COSMOLOGIA E SISTEMA1
Paulo Roberto Margutti Pinto
Depto. de Filosofia da UFMG
Nossas interações com os membros do Grupo de Trabalho em Dialética se iniciaram
em maio de 2002, quando discutimos a viabilidade da dialética de inspiração hegeliana.
Dando continuidade a estas trocas intelectuais, hoje pretendemos oferecer uma alternativa à
abordagem dialética, apresentando, para tanto, as linhas bastante gerais de uma
perspectiva cosmológica inspirada no paradigma sistêmico. Tendo em conta a extensão da
proposta a ser feita, teremos de reduzir a um mínimo discussão com outros autores.
O título do presente trabalho é certamente muito ambicioso. Ele pode dar a idéia
falsa de que nos propomos a elaborar uma explicação totalizante e definitiva da evolução do
universo, através da noção de sistema. Na realidade, o que pretendemos é apresentar uma
simples conjetura sobre esta evolução. Ela será totalizante na medida do possível, sem
perder, contudo, a modéstia que deve caracterizar as explicações racionais. E nossa
exposição refletirá, acima de tudo, a perplexidade que nos afeta quando consideramos um
assunto tão grandioso e enigmático ao mesmo tempo,
A razão deste cuidado está em nossa concepção do conhecimento humano, que
parece possuir duas dimensões fundamentais, a intuitiva e a discursiva. O nosso poder de
intuição envolve indescritíveis experiências de sintonia com as coisas ou com o mundo.
Aqui, obtemos uma representação do real, mas num domínio que ultrapassa as capacidades
expressivas da linguagem. O nosso poder discursivo envolve a capacidade de descrever a 1 Publicado originalmente em Carlos Cirne Lima; Inácio Helfer; Luiz Rohden. (Orgs.). Dialética, Caos e Complexidade. São Leopoldo, RS: Editora Unisinos, 2004, v. , p. 35-60.
realidade através da linguagem. Aqui, não obtemos uma representação do real, mas um
conjunto de descrições lingüísticas do mesmo, a partir das interações com o meio ambiente.
Intuição e discurso surgem, assim, como aspectos básicos e complementares da maneira
complexa através da qual conhecemos a não menos complexa realidade. Tais aspectos
pertencem a domínios mutuamente excludentes, que não podem ser mesclados, sob pena
ou de contradição ou de reducionismo. Ambos problemas ocorrem apenas no domínio
discursivo. A contradição surge quando tentamos expressar lingüisticamente as oposições
misteriosa e maravilhosamente conciliadas que nos são dadas pela intuição. O
reducionismo surge quando tentamos explicar o domínio intuitivo através do discursivo. Na
verdade, a intuição não é verbal e não constitui o "conteúdo" do discurso, mas pode
estimular, como de fato tem historicamente estimulado, importantes formulações no domínio
deste último. Já o discurso é verbal e não "enforma" o "conteúdo intuitivo", embora possa
ser estimulado, como de fato o é, pelas experiências iluminadas e instigantes da intuição. A
filosofia participa destes dois aspectos. Enquanto manifestação do conhecimento intuitivo,
ela não possui caráter verbal e pertence ao domínio da contemplação silenciosa. Enquanto
manifestação do conhecimento discursivo, ela possui caráter verbal e pertence ao domínio
da conversação social. No primeiro caso, a filosofia pode proporcionar experiências vitais
decisivas, mas privadamente mudas; no segundo, ela proporciona apenas conjeturas mais
ou menos adequadas, embora pertençam ao domínio público.
Estas considerações se inspiram nas idéias do segundo Wittgenstein. Seguindo o
espírito das Investigações, pensamos que a palavra filosofia não se refere a uma realidade
única possuindo propriedades definidas, mas pode aplicar-se a muitas atividades diferentes,
envolvendo semelhanças de família. Tais atividades vão desde a contemplação silenciosa
do sentido da vida até a produção de textos totalmente articulados do ponto de vista
racional, como os de Aristóteles, Kant ou Hegel, sem deixar de passar pela elaboração de
2
textos de caráter mais literário, como os de Platão, Nietzsche ou Heidegger. Apesar da
diversidade e da mútua exclusão em alguns casos, estas atividades podem se
complementar umas às outras, em oposição à crença de certos pensadores, que pretendem
fornecer uma caracterização definitiva da filosofia, a qual explicitaria de uma vez por todas a
sua essência e condenaria ao erro aqueles que a rejeitassem. Um mesmo filósofo pode, por
vezes, expressar sua visão de mundo de múltiplas maneiras, como acontece com Sartre,
que recorre não só ao texto filosófico estrito, mas também ao literário. Um outro pode
apenas conversar com seus semelhantes e não escrever coisa alguma, como acontece com
Sócrates.
Tendo em vista que o presente trabalho contém uma referência à cosmologia,
convém ter em mente que isto envolve o complexo problema das relações entre filosofia e
ciência. Ora, no espírito das Investigações, também concebemos esta última como uma
rede de atividades diversas, que apresentam ares de família. Embora possamos aplicar o
nome ciência a diversas disciplinas, como a Física, a Química, a Biologia, a Matemática, a
Psicologia e a Sociologia, entre outras, cada uma delas corresponde a um ou a vários
modos específicos de lidar com o real. Não parece haver algo como a ciência, que possuiria
um conjunto de propriedades definidas e de que cada uma das disciplinas anteriormente
listadas constituiria uma manifestação. A própria cosmologia pode ser concebida de maneira
diversificada. Durante muito tempo, a palavra cosmologia se aplicou predominantemente a
um tipo especial de especulação de escritório. No século XX, contudo, principalmente a
partir dos trabalhos de Einstein e Hubble, esta palavra passou a se aplicar também a certo
tipo de atividade de caráter experimental.2 Em muitos destes casos, porém, destaca-se o
caráter conjetural das atividades que costumamos chamar de científicas. No caso específico
2 Gleiser, M. A Dança do Universo. Dos Mitos de Criação ao Big-Bang. 2 ed. S. Paulo: Cia. das Letras, 1997, p. 317-8.
3
da cosmologia experimental que acabamos de mencionar, o grau de especulação é
bastante elevado.
Enquanto manifestações do conhecimento discursivo, as diversas atividades
subsumidas pela palavra filosofia podem relacionar-se de muitos modos diferentes com as
também diversas atividades subsumidas pela palavra ciência. Um destes modos, porém,
nos interessa mais de perto. É aquele em que a atividade filosófica se associa à atividade
científica, auxiliando-a na tarefa de tentar compreender a natureza. Para que esta
associação seja possível, ambas devem possuir caráter conjetural, ou seja, ambas devem
ser falíveis e provisórias. Mas a atividade filosófica se distingue da científica pelo seu caráter
mais geral e até mesmo programático. Enquanto a ciência oferece conjeturas particulares
sobre domínios restritos, possuindo até certo ponto meios eficazes para testá-las, a filosofia
oferece conjeturas muito amplas sobre o universo como um todo. Estas conjeturas podem
ser tão amplas que os meios para testá-las ainda não estão disponíveis. Neste sentido, a
abordagem filosófica oferece não os resultados de uma investigação já estabelecida, mas
sim as linhas gerais de um programa de pesquisa a ser implementado.
No caso específico da explicação das origens e da evolução do universo, a
abordagem filosófica se aproxima da perspectiva transdisciplinar em sua versão sistêmica
interpretada monisticamente. Para esclarecer o que pretendemos dizer aqui, é preciso
inicialmente caracterizar a transdisciplinaridade.3 Isto pode ser feito contrastando-a com a
monodisciplinaridade, a multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade. A pesquisa
monodisciplinar se restringe a uma única disciplina e a um único campo de pesquisa. A
multidisciplinar trabalha com uma pluralidade de disciplinas, mas sem integrar os conceitos
e metodologias. A pesquisa interdisciplinar trabalha também com uma pluralidade de 3 Os parágrafos que seguem, relativos à transdisciplinaridade, constituem uma versão levemente modificada de um trecho de outro texto meu, intitulado Lógica e Transdisciplinaridade, a ser publicado em forma de capítulo de livro pelo IEAT da UFMG, em 2003.
4
disciplinas, só que procura integrar os conceitos e metodologias, gerando um
enriquecimento mútuo.
Quanto à transdisciplinaridade, ela pode ser entendida em pelo menos dois sentidos
principais. Em primeiro lugar, ela corresponderia a um tipo de interdisciplinaridade em que
as fronteiras entre as disciplinas envolvidas seriam superadas, gerando-se uma integração
de seus diversos conceitos e metodologias. Aqui, o prefixo trans se refere justamente à
possibilidade de ultrapassar fronteiras, em direção a uma abordagem unificada, que seja
capaz não só de articular harmoniosamente as contribuições das diversas disciplinas, mas
também de iluminar retroativamente os conceitos e metodologias de cada uma delas. Nesta
acepção, já existe um movimento em nível mundial, que realizou seu primeiro congresso em
Portugal em novembro de 1994, e que possui inclusive uma "declaração de princípios",
conhecida como Carta da Transdisciplinaridade. Em segundo lugar, a transdisciplinaridade
corresponderia a uma atitude inovadora na solução de problemas, uma atitude que
procuraria estabelecer formas de cooperação entre as diferentes partes da sociedade, para
enfrentar os complexos desafios do mundo contemporâneo. A primeira definição se aplica à
atividade de pesquisa que encontra na universidade seu ambiente natural. A segunda
convém mais à atitude política que se recomendaria para a solução seja dos problemas
internos de um único país, seja dos problemas gerados pelas relações entre países.
A nosso ver, estas duas caracterizações da transdisciplinaridade envolvem
atividades que se complementam. É verdade que a base científica de ambas se encontra na
pesquisa transdisciplinar acadêmica. Dali surgem as perspectivas teóricas que permitirão
novas abordagens das questões complexas. Mas, enquanto atitude política que se beneficia
das abordagens teóricas ao utilizá-las na solução inovadora dos problemas da sociedade, a
transdisciplinaridade no segundo sentido acaba retroagindo frutiferamente sobre a atividade
universitária, motivando-a para a criação de novos conceitos e metodologias. Nos dois
5
casos, a transdisciplinaridade nada mais é do que uma tentativa articulada de enfrentar a
complexidade gerada pelo grande número de novas disciplinas que a cada momento são
acrescentadas ao conjunto do saber contemporâneo. Este crescimento disciplinar
desmedido exige o uso de novas ferramentas de pensamento para estabelecer pontos de
contato entre as diversas áreas do conhecimento humano.
Um aspecto importante a ser destacado aqui é que, para efetuar a árdua tarefa de
ultrapassar fronteiras e articular harmonicamente as diversas disciplinas, a abordagem
transdisciplinar precisa de um conjunto de princípios teóricos e metodológicos que permitam
um enfoque unificado. Caso contrário, estaríamos diante de mais uma forma de
multidisciplinaridade sem qualquer integração ou, na melhor das hipóteses, de uma forma
de interdisciplinaridade com integração apenas parcial, mitigada. De acordo com Nicolescu,
os princípios que tornam possível a transdisciplinaridade são três: a aceitação de que a
realidade possui níveis, a adoção da lógica do terceiro incluído e o apelo à complexidade.
Com respeito ao primeiro destes princípios, a própria Carta da Transdisciplinaridade,
redigida em 1994 por Lima de Freitas, Edgar Morin e Basarab Nicolescu, afirma, no Artigo 2:
"O reconhecimento de diversos níveis de realidade, regidos por lógicas diferentes, é
inerente à atitude transdisciplinar. Toda tentativa de reduzir a realidade a um único
nível, regido por uma única lógica, não se situa no campo da transdisciplinaridade".4
Aqui, a expressão níveis de realidade deve ser tomada em sentido estrito, significando a
existência de uma verdadeira multiplicidade no interior da própria realidade. Não se trata dos
chamados níveis de organização, característicos da interpretação monista da abordagem
sistêmica, em que cada nível superior emerge do imediatamente inferior, mas todos seguem
as mesmas leis gerais. Em seu artigo Os três pilares da transdisciplinaridade, Henagulph
4 Lima de Freitas, Edgar Morin & Basarab Nicolescu. Charte de la Transdisciplinarité. Disponível em <http://perso.club-internet.fr/nicol/ciret>. Acesso em 12 Jan. 2003.
6
cita, como defensores desta última perspectiva, Arthur Koestler, Ken Wilber, Gerhard
Grössing e Alwyn Scott.5 À lista destes autores poderíamos acrescentar Fritjof Capra. De
acordo com Nicolescu, esta interpretação da abordagem sistêmica não exige mais do que
um único nível de realidade, já que as leis que os regem não variam. Para ele, a perspectiva
quântica, por exemplo, representa um nível de realidade totalmente diverso do clássico. Na
primeira, com efeito, o determinismo causal e a localidade são desrespeitadas, embora
constituam leis fundamentais da física clássica. Nicolescu admite outros níveis de realidade,
submetidos a leis próprias, como os estágios transpessoais.
O segundo princípio, a lógica do terceiro incluído, formalizada pelo romeno Stéphane
Lupasco, é invocado por Nicolescu para lidar com as contradições geradas pela admissão
destes diferentes níveis de realidade.6 Ao contrário da lógica bivalente clássica, que não
permite a contradição, a lógica do terceiro incluído enfrenta o problema admitindo que entre
A e ~A existe um valor intermediário, o qual inclui os extremos. Isto permite não só manter a
força da contradição, mas também estabelecer uma articulação harmoniosa com a proposta
de diferentes níveis de realidade. Com efeito, uma oposição forte entre A e ~A (contradição),
num determinado nível, pode ser superada pela passagem a um outro nível, em que esta
oposição desaparece através de um novo estado T (terceiro incluído). Por exemplo, aquilo
que aparece, no nível clássico, ora como onda (A), ora como partícula (~A), gerando
contradição (A e ~A), torna-se, no nível quântico, algo que poderíamos chamar um
"quanton" (T, terceiro incluído, sem contradição). Este terceiro termo, T, por sua vez, pode
5 Henagulph, S. The Three Pillars of Transdisciplinarity. Disponível em <http://www. goodshare.org/pillars.htm>. Acesso em 12 Jan. 2003. A inclusão de Wilber neste grupo, porém, não nos parece muito justa, pois este autor, quando trata do espírito, parece admitir também a existência de níveis diferentes de realidade. 6 Ver Nicolescu, B. Gödelian Aspects of Nature and Knowledge. Disponível em <http://www.perso.club-internet.fr/nicol/ciret>. Acesso em 12 Jan. 2003. Ver também Henagulph, S. The Three Pillars of Transdisciplinarity. Disponível em <http://www.goodshare.org/pillars.htm>. Acesso em 12 Jan. 2003.
7
gera uma nova contradição entre A1 e ~A1, por exemplo, que deverá ser resolvida em um
novo nível de realidade, T1, por exemplo, e assim por diante. A natureza passa a ser vista
como uma unidade aberta, possuindo níveis. Nicolescu chega mesmo a dizer que a
estrutura da realidade é gödeliana, no sentido de que nunca seremos capazes de construir
uma teoria completa para descrever a passagem de um nível a outro e para descrever a
unidade dos níveis da realidade.7
O terceiro princípio da transdisciplinaridade corresponde ao paradigma dos sistemas,
que surgiu no século XX e envolve a aplicação dos conceitos de caos, de complexidade e
das ciências não-lineares.8 De acordo com Henagulph, este paradigma acabou com todas
as nossas esperanças de descrever e controlar a natureza em termos simples. Embora já
tenha revolucionado nossa compreensão da natureza em diversos setores, como, por
exemplo, o estudo de sistemas caóticos e da organização dos sistemas vivos, o paradigma
ainda não foi efetivamente testado nas esferas social e política.9 Este teste constitui talvez o
seu maior desafio no momento presente.
Como se pode inferir da exposição que acabamos de fazer, embora haja muitos
pontos de concordância entre os autores citados, ainda há alguma controvérsia quanto à
maneira mais adequada de compreender a abordagem transdisciplinar. A mais importante
delas parece estar na oposição entre a ontologia pluralista de Nicolescu e a ontologia
monista de Capra, por exemplo. É verdade que Nicolescu e seus seguidores reservam a
denominação transdisciplinar apenas para o seu enfoque, cujos "três pilares" anteriormente
citados apontam em direção a uma abordagem unificada das diversas disciplinas, tanto do
7 Nicolescu, B. Gödelian Aspects of Nature and Knowledge. Disponível em <http://www.perso.club-internet.fr/nicol/ciret>. Acesso em 12 Jan. 2003. 8 Tendo em vista a enorme complexidade da do paradigma dos sistemas e o pouco espaço de que dispomos, remetemos o leitor interessado em mais detalhes ao livro Capra, F. The Web of Life. A New Synthesis of Mind and Matter. London: Flamingo, an Imprint of Harper Collins Publishers, 1997. 9 Henagulph, S. The Three Pillars of Transdisciplinarity. Disponível em <http://www.goodshare.org/pillars.htm>. Acesso em 12 Jan. 2003.
8
ponto de vista teórico como metodológico. Mas é também verdade que a interpretação
monista da perspectiva sistêmica aponta igualmente em direção a uma abordagem unificada
das diversas disciplinas, ultrapassando as fronteiras destas últimas através de princípios
teóricos e metodológicos específicos. Sob este ponto de vista, a perspectiva de Capra
também possui um caráter nitidamente transdisciplinar.
Além disso, não é inteiramente verdadeira a afirmação de Nicolescu de que as leis
gerais da interpretação monista são as mesmas para todos os níveis. Para esclarecer esta
afirmativa, basta lembrar os princípios gerais de funcionamento da abordagem sistêmica. De
acordo com eles, certos objetos, pertencentes a um dado nível sistêmico e de conformidade
com as leis do mesmo, entram espontaneamente em determinadas relações e com isto
geram um sistema auto-organizado, cuja principal função é a auto-preservação. Isto
significa, em última instância, que o sistema possui certas propriedades emergentes, as
quais não podem ser explicadas apenas pelas propriedades das partes que o constituem. A
auto-organização é uma manifestação das propriedades emergentes num dado nível. Deste
modo, o sistema passa a pertencer a um nível mais elevado do que o dos objetos e relações
que o constituíram. Neste novo nível, o sistema gerado pode entrar em relação com outros
sistemas semelhantes a ele, dando origem a um novo sistema auto-organizado, que
pertencerá a um nível mais elevado ainda e assim por diante. Isto permite qualificar a crítica
de Nicolescu, pois, embora as leis dos níveis sistêmicos inferiores sejam gerais porque são
sempre válidas para os níveis mais elevados, as leis específicas de um dado nível são
próprias apenas àquele nível e aos superiores, não se aplicando aos inferiores. Cada nível
superior possui uma complexidade que emerge do imediatamente inferior e que não é mais
explicável apenas pelas leis vigentes naquele nível inferior.
Neste ponto, é importante observar que a interpretação monista do tipo defendido
por Capra não é a única possível. A dialética de inspiração hegeliana também oferece uma
9
ontologia monista que poderia ser utilizada numa explicação de caráter transdisciplinar da
evolução do universo. E esta explicação poderia tornar-se bastante sofisticada através
introdução de conceitos próprios à abordagem sistêmica. Este parece ser o programa de um
grupo de dialéticos brasileiros, sob a liderança de Carlos Cirne Lima.
De qualquer modo, esperamos ter deixado claro que o ponto de convergência entre
as três abordagens transdisciplinares mencionadas está no uso da metodologia ligada ao
paradigma sistêmico. Isto sugere que este último de fato constitui um dos eixos principais da
atual pesquisa transdisciplinar.
Uma vez caracterizada a transdisciplinaridade, podemos agora explicar em que
medida a filosofia, enquanto associada à ciência da natureza, se aproxima desta abordagem
pelo viés sistêmico. Conforme vimos, a ambição da abordagem transdisciplinar está na
construção de uma visão unitária da realidade como um todo, rompendo as fronteiras que
separam as diversas disciplinas. Isto envolve um programa de ação e pesquisa de caráter
unitário que se baseie numa perspectiva bastante geral. Ora, estas são, conforme vimos, as
marcas da filosofia enquanto associada à atividade científica no projeto de compreender a
natureza em sua totalidade. Como o paradigma sistêmico parece constituir o eixo principal
da transdisciplinaridade, fica claro que a filosofia se aproxima efetivamente da abordagem
transdisciplinar e que o faz através do referido eixo.
Além disso, pensamos que a melhor opção para a filosofia associada à atividade
científica se encontra no paradigma sistêmico de caráter monista. Isto se justifica quando
tentamos resolver o problema de definir a base teórica mais adequada para romper as
fronteiras disciplinares: devemos adotar uma ontologia pluralista, em que níveis diferentes
significam realidades diferentes, ou devemos adotar uma ontologia monista, em que há
apenas estágios diferentes da mesma realidade? Em nossa opinião, a alternativa a ser
testada inicialmente deve ser a mais simples, que no caso envolve uma ontologia monista.
10
Com efeito, a perspectiva pluralista proposta por Nicolescu tenderá a multiplicar
desnecessariamente as entidades que constituem o real cada vez que deparar com uma
dicotomia insuperável num dado nível. Em contraposição, a abordagem sistêmica monista
evitará esta multiplicação de entidades, apelando a uma diversidade de níveis ou estágios
da mesma realidade. Com tal procedimento, ela poderia oferecer uma explicação mais
econômica da transição que ocorre nas regiões nas quais as "ciências da natureza"
tangenciam as "ciências do espírito", embora ainda não saibamos ao certo se a explicação
dos fenômenos ligados às últimas pode ser feita através de propriedades emergentes de
fenômenos ligados às primeiras. Cabe observar, porém, que a mecânica quântica aponta
nesta direção, pois parece conferir à matéria um dinamismo que ela nunca teve na física
clássica, permitindo melhores alternativas de aproximação entre o "físico" e o "mental".10
Isto coloca as explicações de tipo monista em posição de vantagem. Qual seria, porém, a
melhor dentre elas? A perspectiva monista da abordagem dialética, proposta por Cirne Lima,
padece de problemas lógicos de difícil solução, conforme procuramos mostrar em um
trabalho anterior.11 Já a interpretação monista da abordagem sistêmica, como a de Capra,
oferece a vantagem de despojar a ontologia e manter, na medida do possível, como
veremos a seguir, a lógica bivalente clássica, tornando dispensável a lógica dialética ou a do
terceiro incluído.
Sabemos que o maior problema gerado pela tentativa de romper fronteiras entre
disciplinas está em enfrentar as inevitáveis oposições que surgem quando domínios
heterogêneos são sobrepostos ou simplesmente colocados lado a lado. A lógica binária,
10 Ver, a este respeito, Penrose, R. Shadows of the Mind. A Search for the Missing Science of Consciousness. Reading, Berkshire: Vintage, 1995. Ver também Penrose, R. A mente nova do rei: computadores, mentes e as leis da física. Rio: Campus, 1993. 11 Pinto, P. R. M. Dialética, Lógica Formal e Abordagem Sistêmica. In: Cirne Lima, C. & Rohden, L. (Orgs.). Dialética e Auto-organização. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2003, Col. Idéias, vol. 11, p. 57-108.
11
seja ela aristotélica ou fregiana, não parece ser capaz de lidar eficazmente com esta
situação, pois os princípios que nela imperam, como o de não contradição e o do terceiro
excluído, são muito rígidos para admitir as situações ambíguas criadas pela atitude
transdisciplinar.
Com o objetivo de resolver este problema, Nicolescu, como vimos, adota a lógica do
terceiro incluído, em que a oposição encontrada num dado nível de realidade é superada em
um outro nível de realidade. Os partidários da dialética, por sua vez, adotam a lógica do
movimento gerado pela contradição em direção à síntese, em que a oposição encontrada
numa dada fase do processo histórico é superada através do aparecimento de uma nova
fase. Esta não só reúne os opostos da fase anterior, mas também prepara o aparecimento
de nova oposição que dará continuidade ao processo histórico. Estas não são, porém, as
únicas maneiras de resolver o problema. Além delas, a lógica contemporânea oferece
inúmeras alternativas não-clássicas, como a adoção de um sistema trivalente, um
paraconsistente ou um impreciso (fuzzy). Todos eles são capazes de enfrentar com sucesso
as inúmeras oposições geradas nos complexos domínios da realidade que a ciência
contemporânea estuda. A lógica trivalente, por exemplo, parece ser mais adequada não só
para o estudo de conjuntos de proposições que incluam futuros contingentes, mas também
para explicar certos experimentos em mecânica quântica. Em 1944, Reichenbach
argumentou que, se usarmos a lógica clássica na mecânica quântica, algumas
conseqüências inaceitáveis se seguirão, sob a forma de 'anomalias causais'. Imaginemos,
por exemplo, uma radiação de luz que é emitida por uma fonte, passa por um diafragma
contendo um único furo e é projetada numa tela. Se a radiação é interpretada como
partícula, obtemos uma descrição normal, pois a tela relampeja em um único ponto. Se,
porém, a radiação é interpretada como onda, obtemos uma anomalia causal, pois a tela não
12
deveria relampejar em um único ponto.12 Adotando uma lógica de três valores, poderíamos
superar esta dificuldade, pois nela as proposições que expressam tais anomalias nunca
serão verdadeiras, pois terão um valor intermediário. Coisa semelhante aconteceria no caso
dois outros sistemas mencionados. A lógica paraconsistente, em suas últimas versões,
oferece um algoritmo para-analisador, que pode ser aplicado a sistemas especialistas
capazes de enfrentar situações em que ocorram incertezas, indefinições e contradições.13
Este algoritmo poderia ser utilizado para enfrentar as anomalias causais citadas por
Reichenbach, já que a radiação seria interpretada simultaneamente como partícula e como
onda e um dos resultados finais admissíveis seria o relampejar da tela em um único ponto,
indicando o comportamento de partícula. A lógica imprecisa parece possuir um desempenho
semelhante ao da paraconsistente, pois também cria algoritmos capazes de enfrentar
domínios da realidade em que ocorram indefinições, imprecisões e contradições. Esta lógica
não só adota um número infinito de valores-verdade, mas também admite superposições
entre eles. Assim, ao receber os dados de entrada, ela os torna imprecisos, atribuindo-lhes
mais de um valor-verdade e superpondo tais valores. Todavia, através de cálculos
especializados que envolvem o apelo a diversos tipos de médias matemáticas, ela é capaz
de retornar um resultado preciso, obtendo um dado único de saída que seja adequado aos
correspondentes dados de entrada.14 No caso das anomalias causais mencionadas, a lógica
imprecisa admitiria inicialmente como sendo em parte verdadeiro que a radiação é partícula
e em parte verdadeiro que a radiação é onda. As duas situações possíveis teriam valores-
12 Reichenbach, H. Philosophic Foundations of Quantum Mechanics. Berkeley and Los Angeles: Un. of California Press, 1944, p. 24-32, 41, 144, 160-6. Apud Haack, S. Deviant Logic. Beyond the Formalism. Chicago and London: The Un. of Chicago Press, 1996, p. 149 ss. 13 Ver da Costa, N. A. C. Lógica Paraconsistente Aplicada. S. Paulo: Atlas, 1999, p. 121 ss. 14 Ver Kaehler, S. D. Fuzzy Logic. An Introduction. Disponível em <http://www. seattlerobotics.org/encoder/mar98/fuz/flindex.html>. Acesso em 12 Jan. 2003. A Lógica Paraconsistente Aplicada de Newton da Costa também pode utilizar infinitos valores-verdade, oferecendo um desempenho semelhante ao da lógica imprecisa. Ver da Costa, N. A. C. Lógica Paraconsistente Aplicada. S. Paulo: Atlas, 1999, Cap. 3, p. 33-86.
13
verdade específicos e, através do cálculo da média matemática destes valores, a lógica
imprecisa determinaria um valor único de saída, que poderia ser o relampejar da tela em um
único ponto, indicando o comportamento de partícula.
Para resolver o mesmo problema das oposições, diferentemente do que ocorre nos
casos anteriores, a abordagem sistêmica monista pode utilizar a estratégia da
complementaridade. De acordo com esta última, certos fenômenos são tão complexos que
envolvem a atribuição de propriedades opostas à mesma entidade. Para evitar cair na
contradição resultante da admissão de tal fato, esta estratégia tenta fazer uma descrição
diferente para cada pólo da oposição, obtendo duas descrições complementares e
mutuamente excludentes, as quais não podem ser superpostas nem mescladas. Deste
modo, o fenômeno complexo que envolve oposições pode ser abordado sem contradição,
pois a descrição de cada uma de suas propriedades tem validade num domínio que não
possui pontos de contato com o domínio de validade da propriedade oposta. Mesmo assim,
a oposição observada pode impulsionar a emergência de uma nova entidade, pertencente a
um nível sistêmico imediatamente superior. Esta estratégia foi inicialmente proposta por
Bohr para lidar com a dualidade onda/partícula, característica dos objetos quânticos. Através
do que chamou princípio da complementaridade, Bohr estabeleceu que a descrição como
onda e a descrição como partícula são duas versões igualmente possíveis, embora
mutuamente excludentes, de como um dado objeto quântico se revela ao observador. Onda
e partícula são duas formas complementares de existência, que se manifestam apenas
depois que o objeto quântico entrou em contato com o observador. Antes deste contato, o
objeto não é onda nem partícula, mas algum tipo de realidade potencial.15
15 Gleiser, M. A Dança do Universo. Dos Mitos de Criação ao Big-Bang. 2 ed. S. Paulo: Cia. das Letras, 1997, p. 306.
14
Como se pode ver, a contradição não é eliminada ou superada na estratégia da
complementaridade, mas logica e metodologicamente "administrada" através da proibição
de mesclar os domínios das descrições opostas. A vantagem deste procedimento está em
que a lógica bivalente clássica pode ser preservada em cada uma das descrições, ficando a
contradição como algo linguisticamente inexprimível, já que se localiza no "ponto cego" que
contempla a complementaridade das descrições opostas. Deste modo, a contradição pode
constituir o motor que produz a emergência de novos níveis sistêmicos, sem as indesejáveis
seqüelas que usualmente resultam de sua admissão numa explicação racional. Não
precisamos aqui do exagerado pluralismo ontológico postulado pela lógica do terceiro
incluído nem da excessiva universalidade da logicamente problemática evolução dialética.
Nesta perspectiva, a abordagem sistêmica em sua versão monista segue o espírito da
conhecida navalha de Ockham e revela-se mais simples e econômica do que as anteriores,
pois conserva a lógica binária clássica como fundamental e precisa de apenas dois pilares
para sustentar-se: a complexidade e a complementaridade. Quanto aos demais sistemas
lógicos não-clássicos mencionados, eles não são de modo algum rejeitados. Seu uso é
apenas postergado. Eles ainda podem ser utilizados em níveis sistêmicos nos quais se
façam necessários, embora não constituam a lógica fundamental da abordagem em sua
explicação da evolução do universo.
Os aspectos favoráveis acima relacionados justificam nossa escolha da abordagem
sistêmica monista, associada à metodologia da complementaridade, como a mais adequada
para o empreendimento transdisciplinar. Aplicando-a à cosmologia, teríamos condições de
explicar a história do universo, desde a grande explosão até o aparecimento da complexa
biosfera terrestre. Esta explicação seria monista, baseada na lógica bivalente clássica e
utilizaria o conceito de auto-organização para mostrar como emergiram, a partir do "ovo"
inicial, os diversos níveis de complexidade do universo em que vivemos. E a perspectiva
15
adotada envolveria não só a cosmologia científica, mas também a cosmologia em sentido
filosófico, dada a sua generalidade, o grau de especulação que ela implica e a sua ambição
transdisciplinar de caráter totalizante.
A cosmologia sistêmica que estamos aqui propondo teria que dar conta, em linhas
gerais, da seguinte história do universo. Com base na descoberta, feita por Hubble, na
década de 20, de que as galáxias estão se afastando umas das outras, podemos supor que
elas devem ter estado bem próximas no passado. Os cálculos feitos a partir da atual taxa de
expansão do universo indicam que esta proximidade foi máxima há cerca de quinze bilhões
de anos.16 Stephen Hawking e Roger Penrose conseguiram mostrar que, de acordo com o
modelo matemático da relatividade geral, toda a matéria que podemos ver teve sua origem
em um tempo finito numa região do espaço cujas dimensões são extremamente
pequenas.17 Em outras palavras, eles conseguiram mostrar que o universo e o tempo
tiveram início numa grande explosão, num ponto de densidade infinita.18 A hipótese de
ambos parece aproximar-se da proposta feita em 1935 por Gamov, tal como descrita por
Marcelo Gleiser.19 De acordo com Ervin Laszlo, o modelo matemático proposto é tal que não
faz sentido perguntar, por exemplo, sobre o que aconteceu antes da grande explosão.20
Após a grande explosão, no curtíssimo período que vai do instante zero até um
segundo, diversas interações quânticas ocorreram, preparando as uniões de prótons e
neutrons em núcleos de elementos leves, como o hidrogênio, o hélio e o deutério. Três
minutos após a explosão, os primeiros átomos destes elementos leves se formaram. Isto
está de acordo com a hipótese de Gamov, para quem a nucleossíntese estelar seria
16 Hawking, S. O Universo numa Casca de Noz. S. Paulo: Arx, 2001, p. 76. 17 Hawking, S. O Universo numa Casca de Noz. S. Paulo: Arx, 2001, p. 41. 18 Hawking, S. O Universo numa Casca de Noz. S. Paulo: Arx, 2001, p. 79. 19 Gleiser, M. A Dança do Universo. Dos Mitos de Criação ao Big-Bang. 2 ed. S. Paulo: Cia. das Letras, 1997, p. 378. 20 Laszlo, E. Conexão Cósmica. Petrópolis: Ed. Vozes, 1999, p. 29.
16
insuficiente para explicar a abundância de elementos mais leves no universo. Tais
elementos devem ter sido produzidos nos primeiros instantes após a grande explosão.21
Trezentos mil anos depois, o universo, até então oticamente denso, se tornou transparente à
radiação cósmica de fundo. Um bilhão de anos depois, os aglomerados de matéria,
formados a partir da ação gravitacional, deram origem a quasares, estrelas e protogaláxias.
As estrelas, em sua evolução, começaram a sintetizar núcleos de elementos mais
pesados.22 Estes últimos, para serem produzidos, exigem que pedaços de matéria nuclear
sejam colocados muito próximos uns dos outros, para que as forças nucleares, que
possuem alcance reduzido, possam operar. Isto só pode acontecer em temperaturas de
dezenas de milhões de graus, nas quais as partículas de movem tão rapidamente que não
dão tempo às forças repulsivas para agir. Ora, tais temperaturas só acontecem no interior
das estrelas.23 Quinze bilhões de anos depois, as galáxias atuais foram formadas, com
sistemas solares orbitando em redor das estrelas e com o aparecimento da vida, através do
aparecimento de moléculas mais complexas.24 A grande explosão deve ter ocorrido há dez
ou quinze bilhões de anos atrás porque o universo deve ser suficientemente velho para que
algumas estrelas já tenham completado sua evolução, produzindo elementos mais pesados,
como o carbono e o oxigênio, e para que outras estrelas mais novas ainda estejam
fornecendo energia, de modo que possa haver vida inteligente como a nossa em pelo
menos um dentre os inúmeros planetas possíveis que orbitam tais estrelas.25
A duração da evolução acima usa como um de seus critérios o chamado princípio
antrópico, segundo o qual o universo é da maneira que é, pelo menos em parte, porque nós
21 Gleiser, M. A Dança do Universo. Dos Mitos de Criação ao Big-Bang. 2 ed. S. Paulo: Cia. das Letras, 1997, p. 370-1. 22 Hawking, S. O Universo numa Casca de Noz. S. Paulo: Arx, 2001, p. 78. 23 Sagan, C. Cosmos. Rio: Livraria Francisco Alves Editora S. A., 1992, p. 225. 24 Sagan, C. Cosmos. Rio: Livraria Francisco Alves Editora S. A., 1992, p. 78. 25 Sagan, C. Cosmos. Rio: Livraria Francisco Alves Editora S. A., 1992, p. 86.
17
existimos da maneira que existimos. Este princípio é importante o suficiente para que nos
detenhamos na consideração de seus aspectos mais significativos. Alguns físicos
argumentam que as propriedades das partículas atômicas, as reações nucleares no interior
das estrelas e as forças cósmicas que moldam o universo como um todo parecem ter sido
ajustadas para que a vida exista. Talvez o universo tenha sido estruturado desde o início de
forma a garantir o aparecimento de vida inteligente. Assim, de uma forma ainda não
adequadamente estabelecida, o universo parece exigir a existência de vida inteligente. Esta
constatação constitui o cerne do princípio antrópico, que começou a despertar o interesse
da comunidade científica no início da década de 70, quando o físico Brandon Carter
observou que pequenas mudanças nas constantes fundamentais da física, como a
velocidade da luz, a carga do elétron e a constante gravitacional, tornariam a vida
impossível.26 Para Tom Siegfried, a afirmação de que o universo deve ter propriedades que
tornem a vida possível é tautológica, pois só foi enunciada porque existe alguém para
enunciá-la.27 Acreditamos, contudo, que a afirmação do princípio antrópico envolve antes
alguma forma de circularidade que pode tornar-se incômoda quando a interpretamos de
maneira muito forte. A este respeito, John Barrow e Frank Tipler fornecem três definições do
princípio antrópico que merecem ser citadas para esclarecer nosso pensamento.
Princípio antrópico fraco: "os valores observados de todas as grandezas físicas e
cosmológicas não são arbitrários, mas respeitam a exigência de que existam locais onde a
vida que tem como base o carbono possa existir e a exigência de que o universo seja
suficientemente antigo para que a vida já tenha surgido".
Princípio antrópico forte: "as propriedades do universo devem ser tais que a vida se
desenvolva em algum ponto de sua história".
26 Siegfried, T. O Bit e o Pêndulo. A Nova Física da Informação. Rio: Ed. Campus, 2000, p. 154. 27 Siegfried, T. O Bit e o Pêndulo. A Nova Física da Informação. Rio: Ed. Campus, 2000, p. 155.
18
Princípio antrópico final: "o processamento inteligente de informações deve surgir no
universo e, depois que surgir, jamais desaparecerá".28
Das três definições acima, a primeira está em consonância com o caráter da
investigação científica contemporânea, pois baseia-se no fato incontestável de que
existimos sob a forma de organismos compostos de moléculas de carbono e vivemos num
planeta determinado que orbita ao redor de uma estrela com características específicas.29
Qualquer descrição adequada da formação do universo deverá levar em conta este fato. Isto
não significa, porém, que um cosmo sem vida seja impossível. O que o princípio antrópico
implica, em sua versão fraca, é que o universo em que vivemos possui uma estrutura tal que
a descrição de sua origem e evolução deve levar em conta o fato de nossa existência nele,
embora este universo não seja o único possível. Já a segunda definição é muito ambiciosa,
pois, a partir do fato de que existe vida inteligente no universo, conclui que a descrição de
sua formação deve necessariamente incluir propriedades favoráveis ao aparecimento e
desenvolvimento da vida. Isto significa que um cosmo sem vida seria impossível. A terceira
definição é mais ambiciosa ainda, pois, a partir da constatação da existência de vida
inteligente, conclui que a descrição da formação do universo deve incluir propriedades
favoráveis não só ao aparecimento e desenvolvimento dela, mas também à sua
perpetuação. As duas últimas definições supõem que, se existe vida inteligente no universo,
então ela deve existir e o universo deve ser tal que possibilite o seu aparecimento. Elas são
claramente antropocêntricas e ultrapassam os limites do que podemos conhecer sobre o
assunto.
28 Barrow, J. D. & Tipler, F. J. The Anthropic Cosmological Principle. N. York: Oxford Un. Press, 1986, p. 16-23. Apud Siegfried, T., Siegfried, T. O Bit e o Pêndulo. A Nova Física da Informação. Rio: Ed. Campus, 2000, p. 156. 29 Siegfried, T. O Bit e o Pêndulo. A Nova Física da Informação. Rio: Ed. Campus, 2000, p. 156-7.
19
Isto nos leva a um outro motivo para preferir a abordagem sistêmica de caráter
monista às outras alternativas apresentadas. Suspeitamos, embora não tenhamos certeza,
que tanto a perspectiva transdisciplinar de Nicolescu, que postula uma ontologia plural
baseada em diferentes níveis de realidade, como a perspectiva dialética de inspiração
hegeliana, que postula uma ontologia monista autofundante, se acham ocultamente
influenciadas pelas versões mais fortes do princípio antrópico. Com efeito, o tom geral de
suas formulações sugere que elas implicitamente estejam acatando a idéia de que se existe
vida no universo, então ela existe necessariamente e a cosmologia deve ser estruturada de
modo a possibilitar o seu surgimento.
Retornemos, porém, ao nosso argumento principal. A aplicação da abordagem
sistêmica monista ao modelo cosmológico acima delineado envolveria uma tentativa de
explicar a evolução do cosmo através do surgimento espontâneo de sistemas auto-
organizados, que se distribuiriam, através da complementaridade, em níveis de
complexidade cada vez maior. Assim, em linhas bastante gerais, desde a grande explosão
até o surgimento de pelo menos um sistema solar como o nosso, que inclui a complexidade
da biosfera, a abordagem sistêmica teria de ser capaz de mostrar que: 1) as interações
quânticas que ocorreram no primeiro segundo após a grande explosão teriam feito emergir
os primeiros sistemas auto-organizados, sob a forma de prótons, elétrons, neutrons, fótons e
núcleos de elementos leves; 2) os primeiros átomos dos elementos leves seriam os
próximos sistemas auto-organizados a emergir, cerca de três minutos após a grande
explosão; 3) as estrelas, quasares e protogaláxias seriam os sistemas auto-organizados que
emergiriam em seguida, através da ação gravitacional, cerca de um bilhão de anos depois;
4) os elementos mais pesados, as galáxias atuais e sistemas solares como o nosso, em que
há vida, constituiriam os novos sistemas auto-organizados que emergiriam nos quinze
bilhões de anos seguintes. Nesta perspectiva, o aparecimento da vida em nosso planeta não
20
constituiria um milagre inexplicável, mas sim uma parte integrante da história do universo.
No mesmo espírito, Carl Sagan chega a dizer, por exemplo, que uma galáxia é uma
entidade dinâmica, quase orgânica, lembrando, em certos aspectos, um organismo
multicelular.30 O princípio antrópico fraco seria utilizado como critério para determinar a
duração total e certos aspectos da evolução sistêmica do cosmo, de modo que ele pudesse
atingir de maneira justificada um estágio em que fosse suficientemente maduro e complexo
de modo a permitir a existência de vida em sistemas solares semelhantes ao nosso. E a
história deste processo como um todo deveria ser tal que, embora não fôssemos capazes
de prever o futuro a partir do presente, pudéssemos pelo menos reconstruir o passado a
partir do presente. Isto significa que o cosmo em sua fase atual não seria resultado de uma
evolução necessária a partir de um "ovo" inicial, mas que cada estágio teria emergido
contingentemente a partir de um grande leque de possibilidades. Assim, apesar de sermos
capazes de reconstruir o passado desta evolução com base em um determinado momento
de sua história, não poderíamos prever com segurança para onde ela caminhará a partir
deste momento. O físico Stephen Hawking diz que, ao contrário do que pensava Einstein,
Deus é um grande jogador e o universo é um imenso cassino.31 Não percebemos isto de
imediato porque as probabilidades que caracterizam o minúsculo nível quântico produzem
uma impressão de estabilidade quando passamos para os efeitos destas probabilidades,
que se manifestam nos imensos agrupamentos de átomos e partículas do nível clássico. No
imenso cassino cósmico, o número de apostas é muito grande e isto faz com que a média
dos resultados possa ser prevista, embora o resultado de uma aposta individual permaneça
imprevisível.
30 Sagan, C. Cosmos. Rio: Livraria Francisco Alves Editora S. A., 1992, p. 251. 31 Hawking, S. O Universo numa Casca de Noz. S. Paulo: Arx, 2001, p. 79.
21
A realização das ambiciosas pretensões da abordagem sistêmica monista
certamente é bastante difícil, mas não parece impossível. O conceito de auto-organização,
fundamental nesta abordagem, aplica-se muito bem ao nosso cotidiano, formado por
sistemas macroscópicos. Os mecanismos implicados por alguns destes sistemas, como, por
exemplo, o climático e os dos seres vivos, tornaram-se muito mais claros com a aplicação
do paradigma sistêmico. Nesta perspectiva, a explicação dos seres vivos como sistemas
autopoiéticos em acoplamento estrutural com o ambiente constitui um significativo avanço
em direção a uma compreensão melhor dos fenômenos biológicos. Com o auxílio desta
hipótese, talvez possamos construir modelos mais adequados para dar conta das interações
que ocorrem em comunidades de seres vivos e na biosfera ou para explicar a maneira pela
qual os seres vivos dotados de sistema nervoso são capazes de perceber qualidades
sensoriais ou qualia. Mesmo assim, há dificuldades bastante sérias que devem ser
enfrentadas não só pela interpretação monista, mas por qualquer tipo de abordagem
sistêmica.
Uma delas diz respeito ao fato de que o conceito de propriedade emergente é
controverso. Nem sempre é fácil mostrar que uma propriedade deste tipo efetivamente
surgiu e, por causa disto, muitas vezes a aplicação do conceito deixa de ser rigorosa. Isto
compromete a noção de nível sistêmico e reforça a posição reducionista e mecanicista que
ainda constitui o apanágio da mecânica quântica e da relatividade geral. O problema se
agrava porque toda a evolução cosmológica acima descrita, que percorre a formação de
partículas atômicas, de todos os elementos da tabela periódica, de moléculas inorgânicas
mais complexas, de estrelas, de galáxias e sistemas solares, toda esta evolução pode ser
explicada em termos estritamente reducionistas. Uma das grandes exceções é representada
pelo fenômeno do aparecimento da vida, que tem-se mostrado mais refratário a tal tipo de
explicação. Em virtude disto, o defensor do reducionismo mecanicista pode argumentar que
22
sua abordagem tem sido muito bem sucedida nos mais variados domínios para ser
abandonada e que é plenamente justificável continuar tentando aplicá-la aos fenômenos
mais renitentes, na expectativa de que um dia eles sejam também domados. Neste caso, a
adoção da abordagem sistêmica será vista como uma complicação desnecessária, cuja
adoção levaria a pagar o preço representado por aplicações pouco rigorosas do conceito de
auto-organização.
Para superar esta dificuldade, Capra pensa ser necessário alterar nosso conceito de
conhecimento científico. Temos de vê-lo como uma rede de conceitos e modelos, na qual
não há uma parte que seja propriamente mais importante do que as outras. Esta é o
princípio fundamental da filosofia bootstrap, que surgiu na década de 1970. Esta filosofia
abandona a idéia de blocos constitutivos da matéria e rejeita quaisquer entidades
fundamentais, como, por exemplo, constantes matemáticas, leis ou equações. O universo é
considerado uma rede dinâmica de eventos interrelacionados. Cada propriedade de uma
parte da rede se segue das demais propriedades das outras partes da rede. Só com esta
mudança conceitual revolucionária seria possível, na opinião de Capra, deixar de ver a física
como o nível mais fundamental da ciência. Isto afetaria também o nosso conceito de
objetividade científica, que, na perspectiva cartesiana da física clássica, considera o objeto
de conhecimento independente do sujeito conhecedor. Adotando a nova perspectiva,
passaríamos a ver o objeto e o sujeito como dependentes um do outro na relação
cognitiva.32 Esta mudança de atitude, contudo, ainda não aconteceu e tudo indica que
haverá muito debate entre os cientistas antes que ela se torne predominante. Uma
ilustração bastante interessante desta controvérsia está nas críticas de Bricmont a Prigogine
e Stengers. Estes últimos defendem o paradigma sistêmico, alegando que a noção de caos
32 Capra, F. The Web of Life. A New Synthesis of Mind and Matter. London: Flamingo, an Imprint of Harper Collins Publishers, 1997, p. 39.
23
nos leva a repensar a noção de lei da natureza. Para eles, os sistemas caóticos envolvem
um afastamento radical da visão de mundo determinista. As estruturas dissipativas
envolvem propriedades emergentes que não podem ser explicadas pela física clássica.33
Em oposição a eles, Bricmont ataca o paradigma sistêmico, alegando que os sistemas
caóticos não invalidam a visão determinista, mas a reforçam. A perspectiva clássica explica
perfeitamente a irreversibilidade macroscópica com base em leis microscópicas que são
deterministas e reversíveis. A maior parte da especulação de Prigogine e Stengers sobre
uma "nova aliança" entre as ciências humanas e naturais é equivocada. Os pesquisadores
que trabalham em psicologia ou psicologia têm muito pouco a aprender do suposto "salto"
da perspectiva newtoniana para a prigoginiana.34
Uma outra dificuldade não só para a abordagem sistêmica, mas para qualquer
tentativa de construir uma perspectiva efetivamente transdisciplinar se refere à oposição que
existe entre a teoria da relatividade geral e a mecânica quântica, oposição esta que ainda
não foi adequadamente resolvida. A relatividade geral prevê, com base nas forças
gravitacionais, a formação de buracos negros no universo. Eles surgem geralmente a partir
do colapso gravitacional de uma estrela e se caracterizam pelo fato de funcionarem como
poderosíssimos aspiradores cósmicos, atraindo para dentro de si e triturando tudo o que
estiver por perto, inclusive a luz. Neles, até o tempo pára. Parece que toda informação ali
contida é completamente destruída. Tudo o que podemos conhecer a respeito de um buraco
negro é sua massa, velocidade de rotação, carga elétrica e raio. Mas não há como
determinar de onde veio esta massa, ou seja, se o buraco negro engoliu, entre outras
coisas, um meteorito, um cometa, um planeta, um raio de luz ou uma estrela. Para piorar a
33 Ver, a este respeito, Prigogine, I. & Stengers, I. La Nouvelle Alliance. Métamorphose de la science. Paris: Gallimard, 1979. 34 Bricmont, J. Science of Chaos or Chaos in Science? Physicalia Magazine, 17 (1995) 3-4, p. 158-208.
24
situação, Hawking mostrou que o buraco negro evapora lentamente, tornando bastante
reduzida a possibilidade de recuperar de alguma forma a informação nele contida. Ora, isto
significa que não somos capazes de reconstruir o que aconteceu no passado a partir das
informações comprimidas e perdidas no buraco negro, o que contradiz a mecânica quântica.
Assim, se a relatividade geral estiver certa, a mecânica quântica deve estar errada. Se esta
última estiver certa, então a relatividade geral deve estar errada. De acordo com Gleiser,
ainda não sabemos o que se passou no intervalo de tempo de um bilionésimo de segundo
após a grande explosão.35 Isto poderia ser considerado um sintoma da oposição entre a
relatividade geral e a mecânica quântica. É preciso, portanto, encontrar uma teoria que seja
capaz de harmonizá-las. Alguns passos já foram dados nesta direção, através da teoria das
cordas supersimétricas e da teoria da supergravidade com 11 dimensões. Parece mesmo
que não só as duas teorias que acabamos de mencionar, mas todas as construídas com
este objetivo constituem expressões diferentes de uma única, a chamada teoria-M.36
Caminhando numa outra direção, o físico Leonard Susskind sugeriu em 1993 o uso do
princípio de complementaridade para resolver o problema da informação perdida no buraco
negro. Segundo Susskind, um observador que estivesse caindo no buraco negro, ao lado de
uma partícula contendo informação, seria triturado juntamente com ela pelas forças
esmagadoras gravitacionais. Neste caso, a informação se perderia. Se, porém, o observador
estivesse a uma distância segura do buraco negro, ele veria a informação proveniente da
partícula se espalhando em torno do buraco negro e flutuando para longe. Neste caso, a
informação não se perderia. A solução de Susskind, conhecida como princípio da
complementaridade dos buracos negros, torna indefinida a localização da informação.
35 Gleiser, M. A Dança do Universo. Dos Mitos de Criação ao Big-Bang. 2 ed. S. Paulo: Cia. das Letras, 1997, p. 390. 36 Gleiser, M. A Dança do Universo. Dos Mitos de Criação ao Big-Bang. 2 ed. S. Paulo: Cia. das Letras, 1997, p. 56-7.
25
Observadores diferentes em locais diferentes teriam opiniões diferentes sobre esta
localização.37 Como se pode ver, a conciliação entre relatividade geral e mecânica quântica
constitui uma grande dificuldade não só para a física ou para a cosmologia, mas também
para todas as abordagens com ambições de caráter transdisciplinar, as quais exigem uma
perspectiva unificada.
Ao chegar ao fim de nossa exposição, esperamos ter conseguido exprimir
satisfatoriamente a mistura de fascínio, perplexidade e esperança que o assunto aqui
tratado em nós desperta. Esperamos também ter mostrado que a abordagem sistêmica de
caráter monista, do tipo defendido por Capra, constitui a melhor alternativa filosófico-
científica no quadro do conhecimento contemporâneo para produzir uma cosmologia capaz
de satisfazer à ambição transdisciplinar. Mesmo assim, constatamos que ela se apresenta
hoje mais como um programa geral de pesquisa com problemas a resolver do que como
uma realização intelectual acabada. O teste mais conclusivo desta proposta ainda não foi
completado. Uma coisa, porém, parece certa: embora haja dificuldades, o paradigma
sistêmico aparenta ser suficientemente capaz para lidar com elas sem ter que recorrer seja
ao pluralismo ontológico da lógica do terceiro incluído, seja aos princípios universalíssimos
da dialética. Nos domínios ilimitados da intuição, conseguimos, às vezes, num silêncio
contemplativo, ver brilhar dentro de nós a intensa luz do cosmo. Nos domínios limitados do
discursivo e do testável, porém, ainda temos muito o que fazer para descrever seus
meandros. De qualquer modo, os sofisticados avanços da ciência contemporânea, obtidos a
cada dia que passa, confirmam a idéia de que a história de nossa relação cognitiva com o
mistério do universo ainda nos oferecerá muitos episódios maravilhosos e inesperados.
37 Siegfried, T. O Bit e o Pêndulo. A Nova Física da Informação. Rio: Ed. Campus, 2000, p. 200-1.
26
Referências Bibliográficas
Bricmont, J. Science of Chaos or Chaos in Science? Physicalia Magazine, 17 (1995) 3-4, p.
158-208.
Capra, F. The Web of Life. A New Synthesis of Mind and Matter. London: Flamingo, an
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Reading, Berkshire: Vintage, 1995.
27
Pinto, P. R. M. Dialética, Lógica Formal e Abordagem Sistêmica. Trabalho apresentado no
DIA/2002.
Prigogine, I. & Stengers, I. La Nouvelle Alliance. Métamorphose de la science. Paris:
Gallimard, 1979.
Sagan, C. Cosmos. Trad. de A. do N. Machado. Revisão técnica de A. L. de Lima. Rio:
Livraria Francisco Alves Editora S. A., 1992.
Siegfried, T. O Bit e o Pêndulo. A Nova Física da Informação. Trad. de R. de Biase. Rio:
Campus, 2000.
28
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