Desde o momento em que olhei em seus lindos olhos azuis, eu
sabia que ela era um problema.
Ela está escondendo alguma coisa.
Estou determinado a desvendar esse mistério, descobrir o segredo
dela.
Mas eu caio no feitiço dela.
Completamente enfeitiçado.
Pela sua inocência. Pelo corpo dela.
Mas luto contra o fascínio dela, apesar do meu desejo por ela.
Até o calendário dos Hometown Heroes acontecer.
E ela tirou meu fôlego.
Não queria mais que ela se fosse
Eu quero fazê-la minha.
Eu apenas rezo para que ela possa me perdoar.
Por minha causa, seu passado está voltando para assombrá-la.
Meu passado trágico me levou a esta pequena cidade.
Estou determinado a viver a vida que me foi negada por muito
tempo.
Todo mundo aqui me abraçou, me fez sentir bem-vinda.
Bem, todos, exceto ele.
Deputado Vargas
Bonito. Distrair. E o inferno se inclinou em me tirar da cidade.
Mas eu me recuso a enviar.
Eu me recuso a voltar para quem eu já fui.
Ele quer ser meu inimigo? Bem. Que assim seja.
Até eu cair.
Difícil.
Para o homem que quer que eu me vá.
O que uma virgem deve fazer quando se depara com um homem
como Antonio?
Faça-o meu, é claro.
Olhar em volta para os casais felizes tinha meus pés coçando
prontos para correr. Da felicidade e grandes sorrisos, mas acima de tudo,
do desejo de ver todos tão felizes quanto eles. Ry tinha acabado de pedir
a Penny que fosse sua esposa e ela concordou com toda a empolgação
que toda a cidade esperava, e Ry parecia como se tivesse acabado de
ganhar na loteria. Ambos pareciam felizes e eu estava feliz por eles.
Com a distância certa.
Felizmente, meu telefone tocou antes que eu fizesse algo rude,
como sair correndo do quintal, enquanto todo mundo avançava para
oferecer parabéns e arrulhar pelo toque de Penny.
— Vargas.
— Antonio, temos um motorista parado no novo sinal de boas-vindas
à tulipa e é a sua vez de responder. — O xerife Tyson Henderson era
um chefe bom e firme e era um dos meus amigos mais próximos.
— Estou a caminho. — disse a ele com mais gratidão do que
pretendia.
Ty riu na fila. — Desde quando você tem pressa de fugir de um
churrasco?
Não era segredo o quanto eu adorava comer, e quando era carne
ensopada em molho de churrasco, melhor ainda. Mas não este. — Desde
que Ry acabou de pedir Penny em casamento e agora todas as velhinhas
estão procurando sua próxima vítima inocente.
Ty gemeu como eu sabia que ele faria, porque ele era ainda mais
anti-compromisso do que eu; ninguém o via com uma mulher há
anos. Como eu, ele se aventurava do lado de fora de Tulip quando
precisava de atenção feminina. — Fico feliz que o trabalho de um xerife
nunca para.
— Nem do vice dele. — Eu sorri e fiz o meu caminho para o casal
feliz. — Indo agora, Ty.
— Entendido.
A ligação terminou e eu contornei a mãe de Ry, Betty. — Antonio. —
Ela sorriu. — Você ainda está solteiro, não é? — Eu não fui enganado por
um segundo por aquele brilho nos olhos dela.
— Betty, você está flertando comigo? — Eu dei a ela meu sorriso
lento - aquele que é conhecido por fazer mulheres de todas as idades
esquecerem seus nomes - e ri enquanto ela corava.
— Vou deixar passar agora, jovem. — Com uma piscadela, ela se
afastou e, de repente, senti como se tivesse agitado uma bandeira na
frente de um touro bravo.
Ry riu e aceitou meu aperto de mão. — Não se preocupe com a
mãe. Ela determinou que ela e Helen Landon vão combinar mais casais do
que as irmãs Bell.
Esse pensamento fez meu sangue gelar. As irmãs Bell eram as
maiores fofoqueiras e intrometidas de toda a Austrália, dando a Betty e
Helen uma corrida pelo seu dinheiro. Ser uma dupla equipe de ambos os
grupos de mulheres era suficiente para me fazer querer reservar férias
longas, muito, muito distantes. — Vou ter isso em mente, mas vim para dar
os parabéns a vocês dois.
Penny se virou e me ofereceu um sorriso gentil, seus olhos verdes
brilhando de felicidade. — Obrigado, oficial Vargas.
— Você pode me chamar de Antonio, mas não agora. Eu tenho que
cuidar de um motorista parado, então tome uma cerveja por mim.
Dei alguns passos para trás, observando os casamenteiros
enquanto saía do quintal de Ry para a rua. Tulip era uma cidade pequena
e a maioria das pessoas acabavam por passar por lá, então sair do bairro
e chegar na entrada da cidade não demorou muito.
Todos os dias eu dirigia pelas ruas de Tulip, pela vizinhança e pelas
grandes fazendas nos arredores da cidade, e isso confirmava que voltar
para casa tinha sido a escolha certa. Os anos que passei em Nova Orleans
me transformaram em um investigador de primeira linha e fiquei feliz em
usar essas habilidades para manter as pessoas da minha cidade natal a
salvo da merda que a vida costumava distribuir regularmente.
Não era bonito, mas fazer o meu trabalho significava que a maioria
das pessoas em Tulip nunca saberia quando o perigo se aproximava um
pouco demais. Pessoas de fora eram fáceis de identificar e ainda mais
fáceis de observar, e eu sabia melhor do que a maioria o quão crucial isso
era para uma aplicação eficaz da lei. Eu sabia mais do que eu queria sobre
esse assunto.
Vi o hatchback1 verde escuro no lado oposto da estrada e fiz uma
inversão de marcha de emergência para chegar ao motorista. Um
pequeno trailer estava enganchado no pequeno carro. Uma gigante
margarida multicolorida decorava a porta. Estacionei atrás dele e
saí, soltando o estalo do coldre para o caso de ser necessário. Os carros
parados no acostamento das estradas eram os mais perigosos, graças aos
carros zunindo em alta velocidade e motoristas aterrorizados com
mandados pendentes. Eu me aproximei lentamente com a mão ao meu
lado. Pronto para qualquer coisa.
— Filho da... maldição! — A voz era suave e feminina, um som rouco,
mas melódico, que me fez pensar em quem era essa recém-chegada.
Ao redor do trailer, me deparei com um par de pernas bem torneadas
penduradas no hatchback. Quilômetros de tecido azul esverdeado
pendiam de seu corpo, roçando as pernas e caindo entre elas. —
Senhora, você precisa de ajuda?
1 Modelo de carro.
A mulher gritou e suas pernas congelaram, depois chutaram o ar
sem rumo antes de encontrar um terreno plano e dar um grande salto para
trás, uma gigante pedra roxa faiscante na mão. — Por que diabos você
está abordando uma mulher desavisada, Senhor? — Seu peito arfava e eu
tentei não olhar para o modo como aqueles montes cremosos de carne se
elevavam.
Foi inútil até que me lembrei da rocha. — Desavisada? Querida,
você está parada no acostamento. Já lhe ocorreu que eu poderia ser um
bom samaritano tentando ajudar?
Ela era uma duende bonitinha de uma mulher com longos cabelos
loiros cor de morango que chegavam pelo menos aos cotovelos e olhos
azul-marinho em forma de amêndoa que me lembravam a meia-
noite. Suas feições eram delicadas, quase como fadas, ou talvez fosse o
longo vestido esvoaçante que caia no chão.
Eu podia dizer pela expressão dela que não lhe ocorreu que eu
estava apenas tentando ajudar. — Oh. Certo. Estou bem, mas obrigada
por parar. Foi muito gentil da sua parte. — Ela olhou para trás e deu outro
passo para trás. Minha suspeita aumentou.
— Qual o seu nome? — A pergunta saiu um pouco mais dura do que
eu pretendia, mas se essa mulher pensasse que poderia vir a Tulip e criar
problemas, é melhor pensar novamente.
Ela franziu a testa e deu outro passo para trás. — o que isso é da
sua conta? — Seus braços estavam cruzados, chamando ainda mais
atenção para os seios que não pareciam querer ficar dentro do
vestido. Eles eram grandes demais para seu corpo pequeno e o vestido
destacava esse fato como uma camiseta.
Com um suspiro pesado, puxei meu distintivo e mostrei a ela. — É
literalmente da minha conta. Então quem é você?
Os ombros dela relaxaram uma fração, mas não muito. — Então
talvez você deveria ter se identificado primeiro, oficial. — Ela deu
um passo mais perto e estendeu a mão.
— Eu não estou lhe dando meu distintivo, Senhora.
— E eu não estou te dando meu nome. Pelo que sei, isso é um
emblema falso e você é algum tipo de estuprador de estrada. Não fiz nada
de errado, por isso, se você não pode provar que é oficial da lei,
terminamos aqui. — Se a maldita mulher não fosse tão frustrante,
acho que me divertiria.
Mas eu não estava. Especialmente porque ela estava certa. —
Oficial Vargas. Antonio Vargas. — Eu levantei o distintivo para que ela
pudesse vê-lo claramente, mesmo que ela se recusasse a dar um passo
mais perto.
— O nome é Elka. Obrigada por parar, mas eu vou ficar bem.
Os alarmes sempre tocavam quando alguém estava ansioso demais
para se livrar de mim. Elka estava um pouco nervosa. — Qual é o problema
aqui? — Eu me aproximei do carro para ver se ela tinha outros passageiros
ou carga suspeita que poderia me dar um motivo para protegê- la.
— Não há problema, como eu disse. Estou bem. — Ela deu um
passo para trás novamente, só que desta vez não percebeu que seu pé
passava por cima da sólida linha branca que separava o acostamento da
estrada. Ela gritou quando eu a puxei de volta.
— Cuidado. — eu rosnei, ignorando a maneira como todas aquelas
curvas femininas macias se sentavam pressionadas contra mim. Quando
se tornou demais, dei um passo para trás.
— Certo. Obrigada. — Ela deu um passo para trás mais uma vez,
com o pé prestes a pousar na estrada quando eu gritei com ela.
— Pare!
Os olhos azuis se arregalaram e ela deu um grande passo para o
lado, evitando me tocar e certificando-se de que estava fora do meu
alcance até que ela estivesse ao lado da porta do passageiro. —
Certo. Bem, obrigada de qualquer maneira. — Elka pulou dentro do carro
como se eu fosse o cara mau, e tentou ligar o carro, batendo no volante
quando ele parou.
Meu palpite era que não era a primeira vez, porque tudo nessa
mulher gritava vozes esparsas que precisavam de alguém para cuidar
dela. Ela estava completamente fora de si e era assim que as pessoas se
machucavam, caramba. Eu amaldiçoei Ty por me fazer atender essa
maldita chamada - mesmo que ela tivesse me salvado - enquanto eu
caminhava para o lado do motorista e batia na janela.
Ela abaixou a janela alguns centímetros. — Sim?
Meus lábios tremeram com sua pergunta inocente. Ela estava mal-
humorada. — Precisa de alguma ajuda?
— Não, obrigada. Eu posso lidar com isso sozinha. — A janela voltou
a subir e eu fiquei atordoado enquanto ela procurava na bolsa de retalhos
até encontrar o que procurava: um telefone com uma capa amarela
brilhante com raios solares disparando em todas as direções. Ela
provavelmente estava ligando para o único mecânico da cidade - o Rusty
da Pátio de Reboque do Rusty. Quando seus ombros afundaram em
resignação, eu sabia que ele tinha dito a ela o que o resto de Tulip já sabia:
ele estava pescando e não ficaria livre por um tempo.
Em Tulip “um tempo” era uma medida aceitável do tempo, mas ela
não era daqui. Fazendo minha devida diligência, bati na janela dela
novamente. — Gostaria de reconsiderar essa oferta de ajuda?
Uma mão passou pelos longos cabelos sedosos e ela soltou um
suspiro. — Passei minha vida inteira esperando... o que é mais algumas
horas?
Isso era ameaçador e eu queria perguntar mais, mas eu já sabia que
não conseguiria isso dela. Ela podia ser volúvel e de cabeça aberta, mas
havia uma espinha de aço embaixo.
— Eu posso te dar uma carona até a cidade e levá-la para onde você
estiver indo enquanto Rusty termina no lago. — Não era um ato de
bondade, mas uma maneira de ficar de olho nela e talvez descobrir o que
ou quem a trouxe para Tulip.
— Não, obrigada. Eu vou ficar aqui com minhas coisas. E esperar.
— Ela sorriu e se virou antes de se lembrar de suas maneiras. — Mas
obrigada, oficial.
Eu odiava o jeito que ela me dispensou, como se eu não fosse
nada. Eu odiava ainda mais que ela dissesse oficial como se fosse uma
palavra da nossa carta, embora eu acho que, de certo modo, era. O tipo
criminoso. — Disponha, Senhora. — Saí antes que ela pudesse mudar de
idéia e antes de dizer algo que me arrependeria mais tarde.
Elka era um bom lembrete do porque eu escolhi a vida de solteiro.
Apenas minha sorte. Eu não estava na cidade há dez minutos e já
tinha feito um inimigo. Era minha superpotência de acordo com meu irmão
Austin, e era quase reconfortante ver que nem tudo no meu mundo havia
mudado irrevogavelmente. Eu não podia deixar isso me preocupar. O
policial Vargas tinha um pedaço de pau enfiado na bunda dele, isso me
distraiu do impacto que ele teve no meu corpo. Aqueles olhos escuros
avaliadores pareciam ver muito mais do que eu queria que ele, ou qualquer
um, visse. Pior, esse olhar avaliador parecia me achar ausente.
Essa era a história da minha vida e por isso que afastei todos os
pensamentos, de suas feições sombrias do Mediterrâneo e ombros largos,
enquanto o observava partir. O homem era bonito, isso tinha certeza, mas
como todos os homens bonitos ele era um idiota. Isso não me impediu de
apreciar suas pernas longas e grossas que eu sabia que eram trabalhadas
nos músculos ou uma bunda perfeitamente redonda que aposto que
mandaria um quarto voando de volta para mim. Até o nariz levemente torto
o tornava mais atraente.
Olhar. Apenas para olhar. Eu não estava no mercado para nada
disso. Meu plano era manter a cabeça baixa e construir uma vida para
mim. Uma que eu viveria para mim e mais ninguém. Nem você, Austin.
Tentei dizer a mim mesma que ele ficaria orgulhoso de mim,
libertando-se de nossos pais e escolhendo viver minha própria vida. Pelo
menos por uma vez, no trajeto de trinta horas até o Texas, tentei me dizer
que essa era a decisão certa. Sair foi a coisa certa a fazer. A única coisa a
fazer para viver a vida nos meus termos. Era assustador estar tão longe de
casa, mesmo uma casa que nunca tinha sido realmente um lar para mim,
pela primeira vez na minha vida. Abrigadas e sozinhas, a maioria das
pessoas pensaria que era estúpido ir tão longe, mas a maioria das pessoas
tinha um lugar em suas famílias.
A maioria das pessoas era procurada. Amada.
Eu não era nada além de uma ferramenta que havia sobrevivido à
sua utilidade. Eu saí antes que eles pudessem me pedir para sair. Antes
que eles pudessem me dizer o que eu já sabia ser verdade: não era mais
necessária, portanto não era mais desejada.
Então, é claro, depois de toda aquela direção e confiança, meu carro
quebraria em uma rua residencial a poucos quilômetros da pequena casa
de campo que eu havia alugado. E é claro que isso me colocaria na frente
do policial mais quente da América com a pior atitude.
E a bunda mais bonita. Esse pensamento me fez rir, mas quando a
viatura do policial Vargas voltou para a estrada e me deixou para trás, um
longo e frustrado suspiro escapou. O homem mais velho ao telefone,
Rusty, disse que estava pescando e que levaria “algum tempo” antes de
voltar à cidade. Eu não sabia o que aquilo significava, mas, como disse a
Vargas, esperar era a única coisa em que eu era boa. Hospitais e médicos
especializados em fazer as pessoas esperarem e eu passei quase toda a
minha vida esperando em lobbies, salas de exames e em mesas de
operação.
Esperando que eu poderia fazer. Peguei o eReader que comprei há
alguns meses e tentei ler, mas como sempre faziam esses dias, meus
pensamentos se voltaram para Austin. Ele me fez prometer, no leito de
morte, sair e viver minha vida. Ter a vida que ele nunca teve para viver e
nunca teria agora. Ele me fez jurar em nossa amizade que eu deixaria a
bolha de proteção e experimentaria o que o mundo tinha a oferecer. — Vá
lá fora e se apaixone, tenha seu coração partido e faça sexo selvagem com
um estranho. Veja uma cachoeira e desfrute de um beijo na chuva. Viva
por nós dois. — Lágrimas caíram quando pensei em seu sorriso gentil e
naqueles olhos azuis assassinos que fizeram todas as enfermeiras
desmaiarem mesmo em seu estado de mal-estar.
Um mês depois de enterrar meu irmão, comprei o trailer e o prendi
no meu carro, cheio de todos os meus pertences mundanos, e fui para o
Texas. Estava muito longe da vida semi-elegante que eu vivia com minha
família no estado de Washington, mas eu tinha lido um livro sobre a mulher
que havia fundado Tulip e ela parecia incrível. Forjando um caminho
dinâmico durante um tempo em que as mulheres eram pouco mais que
propriedades. Ela era forte, inteligente e independente, todas as coisas
que eu aspirava a ser. Ela fez tudo e nunca se perdeu no processo.
Talvez agora que eu estivesse em Tulip, algo disso me ajudasse.
A papelada era a pior parte da aplicação da lei porque quase todas
as interações com o público significavam que um formulário precisava ser
preenchido, às vezes vários. Terminar os formulários da minha interação
com Elka sem sobrenome demorou um pouco mais do que o necessário,
porque eu não conseguia tirar aqueles grandes olhos azuis da minha
mente, o que me frustrou sem fim. A mulher estava com problemas com
uma letra maiúscula e não era do tipo bom, nem do tipo que um homem
se inscrevesse de bom grado, porque sabia que qualquer dano deixado
em seu rastro valeria a pena.
Não. Elka era o tipo de problema que um homem vivia para se
arrepender, e eu já tinha três vidas dignas de arrependimento. Não,
obrigado.
— Você já terminou aqui? — Ty entrou no meu escritório com uma
expressão branda no rosto.
— Sim. Alguns minutos e voltarei para casa. Sozinho.
— Como foram as coisas com o motorista preso? — Se eu não
estivesse tão cansado ou distraído, provavelmente teria percebido algo
estranho em seu tom.
— Ela recusou minha ajuda. — eu disse a ele, sem olhar para
cima. — Várias vezes. Então, eventualmente, eu a deixei para esperar por
Rusty. — Sorri para mim mesmo, pensando que ela provavelmente
esperou pelo menos três horas até Rusty pegar um peixe grande o
suficiente para conseguir direitos de se gabar até sua próxima viagem. Na
esteira desse sorriso veio a culpa. Droga.
Ty me deu esse olhar - o olhar decepcionado do pai que eu odiava
mesmo quando veio do meu próprio pai. Quando ele estava por perto, de
qualquer maneira. — Sério? — Braços cruzados sobre seu peito enorme,
bíceps militar tão intimidante como o corte de cabelo que ele ainda
usava. — Você deixou uma mulher encalhada no acostamento sabendo
que Rusty estava pescando e poderia esquecê-la completamente?
— Ela ligou e falou com ele. Rusty disse a ela que logo estaria lá. Eu
deveria ter esperado com ela?
— Bem certo, você deveria ter. Rusty ficou bêbado e adormeceu no
barco. Derek ligou porque estava dizendo algo sobre a garota perdida
esperando por ele.
Merda. — Ela ainda está lá fora. — Não foi uma pergunta. De alguma
forma, eu sabia que ela estava sentada dentro de seu pequeno hatchback
verde. Esperando.
— Você ao menos se importa? — Ele balançou a cabeça e olhou
para mim uma última vez. — Eu vou cuidar disso sozinho. — Ele se virou,
mas parou na porta. — Isso é inaceitável, Antonio. Você sabe disso.
Eu sabia disso e isso só me irritou mais. Eu levantei e peguei meu
cinto. — Eu vou fazer isso.
— Você deveria ter feito isso quando eu perguntei. Termine sua
papelada e vá para casa. — Sua frustração era uma coisa palpável entre
nós e eu não podia culpá-lo. Eu estraguei tudo, deixando o duende chegar
até mim a um ponto em que eu me afastei dela, mas quem em seu
perfeito juízo iria negar ajuda quando eles claramente precisassem?
— Sim, eu deveria ter.
Ty deu um breve aceno de cabeça e saiu - um sinal de quão bravo
ele estava. Como um dos meus amigos mais próximos, nós trocávamos
besteiras o tempo todo, mas sua raiva hoje era nova. Eu merecia isso,
então apenas voltei para a pilha de papéis na minha frente e trabalhei até
não poder mais sentir meus dedos. Então fui para casa.
Sozinho.
Na maioria dos dias, era assim que eu gostava, mas hoje a casa
parecia grande e silenciosa. O bairro familiar já havia dobrado as calçadas
e virado para a noite. O fraco brilho dos programas de TV e música flutuava
através de janelas ligeiramente abertas, e a luz azul brilhava em várias
janelas. Eu não aguentava o silêncio por muito tempo e quando o telefone
tocou quando eu saí do chuveiro, suspirei aliviado antes de responder. —
Vargas.
— Oh sério, Antonio? É assim que você atende o telefone? É tão
rígido e formal.
— Ei mãe. — Revirei os olhos, não me incomodando em responder
a sua conversa nos modos do meu telefone. — Se eu parasse para olhar
a tela de identificação, talvez não respondesse.
Ela riu, o som melódico me fazendo sorrir. — Então eu apareceria
sempre que quisesse. Como foi seu dia querido?
Minha mãe era uma força da natureza e uma força a ser
reconhecida. Seu único objetivo era ver os dois filhos resolvidos, casados
e dando a ela muitos netos.
— Isso poderia ter sido melhor. — Eu não contei a ela sobre o
duende, porque mamãe me daria mais inferno do que Tyson. — E quanto
a você? Dia bom? — Ouvi enquanto ela me contava sobre tomar café da
manhã com Betty e Helen. Abri e fechei todos os meus armários em busca
de comida.
— Fomos ao centro sênior para pintar as unhas das meninas mais
velhas. Eles amam esse tipo de coisa, sabia? — Ela continuou falando
sobre quem estava apaixonado por quem e quem estava flertando com a
paixão de outra pessoa, enquanto eu amaldiçoava minha falta de atenção
à minha geladeira.
Não havia nada além de cerveja, algumas fatias de queijo e alguma
carne questionável.
— Você fez algo produtivo? — Eu esquiei.
— Além de procurar sua futura noiva? Não, isso me mantém
bastante ocupada.
Eu gemi. — Mãe por favor.
Ela riu de novo. — Oh, você não venha com 'mamãe, por
favor'. Tenho o direito de me intrometer em sua vida, desde que carreguei
você em meu corpo por quarenta e duas semanas. Agora preciso de sua
ajuda com alguma coisa. Vou te alimentar em troca.
— Eu estarei lá em dez.
— Esse é o meu garoto. — Eu podia ouvir o sorriso em sua voz
porque, mais uma vez, ela conseguiu exatamente o que queria.
— Se houver alguma solteirona lá para se juntar a nós, estou
avisando agora que não vou ficar.
— Somos apenas nós. —disse ela. — Desta vez. — Antes que eu
pudesse dizer outra palavra, ela terminou a ligação. Velha astuta.
Feliz por não ter que me defender sozinho para o jantar, coloquei
meu Chuck Taylors azul desbotado favorito e fiz o pequeno passeio até a
casa da mamãe - a casa onde minha irmã e eu crescemos. Como sempre,
entrei pela porta da frente. — Mãe?
— Na cozinha!
Eu a encontrei sentada à mesa da cozinha lendo em seu tablet, uma
taça de vinho ao lado dela. — Relaxando depois de um dia difícil?
Ela arqueou uma sobrancelha marrom-mel na minha direção e
tomou um longo gole de seu vinho antes de falar. — Esta bebida é para
todos os dias que tive que me preocupar com você em Nova Orleans.
Engoli um gemido, porque essa não era a conversa que eu queria
ter. Novamente. Nunca. — Você precisa de ajuda?
Ela assentiu e me apontou para o fogão, cuja porta do forno
precisava ser consertada. Ela começou o jantar. Desde que eu estava lá,
troquei algumas lâmpadas queimadas e apertei algumas alças em seus
armários. — Você não precisa fazer tudo isso, querido.
— Eu sei que não, mas você é minha melhor garota, mãe.
— Por mais que eu goste disso, eu gostaria que você tivesse uma
garota perto da sua idade.
— Quanto tempo até o jantar? — A resposta não foi rápida o
suficiente, então eu atravessei a casa, apertando cada maldito parafuso
em que olhei para colocar alguma distância entre mamãe e as perguntas
sobre minha vida amorosa.
Vinte minutos depois, nos sentamos em uma mesa cheia de bife
Salisbury com molho de cebola, molho de cebola, purê de batata
amanteigada e ervilhas doces. — Vale a pena a inquisição?
Dei algumas mordidas e fechei os olhos quando os sabores
explodiram na minha língua. — Depende da quantidade de munição que
resta.
Ela riu de novo. — Não seja tão dramático e conte-me sobre sua vida
amorosa.
— Nenhuma vida amorosa para se falar - você sabe disso.
— Não. O que sei é que você não namora ninguém na cidade e não
traz mulheres para casa. Isso não significa que você não faça companhia
ao sexo oposto.
Ela estava certa, mas isso não era algo que um cara queria
conversar com sua mãe. — Eu não estou vendo ninguém, mãe. — Não
tinha saído com uma mulher há meses porque eu não conseguia reunir a
energia ou a mínima vontade para fazê-lo.
— Bem, talvez esse negócio de calendários o ajude a encontrar uma
garota legal. Ver você da melhor forma possível - e também de uniforme -
elas cairão aos seus pés. Se você sorrisse um pouco mais.
— Eu sorrio bastante.
Mamãe largou o garfo e cruzou os braços. — Não é o suficiente para
me dar alguns netos.
Eu entrei direto nessa. — Ainda há Cait. — eu disse
esperançosamente.
— Okay, certo. — Ela zombou. — Eu tenho que trazê-la de volta
para Tulip primeiro e depois vou trabalhar para tirar alguns netos dela
também. Mas, Antonio, você é mais velho e já é hora de eu bater alguns
bebês nos joelhos antes que fiquem velhos demais.
Eu soltei uma risada disso. — Como você ousaria deixar seus joelhos
fazer algo tão subversivo quanto envelhecer. — Ela era muito teimosa para
isso. Ela também era muito teimosa para desistir do que sentia que era
devido: netos.
— Isso é verdade, mas ainda assim seria bom ter crianças correndo
pela casa novamente. — A melancolia em sua voz não passou
despercebida, mas eu não comentei.
— Obrigado pelo jantar, mãe. Foi delicioso, como sempre. — Nada
superava a comida da minha mãe. Era algo que todo mundo dizia, mas
com ela era verdade. Ela aprendeu a fazer muitos pratos colombianos para
agradar ao papai - quando ele se preocupava em aparecer, de qualquer
maneira. Ele desapareceu completamente quando eu tinha cerca de doze
anos. Nos anos seguintes, ela havia revisado sua culinária do sul em um
esforço, eu tinha certeza, para garantir que não me afastasse muito de
casa novamente.
Ela gemeu e revirou os olhos, o que era ridículo, mas era melhor do
que a tristeza que ela podia produzir com facilidade. — Oh, tudo bem. Eu
irei parar. Por enquanto. — Eu não entendi mal a ênfase, porque ela não
queria que eu fizesse. Agora que Ry e Preston estavam felizes, a cidade
inteira enlouqueceu e eu pretendia evitar tudo isso. — Mas vou dizer isso,
Antonio: você é um bom homem. Não importa o que você pensa, você
é. Eu sou sua mãe, então você tem que me ouvir. Você merece ter
tudo. Você realmente faz.
Eu não sabia disso, mas discutir com ela era inútil. Ela não sabia as
coisas importantes. Ela não sabia como eu falhei em proteger a mulher que
amava - que , afinal, eu não conhecia tão bem quanto pensava. Mamãe
não sabia e, se eu pudesse evitar, ela nunca saberia. — Obrigado por
acreditar em mim, mãe. — Ela sempre esteve do meu lado e no meu canto,
mesmo quando provavelmente não deveria. Eu a amava por isso.
Na porta, eu a envolvi em meus braços e apertei com força.
— Não que eu esteja reclamando, mas para que é isso? — ela
perguntou.
— Por ser a melhor mãe que um homem poderia pedir.
Suas bochechas ficaram rosadas e ela afastou uma lágrima
perdida. — Eu também te amo, filho. Agora saia daqui antes que eu
esqueça que prometi parar de me intrometer.
Com uma risada longa e um pouco aterrorizada, caminhei até o meu
carro na garagem e esperei até que mamãe estivesse em
segurança dentro antes de sair. Tulip era uma cidade pequena, mas um
pouco de cautela nunca seria demais.
Embora mal fosse oito, a maior parte da cidade já tinha ido para a
cama, com exceção de alguns restaurantes e o único bar da cidade, o
Black Thumb. Por um segundo, pensei em parar, pegar uma bebida e
conversar com quem estava lá dentro. Mas eu estava muito cansado e
sem disposição para companhia, então continuei dirigindo até virar a rua
arborizada, onde a maioria dos quintais estava cheia de brinquedos e
decorada com flores e enfeites para o gramado.
Tulip estava tão longe de Nova Orleans que, em alguns dias, me
perguntei se aqueles anos haviam sido algum tipo de pesadelo. Um
pesadelo ambulante cheio do pior que a humanidade tinha a oferecer até
que uma explosão brilhante de sol entrou e tornou tudo
suportável. Gerenciável. Até que não era mais administrável. Até que eu
tive que sair com o rabo entre as pernas e voltar para casa.
Chegando no meu quarteirão, a primeira coisa que notei foi o trailer
estacionado na cabana vazia do outro lado da rua. Diretamente do outro
lado da rua. Um trailer muito familiar. Quando passei para entrar na minha
própria garagem, vi a margarida que confirmou meus piores medos. — Por
que eu?
Então eu percebi que isso não importava. Tulip era uma cidade
pequena. Eu não podia ignorá-la, mas podia ficar de olho nela.
De uma distância.
Eu nunca morei em outro lugar que não fosse a casa em que cresci.
Mas agora, depois de duas horas descarregando caixas do meu pequeno
trailer e colocando-as nos quartos onde moraria, entendi o ódio universal
de mudar. Foi um processo longo e tedioso e a pior parte era que não havia
atalhos. É claro que, se eu tivesse amigos como a maioria das mulheres
normais de 24 anos, talvez essa parte do trabalho já estivesse concluída.
Isso não importava. Eu não era uma reclamona. Reclamar sobre não
ter amigos não os faria magicamente aparecer, assim como reclamar
sobre mover as caixas não as colocaria em casa mais rapidamente. Foi
uma lição que me foi proferida desde tenra idade; uma que eu ainda não
conseguia esquecer. Foi assim que acabei com o pequeno trailer
prateado. Eu tinha tempo para pintar uma margarida de gravata, porque
fazia parecer a minha. Eu tive que me afastar daquelas vozes que me
incentivaram a ficar quieta e aceitar o meu destino, em vez de tentar mudá-
lo.
Agora, eu estava tomando medidas para fazer meu próprio destino
e moldar minha vida como eu julgasse adequada. Era uma pena que eu
tivesse que fazer isso sozinha, mas preferia pensar que era um problema
temporário. Depois que a pequena cabana azul e branca que eu havia
alugado foi montada e meu espaço de trabalho foi arrumado, talvez
houvesse tempo para os amigos.
Talvez até um namorado. Isso seria legal. Namorar não tinha sido
permitido porque era muito arriscado. Muitas pessoas novas significavam
germes que poderiam piorar as coisas para Austin. Ele tinha sido o meu
mundo inteiro, então eu o acompanhei alegremente, sem saber o quão
anormal era. Quão restritivo e isolado tinha sido.
— Isso é passado. — eu disse a mim mesma e peguei outra caixa
na parte de trás do trailer. Coloquei-a na borda antes de pular para agarrá-
la e carregá-la para dentro. Já estava tão quente e meio-dia ainda estava
a algumas horas de distância, me deixando feliz por ter optado por shorts
jeans e uma blusa de algodão leve. Não era exatamente como eu queria
conhecer os vizinhos, mas também não achava que desmaiar no gramado
da frente fosse uma ótima introdução. Com Elton John cantando sobre o
quão solitário estava no espaço, eu carregava mais caixas para dentro e
pensava em Austin, sorrindo para mim. Sentindo-se feliz e orgulhoso por
estar dando passos para viver. Finalmente.
Levaria pelo menos uma semana apenas para tirar todos os itens
das caixas e organizar como eu os queria. A maioria dos porta-retratos e
bugigangas eram novos, comprados com os sonhos de uma jovem garota
que queria mais do que a vida tinha a oferecer. Agora eles tinham
prateleiras e paredes para decorar. Eu tinha que descobrir como fazer
com que parecesse agradável, não desorganizado ou esmagador. Tempo
era a única coisa que eu sabia que tinha - exceto algum tipo de evento
catastrófico - para que eu dedicasse meu tempo e lentamente tornasse
este lugar meu.
Eu tinha algumas semanas em estoque excedente, mas queria
que meu espaço de trabalho fosse configurado o mais rápido
possível. Mesmo se eu trabalhasse apenas algumas horas por dia, poderia
manter meu estoque o suficiente para que não houvesse tempo de
inatividade. Demorou muito tempo para levar todas as caixas para o porão,
onde eu trabalhava porque estava frio e não estava muito ensolarado, o
ambiente perfeito para minhas criações.
A única coisa que tornou possível me mover era que eu estava em
excelente forma. Graças a uma vida inteira de atividades saudáveis e mais
do que uma atividade física regular, eu provavelmente poderia correr
uma maratona e não ficar sem fôlego. Pelo menos eu poderia, se não fosse
pelo calor sufocante do Texas.
O som da campainha me assustou; Eu não esperava visitantes,
principalmente porque nunca tinha tido nenhum. Mas foi isso que
aconteceu, então eu limpei minhas mãos no meu short jeans enquanto me
dirigia para a porta, percebendo no último momento que parecia uma
pessoa que passara a manhã carregando e descarregando caixas. Abri a
porta e olhei em choque para a linda morena de olhos verdes. — Olá?
— Oi. — Ela deu um sorriso acolhedor que imediatamente me
desarmou. — Sou Penny Ford, assistente do prefeito Ashford. — Ela
estendeu a mão e eu a peguei, sorrindo. Esta mulher era confiante e
capaz.
— Prazer em conhecê-la. Eu sou Elka.
— Eu sei. O prefeito quis que eu lhe desse as boas-vindas a Tulip e
a convidou para o nosso próximo almoço na câmara. É um pequeno
evento que fazemos para manter contato com os empresários locais,
permitindo que eles se conectem e conversem com outros empresários.
Empresários. Essas palavras não pareciam uma descrição exata de
mim, mas eu assenti. — Quero dizer, não sou realmente proprietária de
uma empresa. Eu apenas faço coisas.
Penny suspirou e colocou a mão no quadril. — A Elka's Essence
faturou mais de cinquenta mil em vendas no ano passado e você é a única
proprietária e operadora, correto?
— Bem , sim.
— Então sinto muito, mas você é proprietária de uma empresa. Isso
será bom para você também. Você pode conhecer algumas pessoas na
cidade e ver como você pode te ajudar a ter sucesso. — Era um ponto
excelente e, com base em seu sorriso presunçoso, ela o conhecia.
— Ok, sim. Eu adoraria comparecer. Obrigada pelo convite. — Eu
sabia que ela não estava me convidando, mas ainda assim era
agradável. Em Washington, eu não conhecia nenhum de nossos vizinhos,
mas eu os tinha visto brincando e ouvido seus gritos e risadas de alegria
enquanto eles desfrutavam a infância.
Talvez este tenha sido o primeiro passo para mudar tudo isso. Um
almoço com novas pessoas.
Fazer algumas conexões e talvez até alguns amigos.
— Sem problemas. Aqui está o meu cartão. Não hesite em ligar se
precisar de alguma coisa, mesmo para conversar.
Aceitei o cartão e olhei para o número dela rabiscado no verso do
cartão. — Seriamente? Você me deixa te ligar apenas para conversar?
— Por que não? — Ela deu de ombros como se não fosse grande
coisa. — Estou aqui há quase dois anos, então se alguém sabe como você
está se sentindo, sou eu.
— Certo. Obrigada. — Fiquei tão emocionada que as palavras mal
saíram acima de um sussurro.
— Sem problemas. Bem-vinda a Tulip, Elka.
Quando Penny voltou para a rua, deixei escapar um pequeno
sorriso. Essa foi uma ótima interação com um completo estranho,
confirmando mais uma vez que essa era a decisão certa. Sentindo-me
melhor com as coisas, voltei a desfazer as caixas até que o trailer estivesse
vazio.
Agarrando uma garrafa de água, voltei para verificar novamente se
o trailer estava vazio antes de trancá-lo. Rusty ainda não tinha me
chamado de volta para pegar meu carro, o que tornava impossível mover
o trailer de seu local atual - um fato que me fez gemer. De volta à casa,
tentei ligar para Rusty novamente, mas o telefone tocou e tocou. —
Droga!
O som de um punho batendo na minha porta chocou tanto que gritei
e levou um segundo para controlar minha respiração. Era um som
ameaçador e demorei a atendê-lo, feliz por ter deixado a trava na porta de
tela, para que houvesse alguma distância entre mim e a aldrava com raiva
do outro lado. Um gemido escapou quando eu abri a porta. — Oficial
Vargas, o que posso fazer por você?
— Seu trailer está bloqueando a calçada. — ele latiu, as
sobrancelhas escuras puxadas em um V. furioso.
Sério isso? — Sim. Eu estou ciente disso. Obrigada.
— Certifique-se de que esteja fora. Hoje.
Esse cara era inacreditável. — E se eu não fizer?
— Então você terá que me responder. — Ele era alto, com mais de
um metro e oitenta e o modo como se inclinava era um ato intencional de
intimidação.
— O que você vai fazer, continuar a me intimidar? Grande negócio.
— Basta mover o maldito trailer.
— Eu vou dar um jeito nisso. Eventualmente. — Não havia como eu
deixar esse idiota me empurrar. Essa não era mais a vida que eu vivia. —
Diga-me que lei estou violando.
— O que?
— Você veio aqui na sua capacidade oficial como agente da lei para
me ameaçar se eu não mover o trailer. Então me diga, oficial, que código
exato ele viola? — Ele olhou para mim, seu olhar ficando mais escuro a
cada segundo. Meu coração acelerou com o olhar em seus olhos. Estava
com raiva, mas também era bonito. Impressionante, realmente. — Isso foi
o que eu pensei. — Sem outra palavra, dei um passo para trás e bati a
porta na cara dele.
Era muito bom me defender e eu sorri. Pode sair pela culatra
espetacularmente, mas me mostra que eu era capaz de lutar de volta.
Foi fácil, porque o policial Vargas não passara de um idiota desde
que se aproximou de mim na beira da estrada. Ele podia até ser bonito,
pensativo e sexy como o inferno, mas ele era mau e um valentão. E não
parecia importar que eu não tivesse feito nada errado. O homem odiava
minhas entranhas.
O que era bom para mim, porque eu também não gostei dele.
* * *
— Finalmente! — Dei um passo para trás e sorri para o meu espaço
de trabalho. Demorou um dia inteiro para arrumar tudo, para que eu
pudesse passar da estação das velas para a estação de incenso. Havia
uma sala pequena e muito mais escura, ao lado, onde eu fazia meus kits
de bênção e orações, tigelas de pot-pourri e todos os outros “jumbo
espiritualidade” como meus pais chamavam. Excitação borbulhava dentro
de mim e eu estava ansiosa para começar a trabalhar. Fazia muito tempo
desde que me sentei e me perdi em um dia de trabalho. Eu estava
ansiosa para voltar a fazer o que me fazia feliz.
Esse trabalho me permitia fazer o que queria e ter uma vida modesta,
mas mais do que isso, eu era um organismo completamente auto-
sustentável. Eu poderia passar dias sem sair de casa, contanto que tivesse
comida e água.
O que eu atualmente não tinha e, portanto, precisava me aventurar
fora de minha casa. Desde que eu tinha que fazer a pé, troquei e vesti um
vestido maxi de berinjela com uma cintura império e vesti minhas sandálias
de cânhamo favoritas. Eu me senti bonita e confortável quando coloquei
minha bolsa de retalhos pendurada no ombro, cheia das necessidades,
além de sacos de pano para minha viagem ao mercado.
Mas primeiro decidi parar para almoçar no pub que tinha visto
quando o xerife Henerson me rebocou para a cidade. Talvez houvesse
alguém para conversar. Se não, eu tinha meu eReader. Cartões de crédito
parafusados; Eu nunca saía de casa sem o meu Kindle. Abri a pesada
porta de madeira do Black Thumb exigiu algum esforço, mas por dentro
estava frio e escuro, e os cheiros gordurosos atingiram meu estômago
imediatamente.
Assim que pulei em um banquinho de couro, uma mulher de olhos
azuis com muitas tatuagens ficou na minha frente. — Você é nova. Eu sou
a Nina. O que posso pegar para você beber?
Eu deveria ter esperado a pergunta. Era uma pergunta bastante
comum em um bar, mas ainda assim deixei um espaço em branco. —
Hum, eu não sei. O que você recomendaria?
Ela piscou. — Vinho? Cerveja? Drink?
Dei de ombros e me inclinei. — Eu nunca bebi antes, então não sei
do que gosto. Você pode recomendar alguma coisa? Por favor? — Era
embaraçoso admitir, e quando ela pediu identificação, eu a entreguei
enquanto o calor queimava em minhas bochechas.
— Tudo bem. — disse ela sem julgamento em sua voz, enquanto
voltava para a mesa com a minha bebida. — Vamos começar com uma
cerveja. Está é escura e encorpada e possui um ABV ligeiramente
superior. Não me faça arrepender disso.
Eu fiz uma careta. — Hum, está bem. Obrigada. — Ela era dura, isso
estava claro. Eu me perguntei se ela tinha conseguido isso naturalmente
ou se tinha que aprender a ser assim.
Havia algo como pena em seus olhos quando ela deslizou a caneca
fosca em minha direção. — Por que você não bebe?
— Eu não tinha permissão. — eu disse a ela simplesmente. Era
verdade, mas não era a história toda. Por outro lado, como você diz a um
completo estranho que você nasceu para salvar a vida de seu irmão mais
velho e, portanto, sempre teve uma ótima saúde? Você não podia, então
eu aceitei o sorriso de pena dela e tomei um gole da cerveja. Foi legal e
um pouco amargo. — Tipo de chocolate.
Ela sorriu. — Certo?
— Suas tatuagens são lindas. Elas machucaram?
Ela olhou para o braço e deu de ombros. — Algumas. Parece que
você já experimentou coisas que machucariam muito mais. — Ela ficou
onde estava, me olhando.
Eu não sabia o que dizer enquanto ela me avaliava. — Eu sou Elka.
— Prazer em conhecê-la, Elka. Bem-vinda à Tulip. — Nina caminhou
até o outro extremo do bar, onde dois homens mais velhos sentavam-se
com canecas de cerveja vazias e as enchia rapidamente, oferecendo um
sorriso paquerador que fazia os homens rirem. — Gente, conheçam
Elka. Ela é nova em Tulip.
Os dois homens ofereceram ondas distraídas, e eu voltei
humildemente. Quando Nina voltou, pedi comida, assim que um rosnado
alto soou. — Vou comer os nachos de feijão preto com jalapenos extras,
por favor.
Comi minha comida sozinha e em silêncio, deixando entrar aqueles
velhos medos e dúvidas. Eu realmente precisava me mudar tão longe de
casa? E se um ano depois, eu não me sentisse diferente? Ou, pior, e se eu
não fosse diferente? Esses pensamentos não foram úteis, então terminei
meus nachos e minha cerveja, deixei uma gorjeta para Nina e segui meu
caminho.
— Ei, Elka. — ela gritou e eu me virei com a mão na maçaneta. —
Nós fazemos trivia toda noite de quarta-feira às sete. É uma ótima maneira
de conhecer pessoas, se você estiver interessada.
— Hum, obrigada, Nina. Tchau. — O sol atingiu meu rosto assim que
eu pisei para fora, me fazendo levantar meu rosto para o céu e
sorrir. Coloquei meus óculos de sol favoritos com as lentes roxas e levei
um tempo andando alguns quarteirões até o supermercado. Antes
de chegar lá, vi algo que chamou minha atenção: uma estátua que parecia
ter visto melhores dias. Quanto mais eu chegava, mais tudo ficava em
foco.
A estátua era de uma mulher, ou tinha sido, cercada por um jardim
com uma fonte entre os dois. Aposto que tinha sido bonita quando estava
limpa e funcionanda, mas agora parecia triste. — Tributo à Tulip. —dizia
o cartaz no chão. Eu não pude acreditar. Era assim que eles tratavam a
memória da mulher que havia começado esta cidade? Era inacreditável e
balancei a cabeça, de coração partido, enquanto me afastava e deslizava
para dentro do ar fresco da loja.
Como tinha que voltar para casa, decidi pegar apenas algumas
coisas necessárias, caso contrário teria que parar todos os quarteirões
para descansar, transformando minha viagem de duas horas em uma
provação de meio dia. A maioria dos itens do meu carrinho estava
saudável porque estava no meu modo de vida o tempo que eu conseguia
lembrar. Todo dia eu comia uma salada e pelo menos três porções de
legumes também. Como minha mãe sempre dizia: — Você não pode
ajudar seu irmão se não estiver saudável.
Isso nunca importou o que eu queria. Apenas Austin.
— Mas esse era o meu velho eu. — eu sussurrei para mim mesma e
virei o corredor de junk food, pegando batatas fritas, bolinhos de queijo e
um pacote de chocolates variados. Talvez eu fosse uma pessoa de junk
food e talvez não, mas a única maneira de descobrir isso era tentar.
Eu sorri para mim mesma enquanto pagava o caixa. Olhe para mim,
vivendo minha vida.
Irritar o chefe definitivamente tinha suas desvantagens,
especialmente quando esse chefe também era seu amigo mais
próximo. Tyson dera a um dos outros policiais a noite de folga e me
colocou no turno da noite, provavelmente apenas para garantir que eu não
chegasse à noite de trivia no Black Thumb. E foi tudo por causa daquele
maldito duende loiro, Elka.
Eu estava ansioso para fazer uma verificação de antecedentes sobre
ela, mas até agora não tinha base legal para isso e ela não valia a
pena arriscar o meu trabalho. Mas eu era um homem paciente; esperar
era minha especialidade e eu sabia que ela me daria um motivo para vê-la
mais cedo ou mais tarde. Ninguém, especialmente uma moça, pegava e
se mudava para uma pequena cidade no coração do Texas, se ela não
estava fugindo de alguma coisa. Ou alguém. Eu não queria pensar nela
fugindo de um ex abusivo ou com raiva, então me confortei com a idéia de
que ela era muito aberta e desprotegida para ser uma vítima de abuso, o
que só deixou problemas.
Problema com letra P maiúsculo.
Ainda enfurecido com a noite de trivia com meus amigos, eu dirigi o
carro de patrulha para cima e para baixo em cada um dos quarteirões,
certificando-me de que os cidadãos de Tulip estivessem seguros em suas
casas, no parque e até jogando os últimos minutos de um jogo de antes
que o sol afundasse atrás do horizonte. A noite de curiosidades me
permitiu ficar com meus amigos - pessoas que eu conhecera toda a minha
vida - e fingir que a vida era normal e boa. Que estava tudo bem.
Vários circuitos da cidade depois, eu fiquei longe o máximo que
pude. Agora era hora do intervalo e eu precisava de um hambúrguer e um
pouco de barulho. Mas não pude me esquivar de minhas
responsabilidades, por isso tomei um tempo, olhando cada rua que
passava em busca de algum sinal de problema. Tulip era uma cidade
segura. O máximo que tinhamos que lidar era com algumas violências
domésticas em incidentes, crianças fazendo merda estúpida e acusações
de posse ocasionais. Ainda assim, nunca é demais ter certeza.
A alguns quarteirões do Black Thumb, o som dos pneus dos carros
chamou minha atenção. Eu bati no acelerador. As chances eram boas de
que alguns dos alunos da escola estivessem fazendo algo estúpido como
corridas de arrancada, mas não faria mal dar uma olhada. Poeira brotou
do estacionamento do Black Thumb e levei o carro de patrulha para o meio
pavimento e meio cascalho. Uma figura familiar, com longos cabelos loiros
fluindo na brisa, estava no chão, curvada sobre alguém deitado, o que
nunca era um bom sinal.
Quando eu estava a poucos metros de distância, vi exatamente
quem era. Elka estava debruçada sobre Buddy, o dono do Black Thumb. O
dono inconsciente. — O que você está fazendo? — Minha voz era um
pouco áspera, mas as coisas não pareciam boas para ela de onde eu
estava.
Elka olhou para cima, aqueles grandes olhos azuis fingindo
inocência. Ela abriu a boca para falar quando a porta da frente se abriu e
Nina e seu namorado Preston, seu melhor amigo Ry, May ou Ashford, e
Maxine, que eu conhecera toda a minha vida, saíram para assistir à cena.
— Bem? O que diabos você fez com Buddy? — Eu gritei para ela,
ignorando o jeito que ela se encolheu com o meu tom.
— O que? Eu não fiz nada, seu idiota! — No meu olhar cético, ela
olhou para os outros que estavam esperando por uma explicação. — Eu
estava saindo para ir para casa porque não queria ter que andar sozinha
até muito tarde. Quando saí, pensei ter ouvido uma briga por lá. — Ela
apontou para o lado do bar com pouca luz. — É um bar, então achei que
poderia ser uma mulher precisando de ajuda, mas quando voltei para lá,
Buddy estava cambaleando quando um carro escuro saiu em disparada.
— Bastante conveniente. — Não havia nenhuma maneira no inferno
que uma coisa pequena pudesse levar Buddy à frente do bar.
— Dificilmente conveniente. Ele foi atingido na cabeça e
cambaleando por todo o lugar até desmaiar aqui. Eu não queria deixá-lo
quando ele não respondeu. — Seu tom era sincero, mas eu ainda não
acreditava nela.
— Você poderia ter chamado o 911, ou eles não ensinam isso de
onde você vem?
Balançando a cabeça em descrença, Elka virou-se para Nina. —
Larguei minha bolsa em algum lugar por lá quando o vi cambaleando.
História provável. Assim como uma mulher, deitada com a cara séria
e se magoando quando ninguém acreditava nela. — Afaste-se de Buddy.
— eu pedi. Firmemente.
— Eu não posso. —ela começou com um tremor em sua voz.
— Agora! — Puxei minha arma e apontei para ela. Não é o meu
melhor momento, mas pelo que eu sabia, era ela quem havia agredido
Buddy. — Atrás, Elka.
Os olhos dela encheram de lágrimas e a indecisão a agarrou - pelo
menos era assim que ela queria que aparecesse. Mais uma vez, seu olhar
foi para Nina. Quando Elka falou, sua voz falhou. — Sua cabeça está
sangrando. Muito. Minhas mãos estão pressionando. — Sua cabeça caiu
e as lágrimas escorreram por suas bochechas.
Ry entrou e afastou as mãos, estremecendo com o que viu, o vestido
coberto de sangue. — Merda, isso é ruim. — Seu olhar sombrio fez uma
careta para mim. — Precisamos de uma ambulância. ASSIM QUE
POSSÍVEL.
Porra. Enviei um pedido no rádio para conseguir uma ambulância
imediatamente. — Cinco minutos. — eu disse a ninguém em particular e
examinei o estacionamento em busca de sinais de que Elka não era uma
mentirosa. — Quem mais estava lá dentro?
Nina entrou no meu espaço pessoal e eu sabia que ela teria algo a
dizer. — Ninguém que teria se destacado. Então, novamente, o que eu
sei? Talvez Elka seja algum ladrão de banco. Quero dizer, por que mais
você puxaria sua arma para ela? — Ela balançou a cabeça e se afastou,
mas ouvi o “imbecil” que ela murmurou.
Todo mundo tinha muita coisa a dizer. — Qual é o seu problema,
Antonio? Você apontou uma arma para um bom samaritano.
Ela já os tinha enganado. — Sim, e o que você sabe sobre ela que a
torna tão boa?
Os traços dourados de Preston escureceram. — O que você sabe
sobre ela que a torna tão ruim? Ela é principalmente tímida e calada, mas
agora acho que todos sabemos o porquê.
Como diabos eu acabei como o bandido aqui? Preston nunca perdia
a calma com ninguém, nem mesmo com sua barracuda arrogante de
mãe. — Eu sei que ela faz tipo.
— Sim, bem, agora também conhecemos o seu, não é? — Nina
continuou a me encarar de seu lugar ao lado de Buddy, segurando as
mãos dele enquanto Ry o olhava. — Você é muito urso para fazer qualquer
coisa, mas fique bem, amigo. Além disso, se você morrer, colocarei os
spritzers de vinho no cardápio.
— Ele não está morrendo. — Ry disse a ela com confiança. — Mas
tem uma rachadura na cabeça. Poderia ter sido muito pior sem a pressão
na ferida. Onde você... — Ry parou e olhou em volta. — Onde a loira foi?
— O nome dela é Elka. — Nina cuspiu, os olhos ainda disparando
adagas vermelhas em minha direção. — Meu palpite é que ela foi para
casa arrumar suas coisas e deixar Tulip.
Boa viagem.
— Isso não vai acontecer. — assegurou o prefeito Ashford a todos,
uma mão distraidamente esfregando sua barriga. — Porque o
policial Vargas vai se desculpar. Você não vai?
Sim, quando o inferno congelar. Mas não era assim que você falava
com o prefeito, então fiquei olhando para ele por um bom momento para
que ele soubesse que não seria intimidado. — Desculpar-me por fazer o
meu trabalho? Acho que não.
Ry se levantou e limpou as mãos ensanguentadas em seus jeans. —
Então talvez você precise de uma nova carreira, Vargas. Buddy apoiou o
que ela disse.
Buddy estava tentando se sentar e Nina o ajudou, sendo
estranhamente doce e carinhosa. Não que ela não fosse uma mulher legal,
porque ela era - ela simplesmente não usava na manga. — Eu teria
morrido lá atrás; ninguém me veria por horas. Ela salvou minha vida. —
Buddy olhou em volta. — Onde ela foi?
Todos os clientes dentro do bar agora estavam do lado de fora,
alguns assistindo com muito interesse, enquanto outros tinham seus
telefones ligados porque o céu proíbe que um evento passe sem que seja
gravado para posteridade. — Se foi. — alguém disse.
* * *
Acordar suando frio era a maneira perfeita de encerrar o que havia
sido uma noite desastrosa. Depois do incidente com Elka, o senhor Tyson
foi direto, interrompendo o jantar da avó na casa dos idosos, para reclamar
da minha conduta no Black Thumb. Eu tive que ouvir trinta e cinco minutos
de palestra do xerife sobre conduta profissional. Ele tentou me colocar em
serviço, se eu não “tirasse o bicho da minha bunda”. Depois disso, eu mal
podia esperar pelo final do turno.
Não que voltar para casa para uma casa silenciosa e vazia fosse o
ideal, mas era melhor do que meus amigos me olharem como se eu fosse
um monstro. Eles simplesmente não entendiam porque tiveram o luxo de
viver em Tulip a vida inteira. Alguns foram para a faculdade, mas quase
todos haviam voltado para começar a vida adulta, enquanto eu ficava em
Nova Orleans e trabalhava desde policial até detetive de homicídios. Eu
tinha visto coisas - inferno, eu tinha feito coisas - eles nunca
entenderiam. Não podia nem sonhar.
Mulheres como Elka eram como homens bons acabavam
machucados, ou pior. Elas atraíam com seus sorrisos doces e olhos tão
inocentes, e quando você estava bem e verdadeiramente viciado, elas
iam atrás da matança.
Eu deveria saber. Eu vivi e continuava tendo os pesadelos como
prova.
Era sempre o mesmo maldito pesadelo repetidamente.
Era o fim de um turno longo envolvendo um morto de dois anos de
uma overdose, e eu estava tão exausto que mal conseguia manter os olhos
abertos. Em vez de ir ao meu apartamento do outro lado do bairro francês,
optei por ir ao apartamento de Sadie. Estávamos nos vendo há quase um
ano e eu passava a maioria das noites na casa dela, porque era assim que
ela preferia, e eu preferia dormir com ela em meus braços.
Seu apartamento era pequeno como o inferno, provavelmente com
menos de cinquenta metros quadrados, mas ela adorava. Entrei no
apartamento escuro e olhei em volta, sorrindo para sua mobília
incomparável. As cadeiras listradas de azul e branco se chocavam com o
sofá xadrez verde e amarelo que ela pegara em um brechó, mas era
confortável e limpo, então eu não dava a mínima. Não sei o que foi naquela
noite que me fez parar e perceber as fotos que decoravam o apartamento
dela, mas eu sabia. Porém, não havia muitos - apenas uma dela com os
pais, alguns com algumas das meninas com quem trabalhava em um
daqueles clubes particulares para pessoas ricas e três de nós durante todo
o nosso relacionamento. Tudo no local estava arrumado, mas um pouco
degradado.
Mais gasto que chique, mas Sadie fazia funcionar.
Tirando meus sapatos, deixei-os ao lado do sofá junto com meu
casaco e fiz meu caminho para o quarto. Ela já estaria dormindo, já que
eram três horas da manhã e eu não queria acordá-la.
Dentro do quarto, eu sabia que algo estava errado,
instantaneamente, mas não queria acreditar. Eu a sacudi e pensei que
havia passado quase quatro horas processando uma cena de crime de um
bebe, mas eu deveria saber melhor. O quarto, o inferno todo o
apartamento, estava muito quieto.
Muito quieto. O tipo sufocante de silêncio.
Acendi a luz, esperando ser gritado por acordar Sadie ou eu ficaria
chateado porque ela ainda estava com suas amigas.
Quando meus olhos pousaram na minha frente naquela noite, eu
desejei como o inferno que fosse um dos outros cenários. Qualquer
coisa teria sido melhor do que ver seu cadáver amarrado aos postes da
cama, cortado da garganta à pélvis, olhos arregalados de terror.
Assim como os outros.
O fedor era tão enjoativo que eu tive que sair, ficar do lado de fora
enquanto a chamava. Não havia tempo para sorrir quando o choque e a
responsabilidade assumiram.
Felizmente, era aí que o pesadelo sempre terminava. Nos meus
sonhos, pelo menos. Na vida real, haviam passado mais algumas semanas
antes que o pesadelo realmente começasse.
A realidade não importava tanto quanto meu subconsciente
era concebido, porque esse sonho maldito ainda acontecia algumas vezes
por semana, mesmo anos depois daquela noite. As noites sem dormir
eram algo com o qual eu me acostumara ao longo dos anos,
especialmente porque Tulip estava em silêncio a essa hora da noite. Isso
me dava muito tempo para pensar.
Por muito tempo para pensar em coisas que eu não tinha como
pensar. Como Sadie e suas mentiras. O jeito que ela me fez de bobo até
que eu estava tão apaixonado por ela que me cegou aos sinais de
alerta. Se eu os tivesse visto antes, talvez eu pudesse tê-la salvo. Era esse
pensamento que me atormentava todos esses anos, mesmo sabendo o
momento em que vi seu corpo, que a parte de sua vida que ela mantinha
longe de mim selara seu destino.
Uma das coisas que aprendi desde então foi que não havia sentido
em desejar que você pudesse mudar o passado, a menos que você tivesse
uma máquina do tempo. Mas se chegar a mim. Apenas aconteceu - em
mais noites do que não.
E, como sempre fazia, peguei uma calça de moletom e fui até o porão
que meus amigos haviam me ajudado a reformar. Um lado do porão
acabado era uma sala de jogos, completa com uma TV de tela plana,
consoles de videogame, um jogo de dardos e uma mesa de sinuca. O
outro para onde eu ia quando o sono me escapava; era uma academia em
casa onde eu podia correr, levantar e socar até pensar direito ou até me
cansar.
O que viesse primeiro.
Quando bati no saco com os punhos, outro pensamento me
ocorreu. Talvez fosse hora de ir à cidade e encontrar uma mulher que
pudesse me fazer esquecer tudo. Apenas por algumas horas.
O telefone tocou novamente pela quinta vez hoje e eu continuei a
ignorar o som, cantarolando uma música antiga do Aerosmith enquanto
fazia algumas encomendas que precisavam ser enviadas hoje pelo
correio. O problema era que eu ainda não tinha uma conta para a coleta
e ainda não tinha um veículo em funcionamento, o que significava um
longo caminho tedioso pela frente. Outro bom motivo para ignorar o
telefone tocando. A outra boa razão era que as únicas duas pessoas que
podiam ligar eram as únicas pessoas com quem eu não queria falar.
Tecnicamente, havia três pessoas com quem eu não queria falar,
mas uma delas não tinha meu número e eu estava aprendendo a apreciar
as pequenas vitórias da vida. Como o fato de eu não ter sido baleada na
semana passada no estacionamento de um pub da cidade pequena. Ou
presa.
O telefone tocou novamente e eu apenas desliguei a maldita
coisa. Por que eles insistiam em ligar agora, quando deixaram
perfeitamente claro que eu havia perdido minha utilidade para eles depois
que Austin morreu, eu não sabia.
Mais importante, eu não me importava. Eles me disseram como
se sentiam, ou melhor, como não se sentiam, e eu respeitei. Ao sair.
Sem o telefone constantemente tocando, eu poderia voltar a
trabalhar arrumando cerca de quinze pedidos. Bem, eu poderia ter se a
campainha não tivesse começado a tocar a seguir.
Penny estava na varanda com outra mulher, essa com cabelos
negros e olhos da cor de esmeraldas. Uma câmera estava pendurada em
seu pescoço.
— Hum, ei? — Eu disse.
Penny deu um sorriso, eu tinha certeza de que ela a tinha
praticamente tudo o que ela pedia. Isso me deixou nervosa. — Olá,
Elka. Como você está? — Sua voz era calorosa e acolhedora. Um
pouco acolhedora demais, se eu estava lendo as coisas corretamente.
— Eu já estive melhor, Penny. E você e sua amiga?
A outra mulher aproveitou a oportunidade para avançar e enfiar a
mão na minha. — Sou Janey. Fotógrafa profissional rapper e dor geral na
bunda. Nós precisamos da sua ajuda.
Eu queria gemer e talvez bater minha cabeça contra a porta, mas
então lembrei que era por isso que me mudei para cá. Soltei um longo
suspiro e dei um passo para trás. — Não estou prometendo nada, mas
estou disposta a ajudá-la. — Elas me seguiram para dentro e eu as levei
para a cozinha. — Chá de menta com lavanda?
— Claro, obrigada. — Penny, ao que parecia, era a mais baixa.
— Vou tomar um pop, se você tiver algum?
Abrindo a geladeira, vi uma lata final do pacote de seis que comprei
para ver se refrigerante era minha coisa. Não era. — Então, o que você
precisa de mim?
Janey abriu a aba e chupou pelo menos metade da lata antes de
bater com força e sorrir. — Tenho certeza de que você notou o estado
atroz do Tributo de Tulip. Estamos fazendo um calendário de captação
de recursos para obter o dinheiro para reparos. Heróis da Cidade Natal.
O fato de a cidade não deixar o tributo permanecer naquele estado
horrível era calmante. Eu assenti. — Essa é uma ideia maravilhosa! Posso
lhe dar algum dinheiro, mas meus novos cheques ainda não chegaram.
Penny e Janey trocaram um olhar que eu tinha visto meus pais
trocarem muitas vezes. — Preferimos que você doe seu, ah, tempo. —
Penny disse diplomaticamente, mas Janey revirou os olhos e tomou outro
gole longo de refrigerante.
— Não queremos dinheiro, senão iríamos à víbora Sabrina. Há uma
feira de artesanato neste fim de semana e um dos artistas quebrou suas
costas enquanto escalava, o que significa que temos um estande
disponível com um Herói da Cidade Natal para atuar como seu assistente
durante o dia.
Isso não parecia tão ruim. — Eu não conheço ninguém na cidade,
além de você, Penny, e mais importante, ninguém conhece o meu negócio,
então acho que seria uma perda de tempo de todos. — Depois do que
aconteceu no pub, eu não tinha tanta certeza de que poderia
ou deveria mostrar meu rosto pela cidade.
Penny arqueou uma sobrancelha perfeitamente esculpida. — Você
está seriamente questionando o quão bem eu conheço seus negócios?
— Não. — O lembrete de quão exaustivamente eu tinha sido
pesquisada era um pouco agradável e muito perturbador. — Eu adoraria
fazer isso, honestamente, mas não posso. — A ideia de ver qualquer
pessoa que estivera no Black Thumb, que via a maneira como o policial
Vargas me tratou e apontou sua arma para mim, era
aterrorizante. Humilhante.
— Por que não? — Janey exigiu uma resposta e eu sabia que teria
que admiti-la ou elas não partiriam até que eu concordasse.
— Eu realmente prefiro doar dinheiro, se é a mesma coisa para você.
— Meu estômago apertou com ansiedade e passei minhas mãos em torno
da caneca para impedi-las de tremer.
— Nós doamos nosso tempo nesta cidade. — ela insistiu.
— Talvez eu não queira encontrar ninguém que me viu
sendo apontada com uma arma por tentar ajudar um velho ferido! —
Larguei minha caneca na pia, agradecida por não ter quebrado, pois era a
minha favorita e saí. — Sinto muito, mas não posso ajudá-la. — No
momento em que tranquei a porta do quarto atrás de mim, eu ri da
ironia. Todo o chalé era todo meu, mas aqui estava eu, escondendo
minhas lágrimas no meu quarto. Assim como nos velhos tempos ruins,
exceto que naquela época, eu tinha Austin.
Não sei quanto tempo se passou quando deixei minhas lágrimas
caírem silenciosamente em meu travesseiro, mas o som da porta da frente
se fechando disse que era seguro sair do quarto. Tranquei a porta de tela
antes de voltar para a cozinha para outro chá de lavanda e soltei um grito
de gelar o sangue ao ver Penny ainda sentada à mesa da cozinha. — O
que você está fazendo aqui?
Ela olhou para mim, nem um pouco perturbada pela minha
explosão. — Eu sabia que você voltaria eventualmente. Você está bem?
— Estou bem. Obrigada por perguntar. — Me ocupei fazendo outra
caneca de chá me deu tempo para controlar minhas emoções sem seu
olhar atento. — Olha, estou feliz em doar alguns produtos para a causa,
mas não estou pronta para enfrentar uma multidão.
Ela suspirou atrás de mim. — Sinto muito pelo que aconteceu com
você, Elka, mas você é uma heroina. Você salvou a vida de Buddy e ele é
grato.
— Fico feliz em saber que ele está bem.
— Qual é o plano, Elka? Ficar dentro desta casa até morrer?
Meus ombros caíram. — Claro que não. Preciso de mantimentos e
tenho que enviar pedidos, por isso não é uma opção. — Isso não
significava que eu não teria mais cuidado com aonde eu ia. E quando.
— Antonio estava errado e tenho certeza se você der a ele a
oportunidade...
— Ele apontou a arma na minha cabeça e me expulsou da
cidade. Olha, Penny, eu adoraria participar, mas agora não posso. —
Mover-se já era um grande negócio, assim como estar
sozinha. Era demais ao mesmo tempo. — Eu sinto muito. — Quando
finalmente me virei, os olhos de Penny eram simpáticos e isso só me fez
sentir mais emocional.
— Que tal isso... eu vou te dar uma carona até os correios para
enviar seus pedidos, se você levar três horas na feira de artesanato?
A oferta era muito tentadora, considerando que estava fora de
época, ou talvez fosse a quantidade certa de calor para Tulip, Texas. De
qualquer maneira, um passeio parecia divino. O custo era muito alto? Mas
era isso que eu queria: fazer parte de uma comunidade. Pertencer. —
Bem. Apenas deixe os detalhes. —Antes de terminar de falar, ela estava
tirando uma pasta da bolsa de couro preta.
— Esses são todos os detalhes, incluindo um mapa de onde é seu
estande e suas dimensões. Se você tiver alguma dúvida, não hesite
em ligar. — O olhar em seus olhos disse que ela sabia que eu não, mas
que a oferta ainda estava de pé.
— Obrigada, Penny. E você não precisa me dar uma carona. Eu me
viro. — Parecia sujo extorquir uma carona a alguém que tentava fazer algo
de caridade.
— Eu não me importo.
Eu fiz. — Ainda tenho que empacotá-los e verificá-los, pode ser que
demore horas. Sinceramente, Penny, eu farei a feira. Sem compromisso.
Ela me deu um olhar longo e avaliador que quase me fez
contorcer. Felizmente, seu olhar não era nem de longe tão intimidador
quanto o de minha mãe. — Se você tem certeza.
— Tenho. — eu disse a ela e a acompanhei até a porta com a
promessa de ligar se eu precisasse de alguma coisa. Nós duas sabíamos
que era provavelmente uma mentira, mas felizmente Penny apenas
acenou e foi embora.
E como não gostava de mentir, esperei uma hora inteira depois que
ela partiu para iniciar minhas viagens aos correios. Foram três viagens e,
quando fiz a última, estava exausta e reconsiderando minha opinião sobre
minha própria aptidão física. O sol brilhava no céu, zombando de mim por
ser tão determinada a fazer as coisas sozinha. Bem, se o sol conhecesse
minha história, eu tinha certeza que ela entenderia.
O som de um carro próximo me colocou em alerta, mas continuei
andando. Eu não tinha energia para virar a cabeça e arriscar as caixas
caindo no chão. — Precisa de uma carona?
Eu conhecia aquela voz e era o proprietário dela a última pessoa de
quem eu pegaria carona, mesmo que eu estivesse marchando pelo
deserto sem água à vista. Em vez de dizer isso, decidi empregar uma das
lições aprendidas em mim quando criança. Se você não pode dizer algo
legal, não diga nada.
— Olha, me desculpe pelo meu comportamento, ok?
Algumas desculpas. Não que sua falta de sinceridade tenha
importância. Eu tinha certeza que quando a verdade surgisse, o xerife o
forçaria a pedir desculpas. Eu não queria, porque ele não quis dizer
isso. Eu continuei andando, ignorando a forma como os meus braços
tremiam e o suor escorrendo pelo meu pescoço e nas minhas costas.
O policial Vargas não desistiu até eu entrar nos correios, tudo sem
dizer uma palavra em resposta. Era o suficiente para fazer uma garota
sorrir com orgulho. Eu fiz, uma vez que meus braços estavam livres. Não
só eu tinha um sorriso largo e confiante, mas parei e peguei um
hambúrguer suculento com queijo e bacon, batatas fritas com waffle e
picles ao lado.
Apesar de tudo o que aconteceu, eu estava começando a gostar da
nova eu.
Eu apenas me perguntava se ela pertencia a Tulip.
— É muito cedo para isso. — falou Jackson Slater que trabalhava
comigo e com Tyson, atuando como investigador oficial de nosso pequeno
departamento. Ele passou a mão pelos cabelos castanhos escuros - que
pareciam ter sido penteados com os dedos de uma mulher - e suspirou. —
Como diabos eu fui amarrado a isso?
Este é mais um festival de artesanato que trazia artistas, artesãos e
outros fabricantes de artesanato de todos os municípios vizinhos para o
Tulip. Geralmente eu fazia serviço policial por essas coisas, mas desta vez
eu estava lá como homem doce. De acordo com Janey de qualquer
maneira.
Eu sorri. Era a mesma pergunta que todos os caras que
concordaram em posar para o calendário de Heróis da Cidade Natal se
perguntaram pelo menos uma vez desde que Janey nos prendeu. —
Provavelmente porque você prefere suportar isso do que uma Janey
implacável. — A mulher era como um cão de caça que sentia o cheiro,
afundando os dentes em você até você desistir. — Vou comprar um café
para você.
Ele parou entre duas barracas - o milho doce com manteiga vendido
por Trixie Bell e as geleias de milho vendido por sua irmã gêmea Mimi. —
Qual é o problema?
— Por que tem que haver um problema?
Jackson deu um sorriso presunçoso. — Se você precisa fazer essa
pergunta, é hora de investigar crimes reais novamente.
— Todo crime é crime real. — lembrei a ele. Era verdade, mas
também era uma besteira que eu costumava deixar de falar sobre por que
não aceitei o emprego de Jackson, apesar de ter mais experiência. —
Além disso, estou feliz em ajudar você a ficar bem.
Jackson acariciou a barba por fazer com que ele não se incomodou
e sorriu. — Como se eu precisasse da sua ajuda para isso. Diga-me o que
esse café vai me custar.
Esse era o problema quando seus amigos mais próximos também
estavam na aplicação da lei - você não podia mentir para eles. — Você
está designado para o estande da Elka's Essence hoje. — Não era uma
pergunta. Eu tinha percorrido o maldito mapa pelo menos uma dúzia de
vezes para ter certeza de que não precisaria perguntar duas vezes.
— Qualquer coisa menos isso. — A expressão de Jackson passou
do quente para o Ártico em um instante, o que significava que ele tinha
ouvido falar sobre o meu comportamento, mesmo estando fora de uma
conferência forense na semana passada. — Cristo, cara, você apontou
sua arma para ela?
Quantas vezes eu seria condenado a me explicar? — Foi um erro
honesto.
— Lá vai você, mentindo de novo. Está se tornando um hábito. —
Geralmente apreciava a atitude descontraída de Jackson; fazia dele um
bom companheiro e amigo de bebida. Hoje, isso só me fez querer dar um
soco nele. — Você quer ficar de olho nela?
— Não. Sim. Inferno, eu não sei. Ela disse a Penny que não faria isso
se eu chegasse perto dela. — Isso doeu como o inferno ouvir, mas eu não
podia culpá-la. E então, alguns dias atrás, ela deixou claro que preferia
lutar carregando caixas com metade do seu tamanho do que aceitar minha
ajuda. Foi um chute nas bolas.
— Não posso dizer que a culpo, mas posso dizer que não estou
trocando com você. Você não merece isso, cara, mas eu também não
quero Penny e Nina respirando no meu pescoço. Desculpe.
Paramos para tomar um café e eu sabia que Jackson estava
certo. Eu não mereço a ajuda dele. Mas não estava pronto para desistir ou
aceitar a derrota. Elka estava escondendo algo e eu sabia disso. Eu não
pararia até descobrir o que, mas poderia ser um pouco melhor. — Talvez
sim, mas eu não posso ser o único a suspeitar dela.
— Realmente? Não me lembro de você ter suspeitado tanto de
Penny quando ela veio à cidade. Ou Nina com tatuagens e piercings. —
No meu olhar confuso, Jackson deu uma risada. — Talvez haja algo nessa
mulher que chegou até você.
— Não existe.
Jackson riu mais, desenhando olhares enquanto caminhávamos por
um dos corredores, bebendo café. Eram quase nove horas da manhã e
metade da cidade já havia aparecido para comprar, vender ou apoiar os
artistas. Era uma das grandes coisas de morar em uma cidade pequena -
o apoio. Sabendo que você ficaria bem, porque as mesmas pessoas que
estavam no seu negócio apareceriam e o apoiariam com tanta energia. —
Você gosta dela. Agora mal posso esperar para conhecê-la.
Menos de dois minutos depois, nós dois estávamos de pé em frente
ao pequeno estande com a faixa da Elka's Essence, as palavras escritas
em um roxo suave. Elka estava sentada em uma daquelas bolas de
estresse, tecido caindo ao redor das pernas e usava grandes óculos de sol
vermelhos com lentes em forma de coração. Seus lábios rosados
descansavam em um beicinho gordo que se espalhou quando ela viu
Jackson.
— É ela.
— Elka? — Perguntou Jackson. Ela assentiu e vi o sorriso de
Jackson brilhar e ficar predatório. — Jackson Slater, ao seu serviço. — A
mão dele se estendeu para ela e ela a pegou, levemente protegida, mas
ainda amigável.
— Nas próximas horas, de qualquer maneira. Prazer em conhecê-
lo, Jackson. — Não que eu esperasse, mas doeu quando ela nem me
reconheceu. — Que tipo de herói você é?
Ele riu, enfiando as mãos nos jeans enquanto avançava, mais perto
de Elka. — Detetive.
— Você não é um pouco jovem para ser detetive?
O idiota teve a coragem de corar, um fato que era tão
impressionante quanto nojento. Eu me perguntei quanto tempo ele levou
para aprender esse truque em particular. — Tecnicamente, sou apenas
um investigador porque Vargas aqui não queria o emprego. Dividimos os
deveres. Consegui o título, mas ele tem uma classificação mais alta.
— Certo. — Ainda assim, ela não me reconheceu e estava
começando a me irritar.
— Bom dia, Elka.
— Bom dia, oficial. — Ela voltou-se para Jackson. — Não tenho
certeza do que você deve fazer, mas se alguém precisar de sua ajuda, não
sinta que precisa ficar por aqui.
— Eu tenho as gêmeas Bell e tenho certeza de que elas poderiam
ajudar. — eu disse a Jackson, olhando para ele até que ele desistisse.
— Oh, tudo bem. Você não tem uma arma de fogo hoje, tem? — Eu
olhei para o meu suposto amigo, mas ele apenas riu, como se fosse uma
grande piada. — Está bem, está bem. Vou. Foi um prazer conhecê-la,
Elka.
— Você também. — Assim que ele virou as costas, o sorriso dela
desapareceu e sua atenção voltou-se para o dispositivo preto em suas
mãos. Eu a observei por alguns minutos e ela nunca olhou para cima ou
mostrou qualquer consciência de que eu ainda estava lá.
— Você deve estar mais consciente do seu entorno. — O fato de ela
nem se encolher com a minha voz disse mais do que ela provavelmente
queria.
— Existe algo que você precisa, oficial?
— Antonio. Meu nome é Antonio. — Ela conseguia ser tão difícil? Era
exatamente por isso que parei de me envolver com mulheres por mais de
algumas horas: elas nunca conseguiam simplificar nada.
Ela suspirou e olhou para cima, mas seus olhos estavam protegidos
por aqueles óculos de sol ridículos. — Os nomes são para amigos.
Era uma abertura tão boa quanto provavelmente seria. — Escute,
Elka. Sinto muito pela maneira como agi no Black Thumb. Talvez eu tenha
exagerado e me desculpe. Verdadeiramente. — Eu gostaria de poder ver
o que diabos estava acontecendo naqueles olhos azuis sem fundo, mas
ela ainda usava os óculos de sol, me deixando voando cego.
— OK.
O que diabos isso significava? — Ok, como você me perdoa e
podemos ter uma ideia clara?
Seus lábios tremeram, mas quando ela enfiou o pequeno aparelho
preto em sua feia bolsa de retalhos e cruzou os braços, eu sabia que não
era divertido. — Isso significa que tudo bem, eu ouvi o que você tem a
dizer.
Isso não era bom o suficiente, então tomei o assento que ela
claramente separou para Jackson e me sentei. Observando-a conversar
com pessoas que se aproximavam para perguntar sobre suas velas e
incenso. Ela sorriu para cada pessoa e respondeu suas perguntas
pacientemente. Não era uma versão dela que eu já tinha visto. Foi
convincente.
— Para que servem? — Betty Kemp parou, olhando Elka e depois
eu antes de voltar o olhar para a pequena caixa de presente.
— São kits de bênção - perfeitos para presentes de inauguração de
casa. Mas se você simplesmente deseja remover energia negativa de um
espaço e substituí-la por energia positiva, este é o kit para ajudar.
— Oh, eles cheiram divinos! — Betty oohed e aahed sobre o kit,
gritando como uma adolescente quando ela inalou os aromas.
Elka riu. — Existem cinco aromas disponíveis, mas estou
trabalhando para expandir minhas opções. — Ela tinha uma maneira fácil
de lidar com ela, que deixava todo mundo à vontade, quer saíssem com
alguma coisa ou não.
Cerca de uma hora se passou em um silêncio insuportável antes que
eu não agüentasse mais. — Elka, conte-me sobre você.
— Meu nome é Elka.
Eu sorri com o sarcasmo dela. Eu merecia isso e era bom saber que
ela tinha uma espinha dorsal naquele pequeno corpo dela. — De onde
você é, Elka?
— A costa oeste. — ela respondeu facilmente. Mesmo que ela não
olhasse para mim, eu sabia que era a verdade.
— Você tem família?
— Eu faço.
— Irmãos e irmãs?
Os lábios dela se apertaram instantaneamente. — Não mais.
Havia uma história lá e eu queria ouvi-la, mas ela estava com raiva
demais para dar uma polegada agora. Felizmente, nenhuma mulher
resistia a uma oferta de açúcar. Levantei-me e me estiquei, imaginando se
ela tinha me olhado do jeito que ela tinha antes de eu gritar com ela sobre
seu trailer. — Vou pegar uma daquelas barras de chocolate
caseiras. Você quer alguma coisa?
— Não, obrigada. — disse ela tão rapidamente que eu sabia que
teria sido a resposta, não importa o quê.
Qual era o sentido de tentar ser gentil com alguém que não conhecia
o significado do perdão? — Tanto faz. — Eu nem sabia por que diabos isso
importava neste momento. Eu não tinha feito nada para justificar seu
perdão e, como ela se recusava a aceitar minhas desculpas, era inútil.
O problema era que eu não tinha escolha a não ser consertar
as coisas porque Tyson estava com razão. Eu agi de maneira não
profissional e foi uma reflexão sobre ele, assim como sobre o
departamento e, de acordo com o prefeito, toda a maldita cidade. O que
significava que eu precisava fazer algo que tornasse impossível para ela
não me perdoar.
Até agora, minha coisa favorita absoluta na cidade de Tulip, Texas,
era o generoso mercado ao ar livre que ocupava a maior parte da First
Street, bem como a Lady Tulip Square, nomeada para a grande área de
Lady Tulips plantada no centro. Eu já havia passado uma hora andando
por aí, colhendo flores e mudas e aproveitando todos os produtos frescos
à venda. Meu hábito de comer saudável era difícil de quebrar quando
confrontado com tomates e berinjela.
Além disso, com o sol batendo no meu rosto, esquentando minha
pele através da minha saia branca leve e blusa combinando, eu poderia
fingir que pertencia. Mesmo se eu não fizesse. Ainda não, pelo
menos. Austin não duvidava constantemente de si mesmo; ele era a
pessoa mais confiante que eu conhecia, o que não dizia muito, já que eu
não conhecia muita gente, mas ainda assim. Ele andava com os ombros
para trás e a cabeça erguida, fingindo que se encaixava até que realmente
o fazia.
Canalizando minha pessoa favorita em todo o mundo, eu fiz o
mesmo, sorrindo enquanto pegava um pedaço de morangos, respondia
perguntas educadas e fazia algumas minhas. Vi as irmãs Bell algumas
barracas abaixo. Elas tinham cachos pretos apertados e olhos quase
violeta. Mimi se vestia como uma dona de casa dos anos cinquenta,
enquanto Trixie se vestia como um adolescente de jeans, camiseta e tênis.
— Mimi, sua geléia de milho é absolutamente deliciosa!
Suas bochechas ficaram um tom vermelho brilhante quando sua
boca se alargou em um sorriso orgulhoso. — Obrigada querida. Que bom
ouvir isso.
E como eu estava tentando me encaixar, me virei para Trixie e
comprei dois pacotes de seu famoso milho. — Estou fazendo salada
mexicana com feijão preto, abacate, tomate e cebola com batatas fritas de
pacote.
— Eu não me importaria de provar isso. — disse Mimi com um
sorriso hesitante.
— Fico feliz em compartilhar isso com você. Não é como se eu
pudesse comer tudo sozinha. — Isso pareceu animar ela.
— Vivemos no amarelo vitoriano a duas quadras ao norte de sua
casa. — disse Trixie, voltando-se para o próximo cliente.
Esta cidade era tão excêntrica quanto maravilhosa e eu sabia que
não podia deixar que um homem amargo, com problemas de raiva,
colorisse a cidade inteira para mim. Era fácil admitir que, além do policial
Vargas, Tulip tinha sido incrível até agora. Muito acolhedora e amigável.
— Oh, você está aqui, querida. — Um homem mais velho, com uma
cabeça cheia de cabelos ruivos e prateados, parou na minha frente,
ofegando com as mãos puxando as tiras do macacão. — Sou Rusty e devo
um grande pedido de desculpas, jovem. Eu peguei seu hatchback e um
dos meus sobrinhos já o pegou para ver o que está acontecendo com
ele. Vou consertar isso para você em pouco tempo.
Meus ombros afundaram em alívio. Fazer uma dúzia de viagens aos
correios a pé era um ótimo exercício, mas não era bom para o meu humor
ou minha criatividade. Eu precisava do meu carro consertado e rápido. —
Estou tão feliz em ouvir isso, Rusty. Obrigada. — Meu sorriso brilhava tão
amplo que minhas bochechas doíam.
— Não me agradeça. Agradeça Antonio. Ele é quem cuidou de
tudo. — Rusty jogou o boné por cima da cabeça e chutou a terra
distraidamente. — Sinto muito por fazer você esperar. Pesca e cerveja
nem sempre se misturam.
— Sou grata por isso ser feito em breve. — O que significava que
Antonio ‘cuidara de tudo’? — Você me informará os danos antes de iniciar
os reparos, certo? — Eu li um artigo que dizia que as mulheres tinham que
ter cuidado quando se tratava de reparos de automóveis.
— Tenho certeza que sim, mas Antonio disse que cuidaria da conta.
— Sou perfeitamente capaz de pagar meus próprios consertos de
carros. — Não havia como eu deixar aquele idiota pagar. Nunca. —
Apenas me ligue com o custo e eu cuidarei disso. Por favor.
— Coisa certa. Antonio não ficará satisfeito, mas se eu tivesse uma
coisa bonita como você sorrindo para mim, deixaria você fazer o que
quisesse. — Seus olhos brilhavam com brincadeiras que me diziam que
ele ainda tinha jeito com as mulheres, então ele piscou e se afastou.
Austin, você não vai acreditar nesta cidade! Ele daria um pontapé
nisso. Do restaurante da velha escola as gêmeas mal-humoradas e até o
calendário dos heróis da cidade natal, ele teria caído na gargalhada.
— Para que é esse sorriso? Por favor, me diga que o pensamento foi
super sujo! — A voz de Nina me tirou dos meus pensamentos e
lembranças do meu irmão.
— Nada sujo. Eu estava pensando sobre o quanto meu irmão amaria
esta cidade. Ele disse que as pequenas cidades eram onde estavam todos
os verdadeiros esquisitos.
Ela sorriu. — Você está caçando esquisitos, Elka?
Eu ri. — Não, mas eu nunca estive em lugar nenhum antes disso,
então é tudo novo para mim. — Eu não podia acreditar como era fácil
compartilhar com ela. Não que eu tenha compartilhado muito, mas para
mim, era muito.
— Como vai você?
— Estou bem. — Isso era principalmente verdade de qualquer
maneira. — Entre o trabalho e a criação do meu lugar, tenho estado muito
ocupada para pensar em... coisas. — Algumas noites eu acordei dos
sonhos de que aquela arma estava sendo apontada para mim, mas eu
estava trabalhando para superar isso. Coisas como o que acontecem no
mundo todos os dias, um olhar para a notícia se confirmar que-assim eu
tentei sentir grata que nada mais tinha acontecido.
— Se você tem certeza...
— Eu tenho. Como está indo?
Nina teve pena de mim e sorriu. — Você é terrível em pequenas
coisas.
— A prática leva à perfeição. — Gostava da honestidade de Nina e
que suas palavras não pareciam julgar. Apenas fatos.
— Você tem que vir para a próxima noite das meninas. Você pode
conhecer algumas das mulheres da cidade e talvez aprimorar suas
habilidades de comunicação. Se isso é algo que você queira, claro.
— Eu faço. Não passei muito tempo com outras pessoas que não a
família. Eu me mudei para cá para fazer todas as coisas que nunca
pude. — Por que eu estava compartilhando tanto com essa mulher que
era praticamente uma estranha?
— Você estava em um culto ou algo assim?
Sua questão me fez rir. Isso também me fez perceber que eu não era
a única aberração aqui. — Nada tão interessante quanto tudo isso. Meus
pais me tiveram para que eu pudesse ser um doador vivo para meu irmão
Austin.
— Isso é péssimo. — ela disse simplesmente e ofereceu um sorriso
cheio de simpatia.
— Sim, mas eu amava Austin e teria feito de qualquer maneira.
— Mas teria sido bom ser procurada por meu próprio mérito também. —
De qualquer forma, passei a maior parte do tempo em casa ou no hospital,
mantendo-me saudável caso ele precisasse de algo mais.
Nina levantou a mão e eu temi que tivesse falado demais, a deixado
triste ou com raiva. — Ok, espere. Esta história requer bebida e
backup. Estamos mudando a noite das meninas pra hoje à noite. Seu
lugar. Oito horas.
Eu a encarei, sem saber o que dizer. A noite das meninas parecia
boa. Eu tinha visto filmes onde parecia muito divertido. Mas um monte de
mulheres estranhas ao mesmo tempo? Isso era assustador como o
inferno. — OK?
Nina sorriu. — Perfeito. Todas nós vamos trazer um pouco de algo -
comida ou bebida, provavelmente os dois.
Noite das garotas. Eu não estava apenas participando de uma noite
de garotas; Eu estava hospedando. Estava na cidade há algumas
semanas. Isso era outra coisa que eu perdi e agora eu poderia
experimentar por mim mesma. — Parece bom. Até logo.
* * *
A noite das meninas era uma tradição que eu não conhecia,
pois nunca havia um momento certo para eu interagir com meninas da
minha idade, graças ao medo dos meus pais de que eu traria de volta um
super germe que poderia matar Austin. Não estou pensando nisso agora.
Não. Recusava-me a pensar na minha infância hoje - ou em qualquer dia
mesmo.
Infelizmente, assim como tomei a decisão de empurrar tudo sobre o
meu passado, exceto Austin, para os profundos recessos da minha mente,
o telefone tocou novamente. Um dos meus pais ligando. Novamente.
Não obrigada.
Em vez disso, fiz uma rápida revisão da minha casa, com certeza os
sapatos e as roupas descartadas estavam cuidadosamente fora de vista,
arrumei o banheiro de hóspedes e montei uma lista de reprodução para
ouvir como ruído de fundo. Talvez tenha sido um exagero, ou talvez eu
estivesse apenas nervosa por me divertir pela primeira vez. De qualquer
maneira, eu me mantive ocupada e tentei não pensar no porquê, de
repente, meus pais se lembraram de que tinham outro filho.
Quando a campainha tocou, eu congelei, sentindo de repente como
se tivesse sido pega fazendo algo que não deveria. Olhando ao redor da
sala - minha sala de estar, que pagava e limpava - endireitei meus ombros
e abri a porta no momento em que a campainha tocou novamente. —
Oficial Vargas, o que você está fazendo aqui? — Ele não estava vestido
com seu uniforme - um fato pelo qual as partes da minha senhora eram
gratas -, então não poderia ser uma visita oficial.
— Posso entrar?
Segurei a maçaneta com mais força, ignorando a resposta do meu
corpo a ele. — Não. O que você precisa? — Não importava que meus
mamilos estivessem duros ao redor dele, porque minha mão apoiada na
maçaneta não parava de tremer. — Bem?
O oficial Varga suspirou e passou a mão por seus grossos cachos
escuros, aqueles intensos olhos castanhos focados em mim até que senti
a vontade de me contorcer. — Vim me desculpar. — Suas palavras eram
inseguras e um pouco trêmulas, mas eu as ouvi alto e claro.
— Volte novamente? — Eu precisava ouvi- lo novamente porque...
bem, porque ele puxou uma arma em mim.
— Sinto muito pela maneira como agi.
— Que horas? — Eu atirei de volta porque ele não tinha sido
exatamente acolhedor em nenhuma das vezes que nossos caminhos se
cruzaram.
Seus lábios tremeram, mas o sorriso nunca veio. — Você está
certa. Sinto muito por ser um idiota desde o momento em que você chegou
a Tulip. Você não mereceu.
Muito certo que não. — Não, eu não mereço isso. Gostaria de me
dizer o que eu fiz?
Sua expressão ficou tensa e ele moveu a cabeça de um lado para o
outro como se estivesse quebrando o pescoço. — Não.
— Está bem então. Obrigada pela visita, oficial. — O pedido de
desculpas foi bom de ouvir, mas qualquer problema que ele tivesse comigo
ainda estava lá. Sua mão estendeu e bateu na porta, me fazendo pular de
volta com um suspiro. — Eu acho que é hora de você sair.
— Não, caramba. Estou tentando me desculpar.
Assim, minha raiva borbulhava até a superfície. Só porque eu evitava
me emocionar demais com coisas que não podia mudar, não significava
que não tinha raiva. Eu tinha. Muito disso. — Sim, bem, o tempo de
desculpas acabou. E seu pedido de desculpas definitivamente não
é aceito!
Ele aproveitou o espaço entre nós, entrando na minha casa e
chutando a porta atrás dele. — Você é sempre tão difícil?
— Você sempre é um idiota arrogante? — Meus braços começaram
a formigar e depois todo o meu corpo. Lutar com ele foi emocionante,
provavelmente porque foi a primeira vez na minha vida que eu me defendi.
Ele piscou. — Não. Eu nunca sou arrogante. — Ele pareceu
surpreso com a realização.
— Mas você é sempre um idiota? Isso não é surpreendente, na
verdade.
— Ninguém mais pensa que eu sou um idiota. — Sua voz era mais
baixa, e aquele estranho tom sexy me atingiu bem no estômago, enviando
arrepios em todas as minhas extremidades.
Eu ignorei os sinais óbvios de atração porque sabia uma má idéia
quando a vi, por mais tentadora que fosse. — Eles deveriam se considerar
sortudos, então. Eu, nem tanto.
— É por isso que estou tentando me desculpar, Elka.
Maldito seja ele por dizer meu nome. Ele fez isso parecer sexy e
exótico, não simples e chato. Isso causou um curto-circuito no meu
cérebro e eu odiava tanto quanto amava. — Mas você não sente muito,
sente? — Eu balancei minha cabeça enquanto ele tentava esconder
aquele flash de culpa. — Claro que você não sente. Eu deveria ter
percebido. Por que você está se desculpando comigo, oficial Vargas?
— Droga, meu nome é Antonio. Antonio! Entendeu?
— O que você disser, oficial Vargas.
Ele soltou um som que era parte rugido e parte rosnado. O que quer
que fosse, era sexy como o inferno. — Mulher frustrante. — Ele era íntimo
e pessoal - bem no meu espaço. Eu congelei, sem saber o que fazer a
seguir. Então foi tirada das minhas mãos quando suas mãos muito maiores
e mais fortes agarraram meu rosto e esmagaram sua boca contra a minha.
Eu deveria tê-lo empurrado, talvez mordido o lábio, mas vaca
sagrada que o homem poderia matar. Não, não beijar, porque essa era
uma palavra muito simples para a maneira como seus lábios, cheios e
macios, acasalavam com os meus. Sua boca era capaz e determinada
enquanto seus lábios pressionavam os meus. Suas mãos se moveram do
meu rosto para o meu cabelo e pelas minhas costas antes de se
estabelecerem, quentes e ardentes, nos meus quadris. Um gemido saiu
do meu corpo e Antonio o engoliu e me puxou para mais perto.
O beijo pareceu durar para sempre antes que sua língua lambesse a
costura da minha boca, pedindo silenciosamente que ela se abrisse para
deixá-lo entrar. Isso aconteceu porque Antonio era muito homem para
uma garota inexperiente como eu. Meu corpo parecia ter sido tocado por
um fio vivo; minha pele praticamente fumou com o calor produzido pelas
mãos dele subindo e descendo pelo meu corpo. Era uma sensação
diferente de todas as que eu já havia experimentado e estava impotente
para lutar contra isso. Não que eu quisesse lutar contra isso, mas senti que
deveria. Parecia que não deveria ser tão fácil para um cara como Antonio
conseguir o que queria depois de como ele me tratou.
Mas meu corpo não queria ouvir. Ele estava tão animada quanto eu
como na primeira e única vez em que andei de montanha russa. Com o
Austin. Esse nome foi, desta vez, como um balde de água gelada sobre a
minha cabeça. Dei um passo para trás e olhei para Antonio. Seus cabelos
pretos se erguiam em todas as direções e seus olhos eram tão escuros
que poderiam ser pretos. A maneira como seu peito arfava, a força que ele
usava para empurrar o ar para fora de seus pulmões, disse que estava tão
afetado quanto eu. E isso me deixou ainda mais inquieta. — O que diabos
foi isso?
Ele parecia tão atordoado quanto eu, olhos arregalados e
brilhantes como se tivesse acabado de acordar de um sonho. — Inferno,
se eu souber. — Ele olhou para mim por um longo momento antes de dar
alguns passos para trás e sair tão abruptamente quanto ele entrou.
— Bem, isso foi estranho como o inferno. — Era mais do que
estranho. Isso me deu uma corrida como eu havia sentido naquela
montanha-russa - o mesmo nervosismo excitado que senti quando entrei
no Texas. Não queria que o oficial Vargas me desse algum tipo de pressa,
não quando ele claramente odiava aquele beijo.
Uma porta de carro batendo à distância soou exatamente ao mesmo
tempo que a campainha. A porta se abriu antes que eu pudesse atender e
Nina sorriu para mim da porta. Ela levantou uma garrafa gigante de tequila
e uma sacola de limão. — Acabei de ver Antonio sair daqui como se sua
bunda estivesse pegando fogo. Você tem alguma ideia do porquê?
Eu dei de ombros. — Nenhuma. — Era a verdade. — Ele apareceu,
pediu desculpas e depois gritou comigo quando eu não aceitei seu pedido
de desculpas. Então discutimos e ele me beijou. — Eu ainda não
conseguia acreditar no que aconteceu, mas ainda não estava pronta para
falar sobre isso.
Nina não se importava, porque seu olhar já estava passando por mim
e seus pés estavam indo para a cozinha. — Como foi o beijo?
— Como isso é relevante?
Ela deu de ombros e parou na mesa da cozinha, onde eu montara
um bar de taco, com molho, queijo, salsa, batatas fritas, feijão e arroz. —
Apenas curiosa. Do jeito que as coisas estão entre vocês dois, aposto que
foi muito quente. Foi assim que as coisas estavam comigo e
Preston. Lutamos e brigamos até que um dia acabamos nus.
— Hum, está bem. — Eu não sabia o que dizer sobre isso, então
peguei a garrafa que ela colocou no balcão. — Congelador?
Nina assentiu no momento em que a campainha tocou
novamente. — Eu atendo. Faça isso.
Parecia que as outras mulheres haviam chegado, então eu respirei
fundo cinco vezes e deixei sair lentamente para acalmar meu coração
acelerado. Coloquei um sorriso no rosto e saí para cumprimentar minhas
convidadas. — Olá meninas. Obrigada por terem vindo. — O resto do que
eu planejava dizer morreu nos meus lábios ao ver Nina, Penny, Max e Bo
carregados de batatas fritas, molhos e mais álcool. — Eu acho que vocês
vieram para a festa. Me sigam.
Nós nos acomodamos em volta da mesa. — Dessa forma, toda a
comida e bebida são úteis. — declarou Nina e se jogou em uma
das cadeiras em tons de cinza que eu escolhi para dar cor à cozinha. O
resto de nós seguiu o exemplo. Quando a primeira dose de tequila se
transformou na segunda, eu comecei a relaxar.
— Eu aprovo este bar de taco. — disse Penny em torno da boca
cheia. — Mas não espere isso quando for a minha vez de hospedar.
Bo fez uma jarra de margaritas. — Isso ajuda a diminuir a velocidade
com que todos nós somos engessadas. Eu gostaria de terminar pelo
menos quatro tacos antes que isso aconteça, além de um barco cheio de
queijo.
Comemos e conversamos, rimos e bebemos, e depois repetimos
várias vezes. Por algumas horas.
— Agora que estamos todas um pouco embriagadas, vamos falar
sobre o fato de Antonio ter beijado Elka hoje.
Como esperado, todas elas ofegaram e todos os olhos na cozinha
se voltaram para mim.
— Sim, ele fez. Não, não significou nada. — Percebendo o quão
patético isso parecia, corri para me corrigir. — O que eu quero dizer é que
ele provavelmente fez isso para me calar a boca porque estávamos
discutindo. Além disso, não estou interessada.
Max assentiu e deu um sorriso sincero. — Claro. Quero dizer, quem
estaria interessada em um homem lindo, mas áspero, com uma faixa de
proteção de quilômetros de largura? — Ela deu de ombros e empurrou
grossas mechas vermelhas de seus ombros. — Por outro lado, ele nunca
namora ninguém na cidade, então esse é um desenvolvimento
interessante.
Eu balancei minha cabeça no anúncio, não querendo que fosse
qualquer tipo de desenvolvimento. — Tive uma vida inteira sentindo que
não sou boa o suficiente e não pretendo começar minha nova vida me
apaixonando por um cara que pensa que sou lixo. — Isso era mais do que
eu pretendia dizer, e instantaneamente senti meu rosto queimar. Eu sabia
que meu rosto estava com um tom brilhante de humilhação, com uma
pitada de rosa superdimensionada. — Desculpe.
— Não fique. — disse Nina com um sorriso que parecia sincero e um
pouco travesso. — Agora é a hora de compartilhar. Desabafar na
presença de amigos e bebida.
Isso pareceu legal. Exceto que não éramos amigos. — Vocês nem
me conhecem.
— Sabemos o suficiente para saber que você é uma boa
pessoa. Mas poderíamos ser verdadeiras amigas, se você quisesse
compartilhar.
— Só se você quiser. — acrescentou Bo com firmeza, um olhar
determinado que apontava diretamente para Nina.
— Duh. — Nina respondeu com um rolar de olhos, que então
deslizou para mim. — Tudo o que você está confortável compartilhando.
— Mas conversar ajuda. — Penny acrescentou com um sorriso
gentil que me ajudou a relaxar um pouco mais.
Se a TV e os filmes tinham algo a ver, havia um certo nível de catarse
ao falar sobre seus problemas. Ajudou com Austin, pelo menos tanto
quanto eu me deixei confiar nele. Ou qualquer um. Então eu peguei a
garrafa de tequila e me servi de uma dose antes de deslizar a garrafa para
Max. Bati de volta, tomei um grande gole de margarita e depois derramei
minhas entranhas. — Eu cresci protegida - muito protegida - porque meus
pais queriam que eu fosse saudável.
Max e Penny, as duas mães, compartilharam um olhar simpático que
eu entendi muito bem. Os pais fariam qualquer coisa, não importa quem
se machucasse, para salvar uma criança moribunda.
— Compreensível. — Penny sussurrou e repeliu seu próprio tiro.
— Mas não é apenas saudável. Primitivo. Eu não podia sair ou ter
amigos. Os poucos que consegui fazer enquanto estava na escola, não
podia sair com eles. As crianças são imundas e cheias de germes. — Só
de ouvir a voz da minha mãe dizer essas palavras me levou a outro gole
de margarita.
Nina franziu a testa e se inclinou. — Você estava doente quando
bebê?
Aqui estava - o momento da verdade. Eu poderia simplesmente dizer
sim e deixar meus pais parecerem heróis fazendo a coisa certa pelo filho e
nunca fazer nenhuma conexão real com as pessoas. Ou eu poderia ser
honesta e lidar com a pena. Nova vida, nova eu. — Não. Meu irmão mais
velho, Austin. Havia muita coisa errada com ele e a única maneira de
mantê-lo vivo era garantir que ele tivesse partes saudáveis que fossem o
mais próxima possível de uma combinação genética.
— Não. — Bo sussurrou e cobriu a boca, olhos arregalados de
choque e consternação.
— Sim. Eles me tiveram para eu ser todas as peças de reposição
que ele poderia precisar. — Lágrimas começaram a brotar nos meus
olhos, mas eu tive que empurrar. — Eu não odeio Austin, no entanto. De
modo nenhum. Ele tornou a vida o mais divertida possível para mim, mas
meus pais não se importavam se eu era feliz, apenas que eu era
saudável. Quando ele morreu e eu não tinha mais um propósito na vida
deles , eu saí. — Fechei os olhos para afastar toda a pena que eu sabia
que veria nos olhos delas. Eu não aguentava.
Nina falou primeiro. — Aqueles idiotas!
— Como eles poderiam? — Max disse, ecoando os sentimentos de
Nina.
Primeiro um olho se abriu e depois o outro, surpreso ao ver nem um
pingo de pena. Apenas simpatia, bondade e indignação.
— Eles queriam salvar Austin e eu não me importava em ajudá-lo. Eu
o amava. Seria bom se eles me amassem um pouco também.
Penny e Max me alcançaram quando eu peguei a garrafa de tequila,
finalmente entendendo o efeito anestésico do álcool nas emoções.
— Eles não deveriam ter feito isso. — As palavras de Penny foram
firmes e cheias de emoção.
— Não, eles não deveriam. Mas eles fizeram e essa é a minha
história. Agora, porém, acho que preciso de mais tacos e menos
conversas.
— Eu nunca digo não a mais tacos. — disse Max, pegando duas da
bandeja e movendo-as na minha frente. — Vamos comer enquanto Penny
e Nina nos deixam com ciúmes, conversando sobre todo o sexo quente
que estão recebendo.
Meu rosto ardeu novamente e desta vez eu não o escondi. Eu
apenas ri junto com minhas novas amigas e ouvi enquanto elas
compartilhavam os altos e baixos de suas vidas sem se conter.
Foi bom e, pela primeira vez desde que cheguei aqui, em Tulip, me
sentia em casa.
Um dia inteiro se passou e eu não conseguia parar de pensar
naquele beijo. Naquele. Beijo. Foi um lapso momentâneo na
sanidade. Essa era a única explicação. Mas não havia nenhuma
explicação maldita para a maneira como Elka reagiu. O jeito que ela
pressionou aquelas doces curvas contra mim e se agarrou a mim, como
se ela não pudesse ter o suficiente do meu toque ou gosto, me queimou
até parecer que meu corpo inteiro estava pegando fogo.
E ainda por cima, não era apenas o seu beijo comum -
de maneira alguma. Ela não era a sedutora que parecia, ou que eu a tinha
baseado na luta no Black Thumb. Seu beijo não era qualificado, pouco
sofisticado, quase desajeitado. Tinha que ser um ato. Não havia como eu
me deixar enganar por um rosto bonito e um corpo quente. De novo
não. Eu já havia percorrido esse caminho uma vez e não tinha interesse
em voltar.
De novo não. De jeito nenhum. Não, obrigado, porra.
Não havia como uma mulher tão vibrante e apaixonada como Elka
realmente ser tão pouco qualificada. Foi um beijo maldito. Todas as
meninas de Tulip sabiam exatamente como beijar desde os quinze anos,
mais novas para algumas das meninas mais rápidas. — Não importa. —
eu disse a mim mesmo e sacudi todos os pensamentos da pequena loira
da minha mente.
— O que não importa? — Tyson estava na porta do meu escritório
com um sorriso de comer merda.
— Nada. — eu rosnei em resposta, não querendo falar sobre o que,
ou melhor, quem, estava atormentando minha mente. — Você precisa de
algo?
Ele assentiu, mas sua expressão era ilegível. — Venha comigo.
— Onde estamos indo?
Tyson me lançou um olhar com riso queimando em seus olhos. —
Eu já te desviei?
— Você quer dizer, além do tempo em que me convenceu a ir com
você para as montanhas e ficamos perdidos por dois dias? Ou quando
saltamos daquele penhasco para a água gelada e descobrimos que não
havia saída segura? Fora isso... — Eu acariciei meu queixo, pensativo. —
Não.
Sua explosão de riso me surpreendeu quando ecoou pela sala. —
Exatamente. Então me siga.
Que diabos mais eu faria quando o cara era meu melhor amigo e
meu chefe? Eu o segui para fora da estação e entrei em seu carro de
passeio que estava no pote mais próximo da porta. — Agora que estamos
indo, gostaria de me dizer onde?
— Não. Prefiro que seja uma surpresa. — Ele exibiu o sorriso que
lhe rendeu o cargo de xerife apenas dezoito meses atrás.
— Às vezes me pergunto por que mantenho você por perto.
— Porque eu sou o único que vai aturar sua bunda rabugenta. — Ele
riu, mas nós dois sabíamos que era verdade. Tulip era uma cidade
pequena e eu não tinha inimigos, mas as pessoas não batiam na minha
porta para sair mais. Eles também não me ignoravam quando conseguia
aparecer, o que considerava uma vitória. Na maioria das vezes. —
Estamos atendendo uma chamada.
Essas palavras permitiram que meus ombros relaxassem um pouco,
por cerca de um minuto, e então nos viramos para um bloco muito
familiar. Meu bloco. — O que diabos, Tyson?
Ele sorriu de novo. — Isso é xerife para você, oficial.
Revirei os olhos com as palavras dele, mas não pude ignorar o modo
como meu coração disparou tanto que era difícil respirar, imaginando qual
dos meus vizinhos estava ferido ou machucado. Talvez pior. — Ok, xerife,
o que está acontecendo?
Como os amigos foram colocados nessa orelha para testar sua
paciência, Tyson respirou fundo enquanto manobrava o carro no meio-fio
e empurrava a mudança de marchas para o estacionamento. — Paul
Brinkley ligou e disse que estava preocupado que a nova garota hippie do
quarteirão pudesse se machucar tentando mover um pedaço de
mobília sozinha.
Era Elka. Claro que era Elka. Quem mais estaria conspirando com o
universo para estragar meu dia? — Você precisava dos meus grandes
músculos fortes para preencher onde os seus falham, velho?
— Um ano maldito. — ele murmurou e pulou do banco do
motorista. Tyson já estava correndo pelas calçadas de pedra quando saí
do carro. Quando o encontrei perto da varanda, ele e Elka estavam
conversando profundamente. — Precisa de alguma ajuda?
Ela olhou desconfiada para Tyson e quando seu olhar pousou em
mim, foram partes iguais de suspeita, calor e medo. — Não. Eu estou bem.
— ela disse alegremente. — Mas obrigada pela oferta.
A maldita coisa era uma cômoda ou talvez um armário - uma
daquelas coisas grandes de madeira que continham muita porcaria. Era
tão larga quanto Elka, alta, com cerca de cem gavetas diferentes em todos
os tamanhos. — Que diabos é isso?
Ela se virou e levantou uma sobrancelha loira de morango para
mim. Tudo o que eu podia ver era o inchaço de seu peito
cremoso espreitando por cima da blusa branca fina e malditamente quase
inexistente. — Não é da sua conta, oficial. — O olhar que ela me enviou
teria feito um homem menor murchar, mas eu fiquei mais alto e dei um
passo mais perto.
— Estou fazendo disso o meu negócio.
— Como mover móveis não é uma questão de aplicação da lei, você
não tem o poder de fazer dele o seu negócio. — Ela se virou para Tyson e
sua expressão se suavizou. — Obrigada pela sua preocupação, xerife,
mas eu não preciso. Realmente. — Braços cruzados, ela se inclinou contra
a monstruosidade de madeira e olhou para
nós. Esperando. Impacientemente. Quando nenhum de nós se mexeu,
Elka revirou os olhos com um grunhido. — Ok, agora vocês estão apenas
invadindo.
Tyson jogou a cabeça para trás e soltou uma risada alta que teria
atraído os vizinhos se eles já não estivessem fora dando uma olhada. —
Meu Deus, mas você é uma cuspidora, pequena Elka.
Ela não estava divertida e isso só tornava mais difícil suprimir minha
própria diversão. — Até a próxima. — Elka voltou-se para a
monstruosidade de madeira e começou a empurrar com todas as suas
forças. Ele se moveu, mas apenas por pouco. Elka era, é claro,
indiferente. Ela resmungou e gemeu, movendo-se de um lado e depois do
outro, uma polegada de cada vez.
Tyson olhou para mim e suas sobrancelhas se levantaram em
questão como se perguntasse: — Nós realmente vamos vê-la fazer isso?
— Eu apenas dei de ombros e assenti, disposto a apreciar a vista por mais
um pouco.
— Você tem certeza que não quer a nossa ajuda? — Tyson
perguntou depois de uma longa espera, sua voz baixa e suave, caso ela
decidisse gritar.
— Positivo. — Havia uma pitada de excitação que ela tinha dado
mais um passo. — Quase lá.
— Isto é ridículo. Para onde essa coisa está indo? — Por mais
agradável que a vista fosse, eu não queria perder o dia inteiro assistindo a
luta dela para colocar a caixa enorme dentro de sua casa.
Elka olhou para mim por cima do ombro dela. — Dentro da minha
casa, oficial.
Eu olhei para Tyson. — Você fica à esquerda e eu à direita?
Seu olhar deslizou para Elka e a caixa e depois de volta para mim
antes de ele lançar um olhar que dizia: — É o seu funeral. — e deu um
passo para o lado esquerdo da caixa. — Desculpe-me, querida.
— Pare! Não pedi sua ajuda e não a quero. Volte, por favor. — Suas
mãos tremiam junto com sua voz e nós dois paramos.
— Nós apenas queremos ajudar. —Tyson tentou acalmar.
— Eu sei. Eu sei, mas... eu cheguei até aqui sozinha. — Seu olhar
deslizou para o meu e depois voltou para o de Tyson. — Mas obrigada. —
acrescentou ela novamente, educada como sempre.
Tyson olhou para mim com aquele olhar de tomador de decisão no
rosto e meus ombros caíram para frente. — Vá atualizar o despacho e
obter um status para os outros, ok?
Eu sabia exatamente o que ele estava fazendo. Agitou meu
estômago que Tyson teve que se livrar de mim apenas para possivelmente
conversar com Elka. Em vez de lhe dar merda como eu queria, balancei a
cabeça e me virei, caminhando lentamente até o carro para que eu
pudesse ouvir a próxima parte da conversa. Tyson registrou meu
comportamento imediatamente e arqueou uma sobrancelha para me
apressar. Maldito seja.
Esperar os outros carros fazerem o check-in com despacho levou
algum tempo e eu me recusei a voltar para Tyson e Elka, nem
mesmo quando a risada dela flutuou na brisa. Eu juro que ela estava me
provocando e eu me recusei a deixar isso acontecer, especialmente na
frente de Tyson, que nunca me deixaria passar por isso. Mas eu sabia que
não podia ficar no carro para sempre, então respirei fundo e subi o familiar
conjunto de etapas.
— Ei, onde você foi? — Eu perguntei.
— Aqui em baixo. — chamou Tyson. — Faça rápido.
Sua voz era grossa e tensa e eu estava em movimento. — Onde?
— Vire à esquerda dentro da cozinha. —Elka chamou, sua voz cheia
de aborrecimento. — É a porta aberta.
Por mais que eu quisesse, não demorei a procurar o lugar de
Elka. Haveria tempo para isso mais tarde. Por enquanto, Tyson precisava
da minha ajuda. — Como isso aconteceu? — A monstruosidade de
madeira mal cabia na escada e Elka estava passando muito tempo
agarrando-a para não esmagar Tyson.
— Explicação depois, oficial. — A atitude dela era intacta e, se não
fosse pelo medo e pela tensão nos olhos, eu teria lhe dado um inferno. —
Alguma ajuda seria apreciada.
— Seria?
Ela está com uma sobrancelha. — Imagino que o xerife ficaria grato
por isso.
— Ela está certa. — ele mordeu, a voz cheia de tensão.
Imediatamente, eu estava atrás de Elka e segurando a
monstruosidade. — Em sua palavra, Tyson. Nós a pegamos, não é,
Elka? — Eu senti seu corpo tremendo sob o meu. Afastei o
pensamento. Por enquanto.
Elka me deu uma rápida olhada por cima do ombro antes de se virar
para Tyson com um aceno de cabeça. — Sim. Totalmente você, xerife.
— Obrigado, Elka. — Ele deu uma piscadela e Elka respirou fundo.
— Pronto. — Demorou cerca de um minuto para baixar a
monstruosidade da escada e outros dois para colocá-la no pequeno
espaço de esquina na parte de trás, mas depois foi feito. — Obrigada a
ambos por sua ajuda. — disse ela com os ombros quadrados e o queixo
inclinado para cima.
— Nosso prazer. — Tyson disse a ela com um sorriso exausto.
— Eu tenho uma limonada fresca de pêssego e pimenta em
pedaços, se você quiser fazer uma pausa rápida? — Seu olhar me evitou
completamente, então, é claro, eu tive que me ferrar com ela.
— Claro, adoraríamos. Obrigado.
Elka congelou e, finalmente, lentamente, seu olhar se voltou para o
meu. — Sem problemas . Agradeço sua ajuda, xerife. — Então ela se virou
e correu escada acima, deixando-me olhando para sua doce bunda
redonda.
— Você terá que trabalhar dobrado, cara. — Tyson me deu um tapa
nas costas e riu demais. Maldito seja.
Eu não disse nada porque ele estava certo. Não sabia por que queria
conquistar Elka, mas sim.
Muitíssimo.
Por que os convidei para um lanche, quando não pedi
ajuda? Educação, pura e simples. Além de ter certeza de que eu era a
garotinha mais forte do mundo, meus pais haviam me educado de
maneiras e etiqueta até que se tornasse um hábito. Aparentemente, a
distância não era uma cura para esse hábito em particular, então agora eu
estava comendo com o xerife que era bom o suficiente - amigável
e charmoso. E o oficial Vargas, que gritou comigo, puxou uma arma para
mim e depois me beijou. De alguma forma, meu corpo não pôde deixar de
responder a ele.
Especialmente quando eu pensava em seu corpo - tão grande e tão,
tão duro contra minhas costas quando colocamos minha mesa de trabalho
no porão. O oficial Vargas era um espécime delicioso de homem, bem
musculoso, esculpido, mesmo se aqueles braços grandes que me tinham
colocado entre parênteses fossem alguma indicação. Mas eles não eram
apenas grandes e fortes, eram firmes também, nunca tremendo quando
chegamos com a mesa no final da escada e em seu ponto final de
descanso. Maldito seja.
— Você precisa de alguma ajuda? — O xerife Henderson era um
cara legal e dividir uma refeição com ele não era difícil. Ele era bonito como
o pecado, com profundos olhos verdes. Além disso, a coisa toda de crachá
e uniforme o tornava irresistível. Para algumas mulheres, mas não eu.
Definitivamente não sou eu, porque os homens não estavam na
agenda no momento.
De modo nenhum.
Examinei a cozinha e balancei a cabeça. — Eu tenho tudo coberto,
obrigada. Sente-se e cuide dessa sede, xerife.
Ele piscou. — Obrigado, Elka. — O homem era incorrigível, e eu
revirei os olhos para ele.
Em vez de prestar atenção ao oficial Vargas quando ele entrou na
cozinha, puxei a panela do aquecedor e a coloquei sobre a mesa para que
todos pudessem se servir. Em seguida, peguei o cheddar ralado, a
cebolinha e o pimentão jalapeño e coloquei tudo sobre a mesa com tigelas
e colheres. — Pegue, pessoal.
O xerife franziu a testa. — Você não está comendo conosco? — Sua
colher caiu de volta na tigela e eu esperei o que ele tinha a dizer em
seguida. — Se você está desconfortável por estarmos aqui, Elka...
— Não, não é isso, xerife. Eu preciso arrumar as coisas lá em baixo
para que o resto do meu dia de trabalho corra bem. Graças à sua ajuda,
eu posso. Sério, aproveite. — Eu não tinha planejado comer até muito
mais tarde. Agora que eu podia fazer minhas próprias escolhas, comer
quando a fome aparecesse e nem um minuto antes, o que significava que
eu poderia me perder no meu trabalho até que meu estômago rosnasse
seu desagrado.
— Isso não está certo para mim, Elka.
Meus dentes rangeram em impaciência e lutei para não revirar os
olhos. O xerife era um homem bom que só queria ajudar; não era culpa
dele que seu senso de certo e errado fora direto do velho oeste. — Que
pena, xerife. Você escolheu interferir na minha agenda e eu aprecio a
ajuda, mas não estou comendo apenas para fazer você se sentir melhor.
— O que você precisa fazer lá em baixo? Talvez eu possa ajudar. —
O oficial Vargas exibia um sorriso malicioso que me fez querer dar um tapa
nele o mais forte que pude. Era bonito, ilegal atacar um oficial e, como ele
estava procurando um motivo para me colocar na cadeia, cruzei os
braços.
E olhou para ele. — Eu não preciso da sua ajuda.
— Foi o que você disse antes.
Meu queixo ergueu mais uma polegada de desafio e meu olhar se
intensificou. — Eu não precisava da sua ajuda. Eu teria entrado sozinha,
mas quando dois homens armados aparecerem e se recusam a ir embora,
você aceita a ajuda.
Não era inteiramente verdade, mas eu sabia que não podia deixar o
oficial Vargas me intimidar.
O xerife ofegou e empurrou a cadeira para longe da mesa. — Essa
não era a intenção, Elka. — E agora ele estava fazendo aquela coisa toda
de cavalheiro do sul, todo errado, porque ele entendeu minhas palavras da
maneira errada.
— Eu sei, xerife. Por isso eu convidei você para almoçar. Fiz demais
e pensei que isso lhe daria uma boa pausa do calor. — Agora eu estava
repensando toda a boa educação como parte de minha educação porque,
mais uma vez, causou mais problemas do que resolveu. — Você sabe o
que? Tudo bem, vamos comer. — Peguei outra das minhas tigelas
coloridas do Fiestaware e me sentei. Em frente ao oficial Vargas.
— Eu não gosto disso.
Soltei um longo suspiro e olhei para o xerife bonito. — Comer. É um
comércio justo e agora você me faz comer, mesmo que eu não
queira. Então coma. Por favor.
— Se você insiste. — ele disse e deu um sorriso de menino quando
puxou a cadeira de volta para a mesa e cavou sua grande tigela de chili
com gosto. — Droga, isso é um bom chili, Elka. Afinal, podemos fazer de
você uma texana.
Duvidoso, mas sorri com o elogio dele. E então cometi o erro de
olhar para o oficial Vargas, que usava um olhar indecifrável que poderia ter
sido desprezo ou suspeita. Provavelmente foram os dois. — O chili é uma
especialidade do Texas?
Ele bufou e balançou a cabeça. — Você terá a resposta para isso
quando o cozimento do chili terminar no final deste mês.
Uma cozinha de chili parecia perfeitamente pequena para a cidade,
e exatamente como algo que eu nunca teria conseguido fazer, mesmo que
essas coisas existissem no estado de Washington. — Vou ter que marcar
meu calendário.
— Que calendário? Parece que você não mantém um horário
regular. — Os olhos escuros do oficial Vargas eram tão intensos que
parecia que ele podia ler meus pensamentos.
— Eu farei melhor para parecer que sou uma cidadã produtiva, já
que a lei está vigiando. — a velha eu saiu e esfaqueei meu chili com uma
colher, imaginando-me arrancando seus estúpidos olhos castanhos.
— Nós não estamos vigiando ninguém. — O xerife Henderson
interveio para me tranquilizar, mas suas palavras não fizeram nada
disso. — Tulip é uma cidade pequena e todos conhecemos os negócios
de todos, mesmo quando eles não querem que a gente faça. — Seu olhar
deslizou para o oficial e eu me perguntei o que era aquilo, mas não o
suficiente para perguntar.
Cansada de fingir, empurrei minha cadeira para trás e me
levantei. — Bem, as pessoas que realmente querem me conhecer, sabem
o que eu faço e que tipo de horário eu mantenho. Apenas deixe tudo como
está quando sair. — Dessa vez, enchi um copo alto com chá e saí da
cozinha com a cabeça erguida.
Não significava nada que um policial mal-humorado não gostasse de
mim. Eu tinha meu trabalho e tinha alguns amigos. Por enquanto, era o
suficiente.
Acordei no meu dia de folga com um sorriso e decidi começar o dia
direito: com uma corrida de oito quilômetros. Não era minha maneira
favorita de permanecer ativo, mas era a única maneira de fazer exercício,
onde metade das pessoas não seriam capaz de parar e conversar. Ajudou
o fato de eu escolher um caminho que ficava principalmente nas bordas
externas do Tulip. Eu tinha muitos pensamentos para resolver e todos
começavam e terminavam com Elka. Eu não conseguia parar de pensar
naquele maldito beijo ou na maneira como as curvas dela se pressionaram
contra mim durante ele, assim como elas fizeram nas escadas do porão
dela.
Eu também não conseguia esquecer o olhar nos olhos dela antes de
ela sair da cozinha, com nojo e raiva demais para terminar de comer na
minha companhia. Foi um verdadeiro golpe no meu ego. Também levou a
duas palestras de Tyson. O primeiro foi como meu chefe. Ele me disse que
meu comportamento não refletia no profissionalismo do departamento. O
segundo foi como meu amigo. — Talvez se você aprendesse a tratar uma
mulher, você poderia parar de assustar.
Não tinha sido a minha melhor tarde como oficial, interrogando uma
mulher que se ofereceu para me alimentar em troca de minha ajuda -
mesmo que fosse uma ajuda que ela não pediu e não queria. Demais será
dizer que fiquei feliz por ter um dia para mim. Enquanto caminhava em
direção ao centro da cidade, pensei em dirigir para a cidade durante o
dia. Algum tempo longe das pessoas que amava e jurei proteger podia
fazer maravilhas pela minha disposição de merda. Talvez eu ache uma
mulher com quem perder algumas horas.
O nível final da minha corrida me levou para perto do Tulip's Tribute,
ainda parecendo triste e degradado. As flores ainda cresciam, brilhantes e
coloridas, o que só fazia a estátua e a fonte parecerem piores em
comparação. Bem ali, em frente à estátua de Tulip, havia uma figura
familiar em um macacão rosa brilhante que abraçava cada uma de suas
curvas. A visão foi de dar água na boca. Quanto mais perto eu chegava,
mais tentado eu corria na outra direção. Mas isso não era quem eu era
como homem.
— Elka. — Seu corpo estava contorcido diabolicamente e eu mal
conseguia me concentrar no motivo de ter parado em primeiro
lugar. Aquela bunda redonda e apertada estava no ar, fazendo meus
dedos se contorcerem para agarrá-la novamente, enquanto sua cabeça
estava praticamente no chão. Suas mãos estavam no chão atrás dela. —
O que você está fazendo?
— Yoga. — ela respondeu suavemente, sem se mexer uma
polegada.
— Você não pode se apresentar no parque sem uma permissão. —
Meus olhos se fecharam assim que as palavras saíram da minha boca, e
eu queria virar o rabo e correr. Eu não era tão idiota - o cara que assediava
uma mulher no parque.
Ela bufou, mas permaneceu imóvel. — Eu não estou me
apresentando, oficial. Eu estou fazendo yoga. A única audiência aqui é
você, e eu estava aqui primeiro.
— Isso não é bom o suficiente, Elka. Não sei de onde você é.
Como se alguém tivesse puxado um alfinete, ela voltou à posição
normal, com um olhar zangado em mim. — Isso mesmo, oficial, você não
me conhece e não sabe nada de mim. No entanto, você parece ter todas
as informações pertinentes sem nenhum fato.
— De quem é a culpa?
Ela recuou como se eu tivesse atingido ela. — Não me lembro de
pedir para ser sua amiga, oficial, o que significa que não lhe devo nenhum
detalhe sobre a minha vida. — Ela cruzou os braços, um movimento que
empurrou seus seios ainda mais. Minha boca ficou ainda mais úmida.
— Você ainda não pode se apresentar no parque sem permissão.
Com um grunhido e um olhar para cima de nível profissional, Elka
desceu do tapete roxo, enrolou-o e enfiou-o debaixo do braço antes de se
virar e se afastar sem olhar para trás.
Gostei da visão dela se afastando muito mais do que deveria. Meu
olhar ficou preso no balanço de seus quadris até que ela sumiu de vista.
— Você é um verdadeiro idiota. Você sabe disso, certo?
Eu me virei ao som da declaração sarcástica de Nina e fui recebido
com o olhar mais irritado que eu já vi. — Estou apenas fazendo meu
trabalho, Nina. Algo que acho que os cidadãos de Tulip apreciam.
— Sim, acho que todos gostariam de saber que você impediu Elka
de fazer ioga no parque porque você gosta dela, mas você é muito louco
para dizer isso. — Ela balançou a cabeça, os cabelos caindo ao redor dos
ombros em ondas suaves que contrastavam com o inferno brilhando em
seus olhos. — Tenho certeza de que você receberá o prêmio Cidadão do
Ano por tirar um pequeno empresário fora da cidade.
Tirar Elka da cidade? O pensamento nunca me ocorreu. — Você não
pode se apresentar no parque sem uma permissão.
Ela olhou para mim por um longo minuto, sua expressão séria como
o inferno. Então Nina jogou a cabeça para trás e riu alto, longo e
duro. Era muito cedo pela manhã para tanto barulho, mas ela, como
sempre, não dava a mínima. — Isso é demais, até para você,
Antonio. Talvez apenas admita que você gosta dela antes de dizer algo
que não pode retroceder.
— Ela não precisa que você lute com as batalhas dela, Nina.
— Mulheres como Elka sempre deixam outras pessoas travarem suas
batalhas e se afastam incólumes, deixando um mundo de dor em seu
despertar.
— Talvez. Talvez não. A verdade é que você não sabe nada sobre
Elka ou o que ela precisa. Prepare sua merda antes que Janey te tire do
calendário.
— Seja minha convidada. — Eu bufei porque essa era a melhor coisa
que poderia me acontecer neste momento.
— Você diz isso agora, mas tenho a sensação de que Tyson e o
prefeito Ashford podem pensar de maneira diferente sobre isso. — Nina
me deu outro longo, um olhar de avaliação que me fez sentir como um
garotinho que simplesmente não estava à altura e depois balançou a
cabeça em desgosto. — Você pode ser agradável de se olhar, Vargas,
mas agora, essa é a única coisa que você tem a seu favor. — Antes que
eu pudesse responder, Nina girou nos calcanhares e se afastou,
resmungando sobre homens irritantes e teimosos que merecem um chute
nas bolas.
Quando Nina estava fora de vista, eu me virei e corri na direção
oposta, me esforçando mais oito quilômetros até minhas pernas tremerem
de exaustão e suor encharcar todo o meu corpo. Só então eu me virei e
segui para casa, evitando cuidadosamente dar uma olhada no pequeno
chalé do outro lado da rua.
Nina não entendia. Nenhum deles viu porque não tinha visto o que
eu tinha visto, não tinha experimentado as garras finas que eu tinha. Elas
não conheciam os perigos que mulheres como Elka traziam com elas.
Eu fazia.
* * *
Depois de me recuperar da minha corrida, passei a maior parte do
meu dia de folga fazendo coisas adultas, como limpar minha casa, pagar
contas e fazer compras. Não foi o dia de folga mais emocionante do
mundo, mas depois do meu encontro com Nina, não me importei
muito. Além disso, o sol estava a caminho atrás do horizonte, e eu estava
indo para o Black Thumb para sair com alguns dos caras.
O resto da tarde foi tão tranquilo que eu deveria saber que não
duraria. Tranquei a porta e me virei para examinar a vizinhança,
certificando-me de que tudo estava como deveria antes de decolar. Foi
quando meus olhos pousaram do outro lado da rua. Não na cabana ou na
mulher, mas na casa ao lado. Paul Brinkley estava no chão com os dedos
dos pés voltados para o céu, um loiro familiar debruçado sobre ele.
Elka.
Eu estava descendo as escadas de um salto e voei pela rua, com o
coração batendo forte quando todas as possibilidades do que aconteceu
passaram pela minha mente. Paul Brinkley não parecia bem; seus cabelos
prateados grudavam em todas as direções e seus lábios eram de um tom
alarmante de branco, mas não tão alarmante quanto a cor vermelha de
sua pele. — O que aconteceu?
Elka não olhou para cima ou reconheceu que me ouviu. Ela
continuou a se esfregar, deixando-me um creme grosso e áspero por todas
as pernas, braços, rosto e cabeça. — Eu não sei. Ele estava inconsciente
quando o encontrei, mas ele está respirando regularmente. Estou tratando
a queimadura do sol da melhor maneira possível, mas é tudo o que posso
fazer. — Sua voz era firme enquanto falava, capaz e certa. — É um pouco
baixo, mas não é alarmante. Cinqüenta e dois. — ela disse após outra
longa pausa.
Sentei-me e observei, ouvindo atentamente enquanto ela respondia
às perguntas do despachante enquanto mantinha um toque suave em
Paul, oferecendo palavras suaves que ele provavelmente não conseguia
ouvir. Ela não precisava da minha ajuda, não que ela pediria se precisasse.
Os olhos de Paul se abriram e Elka sorriu para ele quando ela
desligou o telefone. — Aí está, Sr. Brinkley. Você me assustou bastante.
Eu me perguntei se era louco ou idiota sentir ciúmes do velho por
tirar um sorriso tão brilhante dela.
Ele sorriu para ela e tentou se sentar, mas Elka manteve a mão nele
para mantê-lo quieto. — Eu devo estar morto para acordar com uma visão
tão bonita.
Ela riu lindamente. — Vou ter certeza de dizer a Doreen que você
disse isso. — Ela rapidamente ficou séria e explicou como o encontrou. —
Eu não sei quanto tempo você ficou aqui, mas você tem queimaduras
solares muito ruins.
— Aw caramba. Saí porque Doreen estava atrás de mim para puxar
as malditas ervas daninhas que cresciam na varanda. Abaixei-me e essa
é a última coisa que me lembro.
— Insolação. — disse ela ao mesmo tempo que eu. — Estou feliz
que você esteja bem, Sr. Brinkley.
Ele sorriu e tentou se sentar mais uma vez, grunhindo seu
descontentamento quando a mãozinha dela o empurrou de volta. — Você
salvou minha vida, querida. Acho que está tudo bem se você me chamar
de Paul. — O velho fechou os olhos e seu sorriso se iluminou quando ela
esfregou o creme espesso na testa e no nariz.
— Que diabo é isso?
Paul olhou para o meu tom, mas Elka nem olhou na minha
direção. — Aloe, mel e aveia. Alívio natural às queimaduras solares. — ela
disse, suas palavras relutantes e sem graça, como se estivesse fazendo o
possível para me ignorar sem ser rude.
Logo a ambulância chegou e Will pulou com uma expressão séria no
rosto, sem se dar o trabalho de apreciar o apelo feminino de Elka. Ele
acabou de fazer perguntas simples, mas breves, e Elka respondeu da
mesma maneira, dando alguns passos para trás para dar espaço para
trabalharem em Paul. — Você deu a ele alguma coisa?
— Nada além da pomada em sua pele.
— Tudo bem, isso é bom. Você fez bem, Elka. — Ele deu um sorriso
tenso, que ela mal retornou.
— Estou feliz que ele esteja bem. — Suas palavras foram
sinceras. Honestas.
Will acenou com a cabeça para o novo cara que andava com ele e
eles trabalharam rápido, mas com cuidado, para colocar Paul carregado
na maca.
— Espera! — Paul disse.
— O que é isso? — Will perguntou quando começou a procurar por
ferimentos adicionais.
— Nada disso, garoto. — Paul respondeu e golpeou as mãos de Will,
junto com o novo cara antes de se virar para Elka. — Você vem comigo,
querida?
Sua pele ficou pálida a pedido do velho, mas um instante depois, ela
assentiu e deu um sorriso nervoso em sua direção. — Claro, Paul. Vou ver
se Nina ou alguém pode encontrar Doreen.
— Eu vou fazer isso. — me ofereci, porque ficar nos últimos quinze
minutos me fazia sentir tão inútil quanto tetas em um peixe.
— Não incomode a mulher. Ela provavelmente está voltando da
cidade com as gêmeas. Elas foram fazer compras.
Negado mais uma vez. — Tudo certo. Deixe-me saber se você
precisar de uma carona para casa, Paul.
O velho levantou a mão e acenou quando a porta da ambulância se
fechou entre nós. Fiquei ali por um longo tempo, chocado e consternado
ao perceber que eu poderia estar completamente e totalmente errado
sobre Elka.
Talvez eu estivesse, mas ainda não estava completamente vendido
com essa ideia.
Ainda não.
Uma das minhas coisas favoritas sobre Tulip especificamente, e o
Texas em geral, era a abundância de sol. Parecia haver mais dias de sol
do que dias sombrios, e hoje estava perfeitamente bonito, o que o tornava
o dia perfeito para fazer algumas entregas especiais aos locais que haviam
apoiado o meu negócio. Os negócios deles significavam tudo para mim e,
embora eu não entendesse por que eles eram tão obrigados a ajudar,
fiquei grata por ter acordado cedo esta manhã para assar um lote de
biscoitos de lavanda como um pequeno presente de obrigado.
Com meu carro funcionando novamente, aproveitei o tempo e o ar
fresco da manhã enquanto carregava o carro e fazia a pequena viagem
até minha primeira parada. A porta se abriu e Mimi e Trixie apareceram em
roupas de treino que eram exatamente iguais, exceto em cores. Mimi
usava um vermelho vibrante e Trixie um verde profundo.
— Bom dia, Elka.
Afastei os arrepios causados por elas falarem em uníssono e sorri
para elas. — Bom dia, Senhoras. Tenho seu pedido e um presente
especial de agradecimento por apoiar meus negócios. — Elas se
afastaram para me deixar entrar com a caixa que continha quase uma
dúzia de velas diferentes, alguns frascos de óleos essenciais, faixas
de pot pourri e até protetor solar porque Tulip era uma cidade pequena e
a notícia se espalhou rapidamente sobre o que aconteceu com Paul. A
cidade inteira estava se comportando como se eu fosse algum tipo de
heroína, mas fiz por Paul o que qualquer um teria. Ele era um velho
simpático e eu podia ouvir a história de como ele e Doreen se conheceram
e se apaixonaram mil vezes.
— Esse toque pessoal me faz sentir muito importante. — admitiu
Mimi, um adorável tom de rosa nas bochechas.
— Então você vai adorar esses pãezinhos de lavanda. Eu os fiz esta
manhã. — Antes que Mimi pudesse pegar a caixa decorativa, Trixie as
pegou e mordeu um.
— Meu Deus, garota. Você cozinha assim e fica assim? Eu teria
muito cuidado se fosse você. Uma versão mais nova de mim pode colocar
pó de coceira na gaveta da calcinha.
Mimi bufou. — Uma versão mais jovem? Você não ameaçou Betty
com a mesma coisa semana passada?
Trixie bufou e cruzou os braços. — Isso é só porque... — O que mais
ela ia dizer foi interrompido por uma conversa gêmea muito longa, intensa
e silenciosa entre as duas mulheres.
Saber quando era hora de partir estava se tornando uma
especialidade minha. Eu avancei em direção à porta. — Espero que vocês
aproveitem seus produtos, senhoras!
— Espera! — Trixie disparou com a caixa de pãezinhos ainda na
mão e voltou um momento depois. — Fizemos um pouco mais da geléia
de milho, já que você parece gostar muito.
— Eu gosto. — eu disse a ela, estranhamente emocionada com o
presente. — Obrigada. Isso é muito gentil.
Agora foi a vez de Mimi bufar. — Você não acredita nisso por um
segundo, garotinha. — Ela deu um sorriso que tirou o ferrão de suas
palavras. No momento em que encontrou sua oportunidade, Mimi agarrou
os biscoitos. — Mais uma vez obrigada, querida.
Meu rosto estava fixo em um sorriso divertido enquanto eu
caminhava em direção ao carro, porque aquelas velhinhas me lembraram
muito de mim e de Austin, sempre brigando só porque era o nosso
padrão. Pegar uma porcaria um do outro, porque era divertido divertir-se
com seus irmãos. Meu sorriso cresceu um pouco mais quando percebi
que não doía tanto pensar em Austin.
No pouco tempo em que estive lá com Mimi e Trixie, a temperatura
subiu pelo menos dez graus. Liguei o ar condicionado antes da próxima
entrega para não aparecer no escritório do prefeito parecendo uma
vagabunda. Mesmo que eu não tivesse planos de me tornar politicamente
ativa além da votação, eu não queria aparecer com nada menos do que
montar juntos, desde a última vez que vi o homem, eu estava de joelhos
na terra com uma arma apontada para mim.
— Não, não estou pensando nisso. Hoje não. Amanhã não. Nunca.
— Tornara-se meu mantra toda vez que pensamentos do oficial Vargas
passavam pela minha cabeça. Cada vez que pensava nele como Antonio,
em vez de oficial, dizia as palavras. Pensamentos sujos, o
mesmo. Pensamentos travessos, também iguais. Aparentemente, era um
mantra geral bastante útil. — Nunca. — eu disse uma última vez, enquanto
eu estava nos degraus de cimento da prefeitura antes de abrir uma das
grandes portas de metal.
O prédio era antigo por fora, mas quando eu estava lá dentro, todas
as reformas modernas estavam presentes e foram contabilizadas,
incluindo ar-condicionado, rampas e um novo elevador brilhante. Os
detalhes em cobre davam uma aparência muito mais antiga, mas o
caminho para o quarto andar era suave e silencioso, um testemunho da
novidade.
Eu estava do lado de fora da porta com “prefeito Leland Ashford”
estampado nela e respirei fundo algumas vezes para acalmar meu coração
acelerado. Eu não sabia por que estava nervosa, só que estava tão
ansiosa que a sacola de presentes apertou minha mão. Um momento
depois, a porta do escritório se abriu e Penny apareceu. — Você está
planejando um ataque terrorista ou o quê?
Eu pisquei, atordoada, e balancei minha cabeça. — Estou aqui para
fazer uma entrega. A Senhora Ashford comprou um pacote de cuidados
para o Senhor.
Penny revirou os olhos e recuou. — Claro que ela fez. Volte. Ele está
apenas mudando a gravata.
Entrei no escritório grande e datado e encontrei o prefeito Ashford
olhando para mim com um sorriso largo do tamanho de Texas. —
Senhora Nyland, a que devo o prazer de sua visita?
Eu segurei a cesta e coloquei em sua mesa. — Uma entrega especial
de sua esposa. — Enquanto o prefeito desembalava a sacola de presente,
expliquei o que era tudo e como ele deveria usá-la. — É muito simples e
fará com que o local cheire acolhedor e relaxante.
O prefeito corou e balançou a cabeça. — Minha esposa é realmente
algo especial, não é?
— Parece ser. — eu concordei, embora não tivesse conhecido a
mulher.
— Ela cuida bem de mim. Você tem um homem para cuidar bem de
você, Elka? Ou uma mulher. — ele acrescentou às pressas.
— Não, senhor, estou completamente solteira por enquanto. Eu
tenho que focar na minha carreira.
Ele levantou o frasco de spray de prata e lavanda e lançou duas
bombas de névoa no ar. — Cheira incrível. — Como uma criança com um
novo presente, o prefeito Ashford fez de novo e gemeu com o cheiro. —
Você está quieta, uma jovem talentosa, Elka. Você faz essas criações
maravilhosas e salvou Paul, algo pelo qual todos somos muito gratos a
você.
Senti o rubor subir pelo meu pescoço e bochechas antes que meu
cérebro pudesse levar aquela pequena parte envergonhada de mim a
sentar e calar a boca. — É o que alguém teria feito. Sou grata por ele estar
bem. — Além de um caso perverso de queimadura de sol e
desidratação, Paul Brinkley já estava descansando na varanda e bebendo
cerveja. Não havia sol direto lá, o que o fez seguro. — Não vou segurar
você, prefeito. Eu só queria deixar o pedido junto com esses cookies para
agradecer seu apoio.
— Toque agradável. — disse ele com um sorriso ao redor de uma
mordida de biscoito de lavanda. — Coma comigo, Elka. Gostaria de
discutir outra coisa com você.
De repente, eu era criança de novo, pega com um saco de pipoca
brega e um pequeno estoque de chocolate e doce quando sabia que não
deveria estar comendo. Mesmo não sendo mais criança, sentei-me
quando ele me mandou. — Há algum problema, prefeito?
— O oposto. O xerife Henderson não parava de delirar com o seu
chili. Disse que era melhor do que qualquer outro que ele já teve. — Ele
disse o que? Essa notícia foi chocante para mim. Quero dizer, claro, ele
comeu duas tigelas e meia, mas ele parecia um homem com um enorme
apetite.
— Isso é bom de ouvir. — Mas eu não tinha idéia de onde ele estava
indo com isso. Ele queria que eu fizesse um lote para ele e, mais
importante, esse era um pedido apropriado do prefeito da minha
cidade? — Você quer que eu faça um pouco de chilli?
— Sim. Eu e toda a cidade no nosso Cozimento Anual de Chili de
Tulip. Temos isso todos os anos nos últimos trinta anos e seria bom ter um
novo sangue que também é uma moça bonita e uma heroína. — Oh, ele
estava se esforçando para garantir que ele conseguisse o que queria. —
Eu e o juiz Mayburn, junto com Tyson, estaremos julgando. —
acrescentou, pontuado com um sorriso encantador.
— Posso pensar sobre isso? — Eu não queria ser o centro das
atenções, por qualquer motivo. Provavelmente daria ao oficial Vargas
exatamente a desculpa de que ele precisava para me expulsar da cidade
como um vilão do Velho Oeste.
— Se você precisar, mas seria uma ótima maneira de conhecer um
pouco mais da sua nova comunidade. Talvez encontre um cara para você.
Eu não me incomodei em dizer a ele que o primeiro homem a mostrar
qualquer tipo de interesse em mim parecia odiar minhas entranhas. Era
humilhante e difícil de explicar. Era um prazer do prefeito se preocupar,
então eu sorri e saí do escritório.
— Você não pode fugir do prefeito.
Eu girei com a proximidade da voz de Penny e ofeguei. — Talvez
não, mas eu posso tentar.
— A resistência é inútil. — disse ela sem nenhuma emoção real,
enquanto me entregava um envelope branco com uma tulipa vermelha
salpicada na frente. — Esta é a sua inscrição. A maior parte já está
concluída, então descubra que tipo de chili você quer fazer e depois
nomeie-o.
Seu tom de fato poderia ter atraído uma mulher menor, mas minha
mãe era a rainha de fazer exigências sem que soassem como
exigências. — Ainda não concordei em fazê-lo.
— Você vai. — ela cantou alegremente.
Meus dedos dobraram e flexionaram, coçando para dar algum
sentido à mulher sem sentido. — Veremos. Fiz chili exatamente duas
vezes em toda a minha vida, ambas usando uma receita que encontrei
online. Eu não tenho uma receita especial, Penny. Ou um amor pela
receita inexistente!
Penny não se incomodou com a minha explosão, mas havia uma
pitada de simpatia nos olhos dela. — Adicione um ingrediente estranho
como chocolate e dê um nome fofo para você se destacar. Fim.
Eu sabia o suficiente sobre causas perdidas para reconhecer uma
bem na minha frente, então peguei o envelope, suspirando
profundamente, revirei os olhos e saí da prefeitura. Eu tinha mais algumas
entregas para fazer, uma parada nos correios e agora, aparentemente,
pesquisa sobre chili.
— Tudo bem, meninos. — Janey estava na frente de uma cabine
que continha seis homens adultos enormes. Ela bateu palmas. — Esta
reunião mensal dos heróis da cidade natal está agora oficialmente em
sessão. — Seu sorriso brilhante poderia ter sido capaz de enganar
estranhos e outras pessoas que não a conheciam desde o nascimento,
mas eu não comprava essa personalidade fácil de líder de torcida. Em
absoluto. Janey era um tubarão em pele de cordeiro, especialmente
quando se tratava de conseguir o que queria. Nina se encostou na parede
ao meu lado, polegares movendo por minuto sobre o telefone.
— Isso é oficial? — Ry perguntou com um sorriso. — Porque, se
assim for, acho que deveria haver um martelo. Talvez até uniformes.
Nina empurrou a parede. — Uniformes? Ah, definitivamente
podemos fazer uniformes. — ela disse com um sorriso que só poderia
ser chamado de lascivo.
Nate e Will gemeram ao meu lado enquanto Preston sorria. — Veja
o que você começou, Ry. Pensei que tivéssemos conversado sobre isso,
fique quieto. — Nate tentou voar sob o radar e eu não queria ser portador
de más notícias, mas esses dias acabaram. Em algum momento do mês
passado, Janey e Nina, com a permissão do prefeito, deram um chute no
calendário dos Heróis da Cidade Natal.
Ry encolheu os ombros e recostou-se na cabine, sem se incomodar
com a rabugice de Nate, já que era seu estado normal. — Apenas
tentando animar as coisas.
Janey apontou para ele, sorrindo. — Exatamente. Precisamos
manter as coisas animadas para que os calendários sejam vendidos como
iPhones! — Sua excitação teria sido contagiosa, se não pelo fato de que
ela estava tentando nos convencer a ficar o mais nu possível. Para
caridade, com certeza, mas ainda assim. Era o princípio de tudo. —
Temos mais eventos para você se voluntariar, então não sejam tímidos,
meninos.
Mais eventos? Como diabos isso era possível? — O calendário não
é o evento? — Eu não me importava em me ajudar com o pessoal da Tulip,
nem mesmo quando eu estava fora do relógio, mas isso estava se
transformando em um emprego de tempo integral.
— Não, o calendário é seu dever cívico, oficial. Esses eventos são
para que possamos restaurar Tulip à sua antiga glória, ou você não se
importa com isso?
Eu gemi e belisquei a ponte do meu nariz. — Droga, Janey. — Em
vez de discutir, peguei a prancheta das mãos de Nina e li cada uma com
um olhar oculto. Era tarde demais para sair do calendário sem sofrer a ira
de dois dínamos pequenos, então eu estava bem e verdadeiramente
preso. Droga.
— O que você se inscreveu? — Nate se inclinou e leu por cima do
ombro. — Cozimento de chili? — Ele olhou para Nina e Janey com
esperança nos olhos. — Isso é como um acordo do tipo juiz, porque se
assim for, me inscreva.
Concordei com Nate e escrevi meu nome na lista antes de entregá-
lo. Havia um leilão, uma lavagem de carro e conversar com jovens em
risco, todos eles em Tulip, e foi exatamente por isso que me inscrevi
nele. — Tudo feito.
— Para o cozimento, você será combinado com um candidato e seu
trabalho será ajudá-lo em qualquer capacidade que eles precisem no dia
do cozimento. E antes disso, se você estiver se sentindo particularmente
cívico. — acrescentou Janey com uma grande dose de culpa pingando de
suas palavras.
Eu tinha uma mãe que podia empilhar a culpa como se fosse um
esporte olímpico e Janey, apesar de toda sua coragem e determinação,
era uma amadora em comparação. Quando a reunião terminou, eu
desejava que houvesse algum tipo de treinamento de aplicação da lei para
o qual eu pudesse escapar até que o calendário sem sentido acabasse. Na
esteira desse pensamento, o toque da minha mãe soou, o que eu fui
obrigado a responder porque ela era minha mãe. — Ei mãe.
Houve uma longa pausa antes que ela falasse. — Ah, então
você reconhece o número. Engraçado, desde que eu não te ouço
há semanas.
Agora isso era alguma culpa no nível da mãe tropeçando ali. —
Estive ocupado trabalhando. Você sabe o que paga as contas, para não
ter que pensar em você para sempre.
— Eu adoraria que você morasse comigo novamente, querido. —
Ela riu da sua melodia que era a melhor lembrança da minha infância. —
Parece que talvez eu precise voltar para a Tulip por um tempo, já que você
esqueceu como tratar uma mulher.
Eu deveria ter percebido que alguém deveria contar a ela sobre
Elka. — Eu não esqueci nada, mãe. Isto é diferente. Você não entende.
— Nenhum deles entendia e eu sabia que parte disso estava comigo,
porque nunca tinha falado sobre isso com ninguém além do psiquiatra
designado pelo departamento.
Ela suspirou completamente e eu revirei os olhos porque sabia que
ela não podia me ver. — Talvez eu não saiba exatamente o que aconteceu
com você em Nova Orleans, mas sei que algo aconteceu, Antonio. E eu
sei que uma mulher estava envolvida, então nem tente negar. Você se
machucou, querido, e isso é terrível, mas também faz parte da vida.
— Eu não vejo você lá fora pintando a cidade de vermelho, e papai
se foi por quase uma década.
Mamãe bufou e eu pude vê-la sorrindo e revirando os olhos para
mim, exasperada. — Eu estou bem com os homens, muito obrigada. A
diferença é que eu não sou cínica ou amarga, nem determinada a dormir
do meu jeito com todos os homens solteiros do Texas.
— Nem todas elas, mãe. Eu tenho padrões. — E agora nos voltamos
para um tópico de conversa que prometi nunca ter com minha
mãe. Nunca. — Isso é diferente, mãe. Tenho um pressentimento sobre
Elka e isso não é bom.
Ela bateu nos lábios. — E você nunca esteve errado sobre uma
mulher antes? Então você deve ser ele, então.
— Quem?
— O homem mais inteligente do mundo, é claro. — Ela riu de novo
e tornou difícil ficar chateada com ela.
— Muito engraçado.
— Também achei. — O som do riso de mamãe era exatamente o
que eu precisava depois das últimas semanas.
— Como estão as coisas no Arizona? — Ela passara os invernos por
todo o país, determinada a ver tudo o que perdia na juventude.
— Seco e maravilhoso. Mas acho que está na hora de voltar para o
Texas. Parece que você precisa de uma boa mãe antiquada.
Eu não fazia, mas seria ótimo vê-la e desfrutar de algumas de suas
refeições caseiras. Especialmente todos os pratos portugueses que ela
aprendeu a cozinhar para o pai. — Há sempre uma cama para você aqui,
mãe.
— Bom. Seja ruim antes que eu chegue lá e estrague seu estilo. —
Ela riu e eu fiquei no meio da minha cozinha, sorrindo, enquanto ela ria
com o coração de sua própria piada boba. — E deixe a pobre garota em
paz até que eu tenha uma chance de resolver você.
— Sim, senhora. — Mesmo que ela adorasse me dar uma porcaria,
conversar com mamãe sempre me fazia sentir melhor. Ela estava certa
sobre uma coisa: eu precisava fazer melhor em relação a Elka. Não lhe
devo nada, mas, como oficial da lei, devo civilidade. E um tiro justo.
Meu celular vibrou na mesa da cozinha e eu escolhi ignorá-lo, já que
meus pais estavam ligando. Novamente. Uma pequena parte de mim se
perguntava se algo estava errado, se um dos meus pais estava fisicamente
doente, mas uma parte menor e mais insignificante de mim se perguntava
o que eles esperariam que eu desistisse para salvá-los. Em vez de
mergulhar nessa mentalidade amarga e macabra, voltei para os
ingredientes dispostos no balcão para dois tipos diferentes de chili. Carne
bovina era minha opção fácil e cordeiro era minha experiência, embora eu
imaginasse que o chili de cordeiro no coração do Texas não fosse tão bom
assim. Ainda assim, valia a pena tentar.
Eu li muito on-line sobre todas as diferentes maneiras de cozinhar
chili e acabei com muito mais informações do que as úteis, considerando
as restrições de tempo. Uma dessas receitas teria que dar certo se eu
quisesse tempo para ajustá-la e torná-la minha, sem mencionar fazê-la sob
a pressão de toda a cidade. Havia duas panelas grandes no fogão
zombando de mim quando estavam vazias quando o telefone começou a
tocar. Novamente.
Ignorando, peguei uma cebola amarela grande e comecei a cortar
no momento em que a campainha tocou. Para alguém sem família e quase
sem amigos, eu parecia popular hoje. Eu também estava completamente
focada nessa cozimento de chili que o prefeito me levou a participar, assim
como o telefone, eu ignorei a porta, confiante de que ninguém estava vindo
para mim em caso de emergência. Mas as batidas persistiram, e eu sabia,
antes mesmo de sair da cozinha, quem encontraria do outro lado da porta
da frente.
O oficial Vargas era a última pessoa com quem eu queria conversar,
e essa também era uma lista que incluía meus pais, o que tornava mais
fácil voltar para a cozinha e começar a trabalhar. — Este chili não vai
cozinhar sozinho.
As cebolas estavam picadas, amarelas de um lado e vermelhas
do outro. Agora era hora de pimentas - a chave para qualquer receita de
chili, de acordo com todos os especialistas em chili online. Era um
processo lento, cortando tudo em duas tábuas de corte separadas, mas
eu estava determinada a fazê-lo porque havia prometido. Não, não
realmente prometido, mas eu aceitei meu destino, o que significava que
tinha que ver isso.
Uma batida soou na porta dos fundos, assustando-me muito quando
eu me virei e encontrei o oficial Vargas estava na minha varanda dos
fundos. Pena que sempre mantinha minhas portas de tela trancadas. — O
que diabos você pensa que está fazendo, oficial? A invasão é ilegal,
mesmo para oficiais da lei. — O homem tinha coragem, constantemente
me acusando de cometer erros ou agir como se eu fosse uma grande
criminosa, e agora ele estava violando minha privacidade.
Ele deu um sorriso tão sexy e ardente que eu não sabia se queria
beijá-lo ou chutá-lo - provavelmente um pouco dos dois. — Estou apenas
verificando se você está bem. Sendo um bom vizinho.
— Isso é besteira e nós dois sabemos disso. O que você está
fazendo vagando pela minha casa? — Ele não emitiu uma vibe torta, mas,
novamente, ele estava bisbilhotando minha casa sem justa causa.
— Você se inscreveu no o cozimento de chili e eu sou o voluntário
do Herói da Cidade Natal, o que significa que sou seu para comandar.
— Para seu crédito, o oficial Vargas não pareceu tudo o que a idéia lhe
deu, mas isso era irrelevante.
— Ótimo. — eu disse a ele, pontuada pelo meu melhor sorriso
falso. — Eu ordeno que você saia e fique longe, muito longe de mim. — Eu
não esperei que ele dissesse mais alguma coisa, porque não havia mais
nada a dizer, então liguei algumas músicas e voltei a picar meus
ingredientes do chili.
— Você realmente deve conseguir algo melhor do que essa pequena
trava se quiser manter as pessoas fora.
Sua voz profunda me assustou e eu gritei, jogando a faca e picando
o alho no ar. — O que. O. Porra? — Isso estava saindo do controle e eu
não estava mais assustada, apenas chateada. — Por que você está na
minha casa? Deixei bem claro agora que não quero ou preciso da sua
ajuda.
Seu sorriso desapareceu e aqueles ombros largos caíram, mas eu
ignorei o olhar abatido que ele usava porque não era real. — Eu só quero
ajudar.
— E não quero sua ajuda, mas acho que o que quero não importa.
— Era, literalmente, a história da minha vida. Minha vida antiga.
O oficial Vargas deu outro passo na minha cozinha, olhando em volta
como se fosse um convidado. — Importa. Espero que possamos começar
de novo.
Claro que ele fazia. Ele parecia o idiota, não eu. — Nós não
podemos.
Ele deu outro passo à frente e meu coração começou a disparar,
com medo ou desejo, eu não tinha certeza. Então ele estava no meu
espaço pessoal. Sua mão subiu para tocar meu rosto, acariciando minha
bochecha em uma carícia gentil na qual trabalhei duro para não me
inclinar. Então ele abaixou a cabeça e, quando eu percebi o que estava
acontecendo, seus lábios estavam nos meus e eu estava... derretendo.
Sim, era uma sensação real de derreter no beijo, nas mãos em
concha no meu rosto, em seu grande corpo forte. Uma mulher mais
experiente teria sido capaz de resistir ao beijo, mas eu não tinha sido
beijada muito na minha vida, pois era uma maneira fácil de espalhar
germes que eu não podia me dar ao luxo de pegar. Além disso, eu não
tinha forças para parar algo que parecia tão incrível.
Tão incrível.
Tão emocionante.
Mas a realidade, como ela costumava fazer, apareceu e me lembrou
um fato importante: esse cara preso aos meus lábios me odiava. Era
apenas o lembrete gelado de que eu precisava me afastar do oficial e dar
um passo atrás. Sem pensar, minha mão subiu para bater no rosto dele,
como nos filmes. Só que não me senti bem. Isso me fez sentir culpada.
— Desculpe.
Ele apenas sorriu como se nada disso importasse para ele, e isso
alimentou uma determinação que eu não sabia que tinha quando voei em
seus braços e ataquei sua boca com meus beijos artísticos. Ele não
parecia se importar, agarrando meu traseiro para me levantar em seus
braços, rosnando quando minhas pernas automaticamente circularam sua
cintura estreita. Ele não se incomodou com as camadas de tecido caindo
ao nosso redor.
Se o céu parecia algo assim, eu tinha certeza de que Austin estava
conseguindo o melhor acordo, porque o oficial estava em todo lugar. Suas
mãos estavam na minha bunda, apertando e amassando e me puxando
para mais perto da cordilheira dura no centro dele. Isso provocou um calor
entre as minhas coxas que me fez beijá-lo com mais força, apertando seus
cabelos com mais força. Eu nunca senti nada assim e não queria que
parasse. Nunca.
Ele se afastou e olhou para mim com um brilho predatório nos olhos
e um sorriso sexy curvando seus lábios carnudos enquanto ele dava
alguns passos e me deitava sobre a mesa. Minha mesa da cozinha! A
madeira fria tocou minhas costas e arqueei instantaneamente no momento
em que seus lábios voltaram aos meus, devorando minha boca em um
beijo tão quente que minha cabeça começou a girar. Mas então suas
mãos, grandes e fortes com dedos grossos, deslizaram pelas minhas
coxas e empurraram minha calcinha para o lado. Eu não poderia tê-lo
parado se quisesse e meu corpo certamente não me queria, não quando
um dedo espesso pressionou em mim. Suspirei, arqueando-me ainda
mais.
O oficial Vargas rosnou profundamente em minha garganta
enquanto meu corpo se apertava em torno de seu dedo, pulsando
intensamente como se soubesse exatamente o que fazer. Ele acrescentou
um polegar, pressionando círculos rápidos contra meu clitóris, até que
senti o prazer se acumular em algum lugar profundo dentro de mim. E
então foi a felicidade - pura felicidade e sem adulteração.
Meu corpo parecia estar flutuando nas nuvens enquanto o orgasmo
saía do meu corpo. Não foi o meu primeiro orgasmo, mas teve a distinção
de ser o primeiro com outra pessoa, e foi incrível.
Pena que foi com esse homem em particular.
Esse era o pensamento exato que eu precisava para me tirar dessa
neblina. Não importa o quão bem eu me sentisse agora, ele não era o que
eu precisava ou queria. Empurrando seu peito, puxei as milhas de tecido
em volta das minhas coxas ainda latejantes para me cobrir e deslizei da
mesa da cozinha enquanto fazia uma anotação mental para limpá-
la. Completamente. — O que é que foi isso?
Ele deu de ombros, aquele maldito brilho presunçoso ainda em seus
olhos. — Isso, Elka, era inevitável.
Eu não queria acreditar que poderia facilmente me envolver com um
homem que não me tratava melhor do que meus pais. Não podia. — Foi
um erro. — eu corrigi e alisei o tecido nas minhas pernas. — Amanhã às
seis. Esteja aqui se você estiver interessado em ajudar. Se você acha que
isso - acenei entre nós dois - acontecerá novamente, não se incomode em
aparecer.
Ele sorriu e se inclinou, me beijando antes que eu pudesse evitar
suas tentativas. — Vejo você às seis, Elka.
— Boa noite, oficial Vargas.
Ele se virou para mim, outro sorriso arrogante em seu belo rosto
quando o dedo que estava dentro de mim deslizou entre seus lábios. — Eu
sei como é seu gosto agora, Elka. Como você se sente quando vem.
Que bruto! Braços cruzados, eu olhei para ele. — Onde você quer
chegar? — Porque meu corpo pensou nisso como um convite para
continuar de onde paramos. Eu tive que pressionar meus calcanhares no
chão para parar de voar de volta para seus braços.
— O que quero dizer é que acho que você pode me chamar de
Antonio.
Sim, eu não faria isso. A formalidade era uma excelente maneira de
manter distância entre nós. — Até amanhã, oficial. Ou não. — Eu o
observei sair, com o coração acelerado enquanto pensava no que tinha
acabado de acontecer. Eu me tornei íntima de um homem que não apenas
não gostava nem me respeitava, mas que eu tinha certeza que
realmente me odiava por algum motivo.
— As palavras glutão para punição vêm à mente. — eu disse em voz
alta enquanto olhava para os ingredientes intocados e não cozidos na
bancada, decidindo que eles poderiam esperar até amanhã.
Eu me enrolei no sofá e passei o resto da noite evitando outra ligação
de meus pais, junto com todos os pensamentos sobre Antonio e a maneira
como meu corpo ainda zumbia de prazer.
Chegar cedo ao escritório não era algo que eu fazia regularmente,
principalmente porque não queria que Tyson começasse a esperar, mas
hoje eu queria começar um pouco da papelada para poder chegar a Elka
perto das seis. A última coisa que eu precisava era irritá-la novamente,
especialmente depois daquele beijo. Era quente, sexy como o inferno, e
pensar na maneira como ela se separou com tanta facilidade foi suficiente
para me deixar duro embaixo da mesa. Mesmo pensando no jeito que ela
bateu no meu rosto e imediatamente se desculpou, eu estava
sorrindo. Elka era uma contradição ambulante, que eu estava determinado
a descobrir.
Começando hoje à noite.
Ty bateu na porta e quando eu olhei para ele, sua expressão era
séria. — Venha comigo.
Eu levantei uma sobrancelha. — Não é outra viagem em movimento,
é?
— Não. — ele respondeu e girou nos calcanhares, não me dando
escolha a não ser segui-lo.
O que eu fiz. Dentro de seu escritório estava um homem com pelo
menos cinquenta anos de idade, com cabelos grisalhos que não via pente
há pelo menos uma semana. Ele usava jeans azul desbotado, uma
camiseta preta lisa com um blazer azul marinho no topo, tudo barato,
exceto seus caros sapatos de grife. Os sapatos o denunciaram como
investigador particular. Todos eles tinham um certo cheiro neles, o que,
diferentemente da maioria da minha área, eu não me importava muito. Os
IPs eram um bom recurso, porque podiam ir a lugares que não podíamos
e porque não estavam sujeitos às mesmas restrições que as forças
policiais tradicionais. — O que está acontecendo?
O homem ficou de pé, com um sorriso oleoso que instantaneamente
me deixou nervoso. — Reece Wilson, detetive particular.
— Oficial Vargas. O que você precisa?
— Em formação. — Ele sorriu novamente e enfiou as mãos no bolso
em um esforço para parecer despretensioso. Não ameaçador. — Fui
contratado pela família Nyland depois que a filha deles desapareceu. Ela
juntou suas coisas e saiu. — ele disse e estalou os dedos para enfatizar. —
O irmão dela morreu e alguns meses depois, ela se foi. Tenho motivos para
acreditar que ela está aqui.
Meu intestino apertou com as palavras dele porque eu sabia que Elka
estava escondendo alguma coisa, mas até agora, ele não deu nenhuma
informação real a não ser que um adulto escolheu sair e não disse a
ninguém onde ele estava indo. Era estranho e talvez insensível, mas não
ilegal. — Ninguém na cidade com esse nome, temo. — Eu não me
incomodei em olhar para Ty, porque sabia que seu rosto mostraria choque
por estar protegendo Elka.
— Eu sei que ela está aqui, oficial. Esta pequena cidade caiu em
desgraça e parece que você também. — O cara era tão malditamente
esperto que levou tudo que eu tinha para não dar um soco na cara dele. —
Eu vim aqui como cortesia da polícia, mas posso continuar bisbilhotando
por conta própria, descobrir sobre a reivindicação de seguro de vida
que ela recebeu. — Suas palavras foram feitas para nos assustar, dando-
lhe informações que ele não estava a par e o bastardo sabia
disso. Provavelmente pensou que ele estava lidando com um bando de
caipiras de cidade pequena.
— Faça o que for necessário, apenas lembre-se de que este é o
Texas. Atiramos contra invasores e pedimos identificação mais tarde.
— Adapte-se. — Ele deu de ombros como se não importasse, mas
nós dois sabíamos que sim. Ele não teria ido ao departamento do xerife se
tivesse conseguido obter as informações por conta própria, mas Tulip
protegia os seus, e eles já tinham adotado Elka.
Depois que Reece saiu, eu pude sentir o peso do olhar de Ty. — O
que?
— Por que você a cobriu? Esse cara te deu a oportunidade que você
estava procurando e você estragou tudo.
Ele estava certo e eu não pude explicar. — Inferno se eu
souber. Algo sobre esse cara me cheira errado. — Mas não podia negar
que as palavras dele apenas aumentaram minhas dúvidas sobre Elka. Que
tipo de mulher acabava por sair e deixar seus pais depois que eles já
haviam perdido um filho?
— Besteira. — disse Ty. — Qual é o problema com você e Elka? Não
estou julgando, e não vou lhe dar nada. Eu só quero a verdade.
— Não há acordo, Ty. Não confio nela, desde que a vi na beira da
estrada quando ela explodiu na cidade. — Eu sabia que parecia irracional,
mas era a verdade. — Pense bem: ela é jovem demais para se mudar para
uma cidade pequena sem motivo, a menos que esteja se escondendo. Ela
trabalha para si mesma, mas de alguma forma tem dinheiro para alugar
aquela cabana. Não faz sentido. E até isso acontecer, eu sabia que
precisava manter distância.
— Besteira. — ele disse novamente. — Há todos os tipos de razões
que ela poderia ter deixado que não são ruins. Talvez ela estivesse
escapando de um relacionamento abusivo ou talvez só estivesse com os
pais por causa do irmão. Talvez tenha sido doloroso demais ficar depois
que ele se foi. —Ele passou a mão pelos cabelos e soltou um suspiro, me
nivelando com um olhar simpático. — Eu sei que não vi homicídios em
grandes cidades como você, Antonio, mas sou bom em ler pessoas e Elka
é uma boa pessoa. Ela é gentil e doce, e sim, um pouco do lado hippy-
dippy do Texas, mas eu gosto dela.
Era exatamente esse o problema. Eu também gostava dela. Todo
mundo fazia. Porque é assim que os bons manipuladores eram. Eles
nevavam tão completamente que era difícil distinguir de baixo para
cima. — Eu ainda quero dar um jeito nela. Esse cara acabou de nos dar
uma causa provável. — Era uma desculpa fraca, mas que seria ignorada
se surgisse algo.
Ty deu de ombros e sentou-se atrás de sua mesa. — Se é isso que
você quer, vá em frente. Só espero que você saiba o que está fazendo.
— Eu também. — eu disse a ele honestamente e voltei para o meu
próprio escritório de caixa de sapatos. Nada na história do investigador
parecia certo, mas, como Ty disse, a história dele me deu a desculpa de
que eu precisava para descobrir mais sobre Elka.
Uma hora depois, eu tinha tudo o que estava disponível
publicamente em Elka Louise Nyland, incluindo os dois anos em que ela
tentou cursar a faculdade apenas para nunca assistir a nenhuma aula, bem
como a apólice de seguro de vida de cinco milhões de dólares que
ela possuía descontada antes de deixar sua família na poeira.
Mulheres. Eles eram todas iguais.
Todos os ingredientes foram dispostos no balcão da ilha, novamente,
prontos para uma tentativa real de fazer chili. Já passava das sete e eu
tinha perdido a esperança de que o oficial Vargas aparecesse. Ficou claro
que ele estava no mercado para algum tipo de sexo casual de ódio. Passei
o dia inteiro trabalhando em novos produtos e atendendo pedidos, o que
significava que eu poderia passar o resto da noite nisso. Cozinhando chili.
Eu ri enquanto pensava sobre a visão ridícula que fiz, sabendo que
se Austin estivesse aqui, ele me daria um tempo difícil e provavelmente
zombaria de mim pelo avental Kiss the Cook2 que eu usava. Ele
provavelmente daria uma palestra para mim, deixando Antonio me tocar
tão intimamente, dada a maneira como ele me tratou desde o segundo em
que nos conhecemos. Você teria razão, eu disse a ele, reconhecendo a
má idéia que tinha sido e a pior idéia de fantasiar sobre o que havíamos
feito. E desejar poder fazer mais.
Não podíamos e era isso.
— De volta ao trabalho. — eu rosnei frustrada porque pensamentos
do homem não paravam de me distrair. Felizmente, a campainha escolheu
aquele momento para tocar e eu sabia que a companhia dele era a única
coisa que poderia me lembrar que ideia terrível era fantasiar sobre ele. —
Você está atrasado. — eu disse a ele quando abri a porta e voltei para a
cozinha.
— Papelada. — ele resmungou perto de mim.
Meu corpo formigava com a intensidade de um fio elétrico vivo e eu
me certificava de manter distância. — Eu fiz tudo o que precisa ser feito
porque não tinha certeza se você planejava aparecer, então não há nada
2 Beije o Cozinheiro
para você fazer. — De costas para ele, acrescentei óleo nas duas panelas
e acendi o fogo.
— Eu posso fazer companhia. — Foi uma oferta agradável, mas nós
dois sabíamos que ele preferia arrancar as próprias unhas.
— Não é necessário. Se fizer você se sentir melhor, diga a Janey que
ajudou. — Não era pele das minhas costas. Na verdade, eu prefiria que
ele aceitasse o crédito por algo que não fez do que ficar sentado e me
encarar.
— Eu pensei que estávamos começando de novo. — disse ele, a voz
baixa e sexy, quase como se estivesse flertando.
— Eu nunca concordei com isso. — E eu não faria. Só porque meu
corpo o achava irresistível não significava que meu coração e minha mente
deixariam isso ir além do desejo. Anseio.
— Como foi o seu dia? — ele perguntou.
— Seriamente? — Ele assentiu e encostou-se ao balcão. — Meu dia
foi bom.
— Meu também. Obrigado por perguntar.
Acabou que tentar cozinhar dois tipos de chili ao mesmo tempo era
demais, com uma distração de um metro e oitenta por perto,
então desliguei um dos queimadores e adicionei os vegetais básicos ao
outro. — Você trabalha com seu melhor amigo, então isso não é
surpreendente.
— E você, você tem um melhor amigo?
Por que de repente ele estava agindo tão interessado em mim? Não
fazia nenhum sentido e eu estava ficando louca tentando descobrir. —
Não mais.
— E a família? Meu pai morreu quando eu estava trabalhando em
Nova Orleans, então somos apenas eu e mamãe agora. Ela é um punhado
sempre se intrometendo nos meus negócios, quer eu queira ou não.
Uma mãe intrometida parecia agradável e estranha para mim. — Eu
não nasci em um laboratório, se é isso que você está perguntando.
— Você está perto deles?
— Não. — Uma pitada de sal e pimenta entrou na panela e eu tive
que consultar a receita para ver o que vinha a seguir.
— De onde você é, Elka?
Ok, agora eu estava chateada e me virei para encará-lo, batendo
minhas mãos no balcão. — O que diabos está acontecendo, oficial? Eu sei
que você não se importa, então faça uma verificação de antecedentes
para satisfazer sua curiosidade!
— Ou você poderia apenas me dizer. — Ele achava que estava de
caso, mas, apesar de parecer sexy em jeans e camiseta cinza, ele não era
tão fofo quanto parecia pensar.
— Bem. Eu tinha um irmão e ele era meu melhor amigo e agora ele
está morto. Feliz?
Se ele ficou chocado com a minha explosão, o oficial não deixou
transparecer. — É por isso que você se mudou para cá?
Eu balancei a cabeça e me virei. — Era muito doloroso ficar sem ele
lá. — Ouvi o bufar de descrença antes que ele realmente se registrasse e
quando olhei para ele, encontrei um olhar correspondente.
— Você está mentindo.
— Desculpe?
— Você merda. Diga-me por que você veio para a Tulip.
E agora eu estava oficialmente de volta a ficar chateada. — Não é
da sua conta, oficial.
O oficial Vargas desdobrou seu grande corpo da cadeira vermelha e
suas longas pernas subiram os degraus que nos separavam. — Você
é incapaz de dizer a verdade, não é?
— Foda-se. — As palavras eram novas, mas pareciam bem na
minha língua. — Eu não lhe devo nenhuma explicação e se você veio brigar
comigo, pode ir embora. Agora.
— Eu poderia, mas não é isso que você quer. — Sua voz era
muito baixa e sexy e meu corpo respondeu instantaneamente. A atração
era forte e eu estava impotente para parar a onda de desejo que disparou
através de mim.
— Sim, sim.
— Outra mentira. — disse ele com um tapa nos lábios
sorridentes. Antes que eu pudesse dizer para ele ir direto para ele, sua
boca estava na minha novamente e meu corpo se iluminou como fogos de
artifício.
Senti-me magoada, confusa e com raiva, mas nenhum desses
sentimentos conseguiu chegar ao meu corpo. Mais uma vez, eu derreti no
beijo, incapaz de pensar claramente sobre qualquer coisa, exceto a
maneira como ele estava me fazendo sentir. Seu beijo foi como derramar
gasolina em um fogo furioso. Quando Antonio acrescentou as mãos à
mistura, um gemido irrompeu e ele rapidamente o engoliu.
Eu deveria detê-lo. Eu sabia que deveria.
Mas não podia.
Quando seus lábios se moveram da minha boca para o meu
pescoço, eu só podia me inclinar para trás para lhe dar um melhor
acesso. Quando suas mãos deslizaram sob minha camisa e encontraram
meus seios nus, eu ofeguei. O suspiro virou um grito quando seus lábios
se fecharam sobre um mamilo. Tudo que eu queria fazer era implorar para
que ele provasse mais de mim. Para me fazer sentir mais do que estava
sentindo. — Oh Deus!
Minha camisa voou sobre minha cabeça e ele levantou minha
saia. — Porra, eu amo que você esteja sempre vestindo saias.
Suas mãos estavam quentes e ásperas na pele macia das minhas
coxas, mas um gemido baixo escapou quando suas mãos agarraram
minhas coxas e me deitaram na mesa da cozinha. Novamente. — Oh!
— Antonio afastou minhas coxas e enterrou a cabeça lá, lambendo e
chupando uma sensação inacreditável que fez todo o meu ser vibrar com
a necessidade. — Oh meu Deus!
Ele riu, mas quando olhou para mim, não era apenas desejo nadando
em seus olhos. Era raiva ou algo parecido. Eu congelei, assistindo
silenciosamente quando ele abriu as calças e expôs uma ereção
impressionante. — Elka. — ele rosnou, e essa palavra me levou de volta à
ação.
— Espere, eu não...
Ele me cortou e revirou os olhos. — Faz isso com frequência? Já ouvi
isso antes, querida, mas você não precisa mentir para mim. — Fiquei muito
chocada com as palavras dele para pensar direito, mas no momento em
que sua ereção gigante deslizou dentro de mim, meus olhos nublaram-se
em lágrimas.
— Ow!
Ele congelou e olhou para mim como se eu fosse um alienígena e
isso apenas agravasse minha humilhação. — Elka, eu sou...
— Saia. — Minha voz estava baixa e eu tinha orgulho de dizer que
não havia lágrimas à vista, mesmo que eu as sentisse arder nos olhos.
— Me desculpe, Elka. Eu não sabia.
— Se arrume. Fora. — É claro que ele não sabia, porque o Sr.
Arrogante pensou que sabia tudo, incluindo o fato de que eu era uma
prostituta criminosa que o havia cometido errado em uma vida anterior.
— Elka, por favor.
Eu olhei para mim mesma, nua da cintura para cima com a saia ao
redor dos quadris, parecia exatamente o que ele pensava. — Saia! Saia!
— Empurrei seu peito até ele se mover e pular da mesa quando o peso da
minha humilhação me trouxe de joelhos.
— Elka. — Ele estendeu a mão para mim e eu bati suas mãos para
longe.
— Saia! Saia! FORA. FORA! — Quanto mais ele tentava falar, mais
alto eu gritava, me sentindo mais inútil do que jamais senti em toda a minha
vida. Mais do que quando percebi que meus pais haviam se esquecido
de mim e me deixado na casa funerária. Levaram apenas três dias para
esquecer de mim. — Vá. Por favor. — Eu olhei para o rosto horrorizado
dele então para longe, não ousando olhar para cima até ouvir a porta da
frente fechar atrás dele.
Eu me levantei e tive certeza de que todas as portas e janelas
estavam trancadas antes de ir para o banheiro para um longo banho
quente que, no final, não fez absolutamente nada para aliviar meus
músculos doloridos ou orgulho ferido.
Deixar Tulip parecia muito bom, mas quando voltei para a cozinha
mais tarde naquela noite, eu sabia que não poderia sair até depois de
chutar a bunda no cozimento.
Lágrimas caíram quando peguei o primeiro chili e o deixei
ferver. Tulip tinha acabado de começar a se sentir em casa, mas agora
parecia o meu antigo lar.
O que significava que era hora de partir.
Era a meio da noite maldita e eu estava bem acordado, olhando para
as lâminas no ventilador de teto quando eles gentilmente rasgava o ar com
seu hipnótico som whooshing , fazendo uma paródia da minha
incapacidade de dormir. E tudo isso, minhas noites infelizes, minha raiva e
até minha culpa eram culpa de Elka.
Elka e suas mentiras.
E o olhar em seu rosto quando eu a entrei pela primeira
vez. A primeira vez, porra! Eu ainda não conseguia acreditar. Aquele olhar
tinha sido partes iguais de angústia e desejo, e completamente
inesquecível. Quente como o inferno. Mas logo em seguida veio outro
olhar: olhos azuis cheios de lágrimas quando ela chutou minha bunda
lamentável para fora de sua casa. Não que eu não merecesse. Eu fiz. Isso
e muito mais. Eu tinha certeza de que isso me daria um assento especial
bem em frente ao fogo do inferno.
O que diabos eu estava pensando, entrando nela com tanta
força? Mas eu sabia que esse era exatamente o problema. Eu não estava
pensando. Não claramente, caso contrário, eu teria levado o meu tempo
do jeito que eu queria, em vez de tentar puni-la por me fazer querer ela
quando eu sabia que não deveria. Porque seu corpo pode ser inocente,
mas ela definitivamente não era. Ainda assim, eu não conseguia dormir
porque eu estraguei tudo e precisava fazer isso direito. De alguma forma.
Porque não havia nenhuma maneira na terra divina de Deus que ela
me deixasse a uma curta distância dela agora.
A primeira coisa que eu precisava fazer era descobrir. Entender por
que uma mulher de 24 anos, de uma família abastada, simplesmente iria
embora. Com o dinheiro do seguro de vida do irmão. Tinha que ser algo
nefasto, ilegal se não fora. Ela não o matou; ele morrera de causas naturais
de uma doença ao longo da vida, mas todo o resto era suspeito.
Realmente suspeito.
Quando ficou claro que meu consciente não me deixaria dormir,
tomei um banho quente para me animar, me vesti e fui para o escritório. O
pequeno segredo sujo da aplicação da lei eram as pilhas intermináveis de
papelada e, como eu não tinha mais nada para fazer, agora era uma época
tão boa quanto qualquer outra. Mas a papelada não consumia tanto tempo
quando você precisava dela como uma distração, o que me enviou em
busca de outra. Desta vez, minhas vistas estavam voltadas para minha
distração favorita.
E Nyland.
Eu fui procurar no fundo dela. Dela e da família dela. Não encontrei
nada para confirmar minhas suspeitas. Mas nada para aliviá-los
também. Miles e Clara Nyland pareciam ser boas pessoas sem
antecedentes criminais, muito dinheiro e duas crianças perfeitas. Não
consegui encontrar nem um sussurro de escândalo que pudesse explicar
o súbito desaparecimento de Elka. Nada fazia sentido.
— Ainda está caçando?
Eu olhei para o som da voz de Tyson e fiz uma careta. — O que você
está fazendo aqui tão cedo?
— São nove horas. À Quanto tempo você esteve aqui? — Ty entrou
no meu escritório e fechou a porta, uma carranca escurecendo seu
rosto. — Bem?
— Não consegui dormir, então cheguei cedo, mas não chequei a
hora, então você está fora do gancho, xerife.
— Você sabe que não é isso que estou perguntando, oficial.
Eu sabia que estava em terreno perigoso. Ty era um dos meus
amigos mais próximos, mas quando ele usava a voz do xerife, haveria um
inferno para pagar. — Como não consegui dormir, entrei para acompanhar
a papelada. Fiz isso, mas ainda era cedo, então continuei fazendo meu
trabalho. — Não importa os meus sentimentos pessoais sobre o que Elka
poderia ou não estar fazendo, o IP nos deu uma razão para cavar. Ponto.
— E toda essa escavação produziu alguma coisa? Em absoluto?
— Braços cruzados, Ty exibia um sorriso convencido.
— Nada de concreto.
— Nada, ponto final. —ele confirmou, e eu assenti. — Você poderia
perguntar a ela, você sabe.
— Tentei isso. — eu admiti timidamente, esperando que Ty não
pudesse ver a culpa escrita em todo o meu rosto. — Fui horrivelmente. Tão
horrivelmente quanto poderia ter acontecido? Dobre. Não, triplique. —
Sem um pingo de hesitação, contei a ele sobre a nossa noite. Minha
surpresa e como Elka ficou magoada a noite toda. — Então agora eu estou
tentando como o inferno confirmar minhas suspeitas.
Ty ficou em pé com um apito e um aceno de cabeça. — Se você
está procurando por algo que lhe diga que você não estava errado por ser
um idiota com ela, acho que você não encontrará.
Eu não queria ouvir isso, mesmo que não pudesse
negar. Inteiramente. — Você não acha a coisa do seguro um pouco
suspeita?
— Sozinho, não. Você já pensou que talvez a família usou seu
dinheiro da faculdade para cuidar do irmão doente e esta era a sua
maneira de pagar de volta?
Merda, eu não tinha pensado nisso. — Mas fugindo dos pais dela?
— Você viveu em Nova Orleans por anos. Você estava fugindo?
Eu rosnei. — Não, eu estava vivendo minha vida.
Ele lançou outro daqueles sorrisos malditos presunçosos e bateu na
lateral da porta. — Dê espaço para Elka, cara. Ninguém está fazendo uma
queixa legal contra ela, então o que isso importa? Você e eu sabemos que
não pode reivindicar legalmente uma apólice de seguro de vida se não for
o beneficiário.
Não sei quanto tempo fiquei sentado atrás da minha mesa e olhei
para a feia porta verde que oferecia uma sugestão de privacidade do
centro de atividades do outro lado, mas Ty havia me dado o que pensar.
O que só me irritou ainda mais. Ty tinha apresentado duas
explicações plausíveis sem nenhum esforço, enquanto isso eu estava
paralisado tentando provar minha própria teoria. Foi contra tudo o que
aprendi como investigador. Mais uma prova do quanto ela estava na minha
cabeça.
Talvez Ty estivesse certo sobre uma coisa. Eu precisava de
distância.
Outro dia e outra viagem aos correios fizeram minha vida parecer
uma versão distorcida do Dia da Marmota, mas havia um tipo de conforto
em algo tão previsível. Eu sabia que haveria alguns dos velhos sentados
do lado de fora conversando sobre a água, A Guerra - embora nunca
estivesse claro qual guerra - e jogando cartas. Eu também sabia que
dentro dos correios, Bobby e Sheryl discutiam sobre qual Batman era o
melhor. — Ei, Bobby. Ei, Sheryl. Sobre quem estamos debatendo hoje?
— Christian Bale. — disse ele, com nojo tropeçando em todas as
sílabas. — Você pode acreditar que ela teve a ousadia de mencionar esse
homem para mim?
Dei de ombros. — Eu não sei, Bobby. Ele é o Batman mais gostoso.
Bobby jogou as mãos para cima no gesto universal de derrota e me
acenou. — Só porque seu gosto por super-heróis é terrível, não significa
que você não é uma garota doce. Os negócios estão indo bem?
— Parece que sim. Passei mais tempo anunciando e acho que está
valendo a pena. — Era bom que pelo menos uma coisa na minha vida
estivesse dando certo. Talvez o próximo passo seja o que travou.
— Essas velas são perigosas. Achei que a esposa estava fazendo
torta. Ela não estava. — ele disse, os ombros caídos em decepção.
— Todo o delicioso aroma de torta sem nenhuma das calorias.
Bobby resmungou porque ele não era um cara que se preocupava
com coisas como calorias, não com seu corpo esbelto e braços fortes. —
Prefiro ter os dois. — Ele examinou cada um dos meus pacotes e
examinamos os números de rastreamento caixa por caixa. — Tudo feito.
— Ele empilhou meu novo pedido de embalagem na beira do balcão e
assentiu.
— Obrigada, Bobby. — Inclinei-me quando Sheryl desapareceu nas
costas e sorri. — Michael Keaton é o meu Batman favorito de todos os
tempos. — Ele deu um sorriso satisfeito e eu acenei para ele quando voltei
para outro dia lindo em Tulip.
E direto para outra pessoa. — Oh, com licença.
— Não se preocupe. Você é exatamente quem eu estou procurando,
Elka.
Eu olhei para o homem, catalogando suas feições dos cabelos
oleosos aos pêlos faciais. Eu não o reconheci e os alarmes tocaram na
minha cabeça até que houvesse uma distância segura entre nós. Tirei
outro instantâneo rápido de seu rosto e me virei, caminhando na direção
oposta.
Eu ouvi seus passos determinados atrás de mim. — Seus pais me
contrataram.
— Eu não tenho pais. — eu disse a ele simplesmente, mesmo
sabendo que ele não era do tipo que recuava facilmente.
— Engraçado, porque eu vi fotos suas juntos. Uma família realmente
feliz, ou assim parecia. — Suas pernas eram mais longas que as minhas,
mas eu estava determinada a me afastar dele. Eu me virei novamente,
voltando para os correios. — Então, qual é o problema? Você decidiu
que queria o dinheiro mais do que queria seu irmão?
— Deixe-me em paz. — eu rosnei entre dentes, porque esse cara
estava seriamente começando a me irritar. — Você foi avisado.
— Só estou tentando falar com você. Se preferir, posso perguntar a
seus amigos o que preciso saber, mas acho que você não quer isso. —
Sua mão envolveu meu ombro, me parando instantaneamente. — Você?
— Você foi avisado, imbecil. — Puxei minha mão do bolso peguei a
lata de spray de pimenta que peguei em uma loja de equipamentos
militares. Apertei o botão bem na cara dele. — Suma. Eu. Vou. Sozinha.
— Corri para dentro dos correios, esperando receber as mesmas
calorosas boas-vindas desta vez.
Sheryl me notou primeiro. — Você está bem, querida? Parece que
você viu um fantasma!
— Havia um cara... ele me atacou. — Antes que eu pudesse
terminar, ela me envolveu em um abraço quente e reconfortante.
— Oh, querida, está tudo bem. — Ela esfregou minhas costas e eu
queria chorar porque ninguém nunca me segurou assim, exceto
Austin. Fiquei lá por um longo minuto, absorvendo tudo antes de ter que
dar um passo para trás. Ir para casa. Talvez fugir no meio da noite.
— Obrigada, Sheryl. Era exatamente o que eu precisava. — Respirei
fundo várias vezes e as deixei sair lentamente antes de marchar pela porta
e sair. Um metro e meio de distância era a última pessoa maldita que eu
queria ver.
— É ela. Eu quero apresentar queixa. Essa cadela tentou me cegar!
Correção. Faça as duas últimas pessoas que eu queria ver. — Bem.
— Antonio latiu na minha direção. — Você tem algo a dizer?
— Não, eu não. — Ele já estava do lado daquele idiota e nada do
que eu disse faria diferença.
— Agora, espere só um minuto, Antonio. Aquele homem abordou
Elka e ela pediu que a deixasse em paz. Eu ouvi isso com meus próprios
ouvidos. — Betty Kemp cruzou os braços, com o queixo alto no ar,
desafiando o oficial a contradizê-la.
— Eu também ouvi. — disse Doreen Brinkley. — Ela deu um aviso
justo e ele ainda colocou as mãos nela. — Ela bateu nos lábios e balançou
a cabeça. Gostaria de saber como o cara não murchou e morreu sob o
peso de seu olhar.
— E eu. Eu também ouvi. Não reconheci essa mulher, mas ela tinha
cabelos loiros e olhos castanhos muito familiares. — Se ela não era a mãe
do oficial, era tia ou irmã mais velha. — A garota estava se protegendo,
pura e simplesmente.
— Não importa. — o sujeito gorduroso cuspiu. — Eu sei onde você
está, então agora eles também. Você não pode correr para sempre.
Se isso deveria me aterrorizar, ele estava muito enganado. Meus
pais não me queriam - eles já o fizeram. E mesmo que eles tivessem uma
mudança milagrosa de coração em minha essência, era tarde
demais. Tarde demais. Havia muita dor, muita raiva entre nós. — Então
talvez você devesse ter recebido a sua taxa e ter ido embora! — Ele
zombou e eu estava além de me importar com o que ele pensava de
mim. O que Antonio pensava de mim. Inferno, o que alguém pensava de
mim.
— Você não vai se safar disso! — Ele estava praticamente
espumando pela boca, o que me deixou um pouco curiosa para saber o
que meus pais disseram a ele sobre mim.
— Você não tem idéia de quem eu sou ou do que sou capaz, e nem
eles, mas se eu te vir pela minha casa ou no meu espaço pessoal
novamente, eu vou acabar com você. — Não havia mais nada a dizer e,
finalmente, consegui ir embora sem ninguém me parar.
— Bom para você, garota! — Betty Kemp aplaudiu atrás de mim,
desenhando um pequeno sorriso de mim. Ela era uma velha durona e eu
esperava ser igual a ela quando crescesse.
— Elka, precisamos...
Eu me virei ao som da voz de Antonio, a sensação de sua mão em
volta do meu bíceps. — Nunca mais coloque suas mãos em mim! — Sem
pensar, eu me afastei de suas mãos e fugi o mais rápido que pude. Foi só
quando cheguei em casa que percebi que todos os meus materiais de
embalagem ainda estavam no banco do lado de fora dos correios.
Sempre que penso que um grande dia está à minha frente, o destino
entra cruelmente e me lembra que não tenho ótimos dias.
Objetivo mais baixo, de fato.
* * *
O primeiro lote de chili não saiu tão bem. Eu usei muitas pimentas
jalapeno e pouco sal. Ou alho. O segundo lote com cordeiro e passas tinha
a quantidade perfeita de especiarias e ainda fervia em segundo plano
enquanto eu trabalhava no terceiro lote. Este seria perfeito. Peguei
receitas dos dez principais fabricantes de chili premiados do país e tirei um
pouco de cada um. Eu não era chef, mas tinha um pressentimento sobre
esse. E se parecia um pouco patético ficar tão animada em fazer chili,
bem, isso também era verdade. Droga.
Houve uma batida na porta, mas eu estava determinada a me
esconder do mundo pelas próximas vinte e quatro horas. Finalmente. Em
vez de escolher o silêncio, eu acionei a música e cantarolei uma música
por conta própria que eu vagamente reconheci.
A batida ficou mais alta e persistente e havia apenas uma pessoa a
quem a batida poderia pertencer. Determinada a me livrar dele sem perder
a calma, respirei fundo, segurei-o por dez segundos e depois soltei o ar
por muito tempo. — OK. Pronto. — Quando abri a porta, não era Antonio,
mas a mulher que estava de alguma forma relacionada a ele. — Sim?
— Eu sou Liz. Ofereci-me para trazer seus materiais de embalagem
para você. Indo para algum lugar?
Eu estava dividida entre querer ficar sozinha e não querer ser
rude. Boas maneiras assumiram e eu dei um passo para trás e acenei para
ela entrar. — No momento, não. Isso é da minha conta.
— Que tipo de negócio é esse?
Ok, então isso não seria uma conversa curta. Fiz um gesto para Liz
me seguir e contei a ela sobre meus negócios. — Alguns vêem isso como
aromaterapia e outros como acessórios holísticos, mas para mim é
trabalho. Obrigada. Não estava com vontade para voltar atrás deles. — Eu
apenas tinha a sensação de que, não importa quando voltasse, Antonio
estaria lá. Pronto para me prender. — Chá?
— Sim por favor. E é esse bolo de chocolate que eu cheiro? — A
mulher não era sutil, isso era certo. — A chave é nunca deixá-los ver o
quanto isso te incomoda.
— Estou trabalhando nisso, na verdade. É disso que se trata essa
mudança. — Não demorou muito, mas eu já me senti
mudada. Transformada, mas ainda imperfeita.
— Encontrando-se?
Eu sabia o que aquele tom significava. Eu já ouvia bastante quando
expressava interesse em meus pais por qualquer coisa que pudesse
causar uma lesão. Então tudo. — Algo parecido. Este é um bolo do
Guinness no qual estou trabalhando.
Ela sorriu e mordeu o bolo com os olhos fechados. A maneira como
o bolo foi feito para ser apreciado. — Isso é maravilhoso. Apenas doce o
suficiente. Isso vai me deixar excitada?
Sua pergunta me chocou uma risada. — Não funcionou para mim,
então eu tenho minhas dúvidas, mas me avise. — Talvez a chave fosse
mais cerveja ou talvez eu só precisasse ficar realmente bêbada, chorar por
causa dos meus problemas e, quando acordasse de ressaca, eu seria
totalmente nova e transformada. Como nos filmes.
— O quanto você gosta de Tulip?
— Eu amo isso. Na maioria das vezes. — Eu não queria ofender a
mulher porque esta cidade tinha orgulho como eu nunca tinha
testemunhado antes.
Ela arqueou uma sobrancelha loira conscientemente. — Meu filho é
a parte que está tornando miserável? — Eu imaginei que você não tivesse
que morar em Tulip em tempo integral para fazer parte da videira de
fofocas. — Não fique tão surpresa. Ele me contou tudo sobre você, assim
como eu tenho certeza que você reclamou com sua mãe sobre ele.
Pelo menos ela era mais sutil que o filho em relação ao
interrogatório. ― Não, eu não fiz. Nós não estamos perto. — Não havia
sentido em mentir, já que Antonio provavelmente a havia informado sobre
sua versão da minha vida.
— Bem, você provavelmente já sabe como Tulip é, então você sabe
que todos estão falando sobre o quão maravilhosa você é e o quão louca
você está deixando meu garoto.
— Eles devem ter me confundido com outra pessoa. Antonio me
odeia. — O suficiente para fazer o que ele fez e dizer o que ele disse logo
depois. Nada poderia ser mais claro que isso. — Ele pensa que eu sou
alguém que não sou e me trata como a primeira, em vez da segunda. Não
posso mudar e não vou tentar. Eu já tentei isso e foi loucura, depressão e
insegurança. E ainda não funcionou.
— Inteligente. — Liz cavou seu último pedaço de bolo e eu cortei
outra fatia para ela levar com ela. — Não deixe ninguém definir quem você
é ou o que pode ser. Faça isso por si mesma.
— Obrigada, Liz. Vou manter isso em mente. — Ela ficou de pé e eu
lhe entreguei o bolo. — Para mais tarde.
— Obrigada, Elka. Agora não preciso esquecer minhas maneiras e
pedir outro pedaço. — Liz era uma mulher divertida que não tinha medo
de sorrir ou falar o mínimo. — Oh, e eu tenho algo para você.
Eu deveria saber que ela não tinha vindo apenas para devolver meus
suprimentos. — Uma palavra de aviso?
— Você precisa de uma?
— Eu não preciso de nada.
— Você precisa disso. — Ela me entregou um objeto longo
embrulhado em papel alumínio. — É pimenta malagueta. O pai de Antonio
colocou no chili que ele fez apenas para mim. É exatamente o que você
precisa.
Agora eu me senti um idiota. — Sinto muito, Liz. Você estava
tentando ser legal e eu... me desculpe.
— Não se desculpe, querida. Parece que as coisas foram difíceis
para você por um tempo. Mantenha a pimenta e ganhe a receita.
Eu bufei uma risada. — Só não quero que seja tão ruim que irrite as
pessoas.
Liz jogou a cabeça para trás e riu. — Nunca perca a oportunidade
de irritar as pessoas, Elka. Obrigada pelo bolo!
Sozinha de novo, com nada além de meus pensamentos, liguei o chili
para ferver e fiz o que todas as solteiras faziam.
Eu me enterrei no trabalho.
Ficar na porta de Elka com duas sacolas de compras pode ser um
grande erro, mas não poderia ser pior do que todas as outras coisas que
eu já tinha feito com ela. Então aqui estava eu. Esperando que hoje fosse
o dia em que ela parasse de fingir que não podia ouvir quando eu
batia. Tocava a campainha. Batia ainda mais alto e a chamava.
A porta se abriu e Elka olhou para mim com suspeita e medo
nadando naqueles grandes olhos azuis. Sua mão nunca saiu da maçaneta,
dando-me uma visão desobstruída de seu sutiã rosa quente sob
sua blusa quase transparente com uma margarida desbotada na
frente. — O que você quer, oficial Vargas?
Então voltamos ao oficial Vargas. Eu merecia, mas ainda doía. Eu
sorri e levantei as sacolas nos meus braços. — Prática. Para o cozimento.
Ela fez uma careta. — Eu não estou fazendo o cozimento para que
você encontre outra pessoa para ajudar.
Eu deveria saber que ela não facilitaria as coisas para mim. — Isso
é por nossa causa?
Ela zombou e revirou os olhos. — Sim, oficial, tudo em toda a minha
vida é sobre você.
Ela estava certa. Eu parecia um idiota completo. — Desculpe. Claro
que não é sobre nós. Ou eu. Escute, eu queria me desculpar pelo outro...
— Não é necessário. Não quero falar sobre isso e definitivamente
não com você. — Ela deu um passo para trás, pronta para bater a porta
na minha cara, o que eu também merecia, mas não podia permitir que
acontecesse.
Meu pé disparou quando ela fechou a porta e eu rugi com a dor
quando ela bateu contra mim. — Merda!
— Mova seu pé, por favor.
Ainda tão educada, apertei minha vantagem. — Estou tentando me
desculpar.
— Eu ainda não quero ou preciso do seu pedido de desculpas,
oficial. Eu não acreditaria de qualquer maneira.
— Como diabos você é virgem, afinal? — Eu não quis parecer tão
rude, mas caramba, isso me incomodou desde aquela noite.
Elka riu, mas estava frio e amargo. — Essa informação é salva para
amigos próximos. Não inimigos.
— Nós não somos inimigos, Elka.
Ela riu de novo. — Nós somos, mas faz você se sentir uma pessoa
terrível dizer isso. — Ela riu ainda mais com a carranca no meu rosto.
Eu estava começando a ficar com raiva. — Nós não somos inimigos.
O sorriso dela desapareceu instantaneamente. — Bem, nós não
somos amigos. Na melhor das hipóteses, somos vizinhos. E agora,
terminamos. — A mão dela estava na porta, pronta para
bater. Novamente.
— Droga, Elka. Quero lhe dizer como sinto muito por tudo. E eu
pensei que poderíamos começar de novo. Enquanto fazemos chili.
Elka pode ser uma mentirosa, mas ela não é praticada; cada
pensamento dela passara pelo rosto. Ela queria me dizer para ir a ele, mas
algo a deteve. — Eu já tenho minha receita para o cozimento.
— Mas o cozimento será cronometrado e ter um assistente
ajudará. Se você quer uma chance de ganhar. — No momento em que
seu sorriso brilhou, eu sabia que errei. Mas eu não sabia como.
— Eu não ligo se eu ganhar. Só estou participando porque disse que
participaria.
— Se você estiver participando, você também pode tentar
vencer. Ganhar é incrível, especialmente os quinhentos dólares em
certificados de presente para lojas em torno da Tulip.
— Bem. Mas não estamos falando de nada além de chili.
— Ótimo. — Era mentira, mas eu lidaria com as consequências mais
tarde. Entrei antes que ela mudasse de idéia e chutasse a porta antes de
segui-la para a cozinha. — Por onde começamos?
— Com o que está na sacola. — Elka não parecia satisfeita por me
receber em seu espaço, mas continuava apertando a mandíbula para
manter seus comentários para si mesma. — Bem?
— Certo. — Coloquei as sacolas no balcão e desempacotei, vendo
como ela olhava todos os ingredientes que poderiam ofendê-la. — O que
você acha?
— Acho que posso cortar tudo em quinze minutos, por isso, se você
quiser ajudar, precisa ser mais rápido do que isso. — Ela se virou em
direção ao fogão, dando-me um longo vislumbre de sua bunda redonda
naqueles shorts jeans com os pequenos fios roçando a parte superior de
suas pernas. Ela parou por um minuto, depois pegou uma faca, uma tábua
e duas tigelas. — Legumes picados e lixo. — disse ela, apontando para
cada um antes de se afastar de mim. Novamente.
Peguei a dica e lavei as mãos antes de me ocupar em cortar os
vegetais. Silenciosamente. — Minha mãe costumava me fazer ser seu
sous chef sempre que tinha muito que cozinhar. Eu odiava na época, mas
algumas das minhas memórias favoritas com ela estavam em nossa
cozinha.
— Isso é legal. — ela disse eventualmente. Agradável. Nada mais.
— Você fez algo assim com sua mãe? — Ela nunca falou sobre sua
família.
— Não.
OK. — Sério, Elka, como você é virgem?
— Eu não sou. — Seu tom de voz dizia que eu tinha passado dos
limites, mas nunca fui tão bom assim com os limites. — E minha vida não
é da sua conta.
— É aí que você está errada. Não usamos nenhuma proteção e,
dado o que sei sobre você, acho que você não está no controle da
natalidade. — Ela poderia me negar os detalhes de sua vida, mas não
podia negar isso.
No momento em que se registrou em seu rosto, ela empalideceu. —
Se isso acontecer, vou descobrir como lidar com isso.
— Isso não é bom o suficiente, Elka. — Eu sabia que deveria ter
mantido a porra da minha boca fechada, mas ela não podia me tirar
disso. Se houvesse isso. Eu entrei na cara dela, desejando que ela
ignorasse o calor entre nós e aceitasse minhas desculpas. Em vez disso,
ela deu um passo para trás. Um passo medroso.
Era como uma faca no maldito coração. — Isso é muito ruim, oficial,
porque é assim que é.
Eu sabia quando empurrar e já tinha empurrado o suficiente. Por
hoje. Então, eu dei um sorriso decepcionado e voltei a
cortar. Silenciosamente.
De manhã cedo em Tulip era absolutamente deslumbrante. O sol
iluminava o céu como um arco-íris - se um arco-íris fosse feito de lindos
tons de jóias e caísse sobre a mais bela paisagem já criada. Suspirei do
jeito que sempre fiz quando a beleza deste lugar me pegou de surpresa e
peguei meu café apenas para encontrá-lo frio. Novamente. Um pequeno
sorriso tocou meus lábios e, por um momento, parecia que tudo ficaria
bem. Tinha que ficar, se a vista era tão incrível, que me esqueci do meu
café.
— Então você realmente sorri para todos e tudo, menos para mim.
Outro sinal de que a vista era linda demais era que lhe permitia me
esgueirar-se. — Bom dia, oficial. — Por que ele tinha que parecer tão bom
mesmo logo de manhã? Simplesmente não era justo. — Você já está se
exercitando?
Ele deu aquele sorriso idiota de derreter as calcinhas e levantou dois
cafés. — Eu fui correr. É agradável e tranquilo a esta hora da manhã.
— Sim, é. — Eu olhei para as xícaras de café ansiosamente, me
perguntando se havia uma maneira de aceitar uma sem aceitar sua
companhia.
— Quer um? — Ele sorriu e eu apertei meus joelhos contra o pulso
do desejo que disparou inesperadamente através de mim.
— Hum, não.
— Isso foi uma pergunta? — Um presunçoso Antonio era de alguma
forma ainda mais quente - ou talvez fosse o café, porque certamente não
eram os longos dedos dourados em volta da xícara.
Peguei o café dele, ignorando a maneira como sua risada fez
arrepios dançarem sobre a minha pele. Quando isso não funcionou, culpei
o café. — Obrigada.
— Imaginei você como uma bebedora de chá.
— Você achou errado. — eu disse a ele e tomei um gole do líquido
preto quente. — Isso é algum tipo de teste, então?
Ele franziu a testa como se isso estivesse tão longe do reino das
possibilidades. — Não, mas imaginei que se alguém pudesse mudar de
idéia sobre o café, seria Big Mama.
— Bem, descobri que adoro café e bebo sempre que posso.
— Aquela centelha de interesse em seus olhos foi minha primeira pista de
que eu tinha compartilhado muito com um homem em uma missão para
me expulsar da cidade. Ou talvez me prender. Neste ponto, eu não tinha
mais certeza.
— Seus pais são hippies ou algo assim?
— Eu gostaria. — Eu bufei, tendo um flash momentâneo de como
teria sido minha vida correndo pela terra e brincando lá fora. Eu não
conseguia imaginar nada além do ambiente estéril que foi minha
infância. — Eles estavam muito conscientes da minha saúde. — disse
diplomaticamente. — Mas tenho certeza que você também sabe disso.
Ele ignorou minhas últimas palavras, seu olhar perdido para a vista
na situação. — Por causa do seu irmão?
— Sim. — eu suspirei. — Por causa de Austin. — Ele era o raciocínio
deles, mas eu nunca culpei Austin, porque eu teria feito qualquer coisa por
ele. E eu tinha.
— Isso deve ter sido difícil.
Era em momentos como esse que eu mais me ressentia com os
meus pais, porque eu não sabia dizer se Antonio estava sendo genuíno ou
se esforçava mais para obter informações de mim. — Não foi fácil.
— Eu não acho que poderia ter conseguido depois que meu pai
morreu, se não fosse pela minha mãe. — E aí estava a minha resposta.
Eu decidi que minha curva de aprendizado seria pequena. — Você
quase me pegou, Antonio. Obrigada pelo café. — O dia era muito cedo
para ser tão arruinado, então terminei meu café e suei em um vídeo de
treino de Zumba antes de descer as escadas e começar a trabalhar no
processamento de mais pedidos.
Se nada mais, os negócios eram bons.
* * *
— Seu tempo de corte melhorou. — Sentei-me a um lado da mesa
da cozinha para provar nossa terceira tentativa de cozinhar chili
juntos. Antonio se recusou a sentar no local do outro lado da mesa,
optando por sentar ao meu lado.
— Obrigado. Eu tenho praticado. — Ele exibiu um sorriso que era
toda a inocência de menino que eu não comprei por um segundo, mas
caramba, com certeza era bom olhar. — se eu não tivesse melhorado,
você teria parado de me deixar vir.
— Provavelmente. Mas então eu teria que lavar a louça sozinha.
— Não que eu achasse lavar a louça; era uma tarefa mundana que me
dava tempo de sobra para pensar.
— Então você está me usando? Estou ferido. — Se eu não tivesse
visto Antonio fingindo perfurar seu próprio coração, não teria acreditado.
Eu não acreditava nessa transformação por um segundo, mas
estava escolhendo aceitá-la pelo valor nominal, até que ele me desse um
motivo para pensar de outra forma. — Eu tenho certeza que seu ego é
sólido. A cidade inteira não faz nada além de cantar seus louvores.
— Isso está crescendo em uma cidade pequena para você. Todo
mundo conhece o seu negócio e o espalha, bom ou ruim. Mas eles são
rápidos em ajudar e todos sabem quem você é. Todos.
— Você diz que é uma coisa ruim, mas eu posso ver nos seus olhos
que você ama isso. — Eu adoraria ter todas essas pessoas cuidando de
mim quando criança. Ou mesmo apenas os dois que me trouxeram ao
mundo.
— Eu odiava quando era adolescente quando só queria fazer merda
e beijar garotas bonitas.
— Apenas beijar?
Ele revirou os olhos, mas eu detectei um leve rubor em suas
bochechas. — Às vezes mais do que beijar. — Ele encolhe os ombros. —
Era como ter cem irmãos e irmãs.
— Isso não parece tão ruim.
— Não foi. — Seus lábios se curvaram em um sorriso que fez coisas
estranhas ao meu corpo que eu tentei ignorar. — Você sabe como é isso,
não é?
— Eu faço, na verdade. — Um ano para a véspera de Ano Novo,
Austin e eu fomos deixados sozinhos enquanto nossos pais foram a uma
festa. Compramos uma luta no UFC e pedimos pizza. A pizza estava
deliciosa porque era algo que não tínhamos permissão para comer, mas a
luta foi sangrenta, brutal e muito sangrenta. Nós nos divertimos tanto. —
A pizza não o deixou doente, como mamãe e papai insistiram, e isso
começou uma briga mensal por pizza, que foi, obviamente, minha culpa.
— Parece que vocês dois estavam perto.
A pergunta não pareceu sondar, mas optei pela honestidade. —
Fomos. Perder ele quase me quebrou. — Eu ainda não tinha certeza de
que não tinha.
— Mas não aconteceu. — Esse sorriso simpático me fez querer
conhecer o cara que o resto da cidade parecia conhecer. Eu gostei dos
breves flashes do cara legal que eu tinha visto, mas eu não tinha visto
o suficiente dele.
— Austin teria odiado se eu tivesse. Ele até ameaçou me assombrar
se eu parasse de viver. Disse que ele me bloquearia durante o horário das
mulheres, se eu não vivesse para nós dois. Alguns dias estou tentada a
parar só para poder vê-lo novamente. — Ainda doía como o inferno ficar
sem ele e eu não sabia quanto tempo seria até que começasse a doer
menos.
Em vez de oferecer palavras banais de conforto, Antonio comeu
algumas colheres de chili e gemeu. — É perfeito sem as fixações, mas este
é o Texas e gostamos de nossos chili vestidos.
— Mais ou menos como suas botas de cowboy? — Ele riu e,
caramba, esse som - foi como um abraço caloroso que rapidamente se
transformou em algo mais.
— Não exatamente, mas perto. — Antonio piscou e, novamente,
enviou um arrepio de consciência através de mim. Eu escolhi ignorá-lo,
pelo menos o máximo que pude.
Completamos nosso chili, eu com cheddar e jalapenos, e ele com
cebolinha, abacate e limão. — Por que você não é o xerife? Quero dizer,
além das suas excelentes habilidades de pessoas.
Ele deu um sorriso. — Quando voltei para a Tulip depois de trabalhar
em homicídios em Nova Orleans, eu só queria trabalhar no trabalho diário
de manter as pessoas seguras.
— Homicídio. Isso faz sentido, na verdade. Tudo em você tem uma
'vibração séria'.
— É um trabalho muito sério e o que passa pelo humor é
sombrio. Muito escuro. — Ele deu de ombros, mas eu estava começando
a ver os demônios que ele carregava. — E você? Você sempre quis fazer
o que faz?
Eu ri da maneira como ele nem tentou colocar um nome no meu
trabalho. — Não. Eu queria fazer isso com os computadores, mas ainda
não havia decidido, e então Austin ficou doente. Era meu segundo ano e
nunca mais voltei. — Houve uma olhada. Ficou lá por apenas um segundo,
mas eu vi. — Você assumiu que eu desisti ou não, espere... falhei? — Ele
não estava, mas o lampejo de culpa era inconfundível.
— Eu não...
— Ah, mas você fez. Se você realmente quer saber a verdade, oficial
Vargas, tive que sair da escola para dar um rim ao meu irmão para mantê-
lo vivo. É a única razão pela qual meus pais me queriam por perto, e
depois disso, eles ficaram aterrorizados por eu pegar mono ou algo assim
nos dormitórios, o que significava que eu não estaria bem o suficiente para
ajudar Austin. Disseram que eu poderia voltar, mas eu mesma teria que
pagar por isso. — Levantei-me e me afastei da mesa, sentindo lágrimas
nos meus olhos, mesmo pensando naquele dia. O dia em que eu não
conseguia continuar fingindo que meus pais se importavam comigo. Meus
pés se moveram e continuaram se movendo até que eu estava nos limites
seguros do meu quarto, onde fiquei até ter certeza de que Antonio se foi.
Horas depois, encontrei a cozinha limpa, com o chili ainda esfriando
no fogão. Eu sorri. Talvez agora que sabia a verdade, Antonio parasse de
bisbilhotar minha vida e me acusar de coisas.
— Suas habilidades de corte melhoraram. — Sentei-me à mesa da
cozinha com uma tábua à minha frente com uma pilha de tomates e uma
pilha de cebolas à minha esquerda.
— Obrigado. Eu tenho praticado.
Ela olhou por cima do ombro, um olhar conhecedor no rosto. — Com
Elka?
— Mãe, não. — A última coisa que eu precisava era que minha mãe
começasse a bisbilhotar. — Por favor.
— O que? Ela é uma garota legal. Linda. Educada. E ela tem esse
espírito empreendedor. — Outro sorriso, excessivamente inocente desta
vez, cruzou seu rosto. — É a verdade.
— Espírito empreendedor, sério? — Ela parou treze minutos atrás
com compras e um olhar determinado em seu rosto, sabendo que eu não
podia deixar passar sua comida. Ela me fez pensar que não falaríamos
sobre nada pesado.
— Isso significa que a vida nunca será entediante. — Ela voltou para
o fogão no momento em que a manteiga começou a chiar. — Cebolas
primeiro, por favor.
— O que você está fazendo, afinal?
— Algo que você não será capaz de resistir. Termine os tomates
enquanto me conta o que está acontecendo com você e Elka.
— Não há nada. — Felizmente a campainha tocou e impediu-me de
responder. — O que diabos vocês estão fazendo aqui? — Preston, Nate e
Tyson estavam na minha porta, vestindo os maiores sorrisos malditos do
mundo.
— Ouvimos dizer que sua linda mãe estava cozinhando e nossos
estômagos nos levaram até aqui. — Nate foi corajoso em ousar falar sobre
minha mãe dessa maneira. — Podemos entrar?
— Claro que vocês podem entrar!
Eu gemi e dei um passo para trás, acenando para os intrusos. —
Vocês a ouviram. Entrem. — Talvez fosse melhor que eles estivessem
aqui, assim mamãe não traria Elka.
— Obrigado pelo convite, Sra. Vargas. — Tyson foi a primeira a dar
um beijo em sua bochecha e oferecer um elogio. — Viajar combina com
você. Muito.
Mamãe corou e se eu não soubesse que Ty estava brincando
comigo, eu teria arrancado um dente. — Guarde essa nova conversa para
suas mulheres. — Ela acenou para Ty e aceitou um beijo na bochecha dos
outros. — Ponha a mesa e pegue bebidas na geladeira, meninos. — Era
como nos velhos tempos, todos nós sentados ao redor da mesa com
mamãe enfiando comida em nossas gargantas. Quando a comida estava
pronta e todos estavam sentados, ela entrou no ataque. — Ok, agora que
estamos prontos para comer, Antonio pode nos dizer o que está
acontecendo com ele e Elka.
— Oh sim, conte-nos tudo. — Nate se inclinou para frente, o queixo
apoiado nas mãos e um sorriso largo no rosto.
Eu olhei para ele. Em todos eles. Mas isso não importava. — Nada
está acontecendo conosco. Não existe nós. — Exceto que parecia que
poderia haver. Eu nem sabia se queria isso. Eu a entendia agora, um
pouco, mas não confiava completamente nela. — Ela me disse uma coisa
e eu não sei o que fazer com isso. — Estava me comendo desde que ela
me contou sobre seus pais e sua experiência abreviada na faculdade.
— Bem, não nos deixe esperando. — insistiu Tyson, segurando as
mãos na defensiva.
— Talvez você não deva nos contar, se ela lhe contou isso com
confiança. — Preston sempre foi a voz da razão. Era a melhor e a pior
qualidade dele.
Ele estava certo, é claro. Mas eu não conseguia parar de pensar
nisso. — Ela abandonou a faculdade para dar um rim ao irmão. — Essa
parte foi chocante o suficiente, mas quando contei o resto, suas
expressões estavam igualmente horrorizadas. — O que isso significa? —
Nada fazia sentido e eu cavei a mistura picante de tomate e cebola que
cobria os suculentos quartos de frango. Eu não conseguia descobrir, mas
comer sempre me ajudava a pensar.
Ao redor da mesa, os caras e a mãe ainda estavam sentados em um
silêncio chocado enquanto eu comia. Eventualmente, todos cavaram a
comida, minha pergunta aparentemente esquecida. Mas eu deveria saber
melhor.
— Eu vi esses pais no Dr. Phil uma vez - um casal teve um segundo
bebê apenas para que a criança pudesse fornecer material de doação
para o primeiro filho. — Ela estremeceu e sacudiu o corpo. — Foi
comovente, mas talvez seja isso que ela quis dizer.
Era como se todo o ar tivesse sido sugado para fora da sala com
suas palavras. De todos os cenários que passaram pela minha cabeça,
esse nem sequer foi um pensamento. — As pessoas realmente fazem
merdas assim?
— Que boca sua, filho. E sim, eles fazem.
— Cara, você era um detetive de homicídios. — disse Nate e
balançou a cabeça. — Você sabe melhor do que a maioria das merdas
que as pessoas fazem umas com as outras.
— Boca, jovem.
Mamãe era defensora de palavrões e as bochechas rosadas de
Nate eram a prova disso. — Desculpe, senhora Vargas.
Ela sorriu. — Você é um homem crescido. Me chame de Liz. Mas
Nate está certo. Isso não é novidade para você.
Não era não. — Ainda assim, é tão inacreditável. — Os pais de Elka
poderiam tê-la com o único propósito de mantê-lo vivo? Era muito fodido
para ser verdade.
— Talvez você deva deixar Elka em paz. Você fez o tempo dela aqui
muito desagradável e parece que ela está apenas procurando por
paz. Algo nela esfrega você da maneira errada, talvez seja um sinal.
Talvez minha mãe estivesse certa. Mas agora que eu sabia, agora
eu poderia tê-la se eu quisesse e ela me quisesse. Eu queria saber mais
sobre o que a fez sorrir, o que a fez rir. — Ou talvez eu tenha sido apenas
um idiota.
— Nem toda mulher é mentirosa, Antonio. — Preston suspirou e
terminou de mastigar sua comida. — Levei muito tempo para perceber
isso e parar de tratar todas as mulheres que conheci como se ela fosse
minha mãe disfarçada.
— Parece que Preston estará andando pelo corredor em breve. —
brincou Tyson, mas Preston não negou.
Foi o que eu fiz? Punir Elka pelos erros de Sadie? Talvez eu tivesse,
porque nessas raras ocasiões em que pensava em Sadie hoje em dia, não
havia tristeza em suas profundezas do jeito que havia com Elka. Havia
medo, mas eu sabia que era medo de descobrir quem, não o que, ela
era. Mas por trás da disposição ensolarada de Elka havia uma profunda
tristeza que sempre estava lá.
Se você desse a mínima para olhar.
— Eu acho que você deu a ele algo para pensar, Liz. — O riso de Ty
mal penetrou em meus pensamentos, que permaneceram em Elka pelo
resto da noite.
— Eu não estou realmente de bom humor. — Janey apareceu na
minha porta quinze minutos atrás e ordenou que eu me preparasse para
uma noite de trivia no Black Thumb.
— Ninguém está com disposição para uma noite de trivia. Até eles
chegarem lá. — Ela sorriu para mim que eu sabia que ela tinha tudo o que
ela queria nesta cidade. — Vamos. O que você tem a perder?
Nada realmente. Porque eu não tinha nada e ninguém. —
Bom argumento. Me dê dez minutos. Eu poderia usar uma noite de cerveja
e fatos inúteis.
— Leve vinte minutos. E talvez, você sabe, faça algo com seu
cabelo. Parece que não é penteado há dias.
Não tinha, mas eu não precisava que ela me dissesse isso,
porque não era da conta de ninguém, mas da minha. — Obrigada, Janey.
— A qualquer momento. O que está acontecendo com você, afinal?
— Nada, apenas não me sentindo muito social hoje. — Ou em
qualquer dia das últimas semanas. Eu escapei para o meu quarto antes
que Janey pudesse fazer mais perguntas. Quinze minutos depois, fui
banhada com cabelos limpos, roupas limpas e nada além de brilho labial
no rosto. — Ok, vamos fazer isso.
— É trivia e bebida, Elka, não o pelotão de fuzilamento. — Ela passou
um braço em volta de mim e me puxou em direção à porta, enquanto eu
lançava um último olhar de saudade para minha TV e sofá.
O Black Thumb estava bastante cheio para o meio da
semana. Assim que chegamos, Nina e Max acenaram para nós. —Não
acredito que ela tirou você de casa. Pensei que você estivesse seguindo o
rico caminho excêntrico. — disse Nina, em vez de dizer olá. — Estou
hospedando esta noite, então me orgulhem, senhoras.
Max me envolveu em um abraço de boas-vindas e me empurrou na
cadeira ao lado dela. — Eu não a vejo desde a noite das meninas. Pensei
que você poderia ter saído da cidade.
Dei de ombros porque não queria mentir, mas não podia dizer a
essas pessoas legais que estava planejando deixar sua adorável
cidadezinha na poeira. — Apenas estive ocupada. Trabalhando. — Isso
era verdade de qualquer maneira. Passei muito tempo no meu espaço de
trabalho criando novos aromas e encontrando novas maneiras de
comercializar meus produtos.
— Você está indo. — Suas palavras foram baixas o suficiente para
que ninguém mais ouvisse, mas eu ouvi. — Por quê? Eu pensei que você
gostasse daqui.
— Eu faço. Adoro, mas simplesmente não posso mais fazer isso,
Max. Eu só quero ser. — Não queria passar a vida inteira me
desculpando pela minha existência, por ser quem eu era. Eu não podia
fazer isso.
Do outro lado do pódio, havia outra mesa com Preston, Ry, Nate,
Antonio, Dr. Cahill e algumas outras que eu já tinha visto pela cidade, mas
ainda não tinha conhecido. Antonio, fiel à forma, manteve distância
durante a semana passada e fiquei agradecida. Apenas grata. Não
decepcionada.
Só agora que eu estava aqui no bar, ele continuava olhando para
mim quando pensava que eu não estava olhando. Mas eu não precisava
vê-lo para saber que ele estava lá. Eu poderia pagar a ele. Eu podia sentir
o peso do seu olhar quando deslizava pelas minhas costas e roçava sobre
a curva da minha bunda. Os olhares me fizeram tremer, mas eu me recusei
a olhá-lo, a reconhecer sua existência.
— E esse som significa que é hora do nosso primeiro intervalo da
noite. Volte em cinco ou receba uma penalidade de um ponto. — Nina
olhou para as duas equipes, mais parecida com o olhar, antes de
desaparecer no escritório de Buddy, onde Preston seguiu alguns
momentos depois.
Aproveitei o intervalo, disparando para fora para um pouco de paz
e ar fresco do Texas. O sol tinha acabado de se pôr, deixando faixas de
ouro e púrpura no céu, e fechei os olhos para absorver grandes
quantidades de ar fresco da noite. Um zumbido baixo tentou penetrar na
minha tentativa de paz. Uma rápida olhada no telefone no meu bolso
mostrou que eram meus pais. Novamente. Toquei no botão ignorar e me
inclinei contra a face de tijolo do prédio, os olhos fechados enquanto a paz
se apossava de mim.
— Você não deveria estar aqui sozinha.
Eu sabia que minha paz não duraria por muito tempo. — Sou
perfeitamente capaz de cuidar de mim, Antonio.
— Talvez, mas a precaução não custa nada.
Imaginei que teria que guardar a paz para mais tarde. Empurrando a
parede, eu mal pude lhe dar um olhar. — Devidamente anotado, oficial.
— A porta estava a menos de três metros de distância e eu estava no meio
do caminho quando senti seu braço envolver meu bíceps. — Por que suas
mãos estão em mim, oficial Vargas?
— Voltando a isso, então? — Ele balançou a cabeça e me soltou. —
Eu pensei que tínhamos passado tudo isso.
— Você fez? Por quê? — Tanto quanto eu sabia, nada havia
mudado, exceto uma semana inteira se passou sem ele ligar ou insinuar
que eu era uma mentirosa.
— Inferno, eu não sei. É só... merda. Ah, inferno. — Um segundo
depois, o grande corpo de Antonio estava no meu espaço pessoal,
bloqueando tudo e qualquer coisa que não fossem seus ombros largos e
peito largo. Uma mão segurou meu rosto e inclinou minha cabeça para
trás um segundo antes de seus lábios colidirem com os meus. Seu corpo
pressionou o meu contra o tijolo duro e frio. O beijo foi quente como o
inferno - melhor que os outros. Inferno, estava super quente porque
parecia que minha calcinha tinha subido em chamas instantaneamente.
No momento em que sua língua tocou a minha, meu corpo explodiu
um pouco. Milhares de pequenas explosões explodiram atrás dos meus
olhos, no fundo das minhas veias. Algo tomou conta de mim, desejo ou
necessidade, e eu chupei sua língua, fazendo-o gemer. Esse som
enviou cordas correndo por toda a minha pele, assim como ele agarrou
minha bunda e me puxou para perto. Muito próximo. Tão perto que eu
podia sentir o quão duro ele estava atrás do zíper.
Eu estava tão errada com o seu olhar. Suas mãos pareciam ainda
melhores na minha bunda do que seu olhar. O fogo pulsava pelas minhas
veias e suas mãos estavam por toda parte, nos meus seios e na minha
cintura para segurar minha bunda. Novamente. Então seus dedos
percorreram meus cabelos e me seguraram enquanto sua língua
mergulhava as profundezas da minha boca, me fazendo gemer e fazendo
meu corpo vibrar com desejo.
Minha mão lentamente se juntou à festa, atropelando seus peitos
duros e grandes e seu abdômen tanquinho antes de eu corajosamente
escovar meus dedos sobre sua ereção coberta de jeans. Antonio pulou
para trás, seus olhos castanhos arregalados como se ele tivesse tocado
um fio elétrico. — Nós não podemos. Aqui não. — Suas palavras saíram
como calças afiadas, e eu tive que morder um sorriso.
— Você quer dizer que você quer? — Eu estava tão confusa com o
comportamento dele. Pelos beijos, pelo comportamento quente e frio. Eu
nem sabia mais por onde estava.
— Claro que eu faço. — Ele deu aquele sorriso que fazia coisas
impertinentes no meu corpo e tudo que eu conseguia pensar era o que
veio a seguir. — Ficarmos nus? Sexo? Eu ter um orgasmo?
— Vargas, volte aqui! Estamos começando. — Ry chamou e o
momento acabou.
Antonio olhou para mim com um sorriso largo, piscou e voltou para
dentro, deixando-me imaginar o que diabos “é claro” significava. Ele quis
dizer “é claro que quero fazer sexo com uma mulher disposta” ou
comigo? Eu estava fora de profundidade e sem fôlego no momento em que
me reuni às meninas à mesa onde uma rodada de cerveja gelada havia
sido colocada na frente de cada assento.
Mas quando a rodada final começou, outro pensamento me
ocorreu. Antonio não gostava de mim, mas ele me queria e eu senti o
mesmo, o que significa que eu poderia, teoricamente, fazer sexo com ele
sem envolver minhas emoções. Não poderia?
— Você está prestando atenção? — Janey sussurrou.
— Desculpe. Bill Clinton é a resposta. — Eu estava muito distraída
para estar aqui, mas prometi. — Você já dormiu com um cara só pelo
sexo?
Max olhou para mim, chocada no começo, mas depois a
compreensão ocorreu. — Sim, e eu recomendo, mas lembre-se de que
nenhuma forma de controle de natalidade funciona sempre.
— Isso é verdade. — Penny falou. — Se você não o quer mais
do que uma noite, imagine ter que passar as próximas trinta ações de
graças, natal e aniversários com ele. — O ex de Penny começou
recentemente a fazer um esforço para ver o filho, então eu entendi o que
ela queria dizer. — Eles sempre estarão lá. Sempre.
Bo se inclinou e sussurrou: — Se Nina estivesse aqui, ela diria para
você dormir apenas com o cara errado até que você esteja pronta para o
caminho certo.
— Por quê? — Eu perguntei, intrigada com este conselho contra-
intuitivo.
— Porque se apaixonar pelo cara errado é uma merda.
— Eu não me apaixonei por nenhum cara. Nunca. — Talvez eu
precisasse de um bom desgosto à moda antiga. Era uma experiência - não
uma que eu esperava - mas talvez essa parte não pudesse ser ajudada. Eu
tinha certeza que queria fazer sexo, desta vez de verdade, com Antonio.
— Não durma com ele. — alertou Janey. — Desculpe, mas eu não
acho que você é do tipo casual.
— Eu não sou. Mas talvez eu possa ser. — Talvez sexo casual fosse
o que eu precisava. Para mim. Só para mim.
Fiquei na porta de Elka e respirei fundo algumas vezes, esperando
que ela não não me chutasse por segui-la depois que a noite de trivia
terminou. Eu queria. Deus, eu queria mais do que meu próximo
suspiro. Mas ela precisava de uma noite para pensar sobre isso, para ter
certeza de que era o que ela queria. Foda-se. Apertei a campainha e
prendi a respiração. Além disso, eu tinha uma arma secreta.
A porta se abriu e lá estava ela, longos cabelos loiros caindo ao redor
dos ombros, ainda um pouco úmidos de um banho recente. E eu sabia que
todo o universo estava conspirando contra mim, porque ela usava outro
daqueles pequenos flertes, este com uma cor de pêssego claro com
pequenas flores brancas por toda parte. Era o tipo de vestido que fazia um
homem passar a noite toda imaginando o que havia por baixo. — Antonio,
o que você está fazendo aqui?
— Alimentando você. — Abri um sorriso que me tirou de problemas
dezenas de vezes ao longo dos anos, especialmente com as mulheres,
enquanto levantava as sacolas cheias de comida.
Ela piscou uma vez e deu um passo para trás. Não era alegria em
seu rosto, mas também não era medo. — Tudo certo.
Seu sim fácil parecia uma armadilha, mas eu estava tentando
não ser cínico. — Você não vai brigar comigo?
— Acho que não preciso mais, não é? — Ela colocou os braços em
volta da cintura em um gesto protetor e deu outro pequeno passo para
trás.
Eu fiz uma careta, procurando no rosto dela por sinais de
decepção. — Porque nós estamos bem?
Ela revirou os olhos. — Não, Antonio. Porque você conseguiu as
respostas que procurava e terminou comigo. Este jantar é para fazer você
se sentir melhor. Eu amo comida, então estou disposta a tentar. — Quase
parecia que ela estava me desafiando a provar que ela estava errada.
— Você já me descobriu, não é?
— Nem mesmo perto. — disse ela e fechou a porta, girando a
fechadura antes de correr ao meu redor e caminhar para a cozinha. Levei
um segundo para parar de olhar para as pernas bem torneadas e as unhas
dos pés cor de arco-íris , antes de segui-la para dentro. — Mas eu
tenho isso tudo planejado.
— Você está errada, Elka. Estou aqui por você. — Eu olhei para ela
até que ela olhou para mim, até que ela foi incapaz de desviar o olhar. Seus
olhos azuis escureceram no momento em que ela viu a intenção
escura nos meus olhos.
— Para sexo, você quer dizer?
Meus lábios tremeram com sua tentativa de ousadia. — Isso
também. Quero você, Elka, não se engane sobre isso, mas também quero
compensar o que aconteceu da última vez.
Ela lambeu os lábios. — Como você planeja me compensar? Não
é como se pudéssemos mudar o passado.
Coloquei a sacola no balcão e caminhei até onde ela estava,
abraçando-a entre meus braços e me inclinei perto do sussurro em seu
ouvido. — Você quer que eu te conte?
— Eu sei. — ela sussurrou, ou talvez fosse uma calça.
— Primeiro, eu começaria lambendo sua boceta doce até que você
me implorasse para parar. — Ela soltou um gemido estrangulado e minha
língua disparou para traçar a concha de sua orelha. — Você gostou de
ouvir isso.
Elka pigarreou e olhou para mim com desejo em seus olhos. — Eu
não sei do que gosto, mas sim, isso soa bem.
— Soa bem? — Eu planejava mostrar a ela qualquer coisa, menos
agradável. — Vou te mostrar bem, mas primeiro preciso colocar essa
comida no forno. — E eu precisava de um momento para controlar meu
corpo, ou seja, meu pau. Eu não sabia por que meu corpo a havia
escolhido. Tudo que eu sabia era que não tinha mais força para resistir. —
Existem ingredientes de caipirinha nessa segunda sacola.
Ela piscou duas vezes antes de suas pernas começarem a se
mover. — Certo. O que há em uma caipirinha?
— Pegue um pouco de gelo e eu vou fazer. — Felizmente, mamãe
colocou tudo em recipientes de vidro que entraram no forno com
facilidade, então tudo que eu precisava fazer era ajustar o cronômetro e
voltar para Elka. — Com sede?
Ela assentiu lentamente, incapaz de desviar os olhos do meu
rosto. — Seco.
— Bom. Tudo o que você precisa para uma boa caipirinha é
cachaça, açúcar e limão. Misture o limão e o açúcar, adicione gelo e
depois beba. —Eu girei e fiz novamente, entregando a Elka um dos
óculos. — Para começar de novo.
Ela levantou o copo com um pequeno sorriso e tomou um gole. —
Deliciosa e maravilhosa. Obrigada.
Eu mal podia provar a bebida na minha língua porque meu corpo
zumbia com desejo por ela e o dela por mim, se os picos rígidos de seus
mamilos eram alguma indicação. — Se você quiser parar, basta dizer.
Ela assentiu e terminou a bebida rapidamente. — Você não me deve
nada, Antonio.
— Talvez não, mas você me deu algo precioso e eu não apreciei do
jeito que deveria. Hoje à noite, eu vou fazer isso tão bom quanto deveria
ter sido a primeira vez. — Isso era o mínimo do que eu planejava
fazer. Além de satisfazer minha própria fome por ela, eu planejava mostrar
a ela o quão bom sexo poderia ser.
— Não é muito bom, certo? — Ela apontou um dedo acusador para
mim. — Ouvi dizer que sexo muito bom pode fazer uma mulher pensar que
quer mais de um cara. Até o cara errado.
— Você acha que eu sou o cara errado? — Isso não deveria ter
doído, mas machucou. — Que tal você me dizer quando tiver o suficiente?
Isso a calou e eu apertei minha vantagem, batendo meu copo e
segurando seu rosto bem a tempo de engolir seu gemido de prazer. Sua
boca era ainda mais doce que o açúcar. Eu não conseguia o
suficiente. Mergulhei minha língua profundamente em sua boca enquanto
suas mãos pulavam nos meus ombros, deslizavam pelos meus braços e
depois recuamos novamente. Dedos macios e delicados exploraram a
extensão do meu peito e desceram meu abdômen até pressionar meu
corpo contra o dela. Suas juntas roçaram meu pau e foi isso, meu controle
escapou. Elka estava em meus braços e eu estava indo em direção à sala
de estar e sua cadeira grande e enorme onde eu a joguei no chão.
— Antonio. — ela ofegou, olhos arregalados quando eu caí de
joelhos na frente dela.
— Sim? — Eu apalpei seus joelhos e os espalhei. — Você precisa
de algo?
Ela assentiu e manteve a boca aberta em um perfeito ‘o’ olhos
incapazes de desviar o olhar das minhas mãos enquanto desapareciam
sob o vestido.
— Eu tenho me perguntado o que tem aqui embaixo desde que você
abriu a porta, Elka. — Renda. Laço branco. Deslizei-os pelos quadris e
pelas pernas até que ela estivesse nua e aberta. Só para mim. Eu a lambi
uma vez e ela gritou ao mesmo tempo em que seus quadris se contraiam
contra mim.
— Oh! — Fiz isso de novo, lambendo-a lentamente no começo e
depois mais rápido enquanto seus sons se tornavam mais altos, mais
guturais. Seus dedos entrelaçaram no meu cabelo e enrolaram nas
mechas, praticamente puxando-o do meu couro cabeludo, mas eu não
dava a mínima. — Oh meu! Antonio!
Ela se chocou contra mim, um movimento que fez meu pau tão duro,
que eu pensei que era minha ruptura através da minha cueca e jeans. Eu
adorava comer buceta tanto quanto o próximo cara, mas os sons que Elka
fazia já me tinham vazando meu pau. Rosnei e deslizei minha língua dentro
de seu calor liso, sorrindo quando ela começou a moer contra mim,
perseguindo seu prazer. Eu estava duro e com vontade de me esconder
profundamente dentro dela.
— Antonio, eu...
Eu já sabia o que ela diria porque senti o tremor em suas coxas, a
maneira como os dedos dos pés se curvaram quase dolorosamente, e
aqueles suspiros rasos de ar. Seu orgasmo era iminente e eu mantive
meus olhos abertos e nela enquanto lambia e chupava sua boceta até o
suor escorrer pela testa. Até que seu corpo ficou tenso antes que o
orgasmo se derramasse em ondas suaves e vibrantes, seguidas por um
rosnado baixo. Sucos deslizaram pelos meus dedos enquanto ela pulsava
ao meu redor, quadris ainda rolando contra a minha língua.
— Piedoso. Inferno. Isso foi... incrível. Foi como nada que eu já senti
em toda a minha vida. Foi o...
O cronômetro soou, interrompendo o que com certeza seria um
grande impulso para o meu ego.
— Isso estava delicioso, Antonio. Obrigada pelo jantar. — A comida
era ótima, provavelmente uma das dez melhores refeições da minha vida
até agora, mas o prazer zumbindo em meu corpo não tinha nada a ver com
a autêntica culinária brasileira e tudo a ver com o meio-brasileiro me
encarando com uma presunção de sorriso de namorado. O problema era
que ele tinha todo o direito de ser convencido, porque a maneira como
tocava meu corpo, me lambendo tão intimamente, tinha sido o maior
encontro sexual da minha vida.
— O prazer é meu. — As palavras rolaram de sua língua e meu
corpo podia sentir o rolo da língua, enquanto eu apertava minhas pernas
com força suficiente para fazer meus ouvidos zumbirem.
— Tenho certeza que o prazer foi meu. — eu disse a Antonio,
fazendo-o rir.
— O meu também. — disse ele, confirmando o que eu tinha visto
antes, quando ele estava na frente do meu corpo ainda trêmulo, uma
protuberância impressionante tornando difícil desviar meus olhos de seu
corpo. Eu não podia acreditar que me sentir assim tinha o deixado tão
excitado e incomodado.
— Eu acho que gostaria de tentar isso a seguir. — Durante a
deliciosa refeição, tudo que eu conseguia pensar era retribuir o favor...
com energia. Eu me perguntava se era a novidade que a fazia se sentir tão
bem. Eu queria fazer Antonio se desfazer do jeito que eu fiz. Levantei-me
e empurrei minha cadeira para trás com um olhar determinado no rosto.
Os olhos de Antonio se arregalaram. — Agora?
Eu ri e assenti enquanto caminhava para o outro lado da mesa. — A
menos que haja algum período de espera depois de comer. Como
nadar. — Antonio olhou para mim e, pela primeira vez desde que nos
conhecemos, ele parecia inseguro. — Existe?
A incerteza desapareceu e seus lábios se curvaram em um
sorriso. — Não existe.
— Bom. — Eu caí na frente dele e minhas mãos foram para a cintura
dele, desabotoando os botões do jeans e pegando um punhado de tecido
na cintura. Seus quadris levantaram para que eu pudesse revelá-lo e,
quando o fiz, recostei-me com uma expressão chocada no rosto. — Você
é maior que a média? — Ele se sentia grande em minhas mãos, grosso e
pesado, pelo menos oito ou nove polegadas. E linda. Uma veia grossa
corria por baixo e era tão dura, mas tão suave, e eu não pude resistir a um
gosto pequeno.
— Um pouco. — ele rosnou quando minha língua deslizou contra a
cabeça de seu pau. Lambi novamente só para ouvi-lo gemer porque esse
som me atingiu bem entre as coxas, me fazendo pulsar e vazar. — Merda,
Elka.
O aperto em sua voz me empurrou para frente e eu envolvi minha
boca em torno de seu pau, usando meus lábios e língua para lhe trazer
prazer. Lembrei-me de tudo que tinha visto ou lido sobre dar boquete e
o levei cada vez mais fundo, certificando-me de que minha boca estava
boa e molhada. Os sons que Antonio fez me disseram que estava satisfeito
com minhas ações e eu as mantive, deixando seu pênis bater no fundo da
minha garganta e depois chupando-o como um pirulito.
Seus quadris começaram a se mover em longos movimentos lentos
e eu agarrei suas coxas, segurando enquanto ele deslizava seu pau dentro
e fora da minha boca. Eu gemia e fechei os olhos, saboreando quanto
prazer eu estava recebendo por agradá-lo. — Oh merda, Elka. — Levei-o
profundamente mais uma vez antes de ele se afastar com um rosnado
ameaçador.
— O que? Eu machuquei você?
— Não. — ele resmungou e me pegou nos braços. — Quarto?
Apontei os degraus e ele os levou os degraus dois de cada vez até
estarmos no meu quarto, decorados com cores vibrantes e flores por toda
parte. Em toda parte.
Antonio não pareceu notar, porque toda sua atenção estava focada
em mim quando ele tirou meu vestido, me deixando totalmente nua. —
Porra, você é linda.
Não me sentia bonita; Eu me sentia constrangida. Meus mamilos
estavam duros e minhas coxas estavam
embaraçosamente pegajosas. Mas eu queria mais. Deus, eu queria muito
mais. — Não, você é. — Isso era verdade. Ele era uma obra de arte, toda
aquela pele dourada e músculos esculpidos que estavam desempenhando
um papel de protagonista em minhas fantasias desde que ele me deixou
no lado da estrada.
— Não se esconda de mim. — ele rosnou quando minhas mãos se
moveram para cobrir minha nudez. — O que você precisa, Elka?
Você. Essa palavra estava na ponta da minha língua e eu não
conseguia entender o porquê, então as engoli enquanto pensava no que
realmente queria. Outro passeio em sua língua mágica. Eu também queria
o seu pênis, mas isso me deixou um pouco mais preocupada.
Ele sorriu. — Você quer que eu lamba sua boceta de novo? Só se
você disser as palavras.
Maldito seja. O jeito que ele provocou me fez querer brincar e jogar
de volta. Inclinando-me para trás, estiquei o peito e abri os joelhos apenas
um pouco mais. — Lambe minha boceta, Antonio. — Eu me sentia ousada
e bonita, ou talvez eu apenas estivesse com tesão.
Ele fez exatamente o que eu pedi, me esparramando no meio da
cama com a cabeça entre as minhas pernas, lambendo e me chupando
até que eu tentei me afastar de sua boca. Ele continuou até meus dedos
dos pés começarem a se enrolar e sons estranhos de animais vieram do
meu intestino. Mas eu estava perto.
Tão perto.
Antonio deve ter sentido isso, porque ele parou e tirou o resto de
suas roupas antes de deslizar entre minhas coxas, invadindo lentamente
meu corpo até que a invasão se reivindicou. Doeu no começo, mas só um
pouco. Então começou a se sentir bem. Muito, muito bom. — Antonio, sim.
— Eu não pude evitar que meu corpo se agarrasse a ele, segurando firme
enquanto ele bombeava dentro e fora de mim, me deixando louca.
— Sua boceta é tão apertada, Elka. Tão fodidamente molhada. Eu
amo isso. — Seus quadris se moviam lentamente e profundamente dentro
de mim, adicionando combustível suficiente para fazer o fogo queimar
progressivamente mais quente. — Você deve sentir o quão molhada você
fica quando eu falo sujo com você.
— Antonio, por favor. Eu preciso de mais.
Ele sorriu para mim. — Você quer mais do meu pau?
— Não, eu preciso disso. Por favor. — Mesmo quando ele fez a
pergunta, senti meu corpo pulsar e tremer ao seu redor enquanto ele
mergulhava cada vez mais fundo, até que eu não sabia dizer onde eu
terminava e ele começava.
Minhas palavras fizeram algo com ele, porque Antonio parou de falar
e apenas seus grunhidos soaram no ar enquanto seus quadris bombeavam
cada vez mais forte. Seus olhos castanhos nunca deixaram os meus, seu
olhar selvagem queimando através de mim quando seu corpo reivindicou
o meu. — Elka, oh merda, Elka.
— Mais difícil. Por favor, Antonio. — Ele olhou mais forte enquanto
segurava meus quadris e deslizava dentro de mim de um ângulo diferente,
um ângulo perversamente delicioso que fazia coisas maravilhosas no meu
corpo. — Ai sim! — Minhas mãos começaram a arranhar seu
corpo. Arrepios apimentaram minha pele e então o prazer assumiu. Em
algum lugar distante, ouvi gritos altos e guturais, rugidos guturais e o som
do nome de Antonio nos lábios que pareciam os meus.
O orgasmo era mágico, cheio de cores e sensações que eram novas
para mim, mesmo quando Antonio se apoderou de mim, cada vez mais
forte quando seu próprio orgasmo se abateu sobre ele.
Eu me agarrei a ele naquele momento de unidade. Fechei os olhos e
segurei enquanto os últimos remanescentes de prazer avançavam para a
superfície. Eu me deixei ter esse momento de pura e perfeita felicidade.
Então eu o deixei ir.
Porque eu tive que fazer.
Ele não era meu para manter.
Nem seria meu.
* * *
Dormir com Antonio foi um excelente treino, sem mencionar uma
ótima maneira de aliviar o estresse. Mas acima de tudo, envolver meu
corpo nu ao redor dele era absolutamente viciante. Eu não conseguia o
suficiente dele, do jeito que ele me fazia sentir, e das coisas que ele fazia
no meu corpo. A maneira como ele me olhava naqueles momentos calmos
e desprotegidos me fazia sentir coisas que não deveria.
Mas eu fazia.
— Isso é pensar demais de manhã cedo. — Sorri quando seus
braços fortes me envolveram e meu corpo estremeceu com seu hálito
quente e um forte sotaque do Texas no início da manhã. — O que está
acontecendo nessa sua linda cabeça?
— Eu estava pensando se isso deixaria de se sentir tão bom. Você é
o especialista, é sempre assim? — Eu tinha que saber porque, há mais de
uma semana, eu sentia que não conseguia o suficiente dele.
— Não é assim, não. — Suas palavras eram relutantes, como se ele
estivesse esperando tanto quanto eu que essa coisa queimasse tão quente
por causa de sua novidade. — Eu acho que sou viciado em você.
— Oh, graças a Deus, porque eu estava me sentindo da mesma
maneira. — Eu me virei em seus braços para ficarmos cara a cara, para
que eu pudesse ver os pequenos fios de ouro que davam a seus olhos uma
aparência celestial. — Isto é diferente.
— Para mim também. — ele confirmou e me puxou para perto. Inalei
seu perfume, sentindo como se estivesse profunda demais, mas
incapaz de me afastar. Então, porque eu podia, minha língua disparou para
um pequeno gosto de sua pele, salgada e suada, uma mistura satisfatória
de nós dois. — Elka. — ele gemeu e empurrou seus quadris em mim.
Meu telefone tocou na mesa de cabeceira e eu o ignorei, feliz por
ter dado aos meus pais um toque dedicado. — Antonio, por favor.
— Desde que você pediu tão bem. — Ele abaixou a cabeça em
baixo, envolvendo a boca em volta do meu mamilo até eu arquear nele.
O telefone tocou novamente e eu estava determinada a ignorá-lo,
passando os dedos pelos cabelos ásperos para segurá-lo exatamente
onde eu o queria. — Não, não pare.
— Talvez você deva antender isso.
Revirei os olhos, confiante de que ele não podia me ver e não
brigaríamos. — Talvez você devesse voltar ao que estava fazendo.
Ele congelou e se afastou, e meu corpo uivou de decepção por sua
fome ficar insatisfeita. Por enquanto. — Elka, estou falando sério. E se eles
estiverem ligando porque algo está errado?
— Nada está errado, Antonio. Por que você não pode simplesmente
confiar em mim nisso? — Ele era como todo mundo, achando que eles
sabiam o que era melhor para mim.
— Eu confio em você, mas por que mais eles continuariam ligando?
Deslizei para trás até quase cair do pé da cama e olhei para ele. —
Porque eles esperam que eu responda para que eles possam me
convencer a fazer o que eles querem que eu faça. Isso não está
acontecendo. Nunca mais.
— Talvez eles apenas sintam sua falta.
Eu levantei, sabendo que esta manhã não estava indo para onde eu
pensava que estava apenas alguns minutos antes. — Eles não sentem
minha falta, Antonio. Você não sabe do que está falando. — Eu balancei
minha cabeça, muito estúpido. — Eu deveria saber que você não terminou
com isso.
— Eu só estou perguntando porque...
— Porque é o seu trabalho. Eu entendo isso agora. — Doía como o
inferno, mas eu entendi. Ele estendeu a mão para mim para garantir que
meus sentimentos não fossem feridos, mas eu ignorei isso e comecei
a andar pela sala. — Bem. Aqui está. Eu sei que eles não sentem minha
falta, porque nunca me quiseram. Eles me pediram peças sobressalentes
para Austin, porque, geneticamente, éramos tão próximos de uma
combinação perfeita quanto as pessoas poderiam ser sem ser
gêmeos. Minha vida inteira foi vivida em uma bolha. Não era minha; era de
Austin. Sempre. No momento em que ele morreu, eles terminaram
comigo.
— Tenho certeza que isso não é verdade. — disse ele
suavemente. — Por favor.
Eu bufei, dura e amarga. — Eles se esqueceram de mim no velório,
Antonio. Saíram da casa funerária e fizeram todo o caminho de volta para
casa antes que eles perceberam, e você acha que eles voltaram para
mim? — Ele parecia aterrorizado agora, como se estivesse se
arrependendo de ter trazido isso à tona. Bom. — Não, eles mandaram um
carro. Então, por favor, não me diga o quanto eles estão sentindo minha
falta, porque isso me irrita. — Eu consegui ir ao banheiro antes que as
lágrimas caíssem, mas foi por pouco.
Sentir-me estúpida e esgotada antes das oito da manhã não era uma
boa opção para mim. Entrei no chuveiro quente, esperando lavar tudo e
começar o dia direito. Em algum momento, a cortina foi aberta e Antonio
se juntou a mim.
Silenciosamente.
Ele não disse nada enquanto me segurava, se desculpando com
beijos para cima e para baixo no meu pescoço e coluna. Tentando tirar
minha dor com seu corpo. Não funcionou, mas seu corpo era uma grande
distração.
— Você deveria me esperar no estacionamento. — Esperei vinte
minutos no sol ardente, procurando os cabelos loiros de Elka para poder
ajudá-la a descarregar suas ferramentas e ingredientes para o
cozimento. Os cozinheiros poderiam se preparar logo às cinco da manhã
para garantir que tivessem tempo de sobra para preparar o chili perfeito.
— Eu não conseguia dormir, então cheguei cedo. Teria sido bobo
esperar por você. — Ela não se virou. Não que eu me
importasse. Especialmente hoje, porque ela usava shorts jeans justos que
não deveriam ser lisonjeiros, mas eram. E as seguintes regatas em
camadas abraçaram seus seios lindamente, me fazendo desejar que
estivéssemos sozinhos e que eu pudesse tocá-la. Provar ela. Faze-la gritar
meu nome.
— Por que você não conseguiu dormir? — Ela estava agindo de
forma estranha desde aquela manhã em seu quarto, mas toda vez que
eu trazia, Elka negava que algo estivesse errado.
— Talvez eu esteja nervosa por cozinhar para tantas pessoas.
— Talvez você esteja, mas você consegue. Talvez você possa me
dizer o que realmente está errado? — Ela ainda não se virou, e eu fiquei
logo atrás dela para que ela pudesse me sentir lá. — Você não precisa
carregar tudo sozinha, Elka.
— Eu não estou carregando nada. — ela insistiu e se virou para mim,
olhos azuis firmes. Sólida. Distante. — Eu só quero continuar no caminho
por hoje, só isso.
Eu não acreditava nela, mas a melhor coisa que eu podia fazer por
Elka naquele momento era aliviar qualquer estresse que ela sentisse ao
cumprir meu dever como herói da cidade natal. Coloquei um avental e
comecei a cortar o que restava dos vegetais, imaginando como diabos eu
consegui estragar tudo. Novamente.
Trazer os pais fora um erro e, quando ela finalmente, com relutância,
me disse a verdade, era tarde demais para desfazer o que eu já tinha
feito. Tentei prepará-la, mas depois desse dia, Elka manteve tudo em
caixinhas perfeitas. Ela não falava sobre seus pais e raramente
falava sobre seu irmão, preferindo falar sobre o presente e o futuro. Como
se ela quisesse esquecer completamente seu passado.
Eu estava lá e quase deixei isso me arruinar, então sabia para onde
ela estava indo e a maldita teimosa estava determinada a me empurrar um
pouco. — Ok, todos os vegetais estão cortados.
Ela olhou por cima do ombro e avaliou as pilhas em cada tigela com
um exame minucioso. — Bom trabalho. Obrigada.
Eu não poderia tomar o tratamento silencioso dela. — Sinto muito,
Elka.
Ela congelou com as minhas palavras e quando aqueles olhos azuis
olharam para mim, eu poderia ter chorado pela dor nadando neles. — Eu
gostaria de acreditar em você, Antonio.
— Eu só estava tentando ajudar, não cavar. Eu juro. — Era
importante que ela soubesse disso. — Você nunca vai se curar se não
enfrentar essa situação, Elka.
— Sim? O que faz de você um especialista?
Era isso. O momento da verdade em que derramava minha verdade
feia para alguém que não fosse o psiquiatra designado pelo
departamento. — Porque eu sei...
— Desculpe. Você tem um chili alternativo para um dos juízes?
Elka suspirou e se afastou de mim. — Sim. Há uma opção
vegetariana com dois tipos de feijão. O queijo é opcional. — A mulher
oficial da prancheta parecia satisfeita com essa resposta, me deu uma
longa olhada e foi para o estande seguinte.
— Eu estive onde você está, Elka. — Por que diabos isso era tão
difícil de falar? Suspirei e tentei novamente. — Você tem...
— Elka? — Ela congelou com o som da voz, segurando a mão na
longa colher de pau que usava para mexer o chili. — Elka, sua mãe está
falando com você.
Ela se virou e olhou para mim primeiro, com mágoa e traição
brilhando em seus olhos, antes de fechar todas as suas emoções e se
voltar para o casal que parecia ter saído das páginas de um catálogo da
LL Bean. — O que vocês estão fazendo aqui?
A mãe dela sorriu. — Existe alguma maneira de cumprimentar seus
pais?
— Para cumprimentá-los, você assumiria que estou feliz em vê-los e
nós sabemos que esse não é o caso. — Ela cruzou os braços e se afastou
de mim também. Ela era uma ilha, uma unidade solitária. Enfrentando
tudo sozinha. — O que você quer?
— Você não atenderia nossas ligações.
— Uma dica que você claramente não entendeu. — ela retrucou
com mais sarcasmo do que eu já tinha visto ou ouvido falar dela. — Escute,
não estou interessada em falar com você ou reconectar. Aproveite a sua
estadia em Tulip. — Ela voltou para a panela fervendo perto da parte
traseira do estande, sem reconhecer ninguém.
— Você disse que ela ficaria feliz em nos ver. — seu pai rosnou em
minha direção.
Eu ouvi a entrada de ar, aquele suspiro de surpresa, e eu sabia que
Elka tinha ouvido. — Foi quando pensei que todos estavam sofrendo de
dor. Você precisa dar a Elka algum espaço.
Sua mãe colocou um lenço no rosto em perigo e seu pai
simplesmente assentiu e levou a esposa embora. — Falaremos em breve,
Elka.
— Não, nós não vamos.
Eu sabia que errei e sabia que era ruim porque Elka não tinha apenas
ficado em silêncio, ela tinha desligado. Completamente. — Elka, por favor.
— Você fez isso. — Suas palavras eram tão calmas que eu mal
conseguia ouvi-los com o barulho crescente ao redor, quando a cidade
começou a aparecer para o jantar. — Eu pensei que as coisas eram
diferentes, que você parou de tentar me desenterrar. Mas você não fez.
— Elka, por favor. — Eu a alcancei, mas ela se afastou do meu
toque. — Eu não sabia.
— Você deve ter rido muito. — disse ela, um tipo amargo de diversão
no rosto e na voz. — Elka fui idiota em pensar que você estava interessada
quando você estava apenas tentando provar algum ponto para si
mesma. Você me pegou bem, Antonio. Outra lição aprendida.
— Não foi assim. Eu pensei que estava ajudando.
Ela olhou para mim, algo quase como ódio brilhando em seus
olhos. — Mesmo depois que eu te contei tudo?
— Liguei para eles antes dessa manhã. — admiti, embora com
relutância. — Você estava claramente sofrendo e eu queria ajudar.
— Não, você queria saber o que eu estava escondendo e agora você
tem tudo. Cada detalhe sórdido. Tenho certeza que meus pais vão lhe
contar tudo o que você precisa saber, Antonio. — Ela balançou a cabeça
e com raiva enxugou uma lágrima. — Eu não posso acreditar que pensei
que estava apaixonada por você.
— Elka, vamos...
— Você deveria ir, Antonio. — Tentei falar com ela, fazê-la ouvir, mas
Elka estava além disso agora. — Você cumpriu sua obrigação como herói
da cidade natal e eu informarei Janey. Oh, espere. — Ela limpou as mãos
e cavou em seu bolso de trás onde tirou seu telefone. Depois de tirar
algumas imagens e digitar na tela, ela olhou para mim brevemente. — As
fotos necessárias para o dia também foram enviadas. — Ela virou as
costas para mim mais uma vez e eu não tinha coragem de ficar quando as
lágrimas começaram.
Eu era tão idiota e não a merecia, mas ouvi-la dizer que me amava
mudou tudo. Eu encontraria uma maneira de fazer isso direito.
Eu precisava.
Os últimos dias foram um turbilhão e eu os gastei escondidos na
cabana que ainda era minha. Só minha. Por enquanto, de qualquer
maneira.
Os pedidos de cumprimento e embalagem haviam tomado a maior
parte do meu dia, mas o som da campainha no andar de cima era a
desculpa perfeita para fazer uma pausa. Limpando o suor da minha testa,
afastei-me da minha mesa de trabalho com um suspiro profundo e fui até
a porta. — Penny. Esta é uma boa surpresa. Entre. — Recebi telefonemas
de Janey e Nina, Max e até Bo, parabenizando-me pelo cozimento.
Penny estava montada, como sempre, usando um vestido rosa
escuro que a encaixava como uma luva. Ela entrou e chutou os
calcanhares antes de me abraçar. Ela se afastou e olhou ao redor da
sala. Cheio de caixas. — Ficando em segundo lugar é tão ruim que você
tem que sair da cidade?
Eu soltei um riso trêmulo com sua tentativa de humor. — Na
verdade, o segundo lugar parece muito bom. Mais ou menos como o
primeiro. — Eu nunca tinha competido em nada além de jogos de vídeo e
palavras contra Austin, de modo que a fita do segundo lugar e o pote chili
banhado a ouro eram incríveis.
— Mas você ainda está indo embora. — Havia mágoa e decepção
em sua voz e eu odiava que eu a tivesse machucado.
Eu assenti. — Eu estou, mas talvez a segunda vez seja o
charme. Começar de novo em Tulip não deu muito certo, então vou tentar
outro lugar. Mas não se preocupe, todas as coisas pelas quais me ofereci
foram resolvidas. — Eu poderia sair da cidade sabendo que não deixaria
ninguém pendurado.
— Eu não dou a mínima para nada disso. Quero dizer, obrigada por
fazê-lo, mas por que você está indo embora? Eu pensei que éramos
amigas e você acaba por sair. Você teria dito alguma coisa se eu não
tivesse passado por aqui?
— Eu teria. — insisti, mesmo não sabendo ao certo se essa era a
verdade. — Mas eu não tomei nenhuma decisão além de partir. Não tenho
um destino em mente ou um lugar para morar.
Ela franziu a testa e eu acenei para ela entrar. — Então por que você
está fazendo as malas?
— Porque fazer as malas faz parecer real para mim. É um lembrete
constante de que preciso fazer melhor no meu próximo passo, talvez não
chame tanta atenção para mim. Escolha uma cidade um pouco maior que
Tulip. — Um lugar onde policiais intrometidos tenham criminosos reais
para se preocupar.
Eu podia sentir o peso de seu olhar em mim enquanto eu puxava
legumes grelhados da geladeira para o almoço. — Antonio também está
no inferno, você sabe. Se isso faz você se sentir melhor.
— Não, mas obrigada por tentar. — Não me importava que Antonio
se sentisse uma porcaria; ele deveria estar feliz, pois finalmente conseguiu
tudo o que procurava. — Ele me traiu, Penny. Eu pensei que as coisas
eram diferentes, mas não são. — Elas nunca foram. — Além disso,
tenho certeza que meus pais espalharam suas mentiras por toda a cidade
para quem quiser ouvir. Eu acabei por aqui.
— Você tem certeza?
Absolutamente não, mas eu assenti. — Eu não posso ficar, Penny.
Ela puxou um envelope da bolsa com um sorriso compreensivo. —
Receio que você precise, por enquanto. Isto veio à mesa do prefeito esta
manhã.
Dentro do envelope havia uma intimação para aparecer na frente do
juiz Mayburn depois de amanhã às nove da manhã. Eu gemi quando a
raiva brotou em mim, mas as lágrimas caíram primeiro. — Eles entraram
com uma liminar para me impedir de gastar mais do dinheiro do seguro.
— Meus próprios pais. Quão desprezível poderia ser um casal? Fiquei
meio tentada a ignorar a intimação e deixá-los ficar com o dinheiro. Mas
não podia. Esse dinheiro era meu, e Austin queria que eu o tivesse, não
eles. Eu tinha que lutar porque meu orgulho era a única coisa que me
restava. — Obrigada por me informar, Penny. Você tem sido uma boa
amiga para mim.
Ela assentiu, parecendo triste e resignada com o estado das
coisas. — O que você vai fazer?
— Não posso fazer nada além de aparecer e torcer para que tudo
dê certo. Mas não estou prendendo a respiração. — Se a vida tivesse me
ensinado alguma coisa, era que o bem nem sempre triunfava sobre o mal,
que as pessoas más ganhavam tanto quanto as pessoas boas e que,
sempre que meus pais queriam me ferrar, eles o fariam.
— Estou aqui se você quiser conversar, Elka. Eu sei que eles
colocam você no inferno, mas você é uma adulta agora e não precisa fazer
tudo sozinha. Essa é a beleza dos amigos. Ombros fortes. — Ela deu um
sorriso e pegou metade do meu sanduíche vegetariano do prato.
— É a única maneira que eu sei, mas espero mudar isso. —
admiti. Apoiar-se nas pessoas não era fácil e nada na minha vida tinha sido
fácil desde que me mudei para a Tulip.
— Em outro lugar. — disse ela, e não foi uma pergunta.
— Sim. Todo mundo provavelmente pensa que eu matei Austin pelo
dinheiro do seguro, para que fiquem felizes em me ver sair. — Doía dizer,
mas sair desse tempo seria mais fácil porque não havia uma vida inteira de
lembranças e mágoas aqui. Dessa vez, foram alguns momentos frios e
ótimas lembranças. E alguns ruins também.
— Você está errada sobre isso, mas eu posso ver que você não
acredita.
— Por que ele faria isso, Penny? Todo mundo fica me dizendo que
cara de stand-up ele é, como ele é legal e gentil com os outros, mas eu
não estou vendo esse cara. Não basta dele, pelo menos. — E eu fui a
idiota que dormiu com ele. Me apaixonei por ele.
Penny deu um sorriso que não era mesquinho, mas era...
estranho. — Alguns homens enlouquecem quando caem. Eles não sabem
como lidar com isso, não estão prontos para isso e fazem uma bagunça
em tudo antes de consertá-lo. Acho que é nessa categoria que Antonio se
encontra.
— Isso não melhora nada disso. — Certamente não minha dor.
— Então esqueça ele. E o resto de nós? Não fizemos você se sentir
bem-vinda e cuidada desde que se mudou para cá? Por que isso não é
suficiente?
— É. — eu insisti. — Mas não posso viver minha vida com alguém
tentando ativamente me expulsar da cidade. Ninguém pode viver assim
para sempre. — E foi nisso que tudo aconteceu, o fato de que isso nunca
terminaria. — Pensei nisso de todos os ângulos e não posso fazê-lo. Já vivi
meus primeiros vinte e quatro anos como uma decepção e não posso fazê-
lo novamente. Não vou.
— Bem, eu não posso discutir com isso, mas não vou desistir de
fazer você ficar em Tulip. Você é o tipo certo de esquisito para esta
pequena cidade e acho que todos ficaríamos melhor com você por
perto. — Suas palavras trouxeram lágrimas aos meus olhos e quando
Penny passou os braços em volta de mim e me apertou, deixei um pouco
de adeus às mulheres que abriram seus corações para mim e me
chamaram de amiga.
— Obrigada por dizer isso, Penny.
Ela saiu com um sorriso triste, mas eu não fui enganada por um
segundo. Nos próximos dias, haveria um grupo de mulheres na minha
porta fazendo uma proposta para eu ficar, o que significava que eu tinha
menos de vinte e quatro horas para montar um plano e deixar a cidade.
Elka estava me evitando, mais como me ignorando completamente
e honestamente, eu não podia culpá-la. Isso não significava que eu estava
tentando fazê-la falar comigo, porque não estava. Em vez disso,
fui encerrado, por isso acordei cedo esta manhã e fui fazer uma longa
corrida para limpar minha mente. Não deu certo, minha mente estava clara
ou focada, já que Elka se recusava a me ver quando apareci na casa dela,
recusava-se a falar comigo quando ligava. Inferno, eu não conseguia nem
fazê-la retornar uma maldita mensagem de texto.
Novamente, não que eu a culpasse. Eu não fiz. De modo
nenhum. Estraguei tudo. Fiz suposições que eu não deveria ter e magoei
seus sentimentos no processo. Pior, eu a fiz sentir-se indesejada, assim
como notei o quão devastador seria para ela.
A corrida não fez nada para me ajudar a descobrir o que dizer para
ela quando a visse no tribunal. Como eu sabia exatamente onde ela estaria
hoje, decidi emboscá-la e, por emboscada, quero dizer mostrar meu
apoio. E para mostrar a ela o quanto ela significava para mim. Isso não
significava que eu tinha idéia do que dizer, mas nesse momento eu tinha
que entender que as palavras viriam.
Ou elas não fariam.
Às cinco para as nove, entrei na sala do juiz Mayburn e parei em
frente às portas giratórias, e eu as apreciei menos quando elas bateram
nas minhas costas. — Parece que eu não era o único com essa idéia. —
O tribunal estava cheio de pessoas, a maioria delas do lado
esquerdo. Atrás da mesa vazia.
— Não é tão especial, afinal. — Preston murmurou ao meu lado, um
sorriso presunçoso em seu rosto.
Ele não estava errado. Todo mundo apareceu. Nina e Janey
estavam na primeira fila, é claro, mas também Bo e Penny, prefeito
Ashford, Ry e até Nate. Parece que Elka teve um impacto em mais do que
apenas em mim. Diferentemente de mim, essas pessoas eram todas
inteligentes o suficiente para apreciá-la desde o início. — Sim, acho que
não. Onde está Elka?
Preston deu de ombros. — Ninguém sabe. Ela está trancada em
casa há dias. Nina acha que está fazendo as malas e saindo da cidade.
Merda. Esse pensamento nunca passou pela minha cabeça, o que
eu não deveria ter. Elka não era de Tulip, este não era o lar dela. Na
verdade não.
Mas ela queria que fosse e eu tirei isso dela. — Droga.
Preston bateu nas minhas costas e deu um sorriso simpático. — Não
ouça Nina. Eu acho que você ainda tem uma chance. Você os vê. — ele
apontou para onde os pais de Elka estavam conversando com o advogado
bem vestido, os três parecendo o proverbial peixe fora d'água em suas
roupas e acessórios caros. Miles Nyland usava calças caras de lã, apesar
do calor, uma camisa Oxford azul-celeste com gravata e pontas de
asas. Clara usava calça branca com uma blusa vermelha e sapatos de
salto alto que seria mais apropriado para uma reunião da Liga Júnior do
que um tribunal da cidade pequena. — Eles são a razão pela qual Elka está
chateada, não você.
— Eu os trouxe aqui.
— Você estava tentando ajudar, ela vai entender.
— Talvez. — Elka era uma bela mulher com um grande coração
amável que poderia ter lhe causado problemas se não tivesse
desembarcado em Tulip, em circunstâncias normais, ela poderia ter
entendido. — Mas eu tenho sido uma merda para ela desde o começo,
acho que ela não vai.
— Se ela te ama, ela vai.
Isso era uma grande merda de se dizer. Ela me amava, ela mesma
disse, mas isso foi antes de eu estragar tudo. Antes de eu violar sua
confiança e provar todas as piores coisas que ela acreditava sobre si
mesma. — Agora vem o juiz.
Mayburn entrou na sala curvado com um sorriso brilhante no rosto
enquanto se dirigia para o banco, sorrindo e acenando para muitos de seus
amigos e vizinhos nos assentos abaixo. — Bom Dia. Temos uma grande
participação hoje de manhã, estou perdendo algumas coisas na minha
agenda, Judy?
Judy balançou a cabeça e manteve o olhar fixo no calendário enorme
que estava em sua mesa à esquerda do juiz. — Não, juiz.
— Tudo bem então. — ele sorriu e bateu o martelo que
sempre parecia colocar um sorriso ainda maior em seu rosto. — O tribunal
está agora em sessão. Hoje estamos aqui porque Miles e Clara Nyland
querem impedir Elka de cobrar a apólice de seguro de vida da qual é
beneficiária. Pare-me se eu falar alguma coisa errada. — O advogado da
Nyland se levantou, perturbado pela informalidade de Mayburn.
— Nosso entendimento é o mesmo, Meritíssimo.
Eles iam e voltavam e eu olhei ao redor da sala, imaginando onde
diabos Elka estaria. Essa era sua chance de enfrentar os pais, dizer a eles
onde empurrá-los, e ela não apareceu. Isso significava que ela tinha
terminado de lutar ou já tinha ido embora?
— Bom. Nyland optou por não comparecer a esta audiência, por
motivos pessoais.
— Meritíssimo. — o advogado estava de pé novamente, carrancudo
para ninguém em particular.
— Depois de revisar as evidências, a Sra. Nyland saiu com minha
assistente. — outro aceno para Judy. — Mas este é um tribunal e, como
tal, devemos cumprir as leis e regras e tal. Tocaremos a evidência para o
registro e depois tomarei minha decisão.
Os sons de conversas murmuradas em todo o tribunal surgiram,
curiosidade, fofocas e teorias foram os principais tópicos, enquanto todos
esperavam que Judy configurasse o laptop conectado à tela plana
gigante doada pelos pais de Preston.
Finalmente, a tela preta se dissolveu em um rosto sorridente que
parecia com Elka. A pele de Austin estava pálida, fazendo com que seus
cabelos loiros cor de morango parecessem mais vermelhos quando ele se
sentou em uma cama com roupa de cama azul escura. Olhos chocantes e
azuis sorriam para a câmera, as sardas na ponta do nariz eram a única
diferença real entre ele e Elka. — Eu sei que isso não é algo que você faria
por si mesma, embora nenhuma pessoa com coração ou cérebro possa
culpar se você o fizer. Felizmente, você me fez fazer isso por você. Dentro
da minha pilha de revistas, você encontrará uma apólice de seguro de vida
por uma quantia absurda de dinheiro. — O sorriso dele era largo,
semelhante ao de Elka, quando ela teve aqueles raros e desprotegidos
momentos de felicidade. — Você foi privada de tudo normal por minha
causa e, embora eu estivesse muito agradecido por ter você ao meu lado,
odiava que fosse uma prisão para você. Minha irmã e minha melhor
amiga. — Ele balançou a cabeça, ondas frouxas fazendo-o parecer tão
malditamente jovem que foi de partir o coração. — Este é meu presente
para você e eu estarei morto, então você tem que aceitá-lo ou a companhia
de seguros do mal pode ficar com ele. Pegue esse dinheiro e vá para um
desses pinos no mapa do seu armário, conquiste o mundo e realize seus
sonhos. Inferno, faça com que alguns dos meus também
venham correndo, saltando de um avião ou escalando uma montanha
grande. Sinta falta de mim todos os dias, garota, porque vou sentir muita
falta de você, mas não chore muito. Você é uma chorona feia. — Ele riu
de novo e enxugou discretamente algumas lágrimas dos olhos. — Te
amo. Viva grande. — Ele piscou para a câmera, o rosto pálido ainda cheio
de vida e luta, não pronto para dizer adeus.
Olhos tristes, mas tentando esconder, assim como sua irmã.
Saí do tribunal antes do juiz tomar sua decisão, porque estava claro
que Elka não havia feito nada errado e provavelmente teria encontrado
uma maneira de fazer Austin voltar atrás se soubesse antes da morte
dele. Eu precisava chegar em casa, para ela. Agora. Ela não precisava
ficar sozinha, não agora. Não quando eu sei que ela passou o fim de
semana inteiro assistindo aquele vídeo, imaginando se ela era digna disso.
Eu precisava fazê-la ver que ela era, que eu pensava que ela era
digna. Ouvir que até Austin sabia que tipo de inferno Elka tinha vivido era
desanimador. Foi realmente doloroso saber que ela não tinha uma
vida própria até agora. E fui eu quem ameaçou sua nova vida. — Droga!
— Seu irmão era um exemplo de amor desinteressado, gastando o que
provavelmente era uma pequena fortuna para compensar tudo o que ela
sentia falta por causa dele. Não, não ele, por causa dos pais dela.
Agora eu podia entender a profundidade de sua dor por sentir falta
dele e isso me deixou ainda mais determinado a fazê-la me ouvir. Elka
precisava de mais do que apenas um pouco de carinho, ela precisava de
alguém para deixá-la brilhar. Para mostrar a ela o quão especial ela
realmente era.
* * *
— Você está indo. — Não foi a coisa mais cintilante que eu já disse,
mas entrar na garagem para ver outro maldito trailer bloqueando a calçada
me jogou para dar uma volta.
— Esse é o plano. — Ela não olhou para cima, o que foi bom para
mim, porque eu não tinha minhas palavras ainda e porque ela ainda era
uma visão muito boa para esses olhos. — Por que você está aqui Antonio?
— Achei que era hora de conversarmos. — Ficou claro que Elka não
tinha planos de facilitar as coisas para mim.
Ela zombou e empurrou de seu lugar no chão, onde havia
empacotado livros apenas recentemente desempacotados. — Você quer
dizer agora que tem provas inequívocas de que eu não sou a pessoa
terrível que você pensa que sou? Não, obrigada.
— Eu mereço isso. — concedi porque a havia condenado sem fatos.
— Muito bem, mas obrigada pela sua permissão. — Mesmo que ela
estivesse chateada comigo, eu gostei dessa versão impetuosa, não pegue
prisioneiros da minha pequena fada.
— Eu não sou... merda, Elka, pare de torcer tudo o que eu
digo. Estou tentando me desculpar por...
— Você não entende Antonio, eu não quero suas desculpas. Eu
queria que você confiasse em mim, me visse antes que você se
decidisse. Era o que eu queria. — E mais uma vez, o que ela queria não
importava. Ela não precisava dizer isso para eu saber que
estava pensando nisso.
— Então você está dizendo que é tarde demais? — Eu não
suportava ouvir isso, nem por um maldito segundo. — Eu estrago uma
vez...
Ela riu e era pura amargura descarada. — Uma vez? Não vamos
fazer isso, Antonio. Sabendo que você teve... — ela parou e quando seus
olhos azuis pousaram em mim, seu sorriso estava triste. Quase
melancólico. — um monte de experiência de aprendizado.
Eu tinha certeza de que não era isso que ele estava prestes a dizer,
mas também não tinha certeza de que queria ouvir o final original dessa
frase. — Você não quer saber como tudo acabou?
— Que diferença isso faz, Antonio? — A acusação tácita está lá
fora, aqui em uma cidade pequena. Isso nunca será esquecido. Ela foi
humilhada acima de tudo o mais e, naquele momento, eu desejei poder
fazer tudo melhor para ela.
— É aí que você está errada. Quase toda a maldita cidade apareceu
para apoiá-la no tribunal hoje. Todos estavam sentados atrás de
sua cadeira vazia, encarando seus pais e o advogado deles. — A
expressão atordoada e de olhos arregalados em seu rosto não tinha preço
e se ela não estivesse tentando sair da cidade na próxima brisa forte, eu
poderia ter conseguido encontrar o humor nela.
Ela chupou um pouco e deu um passo para trás antes de cair no
sofá. — Então, todos viram o vídeo?
— Da coisa incrível que seu irmão fez por você? Sim. Todos vimos o
quanto Austin te amava e o quanto ele viu. Como ele acreditava em você
e isso não é nada para se envergonhar. Nada mesmo.
Ela caiu para frente e soprou um cacho perdido do rosto. — Talvez,
mas dizer que não faz assim.
— E se eu te pedisse para ficar? — Foda-se, não havia motivo para
se esquivar do arbusto, talvez a abordagem direta desse certo dessa vez.
Ela olhou para cima e nossos olhares travaram, uma intensa onda
de calor e algo muito mais poderoso que a luxúria entre nós como um fio
elétrico. Tão brava quanto ela estava comigo e tão determinada quanto
Elka a ir embora, ela não podia mais olhar para mim. — Você está me
pedindo para ficar, Antonio? — Ela se levantou e balançou a cabeça,
acenando com a cabeça para descontar minhas palavras antes mesmo de
eu dizer isso. — Não responda isso. Não importa.
— O inferno que não faz. — eu rosnei. — Se não importasse, eu
poderia responder. — Ri agora. — E isso não incomodaria você. — Ela
abriu a boca para me dizer o quão errado eu estava, mas nada saiu.
Duas vezes. — Você está errado.
— Tudo bem, então sim, eu estou pedindo para você ficar. Pedindo
que você me dê, nos dê uma chance real.
— Eu não posso fazer isso.
Sua voz vacilou e eu sorri, e dei outro passo à frente. — Não pode
ou tem muito medo? — Tive a sensação de que era um pouco dos dois.
— Por que eu não deveria ter medo? Você me machucou
repetidamente e pelo que posso dizer, sem nenhuma razão. —De braços
cruzados, Elka estava decidida. Mas ela estava aberta a ser persuadida.
Me convencer a falar. Não, sem falar, me abrindo e derramando
minhas entranhas por toda a sua sala de estar boêmia e semi-
embalada. — Posso? — Ela assentiu e deslizou do sofá para a cadeira,
enrolando-se até os braços envolverem as pernas, o queixo apoiado nos
joelhos. — Quando eu morava em Nova Orleans, havia uma garota. Uma
mulher chamada Sadie. Namoramos por alguns anos, mas eu não diria
que estávamos falando sério.
— Vocês moravam juntos? — Suas sobrancelhas se juntaram
adoravelmente e eu me perguntei se era ciúme ou curiosidade ociosa.
— Não. Passava a maioria das noites no apartamento dela, mas ela
tinha uma chave para o meu. E esse pequeno fato é o motivo pelo qual eu
fui um idiota com você. Sadie foi morta por um serial killer. — Ela acelerou
como eu sabia que faria, mas eu não conseguia olhar para ela, não até
terminar. — Que atacava prostitutas.
— Você namorou uma prostituta? — Percebendo como era sua
pergunta, seus olhos azuis ficaram cômicos. — Não que eu esteja
julgando, mas quando você não está sendo mal-humorado, você é meio
gostoso.
— Bom saber. — Seus lábios tremeram, mas o sorriso nunca veio e
ela fez um sinal para eu continuar falando. — Eu não sabia que ela era até
depois que encontrei seu corpo. Em retrospectiva, era óbvio. O lugar dela
não tinha objetos pessoais, mas quem era eu para julgar se o meu também
não tinha?
— Sinto muito que isso tenha acontecido com você, Antonio.
— Eu também. — eu disse, minhas palavras afiadas e amargas. —
Sinto muito por ter deixado a atração física me cegar para o que estava
bem na minha frente.
— Besteira.
Eu olhei para cima e vi Elka me encarando, um brilho desafiador em
seus olhos azuis. — Desculpe?
— Você me ouviu. Besteira. Não descarte o amor que você teve por
ela porque ela mentiu para você. Admita que está bravo com isso, ainda
mais irritado porque não pode enfrentá-la. Você não precisa aceitar isso.
— ela disse com uma certa dose de sabedoria e eu sabia que ela estava
falando sobre Austin.
— Só assim, hein?
— Não, não apenas assim. Leva tempo e esforço. Se você quiser ir
além, você irá. Eventualmente.
— E enquanto isso? — Eu senti como se estivesse falando mais do
que meu luto por Sadie e, pela primeira vez desde que entrei, eu tinha
esperança.
— Você toma um dia de cada vez, por mais banal que isso
pareça. Tente abafar as más lembranças com as boas. Aprenda com seus
erros. Não sei, não sou exatamente uma especialista.
— Você parece muito sábia para mim. — Muito sábia para uma
mulher da idade dela. Elka deveria estar por aí cometendo erros e
aprendendo com eles, tentando e falhando antes de encontrar o
sucesso. — Fique, Elka.
— Por quê? Porque você se sente mal? Bom, estou feliz com
isso. Talvez você trate melhor a próxima recém-chegada. — Ela deu de
ombros e deu um sorriso triste antes de sair da cadeira. — Tenha uma boa
vida, Antonio.
— Não me sinto mal. Quero dizer, é claro que me sinto mal porque
fui um idiota completo com você, mas não é por isso que quero que você
fique. — Levantei-me e fui até ela, menos de um pé nos separava e, de
perto, pude ver as manchas marrons nadando em seus olhos azuis.
— Por quê? — A pergunta saiu sem fôlego, expectante. Quase
esperançoso.
— Porque eu... porque. — Cristo, isso era mais difícil do que eu
pensava que seria. — Droga, porque eu te amo Elka.
Ela ofegou e colocou a mão na boca enquanto a cabeça balançava
lentamente, lado a lado. — Você não... você... não pode.
— Eu amo, eu amo você e quero que você fique em Tulip. Nos dê
uma chance. — Ela não parecia convencida, mas também não parecia
pronta para fugir, então eu diminuí a distância entre nós e coloquei uma
mão em seus ombros, a outra em seus cabelos. — Por favor, Elka. Fique.
A confusão cintilou em seu olhar e depois na esperança. —
Antonio, não basta dizer isso porque você acha que é o que eu quero ouvir.
— Eu não estou. Eu não. Você disse isso porque achou que eu
queria ouvir?
— Eu sabia que você não gostaria de ouvir.
— É aí que você está errada. — eu disse a ela e abaixei minha voz
para um sussurro pressionado perto de seu ouvido. — Eu não sabia o
quanto queria ouvir até você dizer. No passado. — Ela ofegou e olhou para
mim com uma pergunta em seus olhos e eu aproveitei o momento,
pressionando minha boca na dela e beijei Elka até que ele fosse uma
massa desossada em meus braços. — Agora eu quero que você me ame
novamente. Sério. — Quanto mais eu falava, mais eu sentia até os
ossos. No fundo da minha alma.
— Eu também quero isso, Antonio, mas estou com medo. — Ela
colocou uma mão no meu peito enquanto a outra enrolava em torno dos
cabelos na base do meu pescoço. — Eu quero você, mas estou com
medo. — Então, antes que eu pudesse dizer outra palavra, ela estava me
beijando com todo o coração, seu corpo.
Me dizendo que ela ainda me amava também.
— Não deveríamos ter feito isso. Não desta vez nem da última
vez. Ou o tempo antes disso.
— Qual dos momentos? — perguntou Antonio, sua voz era um
sorriso cheio de orgulho masculino. — Porque houve muitas vezes. — Ele
beijou um lado do meu peito e depois o outro antes de beijar o mamilo. —
Muitas, muitas vezes.
Eu olhei pelo seu beijo, pela maneira como suas mãos subiram
suavemente da minha panturrilha até a minha coxa e sobre meu quadril
até que seus polegares roçaram mamilos duros. — Qualquer uma
delas. Eu não deveria ter atacado você assim. Não sem falar primeiro, pelo
menos.
— Você não me ouve reclamando. — Suas mãos pararam de se
mover e seus olhos penetraram na minha alma. — Não é segredo que você
me quer, Elka. O que eu quero saber é que você pode me amar de novo?
Como se eu parasse de amá-lo. Eu nem sei quando aconteceu, ou
como. O que dizia sobre mim que eu podia me apaixonar tão facilmente
por um homem que me tratou da maneira que Antonio fez? Nada gentil,
isso era certo. — Não se trata de saber se posso ou não.
— É disso que se trata. — ele insistiu e beijou a pele quente entre os
meus seios. — Você pode?
Meus olhos se fecharam quando seus lábios envolveram meu
mamilo e eu arqueei para ele, a palavra — Sim. — rasgou meus lábios.
Antonio sorriu e olhou para mim, a esperança nadando nos
redemoinhos âmbar e verde de seus olhos. — Sim, você pode ou sim a
isso. — ele perguntou e passou uma língua no meu peito.
— Sim para ambos, mas sim, eu poderia te amar Antonio.
— Mais uma vez. — ele esclareceu. — Você pode me amar de novo.
— Não. Eu amo você. — Negar seria apenas cruel e eu não tinha
vergonha de como me sentia, pelo menos não achava que estava.
— Mas você não confia em mim. — ele adivinhou corretamente o
motivo da minha hesitação. — Eu não mereço isso, ainda não. Mas só
posso provar que você está errada se ficar.
Não queria deixar Tulip, mas não podia ficar. — Eu não posso viver
isso, Antonio.
— Não há nada para viver. Nada mesmo.
Como se estivesse provando seu argumento, a campainha tocou e
eu gemi em seu peito. — Viu o que você fez?
Ele riu e o som reverberou por todo o meu corpo, tornando ainda
mais difícil me afastar dele. — Pelo menos eles nos deram algumas horas
antes de nos emboscar.
Eu olhei para o relógio. Cinco e quinze. — Merda, você está
certo. Faça companhia a eles, sim? — Meu corpo inteiro pegou fogo com
a maneira como seu olhar percorreu meu corpo, lento e tentador até que
eu pudesse sentir suas mãos em todo o meu corpo, seu corpo bombeando
no meu. — Continue me olhando assim e... — Suspirei ou talvez estivesse
desmaiando. Quem poderia dizer?
— E você vai ficar aqui e deixar-me mostrar o que devemos esperar
também depois do trabalho todos os dias?
Isso soava incrível. — Todo dia? Agora estou intrigada. — A
campainha tocou novamente e eu olhei para Antonio antes de desaparecer
no banheiro.
Felizmente, ele não se juntou a mim e dez minutos depois eu
encontrei minha sala e cozinha cheias de pessoas. — Meu convite se
perdeu no correio?
A sala ficou em silêncio quando mais de uma dúzia de pares de olhos
se viraram para mim, todos com sorrisos iguais. —Viemos comemorar sua
vitória. — disse Janey erguendo uma garrafa de espumante.
— E convencê-la a ficar. — Penny disse, parecendo fabulosa em
outro de seus ternos sem sentido.
— Eu digo isso. — disse Antonio enquanto entrava na sala com duas
taças de champanhe incompatíveis, entregando-me uma. — Fique. — ele
pediu silenciosamente beijando minha mandíbula.
— Quem disse que eu estava indo a algum lugar? — Ok, então essa
foi uma pergunta idiota, mas todos pareciam tão esperançosos e eu odiava
decepcioná-los.
— Todas as caixas na sua sala de estar, por um lado, e você não
comparecer no tribunal. — Nina rebateu, sobrancelha arqueada, me
desafiando a contradizê-la. — Onde você vai?
— Ainda não decidi.
— Bom. Isso significa que ainda há tempo para mudar de idéia. Se
Antonio ainda não fez isso. — Todos os olhos se voltaram para o homem
e ele sorriu e levantou o copo.
— Eu estou trabalhando nisso. — Ele olhou para mim e me puxou
para perto, sem hesitar em dar um grande beijo de parar o coração na
minha boca na frente de todos que eu conhecia na cidade.
— Você não deve beijar assim com sua mãe assistindo. — eu
sussurrei em seu ouvido, que fez sua cabeça se inclinar para trás quando
uma risada alta irrompeu de sua barriga.
— Quando devo beijar você assim, Elka?
Eu me arrepiei com a maneira como ele disse meu nome. —
Sempre.
Um sorriso iluminou seu rosto com minhas palavras e percebi que
eram verdadeiras. Tão envergonhada quanto eu ainda me sentia, Antonio
estava certo. Essas pessoas me apoiavam. Eles gostavam de mim. Só por
mim. — Eu gosto do som disso.
— Desde que você está ficando carregada. — Nina começou sem
um pingo de decoro. — Eu quero que você saiba que espero um presente
de chá de panela verdadeiramente épico. — Ela deu um sorriso largo e
piscou. — Enviei alguns links.
— Isso explica o balanço do sexo. — eu respondi, o que fez todos
caírem na gargalhada. Exceto Preston, que ficou com um tom alarmante
de rosa.
— Oh bom. Eu não queria enviar links duplicados para
ninguém. Estamos nos sentindo esperançosos. — ela disse com um falso
sorriso excessivamente entusiasmado no rosto e eu revirei os olhos.
Eu não estava aqui há muito tempo, mas em Tulip já me sentia em
casa. — Obrigada a todos por aparecerem hoje. Por me apoiar.
— Isso é o que os amigos fazem. — Ry insistiu e deu um beijo na
bochecha de Penny. — Agora tire Antonio de sua miséria e diga a ele que
você vai ficar.
Ficando. Não tinha um certo apelo que tinha muito a ver com o
grande homem sexy de cabelos negros ao meu lado. Eu não precisava
confiar totalmente nele para ficar porque não estava ficando para ele. —
Com licença. — Agarrei sua mão e puxei-o para o meu quarto e no
banheiro principal, onde fechei a porta atrás de nós. — Eu não vou ficar
com e por você. — eu soltei.
O sorriso dele diminuiu. — Precisávamos de tanta privacidade para
isso?
Droga. — Eu vou ficar em Tulip, mas não vou ficar por você. Eu vou
ficar por mim, Antonio. Para mim.
— Tudo bem. — disse ele lentamente, desenhando várias sílabas. —
O que isso significa?
Suas palavras puxaram um sorriso no meu rosto. — Isso significa
que eu te amo Antonio e quero que você me mostre o cara que vi quando
ele não estava sendo mau comigo.
— Eu vou. — prometeu.
— Eu desafio você a me fazer me apaixonar ainda mais por você,
Antonio. — Eu não tinha certeza de que isso era possível, enquanto olhava
para o rosto confuso, mas esperançoso, as mãos nos quadris e um sorriso
lindo iluminando seu rosto.
— Desafio aceito, querida.
— Bom. — sorri e pulei na bancada, puxando sua boca para a
minha. — Quanto tempo antes que eles esperem que voltemos lá para
baixo? — Mesmo quando perguntei, minhas mãos trabalharam no botão
dele até que eu o tivesse, duro e grosso, na minha mão.
— Pelo menos um orgasmo. — ele sorriu. — Talvez dois.
— Promessas, promessas. — Minhas pernas envolveram sua
cintura e eu fechei meus olhos, deleitando-me com o modo como Antonio
cumpriu essa promessa e muito mais.
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