com altos índices na doação de

órgãos (Espanha, Croácia, Portugal e Austrália)62.

Considerando as ações do processo de doação, além do esclarecimento

da ME, a entrevista familiar também é uma ação complexa, baseia-se na reunião

entre os familiares do PD de órgãos e um ou mais profissionais da equipe de

captação, ou outro profissional treinado, a fim de esclarecer os familiares sobre a

possibilidade para seu ente falecido ser ou não um doador. Essa atividade deve ser

realizada somente após a constatação do diagnóstico de ME, condição mínima para

que os familiares sejam entrevistados.

No Brasil, o consentimento para a doação é familiar e regido pela Lei n°

10.211, publicada em 23 de março de 2001, que definiu o consentimento informado

como forma de manifestação à doação, sendo que a retirada de tecidos, órgãos e

partes do corpo de pessoas falecidas para transplantes ou outra finalidade

terapêutica, dependerá da autorização do conjugue ou parente, maior de idade

obedecida à linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive,

firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à verificação da

ME, e na impossibilidade destes, por meio de decisão judicial52,63.

Assim, embora tenha-se orientação técnica (legislação) para executá-la, é

essencial uma abordagem humanística para fazê-la, sendo a entrevista, na prática

hospitalar, geradora de muitos questionamentos, e se mal realizada, pode ter um

desfecho negativo nas famílias de PDs.

O desconhecimento de muitos profissionais da área da saúde sobre o

processo de doação pode contribuir, mesmo que não intencionalmente, para a

recusa da doação3,18,23-30,33. Por outro lado, a entrevista familiar realizada

imediatamente após a constatação da ME, mesmo dentro dos princípios de

legalidade, pode não ter dado tempo necessário a família para processar a

informação de luto, da perda do ente falecido18,33.

Nesse sentido, profissionais que precisam comunicar os familiares sobre

más notícias devem adotar estratégias científicas que contribuam para um melhor

desfecho desse momento, sendo essa tarefa contemplada nos currículos de vários

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24

cursos de graduação em Medicina, residência médica e educação médica

continuada59.

De acordo com Kübler-Ross56, a compreensão dos profissionais de saúde

das cinco fases (negação e isolamento, a raiva, barganha, depressão e aceitação)

que podem ser manifestadas tanto nos familiares quanto nos pacientes em estágio

terminal diante da notícia de irreversibilidade da doença e da possibilidade de morte

contribui para um melhor relacionamento entre a equipe de saúde e os familiares.

Dessa forma, considerando que no processo de ME a comunicação se baseia na

relação profissional de saúde e familiares de PDs, pode facilitar o entendimento do

comportamento familiar e obter uma melhora na relação com a família do PD

quando esses estágios são bem conhecidos pelos profissionais.

No contexto da ME, na maioria das vezes, os familiares querem negar as

informações recebidas do médico, principalmente quando observam no PD a

presença de batimentos cardíacos, pressão arterial, temperatura e movimentos

respiratórios por meio de ventiladores artificiais20,22,34, sendo essencial, que os

profissionais de saúde esclareçam todas as dúvidas da família, e havendo

compreensão e aceitação da ME, estão aptos a realizarem a entrevista para

doação18,20,22,34.

Esta fase peculiar do processo de doação, a entrevista familiar, também é

identificada na literatura como uma das atividades mais complexa, considerando que

envolve aspectos intrínsecos relativos ao entrevistador, ao entrevistado e ao local

escolhido para fazê-la, além de questões éticas e legais, necessita de capacitação

profissional para conhecer, identificar e lidar com fatores que facilitam ou dificultam o

diálogo com os familiares20,33.

1.3 Humanização do Cuidado no Processo de Doação

Conceitualmente humanizar-se é “torna-se humano”, “dar condição

humana” e “humanar”, e pode ser interligado a outros aspectos, como acolhimento,

respeito, comunicação, ética, bioética, entre outros40. Assim, o cuidado humanizado

tem sido o slogan da propaganda de muitas instituições de saúde.

Na era contemporânea, onde a ciência e a tecnologia buscam lucro e

negócio, a saúde representa-se, muitas vezes, um bem de consumo. O

desenvolvimento da ciência junto com a tecnologia levou a um distanciamento do

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assistido daquele que o assiste e, consequentemente, surgiram discussão e

reflexões dentro do cenário hospitalar64.

Pode-se afirmar que há forte ligação entre ética e cuidado humanizado no

ambiente hospitalar65, sendo necessário que os profissionais de saúde reconheçam

a essência de humanizar, revendo atitudes e comportamentos, no cuidado prestado

direto e indireto66, pois “a humanização do cuidado passa por uma redefinição da

atitude subjacente dos profissionais em relação a eles mesmos e ao seu mundo”67.

Humanizar possibilita transformação cultural da gestão e das práticas

desenvolvidas nas instituições de saúde, gerando uma postura ética de acolhimento

e respeito ao usuário, identificado como um cidadão e não somente como um

consumidor de serviços de saúde68.

Pesquisadores têm indagado se os trabalhadores que atuam na área da

saúde têm condições de garantir assistência humanizada, pois são submetidos a

trabalhos mecanizados, que os tornam menos críticos, sensíveis e fragilizados com

a dor, sofrimento e morte69. Nota-se uma valorização relacionada ao avanço de

tecnologias incorporadas na assistência de saúde, sendo somente, incentivado uma

valorização da matéria, destinando investimentos de recursos em estrutura física e

na moderna tecnologia, não sendo priorizado a relação interpessoal, como

mudanças da cultura organizacional, na humanização do trabalho e no cuidado com

ética66.

Nesse contexto, estratégias governamentais como o Programa Nacional

de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), criado em 2001, buscou reunir

programas e iniciativas já criados e voltados ao aperfeiçoamento da qualidade do

atendimento, com vistas a elaborar planos de ação de humanização, de acordo com

os valores de cada instituição70.

Em 2003 surgiu a Política Nacional de Humanização (PNH), tendo como

princípios políticos a preocupação em abordar as relações dos profissionais com os

usuários nas unidades e serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS),

reconhecendo que humanizar é atender com qualidade, utilizando dos meios

tecnológicos para aprimorar o acolhimento, melhoria dos ambientes de cuidado e

das condições de trabalho dos profissionais71.

Assim, considerando que há uma preocupação nacional para as práticas

de cuidado adotarem uma postura mais humana, trabalhar a humanização no

contexto da doação de órgãos e tecidos é assistir a todos os envolvidos no

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processo, considerando suas peculiaridades, sendo prestado a esses familiares,

fragilizados, um atendimento mais sensibilizado, que atenda todas as necessidades

dessas famílias, evitando desgastes.

Familiares de PDs muitas vezes ficam em choque, devido a

hospitalização de seu ente querido ter sido dada de forma abrupta. As principais

causas de ME encontradas na literatura são causadas por lesões cerebrovasculares

e traumáticas14,19,27,72-73, que são agravos de evolução rápida e prognóstico ruim,

muitas vezes causadas em pacientes que estavam com a vida ativa, e após serem

acometidos por essas afecções, passam a ficar hospitalizados em ambientes

restritos.

Nessa nova condição, as famílias de PDs atravessam momentos de

angustia e estresse, que se intensificam com as notícias do falecimento recente e da

responsabilidade pelo consentimento para a doação de órgãos e tecidos74, sendo

essencial mantê-las esclarecidas de todas as informações da internação e das

condições clínicas do PD.

Dessa maneira, é preciso fazer com que os profissionais de saúde

entendam do assunto para que, assim, compreendam seu papel nele, pois atuam

em todas as fazes da internação e no processo de doação.

A ciência tem demonstrado uma preocupação sobre a humanização do

atendimento de famílias de PDs. Estudos investigaram as estratégias utilizadas por

enfermeiros que atuam na doação (ou seja, enfermeiros que atuam nas instituições

nomeadas como OPO), sendo identificado por esses profissionais que nesse

processo é essencial a garantia de um cuidado ético e humanizado75-76,

preconizando ao potencial doador - cuidados de manutenção dos padrões

fisiológicos e de higiene do corpo; aos familiares - a liberação das visitas, agilização

e esclarecimento do processo de doação, sempre elucidando dúvidas e respeitando

a vontade da família, mesmo quando recusam a doação76.

Em uma pesquisa que investigou a humanização no processo de doação

na perspectivas de enfermeiros que atuam em unidade de terapia intensiva (UTI),

evidenciou-se que os participantes perceberam a humanização no processo de

doação de órgãos como respeito ao doador e à família, referindo a necessidade da

assistência ser sempre humanizada, não somente para os PDs, mas para todos os

pacientes, e relataram que a participação desse profissional no processo de doação

é pequena, pontual, atribuindo ser dos profissionais da OPO a responsabilidade de

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atuar mais ativamente com a família. Além disso, apontam como fatores que

dificultam a humanização no atendimento a inadequação do espaço físico, a falta de

tempo para darem atenção à família, o fluxo de internação do paciente e a forma dos

processos de trabalho da unidade76.

Portanto, entendemos que a família deve receber assistência antes e

depois do diagnóstico de ME, pois o processo de doação de órgãos depende dela77.

Nesse sentido, considerando que vários profissionais de saúde devem atuam no

processo de doação de órgãos e tecidos, direto ou indiretamente, tais como médicos

intensivistas, neurologistas, enfermeiros das UTIs e emergências, assistente social,

psicólogo, entre outros, que os PDs recebem cuidados onde estão internados sobre

a responsabilidade do hospital e de seus profissionais, e diante da dificuldade de

atuação direta dos profissionais da OPO por questões geográficas e logísticas, faz

necessário que os profissionais de saúde das instituições hospitalares estejam

capacitados para atender as demandas do processo de doação e suas

especificidades, para minimizar o sofrimento dos familiares, proporcionando um

atendimento mais humanizado e tecnicamente coerente.

1.4 Justificativa do Estudo

A OPO HC-UNICAMP vem aumentando anualmente o número de

notificações e o número de doadores efetivos78. Parte desse aumento pode ser

atribuído à melhora de forma expressiva na manutenção hemodinâmica dos PDs,

com a ajuda das diretrizes da Associação de Medicina Intensiva Brasileira

(AMIB)5,79, minimizando a instabilidade hemodinâmica e as perdas por parada

cardíaca. Porém, a maior taxa de não efetivação da doação desse serviço é devido

à recusa familiar para a doação de órgãos e tecidos, que em 2015, chegou a ser

responsável por 41,9% das causas de não doação78, levando-nos a inquietações

que instigaram a questionamentos sobre como os familiares de PDs eram acolhidos

nas instituições hospitalares e quais as percepções destes em relação a assistência

prestada no atendimento de seu familiar, com ênfase sobre todas as etapas do

processo de doação de órgãos e tecidos.

Dessa forma, recorremos a literatura e percebemos que a maioria dos

estudos apontam para falhas humanísticas em relação ao processo de doação, não

sendo encontrado um estudo mais amplo, que avalie as percepções das famílias de

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PDs que recusaram a doação relacionadas às características da internação, com

vista a conhecer as necessidades destas famílias, em relação ao PD, não atendidas

durante todo o período da hospitalização. Nota-se, na maioria dos estudos

encontrados, referentes à recusa familiar, uma inquietação dos pesquisadores em

compreender os motivos da recusa familiar e quais categorias de profissionais foram

envolvidas no processo, porém não identificamos estudos que busque compreender

como as famílias de PDs que recusaram a doação perceberam o atendimento

prestado em sua forma holística, desde o momento que seu familiar foi admitido no

hospital, o período contemplado pelo processo de diagnóstico de ME, até a

entrevista para a possibilidade de doação.

Pressuponha-se que há lacunas nos atendimentos dado as famílias de

PDs relacionadas, tanto pelas estruturas físicas dos locais de internação quanto

humanísticas, caracterizadas por um despreparo dos profissionais das instituições

hospitalares, pelo número reduzido de profissionais que atuam na doação em cada

hospital – membros da CIHDOTTs - e pelo distanciamento geográfico desses

hospitais notificantes da OPO HC-UNICAMP, dificultando as ações desses

profissionais nos processos de doação.

Espera-se que a realização deste estudo possibilitará conhecer a vivência

dos familiares de PDs durante a hospitalização de seu ente querido, bem como

diagnosticar os entraves que levaram as recusas para doação de órgãos e tecidos

da OPO HC-UNICAMP, para que sejam construídas intervenções efetivas que

melhorem os índices de doação de órgãos e tecidos desse serviço, além de

desvendar à comunidade científica nacional e internacional esses entraves que

possam ser impeditivos na efetivação da doação em outros serviços.

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2. OBJETIVOS

2.1 Geral

Avaliar as percepções dos familiares de potenciais doadores elegíveis

quanto a recusa à doação de órgãos e tecidos.

2.2 Específicos

Identificar, na percepção da família, as características e possíveis

falhas da internação de potenciais doadores referentes ao processo de doação;

Compreender como as famílias foram entrevistadas para a

possibilidade da doação;

Desvendar os motivos que levaram os familiares a não doar;

Conhecer o desejo dessas famílias em relação a doação, após terem

vivenciado esse processo.

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30

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Tipo de Estudo

Trata-se de estudo exploratório, descritivo de abordagem qualitativa,

guiado pelas estruturas científicas para pesquisa qualitativa - COREQ80 e SQUARE

2.081. Optou-se pela abordagem qualitativa pela possibilidade dessa modalidade de

pesquisa não visar resultados estatísticos e generalizações64, ou seja, uma

abordagem pela possibilidade de investigar realidades não mensuráveis, como a

significância das relações humanas, valores e crenças que permeiam essas

relações64, 82-83.

Neste tipo de pesquisa qualitativa, o pesquisador quer compreender as

angústias e ansiedades geradas, não somente nas relação humana, mas pelos

relatos sobre suas vivências no processo saúde-doença, o tratamento clínico, os

desfechos, e relação com os profissionais da saúde em geral83, sendo neste estudo,

as inquietações conduziu-nos a investigar quais as percepção das famílias que

recusaram a doação de órgãos e tecidos de seu familiar – com vista a compreender

o significado da ação humana diante da internação hospitalar, da ME e da

possibilidade em doar.

3.2 Local e Período do Estudo

Os prontuários dos PDs foram analisados nas dependências da OPO HC-

UNICAMP, para selecionar os indivíduos que seriam incluídos no estudo.

As entrevistas foram realizadas no período de maio a dezembro de 2016,

sendo o local escolhido pelos familiares para participarem do estudo - o HC-

UNICAMP (sala de acolhimento familiar) ou as residências dessas famílias.

3.3 Sujeitos e Tamanho da Amostragem

Inicialmente, os prontuários de todos os PDs, cujos familiares optaram

pela recusa no ano de 2015, (81 casos) foram separados e aplicou-se os critérios de

inclusão e exclusão:

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Critérios de inclusão: todos os casos notificados na OPO HC-UNICAMP

no ano de 2015, com diagnóstico de ME, cujos familiares recusaram doar os órgãos

e tecidos quando foram entrevistados.

Critérios de exclusão: casos que não havia a documentação completa

do processo de diagnóstico de ME no prontuário da OPO (5); familiares que foram

entrevistados pela pesquisadora durante o ano que a mesma atuava na OPO (8) e

os casos com dados incompletos no prontuário que impediram os familiares em ser

contatados (36). Se, no momento da entrevista, a pesquisadora detectasse, no

familiar a ser entrevistado, incapacidade para comunicação verbal efetiva (por

incapacidade neurológica ou psiquiátrica), a entrevista seria excluída.

Conforme ilustra a Figura 1, 32 famílias atenderam aos critérios de

inclusão e de exclusão, sendo esses prontuários numerados e, por meio de sorteio,

as famílias foram identificadas, contatadas por telefone e convidadas a participarem

de uma entrevista, agendada conforme a disponibilidade destas.

Antes do convite para participar do estudo, a pesquisadora apresentava-

se e informava seu nome, sua profissão, e o meio pelo qual obteve o telefone e o

nome do familiar falecido; explicava o motivo da ligação e apresentava os objetivos

do estudo. Havendo o interesse em participar, a entrevista foi agendada de acordo

com o horário, local e dia de disponibilidade das famílias. Tomou-se cuidado para

não ser agendado entrevistas nas datas de aniversário, de internação, ou da ME dos

PDs, além de outras datas significativas, como dia dos pais e dia das mães,

proximidade de datas religiosas afim de evitar recordações que colocassem as

famílias em sofrimento.

Ao chegarmos na 20ª família contatada, o estudo foi interrompido. Destas

vinte famílias, oito recusaram participar, informando falta de condições emocionais e

doze famílias disseram ter disponibilidade para participar do estudo.

Ao iniciar as entrevistas, a primeira foi utilizada como pré-teste, para

verificar a clareza das questões e adequá-las para a condução dos demais

questionamentos, não sendo, portanto, incluída na análise do estudo; e uma família

não compareceu na entrevista agendada.

A amostra foi do tipo intencional e o critério adotado para seu

encerramento foi a saturação do material obtido84. Para este processo de saturação,

o término da coleta se deu quando foi observada a ocorrência de repetições nos

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32

discursos dos participantes tornando redundantes as informações obtidas a partir de

dados novos. Assim, foram realizadas entrevistas com dez famílias.

Abaixo, na figura 1, segue o fluxograma do recrutamento das famílias

desde estudo.

Figura 1. Fluxograma do recrutamento dos familiares que recusaram à doação da

OPO HC-UNICAMP no ano de 2015. Campinas, SP, Brasil, 2016-2017

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33

3.4 Processo de Amostragem

Foram atendidos todos os critérios de inclusão e de exclusão arrolados

para a pesquisa que foi iniciada após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa

(CEP), da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da UNICAMP, com parecer

1.560.999/2016 e CAAE: 54000316.0.0000.5404 (Anexo I).

3.5 Coleta de Dados

A coleta de dados foi realizada pela pesquisadora. A entrevistas com os

familiares iniciou-se após estes autorizarem a participação no estudo, por meio da

assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE – Apêndice I),

sendo inicialmente obtido as informações por meio de um roteiro para obter dados

sociodemográficos e clínicos dos PDs (Apêndice II) e sociodemográficos dos

familiares, complementares aos dados não disponíveis no prontuário da OPO

(Apêndice III – Parte A) e dos PDs (Apêndice III – Parte B):

- Dados sociodemográficos e clínicos dos PDs disponíveis no prontuário da OPO HC

- UNICAMP (Apêndice II) - idade (em anos); cor da pele (branco, negro e pardo);

sexo (masculino e feminino); estado civil (casado, solteiro, união consensual,

divorciado e viúvo); tempo de internação – em dias (considerado o dia da admissão

no hospital até a data da parada cardíaca); Unidade de internação - Unidade de

Terapia Intensiva (UTI), Pronto Socorro (PS) e Enfermaria; região de procedência do

doador – cidades pertencentes a Regiões Metropolitana e Administrativa de

Campinas (SP), Vale do Paraíba (SP) e Microrregião de Bragança Paulista (SP)*;

grau de parentesco do familiar responsável (primeiro grau ou segundo grau).

As causas de ME investigadas foram as cerebrovasculares, traumáticas e

outras (encefalopatia anóxica após parada cardiorrespiratória e tumores primários do

Sistema Nervoso Central)14,18-19,21,25-27,85-86.

– Dados sociodemográficos dos familiares - Apêndice III (Parte A) - [nome do

entrevistado, idade (em anos), grau de parentesco com o PD, data da entrevista,

gênero (masculino ou feminino), escolaridade (sem escolarização, ensino

fundamental, médio e superior; completo ou incompleto); cor da pele (branco, negro

* Fonte: emplasa (https://www.emplasa.sp.gov.br/RMC)

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e pardo); estado civil (casado, solteiro, união consensual, divorciado e viúvo);

religião (católicos, evangélicos, entre outras); vínculo empregatício (sim ou não);

renda familiar per capta (em Salário Mínimo - SM); e profissão];

- Dados sociodemográficos dos PDs complementares - informados pelos familiares -

Apêndice III (Parte B) - religião (católicos, evangélicos, entre outras); escolaridade

(sem escolarização, ensino fundamental, médio e superior; completo ou incompleto);

e vínculo empregatício (sim ou não);

- E por meio de seis questões semiestruturadas e norteadoras para compreender a

percepção dos familiares em relação as características do atendimento prestado e

da vivência familiar frente ao processo de doação (Apêndice IV):

1) Como o(a) senhor(a) avalia o atendimento dado ao seu familiar durante

o tempo em que ficou no hospital internado?

2) Como o(a) senhor(a) avalia as informações que foram dadas desde a

suspeita a morte encefálica?

3) Como o(a) senhor(a) avalia o profissional e a entrevista realizada?

4) O que o(a) senhor(a) acha que contribuiu, em todo o processo de

doação, para a decisão da recusa familiar para não doação de órgãos?

5) Se tivesse que falar com alguém que tem um ente querido em morte

encefálica (morte cerebral), ou seja, dar um conselho, o que o(a) senhor(a) diria?

Porquê?];

6) O(A) senhor(a) tem alguma sugestão para melhorar todo esse

momento que foi vivenciado (tanto em relação a internação quanto sobre o processo

de doação)?

As entrevistas foram gravadas com o consentimento dos participantes

para fins somente de análises dos dados, sendo utilizado gravador de voz Mp4

player modelo Dynamics para garantir uma escuta fidedigna e qualificada dos relatos

das famílias.

3.6 Análise dos Dados

Para a análise dos dados, as entrevistas foram transcritas na íntegra e

analisadas baseadas no referencial metodológico qualitativo da análise de conteúdo

de Bardan87, obedecendo as seguintes etapas: pré-análise, exploração do material e

tratamento dos resultados, fazendo a inferência e a interpretação desses dados.

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A pré-análise, caracterizada pela primeira fase do estudo, concentra-se

na escolha dos documentos que serão submetidos para análise, no caso deste

estudo, foi a transcrição das entrevistas. A escolha dos documentos que compõem o

corpus é um representativo do universo de estudo e deve corresponder ao objetivo

estabelecido. Em seguida, faz se a leitura flutuante dos documentos, buscando

conhecer os documentos e se deixar invadir pelas impressões dos discursos87.

A referenciação dos índices seria identificar o tema explicito de uma

mensagem. O índice pode ser a menção explícita de um tema numa mensagem.

Baseia-se em encontrar no texto, expressões que mostrem as ideias centrais

expressadas nos discursos do sujeito, ou seja, se faz um recorte do texto87.

A segunda fase baseia-se na exploração do material, e representa a

organização das etapas da pré-análise feitas, levando à codificação e à

categorização dos discursos. Na codificação os dados brutos são transformados

sistematicamente e agregados em unidades, as quais descrevem com exatidão as

características do conteúdo. Na categorização classifica-se os elementos

constitutivos de um conjunto por diferenciação e, em seguida, por reagrupamento

segundo o gênero, com critérios previamente definidos, ou seja, os dados são

categorizados pela semântica, sendo os temas com o mesmo significado, agrupados

em uma categoria comum87.

Nesse estudo, para a análises dos dados, houve a participação de grupo

de pesquisadores com experiência na pesquisa qualitativa, para aprimorar as

categorias e subcategorias encontradas.

A terceira e última fase caracteriza-se pelo tratamento dos resultados e

interpretações, levando os resultados obtido ser válido e significativo. O analista

tendo à sua disposição resultados significativos, pode propor inferências e

interpretações, como da revisão da literatura.

A renda familiar média per capita foi computada em Salário Mínimo†.

† Fonte: Secretaria de Previdência/Ministério da Fazenda: http://www.previdencia.gov.br/2015/12/reajuste-

salario-minimo-sera-de-r-880-em-2016/

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4.7 Aspectos Éticos

Em todas as etapas do estudo foram mantidos o anonimato dos PDs e de

seus familiares, dos profissionais de saúde e dos hospitais envolvidos. A pesquisa

foi apreciada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de

Ciências Médicas da UNICAMP (Anexo I), autorizada pelo coordenador da OPO HC-

UNICAMP (Anexo II), com a solicitação do consentimento dos familiares de PDs que

recusaram a doação mediante assinatura do TCLE (Apêndice I).

Foram explicadas todas as etapas da coleta dos dados para os familiares,

inclusive os objetivos da pesquisa, sendo informados de que as entrevistas seriam

gravadas e iniciadas após a autorização do TCLE, além de que os mesmos

poderiam recusar-se a participar do estudo ou solicitar para serem excluídos da

amostra a quaisquer momentos.

Para garantir o anonimato dos envolvidos na pesquisa foram utilizadas as

seguintes siglas – famílias entrevistadas (F) e potenciais doadores elegíveis não

efetivos (PD) seguida do número de ordem (1 a 10) das entrevistas; e hospitais (H).

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4. RESULTADOS

Os dados sociodemográficos, causa da morte encefálica e as unidades de

internação dos potencias doadores não efetivos encontram-se na tabela 1.

De acordo com os dados da tabela 1, em relação a caracterização

sociodemográfica e clínica dos PD não efetivos, podemos identificar que estavam

dentro da faixa etária de 26 a 59 anos; que predominantemente pertenciam ao sexo

masculino (60%); brancos (80%); solteiros (50%); e que cursaram o ensino

fundamental (60%) e o ensino médio (40%). No momento da internação, 70%

estavam empregados e 30%, desempregado; quanto a religião, 80% eram católicos;

e residiam nas Regiões Metropolitana e Administrativa de Campinas (SP), Vale do

Paraíba (SP) e Microrregião de Bragança Paulista (SP).

Os PDs foram conduzidos nas UTIs (70%) e emergências (30%);

permanecendo internados entre 2 a 12 dias; sendo o principal acometimento da

lesão cerebral, o TCE (60%).

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Tabela 1 - Características sociodemográficas, causas da morte encefálica, unidades e tempo de internação dos potenciais

doadores não efetivos do ano de 2015 da OPO HC-UNICAMP. Campinas, SP, Brasil, 2016-2017

Nota: *PD= potenciais doadores não efetivos; †M=Masculino; ‡F=Feminino; §SJC=São José dos Campos; ||EFI= Ensino Fundamental; ¶EM=Ensino Médio;

**AVE=Acidente Vascular Encefálico; ††TCE=Traumatismo Cranioencefálico; §§ UTI=Unidade de Terapia Intensiva; ||||PS=Pronto-Socorro.

Potenciais

Doadores

Idade Sexo Cor da

Pele

Estado Civil Procedência Religião Escolaridade Vínculo

Empregatício

Causa da

ME

Unidade de

Internação

Tempo de

Internação

PD*1 57 M† Parda Solteiro Paulínia Católica EF|| Sim AVE** UTI§§ 12

PD*2 26 M† Branca Solteiro Arthur Nogueira Católica EF|| Sim TCE†† UTI§§ 10

PD*3 29 F‡ Branca Solteira Valinhos Católica EM¶ Sim TCE†† UTI§§ 2

PD*4 29 M† Negra Casado Atibaia Católica EM¶ Sim TCE†† UTI§§ 5

PD*5 59 M† Branca Casado Campinas Evangélica EM¶ Não AVE** PS|||| 3

PD*6 56 F‡ Branca Casada Campinas Católica EF|| Sim TCE†† PS|||| 5

PD*7 33 M† Branca Solteiro Sumaré Católica EF|| Não TCE†† PS|||| 11

PD*8 30 M† Branca Separado SJC§ Católica EF|| Sim TCE†† UTI§§ 5

PD*9 44 F‡ Branca Casada Rio Claro Católica EM¶ Não AVE** UTI§§ 6

PD*10 49 F‡ Branca Casada Mogi-Guaçu Evangélica EF|| Sim AVE** UTI§§ 3

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As informações sociodemográficas, grau de parentesco com os PDs e

tempo de entrevista após a recusa à doação, relacionadas aos familiares estão

descritas abaixo, na tabela 2.

Em relação aos dados levantados da tabela 2, quanto as características

sociodemográficos dos familiares, a idade variou entre 26 a 50 anos; 70%

pertenciam ao sexo feminino; com cor da pele branca (70%) e parda (30%). Quanto

ao estado civil, detectamos: casados (40%), solteiros (30%) e viúvos (30%). A

religião católica foi identificada em 50% dos entrevistados, seguida de evangélicos

(30%) e aqueles que declararam não seguir nenhuma religião (20%). Quanto a

escolaridade, 50% concluíram o ensino fundamental completo, 30% concluíram o

ensino superior e 20%, o ensino médio. Dos familiares entrevistados, 80% dos casos

estavam ativos no mercado de trabalho, e 20%, desempregados. A variação da

renda per capta foi de 0,8 a 8,2 salários mínimos. Os familiares residiam

prioritariamente na Regiões Metropolitana e Administrativa de Campinas (SP), Vale

do Paraíba (SP) e Microrregião de Bragança Paulista (SP). A variação do período

das entrevistas foi de 5 a 13 meses após a constatação da ME.

Em relação ao grau de parentesco, predominou-se: parente de segundo

grau (40%), parente de primeiro grau (40%) e cônjuges (20%).

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Tabela 2 - Características sociodemográficas dos familiares, parentesco com o PD e tempo de entrevista após a recusa à doação de

doadores não efetivos do ano de 2015 da OPO HC-UNICAMP. Campinas, SP, Brasil, 2016-2017

Nota: *FA - Família; †M - Masculino; ‡F - Feminino; §ES - Ensino superior; ||EF - Ensino Fundamental; ¶EM - Ensino médio; ** SM= Salário Mínimo;

Familiares (FA*-1) (FA*-2) (FA*-3) (FA*-4) (FA*-5) (FA*-6) (FA*-7) (FA*-8) (FA*-9) (FA*-10)

Idade 43 42 29 26 33 41 33 42 50 32

Sexo M† F‡ F‡ F‡ M† F‡ F‡ F‡ M† F‡

Cor da Pele Pardo Pardo Branca Branca Branca Branca Branca Branca Branca Branca

Estado Civil Casado Casado Casada Viúva Solteiro Casada Casada Viúva Viúvo Casada

Procedência Paulínia Arthur

Nogueira

Valinhos Atibaia Campinas Campinas Sumaré São José

dos Campos

Rio Claro Mogi-Guaçu

Parentesco Irmão Irmão Irmã Esposa Filho Filha Irmã Mãe Esposo Filha

Religião Católica Católica Católica Evangélica Nenhum Católica Católica Católica Nenhum Evangélica

Escolaridade ES§ EF|| EM¶ EF|| ES§ ES§ EF|| EF|| EM¶ EF||

Profissão Analista de

Produção

Serviços

Gerais

Técnica em

Nutrição

Serviços

Gerais

Analista de

Informação

Empresária Do lar Doméstica Técnico de

Informática

Do lar

Vínculo

Empregatício

Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Não Sim Sim

Renda per capta

(em SM)**

1,8 1,2 2,1 1,6 5,4 8,2 1,3 1,2 3,4 0,8

Tempo de recusa

(em meses)

6 6 7 8 9 13 5 12 6 10

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Foram encontradas as seguintes categorias e subcategorias:

4.1 Insatisfação familiar com os serviços prestados nas unidades de emergências;

4.2 Vivenciando a morte encefálica do ente falecido;

4.2.1 O anuncio precoce aos familiares da ME antes do diagnóstico;

4.2.2 Falta de esclarecimento prévio sobre a ME durante a vida;

4.2.3 Percepções dos sinais vitais e do reflexo medular como impasse

para compreensão do diagnóstico de ME;

4.2.4 Desconfiança do atendimento prestado e dos exames realizados;

4.3 Motivos apontados para o não consentimento familiar

4.3.1 Entrevista familiar realizada precocemente;

4.3.2 Recusa da família independente do desejo do falecido;

4.3.3 Medo familiar em relação ao tráfico de órgãos;

4.3.4 Conflito familiar em relação a opção pela doação;

4.3.5 Percepções de falhas ou comportamentos dos profissionais

desfavoráveis a doação;

4.4 Percepção da necessidade de apoio psicológico e social manifestado pela

família não-doadora;

4.5 Necessidade de humanizar o processo de doação;

4.6 Sugestões apontadas pelos familiares para melhorar o processo de doação;

4.7 Desejo em doar manifestado pelos familiares após o processo de doação.

Abaixo serão descritas as categorias e subcategorias encontradas neste

estudo e transcritos os relatos dos familiares.

4.1 Insatisfação familiar com os serviços prestados nas unidades de

emergências

Nesta categoria os familiares enfatizaram falhas no atendimento inicial

prestado nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA), como a percepção de pouca

resolutividade no atendimento e assincronismo da assistência prestada com os

serviços de urgência referenciados.

Assim, ficou evidente a insatisfação das famílias com o serviço de

urgência inicialmente prestado em relação as questões humanas (alegando falta de

comunicação entre os profissionais e os familiares), técnica (como a falta de

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estrutura para prestar atendimento de alta complexidade e pouca capacitação dos

profissionais) e administrativa (como a morosidade para transferência das UPAs aos

serviços de urgência referenciados, além da descontinuidade da assistência, com

repetição de exames e falta de informações documentais):

[...] Ele já veio de um pronto atendimento, onde lá sim, houveram uma série de falhas ... ele chegou aqui, no hospital “H” 8 horas depois, e o que foi entregue aqui, pelo SAMU, foi um papelzinho escrito a lápis, escrito provável AVC. Como uma pessoa vem de um pronto atendimento, da entrada em uma emergência, com um papelzinho escrito a lápis? Não tinha histórico de nada, do que foi feito, nada ... As coisas têm que vim um pouco melhor da unidade de atendimento, do lugar que a pessoa estava, o que já foi feito ... Se a pessoa chega aqui e ela vai ter que fazer de novo uma série de testes, que talvez já tinha sido feito lá, está perdendo tempo (F5); [...] Quando eu levei ele para o UPA, os médicos internaram ele, esperando uma vaga no hospital “H”. Só que o médico não falou o que estava acontecendo, a gravidade dele ... eu não fui bem atendida, porque os médicos sumiram, as enfermeiras totalmente desligadas, né, e eu achando que ele estava só com um pequeno acidente. Lá no UPA foi muito mal informação (F7); [...] Eu penso que se meu irmão tivesse sido assistido aqui no pronto socorro mais rápido, eu acho que meu irmão estaria vivo ... é que demoraram muito ... foi muito mal assistido mesmo (F1); [...] Meu filho foi levado para UPA ... Eu via ele piorando e ninguém fazia nada ... Demorou muito tempo para eles pedirem a transferência ... Ele chegou no hospital “H” sem sinais vitais, já era tarde (F8).

Os familiares relataram dificuldades para obter informações do

atendimento inicial nos serviços de urgência referenciada, caracterizados pela

ausência ou demora em obter informações sobre a gravidade do quadro de seus

entes falecidos hospitalizados, sendo, algumas vezes, obtido informações por meio

de terceiros, ou seja, pessoas que não pertenciam a equipe e que não estava

envolvida no cuidado:

[...] Lá não, demorou muito, muito, muito mesmo. Assim, ninguém vinha falar nada ... O policial que foi lá entrevistar a gente para saber o que aconteceu, né, como tinha sido ... Ele que foi lá perguntar. Aí, ele veio e falou alguma coisa. Eu tenho uma tia do meu marido que trabalha lá, dentro do hospital “H”.

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Aí, eu liguei pra ela, só que ela estava de férias ... Lá, de onde ela estava, ela ligou para saber, e foi ela quem falou para mim, que minha mãe não estava bem, que o quadro dela era muito grave. Em nenhum momento veio ninguém falar nada, ninguém, ninguém. Eu fiquei sabendo de fora, por terceiros (F6); [...] Nós foi visitar ele no hospital “H”. Ele estava com a cabeça muito inchada, nós nem reconheceu, na verdade, ele, né ... Aí, a gente fica muito desesperado, né ... A gente queria que alguém viesse falar com a gente, mas só o pessoal que trabalhava lá, os enfermeiros que estavam cuidando dele que conversou com a gente, pediu para esperar, que o médico estava atendendo outra pessoa, estava fazendo cirurgia, e nós, esperamos muito, umas três, quatro horas (F4); [...] Quando eu cheguei no hospital “H”, meu filho estava na emergência, esperando ir para cirurgia, porque deu um coágulo no cérebro. Eu passei o dia todo no hospital, ninguém vinha dar uma satisfação. Pensa comigo, eu era a mãe ... e só no final da tarde, o médico veio falar comigo que ele estava grave, que ele ia para cirurgia. Como você acha que eu estava? Foi os piores dias da minha vida. Só eu sei a angústia. Tinha passado o dia todo na porta da UPA e, no outro dia, todinho, na porta do hospital que era minha esperança ... Mas tive pouquíssima informação dele (F8).

4.2 Vivenciando a ME do ente falecido

Por se tratar de uma fase difícil do processo de doação, a vivência dos

familiares diante da ME foi caracterizada como complexa, devido as relações

pessoais envolvidas, do pouco ou nenhum conhecimento dos familiares sobre essa

temática e dos acontecimentos da internação que marcaram os parentes. Na

sequência abaixo, seguem descritas em subcategorias.

4.2.1 O anuncio precoce aos familiares da ME antes do diagnóstico

Os familiares relataram precocidade por parte da equipe médica em

comunicar a ME, sendo esse diagnóstico transmitido, muitas vezes, no primeiro

contato desta com a família. Diante disso, os familiares acreditam que não foram

realizados todos os exames ou não foram feitos todos os procedimentos necessários

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para que o PD sobrevivesse, sendo o tempo inicial, dedicado ao atendimento do PD,

muito reduzido:

[...] Na chegada dele, depois que ele veio da tomografia, o médico já veio e falou comigo que era morte encefálica, uma, duas horas depois (F5); [...] Primeiro, eu acho que foi muito rápido o diagnóstico que falou que ela morreu. Porque assim, depois de duas horas do acidente, que foi quando eu cheguei no hospital, o médico já falou que ela estava praticamente morta (F3); [...] Logo que meu irmão foi transferido para o hospital, o médico disse para nós que ele tinha dado um derrame na cabeça e que o quadro dele era muito grave, provavelmente, ele estaria com morte cerebral (F1); [...] O que passou pra gente, na verdade, foi uma pressa muito grande. Sabe, igual eu falei pra você, ele chegou lá fazia pouco tempo e já foi condenado a morte cerebral (F4); [...] O médico da UTI chegou pra mim e falou que ela não sobreviveria que era morte cerebral. Falou assim, sem volta, no corredorzinho da UTI, com apenas poucas horas que ela havia entrado no hospital (F9).

4.2.2 Falta de esclarecimento prévio sobre a ME durante a vida

Os familiares apontaram desconhecimento sobre a ME, alegando que não

há esclarecimentos prévio na sociedade e no seio familiar. Assim, para compreendê-

la, algumas famílias recorreram a ferramenta da internet por meio do buscador

Google. Além disso, afirmaram que durante a hospitalização, os parentes não têm

condições intelectuais para compreender as informações passadas sobre a ME:

[...] Eu já sabia que o quadro dele não tinha como porque a cabeça dele estava muito inchada. Se eu sempre tivesse uma curiosidade, eu ia no Google pesquisar sobre essas mortes. Então, eu comecei a entender (F7); [...] Eu fui pesquisar na internet porque na minha cabeça não tava claro ainda, que ela estava morta ... Aí, eu vi vídeo de pacientes que levantavam, que sentavam, e tinham pacientes que também voltavam depois ... e a minha esperança era essa, da minha irmã acordar. A gente nunca tinha conversado sobre isso, morte encefálica ... porque é uma coisa que não se fala quase, né. Você vê falar na televisão de morte cerebral? (F3);

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[...] Eu nunca ouvi falar de morte encefálica, e de repente, alguém virou pra mim e disse que minha mulher estava nessa condição. Você acha que eu tive cabeça para entender tudo aquilo, naquela hora? (F9); [...] Essa conscientização tem que ocorrer antes na sociedade, em vida, porque na hora que acontece a coisa, a cabeça está em outro lugar (F5).

4.2.3 Percepções dos sinais vitais e do reflexo medular como impasse para

compreensão do diagnóstico de ME

Foi relatado dificuldade em assimilar o conceito ME mediante a presença

de batimentos cardíacos, manutenção da normotermia corporal, crescimento de

pelos e ausência de sinais externos de traumatismo. A presença de reflexos

medulares e a demora para evolução à parada cardíaca nos potenciais doadores

não efetivados geraram insegurança nos familiares em relação à irreversibilidade do

diagnóstico de ME:

[...] Mas naquele momento nada é muito claro, né ... o coração batendo, mas está morto (F5); [...] Até achava que ele estava vivo, realmente ele estava quente e a barba estava crescendo. A gente ficou muito perturbada, porque todas as vezes que eu ia lá, ele estava quentinho ... depois dos exames, ele ficou ainda 8 dias vivo no aparelho ... a gente achava que ele estava vivo, porque os órgãos dele não paravam (F7); [...] Mas para mim foi muito difícil ... o coração dela estava batendo, a gente via no monitor. Ela estava bem quentinha e se machucou muito pouco, era mais a cabeça mesmo ... eu segurei a mão dela e ela mexeu o dedo, e eu fiquei com aquilo na cabeça (F3); [...] É difícil você ficar naquela esperança, parece que você quer ouvir um sim ... parece que a pessoa tá viva ... o corpo ali, né, quente ... e assim, igual uma coisa que marcou muito, foi que eu encostei minha mão, assim, perto da mão dele, e senti que ele apertou meu dedo ou puxou assim, sabe (F4); [...] Nessa hora é difícil a gente crer que ele está morto. A gente via o coração batendo e o médico dizendo que ele estava morto ... Então, o meu irmão, ele ficou lá para ser liberado o corpo, dois dias, morto no hospital. Desde que eles falaram que ele estava morto porque que demorou tudo esse

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tempo pra desligar os aparelhos? Então, isso que subia dúvida na gente (F1); [...] Eu falava para ele: sai dessa cama!, mas ele não me ouviu ... o coração batia forte, eu via na televisão da UTI ... parecia que estava dormindo (F8); [...] Ela não tinha nenhum arranhão, foi só o sangramento no cérebro ... ela respirava, os batimentos do coração normalzinho, coradinha (F9).

4.2.4 A desconfiança do atendimento prestado e dos exames realizados

As famílias manifestaram desejo em acompanhar os exames necessários

que diagnosticam a ME, bem como expressaram dúvidas em relação a assistência

oferecida, questionando, se realmente, a equipe médica fez todos os procedimentos

essenciais para este diagnóstico. Outro fator relevante é o desacordo entre as

informações médicas passadas aos familiares relacionadas às condições clínicas do

PD, deixando os parentes desacreditado do atendimento prestado:

[...] Foi dito que seria realizado, mas não foi dito quando. Eu gostaria de estar no hospital quando aconteceu, porque foi num domingo às 00h30, segundo o laudo lá ... porque fica uma sensação de que sempre tem uma conspiração. Será que foi feito? (F5); [...] Assim que eu cheguei lá, quando ela sofreu o acidente, o médico já veio falar comigo que ela já estava praticamente morta ... mas será mesmo que não tinha o que fazer? Será que ele não podia fazer cirurgia para tentar reverter alguma coisa? ... Será que deu tempo de fazer tudo o que tinha que ser feito dentro de duas horas? (F3); [...] Depois, no outro dia, o outro médico que falou que talvez ele iria fazer a cirurgia, e a gente sentiu um pouco de esperança, né ... e aí, depois dessa cirurgia, falou que já não tinha mais esperança, que já tinha feito os exames, e que provavelmente o cérebro dele já estava morto ... então, a gente ficou muito confuso e não sabia em quem acreditar (F4); [...] O médico disse que ela estava com morte encefálica e que faria uma bateria de exames ... mas porque não deixaram alguém da família acompanhar? ... eu queria ver esses exames. Você acha que médico não erra? (F10).

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4.3 Motivos apontados para o não consentimento

Nessa categoria os participantes apontaram enfaticamente os

acontecimentos e os motivos que contribuíram para a recusa familiar à doação, os

quais foram subcategorizados e descritos a seguir.

4.3.1 A entrevista familiar realizada precocemente

Os familiares relataram que a equipe médica propôs a possibilidade para

a doação assim que seu ente querido foi admitido no hospital, ou seja, antes da

conclusão do diagnóstico de ME, ou imediatamente após a conclusão desse.

Nessas circunstâncias, relataram dificuldade em processar a ME, acreditando que o

PD ainda estaria vivo, ou que o estado mortis pudesse ser revertido.

Outro apontamento feito pela família refere-se a proposta da equipe

médica em realizar os exames que constatam a ME mediante a favorabilidade

familiar a doação de órgãos:

[...] Assim que eu cheguei no hospital, quando a minha irmã se acidentou, o médico já falou pra mim, se eu, se a gente tinha a intensão de doar os órgãos dela (F3); [...] Ele já falou que o caso era muito sério, que o acidente tinha afetado muito o cérebro dele ... estava com a cabeça muito inchada, e já falou se nós tínhamos interesse, para pensarmos em fazer a doação dos órgãos dele. A gente ficou muito assustado, assim, de cara, né (F4); [...] O médico chegou na gente e ele veio falar se a gente queria conversar sobre a doação de órgãos, se tinha a possibilidade de doar os órgãos, no momento que fez o primeiro teste ... Falou que deu negativo pra gente, lá no corredor ... Aí, eu já falei pra ele que eu não queria saber sobre doação porque minha mãe não aceitava (F7); [...] Após os exames de tomografia, foi dito o seguinte: se nós concordássemos com a doação, que aí seria iniciado o protocolo de morte encefálica (F5); [...] Mediante a notícia do médico que disse que ele estava morto, e logo em seguida, já veio falar de doação de órgão ... como é que eu ia convencer a minha mãe a doar, sendo que ela tinha esperança, ainda, que esse quadro poderia se reverter e meu irmão pudesse sair dessa? (F1).

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4.3.2 A recusa da família independente do desejo do falecido

Os familiares recusaram a doação quando: 1) desconheciam o desejo do

falecido pela doação; 2) sabiam que o seu ente falecido não era doador ou possuía

uma posição duvidosa quanto à doação; 3) o ente falecido era favorável a doação,

porém a família recusou à doação alegando que os trâmites legais para a cirurgia de

extração dos órgãos e tecidos levaria um tempo adicional, que poderia ocasionar em

aborrecimento no seio familiar, visto que alguns parentes residiam em outros

estados e não poderiam esperar para participar do sepultamento:

[...] Nós só não doamos porque meu pai em alguns momentos disse que não gostaria, por alguma convicção dele. Ele não deixou nada muito claro ou escrito ... então, na dúvida, a gente optou por não (F5); [...] A gente nunca tinha falado isso com a minha irmã. Ela era nova ... então, a gente não sabia se era vontade dela ou não ser doadora (F3); [...] A minha mãe sempre falou que ela queria, só que a minha família não é daqui, é toda de Rondônia. Então, muita gente veio e já tinha que ir embora ... eu não poderia ficar esperando ... A moça, quando fez a entrevista da doação, falou que ia demorar porque tinha essa outra pessoa na fila que era doador (F6); [...] Eu até lembrei da gente assistindo um filme. E tinha isso: doação, né. Ele não queria doar. Então, na hora, tudo vem na mente da gente ... Foi feito a vontade dele, não era a vontade dele, mas o medo dele (F4).

4.3.3 O medo familiar em relação ao tráfico de órgãos

As famílias relataram a hipótese de que a ME foi premeditada pela equipe

médica para, posteriormente, os órgãos dos PDs serem comercializados. Assim,

verbalizaram essa desconfiança do atendimento médico, principalmente, quando se

considera a situação de corrupção política existente no país, que pode ser

generalizada para outras áreas, levando os familiares a sentirem insegurança e

medo da assistência prestada:

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[...] Ele suspeitou disso, de tráfico, porque ele falou: não é possível porque ele está respirando. Eu até concordei com ele porque você sabe que tudo nesse país nosso é dinheiro (F4); [...] A gente pensava: será que eles estão querendo os órgãos do meu irmão pra doar, pra vender, sei lá, tráfico de órgãos? ... minha mãe até falou que os médicos matou ele pra arrancar os órgãos. A gente pensou isso porque foi muito no começo, né ... que já veio falar de doação de órgãos. Ele não deixou para o dia do exame final (F7); [...] Tem muito isso, né ... ah, se é doador, pode ser que dependendo do lugar que caia, vão acelerar alguma coisa (F5); [...] Eu pensei em tráfico de órgãos. Nesse país tem de tudo (F10).

4.3.4 O conflito familiar em relação a opção pela doação

Embora fossem favoráveis à doação, os familiares entrevistados optaram

pela recusa, respeitando a opinião contrária à doação de outros parentes,

independente do desejo do falecido pela doação ou não:

[...] Ele tinha vontade de ser doador. Ele era uma pessoa muito maravilhosa, pessoa que gostava de ajudar todo mundo, de bom coração ... mas a equipe médica falou que todos tinham que concordar, se um não concordasse, não tinha como fazer (F2); [...] Olha, se fosse por mim, eu no meu caso, eu aceitaria doar, mas eu deixei para minha mãe porque foi ela quem pariu ele. E ela não quis (F1); [...] A minha mãe era a mais forte pra dizer para não doar. Eu e meu irmão, nós não sabíamos que meu pai havia comentado com ela que ele não queria doar ... então, num primeiro momento, nós até falamos vamos doar, né (F5); [...] Minha irmã não queria de jeito nenhum e eu ia decidir sozinha? ... eu ia decidir por mim? É muito complicado ... eu não sabia o que fazer (F3); [...] Eu, por mim, eu fazia a doação. Meu irmão não era doador de órgãos ... só que minha mãe, ela não queria de jeito nenhum (F7).

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4.3.5 Percepções de falhas ou comportamentos dos profissionais

desfavoráveis a doação

Os familiares apontaram ausência de informações sobre como seria o

desligamento do suporte terapêutico após terem optado pela recusa. Relataram

também, que a equipe médica assistencial, ao perceber a favorabilidade da família

em doar, e mediante as condições clínicas desfavoráveis do PD, (deduziram que o

aproveitamento real dos órgãos poderia ser mínimo ou nenhum), deixaram os

familiares mais confortáveis em dizer não a doação.

Houve preocupação familiar em relação ao posicionamento de alguns

profissionais de saúde em recrimina-los diante da decisão de não doação. Além

disso, a prática de profissionais realizarem a entrevista familiar precoce, (antes da

conclusão do diagnóstico de ME), e mediante esta negativa inicial, após a

constatação da ME, esses profissionais não retomarem a possibilidade de doação

com a família, pode ser uma atitude desfavorável a doação:

[...] Aí, eu já falei pra ele que eu não queria saber sobre órgãos porque minha mãe não aceitava. Aí, ele não falou mais sobre doação, só foi no primeiro dia do teste. No terceiro teste, ele levou a gente pra uma salinha, confirmou a morte encefálica e não falou mais sobre a doação dos órgãos (F7); [...] Faltou esclarecimento, né, quanto a decisão de doar ou não doar demoraria tanto tempo assim ... se a gente soubesse, eu teria tentado convencer minha mãe rapidinho pra doar porque, doando ou não doando, iria demorar do mesmo jeito (F1); [...] Eu acho que, se eu não fosse doar, seria desligado os aparelhos naquele momento ... A médica falou assim: pode ser que pela idade dela e pelo traumatismo que ela teve, pode ser que seria aproveitado pouca coisa ... tem grande possibilidade de vocês esperarem todo esse tempo e ela não doar nada (F6); [...] Naquele momento você não tem cabeça pra pensar nas outras pessoas que estão precisando ... Eu sei que o médico quer salvar vidas. Eu até falei pro médico: Dr., o senhor não acha que eu sou uma pessoa ruim, de coração mau, eu não sou (F4); [...] Eu fiquei com receio de falar não naquele momento. O médico insistiu muito, falou que ela tinha os órgãos bons ... mas parece que eles estão preparados só pro sim (F9).

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4.4 Percepção das necessidades de apoio psicológico e social manifestado

pela família não doadora

Os familiares reiteraram ser importante um acompanhamento

psicossocial tanto durante quanto após a conclusão do processo de doação, pois

alguns entrevistados relataram que membros da família adoeceram após

vivenciarem esse processo, com comportamentos de isolamento social, até

afastamento das atividades laborais. Algumas famílias conseguiram elaborar a perda

mediante ajuda por meio espiritual (através da igreja; a crença em Deus), social

(com apoio de amigos do trabalho) e psicológico (através de atendimento

profissional custeados pela própria família):

[...] Eu senti muita falta de um acompanhamento pós, psicológico ... todo mundo ficou muito mal. Eu fiquei bem mal, fui procurar ajuda; meu irmão, também. Minha mãe, ela relutou um pouco em falar sobre a morte e ir atrás. A igreja ajudou muito ela. Mas eu senti assim, uma entidade no porte da instituição “H”, com tantos profissionais ... Estabelecer um processo de acolhimento pós também porque fica uma coisa muito fria. Faleceu, faleceu, acabou, nunca mais ouvimos falar da instituição “H” (F5); [...] Minha irmã ficou até doente. Ela passa até hoje com psicólogo, com psiquiatra. Ela toma remédio pra dormir ... A gente pensou em vender a nossa casa e voltar morar com nossos pais ... Acho que tanto durante quanto depois dessa fase a gente tem que ter um acompanhamento, sabe, psicológico. Minha irmã teve que afastar do serviço; ela toma remédio pra depressão (F3); [...] Para mim ainda é muito difícil, é uma caixinha que fica guardadinha ali, né ... Eu acho que poderia dar um suporte pra gente de psicólogo ... Eu fiquei afastada por um ano do meu serviço, e assim, eu tive um pouco desse suporte do pessoal do meu serviço, né ... (F4); [...] Minha mãe ficou tão triste que ela faleceu logo que meu irmão morreu ... Ela não se conformava; parou de comer (F7); [...] Minha mãe, depois que ele faleceu, ela ficou muito triste, muito aborrecida, que é natural também ... O que ajuda mais a minha mãe é que ela sempre vai na igreja, que ajuda ela nessa parte ... Tá sempre nos cantos chorando ... (F1); [...] Eu passei por um momento bem difícil ... depois que ela faleceu, nossa filha só ficava trancada no quarto, não queria ir

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à escola ... Agora que ela está passando com um psicólogo ... Penso que até eu precisava passar com o psicólogo porque é difícil ... Como eu te falei, eu não tenho religião, mas acredito muito em Deus (F9); [...] Minha mãe que trabalhava fora e bancava a casa ... meus irmãos passou por momento difícil, até necessidade ... Nessa hora, não parece a ajuda de ninguém, né ... é só a família mesmo. Depois que ela morreu, meu irmão do meio passou a beber e usar porcaria ... (F10).

Ressaltamos que as oito famílias que recusaram a participar desse

estudo, alegaram dificuldades emocionais para voltar a falar sobre suas vivências no

processo de doação e informaram não querer recordar daqueles momentos vividos.

4.5 Necessidade de humanizar o processo de doação

Frente a complexidade das relações, diante do processo de doação, os

familiares apontaram que os profissionais precisam humanizar o atendimento,

principalmente, na permissão de visitas, porque trata-se de um momento em que os

parentes querem estar próximos do PD. Assim, apontaram contratempos no seio

familiar, referentes a limitação no número de pessoas liberadas para visitas nas

unidades de internação, bem como os horários reduzidos destas, e ressaltaram que

durante a internação de um membro da família, a presença de pessoas

significativas, como amigos, outros membros da família e líderes espirituais, conforta

a família diante da perda.

Os familiares destacaram a importância da equipe assistencial transmitir

as informações das condições clínicas e dos momentos do processo de doação a

todos os membros da família, pois por se tratar de um momento difícil para os

parentes, estando emocionalmente abalados, não conseguem passar as

informações, que receberam da equipe médica, aos demais membros da família.

Também apontaram que alguns profissionais médicos e enfermeiros mantiveram

uma postura totalmente fria e apática, tornando esse momento ainda mais difícil:

[...] Às vezes, você pega um médico mais calmo, que fala: tá tudo bem, tá indo, tá num estado estável. Depois, você já pega um médico que logo já te dá uma pancada, e fala: oh, já vou falar sincero porque tá grave, gravíssimo, e não dou esperança nenhuma. Só que fazer o quê?... Cada um tem um jeito de se falar (F2);

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[...] Eles não abriram nenhuma exceção, era só aquele horário e falava só comigo, pra mim falar pro resto da família ... Se eles fizessem uma reunião com a família para explicar pra eles a mesma coisa que o médico explicava para mim, dos processos, dos testes, que ela não respondia, acho que seria um pouco mais fácil ... eles podiam ser mais flexíveis ... ser mais humanos, pensar mais na família porque a gente se sente um nada (F3); [...] Tinha algumas enfermeiras mais jovens que era uma arrogância tremenda ... Decidiu-se ali, fazer uma oração, nada espalhafatoso, e essa enfermeira, simplesmente, interrompeu e falou: se não entrar agora, não entra mais. Assim, não esperou 30 segundos, né ... Ali, era um momento que tinha duas famílias se ajudando ... Não pode tratar as pessoas que já estão tão fragilizadas de uma forma tão rude (F5); [...] Tinha uma enfermeira, que era mais ou menos; mas tinha outra, que era insuportável, bem chata ... Dependendo do horário, você conseguia ter mais informações do que com a outra (F6); [...] O que mais me incomoda, o que mais assim, é triste, né, principalmente, para mim, para os irmãos dele, é que a família quer estar presente, né ... Então assim, é um por vez ... você vai, é aquela espera, aquela agonia para o médico vim dar uma satisfação pra gente. Passa pra gente, que do lado de lá, do lado deles, é um lado sem humanidade, né, um lado frio. Isso é muito dolorido. Isso marca muito a gente (F4); [...] Pra quem trabalha com morte, pode ser natural e você fala numa boa ... Mas do outro lado, você acaba interrompendo sonhos ... Precisa pensar mais o quê e como se falar, se o momento, ali, é o ideal ... faltou humanização (F9); [...] Nós somos em 13 filhos ... você acha, todo mundo queria ver. Só entrava dois lá, na UTI; o resto ficava lá fora sofrendo ... eu acho é que faltou jeito pra se falar ... parece que eles não têm muita paciência com a gente. Eu falei pro médico falar com meus irmãos, e ele falou que sempre é assim: fala com um, que passa as informações pra família ... mas a gente não explica direito, né (F10).

4.6 Sugestões apontadas pelos familiares para melhorar o processo de doação

Os entrevistados apontaram que minimizaria o sofrimento se, após

concluído o processo de doação, mesmo quando as famílias não doassem, que lhes

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fossem proporcionados suportes psicológico e social, garantidos pelo serviço público

de saúde, pois o componente financeiro tem impacto nesse momento, podendo ser

limitante às famílias.

Cogitou-se que a temática da ME e da doação de órgãos seja mais

divulgada para o conhecimento e conscientização da sociedade, pois no momento

que a família está vivenciando a perda do PD, não há condições psicológicas para

processar tantas informações. Além disso, caso optem em doar, solicitam que o

tempo de entrega do corpo aos familiares, para fazerem o sepultamento, seja

reduzido, e concluíram, que seja intensificado as ações nos ambientes assistenciais

de forma mais humanizada, valorizando esses momentos vividos pelos familiares:

[...] Tipo assim: o falecimento foi no dia primeiro, sei lá ... no dia dez, quinze, se a senhora quiser, a senhora pode voltar ... para ver como é que está, para conversar ... um trabalho que primeiro fosse gratuito, que é o impeditivo para muitas pessoas ... pode ser um residente, um aluno ... enfim, mais acompanhar, dar atenção (F5); [...] Ele não queria, ele tinha esse medo. Talvez, se isso fosse esclarecido como foi pra mim, pra ele em vida, pode ser que a gente tinha tomado outro caminho ... (F4); [...] Eles podiam ser mais humanos com a gente ... Minha irmã saiu de casa bem, com saúde para trabalhar, não era uma pessoa que ficou doente, e a gente não teve tempo pra absorver ... Acho que tem que ter mais divulgação sobre morte cerebral, sobre doação ... Hoje a gente tem essas informações, mas porque a gente passou por isso (F3); [...] Se a fase da doação fosse mais rápida, com certeza nós optaríamos em doar. Mas esperar tanto tempo assim, pra quem já está em sofrimento, fica muito difícil ... minha família não iria participar do sepultamento, eles eram de longe ... (F6); [...] Eu fiquei na porta da emergência, fiquei plantada lá, na UPA e no hospital. Ai, você não sai nem para comer porque você tem medo deles chamar e você não está lá pra receber alguma informação ... Acho que tem que melhorar as informações ... (F8); [...] Esse, é um dos únicos momentos da vida que precisamos desabafar ... e tem que ser com profissional. Então, eu percebi uma dificuldade imensa para conseguir essa ajuda do postinho ... Acho que a equipe da UTI, médicos, principalmente, devem fazer curso de capacitação ... sei lá ... se sensibilizar mais com a gente nesse momento (F9);

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[...] Eu penso que tem que ter mais sentimento com a gente e deixar todos os filhos ver, né .... falar direitinho com todo mundo porque assim, não fica dúvidas ... também acho que a prefeitura poderia ter ajudado a gente pro enterro ... pegamos até dinheiro emprestado (F10).

4.7 Desejo em doar manifestado pelos familiares após o processo de doação

Outro achado deste estudo demonstra o desejo dos familiares em optar

pela doação após terem a experiência de não ter doado, pois a vivência desse

momento, desse tipo de morte no seio familiar, possibilitou a essas famílias

compreendê-la, e após essa experiência vivida, declararam ser favoráveis a doação,

pois acreditam que esta atitude de favorabilidade reverte o significado de finitude,

minimizando a dor dessa perda:

[...] Eu aconselharia a pessoa a doar porque aquilo ali significa uma vida para o nosso semelhante, né ... Então, porque não salvar uma vida? (F1); [...] Se a pessoa está em morte encefálica, já morreu, né, não tem o que fazer ... Você tiver pensando que tem uma pessoa sua, vivendo ali, tem um pedacinho dele vivendo em uma outra pessoa, eu ficaria feliz de fazer uma coisa dessa (F8); [...] Se a gente tivesse a cabeça que a gente tem hoje, seria diferente, entendeu? Hoje eu sei que uma pessoa em morte encefálica, ela não vai voltar ... Então eu doaria com certeza (F3); [...] Se eu tivesse deixado doar os órgãos dele, eu poderia ter ele vivo, o coração dele batendo no peito de outra pessoa ... Hoje eu penso assim, morrer, ele morreu, não teve o que fazer, mas que poderia ter sido diferente ... Eu acho que nessa história triste ia brotar um sorriso (F4); [...] Se a médica tivesse falado que os órgãos dela daria para aproveitar, eu teria doado, mas ela falou que minha mãe poderia ajudar muito pouco, devido o trauma que ela teve. Era o desejo dela. Eu poderia ter tentado, né. Imagina o coração dela ajudando outra pessoa? (F6); [...] Quando der a morte encefálica é aceitar que a morte encefálica existe, mesmo com os aparelhos ligados, a pessoa está morta. Se eu pudesse hoje, eu doaria (F7).

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[...] Eu não tenho dúvida que se eu tivesse a clareza da morte cerebral, sei lá ... Se o pedido para doar os órgãos fosse mais humano, eu doaria tudo. Por causa de uma conversa mal feita a gente fica revoltado e deixa de pensar na bondade da doação. Eu poderia ter doado, né, pois ela estaria ajudando alguém (F9).

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5. DISCUSSÃO

O presente estudo avaliou as percepções de familiares de potenciais

doadores elegíveis a doação de órgãos e tecidos não efetivos devido à recusa

familiar, identificou as características e falhas da internação de PDs referentes ao

processo de doação, compreendeu como as famílias dos PDs foram entrevistadas

para a possibilidade de doação, desvendou os motivos que levaram os familiares ao

não consentimento e revelou o desejo dessas famílias em relação a doação, após

terem vivenciado esse processo.

Quanto aos resultados sociodemográficos dos PDs da OPO HC-

UNICAMP, notificados no ano de 2015, predominou-se indivíduos brancos, do sexo

masculino, adultos, casados, dentro de uma faixa etária economicamente

produtiva14,27,32,73,86,88, com possível impacto econômico nos lares dessas famílias

que perderam seus entes falecidos.

Em relação aos familiares entrevistados, embora a amostra seja reduzida

(n=10), destacou-se indivíduos brancos, do sexo feminino, adultos, casados, com

baixa escolaridade e renda e pertencentes a religião católica, sendo encontrado

perfil semelhante em outros estudos14,86.

A baixa escolaridade89-90 e renda da população brasileira contribui para

que o Brasil ocupe índices medianos no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)89

e pode ser um fator preocupante no cenário da doação, pois baixo nível de

escolaridade e a desinformação da população possibilita interpretações deturpadas

a respeito do processo de doação, confrontando os princípios da bioética, em que

indivíduos mal informados sobre o tema em questão não são capazes de decidir

conscientemente se desejam realizar a doação dos órgãos de seu ente falecido90.

A proximidade geográfica da OPO HC-UNICAMP com os hospitais

notificantes da RMC facilita o deslocamento dos membros deste serviço para a

promoção de atividades educativas sobre o processo de doação e para a realização

da entrevista familiar, porém não tem sido suficiente para garantir que as equipes

assistenciais desses hospitais sejam qualificadas, pois observamos que esses

profissionais anteciparam as informações do processo de doação, gerando

insatisfação nos familiares. Essas ações revelaram que há um despreparo das

equipes assistenciais que atuam nos hospitais notificantes da OPO HC - UNICAMP

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para conduzir os casos de ME, sendo essencial maior envolvimento dos

profissionais especialistas em doação nas notificações de PDs, visto terem

experiência e competência técnica nos processos de doação, podendo transmitir

maior segurança e confiança às famílias, além de auxiliar as equipes assistenciais

destes hospitais diante das demandas apresentadas.

Houve predomínio das lesões traumáticas sobre as cerebrovasculares, o

que diverge dos estudos que avaliam o perfil dos potenciais doadores, os quais

apontam que as causas de ME por lesões cerebrovasculares têm liderado sobre as

traumáticas nas últimas décadas14,19,27,32,72-73,86,91-92.

Dados estatísticos da mortalidade nacional brasileira ratificam que as

doenças cerebrovasculares foram a segunda causa de óbito num total de 102.965

óbitos em 201693, e que houve uma redução dos óbitos por causas traumáticas

cerebrais, a qual pode ser explicada pela intensificação das leis de trânsito vigentes

no país91,94, que visa reduzir a nível nacional a morbimortalidade por acidentes de

trânsito. Este diagnóstico alerta para a necessidade de maior rigor das equipes

transplantadoras na avaliação dos órgãos para transplantes, pois há elevada

associação entre as doenças cerebrovasculares com morbidades (como a HAS, o

DM, o sobrepeso e a obesidade) e hábitos de vida (representados pelo tabagismo, o

etilismo e a drogadição)95-96, que podem ser limitantes, mas não impeditivos para

alguns tipos de transplantes97-99.

As UTIs foram os locais prioritários de internação dos PDs, porém ainda

encontra-se um número considerável destes pacientes internados nas unidades de

emergência. Sabe-se que o número de leitos intensivos nos serviços públicos de

saúde do país não atende a demanda36, persistindo a internação de pacientes

graves no setor de urgência, (aproximadamente 30% dos PDs são internados nesse

setor)32,72,92, que atualmente se comportam como unidades superlotadas, tornando

fragilizada a assistência prestada100, pois o PD requer cuidados intensivos,

orientações e esclarecimentos de todas as fases do atendimento aos familiares,

(desde antes do início do processo de diagnóstico de ME, abrangendo-se a todas as

etapas subsequentes), e que muitas vezes, não se conseguem ser prestados no

atendimento oferecido nas unidades de emergência.

Os relatos de insatisfação dos familiares com o atendimento nos serviços

de urgência, descritos na categoria “Insatisfação familiar com os serviços prestados

nas unidades de emergências”, aponta para falhas no atendimento inicial prestado

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nas UPAs, como a percepção de pouca resolutividade no atendimento e

descontinuidade da assistência prestada com os serviços de urgência referenciados,

ratificam os achados da literatura100.

Os profissionais que atendem pacientes com lesões neurológicas graves

devem estar cientes da gravidade e da necessidade em priorizar as transferências

destes pacientes, dos serviços de urgência de menor complexidade (UPAs) para os

de alta complexidade (hospitais referenciados), bem como, adotarem protocolos

assistências envolvendo a coordenação clínica das instituições, visando agilidade no

atendimento prestado. Sabe-se que as lesões cerebrovasculares, como o Acidente

Vascular Encefálico é uma urgência médica, e os pacientes com esses sinais

clínicos de gravidade devem ser priorizados. Dessa maneira, os serviços de saúde

devem ser guiados por protocolos de assistência do Ministério da Saúde (MS) em

todas as esferas de cuidado, como UPAs, SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de

Urgência) e hospitais referenciados101 para que o atendimento prestado não seja

negligenciado.

A precocidade das equipes assistências em anunciar a ME aos familiares,

antes da conclusão do diagnóstico de ME, pode ser um problema no processo de

doação. Na categoria “Anuncio precoce aos familiares da ME antes do diagnóstico”

os parentes informaram que a equipe médica comunicou a ME assim que o PD foi

admitido no hospital, ou seja, antes de iniciar os exames do processo de diagnóstico

de ME, transparecendo aos familiares a impressão de que não foi dado tempo para

ser realizados todos os exames e procedimentos necessários para salvar a vida do

PD, gerando desconfiança no seio familiar, confirmado pela categoria “desconfiança

do atendimento prestado e dos exames realizados”.

De acordo com a resolução do CFM 2.173/20174, somente os

profissionais médicos devem comunicar os familiares sobre a constatação da ME, a

qual se concretiza após a conclusão dos exames clínicos e complementares. Assim,

quando os exames do processo de diagnóstico de ME são iniciados com menos de

24 horas de internação, mesmo com respaldo da legislação para iniciá-los4, há

necessidade de um cuidado adicional, esclarecendo os familiares sobre todos os

procedimentos adotados, para não haver a sensação de que a equipe assistencial

não se empenhou para manter vivo seu ente falecido34.

Os relatos dos familiares ratificam que muitas famílias não foram

esclarecidas inicialmente da gravidade clínica do PD, sendo antecipado a

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constatação da ME antes desse diagnóstico ter sido concluído, o que caracteriza

como infração ética. Assim, o atendimento prestado ao PD foi compreendido pelos

familiares como inadequado e incompleto devido a pressa para constatação da ME,

o que induziu os parentes a pensarem que houve descaso e negligência.

Outra dificuldade apontada pelos familiares, em relação ao processo de

doação, refere-se a incompreensão da situação de ME de seu ente, e mesmo

estando nessa situação fragilizada, foram entrevistados para a possibilidade da

doação.

A entrevista familiar é uma atividade complexa e multifatorial, visto que

envolve aspectos específicos do profissional entrevistador, do familiar a ser

entrevistado e do local escolhido para fazê-la, além disso, demanda conhecimentos

específicos do processo de doação para não haver negligência de questões éticas e

legais, com necessidade de profissionais capacitados para identificar e lidar com

fatores que facilitam ou dificultam o diálogo, como a singularidade de cada família.

Nesse momento do processo, a família traz consigo vivências e percepções distintas

em relação ao hospital, do atendimento e da fase do diagnóstico de ME, de modo

que algumas pessoas são dóceis, outras mais agressivas, adotando posturas mais

questionadoras33.

Na percepção das famílias entrevistadas, a categoria “entrevista familiar

realizada precocemente” leva-nos a concluir que as entrevistas foram feitas em

momentos inadequados, como antes da conclusão do processo de diagnóstico de

ME (ou seja, PD ainda estava legalmente vivo) ou imediatamente após a

comunicação da ME (mesmo estando legalmente em ME, não foi dado chance para

os familiares compreender esse tipo de morte).

Diante desses achados, pode-se considerar que há uma prática nos

hospitais de abrangência da OPO HC-UNICAMP em realizar precocemente a

entrevista para doação, sendo essa desaconselhada pela literatura, pois mesmo

quando os familiares são propensos a doar, um fator impeditivo pode ser o fato de

se sentirem sobrecarregados com a notificação da morte, imediatamente seguido do

pedido de consentimento18,102, sendo essa abordagem capaz de criar uma sensação

de urgência, dificulta o foco do pedido, porque nesse momento as famílias sofrem

com a constatação da morte85, ficando em choque, desestruturadas e necessitando

de tempo para assimilar a notícia e, muitas vezes, do apoio de outro membro da

família para tomar quaisquer decisão33.

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O esclarecimento da ME é essencial para a tomada de decisão familiar.

Estudo revela que 100% dos familiares que autorizaram a doação compreenderam

que a ME é a morte do indivíduo, e entre aqueles que recusaram a doação, o

conceito de ME não ficou bem definido; além disso, solicitam que a entrevista

familiar não seja realizada após a comunicação da ME aos familiares, e sim, que

seja dado um tempo para a reflexão familiar18,102, ou seja, as percepções das

familias encontradas neste estudo podem ser confirmadas na literatura, reforçando a

orientação para que as entrevistas sejam feitas somente após a compreensão

familiar da ME, que demanda, um tempo adicional.

A elevada taxa de profissionais não especializados em doação,

incapacitados para transmitir más notícias e para realizar as entrevistas14, contribui

para a recusa; e a atuação de especialistas nessa temática tem impacto positivo nas

taxas de consentimento familiar33,37,85, sendo esta uma das estratégias de países

com elevados índices em doação62, e que deve ser analizada pela OPO HC-

UNICAMP juntamente com a gestão clínica e administrativa dos hospitais

notificantes. Dessa forma, quando os profissionais médicos entrevistaram os

familiares de maneira precoce, antes da constatação da ME, demonstram estar

despreparos técnicamente para esta ação do processo de doação.

Entende-se que a presença do médico e do enfermeiro é imprescindível

no manejo das alterações hemodinâmicas do PD e representa a intervenção que, de

fato, possibilite ofertar órgãos de boa qualidade para transplante, porém atenção

especial deve ser dada aos familiares do PD, garantindo-lhes informações e

esclarecimentos, ou seja, assistência mais humanizada, que direciona os familiares

na tomada de decisão103.

O enfermeiro exerce um papel-chave na manutenção do potencial doador,

em razão de sua grande proximidade com esses indivíduos e capacidade para

reconhecer as alterações fisiológicas decorrentes da ME, para que, junto à equipe

médica, possam instituir o manejo mais apropriado para a situação103, porém ainda

há pouco conhecimento entre esses profissionais, que atuam em unidades críticas

(UTIs e emergência) para o cuidado desse tipo de paciente104.

Sabe-se que o enfermeiro possui competências (conhecimento técnico e

científico, liderança, equilíbrio emocional e tomada de decisão) essenciais para sua

prática profissional105 que são essenciais ao assistir o PD e seu familiar. Desse

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modo, percebe-se que há lacunas em relação a capacitação desse profissional que

merecem ser sanadas103-104.

Segundo a Resolução 292/2004 do Conselho Federal de Enfermagem

(COFEN), cabe ao enfermeiro planejar, executar, coordenar, supervisionar e avaliar

os procedimentos de enfermagem prestados aos doadores de órgãos e tecidos. Os

enfermeiros responsáveis por esses serviços devem ter conhecimento e formação

adequada não somente para oferecer informações necessárias aos familiares, mas

também para identificar um possível doador e realizar as intervenções de

enfermagem na manutenção desse indivíduo106. Assim, entendemos que o papel do

enfermeiro é crucial no processo de doação, pois assistem ao PD e seu familiar,

desde o momento da internação até a liberação do corpo para o sepultamento, ou

seja, estão envolvidos na admissão do PD e em todas as fases do processo de

doação. Dessa forma, esses profissionais se relacionam com os familiares e passam

a ser referência para estes.

Acredita-se que quando o enfermeiro vivencia o mundo da vida cotidiana

da doação e identifica os obstáculos, esses são guias seguros para interpretar a

realidade social, e a relevância que atribui a essas dificuldades é determinante na

projeção de ações que permitam mudar os paradigmas dos profissionais de

saúde103.

Diante desses achados da literatura, considerando a importância do papel

do enfermeiro no processo de doação, somados as percepções dos familiares nas

categorias - “percepções de falhas ou comportamentos dos profissionais

desfavoráveis a doação; necessidade de humanizar o processo de doação” – nota-

se que a postura de alguns enfermeiros tem sido desfavorável a esse processo,

pois esses não têm levado em consideração as singularidades e peculiaridades de

cada situação familiar, adotando posturas rígidas e inflexíveis. Denota-se falta de

sensibilidade desses profissionais com as famílias, constatada diante da limitação do

número e tempo para a visita hospitalar e pela maneira fria e apática adotadas pelos

profissionais de saúde para transmitirem as informações da evolução clínica dos

PDs e do processo de doação aos familiares. Para Groot et al.18 a falta de empatia e

a postura de indiferença de alguns profissionais com os familiares foram fatores que

colaboraram com a recusa à doação.

A inclusão de assistentes sociais no atendimento dos familiares de PDs

durante o processo de doação auxiliam nas dificuldades sociais e econômicas que

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possam ser impeditivas para que as famílias compareçam no hospital durante o

período de internação dos PDs e após a constatação da ME32, sendo esta

necessidade apontada pelos familiares dos PDs, pois esses profissionais, além de

acolherem as famílias, orientando-as sobre seus direitos sociais e econômicos, que

muitas vezes são desconhecidos e ignorados, são essenciais para contatar os

familiares diante da necessidade da equipe médica fazer novos esclarecimentos,

bem como, quando capacitados, estão aptos a realizar as entrevistas para doação.

Nota-se que profissionais que oferecem apoio psicológico são de extrema

importância na condução das notificações e devem ser inseridos no processo de

doação, tanto para atuar junto às famílias no momento de internação quanto após a

conclusão desse momento. Esses profissionais propõem ações que dão suporte

psicológico junto ao núcleo familiar, e se considerarmos os motivos para a não

doação encontrados neste estudo e na literatura14-27,85,107 - a falta de esclarecimento

prévio sobre a ME durante a vida, a desconfiança do atendimento prestado e dos

exames realizados, o medo familiar em relação ao tráfico de órgãos, o conflito

familiar em relação a opção pela doação, a percepção de falhas ou comportamentos

dos profissionais desfavoráveis a doação, entre outras – percebemos que há

desajustes, que podem ser trabalhados e minimizados com a atuação de um

profissional da psicologia, auxiliando os familiares a decidirem de forma menos

dolorosa.

A falta de apoio psicológico durante o processo de doação contribui para

a recusa à doação18. Além disso, detectamos uma problemática maior, que a falta de

apoio psicológico a essas famílias tem interferido na retomada de suas atividades

diárias, após terem vivenciado esse processo.

As dificuldades de atendimento que as famílias dos PDs relataram ao

procurar atendimento com profissionais da saúde mental, a nível de saúde pública,

revelam uma ausência de suporte psicológico a essas famílias, principalmente após

vivenciarem o processo de internação, conforme os relatos presentes na categoria

“percepção das necessidades de apoio psicológico e social manifestado pela família

não doadora”.

O apoio psicossocial, manifestados pelas famílias entrevistadas, deve ser

oferecido pelos serviços de saúde público, independentes da decisão de doar ou

não doar, garantindo a atuação desses profissionais para que possam auxiliar os

familiares em suas demandas, na tomada de decisão e dúvidas que apresentam,

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64

transmitindo maior atenção e cuidado aos mesmo, promovendo a humanização

nesse processo18,85,107.

A humanização do cuidado é uma prática que os profissionais saúde

necessitam valorizar e nesse estudo, foi uma solicitação unânime dos familiares,

principalmente, porque sentem mais fragilizados no momento de internação de um

ente.

Assim, partimos do princípio que a comunicação do quadro clínico dos PD

e da realização de entrevista em espaços não privativos, como beira do leito, salas

adaptadas, corredor e recepção do hospital, também encontradas por outros

estudos14,32 deve ser desaconselhável, pois pode transparecer uma falta de cuidado,

além desses ambientes terem maior possibilidades de ruídos, que podem desviar a

atenção durante esse momento33. Para que essa prática seja extinta, há

necessidade de investimentos na estrutura hospitalar, nas dimensões física, material

e de recursos humanos, para melhorar a efetivação de PDs32.

A temática da humanização dos serviços de saúde no âmbito hospitalar

vem sendo alvo das políticas governamentais brasileira, que empreendem ações

para disseminar uma nova cultura de atendimento, o atendimento humanizado108.

A preocupação em humanizar as relações estabelecidas foi sugerida

pelos familiares para melhorar o processo de doação, conforme a categoria

“sugestões apontadas pelos familiares para melhorar o processo de doação”. Faz-se

necessário melhorar a comunicação entre os membros da família e da equipe

assistencial, a fim de tentar reduzir danos gerados na internação no ambiente

hospitalar, principalmente em unidades de cuidados intensivos109. Assim,

percebemos que alguns profissionais que atuam nas instituições hospitalares

ignoram em suas práxis as políticas de saúde, como a Política de Humanização do

SUS, instituída a mais de uma década, que visa a ampliação dos horários e número

de visitas, com permissão da presença de acompanhante, mesmo em unidades

críticas, valorizando a presença da família71,110, e quando identificados, devem ser

reorientados e suas posturas inibidas.

A literatura nacional já tem demonstrado uma preocupação em relação a

humanização no atendimento de enfermagem e de outros profissionais de saúde em

relação as famílias de PDs, enfatizando a necessidade de se promover um ambiente

acolhedor, no qual os familiares sejam ouvidos104, porém este estudo acrescenta um

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cuidado a mais, ou seja, deve-se haver maior flexibilidade em relação a permissão

de visitas nos ambientes de internação.

A primordialidade em garantir o cuidado humanizado leva os profissionais

de saúde a resgatarem os princípios da bioética111, sendo as informações dadas aos

familiares de PDs fundamentais para que os mesmos se sintam respeitados, e

tenham autonomia em suas escolhas.

A autonomia, um dos princípios da bioética, refere-se ao indivíduo e sua

capacidade de decisão, como também exige da sociedade o respeito a essa

decisão. Entendemos que para decidir sobre alguma coisa, são necessários

adequados entendimento e conhecimento do assunto para que o processo de

análise seja realizado de forma mais inteirada da realidade, reduzindo-se os erros

advindos de uma conduta ou atitude insensata, o que muitas vezes é irreversível112.

Observou-se desrespeito ao princípio da autonomia, quando constatamos

a falta de esclarecimento das famílias em relação ao quadro clínico dos PDs, do

diagnóstico de ME e da possibilidade de doação de órgãos e tecidos, evidenciado

nas categorias - “percepções de falhas ou comportamentos dos profissionais

desfavoráveis a doação; falta de esclarecimento prévio sobre a ME durante a vida;

percepção de sinais vitais e reflexo medular como impasse para compreensão do

diagnóstico de ME; desconfiança do atendimento prestado e dos exames realizados

e medo familiar em relação ao tráfico de órgãos”.

Em relação a categoria “a recusa da família independente do desejo do

falecido”, observa-se desrespeito da autonomia do PD pelos próprios membros da

família, pois optaram pela recusa, mesmo sabendo que o falecido desejava ser

doador. Esse achado ratifica que houve conversa entre os membros da família sobre

a temática da doação, e segundo pesquisadores, a negativa familiar diante do

desejo do falecido em ser doador, pode ser atribuída a fatores contextuais, como

mal momento do pedido, família sobrecarregada, apoio insuficiente de outros

parentes ou profissionais de saúde, pouco conhecimento adquirido na internação

sobre a doação de órgãos18, ou seja, reforça o entendimento que a desinformação

da população sobre o processo de doação contribui para o desfecho da recusa.

As informações veiculadas pelos meios de comunicação de massa não

têm sido suficientes nem eficientes para modificar os conceitos inadvertidos sobre

essa temática; ao contrário, reforçam o imaginário popular repleto de mitos,

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crendices e desinformações sobre as atividades relacionadas aos transplantes no

Brasil e em outros países13,14,22,90.

Tendo em vista as categorias encontradas em relação a percepção dos

familiares que recusaram a doação, permite-nos apontar para falhas no contexto

educacional sobre essa temática, fragilizando a sociedade, que passa a ser

facilmente manipulada por uma indústria cinematográfica disponível, desconfiando

da legalidade das ações do sistema de doação e transplante vigente,

descaracterizando a importância social dessa atitude. O descrédito da população

pode ser intensificado frente ao cenário de insegurança nas relações políticas do

nosso país, podendo ser estendidas e generalizada para outras áreas, como a

desconfiança nas ações dos profissionais de saúde. Sendo assim, podemos

compreender e não estranhar a postura dos familiares quando optam em não doar.

A questão da doação de órgãos no Brasil, ainda, transcorre de forma

pouco esclarecida à população. Até mesmo a equipe de saúde não está

suficientemente esclarecida. O tema envolve questões socioculturais, econômicas,

afetivas, técnicas e éticas que merecem discussão e pesquisa113.

A convicção dos familiares de PDs em milagres14,17,19,20,22, ratifica nossa

tradição Judaico – Cristã, porém nenhuma religião se posiciona de modo absoluto

contrária à doação, mas a crença da morte relacionada à parada cardíaca e os

rituais ligados ao corpo do falecido são impactantes no momento da doação113-114,

demonstrando que culturalmente o conceito de ME é pouco aceito em nossa

sociedade, apontado em vários estudos, como um conceito

desconhecido14,17,20,22,27,113, dificultando sua aceitação12.

Nesta pesquisa, predominou-se familiares que se declararam católicos,

seguidos de evangélicos. Durante as entrevistas, foram unânimes os relatos de fé e

crença em Deus para vivenciar a perda do ente falecido, mesmo entre os que

relataram não protestar nenhuma religião.

A literatura aponta que entre os Cristãos há favorabilidade para doação. A

igreja da Inglaterra foi tão longe, até declarar a doação de órgãos como um dever

cristão115, e pequenos grupos levaram essa ideia ainda mais longe, para promover

ativamente e esperar doação altruísta entre seus seguidores114; o posicionamento

do catolicismo também incentiva a doação116. Nesse sentido, considerando que o

Cristianismo se declara favorável a doação, e que os dados do último censo

brasileiro confirmam que temos uma população predominantemente Cristã, [86,8%

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das pessoas se declaram Cristãos, representados por católicos (64,6%) e

evangélico (22,2%)]117, a religião não deve ser vista como empecilho à doação em

nossa população, sendo possivelmente, um dos maiores entraves, o enfoque

socioeducacional.

O tempo prolongado para devolver o corpo aos familiares para o

sepultamento foi apontado como empecilho para não doar, mesmo diante da

intensão prévia em doar dos parentes e do PD. A literatura tem comprovado que

esse motivo tem sido impactante à doação14,17, e foi apontado pelos familiares deste

estudo como sugestões para melhorar a efetivação da doação, a redução desse

tempo, destinado as etapas após o consentimento, na categoria “sugestões

apontadas pelos familiares para melhorar o processo de doação”.

Durante a entrevista, os familiares solicitam informações sobre o tempo

gasto nos procedimentos de extração dos órgãos para que eles possam se

organizar para a cerimônia fúnebre. Ao serem informados pelos profissionais da

doação um tempo estimado de 24 horas, (tempo gasto para realizar todos os

procedimentos necessários a validação dos PDs com segurança e dentro dos

princípios éticos e legais)14, muitas famílias optam em não doar, alegando ser um

tempo moroso, prolongando a dor e o sofrimento. Diante dessa problemática,

identificada em estudos nacional14,17 e internacional18, é essencial a atenção das

autoridades em doação para repensarem estratégias que minimize esse tempo,

sendo essencial o desenvolvimento de pesquisas que desvendem todas as etapas e

tempos gastos nessa fase da doação para que sejam feitas intervenções efetivas,

pois esse tempo prolongado foi apontado como um fator limitante à doação, mesmo

entre as famílias que desejavam doar.

Outro resultado dessa pesquisa, refere-se ao fato das famílias

entrevistadas terem favorabilidade em doar, pois acreditam que se tivessem optado

pela doação, teriam algum órgão ou tecido de seu ente em outra pessoa, invertendo

o significado de finitude da morte, além do bem-estar que poderiam proporcionar ao

contribuir com a qualidade de vida de “outrem”. Identificou-se um enorme sofrimento

vivenciado por esses familiares, que além de terem perdido pessoas importantes no

seu convívio familiar, também demonstram sofrimento pela decisão de não terem

doado, reforçando a necessidade de maior apoio psicológico e social para as

famílias que não doaram.

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A experiência relatada pelos familiares que vivenciam a possibilidade da

doação é singular. Estudo com famílias que recusaram à doação e não se

arrependeram por não doar, revelam que esta decisão poderia ter sido diferente, se

o processo de doação fosse abordado de maneira mais humana nas relações

estabelecidas entre familiares e profissionais de saúde, respeitando o sofrimento da

família18; outro estudo revela que a opção pela doaçao propõe experiências

positivas, como: afasta a visão negativa da morte; possibilita a ajuda de outra

pessoa; consegue dar significado para a vida do falecido; promove sensação de

conforto e paz57, o que não afasta a necessidade de serem cuidadas, ou seja,

necessidades de suporte socioemocional a essas familias após esse momento61.

Na busca por melhores indicadores da doação e transplante detectamos

que países com elevados índices em doação têm destinado maiores investimentos

em educação e saúde da população, sendo adotado estratégias de políticas públicas

multifacetadas, (destacando-se a coordenação intra-hospitalar para doação,

educação dos profissionais que trabalham em unidades hospitalares de pacientes

críticos, atenção aos meios de comunicação de massa com vistas a educação da

população e incentivo financeiro aos hospitais para atividades de doação)62 e

introdução de conceitos da doação de órgãos na alfabetização de crianças114.

Esses achados permitem-nos maior reflexão e entendimento sobre os

elevados índices da recusa à doação no Brasil, que ainda mantém uma deficiência

desse saber na população, (que infelizmente passa a ter conhecimento sobre ME e

doação de órgãos apenas no momento de falecimento de um ente querido, e diante

do sofrimento e da falta de esclarecimentos, não conseguem tomar decisões mais

conscientes, pois muitas vezes, o único conhecimento adquirido durante a vida, em

relação a essa temática, refere-se a um filme assistido, que muitas vezes aborda

cenas não condizentes com a solidez do nosso Sistema Nacional de Transplante

vigente), e as experiência negativas que as famílias tiveram com os profissionais de

saúde durante a internação do seu ente falecido, podem contribuir para a recusa

familiar.

Tais proposições, somadas ao caráter repentino da internação que deixa

os familiares em choques, ao sofrimento e desgaste diante da perda do ente

falecido, a postura familiar em não querer vivenciar mais conflitos na tomada de

decisão mesmo com o conhecimento prévio do falecido em ser doador, sem suporte

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socioemocional, a família tende a encurtar o tempo de sofrimento, e opta em não

doar.

Entende-se que a problemática da recusa não afeta apenas a família que

perdeu a chance por não doar, mas representa uma dimensão maior, retratando a

falta de políticas públicas e o abandono educacional que conscientizam para esse

contexto, agravando ainda mais quando não oferece subsídios aos profissionais de

saúde para se atualizarem e corrigir possíveis inadequações.

Deve haver efetivo envolvimento das instituições que formam os pilares

de todo o processo da doação e transplante: poder público, hospitais, profissionais

de saúde e sociedade118, para maior eficiência e precisão nestes processos.

Assim, cabe ao Sistema Único de Saúde e Sistema Nacional de

Transplante a elaboração e implementação de medidas que minimize as falhas

assistências que são desfavoráveis ao processo de doação, como a capacitação dos

profissionais de saúde, principalmente, na comunicação de más notícias, da morte

encefálica e entrevista familiar para doação, bem como estratégias políticas e

gerencias em saúde que garanta suporte psicológico e social a essas famílias, tanto

durante quanto após a vivência do processo de doação.

Quanto aos profissionais de saúde, compete a responsabilidade e

necessidade constante em adquirirem conhecimentos para poderem atuar de forma

segura, ética e mais humanizada, respeitando a decisão familiar, pois acabam

atuando como educador, capaz de modificar a opinião pública quanto aos conceitos

errôneos; mas as crenças desfavoráveis só poderão ser modificadas se os

educadores estimularem a população a participar de debates sobre transplantes de

órgãos e legislação90.

Ainda há lacunas no processo de doação em relação aos anseios das

famílias e da sociedade, sendo essencial a implementação de medidas que favoreça

o acesso às informações, esclarecendo o processo de doação e a necessidade de

órgãos para transplante no país, tanto para os profissionais de saúde quanto para a

população, minimizando as dúvidas e ampliando o conhecimento, favorecendo o

cuidado humanizado, restabelecendo a confiança nos serviços de saúde e ajudando

os familiares tomarem decisões mais conscientes e autônomas.

Em relação as limitações encontradas nesta pesquisa, ressaltamos que o

estudo revelou as percepções de famílias não doadoras em relação a vivência do

internamento de um ente falecido, porém não identificou as percepções de famílias,

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com perfil sociodemográfico semelhantes, que foram atendidas sob condições de

assistência idênticas, e mesmo assim, optaram pela doação dos órgãos e tecidos de

seu ente falecido.

Não foi possível identificar as categorias e as qualificações desses

profissionais envolvidos nos processos de doação a qual comtemplou esta pesquisa,

não sendo encontrado na literatura estudo de campo, observacional para análise e

interpretação de fatos e fenômenos que ocorrem dentro dos cenários e ambientes

de internação do PD.

Sugerimos a intensificação de atividades educativas oferecidas pelos

membros da OPO HC-UNICAMP, junto aos profissionais que prestam assistências

nos hospitais; e a elaboração e implantação de protocolos assistenciais institucional

que contemple, especificamente, a equipe multiprofissional (médicos, enfermeiros,

assistentes sociais, psicólogos, entre outros) para melhorar o cuidado e garantir que

os familiares terão informações de seu ente durante a internação, levando em

consideração as peculiaridades e gravidades dos pacientes com lesões cerebrais

graves que evoluem para ME, para que as falhas de comunicação e a falta de

informação, apontadas pelos familiares neste estudo, sejam minimizadas e abolidas.

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6. CONCLUSÃO

Na perspectiva dos familiares que recusaram a doação percebeu-se:

1) Falhas no atendimento inicial do potencial doador nos serviços de

emergência. Somados a isso, identificou-se lacunas no atendimento prestado as

famílias, como a falta e a demora para se obter informações da gravidade da

situação do potencial doador;

2) O despreparo técnico e humanístico dos profissionais de saúde que

prestam atendimento aos familiares de potencial doador, que muitas vezes, pode

explicar a precocidade das equipes de saúde para a transmissão de informações

relacionadas a morte encefálica e a entrevista familiar. Esse processo de equívoco

de tempo evidenciou a falta de protocolos assistências nas instituições;

3) Os motivos apontados para o não consentimento familiar são passíveis

de intervenções educativas, tanto para os profissionais de saúde quanto para a

população, ou seja, a recusa familiar entendida nesse sentido é passível de ser

modificada;

4) Houve dificuldade no seio familiar para elaborar o luto de seu ente

falecido e retomar a vida cotidiana, sendo apontado escasso apoio psicossocial pelo

Sistema Único de Saúde, durante o processo de doação e, principalmente, após

este período;

5) A sensação de finitude nas famílias não doadoras, após vivenciar o

processo de doação, pode ser modificada e atenuada com a opção em doar. Diante

disso, a maioria das famílias entrevistadas relataram arrependimento por não terem

doado.

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85

8. APÊNDICES

APÊNDICE I

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título do projeto: Recusa para doação de órgãos e tecidos na perspectiva da

família.

Pesquisadora: Simey de Lima Lopes Rodrigues

Orientadora: Profª. Dra. Ilka de Fátima Santana Ferreira Boin

Introdução: o(a) Sr.(a) foi informado(a) previamente pela pesquisadora para

participação voluntária nesta pesquisa que visa conhecer sobre a recusa família

para doação de órgãos e tecidos na perspectiva da família do(a) doador(a)

_________________________, pois acreditamos que os familiares do potencial

doador são as principais pessoas no processo de doação, ou seja, são as pessoas

que vivenciaram momentos de muita tristeza e dor e que além disso, tiveram que

escolher sobre a doação de órgãos de seu ente querido no momento da perda;

Propósito do Estudo: estamos realizando um estudo para conhecer o perfil dos

profissionais que atuam no cuidado de pacientes que evoluem para a morte

encefálica, daqueles que atuam em todo o processo de doação e das famílias

entrevistada, bem como desejamos constatar na perspectiva da família como foi

vivenciar a internação do seu familiar e os principais motivos que levaram a não

autorizarem a doação de órgãos de seu ante querido;

Procedimento: O(a) Sr.(a) participará de uma entrevista que será realizada pela

aluna Simey de Lima Lopes Rodrigues sob orientação da Profª. Dra. Ilka de Fátima

Santana Ferreira Boin em apenas um único momento. Essa entrevista será

direcionada em forma de questionamento, sendo o que mais importa é que o(a)

Sr.(a) compartilhe suas experiências vivenciadas durante a internação de seu ante

querido (potencial doador de órgãos __________________). Todo conteúdo deverá

ser gravado, pois a pesquisadora necessita dos detalhes para fazer as análises da

fala do(a) senhor(a).

Participação voluntária: sua participação não é obrigatória e, mesmo que o(a)

Sr.(a) concorde em participar da pesquisa, pode desistir de participar a qualquer

momento. Além disso, o(a) Sr.(a) poderá solicitar informações sobre a pesquisa

sempre que desejar;

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Riscos e desconfortos: informamos que a sua participação neste estudo não tem

riscos. Para nossa conversa será essencial que o(a) Sr.(a) compartilhe suas

experiências do momento da hospitalização de seu ente querido, mas se essas

lembranças forem desconfortáveis para os familiares, a entrevista poderá ser

interrompida.

Benefícios: ao participar da pesquisa o(a) Sr.(a) não receberá nenhum benefício e

estará contribuindo para que tenhamos informações importantes sobre como os

familiares de potencias doadores são acolhidos nos hospitais e esclarecidos sobre o

diagnóstico de morte encefálica e da possibilidade da doação, o que será útil para

propormos um melhor atendimento e cuidado as pessoas que passam por esse

processo. O(a) Sr.(a) não receberá qualquer ajuda financeira para participar do

estudo;

Custo/reembolso para o participante: sua participação no estudo não envolve

qualquer tipo de despesa, pois as entrevistas serão agendadas de acordo com a

disponibilidade da família. Os custos de transporte serão por parte da pesquisadora.

Confidencialidade da pesquisa: sua identidade será mantida em segredo em todas

as apresentações, publicações e qualquer outra forma pela qual este estudo for

divulgado;

DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO

Eu,_____________________________________________RG:________

____, declaro que li as informações contidas nesse documento e fui devidamente

informado(a) pela pesquisadora Simey de Lima Lopes Rodrigues, RG 35158188-1,

dos procedimentos que serão utilizados, riscos e desconfortos, benefícios,

custo/reembolso dos participantes, confidencialidade da pesquisa. Autorizo minha

participação neste estudo de forma voluntária, e fui a responsável pelo(a) potencial

doador(a) (grau de parentesco -------------). Foi-me garantido que posso retirar o

consentimento a qualquer momento, sem que isso leve a qualquer penalidade.

Declaro ainda que recebi uma cópia do Termo de Consentimento.

Campinas, _______ de _________________________ de 201__.

Assinatura da pesquisadora

Assinatura do participante

Em caso de dúvidas, o senhor(a) poderá entrar com contato com

Pesquisadora pelo fone (19- 988047501) ou com o Comitê de Ética em Pesquisa da

FCM Unicamp (19 3521-8936).

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APÊNDICE II

INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS

Perfil Sociodemográfico e Clínico do Potencial Doador Elegível

Número da Entrevista: __________

Data da coleta dos dados: ____________Número do registro na OPO: ___________

Dados do Hospital

Hospital notificador: ____________Unidade de internação: ____________________

Dados de identificação do potencial doador

1. Nome do PD: _________________________ Idade em anos: _______________

2. Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino

3. Cor da pele (Branca, Parda, Negro, Amarelo): ____________________________

4. Estado Civil: ( ) Casado e/ou união consensual; ( ) Viúvo; ( ) Divorciado; ( )

Solteiro)

5. Procedência:

5.1 Campinas ( ); 5.2 Outros municípios ( ): _______; 5.3 Outros estados ( ):_____

6.0 Causa da ME: TCE ( ); AVE ( ); Outras ( )______________________________

Informações da entrevista familiar

7.0 Familiar responsável: ______Grau de parentesco: 1ª ( ); 2ª ( ); Outros ( )

7.1 Tempo de internação (em dias): _______________________(meses)________

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APÊNDICE III

INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS

Perfil Sociodemográfico do Familiar Entrevistado (Parte A)

Número da Entrevista: ___________ Número do PD na OPO: ________________

Tentativas de ligação telefônica:

( ) 1ª _____________________ Data: _________________

( ) 2ª ______________________ Data: _________________

( ) 3ª ______________________ Data: _________________

Autorizou em participar:

( ) Sim - Tempo da entrevista após a recusa: _____________________

( ) Não; qual o motivo alegado: _________________________________

Data da Entrevista: ___________________ Local: __________________________

Dados de identificação do familiar

1. Nome do Entrevistado: ___________________________ 2.Idade: ____________

3. Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino

4. Escolaridade – completo ou incompleto (Ensino fundamental; Ensino Médio;

Superior; Pós graduação): ______________________________________________

5. Cor da pele (Branca, Parda, Negro, Amarelo): ____________________________

6. Estado Civil (casado e/ou união consensual; viúvo; divorciado; solteiro): ________

7. Religião (Católica; Protestante; Evangélica; Outras): _______________________

8. Profissão: _________________________________________________________

9. Procedência:

9.1 Campinas ( ); Outros Municípios ( ): _____; Outros estados ( ):_____

10. Vínculo empregatício: Sim ( ) Não ( );

11. Renda familiar total (em reais): _________ Salários Mínimos: _______________

No de pessoas na casa: _________; Renda Familiar per capta: _________________

12. Profissão: ________________________________________________________

Perfil Sociodemográfico complementar do PD (Parte B)

13. Religião (católicos, evangélicos, protestantes, entre outras): ________________

14. Escolaridade: _____________________________________________________

15. Vínculo empregatício: Sim ( ) Não ( ).

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APÊNDICE IV

Roteiro de entrevista Semiestruturada

Número da Entrevista: ___________

Data: ___/___/_____

Questões norteadoras sobre: Internamento, diagnóstico de ME e entrevista

familiar

1. Como o(a) senhor(a) avalia o atendimento dado ao seu familiar durante o tempo em

que ficou no hospital internado?

2. Como o(a) senhor(a) avalia as informações que foram dadas desde a suspeita a

morte encefálica?;

3. Como o(a) senhor(a) avalia o profissional e a entrevista realizada?

4. O que o(a) senhor(a) acha que contribuiu, em todo o processo de doação, para a

decisão da recusa familiar para não doação de órgãos?

5. 4. Se tivesse que falar com alguém que tem um ente querido em morte encefálica

(morte cerebral), ou seja, dar um conselho, o que o(a) senhor(a) diria? Porquê?].

6. O(A) senhor(a) tem alguma sugestão para melhorar todo esse momento que foi

vivenciado (internamento e processo de doação)?.

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9. ANEXOS

ANEXO I

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

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ANEXO II

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ANEXO III

Trabalho Apresentado em Congresso Internacional