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Joachim Koeper Meio século de carreira dá um menu de histórias Fugas
Tarantula Eles carregam a chama do heavy metal há 40 anos Cultura, 52/53
Já há locais a vacinar pessoas sem doenças na faixa etária dos 50 anos
Sociedade, 24/25 Economia, 37 Sociedade, 26
Histórias de quem procurou vingar apesar do período de crise Economia, 34 a 36
ISNN-0872-1548
Com o ritmo da vacinação contra a
covid-19 a ultrapassar as 100 mil
doses diárias, há pessoas na faixa
etária dos 50 anos que já estão a
receber a primeira dose em alguns
locais do país, porque há agrupa-
mentos que já não encontram uten-
tes com mais de 60 anos a quem
administrar a vacina. O aumento do
ritmo vai, por outro lado, permitir
que as pessoas a partir dos 60 anos
se inscrevam no portal para auto-
-agendamento já a partir do próximo
m-de-semana ou do início da sema-
na seguinte Sociedade, 25
Odemira
Governo violou regras na requisição civil do Zmar
Ambiente
CCDRN mantém chumbo a hotel no Douro de Mário Ferreira
PRR
Há 465 milhões para melhorias nos centros de saúde
Reportagem
Negócios que nasceram durante a pandemia
“Compromisso Social do Porto” UE fixa metas para o bem-estar social “O Indo-Pacífico será o lugar onde se escreverá a história deste século” Entrevista a Josep Borrell,
chefe da diplomacia europeia
Destaque , 4 a 11
esar
rama
NELSON GARRIDO
Abrir portas onde se erguem muros Director: Manuel Carvalho Sábado, 8 de Maio de 2021 • Ano XXXII • n.º 11.334 • Edição Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 1,80€
TEcmC
brir portas onde se erguem muros Director: Ma
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2 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
A frase “Estamos a falar de um parque de campismo em situação de insolvência em que o Estado é o maior credor” Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna
O contexto O Governo procedeu à requisição civil do complexo turístico Zmar, em Odemira, para albergar trabalhadores agrícolas e imigrantes que estivessem com covid-19 ou necessitassem de ficar em isolamento. A decisão gerou muitas críticas. Em resposta, Eduardo Cabrita afirmou que as estruturas em causa não estão ocupadas por pessoas com direitos de permanência, lembrando a situação de insolvência da empresa Multiparques a Céu Aberto, a detentora do complexo turístico Zmar e invocando o facto de o Estado ser o maior credor desta empresa. Os factos A insolvência da Multiparques a Céu Aberto foi decretada em Março e o Estado é um dos cerca de 420 credores (são reclamados 58,6 milhões de euros). Ao PÚBLICO, Pedro Pidwell, o administrador de insolvência do Zmar, detalha que a principal credora é empresa Ares Lusitani (empresa que controla 56,6% da Multiparques a Céu Aberto e que accionou o pedido de insolência), que detém 37% da massa falida, o que corresponde a 22,3 milhões de dívida. No segundo lugar, surge o Novo Banco, com 27% da massa falida, o que equivale a 16,2 milhões de euros de dívida. Surge uma entidade pública no terceiro lugar, a AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), que detém 9,9% da massa falida, o equivalente a 5,8 milhões de euros. Em resumo É falso que o Estado seja o maior credor da Multiparques a Céu Aberto — mesmo somando a dívida da AICEP aos 25% (capital social do Estado no Fundo de Resolução) da fatia do Novo Banco (16,2 milhões). L.B. e M.O.Por David Pontes
[O assédio] É mais profundo do que a ponta do icebergue que se tornou visível Jorge Moreira da Silva Director-geral de Denvolvimento da OCDE, ex-dirigente do PSD
Página dois
SEMANA SIM PROVA DOS FACTOS
SEMANA NÃO
INQUÉRITO PÚBLICO
Isabel Ayuso A sua vitória esmagadora nas eleições para o governo regional
de Madrid deu um novo fôlego ao PP e abriram uma crise à esquerda. Um excelente resultado que lhe abre portas para outros destinos políticos.
Menezes Leitão Em Odemira, o bastonário dos Advogados andou com as
prioridades trocadas. Eram os imigrantes e não os proprietários de um resort que mereciam a atenção por violação dos “direitos humanos”.
Pedro Siza Vieira O ministro anunciou que o Governo vai dar 60 milhões às
empresas para ajudar no aumento do salário mínimo e prepara medidas após o fim das moratórias. Afinal, há bem mais vida para lá do Estado.
Eduardo Cabrita O Governo chegou tarde a um problema que estava
identificado e ainda o fez com uma requisição civil mal elaborada e mal comunicada. Mais uma trapalhada de um ministro pródigo em as gerar.
Acredita que o #MeToo chegou finalmente a Portugal? As denúncias dão um sinal claríssimo de que este debate finalmente surgiu em Portugal, ainda que com três anos de atraso. Contudo, preocupa-me a forma voyeurista como o debate está a ser feito. Assim que algumas mulheres, a quem temos o dever de agradecer, denunciaram episódios de assédio sexual ocorridos há vários anos em ambiente laboral, em vez de um aumento do escrutínio sobre as empresas ou organizações onde estes episódios ocorreram, surgiu uma enorme pressão para que revelassem os nomes dos agressores. Ora, parece-me evidente, lendo os relatos que
Nuno Dias Treinador da equipa de futsal do Sporting, juntou esta
semana, a uma longa colecção de troféus, o segundo de título de campeão europeu frente ao Barcelona. Em Alvalade há boas razões para comemorar.
António Ramalho O desfilar de acusações no Parlamento e os
prémios atribuídos a administradores quando o banco dá prejuízo são mais um capítulo na novela negra do Novo Banco.
Falso
O Estado é o maior credor do Zmar?
foram fazendo, que aquelas mulheres, pelo menos nesta fase, mais do que uma punição legal, procuram sensibilizar a sociedade para a realidade e garantir que as mulheres estarão mais protegidas por uma cultura de tolerância zero em relação ao assédio. Seria inteiramente legítimo que denunciassem os alegados agressores — e admito que em alguns casos acabem por fazê-lo —, como legítima é a opção de, não indicando nomes, colocar pressão sobre a sociedade para que as lacunas existentes — ao nível das políticas públicas e nas empresas — sejam superadas. Escreveu no DN que o statu quo “contribui para um inaceitável ambiente de permissividade com os agressores e indiferença para com as vítimas”. Como mudar? O assédio sexual insere-se num contexto mais vasto de abuso de poder e uma dimensão cultural que não se resolve apenas com legislação. Mas a ausência dessa regulação, responsabilizando as instituições, assim como os seus dirigentes, pelo encobrimento daqueles abusos, contribui para um inaceitável ambiente de permissividade com os agressores e de indiferença com as vítimas. Deveríamos aproveitar o surgimento deste debate — sobre um tema que é mais profundo do que a ponta do icebergue que se tornou visível — para fazer um escrutínio sobre as políticas, no Estado e nas organizações privadas, de prevenção e de protecção das vítimas. O que tem sido feito, pelo Estado e pelo sector privado, para prevenir o abuso sexual? Quais os
mecanismos postos em prática para proteger as vítimas face a riscos de retaliação resultantes da denúncia? Já estava na OCDE quando surgiram denúncias de assédio sexual em actividades humanitárias. O que se fez? Há dois anos, surgiu um enorme escândalo relacionado com denúncias de abuso sexual sobre raparigas e mulheres, por parte de profissionais da ONG Oxfam envolvidos em actividades de ajuda humanitária no Haiti. Sendo a OCDE responsável pelas políticas de cooperação para o desenvolvimento dos maiores doadores mundiais, entendi, enquanto responsável por esta direcção na OCDE, que era imprescindível avançar para a adopção de regras. Aprovámos aquelas que se tornaram as primeiras regras internacionais de prevenção e combate ao assédio sexual em actividades de cooperação. Primeiro, adopção de políticas, planos de acção e códigos de conduta (fiscalizados e monitorizados). Segundo, planos internos de formação de recursos humanos e de novas regras de contratação de funcionários, por exemplo prevenindo a contratação de perpetradores através de uma melhor triagem de antecedentes. Terceiro, a implementação de sistemas de protecção das vítimas, estabelecendo protocolos seguros de reporte e de comunicação das denúncias (protegendo as denunciantes de eventuais retaliações), assim como sistemas de apoio financeiro às vítimas. Ana Sá Lopes
MICHAEL DEAN/OECD
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 3
Toda a gente sabe que Odemira está longe de ser o único sítio, talvez até nem o pior, mas a pandemia desorganizou tudo Há anos que a PJ, o SEF, a PSP e a GNR conhecem as situações. São simplesmente casos de evidente desastre ecológico, de atentado humanitário e de obscena exploração
“Infelizmente, pode haver mais clandestinos do que pensávamos, nessa realidade subterrânea. É preciso apurar o que há de ilegal e, se, eventualmente, há qualquer coisa de criminoso” Marcelo Rebelo de Sousa, sobre a questão de Odemira
“Perdemos a con ança dos trabalhadores” Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista britânico, depois dos maus resultados nas eleições de quinta-feiraSociólogo
Toda a gente sabia
Toda a gente sabia
que a utilização da
água dos perímetros
de rega, tanto em
Odemira como em
muitas mais
localidades, não estava de
acordo com as boas regras
técnicas, qualquer que seja o
ponto de vista: da quantidade
de água utilizada, das
respectivas condições
sanitárias, dos produtos a que
essas águas se destinam e dos
horários e calendários de
acesso.
Toda a gente sabia que havia
culturas forçadas a mais, estufas
mal concebidas e mal
construídas, uso abusivo de
culturas hiperintensivas ou
ultra-intensivas. Sabia-se que
havia produção excessiva de
hortofrutícolas graças ao uso
desmedido de factores de
produção e com abuso de
mão-de-obra precária, muito
barata e muito mal paga.
Sabe-se que em certas
operações do montado, na
criação de gado, nas vindimas e
em outros cultivos intensivos,
como olivais e estufas chegadas
aos regadios, especialmente na
área de influência de Alqueva,
mas também nos perímetros do
Baixo Alentejo e do Ribatejo, o
uso e o abuso dos factores de
produção, das condições
climáticas e da força de trabalho
imigrante e desprotegida são
quase a regra…
Toda a gente sabia que há, no
Alentejo, mas também no
Ribatejo, no Algarve e mesmo
em partes das Beiras,
agricultores e proprietários sem
escrúpulos nem remorsos que
se aproveitam deste sistema sem
lei.
Toda a gente sabe que muitos
proprietários deste género de
empresas e de negócio
entendem que devem ser os
governos e as autarquias a pagar
e manter os alojamentos de que
eles se servem para depositar e
amontoar os seus estrangeiros
em péssimas condições de
salubridade e conforto.
Toda a gente sabia que
os estrangeiros,
marroquinos,
árabes, sudaneses,
nepaleses,
tailandeses,
romenos, indianos e outros,
vinham para aqui trabalhar por
qualquer preço, em quaisquer
circunstâncias, directamente ou
António Barreto
Grande angular
Coitado do CDS. É um partido náufrago Eduardo Cabrita Em resposta à exigência do CDS para que se demita
IMPORTA-SE DE REPETIR?
rago abritaa
a
através de terceiros países (como
a Espanha), de avião, de
comboio, de carro, de camião
TIR ou de barco.
Toda a gente sabia que havia
redes de negreiros e de
tra cantes de gente que trazem
trabalhadores de qualquer parte
do mundo por preços colossais
na passagem, mas irrisórios no
vencimento, cam-lhes com os
passaportes, trabalham sem
contrato, sem cláusulas de
regresso, sem bilhetes de avião
garantidos e só lhes pagam,
quando pagam, muito mais
tarde ou nos países de origem.
Toda a gente sabe que se
negoceiam, há anos,
documentos o ciais,
passaportes, autorizações de
trabalho e residência, atestados
médicos, contratos, licenças de
construção de alojamentos e de
estufas.
Todos sabiam que alguns
trabalhadores, sobretudo
mulheres, mas também
homens, deviam prestar outros
serviços íntimos fora das horas
de trabalho agrícola.
Toda a gente sabia que havia
dezenas ou centenas de casas
onde, em cada quarto previsto
para dois beliches ou quatro
camas, dormiam dez ou 20
pessoas, sendo que muitos
destes alojamentos eram
subalugados pelos angariadores
e negreiros.
Toda a gente sabia que em
muitos casos, certamente a
maioria de alojamentos sazonais
deste género, não havia água
corrente potável, nem água
quente, nem duche, nem
banho, nem esgotos.
Toda a gente sabe que as
câmaras estão ao corrente
destas situações, defendem a
prosperidade económica da
região e do município, sabem
perfeitamente em que
condições vivem aquelas
pessoas, mas têm de manter a
vida e os negócios.
Toda a gente cou a saber que
as autoridades locais regionais e
nacionais, juntas de freguesias e
câmaras municipais, polícias,
serviços de segurança social e
de inspecção sanitária,
inspecção de trabalho, a
autoridade tributária, os
observatórios de tudo que por aí
proliferam, os serviços de
ambiente e de protecção da
natureza, assim como os de
protecção civil, todos estão há
muito tempo ao corrente das
situações, todos sinalizaram
pessoas e empresas, todos
abriram processos e todos
iniciaram inquéritos.
Toda a gente sabe que
Odemira está longe
de ser o único sítio,
talvez até nem o
pior, mas a
pandemia
desorganizou tudo. Os
ministérios da Agricultura, do
Trabalho, da Administração
Interna, da Saúde e da
Economia, o SEF, a PJ, a GNR e a
PSP estão perfeitamente ao
corrente do que se passa, há
anos, nas zonas produtoras
destes cobiçados géneros no
comércio externo.
O Ministério da Agricultura e
seus serviços conhecem bem o
que aconteceu em Odemira e o
que está a acontecer em dezenas
ou centenas de locais do país
onde se vive de culturas
forçadas regadas, em regime de
exploração intensiva, para
fornecer angariadores e
intermediários que recolhem e
transportam rapidamente para
os centros de exportação que
levam aos mercados de
primores europeus…
Há anos que a PJ, o SEF, a PSP
e a GNR conhecem as situações,
abriram múltiplos processos,
sinalizaram muitas pessoas,
muitas situações e muitas
instalações, nesta e noutras
regiões. São simplesmente casos
de evidente desastre ecológico,
de atentado humanitário e de
obscena exploração.
Há, todavia, algo que parece
desconhecido para as
autoridades, os autarcas e os
serviços: o que pensam e
sentem as populações locais?
Que efeitos têm, para as suas
vidas, estas situações? Que
consequências têm estes factos
na saúde dos habitantes locais,
na educação, na qualidade do
ambiente, na vida económica,
no comércio e na vida social?
Toda a gente, ministros,
directores-gerais e directores de
serviços públicos, polícias,
autarcas, deputados,
proprietários, produtores e
comerciantes garantiram
publicamente que conheciam a
situação, que tinham a
consciência tranquila, que
cumpriam os seus deveres e que
esperavam que os outros
cumprissem também os seus…
Um mundo perfeito!
“É interferência na justiça também um link que me mandaram para umas escutas telefónicas no tempo da Casa Pia em que está o dr. António Costa a tentar interferir na justiça. Isso está aí no Youtube” Rui Rio, presidente do PSD
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4 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Destaque Cimeiras europeias no Porto
Promessa cumprida: UE vai ter metas para o bem-estar socialAssinatura do “Compromisso Social do Porto” é um marco “histórico”, nas palavras de António Costa. Documento é hoje subscrito pelos restantes líderes
“Nunca tinha aconteci-
do e aconteceu: é
histórico”, regozijou-
se o primeiro-minis-
tro, António Costa,
minutos depois da
assinatura do “Compromisso Social
do Porto”, um documento “abran-
gente e ambicioso” que con rma a
determinação dos parceiros sociais
europeus e das organizações repre-
sentativas da sociedade civil em
cumprir as metas de nidas num pla-
no de acção para a implementação
do Pilar Europeu dos Direitos
Sociais, apresentado pela Comissão
Europeia — e que será hoje subscrito
pelos chefes de Estado e Governo da
União Europeia, numa reunião
informal no Porto.
“Já esperávamos por este momen-
to desde Gotemburgo, por isso
podemos dizer verdadeiramente
que esta foi uma jornada histórica.
Cumprimos uma promessa”, refor-
çou o presidente do Parlamento
Europeu, David Sassoli, referindo-se
à cimeira realizada em 2017 na cida-
de sueca para proclamar os 20 prin-
cípios do Pilar Europeu dos Direitos
Sociais. No Porto, os líderes euro-
peus e os parceiros sociais compro-
meteram-se a passar das palavras ao
actos: “Temos um acordo alargado,
com metas quanti cadas e que pre-
vê a monitorização da sua execu-
ção”, a rmou António Costa.
O acordo assenta nos três grandes
objectivos do plano de acção dese-
nhado pela Comissão Europeia e
anunciado em Março, a saber: que
ao longo da década a União Euro-
peia trabalhe para garantir que 78%
da população adulta está emprega-
da; que 60% da força de trabalho
possa bene ciar de acções de forma-
ção anuais e que 15 milhões de pes-
soas (das quais pelo menos cinco
milhões de crianças) possam sair da
situação de pobreza ou exclusão
social.
Para a redacção do compromisso
foram ainda levadas em conta as
reivindicações do Parlamento Euro-
peu vertidas numa resolução apro-
vada por larga maioria no plenário,
e os contributos dos parceiros
sociais e da sociedade civil — que
durante a tarde de ontem puderam
apresentar e debater as suas propos-
tas e sugestões em três painéis temá-
ticos (sobre trabalho e emprego,
quali cações e inovação, e bem
estar e protecção social) da confe-
rência de alto nível que foi organiza-
da pela presidência portuguesa da
União Europeia na Alfândega do
Porto.
“Os parceiros sociais não só assi-
naram como participaram na elabo-
ração deste documento, assumindo
o compromisso de dar execução a
este plano de acção e de alcançar
estes resultados”, frisou o primeiro-
ministro. Hoje, será a vez dos restan-
tes líderes europeus.
“Quando começou a pandemia,
dissemos aos nossos cidadãos que
não os deixaríamos desamparados”,
lembrou David Sassoli. “Vamos ago-
ra desenvolver políticas concretas
para que ninguém que para trás”,
Rita Siza, Bruxelasnem nesta fase de recuperação da
crise provocada pela covid-19, nem
durante o processo de transição
energética e digital que vai levar a
uma mudança do paradigma econó-
mico na Europa.
A presidente da Comissão Euro-
peia, Ursula von der Leyen, salien-
tou a importância que terá o fundo
de recuperação Próxima Geração
UE nesse processo — e voltou a ape-
lar aos Estados-membros que ainda
não o zeram que apressem a apre-
sentação dos seus planos nacionais
de recuperação e resiliência, e con-
cluam o processo de rati cação da
decisão de novos recursos próprios
da UE, para que o executivo comu-
nitário possa nalmente organizar
a operação de emissão de dívida
europeia no valor de 750 mil milhões
de euros para nanciar o fundo.
Mas igualmente importante, con-
siderou, será que os Estados-mem-
bros olhem para as metas do plano
de acção para os direitos sociais, que
considerou “ambiciosas mas realis-
tas e totalmente concretizáveis”.
Costa com Macron: entusiasmo dos líderes com o compromisso assumido no Porto
Vamos agora desenvolver políticas concretas para que ninguém fique para trás David Sassoli Presidente do Parlamento Europeu
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 5
NELSON GARRIDO
“São metas quantitativas, porque
assim temos a certeza de que vão ser
cumpridas”, disse, acrescentando
que a intenção é que os progressos
sejam avaliados no exercício do
Semestre Europeu.
A União Europeia “deve continuar
a avaliar a estabilidade dos grandes
factores macroeconómicos, mas
teremos agora novos critérios: não
só o crescimento do Produto Interno
Bruto, a evolução do dé ce ou da
dívida, mas também os resultados
de redução da pobreza, a criação de
emprego, o compromisso em forma-
ção”, completou António Costa.
Para o presidente do Conselho Euro-
peu, Charles Michel, trata-se de
olhar para uma nova bússola, onde
o ponteiro aponta para o bem-estar
dos cidadãos europeus.
“Temos uma economia social de
mercado que é única no mundo, que
oferece oportunidade e protecção
para todos”, a rmou Ursula von der
Leyen, no seu discurso na Alfândega
do Porto. “Sabemos que o mundo
está em transformação. Temos uma
economia em mudança, uma socie-
dade a envelhecer, um planeta a
aquecer”, enumerou. “E em cima
disto chegou um vírus que encolheu
o nosso PIB, roubou vidas e destruiu
muitos postos de trabalho.”
O momento da recuperação da
crise é, por isso, a altura certa para
“renovar o contrato social europeu,
desenvolvendo respostas inovado-
ras e inclusivas que nos permitam
devolver a con ança aos cidadãos”,
considerou António Costa.
O que se discutiu à margem da cimeira
Qualificação dos trabalhadores
A União Europeia tem investido menos do que os EUA e a China na transição digital, está a atrasar-se na
inovação e tem de evitar que o mesmo aconteça com a qualificação dos trabalhadores. A pergunta é: quem vai pagar a factura? Esta foi a questão central para parceiros sociais, representantes de governos nacionais, deputados europeus e membros da Comissão Europeia que estiveram ontem na Cimeira Social, realizada no Porto pela presidência portuguesa do Conselho da UE, à procura de um consenso para a qualificação e a inovação.
Com patrões e sindicatos de acordo, o Presidente francês Emmanuel Macron foi um dos que tentaram resumir a posição dos governantes. Macron afirmou que é “necessário mais dinheiro” e “decisões alinhadas” para acompanhar as “grandes transformações” na inovação e nas qualificações. Antes, o líder da OCDE tinha dito que “os legisladores não podem fazer tudo, mas têm certamente muito que fazer”.
E a comissária Margrethe Vestager, vice-presidente da Comissão, aproveitou o momento para então insistir num aviso aos governos. “Depois de vos ouvir a todos, é difícil perceber porque temos um problema, visto que estamos todos de acordo que é estratégico [apostar nas qualificações e na inovação]. (...) É preciso dar atenção ao que disseram os parceiros sociais, que pedem tempo. O tempo é essencial para investirmos em nós próprios. Vamos investir muito dinheiro na nossa recuperação verde e digital. É uma oportunidade única”, enfatizou.
Concluiu depois: “Precisamos de agir agora e por isso é que a Comissão tem sido tão meticulosa com todos os Estados-membros, dizendo-lhes que os programas de recuperação e resiliência não são planos de despesas, são planos de metas. Quantas pessoas poderão adquirir competências digitais? Como vão fazer para trazer mais mulheres para estes campos? Se pudermos ter um acordo sobre isto, esta será uma cimeira para a história.” V.F.
OIT: é precico investir na formação
A crise provocada pela covid-19 veio pôr a nu desigualdades “dramáticas” que, se não forem travadas a
tempo com o investimento em formação, na igualdade de género e na protecção social, correm o risco de se perpetuarem no tempo. O alerta partiu do secretário-geral da Organização Internacional do Trabalho, Guy Ryder (na foto), durante uma sessão dedicada ao tema “Trabalho e Empregos” que decorreu à margem da Cimeira Social. “Falamos muito sobre resiliência, mas o mundo do trabalho obviamente não estava preparado para uma crise destas proporções”, afirmou, enuncian- do as várias lições que ficaram da experiência vivida nestes 15 meses e sublinhando que a pandemia “revelou desigualda- des já existentes e dramáticas”, mesmo nas sociedades europeias onde as mulheres, os jovens e os precários foram afectados com mais violência.
“Se não a conseguirmos travar, esta desigualdade crescente vai manter-se no futuro”, alertou. A resposta a estes desafios pode estar nos princípios e objectivos do Pilar Social Europeu e do plano de acção. Estes dois elementos “podem responder a uma exigência que ouço muitas vezes um pouco por todo o mundo: a necessidade de um novo contrato social e de um novo acordo no trabalho. Não sei muito bem o que será, mas, se pegarmos no pilar social, conseguiremos dar esse novo contrato social às pessoas”, afirmou. O director-geral da OIT destacou que a pandemia veio mostrar que é possível organizar o trabalho de forma diferente e que “os Estados podem intervir a uma escala que ninguém imaginaria”, frisando que a crise veio acelerar tendências como a transição para uma economia digital e mais verde. Nesse con- texto, defendeu, é preciso inves- tir na formação, na protecção social e na igualdade de género e na regulamentação das novas formas de trabalho. “O mundo do trabalho em 2030 vai ser muito
diferente do que é hoje. Pode ser da forma que queremos que seja ou pode ser da forma
que não queremos que seja. É aqui que as pessoas que estão nesta sala poderão fazer a diferença”, desafiou. R.M.
Rendimento mínimo europeu: como criá-lo?
A proposta de uma recomendação de Bruxelas sobre rendimento mínimo europeu prevista para 2022
aponta na direcção certa, mas arrisca-se a ter poucos efeitos práticos se não for transformada em directiva aplicável a todos os Estados-membros da União Europeia. Esta foi a convicção mais ou menos generalizada entre os participantes numa das sessões da Cimeira Social do Porto, dedicada a discutir o bem-estar e a protecção social dos habitantes de uma Europa que soma 91 milhões de pobres e excluídos e que está ainda a recuperar de duas crises: a do euro e a provocada pelo novo coronavírus. Confrontada com essa questão, a ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, lembrou que os objectivos definidos no Pilar Europeu dos Direitos Sociais, entre os quais se encontram a meta de, até 2030, reduzir em 15 milhões os europeus em situação de pobreza e exclusão social, “implicam um esforço significativo e desigual para os países” da UE a 27. Logo, “os que quiserem ir mais rápido têm a vantagem de poder ir, enquanto os outros podem avançar mais devagar, sem deixarem de estar comprometidos”, referiu, repetindo uma ideia antes defendida pelo comissário europeu para o emprego e direitos sociais, Nicolas Schmidt, que, reconhecendo embora que uma directiva teria outro peso jurídico, sustentou que a existência de uma mera recomendação “não significa que não lhe será dada continuidade”.
“Vamos todos trabalhar arduamente com todos os parceiros sociais para encontrar soluções adequadas”, asseverou, dizendo que a forma adequada de proteger as pessoas mais vulneráveis “não é obrigá-las a ir a um banco alimentar”. Entre as metas já calendarizadas, encontram-se o compromisso de criar uma plataforma europeia de combate à situação de sem-abrigo e a recomendação para a criação de uma Garantia Europeia para a Infância, capaz de ajudar os Estados a garantir o acesso das crianças necessitadas a um conjunto de serviços essenciais, em pé de igualdade com os seus pares. N.F.
rComo s
,
diferser dque
sd
15% Acordo prevê, entre outras metas, que 15 milhões de pessoas (das quais pelo menos cinco milhões de crianças) possam sair da situação de pobreza ou exclusão social
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6 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Destaque Cimeiras europeias no Porto
A Ásia “não se pode reduzir
à China” e a Europa tem
que ampliar o foco para
uma constelação de
países muito mais vasta e
vibrante do ponto de
vista económico. Com a Rússia o
desencontro é “crescente” e com
Biden “mudámos de mundo”. O
espanhol Josep Borrell aponta os
desa os que a Europa enfrenta na
frente externa.
Devemos considerar esta
cimeira da União Europeia com
a Índia como histórica? Alguns
analistas classi cam-na desta
forma.
Não devemos abusar dos
superlativos. Mas considero muito
importante que a União Europeia
estabeleça laços mais fortes com a
Índia.
E porquê?
Porque a Índia é a maior
democracia do mundo. É, aliás, o
país mais populoso do planeta e é
uma potência em potência. Mas, ao
mesmo tempo, também é um país
com grandes problemas internos.
E tem, além disso, uma herança
cultural portuguesa e inglesa.
Acabei de chegar de Londres, da
cimeira do G7, onde tivemos como
convidados os países do
Indo-Pací co.
Índia, Austrália, Nova Zelândia,
Japão, Coreia do Sul…
E África também. A Índia está no
coração do Indo-Pací co, que vai
da costa oriental de África até à
Califórnia. É uma razão
fundamental para reforçarmos os
nossos laços com a Índia.
Mas é também uma mudança,
porque, até recentemente,
quando a Europa olhava para a
Ásia só via a China, a China, a
China. Porquê esta mudança de
olhar agora?
Não é outro olhar. Digamos que
completa o olhar anterior. O
Indo-Pací co será o lugar onde se
escreverá a história deste século. E,
nesta história, a China tem um
papel muito importante. A China
Teresa de Sousa
NELSON GARRIDO
não gosta da denominação de
Indo-Pací co, porque a entende
como um esforço para cercá-la com
países que lhe são hostis ou que a
querem enfrentar — Índia, Coreia
do Sul, Estados Unidos. Mas, para
nós, na Europa, a Ásia não se pode
reduzir à China.
Sim, mas até agora era assim.
Sim. Porque não tínhamos uma
parceria estratégica com a ASEAN,
por causa do azeite de palma, um
problema que agora foi superado.
Já podemos ter uma relação mais
profunda com estes países, que são
todos extraordinariamente
vibrantes em termos de
desenvolvimento económico. E a
China era muito importante para a
Europa porque era muito
importante para a Alemanha.
Porque a Alemanha a via como
um gigantesco mercado para as
suas exportações.
E porque investia muito, também.
Se olharmos para as relações
comerciais entre a União Europeia
e a China, veri camos que metade
era entre a Alemanha e a China.
Mas a Alemanha não é tudo. Há
Chefe da diplomacia europeia
“O Indo-Pacífico será o lugar onde se escreverá a história deste século”
agora que ampliar o foco europeu
para o Indo-Pací co. Esta região
enorme também inclui a China,
mas é uma constelação de países
muito mais vasta.
E é uma zona do mundo que vai
crescer muitíssimo nos tempos
mais próximos.
E a Europa ainda não tem
consciência su ciente desse facto.
Ontem, o comissário Valdis
Dombrovskis disse que a
rati cação do Acordo de
Investimento com a China
estava provisoriamente
suspensa. Isto signi ca o quê?
Digamos que temos tido
ultimamente uma relação difícil,
por causa das sanções que
aplicámos mutuamente e que,
seguramente, não criaram o
melhor ambiente para que o
Parlamento Europeu tenha pressa
em rati car o acordo. Mais vale
sentarmo-nos e esperarmos.
Os líderes vão discutir logo à
noite [ontem] a política externa
da União Europeia. Nos últimos
tempos, as relações com a
Rússia também não têm
Josep Borrell admite que a Europa tem de olhar para além da China. E lembra que, com Biden, “o mundo mudou”
Entrevista
propriamente melhorado, para
dizer o mínimo. Por causa da
Ucrânia e por causa de Alexei
Navalny e da repressão contra
os seus apoiantes. Como olha
para o futuro desta relação,
tendo em conta que a Rússia é o
nosso grande vizinho de leste e
não esconde a sua vontade de
desestabilizar a Europa?
Aqui também temos um problema.
As sanções que Moscovo impôs ao
presidente do Parlamento Europeu
e a alguns comissários implicam
uma escalada e um desencontro
crescente. Mas a minha obrigação
como diplomata é tentar que o
sangue não chegue ao rio, como
dizemos em Espanha. Mas
reconheço que as coisas não têm
corrido bem.
Aliás, a União Europeia está
rodeada de zonas de
instabilidade e de con ito por
quase todos os lados. Rússia,
Síria, Turquia, Cáucaso,
Mediterrâneo Oriental. Como é
que a Europa pode lidar com
isto?
É verdade que a nossa vizinhança,
[Com a Rússia] a minha obrigação como diplomata é tentar que o sangue não chegue ao rio, como dizemos em Espanha. Mas reconheço que as coisas não têm corrido bem
Os direitos de propriedade intelectual de todos os conteúdos do Público – Comunicação Social S.A. são pertença do Público. Os conteúdos disponibilizados ao Utilizador assinante não poderão ser copiados, alterados ou distribuídos salvo com autorização expressa do Público – Comunicação Social, S.A.
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8 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Destaque Cimeiras europeias no Porto
Os líderes europeus já estão
refeitos da surpresa, depois
de terem ouvido o Presi-
dente dos Estados Unidos,
Joe Biden, sem aviso, avan-
çar a ideia de uma suspen-
são dos direitos de propriedade inte-
lectual em que assentam as vacinas
contra a covid-19, para poder aumen-
tar a sua produção e universalizar a
sua distribuição. “Na União Europeia
batemo-nos há um ano para que a
vacina seja declarada um bem públi-
co universal. Estou muito feliz por
constatar que agora há outros que
nos acompanham no mesmo objec-
tivo”, reagiu o Presidente de França,
Emmanuel Macron, quando questio-
nado sobre a hipótese de um levan-
tamento temporário das patentes, à
chegada à Cimeira Social do Porto.
No nal dos primeiros dias de tra-
balhos, a presidente da Comissão
Europeia, Ursula von der Leyen,
repetiu que os europeus estão aber-
tos à ideia e sua discussão. Mas, para
a fazer, é preciso “ter uma visão de
360 graus”, a rmou. “Precisamos de
vacinas agora. Mas a curto e médio
prazo, a renúncia aos direitos de pro-
priedade intelectual não resolverá os
problemas, não nos trará uma única
dose a mais”, vincou.
A mensagem já bem a nada do
lado europeu é que, antes de discutir
soluções que impliquem a transfe-
rência de tecnologia de ponta, o que
é preciso é continuar a apostar e
investir no aumento da capacidade
de produção e na aceleração da dis-
tribuição e administração das vaci-
nas.
Do lado da UE, antes de se pensar
em “dar a propriedade intelectual a
laboratórios que não sabem produzir
e não vão produzir” vacinas contra
a covid-19 tão cedo, como a rmou
Macron, deve garantir-se o funciona-
mento das cadeias de abastecimento
e produção e promover-se a solida-
riedade sob a forma de donativos e
contribuições para mecanismos
como a Covax.
Ou, como resumiu Von der Leyen,
o que é preciso fazer, “a curto e
médio prazo”, é investir no aumento
da capacidade de fabrico de vacinas,
assegurar a exportação das vacinas
que estão a ser produzidas, e ser
generoso na partilha das doses dis-
poníveis.
“A União Europeia é a única região
deste mundo que está a exportar
vacinas em grande escala. Cerca de
50% do que está a ser produzido na
Europa é exportado para quase 90
países, incluindo os da Covax. Até
agora, foram exportados cerca de
200 milhões de doses para fora da
UE, e cerca de 200 milhões de doses
foram distribuídas pelos países euro-
peus”, apontou Von der Leyen, para
logo a seguir lançar o convite a
“todos aqueles que participam no
debate de uma renúncia aos direitos
de propriedade intelectual” a segui-
rem o exemplo europeu e autoriza-
rem a exportação das vacinas que
produzem.
“Para haver solidariedade, o que
é preciso é que as vacinas circulem,
e para isso acontecer não é possível
bloquear as exportações dos ingre-
dientes ou das vacinas, como fazem
hoje os anglo-saxónicos”, apontou
Emmanuel Macron. “Hoje, 100% das
vacinas produzidas nos Estados Uni-
dos vão para o mercado americano.
Na Europa, somos os mais generosos
do mundo”, comparou.
Rita Siza, Bruxelas
Vacinas
UE: levantar patentes não resolve questão do acesso a curto e médio prazo
Para a UE, proposta de Biden não resolve necessidade no imediato
DADO RUVIC/REUTERS
desde Gibraltar até ao Báltico,
passando pelo mar Negro e pelo
Cáucaso, está numa situação de
tensão constante de con ito e,
naturalmente, teremos de fazer um
esforço para reequilibrar estas
relações. Mas, começando pela
Turquia, já temos um plano de
trabalho e melhores perspectivas
quanto ao nosso relacionamento.
Esperamos também que a Líbia
estabilize para podermos controlar
melhor os uxos migratórios. E
claro que temos de continuar a
apoiar a Ucrânia e, ao mesmo
tempo, insistir para que leve a cabo
as reformas necessárias para se
integrar melhor no espaço
democrático europeu. Ou seja,
temos de a levar a fazer reformas e
manter o apoio contra a agressão
russa.
Como vê o papel dos Estados
Unidos nesta relação
complicada, sobretudo com a
Rússia? Porque, com Joe Biden,
tudo passou a ser diferente.
Disse bem: com Biden é tudo
diferente. Tivemos agora uma
reunião do G7 em Londres, como
lhe disse, com a presença de
Antony Blinken, e a verdade é que
mudámos de mundo. É outro
mundo. Em alguns casos, podemos
ter interesses diferentes, mas está
claro que há uma vontade
manifesta de cooperarmos. E o
primeiro teste a esta cooperação
vai ser o pacto nuclear com o Irão,
que se está a renegociar neste
momento e em que a União
Europeia tem um papel relevante
para impulsionar a vontade de
todos de voltar ao ponto em que
Donald Trump o dinamitou. É um
dos nossos objectivos mais
importantes para as próximas
semanas.
Toda a gente fala desta nova
ideia de “autonomia
estratégica” da União Europeia,
mas cujo conteúdo ainda não é
completamente claro. Esta
vontade de autonomia é
entendida como sendo em
relação aos EUA? Ou, com
Biden, as coisas tendem a voltar
a ser como eram antes?
É verdade, toda a gente fala e, por
vezes, parece que estamos a
debater o sexo dos anjos. Mas há,
talvez, uma maneira clara de
entender melhor essa ideia,
recorrendo ao conceito contrário.
Qual é o conceito contrário de
autonomia?
Dependência.
Dependência. Queremos ser
dependentes? Não.
Não, mas essa autonomia leva à
frente a quali cação de
estratégica.
Houve um momento em que não
tivemos autonomia estratégica em
relação a um mero pedaço de pano
— as máscaras com que nos
protegemos da pandemia, que não
éramos capazes de fabricar na
NELSON GARRIDO
se mede muito bem com os EUA
e mesmo com a China.
Não nos agelemos tanto. Mas é
verdade que, nas tecnologias
digitais, a Europa não acompanhou
os Estados Unidos e mesmo a
China. E, por isso, há que
recuperar este atraso, porque
temos todas as capacidades para o
fazer.
Que lições, além dessa, a Europa
aprendeu com este ano terrível
da crise pandémica?
Em primeiro lugar, aprendemos o
valor da unidade. Hoje, os
europeus entendem que a unidade
europeia é mais necessária do que
nunca e creio que estão mais
dispostos a construí-la.
E olhando para o mundo, o que
é que aprendemos? Por
exemplo, sobre as tremendas
desigualdades entre países?
A pandemia terá como efeito
negativo o grande aumento das
desigualdades mundiais. Os países
mais pobres sofreram e continuam
a sofrer muito mais com esta crise.
Mas espero que o mundo tenha
aprendido que tem de estar mais
preparado para fazer frente a
grandes riscos globais. Falamos
muito, e bem, das alterações
climáticas como uma grande
ameaça global. Mas agora vimos
como uma pandemia não respeita
fronteiras, nos atinge a todos e só
pode ser combatida por um
esforço conjunto de todos. Oxalá
que nos tenha permitido reforçar
o sentido comum de toda a
humanidade.
Crê que o multilateralismo, pelo
qual a Europa se continua a
bater, tem agora uma maior
oportunidade?
Se tivéssemos sido mais
multilaterais, teríamos combatido
melhor a pandemia. Sem dúvida.
Qual é a alternativa ao
multilateralismo? É a lei do mais
forte. O multilateralismo é apenas
uma forma de criar leis que
limitem o poder dos mais fortes e,
por isso, os mais poderosos não
gostam muito dele.
quantidade necessária. Depois,
demo-nos conta de que não
tínhamos autonomia em relação
aos medicamentos, porque não os
fabricávamos. Imagine um cenário
ainda pior: não termos autonomia
para fabricar os nossos sistemas de
comunicações. Creio que os
europeus precisam de aprender
que têm de ser capazes de resolver
os seus próprios problemas.
Mas está a falar sobretudo em
termos económicos.
E não só. O primeiro requisito da
autonomia é a tecnologia.
E, nesse domínio, a Europa não
Houve um momento em que não tivemos autonomia estratégica em relação a um mero pedaço de pano — as máscaras com que nos protegemos da pandemia, que não éramos capazes de fabricar na quantidade necessária. Creio que os europeus precisam de aprender que têm de ser capazes de resolver os seus próprios problemas
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10 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Destaque Cimeiras europeias no Porto
A China e a democracia são
os dois “motores” que
talvez permitam relançar
uma parceria que teria
tudo para dar certo, mas
que continua por realizar.
Uma declaração política de sete
páginas e um protocolo de outras
sete relativo à chamada
“conectividade”, que podem ser
lidas sem encontrar nunca a
palavra China. E, no entanto, “a
China está omnipresente nas
entrelinhas”. Se há alguma coisa de
novo neste novo entusiasmo
europeu e uma nova abertura
indiana em favor do fortalecimento
de uma relação que tinha tudo para
ser fácil, mas nunca o foi, é
justamente que as duas “maiores
democracias do mundo” têm hoje
perante a China um olhar cada vez
mais crítico. Há, pois, uma razão
geopolítica que torna este
reencontro entre a Europa e a
Índia, no Porto, uma boa
oportunidade para iniciar um
caminho de aproximação.
A União Europeia está a mudar
lentamente a sua estratégia face à
China. Essa mudança não se deve
apenas a Joe Biden ou à pandemia,
mesmo que os dois “factores” a
tenham acelerado. Teve início em
2019, quando a UE adoptou pela
primeira vez uma visão mais ampla
da sua relação com Pequim, que
incluía o conceito de “rival
sistémico”, sem pôr em causa a
cooperação em múltiplos dossiers
globais. Por outras palavras, a
Europa passou a ver a China, não
apenas como um parceiro bom para
os negócios, mas como uma
potência autoritária que desa a as
democracias ocidentais. O velho
sonho (ou pretexto) segundo o qual
a cooperação era o melhor caminho
para a progressiva abertura da
China deixou de ter sustentação à
medida que o regime endurecia.
Mas houve ainda um capítulo nal.
A 30 de Dezembro do ano passado,
por forte pressão da Alemanha e
ainda durante a sua presidência, a
União assinou com a China um
Acordo Global de Investimento, que
estava a ser negociado sem grande
sucesso há sete anos. A pressa não
caiu bem do outro lado do
Atlântico, onde Joe Biden se
preparava para entrar na Casa
Branca. Pequim regozijou-se com
uma “enorme “vitória diplomática.
O acordo, que ainda não foi
rati cado pelo Parlamento
Europeu, já teve melhores dias. Os
con itos políticos entre Bruxelas e
Pequim, sobretudo por causa dos
uigures do Xinjiang e da repressão
em Hong Kong, sucedem-se. Na
quarta-feira, o vice-presidente da
Comissão responsável pelo
comércio, Valdis Dombrovskis,
anunciou que a rati cação estava
“provisoriamente suspensa”.
Os governos europeus, ou pelo
menos parte deles, começaram
também a entender que a vasta
região do Indo-Pací co não se reduz
à China e que é do seu interesse
estratégico diversi car as relações
com outros países da região,
incluindo com um país de mais de
mil e duzentos milhões de
habitantes (será em breve o país
mais populosos do mundo), com
um crescimento económico
superior ao da China e com a
enorme vantagem de ser uma
democracia. Os dois documentos
que vão ser aprovados no Porto
referem várias vezes o reencontro
entre “as duas maiores democracias
do mundo” (em termos
populacionais), estabelecendo
implicitamente uma diferença
essencial.
Uma boa oportunidade Portugal viu aqui uma
oportunidade. Durante a
preparação do programa do trio de
presidências (Alemanha, Portugal,
Eslovénia), em Julho passado,
Berlim anunciou a sua vontade de
organizar uma cimeira com a China
em Leipzig, que acabou por ser
virtual graças à pandemia. Ljubljana
anunciou a sua intenção de realizar
uma cimeira com os países dos
Balcãs Ocidentais e, se possível,
com os Estados Unidos. Portugal
resolveu apostar numa cimeira com
a Índia que descongelasse as
negociações comerciais,
bloqueadas desde 2013, e
permitisse uma nova visão, mais
geopolítica, dos interesses europeus
na vasta região do Indo-Pací co.
“Do ponto de vista de Portugal, este
novo impulso às relações
económicas e políticas com a Índia
Encontro de líderes no Porto: o início de uma bela amizade?
Análise
Teresa de Sousa
A Índia é o 10.º maior parceirocomercial da UEComércio total de mercadoriasem 2020, em milharesde milhões de euros
A UE é o segundo maior destinodas exportações indianasValor das exportações,em milhares de milhões de dólares
Fonte: Eurostat; Banco Mundial e Departamento de Comércio da Índia PÚBLICO
Índia
Coreia do Sul
Noruega
Japão
Turquia
Rússia
Suíça
Reino Unido
EUA
China
Bélgica
Nepal
Holanda
Bangladesh
Alemanha
Reino Unido
Singapura
Hong Kong
China
EAU
UE
EUA
586
555
444,7
251
174,2
132,5
109,4
90,9
89,4
65,3
28,5
45,8
51,6
16,4
13,1
10,4
9,7
8,9
8,7
8,6
7,3
6,8
próximos anos”, do ponto de vista
económico e estratégico.
Houve resistências a uma agenda
ambiciosa? Houve, mas a
diplomacia portuguesa viu-as mais
como o receio de criar expectativas
em relação a um país que mantém
uma política económica ainda
fortemente proteccionista.
Bruxelas vê sobretudo as altíssimas
tarifas aplicadas à importação de
automóveis. Santos Silva
reconhece que “a União Europeia
ainda sofre de uma certa
autolimitação” quando se trata de
desenvolver a “dimensão
extra-económica” das suas
parcerias com o mundo. Em
Bruxelas, a grande preocupação
parece ser ainda não “incomodar”
Pequim, insistindo em que esta
nova parceria não é contra a China,
nem tem nada a ver com a China. A
Alemanha ainda tem alguma
relutância em virar a página. Mas o
movimento está feito. E Lisboa tem
algumas razões de optimismo.
Em 2019, quando foi lançada a
Parceria Económica Regional
(RCEP, na sigla inglesa), que
englobou a China (a principal
ainda se tornou mais necessário
depois da saída do Reino Unido”,
disse ao PÚBLICO o chefe da
diplomacia, Augusto Santos Silva.
“Por uma questão de equilíbrio.” É
natural que a Espanha privilegie a
América Latina, a França a África, a
Alemanha a China e o Reino Unido
privilegiava, naturalmente, a Índia.
Deixar este lugar vazio era não
perceber que “a área geogra a do
Indo-Pací co será central nos
Os direitos de propriedade intelectual de todos os conteúdos do Público – Comunicação Social S.A. são pertença do Público. Os conteúdos disponibilizados ao Utilizador assinante não poderão ser copiados, alterados ou distribuídos salvo com autorização expressa do Público – Comunicação Social, S.A.
Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 11
impulsionadora), os dez países da
ASEAN, mas também o Japão,
Austrália, Nova Zelândia e Coreia do
Sul, a Índia decidiu car de fora,
argumentando que os seus
interesses não tinham sido levados
em consideração. Temia na altura
uma invasão de produtos chineses
baratos que agravasse ainda mais o
dé ce comercial que tem com a
China. Depois disso, o Governo
indiano tem procurado desenvolver
as relações económicas com o Japão
e com os países da ASEAN, mas a
necessidade de encontrar novos
grandes parceiros aumentou o seu
interesse pela União Europeia, que
é, de resto, o seu maior parceiro
comercial e o maior investidor
externo. A crescente tensão militar
com a China na fronteira dos
Himalaias é o outro elemento
fundamental que está a levar Nova
Deli a abandonar a sua tradicional
descon ança em relação ao
Ocidente.
“O aspecto mais signi cativo da
cimeira é a sua importância
simbólica”, diz Garima Mohan,
especialista da German Marshall
Fund dos Estados Unidos. “Para a
Declaração política UE-Índia em oito pontos
11. Respeito pelos Direitos Humanos Uma parceria estratégica que tem como base “a partilha dos interesses, dos princípios e dos valores da democracia, da liberdade, do Estado de direito e do respeito pelos Direitos Humanos” e a defesa do multilateralismo para enfrentar os desafios globais. 2. Um acordo de comércio Compromisso para o relançamento das negociações para um acordo de comércio “equilibrado, ambicioso, abrangente e mutuamente vantajoso”. As negociações foram interrompidas em 2013, depois de sete anos infrutíferos. A questão do acesso aos mercados, fundamental para a União Europeia, merece apenas a promessa de incentivar soluções que permitam contornar o tradicional proteccionismo indiano. 3. Cooperação científica e tecnológica São muitas as áreas em que as duas partes se comprometem a melhorar a sua cooperação científica e tecnológica, desde a exploração espacial e os transportes aéreos, até ao domínio digital, passando pela Inteligência Artificial e pela cooperação no domínio da saúde, do combate a futuras pandemias, no reforço da OMS ou na produção de medicamentos. 4. Migrações e mobilidade “Migrações e mobilidade” é outro dos capítulos da cooperação futura que interessam particularmente à Índia, incluindo o livre acesso às universidades europeias e a imigração para a Europa.
5. Reforma do Conselho de Segurança da ONU A União Europeia compromete-se com a futura reforma do Conselho de Segurança da ONU, que está bloqueada há quase uma década e que passaria pela sua abertura às novas potências
emergentes, para além dos cinco membros permanentes actuais. A declaração refere um Conselho de Segurança “mais efectivo, transparente, representativo das realidades contemporâneas. Países como a Índia, o Brasil, a África do Sul, o Japão ou a Alemanha são candidatos implícitos a um lugar permanente, mas ninguém acredita que um passo nesse sentido venha a ser dado num futuro próximo. 6. Espaço do Indo-Pacífico “mais aberto” As duas partes comprome- tem-se a contribuir para um “espaço do Indo-Pacífico” mais “aberto, inclusivo e regido pelas leis e normas internacionais”, respeitando “a integridade territorial, a soberania, a democracia, o Estado de direito, a liberdade de navegação e a resolução pacífica das divergências”. A mensagem é dirigida a Pequim e à prática de ingerência que leva a cabo no mar da China do Sul.
7. Combate às alterações climáticas O combate às alterações climáticas foi o capítulo mais difícil de negociar entre as duas partes. Na quinta-feira à tarde, ainda havia divergências quanto a algumas expressões referentes à aposta “nos combustíveis limpos, como o hidrogénio”, e nas energias renováveis. A Europa quer continuar a liderar este combate. A Índia ainda não está preparada para assumir compromissos mais firmes. 8. Conectividade Um segundo documento que o encontro de líderes vai aprovar é dedicado exclusivamente à chamada “conectividade”, ou seja, ao desenvolvimento de redes de transportes e de comunicações que liguem os dois grandes espaços geográficos. Uma resposta à nova Rota da Seda lançada por Xi Jinping em 2013? Alguns analistas consideram que é esse também o objectivo. Teresa de Sousa
que ganhou enorme relevância
durante a crise pandémica.
Não há tempo a perder A Europa já não tem muito tempo a
perder se quer marcar presença
numa região que, segundo dados da
própria Comissão Europeia,
registará nos próximos anos 85% do
crescimento económico mundial,
para além de representar uma
enorme percentagem da população
humana. O desa o exige estratégia,
rapidez e meios. A nova
Administração americana não está
parada, muito longe disso. Biden já
injectou nova vida no chamado
Quad (Diálogo Quadrilateral de
Segurança) — uma associação entre
as grandes democracias da região,
EUA, Japão, Austrália e Índia —,
fundamental para a contenção da
China. O seu grande objectivo é
atrair a Índia cada vez mais para
esta parceria regional. Alguns países
europeus, em particular, a França,
Alemanha e Holanda, já
perceberam a importância do Quad
numa questão vital para as suas
economias: a liberdade de
circulação marítima. A crescente
agressividade diplomática de
Pequim alimenta a descon ança
dos países da Ásia do Sudeste,
muito dependentes da economia
chinesa, que têm sido alvos
preferenciais da ingerência de
Pequim. O Conselho de Ministros
dos Negócios Estrangeiros já
mandatou Josep Borrell para
apresentar até Setembro uma
proposta de estratégia para o
Indo-Pací co.
O Reino Unido também não está
parado. Boris Johnson e Narendra
Modi realizaram na terça-feira uma
cimeira virtual (a pandemia
impediu a visita do líder britânico a
Nova Deli) com resultados positivos.
As duas partes subscreveram um
“road map” até 2030 para reforçar
os laços bilaterais, com destaque
para os domínios do comércio,
educação e defesa e um acordo de
investimento no valor de mil
milhões de libras.
O encontro entre os líderes
europeus e o seu homólogo
indiano decorre quando a Índia
está a viver uma enorme tragédia,
provocada pelo descontrolo da
pandemia. A falta de vacinas,
apesar da enorme capacidade de
produção indiana, completa este
quadro dramático. A América de
Biden já deu o primeiro passo no
sentido da suspensão das patentes
das farmacêuticas que criaram as
vacinas de forma a multiplicar a
sua produção. Ainda falta discutir
até que ponto esta medida pode ser
e caz. A Índia e a África do Sul
estão a liderar um grupo de mais
de 60 países que pedem a
suspensão das patentes, todas nas
mãos das farmacêuticas ocidentais.
Modi vai estar atento ao que os
europeus têm a dizer sobre isto.
TIAGO PETINGA/LUSA
A Europa já não tem muito tempo a perder se quer marcar presença numa região que registará nos próximos anos 85% do crescimento económico mundial Em Bruxelas, a grande preocupação parece ser ainda não ‘incomodar’ Pequim, insistindo em que esta nova parceria não é contra a China, nem tem nada a ver com a China. Mas o movimento está feito. E Lisboa tem algumas razões de optimismoÍndia, o que interessa é
compreender onde é que a Europa
está e se será, realmente, um
parceiro con ável. Entre a União
Europeia e a Índia, o elefante na sala
é a competição com a China”,
acrescenta.
Do ponto de vista europeu, a
Índia tem quase tudo o que é
preciso para a cooperação em
áreas que hoje são vitais para a
economia europeia — do digital ao
fabrico de medicamentos,
passando pelas redes de
infra-estruturas que podem vir a
representar uma alternativa à
nova Rota da Seda (Belt and Road
Iniciative), lançada por Pequim
em 2013 para aumentar a sua
in uência mundial, e ao interesse
comum na liberdade de circulação
marítima. A pandemia pôs a
descoberto os riscos de uma
enorme dependência da China em
múltiplas das cadeias de
abastecimento europeias.
Diversi car essas cadeias é hoje
um novo objectivo europeu. A
Índia, como diz o chefe da
diplomacia portuguesa, é “a
farmácia do mundo” — um sector
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12 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Espaço público
CARTAS AO DIRECTOR
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Impostos e classe média Há tempos, Susana Peralta deu
uma entrevista ao PÚBLICO em
que defendia, grosso modo, o
aumento de impostos para a classe
média de modo a, na sua visão,
valer aos pobres. O debate
aqueceu para logo esmorecer.
Agora voltou com um artigo de
Raquel Varela no mesmo jornal a 6
de Maio e a réplica de Susana
Peralta no dia seguinte. Em
súmula, Raquel Varela entende
que a classe média já está
empobrecida e não deverá “pagar
a crise”, mas sim os ricos e muito
ricos, que “não existem”... “pero
que los hay, los hay”. Susana
Peralta riposta que mesmo que a
classe média não seja “rica”... é-o
em relação aos pobres de
Portugal.
Convém notar — e não é
despiciendo — que Raquel Varela é
historiadora e Susana Peralta é
economista, o que talvez justi que
o mais fácil entendimento da
linguagem social da primeira vs o
léxico tecnocrático da segunda.
combate não se centrou no Vox,
como a rmou o director do
PÚBLICO, Manuel Carvalho, no
seu editorial intitulado “Lições
de Isabel Ayuso à direita de
Portugal”, mas, sim, no combate
ao PSOE, ao partido Unidas
Podemos e outros grupúsculos
esquerdistas. O “nosso” PSD
actual, e nesse aspecto estou de
acordo com o director do
PÚBLICO, “nem é liberal, nem
ultraliberal, nem
social-democrata”. É um partido
provinciano, destituído de ideias
e de verdadeiros líderes se
comparado com o pragmático e
assertivo PP espanhol.
Ao contrário do que pensa o
director do PÚBLICO, Isabel
Ayuso estará mais receptiva a
formar coligação — isto, se for
necessário — com o Vox do que
com qualquer outro partido.
Porque não tenhamos ilusões: o
Vox vai continuar a crescer em
Espanha e só o partido de Isabel
Ayuso poderá impedir esse
crescimento.
António Cândido Miguéis,
Vila Real
Dito isto... agora entro eu. Não
como um “narciso
paradigmático”, mas para dizer:
nas contas de Susana Peralta, sou
um dos 10% mais ricos
portugueses segundo o IRS;
licenciado em Medicina, tive uma
carreira hospitalar, avaliada nos
diversos passos, até ao topo da
função pública, estou reformado e
ganho de pensão mensal a quantia
líquida de 2955 euros. Não tenho
qualquer outro provento e o meu
património é um andar T3+1 e um
carro de gama média, além de
umas dezenas de milhares de
euros no banco. Leio muito e daí
comprar livros. Passo 15 dias de
férias em Maiorca. E visto-me no
Corte el.
Nada mais digo. Deixo à
consideração de quem lê e... de
Susana Peralta.
Fernando Cardoso Rodrigues,
Porto
A ADSE e a aldeia dos gauleses
O Estado português tem vindo a
implementar diversos serviços
digitais, para facilitar a vida dos
portugueses. Acesso digital a
diversos serviços, como Finanças,
Serviço Nacional de Saúde, etc. E a
assinatura de documentos através
da “assinatura digital”. Numa
teleconsulta, o médico prescreve
análises, uma “eco”, etc.
Envia-nos uma prescrição
electrónica, com assinatura
digital. Vamos ao computador e
imprimimos a prescrição.
Maravilha. Aqui entram os
“Astérix e Obélix” da ADSE.
Façam o favor de agarrar na
prescrição impressa e vão ao
consultório do médico, de carro,
comboio, táxi ou de bicicleta, para
o médico assinar com a
esferográ ca, por baixo da
assinatura digital, e colocar a
vinheta do costume. E aqui
chegamos ao título. Há sempre
alguém que resiste!
Nota: segundo fonte do
laboratório consultado, todos os
sistemas de saúde privados
aceitam a assinatura electrónica; a
ADSE, não.
Américo Rosa Martins,
Mataduços
Do trio ao trilho
O trio Odemira, que a morte
venceu, e saudosamente
recordado por todo o seu belo
passado musical, a todos nós
deixou contristados pelo seu
desaparecimento. Entretanto,
Odemira, pelos piores motivos,
saltou para as parangonas
noticiosas. Do trio de encantar,
Odemira passou para o trilho da
doença, da morte e da
escravatura.
E se, como agora dizem, a
população local e as autoridades
sabiam o que se passava, e não
agiram atempadamente, não se
pode manter por mais tempo
tão grave situação, face à
condição humana, que urge
solucionar o mais rapidamente
possível.
José Amaral, Vila Nova de Gaia
Combate ao partido socialista e à esquerda radical em Madrid Nas eleições de Madrid,
realizadas na terça-feira, o
As duas misérias do caso Zmar
A requisição civil do
empreendimento Zmar
para instalar imigrantes é
uma lamentável história em
que se combinaram
prepotência, confusão, preconceito e
falta de humanidade. Misturam-se
nessa saga conveniências políticas,
interesses económicos e conceitos de
Estado de direito que começam a car
para lá das exigências do estado de
calamidade. Ninguém sai bem da
história, a começar pelo ministro da
Administração Interna e a acabar nos
proprietários. No m da linha estão 40
pessoas abandonadas a condições
miseráveis e sem condições para
fazerem as quarentenas que as
autoridades de saúde lhes
determinaram. Aparecem neste lme
como os agentes involuntários de uma
decisão mal ponderada do Governo e
como os alvos sem rosto da rejeição
dos proprietários que os encaram não
como pessoas com problemas, mas
como um perigo para a imagem e o
valor da sua propriedade.
Na origem deste processo que
degrada a relação de compromisso e
de solidariedade que se exige a uma
sociedade decente está o ministro. A
forma como decretou a requisição civil
da “totalidade dos imóveis e dos
direitos a eles inerentes” do
empreendimento revela um défice de
compreensão sobre o valor, real e
simbólico, da propriedade privada que
surpreende e preocupa. Não houve
preocupação em determinar o número
de alojamentos indispensáveis. Não
houve zelo a definir áreas do parque
nas quais o confinamento obrigatório
se fizesse sem conceder margem a
protesto. O Estado decidiu requisitar
tudo e está decidido porque, no seu
juízo, o Estado quer, pode e manda. O
facto de o Zmar estar em insolvência
não justifica a arbitrariedade. A
circunstância de o Estado ser credor
não tolera o abuso. Sob a capa de uma
causa humanitária, o ministro revelou
apetite pelo abuso de poder. A atitude
do ministro Eduardo Cabrita explica
mas não justi ca as reacções dos donos
das casas do Zmar que se seguiram. O
que foram dizendo revela muito mais
do que um legítimo instinto de
protecção dos seus bens e de defesa
dos direitos de propriedade: revela
também um preconceito para com os
imigrantes e insensibilidade para com
os seus dramas pessoais. Uma coisa é
exigir a procura de alternativas, ou
uma decisão negociada, com
compensações justas; outra é a rmar
que os imigrantes são uma ameaça
para a sua saúde ou a rmar que a
imagem do Zmar cará degradada com
o anátema de um covidário. Milhares
de casas de portugueses passaram por
essa infeliz condição. Não consta que
se tenham desvalorizado nem que os
seus habitantes fossem ostracizados. Se
os imigrantes fossem brancos e não
carregassem aos ombros a sua
miserável condição de estrangeiros,
não haveria seguramente tanta
hostilidade.
Uma coisa é exigir a procura de alternativas, ou uma decisão negociada, com compensações justas; outra é a rmar que os imigrantes são uma ameaça para a sua saúde
Editorial
Manuel Carvalho
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 13
INQUÉRITO ARQUIVO PÚBLICO
Concorda com a suspensãotemporária das patentesdas vacinas da covid-19?
Total de votantes: 368
74,5%25,5%Não Sim
8/5/2004 Os abusos cometidos por soldados dos EUA no Iraque chamaram a atenção para o outro lado da realidade que se vivia no terreno
Inquérito realizado no Twitter do PÚBLICO entre as 21h de segunda-feira e as 12h de sexta-feira. Os resultados expressam apenas e só a opinião da comunidade PÚBLICO na rede social e não serão usados fora deste âmbito. Cada voto corresponde a um só perfil
Etimologicamente,
falecer é faltar. Claro
que, se houver um
número su ciente de
brutos a dizer falecer
para designar outra
coisa qualquer, então falecer
passará a querer dizer isso.
Por enquanto, porém, o seguinte
diálogo faz sentido e é bom
português:
“Que é do Mendonça?”
“Faleceu.” “Não morreu, pois não?”
“Ha ha ha, não, falei agora mesmo
com ele.” “Deu alguma razão para
falecer?” “Deve ter ido levar a filha à
escola.”
Falecer também é escassear, que
não é tão mau como faltar:
“Há orégãos?” “Só dos secos.” “E
coentros?” “Coentros, há. Já
faleceram mas agora há imensos.”
Falecer é o que nos acontece
antes de morrermos: começamos a
faltar às coisas, somos vistos só
raramente e assim vamos falecendo
cada vez mais até morrermos de
vez.
Daí ser correcto dizer que alguém
faleceu, mas calma, porque ainda
não morreu.
Morrer é importante demais para
estar com paninhos quentes. Dizer
que alguém faleceu é querer evitar a
única palavra que está à altura do
que lhe aconteceu.
Dizer que o Mendonça faleceu é
dizer que fraquejou, foi-se abaixo,
não esteve no seu melhor, colocou
mal o pé, teve de se ausentar, talvez
não seja provável que regresse.
Se falecer fosse morrer, desfalecer
seria voltar à vida. Os Walking Dead
seriam Os Desfalecidos — e quem é
que tem medo de um desfalecido?
Nesta linha, também “maiar” se
poderia usar para a situação de
quem recupera os sentidos depois
de desmaiar. Quem desenjoa tem
primeiro de enjoar, e para quem
desmaia é a mesma coisa.
Nesse caso, aliás, “maiar” seria
estar muito bem, vivinho da costa, a
comer e a beber do melhor, a cantar
e a rir, até ter de pagar a factura
daquela “maiação” toda e, trás,
desmaiar que nem um abade.
Quando alguém disser “faleceu”,
diga “deixe lá, pode ser que
desfaleça”.
BARTOON LUÍS AFONSO
A opinião publicada no jornal respeita a norma ortográfica escolhida pelos autores
Anda tudo a falecer
Ainda ontemtem
Miguel Esteves Cardoso
DIRECTOR Manuel Carvalho
Directores adjuntos Amílcar Correia, Ana Sá Lopes, David Pontes, Tiago Luz Pedro
Directora de arte Sónia Matos
Lisboa Edifício Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte 1350-352 Lisboa Tel. 210 111 000
Porto Rua Júlio Dinis, n.º 270 Bloco A 3.º 4050-318 Porto Tel. 226 151 000
publico.pt
“Toda a sociedade que pretende assegurar a liberdade aos homens deve começar por garantir-lhes a existência” Léon Blum, político
ESCRITO NA PEDRA
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14 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Espaço público
A semana política
Jornalista. Escreve ao sábado
Faz falta o “bom senso universal”
A gestão do Estado tem-se processado neste caldo de promiscuidade, esse ecossistema em que medra a corrupção
São José Almeida
Esta semana, cou demonstrado o
modo como se tem processado a
gestão do Estado sem qualquer
salvaguarda de defesa do
interesse público, sem regras
transparentes e sem padrões
rigorosos no plano da ética. Uma forma de
funcionamento que está assente numa
cultura de omissão, de conivência ou mesmo
de cumplicidade com a promiscuidade, que
não tem em conta princípios como o da
inexistência de con itos de interesses. É
neste caldo de promiscuidade, esse
ecossistema em que medra a corrupção.
Foi, nalmente, conhecido o resultado da
auditoria do Tribunal de Contas (TdC) ao
Novo Banco (NB) e também tornado público
que, este ano, vão ser de novo distribuídos
prémios aos administradores desta instituição
bancária. Em relação às conclusões da
auditoria, escreveu Marta Moitinho Oliveira,
no PÚBLICO: “O TdC detectou falhas na
informação por parte do NB sobre a execução
do Acordo de Capital Contingente e sobre o
dé ce de necessidades de capital que levam
às injecções. Na auditoria publicada nesta
segunda-feira, o tribunal aponta ainda
administradores de uma instituição bancária
quando esta tem dé ce. A notícia de Pedro
Esteves, no PÚBLICO, é clara: “A gestão de
António Ramalho terá um prémio de 1,86
milhões de euros num exercício em que
registou um prejuízo de 1329 milhões de
euros, o quarto consecutivo com perdas
acima dos mil milhões de euros.”
Uma situação que foi implicitamente
criticada pelo Presidente da República, ainda
que sem nomear o banco, ao advertir que,
“naturalmente, os cidadãos portugueses
estão atentos àquilo que são as decisões
públicas” e sublinhando que, “mesmo
quando se trata de instituição privada”, é
necessário que os decisores tenham noção
de que “os portugueses, todos eles, estão
naturalmente atentos”. Para concluir: “Faz
parte do bom senso universal, espera-se isso
das pessoas.”
O bom senso deveria ser “universal”, sim —
mas não existe, sobretudo, entre as elites
dirigentes portuguesas, que têm permitido e
alimentado uma cultura de promiscuidade,
que ignora os con itos de interesses. Um
exemplo dessa falta de bom senso
“universal” foi dado, esta semana, por Mário
Centeno, o governador do Banco de
Portugal, que criticou também a atribuição
de prémios aos administradores do NB. O
mesmo Mário Centeno que é o responsável
máximo do Banco de Portugal, instituição
que, na segunda-feira, comentou a auditoria
do TdC ao NB.
O mesmo Mário Centeno que, como
ministro de Estado e das Finanças, do
primeiro Governo de António Costa, foi
directamente responsável pelo processo da
venda do NB, visado pela auditoria do TdC e
responsável pela adopção do modelo de
gestão que permite a atribuição de prémios
aos administradores.
Mais: na quarta-feira, ao apresentar o
boletim económico de Maio, Mário Centeno,
governador do Banco de Portugal, elogiou
Mário Centeno, ministro de Estado e das
Finanças, salientando, mais de uma vez, que
as nanças públicas estavam preparadas
para resistir melhor à crise económica
provocada pela pandemia do que estavam,
em 2011, na crise da dívida pública. E isto
porquê? Porque o ministro de Estado e das
Finanças, Mário Centeno, geriu bem o seu
ministério. Sou só eu que vejo os con itos de
interesses em causa? O Presidente da
República tem razão. Faz falta o “bom senso
universal”.
lacunas na comunicação do impacto da
resolução do BES e da venda do NB nas contas
públicas e admite que não foi reduzido o
‘risco moral’ no nanciamento público do
banco feito através da injecção inicial de
capital e através da almofada de capital que
serve para compensar o NB por perdas com
activos tóxicos.”
Na mesma notícia, lê-se ainda que,
segundo o TdC, “faltou transparência na
comunicação do impacto da resolução do
Banco Espírito Santo (BES) e da venda do NB
na sustentabilidade das nanças públicas. O
foco da imputação das perdas veri cadas, no
BES e no NB, não deve ser desviado dos seus
responsáveis (por acção ou por omissão)
para onerar os contribuintes ou os clientes
bancários (em regra também contribuintes).
Importa aplicar os princípios da
transparência e da prestação de contas e
comunicar periodicamente esse impacto nas
nanças públicas e essa imputação de
responsabilidades”. Conclusões que são uma
acusação a todos os decisores políticos com
intervenção no processo do m do BES e no
de criação do NB, ou seja, ao Governo de
Pedro Passos Coelho e de Paulo Portas, mas
também aos governos de António Costa.
Neste plano dos decisores políticos
entronca a segunda notícia, a da distribuição
de prémios aos administradores do NB. Só a
cultura de conivência e de falta de defesa do
interesse público, que domina os decisores
políticos hoje em dia, é que permite que seja
assinado um contrato de venda do NB que
admite a adopção de um modelo de gestão
que inclui a distribuição de prémios aos
Advogado. Escreve ao sábado
Uma ideia simples e poderosa: a liberdade
No con namento de 2020 li
Outline, romance da canadiana
Rachel Cusk que pouco antes do
fecho das fronteiras tinha
comprado na Pasajes, a livraria
do número 3 da Calle de Génova
em Madrid. A alguns metros de distância, no
número 13 da mesma rua, ca a sede do
Partido Popular, em frente à qual Isabel Díaz
Ayuso fez no domingo passado o seu discurso
de vitória nas eleições da comunidade
madrilena, após uma campanha fulgurante
que teve como slogan uma só palavra:
“libertad”.
A dada altura de Outline, a narradora
descreve um momento de O Monte dos
Vendavais em que duas personagens
observam, através de uma janela, uma família
em sua casa. Naquela placidez doméstica,
Cathy vê o que deseja; Heathcli vê o que
receia. Rachel Cusk parte daí para uma
digressão sobre como a realidade é só uma
experiência individual, fatalmente
armadilhada pela nossa subjectividade. Li
depois pela primeira vez o clássico de Emily
Brontë, em busca daquele momento e das
suas consequências. Também me interessa
essa ideia de que a “verdade” é só o mosaico
incompleto e in nito das nossas percepções.
Claro que é uma ideia arriscada no debate
político, porque quem se entretém com ela
acaba mais cedo ou mais tarde por ser
acusado de relativismo. Até certo ponto, a má
fama do relativismo é merecida: as coisas são
o que são, o bem e o mal não se confundem e
— para quem acredita no transcendente — o
mundo tem uma lógica irredutível.
Mas também há algo a dizer em favor do
relativismo. Desde logo, que é um dos
alicerces da civilização democrática. A
democracia, a liberdade de expressão ou o
parlamentarismo só existem porque se
presume que não há ninguém que consiga ver
toda a verdade sobre todas as coisas. São
algoritmos rudimentares que usamos para
irmos encontrando uma verdade possível,
maioritária e legítima, que nos vá salvando do
con ito permanente e da autodestruição.
Aliás, estranho quando as críticas ao
relativismo e ao subjectivismo vêm da direita,
porque é também com base nessas ideias que
muitos pensadores conservadores e liberais
denunciam as falácias do colectivismo, do
centralismo e do estatismo.
Quando aprendemos a viver politicamente
com esta noção da relatividade, passamos a
ter duas atitudes naturais. Parecem
contraditórias, mas são complementares. A
primeira é a de aceitar a inevitabilidade do
compromisso, porque nunca conseguiremos
impor aos outros tudo aquilo em que
acreditamos. A segunda é a de perceber que a
capacidade de em cada momento uma
sociedade se aproximar da verdade depende
da quantidade de ideias diferentes que nela
circulam. Um dos grandes riscos do mundo
pós-pandemia é precisamente o afunilamento
em torno das ideias políticas que derivam do
medo e do instinto de trocar a liberdade pelo
conforto da protecção. Os populistas a am as
facas, é óbvio. E a esquerda rejubila também
com o regresso do Estado ama-seca, que tudo
garante, tudo paga, tudo controla.
Em Portugal, a forma como a direita olha
para o momento social e político
praticamente não se distingue da visão da
esquerda. São duas subjectividades irmãs e
redundantes. O PSD, colonizado pelo modo
de pensar de Rui Rio, é tão estatista quanto o
PS. No CDS, a única ideia de estratégia global
que se insinuou minimamente neste período
foi o “patriotismo económico”, que remete
para a velha pulsão proteccionista do
conservadorismo de miséria. O Chega, en m,
é o Chega. E até a Iniciativa Liberal, apesar dos
momentos proclamatórios de voto contra os
estados de emergência, lá foi recebendo sem
grande alarido as restrições às liberdades,
com medo do medo dos eleitores.
O que vimos em Madrid, tanto na gestão da
pandemia como na campanha eleitoral, foi
exactamente o contrário. Foi a direita a lutar
contra esta pobreza intelectual, a colocar-se
no anco das liberdades, que estava vazio, e a
desa ar o risco de anemia económica, cultural
e cívica da sociedade espanhola. Ayuso
percebeu o que a distinguia das esquerdas e
da direita populista — e conseguiu de ni-lo
com clareza, numa ideia simples e poderosa: a
liberdade. Para o resto estão lá os outros.
Francisco Mendes da Silva
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 15
Onde é que precisamos de liberais e não os temos
Historiador. Escreve ao sábado
Muitos dos ‘liberais’, para atacarem aquilo a que chamam a ‘corrupção do socialismo’, estão dispostos a dar ao Estado enormes poderes. Eu não estou disposto a dar ao Estado o direito de me obrigar a provar a minha inocência
José Pacheco Pereira
livraria. Há tentativas de “acrescentar”,
sempre em nome da e cácia, dados
suplementares ao cartão de cidadão. A
aplicação Stay Away Covid apoiada pelo
Governo implicava a violação de dados
pessoais e não é líquido que os novos
“passaportes” com dados sanitários também
não o façam.
A inversão do ónus da prova, para que
O país está a car cheio de
“liberais”, do “liberalismo” da
moda. A palavra “liberdade”
está a ser capturada pela direita
mais radical. Confortável nas
sondagens, a esquerda do PS,
como o centro do PSD, perde todos os dias o
debate ideológico. O BE está demasiado mole
e autocentrado e o PCP preso num gueto
verbal, ambos consideravelmente ine cazes
face à crescente agressividade da direita. O
único partido com dinamismo político e
eleitoral é o Chega. O centro, centro-esquerda
e centro-direita está errático e pouco
a rmativo. As asneiras acumulam-se em todas
as áreas que são de não direita. Em modo
tribal, a agressividade dá frutos. A seu tempo,
o conforto nas sondagens diminuirá.
Aproximam-se tempos de mudança e o
número de cegos que não querem ver é cada
vez maior.
Falta muito a gente da liberdade, sem
aspas, que reaja a todo o caminho que se está
a fazer debaixo dos nossos pés. Faltam
liberais sem aspas à esquerda e à direita,
capazes de serem rmes em defesa da
liberdade, muito duros na sua rmeza, mas
moderados na acção. E uma das razões por
que isso acontece é por medo. Ninguém quer
ser alvo da avalanche de insultos, dos
processos de intenção, das ameaças que hoje
pululam nas redes sociais e nas caixas de
comentários. Não sabem onde está tudo isto?
Eu digo-lhes onde está.
A fronda populista varre a prudência de
pensar duas vezes e, pouco a pouco, a
fragilidade crescente dos partidos políticos
fá-los soçobrar aos princípios para responder
à avalanche populista. O efeito mais
pernicioso de casos como o de Sócrates-Ivo
Rosa é criar, em nome da luta contra a
corrupção, uma deriva autoritária e
liberticida. A Justiça é numa sociedade
democrática um pilar do Estado, é um dos
poderes fundamentais na sua autonomia e
independência, como o poder legislativo e
executivo. A doutrina da separação dos
poderes não retira o exercício dos diferentes
poderes do âmbito do Estado, nem impede
por si só a sua perversão e contaminação — ou
seja, a dependência do poder político é uma
possibilidade e um risco, mesmo sem se
mudarem normas e procedimentos. E tudo
agora há um clamor populista, a que quem de
direito responde tibiamente, é um
instrumento persecutório e de abuso nas
mãos do Estado. O enriquecimento “ilícito”,
se o é, deve ser provado pela Justiça, pelo
Estado. Dê-se aos magistrados e às polícias
todos os instrumentos necessários para essa
prova, mas não se crie uma situação em que
seja o próprio a ter de provar a sua inocência.
O furor legítimo contra a corrupção não deve
dar às mãos do Estado instrumentos
potenciais para todos os abusos. Hoje parece
que será contra o “ilícito” do enriquecimento,
mas amanhã pode ser para qualquer um, para
vinganças políticas, para abater adversários.
Dado o instrumento, destruído o princípio, o
abuso é só uma questão de tempo.
Aqui é que precisamos de liberais e eles nos
faltam. Muitos, aliás, dos “liberais” dos dias
de hoje são indiferentes a estas liberdades e,
para atacarem aquilo a que chamam a
“corrupção do socialismo”, estão dispostos a
dar ao Estado enormes poderes. Eu, que me
dou bem com o honroso nome de liberal, na
tradição de Garrett e de Herculano, ou da
minha terra, o Porto, não estou disposto a dar
ao Estado o direito de me obrigar a provar a
minha inocência. É, se quiserem, uma
posição humanista sobre a natureza humana,
deixando o pecado original para os crentes,
mas não para a democracia.
Falta muito a gente da liberdade, sem aspas, que reaja ao caminho que se está a fazer debaixo dos nossos pés. E uma das razões por que isso acontece é por medo
aquilo que permitimos agora na convicção de
que não haverá abusos pode amanhã ser
usado de forma abusiva e persecutória.
Dou muitas vezes como exemplo a
intromissão na liberdade individual por
meios informáticos, feita em nome da
e cácia, que nos parece inocente agora, mas
cria todos os instrumento para poder ser
usada contra as liberdades. Digo muitas
vezes que uma nova PIDE que acedesse às
bases de dados das Finanças, aos
pagamentos do Multibanco, aos trajectos da
Via Verde, aos metadados dos telemóveis
podia saber tudo sobre qualquer cidadão. Se
uma autoridade legítima o precisa de fazer
para perseguir uma actividade criminosa, e
se o zer sob controlo judicial, muito bem.
Tudo o resto, muito mal.
Não estou a falar de abstracções. Já houve
jornais que pagavam informação a pessoas do
sco com acesso aos dados para fazerem
“investigações”. Já houve magistrados que
foram para além da lei para fazerem “pesca
de arrasto” para encontrarem culpados,
mesmo que não houvesse qualquer indício de
actividade criminosa. Há legislação que
implica a violação do segredo pro ssional dos
advogados face aos seus clientes com
considerável indiferença destes. O sco viola a
privacidade dos cidadãos obrigando as
facturas a terem não apenas o montante da
transacção, mas discriminação, por exemplo,
dos títulos dos livros que se compra numa
O ruído do mundo
Pecado original na Capela Sistina (Michelangelo)
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16 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Espaço público
Coffee break
Jornalista. Escreve ao sábado
O milagre fiscal irlandês acabou
Bárbara Reis
Roubo o título a um colunista da
Spectator, revista muito
respeitada e muito conhecida por
ser alinhada com o Partido
Conservador britânico. Há dias
Matthew Lynn escreveu Ireland’s
low-tax miracle is over e a formulação é tão
clara que não vale a pena complicar — cito e
agradeço.
Sabíamos que a pandemia virou o mundo
ao contrário, mas quem diria que ia acabar
com o paraíso fiscal da Irlanda? Leu bem: o
falso “milagre” fiscal irlandês está prestes a
morrer e, confesso, não esperava um
desfecho tão rápido.
A Comissão Europeia disse ao Governo
irlandês que, se quer a sua parte da “bazuca”
para responder à crise da covid-19, tem de
“fechar as brechas das leis fiscais”.
Esta é uma “recomendação específica” que
Bruxelas deu a Dublin nas negociações sobre
os fundos do Plano de Recuperação e
Resiliência (PRR). As “brechas” são os “tax
loopholes” do sistema irlandês — o mundo de
double Irish, sanduíches holandesas e single
malts — que permitem às multinacionais
norte-americanas pagarem zero impostos ou,
na melhor das hipóteses, valores
ridiculamente baixos.
Em Julho a União Europeia perdeu em
disto como se fosse uma ideia “disruptiva”.
Onde os neoliberais vêem “disruptivo” e
moderno, os razoáveis vêem “planeamento
scal agressivo” e “desleal”. Até os mais
conservadores, que gostam de Reagan e de
Thatcher, já se libertaram da loso a do
só-se-safam-os-espertos.
Caro leitor: reparou na entrevista que
Charles Michel, presidente do Conselho
Europeu, deu há dias a seis meios de
comunicação europeus, entre os quais o
PÚBLICO? Michel, conservador da direita
liberal, disse que “a bússola europeia não
pode ser o PIB, tem de ser o bem-estar dos
cidadãos” e que “precisamos de olhar para
além do PIB”.
E viu que o Presidente Joe Biden, apesar do
sangue irlandês, propôs um imposto global
mínimo sobre os rendimentos das empresas
de 21%, o dobro do irlandês?
E viu que em Fevereiro Patrick Honohan
explicou porque é que o “milagre irlandês” é
falso? Governador do Banco Central da
Irlanda entre 2009 e 2015 — hoje senior fellow
no Peterson Institute for International
Economics (PIIE), um dos melhores think
tanks do mundo segundo o Think Tank Index
Report —, Honohan disse que os rankings que
põem a Irlanda em 1.º lugar como país mais
rico da União Europeia estão errados.
“Quando analisamos os dados disponíveis,
descobrimos que a posição internacional
relativa da Irlanda está algures entre o 8.º e o
12.º lugar na União Europeia — muito mais
baixa do que normalmente se presume.” Para
calcular bem, diz o senhor Honohan, é
preciso “tirar as distorções atribuíveis às
multinacionais” e incluir os preços das coisas,
que são altos. “A Irlanda é um país próspero,
mas não tão próspero como se pensa, devido
ao uso inadequado de estatísticas enganosas.”
Só agora? Por mim, mais vale tarde do que
nunca.
tribunal contra a Apple, mas a procissão vai
no adro. Há dias o Guardian revelou que as
receitas da Amazon na Europa atingiram um
recorde de 44 mil milhões de euros em 2020 e
que, apesar disso, a subsidiária do
Luxemburgo pagou zero euros de impostos
sobre os lucros porque declarou um prejuízo
de 1,2 mil milhões. O Luxemburgo, que —
como a Irlanda — é um paraíso scal, é
responsável pelas vendas no Reino Unido,
França, Alemanha, Itália, Países Baixos,
Polónia, Espanha e Suécia. A Amazon não
pagou impostos sobre o seu negócio no
Luxemburgo e não terá pago nesses países.
Na Irlanda, é assim há anos.
Deixará de ser, tudo indica. O comissário
europeu da Economia, Paolo Gentiloni,
con rmou que as reformas scais são uma
das condições para a Irlanda receber as
tranches do PRR. O Irish Times cita o
ex-primeiro-ministro de Itália: “É importante
fechar as brechas que podem levar a dupla
não-tributação.” Está confuso sobre como
funciona? Veja a resposta da Amazon ao
Guardian: a empresa “paga todos os impostos
exigidos em cada país” onde opera. Se um
país não exige, a Amazon não paga. Até agora,
a Irlanda não exigia. Se quer receber os
fundos do PRR, vai ter de exigir. Não sabemos
o quê nem até onde está disposta a ir. Mas o
cerco aperta-se.
Em Portugal, apanhamos muitas modas
quando elas, por cansaço ou descrédito, estão
a passar. Após anos a seguir Milton Friedman,
conselheiro de Ronald Reagan e de Margaret
Thatcher, e a ver o resultado das políticas do
monetarismo puro, evoluímos. Qualquer
pessoa razoável, de esquerda ou de direita,
sabe que a política scal da Irlanda é uma
afronta à ética. Cá, a Iniciativa Liberal fala
Árbitro de conflitos; ensaísta
Quem deve pagar a crise? O meu acordo com Raquel Varela
A professora Raquel Varela
escreveu no PÚBLICO de
quinta-feira um texto
intitulado “Quem deve pagar
esta crise? Um debate com
Susana Peralta e José Miguel
Júdice”. Quero começar por dizer que o que
ela refere corresponde ao que venho
declarando em público há anos.
No entanto, ela afirma o seguinte: “Miguel
Júdice, no seu espaço de comentário da SIC
(29-9-2020), defendeu a mesma ideia de
Susana Peralta. Para ele, uma família que
ganha mais de 50 mil euros brutos são, cito,
ricos. Mais de 100 mil brutos ‘milionários’ e
mais de 250 mil ‘multimilionários’.”
Quando se usa o raciocínio irónico, como
eu z, por vezes somos mal interpretados.
Foi o que aconteceu. Vejamos o grá co que
surgiu nos ecrãs da SIC Notícias no dia 20 de
Setembro e no mesmo dia no Expresso
online.
Tudo o que então disse (e repeti em
programas seguintes) foi no sentido de
demonstrar a brutalidade dos impostos
sobre o rendimento das famílias e a
necessidade de os baixar. Por isso propus, e
venho propondo, que haja um choque fiscal
Para reforçar a brutal carga scal usei o
célebre critério dos 0,1% e 1% do total dos
contribuintes e disse que, por esse critério,
os 0,06% das famílias do grá co serão os
nossos multimilionários, os 0,8% serão os
nossos milionários e os 4,3% (que têm
rendimentos brutos entre 50.000 e
100.000 euros) serão os nossos ricos.
Como Raquel Varela refere, não é verdade
que seja rico quem ganha menos de
100.000 euros brutos por ano. E isso é
motivo para ninguém com um mínimo de
bom senso sequer pensar em aumentar o
IRS e demonstra que somos um país muito
pobre em comparação com os países da
OCDE, mesmo se olharmos para os menos
pobres entre nós.
Por isso, desfeito o equívoco, concordo
com Raquel Varela e saúdo o seu texto. E
quero continuar a debater com ela. Até
porque a proposta de choque scal que
defendo vai ter evoluções importantes em
breve.
José Miguel Júdice
sobre as famílias que pagam IRS com
rendimento bruto inferior a 50.000 euros
por ano. E apenas sobre esses, não por
discordar que a redução atingisse todos,
mas devido aos constrangimentos
orçamentais conhecidos e a considerações
de (in)justiça relativa. Também por isso, a
minha proposta é que esse choque scal
não tenha para já efeitos nos escalões
superiores. Com esta cautela, o que
proponho é viável. Sem ela, acabaria a ser
dito que eu proponho baixar o IRS aos
ricos.
Com a ajuda da Comissão, de Joe Biden e do antigo governador do Banco Central da Irlanda, o falso ‘milagre irlandês’ está prestes a morrer. Não, Dublin não teve um assomo de altruísmo
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 17
Jornalismo e dinheiro
Se os portugueses querem ter uma imprensa credível têm de pagar por ela, dando-lhe os meios indispensáveis para que possa cumprir a sua missão. Cada povo tem a imprensa que merece e a má informação que tolera
José Manuel Barata-Feyo
juntar-se os informais. Eram eles, citando o
leitor, os jornalistas seniores com quem os
menos experientes aprendiam e que os
gatekeepers ouviam. Uma das funções desses
“formadores” era exercer uma acção crítica
que impedisse os jovens jornalistas de marcar
golos na sua própria baliza, a do rigor
A coluna do provedor “O jornalista
e a Justiça” (24/4/2021) suscitou
dúvidas no espírito de alguns
leitores que me escreveram a
pedir esclarecimentos.
“Talvez porque estava
habituado a José Queiroz e a Paquete de
Oliveira, constato que o novo provedor usa
uma metodologia totalmente diversa da dos
dois que o precederam, divagando sobre os
temas mais que sobre problemas colocados
pelos leitores”, escreve Fernando Cardoso
Rodrigues, do Porto, antes de observar que,
na referida coluna, “não há nem uma
referência a qualquer leitor, mas tão-somente
uma análise do ‘caso Dreyfus’. Estou
enganado?”
Os mesmos factos, ocasionando com
frequência opiniões diferentes, levam o leitor
Eliseu Gomes a escrever: “Há uns tempos
parecia ter encontrado a fórmula simples de
levar para a frente a sua tarefa ao fazer as
pontes, na sua crónica, entre os leitores e o
jornal, mas ainda bem que não facilitou esse
método e tem primado pela inovação, para
bem dos leitores. Espero que assim continue.”
Os dois leitores têm razão. Com efeito, o
Estatuto do Provedor do PÚBLICO contempla
as duas visões da mesma coluna. É certo que
o provedor existe para dar voz aos leitores do
jornal e que essa é a sua principal atribuição,
mas não é menos certo que no seu ponto 5 o
estatuto determina que o provedor deve
manter uma coluna semanal nas páginas do
jornal sobre matérias da sua competência e, em
geral, da ética e deontologia jornalística. Foi o
que z. O “caso Dreyfus” é considerado o
momento fundador da ideia de
jornalista-advogado-do-cidadão. Esse
conceito honroso ainda não desapareceu e o
provedor achou por bem recordá-lo. Tal é
também da sua competência.
Ainda a propósito da mesma coluna, o
leitor António Betâmio de Almeida, depois de
a rmar que “é justo não confundir o PÚBLICO
com outros jornais e canais de televisão”,
considera que se impõe “uma questão
fundamental”: “Quando eu era jovem e
estudante, convivi com jornalistas seniores
que respeitava muito. Sabia que o curso de
jornalista era então a tarimba da prática e a
aprendizagem com jornalistas com
experiência. Há décadas que há cursos
universitários de Jornalismo, mestrados e
doutoramentos em Comunicação. Pergunto:
nesses cursos não há disciplinas de Ética,
jornalístico, razão pela qual também se lhes
chama goalkeepers, os guarda-redes das
redacções.
A partir dos anos 90, em Portugal,
aconteceram dois fenómenos quase
simultâneos que alteraram radicalmente a
situação. A televisão hertziana e, depois, os
canais por cabo, a imprensa tablóide e, por
m, até ao dia de hoje, as plataformas e as
redes sociais (para cuja visibilidade e
respeitabilidade os jornalistas tanto
contribuíram e contribuem, ao promovê-las a
“fontes”) multiplicaram a informação
literalmente despejada em cima do cidadão.
Como consequência, veri cou-se a
diminuição das vendas dos jornais e a
redução da publicidade paga que é
determinada pelos “contactos”, ou seja, pelo
número de pessoas/consumidores que
“contacta” com a notícia.
O segundo fenómeno materializou-se na
redução dos custos. As empresas — a começar
pela empresa Estado — cortaram as despesas
mais à mão, cortando nas redacções e nos
ordenados. E zeram-no de acordo com um
critério simplista: despediram os
guarda-redes. Por um lado, eles tinham um
salário mais elevado e, pelo outro, eram
incómodos, porque actuavam como uma voz
crítica também junto dos gatekeepers. A
maioria deles foi substituída por estagiários
ou jovens jornalistas que apresentavam uma
dupla vantagem: custavam menos dinheiro e,
colocados numa situação de dependência
através de contratos a curto prazo, cavam à
mercê das che as, que eles não ousavam
questionar. O sentido crítico das redacções,
que elas começavam por aplicar a si mesmas,
acabou substituído, na maioria dos casos,
pela resignação acrítica. Ao mesmo tempo,
os gatekeepers transformaram-se em
goalwatchers ou goalsupporters. Em vez de
travarem a especulação que marca golos na
baliza do jornalismo, contemplam-na com
agrado ou incentivam-na, desde que ela
proporcione o retorno nanceiro desejado.
Na prática, defendem aquilo que classi co
como jornalismo aproximativo, de mais ou
menos.
Se os portugueses querem ter uma
imprensa credível, têm de pagar por ela,
dando-lhe os meios indispensáveis para que
possa cumprir a sua missão. Esses meios são,
fundamentalmente, a compra ou a
assinatura do seu jornal. Em meu entender,
trata-se de uma obrigação cívica, para a qual
a opinião pública devia ser convocada.
Porque — convém não esquecer — cada povo
tem a imprensa que merece e a má
informação que tolera.
Tal é a minha opinião. Formulo-a com todas
as reservas que aprendi com Michel Foucault
quando escreve (La fonction politique de
l’intellectuel) que a intervenção no espaço
público a partir de um determinado
conhecimento deve ser feita sem a pretensão
de dizer “o justo-e-o-verdadeiro para todos”.
É uma pretensão que o provedor não tem, de
todo, nem nesta nem nas outras matérias que
aborda, quer seja na presente coluna, quer
em todas as outras, já lá vão seis meses.
Coluna do Provedor
O rigor e a credibilidade de um jornal não caem do céu. Pagam-se. A alternativa chama-se especulação
Deontologia e Direito? O que se passa com os
jornalistas? Esquecem, ou há outros
condicionamentos na sombra? Ou é uma
deriva patológica inexplicável? Um vírus que
se propaga... E o provedor não pode ter uma
acção pedagógica de último recurso ou
impera um individualismo descontrolado?”
A resposta às questões de vária natureza
colocadas por este leitor exige um espaço
incompatível com as dimensões da coluna do
provedor. Que me seja, então, perdoada
alguma simpli cação.
O enquadramento deontológico do
jornalismo está mais ou menos presente em
todas as licenciaturas que é possível fazer em
Portugal. Se lhe é dado relevo su ciente ou
não, é outro assunto, tanto mais que não
reside aí, em meu entender, o cerne da
questão. Ele está, antes, nos problemas
orgânicos que a imprensa enfrenta.
Muito em síntese: de acordo com os
estudiosos anglo-saxónicos da história e da
evolução da imprensa, um jornal era
orientado pelos gatekeepers, os gardiões
formais — a direcção e a hierarquia editorial —,
que determinavam o que era ou não era
notícia e qual a sua importância. Em função
desses critérios, a informação passava os
portões do jornal, ou era bloqueada. Aos
guardiões institucionais vinham depois
MIGUEL MANSO
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18 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Proposta sobre ocultação de riqueza “não resolveria processo Marquês”
Ainda sem uma posição de nitiva,
Mónica Quintela mostra ter muitas
dúvidas constitucionais sobre a
proposta para penalizar a ocultação
de riqueza lançada pela associação
sindical de juízes e acolhida por PS e
BE. É apenas “um penso rápido”,
diz a deputada, que integra um
grupo interno do PSD sobre a
reforma da justiça e que é
coordenadora do partido na
Comissão de Assuntos
Constitucionais, Direitos,
Liberdades e Garantias.
A associação sindical de juízes
fez uma proposta para penalizar
a ocultação de riqueza dos altos
quadros públicos. O que lhe
parece?
Esta proposta tem o mérito de ter
colocado as pessoas a discutir
justiça, o que é sempre bom. O
tempo é complicado porque vem a
reboque do processo Marquês.
Preocupa-me que esteja a ser
discutida às cavalitas de um
processo que vai distorcer a
percepção e a discussão, que têm de
ser sérias. Vendo e conhecendo os
acórdãos que foram proferidos pelo
Tribunal Constitucional em 2012 e
2015, parece-nos que enferma dos
vícios que ali foram apontados,
designadamente a inversão do ónus
da prova, o não-respeito pela
presunção da inocência, e vejo com
di culdade a compatibilização da
necessidade de justi cação com o
direito que o arguido tem ao
silêncio e com o direito à não-
-auto-incriminação.
Mas a obrigação de justificar os
rendimentos não está
enquadrada ainda no processo
penal. Acha que se devem
aplicar essas garantias?
Não estão ainda, mas o que
pretendem acautelar já está
Mónica Quintela Deputada do PSD, assegura que o partido “continua disponível” para avançar na reforma da justiça, apesar das palavras “deselegantes” de António Costa
previsto no regime geral das
infracções tributárias. Estamos no
âmbito das obrigações declarativas
que os cidadãos têm,
designadamente os titulares de
cargos políticos e de altos cargos
públicos. Se estamos no âmbito da
declaração, vamos para as
infracções tributárias, se vamos
para o processo penal, vemos — a
uma primeira vista, não é uma
posição de nitiva — que caímos no
que tinha sido apontado pelo
Tribunal Constitucional.
PS e BE inspiraram-se nesta
proposta dos juízes, o PCP
também já anunciou um
projecto de lei sobre a matéria.
Como é que vê esta proposta?
Não me queria pronunciar em
concreto sobre as propostas que
vão ser ainda discutidas na
especialidade, mas a do PCP é de
um espectro ainda mais alargado.
Numa primeira abordagem,
olhando para as propostas, com o
olhar do político e do jurista, vejo
que efectivamente colidem com
direitos que estão
constitucionalmente consagrados
como os que referi. Não podemos
ter uma presunção de
culpabilidade, isso não pode
acontecer.
Presumo então que o projecto
do PSD não irá nesse sentido...
A proposta da associação não vai
resolver, de maneira nenhuma, o
problema da justiça. Mais: não
quero falar de nenhum processo em
concreto, mas a proposta, se
estivesse em vigor, não resolveria o
processo Marquês, por exemplo. O
PSD quer uma reforma estrutural da
justiça e vai apresentá-la.
Relativamente ao combate à
corrupção e à criminalidade
económico- nanceira, o PSD vai
apresentar propostas que sejam
abrangentes e não apenas um penso
rápido para tapar o clamor —
justi cado — da população, que está
indignada com o que se passa nos
tribunais.
Qual é a solução que o PSD
propõe sobre esta matéria?
O PSD tem várias propostas que
foram inclusivamente vertidas no
documento “Um compromisso para
a justiça”, entregue [em 2018] às
várias forças políticas e ao
Presidente da República. Muitas
delas passam pela prevenção da
corrupção — em termos amplos,
porque a corrupção é só um dos
crimes —, pela educação para a
cidadania, identi cando as áreas
onde existem mais
comportamentos corruptivos,
nomeadamente nas autarquias, na
contratação pública, no direito
urbanístico. É fundamental resolver
o problema dos tribunais
administrativos e scais. Não se
pode pedir a um cidadão que espere
20 anos por uma decisão, por uma
licença, por uma contenda
qualquer que tenha com o Estado, e
[esperar] que o cidadão não tente
resolver de forma mais célere. Ou
seja, temos de eliminar os focos
onde existem estas burocracias
para que a corrupção seja
diminuída e residual.
A proposta do PSD será mais
abrangente?
Sim, e sempre em conformidade
com a Constituição. Tem de passar
também pelo apoio do Tribunal de
Contas e outras entidades, com a
identi cação dos comportamentos
corruptivos e, sobretudo, vemos
com preocupação que há uma
miríade de legislação sobre
criminalidade conexa
absolutamente impressionante. É
tão vasta que o decisor e a
investigação do Ministério Público
têm di culdade em identi car qual
o crime que está em causa. Importa
fazer uma recompilação, uma
codi cação, uma densi cação dos
tipos legais e ver o que está
repetido, para que seja de fácil
aplicação não só para os
pro ssionais do foro, mas para que
o cidadão também o compreenda.
Não podemos invocar o
desconhecimento da lei, mas
muitas vezes não há consciência da
ilicitude, por exemplo no
favorecimento indevido, quando as
pessoas metem as chamadas
“cunhas”. Por isso, é necessário
fazer também uma campanha
ampla de informação para que o
cidadão perceba e tenha
conhecimento do que pode fazer. É
também preciso colocar
colegialidade na decisão, porque é
mais difícil corromper dois ou mais
do que só um decisor. Nessa
colegialidade — estou a recordar-me
da Operação Lex — é preciso que não
seja formada pela mesma parelha
ou o mesmo trio.
Que leitura fez das críticas do
primeiro-ministro ao líder do
PSD sobre a reforma da justiça?
O primeiro-ministro foi
manifestamente infeliz e
deselegante nas palavras que
proferiu relativamente a Rui Rio,
que é um estadista de uma grande
envergadura. Pessoalmente, [acho
que] o primeiro-ministro está
Entrevista
Sofia Rodrigues Texto
Miguel Manso Fotografia
Política PSD apresentará “propostas abrangentes” no combate à corrupção
A advogada mediática
Mónica Quintela, advogada há 27 anos, foi o nome escolhido em 2018 por Rui Rio para ser
porta-voz da área da justiça no conselho estratégico nacional (CEN) e participou na elaboração do documento Um Compromisso para a Justiça, entregue aos partidos pelo líder do PSD como uma base de entendimento para uma reforma. Com 53 anos, a actual deputada do PSD, eleita por Coimbra, foi vogal do conselho geral da Ordem dos Advogados no mandato de Elina Fraga, mas tornou-se mediática ao ser advogada de Pedro Dias, condenado por três homicídios.
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 19
A deputada do PSD concorda com
o m dos megaprocessos
anunciado pelo Governo, mas
recusa negociação de penas em
julgamento.
Como é que vê a proposta do
Governo sobre o regime de
protecção de denunciantes?
Na nossa proposta, temos já
previsto um aperfeiçoamento do
direito premial. A proposta do
Governo tem que ver com a
transposição de uma directiva
para que haja uma protecção do
denunciante, que está numa
organização e tem conhecimento
do que se passa lá dentro — o
whistleblower — ou é agente do
crime e o pratica. Este estatuto de
protecção nunca será equivalente
a uma delação premiada.
Mas acha que não deve ter
dispensa de pena?
Depende das situações; pode ter.
Temos de ter cuidado com a forma
como a directiva é transposta. Isto
não tem nada que ver com a
protecção do denunciante pirata
informático. Os piratas
informáticos andam a bisbilhotar a
vida das pessoas, muitas vezes
procuram extorquir-lhes dinheiro
e, quando não conseguem,
denunciam. Isso é veementemente
censurável.
E concorda com a negociação
de penas dentro dos limites
mínimos e máximos?
Não. Somos muito críticos. Vejo
com muita apreensão a negociação
de penas em fase de julgamento.
Ontem [na terça-feira] a ministra
da Justiça deu o exemplo dos
Estados Unidos, e eu confesso a
minha estupefacção porque o
sistema é diametralmente oposto
ao que se vive em Portugal. Não se
pode importar um instituto que
não tem nada que ver com o nosso
sistema judiciário e deixar que
aterre aqui. A ministra e o Governo
soçobraram relativamente à
reforma da justiça. Ou seja,
sentem-se impotentes para
resolver o problema dos tribunais,
da morosidade e dos problemas
nos inquéritos, então estão por
tudo. Não pode valer tudo. Para
termos processos mais rápidos,
vamos demitir-nos de respeitar as
garantias e os direitos de defesa
dos cidadãos? A negociação de
penas faz-se entre o arguido, o
juiz, o Ministério Público e os
advogados, ou seja, vai bene ciar
aquele que for mais hábil na
negociação. Negociar penas é
mercadejar com a justiça. “Quanto
custa?... Quanto me dás?...” Isto é
inaceitável.
Concorda com o fim dos
megaprocessos?
Concordamos e propusemos no
documento da reforma para a
justiça. O PSD já propôs que seja
mudada a forma de investigação
dos inquéritos, designadamente ao
nível da gravação dos
depoimentos. Com os meios que
existem, podia o próprio
Ministério Público competente
ouvir as testemunhas e gravar sem
ter de mandar perguntas para a
PSP ou a GNR. Isto é arcaico.
O PSD mantém a proposta de
aumentar o quadro de juízes do
TCIC (“Ticão”) e criar um
tribunal de igual competência
no Porto?
O problema do Tribunal Central de
Instrução Criminal tem de ser
resolvido. Sem desprimor para
nenhum dos magistrados que lá
estão, mas são dois. A percepção
que o cidadão tem é que decidem,
regra geral, de forma
diametralmente oposta. Não pode
continuar como está. Estamos a
trabalhar numa solução que passa
por não criar con itos de
competência territorial.
Que medidas vai o PSD propor
na reforma da justiça?
Não queria adiantar muito porque
estamos numa fase de
sedimentação de trabalho. O PSD
tem propostas para a
reorganização judiciária, a
arquitectura do sistema tem de ser
revista, os órgãos dos conselhos, o
ingresso às magistraturas. Depois,
na jurisdição administrativa e
scal não pode acontecer isto: os
tribunais tributários e
administrativos estão
completamente paralisados.
Também têm de ser feitos
reajustes do mapa judiciário. E
tem de haver prazos para todos os
intervenientes processuais.
O PSD já tem solução para o
problema das violações do
segredo de justiça?
Todos nós temos o direito ao
bom-nome, à honra, à
respeitabilidade. Não é aceitável
que um cidadão saiba daquilo a
que está a ser acusado pelos
jornais. Estamos a trabalhar nessa
matéria no pressuposto de que
nunca haverá qualquer colisão
com o direito à liberdade de
imprensa, que é fundamental ao
direito do Estado democrático.
preocupado com a oposição séria
que Rui Rio está a fazer, de que os
portugueses se têm apercebido.
Não vou cometer a mesma
deselegância. Enquanto cidadã, não
gosto de ver o primeiro-ministro do
meu país a referir-se ao líder da
oposição ou a quem quer que seja
nos termos em que o fez. Não é
adequado, não é de um estadista. É
quase como se tivesse ido de fato de
banho para um baile. Relativamente
à reforma da justiça, não deixa de
ser curioso que o Governo tenha
vertido para a estratégia as
propostas sérias e boas no combate
à corrupção. As propostas de êxito
duvidoso, de constitucionalidade
mais do que duvidosa, de
popularismo, não são nossas, mas
estão lá.
Há margem de entendimento
com o Governo sobre estas
matérias?
A ministra da Justiça tem as linhas
gerais da nossa proposta. O PSD
continua disponível para fazer a
reforma da justiça. Rui Rio tem uma
postura absolutamente
institucional, e entendemos que
para haver a reforma da justiça tem
de haver entendimento entre os
partidos.
Acha que há clima para esse
entendimento?
Há um populismo desmesurado
que não me agrada. A história
mostra-nos que todas as vezes que
legislámos a reboque de
determinados processos — estou a
recordar-me do processo Casa Pia,
entre outros —, as reformas não
foram particularmente felizes, e isso
depois tem-se re ectido na
aplicação da lei nos tribunais e na
confusão e incerteza jurídicas.
Preocupa-me que, neste momento,
haja uma histeria colectiva
relativamente ao processo Marquês,
e quer-se legislar à viva força. O que
me parece é que há ali
efectivamente um problema na
justiça, que as pessoas estão a
identi car como se fosse só o
processo Marquês, Sócrates e os
seus apaniguados. E não é.
Reforma
“Negociar penas é mercadejar com a justiça. É inaceitável”
Não se pode pedir a um cidadão que espere 20 anos por uma decisão, por uma licença, por uma contenda qualquer que tenha com o Estado O problema do Tribunal Central de Instrução Criminal tem de ser resolvido
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20 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Portugueses con am menos no Governo e estão menos satisfeitos com a democracia
A satisfação dos portugueses quanto
à forma como funciona a democracia
no país diminui desde o Verão de
2020. O Eurobarómetro 94, relativo
ao Inverno de 2020/2021 e coordena-
do pela Direcção-Geral da Comunica-
ção da Comissão Europeia, mostra
que 48% dos inquiridos estão satisfei-
tos com a democracia em Portugal,
quando no Verão essa fatia era de
quase dois terços. Também a con an-
ça nas instituições políticas conheceu
uma descida. No caso do Governo, a
percentagem baixou de 52 para
38%.
“Actualmente, em Portugal, a insa-
tisfação com a democracia é maiori-
tária entre os mais velhos (com 55 ou
mais anos; 59%), os menos escolari-
zados (nomeadamente os que termi-
naram os seus estudos com 15 anos
ou menos; 58%) e aqueles com menor
bem-estar económico (os que têm
frequentemente di culdade em pagar
as suas contas; 7%). É ainda de salien-
tar que 71 por cento dos inquiridos
que se de nem como sendo de direi-
ta estão insatisfeitos com o modo
como a democracia portuguesa fun-
ciona (contra 38% dos inquiridos que
a rmam ser de esquerda)”, lê-se no
relatório que diz respeito a Portugal.
Acrescenta o documento que a
“descida de 16 pontos na taxa de satis-
fação com a democracia” do Verão
para o Inverno “não está em linha
com o que se veri ca no conjunto dos
países da UE, onde este indicador
declinou de forma modesta durante
o semestre em questão (passando de
58 para 55%)”.
No caso da con ança dos portugue-
ses nas principais instituições políti-
cas também houve uma evolução
negativa, a começar pelo Governo, no
qual con am agora 38% dos inquiri-
dos, enquanto no Verão passado
eram 52%. Este é, de acordo com o
Eurobarómetro, o valor mais baixo
desde a Primavera de 2016. A con an-
ça nos governos nacionais também
desceu na generalidade dos países da
UE, embora de forma mais modesta,
passando de 40 para 36%.
No que diz respeito à Assembleia
da República, “a quebra foi mais
modesta, passando este indicador de
44 para 40 por cento”, refere o rela-
tório. “Apesar de ter descido, a con-
ança no Parlamento continua a ser
O trabalho de campo foi feito entre 19 de Fevereiro e 8 de Março, numa fase em que já era evidente o cansaço acumulado em relação ao confinamento decretado pelo Governo
MIGUEL MANSO
É nos pro ssionais de Saúde (95%),
no Exército (87%) e na Polícia (72%)
que os portugueses mais con am —
para a Justiça e a Administração Públi-
ca a percentagem ronda os 40%. “No
caso da Justiça e do sistema judicial,
Portugal apresenta a décima taxa de
con ança mais baixa no grupo dos 27
Estados-membros, um valor dez pon-
tos percentuais inferior à média euro-
peia (52%), conclui o relatório.
Os inquiridos identi caram a situa-
ção económica como o problema
mais importante do país, seguindo-se
o desemprego (40%) e a saúde (32%).
As conclusões do estudo de opinião
apontam ainda para o facto de os
impostos preocuparem “uma maior
proporção de inquiridos em Portugal
(16%) do que no cômputo geral dos
Estados-membros (5%)”, sendo que
a referência a este problema quadru-
plicou desde o Verão de 2020.
A apreensão com o ambiente e alte-
rações climáticas (13%), a educação
(13%) e a imigração (7%) são muito
mais expressivas fora de Portugal —
apenas três dos 1100 inquiridos des-
tacaram a imigração como o principal
problema que o país enfrenta. “A refe-
rência ao terrorismo, que tem, no
conjunto dos Estados-membros, pou-
co expressiva nos últimos três anos,
não foi feita por nenhum inquirido
em Portugal”.
O estudo inclui ainda um capítulo
sobre o nível de satisfação dos portu-
gueses com as medidas implementa-
das pelo Governo na gestão da pan-
demia e, aí, a divisão é quase a meio:
há 49% de pessoas satisfeitas e 51%
insatisfeitas. Desde o barómetro do
Verão deu-se “uma descida conside-
rável, na ordem dos 21 pontos percen-
tuais” neste âmbito. Os mais descon-
tentes são trabalhadores independen-
tes e desempregados (59%) e os
inquiridos que se de nem como de
direita (72%).
“Por m, merece destaque o facto
de Portugal estar, em conjunto com
a Dinamarca, a Suécia, Malta e a Irlan-
da, entre os cinco países em que é
mais rara a recusa em tomar a vacina
contra a covid-19”, diz o relatório.
Apenas 5% dos portugueses respon-
dem que não querem ser vacinados
e pouco mais de metade a rma dese-
jar fazer a vacina assim que possível.
O trabalho de campo deste Euro-
barómetro 94 foi realizado, em Por-
tugal, entre os dias 19 de Fevereiro e
8 de Março de 2021. Este período
coincidiu com o culminar de uma
fase de con namento total e foi a
partir de então que começou o desa-
gravamento das infecções por coro-
navírus (“durante o trabalho de cam-
po, os novos casos passaram de
cerca de 2000/dia para menos de
500/dia, e os óbitos desceram dos
100/dia para os 30/dia”). Correspon-
deu ainda às últimas semanas do
primeiro mandato de Marcelo Rebe-
lo de Sousa em Belém.
A nível nacional, o relatório foi
feito por José Santana Pereira (Iscte
— Instituto Universitário de Lisboa) e
Patrícia Silva (Universidade de Avei-
ro). Foram inquiridas 1100 pessoas.
Sónia Sapage
mais alta em Portugal do que na gene-
ralidade dos países da UE (35%). Por
m, a taxa de con ança nos partidos
políticos apresenta agora o valor de
15%, sendo também a mais baixa des-
de a Primavera de 2016. Só do Verão
para o Inverno a queda foi de seis
pontos, o que fez com que Portugal,
que estava em linha com a média
europeia, se passasse a posicionar
abaixo dessa média (21%).
Eurobarómetro de Inverno conclui que em Portugal o nível de preocupação com a situação económica é considerável
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 21
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José Manuel Silva lidera coligação de sete partidos em Coimbra
Lei autárquica não permite que movimentos independentes integrem coligações. Membros do Somos Coimbra vão na lista
Camilo Soldado
José Manuel Silva será o candidato
proposto pelos sete partidos da coli-
gação Juntos Somos Coimbra, que
concorre às eleições autárquicas
deste ano à Câmara Municipal de
Coimbra. O ex-bastonário da Ordem
dos Médicos será o cabeça de lista
de PSD, CDS, PPM, Volt, RIR, Aliança
e Nós, Cidadãos para tentar ganhar
uma autarquia que é PS desde 2013.
Apresentado como o nome do PSD
para Coimbra em Março, José
Manuel Silva não tinha ainda clari
cado que modelo iria assumir a can-
didatura que encabeça às eleições
autárquicas.
Apesar de estar no nome e ter as
suas pessoas, esta não é uma coliga-
ção com o Somos Coimbra, o movi-
mento independente pelo qual José
Manuel Silva tinha sido eleito verea-
dor em 2017 — por imposição legal,
os grupos de cidadãos não podem
fazer coligações. Os elementos do
Somos Coimbra passam, assim, a
integrar a lista do partido Nós, Cida-
dãos como independentes, uma solu-
ção que foi anunciada ontem por José
Manuel Silva, em frente do Convento
S. Francisco, em Coimbra.
“Esta foi a forma de nós contribuir-
mos e ninguém nos vir dizer que nos
diluímos num qualquer partido”,
disse José Manuel Silva aos jornalis-
tas. E foi uma forma de se afastar do
PSD? “Quando todos fazem uma coli-
gação, nenhum desaparece, nenhum
dos partidos é esvaziado”, respon-
deu, “todos contribuem com a sua
proporcionalidade”. “Não nos afas-
támos de ninguém”, sublinhou.
em investimentos essenciais para a
cidade — como o novo Palácio da Jus-
tiça, a nova maternidade, a requali
cação das escolas José Falcão e Eugé-
nio de Castro, a retirada da peniten-
ciária do centro de Coimbra ou a
revivi cação da zona histórica — e
anunciou que a coligação vai apre-
sentar 112 medidas de desenvolvi-
mento para a cidade.
O caminho até aqui chegar tem
tido alguns solavancos. O mais recen-
te partido a mostrar sinais de tensão
foi o CDS, cuja estrutura concelhia
votou por unanimidade apresentar
candidato próprio. A distrital está ao
lado de José Manuel, que disse ontem
ter o apoio da nacional dos centris-
tas.
Minutos antes da apresentação da
coligação, num comunicado assinado
pelo coordenador autárquico da con-
celhia do CDS, Nuno Vicente, o par-
tido anunciou que qualquer apresen-
tação aconteceria “à sua revelia”.
O Governo está a preparar alterações
ao Rendimento Social de Inserção
(RSI) com o objectivo de reforçar o
combate à pobreza. A revisão das
regras de atribuição e a melhor arti-
culação das prestações sociais exis-
tentes foi assumida ao Expresso pela
ministra do Trabalho e Segurança
Social, Ana Mendes Godinho.
“Estamos a fazer uma avaliação
dos 25 anos de implementação desta
prestação [RSI], tendo sido criado
um grupo de trabalho para proceder
a essa revisão no âmbito do ministé-
rio”, revelou a governante.
Até ao Verão, deve ser também
aprovada a Estratégia Nacional de
Combate à Pobreza, que proporá
medidas e estabelecerá metas de
redução da pobreza. Estas mudanças
contribuirão para que Portugal ajude
a Europa a chegar a 2030 com menos
15 milhões de pessoas em risco de
pobreza ou exclusão social.
Governo prepara revisão das regras do RSI
Sobre o futuro do movimento que
surgiu há quatro anos e que também
já teve uma cisão (em Outubro de
2020, metade dos dirigentes saiu em
desacordo com a estratégia), o can-
didato diz que o Somos Coimbra
“continuará a ter uma intervenção
cívica, construtiva, independente e
“Quando todos fazem uma coligação, nenhum desaparece”, defendeu o candidato
crítica” e que as pessoas que o inte-
gram “continuarão a trabalhar como
elementos do Somos Coimbra”.
No discurso de apresentação, o
médico referiu que Coimbra está “em
estado de emergência permanente:
emergência demográ ca, social, eco-
nómica, cultural e ambiental”. Falou
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22 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Ser liberal é ser indubitavelmente pela subsidiariedade
Manuel Carvalho, diretor do
PÚBLICO, escreve no seu editorial
[de quinta-feira 6 de Maio] “Lições
de Isabel Ayuso à direita de
Portugal” que a Iniciativa Liberal
com “a sua recusa em defender
um Estado descentralizado via
autarquias regionais mostra uma
contradição insanável: a recusa do
princípio da subsidiariedade, nada
mais nada menos do que o mantra
do pensamento liberal”.
Ora bem, reconhecendo
competência ao Manuel Carvalho,
só posso assumir que esta
passagem terá sido um lapso, por
pouca atenção, sobre o caminho
programático e a ação que a IL tem
apresentado ao país. Senão
vejamos:
Primeiro, no Programa Político
da IL, no capítulo sobre “Poderes e
Estrutura do Estado” está
claramente espelhado o
pensamento liberal: “Aplicar em
pleno o princípio da
subsidiariedade, descentralizando
o Estado. Reduzir a intervenção do
Estado central, mantendo o poder
nos indivíduos e em centros de
decisão mais próximos deste;
valorizar as autarquias; facilitar a
agregação voluntária de freguesias
e municípios, para a gestão e caz
do território.”
Segundo, no programa
“Descomplicar Portugal”, com que
o partido se apresentou nas
eleições legislativas, a IL destacou
a descentralização como um dos
seus sete pilares. E aqui advogava
algumas propostas concretas, tais
como: a descentralização da
gestão das escolas e do património
do Estado; a neutralidade scal da
descentralização; a existência de
um salário mínimo municipal;
uma maior autonomia local em
relação ao IMI.
Descentralizar competências,
especialmente aquelas que estão
incluídas no contexto das
políticas sociais, implica que as
entidades que receberão essas
competências sejam dotadas com
as capacidades e os meios
necessários para o exercício
dessas funções. Isto signi ca que
é fundamental que se
transferiram os fundos su cientes
para o efeito; mas também que se
conceda a necessária autonomia
política para que a gestão das
competências possa ser efetiva.
Passando à ação, aquando da
farsa das eleições para as CCDR,
uma eleição efetuada numa lógica
fechada (com base num colégio
eleitoral fechado sem participação
da sociedade civil) e cozinhada
entre os partidos do centro de
interesses político (PS e “PS com
D”), a IL assumiu uma postura
bem clara, demonstrando que
estas eleições são um mau
exemplo como se quer fazer a
descentralização: através de
marionetas e não através de voto
direto por parte das populações de
cada uma das regiões. Mais ainda,
o presidente e deputado único da
IL alertou que as CCDR têm
competências em matéria de
fundos comunitários e que estas
mudanças acontecem “um ano
antes das eleições autárquicas” e
“poucos meses antes da chegada
da ‘bazuca’ nanceira de
Bruxelas”.
Deste modo, relativamente à
descentralização de
competências, e como é evidente,
os liberais defendem que a mesma
assente num princípio intocável:
liberdade de ação e
responsabilidade, nomeadamente
pela inação ou má ação. Por este
motivo, não podem apoiar o
vergonhoso processo de
desresponsabilização política que
o Governo de António Costa
classi ca como
“descentralização”, processo esse
que não contempla, na verdade,
autonomia de decisão política na
gestão das competências que o
autarquias, mantendo-se o poder
centralista nas direções-gerais e a
tutela em Lisboa das entidades de
âmbito regional nas áreas de
saúde, educação, ação social,
agricultura, etc.
Em conclusão, ao longo deste
processo, teremos um governo
que diz que transferiu as
competências, enquanto a maioria
das autarquias dirá que não lhes
foi dada autonomia política em
relação à efetiva implementação
das mesmas. A culpa desta
ine ciência morrerá outra vez
solteira, e a fatura voltará a ser
paga pelos contribuintes lusos.
Sim, caro Manuel Carvalho, os
liberais apoiam a
descentralização. Os liberais
também estão totalmente do lado
do princípio da subsidiariedade.
Contudo, não podem apoiar
“eleições fake” para órgãos com
características de gestão regional e
muito menos permitir que exista
mais uma entropia na gestão
pública de proximidade por forma
a perpetuar o centralismo reinante
no país.
Pela via programática e pela
ação, a Iniciativa Liberal tem sido
um exemplo na defesa da efetiva
descentralização.
Para nós, a liberdade é tão
valiosa que só vale quando é
efetivamente exercida! E as
responsabilidades devem ser
sempre assumidas. Por isso, não
somos “socialistas com D” ou
“sem D”.
Opinião
Ricardo Valente
TIAGO PETINGA/LUSA
Governo pretende transferir para
as autarquias, uma vez que o que é
efetivamente transferido é um
conjunto de “tarefas” sem
relevância do ponto de vista de
políticas de desenvolvimento local
e regional.
Daqui resulta a incapacidade de
alguém assumir responsabilidades
efetivas nas ditas competências
transferidas, uma vez que, por
exemplo, as estruturas das
direções-gerais mantêm-se
intactas. Em minha opinião, o
processo de descentralização
socialista é meramente uma
tentativa de desorçamentação de
despesas do Estado central para as
Militante da IL, economista e docente universitário
Sim, os liberais apoiam a descentralização. Os liberais também estão totalmente do lado do princípio da subsidiariedade
Política
Fosse por lapso, ou por pouca
atenção, Ricardo Valente não leu
por inteiro a frase dedicada ao
desafecto da Iniciativa Liberal para
com o princípio da
subsidiariedade. O que se aponta
nessa frase não é o desamor à
descentralização; é o desconforto
ou até a rejeição da
descentralização para autarquias
regionais — ou, por outras palavras,
pela regionalização. O que é uma
coisa completamente diferente.
No liberalismo sem medo do
poder dos cidadãos, o autogoverno
local é a fórmula mais e caz para
travar o poder desmesurado do
Estado, logo para garantir condições
de liberdade individual. Ora, não há
autogoverno democrático sem
poder político democraticamente
eleito. Em Portugal, esse princípio
cumpre-se à escala municipal. Mas
não é essa escala que reduz os
perigos de um dos Estados mais
centralizados da Europa, como o
nosso. É a escala regional — em que,
ao contrário do que propõe a
Constituição, os cidadãos não têm
qualquer voto na matéria.
A IL reconhece a lacuna, mas
preenche-a com a estafada fórmula
da descentralização, na qual o
Estado central outorga funções e
competências às suas próprias
estruturas locais ou regionais. O
princípio da subsidiariedade passa
de fundamento político a mera
decisão administrativa. Dizia Alexis
de Toqueville que a Revolução
Francesa pode ter sido um
“empurrão para a
descentralização, mas que, no
nal, resultou numa extensão da
própria centralização”. Ricardo
Valente leu de certeza.
Acreditar que o princípio da
subsidiariedade se alcança com a
País
A subsidiariedade estatizada da IL
descentralização controlada pelo
Estado central é uma ilusão. O
autogoverno, a liberdade e
responsabilidade dos cidadãos
implica, no pensamento liberal, o
exercício da democracia comunal.
De instâncias locais (ou regionais)
eleitas e escrutinadas pelos
cidadãos. A IL pode dar mil voltas
ao texto, mas o que defende é uma
subsidiariedade cedida, tolerada e
gerida pelo Estado e não exercida
pela vontade e liberdade dos
indivíduos. Uma subsidiariedade
estatizada, portanto. Manuel Carvalho
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 23
Política
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Marcelo mostra-se satisfeito com poderes presidenciais até em estado de emergência
Presidente da República defende que estado de emergência funcionou no actual sistema político “sem choques de maior”
Sofia Rodrigues
Marcelo Rebelo de Sousa foi desa ado
a pronunciar-se sobre os poderes pre-
sidenciais. Numa conferência online,
o Presidente falou não só tendo em
conta a sua experiência do exercício
de funções mas também enquanto
académico: o actual regime “semipre-
sidencialista” tem respondido “aos
choques internos e externos” do sis-
tema em períodos de normalidade e
de excepcionalidade como os da
declaração do estado de emergência.
A posição foi assumida ontem na ses-
são de abertura dos encontros anuais
de Ciência Política, organizados pela
Faculdade de Direito do Porto.
“Ao cumprir-se a Constituição está
a defender-se a democracia, sendo o
Presidente da República um seu guar-
dião particularmente quali cado”,
a rmou Marcelo Rebelo de Sousa.
O recurso à declaração do estado
de emergência “provou ser possível
preservar os equilíbrios institucionais
e cumprir a lei fundamental sem des-
vios e mantendo o sistema sem cho-
ques de maior no que toca ao desem-
te, da óptica que era minha como
académico e na óptica que é a minha
como Presidente, têm respondido
com rigor, pertinência, sustentabili-
dade àquilo que tem sido a História
da nossa democracia aos choques
internos e externos do nosso sistema
e aos desa os políticos, económicos
sociais, culturais, diplomáticos.”
Numa intervenção seguinte, o
constitucionalista Vital Moreira, que
tal como Marcelo também foi depu-
tado constituinte, disse que o papel
de um Presidente é o de um regulador
do sistema político: “É um polícia, um
árbitro e um bombeiro como se mos-
trou agora na declaração do estado
de emergência.”Marcelo Rebelo de Sousa
penho dos poderes presidenciais”,
a rmou Marcelo Rebelo de Sousa,
lembrando que o “instituto é sensí-
vel” e que implica a articulação com
o Parlamento e o Governo. “Podia
não ser assim, podia ser um teste
rodeado de problemas no relaciona-
mento com Assembleia da República,
partidos, com o Governo e o primei-
ro-ministro, mas não foi isso que
aconteceu. Foi mesmo possível
encontrar um consenso generalizado,
ajustado, permanentemente objecto
de audição dos envolvidos”, disse.
Marcelo con rma a perspectiva
que já tinha na universidade quanto
ao exercício das actuais funções: “Os
poderes constitucionais do Presiden-
Se Jorge Coelho era o homem do apa-
relho, Domingos Ferreira era o
homem de todas as campanhas e con-
gressos do PS. Há muitos anos que
este militante de base idealizava e
montava os eventos mais importantes
do partido. Faria 73 anos no dia 20 de
Maio. Morreu ontem, ao nal da tar-
de, no Hospital de Santo António, no
Porto, onde estava internado há uma
semana. A notícia foi con rmada ao
PÚBLICO por Manuel Pizarro, líder
da distrital do Porto do PS.
“Foi sempre um militante dedicado
e um organizador inspirado e compe-
tente. Deixa na memória de todos os
socialistas uma enorme saudade e
uma grande gratidão por tudo o que
fez ao serviço do PS. Vai fazer muita
falta”, disse Pizarro.
Indispensável a secretários-gerais
socialistas como Jorge Sampaio, Antó-
nio Guterres, José Sócrates e António
José Seguro ou António Costa, Domin-
gos Ferreira organizou o congresso
do PS Porto, em Setembro de 2020,
durante o qual foi homenageado.
Apesar de ter idealizado todo o con-
clave (o seu último conclave), já não
pôde estar presente.
Em Abril, quando já estava muito
doente, António Galamba dedicou-
lhe algumas linhas num artigo de opi-
nião no jornal Inevitável. “O Domin-
gos Ferreira foi um dos pressupostos
de muitos êxitos políticos e eleitorais
do PS, aquém dos que brilhavam em
frente dos holofotes”, escreveu o ex-
dirigente. S.S. e M.G.
Morreu o homem que deu “muitos êxitos” ao PS
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24 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Sociedade Covid-19
Governo está a violar regras de requisição civil que criou para o Zmar
O Governo está a violar as regras da
requisição civil que ele próprio
determinou para a utilização do
empreendimento turístico ZMar.
Isto porque o executivo, em parce-
ria com a Câmara Municipal de Ode-
mira, está a usar o complexo para
alojar imigrantes que não estão
infectados com o SARS-Cov-2, nem
estão em isolamento pro láctico, as
duas situações previstas no despa-
cho conjunto do primeiro-ministro
e do ministro da Administração
Interna que decretou a requisição
civil.
Na realidade, as pessoas que estão
em dez casas (das cerca de 260) do
empreendimento não têm covid-19,
nem estiveram em contacto com
pessoas contaminadas pelo vírus.
São apenas trabalhadores que as
autoridades detectaram estar a resi-
dir em locais sem as devidas condi-
ções de habitabilidade e de salubri-
dade e que foram colocados tempo-
rariamente no ZMar.
Questionado sobre a justi cação
deste desvio à requisição civil, que
na opinião de especialistas ouvidos
pelo PÚBLICO pode con gurar um
vício de desvio de poder, o Ministé-
rio da Administração Interna optou
por não responder. A Câmara de
Odemira também não respondeu às
perguntas do PÚBLICO.
O presidente da autarquia José
Alberto Guerreiro reconheceu na
quinta-feira numa conferência de
imprensa que os 49 trabalhadores
que foram realojados naquela
madrugada de dia 6 de Maio apenas
saíram da propriedade onde resi-
diam (local onde viviam cerca de 70
pessoas) por falta de condições.
O ministro da Administração
Interna, Eduardo Cabrita, também
tem reconhecido publicamente a
Privados que protestam contra a requisição não são proprietários, mas apenas donos de casas amovíveis que terão de ser retiradas em caso de falência
utilização do ZMar para alojar pes-
soas que estiverem a residir em
locais sem condições de salubrida-
de, sem nunca referir, no entanto,
que tal situação não está prevista no
despacho que decretou a requisição
civil.
MAI impede suspensão Entretanto, ontem intensi cou-se a
luta dos chamados “proprietários
privados” do complexo, que detêm
160 das cerca de 260 casas de madei-
ra do empreendimento.
O Supremo Tribunal Administra-
tivo aceitou a providência cautelar
apresentada por um grupo de donos
das habitações amovíveis que quer
suspender a e cácia do despacho
que determinou a requisição civil.
Em princípio, a simples aceitação
da acção urgente tem como efeito
suspender a requisição civil a partir
do momento em que o Governo é
noti cado da admissão do processo
por parte do tribunal.
No entanto, a lei possibilita à
Administração Pública recorrer à
chamada resolução fundamentada
que retira os efeitos práticos desta
suspensão automática. O MAI garan-
tiu ontem à noite ainda não ter sido
citado pelo tribunal, mas já disse
que irá apresentar a tal resolução
fundamentada.
A verdade é que o tempo médio
que o STA demora habitualmente a
decidir acções urgentes como esta,
um prazo que oscila entre os dois e
os três meses, deverá retirar qual-
quer efeito útil a este procedimento
urgente. O Supremo recusou fazer o
chamado “decretamento provisório
da providência”, que retiraria mar-
gem de reacção ao Governo, consi-
derando “os relevantes valores e
interesses que estão em causa e que
aconselham a ouvir previamente as
razões dos demandados” e argumen-
Mariana Oliveira
Se Rio fosse Costa, Cabrita “não teria condições para estar no Governo”
Chega, IL, CDS e até um autarca do PS pediram contas a Eduardo Cabrita
A direita está unida e unânime na avaliação que faz de Eduardo Cabrita. Chega, Iniciativa Liberal e CDS já
tinham pedido, em momentos diferentes, a demissão do ministro da Administração Interna, mas agora veio também o líder do PSD, Rui Rio, dizer que, se fosse primeiro-ministro, Eduardo Cabrita “não tinha condições para estar no Governo”.
“Eu não tenho de pedir demissões de ministros porque isso é o primeiro-ministro que deve decidir. O máximo que posso dizer é que (...) o ministro Eduardo Cabrita, se eu fosse primeiro-ministro, não tinha condições para estar no Governo, mas não é só exclusivamente por causa de Odemira, é por todo o seu
desempenho”, disse o líder social-democrata, à margem da sua participação no primeiro fórum do Conselho Estratégico Nacional (CEN) do Porto.
Para Rui Rio, “o ministro [da Administração Interna] Cabrita tem um desempenho muito fraco” e não é o único. Também o Ministério da Justiça e o do Trabalho tinham a obrigação, na opinião do líder do PSD, “de estar a par e a tratar do caso”.
“A Polícia Judiciária, segundo as notícias que vieram a público, anda a investigar há mais de dois anos. Se demora dois anos a investigar o que está à vista de todos, não sei para que serve a investigação, a não ser para se dizer que se está a fazer”, questionou Rui Rio.
Ontem de
manhã, o presidente do CDS enviou uma mensagem à comunicação social a pedir a demissão do ministro da Administração Interna. Juntou a sua voz às dos líderes do Chega e da Iniciativa Liberal, mas com um motivo adicional: a suspensão da requisição ao Zmar que foi decretada pelo Governo e defendida por Cabrita. Depois disso, o presidente da Junta de Freguesia de São Teotónio, do PS, também exigiu a saída do ministro com críticas à sua actuação no
levantamento da cerca sanitária de Odemira. Rodrigues dos Santos aproveitou para pedir uma audiência ao Presidente
da República. Cabrita reagiu: “Coitado do CDS, é um partido
náufrago”. S. S.
s anos a á à vista ra que, a não
levantamde OdeSantosuma au
dareC
n
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 25
Trabalhadores imigrantes foram levados de madrugada para o empreendimento turístico
Alexandra Campos
JOSE FERNANDES
377 novos casos de infecção registados anteontem em Portugal por covid-19. Segundo o boletim de ontem da DGS morreu uma pessoa no Algarve
57,7 casos de infecção por 100 mil habitantes é agora o valor da incidência, que caiu desde o início da semana. Tal como o R(t) que estava ontem nos 0,92
tando com o tal efeito automático
previsto na lei que determina que a
“autoridade administrativa, recebi-
do o duplicado do requerimento,
não pode iniciar ou prosseguir a exe-
cução do acto administrativo”.
O problema de interpretação do
Código de Processo dos Tribunais
Administrativos, uma discussão já
antiga, é que logo a seguir a esta a r-
mação diz: “Salvo se, mediante
remessa ao tribunal de resolução
fundamentada na pendência do
processo cautelar, reconhecer que
o diferimento da execução seria gra-
vemente prejudicial para o interesse
público.”
Proprietários de quê? Na providência apresentada os
“proprietários” assumem que não
têm de facto essa qualidade, já que
o que possuem são as casas de
madeira, um bem móvel não sujeito
a registo. Isto porque a propriedade
é um terreno rural único onde a
construção é muito limitada e nem
sequer está dividida em lotes. A
maior parte dos donos das casas
tem um contrato com a empresa
que é dona do empreendimento e
de 100 das casas de madeira para
cederem “o equipamento móvel de
alojamento” mediante o pagamento
de uma comissão que varia entre os
40 e os 60% do valor do aluguer.
Alguns optaram por não disponibi-
lizar as suas casas para aluguer.
Apesar de ser um grande
empreendimento turístico, o Zmar
está licenciado como um parque de
campismo. Se o complexo falir,
como temem os donos das 160
casas, estes terão de desmontar as
habitações, retirá-las do local e
arranjar um novo terreno para as
colocar. Isso mesmo admitem na
providência que apresentaram no
Supremo onde invocam inúmeros
vícios ao despacho do Governo, pas-
sando pela incompetência de quem
proferiu a decisão até à violação da
proporcionalidade da medida.
Pelo menos quatro imigrantes
deviam sair ontem do empreendi-
mento, porque a Câmara de Odemi-
ra já arranjou um local alternativo
para carem. Tal devia-se ao facto
de a alternativa ser mais próxima
dos locais de trabalho dos imigran-
tes e não está relacionada com a
providência cautelar.
As freguesias de Longueira-Almo-
grave e São Teotónio, no concelho
de Odemira, estão em cerca sanitá-
ria desde a semana passada por
causa da elevada incidência de
covid-19 entre os imigrantes que
trabalham na agricultura na região.
Na altura, o Governo determinou “a
requisição temporária, por motivos
de urgência e de interesse público e
nacional”, da “totalidade dos imó-
veis e dos direitos a eles inerentes”
que compõem o complexo turístico
Zmar Eco Experience, na freguesia
de Longueira-Almograve, ou seja,
dentro da cerca sanitária.
Numa altura em que o ritmo de vaci-
nação contra a covid-19 ultrapassa
as 100 mil doses diárias, há pessoas
na faixa etária dos 50 anos que já
estão a receber a primeira dose em
alguns locais do país, adiantou ao
PÚBLICO uma fonte do grupo de
trabalho (task force) responsável
pelo plano nacional de vacinação.
“Há agrupamentos de centros de
saúde com di culdade em encon-
trar pessoas com mais de 60 anos”
e que, por isso, estão a começar a
convocar utentes a partir dos 59
anos para baixo, explicou, garantin-
do que as doses que vão chegando
são distribuídas de forma equitativa
pelas diversas regiões do país.
Ritmo aumenta
Já há concelhos a vacinar pessoas sem doenças na faixa etária dos 50 anos
O aumento do ritmo da adminis-
tração de vacinas vai, por outro
lado, permitir que as pessoas a par-
tir dos 60 anos se inscrevam no por-
tal para auto-agendamento já a par-
tir do próximo m-de-semana ou do
início da semana seguinte, segundo
revelou à Lusa a task force. A possi-
bilidade de marcação do local e dia
da vacinação através deste portal
arrancou em 23 de Abril passado
para os maiores de 65 anos, e, até
ao dia 3, cerca de 206 mil pessoas
aproveitaram a alternativa e inscre-
veram-se.
“Tratando-se de um sistema com-
plexo e maciço e que se encontra
em transição, optou-se nesta fase
inicial abrir o auto-agendamento
somente a pessoas com mais de 65
anos, sendo expectável abrir o auto-
agendamento para as pessoas com
mais de 60 anos no nal da próxima
semana ou início da seguinte”, espe-
ci cou a task force, que sublinhou
em comunicado que foi justamente
a “implementação do auto-agenda-
A partir do final da próxima semana ou do início da seguinte, as pessoas a partir dos 60 anos já podem auto-agendar vacinação
A vacinação está a decorrer a um ritmo mais acelerado
DANIEL ROCHA
mento que permitiu aumentar signi-
cativamente o ritmo de vacinação,
apesar de alguns contratempos veri-
cados no processo”. A marcação
estava antes centralizada nas unida-
des de saúde, através das adminis-
trações regionais e os agrupamentos
de centros de saúde.
“Esta mudança permitiu um
incremento muito signi cativo de
agendamentos e a libertação de pro-
ssionais de saúde, que se encon-
travam empenhados no agenda-
mento local, contribuindo de forma
muito signi cativa para o necessário
aumento do ritmo de inoculações.
Sem esta mudança não seria possí-
vel atingir o ritmo de vacinação
necessário”, sublinhou a fonte do
grupo de trabalho.
Mais de 100 mil num dia Se nesta quarta-feira foram vacina-
das mais de 90 mil pessoas, na quin-
ta já se ultrapassou a barreira das
100 mil, e ontem as estimativas
apontavam para um total de 105 mil
inoculações, antecipando em uma
semana o objectivo que tinha sido
de nido pela task force. O aumento
do ritmo de vacinação levou ainda
a que o país chegasse a um milhão
de pessoas com o esquema vacinal
completo — com uma dose da vaci-
na da Janssen (do grupo Johnson &
Johnson) ou duas doses das outras
três marcas disponíveis em Portugal
(P zer, Moderna e AstraZeneca).
A ministra da Saúde e o coordena-
dor da task force, Henrique Gouveia
e Melo, já anunciaram que a meta é
ter todos os maiores de 60 anos de
idade vacinados com pelo menos a
primeira dose até à terceira semana
ou até ao nal deste mês.
Ao mesmo tempo, porém, ainda
há uma franja de pessoas maiores
com 80 ou mais anos por vacinar,
apesar de a imunização nesta fase
etária estar quase concluída (93%
tinha recebido a primeira dose até
ao passado dia 4). São “pessoas
anteriormente infectadas” ou “mais
isoladas e cujos contactos não esta-
vam actualizados e, por isso, neces-
sariamente, é mais difícil e moroso
chegar até elas”, justi cou o grupo
de trabalho ao Expresso.
Para esses casos, está a ser feito
um trabalho em articulação com
“bombeiros, juntas de freguesia e
forças de segurança”. A task force
apela aos maiores de 80 anos ainda
por vacinar que se dirijam “a uma
junta de freguesia, posto dos bom-
beiros, da GNR ou da PSP de forma
a darem os seus contactos e, desta
forma, serem convocados”. com
Lusa
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26 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
É um retrato de uma saúde mental a
precisar de ajuda aquele que o Gover-
no traçou no PRR. Para esta área, o
investimento previsto é de 87,3
milhões de euros até 2025. Entre as
prioridades estão, por exemplo, o
alargamento até mil lugares das res-
postas de cuidados continuados inte-
grados de saúde mental em 50 resi-
dências e unidades socio-ocupacio-
nais, e de até 100 lugares em dez
equipas de apoio domiciliário de saú-
de mental. “Actualmente, e apesar de
ser responsável pelo 2.º lugar na car-
ga global de doenças (11,8 %), o nan-
ciamento estimado para o funciona-
mento dos serviços de saúde mental
não chega aos 5% dos gastos totais do
SNS, estimando-se que o total dos
custos com a doença mental, em Por-
tugal, represente 3,7% do PIB, corres-
pondendo a um total de 6,6 mil
milhões de euros, divididos entre 2
mil milhões em custos directos com
o sistema de saúde, 1,7 mil milhões
em benefícios sociais e 2,9 mil
milhões de euros em custos indirec-
tos no mercado de trabalho”, diz o
executivo, recorrendo a um relatório
de 2019 do Conselho Nacional.
“Por estes motivos, Portugal é hoje,
com grande diferença, o país mais
atrasado da Europa Ocidental no que
se refere ao grau de desenvolvimento
dos serviços de saúde mental”, assu-
me o Governo, referindo que “a emer-
gência da pandemia covid-19 veio
reforçar de forma muito signi cativa
a necessidade urgente” da implemen-
tação da reforma da saúde mental.
Lembra ainda que “as perturbações
mentais são, de entre as doenças cró-
nicas, a primeira causa de incapaci-
dade em Portugal”.
A dimensão reduzida das respostas
em cuidados continuados integrados
“é uma limitação importante”, admi-
te o Governo, e há também uma
“manifesta desigualdade no acesso a
estas respostas nas diferentes
regiões”. A maioria dos lugares está
localizada no Norte (31%) e é o Alen-
tejo (6,9%) que menos respostas tem.
Na área da infância e adolescência,
“as assimetrias regionais são ainda
mais evidentes”, lê-se no PRR.
A maior fatia do dinheiro da “bazuca” destinado à saúde vai para os cuidados primários
Exames, análises e mais dentistas: há 465 milhões para melhorar centros de saúde
Governo diz que “actual oferta dos cuidados de saúde primários precisa de ser reformada, qualificada e alargada”
Ana Maia
Dos mais de mil milhões de euros que
o Plano de Recuperação e Resiliência
(PRR) designa para a área da saúde, a
maior fatia vai para os cuidados de
saúde primários, num plano de inves-
timento até 2026: 465,5 milhões de
euros. A reforma nesta área já leva 15
anos, mas o Governo admite que há
assimetrias nas respostas. Por isso,
a rma que a “actual oferta dos cuida-
dos de saúde primários precisa de ser
reformada, quali cada e alargada,
apostando no reforço das respostas
aos cidadãos, na transformação digi-
tal, na sustentabilidade energética
das instalações e em soluções colabo-
rativas e de proximidade”.
Um dos desa os “passa pela cria-
ção do ‘novo centro de saúde’, mais
pró-activo, mais centrado na respos-
ta aos utentes, mais resolutivo” e para
lá chegar é preciso “alargar a carteira
de serviços e as áreas de intervenção,
aumentando a capacidade resolutiva
das situações agudas e crónicas, res-
pondendo às necessidades não satis-
feitas no SNS (como é o caso da saúde
oral ou da reabilitação) ou internali-
zando meios complementares de
diagnóstico e terapêutica (MCDT)
realizados no sector convencionado
(custaram 507 milhões de euros em
2019, mais 18,2% do que em 2015),
com destaque para as análises clínicas
(186 milhões) e radiologia (114
milhões)”.
Entre as medidas estratégicas está
a criação de centros de diagnóstico
integrado nos agrupamentos de cen-
tros de saúde (Aces). Nas metas, o
Governo explica que quer dotar os
Aces “com mais capacidade de reali-
zação de pequenos testes e exames”,
dando o exemplo de análises ao san-
gue, teste de bactérias, raio-X, ecogra-
as, ECG e ecocardiograma, “de for-
ma a permitir: resolução de proble-
mas agudos menores; seguimento de
doentes crónicos controlados, reali-
zação de tratamentos noutras áreas
essenciais da prevenção”. Aqui, exem-
pli ca com as áreas da saúde mental,
nutrição ou actividade física.
“A resposta rápida (menos de duas
horas) em patologia clínica ou radio-
logia convencional deste centro de
diagnóstico integrado, que deverá
estar instalado no centro de saúde ou
a funcionar em articulação com o
hospital de proximidade, permitirá
servir várias USF [Unidades de Saúde
Familiares] e UCSP [Unidades de Cui-
dados de Saúde Personalizados]”,
explica-se no PRR. Os primeiros cin-
co centros deverão estar criados no
último trimestre de 2022 e deverão
ser 50 no nal de 2025. Existem 55
Aces no continente. O custo médio
estimado por cada centro de diagnós-
tico integrado é de 300 mil euros
para equipamento de análises clíni-
cas e exames simples, sendo que o
Governo assume que “na maioria dos
casos haverá necessidade de se pro-
ceder à realização de obras de adap-
tação para a instalação dos equipa-
mentos, para a logística de atendi-
já tinham oferta de saúde oral, o que
se traduzia numa resposta em 91 dos
278 concelhos do continente. A
meta é chegar ao nal do primeiro
trimestre de 2026 com 130 novos
gabinetes de saúde oral criados nos
centros de saúde, o que obrigará a
contratar mais médicos dentistas e
auxiliares. De acordo com o plano,
os primeiros dez novos gabinetes
estarão criados no segundo trimes-
tre do próximo ano e o custo médio
estimado pelo Governo para equi-
par cada gabinete de medicina den-
tária é de 50 mil euros.
Unidades móveis Os planos para aumentar a resposta
dos centros de saúde passam também
pela criação de gabinetes de reabili-
tação, outra área em que a oferta do
SNS é limitada. Será preciso contratar
técnicos para fazer avançar estes gabi-
netes e os primeiros quatro deverão
estar a funcionar no último trimestre
do próximo ano. A meta é criar 18
gabinetes até ao nal de 2025.
Nos planos estão também a quali
cação de instalações, com construção
de “novas unidades/pólos de saúde,
para substituir edifícios desadequa-
dos”, garantindo que têm melhor
e ciência energética. As metas estão
divididas por ano: 20 no último tri-
mestre de 2023, 30 no nal de 2024,
o mesmo número no nal de 2025 e
20 no segundo trimestre de 2026.
Haverá ainda novas unidades
móveis para cobertura das regiões de
baixa densidade. São consultórios
sobre rodas “totalmente equipados”.
As primeiras quatro novas unidades
deverão estar disponíveis no terceiro
trimestre do próximo ano.
MANUEL ROBERTO
Governo admite falhas
“O país mais atrasado da Europa” na resposta à saúde mental
As necessidades de cuidados dentários não satisfeitas em Portugal são as segundas mais elevadas na UE Plano de Recuperação e Resiliência
mento e prestação dos serviços”.
Há outra meta antiga do Governo
PS que a “bazuca” europeia pode aju-
dar a alavancar: o alargamento da
oferta de dentistas nos cuidados de
saúde primários, projecto que come-
çou em 2016, mas que ainda está lon-
ge da resposta pretendida. Na contex-
tualização que faz dos desa os que o
sistema de saúde nacional enfrenta,
recorda o relatório da OCDE de 2019,
referindo que “as necessidades de
cuidados dentários não satisfeitas em
Portugal são as segundas mais eleva-
das na UE e correspondem a cerca do
quádruplo da média”.
No início do ano passado, 47 Aces
O PRR prevê que sejam gastos 87,3 milhões de euros para reforço da área da saúde mental até 2025
Sociedade
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 27
Ministério Público pede dez anos de prisão para instrutor dos Comandos
Foram pedidas penas suspensas para o capitão-médico e o director da Prova Zero. MP pede absolvição para 14 arguidos
Ana Dias Cordeiro
A procuradora do julgamento dos
Comandos pediu uma pena de prisão
efectiva de dez anos para o instrutor
Ricardo Rodrigues, o qual responsa-
biliza pelo agravamento do estado de
Hugo Abreu, no primeiro dia da Pro-
va Zero, em 4 de Setembro de 2016.
Para o capitão-médico Miguel
Domingues e o director da Prova
Zero, o tenente-coronel Mário Maia,
o Ministério Público (MP) pediu
penas suspensas de cinco e dois anos
respectivamente, por considerar que
nenhum deles fez o que deveria para
socorrer de forma atempada o ins-
truendo Hugo Abreu, bem como
Dylan da Silva — este último transfe-
rido para o hospital nessa noite e que
viria a morrer seis dias depois.
Para dois arguidos, Lenate Inácio
e o tenente Pedro Fernandes, foram
pedidas penas suspensas de dois
anos por terem cado provadas
agressões a instruendos durante o
curso, concluiu o MP, que decidiu
pedir a absolvição dos restantes 14
arguidos — entre os quais o coman-
dante de companhia de formação,
capitão Rui Passos Monteiro, o enfer-
meiro João Coelho, e instrutores dos
quatro grupos de recrutas ou do tiro
por entender que não tinha sido pro-
duzida prova para sustentar a acusa-
ção de abuso de autoridade por ofen-
sas à integridade física.
As alegações nais do julgamento
dos Comandos começaram ontem no
Campus da Justiça, em Lisboa. O jul-
gamento resulta de um inquérito-
-crime aberto para esclarecer as cir-
cunstâncias das mortes de Hugo
Abreu e Dylan da Silva, dois jovens de
20 anos que participavam na Prova
Zero do curso 127 realizada no Campo
de Tiro de Alcochete sob uma tempe-
ratura a rondar os 40 graus.
Pela morte de Hugo Abreu, a magis-
trada Isabel Lima apontou os três
principais arguidos como responsá-
veis do crime de abuso de autoridade
por ofensas à integridade física, tendo
como resultado o perigo para a vida.
Mas enquanto no caso do sargento
Ricardo Rodrigues, instrutor e encar-
regado do grupo de graduados em
que estava Hugo Abreu, o MP consi-
derou que havia uma responsabilida-
de criminal por acção, já nos casos do
capitão-médico chefe da equipa de
apoio ao curso e do director da Prova
Zero, concluiu terem sido responsá-
veis “por omissão” por desenvolvi-
mentos que resultaram em perigo
para a vida de Hugo Abreu. A procu-
radora citou as palavras de Miguel
dir em matéria de responsabilidades
criminais pela “forma como decor-
reu a Prova Zero”. “Não estávamos
à espera”, admitiu Sá Fernandes ao
colectivo de juízes, sublinhando o
facto de a decisão agora conhecida
(posterior à prova produzida no jul-
gamento) não ter acompanhado a
acusação deduzida pelo MP em
Junho de 2017.
A acusação responsabilizava os 19
militares por práticas de instrução
susceptíveis de terem provocado
lesões, pelo racionamento de água
não adaptado ao calor extremo desse
dia e associado ao estado de desidra-
tação dos instruendos e também pela
alegada falta de assistência aos recru-
tas que se sentiram mal. Quanto às
responsabilidades dos o ciais pela
inerência do cargo, o MP considerou
não poderem ser condenados apenas
pela responsabilidade da função que
exercem, uma vez que não cou pro-
vada a sua intervenção em crimes.
Em declarações ao PÚBLICO,
Ricardo Sá Fernandes salientou que,
embora respeite a posição do MP,
discorda de “uma parte importan-
te.” “A questão está em que a procu-
radora pôs o foco na falta de assistên-
cia a Hugo Abreu e a Dylan da Silva,
e num ou noutro comportamento
desviante, quando o problema está
na forma como esta Prova Zero foi
concebida e executada e que, a nos-
so ver, merece censura criminal.”
Sónia Trigueirão
Os dois jornalistas vigiados pela PSP
por ordem do Ministério Público (MP)
foram agora acusados de violação do
segredo de justiça, assim como o
coordenador da Polícia Judiciária (PJ),
Pedro Miguel Fonseca. Segundo uma
notícia da TVI24, que o PÚBLICO con-
rmou, Henrique Machado, editor de
justiça da TVI, foi acusado de um cri-
me de violação do segredo de justiça
e Carlos Rodrigues Lima, subdirector
da revista Sábado, terá de responder
por três crimes.
No caso de Henrique Machado, está
em causa a publicação de uma notícia
em que, segundo o MP, a matéria tra-
tada estaria em segredo de justiça. No
entanto, não foi possível ao MP apu-
rar quem terá sido a fonte do jornalis-
ta e também não são apontadas pro-
Dois jornalistas e um coordenador da Polícia Judiciária acusados de violação do segredo de justiça
vas de que tenha sido o coordenador
da PJ. “O arguido Henrique Machado
teve, por modo não apurado, acesso
a informações relativas ao conteúdo
de actos processuais do inquérito e-
Toupeira”, lê-se na acusação a que o
PÚBLICO teve acesso.
Já no que diz respeito ao subdirec-
tor da Sábado, estão em causa notí-
cias sobre três processos (e-Toupei-
ra, e-mails do Ben ca e Operação
Lex). Aqui o MP também considera
que a matéria estaria abrangida pelo
segredo de justiça, e para tal baseia-
se no facto de existirem registos de
chamadas entre Carlos Rodrigues
Lima e Pedro Miguel Fonseca,
embora sem informação concreta
sobre o conteúdo das mesmas.
Ao coordenador da PJ são imputa-
dos três crimes de violação do segre-
do de justiça e ainda um crime de
abuso de poder e um de falsidade de
testemunho, perícia, interpretação
ou tradução. Este último está rela-
cionado com o facto de o arguido ter
sido interrogado a 25 de Maio de
2018 sobre eventuais fugas de infor-
mação no caso e-Toupeira. Quando
lhe perguntaram se falou com jorna-
listas, disse que não, o que contra-
disse os registos telefónicos. Entre
as dezenas de testemunhas arroladas
pelo MP, estão os dois magistrados
Fátima Galante e Rui Rangel, argui-
dos na Operação Lex.
Este processo teve origem num
inquérito instaurado em 2018 pelo
Departamento de Investigação e
Acção Penal com o objectivo de apu-
rar fugas de informação no proces-
so e-Toupeira, tendo constituído
arguidos o coordenador superior da
PJ e os dois jornalistas (Henrique
Machado trabalhava na altura no
Correio da Manhã). Foi no âmbito
deste inquérito que, em Abril de
2018, a procuradora Andrea Mar-
ques pediu vigilância policial para
os dois jornalistas, decisão contes-
tada pelos pro ssionais que consi-
deraram o procedimento ilegal.
Quando a vigilância aos jornalis-
tas veio a público, gerou-se uma
grande polémica, o que levou a pro-
curadora--geral da República, Lucí-
lia Gago, a anunciar a instauração
de um processo de averiguação, em
Janeiro deste ano, destinado a apu-
rar se o MP havia exorbitado as suas
competências. O Conselho Superior
do Ministério Público acabou por
arquivar o processo, com dois votos
contra, considerando que as duas
procuradoras visadas não violaram
deveres funcionais.
Procuradora só pediu condenações para cinco dos 19 arguidos
DANIEL ROCHA
O problema está na forma como esta Prova Zero foi concebida e executada Ricardo Sá Fernandes Advogado dos pais das vítimas
Domingues, que disse que “ zeram
tudo para o salvar”. “Não zeram”,
disse Isabel Lima.
O MP concluiu ter sido feita a prova
de que o sargento Ricardo Rodrigues
colocou terra na boca de Hugo Abreu
quando este precisava de ser assisti-
do, já depois de retirado da prova,
estar a respirar mal e não responder
ao que lhe diziam. Por essa razão,
considera a sua culpa “por acção”.
Ricardo Sá Fernandes, advogado
que representa os pais dos jovens
que morreram, anunciou que nas
suas alegações nais, a 13 de Maio,
irá “colmatar” o que cou por deci-
Coordenador da PJ está acusado de quatro crimes
Sociedade
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28 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Local São necessárias intervenções de fundo, mas as obras tardam
A sete meses de fazer 70 anos, ponte de Vila Franca continua à espera de obras
A mais antiga travessia do Tejo no
distrito de Lisboa completa 70 anos
já no próximo dia 30 de Dezembro.
Mas a ponte de Vila Franca de Xira
(Marechal Carmona) há muito que
espera por intervenções de fundo
que reabilitem o tabuleiro, o pavi-
mento, as protecções laterais e o
sistema de iluminação. Não são
conhecidos problemas estruturais na
ponte, mas os autarcas vila-franquen-
ses não percebem por que é que as
intervenções prometidas têm sido
sucessivamente adiadas.
Em Março, a Infra-estruturas de
Portugal (IP) lançou um concurso
para a elaboração do projecto de rea-
bilitação geral da Ponte Marechal
Carmona, mas as obras, na melhor
das hipóteses, avançam dentro de
um ano. Já no nal de Abril, a IP lan-
çou o concurso Substituição da Ilumi-
nação Pública na Ponte Marechal
Carmona. O preço-base de nido é de
165 mil euros e as eventuais propos-
tas serão abertas no nal de Maio. A
execução dos trabalhos tem um pra-
zo de 90 dias, pelo que não é certo
que quem concluídos antes da data
em que se assinalam os 70 anos da
ponte.
O “esquecimento” a que a Mare-
chal Carmona tem sido alegadamen-
te votada tem sido frequentemente
denunciado nos órgãos autárquicos
municipais de Vila Franca de Xira,
com Bloco de Esquerda e CDU a insis-
tirem que é “inaceitável” a falta de
obras de bene ciação do tabuleiro e
que não é aceitável que o sistema de
iluminação tenha perto de 50 lumi-
nárias desligadas/avariadas.
Carlos Patrão, vereador do BE,
tem insistido que a ponte inaugura-
da em 1951 é um dos principais “sím-
bolos” de Vila Franca de Xira e ele-
mento fundamental na circulação
rodoviária de uma vasta região. O
eleito não percebe, por isso, porque
é que a ponte está há mais de cinco
anos “praticamente às escuras”,
com os riscos que isso também sus-
cita para quem ali circula. O mesmo
sentimento tem o executivo cama-
rário de maioria socialista. José
António Oliveira, vice-presidente da
autarquia, sustenta que a explicação
que tem sido dada é que o principal
cabo de alimentação do sistema de
iluminação foi cortado e furtado.
Desde então, a câmara tem manifes-
tado disponibilidade para assumir,
Infra-estruturas de Portugal lançou concursos para reparar iluminação e elaborar projecto de reabilitação da travessia. Autarcas lamentam sucessivos adiamentos das obras prometidas
Jorge Talixa
Inaugurada a 30 de Dezembro de 1951, a ponte de Vila Franca de Xira foi apontada, na altura, como a maior obra da engenharia portuguesa
DANIEL ROCHA
PÚBLICO, que não estão em causa
quaisquer problemas estruturais na
Ponte Marechal Carmona, que é
regularmente inspeccionada. O pro-
blema são os trabalhos de conserva-
ção e reabilitação de que o tabuleiro
carece há bastante tempo. “Não tem
nada a ver com a estrutura da pon-
te, essa tem vindo a ser analisada e
não tem problemas nenhuns”, asse-
gura Alberto Mesquita, precisando
que a IP tem alegado, sempre, “falta
de dinheiro” para avançar com os
trabalhos e que a junção que foi fei-
ta entre as antigas Junta Autónoma
de Estradas e Refer (Rede Ferroviá-
ria Nacional) “não resultou”, por-
que “os aspectos rodoviários e fer-
roviários são coisas distintas”.
Por outro lado, o autarca sente
que se foi tornando cada vez mais
difícil chegar aos responsáveis direc-
tos pelas situações. “Antigamente,
sabíamos quem era quem e com
quem tínhamos que falar no meio
daquelas organizações. Hoje é uma
grande di culdade. Antigamente,
falávamos com alguém responsável
e as coisas iam avançando. Agora,
ninguém sabe quem é que manda
em quem e no quê. É uma confu-
são...”, lamenta.
Inaugurada a 30 de Dezembro de
1951, a ponte foi apontada, na altu-
ra, como a maior obra da engenha-
ria portuguesa. Envolveu um inves-
timento de 150 mil contos, no que
foi considerada “a maior e mais cus-
tosa” empreitada até então adjudi-
cada pelo Estado. Os trabalhos,
iniciados no Verão de 1948, demo-
raram três anos e meio a concluir. A
Ponte Marechal Carmona tem 1224
metros de extensão e o tabuleiro
central, com 524 metros compri-
mento e cinco arcos, está dividido
em cinco vãos de 104 metros cada
um.
no futuro, a responsabilidade pela
manutenção da iluminação da pon-
te, desde que a IP concretize previa-
mente uma intervenção de repara-
ção geral do sistema.
“A ponte precisa de obras que
estão prometidas há muitos anos”,
acrescenta Carlos Patrão, vincando
que o grupo parlamentar do BE ques-
tionou o ministro Pedro Nuno Santos
sobre a matéria em Julho de 2020 e
obteve, no nal de Março, uma res-
posta do gabinete do governante,
que sustenta que foi lançado um con-
curso para o projecto de reabilitação
geral da Ponte Marechal Carmona e
que a IP espera que que concluído
e aprovado até nal do ano. Seguir-
se-á o lançamento do concurso para
as obras, que não têm ainda uma esti-
mativa de custos de nida.
Na pergunta que formularam, os
deputados do BE salientam que
foram “novamente alertados para o
estado deplorável em que se encon-
tra a ponte de Vila Franca de Xira,
sendo uma questão que se tem vindo
a arrastar por inércia da Câmara
Municipal de Vila Franca de Xira e da
Infra-estruturas de Portugal”. Segun-
do referem, “os trabalhos, que esta-
vam previstos para 2017, não avança-
ram e até hoje a ponte continua por
ser intervencionada”.
Alberto Mesquita, presidente da
Câmara de Vila Franca de Xira,
observa, por seu turno, que o assun-
to tem sido colocado frequentemen-
te em reuniões com a IP, que “tem
dito que vai fazer obras de manuten-
ção da ponte e que o processo está
a avançar”. Mas “já ouvimos isto há
muito tempo”, admite o autarca do
PS.
Sem problemas estruturais O presidente da Câmara de Vila
Franca sustenta, em declarações ao
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 29
10 de Maio 20h00O CINEMA DA VILLA Cascais
O Gabinete doParlamento Europeuem Portugal apresenta
Lux Prémio do Público,prémio de cinema doParlamento Europeu e da European Film Academy
CORPUS CHRISTIA R E D E N Ç Ã O
de Jan Komasa
Entrada gratuita mediante reserva para [email protected] à lotação da sala segundoas medidas de restrição da Covid 19
Local
A autarquia e o ICNF vão oferecer 400 mil árvores para repovoar serra e barrocal — zonas ameaçadas pela desertificação
Idálio Revez
Os passeios à beira da ria Formosa,
entre a Quinta do Lago e o vale do
Garrão, ganharam um novo atractivo
turístico — um passadiço de madeira,
sobre as dunas, numa distância de
4,85 quilómetros. A obra, no valor de
3,7 milhões de euros (valor aproxima-
do de um lote de terreno, na urbani-
zação turística adjacente), contempla
ainda um parque de estacionamento,
junto à praia do Ancão, com 427 luga-
res convencionais, mais 15 destinados
a pessoas com mobilidade reduzida.
A construção de passadiços não é
apenas uma moda, que se estende
de norte a sul. “É da maior importân-
cia que estas obras se façam para se
poder fruir estes espaços — esta é
uma forma de conhecer valores
naturais”, salientou o ministro do
Ambiente e da Acção Climática,
Pedro Matos Fernandes, durante a
cerimónia de inauguração da obra.
Por seu turno, o presidente do Muni-
cípio, Vítor Aleixo, aproveitou a oca-
sião para a rmar o “compromisso”
de prolongar o passadiço até Quar-
teira, totalizando 7,8 quilómetros de
passadiços no concelho. “Para pas-
sear na ria Formosa, sem bulir com
os valores ambientais”, enfatizou.
Na zona de Vale do Lobo, o projec-
to prevê um traçado do passadiço
pelo interior do empreendimento,
uma vez que as vivendas já estão em
cima da praia. No futuro próximo,
Loulé inaugura o primeiro troço do passadiço de Vilamoura ao aeroporto de Faro
adiantou o autarca, o objectivo é per-
mitir chegar “da marina de Vilamou-
ra ao perímetro externo do aeropor-
to de Faro, de bicicleta ou a pé”,
numa extensão de cerca de 14 quiló-
metros.
A ocasião foi ainda aproveitada
para dar o conhecer os planos que o
município de Loulé está desenvolver
desde há seis anos para adaptar o
Plano Director Municipal (PDM) às
alterações climáticas. Nesse sentido,
foi destacada a criação da Área de
Paisagem Protegida Local, na foz da
ribeira do Almargem, com 135 hec-
tares — situada entre Quarteira e Vale
do Lobo, uma zona de forte pressão
urbanística.
Passear ao longo da orla costeira é o objectivo
BRUNO SIMÕES CASTANHEIRA
A Beira Serra — Associação de Desen-
volvimento, com sede na Covilhã, vai
desenvolver dois projectos de melho-
ria e requali cação do espaço público
em bairros de habitação social daque-
le concelho.
Em comunicado enviado à Lusa,
esta associação adianta que os pro-
jectos têm candidaturas aprovadas
no âmbito do programa “Bairros Sau-
dáveis”, cujos principais objectivos
passam por promover, no actual con-
texto de pandemia, a resiliência sani-
tária e a melhoria da coesão social,
do habitat, das condições ambientais
e da qualidade de vida das popula-
ções locais mais vulneráveis.
Um dos projectos, que tem a deno-
minação “Pátio dos 80”, conta com
um nanciamento de cinco mil
euros, e decorrerá na freguesia da
Boidobra, no bairro dos 80 fogos,
primeiro bairro de habitação social
da freguesia.
“O Pátio dos 80 é um projecto cola-
borativo construído em conjunto
com moradores, Junta de Freguesia
da Boidobra, Câmara Municipal da
Covilhã, Departamento de Arquitec-
tura da Universidade da Beira Interior
(UBI) e visa a quali cação do espaço
público através da intervenção arqui-
tectónica num espaço vazio do bairro
dos 80 fogos”, é referido na nota.
As obras de quali cação do espaço
partiram de ideias de alunos de arqui-
tectura da UBI, no âmbito de um
exercício académico inserido na
comunidade que os acolhe.
O outro projecto — “Pontes” — vai
decorrer na Urbanização das Noguei-
ras, um bairro de habitação munici-
pal construído em 2002, na freguesia
do Teixoso, e conta com um nancia-
mento de 50 mil euros, sendo o
“objectivo principal a requali cação
de um espaço que permita que as 160
famílias residentes partilhem, apren-
dam e estabeleçam laços e pontes
entre eles e os habitantes da freguesia
que não residem no bairro”.
O projecto avança numa parceria
que engloba o Agrupamento de Cen-
tros de Saúde da Cova da Beira, o
Município da Covilhã, a União de Fre-
guesia do Teixoso e Sarzedo, a UBI e
um representante dos residentes do
bairro. Está prevista a requali cação
de três espaços de uso comum, que
possam envolver e bene ciar direc-
tamente 480 moradores do bairro.
Associação da Covilhã melhora bairros sociais
As obras de qualificação de um dos espaços a intervencionar partiram de ideias de alunos de arquitectura da UBI
Longe da orla costeira, no interior
do concelho, avolumam-se os pro-
blemas relacionados com o despo-
voamento, num município que tem
71 mil hectares de área agro- orestal
(93% da área total do concelho). A
autarquia, entretanto, através de
uma parceria com o Instituto da Con-
servação da Natureza e Florestas,
anunciou um plano para a valoriza-
ção dos serviços ecossistémicos que
passa por fornecer aos agricultores
400 mil árvores (sobreiros, azinhei-
ras, medronheiros e alfarrobeiras),
para plantar nos próximos cinco
anos.
O objectivo é chegar ao aeroporto de Faro, de bicicleta ou o pé, percorrendo 14 quilómetros
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30 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Mundo Emigrante português emprega mais de uma centena de pessoas
“Nunca quis sair desta rua”, diz Claudino, há 64 anos em Cabo Delgado
Há ruas do tamanho do mundo e
homens do tamanho de ruas que se
transformam no seu mundo. Clau-
dino de Abreu veio de longe e aca-
bou a adoptar como universo uma
rua de Pemba que parece desaguar
no Índico. Daqui pouco sai, daqui
pouco o tiram.
Do jovem pobre de 13 anos que em
1957 chegou a Cabo Delgado com uma
carta de chamada de uns primos para
a referência da comunidade portu-
guesa na província só mudou a vida
de trabalho, o resto permanece mais
ou menos igual. Mesmo se já não está
na Niassa Comercial, onde trabalhou
34 anos, e agora tenha a grá ca Sotil,
a papelaria Sotil e a loja de móveis.
Tudo na mesma rua e tudo com o azul
como cor de referência.
Nos 64 anos de Moçambique, foi
apenas duas vezes a Portugal, a pri-
meira vez em Maio de 1975 e a segun-
da em 2000. Isso não o impediu de
continuar a ser português, tal como
o seu lho, que aqui nasceu já depois
da independência, mas que nem a
dupla nacionalidade tem.
“Nunca me puxou para ser moçam-
bicano. Não quis para poder ajudar
os nossos conterrâneos.” E a verdade
é que durante décadas foi aquilo a
que chamam a “antena consular” em
Pemba, papel entretanto herdado
pelo lho.
“Nunca pensei em ir para Portu-
gal”, nem mesmo na transição do
poder colonial para o país indepen-
dente. “Vou para Portugal fazer o
quê? Não tenho lá nada. O meu lho
ainda tem um apartamento na Azam-
buja, em frente à praça de touros. Mas
ainda continuo a ajudar as minhas
irmãs” em Portugal, conta.
Nem mesmo quando o novo poder
Claudino de Abreu está em Moçambique desde 1957 e continua a ser português. Nunca mais pensou em regressar. Nem mesmo agora, com toda a violência
do país independente pôs os brancos
a limpar as ruas e a capinar (cortar o
capim) — “eles humilhavam” — se
arrependeu de ter cado. Até brinca,
diz que quando o mandaram para as
machambas do arroz, cortava tudo a
eito, capim e arroz, como se não sou-
besse o que estava a fazer: “Só nos
levaram duas vezes!”, ri.
“Fiquei eu sozinho” “Em 1975, não tinha nada. Éramos 16
brancos a trabalhar [na Niassa Comer-
cial], fugiram todos e quei eu sozi-
nho com os negros”, conta no escri-
tório da grá ca Sotil, que agarrou
cheia de dívidas e transformou em
referência na cidade: “O dono disto
foi escorraçado. Meteu-se em política.
Ficou a dever 24 meses de salários.”
Hoje emprega mais de uma centena
de pessoas, 47 só na grá ca.
Nem mesmo agora, com todos os
relatos de violência, lhe passa pela
cabeça gozar a reforma em Portugal.
“Só espero que não venham para aqui
chatear. Mas se vierem, olhe, vou para
debaixo da cama. Para onde é que
posso ir?” Aliás, lembra, “com a Fre-
limo e a Renamo, foi pior, davam cabo
de tudo”.
Obstinado e rijo, o sr. Claudino,
oriundo de Valbom, Gondomar, lho
de um bombeiro pro ssional que
“teve uma infelicidade” e deixou de
ser o ganha-pão dos cincos lhos e
mais um a caminho, já tinha deixado
a escola e começado a trabalhar aos
11 anos quando recebeu a carta de
chamada dos primos para ir para Áfri-
ca. A decisão era simples, assim aju-
dava a família com menos uma boca
para alimentar e sempre enviava
dinheiro de Moçambique.
Os joelhos já lhe dão problemas,
daí que se mexa cada vez menos, mas
a memória continua intacta. Embar-
cou ainda em 1956 no Angola, passou
o m de ano no mar ao largo da
António Rodrigues Texto e Paulo
Pimenta Fotografia, enviados
especiais a Cabo Delgado
Duas gerações em Cabo Delgado: Claudino de Abreu e o filho, Cláudio, em mais um dia de trabalho na gráfica Sotil, em Pemba
tive juventude”, diz. Depois trabalhou
nos mercados de algodão, ganhava
quatro contos e quinhentos. Isto em
1958/59. Foi depois para um estabe-
lecimento comercial numa colónia de
leprosos onde só havia quatro e ele
passava o tempo sozinho: “A nossa
vida era esta, no mato”.
Ganhava três contos por mês e não
gastava nada porque não havia onde
gastar. Tanto assim é que, quando o
patrão quis abrir uma nova loja e
cou sem dinheiro, foi ele quem lho
emprestou. Foi para a tropa em Boa-
ne, na província de Maputo, mas
depois da recruta pediu para ser
transferido para Porto Amélia (hoje
Pemba): “Tive sorte, fui cantineiro,
foi uma tropa esplêndida, nunca saí
para o mato. Tudo o que tinha de
fazer era garantir 5% de lucro.”
Quando saiu da tropa, já não quis
ir para Montepuez e cou por ali
(“gosto desta terra”). Já jogava futebol
Madeira e chegou já em 1957 a Mapu-
to, antes de rumar a Norte até à então
cidade de Porto Amélia no Zambézia
que aportou na Beira, Quelimane e
Nacala antes de chegar à capital do,
na altura, distrito de Cabo Delgado.
Ao todo, passou dois meses em via-
gem: “Era uma aventura!”
Quando chegou, foi trabalhar para
a agricultura, nas machambas, em
Namuno e Balama. “Adaptei-me bem,
lá [em Portugal] praticamente não
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 31
António Rodrigues
no Vasco da Gama (cheguei a defron-
tar o Barreirense, onde jogava o Ben-
to, o guarda-redes que haveria de se
transferir para o Ben ca e chegar à
selecção nacional). Depois do futebol
de 11, jogou futebol de salão até aos 48
anos e futebol de praia até aos 51
anos.
Tinha um compadre que trabalha-
va aqui nesta rua, na Niassa Comer-
cial. E nunca mais saiu. E já não vai
acontecer: “Nunca quis sair desta
rua”. E quando conheceu a mulher
(tinha ele 30 e tal anos e ela 16 ou 17),
mais razões ainda teve para não se
mexer do lugar — agora “é muito raro
passar a ponte do Mieze”. Aqui nas-
ceu o seu único lho e agora seu bra-
ço direito. Aqui tem as suas “coisas”.
Criou gado, trabalhou na agricultu-
ra, chegou a ser fornecedor de hortí-
colas da cadeia e do hospital, ao mes-
mo tempo que mantinha o seu
emprego na Niassa Comercial.
Fala da casa com orgulho e uma
certa mágoa, porque, se a empresa
foi a única não intervencionada pelo
Governo de partido único que se ins-
talou após a independência, a ele se
deve — “porque as pessoas me conhe-
ciam”.
Tudo o que tem foi com o seu esfor-
ço (“no campo, nunca tive apoio de
ninguém”), não tem nada com os
bancos, como gosta de salientar e a
determinada altura passou a ser um
dos beneméritos da cidade. “Fiz uma
esquadra da polícia no meu terreno
e entreguei-a ao Ministério do Interior
e ainda lhes dava a comida.”
A sua ligação ao futebol fez dele
também um dos maiores patrocina-
dores do desporto em Pemba. E cuida
ainda dos pobres.
“Melhor cemitério” O seu apoio social estende-se além da
vida porque até dos mortos cuida.
Depois da morte da mulher, contra-
tou gente para cuidar do cemitério
onde ela está enterrada como se fosse
o seu próprio terreno — só para esse,
tem dez funcionários na sua folha de
pagamentos. Não admira que o de
Pemba tenha sido “considerado o
melhor cemitério de Moçambique”,
como a rma com orgulho.
Os serviços que paga estendem-se
ao cemitério novo da capital de Cabo
Delgado, onde emprega quatro pes-
soas. Mas também ajudou os traba-
lhos de recuperação do cemitério de
Mueda, no planalto maconde, lugar
onde, confessa, nunca esteve e, mes-
mo assim, tem dois empregados para
o cuidar.
Também na ilha de Ibo, quando
passam as chuvas e dani cam o cemi-
tério, já sabem as autoridades locais
que podem contar com o auxílio do
sr. Claudino. E o cemitério de Mocím-
boa da Praia, vila actualmente ocupa-
da pelos insurgentes jihadistas, tam-
bém já bene ciou do auxílio nancei-
ro do empresário de Pemba.
“Abdiquei de muita coisa para aju-
dar os cemitérios. Senão era muito
mato”, garante.
Há medo, apreensão, inde nição
quanto ao futuro, sobretudo pela
paragem do investimento da Total no
projecto de gás natural, que deixou
muitas empresas sem a principal fon-
te de receitas da província de Cabo
Delgado, mas não há ninguém com
vontade de fazer as malas e voltar
para Portugal. Para os emigrantes
portugueses em Pemba, o momento
é de esperar para ver.
“Muita gente está com a paranóia
do medo. É uma situação que se com-
preende para quem tem lhos”, con-
ta ao PÚBLICO Cláudio de Abreu,
português nascido em Pemba já
depois da independência e que her-
dou do pai o estatuto de “antena con-
sular”, ou seja, ajuda, em colaboração
com o consulado na Beira, a servir de
ponte entre os portugueses aqui e os
serviços consulares de Portugal.
“Estão com medo. É normal. Eu
também tenho. Eu queria tirar o meu
pai daqui por causa da idade que
tem”, a rma Cláudio de Abreu, que,
no entanto, não tem nenhuma inten-
ção, ele próprio, de sair.
Tal como ele, outros empresários
portugueses não podem pensar ao
sabor do momento, reagir ao pânico.
Têm investimentos, empregam pes-
soas, uma vida empatada que não se
conjuga em decisões de ânimo leve.
“Há muita gente entre os portugue-
ses que se queixa. Mas aqueles que
têm empresas e trabalhadores não
podem sair e fechar a porta”, a rma
Nuno Saraiva, da Construsoyo.
Até agora, a construtora conseguiu
não despedir ninguém. O empresário
sabe que este é um mercado incons-
tante, “é de picos”, e lembra que em
2015 houve “uma crise muito gran-
de”, estiveram sem trabalho e “con-
seguiram dar a volta”. E mesmo reco-
nhecendo que a estrutura cresceu,
sobretudo, por causa dos investimen-
tos da Total, está esperançado de que
isto venha a ser apenas uma dessas
utuações a que já se habituaram.
Nuno Dias, da Enerlux, cuja empre-
sa estava a trabalhar em Afungi na
construção das infra-estruturas da
Total para o tratamento do gás natu-
ral, considera que se “fala muito, mas
é preciso ter cuidado”. No entanto,
admite que “Pemba pode morrer,
porque Pemba vive do oil & gas”.
“Creio que a intenção deles não é
atacar Pemba, porque se fosse assim
já tinham atacado. Há pessoas deles
aqui in ltradas”, considera Cláudio
de Abreu, que está na sua terra, aqui
nasceu, aqui estudou e se formou,
aqui trabalha. No entanto, a dúvida
mantém-se no ar.
Empresários portugueses em Pemba
Os investimentos não permitem fugir ao primeiro medo
“Já sentimos mais insegurança, as
coisas estão agora mais calmas”, a r-
ma Carlos Conceição, empresário da
restauração, que também considera
que “não vai haver nenhum ataque a
Pemba”. Apesar de Cláudio de Abreu
a rmar que “a cidade está sobrelota-
da” e se “vai começar a sentir mais
roubos e assaltos”, Carlos Conceição,
embora admitindo que houve muita
gente que mandou a mulher e os
lhos para longe, “a maioria por falta
de segurança”, garante que os portu-
gueses “andam à vontade” e “não
mudaram o quotidiano”.
“A visita do embaixador deu para
tranquilizar”, refere Cláudio de
Abreu. António Costa Moura esteve
em Pemba entre 26 e 28 de Abril para
sentir o pulso da situação. E não saiu
da capital de Cabo Delgado com gen-
te a pedir-lhe ajuda para ir embora.
“Não há pedidos de repatriamentos”,
sublinha Cláudio de Abreu, a “antena
consular” portuguesa na cidade.
A Enerlux, a Construsoyo, como
outras empresas que trabalhavam,
em grande medida, como subcontra-
tadas nas obras em Afungi para a
Total, os investimentos feitos em fun-
ção dos bons ventos trazidos pelo gás
natural, são agora um lastro muito
grande para abandonar do pé para a
mão. E o medo acaba por ser relativi-
zado por tanto metical enterrado.
A acalmia que se sente actualmen-
te na movimentação dos insurgentes,
seja pelo facto de os jihadistas ainda
estarem preocupados com Palma,
seja pelo facto de estarmos ainda no
Ramadão, que só termina para a
semana, baixou os níveis de tensão.
No entanto, se calhar tão ou mais
preocupante é o facto de a Total ter
suspendido a sua actividade e Carlos
Conceição pensa que “isto agora é
capaz de parar outra vez e vai ser mais
tempo, seis meses ou um ano”, o que
é uma machadada grande na econo-
mia da cidade e da província.
“Não acredito que a Total vá parar
de vez, mas também não acredito que
queiram correr” e isso vai re ectir-se,
e de que maneira, na cidade. “Pemba
é uma cidade pobre, o que a faz movi-
mentar é o oil & gas”, sem esse dinhei-
ro injectado na conta corrente, é
apenas uma cidade demasiado cara.
Neste momento, “acabou o traba-
lho”, a rma Carlos Conceição. E “se
a Total vai embora, a maioria das
empresas terá de fechar”.
Carlos Conceição (em cima), Nuno Dias e Nuno Saraiva
Vou para Portugal fazer o quê? Não tenho lá nada. O meu lho ainda tem um apartamento na Azambuja, em frente à praça de touros. Mas ainda continuo a ajudar as minhas irmãs
Só espero que [os jihadistas] não venham para aqui chatear. Mas se vierem, olhe, vou para debaixo da cama Claudino de Abreu Emigrante em Moçambique
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32 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Mundo
Derrota histórica dos trabalhistas em Hartlepool deixa Starmer em maus lençóis
Ainda falta contar milhares de votos
em centenas de localidades e círculos
eleitorais em Inglaterra, País de Gales
e Escócia, mas a primeira grande
revelação das eleições locais e regio-
nais realizadas na “superquinta-feira”
britânica foi um autêntico soco no
estômago da liderança do Partido
Trabalhista: pela primeira vez desde
que foi criada, em 1974, Hartlepool,
no Nordeste inglês, não será governa-
da por um dirigente do Labour.
Numa eleição antecipada para deci-
dir quem iria ocupar o lugar do traba-
lhista Mike Hill na Câmara dos
Comuns em Westminster — deixado
vago após um escândalo de assédio
sexual — a candidata conservadora,
Jill Mortimer, arrasou o seu adversário
trabalhista, Paul Williams (51,9% con-
tra 28,7%), e foi eleita deputada.
“Estou simplesmente assoberbada
com o apoio das pessoas de Hartle-
pool. Esta cidade precisa de se rege-
nerar, tem estado em declínio há
demasiado tempo”, proclamou
ontem Mortimer.
Apesar de a vitória tory ter pouco
impacto na aritmética da câmara bai-
xa do Parlamento nacional — o Parti-
do Conservador já gozava de uma
maioria confortável, alcançada nas
legislativas de 2019 —, o feito de Mor-
timer tem enorme valor simbólico.
Hartlepool é um dos círculos elei-
torais que fazem parte da chamada
“red wall” (“muro vermelho”), o anti-
go bastião da classe operária britânica
no centro e Norte de Inglaterra que
votou no Partido Trabalhista durante
décadas a o, mas que mudou o seu
voto para o Partido Conservador nas
últimas eleições nacionais, já depois
de ter votado maciçamente no “Bre-
xit” no referendo de 2016.
Eleito para o lugar de Jeremy
Corbyn em Abril do ano passado, na
sequência da pior derrota do Labour
em eleições legislativas desde 1935, o
agora líder do maior partido de opo-
sição do país, Keir Starmer, de niu
como prioridade estratégica recupe-
rar a “red wall” a Boris Johnson.
Com uma abordagem mais mode-
rada, Starmer quer mostrar que essa
transferência de votos foi meramente
circunstancial, causada pelos efeitos
do debate disruptivo e polarizador de
quatro longos anos sobre a saída do
Reino Unido da União Europeia.
Primeiro teste eleitoral não correu bem ao líder do Partido Trabalhista (em baixo). Johnson (em cima) elogiou o seu Governo
LEE SMITH/REUTERS
HENRY NICHOLLS/REYTERS
2016, não parece ser um grande car-
tão-de-visita para alguém que apre-
senta o seu programa a votos pela
primeira vez e que tem como objec-
tivo desa ar Johnson nas próximas
legislativas.
Até porque os resultados que foram
sendo conhecidos ao longo do dia de
ontem apontam para o reforço da
representação local do Partido Con-
servador em muitos councils e círcu-
los eleitorais de tradição trabalhista.
“Estou francamente desapontado.
Assumo todas as responsabilidades
pelos resultados e vou assumir todas
as responsabilidades para reparar as
coisas”, reagiu Starmer, em declara-
ções à Sky News, fazendo uma auto-
crítica ao seu primeiro ano como líder
do Partido Trabalhista. “Mudámos
como partido, mas não apresentámos
ao país um plano su cientemente
forte. Demasiadas vezes estivemos a
falar para nós próprios, em vez de
[falarmos] para o país e perdemos a
con ança da classe trabalhadora,
particularmente em lugares como
Hartlepool”, admitiu.
Certo é que muita gente dentro do
Partido Trabalhista levantou a voz
para questionar a sua estratégia, par-
ticularmente pessoas da ala esquerda
do partido ou próximas de Corbyn.
“[Starmer] disse que queria repo-
sicionar o socialismo moralmente,
que queria unir o partido. Infelizmen-
te, fracassou em todas essas áreas. [O
resultado de] Hartlepool é uma mani-
festação disso mesmo. As pessoais
não sabem qual é a sua visão e já não
sabem o que é que o Labour defende
hoje em dia”, lamentou, na BBC, Len
McCluskey, aliado próximo de Corbyn
e líder do sindicato Unite the Union,
o maior nanciador do partido.
“Starmer tem de repensar a sua
estratégia. Derrota esmagadora para
o Labour em Hartlepool. Não é possí-
vel culpar Corbyn por este resultado.
O Labour ganhou o lugar duas vezes
sob a sua liderança”, escreveu no
Twitter Diane Abbott, antiga “minis-
tra-sombra” do Interior.
“Jabs, jabs, jobs, jobs” Os avisos a Starmer também vieram
da ala mais centrista do Partido Tra-
balhista, nomeadamente do chamado
“New Labour” — a versão eleitoral-
mente mais bem sucedida do partido,
com Tony Blair e Gordon Brown ao
leme (1997-2010).
“Devemos recordar ao partido que
não vencemos uma eleição nacional
há 16 anos. Perdemos as últimas qua-
tro e a de 2019 foi uma catástrofe. Eis
as últimas 11 legislativas: derrota, der-
rota, derrota, derrota, Blair, Blair,
Blair, derrota, derrota, derrota e der-
rota”, enumerou Peter Mandelson,
ex-ministro, ex-comissário europeu
ex-deputado eleito por Hartlepool.
“Neste partido necessitamos de
aprender, de uma vez por todas, com
as lições dessas vitórias e dessas der-
rotas. Espero que quando Keir e os
seus colegas no ‘governo-sombra’ nos
vierem dizer que isto signi ca que
temos de mudar de direcção, que o
queiram mesmo fazer”, a rmou, em
declarações à BBC.
Quem também reagiu à disputa em
Hartlepool foi o primeiro-ministro
britânico, Boris Johnson, que até fez
uma visita-relâmpago à cidade con-
quistada por Mortimer, para ser foto-
grafado junto a um balão insu ável
gigante com a sua cara.
Boris Johnson sublinhou a impor-
tância da consumação do “Brexit”
para o aumento da con ança dos elei-
tores no Partido Conservador e elo-
giou o papel do seu Governo na res-
posta à pandemia e nos esforços “que
nenhum outro governo alguma vez
fez” para unir o país.
“Esta eleição mostra que as pessoas
querem um partido e um governo
que estão focados nelas, focados em
trazer mudanças”, declarou o chefe
do executivo tory.
“Aquilo que querem agora (…) é
que continuemos a campanha de
vacinação, para garantirmos vacinas,
vacinas, vacinas, para empregos,
empregos, empregos [“jabs, jabs, jabs
to jobs, jobs, jobs”, no original], e para
garantirmos uma forte recuperação
económica”, atirou.
António Saraiva Lima
O acto eleitoral de quinta-feira —
que, para além da eleição de Hartle-
pool, incluiu votações para a escolha
de membros de assembleias munici-
pais, presidentes de câmara, chefes
da polícia e para os lugares nos parla-
mentos do País de Gales e da Escócia,
e cujos resultados serão revelados ao
longo dos próximos três dias —, é o
primeiro grande teste à liderança de
Starmer.
Perda de con ança Mas a “humilhação” sofrida em
Hartlepool — como rotulam os prin-
cipais órgãos de comunicação social
britânicos — e a escolha de um candi-
dato remainer (Paul Williams) para
concorrer numa cidade onde 70% dos
eleitores votaram no “Brexit” em
Starmer foi criticado internamente e assumiu que os trabalhistas “perderam a con ança da classe trabalhadora”
Conservadores conquistam lugar pela primeira vez desde 1974 e mantêm pressão sobre o Labour na “red wall” de Inglaterra
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 33
Mundo
ONU avisa Israel que expulsões forçadas em Jerusalém Oriental serão “crime de guerra”
Famílias palestinianas enfrentam expulsão. Confrontos entre colonos ultra-ortodoxos e manifestantes
Sofia Lorena
Uma semana e meia depois de ser
acusado pela Human Rights Watch
de cometer crimes de apartheid con-
tra os palestinianos, Israel acaba de
ser avisado pela ONU para não avan-
çar com expulsões forçadas em Jeru-
salém Oriental, acções que podem
constituir “crimes de guerra”. O aler-
ta chega a dias de uma decisão judi-
cial que deverá permitir expulsar
seis famílias de Sheikh Jarrah, com
judeus ultra-ortodoxos à espera para
ocupar as suas casas.
“Pedimos a Israel para suspender
imediatamente todas as expulsões
forçadas”, disse em Genebra Rupert
Colville, porta-voz do Alto Comissa-
riado para os Direitos Humanos da
ONU. “Queremos sublinhar que Jeru-
salém Oriental permanece parte do
território palestiniano ocupado,
onde se aplica a lei humanitária
internacional”, disse Colville, lem-
brando que “o poder ocupante” não
pode “con scar propriedade privada
em território ocupado”, o que pode
ser considerado “crime de guerra”.
Horas antes das declarações de
Colville, França, Alemanha, Reino
Unido, Itália e Espanha tinham dito
a Israel para pôr m à expansão de
colonatos na Cisjordânia ocupada.
“Apelamos ao Governo de Israel para
recuar na construção de 540 unida-
des [de habitação para colonos] na
área de Har Homa e da Cisjordânia ,
e cessar com a política de expansão
de colonatos em todos os Territórios
Palestinianos Ocupados”, dizem.
Todos os colonatos judaicos em
território ocupado são ilegais à luz
da lei internacional, o que nunca
impediu Israel de os construir.
A publicação do comunicado coin-
cidiu com mais detenções de palesti-
nianos em Jerusalém Oriental, onde
associações de colonos têm consegui-
do, há anos, que os tribunais expul-
sem famílias que ali vivem há gera-
ções em bairros como Sheikh Jarrah.
Estas famílias chegaram depois da
Nakba (ou Catástrofe), como os pales-
tinianos se referem à fuga e expulsão
de centenas de milhares de pessoas
em 1948, quando foi criado o Estado
de Israel. Na década seguinte, com
Jerusalém Oriental sob mandato da
Jordânia, dezenas de famílias deslo-
cadas de outras cidades abdicaram
do seu estatuto de refugiados em tro-
ca de um pedaço de terra.
Apesar de muita documentação a
con rmar esses acordos, e a concor-
dância israelita com os seus termos,
o sistema judicial israelita decide
invariavelmente a favor dos colonos.
Aguarda-se na segunda-feira um
veredicto nal sobre as expulsões de
um primeiro grupo de seis famílias.
Centenas de palestinianos têm
organizado vigílias em solidariedade
com as famílias depois de quebrarem
o jejum do Ramadão. Para além de
ataques de milícias ultra-ortodoxas
a casas de palestinianos, tem havido
visitas de responsáveis israelitas em
tom claramente provocatório.
Na quinta-feira à noite, a área foi
selada para a visita do deputado de
extrema-direita Itamar Ben-Gvir, que
decidiu montar um escritório no exte-
rior de uma das casas de colonos.
Seguiram-se confrontos e foram deti-
dos 15 palestinianos. Em Abril, 190
organizações escreveram a Fatou
Bensada, procuradora-geral do Tribu-
nal Penal Internacional, pedindo que
a iminente expulsão de dezenas de
famílias seja incluída na investigação
a crimes de guerra e contra a huma-
nidade na Palestina em curso.
Há relatos de uso de armas com munições reais por parte das forças de segurança contra manifestantes
Calcula-se que pelo menos 37 pessoas tenham morrido em confrontos com as forças de segurança nos últimos dias
João Ruela Ribeiro
As cidades colombianas mantêm-se
como palco de violentas manifesta-
ções antigovernamentais, reprimidas
com força pela polícia e por militares.
O que começou como um protesto
contra uma reforma tributária pro-
posta pelo Governo está a transfor-
mar-se numa contestação generaliza-
da à desigualdade e à ausência de
políticas de combate à pobreza, que
se agravou com a pandemia.
Não parece ter fim à vista o clima
de instabilidade política e social na
Colômbia, que se retroalimenta numa
descon ança mútua entre as forças
de segurança e os milhares de pessoas
que têm participado nas manifesta-
ções das últimas duas semanas.
O Presidente, o conservador Iván
Duque, anunciou no domingo passa-
do a retirada da proposta de reforma
scal, que iria, entre outras coisas,
aumentar o IVA e o rendimento tribu-
tável, e, dias depois, o ministro das
Finanças demitiu-se. Mas nada disso
fez com que a contestação baixasse
Violência na Colômbia continua e gera preocupação internacional
de tom. A greve geral convocada na
semana anterior mantém-se e quase
todos os dias são convocadas mani-
festações nas principais cidades do
país, que são reprimidas violenta-
mente pelas forças de segurança.
Pelo menos 37 pessoas morreram
durante as manifestações, de acordo
com a Temblores, uma organização
não-governamental dedicada a estu-
dar a violência policial, e há 89 desa-
parecidos, muitos dos quais se receia
poderem ter morrido. Entidades
como a Amnistia Internacional acu-
sam a polícia de usar armas com
munições reais contra os manifestan-
tes e nas redes sociais correm vídeos
que mostram uma acção violenta e
indiscriminada por parte das forças
de segurança.
Em Cali, que tem sido o epicentro
dos protestos mais violentos, um gru-
po de activistas pela defesa dos direi-
tos humanos, incluindo um membro
do gabinete do provedor de Justiça
colombiano, foi atacado e intimidado
pela polícia enquanto assistia mani-
festantes detidos.
A violência da repressão das mani-
festações está a causar preocupação
entre as instâncias internacionais. O
porta-voz do secretário-geral da ONU,
António Guterres, pediu o respeito
por “direitos básicos” dos cidadãos
colombianos. “O que é primordial é
que o Governo permita que as pes-
soas se expressem de forma pací ca
e se manifestem paci camente”, a r-
mou Stéphane Dujarric.
Preocupações semelhantes foram
expressas pelo chefe da diplomacia
da União Europeia, Josep Borrell, que
pediu o m do “uso excessivo da for-
ça para reprimir os protestos, a esca-
lada de violência e qualquer uso des-
proporcional da força por parte das
forças de segurança”.
Vários governos sul-americanos
também se zeram ouvir, incluindo
o venezuelano, que tem sido altamen-
te criticado pelas autoridades colom-
bianas, que se recusam até a reconhe-
cer a presidência de Nicolás Maduro.
O Partido Socialista Unido da Vene-
zuela manifestou solidariedade ao
“povo irmão da Colômbia”, que diz
estar a “sofrer nas suas ruas o assas-
sínio dos seus lhos e lhas às mãos
daqueles que mancham as suas mãos
e a sua consciência com o sangue de
quem apenas levanta a voz, mas rece-
be uma rajada de tiros”.
Tensão cresce em Israel
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34 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Negócios que nasceram em tempos de pandemiaBolos caseiros para take-away, um “talho” vegetariano, a venda de bebidas alcoólicas online ou uma pizaria foram alguns dos negócios criados em tempos da pandemia, ou por causa dela. Há também quem tenha avançado para uma nova aventura imediatamente antes da covid-19 e sofrido com isso
Reportagem
Luís Villalobos, Ana Brito e Victor Ferreira
sequência do Luanda Leaks.
Funcionária da Fidequity, depois de
ter passado por uma agência de
comunicação, Margarida estava
responsável pela gestão das redes
sociais de Isabel dos Santos.
Surpreendida pelos
acontecimentos, acabou por se ver
numa empresa esvaziada e optou
por sair, também ela sem qualquer
indemnização.
Em Abril do ano passado, já com
a palavra con namento no léxico
geral, estavam fechadas em casa
com o irmão e os pais, e o fabrico de
bolos com receitas de família foi
uma forma de passarem o tempo.
Foram tantos os bolos, que a
própria família se queixou de que
estava a engordar, empurrando o
negócio para fora de portas, mais
concretamente para junto dos
amigos e dos vizinhos. Fizeram uma
pequena análise aos bolos com mais
sucesso e tomaram nota das
despesas, atentas às receitas.
A primeira encomenda foram três
pacotes de areias, a 4 de Maio, e
abriram as portas no Facebook e no
Instagram. “Nunca pensei que se
tornasse algo real”, diz Margarida.
Ela cozinhava mais, Maria ajudava
na comunicação. Sempre contaram,
dizem, com o apoio dos pais, mas o
volume de encomendas já crescia
para além do que a casa suportava.
“Estávamos a dar cabo da cozinha e
da electricidade”, recorda Maria, e a
mesa da sala era um repositório de
bolos.
Em Julho, e num instante,
estavam numa pequena loja em
Campo de Ourique (um espaço pop
up, para negócios que querem estar
junto do público durante um curto
A pandemia de covid-19 está a ter
um enorme impacto a nível
económico e social desde Março de
2020, provocando, mesmo com os
apoios, um aumento de
desemprego e de empresas em
risco de fechar. Mas houve,
também, quem criasse uma
empresa precisamente por causa da
pandemia, empurrado pela perda
do emprego ou pela oportunidade
de mercado.
Há também quem tenha formado
a empresa no início de 2020,
mesmo antes da pandemia, e
aberto as portas já com os impactos
da covid-19 no terreno, com
restrições de horários e de
circulação, e que se veja, tal como
outros empresários, sem direito ao
programa Apoiar por não ter dados
de facturação referentes a 2019.
De acordo com dados da Informa
D&B, especializada na recolha deste
tipo de informação, foram criadas
37.994 empresas em 2020, menos
23% do que no ano anterior. Abril
foi o pior mês, com apenas 1206
novas sociedades (os dados não
incluem empresários em nome
individual), cando abaixo do mês
de Agosto.
Mesmo assim, no meio da crise e
da inde nição face ao futuro, o
saldo manteve-se positivo em 2020,
com 14.895 encerramentos — as
moratórias têm ajudado muitas
empresas a manter-se abertas,
tendo-se até registado uma descida
geral nos encerramentos em termos
homólogos. A tendência
manteve-se no primeiro trimestre
deste ano, com 10.039 novas
empresas (-16,9%) e 2895
encerramentos (-16,7%), segundo os
dados disponibilizados pela
Informa D&B.
É neste contexto de di culdades
que surgem histórias como as das
irmãs Gomes, do Pedro Fontes, do
Filipe Machado, do Frederico e do
Diogo ou do Igor Penna.
Crescer às fatias
Maria Gomes, de 25 anos, e
Margarida Gomes, de 28, são irmãs
e depois de muitos anos a dividir o
quarto partilham agora um negócio
de fabrico de bolos e doces caseiros.
Num Instante — MG foi o nome de
baptismo que deram à empresa,
inspirado numa página do
Instagram que Maria já tinha antes
do negócio, e onde punha
fotogra as das cidades que visitava
enquanto hospedeira de bordo da
transportadora aérea Hi y. E, num
instante, a vida dela mudou quando
saiu do emprego que tinha para ir
para a TAP. Em Março, quando
estava a fazer a formação para
assinar contrato, veio a pandemia e
a TAP cortou os laços que tinha com
formandos e, logo depois, com os
contratos a prazo.
Sem direito a indemnização,
Margarida cou retida em casa. Ao
seu lado, Maria também cou sem
emprego. Não por causa da
pandemia, mas por causa do
desmoronar do império
empresarial de Isabel dos Santos,
lha do ex-Presidente de Angola, na
Economia Empreendedorismo na crise pandémica
RUI GAUDÊNCIO
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 35
domicílio”, acrescenta,
esperançoso.
Entretanto, o país saiu do
segundo descon namento, o que
fez baixar o negócio das entregas.
Mas a Destilaria.pt segue em bom
ritmo, ao ponto de, neste momento,
ter um volume de negócios superior
ao da própria pizaria. Um facto que
despertou a atenção de outros
empresários que já abordaram
Pedro Fontes com uma tentativa de
aquisição do negócio. “É um
fornecedor nosso, que percebeu o
quanto estamos a vender. Não
posso dizer quem é, estamos em
conversações...” Victor Ferreira
Apanhado em cheio pela pandemia e sem apoios
O ano de 2020 parecia ter tudo para
correr bem a Filipe Machado, de 46
anos. Ligado à indústria da cultura,
tinha já marcados cerca de cem
espectáculos para esse ano, cuja
produção estaria a seu cargo. Entre
os clientes tradicionais estão
autarquias, empresas de produção
de eventos e artistas em nome
próprio. No entanto, diz, como esta
é “uma actividade semi-sazonal”,
em que pouco acontece nos últimos
meses do ano, decidiu abrir uma
loja em Carcavelos, a Ono, perto da
Estrada Marginal, para compensar a
quebra dos eventos culturais que se
veri ca nesse período. A decisão foi
o cializada em Janeiro, mês em que
a covid-19 ainda não chegara de
forma visível à Europa e pandemia
era uma palavra ligada aos livros de
História.
A aposta no retalho contempla a
venda de produtos locais, como
Margarida e Maria Gomes Os efeitos da pandemia foram um estímulo para criarem o seu negócio de bolos Pedro Fontes e Cristiano Freitas “Preciso de vinho” deu o empurrão à venda de bebidas alcoólicas através da Internet Frederico Neves e Diogo Borges Os “primos por afinidade” vendem croquetes de tremoço e já pensam em franchising
período de tempo). Optaram por
abrir o espaço comercial todos os
dias da semana, dividindo os turnos
entre si, para testar o conceito, e o
passo em frente.
Com o contrato de três meses a
acabar, e o negócio a ganhar forma
— mesmo assim, o máximo estava
em 20 bolos por dia —, começaram
à procura de outras opções.
Residentes em Oeiras, acabaram
por se deparar com uma loja
relativamente perto, na Parede, e
onde até há pouco tempo estava um
espaço de restauração já conhecido
na zona, que apostava nos brunches
e nos lanches.
A inauguração da loja foi a 5 de
Outubro, depois de algumas obras
para as quais contaram com o apoio
de amigos e dos pais. O
investimento, da ordem dos 9000
euros, foi todo a partir de capital
próprio e até Janeiro deste ano,
explicam, não receberam qualquer
salário. Foi também no início deste
ano que criaram formalmente a
empresa — até então, estavam como
trabalhadoras independentes — e já
contam com duas empregadas,
uma a tempo inteiro e outra para
dar apoio aos ns-de-semana
(domingo fecham à hora do almoço
e fecham à segunda-feira).
O que vendem já dá para pagar
os vencimentos, as despesas da
loja e contabilista, e tudo sem
dívidas. O ritmo de vendas chega
aos 100 bolos por dia (os preços
oscilam entre os 10 e os 22 euros),
com enfoque nas encomendas
(vendem também à fatia e levam a
casa) e em regime de take-away,
mas obriga a longas horas de
trabalho: 12 a 13 horas por dia,
para ninguém que, depois de uma
licenciatura em Ciências do Meio
Aquático, Pedro prosseguisse
estudos numa escola de negócios.
Findo um MBA, lançou uma pizaria,
com entregas ao domicílio, pelas
conhecidas plataformas e por uma
pequena equipa de estafetas
próprios. Uma aposta que se
revelou acertada quando o mundo
cou em casa para se proteger do
vírus da covid-19.
“A pizaria aguentou-se bem no
primeiro con namento, eram
poucos os restaurantes com entrega
domiciliária”, recorda Pedro
Fontes, que tem vindo a fazer estas
apostas com um sócio, Cristiano
Freitas. Foi nessa altura que, devido
às restrições, surgiram duas novas
linhas de negócio. Primeiro, a venda
e entrega de bebidas alcoólicas. E
depois, o transporte e entrega de
comida de outros restaurantes.
Como as pizas e os vinhos já
precisavam de estafetas, e ele
queria evitar as plataformas globais
para não ceder margem, criou uma
equipa própria de entrega. Abriu
ele mesmo um endereço online, o
“momentos-express.negocio.site”,
para gerir “entregas de comida de
restaurantes que não querem ir
para as Uber Eats da vida”. Criaram
um backoffice próprio onde os
restaurantes aderentes colocam as
notas de encomenda e os dados dos
clientes e a equipa de Pedro passou
a fazer as entregas.
No meio deste
empreendedorismo todo, diz ele,
houve momentos em que duvidou
destas apostas. “Quase me senti
arrependido, porque as receitas
dessas duas linhas de negócio c
levantando-se às 5h, para
conseguirem responder à procura
com o sabor caseiro que fazem
questão de querer manter.
Pelo meio, mostram-se apenas
desapontadas com o facto de um
negócio criado por duas jovens
mulheres, desempregadas e em
tempos de covid-19, ter tido “zero
apoios”, além da falta de
informação e burocracia que
enfrentaram. Mas também
passaram por cima disso, num
instante. Luís Villalobos
Primeiro compraram-lhe vinho, agora querem o negócio Quando a pandemia chegou, e o
país entrou no primeiro
con namento, houve quem
pendurasse mensagens de incentivo
nas janelas de casa e que,
invariavelmente, iam parar também
às redes sociais. Foi numa dessas
redes que Pedro Fontes se cruzou
com uma fotogra a que, em vez da
frase “vai car tudo bem”, mostrava
um papel pendurado no vidro em
que se lia: “Preciso de vinho”. “Não
percebi se era uma piada ou se era
real”, conta este empresário de Vila
Nova de Gaia, mas o que é certo é
que foi a centelha para um novo
empreendimento: vender bebidas
alcoólicas online, com entrega em
casa. Dias depois, nasceu o
Destilaria.pt, cujo sucesso foi tal que
até já há interessados em
comprar-lhe o negócio.
Os negócios correm no sangue da
família, que detém uma conhecida
padaria e confeitaria de Gaia, a
Mirassol. Por isso, não foi surpresa
amenizaram a quebra de receitas da
pizaria, até ao ponto em que esta
deixou de ser elegível para qualquer
apoio”, frisa.
Os dois novos negócios, o vinho e
a entrega de comida de outros
restaurantes, caram a operar sob o
chapéu comercial da pizaria, que,
desde Janeiro, “está com
di culdades no pagamento da
renda”. As receitas adicionais que
gerou não chegam para cobrir todos
os custos, mas foram o su ciente
para o excluir do critério da quebra
da facturação necessária para ter
acesso ao mecanismo Apoiar
Rendas.
As di culdades foram agravadas
no segundo con namento, durante
o qual a pizaria sofreu mais. “Apesar
de ainda haver muita gente em
teletrabalho, agora há mais oferta.
Todos os restaurantes perceberam
que têm de entregar comida em
casa”, anota. Isso ajudou a angariar
novos clientes para o serviço de
entregas. “Há restaurantes que já
me disseram que nunca mais vão
deixar de prestar este serviço ao
MANUEL ROBERTO DANIEL ROCHA
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36 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
roupa, produtos ambientalmente
mais sustentáveis, como os que são
feitos à base de bambu ou de
cânhamo, e ligados ao conceito de
comércio justo, bem como
tatuagens. A ideia, conta, era juntar
tudo debaixo do chapéu da mesma
empresa, de modo a evitar a
duplicação de algumas despesas.
Em Março, recorda, “os concertos
acabaram de um dia para o outro”,
e tinha perdido liquidez com o IVA
que regularizara nesse mesmo mês.
Foi o momento escolhido para
acabar com a empresa mais antiga e
manter a nova sociedade, que
agregou os vários códigos de
actividade económica (CAE) dos
negócios que opera, cultura
incluído.
Já a pagar renda, as obras caram
“emperradas” pelo con namento,
mas acabou por conseguir abrir em
Maio, apenas para vender produtos
naturais. Quando foi autorizado a
fazer tatuagens, em Julho, já estava
numa altura em que ninguém as
queria fazer, devido ao efeito
negativo do sol nos meses de Verão.
Depois, “o mês de Dezembro correu
bem” dentro da conjuntura, diz,
“mas em Janeiro a facturação voltou
a cair muito”. Em Março, fez menos
de 300 euros, quando só a renda
são mil euros.
Ao todo, contabiliza, o passivo
acumulado já ronda os 12 mil euros.
Um dos apoios com que contou foi o
da senhoria, que permitiu adiar o
pagamento da renda de três meses:
o montante em dívida foi parcelado
e acrescentado às rendas futuras. O
pior é que, entretanto, já tem mais
dois meses de rendas em atraso,
que terão de ser renegociados (o
contrato acaba em Março de 2022).
Aqui, Filipe Machado destaca as
injustiças do sistema de apoios ao
ter sido excluído do Apoiar, lançado
pelo Governo e que apenas ajuda as
O espaço público da loja é
pequeno, com um expositor onde
estão os produtos: desde vários
tipos de hambúrgueres (como o
Tuga, composto por ingredientes
como seitan, grão-de-bico, couve-
-lombarda, fécula de batata e
cenoura) ao empadão de batata-
-doce, passando pelo Beet
Wellington (onde se destacam o tofu
fumado, beterraba e cogumelos,
envoltos em massa folhada vegan).
O produto é depois vendido
congelado, para confecção em casa.
A maior área cabe à cozinha, onde
são confeccionados os alimentos
que tentam que contenham,
sempre que possível, produtos
nacionais e biológicos.
Ao todo, aplicaram perto de 60
mil euros no negócio sem recorrer a
endividamento, e esperam o
retorno do investimento, diz Diogo
Borges, em cerca de um ano em
meio. Para já, estão sem receber
salário, ao mesmo tempo que
asseguram o vencimento a seis
funcionários, a que acresce outro
em part-time (entre atendimento
aos clientes, intergeracionais, e
cozinha, por turnos das 8h às 24h).
As receitas já pagam as despesas,
e até permitem reinvestir. Só em
hambúrgueres, estão a vender 400
a 500 embalagens por dia (cada
uma tem duas unidades). Fazem
entregas ao domicílio e há um
restaurante a vender alguns dos
seus produtos. A estratégia de
crescimento passa, explicam, por
abrir uma fábrica para aumentar a
capacidade de produção e de
vendas, nomeadamente a outros
estabelecimentos, e por uma maior
diversi cação de produtos.
O primeiro passo de expansão já
foi dado, através do regime de
franchising, em que um
supermercado a granel em
Telheiras (Lisboa) se propôs pagar
os respectivos direitos para ter um
espaço Asoka dentro do seu
estabelecimento. Luís Villalobos
Sabor italiano e “um grão de loucura”
Igor Penna, pizzaiolo italiano de 37
anos, tinha uma vida tranquila em
Marano Ticino, na província de
Novara (Piemonte), quando decidiu
“sair da zona de conforto”, antes
que fosse “demasiado velho” para
ter uma experiência no estrangeiro.
Considerou as possibilidades de se
mudar para Inglaterra ou
Alemanha, mas tinha uma prima a
estudar numa universidade em
Lisboa, que o desa ou a vir
conhecer a cidade.
Em Agosto de 2018, veio por um
mês, de férias, e acabou por dar
razão à prima: gostou e quis car.
Convidaram-no para trabalhar
numa pizaria, onde esteve seis
meses e também trabalhou como
consultor para restaurantes de todo
o país na importação de produtos
alimentares italianos.
Aprendeu a língua, conheceu a
actual companheira, e a ideia de
abrir o seu próprio espaço começou
a ganhar força. Queria “um espaço
pequeno, mas acolhedor”, ao
verdadeiro estilo italiano, “com um
ambiente descontraído e produtos
de denominação de origem
protegida [DOP] e alta qualidade”.
Com a chegada do novo
coronavírus e da crise que arrastou
consigo, a ideia de Igor Penna não
esmoreceu, mas foi sendo
amadurecida e pensada ao detalhe.
Depois de uma “grande volta pela
cidade”, acabou por encontrar o
espaço ideal “a 300 metros de
casa”, na Avenida D. Carlos I, a dois
passos da Assembleia da República,
e foi aí que abriu a pizaria
Veramente.
A ajuda da namorada,
portuguesa, permitiu-lhe atravessar
o mar de burocracias e autorizações
necessárias para abrir o Veramente
(“demora tudo muito”, desabafa).
As obras decorreram entre
Novembro e Março, e as portas
abriram a 7 de Abril, em modo soft
opening (gradualmente).
No restaurante deste admirador
da cozinha portuguesa (e em
particular do peixe, do bacalhau do
queijo de Seia ou do presunto de
porco alentejano) nunca faltam
verdadeiros ícones da gastronomia
italiana, como o prosciutto di
Parma, a mozzarella fior di latte ou o
queijo grana padano, entre outros.
Mas também há verduras, vinhos e
café portugueses.
Para já, Igor diz que “as coisas
estão a correr bem”, com “várias
reservas” e grande a uência à
esplanada. A cozinha está por sua
conta e tem três funcionários.
Sem querer desvendar quanto
investiu no Veramente, garante
que, se para os portugueses que
querem abrir negócios é difícil
conseguir crédito, “para os
estrangeiros é ainda pior”. Com
propostas de spreads “de 6% e 7%”,
pensou para si: “Esquece.” E foi
pedir dinheiro emprestado ao seu
banco, em Itália.
Reconhece que a altura é de
incerteza, mas decidiu “arriscar”
porque o vírus não vai durar para
sempre e está convencido de que,
para quem quer “fazer bem feito e
com atenção ao detalhe”, haverá
sempre espaço — mesmo numa
cidade como Lisboa, com um
“mercado de piza que trabalha
muito bem”.
A possibilidade de os turistas não
voltarem em força também não lhe
tira o sono: “Penso que, no mínimo,
80% dos nossos clientes devem ser
do bairro ou moradores da cidade”,
os turistas serão “um extra”.
“É uma época cheia de dúvidas,
mas temos de ter a positividade de
seguir em frente. E também um
grão de loucura!”, resumiu. Ana Brito
empresas criadas até ao nal de
2019. “O que é que me distingue de
uma empresa que tenha aberto um
mês antes, em Dezembro? Nada”,
sublinha.
O mesmo entendimento têm
associações como a AHRESP que,
em Março, reiterou a crítica de que
as empresas criadas em 2020
voltavam “a não ser abrangidas por
este relevante mecanismo de
apoio”. Além desta questão, que
Filipe Machado classi ca como uma
“enorme discriminação”, juntou-se
uma outra: a de não poder receber
apoios da cultura, por não ser o seu
CAE principal. “Até virem os apoios,
não havia quaisquer problemas
relacionados com os CAE”, diz, com
um sentimento de injustiça. Tem
vários CAE inscritos e a ordem foi
aleatória, ou perto disso.
Mesmo depois de provar que foi
do sector da cultura que veio a parte
principal da facturação bruta da
empresa (reduzida a dois concertos,
um dos quais na Festa do Avante!), o
resultado foi o mesmo: zero apoios
do Estado.
O auxílio que tem recebido vem
da União Audiovisual, uma
associação criada na sequência da
pandemia para dar apoio aos
trabalhadores do sector que caram
sem rendimentos. Sem conseguir
receber salários, Filipe, pai de um
rapaz de nove anos, conta também
em casa com o vencimento da sua
mulher para atravessar a crise.
Neste momento, e num clima de
alguma inde nição, a estratégia
passa por tentar perceber o que é
que pode fazer para aguentar o seu
negócio. Luís Villalobos
Da ideia de “talho vegetariano” ao franchising
O Asoka Veggie Market abriu as
portas a 9 de Janeiro deste ano na
Igor Penna O italiano decidiu sair da “zona de conforto” e aterrou em Lisboa. Abriu um restaurante em plena pandemia
Parede (concelho de Cascais) para
vender produtos como croquetes
de tremoço, mas já tem um contrato
de franchising em andamento e os
olhos dos dois empreendedores
envolvidos no projecto, Frederico
Neves, de 35 anos, e Diogo Borges,
de 34, estão postos no crescimento.
“Primos por a nidade”, como
referem, juntaram-se no ano
passado para criar um negócio após
Frederico ter cado sem emprego
na área da aviação por causa da
pandemia — era comissário de
bordo da Emirates e tinha acabado
o curso de piloto com a TAP na
mira. Diogo Borges, ligado à área
dos eventos, já tinha experiência
em outros negócios, desde os
veículos de transportes de
passageiros (TVDE) que trabalham
com plataformas como a Uber, à
venda de bolas-de-berlim na praia.
“Flexitarianos” (comem carne e
peixe, mas apenas de vez em
quando), pensaram então num
negócio ligado à alimentação, com
componentes “mais saudáveis e
sustentáveis”, explica Frederico.
“Este é o primeiro talho vegan e
vegetariano”, acrescenta Diogo.
Uma vantagem para quem nasce
em tempos de pandemia é ter as
características de um
supermercado e de ter ligação
directa ao exterior, ou seja,
protegido da obrigação de fechar as
portas, ao contrário de muitos
outros. A procura do espaço
comercial começou em Agosto e,
em Outubro, a escolha estava feita,
seguindo-se um período para obras.
Economia Empreendedorismo na crise pandémica
RUI GAUDÊNCIO
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 37
FOTOS: PAULO PIMENTA
CCDRN chumba hotel de Mário Ferreira em Mesão Frio e empresário avança para tribunal
Empresário tentou recurso hierárquico da decisão aos ministros do Ambiente e da Coesão Territorial, mas sem resultado
Luísa Pinto
A avaliação de impacto ambiental do
projecto de construção do Douro
Marina Hotel, que o empresário
Mário Ferreira quer implantar no
lugar da Rede, no município de
Mesão Frio, foi chumbada pela
Comissão de Coordenação e Desen-
volvimento Regional do Norte
(CCDRN). A decisão foi tomada na
passada quarta-feira e divulgada em
conjunto com o relatório daquela
que foi uma das consultas públicas
mais participadas em todos os pro-
cessos que tiveram a CCDRN como
autoridade de avaliação ambiental.
O projecto recebeu 134 participa-
ções, quase todas em sentido desfa-
vorável. E foi também desfavorável
o parecer técnico nal da comissão
de avaliação que analisou o projecto
e que manteve a decisão que profe-
riu no dia 25 de Fevereiro.
Pelo caminho cou um recurso
hierárquico que o empresário apre-
sentou ao ministro do Ambiente e
Acção Climática e à ministra da Coe-
são Territorial, e para o qual não
obteve resposta.
A CCDRN também entendeu man-
ter o parecer e cumprir os prazos
para a emissão de uma declaração
de impacto ambiental (DIA), e que
terminava a 5 de Maio, mesmo
depois de ter recebido na véspera
algumas alegações sobre a proposta
de DIA.
“Reunidos os contributos secto-
riais, foi emitido o documento no
dia 5 de Maio de 2021, uma vez que
este corresponde ao último dia útil
do procedimento de AIA [avaliação
e impacto ambiental]”, lê-se no
parecer nal da comissão de avalia-
ção.
A primeira decisão foi tomada a
25 de Fevereiro, seguindo-se o nor-
mal período de audiência prévia
(para eventuais reclamações) a dar
ao interessado. As alegações foram
enviadas a 4 de Maio de 2021, véspe-
ra do último dia útil do período que
existia para que a autoridade de ava-
liação ambiental se pronunciasse.
A comissão de avaliação entendeu
que nas alegações apresentadas não
foram ultrapassadas as divergências
e que “foi ponderada a pronúncia
dentro do curto período de tempo
disponível, de forma a ser respeita-
do o referido prazo do procedimen-
to de avaliação de impacto ambien-
tal (AIA)”.
“Tendo por base os resultados
obtidos, foi decidido manter a deci-
são de exaração de DIA de sentido
desfavorável”, lê-se na declaração
tornada pública.
Decisão “política” Em declarações ao PÚBLICO, o
empresário Mário Ferreira a rma o
“espanto dos advogados” quando
chegaram “à conclusão de que a
CCDRN não avaliou a resposta à pro-
posta de DIA”. “Tudo parece indicar
que a decisão já estava tomada e
aparenta ser uma decisão da CCDRN
e essencialmente política”, acusa o
empresário.
íntegra”, insiste Mário Ferreira. Acu-
sa a CCDRN de, com esta decisão,
contrariar inclusive “um despacho
de um antigo secretário de Estado
do Ordenamento do Território e das
Cidades”, referindo-se a Célia
Ramos, actual vice-presidente da
comissão de coordenação.
O projecto da empresa dirigida
por Mário Ferreira passa pela cons-
trução de um hotel de 5 estrelas com
180 quartos. O edifício projectado,
com uma cércea de 18 metros, visível
a partir da Via Navegável do Douro,
seria constituído por seis pisos, com
dois abaixo da cota de soleira.
O empreendimento turístico pos-
sui, em projecto, uma área total de
cerca de 23.100m2, dos quais 8497
m2 serão destinados à área de
implantação do hotel e os restantes
reservada à implantação de espaços
verdes, áreas de lazer (entre os quais
uma piscina), os respectivos acessos
e parqueamento automóvel para
mais de 230 viaturas.
Os pareceres que surgiram no
período de auscultação pública
estão integralmente reproduzidos
no relatório de consulta pública que
também está publicado.
IP rejeita, câmara aprova Nesse relatório, é possível veri car
que, para além da UNESCO e do Ico-
mos Internacional, que se tinha
mostrado desfavorável ao projecto
— e que, como noticiou o PÚBLICO,
havia alertado para a hipótese de o
Alto Douro Vinhateiro poder vir a
perder o seu estatuto de Património
Mundial —, também outras entida-
des ouvidas avançaram com um
chumbo ao projecto, como a Infra-
estruturas de Portugal.
Já a Câmara Municipal de Mesão
Frio aprovou em reunião municipal,
por unanimidade, uma declaração
favorável ao avanço da constru-
ção.
A avaliação socioeconómica do
projecto, tida como um dos grandes
argumentos da câmara municipal,
foi considerada desactualizada por
parte da comissão de avaliação.
Na troca de informações e parece-
res entre as entidades e o proponen-
te, também se lê, a determinada
altura, que a emissão de parecer
favorável condicionado só pode
revelar-se exequível se “houver mar-
gem para que em fase de projecto de
execução seja possível alterar o edi-
fício do hotel”, de modo a que não
sejam violadas as disposições da Lei
da Água, designadamente o seu arti-
go 40º, que não admite “constru-
ções de pisos abaixo da cota local de
máxima cheia conhecida”.
“É claro e óbvio que um projecto
considerado de interesse nacional
não é neste momento bem-vindo e,
por isso, entregámos aos nossos
advogados o assunto para que façam
valer os nossos direitos”, avança
ainda Mário Ferreira.
O processo de licenciamento des-
te hotel já começou há mais de 20
anos, e, quando foi apresentando
pela primeira vez, então pelo empre-
sário Carlos Saraiva, chegou a mere-
cer o estatuto de projecto de poten-
cial interesse nacional (PIN).
“A CCDRN mudou de opinião em
relação ao que tinha já aprovado no
passado, quando viabilizou o plano
de pormenor da Rede, que, aliás, se
encontra em vigor e respeitamos na
Consulta pública sobre hotel no Douro vinhateiro recebeu 134 participações, quase todas desfavoráveis
Tendo por base os resultados obtidos, foi decidido manter a decisão de exaração de DIA de sentido desfavorável Parecer final da comissão de avaliação da CCDRN
É claro e óbvio que um projecto considerado de interesse nacional não é neste momento bem-vindo e, por isso, entregámos aos nossos advogados o assunto Mário Ferreira Empresário promotor do projecto
Economia
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38 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
RadarEconomia
A segunda linha que mantém as prateleiras cheias na pandemia
A Zolve, empresa de logística alimentar, perdeu na hotelaria e restauração, mas ganhou terreno no retalho em 2020
Reportagem
Ana Brito
Depois de um 2019 que tinha sido
“extremamente bom”, e em que
bateu “recordes em termos de
crescimento de vendas e mesmo
resultados”, a Zolve conheceu
verdadeiros momentos de
quebra-cabeças a partir de Março
de 2020. A somar-se ao furacão do
início da pandemia, vieram o
“Brexit”, o nevão de Madrid e o
con namento, “II parte”, já no
início deste ano. Ainda assim,
também houve conquistas, como
contou ao PÚBLICO o presidente
da empresa de serviços logísticos e
transporte de produtos
alimentares em temperatura
controlada, Vítor Figueiredo. Com
a particularidade de ter um
exercício scal que começa a 1 de
Abril e termina a 31 de Março do
ano seguinte, ou seja, em que em 12
meses scais houve cinco de
con namento, o presidente da
Zolve reconhece que, nesse
aspecto, 2020 “foi um desastre
completo”.
A Zolve faz recepção de produtos,
preparação de encomendas e
armazenagem, e depois entrega os
produtos a clientes como a Makro,
Jerónimo Martins (dona da cadeia
Pingo Doce) e, “mais
esporadicamente, o Lidl ou a Sonae
[dona da cadeia Continente]”.
Metade do volume de negócios —
que em 2020 se manteve próximo
dos 24 milhões de euros — vem do
retalho alimentar e “a outra metade
é feita com a indústria alimentar e o
Horeca organizado, a hotelaria e a
restauração”.
Em Março de 2020, houve “um
crescimento muito signi cativo de
volumes” que teve a ver “com a
corrida aos supermercados”. Mas,
em Abril e Maio, “houve uma queda
muito, muito abrupta,
principalmente dos clientes mais
dedicados ao canal Horeca [hotéis,
restarurantes e cafés]”, recorda o
gestor, a partir do centro de
distribuição de Riachos, Torres
Novas. “Foram meses bastante
complicados do ponto de vista
nanceiro; tínhamos um cliente
bastante importante, que fornecia a
TAP, e que desapareceu”,
exempli cou.
Com boa parte dos portugueses
fechada em casa, a subida registada
entretanto no retalho não
compensou as descidas de 40% do
canal Horeca “de um dia para o
outro”. Foram dois meses
“extremamente negros”, a que se
somou um começo de 2021 com
outro con namento.
“Efectivamente, o ano não nos
correu bem, mas, quanto a
resultado operacional, não
chegámos ao negativo, cámos no
break-even”, revela.
Pelo meio, houve episódios
marcantes. Como quando a Sonae
(dona do PÚBLICO) se viu obrigada
a externalizar parte da operação de
distribução devido aos surtos de
covid-19 na Azambuja. “Quem
conhece este sector sabe que este
tipo de operações demora para
cima de seis meses a preparar e nós
preparámo-la em três dias”, diz
Vítor Figueiredo, reconhecendo a
sorte de a empresa estar situada
numa zona onde não houve surtos,
e de ter tido poucos casos de
infecção entre os funcionários.
“Nem quero sequer comparar o
que é uma linha da frente de
médicos, enfermeiros e todo o
pessoal dos hospitais, mas há uma
segunda linha que também serviu
para acalmar o pânico inicial das
pessoas, que garantiu que os
produtos estavam nas lojas e que
não havia escassez de nada
essencial”, acrescenta.
Embora com “volumes inferiores,
principalmente na zona interior do
país”, a Zolve conseguiu “manter o
seu plano de distribuição
completamente imutável” e
também não recorreu a linhas de
crédito ou layoff. Mas reduziu o
número de funcionários:
“Tínhamos 300 pessoas e com a
diminuição de volume fomos para
220”, conta Vítor Figueiredo,
dizendo que a empresa já
recomeçou a recrutar.
A Zolve tem duas bases, “um
centro de distribuição no centro
geográ co do país [em Riachos]
com cerca de 17 mil metros
quadrados e todas as temperaturas”
e outro centro de distribuição “que
foi aberto em plena primeira vaga,
em Vila do Conde, e que serve de
hub à operação do Norte”.
Além destes centros “mais
talhados para operações de
armazém e preparação de
encomendas”, tem uma rede de
distribuição a nível internacional
para suportar as compras dos
clientes, com origens na Polónia,
Bélgica, Países Baixos, Alemanha e
também Reino Unido. A
distribuição nacional é feita em
modo de carga partilhada, com
“rotas e dias xos para ir
praticamente a todas as cidades do
país, com camiões bitemperatura,
com congelados e refrigerados em
simultâneo”.
A Zolve gere uxos de entrega e a
higiene da viatura, mas os camiões e
motoristas são subcontratados a
transportadoras. Daí que considere
que suporta “130 empregos
indirectos”.
Vítor Figueiredo comprou a Zolve ao grupo belga Greenyard em parceria com o fundo Vallis Capital Partners
O ano não nos correu bem, mas, quanto a resultado operacional, não chegámos ao negativo Vítor Figueiredo Presidente executivo da Zolve
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 39
2001 A empresa opera em Portugal há 20 anos. Deixou de ser Greenyard Logistics e foi rebaptizada como Zolve
3 A Zolve já tem dois centros de distribuição, mas em 2022 conta abrir um terceiro em Loures, para servir a Grande Lisboa
24 Em 2020, a facturação manteve-se perto de 24 milhões de euros, com crescimento do serviço de transporte
220 A Zolve tinha 300 funcionários antes da pandemia, mas reduziu para 220. Já está a recrutar e espera voltar ao nível anterior
Três perguntas a
Como empresário, como avalia os apoios criados pelo Governo? Não recorremos a esses mecanismos, mas tivemos clientes que passaram por situações muito complicadas. As linhas de crédito e as moratórias são importantes, mas não resolvem o problema. As vendas que as empresas não fizeram não serão recuperadas no futuro, e quando nós, enquanto sociedade, pensamos em restringir o negócio de determinados sectores, temos de estar preparados para compensá-los. Devemos-lhes clareza e celeridade nos apoios e, efectivamente, apoios financeiros a fundo perdido, tesouraria que os compense pela perda de rendimento que lhes é imposta e que não tenha de ser paga mais à frente. O pior ainda está para vir? Se o turismo recuperar de forma rápida, os efeitos podem ser atenuados, mas isso significará, mais uma vez, que nós, portugueses, não resolvemos o nosso problema, foi o exterior que o veio resolver. Ficámos aquém do que poderíamos ter feito e acho que ainda há alguns dramas por vir, como os negócios que vão desaparecer e todo o efeito de contágio que isso vai ter. Critica-se muito a qualidade da gestão em Portugal. São críticas justas? Seria injusto não reconhecer que nos últimos anos fizemos um caminho muito grande e que na última década os empresários souberam transformar-se. Trabalho muito com clientes de empresas familiares, em que já estamos a falar da segunda e terceira geração, que são pessoas extremamente preparadas e estão a transformar o negócio que herdaram. A geração acima dos 30, 35 anos está muito bem preparada e, se continuarmos assim, a crítica ao tecido empresarial será completamente injusta dentro de cinco a dez anos.
Vítor Figueiredo
No horizonte está a abertura, em
meados de 2022, de um novo centro
em Loures.
Vítor Figueiredo destaca o facto
de, “no meio da tempestade”, a
Zolve ter conseguido abrir o centro
de Vila do Conde e de ter ganhado
duas novas operações, cujos
volumes ainda não se re ectem nos
resultados por causa da pandemia,
mas que “criam mais valor
acrescentado”. Além de gerir a
logística de armazém e transporte, a
empresa também gere o processo
de compra, num dos casos, de
produtos importados de fora da
União Europeia (UE), incluindo o
desalfandegamento e o transporte
de contentores.
A incógnita do turismo Entre os desa os operacionais dos
últimos meses foram marcantes o
nevão, em Madrid, em Janeiro, que
“foi muito penoso” e que gerou
“muitos atrasos e muitos camiões
presos na estrada”; e toda a
incerteza do “Brexit” no nal do
ano.
A Zolve faz importação para os
seus clientes do Reino Unido,
essencialmente de carne fresca,
como borrego, e “registou atrasos
signi cativos” com o caos que se
veri cou no canal da Mancha.
“Há uma dimensão política que
nós não controlamos, mas, do
ponto de vista logístico, foi uma
operação muito atabalhoada”,
critica. “Durante todo o tempo em
que se falou do ‘Brexit’ podia ter
sido evitada esta situação” e
também a “grande
descoordenação dos países da UE”.
Houve alguns clientes que
interromperam as operações e que
estão agora a retomá-las, embora
“não ainda com os volumes de
antes”. Vítor Figueiredo diz que “é
inevitável” que as coisas corram
melhor no futuro porque se vão
“a nando procedimentos”.
Se “os verdadeiros impactos [do
‘Brexit’] ainda estão por apurar”,
por cá, “a grande incógnita” é o
regresso dos turistas. Nos últimos
anos (antes da covid-19) a facturação
da Zolve “cresceu a dois dígitos”,
pelo crescimento orgânico e pelo
“boom incrível do turismo”.
Dizendo-se optimista, o gestor
acredita que o país vá recuperar a
vitalidade pré-pandemia, com os
turistas do Norte da Europa. “Tenho
esperança num retorno forte na
segunda metade de 2022”, diz.
O novo ciclo O ano de 2020 não cará para a
história da Zolve só pela pandemia
que virou tudo do avesso. A
empresa, antes integrada no grupo
belga Greenyard, começou a operar
em Portugal em 2001. Enquanto a
Zolve (a antiga Greenyard Logistics
Portugal) trabalha com todas as
categorias de produtos alimentares
(incluindo carnes e lacticínios), a
casa-mãe começou a concentrar-se
nas frutas e verduras.
A então subsidiária portuguesa
começou a sentir di culdades em
suportar o seu crescimento com o
investimento necessário.
“Estávamos a ter di culdade em
capturá-lo dentro do grupo”, conta
Vítor Figueiredo, que vinha de uma
carreira de 15 anos na Greenyard e
assumiu funções como country
manager.
Foi numa conversa com o
fundador do grupo que partilhou “a
frustração” de ter espaço para
crescer e não o fazer por
incapacidade de tomar decisões
mais rápidas. “Ele virou um
bocadinho o jogo para o meu lado”,
sugerindo a realização de um
management buy out (ou MBO,
quando o capital social é adquirido
pela equipa de gestão). A ideia
ganhou peso, mas o recurso ao
endividamento bancário era
inviável.
Foi assim que surgiu o fundo de
capital de risco Vallis Capital
Partners. “Entraram de muito bom
grado connosco nesta aventura”,
que se concretizou em Junho do ano
passado, diz o presidente da Zolve,
que se associou ao director de
operações, Manuel Rodriguez. O
capital foi tomado em 100% pela
gestão e pela Vallis, que cou com
maioria do capital.
Breves
Indústria Bosch em Braga avança com layoff A Bosch em Braga vai entrar em layoff a partir de segunda-feira devido à escassez de semicondutores, que tem afectado o mercado mundial e já fez parar temporariamente várias empresas, como foi o caso, em Portugal, da Volkswagen, em Março. A medida abrange os colaboradores da área de produção e de áreas de apoio, no período de 10 de Maio a 9 de Junho deste ano, “com uma possível prorrogação”, informou a Bosch Car Multimedia Portugal, em comunicado. “Procurando minorar o impacto desta medida na vida dos colaboradores e suas famílias, a Bosch irá garantir a retribuição de 85% do rendimento ilíquido mensal aos colaboradores afectados, indo além dos dois terços previstos na lei”, refere a empresa. “Os colaboradores foram informados atempadamente”.
Correios Lucro dos CTT mais do que duplicou O lucro dos CTT mais do que duplicou (163%) no primeiro trimestre, face a igual período de 2020, para 8,7 milhões de euros, anunciaram os Correios de Portugal. As receitas subiram 14,1%, para 205,3 milhões de euros, e o resultado antes de impostos, juros, depreciações e amortizações (EBITDA) progrediu 22,3%, para 29,1 milhões de euros. Os rendimentos operacionais do expresso e encomendas atingiram 63,4 milhões.
DANIEL ROCHA
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40 • Público Classi cados • Sábado, 8 de Maio de 2021
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12 2021,a parti 15h00
10
3
3
3 3
3
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13 2021,a parti 15h05
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17 2021,a parti 15h10
4
300.000,00€
11 2021,a parti 15h10
1
1
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Novas Entradas Leilões a Terminar
CÂMARA MUNICIPAL DE LOULÉ
AVISOPara os devidos efeitos se torna público que, se encontram abertos, na Câmara Municipal de Loulé, os seguintes procedimentos concursais:Aviso n.º 8342/2021 – Procedimentos concursais de seleção para provimento de cargos de direção intermédia de 3.º grau:- Chefe da Unidade Operacional de Controlo Sucessivo- Chefe da Unidade Operacional de Edificação- Chefe da Unidade Operacional de Loteamentos e Obras de UrbanizaçãoAviso n.º 8343/2021 – Procedimento concursal de seleção para provimento de cargo de direção intermédia de 2.º grau – Chefe de Divisão Administrativa de Urbanismo.O prazo de candidaturas é de dez dias úteis, a contar do 1.º dia útil da publicitação na Bolsa de Emprego Público (BEP) devendo os interessados consultar os avisos de abertura dos procedimentos concursais publicados no Diário da República, 2.ª Série, n.º 87, de 05 de maio de 2021, na Bolsa de Emprego Público (www.bep.gov.pt) e na página electrónica da CML (www.cm-loule.pt).Paços do Município de Loulé, 05 de maio de 2021
A VEREADORA,(com competências delegadas pelo
despacho n.º 01-DL/2019 de 03/07/2019)Marilyn Zacarias
VENDA POR PROPOSTA EM LEILÃOELETRÓNICO DE 10/05 A 11/06
INSOLVÊNCIA DE: BRUNO ÂNGELO RODRIGUES
Por determinação do Administrador da Insolvência, Dr. Pedro Manuel Marques Xavier, vamos proceder à venda extra judicial através de Leilão Eletrónico, do imóvel a seguir identificados, Verba 1 do Auto Apreensão - Fração autónoma designada pelas letras “GD” a que corresponde o piso 6, Letra L do prédio urbano em regime de propriedade horizontal, sito na Praça Alexandre Herculano, nºs 1, 1A, 1B, 1C, 1D, 1E, 2A, 2B, 2C, 2D, 2E, 2F, 2G, 2H, 2I, 2J, 3, 3A, 3B, 3C, 3D e 3E, com acesso pelo vão de porta para a Avenida Luis de Camões, nºs 3, 3A e 3B, na localidade e freguesia de Santo António dos Cavaleiros, concelho de Loures, descrito na 1ª Conservatória do Registo Predial de Loures, sob o nº 37 / 19891004 - GD e inscrito na respetiva matriz predial urbana sob o artigo 743 com:
VALOR BASE DE VENDA:€ 73.000,0 (Setenta e três mil euros).
VALOR MÍNIMO DE VENDA:€ 62.050,00 (Sessenta e dois mil e cinquenta euros)
Os interessados deverão registar-se em https://patamaracessivel.pt/ e remeter as propostas via plataforma de acordo com o regulamento de licitação anunciado no respetivo site.
ASSOCIAÇÃO HUMANITÁRIA DE BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE CARCAVELOS E S. DOMINGOS DE RANA
CONVOCATÓRIANos termos dos artigos 32º, nº 2, 33º e 27º, nº 2, al. l) dos Estatutos e artigo 12º do Decreto-Lei n.º 22-A/2021, de 17 de março, que prorroga prazos e estabelece medidas excecionais e temporárias no âmbito da pandemia da doença COVID-19, convoca-se a ASSEMBLEIA GERAL da ASSOCIAÇÃO HUMANITÁRIA DE BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE CARCAVELOS E SÃO DOMINGOS DE RANA para uma sessão ordinária com a seguinte:
ORDEM DE TRABALHOS 1) Discussão e votação do Balanço, Relatório e Contas e apresentação do Parecer do Conselho
Fiscal relativo ao ano 2020. 2) Discussão e votação do Orçamento e Plano de Ação e apresentação do Parecer do Conselho
Fiscal relativo ao ano 2021. 3) Deliberação sobre alienação do direito de que a Associação Humanitária de Bombeiros
Voluntários de Carcavelos e S. Domingos de Rana é titular, em regime de compropriedade (parte 1/144), no seguinte prédio: rústico, denominado Amoreiras, descrito na 2ª Conservatória de RP de Cascais, ficha 3914, inscrito na matriz Predial sob o artigo 101, secção 71, da União das Freguesias de Carcavelos e Parede.
4) Deliberação sobre uma proposta de revisão do regimento das distinções honoríficas. 5) Assuntos de interesse geral. 6) Informações de caráter geral. A Assembleia terá lugar no parque coberto de viaturas na sede desta Associação Humanitária, na Rua dos Bombeiros Voluntários, no próximo dia 26 de maio de 2021, pelas 20.30 h. Os associados só poderão participar presencialmente desde que tenham as quotas em dia e cumpram as regras sanitárias determinadas pela DGS à data da sua realização. Os documentos podem ser analisados na secretaria da Associação (nos dez dias anteriores à Assembleia). A consulta está dependente de prévia marcação pelo telef. nº 214584710. Bem assim, podem ser consultados online, em: https://ahbvcsdr.pt/associacao/documentacao. Os associados que queiram participar por videoconferência e tenham as quotas em dia deverão indicar previamente essa intenção ao Presidente da Mesa da Assembleia, até às 23:59 horas (GMT) do dia 06 de maio de 2021, para o email [email protected] ou ligar para o telef. nº 214584710, indicando o endereço de e-mail onde deverá ser recebida a informação necessária para a sua participação, por meios eletrónicos, na reunião da Assembleia. Nos termos legais aplicáveis, a Associação procederá ao registo do conteúdo das comunicações e dos respetivos intervenientes. Nos termos do disposto no nº 1 do artigo 34º dos Estatutos, a Assembleia funcionará, se for caso disso, trinta minutos depois da hora designada, com qualquer número de Associados participantes. Carcavelos, 30 de abril de 2021.
O Presidente da Mesa da Assembleia Geral, José Manuel Machado Magalhães
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42 • Público Classi cados • Sábado, 8 de Maio de 2021
TRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA DE LISBOA
Juízo Local Cível do Seixal - Juiz 1Processo: 800/20.5T8SXL
ANÚNCIOAcompanhamento de MaiorRequerente: Ministério PúblicoBeneficiário: Simão Afonso SacramentoFaz-se saber que, nos autos de Acompanhamento do Maior acima identificados, por sentença já transitada em julgado e em que é beneficiário Simão Afonso Sacramento, sem profissão ou desconhecida, estado civil: divorciado, nascido(a) em 06-10-1955, natural de São Tomé e Príncipe, NIF - 230428169, autorização de residência - 02r776q03, segurança social - 11820301312, endereço: Unidade de Cuidados Continuados Integrados Nossa Senhora do Monte Sião da Arifa, Rua Cidade de Maputo – n.º 3, 2845-000 Amora, foi decretado o seu acompanhamento, mediante aplicação da(s) medida(s) de representação geral, incluindo para efeito de inclusão do/a beneficiário/a em instituição especializada para lhe prestar os cuidados necessários em termos humanos e para seu acompanhamento e suporte, e de administração ordinária dos bens imóveis, dos bens móveis e do rendimento mensal do/a beneficiário/a, incluindo a satisfação dos seus encargos e a abertura e movimentação de contas bancárias do/a beneficiário/a, a débito e a crédito, para esse exclusivo efeito, tornada(s) necessária(s) desde 1 de Janeiro de 2018;Nomeada, como acompanhante(s) do/a beneficiário/a, a sua sobrinha Cesaltina Maria do Sacramento Barbosa Neto, ao/à(s) foram atribuídos poderes de representação geral, incluindo para efeito de inclusão do/a beneficiário/a em instituição especializada para lhe prestar os cuidados necessários em termos humanos e para seu acompanhamento e suporte, e de administração ordinária dos bens imóveis, dos bens móveis e do rendimento mensal do/a beneficiário/a, incluindo a satisfação dos seus encargos e a abertura e movimentação de contas bancárias do/a beneficiário/a, a débito e a crédito, para esse exclusivo efeito;Decidido que o/a beneficiário/a fica interdito/a de casar ou de constituir união de facto, de procriar, de perfilhar ou de adoptar, de cuidar e de educar os filhos ou os adoptados, de se deslocar para o estrangeiro sem o/a acompanhante, de votar e de testar.Determinado que a(s) medida(s) de acompanhamento em vigor será(ão) revista(s) com a periodicidade de 5 (cinco) em 5 (cinco) anos;Não foi designado, por ora, o conselho de família.N/ Referência: 404969202Seixal, 29-04-2021
A Juiz de Direito,Laura Maria Dias Godinho Ribeiro Rações
O Oficial de Justiça,José Pires
Público, 08/05/2021
TRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA
DE LISBOA OESTEJuízo Local Cível de Cascais - Juiz 4
Processo: 1443/21.1T8CSC
ANÚNCIOAcompanhamento de MaiorRequerente: Ministério PúblicoAcompanhado: Ermesinda Pereira Gomes da SilvaFaz-se saber que foi distribuído neste tribunal, o processo de Acompanhamento de Maior em que é requerida Ermesinda Pereira Gomes da Silva, nascido em 27-05-1925, filho(a) de João Gomes e de Maria Constança, com domicílio: B.º Marechal Carmona, Bloco A - 1.º Dt.º, 2750-629 Cascais, com vista à determinação de medidas adequadas.N/ Referência: 130677536Cascais, 07-05-2021
A Juíza de Direito,Dr(a). Cátia Costa Santos
A Oficial de Justiça,Cristina Coelho
Público, 08/05/2021
INFO: 210 111 010
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INSPEÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA ESCOLAS EUROPEIAS – MOBILIDADE PARA
O EXERCÍCIO DE FUNÇÕES DOCENTESFaz-se público que se encontra publicitado, na página oficial da Inspeção-Geral da Educação e Ciência, www.igec.mec.pt, aviso respeitante à mobilidade para funções docentes no ensino secundário, lecionação de Português, na Escola Europeia de Munique.Lisboa, 07 de maio de 2021
O Inspetor-GeralLuis Capela
AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE VALONGO DO VOUGA
Em conformidade com o disposto nos artigos 21º e22º do Decreto-Lei nº 75/2008, de 22 de abril, com a redação dada pelo Decreto-Lei nº 137/2012, de 2 de Julho, torna-se público que se encontra aberto o procedimento concursal prévio à eleição do/a diretor/a do Agrupamento de Escolas de Valongo do Vouga pelo prazo de 10 dias úteis a contar a partir do dia seguinte à publicação em Diário da República.
Para conhecimento do Aviso de referência e do Regulamento do presente concurso, os interessados poderão consultar a página eletrónica do Agrupamento de Escolas de Valongo do Vouga.
A Presidente do Conselho Geral, Maria do Rosário Rocha
TRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA DE LISBOA
Juízo Local Cível do Seixal - Juiz 1Processo: 2525/20.2T8SXL
ANÚNCIOAcompanhamento de MaiorRequerente: Ministério PúblicoBeneficiária: Ana de Jesus Martins Moura LetrasFaz-se saber que, nos autos de Acompanhamento do Maior, acima identificados, por sentença já transitada em julgado, e em que é beneficiária Ana de Jesus Martins Moura Letras, nascida em 17-02-1935, BI 1047204, com domicílio no Lar 3 Etapas, Rua Soeiro Pereira Gomes, n.º 4, 2845-387 Amora, foi decretado o seu acompanhamento, mediante aplicação da(s) medida(s) de representação geral, incluindo para efeito de inclusão do/a beneficiário/a em instituição especializada para lhe prestar os cuidados necessários em termos humanos e para seu acompanhamento e suporte, e de administração ordinária dos bens imóveis, dos bens móveis e do rendimento mensal do/a beneficiário/a, incluindo a satisfação dos seus encargos e a abertura e movimentação de contas bancárias do/a beneficiário/a, a débito e a crédito, para esse exclusivo efeito, tornada(s) necessária(s) desde 1 de Janeiro de 2018;Nomeada, como acompanhante(s) do/a beneficiário/a, a sua filha Ana Justa Moura Letras Nobre, ao/à(s) qual(ais) foram atribuídos poderes de representação geral, incluindo para efeito de inclusão do/a beneficiário/a em instituição especializada para lhe prestar os cuidados necessários em termos humanos e para seu acompanhamento e suporte, e de administração ordinária dos bens imóveis, dos bens móveis e do rendimento mensal do/a beneficiário/a, incluindo a satisfação dos seus encargos e a abertura e movimentação de contas bancárias do/a beneficiário/a, a débito e a crédito, para esse exclusivo efeito;Decidido que o/a beneficiário/a fica interdito/a de se deslocar para o estrangeiro sem o/a acompanhante, de votar e de testar.Determinado que a(s) medida(s) de acompanhamento em vigor será(ão) revista(s) com a periodicidade de 5 (cinco) em 5 (cinco) anos;Não foi designado, por ora, o conselho de família.N/ Referência: 404988960Seixal, 29-04-2021
A Juiz de Direito,Laura Maria Dias Godinho Ribeiro Rações
O Oficial de Justiça,José Pires
Público, 08/05/2021
Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer - Alzheimer Portugal é uma Instituição Particular de Solidariedade Social. É a única organização em Portugal, de âmbito nacional, especifi camente constituída para promover a qualidade de vida das pessoas com demência e dos seus familiares e cuidadores. Tem cerca de dez mil associados em todo o país. Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário, Apoio Social e Psicológico e Consultas Médicas da Especialidade.Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente no movimento mundial e europeu sobre as demências, procurando reunir e divulgar os conhecimentos mais recentes sobre a Doença de Alzheimer, promovendo o seu estudo, a investigação das suas causas, efeitos, profi laxia e tratamentos.
ContactosSede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3, Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa
- Tel.: 21 361 04 60/8 - E-mail: [email protected] de Dia Prof. Dr. Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2
- Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Tel.: 21 360 93 00Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim»: Rua Joaquim Miguel Serra Moura,
n.º 256 - Alapraia, 2765-029 EstorilTel. 214 525 145 - E-mail: [email protected]
Delegação Norte: Centro de Dia “Memória de Mim” - Rua do Farol Nascenten.º 47A R/C, 4455-301 Lavra
Tel. 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: [email protected]ção Centro: Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17,
3100-523 Pombal Tel. 236 219 469 - E-mail: [email protected]ção da Madeira: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da
Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 FUNCHALTel. 291 772 021 - E-mail: [email protected]
Núcleo do Ribatejo: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31-A, 2080-114 AlmeirimTel. 24 300 00 87 - E-mail: [email protected]
Núcleo de Aveiro: Santa Casa da Misericórdia de Aveiro - Complexo Social da Quinta da Moita - Oliveirinha, 3810 Aveiro
Tel. 23 494 04 80 - E-mail: [email protected]
TRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA DE LISBOA
Juízo Local Cível do Seixal - Juiz 1Processo: 2516/20.3T8SXL
ANÚNCIOAcompanhamento de MaiorRequerente: Maria Manuela Dimas Vieira SerraBeneficiária: Maria Antonieta Dimas VieiraFaz-se saber que, nos autos de Acompanhamento do Maior, acima identificados, por sentença já transitada em julgado, e em que é beneficiária Maria Antonieta Dimas Vieira, nascida em 30-05-1952, com domicílio na Rua António Sérgio, n.º 1 – 1.º Frente, Paivas, 2845-000 Amora, foi decretado o seu acompanhamento, mediante aplicação da(s) medida(s) de representação geral e de administração ordinária dos bens imóveis, dos bens móveis e do rendimento mensal do/a beneficiário/a, incluindo a satisfação dos seus encargos e a abertura e movimentação de contas bancárias do/a beneficiário/a, a débito e a crédito, para esse exclusivo efeito, sem prejuízo de aquele/a poder gerir o seu “dinheiro de bolso” ou “mesada”, a(s) qual(ais) se tornou(aram) conveniente(s) desde 20 de Maio de 1970;b) Nomeado(a), como acompanhante(s) do/a beneficiário/a, a sua irmã Carmen Maria Dimas Vieira Cravo, à qual foram atribuídos poderes gerais de representação e de administração ordinária dos bens imóveis, dos bens móveis e do rendimento mensal do/a beneficiário/a, incluindo a satisfação dos seus encargos e a abertura e movimentação de contas bancárias do/a beneficiário/a, a débito e a crédito, para esse exclusivo efeito, sem prejuízo de aquele/a poder gerir o seu “dinheiro de bolso” ou “mesada”;c) Decidido que a beneficiária fica interdita de casar ou de constituir união de facto, de procriar, de perfilhar ou de adoptar, de cuidar e de educar os filhos ou os adoptados, de se deslocar para o estrangeiro sem a acompanhante e de testar.d) Não foi designado, por ora, o conselho de família;e) Determinado que a(s) medida(s) de acompanhamento em vigor será(ão) revista(s) com a periodicidade de 5 (cinco) em 5 (cinco) anos.N/ Referência: 404995992Seixal, 30-04-2021
A Juiz de Direito,Laura Maria Dias Godinho Ribeiro Rações
O Oficial de Justiça,José Pires
Público, 08/05/2021
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EDIFÍCIO DIOGO CÃODOCA DE ALCÂNTARA NORTE, LISBOA(JUNTO AO MUSEU DO ORIENTE)HORÁRIO: 2.ª – 6.ª FEIRA: 9H – 19H SÁBADO: 11H – 17H
TRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA
DE LISBOA OESTEJuízo Local Cível de Cascais - Juiz 4
Processo: 1442/21.3T8CSC
ANÚNCIOAcompanhamento de MaiorRequerente: Ministério PúblicoAcompanhado: Nelson da Silva CoelhoFaz-se saber que foi distribuído neste tribunal, o processo de Acompanhamento de Maior em que é requerido Nelson da Silva Coelho, nascido em 23-03-1945, filho(a) de Martinho Silva Coelho e de Cristina Maria da Silva, natural de: Lisboa, com domicílio: Ucci - Residências Montepio, Rua Marquês de Pombal N.º 6 B, 2775-265 Parede, com vista à determinação de medidas adequadas.N/ Referência: 130675397Cascais, 07-05-2021
A Juíza de Direito,Dr(a). Cátia Costa Santos
O Oficial de Justiça,Cristina Coelho
Público, 08/05/2021
DIOGO MARIA DE MELLO FRANCO
Missa de 7.º DiaSeus irmãos, cunhados e sobrinhos cumprem o doloroso dever de participar o seu falecimento no passado dia 4 em Lisboa e informam que será celebrada Missa de 7.º Dia na próxima segunda-feira, dia 10, às 19:00 horas na Igreja de São Mamede.
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ALUGA-SEEdifício na entrada principal de Portimão, junto à zona comercial, com 3.600m2. 1.000m2 por piso.Poderá ser alugado por inteiro ou por frações. 2.º Piso preparado para escritórios individuais ou escola de formação.Edifício todo interligado por escadas e elevador e com 3 entradas independentes.
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Procura:Licenciados (ou experiência) em secretariado|contabilidade | Financeiro (m/f)Critério preferencial de experiência profissional Assistente administrativa para departamento administrativo | Financeiro | Contabilidade
Competências valorizadas no âmbito das nossas necessidadesRequisitos profissionais:- Executar tarefas técnico-administrativas/secretariado, necessá-
rias ao funcionamento do departamento administrativo;- Compreensão da informação transmitida e capacidade de trans-
missão clara e concisa de informação;- Organização de agenda; marcações de reuniões, entrevistas e
outros compromissos;- Gestão de correspondência;- Atendimento telefónico e presencial;- Utilização informática na ótica do utilizador;- Arquivo.
Requisitos e competências pessoais:- Idade compreendida entre os 25 e os 35 anos; - Com experiência na função ou em funções semelhantes;- Residente na área do grande Porto;- Boa capacidade de comunicação e trabalho em equipa;- Boa capacidade de organização;- Capacidade de gestão de tempo.
Outros requisitos:- Flexibilidade de horário;- Disponibilidade imediata.
Os CV’s (com fotografia recente) deverão ser enviados, unicamente, para [email protected] (e-mail) até ao dia 14/05/2021.
Juntamente com os CV’s deverão remeter, carta de motivação e carta de referência.
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Público Classi cados • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 43
Insolvência de José Manuel Pereira Martins GuedesE Adelina Maria Silva Guedes Martins
Tribunal Judicial da Comarca de Aveiro - Juízo de Comércio de Oliveira de Azeméis – Juiz 2Processo nº 1767/19.8TAVR
CASA DE 2 PAVIMENTOS(A.B.C. 270m2 e A.B.P. 135m2) &
TERRENO RÚSTICO (c/ 2000m2)A venda da casa e do terreno é feita em conjunto
pelo valor de 61.176,99€
CASTELO DE PAIVAVISITAS: 31 de maio das 14h30 às 16h30
CATÁLOGO ONLINESubscreva a nossa newsletter em www.cparaiso.pt
FIM DO LEILÃO: 9 DE JUNHO, 4ª FEIRA ÀS 11H00
ANIVERSÁRIO1970 - 2020
º
LEILÃO ELETRÓNICOInsolvência de Henriques e Pardal, Lda.Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa
Juízo de Comércio de Lisboa – Juiz 5Processo de Insolvência n.º 16097/19.7T8LSB
INÍCIO 10/05/2021, ÀS 11H00 | FIM 07/06/2021, ÀS 17H00
CONDIÇÕES DE VENDA:
1. O registo é obrigatório no nosso site www.aleiloeiraforense.pt
2. Ao valor de arrematação são acrescidos, a comissão de 5% para a agência e, sobre esta, 23% de I.V.A.
3. Com a arrematação será notificado o arrematante para proceder ao pagamento de 20% do preço e a comissão, no prazo de 05 dias.
4. O remanescente do preço será pago na data da escritura, a qual terá lugar no prazo máximo de 60 dias.
Nota: Extrato das condições de venda, não dispensa a consulta das restantes condições no nosso site.
VALOR MÍNIMO DE VENDA€ 100.000,00 (CEM MIL EUROS).
Verba n.º 1 Prédio urbano denominado Sesmaria Limpa, situado em Samora Correia na Rua dos Operários Agrícolas, com a área coberta de 1732 M2 e área total de 6.000 M2, descrito na Conservatória do Registo Predial de Benavente sob o n.º 1799 da freguesia de Samora Correia, inscrito na matriz sob os artigos, 4178 e 4179.
VALOR MÍNIMO DE VENDA€ 300.000,00 (TREZENTOS MIL EUROS).
Verba n.º 2 Prédio urbano denominado Sesmaria Limpa, situado em Samora Correia, com a área coberta de 5.000 M2 e área total de 10.200 M2, descrito na Conservatória do Registo Predial de Benavente sob o n.º 280 da freguesia de Samora Correia, inscrito na matriz sob o artigo, 7804.
VALOR MÍNIMO DE VENDA€ 202.000,00 (DUZENTOS E DOIS MIL EUROS).
Verba n.º 3 Prédio urbano situado na Estrada de Campo Maior, com a área coberta de 1.184 M2 e área total de 8.400 M2, descrito na Conservatória do Registo Predial de Elvas sob o n.º 369 da freguesia de Caia e São Pedro, inscrito na matriz sob o artigo, 1919, freguesia de Caia, São Pedro e Alcáçova.
A LEILOEIRA FORENSE, LDA.Rua Carlos Reis, n.º 20 – A1600-033 LisboaTel. 213477953 -T.M. 969097121www.aleiloeiraforense.pt
Insolvência de Cianca – Sociedade de Construções, LdaTribunal Judicial da Comarca de Lisboa - Juízo de Comércio do Barreiro – Juiz 3
Processo nº 1858/11.3TYLSB
SETÚBALLOJA (86m2)
65.778,85€
Rua Jacob Azambuja Nº 9, R/C DTO.Arrendada pelo valor mensal de 500€
Início: janeiro de 2009 • Prazo: 1 ano (renováveis)
T3 (108,07m2)71.106,46€ &
ARMAZÉM (230m2)69.663,45€
Rua José Maria Rosa Albino, LOTE 5Apartamento: 3º ESQ. & Armazém: CAVE ESQ.
(NOTA: ambos ocupados)
ARMAZÉM (168m2)50.877,58€
Rua José Maria Rosa Albino,LOTE 3, CAVE DTA.(NOTA: imóvel ocupado)
CATÁLOGO ONLINESubscreva a nossa newsletter em www.cparaiso.pt
www.cparaiso.pt
FIM DO LEILÃO: 31 DE MAIO, 2ª FEIRA ÀS 11H00
Leiloeira Paraíso • Rua Andrade 2 R/C, DTO. • 1170-015 LISBOA Tel. 218 122 384 • Tlm. 916 855 363 • www.cparaiso.pt • [email protected]
ANIVERSÁRIO1970 - 2020
º
Insolvência de Carlos Bailão – Construções LdaTribunal Judicial da Comarca de Lisboa - Juízo de Comércio do Barreiro – Juiz 4
Processo nº 612/10.4TYLSB
BARREIRODOIS T2
2º ESQ. (66,57m2)(66,57m2)
NOTA: 2º ESQ. está arrendado
SÃO LOURENÇOSETÚBALLOTE
TERRENOP/ CONSTRUÇÃO(1.600m2) ,25
Aldeia de Irmãos
CATÁLOGO ONLINESubscreva a nossa newsletter em www.cparaiso.pt
www.cparaiso.pt
FIM DO LEILÃO: 31 DE MAIO, 2ª FEIRA ÀS 11H30
ANIVERSÁRIO1970 - 2020º
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44 • Público Classi cados • Sábado, 8 de Maio de 2021
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Público Classi cados • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 45
Os direitos de propriedade intelectual de todos os conteúdos do Público – Comunicação Social S.A. são pertença do Público. Os conteúdos disponibilizados ao Utilizador assinante não poderão ser copiados, alterados ou distribuídos salvo com autorização expressa do Público – Comunicação Social, S.A.
46 • Público Classi cados • Sábado, 8 de Maio de 2021
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Público Classi cados • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 47
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48 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Ciência Especialista explica as implicações do levantamento de patentes
“A ferramenta certa para aumentar a produção das vacinas são os contratos”
Os EUA mudaram de posição na
Organização Mundial do Comércio
(OMC) e mostraram o seu apoio ao
levantamento de patentes das
vacinas contra a covid-19, ao abrigo
de uma excepção ao Acordo sobre
Aspectos dos Direitos de
Propriedade Intelectual
Relacionados com Comércio (Trip).
A mudança surpreendeu a União
Europeia, que se tinha mostrado
contra, mas agora está disponível
para discutir o tema.
Ana Santos Rutschman é
especialista em propriedade
intelectual e publicou no site Bill of
Health o artigo “A Isenção de
Patentes das Vacinas da Covid-19: a
Ferramenta Errada para o Objectivo
Certo”. Em entrevista ao PÚBLICO,
a professora na Escola de Direito da
Universidade de Saint Louis (nos
EUA) explica quais as implicações
da isenção de patentes ou o que se
poderia fazer para aumentar a
produção de vacinas.
O que implica a isenção dos
direitos de patentes sobre as
vacinas contra a covid-19, ao
abrigo de uma excepção ao Trip?
A isenção permite o uso de
materiais e processos patenteados
sem a autorização do detentor da
patente. Sem esta medida,
farmacêuticas que não consigam
obter licença dos detentores da
patente podem — em teoria —
produzir a vacina sem autorização.
O que terá levado à mudança de
posição dos Estados Unidos?
Os EUA mudaram de posição em
relação à sua política externa de
patentes por razões simbólicas.
Primeiro, para transmitirem a
ideia de abraçarem políticas que
bene ciem a comunidade
internacional e não só a
população americana. Depois,
para mandarem uma mensagem à
indústria farmacêutica na
América, numa altura em que
discutimos aqui propostas de lei
para baixar o preço dos
medicamentos. E, nalmente,
para consumarem a demarcação
das políticas externas do Governo
anterior. No entanto, os EUA
apoiam esta medida especí ca
porque sabem que é simbólica,
Ana Santos Rutschman A investigadora portuguesa foi conselheira da campanha de Biden na matéria de propriedade intelectual e esclarece por que é que os EUA mudaram de posição sobre a isenção de patentes
DR
A isenção não transfere este tipo de
conhecimento e informação, sem o
qual, salvo colaboração do
detentor da patente, é muito difícil
criar uma vacina e caz.
O problema que encaramos hoje
é a falta de capacidade de produção
e não a falta de colaboração entre
empresas. A P zer acabou de
anunciar uma margem de lucro
enorme com a sua vacina contra o
covid-19. Se conseguisse produzir
mais doses, fá-lo-ia.
Qual poderá ser a ferramenta
jurídica certa para aumentar a
produção de vacinas ?
A ferramenta certa para aumentar
a produção de vacinas são os
contratos. Os contratos de
distribuição reservam a maior
parte das doses para países
desenvolvidos. Isto é algo que pode
ser alterado imediatamente,
criando obrigações contratuais de
fornecimento de uma percentagem
de doses existentes de vacinas a
países em vias de desenvolvimento.
Em termos de aumento de
capacidade, não há uma ferramenta
jurídica que faça isso: o que pode
haver é um esforço para se designar
mais centros de produção para
países em desenvolvimento.
Em que outras situações foram
levantadas patentes ao abrigo do
Trip? Qual o resultado?
A isenção é uma medida histórica.
Antes, foram usadas licenças
compulsórias, em que o direito à
patente não é eliminado
temporariamente, mas apenas
limitado. A licença é emitida contra
a vontade do detentor, que tem
direito a remuneração. Isto
aconteceu sobretudo com
medicamentos anti-retrovirais para
o VIH. Houve um período de
transição a partir de meados dos
anos 90 em que países em vias de
desenvolvimento tiveram mais
tempo para implementar a
protecção jurídica em sede de
patentes. Mas interromper a
protecção é algo novo.
O que diferencia essas situações
da vacina contra a covid-19?
O caso das licenças compulsórias
aconteceu com medicamentos
mais simples e estáveis do que
vacinas. Isto signi ca que é mais
fácil uma outra farmacêutica
reproduzi-los, mesmo que a
detentora não colabore.
No caso das vacinas, uma
permissão para usar os materiais e
processos patenteados não é
su ciente. A isenção não cobre tudo
aquilo que não é revelado através de
uma leitura da patente, nem existe
um mecanismo jurídico para forçar
a transferência de conhecimento
tácito e segredos de negócio. Ainda
mais relevante: de um ponto de
vista prático, a isenção de patente
não resolve o maior problema
actual, que é a falta de materiais e
capacidade de produção destas
vacinas. Temos um problema de
infra-estruturas e não de direito.
As decisões na OMC são tomadas
por consenso. Acha possível um
consenso sobre a isenção de
patentes?
Sem o apoio da União Europeia, e
especialmente com a tomada de
posição da Alemanha, a situação
parece complicada. Não é
impossível, mas é difícil.
Caso haja consenso, quanto
tempo levará até que essa
isenção seja posta em prática?
Se houver apoio para a isenção
passar, será necessário negociar os
termos. Realisticamente, estamos a
falar de várias semanas, até meses,
caso a isenção se estenda a direitos
de autor e outras áreas.
O Governo americano escolheu a
mais simbólica e menos e caz
destas medidas, marcando uma
posição no plano internacional sem
usar o seu próprio ordenamento
jurídico para aumentar a
percentagem de vacinas que vão
para países em vias de
desenvolvimento. De qualquer
maneira, é uma posição em relação
à propriedade intelectual mais
liberal do que a de qualquer outro
Governo na história da América.
No seu artigo no Bill of Health,
refere que a dispensa de
patentes das vacinas da covid-19
pode ser uma ferramenta
jurídica errada. Porquê?
A isenção permite o uso de
materiais e processos patenteados
sem a autorização do detentor da
patente. Com outro tipo de
medicamentos, esta medida pode
chegar para se produzir um
genérico, mas as vacinas são um
tipo diferente de medicamento, em
que muitos dos aspectos relativos à
manufactura não são revelados
através da patente. Isto é o
chamado conhecimento tácito, e
uma subforma deeste
conhecimento pode ser mantida
através de segredos de negócio.
Entrevista
Teresa Sofia Serafim
O Governo americano escolheu a mais simbólica e menos e caz das medidas, marcando uma posição no plano internacional
mas que, na prática, é menos
disruptiva do que parece.
Como conselheira da campanha
de Biden na matéria de propriedade
intelectual, posso referir que foram
considerados todos os mecanismos
jurídicos e de políticas públicas,
incluindo o uso governamental de
patentes — que permitiriam ao
Governo emitir licenças para
farmacêuticas não detentoras de
patentes no caso de vacinas, e a
obrigação de doação imediata ou
venda a baixo custo de vacinas a
países em vias de desenvolvimento.
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 49
Na mais recente edição do podcast
do PÚBLICO Assim Fala a Ciência,
que tem o apoio da Fundação
Francisco Manuel dos Santos e é
co-organizado por mim e pelo
Carlos Fiolhais, tive o gosto de
conversar com o engenheiro
aeroespacial João Lousada,
formado no Instituto Superior
Técnico, em Lisboa. Trabalha hoje
no Centro de Controlo Columbus,
em Munique, na Alemanha, onde
lidera o grupo de controladores de
voo do Centro Alemão de
Operações Espaciais que gere o
módulo Columbus, que é uma
parte da Estação Espacial
Internacional (EEI). É também
astronauta “análogo” — ou seja,
participa em missões na Terra em
ambientes bastante semelhantes
aos de outros planetas, Marte em
particular. E é candidato a
astronauta da Agência Espacial
Europeia (ESA).
Comecei por lhe perguntar como
é o seu dia-a-dia como responsável
por uma equipa que gere um
módulo dedicado à investigação
cientí ca na EEI. Falámos da sua
interacção regular com os
astronautas e da importância das
experiências cientí cas em
condições de imponderabilidade.
Este tema não me é totalmente
estranho: durante o meu
doutoramento em cristalogra a de
raios-X de proteínas enviei
proteínas para a EEI para veri car
se os cristais de proteína formados
em condições de microgravidade
seriam diferentes dos cristais
preparados na Terra. Não
encontrámos diferenças
relevantes, mas noutras
experiências os resultados no
espaço podem ser não só
diferentes, mas também muito
elucidativos, como contou João
Lousada.
Quis saber também em que tipo
de simulações participou como
astronauta análogo: o que se
pretende aprender com elas e em
que locais são realizadas? Mas não
lhe bastam as simulações, o João
quer passar a ser astronauta da
ESA. Perguntei-lhe o que é
necessário para se ser astronauta e
como são seleccionados os
“eleitos”. Perguntei-lhe se pensa
que é realmente possível haver um
astronauta português, ele ou outro.
Quanto a isso, o João lembrou que
está um concurso aberto e instou
outros a candidatarem-se. De facto,
João Lousada, o primeiro astronauta português?
também eu me candidatei, em
2009, e só desejo aos actuais
candidatos portugueses mais
sucesso do que eu tive!
A exploração espacial
envolvendo humanos é cara,
complexa e arriscada para os
envolvidos. Questionei o João
sobre a vantagem de levar
humanos para o espaço e o que
acrescenta isso às missões
robóticas. Comentei que houve um
recuo da presença humana no
espaço desde as missões Apollo,
que levaram astronautas
norte-americanos à Lua nos anos
60 e 70 do século passado.
Nas tempos mais recentes
todos os astronautas têm estado
remetidos a órbitas da Terra.
Perguntei ao João quando iremos
regressar à Lua…
Da Lua saltámos para Marte, que
tem sido apontado como a próxima
meta da presença humana no
espaço. Quis saber o que pensa das
viagens tripuladas ao planeta
vermelho. Estará ele próprio
disponível para ir a Marte?
Daqui a quinze dias haverá
novo podcast com mais um dos
cientistas e técnicos da rede
GPS — Global Portuguese Scientists,
que têm ajudado a criar e a
espalhar o saber.
Assim Fala a Ciência
David Marçal
Bioquímico e divulgador de ciência
Oiça o podcast
Com o apoio da:
O engenheiro João Lousada
Ciência
Degelo na Antárctida pode ser “catastrófico” para a subida do mar
Dois estudos na Nature avisam que é crucial manter o aquecimento global dentro das metas do Acordo de Paris
Patrícia Carvalho
Se o mundo continuar na trajectória
actual em termos de emissões de
gases com efeito de estufa, com um
aumento da temperatura global aci-
ma de 3 graus Celsius, o degelo na
Antárctida terá um contributo “catas-
tró co” para a subida do nível médio
do mar. Contudo, cumprir as metas
do Acordo de Paris, de limitar o
aumento da temperatura a 1,5 graus
Celsius acima dos valores pré-indus-
triais (ou bem abaixo dos 2 graus),
tem o potencial de travar essa reali-
dade, podendo reduzir para metade
o contributo do gelo terrestre global
para a subida do nível do mar. Dois
estudos publicados na Nature con-
cluem, por isso, que é necessária uma
acção “ambiciosa” na mitigação, para
travar o aquecimento global.
No artigo Projected land ice contri-
butions to twenty-first-century sea level
rise (“Projecção do contributo do gelo
terrestre para a subida do nível do
mar no século XXI”), e recorrendo a
modelos complexos, com múltiplos
dados, a equipa de investigadores
liderada por Tamsin Edwards, do
Departamento de Geogra a do King’s
College, em Londres, conclui que
“limitar o aquecimento global a 1,5
graus Celsius reduziria para metade
o contributo do gelo terrestre para a
subida do nível do mar no século
XXI”. Isto signi caria que, em 2100,
esse contributo seria de 13 centíme-
tros, em vez dos estimados 25 centí-
metros das projecções actuais.
O derretimento dos grandes lençóis
de gelo terrestre tem contribuído
para cerca de metade da subida do
nível do mar, desde 1993, refere-se no
estudo, com o aviso de que “esta frac-
ção deverá aumentar”. Apesar de
reconhecer que há ainda muitas
incertezas em relação à forma como
o gelo da Antárctida irá responder ao
aquecimento global — desconhece-se
o efeito do con ito gerado entre a
perda de gelo e o aumento da queda
de neve num mundo mais quente,
por exemplo —, a equipa de investiga-
dores estima que, num cenário pes-
simista, o degelo naquela região pode
“ser cinco vezes mais elevado” do que
as projecções actuais, contribuindo
para um aumento do nível médio do
mar de 42 centímetros.
Olhando para os principais reser-
vatórios de gelo terrestre, os autores
do estudo admitem que manter a
temperatura global nas metas do
Acordo de Paris poderia reduzir em
70% o degelo na Gronelândia e dimi-
nuir em cerca de metade a perda de
gelo dos glaciares. O comportamen-
to do gelo da Antárctida, por causa
das razões acima descritas, é mais
imprevisível e mostra poucas alte-
rações nos diferentes cenários estu-
dados pelos cientistas, mas o con-
tributo global destes três grandes
reservatórios de gelo terrestre para
a subida do nível do mar, em 2100
(a Gronelândia é a região em que a
perda de gelo tem sido mais eleva-
da, mas a Antárctida é, de longe, o
maior reservatório de gelo terrestre,
“e a sua perda está a acelerar-se”,
recorda-se no comunicado da revis-
ta cientí ca sobre os dois artigos),
pode ser reduzido em “quase meta-
de”, se cumprirmos as metas de
Paris, sublinham.
Já no artigo The Paris Climate Agree-
ment and future sea-level rise from
Antarctica (“O Acordo de Paris e a
subida do mar causada pela Antárcti-
da”), também publicado nesta edição
da Nature, a equipa de investigadores
liderada por Roberto DeConto, da
Universidade de Massachussets, nos
Estados Unidos, olhou especi camen-
te para a região mais a sul do planeta
e concluiu que manter o aumento da
temperatura abaixo dos 2 graus Cel-
sius irá fazer com que “a perda de
gelo continue a um ritmo similar ao
de hoje ao longo de todo o século
XXI”. Contudo, acrescentam os inves-
tigadores, se continuarmos na trajec-
tória actual — que conduzirá o plane-
Especialistas corrigiram estimativas do degelo na Antárctida
UESLEI MARCELINO/REUTERS
ta a um aquecimento de pelo menos
3 graus Celsius —, os cenários apon-
tam para “um salto abrupto na perda
de gelo de Antárctida, depois de
2060, contribuindo para cerca de 0,5
centímetros da subida do nível médio
do mar por ano em 2100”.
Se se atingir esse ritmo, subli-
nham, nem o eventual recurso a
técnicas de geoengenharia de remo-
ção de dióxido de carbono da atmos-
fera irá reverter o processo, condu-
zindo apenas a uma pequena desa-
celeração da subida do nível do mar,
nos modelos mais optimistas. “Estes
resultados demonstram a possibili-
dade de uma subida do mar impará-
vel e catastró ca a partir da Antárc-
tida, se as metas do Acordo de Paris
forem excedidas”, diz o estudo.
Olhando para os cenários de aumen-
to de temperatura de 1,5, 2 e 3 graus
Celsius, a equipa conclui que, nos dois
primeiros casos, o contributo da perda
de gelo de Antárctida para a subida do
nível médio do mar se situará entre os
6 e os 11 centímetros, mas, com um
aquecimento global mais acentuado,
“nenhuma intervenção humana,
incluindo geoengenheria, conseguirá
travar a subida de 17 a 21 centímetros
causada apenas pelo gelo de Antárcti-
da em 2100”, sintetiza-se no comuni-
cado que acompanha o artigo.
Os cientistas olharam também
para a própria estrutura da Antárcti-
da e a in uência que ela poderá vir a
ter na forma como o gelo se irá com-
portar. É que se a subida da tempera-
tura levar à abertura de ssuras mais
profundas nas plataformas de gelo
submersas no oceano, em que assen-
ta o gelo que se encontra à superfície,
isto pode provocar a desintegração
destas placas, o que, em consequên-
cia, fará com que o gelo derretido à
superfície deslize mais rapidamente
para o oceano e que os limites dos
grandes lençóis de gelo antárctico
possam desabar, “fazendo subir ain-
da mais o nível do mar”.
17-21 Cientistas avisam que nenhuma intervenção humana conseguirá já travar a subida de 17 a 21 centímetros até 2100 causada apenas pelo gelo de Antárctida
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50 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Cultura Exposição reconstitui presenças na Bienal de Arquitectura
Um radar para salvar o rasto da arquitectura portuguesa em Veneza
Conhecemos os projectos construí-
dos além-fronteiras, a participação
em concursos internacionais, a pre-
sença em exposições e colecções de
grandes museus do mundo, as distin-
ções com prémios Pritzker, Leão de
Ouro, RIBA, Mies van der Rohe… Mas
sabemos muito pouco sobre que ima-
gens e perspectivas da arquitectura
portuguesa temos levado lá para fora,
nomeadamente à mais importante
manifestação desta disciplina, a Bie-
nal de Veneza.
É disso que agora trata Radar Vene-
za, a exposição que a Casa da Arqui-
tectura hoje inaugura, num levanta-
mento da presença dos arquitectos
portugueses na bienal italiana desde
a sua “pré-história”, na segunda
metade da década de 1970, até à
actualidade, ou seja, de 1975 a 2021.
Na nave principal da instituição de
Matosinhos, o visitante vai poder, até
10 de Outubro, fazer uma viagem cro-
nológica e multimédia a esta história
que documenta a própria evolução
da arquitectura portuguesa em demo-
cracia. Com base nos arquivos que a
Direcção-Geral das Artes depositou
na Casa em 2019, os curadores Joa-
quim Moreno e Alexandra Areia
foram desa ados a instalar “um olhar
crítico, uma re exão sobre como esta
bienal serviu de re exo de Portugal
para o mundo”, disse o director artís-
tico da instituição, Nuno Sampaio, na
apresentação da exposição à comu-
nicação social. Tratou-se, ao mesmo
tempo, de fazer uma primeira leitura
desse acervo, que irá sendo actuali-
zado, bienal a bienal, e que constitui-
rá também uma porta de entrada no
Edifício Digital que a Casa da Arqui-
tectura vai abrir ao público ainda no
corrente ano, anunciou Sampaio.
Os dois curadores decidiram então
pegar no conceito de radar. “O radar
produz a imagem do que não se vê, e
obriga todos os elementos, num
A Casa da Arquitectura inaugura uma viagem às representações portuguesas na bienal italiana entre 1975 e 2021
determinado campo, a tornarem-se
emissores. Mesmo a quem queria
car escondido, o radar obriga a
re ectir um eco”, disse Joaquim
Moreno, justi cando o recurso a essa
“imagem extraordinária, instantâ-
nea”, que funciona também como
“uma acumulação de memórias”.
A partir dessa ideia — e porque “os
arquivos são como a massa-mãe, se
não lhes deitarmos farinha, não dão
grande pão”, ilustrou o curador e
arquitecto —, Radar Veneza organi-
zou-se sobre três eixos e planos de
investigação. Se a cronologia é deles
o mais óbvio, e de leitura mais ime-
diata, ela surge acrescentada da his-
tória oral, alimentada com a reprodu-
ção de excertos de 32 entrevistas aos
protagonistas dos eventos, arquitec-
tos e curadores, e também da recons-
tituição desenhada (aquilo a que os
curadores chamam o “Bairro Vene-
za”) das arquitecturas portuguesas
que se sucederam na bienal.
De Pancho Guedes a Siza A visita à exposição pressupõe a lei-
tura atenta do seu “manual de instru-
ções”, já que a presença da arquitec-
tura portuguesa em Veneza tem uma
densidade bem maior do que a que
decorre das representações o ciais,
aliás só lançadas neste milénio.
É assim que uma das principais
revelações de Radar Veneza está no
facto de documentar as primeiras
presenças na bienal, logo a seguir à
Revolução dos Cravos, em 1975 e 1976.
Na primeira, com uma instalação do
arquitecto Pancho Guedes, Duas
Cabeças Monumentais, a convite de
Vittorio Gregotti. O arquitecto italiano
autor do Centro Cultural de Belém,
desaparecido no ano passado (e que
foi “um especial amigo dos arquitec-
tos portugueses”, recorda Joaquim
Moreno), teve, de resto, um papel
fundamental na autonomização da
arquitectura relativamente à Bienal
das Artes nascida ainda no nal do
século XIX, desenvolvimento que só
se efectivaria em 1980.
Foi ainda Gregotti que, em 1976,
chamou Álvaro Siza a participar na
exposição colectiva Europa-América,
com as suas casas nas Caxinas, em
Vila do Conde. Paralelamente, a pre-
sença “o cial” portuguesa foi assegu-
rada por um colectivo de artistas,
numa exposição em que Alberto Car-
neiro mostrou os seus “rituais estéti-
cos” de feição naturalista e ecológica.
Nesse ano, e “num gesto de solidarie-
dade e cumplicidade revolucionárias”
com o 25 de Abril, nota Joaquim
Moreno, a representação nacional foi
acolhida pelo Pavilhão da Finlândia,
desenhado por Alvar Aalto.
No percurso, os anos em que Por-
tugal contou com representação o
cial estão assinalados a bold, sendo
também discriminados os nomes dos
autores que integraram a respectiva
delegação e daqueles cuja presença
decorreu de convite directo da bienal,
ou que foram acolhidos noutros pavi-
lhões — como em 2000, a instalação
de Didier Fiúza Faustino, Body in tran-
sit, no Pavilhão da França.
Uma “embaixada” cultural Depois de um hiato de duas décadas
e meia, em que a arquitectura portu-
guesa marcou presença através da
Escola do Porto e de duas das suas
guras maiores, Siza e Eduardo Souto
de Moura (1985, 1991 e 1996), foi à
entrada do novo milénio que o Gover-
no assumiu a importância, até diplo-
mática, de ter uma representação
o cial no certame.
Há leituras diferentes quanto ao
ano de lançamento desse novo pro-
grama: 2002 ou 2004. Na primeira
dessas edições, mandatado pelo
então Instituto de Arte Contemporâ-
nea, o arquitecto José Manuel Fernan-
des apresentou quatro projectos
portugueses, entre os quais avultava
o do Estádio Municipal de Braga, de
Souto de Moura. Mas o acontecimen-
to desse ano seria a atribuição do
Leão de Ouro a Siza, pelo projecto do
Museu Iberê Camargo, no Brasil.
Dois anos depois, coube a Paulo
Cunha e Silva, à frente do Instituto
Sérgio C. Andrade
1975 A primeira presença da arquitectura portuguesa na Bienal de Veneza coube a Pancho Guedes, que ali levou Duas Cabeças Monumentais
A exposição revela também a “pré-história” da presença portuguesa em Veneza, em 1976 (em cima) e 1975 (em baixo)
DR
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 51
ADRIANO MIRANDA
das Artes, apresentar o projecto Meta-
flux, que, sob a curadoria de Pedro
Gadanho e Luís Tavares Pereira, daria
a conhecer duas gerações de arqui-
tectos, entre as quais se encontravam
nomes como Inês Lobo e Nuno Bran-
dão Costa, ao lado dos ateliers Pro-
montório e S’A Arquitectos.
Pancho Guedes regressaria a Vene-
za em 2006, em parceria com Ricardo
Jacinto, com a instalação Lisboscópio,
seguindo-se-lhes, em 2008, Souto de
Moura, com Ângelo de Sousa e o seu
espelho-monumento Cá Fora, numa
curadoria do lósofo José Gil e do
actual curador de Radar Veneza. Qua-
tro casas, dos Aires Mateus (2010);
Lisbon Ground, de novo, também,
com Inês Lobo (2012); e, já nos anos
da “troika”, Homeland, um jornal
com “notícias de Portugal”, em ver-
são de austeridade (2014), represen-
taram o país nas edições seguintes.
Siza e Souto de Moura, presenças
sempre recorrentes em Veneza, vol-
tariam a marcar os anos a seguir. O
primeiro, regressando ao seu projec-
to de habitação social no Campo de
Marte, na Giudecca, pelas mãos de
Nuno Grande e Roberto Cremascoli,
com Neighbourhood: When Alvaro
Meets Aldo (2016); Souto de Moura
arrecadando o Leão de Ouro de 2018
com a sua intervenção na Herdade de
São Lourenço do Barrocal, na mesma
edição em que desenhou também
uma capela para o Pavilhão do Vati-
cano. Ainda nesse ano, a representa-
ção o cial esteve a cargo de Nuno
Brandão Costa e Sérgio Mah, com o
projecto Public Without Rhetoric.
Já no corrente ano, e depois do
adiamento provocado pela pande-
mia, o atelier portuense depA está a
duas semanas de apresentar em
Veneza o seu projecto In Conflict,
numa edição que será certamente
ainda muito condicionada pelas
regras de con namento na Europa.
Em paralelo com esta cronologia e
as entrevistas que a pontuam — e com
um programa que incluirá ainda a
edição de um catálogo e um calendá-
rio de debates, entre Junho e Setem-
bro —, o visitante é também convida-
do a percorrer os “desenhos levanta-
dos” em armações metálicas
vermelhas que reproduzem as arqui-
tecturas e instalações portuguesas
realizadas em Veneza ao longo destes
anos. “Decidimos, para memória
futura, desenhar e animar a exposi-
ção com uma técnica do século XVIII,
quase como a das casas de bonecas,
num papel com superfícies rebati-
das”, diz Joaquim Moreno.
No nal, poder-se-á car com a sen-
sação de que esta é uma história ainda
em curso, e que tenderá a crescer.
Esse é também o propósito dos cura-
dores, conscientes de que, ao longo
dos próximos cinco meses, e no futu-
ro, “vão aparecer mais coisas”. E
os arquivos servem para isso.
“São matéria, evidências,
que é preciso sempre estu-
dar e comunicar”, diz
Joaquim Moreno.
Cultura
Volta Para Tua Terra: Uma Antologia Anti-racista/ Antifascista de Poetas Estrangeirxs em Portugal é apresentada hoje no Porto
Mariana Duarte
Quarenta e nove poemas de 49 auto-
res oriundos de nove países, entre
eles Brasil, Moçambique, Angola,
Cabo Verde, Colômbia e Itália, com-
põem Volta Para a Tua Terra: Uma
Antologia Anti-racista/ Antifascista de
Poetas Estrangeirxs em Portugal, lan-
çada pela Editora Urutau. O título é,
só por si, uma declaração de inten-
ções que sintetiza aquilo que mobili-
zou os brasileiros Wladimir Vaz, edi-
tor da Urutau, e Manuella Bezerra de
Melo, escritora e investigadora, a cria-
rem este projecto. “O Wladimir par-
tilhou comigo a vontade de fazer algo
relacionado com o crescimento do
fascismo e da extrema-direita em Por-
tugal, onde ambos vivemos. Juntos,
chegámos à conclusão de que seria
uma antologia de escritores imigran-
tes”, explica Manuella Bezerra de
Melo ao PÚBLICO, em vésperas da
apresentação o cial do livro no hotel/
bar Selina, no Porto, pelas 14h30 de
hoje.
Este olhar que se pretende simul-
taneamente “literário e político”
sobre o que os organizadores da anto-
logia acreditam ser “um re exo da
ascensão da extrema-direita que vem
ocorrendo a nível global, sobretudo
desde a vitória de Donald Trump”,
coloca o foco nas intersecções entre
o legado colonial português, o racis-
mo e a xenofobia. “Em Portugal, há
muitas feridas abertas e mal resolvi-
das sobre a memória colonial e isso
possibilita o fortalecimento de lógicas
fascistas”, considera Manuella, que é
também autora do prefácio e de um
dos poemas desta antologia. “Essa
memória colonial atinge os corpos
imigrantes através de comportamen-
tos de ódio.”
Daí a escolha da expressão “volta
para a tua terra”, um dos ataques
racistas e xenófobos “mais recorren-
tes no quotidiano dos imigrantes em
Portugal”, mas também no dos por-
tugueses afrodescendentes — basta
lembrar o caso do assassinato de Bru-
no Candé, ou mesmo o comentário
de André Ventura nas redes sociais
sobre “devolver” Joacine Katar Morei-
ra “ao seu país de origem”. “Falar
sobre isto não é dizer que é um pro-
blema exclusivo de Portugal, mas nós
somos estrangeiros aqui e estamos
aqui”, assinala Manuella Bezerra de
Melo. Não se trata de “ir contra Por-
tugal”, reforça a escritora. “Pelo con-
trário: a gente ama este país e quer
Esta antologia quer amplificar as vozes de poetas imigrantes
que a sua democracia seja fortalecida.
Para tal acontecer, temos de levantar
questões que precisam de ser resol-
vidas.”
Residentes em vários pontos do
país, como Braga, Porto, Coimbra ou
Lisboa, os autores reunidos nesta
antologia foram seleccionados a par-
tir de um open call lançado pela Uru-
tau, editora com tentáculos no Brasil,
em Portugal e na Galiza. Receberam
cerca de 160 textos de poetas prove-
nientes de mais de duas dezenas de
países, com destaque para o Brasil — o
que se re ecte no resultado nal, em
que 60% dos nomes são brasileiros.
“O facto de a editora ter nascido no
Brasil faz com que a nossa capacidade
de alcance em relação a imigrantes
de outros países seja mais limitada,
apesar de não ter sido essa a nossa
intenção”, reconhece a co-organiza-
dora da iniciativa.
Ainda que numa microescala, é
possível, através das biogra as incluí-
das na antologia, identi car alguns
per s daquela que é a maior comuni-
dade imigrante em Portugal, sobre-
tudo entre as camadas mais jovens:
por exemplo, a forte presença de
estudantes e investigadores. “Da psi-
cologia à biologia, passando pelas
artes, há de facto uma grande diver-
sidade”, a rma Manuella Bezerra de
Melo.
Vários destes autores são pratican-
tes de poetry slam, um tipo de poesia
assente na oralidade e na performa-
tividade com uma grande tradição no
Brasil, e que tem vindo a crescer por
cá, em boa parte alavancada por imi-
grantes brasileiros. “Temos também
a Ellen Lima e a Samara Ribeiro, que
são duas poetisas indígenas de duas
nações diferentes e que trabalham
muito com a oralidade”, aponta
Manuella.
Esta publicação não é ocupada por
autores nem artistas consagrados,
destaca ainda a escritora. Há alguns
nomes que poderão ser mais reco-
nhecíveis — como o do poeta e músico
Luca Argel, o do escritor, ensaísta e
crítico brasileiro Ronaldo Cagiano ou
o da artista e curadora Hilda de Paulo
—, mas a maior parte está fora do cír-
culo habitual da produção artística.
Pelo menos metade dos autores, nota
Manuella, “nunca tinha publicado
nada”. “Há, inclusive, operários como
o Salazar Crioulo, que vive de traba-
lhos temporários em Lisboa.” O facto
de haver tantas estreias “torna a coisa
mais interessante”, acrescenta. “A
gente sabe que o mercado literário já
é difícil para pessoas do próprio país,
então para imigrantes é mais compli-
cado ainda.”
Um dos objectivos deste projecto
é, de resto, tentar contribuir para
uma maior democratização “do acto
literário”, ampli cando “as vozes de
poetas estrangeiros” e as potenciais
oportunidades de publicação. Para
prosseguir com essa meta, a Urutau
está já a planear um segundo volume
da antologia. “Queremos debater o
carácter elitista da literatura. Normal-
mente pensamos que só pessoas
especiais se podem expressar através
dela, o que é uma grande mentira. A
literatura vem do povo, vem da orali-
dade”, defende Manuella. Também
por isso, os responsáveis pretendem
que o segundo capítulo possa abran-
ger “mais nacionalidades, inclusive
fora da língua portuguesa, e mais clas-
ses sociais”.
A antologia reúne 49 autores oriundos de nove países
DR
“O mercado literário já é difícil para pessoas do próprio país, então para imigrantes é mais complicado ainda”
Três perguntas a
Qual a principal dificuldade na montagem da exposição? A história que se faz e que se investiga tem de ser verificada e de ser substantiva. E tem de falar com a comunidade, de se pôr em debate. Aqui tivemos também de activar um arquivo e de encenar essa activação para que ela pertença a muita gente. Se não, não há debate nem representação. Depararam-se com alguma descoberta inesperada? O nome de Portugal escrito na fachada do Pavilhão da Finlândia foi uma surpresa. E toda a parte da pré-história, com o Pancho Guedes. Veneza foi fundamental para a afirmação internacional da arquitectura portuguesa? Foi fundamental para passar da promoção à diplomacia, para se ser parte do debate e estar em comunhão com os outros. Hoje a arquitectura portuguesa é um actor de pleno direito no debate internacional.
Joaquim Moreno
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52 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
carregam a chama do heavy metal português há 40 anosQuando surgiram, o género que fazia furor lá fora mal dera os primeiros passos em Portugal. A já lendária banda que os irmãos Barros fundaram em 1981 continua activa, e acaba de lançar mais um álbum
No início da década de 1980,
no decurso do teste de som
de uma das bandas que
tocariam no Parque da
Aguda, em Gaia, um técni-
co dirigia-se aos músicos
para lhes dar conta de que, a julgar
pelo som, a guitarra ou o ampli ca-
dor tinham um problema. O instru-
mentista em causa garantia porém
não existir nada de errado com o
equipamento. Não convencido, o
técnico do espectáculo, cujo cartaz
incluía também os Jafumega, em
pleno arranque do chamado boom
do rock dos anos 1980, insistia que
a guitarra não podia estar boa.
Na verdade, o único problema
estava na ignorância da época em
relação a um género musical ainda
a dar os primeiros passos em Portu-
gal, numa altura em que no estran-
geiro já tinha encontrado o seu
lugar e ganhava terreno. O género
que entrava timidamente no pano-
rama nacional era o heavy metal, e
André Borges Vieira Texto Ana Marques Maia Fotografia
cheia de lixo” e para os originais, já
com o heavy metal no ADN.
Patinhos feios Decorre então o ano de 1981. Rui
Veloso lançara no ano anterior o
álbum Ar de Rock, os Táxi estreiam-se
em disco, António Variações e os GNR
estão perto de editar os seus primei-
ros LP, os Xutos & Pontapés dão o
salto. É por essa altura que os Taran-
Cultura Quatro décadas de uma banda pioneira no panorama nacional
a banda em causa os Tarantula, que
em 2021 assinalam os seus 40 anos
com o lançamento de mais um álbum
de originais, Thunder Tunes From
Lusitania, depois de terem contribuí-
do em larga escala, com a escola de
música e o estúdio que criaram, para
a expansão do cenário metaleiro por
todo o país.
Quem recorda ao PÚBLICO este
episódio é Luís Barros, baterista e co-
fundador da banda com o irmão,
Paulo Barros (guitarrista), em 1981,
na altura ainda com outra designação
— Mac Zac. A dupla juntou-se por
estes dias no Rec’n’Roll Studio, em
Valadares, com Jorge Marques (voca-
lista) e José Aguiar (baixista), que em
conjunto completam a formação do
grupo, para recordar alguns momen-
tos da carreira dos Tarantula.
Estão quase todos na casa dos 50
anos — um já passou a barreira dos
60 —, mas juntos parecem conservar
a motivação e o entusiasmo dos
momentos em que davam os primei-
ros passos enquanto músicos. Ao
longo da conversa, compilam
momentos marcantes da carreira,
descrevendo-os como se tivessem
acontecido apenas há uns meses.
Porém, já passaram quatro décadas,
durante as quais se mantiveram éis
ao género que abraçaram numa altu-
ra em que, salvo raras excepções (os
NZZN ou os Ferro e Fogo, no distrito
de Lisboa, e os Xeque-Mate, que tal
como os Tarantula vinham da zona
do Porto), quase não existia heavy
metal em Portugal.
Estas bandas precederam a chega-
da dos Tarantula. Mas o grupo funda-
do pelos irmãos Barros terá sido o
primeiro a abraçar declaradamente
o rótulo heavy metal, embora mais
tarde os Xeque-Mate viessem a ser
descritos como os “pais do heavy
metal nacional”.
Paulo Barros recorda como tudo
começou: “Demos os primeiros
toques num quarto. O Luís com uns
caixotes de detergente a fazer de
bateria e eu com uma guitarra muito
foleira.” Ainda a apurar os sentidos,
começaram por tocar algumas ver-
sões de Ramones. “Eram fáceis de
aprender”, atira o guitarrista. Dali
deram um salto para “uma garagem
“O meio do rock já era pequeno. E ali estávamos nós, uma espécie de patinhos feios”, recorda Luís Barros
Tarantula Os
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 53
do pela Alemanha. O que poderia ter
garantido o seu sucesso internacio-
nal, já que o som que faziam na altu-
ra estava a ser desenvolvido ao mes-
mo tempo noutras zonas do globo.
“O meio do rock já era pequeno.
E ali estávamos nós, uma espécie de
patinhos feios”, diz por sua vez Luís,
o baterista. O circuito estrangeiro
teria sido uma via para consolida-
rem o trabalho do grupo. E estive-
ram perto de se inscrever nele mais
a sério, quando saiu o segundo
álbum, Kingdom of Lusitania, grava-
do em 1989, mas só editado no ano
seguinte. “Nessa altura fomos abor-
dados por um alemão que foi res-
ponsável pelo sucesso de muitas
bandas de heavy metal germânico
para editar o disco lá fora”, recorda
o guitarrista. Só que depois de as
negociações passarem a ser tratadas
com a editora portuguesa (uma
delegação de uma multinacional)
essa possibilidade cairia por terra.
“Mediocridade Organizada” Luís Barros tem uma teoria para o
que aconteceu. Os Tarantula sempre
tula fazem o primeiro concerto “a
sério”, em Vila Franca de Xira, com
Júlio Isidro a apresentar. “Estavam lá
o Variações, a Adelaide Ferreira, o
Rui Veloso. Mas também estávamos
nós, os Xeque-Mate, os NZZN”, recor-
da Paulo Barros. Os Tarantula seriam
dos poucos a cantar em inglês.
O circuito de concertos do grupo,
nessa altura, não era muito diferente
do trilhado por bandas de outros
géneros. Tocavam em festas popula-
res, ao lado de nomes que iam desde
Marco Paulo e Rão Kyao até bandas
de rock cantado em português. “Não
havia propriamente um cenário dedi-
cado ao metal”, diz Paulo Barros. “O
meio era muito pequeno. Acho que
nos conhecíamos todos. Era tudo
muito underground”, acrescenta.
O guitarrista dos Tarantula lembra-
se também de tocar em festas de na-
listas nas escolas. “Não existiam pro-
priamente bares com música ao
vivo”, explica. Também foram várias
vezes a Lisboa para tocar no extinto
Rock Rendez-Vous. Mas antes disso,
logo no início de carreira, a banda
deu o salto para fora do país, passan-
que a banda teve no panorama
nacional dentro do universo do
metal. Na sequência dos alicerces
lançados pelos Tarantula, Jorge
Marques fez parte de uma banda de
metal fundada por outros técnicos
do grupo: os Web, ainda hoje no
activo. “A teia dos Tarantula”, des-
creve Luís Barros.
Depois do Rec’n’Roll Foi também na década de 1990 que
a banda deu outro passo fundamen-
tal para o desenvolvimento do géne-
ro, no Porto e no resto do país, com
a criação da Rock’n’School e do
estúdio Rec’n’Roll. Muitos músicos
que ainda circulam no panorama
nacional do metal por lá passaram,
para aprender ou para gravar músi-
ca. É na primeira metade dessa
década que o movimento cresce,
inclusivamente a reboque de outros
subgéneros mais extremos, como o
death metal ou o thrash metal.
Assentaram então no estúdio de
Valadares para gravar álbuns os
Genocide, os Gangrena ou os WC
Noise, três bandas de referência
dentro do movimento.
“Não havia estúdios dedicados ao
género. Nós criámos algo dentro do
ADN dessas bandas. Costumo dizer
que há um antes do Rec’n’Roll e um
depois do Rec’n’Roll”, a rma Luís
Barros. O estúdio foi também uma
forma de os membros da banda
conseguirem manter-se ligados à
música e assim garantir a longevi-
dade dos Tarantula: “Fizemos mais
uma vez o que sempre zemos. Se
não existem recursos, tens de te
desemerdar: criamos nós.”
Foi já depois disso, em 1998,
quando a banda lançou Light
Beyond the Dark, que os Tarantula
alcançaram nalmente o desejado
contrato internacional com a edito-
ra alemã AFM Records, que os cata-
pultou e lhes permitiu mais concer-
tos fora do país. Nessa altura, o
panorama já era muito diferente. Já
existiam em Portugal bares de con-
certos, centenas de bandas e edito-
ras dentro do metal.
Ao m de 40 anos e de oito álbuns
lançados por diferentes editoras, os
Tarantula chegam agora ao seu
nono álbum de originais, com o selo
de uma editora portuguesa dedica-
da ao metal, a Larvae Records.
Thunder Tunes from Lusitania, edi-
tado na semana passada, resume
sonora e liricamente o percurso da
banda, como é possível percepcio-
nar a partir do tema The flame is still
alive, que é ao mesmo tempo um
agradecimento aos fãs e a todos os
que ao longo destas quatro décadas
passaram pela banda.
Mas há um segredo maior para a
longevidade deste colectivo vetera-
no de músicos, dizem os hoje já
lendários Tarantula: “Somos uma
família. Somos amigos e continua-
mos aqui porque gostamos mesmo
muito do que fazemos”, conclui
Jorge Marques.
se recusaram a cantar em português,
embora tivessem sido pressionados
pelas editoras para o fazer. “Não há
rock português, rock chinês ou rock
italiano. Rock é rock”, argumenta.
“Só que na altura criou-se um rótulo
para algo que não existia, a Música
Moderna Portuguesa. Mas aquilo era
simplesmente rock”, acrescenta.
A criação desse rótulo e a pressão
sobre as bandas para cantarem em
português ter-lhes-ão vedado qual-
quer possibilidade de internaciona-
lização. “Ao mesmo tempo serviu
para as delegações das editoras mul-
tinacionais não deixarem escapar
essas bandas para fora, garantindo
que continuariam a controlá-las”,
continua Paulo Barros, sublinhando
não ser por acaso que nenhuma delas
atingiu o sucesso internacional, ao
contrário dos “suecos ABBA ou Euro-
pe”. Se o natural era em cada país as
delegações das multinacionais serem
um trampolim para a internacionali-
zação, em Portugal terá acontecido
exactamente o contrário: “As bandas
cavam reféns das delegações das
editoras.”
Esse segundo álbum foi produzi-
do pela própria banda — em casa e
com recurso a material emprestado.
“Esgotou-se em 15 dias”, conta o
baterista. Mas os Tarantula caram
sem saber o que teria acontecido se
tivesse existido uma edição interna-
cional.
“Mediocridade Organizada” foi o
termo que José Aguiar cunhou como
substituição para Música Moderna
Portuguesa. Antes de chegar aos
Tarantula, em 1994, o baixista já
tinha passado por bandas como os
Go Graal Blues Band, de que tam-
bém foi membro Paulo Gonzo, ou
os Roxigénio de Phil Mendrix, que
morreu em 2018 — grupos que tam-
bém cantavam em inglês, o que lhes
terá di cultado a chegada ao circui-
to mais comercial.
Por força dessas di culdades, após
uma “travessia no deserto” durante
os anos 1990, os Tarantula tiveram de
ir à procura de outras soluções.
Recorda Jorge Marques que é nessa
altura que a banda fura com sucesso
o mercado espanhol. O músico e
artista plástico assumiu funções de
vocalista em 1989, mas já fazia parte
da equipa técnica desde 1982 e tinha
desenhado a capa do primeiro álbum.
Conhecia os irmãos Barros desde o
tempo em que frequentavam a esco-
la secundária de Valadares.
Enquanto técnico, foi assistindo
à evolução da banda. Hoje, colec-
ciona “centenas” de histórias, como
a do dia em que num concerto na
Afurada, no início dos anos 1980,
um pequeno grupo de “metaleiros”
teve problemas com o resto da pla-
teia, pouco familiarizada com o
género, por fazer o “sinal dos corni-
nhos”. O público não conhecedor
saiu em defesa da banda por achar
que o grupo estaria a insultar os
Tarantula com o gesto...
O vocalista é fruto da in uência
Os Tarantula reunidos nos estúdios Rec’n’Roll, que fundaram na década de 1990
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54 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Quinta, 13 Colecção Peter Pan (quinzenal) Álbum 3 — Tempestade Uma colecção de seis volumes em capa dura que trazem a recriação para adultos de um dos mais fantásticos heróis infantis. Encantatório e poético, cruel e implacável quando necessário, este é um universo que salta da imaginação de Loisel para as pranchas de uma banda desenhada incontornável. Sexta, 14 Colecção Censura no Feminino Vol. 3 — Casa sem Pão, de Maria Archer Durante 48 anos, o regime de Salazar censurou e proibiu centenas de livros. Apenas 21 são de escritoras portuguesas, escritas por dez autoras. A colecção Censura no Feminino, que o PÚBLICO e a Bela e o Monstro agora editam, recupera dez destas obras, em versão fac-símile e acompanhadas pelo relatório de censura, que a PIDE censurou e proibiu.
Iniciativas
Peter regressa a Londres para tentar salvar o seu amigo Pan
AgendaBanda desenhada
Colecção Peter Pan Álbum 3 — Tempestade Quinta-feira, 13 de Maio Por + 10,90€
Peter tornou-se o chefe do povo ima-
ginário. Pan explica-lhe que o tesou-
ro tão avidamente procurado pelo
capitão não tem qualquer valor mate-
rial e que a fonte de vida na ilha é
precisamente esse anseio do capitão:
o seu sonho de um tesouro. Com efei-
to, o povo da ilha é composto por
criaturas geradas pela imaginação
humana, sobretudo pela das crian-
ças, já que os adultos perderam a sua
capacidade de se maravilharem e de
imaginar. É portanto necessário evi-
tar a todo o custo que o capitão
encontre o tesouro, uma vez que a
sua decepção signi caria a morte de
todos. Para satisfazer o pirata, Peter
propõe-se oferecer-lhe as riquezas
escondidas pelos inúmeros destroços
afundados em redor da ilha. A sua
expectativa era a de que o capitão
levantasse âncora logo a seguir, mas
infelizmente Pan sairá gravemente
ferido desta expedição. Peter aper-
cebe-se de que apenas os conheci-
mentos do senhor Kundal podem
salvar Pan e decide regressar a Lon-
dres para lhe pedir ajuda. Mas aquilo
que ele traz de volta para a ilha é bem
mais sombrio…
Em poucas palavras, é este o enre-
do de Tempestade (texto e desenho
de Régis Loisel), terceiro álbum da
colecção de banda desenhada Peter
Pan — desenvolvida em parceria
PÚBLICO-Edições ASA —, que será
distribuído com o jornal na quinta-
feira.
Há uma curiosa simetria entre
este episódio e o primeiro da série
— Peter passa agora dois terços da
narrativa na ilha e o resto da história
em Londres —, como que a lembrar
que nada é linear ou simples no uni-
verso desta obra. Mas há, sem dúvi-
da, um o condutor que vale a pena
o leitor ir desenrolando: no álbum
anterior, Peter descobria aqueles
que iriam ser os seus futuros ami-
gos, enquanto no presente capítulo
o protagonista continua a sua apren-
dizagem da vida, do amor e da mor-
te, numa inevitável iniciação à idade
adulta em que cumpre o seu desí-
gnio de herói.
O tom está assim dado: Peter e os
amigos envolvem-se numa guerra
sem tréguas contra os piratas de Gan-
cho, que tentarão neutralizar de uma
vez por todas. A grandiosa sequência
da tempestade marítima (que dá
nome ao episódio) e da luta de morte
entre os amigos de Peter e o bando de
piratas, que ela testemunha, di cil-
mente poderia ser superada como
ilustração metafórica dessa hora de
verdade — ainda não de nitiva, mas
em todo o caso decisiva para a econo-
mia da narrativa. Esta sequência de
nove pranchas é, sem dúvida, um dos
momentos mais poderosos do álbum,
graças ao subtil jogo de sombras e
luzes postas em evidência pelos ele-
mentos, mas também por força de
personagens muito expressivas nos
dois campos em confronto.
Numa saga em que Loisel sugere
para o seu herói Peter uma transmu-
tação subtil num novo Ulisses (ou,
pelo menos, isso é sugerido, pois
escapou às sereias, conta as suas
histórias e, agora, quase naufraga),
eis que faz a sua aparição nas últi-
mas pranchas do álbum um novo
mito. No regresso a Londres, o herói
procura uma vez mais o amor da
mãe, que, sem verdadeira surpresa,
reencontra com uma garrafa de
álcool na mão, mas na inesperada
companhia íntima de um médico
chamado Jack. O que se passa nas
últimas pranchas, inesperadamente
despojadas dos diálogos produtivos
do autor, relança de forma hábil o
enredo da história, “muito livremen-
te inspirada”, lembremo-lo uma vez
mais, nas personagens de J. M. Bar-
rie. Carlos Pessoa
Público
Um romance social com taxa imoral Livros
Colecção Censura no Feminino Vol. 3 — Casa sem Pão, de Maria Archer Sexta-feira, 14 de Maio Por + 6,90€
Durante 48 anos, o regime de Salazar
censurou e proibiu centenas de livros
de autores portugueses e estrangei-
ros. Mais de 900, segundo uma lista
elaborada pelo investigador José
Brandão em 2012. Apenas 21 obras
são de escritoras portuguesas, escri-
tas por dez autoras. A colecção Cen-
sura no Feminino, que o PÚBLICO
agora edita, recupera dez destes
livros, em versão fac-símile, que a
PIDE censurou e proibiu. Uma home-
nagem às autoras Maria Teresa Horta,
Maria Velho da Costa, Maria Isabel
Barreno, Natália Correia, Maria
Archer, Judith Teixeira, Nita Clímaco,
Fiama Hasse Brandão, Maria da Gló-
ria e Carmen de Figueiredo. O relató-
rio da censura acompanha cada um
dos volumes.
Novas Cartas Portuguesas abriu a
colecção, seguindo-se O Vinho e a
Lira, de Natália Correia. Uma obra
composta por 43 poemas censurada
por “expressões eróticas imorais,
algumas expressas em termos esca-
tológicos e insinuações de ordem
política”.
O volume desta semana é Casa sem
Pão, o segundo livro de Maria Archer
a ser proibido pela PIDE. Foi publi-
cado pela primeira vez em 1947, sen-
do inicialmente autorizado, mas com
cortes. “Trata-se de um romance
social e naturalista, cuja acção decor-
re em Pedrouços (Maia) e Lisboa,
entre os anos de 1900 e 1946, que
tem como guração os membros de
duas famílias burguesas, ligadas por
um casamento. O romance foi proi-
bido por estes Serviços em 11 de
Fevereiro de 1946 com taxa imoral”,
lê-se num dos últimos relatórios,
após um longo processo. “Mas tra-
tando-se, segundo creio, de uma
reedição poderá ser levantada a
interdição e autorizada a reedição do
romance — com alguns ‘cortes’ ou
eliminações, que vão marcadas a
lápis vermelho, a páginas 185, 315 e
316 (esta última, ao que parece, já no
espírito ou intenções da Autora, uma
vez que ela própria já a apontara no
livro)”, escreve o censor da PIDE.
Maria Archer tem ainda mais um
volume na colecção PÚBLICO, Ida e
Volta de Uma Caixa de Cigarros, de
1938, que continua com Decadência,
“duma desavergonhada chamada
Judith Teixeira”, escreveu Marcello
Caetano em 1926, Falsos Preconceitos,
o primeiro livro de Nita Clímaco, e O
Testamento, de Fiama Hasse Bran-
dão.
Segue-se A Magrizela, de Maria Gló-
ria, sem apelido e praticamente no
anonimato até aos dias de hoje; Vinte
Anos de Manicómio, de Carmen de
Figueiredo, sobre a vida amorosa de
Lourdes Bento, que, desde cedo,
manifesta uma natureza luxuriante e
sexual; e, nalmente, Minha Senhora
de mim, o nono livro de poemas de
Maria Teresa Horta, poemas na forma
de cantigas de amigo medievais, que
dão voz à sexualidade das mulheres.
Um conjunto de obras para ler e
reler, todas as sextas-feiras, com o seu
jornal.
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 55
TEATRO MacBad GUIMARÃES Centro Cultural Vila Flor. Hoje, às 10h. M/6. 2€ O Teatro Praga pega na tragédia de
Macbeth, escrita por William
Shakespeare, e dá-lhe um toque
de modernidade. Aqui, num
espectáculo que simula um jogo e
onde se recorre à interpretação de
papéis imaginários, o espectador é
“um gamer que garante que a
história chega ao m”.
Australopiteco LISBOA Museu da Marioneta Hoje e amanhã, às 10h30. M/6. 4€ As questões da diferença, do
respeito pelo outro, da empatia e
do altruísmo estão no cerne da
peça apresentada pela Universo
Paralelo. Uma narrativa que, nas
palavras da companhia, “intercala
realidade e cção e uma
linguagem que se posiciona entre
o quotidiano e o poético”. Adriana
Melo assina a encenação e o texto
(que vem com curadoria de Alice
Vieira).
O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá ALMADA Teatro Municipal Joaquim Benite Hoje, às 16h; amanhã, às 11h. M/3. 10€ A peça da companhia vianense
Teatro do Noroeste tem por base a
fábula de Jorge Amado. Numa
versão encenada por Tiago
Fernandes, fala da inesperada
história de amor entre um gato de
má fama e uma gentil andorinha —
relação que causa a indignação
dos outros animais.
Uma Mão Cheia Texto: Pedro Seromenho Ilustração: Pedro Seromenho e Mia Flor Rocha Edição: Porto Editora 32 págs., 10,90€
Resistir e recomeçar com FIMFA O 21.º Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas decorre em Lisboa até 23 de Maio, inspirado na resistência e no recomeço. Entre as propostas apontadas aos mais novos, estão The Puppet-Show Man de Yeung Faï ou Bakéké de Fabrizio Rosselli. Mais em www.tarumba.pt.
Guia
criançasblogues.publico.pt/letrapequena/
FIM-DE-SEMANA EM FAMÍLIAA alegria
e o encanto do quotidiano
Levar a lha à escola num dia banal pode transformar-se num momento inesquecível. “Porque todos os dias deveriam ser especiais”
Rita Pimenta
“Nesta história, não há reino fantás-
tico nem floresta mágica!”, diz Pedro
Seromenho, o autor, ao PÚBLICO,
“Não. Aqui, tudo se passa em casa,
onde o encanto, a surpresa e a felici-
dade deveriam morar em cada
(re)canto do quarto ou da sala.”
Escrito durante o con namento,
em que “passámos a viver a nossa
família de um modo imprevisto e
intenso, que nos obrigou a inúmeras
mudanças e a sucessivas adapta-
ções”, acrescenta o organizador do
encontro Braga em Risco.
“— Filha, o que tens na mão?! — É
um pedaço de algodão! Serve para
limpar uma ferida no joelho, quando
me magoo no recreio. Outras vezes
atiro-o ao ar e torna-se numa nuvem
da minha imaginação!”, lê-se logo no
início. A pergunta há-de repetir-se:
“As rimas incómodas e a pergunta
persistente são propositadamente
repetidas: — Mia, o que tens na mão?!
Poderá ser imediatamente notado e
até criticado, mas ninguém cará
indiferente. Sabia o risco que corria
e fá-lo-ia de novo. De forma exagera-
da. Porque, com imaginação, tudo
pode caber numa mão: um sorriso,
um carinho ou um segredo. Numa
casa onde mora o amor, não há escon-
derijo para o medo.”
De modo poético, vai con-
tando um dia
banal: “Não há
momentos sublimes, nem tragédias
gregas com actos heróicos. Trata-se
apenas de mais um dia normal em
que saímos de casa, para levar a nos-
sa filha até à escola. Podia ser abor-
recido, mas não é.”
O escritor e ilustrador defende:
“Todos os dias deveriam ser espe-
ciais e todos os pais deveriam ter
mais tempo para brincar com os
seus filhos. Desta forma, as tarefas
mais básicas do dia-a-dia tornar-se-
iam momentos inesquecíveis!”
Sendo a narrativa um diálogo entre
pai e filha, desafiou-a a conversar
através dos seus desenhos. Tudo o
que é cor-de-rosa é da autoria da
menina. Para as ilustrações, usou gra-
fite, lápis de cor, aguarelas e marca-
dores de pigmentos. O editor da Pale-
ta de Letras é presença habitual nas
escolas e pretende agora explorar a
ideia do livro “com os pequenos, atra-
vés de objectos escondidos nas
mãos”. Certamente, irá resultar.
e Mia Flor RochaEdição: Porto Editora32 págs., 10,90€
ções , acrescenta o organizador do
encontro Braga em Risco.
“— Filha, o que tens na mão?! — É
pode caber numa mão: um sor
um carinho ou um segredo. N
casa onde mora o amor, não há es
derijo para o medo.”
De modo poético, vai
tando um
banal: “Nãão há ta de Letras é presença habitual nas
escolas e pretende agora explorar a
ideia do livro “com os pequenos, atra-
vés de objectos escondidos nas
mãos”. Certamente, irá resultar.
banal: Nã
Resistir e rO 21.º FestAnimadas d p The Pup de Fabr
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56 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Guia
Caros Camaradas! De Andrey Konchalovskiy. RUS. 2020. 116m. Histórico. M14. União Soviética, 1962. Membro
do Partido Comunista, Lyudmila
acredita cegamente que trabalha
em prol de uma sociedade justa e
igualitária. Tudo muda quando,
durante uma greve numa fábrica.
Godzilla vs. Kong De Adam Wingard. Com Alexander Skarsgård, Millie B. Brown, Rebecca Hall. EUA. 2021. 113m. Aventura. M12. O planeta vê-se ameaçado por
Godzilla, um réptil mutante de 50
metros de altura. Numa tentativa
de sobrevivência, os responsáveis
máximos pela Monarch percebem
que existe apenas uma forma
de o conter: recorrer à força de
King Kong.
O Pai De Florian Zeller. Com Anthony Hopkins, Olivia Colman. EUA/FRA. 2020. 97m. Drama. M12. Sozinho no seu apartamento
em Londres, Anthony foi sempre
um homem independente.
Agora, com 81 anos, mostra uma
grande resistência em aceitar a
proposta da lha para que tenha
alguém para cuidar de si.
Santuário das Sombras De Evan Spiliotopoulos. Com Cricket Brown, William Sadler. EUA. 2021. 99m. Terror. M16. Após uma aparição da Virgem
Maria, Alice ca completamente
curada da de ciência auditiva
com que nasceu. A notícia
espalha-se, juntando éis que
anseiam pelo seu auxílio.
Terra de Ninguém De Conor Allyn. Com Jake Allyn, Frank Grillo, Jorge A. Jimenez. MEX. 2020. 114m. M14. A viver no Texas, numa zona
fronteiriça com o México, Bill e o
seu lho, Jackson, têm como
rotina patrulhar os limites da
propriedade para prevenir
qualquer ilegalidade. Um dia,
Jackson mata acidentalmente um
rapaz mexicano que tentava
passar a fronteira.
Tom e Jerry De Tim Story. Com Chloë Grace Moretz, Michael Peña. GB/EUA. 2021. 101m. Animação. M6. A épica rivalidade entre Tom e
Jerry, uma das mais famosas
duplas da história dos desenhos
animados, é reavivada quando o
ratinho vai viver para o Royal
Gate Hotel, em Nova Iorque.
Cinema Cartaz, críticas, trailers e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
Lisboa Cinema City Alvalade Av. de Roma, nº 100. T. 218413040 Trolls: Tour Mundial M6. 11h15 (V.Port./2D); Nomadland - Sobreviver na América 13h15, 15h25, 17h35; O Pai M12. 11h30, 13h30, 15h30, 17h30; Caros Camaradas! M14. 13h10, 17h45; Mais Uma Rodada 15h35; Tom e Jerry M6. 11h20, 13h20, 15h20, 17h20 (V.Port./2D) Cinema City Campo Pequeno Centro de Lazer do. T. 217981420 Vic o Viking: A Espada Mágica M6. 11h25 (V.Port./2D); Trolls: Tour Mundial M6. 11h15 (V.Port./2D); Nomadland - Sobreviver na América 13h15, 15h20, 17h30; O Pai M12. 11h45, 13h50, 15h45, 17h45; Godzilla vs. Kong M12. 13h10, 15h20, 17h35; Santuário das Sombras M16. 11h35, 13h40, 15h55, 17h55; Tom e Jerry M6. 11h20, 13h25, 15h25, 17h25 (V.Port./2D); Raya e o Último Dragão M6. 11h30, 13h45, 15h35, 17h50 (V.Port./2D) Cinema Ideal Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295 Bruscamente, no Verão Passado 18h15; Nomadland - Sobreviver na América 11h30, 14h, 20h30; Mais Uma Rodada 16h Cinemas Nos Alvaláxia Estádio José Alvalade. T. 16996 Manual da Boa Esposa 11h20, 14h10, 16h50, 19h35; Mortal Kombat M16. 19h25; Mortal Kombat M16. 11h, 14h, 17h, 19h55; Nomadland - Sobreviver na América 10h45, 13h45, 16h45, 20h10; O Pai M12. 11h10, 14h20, 17h, 19h40; Godzilla vs. Kong M12. 10h40, 13h10, 13h40, 16h10, 16h40, 19h20, 20h; Mais Uma Rodada 10h35, 13h35, 16h20, 19h05; Santuário das Sombras M16. 11h30, 14h30, 17h20, 20h20; Terra de Ninguém 10h15, 13h25, 16h30, 19h45; Tom e Jerry M6. 10h20, 13h20, 15h50, 18h50 (V.Port./2D); Raya e o Último Dragão M6. 10h50, 13h50, 16h35, 19h30 (V.Port./2D) Cinemas Nos Amoreiras Av. Eng. Duarte Pacheco. T. 16996 Manual da Boa Esposa 20h20; Nomadland - Sobreviver na América 13h40, 16h10, 18h40; O Pai M12. 13h30, 14h30, 16h, 17h10, 20h, 20h30; Godzilla vs. Kong M12. 14h20, 17h20, 20h10; Mais Uma Rodada 13h10, 19h; Tom e Jerry M6. 13h10, 15h30, 18h, 19h10 (V.Port./2D); Raya e o Último Dragão M6. 12h50, 15h20, 17h50 (V.Port./2D) Cinemas Nos Colombo Av. Lusíada. T. 16996 Manual da Boa Esposa 20h05; Mortal Kombat M16. 10h30, 13h30, 16h, 19h40; Nomadland - Sobreviver na América 11h30, 14h30, 17h20, 20h10; O Pai M12. 11h30, 13h50, 16h40, 20h05; Godzilla vs. Kong M12. 11h40, 13h40, 14h20, 16h20, 17h, 19h, 20h; Santuário das Sombras M16. 11h20, 13h25, 15h50, 18h10, 20h20; Tom e Jerry M6. 11h, 12h, 14h30, 16h50, 19h30 (V.Port./2D); Raya e o Último Dragão M6. 10h10, 12h30, 15h, 17h30 (V.Port./2D); Godzilla vs. Kong M12. Sala IMAX - 10h40, 13h10, 15h30, 18h Cinemas Nos Vasco da Gama Parque das Nações. T. 16996 Mortal Kombat M16. 14h, 17h10, 19h50; Nomadland - Sobreviver na América 10h30, 14h20, 16h50, 19h20; O Pai M12. 13h10, 15h30, 17h50, 20h10; Godzilla vs. Kong M12. 10h40, 14h40, 17h30, 20h15; Mais Uma Rodada 19h10; Tom e Jerry M6. 10h50, 12h20, 14h45, 17h10, 19h30 (V.Port./2D); Raya e o Último Dragão M6. 11h, 13h40, 16h20 (V.Port./2D) Nimas Av. 5 Outubro, 42B. T. 213574362 Nomadland 20h; O Pai M12. 11h15; Caros Camaradas! M14. 13h; Mais Uma Rodada 09h; The Big Night 17h45 UCI Cinemas - El Corte Inglés Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400 Manual da Boa Esposa 14h30, 17h, 19h30; O
Sombras M16. 13h10, 15h40, 18h10, 20h35; Tom e Jerry M6. 10h45, 12h30, 14h50, 17h05, 19h20 (V.Port./2D); Raya e o Último Dragão M6. 10h15, 12h45, 15h20, 17h55 (V.Port./2D); Godzilla vs. Kong M12. Sala IMAX - 11h30, 14h, 17h30, 20h20 O Cinema da Villa - Cascais Avenida Dom Pedro I, Lote 1/2 (CascaisVilla Shopping Center). T. 215887311 Manual da Boa Esposa 13h10, 15h10, 17h20; Nomadland - Sobreviver na América 11h40, 13h45, 15h50, 17h55, 20h; O Pai M12. 10h55, 12h55, 14h50, 16h45, 18h40, 20h35; Caros Camaradas! M14. 20h; Mais Uma Rodada 11h, 13h15, 15h30, 17h45; Uma Miúda com Potencial M16. 15h, 19h30; Tom e Jerry M6. 11h, 13h, 17h15 (V.Port./2D); Raya e o Último Dragão M6. 11h (V.Port./2D)
Carcavelos Atlântida-Cine R. Dr. Manuel Arriaga, CC. Carcavelos. T. 214565653 Nomadland - Sobreviver na América 15h, 17h45; O Pai M12. 15h, 17h45
Sintra Castello Lopes - Alegro Sintra Loja 2.21 - Alto do Forte. T. 219184352 O Mundo Secreto dos Dragões M6. 11h (V.Port./2D); #Sem Saída M18. 20h25; Mortal Kombat M16. 11h, 13h15, 15h30, 17h45, 20h; Nomadland - Sobreviver na América 11h, 13h10, 15h20, 17h30, 19h40; O Pai M12. 11h, 13h10, 15h15, 17h20, 19h30; Godzilla vs. Kong M12. 10h50, 13h05, 15h20, 17h40, 20h10; Uma Miúda com Potencial M16. 13h10, 15h35, 18h; Tom e Jerry M6. 11h, 13h05, 15h10, 17h15, 19h20 (V.Port./2D); Raya e o Último Dragão M6. 11h, 13h15, 15h30, 17h45, 20h (V.Port./2D)
Loures Cineplace - Loures Shopping Quinta do Infantado, Loja A003. Vic o Viking: A Espada Mágica M6. 16h10 (V.Port./2D); Manual da Boa Esposa 15h15; Mortal Kombat M16. 20h10; Nomadland - Sobreviver na América 20h40; O Pai M12. 18h30, 20h50; Godzilla vs. Kong M12. 15h30, 18h, 20h30; Mais Uma Rodada 17h30; Santuário das Sombras M16. 15h10, 17h50, 20h20; Tom e Jerry M6. 15h20, 17h40, 20h (V.Port./2D); Raya e o Último Dragão M6. 16h, 18h20 (V.Port./2D)
Odivelas Cinemas Nos Odivelas Strada C.C. Strada Shopping. T. 16996 Manual da Boa Esposa 20h20; Mortal Kombat M16. 14h30, 17h30, 20h; Nomadland - Sobreviver na América 13h40, 16h15, 19h; Godzilla vs. Kong M12. 14h, 17h, 20h15; Tom e Jerry M6. 12h50, 15h, 17h15, 19h30 (V.Port./2D); Raya e o Último Dragão M6. 13h20, 15h40, 18h (V.Port./2D)
Oeiras Cinemas Nos Oeiras Parque C. C. Oeirashopping. T. 16996 Mortal Kombat M16. 15h, 18h, 20h20; Nomadland - Sobreviver na
América 11h45, 13h45, 17h, 19h50; O Pai M12. 13h30, 15h45, 18h15, 20h30;
Godzilla vs. Kong M12. 11h30, 14h30, 17h30, 20h10; Mais Uma Rodada 14h, 16h30, 19h40; Tom e Jerry M6. 11h15, 12h, 14h15, 16h40, 19h20 (V.P./2D); Raya e o ÚltimoDragão
M6. 11h, 13h, 15h30, 18h (V.Port./2D)
Amor é Uma Aventura M12. 13h45, 16h15, 19h05; Mortal Kombat M16. 13h55, 16h50, 19h40; Undine M12. 14h, 16h20, 18h50; Nomadland - Sobreviver na América 13h50, 14h50, 16h30, 17h30, 19h10, 20h10; O Pai M12. 14h35, 15h45, 16h55, 18h05, 19h20, 20h25; Godzilla vs. Kong M12. 14h05, 15h05, 16h40, 17h40, 19h15, 20h15; Mais Uma Rodada 14h20, 17h20, 20h; Uma Miúda com Potencial M16. 14h40, 17h15, 19h50; Santuário das Sombras M16. 15h25, 17h45, 20h05; Tom e Jerry M6. 14h10, 16h35, 19h (V.Port./2D)
Almada Cinemas Nos Almada Fórum Estr. Caminho Municipal, 1011 - Vale de Mourelos. T. 16996 Manual da Boa Esposa 12h55, 15h25, 17h55, 20h20; #Sem Saída M18. 12h, 14h10, 16h20, 18h35, 20h40; O Amor é Uma Aventura M12. 13h, 15h05; Mortal Kombat M16. 12h40, 15h, 17h30, 19h50, 20h25; Nomadland - Sobreviver na América 11h40, 12h45, 15h10, 17h40, 19h20, 20h10; O Pai M12. 10h50, 13h, 15h20, 17h40, 20h; Godzilla vs. Kong M12. 11h30, 12h50, 14h30, 15h30, 17h, 18h, 19h40, 20h20; Mais Uma Rodada 14h20, 16h50, 19h45; Santuário das Sombras M16. 10h40, 13h40, 15h50, 18h10, 20h30; Terra de Ninguém 14h40, 17h10, 19h50; Tom e Jerry M6. 11h10, 13h40, 16h, 18h20, 19h20 (V.Port./2D); Raya e o Último Dragão M6. 10h30, 12h40, 15h15, 17h20 (V.Port./2D); Godzilla vs. Kong M12. Sala IMAX - 11h, 13h30, 16h, 18h30, 20h40
Amadora Cinema City Alegro Alfragide C.C. Alegro Alfragide. T. 214221030 Vic o Viking: A Espada Mágica M6. 11h20 (V.Port./2D); Trolls: Tour Mundial M6. 11h15 (V.Port./2D); Mortal Kombat M16. 11h15, 13h25, 15h35, 17h45; Nomadland - Sobreviver na América 11h25, 13h35, 15h40, 17h55; O Pai M12. 11h45, 13h40, 15h45, 17h50; Godzilla vs. Kong M12. 13h15, 15h30, 17h40, 18h10; Uma Miúda com Potencial M16. 13h30, 15h45, 18h; Santuário das Sombras M16. 11h20, 13h20, 15h20, 17h20; Terra de Ninguém 13h, 15h15, 17h30; Tom e Jerry M6. 11h25, 13h30, 15h40, 16h, 17h50 (V.Port./2D); Raya e o Último Dragão M6. 11h30, 13h10, 15h25, 17h35 (V.Port./2D) UCI Ubbo Venteira. Mortal Kombat M16. 14h40, 17h20, 20h; Nomadland - Sobreviver na América 14h55, 17h35; O Pai M12. 14h30, 16h50, 19h10; Godzilla vs. Kong M12. 13h50, 16h25, 20h10; Mais Uma Rodada 17h05; Uma Miúda com Potencial M16. 17h15, 19h50; Santuário das Sombras M16. 14h45, 20h05; Terra de Ninguém 14h20, 19h45; Tom e Jerry M6. 15h15, 17h40, 19h55 (V.Port./2D)
Cascais Cinemas Nos CascaiShopping Alcabideche. T. 16996 Manual da Boa Esposa 20h25; Mortal Kombat M16. 11h30, 14h30, 17h10, 19h40; Nomadland 11h, 14h20, 17h40, 20h10; O Pai M12. 10h30, 12h50, 15h30, 18h, 20h30; Godzilla vs. Kong M12. 11h, 13h30, 17h, 20h; Santuário das
Godzilla vs. Kong
Estreias
OeCinC. CMo20
AméPai
G171411(V
M
Manual da Boa Esposa 20h25; MortalKombat M16. 11h30, 14h30, 17h10, 19h40; Nomadland 11h, 14h20, 17h40, 20h10; O Pai M12. 10h30, 12h50, 15h30, 18h, 20h30; Godzilla vs. Kong M12. 11h, 13h30,17h, 20h; Santuário das
Tom e Jerry
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 57
Jogos
Cruzadas 11.334
Jogue também online. Palavras-cruzadas, bridge e sudoku em publico.pt/jogos
Bridge Sudoku
Oeste Norte Este Sul 1 1 passo 2 passo 3 passo 4 Todos passam Leilão: Equipas ou partida livre. Carteio: Saída: Q . Qual a melhor linha de jogo? Solução: Se considerarmos as perdentes da nossa mão, poderemos contar três a paus e uma a espadas. Como não há nenhum naipe exterior apurável, parece que estamos condenados a encontrar um Ás de paus seco ou à segunda na mão de Este. Mas, se em vez das perdentes contarmos as ganhantes podemos chegar mais facilmente à solução do jogo. Na realidade, se conseguirmos realizar todos os trunfos da nossa mão
Dador: Este Vul: Ninguém
João Fanha fanhabridge.pt
© Alastair Chisholm 2008 www.indigopuzzles.com
(morto invertido), cederemos apenas três vazas a paus, esteja o Ás onde estiver. Em mão com o Ás de copas, começamos por cortar uma copa, é nesta altura ou nunca, e encaixamos o Ás e Rei de trunfo, o Valete de Oeste assegura que os pontos restantes deverão estar em Este, salvo se tiver aberto com apenas 11 pontos. Portanto, a Dama de trunfo está em Este. Prosseguimos tranquilamente o nosso plano com m ouro para o Rei e copa cortada, Oeste balda. E agora? Continuamos a jogar ouros. Mas, a ordem pelo qual iremos jogar os ouros é importante. Encaixamos o Ás de ouros e jogamos um ouro pequeno para o Valete do morto. Em qualquer uma destas voltas de ouros, Este não poderá dar-se ao luxo de cortar. Nada mais nos resta do que cortar uma terceira copa na nossa mão e a encaixar a Dama de ouros baldando um pau do morto. 10 vazas contra qualquer defesa, desde que o abridor tenha o último trunfo. Considere o seguinte leilão: Oeste Norte Este Sul 1 1ST ? O que marcaria, com a mão seguinte? A109 10953 Q4 AQ87
Resposta: Dobre. Com os seus 12 pontos e os outros tantos prometidos pelo seu parceiro para abrir o leilão, fazem com que o seu campo seja francamente maioritário e um dobre de castigo impõe-se.
Problema 10.442 (Fácil)
Problema 10.443 (Difícil)
Solução 10.440
Solução 10.441
Horizontais: 1. Hoje é o Dia Mundial da Cruz Vermelha e do (...) Vermelho. 2. Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de metade, meio. Quantidade de grão que se dá para moer. 3. O «eu» psíquico. Remar. 4. Caminhava para lá. Luís (...), dirige a Polícia Judiciária desde 2018. Molibdénio (s. q.). 5. A primeira letra do alfabeto grego. Contrário à lei. 6. «A» + «o». Filho de burro e égua ou de cavalo e burra. 7. Campeonato profissional norte-americano de basquetebol. Progenitores. 8. Resolver rapidamente (fig.). 9. Designativo da pedra constituída por sulfato de alumínio e potássio hidratado. Deus egípcio do ar seco. Vazia. 10. «Em Abril sai o (...) do covil». Prejudicar. 11. Verbal. Música e dança espanhola. Verticais: 1. Uma mão (...), livro com texto e ilustração de Pedro Seromenho (ver Guia crianças – Letra pequena). Fertilizante. 2. Prefixo (repetição). Fileira. Governador árabe. 3. Nome da letra M. Graça (...), ministra da Cultura. 4. Estandarte. Berílio (s. q.). Hectolitro (abrev.). 5. Orçamento do Estado. De índole pacífica. 6. Preposição que indica lugar. Observou. Sigla de Rhesus (aglutinogénio que existe no sangue de algumas pessoas). 7. Inexperiente. (...) Gustavo, foi protagonista da popular trilogia Minha Mãe é uma Peça (1978-2021). 8. Divinização. Elas. Artigo antigo. 9. Engenheiro (abrev.). Açúcar redutor que se encontra nas uvas, no mel, no néctar, etc., capaz de fermentação alcoólica. 10. Mulher nobre. Extrair. 11. Pancada que se recebe na cabeça. Pouco frequente.
Solução do problema anterior Horizontais: 1. Asma. Campal. 2. Caixa. Marca. 3. Arnela. Te. 4. Sai. Abcesso. 5. Ar. Anca. OPA. 6. Mio. Lá. 7. Ata. Sal. Sei. 8. Rico. Festas. 9. Ca. No. Eido. 10. Rã. Perfil. 11. Bonita. Obra. Verticais: 1. Acasalar. Rb. 2. Sarar. Ticão. 3. Mini. Maca. 4. Axe. Ai. Pi. 5. Alanos. Net. 6. ABC. Afora. 7. AM. Calle. 8. Mate. Seio. 9. Preso. Stilb. 10. AC. Spread. 11. Lagoa. Isola.
EuromilhõesM1lhão PNZ 06420 1.º Prémio 69.000.000€
2214 33 38 47 8 9
Esta informação não dispensa a consulta da lista oficial de prémios
NORTE 1052 A643 KJ4 K73
OESTE J9 Q2 87532 J952
ESTE Q84 KJ10975 6 AQ10
SUL AK763 8 AQ109 864
Guia
Lazer
MÚSICA The Black Mamba LISBOA Campo Pequeno. Dia 8/5 às 20h. M/6. 10€ a 18€ Antes de seguir viagem para a
cidade holandesa de Roterdão,
para representar Portugal na
Eurovisão, a banda actua em
Lisboa, no âmbito do ciclo Santa
Casa Portugal ao Vivo. No
alinhamento estão temas que
habitam os 11 anos de carreira,
com passagens pelos registos The
Black Mamba, Dirty Little Brother,
The Mamba King e Good Times
Tour, e pela canção Love is on my
side, que lhes trouxe a vitória no
Festival da Canção.
GASTRONOMIA Semana da Ostra SETÚBAL Restaurantes aderentes. De 7/5 a 16/5. Uma semana para degustar os
moluscos do Sado, entre receitas
simples e tradicionais e pratos
inovadores e criativos. O certame
tem lugar em 28 restaurantes da
região. A compor o prato, há um
passeio pedestre “Ostras e Aves do
Estuário do Sado”, que dura três
horas e tem prova de palato
incluída (dia 9 de Maio, às 9h30,
com bilhetes a 22€ e inscrição
prévia), e ainda uma degustação
comentada de ostras e vinhos na
Casa da Baía (dia 16, às 18h, de
entrada gratuita mas sujeita a
reserva até 13 de Maio em
VISITAS Visitas Nocturnas SINTRA Convento dos Capuchos. De 8/5 a 29/5, entre as 19h e as 21h30 (visitas de 45 minutos, com lotação limitada a 6 pessoas). 10€ (8,50€ para jovens e seniores, venda exclusiva online no site da Parques de Sintra) Um convite para entrar na austera
casa, sob “iluminação
minimalista” e em comunhão com
a natureza. Orientadas por um
guia, as visitas têm como ponto de
encontro o Terreiro das Cruzes e
dão a conhecer o interior do
convento, o claustro e o celeiro.
Aqui podem ser vistos alguns
objectos do quotidiano
conventual, como pratos,
tacinhas, um jarro ou livros em
terracota, na exposição
recém-inaugurada 461 anos
de História.
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58 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Guia
6.30 Espaço Zig Zag 8.00 Bom Dia Portugal Fim de Semana 9.57 Animais Incríveis 10.56 Aqui Portugal 12.59 Jornal da Tarde 14.15 Hora dos Portugueses 14.56 Aqui Portugal 19.08 O Preço Certo 19.59 Telejornal 21.21 Não Te Esqueças da Letra! 22.45 Esta Vida É Uma Cantiga 0.51 Sorte à Logan 2.54 Ascensão e Queda: Os Momentos Decisivos da II Guerra Mundial
6.10 Etnias 6.45 Uma Aventura 8.10 Minutos Mágicos 9.05 Estamos em Casa 12.10 O Nosso Mundo 13.00 Primeiro Jornal 14.05 Alta Definição 15.00 E-Especial 15.30 Cinema 18.45 Cinema 19.57 Jornal da Noite 21.45 Patrões Fora 22.35 Terra Nossa 0.35 Não Há Crise! 2.00 2012
6.32 Repórter África - 2.ª edição 7.00 Euronews 7.57 Espaço Zig Zag 14.47 Folha de Sala 14.55 Nicolas Le Floch 15.43 Duas Leis 17.18 Biosfera 17.54 Faça Chuva Faça Sol 18.28 Basquetebol: Liga Portuguesa Placard - Sporting x Benfica 20.22 Bombordo - A Sustentável Vida das Berlengas 21.00 O Ninho 21.30 Jornal 2 21.48 Página 2 22.02 Folha de Sala 22.06 Romeu e Julieta: Além das Palavras 23.42 Em Volta 1.30 Agente Hamilton 2.15 Euronews
6.00 Curious George 6.30 Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal 8.25 Diário da Manhã 9.15 Vida Animal 10.10 Inspector Max 12.15 VivaVida 13.00 Jornal da Uma 14.45 Conta-me 15.25 Em Família 19.57 Jornal das 8 22.00 Bem Me Quer 23.10 Cabelo Pantene - O Sonho 23.35 Mental Samurai 1.00 GTI 1.25 Cowboys & Aliens 3.30 Fascínios
RTP1 RTP2
TVI
TVCINE TOP
17.50 Luz da Minha Vida 19.45 Um Amigo Extraordinário 21.30 Judy & Punch - Amor e Vingança 23.20 The Grudge: Maldição 0.55 O Lutador FOX MOVIES
18.09 Hondo 19.34 O Homem Que Não Queria Matar 21.15 Duelo de Fogo 23.16 O Último Comboio de Gun Hill 0.51 A Vida ou a Morte HOLLYWOOD
17.10 Desafio Total 19.05 Lei Urbana 20.45 Refém 22.25 12 Desafios 3 - Sem Saída 23.55 Fronteira Explosiva 1.30 Nico - À Margem da Lei AXN 18.10 As Voltas da Vida 20.06 Morte Limpa 21.55 Cidade Dividida 23.49 Planeta dos Macacos 1.52 O Primeiro Encontro FOX 19.24 Die Hard: Nunca É Bom Dia para Morrer 21.20 Assassino Americano 23.25 Jack, o Caçador de Gigantes 1.23 Hércules DISNEY CHANNEL
17.30 Casa da Coruja 18.20 Anfibilândia 19.10 Star Contra as Forças do Mal 20.50 Entrelaçados: A Série DISCOVERY
17.30 A Maldição do Triângulo Das Bermudas 18.20 Aventura à Flor da Pele 19.10 O Segredo das Coisas 21.00 Alasca: A Última Fronteira 22.55 100 Days Wild 0.40 Alasca: A Última Fronteira 2.15 A História do Universo HISTÓRIA
17.09 Forjado no Fogo 20.43 Grandes Descobertas 22.15 Al-Andaluz, o Legado 23.50 Grandes Descobertas 1.25 A Última Viagem de Cristovão Colombo ODISSEIA
17.49 Animais Bebés e os Seus Amigos 18.37 Os Melhores Amigos dos Cães 19.23 Escola de Cachorros 20.09 Egipto Desde o Ar 20.57 Viver Mais e Melhor 21.38 Kómoda, a Vida sem Energia 22.31 O Mundo Segundo a Amazon 23.25 Perigo Extremo 0.13 Kómoda, a Vida sem Energia
Televisão
SIC
Judy & Punch — Amor e Vingança TVCine Top, 21h30 Inglaterra, meados do século XVII.
Judy (Mia Wasikowska) e Punch
(Damon Herriman) criaram um
espectáculo de marionetas que se
tornou um êxito. A vida corre-lhes
bem até o alcoolismo dele causar
uma tragédia tão grande que
desperta nela um incontrolável
desejo de vingança. Mirrah
Foulkes estreia-se na realização
com esta comédia negra.
Em Volta RTP2, 23h42 Vicente, fotógrafo pro ssional,
enceta um projecto há muito
adiado: fotografar pessoas e
entrevistá-las sobre o que pensam
do amor. Traça no mapa uma
linha entre o Cairo e Macau e
parte para a Índia, primeiro ponto
de um percurso que terá paragens
como Tailândia, Vietname, Nepal,
Laos, China... Em Volta é a
primeira longa-metragem de Ivo
Ferreira (argumento e realização)
e conta com Diogo Laço, Beatriz
Batarda, So a Marques e Nicolas
Brites no elenco.
Sorte à Logan RTP1, 00h51 Comédia de acção pelo veterano
Steven Soderbergh, segundo um
argumento de Rebecca Blunt.
Determinados a enriquecer, dois
irmãos decidem assaltar a
Charlotte Motor Speedway (EUA).
O plano resulta. Mas Sarah
Grayson, uma agente do FBI, está
determinada a encontrar os
responsáveis. Channing Tatum,
Adam Driver, Hilary Swank, Riley
Keough, Daniel Craig, Seth
MacFarlane, Katie Holmes,
Katherine Waterston e Sebastian
Stan dão vida às personagens.
SÉRIE Duas Leis RTP2, 15h43 Primeiro de dois episódios (o
segundo é emitido amanhã) de
uma minissérie italiana sobre os
impactos reais da crise
económica. Centra-se em Adriana
Zanardi (Elena So a Ricci), que
cumpre escrupulosa e friamente
as regras do banco onde é
directora, até receber a notícia do
suicídio de um empresário
endividado e desesperado — o
mesmo a quem ela própria
anunciou a recusa de um
empréstimo. A partir desse
momento, decide montar um
esquema em que usa a sua posição
para ajudar pessoas em
di culdades, mesmo que isso lhe
custe o emprego e até a liberdade.
DESPORTO Ciclismo: Volta a Itália Eurosport, 12h50 Directo. O Giro d’Itália arranca
hoje com um contra-relógio de 8,6
quilómetros nas ruas de Turim. É
a primeira etapa dos 3.479,9
quilómetros a percorrer nesta
104.ª edição, que terminará a 30
de Maio, em Milão. O Eurosport
acompanha-a ao longo de mais de
cem horas de transmissão em
directo, em emissões comentadas
por Luís Piçarra, Paulo Martins,
Olivier Bonamici e José Azevedo. A
disputar a camisola rosa estarão
os atletas portugueses João
Almeida e Rúben Guerreiro, que
no ano passado se zeram notar,
respectivamente, com o quarto
lugar na geral e o prémio de
montanha. O grande ausente é o
vencedor de 2020, o britânico Tao
Geoghegan Hart, que não vai
defender o título, preferindo
guardar-se para a Volta a França e
os Jogos Olímpicos de Tóquio.
DANÇA
Romeu e Julieta: Além das Palavras RTP2, 22h06 Não é um espectáculo de dança,
mas um lme em que o bailarino e
realizador Michael Nunn torna a
dar largas ao seu fascínio pelo
encontro das duas artes, tendo
novamente como parceiro o
também bailarino William Trevitt,
com quem co-escreve o guião. A
famosa e trágica história de amor
de Shakespeare encontra-se com a
música de Proko ev e a
coreogra a de Kenneth
MacMillan, nos movimentos do
elenco do Royal Ballet, captados
numa produção delineada em
função das câmaras.
INFANTIL
Coco (V. Port.) SIC K, 19h Escrito e realizado por Lee
Unkrich, em parceria com Adrian
Molina, Coco inspira-se no Dia dos
Mortos para desenhar uma
aventura sobre a força dos afectos,
da memória, dos sonhos e da
música. O protagonista é Miguel,
um miúdo talentoso que
ambiciona ser um guitarrista tão
famoso como o seu ídolo, Ernesto
de la Cruz. Problema: a família
desaprova essa aspiração e tenta
demovê-lo de se dedicar à música
— tudo por causa de um mistério
familiar que Miguel irá desvendar.
Coco conquistou dois Óscares:
melhor lme de animação e
melhor canção original para
Remeber me (na versão
portuguesa, Lembra-te de mim).
CINEMA Os mais vistos da TVQuinta-feira, 06
FONTE: CAEM
TVISICSICTVISIC
13,913,111,911,411,4
Aud.% Share
25,123,826,823,821,9
RTP1
RTP2
SICTVI
Cabo
Festa é FestaAmor, AmorA SerraBem Me QuerJornal Da Noite
10,7%
0,9
21,0
16,8
37,2
s
a
ieta:
1720SaN
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 59
*OFERTA DO LIVROPATRIMÓNIOS CONTESTADOS *aulas em inglês
PROGRAMA DO CURSO28 de Abril - excepcionalmente das 15h00 às 17h00Património cultural em con ito*Dacia Viejo Rose
5 de MaioSer ou não ser património: bandeirantes, bandeiras e outrosLilia Moritz Schwarcz
12 de MaioO legado institucional dos programasda UNESCO na Etiópia*Marie Huber
19 de MaioMemória e apagamento na Índia e em Israel*Ariel Sophia Bardi
2 de JunhoQuem se sente em casa no museu?*Alice Procter
16 de JunhoO "Mahatma" como ícone global celebradoe contestado*Elizabeth Buettner
30 de JunhoA identidade con ituosa do templo goês*Amita KanekarA oclusão do património portuguêsentre os goeses*Jason Keith Fernandes
14 de JulhoPatrimónios contestados em PortugalBárbara Reis, Luís Raposo, Paulo Peixoto,José Eduardo Agualusa (a
PATRIMÓNIOS CONTESTADOSÉ INCONTESTÁVEL QUE É PRECISO PENSAR SOBRE ESTE ASSUNTO
CURSO ONLINE DE PATRIMÓNIO HISTÓRICO E PATRIMÓNIO CULTURAL
PARCEIROS:
INSCREVA-SE AQUI:
PROLONGÁMOSAS INSCRIÇÕES
Conheça um universo de argumentos de contestação de patrimó-nio histórico e património cultural, designadamente em contex-
curso. Especialistas apresentam e discutem o tema no Mundo e
Inscreva-se no curso e faça parte desta discussão.
Domingo, 9
Min. Máx.
EUROPA
TEMPERATURAS
PORTUGAL
Açores
MARÉS
PRÓXIMOS DIAS LISBOA
Madeira
Preia-mar
Leixões Cascais Faro
Baixa-mar
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL
Viana do Castelo
Braga
PortoVila Real
Bragança
GuardaViseuAveiro
Coimbra
Leiria
SantarémPortalegre
Lisboa
SetúbalÉvora
Beja
Castelo Branco
Sines
Sagres
Faro
Ponta Delgada
Funchal
08h01 0,914h15 3,0
20h16 1,002h26* 3,1
Segunda-feira, 10 Terça-feira, 11
*de amanhã
AmesterdãoAtenasBerlimBruxelasBucaresteBudapesteCopenhagaDublinEstocolmoFrankfurtGenebraIstambulKievLondresMadridMilãoMoscovoOsloParisPraga
Min. Máx.
Corvo
Graciosa
Faial Pico
Terceira
São Jorge
São Miguel
Madeira
Porto Santo
Sta Maria
Flores
Helsínquia
Talín
Riga
Vílnius
VarsóviaBerlim
Copenhaga
Dublin
Londres Amesterdão
BruxelasPraga
Viena Budapeste
Atenas
Istambul
Milão
Genebra
Paris
MadridLisboa
Roma
Oslo Estocolmo
RomaVienaBissauBuenos AiresCairoCaracasCid. do CaboCid. do MéxicoDíliHong KongJerusalémLos AngelesLuandaNova DeliNova IorquePequimPraiaRio de JaneiroRigaSingapura
07h37 1,113h50 3,1
19h50 1,102h01* 3,2
07h29 0,913h46 3,0
19h43 1,002h01* 3,1
12º 19º12º 17º13º 18º
Índice UVVentoHumidade
M. AltoFraco
73%
Índice UVVentoHumidade
AltoFraco
71%
Índice UVVentoHumidade
M. AltoFraco
56%
ºC
1,8m18º
0,8m18º
1,8m18º
1,2m16º
1,8m15º
2m17º
1m20º
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QUALIDADE DO AR
Porto
Coimbra
Lisboa
Faro
Évora
MEDIDOR DE CO2
Partes por milhão(ppm) na atmosferaValores por semana
Mauna Loa, Havai Portugal
Nível de segurançaNível pré-industrial
350280
MuitoBomBom
Médio
Fraco
Mau
Nascente Poente Nascente Poente
SOL
06h32 20h35 05h13 17h35
LUA11 Mai. 19h00
19 Mai. 19h13
26 Mai. 11h14
02 Jun. 07h24
Semana de 25 Abr.Semana de 18 Abr.Há um anoHá dez anos
420,01418,20416,95393,48
Meteorologia
Guia
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60 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Desporto Organismo foi suspenso por sete meses pela federação internacional
TAS confirma suspensão da federação de padelEm causa está a “violação grave” dos estatutos da FIP devido à organização de um torneio paralelo. Especialista sublinha que nanciamento do IPDJ é indevido
David Andrade
A decisão é do Tribunal Arbitral do
Desporto (TAS), sediado na Suíça, e
está datada de 4 de Fevereiro de 2021:
a suspensão de sete meses aplicada
pela Federação Internacional de
Padel (FIP) à Federação Portuguesa
de Padel (FPP), por esta ter “insistido
na organização do European Team
Padel Championships” [ETPC],
“sabendo que estava a actuar contra
os interesses” da FIP, foi “apropria-
da”, por ter ocorrido uma “violação
grave” dos estatutos e regulamentos
da federação internacional.
A competição em causa foi dispu-
tada em Lisboa, em 2019, e contou
com apoio monetário do Instituto
Português do Desporto e da Juventu-
de (50 mil euros) e da Câmara Muni-
cipal de Lisboa (30 mil euros), entida-
des que receberam, por duas vezes,
alertas por parte da federação inter-
nacional sobre a existência de proces-
sos disciplinares e judiciais contra a
FPP, por esta estar envolvida na orga-
nização do evento.
Lúcio Correia, especialista em
Direito do Desporto, considera ser
“óbvio que a suspensão de uma fede-
PAULO PIMENTA
Organização de torneio esteve na base do diferendo
ração portuguesa por uma federação
internacional coloca em causa a Uti-
lidade Pública Desportiva” e salienta
que um organismo público “nunca
pode ignorar o alerta de uma federa-
ção internacional, para mais quando
se fala de dinheiros públicos”.
O diferendo não é novo e é público.
A 2 de Novembro de 2018, Luigi Car-
raro foi eleito presidente da FIP, suce-
dendo a Daniel Patti nos comandos
da federação internacional. Na altura,
o italiano, que no mês passado foi
reeleito por unanimidade — Portugal
não se fez representar na assembleia
eleitoral —, contou com a oposição de
Ricardo Oliveira, mas o presidente da
FPP acabou derrotado nas urnas.
A partir dessa data, a modalidade
dividiu-se, com trocas de argumentos
e acusações. De um lado, a FIP, que
acusa Oliveira de, “desiludido por não
ter sido eleito presidente”, iniciar
“uma série de iniciativas destinadas
a minar a organização”. Do outro, a
resposta é mais dura. Há cerca de ano
e meio, em declarações ao PÚBLICO,
o dirigente português acusou Carraro
de ser um “ditador absoluto”, que se
juntou a uma “quadrilha” formada
por “cinco países sul-americanos”.
Na altura, Oliveira prometeu avan-
çar “para o TAS” com uma acção judi-
cial contra quem “não cumpre os
regulamentos”. Apesar das ameaças
do seu presidente, nessa altura, a FPP
já estava sob a alçada disciplinar da
federação internacional.
A 19 de Julho de 2019, a direcção da
FIP entregou ao Comité de Disciplina
(CD) do organismo que tutela o padel
mundial documentos relativos a uma
“alegada violação dos estatutos e
regulamentos” da FIP “por parte da
FPP e do seu presidente”, que esta-
riam “envolvidos” na organização do
ETPC, prova organizada “debaixo dos
auspícios da European Padel Associa-
tion” [EPA] — uma entidade não filia-
da na FIP.
50 mil euros é o valor que consta do relatório e contas da FPP como verba atribuída pelo IPDJ para organizar um torneio que não foi reconhecido pela FIP
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 61
Desporto
Pela primeira vez na longa carreira
recheada de triunfos, em especial na
terra batida, Rafael Nadal disputou os
torneios de Monte Carlo e Madrid sem
conseguir alcançar as meias-finais em
nenhum deles. A derrota frente a Ale-
xander Zverev, nos quartos-de-final
do Masters 1000 espanhol, vai permi-
tir a Daniil Medvedev ascender ao
segundo lugar do ranking na próxima
semana, o que significa que, se a hie-
rarquia se mantiver até ao sorteio de
Roland Garros, Nadal poderá ficar
com Novak Djokovic na mesma meta-
de do quadro principal do Grand
Slam francês. Já Zverev aproveitou a
altitude da capital espanhola, que
possibilita que a bola fique mais rápi-
da, para impor um ténis de ataque.
Para Zverev, esta terceira vitória
consecutiva sobre o espanhol — sem
perder qualquer set — foi uma das
melhores da carreira: 6-4, 6-4, em
terra batida e ao ar livre. “É a coisa
mais difícil de fazer neste desporto.
Vencê-lo na sua casa, em Espanha, é
incrível, mas o torneio não acabou”,
afirmou o número cinco do ranking.
Zverev esteve muito agressivo e
consistente durante o duelo de uma
1h44m, mas o sexto jogo do set inicial
revelou-se chave. “Tinha o encontro
sob controlo no início, mas, quando
servi a 4-2, foi um desastre”, admitiu
Nadal que, pela terceira vez desde
2005, vai chegar ao Masters 1000 de
Roma sem conquistar o título dessa
categoria em terra batida.
Já Zverev entrou para o restrito lote
de três tenistas a conseguir derrotar
o Big 3 nos seus pisos preferidos
(Nadal em terra batida, Federer em
relva e Djokovic em hardcourts), jun-
tando-se a Andy Murray e Dominic
Thiem. E é precisamente com Thiem
que o alemão vai discutir um lugar na
final de Madrid, numa reedição do
derradeiro encontro de 2018, em que
derrotou o austríaco. Zverev venceu
oito dos dez confrontos com Thiem,
mas perdeu o último, a famosa final
do US Open, em Setembro passado,
decidida no tie-break do quinto set.
O número quatro do ranking pôs
fim à excelente semana de John Isner
(39.º), ao sobreviver a 18 ases durante
quase duas horas, para ganhar, por
3-6, 6-3 e 6-4. “Tive de encontrar uma
boa posição para responder ao servi-
ço. Felizmente que aqui, em Madrid,
há muito espaço. Penso que o usei
todo”, afirmou Thiem.
A outra meia-final será discutida
entre Matteo Berrettini (10.º) e Casper
Ruud (22.º).
Agressividade de Zverev atirou Nadal para fora de casa
Pedro Keul
Breves
Futebol
Voleibol
UEFA reintegra e aplica sanções a nove clubes da Superliga
Portugal entra a vencer na qualificação para o Europeu
A UEFA decretou ontem um conjunto de sanções financeiras contra nove dos 12 clubes de futebol que estiveram na génese da Superliga, após um acordo com os punidos que pediram “desculpas pelo erro”. Deste modo, Manchester City, Liverpool, Chelsea, Arsenal, Manchester United, Tottenham, AC Milan, Inter Milão e Atlético de Madrid aceitaram uma série de “medidas de reintegração”, incluindo renunciar a 5% do rendimento proveniente de uma época nas competições europeias. Paralelamente, vão doar, em conjunto, um total de 15 milhões de euros a “comunidades locais” do futebol europeu.
A selecção portuguesa de voleibol estreou-se ontem com uma vitória no Grupo G de qualificação para o Europeu de 2021, ao bater a Bielorrússia, por 3-2. Em Budapeste, onde decorre o primeiro de dois torneios de qualificação (o segundo está marcado para Matosinhos, na próxima semana), Portugal venceu pelos parciais de 21-25, 25-23, 23-25, 25-23, 15-10, numa 1.ª jornada em que ainda se defrontam Hungria e Noruega. Apuram-se para o Europeu, organizado por Polónia, República Checa, Estónia e Finlândia, que decorrerá de 1 a 19 de Setembro, os vencedores dos sete grupos de qualificação desta segunda fase e os cinco melhores segundos.
Cinco meses mais tarde, o CD apli-
cou uma multa de dez mil euros e
suspendeu por sete meses a FPP e o
seu presidente, validando o seu
“envolvimento” na competição da
EPA, associação oficializada em Janei-
ro de 2019, dois meses após Ricardo
Oliveira, que faz parte da sua direc-
ção, perder as eleições na FIP. No
entanto, a EPA, mais tarde rebaptiza-
da de FEPA, nunca teve o apoio das
federações francesa e italiana, duas
das potências europeias — a Espanha
formalizou a sua saída da associação
em Novembro de 2020.
As sanções impostas pela FIP impe-
liram Oliveira a avançar, em Janeiro
de 2020, para o TAS. No processo, em
que a FPP foi representada pelo advo-
gado Carlos André Dias Ferreira, filho
de Dias Ferreira, ex-candidato à pre-
sidência do Sporting e actual presi-
dente da Assembleia Geral da FPP,
foram contestados os castigos impos-
tos pela FIP, alegando, entre outras
justificações, que a FPP “não tinha
sido responsável pela organização”
do campeonato da EPA, justificando
o recebimento de dinheiros públicos
pelo “apoio dado ao evento”.
Porém, o tribunal rejeitou esses
argumentos e deu razão à FIP. No
acórdão do TAS, a que o PÚBLICO
teve acesso, pode ler-se que a organi-
zação do torneio em Lisboa “pode
muito bem ter sido o objecto de uma
disputa política”, “na qual a FPP e o
seu presidente desempenharam o
seu papel”, mas “isto, no entanto, não
permite que a FPP viole os seus deve-
res como membro da FIP”.
Assim, refere o TAS, “ao persistir
na organização” do evento, a FPP
“agiu conscientemente contra os inte-
resses da FIP, minando a sua autori-
dade”, o que é considerado pelo tri-
bunal “uma séria violação” que “jus-
tifica as sanções” aplicadas.
Contactado pelo PÚBLICO, Lúcio
Correia, professor de Direito do Des-
porto da Universidade Lusíada de
Lisboa, salienta que, “comentando
em abstracto”, “se falta um pressu-
posto, essencial para a atribuição das
quantias que são tituladas nos contra-
tos-programa, seria o próprio Estado
que devia promover diligências, jun-
to do beneficiário, que é a federação
portuguesa, e da respectiva federação
internacional, para confirmar que as
quantias estavam a ser afectas para
os fins devidos”. “O IPDJ devia ter
resolvido o contrato com o conheci-
mento de que houve uma alteração
circunstancial superveniente, que é
[o evento] deixar de ser reconhecido
pela federação internacional.”
O advogado adverte, ainda, que
“um dos pressupostos para que uma
federação tenha a UPD é que seja filia-
da na federação internacional”, expli-
cando que o “facto de estar suspensa
pela federação internacional não
impede que possa fazer contratos-
programa”. “O que não pode é rece-
ber pelo contrato-programa da prova
internacional pelo qual foi suspenso
pela federação internacional.”
David Andrade
A decisão do Tribunal Arbitral do
Desporto (TAS, na sigla original) de
confirmar a suspensão de sete meses
aplicada pela Federação Internacio-
nal de Padel (FIP) à Federação Por-
tuguesa de Padel (FPP) — ver texto
ao lado — não mereceu comentários
por parte do Instituto Português do
Desporto e da Juventude (IPDJ) ou da
Secretaria de Estado da Juventude e
Desporto (SEJD), mas Ricardo Olivei-
ra, presidente da FPP, respondeu
com uma acusação a um pedido de
comentário sobre a decisão judicial:
“Gostaríamos muito de comentar o
vídeo que circula nas redes sociais
onde se ouve o actual presidente da
FIP a combinar a atribuição de
‘patrocínios’ em troca de votos na
sua eleição.”
Respondendo por escrito, o líder
federativo garante, contrariando o
acórdão do TAS a que o PÚBLICO
teve acesso, que tanto no “Tribunal
Cível de Lisboa como no TAS” foi
“dada razão” à FPP, e é a FIP que “se
encontra agora a ser executada por
falta de pagamento das despesas,
devidas” à federação portuguesa.
Do lado da FIP, fonte do gabinete
jurídico da federação internacional
sublinhou apenas que esta decisão do
TAS “confirma que a FIP tem o mono-
pólio no que diz respeito à organiza-
ção de eventos internacionais”, sendo
a única que “pode legitimamente
organizar eventos de padel interna-
cionais”. Tal facto “significa que a
competição de padel organizada em
Portugal no Outono de 2019 não foi
válida e foi contra os regulamentos da
federação internacional”.
“Qualquer pessoa pode organizar
eventos e competições de padel, mas
são provas que estarão fora dos
calendários oficiais e não serão váli-
das para os rankings internacionais.
Será a um nível puramente amador
e amigável”, refere a mesma fonte
em declarações ao PÚBLICO, garan-
tindo que a FIP apenas “tem proble-
mas com quem não cumpre as
regras”: “A FPP está a ir contra os
interesses de todos os filiados na FIP
ao não cumprir regulamentos. Tudo
isto prejudica a imagem do padel
português, que é agora conhecido
pela má forma como é gerido por
motivos meramente pessoais do seu
presidente.”
Para o IPDJ, no entanto, o facto de
haver uma decisão judicial que con-
firma que uma federação portugue-
sa “violou os regulamentos” de uma
federação internacional ao associar-
se à organização de uma prova que
contou com financiamento público,
não é motivo para resolver um con-
trato-programa, uma vez que os mes-
mos “foram assinados” com a fede-
ração portuguesa e “os fins do apoio
destinavam-se à organização dos
eventos”, que “tiveram lugar”.
Apesar de questionado pelo PÚBLI-
CO sobre qual o valor total de apoio
comparticipado pelo IPDJ para a rea-
lização do evento, em Lisboa, o orga-
nismo presidido por Vítor Pataco
limitou-se a referir que “contratuali-
zou um apoio de 50 mil euros” e, sem
apontar um valor final, remeteu a
resposta para um “aditamento que
alterou a percentagem máxima do
apoio”, datado de 30 de Dezembro
de 2019, no qual apenas está escrito
que é revista “a percentagem de apoio
simples, mantendo o valor da com-
participação máxima aos encargos
com a execução do programa”.
Apesar de o IPDJ aludir a uma alte-
ração da “percentagem máxima do
apoio”, “tendo em atenção o facto
de o evento deixar de se enquadrar
no âmbito dos quadros competitivos
da federação internacional”, o
PÚBLICO consultou o Relatório e
Contas de 2019 da FPP, assinado por
Ricardo Oliveira e datado de 9 de
Junho de 2020, onde está contabili-
zado o subsídio de 50 mil euros obti-
do pela celebração do contrato-pro-
grama com o IPDJ para organizar o
“Campeonato da Europa de Padel”,
sendo que a FPP esclarece que meta-
de desse valor foi recebido em “Janei-
ro de 2020”.
Tal como o IPDJ, a SEJD foi con-
frontada pelo PÚBLICO com a deci-
são do TAS e com os alertas da FIP,
limitando-se a responder que “espe-
ra, em todas as circunstâncias, e
estando certa de que assim ocorre,
que o IPDJ exerça os seus poderes
fiscalizadores e as suas competências
dentro do enquadramento legal que
se encontra obrigado a cumprir”.
IPDJ desvaloriza
Líder da FIP acusado pela FPP de trocar votos por “patrocínios”
IPDJ relativiza financiamento de torneio não reconhecido pela FIP
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62 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
Desporto
Jogos com história
Jogos com História é uma rubrica publicada de 15 em 15 dias. Ver mais em publico.pt/jogos-historia
Luís Francisco
A Liga espanhola está ao rubro. Fal-
tam quatro jornadas para o nal da
prova e, apesar de a recente derrota
do Sevilha ter esbatido o cenário de
uma luta a quatro, os três restantes
candidatos ao título estão separados
por apenas dois pontos. Este m-de-
semana, Barcelona (74 pontos) e
Atlético de Madrid (76) defrontam-se
com o Real Madrid (74) à espreita.
Em Camp Nou, vamos assistir a mais
um episódio da rivalidade entre
“blaugrana” e “colchoneros”, velhos
parceiros de uma saga que já vai lon-
ga. E quase sempre intensa.
É verdade que o clássico supremo
em Espanha (há quem diga que no
mundo) opõe o Barcelona ao Real
Madrid, mas há qualquer coisa de
especial nos duelos entre os catalães
e o Atlético, por causa da elevada
dose de imprevisibilidade e do peso
histórico de resultados surpreenden-
tes ao longo de décadas de rivalida-
de. Talvez nenhum outro grande
jogo do planeta envolva um passado
tão diversi cado, em termos de
resultados — não são assim tão raras
as goleadas e as humilhações, entre-
meadas por jogos incríveis e equili-
brados, decididos no limite, tantas
vezes graças aos talentos individuais
que se soltam pelo campo.
O primeiro encontro entre os dois
emblemas aconteceu numa meia-
nal da Taça do Rei (então mais pom-
posamente intitulada Copa de Su
Majestad El Rey Alfonso XIII), em
1925, ganha pelos catalães (3-2). Na
Liga, a estreia aconteceu em 1935,
com triunfo dos madrilenos (4-1), a
abrir uma extensa lista de goleadas
surpreendentes que conheceu novo
episódio em 1943, com a primeira
“manita”: 5-0 para o Barcelona.
Daí para cá já aconteceram resul-
tados como 8-1 ou 7-3 para o o “Bar-
ça”, em 1953 e 1956, respectivamen-
te; mas também 4-0 ou 5-2 para o
“Atléti”, em 1989 e 1997, por esta
ordem. Mas os jogos mais sensacio-
nais são aqueles em que o marcador
terminou equilibrado, como aconte-
ceu no 6-4 de 1950 (ganhou o Atléti-
co) ou nos 4-3 de 1993 e 2009 (mais
dois triunfos para Madrid). Ainda
assim, talvez a mais memorável par-
tida entre os dois gigantes espanhóis
tenha acontecido em 1997, nos quar-
tos-de- nal da Taça do Rei, quando
o Barcelona virou a desvantagem de
0-3 que se registava ao intervalo para
um triunfo por 5-4.
A primeira mão deixara o Barcelo-
na em vantagem teórica sobre o
então campeão espanhol e detentor
da Taça, uma vez que o 2-2 arranca-
do fora de casa lhe dava o conforto
de, no desempate, esses golos fora
poderem decidir a questão. Mas a
realidade depressa arrasou estas elo-
cubrações pré-jogo. Foi uma jornada
épica, com portugueses em cena.
O “inferno” de Camp Nou Nesse dia 12 de Março de 1997, mais
de 90.000 pessoas enchiam as ban-
assinar um “hat-trick” antes do inter-
valo. Parecia uma noite de pesadelo
para a nação catalã, mas o intervalo
mudou quase tudo. Ronaldo mos-
trou o caminho aos 47’, abrindo as
contas de um “hat-trick” (fez mais
dois golos, aos 50 e 72’) que inspirou
a equipa e os adeptos no “inferno”
de Camp Nou. Quando o resultado
chegou aos 2-3, Pantic ainda deu
novos horizontes aos da capital, com
o seu quarto golo da noite (51’), mas
aos 67’ Figo fez um golaço e depois
Ronaldo empatou aos 72’. Era uma
recuperação extraordinária, só que,
neste cenário, a vantagem dos golos
marcados fora pendia agora para o
Atlético…
Faltavam 18 minutos para os 90 e
a cavalgada rumo à baliza de Molina
continuou em ritmo frenético. Até
que o golpe nal da reviravolta sur-
giu aos 83’, com um golo de Pizzi — o
atacante espanhol saltara do banco
ainda na primeira parte, aos 40’,
juntamente com o búlgaro Hristo
Stoichkov, quando o desesperado
Bobby Robson (já com o seu substi-
tuto na temporada seguinte, o holan-
dês Louis van Gaal, a assistir nas
bancadas) trocou dois dos seus
homens defensivos — Blanc e Popes-
cu, deixando Fernando Couto sozi-
nho na zona central — por dois pon-
tas-de-lança. Risco total, recompen-
sa extrema para um técnico que já
tinha a porta aberta para sair — na
crónica do jogo, o cronista do El
Mundo Deportivo, Andrés Astruells,
não deixou dúvidas: “O técnico
inglês pode gabar-se durante muito
tempo de ter dirigido o “Barça” na
partida mais vibrante, emocionante
e espectacular dos últimos anos.”
E a partir daí o caminho suavizou-
se. O Barcelona, que antes já afastara
o Real Madrid, acabou mesmo por
conquistar o troféu: arrasou o Las
Palmas nas meias- nais por 4-0 e 3-0
e bateu (3-2) o Betis na nal. Tudo
graças a uma noite mágica em que
uma constelação de estrelas e uma
atmosfera eléctrica conseguiram o
que parecia impossível. Não foi caso
único em Camp Nou — mas não há
um adepto do “Barça” que não des-
con e daquela equipa vinda da capi-
tal com a camisola às riscas…
Pizzi e Aguilera no embate entre Barcelona e Atlético, em 1997
Barcelona-Atlético, 1997: uma noite empolgante para abrir o apetite
Numa rivalidade rica em resultados surpreendentes, as duas equipas já por várias vezes levaram as emoções ao limite. Hoje reencontram-se
cadas de Camp Nou, enquanto lá em
baixo, no relvado, as estrelas entra-
vam em campo. O treinador do Bar-
celona contava com um trio de por-
tugueses — Vítor Baía, Fernando
Couto e Figo — e juntava-lhes nomes
como Laurent Blanc, Pep Guardiola
ou Ronaldo “Fenómeno”. No outro
banco sentava-se Radomir Antic,
líder de uma equipa mais “operária”,
mas à qual não faltava talento, com
Molina, Bejbl, Pantic ou Jose Luis
Caminero, só para mencionar alguns
dos mais conhecidos.
A partida não começou bem para
o Barcelona, em geral, e para Vítor
Baía, em particular, que viram Pantic
GUSTAU NACARINO/REUTERS
Jornada 32 Paços Ferreira-Marítimo, Gil Vicente-Sp. Braga, FC Porto-Farense, Portimonense-Moreirense, Tondela-B. SAD. Santa Clara-Rio Ave, Nacional-Benfica, Sporting-Boavista, V. Guimarães-Famalicão
I Liga
Jornada 31 Marítimo-Gil Vicente 0-1 Sp. Braga-Paços Ferreira 1-1 Rio Ave-Sporting 0-2 Moreirense-Nacional 2-2 Belenenses SAD-Portimonense 1-0 Benfica-FC Porto 1-1 Farense-V. Guimarães 2-2 Famalicão-Santa Clara 1-0 Boavista-Tondela 1-1
J V E D M-S P
1. Sporting 31 24 7 0 56-15 79 2. FC Porto 31 21 8 2 62-28 71 3. Benfica 31 20 7 4 59-22 67 4. Sp. Braga 31 18 5 8 50-31 59 5. Paços Ferreira 31 14 7 10 36-36 49 6. V. Guimarães 31 12 6 13 35-39 42 7. Santa Clara 31 10 7 14 37-36 37 8. Belenenses SAD 31 8 13 10 22-28 37 9. Moreirense 31 8 13 10 31-40 37 10. Tondela 31 10 6 15 33-50 36 11. Gil Vicente 31 10 5 16 29-39 35 12. Portimonense 31 9 7 15 33-38 34 13. Famalicão 31 8 10 13 35-44 34 14. Marítimo 31 10 3 18 25-41 33 15. Rio Ave 31 6 13 12 23-35 31 16. Boavista 31 6 12 13 36-47 30 17. Farense 31 6 10 15 29-39 28 18. Nacional 31 6 7 18 28-51 25
Jornada 33 Oliveirense-Ac. Viseu, Desp. Chaves-Leixões, Mafra-Arouca, Vilafranq.-Cova Piedade, Penafiel-Vizela, Sp. Covilhã-Estoril, FC Porto B-Feirense, Casa Pia-Varzim, Académica-Benfica B
II Liga
Jornada 32 Feirense-Oliveirense 15h30,SPTV Benfica B-Sp. Covilhã 17h, BTV Mafra-Académica 18h,SPTV Estoril-Desp. Chaves 20h15, SPTV Cova Piedade-Vizela amanhã, 14h Arouca-Casa Pia amanhã, 15h Leixões-FC Porto B amanhã, 17h30 Varzim-Penafiel amanhã, 20h30 Ac. Viseu-Vilafranquense seg, 17h, C11
J V E D M-S P
1. Estoril 31 19 9 3 51-22 66 2. Vizela 31 16 11 4 51-31 59 3. Arouca 31 16 8 7 39-23 56 4. Feirense 31 16 7 8 42-27 55 5. Académica 31 15 10 6 39-25 55 6. Desp. Chaves 31 15 8 8 41-31 53 7. Benfica B 31 11 7 13 49-40 40 8. Penafiel 31 10 10 11 38-39 40 9. Casa Pia 31 9 13 9 37-40 40 10. Leixoes 31 9 10 12 31-38 37 11. Mafra 31 9 9 13 33-44 36 12. Sp. Covilhã 31 7 12 12 30-36 33 13. Ac. Viseu 31 8 9 14 27-39 33 14. Cova Piedade 31 7 11 13 34-47 32 15. Varzim 31 8 6 17 24-39 30 16. FC Porto B 31 6 11 14 40-46 29 17. Oliveirense 31 6 10 15 22-43 28 18. Vilafranquense 31 4 15 12 28-46 27
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Público • Sábado, 8 de Maio de 2021 • 63
Um presente envenenado para João Almeida
Será num contexto “minado” sob vários prismas que o jovem português terá de correr no Giro, que começa hoje
Diogo Cardoso Oliveira
“Depois do que zeste em 2020, vais
liderar a equipa na Volta a Itália deste
ano”, disse a equipa Deceuninck a
João Almeida. Para o português, quar-
to classi cado no último Giro, trata-se
de uma honra tremenda, mas tam-
bém de um presente com algum
veneno envolvido.
Importa perceber que o ciclista das
Caldas não deveria pedalar nas 21 eta-
pas do Giro que estará na estrada
entre hoje e dia 30. Almeida foi con-
vocado porque a recuperação de
Remco Evenepoel, que não corre há
9 meses, sofreu um atraso que resulta
numa total incógnita física. Sem cer-
tezas do que poderia fazer Remco, a
Deceuninck jogou pelo seguro e cha-
mou Almeida para liderar a equipa.
O “veneno” do presente está no
per l da prova: este Giro é a corrida
mais dura das três Grandes Voltas,
além de ter um peso menor de con-
tra-relógio neste ano — vertente que
muito bene cia Almeida, possivel-
mente mais confortável no Tour.
Depois, o estatuto de Evenepoel
colocará Almeida numa fragilidade
permanente. E se Remco estiver com
“boas pernas”, o que fará a Deceu-
ninck? Colocará o seu “menino-pro-
dígio” a trabalhar para Almeida? Na
dúvida, caso ambos estejam bem na
estrada, é fácil perceber que a Deceu-
ninck privilegiará o belga, estrela para
os próximos anos, em vez do jovem
português, que, ainda sem contrato
menos contra-relógio para o prejudi-
car. Num segundo plano há Egan Ber-
nal. O colombiano, com um percurso
à medida, chega com uma enorme
expectativa às costas — literal e meta-
foricamente. Espera-se o regresso do
melhor Bernal, mas as lesões nas cos-
tas são um ponto de interrogação na
capacidade do ciclista da Ineos.
Num terceiro plano surgem Remco
Evenepoel, Aleksandr Vlasov e o tre-
pador Mikel Landa. A “correr por
fora” há ainda nomes como Hugh
Carthy e Romain Bardet, Emanuel
Buchmann, Jai Hindley, Vincenzo
Nibali ou Giulio Ciccone.
Este Giro traz ainda, em tese, qua-
tro etapas pensadas para nais ao
sprint, boas para corredores como
Caleb Ewan, Peter Sagan, Elia Viviani,
Fernando Gaviria ou Tim Merlier.
Noutro plano, longe dos sprints,
estarão dois portugueses. Nélson
Oliveira será, como sempre, um el
escudeiro de trabalho na Movistar,
enquanto Rúben Guerreiro terá
de ajudar Carthy na luta por
um pódio, mas, depois do
triunfo na camisola da
montanha, em 2020, a
Education First deverá dar
liberdade ao “cowboy de
Pegões” para tentar sucesso
semelhante.
João Almeida foi quarto classificado na última edição da Volta a Itália
LUCA ZENNARO/EPA
para 2022, provavelmente deixará a
equipa no nal da temporada. E será
com este presente, envenenado sob
vários prismas, que Almeida terá de
correr em Itália.
Em tese, um quarto classi cado em
2020 deveria apontar ao triunfo em
2021, sobretudo quando tem mais
experiência e uma equipa mais ape-
trechada. Porém, o objectivo de João
Almeida é terminar no pódio e essa
prudência parece ter nexo. É que este
Giro traz um plantel de luxo para a
luta pela vitória. O primeiro e mais
evidente é Simon Yates, que chega
numa tremenda boa forma e tem
Três perguntas a
Como deve correr a Deceuninck e quais são as possibilidades de sucesso de João Almeida? Não têm ninguém que seja um claro favorito. Terem no Almeida uma segunda opção é uma boa solução. Com todo o respeito, é um Giro que não encaixa bem nele. Quem são os favoritos ao triunfo? E como devem encarar a corrida? Todos os que não se chamem Egan Bernal têm de contar com a perda de dois minutos
nos contra-relógios. Buchmann, Yates e Carthy têm de correr de forma a
irem buscar esse tempo. Quem serão os
outsiders? Se não cair, o Dan Martin pode acabar no pódio. E acredito
no Fausto Masnada. Para mim, ele pode
surpreender.
Jens Voigt, ex-ciclista
Quer na Luz, quer em Vila do
Conde, em matéria de arbitragem,
os grandes protagonistas, e pela
positiva, foram os videoárbitros
(VAR), que em momentos e lances
capitais dos jogos, e com clara mas
assertiva in uência no resultado,
intervieram e reverteram decisões
que eram erros claros e óbvios
cometidos pelos árbitros.
Ben ca-FC Porto Minuto 9: Vertonghen chega
primeiro à bola, tocando-lhe com o
pé esquerdo. Só posteriormente se
dá o choque com Marega, fruto da
acção de ambos os jogadores ao
tentar disputar o lance, não
havendo, portanto, motivo para
pontapé de penálti.
Minuto 45+2’: o fora-de-jogo de
19cm observado pelo VAR reverteu
o duplo erro da equipa de
arbitragem — do assistente, que não
tirou o fora-de-jogo, e do árbitro,
que assinalou penálti e mostrou
amarelo, num lance em que a
infracção ocorreu fora da área. Por
essa razão, a decisão correcta seria,
caso não tivesse havido offside,
expulsar Manafá por anular uma
clara oportunidade de golo e
marcar livre directo.
Minuto 56: mais uma excelente
intervenção do VAR, que reverteu
um pontapé de penálti a favor dos
“encarnados”. Na realidade, foi
Diogo Gonçalves que pisou o pé de
Zaidu, não havendo qualquer outra
infracção por parte do jogador
portista. Não obstante o árbitro ter
recomeçado o jogo com bola ao
solo, o correcto teria sido
recomeçar com livre directo a favor
dos “dragões”, pois o pisão era
passível de uma falta atacante que
deveria ter sido assinalada.
Minuto 64: Pepe foi bem
advertido por uma entrada
negligente e fora de tempo, à
entrada da área, sobre Rafa.
Minuto 80: Pepe deveria ter sido
expulso por acumulação de cartões
Exibição de alto nível dos videoárbitros
Opinião
Pedro Henriques
amarelos. Na ocasião, pisou com a
sola, de forma negligente, Seferovic.
Uma vez que o árbitro interrompeu
o jogo para punir o livre directo e
não agiu disciplinarmente, deveria
ter deixado os “encarnados”
reporem a bola de forma rápida,
uma vez que estava parada e foi
colocada na zona da infracção.
Minuto 90+3: perante mais um
erro do assistente em não assinalar
fora-de-jogo (30cm) a Darwin, do
qual resultou posteriormente o golo
obtido por Pizzi, esteve muito bem
o VAR, uma vez mais, a corrigir e
reverter a decisão.
Rio Ave-Sporting Minuto 29: o pontapé de penálti
assinalado a favor do Sporting foi
uma boa decisão, só possível pela
intervenção do VAR, que, perante
um erro claro e óbvio e à luz do
protocolo e também das directivas
dadas pela lei 12, fez uma excelente
interpretação das recomendações
dadas aos árbitros no que ao uso de
mãos/braços diz respeito e quando
é que estas situações devem ser
penalizadas.
Paulinho, com o pé esquerdo,
rematou a bola, que foi bater no
braço direito de Ivo Pinto. Este tinha
o braço paralelo ao solo com a mão
quase ao nível do ombro, estando
todo aberto e afastado do corpo, de
forma não natural e num
movimento que inicialmente era de
protecção da bola para que o
avançado leonino não a pudesse
disputar. Esta volumetria anormal é
uma tentativa que os jogadores
fazem de aumentar a extensão do
seu corpo e que não é legal.
Mesmo o facto de a bola ter sido
rematada a curta distância (bola
inesperada) só se considera uma
atenuante quando os braços estão
ao longo do corpo e em posição
natural, que não era o caso. Se
olharmos para todos os jogadores
que estão perto do lance e de ambas
as equipas, veri camos que estão
em movimento e com os braços
para baixo, próximos do corpo. Só
Ivo Pinto os tem abertos e afastados
e é esta forma imprudente de
abordar que é punida.
Ex-árbitro
Sam Bennett (Deceuninck) venceu
ontem a terceira etapa da Volta ao
Algarve. O ciclista irlandês, que já
tinha triunfado no primeiro dia,
bateu Danny van Poppel (Wanty) e
Michael Morkov (Deceuninck) ao
sprint, na chegada a Tavira, num
nal em que mostrou a superiorida-
de nesta vertente: bem lançado por
Morkov, pôde, depois de sprintar,
vencer a etapa sem pedalar, em desa-
celeração antes da meta. Somou a
sétima vitória na temporada.
Esta etapa não trouxe alterações
relevantes na classi cação geral, com
o camisola amarela, Ethan Hayter
(Ineos), a manter a liderança da cor-
rida, seguido do português João
Rodrigues (W52-FC Porto).
Para hoje está marcado um contra-
-relógio individual. Serão cerca de 20
quilómetros de percurso cronome-
trado em Lagoa.
Mais um sprint, mais um triunfo de Bennett na Volta ao Algarve
Desporto
dos sprints,
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64 • Público • Sábado, 8 de Maio de 2021
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Jornalista
Z de Zmar e de zero em decência, bom senso e empatia
O Zmar é o cenário de sonho para exibir as disfuncionalidades do país. Onde está o Estado? Onde está a justiça? Onde estamos nós?
Há coisas que estão
antes da esquerda e
da direita. A
decência. O bom
senso. A empatia. A
preocupação com
os outros. A vontade de diálogo. A
humanidade. A política é uma
forma de organizar o mundo; não é
a bússola que norteia os nossos
valores morais, nem os óculos que
colocamos a priori para de nir o
modo como vemos os outros e
respondemos às suas necessidades.
Politizar determinados temas é,
logo à partida, uma indecência,
uma insensatez e uma
desumanidade. É isso que está a
acontecer com a história do Zmar e
a forma como são tratados os
imigrantes em Odemira e em
muitas outras explorações
agrícolas espalhadas pelo país.
Podemos assentar em três ou
quatro premissas básicas,
facilmente partilháveis por
qualquer um de nós. Se há novas
oportunidades a surgir no sector
agrícola, elas devem ser
aproveitadas a bem do país e do
desenvolvimento do interior. Se
essas oportunidades implicam
mão-de-obra intensiva e sazonal, o
país deve estar aberto ao
acolhimento de imigrantes. Se
esses imigrantes chegam a
Portugal, então devem ser
recebidos dignamente e colocados
a salvo da exploração de
empresários sem escrúpulos e de
redes de trá co humano. Se existe
uma explosão no número de
imigrantes em determinados
concelhos, as autarquias e o Estado
central têm de saber adaptar-se e
dar resposta. Se são inaceitáveis
contentores e condições de vida
miseráveis, então a legislação tem
de permitir a construção de
habitação condigna em terrenos
rurais. Tirando meia dúzia de
radicais, há alguém que discorde
daquilo que acabei de dizer? Isto é
de esquerda? É de direita? Ou é
mero bom senso?
A mim parece-me bom senso —
só que o bom senso não dá
aberturas de telejornais. Ora, sem
aberturas de telejornais, nada
mexe neste país. A comunicação
social é o aguilhão do Estado na
arena do confronto social e
político. Daí a politização do que
deveria ter permanecido apolítico
se o Estado fosse competente e
conseguisse dar resposta a
problemas óbvios, que estão aí há
anos. Problemas esses que, sendo
gravíssimos, foram olimpicamente
ignorados, até carem visíveis por
uma razão cruel — porque algumas
dezenas de imigrantes desvalidos
foram en ados num resort falido
da classe média-alta portuguesa,
cujos proprietários foram tratados
à maneira habitual de Eduardo
Cabrita: com brutalidade e a
postura do quero-posso-e-mando.
E assim se compõe o tal zero da
decência, do bom senso e da
empatia — e se divide a questão
João Miguel Tavares
O respeitinho não é bonito
entre esquerda e direita e entre
solidariedade versus propriedade
privada. O Governo decide
requisitar o Zmar inteiro, embora
só precise de uma dezena de casas.
Os proprietários a am logo as
garras, embora não sejam as casas
deles nem se perceba bem que
propriedades têm (as casas, mas
não os terrenos em que as casas
estão?). Os responsáveis pelo Zmar
agem como se não estivessem
falidos e o seu maior credor não
fosse o Estado (60 milhões de
dívida, diz Cabrita). E o próprio
Zmar, que só tem licença de parque
de campismo (e caducada, ao que
parece); que foi construído em
cima de uma reserva ecológica; que
é um projecto PIN (Potencial
Interesse Nacional) dos saudosos
tempos socráticos; que foi
inventado por um membro da
família Espírito Santo; e que foi
nanciado pelo BES; esse Zmar é,
de facto, o cenário de sonho para
exibir as disfuncionalidades do país
— infelizmente, à custa de gente
paupérrima, que agora foi de novo
enxotada por ordem do tribunal.
É caso para perguntar: onde está
o Estado? Onde está a justiça? Onde
estamos nós?
JOSE FERNANDES
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