Desvio de Conduta
*****BOX DE INFO*****
― Esta é uma Fanfic escrita por DK Harfrei e publicada no Tumblr:
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será considerada PLÁGIO!
― A classificação desta Fanfic é de 16 anos.
― Desvio de Conduta é uma Fanfic que contem os personagens do jogo Amor
Doce, criado pela francesa ChinoMiko. Apenas alguns dos personagens são originais e
criados por mim.
― Boa leitura!
Capítulo 31 Minha Julieta
Me lembrava daquela mulher. Era normalmente Nathaniel quem estava
falando com ela a maior parte do dia, já que se encarregava do cargo de representante de
turma e tinha uma tremenda responsabilidade com isso. Também tinha sido dela que
Castiel tinha corrido e me puxado para o banheiro alguns dias atrás e era engraçado que a
diretora do Sweet Amoris continuasse sempre com o mesmo estilo de cabelo, as mesmas
vestes que provavelmente, todos os alunos já tinham decorado, e como sempre, o mesmo
amontoado de papéis nas mãos.
Suas visitas tinham se tornado mais frequente agora, com a aproximação do
dia do baile, ela tinha vindo bem mais vezes do que costumava, sempre dando um aviso ou
outro, principalmente sobre as fantasias que tínhamos tirado no sorteio.
Não tive bem com o que me preocupar. Leigh tinha feito questão de me ajudar
com a fantasia e passaria hoje, depois da aula em minha casa, para mostrar seu excelente
trabalho. Leigh tinha passado os últimos dias trabalhando naquele vestido, visto que
adorava aquele tipo de trabalho; roupas de épocas antigas. Ele tinha adiado meu trabalho
como modelo, já que meu tempo depois das aulas tinha se tornado livre apenas para
Castiel e sua monitoria. Nunca poderia imaginar que o rapaz que teria me jogado na
piscina, também era excelente com uma matéria tão difícil, além de rígido.
As aulas com Castiel tinham se tornado difíceis depois da noite em que ambos
dormimos juntos. Era impossível dividirmos o mesmo lugar sem que eu passasse alguns
segundos sem me lembrar do que ele teria me dito. O fato de que ele se importava comigo
era estranho, afinal, estávamos falando de Castiel.
Não sabia bem o que andava acontecendo, mas algo no ruivo estava diferente; a
maneira como me olhava, como falava, as vezes em que eu estava concentrada resolvendo
algum problema que ele passava e acidentalmente o pegava com os olhos presos em mim,
os olhos os quais ele desviava e tratava de se ocupar com alguma outra coisa. Ele tinha me
proibido de ir até o último andar da casa e não só isso, tinha me proibido de dormir em
meu próprio quarto. Ele tinha me dado o quarto dele e ido dormir na sala todos os dias que
se seguiram, mesmo que eu ainda achasse que se ele realmente quisesse, Castiel poderia
dormir em seu quarto comigo. Ele estava se policiando, se distanciando de alguma forma e
ainda assim, estava sendo gentil.
As coisas no colégio não mudaram em nada, ele continuava me ignorando,
passando por mim nos corredores e fazendo de conta que não me via, aliás, tinha se
tornado pior. Muito pior. Poucas vezes eu o vi com os olhos presos em mim, isso só
acontecia quando eu estava grudada com Nathaniel, o que tinha se tornado um costume.
Em parte, porque Nathaniel acreditava que tínhamos alguma coisa, me outra, pelo fato de
que eu estava começando a alimentar essa fantasia, imaginando que Castiel sentisse algum
ciúmes disso.
A única coisa que me pegava de surpresa, era o fato de que L.C tinha começado
a se me ignorar. Não me recordo bem o que tinha feito para isso, mas ainda assim, já se
faziam alguns dias que ele não respondia minhas mensagens ou simplesmente respondia
de maneira forçada.
Mas, o que aconteceria hoje... Isso nem em mil anos eu poderia vir a
imaginar.
— Com licença.
A diretora pediu, assim que abriu uma fresta da porta colocando apenas a
cabeça para o lado de dentro da sala. Os alunos que estavam conversando e provocando
um leve atraso na aula, se endireitaram e mudaram suas posturas.
Eu, por outro lado, continuava muito longe dali, em meus pensamentos.
Chutava que mais uma vez ela viria apenas para nos informar sobre o baile,
mas estava enganada. Os olhos dela correram pela ampla sala antes de me localizarem e se
tornarem um tanto mais tensos. Ela pigarreou antes de dizer e minhas sobrancelhas se
arquearam.
— Isabelle, você pode vir aqui um minuto?
O mar de alunos voltou sua atenção para mim. A maioria se perguntando qual
seria a merda que, supostamente, eu teria feito. Aliás, até eu estava começando a refletir
toda a semana que se passara tentando encontrar que merda eu teria feito. Talvez ela só
estivesse me retirando de sala para me informar sobre a nova prova que eu teria de fazer,
certo? Ou quem sabe me perguntar das monitorias com Castiel?
Eu me levantei alguns segundos depois que conclui meu raciocínio e pude
sentir vários olhares presos em mim enquanto andava para fora da sala, acompanhada da
diretora.
— Algum problema? — perguntei assim que atravessei a porta e a fechei,
encarando-a nos olhos.
A diretora não respondeu. Moveu seus papéis nervosamente e arrumou a
armação do óculos na face, antes de pigarrear mais uma vez e apontar para o outro lado do
corredor.
— Não exatamente um problema, Isabelle. Bem, acho melhor ela explicar isso
para você. — ela disse relutante. — Por aqui, por favor.
E sem mais uma palavra, saiu andando.
Lutei contra meus próprios pensamentos negativos. A lembrança do dia em
que L.C me salvara no vestiário me tomara a mente, fazendo meu coração disparar. Será
que algo estava errado? Será que eles sabiam sobre L? Ou teriam descoberto quem tivera
feito aquilo no colégio? E quem era "ela"?
A diretora entrou na sala dos representantes e se dirigiu até a sala dos
professores. Meu corpo gelou. Se ela estava me levando até a sala dos professores, a
situação era bem mais séria do que aparentava. A voz de duas pessoas eram ouvidas do
lado de dentro. Eu tive de prender o fôlego quando a porta se abriu e Castiel apareceu,
grudando os olhos nos meus. Podia sentir que seus músculos se tencionaram e que
segundos depois ele desviou o olhar para outro lugar qualquer, estalando a língua contra o
céu da boca.
— Volte já aqui! Nós não terminamos isso! — uma voz feminina veio logo atrás
de Castiel que revirou os olhos e permaneceu firme, segurando a porta aberta.
— Eu já ouvi. — ele respondeu olhando por sobre os ombros, antes de voltar a
atenção para nós. — Então ela também é necessária? — pergunto Castiel de olhos fixos na
diretora que revisou seu olhar entre mim e o ruivo.
— Não sou eu quem decide isso, ela me pediu apenas para trazê-la até aqui, eu
apenas o fiz. — disse mulher, voltando-se para mim enquanto a expressão no rosto do
ruivo se tornava completamente obscura. — Bem, eu te deixo por aqui, Isabelle. Terei de ir
até a sala A resolver alguns problemas do baile, vocês estão liberados depois que acabarem
aqui. Se precisarem de mim, estarei no ginásio, provavelmente conferindo os preparativos
para hoje a noite. Boa sorte.
A diretora disparou para o lado de fora da sala, deixando eu e o ruivo sozinhos.
Virei-me novamente para ele que agora me olhava nos olhos. Ele deu uma rápida olhada
por sobre os ombros e deu alguns passos para frente, puxando a porta consigo, apenas o
suficiente para quem quer que fosse que estivesse ao lado de dentro, não nos visse e nem
ouvisse.
— O que está acontecendo?
Eu disparei na pergunta quando Castiel ficou apenas alguns centímetros de
distância de mim. Os olhos opacos do ruivo se voltaram em minha direção e se não fosse a
gigantesca diferença de altura, poderia jurar que acidentalmente meus lábios teriam
roçado nos dele.
Os cabelos ruivos estavam um pouco desgrenhados, sabia que ele tinha matado
o primeiro tempo de aula, sabia que tinha dormido tarde ontem e que não andava
dormindo bem. Eu podia ouvir seus passos no corredor, na frente do quarto onde dormia
de madrugada. Ele mais parecia um cachorro fazendo a segurança da casa do que um
adolescente com problemas no sono. Tinha perdido a conta dos dias em que o vi acordado
ou dormindo por acidente nas aulas e nos intervalos, ele estava com a mesma expressão
sonolenta e preocupada no rosto, evitava falar comigo em público e tinha se tornado tão
distante, se quer parecia o mesmo rapaz daquela noite em que disse se importar comigo.
Eu sabia que algo estava o atormentando, tanto que ele estava perdendo o
sono. Não tinha mais a mesma aparência de antes, continuava bonito, sempre estava lindo,
mas parecia sem vida agora, quase como se estivesse em um modo automático.
O ruivo deu um longo suspiro pesado antes de colocar as mãos sobre meus
ombros, inclinando-se mais para mim e fazendo meu coração disparar. Ele estava nervoso.
Aliás, nervoso era muito pouco para como ele estava. Ele estava pálido e seus olhos
demonstravam uma frustração fodidamente grande.
— Por favor, fale apenas a verdade. Prometa que não fará e nem irá dizer
nenhuma besteira, Isabelle? — ele perguntou, a voz preocupada me fez ficar tão tensa
como ele.
Ele pareceu perceber a reação que provocou em meu corpo, pois se afastou logo
depois e olhou por sobre um dos ombros para conferir se a porta ainda estava encostada.
Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, mas ainda assim confirmei com
a cabeça. Castiel crispou os lábios e empurrou a porta para mim, deixando-me passar
primeiro. Podia sentir seu olhar cravado em minha nuca quando entrei para a sala dos
professor vendo a mulher de cabelos ruivos até os seios e os olhos exageradamente verdes
brilhando em minha direção, assim que me viram e um turbilhão de lembranças me tomou
a cabeça.
Conhecia aquela mulher.Faziam-se apenas algumas semanas desde que nos
encontramos. Ela tinha vindo me ver no dia em que Logan terminou todas as papeladas.
Fora ela quem decidiu se a casa de Logan seria apropriada para mim. Ela era a mulher
quem me permitira morar com os Dubolts. Tinha me visto crescer, estava sempre vindo me
ver, fazendo várias perguntas ao meu respeito, normalmente sobre as minhas lembranças,
me forçando a me lembrar do que tinha me esquecido, de onde eu tinha vindo, como tinha
chegado até o orfanato. As perguntas nunca mudavam, e também, nunca passavam disso.
— Olá Isabelle. — a mulher deu um amplo sorriso ao me ver e eu retribui dando
um meio sorriso em retorno.
— Vamos logo com isso, Brenda. — disse Castiel.
Olhei por sobre um dos ombros para Castiel e percebi que ele continuava tenso.
Passou por mim sem dizer uma única palavra e se sentou em uma das cadeiras disponíveis
de frente para a mesa de Brenda que suspirou fundo e o lançou um olhar duro de
desaprovação.
— Sinto informar Castiel, mas isso terá de demorar bastante. Eu preciso saber
como Isabelle está com essa nova vida e aliás, não me recordo de dizer que precisava de
você. Até onde sei, nós já terminamos o que tínhamos de conversa. — ela disse em tom
ríspido e nada gentil, como se quisesse intimidá-lo.
— Eu quero ouvir o que ela tem para dizer. — disse ele com sinceridade me
fazendo encolher os ombros.
Era coisa de minha cabeça ou ele estava preocupado com que Brenda me
mandasse de volta para o orfanato?
— Você se incomoda de que ele escute? Ele não precisa ficar, caso você não se
sinta à vontade. Isso é um assunto particu... — eu interrompi Brenda antes que ela
terminasse.
— Não. Não. — respondi. — Eu me sinto mais confortável com ele aqui.
A cabeça de Castiel se virou repentinamente para me olhar. Percebi em sua
expressão que ele estava um tanto surpreso com a minha resposta e teria enrubescido se
Brenda não estivesse nos olhando tão fixamente.
Ela pareceu passar seus olhos entre mim e Castiel quando me sentei ao lado do
ruivo, nos analisando em silêncio e depois de algum tempo, começou a apanhar uma pilha
de arquivos que trazia consigo. Nós estávamos ocupando a sala da diretora e Brenda mais
aparentava estar em casa, mesmo que a sala não fosse sua.
Quando Brenda finalmente encontrou minha ficha no meio de várias outras
que carregava, ela sorriu e a jogou sobre a mesa. Logo depois, ela apanhou uma segunda e
a jogou também. Pude ler o meu nome na mais vazia e a de Castiel na ficha seguinte, uma
ficha completamente lotada de papéis e anotações. Meus olhos correram para encontrar os
do ruivo que a essa altura tinha virado seu rosto para a janela da sala, ignorando a mim e a
Brenda.
O que levaria Brenda a ter uma ficha do rapaz consigo se apenas eu era sua
responsabilidade?
— Castiel também tem uma ficha? — perguntei depois de algum tempo em
silêncio e percebi que Castiel não se moveu nem mesmo com minha pergunta curiosa.
Sabia que as fichas eram sempre onde Brenda anotava coisas sobre as seções,
as partes mais importantes, principalmente as em que eu me recordava de alguma coisa de
meu passado. Ela fazia um excelente trabalho como psicóloga e na parte de assistente
social, embora que normalmente, esse papel fosse mais de Catlyn, Brenda me via em média
duas vezes por ano, já que na maioria das vezes, era Catlyn quem fazia as seções comigo.
— Sim. Eu sou a psicóloga dele desde que Castiel tinha seus dez anos, o que
facilitou bastante o meu trabalho com você. Eu fiquei muito na dúvida em te deixar morar
com os Dubolts já que conhecia toda a situação, mas depois que analisei bem ambos os
casos, percebi que algumas misturas não são assim uma má ideia. — explicou Brenda
procurando alguns papéis em ambas as fichas que tinha sobre a mesa.
Meus olhos estavam fixos na ficha de Castiel. O que poderia ter ali dentro?
— Então, você ainda tem tido os pesadelos? — perguntou Brenda enquanto
passava os olhos em minha ficha.
Castiel que estava olhando para a janela voltou seus olhos para mim, mas eu
não o olhei. Não fazia ideia que com a presença dele ali, falar sobre mim seria tão
constrangedor.
— Sim. — respondi em voz baixa. — Em algumas noites sim.
— Algumas noites? Eles pararam em algumas delas? — quis saber Brenda.
— Sim. Eles quase não andam existindo desde que eu me mudei.
— Isso é muito bom, Isabelle. — ela disse com um sorriso.
Brenda ergueu os olhos da minha ficha para Castiel e eu acompanhei seu olhar
até o rapaz.
— E você? O mesmo?
Arqueei as sobrancelhas com a pergunta. Castiel me olhava com atenção, mas
era impossível dizer o que estava pensando.
— Não. Eles pioraram. — murmurou o rapaz em resposta, fazendo Brenda
abaixar minha ficha e colocar um dos dedos sobre o queixo, enquanto se acomodava na
cadeira.
— Pioraram? — perguntou Brenda. — Você não me falou sobre isso. Gostaria de
saber sobre eles.
Castiel fez uma careta.
— Você disse que a seção seria sobre Isabelle. — resmungou.
— E é. Mas aproveitando que ambos estão aqui, quero tentar algo diferente.
— Pois eu não quero. Eu não quero compartilhar com ela sobre isso. Isso é
coisa minha, não preciso dela se metendo nos meus assuntos, na minha vida.
Meu coração se apertou. Eu pude perceber a expressão de arrependimento que
Castiel me lançou com as palavras que disse quando viu meu rosto contorcido em mágoa.
Brenda apenas nos olhava curiosa, prestando bastante atenção no que estava vendo,
gravando tudo com seus olhos, não deixando nada escapar.
Com um longo suspiro o ruivo bateu o punho contra o braço da cadeira e
desviou os olhos para as amplas janelas de madeira.
— Tenho sonhado com a minha mãe. — disse o ruivo depois de um tempo. —
Tenho sonhado com o dia do acidente quase todas as noites, quando a chamei e ela não
respondeu. Tenho sonhado que vou perder coisas que amo de novo. — ele fez uma pausa.
— Tenho sonhado com coisas que me atormentam todas as noites e tenho sonhado com
aquela garota.
A expressão triste de Brenda se modificou com o último comentário. Ela puxou
a ficha do ruivo imediatamente, folheando algumas páginas antes de voltar a encará-lo. Eu,
por outro lado, estava tentando controlar as lágrimas pelo comentário da mãe de Castiel.
— Aquela garota? — ela perguntou depois de um tempo. — Você não fala dela
fazem-se quase seis anos. — disse Brenda. — Tem sonhado o que com ela?
— Não quero responder mais do que isso. — murmurou Castiel com a voz
arrastada.
— Nós já começamos a falar disso, vamos terminar. — insistiu a mulher me
fazendo agradecê-la por isso. A essa altura, eu estava explodindo de felicidade por
descobrir tantas coisas sobre Castiel, principalmente o lado fraco que ele nunca deixava
transparecer quando falava sobre sua mãe.
— Tenho sonhado que ela está comigo.
— E isso não é bom? — quis saber Brenda.
O rosto do ruivo se virou para a mulher que aguardava ansiosa por uma
resposta, até eu estava ansiosa por ela.
— Não quando ela vai embora quando eu acordo.
Movi os ombros desconfortavelmente. Pela forma como Castiel falava, chutava
que fosse alguma ex namorada muito querida ou talvez até mesmo um grande amor de sua
vida. A ideia fez com que um estranho sentimento apertasse meu peito me sufocando. Era
possível que eu tivesse ciúmes de alguém que nem achava que gostava tanto assim?
— E você Isabelle? — eu olhei para Brenda percebendo que ela me encarava
série agora. — Alguma mudança nos sonhos?
Vasculhei todas as minhas lembranças daquela semana e movi a cabeça
lentamente em negação. Meus sonhos tinham sido revezados entre Lucky e alguns outros
os quais me esquecia quando acordava. Era engraçado, mas quanto mais tentava me
lembrar deles, mais esquecia.
— Na verdade, não. — disse desanimada por nenhuma grande evolução.
— Nenhuma lembrança? Nada?
Neguei para ambas as perguntas e Brenda suspirou fundo, pensando em
alguma nova pergunta.
— Certo. Deixando os assuntos do passado um pouco de lado, como está sua
vida aqui? O que fez essas semanas?
Um baixo estalo me fez virar a cabeça para o lado. Castiel tinha mudado de
posição na cadeira e estava me olhando apreensivo.
Tive cuidado em fazer um rápido resumo do tempo que estive por ali, tirando
apenas a parte em que eu e Castiel estávamos nos entendemos mais do que deveríamos.
Aliás, tentava cortar ao máximo qualquer assunto que o envolvesse, falando mais sobre os
amigos ganhei estudando ali, o passeio no parque e claro, cortando a existência do L.C
enquanto relatava.
Quando terminei Brenda ainda ficou algum tempo em silêncio me observando.
Olhou novamente minha ficha anotando várias coisas e quando terminou, bateu a caneta
contra o papel, pensativa.
— Você está namorando esse Nathaniel, Isabelle? — perguntou sorrindo, super
curiosa.
Minhas bochechas coraram imediatamente com a pergunta.
— Não. — respondi.
— Sim. Ela aceitou um relacionamento com ele ou pelo menos ele acha que
aceitou. — Castiel interrompeu e eu me virei bruscamente para ele.
— Eu não aceitei! Eu não tinha o que responder naquela hora, ele estava
esperando algo positivo e o que eu poderia fazer?
— Ah! Claro! — disse o ruivo em ironia. — A dama loira nunca poderia se
magoar, como eu não pensei nisso?
— E vocês? — interrompeu Brenda fazendo Castiel olhá-la confuso.
— Nós? — retrucou o rapaz em um tom de atenção.
— Vocês. Como é o relacionamento de vocês? Vocês conversam? Costumam
sair juntos? Vocês tem um bom relacionamento?
— Nós estamos bem. — disse o ruivo antes que eu fosse capaz de responder.
Brenda pareceu perceber que o ruivo queria me calar e lançou um olhar
entusiasmado para mim, na esperança de que eu revelasse alguma coisa. Meu estômago
embrulhou, eu estava a alguns dias tentando decidir que tipo de relacionamento eu e
Castiel tínhamos, mas não sabia dizer o que era.
Nós já tínhamos nos beijado e ele disse que se importava comigo, aliás, eu
sabia que sentia algo por ele, não sabia exatamente o que ou simplesmente não quisesse
acreditar nisso, mas, existia alguma coisa.
— Bem. — dei de ombros recebendo uma expressão de reprovação de Brenda.
— Bem? É isso que vocês tem para me dizer? — ela riu fraco e crispou os lábios
quando nós não rimos e não respondemos nada. — Não gostei dessa resposta. — ela disse e
Castiel ficou tenso novamente. — Consideram o relacionamento de vocês como o de dois
irmãos?
Não. Definitivamente não somos irmãos. Estamos muito longe de sermos
irmãos. Até onde eu sei, irmãos não se pegam e nem se gostam. A irmã não tem crises de
ciúmes quando vê o irmão com uma garota que odeia e normalmente o irmão não faz
apostas para saber quem se apaixona primeiro. Aliás, irmãos nem se apaixonam.
— Sim. — respondeu o ruivo. — Nós nos tratamos como irmãos.
Minha cabeça virou automaticamente para encará-lo.
— No início eu não quis aceitá-la como uma irmã. Eu não a conheço bem o
suficiente para dizer isso, mas nós nos tratamos como irmãos. Aos poucos estamos nos
conhecendo e...
Eu senti toda a raiva tomando conta de mim. Então era disso que ele estava
falando quando disse que se importava comigo?
— Ele me ignora em público. — eu disparei e Castiel me olhou sem acreditar no
que eu estava dizendo. Brenda arqueou as sobrancelhas mais interessada com o que eu
dizia. — Ele não gosta de mim, me diz para não falar com ele enquanto os amigos estão
perto e ele quase me matou afogada na piscina no dia em que eu cheguei.
— O quê? — Brenda perguntou com a voz esganiçada, podia ver de soslaio que
Castiel tinha perdido a cor e a fala.
— Ele já me fez ir a pé pro colégio e se negou a me levar quando Logan foi bem
claro em mandá-lo fazer isso.
— Isabelle! — Castiel chamou em tom de alerta, tentando me fazer parar, mas
agora seria impossível. Eu estava com tanta raiva que poderia socá-lo.
— E ele também já disse que faria de tudo para me fazer ir embora de sua vida.
Já quase bateu em Leigh quando me viu na casa dele...
— Isabelle, cale a boca! — o grito que correu pela sala me fez congelar e me
virar para Castiel.
Os punhos estavam cerrados e a face estava completamente vermelha de raiva.
Os olhos gentis e sonolentos tinham sido substituídos por olhos estreitos, cegos de raiva e
ódio.
— Que inferno! — ele berrou, desviando os olhos para os próprios pés.
— Isabelle. — Brenda chamou, mas eu não voltei a atenção para ela. — Você
está dispensada por hoje. Preciso de alguns minutos com Castiel. Sozinha. — eu a olhei por
um momento confirmando com a cabeça, ainda muito atormentada para dizer mais
alguma coisa e me levantei da cadeira, puxando a mochila comigo.
Dei uma última olhada para Castiel que ainda olhava para os próprios pés
antes de caminhar até a porta e abri-la. Brenda me chamou mais uma vez antes que saísse
e eu a olhei de novo.
— Já ia me esquecendo. Nós vamos repetir isso alguns dias da semana, tudo
bem?
— Alguns dias? — perguntei um pouco confusa.
— Sim. Só eu e você. — ela piscou e eu desviei os olhos para o ruivo que estava
de costas para mim.
— Se você acha necessário...
Fiquei um tempo parada na porta, me perguntando se deveria esperá-lo sair da
seção para irmos para casa juntos, mas mudei de ideia assim que repassei seu berro em
minha cabeça. Ele definitivamente não estava afim de falar comigo, se quer queria me
olhar nos olhos.
Eu sai da sala com os olhos cheios de lágrimas e disparei pelo corredor, indo
para casa.
Brenda e Castiel ainda ficaram mais cinco minutos dentro daquela sala. O
rapaz de cabelos ruivos ainda fitando os próprios pés quando deixei aquele lugar e Brenda
começando a guardar as fichas em seu devido lugar.
— Você gosta dela. — disse Brenda depois de algum tempo de silêncio em que
ambos não disseram nada.
O garoto de cabelos ruivos ergueu um pouco dos olhos para a mulher também
ruiva. Ela deu um sorriso, tentando sustentar uma repentina brincadeira, mas o rapaz não
retribuiu. Apenas a encarou sério, vendo o sorriso da mulher se desfazendo conforme ia se
tocando do que dizia.
— Você gosta dela. — disse ela mais uma vez, agora não em brincadeira, mas
em confirmação.
— Você ainda quer dizer mais alguma coisa? Ou também estou dispensado? Se
a conheço bem, ela vai a pé para casa e precisava entregar algo para Isabelle, antes do
baile.
Brenda ponderou a pergunta por um tempo, antes de prosseguir.
— Você me pediu para ver como ela estava, eu vim. Quando eu aceitei que ela
fosse morar com vocês, sabia do estado dela e do seu. Pensei que talvez ela conseguisse
curar as feridas que você tinha e que talvez, você conseguisse fazer com que ela se
lembrasse da parte que faltava nela. Provavelmente Logan pensou a mesma coisa quando
teve essa ideia, mesmo que não soubesse de nada sobre Isabelle, sabia sobre você. — ela
suspirou fundo. — Você tem que entender que a mente de Isabelle bloqueou, Castiel. Ela
não se lembra nem mesmo dos sonhos que tem de noite e mesmo que lembre, não sabe de
quem são os rostos que estão neles. Nós estamos trabalhando duro para fazer isso dar
certo. Eu me surpreendi com a sua ligação. Nunca esperaria que isso fosse acabar
acontecendo.
Os olhos do ruivo se ficaram nos olhos verdes de Brenda. A tensão em sua
expressão tinha se modificado para algo como uma tristeza profunda.
— Eu vou viajar dentro de algumas semanas. — disse o rapaz. — Existem
algumas coisas que preciso fazer. Preciso que você fique de olho nela por mim.
— Você vai viajar? — Brenda não disfarçou a surpresa na voz.
— Não sei por quanto tempo vou ficar fora, por isso te liguei. E você sabe, agora
não estamos falando apenas de Isabelle, mas também de Guilherme.
Brenda assentiu.
— Você pode buscá-lo assim que quiser. Ele está bem ansioso desde que eu lhe
contei que você o tinha adotado. — ela batucou o lápis mais uma vez contra as folhas sobre
a mesa. — Foi por Isabelle, não foi?
O ruivo não respondeu. Ergueu-se da cadeira, puxou sua mochila por sobre um
dos ombros e lhe deu as costas, saindo da sala.
Li a mensagem mais uma vez antes de enviar, fechar o celular e dar atenção
para Leigh:
"Nos vemos hoje a noite?"
— Isabelle
— Você demorou. Eu estou te esperando chegar desde uma hora.
Dei um leve sorriso para Leigh tentando disfarçar minha triste expressão.
Leigh estava sentado em um dos degraus de minha casa, não trazia nada consigo e parecia
sentir calor, mesmo que estivesse na sombra. Certamente aquele era um dos dias mais
quentes de verão.
— Eu sinto muito. — disse com dificuldade, uma das mãos puxando a alça da
bolsa sobre meu ombro. — Eu recebi uma visita inesperada e isso demorou bastante, além
de que tive de vir a pé.
— Eu sei. Castiel veio aqui duas vezes e me pediu para que você ligasse para ele
assim que chegasse.
Me surpreendi.
— Ele veio aqui? — Leigh assentiu com a cabeça, se levantando e ficando de pé
na minha frente. — E não te deixou entrar?
— Você sabe... — ele deu de ombros. — Ele não gosta de mim e eu não vou com
a cara dele, a gente quase caiu na porrada aquele dia por causa de você e de acordo com
ele, ele não seria maluco de me deixar dentro da casa dele, sozinho com você. Aliás, ele
disse que se eu passasse por essa porta, eu seria um homem morto assim que ele
descobrisse. — Leigh riu fraco. — Vocês estão brigados? — eu crispei os lábios sentindo as
lágrimas se acumularem nos olhos mais uma vez.
— Não quero falar sobre isso. — foi tudo o que disse, ficando grata quando
Leigh não insistiu no assunto.
— Certo. — ele deu de ombros, um tanto sem jeito. — Bem, eu trouxe o seu
vestido, estava te esperando chegar para mostrar.
— Sério? — eu perguntei entusiasmada, não conseguindo reprimir o sorriso
exagerado em meu rosto.
Nós caminhamos pelo jardim da casa até o carro de Leigh. Leigh se apressou
em abrir o porta-malas antes que eu me aproximasse, apanhando o vestido que estava por
baixo da capa protetora preta. Ele me lançou um amplo sorriso antes de bater o
porta-malas e me acompanhar para dentro de casa. Demorei alguns minutos para achar as
chaves no meio da bagunça de minha mochila, mas por fim, entramos e fomos para a sala.
Joguei a mochila em qualquer canto, tirando os tênis e prendendo os cabelos em um
coque. Leigh riu da minha ansiedade quando me sentei no sofá e puxei o vestido de sua
mão para mim.
Dando uma última olhada para Leigh, comecei a retirar a capa protetora de
sobre o vestido e arregalei os olhos. Perdi meu fôlego, meus lábios se abriram. Eu não
podia acreditar naquilo. Leigh era simplesmente um Deus fazendo roupas, como ele
conseguira fazer um vestido daquele tipo em tão pouco tempo?
— Leigh... — chamei em voz baixa, passando uma das mãos sobre o meio do
vestido. — Como você...
— Eu sei. — disse Leigh. — Eu sei. Poderia ter ficado melhor, mas...
— Melhor? — perguntei com a voz esganiçada. — Você tem ideia do que você
fez? Eu nunca vi ninguém com a metade do seu talento, Leigh. Você fez um vestido em
basicamente menos de duas semanas!
— Eu disse que era bom, querida. — Leigh me deu uma piscadela rápida e tive
de sorrir em gratidão. — Eu aposto que vai ficar lindo em você.
Os olhos negros como carvão desceram de meu rosto para o vestido. A
cabeleira de cor idêntica aos olhos estavam arrumadas e apenas alguns fios lhe cobriam os
olhos. Diferente da última vez que o vi, Leigh estava com uma camisa social de botão e
calça preta, com sapatos negros muito limpos. Ele mais parecia um empresário do que um
estilista.
— A gente tem que fazer uma trança nesse cabelo, sabia? — perguntou Leigh
me tomando a atenção quando seus olhos retornaram para o meu.
— Trança? — retruquei confusa, ainda sorrindo. Estava completamente besta
com o vestido.
Minhas mãos deslizaram pelo pano branco e vermelho com detalhes em
dourado, além de um corpete divino. Cada parte daquele vestido era tão delicado. Leigh
tinha feito um decote chamativo nos seios e até mesmo tinha uma máscara presa ao cabide
que acompanhava o vestido.
A máscara dourada de frente mais me lembrava uma borboleta de asas abertas
onde apenas os olhos eram visíveis. Continha curvas perfeitas nas beiradas, algumas mais
acentuadas que outras e pequenas pedrinhas nas pontas, os quais recordavam diamantes
discretos.
— Eu imaginei que uma trança embutida ficaria perfeita com esse vestido. —
respondeu Leigh tomando minha atenção para si.
— Irá me ajudar com o vestido?
— E com a maquiagem, se me permitir.
Mas é claro que eu permitira. Eu não sabia me maquiar direito e era um
desastre com penteados. As únicas coisas que conseguia fazer eram os coques e os rabos de
cavalo, mas normalmente, a traça era responsabilidade de Catlyn quando ainda morava no
orfanato.
Agradeci Leigh milhares de vezes antes de irmos para a cozinha. Eu não tinha
almoçado nada e estava faminta quando disparamos para lá. Tratei de preparar a primeira
comida congelada que encontrei na geladeira. Leigh também acabou se rendendo para os
congelados que encontramos, os que Logan e Castiel costumavam comprar por culpa da
minha ausência em algumas tardes, quando não poderiam contar com minha comida.
Nós conversamos sobre algumas coisas, desde minha infância turbulenta até
ambos nossos relacionamentos. Leigh me contou sobre seu relacionamento que não tinha
dado certo e que o nome da menina era Rosalya. Me contou que namoraram por longos
anos e que ainda gostava dela, mesmo que ambos não tivessem a mínima capacidade de
ficarem juntos outra vez. Contou das brigas que ambos tiveram ultimamente e eu não tive
vergonha em lhe contar sobre Nathaniel e L.C, fazendo-o se impressionar em todas às
vezes em que contei das furadas as quais L me salvou.
Quando o rumo da conversa começou a mudar para Castiel, eu finalmente me
levantei e lavei toda a louça, afugentando a conversa desagradável que quase tivemos. Eu
ainda não tinha engolido o que tinha escutado na seção com Brenda. Não sabia exatamente
o motivo, mas sabia que aquilo tinha revirado todos os sentimentos mais esquisitos que
poderiam existir dentro de mim.
Subimos para o segundo andar da casa assim que terminamos. Era provável
que Logan estivesse trabalhando como sempre e claro, que Castiel não estivesse em casa.
Mas nada explicava o som alto de uma música de rock ecoando pelos corredores da casa
quando chegamos ao segundo andar.
— Tem alguém em casa? — perguntou Leigh para mim enquanto me seguia
pelo amplo corredor.
Neguei rapidamente a cabeça para Leigh antes de voltar a andar e verificar
cada um dos quartos. O quarto de Castiel estava vazio, como já era de se esperar. A única
nova surpresa fora o meu quarto, que tinha simplesmente sido trocado por um quarto
totalmente infantil masculino. Não fazia ideia se Castiel estava pregando alguma peça em
mim, mas pisei duro quando disparei para o quarto de Logan que não encontrava-se em
casa. O som fora aumentando e a medida que disparei pelo corredor, percebi que o som
vinha do sótão.
Troquei olhares desconfiados com Leigh antes de começar a subir as escadas
para o sótão. Meu corpo tinha se tensionado um pouco, principalmente conforme uma
baixa voz ia sendo ouvida, algo como barulhos imaginários de batidas e explosões, algo que
eu conhecia de algum lugar e me lembrava alguém.
Guilherme.
O garoto de cabelos ruivos estava entretido com lápis que segurava nas mãos e
papéis espalhados pelo chão do antigo e velho sótão abandonado. A luz do sol entrava pelas
amplas janelas agora muito limpas e as janelas abertas deixavam o vento sacudir algumas
das cortinas brancas do local. Móveis novos tinham sido colocados, uma cama de casal ao
centro, encostada contra a parede. Um guarda-roupa com portas de espelho, e claro,
minhas coisas, além de uma mesa enorme para desenhos e uma televisão presa contra a
parede.
Meu queixo caiu. Guilherme ouviu meus passos e os de Leigh quando pisamos
no sótão e ergueu os olhos para nós dois. O garoto de mais ou menos oito anos abriu o
maior sorriso que já vira em minha vida e se levantou do chão, disparando em minha
direção, me abraçando. Retribui o abraço com dificuldade ainda um pouco atordoada. O
que exatamente ele estava fazendo aqui, eu não saberia dizer.
— Isa! Isa! — ele disse repetidas vezes enquanto abraçava meu quadril e
enterrava a cabeça em minha barriga.
— Guilherme! — eu disse um tanto animada, mas ainda muito confusa para
mostrar total entusiasmo. O rapaz se afastou um pouco e eu pude me abaixar para olhá-lo
nos olhos. — O que está fazendo aqui? Quem te trouxe? Catlyn está aqui?
Os olhos de Guilherme brilharam ainda mais e um sorriso totalmente
iluminado dançou em seus lábios. Eu tinha colocado as mãos sobre seus pequenos ombros
para encara-lo melhor e agora as mãos estavam escorregando. Eu nunca o tinha visto feliz
daquele jeito, nem mesmo quando o levamos para o zoológico ou quando ele ganhou
aquela velha bicicleta no natal de três anos atrás.
— Ele me adotou. — disse o garoto logo depois, fazendo meus olhos se
arregalarem e meu queixo cair. O sorriso em seu rosto dobrou. — Ele me adotou, Isa! O tio
macaco me adotou e disse que o seu quarto é meu.
Eu pisquei nervosa. Não consegui sorrir de imediato, aliás, não conseguia nem
pensar direito.
— E-Ele E-Ele te adotou? — eu gaguejei bastante antes de conseguir falar. —
Ele?
Mais uma vez Guilherme me abraçou e agora eu retribui o abraço ainda mais
forte, sentindo todas as lágrimas acumuladas pesarem e ameaçarem rolar. Olhei por sobre
os ombros do pequeno Guilherme para o quarto, o papel de parede em detalhes lindos em
branco, rosa claro e dourado. Meu Deus! Ele tinha me proibido de voltar para o meu
quarto, pois estava preparando uma surpresa para mim.
— Sim. Ele. O tio macaco. — Guilherme riu, feliz. — Ele é legal! Eu sabia que ele
era legal!
Eu me afastei com dificuldade de Guilherme e usei as costas das mãos para
limpar as lágrimas que escaparam pela minha bochecha. Toda a raiva que senti antes de
Castiel tinha me deixado. A única coisa que desejava agora era agradecê-lo. Ainda não
acreditava que Guilherme dividiria a mesma casa que eu e viveria basicamente a mesma
vida.
— É. Ele é muito legal.
Disse abrindo um sorriso imenso para o meu garoto, dando um beijo na
bochecha dele e depois passando as mãos pelos cabelos ruivos. Meu coração estava tão
balançado agora, algo que nunca tinha acontecido antes. Eu beijei as mãos de Guilherme,
agora finalmente compreendendo que ele estava ali e que não me deixaria mais, agora
éramos da mesma família.
— Isabelle?
Olhei por sobre os ombros para Leigh. A essa altura nem me recordava que ele
estava ali, nos vendo. Mais uma vez tive de limpar as lágrimas que escorriam pelas minhas
bochechas. Guilherme grudou em uma de minhas pernas enquanto examinava Leigh dos
pés até a cabeça.
— Quem é esse? — ele sussurrou para mim, mas era claro que Leigh também
pode ouvi-lo, pois sorriu. — Ele é estranho. — disse Guilherme me fazendo rir.
— Ele é meu amigo, Guilherme. Leigh. — eu apresentei e Leigh se abaixou
dando um sorriso para o garoto que se afastou imediatamente.
— Ei garoto, tudo bem? Isabelle me falou muito de você. — Leigh esticou uma
das mãos para cumprimentá-lo. Trazia meu vestido consigo.
Guilherme passou alguns segundos avaliando a mão de Leigh estendida, antes
de erguer o olhar para mim e murmurar.
— O tio macaco falou que você viria com um cara e que não era pra mim
confiar em cara nenhum. Ele disse que todos eles são cruéis, disse que só ele presta.
Minhas sobrancelhas se arquearam. Leigh voltou a mão para trás xingando
baixo e resmungando algumas coisas enquanto eu não tive como deixar de rir com a
informação.
— Ele disse isso? — perguntei entre risos.
— Isso foi jogar sujo... — Leigh resmungou, voltando a ficar de pé.
Passei mais uma vez uma das mãos sobre os cabelos de Guilherme em um
carinho e beijei sua cabeça.
— Querido, ele não é ruim. Ele é meu amigo, provavelmente Castiel estava
apenas brincando. — Guilherme me olhou desconfiado.
Era coisa da minha cabeça ou eu tinha realmente perdido meu garoto para
Castiel por uma adoção?
— Eu não confio nele. — insistiu Guilherme enquanto eu suspirava fundo.
— Certo. Ele só veio me ajudar com meu cabelo e o vestido que irei usar. Eu
vou sair hoje de noite.
Guilherme assentiu com o comentário ainda me encarando.
— Eu sei. Eu também vou.
— Você vai? — eu franzi os cenhos. — Castiel vai te levar?
Seja lá como isso for acontecer, eu nunca o deixaria dentro do mesmo carro que
o de Ambre.
— Não. Você. Ele disse que você não me deixaria ficar sozinho em casa de noite,
então imaginou que você fosse me levar. — Guilherme sorriu. — Você vai me levar, não vai?
Suspirei pesado. Agora as coisas faziam um pouco mais de sentido.
— Ele não vai voltar aqui, vai? — Guilherme balançou a cabeça em negação.
— Ele disse que te veria no baile. Eu até ajudei ele com a fantasia dele.
— Fantasia? — eu perguntei.
Guilherme abaixou a cabeça para o chão no momento seguinte, andando em
direção aos papéis jogados no chão do quarto. Só agora tinha parado para prestar atenção
neles. Ele tinha feito diversos desenhos, alguns em tentativas de desenhar carros, outros eu
se quer conseguia decifrar o que eram, mas em um ou dois pude chutar que ele estivesse
desenhando alguém de terno e imaginei que Castiel tivesse tirado algum tipo de Gângster
ou coisa parecida.
— Certo. — disse entre risos. — Imagino que a fantasia dele deve ter ficado
muito linda, já que você o ajudou. — Guilherme sorriu, mas sua atenção agora estava entre
os papéis.
— Estava em algum lugar... — ele disse revirando as folhas atrás de alguma
coisa, mas em vez de me focar no garoto, me voltei para Leigh que ainda estava parado em
silêncio nos observando.
— Parabéns. — murmurou Leigh para mim quando o olhei. — Foi um presente
adiantado de aniversário e tanto.
Meu aniversário... Eu se quer me lembrava que amanhã era meu aniversário e
duvidava muito que aquilo fosse um presente antecipado.
— Não. Definitivamente ele não faria algo assim. Provavelmente ele quer
alguma coisa. — Leigh balançou a cabeça.
— Não acha que para alguém que te queria fora da própria vida e faria de tudo
para te tirar dela, isso não uma atitude suicida?
Eu ponderei a pergunta por um tempo.
— Eu não o entendo. — dei de ombros, virando-me para olhar Guilherme. —
Gui, eu vou ficar com Leigh pela sala, já que você está ocupado aqui. Vou precisar fazer um
penteado legal e me arrumar para o baile, você fica bem aqui?
Guilherme não me olhou. Apenas assentiu com a cabeça e voltou a vasculhar
seus papéis em busca de algum desenho específico enquanto desciamos a escada.
— Anda Isabelle, sai dai! Já vai dar sete e meia horas, a festa começou às sete!
Você está atrasada!
Eu não respondi.
Não tinha como responder. Quando Leigh começou a fazer aquela trança, eu
não sabia que ela combinaria tanto com aquele vestido, mas, agora, vendo-o em meu
próprio corpo, isso era bem diferente.
Leigh tinha feito uma trança embutida perfeita. Existiam algumas presilhas
brilhantes pelo meu cabelo e ele tinha feito uma maquiagem bem delicada. O corpete tinha
deixado minha cintura ainda mais fina e tinha dado volume nos seios, mas não era
exatamente neles que meus olhos estavam focados. Todo o conjunto tinha ficado sem
descrição. Leigh era bom no que fazia, mas nunca poderia imaginar que fosse tão bom
assim, até que eu vestisse aquela fantasia.
Girei frente ao espelho do banheiro uma última vez, passando as mãos pelo
vestido. Leigh tinha me obrigado a colocar um salto alto dourado que não era tão alto
quanto pensei que fosse e não machucava tanto os dedos dos meus pés, mas ainda assim
me obrigava a ter cuidado, já que não conseguia me equilibrar direito. Por último, apanhei
a máscara sobre a pia e a coloquei no rosto. Meu coração acelerou. Eu estava bonita. Eu
sabia que estava, me sentia bem, muito diferente do que já me senti em muitos outros dias
da minha vida.
Respirei fundo uma única vez e me virei para a porta, abrindo-a. Leigh se
afastou em alguns passos, estava conversando com Guilherme, provavelmente, já que ouvi
vozes ao lado de fora, e de fato, tinha acertado no chute.
Ambos os garotos pararam de conversar quando apareci na porta. Os olhares
se congelaram em mim, surpresos e sem palavras. Claro que estavam sem palavras, até eu
estava. Eu girei uma vez na frente de ambos mostrando todo o vestido, a combinação do
cabelo que Leigh tinha arrumado e a máscara deslumbrante que ele tinha me arrumado.
Leigh abriu um sorriso enorme e se apressou em me puxar para um abraço
apertado, me sufocando com seu perfume importado.
— Caralho! Como você está linda, Isa! — ele disse enquanto me abraçava, me
fazendo rir. — Puta merda!
— Meu estilista particular é muito bom no que faz. — eu sussurrei em seu
ouvido, brincando com Leigh que se afastou rindo.
— Caramba! — a voz de Guilherme se estendeu por um tempo no ar enquanto
ele encarava meu vestido. — Você parece aquelas princesas da Disney, Isa.
— Obrigada amor. — eu agradeci, bagunçando os cabelos ruivos de Gui.
Só então percebi que ele estava arrumado com uma roupa de festa, como se
estivesse realmente pronto para ir ao baile. Existia uma rosa no bolso de seu palitó. O que
me fez rir baixo. Chutei que aquilo fosse obra de Leigh, enquanto estava dentro do
banheiro, terminando de me arrumar e colocar o vestido.
— Ah! Eu já ia me esquecendo. — Leigh quebrou o silêncio me entregando o
celular. — Nathaniel te ligou algumas vezes e mandou algumas mensagens, acho que algo
aconteceu com Ambre e ele não poderá vir.
— Ambre? — perguntei engolindo em seco. — Algo que envolva Castiel?
A expressão no rosto de Leigh se converteu para algo como um divertimento
passageiro, enquanto ele colocava as mãos nos bolsos da calça e me encarava, refletindo a
pergunta sozinho.
— Não sei bem. Eu atendi apenas uma das ligações, ele me pediu para deixá-la
no baile, então é isso que estou prestes a fazer. Você não se incomoda, não é? Ele me
assegurou que estaria no baile assim que conseguisse ir para lá. Ele só me disse que Ambre
não iri mais.
Impossível. A semana inteira, aliás, muito antes daquela semana eu a tinha
ouvido falar sobre aquele baile, tinha visto e escutado que Ambre tinha pagado muito caro
na fanasia nova, o que poderia ter mudado? E se ela não for, significa que Castiel também
não irá?
— Impossível. — murmurei. — Ela deve ter tido algum problema com a
fantasia, mas provavelmente irá aparecer assim que conseguir arrumar.
Leigh ignorou o comentário.
— Vamos então? Eu vou deixa-los no baile, apenas. Nathaniel também me
garantiu que a volta seria por sua conta.
Assenti, certa de que algo sério teria acontecido para que Nathaniel não fosse
me buscar. Ele nunca me deixaria ir com outra pessoa para aquela festa, mesmo que eu
estivesse muito arrependida de ter aceitado ir com ele, mesmo que eu soubesse que meu
desejo não era ir com ele, sabia que Nathaniel nunca me deixaria escapar assim tão fácil.
Baixei os olhos assim que saímos de casa para o celular, conferindo as últimas
mensagens que recebi. Castiel não tinha mandado mensagem alguma e aparentemente,
falava sério quando dizia que só me veria novamente no baile, ainda assim, existia uma
mensagem que tinha mandado quando vi Leigh na porta de minha casa e que não tinha
recebido reposta ainda.
Ou pelo menos pensava que não.
Rolando os dedos pela caixa de mensagens, entre as ligações perdidas de
Nathaniel e as mensagens de Alexy, encontrei finalmente o que procurava.
Parei de andar quando a mensagem abriu, iluminando um pouco de meu rosto.
"Sim. Acho que você terá uma pequena
surpresa hoje à noite."
— L.C
Às oito horas basicamente todos os alunos do Sweet Amoris tinham chegado. O
ginásio estava lotado e alguns casais vestidos a fantasia, ainda entravam para dentro do
colégio. Eles tinham passado por alguns dias turbulentos de indecisão sobre onde fariam o
baile. Em princípio, o baile seria no porão, se os dois últimos eventos do colégio não
tivessem sido problemáticos com o torneio de bandas.
Mesas estavam espalhadas pelo ginásio, luzes mais fracas estavam espalhadas
pelo teto em fileiras, e existia um tapete vermelho no meio que cortava em direção até o
palco vazio. Muitas das pessoas encontravam-se sentadas nas mesas disponíveis, enquanto
alguns casais ameaçavam ir até a pista de dança. Na maioria, eles estavam rindo das
fantasias que apareciam, comentando sobre as mais bonitas e também sobre os casais
formados pelo sorteio das fantasias. Era um evento divertido de certa forma, pessoas se
conheciam, faziam novas amizades, descobriam novos amores. Era uma ideia genial.
— Eu não acredito que estou fazendo isso.
O garoto de mais ou menos um metro e sessenta de altura resmungou para a
garota vestida de policial ao seu lado. Os cabelos negros estavam bagunçados pela peruca
que lhe caía sobre um pouco dos olhos e o corpo estava rígido. Ele vez ou outra dava boa
noite para os novos casais que entravam. As mãos estavam suadas, segurando os panfletos
em mãos.
A garota morena vestida de policial se inclinou para o rapaz. Estava como
sempre na postura desleixada e impaciente, as mãos sobre seu próprio quadril. Os olhos
verdes eram extremamente chamativos e ela era bem mais alta do que o rapaz.
— Ah! Pois acredite. — disse entre risos. — Quem diria que você tiraria esta
fantasia para vir aqui, hein Viollete?
Kim deu um leve tapinha em seu ombro e Viollete não respondeu. Vestida de
homem, ela encolheu os ombros e abaixou a cabeça encarando o chão. Nem em mil anos
que as coisas poderiam ficar tão sérias como agora.
— Acha que ele vai perceber? — quis saber a garota, as bochechas pegando
fogo.
— Hum... Alexy? — Kim deu de ombros examinando as unhas de uma das
mãos. A tinta velha começava a descascar em algumas partes. — Sei lá. Ele não é a pessoa
mais ligada do mundo, principalmente quando está com aqueles fones de ouvido, mas acho
que a situação seria bem cômica se ele chegasse vestida de mulher.
Viollete rolou os olhos para o teto, impaciente. Às vezes Kim era irritante
quando não media suas palavras.
Kim pareceu perceber a tensão da amiga e suspirando fundo, tento consertar o
que tinha acabado de dizer.
— Cara, qual é! Talvez ele nem venha, sabe? Pode ser que ele tenha outros
planos, a Isabelle também não veio, pode ser...
— Você acha que eles tem alguma coisa? — interrompeu Viollete com a
pergunta, virando-se para Kim. A expressão preocupada. — O Alexy e a Isabelle...
— Está brincando? — Kim riu baixo. — Até onde sei ela está saindo com
Nathaniel e...
— Boa noite. — disse uma terceira voz entre as duas.
Ambas viraram-se lentamente com a voz rouca e autoritária que ouviram. Kim
estreitou bem os olhos para tentar decifrar quem estava por baixo daquela máscara escura.
Os olhos castanhos e obscuros eram o único vestígio de sua face, além de lábios em linha
reta, em um rubro não tão vivo. As vestes lembravam muito um rei antigo máscarado. De
cor preta com detalhes e adornos, além dos botões em dourado, assim como os detalhes da
máscara. Ele moveu graciosamente a cabeça quando ambas se viraram e inclinou-se para
Kim, cujo estava mais próxima.
Kim pode ver alguns dos fios de cabelo ruivo soltos para frente da máscara,
mesmo que a maioria estivesse penteado para trás e existisse até mesmo um pequeno rabo
de cavalo os prendendo. Ele apoiou uma das mãos contra a parede para conversar com ela,
o suficiente para que a música do local não os atrapalhassem;
— Castiel. — Kim disse logo após passar os olhos uma segunda vez pelo rapaz,
verificando todo conjunto da veste e os vestígios que ele deixava ao se aproximar.
— Sabe me dizer se Isabelle já chegou? Eu não consigo reconhecê-la no meio de
todas essas máscaras.
A sobrancelha esquerda de Kim se arqueou com a pergunta. Ela novamente
voltou a colocar uma das mãos sobre o quadril enquanto com a outra, apontava o peitoral
do ruivo sem a mínima delicadeza.
— Ãh? E eu tenho cara de secretária da tua irmã?
Castiel desviou o olhar para Viollete, um tanto apreensivo de que ela também
não dissesse nada. Era claro que o rapaz sabia quem ela era, mesmo que usando aquela
fantasia ridícula de homem e isso só fez com que a tensão em Viollete dobrasse.
— Você também não? — ele perguntou de forma áspera e sem paciência.
— Não. — respondeu Viollete desviando os olhos dos dele.
— Pra que caralhos vocês estão na portaria?
A pergunta de Castiel saiu quase como um berro. Nervosamente ele passou
uma das mãos sobre os cabelos, tentando colocar os fios que faltavam para trás e disparou
para fora do ginásio, pisando duro até entrar no jardim.
A decoração daquele lugar também tinha mudado. Eles tinham feito um belo
trabalho ao enfeitar as árvores com pequenas luzes brancas, além de terem colocado
alguns bancos de madeira onde casais se sentavam para conversar. Castiel se aproximou da
estufa, o clube de jardinagem tinha se encarregado em fazer com que tudo ficasse perfeito,
um trabalho prazeroso para Jade.
O ruivo apanhou o maço de cigarro de um dos bolsos junto com o isqueiro e o
acendeu, tragando e soltando a fumaça logo depois. Rodou mais de duas vezes a estufa.
Zanzou pelo jardim e por fim, sentou-se em um dos brancos que encontrara disponível por
lá. A cada minuto que passava seu nervosismo aumentava. Ele tinha vagado pelo ginásio na
expectativa de descobrir quem seria seu par na gincana. Faltavam cinco minutos, logo eles
começariam as brincadeiras e eliminariam os casais.
Ele tinha certeza de que tinha conferido todas as meninas de sua turma, até
mesmo a fantasia de Ambre. Ele tinha conferido a de todas elas, menos uma.
Castiel se levantou, as mãos mais uma vez deslizaram pelos bolsos da calça
quando ele pensou em conferir se não tinha errado a fantasia quando a apanhou naquele
dia, na sala de aula, mas não fora precisa. Antes que as mãos encontrassem o pequeno
pedaço de papel amassado, os olhos ergueram-se para frente.
Arregalou os olhos. Podia sentir que o coração tinha acelerado mesmo que não
tivesse pedido por isso. A expressão foi de um encanto tristonho. Ele desceu os olhos pelo
vestido que em parte combinava com suas vestes, até mesmo na máscara que usava. Não
precisava de nenhum esforço para saber quem era. Reconhecia aquele cabelo, aqueles
olhos, aquele rosto em qualquer lugar que fosse, mas em vez de chama-la pelo nome, não
conteve-se em dizer a primeira coisa que lhe veio a cabeça;
— Você é minha Julieta.
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