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UMA INTRODUÇÃO ÀS PERSPECTIVAS DE ATUAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO
FAZENDÁRIA NA DINÂMICA DO REGIONALISMO CONTEMPORÂNEO
por
Marcos Antonio Bezerra Brito1
Introdução da pesquisa em curso por
convênio entre o Programa de Pós-
Graduação em Direito da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro
e o Instituto Alemão de Pesquisas em
Administração Pública (Deutsche1 Mestre em métodos de trabalho em tributação (PUC-Rio 2005), doutor emdireito tributário procedimental (PUC-Rio & Deutsche Universität fürVerwaltungswissenschaft-Speyer 2010), pós-doc em administração fazendária(PUC-Rio & Deutsche Universität für Verwaltungswissenschaft-Speyer 2012). Apesquisa atual, cuja introdução consiste neste artigo, concluído em setembrode 2015.
Forschungsinstitut für öffentliche
Verwaltung - Speyer).
Rio de Janeiro/Speyer, agosto de 2015.
Sumário
Habitamos e protagonizamos, como cidadãos,
empreendedores ou agentes públicos, o curso do regionalismo
econômico contemporâneo, embora sejam eventualmente escassas em
nossa compreensão cotidiana as dinâmicas subjacentes moventes
das decisões políticas, negociais ou de consumo que nos afetam
na forma, p.ex. como podemos negociar os bens ou a garantia do
que compramos, a maneira como as empresas devem prestar
informações comerciais, contábeis e fiscais, ou como precisamos
atender o controle migratório de outros países, se viajamos.
Assim também os requisitos para a transferência de empresas ou
de oportunidades de emprego e salário em nosso país ou para
outro. É dizer que a intensidade com que percebemos alterarem-
se nossas alternativas de consumo, crédito, serviços, emprego
ou empreendimento, não é correspondida usualmente de imediato
por nossa capacidade de compreender-lhes as causas subjacentes,
nós que hoje convivemos situados no regionalismo contemporâneo.
Mas o que está mudando, se já antes do regionalismo econômico
também havia regras que se modificavam como acontece hoje? O
que se pode até aqui indicar é que as modificações nas relações
econômicas e sociais que nos afetam hoje e nos afetarão
doravante tendem já agora a originar-se em menor medida nas
fontes de direito político estatal, e não mais necessariamente
serem mediadas somente pelos estados nacionais. Procuramos
neste ensaio investigar a atuação da administração fazendária
no regionalismo econômico contemporâneo, identificando-a num
modelo dinâmico de espaço público, que será o método de
identificação de tal atuação. Palavras-chave: Regionalismo
econômico, espaço público contemporâneo, administração
fazendária.
Uma introdução às perspectivas de atuação da administração
fazendária no regionalismo econômico contemporâneo
A – Perguntas a responder e motivo do itinerário proposto para
respostas
Como poderemos compreender que as demandas por
padronização de qualidade, preço mínimo e até de distribuição
dos produtores de vinho da Europa não dependam de seus
ministérios de agricultura ou das relações exteriores, pois têm
eles representação em Bruxelas? Como poderemos compreender
p.ex. a existência e atuação das OSCIP2 na execução das
políticas públicas no Brasil, as quais concorrem pelas verbas
orçamentárias com órgãos governamentais de administração que
atuam no mesmo segmento? A mundialização comercial, da
comunicação e do crédito dinamizou de tal modo as relações
econômicas e sociais, que o Estado não tem condições de hoje
sozinho - quiçá nem mesmo predominantemente - organizar a
sociedade.
E a regionalização econômica contemporânea, iniciada
no último pós-guerra, é o fenômeno3 que subjaz os
acontecimentos que nos afetam mas não compreendemos, se apenas
consideramos os conceitos e as instituições situadas no2 Organizações Sociais Civis de Interesse Público.3 Na acepção deste ensaioa, um fenômeno dá conta da emergência eduração de instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais porqueinserido nelas, pelo que oferece instrumentos de percepção e compreensão dosconceitos políticos, jurídicos, sociais ou econômicos na sua própriahistória de ruptura, emergência, duração e crise. Sobre fenomenologia geral,dentre muitos mais didáticos, HUSSERL, Edmund, HEIDEGGER, Martin, e GADAMER,Hans-Georg. Para fenomenologia aplicada, dentre muitos outros, SARTRE, Jean-Paul, FOULCAULT, Michel, e DERRIDA, Jacques.
horizonte das relações geopolíticas. Por ser um fenômeno ainda
em curso de construção, não se pode ainda compreender o
regionalismo contemporâneo com conceitos construídos por uma
experiência histórica secular, como a das relações
geopolíticas, tampouco seu institucionalismo cabe em definições
reduzidas pela repetição de problemas, soluções e
consequências, como as instituições construídas e referidas à
atuação estatal, como a administração pública e a administração
fazendária. Esta última, parece-nos, tem sido das mais
alvejadas por modificações na direção de sua atuação e pela
necessidade de flexibilização dos seus papéis tradicionalmente
exercidos, para permanecer a serviço público: o público de seus
serviços tem se expandido para além do espaço territorial,
transbordado pelo o espaço de atuação dos tratados de
regionalização econômica. Se o espaço público contemporâneo da
regionalização não é mais apenas territorial – hoje matéria de
defesa geopolítica -, ele é permeado pelo espaço de atuação dos
tratados regionais e das relações comerciais, de crédito e
comunicação mundiais. Então precisamos retornar teórica e
epistemologicamente a decompor e reconduzir um modelo de espaço
não definido territorialmente, não visível num mapa-mundi, não
perceptível estático, macrofisicamente, mas movido também por
atores e eventos exteriores ao cotidiano estatal, um espaço
dinâmico, microfísico.
B – Posição do problema e referências teórico-metodológicas
Será preciso conceber um itinerário de compreensão para
a atuação da administração fazendária no regionalismo
contemporâneo dos tratados do MERCOSUL e deste com a União
Européia, a partir de novas referências teóricas, como a
dinâmica do espaço público, o regionalismo contemporâneo, os
novos institucionalismos, para examinarmos nossas melhores
oportunidades a partir dos tratados do MERCOSUL, e deste com a
União Européia. Dessa articulação entre as diretrizes dos
tratados e a abordagem adequada, poderemos fazer convergir
respostas que possibilitem perceber a atuação da administração
fazendária no indefinido espaço público do regionalismo
contemporâneo, através da implementação dos tratados e de sua
concretização constitucional, que coadjuvamos como cidadãos,
empreendedores ou agentes públicos.
C – Mediação constitucional das alternativas de respostas
Nos marcos da constitucionalização de garantias aos
direitos fundamentais e da necessidade política de integração
regional na Europa e na América do Sul4, e da mundialização da
4 LAFER, Celso, e FONSECA Jr., Gelson. Notas sobre o alcance dodiálogo político entre a União Europeia e o Mercosul, consulted between16/06/2011 and 29/06/2011 at website https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:GdaMHZkq4-UJ:www.ieei.pt/files/Regular_Democratizar.Lafer-Fonseca.Notas_Sobre.pdf+&hl=pt-
comunicação, do crédito e do comércio eletrônicos, pode-se
perceber que o espaço público contemporâneo tende a ampliar-se
desterritorializando-se, e nesse âmbito a administração pública
passa a atuar, em conjunto com atores públicos e privados, para
além dos limites territoriais e diplomáticos estadocêntricos
tradicionais5.
A tendência crescente – após a 2a. Guerra Mundial - de
constitucionalização dos tratados regionais6 – que avança por
sobre o tortuoso e emaranhado caminho da harmonização
legislativa, frequentemente permeado por desavenças políticas,
econômicas e culturais internas de cada estado nacional –, a
par da participação em sua elaboração e da responsabilidade por
sua implementação interna, têm resultado numa ampliação
transterritorial da administração pública, já agora atuante em
um espaço público também ampliado tanto pelos tratados
regionais, quanto pela mundialização da comunicação, do crédito
e do comércio eletrônicos, porque também constitucionalizadas
em âmbito regional garantias de direitos fundamentais, tais
BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEEShuWG2pslyRdAJoV2Lrp8aIkBudMPnMbrc_68_JjllKN7vxMQtn2GrlbEx2kDcmOgFL6UGPkbfk9InxCl4OgXt5lAwJWQxriClGktkfksbt0iNJ-1PjjbO9r722TK3Zfb_VZTwN&sig=AHIEtbTPchHGIJlUlclNR6CXkAUW-rYw2g&pli=1; 5 SOMMERMANN. Karl-Peter, und MAGIERA, Siegfried (Ed.). Europäisierungund Internationalisierung der Öfentlichen Verwaltung. SpeyererForschungsberichte 252, consultada no websitehttp://www.foev-speyer.de/publikationen/pubdb.asp?reihen_id=1.6 HÄBERLE, Peter. “El Regionalismo como Princípio Estructural Nacientedel Estado Constitucional y como Máxima de la Política del Derecho Europeo”in Retos Actuales del Estado Constitucional, Õnati, IVAP, 1996, p. 75.
como o direito à informação, à comunicação e os direitos de
consumidor.
Entretanto, se com isso o espaço público contemporâneo
ganhou em participação, com mais entes públicos e privados
tendo acesso aos procedimentos decisórios e/ou de implementação
de políticas públicas deliberadas em nível regional, ele perdeu
em definição, definição esta que é cara à atuação estatal
legislativa, reguladora, executiva ou jurisdicional. Esta
opacidade na definição do espaço de atuação estatal decorre
tanto da constitucionalização de um espaço público regional (na
CF88, art. 4o., par. único), quanto da tendência interna das
sociedades contemporâneas de o estado desocupar o espaço
público como agente direto e passar a uma posição de agente
indireto, é dizer regulador.
D – Desterritorialização da administração pública e
internacionalização do direito administrativo
Modificadas que vêm sendo as tarefas do estado
contemporâneo ocidental na dinâmica regulatória e de
implementação dos tratados regionais, tem-se tornado difícil
optar por um itinerário de investigação que vise “mapear” a
atuação da administração pública neste espaço público que se
amplia mais temática que territorialmente7, tanto pelo concurso
de atores privados, quanto pela difusão regional da regulação,
que se não lhe retira a competência, tampouco pode definir - ex
ante da implementação dos tratados regionais - os seus limites.
É dizer que o concurso dos tratados regionais e sua eventual
constitucionalização revolvem as já inseguras definições por
catálogos de competência, levando a que, onde não haja consenso
mínimo para sua implementação interna, judicialize-se a
definição política8.
Mais importante portanto que procurar mapear limites de
atuação da administração pública – o que nos parece uma
infrutífera tarefa, considerando-se que o processo de
regionalização contemporâneo se encontra em desenvolvimento,
não tem posições conceituais definidas como a geopolítica das
7 Ver, sobre a ampliação do espaço public em HÄBERLE, Peter. “ElRegionalismo como Princípio Estructural Naciente del Estado Constitucional ycomo Máxima de la Política del Derecho Europeo” in Retos Actuales del EstadoConstitucional, Õnati, IVAP, 1996, p. 75. SOMMERMANN, Karl-Peter, undMAGIERA, Siegfried (Hrsg.). Europäisierung und Internationalisierung derÖffentliche Verwaltung. Speyerer Forschungsberichte 252, websitehttp://www.foev-speyer.de/publikationen/pubdb.asp?reihen_id =1 .8 Transconstitucionalismo: “Em poucas palavras, otransconstitucionalismo é o entrelaçamento de ordens jurídicas diversas,tanto estatais quanto transnacionais, internacionais e supranacionais, emtorno dos mesmos problemas de natureza constitucional. Ou seja, problemas dedireitos fundamentais e limitação do poder que são discutidos ao mesmo tempopor tribunais de ordens diversas. Por exemplo, o comércio de pneus usados,que envolve questões ambientais e de liberdade econômica. Essas questões sãodiscutidas ao mesmo tempo pela Organização Mundial do comércio, peloMercosul e pelo Supremo Tribunal Federal no Brasil. O fato de a mesmaquestão de natureza constitucional ser enfrentada concomitantemente pordiversas ordens leva ao que eu chamei de transconstitucionalismo.” MarceloNeves, Revista Consultor Jurídico, 12 de julho de 2009.
relações internacionais, tampouco portanto definições claras
de institutos e limites de competência no espaço público
transnacional -, é procurar identificar não os catálogos de
competência, mas a própria atuação da administração pública
neste espaço público, e, especificamente nesta pesquisa, da
administração fazendária, pelos eventos postos em curso por
atores públicos e privados no âmbito regional, a par do espaço
público geopolítico internacional9.
E – Do espaço público macrofísico territorial ao espaço público
microfísico dos tratados regionais
Tratamos portanto aqui de um problema que envolve
decerto uma percepção diferenciada da noção geográfica de
espaço como vinculado a território, e por conseguinte, uma
percepção diferenciada do senso comum sobre a noção de espaço
público.
Diferentemente dos conceitos estadocêntricos já
delineados pela experiência secular das ‘relações
internacionais’10 desde a Paz de Westfália, o regionalismo9 No espaço público das relações internacionais, a cooperação entre asadministrações na prevenção e no combate à lavagem de dinheiro, p. ex. pelorastreamento eletrônico de cédulas de Euro e Dólar e dos fluxos de recursosfinanceiros do comércio eletrônico mundializado.10 Ver BRITO, Marcos Antonio Bezerra Brito. ELEMENTOS DE GOVERNANÇA EMSISTEMAS MULTINÍVEIS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: A VINCULAÇÃO CONSTITUCIONALCONTEMPORÂNEA DA ADMINISTRAÇÃO FAZENDÁRIA NA INTEGRAÇÃO REGIONAL. Pesquisaapresentada como resultado do estágio de pós-doutorado do Programa de Pós-Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
contemporâneo, sem uma experiência secular que não tem, é um
fenômeno em curso de construção. Daí porque, para além das
discussões conceituais e paradigmáticas entre escolhas de
sujeitos multipolares geopolíticos11, ou normas de ‘global
administrative law’12, a atuação da administração pública também
pode ser compreendida13 como uma concertação de critérios
temáticos de consenso com parâmetros fiscais de distribuição
das ações que resultam da deliberação, decisão e implementação
de políticas públicas por uma multiplicidade de atores14
públicos e privados aos níveis regional, nacional, sub-nacional
e local.
em convênio com o Instituto Alemão de Pesquisas em Administração Pública deSpeyer, e a Universidade Alemã de Ciência da Administração de Speyer. RJ,PUC-Rio, 2012, Cap. 1, “Percepção e método”.11 Bibliografia geopolítica das relações einternacionais bipolares /multipolares.12 KRISCH, N. (2006). The Pluralism of Global Administrative Law.European Journal of International Law 17(1): 247-278;13 Ver BRITO, Marcos Antonio Bezerra Brito. ELEMENTOS DE GOVERNANÇA EMSISTEMAS MULTINÍVEIS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: A VINCULAÇÃO CONSTITUCIONALCONTEMPORÂNEA DA ADMINISTRAÇÃO FAZENDÁRIA NA INTEGRAÇÃO REGIONAL. Pesquisaapresentada como resultado do estágio de pós-doutorado do Programa de Pós-Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,em convênio com o Instituto Alemão de Pesquisas em Administração Pública deSpeyer, e a Universidade Alemã de Ciência da Administração de Speyer. RJ,PUC-Rio, 2012, Cap. 1, “Compreensão e método”.14 Ver BRITO, Marcos Antonio Bezerra Brito. ELEMENTOS DE GOVERNANÇA EMSISTEMAS MULTINÍVEIS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: A VINCULAÇÃO CONSTITUCIONALCONTEMPORÂNEA DA ADMINISTRAÇÃO FAZENDÁRIA NA INTEGRAÇÃO REGIONAL. Pesquisaapresentada como resultado do estágio de pós-doutorado do Programa de Pós-Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,em convênio com o Instituto Alemão de Pesquisas em Administração Pública deSpeyer, e a Universidade Alemã de Ciência da Administração de Speyer. RJ,PUC-Rio, 2012, Cap. 1, “Compreensão e método”.
Entendemos que, para além da regionalização financeira
em avanço na União Européia com o Banco Central Europeu, e no
Mercosul com o Grupo de Monitoramento Macroeconômico15, a par de
outras medidas centralizadas nos representantes tradicionais de
cada país, dispostos segundo a correspondência geopolítica
westfaliana secular, o crescente concurso de agências e atores
regionais16 em temas específicos, como fármacos, turismo,
cidades do arco atlântico17, vinicultura, entre muitas18, tem
levado a administração pública a coadjuvar a construção do
regionalismo por vias perceptíveis somente ex post facto, pelo
exercício de interpretação do desempenho dos atores no sentido
do consenso acordado sobre o tema em curso de discussão,
deliberação, regulação ou implementação.
15 Veja-se também o Projeto de Cooperação Técnica Apoio aoMonitoramento Macroeconômico, celebrado com a União Européia. Fontehttp://jus.com.br/revista/texto/18391/coordenacao-fiscal-no-mercosul-obstaculos-e-perspectivas#ixzz1umSH57Lt;16 “This new form of international relations is put into practicethroughout an innovative form of diplomacy, whose actors include not onlyMember States, but also enterprises, political parties, unions, professionalorganizations, subnational entities and above all non-governmentalorganisations”. FRANÇA FILHO, Marcílio Toscano. Law in the TransatlanticTrade Road: The EU-Mercosur Agreement between Global Administrative Law andMultilevel Constitutionalism. Fonte:http://www.garnet.sciencespobordeaux.fr/Garnet%20papers%20PDF/FRANCA%20FILHO,%20Marcilio%20Toscano.pdf. 17 Contribuição da Conferência das Cidades do Arco Atlântico – 6, rueSaint-Martin – 35700 - RENNES (France) – Tél.: +33(0) 2 99 30 24 51 – Email:aacities@gmail.com.18 Além da Comissão Européia, composta por cidadãos que não tomam parteno executivo, no legislativo ou no judiciário nacional nem europeu, e outroscomitês consultivos e para ação social, custeados por fundos, como o FundoSocial Europeu, o Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional e o Fundo deCoesão.
Nossa hipótese é que a administração pública – e
especificamente a administração fazendária – tem operado por
inovação institucional no regionalismo contemporâneo da União
Européia, do Mercosul, da Unasul e do Acordo-Quadro Regional
entre a União Européia e o Mercosul. Entendemos que o
protagonismo da administração pública – e especificamente da
administração fazendária19 - na dinâmica do regionalismo
contemporâneo, é coadjuvado por uma convergência de atuação
temática que também inclui entes privados, convergência esta
que deixa gradativamente de ser fortuita das diretrizes apenas
de cada gestão governamental nacional, se e quando passa a ser
acordada regionalmente e mediada constitucionalmente para ser
implementada internamente, desde as trocas de informações e
comunicação padronizadas entre entes públicos e privados em
termos de procedimentos, procedimentalizando-se daí os
elementos de juízo e de prestação de contas (accountability).
Se o espaço público contemporâneo ganhou em
participação com mais entes públicos e privados tendo acesso
aos procedimentos decisórios e/ou de implementação de políticas
públicas deliberadas desde o nível sub-nacional até ao nível19 Sobre o protagonismo dos ministérios das finanças – administraçãofazendária – no regionalismo contemporâneo, ver BRITO, Marcos AntonioBezerra Brito. ELEMENTOS DE GOVERNANÇA EM SISTEMAS MULTINÍVEIS DEADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: A VINCULAÇÃO CONSTITUCIONAL CONTEMPORÂNEA DAADMINISTRAÇÃO FAZENDÁRIA NA INTEGRAÇÃO REGIONAL. Pesquisa apresentada comoresultado do estágio de pós-doutorado do Programa de Pós-Graduação emDireito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em convêniocom o Instituto Alemão de Pesquisas em Administração Pública de Speyer, e aUniversidade Alemã de Ciência da Administração de Speyer. RJ, PUC-Rio, 2012.
suprarregional (ONU, Banco Mundial, Organização Mundial do
Comércio, Fundo Monetário Internacional), perdeu em definição
no nível regional, definição esta que é cara à atuação estatal
legislativa, reguladora, executiva ou jurisdicional. A atuação
da administração pública tanto em sistemas multiníveis (sub-
nacional, nacional e regional), bem como a partir de sua
interação com outros entes privados e entes/órgãos públicos
para além de um mapeamento por catálogos de competências,
entendemos, pode oferecer uma dimensão mais esclarecedora dos
papéis desempenhados pelo estado no regionalismo contemporâneo,
um processo que, por inacabado, não oferece ontologia segura
como os conceitos políticos e seus decorrentes jurídicos da
experiência histórica geopolítica moderna.
F – O institucionalismo regional de mediação constitucional
Mediador da inovação nas tarefas da administração
pública, o constitucionalismo contemporâneo aponta para um
comprometimento cidadão e solidário com as gerações futuras e
não das gerações futuras, daí a importância dos ajustes fiscais
buscados regionalmente na União Européia e no Mercosul, que
denotam o avanço do cooperativismo constitucional estatal20, a
expansão da participação na interpretação/concretização da
constituição (portanto dos tratados regionais20 HÄBERLE. Peter. Estado constitucional cooperativo. RJ/SP/Recife, Ed.Renovar, 2007.
constitucionalizados) por sua procedimentalização21,
capilarizada na atuação da administração pública22 e dos entes
privados23, e decorrente da tendência crescente no regionalismo
contemporâneo de institucionalização da opinião e da vontade
política espontaneamente gerada na base das sociedades
ocidentais24.
Portanto o interesse desta pesquisa está no exame da
atuação institucional no regionalismo contemporâneo, de modo a
identificar, nos procedimentos25 consolidados, em curso ou em
perspectiva de implementação, suas tendências de regularidade e
pertinência ao espaço público regional, que denotem a presença
21 HÄBERLE. Peter.Hermenêutica constitucional – a sociedade aberta dosintérpretes da constituição: contribuição para a interpretação pluralista e“procedimental” da constituição. P. Alegre, S.A. Fabris, 199722 Por exemplo o Forum Consultivo de Municípios, Estados Federados,Províncias e Departamentos do MERCOSUL, criado em 2004 na Cúpula de OuroPreto;23 Por exemplo, os comitês temáticos da Comissão Européia. Ver emGovernance by Committee, the role of Committees in the European Policy-Making and Policy-implementation, Comitês do Parlamento Europeu e daComissão Européia, http://aei.pitt.edu/548/1/main.pdf.24 HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro. SP, Edições Loyola, 2002; eMás allá del Estado nacional. Madrid, Editorial Trotta, 2008.25 A par da ética procedimental proposta por Habermas (HABERMAS.Jürgen.Direito e democracia entre facticidade e validade. RJ, Ed. Tempobrasileiro, 1997, vol. II; e A inclusão do outro. SP, Edições Loyola, 2002;)e da interpretação procedimental da constituição proposta por Häberle(Häberle, Peter. Hermenêutica constitucional – a sociedade aberta dosintérpretes da constituição: contribuição para a interpretação pluralista e“procedimental” da constituição. P. Alegre, S.A. Fabris, 1997;), a propostade legitimação procedimental de Luhmann (LUHMANN, Niklas. Legitimação peloprocedimento, DF, Universidade de Brasília, 1980). Uma perspectivacomparativa entre Habermas e Luhmann sobre legitimação pelo procedimento,ver em BRITO, Marcos Antonio Bezerra. Apontamentos sobre métodos de trabalhoem direito constitucional tributário. RJ, PUC-Rio, 2005, dissertação demestrado, cap 2.
da administração pública subnacional, nacional e supranacional.
Para tanto lançaremos mão de um levantamento identificador e
descritivo da atuação de concretizadores e implementadores
públicos e privados da constituição e dos tratados regionais
contemporâneos, e a seguir de uma comparação de modelos,
duração, procedimentos e resultados da atuação da administração
fazendária brasileira e alemã no regionalismo contemporâneo do
Acordo Quadro-Regional da União Européia com o Mercosul.
Para saber como está atuando e quais são as tendências
de inovação institucional da administração pública no
regionalismo contemporâneo do Acordo Quadro-Regional entre
União Européia e Mercosul, valem o exame do período a partir da
Constituição Brasileira de 1988, os tratados do MERCOSUL e
deste com a União Européia, bem como as emendas constitucionais
do período, e considerando a União Européia, o período a partir
do final da 2a. Guerra Mundial.
G – Conclusão: questões propostas ao debate sobre a atuação da
administração fazendária – a RFB – no regionalismo econômico
contemporâneo
Considerado este período, algumas questões podem ser
propostas a quem se interessa pelas tendências de atuação do
serviço público no regionalismo contemporâneo:
1) se para o regionalismo econômico não valem as
premissas estadocêntricas já conecidas, será preciso reelaborar
critérios e parâmetros de percepção e compreensão do espaço
público no regionalismo contemporâneo como regulação e como
atuação, referidos ao fenômeno da internacionalização da
administração pública e da transnacionalização do direito
administrativo;26
2) como poderemos compreender a dinâmica contemporânea
do regionalismo com este novo modo de perceber? Decerto há
muitas possibilidades, e uma delas é que, tido o espaço público
como uma pluralidade ampliada de atores que coadjuvam a atuação
da administração pública no contexto do regionalismo
contemporâneo, podemos adequadamente examinar as constituições
e os tratados regionais, para identificar o sentido e os
propósitos da existência e da atuação institucional econômica,
política e social, e com isso reunir elementos de compreensão
da atuação dos concretizadores públicos e privados da
constituição e implementadores dos tratados regionais
contemporâneos; e26 1) Quanto à discussão de noção de espaço, BACHELAR, Gaston. Aexperiência do espaço na física contemporânea. RJ, Ed. Contraponto, 2010; eEstudos. RJ, Ed. Contraponto, 2008; 2) Para sua articulação com umanoção de espaço público contemporâneo, HABERMAS, Jürgen. Más allá del Estadonacional. Madrid, Editorial Trotta, 2008; Ay, Europa! Pequeños escritospolíticos. Madrid, Editorial Trotta, 2009; A inclusão do outro. SP, EdiçõesLoyola, 2002; e A constituição da Europa, 2011; e 3) Para compreensão dadinâmica do espaço público a partir dos atores e sua interação, GADAMER,Hans-Georg. Hermenéutica de La Modernidad. Conversaciones com Silvio Vietta.Madrid, Editorial Trotta, 2006; e Verdade e método: traços fundamentais deuma hermenêutica filosófica. Petrópolis, Ed. Vozes, 2004.
3) Percebido o espaço público no regionalismo
contemporâneo e compreendidos o sentido e os propósitos de
existência e protagonismo de seus atores, precisaremos de casos
concretos para comparação. Valeria uma comparação de exemplos
dentro do Mercosul, dentro da União Européia, ou entre os
exemplos de desempenho de uma administração pública nacional do
Mercosul com uma da União Européia?
As respostas, que possivelmente ainda não temos,
poderão nos proporcionar melhor compreensão e alternativas de
escolha diante do que nos virá alcançar no cotidiano de
cidadãos, empreendedores e agentes públicos, ao menos nesta
década, cá no Mercosul.
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